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APG AFYA
- SOI III
Júlia Morbeck
@med.morbeck
1
APG 01
Localização Se você pressionar seus dedos entre a quinta e a sexta costela logo
abaixo do mamilo esquerdo, você pode facilmente sentir seu coração
↠ Do tamanho de uma mão fechada, o coração, oco, batendo, onde o ápice faz contato com a parede torácica. Portanto,
este local é chamado de ponto de máxima intensidade (PMI) (MARIEB,
em forma de cone, tem uma massa entre 250 e 350 3ª ed.).
gramas (MARIEB, 3ª ed.).
Envoltórios do coração
↠ Alojado dentro do mediastino, a cavidade medial do
tórax, o coração se estende obliquamente por 12 a 14 cm, ↠ O coração está envolvido por um saco de parede
da segunda costela ao quinto espaço intercostal (MARIEB, dupla chamado de pericárdio (peri = ao redor, cardi =
3ª ed.). coração) (MARIEB, 3ª ed.).
↠ A parte superficial frouxamente ajustada desse saco é
o pericárdio fibroso. Esta forte camada de tecido
conjuntivo denso protege o coração, ancora às
estruturas que o rodeiam e impede o enchimento
excessivo do coração com sangue (MARIEB, 3ª ed.).
O pericárdio fibroso próximo ao ápice do coração está parcialmente
fundido ao tendão central do diafragma; por conseguinte, o
movimento do diafragma, como na respiração profunda, facilita a
circulação do sangue pelo coração. (TORTORA, 14ª ed.)
chamada de epicárdio ("sobre o coração"), o qual é parte acabar se estirando, devido ao contínuo estresse do sangue pulsando através
deles. Além disso, como o tecido conjuntivo não é eletricamente excitável, o
integrante da parede cardíaca (MARIEB, 3ª ed.). esqueleto fibroso limita a propagação direta dos potenciais de ação pelo
coração a vias específicas (MARIEB, 3ª ed.).
↠ Entre as camadas parietal e visceral, está a cavidade
pericárdica, em forma de fenda, a qual contém uma
película de líquido seroso. As membranas serosas, lubrificadas
pelo líquido, deslizam suavemente umas sobre as outras durante a
atividade cardíaca, permitindo que o coração funcione em um meio
relativamente livre de atrito (MARIEB, 3ª ed.).
Na superfície do coração existem vários sulcos, que contêm vasos da superfície anterior do coração, e o ventrículo
sanguíneos coronarianos e uma quantidade variável de gordura. Cada esquerdo predomina na sua superfície póstero-inferior
sulco marca a fronteira externa entre duas câmaras do coração. Os
sulcos são: profundo sulco coronário, sulco interventricular anterior,
(MARIEB, 3ª ed.).
sulco interventricular posterior (TORTORA, 14ª ed.)
↠ Marcando internamente as paredes das câmaras
ÁTRIOS: AS CÂMARAS RECEPTORAS ventriculares, há feixes irregulares de músculo chamados
de trabéculas cárneas ("barras transversais de carne").
Na face anterior de cada átrio existe uma estrutura saculiforme
Ainda outros feixes de músculo se projetam na cavidade
enrugada chamada aurícula. Cada aurícula aumenta discretamente a
capacidade de um átrio, de modo que ele possa conter maior volume ventricular, os músculos papilares, em forma de cone, os
de sangue. (TORTORA, 14ª ed.) quais desempenham um papel na função valvar (MARIEB,
3ª ed.).
↠ Internamente, o átrio direito tem duas partes básicas:
uma parte posterior de parede lisa e uma porção anterior ↠ Quando os ventrículos contraem, o sangue é propelido
na qual as paredes são cortadas por feixes de músculos. do coração para a circulação. O ventrículo direito bombeia
Como esses músculos são parecidos com dentes de um sangue para o tronco pulmonar, o qual leva o sangue para
pente, eles são chamados de músculos pectíneos os pulmões, onde ocorrem as trocas gasosas. O
(pectina = pente). As regiões anterior e posterior do átrio ventrículo esquerdo ejeta sangue na parte ascendente da
direito são separadas por uma saliência em forma de C aorta, a maior artéria do corpo (MARIEB, 3ª ed.).
chamada de crista terminal (MARIEB, 3ª ed.).
Como a pressão arterial é muito maior na circulação sistêmica do que
na circulação pulmonar, o ventrículo esquerdo trabalha mais do que o
↠ Em contraste, o átrio esquerdo é predominantemente
ventrículo direito. (MOORE, 7ª ed.)
liso e internamente indistinguível (MARIEB, 3ª ed.).
A anatomia dos dois ventrículos confirma esta diferença funcional – a
O septo interatrial delimita uma depressão rasa, a fossa oval, que marca parede muscular do ventrículo esquerdo é consideravelmente mais
o ponto onde havia uma abertura no coração fetal, o forame oval do espessa do que a parede do ventrículo direito. Observe também que
coração (MARIEB, 3ª ed.). o lúmen do ventrículo esquerdo é mais ou menos circular, em
contraste com o do ventrículo direito, cujo formato é discretamente
↠ Os átrios são câmaras relativamente pequenas, de semilunar. (TORTORA, 14ª ed.)
paredes finas, uma vez que necessitam contrair apenas
minimamente para empurrar o sangue para os VALVAS CARDÍACAS
ventrículos. Via de regra, eles contribuem pouco para a
↠ O sangue flui através do coração em uma direção,
atividade de bomba propulsora do coração (MARIEB, 3ª
dos átrios para os ventrículos, e sai pelas grandes artérias
ed.).
que deixam o coração por sua face superior. Esse tráfego
↠ O sangue entra no átrio direito por três veias: de uma via é garantido por quatro valvas que abrem e
(MARIEB, 3ª ed.). fecham em resposta às diferenças de pressão sanguínea
presentes nos seus dois lados (MARIEB, 3ª ed.).
➢ a veia cava superior traz o sangue das regiões
do corpo superiores ao diafragma; ↠ Cada uma das quatro valvas ajuda a assegurar o fluxo
➢ a veia cava inferior traz o sangue das áreas do unidirecional de sangue através da abertura ao possibilitar
corpo abaixo do diafragma; que o sangue passe e, em seguida, se fechando para
➢ o seio coronário coleta o sangue que drena do impedir o seu refluxo (TORTORA, 14ª ed.).
miocárdio.
VALVAS ATRIOVENTRICULARES
↠ Quatro veias pulmonares entram no átrio esquerdo,
↠ As duas valvas atrioventriculares (AV), localizadas em
constituindo a maior parte da base do coração. Essas
cada junção atrioventricular, impedem o fluxo retrógrado
veias, as quais transportam sangue dos pulmões de volta
para os átrios quando os ventrículos contraem (MARIEB,
ao coração, são melhor observadas em uma vista
3ª ed.).
posterior (MARIEB, 3ª ed.).
↠ A valva AV direita, valva tricúspide, tem três válvulas
VENTRÍCULOS: AS CÂMARAS EJETORAS
flexíveis (cúspides ou folhetos do endocárdio reforçados
↠ Juntos, os ventrículos (ventre = interno) constituem a por tecido conjuntivo). A valva AV esquerda, com duas
maior parte do volume do coração. Como mencionado válvulas, é denominada valva mitral por causa da sua
anteriormente, o ventrículo direito forma a maior parte
VALVAS SEMILUNARES
↠ As valvas aórtica e pulmonar (semilunares, SL)
guardam a base das grandes artérias que partem dos
ventrículos (parte ascendente da aorta e do tronco
pulmonar, respectivamente) e impedem o fluxo
retrógrado para os ventrículos (MARIEB, 3ª ed.).
Há muitas anastomoses entre os ramos arteriais coronarianos. Essas ↠ As fibras cardíacas são curtas, ramificadas e
redes se fundem, proporcionando rotas adicionais (colaterais) para interconectadas. Cada fibra contém um ou, no máximo,
entrega de sangue ao músculo cardíaco, mas não são suficientemente dois núcleos grandes, pálidos, localizados no centro da
robustas para manter a nutrição adequada quando uma artéria
coronária é subitamente ocluída (MARIEB, 3ª ed.).
célula (MARIEB, 3ª ed.).
Os desmossomos evitam que as células adjacentes se separe.m ↠ O sinal para a contração é miogênico, ou seja, é
durante a contração e as junções comunicantes permitem que os originado dentro do próprio músculo cardíaco.
íons passem de célula a célula, transmitindo corrente ao longo de todo
o coração (MARIEB, 3ª ed.).
(SILVERTHON, 7ª ed.)
↠ O sinal para a contração miocárdica não é proveniente
do sistema nervoso central, mas de células miocárdicas
especializadas, denominadas células autoexcitáveis. As
células autoexcitáveis são também denominadas células
marca-passo, uma vez que elas determinam a frequência
dos batimentos cardíacos. (SILVERTHON, 7ª ed.)
As células autoexcitáveis miocárdicas são anatomicamente distintas das
células contráteis: elas são menores e contêm poucas fibras contráteis.
Como elas não têm sarcômeros organizados, as células autoexcitáveis
não contribuem para a força contrátil do coração. (SILVERTHON, 7ª
ed.)
↠ Mitocôndrias grandes perfazem 25 a 35% do volume Potenciais de ação
das células cardíacas (comparado com apenas 2% no
músculo esquelético) e conferem às células cardíacas ↠ O músculo cardíaco é um tecido excitável com a
uma alta resistência à fadiga. A maior parte do volume capacidade de gerar potenciais de ação. (SILVERTHON,
restante é ocupada por miofibrilas, compostas de 7ª ed.)
sarcômeros bastante típicos (MARIEB, 3ª ed.).
↠ Cada um dos dois tipos de células musculares cardíacas
tem um potencial de ação distinto, que varia um pouco
no formato, dependendo do local do coração onde ele é
medido. (SILVERTHON, 7ª ed.)
Quando os canais If se abrem em potenciais de membrana negativos, cerca de 20 mV antes de os canais de Na+ se fecharem.
o influxo de Na+ excede o efluxo de K+. O influxo resultante de carga Estes são canais de Na+ com duas comportas.
positiva despolariza lentamente a célula autoexcitável. À medida que o ➢ Fase 1: repolarização inicial. Quando os canais rápidos de
potencial de membrana se torna mais positivo, os canais de I f fecham- Na+ se fecham, a célula começa a repolarizar à medida que
se gradualmente, e alguns canais de Ca+2 se abrem. O resultante o K+ deixa a célula pelos canais de K+ abertos.
influxo de Ca+2 continua a despolarização, e o potencial de membrana ➢ Fase 2: o platô. A repolarização inicial é muito breve. O
move-se continuamente em direção ao limiar. (SILVERTHON, 7ª ed.) potencial de ação, então, se achata e forma um platô como
resultado de dois eventos: uma diminuição na
Quando o potencial de membrana atinge o limiar, canais adicionais de permeabilidade ao K+ e um aumento na permeabilidade ao
Ca+2 dependentes de voltagem se abrem. O cálcio entra rapidamente Ca+2.. Os canais de Ca+2 dependentes de voltagem ativados
na célula, gerando a fase de despolarização rápida do potencial de pela despolarização foram abertos lentamente durante as
ação. (SILVERTHON, 7ª ed.) fases 0 e 1. Quando eles finalmente abrem, o Ca+2 entra na
célula. Ao mesmo tempo, alguns canais “rápidos” de K + se
Quando os canais de Ca+2 se fecham no pico do potencial de ação,
fecham. A combinação do influxo de Ca+2 com a diminuição
os canais lentos de K+ estão abrindo. A fase de repolarização do
do efluxo de K+ faz o potencial de ação se achatar e formar
potencial de ação autoexcitável é devida resultante efluxo de K+.
um platô.
(SILVERTHON, 7ª ed.)
Quando os canais de Ca+2 acionados por voltagem do sarcolema se
A velocidade na qual as células marca-passo despolarizam determina a
abrem, os íons cálcio se movem do líquido intersticial para o citosol.
frequência com que o coração contrai (a frequência cardíaca). O
Este influxo de Ca+2 faz com que ainda mais Ca+2 saia do RS para o
intervalo entre os potenciais de ação pode ser modificado pela
citosol por canais adicionais de Ca+2 da membrana do reticulo
alteração da permeabilidade das células autoexcitáveis para diferentes
sarcoplasmático. (TORTORA 14ª ed.)
íons, o que, por sua vez, modifica a duração do potencial marca-passo.
(SILVERTHON, 7ª ed.) A entrada do cálcio é uma característica do acoplamento excitação-
contração cardíaco
6- A liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático fornece, ↠ A onda de despolarização é seguida por uma onda de
aproximadamente, 90% do Ca+2 necessário à contração contração, que passa pelo átrio e depois vai para os
muscular, sendo que os 10% restantes entram na célula a
partir do líquido extracelular. O cálcio difunde-se pelo citosol
ventrículos. (SILVERTHON, 7ª ed.)
para os elementos contráteis, onde se liga à troponina e
inicia o ciclo de formação de pontes cruzadas e o
movimento;
7- Com a diminuição das concentrações citoplasmáticas de
Ca+2, o Ca+2 desliga-se da troponina, liberando a actina da
miosina, e os filamentos contráteis deslizam de volta para
sua posição relaxada;
8- O Cálcio é transportado de volta para o retículo
sarcoplasmático com a ajuda da Ca+2 -ATPase;
9- No músculo cardíaco, o Cálcio também é removido de
dentro da célula pelo trocador Na+ - Ca+2 (NCX);
↠ A despolarização inicia no nó sinoatrial (nó SA), as
10- Um Ca+2 é movido para fora da célula contra o seu células autoexcitáveis no átrio direito que servem como
gradiente eletroquímico em troca de 3 Na+ para dentro da o principal marca-passo do coração. A onda de
célula a favor do seu gradiente eletroquímico. O sódio que despolarização, então, propaga-se rapidamente por um
entra na célula durante essa troca é removido pela Na+-K+-
sistema especializado de condução, constituído de fibras
ATPase.
autoexcitáveis não contráteis. (SILVERTHON, 7ª ed.)
➢ Fase 3: repolarização rápida. O platô termina quando os
canais de Ca+2 se fecham e a permeabilidade ao K+
aumenta mais uma vez. Os canais lentos de K+,
responsáveis por essa fase são ativados pela
despolarização, mas são abertos lentamente. Quando os
canais lentos de K+ se abrem, o K+ sai rapidamente e a
célula retorna para seu potencial de repouso (fase 4).
➢ Fase 4: potencial de membrana em repouso. As células
miocárdicas contráteis têm um potencial de repouso
estável de aproximadamente -90 mV
Sistema de condução
NÓ
NÓ
ATRIOVENTRIC FEIXE DE HIS
SINOATRIAL
ULAR
Ciclo cardíaco
↠ O conjunto dos eventos cardíacos, que ocorre entre Período de Contração Isovolumétrica (Isométrica)
o início de um batimento e o início do próximo, é
denominado ciclo cardíaco. Cada ciclo é iniciado pela ↠ Imediatamente após o início da contração ventricular,
geração espontânea de potencial de ação no nodo a pressão ventricular sobe, de modo abrupto, fazendo
sinusal. (GUYTON, 13ª ed.) com que as valvas A-V se fechem.
estiramento das fibras musculares cardíacas imediatamente ↠ Grupos de neurônios espalhados no centro CV regulam a
antes de contraírem (MARIEB, 3ª ed.). frequência cardíaca, a contratilidade (força de contração) dos
ventrículos e o diâmetro dos vasos sanguíneos. (TORTORA, 14ª ed.)
↠ O fator mais relevante para o estiramento cardíaco é a
↠ Os três tipos principais de receptores sensitivos que fornecem
quantidade de sangue que retoma ao coração e distende os
informações ao centro cardiovascular são os proprioceptores, os
ventrículos, chamado de retorno venoso (MARIEB, 3ª ed.).
barorreceptores e os quimiorreceptores. (TORTORA, 14ª ed.)
Contratilidade
Regulação autonômica
↠ Embora o VDF seja o principal fator intrínseco que influencia
o VS, o último também pode ser aumentado por fatores A regulação do coração pelo sistema nervoso se origina no centro
cardiovascular localizado no bulbo. Esta região do tronco encefálico
extrínsecos que aumentam a contratilidade do músculo
recebe informações de vários receptores sensoriais e dos centros
cardíaco. Contratilidade é definida como a força contrátil atingida cerebrais superiores, como o sistema límbico e o córtex cerebral. O
em um determinado comprimento muscular (MARIEB, 3ª ed.). centro cardiovascular então direciona o débito apropriado,
aumentando ou diminuindo a frequência dos impulsos nervosos nas
↠ Observe que a contratilidade é independente do estiramento partes simpática e parassimpática do SNA (TORTORA, 14ª ed.).
do músculo e do VDF. Um aumento na contratilidade é devido
a um maior influxo de Ca+2 para o citoplasma, a partir do líquido REFLEXOS BARORRECEPTORES
extracelular e do RS. O aumento da contratilidade resulta em
ejeção de sangue do coração (maior VS) e, ↠ Mecanismo rápido de controle da pressão que atuam
consequentemente, em um menor VSF. Aumento da em segundos ou minutos (GUYTON, 13ª ed.).
estimulação simpática aumenta a contratilidade do coração
(MARIEB, 3ª ed.). ↠ Os barorreceptores, receptores sensitivos sensíveis à
pressão, estão localizados na aorta, nas artérias carótidas
Pós-carga: pressão retrógrada exercida pelo sangue arterial internas (artérias do pescoço que fornecem sangue ao
↠ A pressão que deve ser superada para que os ventrículos encéfalo) e outras grandes artérias do pescoço e do tórax.
ejetem o sangue é denominada pós-carga. Ela é essencialmente (TORTORA, 14ª ed.)
a pressão para trás exercida pelo sangue arterial nas valvas
aórtica e pulmonar, cerca de 80 mmHg na aorta e 8 mmHg no
↠ Eles enviam impulsos para o centro cardiovascular para
tronco pulmonar. ajudar a regular a pressão sanguínea. Os dois reflexos
barorreceptores mais importantes são o reflexo do seio
↠ Em indivíduos saudáveis, a pós-carga não é o principal carótico e o reflexo da aorta. (TORTORA, 14ª ed.)
determinante do volume sistólico, pois é relativamente
constante. Contudo, em hipertensos (alta pressão arterial), sem Os seios caróticos são pequenas ampliações das artérias carótidas
dúvida ela é importante, por reduzir a capacidade dos internas direita e esquerda, um pouco acima do ponto em que elas se
ramificam da artéria carótida comum. (TORTORA, 14ª ed.)
ventrículos de ejetar sangue. Consequentemente, mais sangue
permanece no coração após a sístole, resultando em aumento ↠ A pressão arterial distende a parede do seio carótico,
do VSF e redução do VS (MARIEB, 3ª ed.). o que estimula os barorreceptores. (TORTORA, 14ª ed.)
Regulação do sistema cardiovascular
coração via nervos aceleradores cardíacos. (TORTORA, subtrair sua idade de 220 fornece uma boa estimativa de sua
14ª ed.) frequência cardíaca máxima em batimentos por minuto (TORTORA,
14ª ed.).
↠ Inversamente, quando é detectado um aumento na Os impulsos nervosos parassimpáticos chegam ao coração por meio
pressão, os barorreceptores enviam impulsos em uma dos nervos vagos (NC X) direito e esquerdo. Os axônios vagais
frequência mais rápida. O centro CV responde terminam no nó SA, no nó AV e no miocárdio atrial. Eles liberam
aumentando a estimulação parassimpática e diminuindo a acetilcolina, o que reduz a frequência cardíaca, diminuindo a velocidade
de despolarização espontânea das fibras autorrítmicas. Dado que
estimulação simpática. As reduções resultantes da
apenas algumas fibras vagais inervam o músculo ventricular, as
frequência cardíaca e força de contração diminuem o alterações na atividade parassimpática pouco influenciam a
débito cardíaco. (TORTORA, 14ª ed.) contratilidade dos ventrículos (TORTORA, 14ª ed.).
Os neurônios simpáticos se estendem do bulbo à medula espinal. Da ↠ Determinados produtos químicos influenciam a
região torácica da medula espinal, nervos simpáticos aceleradores fisiologia de base do músculo cardíaco e a frequência
cardíacos estendem-se para o nó SA, para o nó AV e para a maior cardíaca (TORTORA, 14ª ed.).
parte das porções do miocárdio. Os impulsos nos nervos cardíacos
aceleradores desencadeiam a liberação de norepinefrina, que se liga
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA
os receptores beta-1 (ß1) das fibras musculares cardíacas. (TORTORA,
14ª ed.). ↠ Mecanismo de controle da pressão que age após
Essa interação tem dois efeitos distintos: (TORTORA, 14ª ed.). vários minutos (GUYTON, 13ª ed.).
➢ nas fibras do nó SA (e AV), a norepinefrina acelera a taxa ↠ A renina é uma enzima proteica liberada pelos rins
de despolarização espontânea, de modo que estes quando a pressão arterial cai para níveis muito baixos. Sua
marcapassos disparam impulsos mais rapidamente e
resposta consiste em elevar a pressão arterial de diversos
aumentam a frequência cardíaca;
➢ nas fibras contráteis dos átrios e ventrículos, a modos, contribuindo para a correção da queda inicial da
norepinefrina aumenta a entrada de Ca2+ através dos pressão. (GUYTON & HALL, 13ª ed.)
canais lentos de Ca2+ acionados por voltagem, aumentando
assim a contratilidade. Como resultado, um maior volume ↠ A renina é sintetizada e armazenada em forma inativa
de sangue é ejetado durante a sístole. Em caso de chamada pró-renina nas células justaglomerulares (células
aumento moderado da frequência cardíaca, o volume JG) dos rins. (GUYTON & HALL, 13ª ed.)
sistólico não diminui, porque o aumento da contratilidade
compensa a redução da pré-carga. ➢ Quando a pressão arterial cai, reações
Com a estimulação simpática máxima, no entanto, a frequência intrínsecas dos rins fazem com que muitas das
cardíaca pode chegar a 200 bpm em uma pessoa de 20 anos de moléculas de pró-renina nas células JG sejam
idade. Em uma frequência cardíaca assim alta, o volume sistólico é clivadas, liberando renina. (GUYTON & HALL, 13ª
menor do que em repouso, por causa do tempo de enchimento muito ed.)
curto. A frequência cardíaca máxima diminui com a idade; como regra,
Referências
Objetivos alvo, como coração, cérebro, rins e vasos. Ela é o principal fator de
risco modificável com associação independente, linear e contínua para
1- Debater sobre a fisiopatologia, epidemiologia, doenças cardiovasculares (DCV), doença renal crônica (DRC) e morte
prematura (DIRETRIZ, 2020).
manifestações clínicas, etiologia e fatores de
risco da HAS; Além disso, apresenta impacto significativo nos custos médicos e
2- Compreender como é feito o diagnóstico, socioeconômicos, decorrentes das complicações nos órgãos-alvo,
fatais e não fatais, como: (DIRETRIZ, 2020).
tratamento e prevenção da HAS.
➢ coração: doença arterial coronária (DAC), insuficiência
IMPORTANTE cardíaca (IC), fibrilação atrial (FA) e morte súbita;
A pressão arterial deve ser cuidadosamente regulada ao longo do ➢ cérebro: acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico
corpo, para assegurar a perfusão adequada dos tecidos corporais e (AVEI) ou hemorrágico (AVEH), demência;
prevenir a lesão dos vasos sanguíneos (PORTH, 10ª ed.). ➢ rins: DRC que pode evoluir para necessidade de terapia
dialítica.
Com uma pressão arterial muito baixa, o fluxo sanguíneo para os
tecidos é insuficiente para assegurar o suprimento de nutrientes e
oxigênio, bem como para remover os produtos residuais celulares. Isso
gera o risco de lesão celular hipóxica-isquêmica e possível morte
celular (PORTH, 10ª ed.).
PA = DC x RVP
➢ DC aumentado;
➢ RVP aumentada;
➢ Ambos. Recentemente, o papel da imunidade/inflamação foi acrescentado aos
demais mecanismos envolvidos na fisiopatologia da HAS primária. A
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) inflamação “de baixo grau”, ou inflamação subclínica, é atualmente uma
característica reconhecida de HAS, aterosclerose e obesidade. A
Definição da HAS proteína C--reativa ultrassensível (PCRus) encontra-se aumentada em
pacientes hipertensos, de forma contínua e gradual aos valores de PA
(SOCESP, 4ª ed.).
↠ A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica não
transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em Etiologia da HAS
que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/
ou medicamentoso) superam os riscos (DIRETRIZ, 2020). ↠ A hipertensão é amplamente classificada, com base na
etiologia, como hipertensão primária (essencial) ou
↠ Trata-se de uma condição multifatorial, que depende hipertensão secundária (PORTH, 10ª ed.).
de fatores genéticos/epigenéticos, ambientais e sociais,
caracterizada por elevação persistente da pressão arterial HIPERTENSÃO PRIMÁRIA
(PA), ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140
↠ A hipertensão primária (essencial) se refere à
mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90
presença clínica de hipertensão sem evidências de uma
mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos
condição clínica causal específica. Tanto os fatores não
duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-
modificáveis quanto aqueles relacionados ao estilo de vida
hipertensiva (DIRETRIZ, 2020).
são implicados, seja isolada ou coletivamente, como
↠ A hipertensão é um fator de risco primário para fatores de contribuição para o desenvolvimento da
doenças cardiovasculares e uma causa líder de morbidade hipertensão primária (PORTH, 10ª ed.).
e mortalidade em todo o mundo (PORTH, 10ª ed.).
OBS.: Por se tratar de condição frequentemente assintomática, a HA
costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais em órgãos-
FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEIS DA HIPERTENSÃO ↠ Em comparação a outros grupos étnicos nos EUA, a
PRIMÁRIA hipertensão é mais prevalente e mais grave em
afrodescendentes (PORTH, 10ª ed.).
↠ Os fatores de risco de hipertensão primária incluem
fatores não modificáveis, como idade, sexo, raça, histórico ↠ Estudos comparativos entre populações também
familiar e genética (PORTH, 10ª ed.). indicam que afrodescendentes tendem a desenvolver
hipertensão em uma idade menos avançada do que as
IDADE demais populações. Os fatores responsáveis por essas
diferenças podem incluir aumento da sensibilidade ao sal,
↠ A hipertensão primária é mais comum em adultos do
aumento dos níveis de obesidade e fatores genéticos
que em crianças. Historicamente, a hipertensão em
(PORTH, 10ª ed.).
crianças é mais provavelmente secundária, muitas vezes
em consequência de distúrbios cardíacos congênitos ou IMPORTANTE: Dados do Vigitel 2018 mostraram que, em nosso país, não
doença renal (PORTH, 10ª ed.). houve uma diferença significativa entre negros e brancos no que diz
respeito à prevalência de HA (24,9% versus 24,2%) (DIRETRIZ, 2020).
OBS.: Entretanto, a incidência de hipertensão primária em crianças e
adolescentes está aumentado, acompanhando o aumento da incidência HISTÓRICO FAMILIAR E GENÉTICA
de obesidade e diabetes melito tipo 2 em crianças (PORTH, 10ª ed.).
↠ A hipertensão é observada com mais frequência entre
↠ Na fase adulta, a probabilidade de hipertensão aumenta pessoas com histórico familiar de pressão arterial alta.
com o avanço da idade, assim como aumenta a Acredita-se que a contribuição genética para a
probabilidade de morbidades cardiovasculares associadas hipertensão possa se aproximar dos 50%. Embora os
à hipertensão (PORTH, 10ª ed.). geneticistas tenham identificado muitos loci genéticos associados à
hipertensão, nenhum deles é responsável por uma grande proporção
↠ A elevação da pressão arterial com o envelhecimento da incidência de hipertensão (PORTH, 10ª ed.).
está relacionada a um enrijecimento das paredes arteriais,
que afeta a pressão sistólica em particular. Evidências mais Pesquisadores estão explorando como os efeitos epigenéticos
recentes também indicam que a capacidade renal de excreção do relacionados à metilação do DNA podem influenciar a incidência e a
sódio diminui com a idade, e a retenção de sódio também contribui gravidade da hipertensão. Também é importante observar que o
ambiente interage com a genética, conforme evidenciado por muitos
para a hipertensão (PORTH, 10ª ed.).
distúrbios sem um locus genético comumente identificado e que, ainda
Em torno de 65% dos indivíduos acima dos 60 anos apresentam HA, assim, tendem a recidivar nas famílias (PORTH, 10ª ed.).
e deve-se considerar a transição epidemiológica que o Brasil vem
Outra possibilidade é que a influência genética sobre a hipertensão seja
sofrendo, com um número ainda maior de idosos (= 60 anos) nas
mediada por uma via de patogênese comum com outros distúrbios.
próximas décadas, o que acarretará um incremento substancial da
Por exemplo, a hipertensão é um componente da síndrome
prevalência de HA e de suas complicações (DIRETRIZ, 2020).
metabólica associada ao diabetes tipo 2, e algumas evidências
científicas iniciais identificaram que os genes selecionados reguladores
SEXO do metabolismo lipídico podem ter uma ligação genética comum com
a síndrome metabólica (PORTH, 10ª ed.).
↠ Em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada
entre homens, mas a elevação pressórica por década se FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS DA HIPERTENSÃO
apresenta maior nas mulheres (DIRETRIZ, 2020).
PRIMÁRIA
Assim, na sexta década de vida, a PA entre as mulheres costuma ser
mais elevada e a prevalência de HA, maior. Em ambos os sexos, a ↠ Também foram identificados fatores de risco
frequência de HA aumenta com a idade, alcançando 61,5% e 68,0% modificáveis da hipertensão primária, incluindo dieta, níveis
na faixa etária de 65 anos ou mais, em homens e mulheres, de lipídios séricos, consumo de tabaco e álcool, nível de
respectivamente (DIRETRIZ, 2020). condicionamento físico e atividades, sobrepeso/obesidade
ETNIA e controle glicêmico no diabetes melito (PORTH, 10ª ed.).
↠ A etnia é um fator de risco importante para a HA, mas OBS.: As vias fisiopatológicas que podem ser fatores de contribuição
comuns entre esses aspectos do estilo de vida incluem perturbações
condições socioeconômicas e de hábitos de vida parecem no sistema renina-angiotensina-aldosterona, alterações dos
ser fatores mais relevantes para as diferenças na mecanismos dos peptídios natriuréticos, ativação do SNS e alteração
prevalência da HA do que a implicação étnica da função das células endoteliais (PORTH, 10ª ed.).
propriamente dita (DIRETRIZ, 2020).
APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (AOS) para o aumento da RVP, e como um estímulo para o
aumento dos níveis de aldosterona e da retenção de
↠ A apneia obstrutiva do sono tem sido ligada sódio pelo rim. Um ou ambos os rins podem estar
diretamente à hipertensão. Acredita-se que o mecanismo afetados. Com o envolvimento da artéria renal de um dos
causal envolva, em parte, a perturbação do sono, a qual rins, o rim não afetado fica sujeito aos efeitos deletérios
interfere na “queda” circadiana noturna normal da pressão da elevação da pressão arterial (PORTH, 10ª ed.).
arterial. Essa “queda” noturna está associada a níveis de
pressão arterial mais baixos. Interrupções repetitivas do DISTÚRBIOS DOS HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS
sono e diminuição da duração ou da qualidade do sono
estão associadas a uma menor “queda” noturna da ↠ O aumento dos níveis de hormônios adrenocorticais
pressão arterial (PORTH, 10ª ed.). também pode ocasionar a hipertensão, em consequência
da retenção renal de sal e água induzida por hormônios
HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA (PORTH, 10ª ed.).
Manifestações Clínicas da HAS ↠ A lesão dos rins é produzida por diversos mecanismos.
Uma das formas mais significativas de a hipertensão
↠ A hipertensão primária é tipicamente um distúrbio causar lesão renal é por hipoperfusão glomerular, a qual
assintomático. Os sintomas, quando ocorrem, promove glomeruloesclerose e fibrose tubulointersticial.
frequentemente estão relacionados aos efeitos da Outro mecanismo estudado inclui a disfunção endotelial
hipertensão a longo prazo sobre outros sistemas de decorrente da elevação da pressão glomerular (PORTH,
órgãos-alvo, como rins, coração, olhos e vasos 10ª ed.).
sanguíneos. A morbidade e a mortalidade relacionadas à
hipertensão progridem ao longo de toda a variação das ↠ Demência e comprometimento cognitivo são mais
pressões sistólica e diastólica, com a lesão dos órgãos-alvo frequentes em hipertensos. A hipertensão, em particular
variando acentuadamente entre pessoas com níveis de a hipertensão sistólica, é um importante fator de risco
hipertensão semelhantes (PORTH, 10ª ed.). para acidente vascular encefálico e hemorragia
intracerebral. O estreitamento e a esclerose das artérias
↠ Pessoas com hipertensão secundária também penetrantes de pequeno calibre nas regiões subcorticais
apresentam risco para os efeitos sobre esses órgãos-alvo, do cérebro são achados comuns à necropsia de pessoas
mas também podem apresentar manifestações clínicas com hipertensão crônica. Acredita-se que essas
alterações contribuam para a hipoperfusão, perda da com PA maior ou igual que 140 por 90 mmHg chegou a
autorregulação do fluxo sanguíneo e comprometimento 32,3% (IC 95% 31,7- 33,0) (DIRETRIZ, 2020).
da barreira hematencefálica, finalmente levando à
↠ Detectou-se que a prevalência de HA foi maior entre
desmielinização da substância branca (PORTH, 10ª ed.).
homens, além de, como esperado, aumentar com a idade
↠ A hipertensão também afeta o olho, em alguns casos por todos os critérios, chegando a 71,7% para os
de modo devastador. A retinopatia hipertensiva afeta a indivíduos acima de 70 anos (DIRETRIZ, 2020).
retina induzindo uma série de alterações microvasculares.
↠ No período de uma década (2008 a 2017), foram
O olho de um hipertenso inicialmente apresenta aumento
estimadas 667.184 mortes atribuíveis à HA no Brasil
do tônus vasomotor, que causa estreitamento arteriolar
(DIRETRIZ, 2020).
generalizado. A longo prazo, essas alterações podem
causar lacerações arteriovenosas (AV) mais graves e ↠ Em termos de custos ao SUS, a HA tem custos
cegueira (PORTH, 10ª ed.). atribuíveis maiores do que os da obesidade e do DM. Ao
EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA: Algumas poucas pessoas hipertensas
longo da última década, 77% dos custos com
desenvolvem um tipo de hipertensão acelerada e possivelmente fatal, hospitalizações no SUS com DAC são representados por
denominada emergência hipertensiva, que é caracterizada por DCV associadas à HA e aumentaram 32%, em reais, de
elevações acentuadas e súbitas na pressão arterial (> 180/120 mmHg), 2010 a 2019, passando de R$ 1,6 bilhão para R$ 2,2 bilhões
complicadas por evidências de lesões agudas dos órgãos-alvo ou
no período (DIRETRIZ, 2020).
agravamento destas (PORTH, 10ª ed.).
