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Índice
1. A NATUREZA DO PÂNICO E AGORAFOBIA .............................................................. 3
Objetivos ........................................................................................................................... 3
Sofre de Perturbação de Pânico ou Agorafobia? ................................................................ 3
Estudos de Caso.................................................................................................................................. 3
Diagnóstico e Definição de Perturbação de Pânico e Agorafobia ........................................ 4
Problemas médicos ........................................................................................................... 6
Quão comum é a Perturbação de Pânico e Agorafobia? ..................................................... 7
Formas pouco úteis de lidar com ataques de pânico .......................................................... 7
Evitamento ......................................................................................................................................... 7
Distração ............................................................................................................................................ 8
Objetos supersticiosos e sinais de segurança ..................................................................................... 8
Álcool .................................................................................................................................................. 9
Como é que esta intervenção pode ajudar a lidar com o Pânico e a Agorafobia? ............... 9
O que causa pânico, ansiedade e Agorafobia? ................................................................... 9
Fatores Biológicos .............................................................................................................................. 9
Fatores Psicológicos ......................................................................................................................... 10
E o stress? ......................................................................................................................................... 11
Este tratamento é certo para si? ...................................................................................... 11
Está a receber outros tratamentos psicológicos? ............................................................. 12
Está a tomar medicamentos? .......................................................................................... 12
Que benefícios receberá deste tratamento? .................................................................... 12
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
Objetivos
Entender a natureza dos ataques de pânico, Perturbação de Pânico e Agorafobia; Aprender sobre
os fatores que causam perturbações de pânico; Aprender sobre a intervenção psicoterapêutica
para superar o pânico e Agorafobia
Estudos de Caso
Sérgio era um gerente de vendas de 31 anos que sofria de ataques de tonturas, visão turva e
palpitações cardíacas. O primeiro ataque ocorreu no trabalho, na presença dos seus colegas de
trabalho e começou com sensações de fraqueza, náuseas e tonturas. O Sérgio pediu a um colega
para chamar um médico porque tinha medo de ter um ataque cardíaco desde que o pai faleceu
recentemente de um. Além desta perda, o Sérgio estava a lidar com muito stress no trabalho.
Vários meses antes do primeiro ataque de pânico, houve alturas em que Sérgio estava nervoso e
a sua escrita tinha ficado tremida; mas, nunca tinha experimentado nada como isto antes. Depois
de um exame físico minucioso, o médico disse-lhe que era stress e ansiedade. No entanto, os
ataques de ansiedade continuaram, principalmente no trabalho, e em situações em que se sentia
encurralado. Às vezes eram inesperados ou "do nada", especialmente os que o acordaram do sono
profundo. O Sérgio sentia-se tenso e ansioso a maior parte do tempo porque se preocupava em
ter outro ataque de pânico. Desde o seu terceiro ataque de pânico, Sérgio começou a evitar ficar
sozinho sempre que possível. Também evitou lugares e situações, como lojas, centros comerciais,
multidões, teatros e esperas nas filas, onde temia ficar preso e envergonhado se entrasse em
pânico. Onde quer que ele fosse, Sérgio carregava uma Bíblia, assim como pastilha elástica e
cigarros, porque olhar para a Bíblia, mastigar pastilha elástica ou fumar cigarros o fez sentir-se
mais confortável e mais capaz de lidar com o pânico. Além disso, o Sérgio levava a medicação com
ele onde quer que fosse para o ajudar a lidar com os seus ataques.
Luísa era uma mulher de 24 anos que tinha repetidos ataques de tonturas, falta de ar, dor no
peito, visão turva, um nó na garganta e sensações de irrealidade. Ela receava que estas sensações
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
significassem que algo estava errado com o seu cérebro, como um tumor, ou que ela estivesse a
perder o controlo da sua mente. O problema começou cerca de cinco anos antes. Enquanto estava
numa festa, Luísa fumava marijuana, e em pouco tempo, começou a sentir-se irreal e tonta. Nunca
tendo tido estas sensações antes, a Luísa pensou que estava a enlouquecer ou que a droga lhe
tinha danificado o cérebro. Pediu a uma amiga que a levasse às urgências. Os médicos fizeram
alguns testes e asseguraram a Luísa que os sintomas se deviam à ansiedade. A Luísa nunca mais
tocou na marijuana ou noutras drogas recreativas depois disso. Na verdade, ficou nervosa com
quaisquer substâncias químicas, mesmo as prescritas para alergias e infeções sinusais. Os ataques
de pânico diminuíram ao longo dos anos. A certa altura, não teve ataques durante três meses. No
entanto, continuou a preocupar-se em ter outro ataque de pânico quase todo o tempo. Sentia-se
desconfortável em situações em que seria difícil obter ajuda se ocorresse outro ataque de pânico,
como em lugares desconhecidos ou quando estava sozinha, mas não evitou muitos lugares. O seu
método de lidar com o pânico era envolver-se o mais possível noutras coisas, de modo a manter
a sua mente fora de pânico.
Júlia era uma mulher casada de 41 anos que estava desempregada devido aos seus ataques de
pânico. Júlia demitiu-se do cargo de assistente há vários anos porque se tinha tornado cada vez
mais difícil para ela sair de casa. Os ataques de pânico da Júlia envolviam fortes dores no peito,
sensações de pressão no peito, dormência no braço esquerdo, falta de ar e palpitações cardíacas.
Cada vez que entrou em pânico, a Júlia tinha medo de estar a morrer de ataque cardíaco. Além
disso, Júlia frequentemente acordava de sono profundo com sintomas semelhantes,
particularmente pressão no peito, falta de ar e suor. Júlia vivia com a sua família extensa, que era
de ascendência chinesa e acreditava que os eventos noturnos representavam demónios descendo
sobre ela. A avó convenceu a Júlia de que morreria se não acordasse a tempo. Consequentemente,
Júlia ficou com muito medo de dormir. À noite, passava muitas horas a andar pela casa enquanto
todos dormiam. Dormia durante todo o dia, quando outras pessoas estavam por perto. A sua vida
tinha-se tornado muito restrita à casa, com passeios ocasionais a lojas e médicos, desde que um
familiar ou amigo a acompanhasse. Júlia tinha visto muitos médicos e cardiologistas, e ela tinha
sido submetida a vários testes de stress cardiovascular e para medir o seu coração durante longos
períodos de tempo. Nada foi detetado, e, no entanto, Júlia permaneceu convencida de que teria
um ataque cardíaco ou que morreria durante o sono.
