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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Índice
1. A NATUREZA DO PÂNICO E AGORAFOBIA .............................................................. 3
Objetivos ........................................................................................................................... 3
Sofre de Perturbação de Pânico ou Agorafobia? ................................................................ 3
Estudos de Caso.................................................................................................................................. 3
Diagnóstico e Definição de Perturbação de Pânico e Agorafobia ........................................ 4
Problemas médicos ........................................................................................................... 6
Quão comum é a Perturbação de Pânico e Agorafobia? ..................................................... 7
Formas pouco úteis de lidar com ataques de pânico .......................................................... 7
Evitamento ......................................................................................................................................... 7
Distração ............................................................................................................................................ 8
Objetos supersticiosos e sinais de segurança ..................................................................................... 8
Álcool .................................................................................................................................................. 9
Como é que esta intervenção pode ajudar a lidar com o Pânico e a Agorafobia? ............... 9
O que causa pânico, ansiedade e Agorafobia? ................................................................... 9
Fatores Biológicos .............................................................................................................................. 9
Fatores Psicológicos ......................................................................................................................... 10
E o stress? ......................................................................................................................................... 11
Este tratamento é certo para si? ...................................................................................... 11
Está a receber outros tratamentos psicológicos? ............................................................. 12
Está a tomar medicamentos? .......................................................................................... 12
Que benefícios receberá deste tratamento? .................................................................... 12

2. APRENDER A AUTOMONITORIZAR O PÂNICO E A ANSIEDADE .............................. 14


Objetivos ......................................................................................................................... 14
Manutenção de Auto Registos ......................................................................................... 14
Porque devo despender tempo a fazer registos? Sei que estou ansioso! .......................... 14
O que é o registo objetivo? .............................................................................................. 15
Registo da Ansiedade e Humor ........................................................................................ 17
Registo de Progresso ....................................................................................................... 17
Resumo ........................................................................................................................... 18

3. CICLOS NEGATIVOS DE PÂNICO E AGORAFOBIA ................................................... 19


Objetivos ......................................................................................................................... 19
Propósito da Ansiedade e do Pânico ................................................................................ 19
Componentes da Ansiedade e Pânico .............................................................................. 19
Identifique e registe os seus próprios sintomas físicos, comportamentos e pensamentos 20

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O ciclo do pânico ............................................................................................................. 21


Estudos de Caso: Análise passo a passo ........................................................................................... 22
Ciclo da Agorafobia ......................................................................................................... 23
Interromper ciclos de Pânico e Agorafobia ...................................................................... 24

4. OS ATAQUES DE PÂNICO NÃO SÃO PREJUDICIAIS................................................. 25


Objetivos ......................................................................................................................... 25
Sintomas Físicos de Pânico e Sobrevivência ..................................................................... 25
Efeitos no sistema nervoso ............................................................................................................... 25
Efeitos cardiovasculares ................................................................................................................... 26
Efeitos na respiração ........................................................................................................................ 26
Efeitos na glândula do suor .............................................................................................................. 27
Outros efeitos físicos ........................................................................................................................ 27
Comportamento da resposta de luta-fuga ....................................................................... 28
Pensamentos da luta-fuga ............................................................................................................... 28
Se não há nada a temer, porquê o pânico? ...................................................................................... 29
Razões para sintomas físicos inesperados........................................................................................ 29
Como os sintomas físicos influenciam o que pensamos e fazemos? ................................................ 29
Efeitos de ter medo dos sintomas físicos .......................................................................................... 29
E os ataques de pânico que surgem “do nada”? .............................................................................. 30
Pensamento/Crenças típicas erradas sobre sintomas de pânico ...................................... 32
Enlouquecer ...................................................................................................................................... 32
Perder o controlo .............................................................................................................................. 32
Ter um colapso nervoso.................................................................................................................... 33
Ter um ataque cardíaco ................................................................................................................... 33
Desmaiar .......................................................................................................................................... 33
De onde vêm estes pensamentos ou crenças erradas?..................................................... 34

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1. A NATUREZA DO PÂNICO E AGORAFOBIA

Objetivos
Entender a natureza dos ataques de pânico, Perturbação de Pânico e Agorafobia; Aprender sobre
os fatores que causam perturbações de pânico; Aprender sobre a intervenção psicoterapêutica
para superar o pânico e Agorafobia

Sofre de Perturbação de Pânico ou Agorafobia?


Tem crises de medo que o fazem pensar que está doente, a morrer ou a perder a cabeça? Quando
estas sensações de pânico acontecem, sente-se como se o seu coração fosse sair do seu peito ou
como se não tivesse ar suficiente? Ou talvez se sinta tonto, fraco, trémulo, suado, com falta de
ar, ou apenas com medo de morrer. As sensações às vezes vêm do nada, quando menos espera?
Está preocupado com quando estas sensações vão acontecer outra vez? Estas sensações
interferem com a sua rotina diária normal ou impedem-no de fazer coisas que usualmente faria?
Se estas descrições se aplicam a si, então pode estar a sofrer de Perturbação de Pânico e
Agorafobia. As crises de medo são chamadas de ataques de pânico. Usualmente, os ataques de
pânico são acompanhados por ansiedade geral (antecipatória) sobre a possibilidade de outro
ataque. Juntos, os ataques de pânico e a ansiedade geral são chamados de Perturbação de Pânico.
Agorafobia refere-se a situações de ansiedade ou de evitamento de situações em que se espera
que ocorram ataques de pânico ou outros sintomas físicos. Estes termos são descritos de forma
mais detalhada mais tarde. Abaixo estão alguns exemplos de como a Perturbação de Pânico e a
Agorafobia podem afetar a vida das pessoas.

Estudos de Caso
Sérgio era um gerente de vendas de 31 anos que sofria de ataques de tonturas, visão turva e
palpitações cardíacas. O primeiro ataque ocorreu no trabalho, na presença dos seus colegas de
trabalho e começou com sensações de fraqueza, náuseas e tonturas. O Sérgio pediu a um colega
para chamar um médico porque tinha medo de ter um ataque cardíaco desde que o pai faleceu
recentemente de um. Além desta perda, o Sérgio estava a lidar com muito stress no trabalho.
Vários meses antes do primeiro ataque de pânico, houve alturas em que Sérgio estava nervoso e
a sua escrita tinha ficado tremida; mas, nunca tinha experimentado nada como isto antes. Depois
de um exame físico minucioso, o médico disse-lhe que era stress e ansiedade. No entanto, os
ataques de ansiedade continuaram, principalmente no trabalho, e em situações em que se sentia
encurralado. Às vezes eram inesperados ou "do nada", especialmente os que o acordaram do sono
profundo. O Sérgio sentia-se tenso e ansioso a maior parte do tempo porque se preocupava em
ter outro ataque de pânico. Desde o seu terceiro ataque de pânico, Sérgio começou a evitar ficar
sozinho sempre que possível. Também evitou lugares e situações, como lojas, centros comerciais,
multidões, teatros e esperas nas filas, onde temia ficar preso e envergonhado se entrasse em
pânico. Onde quer que ele fosse, Sérgio carregava uma Bíblia, assim como pastilha elástica e
cigarros, porque olhar para a Bíblia, mastigar pastilha elástica ou fumar cigarros o fez sentir-se
mais confortável e mais capaz de lidar com o pânico. Além disso, o Sérgio levava a medicação com
ele onde quer que fosse para o ajudar a lidar com os seus ataques.

Luísa era uma mulher de 24 anos que tinha repetidos ataques de tonturas, falta de ar, dor no
peito, visão turva, um nó na garganta e sensações de irrealidade. Ela receava que estas sensações

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significassem que algo estava errado com o seu cérebro, como um tumor, ou que ela estivesse a
perder o controlo da sua mente. O problema começou cerca de cinco anos antes. Enquanto estava
numa festa, Luísa fumava marijuana, e em pouco tempo, começou a sentir-se irreal e tonta. Nunca
tendo tido estas sensações antes, a Luísa pensou que estava a enlouquecer ou que a droga lhe
tinha danificado o cérebro. Pediu a uma amiga que a levasse às urgências. Os médicos fizeram
alguns testes e asseguraram a Luísa que os sintomas se deviam à ansiedade. A Luísa nunca mais
tocou na marijuana ou noutras drogas recreativas depois disso. Na verdade, ficou nervosa com
quaisquer substâncias químicas, mesmo as prescritas para alergias e infeções sinusais. Os ataques
de pânico diminuíram ao longo dos anos. A certa altura, não teve ataques durante três meses. No
entanto, continuou a preocupar-se em ter outro ataque de pânico quase todo o tempo. Sentia-se
desconfortável em situações em que seria difícil obter ajuda se ocorresse outro ataque de pânico,
como em lugares desconhecidos ou quando estava sozinha, mas não evitou muitos lugares. O seu
método de lidar com o pânico era envolver-se o mais possível noutras coisas, de modo a manter
a sua mente fora de pânico.

Júlia era uma mulher casada de 41 anos que estava desempregada devido aos seus ataques de
pânico. Júlia demitiu-se do cargo de assistente há vários anos porque se tinha tornado cada vez
mais difícil para ela sair de casa. Os ataques de pânico da Júlia envolviam fortes dores no peito,
sensações de pressão no peito, dormência no braço esquerdo, falta de ar e palpitações cardíacas.
Cada vez que entrou em pânico, a Júlia tinha medo de estar a morrer de ataque cardíaco. Além
disso, Júlia frequentemente acordava de sono profundo com sintomas semelhantes,
particularmente pressão no peito, falta de ar e suor. Júlia vivia com a sua família extensa, que era
de ascendência chinesa e acreditava que os eventos noturnos representavam demónios descendo
sobre ela. A avó convenceu a Júlia de que morreria se não acordasse a tempo. Consequentemente,
Júlia ficou com muito medo de dormir. À noite, passava muitas horas a andar pela casa enquanto
todos dormiam. Dormia durante todo o dia, quando outras pessoas estavam por perto. A sua vida
tinha-se tornado muito restrita à casa, com passeios ocasionais a lojas e médicos, desde que um
familiar ou amigo a acompanhasse. Júlia tinha visto muitos médicos e cardiologistas, e ela tinha
sido submetida a vários testes de stress cardiovascular e para medir o seu coração durante longos
períodos de tempo. Nada foi detetado, e, no entanto, Júlia permaneceu convencida de que teria
um ataque cardíaco ou que morreria durante o sono.

Diagnóstico e Definição de Perturbação de Pânico e Agorafobia


Um dos sistemas de classificação da saúde mental utilizado é o Manual de Diagnóstico e
Estatística para Doenças Mentais (DSM-5; APA, 2013). O DSM-5 identifica os problemas
abordados neste livro como Perturbação de Pânico e Agorafobia. As principais características da
Perturbação de Pânico são: (1) um ou mais episódios de medo ou desconforto abrupto, intenso
(isto é, um ataque de pânico); e (2) ansiedade persistente ou preocupação com a recorrência de
ataques de pânico, suas consequências, ou mudanças de vida como resultado dos ataques.
Os ataques de pânico referem-se a uma onda abrupta de medo ou desconforto intenso
acompanhado por uma série de sintomas físicos e cognitivos, que estão listados abaixo. Ataques
ocasionais de pânico são comuns. No entanto, nem todos os que experimentam ataques de
pânico ocasionais desenvolvem Perturbação de Pânico. Detalhes sobre a frequência de ataques
de pânico e Perturbação de Pânico na população em geral são descritos numa secção posterior.

