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' Capítulo4

A TECNICA FOCAL

TERAPIA BREVE X TERAPIA FOCAL MM


,,

Na introdução deste livro expressamos nossa insatisfação com ,o


termo PB, na medida em que ele define inadequadamente esta técnica
terapéutica. O _p_va_râm___e_tro quantitativo de "cronometrar” o tempo
dle ___d__u~~ração da terapia não é a melhor forma dñehideÁntifiñcV_a__r__›a_ __t›écrnicar
't'e_rapêut¡ca empregada, uma_vez que outrçs a___spec-tos e características
da técnica de 'PB'sãõ__mÍu"itmomímwaüiske~spmhewõífíé____o”'_s_›'e_~_à_*_›'qua|¡ficari>am mais
._ - ~ ...__..._<

adequadament_e. Por ›¡›s__so preferirmos a denominação ”terap¡a focal",


.- _. ..__..-..w..~._._.__~.M M

já que d_e_s_ta f_o'rmawse" 'enfatiza uma caracter¡'st“'¡c“a"*e””u“m*a “qu"ra"l"¡d'rade


_A-_.A_.._› _-,4 ___ _.-.-

específica dowmwéjÍBdQ Entretanto, devido ao'u_so__chonwsàamgúfawdo do termo, ' sa- ___

cTWomm____e_sm~,o__:"7r'_d_el__rx_ano
_ crharoporeMmqmüqu
/-›" PBíquefmue refiro Él é simplesmente uma Mtera ia a'c_umr.'toxw
,.
paña ¡ - , .__ ,_ _ _,-..._. ..-.H,_..__._,,.--_,.._.. ._-V.V_..____._._-_..'_» _
\ \\ ___y_o__uma ügWSImc____an.___,ar_|,lMsüewencurtmdñav___,____m_a~sr_.§âTm
' >um_a mhcn__¡cv'rg_¡__a_co gguac _-
'.\
_ L.a.,"s_711c,,§...psr._r_ó._,__prias i qu..'_,_se.,.“§._.1_*h_e_ c__oor_.1f._e.rem_.W.e__-s__p_e~c~_¡__
_; "
LcÍIÂdjade e.__ or g_InQa.I_d\__ade- Essa_
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lol͡

'* í yt__e'_c_n_¡Vc›a_espe'õ¡"f'l'c"'ãMtêlmwMcvómqo conseq 'p035| ilídademhdhev atingir


os objetivosíerapéu't'¡cos em prazo mais curto que o das abordagens
tradicionais. '-
' Outros autores também consideram inapropriado o termo PB,
divergindo entretanto quanto à melhor denominação a ser empre-
gada . .. French2 e Devries13 preferem o termo “ps¡coterapia pIani-
ficada"; Szpilka e Knobel77 sugerem o termo ”ps¡coterapia não-regres-
siva"; Bellak e Small6 o de ”ps¡coterap¡a de emergência"; Malan59"*5°'61
alterna os termos “psicoterapia intensiva" e “psicoterap¡a focal",
termo este proposto por M. Balint;“ Ferenczi19 que seria um dos
precursores da PB, denominou sua abordagem de “técn¡ca ativa"; e
Alexander2, que veio a fornecer a base da técnica de trabalho em PB,
chamou-a “psicoterapia psicanalítica".
“Circa" 1940, Atexander causou celeuma no meio psicanalítico
por ter apresentado sua técnica, certamente oríginal e específica, como
TÊCNICA FOCAL 19

..-lx.:":_-_ o quinto período de evolução da técnica psicanalítica. A própria


.Jl'_ escolha do termo para designar essa quinta etapa mostrou-se dupla-
mente ¡nadequada. Ao denomínar o quinto período de “reeduca_ç__a_o_"
em__ocíona|"
_ ____-__.. __C
Alexander ia contra a própria psicana'|ise, que consãdera
o__¡n___con_s_c¡wen_te j_n__educáv__el; por outro Iado, o termo "reed_ucaça"o"
deixou mdrgem a que posteriormente surgisse em__PBV___ _uma corren,_te_
co'm"“a“'b“o'r"c a'g'e'm c_r_og__n_aít__iv_Aa_, voltadaparaaaprendizagemn sociaL
“"*'Tu'do“I"n_*d""ic“a" que apesar de ter deixado explícitado em seu Iivro
básico2 _a originalidade de sua proposta, Alexander nunca chegou a
assumir este fato integralmente, a ponto de reconhecer sua técnica
Acomo índependente da psicana'|ise. '
/ ômg›é.:__:n_çicja__ w __d__e_,*.PB._tem .5,ua_,-_car.a.,c.tqewrkjtlÍWCãnV..d_.¡..51.,..¡~nt1~7'v.a.~.Laseada n_uma
mqç~ .

\ 3 tr'__í_a__d_re__.h___Çonsíderamos como aspectos essenciais e característicoá do


.

- ) métodoz _.9_t_iw'dade, planejam_ent_o e fo_c___o. Esses são os componentes


í da “_tr/a'_ü__r_d_e ____.de PB”Hou da técniCa focaL

ATIVIDADE

Um ponto de concordância geral na a'rea de PB é quanto à necess¡- \


dade deymaíor __ati__v¡da'de por parte do terapeu_ta. Esta atitucie deliberada~
mente m*ais¡^_ativa, em contraposição à postur'a clássica de neutralidadel
._ __1¡_-I-
/
ambiguidíafíek/a_f""e'nwção flutuante do “terapeuta espelho", é um asp_e__c_t0
~-

~_ce_n__t_rral na técnica der PB, onde esta “transgr¡de” v1'scera|m~ente a “regra _,t
de abstinência" da psicana'|ise. '
É certamente diffcil para os terapeutas de formação psicanaiítãca \
abandonar a postura clássica que exige imobilidade e passividade. - Í

aSMewo tve_r__8E.'..e.l..Ltawasc_0Lh_er atuar numa Iinha de PB, ele necessariamenteí


est”a'r°á'_optando por_ maio_r atividade e“'p'art¡c¡pação, sendo necessári/a
a Yadoção de atítudes como:

- avaliar e diagnosticar as condições internas do paciente;