Diagnóstico da HAS
Epidemiologia
↠ A avaliação inicial de um paciente com hipertensão
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS GLOBAIS
arterial (HA) inclui a confirmação do diagnóstico, a suspeita
↠ As DCV são a principal causa de morte, hospitalizações e a identificação de causa secundária, além da avaliação
e atendimentos ambulatoriais em todo o mundo, inclusive do risco cardiovascular (CV). As lesões de órgão-alvo
em países em desenvolvimento como o Brasil. Em 2017, (LOA) e as doenças associadas também devem ser
dados completos e revisados do Datasus mostraram a investigadas (DIRETRIZ, 2020).
ocorrência de 1.312.663 óbitos no total, com um percentual
↠ Fazem parte dessa avaliação: (DIRETRIZ, 2020).
de 27,3% para as DCV. A HA estava associada em 45%
destas mortes cardíacas (DIRETRIZ, 2020). ➢ a medida da pressão arterial (PA) no consultório
e/ou fora dele, utilizando-se técnica adequada e
↠ Ainda, segundo o Carga Global das Doenças (GBD),
equipamentos validados e calibrados;
observou-se que a elevação da PAS foi o principal fator
➢ a obtenção de história médica (pessoal e
de risco, responsável por 10,4 milhões de mortes e 218
familiar);
milhões de DALYs ((anos de vida ajustados para a
➢ a realização de exame físico;
incapacidade ou, em outras palavras, anos perdidos de
➢ a investigação clínica e laboratorial.
vida saudável) (DIRETRIZ, 2020).
OBS.: Propõem-se avaliações gerais a todos os hipertensos e avaliações
↠ Globalmente, em 2010, a prevalência de HA (=140/90 complementares apenas para grupos específicos (DIRETRIZ, 2020).
mmHg e/ou em uso de medicação anti-hipertensiva) foi
de 31,0%, sendo maior entre homens (31,9%) do que ↠ A avaliação clínica e laboratorial do paciente com
entre as mulheres (30,1%) (DIRETRIZ, 2020). hipertensão arterial deve ser composta pelas seguintes
partes: (SOCESP, 4ª ed.).
PREVALÊNCIA DE HAS NO BRASIL
➢ Histórico clínico e exame físico.
↠ Os dados de prevalência no país tendem a variar de ➢ Exames laboratoriais.
acordo com a metodologia e a casuística utilizadas.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, 21,4% (IC
95% 20,8-22,0) dos adultos brasileiros autorrelataram HA,
enquanto, considerando as medidas de PA aferidas e uso
de medicação anti-hipertensiva, o percentual de adultos
medidas são realizadas aleatoriamente e feitas por decisão do próprio Glicemia de jejum e hemoglobina glicada: é fundamental afastar a
paciente ou até a pedido médico (DIRETRIZ, 2020). presença de diabetes melito, fator de risco agravante da hipertensão
arterial sistêmica.
medidas da PA no consultório e fora do consultório visitas subsequentes no consultório devem ser utilizadas
normais, a HA sustentada (HS) quando ambas são para confirmar uma elevação persistente, bem como
anormais, a HA do avental branco (HAB) quando a PA é para classificar o estágio da HA (DIRETRIZ, 2020).
elevada no consultório, mas é normal fora dele, e HA
↠ Quanto maior o estágio da HA, maior deverá ser o
mascarada (HM) quando a PA é normal no consultório,
número de visitas e menor o intervalo de tempo entre
mas é elevada fora dele (DIRETRIZ, 2020).
elas (DIRETRIZ, 2020).
↠ Embora a prevalência varie entre os estudos, a HAB
pode ser detectada em cerca de 15 a 19% dos indivíduos Tratamento da HAS
no consultório, alcançando 30 a 40% naqueles com PA ↠ Um dos objetivos específicos do tratamento do
elevada no consultório. É mais comum nos pacientes com paciente hipertenso é obter o controle pressórico
HA estágio 1 (DIRETRIZ, 2020). alcançando a meta de pressão arterial (PA) previamente
estabelecida. Tal meta deve ser definida individualmente,
sempre considerando a idade e a presença de doença
cardiovascular (DCV) ou de seus fatores de risco (FR). De
forma geral, deve-se reduzir a PA visando a alcançar
valores menores que 140/90 mmHg e não inferiores a
120/70 mmHg (DIRETRIZ, 2020).
RECOMENDAÇÕES PARA DIAGNÓSTICO E SEGUIMENTO
TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO
↠ A HA é uma condição habitualmente assintomática. Por
↠ O tratamento não farmacológico (TNF) está indicado
isso, deve ser avaliada em todo atendimento médico e
para todos os pacientes com HAS, pois viabilizam
em programas estruturados de triagem populacional.
menores doses dos anti-hipertensivos (SOCESP, 4ª ed.).
Nestes últimos, mais de 50% dos portadores de HA não
sabiam que tinham a doença (DIRETRIZ, 2020). ↠ Para pacientes com HAS estágio 1 e baixo a moderado
risco CV, sem evidência de lesão m órgãos-alvo, o TNF
↠ Pessoas saudáveis com uma PA ótima no consultório
está indicado isoladamente por um período de 3 a 6
(< 120/80 mmHg) ou com PA normal (120-129/80-84
meses, antes de se iniciar a terapia farmacológica. Paciente
mmHg) devem ter a PA medida novamente pelo menos
com HAS estágio 1, mas com alto risco CV e lesão em
anualmente e nas consultas médicas (DIRETRIZ, 2020).
órgãos-alvo devem iniciar simultaneamente o tratamento
↠ Pacientes com pré-hipertensão (130-139/85-89 mmHg) farmacológico e não farmacológico (SOCESP, 4ª ed.).
devem ter a PA medida anualmente ou,
↠ As mudanças de estilo de vida recomendadas para
preferencialmente antes, devido às altas taxas de
redução da pressão arterial (PA) são: restrição de sal,
progressão para HA. Além disso, nos casos suspeitos de
moderação do consumo de álcool, alto consumo de
HM, a MAPA ou a MRPA devem ser realizadas para
vegetais e frutas, redução de peso com manutenção do
detectar tal fenótipo (DIRETRIZ, 2020).
peso corporal ideal e atividade física regular (SOCESP, 4ª
ed.).
OBS.: Um potencial desvantagem da modificação do estilo de vida é
sua baixa adesão ao longo do tempo (SOCESP, 4ª ed.).
HÁBITOS ALIMENTARES
↠ É importante salientar que orientação de estilo de vida
do ponto de vista nutricional não é recomendar dieta e
sim educação nutricional para o resto da vida (SOCESP,
↠ Como a PA pode ter alta variabilidade, o diagnóstico
4ª ed.).
de HA não deve se basear exclusivamente na medida da
PA em apenas uma consulta médica, a menos que esteja ↠ A reeducação alimentar, por sua vez, implementa o
substancialmente elevada (HA estágio 3) ou haja conceito de mudança de hábitos alimentares que terão
diagnóstico estabelecido de LOA ou de doença CV. Para
os demais pacientes, as medidas repetidas da PA em
↠ A atividade física (AF) refere-se a qualquer movimento CARACTERÍSTICAS E ORIENTAÇÕES SOBRE OS FÁRMACOS ANTI-
corporal que aumente o gasto energético acima daquele HIPERTENSIVOS
em repouso, como locomoção e atividades laborais, São características desejáveis do fármaco anti-hipertensivo: (DIRETRIZ,
domésticas e de lazer (DIRETRIZ, 2020). 2020).
DIURÉTICOS (DIU)
↠ O mecanismo da ação anti-hipertensiva dos DIU
relaciona-se inicialmente a seus efeitos natriureticos, com
a diminuição do volume circulante e do volume
extracelular (DIRETRIZ, 2020).
ALFABLOQUEADORES
↠ Os medicamentos dessa classe agem como
antagonistas competitivos dos receptores alfa-1 pós-
sinápticos, reduzindo a RVP sem mudanças no débito
cardíaco. Promovem maior redução pressórica quando na
posição ortostática e na taquicardia reflexa (DIRETRIZ,
2020).
VASODILATADORES DIRETOS
↠ Os medicamentos dessa classe, ativos por via oral, são ASSOCIAÇÕES DE FÁRMACOS ANTI-HIPERTENSIVOS
a hidralazina e o minoxidil. Atuam diretamente, relaxando
a musculatura lisa arterial, levando à redução da RVP A terapia anti-hipertensiva inicial com combinação de fármacos
(DIRETRIZ, 2020). parece estar associada à redução do risco de desfechos CV
quando comparada com o tradicional início do tratamento com
EFEITOS ADVERSOS: Os efeitos colaterais da hidralazina são cefaleia, monoterapia. A combinação inicial de dois fármacos em
flushing, taquicardia reflexa e reação lupus-like (dose-dependente). Um comparação com a associação sequencial promove um
efeito colateral frequente do minoxidil é o hirsutismo, que ocorre em controle mais rápido, podendo reduzir em até cinco vezes mais
aproximadamente 80% dos pacientes (DIRETRIZ, 2020). a PA, com evidente impacto sobre LOA e desfechos CV a
longo prazo (DIRETRIZ, 2020).
INIBIDORES DIRETO DA RENINA
↠ O alisquireno, único representante da classe disponível
comercialmente, promove a inibição direta da ação da
renina com a consequente diminuição da formação de
angiotensina II (DIRETRIZ, 2020).
OBS.: Não existem, contudo, evidências de seus benefícios sobre a
morbidade e a mortalidade CV em hipertensos e pré-hipertensos
(DIRETRIZ, 2020).
Referências
↠ Esse processo adaptativo inicia-se como mecanismo ↠ A fibrose provoca rigidez miocárdica e
compensatório a fim de manter a força contrátil e heterogeneidade mecânica e elétrica, que desempenham
preservar o estresse da parede (SOCESP, 4ª ed.). papel importante na gênese de arritmias e deterioração
das funções sistólica e diastólica (SOCESP, 4ª ed.).
IMPORTANTE: Embora a hipertrofia ventricular melhore o desempenho
do trabalho cardíaco, também constitui um importante fator de risco ↠ A morte celular também é determinante no
de morbidade e mortalidade cardíacas subsequentes. A hipertrofia e o remodelamento cardíaco, porque causa a perda de massa
remodelamento inadequados podem resultar em alterações na contrátil, com consequente hipertrofia de células
estrutura (i. e., massa muscular, dilatação das câmaras) e na função (i.
miocárdicas e fibrose reparativa (SOCESP, 4ª ed.).
e., comprometimento da função sistólica ou diastólica), as quais
frequentemente levam à disfunção adicional da bomba e à sobrecarga Tradicionalmente, a perda de miócitos era explicada pela necrose,
hemodinâmica (PORTH, 10ª ed.). porém, nas últimas décadas, evidências mostram que a apoptose
também contribui para a IC (SOCESP, 4ª ed.).
Entretanto, com a progressão da degeneração miocárdica, esse
processo torna-se mal adaptado e contribui para a piora da insuficiência As causas da apoptose na transição para a falência ventricular são
cardíaca com fração de ejeção de ventrículo esquerdo reduzida inúmeras. Destacam-se isquemia, estiramento mecânico, estresse da
(ICFEVEr) (SOCESP, 4ª ed.). parede, estimulação neuro-hormonal e das citocinas (SOCESP, 4ª ed.).
↠ O remodelamento cardíaco é estimulado TIPOS DE HIPERTROFIA
primariamente pelo estiramento mecânico, porém, vários
fatores, incluindo isquemia, hormônios e peptídios ↠ A hipertrofia miocárdica é causada pelo aumento de
vasoativos, podem modificar os efeitos do fator mecânico miofibrilas e mitocôndrias (SOCESP, 4ª ed.).
(SOCESP, 4ª ed.).
↠ Pesquisas recentes enfocaram o tipo de hipertrofia
↠ A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio que se desenvolve em pessoas com insuficiência cardíaca.
envolvem uma série de eventos complexos nos níveis No nível celular, as células musculares cardíacas
molecular e celular. O miocárdio é composto por miócitos respondem aos estímulos do estresse imposto sobre a
(ou células musculares) e não miócitos (PORTH, 10ª ed.). parede ventricular pela pressão e pela sobrecarga de
volume, iniciando diversos processos que levam à
Os miócitos são as unidades funcionais do músculo cardíaco. Seu
hipertrofia. Estes incluem estímulos que produzem:
crescimento é limitado por um incremento no tamanho da célula e
não por um aumento na quantidade de células (PORTH, 10ª ed.). (PORTH, 10ª ed.).
➢ Hipertrofia simétrica, com um aumento OBS.: Os melhores indicadores de hipertrofia são o tamanho dos
proporcional no comprimento e na largura dos núcleos e o peso do órgão, pois se alteram tanto na sobrecarga de
pressão quanto na de volume, em comparação com o normal para a
músculos, como ocorre nos atletas
idade e o sexo. Ainda assim, quanto ao peso, não há valores bem
estabelecidos de normalidade, pois há variação conforme a massa
corpórea. Em adultos, peso acima de 350 g em homens e 300 g em
mulheres é considerado elevado, mas alguns autores já chamam de
hipertróficos corações com pesos um pouco menores que esses
(BOGLIOGO, 10ª ed.).
METABOLISMO ENERGÉTICO
ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO
↠ A síndrome da insuficiência cardíaca pode ser
produzida por qualquer condição cardíaca que reduza a
capacidade de bombeamento do coração (PORTH, 10ª lance de escadas pode ser suficiente para causar falta de
ed.). ar, por exceder a reserva cardíaca (PORTH, 10ª ed.).
↠ A disfunção ventricular diastólica é caracterizada por de pressão (p. ex., hipertensão e estenose valvar) sobre o coração. A
uma fração de ejeção normal, mas com relaxamento extensão da disfunção ventricular sistólica pode ser estimada medindo-
se o débito cardíaco e a fração de ejeção, e por meio da avaliação
ventricular diastólico comprometido, levando a uma das manifestações de insuficiência cardíaca do lado direito, em
diminuição no enchimento ventricular que, por fim, causa particular de congestão pulmonar (PORTH, 10ª ed.).
diminuição na pré-carga, no volume sistólico e no débito
cardíaco (PORTH, 10ª ed.). DISFUNÇÃO DIASTÓLICA
Muitas pessoas com insuficiência cardíaca apresentam uma ↠ Ainda que a insuficiência cardíaca em geral esteja
combinação de elementos de disfunções ventriculares sistólica e associada ao comprometimento da função sistólica, em
diastólica, e a divisão entre disfunção sistólica e disfunção diastólica cerca de 55% dos casos a função sistólica é preservada
pode ser razoavelmente artificial, em particular conforme esteja
relacionada às manifestações e ao tratamento (PORTH, 10ª ed.).
e a insuficiência cardíaca ocorre exclusivamente com
base na disfunção diastólica ventricular esquerda. Embora
É importante observar que a disfunção ventricular não é sinônimo de esses corações apresentem contração normal, o
insuficiência cardíaca, mas pode levar ao seu desenvolvimento. Com
ambas as disfunções ventriculares, sistólica e diastólica, os mecanismos
relaxamento é anormal (PORTH, 10ª ed.).
compensatórios em geral conseguem manter a função cardíaca em
↠ O enchimento anormal do ventrículo compromete o
repouso adequada, até os estágios finais da insuficiência cardíaca
(PORTH, 10ª ed.). débito cardíaco, especialmente durante o exercício. Para
qualquer volume ventricular determinado, as pressões
DISFUNÇÃO SISTÓLICA ventriculares estão elevadas, acarretando sinais de
congestão venosa pulmonar e sistêmica, de modo
↠ Primariamente definida como uma diminuição na
idêntico ao observado em pessoas cujo coração está
contratilidade do miocárdio, caracterizada por uma fração
dilatado e contrai inadequadamente (PORTH, 10ª ed.).
de ejeção inferior a 40%. Um coração normal ejeta em
torno de 65% do sangue presente no ventrículo ao final ↠ A prevalência da insuficiência diastólica aumenta com
da diástole. Na insuficiência cardíaca sistólica, a fração de a idade, sendo mais alta nas mulheres e em pessoas com
ejeção declina progressivamente com o aumento dos hipertensão e fibrilação atrial (PORTH, 10ª ed.).
graus de disfunção miocárdica (PORTH, 10ª ed.).
OBS.: Entre as condições causadoras de disfunção diastólica, estão
OBS.: Nos tipos mais graves de insuficiência cardíaca, a fração de aquelas que impedem a expansão do ventrículo (p. ex., efusão
ejeção pode diminuir para uma porcentagem com dígito único pericárdica, pericardite constritiva), aumentam a espessura da parede
e reduzem a dimensão da câmara (p. ex., hipertrofia do miocárdio,
↠ Com uma diminuição na fração de ejeção, há um MCH), e adiam o relaxamento diastólico (p. ex., envelhecimento,
aumento resultante no volume diastólico final (pré-carga), cardiopatia isquêmica) (PORTH, 10ª ed.).
na dilatação ventricular e na tensão da parede ventricular ↠ O envelhecimento com frequência é acompanhado
e uma elevação na pressão diastólica final ventricular. O por um adiamento no relaxamento do coração durante a
aumento do volume, somado ao retorno venoso normal, diástole, de modo que o enchimento diastólico tem início
leva a um aumento na pré-carga ventricular (PORTH, 10ª enquanto o ventrículo ainda está rígido e resistente à
ed.). distensão para aceitar um aumento no volume. Um
↠ Acredita-se que a elevação na pré-carga seja um adiamento semelhante ocorre na isquemia do miocárdio,
mecanismo compensatório para ajudar a manter o que resulta da falta de energia para romper o rigor
volume sistólico por meio do mecanismo de Frank- estabelecido entre os filamentos de actina e miosina, bem
Starling, apesar da diminuição da fração de ejeção. como para transportar o Ca++ para fora do citosol e de
Embora atue como um mecanismo compensatório, o volta ao interior do retículo sarcoplasmático (PORTH, 10ª
aumento da pré-carga também pode levar a uma das ed.).
consequências mais deletérias da disfunção ventricular IMPORTANTE: A função diastólica também é influenciada pela frequência
sistólica – o acúmulo de sangue nos átrios e no sistema cardíaca, a qual determina o tempo disponível para que ocorra o
venoso (que é esvaziado no interior dos átrios), causando enchimento ventricular. Um aumento na frequência cardíaca abrevia o
edema pulmonar ou periférico (PORTH, 10ª ed.). tempo de enchimento diastólico. Portanto, a disfunção diastólica pode
ser agravada por taquicardia ou arritmia e melhorar com uma queda
IMPORTANTE: A disfunção sistólica comumente resulta de condições na frequência cardíaca, a qual possibilita um tempo maior para o
que comprometem o desempenho contrátil do coração (p. ex., enchimento do coração (PORTH, 10ª ed.).
cardiopatia isquêmica e miocardiopatia), produzem uma sobrecarga de
volume (p. ex., insuficiência valvar e anemia) ou geram uma sobrecarga
↠ Com a disfunção diastólica, o sangue não consegue se ↠ Além disso, se o ventrículo direito não ocasiona o
movimentar livremente no interior do VE e isso faz com movimento anterógrado do sangue, ocorre acúmulo ou
que a pressão intraventricular aumente com qualquer congestão de sangue no sistema venoso sistêmico. Isso
volume. As pressões elevadas são transferidas do VE para eleva as pressões diastólica final ventricular direita, atrial
dentro do átrio esquerdo e do sistema venoso pulmonar, direita e venosa sistêmica (PORTH, 10ª ed.).
causando uma diminuição na complacência do pulmão
↠ Um importante efeito da insuficiência cardíaca do lado
que aumenta o trabalho respiratório e evoca sintomas de
direito é o desenvolvimento de edema periférico. Os
dispneia (PORTH, 10ª ed.).
efeitos da ação da gravidade fazem com que o edema
↠ O débito cardíaco encontra-se diminuído, não em seja mais pronunciado nas partes inferiores do corpo
consequência de uma redução da fração de ejeção (PORTH, 10ª ed.).
ventricular conforme a observada com a disfunção
OBS.: Quando a pessoa está em posição ortostática, observa-se edema
sistólica, mas em decorrência de uma diminuição no nos membros inferiores; em decúbito dorsal, o edema é observado
volume (pré-carga) disponível para o débito cardíaco na área acima do sacro. O acúmulo do líquido do edema é evidenciado
adequado. O débito cardíaco inadequado durante a prática por um ganho de peso (i. e., 560 mℓ de líquido acumulado resultam
de exercícios pode levar à fadiga das pernas e dos em um ganho de peso de 0,45 kg). A verificação diária do peso pode
ser utilizada como um meio de avaliar o acúmulo de líquido em uma
músculos acessórios da respiração (PORTH, 10ª ed.).
pessoa com insuficiência cardíaca crônica. Como regra, um ganho de
Disfunção ventricular direita X Disfunção ventricular peso superior a 0,9 kg em 24 h ou 2,2 kg em 1 semana é considerado
um sinal de agravamento da insuficiência (PORTH, 10ª ed.).
esquerda
↠ A insuficiência cardíaca do lado direito também produz
↠ A insuficiência cardíaca é classificada de acordo com o congestão das vísceras. À medida que a distensão venosa
lado do coração (ventricular direita ou ventricular progride, o sangue se acumula nas veias hepáticas que
esquerda) primariamente afetado. Embora o evento inicial drenam na veia cava inferior, e o fígado fica ingurgitado.
que leva à insuficiência cardíaca possa ser de origem Isso pode causar hepatomegalia e dor no quadrante
ventricular direita ou esquerda, a insuficiência cardíaca a superior direito. Na insuficiência cardíaca do lado direito
longo prazo normalmente envolve ambos os lados grave e prolongada, a função hepática está
(PORTH, 10ª ed.). comprometida e as células hepáticas podem morrer. A
congestão da circulação porta também pode levar ao
ingurgitamento do baço e ao desenvolvimento de ascite.
A congestão do trato gastrintestinal pode interferir na
digestão e na absorção de nutrientes, causando anorexia
e desconforto abdominal (PORTH, 10ª ed.).
OBS.: Na insuficiência cardíaca do lado direito grave, as veias jugulares
externas se tornam distendidas e podem ser visualizadas quando a
pessoa está sentada ou em pé (PORTH, 10ª ed.).
capacidade de transporte do sangue desoxigenado da A hipertensão pulmonar prolongada também causa disfunção e
circulação sistêmica para a circulação pulmonar. insuficiência ventricular direita. A hipertensão pulmonar ocorre em
Consequentemente, quando o ventrículo direito é pessoas com doença pulmonar crônica, pneumonia grave, embolia
pulmonar ou estenose aórtica ou mitral. Quando a insuficiência cardíaca
insuficiente, ocorre uma redução na quantidade de do lado direito ocorre em resposta à doença pulmonar crônica, é
sangue deslocada adiante, para a circulação pulmonar, e denominada cor pulmonale (PORTH, 10ª ed.).
em seguida para o lado esquerdo do coração, finalmente
Outras causas comuns incluem estenose ou regurgitação das valvas
causando redução do débito cardíaco ventricular tricúspide ou pulmonar, infarto ventricular direito e miocardiopatia. A
esquerdo (PORTH, 10ª ed.).
disfunção ventricular direita com insuficiência cardíaca também é CAUSAS DA DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA
causada por defeitos cardíacos congênitos, como tetralogia de Fallot
e defeito do septo interventricular (PORTH, 10ª ed.). As causas mais comuns de disfunção ventricular esquerda são a
hipertensão e o infarto agudo do miocárdio (PORTH, 10ª ed.).
DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA
Mesmo quando a área infartada é pequena, pode haver uma área
adjacente de tecido isquêmico. Isso pode resultar em grandes áreas
↠ A insuficiência cardíaca do lado esquerdo compromete
de hipocinesia ou acinesia da parede ventricular, e no rápido
o movimento do sangue a partir da circulação pulmonar aparecimento de congestão e edema pulmonar (PORTH, 10ª ed.).
(de baixa pressão) até o lado arterial (de alta pressão) da
circulação sistêmica (PORTH, 10ª ed.). A estenose ou regurgitação da valva aórtica ou mitral também gera o
nível de retorno do lado esquerdo que resulta em congestão
↠ Com o comprometimento da função cardíaca pulmonar. Conforme a pressão pulmonar aumenta como resultado da
congestão, pode haver progressão para insuficiência cardíaca do lado
esquerda, ocorre uma diminuição no débito cardíaco para direito (PORTH, 10ª ed.).
a circulação sistêmica. O sangue se acumula no VE, no
átrio esquerdo e na circulação pulmonar, o que causa INSUFICIÊNCIA COM DÉBITO ALTO X DÉBIDO BAIXO
uma elevação na pressão venosa pulmonar. Quando a Ambas são descritas em termos do débito cardíaco (PORTH, 10ª ed.).
pressão nos capilares pulmonares (normalmente de cerca
de 10 mmHg) excede a pressão osmótica capilar (em geral A insuficiência com débito alto é um tipo incomum de insuficiência
cardíaca causada por uma necessidade excessiva de débito cardíaco.
ao redor de 25 mmHg), ocorre uma transferência do Na insuficiência com débito alto, a função do coração pode estar acima
líquido intravascular para o interstício dos pulmões, do normal e inadequada, devido às necessidades metabólicas
resultando em edema pulmonar (PORTH, 10ª ed.). excessivas. As causas de insuficiência com débito alto incluem anemia
grave, tireotoxicose, condições que causam desvios arteriovenosos e
O episódio de edema pulmonar costuma ocorrer à noite, após a doença de Paget (PORTH, 10ª ed.).
permanência da pessoa em posição reclinada durante algum tempo e
a remoção das forças gravitacionais do sistema circulatório. Nesse A insuficiência com débito baixo é causada por distúrbios que
momento, o líquido do edema sequestrado nos membros inferiores comprometem a capacidade de bombeamento do coração, como
ao longo do dia retorna para o compartimento vascular e é cardiopatia isquêmica e miocardiopatia. A insuficiência com débito baixo
redistribuído para a circulação pulmonar (PORTH, 10ª ed.). é caracterizada por evidências clínicas de vasoconstrição sistêmica,
com extremidades frias, pálidas e por vezes cianóticas Nos casos
avançados de insuficiência com débito baixo, as reduções acentuadas
no volume sistólico são evidenciadas por uma menor amplitude da
pressão de pulso. Contrariamente, na insuficiência com débito alto, as
extremidades normalmente são quentes e ruborizadas, e a pressão
de pulso é normal ou apresenta amplitude aumentada (PORTH, 10ª ed.).
Mecanismos Compensatórios
Curvas da função ventricular esquerda. Curva A: Curva da função normal, com um débito cardíaco normal
e pressão de enchimento DFVE ideal. Curva B: Insuficiência cardíaca compensada, com débito cardíaco
normal nas pressões DFVE mais altas. Curva C: Insuficiência cardíaca descompensada, com uma diminuição
no débito cardíaco e elevação DFVE, com elevação final da pressão capilar pulmonar e desenvolvimento
de congestão pulmonar. Curva D: Choque cardiogênico, com uma diminuição extrema no débito cardíaco
e um aumento acentuado nas pressões DFVE.
dos receptores beta-adrenérgicos do coração acarreta peptídio natriurético atrial (ANP) e o peptídio natriurético
taquicardia, vasoconstrição e arritmias cardíacas. De modo cerebral (BNP) (PORTH, 10ª ed.).
agudo, a taquicardia aumenta significativamente a carga
Como seu nome indica, o ANP é liberado pelas células atriais em
de trabalho do coração, o que incrementa a demanda de resposta ao estiramento atrial, à pressão ou à sobrecarga de líquido.
oxigênio do miocárdico, e tanto a isquemia quanto a O BNP é secretado primariamente pelos ventrículos em resposta ao
miocardiopatia contribuem para o agravamento da aumento da pressão ventricular ou à sobrecarga de líquido (PORTH,
insuficiência cardíaca (PORTH, 10ª ed.). 10ª ed.).
↠ Os sinais e sintomas incluem falta de ar e outras a ser tomada e se interrompe o tratamento posteriormente
manifestações respiratórias, fadiga e tolerância limitada aos (DIRETRIZ, 2020).
exercícios, retenção de líquido e edema, caquexia e ↠ Os problemas de adesão nem sempre são fáceis de
desnutrição, e cianose. As pessoas com insuficiência se detectar e quantifica-los é ainda mais difícil. Para
cardíaca grave podem apresentar diaforese e taquicardia melhorar o controle da HA, é importante reunir esforços
(PORTH, 10ª ed.). no sentido de identificar os pacientes não aderentes ao
tratamento proposto (DIRETRIZ, 2020).
MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS
↠ O abandono mostra-se frequente nos primeiros
↠ A falta de ar decorrente da congestão da circulação
meses do tratamento, além de os pacientes poderem
pulmonar é uma das principais manifestações da
tomar os medicamentos em desacordo com a prescrição
insuficiência cardíaca do lado esquerdo. A falta de ar (i. e.,
médica (DIRETRIZ, 2020).
dificuldade respiratória) que pode ser percebida é
denominada dispneia (PORTH, 10ª ed.). A falta de adesão ao tratamento é frequentemente definida quando
os hipertensos fazem uso de menos de 80% dos medicamentos
FADIGA, FRAQUEZA E CONFUSÃO MENTAL prescritos. No entanto, pode variar ao longo de um contínuo de zero
e até ultrapassar 100% naqueles que usam mais do que foi prescrito,
↠ A fadiga e a fraqueza com frequência acompanham a o que também se considera não adesão ao tratamento (DIRETRIZ,
diminuição do débito do VE. A fadiga cardíaca é diferente 2020).
da fadiga geral, no sentido de normalmente estar ausente
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA ADESÃO DO PACIENTE
pela manhã, porém surgir e progredir com o aumento da
atividade no decorrer do dia (PORTH, 10ª ed.). ↠ Existem várias formas para medir a adesão ao
tratamento medicamentoso anti-hipertensivo na prática
↠ Na insuficiência cardíaca do lado esquerdo aguda ou
clínica e em pesquisa, sendo classificados como:
grave, o débito cardíaco pode diminuir a níveis
(DIRETRIZ, 2020).
insuficientes para o suprimento adequado de oxigênio
para o cérebro, causando assim confusão mental e ➢ métodos diretos os que há comprovação
alterações comportamentais (PORTH, 10ª ed.). objetiva da tomada do medicamento pelo
paciente;
Fatores que influenciam na adesão do tratamento ➢ métodos indiretos aqueles em que estratégias
↠ Um documento da Organização Mundial da Saúde diversas estimam ou não a tomada do
(OMS) publicado em 2003 definiu a adesão como o “grau medicamento prescrito.
em que o comportamento de uma pessoa – tomar o ↠ A escolha do melhor método dependerá da finalidade
medicamento, seguir uma dieta e/ou executar mudanças do uso da informação obtida, dos recursos disponíveis
no estilo de vida (MEV) – corresponde às para a avaliação, da aceitação, da conveniência para o
recomendações acordadas com um prestador de paciente do método a ser utilizado e dos custos
assistência à saúde” (DIRETRIZ, 2020). envolvidos (DIRETRIZ, 2020).
↠ Em 2012, em um novo documento da OMS, os autores
diferenciam os processos, como a adesão aos
medicamentos e o manejo da adesão. De acordo com tal
diretriz, a adesão ao medicamento é um processo
caracterizado por três grandes componentes: (DIRETRIZ,
2020).
➢ o início;
➢ a implementação;
➢ a descontinuação.
O início é o tempo desde a prescrição até a tomada da primeira dose
do medicamento; a implementação corresponde à coincidência entre
a dose que o paciente toma e a dosagem prescrita; e a ATENÇÃO: Medir a adesão ao tratamento é uma tarefa complexa. Não
descontinuação marca a interrupção, quando se omite a próxima dose há um método considerado padrão-ouro que represente as várias
dimensões que envolvem o processo DIRETRIZ, 2020).
A OMS sugere o uso de um método indireto associado a um método econômico, devido a maiores gastos de atendimentos de
direto para a medida da adesão para doenças crônicas. No contexto saúde e aposentadorias precoces. Por isso, a adoção de
da HA, os métodos indiretos acabam sendo os mais utilizados, pois os
métodos diretos ainda carecem de validação, são caros e estão
estratégias com o objetivo de promover uma melhor
somente disponíveis em ambientes de pesquisa (DIRETRIZ, 2020). adesão ao tratamento anti-hipertensivo, seja de forma
isolada ou em conjunto, tem como finalidade a mudança
FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO AO TRATAMENTO desse cenário (DIRETRIZ, 2020).
↠ A adesão ao tratamento é um processo complexo e ↠ Entre todas as estratégias disponíveis, as mais factíveis
multidimensional no qual se identificam barreiras reunidas de serem implementadas no Brasil e com maiores
em cinco dimensões que podem fornecer uma visão mais evidências, destacam-se: (DIRETRIZ, 2020).
abrangente para os profissionais de saúde, visando a
intervenções eficazes para o melhor controle da PA. ➢ Automedida da PA (Grau de Recomendação
(DIRETRIZ, 2020). I/Nível de Evidência B);
➢ Esquemas posológicos com maior comodidade:
menores doses possíveis, tomada em dose
única diária, associação de anti-hipertensivos em
um mesmo comprimido (Grau de
Recomendação I/Nível de Evidência A);
➢ Implementação de equipes multiprofissionais no
cuidado de pacientes hipertensos com médico,
enfermeiro, farmacêutico, educador físico,
nutricionista, psicólogo, assistente social e
agentes comunitários de saúde (Grau de
Recomendação I/Nível de Evidência B).
Referências
CARACTERÍSTICAS DO PARASITA
↠Trypanosoma cruzi é um flagelado da família
Trypanosomatidae, que parasita mamíferos e tem como
hospedeiros invertebrados numerosas espécies de
hemípteros hematófagos da família Reduviidae (REY, 4ª
ed.).
conhecida como metaciclogênese, são a queda de pH motivado pela resposta alérgica à saliva do triatomíneo) são outros
para abaixo de 5,5 e o estresse metabólico. Quando os pontos favoráveis para a invasão (REY, 4ª ed.)
parasitos atingem o reto, encontram maior concentração OBS.: A cada evacuação, um triatomíneo infectado elimina em média
de certos nutrientes que viabilizam, do ponto de vista 50 a 300 tripomastigotas metacíclicos (FERREIRA, 2ª ed.).
energético, a etapa final da diferenciação (FERREIRA, 2ª
↠ Ao encontrar células do hospedeiro mamífero, o
ed.).
parasito começa o complexo processo de invasão, que
↠ Os tripomastigotas metacíclicos perdem a aderência pode se dar essencialmente por duas vias: uma
ao epitélio intestinal, sendo liberados no lúmen da porção semelhante à fagocitose (predominante em células
distal do tubo digestório do vetor. Desta maneira, o fagocíticas como macrófagos, por exemplo) e outra
parasito prepara-se para o encontro com o hospedeiro independente da fagocitose. Em ambos casos, a invasão
mamífero, no próximo repasto sanguíneo do vetor. O celular depende de múltiplas interações bem coordenadas
desenvolvimento completo dos parasitos em triatomíneos requer pelo entre as células hospedeiras e o parasito (FERREIRA, 2ª
menos 7 dias (FERREIRA, 2ª ed.). ed.).
