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Diseño en Palermo.

V Encuentro Latinoamericano de Diseño 2010

Matias, Marlene. Organização de eventos: procedimentos e técnicas. Moreira, Samantha C. O. et al. Briefing: Uma estratégia para o pro-
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Phillips, Peter L; (trad Itiro Iida). Briefign: a gestão do projeto de - Graduada em Design de Ambientes, UEMG.
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Moreira, Samantha C. O. et al. Caminho possível para o desenvolvi- bientes, UEMG.
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gresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design (P&D Ambientes, UEMG.
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- Gestora de Empreendedorismo e Inovação - CDE/IED.

O conforto total do vestuário: design no sentido projectual não pode ser bem sucedido sem
utilizar a componente da ciência do conforto.
para os cinco sentidos Com efeito, estudos de marketing mostram que os consu-
midores atuais já não estão só interessados no vestuário
Ana Cristina Broega y Maria Elisabete Cabeço Silva
com estética, na boa aparência, na qualidade do que “fica
bem”, mas exigem cada vez mais, roupas com as quais
se sintam confortáveis. Desejam que a sua indumentária
Introdução esteja de acordo com as suas atitudes, funções e imagem
Quando se projeta um produto de Design, na maior que pretendem transmitir à sociedade mas, principal-
parte das vezes o sentido mais valorizado pelo designer mente, que sejam confortáveis.
é a visão, pois é aquele que melhor aprecia a estética e O marketing têxtil tem identificado que os consumidores
harmonia, descorando sentidos como o olfato, o tato e envolvem, cada vez mais, na sua decisão de compra, para
até a audição. É frequente verificar que belas e funcionais além do seu sentido visual, o toque, o cheiro, a intuição
construções arquitetõnicas, tem lacunas no que diz res- e a emoção. Em conseqüência desta atitude, uma maior
peito a isolamento acústico entre pisos ou a problemas importância está a ser atribuída à experiência/ato da
de exaustão de odores das cozinhas e fumos de lareiras. “compra” do vestuário, sendo cada vez maior o interesse
Quem é que já não se queixou do odor da sua roupa por tecidos mais agradáveis ao toque.
quando deixa um restaurante de churrasco ou grelhados “Se os estilos se aproximam cada vez mais, os consumi-
ou mesmo o cheiro a tabaco que se entranha no vestuário dores tomam consciência de que os materiais têm dife-
após uma noite numa discoteca mal ventilada? rentes valores e fazem a diferença através do bem-estar
À medida que os produtos têm uma maior proximidade e do toque”, estudo de mercado, realizado pela RISC em
com corpo humano como, por exemplo, o mobiliário de 1999, a pedido da LYCRA1. Isto refere-se ao Conforto Sen-
utilização quotidiana, o problema torna-se mais com- sorial e é devido a esta qualidade que os novos produtos
plexo como é o caso das cadeiras e sofás, com os quais a se impõem no mercado. O conforto é já um parâmetro
nossa pele entra em contato direto. Uma cadeira de metal chave na seleção e compra de produtos têxteis, seja de
no Inverno torna-se desagradável quando nos sentamos, vestuário ou produtos para o lar.
principalmente se pousarmos os nossos braços mais O conforto é uma necessidade universal e fundamental
descobertos sobre os braços metálicos que muitas vezes para os seres vivos, pois todas as realizações podem ser
até são pouco confortáveis ergonomicamente (caso dos consideradas como um esforço para melhorar os nossos
fabricados com tubos metálicos cilíndricos que não per- níveis de conforto na vida. O vestuário e os têxteis são
mitem o correto apoio do cotovelo). Um sofá revestido por produtos essenciais usados diariamente, para se ter
materiais que não permitam a respiração da pele, pode conforto (fisiológico e psicológico) e fundamentalmente
também ser muito incômodo num dia de calor. assegurar as condições físicas apropriadas para a sobre-
Estes são alguns exemplos de produtos de design desen- vivência do organismo.
volvidos sem ter em consideração os restantes sentidos
para além da visão, tornando-se especialmente proble-
mático quando se trata de matérias que estão diariamente O conforto total do vestuário
em contato com a nossa pele, como é o caso do vestuário. O conforto é um “estado agradável de harmonia fisiológi-
O vestuário é a nossa segunda pele, para além da função ca, psicológica e física entre o ser humano e o ambiente”2.
estética ele tem principalmente a função protetora. Não Sendo uma necessidade universal e fundamental para o
se pode falar em design de vestuário sem falar em con- homem, o vestuário, neste contexto, assume um papel
forto, podendo mesmo dizer que o design de vestuário principal.
e o conforto total do vestuário são indissociáveis. Ainda A indústria do vestuário, atenta às evoluções do mercado,
que um implica o outro, em última instância o design não pode descurar estas solicitações de conforto, que têm

