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Epicteto
1ª edição — setembro de 2021 — cedet
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e-mail: cedetusa@cedet.com.br
editor:
Ulisses Trevisan Palhavan
revisão:
Henrique Bernardes Rodrigues
preparação de texto:
Letícia de Paula
capa:
Nelson Provazi
diagramação:
Virgínia Morais
leitura de prova:
Paulo Bonafina
Marcos Valente Carvalho da Silva
Flávia Regina Theodoro
conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
FICHA CATALOGRÁFICA
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Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta
edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia,
gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
Sumário
Introdução O que são coisas indiferentes no estoicismo de Epicteto e qual a
atitude correta diante delas
Lições de um estóico Seleção e tradução dos originais gregos feita por Aldo
Dinucci
diatribe . Sobre as coisas que estão e as que não estão sob nosso controle
1 1
diatribe . Como
1 3 chegar às conseqüências da tese de que Deus é pai de todos os
humanos
diatribe .
1 29 Sobre a serenidade
diatribe .
1 30 O que é preciso ter à mão nas dificuldades?
referências
Notas de Rodapé
Introdução
O que são coisas indiferentes no estoicismo de
Epicteto e qual a atitude correta diante
delas
(1) Os materiais são indiferentes, mas o uso deles não é indiferente. (2) Como
então alguém se manterá simultaneamente equilibrado e sem agitação,
simultaneamente agindo com cuidado e não ao acaso nem sendo arrastado? (3)
Sem imitar os jogadores de dados. Os números são indiferentes, os dados são
indiferentes: então sabes qual número está para sair? Fazer uso do número que cai
com cuidado e habilidade, eis aí a minha tarefa.
(4) Do mesmo modo, portanto, o principal sobre a vida é isto: distinguir e separar
as coisas e dizer: “As coisas exteriores não estão sob meu controle, (5) a
capacidade de escolha está sob meu controle. Onde buscarei o bem e o mal? Nas
minhas coisas”. Quanto às coisas de outrem, jamais as chames de boas ou más,
benéficas ou nocivas, ou qualquer outro nome semelhante. (6) E então? Devo fazer
uso das coisas exteriores de modo descuidado? De modo algum, pois isso, por sua
vez, é um mal para a capacidade de escolha e, desse modo, contrário à natureza.
(7) Mas devo fazer uso das coisas exteriores simultaneamente com cuidado,
porque o uso não é indiferente; simultaneamente com equilíbrio e sem agitação,
porque a matéria é indiferente. (8) Pois onde há o que não é indiferente, aí não se
pode ser obstaculizado nem constrangido. Onde sou obstaculizado e constrangido,
a obtenção da coisa não está sob o meu controle, nem a coisa é boa ou má; mas o
uso dela é bom ou mau e está sob o meu controle. 6
(17) Mas se pegamos ou jogamos a bola com agitação e medo, que tipo de jogo
será este? Como permaneceremos equilibrados? Como veremos a seqüência do
jogo? 11
Aldo Dinucci *
Lições de um estóico
Seleção e tradução dos originais gregos
feita por
Aldo Dinucci
Manual de e picteto
Capítulo 1
(1) Das coisas, algumas estão sob nosso controle, 141 outras
não. Estão sob nosso controle o juízo, o impulso, o desejo, a
repulsa — em suma: o quanto for ação nossa. Mas não estão
sob nosso controle o corpo, as posses, a reputação, os cargos
públicos — em suma: o quanto não for ação nossa. (2) As
coisas que estão sob nosso controle são por natureza livres,
desimpedidas, desobstruídas. As que não estão sob nosso
controle são fracas, escravas, obstruídas, de outros. (3)
Lembra, então, que, se pensares livres as coisas que são por
natureza escravas, e tuas as que são de outro, tu te farás
obstáculo, chorarás, inquietar-te-ás, censurarás tanto os Deuses
quanto os homens. Mas se pensares teu unicamente o que é
teu, e o que é de outro, como efetivamente é, de outro,
ninguém jamais te forçará, ninguém te impedirá, não
censurarás ninguém, não acusarás ninguém, nem, uma vez que
seja, agirás constrangido, não terás inimigos, ninguém te
causará danos, pois não sofrerás nada prejudicial. (4) Então,
almejando coisas tão importantes, lembra que é preciso não te
empenhares de modo comedido, mas abandonar
completamente algumas coisas e, por hora, deixar outras para
depois. Porém, se queres tanto as coisas importantes quanto
comandar e enriquecer, talvez não obtenhas nenhuma destas
coisas, porque almejas também as importantes, e não atingirás
de modo algum aquelas coisas das quais unicamente resultam a
liberdade e a felicidade. Então, pratica dizer prontamente a
toda representação 142 em estado bruto: “És impressão e de
modo algum és o que se apresenta”. Em seguida, examina-a e
julga-a por essas regras que possuis, em primeiro lugar e
principalmente se está ou não sob nosso controle. E, caso esteja
entre as que não estão sob nosso controle, tem à mão que
“Nada és em relação a mim”.
diatribe 1.1
Sobre as coisas que estão e as que não estão
143
sob nosso controle
(7) Desse modo, como era devido, os Deuses 147 puseram sob
nosso encargo apenas a melhor de todas as capacidades, aquela
que comanda, aquela que usa corretamente as representações.
