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Giordano 1
Uma fase de um sistema é, por definição, uma porção homogênea da matéria que o
compõe (homogêneo significando que todas as propriedades são, ao menos em primeira
aproximação, uniformes ao longo da fase).
Diz-se que há coexistência entre fases quando não existe nenhum tipo de fronteira –
adiabática, rígida ou impermeável a alguma espécie química do sistema – impedindo as
interações entre elas – inclusive a troca de massa.
Nesta disciplina, nos limitaremos aos casos mais comuns do equilíbrio de não-
eletrólitos em fase fluida (líquida ou vapor). Para um tratamento termodinâmico das
soluções de sólidos em líquidos, recomenda-se da referência 1.
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Fase
x 1 , x 2 ,..., x N T
x 1 , x 2 ,..., x N
x 1 , x 2 ,..., x N
Fase
N 1
Caso 1: dados T, x1 , x 2 ,..., x N 1 , ( x N 1 xi )
i 1
Claro, outras combinações dessas variáveis são possíveis, mas esses dois casos são
muito importantes para o projeto ou simulação da operação de equipamentos de
separação/purificação (as chamadas operações a downstream).
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Temos que demonstrar que as equações obtidas a partir dos critérios de equilíbrio
são suficientes para resolver esse problema. São elas:
T T T (1)
P P P (2)
i i , i 1, N (3)
Numa interpretação intuitiva das equações (1) a (3), pode-se afirmar que quando
duas fases estão em equilíbrionão há transferência de energia entre elas, em qualquer
forma: calor (T=0, entendendo como a diferença da propriedade entre duas fases),
trabalho (Vsistema = constante, logo P.V = 0) ou massa (=0; lembre-se que é a força
motriz da transferência de massa).
x i 1
i 1 , em um total de 2N. A relação (3), ainda não usada, fornece N equações.
O exemplo exposto acima nada mais é que uma simplificação da regra das fases de
Gibbs para um sistema bifásico. A generalização para um sistema multifásico é imediata,
neste caso, a equação (3) torna-se:
1
OBS: Variância (ou número de graus de liberdade do sistema) = no de variáveis que precisam ser
especificadas para que o problema fique determinado (tenha uma ou mais soluções possíveis), ou seja, n o de
variáveis menos no de equações.
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GL ( N 1) 2 N( 1)
GL 2 N (4)
Para um sistema binário, bifásico (N=2, =2), tem-se GL =2-2+2=2; logo, é preciso
fixar T e P para se obterem as composições ( x 1 e x 1 ), ou T e x 1 para se ter P e x 1 , etc.
A regra das fases de Gibbs é extremamente útil, principalmente nos casos mais
complexos – sistemas multifásicos, multicomponentes. Além disso, sua extensão a sistemas
onde ocorrem reações químicas é simples (como será visto na próxima apostila).
Outra relação útil é o Teorema de Duhem, que diz: para que um sistema fechado
em equilíbrio esteja completamente determinado, basta se conhecerem as massas totais de
cada componente, mais duas variáveis independentes intensivas (T e P, por exemplo).
Note que este teorema trata de propriedades extensivas (que dependem da massa),
isto é, não só P, T e xi são especificados, mas também a massa de cada fase (já a regra de
Gibbs só lida com propriedades intensivas – que não dependem das massas: P, T e xi). A
maior aplicação do teorema de Duhem se dá para sistemas reacionais – como se verá
adiante.
3. DIAGRAMAS DE FASE
PC=Ponto Crítico
P PC PT=Ponto Triplo
PT
T
Figura 2: Curva de saturação líquido-vapor de uma substância pura.
Para um sistema binário, é preciso usar um gráfico em três dimensões (P, T e x1, y1):
PC1
VISTA A
Linha crítica
líquido P
Componente V
1 puro
PC2
L
Componente 1
2 puro vapor
T x1,y1
x1, y1 = 0
P Linha crítica
PC1
líquido
VISTA A
Componente
líquido e vapor PC2 1 puro
Componente
vapor 2 puro
T
Figura 3: Diagrama P-T-x-y; sistema binário, bifásico, ondex1 é a fração molar de 1 na
fase líquida e y1, a fração molar de 1 na fase vapor; os pontos L e V são, respectivamente,
ponto de líquido saturado e de vapor saturado.