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vindo a tornar-se, cada vez mais, uma exigência atual e volve a transferência de calor e de vapor de água através
consciente dos utilizadores finais dos seus produtos. dos materiais têxteis ou do vestuário,
Assim, o conforto tornou-se num dos aspectos mais • Conforto Sensorial de “toque”: conjunto de várias sen-
importantes do vestuário, principalmente para produtos sações neurais, quando um têxtil entra em contato
diretamente em contato com a pele, como roupa interior, direto com a pele,
calças, blusas, camisas, etc. O conforto apercebido pelos • Conforto Ergonómico: capacidade que uma peça de
portadores destes produtos depende, em grande parte, das vestuário tem de “vestir bem” e de permitir a liberdade
propriedades sensoriais de toque e termofisiológicas dos dos movimentos do corpo,
tecidos, pelo que muitas são as propriedades físicas, tér- • Conforto Psico-Estético: percepção subjetiva da avalia-
micas e mecânicas a ter em consideração aquando do seu ção estética, com base na visão, toque, audição e olfato,
design. Para além disso, as condições ambientais e o nível que contribuem para o bem-estar total do portador4.
de atividade física dos utilizadores também influenciam a
percepção do conforto do vestuário. Todas estas variáveis Em todas estas definições, há um número de componen-
contribuem para a elevada complexidade da avaliação tes essenciais que, estando o conforto relacionado com a
e quantificação do conforto do vestuário que, até hoje, percepção subjetiva de várias sensações, abrange muitos
tem vindo a ser avaliado por clientes, confeccionadores aspectos sensoriais humanos, como o visual (conforto
e produtores de tecidos de uma forma empírica, pelo estético), o térmico (frio e quente), a dor (áspero e picante)
“toque” e pelo “sentir-se bem quando se veste”. Trata-se e o toque (liso, macio, rugoso, fresco, quente). O vestuário
de uma avaliação completamente subjetiva, baseada nos está diretamente em contato com a pele humana, intera-
sentidos e experiências, sem qualquer base científica. gindo contínua e dinamicamente com ela, estimulando
Para que o designer possa usar a ciência do conforto sensações mecânicas, térmicas e visuais, pelo que deve
como uma ferramenta projectual de design, precisa de considerar-se outras vertentes do conforto, como o deno-
compreender a essência do conforto, bem como as suas minado por alguns autores, “conforto sensorial”, que deve
formas de avaliação objetiva, pelo que o primeiro passo ser introduzido na pesquisa do conforto do vestuário5.
para isso é compreender a sua abrangência. As percepções subjetivas envolvem processos psicoló-
O conforto é um conceito complexo e difícil de definir. gicos, nos quais toda a percepção sensorial relevante é
Ao examinarmos a literatura concluímos que o conforto formulada, processada, combinada e avaliada, à luz das
envolve componentes térmicas e não-térmicas e está experiências passadas e dos desejos do presente, de modo
relacionado com as condições de utilização, tais como o a formular uma avaliação total do estado de conforto.
ambiente térmico em situações críticas ou não-críticas3. É As interacções corpo-vestuário (térmicas e mecânicas)
reconhecido, desde há muito tempo, que é difícil descre- desempenham funções muito importantes na determi-
ver o conforto de uma forma positiva, mas o desconforto nação do estado de conforto do portador, assim como os
pode ser facilmente identificado em termos de quente, ambientes externos, (físico, social e cultural).
frio, áspero, picante, etc. A percepção subjetiva do conforto compreende proces-
Por outro lado, as respostas fisiológicas do corpo humano, sos complicados da “psicologia sensorial”, em que um
para determinada combinação de vestuário e condições grande número de estímulos do vestuário e de ambientes
ambientais, são previsíveis quando o sistema atinge um externos se transmitem ao cérebro, através de multi-
estado estacionário. Os níveis de conforto térmico são canais sensoriais, estimulando respostas de percepções
passíveis de cálculo, a partir do conhecimento de um subjetivas. Por tudo isto, o conforto é um conceito mul-
conjunto de fatores de fácil medição como, a resistência tidimensional e complexo.
térmica, a resistência ao vapor de água do vestuário, as
condições climáticas e o nível da atividade física do in-
divíduo. Esta é a investigação tradicional quando se pre- Conforto psico-estético
tende estudar o conforto do vestuário, onde uma extensa O conforto psico-estético pouco tem a ver com as caracte-
quantidade de trabalhos tem sido publicada e aplicada na rísticas técnicas dos tecidos, estando fundamentalmente
resolução de problemas práticos. Mas, o problema torna- relacionado com as tendências da moda seguidas pela
se muito mais complexo quando se passa aos estados sociedade. Slater4 afirma:
transitórios, em que todos os fenômenos de absorção de
umidade, condensação de líquidos, permeabilidade ao O vestuário que está na última moda ou que é de al-
ar dos tecidos, ventilação do vestuário e transferência gum modo esteticamente apelativo dá, ao seu porta-
térmica das várias camadas ocorrem simultaneamente, dor, conforto psicológico, fazendo-o sentir-se melhor.
interagindo e condicionando-se entre si. De entre as propriedades têxteis, que são relevantes
neste contexto, incluem-se a cor, o cair, a textura, o
“design” dos tecidos os elementos estéticos do ves-
Definição de conforto tuário, o estilo, que podem ser combinados, e ainda a
Uma definição unanimemente aceite para o conforto é qualidade do porte (quality of fit).
“a ausência de dor e de desconforto em estado neutro”4.
É também unanimemente aceite que o conforto total do O Status é evidenciado pelo ”bem vestir” e por um ves-
vestuário se pode dividir em 4 aspectos fundamentais: tuário luxuoso. Marcas, grif’s assinadas por “costureiros”
e estilistas podem também contribuir para o status do
• Conforto Termofisiológico: traduz um estado térmico portador e aumentar-lhe a satisfação, em termos de con-
e de umidade à superfície da pele confortável, que en- forto psicológico.

