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INTRODUÇÃO

AOS GÊNEROS
ACADÊMICOS

LABORATÓRIO
DE LEITURA
E PRODUÇÃO
TEXTUAL
NECRIL
NÚCLEO DE PESQUISA EM ESTUDOS CRÍTICOS E LINGUAGEM

COLÉGIO TÉCNICO ACADÊMICO


DE FLORIANO
FICHA TÉCNICA

CÍCLO 1
ORGANIZAÇÃO:

SIDNEY MARTINS
RIBAS NINJA

REVISÃO:

DAW TON VALENTIM


SIDNEY MARTINS

DIAGRAMAÇÃO:

ROMANO ROCHA

LABORATÓRIO
DE LEITURA
E PRODUÇÃO
TEXTUAL
NECRIL
NÚCLEO DE PESQUISA EM ESTUDOS CRÍTICOS E LINGUAGEM

COLÉGIO TÉCNICO ACADÊMICO


DE FLORIANO
LEITURA e pesquisa acadêmica:
aquisição de conhecimentos pela
leitura e seleção e organização
de obras e autores
Eleonora Figueiredo

Introdução

Imagine que você e um colega, alunos de graduação, gostariam de se inscrever


para apresentar trabalho em um importante congresso de sua área. Para isso, você
precisa realizar algumas ações. Primeiramente, é necessário que você entre em contato
com o colega com quem gostaria de fazer o trabalho. Em seguida, vocês precisam
encontrar um professor da instituição que os oriente em relação à construção do
trabalho, às leituras, à escrita do resumo e do trabalho para publicação nos anais do
evento. Por fim, você precisa enviar o texto para os responsáveis pelo evento, a fim de
que o retorno seja positivo. Dessa forma, você e seu colega poderiam garantir a
participação no congresso.
Essa situação, embora seja apresentada aqui de forma hipotética, faz parte de um
conjunto de momentos que são bastante comuns na comunidade acadêmica e é
possível que, por diversas vezes, você se depare com algo semelhante. Todas as práticas
que são pressupostas na situação apresentada costumam ser mediadas por textos
escritos. Você pode, por exemplo, contatar seu colega por e-mail ou por mensagem, a
depender do grau de intimidade que você tem com ele. Com o seu professor, no
entanto, é esperado que você interaja por meio de gêneros que pressupõem um maior
grau de formalidade. Todas essas práticas convergem para um objetivo único: o de que
vocês escrevam um texto que atenda às exigências do domínio discursivo acadêmico.
Na academia científica, são muitas as situações que demandam a atividade de
escrita. Para realizar essa atividade, as pessoas, em geral, precisam fazer leituras e
pesquisas. Ainda na situação hipotética mencionada anteriormente, pense em tudo o
que você precisa realizar para que consiga escrever o resumo a contento. Inicialmente,
você precisa ter um tema sobre o qual escrever. Em seguida, você precisa fazer leituras
sobre esse tema, a fim de que possa embasar adequadamente o seu ponto de vista e o
que você tem a dizer sobre ele. Nesse sentido, você deve selecionar as obras e os autores
adequados ao que você pretende realizar.
As situações em que você precisa realizar todas essas atividades na academia
costumam exigir de quem participa dela práticas muito específicas, diferentes das que

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são exigidas na escola ou em outros domínios. Também, porque atuamos com escrita e
leitura em outros âmbitos de nossas vidas: em casa, no trabalho, na comunicação com
amigos e em outras situações cotidianas, a escrita é parte fundamental de nossa ação.
Neste material, serão discutidos os conceitos básicos que fundamentam a leitura e
a pesquisa acadêmica e a forma de selecionar e organizar autores e obras. Para isso,
dividimos as discussões em dois temas principais, a serem apresentados. Inicialmente,
tratamos dos aspectos referentes à pesquisa acadêmica, tendo em vista que ela,
normalmente, é a base da leitura e da escrita acadêmica, isto é, na academia, escrevemos
para divulgar, publicizar, organizar e/ou registrar planejamentos, etapas ou resultados
de uma pesquisa acadêmica.
Em seguida, tratamos da leitura propriamente dita, no contexto acadêmico,
processo no qual elegemos, sobretudo, objetivos de leitura. Esses objetivos norteiam o
que deve ser selecionado, triado e organizado ao longo da atividade de leitura. É sobre
esses processos que são contemplados na leitura que trataremos.
1 A pesquisa acadêmica
Como foi mencionado anteriormente, a prática social acadêmica é baseada,
fundamentalmente, na pesquisa. Mesmo em instituições que não contemplem
possibilidades de pesquisa científica, esta é constante das diversas atividades que
constituem as práticas de seus sujeitos, isso porque o conhecimento gerado e discutido
no ensino superior advém, essencialmente, de pesquisas científicas.
Dessa forma, é possível compreender a pesquisa acadêmica como um macrofator
da prática social acadêmica. Para alunos de graduação, especialmente, ela inicia com a
leitura e pode finalizar com a escrita. No entanto, a leitura em contexto acadêmico pode
ser feita para atender a uma gama de objetivos que não necessariamente estão
relacionados à escrita de gêneros acadêmicos. A partir de uma perspectiva dialógica dos
estudos da linguagem, com base nas obras de Bakhtin e de seu Círculo, compreende-se
que os processos de interação verbal são sempre voltados para o outro e, portanto,
orientados por ele.
A leitura, como um processo de interação verbal, é, também, situada, de forma que
os sujeitos a executam com vistas a atingir determinados objetivos. Para proceder à
leitura de um texto, em geral, é necessário que se mobilizem diversos conhecimentos e,
em geral, a experiência com textos do mesmo domínio discursivo é um importante
facilitador do processo. Se pensarmos especificamente na leitura em contexto
acadêmico, é possível apontar alguns aspectos particulares dessa prática. Em outras
palavras, quando lemos ou escrevemos academicamente, fazemos com objetivos
específicos e com uma ideia específica de leitor/ouvinte, a fim de dialogar com ele.
Coloquemos, agora, duas situações comuns de acontecerem no contexto acadêmico.

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a) Os estudantes cursam uma disciplina na qual o professor indica, como
bibliografia básica, uma série de textos. Esses textos contemplam diversos
gêneros textuais: artigos de periódicos, artigos de livros, notas de aula e
resenhas. A leitura desses textos é fundamental para que os estudantes possam
aprender, discutir e desenvolver conceitos fundadores sobre o tema da disciplina.
Nesse caso, a leitura dos gêneros acadêmicos tem como objetivo principal
facilitar a compreensão de conceitos-base em uma determinada área do
conhecimento.
b) Um estudante do penúltimo semestre de graduação precisa escrever o projeto do
seu trabalho de conclusão de curso (monografia ou artigo acadêmico). A
construção desse projeto será orientada por um professor da instituição, que
deverá, dentre outras atividades, orientar a condução da pesquisa, fazer
indicações de leitura, avaliar a versão final do projeto quanto à sua pertinência
temática e metodológica e encaminhar o estudante para a redação do texto
referente ao trabalho de conclusão de curso. Nesse caso, alguns textos deverão
ser lidos pelo aluno a fim de que ele possa se nortear em relação à sua pesquisa
teórica e metodologicamente.

A partir dessas duas situações, observam-se objetivos de leitura bastante distintos.


