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Lições de um estóico: Usando a filosofia antiga para viver bem no mundo moderno

Epicteto
1ª edição — setembro de 2021 — cedet

Sob responsabilidade da editora, não foi adotado o Novo Acordo Ortográfico de


1990.

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editor:
Ulisses Trevisan Palhavan

introdução, tradução e notas:


Aldo Dinucci

revisão:
Henrique Bernardes Rodrigues

preparação de texto:
Letícia de Paula

capa:
Nelson Provazi

diagramação:
Virgínia Morais

leitura de prova:
Paulo Bonafina
Marcos Valente Carvalho da Silva
Flávia Regina Theodoro

conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo

FICHA CATALOGRÁFICA

Epicteto(c. 55–c. 135 a. C.).


Lições de um estóico: Usando a filosofia antiga para viver bem no mundo moderno/
Epicteto; Introdução, tradução e notas de Aldo Dinucci — 1ª ed. — Campinas, sp:
Editora Auster, 2021.
ISBN: 978-65-87408-17-0

1. Aperfeiçoamento pessoal 2. Filosofia estóica 3. Ética


i. Autor ii. Título iii. Dinucci, Aldo.

cdd 158.1 / 188 / 170

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:


1. Aperfeiçoamento pessoal – 158.1
2. Filosofia estóica – 188
3. Ética – 170

www.editoraauster.com.br

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edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia,
gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
Sumário
Introdução O que são coisas indiferentes no estoicismo de Epicteto e qual a
atitude correta diante delas

Nota biográfica sobre Epicteto

Lições de um estóico Seleção e tradução dos originais gregos feita por Aldo
Dinucci

Manual de e picteto Capítulo 1

diatribe . Sobre as coisas que estão e as que não estão sob nosso controle
1 1

diatribe . Como manter o caráter próprio em todas as circunstâncias


1 2

diatribe . Como
1 3 chegar às conseqüências da tese de que Deus é pai de todos os
humanos

diatribe .
1 29 Sobre a serenidade

diatribe .
1 30 O que é preciso ter à mão nas dificuldades?

diatribe . Que coragem não conflita com cautela


2 1

diatribe . Sobre a ausência de perturbação


2 2

diatribe . Aos que recomendam pessoas aos filósofos


2 3

diatribe . Ao que fora certa vez pego em adultério


2 4

diatribe . Como conciliar grandeza da alma e cuidado


2 5

diatribe . Sobre a indiferença


2 6

referências

Notas de Rodapé
Introdução
O que são coisas indiferentes no estoicismo de
Epicteto e qual a atitude correta diante
delas

Os estóicos dividem todas as coisas do mundo em boas, más e


indiferentes. Boas e más são, respectivamente, as virtudes e os
vícios. Indiferentes, todas as demais. Epicteto reafirma essa
distinção de modo ligeiramente diferente: tudo o que há no
mundo se divide entre coisas que estão sob nosso controle e
coisas que não estão sob nosso controle (eph’hemin kai ouk
eph’hemin). As coisas sob nosso controle podem ser boas ou
más, enquanto as que não estão sob nosso controle não são,
primariamente, nem boas nem más.

Diante disso, alguns apressadamente concluem que, por serem


indiferentes (adiaphora), as coisas que não estão sob nosso
controle devem ser ignoradas, e que o verdadeiro estóico é
aquele que dá as costas para a realidade, “ligando o dane-se”,
como se diz popularmente hoje em dia e como figura na capa
de alguns livros.

Entretanto, se voltarmos nossos olhos para os grandes


estóicos da Antigüidade, vemos que eles, longe de viverem
recolhidos, ignorando os acontecimentos cotidianos, tiveram
intensa atuação política: Sêneca foi preceptor de Nero e acabou
sendo condenado à morte por ele; Epicteto 1 foi eLivros por
Domiciano; Musônio Rufo 2 foi eLivros por vários
imperadores e viveu muitos anos em uma ilha inóspita; Marco
Aurélio 3 foi imperador. Por que, então, não “ligaram o dane-
se” e não foram viver afastados de todos os problemas da vida
pública e política? Há muitas respostas. A mais básica é
seguinte: está equivocada a compreensão de que sermos
“indiferentes” às coisas signifique que não devemos nos
importar com elas.

Como mencionado, Epicteto divide tudo o que existe em


coisas que estão sob nosso controle e coisas que não estão sob
nosso controle. 4 As primeiras, que incluem nossos juízos,
impulsos e desejos, podem ser boas ou más. As segundas são
indiferentes. Epicteto define as coisas sob nosso controle como
sendo as que podemos efetivamente escolher. 5 De fato,
podemos controlar nossos desejos e impulsos e rever nossas
opiniões, pois isso está totalmente sob nosso controle.
Entretanto, as coisas exteriores, que incluem nosso corpo,
seguem leis que lhes são imanentes: os objetos do mundo
seguem as leis da física; os animais, seus instintos; os demais
humanos, suas próprias escolhas. Essas coisas não podem ser
escolhidas por nós. São como são e ponto final.

Todavia, devemos indagar: o fato de não podermos escolher


as coisas que não estão sob nosso controle implica que não
devemos nos importar com elas, que as devemos ignorar para
garantir nossa paz interior a todo custo? Epicteto parece estar
ciente desse tipo de questão, pois responde exatamente a essa
indagação em uma diatribe. Deixemos que ele nos fale, então:

(1) Os materiais são indiferentes, mas o uso deles não é indiferente. (2) Como
então alguém se manterá simultaneamente equilibrado e sem agitação,
simultaneamente agindo com cuidado e não ao acaso nem sendo arrastado? (3)
Sem imitar os jogadores de dados. Os números são indiferentes, os dados são
indiferentes: então sabes qual número está para sair? Fazer uso do número que cai
com cuidado e habilidade, eis aí a minha tarefa.

(4) Do mesmo modo, portanto, o principal sobre a vida é isto: distinguir e separar
as coisas e dizer: “As coisas exteriores não estão sob meu controle, (5) a
capacidade de escolha está sob meu controle. Onde buscarei o bem e o mal? Nas
minhas coisas”. Quanto às coisas de outrem, jamais as chames de boas ou más,
benéficas ou nocivas, ou qualquer outro nome semelhante. (6) E então? Devo fazer
uso das coisas exteriores de modo descuidado? De modo algum, pois isso, por sua
vez, é um mal para a capacidade de escolha e, desse modo, contrário à natureza.
(7) Mas devo fazer uso das coisas exteriores simultaneamente com cuidado,
porque o uso não é indiferente; simultaneamente com equilíbrio e sem agitação,
porque a matéria é indiferente. (8) Pois onde há o que não é indiferente, aí não se
pode ser obstaculizado nem constrangido. Onde sou obstaculizado e constrangido,
a obtenção da coisa não está sob o meu controle, nem a coisa é boa ou má; mas o
uso dela é bom ou mau e está sob o meu controle. 6

Nesta diatribe, Epicteto introduz a noção de material 7 para


explicar o caráter das coisas indiferentes, que não estão sob
nosso controle e que não são passíveis de escolha. Esses
materiais não são passíveis de escolha, como se vê no exemplo
do jogo de dados. 8 Ao jogarmos um dado, nunca sabemos que
número cairá, mas podemos escolher o que fazer assim que um
número nos for revelado. Com a ação a partir do material que
se nos apresenta, devemos ter todo o cuidado, pois justamente
esta ação será resultado do trabalho prévio sobre nossos juízos,
desejos e impulsos. O bom jogador de dados jogará com
habilidade, habilidade esta conquistada pela prática do jogo. O
ser humano prudente agirá com ref lexão, ref lexão esta
conquistada pela prática filosófica de examinar seus juízos e
desejos, bem como de suavizar seus impulsos.

Em Diatribes, 2.5.7, Epicteto se refere a uma missão difícil:


agir com cuidado e sem agitação, isto é, agir com tranqüilidade
e calma, em meio a todas as circunstâncias. Essa é justamente a
característica daquele que é capaz de agir com técnica e
habilidade: ele atravessa as maiores dificuldades de forma
impassível. Um exemplo recente disso foi o vôo do Airbus A–
320, que, em 2009, decolou do aeroporto de La Guardia, em
Nova Iorque, teve um sério problema nas turbinas e pousou
placidamente no rio Hudson cinco minutos depois. 9 Segundo
os passageiros, durante o incidente o piloto Chesley
Sullenberger os informou de que havia perdido potência nas
turbinas e de que, sendo impossível retornar ao aeroporto,
teriam de pousar no rio, o que ele fez com destemida maestria.
Essa combinação de cuidado e equilíbrio, Epicteto destaca, não
é fácil de ser alcançada:
É
(9) É difícil conciliar e combinar estas coisas: o cuidado de quem se devota aos
materiais e o equilíbrio de quem é indiferente a eles; mas não é impossível. (10) Do
contrário, a felicidade seria impossível. É como fazemos em relação à navegação.
O que me é possível? Escolher o piloto, os marinheiros, o dia, o momento
propício. (11) Então, desaba uma tempestade. O que isso ainda me importa? Fiz
minha parte. A tempestade é problema de outro, do piloto. (12) E também a nau
afunda. O que tenho a fazer, então? Faço apenas isto: o que me é possível. Afogo-
me sem temer nem gritar nem acusar a Deus, sabendo que é preciso morrer, porque
o que nasce também precisa morrer. Pois não sou eterno, mas humano, parte do
todo como a hora é parte do dia. Pois me é preciso começar como a hora e
terminar como a hora. (14) Que diferença há, para mim, de que maneira parto, se
por afogamento ou por febre? Pois me é preciso partir por algum meio desses. (15)
Verás fazendo isso também os jogadores de bola experientes. Nenhum deles
considera a bola como um bem ou um mal, mas algo para lançar e pegar. (16) De
resto, no lançar e no pegar a bola estão a destreza, a habilidade, a rapidez, o fair-
play, 10 a inteligência, de modo que eu não posso pegar a bola nem se me esticar
todo, enquanto o jogador experiente pega a bola se eu a lançar.

(17) Mas se pegamos ou jogamos a bola com agitação e medo, que tipo de jogo
será este? Como permaneceremos equilibrados? Como veremos a seqüência do
jogo? 11

Epicteto afirma aí que harmonizar o cuidado de quem se


devota aos materiais e o equilíbrio de quem é indiferente a eles
é uma tarefa difícil, mas é, ao mesmo tempo, o próprio segredo
da felicidade. 12 Epicteto oferece o exemplo de uma viagem
marítima: devemos concentrar-nos naquilo que nos cabe; no
mais, nada nos resta senão aceitar o destino (como no caso de
fatalidades) e compreender que cabe a outro tomar a frente e
agir, como no caso da tempestade, em que não compete ao
passageiro intervir na ação do piloto, mas cabe a este bem
levar a embarcação através da tormenta. 13 Epicteto acrescenta
ainda o exemplo de um antigo jogo romano de bola, o
harpastum, com o qual podemos traçar uma analogia com o
nosso futebol. Os melhores artilheiros são aqueles que sabem
se posicionar na área e têm sangue-frio e habilidade para pôr a
bola na rede. O pouco habilidoso nem conseguirá colocar-se no
lugar certo nem, mesmo se por acaso estiver bem colocado,
conseguirá marcar o gol. A bola é o material. Ela não tem
valor de per si dentro do jogo. Se ela se esvaziar ou se perder, é
imediatamente substituída por outra. O que importa é o que se
faz com a bola em campo. Quem jogar com habilidade e
concentração irá distinguir-se de quem jogar de modo inábil e
desatento. 14

No jogo, como vimos, a bola não vale por si mesma. É, nesse


sentido, indiferente. O que importa é o que se faz com ela.
Nessa acepção, as coisas externas são igualmente indiferentes
— não são passíveis de escolha. O que podemos escolher é o
que fazer diante delas. Ninguém escolhe morrer, mas todo
mundo morre. Ninguém escolhe ficar doente, mas todo mundo
adoece. Ninguém escolhe as dificuldades: elas simplesmente
acontecem.

Afresco romano representando o harpastum. 15

Assim, é crucial agir corretamente diante das coisas externas.


É preciso tanto agir do modo adequado quanto não se deixar
abalar. As coisas externas não determinam como agiremos
nem, conseqüentemente, nossa felicidade ou infelicidade. São
como tijolos em uma obra: podem servir para uma série de
funções, podem ser colocados em diversas partes da
construção, tudo depende da escolha do pedreiro ou do
engenheiro. O tijolo, portanto, não determina a construção.
Esta será determinada pela habilidade e pelas escolhas do
engenheiro e do pedreiro. Do mesmo modo, as coisas
indiferentes são materiais que podem ser bem ou mal usados.
Para serem bem usados, é preciso que as coisas que estão sob
nosso controle estejam em bom estado. No caso da construção,
é preciso que o engenheiro tenha um bom conhecimento de
construção civil e que o pedreiro seja habilidoso e experiente.
Essas coisas dependem de nós, uma vez que obter
conhecimento e nos aperfeiçoar são coisas que podemos
escolher e alcançar.

Assim como o bom engenheiro poderá edificar uma boa


construção em qualquer tipo de terreno, da mesma forma
aquele que progride poderá viver bem sob qualquer
circunstância. Mas só fará isso se fizer bom uso das coisas que
não são dadas a ele escolher.

Neste livro, selecionamos textos de Epicteto nos quais o


grande mestre do estoicismo fala sobre a distinção entre coisas
que estão e não estão sob nosso controle e como devemos agir
em relação a elas. Tais textos foram traduzidos diretamente do
grego antigo e acrescidos de notas elucidativas. Espero que esta
leitura auxilie o leitor a melhor administrar sua vida, não se
sobrecarregando nem se atormentando com as coisas externas,
mas sendo capaz de fazer bom uso delas, o que é um dos
objetivos fundamentais da prática estóica.

Aldo Dinucci *

Nota biográfica sobre Epicteto


Epicteto é um dos grandes nomes do estoicismo imperial junto
com Sêneca, Musônio Rufo e Marco Aurélio. Contudo, são
escassas as informações sobre sua vida. Simplício nos informa,
no proêmio de seu Comentário ao manual de Epicteto, 16 que
Flávio Arriano teria escrito uma biografia do filósofo. Além
disso, a multiplicidade de títulos atribuídos às Diatribes na
Antigüidade levou alguns 17 a conjecturarem que Arriano teria
escrito tal texto e que esses diversos títulos pertenceriam a
diferentes obras, entre as quais estaria o relato biográfico.
Souilhé pensa não ser esse o caso, 18 enquanto outros
comentadores, como González, 19 Ilsetraut Hadot, 20 Follet 21 e
Schenkl, 22 cogitam que as partes hoje perdidas das Diatribes
poderiam conter dados sobre a vida de Epicteto. Entretanto, na
ausência da suposta biografia, bem como das conjecturadas
partes autobiográficas das Diatribes, temos como material
biográfico apenas o que nos é informado pelo próprio Epicteto
nos livros que nos chegaram das Diatribes, além dos
testemunhos antigos sobre sua vida, cuidadosamente
compilados por Schenkl, 23 entre os quais se destacam as
informações que nos foram transmitidas por três fontes
principais: Aulo Gélio, 24 Simplício 25 e a Suda. 26 Nesta última,
diz-se sobre Epicteto: “De Hierápolis, uma cidade da Frígia;
um filósofo; um servo de Epafrodito, um dos guarda-costas do
imperador Nero. Estropiado em uma perna por derrame, viveu
em Nicópolis, uma cidade da província de Épiro Nova. Sua
vida se estendeu até o reinado de Marco Aurélio Antonino.
Escreveu muitos livros”. 27

Uma inscrição em homenagem a Epicteto, 28 descoberta em


Pisídia, 29 da autoria de certo Leonciano, afirma que Epicteto
tinha por mãe uma serva, o que faria dele servo de nascença.
Um epigrama, citado por João Crisóstomo, 30 Macróbio 31 e
Simplício, 32 confirma que Epicteto fora servo. Nesse epigrama,
ocorre o verbo gignesthai em relação a Epicteto e o fato de sua
servidão, o que, pela ambigüidade de significações do verbo,
pode tanto indicar ter o nosso filósofo nascido servo (primeira
hipótese) quanto ter se tornado servo em momento posterior 33
(segunda hipótese). Schenkl 34 inclina-se para a segunda
hipótese, sugerindo que a difundida idéia de ter nascido servo
seria derivada, na verdade, de Diatribes, 4.1.51. Martha 35
sustenta também a segunda hipótese ao afirmar que o nome
“Epicteto” — que, segundo ela, significa “adquirido” — era
comumente dado a homens que, caindo na servidão em algum
momento da vida, eram, então, comprados. Martha afirma
ainda que “Epicteto” seria na verdade um cognome que o
filósofo, por modéstia, mantinha ao invés do seu nome real.
Oldfather 36 prefere a primeira hipótese, observando que
homens livres também tinham esse nome — de modo que a
questão sobre se Epicteto nasceu ou não servo resta ainda em
aberto. 37 Oldfather também observa que em parte alguma tal
tipo de modéstia foi sugerida, seja em relação a Epicteto, seja
em relação a outro estóico. Colardeau 38 propõe que o nome
designava uma parte da Frígia meridional que havia sido, por
aqueles tempos, anexada pelos romanos e que fora aplicado ao
filósofo para indicar sua terra natal. Souilhé 39 contesta essa
observação pela inexistência de evidências a seu favor.