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Lipovetsky6 afirma que nos países desenvolvidos, entrou tivas aqui mencionadas como, por exemplo, os bodies
um novo estadio do luxo, com os novos imaginários scanners.
trazidos pela globalização. O luxo que costumava ser
produzido em empresas familiares, (exemplo de casas
como, a Chanel e Louis Vuitton) e só acessível às classes Conforto sensorial
aristocráticas, está hoje a estender-se às grandes casas O conforto sensorial é avaliado pela sensação que senti-
de marcas e acessíveis ao grande público consumidor. mos quando vestimos uma peça de vestuário, em contato
Passou-se de uma lógica artesanal para uma lógica finan- direto com a pele. Alguns estudos8 concluíram que in-
ceira e global. Lipovetsky define-o como “luxo hipermo- divíduos que vestiram roupas fabricadas com diferentes
derno”, que é um luxo globalizado. Com o auxílio dos tipos de tecido, em contato direto com a pele, não conse-
média, a sua divulgação é massificada deixando o luxo guiram detectar diferenças nas estruturas, no cair ou no
de ter fronteiras culturais e sociais. acabamento dos mesmos, mas apenas a sua pilosidade.
Lipovetsky defende que se criou um novo imaginário O corpo humano está sujeito a complexos mecanismos de
do luxo, com três características bem definidas: a “indi- forças que podem ser o peso do vestuário e/ou as tensões
vidualização”, em que o desejo pelo luxo não é apenas que acompanham a sua deformação para se acomodar aos
alimentado pela ostentação, pelo desejo do indivíduo ser movimentos do corpo. A força é transmitida ao corpo
admirado pelos outros, mas sim de se admirar a si mesmo, através de várias áreas de contato pele-tecido9.
de ter a possibilidade de se reconhecer a si próprio como O conforto sensorial é essencialmente o resultado das
elite através do consumo de luxo. Existe uma necessida- tensões geradas sobre o tecido e da forma como estas são
de premente de diferenciação muito mais virada para si transmitidas à pele, em condições normais de uso, pois
mesmo, do que para o espetacular. o vestuário está sujeito a muitas deformações (tracção,
A componente “emocional”, em que os indivíduos, estan- flexão, compressão, corte, etc.).
do menos voltados para os outros, vivem a prática do luxo As forças geradas no tecido durante o movimento do cor-
muito mais para as suas sensações subjetivas, a emoção po, estão diretamente relacionadas com as propriedades
e o desafio dos seus próprios limites (expedições de alta mecânicas dos tecidos, pelo que o estudo do conforto do
montanha, onde o luxo é sempre um risco à própria vida). vestuário tem de as considerar.
Por fim, a “democratização” do luxo, que deixou de ser As características de superfície dos tecidos são também
um ideal da elite com a quebra do isolamento entre as muito importantes para a determinação do conforto
classes. sensorial. A superfície dos tecidos não é homogênea e
Lipovetsky afirma ainda que a democratização do luxo lisa, pois é constituída por um número de formas mais
potenciou a dissolução dos antigos tabus de classe, o que ou menos rígidas, que são os fios, constituídos por um
levou também à diversificação da definição do luxo, em elevado número de fibras cuja pilosidade contribui para
que hoje cada um tem a sua própria definição. O luxo a aspereza dos tecidos. Esta superfície de fibras apresenta
também é subjetivo, mas contribui muito para o conforto uma certa rigidez, que tenta separar, o corpo do tecido,
psicológico do indivíduo6. da pele atuando como transmissores de força em áreas
De qualquer forma, good style, fit e aparência continu- de contato9.10.
am a ser vitais no conforto psico-estético. As formas de A área e a rigidez da distribuição dessa superfície são de
avaliar o conforto psico-estético estão ainda muito a elevada importância na percepção sensorial do conforto.
cargo de gabinetes de marketing, que tentam satisfazer A área da superfície de contato influencia particularmen-
as necessidades dos clientes através da moda, auxiliados te a sensação de “quente-frio”, o chamado “toque térmi-
por estudos de mercado ou de consumo. co”. Quando tocamos ou vestimos uma peça de roupa,
esta está normalmente a menor temperatura que a pele,
havendo uma perda de calor do corpo para o vestuário,
Conforto ergonómico até a temperatura igualar as duas superfícies de contato.
O conforto ergonómico está na maior parte das vezes re- Quanto mais rapidamente se der essa transferência de ca-
lacionado com a modelagem e confecção do vestuário. Os lor, mais frio se sentirá o tecido, quando tocado e quanto
factores que mais influenciam o conforto ergonómico são maior for a superfície de contato, mais rápido se dá essa
as costuras, os cortes, a forma de modelagem. Os factores transferência9.11. Por exemplo, a operação de passagem a
associados à capacidade de realização de movimentos ferro de um tecido de algodão tem o efeito de aumentar
corporais também são importantes, dependendo do tipo a sensação de toque frio, pois leva a uma maior compac-
e estrutura dos materiais utilizados e das camadas com tação das fibras na estrutura do tecido, aumentando a sua
que são confeccionados7. área de contato quando tocado.
As tabelas antropométricas permitem optimizar este Um outro parâmetro que depende da área de contato
tipo de conforto, melhorando a confecção do vestuário, e que é muito influenciado pela estrutura do tecido, é
mas devem ser as mais actualizadas possíveis e sempre o desconforto sensorial associado a uma sensação de
específicas para o consumidor alvo. O grande problema “pegajoso” e “irritante”, quando em presença de suor.
das tabelas antropométrias é que estas contemplam na No conforto sensorial há que ter em consideração uma di-
maior parte das vezes as medidas estáticas do utilizador, ferença fundamental entre a percepção sensorial, quando
não prevendo as margens necessárias para atividades se veste uma peça de vestuário e do toque da superfície
físicas quotidianas. têxtil com a mão, a este último designamos por “toque”
Existem distintos instrumentos laboratoriais que per- de um tecido, fabric hand ou handle cuja noção é muito
mitem avaliar uma grande parte das propriedades obje- complexa. Quando se veste uma peça de vestuário, trata-

