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Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Ciências Jurídicas – CCJ


Disciplina de Teoria Política (DIR5116-01303)

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “DIREITO PENAL NA GRÉCIA ANTIGA”


DE VIVIANA GASTALDI

RAFAELA DE OLIVEIRA DA ROSA

FLORIANÓPOLIS
2022
De acordo com o estudo do livro “Direito Penal na Grécia Antiga” da professora
e pesquisadora Viviana Gastaldi, traduzido por Mônica Sol Glick, e produzido no ano de
2006 pela editora Fundação Boiteux, é introduzido uma breve análise sobre a
originalidade e evolução do direito penal na Antiguidade grega. Como também, a
compreensão de suas problemáticas quanto a julgamentos e punições, assim como as
definições de crime, afim de refletir e elucidar sobre um dos principais temas: homicídio;
considerado um dos delitos privados mais graves no mundo jurídico. Além de,
desenvolver e explicar sobre os demais assuntos fundamentais para o entendimento do
jurista, a autora, faz também uma série de alusões à autores e pesquisadores renomados
como Gernet, Malinowski, Gagarin e entre outros ao decorrer do livro, visando tratar
sobre todo o processo histórico penal grego, exemplificando assim a ordem cronológica
de sua discussão, até chegar na Grécia Homérica. Neste sentido, a obra faz o leitor
ponderar sobre as temáticas abordadas, instigando assim a sua leitura completa, afim de
adquirir o conhecimento e explicação dos porquês implícitos em sua escrita.
Posteriormente, é abordado logo de início algumas questões preliminares no que
se refere a teorias do nascimento do direito. A autora cita alguns filósofos estudiosos
como Platão, Hobbes e Marx, estes que ao tratar da particularização do direito,
apresentam uma ideia na qual alega uma correlação entre a existência do direito à do
Estado. Buscando compreender o direito de um modo evolucionista, essa ideia é
totalmente defendida pelo pesquisador do direito grego, Michael Gagarin, que
compreendia o direito como uma necessidade do Estado, e que o mesmo surgiria apenas
quando o Estado começa a regular os delitos e as penas, por meio de regulamentos lícitos
de comportamento. Ou seja, em uma sociedade arcaica, seria impossível falar do direito
penal grego.
Ao contrário de Gagarin, o antropólogo polaco e estudioso da sociedade arcaica,
Malinowski, apresenta uma ideia divergente do direito, considerando este como um
direito mais adaptável. Para o autor, o direito se entendia por meio de uma perspectiva
onde todas as regras aplicadas como obrigações de vínculo, ou seja, são consideradas
jurídicas. Ou seja, de modo resumido, Malinowski explica que, ainda que não houvessem
escrita – ainda nas sociedades ágrafas – existia de fato, uma lei primitiva.
Ainda sobre Malinowski, o autor apresenta em sua obra Crime e Costume na
Sociedade Selvagem (1926) definições reais de ordem jurídica em povos aborígenes –
população nativa da Austrália – na Oceania, identificando assim, ligações claras de
economia, com relações econômicas de obrigações e reciprocidade, assim como é visto
em normas para herança, casamento e também a tutela de membros familiares. Visando
também, além da presença de regras de como se portar, casos de infração de tais regras,
guardando então, algumas similaridades com punições do direito penal da Antiguidade
grega.
Apesar desse debate de ideias, a autora os cita para uma melhor noção do tema
abordado, considerando lados opostos de ideias, assim alimentando a concepção de que,
o período pré estado pode ser considerado também como pré direito, onde há um conjunto
de ordens consuetudinárias, ou seja, uma união de costumes e práticas de uma sociedade,
mesmo que não haja uma formalização escrita ou processual, aceitas como normas.
Assim, tais normas são meros reflexos de hábitos e cultura de uma sociedade,
normalmente impostas por figuras religiosas em nome dos deuses, portanto, não
compunham um código e nem podem ser asseguradas pelo estado. Dito isso, por meio de
um panorama antropológico e cada assunto já abordado, é possível ditar que, o direito em
geral, altera apenas a questão de aplicação de acordo com cada tempo ou sociedade, sendo
assim, o direito está presente em todas as comunidades humanas.