Na primeira, o aluno deverá, principalmente, fazer as leituras indicadas pelo professor
da disciplina, a fim de construir um conhecimento significativo acerca de um
determinado tema. Na segunda, o aluno deverá fazer as leituras com o objetivo de
orientar uma pesquisa científica que dará origem a um outro gênero comum na
comunidade acadêmica. Nesta última, especialmente, a leitura é importante para que se
possam definir os rumos de uma pesquisa e para que se tenham referências teóricas e
metodológicas consistentes.
Embora os objetivos de leitura nas duas situações sejam distintos, os
procedimentos que devem ser seguidos são, essencialmente, os mesmos. Quando se
escreve uma monografia de graduação ou de especialização, uma dissertação ou uma
tese, espera-se, em geral, que o autor tenha relativa autonomia para selecionar,
organizar e categorizar autores e obras. Quando o texto é lido, por exemplo, no contexto
de uma disciplina de graduação, ele já é selecionado por um sujeito mais experiente,
nesse caso o professor. Ao aluno, cabem as tarefas de selecionar as informações que lhe
são mais relevantes, de forma que ele possa, assim, sistematizar os conceitos que são
trazidos no texto.
Observou-se, então, que duas ações fundamentais são demandadas de leitores
em contexto acadêmico: i) selecionar e ii) organizar autores obras e conceitos. Em
quaisquer das situações apresentadas, essas ações serão demandadas, mesmo que de

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formas diferentes. A seguir, tratamos de cada uma delas. Com o objetivo de sistematizar
melhor o assunto sobre o qual iremos discorrer, trataremos da leitura acadêmica
enquanto substrato, fundamento para a pesquisa acadêmica e a consequente escrita de
gêneros acadêmicos que se relacionem a ela, como relatos de experiências, artigos,
monografias, teses e dissertações.
2 A seleção
Você já viu anteriormente que, na leitura em contexto acadêmico, a seleção de
autores, obras/textos e de conceitos é essencial para o atendimento do objetivo de
leitura. Viu também que, na escrita acadêmica, a capacidade de selecionar autores e
obras deve ser relativamente autônoma por parte do estudante e, claro, supervisionada
por um membro mais experiente (geralmente, um professor orientador) da comunidade
acadêmica. A seguir, trataremos de algumas orientações básicas acerca da seleção.

a) Buscar obras de referências e textos fundadores

Toda pesquisa científica é fundamentada em uma teoria. Isso significa que essa
teoria, escolhida pelo pesquisador, é o substrato do que vai ser desenvolvido no
trabalho. Com a crescente importância da interdisciplinaridade na academia, tem sido
cada vez mais comum que as pesquisas sejam fundamentadas por mais de uma teoria,
embora uma delas se sobressaia como principal.
Para compreender os fundamentos de qualquer teoria, é fundamental que se
tenha conhecimento dos textos fundadores, isto é, de referência sobre o assunto. Em
geral, quando um pesquisador opta por utilizar determinada teoria como fundamento
de sua pesquisa, é porque tem familiaridade com ela e provavelmente conhece os textos
fundadores e os principais teóricos. Em outro caso, um professor orientador pode ter um
papel importante na indicação de textos-base para o aluno.
Em algumas áreas de estudo, os textos fundadores podem ser um pouco mais
antigos e, por vezes, complexos. Essa complexidade pode ser gerada por diversos
fatores, dentre os quais as traduções, em caso de textos escritos em língua estrangeira,
são alguns dos principais. Para que esses aspectos não causem problemas na leitura,
vale a pena investir tempo e dedicação em uma pesquisa aprofundada sobre as
traduções mais respaldadas na comunidade. Novamente, nesse caso, o professor
orientador pode desenvolver um papel fundamental.
Além dos textos fundadores sobre o tema em estudo, é importante que sejam lidos
também os textos de seus comentaristas. Assim como há teóricos respaldados pela
comunidade acadêmica, há comentaristas de teóricos que são reconhecidos por suas
contribuições aos estudos das teorias. Na Linguística, podemos citar o Curso de

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Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, como uma obra fundamental, basilar, e
livros do tipo “Para compreender Sausurre” como publicações de comentaristas do
teórico.
Em relação à seleção de conceitos em um texto já indicado, a melhor forma de
fazê-la é identificando as principais informações que serão abordadas no texto. Para
isso, o título costuma ser a parte que, em geral, mais pode contribuir para essa seleção.
Vejamos um exemplo, a seguir, de um artigo publicado em um livro do linguista inglês
Brian Street.

Oralidade e letramento como construtos ideológicos: alguns problemas em


estudos transculturais

Você consegue, a partir desse título, identificar os principais conceitos


trabalhados no texto? Ainda, você consegue identificar o que será apresentado no
texto?
Em algumas situações, é possível que os títulos se apresentem de forma bem
mais sintética. É o caso do título apresentado a seguir, de um artigo publicado na
revista Pesquisa Veterinária Brasileira.

Doenças neurológicas em gatos: 155 casos

Nesse caso, o autor optou por sintetizar as informações veiculadas no título,


embora a especificação do tema seja bastante clara: trata-se de uma pesquisa
experimental feita com 155 gatos para a verificação de doenças neurológicas.
Além do resumo e da introdução, em artigos científicos, especificamente, as
palavras-chave são importantes instrumentos para que se identifiquem os principais
conceitos abordados. É importante destacar que o uso das palavras-chave é
fundamental para a indexação* de artigos em bases de dados**.
Por fim, algumas recomendações são importantes na busca por trabalhos que
possamos utilizar como fonte de pesquisa. Embora não se deva prescindir dos textos
fundadores, como mencionamos anteriormente, é necessário buscar referencial
atualizado sobre o tema, a fim de que o respaldo seja recente e em consonância com as

*Indexação, em Biblioteconomia, é a ação de descrever e identificar um documento de acordo com o seu assunto.
Embora a palavra possa assumir outras definições quando utilizadas em outros campos de estudo, apropriamo-nos
da Biblioteconomia por tratarmos, aqui, de catalogação de documentos.
**Bases de dados, na Ciência de Dados, são conjuntos de arquivos relacionados entre si com base em filtros
específicos, como tema, autor, lugar, periódico etc.

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correntes mais modernas de estudo. Deve-se, ainda, utilizar referências respaldadas e
confiáveis. Nesse caso, a busca por periódicos bem avaliados deve ser constante.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) tem
uma plataforma em que se apresentam os resultados de avaliação de cursos de pós-
graduação, de universidades, as diretrizes para envio de relatórios semestrais e a lista de
periódicos, com os respectivos Qualis*. A plataforma Sucupira, que hospeda o Qualis
P e r i ó d i c o s , e s t á d i s p o n í v e l e m :
<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/index.xhtml>. Em módulo futuro,
específico sobre publicação de artigos em periódicos científicos, será possível ver mais
sobre esse assunto.
Nesta seção, tratamos da ação de selecionar autores, obras e conceitos. A respeito
da seleção de obras e de autores, vimos que tão importante quanto ler os textos
fundadores sobre um tema, é ler os comentaristas desses teóricos. Sobre a seleção de
conceitos para estudo, vimos que o título e as palavras-chave são importantes
indicadores do tema que será abordado, da fundamentação teórica utilizada e, algumas
vezes, da metodologia. A seguir, trataremos da organização de conceitos, obras e
autores.

3 A organização

Após selecionar obras, autores e conceitos, é necessário organizá-los para que


você possa sistematizar os conhecimentos. Quando a leitura tem como principal
objetivo oferecer fundamentação para a escrita de outros textos, é importante que essa
categorização seja apresentada ao leitor da forma mais didática possível. Assim, a
sequência de apresentação dos conceitos, das obras e dos autores deve apresentar uma
relativa lógica, fácil de ser acompanhada pelo leitor.
Na maior parte dos textos científicos, abordam-se, inicialmente, as categorias e os
conceitos-base. Em seguida, apresentam-se os conceitos secundários, que funcionam
de suporte para os primeiros. Dessa forma, é importante que se tenha, sobretudo, a
capacidade de saber o que esperar de cada seção dos gêneros em estudo. Embora essa
expectativa seja relativamente diferente em cada área de estudo, elas compartilham um
traço em comum, tendo em vista que o domínio discursivo, o contexto maior de
interação é o acadêmico. Em outras palavras, um artigo acadêmico pode se organizar
diferentemente a depender da área à qual pertence, mas, frequentemente, mantém uma
lógica geral, a lógica da escrita acadêmica. Há, ainda, diversos tipos de artigo científico,

*Qualis é um sistema brasileiro de avaliação de periódicos mantido pela CAPES que relaciona e classifica os veículos
utilizados para a divulgação da produção intelectual dos programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e
doutorado). São 8 níveis de classificação. Em ordem decrescente de qualidade, são eles: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5, C.

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a respeito dos quais discorremos a seguir.

a) Artigos originais têm como principal objetivo divulgar resultados de pesquisa


originais que possam ser replicados. Alguns exemplos são as pesquisas que
envolvem animais de laboratório.
b) Relatos de caso objetivam, primeiramente, relatar ou discutir situações muito
particulares, que, geralmente, não foram descritas anteriormente. Dessa forma, o
foco principal costuma ser na narrativa dos fatos, discutindo-se menos a
fundamentação teórica.
c) Artigos de revisão são aqueles que geralmente apresentam uma avaliação da
literatura científica sobre o que foi produzido no assunto. Geralmente, o autor
apresenta uma discussão sobre teorias, obras e autores acerca do tema.
d) Artigos especiais são os que não se encaixam nas categorias anteriores e que o
Corpo Editorial de uma revista julgue relevante para a divulgação do
conhecimento na área.

