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Comercial II Casos Práticos Resolvidos

Direito Comercial II (Universidade de Lisboa)

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CASO N.º 1

António e Bento são irmãos e únicos herdeiros dos negócios da família. Após a morte do Conde
de Arneiro, seu pai, os irmãos resolveram constituir três sociedades com a património familiar
das quais eram os únicos sócios e administradores:

(i) a sociedade Solar do Arneiro, Lda., que tinha por objeto a exploração de turismo rural, à qual
alocaram o solar da família em Ponte de Lima;

(ia) a sociedade VitArneiro – Exploração Vinícola, SA., que se dedicava à produção e


comercialização de vinho alvarinho; e

(si) a sociedade Arneiro e Arneiro, SNC., que se dedicava à prestação de serviços e à


consultadoria.

Não obstante a constituição das três sociedades, na prática, a vida manteve-se tal qual era em
vida do Conde Arneiro: António e Bento viviam no solar e sempre entenderam o património das
sociedades como património familiar... Tal entendimento manifestava-se, sobretudo, na total
ausência de disciplina no que diz respeito à distinção entre a conta bancária pessoal dos sócios
(muito avultada) e a conta bancária das sociedades. Despesas sociais eram pagas pelos sócios e
vice-versa. Na prática, utilizava-se o saldo que melhor se apresentasse para o efeito,
independentemente da natureza da despesa, operação, etc.

Tal confusão não existia apenas entre sócios e sociedade, mas também entre as próprias
sociedades... Por exemplo: as despesas da Solar do Arneiro, Lda. eram muitas vezes suportadas
pelo exercício da VitArneiro, SA...

1 – Qual a responsabilidade de A e B pelas obrigações sociais de cada uma das sociedades?

Introdução aos tipos da sociedade presentes no caso prático e a responsabilidade dos sócios em cada uma
delas:

Sociedade por quotas: o capital está dividido em quotas e os sócios são solidariamente responsáveis por
todas as entradas convencionadas no contrato (artigo 197.º, n.º1 CSC); a forma poderá ter uma
composição variada mas, em qualquer caso, concluirá pela palavra «limitada» ou pela abreviatura «Lda.»
(artigo 200.º, n.º1 CSC); 16, 20, 23, 27, 30

Sociedade Anónima: As regras relativas à firma das sociedades anónimas (artigo 275.º CSC) transcrevem,
praticamente à letra, o disposto no artigo 200.º CSC para as sociedades por quotas. Apenas com a
diferença: em vez de Limitada ou Lda terá de surgir, agora, sociedade anónima ou S.A. Perante o Direito
em vigor, as sociedades anónimas poderão dispor de firmas pessoais, de firmas materiais, de firmas de
fantasia e de firmas mistas.

Sociedades em Nome Coletivo: A sociedade em nome coletivo é caracterizada através do regime da


responsabilidade pelas suas dívidas. Segundo o artigo 175.º, n.º1 CSC e nessas sociedades, o sócio
responde:

• Individualmente pela sua entrada;


• Subsidiariamente, pelas obrigações sociais;
• E isso solidariamente com os demais sócios. De facto, os sócios respondem, sempre, pela sua
entrada: trata-se da regra presente nos artigos 20.º, alínea a) e 27.º CSC e retomada nos artigos
197.º, n.º1 CSC, quanto a sociedades por quotas e artigo 271.º CSC, quanto às anónimas

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Dito isto, podemos concluir que os sócios só responderiam na 3ª sociedade, em nome coletivo. A
responsabilidade de A e B não existiria quanto às outras sociedades.

2 – A sociedade Arneiro e Arneiro, SNC presta habitualmente serviços de consultadoria


agronómica, de acordo com o seu objeto social. Os seus sócios, porém, deliberam (deliberação
e não ato) adquirir um lote de construção no Algarve onde pensam edificar um aldeamento
turístico para revenda. Quid juris?

Primeiro distinguir a capacidade de gozo da de exercício, depois o objeto da capacidade.

A-Distinguir capacidade de gozo da de exercício

CAPACIDADE DE GOZO:

As pessoas têm capacidade jurídica: será a concreta medida de direitos e obrigações de que sejam
suscetíveis. No que toca às pessoas singulares, essa capacidade (ou capacidade de gozo) é plena: elas podem
ser titulares da generalidade dos direitos admitidos pelo ordenamento e podem ficar adstritas à
generalidade dos deveres que a ordem em causa conheça.

Já quanto a pessoas coletivas pretendeu-se que a sua capacidade fosse limitada pelo princípio da
especialidade: ela (apenas) abrangeria os direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução
dos seus fins, segundo a fórmula do artigo 6.º, n.º1 CSC, retomada do artigo 160.º CC.

O Professor MC diz que o chamado princípio da especialidade não tem, hoje, alcance dogmático. Não
podemos retirar daqui, contudo, que a capacidade de gozo das pessoas coletivas seja idêntica à dos
singulares. Ela pode sofrer diversas limitações:

• Limitações ditadas pela natureza das coisas;


• Limitações legais;
• Limitações estatutárias;
• Limitações deliberativas. Esta destrinça é importante, uma vez que os regimes derivados da
inobservância dos diversos pontos não são coincidentes.

Segundo o final do artigo 6.º, n.º1 CSC, excetuam-se ao âmbito da capacidade de gozo das pessoas
coletivas os direitos e obrigações inseparáveis da personalidade singular.
• Trata-se, fundamentalmente:
o De situações jurídicas familiares ou sucessórias que, pela sua natureza, visam apenas
pessoas singulares;
o De situações de personalidade, também centradas nas pessoas singulares;
o De situações patrimoniais, mas que pressupõem a intervenção de uma pessoa singular;
o Diversas situações de Direito Público, também destinadas a contemplar pessoas
singulares.

Quando se trate de transpor para modo coletivo uma determinada norma, cabe verificar, pela
interpretação, se esta, pela sua própria natureza, não opera, apenas, em modo singular, contemplando
direta e necessariamente pessoas singulares. A violação de limitações impostas pela natureza das coisas
implica a nulidade do negócio, por impossibilidade legal (artigo 280.º, n.º1 CC), atingindo as inerentes
deliberações sociais por via do artigo 56.º, n.º1, alínea c) CSC.

CAPACIDADE DE EXERCÍCIO

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Recordamos que, no tocante às pessoas singulares, a capacidade de exercício dá-nos a medida dos direitos
e das obrigações que elas possam exercer pessoal e livremente. A regra é a da plena capacidade de exercício:
quem tiver direitos, deve poder exercê-los, por definição, pessoal e livremente. As únicas exceções derivam
da natureza das coisas: têm a ver com a situação dos menores, dos interditos e dos inabilitados. Para estes
o Direito prevê esquemas de suprimento: poder paternal, tutela e curatela. Numa visão muito elementar e
empírica, as pessoas coletivas seriam assimiladas a menores: incapazes, pela natureza, de praticar pessoal e
livremente os diversos atos, elas teriam de ser representadas. Não é assim.
A categoria da capacidade de exercício só é aplicável às pessoas singulares. As pessoas coletivas – e, com
elas, as sociedades – são tão-só capazes, nos termos que acima deixámos expressos, e com os limites legais.

B-Objeto vs. capacidade

O objeto da sociedade tem de coincidir com o fim imediato da sociedade – atividade desenvolvida 11º/2.
O fim mediato da sociedade é o lucro.

A capacidade da sociedade comercial está relacionada com a capacidade de gozo, que é limitada pelo fim
mediato (medida dos direitos e vinculações de determinada sociedade bem como as suas obrigações).

No caso, não é limitativo da capacidade da sociedade, art.6º/1 CSC + 160º CC. Quanto à última parte,
não podem exceder o objeto, sob pena de responsabilidade civil. O objeto não limita a sociedade.

R: A construção do aldeamento está fora do objeto, mas está dentro da capacidade (11º CSC),
porque a revenda gerará lucro, o vício será sanável. É anulável, nos termos do art.58º/1 a) CSC.

Sociedade gestora de participações sociais – como forma indireta do seu exercício de atividade económica.

3 – O negócio do vinho alvarinho está a correr bastante bem aos irmãos Arneiro, que sonham
agora em lançarem-se na exportação. Para o efeito, a Vintaneiro, SA. necessita de contrair um
financiamento bancário, o que exige a constituição de uma hipoteca. Todo o património
imobiliário (incluindo os hectares de vinha) é propriedade da Solar Arneiro, Lda..Para
além disso, António necessita de um financiamento pessoal que exige igualmente a
constituição de uma garantia real. Em Assembleia Geral, a sociedade Solar Arneiro, Lda.
deliberou, nos termos do art. 246.º/2 c), constituir as hipotecas voluntárias necessárias à
garantia do cumprimento das obrigações a assumir pela VitArneiro, SA. e por António. O
notário, porém, recusa-se a lavrar a escritura porque entende que se violou o disposto no
art. 6.º do CSC. Quid juris?

Prestação de Garantias – De acordo com o art.6º CSC considera-se contrária ao fim da sociedade, a
prestação de garantias reais ou pessoas a dívidas de outras entidades – 1ª parte do nº2 do art.6º CSC. A
prestação de garantias prevista neste número é a efetuada a título gratuito, e nesses casos seria contrariado
o fim social lucrativo da sociedade. Mas a norma consagra duas exceções:

1) Justificadas pelo interesse próprio da sociedade garante

• Definido pela própria sociedade, através dos seus órgãos.


• Depende de opções da sociedade garante e a jurisprudência admite que seja indireto. Ex:
estabelecimento comercial farante certas dívidas, dentro de uma política de boas relações com os
clientes (Tribunal da Relação de Lisboa, 11/3/04, Caetano Duarte).
• Januário da Costa Gomes: quem tem de demonstrar interesse próprio é, em função da
especificidade da matéria, quem se pretende valer.

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• A Sociedade pode ter vantagens e profit (lucro) com estas ações. Ex: prestação de garantias à
sociedade abate dívida a credores, de forma a continuar a receber fornecimento

2) Justificadas por Sociedades em relação de domínio ou grupo.

• A situação de domínio (art. 486º23) e a de grupo (art. 488º24 e ss.) podem ser alargadas aos grupos
de facto (MC 6º/3).

i. A lei não distingue, nem há razões para o intérprete distinguir, se no caso das sociedades em relação de
domínio ou de grupo só a sociedade dominadora pode ser garante da dominada. Basta estar nesta relação
para que seja possível prestar garantias.

ii. Mas, a sociedade garante não pode, com a prestação de garantia (gratuita) descurar o próprio interesse
e o interesse dos seus credores.

• Por isso, nas relações de domínio, a sociedade dominante pode prestar garantias à dependente
(dominante, enquanto sócia da dependente tem interesse no bom andamento da segunda) mas não o
oposto.

• Portanto, a parte final do art. 6º/3 deve ser interpretada restritivo-teleologicamente.

Nos casos mencionados acima (Garantias justificadas por sociedades em relação de domínio ou grupo e
justificadas pelo interesse próprio da sociedade garante) a prestação da garantia mostrar-se-á necessária ou
conveniente à prossecução do escopo lucrativo da sociedade. A sociedade não pode prestar garantias para
satisfazer interesses extrassociais dos sócios.

- No caso em específico, não há uma relação de domínio ou de grupo do ponto de vista jurídico (482º,
486º) no máximo haveria um grupo de facto, porque estamos perante a mesma estrutura acionista, ou seja,
os sócios são os mesmos.

- António quer contrair uma garantia pessoal, então, tudo caberia no justificado interesse próprio. Mas
haveria justificado interesse próprio sempre que servir o fim da sociedade, sendo que estas garantias à
partida serão válidas, caso sigam o justificado interesse próprio.

• Quem é que poderia alegar o justificado interesse próprio?


o MC diz-nos que quem (invoca a nulidade) alega o facto terá o ónus de a provar.
o Prof. Coutinho de Abreu – diz-nos que (o beneficiário da garantia é que deve provar) é o
credor da entidade cuja dívida foi garantida que deve provar, se quiser ver reconhecida a
validade da garantia. António é que teria de invocar e provar o justificado interesse próprio da
sociedade, deveria haver uma inversão do ónus da prova.

- No caso de se constituir uma hipoteca voluntária a assumir pela VitArneiro SA e António, deveríamos
verificar se esta hipoteca seria do interesse dos sócios garantes, e essencial para a subsistência da sociedade.
Caso assim fosse, a constituição da hipoteca não violaria o disposto no art.6º relativamente à capacidade
das sociedades.

4 – Uma conhecida publicação da área do turismo e lazer fez uma reportagem sobre o
Solar do Arneiro. A reportagem em causa era bastante desfavorável ao empreendimento e
divulgava dados incorretos, alguns deles completamente falsos... A sociedade Solar Arneiro,
Lda. moveu uma ação contra a referida publicação, pedindo a condenação da mesma no
pagamento de indemnização por violação do direito ao bom nome e à imagem, a fixar
nos termos do artigo 496.º/3 do CC. A e B, moveram igualmente uma ação contra a
publicação, pedindo uma indemnização por violação dos seus direitos de personalidade.

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Quid juris?

Segundo Art. 12º/2 CRP as pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos direitos compatíveis
com a sua natureza.

• MC diz-nos que: Não ficam excluídos, o direito ao bom nome, o direito à honra nas Sociedades
Comerciais (segundo o 6º/1 CSC e 160º CC- princípio da especialidade).

o É possível concluir que a sociedade Solar Arneiro, por um lado, é titular de direitos de
personalidade, como também tem a necessária capacidade para intentar uma ação que
garanta que os mesmos estão a ser respeitados.

• As pessoas coletivas não têm um substrato humano que lhes permita o sofrimento da construção
da dimensão interna, mas temos a dimensão externa: a dimensão da honra tem impacto na sua
rentabilidade, na sua possibilidade de desenvolver a atividade comercial; tem impacto no bom
nome/reputação.

Há uma questão que se coloca, tendo em conta a existência deste direito, quando ele é violado
surge como Dano Patrimonial ou Dano Não Patrimonial/Moral?

• Art. 484º CC
o A questão é averiguar se este artigo é extensível às Sociedades Comerciais.
o Maioria da doutrina entende que sim, incluindo o Prof. MC, pois o Bom Nome da
Sociedade influencia a sua atividade comercial.

Para uma corrente jurisprudencial a ofensa do bom nome e reputação das sociedades comerciais apenas
releva como dano patrimonial indireto, não sendo por isso suscetível de indemnização por danos não
patrimoniais.
• Invocando-se que o bom nome e reputação das sociedades comerciais apenas interessam na
medida da vantagem económica que deles podem retirar (STJ 27/11/2003; STJ 9/6/2005; STJ
23/1/2007).

António Pinto Monteiro: danos não patrimoniais não são transponíveis para as pessoas coletivas, pois
elas não têm as características da pessoa humana (dá como exemplo que as sociedades não choram).
• A própria índole do dano não patrimonial pressupõe que a vítima possa sofrer, ter dores, ter
sentimentos e emoções. O dinheiro com que se visa compensar esse dano também pressupõe
estes sentimentos – ou seja, pressupõe a capacidade de chorar e de rir.
• As pessoas coletivas não podem sofrer danos de natureza não patrimonial, é uma posição mais
adequada ao princípio da especialidade de fim dessas pessoas.
• Portanto, não pode valer na mesma lógica e tem de se valorar de forma diferente, como dano
patrimonial indireto.

Seguindo a doutrina do Professor MC e se, como se pretende no caso, o dano for produzido em
duas esferas distintas (dum sócio e da sociedade, neste caso A e B + Solar Arneiro Lda)?
Além da Sociedade, o Sócio pode pedir uma indemnização – mas tem de ser aferido que através do ataque
à sociedade o sócio sofreu repercussões na sua esfera jurídica.
Ex: sociedade e sócio têm mesmo nome.

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A personalização das sociedades significa, no fundo, que os direitos e deveres dos seus sócios são tratados
em modo coletivo.
• Ou seja: embora os seres humanos sejam sempre, em última análise, os únicos destinatários
possíveis de normas jurídicas, a personalidade coletiva permite que, através de novos jogos de
normas, os direitos e deveres daí resultantes sejam exercidos e acatados através de uma
organização própria.

Concluindo, não se pode defender que na indemnização pedida por A e B existe o princípio da
especialidade e, portanto, os sócios não têm qualquer direito a uma indemnização relativamente
aos danos ao bom nome da sua sociedade, apenas afeta o bom nome e a honra da própria
sociedade.

5 – Os credores da Solar Arneiro, Lda. estão com enormes dificuldades em obter a


satisfação dos seus créditos. António e Bento refugiam-se na autonomia patrimonial da
sociedade para não pagar. Poderão os credores da sociedade ter esperança em que o vasto
património dos sócios seja chamado a satisfazer as dívidas sociais?

Trata-se de uma sociedade por quotas, e a sociedade encontra-se limitada aos valores das entradas, sendo
que os sócios só respondem por esse valor da entrada, art.197ºCSC.

O levantamento do véu vem impor limites à autonomia patrimonial da sociedade – levantamento da


personalidade coletiva. Instituto que decorre da boa fé, 334ºCC – (ex da responsabilidade do sócio único,
art.84º CSC…)

LEVANTAMENTO/DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Separação da pessoa coletiva dos seus sócios (outros autónomos sujeitos de direito) não deve obnubilar-
nos.

➢ A sociedade não vive por si e para si, antes existe por e para os sócios sendo instrumento destes.

Esta substancialista consideração da personalidade coletiva abre vias à desconsideração da personalidade


coletiva, levando por vezes ao levantamento do véu da personalidade que derroga o princípio da separação.

• Menezes Cordeiro: Instituto que surgiu a posteriori para sistematizar e explicar diversas
soluções quanto a problemas da personalidade coletiva.

• Este instituto surge como consequência da personalidade coletiva.


• Na sua origem encontra-se uma multiplicidade de casos concretos.

Desconsideração da Personalidade Coletiva das Sociedades: derrogação ou não observância da autonomia


jurídico-subjetiva e/ou patrimonial das sociedades em face dos respetivos sócios. ➢ Tal desconsideração
legitimar-se-á através do recurso a operadores jurídicos como a interpretação teleológica de disposições
legais e negociais e o abuso do direito, auxiliado pela conceção substancialista, não formalista nem
absolutizadora da personalidade coletiva (não há fronteira intransponível entre sociedade e sócios).

Grupo de Casos de Imputação – determinados conhecimentos, qualidades ou comportamentos de


sócios são referidos ou imputados à sociedade e vice-versa.

➢ Ex: trespassário cria sociedade unipessoal para violar obrigação de não concorrência; venda da
totalidade das participações sociais não se identifica com a venda da empresa social; venda de bens a filhos
ou netos (art. 877º); nulidade ou anulação de certos negócios jurídicos inoponíveis a terceiros de boa fé
(art. 291º) como as exceções extracartulares; conflito de interesses.

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Grupo de Casos de Responsabilidade – regra da responsabilidade limitada (ou da não responsabilidade


por dívidas sociais) que beneficia certos sócios pode ser quebrada.

Confusão de Esferas/Mistura de Patrimónios

Quando, por inobservância de certas regras societárias, não há clareza quanto à separação entre o
património da sociedade e o do sócio ou sócios.

• Ocorre frequentemente nas sociedades unipessoais.

Januário: sistema não pode aceitar uma promiscuidade entre sociedade e sócios.

Frequentemente circulam bens de um património pessoal para um património social, sem registos
contabilísticos e etc. tornando-se inviável distinguir com rigor os patrimónios dos sócios e da sociedade e
controlar a observância das regras relativas à conservação do capital social.

• Estando a Sociedade insolvente, não poderão os sócios opor aos credores sociais a
responsabilidade limitada (perante a sociedade) e irresponsabilidade pelas dívidas societárias por
desrespeitaram o princípio da separação, não havendo que observar a autonomia patrimonial da
sociedade.

Subcapitalização material manifesta:

É relevante quando uma sociedade tenha sido constituída com um capital insuficiente.

• A insuficiência é aferida em função do seu próprio objeto ou da sua atuação, surgindo, nesses
moldes, como tecnicamente abusiva.
• Sociedade não dispõe de capitais próprios e suficientes para o exercício da respetiva atividade. o
Pode ser originária ou superveniente.

Cumpre distinguir entre:

• Subcapitalização Nominal – sociedade considerada tem capital formalmente insuficiente para o objeto
ou para os atos a que se destina;

• Subcapitalização Material – há efetiva insuficiência de fundos próprios ou alheios.

Sócios abusam da personalidade coletiva da sociedade quando a introduzem no comércio jurídico ou a


mantêm nele, apesar de sofrer de subcapitalização material (= evidente, reconhecível pelos sócios).

Além da inadequação abusiva, exige-se ainda uma explicitação dos seus fundamentos – como o intento de
prejudicar os credores, os administradores praticarem falências evitáveis ou retardando prejudicialmente
falências inevitáveis.

• Subcapitalizada, ao cair em insolvência serão os sócios chamados a responder ilimitadamente (todos, se


inicial; os sócios controladores se superveniente).

Mota Pinto discorda desta solução pois a lei apenas exige que a sociedade esteja dotada com o capital
mínimo, sem exigir adequação do capital relativamente ao objeto social.

Coutinho de Abreu responde que a questão não é de legalidade estrita e que tal não impede o abuso da
personalidade coletiva pois o prejuízo é dos credores, sendo a possível responsabilidade dos sócios para
com os credores e não para com a sociedade (é externa).

Descapitalização Provocada por Sócios

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Sócios levam património para nova sociedade para escapar à execução do mesmo por dívidas da antiga
sociedade.

Atentado a Terceiros e Abuso da Personalidade Situações em que a personalidade coletiva é utilizada de


modo ilícito ou abusivo para prejudicar terceiros.

