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Teoria Politica Moderna 1\2017

Professora: Erika Amusquivar

Iago Guimarães Rocha


Matrícula: 160008212
Lara Diniz Noblat
Matricula: 160011396
INTRODUÇÃO

A modernidade é marcada por uma série de mudanças políticas e estruturais na


sociedade, sendo o período de transição entre a idade média e a construção do mundo
contemporâneo. A centralização dos países europeus foi fundamental para essa transição. A
unificação desses países se deu após o declínio do feudalismo gerado principalmente pela
ascensão da burguesia, o renascimento comercial e o deslocamento dos camponeses para os
crescentes centros urbanos, fenômenos causados pelas cruzadas e enfraquecimento dos senhores
feudais. A consolidação dos Estados Nacionais só aconteceu pela aliança entre reis europeus, que
desejavam fortalecer sua autoridade, com a burguesia, que desejava a consolidação de um poder
centralizado, para que não houvessem vários senhores intervindo em suas relações comerciais e a
criação de unidade monetária.
A acumulação de capital pelos burgueses e reis deu o grande avanço em direção ao
sistema de produção capitalista. Posto isso, a exploração de comércio mercantil de Portugal e
Espanha buscando novos comércios de especiarias e lucros de exploração em outras terras
impulsionaram as grandes navegações, aflorando, assim, o colonialismo moderno.
Na península itálica surge o renascimento como um fenômeno da modernidade, se
expandindo para outras partes da Europa financiado por banqueiros, governantes, comerciantes e
papas. Essa revolução cultural mudou radicalmente as artes e as ciências. Com a racionalização e
cientifização dos estudos fortificou-se então o secularismo. Esse princípio de pensamento que
separa o Estado da religião foi de grande importância para a reforma protestante. Martinho
Lutero insatisfeito com alguns preceitos católicos publicou suas 95 teses em 1517. Esse
acontecimento gerou uma grande crise dentro do catolicismo, promovendo grandes mudanças
nas relações políticas de poder.
Com o aumento do poder dos monarcas, começaram a surgir governos cada vez mais
autoritários e absolutistas, ao ponto de a burguesia, classe que viabilizou a centralização dos
poderes, ser prejudicada juntamente com o povo cada vez mais massacrado pelas fortes
desigualdades. Em resposta a isso, surge a revolução francesa, influenciada pelo iluminismo e
pela independência dos Estados Unidos.
Com o início da revolução francesa, temos o fim da idade moderna e início do mundo
contemporâneo. Esse trabalho se propõe a analisar a influência de vários autores importantes na
construção do pensamento político moderno e como eles mesmos foram influenciados pelas
ideologias da sua época, considerando o conteúdo e o contexto histórico de suas obras.

NICOLAU MAQUIAVEL

Na península itálica renascentista, sob o governo dos Médici, surgiu o primeiro autor a
inaugurar o pensamento político moderno. Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, ou Maquiavel,
que ingressou na política aos 29 anos como secretário da segunda chancelaria em Florença, foi o
primeiro analisar como a política realmente é, e não como deveria ser, inserindo, assim, um
caráter racional ao estudo da política uma vez que ele insere na sua análise política a ideia de
uma razão de Estado na qual a sobrevivência do Estado se sobrepõe em importância às relações e
vontades dos soberanos. Maquiavel queria que a Itália se centralizasse como Estado a exemplo
do que estava acontecendo com outros países da Europa. Enquanto que alguns países já se
concretizavam como Estados fortes e unificados, a Itália ainda se encontrava com províncias
independentes e com poder fragmentado entre diferentes famílias que tinham um controle
desconectado e eram rivais entre si. Na visão de Maquiavel, tanto em O Príncipe como nos
Discorsi, esses problemas enfraqueciam a Itália e a impediam de possivelmente ser uma potência
.
O autor abordou a unificação da Itália segundo dois pontos de vista diferentes. Em “O
Príncipe” ele escreve de acordo com a ótica da dominação monárquica autoritária segundo a qual
a unificação derivaria de uma autoridade centralizadora e forte, enquanto que nos discorsi ele
aborda, em lentes republicanas, a unificação por meio do viés representativo a exemplo da
história Romana tendo o povo como um ator forte para a política. Além disso, O Príncipe é um
manual de governo escrito em seu exílio durante o governo da família Médici como tentativa de
reconciliação com esses governantes. Nessa obra, uma de suas principais preocupações é a
defesa da separação entre Estado e igreja. Maquiavel se preocupa em analisar os novos
Principados no que diz respeito a como conquistar o poder e manter-lo. Além disso, muito
importante também é que o pensador apontou como o deve ser o perfil do príncipe com o
conceito de virtù que descreve um governante habilidoso e sábio capaz de saber aproveitar as
oportunidades que aparecem na fortuna, que seria a sorte, ou o contexto favorável ao príncipe.
Quando esse governante é capaz de ter a fortuna e tem a Virtù surgiria então a Ocasione.
Maquiavel se mostrou de suma importância pois, como alguns dos seguintes autores,
tratou da centralização e fortalecimento do Estado da forma mais científica e racional como
nunca se havia visto antes. Logo, essas características reforçam o advento do pensamento
moderno, como quebra de paradigmas da ordem anterior.

