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p. 15 Introdução
p.19 A oposição real, que deve ser veementemente afirmada, é entre a lei
autonomamente determinada pelos indivíduos livremente associados em
todos os níveis de suas vidas, desde suas atividades produtivas mais
imediatas até as mais altas exigências regulatórias de seus processos de
tomada de decisões sociais e culturais globais, por um lado, e a lei sobreposta
acima deles, por outro, através da codificação apologética da relação de
forças estabelecida por um órgão independente, por mais “democrático” que
esse órgão seja no sentido formal de legitimação do Estado.
p. 20-21 A questão crucial diz respeito ao segundo ponto fraco dessa posição, o qual
tem influência também sobre o primeiro. Pois é totalmente irrelevante debater
o tamanho da estrutura regulatória defendida sem tratar, ao mesmo tempo, a
questão muito mais relevante e fundamental do tipo – e, assim, as
determinações qualitativas – das estruturas de tomada de decisão e das
formas correspondentes de controle
p. 27 Pelo lado do capital, a crise estrutural de nossa época ativa a demanda por
um envolvimento cada vez mais direto do Estado na sobrevivência contínua
do sistema, mesmo que isso seja contrário à automitologia da “iniciativa
privada” superior
p. 37 2 O “FENECIMENTO” DO ESTADO?
Marx nunca abandonou sua visão de que a mudança radical necessária da
ordem sociometabólica do capital é inconcebível sem a total superação do
poder preponderante das formações estatais do sistema reprodutivo material
estabelecido.
deixou bem claro que imaginar a abolição do Estado, por qualquer
forma de conspiração ou mesmo por algum decreto de base jurídica
mais ampla, só poderia ser uma quimera voluntarista. Ele jamais
deixou de insistir nisso
Mas podemos afirmar com certeza que existe uma teoria marxista adequada
do Estado na literatura mais recente?
p. 56 como e por que o “Estado obediente à lei” postulado e por eles moralmente
elogiado torna-se o tipo de “Estado alemão/italiano/fascista” – criticado por
Barker – sob circunstâncias históricas determinadas.
Não é possível que os teóricos políticos que assumem o poder como o
fundamento legítimo e evidente do direito tenham uma resposta para
essa pergunta embaraçosa.
Ou eles fecham os olhos para ele, ignorando a evidência
histórica dolorosa,
ou, pior ainda, entram em acordo com ele quando tais
desenvolvimentos ocorrem, enquanto mantêm suas
pretensões à iluminação política, como Max Weber faz
p. 56-57 O desenvolvimento histórico decide qual dos dois deve prevalecer sob
as circunstâncias dadas e, via de regra, mutáveis. Por isso, é
totalmente arbitrário postular como norma a constitucionalidade ideal
ou sua necessária suspensão ou abolição.
Ambas vão – ou melhor, vão e vêm – juntas com uma
regularidade espantosa.
p. 57 Como, no entanto, a lei do mais forte deve sempre levar vantagem, pelo
menos como “poderes de reserva” da soberania idealizada, e deve fazê-lo até
mesmo sob as circunstâncias menos conflituosas de uma “idade de ouro
democrática e livre de problemas”, qualquer postulado do “Estado
obediente à lei” – ou das formulações democráticas liberais da mesma ideia
como “contenção do Estado” em relação à “sociedade civil” – não passa de
pura ficção.
Assim a ilegalidade do Estado, como afirmação necessária da lei do
mais forte sob as circunstâncias historicamente mutáveis das
determinações sempre autolegitimatórias, é inseparável da realidade
do Estado como tal.
Em outras palavras, a lei do mais forte e a ilegalidade
Estado são em certo sentido sinônimos, em vista de sua
correlação necessária. Contingente nesse relacionamento
necessário é a forma ou modalidade – isto é, a não violenta ou,
pelo contrário, até mesmo na sua forma mais brutal – de
afirmação do imperativo da lei do mais forte legitimador do
Estado.
Um bom exemplo da relação formalmente mutável, mas contínua quanto à
sua substância, entre a ilegalidade do Estado e a lei do mais forte na história
britânica foi fornecido pela afirmação sumamente autoritária do poder do
Estado em nome da “defesa da democracia”, sob a liderança de Margaret
Thatcher durante a greve dos mineiros de 1984.
Pensar as greves de Jirau e Santo Antônio e o autoritarismo das PMs
p. 58-59 O que importa aqui é a continuidade objetiva perversa entre estar acima da
lei, graças à posição estruturalmente segura do Estado, e sua capacidade de
decretar “estados de emergência” – incluindo até mesmo os modos mais
autoritários de ação – em nome da “defesa da democracia”.
A única maneira de tornar esse tipo de desenvolvimento inteligível de
modo geral é sublinhar a indissociabilidade estruturalmente
determinada da lei do mais forte e da ilegalidade do Estado
afirmando-a em nome do estado de direito, por incrível que pareça
p. 59 indissociabilidade estruturalmente determinada da lei do mais forte e da
ilegalidade do Estado como privilégio autolegitimatório do Estado
a prevalência da ilegalidade do Estado como a realidade autoritária do
Estado, independentemente de quão violenta ou não for a forma em
que ela se manifesta sob as circunstâncias históricas em mudança
A ilegalidade do Estado pode se manifestar em períodos
“democráticos”