As demais não estão sob nosso controle. Então isso é assim
porque os Deuses não quiseram colocar as demais também sob
nosso controle? (8) Parece-me que, se pudessem, confiariam a
nós as demais, mas absolutamente não o puderam. 148 (9) Pois,
estando nós sobre a Terra, e tendo sido unidos a tais corpos e
tais companheiros, como seria possível, em relação a estes, não
sermos entravados pelas coisas externas? E o que diz Zeus?
(10) Epicteto, se fosse possível, faria o teu diminuto corpo 149 e
as tuas diminutas posses livres e desembaraçadas. (11) Assim,
não te esqueças: este corpo, argila finamente trabalhada, não é
teu. (12) Mas já que isso não pude te dar, dei-te uma parte
nossa: a capacidade para o impulso e o refreamento, 150 para o
desejo e a repulsa 151 . Em suma: aquela que faz uso das
representações. Se cuidares dela e nela colocares as tuas coisas,
jamais sofrerás entraves, jamais serás impedimento para ti
mesmo, não te queixarás, não censurarás ninguém, não
adularás ninguém. (13) E então? Essas coisas 152 te parecem
insignificantes? De modo algum! E tu te contentas com elas?
Juro pelos Deuses que sim! 153
Mas aprisionar-te-ei.
Decapitar-te-ei.
Quando eu te disse que meu pescoço é o único que não pode
ser cortado? (25) Os que filosofam devem praticar essas coisas,
devem escrever a cada dia sobre elas, devem exercitar-se nelas.
163
Trásea 164 costumava dizer: (26) “Prefiro ser morto hoje a ser
eLivros amanhã”. E o que lhe disse Rufo? 165 (27) “Se
escolheres a morte como a pena mais pesada, que loucura de
escolha! Mas se como a mais leve, quem te deu tal escolha?
Não desejas praticar o contentamento com o que te foi dado?”
166
diatribe 1.2
Como manter o caráter próprio 170 em todas
as circunstâncias
Para o animal racional só é insuportável 171 o que é irracional.
Por outro lado, o que é racional 172 lhe é suportável. (2) Por
natureza, pancadas não são insuportáveis.
Mas para que Prisco foi útil, sendo apenas um? Para que é útil
a linha púrpura em relação à toga? 185 Pois que outra coisa se
apresenta em Prisco notável como a linha senão o belo
exemplo que expõe aos demais? (23) Outro, quando César 186
lhe falasse em tais circunstâncias para não ir ao Senado, diria:
(24) “Dou-te graças por me ter poupado”. Talvez César nem
mesmo impedisse tal indivíduo de ir ao Senado, já que saberia
que ele iria sentar-se calado como um túmulo ou, se falasse,
diria o que sabia que César queria ouvir, e acrescentaria ainda
outras coisas mais.
(34) Então se somos assim por natureza, 192 por que nem
todos nem muitos se tornam tais? E por acaso todos os cavalos
se tornam velozes? Todos os cães se tornam farejadores? (35) E
então? Se eu for naturalmente sem talento, deverei por causa
disso pôr de lado o cuidado? (36) De modo algum. Epicteto
não será melhor que Sócrates, mas se eu não o for, ser-me-á
suficiente não ser pior. (37) Pois não serei Milão 193 e nem por
isso descuido do corpo. 194 Pois não serei Creso 195 e nem por
isso descuido das posses. Nem, em geral, deixamos de cuidar
de alguma outra coisa por não esperarmos ser os melhores.
diatribe 1.3
Como chegar às conseqüências da tese de que
Deus é pai de todos os humanos
(1) Se alguém simpatizasse — como se deve, dado o mérito —
com a opinião de que todos primariamente nascemos de Deus,
e de que Deus é pai dos humanos e dos Deuses, penso que não
ponderaria nada sórdido ou abjeto sobre si mesmo. (2) Se
César 196 te adotar, ninguém te olhará com desdém, mas se
souberes que és filho de Zeus, não te exaltarás? (3) Na
verdade, não fazemos isso, visto que estes dois elementos
foram misturados em nossa gênese: o corpo, em comum com
os animais; e a razão, isto é, o pensamento, em comum com os
Deuses. Uns se inclinam para o primeiro parentesco, que é
desafortunado e mortal; outros poucos, para aquele divino e
bem-aventurado.
(4) Com efeito, já que é necessário que todo humano use cada
coisa segundo o que supõe 197 sobre ela, aqueles poucos que
pensam ter nascido tanto para a confiabilidade e para a
dignidade quanto para a firmeza no uso das representações
nada sórdido ou abjeto supõem sobre si mesmos. A maioria
pensa o contrário: (5) “O que sou? Um diminuto e miserável
ser humano, (6) um desgraçado pedaço de carne”. A carne, de
fato, é desgraçada, mas tu possuis também algo melhor que
ela. Por que abandonas o melhor e te agarras à carne? (7) Por
esse parentesco, alguns, inclinando-se para a carne, tornam-se
semelhantes aos lobos: desleais, traiçoeiros e nocivos. Outros
se tornam como os leões: agrestes, bestiais e selvagens.
diatribe 1.29
Sobre a serenidade
(1) A essência do bem é uma capacidade de escolha de certa
qualidade. 199 A essência do mal é uma capacidade de escolha
de certa qualidade. (2) Então, o que são as coisas externas?