Em suma, pelo que somos informados nas Diatribes e alhures,


a única coisa certa quanto ao período de servidão de Epicteto é
que ele foi servo pelo menos em parte de sua vida 40 e que já
não o era mais quando Domiciano decretou, provavelmente em
95, a expulsão dos filósofos e astrólogos de Roma, decreto que
atingiu o nosso filósofo. 41

Epicteto teria chegado a Roma como servo de Epafrodito,


secretário (encarregado de receber petições) de Nero, 42
segundo Suetônio; 43 ou guarda-costas de Nero, segundo a
Suda. Epafrodito, a quem Epicteto refere-se negativamente
algumas vezes nas Diatribes, 44 ajudou Nero a se matar quando
o imperador foi proclamado inimigo de Roma pelo Senado em
68, e por essa ajuda foi, mais tarde, condenado à morte por
Domiciano. 45 A divergência quanto à função de Epafrodito na
corte de Nero pode ser elucidada por ter sido de fato secretário
no princípio de sua carreira, sendo posteriormente, como
prêmio por ter auxiliado Nero no episódio da conspiração de
Pisão, 46 encarregado da segurança pessoal do imperador, o que
explicaria tê-lo acompanhado nos seus momentos finais. Além
disso, alguns historiadores crêem ser ele o mesmo Epafrodito a
quem Flávio Josefo 47 dedicou seus escritos. 48

Epicteto se refere ao fato de ser manco (cholos) em Diatribes,


1.8.14 e 1.16.20. Simplício diz que Epicteto possuía fraqueza
física (soma asthenes). 49 Entretanto, fontes antigas afirmam
que seu defeito físico seria devido à crueldade de Epafrodito 50
e que Epicteto fora mutilado pela violência que teria sofrido de
um “tirano na Macedônia”. 51 Tais testemunhos sobre
agressões sofridas podem simplesmente supor o que é dito pelo
próprio Epicteto em Diatribes, 1.19.8, 52 razão pela qual
Schenkl 53 dá mais crédito à versão da Suda, pois vê um caráter
apotegmático nos relatos de maus tratos, pelos quais se opõe a
liberdade interior à escravidão do corpo, tema recorrente em
Epicteto. Entretanto, uma observação de Musônio sobre o
caráter fisicamente ameaçador do senhor de Epicteto pode
indicar que tal violência realmente ocorreu ou ocorria em
alguma medida. 54

Não é possível determinar precisamente as datas de


nascimento e morte de Epicteto, mas tão somente inferir, a
partir de Diatribes, 4.5.17, que estava vivo sob Trajano. 55 Em
Diatribes, 3.7, Epicteto conversa com um corrector 56 que
alguns historiadores supõem ser o mesmo Máximo
mencionado em carta de Plínio, o Jovem. 57 Como essa carta é
de 108, estima-se que Epicteto morreu após tal data. A Suda,
como vimos acima, afirma que Epicteto estaria vivo sob Marco
Aurélio, 58 o que é muito improvável, pois Epicteto, para tanto,
deveria ter cerca de 20 anos quando expulso de Roma por
Domiciano, 59 mas dificilmente seria, tão jovem, um filósofo
reconhecido. Talvez o autor da Suda se ampare em Marco
Aurélio, 1.7, passagem na qual o imperador-filósofo fala com
admiração de Epicteto, o que poderia levar o leitor desavisado
a crer que o tivesse conhecido. Temístio, 60 por sua vez, afirma
que Epicteto estava vivo sob os Antoninos, ou seja, sob Marco
Aurélio ou Antonino Pio, 61 que chegou ao poder em 138, 62 o
que também não é factível. O mais provável é Epicteto ter
morrido na altura da metade do reinado de Adriano. 63 Se for
esse o caso, Epicteto teria nascido em torno do ano 50, em
Hierápolis (atual Tambouk-Kalessi, na Turquia), cidade famosa
por suas fontes termais, 64 situada aos pés do monte Mesogis,
diante da Laodicéia, à época uma importante urbe da Frígia
meridional que abrigava um centro religioso célebre por seus
cultos a Cibele, 65 bem como uma primitiva comunidade cristã.
66
A partir desses cálculos e conjecturas, Schenkl 67 estima as
datas de nascimento e morte de Epicteto entre 50 e 138,
supondo que ele estaria vivo sob Adriano e morto antes dos 90
anos. Dobbin, 68 embora concordando que isso é consistente
com as fontes, prefere, pela imprecisão delas, dizer
simplesmente que Epicteto f loresceu em 110.

Segundo Millar, 69 não há evidências claras de que Epicteto


estivesse em Roma no reinado de Nero, embora nosso filósofo
se refira a vários fatos que ocorreram então: a resposta do
cínico Demétrio 70 diante da ameaça de morte de Nero
(Diatribes, 1.25.22); a discussão entre Pacônio Agripino 71 e
Floro 72 sobre se este deveria participar do espetáculo teatral de
Nero (Diatribes, 1.2.12–18); a execução de Laterano 73 em 65
(Diatribes, 1.1.19); a conversa entre Trásea Peto 74 e Musônio
75
sobre seu exílio (Diatribes, 1.1.26–27); a reação de Pacônio
Agripino ao saber de seu exílio em 66 (Diatribes, 1.1.28–32).
Para Millar, tudo o que podemos saber com certeza é que
Epicteto estava em Roma no período dos imperadores
Flavianos, 76 quando era amigo e discípulo de Rufo. 77 Epicteto
menciona a anedota de Rufo relativa à morte de Galba 78
(Diatribes, 3.15.14) e se refere a uma conversa entre ele e Rufo
sobre o incêndio do Capitólio em 69 (ou em 80 — cf.
Diatribes, 1.7.32). Em outra oportunidade, fala sobre a já
mencionada suposta crueldade de Epafrodito (Diatribes,
1.9.29–30). Epicteto menciona também Eufrates, 79 discípulo
de Musônio (Diatribes, 1.15.8; 4.8.17–20) e se refere a uma
conversa entre Helvídio Prisco 80 e Vespasiano (Diatribes,
1.2.19–21; cf. Diatribes, 4.1.123), que, se verdadeira, teria
ocorrido entre 71 e 72. 81 Epicteto faz alusão diversas vezes a
cenas romanas, como o aqueduto Aqua Marcia (Diatribes,
2.16.30–1), o altar da Febre no Palatino (Diatribes, 1.19.6),
cenas do circo ou do teatro (Diatribes, 1.11.27; 1.29.37), a
Saturnália 82 (Diatribes, 1.25.8; 1.29.31; 4.1.58), a libertação
de um escravo diante do pretor (Diatribes, 2.1.26–7), o seu
encontro com um cônsul nas ruas 83 (Diatribes, 3.3.15 e 17) e a
eleição de um tribuno (Diatribes, 1.19.24).

Quanto a Caio Musônio Rufo, professor de filosofia de


Epicteto, que o menciona em Diatribes, 1.1.27 e 1.9.29,
observando que ainda era servo enquanto aluno dele, a Suda
nos diz ser ele tirreno (etrusco), natural de Volsínio, filósofo
dialético e estóico. Musônio foi filósofo ativo durante o
reinado de Nero até o reinado de Trajano. eLivros por Nero e
enviado para Giaros em 65, 84 sua vida se estendeu de 30 a 90
ou 100, ou seja, até o reinado dos Flavianos. Chegaram-nos,
em parte, suas Diatribes, escritas por certo Lúcio. A edição
crítica de sua obra é de autoria de Hense, 85 que deve ser
complementada por um papiro incluído na edição de Cora
Lutz.

Depois de ser aluno de Rufo, Epicteto tornou-se filósofo- -


orador nas ruas de Roma (cf. Diatribes, 2.12.17–25), sendo,
em certa altura, como já dissemos, atingido pelo decreto de
Domiciano. Expulso de Roma, Epicteto escolheu como destino
Nicópolis, 86 cidade localizada na entrada do golfo Ambrácico,
na Épiro, fundada por Augusto em comemoração à sua vitória
na batalha de Áccio. 87 Havia duas províncias com o nome de
Épiro: Epirus Vetus (Épiro Velha) e Epirus Nova (Épiro Nova),
ambas estabelecidas sob Domiciano e conhecidas até a era
bizantina. Nicópolis, ao contrário do que anuncia a Suda, era a
capital de Epirus Vetus; e Dirráquio, a capital de Epirus Nova.

Em Nicópolis, Epicteto fundou uma escola de filosofia,


provavelmente em sua própria casa, à qual af luía um grande
número de discípulos e ouvintes. 88

De acordo com Aélio Espartano, 89 Epicteto era amigo do


Imperador Adriano, o que é reforçado pelo fato de, em
Diatribes, 3.13.4, nosso filósofo se referir à pax romana à qual
esse imperador estava intimamente associado. É possível que
Epicteto tenha recebido a visita de Adriano em sua escola em
Nicópolis ou o tenha conhecido em Atenas. Schenkl sustenta
esta última hipótese, citando testemunhos de Luciano 90 e
Filóstrato. 91 Souilhé, 92 especulando que o que ocorreu de fato
foi uma viagem de Adriano a Nicópolis, argumenta que tais
testemunhos nada provam quanto à suposta viagem de
Epicteto a Atenas e que a passagem das Diatribes, a partir da
qual se conjectura que Epicteto teria conhecimento dos
mistérios de Elêusis, 93 não constitui indício de que ele
efetivamente viajara para Atenas. Oldfather 94 crê na
possibilidade dessa viagem, embora sem considerar os
testemunhos apresentados por Schenkl como evidências
comprobatórias. Hijmans, 95 que avalia que o encontro entre
Epicteto e Adriano poderia ter ocorrido em 125, observa que a
única coisa certa é que havia uma estreita relação entre
Epicteto e Adriano. Na Antigüidade, uma estátua de Hermes
foi erigida em homenagem a Epicteto no santuário de
Epidauro. No pedestal da estátua lê-se a seguinte inscrição:
“Seu amigo honra ao muito pio Epicteto”. A omissão do nome
do amigo pode indicar que tal homem era suficientemente
conhecido para dispensar apresentação, pelo que é possível que
a homenagem tenha sido do próprio Adriano. 96 Epicteto foi
inf luenciado pela resistência de alguns estóicos (Helvídio
Prisco e outros) aos imperadores Nero, Vespasiano e
Domiciano, na segunda metade do primeiro século. 97 O
aspecto político do ensino de Epicteto poderia ter sido
considerado subversivo 98 — possível razão pela qual Arriano
não publicou espontaneamente as Diatribes e o Manual. 99

O reconhecimento de Epicteto na Antigüidade é, nas Noites


áticas de Gélio, testemunhado por Favorino, 100 protegido de
Adriano. 101 Aulo Gélio também nos informa 102 que Herodes
Ático 103 considerava Epicteto como o maior dos estóicos, o
que indica que os textos de Epicteto circulavam após sua morte
e que Epicteto já era então reconhecido. Marco Aurélio cita
Epicteto diversas vezes e o coloca ao lado de Crisipo e
Sócrates, 104 bem como agradece ao seu professor de filosofia
Júnio Rústico 105 por ter-lhe presenteado com um exemplar das
Diatribes de Epicteto. 106 Galeno, 107 contemporâneo de Marco
Aurélio, escreveu um livro 108 (hoje perdido) no qual defendia
Epicteto de críticas de Favorino. Orígenes 109 cita Epicteto seis
vezes em Contra Celsum. Em uma das passagens, 110 diz-nos
que Epicteto era mais popular em seus dias que Platão. O
contexto da querela entre Orígenes e Celso é a discussão sobre
quem é superior: Cristo ou Epicteto. Orígenes afirma ser Cristo
por seus milagres. Celso assevera ser Epicteto por sua
sabedoria. 111 Contudo, no que concerne à filosofia, Orígenes
concede que Epicteto seja superior a Platão. 112 Plotino, 113 por
sua vez, embora não mencione nominalmente Epicteto,
evidencia em diversas passagens a inf luência do estóico. 114
Nos séculos v e vi , os neoplatônicos demonstram
conhecimento e interesse pelo pensamento de Epicteto. Temos
referências a ele em Damáscio, 115 em Proclo, 116 em Hiérocles,
117
em Olimpiodoro 118 e, finalmente, em Simplício, que nos
legou seu vultuoso Comentário ao manual de Epicteto.

No Oriente, autores gregos patrísticos, como Justino Mártir e


Clemente de Alexandria, evidenciam a inf luência epictetiana
sem nomeá-lo. 119 Basílio parafraseia o capítulo 8 do Manual.
120
Gregório de Nazianzo faz algumas alusões à anedota
referida por Celso sobre a perna quebrada de Epicteto. 121 João
Crisóstomo, embora também parafraseie um capítulo do
Manual, 122 menciona Epicteto uma única vez. 123

No Ocidente, como observa Boter (2011, p. 6), Epicteto


parece ter caído no esquecimento após o século v . Nosso
filósofo é mencionado uma vez por Arnóbio. 124 O capítulo 5
do Manual é parafraseado por Ambrósio. 125 Agostinho 126 o
cita ao comentar uma passagem de Aulo Gélio. 127 Epicteto
também é mencionado por Paládio e Teodoreto, 128 por Sinésio
e Procópio 129 e por Cosme e Nono. 130

A simplicidade da vida de Epicteto em Nicópolis é ressaltada


em passagem das Diatribes 131 na qual Epicteto nos diz que,
após ter sua lâmpada de ferro roubada, resolveu substituí-la
por outra de barro. Luciano, 132 inspirado nessa passagem,
refere-se à famosa anedota sobre o homem que comprou a
lâmpada de barro de Epicteto por 3 mil dracmas, por querer,
com o auxílio de sua luz em suas leituras noturnas, tornar-se
sábio como o filósofo. O próprio Epicteto se retrata manco, de
cabelos brancos, com longa barba e a toga da profissão, 133 mas
sempre asseado. 134

Era favorável ao casamento, 135 embora considerasse que o


verdadeiro filósofo (para ele, o cínico ideal 136 ) devesse abster-
se da criação de filhos e manter-se celibatário. 137 Ao final da
vida, tomou uma serva para ajudá-lo a criar um menino que
adotara ao saber que iria ser exposto pelo pai, que se
encontrava em extrema miséria. 138 Alguns comentadores 139
crêem Epicteto ter, então, tomado uma esposa. Contudo, por
meio de uma anedota, Luciano parece indicar que Epicteto
jamais se casou ou teve filhos. Segundo esta anedota, Epicteto
urge um dos presentes à sua diatribe a se casar, e o ouvinte, em
tom de gracejo, responde-lhe: “Sim, dá-me uma de tuas
filhas!”. 140

Lições de um estóico
Seleção e tradução dos originais gregos
feita por
Aldo Dinucci

Manual de e picteto
Capítulo 1
(1) Das coisas, algumas estão sob nosso controle, 141 outras
não. Estão sob nosso controle o juízo, o impulso, o desejo, a
repulsa — em suma: o quanto for ação nossa. Mas não estão
sob nosso controle o corpo, as posses, a reputação, os cargos
públicos — em suma: o quanto não for ação nossa. (2) As
coisas que estão sob nosso controle são por natureza livres,
desimpedidas, desobstruídas. As que não estão sob nosso
controle são fracas, escravas, obstruídas, de outros. (3)
Lembra, então, que, se pensares livres as coisas que são por
natureza escravas, e tuas as que são de outro, tu te farás
obstáculo, chorarás, inquietar-te-ás, censurarás tanto os Deuses
quanto os homens. Mas se pensares teu unicamente o que é
teu, e o que é de outro, como efetivamente é, de outro,
ninguém jamais te forçará, ninguém te impedirá, não
censurarás ninguém, não acusarás ninguém, nem, uma vez que
seja, agirás constrangido, não terás inimigos, ninguém te
causará danos, pois não sofrerás nada prejudicial. (4) Então,
almejando coisas tão importantes, lembra que é preciso não te
empenhares de modo comedido, mas abandonar
completamente algumas coisas e, por hora, deixar outras para
depois. Porém, se queres tanto as coisas importantes quanto
comandar e enriquecer, talvez não obtenhas nenhuma destas
coisas, porque almejas também as importantes, e não atingirás
de modo algum aquelas coisas das quais unicamente resultam a
liberdade e a felicidade. Então, pratica dizer prontamente a
toda representação 142 em estado bruto: “És impressão e de
modo algum és o que se apresenta”. Em seguida, examina-a e
julga-a por essas regras que possuis, em primeiro lugar e
principalmente se está ou não sob nosso controle. E, caso esteja
entre as que não estão sob nosso controle, tem à mão que
“Nada és em relação a mim”.
diatribe 1.1
Sobre as coisas que estão e as que não estão
143
sob nosso controle

(1) Entre as demais capacidades, nenhuma encontrareis que


contemple a si mesma e, por essa razão, nenhuma que aprove
ou reprove a si mesma. (2) Em que medida a gramática é
contemplativa? Na medida em que julga as letras. E a arte da
música? Na medida em que julga a melodia. (3) Alguma delas
contempla a si mesma? De modo algum. Se escreveres algo a
um amigo, a gramática dirá como deves escrever as coisas que
devem ser escritas. Mas a gramática não dirá se deves ou não
escrever ao amigo. Assim também é a arte da música em
relação às melodias. Ela não te dirá se deves ou não cantar ou
tocar a cítara 144 agora. (4) Então, qual capacidade dirá? A
mesma que contempla tanto a si mesma quanto a todas as
outras. E que capacidade é essa? A capacidade racional. 145 Pois
somente essa nos foi dada compreendendo tanto a si mesma (o
que é, do que é capaz e que valor tem) quanto a todas as
outras. (5) E que outra capacidade nos diz que o ouro é belo?
Ele mesmo não nos diz. É evidente que a capacidade racional é
a que faz uso das representações. Que outra capacidade julga a
música, (6) a gramática e as outras artes, avaliando o uso delas
e indicando o momento propício 146 para o seu uso? Nenhuma
outra.

(7) Desse modo, como era devido, os Deuses 147 puseram sob
nosso encargo apenas a melhor de todas as capacidades, aquela
que comanda, aquela que usa corretamente as representações.
As demais não estão sob nosso controle. Então isso é assim
porque os Deuses não quiseram colocar as demais também sob
nosso controle? (8) Parece-me que, se pudessem, confiariam a
nós as demais, mas absolutamente não o puderam. 148 (9) Pois,
estando nós sobre a Terra, e tendo sido unidos a tais corpos e
tais companheiros, como seria possível, em relação a estes, não
sermos entravados pelas coisas externas? E o que diz Zeus?
(10) Epicteto, se fosse possível, faria o teu diminuto corpo 149 e
as tuas diminutas posses livres e desembaraçadas. (11) Assim,
não te esqueças: este corpo, argila finamente trabalhada, não é
teu. (12) Mas já que isso não pude te dar, dei-te uma parte
nossa: a capacidade para o impulso e o refreamento, 150 para o
desejo e a repulsa 151 . Em suma: aquela que faz uso das
representações. Se cuidares dela e nela colocares as tuas coisas,
jamais sofrerás entraves, jamais serás impedimento para ti
mesmo, não te queixarás, não censurarás ninguém, não
adularás ninguém. (13) E então? Essas coisas 152 te parecem
insignificantes? De modo algum! E tu te contentas com elas?
Juro pelos Deuses que sim! 153

(14) Mas agora, nós, podendo cuidar de uma só coisa e a uma


só nos ligar, queremos, ao invés disso, de muitas cuidar e estar
ligados a muitas: o corpo, a propriedade, 154 o irmão, o amigo,
o filho, o servo. (15) Assim, como estamos ligados a muitas
coisas, ficamos sobrecarregados e somos arrastados por elas.
(16) Por isso, quando é impossível navegar, sentamo-nos
ansiosos e incessantemente olhamos pela janela: Que vento
sopra? O Bóreas. 155

Em que ele nos interessa? Quando soprará o Zéfiro? 156

Quando a Zéfiro parecer bom, ó melhor dos humanos, ou a


Éolo. 157 Pois Deus não te fez intendente dos ventos, mas Éolo.