Uma das principais habilidades de leitura no contexto acadêmico é, também, saber


escolher que tipo de artigo serve para o seu propósito enquanto leitor. Caso deseje
replicar algum estudo, é provável que um artigo original seja o ideal para o seu
propósito. No entanto, caso tenha interesse em estudar sobre uma situação muito
específica ou, mesmo, rara, o relato de caso será mais adequado. Ainda, se precisar de
um panorama sobre a literatura científica acerca de um determinado tema, um artigo de
revisão poderá ajudá-lo a atingir seu objetivo; nesse caso, você não precisará retornar a
todos os textos fundadores (que, em algumas áreas, podem não ser facilmente
encontrados), tendo em vista que um artigo poderá facilitar esse processo. Por fim, os
artigos especiais podem auxiliá-lo no estudo de temas relevantes para a comunidade
científica, sem que necessariamente se enquadrem em nenhuma das demais categorias.
Alguns exemplos são ensaios e sequências didáticas. Há ainda outros tipos de artigos,
como o teórico ou o relato de experiência, sobre os quais falaremos ao longo de nosso
curso.
Como foi visto até aqui, alguns critérios específicos devem ser levados em
consideração no momento de organizar as obras, os autores e os conceitos
selecionados. Retomemos, junto com algumas perguntas norteadoras.

a) Separar os textos de acordo com a fundamentação teórica escolhida


Quais textos são o próprio fundamento da pesquisa?
Quais deles são adicionais aos primeiros?

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b) Relacionar, quando for o caso, as teorias de base da pesquisa
Em que ponto as teorias se aproximam?
Em que ponto elas se distanciam?
De que forma, uma teoria traz uma contribuição que a outra não traz e por quê?
c) Escolher que tipos de artigos são importantes para o objetivo
Se é preciso estudar os textos para aprender e sistematizar conceitos, o melhor é
utilizar um artigo original ou um relato de caso?
Que tipo de artigo pode ajudar a fazer a relação entre as teorias?
Que tipo de artigo pode fornecer ideias para a construção e a revisão de aspectos
metodológicos?

Adendo

Para a seleção de artigos científicos, utilizam-se bases de dados, sobre as quais


falamos anteriormente. Algumas costumam ser mais respaldadas pela comunidade
acadêmica. A seguir, apresentamos alguns links de bases de dados para você verificar.
• Portal de Periódicos da CAPES – O conteúdo completo só pode ser acessado com
IPs de instituições registradas.
http://www.periodicos.capes.gov.br/

• SciELO – Scientific Eletronic Library Online


http://www.scielo.org/php/index.php
• OAJI – Open Academic Journals Index
http://oaji.net/

Considerações finais

Apresentamos, nesta aula, alguns aspectos referentes à pesquisa e à leitura


acadêmica. A seguir, a síntese deles é feita em forma de tópicos.

• A leitura é uma atividade de interação verbal e, portanto, é situada. Dessa forma,


ela é sempre parte de uma situação mais abrangente.
• No contexto acadêmico, vários objetivos podem ser atingidos a partir da leitura
de textos desse domínio. Aqui, foram apresentados dois principais: i) a
aprendizagem e a sistematização de conceitos e ii) a orientação teórico-

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metodológica para a escrita de gêneros acadêmicos.
• A pesquisa científica costuma ser o principal substrato para a produção de
gêneros acadêmicos. Dessa forma, a leitura, nesse contexto, é uma forma de
conhecimento dos resultados de pesquisas científicas.
• A seleção e a organização de obras, conceitos e autores são as principais ações a
serem executadas por leitores no contexto acadêmico.
• Para selecionar obras e artigos acadêmicos, o título, as palavras-chave e o resumo
são as partes que mais podem contribuir para a escolha adequada.
• Para organizar obras e artigos acadêmicos, deve-se pensar em categorias, como
hierarquia entre as teorias de base, objetivo de leitura e tipo de artigo.

Referências

CHAVES, R. O. et. al. Doenças neurológicas em gatos: 155 casos. Pesquisa Veterinária
Brasileira. v. 38, n. 1. [S. l.], 2018. pp. 107-112.
FIAD, R. S. A escrita na universidade. Revista da ABRALIN. v. Eletrônico, n. Especial, [S. n.;
S . l . ] , 2 0 1 1 , p . 3 5 7 - 3 6 9 . D i s p o n í v e l e m :
<https://revistas.ufpr.br/abralin/article/view/32436/20585>. Acesso em: 7 ago. 2018.
FISCHER, A.; PELANDRÉ, N. L. Letramento acadêmico e a construção de sentidos nas
leituras de um gênero. Perspectiva. v. 28, n. 2. Florianópolis, 2010. P. 569-599.
LIMA, I. B. A; LIMA; M. C. M. Manual para elaboração e apresentação de trabalhos
científicos: artigo científico. Campos dos Goytacazes: Faculdade de Medicina de
Campos, 2007.
SILVA, M. J. M.; SANTOS, A. A. A. A avaliação da compreensão em leitura e o desempenho
acadêmico de universitários. V. 9, n. 3, [S. n.; S. l.], p 459-467, 2004.

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EX TRAINDO TESE E ANTÍTESE EM TEX TOS
ARGUMENTATIVOS: seminário
Maria Eduarda Gonçalves Peixoto
1 INTRODUÇÃO

No espaço institucional da educação superior, os diversos gêneros textuais que


circulam servem ao propósito geral de garantir a comunicação entre pesquisadores,
professores e estudantes. Tradicionalmente, entre os gêneros acadêmicos mais
empregados para fazer circular o que se tem produzido cientificamente, há predomínio
daqueles de modalidade escrita, como resumos e resenhas. Isso reflete o valor que a
nossa formação educacional, desde o nível básico, tem atribuído ao registro escrito, pois
é fato, conforme adverte Goulart (2005), que as escolas, historicamente, privilegiam as
atividades de escrita em detrimento das atividades de oralidade. Ao chegarem ao ensino
superior, os estudantes enfrentam vários obstáculos quanto à comunicação oral e
formal, mesmo dominando os gêneros primários de interação face a face. Você já teve
dificuldades em planejar e executar uma apresentação oral solicitada por um(a)
professor(a) em alguma disciplina ou grupo de estudo? Provavelmente, você teve
dúvidas sobre abordagem do tema, definição de uma linha de argumentação clara e
objetiva, seleção e organização de informações e dados, estruturação da fala, interação
com o público e geração de debate.
Em razão das várias dificuldades e de uma suposta carência de sistematização
didática, os gêneros acadêmicos da oralidade ainda não conquistaram o lugar que
merecem. Na verdade, devemos reconhecê-los como fundamentais para a comunicação
e a divulgação científica atualmente. Eles tanto possibilitam a interação entre pares na
academia, quanto viabilizam o diálogo entre pesquisadores e o público externo, uma
vez que, como lembra Bronckart (2003), as práticas de linguagem oral relacionam-se à
competência comunicativa no contexto da ação em sociedade. Tem sido cada vez mais
comum e necessário o trabalho de levar as pesquisas aos contextos variados da vida
social, de tal forma que os gêneros da oralidade tornam-se bastante úteis à tarefa de
popularização das ciências. Assim, seja para a comunicação no interior do meio
acadêmico, seja para a comunicação além da academia, os gêneros textuais orais devem
ser vistos em razão de sua relevância e funcionalidade.
Entre os mais comuns gêneros textuais orais utilizados para comunicação e
divulgação científica, encontramos o seminário acadêmico, que vamos explanar de
agora em diante neste módulo. Por um lado, devemos compreender que há
características próprias do seminário que não estão presentes na estrutura dos gêneros
textuais escritos. Por exemplo, você mantém contato direto com o público, pode

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planejar e organizar o trabalho em grupo e deve lançar mão de mecanismos que
incluem não apenas a pesquisa e sua exposição, mas também a discussão, a reflexão, o
debate. Por outro lado, devemos também ser conscientes de que a elaboração e a
realização de um seminário envolvem atividades de produção escrita. Por exemplo, para
preparar a sua apresentação, você precisa fazer várias leituras, cujos conteúdos são
sintetizados a partir de fichamentos, como também deve levar registros para o público
melhor acompanhar a sua exposição, utilizando recursos tecnológicos, como projeção
de slides. Assim, o seminário torna-se uma excelente forma de trabalho da escrita e da
oralidade, pois se realiza oralmente, mas é perpassado pela escrita (MACHADO e
BEZERRA, 2003).
Por essa razão, é largamente utilizado como técnica de estudo em sala de aula,
quando o(a) professor(a) solicita aos alunos uma apresentação expositivo-
argumentativa oral acerca de leituras previamente indicadas. Também se classifica como
seminário um tipo específico de apresentação em eventos acadêmicos em que um ou
mais especialistas desenvolvem uma exposição oral acerca de um tema em comum,
seguida de discussão a propósito dos diferentes aspectos abordados em torno da
temática geral. Observemos, desde então, que o seminário é mais do que uma técnica, é
um gênero textual: de acordo com a Etnografia da Comunicação (HYMES, 1986), trata-se
sempre de um evento. Há um complexo de fatores linguísticos e extralinguísticos
envolvidos no planejamento e na realização de um seminário. Aqui, vamos discutir, mais
especificamente, a sua finalidade e estrutura, sua composição argumentativa e etapas
didáticas de elaboração, apoiados no trabalho de estudiosos sobre a didatização do
gênero, tais como Dolz & Schneuwly (2004), Dolz et al (2004) e Goulart (2005).

2. ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO

2.1. Finalidade e escopo

Uma vez que todo gênero textual-discursivo possui um propósito


comunicativo, cabe, aqui, a pergunta: afinal, um seminário serve para quê? Conforme
explica Marconi e Lakatos (2003), o seminário envolve o esforço de pesquisa, a
apresentação sistemática de fatos, a argumentação, o raciocínio e a reflexão. Segundo
Dolz et al (2004, p. 218), o seminário consiste em um gênero textual público,
relativamente formal e específico, no qual o expositor especialista dirige-se a um
auditório, de maneira estruturada (explicitamente), para lhe transmitir informações,
descrever-lhe ou explicar alguma coisa.
Para Althaus (2011), o seminário surgiu no final do século XVII, na Alemanha,
consistindo em momentos de socialização de textos, sob a coordenação de um

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professor, em que se permitiam comentários, opiniões e críticas, em contextos de
debate a partir de interpretações diferentes sobre o assunto exposto. Assim, desde sua
emergência, o princípio norteador do seminário é o de semear ideias e saberes. Logo,
está longe de ser uma simples exposição acerca de um assunto, uma vez que envolve,
fundamentalmente, o desenvolvimento e o amadurecimento de uma reflexão em torno
de um tema, em analogia à noção de fazer a semente germinar. A finalidade do
seminário acadêmico é, pois, apresentar e aprofundar uma temática diante de
determinado público-expectador, trazendo à tona leituras originais e inovadoras e
possibilitando espaço de reflexão.
Todo seminário gira em torno de um tema, que deve ser original, pertinente e
relevante para uma certa área científica. As fontes principais que originam assuntos para
seminários são, conforme Marconis e Lakatos:

Fontes • Temas constantes de um programa disciplinar, mas que necessitam


de conhecimentos mais aprofundados;
• Temas complementares a um programa disciplinar;
• Temas novos, divulgados em periódicos especializados, referentes
à disciplina em questão;
• Temas atuais, de interesse geral, com ideias renovadoras;
• Temas específicos, atualizados, adequados a um programa de
seminário;

2.2. Integrantes

O seminário pode ser individual, quando elaborado e apresentando por uma


única pessoa, ou coletivo, quando elaborado e apresentado por uma equipe de pessoas,
em casos em que a exposição pode ser realizada por alguns indivíduos apenas ou por
todos os integrantes do grupo sucessivamente. Neste último caso, o tema é subdivido
em unidades menores, que são distribuídas entre os membros. Individual ou coletivo, é
certo que o seminário abrange todo o seu ambiente de realização: por exemplo, em uma
sala de aula, também devem estar envolvidos no seminário os demais estudantes, que
acompanham a apresentação e analisam o conteúdo explorado, e o(a) professor(a), que
pode supervisionar a atividade e mediar o debate com o público após a exposição.
Considerando o tipo mais comum de seminário, aquele de configuração grupal,
é importante que haja um(a) coordenador(a), geralmente o(a) professor(a) ou
supervisor(a) de uma disciplina ou grupo de estudo. Sua função é definir os temas dos
seminários, sua extensão temporal e ordem de realização, os critérios de formação dos

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grupos, a bibliografia sugerida para leitura e o calendário de apresentações da turma.
Geralmente, é o(a) coordenador(a) quem se responsabiliza pela mediação do debate
após da apresentação da equipe.
Uma vez que a operacionalização de um seminário começa bem antes da
apresentação oral propriamente dita, é interessante que haja um(a) organizador(a), cujo
papel é estabelecer e administrar a agenda de atividades do grupo, com foco na
distribuição de tarefas entre os seus membros segundo determinado cronograma de
produção. O(a) organizador(a) marca reuniões com os integrantes e acompanha o
desenvolvimento das atividades. Sob administração geral do(a) organizador(a), há os
relatores, que são os membros da equipe do seminário designados a explanarem o
conteúdo em público. Todos os integrantes de uma equipe podem ser relatores ou
somente alguns deles, a depender dos critérios previamente estabelecidos pelo(a)
coordenador(a) ou professor(a).
Embora não muito frequente, pode haver, ainda, a figura do(a) comentador(a),
geralmente pessoa externa ao grupo, indicada pelo(a) coordenador(a) para tecer
comentários críticos do trabalho exposto. Essa prática é mais usual em sessões de
comunicações orais em eventos científicos. Também é possível que se faça necessária a
presença de um(a) secretário(a), também designado(a) pelo(a) coordenador(a), com o
propósito de fazer o registro de conclusões parciais e finais dos trabalhos expostos.
Encerrado o período de apresentações das equipes, os(as) secretários(as) podem
compilar os registros e disponibilizá-los para toda a turma.
Após a explanação realizada pelos relatores e a palavra (se houver) do(a)
comentador(a), encontram-se, enfim, os debatedores, que são, a princípio, todos os
alunos presentes na sala de aula, que acompanham o trabalho apresentado. Como é
parte constitutiva do seminário acadêmico a promoção de reflexões, os debatedores
assumem um importante papel, pois são os interlocutores que fazem perguntas,
questionamentos, críticas e objeções.
Ao fim, podemos sintetizar a disposição dos integrantes do seguinte modo:

Integrantes • Coordenador(a);
• Organizador(a);
• Relator(a);
• Secretário(a);
• Comentador(a);
• Debatedor(a);

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2.3. Etapas de elaboração

Sabemos que o seminário começa muito antes da apresentação à turma. Por isso,
dispomos as suas etapas de construção em nove importantes momentos, que vão dos
estudos iniciais à reflexão com os debatedores. Vejamos:

• No primeiro momento, dá-se o processo de preparação do seminário. O(a)


coordenador(a) define os temas a serem apresentados pelas equipes, indica a
bibliografia, delimita a extensão das apresentações, determina os critérios de
avaliação e estipula o calendário das exposições;
• Em seguida, a equipe, sob a administração do(a) organizador(a) por ela
selecionado(a), divide as tarefas entre os integrantes, seleciona e avalia as fontes
de estudo (livros, artigos, ensaios, entrevistas e documentos, por exemplo),
reúne-se para resolução de dúvidas e alinhamento dos argumentos a serem
explorados e produz o material de apresentação (como slides ou handout);
• Depois de tudo preparado, é hora da apresentação. Comecemos pela introdução.
Inicialmente, o(a) organizador(a) e o(s) relatores(es) deve(m) cumprimentar o
público-expectador, a fim de estabelecerem o ponto de partida da interação.
Comumente, os membros da equipe informam seus nomes e outros dados que
julgarem necessários neste momento inicial. Em seguida, um(a) relator(a) indica o
tema a ser abordado no seminário e seus objetivos principais. Colocado à plateia
o escopo da discussão, outro(a) relator(a) pode esclarecer aos ouvintes o
percurso a ser seguido durante a exposição, em uma espécie de formulação
metadiscursiva, cujo objetivo é garantir que os interlocutores tornem-se
conscientes do que será debatido especificamente dali em diante;
• Feita a introdução, passemos ao desenvolvimento. Aqui, os relatores,
sequencialmente, explanam e aprofundam cada parte do tema. É fundamental
que as partes mantenham entre si uma relação de coerência e de progressão de
ideias, de forma a se evitarem incongruências, desvios temáticos e problemas de
conexão lógica;
• Para concluir, faz-se uma revisão dos principais pontos explorados, evidenciando
as contribuições do seminário, mostra-se a bibliografia consultada e encerra-se o
evento com agradecimentos e convite à reflexão;
• Ao fim, abre-se espaço para os comentadores e, em seguida, para os debatedores
participarem das reflexões. Para controle e organização, o(a) coordenador(a)
deve mediar a discussão. No caso de seminário apresentado para fins de

14
avaliação em disciplinas ou grupos de estudo, o(a) coordenador(a) ou
professor(a) pode expor seus julgamentos e, inclusive, solicitar novo seminário.

