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Ecuador Today
somente não tomaram o poder por conta das hesitações de sua direção. Esse processo foi mais um episódio
de uma longa trajetória de lutas dos camponeses equatorianos e de suas organizações, especialmente
aquelas ligadas ao movimento indígena.
No começo do século, em janeiro de 2000, os trabalhadores equatorianos, por meio do Parlamento dos
Povos, derrubaram o governo e colocaram na ordem do dia a possibilidade de tomada do poder. O texto que
segue mostra em detalhes como se deu esse processo revolucionário, que por pouco não derrubou as
com a crise de direção. Para acompanhar essa discussão e todo o processo de lutas em curso na América
Latina e em outros continentes, assine o Tempo de Revolução.
derrubado o governo do presidente Jamil Mahuad. Portanto, é necessário esclarecer antes de tudo que o
que aconteceu no Equador na última semana é uma revolução.
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“Naqueles momentos cruciais em que a velha ordem se torna insuportável para as massas, elas rompem as
barreiras que as excluem da arena política, varrem para o lado seus representantes tradicionais e criam por sua
própria interferência as bases iniciais para um novo regime.” (Trotsky, História da Revolução Russa)
Para entender o magnífico movimento de massas no Equador dos últimos dias, devemos voltar ao início dos
anos 90, quando toda uma série de governos, tanto de direita quanto de “esquerda”, começaram a aplicar
fielmente os planos de ajuste estrutural ditados pelo FMI. Os resultados já estão à vista de todos: dois terços
Em 1995, o Equador travou uma curta guerra contra o Peru com o objetivo principal de desviar a atenção
das massas de seus problemas sociais para uma onda de fervor nacionalista. Mas isso durou pouco tempo e
alguns meses depois houve protestos em massas dos trabalhadores contra as políticas econômicas do
uma votação expressiva em Abdalá Bucaram, que conquistou a presidência com base em promessas
demagógicas. Em poucos meses, ele rompeu todas as suas promessas e adotou os mesmos planos de
ajuste ditados pelo FMI, incluindo aumentos maciços de preços de todos os produtos básicos. Da noite para
o dia, a eletricidade aumentou 500%, o gás 340%, as tarifas telefônicas 700%, entre outros. Esta foi a
centelha que acendeu o mal-estar acumulado. Os sindicatos convocaram uma greve nacional nos dias 5 e 6
de fevereiro de 1997, que se tornou uma greve por tempo indeterminado. Bucaram tentou se manter no
poder por meio da repressão, decretando estado de emergência e levando as tropas às ruas, mas isso não
interrompeu os protestos. Ele então tentou retirar todo o pacote de medidas econômicas, mas também não
funcionou e, finalmente, Bucaram, “o louco”, teve que fugir do país.
A burguesia equatoriana, tomada pelo pânico dada a magnitude do movimento e sua incapacidade de detê-
lo pela repressão, rapidamente fez um acordo e nomeou Fabián Alarcón como presidente interino. Já
naquela época as organizações sindicais alertavam que o objetivo da greve não tinha sido apenas forçar a
renúncia do presidente, mas a rejeição de suas políticas econômicas.
O novo governo de Alarcón seguiu exatamente as mesmas políticas de Bucaram e Jamil Mahuad desde que
foi eleito em 1998. Um país pobre e altamente endividado como o Equador tem pouco espaço de manobra
no que diz respeito às políticas econômicas. Enquanto a lógica do capitalismo for aceita, só há uma saída
possível: descarregar o peso da crise sobre os ombros dos trabalhadores e camponeses. Eles resistiram a
todos os ataques ao seu padrão de vida lançados pelo governo e em várias ocasiões os derrotaram. Em
março do ano passado, uma greve geral de 48 horas obrigou o governo a retirar seu plano de ajuste e o
mesmo aconteceu em agosto do mesmo ano.
Dolarização da economia
O ano 2000 começou no Equador com 62% da população abaixo da linha da pobreza, 70% da força de
trabalho desempregada ou subempregada, uma queda da economia de 7,2% e uma taxa de inflação de
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70%. Diante dessa situação, o governo de Mahuad decidiu decretar a dolarização da economia a uma taxa
de 25.000 sucres (moeda equatoriana) por dólar.
