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Ainda na França, 70 anos mais tarde, - glossário comentado = volta a traduzir kultur por cultura
e justifica: “(...) Foi o que Freud fez com o termo kultur, cujo sentido aparece sem ambiguidade
nos principais textos em que aborda o termo” (p.99).
Traduzir = escolher
FREUD – em Futuro de uma ilusão = não considerar a distinção entre cultura e civilização é
polêmica – e provavelmente é consequência da “decepção infligida pela guerra” (p.100) da
qual Freud (1915) fala em Reflexões para os tempos de guerra e morte.
THOMAS MANN (1914) – Neue Rundschau: - ao longo do artigo revela que existe um campo
semântico da kultur que se opõe a civilização.
FREUD – capítulo III – redefine a noção de kultur. Lembra a três principais fontes de mal-estar:
O homem aceita bem que não domina a força da natureza e nem seu corpo, mas tem
dificuldade em aceitar as dificuldades oriundas das instituições sociais, que foram criadas por
eles mesmos. Nesse ponto Freud evoca:
“uma afirmação que é tão surpreendente que iremos nos ater a ela. Segundo ela, é isso que
chamamos de nossa cultura que, em grande parte, sustenta a responsabilidade da nossa
miséria; seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições
primitivas” (p.103)
“Tudo aquilo pelo qual tentamos nos proteger conta a ameaça emanando das fontes de
sofrimento resultou [na] cultura”.
Primeiro – as ameaças e os sofrimentos aturados
Constitui a kultur
Depois – a necessidade de se prevenir deles
- se defender deles
“Essa hostilidade a uma Kultur que se revela menos benfeitora e mais incômoda que previsto é
um fenômeno recorrente a cada etapa da história da civilizações (aqui a língua francesa induz
naturalmente a falar de civilização)”. (p.103)
Povos primitivos São mais felizes = tem vida simples, com poucas necessidades.
O mal-estar na cultura – Freud – retoma a definição de Kultur que já havia dado em O futuro
de uma ilusão.
Algumas conquistas culturais citadas por Freud: utensílios, motores, navio, avião, telescópio,
microscópio, fotografia, gramofone, telefone.
Freud – perspectiva – evoca: “a escrita [que] está na origem da língua do ausente, o domicílio,
um substituto do ventre materno, essa primeira morada que possivelmente sempre foi objeto
de nostalgia, onde estávamos em segurança e nos sentíamos tão bem”.
Assim, “a aquisição da kultur reagrupa “tudo aquilo que o homem, pela sua ciência e técnica,
instaurou nessa terra, sobre a qual fez inicialmente sua entrada como ser animal repleto de
angústia e onde todo indivíduo de sua espécie deve entrar como um recém-nascido
desamparado” (p.34)
Após esse processo de aquisições culturais homem não deveria mais se sentir
desamparado como um recém-nascido ele possui instrumentos e técnicas é tipo um
“deus protético”p.34) deuses – encarnam ideais culturais e representam a onipotência e a
onisciência.
Porém “o homem atual não se sente feliz em sua semelhança a Deus” (p.35) (OBS: Lembrei
da questão da relação do homem com a tecnologia. Dos pais controlando os filhos.)
Freud cultura no sentido de Bildung: “Pensamos que nenhum outro traço caracteriza melhor
a cultura que a estima e os tratamentos dispensados às atividades psíquicas superiores, ao
papel fundamental concedido às ideias na vida dos homens”. (p.37)
TEORIA DO LAÇO (do contrato social) a lei do mais forte só pode ser ultrapassada se “se
encontra reunida uma maioria que é mais forte que qualquer indivíduo isolado e que conserva
sua coesão diante de cada indivíduo”(p.38) ”Essa substituição da força do indivíduo pela da
comunidade é um avanço cultural decisivo” e converge para o estabelecimento de uma ordem
de direito “da qual todos contribuíram com seus sacrifícios pulsionais” (p.39).
‘(...) modificações que provoca nas predisposições pulsionais (...) cuja satisfação constitui a
tarefa econômica de nossa vida”(p.40).
FREUD – Teoria psicanalítica da kultur “uma “similitude do processo cultural e do
desenvolvimento libidinal do indivíduo” (p.40). Outras pulsões são sublimadas e permitem o
desenvolvimento das atividades científicas, artísticas e ideológicas. Pois a “sublimação é
geralmente um destino da pulsão que a cultura obtém pela coação” (p.41)” (p.108).
Cap. 4 – Retoma a questão da origem (genealogia) da kultur traçada em Totem e Tabu. ”A
fundação da instituição familiar na humanidade primitiva esteve na origem do processo
cultural. À autoridade patriarcal do pai da horda primitiva se substituiu “à aliança dos irmãos”
e as prescrições dessa nova ordem representaram o primeiro estado de direito na kultur
totêmica. Vida em comum, trabalho e ordem familiar: “Eros e anaké se tornaram assim os pais
da cultura humana. (p.43). Vale notar que esse capítulo 4 de O mal-estar contém o que há de
melhor do antifeminismo freudiano. As mulheres, que tiveram um papel importante na
fundação da família, entram em conflito com a cultura. Doravante, elas defendem os
interesses da vida familiar e da sexualidade. “O trabalho cultural se tornou para sempre uma
ocupação dos homens” e as mulheres se revelam pouco aptas à sublimação” (p.109)
Homem moderno – decadente – profundamente agressivo – “Em certas circunstâncias, o
homem é um animal selvagem, a quem é estranha a ideia de poupar sua própria espécie. Essa
hostilidade dos humanos uns em relação aos outros sempre ameaça arruinar a sociedade de
cultura. A cultura que restringe a sexualidade e a agressividade esbarra assim em dificuldades
“que não cederão a nenhuma tentativa de reforma” (p.54). O fato psicossocial dos tempos
modernos é a “miséria psicológica da massa”, um “prejuízo cultural” do qual os Estados Unidos
da América, afirma Freud sem mais detalhes, dão o exemplo (p.58)”. (p.109/110).