- estabelecer umv foco a serirabalhado durante o processo de PB;
- combinar com o' paciente um_contrato terapêutico discutindo
o foco estz belecído; '
- planejar a estratégia básica a ser seguida durante este determi~
nado processo terapêutico; I ,» r¡ z :›'...« . _ i

- estabelecer _\mÀetas e objetívos teràpêutícos a serem atingidos


ao térmínc do processo de PB;
-- atLar numa línha de focalização que implica interpretações
se|›etiva5, atenção seletiva e “neg|igenciar" sel_et¡vas;
'

- agilizar o processo terapêutico utilizando recursos alternatívos


à interpret ação transferencial clássica;
20 PSICOTERAPIA BREVE

- opor-se ao desenvolvimento de neurose de transferência através


de interpretações que valorizem também a realidade atual do paciente;
- cr_iar um clim.a__que possibilite ao paciente vivenciar seus ímpul-
sos sem a necessidade de lançar mão de defesas para se proteger destes
e da ansiedade por eles desencadeada, ¡sto é, propicíar _E__E,C__._.
"\

terapeu__ta,
-r-|. ..._~_
pela díscussão _d_o_s limjt__e__S__,d.a_t_erapía e formulação düempmranókx
.›_›...,

terape'“u'“t'_l'co a vser atingido ppfatpaçãq focal (ínte__rpwretaçaüoÍãt'e”n"Ção e


“negl¡gênciar" selet_¡vos), quewse to~rnupanpxossufmvwkel em PB a contraposição
aos fatores que conduzem às terapías maís prõTõñgadMasÍ Estes fatores
P.._..)\\.._/

de prolongamento estaríam tanto no paciente como no terapeu'ta.7


Cokmo '~f~_a_›t_no_r__›e__s&_'d›e_p_rolongamme_n~t___o_dp~_pac¡ente destacou: 1- r›__eds¡stênc¡a;
2- so'"5redeterminaçao~whdhõswsíntomas; 3~ necessidade de elab'“o"r'a'çwa"o,'
4- raízes dá neurose na primeira ínfância; 5- tran'_sferênc_ía; 6~ depen-
dêncía; 7- transferência negatíva rêlaçionada comjo término; 8- nêur_ose
de transferência. E do _terapeuta: 1- tendêncía à passividade 'e dispo-
síção de _segu¡r 0 pacíente para onde e_ste o'co'ndu'za"'; 2- lsentido de
íntêmporalidadwe transmitído ao paçíén"t"e";"_3- perfec_c¡on__ismo te'r'a'pêu-
tico e 4- preocupação por ínvestigar progressívamente as-ex~_perwíênc'“ías
maís antigas do paciente. " ' ' "
Nas sítuações de psícanálise a configuração espacial é tal que o '
terapeuta tende a estar fora do âmbíto de vísão do pac¡'ente.ÍEm PB,"
geralmente, não se utílíza o divã e a posíção _frente a frenté torna
menor a ambigüidade da situaçãqUO pawci_e\_n_4__t__e__›__p___o_vd__~e___perceber mais
facílmente a_s _reaç_õe_§ do ~'cerapeu'ca, que alémmdísso não procura m~'anter-
se impassíveL pelo contrário, demonstra deliberadamente algumas de
s__uas re ções _plor e_v_x_p_r__.essão facíal, gestos e posturas corporal, ou mesmo
eaxgwresãlã:_ñ'd.mo"ÍaslÍvreirl._›b__allmeJnte'(veãr "Contra'transfe“r'ên"c'›ia'”';'“'cap1'tulo 5).
~.~ ............,.. ~ ----~---.-
-

.«._

Aguns questíonam o uso de técnícas que vísam_permitir uma


maior criatívidade e flexíbílidade no processo terapêutico consíde-
rando-as como sendo manipulação. Outros ponderam que a avaliação
do paciente, o estabelecimento de um foco de trabalho e 0'p|aneja›
mento terapêutíco seriam intromissões na vida do pacienteJ Muitos
enfim consideram que a técnica de PB, por ser mais atíva, implica uma
posição de maior poder do terapeuta frente ao pacienteIA nosso ver
esse poder não será maior, mas, ao contra'r¡o, menor do que _o_p0der
do terapeuta quetrabalha em linha psicanal ítica clássica, onde o pacíente
é levado a uma postura de regressão e dependência. Além dísso,/consi-
deramos ínerente ao exercício da profissão de terapeuta essa situação
de relativo poder frente ao paciente. Não haverá nenhuma objeção
a essa posição desde que a mesma seja críteríosa e não seja utilizada
em benefícío próprio e/ou em prejufzo do paciente.Í
Em PB as intervenções mais freqüentes e atívas do terapeuta
TÉCNICA FOCAL 21
/ . . . .
,- vnsam hdar tanto com os __a5pectos transferençlals qu_a__n___t_o__com os da
reafidwadex emxute”rr'_n*__'_a“d'o"'_'p*ac¡e'nte, e não só com _fautores regressivoàkomo *
tam___.b_›e'm_ pãrqspectivosl Assím', a um paciente que teve uma cr_¡se
diarréica na semana anterior às férias, o terapeuta diría: ”Você está
'borrando-se de medo' de enfrentar esse per1'odo de férias sem a mi-
nha ajuda. Está diffcil para você dar um crédito de confíança a si
próprio e procurar ver se é capaz de enfrentar os problemas sozinho,
fazendo um 'teste da realidade' e colocando em prova tudo aquilo
que já adquiríu de crescimento pessoal na terapia". Esse tipo de inter-
pretação, se bem que não deixe de Iado a situação transferencial na
medída em que Ieva em conta a possíbilidade do paciente estar apre-
sentando aquela síntomatologia pela ansiedade antecipatória à ausência
do terapeuta, tem enfoque bem menos re_____í____________'_____,ogressivo
e mais voltado a
- W . . ~