Materiais 200 para a capacidade de escolha que, segundo seu
comportamento quanto a elas, construirá 201 seu próprio bem
ou mal. (3) Como construirá seu bem? Se não admirar os
materiais. 202 Pois as opiniões sobre os materiais, se forem
corretas, tornam boa a capacidade de escolha; mas se forem
tortas e distorcidas, tornam-na má. (4) Deus estabeleceu essa
lei e disse: “Se quiseres um bem, toma-o de ti mesmo”. Tu
dizes: “Não, eu o tomarei de outro”. Não, toma-o de ti
mesmo! (5) De hoje em diante, quando o tirano me ameaçar e
me acusar, eu direi: “A quem ele ameaça?”. Se ele disser
“Acorrentar-te-ei”, eu direi “Ele ameaça as pernas e os pés”. Se
ele disser “Decapitar-te-ei”, eu direi “Ele ameaça o pescoço”.
(6) Se ele disser “Lançar-te-ei na prisão”, eu direi “Ele ameaça
meu diminuto corpo 203 por inteiro”. E se me ameaçar com o
exílio, a mesma coisa.
diatribe 1.30
O que é preciso ter à mão nas dificuldades?
Quando fores ter com algum dos proeminentes, 229 lembra que
também outro, 230 do alto, observa os acontecimentos, e é
preciso antes agradar este que aquele. (2) Então este Deus
indaga: O que dizias serem o exílio, a prisão, as correntes, a
morte e a má reputação na escola? Eu dizia serem indiferentes.
diatribe 2.1
Que coragem 232 não conflita com cautela 233
(1) Para alguns talvez pareça um paradoxo o que é julgado
pelos filósofos. No entanto, examinemos, segundo nossa
capacidade, se verdadeiramente é preciso fazer todas as coisas
ao mesmo tempo de modo cauteloso e de modo corajoso. (2)
Pois parece que ser corajoso é de algum modo o contrário de
ser cauteloso, e de modo algum coisas contrárias coexistem. (3)
O que se afigura a muitos ser um paradoxo nesse tópico,
parece-me ser algo como o seguinte. Se, com efeito, em relação
a essas coisas, julgamos ser preciso tanto a precaução quanto a
coragem, com justiça nos acusariam de compatibilizar coisas
incompatíveis. (4) Mas o que tal dito tem de extraordinário?
Pois se são verdadeiras essas coisas que muitas vezes são ditas,
e muitas vezes demonstradas, que a essência do bem e a
essência do mal estão no uso das representações e que as coisas
que não são passíveis de escolha 234 não participam da essência
do bem nem da essência do mal, (5) será paradoxal os filósofos
dizerem “tem tu coragem diante das coisas que não são
passíveis de escolha, mas cautela diante das coisas passíveis de
escolha”? (6) Pois, se o mal está na má escolha, apenas da
escolha é preciso fazer uso com cautela. Mas se as coisas que
não são passíveis de escolha e não estão sob nosso controle
nada são em relação a nós, é preciso delas fazer uso com
coragem. (7) Então, desse modo, seremos ao mesmo tempo
cautelosos e corajosos e, por Zeus, corajosos graças à cautela.
Pois, graças à cautela quanto às coisas verdadeiramente más,
seremos corajosos em relação às coisas que não o são.
Pois sobre essas coisas não se deve crer nos muitos, que dizem
que apenas aos livres é lícito se instruir, (23) mas antes nos
filósofos, que dizem que unicamente os instruídos são livres.
(27) E então? O que passou por tais coisas não se torna livre?
Não mais que tranqüilo.
Por isso digo diversas vezes: “Praticai estas coisas, tende estas
coisas sempre à mão: é preciso ser intrépido em relação a certas
coisas e ser regrado, sendo cauteloso, em relação a outras, é
preciso ser intrépido em relação às coisas não passíveis de
escolha e cauteloso em relação às coisas passíveis de escolha”.
(30) Mas não leio para ti? Não sabes o que faço? (31) O que
fazes? Míseras frases. Fica com tuas míseras frases. Mostra
como és em relação ao desejo e à repulsa, se não falhas em
obter as coisas que desejas, se não te deparas com as que não
desejas. Mas quanto a esses teus míseros parágrafos, se tiveres
inteligência, pega-os agora e lança-os fora.
diatribe 2.3
Aos que recomendam pessoas aos filósofos
(1) Diógenes respondeu belamente àquele que queria obter dele
cartas de recomendação: “Que és humano, ele saberá ao ver-te;
se és bom ou mau, ele saberá se for experiente em discernir
entre os bons e os maus; mas se ele for inexperiente, não saberá
nem se eu lhe escrever dez mil cartas!”. 251 (2) De modo
semelhante seria se uma dracma quisesse ser recomendada por
alguém ao ser testada. Se aquele que testar for especialista em
prata, tu recomendarás a ti mesma. (3) Então nos é preciso ter
na vida algo semelhante ao que se tem relativamente à prata
para que possamos falar do mesmo modo que o que testa a
prata, o qual diz “Toma a dracma que quiseres que eu a
distinguirei”. (4) Mas sobre os silogismos eu posso falar:
“Toma quem quiseres, que eu determinarei se é capaz de
analisar silogismos ou não”. Por quê? Porque sei analisar
silogismos. Possuo a qualidade que é preciso ter quem é capaz
de discernir os que são bem-sucedidos em relação aos
silogismos.