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E PE
PS1
LÍQUIDO
D PD T=constante
C PC
B PB
PS2
A PA
VAPOR
0 x1B z1 y1D 1
x1C y1C
Figura 4: Diagrama P-x-y ; sendo (1) o componente mais volátil; P1s , pressão de saturação
de 1 puro a T; P2s , pressão de saturação de 2 puro a T;
A observação da figura 4 nos mostra a validade da regra das fases de Gibbs: com T
e P obtém-se x1 e y1 (ou dados T e x1, tem-se P e y1; ou com T e y1, obtém-se P e x1). A
variância do sistema é igual a dois.
TA A
TS2 P=constante
TB B
TC C
TD D
TE E TS1
0 1
x1B x1C z1 y1C y1D
Figura 5: Diagrama T-x-y ; sendo (1) o componente mais volátil; T1s , temperatura de
saturação de 1 puro a P; T2s , temperatura de saturação de 2 puro a P;
P LC (ponto 0<x1<1
líquido da linha
crítica)
Líquido
saturado
Vapor
vapor saturado
T
Figura 6: Seção da figura 3 a x1e y1constantes.
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L.C. L.C.
T3
T3
P L.C. P
L.C.
T2
T2 T1 L.C. T1
0 1 0 1
x1,y1 x1,y1
P3 L.C. P3
T T
L.C. L.C.
P2 P2
L.C. L.C.
P1 P1
0 1 0 1
x1,y1 x1,y1
T=cte T=cte
P líquido P líquido
P-x1 P-x1
P-y1
P-y1
vapor
vapor
0 1 0 1
x1,y1 x1,y1
P=cte P=cte
T vapor
T vapor
T-y1
T-y1 T-x1
T-x1
líquido líquido
0 x1 az=y1az 1 0 x1 az=y1az 1
x1,y1 x1,y1
Figura 8: Dois tipos de solução azeotrópica existentes, sendo o caso1, o mais freqüente.
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y1 y1
0 0 x1 az=y1az
x1 1 x1 1
CasoA: sem azeótropo CasoB:solução azeotrópica de
máxima P
i i , i 1, N (3)
a qual, no ELV com apenas uma fase líquida, pode ser reescrita da seguinte forma:
iL iV , i 1, N (3’)
Para que a relação (3’) seja útil, entretanto, é necessário relacionar i com as
variáveis de interesse: T, P, x e y. Essa relação pode ser obtida a partir das expressões (vide
2a apostila):
G
V (5a)
P T P T
ou
i G
i Vi (5b)
P T P T
e
G
S (6a)
T P T P
ou
i G
i Si (6b)
T P T P
As grandes variações sofridas por i a baixas pressões tornam pouco prático o uso
direto desta propriedade. Para contornar esse inconveniente, Lewis propôs, no início do
século XX, um artifício matemático: uma mudança de variáveis, através da definição de
uma grandeza denominada fugacidade.
G RT
V (7)
P T P T P
1
d dG RT dP RT.d(ln P) (T cte) (8)
P
Lewis definiu, por analogia com a equação (8) que, para um gás real, é válida a
expressão:
Para calcular a fugacidade, é necessário integrar (9), ou seja, é preciso definir uma
condição de contorno. Esta é obtida simplesmente pela comparação de (8) com (9): para o
gás ideal, f=cP (onde c foi adotada igual a 1). Ora, o gás real tende ao comportamento ideal
quando P0; logo, a definição da fugacidade se completa por:
f
lim 1 (10)
P0 P
Fica clara, agora, a vantagem da fugacidade (f) sobre o potencial químico (i), para
P0, fPf0, enquanto que i-.
pois a fugacidade de i numa mistura de gases ideais é igual à sua pressão parcial (yi P) e
não à pressão total do sistema (P).
Desta forma, ao invés de se resolver a equação (3) para calcular o ELV, tem-se que
solucionar:
É fácil mostrar que (3) e (15) são equivalentes; integrando (13) chega-se a:
i RT ln f̂i i (T ) ; como T T T , vem: i (T ) i (T ) . Logo, se i i , então
f̂ i f̂ i , onde i = 1,N.
fi
i para i puro (16a)
P
e
f̂i
ˆ i para i na mistura (16b)
yi P
1 P RT
ln i
RT 0
P
V i dP
(T=cte) (17a)
ou
1 Vi RT PV i PV i
ln i
RT
P d V
Vi RT
1 ln
RT
(T=cte) (17b)
1 P RT
ln ˆ i
RT 0
P
Vi dP
(T,yi=ctes) (18a)
ou
1 Vi RT PV PV
ln ˆ i
RT
P d V i 1 ln i
Vi RT RT
(T,yi=ctes) (18b)
y i ˆ iV P x i ˆ iL P y i ˆ iV x i ˆ iL (20)
Outra abordagem, mais comum, para se obter f̂iL passa pela definição de outra
grandeza termodinâmica conveniente: a atividade de i na mistura ( â i ) e o coeficiente de
atividade ( i ).