OBS.: Não há relatos na literatura de transmissão horizontal nem de
↠ Do ponto de vista do parasito, o processo de invasão
cura em triatomíneos infectados (FERREIRA, 2ª ed.).
de células é ativo, dependente de energia, e envolve
numerosas moléculas de adesão presentes em sua
superfície. Ocorre troca de sinais moleculares, incluindo
mobilização transitória de cálcio, que sinaliza para o
recrutamento de lisossomos da célula hospedeira. Os
lisossomos migram para as regiões da membrana
plasmática onde há parasitos aderidos. Durante ou após a
invaginação da membrana plasmática, há a fusão de
lisossomos para formar o vacúolo parasitóforo, estrutura
que aloja os tripomastigotas de maneira transitória
(FERREIRA, 2ª ed.).
HOSPEDEIRO VERTEBRADO
Depois de endocitado pelos macrófagos (MF), o Trypanosoma cruzi consegue escapar do vacúolo
parasitóforo ao promover a ruptura da parede do vacúolo em numerosos pontos, como se vê nesta
↠ Os triatomíneos defecam durante – ou pouco tempo foto realizada com microscopia eletrônica. F, sistema flagelar; g, aparelho de Golgi; MT, membrana do
tripomastigota forrada por microtúbulos; MV, membrana do vacúolo parasitóforo; N, núcleo do T. cruzi;
após – o repasto sanguíneo, depositando as fezes sobre P, pontos de ruptura da membrana vacuolar.
O parasito fica, pois, contido em um vacúolo digestivo (fagossomo) podem invadir células vizinhas ou atingir a corrente
onde pode ser eventualmente morto e digerido (REY, 4ª ed.). sanguínea, disseminando-se para outros órgãos e tecidos.
Esse desfecho, que tem lugar sempre que formas epimastigotas são Ao fazer seu repasto sanguíneo em um hospedeiro
fagocitadas por macrófagos, pode ser evitado pelos tripomastigotas mamífero com formas tripomastigotas sanguícolas, um
que escapam do vacúolo digestivo e invadem o citoplasma da célula vetor ingere esses estágios circulantes e se infecta.
parasitada (REY, 4ª ed.).
Ocasionalmente, a célula hospedeira rompe-se antes da
↠ As condições ambientais do vacúolo parasitóforo, em diferenciação dos amastigotas em tripomastigotas. Os
especial o pH ácido, induzem o início do processo de amastigotas que chegam ao meio extracelular penetram
diferenciação em amastigotas, que escapam do vacúolo em algumas células hospedeiras, especialmente células
para se estabelecerem no citoplasma celular. Livres no fagocitárias, mas provavelmente não atingem a corrente
citosol, os amastigotas começam a replicar-se por fissão sanguínea (FERREIRA, 2ª ed.).
binária. Portanto, a invasão das células hospedeiras parece O ciclo intracelular dura, ao que parece, 5 ou 6 dias e produz cerca
ser um processo fundamental para a diferenciação do de nove gerações de parasitos, qualquer que seja o tipo de célula
parasito em um estágio capaz de reproduzir-se. Calcula- infectada (REY, 4ª ed.).
se que cada tripomastigota que penetra em uma célula
hospedeira originará até 500 amastigotas, e essa grande
capacidade de multiplicação é um passo fundamental para
o estabelecimento da infecção (FERREIRA, 2ª ed.).
Desde que penetrem no interior de uma célula, seja no organismo do
hospedeiro vertebrado, seja em cultivo de tecido, os tripanossomos
sofrem total reorganização estrutural, transformando-se em
amastigotas ovoides, que medem apenas 4 μm no maior diâmetro
(REY, 4ª ed.).
➢ as lesões do tubo gastrintestinal, com envolvimento mais ↠ Isso constitui o sinal de Romaña e, embora possa ser
frequente da musculatura (miosite focal) e dos plexos produzido simplesmente por hipersensibilidade à
mioentéricos, com a presença de amastigotas no interior
das células de Schwann, de fibroblastos das bainhas dos
secreção salivar dos triatomíneos, representa na maioria
feixes nervosos extraganglionares e nos histiócitos dos casos um indício de primoinfecção característico da
adjacentes aos gânglios, além de significativos fenômenos tripanossomíase americana (REY, 4ª ed.).
degenerativos dos neurônios;
➢ alterações neurais/meningoencefalite aguda, identificando- ↠ A inflamação propaga-se, por via linfática, aos
se, na macroscopia, achados como edema, congestão e linfonodos regionais pré e retroauriculares, submaxilares
hemorragia petequial, e na microscopia, inúmeros nódulos
ou cervicais. A adenite satélite contribui para formar,
microgliais, formados por células da glia e mononucleares,
com a presença de protistas em meio aos nódulos ou no então, um complexo oftalmoganglionar, de importância
interior das células da glia. para o diagnóstico clínico (REY, 4ª ed.).
Mesmo quando a penetração de parasito não se dê pela região
periocular, pode haver a formação de uma tumoração cutânea, com
hiperemia e ligeiro dolorimento local, constituindo outra modalidade do
chagoma de inoculação. As lesões iniciais regridem espontaneamente,
ao fim de uma ou duas semanas (REY, 4ª ed.).
ALTERAÇÕES NO SANGUE
A parasitemia torna-se patente entre o 4º e o 40º dias (em geral,
entre o 8º e o 12º dias), depois da infecção, e dura cerca de um mês
(REY, 4ª ed.).
nervosas ganglionares ficam quase sempre lesadas (REY, ↠ Quando os mecanismos de compensação cardíacos
4ª ed.). se tornam incapazes de superar as deficiências de sua
força de contração, aparece a insuficiência circulatória,
A miocardite aguda é mais frequente em crianças que em adultos e
pode levar à dilatação cardíaca, à congestão passiva, a edemas e pois passa a haver um déficit no volume de sangue e na
derrames cavitários, como consequência da insuficiência circulatória. A quantidade de oxigênio que chegam por minuto a cada
morte pode ocorrer então (REY, 4ª ed.). órgão ou tecido, inclusive ao miocárdio, comprometendo
o metabolismo local (REY, 4ª ed.).
↠ Na fase crônica, uma fibrose difusa ocupa o lugar das
áreas inflamadas e necrosadas, principalmente no ↠ Isso traduz-se clinicamente por dispneia aos esforços,
ventrículo esquerdo, onde também se produzem insônia, congestão visceral e edema dos membros
tromboses com maior frequência (REY, 4ª ed.). inferiores, que terminam, como nas insuficiências
cardíacas de outras etiologias, em assistolia (REY, 4ª ed.).
↠ Interpondo-se aos processos de cicatrização e
reparação, surgem novas áreas inflamatórias, de recente ALTERAÇÕES DO SISTEMA DIGESTÓRIO
formação. Há artrites necrosantes, zonas hemorrágicas e
áreas de microenfartes. A substituição dos elementos ↠ Os parasitos são encontrados na musculatura lisa, nas
musculares por tecido conjuntivo acarreta redução da células nervosas e em outros elementos da parede do
força de contração do coração e põe em marcha tubo digestivo. Porém, sempre em pequeno número
mecanismos compensadores tais como: (REY, 4ª ed.). (REY, 4ª ed.).
➢ aumento do diâmetro das fibras musculares ↠ As lesões podem produzir-se em qualquer sítio, mas
cardíacas, tanto mais acentuado quanto mais predominam no esôfago, nos cólons e sigmoide, ou no
extensos forem os focos inflamatórios crônicos intestino delgado. São principalmente processos
e maiores as sequelas fibróticas; subagudos e crônicos de miosite focal e intersticial,
➢ aumento do volume cardíaco: dilatação das acompanhados de: (REY, 4ª ed.).
cavidades e hipertrofia da parede do órgão, com
➢ formação de granulomas;
aumento eventual dos óstios valvulares,
➢ arterites necrosantes, que destroem total ou
decorrentes da dilatação (insuficiência valvular); e
parcialmente a camada média arteriolar;
taquicardia
➢ destruição dos plexos nervosos da parede
↠ O comprometimento do sistema autônomo regulador (plexos de Meissner e de Auerbach);
das contrações cardíacas (nódulo sinusal, nódulo ➢ inflamação crônica em diferentes fases.
atrioventricular e feixe de His) traz como consequência
↠ A destruição dos neurônios ganglionares parece
uma grande variedade de perturbações, tanto da
desempenhar papel relevante nas alterações do trânsito
formação dos estímulos cardíacos, como de sua
esofágico e intestinal (que se tornam cada vez mais lentos
propagação. Daí resultam arritmias, fibrilação atrial,
e difíceis), bem como na hipertrofia muscular e,
bloqueio atrioventricular (REY, 4ª ed.).
finalmente, na dilatação e atonia desses órgãos,
conhecidos respectivamente por megaesófago e
megacólon (REY, 4ª ed.).
mais avançados a disfagia é substituída pela sensação de plenitude LESÕES EM OUTROS ÓRGÃOS
intratorácica retroesternal (REY, 4ª ed.).
↠ O fígado apresenta muitas vezes aumento de volume,
na fase aguda, assim como congestão e degeneração
gordurosa das células parenquimatosas. O baço, também,
pode estar aumentado. Os linfonodos, conforme
referimos, são sede de linfadenopatias satélites, que
acompanham o chagoma de inoculação, ou de uma
adenite generalizada, na fase aguda (REY, 4ª ed.).
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
↠ Elementos importantes para a suspeita da etiologia
chagásica são: (REY, 4ª ed.).
➢ a região de procedência do paciente ou o fato
de ter vivido ou pernoitado em casas onde havia
triatomíneos
➢ paciente ter recebido transfusões sanguíneas,
mesmo fora das áreas endêmicas.
OBS.: Entre as razões que levam o paciente com tripanossomíase a
procurar o médico estão: um exame sorológico positivo, um
eletrocardiograma anormal, falta de ar aos esforços, palpitações, perda
de consciência ou outras manifestações de insuficiência cardíaca,
ALTERAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO disfagia ou obstipação prolongada (REY, 4ª ed.).
↠ No sistema nervoso central pode-se encontrar: (REY, ↠ Em pacientes das áreas endêmicas, deve-se pensar
4ª ed.). na tripanossomíase americana sempre que crianças
apresentarem febre, com poliadenite, aumento do fígado
➢ congestão e edema, com escassos focos e do baço e sintomas cardíacos (REY, 4ª ed.).
hemorrágicos;
➢ discreta infiltração perivascular de células ↠ As doenças coronárias parecem-se muito com a
inflamatórias; cardiopatia chagásica crônica, se bem que aquelas
➢ formação de numerosos nódulos (granulomas) predominam em adultos de meia-idade ou velhos, e esta
disseminados pelo cérebro, cerebelo e última não costuma acompanhar-se de dores precordiais
pedúnculos cerebrais, os quais contém (REY, 4ª ed.).
sobretudo células da micróglia, monócitos e DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
alguns leucócitos polimorfonucleares.
↠ Devido à inespecificidade e diversidade das
↠ Nas células nervosas ou outras, degeneradas, manifestações clínicas, os métodos de laboratório devem
encontram-se acúmulos parasitários. A destruição dessas ser utilizados sempre que se queira confirmar ou afastar
células e a disseminação dos flagelados levam a uma o diagnóstico de tripanossomíase (REY, 4ª ed.).
meningencefalite difusa. Há também necroses focais (REY,
4ª ed.). ↠ No período agudo, em vista da parasitemia ser
geralmente alta, recomenda-se o exame parasitoscópico
OBS.: No núcleo dorsal do vago e do hipoglosso, foram descritas lesões
do sangue, mas também a punção biópsia de linfonodo,
com grande redução do número de neurônios, com significado
particular para a fisiopatologia do megaesôfago (REY, 4ª ed.). a imunofluorescência indireta (IFI), a hemaglutinação (HA)
entre outras (REY, 4ª ed.).
Os tripanossomos são abundantes nas primeiras 6 a 8 semanas de ↠ Eles são utilizados para confirmar ou excluir o
infecção e podem ser encontrados em exame de uma gota de diagnóstico de tripanossomíase, em casos suspeitos,
sangue fresco, entre lâmina e lamínula, graças à sua motilidade sobretudo na fase crônica, e para selecionar doadores em
característica (REY, 4ª ed.). bancos de sangue (REY, 4ª ed.).
Utilizam-se, também, esfregaços corados pelo Giemsa, Leishman ou
outros métodos derivados do Romanowsky (Fig. 22.10), que permitem
↠ Esses métodos beneficiam-se do fato de aparecerem
identificar os parasitos morfologicamente. Repetir os exames se os anticorpos no sangue muito cedo, ainda na fase aguda
negativos (REY, 4ª ed.). da infecção, e de se manterem em geral continuamente
ao longo de toda a fase crônica da doença (REY, 4ª ed.).
Imunofluorescência Indireta
sensibilidade (20%-50%). Sendo assim, o diagnóstico na fase aneurisma de ponta, que ocorre principalmente no
crônica é essencialmente sorológico e deve ser realizado ventrículo esquerdo, e a existência de trombos
utilizando-se dois testes de princípios metodológicos diferentes: (BATISTA, 2020).
um teste de elevada sensibilidade (ELISA com antígeno total ou
frações semipurificadas do parasito ou a IFI) e outro de alta ↠ A dosagem de peptídeo natriurético tipo B (BNP) é
especificidade (ELISA, utilizando antígenos recombinantes um importante biomarcador de disfunção ventricular
específicos do T. cruzi) (LIMA et. al., 2019). esquerda em pacientes com tripanossomíase americana
Os métodos sorológicos de diagnóstico da doença de Chagas se e é também um preditor de risco de AVE ou de morte
baseiam em geral na detecção de anticorpos anti-T.cruzi da classe IgG, (BATISTA, 2020).
sendo característica da fase crônica. Os anticorpos da classe IgM são
características da fase aguda, porém, esporadicamente podem ser ↠ A radiografia de tórax deve ser solicitada; todavia, cabe
detectados na fase crônica de alguns pacientes (DAVANÇO, 2015). comentar que nem sempre apresentará alteração. Em
casos mais avançados da cardiopatia dilatada, entretanto,
AVALIAÇÃO POR MÉTODOS COMPLEMENTARES
o aumento do coração pode ser percebido por ocasião
↠ Após a confirmação do diagnóstico da doença de da avaliação da área cardíaca (BATISTA, 2020).
Chagas, deve-se realizar uma avaliação mais detalhada do
↠ Outros exames que devem ser solicitados são
paciente, a fim de buscar informações que possam ser
hemograma, urina de rotina, provas de função hepática e
úteis ao prognóstico. Para tanto, anamnese e exame físico
ensaios para a avaliação da coagulação (tempo de
detalhados devem ser revisados em busca de elementos
tromboplastina parcial ativado – TTPA). Deve-se também
que possam não ter sido adequadamente valorizados em
atentar para a realização de endoscopias e radiografias do
avaliação prévia (BATISTA, 2020).
tubo gastrintestinal, caso o paciente apresente queixas
↠ Durante a análise dos dados do paciente, deve-se digestivas (BATISTA, 2020).
averiguar o grau de acometimento dos órgãos mais
Tratamento da Doença de Chagas
afetados pela doença; atenção especial deverá ser dada
à presença de arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca ↠ O tratamento antimicrobiano dirigido ao T. cruzi tem
congestiva, tromboembolismo e doença gastrintestinal como objetivos curar a infecção, prevenir lesões
(BATISTA, 2020). orgânicas ou sua evolução e diminuir a possibilidade de
↠ O ECG convencional está sempre indicado a partir do transmissão do protozoário. Essa modalidade terapêutica
momento em que o diagnóstico é estabelecido, tem resultados adequados na maioria dos casos agudos e
representando um bom preditor de acometimento do congênitos e, também, em casos crônicos recentes.
miocárdico, embora um resultado normal não exclua a Desse modo, de acordo com o II Consenso Brasileiro de
possibilidade de doença. Deve-se atentar principalmente para a Doença de Chagas, estão propostas as seguintes
ocorrência de taquicardia sinusal, estreitamento do complexo QRS, orientações para o tratamento antiparasitário: (BATISTA,
alterações do seguimento ST ou da onda T, extrassístoles atriais ou 2020).
ventriculares, taquicardia paroxística atrial ou ventricular, transitória ou
sustentada, bloqueios de condução atrioventriculares e bloqueios de ➢ Devem ser tratadas todas as crianças com idade
ramo (BATISTA, 2020). igual ou inferior a 12 anos portadoras da doença
de Chagas em sua fase crônica;
↠ Nos casos em que o ECG for inconclusivo, uma boa ➢ Para adolescentes com idade entre 13 e 18 anos
opção é o eletrocardiograma de longa duração, ou e adultos com infecção crônica, quando se
“Holter”, que monitora por 24 horas a atividade elétrica consegue estabelecer que a fase aguda ocorreu
cardíaca (BATISTA, 2020). até 12 anos antes (considerado como infecção
↠ A ecocardiografia tem grande relevância para definir a recente), é usualmente recomendado o
gravidade do acometimento cardíaco por meio da medida tratamento antiparasitário, embora faltem
da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Uma evidências consistentes a partir de estudos
alteração na função desse ventrículo relaciona-se com randomizados justificando tal conduta;
um pior prognóstico, sendo possível a ocorrência de ➢ Para os indivíduos com doença de Chagas na
díspares eventos mórbidos, como o acidente vascular faixa etária de 19 a 50 anos sem infecção
encefálico (AVE) ou mesmo a morte súbita. Pelo recente documentada, o tratamento
ecocardiograma também é possível identificar o antiparasitário deve ser considerado de forma
MECANISMO DE AÇÃO DO BENZNIDAZOL: Seu mecanismo de ação ainda ➢ adultos: 10 mg/kg/dia (comprimidos de 120 mg),
não está completamente elucidado. Evidências recentes indicam que por via oral, 3 vezes/dia;
age por meio de radicais livres nitrogenados produzidos por nitro- ➢ crianças: 15 mg/kg/dia (comprimidos de 30 mg),
redutases humanas que induzem modificações covalentes de
por via oral, 3 vezes/dia.
macromoléculas. Esses radicais livres podem danificar o DNA do
parasito e exercem efeito inibitório na síntese de proteínas e na MECANISMO DE AÇÃO DO NIFURTIMOX: O Nifurtimox forma um
síntese do ácido ribonucleico em células de T. Cruzi (LAFEPE metabólito radical nitro-ânion que reage com os ácidos nucléicos do
MEDICAMENTOS). parasita, causando uma quebra significativa do DNA.
Outro mecanismo de ação do BNZ seria através do aumento da Seu mecanismo é semelhante ao proposto para a ação antibacteriana
fagocitose atuando na elevação da produção da citocina interferon de agentes nitrofuranos. O Nifurtimox sofre redução e cria radicais de
gama (INF-γ), causando lise celular. Ainda, há evidência de que o oxigénio, como o superóxido. Esses radicais são tóxicos para o T. cruzi.
fármaco atue na inibição enzima NADH-fumarase redutase bloqueando
o crescimento do T. cruzi (DAVANÇO, 2015).
↠ Os principais efeitos adversos do fármaco são similares
aos descritos para o benznidazol (BATISTA, 2020).
OBS.: Os medicamentos disponíveis são relativamente pouco eficientes
contra estágios intracelulares do parasito. Isso foi atribuído,
recentemente, ao fato já mencionado de os amastigotas intracelulares prevenção da enfermidade, de modo a evitar a infestação
poderem permanecer durante longos períodos de tempo como domiciliar pelo triatomíneo. Outras medidas pessoais que
formas “dormentes”, com redução de sua atividade metabólica e
replicativa. Portanto, o tratamento etiológico da doença de Chagas
podem ser tomadas são o uso de redes nas camas e de
crônica é ainda assunto controverso (FERREIRA, 2ª ed.). repelentes em áreas endêmicas do barbeiro (BARBOSA,
2020).
TRATAMENTO SINTOMÁTICO
↠ O controle da transmissão transfusional é estabelecido
↠ O tratamento das principais manifestações da doença com o manejo rigoroso do sangue dos doadores. No
deve ser realizado de acordo com as diretrizes para cada Brasil, tal perspectiva é amplamente difundida; porém, em
um dos quadros específicos. Na fase aguda, deve ser feito outras localidades, essa via permanece com importância
repouso, e podem ser usadas medicações antitérmicas, na transmissão da doença. De acordo com o I Consenso
anticonvulsivantes e diuréticas, além de digitálicos e outros Brasileiro de Doença de Chagas, gestantes provenientes
fármacos para o tratamento do quadro de miocardite ou que vivem em áreas endêmicas devem ser testadas
aguda (BARBOSA, 2020). quanto à presença do T. cruzi, se possível durante a
↠ Na fase crônica (para a CCC), recomendam-se dieta e primeira consulta do pré-natal (BARBOSA, 2020).
repouso como terapias não medicamentosas, mas ↠ Para a transmissão oral, deve-se ter critério em
podem ser usados inibidores da enzima conversora de relação ao preparo, transporte e armazenamento de
angiotensina (IECA), betabloqueadores seletivos, digitálicos alimentos que tenham possibilidade de entrar em contato
e diuréticos, conforme a necessidade de cada paciente com o vetor ou com suas fezes. Deve ser comentado
(BARBOSA, 2020). que o T. cruzi se classifica como do grupo de risco
PROGNÓSTICO DA DOENÇA DE CHAGAS
biológico 2, ou seja, os laboratórios que trabalham com o
protozoário devem utilizar o equipamento de proteção
A infecção não se cura espontaneamente. Na fase aguda, a doença individual adequado. Ainda assim, em caso de infecção
pode ser grave e fatal (por meningoencefalite ou cardiopatia grave).
Mesmo assim, a mortalidade não chega aos 10%, de acordo com
acidental, faz-se a quimioprofilaxia com o benzonidazol por
estudos a respeito. Nos demais casos, o tratamento pode modificar o 10 dias (BARBOSA, 2020).
prognóstico, reduzindo a mortalidade (REY, 4ª ed.).
Saúde Indígena
Ultrapassada essa fase, a tendência em geral é para lenta evolução
que, segundo alguns autores, leva inexoravelmente ao aparecimento ↠ No Brasil, segundo o último censo do Instituto Brasileiro
de lesões cardíacas e de outros órgãos. de Geografia e Estatística (IBGE), vivem mais de 890 mil
Outros especialistas distinguem dois tipos de evolução: índios, distribuídos em todos os estados e
correspondendo a 0,4% da população brasileira. Esse
➢ Na forma indeterminada, sem manifestações clínicas e sem
alterações eletrocardiográficas, a taxa de mortalidade, 10 grupo, distribuído em 505 terras indígenas, ocupa 12,5%
anos depois de estabelecido o diagnóstico, é muito baixa. O do território nacional. Apesar do contingente populacional
tratamento dos pacientes jovens ainda pode melhorar o não tão expressivo em relação ao total da população
prognóstico se instituído precocemente. brasileira, esses povos apresentam imensa
➢ Na forma crônica da cardiopatia chagásica, isto é, nos casos
sociodiversidade, incluindo 305 grupos étnicos falantes de
com sintomatologia clinica (ainda que por vezes
oligossintomática) e com alterações eletrocardiográficas 274 idiomas (MENDES et. al., 2018).
precoces, o prognóstico é menos favorável. A partir das
formas assintomáticas, a cada ano que passa 2% dos ↠ No Brasil, a 1ª Conferência Nacional de Proteção à
pacientes desenvolvem cardiopatias e 1% começa a Saúde Indígena (CNPSI), realizada em 1986, foi um dos
apresentar megas. primeiros momentos em que o Estado ouviu diferentes
lideranças indígenas para discutir propostas relacionadas à
Prevenção da Doença de Chagas
formulação de diretrizes voltadas à saúde desses povos,
↠ A primeira linha de controle da doença de Chagas em assumindo como legítimas suas necessidades e
regiões endêmicas consiste no controle do vetor, o qual, especificidades e tendo como foco a APS (MENDES et.
tradicionalmente, foi procedido com o uso de inseticidas al., 2018).
no domicílio e no peridomicílio (BARBOSA, 2020). ↠ A luta pela saúde indígena no Brasil, foi mais legitimada
↠ A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza a com a criação do Subsistema de Atenção à Saúde dos
melhoria das habitações como importante passo na Povos Indígenas, que foi criado em 1999, através da Lei nº
9.836/99, mais conhecida como Lei Arouca. Este acesso a essas aldeias; tais fatores acabam por se soma
subsistema é composto pelos Distritos Sanitários Especiais a falta de infraestrutura e recursos (SANTOS et. al., 2021).
Indígenas (DSEIS), que se constituem em uma rede de
↠ Os polos - bases nas aldeias são estruturados apena
serviços implantada nos territórios indígenas com o
para atender a atenção primária, dessa forma os casos
objetivo de atender essa população, levando em
de média e alta complexidade acabam sendo
consideração os critérios geográficos, demográficos e
referenciados para as unidades do Sistema Único de
culturais (SANTOS et. al., 2021).
Saúde - SUS, tais serviços são localizados em centros
↠ Durante a 4° Conferência Nacional de Saúde dos urbanos próximos ou em outros municípios, onde os
Povos Indígenas, em 2006, foram reivindicadas melhorias povos indígenas sofrem com diferenças organizacionais,
na situação de saúde e questionada a gestão da FUNASA culturais, linguística, refletindo negativamente na
(MENDES et. al., 2018). possibilidade do acesso e na qualidade do cuidado
ofertado, piorando o processo saúde - doença que se
↠ Em 2010, foi aprovada a criação da Secretaria Especial
encontra (SANTOS et. al., 2021).
de Saúde Indígena (SESAI). O que sua criação traz de
novo é, em última instância, a existência de um órgão ↠ A Secretaria Especial de Saúde Indígena conta
responsável unicamente pela saúde indígena (MENDES com 14.600 mil profissionais de saúde, sendo que
et. al., 2018). destes, 46% são indígenas, e promove a atenção
primária à saúde e ações de saneamento,
↠ De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
de maneira participativa e diferenciada, respeitando as
(2021), para garantir aos povos indígenas o acesso
especificidades epidemiológicas e socioculturais destes
igualitário e atenção integral aos povos indígenas de
povos (MINISTÉRIO DA SAÚDE).
acordo com os princípios do SUS, se fez necessário o
estabelecimento de algumas diretrizes que orientam a ↠ A composição da Equipe Multiprofissional de Saúde
definição de instrumentos de planejamento, Indígena - EMSI, é regulamentada pela portaria nº 1.317, de
implementação, avaliação e controle das ações de 3 de agosto de 2017. Nela consta que, a EMSI
atenção à saúde dos povos indígenas (SANTOS et. al., corresponde a um conjunto de profissionais responsáveis
2021). pela atenção básica à saúde indígena em uma área, sob
gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena
↠ As diretrizes para ações de atenção à saúde indígena
(SASI-SUS) (SANTOS et. al., 2021).
são: (SANTOS et. al., 2021).
➢ Organização dos serviços de atenção à saúde
dos povos indígenas na forma de Distritos
Sanitários Especiais e Pólos-Base, no nível local,
onde a atenção primária e os serviços de
referência se situam;
➢ Preparação de recursos humanos para atuação ↠ O gestor/coordenador local pode, opcionalmente, além
em contexto intercultural; da equipe mínima, incluir os seguintes profissionais as
➢ Monitoramento das ações de saúde dirigidas aos equipes que prestam atenção à saúde indígena como:
povos indígenas; médicos clínicos (família), cirurgião dentista (família),
➢ Promoção do uso adequado e racional de enfermeiros (família), técnicos e auxiliares de
medicamentos; enfermagem (família), técnico em saúde bucal, auxiliar em
➢ Promoção de ações específicas em situações saúde bucal, trabalhadores em serviços de promoção e
especiais; apoio à saúde (família), agente de saúde pública,
➢ Promoção de ambientes saudáveis e proteção microscopista, entre outros. Estes não deverão ser
da saúde indígena; marcados como equipe mínima (SANTOS et. al., 2021).
↠ Além dos aspectos organizacionais do serviço de
saúde indígena, também devem ser levados em
consideração alguns fatores peculiares a essa população
como, a sua situação de transculturação, a localização
geográfica dos índios, com ênfase nas dificuldades de
Referências
Cardiomiopatia dilata
Sabemos que cardiomiopatia dilatada (CMD) pode ser a via final comum
de várias doenças que acometem o miocárdio, resultante de
mecanismos genéticos, infecciosos, metabólicos, inflamatórios e
citotóxicos (SOCESP, 4ª ed.).
↠ Já em 2013, a World Heart Foundation (WHF) publicou
CLASSIFICAÇÃO a classificação MOGE(S), inspirada no estadiamento dos
tumores (estágio TNM). A classificação MOGE(S) baseia-
IMPORTANTE: A classificação das cardiomiopatias não é tarefa fácil e
tem sido modificada ao longo do tempo. De forma simples e útil para
se em anormalidades estruturas e funcionais (M),
a prática médica, as cardiomiopatias são divididas nas formas dilatada, extensão do comprometimento do órgão envolvido (O),
hipertrófica, restritiva e arritmogênica do ventrículo direito; tipos que se é de causa genética ou não (G), a natureza do defeito
não se enquadram nas descrições clássicas, comentadas adiante, são genético molecular ou se a etiologia é conhecida (E) e o
considerados cardiomiopatias não classificadas. De acordo com a
grau do estágio de Insuficiência cardíaca ou grau de
classificação da OMS, as cardiomiopatias específicas correspondem a
alterações do miocárdio associadas a doenças sistêmicas (p. ex., intolerância aos esforços (S) (SOCESP, 4ª ed.).
sarcoidose ou mucopolissacaridoses) ou a algumas alterações cardíacas
quando as mesmas não justificam a magnitude da disfunção ventricular
– como acontece em valvopatias discretas, na hipertensão arterial
ETIOLOGIA
↠ As causas de CMD podem incluir uma variedade muito
grande de agentes citotóxicos, metabólicos, infecciosos
ou também um número grande de causas genética
(SOCESP, 4ª ed.).
OBS.: Quando não se encontra uma causa aparente para a CMD, ela é EPIDEMIOLOGIA
chamada então de cardiomiopatia dilatada idiopática, em que a etiologia
está presente, mas não foi identificada (SOCESP, 4ª ed.). ↠ A cardiomiopatia dilatada é uma das principais
responsáveis por insuficiência cardíaca congestiva e
↠ A MCD é caracterizada por aumento ventricular, ↠ Histologicamente, a MCD é caracterizada por fibras
redução da espessura da parede ventricular e miocárdicas atróficas e hipertróficas, além de fibrose
comprometimento da função sistólica de um ou de intersticial. Os miócitos cardíacos, em particular no
ambos os ventrículos (PORTH, 10ª ed.). subendocárdio, frequentemente apresentam alterações
degenerativas avançadas. Também há fibrose intersticial,
↠ O peso está aumentado, geralmente em torno de 400
de modo mais predominante na zona subendocárdica, e
a 600 g, raramente 900 g ou mais. O achado
possível presença de células inflamatórias dispersas
predominante é a dilatação das quatro câmaras,
(PORTH, 10ª ed.).
sobretudo do ventrículo esquerdo (BOGLIOGO, 10ª ed.).
↠ Há graus variados de hipertrofia das miocélulas
↠ Em geral, a dilatação é acentuada e sempre
(caracterizada por núcleos volumosos, irregulares e
acompanhada de hipertrofia do miocárdio. Entretanto,
hipercromáticos), que paradoxalmente podem
geralmente a parede do ventrículo esquerdo tem
apresentar-se alongadas e adelgaçadas, devido à dilatação
espessura diminuída devido à grande dilatação cavitária
ventricular (BOGLIOGO, 10ª ed.).
(hipertrofia por adição de sarcômeros em série –
hipertrofia excêntrica). Às vezes, são vistas finas traves ↠ À microscopia eletrônica, as alterações também são
esbranquiçadas de fibrose no miocárdio. Trombos murais inespecíficas e consistem em cardiomiócitos com edema
são frequentes, sobretudo nos átrios e no ápice dos intracelular, dilatação dos túbulos do sistema T e do
ventrículos (BOGLIOGO, 10ª ed.). retículo sarcoplasmático, perda de cristas e variação na
forma e no tamanho das mitocôndrias, gotículas de
gordura e grânulos de lipofuscina no sarcoplasma. Todas
essas alterações constituem sinais de processo
degenerativo inespecífico em células hipertróficas
(BOGLIOGO, 10ª ed.).
Insuficiência Cardíaca
EPIDEMIOLOGIA
↠ A IC tem alta prevalência e grande impacto na
morbidade e mortalidade em todo o mundo, sendo hoje
um grave problema de saúde pública (SOCESP, 4ª ed.).
↠ A insuficiência cardíaca pode ocorrer em qualquer
faixa etária, mas afeta primariamente os idosos. Ainda que
as taxas de morbidade e mortalidade por DCV tenham
diminuído nas últimas décadas, a incidência de insuficiência
cardíaca está aumentando a uma taxa alarmante.
Aproximadamente, 400 mil a 700 mil pessoas são
diagnosticadas com insuficiência cardíaca a cada ano, nos
EUA (SOCESP, 4ª ed.).
MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS
↠ A falta de ar decorrente da congestão da circulação
pulmonar é uma das principais manifestações da
insuficiência cardíaca do lado esquerdo. A falta de ar (i. e.,
dificuldade respiratória) que pode ser percebida é
denominada dispneia (PORTH, 10ª ed.).
Manifestações Clínicas da IC
Diagnóstico da IC
↠ Dependem da extensão e do tipo de disfunção
↠ A IC é uma síndrome complexa, com alteração da
cardíaca presente, bem como da rapidez com que se
função cardíaca, o que resulta em sintomas e sinais de
desenvolve. Uma pessoa com insuficiência cardíaca
baixo débito cardíaco e/ou congestão pulmonar ou
anteriormente compensada estável pode desenvolver
sistêmica, em repouso ou aos esforços (DIRETRIZ, 2018).
sinais de insuficiência cardíaca pela primeira vez quando a
condição avançar a um ponto crítico, como no aumento ↠ Uma história clínica e um exame físico detalhados
progressivo da hipertensão pulmonar em pessoas com devem ser feitos em todos os pacientes em busca dos
regurgitação da valva mitral (PORTH, 10ª ed.). principais sinais e sintomas de IC (DIRETRIZ, 2018).
↠ A gravidade e a progressão dos sintomas dependem OBS.: Em pacientes crônicos, a detecção de sinais clínicos de
da extensão e do tipo de disfunção presente (sistólica congestão pode estar esmaecida ou ausente, por processos
adaptativos e pela grande adaptação do sistema linfático em lidar com ↠ O método tem maior valor no contexto da IC aguda,
congestão. Assim, os sinais clínicos de congestão podem ser pouco em que as alterações de congestão pulmonar são mais
sensíveis e também pouco específicos. Sobressaem-se, no entanto,
sinais como terceira bulha e sintoma como ortopneia como mais
intensas (DIRETRIZ, 2018).
específicos para o diagnóstico de IC (DIRETRIZ, 2018).
