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PROJETOS E

VOLUME 12 - EDIÇÃO 12 DEZEMBRO DE 2023 ISSN 25959042

PROJEÇÕES

iteqescolas.com.br
1
EDITORIAL
A união entre a equipe e a ges- fará acontecer.
tão levam ao sucesso Um gestor deve sempre agradecer e re-

E
conhecer o trabalho feito em equipe sob
stamos chegando ao final de mais
o seu comando. Nossas novas conquistas
um ano, que nos trouxe sucesso
virão sem dúvidas e o meu desejo e em-
e realizações. Tivemos também
penho será no sentido de orientar e dar
muitas lutas devido as modificações e al-
apoio à equipe na realização de nossas fu-
terâncias que a vida moderna nos trouxe-
turas tarefas. Como gestor, nossas ações
ram, as quais temos que nos adaptar.
e as nossas possibilidades estão nas nos-
Fico feliz em reconhecer que a nossa equi-
sas mãos de transmitir às nossas equipes
pe tem um potencial capaz de vencer mui-
coragem e determinação para transfor-
tas barreiras que se apresentaram, trans-
mar momentos difíceis em grandes con-
formando momentos difíceis em grandes
quistas para o êxito de nossas empresas
desafios, buscando na nossa união como
e de nossos colaboradores. Senso otimis-
equipe, soluções criativas e originais.
ta e crendo que podemos comemorar as
Isso é bom, pois precisamos nos cercar
nossas vitórias todos os dias quando tra-
de pensamentos positivos e continuar a
balhamos com pensamentos positivos e
dar o nosso melhor sempre que possível.
entregamos o nosso melhor. Meus agra-
Ressalto também que a colaboração e a
decimentos a toda a minha equipe e cola-
importância desta nos levaram ao suces-
boradores.
so do nosso negócio, tivemos clareza de
que nossos objetivos foram alcançados.
A nossa meta foi e será sempre oferecer o
melhor em serviços educacionais. Nossa Renato Eduardo Natale
política de trabalho é sempre olhar para Diretor Comercial

trás e rever os planos traçados, os cami-


nhos percorridos, as metas e objetivos
realizados e os sonhos que foram alcan-
çados e a partir disso, vislumbrar novos
horizontes para os nossos novos projetos
que esperamos que se tornem realidades
nas quais a nossa equipe se empenhará e

2
EXPEDIENTE
1-
EXPEDIENTE
A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO12- O CUIDAR E O EDUCAR NA EDUCA-
E LETRAMENTO COMO PRÁTICAS EDUCA- ÇÃO INFANTIL
CIONAIS AURISTELIA DE SANTANA SOUSA
ADRIANA AMANDA DOS SANTOS BISPO
13- DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIO-
2- O ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO NAL DE ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES
INFANTIL: TEORIA E PRÁTICA CARLA APARECIDA RULIM FERRARI
ALDENICE JOSÉ DOS SANTOS ARRUDA
14- EDUCAÇÃO ESPECIAL: INCLUSÃO DA
3- A INFLUÊNCIA DAS ARTES VISUAIS DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
NA EDUCAÇÃO INFANTIL CARLA CRISTINA GONZAGA VALDO
ALESSANDRA BIZACO
15- O TEMPO E O ESPAÇO NA EDUCAÇÃO
4- A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL
INFANTIL NA FORMAÇÃO DOS PEQUENOS CARMEM SANTOS REIS
LEITORES
ALINE ISIDORO DE FRANÇA 16- O CORPO, O MOVIMENTO E A IM-
PORTÃNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
5- O TRABALHO DOCENTE NA EDUCA- CÍNTIA DA CRUZ RAMOS PINTO
ÇÃO INFANTIL E O CURRÍCULO DA CIDADE
ANA ARAÚJO OLIVEIRA GONÇALVES 17- MEIO AMBIENTE E A IMPORTÂNCIA
DA ÁGUA
6- A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CRÍTICA CLAUDEMIR NUNES GUALBERTO
EM ESCOLAS DEMOCRÁTICAS
ANA LUCIA PIMENTEL DO NASCIMENTO 18- A ARTE E A EDUCAÇÃO ESPECIAL
CLÁUDIA SIMÃO LEITE
7- O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCA-
ÇÃO INCLUSIVA 19- A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ANA PAULA PINCERNI FANTONI CRISTIANE DE NOVAIS

8- INFLUÊNCIAS DO USO EXCESSIVO DE 20- PROGRAMAÇÃO NEUROLÍNGUISTI-


TELAS DURANTE A PRIMEIRA INFÂNCIA CA: SEU POTENCIAL PARA APRENDER E EN-
ÂNGELA PAGANINI SANTOS SINAR
CRISTIANE DI DONÉ PERONI
9- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I 21- A LUDICIDADE NOS ANOS INICIAIS
ANGÉLICA RODRIGUES VALENTIN DO ENSINO FUNDALMENTAL
DALVA ROSEMEIRE DA SILVA GALASSI
10- ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPE-
CIALIZADO E AUTISMO 22- A EDUCAÇÃO FÍSICA E SUAS CONTRI-
ÂNGELO STEFANINI MENDES BUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO PSI-
COMOTOR
11- CULTURA AFRO-BRASILEIRA: EX- DENIS RICARDO BEZZERRA
PRESSÕES ARTÍSTICAS, RELIGIOSAS E SO-
CIAIS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 23- O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO
NACIONAL INTEGRAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
AURÉLIO BORBA DE OLIVEIRA DIVANICE PEREIRA LIMA

3
24- REGISTRO DE REPRESENTAÇÃO SE- 36- O DOMÍNIO DA LEITURA DE IMAGENS
MIÓTICA NA TEORIA DE RAYMOND DUVAL NO ENSINO DE ARTES VISUAIS ATRAVÉS DA
E MORETTI: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO FOTOGRAFIA
DE MATEMÁTICA GISELE SOARES
ED CARLOS OLIVEIRA MOTA
37- A IMPORTÂNCIA DOS CANTINHOS
25- AS TÉCNICAS E MÉTODOS DE ENSINO DIFERENCIADOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DA MATEMÁTICA GLÓRIA RODRIGUES DA SILVA
EDNA DOS SANTOS GALANTE
38- PRÁTICA PEDAGÓGICA E TEA
26- DISCALCULIA – UM DISTÚRBIO EXIS- GRAZIELA REGINATO RIOS
TENTE NO PROCESSO DE ENSINO DA MA-
TEMÁTICA 39- OS CAMINHOS PARA A EQUIDADE
EDSON JOSÉ CAVICHIOLI GRAZIELLA MELITO FACCI

27- AS VIVÊNCIAS COM ARTE NA EDUCA- 40- A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO DURAN-


ÇÃO INFANTIL TE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
ELAINE BERNARDETE DE LIMA IEDA CRISTINA BENEVIDES

28- A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO 41- O BRINCAR É COISA SÉRIA


INFANTIL E NAS SÉRIES INICIAIS JOÃO ALEXANDRE DE ANDRADE
ELIANE FELIZARDO SILVA
42- A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGO-
29- A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA EDU- GO COM CRIANÇAS COM TDAH
CAÇÃO INFANTIL JULIANA AFONSO DE ALMEIDA
ELINEIDE VASQUES GUDES
43- AS ARTES VISUAIS E A APRENDIZA-
30- O ESTUDO DA PEDAGOGIA WALDORF GEM SIGNIFICATIVA
FABIANA PEREIRA ACIOLI JULIANA MOREIRA SILVA

31- O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ES- 44- EDUCAÇÃO INCLUSIVA


PECIALIZADO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA JULIANA MORELO MARON
FERNANDA TORTELLI ORLANDI
45- DIREITO DAS CRIANÇAS E ADOLES-
32- ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTA- CENTES À EDUCAÇÃO: A EDUCAÇÃO COMO
ÇÃO NO MEIO ESCOLAR UM MEIO PARA O PROTAGONISMO INFAN-
FLAVIA NERI ROSA TO-JUVENIL TENDO A MEDIAÇÃO DE CON-
FLITOS E A EDUCAÇÃO RESPEITOSA COMO
33- O ENSINO DA MATEMÁTICA NO EN- FERRAMENTAS
SINO MÉDIO LÍGIA DE SOUZA BERTOGNE DE ANDRADE
GABRIEL MASCARENHAS SANTOS
46- A CULTURA INDIGENA EDUCACIO-
34- O DIREITO DAS MULHERES AO VOTO NAL E SUAS CONCEPÇÕES
E AS HABILIDADES DA BASE NACIONAL CO- LILIAN ALVES PRECRIMO
MUM CURRICULAR (BNCC)
GILDO FERREIRA SANTOS 47- O CURRÍCULO EDUCACIONAL BRASI-
LEIRO
35- OS IMPACTOS DAS RELAÇÕES AFE- LILIAN SOARES MAGALHÃES RODRIGUES
TIVAS ENTRE ALUNOS E PROFESSORES NO
PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM 48- A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE
NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDA- NA APRENDIZAGEM
MENTAL LILIANE PIRES DE OLIVEIRA FRANÇA
GISELE OLIVEIRA DE BRITO

4
49- O LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO 61- JOGOS E BRINCADEIRAS
INFANTIL: IMPORTÂNCIA DOS BRINQUE- NAYARA RODRIGUES
DOS, BRINCADEIRAS E JOGOS
LUCELI FREITAS PASSUAN 62- O USO DE PARQUES ADAPTADOS
PARA CRIANÇAS
50- A FUNÇÃO DO ATELIÊ NA EDUCAÇÃO NILCE TELINI DE MELO
INFANTIL
LUCIANA RUFINO 63- INFÂNCIA E NATUREZA: O BRINCAR
HEURÍSTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
51- A CRIANÇA EM CONTATO COM A NA- PAMELA CRISTINA AMARAL DOS SANTOS
TUREZA NA PRIMEIRA INFÂNCIA
LUCIMEIRE GIMENES LEON 64- RODA DE HISTÓRIAS PARA BEBÊS
PATRÍCIA DA SILVA OLIVEIRA
52- A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA
NA INFÂNCIA E O IMPACTO NA VIDA ADUL- 65- OS JOGOS COMO ESTIMULADORES
TA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
LUCINEIDE DA CONCEIÇÃO GENTIL PAULA MARIA DA SILVA

53- DIREITO EDUCACIONAL BRASILEIRO 66- AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFAN-


MARCELA CRISTINA MARCUCCI DE FREITAS TIL
PRISCILENE RAMOS DA SILVA SANTOS
54- DESCONSTRUINDO PRECONCEITOS
E CONSTRUINDO IGUALDADE: O CAMINHO 67- EDUCAÇÃO COMO DIREITO SOCIAL:
DA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DEMOCRÁ-
MARCIA GONÇALVES CARVALHO TICA, SOBRETUDO NA ESCOLA PÚBLICA,
PARA O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS
55- A PEDAGOGIA E A PSICOMOTRICIDA- PÚBLICAS E CIDADANIA
DE: UMA CONVERSA SOBRE A IMPORTÂN- RAQUEL DE SOUZA NASCIMENTO
CIA DO DESENVOLVIMENTO PARA ALUNOS
COM TDAH 68- CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA
COGNITIVA NA EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA
MARIA MADALENA IOVONOVICH INFÂNCIA
56- O BRINCAR E IMAGINAR NA EDUCA- REGINA LOPES DE LIMA BALDI
ÇÃO INFANTIL
MARIA ODETE RIBEIRO DOS SANTOS 69- BULLYING: REALIDADE E PERSPECTI-
VA NO AMBIENTE EDUCACIONAL
57- ENSINO DE HISTÓRIA AFRO-BRASI- RENATA RODRIGUES DE LIMA
LEIRA: UMA AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS 70- A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA
MARTA GOMES DE LIMA FORMAÇÃO DE LEITORES O EDUCADOR
COMO AGENTE TRANSFORMADOR
58- O TRABALHO DOCENTE NA PRÉ-ES- ROBERTA SCHMID TUCKMANTEL
COLA
MICHELE DA SILVA ANDRADE SOUSA 71- AS INTERFACES DAS ARTES NA EDU-
CAÇÃO INFANTIL
59- JOGOS DIDÁTICOS; UMA PROPOSTA ROBERTA YOSHIHARA
PARA FAVORECER A APRENDIZAGEM
MICHELY COSTA FARIAS 72- A INFLUÊNCIA DO MIGRANTE NOR-
DESTINO NO MUNICÍPIO DE ITAQUAQUE-
60- A ARTETERAPIA E SUAS CONTRIBUI- CETUBA
ÇÕES PARA CRIANÇAS COM TEA E NECESSI- RODRIGO DA SILVA ALEIXO
DADES ESPECIAIS
NATÁLIA DE SOUZA LIMA

5
73- O DIREITO EDUCACIONAL NO BRA- 85- PEDAGOGIA HOSPITALAR
SIL SUZANA KELLY ALMEIDA DO NASCIMENTO
ROGÉRIO GONÇALVES LOPES
86- OS RETROCESSOS DAS NOVAS DIRE-
74- A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS NA TRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA
EDUCAÇÃO INFANTIL FORMAÇÃO DE PROFESSORES
ROSANGELA MARIA DOS SANTOS TAÍS PATRÍCIA VIEGAS DE ANDRADE

75- O CONTEÚDO NO PROCESSO ENSI- 87- A LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


NO APRENDIZAGEM TAMARA DA SILVA BONFIM FERREIRA
ROSENILDA BESSA DE JESUS BRANDÃO
88- O BRINCAR COMO FERRAMENTA PE-
76- A LINGUAGEM MUSICAL COMO FER- DAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RAMENTA DE APRENDIZAGEM NA EDUCA- TÂNIA NASCIMENTO SODRÉ DIAS
ÇÃO INFANTIL
SANDRA IZABEL ADÃO SALVIANO 89- HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
TATIANE DE SOUZA PRADO
77- ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO IN-
FANTIL 90- O DEFICIENTE AUDITIVO E A INCLU-
SANDRA TAINO SÃO NO MERCADO DE TRABALHO
VILMA OLIVEIRA DA SILVA
78- DANÇATERAPIA: A ARTE DO MOVI-
MENTO PARA O DESENVOLVIMENTO HU- 91- O BRINCAR HEURÍSTICO
MANO VIVIANE BATISTA DE CARVALHO
SELENI OLBERGA DE OLIVEIRA
92- EDUCAÇÃO INFANTIL: DESENVOLVI-
79- REFLEXÕES ACERCA DA FORMAÇÃO MENTO DA LINGUAGEM PELA ALFABETIZA-
DOCENTE ÇÃO E LETRAMENTO
SELMA JORGE COSTA MIRANDA ZILDA ARAÚJO DA SILVA DIAS

80- A EDUCAÇÃO MUSICAL COMO PRÁTI-


CA EDUCATIVA NOS PRIMEIROS ANOS ES-
COLARES
SIMONE MOLINA DA PAIXÃO

81- A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO IN-


FANTIL
SOLANGE BEZERRA TORRES PRADO

82- CULTURA INDÍGENA E PATRIMÔNIO


CULTURAL EM SALA DE AULA: UMA PERS-
PECTIVA PRÁTICA
SÔNIA REGINA DE JESUS BARBOSA

83- OS IMPACTOS DAS TELAS NA EDUCA-


ÇÃO INFANTIL
SONIA REGINA RIBEIRO GONZALEZ

84- O PROTAGONISMO ESTUDANTIL


DOS ESTUDANTES TRANSGÊNERO
SORAIA SANTANA MOTA

6
Os conceitos contidos nesta revista são de
inteira responsabilidade dos autores.
É proibida a reprodução total ou parcial desta
obra sem prévia autorização dos autores.

CONSELHO EDITORIAL
Profª Maria José P. Natale
João Felipe Furlanetti da Silva Natale
Renato Eduardo Natale

EDITOR CHEFE
Maria Rafaella Furlanetti da Silva Natale

REVISÃO E NORMATIZAÇÃO DE TEXTOS


Victor Oliveira Tarsitano
Viviane Santana

CAPA E ELABORAÇÃO DO
PROJETO GRÁFICO
Kaíque Iengo Marinho

ITEQ ESCOLAS
Rua Lagoa Taí Grande, 91
São Paulo – SP – CEP: 08290-500
Tel: (11) 2074-5110

15 de dezembro de 2023

ISSN 25959042

7
8
9
APRESENTAÇÃO
Pedagogia de projetos: uma dos jovens, educação antirracista, tecno-
visão educacional centrada no logia, inclusão e diversidade, educação
aluno socioemocional entre outros.
Quais seriam os benefícios em trabalhar
Todos nós sabemos da importân- com a “pedagogia de projetos”, dentre
cia que têm os planejamentos e projetos vários benefícios podemos destacar a
que fazemos para o início de uma jornada construção de conhecimentos realizada
educativa. pelo próprio aluno, o desenvolvimento
Os professores participam coletivamente da autonomia e a formação de sujeitos
na definição do seu projeto pedagógico, críticos. Apenas iniciamos uma conversa
pois ele nos traz a intencionalidade edu- sobre projetos escolares, mas sem dúvi-
cativa da comunidade educativa da escola da sabemos que estes podem beneficiar
fortalecendo a sua identidade. a comunidade de alguma forma, podem
É importante esclarecer que o projeto de- tornar-se referências para o currículo da
fine objetivos para a aprendizagem dos escola, melhorando sua imagem, enri-
alunos e como a escola irá trabalhar para quecendo as aprendizagens e aprofun-
atingi-los. dando o conhecimento. Acreditamos que
Nesse momento a escola e seu corpo do- nas próximas edições possamos deixar
cente poderão trabalhar com a “pedago- nossa reflexão mais rica acerca da “peda-
gia de projetos”, pois esta permite apren- gogia de projetos”.
derem e pesquisarem baseados nas suas Até lá....
próprias experiências. Isto é bom pois
permite que os estudantes atuem de for-
ma ativa com autonomia e interesse sob
a mediação do professor. Ressaltando, a Equipe pedagógica - ITEQ Escolas
pedagogia de projetos é uma forma de Coordenação Pedagógica
organização curricular, na qual os alunos Profª Maria José Pinto Natale.
são instigados a explorar a realidade por
meio das soluções entre as áreas de co-
nhecimento. Trabalhando dessa forma,
educadores e alunos compartilham hipó-
teses, ideias, estratégias de pesquisa, al-
ternativas e soluções.
Inicialmente os professores, de acordo
com suas disciplinas podem criar um ro-
teiro feito em conjunto com os alunos, de
acordo com o tema de interesse da turma.
A pedagogia de projetos nos leva a per-
correr etapas para seu desenvolvimento,
que são: problematização, desenvolvi-
mento, aplicação e avaliação. É muito im-
portante deixar claro que o levantamen-
to de dúvidas e a definição dos objetivos
da aprendizagem são fios condutores do
projeto. Os temas pelos quais os estudan-
tes têm mais interesse são: protagonismo

10
SUMÁRIO
1- A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO 11- CULTURA AFRO-BRASILEIRA: EX-
E LETRAMENTO COMO PRÁTICAS EDUCA- PRESSÕES ARTÍSTICAS, RELIGIOSAS E SO-
CIONAIS CIAIS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
ADRIANA AMANDA DOS SANTOS BISPO.............18 NACIONAL
AURÉLIO BORBA DE OLIVEIRA..............................84
2- O ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO
12- O CUIDAR E O EDUCAR NA EDUCA-
INFANTIL: TEORIA E PRÁTICA
ÇÃO INFANTIL
ALDENICE JOSÉ DOS SANTOS ARRUDA...............26
AURISTELIA DE SANTANA SOUSA.........................92

3- A INFLUÊNCIA DAS ARTES VISUAIS


13- DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIO-
NA EDUCAÇÃO INFANTIL NAL DE ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES
ALESSANDRA BIZACO............................................31 CARLA APARECIDA RULIM FERRARI.....................98

4- A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA 14- EDUCAÇÃO ESPECIAL: INCLUSÃO DA


INFANTIL NA FORMAÇÃO DOS PEQUENOS DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
LEITORES CARLA CRISTINA GONZAGA VALDO...................103
ALINE ISIDORO DE FRANÇA..................................39
15- O TEMPO E O ESPAÇO NA EDUCAÇÃO
5- O TRABALHO DOCENTE NA EDUCA- INFANTIL
ÇÃO INFANTIL E O CURRÍCULO DA CIDADE CARMEM SANTOS REIS.......................................110
ANA ARAÚJO OLIVEIRA GONÇALVES....................45
16- O CORPO, O MOVIMENTO E A IM-
PORTÃNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
6- A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CRÍTICA
CÍNTIA DA CRUZ RAMOS PINTO..........................116
EM ESCOLAS DEMOCRÁTICAS
ANA LUCIA PIMENTEL DO NASCIMENTO................52
17- MEIO AMBIENTE E A IMPORTÂNCIA
DA ÁGUA
7- O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCA-
CLAUDEMIR NUNES GUALBERTO......................122
ÇÃO INCLUSIVA
ANA PAULA PINCERNI FANTONI..........................59 18- A ARTE E A EDUCAÇÃO ESPECIAL
CLÁUDIA SIMÃO LEITE.........................................126
8- INFLUÊNCIAS DO USO EXCESSIVO DE
TELAS DURANTE A PRIMEIRA INFÂNCIA 19- A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ÂNGELA PAGANINI SANTOS.................................64 CRISTIANE DE NOVAIS.........................................131

9- EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ANOS 20- PROGRAMAÇÃO NEUROLÍNGUISTI-


INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I CA: SEU POTENCIAL PARA APRENDER E EN-
ANGÉLICA RODRIGUES VALENTIN.......................71 SINAR
CRISTIANE DI DONÉ PERONI..............................139
10- ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPE-
21- A LUDICIDADE NOS ANOS INICIAIS
CIALIZADO E AUTISMO
DO ENSINO FUNDALMENTAL
ÂNGELO STEFANINI MENDES.........................................76
DALVA ROSEMEIRE DA SILVA GALASSI..............145

11
22- A EDUCAÇÃO FÍSICA E SUAS CONTRI- 34- O DIREITO DAS MULHERES AO VOTO
BUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO PSI- E AS HABILIDADES DA BASE NACIONAL CO-
COMOTOR MUM CURRICULAR (BNCC)
DENIS RICARDO BEZZERRA................................152 GILDO FERREIRA SANTOS...................................228

23- O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO 35- OS IMPACTOS DAS RELAÇÕES AFE-


INTEGRAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL TIVAS ENTRE ALUNOS E PROFESSORES NO
PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM
DIVANICE PEREIRA LIMA.....................................157
NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDA-
MENTAL
24- REGISTRO DE REPRESENTAÇÃO SE- GISELE OLIVEIRA DE BRITO.................................234
MIÓTICA NA TEORIA DE RAYMOND DUVAL
E MORETTI: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO 36- O DOMÍNIO DA LEITURA DE IMAGENS
DE MATEMÁTICA NO ENSINO DE ARTES VISUAIS ATRAVÉS DA
ED CARLOS OLIVEIRA MOTA...............................163 FOTOGRAFIA
GISELE SOARES....................................................239
25- AS TÉCNICAS E MÉTODOS DE ENSINO
DA MATEMÁTICA 37- A IMPORTÂNCIA DOS CANTINHOS
EDNA DOS SANTOS GALANTE...............................................170 DIFERENCIADOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
GLÓRIA RODRIGUES DA SILVA...........................247
26- DISCALCULIA – UM DISTÚRBIO EXIS-
TENTE NO PROCESSO DE ENSINO DA MATE- 38- PRÁTICA PEDAGÓGICA E TEA
MÁTICA GRAZIELA REGINATO RIOS.................................253
EDSON JOSÉ CAVICHIOLI.....................................178
39- OS CAMINHOS PARA A EQUIDADE
GRAZIELLA MELITO FACCI.......................................260
27- AS VIVÊNCIAS COM ARTE NA EDUCA-
ÇÃO INFANTIL
40- A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO DURAN-
ELAINE BERNARDETE DE LIMA...........................184
TE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
IEDA CRISTINA BENEVIDES.................................266
28- A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL E NAS SÉRIES INICIAIS 41- O BRINCAR É COISA SÉRIA
ELIANE FELIZARDO SILVA............................................190 JOÃO ALEXANDRE DE ANDRADE........................271

29- A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA EDU- 42- A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGO-


CAÇÃO INFANTIL GO COM CRIANÇAS COM TDAH
ELINEIDE VASQUES GUDES.................................197 JULIANA AFONSO DE ALMEIDA..........................276

30- O ESTUDO DA PEDAGOGIA WALDORF 43- AS ARTES VISUAIS E A APRENDIZA-


FABIANA PEREIRA ACIOLI....................................203 GEM SIGNIFICATIVA
JULIANA MOREIRA SILVA.....................................282
31- O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ES-
PECIALIZADO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA 44- EDUCAÇÃO INCLUSIVA
FERNANDA TORTELLI ORLANDI.........................209 JULIANA MORELO MARON.........................................288

32- ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTA- 45- DIREITO DAS CRIANÇAS E ADOLES-


ÇÃO NO MEIO ESCOLAR CENTES À EDUCAÇÃO: A EDUCAÇÃO COMO
FLAVIA NERI ROSA...............................................215 UM MEIO PARA O PROTAGONISMO INFAN-
TO-JUVENIL TENDO A MEDIAÇÃO DE CON-
33- O ENSINO DA MATEMÁTICA NO EN- FLITOS E A EDUCAÇÃO RESPEITOSA COMO
SINO MÉDIO FERRAMENTAS
GABRIEL MASCARENHAS SANTOS.....................223 LÍGIA DE SOUZA BERTOGNE DE ANDRADE......295

12
46- A CULTURA INDIGENA EDUCACIO- 57- ENSINO DE HISTÓRIA AFRO-BRASI-
NAL E SUAS CONCEPÇÕES LEIRA: UMA AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS
LILIAN ALVES PRECRIMO..............................................299 PÚBLICAS
MARTA GOMES DE LIMA.....................................369
47- O CURRÍCULO EDUCACIONAL BRASI-
LEIRO 58- O TRABALHO DOCENTE NA PRÉ-ES-
LILIAN SOARES MAGALHÃES RODRIGUES........304 COLA
MICHELE DA SILVA ANDRADE SOUSA...............374
48- A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE
NA APRENDIZAGEM 59- JOGOS DIDÁTICOS; UMA PROPOSTA
LILIANE PIRES DE OLIVEIRA FRANÇA.......................311 PARA FAVORECER A APRENDIZAGEM
MICHELY COSTA FARIAS......................................380
49- O LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL: IMPORTÂNCIA DOS BRINQUE-
60- A ARTETERAPIA E SUAS CONTRIBUI-
DOS, BRINCADEIRAS E JOGOS
ÇÕES PARA CRIANÇAS COM TEA E NECESSI-
LUCELI FREITAS PASSUAN..................................317
DADES ESPECIAIS
NATÁLIA DE SOUZA LIMA...................................388
50- A FUNÇÃO DO ATELIÊ NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
61- JOGOS E BRINCADEIRAS
LUCIANA RUFINO.................................................324
NAYARA RODRIGUES................................................393

51- A CRIANÇA EM CONTATO COM A NA-


TUREZA NA PRIMEIRA INFÂNCIA 62- O USO DE PARQUES ADAPTADOS
LUCIMEIRE GIMENES LEON................................329 PARA CRIANÇAS
NILCE TELINI DE MELO........................................397
52- A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA
NA INFÂNCIA E O IMPACTO NA VIDA ADUL- 63- INFÂNCIA E NATUREZA: O BRINCAR
TA HEURÍSTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
LUCINEIDE DA CONCEIÇÃO GENTIL..................337 PAMELA CRISTINA AMARAL DOS SANTOS........402

53- DIREITO EDUCACIONAL BRASILEIRO 64- RODA DE HISTÓRIAS PARA BEBÊS


MARCELA CRISTINA MARCUCCI DE FREITAS.....344 PATRÍCIA DA SILVA OLIVEIRA..............................408

54- DESCONSTRUINDO PRECONCEITOS 65- OS JOGOS COMO ESTIMULADORES


E CONSTRUINDO IGUALDADE: O CAMINHO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
DA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA PAULA MARIA DA SILVA......................................414
MARCIA GONÇALVES CARVALHO...............................352
66- AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFAN-
55- A PEDAGOGIA E A PSICOMOTRICIDA- TIL
DE: UMA CONVERSA SOBRE A IMPORTÂN- PRISCILENE RAMOS DA SILVA SANTOS.............418
CIA DO DESENVOLVIMENTO PARA ALUNOS
COM TDAH 67- EDUCAÇÃO COMO DIREITO SOCIAL:
MARIA MADALENA IOVONOVICH..............................359 A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DEMOCRÁ-
TICA, SOBRETUDO NA ESCOLA PÚBLICA,
56- O BRINCAR E IMAGINAR NA EDUCA- PARA O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS
ÇÃO INFANTIL
PÚBLICAS E CIDADANIA
MARIA ODETE RIBEIRO DOS SANTOS......................364
RAQUEL DE SOUZA NASCIMENTO.....................424

13
68- CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA 79- REFLEXÕES ACERCA DA FORMAÇÃO
COGNITIVA NA EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA DOCENTE
INFÂNCIA SELMA JORGE COSTA MIRANDA........................492
REGINA LOPES DE LIMA BALDI..........................428

80- A EDUCAÇÃO MUSICAL COMO PRÁTI-


69- BULLYING: REALIDADE E PERSPECTI-
CA EDUCATIVA NOS PRIMEIROS ANOS ES-
VA NO AMBIENTE EDUCACIONAL
RENATA RODRIGUES DE LIMA..............................434 COLARES
SIMONE MOLINA DA PAIXÃO.............................499
70- A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA
FORMAÇÃO DE LEITORES O EDUCADOR 81- A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO IN-
COMO AGENTE TRANSFORMADOR FANTIL
ROBERTA SCHMID TUCKMANTEL........................439 SOLANGE BEZERRA TORRES PRADO.................505

71- AS INTERFACES DAS ARTES NA EDU-


82- CULTURA INDÍGENA E PATRIMÔNIO
CAÇÃO INFANTIL
CULTURAL EM SALA DE AULA: UMA PERS-
ROBERTA YOSHIHARA.........................................444
PECTIVA PRÁTICA
72- A INFLUÊNCIA DO MIGRANTE NOR- SÔNIA REGINA DE JESUS BARBOSA...................510
DESTINO NO MUNICÍPIO DE ITAQUAQUE-
CETUBA 83- OS IMPACTOS DAS TELAS NA EDUCA-
RODRIGO DA SILVA ALEIXO................................450 ÇÃO INFANTIL
SONIA REGINA RIBEIRO GONZALEZ..................515
73- O DIREITO EDUCACIONAL NO BRA-
SIL
84- O PROTAGONISMO ESTUDANTIL
ROGÉRIO GONÇALVES LOPES............................454
DOS ESTUDANTES TRANSGÊNERO
74- A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS NA SORAIA SANTANA MOTA....................................522
EDUCAÇÃO INFANTIL
ROSANGELA MARIA DOS SANTOS.....................461 85- PEDAGOGIA HOSPITALAR
SUZANA KELLY ALMEIDA DO NASCIMENTO.....529
75- O CONTEÚDO NO PROCESSO ENSI-
NO APRENDIZAGEM 86- OS RETROCESSOS DAS NOVAS DIRE-
ROSENILDA BESSA DE JESUS BRANDÃO..................467
TRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
76- A LINGUAGEM MUSICAL COMO FER-
TAÍS PATRÍCIA VIEGAS DE ANDRADE.................537
RAMENTA DE APRENDIZAGEM NA EDUCA-
ÇÃO INFANTIL
SANDRA IZABEL ADÃO SALVIANO.....................476 87- A LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
TAMARA DA SILVA BONFIM FERREIRA...............543
77- ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO IN-
FANTIL 88- O BRINCAR COMO FERRAMENTA PE-
SANDRA TAINO....................................................481 DAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
TÂNIA NASCIMENTO SODRÉ DIAS.....................549
78- DANÇATERAPIA: A ARTE DO MOVI-
MENTO PARA O DESENVOLVIMENTO HU-
89- HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
MANO
SELENI OLBERGA DE OLIVEIRA............................487 TATIANE DE SOUZA PRADO...............................556

14
90- O DEFICIENTE AUDITIVO E A INCLU-
SÃO NO MERCADO DE TRABALHO
VILMA OLIVEIRA DA SILVA...................................565

91- O BRINCAR HEURÍSTICO


VIVIANE BATISTA DE CARVALHO........................570

92- EDUCAÇÃO INFANTIL: DESENVOLVI-


MENTO DA LINGUAGEM PELA ALFABETIZA-
ÇÃO E LETRAMENTO
ZILDA ARAÚJO DA SILVA DIAS.............................574

15
16
17
ARTIGOS
A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO COMO PRÁTICAS EDUCACIONAIS
ADRIANA AMANDA DOS SANTOS BISPO

RESUMO: in which he can contribute to social transfor-


mation. To explain the failure that occurs at
O permanente desafio, enfrentado the beginning of schooling, in which a large
mundialmente, para a universalização do contingent of students are not literate, social,
letramento do acesso pleno as habilidades economic, cultural and educational causes
e práticas de leitura e de escrita está intima- are being evoked.
mente relacionado com outro desafio: o de
avaliar e medir o avanço em direção a essa Keywords: Pedagogical; Literacy; Lite-
meta. Dados tornam se assim, necessários, racy.
tanto para evidenciar se os objetivos estão
sendo alcançados como para estabelecer po-
líticas ou controlar programas de alfabetiza- INTRODUÇÃO
ção e letramento. Por essa razão, desde esco-
las até instituições e organizações nacionais e Letramento e a palavra recém-chega-
internacionais estão continuamente buscan- da ao vocabulário da educação e das ciências
do dados e produzindo índices e estatísticas linguísticas: e na segunda metade dos anos
sobre níveis de domínio de habilidades de lei- 80, há cerca de apenas dez anos, portanto,
tura e de escrita e de uso de práticas sociais que ela surge no discurso dos especialistas
que envolvem a escrita, por meio de avalia- dessas áreas.
ções e medições. Concluindo que é possível A escrita, tal como a conhecemos hoje,
atingir a qualidade da educação nas classes desenvolveu se por necessidade econômica
de alfabetização, com práticas educacionais e administrativa e, desde o princípio, foi uma
que utilizem diferentes metodologias, que forma de poder político e religioso. A escrita
proporcionem tanto o desenvolvimento da desenvolveu se de variadas formas, num pro-
alfabetização quanto o desenvolvimento do cesso gradual de ressignificação da realida-
letramento de cada sujeito, no qual ele possa de, e esse fato demandou um processo que
contribuir para a transformação social. Para levou a escrita a relacionar-se de forma mais
explicar o fracasso que ocorre logo no início próxima com o oral.
da escolarização, em que um grande contin-
gente dos alunos não é alfabetizado, estão A palavra letramento ainda não está
sendo evocadas causas de natureza social, dicionarizada porque foi introduzida muitos
econômica, cultural e educacional. recentemente na língua portuguesa, tanto
Palavras-chave: Pedagógicas; Alfabeti- que quase podemos datar com precisão sua
zação; Letramento. entrada na nossa língua, identificar quando
e onde essa palavra foi usada pela primeira
vez. Depois da referência de Mary Kato, em
1986, a palavra letramento aparece em 1988,
ABSTRACT no livro que, pode se dizer, definição de le-
The permanent challenge, faced worl- tramento e busca distinguir letramento de
dwide, for the universalization of literacy alfabetização.
and full access to reading and writing skills Socialmente e culturalmente, a pessoa
and practices is closely related to another letrada já não e a mesma que era quando
challenge: that of evaluating and measuring analfabeta ou iletrada, ela passa a ter outra
progress towards this goal. Data are therefo- condição social e cultural não se trata pro-
re necessary both to show whether the ob- priamente de mudar de nível ou de classe so-
jectives are being achieved and to establish cial, cultural, mas de mudar seu lugar social,
policies or control literacy programs. For this seu modo de viver na sociedade, sua inserção
reason, from schools to national and interna- na cultura sua relação com os outros, com o
tional institutions and organizations are con- contexto, com os bens culturais torna se di-
tinuously searching for data and producing ferente. Há a hipótese que torna se letrado
indexes and statistics on levels of mastery of e também torna se cognitivamente diferente:
reading and writing skills and the use of social a pessoa passa a ter uma forma de pensar
practices that involve writing, through asses- diferente da forma de pensar de uma pessoa
sments and measurements. Concluding that analfabeta ou iletrada.
it is possible to achieve the quality of educa-
tion in literacy classes, with educational prac- Torna se letrado traz, também, con-
tices that use different methodologies, which sequências linguísticas: alguns estudos tem
provide both the development of literacy and mostrado que o letrado fala de forma dife-
the development of literacy of each subject, rente do iletrado e do analfabeto, por exem-

18
plo: pesquisas que caracterizam a língua oral racterizam a qualidade da educação, logo, a
de adultos antes de serem alfabetizados e a escola não somente influência a sociedade,
comparam com a língua oral que usavam de- mas também é por ela influenciada, ou seja,
pois de alfabetizados concluíram que, após este conjunto de possíveis causas que estão
aprender a ler e a escrever, esses adultos dentro e no entorno da escola, realmente,
passaram a falar de forma diferente, eviden- afetam o ensino-aprendizagem há algumas
ciando que o convívio com a língua escrita décadas, a principal causa que apontava para
teve como consequências mudanças no uso a baixa qualidade da alfabetização era o ensi-
da língua oral, nas estruturas linguísticas e no no fundamentado na Pedagogia Tradicional.
vocabulário.
Atualmente, entre outros fatores que
envolvem um bom ensinoaprendizagem, as
principais causas estão ligadas à perda da es-
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE pecificidade da alfabetização, devido à com-
CONCILIAM ALFABETIZAÇÃO E LETRA- preensão equivocada de novas perspectivas
MENTO teóricas e suas metodologias, que foram
O que explica o surgimento recente surgindo em contraposição ao tradicional, e
dessa palavra? Novas palavras são criadas a grande abrangência que se tem dado ao
(ou a velhas palavras da se um novo sentido) termo alfabetização. Magda Soares, em seu
quando emergem novos fatos, novas ideias, artigo Letramento e Alfabetização: as muitas
novas maneiras de compreender os fenôme- facetas (2003), a expansão do significado de
nos. Que novo fato, ou nova ideia, ou nova alfabetização em direção ao conceito de le-
maneira de compreender a presença da es- tramento, levou à perda de sua especificida-
crita no mundo social trouxe a necessidade de.
desta nova palavra, letramento. O termo Al- [...] no Brasil a discussão do letra-
fabetização, segundo Soares (2007), etimo- mento surge sempre enraizada no conceito
logicamente, significa: levar à aquisição do de alfabetização, o que tem levado, apesar
alfabeto, ou seja, ensinar a ler e a escrever. da diferenciação sempre proposta na pro-
Assim, a especificidade da Alfabetização é a dução acadêmica, a uma inadequada e in-
aquisição do código alfabético e ortográfico, conveniente fusão dos dois processos, com
através do desenvolvimento das habilidades prevalência do conceito de letramento, [...] o
de leitura e de escrita. que tem conduzido a certo apagamento da
Na história do Brasil, a alfabetização alfabetização que, talvez com algum exagero,
ganha força, principalmente, após a Procla- denomino desinfeção da alfabetização [...].
mação da República, com a institucionaliza- (SOARES, 2003, p.8).
ção da escola e com o intuito de tornar as Essa fusão dos dois processos, que
novas gerações aptas à nova ordem política leva à chamada “desinfeção da alfabetização”,
e social. A escolarização, mais especificamen- aliada à interpretação equivocada das novas
te a alfabetização, se tornou instrumento de perspectivas teóricas acarretou na prática a
aquisição de conhecimento, de progresso e negação de qualquer atividade que visasse
modernização do país. (MORTATTI, 2006) à aquisição do sistema alfabético e ortográ-
Com o passar do tempo muito se de- fico, como o ensino das relações entre letras
senvolveu no campo da alfabetização, sur- e sons, o desenvolvimento da consciência
giram conceitos, teorias, metodologias etc. fonológica e o reconhecimento das partes
Porém, mesmo com toda evolução, o Brasil menores das palavras, como as sílabas, pois
e outros países não desenvolvidos, ainda en- eram vistos como tradicionais.
frentam um problema de muita relevância: a Passou-se a acreditar que o aluno
qualidade da educação básica, especialmen- aprenderia o sistema simplesmente pelo
te, a dos anos iniciais do ensino fundamental. contato com a cultura letrada, como se ele
São evidências dessa baixa qualidade os índi- pudesse aprender sozinho o código, sem en-
ces de fracasso, reprovação e evasão escolar, sino explícito e sistemático. Atualmente, se
que nunca deixaram de se perpetuar nestas reconhece a importância de se usar algumas
sociedades. práticas da escola tradicional, que são en-
Este problema tão concreto, histori- tendidas como as facetas da alfabetização
camente, já foi muito abordado. Artigos aca- segundo Soares, assim como os equívocos
dêmicos tentaram indicar possíveis causas de compreensão do construtivismo foram
desta baixa qualidade, colocando a “culpa”, percebidos e ajustados e muitos aspectos da
às vezes, no método utilizado, no aluno que escola nova tidos como essenciais. Com tudo
apresenta muitas dificuldades, na má for- isso, não se pode negar uma prática ou outra,
mação do professor, nas condições sociais só por ela estar fundamentada em uma ou
desfavoráveis ou, ainda, em outras causas di- em outra concepção, mas, sim, avaliar quais
versas. Enfim, foram muitas as tentativas de são as suas contribuições e se convêm serem
superação, embora, nenhuma apresentasse utilizadas para um processo de alfabetização
grande êxito. (Mortatti, 2006) significativa.
Com certeza, esses estudos foram de Dermeval Saviani, em seu livro Escola
muita valia, pois todos os fatores citados ca- e Democracia (2008), apresenta que aspectos

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da escola tradicional são importantes para a em qualquer idioma, não sendo assim con-
educação. Com a teoria da curvatura da vara, sideradas aquelas que apenas assinassem o
ele mostra que para a educação ter mais próprio nome.” (FERRARO, 2002, p. 31).
qualidade, a “vara” deve permanecer reta, e
não curvada para a teoria nova, nem para a Como se observa, a definição de anal-
teoria tradicional, mas sim, alinhada. E ainda fabetismo, ou as formas de se considerar um
argumenta que uma pedagogia comprome- indivíduo analfabeto, vem sofrendo altera-
tida com a qualidade educacional e voltada ções com o passar dos anos, baseadas nas
para a transformação social, deve incorporar transformações ocorridas no mundo. Esse
aspectos positivos e relevantes da pedagogia processo de mudanças tecnológicas fez sur-
tradicional e da pedagogia nova, de modo gir novas e diferentes formas de leitura e es-
que o ponto de partida seja a prática social crita, suscitando o debate segundo o qual so-
sincrética e o de chegada uma prática social mente a capacidade de decifrar letras, isto é,
transformada. estar alfabetizado, não seria suficiente para
participar efetivamente da vida na sociedade
Assim, se faz necessário resgatar a sig- moderna. No Brasil, este fenômeno foi discu-
nificação verdadeira da alfabetização e deli- tido por diferentes autores que perceberam
near corretamente o conceito de letramento, e vivenciavam a necessidade da ampliação
de forma que eles não se fundam e nem se do conceito de alfabetização e buscaram por
confundam, apesar de, como já foi dito, ne- um termo que pudesse explicar o processo
cessitarem acontecer de maneira inter-rela- que envolvesse, além do acesso ao sistema
cionada. Com uma prática educativa que faça linguístico, às demandas por práticas sociais
uma aliança entre alfabetização e letramen- de leitura e escrita.
to, sem perder a especificidade de cada um
dos processos, sempre fazendo relação entre Nos anos 80, Ferreiro (1996), em seus
conteúdo e prática e que, fundamentalmen- estudos sobre a psicogênese da língua escri-
te, tenha por objetivo a melhor formação do ta, contrapondo-se a uma educação restritiva
aluno. como a dos métodos, ressalta a necessidade
de ultrapassar o sentido restrito de alfabe-
De acordo com Soares, 2003, a palavra tização como mera aquisição do código. De
letramento é de uso ainda recente e significa acordo com a referida autora, precisaríamos
o processo de relação das pessoas com a cul- de um termo para definir:
tura escrita. Assim, não é correto dizer que
uma pessoa é iletrada, pois todas as pessoas [...] algo que envolve mais que apren-
estão em contato com o mundo escrito. Mas, der a produzir marcas [...] algo que é mais que
se reconhece que existem diferentes níveis decifrar marcas feitas pelos outros, porque é
de letramento, que podem variar conforme a também interpretar mensagens [...]; algo que
realidade cultural. também supõe conhecimento acerca deste
objeto tão complexo – a língua escrita – que
Este termo ganha espaço a partir da se apresenta em uma multiplicidade de usos
constatação de uma problemática na educa- sociais (FERREIRO op. cit., p.79).
ção, pois através de pesquisas, avaliações e
análises realizadas, chegou- se à conclusão A preocupação com a ampliação do
de que nem sempre o ato de ler e escrever conceito de alfabetização pôde também ser
garante que o indivíduo compreenda o que observada em texto publicado por Soares em
lê e o que escreve. 19859, no qual se verifica a diferenciação de
dois processos: um refere-se à aquisição da
O termo letramento surgiu no mundo língua e o outro ao desenvolvimento da lín-
moderno complementando o conceito de al- gua.
fabetização, uma vez que este se tornou in-
satisfatório. Isto porque nossa sociedade é No que se refere à aquisição da língua
centrada no uso da escrita e exigem de seus escrita, “seria um processo de representação
indivíduos diversas formas de exercer as de fonemas em grafemas (escrever) e de gra-
práticas sociais de leitura e escrita. Assim, a femas em fonemas (ler)”. Em contrapartida,
noção de letramento foi sendo incorporada o desenvolvimento da língua requer a “com-
como uma forma de explicar e acompanhar o preensão/expressão de significados”. Para a
desenvolvimento social, econômico e cultural autora, no entanto, o processo de alfabetiza-
do país e do mundo. Para indicar o desenvol- ção seria a combinação destes dois conceitos
vimento socioeconômico, muitos países têm (SOARES, 2008, p.15).
como foco as taxas de analfabetismo. Paulo Freire também compreendia a
Segundo Ferraro (2002), no Brasil, alfabetização numa concepção mais ampla.
desde as primeiras décadas do século XX, es- Em seu livro “A importância do ato de ler”
sas taxas eram observadas a partir de ava- (1988), o autor discute as questões relativas
liações censitárias, as quais tomavam como à leitura e define-a como um processo que
indicadores de alfabetização, a assinatura do vai além da significação das letras. Nas pala-
próprio nome. Somente no censo de 1950, vras do autor “a leitura de mundo precede a
por influência da UNESCO que o conceito de leitura da palavra”. Em consonância com os
alfabetizado passou a representar a capaci- estudos atuais do letramento, o referido au-
dade de “ler e escrever um simples bilhete tor defende uma educação que seja capaz de
transformar o homem e de conscientizá-lo.

20
Isso implica em uma educação como prática usuário do texto.
de libertação, um projeto político capaz de
desenvolver a consciência crítica dos alunos, Para exemplificar essa situação no
levando-os a analisar os problemas de forma país, destaca-se Salla, 2011, que traz o resul-
a superá-los. tado da prova de leitura do PISA de 2009, no
qual metade dos avaliados obteve no máxi-
Soares (2008) propõe o uso do termo mo nota de proficiência. Deve-se cuidar para
“alfabetismo” para definir mais precisamente não privilegiar um ou outro processo (alfabe-
as características do indivíduo que não so- tização/letramento) e entender que eles são
mente sabe ler e escrever, mas que usa so- processos diferentes, mas, indissociáveis e
cialmente esta função. A autora ressalta que simultâneos. Assim, como descreve Soares
a palavra “analfabetismo” como estado ou (2003, p.11):
condição de analfabeto não possui um cor-
respondente contrário. Assim, o termo “alfa- Entretanto, o que lamentavelmente
betismo” é utilizado para qualificar parece estar ocorrendo atualmente é que a
percepção que se começa a ter, de que, se as
“estado e ou condição que assume crianças estão sendo, de certa forma, letra-
aquele indivíduo que aprende a ler e escre- das na escola, não estão sendo alfabetizadas,
ver” (SOARES, op. cit., p.29). Nesse sentido, parece estar conduzindo à solução de um re-
o termo é utilizado para caracterizar uma torno à alfabetização como processo autôno-
ressignificação do conceito de alfabetização, mo, independente do letramento e anterior a
aproximando ao entendimento do que, atu- ele. SOARES (2003, p.11).
almente, compreendemos por letramento.
Analisando dialeticamente a evolução
No Brasil, o termo surge atrelado ao humana, fica explícito que o homem antes
conceito de alfabetização, isso devido à “ne- mesmo de aprender à escrita, apreende o
cessidade de reconhecer e nomear práticas mundo a sua volta e faz a leitura crítica desse
sociais de leitura e de escrita mais avançadas imenso mundo material. Por isso, é incorreto
e complexas, que as práticas do ler e escrever dizer que uma pessoa é iletrada, mesmo que
resultantes da aprendizagem do sistema de ela ainda não seja alfabetizada, pois ela des-
escrita” (SOARES, 2004, p.6). de o princípio da vida reflete sobre as coisas.
O letramento está intimamente ligado às prá-
A palavra letramento vem do inglês ticas sociais, exigindo do indivíduo, uma visão
literacy, que quer dizer estado ou condição do contexto social em que vive. Isso faz da
daquele que é literate - que possui a habilida- alfabetização uma prática centrada mais na
de de ler e escrever. Letrado é, então, aquele individualidade de cada um e do letramento
que além de saber ler e escrever faz uso com- uma prática mais ampla e social. Assim, ‘’o le-
petente da leitura e da escrita. Letramento é tramento se torna uma forma de entender a
utilizado para designar o resultado da ação si e aos outros, desenvolvendo a capacidade
de ensinar e aprender as práticas sociais de de questionar com fundamento e discerni-
leitura e escrita. mento, intervindo no mundo e combatendo
O termo foi incorporado ao discurso situações de opressão’’. (Freire, 1996).
da pedagogia e da linguística no Brasil a par- Nesse sentido, destacamos o papel do
tir da metade dos anos 80. Conforme consta- professor dentro desse processo. Este pro-
ta Kleiman (1995), foi utilizado pela primeira fissional deve acreditar e promover a cons-
vez por Kato (1986) em seu livro “No mundo trução de pensamento crítico em si próprio
da escrita: uma perspectiva psicolinguística”. e em seus alunos. Partindo das reflexões de
Após essa ocorrência observa-se seu empre- Brandão (2004), sobre a metodologia freiria-
go por diversos autores (cf. Tfouni 1988; Klei- na de se alfabetizar, é possível compreender
man 1995; Rojo 1998; Soares 1998 e outros). a importância da indissociabilidade e simul-
Estas obras contribuíram para as reflexões e taneidade destes dois processos. Em seu
discussões acerca da alfabetização na pers- método de alfabetização, ele propõe que se
pectiva do letramento, buscando caracterizar parta daquilo que é concreto e real para o su-
e viabilizar a compreensão destes dois con- jeito, tornando a aprendizagem significativa,
ceitos por parte dos educadores e pesquisa- mas utilizando também os mecanismos de
dores de um modo geral. Mas foi somente alfabetização.
em 2001, que a palavra foi inserida ao dicio-
nário Houaiss, aproximando sua definição Ele ainda coloca em sua obra Pedago-
aos estudos atuais do letramento. gia da Autonomia (1996), que o sujeito quan-
to mais amplia sua visão de mundo, mais se
Não há como viver num mundo grafo liberta da opressão, ou seja, o sujeito letrado
cêntrico como o nosso e aprender com tex- que já possui seus conhecimentos prévios,
tos desprovidos de sentido e distantes da com um determinado ponto de vista, quan-
realidade. Por isso, as atividades que tratam do alfabetizado, pode modificar seus pensa-
do domínio do sistema alfabético precisam mentos, ampliando-os de forma que passa
acontecer paralelamente àquelas que vi- a refletir criticamente sobre a prática social.
sam o letramento. O importante é que, nos Freire acreditava ser fundamental que as pes-
primeiros anos do Ensino Fundamental, ao soas compreendam o seu lugar no mundo e
mesmo tempo em que o aluno vai se apro- sua função social nele. O professor, portan-
priando do sistema, vá também se tornando

21
to, tem um papel muito importante a reali- É considerado alfabetizado aquele que
zar, para que esse pensamento crítico se de- aprendeu o sistema convencional de uma es-
senvolva em seus alunos. Para Freire (1996, crita alfabética e ortográfica, ou seja, adqui-
p.14): “[...] percebe-se, assim, a importância riu a natureza linguística deste objeto, sendo,
do papel do educador, o mérito da paz com portanto, capaz de ler e escrever. Já o letra-
que viva a certeza de que faz parte de sua ta- do é “não só aquele que sabe ler e escrever,
refa docente não apenas ensinar os conteú- mas aquele que usa socialmente a leitura e a
dos, mas também ensinar a pensar certo.”. escrita, pratica a leitura e a escrita, responde
adequadamente às demandas sociais de lei-
É fundamental que o educador escla- tura e escrita.” (SOARES, op. cit, p.40).
recido de uma realidade de opressão, não
torne o processo de ensino bancário e im- Entretanto sabe-se que o fenômeno
produtivo, mas uma educação que desven- do letramento é complexo, pois abrange uma
de o mundo material e liberte as pessoas da gama de conhecimentos, capacidades, valo-
opressão, como defende Freire (1970). res, usos e funções sociais, sendo desta for-
ma, difícil defini-lo e, sobretudo, avaliá-lo.
Para isso, as práticas de alfabetização
e letramento são necessárias, cada uma com Subjacente a estas proposições, estão
suas especificidades, como explicita Tfouni as duas principais dimensões que se referem
(1995). “Enquanto a alfabetização se ocupa ao letramento: a dimensão individual e a di-
da aquisição da escrita por um indivíduo, ou mensão social. Na dimensão individual o le-
grupo de indivíduos, o letramento focaliza os tramento é visto como um atributo do indiví-
aspectos sócio-histórico da aquisição de um duo, um conjunto de habilidades as quais ele
sistema escrito por uma sociedade.” (TFOU- lança mão para ler e escrever. Desta forma,
NI, 1995 apud MORAES, 2005, p.4). é “simples posse individual das tecnologias
mentais complementares de ler e escrever”
Logo, o letramento vai além do ler e (WAGNER APUD SOARES, 2006, p.66).
escrever, ele tem sua função social, enquan-
to a alfabetização encarrega-se em preparar A dimensão social compreende o le-
o indivíduo para a leitura e um desenvolvi- tramento não somente como um atributo
mento maior do letramento do sujeito. Nes- pessoal, mas como uma prática social que
sa perspectiva, alfabetização e letramento se está relacionada ao contexto histórico e so-
completam e enriquecem o desenvolvimento cial dos indivíduos. Pode-se dizer que é aqui-
do aluno. lo que as pessoas fazem ou como utilizam a
leitura e a escrita no ambiente em que vivem,
Alfabetizar letrando é uma prática ne- no seu dia a dia. Ainda para Soares (2006), na
cessária nos dias atuais, para que se possa dimensão social do letramento, encontramos
atingir a educação de qualidade e produzir interpretações conflitantes sobre as quais ele
um ensino, em que os educandos não sejam pode ser compreendido. Existe, assim, a ver-
apenas uma caixa de depósito de conheci- são fraca ou liberal e a versão forte ou revo-
mentos, mas que venham a serem seres pen- lucionária.
santes e transformadores da sociedade.
A versão fraca compreende as habili-
Práticas Pedagógicas que conciliam dades e conhecimentos que os indivíduos ad-
alfabetização e letramento Um ponto pri- quirem como necessárias para funcionarem
mordial ao se tratar de prática pedagógica é adequadamente em determinado contexto
reconhecer que os alunos já possuem conhe- social. Assim como é apresentado pelo mo-
cimentos prévios, assim, é importante que delo autônomo
os professores façam um diagnóstico do co-
nhecimento de seus alunos, para saberem de (Street apud Kleiman, 1995, p. 21), em
onde devem partir e planejar suas atividades. que o letramento está associado “quase que
Partindo da prática social, o conteúdo terá casualmente com o progresso, a civilização, a
sentido para os alunos, que irão construindo mobilidade social.”
conhecimentos gradativamente e desenvol-
vendo uma atitude transformadora da socie- Na versão forte, no entanto, as ha-
dade, pois ele perceberá que conhecimento bilidades de leitura e escrita não são vistas
científico faz parte da sua vida e pode contri- como neutras, mas como um conjunto de
buir para melhorá-la. práticas socialmente desenvolvidas que le-
vam o indivíduo a reforçar ou questionar va-
As atividades devem promover tanto lores, tradições, padrões de poder presentes
a alfabetização como o letramento, de ma- na sociedade. Esta também é a visão do mo-
neira, que o ensino do código alfabético seja delo ideológico (Street apud Kleiman, 1995),
conciliado com o seu uso social em diferen- que não pressupõe uma relação causal do
tes ocasiões. Enfim, o professor alfabetizador progresso e letramento, mas “[...] um meio
deve também utilizar, criar estratégias de en- de tornar-se consciente da realidade e trans-
sino de acordo com as características de seus formá-la.” (SOARES, 2008, p.36).
alunos, sem esquecer que a educação é um
ato político e deve romper com as situações Compreende-se, diante desta discus-
de opressão que muitas vezes as pessoas so- são, que letramento é um fenômeno que en-
frem e nem a percebem. volve saberes que estão presentes nos con-
textos sociais de leitura e escrita. O fato do

22
indivíduo não saber ler e escrever, não signi- processo de estruturas linguísticas, é prazer,
fica que ele não utilize práticas subjacentes à lazer, ler em lugares diferenciados, não só na
leitura e à escrita. Segundo Soares (2008), um escola, mas em exercícios de aprendizagem.
adulto analfabeto ao ditar uma carta ou ao
pedir que alguém leia uma carta para ele, co- Letramento é obter informações atra-
nhece as funções, as convenções e as estru- vés de leituras de diferentes gêneros textu-
turas textuais próprias da leitura e da escrita. ais, buscando da informação, buscar a leitura
Este indivíduo não é alfabetizado, mas possui para seguir certas instruções, usar a escrita
um nível de letramento capaz de atender a para se orientar no mundo, descobrir a si
sua demanda, no seu contexto social. mesmo pela leitura e pela escrita. Por fim,
letramento é o estado ou condição de quem
Disso decorre a noção de que não te- não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e
mos um letramento, mas sim, letramentos, exerce as práticas sociais que usam a escrita.
no plural ou, níveis de letramento. Da mes- Embora o debate sobre o letramento esteja
ma forma, a criança mesmo antes de entrar avançando, ainda há autores que defendem
na escola já teve algum contato com a leitura que esta preocupação com o letramento é de
e com a escrita, participa de práticas de letra- certo modo exagerada.
mento. O que irá diferenciar no seu grau de
letramento é o contexto social em que vive, Assim Demo (2007, p. 29), rebate este
já que o nível social, econômico e cultural da posicionamento reforçando o conceito de al-
população está diretamente relacionado com fabetização de Paulo Freire e afirma que este
o letramento. movimento de continuidade e processo que
os defensores do letramento fazem, também
O que se depreende desta constata- ocorre na alfabetização:
ção, é a importância da escola, como princi-
pal agência de letramento e como fator deci- Desde que se entenda a alfabetização
sivo na promoção do letramento. De acordo como processo de ler o mundo, o que exige
com Soares (2008): Para entrar no mundo le- domínio do código, mas na condição de sim-
trado é preciso que haja, primeiramente, es- ples instrumento formal. O que importa é a
colarização real e efetiva da população e, em habilidade de dar conta da realidade circun-
segundo lugar, deveria haver disponibilidade dante pela via da interpretação e intervenção
de material de leitura, ou seja, ter acesso a questionadoras, reconstrutivas.
livros, revistas, jornais, livrarias e bibliotecas. Hoje no Brasil se busca muito nas es-
Portanto, no mundo atual, não basta colas reduzir os índices de reprovações do
dar aos indivíduos acesso ao sistema linguís- que os do analfabetismo e isso mascara a
tico, de modo que eles possam decifrar as realidade. A sociedade precisa dar mais aten-
palavras, é preciso ir além: letrar, e isto são ção à formação de cidadãos que saibam ler
feitos em consonância com propostas peda- e escrever de tal maneira que possam apro-
gógicas que levem em conta os diferentes priar-se destas práticas sociais no seu coti-
textos que circulam na sociedade, com pro- diano.
cedimentos metodológicos definidos e ade- É neste sentido que letramento se
quados. Como propõe o modelo ideológico, torna importante no processo de aprendiza-
a versão forte do letramento e a concepção gem, não apenas na leitura e da escrita, mas
libertadora de Paulo Freire, “conduzir o tra- também nas áreas do conhecimento que
balho de alfabetização na perspectiva do le- compõem o currículo escolar. É importante
tramento, mais do que uma decisão individu- ressaltar que a entrada da criança com seis
al é uma opção política [...]” (Maciel e Lúcio, anos no ensino fundamental implica numa
2008, p.31). busca mais avançada na aprendizagem, onde
O letramento, para Kleimam (2007), professores junto da escola necessitam per-
tem como o objetivo a reflexão de ensino e correr barreiras, caminhos positivos a serem
da aprendizagem considerando os aspectos alcançados na área da alfabetização, princi-
sociais da língua escrita. Assumir o letra- palmente o fato de que a alfabetização do
mento, segundo a autora, no espaço esco- aluno deverá acontecer nos três primeiros
lar é adotar o processo de alfabetização no anos do ensino fundamental.
processo social da escrita, em detrimento a “A avaliação, constituída como um mo-
uma concepção tradicional que considere a mento necessário de construção de conheci-
aprendizagem de leitura e produção textual, mentos assumirá forma processual, gradual,
a um percurso de habilidades de aprendiza- cumulativa e diagnóstica, sendo redimensio-
gens individuais. nada a da ação pedagógica” (BRASIL, 2008).
Atividades que envolvem letramento, No entanto, conversando com profes-
não se diferenciam das demais atividades de sores e observando o processo de alfabeti-
vida social, ou seja, são sempre atividades zação em algumas escolas, observa-se um
coletivas, cooperativas, envolvendo vários trabalho ainda bastante fragmentado e des-
participantes e diferentes saberes. Ainda se- continuado, um descontentamento quanto
gundo a autora, letramento não é alfabetiza- ao processo de implantação, principalmente
ção, e sim um trabalho onde se estabelece pelo fato de vir “de cima para baixo, sem a
as relações entre os fonemas, grafemas, um participação dos professores nos debates”.

