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Os Chakras [ चक्र / cakra ], segundo Mircea Eliade

(1907-1986). Excertos e anotações

Paulo Pedro P. R. Costa, maio de 2023


http://etnomedicina.blogspot.com/

Esse conjunto de anotações integra a revisão sistemática da tese que considera o sistema
de pontos e meridianos da acupuntura e por extensão o conjunto de chakras ou cakras,
que é a forma romanizada do vocábulo (चक्र cakra) em sânscrito, como as primeiras
representações do que hoje nós compreendemos como sistema nervoso com suas formas,
funções e patologias.

Apesar da referida proposição se deter no sistema etnomédico ou medicina tradicional


chinesa não é possível ignorar a relação entre as concepções indiana e chinesa com as
suas promissoras aplicações que vem sendo reconhecidas em todo mundo desde meados
do século XX.

Destacamos aqui os estudos e intervenções de Svoboda e Lade (no livro Tao e Dharma,
1995) que explora as semelhanças e diferenças desses dois sistemas etnomédicos, e
intervenções clínicas de Gabriel Stux, publicadas entre outras edições no Medical
Acupuncture, 1994. Gabriel Stux inclui na aplicação tradicional de agulhas da acupuntura
as concepções do sistema indiano de chakra para diagnose das patologias e escolha do
tratamento. Na pesquisa de Svoboda e Lade, na ilha, quase indiana, de Sri Lanka (Ceilão),
com forte influência chinesa, que se estendeu a médicos tradicionais tratadores de
elefantes e textos clássicos, eles constataram que apesar das doutrinas chinesas e indianas
partilharem de temas comuns (destaca as semelhanças entre Chi e Prana), elas são
essencialmente únicas, e seus conceitos não podem ser intercambiados na totalidade.

A escolha da análise da tese de Mircea Eliade (1907-1986) se deve não somente à


pertinência do tema Chakras, mas também a excelência da metodologia empregada por
ele para obter uma melhor compreensão de uma medicina ou espiritualidade exótica sem
nos limitarmos a nossa própria orientação cultural. Sua tese sobre as doutrinas do Yoga,
destinada a historiadores de religiões, psicólogos e filósofos (como ele a definiu) foi
apresentada na Universidade da Romênia, (1932-1936) na cadeira de filosofia e filologia,
foi posteriormente adaptada para livro (Chicago, 1967) com o nome de “Yoga,
imortalidade e liberdade” de cuja tradução de Teresa Barros Velloso para o português
extraímos aqui as descrições da concepção de chakra/ cakra, orientados pelas notas e
índice remissivo da edição (1972/1996).

Sem o apoio das disciplinas da história e linguística, como evidencia em seu trabalho (e
estudo do sânscrito e filosofia por quatro anos (1928-1931) na Universidade de Calcutá
não teríamos obtido resultados tão precisos. A ênfase em linguística desenvolvida por ele
se deve inclusive a natureza do sânscrito em sua relação aos idiomas europeus despertados
pela filologia comparada indo ariana.

No caso da tese que estamos desenvolvendo sobre as representações “primitivas” do que


hoje nós compreendemos como sistema nervoso, a nossa maior demanda não recai sobre
a barreira linguística do entendimento de um conjunto de ideogramas chineses. Nossa
maior dificuldade são as relações destes com a nomenclatura das patologias e disfunções
do sistema nervoso historicamente identificadas tanto em nossa medicina ocidental como
no sistema etnomédico chinês. Do mesmo modo que Eliade temos a análise do processo
histórico de ambos os sistemas como guia, sendo que nossa ênfase é a antropologia
médica.

Nesse presente texto recortamos da valiosa contribuição de Eliade, que além de sua
metodologia histórico-filológica, nos trouxe, de forma clara, a noção de que os chakras
possuem relação com os plexos nervosos e qual a natureza desta relação, onde se inclui
as noções de sono, sonho e demais estados de consciência, tão relevantes para a moderna
neurociência. Os plexos nervosos ou plexos raquídeos, são conjuntos de nervos motores
sensitivos ou mistos, que contém por sua vez, fibras motoras ou sensitivas e tem uma
distribuição fixa em um território próprio. Tais raízes ou troncos e ramos se entrelaçam e
formam territórios distintos de sua raiz raquidiana e troncos nervosos, geralmente na
forma de bandas organizadas paralelamente recordando sua disposição metamérica em
zonas. (Testut, Latarjet p.219)

Analisando os estudos sobre efeitos fisiológicos do Yoga, Eliade identificou a existência


de muitos métodos hatha-yóguicos para se obter resultados semelhantes, supondo que
alguns de seus praticantes se especializaram em técnicas fisiológicas, mas outros (a
maioria) seguiu a tradição milenar de uma fisiologia mística. Segundo ele pode afirmar
que o cormo construído pelos Hatha-yoguis, os tantristas e alquimistas (que analisa em
sua tese juntamente com as concepções Budistas, Bramanistas/hinduístas ou xamânicas
dos primitivos aborígenes) descrevem o corpo de um “homem-deus”.

