Primeira Linha de Tratamento – Mudança do Estilo de Vida – na Síndrome
do Ovário Policístico em Reprodução Assistida
Autoras: Helena Castilhoni Belique e Júlia Beatrice de Santa Maria
Co-autores: Sérgio Gustavo e Tamires Franca
Introdução: A síndrome dos ovários policísticos (SOP) acomete por volta de
13% da população feminina em idade fértil e se caracteriza por ciclos anovulatórios, hiperandrogenismo e resistência a insulina. A prevalência de sobrepeso e obesidade está aumentada nas pacientes com SOP, bem como a taxa de ganho de peso, estando diretamente relacionado com a fisiopatologia e a expressão dos sintomas. Pacientes com sobrepeso tendem a ter mais resistência a insulina e desregulação hormonal e consequentemente mais ciclos anovulatórios e menor fertilidade. Assim, a perda de peso é um pilar para melhorar os sintomas da SOP e promover a fertilidade. Objetivo: Descrever, conforme a literatura mais atual, baseada em evidências científicas, qual a primeira linha de tratamento para a SOP na reprodução humana, detalhadamente. Metodologia: Foi realizada uma busca de artigos durante o mês de Abril de 2023 na base de dados PubMed, filtrando por artigos com todo texto disponível, dos últimos cinco anos, usando os termos Polycystic Ovary Syndrome, Lifestyle e Fertility ou Infertility. Foram selecionados pelo título e resumo seis artigos compatíveis com o tema proposto, para confecção de seminário do segundo módulo da Pós-Graduação em Reprodução Humana do Instituto Gera de 2023. Discussão: É consenso que realizar mudanças no estilo de vida (MEV) por meio de estratégias que combinem dieta, atividade física e intervenções comportamentais são capazes de melhorar os sintomas da SOP, agindo principalmente por meio da perda de peso, melhorando diversos parâmetros, entre eles a resistência à insulina e as taxas hormonais. A redução a partir de 5% do peso já é suficiente para regularizar o ciclo menstrual em algumas mulheres. É indicado que se faça uma dieta balanceada, com redução calórica e melhora na qualidade dos carboidratos, preferindo aqueles de baixo índice glicêmico, maior quantidade de fibras e proteínas. No entanto, os estudos e metanálises não mostram superioridade entre os diferentes tipos de dieta. As pacientes devem ser estimuladas a reduzir o sedentarismo e realizar atividades físicas estruturadas, preferencialmente sob orientação profissional. Se há necessidade de perda de peso, é indicado atividade de moderada intensidade por 250 minutos por semana ou 150 minutos de atividade vigorosa, e para manutenção do peso, entre 150 e 300 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade intensa por semana. Para ambas as situações, indica- se dois dias não consecutivos de atividade de resistência na semana. Não há evidências acerca da melhor modalidade de exercício físico para essas pacientes. Intervenções comportamentais como terapia cognitivo- comportamental e mindfullness têm se mostrado eficazes na melhoria dos sintomas, por melhorar a aderência à dieta e atividade física e atuar sobre os distúrbios alimentares e de humor. Os estudos não especificam a melhoria das MEVs na fertilidade, concluindo que haveria melhora pelo retorno à ovulação, porém sem evidência sólida de que altere o número de gestações e nascidos vivos em pacientes com SOP. Conclusão: MEVs combinadas (dieta, atividade física e intervenções comportamentais) melhoram os sintomas de SOP, com efeito incerto na fertilidade. Referências Bibliográficas: Cowan S [et al]. Lifestyle management in polycystic ovary syndrome – beyond diet and physical activity. BMC Endocrine Disorders (2023) 23:14. Hazlehurst JM [et al]. How to manage weight loss in women with obesity and PCOS seeking fertility? Clinical Endocrinology. 2022;97:208–216. International Evidence- based Guideline for the Assessment and Management of Polycystic Ovary Syndrome 2023. Copyright Monash University, Melbourne, Australia 2023 Kite C [et al]. Exercise, or exercise and diet for the management of polycystic ovary syndrome: a systematic review and meta-analysis. Syst Rev. 2019 Feb 12;8(1):51 Oberg E [el al]. Improved menstrual function in obese women with polycystic ovary syndrome after behavioural modification intervention-A randomized controlled trial. Clin Endocrinol (Oxf). 2019 Mar;90(3):468-478. Scarfo G [et al]. Metabolic and Molecular Mechanisms of Diet and Physical Exercise in the Management of Polycystic Ovarian Syndrome. Biomedicines 2022, 10, 1305 2.
Resumo para leigos
A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma doença muito comum em mulheres na idade de gerar filhos e se caracteriza por ciclos menstruais irregulares, alterações no metabolismo da glicose e aumentos dos hormônios masculinos. Está muito associada à obesidade e infertilidade. Mudanças no estilo de vida como dieta, atividade física e terapia são efetivas para a perda de peso e melhora dos sintomas da SOP. Não existe uma dieta específica para a SOP, porém deve-se adotar uma dieta com carboidratos de qualidade, que não sejam rapidamente absorvidos, mais rica em fibras e proteínas. Qualquer atividade física é melhor do que o sedentarismo, sendo escolhida aquela que for da preferência da paciente. Recomenda-se pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica por semana se precisa manter o peso e no mínimo 250 minutos por semana se precisa perder peso, associado a exercícios de força (musculação) duas vezes por semana. Terapia com professional como psicólogo também podem ajudar na melhoria da qualidade de vida. Os estudos não mostraram efetivamente se fazer dieta e atividade física melhora a chance de engravidar na paciente com SOP, mas por melhorar a ovulação, entende-se que também há maior possibidade de gravidez. Além disso, pacientes que conseguem a perda de peso terão uma gestação com menos complicações.
Os Efeitos Da Suplementação de Simbióticos No Estado Metabólico de Mulheres Com Síndrome Do Ovário Policístico - Um Ensaio Clínico Randomizado Duplo-Cego PDF