_
desenwgvolwmentodas caacndard______g,_es
do acLenlsL do que se a mterpretaçao
fossez ”Você teve essa diarréia para deixar a mamãe preocupada com
o bebê doente, e impedHa de se divertir e ter prazeres". Esse tipo de
interpretação, juntamente com uma maior neutralidade, ambigüídade
e passivídade por parte do terapeuta, visa criar um clima propícío ao
estabelecimento da ”neurose de transferêncía", cuja cura é a própría
essência do processo psícanalftica O gvriocesso da PB entretanto não
passa pela “neurose de transferência". Ele se dá através das EEC, e /
_/
íl

para propícíar um maior número possfvel destas será necessário a


particípação mais atíva do ter'apeuta no processo.
nsW

PLAN EJAMENTO

VLWS
condi ões necessárias para o êxito de uma terapia focal seriam
(ale'm da disg______onibi|id_a e e capacn a e o W'porar_fsenl-
mentos)4_______p___~a
Acaacidade do terapeuta emwâmsentirmühm
comgree__nder o rob ema
W
- -~---.---›-.. ~..... _.-.›- _......¡_.._--.-
o A

do vpacnente em termos dmamlcos e es_tabel_e,çer um


_ __ - m-o te'_gr”aMeutl'c_os...,m",-
e u›”m*"p.“;|;a"n~eíwwamçnkwff
~,....~ A_

"°" Um"_ ~planeja__men_to_t ex Àfyelf


Wí '

^uti eve ser newüariamenw


e mesmo que a estratergía mais ampla que ínclui os objetlvos fun a-
_. __... -.--..._____.~...-._-..r _ ,,

mentaís e enfoquwesnprmciba'"ís“”p"a"'r"a"_~'«u'_m“__"_'___õ'metermlnado cso) ossa manter-


... ..~--u--.¡._M.._._v_-_- ...~..._.._...~
/

se e'“s"s"'ên›c'¡a'.l›m"__'e"n_"t”e' níñaulítérwãMda duvr_a___n_t_e~o tratamento .a_ t _' . - u - ada


-_.-_~.._›__ w m ›dà §m V íw

serãwâgmmfphçwpy_'"___asw§fáv”e›Ímden'ummowdifícaçmoí_e,_a______s, de a._c___ordw_______o
. ......_- -› _v

com ,a____________§_ss
necessncfa“

_s"'u"rg"¡das ao lo'njgófaaiñe:_r_a"__hp"'¡___á___(~vér"cma"sos A e B).


nntw.._w' m . ...-..- -.-. \

Também a corfeta avaliação do paciente é um elemento básíco


no planejamento terapêutico, devendo-se ressaltar que o fato de se
fazer uma avaliação prévia não significa rigídez na estratégia a ser
seguída, nem ¡m'poss¡bilidade da mesma ser revista ao Iongo da terapía.
22 PSICOTERAPIA BREVE

Após o _terapeuta fazer uma adequada avaliação do pacien__t__e_e


__._..___---

e_,_______.___________4___..._._____p°1defzeumstabeleceroretodetrabalhoeve-sar"'“'”"'”""_.a lq_eA_§v,__o_À/vuç_a”o dI'a,_9n0's-


t_Icra,__ou esta,b__e./eamaam_da_can_t__f.â.t.0__g.___e_ÍLLllU6'.d._.avm.entad0 na dÍSCUSSãO
e elaboraç_~a"_ro__~d__o__s__lwlm'_it§a_d_o_to_ç___~
dg o da temar_p_tig/s___D_e›s›_t_a___forma;o_”p”aciente'"e"
o“'ç~_",_Q,p__-'"_a'r't'_'_íc“_¡p›an_›t___e«d_v0 __se_u,_tr,aIamento e am._e..-pml»_ran___ej›___arnãwo fica
-r . M__.__.-

WV
-_._.-__r_ .... , _'.
' v . . evo uçao tem dupla unç”a"'o: lehv"°a“r”"_o':p'a"'c”¡ent_e“
a se eng“'a"]ar”'" com o objetivo do processo terapêutico e estabelecer uma
s"'Í'o¡õ”a“a"lían“çaetraaoque permlta~~____.owbjetívo
_ -_ --a--5-_m___-_--r-.-.-

o s_e_r alcaanjgadg
-_--_..-_---__ unm
_a

_._.....~._ .4~ mww

""Í WEOÍ__aCIenteacelta0 COI.er.apç_^mutl'“çc_,,_§§;c,a__bel_ece~se o que


Braier8
de”“_reg__r"a"___'á_WLcs'§a¡”.
chamou da PB. Essa “regra ba'sica" implica
_._.

umwad ' _ e sele iva tanuewww.Ala'mepuro-"cumÍraüerlãBfaíhar'


atlvampewnmte
_¡_o foco___'e_fs_tab*__em|ec¡d0,._a_t_,r_.a.V._.,eS'ndwewlnÍ.t,e.rpretações_ sele_tivas, da
H ' À 4 ._.._..~._.
. . . - r ~
atenÇao _›seetlva e da neghgencna sele__t¡v.)__e__tamabem.~ag§§__supoe uma
Wtudgsj
_|e't_¡va ído acn aggknaw raze awssunggmtsggrl_a_c_7i\o-

V
comw_
nados ~o fowwcq
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que se convencíonou abordar. V
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AVALIAÇÃO PSIÇOLÓGIÇA : .,'--_*". ' L __
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Uma boa avaLL'a;ça,"Q_p1,s;gfgdmaml'“'›Ànhklcxak do baciente permite ao terapeuta


_._~

planejar uma estratégia que qstabeleça qual a problemática focal que


será trabalhada, a fím de próvmõõawrbfmlem'dlam'nmtesuapwr'o"p"rl"'áñaftwltTde, as
novas experiências nece_ssárias'ao suóesso terapêutico, estabelecendo=s
'portanto a “tríade da PB": atívídade, planejamento e foco -.;tLes.^›
pgntpVsprincipaís n_os quais _se_b_ase›ía a te'cn¡caJ-ecal-da-P.B.
A a'v'aliaça"o psicodinâmica adequada tem outro pape|: o de
permitir que se faça, antes de tudo, ummdçamlca"ão terapêutica. É impor-
tante Iembrar que, não existindo obviamente a panacéia universa|,
nenhuma das técnicas terapêuticas pode ou deve ser índicada índiscri-
minadamente para qualquer caso, em qualquer situação. E a escolhan
do _up_'ü__o _de Vpsí_cote«r_l__ap_i_a m_ais,aM___deq~____uada não será ditada pela sintomato›)-'
IogiaÍphéIqwsíndrome ou pelo quadro clíniõo, màs~sim pelma estrutura
--~› , ......