Por definição:
f̂i
â i (21)
fi
f̂i
ΔGi Gi G i RT ln (22a)
fi
ΔG i RT ln â i (22b)
onde ΔG i =energia de Gibbs de mistura parcial molar (vide 2a apostila). Note que fi0 é a
fugacidade do componente i na referência. Se todos os componentes forem condensáveis,
ou seja, existirem em estado condensado – líquido, no caso – nas proximidades do estado
de referência, fi0 será a fugacidade de i puro (a chamada convenção simétrica). Entretanto,
se algum(ns) dos componentes for incondensável (um gás dissolvido em água à temperatura
e pressão ambientes, por exemplo), então fi0 será a fugacidade à diluição infinita (a
referência é um sistema com apenas uma molécula de i dissolvida na solução líquida). Essa
fugacidade “assimétrica” é também chamada de constante de Henry, H.
NC
Como ΔG xiΔGi , temos:
i 1
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NC
ΔG
RT
xi ln âi (23)
i 1
NC
G E G G ideal ΔG RT xi ln xi (24)
i 1
NC
GE
xi ln xii
â
(26)
RT i 1
Por definição:
â i f̂
i = coeficiente de atividade do componente i = i (27)
x i x i fi
Logo,
N
GE
RT
xi ln i (27’)
i 1
GiE
ln i (28)
RT
n.G E
( )
ln i RT (29)
n i
T , P, n
j
n.G E
ou seja, ln i é o equivalente da propriedade parcial molar.
RT
EQUAÇÃO DE GIBBS-DUHEM
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NC
GiE NC ΔH ΔV
x i d
RT i 1
x i d ln i
RT 2
dT
RT
dP (30)
i 1
que mostra a relação entre variações de , T e P. Desta relação vem:
GE
( )
RT ΔH
(31)
T RT 2
P, x i
e:
GE
( )
ΔV
RT (32)
P RT
T, x
i
ln i ΔH i
(33)
T P, x i RT 2
e
ln i ΔV i
(34)
P T, x i RT
ΔH i ΔV i
Como, em geral,
2
tem ordem de grandeza maior que , conclui-se que i ,
RT RT
varia mais com T do que com P. Se f i for referida a P cons tan te ou P Pi sat , (33) e
(34) ficam:
ln i H
i2 (33’)
T P, x i RT
e
ln i V
i (34’)
P T, x i RT
A partir da equação (29), constata-se que i pode ser obtido a partir de um modelo
para G E daquela fase da mistura. Se tivermos uma equação do tipo G E G E T, P, x i para
a fase líquida (sendo que a influência de P é muitas vezes desprezada), podemos calcular i
e, finalmente, obter f̂iL por:
Para a composição (definida pela fração molar xi da fase líquida), existem duas
referências possíveis, como já se mencionou:
1a) Todos os componentes são condensáveis (ou seja, não há nenhum em estado
supercrítico; as temperaturas de saturação dos componentes puros à P do sistema não são
muito afastadas).
Neste caso, adota-se como referência a solução ideal segundo Lewis-Randall, ou
seja:
fi fi (36)
2a) Um (ou mais dos) componente (s) é (são) incondensável (is)(ou seja, é um gás leve –
O2, N2, CO, etc – cuja T de saturação é muito inferior à do sistema; estes gases podem
mesmo estar acima do seu ponto crítico na T e P do sistema). Utiliza-se, como referência
para o(s) incondensável (is) a solução ideal de Henry. Se, por exemplo, o componente 2 for
o incondensável de um sistema de dois componentes (binário), tem-se:
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f 2 H 2 ,1 (37)
ln
f̂i
1 P
Vi Vi dP . Assim, as soluções reais tendem à lei de Lewis-Randall
x i fi RT 0
quando xi1.
Lewis-Randall: f̂ iL x i f i
0 1
xi
Figura 10: fugacidade de i para uma solução líquida – real, ideal de Henry e ideal de Lewis-
Randall.
Para xi0, a curva de f̂iL da solução real se aproxima da equação da Lei de Henry.
