O motor de pesquisa Google é o caso exemplar do modelo facilitador. Keval
Desai, um gestor de programas da empresa, descreve assim o ambiente: “Na verdade, somos um ecossistema interno de empreendedores (...) uma espécie de ecossistema, mas dentro de uma empresa”. Nesta empresa, os colaboradores são autorizados a despender 20% do seu tempo para promover ideias junto de colegas, organizar grupos, explorar conceitos e construir protótipos. Os grupos de projeto formam-se no próprio processo, baseados em exigências definidas pelos próprios. Um grupo inicial tipicamente inclui um gestor de projeto, um responsável técnico, um gestor de marketing do produto (para tratar de aspectos como análise competitiva, focus groups, definição de alvos de marketing, etc.), um designer especializado em interfaces com o utilizador, um especialista em qualidade e um advogado (para temas como privacidade, marcas e outros aspectos legais). Se o grupo acha que tem algo vencedor, apela para o Conselho de Produto da Google para obter financiamento. Este Conselho, que envolve os fundadores da empresa, os executivos de topo e especialistas de engenharia, fornece aos grupos direção estratégica geral e recursos para começar. Projetos bem sucedidos recebem apoio de um Fórum, designado por Fórum de Estratégia de Produto, para formularem os seus modelos de negócio e definirem metas. Muito importante: o Google não aplica critérios pré-concebidos ou quotas tipo “arame farpado” que coloquem barreiras, à partida, aos projetos. Enquanto um projeto tiver potencial e mantiver o interesse de empregados, ele pode continuar. O Google apoia, em média, mais de 100 novos conceitos de negócio em vários estádios de desenvolvimento, e a informação sobre estes projetos está disponível numa base de dados central e pesquisável. Os gestores estimam que 70% destes projetos enquadram-se, de algum modo, no núcleo duro de negócios da empresa, 20% são ideias emergentes e 10% são experiências especulativas. Se um projeto é bem sucedido, os membros do grupo podem receber um bónus substancial (chamado de Prémios dos Fundadores), por vezes na ordem dos milhões de dólares. O caso do Google é difícil de replicar – a sua cultura empreendedora, a sua dinâmica de mercado e o seu acesso incrível a capitais torna-a única. Contudo, outras organizações também tiveram sucesso usando este modelo. O Google gasta imenso tempo e esforço no processo de recrutamento de empreendedores. Para ser recrutado, um gestor de programas ou um engenheiro sénior pode ter de passar por 20 entrevistas em várias etapas, antes de a empresa determinar se esse candidato tem a combinação certa de “DNA empreendedor” com talento técnico num sentido largo e agilidade intelectual. Por 4
isso, o envolvimento dos executivos de topo da empresa é fundamental para as
pessoas acreditarem que o processo de intra-empreendedorismo está a ser levado a sério – ou seja, que a empresa, na verdade, prosseguirá o desenvolvimento e comercialização de boas ideias quando as houver, que o caso não cai em saco roto. De fato, sem suficiente apoio da gestão sénior, conceitos promissores podem muito bem transformar-se em vítimas de conflitos com os negócios da empresa já estabelecidos. Um outro perigo, é que este modelo degenere numa “corrida aos dólares”, em que os interessados concorrem a fundos para projetos normais da sua unidade de negócios ou para financiar ideias que não estão seriamente interessados em prosseguir. Para entender como o Google se tornou uma referência em termos de cultura de inovação na era da transformação, confira os princípios fundamentais da inovação de Gopi Kallayil, líder evangelista e de marketing do Google. 1. Inovação pode vir de qualquer um e de qualquer lugar Não é preciso ser um grande gênio ou estar em uma posição hierárquica superior na empresa para inovar. Uma cultura de inovação pressupõe um ambiente colaborativo e não competitivo, em que as ideias de todos, independentemente do cargo, podem e devem ser ouvidas e consideradas. 2. O foco no usuário é primordial Para alcançar o sucesso, o essencial é focar na experiência do usuário. 3. Ser 10 vezes melhor Para inovar, não basta fazer apenas a sua parte. O colaborador deve sempre ir além, em busca de soluções para problemas que, muitas vezes, ninguém sequer havia notado. 4. A aposta é no conhecimento técnico Inovar é uma forma de utilizar melhor as ferramentas já disponíveis ou criar novas ferramentas mais eficientes para resolver velhos problemas. Para isso, é preciso dominá-las, ou seja, ter um profundo conhecimento técnico. 5. Interação com usuários melhora os resultados Como uma das diretrizes básicas é o foco no usuário, nada faz mais sentido que saber o que eles desejam, como reagem a um produto e o que têm a sugerir. 6. O colaborador precisa de tempo para inovar O Google dá 20% do tempo de trabalho para seus colaboradores desenvolverem projetos pessoais com recursos da empresa. Esses projetos podem ou não ser integrados à família de produtos do Google, mas são uma chance de desenvolvimento fora da lógica estrita do mercado e já trouxeram grandes avanços tecnológicos. 7. Desenvolver um padrão de processos é imprescindível Pode parecer, até agora, que o Google é um grande caos criativo que dá certo. Uma cultura de inovação só pode florescer em um ambiente propício. Portanto, é importante padronizar os processos internos, mantendo, ao mesmo tempo, a flexibilidade para a inovação. 8. Aprender com as falhas e não se prender a elas O Google tem também uma longa história de fracassos e produtos descontinuados. 9. Missão e propósito unem os colaboradores Para o Google, o colaborador faz parte de uma missão, com o propósito de “organizar as informações do mundo e torná-las mundialmente acessíveis e 5
úteis”. É com base nisso que cria um ambiente de colaboração e uma cultura de inovação direcionados para o aprimoramento da organização como um todo.