THOMAS MORE

Thomas More (1478-1535) foi um inglês contemporâneo de Maquiavel. Sua principal


obra foi A Utopia, onde conta uma história fantasiosa sobre uma sociedade ideal, uma Ilha
chamada Utopia, que seria como uma alternativa para a Inglaterra da época. Com esse livro,
More se tornou chanceler em 1529. Foi demitido três anos depois por ser um católico fervoroso e
criticar as ações do rei Henrique VIII em relação a criação da igreja anglicana.
Embora Maquiavel e Thomas More escrevessem na mesma época, seu posicionamento
político era diferente. Enquanto Maquiavel defendia a dissociação entre Estado e Igreja e acabou
sendo um visionário por esse e outros motivos, More era contrário a esse tipo de cisão e
considerava a postura de Henrique VIII ao se separar Catarina de Aragão e fundir o poder
religioso e político nele mesmo como uma heresia.
A Utopia é um livro essencialmente normativo. Nele, está descrita a organização política
dessa sociedade ideal sendo similar a uma república, pois seus cidadãos escolhem seus
governantes. Além disso, todos eram iguais no sentido de que qualquer um poderia ser líder ser
eleito. A Ilha já teve relações com continente, no entanto escolheu se emancipar por considerar
os indivíduos fora dela como sendo bárbaros. Contudo, os habitantes sabiam que não iam
conseguir se manter sozinhos, então mantinha relações comerciais com o exterior.
Dentro de Utopia, não existe propriedade. A ideia de igualdade para o autor também está
ligada a questão do trabalho. A economia da ilha funcionava pelo principios de que todos tem a
obrigação de trabalhar para contribuir com os recursos coletivos. Existia uma divisão de tarefas,
onde os cidadãos trocavam o que produziam de acordo com a sua necessidade. Dentro da ilha
não existia moeda, o excedente era trocado com exterior para conseguir produtos que não eram
produzidos na ilha. As casas eram iguais e compartilhadas, As famílias não eram só por laços
sanguíneos, podendo haver adoções, por exemplo. Por causa dessa concepção e por também
defender o ideal de liberdade, More é considerado como um dos precursores do comunismo
libertário.
Na ilha, os indivíduos eram livres, mas sua liberdade era restrita a uma perspectiva
coletiva, diferente do ideal de liberdade de muitos autores que veremos a seguir, principalmente
os liberais. Existiam leis que restringiam estas liberdades em prol de uma organização social.
Essa liberdade não era uma liberdade individual. Um exemplo dessas restrições seria de não ser
permitido ser ateu em Utopia, esse princípio está relacionado a forte religiosidade do More, mas
também não precisava ser obrigatoriamente cristão, no entanto, era necessário ter alguma fé. O
autor partia do pressuposto de que se uma pessoa se submete a seguir as regras de Deus ela terá
mais facilidade em seguir as regras dos homens, ideia que inclusive Maquiavel também tinha.
O ideal de igualdade do autor é controverso, pois existia uma hierarquia dentro dessa
igualdade. Em Utopia, as mulheres se submetiam aos homens, as crianças aos idosos e ainda
existia escravidão. A Escravidão em Utopia acontecia para punir criminosos. Os escravos faziam
tarefas mal vistas que os utopianos não faziam porque eram muito puros, como, por exemplo,
trabalhar em abatedouros.
Thomas More, com o seu livro, propõe que a Inglaterra poderia ser essa ilha desenvolvida
e ideal, se excluindo do resto do mundo por meio do trabalho interno e tendo relações puramente
comerciais com os bárbaros fora dela. Vemos que o autor tem várias perspectivas sobre
propriedade privada que foram trabalhadas com outras abordagens pelos autores comunistas, e
que, já no fim da modernidade, marcaram o pensamento moderno e grande parte da história do
século XX. Também temos ideias republicanas, que muito foram discutidos em defesa da
liberdade e da igualdade. Além disso, também vemos como a época lhe influência no que tange
às suas concepções conservadoras de separação entre Estado e religião e sobre o papel da mulher,
que é completamente subjugado nessa sociedade ideal.

MARTINHO LUTERO

Lutero foi um padre alemão ligado a ordem de Santo Agostinho que possuía várias
críticas à conduta da igreja católica. Suas críticas não eram as crenças em si, mas sim como os
religiosos controlavam a igreja como instituição. Impulsionado pelo seu descontentamento,
Martinho escreveu suas 95 teses contra essa conduta e as fixou na Igreja do Castelo de
Wittenberg. Dentre suas principais críticas estava a venda de indulgências alegando que o perdão
divino não poderia ser comprado, mas sim tentar ser conquistado por meio do arrependimento. O
autor considerava essa patricia abusiva.
A difusão de suas teses gerou muito alarde popular. Vários foram aqueles que pactuaram
com as ideias de Lutero e assim começou a Reforma Protestante. O resultado disso foi a
excomungação de Lutero da igreja católica, a criação de igrejas protestantes e ainda uma guerra
camponesa contra a nobreza. Após ter sido expulso, Martinho se empenhou em traduzir a bíblia
para o alemão e difundir as escrituras sagradas ao povo, para que eles pudessem fazer suas
próprias interpretações sem precisar da mediação de clérigos.
A pretensão de Martinho era somente reformar preceitos da igreja católica, mas o
impacto que provocou esteve muito além do que se esperava. Ele revolucionou as relações entre
religião e Estado. Lutero defendia que a divisão entre poder político e religioso deveria ser bem
definida, o que não foi exatamente o que aconteceu. Com o enfraquecimento do catolicismo e a
criação de novas religiões, os reis se apropriaram do poder religioso, concentrando-o cada vez
mais em suas mãos, culminando para o absolutismo monárquico.
O Calvinismo foi uma vertente protestante, muito influente na França, cujo os preceitos
favoreciam tanto os reis quanto a burguesia. Enquanto, para Lutero, o homem era bom e
poderiam tentar a salvação per meio da fé, podendo também conseguir de acordo com a vontade
de Deus, Calvino entendia a natureza humana como pecadora e acreditava que o arrependimento
não era suficiente para redimir os pecados do homem. Para Calvino, Deus escolhia aqueles que
iriam para o céu ou não antes mesmo do nascimento, sendo impossível saber quem teria sido
escolhido. Apesar disso, a riqueza era vista como um indício de salvação, o que agradava a
Burguesia e tornava o trabalho e a acumulação desejável. Além disso, o Calvinismo libertava os
cristãos de qualquer proibição que não estivesse explicitamente escrita na bíblia, abrindo as
portas para o capitalismo.
A reforma iniciada por Lutero mudou profundamente as relações políticas e religiosas da
época marcando profundamente o pensamento político moderno e a história como um todo. Essa
mudança influenciou, sem que fosse seu objetivo, no desenvolvimento do capitalismo, da
burguesia e do absolutismo monárquico.