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
2. Suores
3. Estremecimentos ou tremores
4. Sensação de falta de ar ou dificuldades de respirar
5. Sensação de asfixia
6. Desconforto ou dor no peito
7. Náuseas ou mal-estar abdominal
8. Sensação de tontura, de desequilíbrio, de cabeça vazia ou de desmaio
9. Sensação de frio ou de calor
10. Parestesias (entorpecimento ou formigueiro)
11. Desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (sentir-se desligado de si
próprio)
12. Medo de perder o controlo ou de “enlouquecer”
13. Medo de morrer
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
pessoa pode experimentar um, dois ou três sintomas da lista de sintomas de ataque de pânico,
mas nunca teve quatro ou mais sintomas de uma só vez (que é o requisito técnico para um ataque
de pânico total). No entanto, um ou dois sintomas podem ser tão angustiantes como quatro ou
mais sintomas. Por exemplo, a tontura é, por vezes, o único sintoma experimentado, mas a
ansiedade por sentir-se tonto pode ser tão severa e incapacitante como a ansiedade de ter um
ataque de pânico. Colocando de outra forma, a pessoa que só tem tonturas pode desenvolver
Agorafobia, tal como a pessoa que tem tonturas e muitos outros sintomas de ataque de pânico.
Outro exemplo de Agorafobia, sem Perturbação de Pânico, é quando a angústia abdominal é o
sintoma primário, resultando em hesitação em entrar em situações em que as casas de banho
não são facilmente acessíveis. A angústia abdominal pode fazer parte da síndrome do intestino
irritável, que envolve uma perturbação crónica nos hábitos intestinais e inclui náuseas, cólicas
estomacais, obstipação ou diarreia. Este tipo de sintoma não se deve a uma condição médica e
são muitas vezes intensificados pelo stress, como o stress numa situação de Agorafobia.
Agorafobia também se refere ao evitamento de situações devido a outros sintomas corporais que
não estão na lista de sintomas de ataque de pânico, como perturbações visuais. Uma lista destes
sintomas é mostrada aqui.
A noção central é que a Agorafobia vem de estar ansioso sobre sintomas físicos desconfortáveis
em certas situações. Estas situações são aquelas em que parece difícil lidar com as sensações
desconfortáveis por causa da sensação de estar preso ou de não haver forma de obter ajuda.
É possível estar ansioso e evitar este tipo de situações por razões não relacionadas com sintomas
físicos desconfortáveis. Por exemplo, muitas pessoas recusam-se a voar devido a preocupações
sobre acidentes ou sequestros. Da mesma forma, evitar estar sozinho ou sair da zona de
segurança pode estar relacionado com preocupações de ser atacado, assaltado ou outros perigos
externos. Este documento não foi escrito para este tipo de medos. Em vez disso, é para o medo
e comportamento de evitamento devido a sintomas físicos desconfortáveis e ataques de pânico.
Problemas médicos
Certos problemas médicos podem causar ataques de pânico e controlá-los elimina os ataques de
pânico. Estes problemas médicos incluem hipertiroidismo (glândula tiroide hiperativa). Outros
problemas médicos incluem o uso extremo de anfetaminas (que às vezes são prescritas para asma
ou perda de peso), ou cafeína (10 ou mais chávenas de café por dia). No entanto, estes problemas
médicos são diferentes da Perturbação de Pânico. Na Perturbação de Pânico, os ataques de
pânico não são causados por problemas médicos. (Recomendamos que aqueles que sentem que
sofrem de ataques de pânico sejam submetidos a um exame físico completo para decidir se os
ataques de pânico são causados por este tipo de problemas médicos ou se fazem parte de uma
Perturbação de Pânico.)
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
Há outros problemas médicos que causam sintomas de pânico, mas controlar estes problemas
médicos não elimina os ataques de pânico. Estes incluem hipoglicemia (baixo açúcar no sangue),
prolapso da válvula mitral (vibração do coração), asma, alergias e problemas gastrointestinais
(como a síndrome do intestino irritável). É possível ter um destes problemas médicos, bem como
a Perturbação de Pânico. Por exemplo, baixos níveis de açúcar no sangue podem causar fraqueza
e assim levar ao pânico, mas a correção dos níveis de açúcar no sangue através da dieta não
impede necessariamente todos os ataques de pânico. Por outras palavras, este tipo de problemas
médicos pode ser um fator complicador que existe a par da Perturbação do Pânico, mas tratar
estes problemas médicos nem sempre elimina a Perturbação de Pânico.
Se não fez exames médicos no ano passado, pode ser sensato submeter-se a um exame médico
completo para verificar possíveis causas físicas de sintomas semelhantes ao pânico e identificar
outras condições físicas que possam contribuir para o pânico e ansiedade. Estes fatores podem
então ser tidos em conta durante o tratamento.
Evitamento
Além de evitar situações de que a fuga é difícil ou a ajuda não está facilmente disponível (isto é,
Agorafobia), o evitamento estende-se para evitar atividades. Por exemplo, considere os seguintes
comportamentos:
• Evita beber café?
• Evita medicação de qualquer tipo, mesmo que prescrita pelo seu médico?
• Evita exercício ou esforço físico?
• Evita ficar muito zangado?
• Evita relações sexuais?
• Evita ver filmes de terror, documentários médicos ou filmes muito tristes?
• Evita estar lá fora em condições muito quentes ou muito frias?
• Evita ficar longe de ajuda médica?
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
Usualmente, estas atividades são evitadas porque produzem sintomas semelhantes aos dos
ataques de pânico. Mais uma vez, enquanto o evitamento ajuda a aliviar a ansiedade e o pânico
a curto prazo, contribui para a ansiedade a longo prazo.