(5) O que faço na vida? Ora digo que algo é bom, ora digo
que algo é mau. E qual é a razão? A contrária à dos silogismos:
ignorância e inexperiência.
diatribe 2.4
Ao que fora certa vez pego em adultério
Enquanto Epicteto dizia que “o ser humano nasceu para a
lealdade, e quem arruína isso arruína o próprio do humano”,
entrou em sua sala de aula um dos que têm fama de filólogos e
que fora pego certa vez em adultério na cidade.
diatribe 2.5
Como conciliar grandeza da alma e cuidado
(1) Os materiais são indiferentes, mas o uso deles não é
indiferente.
Como então se diz, das coisas externas, que umas são segundo
a natureza e outras contra a natureza? Do mesmo modo que
nos dizemos “separados”. Pois para o pé digo ser segundo a
natureza estar limpo. Mas se o tomas como pé e como não-
separado, será conveniente para ele tanto (24.5) entrar na lama
quanto ferir-se em um espinho e, às vezes, também ser
amputado pelo bem do todo. Caso contrário, não será um pé.
Por que te irritas tanto? Não sabes que aquilo não é mais que
um pé? Assim também não és tu humano? És parte da cidade:
primeiro, daquela dos Deuses e dos humanos; depois, desta que
é dita a mais próxima, (27) que é uma pequena imitação da
totalidade. “Agora me é preciso ser julgado”. E agora não é
preciso que outro tenha febre, que outro navegue, que outro
morra, que outro seja condenado? Pois é impossível, em um
corpo tal, com tal mundo à volta e entre tais companhias, não
acontecer coisas tais para uns e outros.
diatribe 2.6
Sobre a indiferença
(1) A condicional é indiferente. 260 O juízo sobre a condicional
não é indiferente, mas é ou ciência ou opinião ou engano. 261
Do mesmo modo, (2) a vida é indiferente, mas o uso da vida
não é indiferente. Então não vos torneis descuidados quando
alguém vos disser que também o uso é indiferente. Nem,
quando alguém vos exortar para o cuidado, (3) vos torneis
abjetos e admiradores dos materiais. Mas é bom também
conhecer a própria qualificação e a própria força, de modo
que, nas coisas para quais não estás qualificado, mantenhas
silêncio e não te irrites se (4) outros forem melhores que tu
nelas.
Falarei.
Pois essa não é ação tua, mas dele. Por que, então, arrogas o
que é de outrem? (9) Lembra-te sempre do que é teu e do que é
de outrem, e tu não te inquietarás. Por isso, belamente fala
Crisipo que “na medida em que sejam incertas para mim as
conseqüências, sempre me aterei, em relação ao que ocorrer, às
coisas que são bem ordenadas segundo a natureza. (10) Pois o
próprio Deus me fez capaz de escolher essas coisas. Certamente
se eu soubesse que me é destinado adoecer agora, também me
impulsionaria para isso. Com efeito, se tivesse entendimento, o
pé impulsionar-se-ia para enlamear-se”. 263
referências
Edições, traduções e comentários
Carter , E. All the works of Epictetus, which are now extant, consisting of his
Discourses, preserved by Arrian, in four books, the Enchiridion and Fragments.
Londres: 1758.
2014.
Epicteto . Entretiens. Livre i, tradução de Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres,
1956.
. Epictetus Discourses book i, tradução de Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
Lutz, C . Musonius Rufus, the Roman Socrates. New Haven: Yale, 1947.
. Moralia, vol. xiv: That Epicurus Actually Makes a Pleasant Life Impossible.
Reply to Colotes in Defence of the Other Philosophers. Is “Live Unknown” a Wise
Precept? On Music. Tradução de B. De Lacy. Harvard: Loeb, 1967.
Links:
G1, Portal de Notícias da Globo. Queda de Airbus A–320 em Nova York. 2009.
Disponível em: Mundo/0,,MUL958028–5602,00-
POUSO+DE+AVIAO+NO+RIO
+FOI+UM+MILAGRE+DIZ+GOVERNADOR+DE+NOVA+YO
RK.html. Acesso em: 02 jun. 2018.
Estudos:
-century pagan world. University Park: Pennsylvania State University Press. 1995.
Millar, F . “Epictetus and the Imperial Court”, in The Journal of Roman Studies,
vol. lv , n. 1/2, Parts 1 and 2, 1965, pp. 141–148.
H. J. Paris, 1933.
7 Diatribes, 2.5.1.
8 Diatribes, 2.5.3
9 https://g1.globo.com/Noticias/ Mundo/0,,MUL958028-5602,00-
POUSO+DE+AVIAO+N
O+RIO+FOI+UM+MILAGRE+DIZ+GOVERNADOR+D
E+NOVA+YORK.html
23 Schenkl, 1916. Schenkl observa, porém, que, em sua ampla maioria, todos os
testemunhos antigos derivam- se do que é dito pelo próprio Epicteto nas Diatribes
(1916, p. xvi).