23
Gestores denunciam a falta de infraestrutura. de qualidade, proporcionando aos educan-
O fato é que neste ano de 2014, a maioria das dos um aprendizado de grandes conquistas
escolas já concluíram um ciclo de formação e e caminhos a serem seguidas.
poucos falam dos impactos sobre a aprendi-
zagem das crianças, pois, como escreve Sch-
neider e Durli, 2009, p. 200): CONCLUSÃO
[...] obviamente, a obrigatoriedade le- A contribuição de Freire é considera-
gal não assegura que todas as crianças em da um exemplo no contexto da alfabetiza-
idade escolar tenham acesso à educação e ção. Visto que ele foi um grande pensador e
possam concluir o ciclo obrigatório. De igual até hoje influência a educação. Ele, com sua
forma, o aumento da escolarização obrigató- filosofia existencialista, com traços da feno-
ria não se traduz, necessariamente, em me- menologia e do marxismo, nos mostra que
lhoria de qualidade do ensino. é possível fazer uma conexão do mundo da
Por outro lado, a UNESCO: OREALC escrita com o mundo real, levando ao desen-
(2001) defende a ampliação da escolaridade volvimento através da relação entre o pró-
obrigatória, pode sim melhorar o nível de prio eu e o mundo. De maneira, que a alfa-
aprendizagem. O EF9 teve além de outros betização e a educação em geral, promovam
interesses, a melhoria da aprendizagem das a desmistificação da realidade, que nos livre
crianças por várias razões, a realidade es- das vendas e opressões, tornando os sujeitos
colar ainda está muito distante daquilo que cada vez mais críticos e transformadores da
está proposto, entre as causas que podería- sociedade, numa sociedade melhor e mais
mos apontar foi a forma de sua implantação, justa para todas as pessoas.
principalmente pela falta de sensibilização e Por fim, acredita-se que é possível,
mobilização dos professores. Atualmente o sim, atingir a qualidade na educação das
Governo vem fazendo grandes investimen- classes de alfabetização, com práticas educa-
tos na formação continuada dos professores, cionais que utilizem diferentes metodologias,
entre estes destacamos o Pacto Nacional de que proporcionem tanto o desenvolvimento
Alfabetização na Idade Certa – PNAIC, o qual da alfabetização quanto o desenvolvimen-
poderá contribuir para que todas as crianças to do letramento de cada sujeito, através
brasileiras não só antecipem seu ingresso ao do qual ele possa ser autor de sua vida e de
ensino fundamental, mas que este tempo re- transformações.
almente traga resultados mais positivos.
Reconhecendo que a educação brasi-
O Pacto Nacional pela Alfabetização leira passa por uma problemática, a falta de
na Idade Certa (PNAIC) é um compromisso qualidade da alfabetização, necessita-se que
formal assumido pelos Governos Federal, do surjam novos olhares e práticas transforma-
Distrito Federal, dos Estados e Municípios de doras. Logo, a educação das séries iniciais,
assegurar que todas as crianças estejam alfa- que coincide com o período de início da al-
betizadas até os oito anos de idade, ao final fabetização, é o alicerce de toda estrutura da
do 3º ano do ensino fundamental. Observa- educação que se desenvolverá depois, neces-
-se diante deste processo de formação que: sita de uma atenção especial.
Os professores alfabetizadores preci-
Aos oito anos de idade, as crianças sam estar habilitados, serem competentes,
necessitam ter a compreensão do funciona- criativos e cientes de sua responsabilidade
mento do sistema de escrita; o domínio das de formação dos sujeitos como intelectuais e
correspondências grafofônicas, mesmo que cidadãos comprometidos com a transforma-
dominem poucas convenções ortográficas ção social. É essencial, também, que haja dis-
irregulares e poucas regularidades que exi- cussões sobre o tema alfabetização e letra-
jam conhecimentos morfológicos mais com- mento nos cursos de formação de docentes
plexos; a fluência de leitura e o domínio de e nos cursos ou reuniões de formação conti-
estratégias de compreensão e de produção nuada, de modo que gerem reflexões sobre o
de textos escritos. (PNAIC, MEC.PACTO. MEC. tema e a prática docente, buscando soluções
GOV.BR). para problemas específicos da alfabetização
e procurando desenvolver os profissionais e
as instituições de ensino para que a educa-
ção tenha cada vez mais qualidade.
Segundo as ações do Pacto, este ofe-
rece além da formação continuada aos pro- À medida que se conhece seu mundo,
fissionais da área da alfabetização, recursos é possível ampliá-lo, oferecendo novas pro-
didáticos através de materiais que possam postas, maneiras e diferentes tipos textuais.
dar auxílio no processo de ensino e aprendi- Para que o processo de letramento ocorra,
zagem, buscando a avaliação sistemática dos é preciso, portanto, levar em consideração
mesmos através das atividades e construção a cultura em que a criança está inserida,
dos alunos. Entretanto, esta proposta de en- adequando-a aos conteúdos a serem traba-
sino-aprendizagem vinda do Pacto, busca ca- lhados, às produções de diferentes gêneros
minhos onde os profissionais na área da edu- textuais e à sua utilização social, tendo como
cação possam se inserir mais em um ensino estratégia uma linguagem interativa, criativa

24
e descobridora, abandonando os métodos BRANDÃO, C.R. O que é o método Pau-
repetitivos e descontextualizados. Ao utilizar lo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2004.
as práticas sociais para aquisição da leitura e
da escrita, a criança vivencia o conhecimento, BRASIL. Lei n. 9.394, 20 de dezembro
interpretando diferentes contextos que cir- de 1996. Estabelece as diretrizes e bases para
culam socialmente, aprendendo, dessa for- a educação nacional. Diário Oficial da União,
ma, a relacioná-los com diferentes situações. Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em:
www.mec.gov.br.
O educador como mediador, que par-
te da observação da realidade para, em se- _______. Lei n. 10.172, 9 de janeiro de
guida, propor respostas diante dela, estará 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação
contribuindo para a formação de pessoas e dá outras providências. Diário Oficial da
críticas e participativas na sociedade e para União, Brasília, DF, 10 jan. 2001. Disponível
uma prática significativa, em que o professor em: www.mec.gov.br.
planeja suas aulas com coerência, visando à _______. Lei n. 11.114, 16 de maio de
construção de conhecimentos com os alu- 2005. Altera os arts. 6º, 30, 32 e 87 da Lei n.
nos. Nessa perspectiva, a aquisição do códi- 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o ob-
go escrito passa a ser compreendida como jetivo de tornar obrigatório o início do ensino
atividade de expressão, comunicação e regis- fundamental aos seis anos de idade. Diário
tro de experiências, conectando a escrita ao Oficial da União, Brasília, DF, 17 maio 2005.
mundo real da criança, sem separar algo que Disponível em: www.mec.gov.br/cne
está social e culturalmente interligado.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Edu-
O ensino da leitura e da escrita deve cação em língua materna: a sociolinguística
ser entendido como prática de um sujeito na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
agindo sobre o mundo para transformá-lo,
afirmando, dessa forma, sua liberdade e fu- _____________. O professor pesquisa-
gindo da alienação. Observa-se a alfabetiza- dor: introdução à pesquisa qualitativa. São
ção como o domínio dos usos e funções so- Paulo: Parábola Editorial, 2009.
ciais da leitura e da escrita para aproximar ________Pró-Letramento: Programa de
o aprendiz da cultura escrita. Nessa concep- Formação Continuada de Professores dos
ção, os educadores precisam planejar a me- Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental:
lhor forma para tratar a notação alfabética alfabetização e linguagem – Brasília: Ministé-
e a apropriação da linguagem dos gêneros rio da Educação, Secretaria de Educação Bá-
textuais com as crianças. Os gêneros são ex- sica, 2007. (Fascículo 1)
celentes ferramentas de ensino, apresentan-
do-se como um meio de articulação entre as FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio
práticas sociais e os objetos escolares, mais de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
particularmente no ensino da produção de
textos orais e escritos. ______ Pedagogia da autonomia: sabe-
res necessários a uma prática educativa. São
Diante de uma proposta que visa uma Paulo: Paz e Terra, 1996.
educação de qualidade para a Educação In-
fantil, que deixa de lado uma prática assisten- FREIRE, Paulo. A importância do ato de
cialista para dedicar igual atenção ao cuidar e ler: em três artigos que se completam. São
ao educar no jardim essa pesquisa mostrou Paulo: Cortez, 1988. 87
como é importante considerar o conheci- MAGDA. S. Letramento: um tema em
mento prévio da criança quando ela entra na três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte Autentica
escola, porque se sabe que ela não é uma ta- 2001.
bula rasa, ao contrário ela é proveniente de
uma cultura escrita e traz muito conhecimen-
to de sua vivência. Para tanto, a escola pre-
cisa ter uma sala de aula que contemple um
ambiente rico em materiais de letramento.

REFEÊRENCIAS
ANA. C. Letramento e minorias. 3 ed.
Porto alegre: mediação, 2009
BAGNO, Marcos. Preconceito linguísti-
co. São Paulo: Loyola, 2002.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação
Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAKHTIN, Mikhail /VOLOCHINOV. Mar-
xismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo:
Hucitec, 2004.

25
O ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: TEORIA E PRÁTICA
ALDENICE JOSÉ DOS SANTOS ARRUDA

RESUMO para o desenvolvimento do ensino/aprendi-


zado e da criatividade da criança, referindo
O presente artigo surge da minha tra- também aos conteúdos desenvolvidos e em
jetória docente e das reflexões fomentadas como o planejamento ajuda o professor, na
durante o curso de especialização em Arte de hora das atividades desenvolvidas. Há ainda,
Contar História, cursado no ITEQ. Destaco a a proposta de uma nova experiência que pre-
importância do papel do professor na Edu- tendo, em breve realizar, com as crianças de
cação Infantil e no conhecimento em Artes 3 e 4 anos da Educação Infantil.
Visuais, para aguçar a curiosidade, a imagina-
ção e a vontade de buscar o novo nos proces- O resultado relatado sobre as ativida-
sos de criação. Busco apresentar a Arte como des me motivou ainda mais a investigar, am-
construção de conhecimento por meio de pliar possibilidades e reflexões que envolvem
uma reflexão sobre as práticas pedagógicas a educação estética, a aprendizagem signifi-
em Artes Visuais. cativa e o importante papel que é o ensino/
aprendizado de Artes Visuais na Educação
PALAVRAS-CHAVE: Educação; Artes; Infantil.
Crianças; Ensino.

A ARTE NO DESENVOLVIMENTO DA
ABSTRACT EDUCAÇÃO INFANTIL
This article arises from my teaching ca- Na Educação Infantil a Arte contribui
reer and from the reflections fostered during para o desenvolvimento da expressão cria-
the specialization course in Art of Storytelling, dora da criança e o seu aprendizado. As Ar-
attended at ITEQ. I highlight the importance tes Visuais na Educação Infantil são impor-
of the teacher's role in Early Childhood Edu- tantes. Vale ressaltar que é papel da escola
cation and knowledge in Visual Arts, to shar- oferecer uma educação integral, preocupada
pen curiosity, imagination and the desire to com a formação da criança. É preciso pensar
seek the new in the creation processes. I seek uma escola que ofereça espaços para traba-
to present Art as the construction of knowle- lhar a Arte com suas especificidades, onde
dge through a reflection on pedagogical prac- a criança possa desenvolver seus processos
tices in Visual Arts. de criação artística e suas formas de expres-
KEYWORDS: Education; Arts; Children; são. Pois, para o desenvolvimento do ensino/
Teaching aprendizado em Artes Visuais na Educação
Infantil, é necessário um lugar organizado e
apropriado para as atividades serem realiza-
PARA COMEÇO DE CONVERSA das. As experiências em Arte são uma ação
fundamental para a criança da Educação In-
No presente artigo busco mostrar a fantil: a desafiadora vivência possibilita erros
contribuição da Arte na Educação Infantil, e acertos, que contribuem para a busca e
mais especificamente, das Artes Visuais que abertura para novos caminhos e possibilida-
inegavelmente contribuem no ensino/apren- des. A criança caminha passo a passo para o
dizagem da criança. desenvolvimento de suas habilidades, conhe-
cimentos, percepções. Vale dizer que o traba-
Por meio de práticas e experiências lho com Arte na Educação Infantil possibilita
exploratórias de natureza qualitativa, reali- uma variedade de experiências visuais e es-
zadas com as crianças, busquei desenvolver téticas, com materiais, espaços e suportes di-
atividades com experiências artísticas, atra- versificados que conduzem as ricas situações
vés das pinturas abstratas, além de construir de aprendizagem. Arte é conhecimento, ex-
conhecimentos e experiências significativas, pressão e construção, e, como tal, contribui
e momentos de interação com os colegas, no desenvolvimento do pensamento artístico
materiais e suportes. e estético, possibilitando a criança a compre-
Procuro discutir e demonstrar a im- ender e transformar o mundo em que está.
portância do ensino/aprendizagem das Artes É preciso contribuir com o desenvolvimento
Visuais na Educação Infantil, valorizando o da criança acessando o que já é conhecido,
desenvolvimento da criança, bem como seus mas, principalmente, a enfrentar problemas,
processos criativos. Os processos de criação tomar decisões, ser criativo e usar sua ima-
precisam ser desenvolvidos na Educação In- ginação. O processo de ensino/aprendiza-
fantil de forma sensível, desafiadora e cha- do de Artes Visuais contribui veemente com
mativa. essa preparação. A Arte desconhece barrei-
ras, dogmas, etnias ou épocas, ela é plural,
Nesse sentido a temática é abordada diversa e aberta. Segundo Martins, Picosque
com foco no desenvolvimento da Educação e Guerra,
Infantil e como a metodologia é importante

26
(...) a arte nos dá a ver o mundo mos- cepção, observação, imaginação e raciocínio.
trando-o de modo condensado e sintético, As atividades desenvolvidas pela turma de
através de representações que extrapolam 3 e 4 anos foram realizadas a partir de uma
o que é previsível e o que é conhecido. É no contextualização, em que apresentei para as
modo de pensamento do fazer da lingua- crianças o artista Jackson Pollock, após uma
gem artística que a intuição, a percepção, o breve explicação de sua biografia, apresen-
sentimento/pensamento e o conhecimento tando imagens de suas pinturas. Quando se
se condensam. Nessa construção, o artista trata de crianças pequenas, a informação so-
percebe, relê e repropõe o mundo, a vida e bre a arte e o artista deve ser breve, de forma
a própria arte, produzindo imagens únicas e prazerosa, como se estivesse contando uma
insubstituíveis, imagens poéticas. Pelo poder história. Relatar pequenas coisas como o
de síntese da linguagem da arte, nossa sensi- nome da obra, do artista e alguma curiosida-
bilidade capta uma forma de sentimento que de do momento que achar importante, pois
nos nutre simbolicamente, ampliando nosso o objetivo do professor não é a memorização
repertório de significações. Adquirimos um de nomes ou fatos ocorridos, mas sim a apre-
conhecimento daquilo que ainda não sabía- sentação e apreciação das obras apresenta-
mos e, por isso mesmo, transformamos nos- das, ou seja, a história de vida ou qualquer
sa relação sensível com o mundo e as coisas outro assunto não pode sobrepor a obra, por
do mundo. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, isso, é preciso ter cuidado de não se exage-
1998, p. 46). rar. Ou seja, uma referência para a criança
observar, comparar, modificar, excluir. Essas
A produção artística é um modo úni- são ações cognoscíveis fundamentais para o
co de despertar e desenvolver os sentidos, processo de criação. Eu expliquei que reali-
percepção e emoções. Assim, a experiência zaríamos algumas atividades e releituras do
estética e a atividade criadora são duas for- artista. Percebi que tinha que explicar o que
mas de relação com o mundo e com a arte, era uma releitura. Releitura é uma atividade
que leva a propiciar interações, desafiando de criação, não é cópia, ou exatamente igual
as crianças a criar. a do artista, cada criança deverá reinterpre-
Na Educação Infantil, o professor deve tar a obra de arte, mas do seu jeito, como ela
conhecer bem a criança para buscar formas quiser e vê a obra. Nesse sentido, a releitura
para orientá-la, se valer de espaços, materiais, ajuda e possibilita a criação, pois apesar de
formas, objetos tudo que possa potencializar ser uma apropriação do que já foi feito, ela
a construção do conhecimento em Arte. Sen- será refeita por outra pessoa, em outro tem-
do assim, é muito importante planejar e, para po, outro local, utilizando formas e materiais
isso, o professor deve ser bem claro e seguro diferentes da época da pintura original. Se-
no que irá propor para as crianças, inclusi- gundo Martins, Picosque e Guerra,
ve ter clareza dos objetivos que quer atingir (...) vale ressaltar, novamente, que
com sua atividade e desenvolver mais ativi- cada um vê e vive os fatos à sua maneira, não
dades pensando na idade das crianças, nas significando que todos que viveram a mesma
experiências já vividas. O papel do professor época ou os mesmos acontecimentos os te-
é fundamental entre a criança e os conteú- nham visto, vivido, sentido e interpretado da
dos de Arte que serão desenvolvidos, para mesma forma. Como diz o velho provérbio,
que a criança tenha um ensino/aprendiza- “cada cabeça, uma sentença”. O mais impor-
do mais amplo. Assim, cabe ao professor da tante é que fique clara a necessidade da con-
Educação Infantil proporcionar experiências textualização histórica e cultural da produção
em Artes Visuais nas suas variadas formas artístico-estética da Humanidade no proces-
e, quando bem-preparado, envolverá todas so do ensinar/aprender arte, assim como a
as crianças em suas atividades, alcançando necessidade da percepção e construção de
objetivos mais significativos para as crianças conceitos artísticos que fundamentem esse
da Educação Infantil. Sua função é contribuir contexto. Desde a escola de educação infan-
para a descoberta e estimular a criança a til, deve ser garantido às crianças o direito a
descobrir sua expressão e o seu eu, motivan- esse conhecimento que amplia e aprofunda
do suas ideias e conquistas. seu saber artístico-estético, geralmente rele-
Na turma de 3 e 4 anos da Educação gado apenas ao fazer arte, sem informação
Infantil com a qual eu trabalho, percebo que alguma além da técnica. Um fazer no qual
as Artes Visuais é a atividade mais esperada nem sempre à criança se reconhece, pois fal-
por elas, há um envolvimento das crianças ta ali a sua marca de autor e a do seu tem-
quando a proposta se refere à Arte. Pode- po/espaço. (MARTINS; PICOSQUE; GUERRA,
-se usar variados tipos de materiais, seja tin- 1998, p. 81,82).
ta, lápis de cor, giz de cera, ou massinha de É muito importante o professor pen-
modelar, entre outros. As crianças vivenciam sar na importância da contextualização das
intensamente seja, a partir de sua cultura, obras de arte desde a Educação Infantil. Isso
contexto ou memórias e buscam explorar faz com que as crianças comecem a construir
no mais profundo e sincero sentimento: elas seu pensamento artístico, pois é através da
iniciam suas pinturas ou desenhos de uma sua curiosidade que sua imaginação vai ela-
forma livre e libertadora. O importante da borando e transformando seu mundo. Se-
criação é que o seu processo permite à crian- gundo Ferraz e Fusari,
ça realizar, desenvolver a partir da sua per-

27
(...) o professor deve tratar esses ma- que, ao se tratar de pintura ou desenho, de-
teriais segundo o encaminhamento de sua ve-se utilizar, e oferecer suportes variados,
aula, de tal maneira que ajudem a concretizar ampliando o repertório e a criatividade da
os conhecimentos referentes a arte. Em qual- criança:
quer idade à criança tem capacidade para
vislumbrar as variantes formais, estruturais e Sugere-se que sejam apresentadas
cromáticas existente no mundo do qual ela atividades variadas que trabalhem uma mes-
participa. Uma conversação interessante so- ma informação de diversas formas. Pode-se,
bre essas nuances favorece os aspectos per- por exemplo, eleger um instrumento, como
ceptivos e esse processo dinâmico auxilia a o pincel, para crianças que já manejem esse
compreensão de formas, imagens, símbolos, instrumento, e usá-lo sobre diferentes super-
ideias... Outro ponto importante é o contato fícies (papel liso, rugado, lixa, argila etc.) ou
da criança com as obras de arte. Quando isso um mesmo meio, como a tinta, por exemplo,
ocorre com as crianças que têm oportunida- em diversas situações (soprada em canudo,
de de praticar atividades com esponjas, com carimbos etc.). (RCNEI;
1998, p 98).
artísticas, percebe-se que elas adqui-
rem novos repertórios e são capazes de fa- O trabalho com as Artes Visuais na
zer relações com suas próprias experiências. Educação Infantil requer profunda atenção
E, ainda, se elas também são encorajadas a do professor, que deve explicar as crianças
observar, tocar, conversar, refletir, veremos sobre o respeito com o seu próprio corpo,
quantas descobertas instigantes poderão em não colocar tinta na boca, ou outra parte
ocorrer. Por exemplo, pode-se problematizar do corpo, não sujar o coleguinha e respeitar
o convívio das crianças com obras do patri- o trabalho do outro. Da mesma forma, com
mônio cultural da cidade (escultura, pintura, os objetos e materiais usados, tendo o cui-
música, artistas) e com isso desvelar alguns dado para não se machucar ou machucar o
conhecimentos referentes às estruturas, fun- colega. Segundo o RCNEI,
cionalidade, materiais, características de épo- (...) é preciso trabalhar com as crianças
ca, importância histórica, social etc. (FERRAZ; os cuidados necessários com o próprio corpo
FUSARI, 1999, p. 49,50). e com o corpo dos outros, principalmente
É preciso, portanto, para um ensino/ com os olhos, boca, nariz e pele, quando elas
aprendizado significativo elaborar atividades manuseiam diferentes materiais, instrumen-
contextualizadas de maneira simples, para tos e objetos. A seleção dos materiais deve
que a criança possa compreender e refletir ser subordinada à segurança que oferecem.
sobre a sua produção. Conversar, perguntar, Deve-se evitar materiais tóxicos, cortantes
observar, formar técnicas que auxiliaram em ou aqueles que apresentam possibilidade
suas atividades, seja elas releituras ou cria- de machucar ou provocar algum dano para
ções espontâneas. Busquei trabalhar conte- a saúde das crianças. (RCNEI; 1998, p 98,99).
údos com diferentes materiais, alguns não As crianças têm suas preferências,
convencionais da pintura, de acordo com formas e ritmos de trabalhar, e o educador
o nível de desenvolvimento da turma e sua deve respeitar e estar atento a cada em suas
faixa etária. Segundo Martins, Picosque e especificidades, sem interferir no fazer e na
Guerra (1998 p.145), “é preciso oferecer ricas criação, da criança, devendo ser trabalha-
oportunidades de aprendizagem. Para isso, é do de acordo com sua faixa etária. Isso sig-
preciso selecionar meios acessíveis à realida- nifica que o pensamento, a sensibilidade, a
de, inventar possibilidades para os materiais imaginação, percepção e cognição da criança
existentes”. Foram trabalhados conteúdos devem ser trabalhados de forma integral, vi-
como noções de espaço, experimentos visu- sando favorecer o desenvolvimento das ca-
ais, exploração de cores e formas, contextu- pacidades criativas de cada um.
alização, criação, observação, releituras, ar-
tista e obras e apresentação gráfica através Em minha experiência docente, cons-
de traços observados nas imagens apresen- tatei que as crianças da Educação Infantil
tadas, lembrando da apresentação cheia de foram muito receptivas às atividades de re-
linhas e contornos. Imagens, texturas, grafis- leitura de obras artísticas, sem preconceito e
mo, volume, tipos de materiais como galhos, sem cobranças, em seu universo artístico. As
bolinhas de gude, garrafinhas, potinhos, teci- crianças com a sua imaginação e sua criação,
dos, papéis e pincéis. Tudo deve ser pensado vão construindo o seu próprio repertório,
e construído com a participação das crianças, através de experiências significativas que se-
pois faz parte do universo artístico delas. Por rão levadas dentro de si para o resto de suas
isso, saber escolher e saber o que fazer é im- vidas. Segundo Martins, Picosque e Guerra,
portante: deixar que a criança construa o seu (...) do olhar cuidadoso para cada
repertorio, seu imaginário, uma experiência aprendiz, no saber fazer, se revela na criação
que será levada no seu interior. Considero a de situações de aprendizagem significativa.
Arte como o desenvolvimento de atividades Para construir esses momentos o educador
ricas em experiências e com objetivo de cons- terá de ser guloso em seu desejo de ensinar,
trução de vários conhecimentos para a crian- paciente na oferta e na espera de quem acre-
ça, seja ela por meio de espaços, materiais e dita e confia no outro. (MARTINS; PICOSQUE;
suportes, convencionais ou não. O RCNEI diz GUERRA, 1998, p. 129).

28
Já pensando nas experiências futuras Usando caixa de pizza elas irão pintar
das crianças, pretendo fazer um segundo o fundo de preto, depois de seco, colar fita
projeto de Artes Visuais sobre cores e formas crepe para fazer marcações e usar os dedos
geométricas usando como referência os ar- para realizar sua pintura utilizando cola co-
tistas Piet Mondrian e Gonçalo Ivo, a fim de lorida. Para a terceira atividade pedirei que
despertar nelas ainda mais a curiosidade e o façam uma colagem, com recortes de papéis
gosto pela arte. coloridos em um papel cartão, sugerindo as
imagens e cores de Gonçalo Ivo.
Em algumas das obras de Piet Mon-
drian se destacam as formas geométricas, Depois recortar o papel cartão em for-
quadrado e retângulo, sendo pintadas al- ma de coração e fazer uma pintura de suas
gumas com as cores primárias, chamadas mãozinhas. Quarta atividade que pretendo
de cores puras, ou seja, são cores que não realizar com as crianças é fazer, uma releitu-
se consegue com a mistura de outras cores. ra de Mondrian em forma de sachê, usando
Pretendo trabalhar conteúdos com ativida- um sabonete branco, tecido, fita e cotonete
des em que as crianças entendam, de forma para pintar com cola colorida. Deixar secar
fácil e diferente, quais são as cores, formas bem e envolver o sabonete em um tecido
geométricas, linhas, texturas, espaços, tama- fino amarrando com fitas coloridas.
nhos, lateralidade, conhecendo a vida e as
obras do artista em seu contexto histórico. Dar o cartão e o sachê de presente
Iniciarei o projeto com uma conversa com as para a mamãe. Seguindo as atividades tam-
crianças sobre as cores e formas geométri- bém pretendo realizar com as crianças, uma
cas. Após farei a apresentação dos dois artis- imitação de aquarela, onde farei as tintas uti-
tas, Piet Mondrian e Gonçalo Ivo. Contextu- lizando álcool com anilina líquida para reali-
alizando e apresentando suas obras através zar uma pintura coletiva. Vou colar grandes
de imagens, explicando cores, formas, tipo papéis brancos na parede, e propor as crian-
de material usado e linhas utilizadas. Vou ças uma pintura, com pincéis largos com as
perguntar para as crianças o que eles acham tintas feitas no álcool.
e percebem nas obras, as diferenças e suas Dessa forma, com a produção e apre-
preferências. Depois vou propor às crianças sentação de imagens continuaremos a reali-
para realizarem uma experiência no papel, zar outras atividades usando novas formas,
com tintas, utilizando linhas, formas e textu- técnicas e materiais diversos, a fim de trazer
ras. Ao terminar, organizar suas pinturas ao novas experiências para as crianças da Edu-
lado das imagens das obras dos artistas, dei- cação Infantil. Depois de todas as atividades
xar que as crianças observem as imagens re- prontas faremos uma exposição na institui-
latando se têm semelhanças ou não, formas ção para todos apreciarem os trabalhos das
parecidas, cores, texturas etc. Nas atividades crianças.
que pretendo realizar com as crianças serão
utilizados materiais como; caixas de sapato,
caixas de pizzas, tintas guache nas cores va- CONSIDERAÇÕES FINAIS
riadas, pincéis, papéis coloridos, fita crepe,
durex colorido, cola colorida, sabonete e co- O presente artigo surge da minha tra-
tonete, entre outros materiais improvisados jetória docente e das reflexões fomentadas
na hora das atividades. Iniciaremos as ativi- durante o curso de especialização em Arte de
dades com as cores primárias e formas ge- Contar História, cursado no ITEQ. Essa forma
ométricas. Vou explicar o que é, e como são de trabalhar as Artes Visuais, cheia de experi-
as formas geométricas e quais são as cores ências e práticas me fez entender ainda mais
puras. que o conhecimento em Arte abre grandes
Após isso, as crianças poderão pin- perspectivas para que a criança tenha uma
tar as três formas - o quadrado, retângulo compreensão de um mundo melhor.
e triangulo com as cores primárias, sempre É preciso criar, mudar e conhecer para
deixando a forma e a cor na escolha e prefe- aprender o significado das coisas, e para isso
rência da criança. a Arte em suas experiências faz com que o
As experiências serão com os dois ar- ensino/aprendizado seja mais intenso em
tistas, algumas relatadas aqui e outras vindas suas práticas e teorias. Nessa perspectiva,
em consequências das atividades propostas, percebo cada vez mais que o professor pre-
até onde a imaginação fluir. A primeira ativi- cisa criar formas diferentes de ensinar, pois
dade será uma pintura inspirada nas obras a cada dia com novas fontes e materiais que
de Mondrian, usando tampa de caixas de estão presentes em nosso meio.
sapatos servindo como base para a pintura, Para isso, o desenvolvimento artístico
que será pintada com tintas guache, usando e estético precisa estar presente na Educação
pincéis para realizar a pintura. Infantil no criar, imaginar e descobrir manei-
A criança representará de forma es- ras que possibilitem a criança em sua cons-
pontânea e de sua preferência. Para a segun- trução, não só do conhecimento, mas princi-
da atividade pedirei que façam uma releitu- palmente nos precisos afetivos.
ra, deixarei que a criança escolha o artista de A criança deve sonhar inventar, desco-
sua obra. brir e dar asas à sua imaginação, tornando-se

29
sujeito de sua própria aprendizagem, sendo de Belas Artes da UFMG, 2008.
uma criadora e construtora de seu próprio
conhecimento. PIMENTEL, Lucia Gouvêa. Metodolo-
gias do Ensino de Artes Visuais. In Curso de
Ao produzir conviver com a Arte, a Especialização em Ensino de Artes Visuais.
criança é levada a ter atitudes curiosas, re- Vol.1. Belo Horizonte: EBA/UFMG, 2007.
flexiva e investigadora, que proporciona a
capacidade de construir, transformar e se ex- PIMENTEL, Lucia Gouvêa; XAVIER, Sa-
pressar. Também por meio da Arte, a criança mara. Pesquisa em/sobre Ensino/Aprendiza-
conhece histórias de vida e visões de mundo gem de Artes Visuais II. Belo Horizonte: Esco-
diferentes, de outra pessoa, como nas obras la de Belas Artes da UFMG, 2019.
e artistas apresentados durante as releituras, REY, Sandra. Da prática à teoria: três
vivendo experiências e percepções do outro. instâncias metodológicas sobre a pesquisa
As experiências em Artes Visuais vivi- em poéticas visuais. Porto Alegre. Porto Ale-
das com as crianças da Educação Infantil fo- gre. V. 7,1996
ram muito significativas, modificando meu
olhar para o ensino/aprendizagem de Arte
Visual. Ampliaram meu compromisso como
professora e o meu olhar sobre a criança e o
seu processo criador. E espero que esse olhar
sobre o processo da criança provoque, tam-
bém, reflexões e desejos de fazer mais, não
só em mim, mas em outros professores que
assumiram o compromisso de um ensino/
aprendizado em Arte na Educação Infantil.

REFERÊNCIAS
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sino da arte: anos oitenta e novos tempos.
São Paulo: Perspectiva, 1991.
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ca do Ensino de Arte: A Língua do Mundo. São
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PIMENTEL, Lucia Gouvêa (org.); FRO-
NER, Yacy-Ara. Pesquisa em/sobre ensino de
Artes Visuais. Curso de Especialização em En-
sino de Artes Visuais. Belo Horizonte: Escola

30
A INFLUÊNCIA DAS ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ALESSANDRA BIZACO

RESUMO cal study, based on authors and official do-


cuments that have historically contributed to
Este trabalho buscou estudar o ensino the teaching of art in Brazil. The intention is
de Artes Visuais na Educação Infantil, objeti- also to emphasize the importance of educa-
vando compreender a contribuição que esta tional practices in childhood to offer children
disciplina tem permitido às escolas de Edu- spaces at school for the full development of
cação Infantil na formação artística e estética artistic and aesthetic experiences, breaking
da criança durante o desenvolvimento de sua the paradigm that art should be introduced
personalidade e conhecimentos. As possibi- only in loose activities, emphasizing the im-
lidades de aprendizagem diante das produ- portance of teaching in an interdisciplinary
ções infantis por meio do uso das imagens em way to promote a fundamental approach to
diferentes contextos servem como estratégia education.
para um ensino eficaz, além de proporcionar
sentido às tarefas cotidianas de desenhar, Keywords: Visual Arts; Child education;
colar, pintar e modelar com argila ou massi- Pedagogical practices.
nha, por exemplo. A finalidade do emprego
das atividades artísticas nas rotinas escolares
de arte na Educação Infantil e a concepção de INTRODUÇÃO
percurso criador dado por essas práticas per-
mite que o ensino de arte seja significativo e A Educação Infantil depende da orali-
transforme a imaginação da criança em algo dade dos professores e de práticas educativas
transformador, inovador e crítico. Para tanto, que desenvolvam a escrita, mas sem deixar
este trabalho é sintetizado a partir de um es- de lado as linguagens expressivas presentes
tudo de caráter bibliográfico, embasado em na rotina da criança, despertadas nas aulas
autores e documentos oficiais que historica- de Arte. Quando a criança brinca, dança, de-
mente vêm contribuindo para o ensino de senha, faz pinturas ou representações, existe
arte no Brasil. A intenção também é ressaltar um aprimoramento da comunicação, expres-
a importância das práticas educativas na in- são de ideias e sentimentos, desenvolvendo
fância para oferecer às crianças, espaços, na nos pequenos estudantes capacidades artís-
escola, para o pleno desenvolvimento das ex- ticas, influenciadas pela história e cultura de
periências artísticas e estéticas, quebrando o cada indivíduo (CAVALCANTI, 2009).
paradigma de que a arte deve ser introduzida A fim de mudar a realidade do ensino
apenas em atividades soltas, ressaltando a de Artes Visuais na Educação Infantil, algumas
importância do ensino de maneira interdisci- escolas já propõem em seus currículos um
plinar de modo a promover uma abordagem lugar especial para o ensino desta disciplina
fundamental para a educação. às crianças, orientando-se por meio de dire-
Palavras-chave: Artes Visuais; Educa- trizes e documentos oficiais que norteiam e
ção Infantil; Práticas Pedagógicas. referenciam todo o trabalho dos educadores
e da gestão escolar, apontam a necessidade
das ações voltadas à valorização das crianças
ABSTRACT e propõe ensinos coerentes com a capacida-
de de aprendizagem, de acordo com a idade
This work sought to study the teaching da criança, além de identificar e conhecer o
of Visual Arts in Early Childhood Education, desenvolvimento gráfico dos alunos durante
aiming to understand the contribution that sua infância (GEREMIA, 2012).
this discipline has allowed to Early Childhood
Education schools in the artistic and aesthe- Este trabalho tem como objetivo geral
tic formation of children during the develo- compreender a contribuição do ensino de Ar-
pment of their personality and knowledge. tes Visuais na Educação Infantil, identificando
The learning possibilities in the face of chil- a importância da formação artística e estética
dren's productions using images in different para as crianças. Como objetivos específicos,
contexts serve as a strategy for effective te- estão: reconhecer as linguagens artísticas;
aching, in addition to providing meaning to identificar o ensino da arte na produção do
the daily tasks of drawing, gluing, painting, conhecimento infantil; relacionar as imagens
and modeling with clay or play dough, for ao aprendizado das crianças.
example. The purpose of using artistic activi- A relevância do estudo justifica-se pela
ties in art school routines in Early Childhood necessidade que a criança desenvolva expe-
Education and the conception of a creative riências artísticas e estéticas, conscientizan-
path given by these practices allows the tea- do alunos e professores da necessidade de
ching of art to be meaningful and transform ensinar Artes Visuais na Educação Infantil de
the child's imagination into something trans- modo significativo, não reduzindo a discipli-
formative, innovative, and critical. Therefore, na de Artes a decorações da escola em datas
this work is synthesized from a bibliographi- comemorativas, mas ampliando os conhe-

31
cimentos culturais e expressivos da criança, verbais dos indivíduos, organizando os co-
por meio de uma abordagem devidamente nhecimentos de cada um de modo a integrar
planejada pelos professores, que valorize a ao conhecimento dos outros.
interação das linguagens artísticas do aluno.
Os símbolos verbais e não ver-
Para tanto, a metodologia utilizada bais, portanto, são manuseados pelo homem
para a realização do trabalho foi a pesquisa pela leitura e produção de linguagens. Um
bibliográfica com revisão de literatura, bus- signo representa algo para as pessoas de
cando em livros, artigos e revistas, autores maneira qualitativa, desde que tenha sido
que tratam a temática, contribuindo para a decodificado por um intérprete previamen-
fundamentação deste artigo. te, ou seja, haverá comunicação quando uma
determinada palavra fizer o mesmo sentido a
todas as pessoas (GEREMIA, 2012).
A LINGUAGEM ARTÍSTICA NA EDUCA- Assim também funciona com os dese-
ÇÃO INFANTIL nhos, pois não é possível garantir uma for-
A linguagem artística do ser hu- ma de linguagem se a imagem de uma maçã,
mano ocorre pela expressão de sentimentos por exemplo, for nomeada ou identificada de
e emoções que correspondem à trajetória de maneiras diferentes pelas pessoas. O signo
vida de cada indivíduo, marcando sua cultu- precisa fazer parte das referências pessoais
ra, histórias e perspectivas. O homem simbo- e sociais do intérprete, possibilitando a apli-
liza suas necessidades pela Arte desde o tem- cação de seu objetivo nas mais variadas situ-
po das cavernas, com desenhos nas paredes ações (MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 1998).
para registrar os acontecimentos de sua roti- Sendo assim, as linguagens ar-
na. Ao longo dos anos, a Arte foi adquirindo tísticas são inventadas pelo homem a fim de
cor, formato, sons, movimentos, entre outros produzir uma realidade cultural para intera-
aspectos que passaram a dar mais sentido ção entre os povos. Tanto as palavras, quan-
à comunicação entre os homens (GEREMIA, to a escrita e as imagens representam os de-
2012). sejos e as necessidades humanas, cabendo
As crianças representam a lin- às expressões artísticas como a música, a
guagem artística desde bem cedo, quando dança, as representações visuais e o teatro a
aprendem a rabiscar antes mesmo de pro- manifestação dos signos e símbolos que per-
nunciar uma única palavra. A linguagem mitem a construção da comunicação expres-
compõe a leitura do mundo do ponto de vista siva do homem, construindo sua identidade,
particular de cada ser humano, cabendo às explorando seus sentimentos e registrando
linguagens artísticas, como a música, a poe- sua capacidade artística.
sia, a pintura, a dança, entre outros, o regis- A imaginação é a responsável
tro da história das épocas, das preferências pelo contato entre a linguagem artística e a
nos países e das pessoas, além dos sentidos produção de representações pela expressivi-
que mantem todas as culturas vivas (MAR- dade. Os gestos, as palavras, os desenhos, as
TINS, PICOSQUE E GUERRA, 1998). fotografias e a dramatização são ações que
Já nas obras pré-históricas é permitem à criança, por exemplo, comuni-
possível perceber que o homem manifesta car-se com sua realidade por meio da educa-
sua capacidade de criação e interpreta a rea- ção, ou seja, a cultura explorada na Educação
lidade a sua volta de uma maneira particular, Infantil por meio da Arte constrói as lingua-
mas que representa um conjunto (CAVAL- gens verbais, não verbais e artísticas em cada
CANTI, 2009). criança, estendendo a futuros adultos sen-
síveis, criativos e capacitados para interpre-
No tempo das cavernas, o homem tar diversas situações cotidianas (GEREMIA,
procurava registrar os movimentos dos ani- 2012).
mais e a maneira como conseguiram prender
sua caça, captando a sensibilidade de abstra-
ção humana. A maneira como são represen- O ENSINO DA ARTE E A PRODUÇÃO DE
tadas as imagens demonstram a necessidade CONHECIMENTOS
do homem de compreender e apropriar-se
da realidade por meio dos símbolos que ex- Na história, a Arte aparece pre-
pressam sua capacidade mental, permitindo sente nas manifestações culturais de dife-
que o homem seja capaz de inventar novas rentes épocas e povos. Desde os primeiros
formas de linguagem, organizar situações e desenhos realizados pelos pré-históricos nas
elaborar respostas para seus questionamen- cavernas, os homens precisaram aprender
tos sobre o mundo e a sociedade (GEREMIA, a construir e desenvolver seus conhecimen-
2012). tos a fim de divulgar esta habilidade artística,
compartilhando com os demais indivíduos
Quando o homem consegue tudo o que absorveu. A partir de então, a Arte
mediar a criação dos símbolos que satisfa- pode ser encontrada em todos os momentos
zem sua necessidade de comunicação ocorre da realidade humana, para simbolizar ale-
um processo conhecido como humanização, grias e tristezas, além de registrar conheci-
capaz de articular expressões verbais e não mentos e desejos (CAVALCANTI, 2009).