ECOCARDIOGRAMA
EXAMES COMPLEMENTARES
↠ O ecocardiograma transtorácico é exame de imagem
AVALIAÇÃO LABORATORIAL de escolha para o diagnóstico e o seguimento de
pacientes com suspeita de IC. Permite a avaliação da
↠ Na abordagem inicial dos pacientes com sinais e função ventricular sistólica esquerda e direita, da função
sintomas sugestivos de IC crônica ambulatorial, diastólica, das espessuras parietais, do tamanho das
recomenda-se a realização de diversos exames cavidades, da função valvar, da estimativa hemodinâmica
laboratoriais complementares, não só para avaliar a não invasiva e das doenças do pericárdio (DIRETRIZ, 2018).
presença e a gravidade de lesão de outros órgãos-alvo e
detectar comorbidades, como também para verificar BIOMARCADORES
fatores agravantes do quadro clínico (DIRETRIZ, 2018).
PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS
OBS.: A realização de exames seriados pode ser necessária para
monitoração de variáveis de segurança, durante o tratamento da IC, ↠ Dentre os diversos biomarcadores estudados em IC,
incluindo função renal e eletrólitos (DIRETRIZ, 2018). destacam-se os peptídeos natriuréticos BNP e NT-
proBNP, cujo papel no diagnóstico de IC está bem
MÉTODOS DE IMAGEM NÃO INVASIVOS estabelecido, tanto no cenário da sala de emergência
↠ Exames complementares gráficos e de imagem quanto em pacientes com IC crônica ambulatoriais
desempenham papel relevante para confirmação das (DIRETRIZ, 2018).
alterações estruturais e funcionais cardíacas. Eles auxiliam Valores de BNP < 35 pg/mL ou NT-proBNP < 125 pg/mL
no diagnóstico desta condição, além de avaliar a gravidade praticamente excluem o diagnóstico de IC. Valores acima destes cortes
e a forma da cardiopatia, o que permite definir etiologia necessitam de avaliação clínica e complementar com ecocardiografia
para confirmar o diagnóstico, caso haja dúvidas pela avaliação clínica
da IC e estratificar o prognóstico (DIRETRIZ, 2018).
isolada (DIRETRIZ, 2018).
ELETROCARDIOGRAMA EM REPOUSO LIMITAÇÕES AO SEU USO: estes peptídeos podem elevar-se na
presença de anemia, insuficiência renal crônica (IRC), e idade avançada,
↠ A realização de eletrocardiograma (ECG) de 12 e apresentar níveis mais baixos na presença de obesidade (DIRETRIZ,
derivações é recomendada na avaliação inicial de todos 2018).
os pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia
estrutural como hipertrofia ventricular esquerda, isquemia
miocárdica, áreas de fibrose, distúrbios da condução
atrioventricular, bradicardia ou taquiarritmias, que podem
demandar cuidados e tratamentos específicos (DIRETRIZ,
2018).
RADIOGRAFIA DO TÓRAX
↠ A radiografia simples do tórax, por sua simplicidade,
rapidez de obtenção e ampla disponibilidade, é
recomendada na avaliação inicial dos pacientes com sinais
e sintomas de IC, para avaliação de cardiomegalia e
congestão pulmonar. Porém, vale ressaltar que a
sensibilidade do método é bastante limitada e, ainda, que
a disfunção sistólica cardíaca significativa pode ocorrer
sem cardiomegalia na radiografia de tórax (DIRETRIZ,
2018).
Tratamento Farmacológico da IC com fração de ejeção ➢ Não se deve administrar a combinação de antagonista da
aldosterona, IECA e BRA, pelo risco de efeitos colaterais,
reduzida em especial de hipercalemia.
➢ O uso de espironolactona em pacientes com insuficiência
INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DA ANGIOTENSINA E renal e níveis séricos limítrofes de potássio deve ser feito
BLOQUEADORES DOS RECEPTRES DE ANGIOTENSINA II com cautela, necessitando-se de monitorização frequente
e periódica da função renal e de eletrólitos.
↠ Os IECA constituem um grupo de fármacos com ➢ Deve-se evitar o uso de espironolactona em pacientes com
comprovados benefícios na evolução de pacientes com insuficiência renal avançada (creatinina > 2,5 mg/dL) e em
pacientes com hipercalemia persistente (em geral potássio
ICFEr, tanto em relação à morbidade, como à
> 5,9 mmol/L).
mortalidade, além de conferirem melhora na qualidade de
vida (DIRETRIZ, 2018). INIBIDORES DA NEPRISILINA E DOS RECEPTORES DA
ANGIOTENSINA (SACUBITRIL/VALSARTANA)
↠ Os bloqueadores dos receptores da angiotensina II
(BRAs) são alternativa com eficácia comparável aos IECA, ↠ O sacubitril/valsartana representa uma nova classe
e estão indicados em pacientes intolerantes ou com terapêutica, que atua simultaneamente no sistema renina-
alergia documentada a esta classe de fármacos (DIRETRIZ, angiotensina-aldosterona (SRAA) e na endopeptidase
2018). neutra (inibidor da neprilisina e do receptor da
Alguns aspectos práticos na utilização de IECAs e BRAs em pacientes
angiotensina − INRA) (DIRETRIZ, 2018).
com IC devem ser considerados: (DIRETRIZ, 2018).
↠ Ao inibir a neprilisina, a degradação de peptídeos
➢ Devido ao risco de piora da função renal, hipercalemia e natriuréticos, da bradicinina e de outros peptídeos é
hipotensão arterial, os IECAs/BRAs devem ser introduzidos diminuída (DIRETRIZ, 2018).
em doses baixas (especialmente nos pacientes com
pressão arterial limítrofe) e titulação progressiva, até atingir IVABRADINA
as doses-alvo, que garantem os benefícios documentados
nos grandes estudos clínicos multicêntricos. ↠ A frequência cardíaca (FC) elevada é um marcador de
➢ Intolerância aos IECAs é definida como a presença de tosse eventos em IC, podendo ser considerada um alvo
persistente e debilitante (que ocorre em aproximadamente
10 a 20% dos casos) ou a ocorrência de angioedema
terapêutico. A ivabradina inibe seletivamente a corrente If
(achado incomum; < 1%). O uso de BRAs é uma alternativa no tecido do nó sinoatrial, reduzindo a FC (DIRETRIZ, 2018).
nestes casos. A taxa de outros efeitos adversos, como
hipotensão, hipercalemia ou disfunção renal, é semelhante DIGITÁLICOS
entre IECAs e BRAs.
↠ O efeito de digoxina diante do tratamento
BETABLOQUEADORES contemporâneo da IC, incluindo terapia tripla (IECAs, BB
e antagonistas da aldosterona), inibidores da neprilisina e
↠ Os BB também são considerados fármacos de
dos receptores da angiotensina, cardiodesfibriladores e
primeira linha no tratamento da ICFEr, pois determinam
ressincronizadores, é virtualmente desconhecido
benefícios clínicos na mortalidade global, na morte por IC
(DIRETRIZ, 2018).
e por morte súbita, além de melhorarem sintomas e
reduzirem taxas de re-hospitalizações por IC em ↠ Existe controvérsia considerável sobre a segurança do
inúmeros estudos clínicos (DIRETRIZ, 2018). uso da digoxina em pacientes com FA, embora este
fármaco seja eficaz para redução de frequência
ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES MINERALOCORTICOIDES
ventricular (DIRETRIZ, 2018).
↠ Os antagonistas dos receptores mineralocorticoides
(espironolactona/eplerenona) estão indicados em DIURÉTICOS DE ALÇA E TIAZÍDICOS
pacientes sintomáticos com disfunção sistólica do VE, em ↠ Os diuréticos são a classe terapêutica mais largamente
classes funcionais II a IV da NYHA, associados ao utilizada em pacientes com IC para alívio de congestão.
tratamento padrão, apresentando efeitos contundentes Isto se justifica pelo óbvio efeito terapêutico ao provocar
sobre mortalidade e taxas de re-hospitalização (DIRETRIZ, diurese e alívio da sobrecarga volêmica (DIRETRIZ, 2018).
2018).
Alguns aspectos práticos na utilização da espironolactona em pacientes
com IC devem ser considerados: (DIRETRIZ, 2018).
Referências
Aterosclerose
quimiotática de monócito (MCP-1). Placas de ateroma e diferenciam-se em dois subtipos principais de linfócitos
hiperexpressam MCP-1 e essa citocina é responsável por recrutar T CD4+, que realizam ações imunológicas distintas: as
monócitos de caráter inflamatório, presentes nos estágios iniciais da células efetoras Th1 e Th2 (SOCESP, 4ª ed.).
placa de ateroma (SOCESP, 4ª ed.).
A resposta Th1 produz citocinas pró-inflamatórias, como o interferon-
γ, linfotoxina e TNF-α, contribuindo para desestabilização da placa. A
resposta Th2, por sua vez, é responsável por secretar outro perfil de
citocinas, como IL-4 e IL-10, que podem diminuir a inflamação, inclusive
controlando a resposta Th1 e reduzindo a apresentação de antígenos
às células T; sua função na aterogênese, entretanto, é menos
estabelecida do que para a resposta Th1 (SOCESP, 4ª ed.).
FASE DE DESENVOLVIMENTO DA ESTRIA GORDUROSA ↠ Os linfócitos TCD8+ (linfócitos T citotóxicos), por sua
vez, estão relacionados ao processo de apoptose de
↠ Na íntima das artérias, monócitos maturam–se em células como macrófagos, CE e CML, por meio da
macrófagos que, por apresentarem expressão de expressão do fator citotóxico de membrana Fas ligante e
receptores scavenger, que permitem a internalização de DAMPs. Todas as ações descritas até o momento são
excessiva de lipídios modificados, principalmente a LDL- chamadas de resposta imune adaptativa celular (SOCESP,
oxidada (SOCESP, 4ª ed.). 4ª ed.).
↠ Ésteres de colesterol acumulam-se no citoplasma e, OBS.: A resposta imune adaptativa humoral, que envolve a ativação das
assim, os macrófagos tornam-se células espumosas, células B e sua decorrente produção de anticorpos, possivelmente
características desse estágio da aterogênese. Os também participa do processo aterogênico, por meio da produção de
imunoglobulinas M (possivelmente ateroprotetora) pelas células B1 e de
macrófagos multiplicam-se e liberam vários fatores de citocinas e imunoglobulinas G (pró-aterogência) pelas células B2
crescimento e citocinas, amplificando e sustentando os (SOCESP, 4ª ed.).
sinais pró-inflamatórios. Um mediador importante para
esse processo é o fator estimulador de colônia de
macrófago (M-CSF) que é hiperexpresso em placas
ateroscleróticas humanas (SOCESP, 4ª ed.).
OBS.: A presença de numerosos macrófagos transformados em células
espumosas na íntima vascular caracteriza uma lesão aterosclerótica
precursora conhecida como estria gordurosa que, nesse estágio, ainda
pode ser reversível e não causar repercussões clínicas (SOCESP, 4ª
ed.).
fibroso define a lesão aterosclerótica mais avançada fator de crescimento plaquetário, o que favorece o
(SOCESP, 4ª ed.). sinergismo entre inflamação e trombose na fisiopatologia
da aterotrombose (SOCESP, 4ª ed.).
Como vimos, macrófagos e linfócitos T infiltram as lesões
ateroscleróticas e localizam preferencialmente na borda do ateroma, A hemorragia causada pelos neovasos consiste num bom exemplo
onde a atividade inflamatória é mais ativa e por onde se dá o para ilustrar o conceito mais atual em relação à progressão temporal
crescimento da placa (SOCESP, 4ª ed.). da doença aterosclerótica. Hoje, acredita-se, na verdade, que essa
evolução se dê em surtos: as placas podem permanecer quiescentes
↠ Na fase de progressão da placa, as CML sintetizam a por algum tempo, talvez anos, até que algum evento específico
matriz extracelular. Essas células migram da túnica média (como, por exemplo, uma hemorragia intraplaca) deflagre uma piora
para a íntima em resposta à produção de fator de dessa lesão, levando a um aumento de atividade inflamatória na região,
crescimento derivado de plaqueta (PDGF) secretado com acúmulo de CML, aumento de deposição de matriz e
crescimento da espessura global da placa (SOCESP, 4ª ed.).
pelos macrófagos ativados e pelas CE, processo em parte
estimulado pela degradação da matriz extracelular pela
metaloproteinase de matriz 9 (MMP-9) e por outras
proteinases (SOCESP, 4ª ed.).
OBS.: Acredita-se também que parte dessas CML seja proveniente de
precursores vindos da corrente sanguínea ou mesmo de células
tronco presentes na própria parede arterial (SOCESP, 4ª ed.).
fisiopatologia de grande parte das síndromes coronárias ➢ A ativação do endotélio e recrutamento monolinfocitário.
agudas (SCA) (SOCESP, 4ª ed.). ➢ A captação e oxidação das partículas de lipoproteínas de
baixa densidade (LDL).
↠ A SCA, em particular, pode mais frequentemente ➢ A produção local e sistêmica de citocinas pró-inflamatórias.
➢ A produção de proteases e a degradação da capa fibrótica,
resultar de dois mecanismos distintos em relação à fase responsáveis pela desestabilização da placa.
final de instabilização da placa: (SOCESP, 4ª ed.). ➢ A indução da apoptose das células da placa.
➢ O controle da coagulação após rotura da placa,
➢ rotura da capa fibrosa; aumentando fatores pró-coagulantes tanto no núcleo
➢ erosão superficial da íntima. lipídico quanto no sangue.
sanguíneo coronariano. Na maior parte dos casos, a DAC ↠ Naturalmente que tanto no homem quanto na mulher
é causada pela aterosclerose, que não somente afeta as a prevalência aumenta com a idade. Nas fases mais
artérias coronárias como também as artérias em outras precoces da vida, a maior prevalência entre as mulheres
áreas do corpo (PORTH, 10ª ed.). pode ser explicada pela disfunção microvascular, mais
comum nesse grupo (SOCESP, 4ª ed.).
As doenças das artérias coronárias podem causar isquemia do
miocárdio e angina, infarto do miocárdio ou ataque cardíaco, arritmias ↠ Em 2017, foi estimada uma prevalência de DAC de
cardíacas, defeitos na condução, insuficiência cardíaca e morte súbita
(PORTH, 10ª ed.). 1,75% (2.500.000 de indivíduos), na população brasileira
maior que 20 anos. As maiores prevalências estavam nas
FATORES DE RISCO DA DAC regiões Sul e Sudeste, com taxa de mortalidade
↠ Os principais fatores de risco para a DAC incluem: (PORTH, 10ª ed.). padronizada decrescente, mas com aumento da
prevalência desde 1990 (MARINHO, 2021).
➢ tabagismo;
➢ pressão arterial alta; ↠ Com estimativa de incidência de cerca de 121 mil casos
➢ elevação dos níveis séricos de colesterol total e de
por ano1 em 2017, a DAC tem sido um importante
colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL);
➢ baixos níveis séricos de colesterol de lipoproteína de alta problema de saúde pública no país (MARINHO, 2021).
densidade (HDL);
➢ diabetes; ↠ A maior mortalidade por DAC está relacionada com
➢ idade avançada; um menor nível socioeconômico, países de maior renda
➢ obesidade abdominal; têm, taxa de mortalidade menor que países de média
➢ inatividade física. renda. Os novos tratamentos da DAC com uso de novas
OBS.: Os indivíduos com diabetes e síndrome metabólica apresentam tecnologias têm reduzido a mortalidade, mas não podem
um risco particularmente alto de desenvolvimento de DCV, reduzir a carga da doença e a perda da saúde, associada
apresentando significativa morbidade decorrente da doença (PORTH, com a DAC (MARINHO, 2021).
10ª ed.).
Fisiopatologia da DAC
Etiologia da DAC
↠ O fluxo sanguíneo coronariano leva oxigênio aos
miócitos e remove produtos do catabolismo, como
dióxido de carbono, ácido láctico e íons hidrogênio. O
coração tem uma demanda metabólica tremendamente
alta; embora represente apenas 0,3% do peso corporal,
ele é responsável por 7% do consumo de oxigênio em
repouso. Isquemia celular ocorre quando há uma demanda
aumentada por oxigênio em relação ao suprimento
arterial máximo, ou uma redução absoluta do supri-
mento de oxigênio (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
↠ O coração recebe sua energia principalmente de ATP limiares de dor diferentes entre pacientes (HAMMER;
gerado por fosforilação oxidante de ácidos graxos livres, MCPHEE, 7ª ed.).
embora glicose e outros carboidratos possam ser
utilizados. Dentro de 60 segundos após oclusão de artéria QUARTA BULHA CARDÍACA E DISPNEIA
coronária, a tensão de oxigênio nas células miocárdicas ↠ Esses achados podem ocorrer devido à disfunção
afetadas cai essencialmente para zero. Os estoques diastólica e sistólica do miocárdio isquêmico (HAMMER;
cardíacos de fosfatos de alta energia são exauridos MCPHEE, 7ª ed.).
rapidamente, e as células mudam prontamente para
metabolismo anaeróbio, com a consequente produção de CHOQUE
ácido láctico (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
↠ O local de oclusão da artéria coronária determina a
↠ Disfunção do relaxamento e contração do miocárdio apresentação clínica da isquemia ou do infarto do
ocorre dentro de segundos, mesmo antes que aconteça miocárdio. Como uma regra geral, quanto mais miocárdio
a depleção de fosfatos de alta energia. A base bioquímica é suprido pelo vaso ocluído, mais significativos e graves
para esta anormalidade não é conhecida. Se a perfusão são os sintomas. Por exemplo, obstrução da artéria coronária
não for restabelecida dentro de 40 a 60 minutos, inicia- principal esquerda, ou da artéria coronária descendente anterior
esquerda, geralmente se apresentará como insuficiência cardíaca
se um estágio irreversível de dano, caracterizado por
grave, frequentemente com hipotensão associada (choque)
tumefação difusa de mitocôndrias, lesão da membrana
(HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
celular e depleção acentuada de glicogênio. O mecanismo
exato pelo qual dano irreversível ocorre não está claro, BRADICARDIA
mas depleção intensa de ATP, concentrações
extracelulares de cálcio aumentadas, acidose láctica e ↠ Infartos da parede miocárdica inferior geralmente se
radicais livres têm sido postulados como possíveis causas originam de oclusão da artéria coronária direita. Como a
(HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). área de tecido ventricular esquerdo suprida por esta
artéria é pequena, os pacientes geralmente não se
Manifestações Clínicas da DAC apresentam com insuficiência cardíaca (HAMMER;
MCPHEE, 7ª ed.).
DOR TORÁCICA
↠ Entretanto, a artéria que fornece suprimento
↠ A dor torácica tem sido atribuída tradicionalmente à sanguíneo para o nó AV se ramifica a partir da artéria
isque- mia. Contudo, evidências mais recentes sugerem descendente posterior, de modo que os infartos do
que, em pacientes com doença arterial coronariana, 70 a miocárdio da parede inferior às vezes são associados com
80% dos episódios de isquemia na verdade são condução lenta ou ausente do nó AV. Além da isquemia,
assintomáticos (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.). podem ocorrer anormalidades de condução do nó AV
Acredita-se que a dor torácica, quando presente, seja mediada por em consequência de ativação reflexa do nervo vago, que
fibras aferentes simpáticas que inervam ricamente o átrio e o inerva ricamente o nó AV (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
ventrículo. A partir do coração, as fibras atravessam os gânglios
simpáticos torácicos superiores e as cinco raízes dorsais torácicas OBS.: Disfunção do nó sinusal é raramente observada em doença
superiores da medula espinal. Na medula espinal, os impulsos arterial coronariana, porque esta área recebe sangue tanto da artéria
supostamente convergem com impulsos de outras estruturas. Esta coronária direita quanto da esquerda (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
convergência pode ser o mecanismo da dor na parede torácica, nas
costas e no braço que algumas vezes acompanha a angina de peito NÁUSEA E VÔMITO
(HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
↠ Náusea e vômito podem surgir por ativação do nervo
A importância dessas fibras pode ser demonstrada em pacientes que vago na situação de infarto da parede inferior do
passaram por um transplante de coração. Quando esses pacientes
desenvolvem aterosclerose, eles permanecem completamente
miocárdio (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
assintomáticos, sem desenvolvimento de angina (HAMMER; MCPHEE,
7ª ed.). Taquicardia
↠ Três fatores provavelmente são responsáveis pela ↠ Os níveis de catecolaminas geralmente estão elevados
grande proporção de episódios assintomáticos: disfunção em pacientes com infarto do miocárdio. Isso ajuda a
de nervos aferentes, perfusão reduzida transitória e manter o volume sistólico, mas leva a uma frequência
cardíaca aumentada (HAMMER; MCPHEE, 7ª ed.).
DOR TORÁCICA
DIRETRIZ, 2014
↠ A dor torácica aguda é uma das causas mais ↠ Ainda, no momento inicial do atendimento, é muito
frequentes de atendimento nas unidades de emergência importante identificar e classificar os pacientes quanto à
(UE), correspondendo a mais de 5% das visitas em UE e probabilidade da dor torácica ser origem isquêmica
até 10% das visitas não relacionadas a traumatismos (SANTOS; TIMERMAN, 2018).
(DIRETRIZ, 2021).
➢ Dor Tipo A (definitivamente anginosa): dor em
aperto ou queimação, em repouso, ou
desencadeada pelo esforço ou estresse, com
irradiação para o ombro, mandíbula ou face
interna do braço, aliviada pelo repouso ou nitrato.
Não são necessários exames complementares
para a definição diagnóstica.
➢ Dor Tipo B (provavelmente anginosa): as
características da dor torácica fazem da
insuficiência coronária a principal hipótese,
porém, são necessários exames
complementares para a definição diagnóstica.
➢ Dor Tipo C (possivelmente anginosa): dor
torácica cujas características não fazem da
insuficiência coronária a principal hipótese (dor
torácica atípica), porém, são necessários
exames complementares para excluí-la.
➢ Dor Tipo D (definitivamente não anginosa): dor
↠ O diagnóstico de dor precordial se divide em dor típica
torácica atípica, cujas características não incluem
e atípica.
a insuficiência coronária aguda no diagnóstico
➢ A dor típica caracteriza angina ou infarto do diferencial.
miocárdio, sendo parecida com um aperto ou
OBS.: As diretrizes do National Heart Attack Alert Program afirmam
opressão no peito. que os pacientes com os sintomas típicos que chamam bastante
➢ Já a dor atípica aponta para uma causa atenção, devem ser avaliados de forma imediata pelos enfermeiros de
diferente de angina ou infarto. Febre, tosse e triagem e encaminhados para avaliação mais precisa, os sintomas são:
queimação ou azia são alguns dos sinais que dor torácica, em aperto ou opressão, com duração de dez a vinte
minutos, dor que se irradia para o pescoço, mandíbula, ombros, dorso
podem acompanhar esse tipo de incômodo.
ou ambos os braços; indigestão, ou azia, náuseas, e/ou vômito
associados a desconforto torácico; dispnéia persistente, fraqueza,
tontura e perda de consciência (LEITE et. al., 2019).
ANGINA
↠ Angina pectoris representa o quadro de crises de dor
precordial com características de opressão, cortante,
causada por isquemia miocárdica de curta duração
(poucos minutos). Trata-se de uma síndrome
OBS.: Ainda, segundo os autores, quando apenas duas características ↠ Embora um eletrocardiograma (ECG) em repouso
(ou menos) estiverem presentes, é possível descartar a hipótese de normal, não seja capaz de excluir a presença da doença
DAC com especificidade de 81%. No entanto, quando 3 a 5
coronariana, algumas alterações podem nos direcionar
características estão presentes, a sensibilidade do teste chega a 87%
(SOCESP, 4ª ed.). para o diagnóstico, como aquelas relacionadas a um
quadro isquêmico prévio. Assim, todo paciente com
TESTES NÃO INVASIVOS suspeita de DAC deve ter o ECG realizado (SOCESP, 4ª
ed.).
↠ Embora os testes não invasivos seja de enorme valia
para o diagnóstico de DAC, seu uso só se aplica nas O pai do ECG moderno foi o fisiologista holandês Walter Einthoven. Ele
situações em que a probabilidade de doença é pelo nomeou as partes do ECG como as conhecemos hoje e criou o
“triângulo de Einthoven”, um triângulo hipotético criado ao redor do
menos intermediária. Exames realizados em pacientes
coração quando os eletrodos são colocados nos braços e na perna
assintomáticos ou com probabilidade baixa de doença não esquerda. Os lados do triângulo são numerados para corresponder às
são custo/efetivos, além de aumentarem a possibilidade três derivações, ou pares de eletrodos, usados para obter o registro.
de um resultado falso-positivo, o que pode, em diversas (SILVERTHON, 7ª ed.)
situações, levar a condutas inadequadas (SOCESP, 4ª ed.).
EXAMES BIOQUÍMICOS
↠ Os testes bioquímicos têm fundamental importância
na medida em que ajudam a avaliar adequadamente o
risco e/ ou o prognóstico do paciente, auxiliam no Na prática clínica, posicionam-se eletrodos nos braços e pernas
diagnóstico de doenças associadas e colaboram para a (derivações dos membros) e em seis posições do tórax (derivações
decisão terapêutica (SOCESP, 4ª ed.). torácicas) para registrar o ECG. (TORTORA, 14ª ed.)
➢ Medida da glicemia de jejum, da hemoglobina O eletrocardiógrafo amplifica os sinais elétricos do coração e produz
12 traçados diferentes a partir das distintas combinações de derivações
glicada (HbA1c) e, eventualmente, o teste de
de membros e tórax. Cada eletrodo no membro e tórax registra uma
tolerância oral à glicose são fundamentais – atividade elétrica discretamente diferente, por causa da diferença em
correlação entre DM e DAC (SOCESP, 4ª ed.). sua posição em relação ao coração. (TORTORA, 14ª ed.)
➢ Avaliação da função renal associada ao cálculo
da filtração glomerular – doenças renais são
fatores de risco para a DAC (SOCESP, 4ª ed.).
➢ O colesterol total, suas frações HDL e LDL, e
também os triglicérides devem ser avaliados
anualmente (SOCESP, 4ª ed.).
ELETROCARDIOGRAMA EM REPOUSO
↠ O ECG de 12 derivações é o procedimento diagnóstico
cardiovascular utilizado com mais frequência (PORTH, 10ª
ed.).
causando mudanças na onda T. Isso comumente é ↠ No infarto com onda Q, ocorre o desenvolvimento de
representado pela inversão da onda T, embora possa ondas Q anormais e perda da onda R, uma vez que não
ocorrer uma elevação hiperaguda da onda T como o sinal ocorre a condução da corrente de despolarização a partir
mais precoce do infarto (PORTH, 10ª ed.). do tecido necrótico. Quando a lesão está confinada
primariamente ao subendocárdio, todo o segmento ST
↠ As alterações no segmento ST ocorrem com a lesão
está desviado na direção da camada ventricular interna,
isquêmica do miocárdio e, dependendo das derivações
resultando em uma depressão geral do segmento ST e
envolvidas, podem indicar a lesão de interesse. Na situação
não na sua elevação (PORTH, 10ª ed.).
normal, o segmento ST do ECG é quase isoelétrico (i. e.,
achatado ao longo da linha basal), uma vez que todas as
células miocárdicas hígidas alcançam o mesmo potencial
durante a repolarização inicial (PORTH, 10ª ed.).
TESTE ERGOMÉTRICO
TROPONINAS ↠ O teste ergométrico (TE) continua sendo uma ótima
As troponinas são proteínas do complexo de regulação miofibrilar opção para a avaliação de paciente com provável DAC.
presentes no músculo estriado cardíaco. Existem três subunidades: A sensibilidade e especificidade do TE é em torno de 45-
troponina T, troponina I e troponina C (DIRETRIZ, 2021). 50% e de 85-90%, respectivamente, tornando-o
A troponina C é coexpressa nas fibras musculares esqueléticas de especialmente interessante nos pacientes com
contração lenta e não é considerada como um marcador específico probabilidade pré-teste entre 15-65% (SOCESP, 4ª ed.).
cardíaco (DIRETRIZ, 2021).
Tratamento da DAC
As troponinas cardíacas permanecem elevadas por tempo mais
prolongado, podendo permanecer elevadas por até 7 dias depois do ↠ Por se tratar de doença metabólica progressiva,
IAM. As troponinas são os biomarcadores de primeira escolha para
independentemente do tratamento de escolha, o controle
avaliação diagnóstica de pacientes com suspeita de IAM, pois
apresentam acurácia diagnóstica superior à da CK-MB massa e dos a longo prazo da DAC é imprescindível (MOLINA et. al.,
demais biomarcadores de lesão miocárdicas (DIRETRIZ, 2021). 2020).
Pacientes com troponinas elevadas apresentam risco aumentado de ↠ O tratamento busca prevenir o IAM e diminuir a
eventos cardíacos nos primeiros dias de internação e identificam um mortalidade, reduzindo sintomas e a ocorrência de
subgrupo de SCASSST com potencial maior de benefício para
manuseio invasivo. Apesar da identificação acurada de lesão miocárdica
isquemia miocárdica, para permitir melhor qualidade de
pelas troponinas, elas não identificam o(s) mecanismo(s) de lesão; estes vida (MOLINA et. al., 2020).
podem ser múltiplos, incluindo etiologias não coronarianas como
taquiarritmias e miocardite, ou ainda condições não cardíacas, como ↠ O início do tratamento prevê orientação dietética e a
sepse, embolia pulmonar e insuficiência renal. Assim, principalmente inclusão de atividade física na rotina do paciente, pois
naqueles casos em que a apresentação clínica não é típica de SCA, tratar a doença de base (aterosclerose) faz parte do
devem ser consideradas outras causas de lesão cardíaca relacionadas
manejo da DAC; assim, mudanças no estilo de vida,
com aumento de troponinas (DIRETRIZ, 2021).
controle da HAS, do sedentarismo, do estresse emocional,
A maior limitação das troponinas convencionais é sua baixa do tabagismo ativo e passivo, das dislipidemias e da
sensibilidade quando o paciente tem um tempo de início do quadro obesidade devem ser contemplados durante o
inferior a 6h. Com a introdução das troponinas de alta sensibilidade
(Trop-US), passou a ser possível a detecção de níveis mais baixos de planejamento terapêutico (MOLINA et. al., 2020).
troponina, em menor tempo após início do quadro de lesão miocárdica
de causa isquêmica (DIRETRIZ, 2021).
↠ Atualmente são diversas as técnicas para a reperfusão
do miocárdio atingido por essa obstrução, como a
CREATINOQUINASE, SUAS ISOENZIMAS E ISOFORMAS colocação de stents farmacológicos, angioplastia
Idealmente, a CK-MB deve ser mensurada por imunoensaio para coronária, com ou sem a colocação de stents coronários,
dosagem da sua concentração no plasma (CK-MB massa) em vez da cirurgias com a colocação de ponte de safena e também
sua atividade (DIRETRIZ, 2021). o tratamento farmacológico com o uso de estatinas e
As subformas da CK-MB têm surgido como marcadores precoces anticoagulantes. Para a escolha do melhor método muitos
(menos de 6h) de lesão miocárdica e inferência precoce da magnitude cardiologistas utilizam o Syntax Score, uma ferramenta
do IAM (DIRETRIZ, 2021). desenvolvida a partir do estudo Syntax (CAERES; NUNES,
No entanto, a CK-MB massa apresenta como principal limitação elevar- 2019).
se após dano em outros tecidos não cardíacos (falso-positivos),
especialmente após lesão em músculo liso e esquelético. Podem TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
acontecer resultados falso-positivos, em que a CK-MB é positiva e a
troponina é negativa em cerca de 4% dos pacientes (DIRETRIZ, 2021).
TROMBOLÍTICOS ESTATINAS
FÁRMACOS: Ateplase,
reteplase e tenecteplase;
estreptoquinase;
uroquinase.
NITRATOS
↠ Os benefícios terapêuticos do nitrato estão
relacionados aos seus efeitos na circulação periférica e
coronária. Seu efeito venodilatador, diminuindo o retorno
venoso ao coração e o volume diastólico final do VE,
reduz o consumo de oxigênio pelo miocárdio (SOCESP,
4ª ed.).
ANTICOAGULANTES PLAQUETÁRIOS EFEITOS ADVERSOS: Dosagens mais altas de AAS aumentam sua
toxicidade, bem como a probabilidade de inibir também a produção de
↠ Os inibidores da aglutinação plaquetária diminuem a prostaciclina. O tempo de sangramento é alongado com o tratamento
formação de um coágulo rico em plaquetas ou diminuem com AAS, causando complicações que incluem aumento da incidência
de acidente cerebral hemorrágico e sangramento gastrintestinal (GI),
a ação dos sinais químicos promotores da aglutinação especialmente com dosagens mais elevadas (WHALEN, 6ª ed.).
(WHALEN, 6ª ed.).
Ticlopidina, clopidogrel, prasugrel e ticagrelor
↠ Os inibidores da aglutinação de plaquetas podem inibir
a cicloxigenase-1 (COX-1) ou bloquear os receptores de ↠ Ticlopidina, clopidogrel, prasugrel e ticagrelor são
GP IIb/IIIa ou ADP, interferindo, assim, no sinal que inibidores do receptor P2Y12 ADP, o que também bloqueia
promove a aglutinação plaquetária (WHALEN, 6ª ed.). a aglutinação das plaquetas, mas por mecanismo distinto
do AAS (WHALEN, 6ª ed.).
ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS)
MECANISMO DE AÇÃO: Esses fármacos inibem a ligação do
A estimulação das plaquetas por trombina, colágeno e ADP resulta na
ativação das fosfolipases de membrana das plaquetas que liberam
ADP aos seus receptores nas plaquetas e, assim, inibem
ácido araquidônico dos fosfolipídeos da membrana. O ácido a ativação dos receptores de GP IIb/IIIa necessários para
araquidônico é convertido inicialmente em prostaglandina H2 pela que as plaquetas se liguem ao fibrinogênio e umas às
COX-1. A prostaglandina H2 é metabolizada a tromboxano A2, que é outras. O ticagrelor se liga reversivelmente ao receptor
liberado no plasma. O tromboxano A2 promove o processo de
P2Y ADP. Os demais ligam-se Y12 irreversivelmente.
aglutinação, que é essencial para a rápida formação do tampão
hemostático (WHALEN, 6ª ed.). Quando o tratamento é suspenso, o sistema plaquetário
necessita de tempo para recuperação (WHALEN, 6ª ed.).
MECANISMO DE AÇÃO: O ácido acetilsalicílico (AAS) inibe a
síntese do tromboxano A2 por acetilação do resíduo
serina no centro ativo da COX-1, inativando
irreversivelmente a enzima. Isso desloca o equilíbrio dos
mediadores químicos em favor dos efeitos
antiaglutinantes da prostaciclina, prevenindo a aglutinação
plaquetária (WHALEN, 6ª ed.).