THOMAS HOBBES

Thomas Hobbes foi o primeiro contratualista que iremos tratar, ou seja, ele define como
seria o “estado de natureza” ( o estado em que os homens vivam antes do pacto social) e como
funciona o pacto social (contrato que os homens estabelecem entre eles mesmos para viver em
sociedade). O autor em questão foi nascido na inglaterra. Sua obra foi escrita anos depois de
Henrique VIII ter rompido com a igreja católica e concentrado o poder político e religioso em
suas mãos, episódio que foi melhor explicado na parte sobre o Thomas More. Nessa época, o
absolutismo monárquico já estava mais consolidado e Hobbes, em Leviatã (1851), justifica essa
concentração de poder por meio do pacto social.
Para Hobbes, os homens são selvagens no estado de natureza, sendo capazes de cometer
qualquer atrocidades para garantir a sua sobrevivência. O autor descreve os homens sendo
dotados de paixões, que podem ser superficialmente explicadas como sendo sentimentos que
acabam sendo negativos no estado de natureza. Esse estado é descrito como sendo de “Guerra de
todos contra todos” por isso que Hobbes diz que o homem é o lobo do homem. As leis naturais
seriam a busca pela vida, pela segurança e pela paz. Além disso, todos os homens são dotados de
soberania e igualdade no estado de natureza.
Para sair desse estado de guerra, os homens decidem através da razão e de forma
consensual criar um pacto social para garantir sua sobrevivência. Para isso, eles fazem um
cálculo, onde estimam ser mais vantajoso abdicar de parte de suas liberdades e igualdades dando
poder a um soberano, que teria o dever de prover a vida e bem estar dos seus súditos. Dentro
desse estado de paz, as paixões podem passar a se tornar positivas, mostrando que o homem
também pode ser bom, tendo sentimentos de amor e amizade, por exemplo.
Com o pacto social, temos a sociedade civil, que determina leis civis que garantam que os
homens não fiquem nesse estado de guerra por meio de mecanismos punitivos, antes não
existentes no estado de natureza. Sua obra se chama Leviatã pois Hobbes faz uma analogia ao
Deus punitivo do antigo testamento (Leviatã) com o deus mortal (Estado). No livro, o autor usa
textos bíblicos para legitimar o poder do Estado por meio da religião, mesmo sabendo que o
Estado é uma criação humana. Não à toa, o monarca tinha, não só o poder político, mas também
religioso em suas mãos.
O Estado seria uma instituição hierárquica cujo em seu topo estaria o monarca. Assim
como Deus, o Estado seria dotado de um poder supremo e inquestionável por representar Deus
na Terra, ainda que fosse um Deus artificial. Dentre os poderes do Estado estaria o de prover a
propriedade privada e o bem-estar de seus súditos. Contudo, antes disso o Estado deve garantir a
sua sobrevivência para evitar o estado de natureza. Essa é a lógica estadocêntrica postulada por
Hobbes.
Com seu livro e sua influência, Hobbes colaborou para manter a estrutura de poder
absolutista, marco da idade moderna, justificando a concentração de poder religioso e político na
mão do monarca de uma forma que parecesse necessário, que fosse fruto da razão e do consenso
do povo na forma de um contrato. Outro grande ponto de sua obra seria o Estado ter o poder de
prover a propriedade privada, algo que transpõe os valores econômicos da época. Isso incentiva
os burgueses e os demais a concordarem com esses valores e apoiar o Estado.
JOHN LOCKE