• Não basta a ocorrência de prejuízos a terceiros, para haver levantamento da personalidade


jurídica será necessária uma utilização da mesma contrária a normas ou princípios gerais,
incluindo a ética dos negócios.

O abuso da personalidade jurídica é uma situação de abuso do direito ou de exercício inadmissível de


posições jurídicas.

• Não se permite a utilização da sociedade como instrumento de inflição de danos aos credores

Se se verificar este abuso há ilícito, culpa, dano e nexo de causalidade, portanto estão verificados os
pressupostos para responsabilizar os sócios para com os credores sociais (apesar de ser a sociedade a
devedora e pese embora o “princípio da separação”18).

Verifica-se que, no seu conjunto, a jurisprudência relativa ao levantamento manteve típicas características
civis. Não são invocados institutos novos nem especiais princípios societários: os problemas têm sido
resolvidos através do mérito dos factos e com apeto jurídico-positivo às cláusulas civis de boa fé e bons
costumes.

O problema do levantamento da personalidade coletiva, atendendo às constelações de casos típicos,


tendem a ser explicados por:

Teoria Subjetiva – autonomia da pessoa coletiva é afastada quando houvesse abuso da sua forma jurídica
com vista a fins não permitidos, exigindo um abuso consciente da pessoa coletiva.

• Tem sido rejeitada pois a exigência do elemento subjetivo específico geraria dificuldades de
prova.

Teoria Objetiva, incluindo versões institucionais – sindica-se a má intenção do agente e, a partir dessa
primeira fase, o instituto depende da pura contrariedade ao ordenamento.

Teoria da Aplicação das Normas – não se trata de problema geral de personalidade coletiva mas sim de
aplicação de diversas normas jurídicas. Quando por via do seu escopo estas tivessem uma pretensão de
aplicação absoluta ou visassem atingir a realidade subjacente à própria pessoa coletiva, aplicar-se-iam.

Teorias Negativas – negam a autonomia do levantamento da personalidade, enquanto instituto

MC – as diversas teorias documentam facetas próprias do levantamento, correspondendo a progressões


da mesma ideia. Elas não se opõem: completam-se. Este é um instituto de enquadramento. As diversas
teorias (de Serick e Müller-Freienfelds) documentam facetas próprias do levantamento, complementando-
se.

No fundamental,

• O Levantamento traduz uma delimitação negativa da personalidade coletiva por exigência do sistema,
ou seja, exprime situações na quais, mercê de vetores sistemáticos concretamente mais ponderosos, as
normas que firmam a personalidade coletiva são substituídas por outras normas.

É o instituto pelo qual, em circunstâncias muito especiais, é possível não ter em conta as normas que
sustentam a personalidade coletiva, de modo a imputar as obrigações da sociedade às pessoas singulares
que lhe sirvam de suporte: seja aos administradores, seja aos sócios, conforme as circunstâncias.

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• O levantamento opera por exigência marcada da boa fé, ou seja, dos valores fundamentais do
ordenamento jurídico, de tal modo que a invocação, pelos sócios ou pelos administradores da
sociedade considerada, da personalidade, se configure como um abuso do direito.

CASO 2 (CAPACIDADE; PERSONALIDADE)

Armando e Belchior dedicam-se à produção e comercialização de produtos biológicos.


Necessitando de melhorar a respetiva distribuição, constituem a Frutas, Lda. para fazer escoar
as frutas produzidas. Em janeiro de 2010, Belchior faz uma doação anónima a uma ONG
ambiental e a Frutas, Lda. constitui uma hipoteca sobre a sua sede para garantir uma dívida de
Armando decorrente da compra de uma moderna máquina agrícola para a sua exploração.
Tomando conhecimento destes eventos, os credores desta sociedade vêm pedir a declaração
judicial da nulidade da garantia e da doação. Por sua vez, os credores da Frutas, Lda., entretanto
declarada insolvente, pretendem responsabilizar Armando e Belchior pelas respetivas dívidas,
não só na qualidade de sócios da Frutas, Lda mas também enquanto gerentes desta. Quid juris?

Em primeiro lugar, temos de considerar que a Frutas, Lda é uma sociedade comercial. A sociedade
comercial deve hoje ser entendida como um ente jurídico, tendo um substrato essencialmente
patrimonial, e sendo composto por uma ou mais pessoas jurídicas, exercendo com caráter de
estabilidade uma atividade económica lucrativa que se traduz na prática de atos de comércio.
Existem vários tipos de sociedades comerciais, e neste caso estamos perante uma sociedade por quotas.
A sociedade por quotas é regulada nos arts. 197º-270º-G, sendo-lhe diretamente aplicáveis, por remissão
expressa, determinadas normas das sociedades anónimas (título IV), o que não surpreende se
considerarmos ser hoje este tipo societário o modelo das sociedades comerciais.

No que respeita à firma, ela pode ser formada, com ou sem sigla, e deve ser composta pelo nome de todos
ou alguns sócios ou aludir à atividade que a sociedade se propõe prosseguir, devendo concluir pela palavra
“limitada” ou pela abreviatura “Lda”, com a finalidade de, ao olharmos para esta designação social,
possamos identificar imediatamente o tipo social que está em causa.

Neste tipo societário, cada sócio responde pela sua entrada, mas solidariamente com os restantes sócios e
até ao montante do capital social subscrito (art. 197º/1). Esta regra, nas sociedades cujo capital não seja
simbólico, constitui uma especial garantia dos credores sociais, uma vez que permite responsabilizar
qualquer sócio pela totalidade do capital prometido. Isto significa que nas sociedades por quotas, o sócio
não responde apenas pela quota com que entrou. Se algum dos sócios não realizar o capital social, os
outros são chamados a realizar a quota do sócio que não realizou o capital.

No entanto, só a sociedade responde pelas suas dívidas perante os credores (art. 197º/3), exceto se os
sócios garantirem expressamente que se responsabilizam pelas mesmas “até determinado montante” (art.
198º/1). Este regime de responsabilidade pode ser clausulado relativamente a todos ou alguns dos sócios
e permite prever que, em relação a determinados atos, os sócios assumam uma responsabilidade para além
do capital que subscreverem.

Quanto às participações sociais, a parte denomina-se quota e não é titulada (art. 197º/1, 219º/7).
O seu valor mínimo é de 1€ (art. 219º/1/3, 250º/1).

Assim, e de acordo com o art. 1º/2CSC, a Frutas, Lda é uma sociedade comercial, por se tratar de uma
sociedade por quotas.

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De acordo com o art. 5ºCSC, as sociedades comerciais têm personalidade jurídica. No que diz
respeito à capacidade de gozo das sociedades, temos de considerar que a capacidade jurídica é a concreta
medida dos direitos e obrigações de que sejam suscetíveis, tal como considera Menezes Cordeiro. A
capacidade de exercício das sociedades comerciais tem que ver com mecanismos próprios que
expliquem a atuação dos respetivos direitos e vinculações e que essa atuação se processa através de um
determinado órgão, neste caso, a gerência.

O que aqui interessa é a capacidade de gozo, ou seja, a medida de direitos e vinculações de que uma dada
sociedade comercial é suscetível de ser titular, de entre todos os direitos e vinculações possíveis e
compatíveis com a personalidade coletiva. De acordo com o art. 6º/1, a capacidade da sociedade
compreende os direitos e as obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim, excetuados
aqueles que lhe sejam vedados por lei ou sejam inseparáveis da personalidade singular. Neste artigo 6º/1
está presente o princípio da especialidade do fim das pessoas coletivas.

Quanto à capacidade de exercício, esta é a medida dos direitos e obrigações que se exercem pessoal e
livremente, no que respeita às pessoas singulares. Já a sociedade comercial em causa é representada pelos
seus gerentes, neste caso, A e B (art. 252º/1CSC). Mas não estamos perante uma representação orgânica.
Está aqui em causa um problema de organização: este exige que a pessoa coletiva se autodetermine e se
manifeste para o exterior e para isso dispõe de órgãos. Os titulares dos órgãos agem: o que fazem é
imputado à pessoa coletiva. Para se desencadearem os efeitos próprios da representação orgânica basta
que o administrador pratique um ato invocando essa sua qualidade e o estar a agir em nome e por conta
da sociedade.

Relativamente à responsabilidade da pessoa coletiva, nos termos do art. 6º/5CSC, A sociedade


responde civilmente pelos atos ou omissões de quem legalmente a represente, nos termos em que os
comitentes respondem pelos atos ou omissões dos comissários. A pessoa coletiva responde diretamente
pelos atos ilícitos dos titulares dos seus órgãos, desde que tenham agido nessa qualidade.

• Doação
O primeiro ato relevante e que é necessário analisar é a doação feita por Belchior à ONG, ou seja,
está aqui em causa um ato gratuito. O grande campo de eleição para as restrições à capacidade de gozo
dos entes coletivos é o dos atos gratuitos, que poderiam ser contrários aos dos fins da pessoa coletiva,
particularmente se ela fosse uma sociedade. Desde logo ficam de fora os donativos conformes com os
usos sociais: nem são havidos como doações (art. 940º/2). O art. 6º/2CSC também considera não serem
contrários ao fim da sociedade “as liberalidades que possam ser consideradas usuais, segundo as
circunstâncias da época e as condições da própria sociedade.” Aqui, de acordo com o art. 6º/1, esta doação
não estaria dentro do fim social, pelo que esta doação não seria válida. Temos de ver se as doações,
quando são feitas, visam prosseguir o fim mediato da sociedade, que é o lucro, ou o fim mediato, que é a
atividade da sociedade. Esta doação anónima não deve prosseguir o fim da sociedade, não existindo aqui
um interesse de publicidade. Por isso se distingue as doações altruístas das doações que têm em vista o
fim prosseguido pela sociedade. Aqui, o objetivo não é o lucro.

Não há nenhuma razão para considerar as doações fora da capacidade de qualquer pessoa coletiva, mesmo
tratando-se de uma sociedade. Em casos concretos, determinadas doações podem ser invalidadas por
força de regras específicas, que as proíbam. O que não é o caso. Isto significa que o princípio da
especialidade, que restringia a capacidade das pessoas coletivas, não tem hoje aplicação. Assim, e de acordo
com o art. 160º/1CC, todos os direitos e obrigações são acessíveis às pessoas coletivas.

Assim, António vai ter de responder por esta doação.

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• Hipoteca
No que diz respeito à constituição de uma hipoteca constituída sobre a sede para garantir uma dívida
de Armando decorrente da compra de uma máquina agrícola destinada à exploração, temos de ter aqui
em conta a matéria das garantias. A matéria das garantias consta do art. 6º/3CSC, que proibiu as
sociedades de prestar garantias, salvo nas condições que ela própria prevê. São elas: justificado interesse
próprio da sociedade garante; sociedade em relação de domínio ou de grupo. Estas exceções são
de tal ordem que acabam por consumir a regra. Relativamente ao justificado interesse próprio, quando se
presta uma garantia, é fácil invocar um interesse próprio justificado. A jurisprudência chega mesmo a
alargar a ideia de interesse, explicando que ele pode ser indireto. Considero que a compra de uma máquina
agrícola para a exploração da terra e, portanto, para a plantação de fruta serve o interesse próprio da
sociedade, o que significa que, à luz do art. 6º/3CSC podemos admitir a constituição desta garantia sobre
a sociedade.

O justificado interesse próprio tem vindo a ser alargado pela jurisprudência (acórdão de 2004 Tribunal da
Relação - loja de bairro, deve pagar as taxas dos prédios vizinhos?; o tribunal considerou existir um
justificado interesse próprio, podendo a mercearia pagar as dividas). O STJ diz que este interesse tem de
ser objetivamente demonstrado. Este é um conceito vago e indeterminado.

• No caso de haver um credor que se oponha à doação/garantia, e isto é muito importante porque
a oposição dos credores, sobretudo em momentos de pré-insolvência, conta muito. Adotando uma
perspetiva permissiva, defendida por Menezes Cordeiro, o ónus de provar que aquela doação é
prejudicial ao património da sociedade e que não serve os interesses da mesma fica do lado do credor.
Adoto esta perspetiva, o que significa que é o credor que tem o ónus de provar que a doação e a
garantia prejudicam a sociedade, para que possa pedir a sua declaração de nulidade.
• Mas, por outro lado, se adotarmos uma posição de Coutinho de Abreu, que é mais negativa tendo
em conta que este autor parte sempre do principio de que são nulas, isto significa que, havendo
oposição dos credores, cabe ao interessado na garantia (sociedade), provar que a garantia não prejudica
o património da sociedade, e que é feita no interesse da sociedade.

Adotando a posição de Menezes Cordeiro, perante a doação realizada e a constituição da garantia, os


credores da sociedade vêm pedir a declaração de nulidade de ambas, coisa que entendo não ser
possível. No que diz respeito ao pedido de responsabilização por parte de A e B pelas dívidas, não só
como sócios mas como gerentes, entendo que temos de ter em conta o art. 6º/5, que considera que a
sociedade responde civilmente pelos atos ou omissões de quem legalmente a represente, nos termos em
que os comitentes respondem pelos atos ou omissões dos comissários. Aqui temos de ter em conta o
regime da responsabilidade das sociedades por quotas: neste tipo societário, cada sócio responde
pela sua entrada, mas solidariamente com os restantes sócios e até ao montante do capital social subscrito
(art. 197º/1). Esta regra, nas sociedades cujo capital não seja simbólico, constitui uma especial garantia
dos credores sociais, uma vez que permite responsabilizar qualquer sócio pela totalidade do capital
prometido. Isto significa que nas sociedades por quotas, o sócio não responde apenas pela quota com que
entrou. Se algum dos sócios não realizar o capital social, os outros são chamados a realizar a quota do
sócio que não realizou o capital. No entanto, só a sociedade responde pelas suas dívidas perante os
credores (art. 197º/3), exceto se os sócios garantirem expressamente que se responsabilizam pelas
mesmas “até determinado montante” (art. 198º/1). Este regime de responsabilidade pode ser
clausulado relativamente a todos ou alguns dos sócios e permite prever que, em relação a determinados
atos, os sócios assumam uma responsabilidade para além do capital que subscreverem. Como neste caso
não nos é dito que os sócios garantiram expressamente que se responsabilizaram pelas dívidas até um

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determinado montante, pressupomos que se aplica a regra geral, segundo a qual só a sociedade responde
pelas dívidas. A e B também não vão responder pelas dívidas enquanto gerentes, pelo mesmo motivo
agora apresentado, tendo em conta que são os gerentes que representam a sociedade mas não é o
património individual dos gerentes que responde pelas dívidas, mas sim o património da sociedade.

Este caso levantava duas questões:

• Saber se, em janeiro de 2010, a doação feita por Belchior é em nome da sociedade ou em nome
próprio? Se for a frutas limitada a fazer a doação, temos de levantar os problemas do art. 6º/1/2.
Se estivéssemos perante uma doação em nome próprio, não teríamos nada a ver com isso.
• A frutas limitada faz uma hipoteca sobre a sua sede, e trata-se a exploração do Armando, que
continua a ter uma atividade própria, ou está em causa a atividade da sociedade?
o Vamos presumir que a exploração era a da sociedade.
A partir do momento em que a divida está a ser garantida a Armando, temos duas hipóteses:

• Supondo que Armando sem a hipoteca da sociedade não conseguia subsistir nela como sócio?
• Se aquela máquina é para a sociedade, e se foi Armando a compra-la, faz sentido que a sociedade
garanta a divida; a exploração da máquina é usada pela própria sociedade.

Está em causa o património dele e não da sociedade. Mas aqui não diz quem pagou a máquina, apenas diz
que quem garante a dívida é a sociedade. Mas em princípio, nada faz prever que Armando não vai pagar a
dívida nem a máquina.

Relativamente à responsabilização como sócios, estamos perante uma sociedade de responsabilidade


limitada, logo quem responde é o património social.

Sistematização 1º caso:

Sociedade por quotas- art. 200º- responsabilidade limitada

Nada estava dito em relação ao registo da sociedade, presumindo-se que este existiria, ou seja, a
personalidade jurídica já estaria atribuída. Efeito constitutivo do registo e não meramente consolidativo.

A posição de MC do efeito indutor de eficácia é um efeito constitutivo desse registo, ou seja, só com o
registo se dá a personalização da sociedade.

Problemas que o caso levantava:

• Doação anónima: capacidade da sociedade- tem capacidade? Desde que prossiga efeito lucrativo a
capacidade pode praticar ato. Art. 6º/4- o objeto não limita a capacidade da sociedade. Art. 6º/4- ver
se temos uma liberalidade ou não e se esta é consoante os fins prosseguidos pela sociedade: o lucro.
Esta doação não visava prosseguir o lucro, e neste caso a doação não tinha um escopo lucrativo a
médio e longo prazo. Portanto, não estamos perante uma doação altruísta. A doação só seria válida se
tivesse sido alvo de publicidade, o que não foi.
• Hipoteca: não é a sociedade estar apenas a pagar por si o bem, mas sim uma garantia prestada pela
sociedade que diz que se o sócio não pagar a máquina, a sociedade pagará. Temos de interpretar
sempre o que é ou não a prestação de garantias reais de acordo com o justificado interesse próprio:
aquele senhor é o sócio da sociedade, e se não for prestada a garantia não se saberia se o senhor
conseguia manter-se como sócio da sociedade; partimos do princípio de que a máquina é para o fim

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da sociedade e não para o fim próprio do sujeito. E se for prestada uma garantia mediante uma
comissão? Por exemplo: eu garanto o pagamento da máquina desde que no fim dos 4 anos receba
10% de comissão- nesse caso não há espírito de liberalidade nem há um justificado interesse próprio.

Relativamente à responsabilidade dos administradores/gerentes ou dos sócios, temos de ir ao art. 72º e


ss, nomeadamente ao art. 78º: é nula, ilícita e contrária à lei. É difícil sustentar que Armando não teve
culpa. Quanto à responsabilidade enquanto sócios temos de ir para a limitação da responsabilidade dos
sócios enquanto sociedade por quotas, não podendo ser responsabilizado pela entrada mais do que aquilo
com que entraram para a sociedade- art. 197º e ss.

CASO 3 (CAPACIDADE/OBJETO; SOCIEDADES IRREGULARES)

A sociedade Infotudo, Lda. foi constituída, no dia 1 de fevereiro de 2011, tendo por objecto a
distribuição de produtos informáticos. No final de março, ainda antes do registo do contrato –
que só em maio ocorreu –, o gerente, perante uma excelente oportunidade que surgiu, e
desejando que a sociedade abandonasse o negócio dos computadores, adquiriu, em nome da
Infotudo, Lda., uma fábrica de calçado à sociedade Peles e Calçado, Lda. Já após o registo do
contrato de sociedade, a Peles e Calçado, Lda. exige à Infotudo, Lda. o pagamento do preço da
fábrica, o qual, apesar das insistências daquela sociedade, nunca chegara a ser pago. A sociedade
recusa o pagamento, alegando que

(i) “em circunstância alguma a sociedade responderia por um acto do gerente que viola o
fim da sociedade e que, por isso, é nulo”; além disso,

(ii) a responsabilidade pela dívida é apenas do gerente que celebrara o contrato antes de a
sociedade ser sequer registada. Perante a recusa, a Peles e Calçados, Lda. dirige-se ao gerente,
que, por seu lado, invoca que a sociedade é a única responsável desde o registo do contrato. Quid
juris?

Em primeiro lugar, temos de considerar que a Sociedade Infutudo, Lda é uma sociedade por quotas, pelo
que temos de atender ao seu regime. A sociedade por quotas é regulada nos arts. 197º-270º-G, sendo-lhe
diretamente aplicáveis, por remissão expressa, determinadas normas das sociedades anónimas (título IV),
o que não surpreende se considerarmos ser hoje este tipo societário o modelo das sociedades comerciais.

No que respeita à firma, ela pode ser formada, com ou sem sigla, e deve ser composta pelo nome de todos
ou alguns sócios ou aludir à atividade que a sociedade se propõe prosseguir, devendo concluir pela palavra
“limitada” ou pela abreviatura “Lda”, com a finalidade de, ao olharmos para esta designação social,
possamos identificar imediatamente o tipo social que está em causa.

Neste tipo societário, cada sócio responde pela sua entrada, mas solidariamente com os restantes sócios
e até ao montante do capital social subscrito (art. 197º/1). Esta regra, nas sociedades cujo capital não seja
simbólico, constitui uma especial garantia dos credores sociais, uma vez que permite responsabilizar
qualquer sócio pela totalidade do capital prometido. Isto significa que nas sociedades por quotas, o sócio
não responde apenas pela quota com que entrou. Se algum dos sócios não realizar o capital social, os
outros são chamados a realizar a quota do sócio que não realizou o capital.

No entanto, só a sociedade responde pelas suas dívidas perante os credores (art. 197º/3), exceto se
os sócios garantirem expressamente que se responsabilizam pelas mesmas “até determinado montante”
(art. 198º/1). Este regime de responsabilidade pode ser clausulado relativamente a todos ou alguns dos

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sócios e permite prever que, em relação a determinados atos, os sócios assumam uma responsabilidade
para além do capital que subscreverem.