Quando se tem um componente incondensável, este estará presente no líquido em baixas
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concentrações, ao passo que considerar a existência desse gás supercrítico como líquido
puro a T e P do sistema (que é referência de Lewis) seria uma extrapolação muito
grosseira. Por isso, é justificado, neste caso, o uso da Lei de Henry como referência. O
maior problema, então, é obter os valores de H i , j . Na maioria das vezes se usam valores
obtidos a partir de dados experimentais. Quando esses não forem disponíveis, no entanto,
utiliza-se algum método de predição – vide referência 7.
Quando se refere i a Pisat surge uma dificuldade, uma vez que os componentes da
mistura terão, normalmente, pressões de vapor diferentes à mesma temperatura.
Consequentemente, os coeficientes de atividade ficarão referidos a bases diferentes.
Nos outros dois casos, não há este problema. No entanto, a escolha de uma pressão
de referência fixa (Pr) tem um aspecto vantajosos: se essa pressão for suficientemente baixa
(por exemplo Pr = 1 atm ou Pr 0), a equação de i pode levar em conta apenas a
influência de T e x sobre essa propriedade.
Como se vê, é preciso muito cuidado com a referência adotada para i quando
se for utilizar esse método.
ln fi Vi
P RT (38)
T
desde P Pisat (que é conhecida, pois dado T obtém-se Pisat através da equação de
saturação – Antoine, por exemplo), até P = P r de referência:
VL
fi fi ( Pisat ) exp PPisat i dP [T] (39)
RT
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Como:
fi ( Pisat ) sat
i Pi
sat
(40)
temos:
P V iL
fi sat
i Pi
sat
exp Pisat dP (41)
RT
r V
HiP, j HiP, ji exp PPisat i dP
r sat
(42)
RT
como pode ser visto na referência (7).
ln i
L
V i
(34’)
P T, x i RT
Onde o sobrescrito L do volume indica que trabalhamos na fase líquida. Esta
equação é válida para Pr = Pisat e Pr =constante. Para Pr = P do sistema, substitui-se ViL
por ΔVi ViE , L - vide referência 1, conforme indica a equação (34).
P ViL P r V iL
y i ˆ iV P x i i sat sat
P sat
i Pi exp P r RT
dP exp i RT dP (43)
V iL
y i ˆ iV P x i i sat
i Pi
sat
exp ( P Pisat ) (44)
RT
y i ˆ iV P x i i (T, x i )sat
i Pi
sat
(45)
VAPOR
y i , y 2 ,..., y N T
SISTEMA
x 1 , x 2 ,..., x N
x1 , x 2 ,..., x N
LÍQUIDO x 1 , x 2 ,..., x N
TIPOS DE PROBLEMA:
y ) x
PRESSÃO DE
yN 1 i xN 1 i ) ORVALHO
i 1 i 1
CÁLCULO DA
2) P, y i , y 2 ,..., y N 1 T, x i , x 2 ,..., x N 1 TEMPERATURA
DE ORVALHO
CÁLCULO DA
3) T, x i , x 2 ,..., x N 1 P, y i , y 2 ,..., y N 1 PRESSÃO DE
BOLHA
CÁLCULO DA
4) P, x i , x 2 ,..., x N 1 T, y i , y 2 ,..., y N 1 TEMPERATURA
DE BOLHA
TOTAL DE
INCÓGNITAS EM N
CADA CASO
f̂ iV f̂ iL , i 1, NC
1o Método: 2o Método:
y i ˆ iV x i ˆ iL y i ˆ iV P x i i (T, x i ) isat Pisat
(desprezando a convenção de Poyting)
OBS: em ambos os casos, ̂ iV é dado pela relação (18). A referência 4, pág. 257, traz um
exemplo de cálculo de ̂ iV utilizando a equação virial série P, truncada no segundo termo.
A solução dessas N equações só pode ser obtida por meio de método iterativo, dada
a complexidade matemática das relações entre f̂ i e T, P, xi e yi. Antes de mostrarmos com
mais detalhe como se resolvem essas equações, apresentaremos uma simplificação clássica
que facilita consideravelmente os cálculos, mas que infelizmente poucas vezes dá
resultados satisfatórios para sistemas reais: a lei de Raoult.
que é a equação da lei de Raoult. Para um sistema binário que obedece a relação (46) o
gráfico P versus xi e yi tem o seguinte aspecto:
Líquido
T=cte
P
Líquido
Vapor
0 x1, y1 1
Figura 11: Diagrama isotérmico de fases para a Lei de Raoult
Pois: P y1P y 2 P x1P1sat (1 x1 ) P2sat P x1 P1sat P2sat P2sat (ou seja, P vs x1 é uma
linha reta se T for constante).