2 PESQUISA DA 3M
O sonho de toda empresa é contar com funcionários que se comportem
como verdadeiros donos do negócio. Gente que salta da cama motivada, identificada com seu trabalho e entusiasmada por aprender coisas novas, colher resultados de uma boa execução e fazer diferença na vida da organização e de seus clientes. Essas pessoas se comprometem sem limitações, obstinadas em solucionar problemas e gerar valor, colaborando com diversos grupos e inspiradas a trazer ideias e contribuições para o sucesso da empresa e da sua equipe. O fator determinante para que uma empresa se torne inovadora é a construção de uma cultura organizacional que transforme funcionários em intraempreendedores. Pena que não seja assim tão simples como distribuir uma pílula de superpoderes ou convocar as equipes para um único workshop de habilidades comportamentais. Entretanto, 3M, Google, W.L. Gore, Intel e Lockheed Martin são alguns exemplos de corporações que aceleram seu crescimento ao fomentar o intra-empreendedorismo. A cultura de inovação é moldada diariamente pelo que pregam as lideranças, mas, acima de tudo, como agem na prática. Coerência entre vida real e discurso é como o fermento que faz o bolo crescer. A cultura deve estabelecer um ambiente de liberdade de ideias, onde ninguém tem receio de expor opiniões. Na 3M, essa cultura não foi moldada por seus fundadores, mas sim por seus primeiros líderes, em cada gesto, em cada tomada de decisão. Ainda no início do século XX, William Mcknight, dirigente da companhia por 4 décadas, acreditava fortemente que era necessário encorajar os funcionários a tomar iniciativas, sem alimentar um comportamento passivo e dependente. A 3M aprendeu desde cedo a delegar responsabilidades, conceder autonomia e sinalizar a todo colaborador que deveria passar muito tempo próximo ao cliente, gerando conhecimento para solucionar seus problemas. “Contrate bons funcionários e deixe-os em paz” é uma das frases mais poderosas de Mcknight, sintetizando suas crenças no intraempreendedor de alta performance como força motriz da organização. Nos anos 1950, acrescentamos mais um elemento para compor esse sistema que faz da 3M uma das empresas mais inovadoras do mundo há tantas décadas: é a lei dos 15%. Em 2012, veio ao Brasil o inventor do Post-it®, o cientista e ex-funcionário da 3M, Art Fry, que me relatou como se deu a criação da tal regra interna que permitia e estimulava os membros da comunidade técnica 6
da empresa a dedicarem parte de seu tempo para criar um projeto de motivação
pessoal. A convocação era para que não nos limitássemos a trabalhar apenas nas ideias priorizadas pelas lideranças, definidas nos planejamentos estratégicos. Por anos, ele desenvolveu seu “projeto de estimação” (Pet Project) de maneira independente, até conseguir levantar dados promissores e envolver outros colegas que levaram ao lançamento dos blocos autoadesivos em 1980, tornando-se um dos maiores cases de inovações, gerado pela regra dos 15%. A 3Mtm Sun Gun é uma pistola de luz que simula a eficiência da iluminação solar para acertar a tonalidade da cor no trabalho de repintura automotiva e identificar defeitos da superfície do carro. Adivinha? Nasceu da regra dos 15%. O que está por trás desse mecanismo é alimentar o espírito empreendedor dos funcionários, deixando claro que podem e devem dedicar parte de sua atenção, tempo e energia para um projeto em que acreditem, usando recursos da empresa para criar algo de valor. Em termos de tempo, é pouco mais de uma manhã por semana. Porém, não se trata de uma mera questão de horas dedicadas, mas sim da grande mensagem: Trabalhe na sua ideia! Empreenda dentro da própria organização! Estude e Desenvolva aquele projeto que é objeto de sua paixão. O resultado é que todos ganham. O mercado se beneficia por grandes inovações, a empresa cresce aceleradamente, atraindo e retendo talentos, e o funcionário desperta animado em aprender, implementar e fazer diferença no mundo.