Viviana cita que, o pré direito continha claros ordenamentos em alguns atributos,
sendo o primeiro deles, as relações familiares, estas que se baseavam na reciprocidade na
beneficiação da hospitalidade. Logo antes da polis o vínculo entre estrangeiros eram
administrados pela xemia (leis de hospitalidade); portanto, aquele que havia sido
beneficiado da hospitalidade de outro, estava fadado a recompensar a todos os membros
da oikos do outro. Tais normas de hospitalidade, além de servirem para a regulamentação
das relações entre pessoas, servia também para garantir o fluxo de bens de prestígios e
riquezas, criando também, laços entre Oikos diferentes.
Já entre os séculos V e IV a.C., o direito ateniense contemporâneo referia-se ao
direito ático, ou como também conhecido, direito público e o privado que governavam o
Atenas na Antiguidade, assim como o Oikos, ou direito familiar. Portanto, o processo de
reconstrução do direito ático interessava a três conjuntos específicos da época, sendo eles:
os filósofos, dado pela força e certeza das expressões jurídicas, resultando numa avaliação
cabal do direito; aos historiadores por apresentar o ordenamento da polis na política
externa e interna, assim como os modos em quais os cidadãos agiam; e aos juristas pelo
encargo do direito grego na consolidação da história, sendo ainda, identificada na
modernidade.
É de suma importância analisar que há no texto uma defesa do direito grego com
Homero, por meio de poemas datando aproximadamente o século VIII a.C., elucidando
acontecimentos no século X a.C. vinculado ao decorrer dos séculos por uma tradição
oratória, ou seja, apenas oralmente, começando a ser registrados de forma escrita somente
no século IV a.C. A autora dita em sua obra também, que apesar dos diversos
questionamentos sobre possíveis mudanças nos textos escritos, a alteração do conteúdo
da tradição oral era dada como um crime, pois a sua adulteração tornava-se uma ofensa
aos deuses, pois não tratavam apenas de ordenamento humano como também o divino.
Dando continuidade ao período homérico (se deu entre os séculos XII a.C. e VIII
a.C.) fora configurada em órgãos, são eles: a assembléia, constituída por reis e outros
diversos chefes e a ágora, esta que ao contrário da assembléia, era um local onde ocorria
os debates, ou seja, o palco que anteciparia o futuro da democracia ateniense.
Já no que se refere às leis, a autora cita dois termos gregos que melhor
representavam a noção de lei. O primeiro deles, chamado de Themis, é caracterizado por
fazer cumprir a vontade divina, por meio de fixações de direitos e deveres do indivíduo;
já o dike, por sua vez, representa a justiça dos homens, ou seja, dá-se por uma ideia de
ordem e harmonia entre direitos coletivos e individuais.
Quanto ao seu oposto, o delito na Antiguidade, é possível analisar as diferenças
entre os delitos públicos e privados, considera-se o delito como uma ofensa na qual a
sociedade costuma punir, primeiro pelo ato direto do povo, e logo após por um ato público
de caráter moral e social. Visto isso, o delito não seria de início, uma violação a uma lei
já estabelecida, mas sim uma contrariedade a prosperidade e moral da sociedade, sendo
então, sua principal punição, uma enorme reprovação pública. Pode ser também, o delito,
a contrariedade a religião ou a segurança pública. Em sequência, Gastaldi cita uma
variação de termos gregos, atribuindo significado e facilitando a compreensão dos
mesmos, pois se traduzidos, perdem totalmente seu sentido, visto que, atribuímos seus
conceitos com uma visão moderna.