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se do toque passivo, onde o portador não procura inten- seis parâmetros básicos (quatro variáveis ambientais,
cionalmente obter informação precisa do vestuário, sendo combinadas com o calor metabólico gerado pela atividade
a informação simplesmente imposta à pele. No processo humana e o vestuário utilizado) produzirá o conforto e
de tocar um tecido com as mãos, trata-se de um toque quais serão os seus efeitos, em termos de conforto térmico
ativo, onde o indivíduo passa a mão intencionalmente e de satisfação ou desvio a estas condições?
sobre o tecido, para obter informação adicional. O vestuário é uma barreira térmica entre o corpo humano
O “toque” é um conceito que engloba propriedades e o seu ambiente. Um dos papéis funcionais do vestuário
mecânicas de conforto, de uso e sensoriais, dependendo é manter o organismo num estado térmico confortável,
de numerosos parâmetros que vão da matéria-prima ao qualquer que seja o ambiente exterior.
acabamento. A mão humana é um preceptor do toque O comportamento térmico do vestuário de uma pessoa
muito sensível e os especialistas do toque procuram ativa é complexo e dinâmico, não estando, ainda hoje,
chegar a um vocabulário comum e universal, que lhes inteiramente compreendido, pelo que é difícil a sua
permita qualificar os tecidos segundo este parâmetro. quantificação. O pouco que se conhece é principalmente
No entanto, esta é uma avaliação subjetiva pois existem baseado em investigação teórica e empírica. Os fatores
diferenças na apreciação e preferência do “toque”, de relevantes do comportamento térmico do vestuário são:
indivíduo para indivíduo, devido a diferenças climáticas o isolamento térmico a seco, o transporte de umidade, o
e culturais, podendo por vezes as suas preferências ser vapor de água através do vestuário (por ex. suor e chuva),
mesmo opostas12. Um dos grandes desafios na investiga- a transferência de calor através do vestuário (condução,
ção da ciência do conforto continua a ser a quantificação convecção, radiação, evaporação e condensação), a com-
do “toque” de uma forma objetiva e científica sendo, para pressão (por ex. causado pelo vento), o efeito de “bom-
tal, necessário recorrer à “análise sensorial”13. bagem” (por ex. causada pelos movimentos do corpo), a
penetração do ar (por ex. através dos tecidos, aberturas
e vento), a postura corporal do portador, etc.
Conforto termofisiológico Mais uma vez, a forma mais comum de avaliar o conforto
O conforto termofisiológico, a maior parte das vezes térmico do vestuário é através da análise sensorial que
designado apenas por conforto térmico, tem em atenção utiliza a ferramenta de inquéritos a indivíduos, sobre as
as propriedades de transferência de calor e umidade sensações apercebidas durante o seu uso, em condições
do vestuário e da forma como a roupa ajuda a manter climáticas controladas. As respostas são frequentemente
o balanço térmico do nosso organismo durante os seus descritas em termos de expressões subjetivas, em escalas
diferentes níveis de atividade física. de conforto ou de sensação térmica.
