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ALFABETIZAÇ

ÃO E
LETRAMENTO

FUNDAMENTO
SE
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METODOLOGIA
S NA
EDUCAÇÃO
BÁSICA
CONVERSA INICIAL

AULA
Nesta 2aula, vamos refletir sobre as teorias de três

teóricos importantes na aprendizagem: Piaget, Vygotsky e

Emilia Ferreiro. Embarcamos nesse itinerário com o intuito

de compreender os aspectos que envolvem principalmente

o desenvolvimento da linguagem, na aprendizagem da


leitura e da escrita e nos processos que envolvem a

alfabetização e letramento. Não faremos muitas paradas


reflexivas, pois as teorias desses autores são complexas e
necessitam de estudos detalhados, mas procuramos

apresentar pontos importantes de análise e necessários


para o professor que será professor alfabetizador,
Profªe Sônia
pedagogo de Fátimada
estudioso Radvanskei
área. São conceitos
Profª Janeque
imprescindíveis Aparecida Radvanskei
devemos da Silva
conhecer para que
possamos aprimorar o nosso trabalho e ter habilidade e

competência na mediação de conhecimentos na escola, na


sala de aula e na formação de professores, porém, aqui

serão apenas pinceladas, o ideal é ler a obra de cada autor


para ter conhecimento e não apenas informação.

Ribas, Carvalho e Alonso (1999, p. 38) salientam que

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Entendemos que devemos buscar a
competência pedagógica na própria prática,
no dia a dia da experiência vivida, no refletir-
se sobre ela, uma vez que essa reflexão se
processa antes, durante e depois da ação, no
movimento dialético ação-reflexão-ação.

Esperamos que por meio desta aula você consiga:

Conhecer as teorias de Piaget, Vygostsky e Emilia

Ferreiro;
Aprofundar-se nas teorias construtivistas de Piaget

na concepção sócio interacionista de Vygotsky e na


Psicogênese da Língua de Emilia Ferreiro;
Relacionar a importância dos estudos de Emilia

Ferreiro, Vygotsky e Piaget para aprendizagem dos


estudantes.

Então, vamos para o nosso estudo sobre a


aprendizagem da leitura e da escrita?

TEMA 1 – PIAGET: QUALIDADE DA


TROCA INTELECTUAL

Considerado por muitos como o mais importante


teórico que estudou sobre a gênese do desenvolvimento

da inteligência humana, Jean Piaget (1896-1980), biólogo


suíço, descobriu em seus estudos que o aprendizado

ocorre de forma gradual, em que o sujeito vai se


capacitando por etapas cada vez mais complexas, para

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construir conhecimentos seguindo uma sequência lógica
de pensamento.

Como salienta esse autor: “o homem normal não é


social da mesma maneira aos seis meses ou aos vinte anos
de idade, e por conseguinte, sua individualidade não pode
ser da mesma qualidade nesses dois diferentes níveis”

(Piaget, 1973, p. 242).

Nesse pressuposto, Piaget considera um critério muito


importante no desenvolvimento e também no sentido de
quando um adulto é social, salienta nessa relação a
qualidade da troca intelectual entre dois indivíduos, e

reitera que “o grau ótimo de socialização se dá quando tal


troca atinge o equilíbrio” (La Taille, 2019, p. 12). O que
seria então essa relação de equilíbrio? Piaget (1973, p.
162) explica esse equilíbrio de troca de pensamento com
as seguintes pressuposições: “1. um sistema comum de

signos e de definições, 2. uma conservação das


proposições válidas obrigando aquele que as reconhece
como tal e 3. uma reciprocidade de pensamento entre os
interlocutores”.

E o que isso significa? Essa socialização do


pensamento e a relação entre os semelhantes de forma
equilibrada podem ser explicadas da seguinte forma:

A maneira de ser social de um adolescente é


uma, porque é capaz de participar de
relações como aquela descrita pela equação,

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e a maneira de ser social de uma criança de
cinco anos é outra, justamente porque não é
capaz de participar de relações sociais que
expressam um equilíbrio de trocas
intelectuais sociais que expressam um
equilíbrio de trocas intelectuais. (La Taille,
2019, p. 14).

Saiba mais

Piaget explica como aplicar essa equação para as


trocas intelectuais:

1. O indivíduo a enuncia uma proposição Ra


(verdadeira ou falsa em graus diversos);

2. O interlocutor a’ está de acordo (ou não,


em graus diversos), este acordo é designado por
Sa’;

3. O acordo (ou desacordo) de a’ o liga ao

par aa, sequência das trocas entre a’ e a, donde


Ta’;

4. Esse engajamento de a’ confere à


proposição Ra um valor Va (positivo ou negativo)
no que tange às trocas futuras desses mesmos

indivíduos.

Por meio dos estudos de Piaget, surge a ideia de que

o aprendizado é construído pelo estudante e é essa teoria

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que inicia a corrente construtivista em que o autor
responde às perguntas de como e por que o sujeito se

comporta de determinada maneira, em determinada


situação em cada momento de sua vida. O autor sintetizou
sua pesquisa principalmente no desenvolvimento infantil,
pois entendia que, desde a infância, o sujeito passava por
alguns estágios de desenvolvimento até atingir a

competência cognitiva.