Dentre os termos citados na obra, um dos mais destacados é chamado de hybris,
que de acordo com Homero, é o que diz respeito à contrariedade de uma lei, a infração da
mesma, seu sentido é marcado por uma visão primitiva de delito e a fase inicial do Direito
Penal. Ao longo do tempo e o aparecimento de uma economia interurbana, a concepção
de hybris torna-se vinculado a uma ideia de injustiça. Sendo assim, surge e toma o lugar
do antigo termo – hybris – o adikia, este que na cultura jurídica grega, tem justamente o
sentido de injustiça e impiedade, ressaltando-se aqui a relevância dada a algumas
infrações, com uma sentença organizada. A fusão entre os delitos públicos e privados,
segundo a visão de Louis Gernet, respectivamente dizia-se por meio de uma sanção
publica ordenada e por outro que, não era assimilada de uma maneira rápida, como em
um roubo ou homicídio.
O homicídio na o período homérico grego, é considerado o delito ilegítimo mais
imoral, uma vez que tratava de uma comunidade voltada a disputa com uma enfática
valorização da força física (bia) e da honra grega (timé). Assim, era aceito quando
declarado a arete (superioridade) do homicida perante sua vítima. Caso contrário, apenas
três casos levavam a desaprovação do homicídio: contra um hóspede, quando seguido de
um engano e em caso de parricídio (crime praticado pelo filho(a) contra o pai ou familiar).
Suas consequências se davam por rejeição, vingança, violência o até mesmo por exílio.
O timé, por sua vez, recuperava-se pelo afastamento do culpado, como observa-se em
Ilíada. É de grande relevância também, ressaltar a tese da religiosidade presente nessa
questão, já que essas punições aplicadas ao homicida, serviam de modo geral, numa
tentativa de harmonização da liberdade do homem com a determinação do destino e
desejo divino. Revelam também, a concepção de ódio da vítima e o terror do grupo na
presença do homicida, exemplificando então, o exílio seria uma maneira desta
comunidade se desculpar com as autoridades divinas (deuses), afastando assim, o impuro
dentre seu meio. Outro exemplo se dá no filme Tróia (2004), onde em um momento de
raiva pela morte de seu colega e companheiro Patroclus, ato cometido por Heitor, Aquiles
– o príncipe de Tróia – desafia-o e o mata em um duelo, logo após arrasta seu corpo sem
vida até o acampamento grego, negando o funeral. À medida que o homicídio cometido
por Heitor, fez-se parte de uma naturalidade do duelo em um ambiente de guerra, negar-
se ao direito ao funeral do outro é considerado um sacrilégio, pois este ofendia
diretamente o grupo de ordens que coincide com o desejo divino, ou seja, a Themis.
Ainda sobre os casos de homicídios que violavam as normativas, instituía-se a
vendeta por parte familiar da vítima, sendo dominada pelo timé e pela necessidade de
satisfação do falecido. Materializava-se através do sangue ou como sanção material,
mesmo que houvesse formas de evitar a vendetta, sendo o exílio e a poiné. O primeiro,
como já mencionado antes, poderia ser tanto sancionado ou auto-aplicado, porém, em
tempos homéricos, o exílio não era algo simples como é visto na atualidade. Em
sociedades com a polis distantes, tornava-se grande a dificuldade de o exilado voltar a ter
uma vida digna.
A poiné, por outro lado, tratava-se de um tratado de caráter monetário negociado
entre amas partes, uma delas renunciadora a vendetta de sangue, enquanto a outra se
comprometia a indenizar o grupo da vítima por meio de uma restituição de caráter moral.
Mesmo que, ainda fosse questionada quanto a sua legitimidade, a poiné tinha uma
intervenção da comunidade juntamente aos gerontes (chefe com mais status descendente
de herói ou de um deus). Em situações como esta, é possível notar, ainda que na ausência
de uma ordem positivada, o boulê (conselho) de gerontes é de fato, reconhecido como
um órgão pública com relevância para exercer o direito.