O conforto térmico, segundo as normas ASHRAE (1966) Quanto à avaliação objetiva das propriedades atrás
e ISO 7730 (1984), é definido como “o estado mental que mencionadas como, o isolamento térmico, transporte de
expressa satisfação com o ambiente térmico”. umidade e de vapor de água através do vestuário, a trans-
As razões pelas quais, um indivíduo descreve conforto ferência de calor através do vestuário, a permeabilidade
térmico (ou desconforto) ou sensações relacionadas com dos tecidos ao ar, etc., pode ser realizada por medição
calor, frio, prazer, satisfação térmica, etc., são complexas direta usando aparelhos especiais, vários métodos e
e desconhecidas. instrumentos, nomeadamente: THERMOLABO, PER-
Ao longo de todo o século vinte e até antes, tem havido METEST, TOGMETER, Control DISH METHOD, SKIN
um grande interesse no conhecimento das circunstâncias MODEL Method, Manequim “CHARLIE”, etc.
que produzem o conforto térmico. Neste debate, que con- Na ciência do conforto, muitas são as avaliações subjeti-
tinua atual, o objetivo não é compreender porque é que vas que se devem considerar. Por isso, a análise sensorial
os indivíduos mencionam conforto ou desconforto, mas é uma ferramenta muito utilizada, que se define como
que condições produzem conforto térmico e ambientes sendo a avaliação dos atributos de um produto pelos
termicamente aceitáveis. órgãos sensoriais. No setor agro-alimentar, onde esta ava-
O corpo humano responde às variações ambientais de liação está mais implementada, o seu estudo recairá sobre
uma forma dinâmica e interactiva e poderá ser conduzido as propriedades organolépticas de um produto alimentar,
à morte, caso a resposta seja insuficiente ou se os níveis fonte de estímulos sensoriais que vão induzir respostas
energéticos forem além dos limites de sobrevivência. humanas, servindo, de alguma forma, para transformar
A sensação térmica e o conforto térmico são fenômenos avaliações subjetivas em parâmetros objetivos13.
bipolares, isto é, variam de incomodamente frio, até des-
confortavelmente quente, com o conforto ou as sensações
neutras posicionadas no meio da escala. Análise sensorial
No estado de equilíbrio, o conforto térmico pode ser con- A avaliação subjetiva dos tecidos pode ser realizada pela
siderado como uma falta de desconforto. Os sentimentos análise sensorial dos mesmos.
positivos, tais como o de prazer térmico experimentados, A análise sensorial é uma disciplina usada para provocar,
são de natureza transitória, isto é, são manifestados em medir, analisar e interpretar as reações produzidas pelas
situações transitórias, quando uma pessoa com frio se características dos materiais, como elas são percebidas
move para um ambiente aquecido ou vice-versa, não pelos órgãos da visão, olfato, gosto, tato e audição (IFT-
sendo normalmente experimentados em circunstâncias Institute of Food Science and Technology).
de estado estacionário. A análise sensorial é uma metodologia que visa avaliar a
A pergunta que se põe é: para um grupo de pessoas, que aceitação de produtos no mercado, pesquisando os gostos
ambiente térmico humano, em termos de interacção dos