Distração
Muitas pessoas tentam "passar" situações ansiosas distraindo-se. Não há limite para os métodos
utilizados para a distração. Por exemplo, se se sente ansioso ou em pânico, envolve-se em:
• Tocar música alta?
• Arranjar algo para ler?
• Beliscar-se?
• Colocar toalhas frias e molhadas no rosto?
• Dizer a alguém que está consigo para falar sobre alguma coisa?
• Manter-se o mais ocupado possível?
• Manter a televisão acesa enquanto dorme?
• Imaginar-se noutro sítio?
• Jogos de contagem?
É provável que estes tipos de distrações o tenham ajudado a ultrapassar um ataque de pânico no
passado e podem ajudá-lo no futuro. No entanto, podem tornar-se uma muleta. Por exemplo, se
esquecer o seu material de leitura, poderá ter de ir para casa buscá-lo. Além disso, a longo prazo,
estas estratégias não são muito úteis. Distração é como colocar fita adesiva em torno de uma
perna de mesa partida sem consertar a rutura.
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
Álcool
Talvez use uma estratégia muito mais perigosa – álcool. Sabemos agora que muitos homens (mais
do que mulheres) bebem para passar por situações em que podem ter um ataque de pânico. De
facto, de um terço a metade das pessoas com problemas de álcool começaram a se
“automedicar” para ansiedade ou pânico. Usar álcool para lidar com o pânico e ansiedade é
extremamente perigoso. Isto porque, enquanto o álcool funciona durante algum tempo, é
provável que se torne dependente do álcool e exija mais e mais do mesmo. À medida que bebe
cada vez mais, as propriedades redutoras de ansiedade do álcool tornam-se cada vez menores.
Em vez disso, a ansiedade e a depressão tendem a aumentar. Se beber para controlar a sua
ansiedade, faça todos os esforços para parar o mais rápido possível e peça ajuda ao seu médico
ou profissional de saúde mental.
Como é que esta intervenção pode ajudar a lidar com o Pânico e a Agorafobia?
Em vez de depender de evitamento, distrações, objetos supersticiosos, álcool ou outros métodos
que não são úteis a longo prazo, esta intervenção é projetada para lhe ensinar formas
construtivas de lidar com o Pânico e Agorafobia. Esta intervenção centra-se em formas de lidar
com o pânico, ansiedade sobre o pânico e evitamento do pânico. O tipo de tratamento descrito
nesta intervenção é chamado de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A TCC ensina
estratégias para gerir ansiedade e pânico. Especificamente, serão ensinadas formas de mudar a
forma como pensa e formas de encarar as coisas que o deixam ansioso, para que não o
incomodem tanto. Para cada conjunto de estratégias, começamos com informações educativas
(psicoeducação) e, em seguida, delineamos exercícios para serem praticados e desenvolver novas
competências. Finalmente, essas ferramentas são usadas para lidar com o pânico e ansiedade no
seu quotidiano.
Serão designadas tarefas para realizar entre as sessões. Assim, a TCC é muito parecida com
frequentar as aulas e continuar a aprender por conta própria, através de um estudo mais
aprofundado entre as aulas. Essa componente realizada fora das sessões é essencial para o seu
sucesso da intervenção.
A TCC enfatiza a interrupção dos fatores de manutenção que contribuem para a sua Perturbação
de Pânico e Agorafobia. Como verá, a intervenção nesses fatores provou ser altamente eficaz.
Um bom começo para a TCC é a informação sobre o que causa ataques de pânico e Agorafobia.
Fatores Biológicos
Primeiro, a pesquisa não sugere que os ataques de pânico se devem a uma doença biológica.
Claro que há exemplos relativamente raros, mencionados acima, onde uma condição médica
causa sintomas que se assemelham a um ataque de pânico, como o hipertireoidismo. No entanto,
os ataques de pânico comuns não parecem ser devidos a disfunção biológica.
Muitas pessoas perguntam se os ataques de pânico se devem a um desequilíbrio químico. Os
neuroquímicos são substâncias no sistema nervoso central, incluindo o cérebro, que estão
envolvidos no envio de impulsos nervosos. Neuroquímicos que podem influenciar o pânico e a
ansiedade incluem noradrenalina e serotonina. Embora este tipo de substâncias possa estar
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presente em maiores quantidades na ansiedade e pânico, não há evidências que sugiram que um
desequilíbrio neuroquímico é a causa original ou principal de pânico e ansiedade. Algumas
evidências recentes usando procedimentos de "digitalização cerebral" (PET) e imagens de
ressonância magnética funcional (fMRI) mostraram que certas partes do cérebro parecem estar
particularmente ativas em clientes ansiosos. No entanto, não é de todo claro se estas descobertas
são o efeito da ansiedade ou a causa da ansiedade.
Por outro lado, certos fatores biológicos que podem ser herdados ou transmitidos através de
genes podem levar algumas pessoas a entrar em pânico. Muitos acreditam que o que é herdado
são partes excessivamente sensíveis do sistema nervoso que levam a uma tendência para
experimentar todas as emoções negativas, incluindo raiva, tristeza, culpa e vergonha, bem como
ansiedade e pânico. No entanto, herdar vulnerabilidades para experimentar emoções negativas
não garante que experimente ataques de pânico ou Perturbação de Pânico. Por outras palavras,
o pânico não é herdado da mesma forma que, digamos, a cor dos olhos é herdada. Se herdar a
estrutura genética dos olhos azuis, então terá olhos azuis. No entanto, não herda a Perturbação
de Pânico desta forma. As pessoas provavelmente herdam uma tendência (ou uma
vulnerabilidade) para pânico que aumenta as chances de desenvolver Perturbação de Pânico,
mas não garante. Além disso, mesmo com uma vulnerabilidade ao pânico, é possível pensar e
agir de forma a evitar que os ataques de pânico se repitam (que é exatamente o que ensinamos
nesta intervenção).