Em seguida, Viviana aborda sobre a prática do adultério e a maneira em como é
julgado esse delito. Sendo tratado como uma ação detestável, o adultério possuía também,
sanções públicas e matérias. O casamento era dado também como uma relação de
reciprocidade e doação, ou seja, era um sistema onde se negociava os bens e suas riquezas,
representado assim, a base das trocas políticas, econômicas e sociais. Um exemplo de
adultério com mais destaque é o caso de Afrodite, deusa do amor, beleza, fertilidade e o
desejo, mulher de Hefesto, deus do fogo. Resumidamente, a deusa continha um caso com
Ares, deus da guerra, até que seu marido, Hefesto, arma uma ideia afim de flagrar as
traições, já quando comprovado o adultério, o deus do fogo recebeu de pai de Afrodite,
Zeus, seus dotes, e assim uma indenização do deus da guerra pelo acontecimento. Por
último, após uma análise feita do caso, nota-se que, além da vergonha e repúdio, não há
nada além da ausência de culpa da parte da mulher, ou seja, Afrodite não recebera nenhum
tipo de sanção, tendo um papel passivo, como não responsável pelo seu ato e sim como
“seduzida” por Ares.
Já no sexto capítulo do livro, Viviana apresenta o desenvolver do prejuízo,
especificando as duas maneiras de solidariedade grega, sendo elas a solidariedade passiva
e a ativa dentro dos genos, essa elucidada como uma ação conjunta entre os familiares da
vítima.
Manifesta-se a cisão do poder ateniense e, em seguida, inicia-se o sistema penal
com o código draconiano. Os passos primitivos para o desenvolver dessas instituições
jurídicas ocorreu através da segmentação dos poderes e também das funções judiciais, a
serem exercidas por nove magistrado, sendo eles: o chefe do estado (arconte epônimo); o
chefe militar (arconte polemarco); o chefe religioso (arconte basileu); e seis juízes
(arcontes thesmothetai).
Por meio do crescimento alfabético, torna-se finalmente possível a consolidação
da legislação. É a partir desta que, o estado toma para si a responsabilidade exclusiva de
punir o homicídio, tornando-se um delito proibido. Com isto, surgiu a primeira ideia de
ato ilícito, tendo como penalidade única, o exílio.
Entretanto, o panorama político-social em Atenas no final do século VII, fez com
que tornasse inviável a composição de um código de leis que estivessem fora do alcanço
dos juízes. A parte lesada ficava obrigada a levar o culpável perante os magistrados e a
reconhecer que o direito de punir caberia somente aos representantes da cidade, no que
diz respeito á tentativa de derrubar menos sangue e alternar o foco da vingança privada
para a repressão da sociedade.
O código draconiano, ou código de Dracon foi quase que totalmente modificado
por Sólon, com exceção a matéria do homicídio. Este um poeta, magistrado e fundador
do estado ateniense, promove o aniquilamento do poder político por nobreza, alterando
para o poder financeiro e reforma agrária, como também promoveu o fim da escravidão
por dívidas.
Vale salientar então, por meio de um entendimento aristotélicos que, os dois
grandes avanços em favor da democracia foram o direito de recorrer um parecer judicial
por meio do apelo popular, diferente do direito de Dracon, que somente concedia este
direito a membros familiares do lesado, e o direito do cidadão de entrar com uma ação
em prol dos agravados. Com isso, é dito que, o direito a vingança, estende-se a todos,
originando-se às dikai e às graphai, ações privadas e ações públicas.
Com o filósofo Clístenes, dissociou-se o estado em três órgãos institucionais: a
assembleia geral, os tribunais e o conselho (boulé). A sistematização de tais órgãos
mencionados juntavam-se em uma fortíssima presença dos indivíduos, como por
exemplo, era formado o conselho por 500 desses cidadãos e traziam assuntos a serem
discutidos nas assembleias gerais, que eram locais onde o povo votava nessas pautas
escolhidas pelo boulé. E os tribunais, por sua vez, tornavam-se a sede dos julgamentos.
Portanto, nas assembleias gerais, o povo realizava diretamente o seu voto em
caráter decisivo. Nos julgamentos em tribunais, eram feitos votos com pedras colocadas
em segredo em urnas, sendo elas, uma de absolvição do réu, e outra de condenação. Já
em assembleias, um simples erguer de mãos era considerado como voto.
