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DESIGN DE PRODUTO: FUNÇÕES DOS PRODUTOS E A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS

PORTO, Renata Gastal.


http://regastal.blogspot.com
regastal@gmail.com

Introdução
Através dos aspectos sensoriais do objeto o homem sente, toca e visualiza as características físicas do
produto, que se apresentam pela rugosidade da textura, cor, coerência formal da estrutura, entre outros.
Atualmente, na produção de artefatos, a superfície do produto tem apresentado maior significado do que a
própria função, situação característica da cultura ocidental imediatista.
Valores estéticos e a predominância da forma tem se destacado sobre a função prática. Grande parte
dos produtos fabricados pelo homem sofre uma forma de tratamento superficial que altera o último estrato do
material, para que este possa suportar maiores agressões e corresponder a maiores solicitações (MANZINI,
1993).
Em projeto de Design, a forma estética deve estar atrelada ao desempenho do produto, seja este
gráfico ou produto. Para Löbach, a satisfação das necessidades estéticas não é necessária para nossa
existência física, mas para a nossa saúde psíquica. Os elementos estéticos são responsáveis por despertar no
homem os sentidos, comunicando valores pessoais e de grupo, signos culturais e posições sociais. A Gestalt,
escola de psicologia que trata do fenômeno da percepção, a partir das teorias desenvolvidas esclarece os
princípios formais responsáveis pela capacidade do cérebro de fazer associações, substituições ou integrações
através das leis de organização da forma perceptual como unidade, segregação, unificação, fechamento,
continuidade, proximidade, semelhança e pregnância da forma. Cabe ao designer utilizar estes conceitos para
traduzir em conforto e segurança aos usuários.
A motivação do Design em proporcionar a adequação dos objetos ou o mundo artificial ao homem não
implica somente no conforto sensorial, mas também é de sua responsabilidade atender a requisitos como
qualidade, funcionalidade, custo, produção, estética, ergonomia e impacto ambiental da geração e descarte do
produto, pois o produto final interage com o mundo natural do homem e causa impacto seja na cultura, nos
hábitos, decisões e valores ou no ambiente social.

Designer: Intermediações entre Produtos e Usuários


O designer é o profissional responsável pela materialização das idéias para a satisfação das
necessidades do homem e o concretiza através da produção de objetos, que são classificados conforme Löbach
(2001) em quatro categorias: objetos naturais, que existem em abundância sem influência do homem; objetos
modificados da natureza; objetos de arte; e objetos de uso.
O designer estabelece um papel intermediário entre o usuário e o produto, pois ele reconhece
necessidades e desejo do consumidor e o realiza através do projeto para concretização em produto. Conhecer o
consumidor é essencial para atingir as expectativas do usuário na manipulação do objeto. Saber manipular a
informação de forma construtiva para proporcionar bem-estar demonstra a consciência do profissional para com
a sociedade.
A percepção do indivíduo sobre o objeto surge em primeiro instante da qualidade da superfície, através
do uso específico de materiais e do tratamento formal dado ao artefato para a composição da estrutura
harmônica. Em particular, as cores exercem sobre o indivíduo ação tríplice de impressionar, expressar e
construir, que serão diferentes conforme a cultura em que se está inserido. O processo de seleção de cores em
projeto é uma fase que exige pesquisa, pois fatores como idade, nível de escolaridade e até a iluminação local
onde o produto será manipulado, por exemplo, alteram diretamente o simbolismo que tal produto carrega.
A atração pelo produto ocorre primeiramente pela qualidade estética, mas só será consolidada durante
a fase de uso do produto. Um produto de uso, uma vez criado, sempre pode satisfazer a determinadas
necessidades através do processo de uso. Durante este processo se experimentam as funções do objeto, um
dos aspectos da relação entre usuário e produto (LÖBACH).

Artefatos e Ambiente Artificial


Nosso ambiente é fruto de uma acumulação de objetos que foram desenvolvidos independentemente
uns dos outros e que, mediante a soma e suas inter-relações funcionais, determinam o quadro representativo
deste entorno criado artificialmente. Esse conjunto de objetos acaba influenciando a conduta dos homens que
vivem dentro desse ambiente (LÖBACH). O profissional de Design tem sido responsável por esse ambiente de
objetos que influenciam nossos modos de viver, direcionam interesses e alteram o ambiente natural. A presença
de objetos de alta ordem estética criam uma atmosfera de fluidez intelectual. Mas uma tendência surge, que
trata com descaso os lançamentos de novos produtos, pois estes permanecem por pouco tempo no mercado,
logo sendo substituídos por novidades. O mercado tem responsabilidade nesta prática constante e a tecnologia
tem proporcionado.
A prática de descarte é estimulada pela alta circulação de artefatos no mercado e pela baixa resistência
mecânica dos produtos. Uma relação desproporcional aparece neste contexto, apesar dos avanços tecnológicos
que poderiam postergar o ciclo de vida útil dos objetos, cada vez mais está freqüente o lançamento de novos
artefatos com baixo índice de inovação. Os consumidores esperam por pequenas inovações em curtos espaço
de tempo, fazendo do produto algo obsoleto. Com isso, a produção de tecnologia aliada aos fatores econômicos
e sociais se afasta gradativamente das primeiras necessidades de cunho social.