32
Dentro da sociedade, a Arte é encon- fundamental importância para que a criança
trada em variados momentos do cotidiano e, aprenda a organizar sua rotina, relacionando
além disso, muitas são as áreas profissionais o fazer artístico à sua realidade e apreciando
que precisam da Arte para realizar uma boa as manifestações artísticas ao longo da his-
atividade, desde as roupas desenhas até o tória de modo que haja uma correspondên-
design de um ambiente. O aperfeiçoamento cia entre os objetivos mencionados anterior-
das manifestações artísticas depende de al- mente (GEREMIA, 2012).
guém que desenhe, costure, decore, elabore,
enfim, que concretize a Arte, entendida como Uma importante pesquisadora
algo fundamental para o desenvolvimento de que transformou a realidade do ensino de
uma sociedade (BARBOSA, 2010). arte nas escolas foi Ana Mae Barbosa que ela-
borou a Proposta Triangular pelas vertentes
A construção do conhecimen- sobre a estética na leitura de imagens, em-
to na educação depende também da Arte, basada em três eixos fundamentais de ações
principalmente se inserida desde a Educação propostas aos professores de arte: a Contex-
Infantil, momento em que as pessoas estão tualização, a Apreciação da Obra de Arte e o
mais “abertas” à aprendizagem. Porém, a Fazer Artístico (CAVALCANTI, 2009).
valorização da Arte e da importância de sua
interpretação como área de conhecimento Dentro dos Parâmetros Curri-
aconteceu recentemente, após as reformas culares Nacionais que norteiam o ensino da
educacionais ocorridas no século XX em mui- educação básica em todos os níveis, a Pro-
tos países do mundo (CAVALCANTI, 2009). posta Triangular é inserida nos seguintes
aspectos: quanto a contextualização, tratan-
No Brasil, a publicação da Cons- do-se à relação entre pesquisa e domínio
tituição Federal de 1988 foi um importante reflexivo do professor, compartilhado com
marco para a educação, com as discussões os alunos por meio do diálogo e da troca de
sobre a necessidade de reformulação da Lei informações, levando a criança ao despertar
das Diretrizes e Bases da educação Nacional, pelo pensamento crítico sobre o trabalho ar-
ocorrida apenas em 1996. Os professores de tístico próprio, dos colegas e dos artistas con-
Arte, neste contexto, insistiram que o ensino sagrados na História da Arte.
básico reconhecesse a Arte, em sua proposta
curricular, como uma área do conhecimento Segundo Barbosa (2010), apenas estu-
fundamental e necessária, assim como as de- dando a arte e sua história, a criança poderá
mais áreas que já compunham os currículos perceber, imaginar, aprender e fazer cone-
educacionais (BARBOSA, 2010). xões entre a realidade e o ensino, sendo ca-
paz de formular hipóteses e teorias sobre os
Alguns protestos aconteceram para trabalhos artísticos, independente da cultura
reafirmar esta exigência dos professores da ou da realidade histórica.
disciplina em fazer do ensino de Arte algo
obrigatório em todas as escolas de educação Quanto a Apreciação da Obra de
básica, conquistada com a regulamentação Arte, os Parâmetros Curriculares Nacionais
da nova Lei das Diretrizes em Bases (LDB – mencionam como o domínio da recepção,
Lei n° 9.394/96) que apresenta a Arte como sendo a criança capaz de perceber, decodi-
componente curricular obrigatório a fim de ficar, fruir e interpretar a arte e a realidade a
promover o desenvolvimento cultural dos qual estiver relacionada. O apreciar envolve
discentes (GEREMIA, 2012). desde a produção artística da criança e dos
colegas, até a produção histórica da socieda-
Com a implementação da nova de em diversos momentos, permitindo que o
lei, a Arte passa a estar presente nas ques- aluno identifique as qualidades estéticas, tra-
tões sociais, partindo da educação para o zendo significado às manifestações artísticas
mundo, valorizando as diferentes culturas e no cotidiano como um todo (CAVALCANTI,
elevando a qualidade do conhecimento das 2009).
pessoas acerca dos patrimônios históricos e
culturais que compõe a história. Além disso, O terceiro eixo da Proposta
o reconhecimento da Arte como disciplina Triangular é o fazer artístico, caracterizado
obrigatória nas escolas permite que todos te- pela maneira como a criança constrói, expres-
nham acesso aos códigos artísticos, possibili- sa e representa as informações relacionadas
tando e estimulando, desde criança, às cria- a sua realidade, desenvolvendo a criação por
ções e manifestações artísticas, articulando meio das experiências vividas e do uso das
o ensino direcionado a Arte como forma de linguagens artísticas. Este eixo permite que a
conhecimento, expressão e linguagem (BAR- criança reconheça suas habilidades expressi-
BOSA, 2006). vas de modo pessoal, valorizando a cultura
que a representa (BECKER, 2001).
Os objetivos do ensino de arte
nas escolas de educação básica são de for- Dentro da Educação Infantil, a
mar cidadãos com capacidade conhecedo- expressão artística é fundamental para o
ra, fruidora e decodificadora da disciplina, desenvolvimento pleno da criança, além de
sendo necessária a reestruturação e revisão propor uma aprendizagem significativa e ex-
das práticas docentes para o ensino da Arte. ploratória, levando o aluno a identificar os
O conhecimento acerca da Arte Visual é de diferentes materiais a sua volta que podem
representar um sentimento ou uma satisfa-

33
ção da criança. O fazer artístico vai aconte- partida para o conhecimento das pessoas, as
cer naturalmente, quando a criança estiver crianças têm um contato inicial com as ima-
em contato com estes materiais, entendendo gens dentro das próprias escolas, ao discuti-
que pode construir o que quiser com o que rem sobre as imagens que acompanham nas
quiser (BARBOSA, 2010). televisões, Internets, entre outros meios de
comunicação. As crianças são incentivadas a
Confecções com tintas, massinha de colorir livros com imagens que simbolizam
modelar, argila, carimbo, entre outros ma- personagens infantis de figurinos variados,
teriais, permitirão que a criança descubra as levados desde muito cedo, às influências da
propriedades e possibilidades de registrar mídia sobre as roupas da moda, as melhores
sua arte, sendo capaz de acompanhar a evo- cores, valorizando um olhar infantil voltado
lução do que criou com as transformações ao estereótipo, que passa a fazer parte do
que forem permitidas a ela. O importante é imaginário da criança (BECKER, 2001).
deixar a criança criar sem que haja uma pa-
dronização, de modo que o próprio aluno Este estereótipo imposto pelos
perceba as mudanças que forem necessárias meios de comunicação acaba descontextu-
para concluir sua obra. alizando o cotidiano do homem, com a sim-
plificação de imagens que poderiam sim-
Becker faz um importante asser- bolizar muito para a realidade da criança,
tiva sobre o ensino de Arte na Educação In- principalmente. A própria prática educativa
fantil: das professoras de Educação Infantil sofre
O trabalho com arte, seja ele com o influências com este padrão de imagens, re-
material que for, precisa ser visto pela pro- produzindo-as e entregando aos seus alunos
fessora como um fazer que não se restrinja de maneira natural, arquivando modelos de
ao fazer por fazer, mas que ao ultrapassar, desenhos para colorir agradáveis aos olhos
esta condição, pela possibilidade reflexiva da que limitam a criação dos alunos, estabeleci-
própria ação, (re)significa saberes e promove dos a fim de enfeitar a escola e as atividades
um olhar mais sensível sobre a importância das crianças, sem muitos propósitos pedagó-
da arte na formação da criança e na forma- gicos de fato.
ção da professora, assim como recoloca a Segundo Vianna (2015) o este-
arte num contexto legitimado num currículo reótipo é a simplificação no esquematizar
escolar, visto que pressupõe uma professora de formas e figuras, reduzindo uma expres-
leitora/produtora capaz, enquanto profes- são artística a sua visualização mais simples
sora, de construir na formação das crianças, possível. O estereótipo é uma representação
também como leitoras e produtoras de “tex- imóvel de algo já existente, sem que haja a
tos” diferenciados (BECKER, 2001, p.154). criação por parte de quem reproduz, susten-
A melhor maneira de en- tando uma maneira constante de diferenciar
sinar a Arte é integrando todos os seus aspec- o que é, de fato, mais próximo do belo do
tos em sala de aula, permitindo que a criança que não é.
seja levada ao interesse pela aprendizagem, Os estereótipos que os apontam
identificando a necessidade do ensino desta como maneiras de construir a Arte de manei-
disciplina, desenvolvendo aspectos artísticos, ra desfocada, com clichês sobre desenhos
construindo uma identidade crítica e sensí- que enfeitam e multiplicam os murais de es-
vel que permitirão o entendimento das dife- colas de Educação Infantil, oferecidos para
rentes culturas e diversidades sociais. Desse pintura das crianças que reproduzem uma
modo, o respeito pela Arte e a dedicação pela situação sem uma aprendizagem significati-
sua aprendizagem acontece de maneira na- va, reduzindo o ensino de Arte a espaços de-
tural em todos os níveis da educação. corativos de ambientes e portfólios infantis.
Com a finalidade de atrair a atenção dos alu-
nos para desenhos bonitos, os estereótipos
APRENDER COM IMAGENS NA EDUCA- começam a influenciar a vida humana desde
ÇÃO INFANTIL muito cedo, produzindo padrões de beleza
As transformações tecnológicas que poderiam ser evitados já na própria sala
atuais influenciam nas perspectivas atuais de de aula nas escolas de Educação Infantil (BE-
vida humana, principalmente no que envolve CKER, 2001).
a comunicação e a educação. A mídia repre- Atualmente, existe uma forte
senta boa parte das opiniões do homem, de- ideia sobre padrões de beleza, impostos pela
vido à divulgação de propagandas que trans- sociedade de uma maneira geral, ocorrendo
mitem cultura para o cotidiano, caracterizada mesmo dentro da realidade artística. Confor-
pelas imagens que circulam com frequência me as crianças passam a entender que existe
em qualquer tempo ou espaço. Compreen- o belo e o feio, inicia-se uma forte preocupa-
der a linguagem destas imagens, portanto, ção em agradar na realização da Arte, acar-
é fundamental para que o conhecimento se retando uma disputa entre qual desenho é o
propague e atinja a todos os indivíduos que mais bonito, deixando de lado a real intenção
convivem em sociedade (CAVALCANTI, 2009). de fazer a Arte. Os próprios pais incentivam
Como a educação é o ponto de a beleza nas manifestações artísticas dos fi-
lhos, deixando a espontaneidade cada vez

34
mais de lado, refletindo na busca por um mo- do um domínio entre elemento, espaço, for-
delo que deixam as crianças seguras perante ma, cores, ilusão, transformação e projeção
seus pais, colegas e até mesmo professores (BECKER, 2001).
(VIANNA, 2015).
A imagem, neste caso, ultrapassa as
Esta maneira de ensinar a Arte veias artísticas, sendo necessário o entendi-
na Educação Infantil pela reprodução de de- mento no contexto social para que a criança
senhos data desde o século XIX, predomi- passe a entender no contexto educacional.
nando até os dias atuais, mantendo moldes
padronizados que inibem a criação das crian- Uma atividade sugerida por Bar-
ças. O desenho estereotipado limita a imagi- bosa (2006) para a criança da Educação In-
nação das crianças, empobrecendo a expres- fantil aprender a ler as imagens artísticas e
são artística e impedindo que as habilidades cotidianas é a realização de retratos e autor-
dos alunos ocorram naturalmente. Torna-se retratos, propondo que a criança coloque-se
artística, seguindo este conceito, aquele que no lugar da obra escolhida, caracterizando-
faz a representação mais próxima possível -se como a imagem e servindo de moldura,
da realidade, caracterizando a capacidade como um quadro com a mesma postura da
de abstração como algo ruim (CAVALCANTI, imagem, a fim de que um colega reproduza
2009). sua imagem. Expor trabalhos realizados a
partir da criação dos alunos permite que ou-
A prática educativa utilizada pe- tras crianças sintam estímulos para realizar
los professores de Educação Infantil precisa atividades artísticas.
dinamizar o ensino de artes visuais, propon-
do que o aluno seja criativo e esteja aberto Sendo assim, o estudo da ima-
à linguagem artística em todos os aspectos, gem é uma das ferramentas mais importan-
pois apenas assim, o educador vai permitir tes para o ensino de arte, principalmente na
que o aluno explore materiais e atividades di- Educação Infantil, inspirando a criança para
versificadas para aprender a arte como deve reproduzir suas emoções e não apenas co-
ser, não reduzindo a um simples passatempo piá-las de algo estereotipado pela sociedade
em sala de aula (VIANNA, 2015). como belo. A livre expressão no ensino de
arte permite que a criança encontre sua ca-
Tanto o desenvolvimento da crian- pacidade criadora e aprenda a experimentar
ça quanto seu ritmo de trabalho deve ser mediante as variadas situações do cotidiano,
respeitado pelos professores de modo que dependendo da atenção do professor para
haja uma aprendizagem significativa, além observar e descobrir a sensibilidade no olhar
de garantir que imagens variadas sejam in- de seus alunos, oportunizando a aprendiza-
troduzidas na realidade da criança a fim de gem por meio da brincadeira de desenhar,
proporcionar um aumento no repertório do pintar e estar em contato com a Arte.
aluno para que ele faça arte espontaneamen-
te, mas com a mediação do professor para
estimular, intervir e oportunizar experiências ARTE VISUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
cada vez mais prazerosas e ricas para a crian-
ça (CAVALCANTI, 2009). A escola é o espaço cuja educa-
ção acontece com maior frequência, sendo
Introduzir ao cotidiano das o professor um importante instrumento de
crianças boas imagens significa ensinar a ensino para que aconteça a aprendizagem,
apreciação das Artes Visuais desde a Educa- devido a sua capacidade de interação, co-
ção Infantil, trabalhando todas as linguagens municação e relação com os alunos, além de
artísticas (pinturas, esculturas, desenhos, dominar técnicas e conceitos próprios de sua
cerâmica, entre outros) atreladas às trans- disciplina e proporcionar uma dinâmica de
formações estéticas, como fotografia, moda, ensino por meio de sua capacidade criativa
propagandas, cinema e todos os avanços e afetiva com as pessoas que facilitam o pro-
tecnológicos que compõe a rotina da crian- cesso de ensino-aprendizagem nas salas de
ça. Cada modalidade artística é diferente aos aula (CAVALCANTI, 2009).
olhos do espectador visualmente, mas todas
representam a expressão da cultura humana, Quando se tratar de ensinar as
materializadas em uma forma visível, poden- crianças, porém, é necessário que o profes-
do ser estática ou em movimento, em todas sor esteja satisfeito com sua profissão, pois
as dimensões e materiais possíveis para au- as crianças da Educação Infantil estão em um
mentar o repertório e a criticidade das crian- momento de descobertas e curiosidades, de-
ças (VIANNA, 2015). pendendo da vontade do professor em aju-
dá-las para que a aprendizagem seja eficaz
Ao manter a introdução das ima- e significativa. As expressões das crianças,
gens na realidade infantil dentro das escolas, suas brincadeiras e necessidades devem ser
os professores estão propondo uma alfabeti- levadas em consideração pelos profissionais
zação da leitura pela imagem fixa. O contato que desejam trabalhar com a educação delas
com o cinema e a televisão permite, por sua (VIANNA, 2015).
vez, que haja uma aprendizagem gramatical
da imagem, pois exige a compreensão do vo- Neste contexto, a criança interior do
cabulário, associado à imagem, possibilitan- professor também precisa ser explorada de

35
modo que ele possa entender o que seu alu- zindo a arte de modo a propor às crianças um
no deseja e qual a melhor prática educativa envolvimento e conhecimento sobre suas ha-
utilizar que ele entenda determinado assun- bilidades, potencialidades e capacidades ar-
to. Brincar passa a ser uma interpretação sé- tísticas, pela expressão de pensamentos ou
ria de aprendizagem na Educação Infantil que da realidade, saindo do comum, do conven-
requer do professor uma prática educativa cional e do padronizado para a exploração da
estimuladora às crianças, estabelecendo vín- manifestação artística de cada criança a fim
culos com os alunos, respeitando os limites e de garantir a construção de uma identidade
potencialidades de cada um. Como a Arte é mais autônoma e segura quanto as suas ca-
um fazer artístico, o ensino da disciplina pre- pacidades (CAVALCANTI, 2009).
cisa ser entendido como ativo e não compe-
titivo, buscando em sala de aula a produção Quando a capacidade de criar de uma
artística dos alunos sem valorização do feio criança é analisada durante o ensino de ar-
e do bonito, certo ou errado (CAVALCANTI, tes visuais, a intenção torna-se identificar as
2009). possibilidades qeu cada aluno tem em de-
senvolver determinado pensamento estético
O ensino de arte acaba perden- e crítico, contribuindo para a realização do
do o valor quando, na Educação Infantil, a processo de ensino-aprendizagem. Como a
criança ouve julgamentos sobre suas mani- arte contribui para a ampliação das experiên-
festações artísticas, causando uma compe- cias e desenvolvimentos das pessoas, a esté-
tição entre os alunos exaustiva, deixando tica visual pode ser uma grande facilitadora e
aqueles que ainda vão aperfeiçoar sua arte influenciadora na sensibilidade ao olhar para
de lado, valorizando aqueles cuja capacidade objetos e formas, desde a manifestação ar-
artística revelou-se antes do colega (BARBO- tística popular até a erudita (BECKER, 2001).
SA, 2010).
Sendo assim, trabalhar as artes
A arte em cada criança deve ser consi- visuais na Educação Infantil auxilia na cons-
derada como única, perfeita e valorosa, para trução da personalidade adulta mais crítica,
que o aluno seja levado a entender que ex- sensível e transformadora. É preciso, porém,
pressar sentimentos, desejos e realidades é que cada faixa etária seja respeitada, assim
a melhor maneira de perceber o mundo indi- como o nível de desenvolvimento das crian-
vidual e coletivamente. Mesmo que algumas ças, pois o pensamento, a imaginação e a ca-
produções sejam mais belas do que outras, pacidade de percepção de um indivíduo não
a criança não pode ser desestimulada a fim são exatamente iguais ao do outro. A intui-
de continuar suas manifestações para que o ção e cognição das crianças devem ser tra-
professor perceba e identifique a cultura, os balhadas de modo que haja uma integração
sentimentos e a maneira como a criança en- entre o meio e a capacidade criativa do aluno
xerga o mundo ao seu redor (BECKER, apud (CAVALCANTI, 2009).
CAVALCANTI, 2009).
O Referencial Curricular Na-
O professor de arte na Educação cional para Educação Infantil (RCNEI, 1998)
Infantil que se propõe a trabalhar as lingua- aborda o processo de aprendizagem em ar-
gens da Arte deve valorizar o conhecimento tes visuais como o momento de criação das
das crianças, aliando a sua formação tudo o crianças, pelo percurso de construção indi-
que surgir em sala de aula a fim de garantir vidual que envolve escolhas e experiências
que as características, interesses e limitações individuais, ocorridas pela aprendizagem na
de seus alunos sejam percebidos e utilizados natureza e na motivação interna ou externa
para uma aprendizagem significativa e enri- vivenciada pelo indivíduo. O significado do
quecedora da Arte (BARBOSA, 2010). percurso para criança é possível com a ação
educativa intencional, mas a criação artística
O conhecimento teórico e práti- é um ato que parte exclusivamente das atitu-
co do professor depende de sua afetividade des da criança (VIANNA, 2015).
pelas crianças, além do interesse dos alunos
para que o trabalho artístico exista em sala A atividade criadora da criança
de aula, pois não basta exigir da criança que pode ser relacionada aos processos de ima-
manifeste suas expressões com técnicas e ginação representada no desenho infantil. A
atividades predeterminadas, desconexas à intenção da criança no desenho é expressar
realidade do aluno, é necessário que o pro- o que observou em sua imaginação ou na re-
fessor seja corajoso par transformar o ensi- alidade, dependendo da capacidade criadora
no de arte em algo importante para o aluno, de uma situação, presente em todos os mo-
inovando as práticas e superando as ideias mentos e campos da vida humana (PILLOT-
limitadas sobre o fazer artístico, explorando TO, 2010).
em seus alunos a potencialidade que vai con-
tribuir para a construção do conhecimento Caso as atividades humanas fos-
interdisciplinarmente (VIANNA, 2015). sem ligadas apenas à reprodução, a socieda-
de estaria voltada, eternamente ao passado,
O ensino de arte na Educação In- adaptando o futuro conforme as necessida-
fantil supera os paradigmas que caracterizam des já vividas, sem experimentar algo novo. A
a disciplina como momento de lazer, livre ex- atividade criadora surge pra romper com pa-
pressão, decoração ou passatempo, introdu- drões e estereótipos de modo a propor uma

36
mudança no futuro dos indivíduos, abrindo A educação por meio da sensibi-
espaço para as inovações e mantendo as lização das manifestações artísticas oferece
manifestações artísticas relacionadas ao que uma reflexão às crianças de misturar o real à
ainda pode acontecer, seja real ou não (RO- imaginação, ampliando as experiências pes-
CHA, 2012). soais e coletivas. Ao condicionar a criança a
organizar e estruturar o conhecimento pelas
Neste sentido, cabe à Educação descobertas diárias é um desafio necessário
Infantil a tarefa de proporcionar novas expe- que estimula a capacidade de percepção e
riências às crianças a fim de desenvolver e en- compreensão, movimentando o sujeito a re-
riquecer a capacidade criadora e imaginativa fletir entre a ordem e a incerteza, a influência
do aluno. Como o desenho representa o re- e a autonomia, o raciocínio e o sonho, a ética
gistro das atitudes da criança, a percepção de e a estética (LUQUET, 2016).
possibilidades que podem ser criadas grafi-
camente configura o desenho como anteces- A educação, além de informar
sor à escrita, atribuindo sentido na realidade ou formar pessoas, é a transformação dos
conceitual da criança e não material, ou seja, conhecimentos do indivíduo, relacionando a
o indivíduo reconhece o grafismo, manifesta cultura social às realidades pessoais. Sendo
sua ação verbalmente (diz o que vai produzir) assim, a educação está em um constante pro-
e planeja a ação em sua imaginação, criando cesso de expansão dos horizontes das pesso-
algo inovador que pode ser explorado poste- as, apresentando alternativas de escolha. A
riormente (PILLOTTO, 2010). arte, neste contexto, articulada à educação
infantil atribui significado às crianças na com-
A abstração presente na libe- preensão dos atos estéticos e das linguagens
ração do ato de desenhar e criar da criança artísticas trabalhadas com cada aluno a fim
permite que exista uma relação entre seus de promover a pluralidade do homem (BAR-
pensamentos e a realidade, pois ao liberar de ROS, 2009).
sua memória o grafismo, ela configura uma
linguagem verbal que está diretamente rela- O desafio dos professores de Educa-
cionada às linguagens artísticas, observadas ção Infantil é, justamente, abordar o conhe-
no instante que a criança desenha e depois cimento em todos os aspectos e formas,
explica o que desenhou (VYGOTSKY, 2009). cabendo ao ensino de artes visuais a perspec-
tiva de entender o mundo e criar situações
O ensino de arte visual na Edu- na sociedade, levando a criança a imaginar
cação Infantil deve, portanto, objetivar esta e perceber que seus desejos e sentimentos
criação da criança por meio de atividades que podem ser expressos de maneira artística
proporcionem práticas educativas como o sem que haja uma repressão entre o que é
desenho, a pintura, a colagem, a modelagem, belo e o que não é. A articulação entre prá-
as construções com sucatas, a elaboração do ticas pedagógicas e necessidades da criança
espaço e as brincadeiras como um todo, atri- transforma o ensino de arte em algo signifi-
buindo significado em tudo que for proposto cativo e prazeroso, permitindo que a criança
à criança. O enfoque deve ser o olhar infantil, cresça entendendo a importância da arte em
permitindo experiências criadoras aos alu- sua vida, enxergando a sociedade com mais
nos que levem à vivência estética da lingua- sensibilidade e criticidade (FERREIRA, 2008).
gem artística (PILLOTTO, 2010).
A escola e os professores devem
valorizar a infinidade de materiais acessíveis CONSIDERAÇÕES FINAIS
às crianças de modo que a realidade seja in-
terpretada na imaginação nas mais variadas O ensino de arte na Educação
formas e propostas. O aluno precisa ter a Infantil é fundamental para que ocorram ma-
oportunidade de aprender a arte em inúme- nifestações artísticas nas crianças desde bem
ras experiências, possibilitando o processo cedo. Para tanto, é necessária uma formação
criativo e contínuo de aprendizagem, poden- sólida e específica das professoras que atu-
do caracterizar no domínio posterior das lin- am neste nível de educação básica, permitin-
guagens artríticas e estéticas ou não, depen- do que todos os campos do conhecimento
dendo da valorização atribuída à disciplina sejam explorados nas crianças, proporcio-
e das habilidades de cada criança (ROCHA, nando uma aprendizagem significativa para
2012). desenvolver todas as linguagens possíveis no
aluno. A escola de Educação Infantil deve ser
A arte não pode ser reduzida um espaço de cuidado com a criança, prati-
à afirmação da realidade, principalmente cando atos de afeto entre os envolvidos com
na Educação Infantil. Ao abrir espaço para a educação, possibilitando a ampliação do
a criança perceber a arte, o professor pro- conhecimento e da sensibilização dos sujei-
porcionará que a criança crie de maneira tos com a sociedade.
expressiva, sem que haja restrições ou im-
possibilidades, promovendo um significado Quando a arte é vista como uma
importante na formação da personalidade disciplina transformadora e importante para
do indivíduo, afinal a realidade também pas- o currículo, tal como as demais áreas do co-
sa pelo processo de criação, sem cópias ou nhecimento, fica evidente a necessidade de
padronizações (MOREIRA, 2012). quebrar os paradigmas sobre a interpretação
do ensino de arte apenas como atividade de

37
recreação, de passatempo ou de decoração BARROS, M. Exercícios de ser Criança.
realizadas nas escolas. Sendo assim, os dese- Rio de janeiro: Salamandra, 2009.
nhos apresentados aos alunos devem propor
a expressividade infantil, respeitado pelo co- BECKER, R. N. A arte na formação da
nhecimento do professor acerca das fases e professora das séries iniciais do ensino fun-
estágios da infância, entendendo o grafismo damental. Ijuí: Ed. Unijuí, 2001
como uma ação pedagógica, que possibilita CAVALCANTI, M. M. H. Educação In-
novas maneiras práticas de ensinar a arte fantil: crescendo e aprendendo. Cadernos de
desde os primeiros anos escolares dos alu- Pesquisa, São Paulo: 2009.
nos.
FERREIRA, S. Imaginação e linguagem
As manifestações artísticas in- no desenho da criança. Campinas: Papirus,
fantis não serão desenvolvidas, porém, quan- 2008.
do as atividades propostas não levarem a
criança à exploração dos materiais a sua vol- GEREMIA, D. Artes Visuais na Infância:
ta. A elaboração e organização de atividades contribuições para o desenvolvimento infan-
específicas são fundamentais para que haja til. (Tese de Mestrado). Universidade Regio-
uma rotina na aprendizagem, sem limitar as nal do Noroeste do Estado do Rio Grande do
crianças ao tempo preestabelecido, exigin- Sul: Santa Rosa, 2012.
do uma observação do professor acerca do LUQUET, G.H. O desenho infantil. Por-
desenvolvimento das atividades para seguir to: Livraria Civilização. Editora. 2016
com novas propostas ou permanecer nas
atuais, dependendo do interesse das crian- MARTINS, M. C.; PICOSQUE, G.; GUER-
ças. Cabe ao professor propor situações que RA, M. T. Didática do ensino de arte: a língua
desafiam a capacidade crítica das crianças, do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte.
provocando uma ampliação no repertório São Paulo: FTD, 1998.
imaginativo dos sujeitos por meio da curiosi-
dade, promovendo a aprendizagem significa- MOREIRA, A A. A.. O espaço do dese-
tiva. nho: A educação do educador. 9. ed. São Pau-
lo: Edições Loyola, 2012
A prática educativa de artes vi-
suais na Educação Infantil depende, tam- PILLOTTO, S. S. D. A trajetória histórica
bém, da criatividade e relacionamento do das abordagens do ensino e aprendizagem
professor com a disciplina, estando aberto da arte no contexto atual. In: Revista Univille,
às linguagens artísticas de modo a ensinar 2010.
aos alunos as diferentes possibilidades de ROCHA, R. C. L. História da Infância:
expressão, utilizando materiais diversifica- Reflexões acerca de algumas concepções
dos e promovendo atividades que envolvam correntes. Analecta. Guarapuava, /PR, v. 3, jul
o dinamismo e práticas educativas inovado- – dez, 2012
ras. O professor deve associar às imagens
da realidade infantil às imagens nascidas da VIANNA, L. M. R. Do desenho estereoti-
interpretação de cada aluno para uma deter- pado à desestereotipação. Anais do 1º Semi-
minada situação. nário Nacional sobre o papel da arte no pro-
cesso de socialização e educação da criança
Compreender o ensino de arte e do jovem. São Paulo: Universidade Cruzeiro
visual como fundamental para a Educação do Sul 1995.
Infantil é promover o pensamento crítico,
transformador e participativo das crianças VYGOTSKY, L. S. Imaginação e criação
de modo a formar cidadãos mais sensíveis às na infância. Trad. Zoia Prestes. Ana Luiza
necessidades reais da sociedade, valorizando Smolka (Comenta). São Paulo: Ática, 2009.
a história de cada povo e a cultura, relacio-
nando-as à espontaneidade de criar manei-
ras de enxergar o mundo, levando a criança
ao envolvimento com o processo de conheci-
mento, permitidos por meio de uma educa-
ção significativa.

REFERÊNCIAS
BARBOSA, M. C. S. Por Amor e Por For-
ça: rotinas na educação infantil. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
BARBOSA, M. C. S. HORN, M. G. S. Or-
ganização do Espaço e do Tempo na Escola
Infantil. In: CRAIDY, Carmem Maria; KAER-
CHER, Gládis E. Educação Infantil: Pra que te
quero? Porto Alegre: ArtMed, 2010.

38
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DOS PEQUENOS LEITORES
ALINE ISIDORO DE FRANÇA

RESUMO til.
O objetivo deste trabalho é reconhe- O mundo do faz- de- conta e a ma-
cer a importância da literatura no desenvol- gia da leitura nos leva ao encantamento do
vimento da Educação Infantil por meio de mundo imaginário. Ao oferecermos à criança
contos e incentivar o hábito de ler, é nesta subsídios, meios para a apropriação dos con-
idade em que se formam todos os hábitos. tos de fadas, permitimos-lhe buscar soluções
Quando a criança entra em contato com li- para seu conflito interno, a partir daí temos o
teratura, com obra literária escrita, passa a propósito de lhe favorecer o contato com a li-
ter uma compreensão maior de si e do outro, teratura que traz conhecimentos fundamen-
tendo assim a oportunidade de desenvolver tais para seu desenvolvimento, e permitir-lhe
e desencadear seu potencial criativo e am- ver a realidade do mundo como sujeito a mo-
pliar os horizontes da cultura e do conheci- dificações.
mento, visualizando desta forma o mundo e
a realidade que a cerca. Em nosso país infeliz- Em contato com narrativas ancestrais
mente pouco crianças tem o hábito de ler, e de histórias sobre a contribuição social da
há crianças que tem o primeiro contato com humanidade e de compreensão da nature-
a literatura somente quando vão à escola. za humana, e dramatização, a criança pode
se permitir viver vidas que não seja sua, com
Palavras- Chave: Desenvolvimento in- isso ressalta a importância dos contos de fa-
fantil, Literatura, Leitura, Contos. das para o desenvolvimento e construção da
subjetividade e do conhecimento infantil.

ABSTRACT
2 A LITERATURA INFANTIL
The objective of this work is to recogni-
ze the importance of literature in the develo- A leitura no contexto brasileiro é vista
pment of Early Childhood Education through como opróbrio, já que os índices têm mos-
stories and encourage the habit of reading, it trado que maioria dos brasileiros não possui
is at this age that all habits are formed. When o hábito de ler ou leem muito pouco e, para
children come into contact with literature, que esse cenário mude torna-se necessárias
with written literary works, they begin to have campanhas de estimulo à leitura. O Brasil
a greater understanding of themselves and possui o índice de leitores menor do que os
others, thus having the opportunity to deve- países vizinhos considerados mais pobres.
lop and unleash their creative potential and Por esse motivo, a prática da leitura precisa
broaden the horizons of culture and knowle- ser estabelecida por três pilares, constituído
dge, visualizing in this way the world and the da família, escola e biblioteca, senão abran-
reality that surrounds it. In our country, un- ger os três ao menos em um dos pilares pre-
fortunately, few children have the habit of re- cisa desenvolver o encanto das crianças pela
ading, and there are children who only have leitura. (Ferreira O Globo, 2015).
their first contact with literature when they
go to school. Tendo em vista que a escola tem entre
as suas funções a formação plena do cidadão,
Keywords: Child development; Litera- ela precisa se empenhar para fazer da leitura
ture; Reading; Stories. uma prática agradável entre os alunos. Cunha
(2005) esclarece que a leitura permite que o
educando aprenda sempre, constantemente;
1 INTRODUÇÃO no entanto, pode ser vista por alguns apenas
como uma decodificação de signo linguístico,
Para conceituar - se a literatura infan- no entanto para outros é muito além do que
til, é preciso proceder a uma consideração de decodificação é uma compreensão do que
ordem histórica, uma vez que não apenas o eles significam na comunicação.
gênero tem uma origem determinável crono-
logicamente, como também seu aparecimen- A leitura é tema de discussão no en-
to decorreu de exigências próprias da época. sino fundamental em razão ao número de
Assim, há um vínculo estreito entre seu nas- reprovações que ocorre, em sua maioria,
cimento e um processo social que marca in- no final da primeira série, pelo fato de não
delevelmente a civilização europeia moderna aprenderem a ler e a escrever e na quinta sé-
e, por extensão ocidental. rie por não alcançar o uso eficaz da lingua-
gem. Isso acontece porque os sistemas de
A psicologia infantil responsabiliza se ensino têm dificuldade de ensinar a criança a
pela teoria da formação da criança, sua apli- ler e a escrever (PCN, 1997 p.19).
cação no campo didático relaciona se a peda-
gogia. E repercute ainda no terreno artístico, De acordo com o PCN (1997), existem
quando do aparecimento da literatura infan- algumas concepções sobre a aprendizagem

39
da leitura primordial, como já citada aqui se to em miniatura, já que pequenos e grandes
refere ao entendimento que se tem da lei- compartilhavam os mesmos eventos.
tura como apenas uma decodificação e por
causa desse equívoco no seu entendimento O que gerou a união familiar foi à
as escolas tem formado alunos capazes de valorização da infância, com certo controle
decodificar vários textos, entretanto, em sua do desenvolvimento intelectual da criança e
maioria, tem grandes dificuldades de enten- emoções manipuladas; no entanto a literatu-
der o que leem. ra infantil e a escola foram inventadas como
a primeira reforma, assim designando as es-
Torna-se imprescindível que a escola colas e a literatura a caminharem lado a lado
reconheça a importância de realizar a leitura era uma missão. Portanto, os laços entre li-
com seus alunos; para Cagliari (2009) feita de teratura e escola começaram a estreitar, po-
forma individual a leitura se torna uma práti- rém para se adquirir livros era necessário de
ca de absorção do conhecimento, interioriza- que as crianças tivessem o domínio da língua
ção e reflexão. Dessa forma, a escola que não escrita e a escola era responsável por este
desenvolve uma prática de leitura com seus desenvolvimento. De acordo com Lajolo &Zil-
alunos não dá a 7 oportunidade de leitura bermam (2002, p.25),” a escola passa a habili-
pode cair no fracasso. O autor ainda ressal- tar as crianças para o consumo das obras im-
ta que há diferenças na leitura da criança e pressas, servindo como intermediária entre a
do adulto, como também não existe ler bem criança e a sociedade de consumo”.
ou mal, nenhuma criança vai ler como a pro-
fessora e a condição social dela também vai A formação e a evolução é uma fase
interferir na sua interpretação. especial da infância que devem ser respei-
tadas e cultivadas. Vasconcelos (2003, p.14)
Segundo Cunha (2005), às vezes co- afirma que:” Não há melhor meio de se edu-
metemos erros ao dizer que um aluno lê car do que por meio das histórias”.
bem, mas que não compreende nada, e a
melhor forma de nos referirmos a esse fato No século XVIII surgíramos livros para
é dizermos que o aluno fala bem, mas não o público infantil. Autores como La Fontaine
compreende o que ler. Entendendo dessa e Charles Perrault escreveram suas obras vi-
forma que a leitura está ligada ao sentido da sando os contos de fadas. No entanto a litera-
compreensão. tura infantil vem se destacando e ocupando
seu espaço, e outros autores foram surgin-
Compreende-se que toda a pessoa do como Hans Christian Andersen os irmãos
tem uma forma de ler e a mais praticada na Grimm e Monteiro Lobato.
escola é a visual e silenciosa em que os alu-
nos são incentivados pelos docentes a fazer A literatura infantil nesta época era
a leitura de forma silenciosa, claro que para tida como mercadoria, e a sociedade aristo-
quem já sabe ler isso se tonar uma simples crática que a conceituava assim, com o tem-
tarefa, mas para aqueles alunos que ainda po vira a sociedade crescer e modernizar-se
não sabem ler e tem dificuldade para decifra com a industrialização e a expansão da pro-
algumas palavras essa tarefa não é fácil, cada dução de livros.
docente precisa entender que há crianças Após a expansão encontramos outro
que levará mais tempo do que outras para enfoque para a literatura infantil, que na ver-
aprender ler e a escrever as palavras. (Caglia- dade é uma literatura direcionada para adul-
ri, 2009, p.138). tos e aproveitada para as crianças. Seu perfil
Nos séculos XVI e XVII, ocorreu o nasci- era didático pedagógico de suma importân-
mento da sociedade moderna e o surgimen- cia que se baseava em uma linha que cha-
to do status de infância. No qual as crianças mamos de paternalista; moralista, centrada
eram vistas como adulto em miniatura. A li- numa representação de poder.
teratura infantil surgiu no século XVI e XVII, Porém a literatura tinha o objetivo de
nesta época houve mudanças na estrutura estimular a obediência, segundo a igreja, ao
da sociedade, devido à elevação da família governo ou ao senhor. A literatura trazia a in-
burguesa. tencionalidade em que cujas histórias tinham
A urgência dessa literatura associa- o objetivo de premiação e punição, assim
-se a função utilitário-pedagógica, já que as castigando o que lhe era considerado mal.
histórias eram elaboradas para serem con- Até a década do século XX, eram pro-
vertidas e tornando-se divulgadoras dos no- duzidas obras didáticas para a infância que
vos ideais burgueses. Segundo Vasconcelos apresentavam um caráter ético-didático, ou
(2003) houve essa mudança devida outro seja, o livro com uma única finalidade, a de
acontecimento da época: educar, apresentar modelos; e a de moldar
A emergência de uma nova noção de a criança conforme as expectativas dos adul-
família, que já não era mais centrada num tos. A obra literária não propunha o objeti-
único núcleo, queria manter a sua privacida- vo de desenvolver o prazer pela leitura; no
de, recusando a influência de parentes em entanto as histórias que relatavam a vida de
seus assuntos internos. Nesta época não ha- forma lúdica eram muito poucas.
via diferenciação de tempo diferente, a crian- A visão de mundo maniqueísta pas-
ça não era vista como criança, mas um adul-

40
sa a ser substituída por volta dos anos 70, da evolução do confronto, da interlocução,
na qual a literatura infantil passou por uma da contrariedade. A linguagem apresenta-se
transformação que foi revalorizada com a construtiva, ou seja, o pensamento é cons-
contribuição em grande parte com as obras truído a partir do pensamento do outro, no
de Monteiro Lobato, no refere-se ao Brasil; entanto pode-se dizer que é uma linguagem
espalhando-se pelos caminhos da atividade dialógica. Bakhtin (1992) acrescenta que:
humana, dando valores ao cotidiano, a famí-
lia; a aventura; a escola; o esporte as mino- A vida é dialógica por natureza. Viver
rias radicais; as brincadeiras; infiltrando-se significa participar de um diálogo, o homem
até mesmo no campo da política. No entanto participa todo e com toda a sua vida: com os
podemos dizer que a Literatura Infantil tor- olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito,
nou-se muito mais ampla, propiciando e pro- com o corpo todo, comas suas ações.
porcionando a criança meia para o seu de- (Bakhtim, 1992, p.112).
senvolvimento emocional, social e cognitivo
indiscutíveis. A partir da visão da interação social e
do diálogo, pretende-se compreendera rele-
Segundo Abramovich (1997) as crian- vância da literatura infantil. Segundo afirma
ças passam a visualizar de forma mais clara Coelho (2001, p.17), ”é um fenômeno de lin-
quando elas ouvem as histórias, já que estas guagem resultante de uma experiência exis-
histórias trabalham a existência dos proble- tencial social e cultural”. A leitura faz parte
mas de infância, tais como medos; curiosida- do processo em que o leitor pratica e realiza
des e a dor da perda. São por meio das conta- um trabalho ativo da construção do significa-
ções0 de histórias que se descobrem outros do do texto. Segundo Coelho (2002) a leitura
lugares; outros modos de ser, agir e pensar, é condição básica do ser humano a fim de
passando a tomar conhecimentos de outras compreender o mundo.
regras, éticas e um novo olhar.
Segundo Coelho (2000, p. 161), livros
Segundo Vasconcelos (2003) as histó- que contam histórias por meio da linguagem
rias informais, ou seja, domésticas deveriam visual, sem o suporte de textos narrativos ou
ser vistas com um olhar diferenciado, com com o apoio de pequenas falas escritas, são
mais seriedade, no entanto os contos infantis chamados de livros de imagens. Esses mode-
poderiam ser lidos com mais frequência pe- los de livros sem palavras apresentam muitas
los educadores da educação infantil. estratégias que possibilitam para as crianças
Na verdade, as histórias deveriam ser o reconhecimento dos seres, das coisas e dos
contadas não somente nas escolas para as acontecimentos que se movem e se mistu-
crianças, mas também pelos seus pais. Se- ram no mundo no qual elas estão inseridas:
gundo a autora,” É necessário ter em mente Há prazer de folhear um livro, colo-
que todo o patrimônio da humanidade vem rido ou branco e preto [...] livros feitos para
da Literatura”. Até os dias de hoje e creio que crianças pequenas, mas que podem encantar
será sempre, já que a função da literatura é aos de qualquer idade, são, sobretudo, ex-
“agradar, comover, instruir”. (VASCONCELOS, periências de olhar, de um olhar múltiplo, já
2003, p.10). que se vê com o olhar do autor e do olhador /
Privar a criança das histórias, contos e leitor, ambos enxergando o mundo e os per-
encantos e que por muita das vezes vem por sonagens de modo diferente, conforme per-
meio das gravuras, cores e formas é sufocar cebem o mundo. Saborear e detectar tanta
a riqueza do seu mundo interior. Visto que coisa que nos cerca usando este instrumento
para Zilbermam (2003). nosso tão primeiro, tão denotador de tudo, a
visão. (ABRAMOVICH, 1991, p. 33).
A criança entende a história sem este
pressuposto do adulto. Sua compreensão da A compreensão e o sentido começam
realidade, existência e vida, ainda não, se ba- a fazer parte do mundo da criança quando
seiam em processos linguísticos de comuni- ainda bebê em seus primeiros contatos, no
cação, mas nas relações sociais primárias e entanto os odores, o toque os sons, e o pa-
nas próprias atividades. (ZILBERMAM,2003, ladar de acordo com Martins (1974) fazem
p.45). parte dos primeiros passos para aprender
a ler. Porém ler não significa somente a de-
Podemos dizer que a criança por codificação de símbolos, mas relaciona e en-
meio da literatura adquire uma postura na volve uma série de fatores estratégicos que
qual passa a ser crítico-reflexivo, mediante a permite a compreensão da leitura do indiví-
sua formação cognitiva, sendo assim quando duo. No entanto a capacidade de aprender a
a criança ouve e leem histórias ela é capaz ler esta relacionada ao contexto pessoal de
de indagar, fizer comentários, discutir sobre cada indivíduo. Lajolo (2002) afirma que cada
o assunto; além de promover a interação leitor, entrelaça o significado pessoal de sua
verbal, No entanto essa relação vem ao en- leitura de mundo com diversos significados
contro das noções de linguagem de Bakhtin encontrados ao longo da história de um livro.
(1992). Para Bakhtin essas relações e associa- Foram encontradas as primeiras publicações
ções fazem parte do caráter coletivo e social. para o público infantil nos fins do século XVII
e durante o século XVIII, já que surgia uma
O conhecimento é adquirido por meio concepção de criança e de família nesta épo-

41
ca. A organização escolar e a cultura sofreram pela educação do pequeno leitor deve utili-
grandes transformações na Idade moderna e zar textos breves, combinados com grande
solidificadas no século XVIII. quantidade de imagens e com poucas pá-
ginas, cujos temas fundamentais a serem
No entanto a família burguesa passou abordados devem ser simples, fáceis de de-
a se desestruturar, e passou a não se impor- cifrar, e que, de um livro para o outro, serão
tar com os elos de familiares e parentescos esclarecidas as dificuldades de compreensão
para a sua ascensão, dando a partir daí o e entendimento da leitura para essa fase do
surgimento à estrutura “uni familiar privada”. pré-leitor. Esses livros devem especialmente
Esse movimento familiar realçava vínculos retratar de coisas e objetos vivenciados no
afetivos mais fortes. Após a mudança de con- dia a dia da criança, como comer, dormir,
cepção começou-se a pensar e refletir numa brincar, vida familiar, higiene, lazer, entre
literatura para crianças, crianças estas que outros, o que possibilitará o meio de acesso
eram vistas como adulto em miniatura. Nes- á realidade das experiências existenciais da
ta época a literatura era baseada em valores criança.
e normas a serem seguidos para que as pes-
soas de forma ponderada pudessem viver e Constata-se que a literatura infantil
relacionar-se no meio social em que viviam. está sendo trabalhada e contada na maioria
Nesta época viveu uma posição hierárquica, das instituições escolares, na perspectiva de
já que o adulto sempre estava à frente das explorar o “criar formativo”, mediando e pos-
crianças, entende-se neste contexto que, a sibilitando a fluência dos indivíduos, e tendo
criança era simplesmente o reflexo que o os fatores emotivos e psíquicos como meios
adulto e a sociedade desejavam que ela fos- indispensáveis para a transcendência e de-
se. senvolvimento dos seres. Assim tornando o
seu desenvolvimento cognitivo mais seletivo
Os primeiros escritos literários direcio- e aguçando cada vez melhores leituras.
nados para as crianças foram realizados por
educadores, em razão ao forte caráter educa- Segundo Sobrinho (2000, p.13), o ano
tivo, e pelo fato de vencerem a manipulação de 1967 “pode considerar-se a data a partir
do indivíduo, porém a produção literária não da qual se pode falar de nascimento de uma
é vista como “arte”, por ter uma finalidade autêntica literatura para a infância e juventu-
pragmática, e por ser maioria dos escritores de”. Em 1967 Charles Perralt, cria os contos
pedagogos. Afirma Barth apud Góes. de outrora, que estão divididas em oito nar-
rativas em prosa e três em verso, por meio
A tendência de faze - lá veículo de for- desta criação, surgem, ou seja, nascem os
mação moral tornou-a muitas vezes, insossa. personagens universais, assim como a Bela
Ao invés de deixar falar as coisas e os fatos, Adormecida, Chapeuzinho Vermelho Gato de
fala o autor em demasia. Ao invés da vida real, Botas, e outros na qual o desencadear da his-
aparecem repetidas vezes a representação tória deveria ter uma moral.
em que enxergam os bons e o mau caráter,
como tipos extremados nos dois sentidos – Em 1754, ocorreu um fato muito im-
de modo que se recompensa excessivamen- portante, na propagação a literatura infantil,
te o bem e se castiga da mesma forma o mal. em que John Newberg inaugurou, ou seja,
(Barth apud. Góes. 1991 p.06). abriu a primeira livraria e editora direcionada
especialmente para as crianças, que ficou co-
Segundo Coelho, (1991), o individua- nhecida como A Bíblia e o Sol. Com a criação
lismo e suas verdades são como pedras no de livros com a criação de livros dourados
sistema. Na sociedade tradicional (liberal, para meninas e meninos a livraria editou e
cristã, pragmática, burguesa, progressista, publicou inumeráveis obras, além de lançar
patriarca, capitalista) parte do indivíduo, e a primeira revista infantil do mundo. No sé-
nele encontramos seu sustentáculo. Embora culo XVIII, dois grandes e importantes títulos
ideais gêneros estivessem visando à coletivi- da literatura infantil são publicados: Robson
dade, na prática, uma competição fortemen- Crusoé, de Daniel Defor e As viagens de Jona-
te individualista, que no caso era à base do than Swift.
sistema, e que acabou se transformando no
poder absoluto das minorias; e quando se Essas ações eram direcionadas para
negava uma educação para o processo de o público infantil, no entanto, somente no
desenvolvimento do ser em sua inteireza, século XIX o Romantismo resgata a criança
ao mesmo tempo era lhe derivado o direito como sujeito que necessita da fantasia. E nes-
de livre expressão. E com todo esse proces- te século surgem grandes nomes, tais como
so, novamente havia contribuição para que a os Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen,
classe dominante continuasse em evidência, que tiveram várias de suas obras imortaliza-
e assim a escola e a sociedade faziam parte das, na qual se tornaram clássicos da litera-
do processo de manipulação das crianças, tura infantil, como Branca de Neve e João e
em que as crianças acatavam normas sem Maria, dos irmãos Grimm e o Patinho Feio,
questionar. Soldadinho de Chumbo e A pequena vende-
dora de Fósforo, de Andersen. As ilustrações
No que diz respeito à aprendizagem passam a ter um papel muito importante nos
da leitura, Coelho (2000), orienta que no perí- livros infantis, já que se cria um meio de mer-
odo dessa descoberta, o adulto responsável cado promissor para os ilustradores. Ganhou

42
destaque as narrações de aventuras e via- de práticas significativas e carregadas de sen-
gens consagrando autores como Julio Verne tido, que a escrita é um instrumento cultural
e Mark Twain, entre outros. Aumentando o por meio do qual é possível comunicar-se, re-
interesse pela fantasia, na qual merece des- gistrar opiniões e ter acesso ao conhecimen-
taque a obra Alice no País das Maravilhas, de to, entre outras finalidades. Contudo, tanto
Lewer Carrol e as Aventuras de Pinóquio, de para estimular o processo de alfabetização,
Carlos Collodi. quanto para aprofundar o nível de letramen-
to das crianças, oportunizando lhes contato
De acordo com o autor, Sobrinho com a maior diversidade possível de textos
(2000), o século XX é um século cheio de li- que circulam na sociedade, requer práticas
vros quando: A literatura infantil se fortalece pedagógicas intencionais e planejadas.
e adquire autonomia e os autores passam a
tomar muito mais em consideração a psico- Por isso, destacamos neste artigo, a
logia e as vivências de seus jovens leitores. importância do contato efetivo com um tipo
(Sobrinho, 2000, p.18). de texto – o literário – por compreendermos
que se trata de um gênero textual que prima
Em suas considerações, Castro (2004, pela fruição e pela ludicidade. Isso significa
p. 169) salienta que ao contar uma história que os professores em todas as práticas pe-
com figuras ilustrativas, sem o uso da palavra dagógicas, sejam as que pretendem ampliar
escrita, faz-se necessário, que o adulto explo- o nível de letramento das crianças ou as vol-
re os detalhes que aparecem no livro, partin- tadas para o processo de alfabetização, ao
do de uma análise geral, indagando o que as objetivarem a ampliação das experiências da
crianças veem e percebem, tais como, as pes- criança com a linguagem escrita, podem re-
soas, os objetos, as paisagens que aparecem correr à magia e ao encantamento proporcio-
na história e suas características, estimulan- nado pela literatura infantil.
do assim, o pensamento na criança.
A leitura é um meio de conhecer a si
Esse tipo de leitura representativa próprio, quando lemos pensamos e repensa-
pode estar presente na rotina diária do pré- mos sobre nós mesmos, ao concordar ou não
-leitor, ou seja, não há um período específico com os pensamentos no qual o autor atribui,
para despertar o gosto e o interesse pela lei- a leitura torna o indivíduo um ser crítico e
tura, esses momentos de descobertas devem pensante diante da vida. A leitura exala para
ser explorados pelo adulto, a partir das pos- a contribuição da expressão de pensamentos
síveis oportunidades de contato da criança e sentimentos, auxiliando a criança em seus
com o livro infantil. momentos de dificuldades e ampliando a
Para Zilbermam (2003), os contos fol- compreensão do mundo a sua volta.
clóricos colecionados pelos irmãos Grim, e A literatura infantil, proposta e utiliza-
outros não eram “fabulosos”, isso primitiva- da no dia a dia em sala em sala de aula enfati-
mente, e além do mais não eram restritos a za certo fascínio. Os professores conquistam
certa idade. A princípio o conto era contado seus alunos por meio da literatura, levando-
por adultos e para adultos. À vontade, o de- -os ao mundo imaginário, a interação de uns
sejo o impulso de contar histórias nasceu no com os outros e promovendo para que os
homem a partir do momento na qual ele sen- alunos percebam que a escola não é somen-
te a necessidade de compartilhar com outros te um local de obrigações e deveres.
alguma experiência sua, que pudesse ter sig-
nificado para todos. No momento da contação de histórias,
as crianças dão asas à imaginação, passam a
O povo de orgulhava de suas histórias, vivenciar os personagens da história, viven-
tradições e lendas, no entanto as expressões do nos lugares nos quais os contos abrem as
de suas culturas devem ser preservadas, po- portas da imaginação, as crianças incorpo-
rém aqui se concentra a relação entre lite- ram os personagens e da mesma forma as
ratura e oralidade. A literatura infantil, hoje competências para o seu desenvolvimento e
conhecida por clássica, encontra-se na Nove- interação, promovendo a socialização, os as-
lística Popular Medieval, entretanto suas ori- pectos cognitivos, psicomotores e afetivos. A
gens são da Índia. partir da literatura, o leitor começa a desen-
O livro infantil traz a função estéti- volver o seu lado lúdico, que contribui para a
co-formativa, a educação da sensibilidade, sua formação como indivíduo e proporciona
envolve e relaciona a beleza das imagens, um meio de acesso á uma parte da herança
tornando mais atrativa o envolvimento emo- cultural da humanidade.
cional da criança, há emoções poéticas que A criança por meio das interações vai
são de certa forma acessíveis a todas as construindo conhecimentos sobre o mundo
crianças, estando à poesia presente ou não no qual está inserido, com uma ação coletiva,
nos livros infantis. meios de aprendizagem de uns com os ou-
tros. No âmbito escolar, o aluno tem a opor-
tunidade de se expressar, de indagar, refle-
CONSIDERAÇÕES FINAIS tir sobre suas ações e questões pessoais ou
Além de ensinar a ler e escrever, se tor- sociais. O professor como mediador perante
nou função da escola demonstrar, por meio tais situações tem autonomia para proble-

43
matizar as aprendizagens, lançando aos edu- CADERMATORI, Lígia. O que é Literatu-
cando desafios e diagnosticando pontos de ra Infantil. São Paulo: Brasiliense, 1994.
partida para o trabalho pedagógico.
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de.
Tendo em vista que o aprendizado da Literatura Infantil: estudos. São Paulo: Lótus,
literatura e da escrita se dá por meio do uso 2003.
da linguagem e com a compreensão de seus
usos, no cotidiano escolar a literatura infantil CASTRO, Célia Romea. Linguagem oral
é encaminhada para as múltiplas linguagens, e escrita na Educação Infantil. In LLEIXA, Ar-
possibilitando assim ser usada para a com- ribas Teresa (Org.). Educação Infantil: desen-
preensão de ideias, resumindo de forma sim- volvimento, currículo e organização escolar.
ples e objetiva os processos experimentados 5 ed. Tradução de Fátima Murad. Porto Ale-
pelas crianças em seu contato com as histó- gre: Artmed, 2004.
rias. A aprendizagem da literatura se inicia COELHO, Nelly Novais. Literatura in-
antes da aprendizagem das letras, quando fantil: Teoria, análise, didática. São Paulo:
é contada uma história, ou seja, alguém lê a Moderna, 2002.
criança ouve com prazer, e se volta para os
enigmas chamados letras, quer decifrá-los, LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura
compreendê-los, porque eles são chaves que para a leitura do mundo. 6. ed. São Paulo: Áti-
abrem o mundo das maravilhas que encon- ca, 2002.
tramos nos livros. VASCONCELLOS, C. S. (2003). Para
A literatura infantil é essencial no co- onde vai o professor? Resgate do professor
tidiano escolar para se desenvolver as estru- como sujeito e transformação. São Paulo: Li-
turas linguísticas, é lendo, ouvindo, intera- bertad.
gindo com as histórias que as crianças vão ZILBERMAN, Regina. A literatura Infan-
adquirindo, tomando posse dos mistérios da til na Escola. São Paulo: Global, 2003.
língua materna, e assim facilitando a produ-
ção e a compreensão de outros tipos de tex- COELHO, Nelly Novaes. Panorama his-
to. No entanto, a forma de aprendizado não tórico da literatura infantil/juvenil: das ori-
pode ocorrer desvinculada do papel social gens indo europeias ao Brasil contemporâ-
do ato de escrever, porém o ato de ler e es- neo. 4. ed. São Paulo: Ática, 2001.
crever não depende somente do exercício de
decodificação e de habilidades, mas de dois --------------- Literatura Infantil: Teoria,
aspectos da língua: o funcionamento de sua Análise, Didática. 7. ed. São Paulo: Moderna,
estrutura e do modo como é usado em socie- 2002.
dade. MARTINS, Maria Helena. O que é leitu-
Torna-se funcional o aprendizado da ra. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
literatura e especialmente vai incorporando ZILBERMANN, Regina; LAJOLO, Mari-
à atividade social da criança, não se tornando sa. Literatura Infantil – História e Histórias.
mecânico e passando a ter um peso real no São Paulo: Melhoramentos, 1998.
desenvolvimento de quem aprende. No in-
tuito de proporcionar avanços significativos e VYGOTSKI, L, S. O desenvolvimento
efetivos no uso a linguagem, a escrita passa Psicológico na Infância. São Paulo:
a ser vista como uma das descobertas feitas
pela criança dentro dos processos de desen- Martins Fontes, 1999.
volvimento linguístico.