Está aqui em causa a realização de um ato praticado por um órgão de uma sociedade por quotas, a
gerência (art. 252º), que se diferencia das deliberações, sendo estas realizadas pelos sócios. Assim,
devemos considerer que as pessoas coletivas têm capacidade juridica, nos termos do art. 6ºCSC,
compreendendo esta os direitos e as obrigações necessárias ou convenientes à prossecução do seu fim,
sendo que a compra desta máquina não tem em vista prosseguir o fim imediato da sociedade, que é a sua
atividade, tendo em conta que nos é dito que o gerente desejava que a sociedade abandonasse o negócio.
No entanto, temos de ter em conta que este ato está for a do objeto social da sociedade, que neste caso é
a distribuição de produtos informáticos. Os atos praticados dentro da capacidade mas fora do objeto são
válidos, nos termos do art. 6º/4, mas temos de saber se são ou não eficazes, e para tal temos de analisar
os tipos societários em causa. Ora, neste caso está aqui presente uma sociedade por quotas, nos termos
dos arts. 260º/2/3: a sociedade não pode opor a terceiros as limitações de poderes resultantes do seu
objeto social, se provar que o terceiro sabia ou não podia ignorar, tendo em conta as circunstâncias que o
ato praticado não respeitava essa cláusula e se, entretanto, a sociedade não o assumiu, por deliberação
expressa ou tácita dos sócios.

O CSC veio prever a pré-sociedade subsequente ao contrato mas anterior ao registo, sendo esta
uma modalidade de sociedade irregular por incompleitude, consistindo estas em sociedades cujo
processo constitutivo não está ainda concluído, designadamente por falta de inscrição no registo.
Havendo contrato, as relações entre os sócios, sejam pessoais, sejam patrimoniais, estão precisadas. O
único óbice resulta da falta de personalidade jurídica plena, a qual, nos termos do art. 5º, apenas surge
com o registo definitivo. O registo tem efeito constitutivo, mas a verdade é que pode também ter um
efeito consolidativo.

Aqui temos de ter em conta o facto de estarmos perante um ato que foi praticado antes do registo da
constituição da sociedade Infotudo, tendo em conta as relações internas e as relações externas.

Relações internas (art. 37º)


Temos de ter em conta o art. 37º: aplicam-se as regras previstas no contrato e as regras legais
correspondents ao respetivo tipo de sociedade, mutatis mutandis, salvo aquelas que pressuponham o
contrato definitivamente registado; a transmissão das participações sociais por ato inter vivos e as
modificações do contrato requerem sempre o consentimento unânime de todos os sócios.

Relações externas (art. 38º-40º)

De acordo com o art. 40º/1 (relações externas), pelos negócios celebrados em nome de uma sociedade
por quotas, no periodo compreendido entre a celebração do contrato de sociedade e o registo definitivo,
como é o caso, respondem ilimitada e solidariamente todos os que no negócio agirem em
representação dela, neste caso o gerente, bem como os sócios que autorizem o negócio, sendo que
os restantes sócios respondem até às importancias das entradas a que se obrigam, acrescidas das
importâncias que tenham recebido a titulo de lucros ou de distribuição de reservas. Isto significa que a
divida em causa vai ser paga pelo gerente. Portanto, isto significa que A é responsável pelo pagamento da
fábrica de peles.

Dir-se-ia que o património social não responderia a nenhum título. Todavia, Menezes Cordeiro, Coutinho
de Abreu e João Labareda, servindo-se de um argumento de maioria de razão, propõem a aplicação do
art. 36º/2, com remissão para o art. 997ºCC: o património social responde em primeiro lugar e,
beneficiando de excussão prévia, os sócios solidariamente. Compreende-se que seja esta a solução: se nas
relações anteriores à celebração do contrato de sociedade deve ser esta a solução (art. 36º), as relações

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posteriores à celebração do contrato mas anteriores ao registo devem, por identidadee maioria de razão,
beneficiar do mesmo regime. Não faria sentido que à medida que avançassemos no processo de
formação da sociedade, menor fosse a responsabilidade da sociedade irregular.

Por isso, antes de responderem os sócios que agem em responsabilidade da sociedade (neste caso,
o gerente), responde o património social, devendoser este a responder no pagamento da dívida
relative à compra da fábrica de peles.

Quanto ao facto de a sociedade alegar que não é responsável pelo pagamento da dívida pois o gerente
praticou um ato que viola o fim da sociedade e que, por isso, é nulo, temos de começar por considerar
que o gerente praticou um ato e não uma deliberação, pois os atos são praticados pelos elementos do
órgão da administração, neste caso, a gerência, enquanto que as deliberações são praticadas pelos sócios.
Neste caso, não estamos perante um ato fora da capacidade, sendo a capacidade a concreta
medida dos direitos e das obrigações necessárias ou convenientes à prossecução dos fins da
sociedade (art. 6º/1 1ª parte), sendo que os fins da sociedade são: o lucro (fim mediato) e o objeto da
sociedade (fim imediato). Parece-me que temos de atender ao fim mediato, neste caso, pois está em causa
a prossecução do lucro, resultante de uma “excelente oportunidade”. Portanto, aquilo que está aqui em
causa é um ato praticado fora do objeto mas dentro da capacidade. O objeto designa as atividades
exercidas pela sociedade: neste caso, a atividade da sociedade Infotudo estava relacionada com a
informática, e não com calçado e peles, pelo que este é um ato praticado fora do objeto. Assim, e de
acordo com o art. 6º/4, o objeto não limita a capacidade, mas temos de ver se estes atos são
eficazes: nas sociedades por quotas, como é o caso, o ato é eficaz salvo terceiro de má fé
(desconhecimento com culpa da violação do objeto da sociedade, pelo ato: art. 260º/2/3, com exigencies
de publicidade face à necessidade de tutela do tráfico jurídico).

(iii) E se a dívida tivesse sido constituída no final de janeiro, mesmo antes do contrato de
sociedade ser celebrado?

Neste caso já não estamos perante uma pré-sociedade mas sim perante uma sociedade aparente, que ainda
não se formalizou, aplicando-se o art. 36º, tendo de ser observada a forma legal (art. 7º). Trata-se de
situações que, no campo da materialidade, correspondem a contribuições de bens ou serviços, feitas
por duas ou mais pessoas, para o exercício em comum de certa atividade económica que
transcenda a mera fruição, com o fim de participação nos lucros daí resultantes.

Têm de estar verificados os pressupostos de aplicação deste regime:

• Duas ou mais pessoas com firma em comum assumiram contratos com terceiro antes do registo
da sociedade.
• Menezes Cordeiro acrescenta a estes pressupostos de aplicação os elementos próprios da tutela
da aparência ou da confiança. Este professor considera irrelevante a distinção entre a falsa
aparência total de sociedade (nº1) e o acordo tendente à constituição da sociedade (nº2), já que os
terceiros apenas estão convictos da existência da sociedade, sendo-lhes inacessível a intenção dos
sócios em celebrar o contrato em falta. Por outro lado, a remissão para o regime das sociedades
civis, prevista para a segunda situação (nº2), é mais adequada a assegurar níveis superiores de tutela
do que a responsabilidade solidária e ilimitada prevista no nº1.

No caso, está subjacente um acordo de constituição de uma sociedade por quotas, já que o gerente apenas
realizou o ato de compra da fábrica de calçado pouco tempo antes de a sociedade ser registada (cerca de
4 meses antes, se considerarmos que o registo ocorreu em meados de Abril), para além de a sociedade já
ter firma e sede.

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De todo o modo, o regime deve ser o mesmo para os casos de falsa aparência (nº1) e de acordo com a
constituição da sociedade (nº2), tal como considera Menezes Cordeiro, pelo que a distinção é irrelevante.
O autor propõe a harmonização das duas normas, alegando a tutela do nº1 a fim de
responsabilizar:

• O património da sociedade, em primeiro lugar, se este existir;


• Os sócios, solidariamente.
Esta é a solução consagrada no art. 36º/2, ao remeter para as disposições sobre sociedades civis (art. 997º-
nos termos do nº2, o sócio demandado para o pagamento dos débitos da sociedade pode exigir a prévia
excussão do património social- benefício de excussão prévia).

Se não existisse qualquer património comum, aplicar-se-ia o art. 997º/1: os sócios respondem solidária e
ilimitadamente. Se existir um património comum, sejam as relações resultants da falsa aparência ou de
acordo de constituição da socidade, aplica-se o nº2.

Concluindo, no pagamento da dívida relativa à compra da fábrica de calçado, em primeiro lugar


responde o património social, se este existir, e só depois os sócios, solidária e ilimitadamente.

(iv) 5 anos depois, é requerida judicialmente a nulidade do contrato, sendo apontado como
fundamento o número insuficiente de sócios. Quid iuris?

Quanto a esta questão temos de ter em conta o art. 42º, que se reporta às sociedades de capitais, onde se
inclui a sociedade por quotas, e que nos leva a considerar que, depois de efetuado o registo definitivo do
contrato de sociedade por quotas, pode o contrato ser declarado nulo por falta de sócios, com base na al.
a), tendo em conta que são necessários pelo menos dois sócios. Isto significa que, nos termos do art.
52º/1, a declaração de nulidade e a anulação do contrato de sociedade determinaram a entrada
da sociedade em liquidação, nos termos do art. 165º. No entanto, temos de ter em conta que existe
um prazo para se propor esta ação, nos termos do art. 44º/1: a ação de declaração de nulidade pode
ser intentada dentro do prazo de 3 anos a contar do registo. Ora, neste caso o registo ocorreu em abril
de 2011, pelo que apenas até 2014 se poderia pedir a declaração de nulidade. Hoje, em 2017, este prazo
caducou, extinguindo-se o direito previsto neste artigo, pelo que não pode ser requerida judicialmente a
nulidade do contrato, seja com base em que fundamento for. Mesmo que estivesse dentro dos 3 anos,
estamos perante uma falta insanável, tendo em conta que o facto de a sociedade não ter o número mínimo
de sócios não é objeto de sanação nos termos do art. 42º/2.

O MP pode, a todo o tempo, querer a ação de declaração de nulidade, não pode sanar: quem o
faz são os sócios, por deliberação.

Sistematização

A InfoTudo lda é uma sociedade por quotas (art. 199º e 200º). A sociedade ainda não foi registada. O ato
do gerente, em termos de relações internas, cai do art. 37º e em termos de relações externas no art. 40º.
Tanto os gerentes como os sócios seriam responsabilizados, distinguindo os que autorizaram (respondem
solidariamente) e os que deliberaram contra a atuação do gerente (respondem até ao limite da participação
social juntamente com o valor dos lucros). O ato do gerente é válido: a falta de registo não impede o
gerente de atuar no mercado. O art. 6º não pressupõe que exista personalidade juridica. O ato do gerente
tem como objetivo perseguir o lucro. Não estamos perante uma situação do nº2 nem do nº3 porque não
se trata nem de liberalidades nem de garantias a terceiros. O ato do gerente é contrario ao objeto da
sociedade (atividade), mas de acordo com o art. 6º/4 o objeto não limita a capacidade, apesar de não se
puder limitar a responsabilidade da divida ao gerente.

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ii) Os argumentos são improcedentes: art. 40º. No art. 19º não existe uma assunção automatica, sendo a
regra geral a do nº2 ou 3º. Tem de haver comunicação dos 90 dias expressa no art. 19º.
Tem eficácia retroativa mas não é automatica.

iii. Sociedade aparente: não poderiamos pressupor que houvesse acordo ou poderiamos, consoante a
justificação: art. 36º/1. Se aplicasemos a posição de MC iamos ao art. 36º/2 remetendo para o art. 997º
(beneficio de excussão prévia). Se entendessemos que há acordo iriamos ao art.
37º.

iv) Art. 42º/1/a), art. 42º/2 a contrario, art. 44º, art. 52º.

Regime regra do CC é diferente do CSC: a nulidade não pode ser pedida a todo o tempo por qualquer
interessado, ao contrario do regime regra do CC (favor societatis).

CASO N.º 4

António e Bento, no passado mês de Janeiro, constituíram por escrito particular uma SPQ
e promoveram diligentemente o seu registo definitivo. A sociedade tem um capital social
de € 50.000,00 tendo metade sido realizado em dinheiro por António e a outra metade
em espécie, por Bento, mediante a transmissão para a sociedade de um prédio rústico
avaliado em € 25.000,00.

Em inícios de Março, a sociedade contraiu um empréstimo hipotecário em ordem à aquisição


da sua sede social no valor de € 100.000,00.

Quinze dias depois, Bento dá-se conta que, afinal, não tinha vendido o seu terreno à
sociedade de António mas antes tinha com ele constituído uma sociedade, coisa que
nunca desejara e António bem sabia. Em carta dirigida a este, Bento invoca a anulabilidade
do contrato por erro vício. António responde que pouco lhe importa, já que o contrato de
sociedade é nulo. Quid juris?

Culpa in contrahendo- poderá haver nos termos gerais do 227º CC-

O artigo 7º/1 diz-nos que o contrato de sociedade deve ser reduzido a escrito e as assinaturas dos
subscritores devem ser reconhecidas presencialmente. A escritura pública só é exigida quando seja
necessária para a transmissão dos bens com que os sócios entram para a sociedade. Fora destes casos, a
celebração do ato constituinte pode ser efetuada por escritura pública, mas não tem de sê-lo.

Neste caso foi constituída uma sociedade por Quotas. Estas estão presentes nos artigos 197º e
198º CSC. O art. 197º/1 diz-nos que os sócios respondem perante a sociedade pela sua obrigação
de entrada e pela realização das entradas dos seus consócios. Tratando-se de uma sociedade por
quotas, o contrato deve mencionar especialmente o montante de cada quota de capital e a
identificação do respetivo titular, e o montante das entradas por cada sócio, de acordo com o
art.199º CSC.

Em relação às Entradas: só se podem fazer entradas em dinheiro ou espécie nas SPQ. 20º a)

Obrigações dos Sócios:

Situações passivas (art. 20º a) “bens suscetíveis de avaliação pecuniária”

• Obrigação de entrada – art. 25º

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• Sujeição às perdas – tem duplo alcance e representa a frustração de contrapartidas esperadas pelas
entradas, bem como traduzir o funcionamento das regras de responsabilidade dos sócios.

Depende também do tipo societário e podem haver outras prestações devidas. Há vários casos em que há
deveres como contrapartida de diversos direitos: há direito à participação pelo que cada um tem o dever
de possibilitar essa participação.

Obrigação de Entrada Art. 980º CC apresenta a entrada como uma das obrigações essenciais do contrato
de sociedade.

Art. 20º CSC: entrada como elemento essencial que tem regime na parte geral e traços próprios na parte
especial.

• Uma pessoa para ser sócia tem de contribuir para o elemento constitutivo.
• Uma participação social só pode ser atribuída conforme a entrada.

Participação Social = conjunto unitário de direitos e obrigações atuais e potenciais do sócio (enquanto
tal).

• O titular de uma participação social respeitante a determinada sociedade é sócio dessa (nessa) sociedade.

• Aquisição da participação pode ser originária ou derivada (que pode ser por transmissão mortis causa ou
entre vivos).

Coutinho de Abreu: Obrigação de Entrada é a primeira e fundamental obrigação de todos os sócios


primitivos de uma sociedade.

• Sem esta obrigação cumprida, a sociedade não terá meios para poder desempenhar a sua atividade.
• Paralelamente, os sócios não terão título de legitimidade para recolher lucros e para pretender
intervir na vida da sociedade.

O tipo de entrada é definido no contrato de sociedade nos termos do art. 9º/g, h – quer quantitativa quer
qualitativamente.

Pode consistir em diversas realidades com alcance patrimonial:

A. Entradas em Dinheiro – assunção de uma obrigação pecuniária;

• Coutinho de Abreu: tudo aquilo que num determinado espaço é aceite consensualmente como meio de
pagamento.

• Entradas em dinheiro têm de ser com moeda em curso legal em Portugal (art. 14º).

i. Tem que se atender ao princípio do nominalismo

• Equipara-se à entrada em cheque (que não vale como dinheiro e sim como dação pro solvendo).

B. Entradas em Espécie – entrega de bens diferentes de dinheiro, art. 28º/1- CASO DE B QUE
DEU UMA ENTRADA EM ESPÉCIE, PRÉDIO RUSTICO NO VALOR DE 25.000€.

• Deve ser avaliado pelo ROC (art. 28º)– correspondência dos bens que os sócios entram e a sua
participação no capital social.

Requisitos do relatório do ROC e o que se visa:

i. Proteção do interesse da sociedade

ii. Proteção dos credores sociais, assegurando o princípio da exata formação do capital social

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• Transfere-se para a sociedade direitos patrimoniais suscetíveis de penhora e que não são dinheiro: pode
ser direito de propriedade, uso e fruição, knowhow.

Temos uma situação de entrada em dinheiro e outra entrada do mesmo valor avaliado em espécie
(dinheiro ou bens de outra natureza (art. 28º). Situação normal é realizar entradas com dinheiro (se for
outro bem, tem de ser avaliado o valor do mesmo).

o Têm tradução no capital social.

C = Entradas em Indústria

• Não são contabilizadas no capital social

• A razão da exclusão das Entradas em Indústria nas sociedades capitais é porque é mais difícil a
avaliação, não há deliberação instantânea e a indústria vai sendo cumprida (caráter futuro e
sucessivo), impossibilidade de execução específica.
• Não funciona a garantia dos credores.

• Só se admitirem estas entradas nas Sociedades em Nome Coletivo é um afloramento de que as SNC
personificam as Sociedades-Pessoas: tem esta nota de pessoalidade devido às características de confiança
que têm este tipo de entradas

Para garantir uma correta correspondência entre as entradas em espécie e as relativas


participações sociais e entre as participações sociais e o capital social – assim se tutelando os
interesses da generalidade dos sócios e dos credores sociais – o art. 28º exige a avaliação em
certos termos dessas entradas.

O valor das entradas em indústria também deve constar do estatuto social.

• Mas a avaliação é feita pelos sócios, o art. 28º não lhes é aplicável.

Neste caso estamos a falar de bem imóvel, e, portanto, tem de seguir o previsto no 875º CC- escritura
publica ou documento particular autenticado; Não houve nem reconhecimento presencial das assinaturas
nem se quer escritura pública nos termos do 7º1, estamos perante uma nulidade

Empréstimo hipotecário 6º/3 CSC – subcapitalização da Sociedade, porque ela tinha sido constituída por
50.000€ e depois foi-se pedir empréstimo de 100.000€.

A sub - capitalização:

Verifica-se uma subcapitalização relevante sempre que uma sociedade tenha sido constituída com um
capital insuficiente. A insuficiência é aferida em função do seu próprio objeto ou da sua atuação surgindo,
assim, como tecnicamente abusiva.

Cumpre distinguir entre:

• Subcapitalização Nominal – sociedade considerada tem capital formalmente insuficiente para o objeto
ou para os atos a que se destina;

• Subcapitalização Material – há efetiva insuficiência de fundos próprios ou alheios.

Além da inadequação abusiva, exige-se ainda uma explicitação dos seus fundamentos – como o intento
de prejudicar os credores, os administradores praticarem falências evitáveis ou retardando
prejudicialmente falências inevitáveis.

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• Subcapitalizada, ao cair em insolvência serão os sócios chamados a responder ilimitadamente (todos,


se inicial; os sócios controladores se superveniente).

Mota Pinto discorda desta solução pois a lei apenas exige que a sociedade esteja dotada com o capital
mínimo, sem exigir adequação do capital relativamente ao objeto social.

Coutinho de Abreu responde que a questão não é de legalidade estrita e que tal não impede o abuso da
personalidade coletiva pois o prejuízo é dos credores, sendo a possível responsabilidade dos sócios para
com os credores e não para com a sociedade (é externa).

O art.42ºCSC refere que a nulidade do contrato de sociedade após o registo definitivo é taxativa, e como
tal o contrato só será anulado caso preencha alguma das alíneas do nº1 do art.42º. A nulidade está prevista
na alínea e). É nulo o contrato de sociedade, mesmo depois do registo, quando previstos um dos factos
enumerados neste mesmo artigo. Contudo, algumas são sanáveis (principio favor societatis): 42.º, n.º2
CSC. Só estas (taxativamente previstas) é que podem ser sanáveis, as restantes são insuscetíveis de sanação.
Passa-se, em seguida, para o artigo 44º e falar do 44º/3 . Se a ação de nulidade for procedente, passamos
para o artigo 52º (referente à liquidação), ressalvas do MC- NJ constituídos anteriormente não são afetados
desde que o negócio anterior não incorra em nenhum fundamento de nulidade, só é protegido se estiver
protegido por terceiro de boa fé. Onde seguiremos depois para o 165º CSC. Ou seja, se a ação de nulidade
for procedente, a sociedade entra em liquidação. Invalidade mista. Neste caso e por este artigo
poderíamos tirar a conclusão que estamos perante um caso de erro vício que não se encontra
elencado no artigo, pelo que B não pode exigir a anulabilidade do contrato.

No entanto, de acordo com o art.45º CSC: Quanto a vícios de vontade – o erro, o dolo, a coação e a
usura: podem ser, nas sociedades por quotas, invocados como justa causa de exoneração pelo sócio
atingido ou prejudicado, desde que se verifiquem as circunstâncias, incluindo as de tempo, que permitiriam
a anulação, pelo Direito Civil (artigo 45.º, n.º1 CSC). Essa justa causa vem somar-se ao elenco do artigo
240.º, n.º1 CSC. Havendo incapacidade: segundo o artigo 45.º, n.º2 CSC, o negócio jurídico é anulável
em relação ao incapaz. Portanto, o sócio B poderia invocar o erro como justa causa da sua
exoneração, desde que verificadas as circunstâncias e os prazos decorrentes da lei civil- 287º CC,
1 ano.

A nulidade consome a anulabilidade. Mas, se não houver nulidade, deveríamos aplicar as consequências
da anulabilidade – 45º, 1 ano – 287ºCC. Mas neste caso o 52º não se aplica.

Efeitos da anulação do contrato, 47º CSC, 49º CSC - não tinha direito a reaver o que tinha
prestado, por estarmos no âmbito do 45º/1. A nulidade do contrato consome o erro-vício do sócio.