Categorias de Produtos Industriais


Löbach considera que os usuários podem manter relações com o produto a partir de três experiências
diferentes: produto de uso individual, produtos de uso coletivo e produtos de uso indireto (figura 1). O dois
primeiros implicam na relação direta do usuário, ele consome e o utiliza e com isso mantém uma relação de
posse ou indiferença. No caso do produto individual, o usuário tem a posse do objeto, pois ele foi adquirido para
um uso especial e único.
O produto de uso individual se trata de um produto extremamente de uso pessoal, geralmente são
submetidos a mudanças de aparência mantendo restrita relação com o funcionamento principal, baixo
desenvolvimento técnico e reduzido custo de produção. O tempo que o produto permanece sobre propriedade
do usuário é o tempo suficiente para que se estabeleça uma ligação pessoal e afetiva, cujo tal sentimento se
finda com o fim do ciclo de vida do produto. No caso dos produtos destinados ao uso coletivo, como por
exemplo, lixeiras e telefones públicos, as relações são pouco mais enfraquecidas em comparação aos produtos
de uso exclusivo. Os produtos de uso coletivo também podem ser encontrados em ambiente familiar, onde é
utilizado por um pequeno grupo, mas ainda são compartilhados. O terceiro tipo, os produtos de uso indireto, são
aqueles que não são utilizados diretamente pelo consumidor, mas fazem parte de um sistema maior. O usuário
pode nem ter o conhecimento da existência desse artefato, logo praticamente não se estabelece nenhum tipo de
vínculo. Geralmente são peças que responsáveis em parte pelo funcionamento do grande sistema.

Figura 1. Barbeador elétrico, exemplo de produto de uso individual; telefone público,


exemplo de produto de uso coletivo; parafuso micrométrico, exemplo de produto de uso indireto.

As Funções dos Produtos


Os produtos também podem ser compreendidos a partir do tipo de função que exercem para o
consumidor. Löbach define três tipos de função. As funções práticas de produtos são todos os aspectos
fisiológicos do uso. Envolve a antropometria, a usabilidade e praticidade de uso. No desenho de produtos, o
principal objetivo é criar as funções adequadas para o desempenho do objeto de modo que satisfaça as
necessidades e expectativas do usuário. As funções estéticas atendem aos aspectos fisiológicos da percepção
sensorial durante a manipulação do produto, que podem ser traduzidas pela satisfação dos sentidos do usuário.
Neste tipo de função estão envolvidas as leis de organização da forma perceptual da Gestalt; estudos de
percepção das cores; estudos morfológicos das teorias de simetria como isometria, homeometria, singenometria,
catametria, heterometria, ametria, união, superunião, hiperunião, hipounião, translação, rotação, dilatação e
reflexão, conforme GOMES (2007). A função simbólica deriva dos aspectos estéticos do produto e é efetiva
quando ocorre a associação de idéias com memórias anteriores. Para esse estudo se recorre as teorias da
semiótica. É das funções mais delicadas por lidar com os aspectos espirituais, psíquico e sociais.

Considerações Finais
As relações estabelecidas entre consumidor e produto são definidas no momento projetual. A partir do momento
que o designer conhece o seu público alvo, ele tem condições de definir as características do artefato, assim
como quais funções estarão evidentes no produto final, com o objetivo de atender as necessidades do
consumidor. Das três funções estudadas, a estética é a que mais tem se destacado em função da realidade que
traduz o anseio dos indivíduos em adquirir produtos para distinção social. Tem se tido pouco cuidado com os
fatores antropométricos, de produção e descarte do produto, de tempo de permanência no mercado e, do ciclo
de vida do produto, fatores esses que resumem a qualidade projetual. A satisfação do usuário não deve se
resumir somente ao critério de superfície, mas também durante todo o tempo de uso do produto, pois afinal o
papel do designer está em proporcionar o bem-estar do homem na sua individualidade e também enquanto ser
coletivo inserido na sociedade.

Bibliografia
LOBACH, Bernd. Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São Paulo: Edgard
Blucher, 2001.
MANZINI, Ezio. A matéria da invenção. Lisboa: Centro Português de Design, 1993.
VIDAL GOMES, Luis; BROD JUNIOR, Marcos. Logogramas: desenho para projeto. Porto Alegre: sCHDs Editora,
2007.

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