___4da*_personalidade, pdelas condições egóicas do sujeito. Daí se cwoüknhólu


q"u'e"°-p'a"r"a"" kahlhg'u'n”s' p'a"c›íênwté's""s*'e_'ra"o"wñe'”õe°"s”s'a""r'¡os tr'a'tamentos mais longos,
enquanto que outros irão se beneficiar em prazos mais curtos.
ÍA PB como qualquer outra técnic__g__a si»_c_____potera_~___eu“_t_¡c_____,§1e,anaod".ser
emprerprgada índíscrímínadamente. ara sua índicação é imprescindivel
a 'a~v"”la¡'aça'°“'o_d'ame"s________f'aàtruturadapersonalad““_“eed'as"_c_ondiçõe's'e"'g'0."7¡c'"a"s'_ do
sujeitojr umfa v”e“z””q"u”e"W__W_ "'_.____a____pe'SSe'nc"IaF¡s V_avr_a _o sucesso da__P_B
será 9_p_a__c_i__e_n__.t__e________d›iw9___sohmrglwfecrsoslp _ter6n4..os,.e.wçwpp_t_e_n_c¡___a_us_' __qu._p__e o__ss_a_m\“
vvlrkíser estimuladowspdor __q_ÀEV~C___(ve__r_caso A,*c'›apf1:'u70“'7')*.'~ )
TÉCNICA FOCAL 23

Como Malan,61 consideramos odiagnóstico eavaliação do paciente


essenciais para o_planejamento terapêu_______p______tico
Wf
e ara o estabelecimento
attlca na conduta do caso. Freud, já em 1918, ressaltou a necessi-
fade de se promover mudanças na técnica psicanalftica clássica a fim
de serem atendidos diferentes quadros psicopatológicos.24
A nosologia psiquíátríca clássica tem sido atacada principalmente
pelo rísco je rotulação e estigmatização que pode acarretar. Qualquer
técnica pode ser mal empregada, o que não significa evidentemente
que a m_esma perca a validade. Mesmo considerando o diagno's"t¡co
nosológíco maís descritivo do que explicatívo, a definição de um
sfndrome implica prognóstico de relevância decisiva para a indicação
do tipo de ':ratamento adequado, seus riscos e Iimítes.5“
Claro está que a avaliação de uma pessoa será sempre |_¡m¡tada
por aspectcns culturais relacionados tanto ao avaliador quanto ao sujeito
da avaliaçêo - ambos produtos de suas reSpectivas culturas. Num
estudo sob'e os aspectos so'c¡o-culturais da cíepressãos2 já apontamos
a divergência entre diagno'sticos de depressão e de esquizofrenia em,
diferentes estados dos EUA. É provável que essa disparidade fosse
muito maíor se pudéssemos comparar dados norte-americanos e bras_¡-
Ieiros. Sabeemos também que a avaliação psícológica e/ou psiquíátrica
dependerá do enfoque e da Iinha teórica que o avaliador seguir e que
este fato restringe ainda maís o alcance deste diagno'stico. Apesar
disso, acredítamos que uma psicoterapia baseada numa avaliação
psicológíca será fundamentalmente maís segura que aquela que
prescindir de qualquer levantamento sobre a estrutura de funciona-
mento mental do sujeito.
üO psicodíagnósticq_¡n_ívcial consiste em uma .h._i_g_ó›t_e____se› que pode ser
mudada com a próp'ria evolução da terapia ou com o surgimento de
determínadas situações na vida do pacienteI Alguma teoria da persona~
lidade estará sempre na base de toda avaliação psicodinámica. Tenta~se
compreender o paciente segundo a visão que se tem do desenvolv¡-
mento da personalidade human.a. Estahayvaliação será baseada princi- I

. . 2*_;
palmente no material obtido nas entrev_¡sta_s_p_sinal,__ó_g\~__lcas r__nmnW Pn
tuÍcwasLlsenoo poss¡'vel também utÍlizar-sewde_testes psncoTóQitos como, T
meio complementar de avaliação psicodiñâmica/ A utilização dos "'
testes dependerá das caracterlfstícas do caso (por exemp|o, um paciente
em situação de crise irá necessitar ação terapêutica maís imediata, não
sendo útíl por isso a aplicação de testes psicológícos que poderiam
retardar desnecessariamente o infcio do tratamento); das circunstâncias
__do atendimento e do grau de experiência do terapeuta./'
~Para <› estagiário _em formação a utilização do,recurso do teste
projetivo é de extrema valia, pois acrescenta dados que freqüentemente
poderão ccmpensar sua inexperiência. Esta afirmação base¡a-se princi-
palmente em nossa experiêncía como supervisora no SPA/PUC-RJ.
24 PSICOTERAPIA BREVE

Durante vários anos treinando grupos de estagiários em psicoterapia


de aduitos, registrávamos alto índice de desistência dos pacientes no
início do processo de terap¡a. Nos últimos anos acrescentamos à rotiná
de atendimento não só a aplicação do teste projetivo de Phillipson
como a discussão da avaliação e o estabelecimento de um contrato
terapêutico juntamente com o paciente. Como conseqüência, obser-
vamos um engajamento mais completo do paciente com o objetivo
terapêutíco e a maior segurança do estagíário ao iniciar o tratamento,
uma vez que são maís bem estabelecidos o padrão psicológico do
paciente e o planejamento da terap¡a. Como resultado final observamos
uma m't¡da diminuição no índíce de desístência dos pacíentes.

TESTE DE RELAÇÕES OBJETA|S*

A utilização de instrumentos de díagnóstico psícoiógico é de


_grande ajuda para completar a avaliação psícodinâmica do cliente,
principalmente quando os terapeutas encarrejgdos do atendímento em
PB ainda estão em formação (ver capítulo 7) MOmaterihal _obt¡do através
de um Wteste temático projetivo enriquece sobrem"'a"ñ"e“"¡rwaw __o cõnh”e'c¡mento
da gênese dos problemas do c›"'|íe"nte e de seu psicodinamrismá”ó, p"'ér'm›i-
t'.¡ndo assim u__m_____me|hor estabelecimãento dofoco terapêutico e o plane-
jamento das atítudes éíntervençõesÍdo terapeuta com o objetivo de
propiciar um clima favorável às EEC.
' Temos utílizado o TRO no atendimento de PB em instituição,
segundo modelo usado pelo grupo da Clínica Tavistock de Londres.59
O _T›RO é um recurso que além de _pw_e__rm____¡_tir m_;_e_|_h<o__rw__comr__preensâ'o do
. _....›.._ ._.