Sintomas de ataque de pânico


1. Palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado

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2. Suores
3. Estremecimentos ou tremores
4. Sensação de falta de ar ou dificuldades de respirar
5. Sensação de asfixia
6. Desconforto ou dor no peito
7. Náuseas ou mal-estar abdominal
8. Sensação de tontura, de desequilíbrio, de cabeça vazia ou de desmaio
9. Sensação de frio ou de calor
10. Parestesias (entorpecimento ou formigueiro)
11. Desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (sentir-se desligado de si
próprio)
12. Medo de perder o controlo ou de “enlouquecer”
13. Medo de morrer

Os ataques de pânico ocorrem como parte de muitos problemas de ansiedade diferentes. No


entanto, noutros problemas de ansiedade, os ataques de pânico geralmente não são aquilo com
que a pessoa mais está preocupada. Na Perturbação de Pânico, os ataques de pânico tornam-se
a principal fonte de preocupação e medo.
Continuando com a definição técnica de Perturbação de Pânico, pelo menos um dos ataques de
pânico deve ser inesperado ou ocorrer sem nenhuma razão aparente. Por outras palavras, o
pânico parece ocorrer "do nada". Um bom exemplo de um ataque de pânico inesperado é um
ataque que ocorre quando relaxa ou quando dorme profundamente. Para algumas pessoas, os
ataques de pânico continuam a ocorrer inesperadamente, enquanto para outras os ataques de
pânico acabam por se ligar a situações específicas.
Outra característica da Perturbação de Pânico é evitar, hesitar ou sentir-se muito nervoso em
situações em que se espera que ocorram ataques de pânico ou outros sintomas físicos (como
diarreia). Tipicamente, estas situações são aquelas em que você pode não ser capaz de escapar
ou encontrar ajuda. Um exemplo comum é um centro comercial lotado, onde pode ser difícil
encontrar a saída e passar por todas as pessoas se alguém tiver que sair repentinamente por
causa de um ataque de pânico. Uma lista de situações típicas de Agorafobia é fornecida abaixo.
Evitar situações por medo quando não existe perigo real é chamado de fobia. Evitar situações de
que a fuga pode ser difícil ou quando a ajuda pode estar indisponível em caso de ataque de pânico
ou outros sintomas físicos é chamado de Agorafobia. Isto é adequado porque a ágora era o antigo
mercado grego - o centro comercial original. No entanto, como se pode ver na lista abaixo, os
locais e situações evitados por pessoas com Agorafobia não se limitam a centros comerciais.

Situações típicas de Agorafobia


1. Utilização de transportes públicos (e.g., automóveis, autocarros, comboios, aviões)
2. Estar em espaços abertos (e.g., parques de estacionamento, mercados, pontes)
3. Estar em espaços fechados (e.g., lojas, teatros, cinemas)
4. Estar em pé numa fila ou estar na multidão

Na maioria dos casos, a Agorafobia desenvolve-se após ataques de pânico, resultando em


Perturbação de Pânico e Agorafobia. No entanto, algumas pessoas nunca desenvolvem
Agorafobia, nesse caso apenas se verifica Perturbação de Pânico. Ocasionalmente, a Agorafobia
está presente sem ataques de pânico, caso em que o termo oficial é Agorafobia. Neste caso, a

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pessoa pode experimentar um, dois ou três sintomas da lista de sintomas de ataque de pânico,
mas nunca teve quatro ou mais sintomas de uma só vez (que é o requisito técnico para um ataque
de pânico total). No entanto, um ou dois sintomas podem ser tão angustiantes como quatro ou
mais sintomas. Por exemplo, a tontura é, por vezes, o único sintoma experimentado, mas a
ansiedade por sentir-se tonto pode ser tão severa e incapacitante como a ansiedade de ter um
ataque de pânico. Colocando de outra forma, a pessoa que só tem tonturas pode desenvolver
Agorafobia, tal como a pessoa que tem tonturas e muitos outros sintomas de ataque de pânico.
Outro exemplo de Agorafobia, sem Perturbação de Pânico, é quando a angústia abdominal é o
sintoma primário, resultando em hesitação em entrar em situações em que as casas de banho
não são facilmente acessíveis. A angústia abdominal pode fazer parte da síndrome do intestino
irritável, que envolve uma perturbação crónica nos hábitos intestinais e inclui náuseas, cólicas
estomacais, obstipação ou diarreia. Este tipo de sintoma não se deve a uma condição médica e
são muitas vezes intensificados pelo stress, como o stress numa situação de Agorafobia.
Agorafobia também se refere ao evitamento de situações devido a outros sintomas corporais que
não estão na lista de sintomas de ataque de pânico, como perturbações visuais. Uma lista destes
sintomas é mostrada aqui.

Outros sintomas físicos que podem levar à Agorafobia:


1. Dores de cabeça
2. Visão em túnel ou Sensibilidade à luz
3. Espasmos
4. Problemas de retenção urinária
5. Fraqueza, fadiga
6. Diarreia
7. Sensações de desmaio

A noção central é que a Agorafobia vem de estar ansioso sobre sintomas físicos desconfortáveis
em certas situações. Estas situações são aquelas em que parece difícil lidar com as sensações
desconfortáveis por causa da sensação de estar preso ou de não haver forma de obter ajuda.
É possível estar ansioso e evitar este tipo de situações por razões não relacionadas com sintomas
físicos desconfortáveis. Por exemplo, muitas pessoas recusam-se a voar devido a preocupações
sobre acidentes ou sequestros. Da mesma forma, evitar estar sozinho ou sair da zona de
segurança pode estar relacionado com preocupações de ser atacado, assaltado ou outros perigos
externos. Este documento não foi escrito para este tipo de medos. Em vez disso, é para o medo
e comportamento de evitamento devido a sintomas físicos desconfortáveis e ataques de pânico.

Problemas médicos
Certos problemas médicos podem causar ataques de pânico e controlá-los elimina os ataques de
pânico. Estes problemas médicos incluem hipertiroidismo (glândula tiroide hiperativa). Outros
problemas médicos incluem o uso extremo de anfetaminas (que às vezes são prescritas para asma
ou perda de peso), ou cafeína (10 ou mais chávenas de café por dia). No entanto, estes problemas
médicos são diferentes da Perturbação de Pânico. Na Perturbação de Pânico, os ataques de
pânico não são causados por problemas médicos. (Recomendamos que aqueles que sentem que
sofrem de ataques de pânico sejam submetidos a um exame físico completo para decidir se os
ataques de pânico são causados por este tipo de problemas médicos ou se fazem parte de uma
Perturbação de Pânico.)

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Há outros problemas médicos que causam sintomas de pânico, mas controlar estes problemas
médicos não elimina os ataques de pânico. Estes incluem hipoglicemia (baixo açúcar no sangue),
prolapso da válvula mitral (vibração do coração), asma, alergias e problemas gastrointestinais
(como a síndrome do intestino irritável). É possível ter um destes problemas médicos, bem como
a Perturbação de Pânico. Por exemplo, baixos níveis de açúcar no sangue podem causar fraqueza
e assim levar ao pânico, mas a correção dos níveis de açúcar no sangue através da dieta não
impede necessariamente todos os ataques de pânico. Por outras palavras, este tipo de problemas
médicos pode ser um fator complicador que existe a par da Perturbação do Pânico, mas tratar
estes problemas médicos nem sempre elimina a Perturbação de Pânico.
Se não fez exames médicos no ano passado, pode ser sensato submeter-se a um exame médico
completo para verificar possíveis causas físicas de sintomas semelhantes ao pânico e identificar
outras condições físicas que possam contribuir para o pânico e ansiedade. Estes fatores podem
então ser tidos em conta durante o tratamento.

Quão comum é a Perturbação de Pânico e Agorafobia?


Ataques de pânico e Agorafobia são comuns. Estima-se que nos Estados Unidos e Europa cerca
de 2 a 3% de adolescentes e adultos sofram de Perturbação de Pânico e/ou Agorafobia. Além
disso, muitas pessoas têm ataques de pânico ocasionais que não se desenvolvem em Perturbação
de Pânico, geralmente em resposta a uma situação stressante, como um exame ou um acidente
de viação. Além disso, um número significativo de pessoas experimentou ataques de pânico
ocasionais "do nada" ou sem razão real.
Os ataques de pânico e a Agorafobia ocorrem em todos os tipos de pessoas, em todos os níveis
sociais e educacionais, profissões e tipos de pessoas. Também estão presentes em diferentes
raças e culturas, embora os pânicos possam ser descritos e compreendidos de forma diferente
de acordo com crenças culturais específicas.

Formas pouco úteis de lidar com ataques de pânico


Já mencionamos uma forma comum de lidar com ataques de pânico: evitar situações em que
possam ocorrer (isto é, Agorafobia). Embora o evitamento de situações diminua a ansiedade a
curto prazo, a longo prazo contribui para a ansiedade. O mesmo acontece com várias outras
formas de lidar com ataques de pânico, incluindo distrações, objetos supersticiosos, elementos
de segurança (incluindo pessoas) e álcool.

Evitamento
Além de evitar situações de que a fuga é difícil ou a ajuda não está facilmente disponível (isto é,
Agorafobia), o evitamento estende-se para evitar atividades. Por exemplo, considere os seguintes
comportamentos:
• Evita beber café?
• Evita medicação de qualquer tipo, mesmo que prescrita pelo seu médico?
• Evita exercício ou esforço físico?
• Evita ficar muito zangado?
• Evita relações sexuais?
• Evita ver filmes de terror, documentários médicos ou filmes muito tristes?
• Evita estar lá fora em condições muito quentes ou muito frias?
• Evita ficar longe de ajuda médica?

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• Evita andar apressado?

Usualmente, estas atividades são evitadas porque produzem sintomas semelhantes aos dos
ataques de pânico. Mais uma vez, enquanto o evitamento ajuda a aliviar a ansiedade e o pânico
a curto prazo, contribui para a ansiedade a longo prazo.

Distração
Muitas pessoas tentam "passar" situações ansiosas distraindo-se. Não há limite para os métodos
utilizados para a distração. Por exemplo, se se sente ansioso ou em pânico, envolve-se em:
• Tocar música alta?
• Arranjar algo para ler?
• Beliscar-se?
• Colocar toalhas frias e molhadas no rosto?
• Dizer a alguém que está consigo para falar sobre alguma coisa?
• Manter-se o mais ocupado possível?
• Manter a televisão acesa enquanto dorme?
• Imaginar-se noutro sítio?
• Jogos de contagem?

É provável que estes tipos de distrações o tenham ajudado a ultrapassar um ataque de pânico no
passado e podem ajudá-lo no futuro. No entanto, podem tornar-se uma muleta. Por exemplo, se
esquecer o seu material de leitura, poderá ter de ir para casa buscá-lo. Além disso, a longo prazo,
estas estratégias não são muito úteis. Distração é como colocar fita adesiva em torno de uma
perna de mesa partida sem consertar a rutura.

Objetos supersticiosos e sinais de segurança


Objetos supersticiosos ou pessoas são itens específicos ou pessoas que fazem alguém se sentir
seguro. (Também são chamados sinais de segurança.) Exemplos incluem outras pessoas, comida,
ou embalagens de medicação vazias ou completas. Se estes objetos ou pessoas não estivessem
por perto, provavelmente sentir-se-ia mais ansioso. A realidade é que estes objetos
supersticiosos não o "salvam" porque não há realmente nada a salvar. Outros objetos
supersticiosos estão listados abaixo:
• Comida ou bebida
• Sais perfumados
• Sacos de papel
• Símbolos religiosos
• Dinheiro
• Bolsas
• Material de leitura
• Cigarros
• Animais de estimação
• Telemóvel
Tal como acontece com as distrações, estes objetos tornam-se uma muleta e podem contribuir
para a ansiedade a longo prazo.

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Álcool
Talvez use uma estratégia muito mais perigosa – álcool. Sabemos agora que muitos homens (mais
do que mulheres) bebem para passar por situações em que podem ter um ataque de pânico. De
facto, de um terço a metade das pessoas com problemas de álcool começaram a se
“automedicar” para ansiedade ou pânico. Usar álcool para lidar com o pânico e ansiedade é
extremamente perigoso. Isto porque, enquanto o álcool funciona durante algum tempo, é
provável que se torne dependente do álcool e exija mais e mais do mesmo. À medida que bebe
cada vez mais, as propriedades redutoras de ansiedade do álcool tornam-se cada vez menores.
Em vez disso, a ansiedade e a depressão tendem a aumentar. Se beber para controlar a sua
ansiedade, faça todos os esforços para parar o mais rápido possível e peça ajuda ao seu médico
ou profissional de saúde mental.