Em suas palavras:

“ De fato, apesar de os indianos terem elaborado um complexo sistema de medicina


científica, nada nos leva a crer que as teorias da fisiologia mística tenham se desenvolvido
na dependência dessa medicina objetiva e utilitária, ou ao menos vinculadas a ela. A
“fisiologia sutil” formou-se provavelmente a partir de experiências ascéticas, extáticas e
contemplativas, expressas na mesma linguagem simbólica da cosmologia e do ritual
tradicional. Isso não quer dizer que tais experiências não tenham sido reais: elas eram
reais, porém não no sentido em que um fenômeno físico é real. Os textos tântricos e de
hatha-yoga chamam nossa atenção por seu “caráter experimental”, trata-se, porém, de
experiências efetuadas em níveis distintos dos da vida cotidiana e profana. As “veias”; os
“nervos” os “centros” dos quais falaremos, correspondem sem dúvida a experiências
psicossomáticas e estão em relação com a vida profunda do ser humano, mas não parece
que “veias” e termos semelhantes indiquem órgãos anatômicos e funções estritamente
fisiológicas.

Tentou-se, muitas vezes, localizar anatomicamente essas “veias” e “centros”. Hermann


Walter, por exemplo, acredita que, no hatha-yoga, nādi signifique “veias”; ele
identifica idā e pingalā com a carótida (loeva et dextra) e brahmarandhra com a sutura
frontal (cf. H.Walter,Svātmārāna’s Hatha-yoga-pradipikā, München, 1893, p. IV, VI e
IX).

De outro lado, a identificação dos “centros”; (cakra) com seus plexos tornou-se
corrente: mūlādhāra-cakra seria o plexo sagrado; svādhisthāna, o plexo
prostático; manipūra, o plexo epigástrico; anāhata, o plexo faríngeo; ājnā, o plexo
cavernoso. Contudo, basta ler atentamente os textos para perceber que se trata de
experiências transfisiológicas; todos esses “centros” representam “estados yóguicos”,
isto é, inacessíveis sem ascese espiritual. As mortificações e as disciplinas meramente
psicofisiológicas não são suficientes para “despertar” os cakra ou penetrá-los; o essencial,
o indispensável, continua sendo a meditação, a realização espiritual. Assim, é mais
prudente considerar a “fisiologia mística” como resultado e conceituação das experiências
levadas a efeito, esses últimos efetuavam suas experiências em um “corpo sutil”, isto é,
por meio de sensações, tensões, estados transconscientes inacessíveis aos profanos. Eles
dominavam uma zona infinitamente mais vasta que a zona psíquica “normal”, penetravam
nas profundezas do inconsciente e sabiam “despertar” as nascentes arcaicas da
consciência primordial, fossilizadas na maioria dos seres humanos.

Segue então os excertos de suas reflexões e descrições dos Cakras.

Segundo a tradição indiana existem sete cakra importantes que se relacionam com os seis
plexos e a sutura frontal.

1º) Mūlādhāra (mūla = raiz) está situado na base da coluna vertebral, entre o orifício anal
e os órgãos genitais (plexo sacrococcigiano). Tem forma de lótus vermelho com quatro
pétalas, nas quais estão escritas em ouro as letras v, s, s’, s. . No meio do lótus um
quadrado amarelo, emblema do elemento terra (prthiví), tem no centro um triângulo com
o vértice invertido, símbolo da yoni, chamado kāmarūpa; no coração do triângulo
está svayambhūlinga (o linga existente por si mesmo), de cabeça brilhante como uma
joia. Enrolada oito vezes (tal como uma serpente) ao redor de si mesma, brilhante como
o relâmpago, dorme kundalini, obstruindo com a boca (ou cabeça) a abertura do
linga. Kundalini fecha dessa maneira o brahmadvāra (porta de Brahman) e o acesso
à susumnā. O mūlādhāra-cakra relaciona-se com a forca coesiva da matéria, a
inércia, o nascimento do som, o sentido do olfato, a respiração apāna, os deuses
Indra, Brahmā, Dakīni, Śakti etc.