No construtivismo, a inteligência não inicia pelo


conhecimento do eu nem pelo conhecimento das coisas,
mas pela interação dos dois. Nessa interação, a
inteligência organiza o mundo organizando a si própria.

Para tanto, segundo Piaget (La Taille, 2019), o


conhecimento é construído, ou o desenvolvimento da
inteligência é explicado levando em conta quatro fatores
essenciais:

1. A maturação;

2. O papel da experiência, dos efeitos do


ambiente físico na estrutura da inteligência;

3. A transmissão social em sentido amplo

(transmissão por linguagem, educação, etc.);

4. A equilibração ou autorregulação (fator

principal).

Piaget (1994) sustenta a teoria da epistemologia

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genética que pesquisa a complexa relação entre o sujeito e
o objeto do conhecimento e, mais especificamente, as
mudanças evolutivas que se dão nessa relação sujeito-
objeto. Para Piaget (1994), o conhecimento não procede a
partir somente do sujeito, nem somente do objeto, mas

sim da interação entre os dois. Nessa investigação, Piaget


sustenta que o desenvolvimento natural da criança e o
pensamento infantil passa por quatro estágios de
desenvolvimento, que iniciam no nascimento e perpassam
até o início da adolescência, fase em que o raciocínio
lógico é atingido, segundo esse autor.

Os quatro estágios de desenvolvimento, segundo


Piaget, são: estágio sensório motor (0 a 2 anos
aproximadamente); estágio pré-operatório (2 a 7 anos
aproximadamente); estágio das operações concretas (7 a
9/12 anos aproximadamente); e estágio lógico-formal (a
partir dos 12 anos aproximadamente).

Durante esse processo em que a criança adquire e


constrói seu conhecimento, ocorre o que Piaget chama de
estado de desequilíbrio, considerado uma transição entre
um estágio e outro.

Para Piaget (1994), esse estágio de desequilíbrio gera


um conhecimento que se desenvolve por meio de dois
processos: assimilação e acomodação e que ocorrem
durante toda a vida do indivíduo. Com base nele
acontecerá um reajuste mental de maneira a buscar um

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novo equilíbrio. Nesse movimento permanente de
reajustamento, o sujeito aciona determinados mecanismos
(Nunes; Silveira, 2009).

A assimilação ocorre quando apresentamos à criança


algo do mundo exterior e ela o relaciona a esquemas

mentais preexistentes naquele momento, por exemplo,


quando apresentamos o alfabeto à criança e ela reconhece
e relaciona a primeira letra do seu nome e a chama de M
da MARIA. Ela, então, assimilou que a letra M compõe seu
nome.

Mas se essa mesma criança observa a palavra


MACACO e diz que ali está escrito MARIA e alguém a
corrige dizendo que além de MARIA existem outras
palavras que também iniciam com a letra M, ela entra no
processo de acomodação, no qual ocorrem modificações
no sistema de assimilação já existentes, passando a
adaptar seu novo conceito.

A transição entre um estágio e outro de


desenvolvimento ocorre antes mesmo de a criança
ingressar no ambiente escolar. Mesmo antes de ler e
escrever, a criança tem contato com livros, revistas, ouve
histórias lidas por pessoas alfabetizadas, presencia a
prática de leitura, ou de escrita, e, a partir daí, também se

interessa por ler, mesmo que seja só encenação, criando


seus próprios textos lidos, e ela também pode ser
considerada letrada (Soares, 2003, p. 43).

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TEMA 2 – ESTÁGIOS DE
DESENVOLVIMENTO PIAGETIANOS

Para Piaget (1994), cada estágio do desenvolvimento


humano é caracterizado por aquilo que melhor o indivíduo
consegue realizar nessa faixa etária. Como explica
Cardoso (1993, p. 50): “o papel do educador é
precisamente este: conseguir sempre alcançar a máxima
capacidade da criança.”

Como educadores, devemos compreender que todos


passam por estágios de desenvolvimento, no entanto, seu
início e seu término variam de indivíduo para indivíduo
justamente porque influenciam nesse desenvolvimento,

características biológicas, fatores sociais e educacionais.

A criança inicia o desenvolvimento desses estágios,


segundo Nunes e Silveira (2009) de uma posição
considerada egocêntrica, pois ainda não diferencia a
existência de um mundo externo separado de si e, dessa

forma, molda sua inteligência em função de adaptações,


assimilações e acomodações do seu pensamento,
passando a interagir com o mundo externo e diminuindo
assim seu egocentrismo. O pensamento egocêntrico é
centrado no eu. La Taille (2019) traz exemplos clássicos
sobre esse conceito:

Pede-se a uma criança, colocada de um lado


de uma mesa sobre a qual estão diversos
objetos, que desenhe ou escreva como uma

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outra pessoa, sentada do lado oposto, veria
os mesmos objetos. [...] tendem a desenhar o
que elas mesmas veem – porque justamente,
isto exige que o sujeito se descentre, ou seja,
se coloque do ponto de vista (espacial, no
caso) de outrem. (La Taille, 2019, p. 15)