A dolarização da economia, que já foi aplicada na Argentina, representa uma tentativa desesperada da
burguesia latino-americana de encontrar uma saída. O argumento é que isso aumentará a “confiança” dos
investidores estrangeiros. Longe de resolver os problemas econômicos do país, amarrar uma economia em
profunda recessão à economia dos EUA significará apenas mais planos de austeridade. Ao perder sua
autonomia na política monetária, as únicas medidas que um governo poderia usar para sair da recessão
seriam mais cortes nos gastos públicos, privatizações, cortes em salários e subsídios etc. Isso, longe de ser
uma receita para a recuperação da economia, contrairia ainda mais o mercado interno, mergulhando o país
em uma recessão ainda mais profunda. No curto prazo, a dolarização pode ter o efeito de controlar a
inflação, mas apenas paralisando a atividade econômica quase completamente. É claro que em meio a uma
No caso concreto do Equador, a dolarização a 25.000 sucres por dólar também é um belo presente para
capitalistas e banqueiros que têm contas em dólares que compraram a 15.000 sucres.
Com base nessas experiências passadas, os movimentos operários e camponeses do Equador decidiram
partir para a revolta desta semana. A Confederação Nacional de Nacionalidades Indígenas (Conaie) e a
Coordenação de Movimentos Sociais (CMS) criaram o Parlamento Nacional Popular e anunciaram um
levante nacional por tempo indeterminado a partir de 15 de janeiro, e a tomada de Quito por milhares de
camponeses indígenas vindos de todo o país.
O caráter desse movimento revela uma mudança qualitativa. A luta não é mais apenas para mudar de
presidente ou para forçar novas eleições. Agora, o objetivo aberto da luta é uma “insurreição nacional”, o
estabelecimento de parlamentos populares em nível nacional, regional e local como os únicos órgãos de
“Os movimentos indígenas e sociais mudaram o que havia sido sua direção e plataforma política desde que
apareceram pela primeira vez como uma força de resistência no início dos anos 90. Essa mudança, na forma do
levante atual, os levou a romper completamente com as formas de poder estabelecidas. […] Eles estão procurando
criar um estado paralelo, com suas próprias regras e representantes. […] O objetivo final desse movimento não é
derrubar o presidente Mahuad ou levar suas demandas ao Congresso, isso eles já fizeram e não obtiveram
resultados. Por isso levantam a necessidade de estabelecer novas formas de organização. O caminho que
escolheram não é apenas a continuação de seus chamados parlamentos provinciais e o nacional, como também a
criação de novos no nível cantonal. Uma democracia, a que chamam de direta, sem pedir permissão a ninguém e
sem recorrer a intermediários. No passado, já os utilizaram, mas não deram qualquer resultado” (El Comercio,
16/1/00).
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anteriores.
A revolta começou em 15 de janeiro com a declaração do estado de emergência pelo governo e prisões em
massa de líderes sindicais e estudantis. É importante deixar claro que o movimento foi iniciado pelas
movimento indígena e contra as políticas econômicas e sociais do governo. Segundo a Agência Pulsar: “o
secretário do Sindicato Petroecuador, Diego Cano, disse que não tem medo da presença nas ruas e
estradas de mais de 30 mil soldados e policiais e que sua intenção é protestar até que Jamil caia com todo o
seu governo”.
A Frente Única dos Trabalhadores e a Confederação dos Sindicatos Livres do Equador também aderiram à
insurreição. Nas palavras de Saltos Garza, porta-voz da Coordenação dos Movimentos Sociais, “esta não é
uma revolta indígena, é uma revolta dos povos do Equador, dos movimentos sociais e dos cidadãos
e provinciais. Em Cuenca, por exemplo, uma manifestação impressionante de 50 mil pessoas entrou em
de setores da pequena burguesia, principalmente pequenos lojistas, que aderiram ao movimento em todo o
país. Em Loja, no Sul, houve manifestações diárias e confrontos com a polícia. O exército ocupou o campus
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Apesar do impressionante desdobramento da polícia e do exército para impedir a entrada dos indígenas na
capital Quito, na quarta-feira havia mais de 20 mil deles nas ruas. O líder da Conaie, Antonio Vargas, disse
que “os indígenas e seus apoiadores urbanos não vão se ajoelhar diante dos ladrões e corruptos que detêm
o poder econômico e político. Ele apelou para a formação de uma frente única, pois só o povo pode salvar o
povo. Apelou à polícia e ao exército para que apontem suas armas contra os que estão saqueando o país e
não contra os indígenas ou o povo, que são seus irmãos” (PULSAR, 19/01/00).