John Locke, se pensarmos no tempo em anos, não foi tão distante de Hobbes. Sua obra, O
Segundo Tratado Sobre O Governo Civil (1689), foi publicado 38 anos depois do Leviatã (1651).
Contudo, esse curto período de tempo representou uma enorme diferença de contexto histórico
graças à revolução gloriosa. Esse acontecimento é frequentemente chamada de “revolução sem
sangue” por ter sido mais uma disputa política entre governantes do que uma luta popular. Esse
evento acarretou no fim do absolutismo monárquico com fortalecimento do parlamento da
Inglaterra, além da diminuição da intervenção Estatal na economia.
Em sua obra, O Segundo Tratado Sobre O Governo Civil, Locke faz uma crítica direta à
obra O Pratica, de Robert Filmer, em que esse último autor justifica o poder divino dos reis por
meio de leituras bíblicas e visões do patriarcado. Locke, era contratualista assim como Hobbes, e
discorda dessa visão pois o pacto seria fruto da escolha de cada um, não apenas do patriarca.
Além disso, Locke é um autor da empiria, o que torna os argumentos divinos (que não podem ser
testados) como inválidos. Ao discordar de Filmer, o autor também discorda de Hobbes, por negar
essa lógica que o poder monárquico vem de Deus.
Locke entende os homens como “tábulas rasas” riscadas pelas experiências causadas pelo
meio e pelas relações entre si. No estado de natureza, são iguais (quando nascem, mas vão se
tornando mais desiguais por causa das experiências), livres e independentes (se vivem sozinhos)
e, diferente de Hobbes, esse estado de natureza não é determinístico, não levando
necessariamente os homens a um estado de guerra. Para Locke, os recursos naturais nesse estágio
são abundantes, fazendo com que os homens não precisem competir pela sua sobrevivência,
sendo uma relação mais harmônica do que a descrita no Leviatã.
As leis naturais seriam a vida, a liberdade e a propriedade. A propriedade, em Locke, já
aparece como sendo um direito natural, o que não ocorre em Hobbes. O argumento para esse fato
seria que a propriedade privada são os recursos naturais que os homens transformam com seu
trabalho.
Mesmo que o estado de natureza seja mais harmônico em Locke, os homens são cercados
de uma grande incerteza e assim como em Hobbes, decidem por meio da razão criar um pacto
para que o Estado possa assegurar as leis naturais. Dentro desse pacto, os homens sofrem uma
diminuição momentânea de suas liberdades para que na sociedade civil eles se tornem mais
livres já que nela o Estado se torna garantidor dessas leis, que não são mais leis naturais, mas sim
leis civis.
Enquanto em Hobbes o poder do Estado é absoluto e inquestionável, em Locke o Estado
nasce com poder limitado, já que não pode intervir nas liberdades individuais. Na lógica
lockiana, primeiro viriam os interesses dos indivíduos e depois os interesses do Estado. O papel
do Estado para Locke seria defender a propriedade privada, coisa que teria de ser feita pelos
próprios indivíduos no estado de natureza.
O Estado seria portanto uma autoridade, não um soberano. Para controlar o poder do
Estado, Locke criou seu modelo de divisão dos poderes. Nele existiria o poder Legislativo,
Executivo e Federativo, onde o último se encarrega das relações diplomáticas. Além disso, o
Legislativo possui mais poder, tendo os outros poderes subordinados a ele.
As diferenças entre Hobbes e Locke são notáveis porque estão inseridos em contextos
diferentes e têm interesses diferentes na publicação de suas obras. Eles usam argumentos que
partem de uma conclusão lógica para justificar os momentos políticos por eles vividos, sendo
reflexos do pensamento de suas épocas. Locke era membro do partido Whig, partido liberal
inglês, e sua obra defende os princípios de não intervenção do Estado e exaltação da importância
da propriedade privada. Lock foi extremamente influente por reforçar e justificar esses princípios
o que colaborou para o desenvolvimento do capitalismo e da revolução industrial. Além disso, a
divisão de poderes de Locke serviram de base para a divisão de poderes de Montesquieu (1689 -
1755) que, como será falado mais adiante, também teve um grande impacto na história e na
política.

MONTESQUIEU
Montesquieu (1689 - 1755) escreve sua obra “O Espírito das leis” em 1748. Nesse século,
houve um movimento intelectual e político chamado iluminismo, que teve tanta influência no
decorrer histórico que tornou essa época conhecida como “Século das Luzes”. Esse movimento,
impulsionado sobretudo pela burguesia, prezava principalmente pela liberdade e pela
propriedade, criticando o absolutismo monárquico. No caso da França, esse regime político foi
especialmente forte. Esse movimento de crítica sobre ele também foi, tanto que o iluminismo foi
uma das coisas que impulsionaram a revolução francesa.
O movimento se dá a exaltação da racionalidade que tinha por objetivo “iluminar” no
sentido de “esclarecer” o pensamento da época. Nesse período ocorreu um grande
desenvolvimento na ciência e houve um enfraquecimento da justificativa divina para o poder do
monarca, além do fortalecimento de ideais a favor da democracia, do sufrágio e do liberalismo
começam a ganhar força na sociedade.
Montesquieu era francês, rico, de família aristocrática e com formação em direito. Viajou
muito e tomou como modelo político ideal como sendo o parlamentar inglês, em contraste ao
absolutismo monarca de seu país. É considerado um autor importante no iluminismo. Na sua
obra, ele usa artifícios científicos para dar força a seus argumentos.
Montesquieu fala de leis naturais, no entanto não era contratualista, pois não se
preocupava com a origem da sociedade civil, mas sim com o funcionamento dela. As leis seriam
relações necessárias que derivam na natureza das coisas.
Em sociedade, os indivíduos se tornam mais fortes e vão perdendo sua igualdade,
podendo entrar em estado de guerra. Por isso, leis positivas são impostas pelo Estado para fazer a
manutenção dessa sociedade preservando as leis naturais. Liberdade, para o autor, seria fazer
tudo aquilo que as leis permitem. Essas leis positivas também servem para garantir os direitos
das gentes, que diz respeito às relações dos indivíduos entre si, e os direitos civis e políticos, que
falam sobre a relação dos indivíduos com o Estado. O conjunto dessas leis positivas seria o
espírito das leis, o que dá nome à sua obra.
Em seu livro, Montesquieu explica o que chama de “ Natureza do Governo “, os seja, os
tipos de Estado e a origem do poder de cada um. No poder tirânico, a arbitrariedade do
governante é mantida pelo medo, que é a origem do seu poder. O poder monárquico tem a
origem na honra que faz com que as leis também sejam seguidas pelo governante. A honra seria
uma espécie de amor ao poder que impede que o monarca seja arbitrário como um déspota. Na
república, o poder vem do povo e é norteada pela virtude do amor à pátria e à igualdade, virtude
essa que não existe no despotismo nem no absolutismo.
O princípio de governo seria a forma de organização do Estado, podendo ser uma
monarquia, uma aristocracia ou uma democracia. Montesquieu defende um híbrido entre esses
três princípios, defendendo uma monarquia parlamentar (aristocrática) cujo o povo possa
escolher os membros do parlamento. Montesquieu defende a aristocracia pois acredita que o
poder deve vir do povo, mas o povo não deve estar no poder, mas sim ser representado. Para ele,
as massas não têm capacidade de governar e esse grupo limitado de governantes não seria
suficientemente egoísta ao ponto de oprimir o povo miserável.
Para garantir o funcionamento da república, Montesquieu teorizou um modelo de divisão
de poderes distribuído igualmente entre Legislativo (função típica de legislar e fiscalizar) ,
Executivo (função típica de de administrar a coisa pública) e Judiciário (função típica de julgar
com base na lei). Essa divisão foi inspirada na do Lock e se difere dela pois não existe uma
maior importância e subordinação dos outros poderes ao Legislativo, e ao invés do poder
federativo temos o poder Judiciário. A divisão de competências de cada poder também se difere
em alguns critérios. Essa tripartição de poderes cria o sistema de freios e contrapesos, onde cada
poder é independente, interligado e parte pelo principios de que o poder seria controlado pelo
próprio poder.
Montesquieu foi extremamente relevante, não só no pensamento moderno mas como
também o contemporâneo. Esse autor foi o que teorizou o modelo de divisão de poderes que
baseou a que até hoje é usada no Brasil bem como em várias parte do mundo. Além disso, suas
críticas ao absolutismo monárquico tiveram grande influência para proclamação da república em
varios paises.