REFERÊNCIAS
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fantil: gostosuras e bobices. 2. ed. São Paulo:
Scipione, 1992.
______. O estranho mundo que se mos-
tra às crianças. 4. ed. São Paulo: Summus,
1983.
ABRAMOVICH, FANNY. Literatura In-
fantil Gostosuras e Bobices. São Paulo: Spi-
cione, 1997.
BAKHTIN, Mikhail V. Estética da criação
verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BETTELHEIM, B. A psicanálise dos con-
tos de fadas. 11ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Ter-
ra,1996

44
O TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL E O CURRÍCULO DA CIDADE
ANA ARAÚJO OLIVEIRA GONÇALVES

RESUMO INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo mostrar O Currículo da Cidade de São Pau-
que a ação docente é precursora de uma edu- lo para Educação Infantil é um documento
cação de qualidade e integral, visando uma elaborado democraticamente, feito a várias
formação plena do sujeito e a relação com o mãos pelos educadores da Secretaria Mu-
recém-elaborado Currículo da Cidade. Serão nicipal de Educação e especialistas, visando
abordados o caráter formador do Docente, evidenciar o trabalho realizado nas Unidades
planejamento pedagógico, o Currículo da Ci- Educacionais. O trabalho pedagógico efetiva-
dade, as intervenções pedagógicas e a edu- do pelo docente que planeja ações que vão
cação integral. Cabe ao docente apresentar estimular o ímpeto criador da criança. O Cur-
às famílias/responsáveis as observações so- rículo também enfatiza o quanto o profissio-
bre o desenvolvimento e aprendizagem dos nal que atua na infância tem que se especia-
bebês e crianças que são atendidos, além de lizar para exercer a função, pois a mesma é
um retrato das propostas de atividades reali- vai influenciar significativamente a formação
zadas nas Unidade Escolares. dessa criança em questão de valores e co-
nhecimento.
Durante o ano letivo, as atividades
apresentadas nas unidades educacionais ba- O professor atuante nessa faixa etária
seadas no Projeto Político Pedagógico e nos tem que ter claramente em seu planejamen-
documentos que regem a Educação Infantil to de trabalho uma concepção de criança su-
como por exemplo, o Currículo da Cidade de jeita de direitos. Direito de se movimentar, de
São Paulo, estão relacionadas a possibilitar se comunicar, de se expressar por diversas
aprendizagens significativas, visando o de- linguagens, direito de participar e direito de
senvolvimento integral dos bebês, dando voz ser ouvida.
ao protagonismo infantil, suas narrativas e
produção de cultura através das interações, O educador é um observador das ro-
brincadeiras, respeito e contato com a natu- tinas, comportamentos e interações dos
reza, o cuidado de si, do outro, e buscando a pequenos, já que observando ele fazendo
autonomia da criança e bebês. inferências significativas para que a criança
avance em sua descoberta de mundo e ve-
O trabalho Docente terá como base nha produzir culturas e conhecimento.
os documentos curriculares vigentes. Utili-
zando-se como base os documentos forne- É na instituição escolar que devemos
cidos pela Secretaria Municipal de Educação propagar a formação e permitir aos educan-
da Cidade de São Paulo e demais órgãos dos o contato com outras culturas e histórias
que regem a educação no Brasil, tais como que formam nosso mundo.
a BNCC, PPP das Unidades Educacionais e o Esse artigo vem apresentar a ação do-
Currículo da Cidade de Educação Infantil. Es- cente intencional e planejada que se aplica
ses documentos norteiam nossos trabalhos, no cotidiano escolar.
garantindo assim, as nossas crianças, o direi-
to a aprendizagem. Respeitando a individua-
lidade e especificidade de cada criança, seus 1. DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
limites, potencialidades e suas vivências, va-
lorizando a diversidade cultural na qual está A docência na educação infantil du-
inserida. rante algum tempo esteve relacionada ao
Palavras-chave: docente; formação; sentimento materno, tendo confundido o
currículo; ação pedagógica, planejamento. verdadeiro papel do professor dessa etapa
educativa. Contudo, após muitos estudos de-
dicados a prática docente nessa faixa etária,
reformulou-se o papel do educador da infân-
ABSTRACT cia.
This article aims to show that the te- A educação infantil, etapa primeira da
aching action is a precursor of a quality and educação básica tem seu pilar embasado na
integral education, aiming at a full formation ação dialógica do cuidar e educar. Para tal, o
of the subject and the relationship with the professor deve entender que a criança é um
newly elaborated City Curriculum. The for- ser pleno de direitos garantidos pela Carta
mative character of the Teacher, pedagogical Magna e como tal é um sujeito ativo cultural-
planning, the City Curriculum, pedagogical mente produtor de seus conhecimentos. Ain-
interventions and integral education will be da, deve-se haver uma concepção de infância
addressed. e criança que deem conta da realidade.
Keywords: Teacher; formation; curri- Assim, a concepção de criança e infân-
culum; pedagogical action, planning. cia que se adequa a realidade atual e social

45
é aquela que vê a criança como sujeita de di- boração de planos e organização dos tempos
reitos e com um ser submetido ao adulto his- e espaços em que convivem.
toricamente e culturalmente. Sendo a con-
cepção de infância e criança algo construído É importante destacar que o planeja-
através do ambiente cultural e social em que mento para educação infantil tem que con-
a mesma está inserida. siderar a organização e a exploração dos
espaços, as rotinas, a alimentação ofereci-
Afirmamos à importância de se consi- da, o brincar, a higienização e o tempo para
derar as crianças e bebês seres sociais, que: descanso. Não esquecendo que a criança
está em movimento o tempo todo e que ela
“distribuem-se pelos diversos modos aprende com todos os sentidos, de diversas
de estratificação social: maneiras e a seu modo. A observação diária
a classe social: a etnia a que perten- deste aspectos irá permitir um planejamento
cem; a raça; o gênero; e a região do globo condizente com a realidade da criança e suas
onde vivem. Os diferentes espaços estrutu- necessidades, que vai promover experiências
rais diferenciam profundamente as crianças.” de ampliação sensorial, corporal, cognitiva,
(Sarmento, 2005, p370). linguística, ética, estética, motora, sociocul-
tural mediadas pelo educador e que possibi-
A criança que nasce no sertão Nordes- litem a construção da autonomia, da saúde,
tino não será a mesma que nasce no Sul do da auto organização e do bem – estar.
país e nem terá a mesma infância. O meio em
a criança nasce influência sua constituição. A O educador da infância é um profissio-
condição econômica da família, o ambiente nal que necessita ter clareza dos objetivos e
social, sua raça, a religião da família, a região do alcance da educação infantil; conhecimen-
em que reside e a cultura possuem papel in- tos sobre aprendizagem e desenvolvimento
tegral na formação dessa criança. A criança é infantil; formação específica que possibilite
na verdade um ser plural. respeitar a individualidade e as necessidades
da criança, bem como organizar a ação didá-
O indivíduo é singular e se assemelha tica adequadamente a cada etapa, sem per-
a centenas de outros indivíduos vários aspec- der o processo brincante e lúdico característi-
tos e se difere de tantos outros por outras co da criança. Se atentando aos documentos
variedades de aspectos, não há um ser igual institucionais e ao currículo escolar.
a outro, cada indivíduo é indissociavelmente
o produto social de uma infinidade de experi- Planejar para a educação infantil re-
ências socializadoras e um ser relativamente quer uma consciência pedagógica que im-
singular enquanto mistura de estilos que tem plica compreender a relação do adulto com
poucas chances de encontrar o clone perfei- a criança, percebendo–se, enquanto educa-
to no espaço social. (Lahire, 2006, p.166.). dor, um observador e articulador de ações
que possibilitem interações sociais, experi-
Em se tratando de singularidade e con- ências e vivências significativas à construção
siderando os aspectos de aprendizagem, que de mundo e de sociedade do bebê e crianças
cada criança tem seu próprio tempo para se pequenas. O professor é o ser pensante da
desenvolver, o trabalho elaborado para essa relação educadora, ele tem o direito de ser
faixa etária tem como ações fundamentais a crítico e reflexivo.
observação e a escuta da criança no ambiente
escolar. Essas ações vão propiciar ao profes- A ação do planejar evidência a rela-
sor uma reflexão de sua prática pedagógica ção adulto – criança que perpassa pela afe-
e compreender as demandas que a crianças tividade e o aspecto formativo do professor,
exigem em cada etapa de desenvolvimento, permitindo um ato pedagógico intencional,
realizando um planejamento pedagógico vi- reiterando a necessidade de assumir, na prá-
sando uma construção de conhecimento e tica, posições e posturas promotoras de con-
desenvolvimento heurística, entendo o ser fiança e de interlocução entre os sujeitos da
integral em formação. relação.
Nesse sentido o professor para atu-
ar com os bebês e crianças pequenas deve 2. O CURRÍCULO DA CIDADE: UMA
construir um planejamento claro e objetivo NOVA PERPESCTIVA PARA EDUCAÇÃO INFAN-
considerando a integralidade dos pequenos TIL
e suas etapas do desenvolvimento, além de
ouvir atentamente as demandas dos peque- Para consolidar o trabalho educativo
nos. O planejamento contribui para a evolu- realizado com as crianças pequenas, visando
ção social da criança e busca utilizar tempos aprimorar a prática pedagógica e buscando
e espaços adequadamente contemplando uma educação qualitativa, transformadora
a singularidade e particularidade de cada e integral, a Prefeitura do Município de São
criança, assim como a diversidade existente Paulo em um trabalho conjunto com as uni-
no ambiente escolar. Neste contexto Barbo- dades educacionais elaborou um documento
sa (2006) aponta a importância da atuação orientador: O Currículo da Cidade. Esse docu-
dos/as professores/as na elaboração de pro- mento não um tem caráter impositor e nem
postas que considerem as crianças como su- receituário para desenvolver as atividades
jeito de direitos capazes de participar na ela- infantis. Ele é antes de tudo um documento

46
democrático construído por diversas mãos. tendo importante papel na constituição sub-
A Secretaria Municipal de Educação realizou jetiva de cada sujeito e possibilitando a par-
diversas discussões necessárias com educa- ticipação nos grupos sociais. É pela educação
dores da Rede Municipal de Educação para que uma sociedade assegura a coesão e a
construir o Currículo. equidade social, a solidariedade e, num mo-
vimento complementar, o desenvolvimento
Esse documento tem com pilar a nova pessoal de todos e de cada um.” (SÃO PAULO,
Base Curricular Comum Nacional e integra 2018, p. 20).
outros documentos norteadores da própria
rede municipal educacional para educação Relembra todo o percurso da educa-
Infantil, o Currículo Integrador da Infância ção infantil e os documentos oficiais que a
Paulistana e os Indicadores de Qualidade da regem como As Diretrizes Curriculares, O es-
Educação Infantil. Ele “busca integrar as ex- tatuto da Criança e Adolescente, O Currículo
periências, práticas e culturas acerca dos be- Integrador da Infância Paulistana e os Parâ-
bês e crianças já existentes na história desta metros da Qualidade da Educação Infantil,
Rede.” (Schneider, 20018). que estão presentes em todo teor do referi-
do documento.
O currículo da cidade é dividido em 5
capítulos como segue: O capítulo também fala os territórios
de aprendizagem enfatizando que cada can-
1. A escola como espaço social da to da Cidade de São Paulo é um ambiente
esfera pública; educador e esse ambiente pode ser trans-
2. Bebês e crianças na cidade de formado e modificado segundo os objetivos
São Paulo: as interações e brincadeiras como pedagógicos propostos por professores que
princípios para a ação pedagógica nas Unida- irão promover interação social, ação social,
des Educacionais; ato pedagógico, participação e escuta ativa
das crianças. Exemplificado na cena abaixo:
3. A Reinvenção da ação docente
na Educação Infantil; O capítulo 1 ainda fala da importân-
cia da Educação Integral e como a definição
4. Articulando a Educação Infantil e de integralidade amplia as possibilidades
os Anos Iniciais do Ensino Fundamental; de aprendizagem das crianças, consideran-
5. A Gestão Democrática e a Imple- do suas especificidades e particularidades e
mentação do Currículo. também sua formação global.
Cada capítulo vem explicitando em “A Educação Integral como princípio
fundamentos teóricos o seu tema e articu- compreende o compromisso com as práti-
lando com as experiências já realizadas na cas integradas de formação e o desenvolvi-
Rede Municipal de Educação ,por meio de ce- mento humano global, em suas dimensões
nas introduzidas no texto do Currículo, essas intelectual, física, afetiva, social, ética, moral
cena são na verdade relatos de práticas e ex- e simbólica, conforme o Estatuto da Criança
periências educacionais. Para melhor enten- e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), as Di-
dimento resumiremos cada capítulo de for- retrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
ma sucinta e apresentaremos uma cena para ção Infantil – DCNEI (BRASIL, 2010a) e a Base
ilustrar a aplicação do Currículo da Cidade. Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL,
2017). Nessa perspectiva, a Educação Integral
considera os bebês e as crianças na centra-
lidade dos processos educativos, problema-
1. Capítulo 1 - A escola como espa- tizando o currículo e contemplando a am-
ço social da esfera pública; pliação e a qualificação de tempos, espaços,
Neste capítulo o Currículo da Cidade interações, intencionalidade docente e mate-
afirma que a educação é um processo social rialidades. (SÃO PAULO, 2018, p. 34)”.
e que os indivíduos educam e são educados A integralidade da formação do sujeito
nas relações que estabelecem com outro e faz o educador da infância pensar ações que
com o espaço em que convivem por meio das irão proporcionar um pequeno aprendizado
interações, sejam esses ambientes a família, na faixa etária em que ela está sendo realiza-
o trabalho, o espaço escolar entre tantos ou- da e que fará toda a diferenciação do apren-
tros espaços que educam. dizado futuro, pois a educação integral mobi-
“A educação é um processo social. As liza saberes que se interlaçam na formação
pessoas se educam e são educadas cotidia- do sujeito.
namente nas suas relações interpessoais, Ainda aqui se fala da Educação Inclusi-
nas ações de convivência, no trabalho, no va numa perspectiva de igualdade e equida-
lazer, nos diálogos produzidos nos espaços de, onde a Educação ultrapassa paradigmas,
públicos e privados e também nas interações derruba preconceitos e cria pontes indestru-
com as informações a partir de diferentes tíveis de companheirismo, amor, dedicação,
tecnologias. A educação é um bem público aprendizado e cuidado. E a Educação para as
e um valor comum a ser compartilhado por Relações Étnico-Raciais, na perspectiva de re-
todos. Ela possibilita constituir uma vida co- construção identitárias e de resgate cultural
mum nos territórios. É um direito de todos, e histórico de nossas raízes.

47
Neste capítulo ainda se fala da preser- “Também para as Diretrizes Curricula-
vação do meio ambiente, Educação especial res Nacionais para a Educação Infantil (BRA-
e Educação para as relações de Gênero, sem- SIL, 2010a), as crianças são sujeitos históricos
pre trabalhando a diversidade, a pluralidade e de direitos, que interagem, brincam, imagi-
do sujeito e sua integralidade. nam, fantasiam, desejam, aprendem, obser-
vam, experimentam, narram, questionam e
constroem sentidos sobre a natureza e a so-
Cena 1 ciedade. E fazem isso a partir de suas ações
com os objetos, na relação com os outros,
Conseguimos junto às crianças e suas quando se relacionam com a natureza ao
famílias/responsáveis tornar a viela atrás da ar livre, nos momentos de cuidado, quando
escola — uma passagem escura, com en- convivem com o patrimônio cultural — com
tulhos e, por isso, perigosa — um lugar re- os hábitos e costumes, com as linguagens,
vitalizado. É claro que nenhum trabalho de com a língua materna, com os conhecimen-
qualidade social se faz sem constantes acom- tos acumulados, enfim, com a ciência e a
panhamentos; não é apenas uma ação que, arte.” (SÃO PAULO, 2018, pg. 91).
depois de realizada, possa ser esquecida. É
por isso que o projeto teve continuidade com Este capítulo ainda faz menções a da-
as brincadeiras que podem acontecer além tas comemorativas, a escuta e a observação
da escola; nesse sentido, visitamos com as da criança. Organização do espaço, acolhi-
crianças os espaços comerciais do bairro, mento dos bebês e criança e protagonismo
suas casas e, por fim, uma praça pública, que infantil.
é um ótimo lugar para brincar.
As crianças vão até lá fazendo muitas Cena 2
observações que nós, enquanto adultos, por
vezes não percebemos nem paramos para Os bebês já se acostumaram a estar
notar. Elas comentam o quanto as pinturas no CEI. Têm confiança nos adultos que os
das casas são interessantes e revelam sobre acolhem, cuidam e educam. Já se despedem
as pessoas que ali moram, as próprias cons- dos familiares e ficam bem na UE. Enquan-
truções, a quantidade de lixo nas ruas, etc. O to estão explorando os objetos em atividade
passeio deixa de ser somente um momento autônoma e descobrindo o que a professora
de lazer e diversão com os colegas: torna-se colocou ao seu redor, é hora de começar a
também um momento de estudo do meio, alimentação. Ela se aproxima de um bebê e o
uma oportunidade de aprendizagem. Per- avisa que vai tirá-lo de sua atividade e levá-lo
cebemos que era preciso cuidar da praça — dali por um tempo curto. O bebê percebe o
esse importante espaço de brincadeira — e tom de voz e está se acostumando ao fato de
torná-la nossa. Iniciou-se então o processo que, quando a professora interrompe a sua
de revitalização da praça. Preparamos com atividade, é o momento da troca, da alimen-
as crianças um evento para limpeza, de forma tação ou do sono. Enquanto prepara o bebê
que as famílias/responsáveis compreendes- para a alimentação, a professora fala com
sem que ali é um espaço possível de vivência ele e o convida a participar. Um bebê que já
e experiências do brincar. Tivemos, por fim, engatinha se aproxima deles e observa. Ela
a reinauguração da praça e seguimos todas entende essa atitude do segundo bebê como
as semanas indo até lá, levando materiais de uma iniciativa de comunicação e conversa
largo alcance, como papelão, e brinquedos com ele também: “Você também está com
tradicionais, como corda, pipa, bolinha de fome, João? Em seguida vou alimentar você.
gude etc. Lá as crianças e os adultos resga- Agora estou alimentando o seu amigo, mas
tam e vivem as suas infâncias, aprendem uns logo chegará a sua vez”.
com os outros e ressignificam o que é viver
na periferia, quais as possibilidades do terri-
tório e o que podemos fazer ou a quem deve- Cena 3
mos cobrar para que ele se torne nosso.
A professora das crianças de cinco
anos percebeu que Henri estava sendo bar-
2.1. 2. Capítulo 2 - Bebês e crianças na rado na brincadeira de casinha pelas duas
cidade de São Paulo: as interações e brinca- meninas que brincavam. Ele pediu ajuda à
deiras como princípios para a ação pedagógi- professora, e ela foi conversar com as me-
ca nas Unidades Educacionais; ninas. Elas argumentaram que brincar de
casinha era coisa de meninas. A professora
O capítulo acima faz referência às ati- perguntou se na casa delas não tinha pai, avô
vidades representativas que permitem as ou irmão, e a resposta foi sim. Ela perguntou,
interações, pois é através da mesma que a então, por que Henri não poderia assumir
criança descobre o mundo. A criança peque- um desses papéis na brincadeira. As meninas
na interage com o grupo em que está inse- se entreolharam e decidiram aceitar Henri
rida, com o ambiente, com o adulto, com o na brincadeira no papel de pai. Poucos mi-
objeto e com a família. É por meio da brin- nutos depois, no entanto, as meninas vieram
cadeira que a criança vai interagir e produzir reclamar que não queriam mais brincar com
culturas e seu próprio conhecimento. Henri, pois ele tinha lavado a louça, e isso era

48
coisa de menina, e não de menino. (Na brin- nova etapa de ensino aprendizagem que é
cadeira, havia uma bacia com água, sabão, a Educação Fundamental. Quais as expecta-
pano de prato e objetos para serem lavados, tivas e os medos das crianças em relação a
e essa era a atividade mais interessante da essa transição?
brincadeira! Por isso, as meninas buscaram
um argumento que consideraram forte para “As transições vividas nas UEs são mo-
afastar Henri). Na hora da roda, a professo- mentos institucionais que acompanham os
ra trouxe essa questão para ser discutida no processos de crescimento na vida das crian-
grupo e pediu a opinião da turma. Uma das ças. Cada momento de transição precisa ser
crianças argumentou que o seu pai lavava compreendido em sua especificidade e deve
louça em casa e que, portanto, isso não era ser orientado no sentido de oferecer apoio
coisa de menina. Todos concordaram. Na se- para as crianças, suas famílias/responsáveis
mana seguinte, em tom de brincadeira, um e suas (seus) educadoras (es).... A passagem
pai veio “reclamar”, pois a notícia que havia de uma instituição para outra oferece a opor-
chegado pela filha era de que ele era o “úni- tunidade de se reconfigurar socialmente e
co pai que não lavava louça em casa” e, com de ter novos encontros com novas pessoas,
essa “bronca” da filha, tinha passado a fazer além de uma multiplicidade de experiências
isso. novas. Poderíamos pensar, como afirma Ri-
naldi (2012), em “uma continuidade de pen-
samentos e ações”.
2.1.3. Capítulo 3 - A Reinvenção da Como torná-la menos sofrida para
ação docente na Educação Infantil crianças e permitir uma continuidade das
aprendizagens e não esquecer que esse ser
Este capítulo explicita a ação docente humano ainda é uma criança, protagonista
e o fazer pedagógico com as crianças peque- de seu processo educativo?
nas. A importância de ser refletir sobre a prá-
tica pedagógica evidenciando o protagonis- No documento Diretrizes Curriculares
mo infantil, a planejar e a replanejar as ações Nacionais para Educação Infantil (DCNEI) e
conforme as observações e a escuta ativa Diretrizes Curriculares para o Ensino Funda-
das crianças, tema já comentado no capítulo mental, encontra –s e parâmetros para a pas-
1 deste artigo. sagem do campo de aprendizagem. Confor-
me: ...é dado um importante alerta para que,
na transição para o EF, a proposta pedagógi-
Cena 31 ca preveja formas de garantir a continuidade
no processo de aprendizagem e no desenvol-
Quando minha turma de quatro anos vimento das crianças, respeitando as especi-
brincava no parque, um figo caiu na cabeça ficidades etárias. (BRASIL, 2010a).
de uma criança. Curiosas, logo pegaram o
fruto e correram em minha direção, fazendo Esse capítulo é de suma importân-
várias perguntas sobre “aquela nova desco- cia para efetivar uma formação integral do
berta”. A minha primeira atitude foi reunir a aluno, porque ao se pensar uma maneira
turma e recolher do chão alguns figos caídos. de que a criança transite de uma modalida-
Abrimos alguns, a maioria verde e outros co- de de ensino para outra, considerando suas
midos pelos passarinhos. Nesse dia, o par- aprendizagens, permitindo continuidade e
que passou a ser a segunda opção da turma, compreendendo que a criança vai crescendo
que queria saber tudo sobre aquele fruto. e reformulando seus conhecimentos para se
A partir das perguntas da turma, fomos em tornar um adulto cidadão, é o maior exem-
busca de informações e pesquisamos junto plo de olhar heurístico para essa criança que
com as crianças no celular e no computador está na instituição escolar desde a mais tenra
da escola. A descoberta mais surpreendente idade.
para nós foi o fato de o figo ser uma flor, e
não o fruto da planta. Durante a pesquisa, as-
sistimos a vídeos, degustamos o figo, usamos Cena 39
a folha da árvore para fazer chá. Todas as
vezes que voltávamos ao parque, notava as Cena 3
crianças observando, recolhendo e dando ex- Na rua temos uma EMEF, um CEI e uma
plicações a respeito dessa nova descoberta. EMEI. Não é somente o muro que as separa:
Depois de termos acolhido a curiosidade das para além da barreira física, cada uma delas
crianças sobre o figo, as crianças começaram desenvolve um trabalho organizado e que
a falar mais sobre assuntos que as interes- contempla suas especificidades de aprendi-
savam, ficaram mais atentas, observadoras e zagens individualmente. A proposta do Currí-
questionadoras. culo Integrador de consideração às infâncias
é potente em um território como esse e foi
desenvolvida por meio da ação supervisora
2.1.4. Articulando a Educação Infantil e em reuniões setoriais. Assim, as UEs se ar-
os Anos Iniciais do Ensino Fundamental ticularam propondo reuniões pedagógicas,
JEIFs, visitações e participação de projetos
O capítulo 4 traz ações que busca pro- coletivos. Por exemplo, semanalmente a tur-
mover a passagem na educação infantil para

49
ma do projeto de Academia Estudantil de Le- Cena 5
tras da EMEF realiza contação de histórias na
EMEI e no CEI; as crianças do Ciclo de Alfa- Conselho de Crianças passou a ser o
betização brincam no parque com as do CEI; nosso projeto permanente. Hoje, antes das
entre outras ricas atividades. reuniões, as crianças se reúnem com as suas
turmas e discutem a pauta que será aborda-
da. Juntamente com a professora, anotam as
decisões em forma de desenho ou em forma
2.1.5. Capítulo 5 - A Gestão Democráti- de lista de tópicos, para levarem à assem-
ca e a Implementação do Currículo bleia com os outros representantes. Na reu-
Este capítulo trata da gestão demo- nião de Conselho, os conselheiros discutem e
crática e Projeto Político Pedagógico (PPP) decidem quais as melhores propostas, além
expressando o compromisso deste docu- de quais as estratégias para alcançá-las, co-
mento com a democracia. Pensando em uma municando a decisão tomada às suas respec-
Educação feita para todos e com todos. Uma tivas turmas.
das ações realizadas nesse sentido foi à pró-
pria formulação deste Currículo por meio da
participação daqueles que realmente fazem Cena 6
a educação, oportunizando diálogos entre
todos os integrantes da Rede Municipal de Após o processo de autoavaliação dos
Educação. Indicadores em sua dimensão 1, foi levan-
tada a questão de dar maior visibilidade ao
Outro ponto do capítulo citado é o PPP. No momento de traçarmos o Plano de
Projeto Político Pedagógico, documento for- Ação, foi sugerida a confecção de um folder,
mulado pela unidade escolar que retrata a para ser enviado a todas as famílias/ respon-
escola, a comunidade a qual está inserida sáveis e à comunidade escolar. Ele foi con-
e suas necessidades. É um documento vivo feccionado no próprio CEI e explicitou o que
que deve ser construído com todos os inte- é um PPP, suas justificativas, seus objetivos
grantes da comunidade escolar (alunos, pais, etc. Além disso, para deixar “um gostinho de
professores, coordenadores pedagógicos, querer saber mais”, o folder convidava as fa-
equipe de apoio, gestores e outros) a fim de mílias/ responsáveis a conhecerem o docu-
articular, de maneira reflexiva ações pedagó- mento na íntegra. Para tanto, uma cópia do
gicas, autoavaliação, problemas estruturais e PPP da Unidade passou a ser disponibilizada
de aprendizagem. para consulta e empréstimo a todos (familia-
res, professora(es), funcionárias(os).

Cena 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante todo o nosso percurso como
Unidade Educacional, sempre buscamos am- Formar um sujeito não é uma tarefa
pliar os espaços de participação e de diálogo fácil, mas não é impossível. Ser mediador da
entre os diferentes sujeitos que a compõem. aprendizagem e proporcionar um conheci-
Contudo, percebíamos que algumas ações mento através da mesma é um pressuposto
com as crianças não as contemplavam da do educador. Ainda é na instituição escolar
maneira como gostaríamos, pois a sua par- que a ações pedagógicas se propagam e pro-
ticipação acontecia esporadicamente, em si- movem uma formação integral para o exercí-
tuações em que fazíamos votações, seja para cio da cidadania.
a aquisição de materiais, a organização das
festividades ou simulações de pleitos eleito- Quando esse sujeito é um bebê ou
rais. Isso nos provocou a pensar sobre como criança o educador tem que desenvolver um
escutar as crianças, considerar as suas vozes trabalho a luz de seu conhecimento sobre
e propiciar o exercício da democracia e da desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e
participação. Foi assim que, em 2016, demos social e planejar ações considerando os dese-
início ao Conselho de Crianças, inspirado nas jos dessas crianças, mesmo que sua comuni-
práticas democráticas de outras Unidades. cação não esteja ainda no nível oral.
Cada turma elegia três representantes, sen- A criança vai crescer da mesma manei-
do um escolhido pela professora e outros ra estando em casa ou na instituição escolar
dois pelas crianças, respeitando a represen- no aspecto biológico, o que vai diferenciar
tatividade de gênero. A primeira proposta esse crescimento são as experiências intera-
era de que fosse quinzenal; porém, depois de cionais que a escola irá proporcionar a crian-
avaliarmos a nossa rotina, essa regularidade ça, que em casa ela não terá o mesmo acesso.
passou a ser mensal. O objetivo do Conselho
é ser um espaço em que as crianças possam A qualidade da Educação Infantil per-
participar efetivamente das decisões e do passa pela qualidade de seus profissionais. O
planejamento das ações que acontecem na Currículo da Cidade de São Paulo para Educa-
Unidade e, para além disso, exercitar o seu ção Infantil evidencia essas práticas qualita-
papel de cidadania, percebendo-se como tivas e significativas na formação integral da
pertencentes e responsáveis pelas decisões criança ao descrever por meio das cenas os
tomadas coletivamente. relatos das vivências dentro da unidade edu-

50
cacional.
O Currículo da Cidade de São Paulo
para Educação Infantil é um documento re-
cém-formulado, ainda engatinhamos ao des-
vendá-lo. Mas aos poucos se percebe que
esse documento não nada mais que conso-
lidação das práticas pedagógicas realizadas
na Rede Municipal de Educação Infantil com
qualidade e respeito pelo ser mais importan-
te para o surgimento de uma sociedade justa
e igualitária: a criança.

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-histórico-dialética: contribuições para o re-
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CONSTITUEM Disponível em:
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SÃO PAULO. Currículo Integrador da
Infância Paulistana. São Paulo. Secretaria
Municipal da Educação, 2015.
SÃO PAULO. Currículo da Cidade para
Educação Infantil. São Paulo. Secretaria Mu-
nicipal da Educação, 2018.

51
A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CRÍTICA EM ESCOLAS DEMOCRÁTICAS
ANA LUCIA PIMENTEL DO NASCIMENTO

Resumo em educação matemática que se distingam


da educação matemática tradicional e este-
Este artigo tem o objetivo de trazer ex- jam mais alinhadas à Educação Matemática
periências em Educação Matemática que se Crítica, com foco no desenvolvimento da de-
distinguem da tradicional e estejam mais ali- mocracia, baseado nas definições apresen-
nhadas à tendência de Educação Matemática tadas por ele. A pesquisa tem os seguintes
Crítica, a partir da visão apresentada por Ole objetivos específicos: (1) analisar como se dá
Skovsmose. Para isso, trazemos alguns dos o ensino de matemática nas escolas demo-
princípios da Educação Matemática Crítica e cráticas; (2) refletir sobre as possibilidades e
apresentamos a concepção de escolas demo- desafios do ensino de matemática, a partir
cráticas, que serão o foco de nossa análise, da tendência de Educação Matemática Crítica
justamente por se distinguirem das tradicio- nestas escolas; (3) compartilhar práticas de
nais e estarem alinhadas aos princípios de- educação matemática que se distingam das
mocráticos. Para conhecer o trabalho desen- tradicionais e tenham como foco o desenvol-
volvido pelos educadores que trabalharam vimento da democracia.
com o ensino de matemática nestas escolas,
foram aplicados questionários semiestrutu- É importante salientar que muitas
rados com alguns destes profissionais e ana- contradições podem ser percebidas ao ana-
lisamos suas respostas a partir da bibliogra- lisarmos as práticas escolhidas, por este mo-
fia pesquisada sobre a Educação Matemática tivo, buscaremos analisar essas experiências,
Crítica. Esperamos que este artigo possibilite pensando em suas potencialidades e nos de-
inspirar outras formas de aprender e ensinar safios decorrentes das mesmas.
matemática, tendo em vista seu potencial
para o desenvolvimento da democracia. Para isso, iniciamos o artigo trazendo
alguns dos princípios da Educação Matemáti-
Palavras-chave: Educação Matemática; ca Crítica. A seguir iremos apresentar a con-
Educação Matemática Crítica; escolas demo- cepção de escolas democráticas que serão
cráticas; democracia; protagonismo. o foco de nossa análise, pois optamos por
entrevistar professores de matemática (licen-
ciados ou não em matemática) que tiveram
Abstract experiências em escolas com concepções de
ensino distintas das tradicionais, envolven-
The goal of this article is to bring ma- do princípios democráticos, por entender
thematical experiences in education that dif- que estes espaços possibilitam uma maior
fer from the traditional ones and are aligned liberdade do professor e uma busca pelo de-
to Critical Mathematics Education, through senvolvimento da democracia. Além disso,
the lens of Ole Skovsmose. This is why some muitas destas escolas não têm um currículo
of the principles of Critical Mathematics Edu- completamente pré-estabelecido, partindo
cation are brought to this article together da construção do currículo de forma con-
with main conceptions of democratic schools junta com os interesses e necessidades dos
which are targeted here, as they distinguish grupos de estudantes, o que compreende a
from the traditional ones and are aligned to visão apresentada pela Educação Matemáti-
democratic principles. To get to know the ca Crítica, como vemos no artigo da Jussara
work developed by the Math teachers who Araújo:
work at those schools, semi structured ques-
tionnaires were used, and the replies were “A proximidade com essa perspectiva
analyzed according to the biography that gui- teórica também pode ser percebida quando
des this research. The expectation is that this afirmo que a situação ou problema da reali-
article inspires new ways of learning and te- dade são escolhidos pelos estudantes. Levar
aching Math, having in mind its potential for em conta as preocupações e interesses des-
democracy development. sas pessoas, ouvi-los, problematizar e anali-
sar em que medida alguma matemática pode
Keywords: Mathematics Education; auxiliar no tratamento dessas preocupações.
Critical Mathematics Education; democratic (ARAÚJO, p. 64, 2009).
schools; democracy; protagonism.
Para conhecer o trabalho desenvolvi-
do pelos educadores que trabalharam com
PARA COMEÇO DE CONVERSA o ensino de matemática nestas escolas, apli-
camos questionários semiestruturados com
Partindo de reflexões iniciais sobre os alguns destes profissionais. A construção do
principais aspectos da tendência de Educa- questionário e a análise das respostas está
ção Matemática Crítica, tendo em vista, prin- alicerçada também em alguns dos cenários
cipalmente, a visão do pesquisador Ole Sko- críticos apresentados por Skovsmose e Va-
vsmose, este artigo busca trazer experiências lero (2002) no artigo “Quebrando a neutrali-
dade política: o compromisso crítico entre a

52
educação matemática e a democracia”, onde Ole Skovsmose, professor universitá-
a relação entre educação matemática e de- rio na Dinamarca, é um dos precursores do
mocracia pode ser concebida mais facilmen- Movimento de Educação Matemática Crítica
te. São eles: matemática interdisciplinar; inte- (EMC) no mundo. Suas ideias são conhecidas
ração na sala de no Brasil desde a década de 1980, mas as pri-
meiras publicações em português começa-
aula e organização da matemática na ram nos anos 2000.
escola. Eles serão melhor explicitados ao lon-
go do artigo, na análise dos dados a partir Em uma entrevista realizada com ele
dos questionários semiestruturados. em 2012, para a Revista Paranaense de
Espera-se que o artigo possibilite ins- Educação Matemática (RPEM), ele co-
pirar outras formas de aprender e ensinar meça falando sobre a formulação inicial da
matemática, tendo em vista a não neutralida- Educação Crítica, na década de 1970. O con-
de da mesma e a potencialidade para o de- texto da época envolvia protestos contra a
senvolvimento da democracia. Guerra do Vietnã e contra o uso de energia
atômica, o desenvolvimento do feminismo,
de uma nova esquerda, dos movimentos
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CRÍTICA EM antirracistas, do movimento estudantil e da
ESCOLAS DEMOCRÁTICAS nova esquerda após a Primavera de Praga.
Porém, a Educação Crítica não se referia à
Inicialmente fizemos um levantamen- educação matemática, considerando está
to bibliográfico de artigos sobre Educação praticamente uma antítese à Educação Críti-
Matemática Crítica, principalmente do educa- ca:
dor e pesquisador Ole Skovsmose e realiza-
mos algumas leituras sobre a temática. Após Em Conhecimento e Interesses Huma-
as leituras, selecionamos o pilar do desenvol- nos, publicado pela primeira vez em alemão
vimento da democracia dentro dessa verten- em 1968, Habermas destacou que os interes-
te, para embasar o artigo. Feita essa opção ses humanos constituem o conhecimento.
decidimos realizar a pesquisa com educado- E, segundo ele, existem diferentes tipos de
res e educadoras de escolas democráticas, interesses que constituem conhecimento:
pelos motivos explicitados na introdução. as ciências naturais, incluindo a matemática,
Fizemos algumas leituras sobre a concepção são constituídas por um interesse técnico; o
de escolas democráticas, nos baseando prin- interesse que constitui o conhecimento das
cipalmente no livro: “Educação democrática: humanidades é a compreensão; enquanto o
o começo de uma história”, de Yaacov Hecht interesse que constitui o conhecimento das
(2016), um dos pioneiros da escola democrá- ciências sociais é a emancipação. (CEOLIM e
tica no mundo, e no Trabalho de Pós-douto- HERMANN, p. 11, 2012)
rado de Helena Singer, que dedicou seus es- Como a Matemática era vista dessa
tudos à educação democrática no Brasil. forma pela Educação Crítica, seria necessário
Após esse trabalho teórico, para es- que ela estabelecesse suas próprias estrutu-
cutar os professores e professoras que ras teóricas.
trabalham ou trabalharam em escolas de- Na mesma época, Paulo Freire tam-
mocráticas com o ensino de matemática, bém estava sendo reconhecido internacio-
organizamos um questionário semiestrutu- nalmente e seu livro Pedagogia do oprimido
rado e realizamos um pré-teste com dois foi traduzido para o dinamarquês, sendo esta
professores de matemática que não partici- uma de suas inspirações para pensar na Edu-
param da pesquisa posteriormente. Após a cação Matemática Crítica. A educação bancá-
pré-testagem, enviamos o questionário para ria, conceito de
dezenove educadores e recebemos de volta
onze questionários preenchidos. Os profes- Paulo Freire onde o “educador é o su-
sores que participaram desta pesquisa tra- jeito que conduz os educandos à memoriza-
balharam em escolas democráticas públicas ção mecânica do conteúdo narrado. (...) para
ou privadas participando de aulas, projetos a qual a educação é o ato de depositar, de
ou grupos de estudo que envolveram conte- transferir, de transmitir valores e conheci-
údos de matemática. As respostas foram ta- mentos” (FREIRE, p. 34, 1987) ainda é muito
buladas e serão analisadas na terceira parte praticada hoje em dia. Isso acontece especial-
do artigo. mente quando pensamos na educação mate-
mática, que é geralmente ensinada de forma
Por último, trazemos as considerações mecânica, através de repetição de exercícios
finais, levantando os principais aspectos que e de memorização. Como disse Skovsmose
chamaram nossa atenção ao longo do artigo em uma entrevista:
e apontando facilidades e desafios de traba-
lhar com a tendência de Educação Matemá- “Vamos apenas considerar as muitas
tica Crítica em escolas democráticas, assim sequências de exercícios que dominam a ma-
como apontaremos algumas possibilidades temática escolar tradicional. Qual é a função
de realização de novas pesquisas na área. desses exercícios? Considerando o conteú-
do da maioria dos exercícios, dificilmente se
pode afirmar que o trabalho com eles forne-

53
ce qualquer compreensão mais aprofundada Outro aspecto a ser levantado é o fato
da Matemática. No entanto, pode-se pres- da matemática ser considerada por muitos
tar atenção não no conteúdo, mas na forma como disciplina neutra, ao mesmo tempo em
desses exercícios. Eles funcionam como uma que está presente em toda nossa sociedade,
longa sequência de comandos: "Resolva a especialmente ao considerarmos os progres-
equação...!", "Encontre as médias de...!", sos tecnológicos que estamos vivendo.
"Calcule a área de...!" etc. Na verdade, Na mesma entrevista citada ante-
pode-se ver a Educação riormente, realizada em 2012, por Amauri
Ceolim e Wellington Hermann com Ole Sko-
Matemática como uma extensão de vsmose, ele fala justamente sobre o fato de
exercícios com comandos que devem ser se- vivermos em uma sociedade matematizada,
guidos” (CEOLIM e HERMANN, p.12, 2012). pois os processos de produção são cada vez
mais automatizados e são especialmente
constituídos por meio da matemática. Nesse
Para ele essa escolha tem um objetivo caso, como pode ser considerada neutra se é
por detrás: compreendida por poucos e são estes pou-
“Isso é o que tenho em mente quan- cos que definem as mudanças tecnológicas
do falo sobre Educação Matemática como a e o progresso de nossa era? Além disso, ao
execução de uma "receita prescrita": seguin- defender essas mudanças estão pensando
do uma prescrição de receitas, manuais e nas relações sociais implicadas nelas? E nas
procedimentos pré-definidos. A prescrição questões ambientais?
de receita é crucial para os tipos de trabalhos Em seu artigo “Quebrando a neutrali-
em que se tem que fazer o que é dito, e não dade política: o compromisso crítico entre a
questionar nada. Podemos tomar essa ob- educação matemática e a democracia”, pu-
servação como uma indicação da possibilida- blicado em 2002, Ole Skovsmose junto com
de de que a Educação Matemática exerce um Paola Valero já trazia essa questão ao afirmar
"adestramento", na interpretação foucaul- que:
tiana do termo. De acordo com a Educação
Matemática Crítica, é importante estar cons- “Nas organizações sociais modernas,
ciente das diversas funções possíveis a que a matemática produz a base para o planeja-
a Educação Matemática pode servir, e neu- mento e a realização de iniciativas tecnológi-
tralizar qualquer forma de "adestramento".” cas. Por essa razão, a matemática deve ser
(CEOLIM e HERMANN, p.12, 2012) uma competência prioritária, permitindo aos
cidadãos fazerem frente a questões matemá-
Além disso, a educação matemática ticas e, simultaneamente, ter uma postura
escolar também acaba sendo propulsora de crítica em relação ao impacto da matemática
desigualdades, tendo em vista que exclui mui- na sociedade. A associação entre cidadania
tos estudantes que não conseguem alcançar crítica e a educação matemática deve ser um
os resultados esperados. Se analisarmos os tema a teorizar e desenvolver.” (SKOVSMOSE,
baixos índices no Programa Internacional de VALERO, p.20, 2002)
Avaliação de Estudantes (PISA) nas avaliações
de matemática veremos que é necessário um
olhar investigativo para as causas desses re- Além disso, ele segue defendendo a
sultados. Cabe também destacar que a ma- não neutralidade da matemática e seu poten-
temática é vista como uma disciplina difícil e cial para o desenvolvimento da democracia:
feita para poucos, que são considerados “gê-
nios” muitas vezes, como Skovsmose e Valero “A educação matemática tem o po-
afirmam: tencial de contribuir para o desenvolvimen-
to das forças democráticas na sociedade. No
A educação matemática tem tido uma entanto, este potencial não está ligado de
função social de diferenciação e exclusão. forma intrínseca à natureza da matemática
Por exemplo, Volmink (1994) defende que a e da educação matemática. Emerge de uma
matemática é um mistério para muita gente combinação de factores, tais como, quem
e que lhe foi dado o papel de juiz «objecti- está envolvido nas práticas da educação ma-
vo», que decide quem está apto e quem está temática, quais são os propósitos a servir,
inapto na sociedade: «Serviu por isso como que objectivos pretendem atingir, quando e
a guardiã do direito de participação nos pro- onde ocorrem e porque é que ocorrem. Por
cessos de decisão da sociedade. Negar o muito que a educação matemática tenha
acesso à matemática é determinar a priori, servido interesses democráticos, também
quem vai evoluir e quem vai ficar para trás» esteve presente nos momentos em que a de-
(pp. 51-52). Em vez de abrir oportunidades mocracia esteve em risco ou foi mesmo subs-
para todos, a educação matemática gera pro- tituída por ditaduras e regimes autoritários.”
cessos de seleção, exclusão e segregação. Es- (SKOVSMOSE, VALERO, p.14, 2002)
tabelece-se uma de marcação entre aqueles
que têm acesso ao poder e ao prestígio dado Araújo (2009) também defende o pa-
pela matemática e aqueles que não o têm. pel da Educação Matemática Crítica no com-
(SKOVSMOSE e VALEO, p. 12, 2002) bate à neutralidade da matemática. Ele cita
Alvez e Matos (2008) para explicar seu ponto

54
de vista: a importância de um ensino de matemática
voltado para a compreensão das noções ma-
“A ideia do conhecimento matemático temáticas, a ação para a resolução de pro-
válido por si só, visto como intocável pelo de- blemas, a partir dessas noções e a reflexão
senvolvimento social e histórico, puro, abs- sobre a mesma. Partindo destes princípios
tracto e livre de valores culturais, dá lugar a da Educação Matemática Crítica, tendo como
uma perspectiva onde a matemática deixa de foco a busca do desenvolvimento e fortale-
ser inquestionável e onde deixa de ser vista cimento da democracia, iremos analisar as
como um produto ‘branco’ e europeu, reco- práticas do ensino de matemática nas esco-
nhecendo-se os múltiplos contributos vindos las democráticas, como citado na introdução.
de diferentes partes do mundo. (p. 712)”. (AL-
VES e MATOS in ARAÚJO, p.62, 2009). Antes de começarmos a descrever a
concepção de educação democrática, é im-
Pensando sobre estas questões que portante salientar que ela não é um modelo a
a Educação Matemática Crítica, concepção ser seguido, e que tampouco existe um único
desenvolvida especialmente por Skovsmose, tipo de escola democrática. Mas sim, que a
acredita que a educação matemática deve es- educação democrática é baseada em alguns
tar atrelada à busca por justiça social. Assim princípios que as escolas que se autointitu-
como Paulo Freire afirma que “Não basta sa- lam democráticas devem buscar.
ber ler que 'Eva viu a uva'. É preciso compre-
ender qual a posição que Eva ocupa no seu Feito este esclarecimento inicial, ire-
contexto social, quem trabalha para produzir mos apresentar brevemente o histórico da
a uva e quem lucra com esse trabalho.” (FREI- educação democrática, a legislação brasileira
RE in GADOTTI, 1996), poderíamos pensar que a ampara e alguns dos princípios da edu-
algo desse tipo para o ensino da matemática, cação democrática.
que fosse além dos exercícios mecanizados,
do adestramento e do progresso científico Como afirma Helena Singer, "A ori-
definido e levado a cabo apenas por uma gem das escolas democráticas remonta um
parte de nossa sociedade, sem uma reflexão movimento amplo de renovação pedagógica
coletiva e crítica de seus impactos? Skovsmo- chamado de “Escola Nova”, iniciado ainda na
se propõem que: segunda metade do século XVIII, na Europa.”
(SINGER, p. 2, 2008). Alguns dos pensadores
“A alfabetização matemática pode que participaram deste movimento foram
ser interpretada de forma semelhante, refe- Leon Tolstoi (1828-1910), o escritor Jean-Jac-
rindo-se à capacidade de se interpretar um ques Rousseau (1712-1778) e os pedagogos
mundo estruturado por números e figuras, e Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich
à capacidade de se atuar nesse mundo. Em Fröebel (1782-1852). No século seguinte, o
particular, é uma preocupação da Educação movimento chega à América, iniciando no
Matemática Crítica desenvolver a matema- Estados Unidos, com o filósofo e pedagogo
cia, e penso nessa noção como outra palavra John Dewey (1859-1952).
para alfabetização matemática. “(CEOLIM,
p.19, 2012) O movimento surgiu com a desco-
berta da psicologia infantil e a crítica feita às
Para compreender melhor o conceito escolas tradicionais. Buscava-se maior liber-
de matemacia apresentado por Skovsmose, dade no aprendizado a partir da curiosidade
Mario Santana afirma que: infantil. Com o passar do tempo ampliou-se
o olhar para a importância da participação
Skovsmose (2007) explica que a noção dos estudantes na tomada de decisões da
de matemácia representa uma competên- vida em comunidade: “passou-se a enfatizar,
cia relacionada à matemática (em ação) que, ao lado do respeito pela individualidade da
como a noção de alfabetização proposta por criança, a participação dos estudantes na ela-
Paulo Freire, inclui suporte para a cidadania boração das decisões sobre a vida em comu-
crítica. Mais especificamente, a matemácia se nidade, a responsabilidade compartilhada.”
refere a diferentes competências. Uma delas (SINGER, p. 7, 2008).
é lidar com noções matemáticas; uma segun-
da é aplicar essas noções em diferentes con- Com isso, foram surgindo diferen-
textos; a terceira é refletir sobre essas apli- tes propostas ao redor do mundo baseadas
cações. O autor enfatiza que o componente nestes princípios democráticos. Importante
reflexivo é crucial para a competência da ma- destacar que a Escola Democrática de Hade-
temácia. (SANTANA, p. 334, 2017) ra, criou o Institute for Democratic Education
(IDE), dirigido pelo psicólogo e fundador da
Sendo assim, em linhas gerais pode- Escola de Hadera, Yaacov Hecht. Esse Institu-
mos afirmar que os princípios da Educação to colaborou para a abertura de outras esco-
Matemática Crítica são: a não neutralidade las democráticas no país, além de promover
da matemática; o fato de vivermos em uma a primeira Conferência Internacional de Es-
sociedade matematizada e a importância de colas Democráticas (IDEC) em 1993. A Con-
que todas as pessoas compreendam seu fun- ferência aconteceu em outros anos e contou
cionamento; a potencialidade da matemáti- com a participação de escolas de diversos pa-
ca para o desenvolvimento da democracia e íses, inclusive brasileiras.
da busca por justiça social; a capacidade da
matemática ajudar a interpretar o mundo e; No Brasil, no Movimento da Escola

55
Nova ganhou força na década de 1930, após mocrática de Israel, apresenta para a escola
a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da democrática é justamente da “educação para
Educação Nova (1932), onde se defendia a a dignidade e o respeito humanos” Sendo
universalização da escola pública, laica e gra- sua premissa básica que “um jovem, viven-
tuita. Com o Golpe Militar em 1964, o movi- do num ambiente que o respeite e proteja
mento teve um desaceleramento e muitas os seus direitos, terá no futuro a consciência
iniciativas nesse sentido foram fechadas, ten- para proteger os direitos básicos em todas as
do uma ampliação no número de escolas mi- três esferas.” (HECHT,
litares no país. O próprio Paulo Freire, citado
anteriormente, e um dos defensores de uma p. 41, 2016). Essas esferas para ele se-
educação democrática, foi exilado durante riam os “meus”, “nossos” direitos humanos;
o período. Com a redemocratização do país os direitos dos “outros” e do “diferente”; e os
e a promulgação da Constituição Federal de direitos de toda a humanidade. A partir dis-
1998, foi possível a ampliação de iniciativas so, reiteramos a importância dos princípios
voltadas para a educação democrática nova- democráticos destas escolas, com foco na
mente. convivência.
Atualmente, esta forma de organiza- No que se refere à aprendizagem, é
ção escolar é amparada legalmente pela Lei fundamental que a organização pedagógica
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de não seja definida apenas pelo adulto, com
1996, que abre diversas possibilidades para currículos obrigatórios e iguais para todos,
a organização das escolas, pelos Parâmetros feitos de forma engessada, mas que se ba-
Curriculares Nacionais (PCNs) de 1997-8, que seie nas necessidades e interesses dos estu-
romperam com a fragmentação rígida do dantes, onde eles definem sua trajetória de
ensino por disciplinas e pela Base Nacional aprendizagem, juntamente com os educado-
Comum Curricular (BNCC) de 2017, que dá res e educadoras da escola, que muitas vezes
ênfase para o trabalho com competências são denominados de tutores, conforme des-
e habilidades, ampliando as possibilidades crito anteriormente.
de organização dos currículos. É importante Acredita-se que a curiosidade e o pra-
destacar que: zer de aprender são os caminhos a serem
Estes instrumentos legais, embora am- desenvolvidos nestas escolas, que irão ge-
bíguos em certos aspectos, concebem a esco- rar aprendizagens realmente significativas.
la como espaço flexível, aberto, democrático Desde a origem do movimento de escolas
em relação com o mundo exterior pela inte- democráticas, com o movimento amplo de
gração com os pais, a comunidade, o meio renovação pedagógica intitulado de “Escola
ambiente, as novas tecnologias e lugares de Nova”, que se tem uma premissa importante
produção cultural. (SINGER, p. 17, 2008). para a educação democrática que é a de que
“O pensamento básico é que a verdadeira
Quando falamos sobre educação de- aprendizagem é aquela que os homens bus-
mocrática, a maioria das pessoas logo pensa cam espontaneamente." (SINGER, p. 7, 2008).
nos Conselhos e nas assembleias escolares.
Porém, apesar de eles serem parte funda- Para Yaacov o outro objetivo da edu-
mental nessas escolas, não são o único me- cação democrática, que está diretamente re-
canismo existente. A democracia tampouco é lacionado com a aprendizagem, é o da “edu-
baseada apenas no aspecto da convivência, cação para a independência”, definido como
mas, também, da aprendizagem. Nesse arti- “auxiliar o estudante a criar e adquirir as fer-
go iremos apresentar brevemente alguns dos ramentas que irão ajudá-lo a realizar seus
princípios da educação democrática, pensan- próprios objetivos”. (HECHT, p. 40, 2016).
do nestes dois aspectos: convívio e aprendi- Sendo assim, como é possível que o currícu-
zagem. lo seja pré-determinado por outros sujeitos
que, na maioria das vezes, estão completa-
Em relação à convivência ela se baseia mente afastados da comunidade escolar e
na gestão participativa, onde toda a comu- do sujeito de aprendizagem? Não é essa vi-
nidade escolar participa da tomada de deci- são que as escolas democráticas pretendem
sões e se responsabiliza por elas de forma seguir.
compartilhada. Isso pode ocorrer em dife-
rentes instâncias, tendo aqui as assembleias Para finalizar esta breve apresentação
um papel importante. Além disso, também se da concepção de educação democrática, He-
refere às relações não hierarquizadas entre lena Singer, em seu Relatório de Pós-douto-
adultos e crianças, não concentrando o poder ramento, apresenta uma síntese dos aspec-
nos adultos, assim como também não sendo tos fundamentais da educação democrática:
eles vistos como quem detém todo o conhe- “O movimento da educação democrá-
cimento e tem o papel de ensinar, mas como tica advém de diferentes áreas que estão de-
parceiros ou tutores no processo de ensino/ batendo as condições necessárias para que
aprendizagem, que acontece para ambos. a escola opere uma pedagogia cooperativa,
Um dos dois objetivos que Yaacov de troca de saberes, que coloca os estudan-
Hecht, fundador da Escola democrática de tes, desde cedo, no papel de definir, planejar,
Hadera e do Instituto para a Educação De- executar e avaliar projetos de seu interesse.
Sendo múltiplos os projetos, os tempos e

56
espaços da escola são flexíveis o suficiente Também percebemos alguns desafios
para possibilitar a imprevisibilidade de usos. para a Educação Matemática Crítica, como
A autonomia do estudante para elaborar e a necessidade de maior formação inicial e
realizar seus projetos é acompanhada da sua continuada dos professores de matemática,
participação na gestão escolar, que assim pois mesmo nestas escolas poucos tinham
se constitui de forma aberta e democrática. conhecimento dessa tendência. Além disso,
A relação da escola com os demais agentes conforme levantado por uma das educado-
da educação - família, trabalho, comunidade, ras, existem poucas pesquisas e bibliografia
igrejas, governo, meios de comunicação - é na área da educação matemática que pro-
de parceria e complementaridade no proces- picie o diálogo entre estes educadores e os
so de produção de conhecimento que tem as de outras áreas, ou que estejam atrelados a
crianças e os jovens como protagonistas. Fi- diferentes práticas de ensino/aprendizagem
nalmente, as tecnologias de informação e co- em matemática, sendo necessário um maior
municação são operacionalizadas como fer- número de pesquisas na área.
ramentas de aprendizagem que contribuem
para a concretização dos projetos. Nestas es- Essas pesquisas também precisam
colas, o papel prioritário do educador é o de dialogar com as Universidades e outros se-
orientador de itinerários de aprendizagem e tores da sociedade para que não sejam tão
também de inspirador e modelo de conduta.” isoladas e mal interpretadas, pois muitas fa-
(SINGER, p.4, 2008) mílias, por exemplo, estão preocupadas com
o ingresso de seus filhos e filhas na Univer-
Justamente por ter estes princípios sidade e, atualmente, o processo de seleção
voltados à democracia e por não ter um cur- é muito conteudista, sendo priorizado nas
rículo pré-determinado, mas sim construídos escolas um ensino voltado para estas ava-
pelos educadores, educadores e estudantes, liações e não para a ação/reflexão nos pro-
que entendemos que a Educação Matemáti- blemas da sociedade. Por fim, cabe ressaltar
ca Crítica pode ter um espaço maior nestas que sabemos que existem outros exemplos
escolas, sendo este o objeto de nossa análise de práticas que poderiam ser analisadas, ao
a seguir, a partir dos questionários realizados conversar com professores de matemática
com alguns professores que trabalham ou que trabalhem em diferentes escolas, ou ain-
trabalharam nestas escolas. da que muitos devem estar se perguntando,
como atuar dessa forma, tendo em vista a
Educação Matemática Crítica, estando inse-
CONSIDERAÇÕES FINAIS rido em uma instituição de ensino que não
esteja aliada a esses princípios, mas acredita-
Acreditamos que este artigo cumpriu mos que o primeiro passo é o desejo de fazer
seu papel de inspirar outras possibilidades diferente, a busca por parcerias e a experi-
de ensino de matemática, dialogando com mentação. Este pode ser um tema de futuras
a Educação Matemática Crítica, a partir dos pesquisas e artigos na área.
princípios apresentados por Ole Skovsmose,
pois ao longo do artigo, percebemos a pos-
sibilidade de diálogo entre a Educação Ma- REFERÊNCIAS
temática Crítica e a Educação Democrática,
já que os dois tem objetivos em comum ao Araújo, J. L., Uma Abordagem Sócio
acreditar na importância da formação po- Crítica da Modelagem Matemática: a pers-
lítica dos estudantes, a partir de vivências pectiva da educação matemática crítica, ALE-
democráticas nas escolas. Além disso, as XANDRIA Revista de Educação em Ciência e
escolas democráticas favorecem a interdis- Tecnologia, v.2, n.2, p.55-68, jul. 2009.
ciplinaridade, a troca entre os educadores e
acreditam na importância de promover inte- Ceolim, A. J. e Herman, W., Ole Sko-
rações qualificadas entre os estudantes, as- vsmose e sua Educação Matemática Crítica,
sim como a estrutura dos currículos nestas Revista Paranaense de Educação Matemática
escolas compreende os princípios da Educa- (RPEM), Campo Mourão, Pr, v.1, n.1, jul-dez.
ção Matemática Crítica do envolvimento dos 2012.
sujeitos na escolha dos objetos de estudo, na Freire, P. R. N., Pedagogia do oprimido,
associação com os problemas da comunida- 17a. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987;
de e da sociedade em geral.
Hecht, Y., Educação Democrática: o co-
Um ponto que chama a atenção é meço de uma história, 1a. ed. Belo Horizonte,
como aparece na fala de alguns educadores Autêntica Editora, 2016.
a liberdade para a criação e como isso parece
inspirar estas práticas. Quando os professo- Santana, M. S., Da tradição absolutista
res não estão tão presos a materiais didáti- à abordagem sociopolítica em matemática:
cos pré-estabelecidos parece haver mais es- contribuições da educação matemática crí-
paço para a escuta dos estudantes, a reflexão tica, Revista Paranaense de Educação Mate-
sobre a escolha dos estudos, assim como o mática (RPEM), Campo Mourão, Pr, v.6, n.12,
maior diálogo com o entorno da escola. Esta jul-dez. 2017.
temática poderia inspirar novas pesquisas na Singer, H., A gestão democrática do
área. conhecimento: sobre propostas transforma-

57
doras da estrutura escolar e suas implicações
nas trajetórias dos estudantes, Relatório de
Pós-doutoramento da UNICAMP, Campinas,
2008.
Skovsmose, O. e Valero, P., Quebrando
a neutralidade política: o compromisso críti-
co entre a educação matemática e a demo-
cracia, Quadrante, Vol. 11, Nº 1, 2002.