29 Região do Sul da Ásia Menor que foi, por muitos séculos, província do Império
Romano. Atual Antalya (Turquia).
38 Colardeau, 1903, p. 6, n. 5.
41 Epicteto é o único filósofo que sabemos nominalmente ter sido atingido por
esse decreto. Cf. Aulo Gélio, Noites áticas, 15.11; Simplício, Comentário ao manual
de Epicteto, 153 b; Plínio, o Jovem, Cartas, 3.11; Tácito, Agrícola, c. 2; Dudley, D.
R., 1980, p. 139, n. 1; Sherwin-White, 1957, pp. 126–30.
46 Caio Calpúrnio Pisão, senador romano que viveu no século i, foi o principal
idealizador da chamada Conspiração de Pisão, contra Nero. Em 19 de abril de 65, o
liberto Mílico traiu Pisão, denunciando-o ao imperador. Dezenove conspiradores
foram condenados à morte e outros treze, eLivross. Pisão recebeu e cumpriu a ordem
de cometer suicídio.
47 Tito Flávio Josefo (em hebraico Yosef Ben Matityahura) viveu entre 37 ou 38 e
100 e foi um historiador judaico-romano.
51 Cf. Nono. In: Patrologia Graeca, 36.933; Cosme de Jerusalém. In: Patrologia
Graeca, 38.532.
56 Tal cargo surgiu durante o governo de Trajano e era ocupado por oficiais da
classe senatorial designados para investigar e corrigir a administração nas províncias.
57 Plínio, o Jovem, Carta 22. Caio Plínio Cecílio Segundo viveu entre 61 (ou 62) e
114. Foi orador, jurista e político, além de governador imperial na Bitínia entre 111 e
112. Adotado por Plínio, o Velho, de quem era sobrinho- neto, foi testemunha ocular
da erupção do Vesúvio de 79, sobre o que escreveu.
60 Temístio viveu entre 317 e 387 e foi um filósofo peripatético tardio. Jorge
Sincelo (Schenkl, 1916, testemunho v), um escritor eclesiástico bizantino que morreu
por volta de 810, afirma que Epicteto floresceu sob Antonino Pio (138–61).
65 Estrabão, 13.13–14.
70 Demétrio foi um filósofo cínico de Corinto. Viveu sob Calígula, Cláudio, Nero,
Galba, Otão, Vitélio e Vespasiano (entre 37 e 71). Era amigo de Sêneca, que muitas
vezes o elogia e cita (cf. Sêneca, Cartas a Lucílio, 20.9, 62.3, 67.14, 91.19). Calígula
tentou suborná-lo com dois mil sestércios, sobre o que o cínico comentou: “Se ele
quisesse me tentar, deveria ter feito tal oferecendo-me todo o seu império” (cf.
Sêneca, Dos benefícios, 7.11).
74 Públio Clódio Trásea Peto foi um senador romano do século i que se destacou
por sua oposição a Nero e por sua ligação com o estoicismo. Processado por Nero
em 66, foi condenado à “morte por livre escolha” (liberum mortis arbitrium) e,
tendo as veias de ambos os braços cortadas, morreu na presença de amigos e
admiradores. Cf. Tácito, Anais, 34–5; Dião Cássio, 62.26.4).
78 Sérvio Sulpício Galba César foi imperador romano por sete meses entre 68 e
69.
79 Eufrates foi um eminente filósofo estóico que viveu entre 35 e 118. Segundo
Filóstrato (Vida dos sofistas ilustres 1.7; Vida de Apolônio de Tiana, 1.13), seria
nativo de Tiro. Segundo Estéfano de Bizâncio (Epiphaneia), seria sírio, enquanto
Eunápio chama-o de egípcio. Muito elogiado por Plínio (Cartas 1.10), também é
citado por Epicteto (Epicteto, Diatribes, 3.15; 4.8) e por Marco Aurélio (10.31). Cf.
Dião Cássio, 69.8.
80 Helvídio Prisco foi um filósofo estóico que viveu sob Nero, Galba, Otão, Vitélio
e Vespasiano. Sob Nero foi questor da Acaia e tribuno da plebe (56). Restaurou a
ordem e a paz na Armênia. Foi banido em 66 por sua simpatia por Bruto e Cássio.
Galba o trouxe do exílio em 68, mas foi novamente banido e, a seguir, executado por
Vespasiano.
84 Cf. Tácito, Anais 15, 71; Epicteto, Diatribes, 1.25.19–20; 2.6.22; 3.24.100 e
109.
86 Cf. Aulo Gélio, Noites áticas, 15.11 (= Schenkl, 1916, testemunho x).
93 Cf. 3.21.
101 Cf. Aulo Gélio, Noites Áticas, 17.19.1–6 (= Schenkl, 1916, testemunho x),
em que Favorino cita o famoso dictum epictetiano Anechou kai apechou (“Suporta e
abstém-te”). Cf. também Noites áticas, 19.1.14–21.