EXTRA
OXIGENOTERAPIA
ANALGESIA
Referências
↠ Algumas bactérias formam agregados, tais como os ↠ Para as bactérias Gram-positivas, que se tornam roxas,
aglomerados em forma de cacho de uva de o corante fica preso em uma estrutura grossa e
Staphylococcus aureus ou os diplococos (duas células emaranhada, a camada de peptidoglicano, que circunda a
juntas), que são observados nas espécies de célula. As bactérias Gram-negativas possuem uma fina
Streptococcus ou Neisseria. (PFALLER et. al., 7ª ed.). camada de peptidoglicano que não retém o corante cristal
violeta, e então as células são coradas com safranina e
tornam-se vermelhas. Uma estratégia mnemônica que
pode ajudar é o “P-PÚRPURA POSITIVO” (PFALLER et. al.,
7ª ed.).
As bactérias são fixadas a quente ou deixadas secar sobre uma lâmina, ESPOROS
coradas com cristal violeta, um corante que é precipitado com iodo
Algumas bactérias Gram-positivas, mas nunca as Gram-negativas, tais
(lugol), e em seguida o corante não ligado ou em excesso é removido
como os membros dos gêneros Bacillus (p. ex., Bacillus anthracis) e
por lavagem com descorante, à base de acetona, e água. Um
Clostridium (p. ex., Clostridium tetani ou botulinum) (bactérias do solo),
contracorante vermelho, a safranina, é adicionado para corar as células
são formadoras de esporos. Sob condições ambientais adversas, como
descoradas. Este processo leva menos de 10 minutos. (PFALLER et. al.,
a privação de requerimento nutricional, essas bactérias podem ser
7ª ed.).
convertidas de um estado vegetativo a um estado dormente, ou
esporos (PFALLER et. al., 7ª ed.).
A localização do esporo dentro da uma célula é uma característica das geneticamente, o que explicará por que somente uma
bactérias e pode ajudar na sua identificação (PFALLER et. al., 7ª ed.). mínima porção (1% a 2%) dos portadores da faringite
Febre Reumática estreptocócica desenvolverá FR (RACHID, 2003).
início do quadro articular para definir essas características com clareza. valvares e encurtamento das cordas tendíneas. Em alguns
Manifestações articulares atípicas podem ser observadas em até 47% casos, as bordas ou comissuras dos folhetos valvares se
dos casos, com duração do surto e padrão de resposta aos anti-
inflamatórios não hormonais similares aos das artrites crônicas, o que
fundem, à medida que ocorre a cicatrização (PORTH, 10ª
dificulta o diagnóstico diferencial (REUMATOLOGIA, 5ª ed.). ed.).
↠ É possível observar monoartrite crônica, com duração OBS.: As características clínicas da endocardite/valvite, sem histórico de
de mais de 3 meses e comportamento aditivo em lugar CR, incluem um sopro holossistólico apical decorrente de regurgitação
mitral, ou um sopro diastólico precoce basal resultante de regurgitação
de migratório. A monoartrite representa uma aórtica. Em pessoas com histórico de CR, uma alteração na
manifestação importante de FRA em população de risco característica desses sopros ou um novo sopro são indicativos de
moderado/elevado, sendo considerada um critério maior cardite reumática aguda (PORTH, 10ª ed.).
(REUMATOLOGIA, 5ª ed.).
COREIA
↠ A artrite, na apresentação clássica da FR ou na forma
↠ A coreia de Sydenham é a principal manifestação da
das artrites reativas, evolui para cura em períodos
FR no sistema nervoso central. É observada com mais
variáveis, sem deixar sequelas. Entretanto, em 5% dessas
frequência em meninas e raramente ocorre após os 20
crianças, a artropatia pode evoluir com deformidade e,
anos de idade (REUMATOLOGIA, 5ª ed.).
eventualmente, até mesmo restrição de movimentos.
Recebe o nome de artropatia de Jaccoud e é considerada uma sequela ↠ Tipicamente, seu início é insidioso de irritabilidade, e
rara de surtos repetidos de FR. Caracteriza-se por desvio ulnar,
existem outros problemas comportamentais. A criança
subluxação e deformidade em flexão das articulações
metacarpofalângicas e hiperextensão das interfalângicas proximais aparenta inquietação, chora facilmente, começa a
(REUMATOLOGIA, 5ª ed.). caminhar desajeitadamente e deixa os objetos caírem. Os
movimentos coreiformes são espasmos espontâneos,
rápidos e despropositados, que interferem nas atividades
voluntárias (REUMATOLOGIA, 5ª ed.).
porém as recidivas não são incomuns. Uma infecção Níveis maiores de 38°C podem ser considerados para população de
estreptocócica anterior pode ser detectada em apenas risco elevado e maiores de 38,5°C para população de baixo risco
(REUMATOLOGIA, 5ª ed.).
cerca de dois terços dos casos, dificultando o diagnóstico
diferencial (REUMATOLOGIA, 5ª ed.). Diagnóstico da Febre Reumática
NÓDULOS SUBCUTÂNEOS
↠ Raros, com frequência de cerca de 8%, ocorrem
tardiamente e quase exclusivamente nos pacientes com ↠ A divisão dos critérios em maiores e menores é
cardite grave (REUMATOLOGIA, 5ª ed.). baseada na especificidade e não na frequência da
↠ Firmes, indolores e móveis, seu tamanho varia de manifestação. Outros sinais e sintomas, como epistaxe,
alguns milímetros até 1 ou 2 cm. São encontrados nas dor abdominal, anorexia, fadiga, perda de peso e palidez
superfícies extensoras próximas às proeminências ósseas podem estar presentes, mas não estão incluídos entre as
em cotovelos, joelhos, tornozelos, processos espinhosos manifestações menores dos critérios de Jones (DIRETRIZ,
vertebrais, couro cabeludo e fronte. Duram 1 ou 2 2009).
semanas, e raramente mais de 1 mês (REUMATOLOGIA, ↠ A probabilidade de FR é alta quando há evidência de
5ª ed.). infecção estreptocócica anterior, determinada pela
elevação dos títulos da antiestreptolisina O (ASLO), além
da presença de pelo menos dois critérios maiores ou um
critério maior e dois menores (DIRETRIZ, 2009).
DIAGNÓSTICO DA FARINGOAMIGDALITE
↠ O isolamento do estreptococo do grupo A em vias
aéreas superiores pode representar uma infecção ou a
condição de portador são. Ressalte-se que apenas nos
casos de infecção ocorre elevação de anticorpos e,
consequentemente, risco de desenvolver FR. Por outro
lado, aproximadamente 30% dessas infecções pelo EBGA
são de manifestações subclínicas (DIRETRIZ, 2009).
↠ A velocidade de hemossedimentação (VHS) se eleva recomenda, nas áreas em que a doença é endêmica, a
nas primeiras semanas de doença. Ressalte-se que, na utilização da ecocardiografia para diagnosticar cardite
presença de anemia, a VHS pode estar superestimada, subclínica (DIRETRIZ, 2009).
bem como subestimada, nos pacientes com insuficiência
cardíaca (DIRETRIZ, 2009).
ECOCARDIOGRAMA
↠ Persistência ou agravamento das lesões valvares ao
ecocardiograma poderão ocorrer, mesmo com
regressão dos achados clínicos. Assim, a OMS
Referências
Fisiopatologia da EI
transitória ou duradoura; estas se originam de infecções em diversos OBS.: Histologicamente, as vegetações são constituídas por inflamação
locais do organismo (cutâneas, urinárias, pulmonares etc.) ou são aguda, com predomínio de neutrófilos e número menor de
secundárias a manipulações dentárias, queimaduras, procedimentos macrófagos e outras células, de permeio a rede de fibrina e produtos
invasivos (hemodiálise, uso prolongado de sondas uretrais e, sobretudo, da destruição tecidual (BOGLIOGO, 10ª ed.).
cateteres intravasculares) ou uso de substâncias injetáveis por usuários
de drogas. Indivíduos nas duas últimas situações constituem grupo de IMPORTANTE: As lesões vegetativas intracardíacas também apresentam
risco para endocardite, sobretudo as do lado direito do coração efeitos locais e sistêmicos a distância. A organização frouxa dessas
(BOGLIOGO, 10ª ed.). lesões possibilita que os organismos e fragmentos da lesão formem
êmbolos, os quais são levados pela corrente sanguínea e causam
embolia cerebral, sistêmica ou pulmonar. Os fragmentos podem se
alojar em vasos de pequeno calibre, causando hemorragias de
pequeno porte, abscessos e infarto tecidual. A bacteremia também
pode iniciar respostas imunes supostamente responsáveis por
manifestações cutâneas, poliartrite, glomerulonefrite e outros
distúrbios imunes (PORTH, 10ª ed.).
Manifestações Clínicas da EI
Diagnóstico da EI
EXAMES LABORATORIAIS
↠ Os exames laboratoriais mostram com maior Imagem de ecocardiograma transtorácico mostrando vegetação em
face atrial da valva mitral.
frequência um hemograma com leucocitose e desvio de
células jovens para esquerda e aumento de provas
inflamatórias (proteína C-reativa e velocidade de ↠ Para auxiliar no frequentemente difícil diagnóstico de
hemossedimentação) (SOCESP, 5ª ed.). endocardite infecciosa, foram criados critérios, chamados
de critérios de Duke, subsequentemente modificados
↠ A hemocultura permanece como procedimento (BOGLIOGO, 10ª ed.).
diagnóstico mais definitivo e é essencial para direcionar o
tratamento (PORTH, 10ª ed.). Devem ser coletadas com técnica Critérios maiores são:
asséptica três amostras de hemoculturas puncionadas em veia
➢ cultura positiva para microrganismos típicos de
periférica de locais diferentes e antes do início dos antibióticos. A
bacteriemia da EI é contínua, portanto não há necessidade de se colher endocardite ou culturas persistentemente
as hemoculturas em vigência de febre (SOCESP, 5ª ed.). positivas a despeito de terapêutica
antimicrobiana;
↠ A análise da urina pode mostrar hematúria, proteinúria ➢ vegetações valvares, nova insuficiência valvar,
e até mesmo piúria causada pelas alterações imunológicas abscessos intracardíacos ou deiscência de
da endocardite sobre os rins (SOCESP, 5ª ed.). prótese valvar detectada por ecocardiografia;
➢ cultura positiva para Coxiella burnetti ou título de
ECOCARDIOGRAMA
anticorpos IgG anti-fase 1 ≥ 1:800.
↠ O ecocardiograma é a técnica primária para detecção
Critérios menores são:
de formações vegetativas e complicações cardíacas
resultantes da EI, constituindo uma ferramenta importante ➢ condições predisponentes;
no diagnóstico e no tratamento da doença (SOCESP, 5ª ➢ febre (T: >38ºC);
ed.). ➢ sequelas vasculares de endocardite (eventos
embólicos);
↠ O ACC e a AHA recomendam a realização de um
➢ deficiência imunitária;
ecocardiograma em todas as pessoas com suspeita de EI.
➢ culturas positivas para microrganismos menos
Recomenda-se o uso do ecocardiograma transtorácico
típicos de endocardite.
quando há risco inicial baixo ou uma leve suspeita clínica;
e o ecocardiograma transesofágico deve ser utilizado em ↠ O diagnóstico de endocardite envolve a combinação
casos com apresentações clínicas moderada ou de:
altamente suspeitas. Os indivíduos altamente suspeitos
incluem aqueles com próteses valvares, EI anterior, ➢ dois critérios maiores;
doença congênita complexa, insuficiência cardíaca ou ➢ um critério maior e ao menos três menores;
sopro cardíaco de início recente (SOCESP, 5ª ed.). ➢ cinco critérios menores.
OBS.: Quando há um critério maior e um menor, ou três menores, a
endocardite é considerada “possível”.
Estafilococos
➢ Oxacilina.
➢ Pacientes alérgicos à penicilina: vancomicina no lugar da
oxacilina.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
↠ O tratamento cirúrgico é indicado: (PORTO & PORTO).
➢ Quando falha o tratamento farmacológico,
particularmente nos portadores de prótese
valvar com infecção precoce e nos pacientes
que desenvolvem insuficiência cardíaca ↠ A antibioticoprofilaxia está recomendada para
refratária. pacientes de alto e médio risco, antes de procedimentos
➢ Nos casos de endocardite complicada por odontológicos invasivos que estimulam sangramento
perfuração de cúspide valvar, ruptura de (CINTRA, 2015).
cordoalha, abscesso de anel e múltiplos episódios
embólicos.
➢ Em infecções em que há dificuldade de
erradicação do germe com antibióticos (fungos
e Pseudomonas aeruginosa).
Medidas Preventivas da EI
MEDIDAS GERAIS DE PREVENÇÃO DE EI ↠ Percebe-se que para a maioria dos usuários, o primeiro
CARDIOPAPERS obstáculo para acessar os serviços de saúde, na zona
Higiene oral e cutânea rigorosa; rural, (seja indo até a unidade, ou recebendo visitas dos
Desinfecção de feridas; profissionais) consiste em falta de algo essencial, o
Evitar automedicação de antibióticos;
transporte oportuno. Por conta disso, seguem-se diversas
Medidas de prevenção de infecções para qualquer
procedimento de risco; dificuldades, desde estruturais a organizacionais, que
Limitar cateteres de infusão ou procedimentos invasivos, impactam diretamente no processo saúde-doença dessa
quando possível. população (MAGALHÃES et. al., 2022).
Referências
↠ Doenças autoimunes tendem a ser crônicas, A maioria das doenças autoimunes é decorrente de traços poligênicos
progressivas e de autoperpetuação. As razões para essas complexos nos quais os indivíduos afetados herdam polimorfismos
genéticos múltiplos que contribuem para a suscetibilidade à doença.
características são que os autoantígenos que Esses genes agem em conjunto com os fatores ambientais para
desencadeiam essas reações são persistentes e, uma vez causarem as doenças (ABBAS, 9ª ed.).
que a resposta imunológica se inicia, muitos mecanismos
de amplificação são ativados e perpetuam essa resposta ↠ Infecções e lesão tecidual também podem alterar a
(ABBAS, 9ª ed.). forma como os autoantígenos são exibidos para o
sistema imune, levando à falha da autotolerância e à
↠ Adicionalmente, uma resposta iniciada contra um ativação dos linfócitos autorreativos. Outros fatores como
autoantígeno que lesiona tecidos pode resultar na mudanças no microbioma do hospedeiro e alterações epigenéticas nas
liberação e alteração de outros antígenos teciduais, na células imunes podem desempenhar papéis importantes na
patogênese, mas os estudos sobre esses tópicos estão apenas no
ativação de linfócitos específicos para esses outros
início (ABBAS, 9ª ed.).
antígenos e na exacerbação da doença. Esse fenômeno,
conhecido como propagação do epítopo, pode explicar
por que, uma vez desenvolvida a doença autoimune, esta
Metabólica: mais comuns são uremia e misedema. miocardite/pericardite por milhão no prazo de 21 dias após a vacinação
Traumática em indivíduos com idades compreendidas entre os 12 e 39 anos.
Início tardio
Síndrome de lesão do pericárdio (comum): síndrome pós-infarto O mecanismo fisiopatológico da reação adversa miocardite/pericardite
do miocárdio, síndrome pós-pericardiectomia. também não é totalmente conhecido. Entre os mecanismos propostos
Outras: relacionadas a drogas (raras) estão:
Síndrome lúpus-like: hidralazina, isoniazidaa, fenitoína;
Drogas antineoplásicas: doxorrubicina; ➢ o mRNA da vacina pode ser detectado como um antígeno
Hipersensibilidade com eosinofilia: penicilina, amiodarona, minoxidil. pelo sistema imunológico, o que pode promover a ativação
de células pró-inflamatórias. cascatas e vias imunológicas no
coração;
↠ As infecções virais (especialmente infecções por vírus ➢ reações cruzadas entre anticorpos direcionados a
Coxsackie e ecovírus) são a causa mais comum de glicoproteínas spike do SARS-CoV-2 e sequências de
proteínas humanas estruturalmente semelhantes (por
pericardite e, provavelmente, são responsáveis por
exemplo, cadeia pesada de α-miosina do miocárdio);
muitos casos classificados como idiopáticos (PORTH, 10ª ➢ a testosterona pode estar associada à inibição de células
ed.). imunes anti-inflamatórias e à promoção de respostas
imunes do tipo célula T helper 1 mais agressivas.
OBS.: A pericardite idiopática é a forma mais comum de apresentação
da pericardite aguda, podendo chegar a 85% dos casos. Sabe-se que A miocardite e a pericardite ocorreram até 10 dias após a vacinação,
na grande maioria desses casos a etiologia é viral e, habitualmente, não particularmente após a segunda dose de Comirnaty (Pfizer-BioNTech),
se faz pesquisa viral de rotina na prática clínica devido à relação custo- e mais frequentemente em homens mais jovens. De um modo
benefício (SOCESP, 5ª ed.). positivo, essas reações adversas cardíacas foram em geral transitórios
e desaparecem após o repouso, com apenas alguns doentes a
ARTIGO: Incidência de pericardite pós COVID-19 em pacientes de uma necessitar de tratamento hospitalar.
clínica cardiológica, no período de março a junho de 2020.
O acometimento cardíaco é uma característica proeminente na ↠ No Brasil, certamente a etiologia tuberculosa é muito
infecção por SARS-CoV-2 sendo associada a pior prognóstico. Até superior em relação aos países desenvolvidos,
30% dos pacientes internados infectados pelo vírus podem apresentar
manifestações miocárdicas, representadas principalmente por níveis
principalmente em portadores de imunodeficiência
elevados de troponina I. (SOCESP, 5ª ed.).
A fisiopatogenia da lesão provocada pelo SARS-CoV-2 no miocárdio ↠ As pericardites bacterianas são raras em adultos e
ainda não é completamente conhecida, contudo sabe-se que as células exibem taxa elevada de mortalidade, em torno de 40%.
cardíacas expressam altos níveis de receptor de ECA I , podendo
O acometimento do pericárdio, mais comumente, ocorre
explicar o dano tecidual ao miocárdio.
por extensão direta de uma pneumonia ou empiema.
Nesse contexto, a ocorrência de pericardite em 4 pacientes com Além disso, a via hematogênica durante uma bacteremia
diagnóstico prévio de COVID-19, em um período de 3 meses,
e contaminação após cirurgia torácica ou trauma também
determinando a incidência de 11,8%, representa importante achado no
contexto da pandemia são importantes. Os agentes etiológicos mais comuns são
os estafilococos, pneumococos e estreptococos
No presente estudo foi observado, maior frequência de pericardite no
(SOCESP, 5ª ed.).
sexo feminino A média de tempo decorrido entre a COVID-19 e o
diagnóstico de pericardite, em nosso estudo, foi de aproximadamente ↠ Pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM)
30 dias.
transmural frequentemente são acometidos por
CONCLUSÃO: Resultado de incidência de pericardite, como complicação diferentes formas de pericardite. Em geral, entre o
tardia relacionada à COVID-19. terceiro e o sétimo dia de evolução, quase metade dos
pacientes apresentam inflamação do pericárdio
subjacente à área infartada, podendo se traduzir por dor
ARTIGO: Reações adversas graves das vacinas COVID-19 em Portugal pleurítica ou surgimento de atrito pericárdico, mesmo em
até julho de 2021: síndrome de trombose com trombocitopenia,
miocardite/pericardite e síndrome de Guillain-Barré indivíduos assintomáticos (SOCESP, 5ª ed.).
No geral, a vacinação contra a COVID-19 reduz o risco relativo de ↠ Em pacientes com insuficiência renal, são descritas
miocardite e arritmia múltipla. No entanto, existe uma associação entre duas formas de pericardite: a urêmica e a dialítica. O
miocardite/pericardite e as vacinas de mRNA COVID-19 em crianças e termo pericardite urêmica é utilizado para pericardite que
adultos jovens (com os homens a serem aproximadamente 5-10 vezes
ocorre antes do início da diálise e até 8 semanas após. A
mais afetados do que as mulheres), que deve ser cuidadosamente
monitorizadas pelos profissionais de saúde. Com a segunda dose de incidência é de 6 a 10% em pacientes com insuficiência
vacina contra mRNA, foram notificados 12,6 casos de renal avançada, aguda ou crônica; sua ocorrência está
correlacionada com os níveis de ureia e creatinina. Infecções bacterianas podem se iniciar como pericardite fibrinosa,
Metabólitos tóxicos, hipercalcemia, hiperuricemia e transformando-se posteriormente em purulentas. O líquido presente
no saco pericárdico é turvo e contém fibrina, células inflamatórias e
mecanismos hemorrágicos, virais e autoimunes têm sido células mesoteliais. Em geral, não se identifica o agente etiológico
propostos como fatores etiológicos (SOCESP, 5ª ed.). (BOGLIOGO, 10ª ed.)
Epidemiologia da pericardite
Fisiopatologia da pericardite
Macroscopicamente, o pericárdio fica recoberto por camada de normalmente é precedida de pródromos infecciosos,
material purulento, de aspecto granular. Microscopicamente, há como febre e mal-estar (SOCESP, 5ª ed.).
infiltrado de neutrófilos, por vezes formando abscessos, em meio a
fibrina e restos celulares na superfície serosa. O encontro do agente ↠ A dor é ventilatório-dependente podendo ser
etiológico é frequente (BOGLIOGO, 10ª ed.)
retroesternal, precordial ou epigástrica; piora em decúbito
PERICARDITE HEMORRÁGICA dorsal, e melhora quando está em pé ou em posição
reclinada para a frente (SOCESP, 5ª ed.).
Encontrada em associação com as pericardites agudas descritas
anteriormente, é aquela caracterizada por componente hemorrágico OBS.: A dor tipicamente piora com a respiração profunda, tosse,
expressivo. As principais causas são tuberculose e infiltração neoplásica. deglutição e alterações posturais, devido às alterações no retorno
Pode, também, ser complicação de cirurgia cardíaca (BOGLIOGO, 10ª venoso e ao enchimento cardíaco (PORTH, 10ª ed.).
ed.)
↠ Em razão da relação com o nervo frênico, a dor irradia
Pericardite granulomatosa
caracteristicamente para a região inferior do músculo
Sua causa principal é a tuberculose, mas pode ser provocada também trapézio. Outros locais de irradiação são ombros, braços
por micobactérias atípicas e fungos, como Histoplasma e Candida. Na
e mandíbula, podendo ser confundida com dor de
tuberculose, são comuns granulomas com necrose caseosa; material
caseoso pode recobrir todo o pericárdio. Também é comum o isquemia miocárdica (SOCESP, 5ª ed.).
encontro do agente infeccioso. Com frequência, evolui para pericardite
constritiva (BOGLIOGO, 10ª ed.) ATRITO PERICÁRDICO
↠ As manifestações da pericardite aguda incluem a tríade Ocasionalmente, a inflamação continua do pericárdio leva à fibrose e
de dor torácica, atrito pericárdico e alterações ao ao desenvolvimento de pericardite constritiva (HAMMER; MCPHEE).
eletrocardiograma (ECG) (PORTH, 10ª ed.). No paciente com pericardite constritiva, o enchimento diastólico inicial
do ventrículo ocorre normalmente, mas é interrompido subitamente
DOR TORÁCICA pelo pericárdio espesso inelástico. A pressão venosa sistêmica está
elevada, porque o fluxo de entrada no coração é limitado. Geralmente,
↠ A dor torácica provavelmente deve-se à inflamação com a inspiração, a diminuição da pressão intratorácica é transmitida
do pericárdio. A inflamação da pleura adjacente pode ser ao coração, e o enchimento do lado direito do coração aumenta com
responsável pela piora característica da dor com uma queda acompanhante na pressão venosa sistêmica. Em pacientes
com pericardite constritiva, essa resposta normal é impedida e o
inspiração profunda e tosse (HAMMER; MCPHEE). paciente desenvolve o sinal de Kussmaul (HAMMER; MCPHEE).
↠ A dor está quase sempre presente (em mais de 85% O exame da pulsação venosa jugular é essencial no paciente que pode
dos casos) com intensidade e duração variáveis e ter pericardite constritiva. A pressão venosa jugular está elevada
(turgência jugular), e as formas de onda individuais com frequência são ↠ O derrame pericárdico pode ocorrer em resposta a
bastante proeminentes (HAMMER; MCPHEE). qualquer causa de pericardite (HAMMER; MCPHEE). O seu
A pressão venosa sistêmica elevada pode causar acúmulo de líquido desenvolvimento também pode resultar de neoplasias, cirurgia
no fígado e espaço intraperitoneal, levando à hepatomegalia e ascite cardíaca, traumatismo, ruptura cardíaca por infarto do miocárdio e
(HAMMER; MCPHEE). aneurisma aórtico dissecante (PORTH, 10ª ed.).
À ausculta do coração, um som de timbre alto chamado batida ↠ A cavidade pericárdica tem pouco volume de reserva.
pericárdica pode ser ouvido logo depois da segunda bulha cardíaca, A relação pressão-volume entre os volumes pericárdico
frequentemente imitando uma terceira bulha cardíaca (HAMMER; e cardíaco normais pode ser drasticamente afetada até
MCPHEE).
por pequenas quantidades de líquido, na presença de
níveis críticos de derrame. Como as pressões de
enchimento do coração direito são inferiores àquelas do
coração esquerdo, os aumentos na pressão normalmente
se refletem em sinais e sintomas de insuficiência cardíaca
direita que antecedem a equalização das pressões
(PORTH, 10ª ed.).
➢ hipotensão,
➢ pressão venosa jugular elevada;
➢ bulhas cardíacas hipofonéticas.
ELETROCARDIOGRAMA
↠ Os pacientes com pericardite aguda frequentemente
exibem alterações eletrocardiográficas compatíveis com
inflamação do tecido epicárdico (SOCESP, 5ª ed.).
ECOCARDIOGRAMA
↠ Trata-se de um exame indicado como parte da
avaliação diagnóstica de rotina. Quando ocorre
acometimento concomitante do miocárdio, pode revelar
alterações de função e contratilidade cardíacas. Possibilita
a avaliação de comorbidades, como doença isquêmica
cardíaca, derrame pleural, dissecção de aorta e pericardite
constritiva (SOCESP, 5ª ed.).
Referências
↠ O derrame pode ser classificado como leve (espaço MONTERA et. al. I Diretriz Brasileira de Miocardites e
livre de eco na diástole menor que 10 mm), moderado (10 Pericardites. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2014.
a 20 mm) e grande (maior que 20 mm). As características
do derrame podem denunciar possível etiologia como a HAMMER, Gary D.; MCPHEE, Stephen J. Fisiopatologia da
presença de fibrina na tuberculose ou coágulos no doença. Grupo A, 2015.
hemopericárdio (SOCESP, 5ª ed.). FILHO, Geraldo B. Bogliolo – Patologia, 10ª edição. Grupo
↠ A avaliação de comprometimento hemodinâmico ou GEN, 2021.
tamponamento cardíaco associado ao DP constitui outra NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia, 10ª edição.
importante ferramenta da ecocardiografia. Desta forma, o Grupo GEN, 202.
colapso do átrio direito é sinal sensível de tamponamento
cardíaco, ao passo que o colapso do ventrículo direito por JATENE, Ieda B.; FERREIRA, João Fernando M.; DRAGER,
tempo maior que um terço da diástole constitui um sinal Luciano F.; et al. Tratado de cardiologia SOCESP, 5ª
mais específico (SOCESP, 5ª ed.). edição. Editora Manole, 2022
↠ Entretanto, apenas derrames com volume acima de PIRES, C. Reações adversas graves das vacinas COVID-19
200 mL são geralmente identificados pela radiografia. A em Portugal até julho de 2021: síndrome de trombose
presença de derrame pleural, alterações concomitantes com trombocitopenia, miocardite/pericardite e síndrome
nos campos pulmonares ou no mediastino podem ser de Guillain-Barré. Biopharmaceutical Sciences, 2022.
auxiliar no diagnóstico etiológico, como, por exemplo, a BENTES et. al. Incidência de pericardite pós COVID-19 em
observação de cavitações tuberculosas (SOCESP, 5ª ed.). pacientes de uma clínica cardiológica, no período de
↠ De outro modo, a radiografia de tórax na maioria dos março a junho de 2020. Revista Eletrônica Acervo Saúde,
casos de pericardite viral não exibe alterações (SOCESP, 2021.
5ª ed.).
os quais a doença possui um alto índice de carotídeo e maior risco para eventos cardiovasculares
desenvolvimento (SILVA; DUQUE, 2020). (morte, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular
cerebral), na ordem de 4 a 6% ao ano, em portadores
Etiologia da DAOP da doença (MOTA et. al., 2017).
↠ A aterosclerose é a principal causa de doença arterial ↠ A DAP apresenta uma prevalência de 10 a 25% na
obstrutiva periférica (DAOP) dos membros inferiores população acima de 55 anos de acordo com a Sociedade
(MOTA et. al., 2017). Além dos casos de artrites, aneurisma Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (2014),
e tromboembolismo (SILVA; DUQUE, 2020). tendo aumento crescente à medida em que a faixa etária
Embolia é a oclusão aguda de uma artéria por um êmbolo proveniente aumenta (MACÊDO et. al., 2017).
de um vaso ou do coração, provocando interrupção ou diminuição do
fluxo distalmente à oclusão (PORTO & PORTO). Fisiopatologia da DAOP
Trombose é a formação de um trombo dentro da artéria, podendo ↠ As considerações fisiopatológicas em pacientes com
causar estreitamento ou oclusão total da luz do vaso com consequente DAP precisam levar em conta o equilíbrio entre o
diminuição ou interrupção do fluxo de sangue. Instala-se em uma
parede arterial previamente comprometida por uma placa de ateroma
suprimento circulatório de nutrientes para o músculo
ulcerada (PORTO & PORTO). esquelético e a sua demanda de oxigênio e de nutrientes
(BRAUNWALD, 10ª ed.).
Fatores de risco da DAOP
↠ O fluxo através de uma artéria relaciona-se
↠ Os fatores de risco para esse distúrbio são diretamente com a pressão de perfusão e inversamente
semelhantes aos da aterosclerose (PORTH, 10ª ed.). com a resistência vascular. As estenoses reduzem o fluxo
através da artéria (BRAUNWALD, 10ª ed.).
↠ O tabagismo contribui para o progresso da
aterosclerose dos membros inferiores e para o ↠ Durante o processo patológico desta doença, ocorre
desenvolvimento de sintomas de isquemia. Pessoas com a interrupção do fluxo sanguíneo e por consequência a
diabetes melito desenvolvem doença vascular mais extensa e com diminuição no transporte de nutrientes e oxigênio para
progressão mais rápida do que as pessoas não diabéticas (PORTH, os tecidos adjacente (SILVA; DUQUE, 2020).
10ª ed.).
Por esta razão vários mecanismos compensatórios são ativados para
↠ Além disso, idade, hipertensão, diabetes mellitus e que não ocorra isquemia no local afetado. Tais mecanismos são: a
histórico de doença cardiovascular são fatores de risco vasodilatação, metabolismo anaeróbico, e o processo de circulação
colateral (SILVA; DUQUE, 2020).
para a DAOP (DIRETRIZ, 2015).
Diabetes mellitus é um importante fator de risco para os mecanismos
da inflamação e disfunção da célula endotelial, aumentando a
agregação plaquetária e do fibrinogênio, formando assim um processo
arteriosclerótico, e consequentemente favorecendo com uma
porcentagem de 28% o risco de surgimento da DAOP (SILVA;
DUQUE, 2020).
Epidemiologia da DAOP
↠ Devido à formação de placas de ateroma, na qual são nos músculos da panturrilha dos pacientes com DAP, conforme
depósitos de gorduras nas artérias é levado ao avaliado após o exercício submáximo pela espectroscopia 31P por
ressonância magnética (BRAUNWALD, 10ª ed.).
desenvolvimento de um coágulo devido à interrupção da
passagem sanguínea que irá se concentrar em um
determinado local da artéria, este coágulo que é
designado como um trombo reduz mais ainda o espaço
do interior da artéria (SILVA; DUQUE, 2020).
estará apresentando rigidez arterial aumentada, tornando- ↠ A angiografia por ressonância magnética (ARM) pode
se indicativo no diagnóstico de insuficiência renal crônica ser usada para visualizar de forma não invasiva a aorta e
(SILVA; DUQUE, 2020). as artérias periféricas. A resolução da anatomia vascular
com a ARM com contraste de gadolínio aproxima-se
Teste ERGOMÉTRICO daquela da angiografia contrastada convencional por
↠ Testes de exercício em esteira são recomendados subtração digital (BRAUNWALD, 10ª ed.).
para fornecer evidência objetiva da magnitude da
limitação funcional de claudicação e medir a resposta à
terapia (DIRETRIZ, 2015).
EXAMES DE IMAGEM
↠ Exames de imagem por ultrassom, arteriografia com
ressonância magnética (RM), arteriografia com tomografia
computadorizada (TC) espiral e angiografia contrastada
invasiva também podem ser utilizados como métodos
diagnósticos (PORTH, 10ª ed.).
↠ A angiografia por subtração digital ainda é considerada DAOP Crônica x DAOP Aguda
padrão-ouro no diagnóstico de DAOP. No entanto por ser
um método mais invasivo que os demais (invasividade ↠ A oclusão arterial aguda é um evento súbito, que
mecânica, radiológica e farmacológica), não deveria ser interrompe o fluxo arterial para os tecidos ou órgãos
comumente aplicado como exame de rotina, afetados. A maior parte das oclusões arteriais agudas
particularmente em pacientes sem indicação inicial de resulta de um êmbolo ou trombo (PORTH, 10ª ed.).
intervenção cirúrgica ou endovascular (DIRETRIZ, 2015).
↠ Os sinais e sintomas de oclusão arterial aguda ↠ Os fatores relacionados com a não adesão ao
dependem da artéria envolvida e da adequação da tratamento descritos na literatura estão relacionados com
circulação colateral. Os êmbolos tendem a se alojar nas características individuais do paciente, à doença em si, aos
bifurcações das artérias de grande calibre, incluindo a medicamentos utilizados e à interação entre o paciente
aorta e as artérias ilíacas, femorais e poplíteas. A e os serviços de saúde, entre outros (TAVARES et. al.,
apresentação da embolia arterial aguda costuma ser 2016).
descrita como os sete “P”: (PORTH, 10ª ed.).
↠ De acordo com a Organização Mundial da Saúde
➢ Tiro de pistola (início agudo) (OMS), a não adesão aos tratamentos a longo prazo na
➢ Palidez população em geral está em torno de 50,0% (TAVARES
➢ Caráter polar (frio) et. al., 2016).
➢ Ausência de pulso
➢ Dor (do termo pain, em inglês)
➢ Parestesia
➢ Paralisia.