58
O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
ANA PAULA PINCERNI FANTONI

RESUMO KEYWORDS: Inclusive education; Tea-


cher's role; School; Inclusion.
Se o professor acreditar que incluir é
destruir barreiras e que ultrapassar as fron-
teiras é viabilizar a troca no processo de
construção do saber e do sentir, ele exerce- INTRODUÇÃO
rá seu papel, fundamental, para assegurar a O presente trabalho tem como
educação inclusiva que todos nós desejamos, proposta refletir a respeito do papel do pro-
semeando assim um futuro que sugerirá me- fessor na educação inclusiva, ressaltando
nos discriminação e mais comunhão de es- algumas leis que contribuíram para garantir
forços na proposta de integrar e incluir. OBJE- o direito de alunos com necessidades educa-
TIVO: O estudo tem como objetivo, ressaltar cionais especiais na rede regular de ensino.
sobre a importância do professor na edu-
cação inclusiva os desafios encontrados em Evidencia-se também um breve con-
sua prática e importância do seu papel tendo ceito de inclusão social, necessidades educa-
consciência de que a educação continuada cionais especiais e integração. Para que haja
é fundamental para o sucesso desse aluno. de fato uma educação inclusiva é imprescin-
MÉTODO: Este estudo apresenta uma visão dível que os professores busquem capacita-
ampla do tema, a fim de que se possam ajus- ção, aperfeiçoamento e formação continua-
tar alguns dos conhecimentos prévios com da, a fim de proceder à mediação ao receber
uma base comum para estudos posteriores alunos com necessidades educacionais espe-
por meio de uma metodologia de pesquisa ciais, visando um ensino que respeite as dife-
bibliográfica, em textos que buscam envolver renças e particularidades de cada indivíduo.
autores que discutem a temática em questão. Para tanto, a metodologia utilizada foi
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A inclusão no meio um levantamento bibliográfico e de caráter
escolar ainda é um tema polêmico, embora qualitativo a partir de Freire (2005), Garcia
seja um direito de todos frequentar a escola (1997), Mantoan (2005), entre outros, onde
regular, este trabalho procurou demonstrar através do qual se percebe a importância da
que pensar a inclusão é viver a experiência educação inclusiva para os alunos com ne-
da diferença e vencer os preconceitos. cessidades educacionais especiais e as leis
PALAVRAS-CHAVE: Educação inclusi- que garantem a sua efetiva participação no
va; Papel do professor; Escola; Inclusão. ensino regular, fazendo com que as escolas
busquem novos paradigmas e revejam a am-
pliação de seu Currículo e de seu Projeto Polí-
ABSTRACT tico Pedagógico, apoiando os professores no
processo de ensinoaprendizagem, valorizan-
If the teacher believes that to include do um ensino que leve em considerações as
is to destroy barriers and that going beyond diferenças de cada um. Por fim, a inclusão
borders is to enable exchange in the process implica uma mudança nas políticas educa-
of building knowledge and feeling, he will play cionais e de implementação de projetos edu-
his fundamental role in ensuring the inclusi- cacionais do sentido excludente ao sentido
ve education that we all desire, thus sowing a inclusivo, formando um ambiente onde a prá-
future that it will suggest less discrimination tica não precisa estar limitada a um sistema
and more commonality of efforts in the pro- errôneo ligado a paradigmas que segregam a
posal to integrate and include. OBJECTIVE: The real intenção do promover a educação.
study aims to highlight the importance of the
teacher in inclusive education, the challenges
encountered in their practice and the impor- DESENVOLVIMENTO
tance of their role, being aware that conti-
nuing education is essential for the success Ressaltaremos o primeiro momento
of this student. METHOD: This study presents em que apresentaremos algumas das dificul-
a broad view of the subject, so that some of dades encontradas pelo professor ao rece-
the previous knowledge can be adjusted with ber esse aluno incluindo o preconceito e a di-
a common basis for further studies through a ficuldade por falta de capacitação adequada.
bibliographic research methodology, in texts Nesse sentido, cabe reiterar a impor-
that seek to involve authors who discuss the tância do papel do professor como mediador
theme in question. FINAL CONSIDERATIONS: no processo ensino aprendizagem da criança
Inclusion in the school environment is still a com necessidades especiais, a fim de perce-
controversial topic, although it is everyone's ber como estão sendo construídos os con-
right to attend regular school, this work sou- ceitos e como podem ser ressignificados por
ght to demonstrate that thinking about inclu- meio da sua linguagem. Para Vygotsky (2000),
sion is living the experience of difference and em consonância com Orrú (2010),
overcoming prejudice.

59
A linguagem não é apenas o ato de outro, o respeito aos direitos como ser hu-
comunicar, mas uma ferramenta do pensa- mano, considerando-se suas necessidades
mento que encontra sua unidade com o pró- no tempo e lugar em que se localizam. Nesse
prio pensamento no significado das palavras. sentido, não é a deficiência, a perda de uma
Assim, o trabalho com o significado traz con- função biológica, que determina a aceitação
sigo a realização do processo de generaliza- ou a exclusão da pessoa. O estágio de forma-
ção durante a busca da apropriação de co- ção das pessoas, instituições, programas e di-
nhecimentos por parte do aluno (VIGOTSKI, reitos à acessibilidade e ao usufruto dos bens
2000, p. 09). culturais vão autorizar ou negar os benefícios
das conquistas da civilização.
Vivemos um momento muito impor-
tante em que as escolas têm buscado a capa- A conquista do direito à vida e a supe-
citação de seus funcionários e professores. ração daquelas crenças negativas e daqueles
Isso ocorre por fatores como: limites materiais dependeram de transfor-
mações históricas e de lutas políticas, porque
Os professores desconhecem aspec- nenhum direito nos é concedido espontane-
tos relacionados a síndromes e suas caracte- amente. A relação da pessoa com deficiência
rísticas específicas; sempre causou estranhamento à sociedade.
As escolas não “operam no tempo des- Na Primitividade, a deficiência era concebida
tes alunos”, não entendem que eles neces- como algo sobrenatural. Naquele período,
sitam de mais tempo para concluir as suas reinavam as forças da natureza, ou seja, o
tarefas, para organizar seu material e para ser humano se subordinava à determinação
orientar-se durante as mudanças e transi- natural. A existência humana era obtida me-
ções; diante o enfrentamento dos limites materiais
daquele momento histórico. Diante da neces-
Os professores, por falta de capacita- sidade da força física, a pessoa com deficiên-
ção não sabem da importância de simplificar cia apresentava limitações funcionais. Havia
a sua linguagem usando termos diretos, sim- a fragilidade do biológico frente às agruras
ples, de forma clara e em ritmo lento. da natureza.
Explicações longas, com o mesmo tom Cada sociedade oferece aos membros
de voz e sem apoio visual atrapalham e con- do grupo os seus próprios limites. Assim, a
tribuem para a dispersão. pessoa com deficiência necessitava ser aban-
Segundo Goodman (1987), em conso- donada, devolvida à natureza, considerada
nância com Gonring, Mesquita (2007), o sujei- a mãe superior, aquela que nutria os corpos
to a ser precisa se tornar visível sobre o olhar famintos movidos pelo medo, pelo instinto
de que a aprendizagem ocorre ao longo da de lutar e sobreviver ante os riscos do preda-
vida, já que esse aluno vai se constituindo na dor iminente. A atenção formal às pessoas
relação que estabelece com o outro e pelos com deficiência iniciou-se com a criação de
processos de mediação e nas oportunidades internatos, ainda no século XIX, sendo ideia
que ele tem de aprendizagem. importada da Europa, no período imperial.
Foram criados o Imperial Instituto dos Meni-
É preciso entender que a diferença nos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant
não é um impeditivo de aprendizagem, mas (IBC), por Dom Pedro II, por meio do Decreto
sim uma potência. Não desconsideramos Imperial n. 1.428, de 12 de setembro de 1854,
que as questões aqui apresentadas nos aju- e o Instituto dos Surdos Mudos, atual Institu-
dam a pensar o sujeito, mas precisamos nos to Nacional de Educação de Surdos (INES), na
desafiar a descobrir outras características então capital do Império, o Rio de Janeiro, em
que a pessoa com necessidades especiais as 26 de setembro de 1857.
pessoas ainda não escreveram. As crianças com deficiência intelectu-
No período que se estende desde a Pri- al eram encaminhadas à educadora sanitá-
mitividade, passando pela Antiguidade, até o ria, que devia assegurar que a escola só as
final da Idade Média, as exigências das apti- aceitasse se não atrapalhassem o bom anda-
dões físicas contribuíram para a exclusão, a mento da classe. Subordinada à Medicina, a
eliminação e o abandono da pessoa com de- Educação Inclusiva assumia uma concepção
ficiência, e isso representava alternativas de voltada para a cura e para a reabilitação. Não
sobrevivência do grupo social, não uma mal- havia a pesquisa sobre o conhecimento váli-
dade deliberada. Logo, a etapa do extermínio do nem sobre as metodologias que valorizas-
também se constituía como um momento de sem as diferenças e capacidades singulares.
luta e sobrevivência, mas aqueles cujas apti- Profissionais da área da Medicina e da Psico-
dões comprometessem o desenvolvimento logia concediam o laudo para a segregação
do grupo, na maioria nômade, tinham que dos que prejudicavam o bom andamento da
ser eliminados. escola (BIANCHETTI, 1993, p.35).
As pessoas, suas deficiências e, suas Nos anos 50, ocorreu a expansão de
capacidades são apreendidas, valoradas de entidades assistenciais, de caráter privado, o
acordo com o desenvolvimento dos instru- que desobrigava o poder público de oferecer
mentos tecnológicos, o compartilhar dos va- atendimento educacional inclusivo. Em 1957,
lores e produtos culturais, a percepção do 58 e 60, o sistema público instituiu as cam-

60
panhas nacionais para a educação dos cegos, gração da Pessoa com Deficiência, fixando-
dos surdos e da pessoa com deficiência inte- -as sob a responsabilidade da CORDE, cuja
lectual. finalidade é elaborar políticas e programas
relacionados às necessidades da pessoa com
São organizados dois sistemas para- deficiência, orientando e acompanhando sua
lelos de educação para os estudantes com execução.
deficiência: a educação comum, com as clas-
ses especiais, e as escolas especiais, com os A Educação Inclusiva:
centros de reabilitação, tendo como objetivo
a aquisição de habilidades para a integração
social e preparação para o trabalho. As esco- [...] constitui um paradigma educacio-
las especiais exerciam um papel revolucioná- nal fundamentado na concepção de direitos
rio, pois ofereciam o acesso à educação aos humanos, que conjuga a igualdade e diferen-
sujeitos que não tinham esse direito previsto ça como valores indissociáveis, que avança
em lei. Essa é a prova de que a organização em relação à ideia de equidade formal ao
social e política é transformadora do Estado, contextualizar as circunstâncias históricas da
do direito, das políticas e do próprio ser hu- produção da exclusão dentro e fora da escola
mano. A (BRASIL, 1997, p.1).
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) – Lei n. As políticas, a cultura e as pedagogias
4.024/61 – veio explicitar o compromisso do inclusivas tomam a pessoa humana como
poder público brasileiro com a Educação In- sujeito de direitos, com igualdade de opor-
clusiva, nos artigos 88 e 89, no momento em tunidades, igualdade jurídica, diversidade de
que ocorria um aumento crescente das esco- condições, recursos de acessibilidade, de co-
las públicas no País. No Art. 88, a Educação municação e códigos linguísticos.
Inclusiva é enquadrada no sistema geral de
educação. Ou seja, estudante deve ser inte- Desde suas origens, até a efetivação
grado na comunidade, quando for possível. do Atendimento Educacional Inclusivaizado
No Art. 89, o Estado encarrega-se de conce- (AEE), em 2009, a Educação Inclusiva configu-
der subvenção às escolas. rava-se como um sistema paralelo ao ensino
comum, isto é, em classes especiais, escolas
Em 1971, a Lei n. 5.692/71 definiu que especiais, centros de reabilitação. Nesse sis-
os alunos com deficiência física, intelectual tema paralelo, a Educação Inclusiva exercia
ou superdotação, que apresentassem de- a função substitutiva para aqueles que não
fasagem na idade de matrícula, receberiam conseguiam acompanhar a educação comum
tratamento inclusivaizado. O Parecer do Con- regular. Essa posição paralela da Educação
selho Federal de Educação (CFE) n. 848/72 re- Inclusiva era considerada discriminatória, o
comenda a implementação de técnicas e ser- que indicava a necessidade de políticas que
viços inclusivaizados para atender o alunado implementassem um único modelo de edu-
da Educação Inclusiva. Isso significava a ênfa- cação: a Educação Inclusiva. Em razão disso,
se na Educação Inclusiva e não na integração a matrícula preferencialmente nas escolas
do aluno com deficiência. regulares, constante no artigo 208 da Cons-
A partir da década de 90, o Brasil ade- tituição Federal, passava a ser um desafio a
riu à Declaração da Educação para Todos, ser superado, por meio da organização da
produzida em Jomtien, Tailândia, em 1990, Educação Inclusiva na perspectiva da inclu-
e foi signatário da Declaração de Salamanca são escolar.
(1994), produzida em Salamanca, Espanha, A Educação Inclusiva, no Art. 29 da
em 1994, ambas conferências mundiais da Resolução n. 4 do CNE de 2010, é definida
UNESCO. Ao assumir tais compromissos, como modalidade transversal a todos os ní-
passou a promover ações políticas, culturais, veis, etapas e modalidades de ensino. É parte
sociais e pedagógicas, para acolher a todos, integrante da educação regular, devendo ser
indiscriminadamente, com qualidade e igual- prevista no projeto político-pedagógico da
dade de condições. Desde 1995, o Brasil com- unidade escolar.
promete-se com a construção de um sistema
educacional inclusivo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
apresentam o conceito de transversalidade.
Em 1998, os Parâmetros Curriculares O documento considera que:
Nacionais (PCN) vieram nortear e orientar os
profissionais da educação quanto à relação A transversalidade diz respeito à
professor/ aluno no desenvolvimento de um possibilidade de se estabelecer, na prática
processo de ensino e aprendizagem eficaz e educativa, uma relação entre aprender na
significativo. Como passo subsequente a essa realidade e da realidade de conhecimentos
coletânea, o MEC/ SEESP publicou os PCN – teoricamente sistematizados (aprender so-
Adaptações Curriculares em Ação, objetivan- bre a realidade) e as questões da vida real
do fortalecer o suporte técnico-científico aos (aprender na realidade e da realidade) [...] Os
profissionais da educação, de maneira geral. Temas Transversais, portanto, dão sentido
social a procedimentos e conceitos próprios
Em 1999, o Decreto n. 3.298 regula- das áreas convencionais, superando assim
menta a Lei n. 7.853, de 1989, e dispõe as o aprender apenas pela necessidade escolar
competências da Política Nacional para Inte-

61
(BRASIL, 1997, p. 30). fine pela capacidade e qualidade das trocas
que estabelece”. Inseridos numa sociedade
Toda política precisa conter os princí- que exige saber conviver para sobreviver, ne-
pios e as metas. Os princípios são os valores cessitamos cada vez mais nos esforçar para
que servem como sustentação para planejar garantir a inclusão deles, desde os primeiros
todas as ações educativas, desde os recursos anos de idade, em todos os espaços sociais, e
financeiros, até o modo como avaliar os estu- a escola não está à parte desse espaço.
dantes. Os princípios fundamentam as esco-
lhas dos conhecimentos, os procedimentos É fato que ao longo da vida, em nos-
e as atitudes que contribuem para formação sas tantas lutas adaptativas, encontramos
de cada estudante singular. Já as metas ex- pessoas que nos facultam apoio e formação,
pressam os sonhos, as utopias, os resultados seja de caráter ou de conhecimento teórico,
que almejamos no sentido de qual ser huma- para seguirmos nosso caminho. Não poderia
no pretendemos formar e em qual sociedade ser diferente na educação formal. Assim, é
conviver que no âmbito escolar - em sala de aula, no
pátio, no refeitório, enfim, em cada parte -,
Um pressuposto fundamental para o professor tem papel decisivo e de imensa
analisar as políticas é a desigualdade dos di- responsabilidade nesse processo.
reitos relacionados às pessoas com deficiên-
cia, às mulheres, aos negros, aos indígenas, É evidente, que a ação do professor é
às pessoas homoafetivas, às crianças, aos de grande importância para o sucesso da in-
idosos, etc. A história atesta que os direitos clusão desse aluno no ensino regular. A prá-
são desiguais para grupos sociais e pessoas tica educacional deve ser intencional e não
distintas. pode limitar-se as tarefas escolares, princi-
palmente com aqueles alunos que precisam
A constatação da diversidade cultural, de um atendimento específico ou o uso de
das necessidades e das capacidades das pes- recursos e técnicas especiais.
soas com deficiência clama por outras práti-
cas pedagógicas. A organização e sistematização de ati-
vidades pedagógicas específicas são neces-
Uma política que pretenda ser inclu- sárias ao desenvolvimento integral do aluno,
siva necessita reconhecer e identificar os como também propor e adaptar atividades
processos históricos de produção da exclu- lúdicas, prazerosas e situação de interação,
são e de negação dos direitos fundamentais. socialização e participação coletiva com os
Há conquistas sobre as quais podemos nos demais alunos.
apoiar, como ponto de partida, mas há lacu-
nas, feridas, processos de discriminação, de A legislação, de certa forma, procura
rotulação, inferiorização que precisam ser oferecer condições necessárias estabelecen-
enfrentados. do possibilidade de flexibilização e diversifi-
cação. No entanto, no cotidiano da escola, no
Se a educação expressa os valores e o interior das salas de aula, os procedimentos
conhecimento humano mais desenvolvido de pedagógicos parecem ainda tender para uma
cada época, temos de construir uma escola homogeneização e linearidade, desconside-
que oportunize a manifestação dos sujeitos, rando-se as diferenças importantes.
de tal modo que suas diferenças sejam nota-
das e respeitadas. Já é o tempo em que não Outro ponto importante é o envol-
basta falar que educação é tudo. É preciso vimento que deve existir entre o professor
conhecê-la como a ciência mais valorizada e especializado e o professor da sala regular,
mais complexa. É valorizada porque nos per- para que juntos possam discutir e buscar me-
mite mergulhar nas origens da obra humana, lhorias no atendimento desses alunos para
nas transformações e nas versões mais belas que possa favorecer seu desenvolvimento e
de nós mesmos. É complexa porque os sujei- dessa forma a inclusão desse aluno seja real-
tos são singulares, ávidos para assumir o pal- mente efetivada.
co das trocas, desfilar seus corpos, imagens,
afetos e obter o reconhecimento social.
Podemos concluir que o professor CONSIDERAÇÕES FINAIS
tem uma função primordial, de forma social De fato, não se pode negar que a in-
e educacional, a escola deve estar aberta clusão ainda é considerada um desafio, po-
para os alunos e suas limitações, o professor rém não é desafio impossível. Se o profes-
deve se incluir e buscar metodologias, onde sor acreditar que incluir é destruir barreiras
o aluno sinta-se acolhido pela comunidade e que ultrapassar as fronteiras é viabilizar a
escolar e dentro das suas capacidades possa troca no processo de construção do saber e
aprender e se desenvolver de maneira digna do sentir, ele exercerá seu papel, fundamen-
e sadia. tal, para assegurar a educação inclusiva que
Inclusão, inclusão, inclusão… todos nós desejamos, semeando assim um
futuro que sugerirá menos discriminação e
É de inclusão que se vive a vida. Para mais comunhão de esforços na proposta de
Paulo Freire (2005), é assim que os homens integrar e incluir.
aprendem, em comunhão. “O homem se de-
A inclusão da diversidade contempla

62
as dificuldades enfrentadas na efetiva inser- cÃo do pensamento e linguagem. [A Cons-
ção das pessoas com necessidades educati- trução do Pensamento e da Linguagem.] São
vas especiais, na medida em que se preocupa Paulo: Martins Fontes.
com as diferenças individuais e discorre so-
bre a prática docente voltada para a inclusão,
na intenção de mobilizar educadores tratan-
do do compromisso com a transformação
social.
Na medida em que se apresentam no-
vas propostas educativas, a educação tem
mostrado avanços em relação à inclusão so-
cial.
Cabe ao educador aprimorar-se para
proporcionar meios de absolvição e aprovei-
tamento dos conteúdos oferecidos, organi-
zar e planejar-se é essencial para a utilização
das atividades e ferramentas facilitadoras,
quanto ao desenvolvimento da pessoa com
necessidades especiais. Estas atividades de-
vem ser atraentes levando os alunos a serem
estimulados para novas descobertas, e atra-
vés destas, serão avaliadas a evolução dos
alunos a elas submetidos, estas estratégias
auxiliam a autonomia e aprendizagem deles.

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63
INFLUÊNCIAS DO USO EXCESSIVO DE TELAS DURANTE A PRIMEIRA INFÂNCIA
ÂNGELA PAGANINI SANTOS

RESUMO cerebral e mental das crianças, enfatizando


que a presença de cuidadores é fundamen-
Este artigo possui como objetivo apre- tal e não deve ser substituída por tecnologia,
sentar o desenvolvimento infantil frente o dessa forma, Moreira, et al., 2021, compreen-
uso excessivo de telas durante a primeira de que a era digital traz benefícios e desafios,
infância, apresentando pesquisas e estudos sendo necessário o uso sensato e informado
que entregam as consequências desse uso da tecnologia para evitar dependência, espe-
de telas em diversos contextos, envolvendo cialmente em crianças em idade pré-escolar
contexto escolar e familiar. Este estudo uti-
lizou como metodologia a revisão de litera- Segundo estudos de Gondim, et al.,
tura, envolvendo a seleção detalhada de dez 2022, a primeira infância abrange os primei-
artigos que discutiam sobre o uso da tecnolo- ros seis a oito anos de vida e é crucial para
gia durante a infância, ofertando influências o desenvolvimento humano, incluindo a for-
positivas e negativas a depender do tempo mação cerebral e a aquisição de habilidades
de uso de tela e da criança com a tela. Con- cognitivas, linguísticas e socioemocionais.
cluímos dessa forma então a importância do
controle do uso de telas por crianças durante Silva Oliveira, et al., 2021, a relação
sua primeira infância. entre as gerações mais jovens e a tecnologia
é marcada por intensidade e, às vezes, por
PALAVRAS-CHAVE: primeira infância; excesso, o que pode resultar em comporta-
telas; pedagogia. mentos semelhantes à dependência, apesar
dos riscos, as tecnologias também oferecem
benefícios ao desenvolvimento, ampliando a
ABSTRACT capacidade de memória e permitindo que as
crianças sejam produtoras de cultura.
This article aims to present child de-
velopment in the face of excessive use of A mídia eletrônica digital, transmitida
screens during early childhood, presenting por dispositivos como computadores e celu-
research and studies that deliver the con- lares, preocupa pesquisadores devido ao seu
sequences of this use of screens in various impacto no bem-estar, desenvolvimento so-
contexts, involving school and family context cial e comportamento emocional das crian-
this study used as methodology the literature ças, dessa forma, a conectividade constante
review, involving the detailed selection of ten proporcionada por dispositivos portáteis le-
articles that discussed the use of technology vanta questões sobre aprendizado social, se-
during childhood offering positive and nega- letividade e estratégias para lidar com viés de
tive influences depending on screen time and aprendizado. (Gondim, et al. 2022).
the child with the screen. We conclude in this Nota-se altos índices de crianças uti-
way then the importance of controlling the lizando esses dispositivos de forma extre-
use of screens by children during their early mamente precoce, o que pode afetar nega-
childhood. tivamente a interação social, a linguagem,
KEY-WORDS: early childhood; screens; o desenvolvimento emocional e o brincar
pedagogy. simbólico (Quartrin e Cassel, 2021). Dado o
crescente uso de dispositivos eletrônicos por
crianças e adolescentes, é crucial orientar pe-
INTRODUÇÃO diatras, pais e filhos para prevenir possíveis
consequências negativas, como distúrbios do
A infância, fase de mudanças biológi- sono, comportamentais e de saúde visual e
cas e psicossociais, é crucial para o desen- auditiva (Moreira, et al., 2021).
volvimento motor, afetivo-social e cognitivo, O uso indiscriminado de telas também
e o ambiente desempenha papel vital nesse afeta o sono, especialmente em crianças com
processo, exigindo vínculos saudáveis, movi- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperati-
mento livre e estímulos (Pontes Nobre, et al. vidade (TDAH) e Transtorno do Espectro Au-
2021). É compreendido que as mídias móveis tista (TEA), além de prejudicar o envolvimen-
permitem uma interação mais diversificada, to social e a compreensão emocional, o que
enquanto a televisão oferece atividades mais pode também influenciar em comportamen-
passivas, no entanto, o uso excessivo de tec- tos externalizantes, além de, dificuldades
nologia durante a infância, um período de psicológicas e dificuldades de auto regulação
mudanças biológicas e psicossociais, pode emocional, podendo ter como consequên-
prejudicar o desenvolvimento das crianças cias problemas como mau funcionamento
(Souza e Carvalho, 2023). cognitivo, ansiedade, depressão, problemas
É compreendida pela Sociedade Brasi- escolares, estresse crônico e distúrbios ali-
leira de Pediatria a importância dos primei- mentares, sem contar na interferência dos
ros 1000 dias de vida para o desenvolvimento hábitos diários, o que envolve a falta de sono,

64
alimentação irregular, menos interações so- e comportamentais, como problemas de ex-
ciais e pouco exercício físico, Alencar Rocha, ternalização entre os 2 e 5 anos, Gondim, et
et al., 2022, entrega que a introdução de dis- al., 2022, também pontua possíveis associa-
positivos tecnológicos modernos levou a um ções com hiperatividade, desatenção e me-
menor interesse em sair e interagir social- nor aprendizado de palavras novas. Dessa
mente, tornando as crianças mais introverti- forma, Souza e Carvalho, 2023 relacionam
das e solitárias. a geração Z (nascida a partir de 1990) até a
geração Alpha (nascida a partir de 2010) ao
uso intensivo da tecnologia, estando cada
DESENVOLVIMENTO vez mais presente na vida cotidiana, inclusive
entre as crianças, que se tornaram altamente
O desenvolvimento da infância é in- conectadas devido ao ambiente ao qual es-
fluenciado por fatores genéticos, meio am- sas crianças se inserem.
biente e estímulos culturais, sendo essencial
para o desenvolvimento infantil as brincadei- O estudo de Pontes Nobre, et al., 2021,
ras, com o intuito de promover saúde men- identificou várias variáveis independentes
tal e amadurecimento psicológico desde o associadas ao tempo de tela, incluindo nível
início da vida, a importância das brincadeiras econômico, recursos no ambiente familiar
é reconhecida ao deixar de ser considerada para processos de aprendizado e desenvol-
como apenas diversão, se tornando funda- vimento da linguagem, havendo também a
mental na comunicação, elaboração e inter- escolaridade dos pais analisada, embora não
pretação do mundo ao seu redor (Quartrin e tenha atingido significância estatística, e as
Cassel, 2021). variáveis significativas seguiram para análise
de regressão logística.
Borges e Braga Ávila, 2021, destaca o
papel crucial da interação social e experiên- O "tempo de tela", que envolve o uso
cias concretas no desenvolvimento, e analisa de dispositivos eletrônicos por crianças, tor-
os possíveis impactos do uso de eletrônicos nou-se uma parte integral da vida cotidiana,
na faixa etária de 0 a 3 anos, considerando a levando a exposição precoce e excessiva, re-
realidade atual de uso excessivo de eletrôni- sultando em maiores dificuldade por parte
cos e o declínio da interação familiar e social, dos pais em proteger seus filhos dos riscos
a discussão sobre os efeitos desses dispositi- associados a esse acesso tecnológico crescen-
vos se torna relevante. te. O contato inicial com dispositivos digitais
muitas vezes ocorre através dos aparelhos
A Primeira Infância, abrangendo os pessoais dos pais em casa, frequentemente
primeiros seis anos de vida, é uma fase cru- smartphones (Moreira, et al., 2021). A falta de
cial para o desenvolvimento cerebral e ha- interação social devido ao uso excessivo des-
bilidades essenciais das crianças, onde o ses dispositivos pode resultar em déficits de
desenvolvimento saudável nesse período autorregulação (Lin, et al. 2020).
contribui para adaptação, sucesso escolar,
realização pessoal e cidadania (Moreira, et A influência dessas telas traz debates
al., 2021). Dessa forma, o tempo de tela, ex- sobre seus benefícios e malefícios, ao quais
posição a dispositivos eletrônicos, tem au- as abordagens psicanalíticas, baseadas em
mentado, frequentemente ultrapassando as Freud, destacam o equilíbrio entre o prazer
recomendações de 2 horas diárias com con- e a realidade, moldando o comportamento
teúdo apropriado (Pontes Nobre, et al. 2021). desde a infância, Silva Oliveira, et al., 2021,
O estudo de Pontes Nobre, et al., 2021, as compreende que muitas crianças têm acesso
mídias são utilizadas preferencialmente em fácil à internet, mas essa exposição excessi-
61% das crianças através do uso de televisão, va se torna preocupante devido à dificuldade
41% destas fazem o uso de smartphones e em controlar o tempo online.
por fim, 22% utilizam de tablets, sendo o uso Durante a fase pandêmica causada
de videogames o menos comum com apenas pelo COVID-19, crianças estão confinadas em
4%. casa, levando a comportamentos sedentários
Assim como pontuado por um outro (Moreira, et al., 2021). O acúmulo de adipo-
autor, a preocupação com o uso de telas di- sidade abdominal, obesidade, desempenho
gitais na infância é devido ao grande núme- acadêmico prejudicado e problemas de visão
ro de crianças expostas à tecnologia desde também são relacionados ao uso excessivo
cedo, os estudos de Gondim, et al., 2022, de telas, Souza e Carvalho, 2023, destaca a
mostraram que expor pré-escolares a mais importância de um uso controlado das telas
de 60 minutos diários de tela resulta em efei- para evitar impactos negativos no desenvol-
tos negativos no temperamento, caráter e vimento infantil, e ressalta que o aumento do
potencial para transtorno de déficit de aten- uso durante a pandemia de COVID-19 am-
ção com hiperatividade, além de que crianças pliou essas preocupações
expostas sem supervisão a conteúdos televi- Pesquisas apontam que crianças bra-
sivos adultos têm maior probabilidade de en- sileiras acima de três anos têm gastado em
frentar dificuldades futuras de socialização. média 2,5 horas em atividades em tela, o que
Exposição a diferentes tipos de telas está acima do recomendado pela Sociedade
está ligada a dificuldades socioemocionais Brasileira de Pediatria, o que contribui para

65
um comportamento sedentário, diminuindo pode afetar o desenvolvimento cognitivo,
a oportunidade de atividade física, e está re- motor e socioemocional, dessa forma, é re-
lacionado a preocupações dos pais com a se- comendado limitar o tempo de tela, especial-
gurança, alta demanda de atividades relacio- mente para crianças abaixo de 2 anos e de 2
nadas ao trabalho, disponibilidade de jogos a 5 anos, conforme apresentado por Alencar
e programas de TV. A permanência em casa Rocha, et al., 2022, embora haja benefícios, o
devido à pandemia pode resultar em proble- uso excessivo pode levar a efeitos adversos
mas e efeitos duradouros em crianças e ado- como sedentarismo, obesidade, problemas
lescentes (Moreira, et al., 2021). de saúde e redução da interação social.
Além de estar associado a atraso de
fala, déficits de atenção, inteligência e habili-
DESENVOLVIMENTO INFANTIL E AS TE- dades sociais, sendo o uso de telas por mais
LAS de 3 horas diárias ligado a menores escores
Os primeiros três anos da criança são de desenvolvimento e maiores chances de
de grande plasticidade cerebral, tornando atraso no desenvolvimento, além disso, o
esse período crucial para explorar o mundo uso inadequado de telas prejudica o sono,
através de experiências físicas, dessa forma, atrasa o desenvolvimento da fala, aumenta
o uso excessivo de telas nesse período pode sintomas depressivos e ansiosos interfere
limitar a exploração sensorial e motora, re- na memória de trabalho (Souza e Carvalho,
sultando em dificuldades de aprendizado 2023). Não podemos deixar de ressaltar a
(Moreira, et al., 2021). importância da interação social e das expe-
riencias para o desenvolvimento infantil, po-
O desenvolvimento cerebral saudá- rém o conceito de sociedade contemporânea
vel requer estímulos sensoriais externos, e o passou por transformações, transformações
uso excessivo de dispositivos impede que as estas que também afetaram a compreensão
crianças expressem emoções no mundo real da infância como uma construção histórica
(Silva Oliveira, et al. 2021). e cultural em constante evolução, atualmen-
Apesar das transformações, diferen- te, vivemos em uma sociedade tecnológica,
tes visões sobre a infância persistem na so- onde o uso de dispositivos eletrônicos come-
ciedade, refletindo tanto contextos familiares ça cada vez mais cedo na infância (Borges e
quanto culturais variados. Os estímulos ex- Braga Ávila, 2021).
ternos e interações com objetos são essen- A visão é o sistema sensorial mais
ciais para o desenvolvimento (Borges e Braga complexo, com maturação até aproximada-
Ávila, 2021). mente os dez anos de idade, sendo os pri-
O aumento do uso de dispositivos ele- meiros cinco anos cruciais. O aumento do
trônicos desde a infância inicial representa tempo de tela, devido à luz azul presente nas
desafios significativos para a saúde (Gondim, telas, pode afetar o sono, causar pesadelos
et al. 2022). Além de que ambientes multitela e impactar a atenção e memória durante o
podem promover o uso precoce de telas na aprendizado. O uso excessivo de telas tam-
infância, o que pode resultar em comporta- bém está associado a problemas oculares,
mento sedentário, problemas de saúde físi- como miopia. Muitos estudos mostraram as-
ca e mental, além de impactar habilidades sociações entre o tempo excessivo gasto em
linguísticas e motoras (Pontes Nobre, et al. frente à televisão durante a infância e atra-
2021). so cognitivo, de linguagem e socioemocional
(Moreira, et al., 2021).O uso excessivo de te-
Quartrin e Cassel, 2021 discutem a las por crianças resulta em diversas consequ-
crescente exposição das crianças a dispositi- ências negativas, como pioras nos resultados
vos eletrônicos, como smartphones, tablets, de saúde, maior risco de obesidade, déficits
televisão e videogames, e os possíveis im- no desenvolvimento motor, cognitivo e psi-
pactos dessa exposição no desenvolvimento cossocial (Alencar Rocha, et al., 2022).
emocional infantil e no brincar, os autores Enquanto a televisão foi amplamente
possuem a preocupação sobre o uso exces- estudada, mídias interativas como smartpho-
sivo desses dispositivos, que muitas vezes nes e tablets ganham importância devido ao
substituem o tempo de brincadeira, intera- aumento do acesso por crianças. Mídias in-
ção social e atividades saudáveis. terativas envolvem respostas às ações dos
A primeira infância é uma fase de rá- usuários, diferenciando-se da TV, o que pode
pido progresso, onde as crianças passam pontuar fatores determinantes do tempo de
por várias fases de desenvolvimento, nos es- tela, incluindo TV e mídias interativas, em
tudos de Borges e Braga Ávila, 2021, Piaget crianças na primeira infância (Pontes Nobre,
descreve dois estágios nesse período: o está- et al. 2021).
gio sensório-motor, onde a criança explora o A exposição intensa à televisão está
ambiente e desenvolve habilidades práticas, associada a atrasos na linguagem, problemas
e o estágio pré-operacional, marcado pelo de interação social e estilos de vida sedentá-
uso da linguagem, pensamento egocêntrico rios, enquanto a televisão é comum, mídias
e jogo simbólico. interativas móveis estão ganhando impor-
O uso excessivo de telas na infância tância, essas mídias, permitem interações o

66
que pode significar resultados positivos no removidas, resultam em raiva e dificuldades
desenvolvimento cognitivo, linguístico e mo- de concentração (Lin, et al. 2020).
tor (Pontes Nobre, et al. 2021; Alencar Rocha,
et al., 2022). Com referência nos estudos de Gon-
dim, et al., 2022, podemos afirmar que cui-
O sono, vital para o desenvolvimento dadores familiares frequentemente utilizam
infantil, é perturbado pela luz azul das telas, tecnologias eletrônicas, como televisão, com-
no entanto, a tecnologia tem um lugar na putadores, tablets e celulares, o que leva a
educação, mas o desafio é usá-la de forma um consumo proporcional dessas mídias
crítica e criativa, evitando o consumo com- pelas crianças de até 8 anos, sendo o uso de
pulsivo, ela requer um controle rigoroso para televisão comum na primeira infância, ape-
evitar danos à saúde, e intervenções fami- sar de haver poucos conhecimentos paren-
liares, escolares e médicas são necessárias, tais sobre seus efeitos no desenvolvimento
sendo importante priorizar atividades que infantil. Dispositivos eletrônicos são vistos
estimulem as crianças de maneira adequada, como ferramentas de apoio parental e entre-
promovendo o uso consciente e benéfico das tenimento, sendo usados pelas crianças em
telas para uma mudança positiva na socieda- casa, muitas vezes através de dispositivos
de (Silva Oliveira, et al. 2021). touchscreen.
A escolaridade paterna e materna está
relacionada a maior estimulação e recursos
2.2CONTEXTO ESCOLAR para o desenvolvimento da criança, já que,
Segundo Gondim, et al., 2022, os am- pais com maior escolaridade podem usar
bientes educacionais também oferecem aces- mais mídia em suas rotinas, influenciando o
so a telas digitais, embora em menor escala tempo de tela das crianças (Pontes Nobre, et
do que em casa, com recomendações para al. 2021).
discutir o tempo de tela acumulado para pré- Gondim, et al., 2022, no entanto, não
-escolares, visando garantir cuidados infantis deixa de lado a menor interação parentais e
de qualidade. preocupações com problemas de conduta e
Ao qual, apesar de questionar sobre comportamento antissocial como uso de te-
os desafios significativos que o aumento do levisão por pré-escolares.
uso de dispositivos eletrônicos, durante a Intervenções que educam os pais so-
primeira infância, pode representar para a bre riscos do uso precoce e promovem limi-
saúde, Gondim, et al., 2022, demonstra que tes no uso de telas beneficiam o desenvol-
os educadores reconhecem que telas digi- vimento socioemocional das crianças, pois,
tais podem expandir conhecimentos infantis, o uso excessivo de telas está relacionado a
mas alertam sobre a exposição a conteúdo menor aprendizado de palavras, menos leitu-
violento e a necessidade de avaliar impac- ra compartilhada e efeitos comportamentais
tos sociais e de saúde, bem como promover negativos, apesar das crenças parentais en-
o uso adequado dessas tecnologias em cre- trarem em discordância, Gondim, et al., 2022,
ches. afirma que a exposição exagerada é associa-
da a comportamentos obsessivos e a fragili-
dades cognitivas e socioemocionais.
2.3CONTEXTO FAMILIAR
Recursos no ambiente que promovem
A tecnologia tem impactos positivos e aprendizado estão ligados a maior tempo de
negativos na sociedade, influenciando a vida tela, pois podem incluir tecnologias como
diária das famílias e das crianças, seu uso mídias interativas, agora em questão socio-
excessivo desde cedo é preocupante, pode- econômico, foi compreendido que um nível
mos compreender a introdução tecnológica econômico mais alto está relacionado à pos-
precoce como substituto de brincadeiras tra- sibilidade de adquirir diferentes mídias, au-
dicionais, o que pode resultar a riscos como mentando o tempo de tela, dessa forma, a
obesidade, isolamento, problemas posturais, linguagem também influenciou, com evidên-
entre outros (Câmara, et al., 2020). cias indicando que mídias interativas bem
O uso excessivo de telas por crianças projetadas podem contribuir positivamente
e adolescentes tem repercussões cognitivas para a aprendizagem (Pontes Nobre, et al.
que variam de acordo com a etapa de desen- 2021).
volvimento e o tempo de exposição. Souza e Dessa forma as crianças têm acesso
Carvalho, 2023 mostram que o tempo de tela cada vez mais cedo a dispositivos em diver-
dos pais influencia o tempo das crianças, e sos locais, sendo frequentemente usados
que a presença de dispositivos nas crianças para distração passiva, em contraste com o
interfere na interação com os pais. brincar ativo, fundamental para o desenvol-
Alguns pais usam de dispositivos como vimento, Moreira, et al., 2021, demonstra o
"babás eletrônicas", mas o uso excessivo quanto os hábitos familiares e as rotinas es-
pode levar a problemas emocionais, compor- tão sendo afetados pelo uso de mídias digi-
tamentais e de linguagem, pois, as crianças tais, como dispositivos eletrônicos usados
podem ficar focadas nas telas, mas quando para entreter crianças durante refeições e
deslocamentos, o autor também pontua a

67
forma ao qual as crianças veem as tecnolo- e levar a riscos mentais, alguns pais muitas
gias digitais, muitas vezes as considerando vezes fornecem dispositivos para aliviar suas
brinquedos, o que pode ser perigoso. próprias agendas ocupadas, mas isso substi-
tui interações ativas e brincadeiras tradicio-
No entanto, Pontes Nobre, et al., 2021, nais, além de reduzir a interação com os pais,
ressalta a importância de considerar fatores essa exposição também pode influenciar o
como conteúdo, atividades interativas e pas- comportamento, promovendo característi-
sivas, e a presença do adulto como mediador cas agressivas e desvinculando as crianças da
no uso de mídias interativas por crianças. realidade (Silva Oliveira, et al. 2021).
Um estudo com crianças canadenses
2.3.1DESENVOLVIMENTO SOCIAL mostrou que uso intenso de tela, mais de 3
horas por dia, resultou em desenvolvimento
Gondim, et al., 2022, afirma que o de- infantil mais fraco e aprendizado abaixo do
senvolvimento social envolve aspectos neu- ideal, com associação a comportamentos de
rais, comportamentais e ambientais, contri- desatenção e agressividade, porém em con-
buindo para a interação e comunicação, e a traproposta, crenças parentais indicam que o
relação entre interações sociais, habilidades não uso de telas coloca as crianças em des-
socioemocionais e o uso precoce de disposi- vantagem intelectual e futuras dificuldades
tivos eletrônicos é um tópico relevante, espe- com a tecnologia(Gondim, et al. 2022).
cialmente para crianças com menos de três
anos. Para o desenvolvimento de habilida-
des, as crianças necessitam de interações
A exposição excessiva a mídias digitais, sociais e práticas, sendo dessa forma neces-
como dispositivos com tela sensível ao toque, sário que os pais realizem o controle do uso
pode prejudicar o desenvolvimento, embora de dispositivos tecnológicos, dessa forma,
a maioria dos estudos se concentre em crian- Câmara, et al., 2020, busca compreender a
ças mais velhas e na televisão, os efeitos dos percepção dos pais sobre os riscos do uso
dispositivos com tela sensível ao toque nas excessivo da tecnologia na infância, focando
crianças são menos compreendidos, entre- nos prejuízos biopsicossociais.
gando preocupações quanto ao comporta-
mento e desenvolvimento emocional (Lin, et O brincar simbólico e os jogos cons-
al. 2020). tituem aspectos vitais no desenvolvimento,
com o brincar simbólico permitindo que a
O uso de telas também pode ser usa- criança explore ativamente e substitua ob-
do como estratégia disciplinar, oferecida em jetos por outros, no entanto, a infância con-
troca de bom comportamento, especialmen- temporânea apresenta mudanças devido à
te para crianças com temperamento difícil, tecnologia, com dispositivos digitais substi-
intervenções essas que visam aprimorar tuindo brincadeiras tradicionais, Quartrin e
hábitos de uso de telas em pré-escolares, o Cassel, 2021, compreendem que a inserção
que pode influenciar positivamente nas suas precoce de tecnologia na infância levan-
competências sociais e emocionais de forma ta preocupações sobre o desenvolvimento
significativa (Gondim, et al. 2022). emocional saudável, diante dessas transfor-
Lin, et al. 2020, aponta associações sig- mações, é necessário examinar o impacto da
nificativas entre o uso elevado desses dispo- tecnologia no desenvolvimento emocional in-
sitivos e problemas emocionais, ansiedade, fantil quando incorporada ao brincar.
comportamentos agressivos, mas não causa- Esse uso excessivo pode causar pro-
lidade direta. blemas de desenvolvimento físico, psicológi-
co e social, incluindo obesidade, transtornos
de sono e dificuldades escolares, Câmara, et
2.3.1DESENVOLVIMENTO INTELECTU- al., 2020, destaca que os pais têm consciência
AL dos riscos, mas muitos ainda não impõem li-
mites efetivos, enfatizando a importância da
As consequências psíquicas desse uso família em orientar e limitar o uso para evitar
excessivo incluem a falta de desenvolvimento problemas futuros.
de habilidades sociais, a perda da criativida-
de e a interferência nas relações com os ou- O tempo de tela limita as oportunida-
tros, esse uso pode privar as crianças da tro- des de desenvolvimento real, prejudicando o
ca afetiva com o outro, o que é considerado aprendizado de habilidades essenciais (Alen-
essencial para a construção da subjetividade, car Rocha, et al., 2022). Os autores revelam
Quartrin e Cassel, 2021, também enfatizam a que excesso de tempo de tela está ligado a
importância de educar os pais e cuidadores atrasos na fala, déficits sociais, perturbações
sobre os impactos negativos da exposição do sono e possível relação com Transtorno
excessiva à tecnologia, para que possam me- do Espectro Autista e Transtorno de Déficit
diar o uso dos dispositivos e promover um de Atenção e Hiperatividade, sendo recomen-
desenvolvimento emocional saudável. dado pelas diretrizes a imposição de limites
para tempo de tela, atividade física e sono,
A exposição precoce a dispositivos com efeitos positivos no desenvolvimento in-
pode afetar o desenvolvimento psicossocial fantil.

68
Outras variáveis, como ordem de nas- portamentais e emocionais.
cimento, línguas faladas em casa e educação
dos pais, também influenciam. A hipótese é O contexto familiar e o ambiente es-
que o uso prolongado desses dispositivos colar desempenham papéis cruciais nesse
está associado a problemas emocionais, cenário, onde os pais têm a responsabilidade
comportamentais e de linguagem em crian- de mediar o uso de dispositivos eletrônicos
ças de 18 a 36 meses (Lin, et al. 2020). e promover interações ativas, brincadeiras
tradicionais e experiências práticas para ga-
rantir um desenvolvimento saudável e equi-
librado, sendo vital para os cuidadores o co-
3. CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FI- nhecimento sobre essa introdução, a fim de
NAIS tomar decisões informadas e evitar possíveis
Em suma, fica evidente que a infância danos ao desenvolvimento de suas crianças.
é uma fase crucial para o desenvolvimento Os desafios trazidos pela era digital
biopsicossocial das crianças, sendo influen- exigem uma abordagem balanceada, em-
ciada pelo ambiente, estímulos e interações bora haja benefícios potenciais no uso de
saudáveis. mídias interativas, é crucial considerar os
É compreendido que a introdução impactos negativos, como a substituição
crescente de tecnologia, especialmente dis- das brincadeiras tradicionais, a exposição a
positivos móveis e eletrônicos, apresenta conteúdos inadequados e a interferência no
tanto benefícios quanto desafios, esse uso, sono. As intervenções que promovem o uso
quando excessivo, durante os primeiros consciente e limitado de dispositivos podem
anos de vida pode comprometer aspectos ter um impacto positivo no desenvolvimento
fundamentais do desenvolvimento, incluindo infantil, especialmente em um contexto em
a formação cerebral, habilidades cognitivas, que a tecnologia está cada vez mais presente
sociais e emocionais. no cotidiano.
O equilíbrio no uso de tecnologia é Em resumo, o desenvolvimento infan-
essencial, considerando que a conectividade til é um processo complexo que requer uma
constante pode afetar negativamente a inte- abordagem cuidadosa em relação ao uso de
ração social, o sono, a saúde visual e auditiva, tecnologia. Pais, educadores e a sociedade
o comportamento emocional e a regulação em geral desempenham um papel funda-
emocional das crianças, além disso, o excesso mental em orientar as crianças para um uso
de uso de telas pode contribuir para proble- equilibrado e benéfico das telas, garantindo
mas psicológicos, como ansiedade e depres- que o brincar ativo, a interação social e as
são, dificuldades escolares, estresse crônico experiências do mundo real continuem a ser
e distúrbios alimentares, portanto, é crucial priorizados para promover um desenvolvi-
para pais, cuidadores e educadores orientar mento saudável e holístico das crianças na
crianças e adolescentes sobre o uso cons- era digital.
ciente e equilibrado da tecnologia, visando
o desenvolvimento saudável e a promoção
de interações sociais significativas. Diante do REFERÊNCIAS
exposto, fica evidente que o desenvolvimen-
to infantil é influenciado por uma interação Borges, JO; Braga Àvila, MSB. Os im-
complexa entre fatores genéticos, ambiente pactos do uso dos eletrônicos na primeira
e estímulos culturais. infância (0 a 3 anos). Revista da Universida-
de Vale do Rio Verde, v. 20, n. 2, 2021. ISSN:
As brincadeiras, que há muito tempo 1517-0276 / EISSN: 2236-5362
eram consideradas apenas diversão, emer-
gem como elementos essenciais para o ama- Câmara, HV; Sardinha Pereira, ML; et
durecimento psicológico e a saúde mental al. Principais prejuízos biopsicossociais no
das crianças desde os primeiros anos de vida. uso abusivo da tecnologia na primeira infân-
Contudo, a ascensão da tecnologia e a pro- cia: percepções dos pais. Id onLine
liferação do uso de dispositivos eletrônicos Rev. Mult. Psic. V.14, N. 51 p. 366-379,
têm apresentado desafios significativos para Julho2020 - ISSN 1981-117 de Alencar Rocha,
o desenvolvimento saudável das crianças na MF; de Alencar Bezerra, RE; et al. Consequên-
primeira infância. cias do uso excessivo de telas para a saúde
A Primeira Infância, abrangendo os infantil: uma revisão integrativa da literatura.
primeiros seis anos de vida, é uma fase crí- Research, Society and Development, v. 11, n.
tica para a formação cerebral e o desenvol- 4, e39211427476, 2022. DOI: http://dx.doi.
vimento de habilidades fundamentais e sua org/10.33448/rsd-v11i4.27476.
exposição precoce e excessiva a telas digitais Gondim, CC; Hilário, JSM, et al. Influ-
tem sido associada a diversos problemas, in- ências do uso de telas digitais no desenvolvi-
cluindo atrasos no desenvolvimento cogniti- mento social na primeira infância: estudo de
vo, motor e socioemocional, essa introdução revisão. Revenferm UERJ,
pode limitar a exploração sensorial e motora,
afetar o sono, prejudicar a interação social e Rio de Janeiro, 2022; p.
até mesmo contribuir para problemas com- 30:e67961, DOI: http://dx.doi.org/10.12957/

69
reuerj.2022.67961.
Lin HP, Chen KL, Chou W, et al. O uso
prolongado de dispositivos com tela sensível
ao toque está associado a problemas emo-
cionais e comportamentais, mas não a atraso
de linguagem em crianças pequenas. Infan-
tBehav Dev. 2020, p. 58:101424. doi:10.1016/j.
infbeh.2020.101424
Moreira, LH; Campos Luna, RC; et al.
Consequências no tempo de tela precoce no
desenvolvimento infantil. Brazilian Journal of
Development, Curitiba, v.7, n.10, p. 97125-
97133 oct. 2021
Pontes Nobre, JN; Santos, JN; et al.
Fatores determinantes no tempo de tela de
crianças na primeira infância. Ciência & Saú-
de Coletiva, vol. 26, n. 6, p. 11271136, 2021.
Quartin, NA; Cassel, PA. Entre o brincar
e a tela: as repercussões no desenvolvimento
emocional infantil. Research, Society and De-
velopment, v. 9, n. 8, e625985827, 2020 (CC
BY 4.0). ISSN 2525-3409. DOI: http://dx.doi.
org/10.33448/rsd-v9i8.5827
Silva Oliveira, AL; Bisinoto, BS; et al.
Os impactos do uso de telas no neurodesen-
volvimento emocional infantil. RESU-Revista
Educação em Saúde: V9, suplemento 3, 2021.
Sousa, LL; de Carvalho, JBM. Uso abu-
sivo de telas na infância e suas consequên-
cias. REAS. Vol. 23, n 2, 2023. DOI: https://doi.
org/10.25248/REAS.e11594.2023

70
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I
ANGÉLICA RODRIGUES VALENTIN

RESUMO tância de proteger o meio ambiente.