P1sat
x1
P2sat
e: y1
Psat
1 x1 1sat 1
P2
Na verdade, nenhuma mistura real tem este comportamento, embora algumas dele
se aproximem (um exemplo é a mistura benzeno-tolueno). Para a maioria das substâncias
reais, portanto, é necessário calcular i (ou ̂iL ). Quando se usa o 1o Método de cálculo do
equilíbrio (método ), que utiliza ̂iL ), aplica-se a relação (18) em ambas as fases – o
único requisito é dispor de uma correlação P-V-T adequada. Quando se emprega o 2o
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Diz-se que uma solução tem desvio positivo da lei de Raoult quando f̂ iL x i f i , ou
f̂ i
seja, quando i 1 . Lembre-se que, se valesse a lei de Raoult, a fugacidade dos
x ifi
componentes na fase líquida seria igual à sua pressão parcial na fase vapor (uma vez que as
fugacidades das duas fases são iguais no equilíbrio). Se i >1 pode-se dizer,
qualitativamente, que os componentes em fase líquida estão “menos à vontade” do que se a
solução fosse ideal. Para manter as duas fases na temperatura T é necessária, portanto, uma
pressão maior que a de uma solução ideal. Claro que esse comportamento macroscópico é
conseqüência das forças intermoleculares à distância e do nível de organização das
moléculasno sistema (relacionado com a entropia de mistura). Lembre-se que sempre há
uma combinação de efeitos térmicos e entrópicos quando ocorre uma mistura real (pois
G=H - TS). A Figura 12 mostra um sistema binário com desvio positivo da idealidade.
T=cte T=cte
Solução de Raoult
Solução real
P ∞
Ptotal
∞
y1P
y2P
1
0 1 0 1
x1 x1
Figura 12: sistema binário com desvio positivo da lei de Raoult. Ex.: etanol-água.
N
Note que para um desvio positivo da idealidade, i> 1 G E RT xi ln i 0
i 1
Já a Figura 13 mostra uma mistura binária com desvio negativo da idealidade. Nela,
as forças intermoleculares entre duas espécies distintas na fase líquida são maiores que
entre moléculas da mesma espécie. Os componentes ficam “mais à vontade” na fase líquida
do que se fossem uma solução ideal, e a pressão total do sistema para que haja duas fases
será menor que no caso ideal.
T=cte T=cte
Solução de Raoult
1
Solução real
Ptotal
P
y1P
∞
y2P ∞
0 1 0 1
x1 x1
Figura 13: sistema binário com desvio negativo da lei de Raoult. Ex.: ácido acético-água.
Embora teoricamente i possa ser definido também para a fase vapor, sua
utilização, na prática, se restringe à fase líquida.
n.G E
ln i
RT
(29)
n i
T, P, n j
teóricas hoje disponíveis representa bem os dados experimentais das substâncias reais: é
sempre necessário usar parâmetros empíricos nessas equações, obtidos a partir do ajuste
àqueles dados. referência 9, que reúne conjuntos de dados experimentais P-T-xi-yi, para
muitos sistemas, traz, também, os valores desses parâmetros para várias equações de i , em
cada caso reportado. Algumas dessas relações são obtidas modificando modelos de i
obtidos a partir situações idealizadas, como por exemplo, soluções regulares (SE = 0).
*
i Z i i N
* * j ij
N N
ln i ln q i ln l i ( x jl j ) q i ln j ji q i q i NC
* *
(47)
xi 2 i
k kj
x i j1 j1 j1 *
k 1
onde: l j
Z
rj q j rj 1
2
rj , q jq*j = parâmetros característicos do componente j puro (listados ao fim da
referência 7).