↠ Grande parte das doenças crônicas não transmissíveis TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível
pode ser controlada pelo uso de medicamentos, tendo em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016.
no acesso e na utilização adequada requisitos
MARIEB, Elaine. Anatomia humana. Tradução Lívia Cais,
fundamentais para o sucesso terapêutico. Entre os fatores
Maria Silene de Oliveira e Luiz Cláudio Queiroz. São Paulo:
que influenciam diretamente os resultados terapêuticos,
Pearson Education do Brasil, 2014.
destaca-se a adesão ao tratamento medicamentoso,
definida como o grau de concordância entre o MOORE, Anatomia Orientada para a Clínica, 7ª ed., Rio de
comportamento de uma pessoa e as orientações do Janiero: Guanabara Koogan, 2014.
profissional da saúde (TAVARES et. al., 2016).
centrais, fraturas, traumas e outras injúrias à parede vascular (SOCESP, proteína C e de proteína S, ambas integrantes do
5ª ed.). processo de anticoagulação. Essas situações, portanto,
Fatores de risco da TVP acabam comprometendo o processo e ocasionando
modificações na cascata de coagulação e,
↠ Apresenta fatores de risco adquiridos, destacando consequentemente, formação de trombo (CHARLO et.
as cirurgias e imobilizações, relacionadas principalmente al., 2020).
com a internação hospitalar, fator este que coloca a TVP
ATENÇÃO: Na infecção pelo SARS-CoV-2 (causador da COVID-19),
como principal causa de óbito estável em ambiente trombose e tromboembolia são eventos frequentes em vários locais
hospitalar (CHARLO et. al., 2020). do organismo e responsáveis em grande parte pela gravidade da
doença. Os mecanismos envolvidos são muitos, destacando-se:
↠ O anticoncepcional e a gestação são outros dois resposta infamatória ao vírus, que induz ativação endotelial e tem ação
tópicos importantes relacionados a TVP, pois o uso de pró-trombótica; ativação plaquetária; estase sanguínea por disfunção
hormônios sintéticos como estrógeno e progesterona, cardíaca. Na doença grave, encontram-se plaquetopenia e aumento de
seja na forma de contraceptivos orais ou como produtos de degradação da fibrina na circulação. O vírus tem tropismo
para pneumócitos, células endoteliais, miocardiócitos e plaquetas, que
tratamentos hormonais, apresentam indícios de são ricos na enzima conversa da angiotensina 2 (ACE 2), que é a
desenvolvimento na população feminina (CHARLO et. molécula à qual o vírus se liga para penetrar nas células. Por se ligar à
al., 2020). ACE 2, ocorrem modificações em outras enzimas pertencentes ao
sistema renina-angiotensina-aldosterona, o que potencializa os efeitos
Os anticoncepcionais atuam no organismo feminino aumentando os pró-inflamatórios da infecção (BOGLIOGO, 10ª ed.).
fatores de coagulação e reduzindo seus inibidores. Além disso,
mulheres usuárias de contraceptivos apresentam de 2 a 6 vezes mais Epidemiologia da TVP
chance de desenvolver a doença em comparação às não usuárias
(CHARLO et. al., 2020). ↠ A TVP é um dos problemas médicos mais prevalentes
Durante a gestação, a chance de desenvolver TVP varia de 0,7 a 1,7 da atualidade, com uma incidência anual de 80 casos a
casos em 1000 gestantes, aumentando principalmente no terceiro cada 100.000 habitantes. Nos Estados Unidos, mais de
trimestre de gravidez e no período puerperal. Neste período, 500.000 pessoas apresentam quadro de TVP anualmente,
encontramos situações de hipercoagulabilidade, em que há síntese
sendo 20% em pacientes hospitalizados e, destas
hepática de fatores de coagulação; estase sanguínea, cujo quadro
se desenvolve pela compressão venosa do útero gravídico e pessoas, 50.000 casos apresentam EP como complicação
pela diminuição do tônus vascular pela ação da progesterona; e a (SOCESP, 5ª ed.).
lesão endotelial que ocorre no processo de nidação e dequitação
placentária, fatos esses que se relacionam com o aumento de ↠ A incidência desta patologia, segundo alguns
cinco a dez vezes de ocorrência de tromboembolismo nessa estudos, é demonstrada na população geral como 5
população, podendo chegar a vinte vezes no puerpério (CHARLO et. casos a cada 10.000 indivíduos anualmente, e no Brasil em
al., 2020).
torno de 0,6 a cada 1000 habitantes anualmente (CHARLO
↠ Além deste fator, a idade avançada, principalmente et. al., 2020).
acima dos 60 anos aumenta a chance do aparecimento
↠ No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde
da patologia, bem como pacientes obesos, com índice de
coletados entre os anos de 2010 e 2021, o número de
massa corpórea (IMC) acima de 30 kg/m² (CHARLO et.
internações relacionadas ao TEV ultrapassou 520 mil,
al., 2020).
com um total de mais de 67.000 óbitos entre 2010 e 2019
Os idosos são mais suscetíveis do que os mais jovens, provavelmente (DIRETRIZ, 2022).
devido à frequência aumentada de distúrbios promotores de estase
venosa com a idade avançada (PORTH, 10ª ed.) OBS.: O trombembolismo venoso (TEV) manifesta-se como
trombembolismo pulmonar (TEP) e/ou trombose venosa profunda
As viagens aéreas longas impõem uma ameaça em particular para as (TVP) (DIRETRIZ, 2022).
pessoas predispostas à TVP, por causa da permanência prolongada
na posição sentada e do aumento da viscosidade sanguínea ↠ Apresenta um alto índice de mortalidade, sendo que
decorrente da desidratação (PORTH, 10ª ed.) aproximadamente 34% dos pacientes acometidos
↠ Os fatores de risco hereditários apresentam morrem subitamente ou em poucas horas após a
importância significativa no desenvolvimento da patologia, primeira manifestação, ou seja, antes mesmo de
como mutações do gene da protrombina, aumento do receberem qualquer tipo de tratamento (DIRETRIZ, 2022).
fibrinogênio e aumento do fator VIII, os quais são
responsáveis pela coagulação, bem como deficiência de
↠ Quase 2/3 dos casos de TEV manifestam-se por TVP venosas e, através da agregação plaquetária local com
isolada, sendo a maioria trombose das veias proximais do liberação de ADP e tromboxano A2, causaria progressão
membro inferior e um terço por TEP (DIRETRIZ, 2022). da coagulação local e do trombo na luz do vaso (SOCESP,
5ª ed.).
Fisiopatologia da TVP
↠ O endotélio vascular em condições normais não processo inflamatório, incluindo dor, edema e sensibilidade
apenas mantém as plaquetas inativas, impedindo a adesão em músculos profundos (PORTH, 10ª ed.).
e agregação, mas também evita a coagulação local ao
↠ Febre, mal-estar geral e elevação tanto da contagem
impedir a presença de fatores pró-coagulantes ativados
de leucócitos como da velocidade de
(SOCESP, 5ª ed.).
hemossedimentação também são indicativos de
Diversos fatores, como traumas (iatrogênicos ou não), radiação, inflamação. Pode haver sensibilidade e dor ao longo da
infecção, drogas, lesões térmicas, citocinas e anticorpos, além de veia. O edema pode variar do mínimo ao muito acentuado
outros, podem ser responsáveis pela lesão do endotélio vascular
saudável, causando exposição da matriz extracelular, produção de (PORTH, 10ª ed.).
tromboxano A2 e ADP, adesão e agregação plaquetária, com O sítio de formação do trombo determina a localização dos achados
formação de trombina (que estimula a agregação) e, por sua vez, a físicos. A localização mais comum são os seios venosos no músculo
ativação da cascata de coagulação, com formação de fibrina através sóleo e as veias tibial posterior e fibular. Nesses casos, pode haver um
da ativação dos fatores VII, IX e X (SOCESP, 5ª ed.). edema (ainda que discreto) envolvendo o pé e o tornozelo. É comum
O próprio trauma cirúrgico e a reação inflamatória com leucocitose haver dor e sensibilidade na panturrilha. A trombose da veia femoral
podem ser suficientes para lesão do endotélio e pela consequente produz dor e sensibilidade na área distal da coxa e na região poplítea.
Trombos nas veias iliofemorais produzem as manifestações mais
formação de trombos em pacientes pós-operatórios (SOCESP, 5ª ed.).
acentuadas, com edema, dor e sensibilidade em todo o membro
(PORTH, 10ª ed.).
TROMBOFILIAS
↠ A hipercoagulabilidade sanguínea, ou trombofilia pode Complicações da TVP
ser de origem genética ou adquirida (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Suas complicações são variáveis, dependendo da
↠ Na origem genética podemos encontrar uma extensão da trombose e do local acometido (SOCESP, 5ª
deficiência de fatores que impedem a coagulação, como ed.).
a antitrombina, a proteína C e a proteína S. Podemos Tromboembolismo Pulmonar (TEP)
também encontrar resistência à proteína C ativada
causada por mutação no fator V, encontrada em 20 a ↠ A embolia pulmonar se desenvolve quando uma
50% dos pacientes com TVP, sendo a trombofilia mais substância transmitida pelo sangue se aloja em um ramo
comum nos pacientes com TEV (SOCESP, 5ª ed.). da artéria pulmonar e obstrui o fluxo sanguíneo (PORTH,
Constituem também causas genéticas, alterações no gene da 10ª ed.).
protrombina, que é encontrada em 6 a 18% dos pacientes com TVP,
e a hiper-homocisteinemia, que encontra sua origem na mutação do
↠ A trombose nas veias profundas das pernas ou da
gene da metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR) (SOCESP, 5ª ed.). pelve muitas vezes permanece insuspeita até o evento
de uma embolia (PORTH, 10ª ed.).
↠ Além de causas adquiridas, como deficiências de
vitamina B12, B6 e folato. Na origem adquirida temos Fisiopatologia da TEP
fatores teoricamente temporários como a gravidez, uso
de anticoncepcionais orais (em especial os combinados ↠ Quanto mais proximal o trombo estiver nas veias
com estrogênio e progestágenos), cirurgias, tabagismo, profundas da perna, mais provável é a sua embolização
obesidade e infecções. Temos, também, doenças e a ocorrência de embolia pulmonar aguda
adquiridas como a síndrome do anticorpo antifosfolípide (BRAUNWALD, 10ª ed.).
(SAAF), neoplasias, vasculites, poliglobulias e outras ↠ Quando os trombos venosos se separam dos seus
(SOCESP, 5ª ed.). locais de formação, eles viajam através do sistema venoso
Manifestações Clínicas da TVP em direção à veia cava. Eles atravessam o átrio direito e
o ventrículo direito e, em seguida, entram na circulação
↠ Muitas pessoas com trombose venosa são arterial pulmonar (BRAUNWALD, 10ª ed.).
assintomáticas, e até 50% das pessoas com TVP não
↠ Um êmbolo extremamente grande pode alojar-se na
manifestam sintomas. Provavelmente, a ausência de sinais
bifurcação da artéria pulmonar, formando uma embolia
e sintomas é devida à obstrução apenas parcial da veia
em sela. Em muitos pacientes com EPs de grande
ou à presença de circulação colateral (PORTH, 10ª ed.).
dimensão, a evidência ecográfica de TVP está ausente,
↠ Quando presentes, os sinais e sintomas mais comuns provavelmente porque o coágulo já embolizou para os
da trombose venosa são aqueles relacionados ao pulmões (BRAUNWALD, 10ª ed.).
OBS.: A circulação pulmonar é feita pela artéria pulmonar e pelas ↠ A síncope parece estar presente em cerca de 17%
artérias brônquicas. Em indivíduos sem alteração circulatória prévia, as dos casos e está associada a alta prevalência de
artérias brônquicas são capazes de suprir o território eventualmente instabilidade hemodinâmica e falência do ventrículo direito.
privado de sangue por obstrução da artéria pulmonar por embolia. Por O TEP que apresenta instabilidade hemodinâmica não é
isso mesmo, quando os êmbolos são pequenos e pouco numerosos
e chegam a pulmões sem alterações circulatórias, a embolia pulmonar
frequente, mas indica um comprometimento maciço da
é geralmente discreta e não tem repercussão clínica. Na maioria circulação pulmonar (DIRETRIZ, 2022).
desses casos, ocorre dissolução espontânea por pulverização do
êmbolo ao se chocar com as dicotomizações vasculares, pela força de Úlcera de estase e dermatite
cisalhamento da circulação e por ação do sistema fibrinolítico. Se
retidos na circulação e se não são dissolvidos, os êmbolos podem se Outras complicações da TVP são as complicações crônicas que
organizar (conjuntivizar), sendo vistos no interior de artérias ocorrem pela lesão das válvulas venosas após a trombose e sua
pulmonares como bandas fibrosas na luz vascular. A repetição da consequente recanalização, deixando o sistema profundo com refluxo
venoso patológico que, ao longo dos anos, pode evoluir para uma
entidade denominada síndrome pós-trombótica (SPT) (SOCESP, 5ª A comunicação entre os sistemas superficial e o profundo é feita pelas
ed.). veias do sistema perfurante. As veias desses três sistemas possuem
inúmeras válvulas, as quais orientam o fluxo de sangue, em uma única
A SPT é consequência de um quadro de refluxo crônico não tratado direção, das veias do sistema superficial para o sistema profundo, e
que evolui com complicações como: edema crônico, inflamação distal impedem o refluxo do mesmo durante o relaxamento da musculatura
com dermatite ocre e lipodermatoesclerose. Geralmente acomete das pernas (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010).
toda a circunferência do membro inferior, apresentando-se “em bota”.
Quando não tratada, esta inflamação crônica pode levar a ulcerações O fluxo venoso também é auxiliado pela musculatura da panturrilha,
de difícil cicatrização e anquilose do tornozelo que, por sua vez, dificulta que funciona como uma verdadeira bomba periférica, ajudando as
a dorsoflexão do pé e contração e relaxamento de panturrilhas, válvulas a superar a força da gravidade, impulsionar o sangue para o
agravando ainda mais o quadro de edema e estase venosa (SOCESP, coração e diminuir pressão no interior das veias (GUIMARÃES;
5ª ed.). NOGUEIRA, 2010).
↠ Dentre as úlceras encontradas nos membros A pressão venosa é um produto da pressão hidrostática exercida pela
coluna de sangue entre as pernas e o átrio direito. Em posição supina,
inferiores, a úlcera de etiologia venosa é a que possui
a pressão nas veias profundas chega a quase 0mmHg, quando em pé,
maior prevalência. Corresponde aproximadamente de aumenta drasticamente, geralmente cerca de 80mmHg a 90mmHg e
80% a 90% das úlceras encontradas nessa localização, ao deambular essa pressão cai para 30mmHg (GUIMARÃES;
sendo que a insuficiência venosa crônica (IVC) é a principal NOGUEIRA, 2010).
responsável pelo seu surgimento (GUIMARÃES; Na deambulação, esse grupo muscular se contrai e exerce pressão
NOGUEIRA, 2010). sobre as veias profundas, fazendo com que a pressão venosa caia
para um estado fisiológico. Em suma, a função fisiológica, é dependente
↠ As úlceras venosas são lesões crônicas associadas com da integridade anatômica das veias, da competência do sistema valvular
hipertensão venosa dos membros inferiores e e do bom funcionamento da bomba periférica (GUIMARÃES;
correspondem a percentual que varia aproximadamente NOGUEIRA, 2010).
de 80 a 90% das úlceras encontradas nesta localização e É a falha nesse mecanismo que desencadeia a hipertensão venosa
configuram problema mundialmente grave, sendo em deambulação, levando a um acúmulo excessivo de líquido e de
responsável por considerável impacto socioeconômico, fibrinogênio no tecido subcutâneo, resultando em edema,
como a perda de dias de trabalho, aposentadoria precoce lipodermatosclerose e, finalmente ulceração (GUIMARÃES; NOGUEIRA,
2010).
e os gastos com a terapêutica, em geral, prolongada, além
de restringir as atividades da vida diária e de lazer ↠ A pressão elevada leva à formação de úlceras nos
(GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010). membros inferiores (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010).
Etiologia das úlceras de estase e dermatite
As veias da panturrilha, em associação com os tecidos circundantes, ↠ Na IVC a ocorrência de varizes primárias com
formam uma unidade funcional conhecida como bomba muscular ou
coração periférico, ativamente atuante na drenagem do sangue
disfunção da parede venosa, focal ou generalizada, parece
venoso durante o exercício. Em condições normais, o fluxo de sangue causar a insuficiência das válvulas por afastamento de suas
é feito em uma única direção, através de três sistemas de veias, cúspides secundariamente a essa dilatação. A coluna de
distintos anatômica e funcionalmente, sendo esses: o superficial, o sangue formada gera uma pressão hidrostática
profundo e o perfurante (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010).
progressivamente maior, que, com ou sem a participação
de veias perfurantes insuficientes termina por transmitir- hemossiderina. Por fim ocorre um processo de
se aos capilares sanguíneos (DIRETRIZ, 2015). dermatolipoesclerose secundário a grande concentração
de líquido e principalmente proteínas que ficaram retidas
↠ Num primeiro momento, ocorre apenas o aumento da
no interstício celular, levando primeiro ao endurecimento
saída de líquido e pequenas proteínas para o espaço
e aumento do poder oncótico intersticial e posterior a
extra-vasal. Nesta fase, isto é compensado pela
fibrose da pele e principalmente do tecido celular
reabsorção dos mesmos pelo próprio capilar durante o
subcutâneo (DIRETRIZ, 2015).
repouso, bem como pela capacidade de absorção do
sistema linfático o que evita alterações maiores como o ↠ Quando o agravamento da condição tecidual é tal que
edema. Com a continuidade ou piora do quadro de proporciona a destruição da pele e solução de
hipertensão venosa, a entrada de líquido e proteínas no continuidade com os tecidos mais profundos, a
interstício ultrapassa a capacidade de captação capilar e denominada “úlcera de estase” ou “úlcera varicosa”. Tal
linfática ocorrendo o edema (DIRETRIZ, 2015). situação deve ser evitada ao máximo visto que de 50 a
75% destas úlceras demoram de 4 a 6 meses para
↠ Neste ponto, apesar de ainda não totalmente elucidado
cicatrização enquanto pelo menos 1/5 delas permanecem
se como causa ou consequência, mas de maneira muito
abertas por mais de 2 anos (DIRETRIZ, 2015).
importante na fisiopatologia da doença, soma-se ao
processo a participação do sistema imunológico. Mediada
pelas moléculas de adesão intercelular (ICAM-1), e
citoquinas como interleucina (IL-6 e 8) e fator de necrose
tumoral (TNFß), ocorre um estímulo local a resposta
inflamatória através de macrófagos e neutrófilos
(DIRETRIZ, 2015).
↠ Paradoxalmente, a presença destes fatores determina
Paciente com síndrome pós-trombótica (SPT) com
localmente um aumento da permeabilidade capilar com lipodermatoesclerose (A) e dermatite ocre “em bota” (B).
aumento do extravasamento que agora passa a ser
acompanhado de macromoléculas e mesmo de OBS.: São considerados os principais sinais e sintomas de IVC:
elementos figurados do sangue como as hemácias. Os formigamento, dor, queimação, câimbras musculares, inchaço,
sensação de peso ou de latejamento, prurido cutâneo, cansaço das
fagócitos na tentativa de absorver estes elementos
pernas e fadiga (DIRETRIZ, 2015).
aumentam a produção de grânulos citoplasmáticos
contendo radicais livres de oxigênio potencializando ainda CARACTERÍSTICAS DA ÚLCERA VENOSA: A úlcera venosa tende a se
mais a resposta inflamatória local (DIRETRIZ, 2015). localizar no terço inferior da perna, comum no maléolo medial; o
desenvolvimento da úlcera venosa é lento, apresenta bordas
↠ O ambiente tecidual nas regiões mais acometidas superficiais e irregulares e o tecido profundo não é afetado, apresenta
manchas varicosas castanhas, eczema e é quente ao toque; a dor é
começa a se tornar deletério as próprias células e
variável na úlcera venosa, melhorando com a elevação do membro,
paralelamente a isso o progressivo aumento da pressão na úlcera venosa o pulso está presente (DIRETRIZ, 2015).
no interstício passa a causar a diminuição de fluxo na
microcirculação com consequente diminuição de
oxigenação e trocas metabólicas. A lise das hemácias
libera hemoglobina que no espaço extracelular é
degradada a um subproduto, a hemossiderina,
extremamente irritante aos tecidos (DIRETRIZ, 2015).
↠ A somatória de hipoperfusão tecidual relativa e
agressão celular com depósito de hemossiderina
culminam nas seguintes características: o eczema de
estase com ressecamento, descamação, adelgaçamento
e prurido na pele, sinais inequívocos da alteração
inflamatória (DIRETRIZ, 2015).
↠ Uma dermatite “ocre” também é observada sendo o
resultado dos depósitos dérmicos e subcutâneos de
Tratamento da úlcera de estase e dermatite veias é em grande parte hidrostática quando a pessoa está em pé,
para reverter esse efeito ela requer que o nível necessário de pressão
↠ No caso da úlcera venosa, o tratamento deve estar externa reduza progressivamente na perna, da parte inferior para a
superior, sendo que a maior pressão deve ser aplicada na região do
amparado em quatro condutas: (GUIMARÃES; NOGUEIRA, tornozelo (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010).
2010).
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
➢ tratamento da estase venosa, utilizando o
repouso e a terapia compressiva; ↠ As feridas de etiologia venosa são, geralmente,
➢ terapia tópica, com escolha de coberturas locais recobertas por tecido necrótico membranoso, superficial,
que mantenham úmido e limpo o leito da ferida amarelado imbricado no tecido de granulação e muito
e sejam capazes de absorver o exsudato; exsudativas. Para o tratamento tópico, além da terapia
➢ controle da infecção com antibioticoterapia compressiva, é importante a implementação de
sistêmica; coberturas não aderentes, capazes de propiciar o
➢ prevenção de recidivas. desbridamento autolítico, de absorver o exsudato e criar
um ambiente propício para o desenvolvimento do
TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO processo de cicatrização (GUIMARÃES; NOGUEIRA, 2010).
↠ Podemos considerar atualmente a compressão como MEDICAÇÕES VENOATIVAS OU FLEBOTÔNICAS: Apesar da grande
a peça chave do tratamento conservador, agindo quantidade de compostos químicos a origem de muitas é comum,
diretamente sobre os mecanismos da fisiopatologia que podendo ser divididas em naturais (alfa ou gama benzopironas, escinas)
e sintéticas (dobesilato de cálcio e aminaftona). A ação destas drogas
levam ao aparecimento das úlceras e agravamento da
inclui a diminuição da permeabilidade capilar, efeito linfocinético, menor
doença. Nesse tópico dispõe-se de uma série de apoptose das células endoteliais e uma ação anti-inflamatória por
modalidades de compressão que incluem as meias de diminuição da adesividade de células de defesa (DIRETRIZ, 2015).
compressão gradual, bandagens elásticas e inelásticas e
compressão intermitente (DIRETRIZ, 2015). Diagnóstico da TVP
EXAME FÍSICO
↠ O exame físico não deve se restringir somente ao
membro acometido, ele deve ser completo, uma vez que
pode conter informações importantes para o quadro
clínico em geral (SOCESP, 5ª ed.).
↠ A tireoide e os linfonodos palpáveis podem sugerir
O seu mecanismo de ação se dá através da pressão exercida sobre
a perna, o que obriga o fluido dos espaços intersticiais a retornar para processo neoplásico ou infecção. O sistema
o compartimento vascular ou linfático. Como a pressão dentro das cardiorrespiratório pode apresentar alterações
Exames Laboratoriais
DOSAGEM DO D-DÍMERO
↠ Na presença de trombose, a plasmina circulante
quebra a fibrina insolúvel e um dos produtos de
degradação dela é o dímero D (SOCESP, 5ª ed.).
↠ Ensaio quantitativo do D-dímero, com base no método
rápido de Elisa, apresenta alta sensibilidade (próximo de
95%) para o diagnóstico. No entanto, o teste revela baixa
especificidade (40%), visto que o D-dímero pode estar
aumentado em várias condições além do
tromboembolismo venoso, como nos casos de infarto
agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico,
inflamações, câncer ativo e gravidez. A especificidade
↠ O paciente também pode apresentar dor à palpação também cai com a idade, e em idosos pode alcançar
da panturrilha (sinal de Bancroft) e ao realizar a apenas 10% (DIRETRIZ, 2022).
dorsoflexão forçada do tornozelo com o joelho estendido
(sinal de Homans) (SOCESP, 5ª ed.). ↠ Este método se presta para excluir o diagnóstico de
TVP quando estiver negativo, mas não serve para
vezes, uma embolectomia é realizada durante esse MECANISMO DE AÇÃO: A heparina atua em inúmeros alvos
procedimento (PORTH, 10ª ed.). moleculares, mas seu efeito anticoagulante é
consequência da ligação à antitrombina I I, com a rápida
↠ A tomografia computadorizada torácica ultrapassou a
inativação subsequente dos fatores de coagulação. A
cintilografia de perfusão pulmonar com radionuclídeos
antitrombina I I é uma alfa-globulina que inibe
como o exame de imagem inicial na maioria dos pacientes
serinoproteases da trombina (fator I a) e fator Xa. Na
com suspeita de EP, permitindo a visualização imediata de ausência de heparina, a antitrombina I I interage lentamente com a
EP maciça e a confirmação da acessibilidade cirúrgica ou trombina e o fator Xa. Quando a heparina se liga à antitrombina I I,
por cateter para o trombo localizado no nível central ocorre uma alteração conformacional que catalisa a inibição da
(BRAUNWALD, 10ª ed.). trombina cerca de mil vezes (WHALEN, 6ª ed.).
FÁRMACOS: Ateplase,
reteplase e tenecteplase;
estreptoquinase;
uroquinase.
TROMBOLÍTICOS
↠ A terapia trombolítica (i. e., estreptoquinase, uroquinase
ou ativador de plasminogênio tecidual) pode ser utilizada
como uma tentativa de dissolver o coágulo. (PORTH, 10ª
ed.).
↠ A doença tromboembólica aguda em determinados
pacientes pode ser tratada com a administração de
fármacos que ativam a conversão de plasminogênio em
plasmina, uma serinoprotease que hidrolisa fibrina e, assim,
dissolve coágulos (WHALEN, 6ª ed.).
Referências
3- Explicar a fisiopatologia da broncoaspiração, suas ➢ Possibilitar as trocas gasosas: ingestão de O2 para entregá-
manifestações clínicas e complicações; lo às células corporais e remoção do CO 2 produzido pelas
4- Discutir sobre o manejo da broncoaspiração em células do corpo.
➢ Ajudar a regular o pH do sangue.
crianças ➢ Conter receptores para o sentido do olfato, filtrar o ar
inspirado, produzir sons vocais (fonação) e eliminar água e
Morfologia das vias aéreas calor.
FARINGE
↠ A faringe, ou garganta, é um tubo em forma de funil
com aproximadamente 13 cm de comprimento que
começa nos cóanos e se estende para o nível da
cartilagem cricóidea, a cartilagem mais inferior da laringe.
(TORTORA, 14ª ed.)
OBS.: A faringe é a abertura comum dos sistemas digestório e
respiratório (SEELY, 10ª ed.).
paciente tenta engolir. Essas substâncias não são OBS.: A parede posterior é desprovida de cartilagem, contendo uma
removidas facilmente. Quando são levadas aos pulmões, membrana ligamentosa elástica e feixes de fibra muscular lisa chamada
de músculo traqueal. O esôfago encontra-se logo atrás da parede
podem causar um distúrbio inflamatório grave conhecido
posterior da traqueia, onde não há cartilagem (SEELY, 10ª ed.).
como pneumonia por aspiração (PORTH, 10ª ed.).
↠ A estrutura microscópica da parede da traqueia
Como a laringe está abaixo do pescoço e precisa subir bastante
durante a deglutição, às vezes ela não consegue alcançar a cobertura consiste em várias camadas comuns a muitos órgãos
protetora da epiglote antes de o alimento passar pela entrada da tubulares do corpo: mucosa, submucosa e adventícia
faringe. Embora a posição baixa da laringe nos torne mais suscetíveis (MARIEB, 7ª ed.).
aos engasgos, ela é essencial para a fala humana. Sua localização
inferior nos permite um maior movimento da língua na formação dos
sons e uma faringe excepcionalmente longa, que age como uma
câmara de ressonância dos sons das vogais que produzimos. (MARIEB,
7ª ed.)
Árvore Bronquial
Traqueia
Brônquios principais
Brônquios lobares
Brônquios segmentares
↠ A parede da traqueia contém de 16 a 20 anéis de
cartilagem hialina (as cartilagens traqueiais), em forma de
Bronquíolos
C, unidos uns aos outros por membranas intervenientes
de tecido conjuntivo fibroelástico (MARIEB, 7ªed.).
Bronquíolos terminais
↠ Uma crista no interior da última cartilagem traqueal,
chamada carina, marca o ponto onde a traqueia se ↠ O brônquio principal direito é maior em diâmetro e
ramifica nos dois brônquios principais. A mucosa que reveste mais alinhado com a traqueia do que o brônquio principal
a carina é altamente sensível a substâncias irritantes, sendo o local esquerdo. Como resultado, substâncias ingeridas que
onde costuma desencadear-se o reflexo da tosse (MARIEB, 7ª ed.). acidentalmente entram no trato respiratório inferior são
mais suscetíveis a se alojarem no brônquio principal direito ➢ O músculo liso passa a ser importante: uma camada de
(SEELY, 10ª ed.). músculo liso aparece pela primeira vez na parede posterior
da traqueia, o músculo traqueal, e continua nos grandes
↠ À medida que se aproximam e entram nos pulmões, brônquios. Essa camada forma faixas helicoidais que
envolvem os brônquios menores e os bronquíolos, e
os brônquios principais se dividem nos brônquios regulam a quantidade de ar que entra nos alvéolos. A
secundários, ou brônquios lobares (de segunda ordem) – musculatura relaxa para alargar os tubos de ar durante a
três à direita e dois à esquerda -, com cada um deles estimulação simpática, aumentando o fluxo de ar quando
ventilando um lobo pulmonar (MARIEB, 7ª ed.). as necessidades respiratórias são grandes, e constringe
esses tubos sob controle parassimpático quando as
necessidades respiratórias são baixas. Fortes contrações
dos músculos lisos nos brônquios estreitam os tubos de ar
durante as crises de asma. A musculatura lisa é delgada
quando chega à extremidade da árvore de bronquíolos e
está ausente em volta dos alvéolos.
Os tecidos que compõem a parede de cada brônquio principal são os Histologia do sistema respiratório
mesmos observados na traqueia, mas à medida que os tubos de
condução ficam menores ocorrem as seguintes mudanças: (MARIEB, ↠ A maior parte da porção condutora é revestida
7ª ed.) internamente por um epitélio pseudoestratificado colunar
➢ Os tecidos conjuntivos de sustentação mudam: as ciliado com muitas células caliciformes, denominado
cartilagens traqueais são substituídas por peças epitélio respiratório. (JUNQUEIRA, 13ª ed.)
cartilagíneas irregulares à medida que os brônquios
principais entram nos pulmões. No nível dos bronquíolos, a ↠ O epitélio respiratório típico consiste em cinco tipos
cartilagem de sustentação não está mais presente nas suas celulares, identificáveis ao microscópio eletrônico. Como
paredes. Por outro lado, a elastina, que ocorre nas paredes
se trata de um epitélio pseudoestratificado, as células têm
de toda a árvore bronquial, não diminui.
➢ O epitélio: torna-se delgado à medida que muda de alturas diferentes, mas todas se apoiam na lâmina basal
pseudoestratificado para simples prismático (colunar) e do epitélio. (JUNQUEIRA, 13ª ed.)
depois para simples cúbico nos bronquíolos terminais e
respiratórios. Nem os cílios nem as células produtoras de
muco estão presentes nesses bronquíolos, onde terminam
as camadas de muco para a filtragem do ar. As partículas
de poeira que ultrapassem os bronquíolos não ficam
aprisionadas no muco, mas são removidas por macrófagos
nos alvéolos.
Epidemiologia
➢ Cirurgia que envolva a via aérea ou esôfago OBS.: A presença de ácido no esôfago terminal determina aumento da
superior; resistência pulmonar total, observada em pacientes com doenças
pulmonares crônicas como asma grave (NEVES et. al., 2009).
➢ Ausência de jejum adequado no processo de
anestesia geral; CLASSIFICAÇÃO
➢ Anestesia utilizando máscara laríngea;
➢ Outros: Gestantes; obesos; íleo adinâmico. ↠ A aspiração pulmonar pode ser aguda (acidental) ou
crônica (habitual) (NEVES et. al., 2009).
OBS.: Um importante fator protetor que possuímos contra a
regurgitação é a competência do esfíncter esofágico inferior, o qual ↠ A aspiração aguda pode ocorrer desde o período
pode suportar uma pressão intragástrica de até 20 cm de H2O no seu neonatal até a adolescência. A granulação e a composição
estado normal. Na falha deste mecanismo, o vômito pode ocorrer
favorecendo a broncoaspiração (RUBENICH et. al., 2018).
do material aspirado são elementos importantes em
função das reações orgânicas que ocasionam (NEVES et.
Fisiopatologia al., 2009).
↠ As vias aéreas superiores apresentam como ↠ Os casos de aspiração crônica podem ocorrer devido
mecanismo de defesa, o movimento coordenado entre a RGE com aspiração do conteúdo gástrico e alimentos,
respiração e deglutição. A coordenação entre o em função de distúrbios da deglutição com predomínio
fechamento laríngeo, a deglutição e o espasmo da laringe de alimentos, saliva e secreções brônquicas (NEVES et. al.,
ou tosse responde à estimulação da faringe ou laringe 2009).
(NEVES et. al., 2009). Doenças neurológicas – coma e epilepsia – onde são aspirados saliva
e conteúdo gástrico podem ocasionar casos de aspiração crônica
↠ Nas vias inferiores a tosse e o clearence mucociliar (NEVES et. al., 2009).
desempenham este papel de defesa (NEVES et. al., 2009).
↠ A síndrome de aspiração também pode ser
↠ Os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento classificada de acordo com o tipo de material aspirado em:
da doença pulmonar nos processos aspirativos são: a irritativa, infecciosa e obstrutiva (NEVES et. al., 2009).
aspiração direta e o refluxo gastroesofágico (RGE) com
aspiração pulmonar (NEVES et. al., 2009). ➢ Como síndrome irritativa encontramos as
pneumonites químicas por ácido,
ASPIRAÇÃO DIRETA hidrocarbonetos, mecônio e álcool (NEVES et. al.,
↠ Na aspiração direta, durante o ato de deglutição, o 2009).
conteúdo da orofaringe atinge as vias aéreas inferiores, ➢ Na síndrome de aspiração infecciosa ocorre
promovendo obstrução laríngea ou brônquica e aspiração de saliva e secreções contaminadas
sufocação ou atelectasia maciça (NEVES et. al., 2009). (NEVES et. al., 2009).
➢ As síndromes aspirativas obstrutivas são
↠ A resposta inflamatória local é alterada pela aspiração causadas por afogamento e aspiração de corpo
de partículas alimentares, havendo influxo de leucócitos estranho (NEVES et. al., 2009).
polimorfonucleares e formação de granuloma (NEVES et.
al., 2009). ASPIRAÇÃO DE CORPO ESTRANHO
Na primeira infância ela ocupa um dos primeiros lugares na patologia
REFLUXO GASTROESOFÁGICO acidental (NEVES et. al., 2009).
