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3 INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA

Alessandra Haber Carvalho


Alice Brandão Menezes Rocha
Ana Clara Carneiro da Fonsêca
Bertho Vinícios Rocha Nylander
Carolina Mayumi Yamanaka
Celyne Agrassar da Silva
Eduardo dos Santos Martins Neto
Eduardo Henrique Herbster Gouveia
Flávia Vasconcelos da Silva
Hicaro Donato Granhen
Lainy Carollyne da Costa Cavalcante
Laryssa de Aquino Santiago
Lizandra Lujan Delpupo Trivilin
Lorena Oliveira Lima
Luiza Oliveira Tocantins Álvares
Márcia Helena Ribeiro de Oliveira
Marcus Vinicius Henriques Brito
Mariana Albuquerque Dorea
Matheus Assunção Ribeiro da Costa
Matheus Benedito Sabbá Hanna
Mayara Pantoja Nunes
Renan Kleber Costa Teixeira
Victor Seiji Nascimento Hosoume
1. INTRODUÇÃO Wanessa Cardoso Praia
Atos cirúrgicos eram praticados bem antes do aparecimento de instrumental
sofisticado, sendo utilizados bisturis de pedra, pederneiros amolados e dentes de
animais. Com a evolução dos materiais e a utilização do aço inoxidável, foi introduzido
na cirurgia um material superior para a fabricação de instrumentais cirúrgicos.
A introdução da anestesia em 1846 e a adoção da técnica de antissepsia de
Lister, por volta de 1880, influenciaram fortemente a confecção do instrumental
cirúrgico, já que permitiram ao cirurgião trabalhar de forma mais lenta e eficaz,
realizando procedimentos mais longos e mais complexos.
A forma dos instrumentais tem sido criada com base na capacidade de o
cirurgião visibilizar, manobrar, diagnosticar e manipular o tecido com uma
instrumentação cada vez menor. Contudo, a consequência de uma melhor forma dos
instrumentais é o alto custo, menor disponibilidade de instrumentação semelhante,
maior dificuldade na limpeza e cuidados e uma necessidade cada vez mais frequente de
manusear e cuidar adequadamente do material.

2. CLASSIFICAÇÃO

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Os instrumentais cirúrgicos são classificados de acordo com sua função ou uso
principal (pois a maioria deles possui mais de uma utilidade) e também quanto ao tempo
de utilização no ato operatório. Dessa forma, distribuem-se em categorias de acordo
com os tempos operatórios em que são utilizados, que têm início a partir da diérese, que
apresenta como objetivo criar vias de acesso através dos tecidos por meio de bisturis e
tesouras. Criadas essas vias, faz-se necessária a manipulação de algumas estruturas, o
que é desempenhado durante a preensão, com as pinças de preensão. Segue-se, então,
com a hemostasia, que visa conter ou prevenir os sangramentos durante o ato
operatório, tendo como instrumentais principais as pinças hemostáticas. Concluídos os
tempos de diérese, preensão e hemostasia, o campo operatório encontra-se ideal para o
afastamento de estruturas, a fim de se possibilitar uma melhor visualização do mesmo, o
que ocorre durante a exposição com o auxílio dos afastadores.
Então, o cirurgião encontra-se apto para desempenhar os procedimentos
específicos da cirurgia, durante o tempo especial, no qual utiliza-se instrumentais
peculiares de acordo com a especialidade cirúrgica. Concluídos esses procedimentos, é
necessária que seja realizada a síntese, que visa unir os tecidos seccionados ou
ressecados durante a cirurgia, utilizando para isso os porta-agulhas.

TEMPO FUNÇÃO INSTRUMENTAL

Criar vias
Diérese Bisturis e tesouras
de acesso

Manipulação de
Preensão Pinças de Preensão
estruturas

Conter ou prevenir
Hemostasia Pinças hemostáticas
sangramentos

Expor o campo
Exposição Afastadores
operatório

De acordo com a
Especial Peculiares
especialidade cirúrgica

Síntese Unir tecidos seccionados Porta-Agulhas


e ressecados
Tabela 3.1: Tempos operatórios
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Pode-se dividir o ato operatório de uma outra maneira, quando o cirurgião visa
extirpar um órgão ou segmento tecidual sendo este tempo chamado exérese. Assim,
neste caso a sequência operatória seria respectivamente: Incisão (diérese) dos planos
anatômicos, revisão da hemostasia tecidual, exposição do campo operatório, ligadura
(hemostasia) dos vasos que irrigam o segmento a ser retirado, secção ou retirada do
segmento desejado (exérese), hemostasia na linha de ressecção, finalizando com a
síntese dos planos seccionados.