Inicialmente, o primeiro estágio, denominado por


Piaget de sensório-motor, inicia-se no nascimento e vai
até os 2 anos aproximadamente. Considera-se esse
período de marcha para o equilíbrio, em que “a criança
constrói esquemas de ação em que constituem numa
espécie de lógica de ações e das percepções” (La Taille,
2019, p. 15). Nessa fase, o conhecimento se dá pelo
contato físico com os objetos. Entende-se que, nesse
estágio, para que a criança saiba o que é um bichinho de

pelúcia, ela precisa tocá-lo, segurá-lo, levá-lo à boca e


manuseá-lo. Os conceitos fundamentais nessa fase
sensório-motora são os seguintes: assimilação,
acomodação, esquemas, equilibração e objeto
permanente. De uma maneira bastante resumida, esses
conceitos podem ser explicados da seguinte maneira:

Assimilação: (da experiência à mente): incorporação


de um elemento do meio exterior aos esquemas de
ação do sujeito, ou seja, “a assimilação mental é a
incorporação dos objetos aos esquemas de ação do
sujeito” (La Taille, 2019). Como exemplo, podemos
relacionar as tentativas do indivíduo de solucionar os

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desafios e ou situações utilizando uma estrutura
mental já formada, já existente, ou quando essas
estruturas já são eficientes e são transformadas de
acordo com novos estímulos;
Acomodação: (da mente à experiência): modificação

dos esquemas ou estruturas do sujeito em função do


objeto, ou seja, “o segundo processo central a
invocar [que constitui os componentes de todo
sistema cognitivo] é a acomodação, ou seja, a
necessidade em que se encontra a assimilação de
dar conta das particularidades próprias dos
elementos a assimilar” (Montangero; Maurice-
Naville, p. 97);
Estes dois conceitos, assimilação e adaptação,
ocorrem simultaneamente, são complementares e

estão presentes em toda a vida dos indivíduos,


permitindo um processo e estado de adaptação
intelectual. Seria como um professor planejar a aula
com a mesma metodologia (assimilação) para duas
turmas diferentes. Ao realizá-la da mesma maneira, a
que preparou, organizou e achava adequada foi
modificada de acordo com o contexto das turmas;

Esquemas: Piaget (1996) conceitua esquemas de


ação aquilo que, em uma ação, pode ser transposto,
ultrapassado, passível de generalização e diferencia-
se de uma situação à seguinte. Dito de outro modo, o
que se parece, o que há de comum às diversas

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repetições ou aplicações da mesma ação, por

exemplo, os esquemas feitos pela criança para


compreender um cachorro: tem quatro patas, tem
orelha, pelo etc.;
Equilibração: Freitas (2010, p. 65) esclarece que
“todo equilíbrio cognitivo vai depender da adaptação
que, por sua vez, consolida-se através do processos
fundamentais de assimilação e acomodação que,
embora distintos, são indissociáveis”;
Objeto permanente: uma explicação básica sobre

conceito de objeto permanente para Piaget (1996) é


apresentada na experiência com os bebês dos 18
meses até mais ou menos 24 meses de idade,
explicando que é a capacidade da criança bem
pequena em saber se os objetos existem, mesmo
que eles não possam mais ser vistos ou ouvidos,
como quando colocados escondidos embaixo de um

pano, e a criança fica procurando o objeto.

O segundo estágio, chamado por Piaget de pré-


operatório, vai dos 2 aos 7 anos e tem por característica o

contato com o conhecimento produzido pelas pessoas

com as quais a criança vivencia. Isso ocorre por meio do


jogo simbólico (faz de conta), do desenho e da linguagem,

utilizando-se dos símbolos. Nesse período, a criança


continua sendo egocêntrica e ainda não tem a capacidade

de se colocar no lugar da outra pessoa.

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Para Goulart (2005, p. 55), a criança “tenta dar

explicações a quem não está participando de uma situação

como se estivesse explicando para si mesma”. Entende-se


que nessa fase a socialização já ocorre, porém ainda muito

superficial, pois a criança ainda apresenta traços de


egocentrismo, ocorrendo o que Piaget denomina de

monólogos coletivos, quando há várias crianças falando ao


mesmo tempo, sem que uma compreenda a outra.

Segundo Freitas (2010), nesse período que antecede


as operações concretas, se desenvolve a fase das

condutas de representação ou manifestações das funções


simbólicas, assim, o sujeito adquire a capacidade de

representar os fatos ou histórias do cotidiano, por meio da


imitação, linguagem ou desenho.

Nesse estágio, que se desenvolve dos 7 aos 11 ou 12


anos, a criança passa a desenvolver o raciocínio lógico e é

capaz de reconstituir ações por meio de imagens e


processos mentais. De forma mais ativa com o meio em

que vive, começam a aparecer as primeiras noções das

operações formais, que são reflexões de nível superior de


suas ações. Seu pensamento passa a ser desenvolvido

com uma linguagem interior, alcançando então o estágio


das operações-concretas.

Nesse estágio, a criança desenvolve a habilidade de

nomear objetos por semelhanças ou diferenças, além de

compreender conceitos de tempo e de ordens numéricas.