CASO N.º 5

Carlos, Daniel e Eduardo resolveram mudar de vida e abrir uma Garrafeira especialista em
castas portuguesas. Adquiriram um espaço, compraram o stock e começaram a
comercialização dos vinhos.

Como o negócio corria bem, os três amigos resolveram constituir, em Janeiro de 2010,
uma SPQ, que ainda não se encontra registada. No contrato de sociedade ficou expresso
que a sociedade assumia a dívida de € 155.000,00 correspondente ao valor do stock inicial,
mas nada é dito quanto ao imóvel adquirido para a instalação da garrafeira, nem quanto
aos € 1.500,00 dos honorários pagos aos advogados no processo de constituição.

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No primeiro caso (quanto ao imóvel), a ideia inicial era manter o imóvel em compropriedade
dos sócios que o arrendavam à sociedade; quanto aos honorários, nenhum deles se lembrou
desta despesa...

Em Fevereiro, Carlos e Daniel, gerentes da sociedade, celebraram um contrato de


fornecimento com o restaurante Tavares Rico. Sucede, porém, que uma das remessas de
vinho encontrava-se em mau estado e o restaurante pretende agora acionar a cláusula penal
do contrato no valor de € 50.000,00.

Eduardo, que entretanto chegou de uma viagem de dois meses a França para participar
em diversas feiras de vinhos, ficou chocado com a notícia. Não só nunca teria concordado
com o negócio como deseja agora que o imóvel da garrafeira se torne propriedade da
sociedade...

Estavam os sócios em animada discussão quando chegou uma carta do Dr. Basílio, dirigida
à sociedade, na qual o ilustre advogado informava que a sociedade acabava de ser registada
e requeria, novamente, o pagamento dos honorários em atraso... Quid juris?

Sociedade irregular por incompletude: sociedade aparente. É a hipótese plasmada no art. 36º/2: os
sócios decidem constituir uma sociedade comercial, mas mesmo antes da celebração do contrato da
sociedade, iniciam a sua actividade. A lei permite esse início de actividade, mas sob o regime das sociedades
civis puras. O 36º/2 exige um acordo muito simples e incipiente – o essencial é o início da actividade
societária, bastando um minimum de elementos (simplesmente, a indicação das partes e a determinação
da actividade comum em causa). Assim, por aplicação do art. 997º do CC, os sócios respondem pessoal e
solidariamente pelas dívidas da sociedade (nº1), mas têm benefício de excussão (nº2), pelo que o
património social, a existir, responderá em primeira linha.
Para o prof. MC, a sociedade aparente não pode ser comercial: o art. 1º/2 formaliza essa categoria, pelo
que se criaria uma excepção à taxatividade dos tipos societários, até porque pode acontecer que se inicie a
actividade sem que se tenha optado ainda por um tipo. Logo, só se pode falar de sociedade civil; o que
não impede que a actividade ou os actos praticados pelos intervenientes sejam comerciais.

Celebração do contrato: passa a existir uma pré-sociedade. Quanto às relações internas, é aplicável o art.
37º/1, aplicando-se as regras constantes no próprio contrato e as legais (correspondentes ao respectivo
tipo), salvo as que pressuponham o contrato definitivo. Quanto às relações externas, elas são regidas pelo
art. 40º: pelos negócios celebrados em nome da sociedade, respondem ilimitada e solidariamente todos os
que intervenham no negócio em representação da sociedade em causa, bem como os sócios que o
autorizem; os restantes sócios respondem apenas até às importâncias das entradas a que se obrigaram,
acrescidas das que tenham recebido a título de lucros ou de distribuição de reservas. Contudo, até por via
de um argumento sistemático, intervém, em primeiro lugar, o património social (36º/2 e 997º/1 e 2,
havendo benefício de excussão). Não se compreenderia que, não havendo contrato, fosse essa a regra
aplicável e que, depois, num momento em que se já se avançou no processo constitutivo e quando já existe
contrato, não se fizesse responder a sociedade em primeira linha.
Eduardo, sócio, não concordou com o negócio celebrado pelos gerentes. Assim, ele só responderia até à
importância da entrada a que se obrigou; Carlos e Daniel responderiam ilimitada e solidariamente, gozando
do benefício de excussão, nos termos anteriormente descritos. Enquanto gerentes, C e D também
poderiam responder nos termos do art. 78º e 79º e ser destituídos nos termos do art. 257º.

Assunção de dívidas com o registo: o registo definitivo permite a montagem eficaz dos sistemas de
responsabilidade limitada. Segundo o prof. MC, o registo não é constitutivo da personalidade colectiva,
muito menos da sociedade (isso mesmo resulta do manancial de normas disponíveis quanto as pré-
sociedades e da teoria da identidade); nesse aspecto, tem eficácia declarativa. Contudo, condiciona a

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adopção de determinados negócios pela sociedade e, como se disse, faz funcionar os esquemas de
responsabilidade de cada tipo social. Trata-se então de um regime condicionante da eficácia plena.

• Dívida relativa ao stock inicial: aplica-se o art. 19º/1/c), pois esta obrigação consta especifica
e expressamente do contrato de sociedade. Ela será assumida pela mesma a partir do registo.
• Dívida relativa ao imóvel adquirido: neste caso, a dívida só poderia ser assumida por aplicação
do art. 19º/2, pelo que teria de existir uma decisão da gerência nesse sentido, devendo ser
comunicada à contraparte nos 90 dias depois do registo. No entanto, tenho dúvidas na
aplicabilidade deste artigo, já que este negócio não foi celebrado em nome da sociedade; os sócios
pretendem ter a propriedade desse imóvel, com a excepção de Eduardo, que mudou de ideias.
Não foi um negócio realizado “em nome da sociedade”. Poderia haver uma venda desse bem à
sociedade; no entanto, isso colocaria um problema quanto à possível aplicação do art. 71º/3 e do
art. 29º. Para a sociedade por quotas, a doutrina teve de encontrar soluções diferentes e tem
entendido que se deve responsabilizar, solidariamente, os sócios fundadores pelos danos causados
à sociedade em virtude das aquisições de bens efectuadas nos termos do artigo 29.º, do CSC,
desde que estes tenham agido com dolo ou culpa grave (artigo 71.º, n.º 3, do CSC). Neste sentido,
parece que o legislador deliberou com mais prudência para as sociedades anónimas e em
comandita por acções, tendo legislado no sentido de prevenir de uma actuação fraudulenta dos
sócios, enquanto que para as sociedades por quotas a sociedade pode realizar as aquisições aos
sócios fundadores que bem entender, mas, à cautela, se essa aquisição originar danos, serão os
sócios responsabilizados solidariamente.
• Dívida relativa aos honorários: conforme o disposto no art. 16º/1, é uma dívida relativa à
constituição da própria sociedade, pelo que nem precisa de constar do contrato. Nesse sentido, o
prof. MC propõe a redução teleológica do art. 19º/4, no sentido em que, mesmo que a sociedade
não quisesse assumir essas despesas de constituição, ela sempre seria condenada a arcar com elas,
o mais que não fosse por via do enriquecimento sem causa. Assim, era uma dívida que era
responsabilidade da sociedade.
• A assunção destes negócios é retroativa e liberatória em relação às pessoas responsáveis segundo
o art. 40º (19º/3).
Saber se os sócios podem arrendar aquele imóvel à sociedade: um problema de princípio da lealdade.
Exprime uma relação de confiança e assenta na previsibilidade e correcção de uma conduta. Neste caso,
estaríamos perante duas configurações: a lealdade dos accionistas para com a sociedade e a lealdade dos
gerentes para com a mesma. A lealdade exigível aos sócios enquanto tal inscreve-se no seu status, que
exprime uma série de direitos e deveres, ínsitos na ideia de participação social. De acordo com o prof.
MC, hoje poderemos falar no exercício das posições sociais de acordo com a boa-fé, seguindo as vias da
tutela da confiança e da primazia da materialidade subjacente. O sócio está, pois, obrigado a não violar
deveres de conduta que possam causar prejuízos à sociedade. Entre estes deveres acessórios apontam-se
os de esclarecimento, de colaboração e de lealdade, deveres que fazem parte do conteúdo das obrigações,
como exigências gerais do sistema jurídico. A violação desses deveres acessórios de conduta é, nas
sociedades por quotas, o fundamento de exclusão acolhido pelo art. 242º/1. Já quanto aos gerentes, este
princípio está previsto n art. 64º/1/b).

CASO 6 (ENTRADAS; CAPITAL SOCIAL)

Em setembro de 2012, é constituída a sociedade Cookies & Cream, Lda., cujo objeto social, nos
termos dos estatutos, é a produção e comercialização de pastelaria e gelados. O capital social é
de € 147 500. Nos termos do contrato ficou convencionado que:

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Em primeiro lugar temos de definir capital social: capital social é a cifra numérica, de valor constante,
expressa em euros, correspondente à soma das entradas dos sócios e ao montante que estes pretendem
afetar ao exercício da atividade económica que prosseguem sob a forma juridical societária e que,
sobretudo, equivale ao valor que os sócios reputam como adequado para prosseguirem uma atividade
económica empresarial de natureza mercantil.

A obrigação de entrada é um dever essencial dos sócios, sem a qual a sociedade não terá meios para
poder desempenhar a sua atividade. O tipo de entrada é definido no contrato de sociedade, quantitativa e
qualitativamente (art. 9/g) h)). Existem 3 tipos de entrada: em dinheiro, em espécie, em indústria,
mas nas sociedades por quotas estas últimas não são admitidas. Todas as participações nas
sociedades por quotas têm de ser realizadas em capital.

Nas sociedades por quotas é possível realizar até ao final do primeiro exercício económico a
totalidade das entradas em dinheiro que correspondam ao capital minimo legal- que é um euro
por cada sócio, podendo acima deste montante ser diferidas todas as entradas em dinheiro, por um prazo
máximo de 5 anos, a contar da celebração do contrato (art. 26º/2, 199º/b), 26º/3, 203º/1).

De acordo com o art. 25º/1, as entradas em dinheiro são a expressão pecuniária do valor dos bens
transacionáveis no Mercado.

Por estarmos perante uma sociedade por quotas temos de ter em conta o art. 219º/1 que considera que a
cada sócio fica apenas a pertencer uma quota, correspondente à sua entrada.

1. O sócio Cavalo Branco, Lda. contribuía com o arrendamento de um prédio no Rossio, avaliado
pelo Revisor Oficial de Contas em € 70 000 e ficava com uma quota equivalente a esse valor.
Estamos aqui perante uma obrigação em espécie, que se traduz na transferência para a sociedade de
direitos patrimoniais, suscetíveis de penhora. Um dos casos de entrada em espécie são os créditos (neste
caso sobre a sociedade). Quanto ao valor da entrada, este deve ser igual ou superior ao valor
comercial da participação (art. 25º, 27º/1). Este direito de arrendamento é suscetivel de avaliação
económica, pelo que a avaliação do ROC deve obedecer ao disposto nos arts. 25º/2 e 28º, sob pena de
responsabilidade, nos termos do art. 82º.

Quanto às entradas em espécie, há que determinar como, por quem e com referência a que momento é
que devem ser valorizadas. De acordo com o art. 27º/6, as entradas em espécie devem ser objeto de
avaliação por um revisor oficial de contas independente, o qual deve certificar o valor da entrada, em
relatório, que faz parte integrante da documentação sujeita às formalidades de publicidade e que deverá
ser objeto de depósito no registo comercial. Na certificação, o revisor deve atender ao valor intrinseco dos
bens em espécie que compõem a entrada, ao prazo de liquidação de que depende a satisfação dos ativos
que a constituem e ao risco da sua liquidez (art.
28º, 29º/1).

Nos termos do art. 28º, as entradas em espécie são objeto de um relatório elaborado por um revisor oficial
de contas sem interesse na sociedade, designado por deliberação dos sócios na qual estão impedidos de
votar os sócios que efetuem as entradas. O revisor que tenha elaborado o relatório não pode, durante os
dois anos seguintes contados da data do registo do contrato de sociedade, exercer quaisquer cargos ou
funções profissionais nessa sociedade ou em sociedades que com ela se encontrem em relação de domínio
ou de grupo (nº2). Nos termos do nº3, existem aspetos que devem constar do relatório.

Note-se que certificar e avaliar são coisas diferentes: quem certifica só diz, ou tem de comprovar, que está
mesmo correta a avaliação efetuada. A entidade que efetua a certificação é um revisor oficial de contas

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que, para esse efeito, deve ser designado por deliberação dos sócios, na qual não podem participar todos
aqueles que têm interesse mediato na sua intervenção, ou seja, aqueles que pretendam realizar as entradas
em espécie em causa. No entanto, Paulo Olavo Cunha entende que isto é letra morta, porque no
momento da constituição, há um certo acordo entre todos os sócios.

Por estarmos perante uma entrada em espécie, esta deve ser realizada no momento da data da
constituição da sociedade, uma vez que, existindo bens (prédio no Rossio) não se vê que tenha especial
interesse diferir a sua entrega à sociedade, em beneficio da qual os mesmos devem ser transmitidos no
momento da constituição.

Neste caso, o valor nominal (valor da quota) e o valor real (valor com que entra para a sociedade), são o
mesmo, sendo tal permitido.

2. O sócio Sebastião, chef profissional e amante da doçaria, comprometia-se a pôr a sua arte
ao serviço da sociedade e ficava, por isso, dispensado de qualquer outra entrada. A sua
contribuição foi avaliada em € 20 000, valor atribuído à sua quota.

Estamos aqui perante uma entrada de indústria, que se carateriza por se tratar de serviços humanos
não sublinhados, ou seja, são prestações de serviços, que não são admitidos nas sociedades por quotas, tal
como consta do art. 202º/1. Ora, como estamos perante uma sociedade por quotas neste caso, a
contribuição de Sebastião com a sua arte de doçaria não é válida.

3. O sócio Manuel, proprietário de um café que agora iria encerrar, cedia à sociedade a sua
posição num contrato de prestação de serviços de limpeza, em condições razoavelmente
favoráveis, tendo esta contribuição sido avaliada em € 7 500. Esse era também o valor da sua
quota.
Neste caso estamos perante uma entrada em espécie, tendo em conta que estamos perante a cessão da
posição contractual. Por estarmos perante uma entrada em espécie, temos de aplicar o art. 28º, que
considera que estas entradas devem ser objeto de um relatório elaborado por um revisor official de contas
sem interesses na sociedade, designado por deliberação dos sócios na qual estão impedidos de votar os
sócios que efetuem as entradas (nº1). O revisor que elaborar o relatório exigido pelo número anterior não
pode, durante os dois anos contados da data do registo do contrato de sociedade, exercer quaisquer cargos
ou funções profissionais nessa sociedade ou em sociedades com que ela se encontrem em relação de
domínio ou de grupo. O relatório deve ter a descrição presente no nº3.

Neste caso, o valor real e o valor nominal são do mesmo montante, o que é possível, tendo em conta que
aquilo que não pode acontecer é que o valor nominal exceda o real.

4. O sócio Sancho, que no momento atravessava dificuldades de tesouraria, entrava com um


crédito sobre um seu cliente no valor de € 10 000, que foi avaliado, todavia, em apenas € 5 000.
Contudo, ficava com uma quota no valor de €10 000.

Estamos aqui perante uma entrada em espécie, que é constituida ou integrada por créditos ou outros
bens ou valores também realizáveis em dinheiro e suscetiveis de penhora. Um dos casos de entrada em
espécie são os créditos, seja sobre terceiros seja sobre a própria sociedade, sendo que neste caso
estamos perante um crédito sobre terceiro.

Quanto às entradas em espécie, já foi dito que estas não podem ser diferidas para momento posterior. Nos
termos do art. 28º/1, as entradas em espécie são objeto de um relatório elaborado por um revisor official
de contas sem interesses na sociedade, designado por deliberação dos sócios na qual estão impedidos de
votar os sócios que efetuem as entradas. Neste relatório, o revisor avalia os bens (art. 28º/3/c)), tendo
de declarar se os valores encontrados atingem ou não o valor nominal da parte, quota ou ação atribuidas
aos sócios que efetuam tais entradas (al. d)).

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Temos aqui que atender ao valor real e nominal do bem. O valor nominal corresponde à quota com que
o sócio fica na sociedade (10 000 euros). Já o valor real corresponde ao montante com que o sócio entra
para a sociedade (5000 euros). Sabendo que o valor nominal não pode exceder o valor real, esta regra
não se encontra cumprida neste caso concreto, pois o valor nominal tem de ser igual ou inferior
ao valor real, coisa que não acontece neste caso (art. 25º/1). Poderia acontecer se o bem tivesse sido
avaliado pelo revisor oficial de contas em 10000 euros, coisa que não aconteceu.

5. O sócio Afonso entrava em dinheiro: € 5 000. Uma vez que, ao contrário dos outros, se limitou a
financiar a sociedade, sem ter qualquer intervenção na conceção do projeto, teve de aceitar ficar
com uma quota de apenas € 2 500. Em todo o caso, conseguiu uma vantagem: apenas teria de
realizar a entrada dali a um ano.
Estamos aqui perante uma entrada em dinheiro, sendo as entradas em dinheiro a expressão pecuniária
do valor dos bens transacionaveis no mercado, devendo ser admitidas quer as notas, quer as moedas, quer
os cheques.

De acordo com o art. 25º/1, temos de distinguir o valor nominal do valor real da entrada. O valor nominal
corresponde ao valor da participação social a que a entrada corresponde (2500 euros), tratando-se, neste
caso, de uma quota pois estamos perante uma sociedade por quotas. Já o valor real corresponde à cifra,
em dinheiro, em que dela se estamos perante uma obrigação pecuniária, ou seja, é o valor da entrada em
dinheiro (5000 euros). O valor nominal da quota não pode exceder o valor da sua entrada: esta regra
está cumprida pois o valor nominal é de 2500 euros e o valor real é de 5000 euros. O valor real não
pode ser inferior ao valor nominal, mas pode ser superior, e se o for temos um prémio de subscrição ou
de emissão também designado de ágio, como é o caso, pois o valor real é superior ao valor nominal
em 2500 euros. O ágio é a diferença para mais entre o valor nominal da participação e a quantia
que o sócio tiver atribuído à sociedade: 2500 euros.

As entradas a realizar em dinheiro podem ser total ou parcialmente diferidas, podendo admitir-se
que as entradas subscritas não são totalmente liberadas quando a sociedade se constitui, devendo sê-lo até
ao termo do primeiro exercicio económico nas sociedades por quotas (art. 26º/2, 202º/4) ou num prazo
máximo de 5 anos (art. 203º).

Quanto à forma de cumprimento da obrigação de entrada em dinheiro, temos de atender ao art.


203º: de acordo com o nº1, o pagamento das entradas diferidas tem de ser efetuado em datas certas ou
ficar dependente de factos certos e determinados, podendo, em qualquer caso, a prestação ser exigida a
partir do momento em que se cumpra o período de 5 anos sobre a celebração do contrato, a deliberação
do aumento de capital ou se encerre o prazo equivalente a metade da duração da sociedade, se este limite
for inferior. Note-se que nos termos do nº3, o sócio só entra em mora depois de interpelado pela sociedade
para efetuar o pagamento, em prazo que pode variar entre 30 e 60 dias. Portanto, e de acordo com o art.
26º/3, estamos aqui perante um caso em que a lei permite que os sócios podem estipular
contratualmente o diferimento das entradas em dinheiro.

6. O sócio Gonçalo, proprietário de uma galeria de arte, entrava com € 10000 (valor da quota)
mas, pouco depois, a sociedade adquiriu-lhe um quadro pelo qual pagou € 10 000.
A entrada aqui presente é uma entrada em dinheiro, relative à assunção de obrigação pecuniária. Nesta
questão importa perguntar se a compensação que operou faria com que Gonçalo não entrasse com
nenhum valor monetário, sendo que o valor mínimo de entrada é de um euro, nas sociedades por quotas.
Ora, se Gonçalo entra com 10000€, mas depois a sociedade lhe paga 10000€, temos de saber se o valor
com que entrou vale efetivamente como entrada. Neste caso importa atentar ao art. 27º/4/5: de acordo
com o nº5, a obrigação de entrada só pode extinguirse por compensação no caso previsto no nº4,
que não corresponde ao da hipótese. Isto significa que a obrigação de entrada do sócio Gonçalo não

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se poderá extinguir por compensação, feita através da compra de um quadro à sua galeria no mesmo valor
da quota da sua entrada.