(17) Que fazer, então? Usar da melhor maneira as coisas que


estão sob nosso controle e, quanto às outras, devemos nos
servir delas como são por natureza.
E como são por natureza? Como Deus as quer.

(18) Mas só eu serei decapitado agora? E daí? Desejas que


todos sejam decapitados para que te encorajes? (19) Não
desejas estender o pescoço como Laterano 158 em Roma, a
quem Nero ordenou que fosse decapitado? Estendeu, pois, o
pescoço, foi golpeado, e tendo sido este golpe fraco, retirou o
pescoço por um instante e o estendeu de novo. (20) Além disso,
antes, ele, quando esteve com o liberto 159 de Nero, Epafrodito,
que veio interrogá-lo sobre a revolta, disse: “Se eu quiser algo,
falarei com teu senhor”.

Então o que devemos ter à mão em tais situações? O que


senão o conhecimento sobre o que é meu e o que não é meu?
Sobre o que me é possível e o que não me é possível? 160 (22)
Devo morrer. Mas também devo morrer gemendo? Devo ser
aprisionado. E também devo ser aprisionado lamentando-me?
Devo ser eLivros. O que me impede de ser eLivros rindo, com
bom humor e sereno? 161

(23) Diz-me teus segredos.

Não os digo: pois isso é algo que depende de mim.

Mas aprisionar-te-ei.

Homem, o que dizes? Aprisionar-me? Aprisionarás minha


perna, mas a minha capacidade de escolha 162 nem por Zeus
pode ser submetida.

(24) Lançar-te-ei à prisão! Lançarás à prisão o meu diminuto


corpo.

Decapitar-te-ei.
Quando eu te disse que meu pescoço é o único que não pode
ser cortado? (25) Os que filosofam devem praticar essas coisas,
devem escrever a cada dia sobre elas, devem exercitar-se nelas.
163

Trásea 164 costumava dizer: (26) “Prefiro ser morto hoje a ser
eLivros amanhã”. E o que lhe disse Rufo? 165 (27) “Se
escolheres a morte como a pena mais pesada, que loucura de
escolha! Mas se como a mais leve, quem te deu tal escolha?
Não desejas praticar o contentamento com o que te foi dado?”
166

(28) O que disse Agripino sobre esse assunto? “Não sou


entrave para mim mesmo”? 167 (29) “Estás sendo julgado no
Senado, boa sorte!” — disseram-lhe. Era a quinta hora, 168
momento em que ele costumava exercitar-se e depois tomar um
banho frio: “Saiamos e nos exercitemos”. Enquanto ele se
exercitava, alguém, vindo a ele, disse-lhe: “Foste condenado!”.
“Ao exílio”, indagou Agripino, “ou à morte?”. “Ao exílio”. “E
as minhas posses?”. “Não foram confiscadas”. “Vamos, pois,
para Arícia 169 e almocemos lá”.

Isso é ter praticado as coisas que devem ser praticadas, ter


tornado o desejo e a repulsa desimpedidos, e não trôpegos.
Devo morrer. (32) Se agora mesmo, morro. Se dentro de pouco
tempo, agora almoço, já que é a hora. Então, depois, morrerei.
Como morrerei? Como é próprio de quem abre mão de algo
que pertence a outro.

diatribe 1.2
Como manter o caráter próprio 170 em todas
as circunstâncias
Para o animal racional só é insuportável 171 o que é irracional.
Por outro lado, o que é racional 172 lhe é suportável. (2) Por
natureza, pancadas não são insuportáveis.

Como? Vê como os lacedemônios 173 suportam ser


chicoteados por aprenderem que isso é racional.

(3) E não é insuportável enforcar-se? Quando alguém achar 174


que é racional, ele vai e se enforca.

Em suma: se observarmos bem, por nada encontraremos o


animal racional sendo mais oprimido que pelo irracional; e, em
sentido inverso, por nada sendo mais atraído que pelo racional.

Mas acontece que o racional e o irracional se revelam


diferentes para cada um, assim como o bem e o mal, o
vantajoso e o desvantajoso. (6) Principalmente para isto
devemos nos instruir: para aprender a aplicar, de modo
harmonioso à natureza, a pré-noção 175 do racional e do
irracional às realidades particulares. 176

(7) Para julgar o racional e o irracional, não nos guiamos


somente pelos valores das coisas exteriores, mas também pelos
valores das coisas segundo o caráter próprio de cada um. (8)
Pois para um é racional segurar um penico para alguém apenas
porque considera que, se não o segurar, receberá pancadas e
não terá alimentos, e se o segurar, não sofrerá algo duro 177 ou
doloroso.

(9) Porém, para outro, não só lhe parece insuportável segurá-


lo, como também suportar que outro o segure. (10) Assim, se
me perguntares “devo segurar o penico ou não?”, dir-te-ei que
tem mais valor receber alimentos que não os receber, e que tem
menos valor ser castigado que não o ser. De modo que, se
medes por essas coisas as tuas próprias, então vai segurá-lo.
(11) Mas isso não seria próprio do meu caráter.

És tu que deves inserir isso na deliberação, não eu. Pois és tu


que conheces a ti mesmo, quanto valor tens para ti mesmo e
por quanto vendes a ti mesmo, já que diferentes seres humanos
vendem-se por diferentes preços.

(12) Por isso, quando Floro deliberava se devia descer e


participar do espetáculo de Nero, Agripino lhe disse: (13)
“Desce”. E quando Floro lhe perguntou: “Por que tu mesmo
não desces?”; ele respondeu: “Sequer cogitei essa
possibilidade”. 178

(14) Pois próximo está daqueles que esquecem o caráter que


lhes é próprio quem, para investigar essas coisas de uma vez
por todas, atribui seu voto logo após julgar o valor das coisas
externas.

(15) E tu, o que me indagas? Entre morte e vida, o que


devemos escolher? Digo que a vida. (16) Entre o prazer e a dor,
o que devemos escolher? Digo que o prazer.

Mas se eu não participar da tragédia, 179 serei decapitado.

Então vai e participa da tragédia, mas eu não participarei.

— (17) Por quê? 180

Tu te crês uma linha entre as que compõem a túnica.

E daí? É preciso que reflitas como não ser dissemelhante dos


outros seres humanos, do mesmo modo que uma linha não
deseja possuir nada de singular em relação às outras linhas.
(18) Mas eu desejo ser a linha púrpura, 181 aquela pequena e
brilhante, causa das demais se mostrarem graciosas e belas.
Então, por que me dizes: “Age de modo semelhante aos
muitos?” 182 Como ainda serei a linha púrpura? (19) Também
Helvídio Prisco 183 percebeu essas coisas e, após considerá-las,
agiu. Quando Vespasiano enviou-lhe um pedido para que não
comparecesse ao Senado, Prisco respondeu: “Depende de ti 184
não me permitir ser senador. Mas enquanto eu o for, devo
comparecer”.

(20) Vai — disse Vespasiano — porém, ao comparecer, fica em


silêncio.

Não me interrogues e ficarei em silêncio.

Mas devo interrogar-te.

E devo dizer o que se me afigura justo.

Se falares, condenar-te-ei à morte.

(21) Quando eu te disse que sou imortal? Tu farás o que é teu,


e eu farei o que é meu. É teu condenar-me à morte. É meu
morrer sem tremer. É teu condenar-me ao exílio. É meu retirar-
me sem me afligir.

Mas para que Prisco foi útil, sendo apenas um? Para que é útil
a linha púrpura em relação à toga? 185 Pois que outra coisa se
apresenta em Prisco notável como a linha senão o belo
exemplo que expõe aos demais? (23) Outro, quando César 186
lhe falasse em tais circunstâncias para não ir ao Senado, diria:
(24) “Dou-te graças por me ter poupado”. Talvez César nem
mesmo impedisse tal indivíduo de ir ao Senado, já que saberia
que ele iria sentar-se calado como um túmulo ou, se falasse,
diria o que sabia que César queria ouvir, e acrescentaria ainda
outras coisas mais.

Do mesmo modo agiu também um atleta que corria o risco de


morrer se não lhe amputassem o membro viril. Quando foi ter
com ele, que era filósofo, seu irmão lhe disse: “Então, irmão, o
que pretendes fazer? Amputaremos essa parte e depois iremos
ao ginásio?”. O atleta não se submeteu e perseverou até
morrer.

Quando alguém indagou: “Como ele fez isso? Como atleta ou


como filósofo?”, Epicteto lhe disse: “Como homem, homem
que foi aclamado e competiu nos Jogos Olímpicos e que se
sentia em casa nesses lugares sem (27) ter sido untado na
escola de Batão”. 187 Outro teria o pescoço decepado se fosse
possível viver sem ele. (28) Tal é o que está de acordo com o
caráter próprio: muito grande é a sua força para os que estão
habituados a, por si mesmos, inseri-lo nas deliberações.

(29) Então, Epicteto, faz a barba.

Se eu for filósofo, direi: “Não a farei”. 188

Mas te cortarei o pescoço.

Se é melhor para ti, corta-o.

(30) Alguém indagou a Epicteto: “Como, então, cada um de


nós perceberá o que é apropriado a seu caráter?”. Como o
touro solitário percebe sua constituição 189 quando o leão ataca
e se lança em defesa de toda a manada? Não é evidente que,
imediatamente, por possuir a constituição, está ao mesmo
tempo ciente 190 dela? (31) Desse modo, se algum de nós
possuir tal disposição natural, não a ignorará. (32) Mas o
touro não se torna subitamente touro, nem o ser humano se
torna subitamente nobre: é preciso ter passado por um
treinamento de inverno, 191 é preciso ter-se preparado e não se
lançar ao acaso sobre coisas que não são adequadas.

(33) Apenas delibera por quanto vendes a tua capacidade de


escolha. Homem, se não puderes fazer outra coisa, ao menos
não a vendas por pouco. Mas talvez as ações grandes e
singulares pertençam a outros, a Sócrates e outros tais.

(34) Então se somos assim por natureza, 192 por que nem
todos nem muitos se tornam tais? E por acaso todos os cavalos
se tornam velozes? Todos os cães se tornam farejadores? (35) E
então? Se eu for naturalmente sem talento, deverei por causa
disso pôr de lado o cuidado? (36) De modo algum. Epicteto
não será melhor que Sócrates, mas se eu não o for, ser-me-á
suficiente não ser pior. (37) Pois não serei Milão 193 e nem por
isso descuido do corpo. 194 Pois não serei Creso 195 e nem por
isso descuido das posses. Nem, em geral, deixamos de cuidar
de alguma outra coisa por não esperarmos ser os melhores.

diatribe 1.3
Como chegar às conseqüências da tese de que
Deus é pai de todos os humanos
(1) Se alguém simpatizasse — como se deve, dado o mérito —
com a opinião de que todos primariamente nascemos de Deus,
e de que Deus é pai dos humanos e dos Deuses, penso que não
ponderaria nada sórdido ou abjeto sobre si mesmo. (2) Se
César 196 te adotar, ninguém te olhará com desdém, mas se
souberes que és filho de Zeus, não te exaltarás? (3) Na
verdade, não fazemos isso, visto que estes dois elementos
foram misturados em nossa gênese: o corpo, em comum com
os animais; e a razão, isto é, o pensamento, em comum com os
Deuses. Uns se inclinam para o primeiro parentesco, que é
desafortunado e mortal; outros poucos, para aquele divino e
bem-aventurado.
(4) Com efeito, já que é necessário que todo humano use cada
coisa segundo o que supõe 197 sobre ela, aqueles poucos que
pensam ter nascido tanto para a confiabilidade e para a
dignidade quanto para a firmeza no uso das representações
nada sórdido ou abjeto supõem sobre si mesmos. A maioria
pensa o contrário: (5) “O que sou? Um diminuto e miserável
ser humano, (6) um desgraçado pedaço de carne”. A carne, de
fato, é desgraçada, mas tu possuis também algo melhor que
ela. Por que abandonas o melhor e te agarras à carne? (7) Por
esse parentesco, alguns, inclinando-se para a carne, tornam-se
semelhantes aos lobos: desleais, traiçoeiros e nocivos. Outros
se tornam como os leões: agrestes, bestiais e selvagens.

Mas muitos de nós se tornam raposas e, portanto, o que há de


mais desafortunado 198 entre os animais. (8) Pois que outra
coisa é um ser humano ofensivo e malévolo senão uma raposa
ou algum outro animal desafortunado e abjeto? (9) Assim,
vigiai e tomai cuidado para que não proveis ser algum desses
seres desafortunados.

diatribe 1.29
Sobre a serenidade
(1) A essência do bem é uma capacidade de escolha de certa
qualidade. 199 A essência do mal é uma capacidade de escolha
de certa qualidade. (2) Então, o que são as coisas externas?
Materiais 200 para a capacidade de escolha que, segundo seu
comportamento quanto a elas, construirá 201 seu próprio bem
ou mal. (3) Como construirá seu bem? Se não admirar os
materiais. 202 Pois as opiniões sobre os materiais, se forem
corretas, tornam boa a capacidade de escolha; mas se forem
tortas e distorcidas, tornam-na má. (4) Deus estabeleceu essa
lei e disse: “Se quiseres um bem, toma-o de ti mesmo”. Tu
dizes: “Não, eu o tomarei de outro”. Não, toma-o de ti
mesmo! (5) De hoje em diante, quando o tirano me ameaçar e
me acusar, eu direi: “A quem ele ameaça?”. Se ele disser
“Acorrentar-te-ei”, eu direi “Ele ameaça as pernas e os pés”. Se
ele disser “Decapitar-te-ei”, eu direi “Ele ameaça o pescoço”.
(6) Se ele disser “Lançar-te-ei na prisão”, eu direi “Ele ameaça
meu diminuto corpo 203 por inteiro”. E se me ameaçar com o
exílio, a mesma coisa.

(7) Mas nada te ameaça? Se eu sentir que nada é em relação a


mim, não. (8) Porém, se eu temer algumas dessas coisas, ele me
ameaçará. O que, de resto, receio? Aquele que é o mestre delas.
E das que estão sob meu controle? Nenhum senhor há. E das
que não estão sob nosso controle? Em que estas me importam?
(9) Então vós, os filósofos, ensinais a desprezar os reis? De
modo algum! Quem entre nós ensina a reivindicar as coisas
sobre as quais eles têm poder? (10) Toma o diminuto corpo.
Toma as posses. Toma a reputação. Toma as coisas que estão
ao meu redor. Se eu persuado alguém a reivindicar algumas
delas, acusa-me disso.

(11) Sim, contudo também quero comandar as opiniões.

E quem te deu esse poder? Como se pode vencer a opinião de


outrem? (12) Venço, diz o tirano, infundindo-lhe medo.

Ignoras que ele vence a si mesmo, não é vencido por outro.


Nada pode vencer a capacidade de escolha, exceto ela mesma.

(13) Por isso, a lei de Deus também é a melhor e a mais justa:


“O mais forte sempre prevalece sobre o mais fraco”.

(14) Dez são mais fortes do que um.

Em relação a que? Em relação a acorrentá-lo, em relação a


matá-lo, em relação a levá-lo para longe quando desejam, em
relação a tirar-lhe as posses. Portanto, nisso dez vencem um,
nisso são mais fortes.

(15) Mas em que são mais fracos? Se aquele único possuir


opiniões corretas e eles não. E então? Nisso podem vencer?
Como? Se os pusermos sobre uma balança, não deve a balança
pender para o lado mais pesado? (16) Então foi preciso que
Sócrates sofresse aquelas coisas dos atenienses? Prisioneiro! Por
que dizes “Sócrates”? Diz o fato como é! Que o diminuto
corpo de Sócrates sofreu e foi arrastado pelos mais fortes para
a prisão, e que alguém deu a cicuta ao diminuto corpo de
Sócrates, e que esse corpo feneceu. (17) Essas coisas te parecem
admiráveis, te parecem injustas? Por elas acusarás a Deus? (18)
E Sócrates nada tinha para opor a elas? Onde estava a essência
do bem dele? A quem vamos dar ouvidos: a ele ou a ti? E o que
diz ele? “Ânito e Meleto podem me matar, mas não podem me
causar dano”. 204 E novamente: “Se assim é desejado pelos
Deuses, que assim seja”. 205 (19) Demonstra, pois, que quem
possui opiniões piores governa quem é melhor em opiniões.
Não demonstrarás.

Nem chegarás perto. Pois esta é a lei da Natureza e de Deus:


que o mais forte sempre prevaleça sobre o mais fraco. Em quê?
No que é mais forte. (20) Um corpo é mais forte que outro.
Muitos são mais fortes que um. Um ladrão é mais forte de
quem não o é. (21) Pelo mesmo motivo eu perdi a minha
lâmpada: 206 porque o ladrão era melhor que eu quanto a
passar a noite em claro. Mas ele comprou a lâmpada por um
alto preço: tornou-se ladrão em troca da lâmpada, tornou-se
indigno de confiança em troca da lâmpada, tornou-se fera em
troca da lâmpada. Isso lhe pareceu vantajoso.

(22) Que seja! Entretanto, alguém me pega pela toga e me


arrasta para a ágora. Então, outros gritam para mim:
“Filósofo, para que te foram vantajosas as opiniões? Eis que és
levado para a prisão, eis que estás para ser decapitado!”.

(23) E que tipo de Introdução 207 eu comporia para que o


mais forte não me agarrasse pela toga e me arrastasse? Para
que, se dez metessem as mãos em minha toga e me levassem à
força para a prisão, eu não fosse aí colocado? (24) Nenhuma
outra coisa aprendi? Aprendi que, para tudo o que ocorre, se
não for passível de escolha, nada é para mim. (25) Isso não me
é útil em relação àquilo? Por que busco a utilidade em outra
coisa que não nisso que aprendo? (26) Então, sento-me na
prisão e digo: “Aquele que grita 208 essas coisas não sabe o que
significam nem compreende as coisas ditas pelos filósofos, nem
de modo algum cuidou de saber o que estes dizem ou fazem.
Deixa-o”.

(27) Sai, pois, da prisão! Se não te for mais útil que eu


permaneça na prisão, saio.

Mas se te for útil, nela entrarei novamente.