2.1. INSTRUMENTAIS DE DIÉRESE:


Diérese é a manobra cirúrgica destinada a promover uma via de acesso através
dos tecidos. Constituídos fundamentalmente pelos bisturis e tesouras, salvo em
procedimentos peculiares, quando se podem considerar os jelcos, por exemplo, como
instrumentais de diérese.

a) Bisturi
É utilizado para incisões ou dissecções de estruturas. Constituído por um cabo
reto, com uma extremidade mais estreita chamada colo, no qual é acoplada uma
variedade de lâminas descartáveis e removíveis. O tamanho e o formato das lâminas e
dos colos dos cabos dos bisturis são adaptados aos diversos tipos de incisões, sendo
principalmente utilizados os cabos de número 3 e 4. O cabo nº 3, por apresentar um colo
menor, é destinado a lâminas de menores numerações, de número 9 às de número 17,
utilizadas em incisões mais delicadas. Já o cabo número 4, com um colo mais alongado
é destinado às lâminas de maiores numerações, de número 18 a 50.

Figura 3.1: Acima, o cabo do bisturi acoplado à


lâmina e, abaixo, o cabo isolado,
apresentando o colo em destaque.

A lâmina deve ser encaixada no colo do cabo de bisturi com o auxílio de uma
pinça hemostática reta, mantendo a face cortante voltada para baixo.

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Figura 3.2: Lâmina sendo
encaixada no colo do
cabo de bisturi.

O bisturi é empunhado de duas formas principais: tipo lápis (em incisões


pequenas); e tipo arco de violino (para incisões longas, que podem ser retilíneas ou
suavemente curvas).

Figura 3.3:Empunhadura do tipo Figura 3.4: Empunhadura do tipo


lápis. arco-de-violino.
b) Tesouras
Têm como função principal efetuar a secção ou a divulsão de tecidos orgânicos,
além de seccionar materiais cirúrgicos, como gaze, fios, borracha, entre outros. As
tesouras variam no tamanho (longas, médias ou curtas), no formato da ponta
(pontiagudas, rombas ou mistas) e na curvatura (retas ou curvas), cada uma com uma
finalidade específica, adequada a cada fase do ato operatório e à especialidade cirúrgica.
Destacam-se dois modelos básicos:

Figura 3.5: Tesoura de Metzenbaum


(acima) e tesoura de Mayo
(abaixo).

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Tesoura de Metzenbaum: pode ser reta ou curva, sendo utilizada para a diérese
de tecidos orgânicos, uma vez que é considerada menos traumática, por
apresentar sua extremidade distal mais delicada e estreita e sua porção cortante
menor do que sua porção não cortante.

Tesoura de Mayo: também pode ser reta ou curva, sendo utilizada para a secção
de fios e outros materiais cirúrgicos em superfícies ou em cavidades, uma vez
que é considerada mais traumática que a de Metzenbaum, por apresentar sua
extremidade distal mais grosseira, além de sua porção cortante ser proporcional
a sua porção não cortante.

Existem ainda tesouras específicas como a tesoura de Potts, instrumental


que possui pontas finas e anguladas com diferentes angulos e é utilizada
principalmente em cirurgias vasculares, como em revascularizações. Bem como,
podem ser citadas as tesouras para retirada de pontos cirúrgicos sendo as mais
utilizadas as tesouras de Spencer, que possuem uma reentrância em uma das
lâminas para encaixe do fio cirúrgico. Estas possuem uma reentrância em uma
das lâminas para encaixe do fio cirúrgico. Podem ser retas ou curvas.

Figura 3.6: Tesoura de Potts


As tesouras são empunhadas pela introdução das falanges distais dos
dedos anular e polegar nas argolas. O dedo indicador proporciona precisão do
movimento e o dedo médio auxilia na estabilidade do instrumental à mão.