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Dessa forma, ela passa a desenvolver níveis operatórios de
classificação, seriação e conservação desde que tenha

adquirido previamente conhecimentos necessários para


agir sobre o que aprende, transformando ou incorporando

os conhecimentos prévios, por exemplo, compreender


fatos históricos

Perto dos 12 anos, inicia-se o estágio das operações


formais, considerado a última fase da construção da

inteligência. A criança/pré-adolescente passa a dominar o


pensamento lógico e faz deduções, pois começa a ter

estrutura mental relacionando conceitos mais abstratos,

levantando hipóteses, lidando com a reversibilidade sendo


capaz de realizar processos metais ao contrário,

retomando ao seu início após serem submetidos a uma


série de mudanças definindo assim novos processos.

No estágio operatório formal, período em que


acontece a abstração, o sujeito tem a capacidade de

desenvolver maiores conhecimentos matemáticos, como


compensações complexas, razão proporção e,

posteriormente, probabilidade e indução de leis ou


correlação (Goulart, 2005).

Percebemos a importância da teoria de Piaget para


compreender também os métodos e as práticas de

alfabetização em sala de aula, assim o professor pode


fazer uma escolha consciente de qual é o melhor caminho

para alfabetizar os seus alunos e a ter a sustentação em

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teorias que valorizem a aprendizagem da criança e

responda às suas questões da prática pedagógica.


Primeiro eu preciso conhecer muito bem a teoria para que

possa fundamentar a minha prática.

TEMA 3 – VYGOTSKY E SUA


CONTRIBUIÇÃO PARA A
ALFABETIZAÇÃO

O russo Lev Vygotsky (1896-1934), desde o início de

sua carreira, preocupava-se em desenvolver teorias acerca


de questões ligadas à psicologia e deixou ideias sugestivas

para a educação, além de sua preocupação com psicologia


acadêmica, relacionadas a problemas de crianças com

anomalias congênitas, como a cegueira, retardo mental

severo, surdez, com o objetivo de entender os processos


mentais humanos.

Seu legado teórico de influência marxista, porém

crítico de um marxismo positivista e reducionista, enfocava

nos seus estudos sobre as funções psicológicas


superiores e como a linguagem e o pensamento estão

interligados. Compreende o sujeito como ser histórico e


social apoiado na psicologia e, baseado no materialismo

histórico dialético, tenta recuperar o espaço do sujeito no


mundo e dá à linguagem um lugar central de construção

da consciência. Assim como Piaget, Vygotsky partilhou de


algumas ideias construtivistas nos quais a aprendizagem

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significativa se dá na interação entre os sujeitos e o meio.

No entanto, Vygotsky salienta nos seus estudos


fundamentos do sociointeracionismo, “pelo qual os signos

são os meios de contato com o mundo exterior e também


consigo mesmo e também com a própria consciência”

(Freitas, 2010, p. 89). Por isso, enfatiza a importância da

mediação de instrumentos e signos, em que a fala, a


linguagem é o sistema simbólico mais utilizado. Para

Vygotsky (1989):

Os processos de desenvolvimento não


coincidem com os processos de aprendizado.
Ou melhor, o processo de desenvolvimento
progride de forma mais lenta e atrás do
processo de aprendizado; desta
sequenciação resultam, então, as zonas de
desenvolvimento proximal. [...]. O
desenvolvimento nas crianças nunca
acompanha o aprendizado escolar da mesma
maneira como uma sombra acompanha o
objeto que a projeta. Na realidade, existem
relações dinâmicas altamente complexas
entre os processos de desenvolvimento e de
aprendizado, as quais não podem ser
englobadas por uma formulação hipotética
imutável. (Vygotsky, 1989, p. 102)

Nesse sentido, o desenvolvimento e a aprendizagem

são processos indissociáveis e recíprocos, ou seja, quanto


mais aprendizagem, mais desenvolvimento. Nessa relação,

a aprendizagem por meio da interação desenvolve o que


Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento proximal

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(ZDP) em que existe a distância entre o nível de

desenvolvimento real da criança determinado pela

resolução independente de problemas e o nível mais


elevado chamado de desenvolvimento potencial, que é

determinado pela resolução de problemas com ajuda do


adulto ou em colaboração com pares que estejam em nível

maior de desenvolvimento.

A zona de desenvolvimento real tem por característica

a capacidade que o sujeito possui de desempenhar tarefas


com autonomia, entendendo que esse sujeito alcançou

etapas anteriores de desenvolvimento.

A zona de desenvolvimento potencial é apresentada

por Vygotsky como a capacidade que o indivíduo tem para


realizar atividades com auxílio de um adulto ou de um

colega com maior nível de compreensão. A intervenção de


adultos ou pares nessa aprendizagem é fundamental, pois,

segundo Vygotsky, esse indivíduo alcançará resultados


mais significativos do que aquele que desempenha a

mesma tarefa sozinho.

O nível de desenvolvimento potencial pode variar de

criança para criança, independentemente de que seu


desenvolvimento real esteja no mesmo nível.