Como é que esta intervenção pode ajudar a lidar com o Pânico e a Agorafobia?
Em vez de depender de evitamento, distrações, objetos supersticiosos, álcool ou outros métodos
que não são úteis a longo prazo, esta intervenção é projetada para lhe ensinar formas
construtivas de lidar com o Pânico e Agorafobia. Esta intervenção centra-se em formas de lidar
com o pânico, ansiedade sobre o pânico e evitamento do pânico. O tipo de tratamento descrito
nesta intervenção é chamado de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A TCC ensina
estratégias para gerir ansiedade e pânico. Especificamente, serão ensinadas formas de mudar a
forma como pensa e formas de encarar as coisas que o deixam ansioso, para que não o
incomodem tanto. Para cada conjunto de estratégias, começamos com informações educativas
(psicoeducação) e, em seguida, delineamos exercícios para serem praticados e desenvolver novas
competências. Finalmente, essas ferramentas são usadas para lidar com o pânico e ansiedade no
seu quotidiano.
Serão designadas tarefas para realizar entre as sessões. Assim, a TCC é muito parecida com
frequentar as aulas e continuar a aprender por conta própria, através de um estudo mais
aprofundado entre as aulas. Essa componente realizada fora das sessões é essencial para o seu
sucesso da intervenção.
A TCC enfatiza a interrupção dos fatores de manutenção que contribuem para a sua Perturbação
de Pânico e Agorafobia. Como verá, a intervenção nesses fatores provou ser altamente eficaz.
Um bom começo para a TCC é a informação sobre o que causa ataques de pânico e Agorafobia.

O que causa pânico, ansiedade e Agorafobia?


A questão do que causa pânico, ansiedade e Agorafobia é muito difícil, e ainda não sabemos todas
as respostas. É importante dizer aqui várias coisas sobre as causas do pânico e da ansiedade.

Fatores Biológicos
Primeiro, a pesquisa não sugere que os ataques de pânico se devem a uma doença biológica.
Claro que há exemplos relativamente raros, mencionados acima, onde uma condição médica
causa sintomas que se assemelham a um ataque de pânico, como o hipertireoidismo. No entanto,
os ataques de pânico comuns não parecem ser devidos a disfunção biológica.
Muitas pessoas perguntam se os ataques de pânico se devem a um desequilíbrio químico. Os
neuroquímicos são substâncias no sistema nervoso central, incluindo o cérebro, que estão
envolvidos no envio de impulsos nervosos. Neuroquímicos que podem influenciar o pânico e a
ansiedade incluem noradrenalina e serotonina. Embora este tipo de substâncias possa estar

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presente em maiores quantidades na ansiedade e pânico, não há evidências que sugiram que um
desequilíbrio neuroquímico é a causa original ou principal de pânico e ansiedade. Algumas
evidências recentes usando procedimentos de "digitalização cerebral" (PET) e imagens de
ressonância magnética funcional (fMRI) mostraram que certas partes do cérebro parecem estar
particularmente ativas em clientes ansiosos. No entanto, não é de todo claro se estas descobertas
são o efeito da ansiedade ou a causa da ansiedade.
Por outro lado, certos fatores biológicos que podem ser herdados ou transmitidos através de
genes podem levar algumas pessoas a entrar em pânico. Muitos acreditam que o que é herdado
são partes excessivamente sensíveis do sistema nervoso que levam a uma tendência para
experimentar todas as emoções negativas, incluindo raiva, tristeza, culpa e vergonha, bem como
ansiedade e pânico. No entanto, herdar vulnerabilidades para experimentar emoções negativas
não garante que experimente ataques de pânico ou Perturbação de Pânico. Por outras palavras,
o pânico não é herdado da mesma forma que, digamos, a cor dos olhos é herdada. Se herdar a
estrutura genética dos olhos azuis, então terá olhos azuis. No entanto, não herda a Perturbação
de Pânico desta forma. As pessoas provavelmente herdam uma tendência (ou uma
vulnerabilidade) para pânico que aumenta as chances de desenvolver Perturbação de Pânico,
mas não garante. Além disso, mesmo com uma vulnerabilidade ao pânico, é possível pensar e
agir de forma a evitar que os ataques de pânico se repitam (que é exatamente o que ensinamos
nesta intervenção).
Os fatores biológicos (sejam quais forem) provavelmente ajudam a explicar porque é que a
perturbação do pânico tende a correr nas famílias. Por outras palavras, se um membro da família
tem uma Perturbação de Pânico, então outra pessoa na mesma família é mais provável que tenha
Perturbação de Pânico do que outros na população em geral.

Fatores Psicológicos
Os fatores psicológicos também são importantes. As pessoas que experimentam ataques de
pânico tendem a ter certas crenças que as levam a ter especialmente medo de sintomas físicos,
tais como coração acelerado, falta de ar, tonturas, entre outras. As crenças são que os sintomas
físicos são prejudiciais, quer mentalmente, fisicamente ou socialmente. Exemplos de tais crenças
incluem pensamentos de que um coração acelerado pode significar doenças cardíacas, que a
tontura pode significar que você está prestes a desmaiar, que um estômago barulhento pode
significar que você vai perder o controle das suas entranhas, que emoções fortes significam que
você está a enlouquecer, ou que uma sensação de irrealidade significa que você está perdendo o
controle da sua mente ou enlouquecendo.
As fontes destas crenças não são totalmente conhecidas, mas as experiências pessoais
relacionadas com a saúde e a doença podem ser um importante fator. Por exemplo, os pais que
são muito protetores sobre a saúde física dos seus filhos podem contribuir para um excesso de
preocupação geral sobre o bem-estar físico na criança, que gradualmente se desenvolve em
crenças de que os sintomas físicos são prejudiciais ou perigosos. Ou, a perda súbita e inesperada
de familiares próximos por problemas físicos, como ataques cardíacos ou derrames, pode
aumentar a probabilidade de alguém acreditar que os seus próprios sintomas físicos são
prejudiciais. Outro exemplo é observar outro membro da família sofrer de uma doença
prolongada e grave.
No entanto, as crenças não são a única causa de ataques de pânico. Tal como acontece com os
fatores biológicos, as crenças de que os sintomas físicos são prejudiciais provavelmente
aumentam a probabilidade de ataques de pânico e Perturbação de Pânico, mas não os garantem.
Além disso, este tipo de vulnerabilidade psicológica pode ser compensado aprendendo a pensar
e agir de formas diferentes.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Provavelmente, a vulnerabilidade ao pânico baseia-se numa interação complexa entre fatores


psicológicos e biológicos. O que sabemos é que um ataque de pânico é uma onda de medo que
por si só é uma resposta corporal normal. O que o torna anormal é que ocorre na hora errada;
isto é, quando não há razão real para ter medo. Mais uma vez, a resposta em si é normal e natural,
e seria o mesmo tipo de reação que teria se enfrentasse um perigo real (como ser atacado por
uma pessoa com uma arma). Além disso, é normal e natural ficar ansioso por ter outro ataque de
pânico e evitar locais onde se pensa que os ataques de pânico são suscetíveis de ocorrer, se
acreditarmos que os ataques de pânico são prejudiciais para si.

E o stress?
Para a maioria das pessoas, o primeiro ataque de pânico aconteceu quando estavam sob muito
stress. Além de eventos de stress negativos, como a perda de emprego, o stress também pode
ser positivo, como mudar-se para uma nova casa, ter um bebé ou casar. Isto provavelmente
explica porque é que os ataques de pânico são mais propensos a começar por volta dos 20 anos,
uma vez que é quando tendemos a assumir novas responsabilidades, como sair de casa e começar
novas carreiras e relacionamentos.
Durante períodos de stress, todos estão mais tensos, e até pequenas coisas tornam-se mais
difíceis de gerir. O stress pode aumentar os níveis globais de tensão física e pode diminuir a sua
confiança na sua capacidade de lidar com a sua vida. Além disso, ter de lidar com muitas pressões
negativas na vida pode fazer-nos pensar no mundo como um lugar ameaçador ou perigoso. Por
todas estas razões, uma situação que usualmente pode ser facilmente gerível torna-se muito mais
stressante quando ocorre no contexto de outro stress contínuo. Pense numa mulher que perdeu
recentemente o emprego e cujo casamento está a terminar. Neste contexto de stress, pode ser
muito mais difícil para ela lidar com os atrasos de trânsito do que se não houvesse stress de fundo.
Como resultado, o stress aumenta as hipóteses de ataques de pânico. No entanto, o stress por si
só não é uma explicação adequada. Algumas pessoas não entram em pânico, mesmo estando sob
muito stress. Em vez disso, têm outras reações ao stress, como dores de cabeça, hipertensão
arterial ou úlceras. Parece que eventos stressantes aumentam a probabilidade de ataques de
pânico em pessoas vulneráveis ou suscetíveis ao pânico. Estas vulnerabilidades incluem os fatores
biológicos e psicológicos já descritos.
Além disso, o stress raramente é a razão pela qual os ataques de pânico persistem. Por exemplo,
embora os ataques de pânico possam ter começado durante um período de muitos problemas
conjugais, é provável que continuem mesmo depois de resolvidos os problemas conjugais. Isto
porque os ataques de pânico e a ansiedade tendem a assumir um ciclo negativo de auto
manutenção.

Este tratamento é certo para si?


A lista que se segue irá ajudá-lo a determinar se pode beneficiar deste intervenção:
• Pelo menos um ataque de pânico foi inesperado ou veio do nada;
• Ansiedade persistente ou preocupação com ataques de pânico, suas consequências,
ou mudanças de vida como resultado dos ataques;
• Evitar diferentes situações (como conduzir, estar sozinho, áreas sobrelotadas, áreas
desconhecidas) ou atividades (como exercício) em que se espera entrar em pânico;
• Os ataques de pânico não são o resultado direto de condições físicas ou doenças.
Como já referido, os ataques de pânico podem fazer parte de todos os tipos de problemas de
ansiedade, tais como fobia social, perturbação obsessivo-compulsiva (TOC), ansiedade
generalizada, perturbação de stress pós-traumático (PTSD) e fobias específicas. Os ataques de

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

pânico também podem ocorrer em perturbações de humor, como depressão. A característica


distintiva da Perturbação de Pânico é que os ataques de pânico se tornam a principal fonte de
ansiedade e preocupação. Se sentir ataques de pânico, mas não está ansioso por entrar em
pânico e em vez disso, você está preocupado com outras coisas. Consulte o seu profissional de
saúde mental para saber se um tratamento diferente é mais apropriado. Você encaixa nesta
intervenção se a sua principal preocupação são os ataques de pânico em si e, claro, se os ataques
de pânico não são o resultado direto de condições físicas ou doenças.

Está a receber outros tratamentos psicológicos?


Este tratamento pode ser apropriado para si mesmo que tenha tido contacto com outros
profissionais de saúde mental no passado para pânico e ansiedade. Temos usado esta intervenção
várias vezes com pessoas que passaram por muitas formas diferentes de tratamento. No entanto,
deve ser dada alguma consideração a outros tratamentos que estejam em curso com a sua
participação nesta intervenção. Recomendamos que esta intervenção não seja combinada com
outra psicoterapia que aborda especificamente o seu pânico e ansiedade. A razão para isso é que
as mensagens de diferentes tratamentos para o mesmo problema podem tornar-se confusas.
Achamos muito mais eficaz fazer apenas uma terapia para a Perturbação de Pânico de cada vez.
Por outro lado, se está a receber terapia geral ou focada numa área de problemas diferentes
(como problemas conjugais), então não há razão para não beneficiar também deste intervenção.
Este tratamento mostrou-se muito eficaz para muitas pessoas, mas isso não significa que outras
psicoterapias não devam ser julgadas adequadas. Diferentes formas de terapia são mais ou
menos eficazes para pessoas diferentes. Tem de tomar esta decisão se estiver envolvido em outro
tratamento para Perturbação de Pânico e Agorafobia. Para ajudar esta decisão, o Instituto
Nacional de Saúde Mental (1991) recomenda que as decisões sobre se os tratamentos
psicológicos para a Perturbação de Pânico são ou não benéficas devem ser tomadas após cerca
de seis semanas, quando o início das melhorias deve ser evidente. Além disso, recomendaram
que não continue durante anos em psicoterapia para Perturbação de Pânico quando não há
provas de melhoria.

Está a tomar medicamentos?


Este tratamento será apropriado mesmo que use medicamentos para controlar a sua ansiedade
e pânico, assumindo que, apesar da medicação, continua a ser ansioso sobre ataques de pânico.
Dizemos isto porque os medicamentos nem sempre são totalmente eficazes. Para algumas
pessoas, os medicamentos são apenas levemente a moderadamente eficazes ou não são eficazes.
Para outros, os medicamentos são eficazes inicialmente, mas depois a recaída ocorre quando a
medicação é interrompida.
Felizmente, os tratamentos de medicação podem ser combinados com sucesso com esta
intervenção. Além disso, esta intervenção foi considerada útil para pessoas que querem parar os
seus medicamentos. Definitivamente não é sensato parar de tomar medicação sozinho.

Que benefícios receberá deste tratamento?