Figura 3.7: Empunhadura de uma tesoura


2.2. INSTRUMENTAIS DE PREENSÃO
São basicamente constituídos pelas pinças de preensão, que são destinadas à
manipulação e à apreensão de órgãos, tecidos ou estruturas.
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Os modelos básicos são:

a) Pinça de Adson:
A pinça de Adson, por apresentar uma extremidade distal estreita e dessa forma,
uma menor superfície de contato, é utilizada em cirurgias mais delicadas, como as
pediátricas. É encontrada em três versões: atraumática, a qual possui ranhuras finas e
transversais na face interna de sua ponta; traumática, com endentações e um sulco
longitudinal na extremidade; e dente-de-rato, com dentes na ponta que lembram os de
um roedor, sendo esta última utilizada para a preensão de aponeurose, uma vez que é

considerada mais traumática que a pinça anatômica.

Figura 3.8: Pinça de Adson atraumática, pinça de Adson traumática e pinça de Adson dente-de-rato,
respectivamente.

b) Pinça anatômica
Com ranhuras finas e transversais, possuindo uma utilização universal.

Figura 3.9: Pinça anatômica


c) Pinça dente de rato
Por apresentar dentes em sua extremidade, é utilizada na preensão de tecidos
mais grosseiros, como tendões e aponeuroses.

Figura 3.10: Pinça dente de


rato.
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Por serem consideradas instrumentais auxiliares, as pinças de preensão são
geralmente empunhadas com a mão não-dominante (tipo lápis), sendo que o dedo
indicador é o responsável pelo movimento de fechamento da pinça, enquanto que os
dedos médio e polegar servem de apoio.

Figura 3.11: Empunhadura das


pinças de preensão.

2.3. INSTRUMENTAIS DE HEMOSTASIA


A hemostasia é um dos tempos fundamentais da cirurgia e tem por objetivo
prevenir ou corrigir as hemorragias, evitando, dessa forma, o comprometimento do
estado hemodinâmico do paciente, além de impedir a formação de coleções sanguíneas e
coágulos no período pós-operatório, fenômeno este que predispõe o paciente às
infecções.
Os instrumentais utilizados na hemostasia são as pinças hemostáticas, que se
apresentam em vários modelos e tamanhos. Esses instrumentais são identificados pelo
nome de seus idealizadores, como as pinças de Kelly, Crile, Halstead, Mixter e Kocher.
Estruturalmente, essas pinças guardam semelhança com as tesouras,
apresentando argolas para empunhadura. Diferem, no entanto, das tesouras por
apresentarem cremalheira, uma estrutura localizada entre as argolas que tem por
finalidade manter o instrumental fechado de maneira autoestática, oferecendo diferentes
níveis de pressão de fechamento. A empunhadura dessas pinças também é semelhante à
descrita para as tesouras.

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Figura 3.12: Cremalheira de uma pinça
hemostática em destaque.

a) Halstead
Destinada ao pinçamento de vasos de pequeno calibre, devido a seu tamanho
reduzido, que pode ser observado ao compará-la a outras pinças hemostáticas. Suas
reduzidas dimensões lhe atribuem uma segunda nomenclatura: pinça Mosquito.

Figura 3.13: Pinça Mosquito (em


destaque) entre duas outras pinças
hemostáticas.
b) Kelly e Crile
Apresentam ranhuras transversais na face interna de suas pontas e podem ser
retas ou curvas. As retas, também chamadas pinças de reparo, são utilizadas para o
pinçamento de material cirúrgico como fios e drenos de borracha, enquanto que as
curvas são destinadas ao pinçamento de vasos e tecidos mais delicados. A diferença
entre as referidas pinças consiste no fato de que as ranhuras transversais da pinça de
Crile estão presentes ao longo de toda a face interna de sua ponta, enquanto que as da
pinça de Kelly estendem-se aproximadamente até a metade.

Figura 3.14: Pinça de Crile. Figura 3.15: Pinça de Kelly.

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c) Mixter
Apresenta ponta em ângulo aproximadamente reto em relação ao seu corpo,
sendo largamente utilizada na passagem de fios ao redor de vasos para ligaduras, assim
como na dissecção de vasos e outras estruturas.

Figura 3.16: Pinça Mixter


d) Kocher
Embora classificada como instrumental de hemostasia, não é habitualmente
empregada para esta finalidade, uma vez que apresenta dentes em sua extremidade. Seu
uso mais habitual é na preensão e tração de tecidos resistentes como aponeuroses.
Entretanto, pode ser utilizada no tempo de hemostasia, pois possuem ranhuras na face
interna de sua ponta.

Figura 3.17: Pinça Kocher


e) Pinça Satinsky
É uma pinça hemostática atraumática, amplamente utilizada em cirurgias vasculares.