↠ Nas situações de RGE com aspiração pulmonar, ocorre ↠ A criança pequena tem a tendência a colocar os
aspiração do conteúdo gástrico refluído, quanto mais objetos na boca e por vezes acidentalmente, aspira estes
baixo for o pH do material maior serão as alterações objetos, podendo ocorrer desde um episódio do engasgo
estruturais (NEVES et. al., 2009). até uma obstrução aguda e fatal das vias aéreas (NEVES
↠ O aumento da resistência pulmonar total devido à et. al., 2009).
acidificação esofágica por meio de reflexos vagais é outro ↠ Após a aspiração do corpo estranho, ocorre tosse
mecanismo responsável pelo desenvolvimento da doença paroxística e apneia em grau variável, com asfixia, levando
no RGE, nesta situação as manifestações respiratórias á morte, dependendo das características do material
ocorrem sem que haja aspiração pulmonar do conteúdo aspirado tais como: volume, capacidade de lesar os
gástrico (NEVES et. al., 2009). tecidos e tamanhos das partículas (NEVES et. al., 2009).
↠ Se ele fica alojado em laringe ou faringe os sintomas colinérgicos, como o óxido nítrico, um peptidio intestinal
aparecem em tempo variável após o acidente, muitas vasoativo que estariam envolvidos neste relaxamento
vezes demorando a se manifestar causando dissociação (NEVES et. al., 2009).
entre causa e efeito, o chamado “período de silêncio”
OBS.: O refluxo é comum na alergia à proteína do leite de vaca e em
(NEVES et. al., 2009). crianças com paralisita cerebral e retardo mental (NEVES et. al., 2009).
↠ Quando o objetivo ingerido tem calibre superior ao ↠ A presença de sintomas respiratórios se deve a ação
dos brônquios, pode ficar livre na traqueia, havendo o risco irritativa do material do refluxo no ouvido médio, faringe,
do mesmo encravar-se na sub-glote. Nessa situação os seios da face e laringe. A criança pode apresentar, tosse,
sinais de localização não aparecem, ocorrendo tosse, rouquidão e quadros de otite, faringite, sinusite e laringite
estridor, sibilos e retração simulando um quadro de de repetição. O refluxo para a parte alta do trato
laringite (NEVES et. al., 2009). respiratório pode ocasionar, principalmente
↠ Nos casos em que o objeto tem menor calibre a broncopneumonias além da Síndrome de Sandifer, na
tendência é que ele se fixe no brônquio. De acordo com qual criança promove uma inclinação lateral do pescoço
o calibre do corpo estranho, este pode progredir até o para proteger a árvore respiratória do material refluído
brônquio de menor calibre e ai se encravar ou mobilizar- (NEVES et. al., 2009).
se posteriormente (NEVES et. al., 2009). ATENÇÃO: O tratamento nas crianças em aleitamento materno
exclusivo deve se ater ao aleitamento com maior oferta do seio, para
IMPORTANTE: A presença de corpos estranhos no esôfago pode causar
que a criança receba menor quantidade de leite. Nas crianças que não
sintomas respiratórios, pelo fato de que a laringe, traquéia e esôfago
estão em aleitamento materno, deve-se fracionar as mamadas e as
constituem uma unidade embriológica e funcional. Quando o corpo
formulas lácteas devem ser espessadas. As medidas posturais devem
estranho ultrapassa o esfíncter esofágico superior, pode ficar retido
ser utilizadas, como elevação do tronco o maior tempo possível e
por estenose esofágica ou por características do próprio corpo
elevação da cabeceira da cama (NEVES et. al., 2009).
estranho, tais como tamanho e forma (NEVES et. al., 2009).
Quanto ao estado físico dos corpos estranhos, os mais comumente Manifestações Clínicas
aspirados são sólidos, como brinquedos de materiais plásticos e
metálicos, assim como substâncias alimentícias, especialmente vegetais ↠ Alguns episódios de aspiração não acarretam
oleosos como amendoim e não oleosos como feijão e milho. Como alterações perceptíveis durante avaliação clínica, sendo
material liquido são citados leite, material gástrico, mecônio e água esta denominada aspiração silenciosa (CARMO et. al., 2018).
doce ou salgada em casos de afogamento; como material gasoso,
observa-se principalmente a inalação de fumaça (NEVES et. al., 2009). ↠ A percepção dos primeiros sintomas pode passar
desapercebidos, já que cerca de 40% podem estar
REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO (RGE)
assintomáticos (ROCHA et. a., 2019).
↠ O RGE é o retorno involuntário do conteúdo do
↠ A sintomatologia depende do tipo, do tamanho, da
estômago para o esôfago. Pode ser fisiológico e
localização e do grau de obstrução causado pelo corpo
patológico (NEVES et. al., 2009).
estranho (MELO et. al., 2015).
↠ Diversos fatores estão relacionados na fisiologia do
↠ As manifestações clínicas da aspiração de objetos
refluxo, entretanto, o esfíncter esofágico inferior, principal
pelas vias aéreas seguem, geralmente, três estágios de
componente da barreira anti-refluxo, é fundamental para
sintomas: o evento inicial agudo, o intervalo assintomático
o aparecimento do quando, tendo como função impedir
e as complicações (MELO et. al., 2015).
o retorno do conteúdo do estômago para o esôfago,
sendo constituído de musculatura lisa que envolve a ↠ O evento inicial caracteriza-se pela aspiração acidental
porção distal do esôfago (NEVES et. al., 2009). de um corpo estranho e a manifestação clínica clássica é
a presença de tosse intensa, sibilância, vômito, palidez,
↠ O refluxo ocorre quando a pressão no esfíncter está
cianose. Dependendo da idade do paciente, do tipo de
próxima de zero, nesta situação a pressão intra gástrica
corpo estranho e da sua localização nas vias aéreas, pode
supera a do esfíncter. O mecanismo transitório de
ocorrer obstrução total ou parcial das vias aéreas (MELO
relaxamento do esfíncter sem relação com a deglutição
et. al., 2015).
é considerado o principal mecanismo fisiopatológico do
RGE no lactente, o qual parece ocorrer em função da ↠ Após os sintomas iniciais, há um intervalo assintomático
liberação a partir de neurônios entéricos de ou oligossintomático, que varia de poucas horas a dias ou
neurotransmissores, inibidores adrenérgicos e não
lobos inferiores e os segmentos posteriores dos lobos superiores cerca de 75% dos casos, porém uma radiografia normal
(RUBENICH et. al., 2018). não afasta a hipótese de aspiração de CE. (ROCHA et. al.,
PNEUMONIA 2019).
↠ Cerca de 20-30% dos pacientes que apresentarem ↠ A Fibrobroncoscopia (FB) independente de exames
episódio de broncoaspiração irão desenvolver pneumonia radiológicos normais deve ser realizada na suspeita de
(RUBENICH et. al., 2018). aspiração de CE realizada via endoscópica com o
broncoscópio de tubo aberto rígido ou flexível sob
↠A pneumonia de aspiração refere-se às consequências visualização direta para diagnóstico e sendo também
pulmonares resultantes da entrada anormal de líquidos, utilizado como terapêutica na retirada de CE e auxiliando
substâncias exógenas, partículas, ou secreções na redução da mortalidade e do tempo de internação
endógenas para as vias aéreas inferiores e aspiração de hospitalar (ROCHA et. al., 2019).
microorganismos da cavidade oral ou da nasofaringe
(RUBENICH et. al., 2018).
OVASCE NO BEBÊ
↠ Quando suspeitar ou critérios de inclusão: Episódio
testemunhado (ou referido) de engasgo com tosse e/ou
sinais de sufocação em paciente < 1 ano de idade
(PROTOCOLO SAMU, 2016).
Conduta
↠ Avaliar a gravidade:
➢ Obstrução leve: paciente consegue tossir, emitir
alguns sons e respirar;
➢ Obstrução grave: paciente apresenta início
súbito de grave dificuldade respiratória; não
consegue tossir ou emitir qualquer som (choro
ou tosse silenciosos).
Referências
Objetivos Transmissão da TB
1- Debater sobre a etiologia, epidemiologia e ↠ As fontes de transmissão são os seres humanos com
fatores de risco da tuberculose; tuberculose ativa, que liberam micobactérias presentes no
*foco na população carcerária escarro. A tuberculose orofaríngea e intestinal, contraída através da
2- Discutir sobre a fisiopatologia e manifestações ingestão do leite contaminado com M. bovis, é rara em países onde o
clínicas da tuberculose; leite é rotineiramente pasteurizado, porém ela ainda é vista em países
que possuem vacas leiteiras tuberculosas e leite não pasteurizado
3- Explicar o diagnóstico e o tratamento da
(ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
tuberculose.
↠ Tossir, espirrar e falar produzem gotículas respiratórias.
Tuberculose
Essas gotículas evaporam e abrigam os microrganismos
↠ A tuberculose (TB) é uma doença pulmonar crônica (núcleos goticulares), que permanecem suspensos no ar
e sistêmica grave (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). e são transportados pelas correntes de ar. Desse modo,
viver em condições de aglomeração e ambientes
Afeta principalmente o pulmão (formas pulmonares), mas pode confinados aumenta o risco de disseminação da doença
acometer outros órgãos (formas extrapulmonares) (BOLETIM
(PORTH, 10ª ed.).
EPIDEMIOLÓGICO, 2021).
Período de transmissibilidade: durante toda a evolução da doença
↠ É a infecção causada pelo Mycobacterium tuberculosis pulmonar, em indivíduos bacilíferos não tratados, e até 2 semanas após
(bacilo de Koch) e, mais raramente, pelo Mycobacterium o início do tratamento (PORTO & PORTO).
bovis (PORTO & PORTO).
Período de incubação: 4 a 12 semanas após infecção surgem lesão
As micobactérias são bactérias aeróbias, com forma de bastonetes pulmonar primária e adenomegalia hilar/mediastinal (primoinfecção
finos, que não formam esporos. Esses microrganismos são tuberculosa). Na maioria das vezes, a primoinfecção é contida, isto é,
semelhantes às outras bactérias, com exceção de sua cápsula cerosa não se dissemina. Nesse período, torna-se positiva a reação
externa que as torna mais resistentes à destruição; o bacilo da tuberculínica. O bacilo da tuberculose pode disseminar-se por via
tuberculose pode persistir em lesões necróticas e calcificadas antigas hematogênica para qualquer órgão, principalmente cérebro, rins,
e manter sua capacidade de reiniciar a proliferação (PORTH, 10ª ed.). linfonodos e pulmões (PORTO & PORTO).
O revestimento ceroso também possibilita que o microrganismo ↠ A transmissão de M. tuberculosis é influenciada por
retenha um corante vermelho, quando a amostra é tratada com ácido características do caso-fonte, particularmente a carga
por coloração álcool-acidorresistente. Desse modo, as micobactérias
bacilar, pela proximidade do potencial receptor do
são comumente conhecidas como bacilos álcool-acidorresistentes.
Embora M. tuberculosis possa infectar quase todos os órgãos do organismo à fonte e pela condição do ar ambiental que
corpo, os pulmões são afetados mais comumente (PORTH, 10ª ed.). eles compartilham (BROADDUS, 6ª ed.).
Os bacilos da tuberculose são aeróbios estritos, que proliferam em ➢ Caso-fonte: Para uma pessoa com tuberculose ser
ambientes ricos em oxigênio. Isso explica sua tendência de causar infecciosa, os organismos devem ter acesso ao ar ambiental
doença dos lobos superiores ou das partes mais altas do lobo inferior e ser aerossolizados. De modo geral, isso significa que
do pulmão, onde a ventilação e a concentração de oxigênio são mais apenas pacientes com tuberculose pulmonar podem ser
altas (PORTH, 10ª ed.). considerados como infecciosos. Um segundo fator de caso-
fonte a ser considerado na determinação da infecciosidade
As micobactérias são patógenos primariamente intracelulares, são é o número de organismos contidos nos pulmões. Um
aeróbios obrigatórios e, na presença de uma resposta imune normal, terceiro fator importante na determinação da
induzem uma resposta granulomatosa nos tecidos (BROADDUS, 6ª ed.). infecciosidade de um caso-fonte é o uso de quimioterapia
(fármacos antituberculose). Diferentes cepas apresentam
distintas infecciosidades.
➢ Fatores ambientais: estudos de Loudon et al.
demonstraram que, sob condições-padrão de temperatura
e umidade em ambientes internos, 60% a 71% dos
organismos de M. tuberculosis aerossolizados sobreviveram
por 3 horas, 48% a 56%, por 6 horas, e 28% a 32%, por
9 horas. Além da taxa natural de morte, os únicos fatores
que influenciam a infectividade dos organismos em um
núcleo goticular sob circunstâncias comuns são a sua
remoção pela ventilação ou filtração e a morte de
organismos com a exposição à luz ultravioleta.
➢ Circunstâncias de exposição: Se a exposição é de longa
duração e ocorre sob condições que estariam associadas
Tuberculose. Coloração de Ziehl-Neelsen mostra numerosos bacilos
álcool-resistentes.
Júlia Morbeck – @med.morbeck
2
a uma alta concentração de núcleos goticulares no ar ↠ No município de Feira de Santana, o segundo maior
inalado pelo contato, obviamente existe uma grande município do Estado, em 2020 foram notificados 148
probabilidade de transmissão.
➢ Fatores do hospedeiro: Evidências substanciais sugerem
casos novos de tuberculose com incidência de 23,88 por
que a suscetibilidade à aquisição de infecção por M. 100mil/hab e destes, 97 foram tuberculose pulmonar com
tuberculosis é altamente variável. A maioria das descrições confirmação laboratorial e incidência de 15,95 por
obtidas em investigações sobre contato revela que 40% a 100mil/habitantes (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2022).
60% dos contatos íntimos de um caso-índice tornam-se
infectados, como observado pela conversão do teste No Brasil em 2019 foram diagnosticados 73.864 casos novos,
cutâneo da tuberculina (TCT) ou do ensaio de liberação representando um Coeficiente de Incidência de 35 casos novos/por
de interferon (IFN)- γ de negativo para positivo. Embora as 100.000 hab. Na regional Ilhéus, em 2019 foram diagnosticados 184 casos
variações na intensidade da exposição contribuam para a novos, representando um Coeficiente de Incidência de 61,60/ por
probabilidade de infecção, as variações na suscetibilidade do 100.000 hab., ou seja, muito mais alto que o valor nacional (BOLETIM
hospedeiro também podem contribuir. EPIDEMIOLÓGICO, 2021).
De acordo com dados da OMS, a prevalência de TB é maior nos INDIVÍDUOS PRIVADOS DE LIBERDADE
pacientes adultos do sexo masculino. Dentro deste contexto, não se
pode ignorar outros prováveis fatores mais relacionados ao sexo Os surtos de TB nas prisões são, há muito tempo, conhecidos, mas a
masculino, e que também interagem na infecção pelo M. tuberculosis aplicação de diretrizes específicas tem sido incompleta e heterogênea
como o abuso de álcool e tabaco, uso de drogas e exposição em virtude de diversos obstáculos específicos que têm sido levantados.
ocupacional a agressores inalantes. Uma provável explicação para esta O maior risco de infecção dos presos, a falta de condições estruturais,
maior prevalência pode estar relacionada às variações hormonais entre o estilo de vida da prisão, o impacto da estratificação hierárquica não
os sexos. Primeiramente pela preferência da TB ao sexo masculino oficial dos presos, a descontinuação e desarticulação terapêutica entre
ser evidenciada predominantemente nos adultos em idade reprodutiva. as instituições de cuidados médicos foram alguns dos problemas
E após, pela demonstração da interferência do sistema imune em encontrados (SILVA et. al., 2019).
resposta aos hormônios sexuais, sendo o estrogênio conhecidamente
um indutor de produção de interferon gama, ativação macrofágica e Dentre os fatores predisponentes de TB nos prisioneiros, o uso de
drogas ilícitas injetáveis apareceu com maior frequência, apontado por
maior produção de células “natural killer” (LONGHI, 2014).
50% dos autores como um fator de forte significância estatística.
Há ainda a variabilidade nutricional e constitucional entre os sexos. A Destaca-se que, tal fato pode estar associado à progressão da infecção
deficiência de ferro pode ser um fator protetor na TB, uma vez que latente por tuberculose (ILTB) para a forma ativa da doença, a partir
ele é um nutriente primordial para o desenvolvimento da micobactéria. do uso de substâncias injetáveis. Além disto, em pessoas que injetam
A extrusão do ferro do vacúolo microbiano é relacionada como um drogas ocorre o aumento do risco de transmissão do vírus HIV,
mecanismo da resposta imune inata. Uma vez que mulheres em idade decorrente do compartilhamento temporário de seringas na prisão, e
fértil de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento têm maior a infecção, por este vírus é um fator que aumenta o risco de
prevalência de deficiência de ferro em relação ao sexo masculino, este desenvolver TB (SILVA et. al., 2019).
seria um provável fator protetor (LONGHI, 2014).
O tempo de encarceramento também parece repercutir no aumento
CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS da vulnerabilidade à TB entre detentos, visto que alguns estudos
apontaram o encarceramento superior a 6 meses como um fator de
As condições de baixo nível socioeconômico tendem a originar risco. Outros autores, entretanto, relacionaram que a predisposição à
situações habitacionais sobrelotadas, o que, por sua vez, com a doença aumenta quando há um encarceramento superior a 3 anos,
ocorrência de um caso, propicia um aumento na transmissão do bacilo, ainda que não haja uma associação estatística significativa. O tempo de
resultando numa maior prevalência da infecção tuberculosa, com o encarceramento se encontra associado, desta forma, a um incremento
respectivo aumento da incidência da doença. A pobreza pode também considerável do risco de infeção por TB ativa (SILVA et. al., 2019).
reduzir o acesso aos serviços de saúde, prolongando o período de
transmissibilidade e aumentando o risco de infecção entre os seus A ausência de janelas nas celas e a má-ventilação destas também
contatos (LONGHI, 2014). estão relacionados à causalidade da TB em alguns dos estudos
analisados (SILVA et. al., 2019).
Diabetes mellitus
A infecção pelo vírus HIV é um fator que aumenta a vulnerabilidade
A DM mal controlada pode levar a múltiplas complicações, incluindo o do acometimento por TB na população em geral. Em indivíduos
aumento da suscetibilidade à infecção. O diabetes causa um aumento privados de liberdade, esta infecção apareceu como um fator de risco
da suscetibilidade à tuberculose através de vários mecanismos, ainda mais acentuado. No indivíduo infectado pelo HIV e pelo M.
incluindo hiperglicemia e insulinopenia celular, que têm efeitos indiretos tuberculosis ocorre a aceleração do declínio das funções imunológicas,
sobre a função de macrófagos e linfócitos. No entanto, a tuberculose devido aos patógenos potencializarem-se mutuamente. Ademais, a
pode prejudicar temporariamente a tolerância à glicose, que é um coinfecção pelo HIV é o fator de risco mais conhecido para a
fator de risco para o desenvolvimento de DM. A hiperglicemia progressão da infecção pelo M. tuberculosis para a forma ativa da TB
transitória pode ocorrer devido à inflamação induzida durante a (SILVA et. al., 2019).
tuberculose (SILVA et. al., 2018).
Superlotação, pobreza, desnutrição e condição precária dos serviços
Tabagismo de saúde nos presídios também constituem fatores relacionados ao
aparecimento de TB em presidiários (SILVA et. al., 2019).
O papel que a fumaça do cigarro desempenha na patogênese da
tuberculose está relacionado à disfunção ciliar, a uma resposta imune
reduzida e a defeitos na resposta imune de macrófagos, com ou sem
ácido, oxidante e letal. Segundo, o IFN-γ estimula e progressão da doença (ROBBINS & COTRAN,
a expressão da óxido nítrico sintetase induzível, 9ª ed.).
que produz óxido nítrico (NO). O NO se combina
Suscetibilidade do hospedeiro à doença. Pessoas com deficiências
com outros oxidantes para criar intermediários genéticas na via do IL-12 e na via do IFN-γ, incluindo o STAT1, um
reativos do nitrogênio, que parecem ser transdutor de sinal para o IFN-γ, são vulneráveis às infecções
particularmente importantes para matar as micobacterianas graves. Os polimorfismos em um grande número de
micobactérias. Terceiro, o IFN-γ mobiliza os genes, incluindo o HLA, o IFN-γ, o receptor IFN-γ e o TLR2, foram
identificados como associados com a suscetibilidade à tuberculose,
peptídios antimicrobianos (defensinas) contra as porém a contribuição dessas associações para o desenvolvimento da
bactérias. Finalmente, o IFN-γ estimula a doença ainda está sob investigação (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
autofagia, um processo que sequestra e então
destrói as organelas danificadas e as bactérias OBS.: Nos indivíduos com imunidade celular normal, a resposta imune
celular resulta na formação de uma lesão granulomatosa branco-
intracelulares, como o M. tuberculosis (ROBBINS acinzentada bem demarcada conhecida como foco de Ghon, que
& COTRAN, 9ª ed.). contém os bacilos da tuberculose, macrófagos modificados e outras
células imunes. Em geral, essa lesão está localizada na área subpleural
Por sua vez, os linfócitos T sensibilizados estimulam os macrófagos a dos segmentos superiores dos lobos inferiores ou nos segmentos
aumentar sua concentração de enzimas líticas e sua capacidade de inferiores do lobo superior (PORTH, 10ª ed.).
destruir as micobactérias. Quando são liberadas, essas enzimas líticas
também destroem os tecidos do pulmão (PORTH, 10ª ed.). RESUMO: A imunidade ao M. tuberculosis é primariamente mediada
pelas células TH1, as quais estimulam os macrófagos a matar as
➢ Inflamação granulomatosa e dano tecidual. Além bactérias. Essa resposta imune, embora largamente eficaz, ocorre à
de estimular os macrófagos a matar a custa da destruição tecidual. A reativação da infecção ou reexposição
micobactéria, a resposta TH1 orquestra a aos bacilos em um hospedeiro previamente sensibilizado resulta em
formação do granulomas e a necrose caseosa. uma rápida mobilização de uma reação defensiva, mas também no
aumento da necrose tecidual. Já que a imunidade e a resistência das
Os macrófagos ativados pelo IFN-γ se células T estão correlacionadas, assim, então, a perda de imunidade
diferenciam em “histiócitos epitelioides” que se das células T (indicada pela negatividade à tuberculina em um indivíduo
agregam para formar granulomas; algumas previamente positivo para a tuberculina) pode ser um sinal ameaçador
células epitelioides se fundem para formar de que a resistência ao organismo enfraqueceu (ROBBINS & COTRAN,
9ª ed.).
células gigantes. Em muitas pessoas essa
resposta para a infecção acontece antes que
uma destruição tecidual significativa ou doença
ocorram. Em outras pessoas, a infecção
progride devido à idade avançada ou à
imunossupressão, e a contínua resposta imune
resulta na necrose caseosa. Os macrófagos
ativados também secretam TNF e quimiocinas,
que promovem o recrutamento de mais Consequências da exposição a um caso-fonte infeccioso de tuberculose dependendo do estado
imunológico. A exposição a um paciente com tuberculose infecciosa causa infecção em
monócitos. A importância do TNF é ressaltada pelo fato aproximadamente 30% dos indivíduos expostos. Dos infectados, 3% a 10% desenvolvem tuberculose
dentro de 1 ano após a infecção. Depois de 1 ano, um adicional de 3% a 5% desenvolve tuberculose
de que pacientes com artrite reumatoide, que são tratados durante o resto de suas vidas.
com antagonistas do TNF, têm um risco aumentado de
reativação da tuberculose (ROBBINS & COTRAN, 9ª Manifestações Clínicas da TB
ed.).
➢ Papel das outras células imunes. Além da ↠ A tuberculose clínica é separada em dois tipos
resposta TH1, as células NKT que reconhecem fisiopatológicos importantes: a tuberculose “primária”, que
os antígenos lipídicos micobacterianos ligados ao ocorre em hospedeiro não imune, e a tuberculose
CD1 nas células apresentadoras de antígenos, ou “secundária”, que ocorre no hospedeiro que é imune ao
células T que expressam um receptor γδ de M. tuberculosis (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
células T, também produzem IFN-γ. Entretanto, TUBERCULOSE PRIMÁRIA
está claro que as células TH1 possuem um papel
central nesse processo, já que defeitos em ↠ A tuberculose primária é a forma da doença que se
qualquer um dos passos na geração de uma desenvolve em uma pessoa previamente não exposta e,
resposta TH1 resultam na ausência de resistência portanto, não sensibilizada. Doença clinicamente
TUBERCULOSE SECUNDÁRIA
↠ A tuberculose secundária é o padrão da doença que
surge em um hospedeiro previamente sensibilizado. Ela
pode seguir logo após a tuberculose primária, porém mais
comumente aparece muitos anos após a infecção inicial,
usualmente quando a resistência do hospedeiro está
enfraquecida. Ela mais comumente deriva da reativação
de uma infecção latente, mas também pode resultar de
uma reinfecção exógena, no caso de uma redução da
imunidade do hospedeiro, ou quando um grande inóculo
Tuberculose pulmonar primária, complexo de Ghon. O foco
de bacilos virulentos sobrecarrega o sistema imune do
branco-acinzentado do parênquima está sob a pleura na parte
inferior do lobo superior. hospedeiro. A reativação é mais comum em áreas de
baixa prevalência, enquanto a reinfecção desempenha um
importante papel em regiões de alto contágio (ROBBINS
↠ Os indivíduos infectados pelo HIV e outros pacientes & COTRAN, 9ª ed.).
com distúrbios da imunidade celular estão mais sujeitos a
desenvolver tuberculose progressiva quando são ↠ A tuberculose pulmonar secundária classicamente
infectados. Nos pacientes com doença progressiva, os envolve o ápice dos lobos superiores de um ou ambos
sintomas em alguns casos geralmente são insidiosos e os pulmões. Devido à preexistência de hipersensibilidade,
inespecíficos, inclusive febre, emagrecimento, fadiga e os bacilos elicitam uma imediata e marcante resposta
sudorese noturna. Em alguns casos, os sintomas têm início tecidual, que tende a isolar o foco de infecção. Como
súbito com febre alta, pleurite e linfadenite. À medida que resultado, os linfonodos regionais são menos
a doença avança, os microrganismos têm acesso ao proeminentemente envolvidos na fase inicial da doença
escarro e isto contribui para que o paciente infecte outras secundária, do que o são na tuberculose primária
pessoas (PORTH, 10ª ed.). (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
OBS.: Em casos raros, a tuberculose pode causar erosão de um vaso ↠ Por outro lado, cavitação ocorre prontamente na
sanguíneo, resultando em disseminação hematogênica. O termo forma secundária. De fato, a cavitação é quase inevitável
tuberculose miliar descreve lesões diminutas semelhantes a sementes
nas tuberculoses secundárias negligenciadas, e a erosão
de painço (milho-miúdo), que resultam desse tipo de disseminação e
podem afetar quase todos os órgãos, principalmente encéfalo, das cavidades para dentro de uma via aérea é uma
meninges, fígado, rins e medula óssea (PORTH, 10ª ed.). importante fonte de infecção porque a pessoa agora
tosse escarro que contém bactérias (ROBBINS &
COTRAN, 9ª ed.).
Tuberculose extrapulmonar
LINFADENITE
↠ A linfadenite é a apresentação mais frequente de
tuberculose extrapulmonar, usualmente ocorrendo na
região cervical (“escrófula”). Em indivíduos negativos para
o HIV, a linfadenite tende a ser unifocal e localizada. Por
outro lado, pessoas positivas para o HIV quase sempre
têm doença multifocal, sintomas sistêmicos, e tanto
envolvimento pulmonar, como de outro órgão pela nesses pacientes podem trilhar ao longo dos planos
tuberculose ativa (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). teciduais e se apresentar como uma massa abdominal ou
pélvica (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
TUBERCULOSE INTESTINAL
Diagnóstico da TB
↠ Como mencionado, a tuberculose intestinal contraída
através da ingestão de leite contaminado é comum em ↠ O diagnóstico da doença pulmonar é baseado em
países onde a tuberculose bovina está presente e o leite parte na história e nos achados físicos e radiográficos de
não é pasteurizado. Em países onde o leite é consolidação ou cavitação nos ápices dos pulmões.
pasteurizado, a tuberculose intestinal é mais Basicamente, entretanto, os bacilos da tuberculose devem
frequentemente causada pela ingestão de material ser identificados (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
tossido infectado em pacientes com doença pulmonar
avançada. Tipicamente, os organismos colonizam os ANAMNESE
agregados linfoides da mucosa dos intestinos delgado e ↠ A suspeita clínica é indicada principalmente pela
grosso, os quais, então, desenvolvem inflamação presença de sintomas e pelo conhecimento de
granulomatosa, que pode levar à ulceração da mucosa comorbidades e condições epidemiológicas que
suprajacente, particularmente no íleo. A cura cria aumentam o risco de tuberculose em um determinado
estenoses (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). paciente (BROADDUS, 6ª ed.).
TUBERCULOSE MILIAR SISTÊMICA ↠ O sintoma mais relatado na tuberculose pulmonar é a
↠ A tuberculose miliar sistêmica ocorre quando as tosse persistente que, em geral, embora nem sempre, é
bactérias se disseminam através do sistema arterial produtora de muco e pode conter sangue (BROADDUS,
sistêmico. A tuberculose miliar é mais proeminente no 6ª ed.).
fígado, medula óssea, baço, suprarrenais, meninges, rins, ↠ Os aspectos sistêmicos da tuberculose incluem febre
tubas uterinas e epidídimos, mas pode envolver qualquer em aproximadamente 35% a 80%, mal-estar e perda de
órgão (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). peso; pode ser uma variedade de anormalidades
hematológicas, principalmente leucocitose e anemia
(BROADDUS, 6ª ed.).
EXAME FÍSICO
↠ Na maioria dos casos, os achados físicos não são
particularmente úteis. As crepitações podem ser ouvidas
na área do envolvimento, juntamente com os sons da
respiração brônquica, quando a consolidação pulmonar é
próxima da parede torácica (BROADDUS, 6ª ed.).
em meios sólidos e/ou líquidos é considerada o padrão OBS.: O teste da tuberculina positivo significa imunidade mediada por
ouro para o diagnóstico de tuberculose pela OMS. É células T aos antígenos micobacterianos, porém não faz distinção
entre a infecção e a doença ativa. Reações falso-negativas podem
indicada também na suspeita de tuberculose
ocorrer em certas situações como infecções virais, sarcoidose,
extrapulmonar (SILVA et. al., 2021). desnutrição, linfoma de Hodgkin, imunossupressão e (notavelmente)
doença tuberculosa ativa incontrolável. Reações falso-positivas podem
INFECÇÃO LATENTE POR TB resultar da infecção por micobactérias atípicas ou vacinação prévia
com BCG (Bacilo Calmette-Guerin), uma cepa atenuada de M. bovis
O estado do indivíduo infectado pelo M. tuberculosis no período entre
que é utilizada como vacina em alguns países (ROBBINS & COTRAN,
o primeiro contato com o bacilo e o desenvolvimento da tuberculose
9ª ed.).
ativa denomina-se infecção latente por tuberculose (ILTB), ou seja, o
indivíduo se encontra infectado pelo bacilo da tuberculose, mas sem Tratamento da TB
manifestação da doença ativa (SILVA et. al., 2021).
↠ Até o momento, não existe um exame considerado ↠ O controle dos fatores associados, a detecção
padrão ouro para o diagnóstico da ILTB, o qual se baseia precoce dos pacientes bacilíferos e a rápida instituição da
não somente no resultado de um teste diagnóstico, mas terapêutica são fundamentais para o controle da TB
também na exclusão da forma ativa da doença. Os dois (LONGHI, 2014).
métodos atualmente validados e recomendados na ↠ Os objetivos do tratamento são erradicar todos os
prática clínica são a prova tuberculínica e interferon bacilos da tuberculose do paciente infectado, ao mesmo
gamma release assay (IGRA, ensaio de liberação de IFN-.). tempo que se evita o desenvolvimento de resistência
Ambos são métodos imperfeitos e indiretos, ou seja, significativa aos fármacos. O tratamento da tuberculose
avaliam a resposta do indivíduo à exposição a antígenos em atividade requer o uso de vários fármacos.
micobacterianos e não a identificação desse antígeno de Tuberculose é uma doença singular, para a qual é
forma latente no organismo ((SILVA et. al., 2021). necessário quimioterapia por um período relativamente
longo (PORTH, 10ª ed.).
Inquérito Nacional de Resistência aos Medicamentos germes persistentes e a prevenção de recidivas (ROCHA
Antituberculose (SALOMÃO, 2017). et. al., 2014).
Esse conhecimento tem importância frente ao aparecimento de ↠ Bacilos resistentes, além de exigirem medicamentos
efeitos colaterais ou em determinadas situações, como no caso de diferentes dos anteriormente utilizados, podem ser
hepatopatas ou nefropatas. Acresce ainda que estudos de transmitidos para outros indivíduos que, mesmo sem
farmacocinética da rifampicina revelaram que sua absorção diminui
substantivamente com a ingestão concomitante de alimentos e se qualquer tratamento prévio, já apresentarão cepas
altera com o uso de antiácidos, levando à menor concentração sérica. resistentes, ou seja, com resistência primária (ROCHA et.
Por essa razão a recomendação universal é que ela seja tomada al., 2014).
sempre em jejum, em qualquer regime ou esquema de tratamento
(ROCHA et. al., 2014).
➢ Indivíduos com resultado positiva na intradermorreação KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul; ASTER, Jon. Robbins &
com tuberculina que tiveram contato direto com casos de Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças, 9ª
tuberculose em atividade.
edição. Grupo GEN, 2016.
➢ Indivíduos que tiveram conversão (negativo para positivo)
do resultado da intradermorreação com tuberculina nos NORRIS, Tommie L. Porth – Fisiopatologia, 10ª edição.
últimos 2 anos.
➢ Indivíduos com história pregressa de TB não tratada ou
Grupo GEN, 2021.
tratada inadequadamente.
➢ Indivíduos com radiografias de tórax mostrando sinais de
BROADDUS, V. Courtney. Murray & Nadel Tratado de
TB, mas que não têm indícios bacteriológicos de doença Medicina Respiratória, 6ª edição. Grupo GEN, 2017.
em atividade.
➢ Indivíduos com fatores de risco especiais, inclusive silicose, SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA. Núcleo
diabetes melito, tratamento prolongado com corticoide, de Saúde Sul – Ilhéus. Boletim Epidemiológico de
tratamento imunossupressor, doença renal terminal, Tuberculose, v. 1, ed. 1, 2021.
desnutrição crônica de qualquer causa ou neoplasias
malignas hematológicas ou reticuloendoteliais. SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA.
➢ Indivíduos com teste positivo para HIV ou AIDS. Boletim Epidemiológico de Tuberculose, ed. 1, 2022.
➢ Indivíduos de 35 anos ou mais com reação positiva de
tempo indeterminado (estas pessoas são consideradas OLIVEIRA et. al. Incidência da tuberculose na Bahia: o
portadoras de quantidades reduzidas de microrganismos e,
retrato de uma década. Revista integrativa em inovação
em geral, são tratadas com isoniazida [INH]).
tecnológica nas ciências da saúde, 2020.