103 Herodes Ático viveu entre 101 e 177 e foi um senador romano e um destacado
sofista, talvez o maior representante da Segunda Sofística.
105 Quinto Júnio Rústico foi um dos professores do Imperador Marco Aurélio e o
mais distinto filósofo estóico de seu tempo. Recebendo as maiores honras da parte de
Marco Aurélio, que constantemente o consultava sobre todos os assuntos públicos e
privados, foi duas vezes promovido por ele ao consulado e, após sua morte, obteve
do Senado estátuas erguidas em sua honra (cf. Dião Cássio lxxi, 35; Capitolino.
Marco Aurélio Antonino, 3; Marco Aurélio, 1.7).
108 Cf. Galeno, Lib. prop., 11. Cf. De optima doctrina, 1.14.
109 Orígenes Adamâncio viveu entre 184/185 e 253/254 e foi um teólogo cristão.
115 Em sua obra Vita Isidori (= Schenkl, 1916, testemunho lxii). Damáscio viveu
entre c. 458 e 538 e foi o último escolarca da escola de Atenas. Perseguido por
Justiniano (que decretou, em 529, o fechamento de todas as escolas filosóficas),
refugiou-se na Pérsia, donde voltou para Alexandria após um tratado de paz entre
Justiniano e os persas.
118 Em sua obra Platonis Gorgiam comentaria (= Schenkl, 1916, testemunho liii).
Olimpiodoro, o Jovem, viveu entre c. 495 e 570 e foi o último filósofo neoplatônico
da escola de Alexandria.
119 Justino Mártir viveu entre 100 e 165. Clemente de Alexandria viveu entre c.
150 e 211(216). Spanneut estuda cuidadosamente essas influências (2009–2011, col.
622– 623).
124 Schenkl, 1916, fragmento Xa. Arnóbio de Sica, morto por volta de 330, foi
um apologético cristão que viveu sob o imperador Diocleciano (284–305).
125 Em sua obra De bono mortis, 8.31. Ambrósio de Alexandria foi aluno de
Orígenes e teólogo cristão. Viveu no século iii.
128 Schenkl, 1916, testemunhos 36a e 37a. Paládio de Antioquia foi bispo de
Antioquia entre 496 e 498. Teodoreto de Cirro, teólogo e exegeta, viveu entre c. 393
e 466 e foi arcebispo de Cirro.
141 A expressão eph’hemin significa literalmente “o que está sobre nós”. Nesse
caso, epi expressa uma relação de dependência, referindo-se a coisas que nos têm
como causa única e que, portanto, dependem de nós.
146 Kairos.
149 Com o diminutivo de soma (“corpo”), Epicteto quer mostrar o caráter servil
do corpo por oposição à capacidade de escolha, que é livre. O corpo, além de coisa
ínfima se comparado à enormidade do Cosmos, está entre as coisas que não estão
sob nosso controle, sendo, portanto, determinado pelas cadeias causais externas à
capacidade de escolha. Cf. Epicteto, Diatribes, 1.12.26.
150 Impulso traduz horme, que, em Epicteto, significa a tendência para agir desta
ou daquela maneira diante de determinada coisa. Aphorme é o contrário de horme,
daí nossa tradução por “refreamento”. Cf. Crisipo, svf, 3.42.
161 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.2.21; 2.16.15–17; 4.1.127; Sêneca, Cartas a Lucílio,
95.40; Da Providência, 2.4; 3.4–14. O verbo aqui é euroeo. Schweighäuser (1799
(3), p. 342) define o termo como “prosper rerum cursus, tranquillitas animi; vita
beata” [curso próspero das coisas, tranqüilidade da alma, vida feliz]. Souilhé traduz
o termo por “serenité”. Dobbin o verte por “good flow of life” [bom fluxo de vida].
O verbo euroeo significa primariamente “fluir bem, fluir abundantemente”. Cf.
Sêneca, Cartas a Lucílio, 120.11.
169 Arícia (em latim, Aricia) distava cerca de trinta quilômetros de Roma. Era a
primeira parada de descanso da Via Ápia para os viajantes vindos da Cidade Eterna.
174 O verbo aqui é pascho, que significa estritamente “ser levado a supor”, cf. lsj
(Liddell & Scott Liddell– Scott–Jones), s.v. pascho iv.
175 Prolepsis: Para Crisipo, uma pré-noção é “uma concepção natural dos
universais” (ἔστι δ᾿ ἡ πρόληψις ἔννοια φυσικὴ τῶν καθόλου — Diógenes
Laércio 7.54). Epicteto nos diz que “pré-noções são comuns a todos os humanos, e
uma pré-noção não entra em conflito com outra” (Epicteto, Diatribes 1.22.1–3.10).
Sandbach (1930) sugere que Epicteto é o primeiro estóico a tratar pré- noções como
idéias inatas. Ver Epicteto, Diatribes 2.11.1– 8, em que Epicteto menciona emphytos
ennoia (conceitos inatos) como sinônimo de pré-noções. V. também Epicteto,
Diatribes 1.22; 4.1.44–5; 4.8.6; Cícero, Tópica, 7; De Natura Deorum, 1.16;
Questões tusculanas, 1.24; De Finibus, 3.6.