Figura 3.18: Pinça Satinsky.


f) Pinças Bulldogs
Pequenos clampes, muito úteis no manuseio de vasos de pequeno calibre,
notadamente em locais de difícil acesso. São assim curiosamente denominados pela sua
característica de preensão automática por sistema de mola, em alusão à mordida do cão

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de raça bulldog. Suas pontas podem ser curvas, retas ou anguladas.

Figura 3.19: Pinças Bulldogs.

2.4. INSTRUMENTAIS DE EXPOSIÇÃO


São representados por afastadores, que são elementos mecânicos destinados a
facilitar a exposição do campo operatório, afastando as bordas da ferida operatória e
outras estruturas, de forma a permitir a exposição de planos anatômicos ou órgãos
subjacentes, facilitando o ato operatório.
Classificação:
Afastadores dinâmicos: exigem tração manual contínua.

a) Afastador de Farabeuf
Apresenta-se em formato semelhante a um “C” característico, com uma pequena
superfície de contato, sendo utilizado no afastamento de pele, tecido celular subcutâneo
e músculos superficiais.

Figura 3.20: Afastador de Farabeuf.

b) Afastador de Doyen
Por se apresentar em ângulo reto e ter ampla superfície de contato, é utilizado
primordialmente em cirurgias abdominais.

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Figura 3.21: Afastador de Doyen.
c) Afastador de Deaver
Por apresentar sua extremidade distal em formato de semilua, que é análogo ao
desenho do contorno dos pulmões, é amplamente utilizado em cirurgias torácicas,
podendo também ser utilizado em cirurgias abdominais.

Figura 3.22: Afastador de Deaver.

d) Válvula Maleável
Empregada tanto em cirurgias na cavidade torácica, quanto na cavidade
abdominal. Por ser flexível, pode alcançar qualquer tipo de formato ou curvatura, sendo,
portanto, adaptável a qualquer eventual necessidade que venha a surgir durante o ato
operatório. Outra importante função é a proteção das vísceras durante suturas na parede
da cavidade abdominal.

Figura 3.23: Válvula


Maleável
e) Afastador de Volkmann
Afastador com extremidade única com um a seis pequenos ramos (garras) em
forma de ancinho, podendo ser rombos ou agudos., sendo utilizado apenas em planos
musculares.

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Afastadores auto-estáticos: são instrumentais que por si só mantém as
estruturas afastadas e estáveis.

a) Afastador de Gosset ou Laparostato


Utilizado em cirurgias abdominais. Deve ser manipulado em sua extremidade
proximal, para que se movimente, uma vez que a distal, que entra em contato com as
estruturas a serem afastadas não cede a pressões laterais.

Figura 3.24: Afastador de Gosset ou


Laparostato.

b) Afastador de Balfour
Uma adaptação do afastador de Gosset, acoplando-se ao mesmo uma Válvula
Suprapúbica, dessa forma, além de separar as paredes laterais, também afasta a
extremidade superior ou inferior. O afastador de Balfour é utilizado na parede abdominal
ou torácica. A Válvula Suprapúbica quando utilizada isoladamente, consiste em um
afastador dinâmico.

Figura 3.25: Afastador de Balfour.

c) Afastador de Finochietto
Utilizado em cirurgias torácicas, possuindo uma manivela para possibilitar o
afastamento das costelas.

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Figura 3.26: Afastador de Finochietto.

d) Afastador de Adson
Pode ser utilizado em cirurgias neurológicas, para o afastamento do couro
cabeludo, bem como em cirurgias nos membros ou na coluna, para o afastamento de
músculos superficiais.

Figura 3.27: Afastador de Adson.

2.5. INSTRUMENTAIS ESPECIAIS


Os instrumentais especiais são aqueles utilizados para finalidades específicas, nos
procedimentos que consistem no objetivo principal da cirurgia. São muitos e variam de
acordo com a especialidade cirúrgica.

a) Pinça de Backaus
É também denominada de pinça de campo, devido sua função de fixar os
campos operatórios entre si.

Figura 3.28: Pinça Backaus.

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b) Pinça de Duval
Apresenta extremidade distal semelhante ao formato de uma letra “D”, com
ranhuras longitudinais ao longo da face interna de sua ponta. Por apresentar ampla
superfície de contato, é utilizada em diversas estruturas, a exemplo das alças intestinais.

