Você está na página 1de 6

O ESTADO, O PODER, O SOCIALISMO (NICOS POULANTZAS) – 1978

Advertência
Página Citação
11 Hoje mais do que nunca, a teoria não pode enclausurar-se em sua torre de marfim.

Introdução
Página Citação
13 Pergunta central do livro “qual a relação entre o Estado, o poder e as classes sociais?
14 É cada dia mais evidente que estamos enredados nas práticas de um Estado que, nos mínimos
detalhes, manifesta sua relação com os interesses particulares.
17 O Estado apresenta uma ossatura material própria que não pode de maneira alguma ser reduzida à
simples dominação política.
21 É bem verdade que o papel do Estado em relação a economia modifica-se não somente no decorrer
dos diversos modos de produção, mas também segundo os estágios e fases do próprio capitalismo.
24 Na realidade não se encontra nos clássicos do marxismo uma teoria geral do Estado. Não que não se
tenham podido ou sabido desenvolver plenamente uma teoria semelhante, mas sim porque não
poderia haver uma teoria geral do Estado.
29 Sobre a teoria do Estado capitalista é dito que “só terá caráter científico se conseguir explicar a
reprodução e as transformações históricas de seu objeto nos lugares em que essas transformações
estão ocorrendo, nas diversas formações sociais, lugares da luta de classes; e isto se conseguir
explicar as formas de Estado segundo os estágios e fases do capitalismo (Estado liberal, Estado
intervencionista etc.), a distinção entre essas formas e as formas de Estado de exceção (fascismos,
ditaduras militares, bonapartismos), formas de regime em países concretos. A teoria do Estado
capitalista não pode ser separada da história de sua constituição e de sua reprodução”.
31 Não é a passagem do moinho a vento ao moinho a vapor que explica a passagem do feudalismo ao
capitalismo.
33 O Estado não pode sancionar e reproduzir o domínio político usando como meio exclusivo a
repressão, a força ou a violência “nua”, e sim, lançando mão diretamente da ideologia.
35 A concepção que sustenta a distinção entre aparelhos repressivos e aparelhos ideológicos do Estado
requer, porém, reservas profundas, pois esta distinção só pode ser considerada a título meramente
descritivo e indicativo. Se ao mesmo tempo esta concepção, baseada nas análises de Gramsci, tem
o mérito de ampliar o espaço do Estado nas instituições ideológicas, não impede, entretanto, que de
fato funcione de maneira restritiva.
37 O Estado não produz um discurso unificado.
43 [...] não é menos verdadeiro que os poderes de classe, e não apenas os econômicos, ultrapassam
sempre o Estado.
45 Onde existe divisão de classes, há, portanto, luta e poder de classe, existe o Estado, o poder político
institucionalizado
Primeira parte – A materialidade institucional do Estado
55 [...] a materialidade institucional do Estado como aparelho “especial” não pode ser reduzida a seu
papel na dominação política. Deve ser, antes de mais nada, procurada na relação do Estado com as
relações de produção e a divisão social do trabalho que elas implicam. Mas esta relação não é de
ordem epistemológica diferente da relação do Estado com as classes sociais e a luta de classes.
Colocar o Estado em relação com as relações de produção e a divisão social do trabalho nada mais é
que o primeiro momento, certamente diferenciado, de um único e mesmo processo: o de relacionar
o Estado com o conjunto do campo das lutas.
61 Quando se está falando sobre trabalho intelectual e manual o autor diz que “Esta divisão não pode
ser concebida de maneira empírico-naturalista, como uma cisão entre os que trabalham com suas
mãos e os que trabalham com sua cabeça”.
63 "É a monopolização permanente do saber por parte do Estado-sábio-locutor, por parte de seus
aparelhos e de seus agentes, que determina igualmente as funções de organização e de direção do
Estado, funções centralizadas em sua separação específica das massas: imagem do trabalho
intelectual (saber-poder) materializada em aparelhos, face ao trabalho manual tendencionalmente
polarizado em massas populares separadas e excluídas dessas funções organizacionais".
71 O autor fala sobre a individualização, colocando que ela é terrivelmente real e diz que “o total
desapossamento do trabalhador direto de seus meios de trabalho dá lugar à emergência do
trabalhador “livre” e “nu” desligado da rede de laços (pessoais, estatutários, territoriais) que antes o
formavam na sociedade medieval”.
73 O Estado é “um fator constitutivo da organização da divisão social do trabalho, produzindo
permanentemente fracionamento-individualização social.
86 A lei é parte integrante da ordem repressiva e da organização da violência exercida por todo Estado.
O Estado edita a regra, pronuncia a lei, e por aí instaura um primeiro campo de injuções, de
interditos, de censura, assim criando o terreno para a aplicação e o objeto da violência. E mais, a lei
organiza as leis de funcionamento da repressão física, designa e gradua as modalidades, enquadra
os dispositivos que a exercem. A lei é, nesse sentido, o código da violência pública organizada.