Z = 10
ri x i qixi q *ix i a
e: i N
; i N
; *i N
; ij exp ij
T
r x
j1
j j q x
j1
j j q*jx j
j1
Apesar disso, surgem com muita freqüência situações onde não há parâmetros
disponíveis para algum par de componentes da mistura real. Neste caso, uma saída seria ir
ao laboratório. Há, no entanto, outro recurso: modelos para i que trabalham com
contribuições de grupo. A molécula de cada componente é “montada” a partir de grupos
funcionais tabelados, para os quais se fornecem parâmetros “equivalentes”. E uma regra
combinatória permite chegar aos parâmetros binários dos coeficientes de atividade de cada
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par de componentes. Há vários desses modelos, sendo um dos mais populares o UNIFAC
(“UNIQUAC Functional group Activity Coefficients”) e sua modificação de Dortmund
(UNIFAC-Dortmund). Na verdade, essas equações também se baseiam em dados
experimentais levantados para um número muito grande de sistemas binários. A referência
6 traz uma descrição detalhada do método (inclusive com subrotinas computacionais). Por
fim, um enfoque mais genérico, que vem ganhando destaque, busca desenvolver modelos
(como o COSMOS) o mais preditivos possível, que usem – dentro das limitações que a
realidade impõe – apenas parâmetros de substâncias puras para o cálculo do equilíbrio.
Combinações desses enfoques (modelo preditivo + contribuição de grupos) vêm sendo
apresentadas recentemente na literatura. Um exempo é o modelo F-SAC (um resumo dos
enfoques para modelos de pode ser encontrado na dissertação de Gerber, 2012, ref. 11).
Conforme já foi visto, uma das principais aplicações dos cálculos de ELV em
engenharia química é no projeto de torres de destilação e absorção. Nesses casos, o
problema mais comum a ser resolvido é do tipo “temperatura de bolha”: são conhecidas a
pressão da coluna (P) e a composição da fase líquida (xi) e deseja-se determinar T e yi.
Outros tipos de problema (pressa de bolha e orvalho, temperatura de orvalho, expansão
“flash”, ect) também são de interesse, mas a temperatura de bolha é o caso de maior
aplicação prática.
ou
yi isat
i Pi
sat
Ki (48)
xi ˆ iV P
INÍCIO
y i i f i
CALCULAR Ki
x i ˆ i P
>
N N Convergiu!
CALCULAR Kixi
i 1
K i x i 1 : eps=10- Imprimir
i 1 P, T, x e y
6
FIM
Diagrama de Blocos: programa para cálculo da temperatura de bolha (vide referência 7).
Além dos métodos que envolvem o uso do computador, existem ábacos que dão Ki,
para sistemas binários, fundamentalmente de hidrocarbonetos (por exemplo, na referência
DePriester, C.L., 1953, Chem. Eng. Progr., Symposium Ser., 7:49).
N
dU TdS PdV i dn i (49a)
i 1
N
dH TdS VdP idn i (49b)
i 1
N
dA SdT PdV i dn i (49c)
i 1
N
e dG SdT VdP i dn i (49d)
i 1
com:
H U PV = entalpia (49e)
A U TS = energia livre de Helmholtz (49f)
G U TS PV H TS = energia livre de Gibbs (49g)
CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO
RESTRIÇÕES DO SISTEMA
(PRINCIPIOS EXTREMOS)
1) S e V constantes U é mínima
2) U e V constantes (sistema isolado) S é máxima
3) S e P constantes H é mínima
4) T e V constantes A é mínima
5) T e P constantes G é mínima
2
OBS: as referências 2 e 3 trazem uma discussão detalhada desses critérios. A ref. 4 apresenta uma análise
simplificada. Neste curso, não nos preocuparemos em demonstrá-los rigorosamente, mas simplesmente em
aplicá-los aos cálculos de equilíbrio.
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E
É mais conveniente, no entanto, fazer esse teste a partir da equação de G , que é
disponível para muitos sistemas, conforme se viu no item anterior.
Lembremos que:
G GG
E id
(50)
N
ΔG G x i G i (com G i G i )
(51)
i 1
NC N
e G x i G i RT x i ln x i
id
(52)
i 1 i 1
logo:
N
G E ΔG RT xi ln xi (53)
i 1
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A equação (51) nos mostra que ΔG 0 , sempre, pois a G da solução terá que ser
N
sempre menor que x G
i 1
i i para que o princípio da mínima G seja obedecido (lembre que
idealidade (coeficientes de atividade maiores que 1, vide equação 27’). Para G E =0, temos
uma solução ideal. Se G E <0, há um desvio negativo da idealidade (coeficientes de
atividade menores que 1).