Com base nisso, geralmente, o seminário apresenta as seguintes etapas:

Momento 1 • Definição do tema pelo(a) coordenador(a);


Momento 2 • Pesquisas e organização das tarefas do grupo;
Momento 3 • Introdução: apresentação dos membros, indicação do tema
e dos objetivos do trabalho, bem como do percurso de
discussão;
Momento 4 • Apresentações sequenciais dos relatores, com base em um
encadeamento lógico-argumentativo de informações,
dados, explicações e demonstrações;
Momento 5 • Conclusão: retomada dos principais pontos discutidos,
exposição das contribuições do trabalho e indicação da
bibliografia consultada;
Momento 6 • Debate: discussão com a participação dos interlocutores
acerca das questões explanadas no seminário;

Fica claro, com isso, que, para quem apresenta um seminário, o trabalho de
elaboração e execução é um exercício de aprendizagem bastante eficiente, pois envolve
habilidades de leitura, de escrita, de organização e controle de fala e de didatização de
conteúdos. Para quem assiste a um seminário, a atividade oportuniza melhor domínio
sobre o tema abordado e maior discernimento acerca de seus aspectos mais
problemáticos ou passíveis de interpretações distintas.

3. NATUREZA COMPOSICIONAL

3.1. Tese e antítese

Vimos a finalidade e o escopo do seminário, quem são e que papeis


desempenham seus integrantes e quais as suas etapas de elaboração. Agora, vamos nos
dedicar à compreensão da natureza composicional argumentativa do gênero. A
progressão temática do seminário opera, segundo Schneuwly e Dolz (2004), por
encadeamentos lógico-argumentativos, de maneira que uma ideia articula-se à próxima

15
ideia, prevalecendo as sequências didáticas explicativas, dialogias e argumentativas.
As sequências explicativas têm origem na confirmação de um objeto de estudo,
que, embora incontestável, é incompleto e necessita ser melhor explorado para
responder a questões ou a contradições aparentes. Por exemplo, a frase declarativa “Tais
pesquisas demonstram que o que provoca tal fenômeno é este conjunto de
condições...”. Já as sequências dialogais, comuns em comunicações orais, mostram
alguns trechos do discurso interativo dialogado, em que os turnos de fala são
determinados pelos relatores do seminário, por exemplo, na frase “Você consegue
observar, através desse quadro, quais os fatores determinantes do fenômeno?”.
As sequências argumentativas, por sua vez, são aquelas responsáveis pelo
desenvolvimento e pela defesa de uma tese, em oposição a uma antítese, com base na
qual apresentam-se argumentos e contra-argumentos, orientando os interlocutores
para certa conclusão. A organização composicional argumentativa do seminário revela
a definição de uma tese, em relação à qual os relatores se posicionam mediante a
questão polêmica discutida no contexto da exposição pública, e de uma antítese, isto é,
uma contraposição, a fim de estabelecer junto aos interlocutores uma negociação em
torno da conclusão do tema explanado. Conforme esclarece Barroso (2011), essas
sequências textuais indicam a capacidade de (1) angular a questão polêmica sobre mais
de uma perspectiva e de (2) antecipar-se a possíveis posicionamentos do público-
interlocutor. Aqui, são comuns frases como “Essa é uma questão problemática e pode
ser vislumbrada a partir de dois pontos de vista distintos...” ou “Por um lado, pode-se
considerar isso... por outro lado, é possível obsevar aquilo...”.
Ainda segundo Barroso (2011, p. 144), é possível organizarmos em um plano
global prototípico a composição argumentativa do seminário:

CONTEXTUALIZAÇÃO
(contexto no qual emerge a questão polêmica)
QUESTÃO POLÊMICA
(possível de ser traduzida em forma de perguntas)
POSIÇÃO/TESE
(posição adotada em relação à questão polêmica)
CONTRAPOSIÇÃO
(posição contrária à tese)
JUSTIFICATIVA
(argumentos e/ou contra-argumentos
CONCLUSÃO
(síntese ou convite à reflexão)

16
Tal composição, exposta através de sequências textuais didáticas, é operacionalizada
nos momentos 3, 4 e 5 da elaboração do seminário, quando os integrantes realizam a
introdução, o desenvolvimento e a conclusão de sua apresentação.

3.2. Discurso e argumentação

Para manter a coerência entre as sequências argumentativas, é preciso articular um


discurso caracterizado por:

1) coesão temática, para garantir a costura entre as diferentes partes do conteúdo


explanado, mantendo a unidade de sentido da discussão (por exemplo, um relator
retoma um ponto discutido pelo colega anteriormente para vinculá-lo ao que falará em
seguida, como em “Depois de apresentada a introdução, passemos à segunda parte,
que trata de...”);

2) sinalizações coesivas, para distinguir os dados mais importantes daqueles mais


secundários (a partir de mecanismos de ênfase) e também para diferenciar as próprias
partes do seminário (convém, por exemplo, anunciar o momento da introdução, de cada
parte da apresentação e de sua conclusão, por exemplo “neste momento, chegamos à
parte final da nossa apresentação, que consiste em...”);

3) organizadores textuais, para evidenciar a explicação e a exemplificação das partes do


conteúdo e os argumentos e contra-argumentos mibilizados ao longo do discurso
(como “por um lado... por outro lado” e outros operadores argumentativos, como
“porém”, “ainda que” ou “por isso”);

4) estratégias textuais de formulação e metaformulação, para se obter mais eficiência no


trabalho de conquistar a atenção e a aceitabilidade do público diante de questões mais
complexas ou densas ao longo do discurso proferido (como “quero dizer com isso
que...”, “melhor dizendo” ou “o que isso significa é que...”);

REFERÊNCIAS

BARROSO, T. Gênero textual como objeto de ensino: uma proposta de didatização de


gêneros do argumentar. Signum, Londrina, n. 14/2, p. 135-156, dez. 2011.

17
BRONCKART, J. P. Atividades de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo
sócio- discursivo. São Paulo: Educ, 2003.
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B; HALLER, S. O oral como texto: como construir um objeto de
ensino. In: Gêneros orais e escritos na escola. In: ROJO, R.; CORDEIRO, G.S. (org. e trad)
Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2004, p.149-185.
GOULART, C. As práticas orais na escola: o seminário como objeto de ensino. 2005. 210 f.
Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Instituto de Estudos da Linguagem,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
HYMES, D. Directions in sociolinguistics: the ethnography of communication. Nova
Iorque: Basil Blackwell, 1986.
MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2003.
MARCONI, M. E.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 5 ed. São
Paulo: Atlas, 2003.

18
Análise e síntese de textos acadêmicos
- re s u m o
Francisco Oliveira
Natália Leite

Introdução

Na academia, muitos são os textos que circulam por meio dos gêneros
acadêmicos, cujo objetivo consiste em atender às demandas comunicacionais e às
educacionais. Assim sendo, nesse ambiente, a prática da escrita acadêmica requer um
tratamento sistematizado, a fim de que as produções textuais atinjam o propósito
comunicativo (SWALES, 1990). Em outras palavras, a ação de escrever um texto científico
implica saber qual a finalidade a ser alcançada e, por isso, ser primordial compreender
que quando se produz um gênero, há um motivo comunicacional, isto é, um propósito a
ser alcançado ou, até mesmo, um conjunto de propósitos.
A título de exemplo, pensemos nisto: quando o professor pede que alunos
produzam um resumo de um livro, há por parte de quem solicita um propósito. Logo,
espera-se que o discente seja capaz de apresentar, sucintamente, as partes relevantes de
sua leitura na escrita do resumo. Dessa maneira, a capacidade de síntese torna-se uma
particularidade necessária para a produção do referido gênero. Por outro lado, o
estudante que produz almeja, porventura, ser avaliado em uma disciplina ou, ainda,
aperfeiçoar sua habilidade de escrita. Vieira e Faraco (2019), a esse respeito, advertem
que um acadêmico não pode prescindir dos propósitos comunicativos, que regem as
práticas mediadas pelos gêneros, uma vez que dominar o funcionamento desses textos
é fundamental para a evolução do seu letramento acadêmico.
O resumo, gênero textual foco de nossas discussões, perpassa por diferentes
concepções teóricas. Na psicolinguística, ele é definido como um processo cognitivo
(operações mentais). Em outros termos, segundo Poersch e Rossa (2007), isso implica
dizer que se valoriza os aspectos cognitivo-linguísticos, ou seja, uma vez que se produz o
gênero, as estratégias textuais são mediadas cognitivamente e, por assim ser, elas
colaboram para que, por exemplo, um (a) professor (a) possa avaliar o quanto um
estudante aprendeu e o quanto foi capaz de sintetizar informações importantes a partir
da leitura do texto-fonte.
Por outro lado, para os analistas de gêneros, o resumo é visto como uma matéria
textual. Para além disso, assim como os demais gêneros que circulam na academia, ele é