89 O Estado capitalista, ao contrário dos Estados pré-capitalistas, detém o monopólio da violência
física legítima. Cabe a Max Weber o mérito de ter esclarecido esse ponto, mostrando que a
legitimidade do Estado, que concentra a força organizada, é a legitimidade “racional legal”
fundamentada na Lei: a acumulação prodigiosa de meios de coação corporal pelo Estado capitalista
acompanha seu caráter de Estado de direito.
96 Ilegalidade e legalidade fazem parte de uma única e mesma estrutura institucional.
113 A nação moderna surge assim como um produto do Estado: os elementos constitutivos da nação (a
unidade econômica, o território, a tradição) modificam-se pela ação direta do Estado na organização
material do espaço e do tempo. A nação moderna tende a coincidir com o Estado no sentido em que
o Estado incorpora a nação, e a nação se corporifica nos aparelhos de Estado: tornam-se o
sustentáculo de seu poder na sociedade, designando-lhe seus contornos. O Estado capitalista
funciona como nação.
122 Os genocídios são, eles também, uma invenção moderna ligada a espacialização específica dos
estados-nações: forma de exterminação própria à constituição-limpeza do território nacional que se
homogeneiza quando se delimita [...] O genocídio só se torna possível pelo fechamento dos espaços
nacionais para aqueles que se tornaram então corpos estrangeiros no interior das fronteiras.
130 Uma nação na era capitalista sem Estado próprio é uma nação dissipada de sua tradição e de sua
história, pois o Estado-nação moderno significa também diluição das tradições, histórias e
memórias das nações dominadas.
134 A história da luta operária, é a história de sua luta contra a burguesia: colocar-se do ponto de vista
da classe operária é colocar-se do ponto de vista de sua luta contra a burguesia.
135 O Estado Nacional organiza a burguesia como classe dominante
Segunda parte – As lutas políticas: O estado, condensação de uma relação de forças
141 Uma teoria de Estado capitalista não poderia construir seu objeto pela referência apenas às relações
de produção, como se a luta de classes só interviesse nas formações sociais como simples fator de
variação ou de concretização desse Estado.
142 Uma teoria do Estado capitalista deve poder explicar as metamorfoses de seu objeto.
144 O Estado capitalista constitui a burguesia como classe politicamente dominante.
148 O autor fala da concepção (que não advém dele) do Estado como coisa e sujeito.
152 O estabelecimento da política do Estado deve ser considerado como a resultante das contradições
de classes inseridas na própria estrutura do Estado (o Estado-relação).
Estado é constituído-dividido de lado a lado pelas contradições de classe.
157 Entender o Estado como condensação material de uma relação de forças, significa entendê-lo como
um campo e um processo estratégicos, onde se intercruzam núcleos e redes de poder que ao mesmo
tempo se articulam e apresentam contradições e decalagens uns em relação aos outros
159 Sobre a ascensão das massas populares na transição para o socialismo diz-se que “esse processo não
pode se deter na tomada do poder de Estado e deve se estender à transformação dos aparelhos de
Estado: mas isso supõe sempre a tomada do poder do Estado.
161 Os aparelhos de Estado organizam-unificam o bloco no poder ao desorganizar-dividir
continuamente as classes dominadas, polarizando-as.
168 Por poder se deve entender a capacidade, aplicada às classes sociais, de uma, ou de determinadas
classes sociais em conquistar seus interesses específicos.
169 O Estado não é nem o depositário instrumental (objeto) de um poder-essência que a classe
dominante deteria, nem um sujeito que possua tanta quantidade de poder que, num confronto face a
face, o tomaria das classes: O Estado é o lugar de organização estratégica da classe dominante em
sua relação com as classes dominadas. É um lugar e um centro de exercício do poder, mas que não
possui poder próprio.
177 As lutas de classe simultaneamente atravessam e constituem o Estado, revestindo-o de uma forma
específica, e que essa forma está relacionada com a ossatura material do Estado.
Terceira parte – O Estado e a economia hoje
187 A análise do Estado (e do poder) capitalista não pode então resumir-se, em suas relações
constitutivas, à economia, ao seu relacionamento com as relações de produção e com a divisão
social capitalista do trabalho no sentido geral.
194 Toda medida econômica do Estado tem, portanto, um conteúdo político, não apenas no sentido
geral de uma contribuição para a acumulação do capital e para a exploração, mas também no
sentido de uma necessária adaptação à estratégia política da fração hegemônica.
195 Mesmo as formas precedentes de Estado capitalista, quando o engajamento econômico do Estado
estava subordinado especialmente ao exercício da repressão e á reprodução da ideologia, isso não
impedia a existência, no seio do Estado, de um efetivo aparelho econômico especializado.
203 Esse deslocamento designa doravante ao Estado um papel essencial na reprodução ampliada da
força de trabalho.
Observação da leitora: reler os parágrafos que antecedem esse trecho para entender o deslocamento
que o autor se refere.