2º) Suādhisthāna-cakra, também chamado jalamandala (porque seu elemento é jala =


água) e medhradhāra (medhra=pênis), está situado na base do órgão gerador masculino
(plexo do sacro). Tem forma de lótus com seis pétalas de cor vermelho-alaranjado, onde
estão inscritas as letras b, bh, m, r; l e y. No centro do lótus há uma meia-lua branca que
tem relaçāo mística com Varuna. No meio da lua, um bija-mantra em cujo centro está
Visnu flanqueado pela deusa Sākinī (segundo a Śiva-samhitā, V,99, trata-se de Rākinī). O
svādhisthāna-cakra está relacionado com o elemento água, a cor branca, a
respiração prāna, o sentido do gosto, a mão etc.

3º) Manipūra (mani = jóias; pūra = cidade) ou nābhisthāna (nābhi= umbigo), situado na
região lombar na altura do umbigo (plexo epigástrico), tem forma de lótus azul com dez
pétalas e as letras d, dh,n, t, th, d, dh, n, p, ph. No meio do lótus há um triângulo vermelho
e sobre o triângulo o deus Mahārudra, sentado sobre um touro, tem ao seu lado Lākinī
Śakti, de cor azulada. Este cakra relaciona-se com o elemento fogo, o Sol, o rajas
(fluido menstrual), a respiração samāna, o sentido da visão etc.

4º) Anāhata (anāhata s’abd é o som que produzem, sem se tocarem, dois objetos, isto é,
“um som místico"); está na região do coração, sede do prāna e do jivātman. De cor
vermelha, tem forma de lótus com doze pétalas douradas (onde estão inscritas as letras k,
kh, g, gh etc.). No meio do lótus há dois triângulos dispostos em forma de “selo de
Salomão”, cor de fumaça, no centro do qual se acha outro triângulo dourado contendo um
linga brilhante. Acima dos dois triângulos está Īśvara associado à Śakti Kākinī (de cor
vermelha). Esse chacra está relacionado com o elemento ar, o sentido do tato, o falo,
a forca motriz, o sistema sanguíneo, etc.

5º) Visuddha (o cakra da pureza) está na região da garganta, (plexo laríngeo e faríngeo,
na junção da espinha dorsal com o bulbo raquidiano), sede da respiração udāna e
do bindu. Tem forma de lótus de dezesseis pétalas de cor vermelho-acinzentado (com as
letras a, ā, i, u, ù etc.). No interior do lótus, um espaço azul, símbolo do elemento ākāsa
(éter, espaço), tem no meio um círculo branco contendo um elefante. Sobre o elefante
repousa um bija-mantra (hang) sustentando Sadāśiva, metade prata, metade ouro, pois o
deus está representado em seu aspecto andrógino (ardhanārisvara). Sentado em um
touro, tem em suas numerosas mãos uma enorme quantidade de objetos e emblemas que
lhe são característicos (vajra, tridente, sino etc.). Metade de seu corpo constitui a Sadā
Gaurī, com dez braços, cinco faces (cada uma com três olhos). Este cakra está
relacionado com a cor branca, o elemento éter (ākāsa), o sentido da audição, a pele,
etc.

6º) Ajnā (ordem, comando), este cakra está situado entre as sobrancelhas (plexo
cavernoso). Tem forma de lótus branco com duas pétalas onde estão inscritas as
letras h e ks’. É a sede das faculdades cognitivas: buddhi, ahamkāra, manas e
os indriya (sentidos) em sua modalidade sutil. No lótus há um triângulo branco com o
vértice invertido (símbolo da yoni); no meio do triângulo, um linga igualmente branco
chamado itara (o "outro"). Aqui fica a sede de Paramaśiva. O bija-mantra é OM. A
deusa tutelar é Hākini: ela tem seis rostos e seis braços e está sentada em um lótus branco.

7º) Sahasrāra-cakra. Localizado no topo da cabeça, sua forma é a de lótus virado para
baixo, com mil pétalas (sahasra = mil). Também chamado brahmasthāna,
brahmarandhra, nirvāna-cakra etc., suas pétalas exibem todas as articulações possíveis
do alfabeto sânscrito, que tem 50 letras (50 x 20). No meio do lótus acha-se a lua cheia
que encerra um triângulo; aí se experiencia a uniāo final (unmani)
de Śiva e Śakti, finalidade do sādhana tântrico; aí também desemboca a kundalini depois
de ter perpassado os seis cakra inferiores. É necessário notar que o sahasrāra-
cakra não pertence ao nível do corpo, ele já designa o plano transcendente - isso
explica por que se fala geralmente da doutrina dos "seis cakra".