“A instituição da sociedade, que constitui uma das conquistas fundamentais da Kultur, permite
a passagem do status naturalis ao status civilis. O preço a pagar pelo indivíduo é uma restrição,
imposta à necessidade pela força, da sua agressividade antissocial, sob o controle do
soberano: em Psicologia das massas e análise do eu (1921), falava do Führer da massa, que
pode orientar a Kultur no sentido do progresso da civilização, mas que é, inicialmente, uma
espécie de reencarnação do Pai odiado e venerado da horda primitiva. Toda organização, toda
ordem de direito, mesmo o Estado perfeitamente racionalizado, repousam sobre um fundo
passional inconsciente, sobre uma violência reduzida pela coação” (p.111).
Conduz a
Cap. 6 – Introduz a pulsão de morte dominação
da natureza
Permite a
formação da
consciência
moral
Cap. 7 –
Ora da libido
Deve
Ora da pulsão neutralizar a
de morte pulsão que se
opõe a ele.
CULTURA – é bastante hábil para inibir e neutralizar a pulsão de destruição.
sentimento de culpa +
medo do desamparo +
Cap. 8
Concepção científica de mundo – o homem reconhece sua fragilidade: se resigna com a morte
e se submete as necessidades naturais. TABU – primeiro passo do processo cultural:
“códigoo não escrito mais antigo da humanidade”.
Mal-estar e Futuro de uma ilusão FREUD considera que a religião teve um papel fundador
nas origens do processo cultural
- o chefe que “escolheu suas tribos para que elas se tornassem seu novo povo
- a religião fundada por ele faz exceção à regra afirmada em O futuro de uma ilusão
Motivo de Freud não distinguir entre Kultur e Zivilisation – resulta da desilusão causada pela
Primeira Guerra Mundial e de vontade autocrítica de uma tendência ao excesso de linguagem
Revela que foi difícil para Freud resistir à retórica patriótica do ambiente
Testemunha uma animosidade para com a civilização, comum nos países de língua
alemã no período da guerra.
“Esperava-se “guerras entre povos primitivos e os povos civilizados”, mas na verdade a
guerra era entre povos e nações civilizados.
Aparece claramente o debate entre Kultur e civilização
Para Pontalis (apud Le Rider): “mal-estar é uma palavra curiosa, discreta, quase tímida, fraca
ou muito forte dependendo da maneira como queremos entende-la. Um simples “mal-estar”
não permite nem um diagnóstico seguro, nem um prognóstico provável, ele desarma nosso
saber, escapa a qualquer controle. Aqueles que vêm consultar um psicanalista sabem muito
bem a diferença entre uma situação de crise e um estado de mal-estar”.
Freud - Por que a guerra? – diz que alguns preferem chamar civilização esse processo de
desenvolvimento cultural que se expande na escala da humanidade ele continuará
empregando Kultur.
Lévi-Straus – apresenta: uma definição mínima, porém perfeitamente compatível com a ideia
de que um conjunto de traços comuns a diversas culturas constituiu uma civilização.
Antropologia e sociologia – o problema não é a noção de civilização, mas sim a de cultura ao
ser diferenciada da noção de sociedade. É difícil distinguir o social do cultural.
Assim:
Três termos:
Zivilisation civilização
Campos semânticos que
Kultur cultura concordam, mas não se
confundem
Bildung educação formação
Alemão:
KULTUR – tradução: ora como cultura, ora como civilização – conforme o contexto. Assim,
Mal-estar na civilização não estava errado.
CIVILIZAR A CULTURA
Lucien Febvre – ensaio de introdução a Civilisation: Le mot et l’ideé. Paris: La Renaissance du livre,
1930.
Hipótese que tenta justificar a negativa de Freud em diferenciar Kultur e civilização se baseia
no texto Por que a guerra? de 1932: “Desde tempos imemoráveis, o processo de
desenvolvimento da cultura tem caminhado para além da humanidade. (Sei que alguns
preferem chama-la de civilização)”. (p.25)
FREUD E NIETZSCHE
“A situação de Sigmund Freud, dez anos após o final da Primeira Guerra Mundial, diante da
repugnante batalha ideológica conduzida a golpes de noções confusas, Kultur (alemã) contra
civilização (inglesa e francesa), se assemelha bastante à de Nietzsche logo após a guerra
franco-alemã de 1870-71, quando universitários alemãs e intelectuais franceses se debatiam
violentamente em torno das palavras Kultur e civilização.
Mas as transferências culturais obedecem a uma lógica que menospreza as paixões políticas.
Por detrás da antítese Kultur alemã – civilização francesa se opera “a ação particular que as
palavras estrangeiras podem exercer nas palavras francesas com as quais possuem algum tipo
de analogia de sentido ou de forma: eles se enriquecem de uma acepção especial, própria às
primeiras”. (p.136)
Cultura
Noção cultura – francês SINÔNIMOS
Ficam próximas
Noção de Kultur - alemão Civilização
o
Hélé Béji – L’imposture culturelle. Paris: Stock, 1997, p.16 – “O próprio de nossa época é de
nos deixar culturalmente desamparados contra sua perda de humanidade” (p.16)
“Enquanto o mundo outrora colonizado se revela impotente para fundar uma nova civilização,
“a cultura mundial, que é uma nova forma de civilização, se distingue desta naquilo que ela
perdeu de razão universal”(p.47)” (p.143)