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e preferências de consumidores através de um perfil pré- • Teste Triangular - verifica se existe diferença entre duas
seleccionado de um conjunto de avaliadores. amostras que sofreram processos diferentes
Com base nos resultados, é possível medir, avaliar e • Teste de Ordenação - compara diferentes amostras para
interpretar a percepção sensorial em relação ao produto verificar se existe diferença entre elas
analisado. • Teste de Comparação Múltipla - verifica e estima o grau
Os consumidores expressam as suas opiniões em cabines de diferença entre várias amostras e uma padrão
individuais, onde recebem o produto a ser analisado,
usando metodologias científicas, acompanhadas de um Método sensorial afectivo
formulário com perguntas pré-definidas para a determi- Este método avalia a aceitação e preferência dos consumi-
nação dos resultados. dores em relação a um ou mais produtos incluindo testes:
São empregues diferentes métodos de avaliação, visando Teste de Aceitação - avalia quanto um consumidor gosta
determinar o perfil sensorial, a aceitação e as preferências ou desgosta de um determinado produto
acerca dos produtos. Estes métodos são orientados para o: Teste de Preferência - determina a preferência que o
consumidor tem sobre um produto em relação a outro
• controlo de qualidade, Para se realizar a avaliação sensorial são necessários
• desenvolvimento de produtos, vários requisitos, para que os resultados da avaliação
• estudo de consumidores. sensorial sejam de confiabilidade, precisando muitas
variáveis de serem rigorosamente controladas. Entre os
A análise sensorial é uma ferramenta moderna utilizada requisitos, podemos salientar os mais importantes para
para o: realizar este tipo de análise, como a existência de:

• desenvolvimento de novos produtos, • laboratório de análise sensorial,


• reformulação de produtos já estabelecidos no mercado, • materiais e equipamentos,
• estudo de vida, • avaliadores.
• determinação das diferenças e similaridades apresen-
tadas entre produtos concorrentes, No laboratório de análise sensorial, devem ser utilizadas
• identificação das preferências dos consumidores por cabines individuais de avaliação, evitando comunicações
um produto, e influências entre os avaliadores, as cabines devem for-
• optimização e melhoria da qualidade. necer conforto e isolamento ao avaliador, propiciando
concentração e relaxamento, devem possuir condiciona-
A avaliação sensorial tem diferentes fases, como: dores de ar para conforto dos avaliadores e isolamento de
ruídos e odores estranhos, devem ser de coloração clara
• definição dos atributos primários que integram a quali- ou neutra, as amostras devem ser entregues ao avaliador
dade sensorial dos materiais e os órgãos sensoriais com através de portas que permitam a comunicação entre o
eles relacionados, avaliador e o preparador, devem possuir luz indicadora
• normalização da forma e condições da realização da externa de accionamento no interior da cabine, tornando
análise sensorial, bem como o tratamento estatístico a comunicação mais eficiente entre o preparador e ava-
aos dados, liador e devem possuir luz branca
• investigações básicas nas áreas da fisiologia, psicologia Os descritores sensoriais devem ser realizados em sessões
e sociologia, que influenciam a percepção sensorial. de desenvolvimento de descritores sensoriais, durante a
análise descritiva quantitativa, em que há algumas etapas
Existem vários métodos para avaliar subjetivamente um de interação entre os avaliadores para que possam chegar
material, nomeadamente: a um consenso, devendo o laboratório possuir uma mesa
redonda para desenvolver este tipo de atividade.
Método sensorial descritivo O laboratório de análise sensorial deve ter uma sala de
Este método permite a avaliação da intensidade dos atri- preparação de amostras, provida de utensílios de pre-
butos sensoriais de produtos. Neste caso, são empregues paração do material. Essa área deve possuir mesas para
equipas treinadas de avaliadores. preparação das amostras e condicionamento.
Este método inclui a Análise Descritiva Quantitativa As amostras devem ser oriundas de uma amostragem que
(ADQ®) que é uma técnica que utiliza uma equipa de é a série sucessiva de etapas operacionais especificadas
avaliadores selecionados e treinados para identificar e para assegurar que a amostra seja obtida com a necessária
quantificar os atributos sensoriais de um produto. condição de representatividade, através de incrementos
recolhidos segundo critérios adequados.
Método sensorial discriminatório Os resultados de uma análise quantitativa só poderão
Este método avalia as diferenças sensoriais entre dois ou ser confiáveis se a quantidade do material submetido ao
mais produtos, incluindo diferentes testes, como: processo analítico representar, com suficiente exatidão,
a composição média do material em estudo.
• Teste Duo-Trio - determina se existe diferença entre uma Como a quantidade de material tomado para a execução
amostra e um padrão. Comparação por Pares - Determina da análise é relativamente pequena em comparação com a
se existe diferença entre duas amostras com relação a totalidade do material em estudo, devem ser considerados
um atributo sensorial os seguintes aspectos: finalidade da inspeção, natureza