_ psicõaThamismq dçá indícações bastanteseguras a.l.r,.e..S_,pe¡to "d<a*s condí~


ções de estrutura da' p"e'r'sona'lidade do paciente e da possibilidade de
_ut¡|¡zaç'ão da PB. " " “" ' '
ÀBrasíL o TRO ainda é relativamente pouco utilizadog›_r,ecaindo
a preferência, en___tre fos,.t.e.s.t_eysmprojetívos temáticos, no TAT "(t'hemat¡c
aperceptíon test, de Murray). '“"”““““*~F
Em 1939 o psícólogo L. Frank empregou pela primeira vez o
termo “técnicas projetívas", procurando englobar um conjunto _de
testes que servem como “um método de estudo da personalídade que
colcca o sujeito díante de uma situação à qual ele responderá de acordo
com 0 sentido que, para ele, esta situação apresente e segundo aqui|o
que sente enquanto respondekgnw_O,__c,ara'ter essencial de uma teLçnica
\l

67
* O teste de relações objetais de Phillipson será designado neste livro pelas
ínícíais TRO.
TECNICA FOCAL 25

p_r_ojk_,e~_tiva está em evocar, sob diversas f_ormas, o que o sujeito é - a


'x"5p'ressa"o de seu mundo pessoal e de seus processos de personalidadev”...33 KJ
í “O termolprojeçãolfoi íntroduzido por S. Freud para defínir um
imecanismo de defesa pelo qual são atribuídos, a outras pessoas do
mundo externo, impulsos, emoções e sentímentos que o sujeito sente
como indesejáveis. A fim de evitar essa conotação de mecanismo de
"-n

'defesa, ímpifcita no termo projeção Bellakl sugeriu - com o objetívo


de dar maior clareza e eXatidão - a expressão “apercepção", com
o sentído de uma ínterpretação sígníficativa e dinâmica que se dá à
percepção. A expressão “,t_e'cn¡ca pm;'et1'va“ porém já estava consagrada
pelo uso e se manteve atékhoje ídent_¡_f¡cando..os._teste_s.qu_e apresentam
commowça_ra_ct__V_e___r"I'›_s,t:'caswpr_incipaisz --í'_“1-'__'eo fato de empregárm estfmulos
r pouco estrut'urados, ambfguovst que dão margem a uma quantidade
quase infinita de apercepçõesí 2l ter como objetivo o exame da perso-
nalidade do indivfduo como um todo;' '3-¡utílízar. conceítos psicanallí
ticos para a elaboração do teste e para a interpretação dos resultados.
Considerando toda classificação como uma forma didátíca -
apesar de sempre arbitráría - de organizar dados da realidade, utiliza-
mos uma classifícação baseada na de L. Frank, com a finalidade de
melhor sítuar o TRO dentre as técnícas projetivasz

- testes projetívos constitutivos - onde o sujeito estrutura c


estímulo não estruturado. Exemplo: teste de Rorschach;
- testes projetivos interpretativos - onde 0 sujeíto expríme o
que a situaÇão-estl'mulo signifíca para ele. Exemplo: .TAT,'
- testes projetívos construtivos - onde o sujeito organiza ou
agrupa o materíal como desejar. Exemplo: Sceno-teste;
- testes projetívos expressívos - onde são vistos aspectos de
comportamento do sujeito tais como gestos, postura, movãmentos, etc.
Exemplo: g_rafísmo;
- testes projetivos de complemento - onde o sujeito deve com-
pletar aspectos deixados incompletos no teste. Exemplo: teste de
resistêncía à frustração (Rosenzweig).

O TRO foi elaborado em 1955 por H. Phillip30n,67 que propôs


qrre seu teste fosse uma fusão do Rorschach e do TAT. O autor conse-
guíu obter estímulos que têm simuêtaneamente a neutraíidade das
manchas do\ Rorschach 'e o poder de dramatização sugestiva das cenas
do TAT, procurando kreuníras c_a›racter¡'st¡cas >co_nstit__utívas*e,int-eu=pre~
_tat¡vas das duas técnica~s projetivag Emwrelàçãão ao TAT, o TRO apre~
senta como vantagens principais a maior ambígüídade dos estímulos
é a menor presença de traços culturaís; em reiação ao Rorschach, o
TRO é maís rapidamente analísado, não requerendo treínamento
26 PSICOTERAPIA BREVE

tão especializado do examinador, além de permitir explorar o drama


dos conteúdos elaborados pelo sujeita65
O T-RO tem sua fundamentação teórica baseada na teoria das
relações objetais de M. Klein e Fairbairn. A análise e interpretação
das histórias pode ser realizada segundo as técnicas de análise de testes
projetivos - como, por exemplo, as propostas por Bellak ou Murray -
ou de uma forma menos estruturada como neferinas, que se proponha
à caracterização dos principais sístemas tensionais inconscientes, isto é,
à análise do triângulo de conflito, onde se busca a força dos impulsos
experimentados, os principais temores e ansiedades oriundos desses
impulsos, e as defesas constitu I'das pelo sujeíto para alíviaresses impulsos.
O TRO consiste em 13 pranchas de três se'r¡es, que se distinguem
por conter padrões de claro-escuro, de sombra e de cor diferenciados,
equivalentes aos de Rorschach.. As pranchas da série A apresentam
sombreado claro, a série B apresenta claro-escuro contrastante,
enquanto a série C introduz elemento de cor. Cada série (A, B, C)
apresenta quatro situações de relações objetais ba's¡cas: séríe (1) situa-
Ções de uma pessoa; série (2) situações de duas pessoas; séríe (3)
situações de trés pessoas e série (G) situações de grupo. Completando as
13 pranchas, temos por último uma prancha em branco.