Compreende-se então que duas crianças que possuem


idade mental aproximada podem, quando orientadas por

um adulto apresentar diferenças significativas de potencial

de desenvolvimento.

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Ao realizar planejamentos de intervenção nas salas de
alfabetização diante do conceito da zona de

desenvolvimento proximal, o educador necessita investigar


previamente o que o estudante domina ou não,

desenvolvendo práticas adequadas assim como afirma.


Mello (2010) diz que o conceito de zona de

desenvolvimento proximal compreende uma colaboração

entre o docente e a criança e entre crianças e outras


crianças, e ainda salienta que:

É a partir das experiências vividas, social e


coletivamente, que a criança forma para si as
ações internas e, em segundo lugar, porque o
sujeito que aprende é ativo no processo: não
é ouvinte apenas, nem executor de tarefas
fragmentadas, mas é o sujeito das
necessidades de conhecimento às quais a
atividade proposta na escola deve responder.
(Mello, 2010, p. 194)

Nessa mesma direção, Facci (2010) argumenta que na


escola o fundamental é a criança aprender aquilo que ela

ainda não sabe, o novo, que é conhecer o que a criança já

sabe, já domina que é esse desenvolvimento próximo, que


“determina o campo das mudanças acessíveis à criança, é

ela que representa o momento mais importante na relação


da aprendizagem com o desenvolvimento, por esse motivo

é imprescindível que a intervenção do professor se dê em


nível prospectivo" (Facci, 2010, p.136).

Com base no que é observado pelo professor durante

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suas investigações, é possível desenvolver níveis que mais
se aproximam das competências e habilidades que esse

estudante domina, assim como afirma Cagliari (1998, p.

43) ao dizer que:

Quanto mais ciente estiver o professor de


como se dá o processo de aquisição de
conhecimento, de como a criança se situa em
termos de desenvolvimento, de como vem
evoluindo o seu processo de interação social,
da natureza da realidade linguística envolvida
no momento em que está acontecendo a
alfabetização, mais condições terá o
professor de encaminhar de forma agradável
e produtiva o processo de aprendizagem.

Nesse sentido, entendemos que o professor

desempenha importante papel no intercâmbio entre os


pares, auxiliando os estudantes a fim de que estes

desenvolvam suas competências e potencialidades

buscando a informação integral do sujeito.

3.1 CONCEITOS IMPORTANTES NA TEORIA DE


VYGOTSKY: MEDIAÇÃO SIMBÓLICA E
FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES

Entre vários conceitos importantes de Vygotsky,

vamos focar dois que permeiam a aprendizagem e são


essenciais para o professor alfabetizador. Um deles é o

processo de mediação, que é elemento fundamental na


teoria vygotskyana, porque para esse autor o

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conhecimento é sempre mediado, ou seja, “é por meio da

aprendizagem com as relações experimentadas que se


constrói o conhecimentos que vão permitir o

desenvolvimento mental” (Souza; Martins, 2005, p. 95).


Essa mediação ocorre por meio de dois elementos: os

instrumentos (faz a mediação da ação sobre os objetos) e


os signos (regulariza a ação sobre o psiquismo), que são

processos psicológicos fornecidos pela cultura.

A criança, ao nascer, possui as funções psicológicas

elementares como os reflexos e atenção involuntária, que


são controladas pelo meio e relacionados com o estimulo-

resposta, porém, com as mediações e estímulos externos,

essas funções transformam-se em funções psicológicas


superiores, como a consciência, o planejamento, a

atenção, a memória, pensamento abstrato, raciocínio


dedutivo e capacidade de planejamento. Essas funções

são tipicamente humanas, intencionais voluntárias e


conscientemente controladas. Como afirma La Taille

(2019, p. 24):

Vygotsky tem como pressupostos básicos a


ideia de que o ser humano constitui-se
enquanto tal na sua relação com o outro
social. A cultura torna-se parte da natureza
humana num processo histórico que, ao
longo do desenvolvimento da espécie e do
indivíduo, molda o funcionamento psicológico
do homem.

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A linguagem tem um papel central na teoria de
Vygotsky porque é um signo mediador que fornece os

conceitos, as formas de organização da realidade e a

mediação na relação ente o sujeito e o objeto do

conhecimento. É pela linguagem que essas funções


superiores são socialmente formadas e transmitidas pela

cultura. A linguagem como instrumento cultural complexo

permite nomear e qualificar objetos (mesmo que esses

objetos estejam ausentes pois permitem a abstração e


generalização), conceituar e designar ações, qualificar

situações. Além disso, possibilita as relações dialógicas

entre os homens e a organização do real em categorias


conceituais.

Freitas (199, p. 98), ao explicar a relação de Vygotsky

com a linguagem, salienta que “ao mesmo tempo em que a


linguagem é um fator importante para o desenvolvimento

mental da criança, exercendo uma função organizadora de

seu pensamento, ela tem também uma função social e

comunicativa”. Percebe-se, portanto, que os


conhecimentos da teoria de Vygotsky são essenciais nas

construções do conhecimento e na formação de

conceitos. Para Vygotsky (2007, p. 48):

Todas as funções psíquicas superiores são


processos mediados, e os signos constituem
o meio básico para dominá-las e dirigi-las. O
signo mediador é incorporado à sua estrutura
como uma parte indispensável, na verdade a

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parte central do processo como um todo. Na
formação de conceitos esse signo é apalavra,
que em princípio tem o papel de meio na
formação de um conceito e, posteriormente,
torna-se seu símbolo.

