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FUNDAÇÃO TÉCNICO-EDUCACIONAL SOUZA MARQUES

FACULDADE DE ENGENHARIA SOUZA MARQUES

FERRO FUNDIDO

SANDRA PENHA DE SOUZA ALMEIDA

RIO DE JANEIRO/2017
FERRO FUNDIDO

1 – INTRODUÇÃO
Ferro fundido é uma liga de Fe-C-Si, de teores de carbono geralmente acima de
2,0%, em quantidade superior a que pode ser retida em solução sólida, de modo a
resultar carbono parcialmente livre, na forma de veios ou lamelas de grafita.
Dentro da denominação de “Ferro fundido”, podem ser distinguidos com os
seguintes tipos de ligas:
- Ferro fundido cinzento – cuja fratura mostra uma coloração escura (donde a sua
denominação), caracterizado por apresentar como elementos de liga fundamentais o
carbono e o silício, mas cuja estrutura em que uma parcela relativamente grande de
carbono está no estado livre (grafita lamelar) e outra parcela no estado combinado
(Fe3C).
- Ferro fundido branco – cuja fratura mostra uma coloração clara (donde a sua
denominação), caracterizado por apresentar ainda como elementos de liga fundamentais
o carbono e o silício, mas cuja estrutura, devido as condições de fabricação e menor teor
de silício, apresenta o carbono quase inteiramente na forma combinada (Fe3C).
- Ferro fundido maleável – caracterizado por ser obtido a partir do ferro fundido
branco, mediante um tratamento térmico especial (maleabilização), resultando numa
transformação de praticamente todo o ferro combinado em grafita na fórmula de
nódulos (em vez de veios ou lamelas).
- Ferro fundido nodular – caracterizado por apresentar, devido a um tratamento
realizado ainda no estado líquido o carbono livre na forma de grafita esferoidal, o que
confere ao material características de boa ductilidade, donde a denominação frequente
para esse material é de ferro fundido dúctil,

2 – FERRO FUNDIDO CINZENTO


Esta é entre os ferros fundidos, a liga mais usada, devido às suas características
de:
- Fácil fusão e moldagem.
- Boa resistência mecânica.
- Excelente usinabilidade.
- Boa resistência ao desgaste.
- Boa capacidade de amortecimento de vibrações.
- Baixa ductibilidade.

2.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS FERROS FUNDIDOS CINZENTOS