A investigação conduzida ao longo dos últimos mais de 20 anos mostra que este tratamento tem
muito sucesso. A percentagem de pessoas que reportam que estão livres de pânico na conclusão
desta intervenção é muito elevada (>70%). Estes resultados parecem persistir durante longos
períodos de tempo. Uma das razões para este benefício a longo prazo é que o tratamento envolve
um programa de aprendizagem. Quando algo é aprendido, torna-se uma parte natural das suas

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

reações e, portanto, é transportado consigo mesmo depois de concluída a intervenção. Pode ter
fases mais difíceis, mas ao completar esta intervenção poderá lidar com essas fases de forma
muito mais eficaz e voltar ao normal funcionamento mais facilmente.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

2. APRENDER A AUTOMONITORIZAR O PÂNICO E A ANSIEDADE

Objetivos
Aprender a importância de manter registos; Aprender formas de monitorizar o pânico, ansiedade
e humor

Manutenção de Auto Registos


Este capítulo apresenta a importância e o método de manter registos. Durante o tempo que
estará envolvido neste tratamento, é-lhe pedido que mantenha registos contínuos do seu pânico
e ansiedade, entre outras coisas. A manutenção de registos é necessária para o sucesso desta
intervenção.

Porque devo despender tempo a fazer registos? Sei que estou ansioso!
Existem muitas razões pelas quais é importante manter registos da sua ansiedade de uma forma
regular e contínua. Primeiro, os ataques de pânico, particularmente aqueles que parecem ocorrer
sem razão real, fazem as pessoas sentirem-se fora de controlo e vítimas da sua própria ansiedade.
Aprender a ser um observador em oposição a uma vítima da sua própria ansiedade é um primeiro
passo para ganhar o controlo. Através de registos, aprenderá observar quando, onde e em que
circunstâncias ocorrem o pânico e ansiedade.
Você vai aprender se os seus ataques de pânico ocorrem quando você está sozinho ou com
outros, depois de um dia stressante no trabalho ou nos fins de semana, no meio do dia ou no
final do dia; se os seus ataques de pânico são provocados por sensações de excitação de assistir
a um evento desportivo na televisão, estar numa área de compras lotada, pensar em coisas
horríveis que poderiam acontecer, ou por relaxar e não ter mais nada a fazer a não ser pensar
nos seus medos. Mais uma vez, compreender os fatores que causam o pânico e a ansiedade vai
lhe permitir sentir-se mais em controlo e menos como uma vítima.
Segundo, aprenderá a compreender a forma como sente o pânico e a ansiedade, em termos do
que pensa, do que sente e do que faz. Isto é muito importante, porque este tratamento é
projetado especificamente para mudar o pensamento ansioso, sensações e comportamentos
ansiosos. Não podemos mudá-los sem saber exatamente o que são.
Em terceiro lugar, a manutenção contínua de registos fornece informações muito mais precisas
do que acontece consigo. Se se perguntar: "Como me tenho sentido ultimamente?". Se descrever
a última semana, pode julgá-la como "muito má" quando, na verdade, pode ter havido várias
vezes em que se sentiu relativamente calmo. Quando a ansiedade está tanto na sua mente, é fácil
esquecer os tempos em que não estava ansioso. Como pode ver, pensar na semana anterior
como "muito má” e ignorar os momentos relativamente "ok" durante a semana é provável que o
faça sentir-se pior e mais ansioso. De facto, tais pensamentos negativos sobre como tem estado
em geral podem contribuir para a ansiedade contínua. Mantendo registos contínuos, não só se
sentirá mais em controlo, como também se sentirá menos ansioso por ser forçado a reconhecer
que o seu estado de humor flutua e que há momentos em que se sente menos ansioso do que
outros.
Finalmente, o registo ajuda-o a avaliar o progresso. Por esta razão, recomendamos que faças
registos continuamente durante todo o tratamento. O registo contínuo permitir-lhe-á apreciar os
ganhos que obtém e ajudará a evitar que ataques de pânico ocasionais ofusquem os seus
progressos.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Revejamos todos os benefícios do registo, bem como as razões pelas quais é crucial para este
tratamento:
• Ajudá-lo a sentir-se mais em controlo, por ser capaz de identificar quando e onde os
ataques de pânico são mais propensos a acontecer;
• Identificar as formas específicas em que sente ansiedade – sensações físicas,
pensamentos e os comportamentos;
• Ser capaz de julgar o seu nível de ansiedade e pânico com maior precisão; para avaliar
o sucesso das suas tentativas de mudança.

O que é o registo objetivo?


Por vezes, as pessoas estão preocupadas com o facto de, ao registarem continuamente o seu
pânico e ansiedade, serem lembradas de como se sentem ansiosas, o que, por sua vez, as fará
sentir-se ainda mais ansiosas. Para fazer face a esta preocupação, é importante distinguir entre
duas formas de registo: registo subjetivo e registo objetivo.
Registo subjetivo significa monitorizar "quão mal se sente", o quão terríveis são os ataques de
pânico, o quanto interferem com a sua vida, ou como não os consegue controlar. Exemplos
incluem declarações como "Não me sinto bem, posso entrar em pânico hoje; E se eu ficar tão
tonto que tenho que ir para casa?” Ou, "Estou muito ansioso. Quem me dera que estas sensações
desaparecessem. E se piorarem?". Este tipo de registo subjetiva tende a aumentar a ansiedade.
O registo subjetiva é provável que seja algo que já fazes e, ao mesmo tempo, pode ser algo que
se deve tenta evitar porque agrava a ansiedade geral.
Registo objetivo, que é a técnica que vai aprender nesta intervenção, significa registar as
características de pânico e ansiedade de uma forma concreta e sem julgamento. Vai aprender a
monitorizar coisas como o número ou intensidade dos sintomas, os gatilhos do seu pânico, os
seus pensamentos e as suas respostas comportamentais ao pânico.
No início, pode ser difícil passar do registo subjetivo para o registo objetivo, e à medida que
começar a usar os registos, pode notar um aumento na sua ansiedade porque está a focar-se nas
suas sensações subjetivas. No entanto, com a prática, a maioria das pessoas é capaz de mudar
para o modo objetivo. Para o ajudar a fazê-lo, desenvolvemos grelhas muito específicas sobre as
quais devem ser registadas informações objetivas muito específicas.
Vai monitorizar os seus ataques de pânico usando o Registo de Ataque de Pânico apresentado
abaixo. Use este formulário sempre que sentir um ataque de pânico ou uma súbita onda de medo.
Lembra-se, o pânico é diferente da ansiedade. Os ataques de pânico são momentos repentinos
de medo, e podem acontecer quando se está totalmente relaxado ou quando já está ansioso. Os
ataques de pânico atingem o pico rapidamente e depois diminuem dentro de 10-30 minutos,
embora possa continuar a sentir alguns dos sintomas e a sentir-se globalmente ansioso por algum
tempo. Isto chama-se ansiedade residual. Pode até entrar em pânico no meio da ansiedade
residual. Em contraste, a ansiedade aumenta mais lentamente. Por vezes, a ansiedade pode ser
muito intensa e severa, como seria antes de uma cirurgia ou enquanto se aguarda os resultados
de um teste. A ansiedade é melhor descrita como preocupação com algo no futuro, mesmo que
o futuro esteja a apenas uma hora de distância. O pânico, por outro lado, é uma onda de medo
com pensamentos de catástrofe imediata (por exemplo, "Estou a morrer").
Não espere até ao final do dia para completar o Registo de Ataques de Pânico, pois perderá o
valor do registo. Complete-o o mais rápido possível depois de aparecer o pânico. Claro que
algumas circunstâncias, como conduzir ou falar numa reunião, dificultam o preenchimento do
Registo de Ataque de Pânico, mas complete-o o mais rápido possível. No Registo de Ataque de
Pânico, anota a data e a hora em que o ataque de pânico começou, e também os gatilhos que
pareciam provocar o ataque de pânico. Os gatilhos podem incluir uma situação stressante, um

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

pensamento ansioso, ou um sintoma físico desconfortável. Mesmo que não saiba o que provocou
o ataque de pânico, enumere aquilo que reparou antes de entrar em pânico. Também vai registar
se o pânico foi inesperado ou "do nada", bem como o nível máximo de medo que experimentou
durante o ataque de pânico. Usa uma escala de 10 pontos, onde 0 = sem medo, 5 = medo
moderado, e 10 = medo extremo. Também deve registar cada sintoma que estava presente em
pelo menos um grau leve, os pensamentos sobre o que poderia acontecer, e os seus
comportamentos ou o que fez em resposta ao pânico.

Registo de Ataque de Pânico

Data: _____________ Hora de início: ______________ Esperado ou inesperado? ___________


Gatilho: ___________________________________________________________

Medo máximo
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
nenhum baixo moderado forte extremo

Assinale todos os sintomas presentes a pelo menos um nível baixo (sublinhe o primeiro que identificou):
1. Palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado
2. Suores
3. Estremecimentos ou tremores
4. Sensação de falta de ar ou dificuldades de respirar
5. Sensação de asfixia
6. Desconforto ou dor no peito
7. Náuseas ou mal-estar abdominal
8. Sensação de tontura, de desequilíbrio, de cabeça vazia ou de desmaio
9. Sensação de frio ou de calor
10. Parestesias (entorpecimento ou formigueiro)
11. Desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (sentir-se desligado de si próprio)
12. Medo de perder o controlo ou de “enlouquecer”
13. Medo de morrer

Pensamentos:
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

Comportamentos:
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Registo da Ansiedade e Humor


Pode manter um registo das suas sensações gerais de ansiedade e humor ao longo do dia
preencha o Registo Diário de Ansiedade e Humor no final de cada dia. Use uma escala de 10
pontos para avaliar os seus níveis diários de ansiedade, depressão (ou seja, quão triste, em baixo
ou sem energia está), e o quanto se preocupa em ter um ataque de pânico (ou seja, quanto é que
o pânico está na sua mente, quão preocupado está com a possibilidade de entrar em pânico).
Para todas as classificações, 0 = nenhuma, 5 = moderada, e 10 = ansiedade, depressão, e
preocupação com o pânico extremas. Estas classificações baseiam-se no que sentiu em média
durante o dia. Por outras palavras, considerando o dia inteiro, e combinando todos os altos e
baixos ao longo do dia juntos, qual era a sua quantidade média de ansiedade, depressão e
preocupação com o pânico?

Registo Diário de Ansiedade e Humor

Avalie cada coluna no final do dia, utilizando um número da escala de 0-10 pontos abaixo:
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
nenhuma baixa moderada forte extrema

Data Ansiedade média Depressão média Preocupação média com o pânico

Ao longo de várias semanas, as tendências tornam-se muitas vezes evidentes. Um exemplo é a


forma como a ansiedade e humor flutuam em relação à frequência dos ataques de pânico. Será
importante aprender esta informação para tornar o seu tratamento o mais eficaz possível.

Registo de Progresso
O Registo de Progresso é um gráfico do seu progresso que está dividido no número de ataques
de pânico por semana e no nível médio de ansiedade por semana. Claro que também pode
registar o seu progresso noutras áreas, como a preocupação com o pânico ou o nível de humor
depressivo. Este Registo de Progresso vai permitir-lhe ver a sua evolução em perspetiva. É útil
mantê-lo num local visível, como o espelho da casa de banho ou no frigorífico.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Registo de Progresso

Para cada semana, registe o número de ataques de pânico que experimentou, o seu nível médio de
ansiedade e de preocupação com os ataques de pânico.