província. O exército fala em uma maré vermelha por causa da cor dos ponchos tradicionais dos índios desta
região. Ao mesmo tempo, o parlamento popular provincial da região amazônica anunciou a tomada dos
poços de petróleo por trabalhadores e índios.
A insurreição foi adquirindo um caráter mais massivo com o passar dos dias e não foi detida pela repressão
nem pelas mentiras do governo, que chegou a imprimir comunicados falsos em nome da Conaie ameaçando
manifestações em Quito. Durante dias cercaram as instituições do poder do Estado com o objetivo de
dominá-las. O governo organizou a defesa desses prédios com o exército e os protegeu com arame farpado,
mas não há força capaz de deter todo um povo quando decidiu que basta e, finalmente, na sexta-feira, 21,
eles assumiram o parlamento. Assim descreve Pulsar: “Os movimentos indígenas e camponeses do
Equador, junto com os setores urbanos organizados e com total apoio das camadas médias e dos soldados
dos três ramos das Forças Armadas, estabeleceram um poder alternativo neste país. Isso aconteceu quando
a grande massa de indígenas e camponeses de Quito rompeu o cerco ao prédio do Parlamento e o tomou.
No início houve resistência dos soldados, mas de repente chegaram centenas de soldados em carros
blindados, vindos da Academia Militar e que apoiaram a ocupação”. Um grupo de 70 jovens coronéis
liderados por Lucio Gutierrez declarou que estava se juntando à insurreição.
O papel do exército
Ao analisar o fato de que um setor do exército se juntou à insurreição, devemos levar em conta uma série de
fatores. Por um lado fica claro que uma parte importante dos soldados, suboficiais e até alguns oficiais se
identificam com a luta dos trabalhadores e camponeses que afinal, como disse Antonio Vargas, são seus
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Por outro lado, também é possível que setores dos oficiais do exército sintam-se sinceramente desgostosos
com as políticas econômicas do governo de Quito, que favorecem apenas um punhado de banqueiros e, no
final das contas, equivalem à “venda do país ao imperialismo a preços de queima de estoques”. Esta ala de
“oficiais patrióticos” que quere livrar o país da corrupção e da intervenção estrangeira tem um exemplo a
seguir no movimento de Chávez na Venezuela, que tem exatamente essas mesmas características. É
significativo que seja a primeira vez em anos que vemos a entrada de setores do exército na arena política
ao lado das camadas mais oprimidas da sociedade.
No período após a Segunda Guerra Mundial, o impasse do capitalismo no mundo colonial forçou setores da
casta de oficiais a tomar o poder em vários países, na tentativa de retirá-los de seu atraso e libertá-los da
dependência ao imperialismo. Em alguns casos, tomando como forma o modelo stalinista da União
Soviética, nacionalizaram a economia expropriando o imperialismo e a débil burguesia nacional. O modelo
stalinista era útil para eles, pois uma economia planificada permitia o desenvolvimento econômico do país e,
ao mesmo tempo, a ausência de uma democracia operária permitia a esses oficiais conceder a si mesmos
todos os privilégios de uma casta dominante. Foi o que aconteceu em países como Síria, Birmânia, Etiópia e
Agora o modelo da União Soviética não existe mais para ser seguido, mas o impasse total do capitalismo em
vários países ainda obriga setores da casta de oficiais a entrar na política com um programa muito confuso,
uma mistura de populismo, anti-imperialismo e de rejeição do modelo econômico “neoliberal”, ou seja, a
política de “ajuste estrutural”, privatizações, etc. O exemplo mais claro disso é Chávez na Venezuela.