Segundo a ABNT os ferros fundidos são designados pelas letras FC, indicativo de
ferro fundido cinzento, seguindo-se dois algarismos representativos do limite máximo
de resistência à tração em Kgf/mm².
- As classes FC-10, FC-15, correspondem aos ferros fundidos cinzentos comuns,
com excelente fundibilidade e melhor usinabilidade. A classe FC-15 é utilizada, entre
outras aplicações, em bases de máquinas, carcaças metálicas e aplicações semelhantes.
- As classes FC-20 e FC-25, também de boas fundibilidade e usinabilidade,
apresentam melhor resistência mecânica e se aplicam, principalmente em elementos
estruturais, tais como barramentos, cabeçotes e mesas de máquinas – ferramentas.
- As classes FC-30 e FC-35, com maiores dureza e resistência mecânica, aplicam-
se em engrenagens, bases pesadas de máquinas, colunas de máquinas, buchas e grandes
blocos de motor.
- A classe FC-40 é a classe de uso comercial que possui a maior resistência
mecânica, apresentando, para essa finalidade, combinação de elementos liga, entre eles,
níquel, cromo e molibdênio. Sua utilização é limitada a peças de espessuras médias e
grossas.
De acordo com a ASTM os ferros fundidos são agrupados em classes segundo sua
composição química. Os números de 20 a 60 das classe ASTM correspondem aos
limites de resistência à tração em lb/pol².
A tabela 1 dá os limites de resistência a tração dessas classes em Kgf/mm².
TABELA 1
Classe (ASTM) Limite de resistência à tração (Kgf/mm²)
20 14,0
25 17,5
30 21,0
35 24,5
40 28,0
50 35,0
60 42,0
2.2 – PROPRIEDADES DOS FERROS FUNDIDOS CINZENTOS
- Limite de resistência à tração – varia entre 14KgfF/mm² e 42 Kgf/mm² sendo
que esta propriedade serve de base para as classificações usuais dos ferros fundidos.
- Módulo de elasticidade – nos ferros fundidos, não é uma constante, o que
significa que esses materiais não obedecem rigorosamente a Lei de Hooke.
Determina-se esse valor arbitrariamente como sendo a inclinação da reta que une
a origem da curva Tensão x Deformação e o ponto correspondente a ¼ do limite de
resistência à tração, variando assim entre 7.500 e 15.500 Kgf/mm².
- Dureza – a dureza varia, nos ferros fundidos, desde valores 100 Brinnel, para os
ferros fundidos de grande usinabilidade, até valores superiores a 600 Brinnel para os
ferros fundidos brancos ou coquilhados, pode-se admitir, como no caso dos aços, uma
relação entre a resistência à tração e a dureza Brinnel dos ferros fundidos, de acordo
com Mackenzie cuja equação é a seguinte:
σr = 1,82 Hb
- Resistência à compressão – é considerada propriedade de importância comercial.
O valor da resistência à compressão é de 3 a 4 vezes superior ao da resistência à tração.
Varia nos ferros fundidos cinzentos, de cerca de 50 Kgf/mm² para cerca de 140
Kgf/mm².
- Limite de fadiga – varia aparentemente de modo linear, em relação à resistência
a tração, na mesma proporção de 0,40 a 0,55. Assim, os ferros fundidos cinzentos
comuns apresentarão limites de fadiga entre cerca de 6 Kgf/mm² para cerca de 17,5
Kgf/mm².
- Resistência ao choque – foi considerada, durante muito tempo, uma propriedade
secundária, por ser o ferro fundido cinzento um material frágil, porém para ferros
fundidos ligados com Ni e Mo, por exemplo, apresenta valores para resistência ao
choque variando de 7Kg.m a 14Kg.m para limite de resistência a tração da ordem de 40
a 50 Kgf/mm².
- Capacidade de amortecimento – propriedade típica dos ferros fundidos cinzentos
que é definida como a capacidade do metal absorver vibrações, resultantes de tensões
cíclicas, transformando a energia mecânica em calor.
- Usinabilidade – os ferros fundidos cinzentos mais comumente produzidos
apresentam uma estrutura que permite uma boa usinabilidade.
- Resistência ao desgaste – é igualmente considerada uma característica
importante.
2.3 – ELEMENTOS LIGA NOS FERROS FUNDIDOS CINZENTOS
- Molibidênio – Para teores de 1% eleva o limite de resistência à tração de
aproximadamente 26 Kgf/mm² para 32 Kgf/mm².
- Cromo e Vanádio – aumentam inicialmente a resistência à tração verificando-se
que para valores entre 0,5% e 1% uma queda dessa propriedade, a dureza entretanto
continua aumentando.
- Cromo e Molibidênio – aumentam a resistência à ruptura transversal. O níquel
também, principalmente em ferros fundidos cinzentos com teor de carbono inferior a
3,0%.
Titânio – em teores de 0,08% a 0,25% de titânio residual aumenta a resistência à
ruptura transversal de cerca de 50%.
- Cobre – é d=adicionado usualmente em teores de 0,5% a 2,0% pois para teores
acima de 3,0% a resistência cai. O cobre melhora a usinabilidade do material e sua
resistência à corrosão, principalmente em meio contendo enxofre.
- Estanho – Deve-se manter seu teor abaixo de 0,10% pois para teores acima
diminui a resistência ao choque.
- Nióbio – Para teores de 0,3% ou mais verifica-se a elevação das propriedades
mecânicas.
TABELA 2
CLASSE ESPESSURA APLICAÇÕES
- Utensílios domésticos, anéis de pistão,
Fina (até 13 mm) produtos sanitários, etc.
- Bases de máquinas, fundidos
20 a 25 Média (de 13 a 25 mm) ornamentais, carcaças metálicas, tampas
de poços de inspeção, etc.
Grossa (acima de 25 mm) - Certos tipos de tubos, conexões,
máquinas pesadas, etc.
- Elementos construtivos, pequenos
tambores de freio, placas de embreagem,
Fina (até 13 mm) carters, blocos de motor, cabeçotes,
buchas, grades de filtro, rotores,
30 a 35 Média (de 13 a 25 mm) carcaças de compressor, tubos, conexões,
pistões hidráulicos, barramentos e
Grossa (acima de 25 mm) componentes diversos usados em
conjuntos elétricos, mecânicos e
automotivos.
- Aplicações de maior responsabilidade,
de maiores dureza e resistência à tração,
para o que se pode usar inoculação ou
Fina (até 13 mm) elementos de liga em baixos teores,
engrenagens, eixo de comando de
40 e 50 Média (de 13 a 25 mm) válvulas, pequenos vira brequins,
grandes blocos de motor, cabeçotes,
Grossa (acima de 25 mm) buchas, bombas compressores, rotores,
válvulas, munhões, cilindros e anéis de
locomotivas, bigornas, pistões
hidráulicos, etc.
- É a classe de maior resistência
mecânica, usando-se normalmente
Fina (até 13 mm) pequenos teores de Ni, Cr e Mo.
- Tambores de freios especiais,
60 Média (de 13 a 25 mm) virabrequins, bielas, cabeçotes, corpos
de máquinas diesel, peças de bombas de
Grossa (acima de 25 mm) alta pressão, carcaças de britadores,
matrizes para forjar a quente, cilindros
hidráulicos, etc.