177 Trachy: Bailly (2000) define o adjetivo trachys primariamente como “áspero”.
Simplício (Comentário ao manual de Epicteto, V. 1.5) observa que, em Epicteto,
Manual, 1.5, a representação é dita tracheia por ser contrária à razão, tornando a
vida áspera. Esse adjetivo só ocorre em conexão com o conceito de representação no
Manual. Nas Diatribes, refere-se sempre a situações ou coisas dolorosas, difíceis,
duras de suportar. Cf. Epicteto, Diatribes, 1.24.1; 2.1.19.2; 3.10.7; 3.24.32; 4.5.33.
179 Oldfather (1928, p. 18, n. 10) crê que a participação de Floro consistiria em
representar um papel em uma tragédia. Cf. Tácito, Anais, 14.14; Suetônio, Nero, 21.
182 “Os muitos” (hoi polloi): com isso Epicteto designa a massa de seres humanos
sem instrução filosófica.
184 Episoi: assim, segundo Epicteto, Prisco toma decisões moralmente acertadas a
partir da distinção entre o que está e não está sob seu controle, sobre o que depende
ou não de si.
185 Himation: termo grego para a toga romana, peça de vestuário de origem
etrusca que era usada exclusivamente pelos cidadãos romanos.
187 Um famoso treinador da época. “Sem ter sido untado”, quer dizer, sem ter
sido preparado ou sem ter treinado na escola de Batão. Na Antigüidade, os atletas,
antes de seus exercícios, tinham o corpo untado. Epicteto, portanto, refere-se ao
atleta em questão como alguém que se fez por si mesmo.
188 Naqueles tempos, a barba era símbolo do filósofo. Assim, retirar a barba
equivale a deixar de ser filósofo.
189 Paraskeue: esse termo é muitas vezes usado em sentido militar, referindo-se ao
equipamento que cada soldado traz consigo (equipagem). Aqui o termo é usado em
conotação estritamente estóica: a constituição natural, recebida da Natureza e
própria de cada um.
190 Synaisthesis. Cf. Epicteto, Diatribes, 2.11.1. Dobbin traduz o termo por
“awareness”.
193 Um célebre lutador grego que teria vencido seis vezes os Jogos Olímpicos e
seis vezes os jogos píticos. Diz-se que era tão forte que carregava a própria estátua
(cf. Pausânias, Descrição da Grécia, 6.14.6).
195 Creso: último rei da Lídia (entre 560 e 547 a.C.). Imensamente rico, deixou
magníficas oferendas em Delfos, entre as quais se incluía um leão de ouro (cf.
Pausânias, Descrição da Grécia, 10.5.13).
196 “César” significando aqui o título.
199 Aqui, alguns tradutores parafraseiam. Dobbin traduz a frase assim: “The
essence of the good is a certain kind of moral character”. Souilhé vai mais longe e
traduz assim: “L’essence du bien est un état déterminé de la personne”. Já George
Long (seguido ipsis literis por Oldfather) verte a frase assim: “The being (nature) of
the Good is a certain Will; the being of the Bad is a certain kind of Will”.
200 O termo aqui é hylai, plural de hyle, que significa literalmente “floresta”,
donde viria a idéia de “madeira cortada” e, no plural, como aqui, “recursos
materiais”.
201 O verbo aqui é teucho, que significa literalmente “fazer”, “produzir com arte”
(a partir de coisas materiais), donde nosso “construir”.
202 Cf. Horácio, Epístolas, 1.6; Marco Aurélio, 1.15; 12.1; Sêneca, Da vida feliz,
3.
204 Cf. Platão, Apologia, 30. Com essa frase encerra-se o Manual de Epicteto
(capítulo 53). Cf. Epicteto, Diatribes, 1.4.24; 3.22.95; 4.4.21
205 Cf. Platão, Críton, 43. Essa frase também está presente no último capítulo do
Manual. Cf. Epicteto, Diatribes, 2.2.25; 3.23.21.
207 A palavra é eisagoge, que significa “introdução” e dava título a várias obras
de introdução à filosofia na Antigüidade.
208 O verbo é kraugazo, que significa “latir”, quando relativo aos cães, e
“coaxar”, quando relativo às rãs.
213 Kairos.
214 Em grego, o termo para gladiador é monomachos.
215 Sêneca refere-se a um gladiador que agia exatamente assim por não ser posto
em combate (cf. Da providência, 4).
216 Isto é: navegar para Roma, por exemplo, para ver como seu aluno aplica a
teoria à vida.
217 Hypothesis: como observa George Long, aqui o termo significa “matéria sobre
a qual se trabalha”, “material”, “tema” (cf. Epicteto, Diatribes, 2.5.11).
221 No fragmento 174, Epicteto nos diz: “Não vês que nem com uma voz mais
bela e com mais prazer Polos interpretava Édipo Rei ou Édipo em Colono, errante e
mendicante? Ora, um ser humano nobre apresentar-se-ia pior do que Polos, na
medida em que não interpretasse belamente todo papel atribuído pela divindade?