[ Muitas vezes um esquema mitológico é interiorizado e encarnado, utilizando-se a teoria


tântrica dos cakra. No poema vixnuíta intitulado Brahma-samhitā o sahasrāra-cakra é
assimilado a Gokula, morada de Krsna ] p.222

Existem outros cakra menos importantes. Assim, entre o mūlādhāra e


o svādhisthāna acha-se o yonisthāna, lugar de reunião de Śiva e Śakti, lugar de beatitude,
também chamado (como o próprio mūlādhāra) kāmarūpa, isto é, desejo e forma. É a
fonte do desejo e, em nível carnal, uma antecipação da união Śiva-Śakti, que se completa
no sahasrāra. Perto do ājñā-cakra acham-se o manas-cakra e o soma-cakra,
relacionados com as funções intelectivas e certas experiências yóguicas. Perto ainda
do ājñā-cakra existe também o kārana-rūpa, sede das sete formas causais, consideradas
produtoras e constituintes do corpo sutil e do corpo físico. Enfim, outros textos falam de
certo número de ādhāra (suportes, receptáculos), situados entre os cakra ou identificados
com eles.

Na tradição hesicasta (de oração solitária) distinguiu-se segundo certos autores, quatro
“centros” de meditação e prece: 1º centro craniano cérebro-frontal (localizado na região
entre as sobrancelhas); 2º) centro buco-laríngeo (correspondente ao “pensamento mais
comum: o da inteligência que se expressa na conversação, na correspondência e nos
primeiros estágios da oração”, A Bloom); 3º) centro peitoral (“situado na parte superior
e média do peito”. A estabilidade do pensamento, já colorido por um elemento tímico, é
muito maior nos casos anteriores, mas é ainda o pensamento que define a coloração
emocional e que é modificado por ela” A. Bloom); 4º) centro cardíaco (situado “na parte
superior do coração, um pouco abaixo da mama esquerda”, segundo os Padres gregos
“um pouco acima”, segundo Theophane, o Recluso e outros “É o local físico da atenção
perfeita”; Antoine Bloom (L’ hesychasme, Yoga Chrétien? p.185)

Os tantras budistas admitem somente quatro cakra, situados respectivamente nas regiões
umbilical, cardíaca, laríngea e cerebral. Este último, o mais importante, chama-se usnisa-
kamalā (lótus da cabeça) e corresponde ao sahasrāra dos hindus. Nos três cakra
inferiores estão localizados os três kāya (corpos): nirmāna-kāya no cakra
umbilical, dharma-kāya no cakra do coração e sambhoga-kāya no cakra da garganta.
Porém, observam-se anomalias e contradições relativas ao número e localização desses
cakra (ver Dasgupta, An Introduction to Tantric Buddhism, p.163 e ss.). Da mesma forma
que nas tradições hindus, os cakra sāo associados às mudrā e às deusas, neste
caso: Locanā, Māmaki, Pāndarā e Tārā (Sri-samputikā, citado por Dasgupta, op. cit., p.
165). O Hevajra-tantra oferece uma longa lista de "quaternidades" relacionadas com os
quatro cakra: quatro tattva, quatro anga, quatro momentos, quatro nobres verdades (ārya-
sattva) etc. (ib., pp. 166-167)

Vistos em projeção, os cakra constituem um mandala cujo cento é marcado


pelo brahmarandhra. É nesse centro que tem lugar a ruptura de nível, onde se efetua o
ato paradoxal da transcendência, a superação do samsāra e a "saída do Tempo". O
simbolismo do mandala é igualmente constitutivo dos templos e de toda construção
sagrada indiana: visto em projeção, um templo é um mandala. Pode-se então dizer que
toda circum-ambulação equivale a uma marcha de aproximação ao Centro, e que a entrada
em um templo repete a inserçāo iniciática em um mandala ou a passagem
da kundalini através dos cakra. Além disso, o corpo é transformado, ao mesmo tempo,
em microcosmos (com o monte Meru como centro) e em panteão, cada região e cada
órgão sutil com sua divindade tutelar, seu mantra, sua letra mística etc. O discípulo não
apenas se identifica com o cosmos, mas também chega a redescobrir em seu corpo a
gênese e a destruiçāo dos universos. Como veremos, o sādhana compreende duas etapas:
1°) a "cosmizacão" do ser humano; 2°) a "transcendência" do cosmos, isto é, sua
"destruição” pela unificação dos contrários (Sol, Lua etc.). O sinal por excelência da
transcendência é constituído pelo ato final da ascensão da kundalini: sua união com Śiva,
no topo da caixa craniana, no sahasrāra.