ROUSSEAU
Rousseau foi um e em suas obras Do Contrato Social e Discurso Sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens, ele descreve o homem como sendo bom e
dotado de igualdade e uma liberdade natural, que consiste na força individual, no estado de
natureza. Nesse estado de natureza é criada em algum momento a propriedade privada, na qual
alguns homens tomaram para si aquilo que era de todos e convenceram os outros a acreditar que
aquilo lhes pertencia. A criação dessa propriedade faz com que os homens se tornem desiguais, o
que limita suas liberdades. O pacto social surge em decorrência dessa desigualdade criada como
uma consequência. Na sociedade civil essa propriedade já está consolidada e posta como um
valor não negativo. O pacto social aparece para criar leis que garantam a liberdade civil, que
diferente da liberdade natural, está pautada na força das posses. Essas leis servem para garantir a
propriedade sem limitar a liberdade de outrem.
Rousseau defende a república por entender que esse contrato feito entre os homens deve
respeitar a vontade geral, que vem do consenso da maioria sobre as deliberações pública. Na
república o povo deve decidir as leis por meio do sufrágio (vontade da maioria). Ele não defende
a democracia em seus sentido puro, o povo no poder, algo mais similar a Grécia antiga, porque
não seria viável em uma situação onde o povo fosse muito grande, sendo melhor um sistema
representativo como a república.
Rousseau teve um papel importante para o pensamento político moderno porque ele
defendia a democracia e, por isso, teve grande influência nos movimentos que culminaram na
revolução francesa. Suas opiniões sobre propriedade também foram importantes porque ao
mesmo tempo que ela era posta como algo que a sociedade civil de sua época deveria defender,
apontá-la como causadora da desigualdade que foi um conceito usado por Marx que será melhor
detalhado mais para o fim desse texto. Para Marx, a burguesia teria se apossado injustamente
dos meios de produção que antes eram de todos e com isso teria criado a relação de desigualdade
com o proletariado.

EDMUND BURKE
No Reino Unido do século XVIII, Edmund Burke, membro do partido Whig e do
parlamento londrino, foi um grande crítico e contemporâneo à revolução francesa. O filósofo e
teórico tinha um pensamento liberal no campo econômico e conservador no político. Além disso
Burke pode ser considerado como o pai do conservadorismo anglo-americano.
Durante a revolução francesa muitas pessoas morreram, povo e elite, a guilhotina guiou
parte da revolução. Reis foram depostos e o caos governou. Essa revolução é, por muitos,
considerada um marco histórico na formação do pensamento na transição para a
contemporaneidade. Com o colapso da monarquia absolutista que governava a frança, os
membros da oligarquia e religiosos foram perdendo seus privilégios. O caráter radical dos grupos
políticos iluministas e a agressividade com que os acontecimentos se deram foram extremamente
criticados por adversários e opositores. Burke, percebendo que a revolução francesa tinha
características de rompimento total com a ordem, se opôs a ela, pois, para o autor, havia
equilíbrios sociais que deveriam ser preservados.
O espectro revolucionário dos acontecimentos de 1789 na França foi marcado por forte
ruptura com o passado. Os privilégios feudais e religiosos que prejudicavam principalmente a
população foi o estopim de seu colapso com o aumento da taxação fiscal sobre a população e
com o envolvimento da França com a guerra de independência dos EUA. Edmund Burke, sentia
que a revolução estava descaracterizando a imaginação moral, que seria a consciência que teria o
papel de mediador das intuições e do que é aceitável para o ser humano. Submerso em sua moral
cristã, o filósofo escreveu sua grande obra baseado no medo do abandono às tradições e os
valores do statuos quo.
O que mais incomodava o autor não eram os princípios de liberdade e contrários o
absolutismo monárquico, mas sim pela revolução partir do povo e ser fundamentada da violência
física. Para ele, a revolução francesa deveria se aproximar mais do que foi a revolução gloriosa,
em que o povo nao foi protagonista, mas sim uma disputa entre nobres, que não houve
derramamento de sangue e nem mudanças radicais na estrutura da sociedade. Burke previu o
caráter do terror que a revolução iria ganhar e previu também perseguições aos nobres em sua
obra Reflections On the Revolution In France.
A política, no período da revolução francesa, ainda estava em processo de transição para
a modernidade. Edmund Burke foi importante nesse processo pois com a análise crítica ao início
da revolução, criticou também, de certa forma, o surgimento da modernidade e percebeu o
caráter de mudança e negação do passado feudal. No entanto, pode-se dizer que Burke foi
produto da então nascente modernidade já que participou dos mecanismos oposição à ela. Sem a
influência instável da mudança de valores o autor não teria sentido os impulsos que o impeliram
a teorizar contra a nova ordem.