O princípio da mínima G garante que:
dG 0 (54)
2 G
e 2 0 (55)
x i T , P , x j
ou seja, G é mínima no equilíbrio a T e P ctes. Observando a equação (51), vê-se que G é
mínima quando ΔG é mínimo, e, portanto:
2ΔG
2
0 (56)
x i T ,P ,x
j
líquida, utilizando-se a relação (53). Haverá separação de fases quando (56) não for
atendida. Esta expressão significa que a concavidade da curva G(x) a T e P ctes. deve ser
voltada para cima, para que não haja separação das fases líquidas. Para ilustrar o exposto,
vamos observar a curva ΔG de uma mistura líquida “versus” x1, para um sistema binário
(dois componentes):
xA Z1 xB x1
0 I 1
T,P ctes
-1 II
ΔG teórico
C B ΔG Z1
A
É possível demonstrar (vide ref. 4, pág. 337 a 339) que, em consequência da relação
(56), são válidas as expressões apresentadas no quadro a seguir:
dy1P dy 2 P dy
0; 0; 1 0
dx1 dx1 dx1
E:
dP dP
; e (y1 – x1) têm o mesmo sinal.
dx1 dy1
y1
0 1
A Trecho de B x1
miscibilidade
parcial
Figura 15: Para x1 entre A e B há duas fases líquidas em coexistência com o vapor.
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f̂ i f̂ i ... f̂ i , i 1, N (57)
onde há N componentes e fases. Quando uma delas é vapor, calcula-se a fugacidade por
f̂ iV yiˆ iV P . Para as fases líquidas, normalmente utiliza-se o método i, ou seja, faz-se:
x i i x i i (58)
onde e são as duas fases líquidas. Observe-se que, para que (58) seja válida, f i deve ser
referida ao mesmo padrão, para ambas as fases. A relação (58) pode apresentar problemas
de convergência, e os modelos de i não representam o ELL com precisão obtida no ELV.
Estes assuntos são tratados em detalhe nas referências 7 e 10, que trazem também listagens
de programas para o cálculo do ELL.
1o Exemplo:
Há, neste caso, duas situações. Se a miscibilidade cresce com T na fase líquida,
temos representada essa situação na Figura 16, enquanto que para sistemas em que a
miscibilidade da fase líquida cai com o aumento de T, ou seja, ao contrário do caso
anterior, a Figura 17 representa a situação.
P cte
VAPOR P2
T
Tc
Região com P1
LÍQUIDO
duas fases
líquidas
0 x1,y1 1
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Figura 16: Na pressão P2, há uma fase líquida e uma fase vapor. Para P1<P2, há duas fases
líquidas. Tc = temperatura crítica de solubilidade superior (ou temperatura consulata
superior).
VAPOR
Região com P2
duas fases
T líquidas
Tc P cte
P1
0 x1,y1 1
P cte
T Vapor
A X
y1B
x1IB B Y
E x1IIY
x1IC C x1IIC
L. 1 L. 2
xI D II
1D x 1D
0 Z1 y1E 1
x1,y1
Figura 18: L.1: fase líquida rica em 2; L.2.: fase rica em 1.
equilíbrio com duas fases líquidas, a x1IC e x 1IIC ). Baixando ainda mais T, chega-se ao ponto
D (onde só há as duas fases líquidas, com x 1ID e x 1IID ). Se partirmos do ponto X, o
fenômeno será semelhante, apenas surgindo em primeiro lugar a fase L.2 (ponto Y).
2o Exemplo:
T,P ctes
1 FASE
Tie line
PC
x i
x i x i
x i
xA = 1 2 FASES x i xB = 1
x i
A B
Figura 19: Diagrama triangular. Na região bifásica, os pontos em equilíbrio estão ligados
pelas linhas de amarração (“tie lines”): x i e x i , onde e = fases.
i( 1 ) i( 2 )
Para fins didáticos, vamos analisar separadamente as duas classes de problemas:
(^1 )
a i0 ,( 2 ) i0 ,( 1 )
os potenciais nas duas fases chega-se a: ln i^ . Ou seja, para aumentar
a( 2 ) RT
i
a partição do soluto i (o que quer dizer aumentar a distância entre suas atividades em cada
fase) é preciso aumentar a diferença entre os potenciais químicos de referência de cada
fase. Isso pode ser feito mudando os solventes ou alterando o soluto (quando este se
dissocia em fase aquosa). Veremos adiante uma aplicação dessa segunda opção.
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É importante lembrar que para soluções ideais, a atividade é igual à fração molar.