(28) Até quando? Até quando a razão escolher manter-me


unido ao diminuto corpo. Quando ela escolher diferentemente,
toma-o e adeus. 209

(29) Só não farei isso de modo irracional, por fraqueza, por


um pretexto casual. Pois, de novo, Deus não o quer. Pois lhe
são úteis este Cosmos e tais habitantes dele. 210 Porém, se ele
me enviar um signo para que eu volte, como para Sócrates, me
é preciso obedecer ao signo do general. 211

(30) E então? É preciso dizer essas coisas aos muitos? (31)


Para quê? Não basta persuadir a si mesmo? Às crianças,
quando vêm a nós batendo palmas e falando “Hoje é a boa
Saturnália!”, 212 dizemos: “A Saturnália não é boa”? De modo
algum. Mas também nós aplaudimos. (32) Portanto, tu mesmo,
quando não fores capaz de dissuadir alguém, sabe que ele é
uma criança e aplaude-o. De resto, se não desejares fazer isso,
guarda silêncio.

(33) É preciso lembrar-te dessas coisas e, ao perceberes uma


dificuldade tal, deves lembrar que é chegado o momento
propício para mostrares que foste instruído. (34) Pois o jovem,
saindo da escola e deparando-se com uma dificuldade, é
semelhante a alguém que pratica a análise de silogismos e que,
quando lhe é proposto um silogismo de fácil solução, diz:
“Propõe-me antes um silogismo composto de modo engenhoso
para que eu me exercite”. Também aos atletas desagradam
jovens de peso leve.

(35) “Este não me levantará”, diz um lutador, “aquele,


porém, é um jovem de bom porte”. Mas não, quando a ocasião
213
chamar, ser-te-á preciso chorar e dizer: “Desejava ainda
aprender”. Quais coisas? Se não aprendes essas coisas para
mostrá-las em ação, para que as aprendes? (36) Penso que
algum dos que estão aqui sentados padece de angústia sobre si
mesmo, e diz: “A dificuldade não virá agora tal como veio
àquele? Podendo ser eu coroado em Olímpia, irei, ao invés
disso, consumir meus dias sentado em agonia? Quando alguém
me anunciará em tal competição?”. Desse modo é preciso que
todos vós sejais. Entre os gladiadores 214 de César, há alguns
que se irritam porque ninguém os promove nem os põe em
combate, e oram a Deus, e aproximam-se dos intendentes
suplicando para lutar. 215 Nenhum de vós se parecerá com tais
gladiadores? (38) Queria navegar por isso 216 e ver o que faz
meu atleta, como se ocupa do assunto, como põe em prática o
material. 217 (39) “Não quero matéria de tal qualidade”, diz
alguém. Pois depende de ti tomar a matéria que desejares? Foi-
te dado um corpo tal, tais pais, tais irmãos, tal pátria, tal
posição nela. Então, vens a mim e dizes: “Muda para mim a
matéria”. Não possuis meios, porém, para fazer uso das coisas
dadas? (40) “Isso te é dado, 218 meu é praticar belamente”. 219
Não dizes isso, mas isto: “Não proponhas esta proposição
conjuntiva ou condicional para mim, mas aquela; não me
imponhas tal conclusão, mas aquela”. (41) Em breve chegará o
tempo em que os atores trágicos pensarão ser eles mesmos as
máscaras, as pantufas e as vestimentas cênicas. Homem, tu
possuis essa matéria e esse material. (42) Fala algo para vermos
se és ator trágico ou comediante: pois ambos têm as demais
coisas em comum. (43) Por isso, se alguém tomasse daquele as
pantufas e a máscara e o levasse para o palco como um
espectro, seria destruído ou permaneceria o ator trágico? Se
tivesse voz, permaneceria.

(44) Também aqui: 220 “Toma o comando”. Tomo-o e, ao


tomá-lo, mostro como o ser humano instruído vive. (45) “Tira
a toga senatorial e, tomando nas mãos estes farrapos, aparece
em tal papel”. 221 E então? Não me foi dado apresentar uma
bela voz? (46) “Como, pois, te apresentas agora?”. Fui
chamado como testemunha de Deus: (47) “Vem e testemunha
por mim, pois tu tens valor para ires à frente como minha
testemunha”. Alguma coisa externa à capacidade de escolha é
um bem ou um mal? (48) Eu firo alguém? Tornei algo que
depende de outro útil para alguém mais que não aquele? Que
testemunho eu dou a Deus? “Estou em situação terrível,
senhor, e desafortunado, ninguém se importa comigo, ninguém
me dá nada, todos me recriminam, me difamam”. (49) Estás
para testemunhar essas coisas e desonrar o chamado que ele te
fez, porque ele te honrou dessa maneira e te considerou de
valor para ires à frente com tão importante testemunho? (50)
Eis que se manifesta quem detém o poder e diz: “Julgo-te ímpio
e sacrílego”. O que aconteceu? Fui julgado ímpio e sacrílego.

(51) Nada mais? Nada.


Se alguém julgasse uma condicional e declarasse que “é falso
que, se é dia, há luz”, o que aconteceria com a condicional?
Quem aí seria julgado? Quem aí seria condenado? A
condicional ou quem se enganou sobre ela? 222 (52) Então
quem é este que detém o poder de declarar algo sobre ti? 223
Sabe ele o que é o pio e o ímpio? Praticou-o? Aprendeu-o?
Onde? De quem? (53) Do mesmo modo, o músico não se
importa com quem decide que a mais baixa corda da lira é a
mais aguda; nem o geômetra, se alguém julgasse não serem
iguais os raios do círculo. (54) Aquele que foi verdadeiramente
instruído se importa quando o ser humano sem instrução
decide algo sobre o que é sancionado pelos Deuses ou não,
sobre o justo e o injusto? Oh, grande injustiça dos não
instruídos! Aprendeste essas coisas aqui? (55) Não queres
deixar os argumentozinhos sobre essas coisas para os outros,
para os infelizes homenzinhos, para que, sentando-se em um
canto, recebam quantiazinhas 224 ou emitam grunhidos porque
ninguém lhes oferece nada? Tu não queres ir adiante e fazer
uso das coisas que aprendeste? (56) Pois os míseros
argumentos não fazem falta agora — os livros dos estóicos
estão cheios deles! Por conseguinte, o que falta? Aquele que faz
uso deles, aquele que, pela ação, dá testemunho dos
argumentos. (57) Toma, por mim, nas mãos esse papel, para
que não mais façamos uso de antigos exemplos na escola e
tenhamos um exemplo de nosso tempo.

(58) De quem é o ato de contemplar essas coisas? Daquele que


desfruta o ócio. Pois o ser humano é um animal amigo da
contemplação. (59) Porém, é vergonhoso contemplá-las como
os servos fugitivos: 225 é adequado fazê-lo sem se deixar
distrair, ouvindo ora o ator trágico, ora o citarista. Não como
fazem aqueles que, ora parando e aplaudindo o ator trágico,
ora olhando ao redor, de súbito se amedrontam e se inquietam
quando alguém fala em alto e bom tom “senhor”. É
vergonhoso também, para os filósofos, contemplar desse modo
as obras da Natureza. Pois quem é o senhor? O ser humano
não é senhor do ser humano, mas a morte, a vida, o prazer e a
dor. (61) Portanto, conduz César a mim sem essas coisas e vê
como fico sereno. Entretanto, se vier com elas, trovejando e
lançando raios, e se eu as temer, que faço senão, como um
servo fugitivo, reconhecer meu senhor? (62) Contudo, na
medida em que eu de algum modo recuar diante dessas coisas,
também assistirei à peça teatral como o servo fugitivo. Banho-
me, bebo, canto, mas tudo com medo e infelicidade. Todavia,
se eu me livrar dos déspotas 226 , isto é, daquelas coisas pelas
quais os déspotas são temíveis, qual problema ainda terei? Que
senhor terei ainda? (64) E então? É preciso proclamar isso para
todos? Não, mas é preciso conviver com os seres humanos sem
instrução e dizer: “Ele aconselhou-me aquilo que lhe parece um
bem: eu o perdôo”. (65) Pois também Sócrates perdoou o
guardião que chorava quando estava a ponto de beber a droga
227
e disse: “Nobremente chora ele por nós”. 228 (66) Ainda lhe
disse: “Por isso nos livramos das mulheres?”. Não, mas disse
isso aos conhecidos, aos capazes de entender essas coisas.
Acomodou-se, porém, ao guardião como a uma criança.

diatribe 1.30
O que é preciso ter à mão nas dificuldades?
Quando fores ter com algum dos proeminentes, 229 lembra que
também outro, 230 do alto, observa os acontecimentos, e é
preciso antes agradar este que aquele. (2) Então este Deus
indaga: O que dizias serem o exílio, a prisão, as correntes, a
morte e a má reputação na escola? Eu dizia serem indiferentes.

(3) Como os chamas agora? Eles não mudaram de posição?


Não.
Tu não mudaste de posição? Não.

Diz-me, pois, o que são os indiferentes.

Coisas que não são passíveis de escolha.

E qual a conseqüência disso? Coisas que não são passíveis de


escolha nada são para mim.

(4) Diz-me o que pensavas serem os bens para vós.

Uma capacidade de escolha de certa qualidade e o uso correto


das representações.

E qual o fim? Seguir-te.

(5) Agora também dizes essas coisas? Agora também digo


essas coisas.

Assim, entra, com confiança, lembrando-te delas, e verás o


que é um jovem que praticou o que é preciso na presença de
seres humanos despreparados. (6) Eu, pelos Deuses, imagino
que pensarás o seguinte: “Por que nos preparamos por tanto
tempo e tão intensamente? É isso o que eles chamam poder? É
esse o pórtico? Esses os camareiros? Esses os homens armados
com adagas? 231 Para isso ouvi tantos discursos? Tudo isso é
nada: estou preparado para coisas grandes”.

diatribe 2.1
Que coragem 232 não conflita com cautela 233
(1) Para alguns talvez pareça um paradoxo o que é julgado
pelos filósofos. No entanto, examinemos, segundo nossa
capacidade, se verdadeiramente é preciso fazer todas as coisas
ao mesmo tempo de modo cauteloso e de modo corajoso. (2)
Pois parece que ser corajoso é de algum modo o contrário de
ser cauteloso, e de modo algum coisas contrárias coexistem. (3)
O que se afigura a muitos ser um paradoxo nesse tópico,
parece-me ser algo como o seguinte. Se, com efeito, em relação
a essas coisas, julgamos ser preciso tanto a precaução quanto a
coragem, com justiça nos acusariam de compatibilizar coisas
incompatíveis. (4) Mas o que tal dito tem de extraordinário?
Pois se são verdadeiras essas coisas que muitas vezes são ditas,
e muitas vezes demonstradas, que a essência do bem e a
essência do mal estão no uso das representações e que as coisas
que não são passíveis de escolha 234 não participam da essência
do bem nem da essência do mal, (5) será paradoxal os filósofos
dizerem “tem tu coragem diante das coisas que não são
passíveis de escolha, mas cautela diante das coisas passíveis de
escolha”? (6) Pois, se o mal está na má escolha, apenas da
escolha é preciso fazer uso com cautela. Mas se as coisas que
não são passíveis de escolha e não estão sob nosso controle
nada são em relação a nós, é preciso delas fazer uso com
coragem. (7) Então, desse modo, seremos ao mesmo tempo
cautelosos e corajosos e, por Zeus, corajosos graças à cautela.
Pois, graças à cautela quanto às coisas verdadeiramente más,
seremos corajosos em relação às coisas que não o são.

(8) De resto, sofremos os mesmos males dos cervos que,


quando temem e evitam penas 235 e delas se afastam buscando
segurança, voltam sobre seus passos. Para onde vão? Para a
armadilha. (9) E assim se perdem ao confundir as coisas
temíveis com as coisas com as quais se deve ter coragem.
Quando também assim nós agimos tomados pelo medo?
Quando tememos as coisas que não são passíveis de escolha.
De novo, com quais coisas somos corajosos como se não
fossem em nada terríveis? (10) Com as coisas passíveis de
escolha. Se somente visamos às coisas que não são passíveis de
escolha, em nada difere para nós nos enganar por completo ou
nos deixar enredar ou fazer algo vergonhoso ou desejar algo
com indigna cupidez. Mas onde há morte ou exílio ou
sofrimento ou obscuridade, aí também há fuga, (11) aí também
há agitação violenta. 236 Eis por que, como é natural aos que se
enganam a respeito das maiores coisas, por um lado,
transformamos a coragem natural em audácia, desespero,
impudência, vergonha e, por outro, transformamos tanto a
cautela e o pudor naturais em covardia e baixeza repletas de
medos e confusão. (12) Pois se alguém buscar ser cauteloso
quanto à escolha e às obras da escolha, então, imediata e
simultaneamente, por querer ser cauteloso, também terá sob
seu controle a repulsa aí colocada. Mas se buscar ser cauteloso
quanto às coisas que não estão sob nosso controle e que não
são passíveis de escolha, necessariamente terá medo, ficará
confuso e inquieto. Pois não são terríveis a morte ou o
sofrimento, mas é terrível temer o sofrimento e a morte. Por
isso elogiamos aquele que diz: “Não é, pois, terrível fenecer,
mas sim morrer de modo infame”. 237

É preciso, portanto, usar a coragem contra a morte, e a


prudência contra o medo da morte. Mas agora fazemos o
contrário: fugimos da morte, mas, em relação à opinião sobre
ela, manifestamos despreocupação, descuido e indiferença.

Sócrates chama belamente essas coisas de “máscaras da loba


má”, 238 pois como as máscaras parecem terríveis às crianças
pela inexperiência, sentimos também algo semelhante em
relação às coisas pela mesmíssima razão que as crianças em
relação às máscaras da loba má. (16) Pois o que é criança?
Ignorância. O que é criança? Desconhecimento. (17) Na
medida em que tem conhecimento, a criança em nada é inferior
a nós. O que é a morte? Uma máscara. Examina-a atentamente
virando-a: vê como ela não morde: é preciso, ou agora ou
depois, separar o pequeno corpo da pequena alma, que antes já
era separada. (18) Por quê? De modo que o curso do Cosmos
se realize. Pois para esse curso são úteis as coisas presentes, as
coisas futuras e as coisas passadas. 239 Por que te irritas? Se não
morreres agora, morrerás depois. (19) O que é a dor? Uma
máscara. Examina-a atentamente, virando-a: a diminuta carne
é posta em movimento, primeiro, de modo brusco, depois, de
modo suave. Se não for vantajoso para ti, a porta estará
aberta; 240 se for vantajoso, suporta. (20) Pois é preciso deixar
a porta aberta em todas as ocasiões, e não teremos problema.

Qual o fruto de tais doutrinas? 241 Aquele que deve ser o


melhor e o mais benfazejo aos que buscam a verdade:
tranqüilidade, ausência de medo, liberdade. 242

Pois sobre essas coisas não se deve crer nos muitos, que dizem
que apenas aos livres é lícito se instruir, (23) mas antes nos
filósofos, que dizem que unicamente os instruídos são livres.

Como assim? Deste modo: a liberdade é outra coisa senão


conduzir a vida como se quer? Não.

(24) Dizei a mim, seres humanos, quereis viver errando? Não


queremos.

Ninguém, portanto, é livre errando.

Quereis viver com medo? Quereis viver sofrendo? Quereis


viver inquietos? De modo algum.

Logo, ninguém é livre com medo, af lito, inquieto. Mas aquele


que cessa de sofrer, temer e se inquietar, pela mesma via deixa
de ser escravo. (25) Como, com efeito, ainda acreditaremos em
vós, ó caríssimos legisladores? Não concedemos instrução
senão aos livres? Pois os filósofos dizem que não concedemos
liberdade senão aos instruídos, isto é, Deus não concede.

(26) Quando, então, alguém coloca o escravo diante do


pretor, ele nada faz? 243
Faz.

O quê? Coloca seu escravo diante do pretor.

Nada mais? Sim. Também deve pagar a vigésima parte de seu


valor.

(27) E então? O que passou por tais coisas não se torna livre?
Não mais que tranqüilo.

E tu, que podes colocar outros diante do pretor, és livre? Não


és escravo do dinheiro? Não és escravo de uma jovenzinha? De
um jovenzinho? Do tirano? De algum amigo do tirano? Por
que, fugindo, tremes diante de tal pergunta difícil? 244

Por isso digo diversas vezes: “Praticai estas coisas, tende estas
coisas sempre à mão: é preciso ser intrépido em relação a certas
coisas e ser regrado, sendo cauteloso, em relação a outras, é
preciso ser intrépido em relação às coisas não passíveis de
escolha e cauteloso em relação às coisas passíveis de escolha”.

(30) Mas não leio para ti? Não sabes o que faço? (31) O que
fazes? Míseras frases. Fica com tuas míseras frases. Mostra
como és em relação ao desejo e à repulsa, se não falhas em
obter as coisas que desejas, se não te deparas com as que não
desejas. Mas quanto a esses teus míseros parágrafos, se tiveres
inteligência, pega-os agora e lança-os fora.

(32) Mas Sócrates não escreveu? E quem escreveu como ele?


245
Quem? Já que não era possível sempre ter junto a si alguém
que questionasse suas opiniões, e que ele também questionasse,
ele se questionava, se examinava e exercitava o uso de alguma
pré-noção. (33) Essas coisas o filósofo escreve, mas deixa para
outros as míseras frases 246 [...] para os insensatos ou para os
bem-aventurados, que têm tempo livre em razão da
inatividade, 247 ou para os que são inconseqüentes em razão da
loucura. 248

(34) E agora, quando a ocasião chama, tendo praticado isso,


exibirás esses escritos, a eles lerás em voz alta e gabar-te-ás:
“Vê como escrevo diálogos!”. (35) Não, homem, antes te gabes
disto: “Vê como obtenho as coisas que desejo. Vê como não
esbarro no que evito. Traze a morte e saberás. Traze a dor,
traze a prisão, traze a má reputação, traze a condenação”. Esta
é a exibição do jovem que veio da escola. (36) Deixa para
outros as demais coisas, e que ninguém jamais escute palavra
alguma de ti sobre esses assuntos, e se alguém te elogiar pelas
coisas que fazes, tolera, sabendo que nada és e que nada sabes.
(37) Mostra que sabes unicamente isto: como obténs o que
queres e como não esbarras no que evitas.

Que outros estudem processos judiciais, problemas,


silogismos, mas tu estuda morrer, ser aprisionado, ser
torturado, ser eLivros.

Estuda todas essas coisas intrepidamente, obedecendo ao que


te chamou para essas coisas, ao que te julgou digno desse
posto, tendo te colocado aí, e mostrar-te-ás como alguém que
pode opor a capacidade diretriz às forças não possíveis de
escolha. Podes opor a capacidade diretriz racional às coisas
não passíveis de escolha.

