O documento descreve o movimento artístico Barroco, que floresceu entre os séculos XVI e XVIII na Europa. O Barroco surgiu no contexto da Reforma Protestante e da Contrarreforma Católica, incorporando características como o exagero e a antítese. O texto também discute as manifestações do Barroco no Brasil colonial, com foco no poeta Gregório de Matos.
O documento descreve o movimento artístico Barroco, que floresceu entre os séculos XVI e XVIII na Europa. O Barroco surgiu no contexto da Reforma Protestante e da Contrarreforma Católica, incorporando características como o exagero e a antítese. O texto também discute as manifestações do Barroco no Brasil colonial, com foco no poeta Gregório de Matos.
O documento descreve o movimento artístico Barroco, que floresceu entre os séculos XVI e XVIII na Europa. O Barroco surgiu no contexto da Reforma Protestante e da Contrarreforma Católica, incorporando características como o exagero e a antítese. O texto também discute as manifestações do Barroco no Brasil colonial, com foco no poeta Gregório de Matos.
Objeto de Conhecimento: Barroco O barroco é um movimento artístico que compreende múltiplas manifestações artísticas — literatura, pintura, arquitetura, música — produzidas entre o final do século XVI e o início do século XVIII. Expressão das contradições que o ser humano vivia no contexto em que essa estética surgiu, época marcada pela Reforma Protestante e pela Contrarreforma, o barroco incorporou o exagero, o paradoxo, a antítese, a religiosidade e traços da cultura clássica em suas produções, tornando-se, por vezes, sinônimo de extravagância. Contexto histórico do barroco As manifestações barrocas têm como contexto histórico a ocorrência da Reforma e da Contrarreforma, as quais agitaram, sobretudo, a Europa a partir do século XVI. Insatisfeito com os poderes supremos da Igreja Católica, Martinho Lutero, monge agostiniano, em 1517, elaborou suas 95 teses, questionando os dogmas da Igreja Católica e fundamentando uma nova forma de cristianismo, baseada na fé e no conhecimento dos textos bíblicos. Havia nessas teses questionamentos, por exemplo, acerca do extremo poder do papa na hierarquia eclesiástica, além de argumentos contrários à não representação das imagens de figuras religiosas, como os santos. A esse movimento de contestação, deu-se o nome de Reforma Protestante ou Luterana. Como contraponto a esse movimento reformista, a cúpula da Igreja Católica iniciou um movimento intitulado Contrarreforma, em que estabelecia mudanças internas a fim de barrar o descontentamento com o catolicismo. Criaram, assim, medidas de expansão de sua doutrina, como a Companhia de Jesus, responsável pela catequização, principalmente, de povos indígenas, além de que lançaram medidas de perseguição, como o Tribunal do Santo Ofício, que instituiu a Inquisição como forma de punição àqueles que se desviassem do catolicismo. Nesse contexto de embates religiosos, ao mesmo tempo em que havia o florescimento dos ideais humanistas difundidos pelo renascimento, o barroco surgiu como uma expressão artística símbolo dessa efervescência que ora pendia para o extremismo religioso, ora para o culto à razão e à cultura clássica. Assim, o barroco, sintetizando as contradições de sua época e as da própria Igreja Católica, manifestou características também contraditórias, como: ao passo em que cultivou a crença na efemeridade da vida e o espírito renascentista expresso pelo carpe diem, também expressou a culpa cristã. Não por acaso, os escritores desse período utilizaram muitas antíteses e paradoxos . Nas artes plásticas, por sua vez, as esculturas refletiam a opulência dos santos e dos altares para enaltecer-se o poderio da Igreja, em contraponto ao protestantismo. Características do barroco A estética barroca apresenta, em relação ao conteúdo, predileção em expressar o conflito entre a visão antropocêntrica, em que todas as coisas estão centradas no próprio homem, e a visão teocêntrica, em que o Deus cristão é o centro do Universo. Essa oposição de ideias manifesta-se também no contraste entre o mundo material e o mundo espiritual, o que resulta em tensões. Ainda em relação à temática predominante no barroco, observa-se em muitas obras a expressão de uma visão trágica da vida, resultante do conflito entre fé e razão, ou seja, entre os preceitos do cristianismo (os quais tiveram hegemonia principalmente durante a Idade Média) e a racionalidade difundida como a fonte para acessar-se o conhecimento e a sabedoria (ideal extremamente valorizado e divulgado durante o renascimento). Além da convivência conflituosa entre essas ideias opostas (antitéticas) constituir a principal fonte temática do barroco, esse movimento cultivou o gosto pela morbidez; a idealização amorosa; o sensualismo, apesar de este ser permeado pelo sentimento de culpa cristã; a consciência da efemeridade do tempo; o gosto por raciocínios complexos, intrincados, desenvolvidos em