^
^ ^ fi
Assim, para solução ideal de Henry: f i x i H i ; f i 0 H i a i x i . Portanto, se o
f i0
(^1 )
a x( 1 ) H ( 2 ) 0 ,( 2 ) i0 ,( 1 )
soluto segue Henry, temos ln i^ ln i( 2 ) ln( K i ) ln i( 1 ) i
H ,
a( 2 ) xi i RT
i
onde Ki é o coeficiente de partição. Vemos que mudar os potenciais químicos de referência
é equivalente a mudar as constantes de Henry. Para mudarmos o coeficiente de partição
devemos mudar a razão das constantes de Henry. Isso pode ser feito mudando o solvente de
extração ou, quando o soluto pode se ionizar, mudando o equilíbrio de dissociação do
soluto; veremos esse último conceito aplicado à extração de antibióticos, por exemplo.
Observação: Analogamente, para solução ideal de Lewis:
^
^ ^ fi
f i xi f i ; f i f i a i
0
x i ; mas soluções ideais de Lewis jamais se separam em
f i0
duas fases líquidas, pois os potenciais químicos de referência são iguais – os do
componente puro e, portanto, ln(Ki) = 0.
Quando há dois (ou mais) solutos presentes, o grau de purificação de um em relação
Ki
ao outro pode ser quantificado pela seletividade , onde i e j são dois solutos
Kj
diferentes.
Ocasionalmente, utiliza-se a constante de Henry baseada na concentração, ao invés
^ ^
da fração molar. Então, ao invés de f i x i H i , teremos f i C i H . Se lembrarmos que
~ i
ni ni n M M
xi M i M Ci , então concluímos que H H i . Como a solução é
n m V ~ i
diluída, tanto sua massa molecular média ( M ) como sua densidade ( são praticamente
constantes, e então H pode ser usada sem necessidade de correção com uma equação P-V-
~
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Observação 1: para o solvente (na fase rafinado ou na fase extrato) não se pode
considerar a solução ideal segundo Henry. Se os dois solventes forem praticamente
imiscíveis (água e hexano, por exemplo), dever-se-ia empregar a lei de Lewis para cada um
deles, pois sua fração molar é quase 1. Entretanto, se considerarmos os solventes
completamente imiscíveis, não precisaremos das equações de equilíbrio para eles. Ao invés
disso, simplesmente iguala-se sua fração molar a 1 – xsoluto naquela fase. Resumindo: para
solventes imiscíveis, apenas a equação (1) é empregada, junto com os balanços de
massa.
Neste caso, temos em geral um equilíbrio ternário (três componentes, todos líquidos se
puros nas condições do sistema), bifásico. Recordando a regra das fases de Gibbs (sem
reação química): V = NC – N + 2 = 3 – 2 + 2 = 3. Assim, temos que especificar P (o efeito
da pressão é, normalmente, desprezível – exceto quando se trabalha próximo ao ponto
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T, P
ctes.
Vê-se que, quando há duas fases (sobre a curva binodal), basta especificar um valor
de x que todos os outros estão determinados pela linha de amarração, “tie line”. Note que
são dados P e T (o que define o diagrama à esquerda da figura).
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ANEXO I
NRTL
G 21
2
12 G 12
ln 1 x 21
2
(A.1)
x 1 x 2 G 21
2
x 2 x1G 12 2
e equação análoga para ln 2
Δg Δg 21
com: G 12 exp 12 ; 12 12 e G 21 exp 21 ; 21
RT RT
sendo parâmetros: Δg 12 ; Δg 21 ; (eventual 3o parâmetro; caso contrário, adota-se
=1 ou =-1)
UNIQUAC
1 r
ln 1 ln
Z
q1 ln 1 2 l 1 1 l 2 q1* ln 1* 2* 21
x1 2 1 r2
2* 21 2* 12
(A.2)
1* 2* 21 2* 1* 12
e equação análoga para ln 2
Van Laar
2
x 2 A 21
ln 1 A 12 (A.3)
x1 A 12 x 2 A 21
e equação análoga para ln 2
sendo parâmetros: A 12 e A 21 .
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Margules a 3 sufixos
Margules a 4 sufixos
ln 1 x 22 A 12 2A 21 A 12 Dx1 3Dx12 (A.5)
e equação análoga para ln 2
sendo parâmetros: A 12 ; A 21 e D.
Wilson
x 2 12 x 2 21
ln 1 C lnx1 12 x 2 (A.6)
x1 12 x 2 x 2 21 x1
e equação análoga para ln 2
com:
V Δ V Δ
12 ~ 2 exp 12 e 21 ~ 1 exp 21
V
~ 1
RT V
~ 2
RT
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS