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A partir da revolução comercial e desenvolvimento urbano – laicização da cultura – mercador e

conhecimentos técnicos para seus negócios e a mentalidade racional e volta do individuo

Escolas laicas medievais – preparar filhos de mercadores – ensino primário, enquanto que a
Igreja ainda monopolizava o ensino “superior” - escrita, cálculo, geografia e línguas vivas –
ajuda na escrita de manuais de viagem – como exercer a função de mercador quando for à
China, por exemplo – Marco Polo

Escrita – de chancelaria (elegante), notarial (chique e abreviada) e comercial (clara e rápida,


necessidades da contabilidade mercantil, escrituração e redação de documentos comerciais.
Escrever tudo, escrever logo, escrever bem)

Geografia – Livro das Maravilhas – geografia prática (tratados científicos, narrativas de viagem
e cartografia) – escolas de cartografia genovesa e catalã – tratados sobre “o que se deve saber
quando for para ...”

Linguas vulgares – entrar em contato com seus clientes

História – glorificar a cidade e compreender o contexto no qual exercem suas atividades –


literatura histórica – historiógrafos preocupados com o econômico

Manuais de comércio – práticas do comércio dos florentinos – grande guia de mercadorias,


moedas etc.

Tudo isso vai em direção contrária à aparelhagem cultural eclesiástica – conhecimentos


técnicos profissionais, e não teóricos gerais; senso de diversidade, e não do universal, levando
ao abandono do latim, por exemplo, em favor das línguas vulgares, ou do próprio latim vulgar.
Enfim, procura-se o concreto, material, mensurável

As faculdades mais frequentadas passam a ser as laicas, ou semilaicas, mais lucrativas: a


faculdade de Direito (não canônico) e Medicina – notários e desenvolvimento de contratos
comerciais e merceeiros (misto de médico e boticário) que tinham posição privilegiada na
sociedade burguesa

Segundo Renouard, a cultura mercantil levou à laicização, à racionalização da existência.


“Medir o tempo tornava-se para o mercador uma necessidade, enquanto a Igreja, atenta ao
eterno, revelava-se inábil nesse mister.” (p.109)

O ano religioso começava numa data variável entre 22 de março e 25 de abril. Os mercadores
tinham necessidade de pontos de partida, referências fixas para seus cálculos e para
estabelecer seus orçamentos. Entre as festas litúrgicas, eles escolheram uma secundária, a da
Circuncisão, e fizeram com que suas contas começassem e terminassem em 1 de janeiro e em
1 de julho. A Igreja também determinara as horas de acordo com as estações do ano e suas
respectivas preces. Matinas, Primas e Angelus. Regulavam-se pelo Sol e variavam ao longo do
ano. Os sinos respondiam aos quadrantes solares. O mercador tinha necessidade de um
quadrante racional, dividido em doze ou vinte e quatro partes iguais. Foi ele que favoreceu a
descoberta e a adoção dos relógios de campainha automática e regular. Doravante, já não era
pelo sino da Igreja que se regulava a vida das pessoas, mas pelo relógio comunal, laico.
Cultura de classe – ensino prático reservado aos filhos de mercadores-banqueiros – baixa
mobilidade social

A influência dos mercadores não se restringia à evolução do ensino, mas também se via
presente no desenvolvimento literário e artístico – MECENATO – ser cliente de artistas,
protegendo-os, comprando suas obras, contratando-os para trabalhar em lugares, é
manifestação de riqueza e posição social – patrocínio para decoração de cidades – Florença e
as portas do Batistério – novos padrões estéticos – controlar os poderosos meios de influência
sobre o povo (literatura para inspirar poemas, panfletos favoráveis à sua pessoa, profissão e
política, controle da arte de modo que os temas respondam a seus interesses e que dessem ao
povo espetáculos e obras para se divertir, mas sem que desenvolvesse neste um interesse pela
política ou reflexão de sua condição social) – similar ao pão e circo – artistas não eram de fato
prestigiados, eram tratados como assalariados

“A religião ainda fornecia, no fim da Idade Média, muitos dos temas e o essencial da inspiração
artística. A Igreja continuava a exercer sobre a produção literária e artística um controle que
muitas vezes podia contrariar o "espírito burguês" da clientela comerciante. A burguesia
contentou-se em servir a causa da Igreja, que por sua vez a servia, ao assegurar uma ordem
social que lhe favorecia e ao fornecer explicações dos acontecimentos que não questionavam
a organização da economia e da sociedade.” (p. 115) O gosto da burguesia mercantil nem
sempre foi original. Para tornar-se nobre, afirmou-se, o melhor meio era, antes de mais nada,
adotar o "gênero de vida" nobre. Que domínio, melhor que o da literatura e da arte, oferecia
aos mercadores o ensejo para essa assimilação?

Foi na arquitetura que inicialmente o burguês imprimiu sua marca. Também a pintura recebeu
a marca do mecenato dos mercadores – representação de famílias aristocráticas – arte do
retrato, sentimentos piedosos e o gosto pelo prestígio – “O mercador partilha com o nobre e
com o clérigo de posição elevada o desejo de aparecer sob os traços do doador e de ali se fazer
imortalizar. [...] Mais que todos os outros, porem, os mercadores querem impor aos seus
contemporâneos e à posterioridade sua presença eternizada. [...] Eles que não têm, como os
nobres, os bispos e os abades, armaduras, emblemas, mitras ou báculos que simbolizem sua
classe social, são mais atentos à reprodução exata de seus traços” (p. 119) – reflexo de uma
tendência ao particular

Luxo – mobiliário, joias, ornamentos e vestimentas particulares – extravagância – “O comércio


beneficiou-se freqüentemente desse luxo. Citemos duas mercadorias cuja procura se tornou
considerável nos séculos XIV e XV: os casacos de pele vindos do Norte e da Rússia através das
cidades hanseáticas ou dos estabelecimentos comerciais italianos do mar Negro e o açafrão
requerido pela tinturaria, perfumaria, medicina e cozinha.” (p. 122)

Renascimento só se explica em função dos progressos técnicos, econômicos e intelectuais da


grande burguesia – vence materialmente o espaço, empenhando-se em compreendê-lo,
dominá-lo, medi-lo

Literatura burguesa – moral de um espírito novo trazido por classe social nova – prudência,
senso prático, preservação de dinheiro, da propriedade, família e saúde
Humanismo nascente deve ao espírito e necessidade de justificar a posição que ocupam no
mundo – temas da literatura humanista: riqueza (aprovação divina, prazeres), fortuna (atos e
ideais do mercador) e virtù (fonte da energia, personalidade humana e fonte de sucesso) –
culmina no “espírito moderno” da moral e arte.

Dinheiro acumulado pelo mercador humanista é investido em bens culturais, e essa nova
direção das despesas pode ser nova especulação não só intelectual como também material –
adornamento artístico das cidades como ponto de partida para política turística que atrai
viajantes e gera novos ganhos – parcial reconversão econômica

Mecenato dos mercadores é fruto da cidade – centro de suas preocupações, afeições e


sobretudo interesses – base de seus negócios e poder – formam organizações políticas e
corporativas que vão para além de sua cidade; ornamentação monumental de sua cidade –
afresco da capela Brancacci, em Florença

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