parábolas ou com base em narrativas bíblicas. Outra importante característica temática do barroco, talvez a mais popularizada, é o cultivo e a valorização do carpe diem, expressão latina que expressa o sentido de que se deve aproveitar o presente ao máximo, uma vez que é característica barroca a compreensão da efemeridade do tempo e da vida. Quanto aos aspectos formais valorizados pelo movimento barroco, observa-se, como recorrente, a preferência, na poesia, pela forma poética soneto; pelo gosto pelas inversões sintáticas, em que a ordem direta da frase, caracterizada pela estrutura sujeito, verbo e predicado, sofre inversões; Para atingir esse fim, emprega-se, constantemente, em suas produções poéticas, variadas figuras de linguagem, como a antítese, o paradoxo, a metáfora, a metonímia, entre outras, o que torna, por vezes, a linguagem barroca a linguagem do exagero, do rebuscamento. Barroco no Brasil No Brasil, as manifestações artísticas barrocas na arquitetura, na pintura e na música surgem, no século XVIII, na região de Minas Gerais, em razão da exploração do ouro. Alguns representantes dessa época: na arquitetura e na pintura, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; na pintura, Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde; na música, José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita. Na literatura, o principal autor barroco do Brasil foi Gregório de Matos Gregório de Matos
Retrato de Gregório de Matos, o “Boca do Inferno”.
Gregório de Matos Guerra nasceu na então capital do Brasil, Salvador, Bahia, em 20 de dezembro de 1636 e faleceu no Recife, Pernambuco, em 1695. É o patrono da cadeira número 16 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Como poeta, destacou-se como grande sátiro do governo, da nobreza e do clero. De sua crítica não escaparam os padres corruptos, os degredados, toda uma burguesia exploradora da colônia. Seu forte senso crítico rendeu-lhe o epiteto de “Boca do Inferno”. Gregório de Matos compôs quatro vertentes de poesia: amorosa, filosófica, religiosa e satírica. Poesia amorosa Caracterizada pelo dualismo carne/espírito, o que resulta em um sentimento de culpa. Pondera agora com mais atenção a formosura de D. Ângela Não vi em minha vida a formosura, Ouvia falar nela cada dia, E ouvida me incitava, e me movia A querer ver tão bela arquitetura.
Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia De uma Mulher, que em Anjo se mentia, De um Sol, que se trajava em criatura.
Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me. Saiba o mundo, e tanto exagerar-me. Olhos meus (disse então por defender-me) Se a beleza hei de ver para matar-me, Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me. Poesia filosófica Caracterizada pelo sentimento de frustração diante da realidade e pela consciência da transitoriedade da vida e do tempo. O soneto a seguir exemplifica a consciência da efemeridade dessas duas noções. Inconstância das coisas do mundo! Nasce o Sol e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas e alegria. Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se a tristeza, Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza. A firmeza somente na inconstância. Poesia religiosa Caracterizada pelas constantes referências a Deus, ao sentimento de arrependimento, ao pecado, ao perdão, ou seja, a elementos bíblicos. Observe o soneto a seguir, ilustrativo dessa vertente: A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido; Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. Poesia satírica Caracterizada pelo humor ácido e pela ironia, destina-se a ridicularizar o governo e a sociedade hipócrita da época. Veja o soneto a seguir, em que o teor crítico satírico é evidente: Queixa-se o poeta da plebe ignorante e perseguidora das virtudes Que me quer o Brasil que me persegue? Que me querem pagastes que me invejam? Não veem que os entendidos me cortejam, E que os nobres é gente que me segue? Com seu ódio a canalha que consegue? Com sua inveja os néscios que motejam? Se quando os néscios por meu mal mourejam Fazem os sábios que a meu mal me entregue. Isto posto, ignorantes e canalha, Se ficam por canalha e ignorantes No sol das bestas a roerem a palha: E se os Senhores nobres e elegantes Não querem que o soneto vá de valha, Não vá, que tem terríveis consoantes. Resumo: Principais aspectos temáticos: conflito entre o antropocentrismo e o teocentrismo; oposição entre o mundo material e o mundo espiritual; visão trágica da vida; conflito entre fé e razão; cristianismo; morbidez; idealização amorosa; sensualismo e sentimento de culpa cristão; consciência da efemeridade do tempo; apreço por raciocínios complexos, construídos em parábolas e narrativas bíblicas; carpe diem. Principais aspectos formais: predomínio do soneto; recorrência de inversões e de construções sintáticas complexas; frequente uso de figuras de linguagem, como a antítese, o paradoxo, a metáfora e a metonímia.