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do lote, natureza do material em teste e natureza dos Releases, retrieved Jun 2002, from http://www.lycra.com/en/
procedimentos de teste. press-center/press-releases-detail.aspx?param=137&topics=All
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no 3, pp. 157-171.
Conclusão 3. Fourt, L & Hollies, NRS (1970), Clothing: Comfort and Function,
O vestuário usado pelo homem varia de estação para Marcel Dekker, Inc., New York, ISBN 0-8247-1214-5.
estação regionalmente e de pessoa a pessoa e também 4. Slater, K. (1997), Subjective Textile Testing, J. Text. Inst. 88 Part 1,
de acordo com da ocasião. Muitas pessoas usam roupas no 2, pp. 79-91.
para se sentirem atrativas aos olhos dos outros. Outras 5. Li, Y. (2002), The Science of Clothing Comfort, Textile Prog. vol.
para se protegerem, como roupas de chuva, outras por 31, Nº 1.
motivos culturais, como decoração ou ornamentos e nem 6. Lipovetsky, Gilles (2004), Os Tempos Hipermodernos, Editora
tanto por necessidade, outras ainda por necessidades Barcarolla, São Paulo, Brasil.
funcionais específicas, como médicos e enfermeiros que 7. Hollies NRS, Custer, AG, Morin CJ, Howard ME (1979), A human
as usam como uma medida de proteção/barreira contra perception analysis approach to clothing comfort, Textile Res.
microorganismos patogénicos, etc. J. 49, pp. 557-564.
No que respeita os têxteis-lar, a sua utilização pode ser 8. Kawabata, S, Masako, N. (1989), Fabric performance in clothing
para limpar ou secar, para proteger, para decorar, para and clothing manufacture. J Text. Inst. 80(19), pp. 17.
estofos, etc., em que todos estes produtos estão em con- 9. Barker, R. L., Radhakrishnaiah, P., Woo, S .S., Hatch, K. L., Markee
tato com a pele do utilizador. N.L., Maibach, H. I., (1990) - In Vivo Cutaneous and Perceived
Assim, o utilizador não deve sentir desconforto quando Comfort Response to Fabric Part II: Mechanical and Surface
contata o produto têxtil na sua utilização. Neste sentido, Related Comfort Property Determination for Three Experimental
este trabalho pretende alertar para a importância do co- Knit Fabrics. J. Textile Inst. 60, 490-494
nhecimento das propriedades de conforto dos materiais 10. Yoon, H. N., Sawyer L. C., Buckley, A. (1984), - Improved Comfort
têxteis destinados à confecção, seja ela de têxteis-lar, Polyester, Part II: Mechanical and Surface Properties, J. Textile
seja de vestuário. Inst. 54, 357-365.
O conhecimento destas propriedades e a correlação entre 11. Bishop, BP (1994), Fabrics: Sensory and Mechanical Properties,
elas devem ser feitos de modo a melhorar as condições Textile Progress, 26 N 3
de uso dos materiais têxteis na sua aplicação. 12. Broega, (2001), Contribuição para a Quantificação do Toque e
Assim, um designer têxtil ou de indumentaria não pode Conforto de Tecidos Super Finos de Lã, Master Thesis, Universi-
descurar o seu conhecimento em relação aos materiais que dade do Minho, Guimarães, Portugal
utiliza, quer do ponto de vista tecnológico e de proprieda- 13. Broega, (2008), Contribuição para a Definição de Padrões de Con-
des básicas, mas terá de contemplar na sua concepção o forto de Tecidos Finos de Lã, PhD Thesis, Universidade do Minho,
conforto que os mesmos proporcionarão ao seu utilizador. Guimarães, Portugal

Notas Ana Cristina Broega y Maria Elisabete Cabeço Silva. Universidade


1. Lycra (2002), Global Consumers Trends - the New Generation, Press do Minho.

La profesionalización académica del visualizar el “espíritu” mismo del diseño en la relación


con el hombre anterior a la Revolución Industrial.
Diseño Industrial en Colombia. Reflexiones “... El Diseño es una manifestación de la capacidad del
en función de la construcción del objeto espíritu humano de trascender su limitaciones...” George
de estudio Nelson1.
Si pudiésemos extraer al hombre de la noción del tiempo,
Juan Camilo Buitrago Trujillo encontraríamos ciertas características que serían comu-
nes indiferentemente de la evolución tecnológica que nos
denomina hombres prehistóricos o nos llama hombres
Para comenzar creo conveniente aproximarme rápida- modernos; Una de esas características que quisiera en
mente a las nociones que dan cuerpo a este escrito, para este texto resaltar, y que dicho sea de paso se amarra a la
lo cual considero importante un rápido recorrido sobre afirmación citada de Nelson, tiene que ver con la satis-
las concepciones del Diseño Industrial a lo largo de su facción de necesidades pro-preservación, que se hallan
denominación concreta. Ahora bien, para que este reco- inscritas en la base de la pirámide que utiliza Abraham
rrido adquiera cierto sentido histórico, considero que una Maslow (Maslow, 1970) para exponer sus planteamientos
de ellas debe basarse en una reflexión muy general del sobre la jerarquización de las necesidades en el hombre
paso del tiempo de aquel –hacer–, que se hace analogable como individuo; me estoy refiriendo a las que él llama
o seguramente precedente de esta noción, y que busca “necesidades fisiológicas”, categoría en la que no solo
se hallan éstas (explícitas en la micción y demás necesi-

64 Actas de Diseño 9. Facultad de Diseño y Comunicación. Universidad de Palermo. pp. 29-226. ISSN 1850-2032

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