Seguidamente, a escritora Viviana, retrata os testemunhos no contexto do
homicídio, e como eram julgados. Porém, agora com uma visão diferente, dada por
Antiforte, primeiro logógrafo grego, sofista e mestre da persuasão que, mostra com
simplicidade e clareza em suas obras a relevância da oratória Ática, essa na qual,
constituiu um forte aspecto de dados para a admiração da cultura e da vida política
ateniense. Suas obras apresentam fundamentos no imaginário de Atenas, no entanto,
excluem as narrativas, numa tentativa máxima de continuarem atados aos argumentos.
Sendo assim, dava o seu parecer ao levar o caso ao areópago e, de acordo com o código
de Dracon, cediam o direito a vendetta caso fosse confirmada a culpa do homicida. Em
seu discurso, Antiforte refere-se a constante necessidade de punição, porém, como
vingança ao invés de uma pena justa sancionada.
Visando a questão da mácula, ou desonra por homicídio, é uma constante
característica nas Tetralogias (peças teatrais que apresentavam os poetas gregos, sendo
três tragédias e um drama satírico ou burlesco). Sua teoria encontra-se com força distinta
na elaboração das tragédias do século V e ligadas a homicídios que ocorreram no centro
do oikos.
Após percorrer todo o livro, enfim chegamos a sua última parte, na qual Viviana
apresenta e elucida a perspectiva sob a pena na sociedade grega. Iniciando-se com uma
observação sociológica, focando principalmente na visão de Foucault. Todavia, Gastaldi
retorna a abordar sobre as penalidades agora sob o nome de Louis Gernet. É feita então,
uma análise por meio da punição posta em uma organização social extensa, baseado do
simbolismo. Ainda nesse sentido, é feito por Allen uma discussão entre as distinções
básicas entre penalização, executada por um ator judicial que não está pessoalmente
envolvido com a matéria, ou seja, que seja imparcial; e vingança, essa focada
principalmente sobre um conjunto maléfico sofrido sem nenhuma limitação.
É citado ainda por Allen, quatro conceitos em relação aos temas apresentados por
Nozick. Sendo eles: existe um limite interno na penalidade, que alterna de acordo com a
gravidade da ofensa, já para a vingança, não há limite; que a vingança é de índole pessoal;
distinta da penalidade, a vingança envolve uma variedade de prazer e emoção com a
aflição do alvo da vingança; que a penalidade, é baseada em concepções que exigem
penas similares para litígios. Por fim, é dito então que a vingança é o resultado ilegítimo
a outra ação, sem conter algumas autoridades; e a penalidade é de índole inquestionável
e legitimado.
Sucessivamente, Viviana trata da assimetria das penalidades ao decorrer da
comunidade grega em Atenas. Sendo assim, qualquer cidadão que tiver cometido um
delito nessa sociedade, era definido como um átimo, ou seja, um homem excluído e
dissociado da sociedade, tendo que fugir por estar sujeito ao apedrejamento, golpes e
escárnios. Portanto, a privação do exercício de seus direitos de cidadania, era chamado
de atimia.
A atimia ganha o sentido jurídico de desonra, a polis clássica. Logo, é notório uma
atimia que restringe temporariamente o exercício de seus direitos como cidadão e uma
atimia permanente, podendo ser dividas em duas partes: parcial e total.
Ainda sobre a lapidação, a pena era constituída por deslealdade ou ameaça da
mesma. Sem esquecer que, eram inscritas em placas de bronze ou pedras, a publicação
das condenações, para que fossem expostas a todos, ao lado das disposições das leis, cada
nome daqueles que haviam desrespeitado.
Além do mais, a autora cita alguns outros tipos de penalidades gregas: a
precipitação, esta que era caracterizada como uma penalidade aos delitos políticos, nos
quais aqueles que atentassem contra a terra ateniense e fossem condenados, seriam
acorrentados; a ataphia, relacionada à atimia, era um modo de privação de sepultura aos
ladrões e traidores, dada como uma maneira excessiva de abstenção de honra; o
envenenamento com cicuta se da como uma alternativa relativa à morte por lapidação,
conhecida como a morte doce; já a prisão não era muito frequente e de fato, nunca fora
tratada como uma penalidade estabelecida por uma lei. Portanto, eram multados aqueles
que cometiam infrações leves, aplicadas em situações corriqueiras, porém, aquele que
não havia como pagar tal multa, era aprisionado.