7. O sócio Rodrigo subscrevia uma quota de €20 000, a realizar em dinheiro quando a sociedade
necessitasse de fundos.
Está aqui em causa uma entrada em dinheiro. A obrigação de entrada encontra-se prevista no art. 20º/a).
Rodrigo subscreveu (assunção de obrigação de entrada, comprometendo-se a tal), tendo diferido a
realização da mesma para momento póstumo (art. 26º/2/3). Aqui importa ter em conta o art.
202º/3: pode haver estipulação contractual que preveja o diferimento da realização das entradas em
dinheiro, mas mesmo que não haja os sócios devem declarar no ato constitutivo, sob sua responsabilidade,
que já procederam à entrega do valor das suas entradas ou que se comprometem a entregar, até ao final
do primeiro exercício económico, as respetivas entradas nos cofres da sociedade. Nos termos do art. 203º,
que trata do tempo da entrada, é-nos dito que o pagamento das entradas diferidas tem de ser efetuado em
datas certas ou ficar dependente de factos certos e determinados, podendo, em qualquer caso, a prestação
ser exigida a partir do momento em que se cumpra o período de 5 anos sobre a celebração do
contrato, a deliberação do aumento de capital ou se encerre o prazo equivalente a metade da duração da
sociedade, se este limite for inferior. De acordo com o art. 26º/3, só é possivel estipular contratualmente
o diferimento das entradas em dinheiro nos casos em que a lei o permita. O art. 203º e 26º/3 permitem-
nos dizer que o diferimento da obrigação de entrada para momento posterior apenas pode estar
sujeito a termo (diferimento para datas certas ou factos certos determinados), mas não a
condição. No caso, o diferimento da obrigação de entrada está sujeito à condição de quando a
sociedade necessitar de fundos. Portanto, esse diferimento é ilícito e, consequentemente, nulo (art.
294ºCC). Portanto, admitem-se duas soluções:

• A obrigação de entrada torna-se pura, exigível a qualquer momento (art. 777ºCC)- Coutinho
de Abreu.
• O prazo máximo de 5 anos do art. 203º/1 2 parte funciona como prazo supletivo volvido o
qual a obrigação de entrada pode ser exigida- Menezes Cordeiro.
8. O sócio Bartolomeu pagava € 7 500 em dinheiro (valor da quota), o que lhe renderia juros
mensais a uma taxa equivalente à Euribor.
Neste caso estamos perante uma entrada em dinheiro, pois está em causa a assunção de uma obrigação
pecuniária. O valor da entrada (valor real) pode ser igual ao valor da quota (valor nominal). Relativamente
aos juros mensais a uma taxa equivalente à Euribor, o art. 21º/1, relativo aos direitos dos sócios, diz que
é proibida toda a estipulação pela qual deva algum sócio receber juros ou outra importância certa em
retribuição do seu capital ou indústria. Portanto, entendo que deve haver uma redução da cláusula e a
parte relativa ao rendimento dos juros mensais a uma taxa equivalente à Euribor tem-se por não
escrita.

Portanto, o capital social é de 122.500 euros, sendo o sócio maioritário Cavalo Branco, Lda.

CASO N.º 7

Alberto, Bernarda, Carlos, Diana e Edmundo decidiram juntar esforços e património para
desenvolver uma ideia de negócio gerada à mesa do café Aires, em muitas tardes solarengas
que só o Mondego sabe proporcionar.

A ideia estava, de facto, próxima da genialidade:

Alberto era um cozinheiro de mão cheia, e propunha-se a confecionar os seus famosos


carapaus à espanhola em doses industriais;

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Bernarda entrava com uma patente de que era titular, relativa a um novo processo de
produção e conservação de escabeche de tomate e cebola, de valor “claramente superior
a € 20.000”;

Carlos entrava com um pavilhão industrial, avaliado em € 30.000;

Diana e Edmundo eram os amigos capitalistas: cada um entraria com € 20.000 em dinheiro.
Estavam lançados os dados para a constituição de uma sociedade anónima!

Depois de uns problemas com o notário, decidiram que Alberto, afinal, entrava com um
equipamento industrial de cozinha e embalagem, que comparara para o seu restaurante,
por € 15.000, e que estava por estrear, mas para manterem o equilíbrio, decidiram que
cada um dos sócios ficaria com ações no valor de € 20.000.

O notário parece não gostar de Alberto e levantou novamente algumas questões jurídicas.
Alberto lá aceitou entrar com € 10.000 em dinheiro.

Convencionaram os sócios que Alberto apenas entregaria € 1.000 no momento da celebração


do contrato, já que tinha que vender o equipamento de cozinha e embalagem para obter
liquidez. Os restantes € 9.000 entregá-los-ia quando pudesse.

Carlos também pretendia contribuir com o pavilhão industrial apenas no próximo ano, para
se ir habituando à ideia.

No mês seguinte ao da constituição, a sociedade adquiriu a Diana e Edmundo um camião


frigorífico em segunda mão por € 40.000, de que ambos eram titulares em compropriedade.
Segundo os boatos, no entanto, teria sido possível comprar um camião comparável apenas
por € 15.000.

1. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário em relação à primeira ideia destes
cinco empreendedores?

Trata-se de uma constituição de uma sociedade anónima, art.271º CSC, cujo conteúdo obrigatório do
contrato vem referido no art.272ºCSC. de acordo com o art.276º/3 o valor nominal mínimo das ações
não deve ser inferior a 1 cêntimo, e segundo o nº5 o valor mínimo do capital social é de 50.000 euros.

De acordo com o art.9º/1 g) e h) do contrato de sociedade deve constar as entradas dos sócios e as suas
respetivas quotas.

De acordo com o art.11º deve também ser indicado no contrato de sociedade o objeto da mesma, e as
atividades que cada sócio se propõe a exercer.

De acordo com o art.273/1 CSC, o número mínimo de acionistas para a constituição de uma sociedade
anónima é 5, pelo que este requisito encontra-se preenchido.

Em relação ao sócio A, num primeiro momento ficou estipulado que a sua entrada seria em indústria. No
entanto, de acordo com o art.277º/1 não são admitidas entradas em indústria num contrato de
constituição de uma sociedade anónima. De acordo com o art.25º/4 neste caso deverá o sócio realizar em
dinheiro a sua participação, sem prejuízo da eventual dissolução da sociedade por deliberação dos sócios.
9º/1 f) – entrada não é computada no capital social da sociedade;

Quanto ao sócio B, este realizou uma entrada em espécie traduzida numa patente, com valor estimado de
superior a 20.000 euros. Esta entrada em espécie é permitida num contrato de sociedade anónima, e de
acordo com o art.28º/1 deverá ser objeto de um relatório do ROC que deverá avaliar e determinar o valor
da patente, que poderá não corresponder a 20.000 euros. 28º/3 e 6. 14º

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O sócio C também realizou uma entrada em espécie que foi avaliada em 30.000 euros, e também esta
entrada deveria ter sido submetida ao relatório do ROC de acordo com o art.28º/1 já mencionado.

Quanto aos sócios D e E, estes realizaram uma entrada em dinheiro, que de acordo com o art.25º/1
corresponderá ao valor da quota dos respetivos sócios, não levanta problema.

2. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário quanto à reinvestida dos cinco
amigos?

Num segundo momento, o sócio A acordou entrar com um equipamento de cozinha no valor de 15.000
euros, correspondendo a uma entrada em espécie, que de acordo com o art.9º/1 h) deve constar do
contrato de constituição da sociedade. Considera-se cumprido o requisito do art.20º a), uma vez que o
equipamento de cozinha é suscetível de avaliação pecuniária. Apesar de o sócio ter adquirido o
equipamento por 15.000 euros, este deveria ser sujeito a um relatório do ROC, de acordo com o art.25º/1
e art.28º.

Também de acordo com o art.25º/1, o valor da quota atribuída a um sócio no contrato de sociedade não
pode exceder o valor da sua entrada, considerando neste caso o valor atribuído aos bens no relatório do
ROC.

Assim, se o valor da quota do sócio A não poderia ter sido estabelecido como 20.000 euros, sem antes se
saber o valor atribuído pelo ROC de acordo com a sua avaliação.

O mesmo se aplica aos restantes sócios. A sua quota será o valor em dinheiro como no caso dos sócios
D e E, ou então no caso das entradas em espécie, o valor atribuído pelo relatório do ROC, nos casos de
B e C.

3. Que questões jurídicas devem ser analisadas a propósito das entradas estipuladas pelos
cinco sócios? E em relação ao negócio celebrado entre a sociedade e Diana e Edmundo?

Quanto ao terceiro momento, ficou estabelecido que o sócio A entraria com 10.000 euros. Esta é uma
entrada em dinheiro, de acordo com os arts.9º/1 g), e segundo o art.25º/1 corresponderá ao valor da
quota do sócio no contrato de sociedade.

De acordo com o art.26º/1 em regra as entradas dos sócios devem ser realizadas até ao momento da
celebração do contrato, no entanto, o nº3 diz-nos que nos termos em que a lei permita, os sócios podem
estipular contratualmente o diferimento das entradas em dinheiro. De acordo com o art.277º/2 a entrada
em dinheiro só pode ser diferida a realização de até 70% do valor nominal, não podendo ser diferido o
prémio de emissão, quando previsto. Ora, neste caso o sócio A apenas entraria no momento da celebração
do contrato com 1.000euros, o que corresponde a 10% do valor do montante total, diferindo os outros
90% para um outro momento indeterminado. Ficaria com participação de 1.000. Entrada sujeita a
condição seria convertida a uma entrada sujeita a prazo- MC.

MC – seria um montante global, e não a entrada de cada sócio individualmente- o prof Carita Simão
concorda com esta posição.

Não há regra expressa, e depende da vontade dos sócios.

Este diferimento não é possível, como já referi, uma vez que o sócio deveria entrar inicialmente com no
mínimo 30% do valor total.

Quanto ao diferimento da entrada em espécie do sócio C, esta não poderá ser válida, uma vez que o
art.277º/2 fala apenas em diferimento das entradas em dinheiro. Tratando-se de uma coisa, não poderá
estabelecer-se no ato constituinte o diferimento da obrigação de entrada para lá do momento da celebração
daquele ato, art.26º/1.

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Quanto à CV do camião aos sócios D e E, esta aquisição onerosa por parte da Sociedade poderá se traduzir
numa entrada em espécie dissimulada, uma vez que o bem adquirido aos próprios sócios não foi sujeito à
avaliação do ROC. O regime do art.29º visa evitar fraudes nas entradas dos sócios pelo que, sob pena de
ineficácia, a aquisição de bens por uma sociedade anónima deve ser aprovada por deliberações dos sócios,
precedida de verificação do valor dos bens nos termos do art.28º, e cumpridos os requisitos do art.29º.

Poderia dar azo a um inquérito judicial. O inquérito judicial surge como um procedimento complicado e
a usar somente quando necessário. O inquérito judicial deve apenas deve ser pedido (artigos 216.º e 292.º,
n.º1 CSC) quando tenha sido recusada informação solicitada ao abrigo dos artigos 214.º, 288.º e 291.º CSC
ou prestada informação presumivelmente falsa, incompleta ou não elucidativa. Com oscilações, a
jurisprudência admite que ele seja usado pelos próprios administradores (gerentes). Pode requerer-se a
intervenção do tribunal.

CASO 8. (ENTRADAS; CAPITAL SOCIAL; PRESTAÇÕES PARA ALÉM DA ENTRADA;


SUPRIMENTOS)

Emanuel e Marante, sócios da sociedade anónima Clave de Sol, S.A. (“CS”) — mais conhecida
como a Blue Note de Arganil —, decidiram expandir o negócio de agenciamento e edição
musical, e lançar-se no mercado de música ligeira e ligeiro-independente do sul do país. Para o
efeito, em 2010, decidiram aumentar o capital da CS, dando assim sinais de solvência e
musculatura financeira ao mercado. Cada um detém 30% do capital social.

(i) Emanuel, que no passado cedera os direitos de exploração comercial da música “Confessa o
teu amor” à CS por € 15 000, mas nunca chegara a cobrar o preço, pretende agora ficar quite com
a sociedade, já que se comprometeu no aumento do capital a contribuir com € 15 000.

A Clave de Sol, S.A é uma sociedade anónima, aplicando-se o disposto no art. 271º e ss.

Em primeiro lugar temos de considerer que os direitos de exploração comercial da música “confessa o teu
amor”, nos termos do art. 28º e do art. 89º/1, que considera que se aplica às entradas nos aumentos de
capital o preceituado quanto a entradas da mesma natureza na constituição da sociedade.

Aqui estamos perante obrigações acessórias, que podem revestir diversos tipos: podem traduzirse na
disponibilidade de um sócio vir a prestar uma determinada atividade em benefício da sociedade ou podem
resultar do comprometimento dos sócios em contribuirem com bens fungiveis (nomeadamente, dinheiro).
Importa distinguir as obrigações acessórias em sentido estrito daquelas que correspondem a
empréstimos em dinheiro, que são obrigações acessórias de capital, e que nas sociedades anónimas
desempenham o papel que é habitualmente reservado às prestações suplementares de capital nas
sociedades por quotas. Ora, neste caso, estamos perante uma obrigação acessória de capital.

O regime das prestações acessórias nas sociedades anónimas consta do art. 287º e ss CSC. A obrigação
de prestações acessórias deve ser estabelecida no contrato de sociedade e recai sobre todos ou alguns
sócios (art. 287º/1). A lei pretende evitar, com o disposto no art. 287º/3 in fine, que estas situações
jurídicas, que se configuram como passivas, acabem por se traduzir numa vantagem absolutamente
injustificada para alguns dos sócios. Portanto, em primeiro lugar, a obrigação de prestações acessórias tem
de constar do contrato, coisa que Marco e Paulo duvidavam que constasse do contrato.

Os estatutos devem fixar os elementos da obrigação de prestações acessórias e determinar a respetiva


onerosidade ou gratuitidade (art. 287º/1).

Note-se que o contrato não tem obrigatoriamente de fixar o regime das prestações acessórias ou se os
sócios podem pontualmente pronunciar-se, querendo, sem ter de modificar o contrato previamente. Deve

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fixar-se um regime regra contractual, designadamente se as prestações são ou não onerosas, mas nada
impede que se atribua ao coletivo dos sócios a faculdade de deliberar diversamente.

O contrato de sociedade pode prever que o incumprimento põe em causa a participação social, mas se
não o fizer a situação do sócio não pode ser afetada (art. 287º/4). Isto significa que, em primeiro lugar,
tem de existir uma cláusula no contrato que determine a obrigação de prestações acessórias; e
em segundo lugar, se no contrato nada for dito em contrario, a falta de cumprimento da obrigação
acessória não afeta a situação do sócio enquanto tal, pelo que, mesmo que não pagassem o preço,
Marco e Paulo não podem ser expulsos da sociedade, a menos que tal venha expressamente
convencionado no contrato.

Esta é uma prestação acessória e espontânea.

O aumento do capital social faz-se por deliberação nos termos do art. 85º/2 e do art. 386º/3.

(ii) Marante foi mais esperto: entregou à sociedade os € 15 000 a que se comprometera por ocasião
do aumento, e promoveu o pagamento pela CS de uma dívida antiga, de € 15.000, resultante da
venda de uma mesa de misturas em 2005.

Aqui temos de começar por dizer, nos termos do art. 271º, que só a sociedade pode ser responsabilizada
pelas dívidas, na medida em que as sociedades anónimas são sociedades de responsabilidade limitada.
Temos aqui de ter em conta o art. 89º, que considera que xse aplica às entradas nos aumentos de capital
o preceituado quanto a entradas da mesma natureza na constituição da sociedade.

(iv) Em 2011, perante novas necessidades de financiamento, Emanuel e Marante decidiram ligar
a Marco e Paulo, os outros dois sócios da CS, invocando uma cláusula do contrato segundo a
qual os sócios poderiam deliberar que lhes fossem exigidas contribuições adicionais, até € 50 000,
em dinheiro, que não venceriam juros. Marco e Paulo não se recordavam desta cláusula e
duvidam da sua legalidade. Recusam-se, por isso, a pagar. Em consequência, Emanuel e Marante
ameaçam expulsá-los da sociedade.

O facto de Emanuel e Marante decidirem ligar a Marco e Paulo invocando uma cláusula do contrato
Segundo a qua los sócios poderiam deliberar que lhes fossem exigidas contribuições adicionais, estamos
aqui perante uma prestação suplementar, tendo em conta que de entre as diversas obrigações acessórias
à obrigação principal de entrada, a que assume especial relevância é a que se traduz na disponibilidade para
reforçar o capital investido, com dinheiro (neste caso, com 50,000€), de forma subordinada aos demais
créditos e sem auferir qualquer remuneração (art. 210º-213º).

As prestações suplementares distinguem-se das prestações acessórias pela sua dupla base
jurídico-normativa (art. 210º/1): devem estar previstas no contrato inicial, seja desde o início, seja por
alteração; e devem ser deliberadas pelos sócios.

As prestações suplementares são designadas por Paulo Olavo Cunha como quase capital, não vencendo
juros. Estas prestações suplementares, de capital, são enquadradas como capitais próprios da sociedade,
estando sujeitas a um regime jurídico bastante rigoroso. Há um verdadeiro empenho dos sócios na
manutenção da sociedade de uma forma adequada e de acordo com o que se proposeram inicialmente.

No entanto, o regime das prestações suplementares existe para as sociedades por quotas, e neste
caso estamos perante uma sociedade anónima, pelo que se impõe a questão: será o regime das
prestações suplementares válido para as sociedades anónimas? O CSC é totalmente omisso
relativamente à possibilidade de numa sociedade anónima poderem ser exigidas prestações suplementares
de capital. É discutivel que as disposições legais constantes do titulo referente às sociedades por quotas

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possam ser aplicáveis por analogia às sociedades anónimas, visto que as participações sociais se estruturam
de forma diferente num e noutro tipo social.

• A exigibilidade de prestações suplementares de capital, quando expressamente admitida no


contrato de sociedade, explica-se pela ligação íntima do sócio à sociedade, inexistente no âmbito
das sociedades anónimas, e pela necessidade que esta pode ter de, em certas circunstâncias, poder
vir a beneficiar de um reforço de capital que se revele essencial para a sua subsistência. Tal
pretensão é incompativel com o aninimato que carateriza a participação na sociedade anónima e,
sobretudo, com a sanção correspondente à violação da obrigação de efetuar prestações
suplementares: a perda da qualidade de sócio, por efeito da exclusão da sociedade, a qual só se
verifica na sociedade anónima se ocorrer relativamente a todas as participações.
• Contra a admissibilidade das prestações suplementares nas sociedades anónimas joga o próprio
caráter aberto da sociedade anónima e a autonomia das respetivas participações sociais, não
obstante tal conclusão ser contrária ao princípio da autonomia privada.
• Considerando o disposto no art. 86º/2, o regime jurídico que prevê e autoriza as prestações
suplementares carateriza-se por regras de natureza excecional. As regras excecionais não são
suscetiveis de aplicação analógica à luz do art. 11ºCC.

Por isso, Paulo Olavo Cunha entende que a admissibilidade de aplicação por analogia, na íntegra,
do regime legal das prestações suplementares de capital está for a de hipótese para as sociedades
anónimas. Mas o autor aceita que todas as participações são nominativas, ficando os acionistas
obrigados, com referência a tais participações, ou até mesmo individualmente, a realizar
prestações suplementares, isto é, reforços em dinheiro, visto que tal opção é compativel com a
autonomia privada que deve caraterizar a estruturação das situações jurídicas de natureza societária. Por
isso, sendo contratualmente consagrada a eventual obrigatoriedade de realização de prestações
suplementares, por um determinado montante máximo, aceita-se a aplicação por analogia das regras do
art. 210º e ss CSC, que não tiverem caráter excecional.

Por outro lado, Menezes Cordeiro defende que nas sociedades anónimas não devem ser admitidas
prestações suplementares, uma vez que o sócio apenas responde pelas ações que subscreve (art.
271º). O enquadramento de novas responsabilidades seria impossível, uma vez que a exigência de um novo
esforço financeiro, a alguns, pela maioria dos sócios, iria desequilibrar o funcionamento da sociedade
anónima, portanto, para este autor a cláusula é nula por via dos arts. 271º e 294º.

Portanto, e adotando a posição de Paulo Olavo Cunha por se entender ser a mais sensata para a resposta
ao problema, temos de ver se existe aqui alguma norma excecional.

Em primeiro lugar, temos de ter em conta o art. 210º, cujo nº1 diz que se o contrato de sociedade assim
o permitir, os sócios podem deliberar que lhes sejam excercidas prestações suplementares, tendo estas por
objeto dinheiro (nº 2). No nº3 constam os elementos que têm de constar do contrato: o montante global
das prestações suplementares, os sócios que ficam obrigados a efetuar tais prestações e o critério de
repartição das prestações suplementares entre os sócios a elas obrigados. Note-se ainda que estas
prestações suplementares não vencem juros (nº5).

Já o art. 211º diz respeito à exigibilidade das prestações suplementares, considerando que esta depende de
deliberação dos sócios, não podendo o prazo de prestação ser inferior a 30 dias depois da comunicação
dos sócios.

No art. 212º encontramos uma norma excecional, nomeadamente no seu número 1, que remete para os
arts. 204º e 205º, portanto, esta norma não é suscetivel de aplicação analogica às sociedades anónimas.

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Portanto neste caso as duvidas de legalidade dos sócios não se justificam, tendo que se dar um prazo não
inferior a 30 dias, depois de se proceder à comunicação aos sócios, para que estes pagassem o montante
pedido por Emanuel e Marante.

(v) Em 2012, já com a CS em declínio, Emanuel decidiu emprestar € 125 000 à sociedade, mas
exigiu a constituição por esta de uma hipoteca sobre um imóvel de que era titular, para garantir
a obrigação de reembolso. Num esforço paralelo para a salvar, também em 2012, Marante decidiu
vender os direitos de exploração do seu recente sucesso musical “Som de Cristal”. O diretor
financeiro da CS prometeu pagar-lhe imediatamente, mas agora trata Marante com evasivas.
Este, no entanto, telefona e escreve quase semanalmente para a CS, exigindo a cobrança do seu
crédito.

Estamos aqui perante um caso de contrato de suprimento. A obrigação de realizar suprimentos, quando
contratualmente estipulada, é exemplo paradigmtico de uma obrigação acessória, uma vez que é um
empréstimo qualificado por ser feito por um sócio em favor da sociedade.

O contrato de suprimento consiste no empréstimo ou mútuo quer de dinheiro (como é o caso)


quer de outros bens fungiveis pelo sócio em nome da sociedade (art. 243º/1 1ª parte). Apesar de
este contrato de suprimento ser equivalente a um mútuo, distingue-se do mútuo comum porque representa
um contributo permanente ou pelo menos prolongado do sócio para com a sociedade em que detenha
uma posição ou, pelo menos, prolongado, do sócio para com a sociedade em que detenh uma posição.