KUNDALINI

Já mostramos vários aspectos da kundalini, ora descrita como serpente, ora como deusa
ou energia. O Hatha-yoga-pradipikā, III, 9, apresenta-a como "Kutilāngi (a do corpo
torcido), Kundalinī, Bhujangī (serpente fêmea), Sakti, Iśvarī, Kundalī, Arundhatī, termos
todos equivalentes. Da mesma forma que se abre uma porta com uma chave, o yogin
abre a porta da liberação (mukti) libertando a kundalini mediante o hatha-yoga" (cf.
Goraksa Sataka,51). Quando a Deusa adormecida é acordada pela graça do guru todos os
cakra são rapidamente atravessados (Siva-samhitā,IV, 12-14; Hatha-yoga-pradipikā,III,1
e ss.). Identificada com Śabdabrahman ,isto é,com o mantra OM, a kundalini acumula os
atributos de todos os deuses e todas as deusas (Saradā-tilaka-tantra, I, 14,55;XXV,6 e
ss.).

p. 202-205; 337

CONCENTRAÇĀO (DHĀRANĀ)

A concentração (dhāranā, da raiz dhr, conservar fechado) é na realidade a fixação em um


único ponto, mas cujo conteúdo é estritamente conceitual. Em outras palavras dhāranā,
objetiva deter o fluxo psicomental e fixa-lo em um único ponto – realiza essa fixação, a
fim de compreender. Na definição de Patañjali, ela é a fixação do pensamento em um
único ponto (Yoga Sutra III, 1 ). Vyāsa indica com precisão que a concentração se dá
geralmente no centro (cakra) do umbigo, no lótus do coração, na luz da cabeça, na ponta
do nariz, na ponta da língua ou em um lugar ou objeto exterior (Yoga Sutra III, 1).
Vācaspati Mis’ra acrescenta que não se pode obter a dhāranā, sem a ajuda de um objeto
ao qual se fixe o pensamento.
Comentando o Yoga Sutra III, 1 Vyāsa já falava da concentraçāo no “lótus do coração”.
Esta experiência já é encontrada nas Upanisad, sempre relacionada com o encontro com
o próprio Si (atman). A luz “do coraçāo”, terá um destino excepcional em todos os
métodos místicos indianos pós-Upanisad. A propósito desse texto de Vyāsa,Vācaspati
Miśra descreve longamente o lótus do coração: ele tem oito pétalas e se situa de cabeça
para baixo, entre o abdome e o peito; é necessário inverter sua posição, retendo a
respiração (recaka) e concentrando nele a mente (citta). No centro do lótus encontram-se
o disco solar e a letra A; ali é a sede do estado de vigília. Acima encontramos o disco
lunar com a letra U; é a sede do sono. Mais acima ainda está o “círculo do fogo”com a
letra M, sede do sono profundo. Enfim, acima deste último, encontra-se o “círculo mais
alto, cuja essência é o ar”, sede do quarto estado (“estado cataléptico”). Nesse último
lótus, mais exatamente em seu pericarpo, situa-se o ”nervo (nādi) de Brahman”, orientado
para o alto e desembocando no círculo do Sol e nos demais círculos: aqui começa
a nādi chamada susumnā, que também atravessa os círculos exteriores. Aqui é a sede de
citta; concentrando-se nesse preciso ponto o yogin obtém a consciência de citta (em
outros termos, toma consciência da consciência). ...

O importante é deixar claro desde já que a tradição do Yoga clássico, representada por
Patañjali, conheceu e usou os esquemas da “fisiologia mística”; chamada a desempenhar
um papel importante na história da espiritualidade indiana. ...

p.71-72

ELIADE, Mircea. Yoga, imortalidade e liberdade. SP: Palas Atenas, 1996

Outras referências
SVOBODA, Robert; LADE, Arnie. Tao e Dharma. SP: Editora Pensamento, 1995

STUX, Gabriel. Chakra acupuncture.Medical Acupuncture, 1994 Volume6/ Nº1


http://www.medicalacupuncture.org

TESTUT, L.; LATARJET, A. Tratado de anatomia humana Tomo III). Barcelona: Salvat
Ed. 1983

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Ilustraçāo: Chakra positions in relation to nervous plexi.

C. W. Leadbeater (1847-1934). The book "The Chakras, 1927

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VER TAMBÉM

ACUPUNTURA DE CHAKRA
GABRIEL STUX, M.D. / Tradução: Paulo Pedro P.R. Costa, 2013
https://etnomedicina.blogspot.com/2013/06/acupuntura-de-chakra.html

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