Assim, aquele paradoxo segundo o qual é preciso ao mesmo


tempo ser precavido e ser corajoso, corajoso em relação às
coisas não passíveis de escolha, precavido em relação às coisas
passíveis de escolha, não parecerá ser nem absurdo, nem um
paradoxo de fato.
diatribe 2.2
Sobre a ausência de perturbação
(1) Imagina-te indo a um tribunal. O que queres manter e o
que queres realizar ali? (2) Pois se quiseres manter a
capacidade de escolha segundo a natureza, toda segurança e
toda facilidade haverá para ti, não terás problema. (3) Pois se
quiseres manter o que está sob teu controle e sob teu poder, e o
que é por natureza livre, e se te satisfizeres com essas coisas,
por que ainda te preocupas? Pois quem é o senhor dessas
coisas? Quem as pode retirar? (4) Se quiseres ser digno e leal,
quem te impedirá? Se quiseres não ser impedido nem
constrangido, quem te constrangerá a desejar o que não parece
desejável? (5) Quem te constrangerá a repudiar o que não
parece que deva ser repudiado? Quem? O juiz te fará algo que
pareça ser terrível para que sofras ao evitar isso. Mas como ele
poderá fazer isso? (6) Então, se depende de ti desejar e
repudiar, com o que ainda te preocuparás? (7) Que seja esse o
teu proêmio, a tua narrativa, a tua confirmação, a tua vitória, a
tua peroração, a tua aprovação pública. 249

Por isso Sócrates, àquele que o alertara para que se preparasse


para a justiça, disse: “Não te pareço ter-me preparado para a
isso por toda a minha vida?”.

(9) Que preparação? Mantive, disse Sócrates, o que depende


de mim.

Como? Jamais fiz algo injusto, seja na vida privada, seja na


vida pública.

Mas se queres manter também as coisas externas, o teu mísero


corpo, as tuas míseras posses, a tua mísera reputação, digo-te:
prepara-te desde já e imediatamente para o que é possível te
preparar e, então, investiga a natureza do juiz e do oponente.
Se é preciso prostrar-te de joelhos, prostra-te de joelhos. Se é
preciso chorar, chora. (12) Se é preciso lamentar-te, lamenta-te.
Pois quando submeteres as tuas coisas às coisas externas, serás
daí em diante escravo. E não recues: não queiras ora ser
escravo, ora não ser escravo, mas queiras uma coisa ou outra
por completo e com todo o teu pensamento: ou livre ou
escravo, ou instruído ou ignorante, ou galo de raça ou
ordinário, ou suporta ser chicoteado até a morte ou desiste de
imediato. (14) Que não te aconteça receber muitos golpes e
depois desistir. Mas se essas coisas são vergonhosas, desde já
faz a distinção: “Onde estiver a natureza dos bens e dos males,
aí também estará a verdade; onde estiverem a verdade e a
natureza, aí também estará a precaução; onde estiverem a
verdade e a natureza, aí também estará a intrepidez”.

(15) Além disso, parece-te que Sócrates queria manter as


coisas externas perante o tribunal dizendo: “Ânito e Meleto
podem me matar, mas não podem me causar dano?” 250 (16)
Ele seria estúpido se não visse que essa mesma via não mantém
as coisas externas, mas sim aquela? Então por que não tem
discurso pronto e provoca os juízes? Como o meu Heráclito
que, tendo uma pequena demanda sobre um terreno em Rodes,
e demonstrando aos juízes que dizia coisas justas, ao chegar à
peroração disse: “Nem precisarei de vós nem darei atenção ao
que cuidais julgar: (17) antes, vós sois os julgados, não eu”.
(18) E assim encerrou a pequena demanda. Quem tem precisão
do quê? Somente tu não tenhas precisão, não acrescenta que
“E não tenho precisão” se não for a ocasião conveniente para,
como Sócrates, irritar os juízes. (19) E tu, se preparares tal
peroração, o que esperas, o que consideras? Pois se queres ser
crucificado, espera e a cruz virá. (20) Mas se escolheres ouvir a
razão e persuadir na máxima medida, é preciso, para manter as
tuas próprias coisas, fazer coisas conseqüentes.

(21) Aqui também é ridículo dizer: “Sugere-me alguma coisa”.


O que eu te sugerirei? Mas antes diz isto: “Faz meu
pensamento se adaptar ao que quer que ocorra”. (22) Pois o
primeiro pedido seria semelhante ao analfabeto dizer: “Diz-me
o que escreverei quando me for proposto um nome”. (23) Pois
se digo “Díon”, e, então, outro dissesse não “Díon”, mas
“Téon”, o que aconteceria? (24) O que ele escreveria? Mas se
tu praticaste escrever, tens também a prática em relação a todas
as coisas ditadas. Caso contrário, o que eu te sugeriria agora?
Pois se as circunstâncias ditassem outra coisa, o que tu
escreverias ou farias? (25) Mas se ficas de queixo caído diante
das coisas exteriores, a ti é necessário ser arrastado para cima e
para baixo pelo desejo do mestre.

(26) Quem é o mestre? Aquele que tem poder sobre qualquer


uma das coisas que buscas ou que evitas.

diatribe 2.3
Aos que recomendam pessoas aos filósofos
(1) Diógenes respondeu belamente àquele que queria obter dele
cartas de recomendação: “Que és humano, ele saberá ao ver-te;
se és bom ou mau, ele saberá se for experiente em discernir
entre os bons e os maus; mas se ele for inexperiente, não saberá
nem se eu lhe escrever dez mil cartas!”. 251 (2) De modo
semelhante seria se uma dracma quisesse ser recomendada por
alguém ao ser testada. Se aquele que testar for especialista em
prata, tu recomendarás a ti mesma. (3) Então nos é preciso ter
na vida algo semelhante ao que se tem relativamente à prata
para que possamos falar do mesmo modo que o que testa a
prata, o qual diz “Toma a dracma que quiseres que eu a
distinguirei”. (4) Mas sobre os silogismos eu posso falar:
“Toma quem quiseres, que eu determinarei se é capaz de
analisar silogismos ou não”. Por quê? Porque sei analisar
silogismos. Possuo a qualidade que é preciso ter quem é capaz
de discernir os que são bem-sucedidos em relação aos
silogismos.

(5) O que faço na vida? Ora digo que algo é bom, ora digo
que algo é mau. E qual é a razão? A contrária à dos silogismos:
ignorância e inexperiência.

diatribe 2.4
Ao que fora certa vez pego em adultério
Enquanto Epicteto dizia que “o ser humano nasceu para a
lealdade, e quem arruína isso arruína o próprio do humano”,
entrou em sua sala de aula um dos que têm fama de filólogos e
que fora pego certa vez em adultério na cidade.

Se, disse então Epicteto, abandonamos o caráter confiável


para o qual nascemos e concebemos planos para seduzir a
mulher do próximo, o que fazemos? O que destruímos e
abolimos? O humano leal, digno, santo. (3) Somente
destruímos essas coisas? Não destruímos também a boa
vizinhança, a amizade, a cidade? Para qual posto nos
transferiremos? Como lidaremos contigo, homem? Como
vizinho? Como amigo? De que tipo? Como cidadão? E quem
confiará em ti? Então se fosses um vaso tão rachado que não
pudesse ser usado para nada, serias lançado fora no lixo, e
ninguém te tiraria desse lugar. (5) Mas se és um humano que
não pode ocupar nenhum posto na humanidade, o que faremos
contigo? Se não podes ocupar o posto de amigo, podes ocupar
o de escravo? E quem confiará em ti? Não queres, então, ser
lançado no lixo como um pote inútil, como um dejeto? Então
dizes: “Ninguém se importa comigo, ó humano filólogo?”. Pois
és mau e inútil. É como se as vespas se irritassem porque
ninguém se importa com elas, mas que todos fogem delas. E, se
alguém puder, derruba-as com golpes.
Tu tens um ferrão tal, de modo que, se feres alguém, este é
lançado em problemas e dores. O que queres que façamos? Tu
não tens onde ser colocado.

E então? As mulheres não são comuns por natureza? 252


Também eu digo o mesmo. Com efeito, o leitão é comum aos
convidados, mas, uma vez partilhado, se te afigurar bom, vai e
toma a parte de quem está ao teu lado, surrupiando-a
dissimuladamente. Ou, pondo a mão ao lado, devora-a. E se
não puderes tomar um naco de carne, lambuza dos dedos e
lambe. Belo conviva e companheiro de mesa de Sócrates! Ora,
o teatro não é comum aos cidadãos? Então, quando nos
sentarmos, se te parecer bom, vai e desaloja um deles.

Assim também as mulheres são comuns por natureza, mas


quando o legislador, como o anfitrião, faz a partilha, não
queres também a tua própria parte buscar, mas toma e devoras
a de outrem? — Mas sou filólogo e conheço Arquedemos! 253

Portanto, conhecendo Arquedemos, sê adúltero e desleal, e


lobo ou macaco ao invés de humano. Pois o que te impede?

diatribe 2.5
Como conciliar grandeza da alma e cuidado
(1) Os materiais são indiferentes, mas o uso deles não é
indiferente.

(2) Como então alguém se manterá simultaneamente


equilibrado e sem agitação, simultaneamente agindo com
cuidado e não ao acaso nem sendo arrastado? (3) Sem imitar
os jogadores de dados. Os números são indiferentes, os dados
são indiferentes: então sabes qual número está para sair? Fazer
uso do número que cai com cuidado e habilidade, eis aí a
minha tarefa. (4) Do mesmo modo, portanto, o principal sobre
a vida é distinguir e separar as coisas e dizer: “As coisas
exteriores não estão sob meu controle, a capacidade de escolha
está sob meu controle. Onde buscarei o bem e o mal? Nas
minhas coisas”. Quanto às coisas de outrem, jamais as chames
de boas ou más, benéficas ou nocivas, ou qualquer outro nome
semelhante.

E então? Devo fazer uso das coisas exteriores de modo


descuidado? De modo algum, pois isso, por sua vez, é um mal
para a capacidade de escolha e, assim, contrário à natureza.

(7) Mas devo fazer uso das coisas exteriores simultaneamente


com cuidado, porque o uso não é indiferente; simultaneamente
com equilíbrio e sem agitação, porque a matéria é indiferente.
(8) Pois onde há o que não é indiferente, aí não se pode ser
obstaculizado nem constrangido. Onde sou obstaculizado e
constrangido, a obtenção da coisa não está sob o meu controle,
nem a coisa é boa ou má, mas o uso dela é bom ou mau e está
sob o meu controle.

É difícil conciliar e combinar estas coisas: o cuidado de quem


se devota aos materiais e o equilíbrio de quem é indiferente a
eles; mas não é impossível. (10) Do contrário, a felicidade seria
impossível. É como fazemos em relação à navegação. O que me
é possível? Escolher o piloto, os marinheiros, o dia, o momento
propício. (11) Então, desaba uma tempestade. O que isso ainda
me importa? Fiz minha parte. A tempestade é problema de
outro, do piloto (12) E também a nau afunda. O que tenho a
fazer, então? Faço apenas isto: o que me é possível. Afogo-me
sem temer nem gritar nem acusar a Deus, sabendo que é
preciso morrer, porque o que nasce também precisa morrer.
Pois não sou eterno, mas humano, parte do todo como a hora
é parte do dia. Pois me é preciso começar como a hora e
terminar como a hora. (14) Que diferença há, para mim, de
que maneira parto, se por afogamento ou por febre? Pois para
mim é preciso partir por algum meio desses.

(15) Verás fazendo isso também os jogadores de bola


experientes. Nenhum deles considera a bola 254 como um bem
ou um mal, mas algo para lançar e pegar. (16) De resto, nos
atos de lançar e de pegar a bola é preciso estar a destreza, a
habilidade, a rapidez, o fair-play, a inteligência. Enquanto eu
não posso pegar a bola nem se me esticar todo, o jogador
experiente pegará a bola se eu a lançar. (17) Mas se pegamos
ou jogamos a bola com agitação e medo, que tipo de jogo será
este? Como permaneceremos equilibrados? Como veremos a
seqüência do jogo? Um diz: “Joga!” E outro: “Não jogues!”. E
um terceiro... 255

“Não lances!”. Isso é conf lito e não jogo.

(18) Nesse sentido, Sócrates sabia jogar bola. Como? Jogando


no tribunal: “Diz-me, Ânito, falou ele, como afirmavas que não
reconheço a existência do divino? Não te parecem haver
daimones? 256

Não são os daimones certamente filhos dos Deuses ou uma


mistura de humanos e Deuses?”.

(19) De modo semelhante, Sócrates disse, jogando como com


uma bola: “Quem te parece ser capaz de crer haver mulas, mas
não burros?”. E qual bola estava em jogo aí? Ser encarcerado,
ser eLivros, beber o veneno, ter sua mulher tomada, deixar
órfãos seus filhos. 257 Essas coisas estavam em jogo, e ele jogava
com elas, e não jogava pouco, e jogava com destreza.

Desse modo, também tenhamos, como o mais hábil jogador, o


cuidado e a indiferença quanto à bola. (21) É preciso, pois, ter
insuperável engenhosidade a respeito de qualquer um dos
materiais externos, aceitando-os 258 com a mesma
engenhosidade tal como eles se apresentem.

Desse modo também o tecelão não produz a lã, mas é


engenhoso em relação a ela tal qual ele a receba.

Um outro 259 te deu alimentos, posses, e ele pode retirá-los,


bem como teu diminuto corpo. Resta-te, uma vez tendo
recebido a matéria, trabalhá-la.

Então se saíres do tribunal sem sofrimento, os demais que te


encontrarem te felicitarão porque saíste. Mas aquele que,
observando, souber estar atento a tais coisas, se vir que te sais
com decoro, elogiar-te-á e alegrar-se-á contigo. Mas se vir que
tu te livras indecorosamente, acontecerá o contrário. Pois onde
ocorre o alegrar-se racionalmente, aí também ocorre o
congratular-se.

Como então se diz, das coisas externas, que umas são segundo
a natureza e outras contra a natureza? Do mesmo modo que
nos dizemos “separados”. Pois para o pé digo ser segundo a
natureza estar limpo. Mas se o tomas como pé e como não-
separado, será conveniente para ele tanto (24.5) entrar na lama
quanto ferir-se em um espinho e, às vezes, também ser
amputado pelo bem do todo. Caso contrário, não será um pé.

É preciso supor algo semelhante sobre nós mesmos. O que és?


Ser humano. Se te consideras como algo separado, é segundo a
natureza viver até à velhice, enriquecer, ser saudável. Mas se te
consideras como humano e parte de um todo, por esse todo
ora te é conveniente adoecer, ora navegar e correr perigo, ora
passar por necessidade e às vezes morrer prematuramente.

Por que te irritas tanto? Não sabes que aquilo não é mais que
um pé? Assim também não és tu humano? És parte da cidade:
primeiro, daquela dos Deuses e dos humanos; depois, desta que
é dita a mais próxima, (27) que é uma pequena imitação da
totalidade. “Agora me é preciso ser julgado”. E agora não é
preciso que outro tenha febre, que outro navegue, que outro
morra, que outro seja condenado? Pois é impossível, em um
corpo tal, com tal mundo à volta e entre tais companhias, não
acontecer coisas tais para uns e outros.

(28) Esta é a tua tarefa: ir ao tribunal e dizer o que é preciso,


pondo as coisas em ordem. Em seguida, aquele diz: “Julgo-te
injusto!”. “Que isso seja bom para ti”. (29) Eu faço o que é
meu. Se tu também o fizeres, tu saberás. Pois há aí também
algo de perigoso, não te esqueças.

diatribe 2.6
Sobre a indiferença
(1) A condicional é indiferente. 260 O juízo sobre a condicional
não é indiferente, mas é ou ciência ou opinião ou engano. 261
Do mesmo modo, (2) a vida é indiferente, mas o uso da vida
não é indiferente. Então não vos torneis descuidados quando
alguém vos disser que também o uso é indiferente. Nem,
quando alguém vos exortar para o cuidado, (3) vos torneis
abjetos e admiradores dos materiais. Mas é bom também
conhecer a própria qualificação e a própria força, de modo
que, nas coisas para quais não estás qualificado, mantenhas
silêncio e não te irrites se (4) outros forem melhores que tu
nelas.

Com efeito, tu, nos silogismos, julgas ser o melhor e, se eles se


irritarem por isso, tu os consolarás dizendo: (5) “Eu aprendi, e
vós, não”. Assim, também, onde há precisão de prática, não
busques o ganho para além da precisão, mas deixa-o para os
que possuem prática — que te baste estar em equilíbrio.
(6) Vai e saúda fulano.

Saúdo, mas como? Sem humilhar-te.

Mas as portas se fecharam em tua cara.

Como não aprendi a entrar pela janela, quando descubro a


porta fechada, me é necessário ou retirar-me ou entrar (7) pela
janela.

Mas fala com ele também.

Falarei.

De que modo? (8) Sem te humilhares.

Mas não sou bem-sucedido. 262

Pois essa não é ação tua, mas dele. Por que, então, arrogas o
que é de outrem? (9) Lembra-te sempre do que é teu e do que é
de outrem, e tu não te inquietarás. Por isso, belamente fala
Crisipo que “na medida em que sejam incertas para mim as
conseqüências, sempre me aterei, em relação ao que ocorrer, às
coisas que são bem ordenadas segundo a natureza. (10) Pois o
próprio Deus me fez capaz de escolher essas coisas. Certamente
se eu soubesse que me é destinado adoecer agora, também me
impulsionaria para isso. Com efeito, se tivesse entendimento, o
pé impulsionar-se-ia para enlamear-se”. 263

(11) Então para que existem as espigas de milho? Não é para


que sequem? E não secam para serem (12) colhidas? 264 Pois
não são separadas. 265 Se, então, tivessem percepção, ser-lhes-ia
preciso orar para que não fossem (13) colhidas jamais? É uma
maldição para as espigas de milho jamais serem colhidas. Do
mesmo modo, vê que também para os humanos é uma
maldição não morrer. Não ser colhido é semelhante a não (14)
amadurecer.

Mas já que somos simultaneamente os mesmos que devem ser


colhidos e os que compreendem isso, que seremos colhidos,
irritamo-nos por isso. Pois não sabemos quem somos nem
estudamos as coisas relativas (15) aos humanos como os que
criam cavalos conhecem e estudam as coisas relativas aos
cavalos.

Crisantas, 266 quando estava a ponto de atacar o inimigo e


escutou a trombeta dando o toque de retirada, conteve-se, de
modo que julgou mais importante para si o comando do
general que (16) o seu próprio comando.