Prevenção da TB
SILVA et. al. Fatores de risco para tuberculose: diabetes,
↠ A vacina BCG reduz o risco das manifestações graves tabagismo, álcool e uso de outras drogas. Sociedade
da primoinfecção, como as disseminações hematogênicas Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2018.
e a meningoencefalite, mas não evita a infecção por M. SILVA et. al. Fatores predisponentes de tuberculose em
tuberculosis. Ela confere imunidade por 10 a 15 anos, mas indivíduos privados de liberdade: revisão integrativa.
não protege os indivíduos já infectados. Por isso, nos Archives of Health Sciences, 2019.
países com elevada prevalência de infecção como o
nosso, a vacina deve ser aplicada o mais cedo possível; LONGHI, R. M. P. Fatores de risco associados ao
idealmente, após o nascimento. Sua aplicação está desenvolvimento de tuberculose na população urbana do
indicada o mais precocemente possível, nas crianças HIV município de Dourados – MS. Dissertação de Mestrado,
positivas assintomáticas e em filhos de mães HIV positivas, 2014.
sendo contraindicada nos indivíduos HIV positivos (ROCHA
CAPONE et. al. Tuberculose Extrapulmonar. Revista do
et. al., 2014).
Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ, 2006.
↠ No Brasil, a vacina BCG é prioritariamente indicada para
SILVA et. al. Consenso sobre o diagnóstico da tuberculose
as crianças de 0 a 4 anos de idade, sendo obrigatória para
da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Jornal
menores de 1 ano (ROCHA et. al., 2014).
Brasileiro de Pneumologia, 2021.
↠ A aplicação da vacina é intradérmica, no braço direito,
SALOMÃO, Reinaldo. Infectologia - Bases Clínicas e
na altura da inserção inferior do músculo deltoide, em
Tratamento. Grupo GEN, 2017.
caso de primovacinação. Essa localização permite a fácil
verificação da existência de cicatriz, para efeito de ROCHA et. al. Organização e acompanhamento do
avaliação do programa, e limita as reações ganglionares à tratamento. In: PROCÓPIO, M.J., org. Controle da
região axilar (ROCHA et. al., 2014). tuberculose: uma proposta de integração ensino-serviço,
7ª edição. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2014, pp. 132-
294.
↠ Mundialmente a asma afeta 300 milhões de pessoas O fator de risco mais importante para asma são os antecedentes
com estimativas de aumento em 2025 para mais de 100 familiares de atopia. Eles aumentam cinco vezes o risco de desenvolver
rinite alérgica e três a quatro vezes o risco de asma. Em pacientes
milhões. Em média 5% a 10% da população mundial tem com 3 a 14 anos de idade, testes cutâneos positivos e aumentos da
asma, entretanto, 1/3 tem idade menor do que 18 anos IgE total no sangue se associam fortemente à asma. A IgE no sangue
(ASSIS et. al., 2019). também se correlaciona fortemente com a hiper-responsividade
brônquica. Nos adultos, as chances de ter asma aumentam com o
↠ No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de número de testes cutâneos positivos para os alérgenos comuns.
Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a asma está presente
Como grande parte da asma alérgica se associa à sensibilidade aos
em torno de 20 milhões de brasileiros, é responsável por alérgenos de hipersensibilidade do ambiente interno e como os estilos
aproximadamente 350.000 internações anualmente e é a ocidentais de habitação favorecem maior exposição a alérgenos dos
terceira causa de hospitalização no Sistema Único de interiores, a atenção inicial se concentrou no aumento da exposição a
Saúde (SUS). Felizmente, devido a um maior esses alérgenos nos primeiros anos de vida como causa primária da
elevação da asma. Os alérgenos específicos de interesse incluem
entendimento dessa condição respiratória, o número de ácaros da poeira doméstica, pelos de cães e gatos e alérgeno de
internações por asma no Brasil caiu 49% na última década baratas, especialmente nos bairros pobres das cidades. Essas e outras
(RODRIGUES et. al., 2021). observações sustentam fortemente a conclusão de que os controles
de alérgenos devam ser valiosos no tratamento ou na prevenção da
↠ Metade de todos os casos de asma começa a surgir asma (BROADDUS, 6ª ed.).
com sintomas antes dos cinco anos de idade e, após os
SEXO
40 anos, esse percentual cai para 25%. Qualquer que seja
a gravidade da asma ela causa comprometimento nos O sexo masculino é outro fator de risco, visto que é mais prevalente
aspectos físico, psicológico e social, além de restrições na em meninos por diferenças existentes entre tamanho de vias aéreas
e tônus muscular (RODRIGUES et. al., 2021).
↠ A asma pode ser classificada em atópica (evidência de Vários agentes farmacológicos provocam asma. A asma sensível à
aspirina é um tipo incomum, ocorrendo em indivíduos com rinite
sensibilização a alérgenos e ativação imune, geralmente
recorrente e pólipos nasais. Esses indivíduos são intensamente
em pacientes com rinite alérgica ou eczema) ou não sensíveis a pequenas doses de aspirina, assim como a outros anti-
atópica (sem evidência de sensibilização a alérgenos). Em inflamatórios não esteroides, e apresentam não apenas crises
qualquer uma delas, os episódios de broncospasmo asmáticas, mas também urticária. A aspirina (e outros agentes anti-
podem ter diversos desencadeadores, como infecções inflamatórios não esteroides) desencadeia a asma nesses pacientes,
inibindo a via da ciclo-oxigenase do metabolismo do ácido araquidônico,
respiratórias (especialmente infecções virais), exposição a levando a uma rápida queda na prostaglandina E2. Normalmente, a
irritantes (p. ex., fumaça, vapores), ar frio, estresse e prostaglandina E2 inibe as enzimas que geram os mediadores pró-
exercício (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). inflamatórios como leucotrienos B4, C4, D4 e E4, que acredita-se
terem um papel central na asma induzida por aspirina (ROBBINS &
OBS.: Há algumas evidências de que subclassificar a asma conforme COTRAN, 9ª ed.).
seu quadro clínico e a causa biológica de base seja clinicamente útil.
Um exemplo é o início precoce da asma alérgica associada com a Asma Ocupacional
inflamação do linfócito T auxiliar TH2, uma característica observada
Essa forma de asma pode ser desencadeada por vapores (resinas
em aproximadamente metade dos pacientes. Essa forma de asma
epóxi, plásticos), poeiras orgânicas e químicas (madeira, algodão,
responde bem a corticosteroides. Contudo, não há consenso atual
platina), gases (tolueno) e outros compostos químicos (formaldeído,
quanto aos critérios diagnósticos e definições (ROBBINS & COTRAN,
produtos de penicilina). São necessárias apenas quantidades mínimas
9ª ed.).
desses compostos químicos para induzir a crise, que geralmente
↠ A asma também pode ser classificada de acordo com ocorre após exposição repetida. Os mecanismos subjacentes variam
conforme o estímulo e incluem reações de tipo I, liberação direta de
os agentes ou eventos que desencadeiam a substâncias broncoconstritoras e respostas de hipersensibilidade de
broncoconstrição. Essas incluem asma sazonal, a induzida origem desconhecida (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
por exercício, a induzida por fármacos (p. ex., aspirina) e
a ocupacional, e a bronquite asmática em fumantes Fisiopatologia
(ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). A asma atópica é causada pela resposta de células TH2 e IgE aos
alérgenos ambientais em indivíduos geneticamente pré-dispostos. A
ASMA ATÓPICA
inflamação das vias aéreas é central na fisiopatologia da doença e causa
Esse é o tipo de asma mais comum, e é um exemplo clássico de disfunção das vias aéreas, parte pela liberação de mediadores
reação hipersensibilidade mediada por lgE (tipo I). A doença geralmente inflamatórios potentes, parte pela remodelagem das paredes das vias
começa da infância e é desencadeada por alérgenos ambientais, como aéreas (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
À medida que a doença se agrava, há secreção local aumentada de ↠ As células TH2 secretam citocinas que promovem
fatores de crescimento, induzindo hipertrofia de glândulas mucosas, uma inflamação e estimulam a produção de IgE e outros
proliferação de músculo liso, angiogênese, fibrose e proliferação de
feixes nervosos. Combinações variáveis desses processos ajudam a
anticorpos pelas células B. Essas citocinas incluem a IL-4,
explicar os diferentes subtipos de asma, sua resposta ao tratamento e que estimula a produção de IgE; IL-5, que ativa eosinófilos
a sua história natural na vida da pessoa (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). recrutados localmente; e IL-13, que estimula a secreção
OBS.: Existem dois subconjuntos de linfócitos T auxiliares (T1H e T2H) que se
de muco pelas glândulas submucosas brônquicas e
desenvolvem a partir do mesmo precursor, linfócito T CD4+. Os linfócitos T1H também promove a produção de IgE por células B
sofrem diferenciação em resposta a micróbios e estimulam a diferenciação dos (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
linfócitos B em plasmócitos produtores das imunoglobulinas M (IgM) e IgG. Os
linfócitos T2H, por outro lado, respondem ao estímulo provocado por
↠ Essas células T e células epiteliais secretam quimiocinas
alergênios e helmintos (parasitas intestinais), estimulando a diferenciação dos
linfócitos B em plasmócitos produtores de IgE, produzem fatores de que recrutam mais células T e eosinófilos, exacerbando a
crescimento para mastócitos, além de recrutar e ativar eosinófilos. Em pessoas reação. Como em outras reações alérgicas, a IgE se liga
com asma alérgica, a diferenciação dos linfócitos T parece estar voltada para
uma resposta pró-inflamatória T2H (PORTH, 10ª ed.).
aos receptores Fc nos mastócitos submucosos, e a
exposição repetida ao alérgeno faz com que os
RESPOSTAS DO TH2, IGE E INFLAMAÇÃO mastócitos liberem o conteúdo dos grânulos e produzam
citocinas e outros mediadores, que coletivamente
induzem a reação de fase inicial (hipersensibilidade
imediata) e a reação de fase tardia (ROBBINS & COTRAN,
9ª ed.).
➢ o fator ativador de plaquetas, que causa a agregação ➢ Embora a obstrução aguda do fluxo aéreo seja atribuída
plaquetária e a liberação de serotonina de seus grânulos. principalmente a broncoconstrição muscular, edema agudo
e obstrução por muco, a remodelagem das vias aéreas,
Finalmente, um grande terceiro grupo compreende os “suspeitos” por sua vez, também pode contribuir para a obstrução
para os quais antagonistas ou inibidores específicos não estão crônica e irreversível das vias aéreas.
disponíveis ou ainda não foram suficientemente estudados. Muitas
terapias-alvo promissoras na asma que têm como foco as vias de Manifestações Clínicas
transdução do sinal IL-13/IL-4 estão em desenvolvimento, incluindo
anticorpos monoclonais anti-IL-13 e antagonistas de receptores IL-4. Uma crise aguda de asma clássica pode durar até várias horas.
Outros alvos incluem IL-1, TNF, IL-6, quimiocinas (p. ex., eotaxina, Contudo, em alguns pacientes, os sintomas cardinais de opressão
também conhecida como CCL11), neuropeptídios, óxido nítrico, torácica, dispneia, sibilos e tosse (com ou sem produção de escarro)
bradicinina e endotelinas (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). estão presentes constantemente em menor intensidade. Na sua forma
mais severa, o estado de mal asmático, o paroxismo persiste por dias
Portanto, está claro que múltiplos mediadores contribuem para a
ou mesmo semanas, causando por vezes uma obstrução do fluxo
resposta asmática aguda. Além disso, a composição dessa “sopa de
aéreo que é tão extrema que pode levar à cianose intensa ou até
mediadores” pode variar entre indivíduos ou entre diferentes tipos de
mesmo à morte (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
asma. O reconhecimento da importância das células inflamatórias e
seus mediadores na asma levou a uma maior ênfase sobre os ↠ As crises de asma podem ocorrer de forma
medicamentos anti-inflamatórios, tais como os corticosteroides, no seu
tratamento (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
espontânea ou em resposta a vários gatilhos, infecções
respiratórias, estresse emocional ou mudanças climáticas
MORFOLOGIA (PORTH, 10ª ed.).
Acredita-se que tanto fatores emocionais quanto alterações nos níveis
hormonais possam contribuir para a exacerbação dos sintomas de
asma. Os fatores emocionais produzem broncospasmo por meio de
vias vagais. Podem agir como um gatilho broncospástico ou podem
aumentar a capacidade de resposta das vias respiratórias para outros
gatilhos por meio de mecanismos não inflamatórios. O papel dos
hormônios sexuais na asma é desconhecido, apesar das numerosas
evidências circunstanciais sugestivas de sua importância. De fato, as
pesquisas mostram que meninas com menarca precoce (< 11,5 anos)
têm duas vezes mais chance de desenvolver asma na faixa etária dos
20 anos do que meninas que têm a menarca na idade média de
apresentação. Até 40% das mulheres com asma relatam um aumento
nos sintomas durante o período pré-menstrual. Os hormônios sexuais
femininos têm um papel regulador na função β2-adrenérgica, e foi
apontado que a regulação anormal pode ser um mecanismo possível
Brônquio de um paciente asmático exibindo hiperplasia das células calciformes (cabeça da seta para a manifestação de asma no período pré-menstrual
verde), fibrose da membrana sub-basal (cabeça da seta preta), inflamação eosinofílica (cabeça da
seta amarela) e hipertrofia muscular (cabeça da seta azul). (PORTH, 10ª ed.).
Em pacientes que morrem por asma severa aguda (estado de mal ↠ Frequentemente, os sintomas de asma pioram
asmático), os pulmões estão distendidos por hiperinsuflação, com
pequenas áreas de atelectasia. O achado macroscópico mais notável é
durante a noite, o que confere à condição a denominação
a oclusão de brônquios e bronquíolos por tampões mucosos espessos de asma noturna. Estudos sobre a asma noturna indicam
e pegajosos, que geralmente contêm epitélio descamado. Um achado que há variações relacionadas com o ciclo circadiano e o
característico no escarro ou no lavado broncoalveolar são as espirais sono na função hormonal e respiratória. A maior
de Curschmann, que podem resultar da extrusão de tampões
diminuição da função respiratória ocorre
mucosos dos ductos de glândulas mucosas subepiteliais ou bronquíolos.
Também estão presentes muitos eosinófilos e cristais de Charcot- aproximadamente às 4 h, período em que os níveis de
Leyden, compostos por uma proteína eosinofílica chamada galectina- cortisol estão baixos, os níveis de melatonina estão altos
10. Outros achados histológicos característicos da asma, chamados e a atividade dos eosinófilos é maior (PORTH, 10ª ed.).
coletivamente de “remodelagem das vias aéreas” incluem: (ROBBINS
& COTRAN, 9ª ed.). ↠ A doença se manifesta por episódios recorrentes de
➢ Espessamento das paredes das vias aéreas;
sibilância, falta de ar, opressão torácica e tosse,
➢ Fibrose abaixo da membrana basal (devido à deposição de particularmente à noite ou no início da manhã (ROBBINS
colágeno tipos I e III); & COTRAN, 9ª ed.).
➢ Aumento da vascularização;
➢ Aumento do tamanho das glândulas submucosas e no ↠ O paciente portador de asma leve, geralmente se
número de células calciformes das vias aéreas; apresenta com dispneia restrita a atividade física,
➢ Hipertrofia e/ou hiperplasia do músculo da parede
taquipneia leve, estado mental na maior parte das vezes
brônquica.;
normal, saturação maior que 95% e presença de sibilos ↠ Anamnese detalhada (história pessoal e/ou familiar de
expiratórios moderados. Já o paciente asmático asma ou atopia) incluindo triagem de sintomas
moderado, comumente apresenta-se com dispneia ao respiratórios como tosse, sibilância, dispneia e aperto no
falar, ortopneia, taquipneia e taquicardia moderada, pode peito bem como seus gatilhos. O histórico familiar é
usar musculatura acessória, sibilos difusos, estado mental imprescindível visto que a atopia é a principal forma de
agitado e saturação 91% -95% (RODRIGUES et. al., 2021). asma e está presente em 80% dos pacientes. Após
realização da história clínica detalhada, é fundamental um
↠ O paciente grave geralmente se apresenta com
exame físico completo e direcionado para a queixa, o qual
dispneia em repouso, incapacidade de deitar, frequência
inclui obter uma espirometria pré e pós-resposta de
respiratória maior que 30 ipm, usa musculatura acessória,
broncodilatador (RODRIGUES et. al., 2021).
presença de sibilos difusos tanto expiratórios como
inspiratórios, frequência cardíaca maior que 120 bpm, ↠ A espirometria fornece um meio para medir CVF,
estado mental agitado e saturação menor que 91%. São VEF1, PFE, volume corrente, capacidade de reserva
crises que na maioria das vezes levam o paciente à expiratória e capacidade de reserva inspiratória. Pode
emergência e há necessidade de internação para então ser calculada a razão VEF1/CVF. O grau de
controle (RODRIGUES et. al., 2021). capacidade de resposta das vias respiratórias pode ser
medido por testes de desafio de inalação com o uso de
Durante uma crise de asma, as vias respiratórias ficam estreitas como
resultado de broncospasmo, edema da mucosa brônquica e tampão metacolina (um agonista colinérgico), histamina ou pela
de muco. A expiração se torna prolongada devido à obstrução exposição a um agente não farmacológico, como o ar
progressiva das vias respiratórias. A quantidade de ar que pode ser frio (PORTH, 10ª ed.).
forçado durante a expiração em 1 s (volume expiratório forçado em
um segundo [VEF1]) e o pico de fluxo expiratório (PFE), medido em
litros por segundo, diminuem. A queda do PFE para níveis abaixo de
50% do valor previsto durante uma crise aguda de asma indica uma
exacerbação grave e a necessidade de tratamento hospitalar de
emergência (PORTH, 10ª ed.).
Durante uma crise prolongada, o ar fica aprisionado por trás das vias
respiratórias ocluídas e estreitadas, provocando a hiperinflação dos
pulmões. Isso produz um aumento do volume residual (VR), além de
uma diminuição da capacidade de reserva inspiratória (volume corrente
+ volume de reserva inspiratório [VRI]) e da capacidade vital forçada
(CVF), de tal modo que a pessoa respira próximo de sua capacidade
funcional residual (volume residual + volume de reserva expiratório).
Como resultado, é necessária mais energia para superar a tensão já
existente nos pulmões e é exigida a ação dos músculos acessórios (p.
ex., músculos esternocleidomastóideos) para manter a ventilação e as
trocas gasosas. Este aumento do TR eleva ainda mais a demanda de
oxigênio e provoca dispneia e fadiga. Como o ar é aprisionado nos
alvéolos e a inspiração ocorre em volumes pulmonares residuais mais
altos, a tosse se torna menos eficaz. Conforme a condição evolui, a ↠ Em associação com a história clínica, temos a
eficácia da ventilação alveolar diminui, e desenvolve-se uma falta de espirometria como principal exame para estratificar e
correspondência entre ventilação e perfusão, causando hipoxemia e classificar o paciente asmático de acordo com seu
hipercapnia. A resistência vascular pulmonar pode aumentar como
resultado da hipoxemia e da hiperinflação, levando a um aumento da
Volume Expiratório Forçado (VEF1) (RODRIGUES et. al.,
pressão arterial pulmonar e aumento da demanda de trabalho no 2021).
coração direito (PORTH, 10ª ed.).
ASMA DITA LEVE: Este nível não acomete de forma notória
Diagnóstico as atividades diárias, sem perda de mais do que um dia
de trabalho/escola, sem necessidade de ir ao pronto
↠ O diagnóstico de asma deve se basear no histórico socorro em crises e são facilmente controladas com
cuidadoso, exame físico, testes laboratoriais e estudos da broncodilatadores. Os valores de VEF1 antes do uso dos
função pulmonar (PORTH, 10ª ed.). broncodilatadores normalmente são superiores a 90% do
OBS.: Hemograma: eosinofilia na ausência de parasitose intestinal Melhor Valor Pessoal (MVP) (RODRIGUES et. al., 2021).
(PORTO & PORTO).
ASMA MODERADA: É aquela na qual o paciente apresenta OBS.: A hiperventilação, que costuma acompanhar a ansiedade e o
sintomas com frequência maior que 2 vezes por semana. pânico, é conhecida por atuar como um gatilho para a asma (PORTH,
10ª ed.).
Esses pacientes fazem uso de broncodilatadores para
alívio sintomático mais que duas vezes por semana, ↠ Em crianças, é essencial introduzir medidas destinadas
porém menos que duas vezes ao dia. O VEF1 geralmente a promover independência em relação ao controle dos
está entre 50%-80% do MVP ou abaixo do limite inferior sintomas, aliadas a medidas voltadas para o
previsto, mas na faixa de normalidade após o uso dos desenvolvimento de um autoconceito positivo (PORTH,
broncodilatadores (RODRIGUES et. al., 2021). 10ª ed.).
↠ As medidas de prevenção para controlar os fatores ↠ A primeira linha de tratamento de qualquer das formas
que contribuem para a gravidade da asma são destinadas persistentes de asma inclui um agente de controle da
a limitar a exposição a substâncias irritantes e aos fatores inflamação, o que inclui corticosteroides inalados,
que aumentam os sintomas da asma e precipitam as estabilizadores de mastócitos e modificadores de
exacerbações (PORTH, 10ª ed.). leucotrienos (PORTH, 10ª ed.).
↠ Incluem orientar o paciente e seus familiares com ↠ Os corticosteroides por via inalatória são considerados
relação a medidas que devem ser empregadas para os agentes mais efetivos na prevenção de inflamação das
evitar a exposição a substâncias irritantes e alergênios vias respiratórias e, geralmente, são o tipo de fármaco
conhecidos por induzir ou provocar uma crise. Muitas utilizado (PORTH, 10ª ed.).
vezes, é necessário obter um histórico detalhado para
MECANISMO DE AÇÃO: Eles inibem a fosfolipase A2, que
identificar todos os fatores contributivos. A presença de
bloqueia a liberação de ácido araquidônico (o precursor
pólipos nasais, histórico de sensibilidade ao ácido
de prostaglandinas e leucotrienos) dos fosfolipídeos
acetilsalicílico e refluxo gastresofágico deve ser ligados à membrana. Acredita-se que a diminuição da
considerada. A vacinação anual contra a gripe é produção de prostaglandinas e leucotrienos é
recomendada para pessoas com asma persistente
fundamental à ação anti-inflamatória (WHALEN et. al.,
(PORTH, 10ª ed.).
2016).
MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS Ações no pulmão: Os CSIs não afetam diretamente o músculo liso das
vias aéreas. Ao contrário, os CSIs inalados visam diretamente à
↠ O controle não farmacológico inclui o uso de técnicas inflamação subjacente das vias aéreas, diminuindo a cascata inflamatória
de relaxamento e respiração controlada, que muitas (eosinófilos, macrófagos e li nfócitos T), revertendo o edema de
vezes ajudam a acalmar o pânico e a ansiedade que mucosa, diminuindo a permeabilidade dos capilares e inibindo a
liberação de leucotrienos. Após vários meses de uso regular, os CSIs
agravam ainda mais os problemas respiratórios (PORTH,
reduzem a hiper-reatividade do músculo liso das vias aéreas a vários
10ª ed.).
Epidemiologia
↠ Fatores predisponentes são asma e e as variantes genéticas no NRF2, nos reguladores do NRF2
hiperresponsividade das vias respiratórias (PORTH, 10ª ed.). e nos genes-alvo do NRF2, estão associadas com doenças
pulmonares relacionadas com tabagismo em humanos.
↠ Outros fatores de risco incluem poluentes ➢ Infecção. Embora a infecção pareça desempenhar um
papel no início da destruição tecidual, as infecções virais
ocupacionais e ambientais e polimorfismos genéticos e/ou bacterianas podem exacerbar a inflamação associada
(ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). e a bronquite crônica.
OBS.: A deficiência de AAT (DAAT) é um fator de risco genético para ↠ A ampliação dos alvéolos conduz à hiperinflação dos
DPOC (PORTH 10ª ed.).
pulmões e produz um aumento da capacidade pulmonar
Fisiopatologia total (CPT). Duas das causas reconhecidas de enfisema
são o tabagismo, que incita a lesão pulmonar, e uma
ENFISEMA deficiência herdada de AAT, uma enzima antiprotease
que protege o pulmão de lesões. A deficiência de AAT (DAAT)
↠ O enfisema se caracteriza pela perda da elasticidade é um fator de risco genético para DPOC. Mutações no gene SERPINA1
pulmonar e aumento anormal dos alvéolos distais aos podem causar DAAT (PORTH, 10ª ed.).
bronquíolos terminais, com destruição das paredes
alveolares e dos leitos capilares (PORTH, 10ª ed.).
diagnosticado antes dos 40 anos de idade tem uma DAAT (PORTH, BRONQUITE CRÔNICA
10ª ed.).
↠A bronquite crônica é definida clinicamente como tosse
TIPOS DE ENFISEMA
persistente produtiva por, no mínimo, 3 meses em pelo
Existem dois tipos comumente reconhecidos de enfisema: menos 2 anos consecutivos, na ausência de qualquer
centroacinar ou centrolobular e pan-acinar (PORTH, 10ª ed.).
outra causa identificável. Comum em fumantes e
➢ O enfisema centroacinar está associado mais habitantes de grandes cidades muito poluídas, a bronquite
frequentemente ao tabagismo (cigarros) e existe crônica está em um dos extremos no espectro da DPOC,
comprometimento dos bronquíolos respiratórios,
com o enfisema no outro extremo. Quando a bronquite
predominantemente nos lobos superiores e nos
persiste por anos, ela pode acelerar o declínio da função pulmonar,
segmentos superiores dos lobos inferiores. É o tipo mais
provocar cor pulmonale e insuficiência cardíaca ou causar metaplasia
comum de enfisema e pode ser observado principalmente
atípica e displasia do epitélio respiratório, proporcionando um terreno
em fumantes do sexo masculino.
fértil para transformação cancerosa (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
➢ O tipo pan-acinar produz o envolvimento inicial dos alvéolos
periféricos e depois se estende para envolver os OBS.: O fator primário ou inicial na gênese da bronquite crônica é a
bronquíolos mais centrais. Esse tipo de enfisema é mais exposição a substâncias nocivas ou irritativas inaladas, como fumaça
comum em pessoas com DAAT. Também é encontrado de tabaco (90% dos pacientes são fumantes) e poeira de grãos,
em fumantes, associado ao enfisema centroacinar. Em algodão e sílica (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.).
casos assim, o padrão pan-acinar tende a ocorrer nas
partes inferiores do pulmão e o enfisema centroacinar é ➢ Hipersecreção de muco. A mais precoce das
observado nas porções superiores.
características da bronquite crônica é a
hipersecreção de muco nas grandes vias aéreas,
associada à hipertrofia das glândulas submucosas
na traqueia e nos brônquios. A base da
hipersecreção de muco não é completamente
compreendida, mas parece envolver
mediadores inflamatórios, tais como histamina e
IL-13. Com o tempo, ocorre também aumento
importante das células caliciformes nas pequenas
vias aéreas - brônquios pequenos e bronquíolos
- levando à produção excessiva de muco que
contribui para a obstrução das vias aéreas.
Acredita-se que tanto a hipertrofia das glândulas
submucosas quanto o aumento de células
caliciformes constituam reações protetoras
contra a fumaça do tabaco ou outros poluentes
(p. ex., dióxido de enxofre e dióxido de
nitrogênio).
➢ Inflamação. As substâncias inaladas que levam à
bronquite crônica causam danos celulares,
provocando respostas inflamatórias agudas e
crônicas envolvendo neutrófilos, linfócitos e
macrófagos. A inflamação de longa duração é
acompanhada de fibrose envolvendo as vias
aéreas pequenas (pequenos brônquios e
bronquíolos, menores que 2 a 3 mm de
diâmetro) e também pode acarretar a
obstrução crônica das vias aéreas. Essa
característica é similar à descrita anteriormente
no enfisema e é um denominador comum na
DPOC.
A, Enfisema centroacinar em um tabagista. B, Enfisema panacinar na deficiência de alfa1-antitripsina. O ➢ Infecção. A infecção não é responsável pelo
tipo e a intensidade do enfisema podem ser difíceis ou impossíveis de determinar em bases
histopatológicas. C, Aqui, vê-se enfisema centroacinar com dilatação dos espaços aéreos em torno início da bronquite crônica, mas provavelmente
do bronquíolo. D, Diferentemente, o enfisema panacinar apresenta uma dilatação mais difusa dos
espaços aéreos.
Júlia Morbeck – @med.morbeck
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é importante para sua manutenção e pode ser Pessoas com predominância de manifestações de enfisema são
crítica na produção de exacerbações agudas. classicamente referidas como sopradores rosados (pink puffers),
devido à ausência de cianose, ao uso de músculos acessórios e à
IMPORTANTE: Deve-se reconhecer que o tabagismo predispõe à respiração com os lábios semicerrados (“soprador”). Com a perda da
bronquite de várias formas. Ele não só danifica as células de elasticidade e a hiperinsuflação dos pulmões, as vias respiratórias muitas
revestimento das vias aéreas superiores, levando à inflamação crônica, vezes colapsam durante a expiração, porque a pressão nos tecidos
como também interfere na ação ciliar do epitélio respiratório, evitando pulmonares circundantes excede a pressão das vias respiratórias. O ar
a eliminação do muco e aumentando o risco de infecção (ROBBINS & permanece retido nos alvéolos e pulmões, provocando aumento das
COTRAN, 9ª ed.). dimensões anteroposteriores do tórax, o chamado tórax em tonel ou
barril, típico de pessoas com enfisema. Estas apresentam diminuição
MORFOLOGIA drástica nos sons respiratórios por todo o tórax. Com o diafragma
funcionando perto da capacidade máxima, o indivíduo poderá sinalizar
Macroscopicamente, há hiperemia, tumefação e edema das vulnerabilidade ao desenvolvimento de fadiga diafragmática e
membranas mucosas, frequentemente acompanhadas pelo excesso insuficiência respiratória aguda (PORTH, 10ª ed.).
de secreções mucinosas ou mucopurulentas. Às vezes, cilindros
grosseiros de secreções e pus preenchem os brônquios e os
bronquíolos.
Manifestações Clínicas
➢ Espirometria com teste broncodilatador: ver estagiamento; tratamento da DPOC. Afirma-se que os agonistas β2-
➢ Gasometria arterial; adrenérgicos inalados de ação prolongada podem ser
➢ Oximetria de pulso: SaO2 ≤ 90%;
➢ Pressões inspiratórias e expiratórias máximas: avaliam
ainda mais efetivos do que as formas de ação rápida
forças dos músculos respiratórios; desproporção entre (PORTH, 10ª ed.).
grau da dispneia e VEF1;
➢ ECG: sobrecarga ventricular direita (cor pulmonale); ↠ Os fármacos anticolinérgicos (p. ex., brometo de
➢ Ecocardiograma: hipertensão pulmonar; cor pulmonale; ipratrópio, brometo de tiotrópio), que são administrados
➢ Hemograma: Policitemia; por inalação, produzem broncodilatação via bloqueio dos
➢ Exame do escarro: aumento de eosinófilos pode indicar
receptores colinérgicos parassimpáticos geradores de
hiper-responsividade;
➢ Dosagem de α1-antitripsina: em pacientes com DPOC e contração do músculo liso dos brônquios. Esse tipo de
menos de 45 anos de idade. medicamento, que deve ser administrado por inalação,
promove broncodilatação pela ação direta sobre as
Tratamento grandes vias respiratórias, sem alterar a composição ou a
viscosidade do muco brônquico. Também reduz o volume
↠ O tratamento de DPOC depende do estágio da
de expectoração, sem alterar sua viscosidade. Como
doença e, muitas vezes, requer uma abordagem
esses medicamentos têm um início de ação mais lento e
interdisciplinar (PORTH, 10ª ed.).
mais prolongado, geralmente são usados em bases
IMPORTANTE: A cessação do tabagismo é a única medida que retarda regulares em vez de empregados de acordo com a
a progressão da doença. A orientação às pessoas com DPOC e a seus necessidade. Também há disponibilidade comercial de
familiares é fundamental para o manejo bem-sucedido da doença. A
inaladores que combinam um medicamento
reabilitação psicossocial deve ser individualizada para atender às
necessidades específicas de pessoas com DPOC e seus familiares. anticolinérgico com um agonista β2-adrenérgico (PORTH,
Essas necessidades variam de acordo com idade, profissão, recursos 10ª ed.).
financeiros, interesses sociais e recreativos e relações interpessoais e
familiares (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os corticosteroides inalatórios muitas vezes são usados
no tratamento de DPOC, apesar das controvérsias quanto
↠ O uso de uma máscara, em grande parte, impede o a sua utilidade. Uma explicação para a falta de efeito pode
desenvolvimento de dispneia e broncospasmo devido ao estar relacionada com o fato de que os corticosteroides
ar frio e à exposição ao vento (PORTH, 10ª ed.). prolongam a ação de neutrófilos e, portanto, não
↠ Infecções respiratórias podem impor risco de morte suprimem a resposta inflamatória neutrofílica observada
para pessoas com DPOC grave. O indivíduo com DPOC nos casos de DPOC. Como os corticosteroides são úteis
deve evitar o contato com pessoas com infecção no alívio de sinais/sintomas de asma, podem beneficiar
comprovada do sistema respiratório, bem como lugares pessoas com asma concomitante à DPOC.
com grande quantidade de pessoas durante os períodos Corticosteroides inalados também podem ser benéficos
do ano em que a gripe ou infecções do sistema no tratamento da exacerbação aguda da DPOC,
respiratório predominam. A vacinação contra gripe e minimizando os efeitos indesejáveis que muitas vezes
infecções pneumocócicas diminui a probabilidade de acompanham a utilização sistêmica (PORTH, 10ª ed.).
ocorrência (PORTH, 10ª ed.). ↠ A oxigenoterapia deve ser prescrita para indivíduos
↠ Manter e melhorar o funcionamento físico e selecionados com hipoxemia significativa (PO2 arterial <
psicossocial é uma parte importante do programa de 55 mmHg). A administração de oxigênio a um baixo fluxo
tratamento para pessoas com DPOC. Um programa de contínuo (1 a 2 ℓ/min) para manter os níveis de PO2
reabilitação pulmonar a longo prazo pode reduzir arterial entre 55 e 65 mmHg minimiza a dispneia e a
significativamente a necessidade de hospitalização e hipertensão pulmonar e melhora o funcionamento
melhorar a capacidade da pessoa de gerenciar e lidar com neuropsicológico e a tolerância à atividade física. O
sua deficiência de uma maneira positiva (PORTH, 10ª ed.). objetivo geral da oxigenoterapia é manter a saturação de
oxigênio da hemoglobina em 88 a 92% (PORTH, 10ª ed.).
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
↠ Como o impulso ventilatório associado à estimulação
↠ O tratamento farmacológico da DPOC envolve o uso hipóxica dos quimiorreceptores periféricos não ocorre até
de broncodilatadores, como a inalação de agentes que a PO2 arterial seja reduzida para aproximadamente
adrenérgicos e anticolinérgicos. Agonistas β2- 60 mmHg ou menos, a elevação da PO2 arterial acima
adrenérgicos inalados têm sido a principal forma de de 60 mmHg tende a deprimir o estímulo hipóxico para
Referências