19
um evento comunicativo (SWALES, 1990) que auxilia membros da comunidade
acadêmica a compartilharem seus propósitos. Pautada na proposta swalesiana, Biasi-
Rodrigues (1998) atesta que os gêneros não se constituem por acaso. Eles são, de fato,
estabelecidos em situações de uso, resultantes das práticas de interação. Em vista dessa
conceituação, ao tratar, especificamente, do gênero resumo, a pesquisadora assevera
que a organização das informações está condicionada aos padrões preestabelecidos do
ambiente em que se produz e circula o texto. Além disso, conforme a autora, a
configuração retórica do texto-fonte contribui para a distribuição das informações no
texto-resumo.
É importante ressaltar que na comunidade discursiva, por exemplo, na
universidade, o resumo pode ser considerado bastante conhecido, escrito e lido, uma
vez que permeia por diferentes gêneros, são eles: monografia de graduação ou de
especialização, artigos científicos, dissertações e teses. À face desses gêneros,
consoante Swales (1990), o resumo, se constitutivo desses textos científicos, caracteriza-
se como um gênero “oculto”, isto é, aquele texto que atua nos bastidores. Todavia,
quanto a isso, vale destacar que, considerando o resumo um gênero bastante
requisitado em eventos científicos, tendo em vista o objetivo de apresentar um trabalho
acadêmico, será que, atualmente, ele é um gênero oculto? A depender do propósito
sobre o qual será produzido, seja para congressos científicos ou para compor um artigo
científico, cabe salientarmos a autonomia inerente ao resumo, pois sem ele,
provavelmente, a tentativa de apresentar uma pesquisa poderá ser refutada. Acerca
disso, Biasi-Rodrigues (1998) afirma que quanto à aceitação do referido gênero, nota-se
que com a informatização dos meios de comunicação e com a abundância de
informações na rede, os resumos passaram a ter mais independência em relação ao
texto-fonte, inclusive, alcançaram um número maior de leitores (BIASI-RODRIGUES,
1998).
Retornando à definição e à função do resumo, Xavier (2010) postula que esse
gênero consiste em um texto-consequente e, portanto, só existe em detrimento do
texto-fonte. Desse modo, há o propósito de resumir os principais conceitos acerca da
temática apresentada em um livro ou em quaisquer outros mecanismos de
comunicação. No Brasil, há importantes trabalhos que versam sobre definição e
descrição retórica de resumos. Dentre eles, destacamos a pesquisa de Santos (1995 e
1996), que analisou o referido gênero em exemplares de artigos científicos (AC)
produzidos em língua inglesa por membros da Linguística Aplicada (LA). Outrossim,
salientamos a investigação de Motta- Roth e Hendges (1996), na qual realizaram um
estudo direcionado à análise desse artefato textual em artigos das áreas de Economia,
de Linguística e de Química.

20
Neste capítulo, detemo-nos à pesquisa que resultou na tese de Doutorado de
Biasi-Rodrigues (1998) para ampliar as nossas discussões sobre o gênero em questão.
Nesse trabalho, a autora apresenta a descrição retórica (escolhas linguísticas) de
resumos de dissertações de Mestrado na área da Linguística. Para a realização desse
empreendimento investigativo, ela propõe como foco compreender o conteúdo do
texto resumido, bem como a distribuição das informações, levando em conta os
propósitos comunicativos da comunidade a que participam os autores.
Como citado anteriormente, Biasi-Rodrigues (1998) seguiu a perspectiva de
análise de gêneros swalesiana. Assim, o modelo CARS, Create A Research Space (Criar
um espaço de pesquisa) proposto por Swales (1990), foi a base metodológica para o
estudo da referida autora. Sobre esse modelo, o qual ainda, neste capítulo, iremos
ilustrar, vale pontuar que o autor propôs esse construto a partir da análise de 48
Introduções do gênero artigo científico (SWALES, 1984) e, em um segundo momento,
esse quantitativo aumentou para 110 manuscritos (seção de Introdução) de artigos
produzidos por três áreas distintas: Física, Educação e Psicologia (SWALES, 1990). Desde
então, outros estudiosos se apropriaram desse instrumento para analisar as demais
seções do gênero artigo e, também, outros gêneros. Por exemplo, neste capítulo,
expomos, particularmente, discussões acerca do trabalho realizado por Biasi-Rodrigues
(1998) com resumos de natureza científica.
De acordo com a pesquisadora, o objetivo geral da pesquisa foi analisar os
mecanismos de comunicação utilizados pelos escritores, no que condiz à escolha e à
distribuição de conteúdo no gênero resumo. A partir dessa intenção, ela pôde
compreender a conexão e a relação de sentido entre elementos linguísticos na
produção do gênero, à medida que identificava propósitos peculiares de cada texto
analisado. Com isso, ela definiu tais artifícios comunicativos como: estratégias de
condução de informações (BIASI-RODRIGUES, 1998).
A autora constatou, após a análise de 134 resumos, que, apesar de haver
variações de estratégias textuais, é possível construir um modelo de organização
informacional do gênero em estudo. Dessa forma, a proposição retórica das
informações é representada por 5 (cinco) unidades: 1- Apresentação da pesquisa, 2-
Contextualização da pesquisa, 3 – Apresentação da metodologia, 4- Sumarização dos
resultados e 5- Conclusão da pesquisa. Essas cinco unidades, porém, não foram
localizadas na totalidade do corpus analisado, bem como, também, na ordem aqui
apresentada.
Isso ocorreu, segundo Biasi-Rodrigues (1998), em vista dos indícios de
flexibilidade, ou seja, conquanto haja evidências de padrões textuais reconhecidos por

21
uma determinada comunidade científica, as estratégias retóricas podem variar quanto à
sua recorrência, por exemplo, em um manuscrito analisado, a unidade retórica 1 -
Apresentação da pesquisa não necessariamente foi descrita em 100% do corpus. Isso
implica pressupor que um (a) autor (a) optou conduzir as informações do resumo a partir
da unidade retórica 2 - Contextualizando a pesquisa e, dessa forma, excluindo, dos
dados percentuais analisados por Biasi-Rodrigues (1998), a primeira unidade
informacional mencionada. A outra possibilidade seria a não-linearidade da sequência
proposta pela pesquisadora, ao se considerar aspectos de estilo do (a) autor (a) do
gênero.
Posteriormente, com base nessa sequência de unidades retóricas identificadas
em resumos de dissertações, Biasi-Rodrigues (2000) aplicou o modelo resultante de sua
análise, isto é, as unidades retóricas de 1 a 5 (supracitadas) em um corpus maior. Dessa
vez, o corpora foi composto de 160 resumos produzidos por pesquisadores das áreas de
Linguística, de Economia, de Educação e de Sociologia e, ainda, de 157 resumos escritos
por estudiosos atuantes no campo das Ciências da Saúde e da Tecnologia. Nessa etapa,
vale ressaltar que a autora fez a seleção do objeto de análise em outros mecanismos
acadêmicos; a saber: artigos de pesquisa, teses e comunicação de eventos (BIASI-
RODRIGUES, 2009).
Em tese, a autora conclui que o conjunto de resumos forma uma categoria de
eventos comunicativos. Esses, por sua vez, representam as convenções que regulam o
modo de construção do gênero. Sobre isso, incluem-se marcas de prototipicidade
(semelhanças) e de restrições quanto ao conteúdo e à forma. Assim, entende-se que se o
texto cumpre as particularidades do gênero será considerado como tal, assim como
lembram Biasi-Rodrigues, Hemais e Araújo (2009, p. 22) ao afirmarem “Os textos que
mais plenamente se integram no gênero são aqueles que, pelas suas características,
melhor tipificam os textos do grupo”.
Nesse âmbito, Biasi-Rodrigues (2009) ressalta, ainda, que não só o gênero
resumo, mas também outros gêneros possuem a organização retórica funcionalmente
deliberada, isto é, a produção textual ocorre mediante as necessidades dos
interlocutores, considerando escolhas linguísticas reconhecidas e, nesse bojo, os
propósitos comunicativos compartilhados entre membros da comunidade.
Retomando a perspectiva de Swales (1990), é importante postular que seu
propósito central foi proporcionar uma abordagem baseada em gênero ao ensino de
inglês acadêmico, pois havia, segundo ele, lacunas nas metodologias de ensino,
sobretudo em contextos de pesquisa científica. Logo, diante de tais incompletudes, o
trabalho de Swales (1990) torna-se pioneiro com a proposta do modelo de análise de