Nenhum de nós deseja, nem quando a necessidade urge,


obedecer livremente ao comando da Natureza, mas sofremos o
que sofremos chorando e gemendo, e chamamos essas coisas de
dificuldades. (17) Homem, quais dificuldades? Se chamas de
dificuldades as coisas que estão ao nosso redor, todas as coisas
são dificuldades. Mas se as chamas de problemas, que
problema há na destruição do foi gerado? (18) O que destrói é
ou adaga ou roda de tortura 267 ou mar ou caco de cerâmica ou
tirano. O que te importa por qual caminho vais ao Hades? (19)
Todos os caminhos são iguais 268 . Mas se queres escutar a
verdade, mais curto é o caminho pelo qual te envia o tirano.
Nenhum tirano jamais passa seis meses matando, mas a febre
muitas vezes passa um ano matando alguém. Todas essas coisas
são ruídos e barulhos de nomes vazios.

(20) Minha vida corre perigo por causa de César.

E eu, que moro em Nicópolis, onde há fortes terremotos, não


corro perigo? E mesmo tu, quando navegas pelo Adriático, não
corres perigo? (21) Tua vida não corre perigo? Mas também
corro perigo pela suposição. 269
Pela tua suposição? Como? Pois quem pode te constranger a
supor algo que não queres? Corres perigo pela suposição de
outrem? (22) E como te será perigoso que outros suponham
coisas falsas? Mas corro o perigo de ser banido.

O que é ser banido? Estar em outro lugar que não em Roma?


Sim.

E então? Se eu for enviado para Giaros, 270 o que farei? Se isso


te fizer bem, partirás. Caso contrário, tens para onde ir ao
invés de Giaros, (23) para onde aquele que te enviou para
Giaros também há de ir, quer ele queira ou não. Por que,
então, vais como que para algo grandioso? 271 Ela não é menor
que essa qualificação, de modo que um jovem bem constituído
diga que (24) “Não foi grande coisa ter, por tanto tempo,
ouvido tantas coisas e escrito tantas outras sentado com um
velhinho de não muito valor”.

Lembra apenas daquela distinção segundo a qual se dividem


as tuas coisas e as que não são tuas, de modo que (25) jamais
reclames o que é de outrem. Tribunal e prisão são cada qual
um lugar, um elevado, outro baixo.

(26) Mas a capacidade de escolha será a mesma em cada um


desses lugares se quiseres mantê-la a mesma. E, então, seremos
imitadores de Sócrates, quando pudermos escrever peãs 272 na
prisão. (27) Mas como estamos agora, vê o que suportamos se,
na prisão, alguém nos disser “Queres que te leia peãs?”. “Por
que me importunas? Não conheces os meus males? Pois me é
possível entre tais males escutar peãs?”. “Em quais males?”.
“Estou a ponto de morrer”. Mas os demais humanos são
imortais?

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1954.
Notas de Rodapé
1 Viveu entre 55 e 135 a. C.

2 Viveu entre 30 e 100 a. C.

3 Viveu entre 121 e 180 a. C.

4 Cf. Flávio Arriano, O manual de Epicteto, capítulo 1 (Auster, 2020).

5 A ênfase nessa capacidade de escolher (o conceito de prohairesis que Epicteto


toma de Aristóteles) é, até onde se sabe, a grande contribuição epictetiana para o
estoicismo.

6 Epicteto, Diatribes, 2.5, “Como conciliar grandeza da alma e cuidado”.


Tradução minha.

7 Diatribes, 2.5.1.

8 Diatribes, 2.5.3

9 https://g1.globo.com/Noticias/ Mundo/0,,MUL958028-5602,00-
POUSO+DE+AVIAO+N
O+RIO+FOI+UM+MILAGRE+DIZ+GOVERNADOR+D
E+NOVA+YORK.html

10 O termo aqui é eugnomosyne, que se traduz por “bom sentimento”,


“candura”, “bondade”, “nobreza de sentimentos”. Como aqui o termo se refere a
uma boa qualidade de um jogador, escolhemos o termo que se aplica hoje ao
comportamento “bondoso” de um jogador em campo de futebol: o dito fair-play.

11 Epicteto, Diatribes, 2.5. Tradução minha.

12 Epicteto, Diatribes, 2.5.9–10.

13 Epicteto, Diatribes, 2.5.9–10.

14 Cf. Epicteto, Diatribes, 2.5.15.

15 Sobre o harpastum, v. nota 1, p. 76.

16 Simplício, Proêmio do Comentário ao manual de Epicteto, 1.5 ss. In:


Prometeus, n. 15, 2014, pp. 165–74. Cf. Schenkl, 1916, testemunho iii.

17 Como, por exemplo, Ilsetraut Hadot (1996, pp. 152–157).

18 Souilhé, 1956, p. xiii.


19 González, 2000, pp. 111–2.

20 Ilsetraut Hadot, 1996.

21 Follet, 1994, p. 602.

22 Schenkl, 1916, p. xvi. Schenkl especula que as Diatribes deveriam conter


originalmente uma passagem na qual Epicteto, em seus últimos momentos e diante
de seus discípulos, falaria, como Sócrates no Fédon, da morte como algo indiferente,
o que explicaria Simplício dizer que Arriano falou sobre a vida e a morte de Epicteto.

23 Schenkl, 1916. Schenkl observa, porém, que, em sua ampla maioria, todos os
testemunhos antigos derivam- se do que é dito pelo próprio Epicteto nas Diatribes
(1916, p. xvi).

24 Aulo Gélio, Noites Áticas, 1.2.6–13; 2.18.10; 15.11.5 (= Schenkl, 1916,


testemunho viii–x). Aulo Gélio, autor e gramático latino, viveu entre 125 e 180.

25 Simplício da Cilícia, filósofo neoplatônico bizantino, viveu entre 490 e 560.

26 Suda u Suida é uma enciclopédia histórica surgida no século x, em


Constantinopla. Retiradas de muitas fontes antigas que foram perdidas, são mais de
30 mil entradas a respeito de variadas disciplinas como geografia, história, literatura,
filosofia, ciência, gramática, costumes e tradições — ne.

27 Suda, épsilon 2424 (Adler = Schenkl, 1916, testemunho xxi).

28 Kaibel, 1888, pp. 532–545. Cf. Schenkl, 1916, testemunho xix.

29 Região do Sul da Ásia Menor que foi, por muitos séculos, província do Império
Romano. Atual Antalya (Turquia).

30 João Crisóstomo, “Hom. 13 in Acta”. In: Patrologia Graeca, 60.111.30 (=


Schenkl, 1916, testemunho xviii). São João Crisóstomo nasceu em Antioquia (atual
Antakya), na Síria, aproximadamente em 347 e morreu em 14 de Setembro de 407.
Foi teólogo, escritor e arcebispo de Constantinopla do fim do século iv ao início do v.

31 Macróbio, Saturnálias, 1.11.45 (= Schenkl, 1916, testemunhos xxxv e xxxvi).


Flávio Ambrósio Teodósio Macróbio foi escritor e filósofo romano. Compôs as
Saturnálias e o Comentário ao sonho de Cipião. Africano, teria nascido por volta de
370, na Numídia.

32 Simplício, Comentário ao manual de Epicteto, 45.35; 55.3.

33 González, 2000, p. 113. Cf. Schenkl, 1916, p. xvi, n. 2.

34 Schenkl, 1916, p. xvi.

35 Cf. Martha, 1865, p. 196.


36 Oldfather, 1928, vol. i, p. vii, n. 2.

37 Como observa Germain, 1965, pp. 435–436.

38 Colardeau, 1903, p. 6, n. 5.

39 Souilhé, 1956, p. iii.

40 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.9.29–30; 1.19.19–21; Schenkl, 1916, testemunhos 9,


17, 18, 31 a e b, 35, 36, 36 a, 47, 50, 59. Frontão, Cartas 5. Marcos Cornélio
Frontão (ca. 100–170) foi um gramático, retórico e advogado romano nascido na
Numídia.

41 Epicteto é o único filósofo que sabemos nominalmente ter sido atingido por
esse decreto. Cf. Aulo Gélio, Noites áticas, 15.11; Simplício, Comentário ao manual
de Epicteto, 153 b; Plínio, o Jovem, Cartas, 3.11; Tácito, Agrícola, c. 2; Dudley, D.
R., 1980, p. 139, n. 1; Sherwin-White, 1957, pp. 126–30.

42 Nero Cláudio César Augusto Germânico nasceu em 15 de dezembro de 37 e


faleceu em 9 de junho de 68. Governou Roma entre 54 e 68 e foi o último imperador
da dinastia Júlio-claudiana.

43 Cf. Suetônio, Nero, 49.5; Domiciano, 14.2. O escritor e historiador romano


Caio Suetônio Tranqüilo viveu entre 69 e 141.

44 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.1.20; 1.19.19; 1.26.11.

45 Tito Flávio Domiciano nasceu em 24 de outubro de 51 e morreu em 18 de


setembro de 96. Foi imperador de Roma entre 14 de setembro de 81 até a sua morte.
Era filho de Tito Flávio Sabino Vespasiano e irmão de Tito Flávio, a quem sucedeu.

46 Caio Calpúrnio Pisão, senador romano que viveu no século i, foi o principal
idealizador da chamada Conspiração de Pisão, contra Nero. Em 19 de abril de 65, o
liberto Mílico traiu Pisão, denunciando-o ao imperador. Dezenove conspiradores
foram condenados à morte e outros treze, eLivross. Pisão recebeu e cumpriu a ordem
de cometer suicídio.

47 Tito Flávio Josefo (em hebraico Yosef Ben Matityahura) viveu entre 37 ou 38 e
100 e foi um historiador judaico-romano.

48 Flávio Josefo, em suas obras Antigüidades dos judeus, Autobiografia e Contra


os gregos agradece ao seu patrono Epafrodito. Entretanto, não se sabe ao certo se
esse é o mesmo senhor de Epicteto (Tibério Cláudio Epafrodito) ou se Epafrodito de
Queronéia (liberto de Modesto, praefectum do Egito nos anos 50).

49 Simplício, Comentário ao manual de Epicteto, 45.36.

50 Cf. Gregório Nazianzo, “Oratio i contra Iulianum”. In: Patrologia Graeca,


35.592.14; Ep. 32 ad Philagrium 10.2; Orígenes, “Contra Celsum”, vii, 53. In:
Patrologia Graeca, 3.368. Cf. Schenkl, 1916, testemunhos 31–35 (com os
testemunhos não só de Gregório, mas também de seu irmão Cesário). Segundo
Orígenes, na passagem mencionada, Celso teria sido o primeiro a mencionar essa
anedota, segundo a qual, ao ser torturado por seu senhor e suportando a dor,
Epicteto advertiu: “Vais quebrar minha perna” e, quando isso efetivamente ocorreu,
Epicteto observou: “Viste, quebraste minha perna!”.

51 Cf. Nono. In: Patrologia Graeca, 36.933; Cosme de Jerusalém. In: Patrologia
Graeca, 38.532.

52 Diatribes, 1.19.8: “Mas as opiniões o agitam. Pois quando o tirano disser a


alguém ‘Acorrentarei tua perna!’, aquele que reverencia a perna diz ‘Não, tem
piedade!’. Entretanto, quem reverencia a própria capacidade de escolha diz:
‘Acorrenta-a se te parecer mais útil’. – Não te importas? – Não me importo. –
Mostrar-te-ei que sou o senhor”. Tradução de Aldo Dinucci — ne.

53 Schenkl, 1916, p. xv–xxxiii.

54 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.9.29.

55 Marco Úlpio Nerva Trajano viveu entre 18 de setembro de 53 e 9 de agosto de


117. Foi imperador romano entre 98 e 117, período no qual o Império Romano
atingiu sua maior extensão territorial. Trajano realizou extensos programas de obras
públicas e implementou diversas políticas sociais. Na passagem mencionada, Epicteto
se refere nominalmente a Trajano.

56 Tal cargo surgiu durante o governo de Trajano e era ocupado por oficiais da
classe senatorial designados para investigar e corrigir a administração nas províncias.

57 Plínio, o Jovem, Carta 22. Caio Plínio Cecílio Segundo viveu entre 61 (ou 62) e
114. Foi orador, jurista e político, além de governador imperial na Bitínia entre 111 e
112. Adotado por Plínio, o Velho, de quem era sobrinho- neto, foi testemunha ocular
da erupção do Vesúvio de 79, sobre o que escreveu.

58 César Marco Aurélio Antonino Augusto, ou simplesmente Marco Aurélio,


viveu entre 26 de abril de 121 e 17 de março de 180. Foi imperador de Roma entre
161 e 180. Após sua morte, foram publicadas suas reflexões filosóficas, que lhe
valeram o título de filósofo estóico e seguidor de Epicteto.

59 Cf. Stellwag, 1933, p. 1 seg.

60 Temístio viveu entre 317 e 387 e foi um filósofo peripatético tardio. Jorge
Sincelo (Schenkl, 1916, testemunho v), um escritor eclesiástico bizantino que morreu
por volta de 810, afirma que Epicteto floresceu sob Antonino Pio (138–61).

61 Tito Fúlvio Aélio Antonino Augusto Pio nasceu em 19 de setembro de 86 e


faleceu em 7 de março de 161. Governou Roma entre 138 e 161.

62 Cf. Temístio, Orações 5, 63 d (= Schenkl, 1916, testemunho xxx).


63 Públio Aélio Trajano Adriano Augusto nasceu em 24 de janeiro de 76 e faleceu
em 10 de julho de 138. Governou Roma entre 117 e 138.

64 Que, aliás, funcionam até hoje.

65 Estrabão, 13.13–14.

66 Spanneut, 2009–2011, col. 599 seg.

67 Schenkl, 1916, p. xiii.

68 Dobbin, 2008, p. xiii.

69 Millar, 1965, p. 141.

70 Demétrio foi um filósofo cínico de Corinto. Viveu sob Calígula, Cláudio, Nero,
Galba, Otão, Vitélio e Vespasiano (entre 37 e 71). Era amigo de Sêneca, que muitas
vezes o elogia e cita (cf. Sêneca, Cartas a Lucílio, 20.9, 62.3, 67.14, 91.19). Calígula
tentou suborná-lo com dois mil sestércios, sobre o que o cínico comentou: “Se ele
quisesse me tentar, deveria ter feito tal oferecendo-me todo o seu império” (cf.
Sêneca, Dos benefícios, 7.11).

71 Pacônio Agripino foi um filósofo estóico do século i muito elogiado por


Epicteto (cf. Epicteto, Diatribes, 1.1.28–30). Sob Nero, foi acusado junto com Trásea
e banido da Itália em 67.

72 Géssio Floro foi procurador romano na Judéia entre 64 e 66.

73 Pláutio Laterano foi amante de Messalina, esposa do Imperador Cláudio, razão


pela qual foi condenado à morte em 48. Entretanto, foi perdoado a pedido de seu tio
Aulo Pláutio (general e político romano da primeira metade do século i, que iniciou a
conquista da Britânia e foi o primeiro governador da nova província). Pláutio
Laterano, enquanto cônsul em 65, participou da conspiração de Pisão e foi
condenado à morte. Com firmeza e coragem, negou-se a denunciar seus colegas de
conspiração. Ao ser decapitado, e sendo o primeiro golpe não suficientemente forte
para matá-lo, calmamente esticou novamente o pescoço à espera do próximo e fatal
golpe (cf. Tácito, Anais, 11.30; 36; 13.11; 15.49; 60).

74 Públio Clódio Trásea Peto foi um senador romano do século i que se destacou
por sua oposição a Nero e por sua ligação com o estoicismo. Processado por Nero
em 66, foi condenado à “morte por livre escolha” (liberum mortis arbitrium) e,
tendo as veias de ambos os braços cortadas, morreu na presença de amigos e
admiradores. Cf. Tácito, Anais, 34–5; Dião Cássio, 62.26.4).

75 Quanto a Musônio, logo à frente falaremos sobre ele.

76 Os imperadores Flavianos governaram Roma entre 69 e 96. São eles:


Vespasiano (69–79) e seus filhos Tito (79–81) e Domiciano (81–96). Após Galba e
Otão, Vitélio tornou-se imperador, em 69. Entretanto, algumas legiões declararam
Vespasiano imperador. Vitoriosas na segunda batalha de Bedríaco, as forças flavianas
entraram em Roma em 20 de dezembro do mesmo ano, e Vespasiano foi legitimado
como imperador pelo Senado no dia seguinte.

77 Cf. Cora Lutz, 1947, pp. 8–9.

78 Sérvio Sulpício Galba César foi imperador romano por sete meses entre 68 e
69.

79 Eufrates foi um eminente filósofo estóico que viveu entre 35 e 118. Segundo
Filóstrato (Vida dos sofistas ilustres 1.7; Vida de Apolônio de Tiana, 1.13), seria
nativo de Tiro. Segundo Estéfano de Bizâncio (Epiphaneia), seria sírio, enquanto
Eunápio chama-o de egípcio. Muito elogiado por Plínio (Cartas 1.10), também é
citado por Epicteto (Epicteto, Diatribes, 3.15; 4.8) e por Marco Aurélio (10.31). Cf.
Dião Cássio, 69.8.

80 Helvídio Prisco foi um filósofo estóico que viveu sob Nero, Galba, Otão, Vitélio
e Vespasiano. Sob Nero foi questor da Acaia e tribuno da plebe (56). Restaurou a
ordem e a paz na Armênia. Foi banido em 66 por sua simpatia por Bruto e Cássio.
Galba o trouxe do exílio em 68, mas foi novamente banido e, a seguir, executado por
Vespasiano.

81 Cf. Millar, 1965, p. 142.

82 A Saturnália era um antigo festival romano em honra a Saturno que ocorria


entre os dias 17 e 23 de dezembro (no calendário juliano). Havia, então, um
sacrifício no templo de Saturno e um banquete público, seguido de troca de
presentes. Durante as festividades, quebravam-se as normas: os senhores, por
exemplo, serviam seus servos.

83 Epicteto aparentemente primeiro agiu como Sócrates, questionando as pessoas


pelas ruas, até levar um soco na cara de um rico ex-cônsul (cf. Epicteto, Diatribes,
2.12.17 ss.).

84 Cf. Tácito, Anais 15, 71; Epicteto, Diatribes, 1.25.19–20; 2.6.22; 3.24.100 e
109.

85 Hense, Musonii Rufi Reliquiae. Leipzig 1905.

86 Cf. Aulo Gélio, Noites áticas, 15.11 (= Schenkl, 1916, testemunho x).

87 Batalha naval, ocorrida em 2 de setembro de 31 a.C., que decidiu a guerra civil,


dando fim à República Romana. Nessa batalha, Otaviano (mais tarde César
Augusto) enfrentou as forças combinadas de Marco Antônio e Cleópatra vii — e
sagrou-se vencedor.