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11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Semanas

* Número de ataques de pânico à Ansiedade média • Preocupação média com pânico

Resumo
Não podemos sublinhar suficientemente a importância de manter registos. Têm de ser feitos
diariamente para obter o pleno benefício deste tratamento. Embora no início tenha de se
esforçar para registar, vai tornar-se mais fácil e até gratificante à medida que o tempo passa.
Ajuda a obterem feedback, e também é benéfico para o seu profissional de saúde mental obter
este tipo de informação. Estes registos serão inestimáveis durante o resto do tratamento, por
isso vale a pena o esforço.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

3. CICLOS NEGATIVOS DE PÂNICO E AGORAFOBIA

Objetivos
Aprender sobre a função da ansiedade e do pânico; Aprender sobre as componentes da
ansiedade e ao pânico; Descobrir os seus próprios pensamentos, comportamentos e sintomas
físicos; Compreender os ciclos negativos que contribuem para ataques de pânico e Agorafobia;
Entender como a psicoterapia interrompe os ciclos de pânico e Agorafobia

Propósito da Ansiedade e do Pânico


Ansiedade e pânico são estados emocionais naturais que são experimentados por todos – fazem
parte da experiência de ser humano. Ansiedade é a reação que todos temos sempre que
pensamos que algo mau ou ameaçador pode acontecer. Tal pode incluir: ameaças físicas, tais
como a possibilidade de doença, acidente ou morte; ameaças sociais, como a possibilidade de
embaraço, rejeição ou ridículo; ou ameaças mentais, como a possibilidade de enlouquecer,
perder o controlo ou perder as faculdades mentais. As ameaças podem ser grandes (como a
possibilidade de perder a vida) ou pequenas (como a possibilidade de se atrasar para uma
reunião). A ansiedade é a nossa forma de nos prepararmos para enfrentar o desafio colocado por
estas ameaças. Ajuda a preparar-nos e a proteger-nos do que nos está a ameaçar.
A ansiedade não é má por si só, e pode ser uma força produtiva e mobilizadora. Anos de pesquisa
mostraram que ter alguma ansiedade aumenta o desempenho. Ou seja, quando a ansiedade está
presente a um determinado nível faz melhor o que está a fazer, seja na sala de aula ou no
trabalho. Imagina não sentires absolutamente nenhuma ansiedade perante uma entrevista de
emprego - estarias menos motivado para fazer o seu melhor para enfrentar o desafio de
conseguir o emprego. No entanto, a ansiedade pode variar na gravidade, desde o leve mal-estar
até à angústia extrema. No extremo, a ansiedade pode interferir com o que está a fazer. Imagine
a ansiedade extrema numa entrevista de emprego que leva a desconcentração e gaguez. A ideia
central é que alguma ansiedade é útil para a aprendizagem e o desempenho, enquanto
demasiada ansiedade pode interferir com a aprendizagem e o desempenho.
A ansiedade pode variar em frequência, desde episódios ocasionais até ao mal-estar
aparentemente constante. Quando a ansiedade é muito frequente, pode interferir com a vida
diária. Os objetivos desta intervenção são diminuir a probabilidade de ficar ansioso
desnecessariamente e diminuir a intensidade da ansiedade, para que possa funcionar
“usualmente”. O objetivo, no entanto, não é remover completamente a ansiedade.
Como é que esta discussão se relaciona com a perturbação do pânico? No caso da Perturbação
de Pânico, a ansiedade é sentida devido à "ameaça" de pânico. O pânico é considerado
ameaçador por causa de crenças de que lhe pode causar morte, perda o controlo ou
enlouquecimento. Como verá, esta crenças estão incorretas. A ansiedade sobre a ameaça do
pânico é desnecessária porque os ataques de pânico não são prejudiciais.

Componentes da Ansiedade e Pânico


Há três componentes importantes no pânico e ansiedade: sintomas físicos, pensamentos e
comportamentos.
A parte física envolve os sintomas de batimento cardíaco rápido, dificuldade em respirar, diarreia,
suor, tremor, dores de cabeça, dores de estômago, nódulo na garganta, urinação frequente,
fadiga, inquietação, distúrbios visuais, uma sensação de pressão na cabeça, e muito mais. Os

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

sintomas físicos podem ser agudos, durando um curto período de tempo (como em ataques de
pânico), ou podem ser prolongados, durando horas ou dias (como em ansiedade geral). Além
disso, os sintomas físicos agudos podem mudar de um ataque de pânico para o outro. Numa
ocasião, podes notar sintomas fortes de falta de ar, enquanto noutra ocasião podes, em vez disso,
notar um coração acelerado.
Os pensamentos são crenças, ou coisas que dizemos a nós mesmos, ou imagens da desgraça
iminente ou de algo terrível que está prestes a acontecer. Referimo-nos a estes como
pensamentos negativos. Na maioria das vezes, os pensamentos durante os ataques de pânico são
sobre catástrofes físicas imediatas (como desmaios, morte, ataque cardíaco, tumor cerebral),
catástrofes sociais (como ser ridículo), ou catástrofes mentais (como enlouquecer ou perder o
controlo). Pensamentos durante a ansiedade são sobre coisas más que podem acontecer no
futuro, como a perda de emprego ou ter o pior ataque de pânico de sempre.
Os comportamentos são coisas que fazemos, como andar para cima e para baixo, fugir ou evitar
lugares onde se espera que a ansiedade e o pânico ocorram. Um exemplo de fuga é deixar um
centro comercial assim que as sensações de ansiedade ou pânico se desenvolvem. Um exemplo
de evitamento é não entrar num centro comercial por causa de preocupações sobre ter um
pânico uma vez lá dentro. Outros comportamentos incluem estar à procura saídas de
situações/locais, confiar em objetos que o façam sentir-se melhor (objetos supersticiosos ou de
segurança), ou procurar ajuda (como nos centros médicos).
Estas três componentes diferem, frequentemente, entre os momentos em que está ansioso e os
que entra em pânico. Os pensamentos durante a ansiedade geralmente têm a ver com o futuro
(por exemplo, "O meu chefe pode dar-me uma avaliação negativa no final do ano", ou, "Seria
horrível se eu entrasse em pânico na festa amanhã"), enquanto os pensamentos durante os
ataques de pânico são geralmente sobre a situação imediata (por exemplo, "Vou desmaiar agora"
ou " devo ser louco"). Além disso, os comportamentos ansiosos incluem evitar situações ou
cautela extra (como mapear direções com antecedência), enquanto os comportamentos durante
o pânico têm mais a ver com escapar ou encontrar ajuda. Finalmente, os sintomas físicos durante
a ansiedade geralmente são duradouros e envolvem tensão muscular, inquietação e fadiga;
enquanto os sintomas de ataque de pânico são mais abruptos e tendem a diminuir mais
rapidamente do que os sintomas físicos de ansiedade, e incluem palpitações cardíacas, falta de
ar, entre outros.

Identifique e registe os seus próprios sintomas físicos, comportamentos e


pensamentos
Identifica os seus pensamentos, sintomas e comportamentos quando está num ataque de pânico,
e considere os seus próprios pensamentos, sintomas e comportamentos quando está geralmente
ansioso (como quando se preocupa com um ataque de pânico no futuro).
Lembra-se da Joana? Durante os seus ataques de pânico, os seus sintomas mais comuns eram
um coração acelerado, falta de ar, e sensações de irrealidade e dormência; os seus pensamentos
comuns eram que ela iria perder o controlo ou enlouquecer; e os seus comportamentos mais
comuns eram sair de onde quer que ela estivesse e encontrar o marido ou a mãe. Em contraste,
quando se preocupava com os ataques de pânico no futuro, os seus pensamentos variavam com
base no que a preocupava; os seus sintomas mais comuns eram um estômago perturbado, tensão
muscular e fadiga; e os seus comportamentos mais comuns consistiam em roer as unhas e em
procurar garantias do marido de que tudo estaria bem.
É importante que registe o que usualmente pensa, o que sente fisicamente, e o que faz quando
entra em pânico e quando se sente ansioso para tornar mais claro o que acontece consigo. Pode
usar os registos abaixo.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Componentes dos Ataques de Pânico

Sintomas Físicos________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

Pensamentos _________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

Comportamentos ______________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

Componentes da Ansiedade

Sintomas Físicos______________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Pensamentos ________________________________________________________________
__________________________________________________________________________

Comportamentos ___________________________________________________________
__________________________________________________________________________

O ciclo do pânico
Sintomas físicos, pensamentos e comportamentos contribuem uns para os outros no que é
chamado de ciclo negativo. Por outras palavras, tendem a levar uns aos outros. Por exemplo,
pensamentos negativos podem aumentar diretamente os sintomas físicos. Se dissermos a nós
mesmos que algo perigoso está prestes a ocorrer (por exemplo, "Estou prestes a ter um ataque
cardíaco"), então a tensão física aumentará porque o nosso corpo bombeia mais adrenalina e
opera a um ritmo mais rápido sempre que enfrentamos perigo. Por sua vez, um sintoma físico,
como um coração acelerado, pode levar a pensamentos mais negativos. Isto é particularmente
provável se você acredita que os sintomas normais de tensão são perigosos (por exemplo, "O
facto de o meu ritmo cardíaco não ter abrandado deve certamente significar que algo está
terrivelmente errado"). Comportamentos de inquietação, ritmo e fuga de uma situação podem
aumentar os níveis de tensão física também devido ao esforço físico que envolvem.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Mais especificamente, o pensamento de que um coração acelerado é um sinal de doença cardíaca


é assustador e vai produzir batimento mais acelerado do coração. Por sua vez, essa aceleração
cardíaca pode levar a crenças mais fortes de que algo está terrivelmente errado com o coração.
Também pode levar a procurar tentativas de ajuda médica. Tais pensamentos e comportamentos
negativos podem voltar a prolongar o aceleramento do batimento cardíaco. Por outras palavras,
pensamentos negativos levam ao medo, e o medo leva a mais sintomas físicos e a
comportamentos de evitamento que, numa bola de neve, a pensamentos mais negativos, e assim
por diante. O resultado final é medo intenso ou pânico. Isto chama-se ciclo de pânico. Outro
exemplo é pensar que a falta de ar significa que está prestes a sufocar. Esse pensamento causará
mais tensão física e mais sintomas de falta de ar, bem como tentativas de respirar mais
profundamente, o que por sua vez pode contribuir para a falta de ar, e assim por diante.
Em contraste, pensar que um coração acelerado é inofensivo e não é motivo de preocupação vai
interromper este ciclo negativo, com o resultado final de que o pânico não ocorre. Da mesma
forma, perceber que a falta de ar não é um sinal de asfixia iminente irá reduzir as hipóteses de
um ataque de pânico, interrompendo o ciclo de pânico.
Pense num ataque de pânico recente e nos sintomas físicos, pensamentos e comportamentos
negativos, e nas formas como contribuíram uns para os outros. Qual foi a primeira coisa que
aconteceu? Foi um sintoma físico ou um pensamento? O que aconteceu depois? Os seus
sintomas físicos aumentaram, e o que é que isso o levou a pensar? Como se comportou? Como
é que as suas reações influenciaram os seus sintomas físicos? Um exemplo deste tipo de análise
passo a passo é fornecido na secção seguinte.

Estudos de Caso: Análise passo a passo


Caso 1: A primeira coisa que senti foi quando me levantei — a minha cabeça estava muito
estranha, como se estivesse a rodar [sintoma físico]. A minha reação foi agarrar-me à cadeira
[comportamento]. Pensei que algo estava errado [pensamento negativo]. Pensei que podia ficar
cada vez pior e que ia desmaiar e entrar em colapso [pensamento negativo]. Nessa altura, já me
estava a sentir muito nervosa. À medida que as tonturas pioraram e pioraram [sintomas físicos],
fiquei muito preocupada, porque era diferente de qualquer outra experiência que já tive. Estava
convencido de que era "aquilo" — que ia entrar em colapso e que ninguém me encontraria
[pensamento negativo]. Foi quando liguei para o meu marido [comportamento] e esperei que ele
chegasse [comportamento].
Caso 2: Estava sentado em frente à televisão a ver a série Urgências. Estavam a mostrar uma cena
de alguém a morrer de ataque cardíaco. Senti uma ligeira dor no peito [sintoma físico] e
imediatamente comecei a perguntar-me se algo estava errado - talvez eu estivesse a ter um
ataque cardíaco [pensamento negativo]. O meu coração começou a bater e a acelerar [sintoma
físico], e fiquei muito nervoso. A minha respiração era mais rápida [sintoma físico]. Medi o pulso
e comecei a andar para me distrair [comportamentos]. Mas o meu ritmo cardíaco continuava a
acelerado e senti que não conseguia respirar fundo [sintoma físico]. Tinha a certeza de que ia
entrar em colapso a qualquer momento [pensamento negativo]. Pensei em ligar para o 112, mas
decidi ficar sentado perto do telefone por um tempo [comportamento], e depois, eventualmente,
os sintomas passaram.

Usa a grelha Análise passo a passo do ataque de pânico disponibilizada a seguir para entender
um dos seus ataques de pânico recentes. Ao compreender estes ciclos (desde pensamentos
negativos, a sintomas físicos, a comportamentos, a pensamentos mais negativos e mais sintomas
físicos, e assim por diante), desenvolverá uma boa consciência do que causa os seus ataques de

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

pânico. Estes registos também o ajudarão a entender que a forma de interromper estes ciclos é
mudar a forma como pensa e responde aos sintomas físicos.