Nos últimos anos muito se fala sobre Como introduzir um tema tão comple-
Educação Ambiental nas escolas. Porém ain- xo com criança na fase de alfabetização que
da se percebe que esta fala fica no plano das são as series iniciais do Ensino Fundamental
ideias ou ainda continua distante dos alunos I.
de 6 a 8 anos. Os professores Educação Am-
biental atualmente se prendem a discutir Talvez o tema seja mesmo complexo
impactos ambientais que estão ainda muito par não devemos subestimar os alunos de 6
distantes da realidade destes alunos. A pro- a 8 anos. Todos têm contatos direto com as
posta desta pesquisa é mostrar que a Educa- mídias existentes. Basta perguntar para uma
ção Ambiental pode acontecer de forma mais criança se sabe navegar na internet com cer-
prática e práticas entalecidas com alunos tão teza a resposta será sim.
pequenos. Se os professores seguirem as Esta possibilidade tecnológica pode
PCNs e Orientações Curriculares proposta ser um grande aliado nas salas de aulas prin-
para esta faixa etária garantira aprendiza- cipalmente quando trabalha o entorno de
gem e multiplicadores, pois que for discutido escola. Trabalhar o entorno e conhecer os
e aprendido terá efeitos positivos em casa. espaços que vivem cria-se vínculos de pre-
Esta pesquisa terá como base bibliográfica a servação.
LDB, os PCNs e As Orientações Curriculares
para Educação Ambiental além de autores Nesta pesquisa pretendemos mostrar
relevantes ao tema. um breve histórico da Educação a Ambiental
no Brasil e trazer a legislação vigente que am-
Palavras – chaves: Educação Ambien- para este trabalho com alunos pequenos.
tal; Aprendizagem; Ensino Fundamental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: BREVE HIS-


ABSTRACT TÓRICO
In recent years much has been said Vivemos durante muito tempo acre-
about Environmental Education in schools. ditando que os recursos naturais eram ines-
However, it is still perceived that this speech gotáveis. Nascemos num país “bonito por
is on the level of ideas or is still distant from natureza”, porém muitos dos seus rios estão
students from 6 to 8 years old. Environmen- mortos, florestas devastas, e os mares polu-
tal Education teachers currently focus on dis- ídos.
cussing environmental impacts that are still
far from the reality of these students. The Para entendermos como a Educação
purpose of this research is to show that En- Ambiental surgiu e preciso fazer um breve
vironmental Education can happen in a more histórico sobre sua origem.
practical way and practices encouraged with No Brasil, o tema sobre proteção am-
such small students. If teachers follow the biental surgiu a partir de 1975, de acordo
PCNs and Curricular Guidelines proposed for com Dias (2000),
this age group, they will guarantee learning
and multipliers, since what is discussed and alguns órgãos estaduais brasileiros
learned will have positive effects at home. voltados ao meio ambiente iniciaram os pri-
This research will have as a bibliographic ba- meiros programas de Educação Ambiental
sis the LDB, the PCNs and The Curriculum em parceria com as Secretarias de Estado da
Guidelines for Environmental Education, as Educação. Ao mesmo tempo, incentivados
well as authors relevant to the topic. por instituições internacionais ‘dissemina-
Keywords: Environmental Education; va-se no país o ecologismo, deformação de
Learning; Elementary School. abordagem que circunscrevia a importância
da Educação
Ambiental à flora e à fauna, à apologia
INTRODUÇÃO do “verde pelo verde”,
Hoje muito se fala em Educação Am- sem que nossas mazelas socioeco-
biental. As escolas trazem em seus projetos nômicas fossem consideradas nas análises
pedagógicos um eixo interdisciplinar que (DIAS, 2000, p. 81).
destaca a importância de trabalhar a sensi- Dias (2000), ainda ressalta que no Bra-
bilização e conscientização da proteção do sil, em 1975, ocorreu o Primeiro Encontro
ambiente em que vivemos. Nacional sobre Proteção e Melhoria do Meio
Catástrofes diversas assolaram o mun- Ambiente, promovido pelo Governo Federal.
do despertando os professores para a impor- A discussão ainda se restringia criação de leis

71
e não tinha planos para desenvolver uma po- tua o princípio citado no 4º, inciso VII da Lei
lítica educacional de Educação Ambiental 9.795/99, que valoriza a abordagem articula-
da das questões ambientais locais, regionais
Segundo Feitosa (2014), muitas Confe- e nacionais, e o artigo 8º, incisos IV e V que in-
rências se sucederam, tais como: centivam a busca de alternativas curriculares
Conferência das Nações Unidas sobre e metodológicas na capacitação para Educa-
Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92; ção Ambiental e as iniciativas e experiên-
Conferência de Thessalonik - Grécia, 1997; cias locais e regionais, incluindo a produção
Conferência de Johannesburgo – Rio + 10 na de material educativo.
África do Sul, 2002. Sobre a formação inicial de professo-
Desta última, a Organização das Na- res, a Lei 9.795/99 preceitua, em seu artigo
ções Unidas (ONU) instituiu a 11, que “a dimensão ambiental deve constar
dos currículos de formação de professores,
Década da Educação para o Desenvol- em todos os níveis e em todas as disciplinas”.
vimento Sustentável – DEDS (2005 – 2014),
como forma de implementar as recomenda- Para tanto, a Lei faculta a inserção de
ções e acordos estabelecidos pelas Conferên- disciplina específica de Educação Ambiental
cias até então Educação Ambiental realiza- apenas para os “cursos de pós-graduação,
das. extensão e nas aulas Educação Ambiental
são voltadas ao aspecto metodológico da
Entra assim a ideia de Educação Am- Educação
biental para muitos, segundo Adams (2005),
a Educação Ambiental restringe-se em tra- Ambiental, quando se fizer necessá-
balhar assuntos relacionados à natureza: rio” (10, §2º).
lixo, preservação, paisagens naturais, ani- Ainda as Diretrizes Curriculares Nacio-
mais, etc. Dentro desse enfoque, a Educação nais para a Educação Ambiental (resolução
Ambiental assume um caráter basicamente cne/cp nº 2, de 15 de junho de 2012 -Ministé-
naturalista. Porém, para o autor, atualmente, rio da Educação/Conselho Nacional de Edu-
a lúdico assume um caráter mais ambien- cação/Conselho Pleno), art. 2°:
talista, embasado na busca de um equilíbrio
entre o homem e o ambiente, com vista à A Educação Ambiental é uma dimen-
construção de um futuro pensado e vivido são da educação, é atividade intencional da
numa lógica de desenvolvimento e progresso prática social, que deve imprimir ao desen-
(pensamento positivista). volvimento individual um caráter social em
sua relação com a natureza e com os outros
Neste contexto, a Educação Ambiental seres humanos, visando potencializar essa
seria ferramenta de educação para o desen- atividade humana com a finalidade de torná-
volvimento sustentável (apesar de polêmico -la plena de prática social e de ética ambien-
o conceito de desenvolvimento sustentável), tal.
tendo em vista ser o próprio "desenvolvi-
mento" o causador de tantos danos socioam- A Educação Ambiental é um
bientais. processo de reconhecimento de valores cla-
rificações de conceitos, objetivando o desen-
Teoricamente, a definição de Educa- volvimento das habilidades e modificando as
ção Ambiental varia de atitudes em relação ao meio, para entender
interpretações, de acordo com cada e apreciar as interrelações entre os seres hu-
contexto, conforme a influência e vivência manos, suas culturas e seus meios biofísicos.
de cada um. A Política Nacional de Educação A Educação Ambiental também está
Ambiental - Lei nº 9795/1999, apresenta em relacionada com a prática das tomadas de
seu art. 1º: decisões e a ética que conduzem para a me-
Entende-se por Educação Ambiental lhora da qualidade de vida.
os processos por meio dos quais o indivíduo Loureiro (2004), a Educação Ambiental
e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e com- é uma perspectiva que se inscreve e
petências voltadas para a conservação do se dinamiza na própria educação, formada
meio ambiente, bem de uso comum do povo, nas relações estabelecidas entre as múltiplas
essencial à sadia qualidade de vida e sua sus- tendências pedagógicas e do ambientalismo,
tentabilidade (BRASIL, 1999). que têm no “ambiente” e na “natureza” ca-
tegorias centrais e identitárias da Educação
A Lei 9.795/99 estabelece que a Educa- Ambiental. LOUREIRO (2004, p. 66)
ção Ambiental deva estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades Layrargues (2002), é
do processo educativo, respeitando em suas
diretrizes nacionais aquelas a serem comple- um processo educativo eminentemen-
mentadas discricionariamente pelos estabe- te político, que visa ao desenvolvimento nos
lecimentos de ensino (artigo 26 da LDB) com educandos de uma consciência crítica acerca
uma parte diversificada exigida pelas carac- das instituições, atores e fatores sociais gera-
terísticas regionais e locais, conforme precei- dores de riscos e respectivos conflitos socio-

72
ambientais. Busca uma estratégia pedagógi- A escola e a comunidade precisam per-
ca do enfrentamento de tais conflitos a partir ceber que a forma como levam suas crianças
de meios coletivos de exercício da cidadania, a atingirem seus níveis de desenvolvimen-
pautados na criação de demandas por políti- to humano deve atualmente passar por um
cas públicas participativas conforme requer a contexto entrelaçado com vários aspectos.
gestão ambiental democrática LAYRARGUES,
(2002.p. 169). Uma das características muito notória
da Educação Ambiental é sua capacidade de
Para Sauvé (2005), consistir em elemento integrador entre te-
máticas distintas, e pode ser trabalhada de
a Educação Ambiental não é uma “for- forma transdisciplinar.
ma” de educação”, não é “ferramenta” para
resolução de problemas ou de gestão do De acordo com a conceituação de Edu-
meio ambiente. É uma dimensão essencial cação Ambiental Branco (2003) nos afirma
da educação fundamental, base do desenvol- que seria a Educação Ambiental um conjunto
vimento pessoal e social, relação com o meio de iniciativas educacionais de todos os seto-
em que vivemos, com essa res da sociedade, na busca de uma consciên-
cia ambiental.
“casa de vida” compartilhada. Visa in-
troduzir dinâmicas sociais em redes mais am- Em Abílio (2008), podemos perceber
plas de solidariedade, promovendo aborda- uma definição da Educação
gem colaborativa e crítica das
Ambiental:
Educação Ambiental
socioambientais. SAUVÉ como processo educativo idêntico à
educação formal, só que dando-lhe uma di-
. (2005, p.18). mensão ambiental contextualizada e adap-
tada à Educação Ambiental interdisciplinar,
O objeto da Educação Ambiental é vinculada aos temas ambientais locais e glo-
nossa relação com o meio ambiente. bais. Essa definição proposta por Abílio nos
Como observado, as muitas definições lança perante um novo processo de emanci-
sobre Educação Ambiental se completam, de- pação do contexto ambiental permeando a
finindo como um processo pelo qual as pes- educação atualmente, o mesmo enfoca que
soas possam aprender sobre o funcionamen- é necessária uma educação acoplada com os
to do meio ambiente, a dependência dele, a contextos ambientais de forma local e global.
utilização dos recursos naturais, e como pro- ABÍLIO (2008.p.102)
mover a sua sustentabilidade (DIAS, 2003). Freire (1979) aponta que o ensino deve
Nos dias atuais a Educação Ambiental ser base a Educação Ambiental do no diálogo
deve ser um processo educativo, permanente que busque um conhecimento participativo
e contínuo, com o objetivo de apontar cami- e transformador, que a vivência e a Educa-
nhos para manutenção dos recursos naturais ção Ambiental sirvam para enxergar e ler
e a qualidade de vida da população. Busca-se o mundo, este fato precisa ser considerado
envolver nos indivíduos a percepção ambien- para que a Educação Ambiental l aprendiza-
tal. gens.
Capra (2006) ao propor uma pedago-
gia que facilite o entendimento da compre-
EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRÁS DOS ensão do mundo através dos princípios da
MUROS DA ESCOLA ecologia, como sendo base para que os in-
Estamos diante um novo processo de divíduos cultivem um respeito a natureza,
transformação da educação, aos poucos se enfoca uma abordagem de caráter multidis-
faz necessário reorientar o modo como os ciplinar nas aulas Educação Ambiental dá na
indivíduos vivem e educam as futuras gera- experiência e na participação.
ções. Podemos então compreender que
Trabalhar com Educação Ambiental a necessidade atualmente é que em outras
significa pensar num futuro melhor para nos- palavras os indivíduos precisam ser ecologi-
so mundo e para as pessoas que aqui vivem, camente sensibilizados, pois assim teríamos
colocando em prática uma ação transforma- uma transformação mais profunda no conte-
dora das nossas consciências e de nossa qua- údo, no processo e no alcance de uma peda-
lidade de vida. Desde muito cedo podemos gogia em todos os níveis de ensino, Educação
começar a sensibilizar os alunos para esta to- Ambiental da numa teoria prática que tem
mada de consciência de tudo é finito se não como fundamento o pensamento sistêmico,
cuidarmos. a ecologia e a educação.
Com os alunos do Ensino Fundamen- Capra (2006) demonstra a este respei-
tal I podemos inserir a Educação Ambiental to que
no eixo natureza e sociedade. Além de poder A educação por uma vida sustentável
trabalhar de forma interdisciplinar todas as estimula tanto o entendimento intelectual da
experiências que os alunos devem vivenciar. ecologia como cria vínculos emocionais com

73
a natureza. Por isso, ela tem mais probabi- 3. Promoção do cuidado para com
lidade de fazer com que nossas crianças se as diversas formas de vida, do respeito às
tornem cidadãos responsáveis e Educação pessoas e sociedades, e do desenvolvimento
Ambiental preocupados com a sustentabi- da cidadania ambiental.
lidade da vida; que sejam capazes de desen-
volver uma paixão pela aplicação dos seus Os PCNs e RCEI traz algumas orienta-
conhecimentos ecológicos à reformulação de ções curriculares de como desenvolver ativi-
nossas tecnologias e instituições sociais, de dade com os alunos dos primeiros anos do
maneira a preencher a lacuna existente entre ensino
a prática humana e aos sistemas da natureza Fundamental I sobre natureza e Socie-
ecologicamente sustentáveis. CAPRA, (2006, dade que envolvem a Educação Ambiental.
p. 15).
Durante os primeiros anos do Ensino
Fundamental os alunos estão transição do • Estabelecer relações de causa-
sensório motor e a fase operatório concreto. efeito das mudanças observadas em elemen-
Ainda não há total acomodação dos elemen- tos da natureza.
tos práticos por isso, o trabalho Educação • Perceber a complexidade e di-
Ambiental deve ocorrer de maneira interdis- versidade das relações humanas e do meio
ciplinar. Não adianta falara para uma crian- ambiente e ampliar sua capacidade de obser-
ça de 6 ou 7 anos sobre aquecimento global, vação.
Educação Ambiental mento das florestas ou
a poluição das praias no litoral sudeste. • Observar e significar organiza-
É preciso que a aprendizagem faça ções sociais, hábitos e culturas.
sentido para que aprenda e sensibilize aque- • Relacionar algumas semelhan-
les que estão ao seu lado, sendo um agente ças e diferenças com as formas de organiza-
multiplicador. ção de outras culturas e as formas de adap-
Capra (2006) refere a Educação Am- tação de alguns seres vivos ao meio em que
biental como: vivem. *
Eu acho que aquela parte da educação • Observar fenômenos e elemen-
que tem início nas salas de aulas deveria nos tos da natureza presentes no dia- a- dia.
preparar para entender a nossa participação • Observar e perceber algumas
na teia da vida – que nenhuma pessoa é uma características do ambiente ao seu entorno.
ilha e nem deveria querer ser. CAPRA (2006,
p. 135) • Participar de atividades que en-
volvam processos de culinária ou confecção
de objetos.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ANOS I N I - • Conhecer costumes e brincadei-
CIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I ras de outras épocas.
Como percebemos educação encon- • Perceber diferenças de forma,
tra-se diante um desafio: nossas crianças cor e gosto.
têm consciência que existe uma dinâmica
fora da sala de aula? Que somos moradores • Aprender sobre a transforma-
do mesmo local independente do lugar em ção de alguns alimentos ou elementos a se-
que nos encontramos? Temos crianças com rem misturados.
tal consciência e visão de mundo? • Considerar o efeito da força
Dentro das Diretrizes Curriculares exercida sobre um material pela participação
para Educação Ambiental nas Diretrizes Ge- em desafios propostos pelo professor.
rais - para todos os níveis e modalidades de • Criar explicações para fenôme-
ensino aprendizagem sobre os primeiros nos e elementos da natureza presentes no
anos do Ensino Fundamental traz como su- seu dia- a- dia.
gestão:
• Observar as construções do lu-
1.Emprego de recursos pedagógicos gar onde vive, o local de onde vem a água
que promovam a percepção da interação hu- que consomem.
mana com a natureza e cultura, evidenciando
aspectos estéticos, éticos, sensoriais e cogni- • Preservar a natureza.
tivos em suas múltiplas relações;
Como foi dito é preciso sensibilizar os
2. Desenvolvimento de projetos alunos primeiro para questões próximas e
multidisciplinares e interdisciplinares que va- práticas. Principalmente do entorno que vi-
lorizem a dimensão positiva da relação dos vem. Alunos que moram perto de uma repre-
seres humanos com a natureza, valorizando sa, e áreas de mananciais podem ter contato
ainda a diversidade dos seres vivos, das dife- com questões que envolvam os biomas e o
rentes culturas locais, da tradição oral, entre consumo de água.
outras;

74
Na faixa etária em que se encontram sobre o mundo que acerca.
os alunos das series iniciais do ensino funda-
mental de acordo com Dias (2004):
a apresentação de temas ambientais REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICA
na educação deve dar ênfase em uma pers- BRASIL. Decreto 4.281, de 25.06.2002.
pectiva geral, sendo bastante importante que Regulamenta a Lei no 9.795, de 27 de abril
atividades sejam desenvolvidas com os edu- de1999, que institui a Política Nacional de
candos, de forma a estimulá-los, tendo em Educação Ambiental, e dá outras providên-
vista que nesta fase as crianças são bastante cias. DOU 26.06.2002.
curiosas e é comum uma maior integração e _____. Lei 6.938, de 31.08.198. Dispõe
participação das mesmas, onde a aprendiza- sobre a Política Nacional do Meio
gem neste sentido deve ser contínua. A partir
disso, é importante que sejam apresentados Ambiente, seus fins e mecanismos de
temas pertinentes que levam a uma cons- formulação e aplicação, e dá outras provi-
cientização, de maneira que esta criança dis- dências. DOU 02.09.1981.
semine tal conhecimento, pois é comum uma _____. Lei 9.394, de 20.12.1996. Estabe-
criança ao adquirir um novo conhecimento lece as Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
repassar principalmente para seus familia- nal. DOU 23.12.1996.
res. DIAS (2004.p.34).
____. Lei 9.795, de 27.04.1999. Dispõe
sobre Educação Ambiental e
CONCLUSÂO institui a Política Nacional de Educação
Ambiental, e dá outras providências.
Trabalhar com a curiosidade da crian-
ça através daquilo que desperta interesse DOU 28.04.1999.
uma das alternativas para a inclusão da te- CAPRA, Fritjof. Falando a linguagem
mática ambiental no meio escolar é buscar da natureza: princípios da sustentabilidade.
no entorno, no espaço que vivem temas que In: STONE, Michael; BARLOW, Zenobia. Alfa-
colaborem para a sensibilização e conscienti- betização ecológica: a educação das crianças
zação para os problemas ambientais. para um mundo sustentável. São Paulo: Cul-
trix, 2006.
Segundo Capra (2003):
DIAS, Genebaldo Freire. Educação
Uma proposta alinhada com o novo Ambiental: Princípios e Práticas. 9° ed. São
entendimento do processo de aprendizagem Paulo: Gaia, 2004. 541 páginas.
que sugere a necessidade de estratégias de FAZENDA, Ivani C. (1993). Interdiscipli-
ensino mais adequadas e torna evidente a naridade: Um projeto em parceria. São Pau-
importância de um currículo integrado que lo: Loyola.
valorize o conhecimento contextual, no qual
as várias disciplinas sejam vistas como recur- FREIRE, Paulo. (1979). Educação e Mu-
sos a serviço de um objeto central. Esse obje- dança. 14ª ed., Rio de Janeiro:
to central também pode ser entendido como Paz e Terra.
um tema transversal que permeia as outras
disciplinas já constituídas e consegue trazer GADOTII, Moacir: Escola vivida, escola
para a Educação Ambiental escolar o estudo projetada- 1992 – Papirus.
de problemas do dia a dia. CAPRA (2003 p.36). GOUVÊA DA SILVA, Antônio Fernando:
a construção do currículo na perspectiva po-
Então conhecer onde está e buscar pular crítica das falas significativas ás praticas
formas de transformá-lo é a temática que contextualizadas. 2002
permeia a Educação Ambiental desde as se-
ries iniciais. NOGUEIRA, Nildo Ribeiro: Pedagogia
dos Projetos: uma jornada rumo ao desen-
Para que isto aconteça o professor volvimento das múltiplas inteligências. São
deve ser o mediador das pesquisas e ações. Paulo. Érica, 2001
Utilizando da interdisciplinaridade possível PIAGET, J. Educação Ambiental n.
no Ensino Fundamental I deve-se usar de es- (1972). A Epistemologia Genética. Petrópolis.
tratégias, como por exemplo projetos entre RJ: Ed. Vozes
as diversas disciplinas que traga reflexão-a-
ção-reflexão. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2007.
Carta Brasileira para Educação Ambiental,
Esta pesquisa não traz nada inédito, Disponível em: http://forumEducação Am-
porém buscamos trazer certa reflexão sobre biental reeducação Ambiental .org/carta-
a Educação Ambiental nos primeiros anos do -aberta-a-redebrasileira-de-educacao-am-
ensino fundamental. Mostramos aqui orien- biental-E2%80%93-rebEducação Ambiental
tações de dois documentos importantes pra />. Acesso em 05 out. 2022.
trabalhar a Educação Ambiental com alunos SANTOS, Antônio Raimundo dos.
de 6 a 8 anos, o uso dos PCNs a e as Orien- Metodologia científica. 2a. Rio de Janeiro:
tações Curriculares nos dão um norte de DP&A editora, 1999.
como podemos sensibilizar as crianças para
tenham um olhar mais atento as questões

75
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E AUTISMO
ÂNGELO STEFANINI MENDES

RESUMO Por meio dos procedimentos apre-


sentados, espera-se alcançar dados e infor-
Este artigo trata de aspectos relevan- mações que possibilitem um conhecimento
tes ao conhecimento da Educação Inclusi- mais aprofundado sobre o tema, para que a
va, especialmente em relação à legislação reflexão e a discussão propostas sejam viabi-
pertinente ao tema, bem como do papel do lizadas.
Atendimento Educacional Especializado (AEE)
para garantir a inclusão. O estudo do assun-
to é de grande importância para que o direi-
to do acesso à educação, de acordo com as ASPECTOS RELEVANTES SOBRE
especificidades de cada indivíduo, seja efeti- A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSI-
vado. Para que fosse possível aprofundar sa- VA
beres nesta área, foi utilizada revisão biblio- Muitos foram os eventos que influen-
gráfica. Muitas transformações ocorreram ao ciaram a história da deficiência e do deficiente
longo do tempo em relação ao atendimento no Brasil, o conceito de deficiência desenvol-
educacional das pessoas com deficiência e é veu-se no decorrer dos tempos, influenciado
necessário permanecer em contínuo aperfei- por diversas culturas, que deram significados
çoamento de leis e práticas neste sentido. diferentes em sua trajetória.
Palavras-chave: Educação Inclusiva; Segundo Santos (2002) e Manacorda
Atendimento Educacional Especializado; Au- (1989), em relação à forma de tratamento
tismo. dos deficientes, encontram-se poucos escri-
tos, com relatos datados anteriores à antigui-
dade. Dessa forma, refletindo sobre a socie-
INTRODUÇÃO dade, essa sempre foi marcada por classes e
nota-se que, na Antiguidade, às classes domi-
São muitas as leis que amparam e nantes cabia o pensar, enquanto às classes
apoiam o movimento chamado de inclusão, dominadas competiam o trabalho e as guer-
e muito já se tem discutido sobre o assunto, ras, e os deficientes não se enquadravam ao
mas nem sempre se efetivam e alcançam os pensamento da época, eram vistos pela so-
resultados desejados. ciedade como incapazes.
Pensar em educação inclusiva ainda é Pessotti (1984) afirma que, no período
um desafio que envolve toda uma sociedade, da Antiguidade, os escritos de Platão (427-
para que sua prática seja bem-sucedida. 399 a. C.) e, depois, Aristóteles (384- 322 a.C.)
De acordo com a história, a Educação demonstram que a prática do abandono à
Especial, no cenário brasileiro, sofreu trans- morte dos deficientes era admitida pela so-
formações importantes. ciedade em nome do equilíbrio e da organi-
zação política.
Em seu percurso, destacam-se os mo-
vimentos para a Educação Inclusiva, que ga- Os deficientes, particularmente os
nharam força por meio de documentos im- com comprometimento mental, como os ho-
portantes nacionais e internacionais e, na mens do povo, eram considerados pela no-
atualidade, esses influenciaram e respalda- breza como sub-humanos, pois não exerciam
ram o surgimento de leis que visam garantir nenhum poder político e não eram respon-
o direito da pessoa com deficiência e/ou ne- sáveis pela sua própria subsistência, diante
cessidades educacionais especiais. disso, aos deficientes o abandono e extermí-
nio eram práticas aceitáveis, já que esses in-
Nesse sentido, esta pesquisa tem divíduos não se enquadravam nos modelos
como objetivo conhecer o percurso histórico estéticos da organização sociocultural e polí-
da Educação Inclusiva e os documentos e leis tica da sociedade da época (PESSOTTI, 1984;
que regem esse novo modelo de educação e, ARANHA, 2001).
com isso, aprofundar conhecimentos sobre o
processo de inclusão das pessoas com defici- Resgatando a história, nota-se que o
ências e/ou necessidades educacionais espe- deficiente sofreu ações bem diferentes do
ciais (NEEs), diante das Políticas Públicas de que ocorre atualmente. Essas pessoas vive-
Inclusão Nacional. ram situações desde o extremo de serem
consideradas divinas e superiores, até de
Para o alcance dos objetivos e desen- ameaça e consumação de morte.
volvimento da pesquisa, fez-se uso de revi-
são bibliográfica, estabelecendo o debate en- Patton, Payne & Beirne-Smith (1985),
tre autores que abordam temas pertinentes citado por Carvalho (2000), classificam os pe-
ao estudo. Serão, para isso, utilizados livros, ríodos que marcaram a concepção da defici-
periódicos e artigos científicos, revistas e tex- ência ao longo da história. Na antiguidade,
tos oficiais. até os anos de 1700, a sociedade apresenta-

76
va comportamentos e percepções variadas Era defendida a igualdade de direitos e os
em relação ao deficiente, principalmente ao deficientes não estavam excluídos, passando
mental. Nota-se que a percepção da socie- a gerar ações no sentido de dar assistência,
dade por concepções sociopolíticas aplica-se mesmo que de forma tímida.
também as demais deficiências, pois eram
vistos todos como iguais. Ainda nesse período, em relação ao
ensino, aponta-se a importância do pensa-
A sociedade da época compreendia os mento de Rousseau (1712-1778), que defen-
deficientes ora como demônios ora como de- dia o princípio de ensinar o que os alunos são
tentores de dons, poderes ou revelações divi- capazes de aprender, o que é de utilidade e
nas. Os sentimentos eram contraditórios e as de interesse, vindo a influenciar outros pen-
pessoas tinham medo, rejeição, respeito ou sadores e, posteriormente, a educação para
admiração. A sociedade não tinha interesse os deficientes. Por volta de 1860 a 1890, o pe-
em ofertar serviços para o desenvolvimento ríodo é marcado por uma mudança de atitu-
dos deficientes, pois a condição de incapaci- de quanto à possibilidade de integração das
dade fazia parte da concepção da época. pessoas com deficiência na comunidade.
Mazzotta (2011) revela que, nesse pe- As poucas iniciativas quanto aos aten-
ríodo, os serviços de atendimentos, quando dimentos voltados aos deficientes haviam
havia, ocorriam em monastérios que ofere- tido resultados positivos, mas não chega-
ciam cuidados e amparo para as pessoas com vam às expectativas da sociedade da época,
deficiências e eram realizados por religiosos, os esforços não levavam a mudanças signi-
no entanto, ainda não havia a preocupação ficativas, que capacitassem as pessoas com
com o desenvolvimento e o tipo de atendi- deficiência para a integração e participação,
mento que era destinado para esse público, conforme era esperado.
o que demonstra que esses eram de caráter
assistencialista. O pensamento da época era marcado
pela força da concepção de transmissão ge-
Pessotti (1984) contribui afirmando nética da deficiência, sendo reforçado pelo
que a Igreja não se apresentava isenta de movimento eugênico, também chamado de
contradições, mesmo sendo um lugar de am- eugenia. Dessa forma, os deficientes passa-
paro e cuidados, nesse período, por força do ram a ser considerados até mesmo perigosos
pensamento cristão, surge a concepção de para a sociedade.
que os deficientes tinham alma, dessa forma,
esses passavam a ter responsabilidades éti- Esse movimento marcou o período em
cas e morais que competiam aos cristãos e, que traços individuais eram herdados e que a
por isso, a deficiência era tida como castigo evolução humana era baseada principalmen-
de deus por seus pecados ou pelos pecados te na transmissão genética. Dessa maneira, a
de seus antepassados, influenciando na for- segregação e a esterilização dos deficientes
ma de tratamento aos deficientes. passaram a ser vistos como uma forma de
proteção à sociedade, esse comportamento
Soares (2009), Aranha (2001) e barro- gerou um retrocesso nas conquistas ocorri-
co (2007) destacam em seus escritos a am- das no período anterior. Entre 1890 a 1925,
biguidade de sentimentos e de atitudes em o movimento eugênico ainda era presente,
relação a esse público, fortalecido princi- Francis Galton defende o controle genético e
palmente pelo pensamento religioso. Logo, as descobertas de Mendel acerca das leis da
como aponta Pessotti (1984), o cristianismo hereditariedade reforçam o pensamento de
marcou o conflito entre caridade e castigo, Galton a respeito das implicações genéticas
sendo a segregação vista como uma forma das deficiências mentais.
de cuidado aos deficientes e ainda esconder
dos olhos da sociedade, ficando inseridos em Dessa forma, a psicometria desenvol-
mosteiros ou instituições, sob os cuidados de vida por Alfred Binet (1857-1911) veio com
religiosos. grande força, porém pode-se apontar que os
testes de inteligência desenvolvidos na época
Santos (2002) revela que, após essa contribuíram de forma negativa, juntamen-
concepção, por influência de nomes como te com a avaliação psicológica, apontaria os
Para Celso (1493-1541), Cardamo (1501- graus da deficiência e foram utilizados para
1576), médicos da época, e depois com as classificar as pessoas com deficiência mental,
contribuições de Esquirol e Alfred Binet, a de- seu mau uso justificou a exclusão escolar e
ficiência começa a ser considerada como um social de muitas pessoas (CARVALHO, 2000).
problema de ordem médica, e não mais teo-
lógica, ganhando força a concepção científica Castro (2012) revela que, nesse sécu-
da deficiência. lo, a medicina já se constituía como ciência
e a psicologia ainda estava em busca de sua
O período de 1700 a 1860 foi marca- consolidação científica. Diante disso, era o
do pelo humanismo renascentista, em que diagnóstico médico que determinava a defi-
preconizava o valor das pessoas como seres ciência. O método psicológico de Binet com-
humanos e seu direito a oportunidade de plementava o diagnóstico médico.
desenvolver o máximo suas potencialidades.
Esse pensamento influenciou a mudança de Assim, por meio de testes padroniza-
atitude em relação à pessoa com deficiência. dos, propunha medir as diferenças e classifi-

77
car os que não se enquadravam nos padrões das vezes, têm mais de um fator envolvido,
considerados ―normais‖ da época. De acor- podendo ser biológicos ou psicossociais.
do com seus estudos, Binet aponta que foi na
escola que vieram a aparecer os ―débeis‖, Ainda por volta de 1950 a 1960, a his-
logo, eram necessários recursos educativos tória revela uma maior aceitação das pesso-
para atender os alunos deficientes de acor- as com deficiência, com mais atendimentos,
do com o grau identificado nos instrumentos em alguns países desenvolvidos, as famílias
(PESSOTI, 1984). passaram a exercer uma maior pressão e os
profissionais da época passaram a despertar
No período de 1925 a 1950, com o fi- maior interesse pelas pessoas com deficiên-
nal da I Guerra Mundial, houve a necessida- cia. Os sentimentos que antes eram de medo
de de atender os soldados que retornavam e rejeição deram lugar a tolerância e compai-
com graves deficiências, surgindo os serviços xão, os serviços educacionais não eram para
de reabilitação, a partir de então desperta a todos, principalmente para as deficiências
necessidade de atender outras pessoas defi- múltiplas ou com graves limitações.
cientes. Devido a essa visão, criou-se serviços
para atender crianças deficientes e passou a A época de 1960 a 1970 foi marcada
ter um início de perspectiva de educação es- pelo movimento dos direitos humanos nos
pecial em várias partes do mundo. países desenvolvidos e nos que sofriam sua
influência, surgiram muitas pesquisas multi-
As influências ambientais ganharam disciplinares trazendo contribuições no âm-
força na concepção da deficiência mental, bito do entendimento de várias deficiências.
mostrando que outros fatores etiológicos Programas de intervenção precoce realiza-
não hereditários também podiam causar a dos nos Estados Unidos obtiveram bons re-
deficiência mental, como as infecções, trau- sultados em relação à prevenção de efeitos
matismos e problemas endócrinos. adversos das deficiências e das desvantagens
sociais e culturais, aumentando o otimismo
A concepção genética como única etio- de todos envolvidos.
logia da deficiência mental perdeu força e co-
meçaram a surgir, na década de 30, alguns A partir da década de 1970 a 1980, as
movimentos de direitos humanos apoiando conquistas se consolidaram e o movimen-
as pessoas com deficiência. to dos direitos humanos ganhou força. Nos
EUA, as leis garantiam o atendimento educa-
Algumas descobertas da ciência nes- cional irrestritamente para as pessoas com
sa época trouxeram a compreensão de que deficiências, sobretudo os mais comprome-
a deficiência deveria ser objeto de interesse tidos.
científico e estudo, e não de rejeição, refletin-
do na atualidade. No Brasil, a sociedade da época tor-
nava-se mais receptiva e os estados mais
Grunspun (1999) destaca que, além desenvolvidos contavam com sua própria le-
das causas hereditárias da deficiência ain- gislação que recomendavam o atendimento
da pouco compreendidas na época pela hu- educacional especializado. Porém, os alunos
manidade, atualmente, é sabido que causas com deficiências múltiplas e severas não re-
como as pré-natais, perinatais e pós-natais, cebiam o atendimento especializado, este
também são responsáveis pela incidência de ocorria em instituições filantrópicas e consis-
casos. tia mais em cuidados pessoais e assistenciais
As causas pré-natais incluem anor- do que em atendimento educacional.
malidades genéticas [por exemplo, síndro- A visão das famílias, na época, basea-
me de Down, esclerose túberos]; Fatores do va-se em ter um local seguro para deixar o
ambiente intrauterino [por exemplo, desnu- filho enquanto trabalhavam, os professores
trição materna, toxoplasmose materna, ex- não tinham expectativas e o investimento era
posição à irradiação]; Distúrbios de disgene- pouco, frente às limitações dos alunos.
sia cerebral e erros inatos do metabolismo
[por exemplo, fenilcetonúria, galactosemia]; A partir da década de 1980, o período
Etiologias perinatais incluem: Insuficiência vem sendo marcado por grandes mudanças
placentária; Prematuridade; Complicações e avanços na educação, as leis vêm apoiando
no trabalho de parto e na expulsão. Causas e dando subsídios para os serviços de aten-
pós-natais incluem: Lesões no sistema nervo- dimento para as pessoas com deficiências.
so central [SNC], que ocorrem na infância ou Na década de 1990, percebe-se a tentativa
posteriormente, e que resultam de: Trauma; de democratizar o ensino no país com a pers-
Infecções; Causas ambientais [por exemplo, pectiva escola para todos, com a inclusão dos
desnutrição, negligência, maus-tratos, expo- alunos com necessidades especiais, não ha-
sição a toxinas]; Crises epilépticas descontro- vendo mais a aceitação de exclusão dos alu-
ladas; Transtornos neurodegenerativos [por nos com deficiências múltiplas e severas.
exemplo, lipofuscinose ceroide] (GRUNSPUN,
1999, p. 24). Também é possível perceber que o
movimento histórico em prol das pessoas
Assim, sinaliza Fierro (2004) que a defi- com deficiências e a evolução da educação
ciência apresenta as mais variadas etiologias especial fortalecem os discursos para a in-
e as causas da deficiência, na grande maioria clusão, porém, ainda estamos caminhando,

78
numa árdua jornada, em prol de atender e a doença. Os sintomas são causados por dis-
ofertar de fato um ensino de qualidade para funções físicas do cérebro, verificados pela
todos. anamnese ou presentes no exame ou entre-
vista com o indivíduo.
Colocar a aprendizagem como eixo
das escolas; assegurar tempo e condições Para Gauderer (1993) essa definição
para que todos possam aprender de acor- pode ser entendida como uma
do com o perfil de cada um e reprovando a
repetência; garantir o Atendimento Educa- ―Definição de trabalho‖, visto que
cional Especializado, preferencialmente na com os avanços dos estudos ela será altera-
própria escola comum da rede regular de da com os progressos da ciência nessa área.
ensino; abrir espaço para que a cooperação, Estudos mais recentes de Grunspun
o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o (1999) nos dizem que o autismo é mais bem
espírito crítico sejam exercitados nas escolas entendido como síndrome neuropsiquiátrica
por professores, administradores, funcioná- do início precoce do desenvolvimento.
rios e alunos, pois são habilidades mínimas
para o exercício da verdadeira cidadania; es- É caracterizada por transtornos pro-
timular, formar continuamente e valorizar o fundos e crônicos na interação social, pro-
professor, que é o responsável pela tarefa blemas graves com a linguagem, a presença
fundamental da escola - a aprendizagem dos de comportamentos perseverativos e repeti-
alunos (MANTOAN, 2007, p. 46). tivos, uma intensa necessidade da rotina no
ambiente e um campo marcadamente restri-
Atualmente, Fávero (2007) mostra que to de atividades funcionais.
os movimentos sociais, os pais de crianças
com deficiências, membros do Ministério Pú- Facion (2007) contribui afirmando que
blico e do Poder Judiciário vêm percebendo o o transtorno se apresenta desde o nascimen-
quanto as escolas brasileiras são discrimina- to, configurando-se como um transtorno gra-
tórias, sendo preciso encontrar alternativas ve e que se mantém por toda a vida, é mais co-
para melhoria da qualidade do ensino para mum em pessoas do sexo masculino do que
todos, sem exclusão. feminino, porém, na menina, quando essa
apresenta o autismo, os sintomas são com
maior gravidade. O autismo não apresenta
CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO uma causa específica e pode compreender
DO ESPECTRO AUTISTA fatores genéticos, estruturais, cerebrais, pro-
blemas pré, peri, pós-natais. Também en-
Segundo Orrú (2009), a palavra autis- contramos na literatura que, a cada 10.000
mo tem origem grega (autós) e tem como sig- nascimentos, de 2 a 5 crianças apresentam
nificado ―por si mesmo‖. um transtorno invasivo do desenvolvimento,
dessas, de 10% a 50% apresentam autismo
Na história da psicopatologia muitas infantil, sendo que a proporção homem: mu-
descrições e revisões foram feitas a respeito lher é de 4:1. (GRUNSPUN, 1999).
do autismo. Inicialmente, o termo foi intro-
duzido na psiquiatria por Plouller, em 1906, Orrú (2009, p. 27) afirma que, apesar
descrevendo o sinal clínico de isolamento de seus possíveis causadores serem conside-
(BRASIL, 2013). Após isso, foi reformulado e rados assunto polêmico, descreve suas cau-
descrito por Kanner, em 1943, tendo como sas como desde ―psicológicas, disfunções
principal sintoma a falta de capacidade para cerebrais e alterações de neurotransmisso-
relaciona-se com pessoas e situações (FA- res e fatores ambientais como definidores da
CION, 2007). Na síndrome, era destaque uma doença, até os de natureza genética‖, sendo
anormalidade do desenvolvimento social e, essa a mais pesquisada na atualidade. A ca-
também, se enfatizava que o distúrbio era pacidade de interação social em crianças não
constitucionalmente determinado e se apre- autistas é uma função complexa, envolvendo
sentava nos primeiros estágios do desenvol- o reconhecimento de que outros seres hu-
vimento (RUTTER, apud GAUDERER, 1993). manos ocupam o lugar de maior interesse e
da maior importância no ambiente; a capaci-
Gauderer (1993, p. 22) define a síndro- dade de compreender e usar a comunicação
me do autismo como: verbal e não-verbal e a empatia com pensa-
uma inadequacidade no desenvolvi- mentos e sentimentos dos outros e habilida-
mento que se manifesta de maneira grave de de imaginar o mundo do ponto de vista
por toda a vida. É incapacitante e aparece do outro, esses aspectos de interação social
tipicamente e aparece tipicamente nos três citados estão ausentes ou gravemente com-
primeiros anos de vida. Acomete cerca de prometidos nos autistas.
vinte entre cada dez mil nascidos e é quatro Na interação social, uma característica
vezes mais comum em meninos do que em relevante é o contato visual, sendo que o au-
meninas. É encontrada em todo o mundo e tista apresenta olhar distante, não mantém
em famílias de qualquer configuração racial, contato visual com as pessoas.
étnica e social. Não se conseguiu até agora
provar nenhuma causa psicológica no meio
ambiente destas crianças que possam causar

79
CONSIDERAÇÕES ACERCA DO ção Especial. Dessa forma, a educação para
ATENDIENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO as pessoas com necessidades educacionais
(AEE) especiais acaba por manter-se em institui-
ções e a inclusão desse público no ensino re-
Fávero (2007) afirma que a Constitui- gular pode até ser reduzida, isso vai contra as
ção Federal garante a todos o direito à educa- políticas de inclusão escolar.
ção e ao acesso à escola. Assim, toda escola
deve atender aos princípios constitucionais, Diante disso, Mazzotta (2011) revela
não podendo excluir nenhuma pessoa em que é necessário o esclarecimento de termos
razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade, que podem levar a interpretações diferentes.
deficiência ou ausência dela. Desse modo, será possível, por meio das po-
líticas públicas, a efetivação de ações gover-
Os movimentos que defendem a inclu- namentais que atendam de forma efetiva os
são escolar pregam que a Educação Especial alunos com deficiências e /ou necessidades
não deve ser em ambientes separados, e, educacionais especiais.
sim, que os alunos que apresentam alguma
deficiência frequentem o mesmo ambiente Logo, por meio das leis, o ensino deve
dos que não apresentam. O Atendimento ser para todos, de forma que atenda às es-
Educacional Especializado seria como apoio pecificidades dos alunos com deficiência. As-
e complemento, destinado a oferecer aqui- sim, a educação inclusiva, sobre a qual pode-
lo que há de específico na formação de um -se refletir, é algo ainda em construção, tem
aluno com deficiência, sem impedi-lo de fre- o objetivo de atender a todos os alunos na
quentar ambientes comuns e oficiais de en- rede regular de ensino, sem distinção, con-
sino. forme encontra-se na Constituição Federal
de 1988: ―promover o bem de todos, sem
Segundo Fávero (2007, p. 20), a Cons- preconceitos de origem, raça, sexo, cor, ida-
tituição Brasileira e as convenções interna- de e quaisquer outras formas de discrimina-
cionais mostram que o Atendimento Educa- ção‖ (art.3º, inciso IV) (MEC/SEESP, 2007).
cional Especializado é uma forma válida de
tratamento diferenciado desde que: Portanto, conforme exposto nos docu-
mentos oficiais, o Atendimento Educacional
seja adotado quando realmente exis- Especializado deve estar disponível em todos
ta uma necessidade educacional especial, ou os níveis de ensino escolar, devendo fun-
seja, algo do qual os alunos sem deficiência cionar de forma similar a outros cursos que
não precisam; seja oferecido preferencial- complementam os conhecimentos adquiri-
mente no mesmo ambiente (escola comum) dos no nível básico e superior, como exem-
frequentado pelos demais alunos; se houver plo, o Como a Constituição Federal de 1988,
necessidade de ser oferecido à parte, que no país, tem-se outra grande lei que rege a
isso ocorra sem dificultar ou impedir que educação básica, que é a LDB 9394/96:
crianças e adolescentes com deficiência te-
nham acesso às salas de aula do ensino co- A educação básica tem por finalidades
mum no mesmo horário que os demais alu- desenvolver o educando, assegurar-lhe a for-
nos frequentam; não seja adotado de forma mação comum indispensável para o exercício
obrigatória, ou como condição para o acesso da cidadania e fornecer-lhe meios para pro-
do aluno com deficiência ao ensino comum. gredir no trabalho e em estudos posteriores
(art. 22).
Assim, segundo a autora, a Educação
Especial será uma forma de tratamento dife- A educação básica poderá organizar-
renciado que leva a inclusão de direitos e não -se em séries anuais, períodos semestrais, ci-
a exclusão. Segundo a Constituição Federal, clos, alternância regular de períodos de estu-
todas as crianças têm direito à educação, no dos, grupos não seriados, com base na idade,
artigo 208, inciso III, consta o termo ―prefe- na competência e em outros critérios, ou por
rencialmente‖, este, de acordo com Fávero, forma diversa de organização, sempre que o
trata-se do atendimento que é necessaria- interesse do processo de aprendizagem as-
mente diferente do ensino regular e que é sim o recomendar (LDB 9394/96, art. 23).
indicado para melhor suprir as necessidades
e atender às especificidades dos alunos com Também é relevante apontar o Título
deficiência, por exemplo, eliminar as barrei- III, Do Direito à Educação e do Dever de Edu-
ras e oferecer instrumentos para que os alu- car. Reformulado pela Lei nº 12.796/2013:
nos possam se beneficiar da educação. Art. 4º - O dever do Estado com educação es-
colar pública será efetivado mediante a ga-
Segundo Mazzotta (2011) e Rossato rantia de:
(2010), é importante esclarecer que esse as-
pecto do artigo, ao se referir ao atendimento I - educação básica obrigatória e gra-
educacional especializado preferencialmente tuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos
na rede regular de ensino, permite diversas de idade, organizada da seguinte forma: a)
compreensões interpretações, em que pode- pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino
-se exemplificar que o aluno especial poderá médio;
vivenciar o seu processo de aprendizagem, [...]; III - atendimento educacional es-
tanto na escola comum quanto na especial pecializado gratuito aos educandos com de-
ou deverá receber sua formação na Educa-

80
ficiência, transtornos globais do desenvolvi- Educação (PNE), que aponta propostas para
mento e altas habilidades ou superdotação, educação e, também, para a Educação Espe-
transversal a todos os níveis, etapas e moda- cial. Esse plano foi aprovado pelo Congresso
lidades, preferencialmente na rede regular Nacional, pela lei 10.172/2001, configurando-
de ensino (BRASIL, LDB 9394/96). -se em outro marco importante para a histó-
ria, pois vem como uma tentativa de tornar a
Conforme é possível notar, por meio sociedade mais justa e igualitária.
das leis apresentadas, a educação faz parte
de uma política pública e o ensino é um direi- De acordo com a autora, o PNE dispõe:
to do indivíduo, independente de esse apre-
sentar deficiências ou não. [...] a diretriz atual é a da plena inte-
gração dessas pessoas em todas as áreas da
Segundo Fávero (2007), a Lei de Dire- sociedade. Trata-se, portanto, de duas ques-
trizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN tões - o direito à educação, comum a todas
não é bem interpretada em seus artigos 58 e as pessoas, e o direito de receber essa edu-
59, pois tem levado a pensar que é possível a cação sempre que possível junto com as de-
substituição do ensino regular pelo especial, mais pessoas nas escolas ―regulares‖. A le-
de acordo com ela, não é possível aceitar, gislação, no entanto, é sábia em determinar
visto que toda legislação ordinária tem que preferência para essa modalidade de atendi-
estar em conformidade com a Constituição mento educacional, ressalvando os casos de
Federal, não podendo haver contradições excepcionalidade em que as necessidades
dentro da própria lei, em que o artigo 4° inci- do educando exigem outras formas de aten-
so I 22 da LDBEN e o artigo 208 da Constitui- dimento. As políticas recentes do setor têm
ção Federal determinam a obrigatoriedade indicado três situações possíveis para a or-
do acesso ao Ensino Fundamental, os artigos ganização do atendimento: participação nas
205 e 206 definem o que é educação e prevê classes comuns, de recursos, sala especial e
quais são os requisitos básicos para a escola. escola especial. Todas as possibilidades têm
por objetivo a oferta de educação de qualida-
Atendimento Educacional Especializa- de (BRASIL, 2001).
do: Aspectos Legais
Dessa forma, para atender as especi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Có- ficidades dos alunos com NEEs, para as leis e
digo Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de as propostas do MEC, algumas matérias são
1998. necessárias para a oferta do Atendimento
Art. 205. A educação, direito de todos Educacional Especializado:
e dever do Estado e da família, será promovi- Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS);
da e incentivada com a colaboração da socie- ensino de língua portuguesa para surdos; có-
dade, visando digo Braille; orientação e mobilidade; utiliza-
ao pleno desenvolvimento da pessoa, ção do soroban; as ajudas técnicas, incluindo
seu preparo para o exercício da cidadania e informática adaptada; mobilidade e comuni-
sua qualificação para o trabalho. cação alternativo-aumentativa; tecnologias
assistivas; informática educativa; e d u -
Art. 206. O ensino será ministrado com cação física adaptada; enriquecimen-
base nos seguintes princípios: I – igualdade to e aprofundamento do repertório de co-
de condições para o acesso e permanência nhecimentos; atividades da vida autônoma e
na escola; Art. 208. O dever do Estado com a social, entre outras (FÁVERO, 2007, p. 29).
Educação será efetivado mediante a garantia
de: Essa oferta visa ao atendimento e à
garantia aos alunos deficientes, conforme
III - atendimento educacional especiali- também encontra-se em outro documento:
zado aos portadores de deficiência, preferen- a Convenção de Guatemala (Convenção In-
cialmente na rede regular de ensino (1988). teramericana para a Eliminação de Todas as
Para Fávero (2007), a Educação Es- Formas de Discriminação contra a Pessoa
pecial sempre foi entendida como capaz de portadora de Deficiência), que foi aprovada
substituir o ensino regular, mas o acesso, per- pelo congresso Nacional por meio do Decre-
manência e continuidade dos estudos desses to Legislativo n° 198, de 13 de junho de 2001,
alunos devem ser garantidos nas escolas co- e promulgada pelo Decreto n° 3.956, de 8 de
muns, segundo as leis vigentes, para que os outubro de 2001, da Presidência da Repúbli-
alunos se beneficiem desse ambiente escolar ca. Esse documento, conforme cita Fávero
e aprendam conforme suas possibilidades. (2007), deixa claro que:
Assim, devemos chamar de Atendimento a impossibilidade de tratamento de-
Educacional Especializado, como consta na sigual com base na deficiência, definindo a
Constituição. Esse atendimento é uma forma discriminação como toda diferenciação, ex-
de garantir ao aluno que sejam reconhecidas clusão ou restrição baseada em deficiência,
e atendidas suas particularidades. antecedente de deficiência, consequência
Segundo Souza (2012), a partir da LDB de deficiência anterior ou percepção de de-
9394/96, o Ministério da Educação e Cultura ficiência presente ou passada, que tenha o
(MEC) divulgou, em 1997, o Plano Nacional de efeito ou propósito de impedir ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício por par-