Os fatores biológicos (sejam quais forem) provavelmente ajudam a explicar porque é que a
perturbação do pânico tende a correr nas famílias. Por outras palavras, se um membro da família
tem uma Perturbação de Pânico, então outra pessoa na mesma família é mais provável que tenha
Perturbação de Pânico do que outros na população em geral.
Fatores Psicológicos
Os fatores psicológicos também são importantes. As pessoas que experimentam ataques de
pânico tendem a ter certas crenças que as levam a ter especialmente medo de sintomas físicos,
tais como coração acelerado, falta de ar, tonturas, entre outras. As crenças são que os sintomas
físicos são prejudiciais, quer mentalmente, fisicamente ou socialmente. Exemplos de tais crenças
incluem pensamentos de que um coração acelerado pode significar doenças cardíacas, que a
tontura pode significar que você está prestes a desmaiar, que um estômago barulhento pode
significar que você vai perder o controle das suas entranhas, que emoções fortes significam que
você está a enlouquecer, ou que uma sensação de irrealidade significa que você está perdendo o
controle da sua mente ou enlouquecendo.
As fontes destas crenças não são totalmente conhecidas, mas as experiências pessoais
relacionadas com a saúde e a doença podem ser um importante fator. Por exemplo, os pais que
são muito protetores sobre a saúde física dos seus filhos podem contribuir para um excesso de
preocupação geral sobre o bem-estar físico na criança, que gradualmente se desenvolve em
crenças de que os sintomas físicos são prejudiciais ou perigosos. Ou, a perda súbita e inesperada
de familiares próximos por problemas físicos, como ataques cardíacos ou derrames, pode
aumentar a probabilidade de alguém acreditar que os seus próprios sintomas físicos são
prejudiciais. Outro exemplo é observar outro membro da família sofrer de uma doença
prolongada e grave.
No entanto, as crenças não são a única causa de ataques de pânico. Tal como acontece com os
fatores biológicos, as crenças de que os sintomas físicos são prejudiciais provavelmente
aumentam a probabilidade de ataques de pânico e Perturbação de Pânico, mas não os garantem.
Além disso, este tipo de vulnerabilidade psicológica pode ser compensado aprendendo a pensar
e agir de formas diferentes.
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E o stress?
Para a maioria das pessoas, o primeiro ataque de pânico aconteceu quando estavam sob muito
stress. Além de eventos de stress negativos, como a perda de emprego, o stress também pode
ser positivo, como mudar-se para uma nova casa, ter um bebé ou casar. Isto provavelmente
explica porque é que os ataques de pânico são mais propensos a começar por volta dos 20 anos,
uma vez que é quando tendemos a assumir novas responsabilidades, como sair de casa e começar
novas carreiras e relacionamentos.
Durante períodos de stress, todos estão mais tensos, e até pequenas coisas tornam-se mais
difíceis de gerir. O stress pode aumentar os níveis globais de tensão física e pode diminuir a sua
confiança na sua capacidade de lidar com a sua vida. Além disso, ter de lidar com muitas pressões
negativas na vida pode fazer-nos pensar no mundo como um lugar ameaçador ou perigoso. Por
todas estas razões, uma situação que usualmente pode ser facilmente gerível torna-se muito mais
stressante quando ocorre no contexto de outro stress contínuo. Pense numa mulher que perdeu
recentemente o emprego e cujo casamento está a terminar. Neste contexto de stress, pode ser
muito mais difícil para ela lidar com os atrasos de trânsito do que se não houvesse stress de fundo.
Como resultado, o stress aumenta as hipóteses de ataques de pânico. No entanto, o stress por si
só não é uma explicação adequada. Algumas pessoas não entram em pânico, mesmo estando sob
muito stress. Em vez disso, têm outras reações ao stress, como dores de cabeça, hipertensão
arterial ou úlceras. Parece que eventos stressantes aumentam a probabilidade de ataques de
pânico em pessoas vulneráveis ou suscetíveis ao pânico. Estas vulnerabilidades incluem os fatores
biológicos e psicológicos já descritos.
Além disso, o stress raramente é a razão pela qual os ataques de pânico persistem. Por exemplo,
embora os ataques de pânico possam ter começado durante um período de muitos problemas
conjugais, é provável que continuem mesmo depois de resolvidos os problemas conjugais. Isto
porque os ataques de pânico e a ansiedade tendem a assumir um ciclo negativo de auto
manutenção.
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reações e, portanto, é transportado consigo mesmo depois de concluída a intervenção. Pode ter
fases mais difíceis, mas ao completar esta intervenção poderá lidar com essas fases de forma
muito mais eficaz e voltar ao normal funcionamento mais facilmente.
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Objetivos
Aprender a importância de manter registos; Aprender formas de monitorizar o pânico, ansiedade
e humor
Porque devo despender tempo a fazer registos? Sei que estou ansioso!
Existem muitas razões pelas quais é importante manter registos da sua ansiedade de uma forma
regular e contínua. Primeiro, os ataques de pânico, particularmente aqueles que parecem ocorrer
sem razão real, fazem as pessoas sentirem-se fora de controlo e vítimas da sua própria ansiedade.
Aprender a ser um observador em oposição a uma vítima da sua própria ansiedade é um primeiro
passo para ganhar o controlo. Através de registos, aprenderá observar quando, onde e em que
circunstâncias ocorrem o pânico e ansiedade.
Você vai aprender se os seus ataques de pânico ocorrem quando você está sozinho ou com
outros, depois de um dia stressante no trabalho ou nos fins de semana, no meio do dia ou no
final do dia; se os seus ataques de pânico são provocados por sensações de excitação de assistir
a um evento desportivo na televisão, estar numa área de compras lotada, pensar em coisas
horríveis que poderiam acontecer, ou por relaxar e não ter mais nada a fazer a não ser pensar
nos seus medos. Mais uma vez, compreender os fatores que causam o pânico e a ansiedade vai
lhe permitir sentir-se mais em controlo e menos como uma vítima.
Segundo, aprenderá a compreender a forma como sente o pânico e a ansiedade, em termos do
que pensa, do que sente e do que faz. Isto é muito importante, porque este tratamento é
projetado especificamente para mudar o pensamento ansioso, sensações e comportamentos
ansiosos. Não podemos mudá-los sem saber exatamente o que são.
Em terceiro lugar, a manutenção contínua de registos fornece informações muito mais precisas
do que acontece consigo. Se se perguntar: "Como me tenho sentido ultimamente?". Se descrever
a última semana, pode julgá-la como "muito má" quando, na verdade, pode ter havido várias
vezes em que se sentiu relativamente calmo. Quando a ansiedade está tanto na sua mente, é fácil
esquecer os tempos em que não estava ansioso. Como pode ver, pensar na semana anterior
como "muito má” e ignorar os momentos relativamente "ok" durante a semana é provável que o
faça sentir-se pior e mais ansioso. De facto, tais pensamentos negativos sobre como tem estado
em geral podem contribuir para a ansiedade contínua. Mantendo registos contínuos, não só se
sentirá mais em controlo, como também se sentirá menos ansioso por ser forçado a reconhecer
que o seu estado de humor flutua e que há momentos em que se sente menos ansioso do que
outros.
Finalmente, o registo ajuda-o a avaliar o progresso. Por esta razão, recomendamos que faças
registos continuamente durante todo o tratamento. O registo contínuo permitir-lhe-á apreciar os
ganhos que obtém e ajudará a evitar que ataques de pânico ocasionais ofusquem os seus
progressos.
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
Revejamos todos os benefícios do registo, bem como as razões pelas quais é crucial para este
tratamento:
• Ajudá-lo a sentir-se mais em controlo, por ser capaz de identificar quando e onde os
ataques de pânico são mais propensos a acontecer;
• Identificar as formas específicas em que sente ansiedade – sensações físicas,
pensamentos e os comportamentos;
• Ser capaz de julgar o seu nível de ansiedade e pânico com maior precisão; para avaliar
o sucesso das suas tentativas de mudança.
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
pensamento ansioso, ou um sintoma físico desconfortável. Mesmo que não saiba o que provocou
o ataque de pânico, enumere aquilo que reparou antes de entrar em pânico. Também vai registar
se o pânico foi inesperado ou "do nada", bem como o nível máximo de medo que experimentou
durante o ataque de pânico. Usa uma escala de 10 pontos, onde 0 = sem medo, 5 = medo
moderado, e 10 = medo extremo. Também deve registar cada sintoma que estava presente em
pelo menos um grau leve, os pensamentos sobre o que poderia acontecer, e os seus
comportamentos ou o que fez em resposta ao pânico.
Medo máximo
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
nenhum baixo moderado forte extremo
Assinale todos os sintomas presentes a pelo menos um nível baixo (sublinhe o primeiro que identificou):
1. Palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado
2. Suores
3. Estremecimentos ou tremores
4. Sensação de falta de ar ou dificuldades de respirar
5. Sensação de asfixia
6. Desconforto ou dor no peito
7. Náuseas ou mal-estar abdominal
8. Sensação de tontura, de desequilíbrio, de cabeça vazia ou de desmaio
9. Sensação de frio ou de calor
10. Parestesias (entorpecimento ou formigueiro)
11. Desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (sentir-se desligado de si próprio)
12. Medo de perder o controlo ou de “enlouquecer”
13. Medo de morrer
Pensamentos:
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Comportamentos:
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
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Avalie cada coluna no final do dia, utilizando um número da escala de 0-10 pontos abaixo:
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
nenhuma baixa moderada forte extrema
Registo de Progresso
O Registo de Progresso é um gráfico do seu progresso que está dividido no número de ataques
de pânico por semana e no nível médio de ansiedade por semana. Claro que também pode
registar o seu progresso noutras áreas, como a preocupação com o pânico ou o nível de humor
depressivo. Este Registo de Progresso vai permitir-lhe ver a sua evolução em perspetiva. É útil
mantê-lo num local visível, como o espelho da casa de banho ou no frigorífico.
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Registo de Progresso
Para cada semana, registe o número de ataques de pânico que experimentou, o seu nível médio de
ansiedade e de preocupação com os ataques de pânico.
12
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Semanas
Resumo
Não podemos sublinhar suficientemente a importância de manter registos. Têm de ser feitos
diariamente para obter o pleno benefício deste tratamento. Embora no início tenha de se
esforçar para registar, vai tornar-se mais fácil e até gratificante à medida que o tempo passa.
Ajuda a obterem feedback, e também é benéfico para o seu profissional de saúde mental obter
este tipo de informação. Estes registos serão inestimáveis durante o resto do tratamento, por
isso vale a pena o esforço.
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Objetivos
Aprender sobre a função da ansiedade e do pânico; Aprender sobre as componentes da
ansiedade e ao pânico; Descobrir os seus próprios pensamentos, comportamentos e sintomas
físicos; Compreender os ciclos negativos que contribuem para ataques de pânico e Agorafobia;
Entender como a psicoterapia interrompe os ciclos de pânico e Agorafobia
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Traduzido e adaptado por Pinheiro (2021) de Mastery of your anxiety and panic: Workbook (Barlow & Craske, 2007)
sintomas físicos podem ser agudos, durando um curto período de tempo (como em ataques de
pânico), ou podem ser prolongados, durando horas ou dias (como em ansiedade geral). Além
disso, os sintomas físicos agudos podem mudar de um ataque de pânico para o outro. Numa
ocasião, podes notar sintomas fortes de falta de ar, enquanto noutra ocasião podes, em vez disso,
notar um coração acelerado.
Os pensamentos são crenças, ou coisas que dizemos a nós mesmos, ou imagens da desgraça
iminente ou de algo terrível que está prestes a acontecer. Referimo-nos a estes como
pensamentos negativos. Na maioria das vezes, os pensamentos durante os ataques de pânico são
sobre catástrofes físicas imediatas (como desmaios, morte, ataque cardíaco, tumor cerebral),
catástrofes sociais (como ser ridículo), ou catástrofes mentais (como enlouquecer ou perder o
controlo). Pensamentos durante a ansiedade são sobre coisas más que podem acontecer no
futuro, como a perda de emprego ou ter o pior ataque de pânico de sempre.