Não está claro até onde irão sob a pressão das massas, mas é dever dos marxistas enfatizar que a
revolução deve ser realizada pela classe trabalhadora liderando todas as camadas oprimidas da sociedade.
Caso contrário, no máximo, veríamos o estabelecimento de um regime stalinista sob o controle firme dessa
casta de oficiais.
Provavelmente, o grupo de 70 oficiais que decidiu apoiar o levante na manhã de sexta-feira pertence a essa
categoria de “oficiais patrióticos” descontentes. Parece que os contatos entre so dirigentes camponeses e os
movimentos sociais e esta ala do exército já haviam começado em dezembro. Após a posse do Congresso
Nacional foi constituída a Junta Civil-Militar de Salvação Nacional. A composição desta junta e suas
primeiras declarações refletem claramente as deficiências do movimento. A Junta é formada pelo líder da
Conaie, Antonio Vargas, pelo ex-presidente da Suprema Corte, Carlos Solórzano, e pelo coronel Gutierrez.
Em sua primeira declaração, Lucio Gutierrez apela aos “ex-presidentes do Equador, políticos honestos,
Igreja, mídia, empresários e banqueiros honestos, trabalhadores, desempregados e mulheres para apoiar
uma mudança no país.” (Pulsar, 21/1 /00). No mesmo sentido, Carlos Solórzano afirma que: “Queremos
convidar empresários de boa vontade e banqueiros honestos a participar deste governo. A única coisa que
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queremos daqui para frente é que o país não seja saqueado. Chega de roubar. Queremos um Equador livre
Direção confusa
Aqui podemos ver claramente como a principal fraqueza do movimento é justamente sua direção. Depois
que os trabalhadores e camponeses tomaram o poder, seus próprios líderes já estavam pensando em como
devolvê-lo aos banqueiros e capitalistas, embora apenas “honestos”, por enquanto. A confusão dos
dirigentes do movimento levou-os a recorrer a elementos do velho aparelho de Estado para criar um novo. O
poder já estava em suas mãos, mas eles não perceberam. Assim, o movimento que era muito radical em seu
caráter e formas de organização era muito fraco e confuso em seu programa político.
Na noite de sexta-feira, os “Communards“, como são chamados pela imprensa, com o apoio de setores
militares finalmente tomaram o Supremo Tribunal Federal e o Palácio Nacional, de onde Mahuad já havia
fugido.
Então, o comandante supremo das Forças Armadas, general Carlos Mendoza, vendo o poder escapar de
suas mãos, decidiu aderir à insurreição depois de já ter sido vitoriosa, e só para poder traí-la por dentro, e
Isso encerrou o primeiro capítulo desse movimento revolucionário. As massas provaram mais uma vez que,
quando começam a se mover, não há poder na terra que possa detê-las. Desta vez, seu objetivo era claro: a
derrubada não apenas de um governo, mas de todo o aparato estatal e sua substituição por outro
baseado nos parlamentos populares. Em apenas cinco dias, as massas camponesas e operárias do
Equador, usando seus métodos tradicionais de luta, a greve geral, a insurreição, a mobilização de massas e
O problema é, como em tantas outras revoluções, a falta de uma direção genuinamente revolucionária capaz
de levar o movimento até o fim. Assim como na Rússia em fevereiro, na Alemanha em 1918 e na Espanha
No sábado, o Equador acordou com a notícia de que o general Mendoza, supostamente membro da Junta
de Salvação, havia devolvido o poder ao vice-presidente de Mahuad, Gustavo Noboa. Sua primeira
declaração afirmava que “continuará principalmente com as políticas econômicas do deposto Mahuad” e que
“a dolarização, o plano de resgate do sistema bancário e a modernização iniciada pelo deposto Jamil
Agora está claro que o general Mendoza agiu como um peão daqueles setores da burguesia que temiam
que a tentativa de Mahuad de se agarrar ao poder pudesse terminar com a derrubada completa de seu
regime. A decisão de entregar o poder ao vice-presidente foi tomada pelo general Mendoza após visita à
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embaixada dos Estados Unidos. Jamil Mahuad, que viu o poder da classe que ele representa
No momento em que escrevo, as notícias ainda são confusas. O grupo de coronéis que se juntou à
insurreição sente-se traído e o coronel Gutierrez foi preso. Parece que na madrugada de sábado as massas
discutiram a possibilidade de retomar o Palácio do Governo. Romelio Gualán, líder indígena e camponês diz
que “o povo indígena não teme a morte, pois já está morrendo de fome no campo, então prefere morrer nas
estradas, nas ruas das cidades, buscando uma mudança para todo o povo equatoriano”.