Nesse sentido, se relacionarmos esses

conhecimentos com a alfabetização, com o aprendizado


da leitura e da escrita e o trabalho do professor em sala de

aula, percebemos que é essencial que utilizemos palavras

como instrumento de ação e interação social, ou seja,

garantindo espaços em sala de aula para a palavra da


criança. Vilas Boas (1994, p. 23) enfatiza que, quando

utilizamos o que é falado pela criança na sala de aula na

interação com outras crianças “como matéria-prima da


alfabetização, evitamos numa certa medida fracassos e

facilitamos a aprendizagem”.

O professor deve trabalhar a linguagem como símbolo


no ensino da língua em sala de aula, e não apenas como

sinal. Leia mais sobre a formação de conceitos para

Vygotsky para que possa compreender esse processo na

organização de seu planejamento.

TEMA 4 – EMILIA FERREIRO: O QUE


PROPÕE A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA
ESCRITA

A psicóloga Emilia Ferreiro foi discípula de Piaget ao

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ser orientada por ele em seu doutorado na Universidade
de Genebra e se aprofundou no estudo da epistemologia

genética.

A partir de 1974, desenvolveu, em parceria com a


pedagoga espanhola Ana Teberosky, várias pesquisas e

experimentos com crianças, nas quais se propunha um

novo olhar sobre a alfabetização e tais ideias formaram

uma nova teoria, intitulada psicogênese da língua escrita.

A motivação para que Ferreiro e Teberosky

desenvolvessem essa nova teoria veio do baixo rendimento

escolar nos dois países. Tal teoria foi considerada


inovadora para época e trouxe mudanças significativas no

âmbito educacional e trouxe novos conceitos para

programas de alfabetização no Brasil na década de 1980,

sendo considerado inicialmente como um novo método de


alfabetização.

Ao fazer pesquisa de campo e agregar os

conhecimentos adquiridos da psicolinguística e da teoria


psicológica e epistemológica de Jean Piaget, ambas

apresentaram estudos de como as crianças constroem

diferentes hipóteses sobre o sistema de escrita antes

mesmo de iniciar a compreensão do sistema alfabético,


além de compreender como ocorre sua aprendizagem em

relação à sua escrita, denominada sistema de

representação, pois, para Emilia Ferreiro (1999),

alfabetizar é construir conhecimento .

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Nesse sentido, o desenvolvimento dessas pesquisas
contribuiu para concluir que a criança não aprende

somente quando inicia sua vida escolar, e que esse

contato com a linguagem escrita se desenvolve

primeiramente nas relações sociais que antecedem à


escola. Para Ferreiro (1999, p. 23):

Há crianças que chegam à escola sabendo


que a escrita serve para escrever coisas
inteligentes, divertidas ou importantes. Essas
são as que terminam de alfabetizar-se na
escola, mas começaram a alfabetizar muito
antes, através da possibilidade de entrar em
contato, de interagir com a língua escrita. Há
outras crianças que necessitam da escola
para apropriar-se da escrita.

Essa relação com a língua escrita ocorre quando os


símbolos (letras) passam a ser considerados objetos de

atenção da criança de acordo com seu ambiente cultural,

ao interagir com a língua escrita presente em livros,

revistas, gibis, cartazes, placas e internet.

Ao dar sentido a um sinal gráfico e perceber que esse

sinal corresponde a um som da fala, a criança percebe que

ambos se referem a um significado e consegue


desenvolver um pensamento elaborado. Esse caminho só

é possível por meio do lúdico, da imitação, do faz de conta,

da brincadeira, do jogo e do desenho.

Desse modo, os estudos sobre a psicogênese da

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língua escrita possibilitaram a percepção de que as
crianças passam por diferentes níveis de estruturação da

linguagem ao estar em contato com diferentes tipos de

leitura e assim, organizam seu pensamento e criam suas

hipóteses de escrita.

Quando uma criança levanta hipóteses sobre a sua

escrita, compara e reformula novas hipóteses, ela está

desenvolvendo habilidades cada vez mais próximas da


escrita convencional, e esse processo de alfabetização é

constante e contínuo, assim como afirma Ferreiro (2003)

ao dizer que “a alfabetização não é um estado, mas um

processo. Ele tem início bem cedo e não termina nunca”.

Essa percepção de Emilia Ferreiro se baseou nas

observações realizadas em turmas de alfabetização, as

quais confirmaram que o aprendizado ocorre por meio de


experimentações, de forma espontânea, em que o

professor avalia todo o processo: “além disso, passou-se a

valorizar o diagnóstico dos conhecimentos prévios dos

alunos e a análise de seus erros como indicadores


construtivos de seus processos cognitivos e hipóteses de

aprendizagem” (Bregunci, 2006).