ALEXIS DE TOCQUEVILLE

Alexis de Tocqueville, embora tivesse vivenciado o contexto das guerras napoleônicas


voltou suas atenções para a américa, mais especificamente para o sistema norte-americano de
governo. Nesse contexto o autor observou que os EUA dessa época se mostravam uma grande
democracia e para ele a democracia é liberdade mais igualdade em um só governo. Os EUA
eram considerados por ele o país mais livre do mundo e com forte autonomia entre os indivíduos.
A modernidade nos EUA se mostra com a implementação aparente dos preceitos modernos de
liberdade e igualdade de direitos.
Na Perspectiva do autor, o fato de os EUA serem um país com uma liberdade bem
desenvolvida, seria, portanto, democrático, mesmo que, para os próprios Federalistas, os EUA
fossem uma república. Além disso, para o autor, era muito importante, para a democracia, a
propriedade privada, pois ela é considerada um direito. Tendo isso em vista, a democracia, para o
autor, deveria ser construída a partir da participação popular e para que não haja a tirania da
maioria sobre a minoria, a população deveria elevar ao máximo sua participação.
Alexis de Tocqueville se mostra imerso em premissas modernas de governo. Já superado
o absolutismo, a reflexão e Tocqueville presencia um Estado centralizado, além de apontar
também o que é, para ele, a democracia, como ela se comporta e como ela é exercida. O autor é,
portanto, considerado importante para o pensamento político moderno pois prossegue com uma
lógica de raciocínio baseado na observação da democracia Estadunidense, o que o aproxima de
um certo empirismo mergulhado no mundo teórico.
KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS

No século das luzes, pré revolução industrial, nasceu Adam Smith, o pai da economia
moderna e um dos autores mais importantes no liberalismo econômico. O autor, juntamente com
David Ricardo, foram pensadores inestimáveis para a formação filosófico-econômica de um dos
pilares da sociologia, Karl Marx.
No crescente império colonial a revolução industrial se deu, inicialmente, com a
transição, sem exclusão completa, do trabalhador artesanal das manufaturas inglesas para a
maquinofatura com o trabalhador assalariado nas indústrias. Fatores de estabilidade econômica e
social foram colaboradores fortes para o sucesso inglês como potência econômica mundial. A
expulsão dos trabalhadores rurais para a cidade, com a tomada da posse das terras com os
Cercamentos, levou a uma situação de abundância de mão-de-obra nas cidades inglesas o que foi
decisivo para a sua alocação no trabalho fabril-industrial. A invenção de mecanismos de
produção como a máquina a vapor, a máquina de fiar, ferrovias etc. levaram a uma facilidade
para a modernização do processo de produção capitalista.
Karl Marx viveu em plena revolução industrial. Com o advento do capitalismo e
revoltado com as condições sub-humanas de trabalho nas fábricas inglesas, conheceu seu
parceiro Friedrich Engels, que influenciou imensamente suas obras. Marx, de família rica, teve
uma vida pessoal precária e isso influenciou fortemente seu pensamento. Suas obras mais
importantes, O manifesto comunista e O Capital, só ganharam real visibilidade após sua morte.
Marx faz uma reinterpretação do papel social do trabalhador dentro do ambiente da
revolução industrial. Ele afirma no prefácio à primeira edição do “O capital” que “o fim último
desta obra é descobrir a lei económica do movimento da sociedade moderna”. Logo, as
discussões nessa obra permeiam principalmente os países que estão vivenciando a revolução
industrial, embora ela esteja fundamentalmente embasada na análise da situação inglesa.
Enquanto O capital faz uma análise do impacto do capitalismo com base na situação inglesa,
uma outra obra de Marx, também muito importante na compreensão sociológica e histórica desse
período (Revolução industrial), é o 18 Brumário de Luís Bonaparte, que analisa também os
impactos que o capitalismo infligiu sobre a sociedade francesa, gerando uma revolução cujas
implicações têm impactado as ideias dos movimentos políticos ao longo da história. No entanto,
no “Manifesto Comunista”, Marx toma um tom mais universalista ao sinalizar o desejo de que
todos os trabalhadores do mundo se unam, utilizando a célebre máxima “Trabalhadores do
mundo, uni-vos!” ampliando sua ambição aos trabalhadores do globo.