Os dikasteria, termo grego para tribunais populares, eram palcos onde era
decidido as penalidades e veredictos, cujo número de pessoal, eleitos por meio de um
sorteio, variava. Com exceção de:
“Uma exceção era o homicídio, suja sanção estava a cargo dos cinco tribunais
especiais presídios pelos primeiros arcontes. Com a exceção do Areópago, que tinha
jurisdição sobre casos de homicídio intencional, incêndio premeditado, envenenamento
e ofensas religiosas, os outros tribunais eram presídios por um grupo de juízes,
conhecidos como epehtai, cuja identidade não está bem definida”
No período clássico, os Areópagos carregavam consigo uma fama de ser “a última
iminência” ateniense. Fundamentava-se nas teorias dos filósofos e na opinião comum a
legislação aplicada pelos tribunais. A punição e o procedimento eram diferentes segundo
a condição jurídica das partes, ou seja, se fossem cidadãos seriam tratados como iguais
cidadãos, e se fossem escravos, sua condição visava igualmente sob dois escravos.
Pesquisadores do direito ático grego, concordam ao afirmar que a problemática da
intencionalidade individual, da voluntariedade e da responsabilidade era constituída
baseada no direito penal. Configurada como um nível de compromisso cabível ao cidadão
que cometeu uma infração e sua sanção correspondente dada por uma autoridade jurídica,
era considerada responsabilidade jurídica.
Sendo assim, nos capítulos finais é possível perceber outras distinções ganhando
forças, como a de voluntário-involuntário: postas na sociedade como classificações
jurídicas quando a dominação e regulação das representações familiares são representadas
pela polis. Com o pensamento evolutivo, o cidadão se desenvolve como um ser autônomo
no que diz ao exercício de seus atos, e o direito draconiano, regulamentado pelo nomos,
classifica minuciosamente e ordena distintos órgãos, todos com objetivo a julgar as ações
cometidas.
Chegando finalmente ao capítulo final de sua obra, Viviana expõe sobre as
diversas teorias sobre o propósito da penalidade entre o utilitarismo – doutrina ética que
visa à finalidade ou à consequência de uma ação moral, e não ao modo como esta foi
praticada – e o retribucionismo – tentativa falha de melhorar as condições do lugar em
que se vive baseado em argumentos que desconsideram os Direitos Humanos –
apresentando como no início da legislação, os cidadãos gregos precisavam de uma
justificativa para efetividade da legislação penal.
Por fim, na época clássica, com essa necessidade de uma justificação da legislação
penal, os filósofos explicavam assim:
1. A pena é punição, uma correção que tem por finalidade punir o kolasis
(culpado);
2. A pena é a reparação de uma timôri (reparação) e tem por finalidade devolver a
ofensa com todas as satisfações às quais se tem o direito;
3. A pena é um ato de intimação, uma lição dada aos que paradeigma
(delinquem/infringem) e tem por objetivo dissuadir, mediante a expectativa de
um sofrimento, qualquer um que queira cometer algo prejudicial para o
interesse público.

Com isso, dizemos que é melhor evitar os delitos do que castigá-los. Portanto,
vimos ao decorrer da obra as teorias do nascimento e desenvolvimento do direito
penal na Grécia Antiga e também após esse período. Tendo como um propósito
principal de toda legislação, a arte de governar uma sociedade ao ponto de maior
satisfação ou insatisfação possível, para dizer que, de acordo com todos os
cálculos de bens e males da vida. A autora elucidou por meio dessa obra cada
detalhe importante para o saber da formação jurídica afim de uma melhor
compreensão da história do direito. Dá-se por fim, uma obra explícita e necessária
para o bem entendimento do tema, bem como da matéria.

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