FOCO

\ (Def¡ne-se como foco o materjal...conscien.Iemajnconsciente do


paciente, delimitado como _,__4a'rea r__a_v_swe_r'_4t“rf_ab_al_h__a_\d__a_ no processo terapêutico
a.t'4r"'a›v”“e's de avaliação e planejamento pre'v¡os._5
*' De acordo com MaIan,I“o objetivo ou foco deve ser formulado
idealmente em termos de uma interpretação essencia|, na qual se baseia
a terap¡a. Persegue-se esse foco . . . guiando-se o paciente para o mesmo
\ medianter i__n_terpretação seletíva, _atenção seletiva e “n.eglige“ncia" seletíva;
se o material admite mais de uma interpretaça"o,' sempre eácolher
aquela em consonância com o foco e se negar a ser desviado do objetívo
por material aparentemente não relacionado com o foco, por mais
tentador que este seja".59/
|1Focalizar significa que o terapeuta vai tentar levar o paciente a \

N trabalhar emocionalmente em especial uma área previamente deter-


_m~_inada.\.P_..ara atingir esse objetivo ou alvo, o terapeuta lançará mão
principalmente de três\recursos.te'cnicos: 1- interpretação seletiva,
TÉCNICA FOCAL 27

onde se prccura int_e_rpretar sempre o material do paciente em relação


ao conflito focal;"2'_-)atenção seletiva (em oposição à “at_enção f|u- /
tuante" da técnica 'ps¡canall'tica), através da qual se busca" todas as
possíês reíações do material que o paciente traz com a problemática --;
foca|;t-“n-.=gl¡gênc¡a" seletiva, que vai Ievar o terapeuta a evitar qual- '
quer erial que, mesmo sendo interessante, possa desv¡á-Io demais
da meta a ser atingida.
\_F_oco é o alvo que o terapeuta busca atingír ao centrar sua atenç_ão/
__em_sm_u___aa__aç__a"_\vo _em uma determinada área, procurando transformar essa
área numa figura pregnante - de acordo com as Ieis da boa forma,
_.~ da teoria dzu gestalt - que se sobressai em relação a um fundo menos
;- d'emarcado. Tudo se passa como num trabalho de fotografia, quando
Q se destaca uma figura escolhida em relação ao fundo que por isso
i mesm0'se tc~rna menos nI'tido.
Q Exemplo de um foco e planejamento terapêutíco estabelecidos
após duas entrevistas de avalíação e a aplicação do TROz paciente de
Í 28 anos, solteiro, operador de computador com queixas de indef¡-
níção profís.-;¡onal.
>

Foco: dificuldade de identifícação com a figura de autoridade


Xmasculina levando a uma fragilização de' identidade.
Planejamentoz facílitar a transferência positiva por parte do
cliente; oferecer a fígpWoeraeuacomOIuramasculina de autori-
dade substituta e prover uma experiêncía emocional de sinceridade
,. e respeito, que ___,;a/acorri' experiência anterior com um pai debochado
e gozador.
j Foco s:eria o fim que se pretende atingir com o processo tera- /
pêutíco; enquanto que o planejamento (como a forma de se trabalhar "
o foco), indica o meio de se atingir esse fimITal afirmativa implica
assumir a "transgressâ'o" denuncíada por Rosolato,7° de que os fins
justificam cs meios, sendo que obviamente deve ser feita a ressalva de
se considerar os Iimites impostos pela ética.
_ Pesquinas realízajds na lenica Tavistock59›°° indicaram que a /
Ípresença dc binômio alto fndice de Vmotivação por parte do paciente '
e fo_co bem estabelecido - determinava o;s'u7ce'sso terapêutico da PB.[
Conforme salientou Sandler, “a na"o-confiab¡|idade do desejo de melho-
rar como L'n¡ca base da alíança~terapêutica é posta em destaque, na
bibliografia psicanall'tica, nas descríções daqueles casos que interrom-
pem o tratamento tão logo haja um graude alfvio de sintomas".71
, Temos obseervado também que além da motivação elevada e da focali-
zação adequada, para que uma PB seja bem sucedida em prazo relati-
vamente pequenoíé necessário um-terceiro aspectoz uma boa avaliação
da ~estrutura de personalidade do _pacient_e, a fim de se averiguar se
ele dispõe de ádequado po't'e"'n'c¡al de 'reclu"rsos egóicos que permitam
enfrentar uma psicoterapia desencadeadorà de ansiedade (ver cap I't_u|o 6)Í

.k*›'_\
28 PSICOTERAPIA BREVE

CONFLITO FOCAL X CONFLlTO NUCLEAR

Fiorini21 e Braíer8 procuraram discriminar temos que são comuo


mente usados em PB: _mot¡vo da consulta,__sj_t_u>aç_ã'úo-p›rob|ema,_hipo'teseb
psicodínâmica inícial, conflito foca|, cbnflito prima'río, ponto Ade
urgêncxia ' '
'
./ Numa primeíra entrevista, o que se vai procurar compreender é
a que¡x'a princ¡p_al,, isto é o motívo que traz o cliente à consulta._ E a
situaçãopwroblema apresentada, geralmente se refere a situações e
fatores manifestos, que levam o sujeíto a queíxar-se de síntomas
subjetivos., _ v '
_
_O terapeuta irá encarar o problema apresentado através de uma
hipótese psicodinãmica in'¡c'”1a'/ ie certamente essa tentativa de com-
preensão global da psicopatologia e da psícodinâmica do paciente
estará baseada na corrente teórica adotada pelo profissíonal._B___as__ea_ndo-se
nesta hipótese psícodinâmica iniciaL _o t_er_apeuta tentará cítcunscréver
o conAHito f_oca/._ Em PB não se trabáiha necessariamente abrangendo
toda a hípótese psícodinâmica, mas procura-se delimitar aspectos
centraís, ainda que parciaís, desta hipóte e maãs completa sobre o
pacíente, através da delimítação do foco. Graficamente poderíamos
representar a hipótese psícodinâmica ínícial como um conjunto maior
no quai estivesse inserido um subconjunto menor representando o foco
DU confíito focaLÍ
A posíção de Braíer quanto à medída que o conflito focal iida com
- o conflitq__prim__a'r¡o (ou çonflito nuclear ou conflito primário I'nfantil),
é _d"e" qu*'e" se trabalhe em PB somente com derívados do conflíto
nuclear, e de que a escolha de quais conflitos derivados devam ser
tratados recaía necessariamente sobre os que prevalecerem por sua
urgêncía e/ou ímportância. Para ele só excepcionalmente em alguns
tratamentos breves se,r,¡'a possívei vlevar-se o pacíente a enfrentaro
confiíto prímárío, e nessas círcunstâncías entãd o t'erapeuta devería
empreender um trabalho interpretatívo cauteíoso de 'certo"s compo-
nentes do conflíto e em especíal dos que estão diretamente vinculados
com a problemática focaL Díscordamos desta posição por considerar
que o foco de trabalho deva incluír o conflito nuclear propriamente
dito, na medida em que a elaboração dokconflito nuclear emEB pode
ser feita a m've| de ego inconscLeÚntsre/ou°'p"“ré-consciente por meio de
EEC, obtidas através da vivêncía do conflito primário atualizado e
revivido no conflito focal (ver caso cl ínico no final deste capftu|o). .
l Em PB owponto de urgéncia pode ser extrafocal ou I_'n____kt_rafocal.
Ponto de urgêncía ínfrafocal refere~se a uma sítuação que requexr a'ten-
Ção esp'ec¡a|, mas que está vinculada ao conflito focaL Como exemp|o
vemos a situação da gravidez não pianejada do caso A (ver capítulo 7).
TÉCNICA FOCAL 29