Análise passo a passo do Ataque de Pânico

Onde estavas e o que se passava quando o ataque de pânico começou?


_____________________________________________________________________________

O que aconteceu primeiro? Um sintoma físico, um pensamento negativo ou um comportamento?


_____________________________________________________________________________

O que aconteceu depois? Como reagiu ao primeiro sintoma físico ou ao pensamento negativo?
Notou mais sintomas físicos, pensamentos mais negativos, ou fez algo, como procurar ajuda,
deitar-se ou sair onde quer que estivesse?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

O que aconteceu depois? Os sintomas físicos pioraram, ficaste ainda mais assustado que coisas
negativas acontecessem?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

O que aconteceu a seguiu?


_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

Como é que acabou?


_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

Ciclo da Agorafobia
Se está ansioso com os sintomas físicos, é provável que esteja especialmente atento a esses
sintomas à medida que entra numa situação da qual a fuga não é fácil ou em que a ajuda não está
disponível. Por exemplo, pode estar particularmente atento a tonturas enquanto conduz numa
estrada desconhecida. Se tiver medo do sintoma nessa situação, é compreensível que se sinta em
pânico ou tente encontrar uma saída. No entanto, ao escapar à situação, poderá sentir ainda mais
ansiedade da próxima vez que tentar entrar nessa situação, e poderá sentir-se ainda menos

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

preparado a estar nessa situação no futuro. Ou seja, o medo foi reforçado porque não aprendeu
que era seguro continuar na situação mesmo que tenha sintomas físicos. Este ciclo de eventos é
apresentado abaixo:

ansiedade por enfrentar situação "perigosa/encurralante"

atenção aumentada às sensações físicas ao entrar na situação

crença errada de que as sensações físicas são perigosas e


incontroláveis

tensão e atenção intensificam sensações físicos, que por sua vez


intensificam o medo

tentativa ou evitamento efetivo da situação

aumento da ansiedade e do evitamento da situação no futuro

Interromper ciclos de Pânico e Agorafobia


Esta intervenção psicoterapêutica ensina-lhe formas de interromper os ciclos de pânico e
Agorafobia. Consiste em estratégias para o ajudar a pensar e comportar de forma diferente em
relação às sensações físicas. Ensina-o a deixar de entrar em pânico devido a sensações físicas e a
deixar de evitar sensações ou as situações em que espera que ocorram.
Serão ensinadas duas estratégias. A primeira estratégia é respiratória. As estratégias respiratórias
são projetadas para regular a respiração e interromper os ciclos de pânico e Agorafobia,
fornecendo uma ferramenta para que continue em qualquer atividade que esteja envolvido e
enfrente o seu medo, em vez de evitá-lo. A segunda estratégia é direcionada aos pensamentos
negativos. Assim que conseguir descobrir exatamente os pensamentos negativos, vai aprender a
tratá-los como hipóteses em vez de factos. Desenvolverá formas alternativas de pensar que são
mais baseadas em provas ou evidências do que suposições.
Vai usar estas duas estratégias para lidar com as situações que tem evitado devido à antecipação
de ataques de pânico (isto é, Agorafobia). Vai aprender a ter menos medo destas situações e a
perceber que são inofensivas. Além disso, usará as estratégias para lidar diretamente com
sintomas físicos que o deixam ansioso, como falta de ar, tonturas ou palpitações. Vai aprender a
ter menos medo desses sintomas e a perceber que são inofensivos. Vai aprender a lidar
diretamente com os sintomas físicos quando ocorrem em situações de Agorafobia. Tudo o que
aprender neste tratamento deve ser posto em prática uma e outra vez, até que se torne parte do
seu método natural de resposta.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

4. OS ATAQUES DE PÂNICO NÃO SÃO PREJUDICIAIS

Objetivos
Aprender sobre as causas dos sintomas físicos do pânico; Aprender que os sintomas físicos do
pânico não são prejudiciais; Entender por que os ataques de pânico parecem vir "do nada"

Sintomas Físicos de Pânico e Sobrevivência


Porque os pensamentos negativos contribuem para o pânico, e porque os pensamentos
negativos muitas vezes têm a ver com acreditar que os sintomas físicos são prejudiciais, é
importante ter uma compreensão precisa dos sintomas físicos do pânico. Esta informação vai
ajudar-te a perceber que os sintomas físicos de pânico não são prejudiciais.
Cientificamente, o medo imediato ou a curto prazo (isto é, um ataque de pânico) é nomeado a
resposta de luta-fuga. Os efeitos desta resposta destinam-se a lutar ou a fugir do perigo. O
objetivo número um do pânico é proteger-nos do perigo. Quando os nossos antepassados viviam
em cavernas, era vital que, quando confrontados com o perigo, uma resposta automática
assumisse, fazendo com que tomassem medidas imediatas (ataque ou fuga). Mesmo no mundo
agitado de hoje, este é um mecanismo necessário. Imagina se estivesse a atravessar uma rua
quando de repente um carro avança na sua direção a buzinar. Se não tivesses medo, serias morto.
O que realmente acontece é que a sua resposta de luta-fuga assume o controlo e você sais do
caminho. O propósito do pânico é proteger-nos, não nos prejudicar. É o nosso mecanismo de
sobrevivência, e envolve as seguintes mudanças físicas no nosso corpo.

Efeitos no sistema nervoso


Quando o perigo é detetado, o cérebro envia mensagens para uma parte dos seus nervos
chamada sistema nervoso autónomo. O sistema nervoso autónomo tem duas subsecções, ou
ramos, chamados de sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Estes dois
ramos do sistema nervoso estão diretamente envolvidos no controlo dos níveis de energia do seu
corpo e na sua preparação para a ação. O sistema nervoso simpático é o sistema de luta-fuga,
que liberta energia e prepara o corpo para a ação (luta ou fuga). O sistema nervoso
parassimpático é o sistema de restauro, que devolve o corpo a um estado normal. Acredita-se
que a ativação do sistema nervoso simpático causa a maioria dos sintomas de ataque de pânico.
O sistema nervoso simpático tende a ser um sistema de tudo ou nada. Quando é ativado, todas
as suas partes respondem. Isto pode explicar porque a maioria dos ataques de pânico envolvem
muitos sintomas físicos e não apenas um ou dois. Além disso, o sistema nervoso simpático
responde imediatamente assim que o perigo está próximo (por exemplo, pense na ativação que
sente quando pensa que outro carro na autoestrada está prestes a bater-lhe). É por isso que os
sintomas físicos de ataques de pânico podem ocorrer quase instantaneamente, em segundos.
O sistema nervoso simpático liberta dois químicos, adrenalina e noradrenalina das glândulas
suprarrenais (rins). Estes químicos são usados como mensageiros pelo sistema nervoso simpático
para continuar a atividade, de modo que uma vez que a ativação começa muitas vezes continua
e aumentar por algum tempo. No entanto, a atividade do sistema nervoso simpática é
interrompida de duas maneiras. Primeiro, os mensageiros químicos (adrenalina e noradrenalina)
são eventualmente destruídos por outros químicos no corpo. Em segundo lugar, o sistema
nervoso parassimpático (que geralmente tem efeitos opostos ao sistema nervoso simpático)
torna-se ativo e restaura uma sensação de relaxamento. Eventualmente, o corpo "terá o

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

suficiente" da resposta de combate e o sistema nervoso parassimpático vai restaurar uma


sensação de relaxamento. Por outras palavras, o pânico não pode continuar para sempre, nem
aumentar para níveis cada vez maiores e prejudiciais. O sistema nervoso parassimpático impede
o sistema nervoso simpático de “avançar”.
Adrenalina e noradrenalina levam algum tempo a ser totalmente destruídas. Mesmo depois do
sistema nervoso simpático ter parado de responder, é provável que se sinta tenso ou "no limite"
durante algum tempo porque os químicos ainda flutuam no seu organismo. Isto é perfeitamente
natural e inofensivo. Na verdade, há um propósito para isso - na natureza, o perigo muitas vezes
tem o hábito de voltar. Por isso, é útil que permaneçamos num estado tenso, para que possamos
reativar rapidamente a resposta de luta se o perigo voltar.
Cada efeito físico do sistema de luta-fuga destina-se a prepará-lo para lutar ou fugir, isto é, para
protegê-lo. O sistema de combate afeta os nossos corações, fluxo sanguíneo, respiração, suor,
pupilas, músculos e sistema digestivo, bem como outras partes do nosso corpo.

Efeitos cardiovasculares
A atividade do sistema nervoso simpático aumenta o ritmo cardíaco e a força do batimento
cardíaco. Isto é vital para a preparação para a ação (para lutar ou fugir) porque acelera o fluxo
sanguíneo, melhorando a entrega de oxigénio aos tecidos e removendo os resíduos dos tecidos.
Os tecidos musculares precisam de oxigénio como fonte de energia para lutar ou fugir. É por isso
que um coração acelerado é tipicamente experimentado durante períodos de alta ansiedade ou
pânico.
Além disso, há uma mudança no fluxo sanguíneo. Basicamente, o sangue é retirado dos locais
onde não é necessário (por um aperto dos vasos sanguíneos) e é direcionado para os locais onde
é mais necessário (por uma expansão dos vasos sanguíneos). Por exemplo, o sangue é retirado
da pele, dos dedos e dos pés. Isto é útil porque, recordando os nossos dias ancestrais das
cavernas, as extremidades são o lugar mais provável para ser atacado e ferido. Ter menos fluxo
sanguíneo significa que somos menos propensos a sangrar até à morte. Como resultado, a pele
parece pálida e sente frio, especialmente em torno das mãos e pés. Em vez disso, o sangue vai
para os grandes músculos, como as coxas, o coração e os bíceps, que precisam do oxigénio para
lutar ou fugir. Os músculos grandes são mais importantes para correr ou lutar.
Juntas, estas alterações físicas fazem com que o coração bata acelerado e a pele se fique pálida
e fria, especialmente em torno dos dedos dos pés e mãos, causando por vezes sensações de
fraqueza nas mãos e pés. Pode sentir frio, mesmo estando um dia quente. São sensações físicas
normais em condições de ter medo ou ansiedade. É um sinal de que o corpo se prepara para
reagir (luta-fuga).
Às vezes, as pessoas relatam sentir-se quentes em vez de frias. As sensações quentes são mais
propensas a ocorrer durante a ativação abrupta do pânico, assim que o sistema nervoso
simpático é ativado e antes que o fluxo sanguíneo seja redirecionado. Os arrepios frios que
acompanham a reorientação do fluxo sanguíneo são mais propensos a ocorrer com ansiedade
que surge lentamente ou de maior duração.

Efeitos na respiração
Outro efeito é que a respiração se torne cada vez mais rápida e profunda, porque o corpo precisa
de mais oxigénio para lutar ou fugir. Por vezes, a respiração pode tornar-se irregular e causar
sintomas inofensivos, mas desagradáveis, tais como sensação de falta de ar ou asfixia, e dor ou
aperto no peito. Além disso, o fornecimento de sangue para a cabeça pode ser diminuído. Embora
esta seja apenas uma pequena quantidade e não seja de todo perigosa, produz sintomas

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

desagradáveis (mas inofensivos), incluindo tonturas, visão turva, confusão, sensações de


irrealidade (ou, sentindo-se como se estivesse num estado de sonho) e descargas quentes. Estes
sintomas físicos podem ser desconfortáveis, mas não são de todo prejudiciais e não são um sinal
de que algo está seriamente errado contigo.

Efeitos na glândula do suor


A resposta de luta aumenta o suor. Suar arrefece o corpo para evitar o sobreaquecimento e
permite-lhe continuar a lutar ou fugir do perigo sem colapsar devido ao calor. Além disso, o suor
excessivo torna a pele escorregadia, de modo que é mais difícil para um predador agarrar-nos.
Transpiração é um sintoma comum de ansiedade e pânico.