3 – FERRO FUNDIDO BRANCO


Suas propriedades fundamentais, devido justamente a sua grande quantidade de
cementita, são elevadas dureza e resistência ao desgaste. Em consequência, sua
usinabilidade é prejudicada, ou seja, esses materiais são muito difíceis de se usinar,
mesmo com os melhores materiais de corte,
A adição de elementos liga modificam as propriedades do material como descritas
a seguir:
- Cromo – Em teores de 1 a 4%, aumenta a dureza e a resistência ao desgaste.
Em teores 12 a 35%, confere resistência à corrosão e à oxidação a altas
temperaturas, além de aumentar a resistência a abrasão.
- Molibidênio – Em teores de 0,25 a 0,75%, melhora a resistência a fenômenos de
lascamento, corrosão localizada, trincamento pelo calor e efeitos semelhantes. Além
disso o Mo endurece e melhora a tenacidade do material.
- Níquel – Em teores de 4 a 5%, aumenta a dureza do material para cerca de 730
Brinell.
- Cobre – Em teores acima de 4% aumenta a dureza.
- Boro – Em teores em torno de 0,4% aumenta a dureza.
Os tratamentos térmicos também influem nas propriedades mecânicas e é
essencial, sobretudo quando as peças são sujeitas a esforços mecânicos de choque.
Um tratamento térmico típico consiste no aquecimento a uma temperatura entre
815ºC e 870ºC, durante 18h e resfriamento a uma velocidade de 5ºC/h até 650ºC para
assim efetuar a retirada do material do forno. Este tratamento demonstrou um aumento
de resistência ao choque de 30% a 50%.

3.1 – ALGUMAS APLICAÇÕES TÍPICAS DE FERRO FUNDIDO


BRANCO
É utilizado principalmente em aplicações que exijam resistência ao desgaste.
Entre elas, podemos citar:
- Revestimento ante desgaste.
- Bolas para moinhos de bola.
- Matrizes, guias e outras peças para equipamentos de moagem de cimentos.

4 – FERROS FUNDIDOS MALEÁVEIS


O ferro fundido branco é um material que, como se viu, apresenta pouca ou
nenhuma ductilidade. Embora de razoável emprego industrial, as suas características
de fragilidade limitam sua utilização em peças destinadas a vários importantes setores
da indústria.
Como material alternativo, desenvolveu-se um tipo de ferro fundido branco, o
qual, submetido a um tratamento térmico especial chamado maleabilização adquire
maleabilidade, ou seja, a liga adquire ductilidade e torna-se mais tenaz, características
que, aliadas as boas propriedades de resistência à tração, dureza, resistência à fadiga,
resistência ao desgaste e usinabilidade, permitiram abranger outras e importantes
aplicações industriais:
- A maleabilização é, em princípio, um tratamento térmico ao qual se submeteu
ferros fundidos brancos de composição definida a um aquecimento prolongado, em
condições previamente estabelecidas de temperatura, tempo e meio; de modo a provocar
a transformação de parte ou da totalidade do carbono combinado em grafita ou em
certos casos sua eliminação total.
Há dois tipos de maleabilização:
- Maleabilização por descarbonetação – origina o maleável tipo europeu de núcleo
branco ou simplesmente maleável.
- Maleabilização por grafitação – origina o maleável tipo americano ou maleável
de núcleo preto ou simplesmente maleável preto.

