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O CUIDADO DA CRIANÇA

COM DIARREIA E
DESIDRATAÇÃO E SUA
FAMÍLIA NA ATENÇÃO
BÁSICA EM SAÚDE
Profª Patrícia Kelly
AIDPI
(Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância)
Principal objetivo é a redução da mortalidade infantil.

Desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e


pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e a
Adolescência (Unicef) para o atendimento do conjunto de
doenças de maior prevalência em crianças menores de 5
anos.

Os pilares da estratégia AIDPI são: capacitação de recursos


humanos na atenção primária e reorganização dos serviços
de saúde e educação em saúde para família e comunidade.
Entre as doenças prevalentes na infância, destaca‑se a diarreia
aguda, por ser uma das principais causas de morbidade e
mortalidade infantil nos países em desenvolvimento.

Diarreia é o aumento do número de evacuações,


normalmente acompanhadas por fezes amolecidas.

Disenteria é uma doença inflamatória intestinal que


provoca diarreia, mas sempre acompanhada por muco, pus
ou sangue.
Considerando a duração do quadro, é classificada em:

• Diarreia aguda: duração menor que 14 dias.

• Diarreia persistente: duração maior ou igual a 14 dias.

• Diarreia crônica: duração maior que 30 dias.


A Doença Diarreica Aguda (DDA) frequentemente é causada por
agentes infecciosos do trato gastrointestinal, no entanto, pode
estar associada a infecções do trato respiratório superior e ao uso
de medicamentos.
Os agentes infecciosos mais comuns são:
• Vírus: rotavírus e Norwalk.
• Bactérias: Vibrio cholerae; Escherichia coli; Clostridium difficile;
Salmonella e Shigella.
• Protozoários: Entamoeba hystolitica; Giardia lamblia e
Criptosporidium sp.
• Ingestão de toxinas: Estafilocócicas, Baccilus cereus e
Clostridium perfingens.
Estima‑se que 80% dos casos de DDA sejam virais, com maior
ocorrência no inverno.

O rotavírus apresenta‑se como a causa mais comum de diarreia


em crianças com idade inferior a 5 anos e, frequentemente,
resulta em desidratação grave, sendo mais vulnerável as com
menos de 1 ano.

O aleitamento materno reduz a incidência e gravidade da


doença.

A via de disseminação das DDA é a oral‑fecal através do


consumo de água/alimentos contaminados ou de pessoa a
pessoa.
Fatores de risco para a diarreia:

Saneamento básico precário;

Higiene inadequada;

Desmame precoce;

Deficiências nutricionais.

Consequentemente, as estatísticas são maiores em regiões


onde a pobreza predomina.
Processos que causam a doença diarreica:

Adesão ao epitélio intestinal e possível invasão do agente


infeccioso;
Produção de toxinas;
Danos às células epiteliais maduras
Interferência no transporte de água, eletrólitos e nutrientes.

Esses mecanismos levam a duas situações distintas: condições


que aumentam a secreção intestinal (ocorre em 95% dos
casos) ou condições que diminuem a absorção intestinal.
Tratamento
O uso de antibióticos é recomendado apenas nos casos de
disenteria, comprometimento do estado geral e cólera
grave.
Já os antiparasitários devem ser usados na amebíase e
giardíase.
O Ministério da Saúde não recomenda o uso de antidiarreicos e
antieméticos.
As principais complicações da DDA são a desidratação e a
desnutrição, e o objetivo do tratamento é recuperar o balanço
hidroeletrolítico e prevenir a desnutrição.
Segundo a estratégia AIDPI, a avaliação da criança com
diarreia deve responder às seguintes questões:

• Por quanto tempo a criança tem tido diarreia?

• Há sinais de desidratação?

• Há sangue nas fezes?

