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48 UNIUBE

Essas e outras questões poderão ser respondidas com o estudo das derivadas dire-
cionais. E, para compreender derivadas direcionais, vamos inicialmente estudar o vetor
direção.

2.3 Vetor direção


Considerando ainda o Exemplo 3, como existe uma infinidade de direções para a qual
a formiga pode caminhar, precisamos de algum método para descrever uma direção
específica a partir de um ponto . Uma maneira de fazer isso é utilizando um vetor
unitário (versor) que tenha ponto inicial em e aponte na direção
desejada. Esse vetor determina uma reta no plano e que pode ser representada
parametricamente como: , .

Caso o vetor direção não seja unitário, calcule o unitário do vetor da seguinte forma:

Sendo , o unitário de será

Sendo , teremos

dicas

Para calcular a derivada direcional, o vetor que representa a direção deve sempre ser unitário.

2.4 Derivada direcional


Veja a seguir a definição de derivada direcional.

Considere a função e o vetor unitário . A derivada direcional de


f na direção e sentido de u em é denotada por e definida por:
UNIUBE 49

Figura 2: Versor apontando para várias direções.

Geometricamente, esta derivada pode ser interpretada como a inclinação da superfície


na direção de u no ponto .

Exemplo 4: Considerando o exemplo 3, onde o ponto é e a função é


, se a formiga desejar caminhar na direção ,
qual será a taxa de variação da temperatura nesta direção, ou seja, ?

Veja os procedimentos para calcular a taxa de variação da temperatura nesta direção!

1o passo: encontre ,

2o passo: substitua as expressões obtidas em

3o passo: calcule

4o passo: calcule

Resolução:

A partir da fórmula de parametrização , , temos que:

Segue da definição que:


50 UNIUBE

Como a função é , teremos:

Sendo assim, teremos:

E assim, com , teremos:

Concluímos que, se a formiga decidir caminhar nesta direção a partir do ponto na


direção e sentido de , então a temperatura irá diminuir a uma taxa de .
UNIUBE 51

Exemplo 5: Dada , encontre , onde .

Resolução:

Segue da definição que:

Como

Temos que:

E assim:

agora é a sua vez

Atividade 3

Encontre em .

a) ; ;

b) ; ;

c) ; ;
52 UNIUBE

d) ; ;

e) ; ;

f) ; ;

2.5 Vetor gradiente


Você percebeu que para representar uma direção específica fizemos uso de um vetor?
Existe um vetor especial e de muita importância devido a suas propriedades específicas,
que é muito utilizado em várias situações práticas e que iremos utilizá‑lo para facilitar os
cálculos das derivadas parciais. Chama‑se vetor gradiente. Este vetor é construído a partir
das derivadas parciais da função e cada ponto de uma função tem seu vetor gradiente.

Definição:

Se for uma função, então o gradiente de f é definido por:

Dizemos: Gradiente de no ponto

curiosidade

O símbolo ∇ é um delta invertido. Ele pode ser lido como “del” ou “nabla”, que vem a ser o
nome de uma antiga harpa hebraica de dez cordas com esse formato.

Veja, agora, como calcular o gradiente!

Exemplo 6: Dada , encontre .

Resolução:

Temos que:
UNIUBE 53

Sendo assim:

Exemplo 7: Dada , encontre .

Resolução:

1o passo: encontre

2o passo: encontre

3 o passo: substitua as expressões obtidas nos passos anteriores na equação

4o passo: calcule

comparando

Agora veja nossa resolução e compare os resultados!

Temos:

Logo:

Exemplo 8: Obtenha , sendo .

Resolução:
54 UNIUBE

1o passo: encontre

2o passo: encontre

3o passo: encontre

4 o passo: substitua as expressões obtidas nos passos anteriores na equação

5o passo: calcule

comparando

Agora veja nossa resolução e compare os resultados!

Temos:

Logo:

agora é a sua vez

Atividade 4

Dadas as funções a seguir, calcule o gradiente de no ponto dado:

;
UNIUBE 55

2.6 Derivadas direcionais utilizando o gradiente


Já vimos como calcular uma derivada direcional e como encontrar o vetor gradiente,
certo? Agora vamos unir os dois conceitos para entender como o gradiente nos ajudará
no cálculo da derivada direcional.

Conhecendo o gradiente, a fórmula para o cálculo da derivada direcional pode ser


reescrita como segue:

Ou seja, a derivada direcional de na direção no ponto é igual ao produto


escalar entre o vetor gradiente e o vetor .

relembrando

Em uma multiplicação escalar, multiplicamos os fatores da direção e os fatores com direção


j separadamente. O resultado será um escalar, ou seja, um número.