22
gênero CARS que, como mencionado anteriormente, foi proposto a partir de análise das
Introduções de artigos científicos. Em síntese, para o autor, era necessário desenvolver
tal linha teórica e metodológica para ampliar a competência comunicativa acadêmica
dos estudantes. É dessa maneira, portanto, que surge a abordagem sociorretórica de
análise de gêneros (SWALES, 1990).
Feitas essas considerações, vejamos a ilustração da primeira proposta do
Modelo CARS (1984), que consiste no reconhecimento das unidades textuais, a partir de
quatro movimentos retóricos (moves).

Quadro 1- Modelo CARS para Introduções de artigos de pesquisa (AP)

Move 1 - Estabelecendo o campo de pesquisa


Move 2 - Sumarizando pesquisas prévias
Move 3 - Preparando a presente pesquisa
Move 4 - Introduzindo a presente pesquisa
Fonte: Swales (1984, p. 84, apud BIASI-RODRIGUES, 1998, p. 24).

Conforme o Quadro 1, a seção de Introdução em um AP é representada por


quatro movimentos retóricos. Como se vê, as unidades textuais numeradas de 1 a 4,
respectivamente, estabelecem, a princípio, o campo de pesquisa, isto é, em qual área
científica a pesquisa desenvolvida está inserida. Na sequência, com a sumarização das
pesquisas prévias, espera-se resultados de estudos da literatura da área sobre o tema
escolhido. No terceiro, há a contextualização da atual pesquisa, de forma a evidenciar,
por exemplo, objetivos, hipóteses e métodos, e, por fim, informações preliminares com
move: Introduzindo a presente pesquisa, que se relaciona a importância do estudo no
contexto em que foi realizado (SWALES, 1984, p. 80 apud BIASI-RODRIGUES; HEMAIS;
ARAÚJO, 2009).
Entretanto vale ressaltar que o referido modelo de análise de gênero foi revisto
por Swales (1990), tendo em vista dificuldades apresentadas por outros estudiosos. De
acordo com Biasi-Rodrigues, Hemais e Araújo (2009), uma das principais objeções,
quanto à replicação do construto teórico e metodológico CARS, era a separação entre
move 1 e move 2. Diante desse fato, essa proposta de análise passou por revisões e
Swales (1990) apresentou o modelo com reformulações.
Observemos, agora, a ilustração que representa o novo construto analítico.

24
Quadro 02– Modelo CARS para introduções de artigos de pesquisa (AP)

MOVIMENTO 1: ESTABELECER O TERRITÓRIO


Passo 1 - Estabelecer a importância da pesquisa e /ou ↓
Passo 2 - Fazer generalização / ões quanto ao tópico e /ou
Passo 3 - Revisar a literatura (pesquisas prévias)
Diminuindo o esforço retórico

MOVIMENTO 2: ESTABELECER O NICHO


Passo 1A - Contra-argumentar ou ↓
Passo 1B: Indicar uma lacuna /s no conhecimento ou
Passo 1C: Provocar questionamentos ou
Passo 1D: Continuar a tradição
Enfraquecendo os possíveis
questionamentos

MOVIMENTO 3: OCUPAR O NICHO


Passo 1A: Delinear os objetivos ou ↓
Passo 1B: Apresentar a pesquisa
Passo 2: Apresentar os principais resultados Explicitando o trabalho
Passo 3: Indicar a estrutura do artigo
Fonte: (BIASI-RODRIGUES, 1998, p. 113).

Ao analisar os resumos, a pesquisadora descreveu cinco unidades retóricas


constituídas por subunidades. Essas categorias representam os mecanismos que Biasi-
Rodrigues (1998) definiu como estratégias de condução de informações. Ao analisá-las,
a autora observou que as ocorrências dessas unidades apresentavam variações e, assim,
concluiu que a instabilidade é um fator presente na configuração textual do gênero
resumo. Entretanto, apesar da variabilidade identificada, a pesquisadora reforça que
isso não afetou a credibilidade e a coerência das informações no corpus analisado. Vale
reiterar, ainda, que a expressão e/ou refere-se à existência dessa flexibilização. Quanto à
identificação das estratégias textuais contidas no resumo, ela salienta que as

25
informações são postas de acordo com o gênero, de tal maneira que se estabelece um
esquema organizacional. Em outros termos, as unidades informacionais consistem em
uma superestrutura textual reconhecida por quem faz uso do gênero em busca de
atingir os propósitos comunicativos.
Dessa forma, o resumo é um gênero com um propósito específico e que exerce
importância no espaço institucional, na escola ou na universidade. Tal artefato
linguístico permite uma leitura rápida, de modo que leitores sejam capazes de
compreender os principais conceitos dos textos mais extensos que lhe deram origem,
permitindo, assim, um conhecimento imediato do tema retratado no texto-fonte. Nesse
caso, especificamente, é possível inferir que um (a) leitor (a), a partir da leitura do resumo
presente em uma dissertação, busque conhecer a pesquisa na sua totalidade e, para
isso, a consulta ao texto-fonte será essencial. Deduz-se, portanto, que o gênero resumo
implica maior alcance do texto de origem mediante interesse por parte do (a) leitor (a)
em conhecer, de modo detalhado, o desenvolvimento de uma pesquisa.
Dado o exposto, nota-se que, apesar da síntese ser uma característica do gênero
em questão, a configuração retórica adequada, isto é, o modo como as informações são
apresentadas fornece ao leitor um panorama geral do texto principal.
Em linhas gerais e para fins acadêmicos, todo resumo deve apresentar:

• Objetivos do trabalho;
• Metodologia utilizada;
• Teorias que fundamentaram as análises;
• Resultados alcançados pela pesquisa;
• Dados quantitativos e/ou qualitativos do texto-fonte.
Fonte: (XAVIER, 2010).

Com base nos aspectos textuais mencionados, percebe-se que, para a


produção do gênero, é primordial que a escrita se apresente de forma sintética; e que, ao
mesmo tempo, evidencie um panorama das principais informações, as quais
contemplam o trabalho na sua totalidade.

2 O resumo acadêmico
O resumo é um gênero que possui uma família de outros gêneros com objetivos
diferentes. Existem, por exemplo, os resumos de monografia, os de artigo, os resumos

26
de eventos e, também, aqueles que estão relacionados ao texto-fonte, mas que não
trazem informações relevantes de uma dissertação ou de uma tese, mas sim, apenas,
expõe um conteúdo de um livro e, para além das informações resumidas, apresenta-se
com a referência da obra-fonte. Dentre essas possibilidades, vale lembrar que, a
depender do propósito comunicativo, a forma de configuração organizacional, de
conteúdo e de linguagem podem ser distintas. Há, desse modo, distintas acepções
teóricas a respeito desse gênero, vejamos a seguir duas definições com base em
Ferrarezi Junior (2011).
Resumo indicativo: corresponde aos pontos principais do trabalho, sem que
seja necessário expor dados qualitativos ou quantitativos. Nessa categoria, a consulta
ao texto original pode ser necessária.
Resumo informativo: equivale ao texto que apresenta detalhes sobre os
objetivos, a metodologia, os resultados e as conclusões de um estudo. Esse é o tipo de
resumo que está presente em artigos científicos, monografias, dissertações e teses. É
importante enfatizar que essa última classificação é o foco de nossas reflexões neste
capítulo.
Para Bhatia (1993), a configuração do gênero resumo deve ser conduzida pelos
seguintes aspectos:

• O que o autor faz?


• Como o autor faz?
• O que o autor encontrou?
• E o que o autor concluiu?