O suprimento corresponde a um especial envolvimento do sócio na capitalização da sociedade. Não


equivale a uma comum ajuda monetária, puramente transitória, na medida em que o CSC optou pelo
critério da permanência, tal como considera Raul Ventura. O art. 243º/2/3 fixa índices de permanência:
articulação de um prazo de reembolso superior a um ano; não exigência de reembolso devido pela
sociedade durante um ano.

Tem de ter caráter de permanência: se entendermos que não existe, há um mútuo normal e não um
contrato de suprimento.

Nos termos do art. 243º/6, não há necessidade de haver forma escrita do contrato de suprimento, ou seja,
o contrato de suprimento não tem de constar do contrato de sociedade nem ser sujeito a deliberação dos
sócios. No entanto, normalmente o suprimento é reduzido a escrito. É essencial que uma das partes seja
o sócio e o outro a sociedade na qualidade de mutuário (nº4). Estamos perante um contrato real quoad
constitutionem.

Os suprimentos podem consistir numa espécie do género obrigações acessórias, caso em que deverão
encontrar-se contratualmente previstos (art. 244º/1) ou, podendo ser efetuados voluntariamente (art.
244º/2/3), por deliberação dos sócios, vinculando apenas aqueles que os votarem favoravelmente, ou por
disponibilidade do mutuante. Neste caso, tanto Emanuel como Marante fazem um empréstimo à
sociedade, pelo que podemos considerar que em ambos os casos estamos perante suprimentos, mas
estamos perante suprimentos que não estão contratualmente previstos, sendo efetuados voluntariamente.

Temos de ter em conta que o art. 244º, onde se encontram os suprimentos, estando este enquadrado na
parte relativa às sociedades por quotas. Por isso, temos de nos perguntar se é possível a sua aplicação
para as sociedades anónimas, pois neste caso temos uma sociedade anónima e não por quotas.

• Para Raul Ventura, a resposta seria afirmativa se se trata-se de um “acionista empresário”, porque o
autor contrapõe, com base na doutrina alemã, acionistas empresários a acionistas investidores,
devendo este acionista empresário estar envolvido na vida societária, de tal como que os seus
contributos seriam tidos como uma justificação interessada. Apenas ao acionista empresário haveria
que aplicar o regime dos suprimentos. Neste caso, como Emanuel e Marante detêm 30% do capital

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social entendemos que estamos perante acionistas empresários e, portanto, seria-lhes aplicado o
regime do contrato de suprimento.
• Menezes Cordeiro considera que esse critério, apesar de apresentar vantagens no plano da segurança,
é demasiado rigido e fixo, servindo-se antes do critério de um acionista médio: haverá suprimento
quando a entrega do dinheiro opera em situações nas quais o acionista ordenado, o bom acionista,
faria uma contribuição de capital, e não um mero mútuo civil. Só a partir da verificação dessa analogia
iuris será legitimo aplicar o art.
243º/2/3 às sociedades anónimas. No mesmo sentido se pronuncia Coutinho de Abreu.

• Paulo Olavo Cunha entende que os suprimentos se aplicam às sociedades anónimas quando as ações
são nominativas. Se as ações forem ao portador os suprimentos só podem ser prestados a título
voluntário. As ações nominativas são aquelas em que o emitente conhece a identidade dos titulares.
Transite-se por declaração do seu transmitente a favor do transmissário, seguida de registo junto do
emitente. Já as ações ao portador existem quando o emitente não conhece a identidade dos titulares e
a transmissão se efetue por simples transferência do titulo ao adquirente. Neste caso, estamos perante
uma ação nominativa, tendo em conta que Emanuel e Marante sabem que o destinatário do seu
empréstimo é a sociedade.
• Assim, podemos encontrar suprimentos nas sociedades anónimas quando:
• O sócio tenha conscientemente, por efeito de uma obrigação estatutária ou da sua
simples vontade, procurado financiar a sociedade através de um empréstimo de
médio ou longo prazo, tenha diferido o reembolso de um crédito por idêntico termo
ou resgatado um crédito de terceiro;
• A situação creditícia do sócio perante a sociedade tenha resultado da sua participação
societária, e não do facto de ele ser um credor comercial da sociedade, mormente
porque a respetiva relação comercial era anterior à relação jurídico-societária e
independente desta.
Portanto, a resposta é afirmativa: o contrato de suprimento aplica-se às sociedades anónimas.

O regime do contrato de suprimento é mais favorável à sociedade e menos favorável ao sócio face
ao disposto no art. 245º/1 e 777º/2: quanto ao suprimento efetuado por Emanuel, não é apresentado
nenhum prazo para o seu reembolso, pelo que temos de ter em conta o art. 777º/2CC, que
considera que se não for fixado nenhum prazo, e as partes não acordarem na sua determinação a fixação
dele é diferida ao tribunal, podendo este determinar que o pagamento seja fracionado em certo número
de prestações.

Quanto ao facto de Emanuel ter constituido uma hipoteca por parte da sociedade sobre o imóvel de que
era titular, para garantir a obrigação de reembolso, temos aqui que ter em conta a matéria das garantias,
presentes no art. 6º/3, que considera que são contrarias ao fim da sociedade a prestação de garantias. O
art. 6º/3 proibiu, pura e simplesmente, as sociedades de prestar garantias, salvo nas condições que ela
própria prevê. São elas:

o Justificado interesse próprio da sociedade garante;


o Sociedade em relação de domínio ou de grupo.
Estas exceções são de tal ordem que acabam por consumir a regra. O justificado interesse próprio é
definido pela própria sociedade, através dos seus órgãos: estamos no direito privado. Ora é evidente que,
quando se presta uma garantia, é fácil invocar um interesse próprio justificado, por isso, poderíamos
considerar que a constituição desta garantia seria feita no interesse da sociedade, tendo em conta que seria
uma forma de receber o empréstimo dado por Emanuel quando a sociedade se encontrava em declineo.

Garantia real nula pelo art. 245

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Já quanto a Marante, que decidiu vender os direitos de exploração do seu recente sucesso musical, e que
agora escreve ao diretor financeiro da CS pedindo a devolução do seu crédito, importa desde já considerar
que quanto á graduação dos créditos, estes cedem no confronto com créditos de terceiros ou de sócios
enquanto terceiros; a lei não autoriza operações que visem exclusivamente beneficiar tais créditos, tais
como aquelas que visem assegurar a satisfação desses créditos por garantias reais prestadas pela própria
sociedade (art. 245º/6). Portanto, os créditos resultantes do contrato de suprimento são os últimos a serem
satisfeitos.

“Num esforço paralelo para a salvar”- o facto de tratar Marante com evasivas leva-nos a perguntar se é
contrato de suprimento: não é porque não paga logo. Ilide-se a presunção de que é um contrato de
suprimento pelo art. 253º.

Art. 243º/4

(vi) Em 2013, Emanuel alienou o seu crédito de € 125 000 a Romana, que não é sócia da CS.
Em 2014, esta requereu a declaração de insolvência da CS. Quid juris?

557º/1CC- pode haver alienação.

Em primeiro lugar importa considerar que esta alienação do crédito de Emanuel a Romana não faz com
que esta se torne socia da sociedade, o que significa que não existe um contrato de suprimento entre
Romana e a Sociedade, uma vez que este só pode ser celebrado entre sócios e a sociedade.

Romana não é social da CS mas é credora desta e de acordo com o art. 245º/2, os credores por
suprimentos não podem requerer, por esses créditos, a falência da sociedade. Mas a concordata
concluída no processo de falência produz efeitos a favor dos credores de suprimentos e contra eles.

Apesar de o art. 20º/1CIRE se referir a qualquer credor, é uma norma geral, enquanto o art. 245º/2 CSC,
ao se referir aos credores apenas por suprimentos, é uma norma especial, pelo que prevalece sobre a geral.

Em suma, Romana não poderá pedir a insolvência da sociedade anónima.

Se estivermos perante um mutuo normal, a credora pode requerer a insolvencia- art. 20ºCIRE.

CASO 9 (CAPITAL SOCIAL)

A sociedade Velocidade Fatal, SA, constituída com um capital social de 100.000 euros, tem vindo
a diminuir consideravelmente as suas vendas, em virtude da difícil conjuntura do Mercado, a
ponto de, em abril de 2013, os administradores ficarem sem saber o que fazer perante as contas
do exercício, que demonstram que o capital próprio da sociedade era pouco mais de 30.000 euros.
Quid juris?

De acordo com o art. 276º/5, o montante mínimo do capital social é de 50.000 euros, sendo o capital
social a cifra numérica de valor constante, em dinheiro, expressa em euros, correspondente à soma das
entradas dos sócios e ao montante que estes pretendem afetar ao exercício da atividade económica que
prosseguem sob a forma juridica societária e que, sobretudo, equivale ao valor que os sócios entendem
adequado para prosseguirem uma atividade económica empresarial de cariz mercantil. Aquando da
constituição da Velocidade Fatal SA, esta tinha o seu capital mínimo de acordo com o art. 276º/5, mas
atualmente tal não se verifica, descendo este para 30.000 euros.

O capital social corresponde a um capital próprio, que se carateriza por ser prestado por alguém que faz
parte da sociedade. Devolver os montantes que os acionistas investiram é dificil, o que é demonstrado
pelo art. 210º, em que eu só consigo devolver uma prestação suplementar se a sociedade estiver numa

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situação liquida favorável. Portanto, a partir do momento em que os capitais próprios são prestados à
sociedade, eles ficam na sociedade.

Neste caso verifica-se uma situação de perda de (mais de metade) do capital social, pelo que temos de
atender ao art. 35ºCSC, que considera que “resultando das contas de exercício ou das contas intercalares,
tal como elaboradas pelo órgão de administração, que metade do capital social se encontra perdido, ou
havendo em qualquer momento fundadas razões para admitir que essa perda se verifica (...)”

O art. 35º/1 prevê ainda as fundadas razões de existirem perdas graves. Estas são aquelas que se
imponham ao gestor notmal, colocado na posição do gestor eal. Para serem fundadas, elas deverão
arrancar de umas quaisquer contas anteriores.

De acordo com o art. 52º/2, “considera-se estar perdida metade do capital social quando o capital próprio
da sociedade for igual ou inferior a metade do capital social”. O capital próprio abrange, além do capital
social, as servas de ágio, as prestações dos acionistas, a reserva legal, as reservas livres e outras rubricas.
Na lógica da lei, tem de se lhe subtrair o passivo.

As consequências das perdas graves de capital constam do art. 35º/1/2: além do dever de
convocação da Assembleia geral por parte dos gestores ou os administradores requererem a convocação
da mesma, onde se informa os administradores da situação para que estes tomem as medidas que se
julgarem mais eficientes, na convocatória deve constar os assuntos para deliberação dos sócios (nº3): a
dissolução da sociedade; a redução do capital social para montante não inferior ao capital próprio da
sociedade com respeito ao art. 96º/1 se for o caso; a realização pelos sócios de entradas para reforço da
cobertura do capital. Se não for convocada a Assembleia, a administração incorre em responsabilidade
civil (art.523º penal.

Assim, as hipóteses são as seguintes:

• Dissolução da sociedade: pôr termo à sociedade antes que se agravem os perigos para
terceiros.
• Redução do capital social para montante não inferior ao capital próprio da sociedade, com
respeito do art. 96º/1: corresponder a realidade nominal à verdadeira situação patrimonial.
• A realização pelos sócios das entradas para reforço da cobertura do capital: reforçar os capitais
da sociedade.
Se, na reunião, nenhuma proposta for aprovada em sede de assembleia geral, o art. 35º não prevê qualquer
sanção, e sistematicamente apenas nos deparamos com uma consequência formal, segundo o disposto nos
arts. 171º/2 e 528º/2: pagamento de uma coima pela omissão da menção em atos externos.

O atual art. 35º pode operar como fonte de deveres legais, para efeitos de responsabilidade civil dos
administradores para com a sociedade (art. 72º/1 na parte em que se refere a omissões) e para com os
credores sociais (art. 78º/1). Perante a fórmula restritiva do art. 79º/1, ao restringir-se aos danos diretos,
queda, como via de responsabilidade perante sócios e terceiros, o apelo às normas de proteção (art.
483º/1CC 2ª parte).

Concluindo, este princípio é uma manifestação do princípio da irredutibilidade do capital social, que
se prende com a ideia de que a lógica do CSC tem em vista a proteção do capital social.

Caso não tiver sido convocada a reunião haveria responsabilidade nos termos do art. 523º.

A utilidade prática deste artigo não é nenhuma porque se nenhuma proposta for aprovada não há qualquer
sanção.

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CASO 10. (DIREITO AOS LUCROS)

a. Os sócios da sociedade Livros Antigos, Lda. deliberam por unanimidade distribuir a totalidade
dos lucros do exercício pelos sócios. Quid juris?

Em primeiro lugar temos de considerar que, de acordo com o art. 21º/1/a), todos os sócios têm direito a
quinhoar nos lucros. Este é um direito abstrato porque permite ao sócio, após todo um percurso,
encabeçar uma pretensão efetiva a um concreto lucro que, porventura, lhe caiba. O direito abstrato surge
como uma expectativa em relação a um bem final futuro: pressupõe um processo no termo do qual esse
bem poderá surgir. Não é um direito subjetivo porque este pressupõe um bem concreto: é uma permissão
normativa especifica de aproveitamento de um bem. O direito aos lucros é ainda um valor patrimonial,
que dá corpo ao correspondente direito.

A sociedade visa o lucro económico, repartindo-o pelos associados, o que consta do art. 980º CC. À
sociedade é imposta a distribuição de uma parcela dos seus lucros pelos sócios, com exceções quanto às
sociedades por quotas e ás sociedades anónimas art. 217º e 294º).

Nos termos do art. 31º/1, a distribuiçãoo dos lucros tem de ser objeto de deliberaçãoo dos sócios, quanto
a reservas limites ou facultativas. Esta regra deve observar limites: quanto á distribuiçãoo de bens (art.
32º) e quanto a lucros e reservas não distribuíveis (art. 33º).

Por estarmos perante uma sociedade por quotas, nos termos do art. 197º e ss, importa atender ao seu
regime. Nos termos do art. 217º/1, salvo diferente cláusula contratual ou deliberação tomada por maioria
de ¾ dos votos correspondentes ao capital social em assembleia geral para o efeito convocada, não pode
deixar de ser distribuído aos sócios metade do lucro do exercicio que, nos termos desta lei, seja
distribuível. Ou seja, o facto de os sócios da Livros Antigos Lda terem convencionado distribuir todos os
lucros não é permitido por lei. Nas sociedades por quotas, as reservas são legais (art. 218º) ou
convencionais: isto também se justifica pelo facto de ser necessário existir uma reserva legal, que consta
do art. 218º, sendo a sua constituição obrigatória (nº1), logo não podem ser distribuídos todos os lucros
pelos sócios, porque um montante tem de ficar nesta reserva.

Portanto, e para concluir, esta distribuição total dos lucros é inválida nos termos do art. 31º/1 e 218º, que
remete para o regime das sociedades anónimas (at. 295º e 296º). A deliberação é, por isso, nula nos
termos do art. 56º/1/d) (conteúdo ofensivo do preceito legal imperativo), na medida em que os sócios
não respeitaram o limite máximo (art. 295º/1). Está em causa o princípio da conservação e
intangibilidade do capital social.

Lucros de exercício vs lucros distribuíveis: o primeiro é um acréscimo patrimonial entre o inicio de


exercicio e o encerramento. Os lucros distribuíveis são os resultados distribuíveis da sociedade sendo
distribuíveis sem ser à custa do capital social.

Art. 514º.

Sistematização

Os sócios não são apenas sujeitos de deveres mas também sujeitos de direitos: art. 21/1/a) sendo um
direito abstrato patrimonial. Esta é uma das razões pelas quais a sociedade é um contrato aleatório: por
um lado temos uma prestação certa (obrigação de entrada) e por outro lado incerta (capital)- Menezes
Leitão. Só com a deliberaçãoo é que se vai tornar concreto (art. 31º).

O direito a quinhoar nos lucros é atribuído a todos os sócios mas há limites sobre os lucros distribuíveis-
art. 33º/1/2.

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Estamos perante uma sociedades por quotas, logo aplicamos o art. 218º. O balanço anual da sociedade
corresponde aos seus proveitos retirando as despesas. Quando o balanço anual é negativo, não havendo
nada para distribuir. Se for positivo retiramos os prejuízos transitados e os que resultem do prejuízo, as
reservas legais e estatutárias e só o que sobrar é que é distruibuido.
A deliberação dá-se nos termos do art. 65º/1.

b. Noutro ano, decidem, por maioria simples, realizar um elevado investimento, empregando para
o efeito todos os lucros obtidos. Quid juris? Não tenho a certeza

Art. 217º: não pode deixar de se distribuir aos sócios metade dos lucros do exercicio que seja distribuível,
não sendo a maioria simples suficiente para alterar a norma. Só pode ser deliberada a detenção até metade
dos lucros. Apenas pontualmente pode ser deliberado por maioria qualificada, não podendo ser abusiva,
tendo de respeitar o interesse social. Se existisse uma maioria qualificada de ¾ a dizer que não vão ser
atribuídos os lucros, isso seria permitido. Paulo Olavo Cunha defende que por estipulação as partes não
podem abdicar de parte dos lucros. Esta norma é imperativa, gerando uma anulabilidade.

Esta deliberação é inválida devido ao art. 58º/1/a), apesar de parte da doutrina entender que é nula por
violar a norma imperativa do art. 217º. Se a sociedade estivesse a investir no lucro de exercicio também
não o podia fazer pois há que acautelar as reservas legais. Se fossem lucros distribuíveis entra em ação o
art. 217º, sendo necessário os ¾ dos votos.

Poder-se-ia recorrer ao tribunal para a execução especifica da deliberação das contas e do relatório. Se isto
não existisse, os sócios maioritários opuniriam os sócios minoritários: princípio da tutela dos sócios
minoritários, que aqui tem prevalência.

c. Poderiam ser distribuídos lucros durante o exercício?

Art. 31º. Quanto a esta questão não existe nenhum artigo na parte relativa ás sociedades por quotas que
nos dê uma solução. No entanto, podemos atender ao art. 297º, relativo às sociedades anónimas, que
considera, no seu nº1, que o contrato de sociedade pode autorizar que, no decurso de um exercício, sejam
feitos aos acionistas adiantamentos sobre os lucros, desde que se observem as regras presentes nas als. a)
a d). Nos termos do nº2, se o contrato de sociedade foi alterado para nele ser concedida a autorização
prevista no número anterior, o primeiro adiantamento apenas pode ser efetuado no exercício seguinte
àquele em que ocorrer a alteração contratual.

A questão que se coloca é se este artigo pode ser aplicado para as sociedades por quotas, tendo em conta
que para estas não existe nenhum artigo. Segundo Raul Ventura, a resposta é afirmativa porque este autor
considera que existe uma lacuna que pode ser integrada através da aplicação analógica do art. 297º às
sociedades por quotas. PPV concorda com esta posição.

Diferentemente, POC diz que o art. 297º é uma restrição ao art. 31º, não se podendo aplicar uma
norma excecional (art. 11ºCC).

d. A cláusula 6.ª do contrato de sociedade, determina que César não participa nas perdas da
sociedade. Quid juris?

Art. 20º/b): quinhorar nas perdas.

Em primeiro lugar, quanto a esta questão, importa considerar que quanto às perdas temos de atender ao
art. 22º, que se encontra na parte especial e que considera que na falta de preceito especial ou convenção
em contrário, os sócios participam nos lucros e nas perdas da sociedade segundo a proporção dos valores

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das respetivas participações no capital (nº1). Se apenas se determinar a parte de cada sócio nos lucros,
presume-se que é a mesma quanto às perdas (nº2). Portanto, o sócio participa nas perdas na medida da
sua entrada, sendo a sua responsabilidade a elas limitada.

Mas neste caso existe uma convenção das partes no sentido de considerar que César não participa nas
perdas da sociedade. No entanto, esta convenção contraria o disposto no art. 22º/3, que considera que é
nula a cláusula que isente um sócio de participar nas perdas da sociedade, salvo o disposto quanto a sócios
de industria, o que não é o caso, pois estamos perante uma sociedade por quotas e não perante uma
sociedade em nome coletivo.

Portanto, aqui estamos perante um pacto leonino. No entanto, este preceito é criticado pela maioria
da doutrina que entende que devia existir um preceito autónomo para os pactos leoninos, como
no CC (art. 294ºCC).

Menezes Cordeiro justifica esta proibição com base nos seguintes argumentos:

• O sócio que abdique de lucros vai sujeitar-se a eventuais prejuízos. O sócio que aceite todos
os prejuízos vai submeter-se, eventualmente, aos que ocorram. Em qualquer dos casos, o
sócio está a dispor, para o futuro, determinadas vantagens que poderia obter e está a conceder
vantagens a outros sócios (isto se adicasse dos lucros);
• Esta proibição combate a tentativa de se dar o que ainda não se tem e de assumir para o
futuro determinadas obrigações.
Pires de Lima e Antunes Varela dizem que quanto às perdas esta explicação seria a de não fazer parte
da sociedade comungar a prejuízos. Menezes Cordeiro não concorda e apresenta o seguinte exemplo:
então não pode um pai construir uma sociedade com os seus filhos menores, comprometendo-se a arcar
com os prejuízos se estes existirem? O sócio que abdica dos lucros vai sujeitar-se aos prejuízos. Portanto,
a proibição dos pactos leoninos justifica-se já que envolve uma renúncia antecipada aos direitos, aliada à
doação do que ainda não se tem.