Exemplo 9: Lembrando que a formiga está sobre o ponto e a função é


, se a formiga desejar caminhar na direção ,
qual será a taxa de variação da temperatura nesta direção, ou seja, ?

Resolução:
56 UNIUBE

1o passo: calcule

2o passo: calcule

3o passo: encontre

comparando

Agora, veja nossa resolução e compare os resultados!

Primeiro vamos calcular o

Sabendo que

Teremos

Fazendo a multiplicação escalar, isto é, multiplicando com e com , teremos:

Compare esta forma de calcular a derivada com a primeira que vimos.

Vamos refazer o Exemplo 5 utilizando o produto escalar .


UNIUBE 57

Exemplo 10: Dada , encontre , onde .

Resolução: Calculando o gradiente, teremos

Achando a derivada na direção , teremos:

Compare esta forma de calcular a derivada com a do Exemplo 5.

Veja agora algumas propriedades deste vetor e descubra por que ele é tão impor‑
tante.

2.7 Propriedades do gradiente


Atente‑se! O gradiente não é simplesmente um dispositivo para facili‑
tar o cálculo da derivada direcional; ele possui algumas propriedades que de‑
vem ser consideradas e que o torna muito importante em muitas áreas do
cálculo. Você lembra que o produto escalar pode ser escrito como
? Pois iremos utilizar essa ideia para reescrever o produto escalar
. Veja a seguir:

Supondo que , reescreveremos a derivada direcional


como conforme vimos
anteriormente, e como é um vetor unitário, sua norma , então reescrevemos
a expressão como:

Onde é o ângulo entre e .


58 UNIUBE

Veja que essa interpretação gera algumas situações interessantes:

1a situação

Quando e se coincidem, isto é, possuem a mesma direção, significa que o


ângulo entre eles é zero. Sendo assim, . Com isso, , que é
o valor máximo que o cosseno pode atingir. Ou seja:

Analisando a 1a situação, como 1 é o valor máximo que o cosseno pode atingir,


também tem seu valor máximo positivo. Sendo assim, podemos afirmar que quando
está na direção e sentido do , a derivada direcional é máxima nesta direção.
Geometricamente falando, significa dizer que tem sua incli‑
nação máxima crescente em um ponto na direção do gradiente e
a inclinação máxima é .

2a situação

Analogamente, quando u tem a mesma direção de , porém com sentido oposto,


, . Assim, , ou seja, tem seu valor
máximo decrescente na direção oposta ao gradiente. Geometricamente, a superfície
tem sua inclinação máxima decrescente em na direção
contrária ao gradiente.

3a situação

Finalmente, no caso em que a direção é perpendicular ao ,


teremos e , o que significa dizer que nas dire‑
ções perpendiculares ao gradiente a derivada direcional vale zero, . Mais
uma vez, geometricamente falando, a superfície tem inclinação nula nas
direções perpendiculares ao gradiente.
UNIUBE 59

sintetizando...

Seja uma função de duas variáveis e consideremos o ponto , teremos:

• Se em , então todas as derivadas direcionais de em


são nulas.

• Se em , então a derivada direcional de em na direção


e sentido de é máxima positiva, e seu valor é .

• Se em , então a derivada direcional de em no sentido


oposto ao é máxima negativa, e seu valor é .

Exemplo 11: Seja . Determine o valor máximo de


uma derivada direcional em , e determine o vetor unitário na
direção e sentido do qual o valor máximo ocorre.

Resolução:

1o passo: calcule

2o passo: encontre

3o passo: determine o valor máximo da derivada direcional

4o passo: calcule o vetor unitário

comparando

Agora, veja nossa resolução e compare os resultados!

Temos que

Calculando , obtemos
60 UNIUBE

Pelas propriedades do gradiente, o valor máximo da derivada é:

Este máximo ocorre na direção de . O vetor unitário nessa direção é:

Exemplo 12: Certo tipo de ave migra de uma região para outra durante o inverno. Elas
voam durante dias e noites sem parar. Mas, para diminuir a fadiga, elas não podem voar
em direções onde a temperatura sofra uma grande variação, acima de ±4°C/km. Elas
estão passando por uma região onde a temperatura é dada por T ( x; y ) =60 − 2 x 2 − y 2 ,
sendo T dado em °C e x e y dados em km. Se elas estão em um ponto da região com
coordenadas (1;2), diga se:


a) elas estiverem voando em uma direção dada pelo vetor a= 2i + j, as mesmas so‑
frerão com a fadiga?


b) elas decidirem voar na direção a= 2i − j, será possível continuar nesta direção sem
que sofram com a fadiga?