P__onto .de urgência extrafocal é uma situação urgente e/ou traumátíca


que por circunstâncías atuais passa a predominar naquele momento da
vida do pacíente, mas que não está necessariamente ligada ao conflito
focaL Será necessário |idar com aquele aspecto como uma situação
de crise, não sendo aconselhável prosseguir-se o trabalho de focalízação
sem se dar atenção ao materíal urgente. '

PROFUNDIDADE XSUPERCIALIDADE DA PB

_ F. Alexander2 tentou abalar alguns “dogmas'_' psicanalítícos a


respeito da profundidade de uma psicoterapia ser necessaríamente
proporcional à duração do tratamento e à freqüência das sessões.
Ultímamente, questiona-se mais acírradamente o prolongamento
desnecessário dos tratamentós psicoterápicos na medida em que se tem
constatado que os resultados terapêuticos obtídos através de trata-
mentos mais breves não são necessaríamente maís superfícíais e menos
estáveis do que os obtidos com tratamentos prolongados.
Na questão da profundidade ou não da técnica de PB, um aspecto
¡mportante é o da possibilidade de se |idar com a problemática básica
do pacíente, ou conflíto nuclear. Frente a esta questão polêmica os
terapeutas colocam-se num espectro que vaí de um pólo mais radical
a um póló maís conservador. Os terapeutas que adotam uma posíção
mais renovadora consideram possível a resolução da problemática
central do pacíente através da PB, ou pelo menos de' aspectos impor-
tantes da sua patolog¡a, já que a elaboração do conflito focal geralmente
abrange o conflíto nuclear._ Por outro lado, os terapeutas mais conser-
vadores consíderam que a PB trabalha apenas com partes ou derivados
do conflíto nuclear ou primário e não com o própri0. No extremo
'conservador, encontramos alguns terapeutas que aiém de não consíde-
rarem possível trabalhar o conflito nuclear através do trabalho do
conflito focal, só conseguem ver na PB a possibilidade de cura de
sintomas. Em contraposição a esta op¡n¡ão, tem-se a colocação de
Jurandír Freire a respeíto da PB se restringir ao tratamentó sintomático.
Diz eie “ . . . Um sintoma é a manifestação visível e sensível de uma
estrutur.a, e a estrutura ela-mesma. Mais ainda, um sintoma sintetíza
um conflito presente e uma históría conflitual passada, ele é um resumo,
um instantâneo da vida do sujeito . . . Se a PB consegue fazer com que
o sintoma desaparêçano ato de cura, ou sua estratégia foi bem suce-
' dida, o síntoma foi suprimido e com ele o funcionamento patológicu
que lhe deu orígem, ou sua estratégia foi maI sucedida, o sintoma pod^e
desaparecer, mas deu lugar a uma "s¡ntomatízação" do ego ou do
caráter, problemas psicopatológicos bem mais graves. No primeíro
30 PSICOTERAPIA BREVE

caso, quer queira, quer na"o, o terapeuta agiu sobre a estrutura. Neste
sentido, a psicoterapia obteve um efeito terapêutico pleno, e não há
porque imaginar que a psicanálise faría melhor . .. a diferença entre
psicoterapia e psicanálise não se estabelece em torno da 'superficía-
Iidade' de uma e da 'profundidade' de outra . .. a escolha técnico-
teórica de uma psicoterapia ou de uma psicanálise depende da demanda
do cliente, do diagnóstico clínico e dos respectivos Iimites de cada
uma das técnicas".38
,›

ALTA X CURA EM PB

O êxito terapêutico pleno a que se refere J. Freire deve-se às


EEC obtidas durante a terapía por PB. A EEC seria a resposta para a
pergunta de Braier8 sobre a natureza deste processo terapêutico que,
conforme ele mesmo reconheceJleva às vezes awmudanasr
in_6_____~____f____g_clusiveda
estruturadaersonalidade, sem que tenha havído trabalho
elaorativo e conhecimento gdxàTaeneedo problema./
S_e o conflito focal for resolvido pelo paciente (seja em níveis
consciente, pre'-consc¡ente ou inconsciente) as conseqüências não
vão ficar necessariamente restritas ao foco estabelecido._Existe a poss¡-
bilidade de que este fato tenha repercussões maiores, provocando
"mudanças em outras áreas da _v_¡_da _do pacíente. Às repercussões pos¡-
't¡vas que irão ocorrer a posteríorí farão parte do processo de transfor-
mação do paciente, que uma vez desencadeado pelo tratamento amplíará
constantemente os ganhos terapêuticos já obtidos. Assim é que as
mudanças internas conseguidas em relação ao foco poderão ser poten-
cializadas por meio das EEC da vida diária do paciente, orientando-o
para mudanças significativas na estrutura da sua personalidadez A PB
nãvo busca como meta terapêutica a reestruturação global da persona-
lí_d_ade',“'como propõe a psicanálise. Porém ao se trabalhar determínado
foco, muitas vezes provoc'a-se uma reação em cade¡a, que vai levar o
paciente a uma reestruturação interna mais completa. Se encararmos o
ser humano de uma forma globalízante, como uma-gesta/t, verificaremos
que a mudança de qualquer parte provocará necessariamente a modí-
fícação do todo. Este fato trazà discussão a definição de alta terapêutíca.
O conceito de alta e cura é bastante delicado, ainda mais que em PB a
alta não está obrigatoriamente vinculada à reestruturação global da
personalidaderEm PB define-se um objetivo terapêutico, razoavelmente
circunscrito, buscando-se o desenvolvimento posítívo de determinada
área da personalidade e/ou vida do pacientell A alta vai ser dada em
função da resolução do conflito focal, e nãro Aseráár restrita ao desapare-
TÉCNICA FOCAL 31