4.1 – PROPRIEDADES DO FERRO FUNDIDO MALEÁVEL


A propriedade fundamental, que distingue esta liga do ferro fundido cinzento
comum, é a sua ductilidade, a qual, expressa em alongamento, pode ultrapassar 10%.
O maleável de núcleo branco, especificado pelas normas alemãs (DIN 1692)
apresenta, dependendo do diâmetro dos corpos de prova ensaiados, portanto das seções
das peças fundidas, valores de limites de escoamento superiores a 20 Kgf/mm², de
limite de resistência a tração mínima de 34 a 35 Kgf/mm², com alongamentos, medidos
em 3d, que variam de 3 a 10%.
O maleável de núcleo preto, especificado pelas normas americanas (ASTM-A47
entre outras), apresenta limite de escoamento entre 24,5 e 29,5 Kgf/mm², limite de
resistência à tração entre 35 e 44 Kgf/mm², com alongamento, (medido em 2”) de 10 a
25%.
A dureza Brinell varia de 110 a 150 Hb e o limite de fadiga de 17,5 a 22,0
Kgf/mm².
Outras características podem ser observadas nos ferros fundidos maleáveis:
- A usinabilidade – é considerada a melhor entre as ligas ferrosas.
- A resistência à corrosão – é considerada muito boa, em diversas aplicações.
- A resistência ao desgaste – depende principalmente, da dureza, de modo que os
maleáveis mais duros são os que apresentam melhores condições de resistir à ação do
desgaste.

4.2 – APLICAÇÕES DO FERRO FUNDIDO MALEÁVEL


Entre os mais comuns podemos citar:
Conexões para tubulações hidráulicas; conexões para linhas de transmissão
elétricas; correntes; suportes de molas; caixas de direção; caixas de diferencial; cubos de
rodas; sapatas de freios; pedais de embreagens e freios; bielas; colares de tratores;
caixas de engrenagens, etc...

5 – FERROS FUNDIDOS NODULSRES OU DUCTEIS


O ferro fundido dúctil ou nodular caracteriza-se pela sua ductilidade, tenacidade e
resistência mecânica, mas a característica mais importante, é o limite de escoamento que
é mais elevado no ferro fundido nodular que os outros tipos, de ferro fundido e mesmo
nos aços-carbonos comuns, sem elementos de liga.

5.1 – PROPRIEDADES DOS FERROS FUNDIDOS NODULARES


- Limite de escoamento – são mais elevados que os dos aços comuns de
resistência à tração comparável.
- Ductilidade – É possível chegar a valores de 20% de alongamento ou próximos,
comparáveis também aos obtidos em aços fundidos.
- Resistência ao choque – Razoável.
- Resistência à fadiga – ótima, a relação do limite de fadiga para o limite de
resistência à tração nos ferros nodulares comerciais se situa entre 0,4 e 0,5 Kgf/mm².
- Usinabilidade – Muito boa, comparável a do ferro fundido cinzento.

5.2 – ADIÇÃO DE ELEMENTOS LIGA


O níquel e o molibdênio – adicionados até 1 a 2% para melhorar a
endurecibilidade. Com maiores teores e após tratamentos térmicos convenientes
apresentam, excelente combinação de resistência, tenacidade e ductilidade.
5.3 – APLICAÇÕES TÍPICAS
Os de menor resistência e de maior ductilidade, são aplicados em peças sujeitas a
pressão, como compressores, lingoteiras, encanamentos e acessórios, bielas e peças em
geral que exijam maior resistência ao choque, empregadas na indústria automobilística,
de equipamentos ferroviários, em peças de indústria elétrica, em equipamentos
agrícolas, em máquinas-ferramentas, etc...
Os mais resistentes, de dureza e resistência mais elevada são utilizados na
fabricação de engrenagens, excêntricas, mancais, matrizes, virabrequins, cilindros de
laminação, polias, rodas dentadas, engates, sapatas e tambores de freios, enfim numa
infinidade de peças destinadas a veículos, a indústria aeronáutica, equipamentos
ferroviários, equipamentos agrícolas, equipamentos elétricos, motores diesel, mecânica
pesada, mineração, etc...

6 - BIBLIOGRAFIA
COLPAERT, Humbertus Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. São
Paulo: Edgard Blucher, 2008

FREIRE, J. M. Materiais de construção mecânica São Paulo: LTC, 2005.

HELMAN, H.; CETLIN, P. R. Fundamentos da conformação mecânica dos metais.


Rio de Janeiro: Guanabara dois, 2005.

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