Resolução:

Você precisa saber se as aves podem voar nas direções pedidas, para isso terá de calcular
a variação da temperatura nestas direções e comparar com a máxima variação permitida,
que é de ±4°C/km. Assim, saberá se é possível voar nestas direções. Portanto:

1o passo: calcule o gradiente ∇f ( x, y )

2o passo: encontre ∇ (1, 2 )

Agora você poderá calcular as derivadas nas direções pedidas.

3o passo: como a direção não é unitária, calcule o seu versor:


UNIUBE 61

4o passo: agora faça a multiplicação escalar entre o gradiente e a direção para descobrir
a variação da temperatura nesta direção, ou seja,

5o passo: interprete o resultado obtido.

comparando

Agora veja nossa resolução e compare os resultados!

∇f ( x, y )= fx( x, y )i + fy ( x, y ) j

∇f ( x , y ) =
−4 xi − 2 yj

∇f (1, 2) =
−4(1)i − 2(2) j

∇f (1; 2) =−4i − 4 j

Agora que temos o gradiente, podemos calcular as derivadas nas direções pedidas.


Letra a) a= 2i + j

Como a direção não é unitária, precisamos calcular o seu versor:

 2i + j 2i + j
=u =
(2) 2 + (1) 2 4 +1

 2 1
=u i+ j
5 5

Agora faremos a multiplicação escalar entre o gradiente e a direção para descobrir a variação
da temperatura nesta direção, portanto teremos:

Duf ( x; y ) = ∇f ( x; y ).u

 2 1 
Duf (1; 2) =( −4i − 4 j ) .  i+ j
 5 5 

2(−4) 1(−4)
(1; 2)
Duf = +
5 5

8 4
Duf (1; 2) =
− −
5 5
62 UNIUBE

−12
Duf (1; 2) = = −5, 37°C / km
5

A temperatura está diminuindo a uma taxa de 5,37°C / km.

Portanto, as aves sofrerão com a fadiga caso elas continuem a voar nesta direção, uma vez
que a variação de temperatura está acima de ±4°C/km.


Letra b) a= 2i − j

Mais uma vez, temos que calcular o versor do gradiente:

 2i − j 2i − j
=u =
2
(2) + (−1) 2 4 +1

 2 1
=u i− j
5 5

Agora encontramos a derivada nesta direção:


 
Duf ( x; y ) = ∇f ( x; y ).u

 2 1 
Duf (1; 2) =( −4i − 4 j ) .  i− j
 5 5 

2(−4) 1(−4)
(1; 2)
Duf = −
5 5

8 4
Duf (1; 2) =
− +
5 5

−4
Duf (1; 2) = =−1, 79°C / km
5

A temperatura está diminuindo a uma taxa de 1, 79°C / km .

Concluímos que as aves podem voar nesta direção sem sofrer com a fadiga, uma vez que a
variação de temperatura está abaixo do limite de ±4°C/km.
UNIUBE 63

agora é a sua vez

Atividade 5

Encontre em P.

a) ; ;

b) ; ;

c) ; ;

d) ; ;

e) ; ;

Atividade 6

Encontre a derivada direcional de f em P na direção de a (lembre‑se de que o vetor direção


deve ser unitário).

a) ; ;

b) ; ;

c) ; ;

d) ; ;

e) ; ;

Atividade 7

Encontre o gradiente de f no ponto indicado.

a)

b)
64 UNIUBE

c)

d)

Atividade 8

Encontre um vetor unitário na direção do qual f cresce mais rapidamente em P e obtenha a


taxa de variação de f em P nessa direção:

a)

b)

c)

d)

e)

Atividade 9

9.1 A temperatura em °C em um ponto (x,y) de uma placa de metal no plano xy é:

xy
T ( x, y ) =
1 + x2 + y2

a) Encontre a taxa de variação da temperatura em (1,1) na direção e sentido de a = 2i − j.

b) Uma formiga em (1,1) precisa andar na direção na qual a temperatura baixe mais rapida‑
mente. Encontre um vetor unitário nessa direção.