Figura 3.29: Pinça de Duval.

c) Clamp intestinal
Apresenta ranhuras longitudinais (sendo este modelo pouco traumático) ou
transversais ao longo da face interna de sua ponta. É utilizado na interrupção do trânsito
intestinal, o que o classifica como instrumental de coproestase.

Figura 3.30: Clamp intestinal.


d) Pinça de Allis
Apresenta endentações em sua extremidade distal, o que a torna
consideravelmente traumática, sendo utilizada, portanto, somente em tecidos resistentes
ou naqueles que irão sofrer a exérese, ou seja naqueles que irão ser retirados do
organismo.

Figura 3.31: Pinça de Allis.

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e) Saca-bocado
Semelhante a um grande alicate, é utilizado na retirada de espículas ósseas em
cirurgias ortopédicas e neurológicas.

Figura 3.32: Saca-bocado.

f) Fórceps
Utilizado em cirurgias obstétricas, apresenta ramos articulados, com grandes aros
em sua extremidade, para o encaixe na cabeça do concepto durante partos em que o
mesmo esteja mal posicionado ou com outras complicações. Quando desarticulado, é
utilizado em cesarianas, no auxílio da retirada do neonato.

Figura 3.33: Fórceps.

g) Cureta de Siemens
Também chamada de Cureta uterina. É amplamente utilizada em procedimentos
obstétricos para remoção de restos placentários e endometriais da cavidade uterina
especialmente após abortos, onde resquícios da placenta podem permanecer na cavidade
uterina. Possui uma superfície áspera, a qual realiza a raspagem; e outra lisa, para que a
parede do útero não seja lesionada durante o procedimento.

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Figura 3.34: Cureta de
Siemens.
h) Pinça de Babcock
Possui argolas e cremalheiras. Na extremidade distal possui uma pequena
superfície de contato, o que a torna pouco traumática. Dessa forma, pode ser utilizada na
manipulação de alças intestinais e exérese de estruturas, como em apendicectomias.

Figura 3.35: Pinça de Babcock


i) Pinça Collin
Também conhecida como pinça “coração”. Tem utilização para manipulação de
estruturas como as alças intestinais.

j) Pinça Péan Figura 3.36: Pinça Collin.


A pinça Péan pode ser reta ou curva, com serrilhado que pode ser longitudinal ou
transversal, sendo o transversal mais traumático. Pode realizar o clampeamento
gastrintestinal, podendo fazer a coproestase, evitando a passagem de secreções do tubo
digestório para a área que está sendo manuseada.

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Figura 3.37: Pinça Peán.

k) Pinça Gruenwald

Possui argolas e a porção distal angulada. É utilizada na excisão das vertebras


(laminectomia) em cirurgias neurológicas e ortopédicas. Pode ter abertura para cima ou
para baixo.

2.6. INSTRUMENTAIS DE SÍNTESE


A síntese geralmente é o tempo final da cirurgia e consiste na aproximação dos
tecidos seccionados ou ressecados no decorrer da cirurgia, com o intuito de favorecer a
cicatrização dos tecidos de maneira estética, além de evitar as herniações de vísceras e
minimizar as infecções pós-operatórias. Os instrumentais utilizados para este fim são os
porta-agulhas, que se apresentam em três modelos principais:

a) Porta-agulhas de Mayo-Hegar
É estruturalmente semelhante às tesouras e pinças hemostáticas, apresentando
argolas, para a empunhadura, e cremalheira, para o fechamento autoestático. É mais
utilizado para síntese em cavidades, sendo empunhado da mesma forma descrita para os
instrumentais argolados ou de forma empalmada.

Figura 3.38: Porta-agulha de Mayo-Hegar Figura 3.39: Empunhadura do


porta-agulha de Mayo-Hegar.
b) Porta-agulhas de Mathieu
Possui hastes curvas, semelhante a um alicate, com cremalheira pequena. É
utilizado em suturas de tecidos superficiais, especialmente na pele em cirurgias
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plásticas. Esse modelo de porta-agulha é empunhado sempre de forma empalmada.

Figura 3.40: Porta-agulha de Mathieu. Figura 3.41: Empunhadura do porta-agulha


de Mathieu.
c) Porta-agulhas de Olsen-Hegar
Tem como característica reunir, num só instrumental, as funções do porta-
agulhas e da tesoura para corte dos fios, o que resulta na confecção mais rápida da
sutura, já que o cirurgião não necessita alternar entre porta-agulhas e tesoura para a
realização da mesma.