Os comportamentos são coisas que fazemos, como andar para cima e para baixo, fugir ou evitar
lugares onde se espera que a ansiedade e o pânico ocorram. Um exemplo de fuga é deixar um
centro comercial assim que as sensações de ansiedade ou pânico se desenvolvem. Um exemplo
de evitamento é não entrar num centro comercial por causa de preocupações sobre ter um
pânico uma vez lá dentro. Outros comportamentos incluem estar à procura saídas de
situações/locais, confiar em objetos que o façam sentir-se melhor (objetos supersticiosos ou de
segurança), ou procurar ajuda (como nos centros médicos).
Estas três componentes diferem, frequentemente, entre os momentos em que está ansioso e os
que entra em pânico. Os pensamentos durante a ansiedade geralmente têm a ver com o futuro
(por exemplo, "O meu chefe pode dar-me uma avaliação negativa no final do ano", ou, "Seria
horrível se eu entrasse em pânico na festa amanhã"), enquanto os pensamentos durante os
ataques de pânico são geralmente sobre a situação imediata (por exemplo, "Vou desmaiar agora"
ou " devo ser louco"). Além disso, os comportamentos ansiosos incluem evitar situações ou
cautela extra (como mapear direções com antecedência), enquanto os comportamentos durante
o pânico têm mais a ver com escapar ou encontrar ajuda. Finalmente, os sintomas físicos durante
a ansiedade geralmente são duradouros e envolvem tensão muscular, inquietação e fadiga;
enquanto os sintomas de ataque de pânico são mais abruptos e tendem a diminuir mais
rapidamente do que os sintomas físicos de ansiedade, e incluem palpitações cardíacas, falta de
ar, entre outros.
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Sintomas Físicos________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Pensamentos _________________________________________________________________
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Comportamentos ______________________________________________________________
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Componentes da Ansiedade
Sintomas Físicos______________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Pensamentos ________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Comportamentos ___________________________________________________________
__________________________________________________________________________
O ciclo do pânico
Sintomas físicos, pensamentos e comportamentos contribuem uns para os outros no que é
chamado de ciclo negativo. Por outras palavras, tendem a levar uns aos outros. Por exemplo,
pensamentos negativos podem aumentar diretamente os sintomas físicos. Se dissermos a nós
mesmos que algo perigoso está prestes a ocorrer (por exemplo, "Estou prestes a ter um ataque
cardíaco"), então a tensão física aumentará porque o nosso corpo bombeia mais adrenalina e
opera a um ritmo mais rápido sempre que enfrentamos perigo. Por sua vez, um sintoma físico,
como um coração acelerado, pode levar a pensamentos mais negativos. Isto é particularmente
provável se você acredita que os sintomas normais de tensão são perigosos (por exemplo, "O
facto de o meu ritmo cardíaco não ter abrandado deve certamente significar que algo está
terrivelmente errado"). Comportamentos de inquietação, ritmo e fuga de uma situação podem
aumentar os níveis de tensão física também devido ao esforço físico que envolvem.
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Usa a grelha Análise passo a passo do ataque de pânico disponibilizada a seguir para entender
um dos seus ataques de pânico recentes. Ao compreender estes ciclos (desde pensamentos
negativos, a sintomas físicos, a comportamentos, a pensamentos mais negativos e mais sintomas
físicos, e assim por diante), desenvolverá uma boa consciência do que causa os seus ataques de
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pânico. Estes registos também o ajudarão a entender que a forma de interromper estes ciclos é
mudar a forma como pensa e responde aos sintomas físicos.
O que aconteceu depois? Como reagiu ao primeiro sintoma físico ou ao pensamento negativo?
Notou mais sintomas físicos, pensamentos mais negativos, ou fez algo, como procurar ajuda,
deitar-se ou sair onde quer que estivesse?
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O que aconteceu depois? Os sintomas físicos pioraram, ficaste ainda mais assustado que coisas
negativas acontecessem?
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Ciclo da Agorafobia
Se está ansioso com os sintomas físicos, é provável que esteja especialmente atento a esses
sintomas à medida que entra numa situação da qual a fuga não é fácil ou em que a ajuda não está
disponível. Por exemplo, pode estar particularmente atento a tonturas enquanto conduz numa
estrada desconhecida. Se tiver medo do sintoma nessa situação, é compreensível que se sinta em
pânico ou tente encontrar uma saída. No entanto, ao escapar à situação, poderá sentir ainda mais
ansiedade da próxima vez que tentar entrar nessa situação, e poderá sentir-se ainda menos
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preparado a estar nessa situação no futuro. Ou seja, o medo foi reforçado porque não aprendeu
que era seguro continuar na situação mesmo que tenha sintomas físicos. Este ciclo de eventos é
apresentado abaixo:
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Objetivos
Aprender sobre as causas dos sintomas físicos do pânico; Aprender que os sintomas físicos do
pânico não são prejudiciais; Entender por que os ataques de pânico parecem vir "do nada"
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Efeitos cardiovasculares
A atividade do sistema nervoso simpático aumenta o ritmo cardíaco e a força do batimento
cardíaco. Isto é vital para a preparação para a ação (para lutar ou fugir) porque acelera o fluxo
sanguíneo, melhorando a entrega de oxigénio aos tecidos e removendo os resíduos dos tecidos.
Os tecidos musculares precisam de oxigénio como fonte de energia para lutar ou fugir. É por isso
que um coração acelerado é tipicamente experimentado durante períodos de alta ansiedade ou
pânico.
Além disso, há uma mudança no fluxo sanguíneo. Basicamente, o sangue é retirado dos locais
onde não é necessário (por um aperto dos vasos sanguíneos) e é direcionado para os locais onde
é mais necessário (por uma expansão dos vasos sanguíneos). Por exemplo, o sangue é retirado
da pele, dos dedos e dos pés. Isto é útil porque, recordando os nossos dias ancestrais das
cavernas, as extremidades são o lugar mais provável para ser atacado e ferido. Ter menos fluxo
sanguíneo significa que somos menos propensos a sangrar até à morte. Como resultado, a pele
parece pálida e sente frio, especialmente em torno das mãos e pés. Em vez disso, o sangue vai
para os grandes músculos, como as coxas, o coração e os bíceps, que precisam do oxigénio para
lutar ou fugir. Os músculos grandes são mais importantes para correr ou lutar.
