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No libreto (teto utilizado em peça musical) Um reino singular, que a autora introduz ao
leitor, há o relato de um extraterrestre sobre o Brasil de 2500, em que todos os livros e
documentos são incendiados, gnomos existem e homens travam batalhas com criaturas
místicas. Segundo Maria de Lourdes, essa fábula, ou metáfora da realidade, se refere à
linguagem e ao discurso dos museus, fábricas de mitos e interrogações. (p. 159)
O libreto evoca quatro questões principais: qual é o discurso oficial dos museus do
Brasil? Os museus são espelhos precisos ou distorcidos da sociedade que os criou? Se
não existissem os museus, teríamos que cria-los dada a função que a cultura material
exerce em nossa sociedade? E por fim, museus podem ser usados para uma “educação
cultural”?
O que o mundo contemporâneo deveria esperar dos museus, que no século XX passam a
ser avaliados por sua função social? Desenvolvimento da museologia e surgimento da
“nova história”, com a concepção da cultura material como fonte primária de estudos.
“Naturalmente, sempre haverá diferentes ângulos (como no caso dos hologramas) para
se enfocar um objeto – o econômico, o social, o tecnológico, o artístico, o ângulo do
cientista, do usuário e o da criança -, mas a trifuncionalidade concreta do testemunho
está ali, aberta à exploração. Tão inocentemente aberta que pode ser, eventualmente,
roubada por um Mito. Tão perigosamente inocente que pode até mesmo servir para
acabar com o Mito. É nesta perigosa ‘batalha de significados’ que a museologia estende
o seu campo de investigação e se faz ciência.” (p.162) Buscar extrair de uma cultura
material todas as significações atribuídas por diferentes grupos e exprimir isso no museu
(que a autora chama de laboratórios de interrogação, onde se desenvolve a capacidade
crítica e interpretativa do indivíduo).
“Enquanto os museus estiverem mais preocupados com múmias do que com mentes não
conseguirão descobrir a contribuição intrínseca e específica que podem trazer ao bem-
estar da humanidade.” (p. 162) Museu ou casa de memória não como um grande
“armazém” de “coisa antiga”, mas como apresentadores da memória conservada de
diversos grupos que compõem a sociedade, e laboratórios de interrogação ligados ao
contexto atual, que desenvolvam uma capacidade crítica e que se tornem casas
democráticas.