cim__ent_o d__o ::into_.maPara poder avalíar se o conflito focal foi resolvido


com êxíto saelo >pá/ciente, o terapeuta irá se basear em parâmetros
prevíamente estabelecidos nos objetivos terapêuticos anteriormente
de'|¡mitados. O objetivo terapêutico restringe-se ao foco de trabalho,
porém não sa Iimita à cura sintomática. Espera~se que a reforma de uma
área atingide possarggracnreperÇMUSSÕes qru*"_e'Í'le~_'_v'~em a mudanças positivas
em outras á"re"_a_s.'da vida e da personalidade do pa-c'ien_te_. ' "

'
7"E'm"' 'PB' não se pode protelar a alta para quandb ocorrer a melhora
global do pav:iente, com a reestruturação da sua personalidade. Parte-se
do pressúposto que as reações em cadeia iniciadas pela terapia irão
deflagrar mecanismos internos que darão seguimento ao processo
iniciadop- como no jogo de sínuca, onde a tacada em uma bola pode
movimentar diversas outras. Estudos de fo//ow-up em PB apontam
mUdanças pnsitivas da personalidade de pacientes, vários anos após o
término da terap¡a, sem que tenha havido outra intervençãg terapêutica
neste perfod«3.

CASO CLÍNICO

Procuraremos ilustrar os conceitos emitidos através do relato


de um atendmento de consultório.
Trata-se de uma adolescente que foi atendida uma vez por semana,
durante 14 meses. Foram feítas duas entrevistas de avaliação, uma
com a pacie1te e outra com seus pa¡s. As freqüentes crisestemgupro
e Wensxeüd'e de M (qumxa-pnnoopaLo_u_m""ot_iv__o___d,_a,Jznnxsultm
causaram a procura de auxílio psicológico. M relacionava su_,a___ans¡edad'e
à carga excessiva dewesvtudos. Tinha __d›if_¡_ç__u4lc|__av_,yd__e,§_hm_~e_n_Vf_r_entar _o.s_exames
escolares meesmo quando estudava o suficiente, sofrenwdo crises de
choro na véspera ou na hora da prova W-'"°'r_o___blema).
, No ano anterior, M havia passado a dormir no quarto dos pa¡s.
Era a filha 3açula ”temporona" de um casal que se mantinha unido
apenas por p'incípios religiosos e razões sociais, não tendo praticamente
mais relacionamento afetivo e sexual. O pai parecia compensar essa
carência apegando-se excessivamente à paciente, ciceroneando-a em
todos os lcca¡s. A configuração edípica deste relacionamento era
gratificante ':anto para o pai como para a cliente e além dísso parecia
ser também inconscientemente incentivada pela mãe. Esta provavel-
mente procurava dimínuir sua frustração, justificando conveniente-
mente a ausência de relações sexuais do casal pela presença da filha
no quarto, de tal forma que, em vez de estimular as tentativas frustradas
da paciente em voltar a dormir sozinha em seu próprio quarto, tendia
32 PISICOTERAPÍA BREVE

a incentivar a sua permanência no quarto conjugal ou a prejudícar


sua saída usando seu quarto como depósito de materíal velho. M não
tínha namorado e seu grupo de amígos era restrito. Não fazia pro-
gramas comuns da adolescência e estudava durante toda a semana,
passando o's fins de semana com os país em um _s¡'tío isolado. O com--
plexo de Edípo (h.ipót_es__e psicodinâmica im'cía|) foí trabalhado através
do medo que a"'pac¡ente tinha de se ver índependente (foco), _cL_u_e
ínclüfa o medo íncestuoso-de perder o amor do pai tão desejado
(conf|íto primár¡o).
Ao se trabalhar numa técnica focal, cujo pressuposto teóríco-
prátíco é o da EEC, não é necessário que o paciente venha a entender
completamente as rafzes e causas determínantes do seu problema.
Porém o conflíto fo.cal,› e através dele o conflíto pn°ma'río, deverá ser
vãvído através das EEC tanto íntra como extraterapêuticas. Durante
o período de tratamento, M as teve em várías círcunstâncías, como, por
exemplo, nas tentativas e fínalmente no sucesso em deixar o quarto
dos pais, e na aceítação da realídade do relacíonamento dífícil entre
eles enfrentando esse fato sem tender a responsabilizar-se pelo mesmo.
A résolução da problemática edfpica ocorreu sem elaboração e
conscíentização do problema, o que seria indispensável para a caracte-
rizaçâo da cura em um processo psícanalftico cla'ss¡co. Mesmo sem ter
tido conhecímento compieto da sua problemática edípica e das origens
de seus ¡mpulsos e desejos incestuosos, através das EEC que lhe perm¡-
tiram princípalmente vivenciar o sacrífício da autonomia de sua vída,
conseguiu suplantar suas difículdades e atíngir um estado de satisfação
intema razoáveL Não sentíndo mais a ansíedade dífusa que a levava
a constantes críses de choro, passou a dorm¡'r sozínha, ampliou seu
círcuío de amizades e teve seus primeíros namoros. Um ano após a
alta, a paciente continuava a aumentar seus ganhos pessoaís.
Lemgrubar, Vara B. -
Psícoterapia breva: a técnica focaL Porto Alagre, Artes Má-
áãcas, 1984.
99p. 23cm.

1. Psicoterapia. Lt.

C. D. D. 616.891 4
C. D.U. 615.851

l'ndices para o Catálogo Sistemático

Psicoterapia 615.851

lBibOíozecária responsáwiz Sonia H. Víeíra CRB~10I526)


VE
Psiquiatra
B. lEMüBIlBER
Mestre em Psicologia Clínica
Professora do Departamento de Psicología da PUCRJ

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36 Edição - Revísta

PORTO ALEGRE/1990

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