9.2 Numa certa montanha, a elevação z acima de um ponto (x,y), num plano xy ao nível do mar,
é de z = 2000 - 0,02x 2 - 0,04y 2, onde x, y e z são dados em metros. O eixo x positivo aponta
para o Leste e o eixo y positivo para o Norte. Um montanhista está no ponto (–20,5,1991).

a) Se o montanhista utilizar uma bússola para caminhar em direção ao Oeste, ele estará
começando a subir ou descer?

b) Se o montanhista utilizar uma bússola para caminhar em direção ao Nordeste, ele estará
subindo ou descendo? A que taxa?

c) Em qual direção da bússola o montanhista deveria começar a caminhar para percorrer uma
curva de nível, isto é, não subir nem descer (duas respostas)?

9.3 A temperatura em °C em um ponto (x,y,z) de um sólido metálico é:


UNIUBE 65
xyz
T(x,y,z)=
1+x +y 2 +z 2
2

a) Encontre a taxa de variação da temperatura em relação à distância em (1,1,1) na direção


da origem.

b) Encontre a direção na qual a temperatura eleva‑se mais rapidamente no ponto (1,1,1).


(Expresse a sua resposta como um vetor unitário.)

c) Encontre a taxa na qual a temperatura eleva‑se movendo‑se de (1,1,1) na direção encon‑


trada em b).

9.4 Um oleoduto deve ser construído passando por uma montanha com relevo dado pela
8
equação H(x, y) = , sendo x e y dados em metros lineares (m) e H dado em
−2x − y 2 + 10
2

metros de altura (m). Sabendo que a construção está parada em um ponto dado pelas coor‑
denadas (1,1), pede‑se:

a) Se à tubulação for construída na direção positiva de x, de quanto será a taxa de variação


da altura em relação à distância?

b) Se à tubulação for construída na direção positiva de y, de quanto será a taxa de variação


da altura em relação à distância?


c) Se for construída na direção a = 2i + j, de quanto será a taxa de variação da altura em
relação à distância?


d) Se for construída na direção a = i + 2 j. de quanto será a taxa de variação da altura em
relação à distância?

e) Em qual direção ela deve ser construída para que não tenha variação da altura, ou seja,
percorrer uma curva de nível?

9.5 Uma empresa produz dois tipos de produtos, tipo I e tipo II, sendo o número de unidades
produzidas do produto tipo I dado por x e o número de unidades produzidas do produto tipo II
dado por y. A equação que relaciona o lucro com a quantidade de produção dos dois tipos de
2x 2 y 2
produtos é L = 200 + + (mil reais). Em um dado mês foram produzidas 5 unidades
10 8
do tipo I e 4 unidades do tipo II.

Com base neste mês, determine qual será a taxa de variação do lucro em relação à quantidade
de produção se aumentarmos a produção em uma proporção de 3 produtos do tipo I para 1
produto do tipo dois, qual a proporção que devemos aumentar para obtermos um aumento
máximo do lucro e calcule o valor da taxa neste caso.
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Agora gostaríamos que você avaliasse seu conhecimento matemático em relação ao


assunto apresentado neste capítulo e, para isso, verifique se você está apto a:

• usar a diferencial como uma aproximação.

• usar as regras da cadeia para funções de várias variáveis.

• calcular e usar derivadas direcionais de uma função de duas variáveis.

• usar as derivadas direcionais em aplicações práticas.

• utilizar o vetor gradiente como ferramenta para o cálculo de derivadas direcionais.

Caso ainda se sinta inseguro em relação ao conteúdo visto até aqui, retome as páginas
anteriores e reveja o conceito estudado em cada item, principalmente onde você teve
mais dificuldade. Faça anotações, organize um modelo de revisão, refaça os exemplos
e, sempre que possível, faça novos exercícios, e não desanime diante dos possíveis
erros e dificuldades, pois é por meio da resolução de exercícios que evidenciamos a
ampliação do conhecimento.

Resumo
Neste capítulo, enfocamos:

o uso do diferencial como uma aproximação de .


dz ∂z dx ∂z dy
A utilização da regra da cadeia: = ⋅ + ⋅ .
dt ∂x dt ∂y dt
O cálculo do vetor gradiente

O cálculo da derivada direcional utilizando as expressões:

ou

as propriedades do vetor gradiente e suas aplicações.

Agora você já conhece os conceitos básicos das derivadas direcionais e gradiente.


Para aprender sobre derivadas direcionais de maneira mais completa, é necessário
que você estude o encarte que se encontra no final deste livro, pois ele traz informa‑
ções adicionais de importância significativa para seu aprendizado, além de excelentes
exemplos de aplicação, em que você pode ter melhor noção da aplicação das derivadas
direcionais no nosso cotidiano.

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