A face interna desses instrumentais apresenta ranhuras em xadrez, apresentando


eventualmente também um sulco longitudinal, que facilita a fixação das agulhas aos
mesmos. Além dos porta-agulhas, outros materiais são utilizados na síntese, como os
fios, agulhas e fios agulhados

Figura 3.42: Ranhuras e sulco

3. ARRUMAÇÃO DA MESA DE INSTRUMENTAÇÃO


Deve ser feita de forma padronizada, de acordo com a ordem de utilização dos
instrumentais no ato operatório, a fim de se facilitar o acesso aos mesmos. Durante a
arrumação da mesa, é necessário imaginá-la dividida em 6 setores, correspondentes aos 6
tempos operatórios, que iniciam a partir da DIÉRESE, que é representada pelos bisturis
e pelas tesouras. Em seguida, apresenta-se o setor de PREENSÃO, com as pinças de
preensão, seguidas do setor de HEMOSTASIA, que abriga materiais como gazes,
compressas e fios para ligadura, bem como as pinças hemostáticas. Segue-se, então, com
o setor de EXPOSIÇÃO, com os afastadores, dinâmicos ou autoestáticos. O
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setor ESPECIAL apresenta instrumentais que variam de acordo com o tipo de cirurgia.
O sexto e último setor corresponde ao tempo de SÍNTESE, abrigando, portanto,
materiais como agulhas, os fios e os porta-agulhas.

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Figura 3.43: Mesa de instrumentação.

É necessário ressaltar que, de forma geral na arrumação da mesa de


instrumentação, os instrumentais menos traumáticos devem preceder os mais
traumáticos, a exemplo da pinça anatômica que deve preceder as pinças dente de rato e
Adson em sua versão dente de rato. Bem como os curvos devem vir antes dos retos e os
afastadores dinâmicos antes dos autoestáticos, a exemplo do afastador de Farabeuf que
deve preceder o afastador de Gosset. Deve-se ressaltar que a traumaticidade do
instrumental apresenta prioridade na arrumação da mesa quando comparada a curvatura
dos mesmos, a exemplo da tesoura de Metzenbaum reta (menos traumática), a qual é
colocada antes da tesoura de Mayo curva (mais traumática). Além disso, os
instrumentais devem ser arrumados com suas curvaturas voltadas para cima e suas
extremidades distais (pontas) voltadas para o instrumentador, a menos que estes se
encontrem ainda desmontados, como o cabo de bisturi ainda não acoplado a sua lâmina,
e o porta-agulha sem a agulha, para evitar que instrumentais desmontados sejam
repassados para o cirurgião.
O sentido de arrumação da mesa varia de acordo com os tipos de cirurgia. Em
cirurgias nas quais o cirurgião deve estar a direita do paciente, tendo o primeiro auxiliar
a sua frente e o instrumentador ao lado deste, a exemplo das laparotomias
supraumbilicais, a mesa deve ser organizada em sentido horário. Há cirurgiões que
optam pela mesa de Mayo, uma mesa de instrumentação auxiliar, com suporte lateral
colocada sobre as pernas do paciente.
Já no caso de cirurgias nas quais o cirurgião encontra-se a esquerda do paciente,

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tendo o primeiro auxiliar a sua frente e o instrumentador ao lado deste, a exemplo das
laparotomias infraumbilicais, a arrumação da mesa deve ser feita no sentido anti-horário,
podendo também apresentar a mesa de Mayo.
O papel do segundo auxiliar (ou assistente) durante a cirurgia é quase sempre
passivo. Estes devem ajudar nas manobras de afastamento; propiciar maior liberdade ao
primeiro auxiliar para exercer suas funções e substituir o primeiro auxiliar ou o
instrumentador durante o ato cirúrgico, se necessário.

Figura 3.44: Cirurgias supra-umbilicais- sentido Figura 3.45: Cirurgias infra-umbilicais- sentido
horário. anti-horário.