81
te das pessoas portadoras de deficiência de do novo Homem Soviético e a Psicologia do
seus direitos humanos e suas liberdades fun- L. S. Vygotsky: Implicações e Contribuições
damentais (art.1º, nº 2, ―a‖). para a Psicologia e a Educação Atuais. Tese
(doutorado) - Universidade Estadual Paulista,
Diante disso, a autora afirma que a Faculdade de Ciências e Letras de Araraqua-
Educação Especial não deve desrespeitar a ra, 2007, 414f.
Convenção de Guatemala. Assim, de acordo BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases de
com o que está posto nas leis, como a LDBEN 1971 para o Ensino de 1º e 2º graus. Lei nº
9394/96, a Constituição Federal de 1988, de- 5692/ de 1971. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm>.
ve-se entender que o Atendimento Educa- Acesso em: 29 nov. 2019.
cional Especializado deve ser uma forma de
atender as necessidades de cada aluno e, ______. Ministério da Educação. Por-
taria nº 1.679, de 2 de dezembro de 1999.
com isso, promover o seu desenvolvimento. Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de
pessoas portadoras de deficiências, para ins-
truir os processos de autorização e de reco-
CONSIDERAÇÕES FINAIS nhecimento de cursos, e de credenciamento
de instituições, Brasília, DF, 1999. Seção 1E, p.
Com o decorrer dos anos, a socieda- 20.
de sofreu mudanças que influenciaram o seu ______. Legislação brasileira sobre
comportamento frente aos deficientes. O es- pessoas portadoras de deficiência. Brasília:
tudo mostra o cenário da educação inclusiva Câmara dos Deputados, Coordenação de
no país e a força do movimento de inclusão. Publicações, 2006. 267 p. — (Série fontes de
As leis marcaram momentos importantes na referência. Legislação; n. 73).
história da deficiência e vêm contribuindo de ______. Ministério da Educação. Por-
forma ativa no apoio à inclusão. taria nº 3.284, de 7 de novembro de 2003.
Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de
Atualmente, ocorrem mudanças que, pessoas portadoras de deficiências, para ins-
segundo os autores do texto, vêm para con- truir os processos de autorização e de reco-
tribuir com o desenvolvimento das pessoas nhecimento de cursos, e de credenciamento
com deficiências e/ou necessidades educa- de instituições. Acessibilidade a pessoas por-
tadoras de deficiências para instruir proces-
cionais especiais. Dentre as mudanças, os sos de autorização e de reconhecimento de
Atendimentos Educacionais Especializados cursos e de credenciamento e instituições.
são uma forma de atender o que é de espe- Diário Oficial da União [da] República Fede-
cífico para a formação e desenvolvimento do rativa do Brasil. Brasília, DF, de 03/12/1999.
Brasília, 1999.
aluno e deve ocorrer em todos os níveis de
ensino escolar, do básico ao ensino superior, ______. Ministério da Educação. Porta-
oferecendo educação de qualidade, dando ria Ministerial nº 3.284 de 2003.
condição de permanência e conclusão dos Disponível em:
estudos.
<http://download.inep.gov.br/down-
Sabe-se que as leis por si só não se load//superior/2003/Legislacao/Portaria_328
bastam, pois, para que se possa chegar a um 4_2003_acessibilidade_portadores_deficien-
cias.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2019.
momento da história e dizer que vivemos
em uma sociedade inclusiva, com igualdade ______. Presidência da República. Casa
e respeito às diferenças, que nossas escolas Civil. Constituição da República
tenham condições de ofertar um ensino de Federativa do Brasil. Decreto
qualidade para todos, independentemente 5296/2004. Disponível em:
de sua dificuldade, de modo que a criança <http://www.planalto.gov.br/cci-
possa avançar em todos os níveis de ensino, vil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.
ainda há um longo trabalho, pois, como já htm>. Acesso em: 29 nov. 2019.
mencionado, não bastam leis, mas que elas ______. Ministério da Educação. Se-
se efetivem de fato na prática. cretaria de Educação Especial. Lei 10.845 de
Assim, pode-se concluir que a educa- 2004 sobre o AEE. Disponível em:
ção inclusiva é um processo em movimento e <http://www.planalto.gov.br/cci-
de grande compromisso e responsabilidade vil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.845.
social, para que ocorra a efetivação prática. htm>. Acesso em: 29 nov. 2019.
Só assim o deficiente poderá exercer a fun- ______. Ministério da Educação. Secre-
ção plena de seus direitos e mostrar o quan- taria da Educação Especial, 2006, p.19.
to representam para a sociedade como um ______. Presidência da República. Casa
todo. Civil. Constituição da República Federativa do
Brasil. Decreto 3298 de 1999. Disponível em:
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83
CULTURA AFRO-BRASILEIRA: EXPRESSÕES ARTÍSTICAS, RELIGIOSAS
E SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL
AURÉLIO BORBA DE OLIVEIRA

Resumo -derived religions, such as Candomblé and


Umbanda, have played a crucial role in the
Este artigo investiga o papel funda- spirituality of the Brazilian people, fostering a
mental da cultura afro-brasileira na formação harmonious coexistence of diverse religious
da identidade nacional do Brasil. Ao longo beliefs.
dos séculos, a diáspora africana contribuiu
significativamente para as raízes culturais Addressing the social dimension, the
do país, influenciando não apenas a música, article discusses the historical struggles and
dança, culinária e artes visuais, mas também resilience of the Afro-descendant population
desempenhando um papel central na esfera in Brazil, emphasizing the challenges faced
religiosa. and the progress made in the fight for equa-
lity and recognition. Afro-Brazilian culture is
O estudo explora as expressões artís- seen as a driving force for promoting diversi-
ticas que têm raízes profundas nas tradições ty, inclusion, and intercultural understanding.
afro-brasileiras, destacando a riqueza e a di-
versidade das contribuições dessas comuni- This study reveals how the cultural, re-
dades para a cultura brasileira. Além disso, ligious, and social expressions of Afro-Brazi-
analisa como as religiões de matriz africana, lian communities have not only enriched the
como o Candomblé e a Umbanda, desempe- Brazilian identity but also played an essential
nharam um papel crucial na espiritualidade role in building a more pluralistic and egali-
do povo brasileiro, promovendo uma convi- tarian society. A profound understanding of
vência harmoniosa de crenças religiosas di- these cultural influences is crucial for a com-
versificadas. plete appreciation of Brazil's rich tapestry of
history and its identity as a nation.
Ao abordar a dimensão social, o artigo
discute as lutas históricas e a resiliência da Keywords: Culture; Afro-Brazilian; Arts;
população afrodescendente no Brasil, desta- Religion.
cando os desafios enfrentados e os avanços
na luta por igualdade e reconhecimento. A
cultura afro-brasileira é vista como uma for- 1. Introdução
ça motriz para a promoção da diversidade,
inclusão e entendimento intercultural. O Brasil, um país de dimensões con-
tinentais, possui uma história intricada que
Este estudo revela como as expres- se estende por séculos. A influência africa-
sões culturais, religiosas e sociais das comu- na, fundamental para a formação da nação,
nidades afro-brasileiras não apenas enrique- começa com o tráfico de escravos no século
ceram a identidade brasileira, mas também XVI, quando navios negreiros transportavam
desempenharam um papel essencial na milhões de africanos para as terras brasilei-
construção de uma sociedade mais pluralis- ras. Este capítulo aborda a diáspora africana,
ta e igualitária. A compreensão aprofunda- explorando as condições do tráfico transa-
da dessas influências culturais é crucial para tlântico, a chegada dos africanos ao Brasil e
uma apreciação completa da rica tapeça- os primeiros anos de escravidão.
ria da história do Brasil e de sua identidade
como nação. A história da diáspora africana no Bra-
sil é, em muitos aspectos, uma narrativa de
Palavras-Chaves: Cultura; Afro-Brasi- resistência, resiliência e adaptação. Os africa-
leira; Artes; Religião; nos trazidos à força para o Brasil enfrenta-
ram uma realidade de escravidão, trabalhos
forçados e brutalidade. O tráfico de escravos,
Abstract conhecido como comércio triangular, repre-
sentou uma das páginas mais sombrias da
This article investigates the fundamen- história da humanidade. A partir do século
tal role of Afro-Brazilian culture in shaping XVI, milhões de africanos foram sequestra-
Brazil's national identity. Over the centuries, dos de suas terras natais, submetidos a con-
the African diaspora has significantly contri- dições desumanas nos navios negreiros e,
buted to the country's cultural roots, influen- finalmente, forçados a enfrentar a vida em
cing not only music, dance, cuisine, and visual uma terra estranha.
arts but also playing a central role in the reli-
gious sphere. A chegada dos africanos ao Brasil mar-
cou o início de uma interação cultural que
The study explores artistic expressions moldaria profundamente o país. Os africanos
deeply rooted in Afro-Brazilian traditions, hi- trouxeram consigo suas línguas, tradições re-
ghlighting the richness and diversity of these ligiosas, práticas agrícolas, e uma vasta rique-
communities' contributions to Brazilian cul- za de conhecimentos sobre plantas e medici-
ture. Furthermore, it analyzes how African- na. A fusão desses elementos com as culturas

84
indígenas e europeias resultou na formação 4º Pressão Interna: A abolição também
de uma cultura sincrética única no Brasil. foi influenciada pela pressão de grupos e in-
divíduos abolicionistas no Brasil. Além disso,
Os primeiros anos de escravidão no a elite política e econômica brasileira perce-
Brasil testemunharam o estabelecimento beu que a manutenção da escravidão esta-
de sistemas de produção baseados na agri- va se tornando prejudicial para o desenvol-
cultura e na extração mineral. Os africanos vimento do país e seu relacionamento com
desempenharam um papel crucial nessas nações estrangeiras.
atividades, trabalhando nas plantações de
cana-de-açúcar, nas minas de ouro e em di- 5º Crescente Conflito Social: A escra-
versas outras ocupações. Apesar das con- vidão gerou crescente conflito social, com
dições brutais de trabalho e da opressão, a revoltas e fugas de escravos, e representava
resiliência dos africanos e a preservação de uma ameaça à estabilidade interna do país.
suas tradições culturais começaram a lançar
as bases para a herança africana no Brasil. A Lei Áurea, portanto, foi um reflexo
do acúmulo de pressões internas e externas,
Além disso, o sistema escravista no juntamente com mudanças sociais e econô-
Brasil foi caracterizado por uma mistura ra- micas. Ela marcou o fim de um período de
cial única que resultou na formação de uma séculos de escravidão no Brasil, mas não re-
sociedade plural e diversificada. A miscige- solveu automaticamente os problemas en-
nação entre africanos, europeus e indígenas frentados pelos negros recém-libertos, que
criou uma rica tapeçaria de identidades, con- continuaram a enfrentar discriminação e de-
tribuindo para a singularidade da cultura bra- sigualdade ao longo de muitos anos.
sileira.
Embora a Lei Áurea seja celebrada
A diáspora africana, ao longo dos sé- como o fim oficial da escravidão no Brasil, a
culos, evoluiu para uma história de resistên- verdadeira emancipação dos afro-brasileiros
cia e luta. Os escravizados frequentemente e a luta contínua por igualdade e justiça con-
buscavam formas de manter suas tradições, tinuaram muito além da sua promulgação.
crenças religiosas e línguas vivas, mesmo sob
a sombra da escravidão. A cultura africana se Ao explorar as raízes históricas da he-
manifestou na música, na dança, nas expres- rança africana no Brasil, podemos apreciar
sões religiosas e nas artes, servindo como a profundidade e complexidade dessa influ-
uma ferramenta de resistência cultural e pre- ência cultural. A história da diáspora africana
servação da identidade. no Brasil é um testemunho das capacidades
humanas de adaptação, resistência e trans-
A Lei Áurea, também conhecida como formação em face das circunstâncias mais
Lei Imperial nº 3.353, foi promulgada em 13 adversas. Ela lançou as bases para a herança
de maio de 1888 no Brasil durante o reinado afro-brasileira que continua a ser uma parte
da Princesa Isabel, que atuava como regente. vibrante e integral da identidade do Brasil.
A lei extinguiu oficialmente a escravidão no
país, tornando ilegal a posse de escravos. Ela
foi um marco na história do Brasil e é conhe- 2. Contexto Teórico
cida como a "Lei Áurea" devido ao significado
de "áureo", que se refere a algo nobre, valio- 2.1 As Raízes Religiosas - Candomblé,
so e precioso. Umbanda e Sincretismo
A criação da Lei Áurea foi influenciada A religião desempenha um papel cen-
por vários fatores: tral na herança africana no Brasil, moldando
as vidas e as identidades espirituais de mui-
1º Pressão Internacional: Pressões vin- tos brasileiros. Nesta seção, mergulharemos
das de outros países, principalmente da In- nas raízes religiosas, destacando a evolução
glaterra, que havia abolido a escravidão em do Candomblé e da Umbanda, duas das reli-
suas colônias décadas antes, e de movimen- giões de matriz africana mais proeminentes
tos internacionais de abolição da escravidão, do país. Também exploraremos o sincretis-
fizeram com que o Brasil enfrentasse cres- mo religioso que se desdobrou ao longo dos
centes críticas e ameaças comerciais. séculos, fundindo elementos africanos, indí-
2º Movimentos Abolicionistas: No Bra- genas e católicos.
sil, diversos movimentos abolicionistas ga- Candomblé: O Candomblé é uma das
nharam força ao longo do século XIX. Grupos religiões de matriz africana mais antigas e
e indivíduos lutaram pela abolição da escra- influentes no Brasil. Suas origens remontam
vidão, promovendo campanhas, petições e às tradições religiosas dos povos iorubás, em
protestos. particular da região da Nigéria e do Benim. O
3º Declínio do Sistema Escravista: O Candomblé é caracterizado pela adoração de
sistema escravista estava em declínio devido orixás, divindades que representam forças
a mudanças econômicas e sociais. O trabalho da natureza, elementos e aspectos da vida
assalariado já havia se tornado mais comum humana. Cada orixá possui características
em algumas regiões, e a escravidão era vista distintas e é associado a rituais específicos.
como cada vez mais insustentável. A dança, a música e as oferendas desempe-
nham um papel fundamental nos rituais do

85
Candomblé. Candomblé, a Umbanda e o sincretismo reli-
gioso são testemunhos da riqueza e diversi-
A chegada dos africanos escravizados dade da herança africana no Brasil.
ao Brasil trouxe consigo as crenças religiosas
do Candomblé, que encontraram maneiras Embora o Brasil seja oficialmente um
de sobreviver apesar da repressão dos colo- país laico, onde a liberdade religiosa é prote-
nizadores. Por meio do sincretismo religioso, gida por lei e todas as religiões são suposta-
muitos orixás do Candomblé foram associa- mente aceitas, é importante reconhecer que
dos a santos católicos, permitindo que os a intolerância religiosa e o preconceito ainda
praticantes mantivessem suas crenças africa- existem em algumas esferas da sociedade. O
nas sob uma fachada cristã. Esse sincretismo Candomblé e a Umbanda, como religiões de
deu origem a uma forma única de religião matriz africana, têm enfrentado estereótipos
afro-brasileira, na qual elementos das religi- negativos e discriminação ao longo da histó-
ões africanas se fundiram com o catolicismo, ria, mesmo que isso seja incompatível com os
preservando assim a herança religiosa africa- princípios de liberdade religiosa.
na no Brasil.
Algumas das razões pelas quais o Can-
Umbanda: A Umbanda, por sua vez, é domblé e a Umbanda enfrentam preconceito
uma religião sincrética nascida no Brasil no incluem:
início do século XX. Ela incorpora influências
do espiritismo, do catolicismo e do Candom- 1º Desconhecimento: Muitas pessoas
blé. A Umbanda é caracterizada por sua cren- não estão familiarizadas com as religiões de
ça na comunicação entre os vivos e os espíri- matriz africana, o que pode levar a equívocos
tos, a cura espiritual e a prática da caridade. A e estereótipos. A falta de conhecimento pode
religião tem uma abordagem mais inclusiva e criar espaço para preconceitos infundados.
eclética em relação às divindades e espíritos, 2º Sincretismo Religioso: Como men-
e suas cerimônias podem variar significativa- cionado anteriormente, o sincretismo religio-
mente de uma casa de Umbanda para outra. so é uma característica importante do Can-
A Umbanda se tornou uma expressão domblé e da Umbanda. No entanto, algumas
religiosa significativa na cultura brasileira, pessoas podem ver essa prática como "heré-
atraindo um grande número de seguidores. tica" ou incompatível com o cristianismo pre-
Seu sincretismo incorpora elementos da he- dominante no Brasil.
rança africana, ao mesmo tempo em que 3º Racismo e Discriminação Étnica: O
abraça influências diversas, tornando-a uma preconceito racial também desempenha um
manifestação única da espiritualidade brasi- papel nessa intolerância. As religiões de ma-
leira. triz africana têm raízes nas tradições africa-
Sincretismo Religioso: O sincretismo nas e são praticadas principalmente por afro-
religioso no Brasil é um fenômeno marcante descendentes. O racismo persistente pode
e complexo. Durante a época da escravidão, se manifestar na forma de discriminação re-
os africanos escravizados frequentemente ligiosa.
eram forçados a adotar o catolicismo, a re- 4º Estereótipos Negativos: Há estere-
ligião dos colonizadores, como parte de sua ótipos negativos associados ao Candomblé e
conversão forçada. No entanto, em segredo, à Umbanda, muitos dos quais são baseados
eles mantiveram suas práticas religiosas afri- em equívocos e desconhecimento. Por exem-
canas. Essa dualidade espiritual foi a semen- plo, a associação com magia negra ou rituais
te do sincretismo religioso que se desenvol- "exóticos" pode levar à discriminação.
veu ao longo dos séculos.
5º Conflito com Crenças Pessoais: Em
O sincretismo religioso permitiu que alguns casos, pessoas de outras religiões po-
elementos das religiões africanas fossem dem sentir desconforto com a diversidade
mantidos vivos sob o disfarce de práticas ca- religiosa e podem ver as religiões de matriz
tólicas. Os orixás do Candomblé foram asso- africana como uma ameaça às suas próprias
ciados a santos católicos com características crenças.
semelhantes, possibilitando que os afro-bra-
sileiros continuassem a adorar suas divinda- É importante destacar que esses pre-
des tradicionais. Esse sincretismo criou uma conceitos não refletem a opinião geral da so-
fusão de crenças que é uma característica ciedade brasileira. Muitos brasileiros são to-
distintiva da religiosidade brasileira. Hoje, o lerantes e respeitam a diversidade religiosa
Candomblé, a Umbanda e outras formas de do país. No entanto, a intolerância religiosa
religiosidade afro-brasileira continuam a de- ainda é um problema que precisa ser abor-
sempenhar um papel vital na vida espiritual dado. O governo brasileiro e organizações
do Brasil. Essas religiões não são apenas sis- da sociedade civil trabalham para promover
temas de crenças, mas também veículos de a tolerância religiosa e combater a discrimi-
preservação da herança africana e da resis- nação, mas ainda há um longo caminho a
tência cultural. Elas demonstram como a he- percorrer para alcançar a plena aceitação de
rança africana no Brasil transcende as fron- todas as religiões, incluindo o Candomblé e a
teiras da história, moldando continuamente Umbanda.
a espiritualidade e a identidade do país. O

86
2.2 Batuque, Samba e Ritmos Afro- e servem como uma forma de ativismo cul-
-Brasileiros tural, promovendo a diversidade e a riqueza
da herança africana no país. É uma parte vital
A música é uma forma poderosa de do tecido da cultura brasileira, conectando o
expressão cultural e um dos elementos mais passado, o presente e o futuro em uma ce-
marcantes da herança africana no Brasil. A lebração contínua da diversidade cultural do
influência africana na música brasileira trans- Brasil.
cende gêneros, estilos e regiões, desempe-
nhando um papel fundamental na vida coti-
diana, nas celebrações festivas e no ativismo
cultural. Nesta seção, exploraremos as raízes 2.3 A Expressão Visual - Afro-Brasil nas
africanas dos ritmos brasileiros, do batuque Artes Plásticas
ao samba, do maracatu ao axé. A arte visual desempenha um papel
Batuque e Raízes Africanas: O batuque crucial na expressão da identidade afro-bra-
é um gênero musical que tem suas raízes nas sileira e na celebração da herança africana
tradições musicais africanas. É caracterizado no Brasil. Nesta seção, vamos explorar a con-
pelo uso de tambores e instrumentos de per- tribuição notável de artistas afro-brasileiros
cussão para criar ritmos e melodias envol- à cena artística do país, abrangendo repre-
ventes. Os escravizados africanos trouxeram sentações históricas e obras contemporâne-
consigo suas habilidades musicais e, mesmo as que exploram temas de identidade, raça e
nas condições adversas da escravidão, con- cultura.
seguiram manter suas tradições musicais. O Representações Históricas: A história
batuque foi uma forma de expressão e re- da representação afro-brasileira nas artes
sistência cultural, um lembrete constante de plásticas remonta à época da escravidão e
suas raízes africanas e uma maneira de man- à arte colonial. Pinturas e esculturas muitas
ter a identidade cultural. vezes retratavam a vida nas plantações de ca-
Samba - o Ritmo do Brasil: O samba é, na-de-açúcar, frequentemente destacando a
sem dúvida, um dos ritmos mais emblemáti- dureza do trabalho e as condições precárias
cos do Brasil e tem fortes raízes nas tradições dos escravizados. No entanto, essas repre-
africanas. Originário das comunidades afro- sentações muitas vezes refletiam uma visão
-brasileiras no Rio de Janeiro, o samba evo- eurocêntrica da realidade, e os escravizados
luiu ao longo do tempo para se tornar uma frequentemente eram retratados de maneira
das expressões culturais mais reconhecidas estereotipada e desumanizada.
do país. Sua influência é evidente em festas O Romantismo e a Abolição: Durante
populares, como o Carnaval, onde as escolas o período do Romantismo no Brasil, no sé-
de samba desfilam com músicas vibrantes culo XIX, surgiram algumas representações
e coreografias impressionantes. O samba é mais humanizadas da população afrodescen-
uma expressão de alegria, ritmo e identidade dente. Isso coincidiu com o movimento pela
cultural, e suas origens africanas continuam abolição da escravidão. Artistas como Victor
a ser celebradas em todo o Brasil. Meirelles e Jean-Baptiste Debret retrataram
Maracatu e Afoxé: No nordeste do aspectos da cultura e da vida dos afro-brasi-
Brasil, ritmos como o maracatu e o afoxé des- leiros de maneira mais realista e respeitosa.
tacam a herança africana. O maracatu é uma Essa mudança na representação visual de-
manifestação cultural que mistura música, sempenhou um papel na conscientização e
dança, teatro e tradições religiosas. Os afoxés no ativismo pela abolição.
são grupos que se apresentam em festas de Arte Contemporânea e Afrofuturismo:
rua, geralmente associados a celebrações re- Na arte contemporânea, artistas afro-brasi-
ligiosas afro-brasileiras. Essas manifestações leiros têm encontrado espaço para explorar
culturais enfatizam a importância da música suas identidades e expressar suas visões de
e da dança na preservação das tradições afri- mundo. Muitos têm adotado o movimen-
canas e na celebração da herança africana. to global do "afrofuturismo", que combina
Axé e a Música Contemporânea: A he- elementos da cultura africana com a visão
rança africana na música brasileira não está de um futuro em que a identidade afrodes-
limitada a gêneros tradicionais. O axé, um cendente é celebrada. Artistas como Abdias
estilo de música popular que se originou na Nascimento, Emanoel Araújo e Rosana Pau-
Bahia, é uma fusão de ritmos africanos, ca- lino exploraram questões de raça, cultura e
ribenhos e influências do pop. O axé se tor- identidade afro-brasileira em suas obras, de-
nou uma força cultural significativa no Brasil safiando estereótipos e preconceitos.
e além, destacando como a herança africana Resgate da História e Memória: Muitos
continua a se adaptar e evoluir na música artistas afro-brasileiros têm se dedicado ao
contemporânea. resgate da história e da memória da diáspora
A música afro-brasileira é muito mais africana no Brasil. Isso inclui a representação
do que entretenimento; ela é um veículo para de figuras históricas importantes, como Zum-
a expressão cultural e a preservação das raí- bi dos Palmares, líder do quilombo de Palma-
zes africanas no Brasil. Os ritmos, melodias e res, e a abordagem de eventos significativos,
danças celebram a identidade afro-brasileira como a Revolta dos Malês, que ocorreu em

87
Salvador, Bahia. Essas obras têm como ob- ção, cooperação e competição amigável. Elas
jetivo não apenas preservar a memória, mas são uma expressão da alegria, da resistência
também destacar a contribuição dos afro- e da união da comunidade afro-brasileira.
descendentes para a formação do Brasil.
Identidade Afro-Brasileira: A capoei-
Questões de Identidade e Raça: Muitas ra desempenhou um papel fundamental na
obras de artistas afro-brasileiros abordam formação da identidade afro-brasileira. Ela é
questões de identidade racial e cultural. Isso uma manifestação da resiliência e da força
inclui a representação da diáspora africana, da população afrodescendente, que, mes-
a luta contra o racismo e a celebração da be- mo nas condições mais adversas, encontrou
leza e da diversidade da população afro-bra- maneiras de celebrar sua cultura. A capoeira
sileira. A arte visual tem sido uma platafor- também é uma forma de celebração da di-
ma poderosa para destacar essas questões versidade e da inclusão, uma vez que pesso-
e provocar discussões sobre igualdade racial as de todas as origens podem participar des-
no Brasil. sa arte.
A expressão visual afro-brasileira é Reconhecimento e Legado: Ao longo
uma parte fundamental da herança cultural dos anos, a capoeira ganhou reconhecimento
do país. Ela oferece uma visão única da his- como uma parte valiosa da cultura brasileira
tória, cultura e identidade afro-brasileira, ao e foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial
mesmo tempo em que desafia estereótipos e da Humanidade pela UNESCO. Ela é ensinada
promove a diversidade. As obras de artistas em academias em todo o mundo e atrai pra-
afro-brasileiros são uma parte vital do diálo- ticantes de todas as nacionalidades. A capo-
go cultural do Brasil e continuam a enrique- eira é um testemunho da resiliência cultural
cer o panorama artístico do país. e da capacidade de uma forma de expressão
artística de transcender as fronteiras e unir
pessoas em torno da celebração da herança
2.4 A Capoeira - Mais que uma Luta, africana.
uma Celebração Cultural Em resumo, a capoeira é muito mais
A capoeira é uma manifestação cultu- do que uma forma de luta; é uma celebração
ral única e multifacetada que combina ele- cultural que incorpora a história, a resistên-
mentos de dança, música, luta e ritual. Ela de- cia e a identidade afro-brasileira. Ela continua
sempenha um papel especial na celebração a ser uma parte vibrante e vital da herança
da herança africana e na formação da iden- africana no Brasil e um exemplo da impor-
tidade afro-brasileira. Nesta seção, vamos in- tância da cultura na construção da identida-
vestigar as origens da capoeira, sua evolução de nacional.
e seu significado na preservação da herança
africana no Brasil.
2.5 A Gastronomia Afro-Brasileira - Sa-
Origens na Diáspora Africana: A capo- bores e Tradições
eira tem raízes profundas na diáspora africa-
na e no contexto da escravidão no Brasil. Os A culinária brasileira é uma fusão de
escravizados africanos, trazidos para o Brasil, sabores de todo o mundo, com uma forte in-
trouxeram consigo tradições de lutas, danças fluência africana. Nesta seção, exploraremos
e rituais que se misturaram em uma nova pratos e ingredientes que enriquecem a gas-
forma de expressão. A capoeira foi uma ma- tronomia brasileira, revelando a herança afri-
neira de os escravizados manterem sua apti- cana em cada mordida.
dão física, resistirem à opressão e manterem
suas tradições culturais africanas. Acarajé: O acarajé é um dos pratos
mais emblemáticos da culinária afro-brasilei-
Evolução na Sociedade Brasileira: Com ra, especialmente associado à Bahia. É feito a
o passar do tempo, a capoeira evoluiu e se partir de uma massa frita de feijão-fradinho
adaptou, tornando-se uma forma de arte úni- e cebola e recheado com camarão, vatapá,
ca que inclui elementos de dança, música e caruru e pimenta. O acarajé é uma iguaria
luta. Durante o período pós-abolição da es- que combina influências africanas, indígenas
cravidão, a capoeira foi perseguida e consi- e portuguesas, resultando em uma explosão
derada ilegal em muitas áreas do Brasil. No de sabores e texturas.
entanto, seus praticantes continuaram a se
reunir e a transmitir seus conhecimentos de Feijoada: A feijoada é considerada o
forma clandestina, preservando assim essa prato nacional do Brasil e tem profundas ra-
rica tradição cultural. ízes na herança africana. Este prato é uma
mistura de feijão-preto cozido com uma va-
Rodas de Capoeira: A prática da capo- riedade de carne de porco, como linguiça,
eira é frequentemente realizada em "rodas carne-seca e costelas. A feijoada teve origem
de capoeira", onde os participantes formam nas senzalas das fazendas de cana-de-açúcar,
um círculo e alternam entre dança e movi- onde os escravizados aproveitavam ao máxi-
mentos acrobáticos, muitas vezes ao som de mo os ingredientes disponíveis, muitas vezes
instrumentos musicais, como o berimbau. As utilizando partes menos nobres dos animais,
rodas de capoeira são um espaço de celebra- como rabos, orelhas e pés. Era uma comida

88
de sustento, que fornecia energia e nutrien- muitos países, lida com o problema do ra-
tes para suportar as duras jornadas de traba- cismo estrutural, no qual pessoas negras
lho. Com o tempo, a feijoada se tornou uma enfrentam discriminação em várias áreas, in-
celebração da diversidade de sabores. cluindo educação, emprego, justiça criminal e
acesso a serviços de saúde. O racismo é um
Cuscuz: O cuscuz brasileiro, diferen- obstáculo para o pleno desenvolvimento da
temente do cuscuz tradicional do Oriente comunidade afro-brasileira e é um desafio
Médio, é uma preparação à base de fubá de contínuo.
milho cozido no vapor. Ele é amplamente
apreciado no Nordeste do Brasil, onde é uma Desigualdade Socioeconômica: A desi-
parte essencial da culinária local. Pode ser gualdade socioeconômica persiste no Brasil,
servido com leite de coco, açúcar, manteiga e e as pessoas negras continuam a enfrentar
queijo coalho, combinando o doce e o salga- níveis desproporcionais de pobreza e falta de
do em uma experiência culinária única. acesso a oportunidades. A falta de igualdade
de acesso à educação, emprego e serviços
Abará: O abará é um prato similar ao básicos é um desafio que requer abordagens
acarajé, também originário da Bahia. Ele é abrangentes.
feito com uma massa de feijão-fradinho, ce-
bola e azeite de dendê, recheado com cama- Movimentos de Conscientização: Nas
rão e condimentos. O abará é cozido a vapor, últimas décadas, o Brasil tem visto o cresci-
o que lhe confere uma textura única e sabor mento de movimentos de conscientização e
característico. ativismo que lutam contra o racismo e pro-
movem a igualdade racial. Organizações,
Moqueca: A moqueca é um prato de como o Movimento Negro, têm trabalhado
frutos do mar típico da região costeira do para sensibilizar o público sobre as questões
Brasil, em especial da Bahia e do Espírito enfrentadas pela comunidade afro-brasileira
Santo. Este ensopado é preparado com peixe e pressionar por mudanças positivas.
ou frutos do mar cozidos em um molho de
azeite de dendê, leite de coco, pimentões, ce- A Lei de Cotas: Uma conquista notá-
bolas e coentro. É uma explosão de sabores e vel foi a implementação da Lei de Cotas, que
aromas que combina ingredientes africanos reserva uma porcentagem de vagas em uni-
e indígenas. versidades públicas para estudantes negros
e pardos. Isso representou um avanço signi-
Vatapá: O vatapá é um prato de ori- ficativo na promoção da igualdade de acesso
gem africana, também associado à culinária à educação superior, embora desafios ain-
baiana. É um creme rico feito com pão, cama- da persistam na garantia da qualidade e da
rão seco, amendoim, leite de coco e azeite de equidade na educação.
dendê. O vatapá é frequentemente servido
como acompanhamento de pratos como o Reconhecimento da Cultura Afro-Bra-
acarajé, contribuindo com uma textura cre- sileira: A valorização da cultura afro-brasilei-
mosa e sabores intensos. ra é uma conquista importante. O reconhe-
cimento e a celebração das contribuições
Pamonha: A pamonha é um prato tí- afro-brasileiras para a música, dança, culiná-
pico da culinária brasileira, especialmente ria, artes e religião enriquecem a identidade
apreciado nas festas juninas. É feita a partir cultural do Brasil e fortalecem os laços da co-
de massa de milho verde ralado, que é tem- munidade afro-brasileira com suas raízes.
perada com açúcar, canela e, por vezes, quei-
jo. A massa é envolvida em folhas de milho e Desafios Contínuos: Apesar das con-
cozida, resultando em um alimento delicioso quistas, os desafios persistem. A luta contra
que combina sabores doces e salgados. o racismo e a desigualdade é um esforço con-
tínuo que requer o compromisso de toda a
Esses pratos refletem a riqueza e a di- sociedade. O Brasil tem um longo caminho a
versidade da culinária afro-brasileira. Cada percorrer na promoção da igualdade racial e
um deles conta uma história única de origens na garantia de direitos iguais para todos os
e influências, revelando a herança africana seus cidadãos.
em cada sabor e tradição.
Esta seção destaca a complexa intera-
ção entre conquistas e desafios que caracte-
2.6 Afro-Brasil: Desafios e Conquistas riza a experiência afro-brasileira. O reconhe-
cimento dos obstáculos enfrentados pela
Embora celebremos a rica herança comunidade afro-brasileira é fundamental
africana no Brasil, é fundamental reconhecer para a busca de uma sociedade mais justa e
os desafios que a comunidade afro-brasileira igualitária, onde a riqueza da herança africa-
enfrenta. Nesta seção, abordaremos ques- na possa ser verdadeiramente celebrada e
tões críticas, como racismo, desigualdade e valorizada.
os movimentos de conscientização que bus-
cam promover a igualdade, destacando tanto
as conquistas quanto os desafios enfrenta- 2.7 Herança Africana na Política e na
dos no presente. Educação
Racismo Estrutural: O Brasil, como A influência da herança africana não

89
está limitada apenas à cultura, mas também
deixou uma marca profunda nas instituições
políticas e educacionais do Brasil. Nesta se- 2.8 Celebrando a Herança Africana no
ção, exploraremos as políticas de ação afir- Brasil
mativa, a promoção da igualdade racial e a O Brasil é palco de uma celebração vi-
inclusão da história africana nos currículos brante e contínua da herança africana. Even-
escolares. tos e festivais em todo o país são expressões
Políticas de Ação Afirmativa: No Bra- vivas dessa influência cultural e promovem a
sil, políticas de ação afirmativa, como as co- unidade e a diversidade. Nesta seção, desta-
tas raciais em universidades públicas e em caremos alguns dos festivais mais notáveis
concursos públicos, têm sido implementadas que celebram a herança africana no Brasil.
para combater a desigualdade racial e garan- Carnaval: O Carnaval é, sem dúvida,
tir a representatividade da comunidade afro- um dos festivais mais famosos do Brasil. Com
-brasileira em posições de poder e influência. suas raízes no período colonial e suas influ-
Essas políticas têm sido um passo importan- ências africanas evidentes, o Carnaval é uma
te na busca por uma sociedade mais justa e celebração espetacular que une milhões de
igualitária. pessoas em todo o país. Os desfiles de es-
Movimentos de Conscientização: Mo- colas de samba no Rio de Janeiro e em São
vimentos e organizações afro-brasileiras têm Paulo, assim como os blocos de rua em todo
desempenhado um papel fundamental na o Brasil, são manifestações vivas da herança
promoção da igualdade racial e na conscien- africana. A música, a dança e os trajes elabo-
tização sobre questões relacionadas à heran- rados são uma homenagem à cultura afro-
ça africana. Esses movimentos buscam com- -brasileira.
bater o racismo, promover a valorização da Festa de Iemanjá: A Festa de Iemanjá,
cultura afro-brasileira e advogar por políticas que ocorre em 2 de fevereiro, é um evento
que garantam a igualdade de oportunidades. importante na cultura afro-brasileira. É uma
Inclusão da História Africana na Educa- celebração dedicada à orixá Iemanjá, a divin-
ção: A inclusão da história africana nos currí- dade das águas e dos oceanos. Pessoas ves-
culos escolares é essencial para garantir que tidas de branco se reúnem nas praias para
as gerações futuras compreendam a impor- fazer oferendas e preces, lançando presentes
tância da herança africana na formação do ao mar. É uma demonstração de fé e devo-
Brasil. A Lei 10.639/2003 tornou obrigatório ção que também destaca a conexão espiritu-
o ensino da história e cultura afro-brasileira al com as tradições africanas.
nas escolas. Isso contribui para a valorização Festival de Capoeira: O Festival de Ca-
das contribuições africanas para a sociedade poeira é uma celebração da arte marcial e
brasileira e para o combate ao racismo. da expressão cultural que combina elemen-
Desafios na Educação: Apesar dos tos de dança, música e luta. É uma oportuni-
avanços, existem desafios na educação que dade para capoeiristas de todo o mundo se
ainda precisam ser enfrentados. A desigual- reunirem, compartilharem suas habilidades
dade no sistema educacional, a falta de ma- e celebrarem a herança africana. O festival
teriais didáticos adequados e a formação de também promove a preservação e a dissemi-
professores para abordar questões de igual- nação da capoeira como uma forma de ex-
dade racial são algumas das áreas que re- pressão cultural única.
querem atenção. Festas Juninas: As Festas Juninas, que
Participação Política Afro-Brasileira: acontecem durante os meses de junho e ju-
A participação política da comunidade afro- lho, são uma celebração da herança africana
-brasileira tem crescido ao longo dos anos. e indígena no Nordeste do Brasil. Elas in-
Políticos negros têm ocupado cargos de des- cluem danças folclóricas, como o forró, comi-
taque, incluindo prefeituras, governos esta- das tradicionais, como a pamonha e a canjica,
duais e o Congresso Nacional. Esse aumento e fogueiras. Essas festas são uma fusão das
na representação política é um passo impor- tradições europeias trazidas pelos coloniza-
tante na busca por políticas que promovam a dores com as influências africanas e indíge-
igualdade racial. nas, criando uma celebração cultural única.
A herança africana deixou uma marca Bloco Afro: Os blocos afro são grupos
profunda na política e na educação do Brasil. de carnaval que destacam as tradições e a
A luta por igualdade racial e a valorização da cultura afro-brasileira. Eles desfilam nas ruas
cultura afro-brasileira são pilares fundamen- durante o Carnaval, promovendo a música, a
tais na construção de uma sociedade mais dança e as vestimentas tradicionais. Blocos
justa e inclusiva. A inclusão da história e cul- afro como o Olodum, em Salvador, Bahia, são
tura africana na educação, juntamente com conhecidos por seu compromisso com a pro-
políticas de ação afirmativa, contribui para moção da cultura afro-brasileira e pela luta
uma sociedade que celebra a diversidade e contra o racismo.
reconhece a importância da herança africana Esses festivais e eventos são testemu-
no país. nhos da diversidade cultural do Brasil e da

90
influência profunda da herança africana na futuro de igualdade, respeito e harmonia.
vida cotidiana. Eles proporcionam oportuni-
dades para as pessoas celebrarem suas ra-
ízes culturais, promovem a conscientização Referências Bibliográfica
sobre a herança africana e contribuem para
a riqueza do panorama cultural brasileiro. BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas
no Brasil. SP: Livraria Pioneira Editora, 1989.
BRAGA, Júlio. Ancestralidade Afro-bra-
3. Conclusão sileira: o culto de Babá Egun. Salvador: CEAO/
A herança africana é uma parte in- Iana má, 1992.
delével da identidade do Brasil, entrelaçada KI-ZERBO, Joseph (ed.). História Geral
na trama de sua história, cultura, política e da África.SP: Ática-Unesco, 1980.
educação. Ao longo deste artigo, exploramos
as muitas facetas dessa influência cultural e LINDOSO, Dirceu. A Diferença Selva-
social, que moldou profundamente o país e gem. RJ: Civilização Brasileira, 1983.
sua gente. A história da diáspora africana, o LUZ, Marco Aurélio. Agadá: dinâmica
legado da escravidão, a riqueza da cultura da civilização africana-brasileira. Salvador:
afro-brasileira e as conquistas e desafios da
comunidade afro-brasileira são todos ele- Centro Editorial e Didático da UFBa:
mentos que compõem essa narrativa com- Sociedade de Estudos da Cultura Negra no
plexa e multifacetada. Brasil, 1995.
A herança africana se manifesta de MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo
maneiras diversas, desde as festas grandio- a Mestiçagem no Brasil: identidade nacional
sas do Carnaval até as celebrações mais ín- versus identidade negra. Petrópolis: Vozes,
timas, como a Festa de Iemanjá. Ela é visível 1999.
nas artes, na música, na dança, na culinária
e na religião. Ela é ouvida no ritmo da capo- OLIVEIRA, Eduardo. Cosmovisão Afri-
eira e na batida do berimbau. Ela é sentida cana no Brasil: elementos para uma filosofia
nas ruas movimentadas das cidades brasilei- afrodescendente. Curitiba: Gráfica e Editora
ras, nos terreiros de candomblé, nas rodas Popular, 2006.
de samba e nas festas juninas que animam SODRÉ, Muniz. O Terreiro e a Cidade: a
o Nordeste. forma social negro-brasileira. Petrópolis: Vo-
Embora tenhamos celebrado a rique- zes, 1988.
za da herança africana ao longo deste artigo, SOMÉ, Sobonfu. O Espírito da Intimi-
também reconhecemos os desafios que a co- dade: ensinamentos ancestrais africanos so-
munidade afro-brasileira enfrenta. O racismo bre relacionamentos. SP: Odysseus Editora,
estrutural, a desigualdade socioeconômica e 2003.
a luta contínua por igualdade são realidades
que não podem ser ignoradas. No entanto,
é importante destacar as políticas de ação
afirmativa, a inclusão da história africana na
educação, o ativismo e o Dia da Consciência
Negra, celebrado em 20 de novembro, que
buscam promover a igualdade racial e a jus-
tiça.
À medida que o Brasil olha para o futu-
ro, é essencial lembrar e celebrar a herança
africana como parte integrante de sua identi-
dade nacional. A herança africana não é ape-
nas um legado do passado, mas uma força
viva que contribui para a diversidade, a rique-
za e a vitalidade da nação. Ao reconhecer as
conquistas e os desafios, podemos aspirar a
uma sociedade mais justa e inclusiva, onde
todos os brasileiros, independentemente de
sua origem, possam contribuir plenamente
para a construção de um país mais igualitário
e diversificado.
A celebração da herança africana no
Brasil, incluindo o Dia da Consciência Negra, é
uma celebração da diversidade e da unidade,
e é um lembrete constante de que a riqueza
da cultura brasileira é fruto da fusão de mui-
tas influências. Que essa celebração continue
a inspirar e a guiar o Brasil em direção a um

91
O CUIDAR E O EDUCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
AURISTELIA DE SANTANA SOUSA

RESUMO sou os tempos, adquirindo feições novas e


ajustando-se as demandas de cada época
Este trabalho trata-se de uma pesqui- histórica.
sa bibliográfica, e aborda as relações e inter-
faces do cuidar e do educar na Educação In- Segundo Palhares (2003), a relação en-
fantil e o delicado papel do educador nesse tre cuidar e educar a criança pequena vem
contexto. O papel da escola. Trata sobre a re- sendo tratada no Brasil há algum tempo, sen-
lação cuidar e educar que se estabelece com do importante destacar o parecer institucio-
a evolução da Educação Infantil, vista inicial- nal da ANPED, publicado na Revista Brasileira
mente como situações particulares, mas que de Educação (1998) e os trabalhos coordena-
deve ser considerada como uma relação de dos / encomendados e publicados pelo MEC
caráter de unicidade, o qual reconhece gra- entre 1994 e 1996, os quais vinham tratando
dativamente a criança como um ser único, a educação infantil como uma questão para
com necessidades e características próprias, o debate: privilegiando a discussão de pro-
cabendo ao Educador apropriar-se deste uni- postas e projetos; buscando disponibilizar o
verso tratando-o com respeito, propiciando conhecimento produzido na área pelas uni-
atividades de aprendizagem que enriqueçam versidades e diferentes grupos de pesquisa;
o seu desenvolvimento. Reflete sobre a rela- objetivando traduzir este conhecimento em
ção cuidar e educar na Educação Infantil. pratica que respeitassem as crianças.
Palavras Chaves: Educação; Relações; Palhares (1998), relata ainda a modifi-
Cuidar; Educar. cação da concepção de “educação
assistencialista” significa atentar para
várias questões que vão além dos aspectos
INTRODUÇÃO legais. Envolve, principalmente, assumir as
Este trabalho surgiu a partir da neces- especificidades da educação infantil e rever
sidade de discutirmos as relação e interfaces concepções sobre a infância. Embora haja
do cuidar e o educar na educação infantil, um consenso sobre as necessidades de que
bem como as práticas pedagógicas. E buscou a educação para as crianças pequenas deva
responder à problemática: É possível disso- promover a integração entre os aspectos físi-
ciar a relação cuidar e educar na Educação cos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais
Infantil? da criança, considerado que este é um ser
completo e indivisível, as divergências estão
Como pressuposto teórico citei auto- exatamente no que se entende sobre como
res que discorrendo sobre o tema, esclarece- trabalhar com cada um desses aspectos.
ram de forma enriquecedora pontos relevan-
tes para o desfecho deste. “Polêmicas sobre cuidar e educar, so-
bre o papel do afeto na relação pedagógica
O estudo reflete ainda sobre o Cuidar e sobre educar para o desenvolvimento ou
e Educar; o que é o cuidar, o educar e suas para o conhecimento tem constituído, por-
relações; o papel do profissional de educação tando, o panorama de fundo sobre o qual se
infantil; o papel da escola. E tem como prin- constroem as propostas em educação infan-
cipal objetivo fazer uma reflexão sobre o que til. A elaboração de propostas educacionais
consiste em cuidar e educar, bem como, dis- veicula necessariamente concepções sobre
cutir as bases do significado destas palavras. criança, educar, cuidar e aprendizagem, cujos
Sabemos que é possível às crianças fundamentos devem ser considerados de
se apropriar dos conhecimentos por meio maneira explícita” (RCNEI, vol. I).
do cuidar e educar, pois a ação do cuidar e Mello e Vitória (2003), apresentam os
educar faz com que elas aprendam de forma termos cuidar e educar com significados par-
inovadora, permite a elas adquirirem esses ticulares na Educação Infantil: o primeiro está
conhecimentos que irão fazer parte de suas associado às necessidades do corpo, está vol-
vidas. Esse processo vai muito além do ato de tado a dar condições de sobrevivência às po-
transmitir conhecimento. Educar é estimular pulações desprivilegiadas.
o raciocínio, é aprimorar o senso crítico, as
capacidades intelectuais, físicas e morais. “O cuidado precisa considerar, princi-
palmente, as necessidades das crianças, que
quando observadas, ouvidas e respeitas, po-
1- O que é o cuidar, o educar e as dem dar pistas importantes sobre a qualida-
suas relações de do que estão recebendo. Os procedimen-
tos de cuidados também precisam seguir
Os seres humanos sempre foram cui- os princípios de promoção à saúde. Para se
dados e educados pelos membros mais ex- atingir os objetivos dos cuidados com a pre-
perientes de seu grupo. Essa tarefa atraves- servação da vida e com o desenvolvimento

92
das capacidades humanas, é necessário que Paralelamente Correa (2006), deixa
as atitudes e procedimentos estejam basea- claro que para quem trabalha com crianças,
dos em conhecimentos específicos sobre o educar é uma tarefa bastante complexa. Não
desenvolvimento biológico, emocional e in- existe uma cartilha para a “boa educação”,
telectual das crianças, levando em conside- temos apenas possibilidades quanto ao que
ração as diferentes realidades socioculturais” pode acontecer de bom ou de mal. Maio-
(RCNEI, vol. I). res chances de bom desenvolvimento da
personalidade acontecem se a criança tiver
Mello e Vitória (2003), citam ainda que um bom ambiente, educação conveniente e
neste caso, na educação infantil o “cuidar” é saúde mental adequada. Pais e educadoras
parte integrante da educação. Cuidar de uma estão juntos na tarefa de educar e “educar
criança em um contexto educativo demanda significa ajudar a criança no desenvolvimen-
a integração de vários campos de conheci- to da sua autonomia, com liberdade de fazer
mento e a cooperação de profissionais de di- escolhas dentro de uma margem razoável de
ferentes áreas. Para um desenvolvimento in- opções”. É preciso ajudar a criança a crescer
tegral a criança depende tanto dos cuidados para ser um adulto responsável, capaz de to-
relacionais que envolvem afeição e cuidados mar decisões e fazer escolhas.
com o corpo, como alimentação e saúde,
quanto da forma como esses cuidados são Correa (2006), afirma ainda que a edu-
oferecidos e das oportunidades de acesso a cação no sentido psicológico da formação
conhecimentos variados. da personalidade envolve muita reflexão,
conhecimento sobre si mesmo e particular-
Signorette (2002), relata que as rela- mente sobre o desenvolvimento emocional
ções ao cuidar, por sua vez, são apresenta- da criança.
das de forma a ressaltar o desenvolvimento
integral da criança, que vai desde aspectos O processo educativo é realizado de
afetivos à qualidade da sua alimentação. O várias formas: na família, na rua, nos grupos
contexto sociocultural surge determinando sociais e, também, na instituição. Nesse pro-
as construções humanas e as necessidades cesso, a educação infantil poderá auxiliar o
básicas de sobrevivência, diferentes em cada desenvolvimento das capacidades de apro-
cultura, o que deixa claro a necessidade de priação e conhecimento das potencialidades
envolvimento e comprometimento do profes- corporais, afetivas, emocionais, estéticas e
sor com a criança em todos os seus aspectos, éticas, na perspectiva de contribuir para a
que no papel do cuidar envolve a compreen- formação de crianças felizes e saudáveis.
são sobre o que ela sente e pensa e o que
traz consigo. Deve-se cuidar da criança como “Educar, significa, portanto, propiciar
pessoa que está num contínuo crescimen- situações de cuidados, brincadeiras e apren-
to e desenvolvimento, compreendendo sua dizagens orientadas de forma integrada e
singularidade, identificando e respondendo que possam contribuir para o desenvolvi-
às suas necessidades. O mais importante é mento das capacidades infantis de relação
compreender como ajudar o outro a se de- interpessoal, de ser e estar com os outros em
senvolver como ser humano. Cuidar significa uma atitude básica de aceitação, de respeito
valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. e confiança, e o acesso, pelas crianças aos co-
O cuidado é um ato em relação ao outro e nhecimentos mais amplos da realidade social
e cultural”. (OSTETTO, 2000).
a si próprio, que possui uma dimen-
são expressiva e implica em procedimentos Pelo exposto, embora existam situa-
específicos. Disso depende a construção de ções que em determinados momentos há um
um vínculo entre quem cuida e quem é cui- responsável para cuidar e outro para educar,
dado. É preciso que o professor possa ajudar de acordo com as novas diretrizes eles devem
a criança a identificar suas necessidades e caminhar juntos contemplando de forma de-
priorizá-las, assim como atendê-las de forma mocrática todas as diferenças e, ao mesmo
adequada. tempo, a natureza complexa do indivíduo.
Plenamente, entendidas e aplicadas, cuidar e
Voltemos a Mello e Vitória (2003), que educar caminham simultaneamente e de ma-
apresentam o segundo termo educar como neira indissociável, possibilitando que ambas
sendo associado ao desenvolvimento intelec- as ações construam na totalidade, a identida-
tual, as possibilidades da mente. de e a autonomia da criança.
“A instituição de educação infantil Concomitantemente Ostetto (2003),
deve tornar acessível a todas as crianças que coloca que o cuidar e educar são impregnar
a frequentam, indiscriminadamente, elemen- a ação pedagógica de consciência, estabele-
tos da cultura que enriquecem o seu desen- cendo uma visão integrada do desenvolvi-
volvimento e inserção social. Cumpre um mento da criança com base em concepções
papel socializador, propiciando o desenvolvi- que respeitem a diversidade, o momento e a
mento da identidade das crianças, por meio realidade peculiares à infância.
de aprendizagens diversificadas, realizadas
em situações de interação” (RCNEI, vol. I). Cuidar e educar implica reconhecer
que o desenvolvimento, a construção dos sa-
beres, a constituição do ser não ocorre em
momentos e compartilhados. A criança é

93
um ser completo, tendo sua interação social “A formação de docentes para atuar
e construção como ser humano permanen- na educação básica far-se-á em nível supe-
te estabelecido em tempo integral. Cuidar e rior, em curso de licenciatura, de graduação
educar significa compreender espaço/tempo plena, em universidades e institutos superio-
em que a criança vive exige seu esforço par- res de educação, admitida, como formação
ticular e a mediação dos adultos como forma mínima para o magistério na educação in-
de proporcionar ambientes que estimulem a fantil e nas quatro primeiras séries do ensino
curiosidade com consciência e responsabili- fundamental, a oferecida em nível médio, na
dade. modalidade normal”. (Lei de Diretrizes e Ba-
ses 9394/96, título VI, art. 62).
Em suma, Mello e Vitória (2003), pro-
põem a tarefa de redefinir os dois termos A questão da formação de professor
cuidar e educar, integrando-os em uma só tem sido um grande desafio para as políti-
meta: mediar o desenvolvimento sociocultu- cas educacionais, segundo Silva (2003), que
ral de nossas crianças desde seu nascimento. afirma também que nesta perspectiva a for-
Afinal um modelo pedagógico que desenhe mação para o trabalho com educação infantil
a especificidade educativa rejeita a ideia de envolve uma série de questões relacionadas
cuidado como mera assistência de custódia. à própria definição da identidade do profis-
sional que atua nessas instituições. Dessa
Cuidar da criança significa exercer forma, focalizemos os processos vivenciados
ações integradas. Em todas as situações vivi- pelos sujeitos ao longo da vida (ou seja, a
das por uma criança em sua cultura, ela tem ação de formar-se), o que se inclui os proces-
oportunidade de aprender novas formas de sos de formação sistemática, voltados para a
ação e de desenvolver-se. São situações nas escolarização e para a qualificação profissio-
quais a criança está sendo cuidada e edu- nal.
cada. Sabemos que se desenvolver signifi-
ca construir a capacidade de fazer sozinhas As redes de ensino deverão colocar-se
coisas que antes era preciso fazer com ajuda a tarefa de investir de maneira sistemática
de alguém. Portanto é necessário que cada na capacitação e atualização permanente e
pessoa seja cuidada e educada por alguém em serviço de seus professores (sejam das
para aprender a cuidar de si e a se educar creches ou pré-escolas), aproveitando as ex-
pelo resto de sua vida e, também, para vir a periências acumuladas daqueles que já vem
cuidar e educar outras pessoas, dando conti- trabalhando com crianças há mais tempo e
nuidade dinâmica à sua cultura. com qualidade. Ao mesmo tempo, deverão
criar condições de formação regular de seus
profissionais... faz-se necessário que estes
2 - O papel do Profissional de Educa- profissionais, nas instituições de educação
ção Infantil infantil tenham ou venham a ter formação
inicial sólida e consistente acompanhada de
A partir de meados dos anos 60 em adequada e permanente atualização em ser-
diante, chamar a professora de “tia” passou a viço (Parecer 04/2000 – Diretrizes Operacio-
ser um hábito na pré-escola. A intenção prin- nais para Educação Infantil).
cipal era tornar a relação professora-aluno
mais próxima e afetiva, em contraposição à Segundo Arroyo (2001), a função do
figura austera e autoritária de até então. Essa professor não se limita em ser bom, cari-
postura, no entanto, foi-se deturpando com nhoso ou até mesmo competente. É preciso
o tempo, confundindo a função do professor pensar nele próprio como um eterno apren-
com relações reais de parentesco. As fun- diz em busca de aprimoramento constante.
ções do profissional de educação infantil es- Ser educador é um modo de ser, é um dever
tão passando por reformulações profundas. ser. Ele deve cuidar de seu percurso de vida...
O que se esperava dele há algumas décadas, Manter uma conversa permanente consigo
não corresponde mais aos dias de hoje. sobre a sua formação... A categoria precisa
se firmar como profissional e pouco adianta
Cortella (2001), mostra que não é in- lutar por salários e por reconhecimento so-
comum, no contato com estudantes de pe- cial se o professor continuar se vendo como
dagogia ou de magistério, que se faça uma um “ensinante”. Essa imagem é pobre e com
pergunta: por que formar-se em Educação? E ela não se espera valorização social. Por esse
quase todas as respostas serem: porque gos- motivo é importante ressaltar que o papel do
to de crianças. Gostar é um passo imprescin- profissional de Educação Infantil não é ape-
dível, mas para além do gostar, há necessida- nas de cuidar da criança e sim, simultanea-
de de também qualificar-se para o exercício mente a este, ele possui um indispensável
competente da profissão. O educador vive papel que é o de Educador.
um momento de transição muito importan-
te. Não se contenta mais em banho, comida Correa (2006), afirma que o profissio-
e colocar as crianças para dormir. As crian- nal torna-se educador na medida em que
ças têm direito a mais do que um serviço as- exercita sua profissão e pensa, reflete so-
sistencial. Ela precisa ter acesso ao saber. A bre as questões que norteiam seu dia-a-dia.
educação não é para o futuro, é para já! Seu papel está em constante construção. O
educador necessita de uma base sólida para
construir o seu papel. E esta base encontra-