Verificada a nulidade do pacto, parte da doutrina diz que se pode aplicar o instituto da redução: a sociedade
vigoraria sem a parte viciada, salvo se se demonstrasse que, na sua falta, as partes não teriam contratado
(art. 292ºCC). Mas Menezes Cordeiro não entende desta forma pois considera que a sociedade leonina
não é uma sociedade comum com uma cláusula leonina mas sim todo um negócio distorcido e cuja lógica
de participação nos lucros e nas perdas fora destruída. Apenas a conversão lhe pode valer, convertendo-
se o negócio nulo noutro tipo de negócio ou de conteúdo diferente, desde que verificados os requisitos
do art. 293ºCC: vontade hipotética e ónus da prova.

Paulo Olavo Cunha refere que a norma do art. 22º/3 é imperativa, devendo ser objeto de interpretação
extensiva: não é possível reduzir os direitos aos lucros de tal maneira que na prática tudo se reconduza a
uma situação idêntica.

Concluindo, adotando a posição de Menezes Cordeiro, estamos perante a existência de um pacto


leonino (art. 22º/3), o que leva a que todo o negócio (contrato de sociedade) fique distorcido, tendo-
se de recorrer à conversão para que este seja salvo.

CASO 11. (DIREITO AOS LUCROS)

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Na cláusula 10.ª do contrato da sociedade Expo-Lisboa, Lda., constituída em 2005, com uma
duração de 10 anos e capital social de € 100 000, foi estabelecido que “todos os resultados obtidos
pela sociedade serão levados a reservas, durante a duração da sociedade”.

Lucro de exercício: diferença positiva entre o início do exercício social e o encerramento.

Lucro distribuível: depois de cobrir prejuízos transmitidos. Reservas legais/estatutárias

Lucros: sociedades por quotas

Dividendos: sociedades anónimas

Em primeiro lugar, estamos perante uma sociedade por quotas (art. 197º e ss). Antes de mais, quanto ao
capital social temos de considerar que este é um dos elementos do contrato, nos termos do art. 9º/1/f) e
na sociedade por quotas o capital está dividido em quotas e os sócios são solidariamente responsáveis por
todas as entradas convencionadas no contrato social conforme o art. 207º (art. 197º/1).

Estamos aqui no âmbito das reservas, sendo que as reservas constituem um reforço do capital social
formado à custa de bens que a sociedade vai gerando e que, por obrigação legalmente
estabelecida ou por vontade dos sócios, prescinde de distribuir, conservando em seu poder.

Importa começar por atentar ao art. 33º, que considera que não podem ser distribuídos aos sócios os
lucros do exercício que sejam necessários para cobrir prejuízos transitados ou para formar ou reconstituir
reservas impostas pela lei ou pelo contrato de sociedade (nº1). A contrario, há distribuição de lucros
quando os prejuízos transitados possam, legalmente, ser cobertos por outras formas (ex: a sociedade
constitui uma reserva facultativa destinada a enfrentar prejuízos imprevisíveis). Nos termos do nº3,
proíbem-se as reservas ocultas, que escapam ao conhecimento e controlo dos sócios e credores e não
constam da contabilidade, pelo que põem em causa o balanço e as prestações de contas. A contrario,
podem ser distribuídas as reservas cuja existência e cujo montante figurem expressamente no balanço. E
mais tarde essas reservas poderão ser utilizadas para cobrir prejuízos transitados. O art. 33º/4 traduz um
afloramento do princípio da verdade e da transparência: havendo distribuiçãoo de reservas, seja
em que termos for, a deliberação deve mencioná-lo, de forma expressa.

Se eu não tiver lucro de exercício não posso constituir reservas, sendo este um mecanismo de todos os
anos, numa lógica preventiva, a sociedade puder vir a responder por dividas futuras. Isso é a diferença
entre a sociedade ficar solvente no futuro ou não. É mais fácil fazermos uma reserva todos os anos do
que, de repente, termos de pagar tudo de uma só vez. Numa ótica de interesse social, sobrepondo-se ao
interesse de cada um dos sócios, este mecanismo impede a sobreposição de lucros.

Existem vários tipos de reservas:

As reservas legais são aquelas que constam da lei (art. 218º ex vi ar. 295º e 296º).

As reservas livres são constituídas por todos os lucros distribuíveis que não são oportunamente de
resultado de cada exercício, atribuídas aos sócios. Isto é, a parte dos lucros do exercicio que a sociedade
não distribui aos seus sócios e que não está afeta a uma finalidade especifica e podem também, segundo
Paulo Olavo Cunha, resultar da libertação de excesso de reservas legais.

Tecnicamente, estas correspondem aos lucros acumulados de que a sociedade pode dispor livremente,
particulando entre os sócios (art. 31º/1), incorporando no respetivo capital (art. 91º/1/2), ou utilizando
para cobrir prejuízos do exercicio ou transitados de exercícios anteriores (art. 296º/a)/b)).

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Já as reservas ocultas são aquelas que correspondem à valorização não contabilizada e,


consequentemente, não reconhecida, dos bens que integram o ativo imobilizado da sociedade. Por isso
não podem ser distribuídas (art. 33º/3), enquanto os bens a que estão subjacentes não forem objeto de
reavaliação.

1. A cláusula é válida?
Estamos perante uma sociedade por quotas- art. 217º estabelecendo um regime de distribuição de lucros
mas pode existir cláusula distinta. Ou seja, os sócios podem estabelecer um regime de detenção de lucros
e sendo uma sociedade por tempo determinado (art. 15º) é indiferente aos sócios não receber lucros antes
de findos esses 10 anos, não existindo nenhuma limitação excessiva. A distribuição dos lucros opera ou
no fim da sociedade ou com a liquidação da mesma. O art. 217º diz que se não existir esta cláusula, tem
de ser distribuído metade dos lucros aos sócios, pretendendo acautelar os casos em que queiram ser
distribuídos menos de metade dos lucros aos sócios (maioria de ¾). Se for mais do que estes lucros então
o objetivo é proteger o interesse social e isso tem de ser demonstrados. Pode ser distribuído aos sócios
mais do que 50%, segundo Paulo Olavo Cunha. Pretende-se proteger o facto de metade dos lucros sejam
distribuíveis. O que os sócios querem é que a sociedade dê dinheiro (apesar de não se aplicar neste caso).
Não é um pacto leonino porque a sociedade não diz que só daí a 100 anos é que vai distribuir os lucros.
O que há é apenas uma retardação. Aqui funciona a autonomia privada. A cláusula é válida porque há
unanimidade.

Esta é uma reserva estatutária. As reservas estatutárias correspondem a reservas criadas por imposição
contratual. Constituidas pela afetação de um montante percentual (variável) dos resultados do exercicio a
um fundo especial, destinado a reforçar as reservas legalmente obrigatórias, podem ser também formadas
para uma finalidade especifica. São atualmente raras mas estão presentes neste caso pois a reserva aqui
presente foi criada por imposição contratual, ou seja, no contrato. Ver também art. 31º/1 in fine.

Chegado ao fim dos 10 anos, podem os sócios prorrogar a sociedade? Se for prorrogado
unanimemente não haverá problema; se houver sócios que votem contra, estes não podem ser afetados
pois têm legitimas expectativas de recebimento dos lucros ao fim dos 10 anos, que é o que já tinha sido
contratado.

Aqui teria ainda de se equacionar a questão dos pactos leoninos: pode configurar um pacto leonino. Se
existir um sócio com 90 anos a entrar na sociedade, o assistente entende que não há pacto leonino, não
sendo a cláusula inválida. Se se dizer que há um sócio que só tem 6 meses de vida, é um pacto leonino.

2. Poderia uma cláusula deste tipo ser introduzida nos estatutos através de alteração ao contrato?
Art. 85º e 265º. Mas há teses mais conservadoras: existiria uma restrição a um direito que o sócio não
estavaà espera. Um sócio maioritário já sabe que um sócio minoritário não vai ter qualquer poder de
decisão, sendo que esta doutrina aplica o art. 86º/1/2, não sendo válida a alteração da cláusula para os
sócios que a ela se oponham. Aos sócios minoritários que não consentissem na alteração não seria aplicada,
sendo que a alteração teria de ocorrer por maioria.

É necessária maioria de ¾ para as sociedades por quotas em termos de alteração aos estatutos.
Podemos aqui referir o que é a alteração aos estatutos e em que é que se consubstancia.

Mais uma vez, poderíamos considerar que isto seria uma renuncia antecipada a direitos, consubstanciando
um pacto leonino (art. 22º/3).

3. Considerando que, em relação ao exercício de 2011, foram apurados € 50 000 de resultados


positivos mas que transitaram do exercício anterior resultados negativos de € 30 000, haveria
lucros a distribuir em 2012, caso todos os sócios acordassem em alterar a cláusula
10.ª?

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50 - 30 = 20. 20-2.50 (reserva legal- art. 218º) =17.5 a distribuir.

Os 2.500 têm de ser afetos a reserva legal. De acordo com o art. 217º, metade tem de ter sido distribuído
pelos sócios. Os 50.000 euros correspondem aos lucros de exercicio (despesas retiradas das receitas
naquele determinado exercicio). Depois tem de se calcular quais os lucros distribuíveis: art. 33º. Dos 50.000
euros de lucros têm de ser retirados os 30.000 euros para pagar os prejuízos dos anos anteriores. Portanto,
ficamos com 20.000 euros para formar as reservas legais, estatutárias ou despesas de constituição,
desenvolvimento (art. 33º/2). De acordo com o art. 33º, a reserva legal já desapareceu, ou seja, já foi
utilizada para cobrir o prejuízo transitado. O art. 218º/1 remete para o art. 295º e 296º: 5% do lucro tem
de ser afeto a reserva legal, sendo que nassociedades por quotas o montante mínimo é de 2.500 euros.

Ou entendemos que o art. 218º/1 se sobrepõe ao art. 218º, fazendo com que apenas 1000 euros são afetos
à reserva legal. Ou então defendemos que o art. 218º/2 se sobrepõe, sendo necessários 2500 euros para
reservas legais.

Ou ficaríamos só com 19.000 euros, retirando-se 1000 para a reserva legal anual (art. 218º/1 e 295º, 296º).
Ou então retiram-se 2.500 euros, preenchendo-se a reserva legal pelo art. 218º/2.

Uma vez que os sócios alteraram a cláusula, tem de ser aplicada a cláusula supletiva do art. 217º: pelo
menos metade dos lucros distribuíveis têm de ser distribuídos pelos sócios. Esse conteúdo legal mínimo
obrigatório significa que só por 3/4 de deliberaçãoo de votos é que se pode alterar o sentido do lucro
distribuído se for menor do que os 50%; se for maior basta que seja maioria simples. Este artigo contem
este conteúdo legal mínimo obrigatório. Para ser distribuido menos de 50% aos sócios é precisa uma
maioria de 3/4; se for mais de 50%, é maioria simples, de 51% (art. 250/3º).

Se existir cláusula estatutária que diga que aos sócios são sempre distribuíveis 50% dos resultados entende-
se que se se quiser naquele ano reduzr-se dos 70 para os 50, basta maioria simples. Se a cláusula disser que
todos os lucros de exercicio são distribuídos em 70%. Se num ano eles quiserem distribuir 40, basta maioria
simples. Mas se quiserem baixar para 40%, temos de ir ao art. 217º, e é necessária maioria de ¾.

Na opinião do assistente, deve aplicar-se o art. 218º/2, sendo a reserva legal de 2.500 euros.
Metade de 17.500 euros dá 8.500 euros.

4. A resposta seria a mesma se, durante o ano de 2012, a gerência verificasse que maquinaria essencial
para o projeto, avaliada em € 500 000, se perdera definitivamente num acidente, e que este dano
não estava coberto por qualquer seguro?
Ou se repara a máquina, o que não é possivel, pois diz-se que se perdeu a máquina definitivamente, sendo
necessária comprar uma nova. A máquina, só no ano seguinte, é que seria abatida no lucro da sociedade.
É levada a prejuizo quando for necessário adquirir uma nova. Se têm 17.500 euros para distirbuir pelos
socios mas se aquela nova aquisição estivesse nas contas desse ano não iria ser distribuido nada pelos
sócios.

Art. 31º/2/a): as deliberações dos sócios não devem ser cumpridas pelos membros daadministração se
tiverem fundadas razões para crer a alteração ocorrida no património social que tornariam a deliberação
ilicita, nos termos do art. 32º. A máquina é um ativo, sendo que se a sociedade fosse dissolvida a máquina
seria vendida e o produto da venda seria distribuido pelos sócios. Se queriam continuar o projeto de
sociedade, a máquina teria de ser adquirida. Portanto, se eles tinham de investor novos 500.000 euros, o
património da sociedade ficaria deficitário.

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Aqui teriamos de ir ao art. 32 porque já saberiamos que a situação liquida da sociedade no ano seguinte
ficaria afetada. No momento em que iriam distribuir resultados do ano anterior, eles já sabiam que iria
existir uma alteração significativa no património da sociedade. A situação liquida seria deficitária, não
podendo os gerentes distribuir os bens aos sócios.

Se a sociedade desse lucros de um milhão, isto seria diferente.

Se o sócio recebesse o valor, poderia distribui-lo à sociedade? Art. 34º. Tem de se demonstrar a má fé
subjetiva ética. Por exemplo, os lucros já haviam sido distribuidos e tinha sido publicitado um mês antes
o acidente, que passou nas noticias, neste caso não tinham como ignorar que a situação da sociedade iria
ficar deficitária no ano seguinte.

CASO 13. (DIREITO À INFORMAÇÃO)

Em fevereiro de 2012, o acionista da sociedade TelePortugal, S.A., Ribeiro, titular de ações


correspondentes a 3% do capital, requereu informações sobre as contas dos últimos 5 exercícios,
com vista ao melhor conhecimento da situação financeira da sociedade. Ribeiro, durante a
assembleia geral anual de março de 2012, voltou à carga, e solicitou ao presidente da mesa que
fossem prestadas informações a todos os acionistas sobre os ordenados escandalosos dos
administradores. Esta informação não lhe foi prestada.

Ribeiro, furioso, pediu de novo a palavra e exigiu que lhe fossem explicados, como se de um bebé
se tratasse, os detalhes técnicos do novo sistema 4G, que segundo a administração “iria
revolucionar o mercado dos telemóveis”. O acionista Constantino esfregou as mãos com aquele
alarido: também é acionista e administrador da OT, S.A., que também opera na área das
telecomunicações, e dá-lhe jeito conhecer os avanços técnicos da TelePortugal. Quid juris?

Este caso estamos perante uma sociedade anónima, nos termos do art. 271º e ss CSC e está aqui em causa
o direito à informação. O art. 21º/1/c) inclui, entre os direitos dos sócios, o de obter informações sobre
a vida em sociedade, nos termos da lei e do contrato. Quanto ao regime legal, caso não se apliquem as
regras especiais do CSC aplica-se o art. 573º e ss CC que tem aplicação em todas as situações que a lei
especial não disponha regime diverso.

A fonte do direito à informação é o facto jurídico que dá azo ao dever de informação. Temos uma
contraposição de interesses entre o facto especifico, que corresponde a uma precisa eventualidade que
gere o dever de informar e o status que é a qualidade geral do sujeito que o habilita a colher informações
(neste caso, o acionista).

Quanto ao conteúdo existem duas possíveis feições: deveres de informação substanciais- o obrigado está
adstrito a veicular a verdade que conheça, descrevendo-a de modo compreensível e explícito; e deveres de
informação formais, competindo-lhes transmitir elementos prefixados ou informação codificada. Quanto
aos sócios deve haver entrega de contas.

No direito das sociedades comerciais, o direito dos sócios à informação desenvolveu-se, em especial, no
domínio das sociedades anónimas. Por um lado, é o sector societário mais evoluído e que serviu como
matriz para todo o ramo societário. Mas não oferece duvidas que o dever de informação se impõe em
todos os tipos societários.

A informação pode ser ordinária ou extraordinária:

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• Informação ordinária: quando tenha a ver com a gestão comum da sociedade e com os negócios
que não caibam sob específicas previsões de informar. É este o caso na medida em que ele pediu
informações para ficar com um melhor conhecimento da situação financeira da sociedade.
• Informação extraordinária: sempre que se reporte a hipóteses especificas, como reduções e
aumentos de capital, fusões, cisões ou transformações de sociedades: todas essas eventualidades
obrigam a especificas informações.

Relativamente à tomada de decisões, podemos distinguir:

• A informação permanente: prestada a todo o momento, a pedido do sócio, ela prevalece nas
sociedades de pessoas- art. 288º;
• A informação prévia: ocorre antes de cada assembleia geral, como prelúdio para uma deliberação
esclarecida; prevalece nas sociedades de capitais- art. 289º;
• A informação em assembleia: efetivada em plena assembleia como modo de instruir o debate;
normalmente têm-se em vista as sociedades anónimas; todavia, também se aplica às sociedades por
quotas. Foi isto que aconteceu quando, durante a assembleia geral, anual, Ribeiro pede ao
presidente que dê informações a todos os acionistas sobre os ordenados escandalosos dos
administradores- art. 290º.
Existem 4 tipos de círculos de matéria informativa societária, ordenados em função do acesso a que se
tenha:

• A informação pública: é disponibilizada a todos os interessados, sócios e não-sócios. Ela resulta do


registo comercial e das publicações obrigatórias. Ela pode ainda ser disponibilizada ao balcão da
sociedade que tenha estabelecimentos abertos ao público e nos quais se transacionem valores que
tenham a ver com a própria sociedade.
• A informação reservada: é a que assiste aos sócios, devendo ser colhida nos termos da lei e do contrato,
nas palavras do art. 21º/1/c). Tendencialmente, ela deveria assistir a todos os sócios; porém, a extrema
dispersão do capital de certas sociedades anónimas, que poderia colocar algumas pessoas em condições
de impedir informações, com grandes custos para a própria sociedade, levou a limitar, nas sociedades
anónimas, alguma informação reservada, aos detentores de 1% do capital social- art. 288º/1.
• A informação qualificada: assiste apenas a sócios que detenham posições mais consideráveis no capital
da sociedade: participações qualificadas. É o que sucede nas sociedades anónimas onde, para aceder a
certos elementos, se requerem 10% do capital social agrupado (art. 291º) ou com as sociedades por
quotas, onde, em princípio, todas as participações são consideradas, para este efeito, qualificadas (art.
214º). A informação qualificada mergulha mais fundo na vida da sociedade.
• A informação secreta: não pode ser disponibilizada aos sócios. Trata-se de informação sujeita a sigilo
profissional ou de informação que, a ser divulgada, poderia prejudicar os sócios ou a própria sociedade.

Estes tipos de informação tomam corpo, quanto às sociedades anónimas, nos arts. 288º, 289º e 290º,
respetivamente.

Existem percentagens mínimas previstas na lei.

Importa começar pela análise do art. 288ºCSC, que diz respeito à informação corrente, que considera que
qualquer acionista que possa ações correspondentes a pelo menos 1% do capital social pode consultar o
elenco que consta do nº1 do presente artigo, DESDE QUE ALEGE MOTIVO JUSTIFICADO. Este
motivo não tem de ser explanado. Neste caso, Ribeiro era acionista em 3%, pelo que este requisito estava
preenchido. Paulo Olavo Cunha faz uma interpretação restritiva destes 1% do capital social, considerando

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que quem detenha esta percentagem dispõe de direitos de informação exclusivos, que não são facultados
a todos, pelo significado que os mesmos têm para a sociedade. Não pode haver agrupamento dos
acionistas para chegar a este 1%. Se tiverem 1%- 288º/3. Se não tiverem 1%- art. 288º/4.

Em primeiro lugar, Ribeiro pede informações da sociedade nos últimos anos para se inteirar da situação
financeira da sociedade. Portanto, aqui temos de atender à al. a), que considera que o acionista pode pedir
os relatórios de gestão e os documentos de prestação de contas previstos na lei, relativos aos 3 últimos
exercícios, incluindo pareceres do conselho fiscal, da comissão de autoria, do conselho geral e de
supervisão ou da comissão para as matérias financeiras, bem como os relatórios do revisor oficial de
contas. Isto significa que Ribeiro não pode pedir os relatórios dos últimos 5 exercícios, apenas lhe podem
ser concedidos os relatórios dos 3 últimos exercícios, de acordo com esta alínea. No entanto, importa
saber se houve efetivamente MOTIVO JUSTIFICADO, sendo, aparentemente, suficiente que invoque a
existência desse motivo justificado, sem ter de proceder à respetiva identificação. E isto porque a lei não
exige UM motivo justificado, mas apenas “motivo justificado”, pelo que será suficiente invocá-lo. Mas
nada impõe que uma eventual regulamentação contratual do direito à informação especifique essa
necessidade. Ou seja, o facto de “querer conhecer melhor a situação financeira da sociedade” é um motivo
justificado. A sociedade pode prestar informações sobre 5 exercícios, se assim o entender. A sociedade
poderia ter recusado prestar informações quanto aos dois últimos exercícios. Note-se que o elenco
presente no art. 288º é taxativo, segundo MC. Assim, podemos considerar que o direito à informação nas
sociedades anónimas é mais restrito do que nas sociedades por quotas, porque está em causa a autonomia
da administração em face do coletivo de acionistas, os quais não devem confundir o exercicio desse direito
com a intromissão na gestão da sociedade (art. 373º/3).

De seguida, em assembleia geral anual, Ribeiro pede ao presidente da mesa que dê informações a todos os
acionistas relativamente aos ordenados extremamente elevados dos administradores. De acordo com o
art. 288º/1, relativo ao direito mínimo à informação, nos termos do nº1/c), o acionista, se tiver motivo
justificado, pode pedir informações sobre os montantes globais das remunerações pagas, relativamente a
cada um os últimos 3 anos, aos membros dos órgãos sociais, devendo a informação ser certificada pelo
ROC nos termos do nº2. No entanto, temos de atender ao facto de esta informação ser pedida em sede
de assembleia geral, o que significa que temos de atentar ao art. 290º.