Outros efeitos físicos


Além disso, as pupilas (o centro dos olhos) alargam-se para deixar entrar mais luz. Isto ajuda-nos
a analisar o ambiente para o que é perigoso. Lembrem-se, o pânico e a ansiedade são reações à
perceção da ameaça, e se se espera que ocorra uma ameaça ou perigo, então faz sentido
estarmos atentos e à procura dela aumentando o nosso campo de visão. Ao mesmo tempo, a
mudança nas pupilas pode causar sintomas como visão turva, manchas na frente dos olhos, ou
sensibilidade a luzes brilhantes.
Outro efeito físico é uma diminuição da salivação, resultando numa boca seca. De facto, todo o
sistema digestivo é diminuído, de modo que a energia necessária para a digestão dos alimentos
pode ser redirecionada para os músculos que são necessários para lutar ou fugir. Isto muitas
vezes causa náuseas, sensações pesadas no estômago, e às vezes diarreia para evacuarmos o
material que pode "pesar-nos" enquanto tentamos lutar ou fugir.
Além disso, muitos dos grupos musculares estão tensos na preparação para a luta ou fuga, e isso
resulta em sensações de tensão. Esta tensão pode, por vezes, causar dores, assim como tremores.
Outro efeito interessante resulta da libertação de analgésicos naturais do cérebro, de modo que
somos menos propensos a sentir dor quando temos medo. O objetivo disto é permitir-lhe
continuar a lutar ou fugir do perigo, mesmo que tenhamos sofrido ferimentos. Ligada a isto está
a libertação de coagulantes e linfócitos no sangue, o que ajuda a selar feridas e a reparar danos
nos tecidos. Além disso, há uma contração do baço, de modo que mais glóbulos vermelhos são
libertados para transportar mais oxigénio no sangue, e há uma libertação de açúcar armazenado
do fígado, para que os músculos tenham mais açúcar disponível como fonte de energia.
Finalmente, porque a resposta de luta-fuga produz uma ativação geral de todo o corpo, e porque
isso requer muita energia, as pessoas geralmente se sentem cansadas, drenadas e "arrasadas"
depois.

Em resumo, as alterações físicas subjacentes aos sintomas físicos de pânico e ansiedade são
protetoras, na medida em que são projetadas para nos ajudar a escapar ou combater o perigo.
Os sintomas são reais, mas não são prejudiciais. Curiosamente, os sintomas físicos são por vezes
sentidos na ausência de alterações físicas reais. Por exemplo, às vezes as pessoas sentem como
se o coração estivesse acelerado quando, na verdade, está a bater a um ritmo normal. Ou, às
vezes, as pessoas sentem-se quentes, mesmo que a temperatura da pele não tenha mudado. Isto
ocorre porque um foco intenso e ansioso nas sensações físicas pode criar a perceção de uma
perturbação física, mesmo quando realmente nenhuma existe. No entanto, ataques de pânico
intensos são quase sempre baseados em mudanças físicas reais tais como resumidos na tabela
seguinte com as mudanças físicas no medo.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Mudanças físicas Objetivo Sintoma

Aumento da frequência Acelerar a entrada de oxigénio Batimento cardíaco


cardíaca e força do e a remoção de dióxido de acelerado.
batimento cardíaco. carbono.

Reorientação do sangue Fornecer aos grandes Pálido e frio,


para longe da pele, dos músculos energia para a especialmente nas mãos
dedos dos pés e mãos, em resposta de luta-fuga, e nos pés.
direção aos grandes perdendo menos sangue se
músculos. for atacado.

Aumento da velocidade e Fornecer mais oxigénio para Respiração rápida. Se o


profundidade da os músculos como energia oxigénio aumentado não
respiração. para a resposta de luta-fuga. for utilizado, tonturas,
falta de ar, sensações de
calor ou frio, suor,
desconforto no peito e
alterações visuais.

Aumento da atividade nas Corpo frio para evitar a Suar.


glândulas de suor. exaustão do
sobreaquecimento.

Pupilas (olhos) dilatam. Aumente o campo visual para Olhos mais sensíveis à luz.
procurar perigo.

Menos energia para o Direciona toda a energia para Boca seca, náusea, dor de
sistema digestivo. a resposta de luta-fuga. estômago, caibras e
diarreia.

Aumento da prontidão Preparação para a resposta de Tensão muscular, caibras


muscular. luta-fuga. musculares e tremores.

Libertação de analgésicos Atenua a sensibilidade à dor Menor sensível à dor.


naturais (opioides). para permitir que continue a
lutar ou fugir se estiver ferido.

Comportamento da resposta de luta-fuga


A resposta de luta-fuga prepara o corpo para atacar ou fugir. Não é surpresa que a vontade
intensa de fugir esteja associada ao pânico. Às vezes, a fuga não é possível, como quando se está
na igreja no meio do banco, ou numa reunião importante. Nestas alturas, a vontade de fugir pode
tornar-se mais forte ou ser expressa através de comportamentos como bater com os pés de
forma ritmada.

Pensamentos da luta-fuga
O primeiro efeito da emergência da resposta de luta ou fuga no nosso pensamento é alertar-nos
para a possibilidade de perigo. Um dos principais efeitos é uma mudança imediata na atenção

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

para a procura de uma ameaça potencial - paramos de atender às tarefas em curso e analisamos
o nosso ambiente para identificar o perigo.

Se não há nada a temer, porquê o pânico?


É compreensível ter a resposta de luta-fuga se formos atacados, presos num elevador, ou
experienciarmos qualquer outro grande stress. Mas porque é que a resposta de luta-fuga ocorre
onde não há nada a temer, quando não há perigo óbvio? Lembra-te, um ataque de pânico é uma
resposta corporal normal ao medo. O que o torna anormal é quando ocorre na hora errada,
quando não há perigo real.
Parece que as pessoas com ataques de pânico têm medo dos sintomas físicos do medo. Ataques
de pânico representam "medo do medo". Um ataque de pânico segue uma sequência típica.
Primeiro, sintomas físicos inesperados são experimentados. (São inesperados porque não podem
ser explicados por nenhum perigo real naquele momento.) Segundo, os sintomas físicos
provocam ansiedade e medo.

Razões para sintomas físicos inesperados


Por que tem sintomas físicos? Há muitas razões possíveis para isto. Uma deles é o stress, incluindo
o stress das pressões laborais, a pressão para cumprir compromissos, relacionamentos, etc., o
que leva a um aumento na produção de adrenalina e outros componentes químicos relacionados
com o stress. Esta é a maneira do seu corpo ficar alerta e preparado para lidar com o stress. No
entanto, estes efeitos de stress causam sintomas físicos.
Uma segunda razão é estar ansioso por ter outro ataque de pânico. A antecipação ansiosa de
qualquer coisa contribui para níveis mais altos de tensão física e mais sintomas físicos de stress.
Além disso, a ansiedade faz-nos concentrar a nossa atenção no que quer que seja que nos deixa
ansiosos. Por exemplo, antecipar a rejeição social leva a um foco intenso nas expressões faciais,
enquanto procuramos sinais de rejeição. No caso de ansiedade sobre o pânico, isto significa que
a atenção se concentra nos sintomas físicos. Pode dar por si a analisar o seu corpo à “procura”
de sintomas físicos incomuns e a detetar sintomas que poderia não ser notado de outra forma. A
ansiedade por ter ataques de pânico causa mais sintomas de pânico e mais atenção a esses
sintomas. Consequentemente, a ansiedade sobre o pânico causa mais coisas (isto é, os sintomas
físicos) das quais a pessoa com Perturbação de Pânico tem medo e, portanto, mais ataques de
pânico. Uma terceira razão é que os sintomas físicos normais acontecem a todos, porque o nosso
corpo está em constante mudança: frequência cardíaca, temperatura da pele e fluxo sanguíneo
flutuam muito ao longo do típico dia de 24 horas.

Como os sintomas físicos influenciam o que pensamos e fazemos?


Quando o sistema nervoso simpático é ativado numa resposta de combate de emergência, há
certos efeitos naturais nos nossos comportamentos e pensamentos. (Lembre-se, ansiedade e
pânico são compostos por sintomas físicos, pensamentos e comportamentos.)

Efeitos de ter medo dos sintomas físicos


Como discutido anteriormente, a resposta de luta-fuga faz com que o cérebro procure perigo.
Por vezes, uma ameaça óbvia não pode ser encontrada, como é habitual nos ataques de pânico
que parecem ocorrer sem motivo. No entanto, a maioria de nós não pode aceitar não ter
explicação. Quando uma explicação não pode ser encontrada, a procura de resposta pode ser

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

orientada para dentro de nós. Por outras palavras, "se não há nada que explique o pânico e
ansiedade, então deve haver algo de errado comigo". Depois, o cérebro inventa uma explicação,
como: "Devo estar a morrer, a perder o controlo ou a enlouquecer". Como vimos, nada poderia
estar mais longe da verdade, uma vez que o objetivo da resposta de luta-fuga é proteger e não
nos prejudicar.
Estes tipos de pensamentos negativos sobre os sintomas físicos do pânico só contribuem, num
ciclo negativo, para pensamentos mais negativos, sintomas físicos e comportamentos de pânico
– ciclo de pânico. Os pensamentos negativos intensificam a resposta de luta-fuga porque o corpo
reage com um impulso de lutar ou fugir quando surge o perigo surge (neste caso, as possibilidades
de morrer, perder o controlo ou enlouquecer). Isto é verdade mesmo que o perigo seja baseado
numa perceção do que pode acontecer - não tem que ser um perigo real. Enquanto pensamos
que estamos em perigo, os nossos corpos reagirão em conformidade. Como resultado, a mesma
coisa que é temida (isto é, o sintoma físico) é intensificada. Ou seja, um sintoma físico é
experimentado, o sintoma físico é temido (porque é considerado perigoso), e como resultado, o
sintoma físico intensifica-se. Isto dura até que o ciclo seja terminado por qualquer uma das
compensações físicas que abrandam tudo (isto é, ativação parassimpático) ou percebendo que
já não precisamos de ter medo do sintoma físico.
Em resumo, os sintomas físicos são temidos por causa de crenças de que são sinais de morte
iminente, insanidade, perda de controlo, constrangimento, e assim por diante. Por sua vez, estas
crenças geram medo, mais sintomas físicos, e uma bola de neve de ansiedade e pânico.

E os ataques de pânico que surgem “do nada”?