Juntas, estas alterações físicas fazem com que o coração bata acelerado e a pele se fique pálida
e fria, especialmente em torno dos dedos dos pés e mãos, causando por vezes sensações de
fraqueza nas mãos e pés. Pode sentir frio, mesmo estando um dia quente. São sensações físicas
normais em condições de ter medo ou ansiedade. É um sinal de que o corpo se prepara para
reagir (luta-fuga).
Às vezes, as pessoas relatam sentir-se quentes em vez de frias. As sensações quentes são mais
propensas a ocorrer durante a ativação abrupta do pânico, assim que o sistema nervoso
simpático é ativado e antes que o fluxo sanguíneo seja redirecionado. Os arrepios frios que
acompanham a reorientação do fluxo sanguíneo são mais propensos a ocorrer com ansiedade
que surge lentamente ou de maior duração.
Efeitos na respiração
Outro efeito é que a respiração se torne cada vez mais rápida e profunda, porque o corpo precisa
de mais oxigénio para lutar ou fugir. Por vezes, a respiração pode tornar-se irregular e causar
sintomas inofensivos, mas desagradáveis, tais como sensação de falta de ar ou asfixia, e dor ou
aperto no peito. Além disso, o fornecimento de sangue para a cabeça pode ser diminuído. Embora
esta seja apenas uma pequena quantidade e não seja de todo perigosa, produz sintomas
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Em resumo, as alterações físicas subjacentes aos sintomas físicos de pânico e ansiedade são
protetoras, na medida em que são projetadas para nos ajudar a escapar ou combater o perigo.
Os sintomas são reais, mas não são prejudiciais. Curiosamente, os sintomas físicos são por vezes
sentidos na ausência de alterações físicas reais. Por exemplo, às vezes as pessoas sentem como
se o coração estivesse acelerado quando, na verdade, está a bater a um ritmo normal. Ou, às
vezes, as pessoas sentem-se quentes, mesmo que a temperatura da pele não tenha mudado. Isto
ocorre porque um foco intenso e ansioso nas sensações físicas pode criar a perceção de uma
perturbação física, mesmo quando realmente nenhuma existe. No entanto, ataques de pânico
intensos são quase sempre baseados em mudanças físicas reais tais como resumidos na tabela
seguinte com as mudanças físicas no medo.
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Pupilas (olhos) dilatam. Aumente o campo visual para Olhos mais sensíveis à luz.
procurar perigo.
Menos energia para o Direciona toda a energia para Boca seca, náusea, dor de
sistema digestivo. a resposta de luta-fuga. estômago, caibras e
diarreia.
Pensamentos da luta-fuga
O primeiro efeito da emergência da resposta de luta ou fuga no nosso pensamento é alertar-nos
para a possibilidade de perigo. Um dos principais efeitos é uma mudança imediata na atenção
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para a procura de uma ameaça potencial - paramos de atender às tarefas em curso e analisamos
o nosso ambiente para identificar o perigo.
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orientada para dentro de nós. Por outras palavras, "se não há nada que explique o pânico e
ansiedade, então deve haver algo de errado comigo". Depois, o cérebro inventa uma explicação,
como: "Devo estar a morrer, a perder o controlo ou a enlouquecer". Como vimos, nada poderia
estar mais longe da verdade, uma vez que o objetivo da resposta de luta-fuga é proteger e não
nos prejudicar.
Estes tipos de pensamentos negativos sobre os sintomas físicos do pânico só contribuem, num
ciclo negativo, para pensamentos mais negativos, sintomas físicos e comportamentos de pânico
– ciclo de pânico. Os pensamentos negativos intensificam a resposta de luta-fuga porque o corpo
reage com um impulso de lutar ou fugir quando surge o perigo surge (neste caso, as possibilidades
de morrer, perder o controlo ou enlouquecer). Isto é verdade mesmo que o perigo seja baseado
numa perceção do que pode acontecer - não tem que ser um perigo real. Enquanto pensamos
que estamos em perigo, os nossos corpos reagirão em conformidade. Como resultado, a mesma
coisa que é temida (isto é, o sintoma físico) é intensificada. Ou seja, um sintoma físico é
experimentado, o sintoma físico é temido (porque é considerado perigoso), e como resultado, o
sintoma físico intensifica-se. Isto dura até que o ciclo seja terminado por qualquer uma das
compensações físicas que abrandam tudo (isto é, ativação parassimpático) ou percebendo que
já não precisamos de ter medo do sintoma físico.
Em resumo, os sintomas físicos são temidos por causa de crenças de que são sinais de morte
iminente, insanidade, perda de controlo, constrangimento, e assim por diante. Por sua vez, estas
crenças geram medo, mais sintomas físicos, e uma bola de neve de ansiedade e pânico.
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Quando as nossas avaliações (crenças) sobre os sintomas físicos serem perigosos ocorrem
automaticamente (ou, sem consciência), ou quando o medo está condicionado a sintomas físicos
da menor intensidade aos quais não está ciente que está a responder, então os ataques de pânico
parecem ocorrer do nada. Além disso, lembre-se que os nossos sistemas de luta-fuga estão
projetados de forma a responder instantaneamente. Sem essa capacidade de resposta
instantânea, não conseguiríamos sobreviver, porque, por vezes, os perigos podem chegar-nos
muito rapidamente. A consequência em termos de ataques de pânico é que os pensamentos
automáticos e condicionamento podem acontecer tão rapidamente que o resultado final - o
ataque de pânico - parece que aconteceu sem tempo para pensarmos ou reagir. No entanto, na
realidade, o nosso medo é sempre desencadeado por algo. Ou seja, os sintomas físicos, ou os
pensamentos negativos sobre os sintomas físicos, estão sempre presentes, mesmo que não
imediatamente óbvios.