Não imitaria Odisseu, que em farrapos não se distinguiu menos que em espesso
manto púrpura?” (Dinucci; Julien, 2008). Arriano inspirou-se em tal passagem para
escrever o capítulo 17 do Manual.
225 Pois estes, como observa Oldfather, estão sempre ressabiados, olhando para os
lados por temerem a chegada repentina de seus senhores.
241 Ta dogmata. Em Epicteto, dogma pode significar desde a mera opinião até a
teoria estabelecida filosoficamente. Neste caso, o termo aparece nesta última
acepção.
245 Talvez se referindo a escritos que Sócrates tenha feito para si, não visando à
publicação. Em todo caso, nada nos chegou do punho do próprio Sócrates.
250 Paráfrase de Platão, Apologia, 30 c-d. Cf. Epicteto, Manual, 53; Diatribes,
1.29.18; 3.23.21.
251 Cícero (De legibus 1.9) e Shakespeare (Macbeth 1.4) consideram que a face
expressa o caráter oculto. Eurípides (Medéia 518) é de opinião contrária.
253 Arquedemos de Tarso: fl. ca. 140 a. C. Dois de seus trabalhos (Acerca da voz;
Acerca dos elementos) são mencionados por Diógenes Laércio. Provavelmente o
mesmo que é mencionado por Plutarco como o ateniense que fora para a Pártia e
fundara uma escola de estoicismo na Babilônia. Cf. Estrabão, Geografia, xiv;
Diógenes Laércio 7; Plutarco, De Exilio, 14; Cícero, Academica, 2.47; Sêneca,
Cartas, 121.
256 Os daimones são, para os gregos, semidivindades, filhos dos Deuses. Cf.
Platão, Apologia, 15. Sócrates nada fala sobre mulas na Apologia de Platão, mas
sobre cavalos e coisas relativas a cavalos.
257 Sócrates teve três filhos (segundo algumas fontes, todos com sua irascível
esposa Xantipa; segundo outras fontes, com Xantipa e Mirto. Seus nomes eram
Lâmprocles, Sofronisco e Menexêno (Cf. Platão, Fédon, 116b). Segundo Aristóteles,
eles não se destacaram em nenhum sentido (Aristóteles, Retórica, 1390b30–32).
Sócrates se refere a eles na Apologia de Platão (34d), observando que dois
(Sofronisco e Menexêno) ainda eram muito jovens.
258 Souilhé traduz “ἀλλ’ οὐκ ἐκείνην ἀποδεχόμενον” por “sans s’y attacher
cependant”. Hard, por “without, however, accepting it for his own sake.” Long, por
“not as valuing the material”. Decidimos simplesmente retirar o “não”, já que em
diversas oportunidades Epicteto insiste na idéia de que devemos aceitar as coisas
exteriores tais como elas são (cf. Manual, 8, por exemplo).
259 Deus.
261 Epicteto elenca aqui os graus de conhecimento. Cf. nota 10, p. 84. Opinião
aqui traduz doxa.
264 Provável alusão aos versos da tragédia perdida Hipsila, de Eurípedes, da qual
nos chegaram alguns versos traduzidos para o latim por Cícero (Tuscul. Disp. 3.25):
“Reddenda terrae est terra: Tum vita omnibus / Metenda ut fruges: Sic jubet
necessitas” (“Que se devolva a terra à terra: desse modo é a vida para todos / Deve
ser colhida para que seja desfrutada: assim deseja a necessidade”). Cf. Marco
Aurélio, 7.40: “A vida deve ser colhida como as espigas de milho: um humano
morre, outro nasce”.
265 Apolytoi. Não são coisas que existem por si sós, mas fazem parte de um todo.
266 Cf. Xenofonte, Ciropédia, 4.3. Nobre associado a Ciro. Xenofonte se refere a
ele como alguém de baixa estatura e inteligência superior. Grande guerreiro
admirado e favorecido por Ciro, tanto por suas ações em campo de batalha quanto
por sua sabedoria no conselho (Xenofonte, Ciropédia 2.2.17 etc.).
270 Giaros (atual Yioura) é uma ilha desolada do arquipélago grego das Cíclades.
Miserável desde a Antigüidade, habitada por uns poucos pescadores, tornou- se
posteriormente destino de vários romanos banidos pelos imperadores romanos.
Musônio Rufo, professor de Epicteto, foi banido para Giaros, por Nero, em 65,
retornando a Roma em 68, após a ascensão de Galba.
271 Esse algo grandioso pode ser tanto Roma (George Long e Hard) quanto
grandes perigos (Souilhé) ou mesmo a morte.
272 Peã (do grego paian): hino sacro dedicado a Apolo. No texto que segue,
Epicteto parece referir-se à passagem do diálogo platônico (provavelmente apócrifo)
Axíoco, na qual Sócrates diz que a vida é um efêmero exílio que se deve celebrar com
peãs, e que se mostrar fraco e resistente ao ser arrancado da vida é algo indigno de
um humano racional (Axíoco, 365b). Diógenes Laércio menciona o que seriam os
dois primeiros versos da peã composta por Sócrates na prisão: “Saudemos o nobre
casal Apolo, senhor de Delos, e Ártemis” (Cf. Diógenes Laércio, 5.42).