O grau de desidratação pode ser estabelecido pela perda de


peso corporal e pelos sinais clínicos. Determinar o grau de
desidratação é fundamental para estabelecer a terapêutica.
Classificação clínica do grau de desidratação em crianças

Leve Moderada Grave

Irritada, com sede, Mais agitada, muita Deprimida,


Estado geral sede, raramente comatosa, não chora
dorme mal e pouco dorme mais

Seca, lábios Muito seca, lábios às


Boca vermelhos, língua Lábios cianóticos
seca e saburrosa vezes cianóticos

Sede Normal ou pouco Bebe rápido, com Dificuldade para


aumentada avidez ingerir líquidos

Olhos Normais Fundos Muito fundos

Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes


Leve Moderada Grave

Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida

Pele fria,
Quente, seca, Extremidades frias, acinzentada,
Pele elasticidade elasticidade muito
elasticidade normal diminuída diminuída (maior
que 2 segundos)

Pulsos Normais Finos Muito finos

Diurese Normal Urina concentrada Oligúria

Enchimento Muito lentificado


capilar Normal (até 3 s) Lentificado (3‑10 s) (mais de 10 s)

Perda de peso 2,5 a 5% 5‑10% Acima de 10%


Terapia de reidratação oral (TRO)
Deve ser preferencialmente usada para reidratação, exceto
nos casos de desidratação grave em que a escolha é a via
venosa.

A OMS e a Unicef recomendam a utilização de uma fórmula de


sais de reidratação oral para a TRO adotada pelo Ministério da
Saúde em 1982 como medida para reduzir a mortalidade por
diarreia aguda e desidratação em crianças brasileiras.

O soro caseiro é uma mistura de açúcar, água e sal de cozinha


e só é recomendado se for realizado com colher de medida
específica para evitar erros na composição final.
Classificação do estado de hidratação e condutas conforme
estratégia AIDPI
Avaliação do estado de hidratação para crianças com diarreia
OBSERVAR E EXAMINAR
A criança com DDA sem desidratação – Plano A
Na ausência de sinais de desidratação, será classificada como
criança com diarreia sem desidratação e receberá tratamento em
casa.

Os familiares devem ser orientados para aumentar a oferta de


líquidos adicionais como água, sucos e sopas, e o preparo e
conservação da solução de reidratação oral (SRO).

• Até 1 ano: ofertar 50 a 100 ml depois de cada evacuação aquosa.


• Após 1 ano: ofertar 100 a 200 ml depois de cada evacuação
aquosa.
A criança com DDA e desidratação – Plano B
Para essa classificação, adota‑se o Plano B de cuidados, e a criança
deverá permanecer no serviço até a reidratação completa.
A TRO terá duração de 4 horas, período em que receberá um volume
total de SRO, que corresponde a 50‑100 ml por quilo de peso.
Durante esse período, a criança não será alimentada, exceto quando
em aleitamento materno.
A dose deve ser ofertada a cada 15 minutos sem exceder a capacidade
gástrica, que é próxima a 40 ml/kg/hora. Nunca forçar a ingestão.
Quando desaparecerem os sinais de desidratação, o Plano A deverá
ser adotado. Se, após 4 horas de TRO, a criança continuar desidratada,
repetir o Plano B por mais 2 horas.
A criança com DDA e desidratação grave – Plano C
O objetivo do Plano C é repor água e eletrólitos rapidamente, por via
intravenosa (IV) ou por sonda nasogástrica (SNG).
Por ser uma emergência médica, os cuidados iniciais devem ser
instituídos na própria unidade enquanto se espera pela transferência
para um serviço de saúde hospitalar.
Crianças menores de 5 anos - 20 ml/kg de uma solução composta de
soro glicosado 5% e soro fisiológico em 30 minutos via EV. Essa dose
será repetida até que a criança esteja hidratada e apresente 2 diureses
claras.
Crianças maiores de 5 anos - soro fisiológico 30 ml/kg em 30 minutos
seguido de administração de Ringer com Lactato 70 ml/kg em 2 horas
e 30 minutos.
Caso clínico: Criança com DDA
Diagnósticos de enfermagem
Resultados esperados e intervenções de enfermagem
Prescrição de enfermagem
Manual de Quadros de Procedimentos

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_
procedimentos_aidpi_crianca_2meses_5anos.pdf
Até a próxima

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