4. TÉCNICAS DE INSTRUMENTAÇÃO CIRÚRGICA


Podem ser feitas de duas formas: por solicitação verbal ou por sinalização
cirúrgica, que consiste em um sistema mundial padronizado de técnicas de solicitação
manual que visam reduzir a conversação dentro da sala de cirurgia, a fim de se manter a
assepsia local.
A sinalização cirúrgica é destinada somente aos instrumentais mais simples e
mais utilizados, sendo os demais solicitados verbalmente.
A entrega dos instrumentais pelo instrumentador deve ser feita de forma firme e
imediata, entregando os mesmos fechados e com suas curvaturas acompanhando a
curvatura da mão do cirurgião.
Vale ressaltar que o bom instrumentador deve saber previamente o instrumental a
ser solicitado, e ao final da cirurgia deve apresentar a mesa tão limpa e organizada
quanto estava no início.
Bisturi de empunhadura do tipo lápis: realizada imitando-se o movimento de
utilização do instrumental.

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Figura 3.46: Bisturi empunhadura
tipo lápis.

Bisturi de empunhadura do tipo arco-de-violino: deve ser feita de forma


semelhante a solicitação para o bisturi de empunhadura do tipo lápis, no
entanto, ao final do movimento, o cirurgião deve posicionar a mão com sua
face palmar voltada para cima, para o recebimento do instrumental.

Figura 3.47: Bisturi empunhadura


tipo arco-de-violino.

Tesoura reta: deve-se imitar os movimentos de secção do instrumental.

Figura 3.48: Solicitação da tesoura


reta.

Tesoura curva: solicitação feita de forma semelhante à tesoura reta. No


entanto, os dedos indicador e médio devem estar igualmente encurvados.

Figura 3.49: Solicitação da tesoura


curva.

Pinça anatômica: feita imitando-se com a mão não-dominante seu


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movimento de utilização.

Figura 3.50: Empunhadura da pinça


anatômica.

Pinça dente-de-rato: solicitada de forma semelhante a pinça anatômica. No


entanto, os dedos indicador e médio, bem como o polegar devem estar
encurvados formando um círculo entre si e imitando os dentes desta pinça.

Figura 3.51: Solicitação da pinça


dente-de-rato.

Gaze: imita-se o seu embebimento em solução antisséptica.

Figura 3.52: Solicitação da gaze.

Compressa: estendendo-se a mão. Durante a entrega desse material, deve ser


feita uma leve pressão sobre a mão do cirurgião.

Figura 3.53: Solicitação da compressa.

Fio para ligadura: com a face palmar da mão voltada para cima, estando os
dedos em semi-flexão. Durante a entrega desse material, também deve ser

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exercida uma leve pressão sobre a mão do cirurgião.

Figura 3.54: Solicitação do fio para


ligadura.
Pinça hemostática curva: realizada cruzando-se os dedos indicador e médio.

Figura 3.55: Solicitação da pinça


hemostática curva.

Pinça hemostática reta: solicitada de forma semelhante à pinça hemostática


curva, porém com a face palmar da mão virada para baixo.

Figura 3.56: Solicitação da pinça


hemostática reta.

Afastador de Farabeuf: realizada movimentando-se, em semiflexão, os dedos


indicador e médio.

Figura 3.57: Solicitação do afastador de


Farabeuf.

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Afastador de Doyen: deve-se imitar com a mão e o braço seu formato e
movimento de utilização.

Figura 3.58: Solicitação do afastador


de Doyen.

Afastador de Gosset: solicitado de forma semelhante ao Doyen, no entanto,


devem ser utilizados ambos os braços.

Figura3.59: Solicitação do
afastador de Gosset.

Pinça Backaus: deve-se imitar o movimento de utilização que se


assemelha de uma figa.

Figura 3.60: Solicitação da pinça Backaus

Porta-agulha: imita-se seu movimento de utilização, o qual se assemelha ao


movimento de ligar e desligar de um automóvel.

Figura 3.61: Solicitação do porta-agulha

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A.E.R.F.; ALMEIDA, Z.M.O.F. Instrumentos Cirúrgicos. [S.1]: Universidade Federal de


Minas Gerais. Disponível em:
<www.vet.ufmg.br/departamentos/clinica/cirurgia/documentos/Instrumentos%20cirurgicos.pdf>. Acesso
em: 12 de jan.2011.

BELLEN, B. V.; MAGALHÃES, H. P. Equipe cirúrgica. In: MAGALHÃES, H. P. Técnica Cirúrgica e


Cirurgia Experimental. São Paulo: Sarvier, p.037-041, 1993.

CARVALHO, P.S.P.et al. Enxerto de calota craniana para reconstrução de processo alveolar de maxila
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bonegrafts. Technique and operatories difficulties. ImplantNews.,v.3, n.06, p.572-577, Nov/dez. 2006.

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