No final, a direção do movimento, que baseara toda a sua estratégia no apoio a uma ala do exército,
sentindo-se traída pelos generais, abandonou o campo de batalha. A verdade é que o general Mendoza não
traiu o movimento, pois desde o início se pôs à sua frente apenas para decapitá-lo. No sábado de manhã a
situação ainda não estava perdida. Se os líderes tivessem se baseado na formação de comitês de soldados
e na extensão dos parlamentos populares a todos os níveis, e no expurgo de todos os elementos burgueses,
eles ainda poderiam ter mantido o poder. Como mostraram os acontecimentos da sexta-feira, dia 21, o poder
não estava nas mãos de seus representantes oficiais (parlamentares, juízes e presidente), mas nas ruas de
Quito e de todo o país estavam nas mãos dos parlamentos populares e do parlamento nacional do povo.
não souberam responder e aceitaram. Eles não perceberam que o general Mendoza tinha pouco poder real
para apoiá-lo, já que a maior parte do exército estava do lado dos comunards. Se tivessem feito um apelo às
massas operárias e camponesas reunidas para retomar o Palácio Nacional, e aos soldados para que
apontassem suas armas contra os generais e se juntassem ao movimento, a situação teria sido totalmente
diferente.
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As últimas notícias parecem indicar que os camponeses e indígenas deixaram a capital e dissolveram o
parlamento popular. Alguns parlamentos populares provinciais não foram dissolvidos e há relatos de que o
movimento de massas continua em algumas das províncias. Assim, no domingo, 23, El Comercio noticiou:
“Em Riobamba e Guaranda as manifestações indígenas continuaram com a palavra de ordem de continuar o
movimento. Também houve mobilizações em Ambato e Otavalo… Em Riobamba, cerca de 15.000 índios
marcharam até o mercado de Condamine e forçaram seu fechamento. Logo realizaram uma reunião na Casa do
Indígena, onde seus líderes ratificaram o caráter indefinido da revolta… Em Guaranda, às 10h30, uma marcha de
mais de 3.000 índios forçou o fechamento do mercado e das lojas. Os líderes declararam que estavam
desapontados com o curso do movimento e ratificaram a continuação do levante.” (El Comercio, 23/01/00)
Apesar disso, a tendência geral parece ser a dissolução dos parlamentos populares locais e o fim do
movimento.
Seja qual for o resultado imediato deste levante, é claro que as massas operárias e camponesas
aprenderam muito sobre o papel do Estado, o papel dos comandantes do exército, sobre sua própria força,
etc. A burguesia equatoriana é completamente incapaz de resolver qualquer um dos problemas econômicos
urgentes do país e, portanto, este não é o fim do processo, apenas mais um importante capítulo.
O Equador não é um caso isolado na América Latina. Colômbia, Venezuela, Argentina, Honduras, Nicarágua,
Costa Rica, Brasil, todo o continente tem testemunhado mobilizações de massas, greves gerais e
insurreições camponesas repetidas vezes nos últimos anos. Estão reunidas todas as condições para uma
revolução vitoriosa. Assim que isso acontecer em um país, ele se espalhará como fogo em todo o continente.
A necessidade mais urgente para os trabalhadores das cidades e do campo no Equador e no resto do
continente é forjar uma direção revolucionária firmemente baseada no princípio da independência de classe
e em um programa socialista genuíno, o único que pode oferecer um caminho a seguir para as massas do
continente.
23 de janeiro de 2000
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