Isto é verdade mesmo para ataques de pânico que ocorrem num estado descontraído e os
ataques de pânico que nos acordam do sono profundo (isto é, ataques de pânico noturnos).
Durante o relaxamento, as sensações físicas são muitas vezes diferentes do normal, resultando
por vezes em sensações de flutuar ou estar em transe. Se tens medo de sensações físicas
diferentes do normal, então as sensações físicas que tens durante o relaxamento podem
desencadear um ataque de pânico. Ataques de pânico noturnos são experimentados por cerca
de metade das pessoas que sofrem de Perturbação de Pânico. Cerca de 25% têm repetidos
ataques de pânico fora do sono. "Como podem os ataques de pânico noturnos serem
desencadeados por sensações físicas?” Primeiro, é normal ter mudanças nos ritmos físicos
durante o sono. Por exemplo, os batimentos cardíacos e as taxas de respiração aumentam e
diminuem em momentos diferentes durante a noite. Segundo, temos a capacidade de responder
a eventos significativos durante todo o nosso sono. Pense na mãe de uma criança recém-nascida
que acorda em resposta ao menor som do seu bebé enquanto dorme com outros ruídos mais
altos. Outro exemplo seriam os soldados em combate que têm a capacidade de dormir através
do som de aviões aliados, mas acordam ao som de aviões inimigos. Assim, se as mudanças físicas
forem significativas (por outras palavras, se forem assustadoras), é compreensível que as
mudanças físicas que usualmente acontecem durante o sono possam fazer com que alguém
acorde com um ataque de pânico, da mesma forma que os ataques de pânico acontecem durante
o dia. Isto é especialmente provável que aconteça se as mudanças físicas acontecerem quando é
mais fácil ser acordado. Por exemplo, é muito difícil ser acordado na fase de sono profundo e
REM, mas é mais fácil ser acordado nos estágios 2 e 3 do sono.
Assim, um modelo simplificado de ataques de pânico aparece na seguinte Figura.
Mais sintomas
Pânico
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Enlouquecer
Muitas pessoas acreditam que os sintomas físicos de medo ou pânico significam que estão a
enlouquecer. Provavelmente referem-se ao problema mental grave conhecido como
esquizofrenia. Vejamos a esquizofrenia para ver se isto é provável. A esquizofrenia é uma
perturbação grave caracterizada por sintomas tão graves como pensamentos e discursos
desarticulados (como a rápida mudança de um tópico para o outro), por vezes estendendo-se à
fala que não faz qualquer sentido; ilusões ou crenças estranhas; e alucinações. Um exemplo de
uma estranha crença pode ser a perceção de receber mensagens de deus, e um exemplo de uma
alucinação pode ser estar a ouvir uma conversa quando não há ninguém por perto.
A esquizofrenia geralmente começa muito gradualmente e não de repente, como acontece com
um ataque de pânico. Além disso, como esta doença tende a ocorrer em famílias e tem uma base
genética forte, apenas uma pequena percentagem de pessoas pode tornar-se esquizofrénica, e
em outras pessoas, nenhuma quantidade de stress causará essa perturbação. Além disso, as
pessoas esquizofrénicas geralmente mostram alguns sintomas leves durante a maior parte das
suas vidas (tais como pensamentos incomuns). Se isto ainda não foi notado em si, então é
provável que não se torne esquizofrénico. Isto é especialmente verdade se tiver mais de 25 anos,
porque a esquizofrenia geralmente aparece pela primeira vez no final da adolescência, até aos
20 anos. Finalmente, se já passou por avaliações com um psicólogo ou psiquiatra, então pode ter
a certeza de que lhe teriam dito se tivesse esquizofrenia.
Perder o controlo
Algumas pessoas acreditam que vão "perder o controlo" quando entrarem em pânico. Podem
acreditar que ficarão totalmente paralisados e não poderão mover-se ou que não saberão o que
estão a fazer e que vão correr descontroladamente, ferir pessoas, gritar obscenidades e, em geral,
envergonhar-se a si próprias. Ou podem não saber o que esperar, mas podem sentir uma
sensação esmagadora de estar fora de controlo.
Mesmo que ataques de pânico possam fazê-lo sentir-se um pouco confuso e irreal, ainda é capaz
de pensar e funcionar. Na verdade, provavelmente é capaz de pensar mais depressa, e é
fisicamente mais forte, e os seus reflexos são mais rápidos. O mesmo acontece quando as pessoas
estão em emergências reais — pensem em mães e pais que realizam coisas incríveis (como
levantar objetos extremamente pesados) e superar os seus próprios medos intensos para salvar
os seus filhos.
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Às vezes, a forte vontade de escapar ou fugir é mal-entendida como perda de controlo. Por
exemplo, uma pessoa que ia a uma entrevista de emprego quando entrou em pânico mudou de
direção e dirigiu-se ao escritório do marido. Ela acreditava que isto era uma perda de controlo.
Pelo contrário, ela estava em total controlo, uma vez que estava a fazer o que achava necessário
para sentir segurança. Dado os seus medos (pensou que ia morrer), chegar ao marido era uma
coisa natural para ela fazer. A maioria das pessoas faria o mesmo se acreditasse que estava
prestes a morrer. Então, o comportamento foi controlado. O problema era a sua crença errada
de que estava a morrer.
Desmaiar
O medo de desmaiar é comum em pessoas com Perturbação de Pânico, mas desmaiar é muito
raro. O medo de desmaiar é geralmente baseado na crença errada de que sintomas como
tonturas significam que alguém está prestes a desmaiar. Na verdade, o estado de pânico é
incompatível com desmaios. A tensão física (ativação simpática do sistema nervoso) dos ataques
de pânico é o oposto direto do que acontece durante o desmaio. É mais provável que o desmaio
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aconteça a pessoas com baixa pressão arterial ou que respondam ao stress com grandes reduções
na pressão arterial.
Outros mitos comuns ou crenças erradas sobre sintomas de pânico incluem as ideias que podem
levar a um aneurisma, um ataque epilético, ou até à morte por choque.
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