88 Cf. González, 2000, pp. 115–116.

89 Aélio Espartano, “Vida de Adriano”, 16.10, In: História Augusta.


90 Vida de Demonax, 55 (= Schenkl, 1916, p. xxvi). Cf. Schenkl, 1916,
testemunho xiv, no qual Luciano nos fala de uma conversa entre Epicteto e
Demonax, filósofo cínico originário do Chipre, que viveu entre 70 e 170 e passou
sua vida em Atenas. Luciano, escritor cínico que viveu entre c. 125–180, cita
Epicteto cinco vezes ao todo (cf. Schenkl, 1969, testemunhos 4; 13–16).

91 Na carta 69 a Epicteto ( = Schenkl, 1916, testemunho xxii), na qual Filóstrato


fala dos muitos aplausos recebidos por Epicteto em Atenas, comparáveis ao
retumbar dos címbalos durante os mistérios de Elêusis. Há outra carta a Epicteto em
Filóstrato (Carta 65 = Schenkl, 1969, testemunho xxx).

92 Souilhé, 1956, p. viii, n. 3.

93 Cf. 3.21.

94 Oldfather, 1928, vol. i, p. x.

95 Hijmans, 1959, p. 1 ss.

96 Cf. González, 2000, p. 116.

97 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.1.18–32; 1.2.19–24.

98 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.29.9.

99 Quanto a Lúcio Flávio Arriano, ver à frente.

100 Favorino de Arelate viveu entre 80 e 160 e foi um sofista e um filósofo


romano. Floresceu sob Adriano. Uma vez, após deixar-se vencer por um argumento
facilmente refutável de Adriano, disse que era tolice criticar a lógica do comandante
de trinta legiões. Foi banido pelo próprio Adriano para a ilha de Quios por volta de
130. Retornou a Roma sob Antonino Pio.

101 Cf. Aulo Gélio, Noites Áticas, 17.19.1–6 (= Schenkl, 1916, testemunho x),
em que Favorino cita o famoso dictum epictetiano Anechou kai apechou (“Suporta e
abstém-te”). Cf. também Noites áticas, 19.1.14–21.

102 Aulo Gélio, Noites áticas, 1.2.6.

103 Herodes Ático viveu entre 101 e 177 e foi um senador romano e um destacado
sofista, talvez o maior representante da Segunda Sofística.

104 Marco Aurélio, 7.19.

105 Quinto Júnio Rústico foi um dos professores do Imperador Marco Aurélio e o
mais distinto filósofo estóico de seu tempo. Recebendo as maiores honras da parte de
Marco Aurélio, que constantemente o consultava sobre todos os assuntos públicos e
privados, foi duas vezes promovido por ele ao consulado e, após sua morte, obteve
do Senado estátuas erguidas em sua honra (cf. Dião Cássio lxxi, 35; Capitolino.
Marco Aurélio Antonino, 3; Marco Aurélio, 1.7).

106 Marco Aurélio, 1.7.

107 Aélio Galeno ou Cláudio Galeno, também conhecido como Galeno de


Pérgamo (atual Bergama, na Turquia) viveu entre 129 e 200 (ou 216) e destacou-se
como médico, cirurgião e filósofo.

108 Cf. Galeno, Lib. prop., 11. Cf. De optima doctrina, 1.14.

109 Orígenes Adamâncio viveu entre 184/185 e 253/254 e foi um teólogo cristão.

110 Orígenes, Contra Celsum, 6.2 (= Schenkl, 1916, testemunho xvii).

111 Gourinat (1998, p. 1) vê aí dois modelos que se confrontam: a sabedoria


antiga e a santidade cristã.

112 Schenkl, 1916, testemunho xxvi.

113 Filósofo fundador do neoplatonismo, viveu entre 205 e 270.

114 Cf. Spanneut, 2009–2011, col. 622–623.

115 Em sua obra Vita Isidori (= Schenkl, 1916, testemunho lxii). Damáscio viveu
entre c. 458 e 538 e foi o último escolarca da escola de Atenas. Perseguido por
Justiniano (que decretou, em 529, o fechamento de todas as escolas filosóficas),
refugiou-se na Pérsia, donde voltou para Alexandria após um tratado de paz entre
Justiniano e os persas.

116 Em sua obra Platonis Alcibiadem Commentaria (= Schenkl, 1916, testemunho


xliii). Proclo foi um filósofo neoplatônico que viveu entre 412 e 485.

117 Em sua obra Carmen aureum (= Schenkl, 1916, testemunho xxxviii).


Hiérocles de Alexandria foi um neoplatônico ativo por volta de 430.

118 Em sua obra Platonis Gorgiam comentaria (= Schenkl, 1916, testemunho liii).
Olimpiodoro, o Jovem, viveu entre c. 495 e 570 e foi o último filósofo neoplatônico
da escola de Alexandria.

119 Justino Mártir viveu entre 100 e 165. Clemente de Alexandria viveu entre c.
150 e 211(216). Spanneut estuda cuidadosamente essas influências (2009–2011, col.
622– 623).

120 Cf. Spanneut, 2009–2011, col. 642–5.

121 Schenkl, 1916, testemunhos 31–34.

122 O capítulo 33.9 é parafraseado em “Homilia in Acta apostolorum”, 14.4


(Patrologia Graeca, 60.118).
123 Schenkl, 1916, testemunho xxxv.

124 Schenkl, 1916, fragmento Xa. Arnóbio de Sica, morto por volta de 330, foi
um apologético cristão que viveu sob o imperador Diocleciano (284–305).

125 Em sua obra De bono mortis, 8.31. Ambrósio de Alexandria foi aluno de
Orígenes e teólogo cristão. Viveu no século iii.

126 Em sua obra A cidade de Deus, 9.4.2.

127 Schenkl, 1916, frag. ix.

128 Schenkl, 1916, testemunhos 36a e 37a. Paládio de Antioquia foi bispo de
Antioquia entre 496 e 498. Teodoreto de Cirro, teólogo e exegeta, viveu entre c. 393
e 466 e foi arcebispo de Cirro.

129 Schenkl, 1916, testemunho xlvi. Esses autores comentam o capítulo 17 do


Manual, no qual a vida humana é comparada à interpretação de uma peça teatral.

130 Schenkl, 1916, testemunhos 31a.

131 Epicteto, Diatribes, 1.18.15; 1.29.21.

132 Luciano, Contra um ignorante, 13 (= Schenkl, 1916, testemunho xv).

133 Epicteto, Diatribes, 3.1.24.

134 Epicteto, Diatribes, 4.11.13–14.

135 Epicteto, Diatribes, 1.23.

136 Cf. Epicteto, Diatribes, 3.2.

137 Epicteto, Diatribes, 3.22.67 ss.

138 Simplício, Comentário ao manual de Epicteto, 44.77.80.

139 Cf. Hijmans, 1956, p. 2 n. 6.

140 Luciano, Vida de Demonax, 55.

141 A expressão eph’hemin significa literalmente “o que está sobre nós”. Nesse
caso, epi expressa uma relação de dependência, referindo-se a coisas que nos têm
como causa única e que, portanto, dependem de nós.

142 A noção de phantasia é de fundamental importância para a compreensão da


filosofia estóica por relacionar-se tanto a questões lógicas quanto epistemológicas e
éticas. Entretanto, não há concordância quanto à tradução do termo: “aparência”,
“impressão”, “apresentação” e “representação”. Das alternativas, parece- nos que a
palavra “representação” (que possui, segundo o dicionário Aurélio, o sentido
filosófico geral de “conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, pela imaginação,
pela memória ou pelo pensamento”) melhor serve para o nosso propósito. Cumpre
informar que, na concepção de Crisipo, a phantasia tem duas facetas: uma sensível
(sendo uma modificação da parte diretriz) e outra virtual (sendo articulável em forma
lingüística). Cf. Dinucci, Aldo, “O conceito estóico de phantasia: de Zenão a
Crisipo”.

143 A Diatribe 1.1 é de fundamental importância para a compreensão do


pensamento epictetiano, sendo o capítulo 1 do Manual de Epicteto um resumo dela.
Entre os parágrafos 1–6 da presente diatribe, Epicteto observa que a razão tem o
poder arquitetônico de examinar a si mesma e tudo mais. Entre os parágrafos 7–17,
Epicteto salienta que a razão, por sua capacidade reflexiva, deve se concentrar em si
mesma e não em coisas externas, que não estão sob nosso controle. Entre os
parágrafos 18–32, tal princípio é ilustrado através de exemplos históricos de pessoas
que tiveram a concepção certa sobre nosso controle sobre as representações
(phantasia — cf. nota 2, p. 34) e a nossa falta de controle sobre o corpo.

144 Instrumento musical de cordas da família da lira, usada, ao contrário desta


última, por músicos profissionais.

145 Logike (racional) é adjetivo de logos (razão), conceito tomado de Heráclito


por Pórtico. Tal logos, para os estóicos, é o princípio da física e a razão universal que
governa a realidade. Na psicologia estóica, o logos representa a capacidade da razão
que compreende as funções da alma humana, sendo equivalente ou co- extensiva à
parte diretriz (to hegemonikon), governando a sensação, a representação, o impulso
e o assentimento (cf. Diógenes Laércio, 7.159). A noção de dynamis cobre não
apenas as artes (cf. parágrafo 2), mas também as capacidades da alma (cf. parágrafos
4–12). Para os estóicos, há uma dynamis da alma que, dependendo de sua
disposição, ora pensa, ora torna-se irascível, ora deseja (cf. SVF, 2.823). A
capacidade racional para Epicteto é responsável tanto pela produção quanto pela
avaliação das representações (cf. Epicteto, Diatribes, 1.20.1–11; 2.23.5–6). Para
Epicteto e os demais estóicos, a razão é critério para si mesma. A razão também
confere valor — o que é de fundamental importância para o pensamento epictetiano.
A argumentação de Epicteto sobre a incapacidade de auto-avaliação e avaliação das
demais artes lembra o argumento de Platão no Laques (195c), no qual o mesmo é
dito sobre a medicina.

146 Kairos.

147 “Deuses”, “Deus” e “Zeus” ocorrem como sinônimos em Epicteto. Referem-


se ao princípio cósmico que determina o fluxo de todas as coisas, sendo, por isso,
também o destino (heimarmene); o princípio material de tudo o que existe (pois os
estóicos não concebem nenhuma realidade senão a corpórea); o que confere aos seres
vivos as habilidades de que necessitam para sobreviver, sendo, por isso, também a
providência (pronoia); e o conjunto das leis da Natureza, sendo, por isso, também a
Razão Universal (logos).
148 Long (1996c, pp. 299–309) observa que, nessas linhas, Epicteto se distingue
dos estóicos antigos, afirmando limites para a atuação da divindade (cf. Sêneca,
Cartas a Lucílio, 65.2). Dobbin (2008, p. 70) comenta também que, nos estóicos
imperiais, há uma tendência a ver na matéria um obstáculo à onipotência divina (cf.
Sêneca, Cartas a Lucílio, 58.27; Da Providência, 5.8–9). Nessas linhas, Epicteto trata
do corpo como matéria na qual o logos (o que realmente somos) se encontra.
Embora Epicteto considere o corpo inferior à razão, ele não o condena, mas tão
somente critica aqueles que se prendem em demasia a ele. Para Epicteto, o corpo está
entre as coisas que nos são externas e que, portanto, não dependem de nós, o que
não impede que Epicteto recomende que ele seja cuidado e não negligenciado (cf.
Epicteto, Diatribes, 4.11; Xenofonte, Memoráveis, 1.2.4; 3.12). Além disso, como
observa Dobbin (2008, p. 71–2), a independência da alma em relação ao corpo,
como o temos em Platão (por exemplo, no Fédon ou livro X da República) é
estranha aos estóicos, para os quais não há transcendência, seja no âmbito
metafísico, seja no pessoal (Epicteto expressamente afirma que não há Hades e coisas
tais — cf. Epicteto, Diatribes, 3.13.15). Como observa Simplício, comentando tal
ausência de transcendência da alma em Epicteto: “Devemos admirar esta qualidade
de seus discursos, sua habilidade de tornar felizes aqueles que os praticam sem
prometer recompensas para a virtude após a morte” (Simplício, Comentário ao
manual de Epicteto, 3A).

149 Com o diminutivo de soma (“corpo”), Epicteto quer mostrar o caráter servil
do corpo por oposição à capacidade de escolha, que é livre. O corpo, além de coisa
ínfima se comparado à enormidade do Cosmos, está entre as coisas que não estão
sob nosso controle, sendo, portanto, determinado pelas cadeias causais externas à
capacidade de escolha. Cf. Epicteto, Diatribes, 1.12.26.

150 Impulso traduz horme, que, em Epicteto, significa a tendência para agir desta
ou daquela maneira diante de determinada coisa. Aphorme é o contrário de horme,
daí nossa tradução por “refreamento”. Cf. Crisipo, svf, 3.42.

151 Literalmente “a capacidade de desejo (orexis) e de repulsa (ekklisis)”. Orexis é


o nome da ação do verbo orego, que significa “estender ou tender na direção de
algo”, donde “desejo”, “apetite”. Orexis se opõe a ekklisis, que expressa o
movimento contrário, o de afastar-se.

152 O poder de usar corretamente as representações (parágrafo 7) é parafraseado


como o poder de impulso e refreamento, de desejo e repulsa.

153 Comparar com Epicteto, Diatribes, 1.2.38.

154 Luís Márcio Fontes sugere “a casa”.

155 O vento norte, que impedia a navegação, simbolizando aqui um impedimento.

156 O vento oeste, favorável à navegação.

157 O senhor dos ventos. Cf. Odisséia, 10.21.


158 18–32: nesses parágrafos, Epicteto exemplifica o que disse, relembrando
célebres romanos que participaram da conspiração de Pisão contra Nero. Apesar de
terem sofrido a morte ou o exílio, souberam manter a dignidade, concentrando-se
naquilo que dependia deles (cf. Sêneca, Cartas a Lucílio, 6.5). Quanto a Laterano,
como antes mencionamos em nota, submeteu-se à morte por duas vezes, ilustrando o
controle sobre as representações. O fato de ter recuado e depois voltado à posição
para a decapitação se refere aos movimentos involuntários (instintivos) que podem
ser controlados após um espaço de tempo (cf. Sêneca, Cartas a Lucílio, 82; Da Ira,
1.16.7; Epicteto, Diatribes, 3.24.108; 2.1–4; Aulo Gélio, Noites áticas, 12.5.11–12).

159 Lemos aqui apeleuthero, diferentemente de Schenkl.

160 Ou sobre o que me é permitido ou não.

161 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.2.21; 2.16.15–17; 4.1.127; Sêneca, Cartas a Lucílio,
95.40; Da Providência, 2.4; 3.4–14. O verbo aqui é euroeo. Schweighäuser (1799
(3), p. 342) define o termo como “prosper rerum cursus, tranquillitas animi; vita
beata” [curso próspero das coisas, tranqüilidade da alma, vida feliz]. Souilhé traduz
o termo por “serenité”. Dobbin o verte por “good flow of life” [bom fluxo de vida].
O verbo euroeo significa primariamente “fluir bem, fluir abundantemente”. Cf.
Sêneca, Cartas a Lucílio, 120.11.

162 Prohairesis. “Aprisionar-te-ei”: o corpo pode ser constrangido, a escolha não.


Cf. Epicteto, Diatribes, 1.18.17; Diógenes Laércio, 9.59; Platão, Apologia de
Sócrates, 30c. Quanto a essa passagem da Apologia de Sócrates (“Ânito e Meleto
podem me matar, mas não podem me causar dano”), cf. Epicteto, Diatribes, 1.29.18;
2.2.15; 2.23.21.

163 Prática da filosofia. Cf. Fédon 64 a; Epicteto, Diatribes, 4.1.172; Marco


Aurélio, 2.17.

164 Cf. nota sobre Públio Clódio Trásea Peto na introdução.

165 Cf. nota sobre Caio Musônio Rufo na introdução.

166 Musônio Rufo, fragmento 56 (Hense).

167 Cf. nota sobre Agripino na introdução. Agripino é também mencionado em


Epicteto, Diatribes, 1.2.12 e fragmentos 21–22 (neste último, esse dictum é repetido).
Cf. Sêneca, Cartas a Lucílio, 94.28. Quanto a “Devolver o que foi emprestado”, cf.
Epicteto, Diatribes, 2.16.28; 4.1.102, 172; Sêneca, Da Providência Divina, 5.5.

168 Onze horas da manhã.

169 Arícia (em latim, Aricia) distava cerca de trinta quilômetros de Roma. Era a
primeira parada de descanso da Via Ápia para os viajantes vindos da Cidade Eterna.

170 Kataprosopon: Souilhé traduz a expressão por “dignité personnelle”; Dobbin


e Oldfather, por “proper character”.
171 Aphoreton. Cf. Epicteto, Manual, 43.

172 Eulogon: o termo significa algo entre o racional e o razoável, ou ambas a


coisas ao mesmo tempo.

173 Os jovens espartanos eram ritualmente chicoteados diante do altar de Artêmis.


Durante o ritual, sequer gemiam, mesmo sangrando muito. Alguns chegavam a
morrer. Cf. Cícero, Questões tusculanas, 2.14; 5.27; Sexto Empírico, Esboços
pirrônicos, 3.208.

174 O verbo aqui é pascho, que significa estritamente “ser levado a supor”, cf. lsj
(Liddell & Scott Liddell– Scott–Jones), s.v. pascho iv.

175 Prolepsis: Para Crisipo, uma pré-noção é “uma concepção natural dos
universais” (ἔστι δ᾿ ἡ πρόληψις ἔννοια φυσικὴ τῶν καθόλου — Diógenes
Laércio 7.54). Epicteto nos diz que “pré-noções são comuns a todos os humanos, e
uma pré-noção não entra em conflito com outra” (Epicteto, Diatribes 1.22.1–3.10).
Sandbach (1930) sugere que Epicteto é o primeiro estóico a tratar pré- noções como
idéias inatas. Ver Epicteto, Diatribes 2.11.1– 8, em que Epicteto menciona emphytos
ennoia (conceitos inatos) como sinônimo de pré-noções. V. também Epicteto,
Diatribes 1.22; 4.1.44–5; 4.8.6; Cícero, Tópica, 7; De Natura Deorum, 1.16;
Questões tusculanas, 1.24; De Finibus, 3.6.

176 Os tradutores consultados (Souilhé, Oldfather, George Long, Dobbin) vertem


tais epimerous ousiais por “aos casos particulares”. “Realidade”, nesta expressão,
traduz ousia. Essa opção de tradução nos foi sugerida por Kelli Rudoulph, professora
de filosofia antiga do Departamento de Arqueologia da Universidade de Kent.