Segundo Bhatia (1993), se o escritor retém essas indagações no ato da produção


do texto, de modo a se posicionar no lugar do interlocutor, será mais fácil estabelecer
uma organização lógica das informações, ao ponto que o leitor facilmente
compreenderá a distribuição do conteúdo apresentado no trabalho. Sobre essa
questão, Biasi-Rodrigues (2009) salienta que a relação produtor e leitor, a partir de
gêneros específicos, deve ser recíproca quanto aos padrões legitimados em cada
comunidade acadêmica. Nesse caso em particular, as interrogações postuladas por
Bhatia (1993) revelam as convenções que devem ser não só entendidas por quem
produz, mas também por quem lê o texto.
Diante do exposto, ressalta-se que a organização retórica não só do resumo mas
de quaisquer gêneros é funcionalmente estabelecida mediante as necessidades dos
interlocutores (BIASI-RODRIGUES, 2009). Os estudos retratados neste capítulo,

27
portanto, têm oferecido meios para que os pesquisadores identifiquem as
características fundamentais dos gêneros, a partir do reconhecimento de aspectos
formais e funcionais provenientes da produção científica.
Vejamos, agora, com base na ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas -
o que diz a norma 6028 quanto à elaboração de resumos acadêmicos. É relevante
salientar que, segundo Batista (2021), essa diretriz foi lançada pela ABNT, inicialmente,
em 2003 e, posteriormente, foi reeditada, de forma que, neste ano de 2021, foi publicada
a 2ª edição dessa normalização.

3 Regras gerais de apresentação e formatação

APRESENTAÇÃO
- O resumo deve ser precedido da referência, com exceção daqueles
inseridos no próprio documento, por exemplo, em artigos científicos;
- O resumo deve ser composto de uma sequência de frases concisas, em
parágrafo único e sem enumeração de tópicos;
- A primeira frase deve ser significativa, explicando o tema principal da
pesquisa;
- Convém usar o verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular.

FORMATAÇÃO
- O Título: no topo da página, respeitando a fonte escolhida desde o início
do trabalho ( Arial ou Times New Roman);
- O Texto: fonte tamanho 12, sem recuo na primeira linha do parágrafo;
- Palavras-chave: devem ser separadas por ponto e vírgula e concluídas por
ponto;
- Devem ser descritas com letra inicial minúscula, exceto substantivos
próprios e nomes científicos.
- Para a indicação dessas palavras, não se usa negrito para destacar o termo
precedente;
Exemplo: Palavras-chave: letramento; ensino; aprendizagem.
- Acerca do espaçamento entre linhas, a norma NBR 6028 (2021) não traz
definição quanto a 1,5 duplo ou simples.

28
DEVE-SE EVITAR
- Símbolos e contrações que não sejam de uso corrente;
- Fórmulas, equações, diagramas;
- Se tais elementos forem indispensáveis, defini-los no primeiro momento
que inseri-los.

EXTENSÃO
- de 150 a 500 palavras para trabalhos acadêmicos como teses, dissertações
e relatórios técnico-científicos;
- de 100 a 250 palavras para artigos de periódicos;
- de 50 a 100 palavras para documentos não exemplificados nas categorias
mencionadas.
Feita essa breve exposição acerca de formatação, trataremos, a seguir, sobre
como apresentar as estratégias comunicativas na elaboração de um resumo.

3 Como elaborar um resumo

No quadro a seguir, há o exemplo de resumo presente em um artigo científico.


Comumente, nessa categoria de gênero, as informações contidas revelam, de modo
sucinto, o percurso de todo o trabalho realizado. Desse modo, pode-se entendê-lo
como resumo informativo, já que possibilita ao leitor compreender o panorama da
pesquisa. Além do mais, nesse tipo de categoria, o resumo vem acompanhado da
tradução em língua estrangeira e, na sequência, do texto-fonte. Vale lembrar que, em
caso de submissão de trabalhos para congressos, o (a) autor (a) precisa atender aos
requisitos solicitados pela instituição em que ocorrerá o evento. Observemos a
ilustração.

Quadro 04 - Exemplo de resumo de Artigo de Pesquisa (AP)

RESUMO: Este artigo versa sobre: apresente o tema. O presente estudo objetivou:
evidencie o (s) objetivo (s). O método aplicado: aponte os procedimentos
metodológicos, tipo de pesquisa e abordagem, se qualitativa e/ou quantitativa.
Para o embasamento teórico: apresente quais teorias foram adotadas. O (s) resultado
(s) demonstrou/ demonstraram: exponha os resultados.

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Palavras-chave: áreas úmidas; precipitação; chapadas. (palavras meramente
ilustrativas).
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Segundo Xavier (2010), um bom resumo do que se refere o artigo científico deve
apresentar a essência da pesquisa desenvolvida. Desse modo, uma boa síntese,
conforme o autor, deve evidenciar detalhes do trabalho, cuja finalidade seja despertar o
interesse do (a) leitor (a). Em vista disso, é essencial a indicação destes aspectos no
resumo: objetivo, método, discussão dos resultados e conclusão do estudo.
Como se constata, é necessário inserir as palavras-chave logo após o texto. A
finalidade dessas palavras é mostrar aos leitores o foco do trabalho. Como visto
anteriormente, recomenda-se três palavras-chave, mas se for necessário, pode indicar
até seis, desde que essa inserção seja permitida pela revista científica em que se
pretende publicar o artigo. Conforme Xavier (2010), essas palavras devem estar
condizentes com o tema central discutido, uma vez que serão indexadas aos bancos de
dados virtuais. Dessa forma, a partir do interesse do (a) leitor (a) pela temática, o
trabalho facilmente será localizado nas plataformas de busca.
Podemos considerar, portanto, que o resumo se revela como um cartão de visita
do trabalho completo. Por isso, é imprescindível que ele apresente uma linguagem clara
para atrair o leitor, bem como possa facilitar a busca do trabalho na sua forma integral
por um (a) pesquisador (a).
A seguir, evidencia-se a configuração do resumo nos gêneros: monografia,
dissertação ou tese.

Quadro 05 - Exemplo de resumo em Monografia, Dissertação ou Tese

RESUMO
Esta pesquisa apresenta uma análise: contextualize o que foi feito. O objetivo é:
apresente os propósitos do estudo. Parte-se do pressuposto: exponha hipóteses, se
houver. Para dar conta deste empreendimento investigativo: situe o campo teórico e
metodológico da pesquisa. O percurso de investigação ocorreu: mencione as etapas
realizadas. Diante do estudo, evidencia-se: informe a que resultados chegou.
Palavras-chave: aprendizagem; letramento; tecnologia. (palavras
meramente ilustrativas).

Fonte: Elaborado pelos autores (2021).


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Cabe destacar que, nos gêneros citados no título do Quadro 05, o resumo se
revela mais extenso quando comparado àqueles inseridos em artigos científicos. Isso
acontece, porque as pesquisas desenvolvidas, nesses gêneros, caracterizam-se mais
extensas e possuem propósitos comunicativos distintos. Infere-se, então, que a
depender do gênero em que se insere o resumo, a sua construção pode ser diferente em
relação à extensão. Além disso, a depender da natureza da pesquisa, diferencia-se,
também, quanto ao conteúdo. Outro aspecto a ser mencionado refere-se à posição da
expressão resumo que, diferentemente dos artigos, comumente, em um trabalho mais
amplo, tal nomenclatura é posta de forma centralizada.

Considerações finais

Neste capítulo, expomos as principais unidades informacionais que


normalmente são contempladas na elaboração do gênero resumo. Vale lembrar que um
dos propósitos comunicativos do gênero em questão consiste em sintetizar o conteúdo
de um trabalho mais amplo e, por isso, o (a) autor (a) precisa apresentar as estratégias
comunicativas de forma concisa, isto é, sem nada além do necessário. Em suma, a
objetividade é uma particularidade que deve estar presente nos resumos científicos, de
forma que, ainda, o (a) pesquisador (a) apresente um panorama do estudo desenvolvido.
Por fim, retomemos três aspectos importantes a serem considerados na
produção do gênero resumo científico: visão global do texto-fonte; capacidade de
síntese e seleção de palavras-chave. Quanto ao último, lembre-se de fazer a escolha com
precisão, ou seja, selecione vocábulos que explicitam a temática central da pesquisa,
uma vez que, se publicada, será por meio de plataformas de busca, que indexam esses
termos-chave que o trabalho será localizado por outros pesquisadores. Uma seleção
assertiva, portanto, resultará no maior alcance de leitores e, consequentemente, em um
maior número de citações do trabalho realizado.

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