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As perguntas da educação

• Sérgio Paulo Muniz Costa

A educação é investimento: social, econômico e político. Sem dúvida, o


mais importante que uma sociedade deve fazer.
Em primeiro lugar, lembremo-nos que ao promovermos a educação dos
filhos, de nós mesmos ou de uma comunidade, estamos aplicando recursos para
alcançar melhor qualidade de vida, traduzida em autonomia, convivência e
realização pessoal.
Em seguida, devemos ter em conta que a soma de todo esse investimento
e seus dividendos resulta em capital humano, a verdadeira riqueza de uma
nação, expressa em conhecimento, produtividade e inovação.
E finalmente, havemos de reconhecer que é pela educação que as pessoas
criam laços de identidade e de solidariedade que lhes permitem viver em uma
sociedade politicamente organizada, o Estado nacional soberano, no âmbito do
qual elas exercem seus direitos e deveres.
A educação é importante ao ponto de sugerir que, sozinha, é capaz de
resolver os problemas crônicos do País. Um erro de boa fé, compartilhado pela
maioria de nós. Antes de proclamá-la como tábua de salvação, há que se
considerar as finalidades, as condicionantes e as dificuldades da educação no
Brasil. Questões além dela mesma.
Afinal de contas, ditaduras e autoritarismos exibem índices educacionais
notáveis. Regimes teocráticos continuam a manter populações inteiras presas ao
atraso, à miséria e ao preconceito. E as cleptoplutocracias são hábeis em vender
simulacros educacionais que mantêm na ignorância o povo que dominam pela
corrupção.
Portanto, o primeiro passo para melhorar a educação no Brasil é fazer
perguntas básicas. Educar para que? Que educação? Por que não temos uma
educação de qualidade no País? Responde-las enseja um amplo debate, para o
qual se deseja contribuir com as seguintes considerações:
1a) O Brasil precisa de uma educação que promova o seu
desenvolvimento integral, entendido como social, econômico e político. Estamos
estagnados há décadas e cada vez mais dissociados do mundo desenvolvido.
Nossa atividade econômica é mais e mais dependente de bens e produtos com
pouca intensidade de conhecimento e tecnologia. A desindustrialização se amplia
de diversas formas. E assim se consolida uma relação duplamente perversa
entre capital e trabalho no País, com falta de mão de obra capacitada, por um
lado, e emprego de baixa qualificação e renda, por outro, perenizando a pobreza,
a desigualdade, a favelização e a violência.
2a) O Brasil precisa de um sistema de educação universal, meritocrático e
eficaz. Que alcance indistintamente toda a população em idade escolar nos níveis
fundamental e médio; que premie a dedicação e a capacidade de estudantes e
professores; e que proporcione conhecimentos e habilidades em ciências, leitura
e matemática em níveis1 próximos aos dos países da OCDE2, organização com a
qual o Brasil negocia um Acordo Marco de Cooperação
(http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/component/tags/tag/15-ocde-
organizacao-para-a-cooperacao-e-o-desenvolvimento-economico) .
3a) É preciso enfrentar as enormes dificuldades para o Brasil implantar
um sistema educacional que atenda às finalidades e condicionantes acima
propostas. De uma forma esquemática, essas dificuldades podem ser resumidas
na forma abaixo:
a. Falta de valorização do conhecimento em nossa sociedade,
historicamente vinculada ao bacharelismo e com pouca tradição
científica.
b. Ideologização do ensino, a partir da distorção do direito de
sindicalização de trabalhadores pelos partidos de esquerda com o
intuito de interferir nas políticas e nas práticas educacionais.
c. Dissociação entre escola e mercado, tanto na oferta e demanda de
mão-de-obra, quanto na produção de conhecimento científico-
tecnológico para novos bens e serviços competitivos.

1 Considerados os resultados compilados no documento “O Brasil no PISA 2015”, o Programa

Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), na sua 6a edição, de 2015.

2Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Com sede em Paris, França,


reúne 33 países: Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Islândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo,
Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça, Turquia, Alemanha, Espanha,
Canadá, Estados Unidos, Japão, Finlândia, Austrália, Nova Zelândia, México, República Checa,
Hungria, Polônia, Coréia do Sul, Eslováquia, Chile, Eslovênia e Israel.
d. Prevalência do assistencialismo em detrimento da educação,
transformando muitas escolas em meras distribuidoras de benefícios,
sem compromisso com o ensino-aprendizado.
A questão da educação no Brasil passa pelas perguntas antes colocadas.
Cabe-nos, como brasileiros, responde-las. Sem boas respostas, continuaremos
onde estamos.
Sem educação e sem perspectivas.

* Coronel de Artilharia (AMAN 1975). Foi Instrutor do Curso de Artilharia do CPOR-R (Recife-
PE), Instrutor-Chefe do NPOR 14o GAC (Pouso Alegre –MG), Comandante da 2a Bateria de
Cadetes da AMAN (Resende-RJ), Instrutor da Divisão de Pesquisa do Centro de Estudos de
Pessoal (Rio de Janeiro - RJ), Instrutor–Chefe de Seção de Ensino de História Militar e Geografia e
Coordenador da Modernização do Ensino da AMAN. É sócio do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB), do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) e autor de livros,
capítulos de livros, ensaios e artigos em revistas nacionais e estrangeiras e nos principais jornais
do País.

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