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Marco histórico do século XX, a Revolução Russa de 1917 foi uma rica tentativa de
construção socialista. Suas conquistas, seus êxitos e fracassos merecem análise rigorosa,
não como modelo a ser/não ser seguido, mas como referência à discussão teórica,
política e ideológica que tenha por perspectiva a superação do capitalismo. De igual
modo, cabe estudar as concepções que serviram de base aos projetos desenvolvidos nos
diversos domínios da edificação da sociedade, sob o novo regime.
A Concepção de Educação
Lênin denunciou a precária situação da educação dos trabalhadores na Rússia, o que lhe
permitiu o exame dos desafios a enfrentar e medidas a tomar, uma vez realizada a
Revolução. Vários temas educacionais aparecem com muita frequência em seus
discursos e artigos2, dada sua obstinada preocupação com a formação do homem (ser
humano) novo, numa sociedade de novo tipo.
Desafios da Revolução
Para Lênin, a Revolução não se encerra com o ato da tomada do poder pelos
bolcheviques. Ao contrário, é aí que ela começa. Exigia-se o restabelecimento das
forças econômicas do país, assentadas em nova base. A instrução seria primordial para a
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Publicado, originalmente, sob o título O Papel da Educação na Revolução Russa. In: Revista
Princípios. São Paulo Ed. 151 (Nov-Dez 2017). Artigo que consiste em versão resumida de “O Legado
Educacional da Revolução Russa” – Capítulo do livro 100 anos da Revolução Russa: legados e lições,
organizado por Adalberto Monteiro e Osvaldo Bertolino e publicado pela Editora Anita Garibaldi, em
parceria com a Fundação Maurício Grabois. São Paulo, 2017, páginas 81 a 104.
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O trabalho de “garimpagem” nos 55 volumes das suas Obras Completas de Lênin nos é poupado pela
consulta a algumas coletâneas (Lenine, 1977; Lenin,1981)
formação de trabalhadores capazes de entender e operar em bases técnicas modernas.
Porém, não uma instrução reduzida ao ensino profissional, até então restrito ao
adestramento, na lógica capitalista.
Foi preciso, ainda, lidar com pessoas e organizações que não reconheceram o Poder
Soviético: parte do exército, organizações de operários, associações do magistério, que
se mantinham favoráveis ao capitalismo; adversários do regime, mesmo os que se
autodenominavam socialistas.
1. Eliminar o Analfabetismo
Tais polos foram conjuntamente desencadeados: cada central elétrica seria, também,
base de instrução. O plano de eletrificação seria também o plano das brigadas de
alfabetização. Mas, além de saberem ler, os trabalhadores deveriam ser “cultos,
conscientes, instruídos” – capazes de trabalhar e valorizar o trabalho como prática
social. (Lenine, 1977, p. 37).
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Importante medida foi a multiplicação das bibliotecas e livrarias, presentes nas cidades e nas áreas
rurais, em fábricas, usinas, fazendas, sindicatos, clubes e quaisquer organizações, chegando a altíssimos
índices de frequência às salas de leitura, empréstimos de títulos das bibliotecas circulantes e aquisições de
obras nas livrarias. Além de jornais, distribuídos diariamente aos trabalhadores.
Ocorreram avanços também no nível superior, antes restrito às elites. Criaram-se
universidades e instituições científicas, ampliou-se o número de pesquisadores.
Sublinha-se que, nos colégios, universidades e instituições científicas, as mulheres
atingiam cerca de 1/3 dos estudantes, professores e pesquisadores.
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Os programas escolares incluem o conhecimento dos inúmeros tipos de indústria: condições de seu
desenvolvimento; matérias primas e sua produção/aquisição; relação com a natureza; relações técnicas e
sociais de produção; características dos métodos de produção e perspectivas de seu aprimoramento;
contribuições da ciência e da tecnologia; o desenvolvimento humano (condições de trabalho, segurança,
seguridade, remuneração, jornada, saúde dos trabalhadores e da população em geral); trabalho infantil e
trabalho da mulher; relações internacionais de produção; circulação e repartição dos bens;
profissões/tarefas envolvidas na produção, condições de desempenho e necessidades formativas;
organização do trabalho nas fábricas e sua relação com a organização do trabalho em geral; história e
desenvolvimento atual do movimento operário e sindical (na URSS e nos países capitalistas), entre outros
fatores. (KRUPSKAYA, s/d; LENINE, 1977: LENIN, 1981; LUNATCHARSKI, 1988; PROGRAMAS
OFICIAIS, 1935 – vários trechos).
contra a burguesia, sem destruir o seu legado. Ou seja, edificar o socialismo com as
forças humanas os meios materiais herdados das sociedades anteriores.
O Legado
Nossa hipótese é que o desenvolvimento da concepção de escola única do trabalho e os
esforços empreendidos para sua edificação constituem o principal legado educacional da
Revolução Russa de 1917.
Para a União Soviética, com certeza. E, por seu exemplo, para os demais países que
viveram (e vivem) a experiência de construção do socialismo, com todos os problemas
peculiares a períodos de transição de um regime centrado no capital para uma sociedade
centrada no trabalho. Neles, a educação tem merecido lugar de destaque, jamais encontrável
em países capitalistas.
Para além da URSS (e de outros países socialistas) o legado está nos ensinamentos para
a luta do proletariado em todos os países, ontem e hoje: contribuições a outros autores
para pensar e repensar a Educação ainda nos marcos do capitalismo.
São “clássicos” problemas educacionais, que permanecem enquanto não são criadas as
condições, objetivas e subjetivas, para sua solução.
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Referências
ENGELS, F. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. Obras Escolhidas de
Marx e Engels. São Paulo, Alfa-Ômega, vol 2.