Depois de várias vezes ter medo de sintomas físicos, o medo dos sintomas físicos pode ocorrer
"automaticamente". A qualidade "automática" é típica de muito do que aprendemos. Pensa em
quando aprendeste a andar de bicicleta ou a conduzir um carro. Inicialmente, foi preciso muita
concentração e autoinstrução sobre o que fazer a cada passo. Aos poucos, tornou-se automático,
para que pudesses andar e conduzir sem pensar conscientemente no que estavas a fazer. E, no
entanto, os seus pensamentos automáticos ainda estão a guiar o comportamento de como
conduzir. O mesmo acontece com os pensamentos negativos associados ao pânico e à ansiedade.
Com o tempo, podem tornar-se automáticos, então não está consciente do que está a pensar; e
ainda assim, esses pensamentos ainda influenciam as suas sensações e comportamentos. Como
não está ciente dos seus pensamentos, pode parecer que o pânico e a ansiedade vêm "do nada"
— apenas sente medo, e não sabe porquê.
Outro processo automático chama-se condicionamento interoceptivo. Isto significa aprender a
ter medo de sintomas físicos devido a experiências negativas anteriores associadas com esses
sintomas. Por exemplo, imagina que ficavas gravemente doente cada vez que notavas um
espasmo muscular na perna. Em breve, aprenderias a ter medo de espasmos musculares na
perna, antecipando ficar doente. O mesmo acontece com o pânico; mas neste caso, o espasmo
muscular é um sintoma físico que acontece durante o pânico (como um coração acelerado), e a
doença é o terror causado por crenças de que podes morrer, perder o controle, ou enlouquecer.
Uma vez que a possibilidade de morte ou alguma outra catástrofe esteja associada a um coração
acelerado, as mudanças na frequência cardíaca podem causar medo automático uma vez que o
medo está condicionado. Consequentemente, mesmo pequenas alterações na frequência
cardíaca que são normais, e não o incomodaram antes de experimentar o pânico, podem fazê-lo
ficar com medo. Na verdade, a mudança física pode ser tão subtil que não está totalmente ciente
disso, e ainda assim faz com que tenhas medo. Esta é outra razão pela qual os ataques de pânico
às vezes surgem como se viessem do nada — estão a ser desencadeados por mudanças físicas
subtis das quais não estamos conscientes, mas às quais o seu corpo ficou condicionado a reagir.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Quando as nossas avaliações (crenças) sobre os sintomas físicos serem perigosos ocorrem
automaticamente (ou, sem consciência), ou quando o medo está condicionado a sintomas físicos
da menor intensidade aos quais não está ciente que está a responder, então os ataques de pânico
parecem ocorrer do nada. Além disso, lembre-se que os nossos sistemas de luta-fuga estão
projetados de forma a responder instantaneamente. Sem essa capacidade de resposta
instantânea, não conseguiríamos sobreviver, porque, por vezes, os perigos podem chegar-nos
muito rapidamente. A consequência em termos de ataques de pânico é que os pensamentos
automáticos e condicionamento podem acontecer tão rapidamente que o resultado final - o
ataque de pânico - parece que aconteceu sem tempo para pensarmos ou reagir. No entanto, na
realidade, o nosso medo é sempre desencadeado por algo. Ou seja, os sintomas físicos, ou os
pensamentos negativos sobre os sintomas físicos, estão sempre presentes, mesmo que não
imediatamente óbvios.
Isto é verdade mesmo para ataques de pânico que ocorrem num estado descontraído e os
ataques de pânico que nos acordam do sono profundo (isto é, ataques de pânico noturnos).
Durante o relaxamento, as sensações físicas são muitas vezes diferentes do normal, resultando
por vezes em sensações de flutuar ou estar em transe. Se tens medo de sensações físicas
diferentes do normal, então as sensações físicas que tens durante o relaxamento podem
desencadear um ataque de pânico. Ataques de pânico noturnos são experimentados por cerca
de metade das pessoas que sofrem de Perturbação de Pânico. Cerca de 25% têm repetidos
ataques de pânico fora do sono. "Como podem os ataques de pânico noturnos serem
desencadeados por sensações físicas?” Primeiro, é normal ter mudanças nos ritmos físicos
durante o sono. Por exemplo, os batimentos cardíacos e as taxas de respiração aumentam e
diminuem em momentos diferentes durante a noite. Segundo, temos a capacidade de responder
a eventos significativos durante todo o nosso sono. Pense na mãe de uma criança recém-nascida
que acorda em resposta ao menor som do seu bebé enquanto dorme com outros ruídos mais
altos. Outro exemplo seriam os soldados em combate que têm a capacidade de dormir através
do som de aviões aliados, mas acordam ao som de aviões inimigos. Assim, se as mudanças físicas
forem significativas (por outras palavras, se forem assustadoras), é compreensível que as
mudanças físicas que usualmente acontecem durante o sono possam fazer com que alguém
acorde com um ataque de pânico, da mesma forma que os ataques de pânico acontecem durante
o dia. Isto é especialmente provável que aconteça se as mudanças físicas acontecerem quando é
mais fácil ser acordado. Por exemplo, é muito difícil ser acordado na fase de sono profundo e
REM, mas é mais fácil ser acordado nos estágios 2 e 3 do sono.
Assim, um modelo simplificado de ataques de pânico aparece na seguinte Figura.

Sintomas físicos devido a: stress, Ansiedade sobre os sintomas devido ao


ansiedade sobre o pânico, condicionamento interocetico e pensamentos
mudanças físicas normais negativos errados de que os esses são perigosos

Mais sintomas

Pânico

Em suma, o pânico baseia-se na resposta de luta-fuga, na qual o principal objetivo é ativar o


organismo e protegê-lo de danos. Todos são capazes desta resposta quando confrontados com o
perigo, quer esse perigo seja real ou imaginado. Associados a esta resposta estão uma série de

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

sintomas físicos, comportamentos e pensamentos. Quando os sintomas físicos ocorrem na


ausência de uma explicação óbvia, as pessoas muitas vezes interpretam mal os sintomas normais,
vendo-os como indicando um problema físico ou mental grave. Neste caso, os próprios sintomas
físicos podem tornar-se ameaçadores e podem desencadear novamente a resposta de luta-fuga.

Pensamento/Crenças típicas erradas sobre sintomas de pânico


Como notado, quando os sintomas físicos ocorrem sem uma explicação óbvia, tendemos e
procurar interiormente uma explicação; e ao fazê-lo, às vezes os sintomas normais do medo são
erradamente compreendidos como um problema físico ou mental grave. Tais crenças erradas
podem resultar num ciclo vicioso de "medo do medo". Mitos comuns e crenças erradas sobre os
sintomas físicos do medo incluem sensações de enlouquecer, perder o controlo, sofrer um
colapso nervoso, sofrer um ataque cardíaco, e desmaiar. Vamos agora avaliar cada um destes.

Enlouquecer
Muitas pessoas acreditam que os sintomas físicos de medo ou pânico significam que estão a
enlouquecer. Provavelmente referem-se ao problema mental grave conhecido como
esquizofrenia. Vejamos a esquizofrenia para ver se isto é provável. A esquizofrenia é uma
perturbação grave caracterizada por sintomas tão graves como pensamentos e discursos
desarticulados (como a rápida mudança de um tópico para o outro), por vezes estendendo-se à
fala que não faz qualquer sentido; ilusões ou crenças estranhas; e alucinações. Um exemplo de
uma estranha crença pode ser a perceção de receber mensagens de deus, e um exemplo de uma
alucinação pode ser estar a ouvir uma conversa quando não há ninguém por perto.
A esquizofrenia geralmente começa muito gradualmente e não de repente, como acontece com
um ataque de pânico. Além disso, como esta doença tende a ocorrer em famílias e tem uma base
genética forte, apenas uma pequena percentagem de pessoas pode tornar-se esquizofrénica, e
em outras pessoas, nenhuma quantidade de stress causará essa perturbação. Além disso, as
pessoas esquizofrénicas geralmente mostram alguns sintomas leves durante a maior parte das
suas vidas (tais como pensamentos incomuns). Se isto ainda não foi notado em si, então é
provável que não se torne esquizofrénico. Isto é especialmente verdade se tiver mais de 25 anos,
porque a esquizofrenia geralmente aparece pela primeira vez no final da adolescência, até aos
20 anos. Finalmente, se já passou por avaliações com um psicólogo ou psiquiatra, então pode ter
a certeza de que lhe teriam dito se tivesse esquizofrenia.

Perder o controlo
Algumas pessoas acreditam que vão "perder o controlo" quando entrarem em pânico. Podem
acreditar que ficarão totalmente paralisados e não poderão mover-se ou que não saberão o que
estão a fazer e que vão correr descontroladamente, ferir pessoas, gritar obscenidades e, em geral,
envergonhar-se a si próprias. Ou podem não saber o que esperar, mas podem sentir uma
sensação esmagadora de estar fora de controlo.
Mesmo que ataques de pânico possam fazê-lo sentir-se um pouco confuso e irreal, ainda é capaz
de pensar e funcionar. Na verdade, provavelmente é capaz de pensar mais depressa, e é
fisicamente mais forte, e os seus reflexos são mais rápidos. O mesmo acontece quando as pessoas
estão em emergências reais — pensem em mães e pais que realizam coisas incríveis (como
levantar objetos extremamente pesados) e superar os seus próprios medos intensos para salvar
os seus filhos.

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

Às vezes, a forte vontade de escapar ou fugir é mal-entendida como perda de controlo. Por
exemplo, uma pessoa que ia a uma entrevista de emprego quando entrou em pânico mudou de
direção e dirigiu-se ao escritório do marido. Ela acreditava que isto era uma perda de controlo.
Pelo contrário, ela estava em total controlo, uma vez que estava a fazer o que achava necessário
para sentir segurança. Dado os seus medos (pensou que ia morrer), chegar ao marido era uma
coisa natural para ela fazer. A maioria das pessoas faria o mesmo se acreditasse que estava
prestes a morrer. Então, o comportamento foi controlado. O problema era a sua crença errada
de que estava a morrer.

Ter um colapso nervoso


Muitas pessoas acreditam que os seus nervos podem exacerbar até que colapsam. No entanto,
isto não é de todo provável. Como discutido anteriormente, o pânico baseia-se na atividade do
sistema nervoso simpático que é então contrariado pelo sistema nervoso parassimpático. O
sistema nervoso parassimpático é, de certa forma, uma salvaguarda para diminuir a ativação do
sistema nervoso simpático.

Ter um ataque cardíaco


Muitas pessoas interpretam mal os sintomas de pânico, pensando que são sinais de ataque
cardíaco. Isto deve-se provavelmente à escassa informação que têm sobre ataques cardíacos.
Vejamos os factos das doenças cardíacas e vejamos como isto difere dos ataques de pânico. Os
principais sintomas da doença cardíaca são a falta de ar e a dor no peito, bem como palpitações
ocasionais e desmaios. Os sintomas na doença cardíaca estão geralmente diretamente
relacionados com o esforço. Ou seja, quanto mais se exercitar, pior são os sintomas, e quanto
menos se exercitar, menores são os sintomas. Os sintomas geralmente desaparecem bastante
rapidamente com o descanso. Isto é muito diferente dos sintomas de ataques de pânico, que
muitas vezes ocorrem em repouso. Certamente, os sintomas de pânico podem acontecer e até
mesmo intensificar-se durante o exercício. No entanto, isto é diferente dos sintomas de um
ataque cardíaco, porque os sintomas de pânico ocorrem igualmente frequentemente em
repouso. De maior importância é o facto de que a doença cardíaca vai quase sempre produzir
grandes mudanças elétricos no coração, que podem ser detetadas por umo registo de
eletrocardiograma (ECG). Nos ataques de pânico, a única mudança que aparece num ECG é um
aumento da frequência cardíaca. Por si só, o aumento da frequência cardíaca não é de todo
perigoso, a menos que atinja taxas extremamente elevadas, como mais de 200 batimentos por
minuto, por períodos prolongados, que excedam em muito as taxas que ocorrem durante os
ataques de pânico. Um ritmo cardíaco típico durante um forte ataque de pânico é de cerca de
120-130 batimentos por minuto. O exercício físico vigoroso aumenta a frequência cardíaca para
cerca de 150-180 batimentos por minuto, dependendo da sua idade e do seu nível de aptidão. O
ritmo cardíaco habitual durante o descanso é de 60 a 85 batimentos por minuto. Assim, se fez
um ECG e o médico lhe disse que estava tudo bem, pode assumir com segurança que a doença
cardíaca não é a razão dos seus ataques de pânico e que os ataques de pânico não levarão a
doenças cardíacas.

Desmaiar
O medo de desmaiar é comum em pessoas com Perturbação de Pânico, mas desmaiar é muito
raro. O medo de desmaiar é geralmente baseado na crença errada de que sintomas como
tonturas significam que alguém está prestes a desmaiar. Na verdade, o estado de pânico é
incompatível com desmaios. A tensão física (ativação simpática do sistema nervoso) dos ataques
de pânico é o oposto direto do que acontece durante o desmaio. É mais provável que o desmaio

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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)

aconteça a pessoas com baixa pressão arterial ou que respondam ao stress com grandes reduções
na pressão arterial.
Outros mitos comuns ou crenças erradas sobre sintomas de pânico incluem as ideias que podem
levar a um aneurisma, um ataque epilético, ou até à morte por choque.

De onde vêm estes pensamentos ou crenças erradas?


A informação que lhe foi dada por outras pessoas sobre os perigos dos sintomas físicos pode ser
um agente muito poderoso para desenvolver crenças erradas. Por exemplo, deparamo-nos com
uma definição de pânico no dicionário (num respeitável guia médico) como um estado que pode
levar à depressão psicótica. Isso é desinformação, já que não há provas que sugiram que o pânico
conduz à psicose. No entanto, para alguém sem formação em investigação psicológica, esse tipo
de informação poderia facilmente fornecer a base para o medo de se tornar psicótico durante os
ataques de pânico. Se alguém tem medo de se tornar psicótico, então é compreensível que a
experiência do pânico seja aterradora, levando à ansiedade sobre o próximo ataque de pânico.
Observar outros terem medo de sintomas físicos é outra forma de desenvolver crenças erradas.
Por exemplo, as crianças que observam a sua mãe ou pai mostrar preocupação excessiva com
questões de saúde são provavelmente mais propensos a desenvolver crenças erradas sobre os
seus próprios sintomas corporais.
Finalmente, eventos traumáticos que experimentou pessoalmente podem contribuir para
crenças erradas de que os sintomas físicos são prejudiciais. Por exemplo, as cirurgias
(especialmente as que não correram bem na fase de recuperação), as reações alérgicas perigosas
aos fármacos, ou doenças físicas graves podem contribuir para tendências para ver sensações
físicas com cautela.

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