STUART MILL

John Stuart Mill, Nascido na inglaterra do século XIX, teve fortes influências filosóficas
de seu pai, James Mill, e Jeremy Benton, os quais criaram a filosofia utilitarista. Essa linha de
pensamento tem o objetivo de buscar prazer e o bem estar para o maior número de pessoas e,
para tanto, evitar a dor. Stuart lia muito sobre o ceticismo de David Hume.
Em sua infância, Stuart Mill é exposto ao meio intelectual, graças ao seu pai e a Jeremy
Bentham. Sua educação foi extremamente forte reflete em suas obras. Graças a isso o autor é um
grande defensor da educação. Somente após a morte de seu pai que o autor escreve suas obras
mais maduras. Com esse falecimento ele muda radicalmente sua filosofia. No entanto, não se
sabe ao certo até que ponto o pensador rompe com o pensamento utilitarista pois ele entende a
liberdade individual antes da liberdade coletiva.
O pensamento de John Stuart Mill, em “Sobre a Liberdade” analisa o Estado moderno e
teoriza sobre ele. Stuart discorre sobre a liberdade e se fecha na inglaterra, ele analisa a
revolução industrial, a economia e as populações. Graças ao seu contexto histórico e geográfico,
o autor pôde presenciar o epicentro da revolução industrial. Ele era um liberal “conservador” e
republicano. Em sua filosofia política, ele propõe uma aproximação do liberalismo com a
democracia. Além disso, Stuart acreditava na liberdade da representação e da participação
popular, dando uma roupagem moderna ao liberalismo. Graças à sua esposa, Stuart Mill é
influenciado pelo feminismo e acredita no sufrágio universal, liberdade e direitos humanos para
homens e mulheres.
Para o autor, a liberdade individual é muito importante pois ela não é um direito natural,
mas é um direito fundamental. É um direito criado e conquistado na sociedade (tal pensamento
rompe com o contratualismo liberal).
O pensamento de Stuart Mill é importante pois ele também explica que o Estado nasce
com limitações de poder e com atuações pontuais. Essa limitação se dá pois não se pode
interferir nas liberdades individuais. O Estado existe para evitar danos sociais e individuais
causados por quem quer que seja. Além disso, para o autor não basta o Estado ter poder
econômico, mas há de ter estabilidade social
Em “Considerações sobre o governo representativo” (1861) Stuart mill ainda
complexifica mais o pensamento. O autor defende a democracia ainda mais que tocqueville. Para
ele, a democracia depende da participação do povo. Logo, a arte política é refutada pois assim o
governo não teria “alma”, mas tem uma origem, que é o povo. Além disso, para ele, o Estado não
surge de forma mecanicista nem contratualista - não é contemplativo. O Estado depende da
participação das pessoas.
Para o autor, o governo se aproxima da perfeição quando o povo participa da vida política
do país. Além disso a liberdade individual é prioridade, no entanto o Estado também tem algum
papel para garantir a liberdade (utilitarismo).
Outro ponto importante de sua filosofia política é que Stuart Mill responde de que modo
o governo vai surgir, apontando que ele surge do povo. O povo deve consentir e aceitar a
existência do Estado, além de criar mecanismos de se assegurar a existência do Estado.
Comparativamente, Marx entende que a sociedade está presa às classes dentro da relação
capital trabalho (sem liberdade) o que difere de Stuart Mill. Para o liberal, essa “prisão” não
existe, pois os indivíduos podem sim buscar a liberdade, o que o torna não determinista,
diferentemente de marx.
Em nenhum momento John Stuart Mill refuta os Estados autoritários. Eles são reflexos da
sociedade, graças a falta de desenvolvimento dos indivíduos. E, por fim, é perceptível um medo,
do autor, da massa dos trabalhadores da inglaterra. No entanto, a revolução industrial projeta nele
um sentimento de que é possível mudar a massa.
MAX WEBER