204 Toda uma série de intervenções do Estado, quer se trate de reestruturações industriais, da ajuda
múltipla e direta em certas frações do capital ou do arranjo do território, todos ligados certamente à
distribuição da mais-valia e suas transferências, visam, mais fundamentalmente, esta modificação
das relações de produção da força de trabalho em função da aula de sua taxa de exploração
208 A história do intervencionismo estatal não é nem uma história homogênea nas diversas formações
sociais, nem a história linear de um Estado acumulando e adjudicando, progressivamente, tais ou
quais atividades de domínios econômicos intrínsecos.
215 A reprodução da força de trabalho é uma estratégia política, pois trata-se sempre de uma produção
da divisão social do trabalho; os elementos políticos ideológicos estão sempre constitutivamente
presentes nele. Inicialmente sob seu aspecto repressivo, o do exercício da violência organizada.
223 Esses limites na intervenção do Estado repercutem assim na ação direta da luta de classes. Lutas das
massas populares, de tais ou quais massas populares (classe operária, pequena burguesia, classes
populares camponesas) contra as medidas do Estado em favor do capital, lutas também no próprio
seio da burguesia e do bloco do poder contra essas ou aquelas medidas, atuando em benefício
predominante de tal ou qual fração da burguesia e componente desse bloco.
Observação da leitora: reler os parágrafos que antecedem esse trecho para entender os limites que o
autor se refere.
Quarta parte – O declínio da democracia: o estatismo autoritário
234 Uma nova forma de Estado está em vias de se impor: seria preciso ser bem cego (e a paixão, mesmo
se decorrente dos mais nobres motivos, cega sempre) para não se dar conta disso. Forma de Estado
que chamaria na falta de outro termo melhor, de estatismo autoritário. Termo que pode indicar a
tendência geral desta transformação: a monopolização acentuada, pelo Estado, do conjunto de
domínios da vida econômico-social articulado ao declínio decisivo das instituições de democracia
política e à draconiana restrição, e multiforme, dessas liberdades ditas “formais” de que se percebe,
agora, que elas vão por água abaixo, na realidade.
237 A crise política não se reduz nunca à crise econômica, nem a crise de Estado à crise política: o
Estado capitalista está mesmo disposto de tal maneira que ele possa absorver as crises políticas sem
que essas redundem em verdadeiras crises de Estado.
238 Esta crise do Estado oferece igualmente a esquerda possibilidades objetivas novas de transição
democrática para o socialismo.
240 A emergência do estatismo autoritário não pode então ser identificada nem como um novo facismo,
nem como um processo de fascistização. Este Estado não é nem a forma nova de um verdadeiro
estado de exceção, nem, propriamente a forma transitória para um mal estado: ele representa a nova
forma “democrática” da república burguesa na fase atual.
241 Toda forma democrática de estado capitalista comporta tendências totalitárias.
242 O estatismo autoritário reside igualmente no estabelecimento de todo um dispositivo institucional
preventivo, diante do crescimento das lutas populares e dos perigos que ela representa para a
hegemonia.
253 O controle social organizado pelas normais gerais e universais, registrando a culpabilidade dos atos
e dissociando os sujeitos legais dos fora-da-lei liga-se a uma regulamentação individualizada,
254 calcada na “mentalidade” (a intenção presumida) de cada membro de um corpo social considerado
como globalmente suspeito, potencialmente culpado.
259 O estatismo autoritário caracteriza-se por uma dominação das cúpulas do executivo sobre a alta
administração e pelo crescente controle político desta por aquela.
269 O estatismo autoritário deixa pouca escolha aos partidos: ou devem subordinar-se à administração
do Estado, ou devem renunciar a ter acesso a ela.
290 É preciso reler A Revolução Russa da qual cito apenas uma passagem: Ao negar os corpos
representativos resultantes das eleições populares, Lenin e Trotsky instalaram os Soviets como a
única representação autêntica das massas trabalhadoras. Mas com o esmagamento da vida política
em todo o país, a vida dos Soviets não poderia escapar a uma progressiva paralisia. Sem eleições
gerais, liberdade de imprensa e de livre reunião, de livre debate de ideias, a vida esvai-se de toda
instituição política e só triunfa a burocracia.
295 O Estado, hoje menos que nunca, não é uma torre de marfim isolado das massas populares. As lutas
atravessam o Estado permanentemente, mesmo quando se trata de aparelhos onde as massas não
estão fisicamente presentes
296 Tomar o poder de Estado significa que seja desenvolvida uma luta de massa tal que modifique a
relação de forças interna dos aparelhos de Estado que são, em si, o campo estratégico de lutas
políticas.
297 Esta via democrática para o socialismo não significa, portanto, simples via parlamentar.
303 A via democrática para o socialismo certamente não será uma simples passagem pacífica.
305 A história não nos deu até o presente, experiência bem sucedida de via democrática para o
socialismo.
306 O socialismo será democrático ou não será.

Você também pode gostar