Na assembleia geral anual está sempre em causa a discussão das contas da sociedade, incluindo-
se a remuneração paga aos administradores. Temos ainda de atender ao art. 289º/1, logo a
informação tem de ser prestada neste prazo de 15 dias. Ou o dever foi cumprido nos termos do
art. 289º, e os relatórios estavam à sua disposição; ou se não estivesse incluída esta informação,
haveria uma recusa inválida e a informação teria de ser prestada- art. 290º.

A consulta de elementos a efetuar durante a assembleia geral deve ser sustentada pela titularidade ou
representação de uma participação mínima no capital social (art. 288º- 1%).

Nos termos do nº1, o acionista pode requerer que lhe sejam prestadas informações verdadeiras, completas
e elucidativas que lhe permitam formar opinião fundamentada sobre os assuntos sujeita a deliberação. Nos
termos do nº2, as informações abrangidas pelo numero anterior devem ser prestadas pelo órgão da
sociedade que para tal esteja habilitado e só podem ser recusadas se a sua prestação puder ocasionar grave
prejuízo à sociedade sociedade coligada; ou se for proibida (por exemplo, por violação de segredo imposto
por lei). Isto significa que a informação não pode ser recusada exceto nos casos previstos na lei. Neste
caso, não estamos nem perante um caso em que a divulgação dos montantes de remunerações pagas cause
um prejuízo à sociedade nem há violação de um dever de segredo, o que significa que as informações
deviam ter sido prestadas.

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Mas a verdade é que o presidente recusou e, nos termos do nº3, a recusa injustificada das
informações é causa de anulabilidade da deliberação (art. 57º).

Nos casos em que a informação pedida não tenha sido prestada ou tenha sido recusada, o acionista a quem
tenha sido recusada a informação pedida ao abrigo dos arts. 288º e 291º pode requerer ao tribunal um
inquérito à sociedade- art. 292º. O juiz pode tomar as medidas do nº2:

o Pode determinar que a informação seja prestada;


o Pode destituir o administrador, nomeando outro em seu lugar;
o Pode ordenar a dissolução da sociedade (art. 141º e ss).

No que diz respeito ao pedido de informações relativamente ao novo sistema B4, existe um dever da mesa
da assembleia em saber quem são os seus acionistas, devendo saber que um deles é administrador de outra
sociedade- art. 290º/1. Não sabemos se havia assunto sujeito a deliberação relacionado com o sistema 4G.
A recusa podia ser validada porque estava ali outro acionista que poderia usar a informação em beneficio
de outra sociedade, não devendo a informação ser prestada em sede de sociedade, mas podia ser prestada
a Ribeiro.

No que diz respeito ao outro acionista, o art. 290º: pode haver um grave prejuízo para a sociedade. Se a
informação fosse prestada ao Constantino, este não a poderia usar a informação porque é administrador
de uma empresa concorrente, podendo ocorrer responsabilidade civil e responsabilidade enquanto
acionista (art. 291º/6).

CASO 14. (DELIBERAÇÕES SOCIAIS)

a. Os cinco sócios da sociedade A, Lda. reúnem-se ocasionalmente na sede da sociedade e decidem


deliberar sobre determinado assunto. O sócio B, que votou vencido por não querer deliberar sobre
o tema, invoca agora a nulidade da deliberação.

Art. 54º/2: Os sócios podem tomar deliberações unânimes por escrito sem observância das formalidades
prévias desde que todos estejam presentes relativamente à constituição e deliberação sobre determinado
assunto- é uma assembleia universal ou totalitária. Neste tipo de casos, todos os sócios se encontram num
determinado sitio e vão deliberar apenas sobre os assuntos que eles quiserem. Neste caso em concreto,
estamos perante uma assembleia universal ou totalitária, indo deliberar sobre determinado assunto, e aqui
não podemos invocar nenhum dos vícios formais previstos no art. 56º/1/a)/b). Os sócios encontraram-
se logo nunca poderia ser invocada a nulidade porque todos estavam presentes, logo não se aplica a al. a).
Quanto à al. b), é a mesma coisa. Estas duas invalidades podem ser sanáveis.

O regime regra é a de que as deliberações são tomadas por maioria simples, logo não é por um voto de
vencido que a declaração vai ser anulada ou nula.

b. Numa outra altura, em que o gerente da sociedade B, Lda. não conseguia reunir todos os sócios,
decidiu-se deliberar por escrito, tendo sido enviadas cartas com a proposta de deliberação a todos
os sócios menos a C, que por esse motivo não votou. C veio, no entanto, a manifestar, por escrito,
o seu acordo quanto à deliberação.

Art. 53º: princípio da tipicidade dos meios de deliberação.

Nos termos do art. 56º/1/b), seria um caso de deliberação nula porque houve uma deliberação tomada
por voto escrito, embora C tenha direito de voto. Mas nos termos do nº3 a nulidade é sanável.

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Art. 247º/1- podem-se deliberar por escrito. Só para as sociedades por quotas está previsto este
procedimento por escrito.

c. O gerente da sociedade C, Lda. convocou, através de carta registada com aviso de recepção, todos
os sócios, esquecendo-se, porém, de D. O sócio E pede a declaração da nulidade da deliberação.

Supondo que um sócio não esteve presente e vem invocar a nulidade da deliberação, e mesmo assim
demonstra-se que aquela deliberação seria sempre tomada ainda que o sócio vota-se contra- é nulo, a
convocatória prevalece sempre, ainda que o peso do voto dele não sirva para nada.

Não se consideram convocadas quando o aviso convocatório seja assinado por quem não tenha
competência- nº2.

Portanto, aqui aplicamos o art. 56º/1/a).

É uma convocação de uma assembleia geral que se rege pelo art. 248º, sendo preterida a convocação de
um sócio que a torna nula. Pode outro sócio pedir a nulidade? Temos de ir ao art.
286º- qualquer interessado, a qualquer altura, pode pedir a nulidade.

Quanto à iniciativa, nos termos do art. 57º, pode ser do órgão de fiscalização da sociedade, tendo o
ónus de dar a conhecer aos sócios qualquer deliberação anterior.

Para sanar a nulidade, tem de renovar a deliberação, convocando todos os sócios- art. 62º. Esta nova
deliberação tem efeitos retroativos.

d. O gerente da sociedade D, Lda. convocou todos os sócios «com vista a deliberar sobre assuntos
do interesse da sociedade». Após a deliberação, o sócio E, que não esteve presente, pede a
anulação da deliberação.

Art. 56º/1/a) uma vez que esta convocatória não diz nada, na verdade não é uma convocatória. Os
elementos mínimos da convocatória têm de ser densificados. Mais do que o art. 58º/1/c), a convocatória
não foi bem feita.

De acordo com o principio da materialidade subjacente, a convocatória tem de ser sobre algum assunto.
Devia ser suscitada a nulidade da declaração pelo art. 56º/1/a)- a partir do momento em que há uma
convocatória que na verdade não nos diz nada, é como se não fosse uma convatória.
A conovatória poderia ser renovada enquanto vício formal que é (nº3).

Mas poderia ser sempre anulável nos termos do art. 58º/1/c), remetendo para o nº4 e ir para o art. 377º/8.
No entanto, aqui a própria convocatória nada esclarece, porque tudo são interesses da sociedade.

Seria mais vantajoso para os sócios a aplicação do art. 62º, bastando a renovaçãoo da deliberação porque
o vício é meramente instrumental. A nulidade pode ser requerida por qualquer interessado nos
termos do art. 286ºCC.

e. O administrador único da sociedade E, S.A. redigiu e publicou uma convocatória para a


assembleia geral, que se realizou passado um mês. O acionista F pediu, no entanto, a declaração
de nulidade de todas as deliberações tomadas.

Art. 375º: as assembleias gerais devem ser convocadas sempre que a lei o determine ou o conselho de
administração, a comissão de auditoria,...

Nos termos do art. 377º, as assembleias gerais são convocadas pelo presidente da mesa ou nos casos
especiais pela comissão de autoria etc. A convocatória deve ser publicada. Entre a divulgação e a data da

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reunião deve mediar 1 mês (nº4). Portanto, tem de se aplicar o art. 56º/1/a) e nº- não se consideram
convocadas as assembleias (quer seja por quem não tenha competência, quer seja por erro na
convocatória). Temos de averiguar se tinham estado presentes ou representados todos os sócios, pelo
que tínhamos de ver se o sócio tinha razão: tem razão porque o caso não nos diz, o que significa que em
abstrato equivale a uma não convocatória; se tivesse estado presente, a nulidade não podia ser invocada
por F.

Podemos assim aplicar o art. 62º que diz que a deliberação nula pode ser renovada por outra deliberação
e tem eficácia retroativa. Temos de atender ao art. 57º.

Portanto aplicamos o art. 286º para dizer que a nulidade pode ser arguida por qualquer interessado.

Quanto aos 30 dias, o prazo é de um mês, sendo o prazo respeitado- art. 377º/4.

Uma sociedade pode adotar vários modelos de administração: art. 278º mas uma sociedade tem sempre
de adotar um destes modelos, ou seja, tem sempre de haver um órgão de conselho fiscal.

f. G, H e I, cada um com 2% do capital social da sociedade F, S.A. entendem que é urgente os


sócios reunirem-se e deliberarem em assembleia geral sobre determinado assunto. Que podem
fazer?
Art. 375º/1, 376º

Art. 375º/2: se os sócios reunirem em conjunto ações que representem 5% do capital social, poderão
reunir porque têm 6% no total. O pedido poderia ser instruído. Requer-se este 5% para evitar
congestionamentos na sociedade. Quem faz estes pedidos só deve faze-lo quando necessário.

Art. 375º/3: 15 dias para justificação de recusa. Se não acontecer os sócios podem pedir a declaração
judicial da assembleia.

Art. 515º

Se fosse sociedade por quotas? Pelo art. 248º/1 aplica-se o regime das sociedades anónimas.

g. J, sócio da sociedade G, Lda., não pode estar presente na assembleia geral, por se encontrar fora
do país, pretendendo nomear o advogado como seu representante.

Estamos perante um problema de representação voluntária. Não é por escrito (249º/1). O nº5 diz que é
só cônjuge, ascendente ou outro sócio, a não ser que tal fosse previsto no contrato de sociedade, e nisso
não temos indicação. Menezes Cordeiro diz que não faz sentido prejudicar a pessoa que não possa
comparecer, deixando na mão de familiares próprios que não sabem o que se faz, constituindo uma
inconstitucionalidade pois é uma situação discriminatória. Nas sociedades por quotas as relações são mais
íntimas. Portanto, esta cláusula pode suscitar um vício de inconstitucionalidade, sendo que uma norma do
estatuto da ordem dos advogados- art. 61º/3 que diz que o advogado não pode ser impedido de
representar o seu cliente, sendo uma norma especial. Portanto, o advogado pode ser o representante de
uma determinada pessoa.

Portanto, o advogado emite uma procuração com poderes para o efeito. Nas sociedades anónimas não há
essa preocupação (art. 380º), pois a preocupação é com o capital e não com as pessoas.

h. No decurso da assembleia geral da sociedade H, S.A., o acionista L surpreendeu todos os outros


com uma proposta que não constava da ordem do dia.

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Nos termos do art. 373º/1, os accionistas deliberam ou nos termos do art. 54º ou em assembleias gerais
regularmente convocadas e reunidas. Devem ser respeitadas as condições presentes no art.
375º/1.

Art. 377º

Não sabemos se o acionista tem capital para levantar novas questões à ordem do dia. Nos termos do art.
378º/1, o acionista ou acionistas que satisfaçam as condições exigidas pelo artigo 375º/2 podem requerer
que na ordem do dia de uma assembleia geral já convocada ou a convocar sejam incluídos determinados
assuntos. Este requerimento deve ser redigido por escrito ao presidente da mesa da assembleia geral nos
5 dias seguintes à ultima publicação da convocatória respetiva (nº2). Nos termos do nº4, não sendo
satisfeito o requerimento, o que não foi pois não foi emitido o requerimento, L pode requerer
judicialmente a convocação de uma nova assembleia para deliberar sobre os assuntos mencionados,
aplicando-se o art. 375º/7.

O momento em que foi pedida a alteração não foi o correto, pois devia ter sido pedido com 5 dias de
antecedência- 378º/3.

Art. 58º/1/c), 4/a), 388º – pode haver anulação.

i. M, sócio-gerente da sociedade I, Lda. pediu o consentimento da sociedade para exercer uma


atividade concorrente com a mesma. A deliberação foi aprovada com os votos favoráveis de todos
os sócios (incluindo M), exceto o do sócio Z, que se absteve. Z pede agora a anulação da
deliberação, invocando que M não podia ter votado. M defende-se, dizendo que o seu voto foi
indiferente para a aprovação. A sociedade tem 5 sócios, cada um com 20% do capital social.

O Interesse deste sócio está em conflito de interesses com o da sociedade (Pode realizar atividade
concorrente se sujeitar essa atividade concorrente aceita o pelo coletivo da sociedade. Tem de demonstrar
que est a ser transparente com a sociedade).. Art. 251º: impedimento do voto, proibindo-se assim de votar
o sócio a votar direta ou indiretamente quando se encontra em conflito de interesses. Temos aqui que
atender ao art. 251º/1/e), que remete para o art. 254º/1: proibição de concorrência em que os gerentes
não podem exercer atividade concorrente com a da sociedade. Em principio, M não podia votar.

M está impedido pelo art. 251º que remete para o art. 254º. Em principio seria anulável pelo art. 58º/1/b).
O interesse de M é diferente do que subjaz ao interesse de sociedade, sendo o seu voto abusivo, que é
nulo.

Temos de fazer o teste de resistência da deliberação: temos de retirar o voto do sócio em conflito de
interesses sendo a deliberaçãoo aprovada se o voto não tivesse um verdadeiro impacto. Se o voto tivesse
tido impacto a deliberação já era abusiva. Temos de ver se o voto de M é ou não essencial: temos de
dividir 20% de M pelos restantes sócios, dando origem a 75% dos votos. A votação passa mesmo que seja
exigida maioria simples ou de ¾. Continuavamos a estar perante uma situação em que não está em causa
um voto essencial, sendo a votação sempre válida.

Se a deliberação fosse efetivamente abusiva, só o sócio que se absteve é que podia vir invocar o vício de
deliberação, sob pena de os outros cometerem um abuso de direito sob a forma de venire. Essa eventual
anulabilidade só podia ser arguida pelo sócios que se absteve no prazo de 30 dias sob pena da sociedade,
de acordo com o princípio da estabilidade nas deliberações societárias- art. 59º/2.

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Temos de atender à ação de anulação. A proposiçãoo desta, nos termos do nº4, não depende da
apresentação da ata- 63º.

Art. 58º/1/b) in fine


Aprovada por 20 20 20 20 20
80%:

1ª votação sim sim sim Sim abusivo Absteve-se

Aprovada 25 25 25 0 25 absteve-se
por 75% 2ª
votação

A concorrência é um direito especial- art. 24º.

j. Os acionistas da sociedade J, S.A. deliberam prestar uma garantia a uma dívida de um grande
fornecedor. Um credor da sociedade pede a declaração de nulidade da deliberação, invocando
que apenas o conselho de administração poderia ter decidido a prestação da garantia.

Prestaçao de garantias: é da competência deliberativa do conselho de administração- art. 406º/f). Houve


uma violação do art. 373º/2, que diz que os acionistas deliberam sobre as matérias que lhe são
especialmente atribuídas por lei ou contrato, podendo afirmar-se que houve a violação deste artigo. A
deliberação é nula pelo art. 56º/1/c), sendo um vício de substância que não admite renovação. A nulidade
não pode ser sanada. Tudo o que diga respeito à gestão da sociedade diz respeito ao conselho de
administração.

Nas SPQ os sócios é que têm a competência até ao ultimo detalhe.

Garantia é fora da capacidade da sociedade: art. 6º/3 – divergência doutrinaria art. 56º/1/c)
• Teoria da incompetência: este artigo é fundamentado pela regra da incompetência, caindo aqui
todas as deliberações que não possam ser tomadas pela assembleia geral. Raul Ventura, Pedro Meira,
maioria da doutrina.
• Teoria da impossibilidade: a inobservanca das regras em termos de competência não justifica a
nulidade e quando prejudicados terceiros ou atingidos regras gerais de incompetência gera ineficácia
da al. d). A impossibilidade legal recai na al. d). Teoria da impossibilidade física: são nulas as
deliberações fisicamente impossíveis sendo que as legalmente impossíveis caem na al. d).
• Impossibilidade física de pinto furtado.
• Menezes Cordeiro defende a incapacidade: impossibilidade física- deliberações que caem
fora da capacidade da sociedade, ainda que legalmente fosse possível fazê-lo. Depois vamos
às matérias inicais: podem ser praticados atos dentro da capacidade e fora do objeto. Regra
geral, o que cabe na al. b) e c).
O art. 56º/1/c) tem tido pouca aplicação prática.

Neste caso, o credor tinha razão e podia arguir a nulidade- 56º/1/c). Qualquer interessado a qualquer
altura (art. 286ºCC). O conselho de fiscalização, nos termos do art. 57º, deve atuar: dar a conhecer aos
sócios a nulidade de uma deliberação anterir. A renovação não é possível mas eles podiam deliberar
novamente.

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k. A sociedade O, Lda. delibera vender um imóvel por metade do seu valor real. Um credor contesta
a validade da deliberação.

Em principio, seria uma deliberação em prejuízo dos interesses da sociedade. Uma coisa é dizerse isto ou
“a sociedade delibera vender por metade do valor real quando existe um terceiro que oferece o valor exato
do imóvel e ainda assim deliberam vender por metade do valor”- art. 56º/1/d). Temos de ponderar a
intangibilidade do capital social, pondo em causa a validade da sociedade e os capitais que a sociedade tem,
como o ativo. Se tivessem dificuldades de liquidez e se o ativo não fosse essencial para prosseguir a
atividade societária, era uma coisa. Mas se não tivessem qualquer problema de liquidez, pode defraudar os
interesses que credores e terceiros depositaram na sociedade, e aí a deliberação pode ser nula- art.
56º/1/d). Ao vender por metade do preço, não é uma doação mista – compra e venda simulada- mas há
sempre falta de capacidade da sociedade para o fazer—56º/1/c).

l. Os sócios da sociedade P, Lda., descontentes com o sucessivo sentido de voto do sócio N,


decidem retirar dos estatutos a cláusula que lhe atribui um direito ao voto duplo.

Art. 24º/1,

Art. 250º/1: conta-se como um voto por cada cêntimo do valor nominal da quota. Nº2: é permitido que
o contrato de sociedade atribua dois votos por cada cêntimo. O voto duplo só está previsto nas sociedades
por quotas.

Art. 55º- Não podia ser sem o consentimento- ineficácia.

A ineficácia consta do art. 55º, que diz que o ato surte efeito mas não quanto àquela pessoa em concreto.
Só produz efeitos extrínsecos à pessoa do sócio. Ou seja, há uma ineficácia em sentido estrito.

O art. 55º tem de ser relacionado com o art. 24º. Só por estipulação do contrato de sociedade podem ser
criados direitos especiais de algum sócio- são criados intuito personae. É necessário que exista esta
atribuição especial do direito a um determinado sócio. Se houver uma alteração do contrato de sociedade
e nada for dito quanto a este direito, a alteração só produz efeitos quanto ao sócio com direito especial
desde que exista unanimidade.

A deliberação seria ineficaz porque vem retirar um direito especial ao sócio porque não houve o seu
consentimento. Temos de ver se há um direito especial: tem de haver previsão no contrato de sociedade
(está previsto no contrato social), sendo atribuído a um sócio nas sociedades por quotas; proibição de
retirar o direito especial sem o consentimento do sócio. Este mini caso não diz se o sócio deu ou não o
seu consentimento: só deixaria de ser ineficaz se o sócio desse o seu assentimento.

Nº2: sociedades por quotas

Nº3: sociedades anónimas.

Direito especial:

Supondo que existem 5 sócios numa sociedade anónima. Cada um deles tem 20% do capital social. De
acordo com o art. 22 recebem os lucros de acordo com a mesma percentagem. Se existisse 1000 euros era
200 para cada. Supondo que existe um direito especial e o sócio A diz que em vez de receber 20 % recebe
30% dos lucros, logo os outros têm uma redução equitativa (70% / 4 = 17.5). Há uma destruição do
principio regra do art. 22º. Pode consubstanciar um pacto leonino? Problematizar.

m. A ata da deliberação da assembleia geral da sociedade Q, Lda. nunca foi assinada.

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Nos termos do art. 63º, as deliberações dos sócios só podem ser provadas pelas atas das assembleias ou,
quando sejam admitidas deliberações por escrito, pelos documentos donde elas constem. Nº3: a ata deve
ser assinada por todos os sócios. A sociedade deve notificar judicialmente no prazo não anterior a 8 dias.

Nos termos do art. 248º/6, as atas das assembleias gerais devem ser assinadas por todos os sócios que
nelas tenham participado. Se fosse uma sociedade anónima era o art. 388º.

Como não há uma disposição que determine que é uma condição de eficacia, não existe nulidade
nem anulabilidade. É uma mera irregularidade, resultante de uma multa porque a conduta é
ilicita. É mais complicado provar que a deliberação foi feita naquele sentido.
Existem outros meios de prova como o livro commercial (art. 44ºCCom). O facto de a ata não
ser assinada não afeta o conteudo da deliberação, tem um efeito meramente probatório.

Art. 521º: multa até 120 dias.

Há irregularidade e não ineficácia.

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