Durante o processo de aquisição da escrita, ocorrem


as tentativas de escrita espontânea e que não podem ser

consideradas como erros pelo professor, mas sim como

parte do processo no qual o estudante passa a fazer

construções progressivas, ampliando seu conhecimento

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sobre a escrita.

Nesse processo, é essencial que o professor conheça

as necessidades cognitivas de cada sujeito, sendo

constantemente um professor pesquisador, que “deverá


adaptar seu ponto de vista ao da criança. Uma tarefa que

não é nada fácil” (Ferreiro, 2001, p. 61), buscando

construir intervenções significativas que possam favorecer

e avançar adequadamente as hipóteses desenvolvidas por


cada estudante.

TEMA 5 – FASES DA ESCRITA –


PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA

Segundo Ferreiro (2001, p. 56):

Progredir na alfabetização adentro não é uma


jornada tranquila. Encontram-se muitos altos
e baixos neste caminho, cujos significados
exatos precisam ser compreendidos. Como
qualquer outro conhecimento no domínio
cognitivo, é uma aventura excitante, repleta
de incertezas, com muitos momentos críticos
[...].

Ao iniciar suas observações nas turmas de


alfabetização sobre os níveis de evolução da leitura e da

escrita, Ferreiro percebeu que alguns erros ocorriam

constantemente e que poderiam ser considerados como

característicos de diferentes níveis de leitura e de escrita

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De acordo com a teoria desenvolvida por Ferreiro
(1999) sobre a psicogênese da língua escrita, toda a

criança em fase de alfabetização passa por três períodos

de evolução da escrita e da leitura:

Primeiro período: a criança diferencia as

representações icônicas (imagens) de não icônicas

(letras, sinais e números);

Segundo período: a criança diferencia as variações


qualitativas (tipos de grafia) das variações

quantitativas (quantidade de grafias);

Terceiro período: acontece a fonetização da escrita,

ou seja, a criança passa a relacionar o que ela fala


com o que ela escreve.

Em cada um dos períodos destacados foram

desenvolvidos por Emilia Ferreiro níveis de escrita


conforme veremos a seguir.

5.1 NÍVEL PRÉ-SILÁBICO

O nível pré-silábico se subdivide em dois tempos,

chamados de pré-silábico 1 e pré-silábico 2.

No pré-silábico 1, as crianças não conseguem


relacionar as letras com os sons da língua falada e nas

suas tentativas de escrita, misturam letras, numerais,

símbolos e desenhos. Na explicação de Ferreiro (1995, p.


18-19), podemos compreender que:

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As primeiras escritas infantis aparecem, do
ponto de vista gráfico, como linhas
onduladas ou quebradas (ziguezague),
contínuas ou fragmentos discretos repetidos
(séries de linhas verticais, ou de bolinhas). A
aparência gráfica não e garantia de escrita, a
menos que se conheça as condições de
produção. [...] A distinção entre “desenhar” e
“escrever” é de fundamental importância
(quaisquer que sejam os vocábulos com que
se designam especificamente essas ações).
Ao desenhar se está no domínio do icônico;
as formas dos grafismos importam porque
produzem a forma dos objetos ao escrever se
está foram do icônico: as formas dos
grafismos não reproduzem a forma dos
objetos, nem sua ordenação espacial
reproduz o contorno dos mesmos.

Veja alguns exemplos dessa fase:

Figura 1 – Exemplo de escrita no nível pré-silábico 1

Fonte: Ferreiro; Teberosky, 1999, p. 195-197.

No decorrer das intervenções do professor para


avançar nesse processo, no nível pré-silábico 2 a criança

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passa a perceber que existem diferenças entre o desenho
e a escrita, quando é necessário representar um objeto em

uma folha, pois entende que a escrita ocorre de forma

linear, diferente do desenho.

Nesse nível de desenvolvimento, as crianças buscam

representar a escrita com mais legibilidade e passam a

observar outros fatores, como escrever com uma

quantidade mínima de letras, utilizando a variação das


letras, geralmente as que compõem seu nome. Observe

um exemplo do livro de Ferreiro (1995):

Figura 2 – Exemplo de escrita do nível pré-silábico 2

(1) Peixe; (2) o gato bebe leche (escrita na língua

espanhola); (3) galinha; (4) franguinho; (05) pato; (6)


patos.

Fonte: Ferreiro, 1995, p. 22.

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5.2 FONETIZAÇÃO

Passando por essa fase, inicia o período chamado de

fonetização, que é, para Ferreiro (1995, p. 30), “preparado


por uma multidão de informações que o meio pode

proporcionar às crianças”. Neste período, o nível se divide

em: nível silábico, silábico-alfabético e alfabético.

No nível silábico, a relação entre a fala e a escrita já é

familiar e a criança passa a fazer relações significativas

entre o que fala e o que escreve. No nível silábico existe a

divisão de silábico sem valor sonoro e silábico com valor


sonoro. Neste período da alfabetização, existem variações

de escrita, nas quais, algumas crianças escrevem uma

letra para cada sílaba da palavra e muitas vezes não ocorre


relação sonora com a sílaba que corresponde. Isso é

denominado de sem valor sonoro. Há também aquelas

crianças que realizam a escrita de uma vogal ou uma

consoante para cada sílaba da palavra e são denominados


com valor sonoro. Veja um exemplo:

Figura 3 – Exemplo de escrita no nível silábico

(Sem valor sonoro) (com valor sonoro)

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Fonte: Morais, 2012, p. 59.

