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Três anos depois nasceu o segundo bebê, e os esforços da mãe para amamentação
eram menos sucedidos ainda. Além de tudo ela passava a vomitar tudo o que
comia. Seus médicos, entre os quais Breuer, só lhe pediram mais um esforço: a
sugestão hipnótica. Foi aí que Freud foi apresentado profissionalmente à
paciente.
Existem determinadas ideias que têm um afeto de expectativa que lhes está
vinculado. São de dois tipos: ideias de eu fazer isto ou aquilo – o que
denominamos intenções – e ideias de isto ou aquilo me acontecer – são as
expectativas propriamente ditas. O afeto vinculado a tais ideias depende de dois
fatores: primeiro, o grau de importância que o resultado tem para mim;
segundo, o grau de incerteza inerente à expectativa desse resultado. A incerteza
subjetiva, a contra-expectativa, é em si representada por um conjunto de ideias
ao qual darei o nome de “ideias antitéticas aflitivas” (p. 163).
No caso de uma intenção, essas ideias antitéticas se passam assim: “não vou
conseguir executar minha intenção, porque isto ou aquilo é demasiado difícil para
mim, e eu sou incapaz de fazê-lo; sei, também, que algumas outras pessoas
igualmente fracassaram em situação semelhante”.
O outro caso, o da expectativa: a contra-expectativa consiste em enumerar todas
as coisas que talvez possam me acontecer, diferentes das que eu desejo. Mas,
voltando às intenções, como é que uma pessoa, com vida ideativa sadia, lida com
ideias antitéticas que se opõem a uma intenção? Com a autoconfiança da saúde,
ela as reprime e inibe, e na medida do possível, as exclui de suas associações de
pensamentos. E quando há uma neurose presente?
Quando, certa vez, ela adormeceu, a paciente sentou à beira da cama e pensou
que teria que ficar absolutamente quieta para não acordá-la, depois de tantos
espasmos e convulsões. Foi quando ocorreu o primeiro estalo. Dias depois,
quando de uma tempestade, um raio atingiu uma árvore e o cocheiro teve que
parar os cavalos abruptamente. Ela pensou novamente que teria que ficar quieta
para não assustar ainda mais os cavalos. Outro estalo veio, e não pararam
mais. Assim,
a mãe, exausta com suas angústias e dúvidas acerca de suas tarefas de cuidar da
criança enferma, tomou a decisão de não deixar que sequer um som saísse de
seus lábios, com receio de perturbar o sono da filhinha, o qual tinha custado
tanto a vir. Mas, no seu estado de exaustão, mostrou-se mais forte a
concomitante ideia antitética de que ela, não obstante, pudesse fazer um ruído; e
essa ideia teve acesso à inervação da língua, que sua decisão de manter-se em
silêncio talvez pudesse ter-se esquecido de inibir, irrompeu no fechamento dos
lábios e produziu um ruído que daí em diante permaneceu fixado (p. 167).
Mas, como sucede a ideia antitética adquirir a supremacia em consequência da
exaustão geral? Freud diz que a exaustão é apenas parcial, pois o que está
exausto são os elementos do sistema nervoso que formam o fundamento material
das ideias associadas com a consciência primária; as ideias que estão excluídas
dessa cadeia associativa (do ego normal), as ideias inibidas e suprimidas, não
estão exaustas, e predominam no momento da disposição para a histeria. Assim,