177 Trachy: Bailly (2000) define o adjetivo trachys primariamente como “áspero”.
Simplício (Comentário ao manual de Epicteto, V. 1.5) observa que, em Epicteto,
Manual, 1.5, a representação é dita tracheia por ser contrária à razão, tornando a
vida áspera. Esse adjetivo só ocorre em conexão com o conceito de representação no
Manual. Nas Diatribes, refere-se sempre a situações ou coisas dolorosas, difíceis,
duras de suportar. Cf. Epicteto, Diatribes, 1.24.1; 2.1.19.2; 3.10.7; 3.24.32; 4.5.33.

178 Literalmente: “Nem deliberei”.

179 Oldfather (1928, p. 18, n. 10) crê que a participação de Floro consistiria em
representar um papel em uma tragédia. Cf. Tácito, Anais, 14.14; Suetônio, Nero, 21.

180 Essa passagem (Diatribes, 1.2.17–24) foi cuidadosamente analisada por


Carlos Enéas Moraes Lins da Silva, que muito contribuiu para aperfeiçoar nossa
tradução.

181 Porphyra: referindo-se à porphyraplateia (latusclavus), larga faixa púrpura


que se estendia perpendicularmente do pescoço ao centro da túnica, que era usada
exclusivamente pela classe senatorial. Cf. Cícero, Filípicas, 2.43; Horácio, Sátiras, I.
6.28; Ovídio, Tristitia, IV.10.35; Suetônio, Tibério, 35; Vespasiano, 2, 4; Augusto,
38.

182 “Os muitos” (hoi polloi): com isso Epicteto designa a massa de seres humanos
sem instrução filosófica.

183 Cf. nota na introdução sobre Helvídio Prisco.

184 Episoi: assim, segundo Epicteto, Prisco toma decisões moralmente acertadas a
partir da distinção entre o que está e não está sob seu controle, sobre o que depende
ou não de si.

185 Himation: termo grego para a toga romana, peça de vestuário de origem
etrusca que era usada exclusivamente pelos cidadãos romanos.

186 Aqui se referindo ao título de imperador. No caso de Prisco, tratava-se de


Vespasiano.

187 Um famoso treinador da época. “Sem ter sido untado”, quer dizer, sem ter
sido preparado ou sem ter treinado na escola de Batão. Na Antigüidade, os atletas,
antes de seus exercícios, tinham o corpo untado. Epicteto, portanto, refere-se ao
atleta em questão como alguém que se fez por si mesmo.

188 Naqueles tempos, a barba era símbolo do filósofo. Assim, retirar a barba
equivale a deixar de ser filósofo.

189 Paraskeue: esse termo é muitas vezes usado em sentido militar, referindo-se ao
equipamento que cada soldado traz consigo (equipagem). Aqui o termo é usado em
conotação estritamente estóica: a constituição natural, recebida da Natureza e
própria de cada um.

190 Synaisthesis. Cf. Epicteto, Diatribes, 2.11.1. Dobbin traduz o termo por
“awareness”.

191 Cheimaskeo: literalmente “exercitar-se no inverno”. Termo relativo aos


acampamentos de inverno nos quais os soldados romanos se exercitavam,
preparando-se para batalhas vindouras.

192 Como Sócrates.

193 Um célebre lutador grego que teria vencido seis vezes os Jogos Olímpicos e
seis vezes os jogos píticos. Diz-se que era tão forte que carregava a própria estátua
(cf. Pausânias, Descrição da Grécia, 6.14.6).

194 Quanto à conclusão atingida, cf. Horácio, Epístolas, 1.1.28.

195 Creso: último rei da Lídia (entre 560 e 547 a.C.). Imensamente rico, deixou
magníficas oferendas em Delfos, entre as quais se incluía um leão de ouro (cf.
Pausânias, Descrição da Grécia, 10.5.13).
196 “César” significando aqui o título.

197 O verbo aqui é hypolambano, que, em Epicteto, pode significar “ser de


opinião que” ou “supor”, ou ainda, quando em conjunção com eimi (ser), “aceitar
por hipótese que” (cf. Epicteto, Diatribes, 1.25.12; Dinucci, 2017).

198 Cf. Epicteto, Manual, 21.

199 Aqui, alguns tradutores parafraseiam. Dobbin traduz a frase assim: “The
essence of the good is a certain kind of moral character”. Souilhé vai mais longe e
traduz assim: “L’essence du bien est un état déterminé de la personne”. Já George
Long (seguido ipsis literis por Oldfather) verte a frase assim: “The being (nature) of
the Good is a certain Will; the being of the Bad is a certain kind of Will”.

200 O termo aqui é hylai, plural de hyle, que significa literalmente “floresta”,
donde viria a idéia de “madeira cortada” e, no plural, como aqui, “recursos
materiais”.

201 O verbo aqui é teucho, que significa literalmente “fazer”, “produzir com arte”
(a partir de coisas materiais), donde nosso “construir”.

202 Cf. Horácio, Epístolas, 1.6; Marco Aurélio, 1.15; 12.1; Sêneca, Da vida feliz,
3.

203 Sarkidion: diminutivo de sarx (“carne”).

204 Cf. Platão, Apologia, 30. Com essa frase encerra-se o Manual de Epicteto
(capítulo 53). Cf. Epicteto, Diatribes, 1.4.24; 3.22.95; 4.4.21

205 Cf. Platão, Críton, 43. Essa frase também está presente no último capítulo do
Manual. Cf. Epicteto, Diatribes, 2.2.25; 3.23.21.

206 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.18.15.

207 A palavra é eisagoge, que significa “introdução” e dava título a várias obras
de introdução à filosofia na Antigüidade.

208 O verbo é kraugazo, que significa “latir”, quando relativo aos cães, e
“coaxar”, quando relativo às rãs.

209 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.9.20.

210 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.6.13.

211 Cf. Platão, Apologia, 29–33; Epicteto, Diatribes, 1.9.16.

212 Cf. Epicteto, Diatribes, 1.25.8.

213 Kairos.
214 Em grego, o termo para gladiador é monomachos.

215 Sêneca refere-se a um gladiador que agia exatamente assim por não ser posto
em combate (cf. Da providência, 4).

216 Isto é: navegar para Roma, por exemplo, para ver como seu aluno aplica a
teoria à vida.

217 Hypothesis: como observa George Long, aqui o termo significa “matéria sobre
a qual se trabalha”, “material”, “tema” (cf. Epicteto, Diatribes, 2.5.11).

218 Isto é: estabelecer o tema.

219 Isto é: fazer bom uso do que é dado.

220 Na vida real.

221 No fragmento 174, Epicteto nos diz: “Não vês que nem com uma voz mais
bela e com mais prazer Polos interpretava Édipo Rei ou Édipo em Colono, errante e
mendicante? Ora, um ser humano nobre apresentar-se-ia pior do que Polos, na
medida em que não interpretasse belamente todo papel atribuído pela divindade?
Não imitaria Odisseu, que em farrapos não se distinguiu menos que em espesso
manto púrpura?” (Dinucci; Julien, 2008). Arriano inspirou-se em tal passagem para
escrever o capítulo 17 do Manual.

222 Arriano inspirou-se nessa passagem para compor o capítulo 42 do Manual.

223 Cf. Epicteto, Manual, 48b1; 50.

224 Os diminutivos aqui têm evidente sentido pejorativo.

225 Pois estes, como observa Oldfather, estão sempre ressabiados, olhando para os
lados por temerem a chegada repentina de seus senhores.

226 O termo aqui é despotes, que significa primariamente “mestre”, “senhor”.

227 Pharmakon: Epicteto refere-se à cicuta.

228 Cf. Platão, Fédon, 116d- 117d.

229 Cf. Epicteto, Manual, 33.13.

230 Deus. Cf. Epicteto, Diatribes, 1.25.13.

231 Provavelmente referindo-se aos guardas pretorianos, que, em sua missão de


defesa do imperador, andavam na capital com uma adaga (pugio, em latim;
encheiridion, em grego) oculta sob a túnica branca (armas eram proibidas em
Roma).
232 O verbo tarseo (ou tarreo) significa primariamente “ter boa coragem”, “não
temer”, “ter confiança”, “ser resoluto”, “ser intrépido”. Hard traduz o termo aqui
por “confidence”. Souilhe (2002), por “assurance”. Long põe no título “courage”,
alterando depois para “confidence”. Segundo Ário Dídimo (5b2 15–20 = svf 3.264),
a coragem (andreia) tem como espécies a perseverança (karteria), a intrepidez
(tharraleotes), a grandeza de alma (megalopsychia), o espírito elevado (eupsychia) e
a industriosidade (philoponia). Escolhemos aqui traduzir tharraleotes por coragem
para salientar a oposição com a cautela, oposição que é o que nos parece estar em
jogo aqui.

233 Eulabesthai significa primariamente “ser discreto”, “cauteloso”, “cuidadoso”,


“tomar precauções”.

234 Aproaireta, literalmente “coisas não escolhíveis”.

235 Crendo que os cervos temiam penas de aves, os caçadores na Antigüidade


dispunham penas em lugares estratégicos para induzir a caça a armadilhas. Cf.
Virgílio, Geórgicas, 3.372.

236 Literalmente, o “agitar-se violentamente”. O verbo sobeo se refere


primariamente aos pássaros que voam assustados à aproximação de alguém.

237 Verso de poeta trágico desconhecido (cf. Tragicorum Graecorum Fragmenta,


adesp. n. 88).

238 Mormo é um espantalho feminino, utilizado como ameaça para assustar as


crianças (cf. Aristófanes, Equites, 693). Mormolukeion, por outro lado, seria uma
lâmia ou outro monstro feminino que morde as crianças. Tal palavra une mormo
(espantalho feminino) e lyke (loba). O lsj traduz o equivalente mormolykeion por
“máscara cômica”. Bailly define o mesmo termo por “máscara para amedrontar
crianças”. Como Epicteto se refere a máscaras a seguir, trata-se nesta passagem de
uma máscara de algum ser monstruoso feita para assustar crianças pequenas.

239 Cf. Diógenes Laércio, 7.137; Marco Aurélio, 11.1.

240 Referência à possibilidade da morte, sempre ao alcance de todos.

241 Ta dogmata. Em Epicteto, dogma pode significar desde a mera opinião até a
teoria estabelecida filosoficamente. Neste caso, o termo aparece nesta última
acepção.

242 Ataraxia, aphobia, eleutheria.

243 Esse é um dos modos de manumissão entre os romanos. Pagava-se a vigésima


parte do preço do escravo para realizar o processo, i.e. 5%. Tal taxa foi instituída em
356 a. C. e era paga pelo escravo. O verbo que traduzimos por “colocar” é strepho,
que estritamente significa “fazer rodar”. Assim, aparentemente, o escravo era exibido
ao reitor, mostrando-se pela frente e por trás.
244 Literalmente, “diante de tal dificuldade”.

245 Talvez se referindo a escritos que Sócrates tenha feito para si, não visando à
publicação. Em todo caso, nada nos chegou do punho do próprio Sócrates.

246 Há aqui uma lacuna no texto: lexeidiade kai † hehodos.

247 Carter traduz hypoataraxias por inatividade, observando que a ataraxia é


justamente um fim almejado por Epicteto. Upton, por sua vez, crê que Epicteto tem
em mente os sofistas e que está sendo irônico. Schweighäuser crê que Epicteto usa a
expressão em sentido ordinário. Escolhemos a leitura de Carter: a acusação de
apraxia era feita comumente aos céticos, e Epicteto teria em mente aqui justamente
eles, que se dedicam, como Sexto Empírico, ao trabalho de analisar complexas
teorias dos demais sistemas filosóficos.

248 Traduzindo literalmente temos: “Não levam em consideração as


conseqüências”.

249 Epicteto faz aqui referência às partes do discurso na retórica clássica: o


exórdio (exordium), no qual o orador busca prender a atenção da audiência; a
narrativa (narratio), na qual o orador apresenta o tema e sua posição quanto a ele; a
argumentação (confirmatio), na qual o orador apresenta argumentos que sustentam
sua tese, e, finalmente, a peroração (peroratio), na qual o orador recapitula o que foi
dito e apela às emoções da audiência.

250 Paráfrase de Platão, Apologia, 30 c-d. Cf. Epicteto, Manual, 53; Diatribes,
1.29.18; 3.23.21.

251 Cícero (De legibus 1.9) e Shakespeare (Macbeth 1.4) consideram que a face
expressa o caráter oculto. Eurípides (Medéia 518) é de opinião contrária.

252 Referência à República de Platão (423e–424a). Cf. Epicteto, fragmento 53;


Estobeu, Florilegium, iii. 6, 58.

253 Arquedemos de Tarso: fl. ca. 140 a. C. Dois de seus trabalhos (Acerca da voz;
Acerca dos elementos) são mencionados por Diógenes Laércio. Provavelmente o
mesmo que é mencionado por Plutarco como o ateniense que fora para a Pártia e
fundara uma escola de estoicismo na Babilônia. Cf. Estrabão, Geografia, xiv;
Diógenes Laércio 7; Plutarco, De Exilio, 14; Cícero, Academica, 2.47; Sêneca,
Cartas, 121.

254 O termo é harpaston, harpastum em latim. Trata-se de versão romanizada do


jogo grego phaininda. Jogava- se com uma bola pequena, do tamanho das usadas no
softball. Não sabemos exatamente as regras, mas, segundo relatos da Antigüidade,
era um jogo bastante vigoroso e, por vezes, violento, que envolvia lançar e agarrar
uma pequena bola sob os olhos de torcidas atentas e entusiasmadas. De acordo com
Ateneu (Deipnosophistes, 1.14–15), havia dois times envolvidos no jogo, com
número variável de participantes, que buscavam manter cada qual a bola sob seu
comando, lançando-a de um para outro, lembrando de certa forma o rugby ou o
futebol norte-americano. Galeno elogia o jogo como ótimo exercício físico (Singer,
1997, pp. 299–304). O termo harpaston é derivado do verbo harpazo, que significa
“agarrar”. Cf. Marcial, Epigramas, 7.32; Julius Pollux, Onomástico, 9.105; Sidônio
Apolinário, Cartas, 5.17.7.

255 Lacuna do códice.

256 Os daimones são, para os gregos, semidivindades, filhos dos Deuses. Cf.
Platão, Apologia, 15. Sócrates nada fala sobre mulas na Apologia de Platão, mas
sobre cavalos e coisas relativas a cavalos.

257 Sócrates teve três filhos (segundo algumas fontes, todos com sua irascível
esposa Xantipa; segundo outras fontes, com Xantipa e Mirto. Seus nomes eram
Lâmprocles, Sofronisco e Menexêno (Cf. Platão, Fédon, 116b). Segundo Aristóteles,
eles não se destacaram em nenhum sentido (Aristóteles, Retórica, 1390b30–32).
Sócrates se refere a eles na Apologia de Platão (34d), observando que dois
(Sofronisco e Menexêno) ainda eram muito jovens.

258 Souilhé traduz “ἀλλ’ οὐκ ἐκείνην ἀποδεχόμενον” por “sans s’y attacher
cependant”. Hard, por “without, however, accepting it for his own sake.” Long, por
“not as valuing the material”. Decidimos simplesmente retirar o “não”, já que em
diversas oportunidades Epicteto insiste na idéia de que devemos aceitar as coisas
exteriores tais como elas são (cf. Manual, 8, por exemplo).

259 Deus.

260 Epicteto refere-se à proposição condicional da lógica, sobre a qual muito se


discutia na Antigüidade.

261 Epicteto elenca aqui os graus de conhecimento. Cf. nota 10, p. 84. Opinião
aqui traduz doxa.

262 Em ser recebido por ele.

263 Epicteto, Diatribes, 2.5.24.

264 Provável alusão aos versos da tragédia perdida Hipsila, de Eurípedes, da qual
nos chegaram alguns versos traduzidos para o latim por Cícero (Tuscul. Disp. 3.25):
“Reddenda terrae est terra: Tum vita omnibus / Metenda ut fruges: Sic jubet
necessitas” (“Que se devolva a terra à terra: desse modo é a vida para todos / Deve
ser colhida para que seja desfrutada: assim deseja a necessidade”). Cf. Marco
Aurélio, 7.40: “A vida deve ser colhida como as espigas de milho: um humano
morre, outro nasce”.

265 Apolytoi. Não são coisas que existem por si sós, mas fazem parte de um todo.

266 Cf. Xenofonte, Ciropédia, 4.3. Nobre associado a Ciro. Xenofonte se refere a
ele como alguém de baixa estatura e inteligência superior. Grande guerreiro
admirado e favorecido por Ciro, tanto por suas ações em campo de batalha quanto
por sua sabedoria no conselho (Xenofonte, Ciropédia 2.2.17 etc.).

267 Trochos: instrumento de tortura que consistia em roda de carroça à qual o


condenado tinha os membros amarrados aos aros, membros que eram
subseqüentemente quebrados com marretas e equivalentes. Após ter seus membros
despedaçados, o condenado era deixado para morrer lentamente.

268 Cf. o dito de Anaxágoras em Cícero (Tusc. Disp. 1.43).

269 Hypolepsis: em Epicteto, sinônimo de dogma (opinião). Cf. Epicteto, Manual,


20. Dogma em Epicteto é um termo geral que inclui opiniões verdadeiras fundadas
(ciência — episteme), opiniões ou verdadeiras ou falsas mal fundadas (opinião em
sentido estrito — doxa) e opiniões falsas infundadas (engano — apate).

270 Giaros (atual Yioura) é uma ilha desolada do arquipélago grego das Cíclades.
Miserável desde a Antigüidade, habitada por uns poucos pescadores, tornou- se
posteriormente destino de vários romanos banidos pelos imperadores romanos.
Musônio Rufo, professor de Epicteto, foi banido para Giaros, por Nero, em 65,
retornando a Roma em 68, após a ascensão de Galba.

271 Esse algo grandioso pode ser tanto Roma (George Long e Hard) quanto
grandes perigos (Souilhé) ou mesmo a morte.

272 Peã (do grego paian): hino sacro dedicado a Apolo. No texto que segue,
Epicteto parece referir-se à passagem do diálogo platônico (provavelmente apócrifo)
Axíoco, na qual Sócrates diz que a vida é um efêmero exílio que se deve celebrar com
peãs, e que se mostrar fraco e resistente ao ser arrancado da vida é algo indigno de
um humano racional (Axíoco, 365b). Diógenes Laércio menciona o que seriam os
dois primeiros versos da peã composta por Sócrates na prisão: “Saudemos o nobre
casal Apolo, senhor de Delos, e Ártemis” (Cf. Diógenes Laércio, 5.42).

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