5.3 NÍVEL SILÁBICO-ALFABÉTICO

O período entre o silábico para o alfabético é

denominado de silábico-alfabético, pois a criança realiza

variações em suas tentativas de escrita quando em


algumas situações representa a escrita de sílabas com

uma vogal ou uma consoante (silábica), e, em outras

situações, utiliza sílabas que correspondem à sílaba como

ela é (alfabética). Veja exemplo a seguir.

Figura 4 – Exemplo de escrita do nível silábico-alfabético

Fonte: Morais, 2012, p. 64.

5.4 NÍVEL ALFABÉTICO

Finalmente, o último nível, denominado alfabético, se


desenvolve quando a criança percebe as regularidades do

sistema de escrita na qual letras são valores sonoros

menores que sílabas. Ao ingressar nesse processo,

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entende-se que a criança ainda não atingiu todas as
noções das regras de ortografia. Veja o exemplo a seguir:

Figura 5 – Exemplo de escrita do nível alfabético

Fonte: Morais, 2012, p. 65.

Compreende-se, ao observar os resultados das

pesquisas acerca do níveis da evolução da escrita, que os

conhecimentos teóricos são auxiliares na construção da


autonomia dos professores, o que é importante para esse

professor alfabetizador que terá embasamento para

prosseguir encontrando respostas para as diferentes

situações que vai vivenciar em sala de aula.

Saiba mais

Acesse o link a seguir e veja algumas sugestões


de atividades para realizar com as crianças para a

evolução da escrita em cada fase:

SUGESTÕES de atividades para as hipóteses de


escrita. Secretaria do Estado da Educação do Paraná,

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[S.d.]. Disponível em: <http://www.educacao.pr.gov.br/
sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-

06/sugestoes_atividades_hipoteses_escrita.pdf>.

Acesso em; 25 ago. 2020.

NA PRÁTICA

Vamos agora colocar em prática a teoria de Emilia


Ferreiro sobre a psicogênese da língua escrita. Analise, a

seguir, produções de escrita de crianças e escreva em que

fase ela está, dando exemplos de ações que podem ser


desenvolvidas pelo professor para mediar o aluno na

evolução da construção do aprendizado da escrita (os

exemplos foram retirados do acervo particular da autora

com as mesmas palavras em uma mesma turma: a. giz; b.


lápis; c. borracha; d. apontador).

Figura 6 – Produção de escrita de crianças (1)

Figura 7 – Produção de escrita de crianças (2)

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Figura 8 – Produção de escrita de crianças (3)

Figura 9 – Produção de escrita de crianças (4)

Saiba mais

LOPES, J. R.; ABREU, C. M. de; MATTOS, M. C. E.

Caderno do educador: alfabetização e letramento 1.


Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de

Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade,

2010. (Programa Escola Ativa). Disponível em: <http://


portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docmanvie

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w=downloadalias=5707-escola-ativa-alfabetizacao1-e
ducadorItemid="30192">. Acesso em: 25 ago. 2020.

FINALIZANDO

Nesta aula, enfatizamos a importância de

compreender as teorias do desenvolvimento da linguagem

e a importante contribuição dos teóricos Piaget, Vygotsky


e Emilia Ferreiro para embasar e dar suporte à nossa

prática docente com a finalidade de aperfeiçoá-la sempre.

Juntos, percebemos que os autores estudados


contribuíram muito no campo educacional sobre como se

organiza o desenvolvimento da linguagem e a

fundamentação teórica para as práticas realizadas nas


escolas.

No caso de Piaget, de acordo com os estudos de La

Taille (1995), as palavras-chave de estudo são construção

do conhecimento e da inteligência, tendo como eixos na


sua teoria os conceitos de assimilação, acomodação,

esquema, equilibração e estágios de desenvolvimento. A

relação do indivíduo com o meio se processa por meio da


adaptação por meio dos conhecimentos prévios e o

professor tendo o papel de desequilibrar os esquemas dos

alunos para que ocorra o aprendizado.

Para Vygotsky, uma palavra-chave seria interação

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social, e como eixo de sua teoria estão os principais
conceitos de mediação simbólica, instrumentos e signos e

a ZDP (zona de desenvolvimento proximal), a relação do

indivíduo com o mundo parte da parte para o todo, ou seja,

da socialização. O professor tem o papel de intervir na


ZDP, isto é, na distância entre o que o aluno já domina e o

que faz com ajuda.

Ao discutirmos sobre as teorias de Emilia Ferreiro,


percebemos a importância de seus estudos e pesquisas

sobre os níveis da escrita, relembrando que esses níveis

não são método de alfabetização e sim fases que ajudam a

entender melhor como acontece a aprendizagem da


escrita. Nas palavras de Ferreiro (1995, p. 17), “[sua]

contribuição foi encontrar uma explicação segundo a qual,

por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham,
dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa”.

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