O último pensador avaliado é Max Weber. Nascido na Alemanha em 1864 chegou a


vivenciar a Primeira Guerra Mundial. O autor é considerado um dos pilares da sociologia. Além
disso, participou do Tratado de Versalhes e da constituição de Weimar.
A Alemanha estava em ascensão e Weber escreve a partir desse contexto histórico. Tem
como ponto de partida a Inglaterra com o advento do capitalismo. Esse que se desenvolve
impulsionado pela reforma protestante e permeia mais precisamente o ocidente. Logo, esse
desenvolvimento é uma questão cultural, com base religiosa e protestante. O capitalismo está se
desenvolvendo graças ao protestantismo na Europa. Segundo Weber, o capitalismo não se
desenvolveu antes pois o mundo dominante era guiado por bases católicas e o sistema de
dominação tradicional feudal, uma situação pré capitalista. Logo, com o advento do calvinismo,
Lutero rompe com a tradição da venda de indulgências e do perdão. Posto isso, todos os
desdobramentos que se sucedem após a reforma protestante só vem a aprofundar o
desenvolvimento do capitalismo.
A moral religiosa vai acabar pautando toda estrutura social principalmente no trabalho.
Existe, para Weber, a ascese, que significa “exercicio físico”, e teria um sentido de controle
austero e disciplinado do próprio corpo. Há também, para Weber, a ascese do monge, que é
extramundano e a ascese protestante que é intramundana. O ascetismo então seria o controle do
corpo pelo Espírito. Cada indivíduo deve-se adequar a essa conduta religiosa para garantir a
salvação. E isso está ligado à noção de trabalho. A moral dá as diretrizes para ligar a vida que
deve-se seguir. O indício de salvação, no protestantismo, é o princípio do enriquecimento. No
entanto, deve-se utilizar o enriquecimento para a salvação, logo não pode-se utilizar as riquezas
para o luxo, pois isso os afasta do objetivo. Logo, o capitalismo é um dos indícios da salvação.
Para Marx, capitalismo é movimento. Weber não tem essa lógica. Capitalismo, para ele, é
acumulação e formação de estoque. Weber utiliza Adam Smith e aponta que o trabalho move o
capitalismo, move o capital. O trabalho pode ser intelectual ou braçal. Esse trabalho leva a uma
acumulação de capital que por sua vez leva a uma condição melhor de vida. No entanto, na ética
protestante, deve-se usar somente o básico para poder trabalhar ainda mais. A partir desse
esforço coletivo das pessoas baseado no protestantismo calvinista o capitalismo se aprofunda.
Países que conseguiram se desvencilhar da moral católica e houve o prevalecimento da ética
protestante são países, de acordo com a base analítico-histórica de Weber, mais aprofundados ou
mais avançados dentro do sistema, ou modo de produção capitalista. Por esse motivo Weber se
distancia de Marx, ele não vai dizer que o capitalismo vai ser total. O autor diz que o
capitalismo, principalmente do ponto de vista ocidental, se desenvolve de forma heterogênea e
depende da ética religiosa então instaurada. Tanto Marx quanto Weber se aprofundam na
metodologia, Weber na científica e Marx no materialismo dialético.
Weber articula a análise da vocação baseado no trabalho que, para ele, vem da religião e
que se desdobra no capitalismo. Em 1917 o autor lança “Ciência e Política: Duas Vocações” que
graças ao seus processos metodológicos e se aproxima muito com a ciência moderna sociológica.
Pra entender o capitalismo em Weber, deve-se entender sua dimensão racional, o que
contrapõe a Marx, que tenta se aproximar das ciências exatas. ?
Para Weber O Estado é definido não pelos fins, mas sim pelos meios. Dessa forma, ele
quer entender quais são as especificidades do Estado e o que o difere de outras instituições,
assim tenta-se evitar ambiguidade. Para o autor, a peculiaridade do Estado é ter o monopólio
legítimo da coerção, o que o difere novamente de Marx que considera o Estado o comitê
executivo da burguesia. Logo, Marx olha para a finalidade do Estado para entendê-lo.
Weber é considerado um conservador antidemocrático?, o que o faz destoar de
antecessores como Tocqueville e Stuart Mill. No entanto, sua concepção de Estado lembra o da
obra O Leviatã.
Além disso, muito importante também para o pensamento político foi a teorização dos
tipos de dominação. Para Weber, dominação é a probabilidade de se obter obediência a um
determinado mandato. Para ele, existem 3 tipos ideais de dominação legítimas, a dominação
legal, dominação tradicional e dominação carismática. Todos os tipos são puros, ou seja, não
aparecem de forma única na sociedade, mas em graus variáveis. A dominação Patrimonial, para
Weber é um tipo de dominação Tradicional. Esta se divide em dominação Estamental e
Patriarcal. A diferença mais fundamental entre esses dois tipos de dominação é que os servidores
ou súditos têm mais independência no caso da dominação estamental, sendo assim, por exemplo,
o senhor teria mais poder próprio. Além de não serem passíveis de uma destruição arbitrária
causada pelo príncipe, enquanto que na dominação patrimonial as ordens vem diretamente dos
senhores.
No caso do feudalismo em Weber, sua aparição é confusa de modo que às vezes é tratado
como sinônimo de dominação tradicional, mas também aparece como patrimonialismo
estamental. Esse sistema seria o limite da estrutura patrimonial, no qual se encontra
extremamente descentralizada. No entanto, a descentralização não descaracteriza a sociedade
patrimonial. Além disso, a sociedade feudal se caracteriza pela economia fundada na servidão e
na troca, ter presente a ação de artesãos (que detinham a propriedade dos meios de produção) e
da pequena indústria, meios de trabalho individuais e acordo entre o rei e o senhor feudal, que
tem direito de resistência (poder descentralizado).
O pensamento Weberiano é de suma importância para a análise do capitalismo e da era
moderna de pensamento político posto que ele discorre sobre um período no qual os autores aqui
comentados, entre outros, teorizaram sobre suas sociedades e o funcionamento delas, tanto
buscando a origem do Estado como tentando entender como ele e, sumamente, o poder
funcionam.

CONCLUSÃO

Podemos concluir desse trabalho que a Idade Moderna foi marcada por uma série
transformações históricas impulsionadas pelos contextos políticos, econômicos e sociais. Essas
transformações se refletiram nas produções acadêmicas e foram moldadas por elas ao passo que
essas criticavam ou apoiaram as mudanças ocorridas.
Começamos com Maquiavel, por esse autor influir na consolidação dos Estados
nacionais, dando início a Idade Moderna. Além disso, suas opiniões sobre as formas de governo
e como o governante deveria agir guiaram o comportamento de muitos chefes de Estado e
consequentemente ao rumo que a história moldada por eles se desenvolveu.
Depois dele, passamos por um conjunto de autores fundamentais na manutenção e
transformação de momentos importantes da Idade Moderna, construindo o pensamento político
moderno. Dentre esses momentos podemos citar a reforma protestante, o absolutismo
monárquico, a revolução gloriosa, a independência dos EUA e a revolução francesa, por
exemplo.
Terminamos com Weber por esse ser cronologicamente o último autor trabalhado, que leu
todos os autores anteriores e viveu o final da Idade Moderna e o início da Era Contemporânea.
Por esse período ter sido um momento de transição, muitas das ideias geradas na modernidade
são presentes ainda hoje, sendo material de discussões acadêmicas e constituindo a base teórica
das transformações políticas atuais.

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