94
-se em: Em suma Ostetto (2000), traduz o edu-
cador como sendo o que percebe que, desde
Primeiro: entender a instituição en- bem pequenas, as crianças apresentam atitu-
quanto espaço educativo; des de interesse em descobrir o mundo que
Segundo: entender a criança como um as cerca, o trabalho do educador é estimular
ser único, com especificidades físicas, emo- e orientar as experiências e vivências trazi-
cionais, intelectuais e sociais, inerentes a seu das pelas crianças, de forma que contribuam
desenvolvimento; para o seu desenvolvimento.
Terceiro: entender como a criança “O educador deve conhecer e consi-
aprende. A criança tem suas próprias expli- derar as singularidades das crianças com as
cações sobre a realidade. quais trabalha, respeitando suas diferenças...
O educador é o mediador entre crianças e
Correa (2006), ainda segue indicando os objetos de conhecimento, organizando e
ao profissional de educação Infantil as com- propiciando espaços e situações de aprendi-
petências que dever ter como Educador: res- zagem” (MONTEIRO, 2002, p. 5)
peitar a criança como sujeita do processo
educativo, considerar a realidade da criança; O agir pedagógico do educador deve
atender as necessidades básicas através de atender às reais necessidades das crianças,
uma relação que possibilite a construção da deve ser criativo, flexível, atendendo à indi-
autonomia da criança; elaborar, discutir, re- vidualidade e ao coletivo. Dessa será o eixo
fletir o plano de trabalho propondo modifi- organizador da aquisição e da construção do
cações sempre que necessário; desenvolver conhecimento, a fim de que a criança passe
atividades que possibilitem a integração das de um patamar a outro na construção de sua
crianças que lhe são confiadas. aprendizagem.
“A postura básica do educador é aque-
la aberta, que parte da percepção de cada 3 - O papel da escola
aluno e do grupo como um todo, que possi-
bilita a cada aluno que se conheça e conhe- A discussão sobre o papel e a razão de
ça seu colega, para aí, depois de se detectar ser das instituições de educação infantil tem
quais as dificuldades, lacunas, interesses de estado muito presente entre os educadores
cada grupo, poder ter uma ideia (e sempre vinculados a se definir com clareza seu es-
reformulável durante a sequência do curso paço na sociedade e consequentemente seu
do que poderá ser proposto àquele grupo...” papel, função e os limites de sua atuação.
(ABRAMOVICH)).
Para Kuhlmann Jr. (1998, p.52), do
Para Machado (1991), o educador ide- ponto de vista da interpretação histórica, a
al deve possuir características básicas: ser fragilidade da corriqueira e já tradicional po-
observador, ter olhos, ouvidos, sensibilidade larização entre assistência e educação tem
para perceber as necessidades das crianças, sido superada. Esta polaridade, representan-
do grupo. Deve ser um pensador, pois a re- do o bem e o mal, como um conto de fadas,
flexão precede e acompanha a atuação pro- permite às propostas inaugurarem o novo e
priamente dita. implantar o pedagógico ou o educacional.
Paralelamente Ongari e Molina (2003), Ainda de acordo com Kuhlmann Jr.
trazem a ideia de que uma boa educadora (1998, p.53), desde o século passado tor-
deve ter clara às competências da profissão: nou-se recorrente retribuir as instituições
viver em harmonia com o grupo de traba- de educação infantil à iminência de atingir a
lho, possuir critérios pedagógicos preciosos, condição de educacionais – como se não hou-
saber programar. Muito importante é a ade- vessem sido até então. Muitas vezes como
quação das exigências, às necessidades das forma de justificar novas propostas que, por
crianças, isto é, saber ajustar-se ao que elas sua vez, não chegavam a alterar significativa-
necessitam em diferentes momentos, sen- mente as características próprias da concep-
do fundamental os projetos pedagógicos e ção educacional assistencialista.
a importância da programação. Para a boa
imagem da profissão, ainda há necessidade Kramer (1995), afirma que as institui-
de se ter flexibilidade com a criança e saber ções de educação infantil são equipamentos
trabalhar em grupo. educacionais e não apenas de assistência.
Nesse sentido, uma das características da
“A imagem que se tem de um bom nova concepção de educação infantil reside
profissional de educação infantil e que ela na integração das funções do cuidar e edu-
seja capaz de promover experiências ricas e car.
diversificadas, socialização em grupo, fazer
boa programação didática, saber observar e Concomitantemente Kuhlmann Jr.
intuir as necessidades das crianças, respeitar (1998, p. 6), afirma que a caracterização da
ritmos e tempos, alegrar-se com seus pro- instituição de educação infantil com lugar de
gressos e encorajar sua autonomia”. (ONGA- cuidado-e-educação, adquire sentido quando
RI E MOLINA, 2003). segue a perspectiva de tomar a criança como
ponto de partida para a formulação das pro-
postas pedagógicas ... A expressão tem o ob-

95
jetivo de trazer à tona o núcleo do trabalho des. (Deliberação CME nº 01/99, cap. V, art.
pedagógico consequente com a criança pe- 14)
quena. Educá-la é algo integrado ao cuidá-la.
Faria (1995, p. 79), complementa a
Kramer (1995), afirma ainda que as ideia afirmando que os centros de educação
instituições infantis são um dos contextos de infantil, partindo de que a criança é capaz de
desenvolvimento da criança. Além de prestar múltiplas relações, devem ter espaços flexí-
cuidados físicos, ela cria condições para o seu veis e versáteis diferentes da casa, da escola
desenvolvimento cognitivo, simbólico, social e do hospital, incorporando vários ambientes
e emocional. O importante é que a instituição de vida em contexto educativo a serem cria-
seja pensada não como substituta da família, das tanto pelas crianças como pelos adultos
mas como ambiente de socialização diferen- e que, portanto, então em permanente cons-
te do familiar. Nela se dá o cuidado e a edu- trução, assim como a infância.
cação das crianças, que aí vivem, convivem,
exploram, conhecem, construindo uma visão “É preciso, pois, deixar o espaço sufi-
de mundo e de si mesmas, constituindo-se cientemente pensado para estimular a curio-
como sujeito. sidade e a imaginação da criança, mas incom-
pleto o bastante para que ela se aproprie e
“Se a criança vem ao mundo e desen- transforme esse espaço através de sua pró-
volve-se em interação com a realidade social, pria ação”. (LIMA, 1989, p. 72)
cultural e natural, é possível pensar uma pro-
posta educacional que lhe permita conhecer Concomitantemente Mello e Vitória
esse mundo, a partir do profundo respeito (2003), afirmam ser importante que se cons-
por ela. Ainda não é o momento de sistema- trua ambientes arejados e funcionais, am-
tizar o mundo para apresentá-lo à criança: bientes planejados com brinquedos e obje-
trata-se de vivê-lo, de proporcionar-lhe expe- tos para as crianças manipularem e variadas
riências ricas e diversificadas”. oportunidades de interação criadas pelos
educadores e pelas próprias crianças entre
(KULHMANN Jr., 1998, p. 57) si. Acreditando que a criança é capaz de cons-
truir conhecimentos nas e pelas interações,
De acordo com o RCNEI (vol. I, p. 63) devemos organizar o ambiente considerando
a prática da educação infantil deve se orga- como um “conjunto de espaço físico e inte-
nizar de modo que as crianças desenvolvam rações, feito para explorar com segurança e
as seguintes capacidades: desenvolver uma promover autonomia”.
imagem positiva de si, atuando de forma
cada vez mais independente, com confiança
em suas capacidades e percepção de suas li-
mitações; descobrir e conhecer CONCLUSÃO
progressivamente seu próprio corpo... Durante a pesquisa, constatei que a
estabelecer vínculos afetivos e de troca com dicotomia existente entre cuidar e educar na
adultos e crianças, fortalecendo sua autoes- Educação Infantil tem suas raízes no proces-
tima e ampliando gradativamente suas pos- so histórico, que primeiramente apresentava
sibilidades de comunicação e interação so- uma realidade assistencialista e higienista,
cial; estabelecer e ampliar cada vez mais as voltada para o cuidado e guarda das crianças
relações ...observar e explorar o ambiente menores, onde a principal preocupação era
com atitude de curiosidade ...brincar, expres- proteger as crianças do abandono das famí-
sando emoções, sentimentos, pensamentos, lias e da sociedade. Nesse cenário, as crian-
desejos e necessidades; utilizar as diferentes ças deixaram de ser responsabilidade única
linguagens (corporal, musical, plástica, oral e dos pais e passam a ser responsabilidade
escrita) ajustadas às diferentes intenções e si- também do Estado. A partir da Lei de Dire-
tuações de comunicação, de forma a compre- trizes e Bases de 1996, a Educação Infantil
ender e ser compreendido ... conhecer algu- passa a fazer parte da Educação Básica Brasi-
mas manifestações culturais, demonstrando leira, deixando de ser fundamentalmente as-
atitudes de interesse, respeito e participação sistencialista, tendo a partir de então caráter
frente a elas e valorizando a diversidade. educativo.
De acordo com Faria (1995, p.78) a or- As preocupações com o cuidar e edu-
ganização do espaço físico das instituições de car das crianças passa para situações reais,
educação infantil deve levar em considera- não basta mais cuidar somente, é preciso
ção todas as dimensões potencializadas nas educar, é preciso um trabalho pedagógico re-
crianças: o imaginário, o lúdico, o artístico, o alizados por profissionais capacitados. Ainda
afeto, o cognitivo etc. Portanto ele deve con- conforme a LDB 9394/96, a formação de do-
templar o convívio / confronto de crianças de centes para atuar na educação básica passa a
várias idades e vários tipos de adulto. ser em nível superior, em curso de licenciatu-
ra, de graduação plena. Como formação mí-
Os espaços serão planejados de acor- nima para o exercício do magistério na edu-
do com o projeto pedagógico da instituição cação infantil e nas quatro primeiras séries
de educação infantil, a fim de favorecer o do ensino fundamental, a oferecida em nível
desenvolvimento das crianças de o a 6 anos, médio, na modalidade Normal. Para apoiar
respeitadas as suas necessidades e capacida- o trabalho docente e clarear os horizontes,

96
dando mais oportunidades aos envolvidos no CAMPOS, Maria M.; FÜLLGRAF, Jodete
processo, o Ministério da Educação e Cultura e WIGGERS, Verena. A Qualidade da Educa-
elabora os Referenciais Curriculares Nacional ção Infantil Brasileira: Alguns Resultados de
da Educação Infantil - RCNEI, juntamente com Pesquisa. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 127,
vários profissionais da Educação preocupa- jan./abr. 2006, p. 87-128.
dos com os novos rumos da Educação Infan- CORTELLA, Mário Sérgio. A Escola e o
til e dos seus profissionais. As crianças pas- Conhecimento: Fundamentos Epistemológi-
sam a ser reconhecidas como um ser único, cos e Políticos. 4ª ed. São Paulo, Cortez, 2001.
com necessidades e características próprias. CORREIA, L. de M. Dez anos de Sala-
Deste modo, trato especialmente a relação manca, Portugal e os alunos com necessi-
cuidar educar, por muitos ainda vista como dades educativas. In: RODRIGUES, D. (Org.).
situações particulares e isoladas, mas que já Inclusão e Educação: doze olhares sobre
começa a ser considerada como uma relação a educação inclusiva. São Paulo: Summus,
de caráter de unicidade e indissolução. Com 2006.
efeito, destaco a importância do profissional
de Educação Infantil e o aprimoramento de KRAMER, Sonia. A política do pré-esco-
sua prática pedagógica como norteador dos lar no Brasil: a arte do disfarce. Rio de Janeiro,
Achiamé,1984. p. 54 a 86.
rumos da Educação Infantil.
KRAMER, S. O papel Social da Pré-es-
Enfim, reforço a ideia de que cabe ao cola – 1985. In ROSEMBERG, F. (Org.). Creche.
profissional de Educação Infantil compreen- São Paulo: Cortez, 1989, p. 20-27.
der o universo da criança, tratando-a com
respeito e propiciando atividades de aprendi- KUHLMANN JR., M. Infância e educa-
zagem que enriqueçam seu desenvolvimen- ção infantil: uma abordagem histórica. Porto
to, identidade e autonomia. Isso exige que o Alegre: Mediação, 1998.
professor tenha uma competência polivalen- KUHLMANN, M.J. Educando a Infância
te, e ser polivalente significa que ao professor Brasileira. In: LOPES, E. M. T., et al. 500 Anos
cabe trabalhar com conteúdos de naturezas de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Edito-
diversas que abrangem desde cuidados bási- ra Autêntica, 2000a, p. 446 a 496.
cos essenciais até conhecimentos específicos MACHADO, Maria Lucia. Pré-Escola é
provenientes das diversas áreas do conheci- não é escola, a busca de um caminho. São
mento. Este caráter polivalente demanda, por Paulo, Paz e Terra, 1991.
sua vez, uma formação bastante ampla do
profissional que deve tornar-se, ele também, NASCIMENTO M. E. P. Os profissionais
um aprendiz, refletindo constantemente so- da Educação Infantil e a Nova Lei de Diretri-
bre sua prática, debatendo com seus pares, zes e Bases da Educação Nacional. In: GOU-
LART A. L. F.; PALHARES M.S. Educação Infan-
dialogando com as famílias e a comunidade til pós-LDB: rumos e desafios. Campinas SP,:
e buscando informações necessárias para o Autores Associados; São Carlos, SP: Editora
trabalho que desenvolve. São instrumentos UFSCar; Florianópolis: Editora da UFSC, 2000,
essenciais para a reflexão sobre a prática di- p. 99-112.
reta com as crianças a observação, o regis-
tro, o planejamento e a avaliação, conforme NICOLAU, Marieta Lúcia Machado. A
orienta o próprio RCNEI, volume I. educação pré-escolar: fundamentos e didáti-
ca. São Paulo, Ática, 1989.
O educador deve renovar seu perfil ONGARI, Bárbara; MOLlNA, Paola. A
profissional reconhecendo a ele e a criança educadora de creche construindo suas identi-
como sendo a alma da Educação Infantil e da dades. São Paulo: Cortez Editora, 2003, p172.
escola, interagindo e complementando-se.
OSTETTO, Luciana Esmeralda (org.).
Encontros e encantamentos na educação in-
fantil: partilhando experiências de estágios.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Campinas, Papirus, 2000.
ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa SAVIANI, D. A Nova Lei da Educação:
quem? 10ª ed. São Paulo, Summus editorial, LDB trajetória limites e perspectivas. Campi-
1985. nas, SP: Autores Associados, 1997, 3.ª Edição
ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCA-
Imagens e autoimagens. 2ªed. São Paulo, Vo- ÇÃO- ADI Magistério – Políticas Públicas em
zes, 2000. Educação Infantil-Rota de Aprendizagem.
BRZEZINSKI, I. A formação e a car- Modulo 1 e 2, São Paulo, 2002.
reira de profissionais da educação na LDB SEVERINO, Antônio Joaquim. O Peda-
9394/96: possibilidade e perplexidades. In: gogo no Terceiro Milênio: enfrentando os de-
______. (Org.). LDB Interpretada: diversos safios postos pelas tramas do saber, do fazer
olhares se entrecruzam. São Paulo: Cortez, e do poder. In: COMISSÃO DE PUPLICAÇÕES
2001, p. 147-165. DA FEUSP. Identidade do Pedagogo. São Pau-
CAMPOS, M. M. Questões sobre o per- lo, FEUSP, 1996.
fil do profissional de educação infantil. In: Por SILVA, Isabel de Oliveira e. Profissio-
uma Política de Formação do Profissional de nais da Educação Infantil: Produção e Cons-
Educação Infantil. Brasília: BRASIL/MEC/SEF/ trução de Identidades. 2ªed. São Paulo, Cor-
COEDI, 1994, p. 32-42. tez, 2003.

97
DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL DE ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES
CARLA APARECIDA RULIM FERRARI

RESUMO work and interpersonal relationships, so that


this research was elaborated, the literature
Uma criança com o diagnóstico de review methodology was carried out in which
deficiência, necessita de maiores atenções, 10 scientific articles were selected for refe-
dessa forma, o aluno que possui altas habi- rence and understanding of the subject, ge-
lidades também necessita de maiores aten- nerating a debate between the authors about
ções e projeto educativo, atenções essas que socio-emotional development and how this
podem auxiliar em sua trajetória escolar e lack of this development, even if the student
social, resultando em resultados positivos e has high skills, can influence their routine and
em uma pessoa que apesar de suas deficiên- quality of life, thus concluding the importan-
cias consegue ultrapassar barreiras e vencer, ce of schools, educators and parents working
barreiras essas que podem estar em todas together so that these students develop their
as áreas e dentre elas a socialização, com o social and emotional skills safely and without
intuito de compreender melhor o desenvolvi- feeling pressured.
mento socioemocional do aluno portador de
necessidades especiais realizei esta pesquisa, Keyword: high skills, socio-emotional
estudando meios de como o educador pos- development, inclusion of gifted people.
sa auxiliar no processo de desenvolvimento
dessa área na vida do aluno e o quanto a fal-
ta de desenvolvimento socioemocional pode 1 INTRODUÇÃO
afetar nos resultados apresentados pelo alu-
no, sejam eles na grade escolar ou no dia a A inclusão de pessoas com altas habi-
dia, em seu trabalho e relações interpessoais, lidades ou superdotadas pode ser elaborado
para que essa pesquisa fosse elaborada foi durante a infância, auxiliando em sua trajetó-
realizada a metodologia de revisão de litera- ria e resultados, sabe-se que o aluno com al-
tura ao qual foram selecionados 10 artigos tas habilidades se enxerga de forma diferen-
científicos para referência e compreensão do te dos demais, e pode apresentar alta taxa
assunto, gerando um debate entre os autores de dificuldade em socialização e externizar
acerca do desenvolvimento socioemocional sentimentos, sendo necessário que seu de-
e como esse a falta desse desenvolvimento, senvolvimento socioemocional necessite ser
mesmo que o aluno possua altas habilidades, trabalhado e estudado. O aluno que possui
possa influenciar em sua rotina e qualidade altas habilidades devem ser observado com
de vida, concluindo assim a importância de cautela e
que as escolas, educadores e pais trabalhem de perto, e, esse cuidado com a ques-
em união para que esses alunos desenvol- tão social do aluno superdotado pode estar
vam suas habilidades sociais e emocionais diretamente ligado ao seu sucesso futuro,
com segurança e sem se sentirem pressiona- principalmente ao trazer esse aluno a reali-
dos. dade da necessidade de que o sentimento
PALAVRAS-CHAVE: altas habilidades, existe e que nossa vida social necessita na
desenvolvimento socioemocional, inclusão externização dos sentimentos, o que envolve
de pessoas superdotadas. demonstrar quando está feliz e quando está
infeliz.
Compreende-se que a relação entre a
ABSTRACT família e o aluno superdotado é um fator de
A child diagnosed with a disability ne- grande valia no desenvolvimento desse alu-
eds greater attention, therefore, the student no, levando em consideração a importância
who has high skills also needs greater atten- de que as práticas educacionais sejam efeti-
tion and an educational project, attention vas para seu desenvolvimento em união ao
that can help in their academic and social apoio dos pais na realização da inclusão e na
trajectory, resulting in positive results and a socialização desses alunos, pais esses que
person who despite their disabilities mana- por diversas vezes demonstram a preocupa-
ges to overcome barriers and overcome, bar- ção de que os filhos sofram com brincadeiras
riers that can be in all areas and among them inoportunas e infelizes.
socialization, with the aim of better unders- Os pais que ofertam mais paciência e
tanding the socio-emotional development resiliência com seus filhos com altas habilida-
of students with special needs, I carried out des presando por sua saúde mental, podem
this research, studying ways of the educator influenciar positivamente no desenvolvimen-
can assist in the process of development of to desses alunos resultando em um desen-
this area in the student's life and how much volvimento mais leve e adolescente com me-
the lack of socio-emotional development can nor índice de desafios a serem enfrentados
affect the results presented by the student, pelos alunos ao desenvolver suas habilida-
whether in school or in everyday life, in their des sociais.

98
Essa pesquisa tem como objetivo re- mo que sejam superdotados, porem quan-
alizar a compreensão de como o educador do focamos em problemas emocionais e de
pode auxiliar a família e o aluno com altas comportamento esses adolescentes se apre-
habilidades para que esse aluno tenha a pos- sentam como mais propícios a problemas de
sibilidade de se desenvolver com tranquilida- comportamento internos, como ansiedade,
de, sem maiores preocupações, se sentindo depressão, isolamento social e dificuldades
à vontade para que suas emoções se tornem de pensamento, havendo uma discrepância
aparentes. entre sua capacidade cognitiva e seu desen-
volvimento emocional
Para que essa pesquisa fosse realiza-
da foi feito uma pesquisa bibliográfica, ao Santos, et al., 2022, relata em suas pes-
qual envolveu a seleção de 10 artigos cientí- quisas a importância das habilidades sociais
ficos como referência usando como critério na infância e destaca a necessidade de aju-
de seleção a presença das palavras-chave dar crianças que enfrentam dificuldades em
relacionadas a altas habilidades, desenvolvi- se comportar de maneira socialmente ade-
mento socioemocional, aluno superdotado, quada, ressaltando que muitas vezes esses
dentre outras. Além da seleção do idioma ao comportamentos inadequados são julgados
qual se encontra a pesquisa selecionada para e criticados sem oferecer ajuda às crianças, o
ser referência de pesquisa. que leva à discriminação, discriminação essa
que pode prejudicar o desenvolvimento so-
Em alguns casos é possível comparar a cial dessa criança.
dificuldade de se socializar da criança com al-
tas habilidades com a dificuldade presente na Espanhol, 2020, propôs que fossem
criança que possui o transtorno do espectro realizadas atividades em grupo buscando
do autismo, sendo assim, também pode ser atender as necessidades desses estudantes
utilizada da mesma metodologia pelos dois sem que seja necessário o uso de recursos
grupos a fim de desenvolver melhor a socia- financeiros adicionais as escolas, as ativida-
lização e a demonstração da emoção através des em grupo visam fortalecer a interação e
de expressões, além da compreensão delas. socialização entre os participantes, superan-
do barreiras socioemocionais, promovendo
crescimento e enriquecimento pessoal, além
2. DESENVOLVIMENTO de que, essas atividades também buscam
afastar os estudantes das tecnologias que os
Andrade, et al., 2022, compreendeu a mantêm em casa e afastados do convívio so-
influência das altas habilidades na organiza- cial, convidando-os a participar coletivamen-
ção familiar, compreendendo que algumas te em dinâmicas intelectuais que promovem
famílias se doam 100% para que o filho su- a vivência em grupo.
perdotado possa se desenvolver melhor, po-
rém sabe-se que que isso pode causar situa- Espanhol, 2020, obteve em seu estu-
ções desagradáveis no relacionamento entre do o resultado do enriquecimento dos es-
os pais e os filhos, no entanto, o autor cons- tudantes com altas habilidades, abordando
tatou que nem todas as famílias priorizam a de forma eficaz o desenvolvimento das inte-
necessidade dos filhos com altas habilidades ligências múltiplas e o desenvolvimento so-
de forma integral, principalmente devido a cioemocional, no entanto, é importante que
compromissos financeiros. os professores, como mediadores, possuam
o conhecimento sobre as inteligências múlti-
Andrade, et al., 2022, notou em crian- plas e habilidades interpessoais e intrapes-
ças com altas habilidades casos de proble- soais para conduzir efetivamente o ensino-
mas emocionais e de comportamento, o que -aprendizagem com os estudantes de altas
inclui dificuldades emocionais, isolamento habilidades em grupos.
social e perfeccionismo, essas questões po-
dem resultar na desconexão entre o desen- Newmann, 2020, relata as dificuldades
volvimento cognitivo e emocional, havendo socioemocionais enfrentadas por pessoas
nesse momento a preocupação dos pais com altas habilidades/superdotação e a im-
com as interações sociais de seus filhos e seu portância das relações interpessoais em seu
bem-estar emocional, com medo de que suas desenvolvimento, destacando a capacidade
crianças passem por situações de bullying e de reconhecer expressões faciais desempe-
possam até mesmo se envolver em situações nha um papel fundamental nas interações
de risco. sociais, sendo essencial para a formação de
vínculos afetivos.
Andrade, et al., 2021, em seu estudo
visualizou que as mães das crianças com al- Newmann, 2020, menciona que pes-
tas habilidades era mais envolvidas em sua soas com Transtorno do Espectro Autista
educação, o que pontuou maior responsabi- (TEA) têm maior dificuldade em reconhecer
lidade, apoio emocional e incentivo a autono- expressões faciais, o que os diferencia das
mia, porém um fato importante a ser pontua- pessoas com Altas habilidades, no entanto,
do está na idade dos pais, sendo que os mais ambos os grupos podem enfrentar desafios
jovem tendem a exercer mais controle sobre nas relações interpessoais, e a resiliência
seus filhos, o que pode resultar em menor desempenha um papel importante nesse
estímulo à autonomia dos adolescentes mes- contexto, ao compreender as emoções, as

99
pessoas com altas habilidades são, em sua instrumentos de medição e a amostra ser de
maioria, aquelas relacionadas ao sofrimento, um único estado brasileiro.
enquanto emoções ligadas ao bem-estar são
menos reconhecidas, o que levanta a hipóte- Brognoli, et al., 2020, afirma em seus
se de que isso está relacionado as experiên- estudos a importância da normalização na in-
cias sociais vividas por essas pessoas e como clusão escolar de alunos com altas habilida-
influenciam seu desenvolvimento socioemo- des/superdotação e a necessidade de Atendi-
cional. mento Educacional Especializado (AEE) para
esses alunos, sendo o AEE visto como um
Newmann, 2020, também destaca a aliado para evitar aulas monótonas e repeti-
assincronia, ou seja, a discrepância entre o tivas, estimulando as habilidades dos alunos
desenvolvimento cognitivo e emocional das com altas habilidades por meio de atividades
pessoas com altas habilidades e seus pares, complementares.
e como isso pode afetar suas relações inter-
pessoais, a falta de compreensão por parte Rech e Nigrini, 2019, afirmam a impor-
dos outros pode levar à frustração e ao isola- tância da formação inicial e continuada dos
mento, criando um ciclo vicioso de dificulda- professores para a inclusão escolar, especial-
des sociais, sendo importante que haja a pro- mente no que diz respeito aos alunos com
moção do desenvolvimento socioemocional altas habilidades/superdotação e suas pes-
das pessoas com altas habilidades ao longo quisas resultaram na compreensão limitada
de sua educação, desde a infância até o en- sobre as práticas pedagógicas inclusivas para
sino superior, a fim de ajudá-las a lidar com esses alunos, associando principalmente a
essas dificuldades e a desenvolver relaciona- inclusão à individualização das atividades,
mentos interpessoais saudáveis. mas não compreendem a necessidade de ar-
ticulação e colaboração com a comunidade
Virgolim, 2021, destaca a relação en- escolar e os próprios alunos.
tre criatividade e habilidades socioemocio-
nais em estudantes, sendo que a criatividade Rech e Nigrini, 2019, destaca o quan-
está positivamente relacionada a habilidades to é importante de uma formação contínua
como amabilidade, abertura a novas experi- para que os professores possam desenvolver
ências e conscienciosidade. A amabilidade, estratégias pedagógicas eficazes para a inclu-
que envolve a cooperação, empatia e relacio- são escolar dos alunos com altas habilidades/
namentos interpessoais, é vista como uma superdotação, além disso, destaca a necessi-
característica da personalidade criativa. A dade de políticas públicas que respaldem o
abertura a novas experiências está relacio- trabalho dos professores do ensino regular
nada à curiosidade e imaginação, que são em conjunto com especialistas em educação
essenciais para o pensamento criativo. A especial.
conscienciosidade, que inclui organização e
persistência, é importante para o desenvolvi-
mento criativo a longo prazo, especialmente RELAÇÃO ENTRE A FAMÍLIA E O DE-
na fase de implementação. SENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL
Rech e Negrini, 2019, entendem que Compreende-se a importância de uma
a prática pedagógica é definida como um interação familiar adequada para que essas
processo amplo que abrange desde o plane- crianças possam ter espaço para se desen-
jamento das estratégias de ensino até a co- volverem com tranquilidade, conforme An-
laboração entre professores e alunos para a drade, et al., 2022 estudou as relações fami-
construção do conhecimento, no entanto, os liares por detrás de alunos superdotados,
professores entrevistados revelaram dificul- encontraram abordagens autoritativas, que
dades em implementar práticas pedagógicas tendem a ser mais benéficas para o bem-es-
inclusivas para alunos com altas habilidades, tar psicológico das crianças superdotadas em
alguns profissionais da educação menciona- seu desenvolvimento, e autoritárias, que po-
ram a importância de que atividades diferen- dem produzir um efeito negativo nessa crian-
ciadas fossem ofertadas a esses alunos, mas ça como práticas educativas parentais.
então compreenderam a falta de formação e Andrade, et al., 2021, também pon-
conhecimento sobre o tema, afirmando as- tuou que as práticas educativas maternas
sim o quanto é importante que sua formação estão fortemente relacionadas aos proble-
seja ampliada através de cursos e leituras re- mas emocionais e de comportamento que as
lacionadas ao tema. práticas educativas paternas, onde um baixo
Virgolim, 2021, compreende que a re- apoio emocional materno e menor incentivo
lação entre conscienciosidade e criatividade a autonomia podem incendiar uma maior in-
não é estável, ao qual surpreendentemente, cidência de problemas internos, relacionan-
não foi encontrada uma correlação entre ex- do então mães mais afetuosas e com regras
troversão e criatividade, o que contrasta com claras com melhores resultados para os ado-
estudos anteriores que sugerem que pesso- lescentes superdotados.
as extrovertidas são mais criativas, o autor,
ressalta que os resultados devem ser inter-
pretados com cautela devido às limitações
no estudo, como o número de participantes,

100
A ESCOLA E OS PAIS EM UNIÃO PARA 3. CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FI-
AUXILIAR NO DESENVOLVIMENTO SOCIOE- NAIS
MOCIONAL
Podemos concluir com base nos estu-
O "Treino de Habilidades Sociais" é dos realizados acima a importância de que a
apresentado por Santos, et al., 2022, como escola e os pais andem de mãos dadas quan-
uma abordagem para ajudar crianças a de- do se trata do desenvolvimento de alunos
senvolver empatia, melhorar seu compor- que possuem altas habilidades, auxiliando
tamento e lidar com agressividade e outros assim em sua autonomia e possibilidade de
comportamentos negativos, enfatizando a evolução, evolução essa que inclui a realiza-
importância de analisar cada comportamen- ção da ligação entre o desenvolvimento cog-
to inadequado com empatia e aplicar estraté- nitivo e da interação socioemocional dessas
gias adequadas para promover o desenvolvi- crianças.
mento saudável da criança, além de destacar
a importância de ensinar às crianças princí- Foi possível compreender melhor a in-
pios sociais adequados para ajudá-las a inte- fluência das abordagens realizada pelos pais
ragir positivamente com os outros. no desenvolvimento da criança superdotada,
onde as abordagens realizadas pela mãe têm
A falta de habilidades sociais pode le- influência direta em seu desenvolvimento
var a complicações na vida social das crian- emocional, social e até mesmo escolar, afinal
ças, pois as pessoas tendem a se afastar o aluno que a mãe não costuma se introdu-
daqueles que se comportam mal, Santos, et zir completamente em seu contexto escolar
al., 2022, argumenta que o Treinamento de pode apresentar problemas internos, proble-
Habilidades Sociais deve envolver a família e mas esse que se relacionam a saúde mental.
a escola, construindo uma parceria para ensi-
nar comportamentos socialmente aceitáveis Para que tal complicação não ocorra é
às crianças, além de enfatizar a importância importante que a escola trabalhe em união
de disseminar informações sobre o Treina- aos pais na busca de auxiliar o aluno em seu
mento de Habilidades Sociais por meio de desenvolvimento, onde palestras sobre o
leituras, palestras e reuniões nas escolas. apoio familiar e a importância de a família es-
tar antenada com as necessidades dos filhos
Da Cunha e Rondini, 2020, relata as são de extrema importância.
queixas prestadas pelas mães de estudan-
tes com indicadores de altas habilidades/ Diversos pais chegam a se sacrifica-
superdotação, queixas essas que incluem rem de diversas maneiras com o objetivo de
problemas de comportamento, indisciplina ofertar aos filhos a possibilidade de melhor
e dificuldades na interação social com cole- desenvolvimento de suas altas habilidades,
gas da mesma idade, que segundo as mães porém nem sempre isso acontece, compre-
essas queixas estão relacionadas às habili- endemos através dessa pesquisa a o quanto
dades superiores de seus filhos enfatizando a relação entre os pais afetam os alunos que
a importância de a escola ser uma rede de possuem altas habilidades podendo chegar
apoio para mapear os interesses dos alunos a impedir que esses alunos se sintam au-
com altas habilidades e destacando a neces- tossuficientes para que sejam aceitos pela
sidade de uma educação continuada para os sociedade, compreendendo assim que pais
professores trabalharem de forma eficaz e com maior compreensão do poder dos filhos
inclusiva com esses alunos, não deixando de e liberdade de que estes venham a agir com
lado a importância da parceria entre escola e naturalidade colocando a saúde mental do
família no processo de desenvolvimento des- filho em primeiro lugar em suas vidas pode
ses alunos. resultar em melhor desenvolvimento socioe-
mocional dessa criança independente de sua
Rech e Negrini, 2019, enfatizaram a situação, porem em casos ao qual os pais são
importância da colaboração entre professo- extremamente rígidos e autoritários é com-
res do ensino regular e da educação especial, preendido que esses alunos não possuem
parceria essa que permitiria o planejamento a liberdade de se apresentarem como são,
de estratégias educacionais na atenção inte- o que os tornam retraídos e com facilidade
gral às necessidades específicas dos alunos em desenvolver dificuldades de socialização
com altas habilidades, como o enriqueci- e externalização de suas emoções.
mento curricular, ressaltaram também a im-
portância de conhecer os interesses e habi-
lidades dos alunos para adaptar as práticas REFERÊNCIAS
pedagógicas de forma significativa, sendo im-
prescindível dessa forma que os educadores Andrade, EID; et al. Dinâmica familiar,
possuam uma formação adequada para que práticas educativas e problemas emocionais/
saibam como lidar com alunos com altas ha- comportamentais: percepção parental sobre
bilidades/superdotação e destacando a im- adolescentes com altas habilidades ou super-
portância da colaboração entre professores dotação intelectiva. Ciências Psicológicas, v.
e o envolvimento dos alunos no processo de 16, n. 2, p. e-2327, julho-dezembro 2022. doi:
construção do conhecimento como elemen- 10.22235/cp. v16i2.2327.
tos essenciais para práticas pedagógicas in- Andrade, EID; et al.
clusivas eficazes.

101
Práticas Educativas Parentais e
Problemas
Emocionais/Comportamentais
em Adolescentes com Altas Habilidades/
Superdotação Intelectivas. Psicologia: Ciência
e Profissão, v. 41, n. spe 3, e203883, p. 1-15,
2021. doi.org/10.1590/1982-3703003203883
Brognoli, MO e Santos, SA. Altas Habili-
dades/Superdotação (AH/SD) e o Atendimen-
to Educacional Especializado (AEE). Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conheci-
mento. Ano 05, Ed. 11.
da Cunha, VAB e Rondini, CA. Queixas
escolares apresentadas por estudantes com
altas habilidades/superdotação: Relato ma-
terno. Psicologia Escolar e Educacional. 2020,
v. 24
Espanhol, FCS. Propostas de ativida-
des em grupo para estudantes com altas ha-
bilidades/superdotação. Revista Diálogos e
Perspectivas em Educação Especial, v.7, n.1,
p. 23-36, jan.-jun., 2020.
Nakano, TC; et al. Habilidades do sé-
culo XXI: relações entre criatividade e com-
petências socioemocionais em estudantes
brasileiros. Educar em Revista, Curitiba, v. 37,
e81544, 2021.
Neumann, P. Altas habilidades/super-
dotação e desenvolvimento socioemocional:
responsabilidade da educação e da psicolo-
gia. Revista Educação Especial em Debate, v.
5, n. 10, p. 15-36, jul./dez. 2020.
Rech, AJD e Negrini, T. Formação de
professores e altas habilidades/superdota-
ção: um caminho ainda em construção. Re-
vista Ibero-Americana de Estudos em Educa-
ção, Araraquara, v. 14, n. 2, p. 485-498, abr./
jul., 2019. E-ISSN: 1982-5587.
Santos, CP; et al. Habilidades sociais
na infância. Revista Ibero-Americana de Hu-
manidades, Ciências e Educação. São Paulo,
v.8, n.05, maio. 2022.
Virgolim, A. As vul-
nerabilidades das altas habilidades
e superdotação:questões sociocognitivas e
afetivas. Educar em Revista, Curitiba, v. 37,
e81543, 2021.

102
EDUCAÇÃO ESPECIAL: INCLUSÃO DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
CARLA CRISTINA GONZAGA VALDO

RESUMO lectual é tratada ainda nos modelos antigos


de uma educação que mantém o aluno na es-
A Educação tem objetivos para incluir cola sem perspectiva de uma aprendizagem
os alunos no âmbito sociocultural e deve se- significativa, mas cumpre com a legislação
guir passos para atingir os objetivos de uma de tê-lo presente na sala de aula, sem o re-
educação inclusiva a todos alunos. Mas a conhecimento da diversidade e o tratamento
educação não é igual para todos, cada um se- subjuntivo da não aprendizagem pela defici-
gue um ritmo, exercida por uma diversidade ência.
cultural, com diferentes processos de apren-
dizagem. O currículo aparece de uma forma O objetivo geral do trabalho é verificar
unificada de ensinar e aprender ou não atu- a inclusão da deficiência intelectual na escola
alizaram as políticas públicas de inclusão de e tem como objetivos específicos analisar no-
alunos com deficiência, transtornos globais vos conceitos da Educação Especial, verificar
do desenvolvimento e altas habilidades/su- a terminologia da deficiência mental para in-
perdotação. A inclusão na educação surgiu telectual e verificar a promoção de aprendi-
como conquistas da sociedade, mas ainda zagem para deficiência intelectual.
tratam a educação de modo padronizado,
não respeitam as diferenças. A deficiência Diante das especificações da Educação
intelectual surgiu como uma nova terminolo- Especial, como é possível incluir uma criança
gia, nos quais foi definido padrões de avalia- com deficiência intelectual para uma promo-
ções, mas não trabalham em cima da apren- ção de aprendizagem?
dizagem, considerando fatores biológicos A justificativa do trabalho é as aborda-
impeditivos para trabalhar as habilidades. gens da Educação Especial e as transforma-
O professor pode mudar o contexto de uma ções mediante a aprendizagem. A educação
educação para inclusão e aprendizagem. passa apor muitas fases de transformações
PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. De- junto com as transformações mundiais. Sur-
ficiência Intelectual. Educação especial. gem sempre novas abordagens e novos con-
ceitos de ensinar e aprender e na Educação
Especial não modificam o tratamento. Muitos
professores não buscam especializações e
ABSTRACT formações específicas, presos em conceitos
Education has objectives to include e paradigmas da educação de transpasse,
students in the sociocultural context and como se o professor fosse dono do saber.
must follow steps to achieve the objectives Apesar que a escola pública não ofere-
of an inclusive education for all students. ce muitos subsídios ou ainda não avançaram
But education is not the same for everyone, para tecnologia assistiva, ou seja, o professor
everyone follows a rhythm, carried out by cul- tem pouco suporte, porém, a escola faz par-
tural diversity, with different learning proces- te de um conjunto de possibilidades para os
ses. The curriculum appears to be a unified alunos aprenderem, há projetos acessíveis
way of teaching and learning or public poli- que podem ser utilizados para intervenção,
cies for the inclusion of students with disa- tudo depende da forma de como o professor
bilities, pervasive developmental disorders quer caminhar na sua profissão.
and high abilities/giftedness have not been
updated. Inclusion in education emerged as
an achievement of society, but they still treat
education in a standardized way, not respec- DESENVOLVIMENTO
ting differences. Intellectual disability emer- EDUCAÇÃO ESPECIAL: NOVOS TEM-
ged as a new terminology, in which evalua- POS
tion standards were defined, but they do not
work on learning, considering biological fac- A escola no contemporâneo tem no-
tors that impede working on skills. The tea- vas abordagens para o aprendizado de todos,
cher can change the context of education for sem exclusão, sendo acrescentado cada vez
inclusion and learning. mais assistência, novos métodos e práticas,
na busca de vencer as barreiras das dificul-
KEYWORDS: Learning; Intellectual Di- dades de aprendizagens e a promoção social
sability; Special education. dos alunos.
Desta forma, para atingir o objetivo,
1 INTRODUÇÃO conforme Coll, Marchesi e Palácios (2004), a
escola deve ter o equilíbrio de forma educa-
A Educação Especial diante das diver- tiva, de forma compreensiva e diversificada,
sidades traz conceitos e terminologias, me- proporcionando uma cultura comum a todos
diados para uma inclusão. A deficiência inte- os alunos, evitando a discriminação e a de-

103
sigualdade de oportunidades e respeitando sistematizando conquistas.
ao mesmo tempo, as características e neces-
sidades individuais. Desta forma, algumas crianças que
não acompanham o ensino como se espera
Existem necessidades educativas co- que façam, ou não apresentam a resposta es-
muns compartilhadas por todos os alunos, perada, são rotuladas como aquelas que têm
relacionadas às aprendizagens essenciais dificuldades de aprendizagem. (MARTINEZ;
para o seu desenvolvimento pessoal e sua TACCA, 2011, p. 149).
socialização, que se expressam no currículo
escolar. Nem todos os alunos, porém, en- Ainda convivemos com concepções
frentam com a mesma bagagem e da mes- de desenvolvimento arraigadas em modelos
ma forma as aprendizagens estabelecidas deterministas, com padrões normativos de
nele, visto que têm capacidades, interesses, aprendizagem e modelos preestabelecidos
ritmos, motivações e experiências diferentes de relacionamentos entre as pessoas, que
que medeiam seu processo de aprendizagem impingem à deficiência um caráter de déficit
(COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004, p. 290). permanente. (DIAS; OLIVEIRA, 2013, p. 179)
De acordo com Brasil (2012) o pro- Desta maneira, o conjunto de especifi-
cesso de inclusão de alunos com deficiência cidades dos saberes desenvolvido, conforme
tem se desenvolvido de maneira cada vez Martinez e Tacca (2011), em tempos anterio-
mais consistente e plena no país e, em 2008, res, pelo movimento da inclusão, a Educação
o Ministério da Educação publicou o docu- Especial passou a ser questionada, sendo
mento que define as diretrizes nacionais so- considerada ultrapassada, pois o desafio dei-
bre como os municípios e Estados da União xou de ser de poucos para alcançar a todos
deverão implementar e desenvolver políti- que estão efetivamente envolvidos com a
cas públicas de inclusão de alunos com de- educação e o processo de aprender.
ficiência, transtornos globais do desenvolvi- Assim, de acordo com Martinez e Tac-
mento e altas habilidades/superdotação, nos ca (2011) a organização da escola está, histo-
quais essa política se materializa por meio ricamente, para uma transmissão de cultura
do Atendimento Educacional Especializado dominante, com a tentativa dessa transmis-
(AEE), que se constitui em um sistema de são para que seja uniforme, ou seja, que to-
apoio com orientação inclusiva, oferecendo das as pessoas aprendam as mesmas coisas,
aos alunos público-alvo da Educação Especial da mesma maneira e ao mesmo tempo, con-
(alunos com deficiências, transtornos invasi- teúdos escolhidos e organizados de manei-
vos do desenvolvimento e altas habilidades/ ra padronizada, não ocorrendo espaço para
superdotação) reais oportunidades de serem manifestações singulares que compõe a di-
incluídos na escola regular, em turno oposto versidade da sala de aula.
ao frequentado na sala comum.
Martinez e Tacca (2011) coloca que
Segundo Coll, Marchesi e Palacios hoje as escolas públicas brasileiras vivem
(2004) o objetivo fundamental da educação uma emergência de inclusão de crianças com
escolar é promover de forma intencional o deficiência e inclui-las na escola e acabar com
desenvolvimento de capacidades e apropria- a segregação, garantindo o direito de todos
ção de determinado conteúdo da cultura, à educação tem sido expressões aclamadas
necessários para que os alunos possam ser com veemência ultimamente.
membros ativos do seu âmbito sociocultural
de referência. Porém, em uma perspectiva dialógica
de cunho histórico-cultural, a natureza defi-
O que se nota é que na trajetória de citária da deficiência intelectual toma outros
implantação de uma política pública para contornos, permitindo trajetórias de vida di-
atendimento aos alunos com necessidades ferenciadas e autônomas às pessoas. A defi-
educacionais especiais está implícita uma ciência deixa de ser uma condição restritiva
preocupação do Estado em oferecer a eles e passa a ser uma possibilidade de desenvol-
um conjunto de suportes que lhes garantam vimento que se constrói no entrelaçamento
o pleno acesso ao currículo e uma educação dialético entre as condições ambientais, his-
de qualidade em uma perspectiva inclusiva. tórico-culturais e as condições subjetivas da
Todas as ações propostas e desenvolvidas pessoa que um dia recebeu o diagnóstico de
convergem para a política inclusiva defen- deficiência intelectual. (DIAS; OLIVEIRA, 2013,
dida no território nacional. (BRASIL, 2012, p. p. 179).
23).
Deste modo, a deficiência intelectual
Conforme Martinez e Tacca (2011) em passa a ser olhado de uma outra maneira em
nosso país, a partir da década de 1990, o pro- condições de aprendizagem, no modo singu-
cesso de mudança política que visava garan- lar de que cada criança tem seu ritmo e modo
tir o princípio da inclusão veio sendo estabe- de aprender e seu próprio desenvolvimento.
lecido pela pressão de grupos da sociedade
civil, organizada pelos poderes governamen- Segundo Almeida (2012) coloca que
tais para o estabelecimento dos direitos e até a Constituição de 1988, eram voltadas à
oportunidades igualitárias para pessoas com filantropia ou à internação das pessoas com
deficiências, estabelecendo leis e decretos, deficiência em instituições particulares que

104
as isolavam do convívio social e, quando ha- ro de estudantes e serviços de apoio com-
via algum movimento inclusivo, era por inicia- plementar especializado na rede pública de
tiva particular de um núcleo social ou família ensino (SEPR, 2021).
isolada e foi após a Constituição Brasileira de
1988 que os direitos à educação de pessoas Desta forma, conforme SEPR (2021)
com deficiência se consolidou nacionalmen- Diante do cenário da educação inclusiva,
te, em caráter oficial e definitivo, apesar das onde importantes mudanças conceituais são
disputas entre posições conservadoras e pro- pautadas nas potencialidades e capacidades
gressistas no que se refere a diferentes pers- do grupo de estudantes com deficiência inte-
pectivas ideológicas, políticas, econômicas e lectual, não mais nos aspectos negativos e de
culturais. incapacidade, este departamento adotou a
terminologia deficiência intelectual, anterior-
A escola inclusiva pretende acolher a mente denominada de deficiência mental.
todos, até mesmo os que possuam neces-
sidades educacionais especiais, tornando a
sociedade mais equânime, menos segregató- DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E DEFICI-
ria e, portanto, mais democrática (ALMEIDA, ÊNCIA MENTAL
2012, p. 19). Ou seja, começou a aproximar e
incluir a todos sem exceção. De acordo com Pan (2013) há um de-
bate entre as expressões “deficiência mental”
O processo de inclusão de alunos com e “deficiência intelectual” que surgem das
deficiência tem se desenvolvido de maneira discussões dos meios acadêmicos e científi-
cada vez mais consistente e plena no país e, cos que buscam superar as concepções de
em 2008, o Ministério da Educação publicou “mente” e “inteligência” para compreendê-
o documento que define as diretrizes nacio- -las nos campos das diferenças humanas e
nais sobre como os municípios e Estados da intelectuais. Desse modo, o termo mais co-
União deverão implementar e desenvolver mumente encontrado na legislação em boa
políticas públicas de inclusão de alunos com parte da produção científica contemporânea
deficiência, transtornos globais do desenvol- é “deficiência mental”, mas a expressão “defi-
vimento e altas habilidades/superdotação ciência intelectual “é mais indicada.
(ALMEIDA, 2012, p. 19).
Conforme Coll, Marchesi e Palacios
Mas, segundo Almeida (2012) com o (2004) o que se entende como deficiência
paradigma da inclusão, houve uma mudan- mental foi identificada e conhecida no pas-
ça do papel do professor especializado e da sado, mas passou a ser objeto de atenção
função desse tipo de atendimento, no qual médica e pedagógica, de estudo científico,
para que o processo de inclusão caminhe em no final do século XVIII. Era diagnosticada por
uma “via de mão dupla”, ou seja, além da es- um conjunto de sintomas presentes em um
cola o aluno precisa se instrumentalizar para grupo amplo e heterogêneo de anomalias,
fazer parte da sociedade, sendo imprescindí- com um elemento comum, apresentando dé-
vel que a sociedade também faça a sua par- ficits irreversíveis na atividade mental supe-
te, adaptando-se e se modificando para que rior, adotados por conceitos da psicometria
esse aluno seja plenamente incluído aos pro- relacionados à idade mental e quociente in-
cessos pedagógicos. telectual.
Assim, conforme Almeida (2012) o alu- Atualmente, predominam dois enfo-
no com deficiência intelectual só poderá ser ques na construção teórica da deficiência
encaminhado para o atendimento especiali- mental, por um lado, um conceito funcio-
zado mediante avaliação pedagógica realiza- nal, centrado no funcionamento adaptativo
da pelo professor especializado, no qual essa da pessoa com deficiência nas atividades da
avaliação deverá levar em consideração os vida diária; por outro, no estremo oposto,
aspectos cognitivos, motores, afetivos e so- na ordem da construção teórica, uma análi-
ciais do aluno, procurando observar seu de- se dentro do marco da psicologia cognitiva.
senvolvimento global. (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004, p. 194).
A legislação brasileira, bem como as De acordo com Martinez e Tacca
políticas públicas na área da Educação Es- (2011) o termo “deficiência intelectual” é ado-
pecial, tem como características ser fruto de tado atualmente, mas, essa nomenclatura
contextos históricos e sociais que sofrem for- foi oficialmente utilizada, em 1995, quando
te influência de documentos internacionais a Organização das Nações Unidas juntamen-
(ALMEIDA, 2012, p. 47). te com instituições realizara em Nova York
Segundo a Organização Mundial da o simpósio chamado Intellectual disability:
Saúde - OMS, em tempos de paz, 10% da po- programs, polices, andplaning for the future
pulação de qualquer país apresenta algum (Deficiência Intelectual: programas, políticas
tipo de deficiência. Metade dessas pessoas e planejamento para o futuro.)
classificam-se como deficientes intelectu- De acordo com Camacho (2008) é in-
ais. Assim, a área da Deficiência Intelectual e dissociável e noção de deficiência intelec-
Múltiplas Deficiências constitui dentro do De- tual e a noção de inteligência, nos quais, na
partamento de Educação Especial e Inclusão primeira metade do século XX, o quociente
Educacional, a que apresenta o maior núme-

105
de inteligência (QI) foi entendido como uma te, em caráter oficial e definitivo, apesar das
estimativa de um potencial intelectual inato, disputas entre posições conservadoras e pro-
um reflexo de uma Inteligência geral, unidi- gressistas no que se refere a diferentes pers-
mensional, unideterminada, inalterável, e pectivas ideológicas, políticas, econômicas e
não permeável às influências socioculturais culturais.
e educativas. “Paralelamente, a deficiência
intelectual foi perspectivada como um défi- A escola inclusiva pretende acolher a
ce intelectual, de que o QI era a expressão todos, até mesmo os que possuam neces-
numérica, de natureza individual e etiologia sidades educacionais especiais, tornando a
orgânica, imutável, incurável.” (CAMACHO, sociedade mais equânime, menos segregató-
2008, p. 4). ria e, portanto, mais democrática (ALMEIDA,
2012, p. 19). Ou seja, começou a aproximar e
Conforme Camacho (2008) foi a partir incluir a todos sem exceção.
da definição pelo QI que se elaborou o siste-
ma de classificação que viria a definir quatro O processo de inclusão de alunos com
categorias de deficiência intelectual: ligeira, deficiência tem se desenvolvido de maneira
moderada, severa e profunda. cada vez mais consistente e plena no país e,
em 2008, o Ministério da Educação publicou
Brasil (2012) coloca que por haver o o documento que define as diretrizes nacio-
entendimento de que o termo deficiência in- nais sobre como os municípios e Estados da
telectual é mais adequado para referir-se ao União deverão implementar e desenvolver
funcionamento do intelecto (especificamen- políticas públicas de inclusão de alunos com
te) e não ao funcionamento da mente como deficiência, transtornos globais do desenvol-
um todo, e em conformidade com as tendên- vimento e altas habilidades/superdotação
cias contemporâneas da educação especial, (ALMEIDA, 2012, p. 19).
é preferível utiliza a expressão deficiência in-
telectual em detrimento de deficiência men- Mas, segundo Almeida (2012) com o
tal, apesar de não terem ocorrido, ainda, as paradigma da inclusão, houve uma mudan-
alterações formalizadas desse entendimento ça do papel do professor especializado e da
na legislação. função desse tipo de atendimento, no qual
para que o processo de inclusão caminhe em
De acordo com Martinez e Tacca (2011) uma “via de mão dupla”, ou seja, além da es-
muitos autores criticam o modelo médico cola o aluno precisa se instrumentalizar para
que entende a deficiência como uma doença fazer parte da sociedade, sendo imprescindí-
crônica, cabendo ao psicólogo a identificação vel que a sociedade também faça a sua par-
do nível de inteligência do sujeito, nos quais te, adaptando-se e se modificando para que
os conceitos de anormalidade e normalidade esse aluno seja plenamente incluído aos pro-
estão condicionados à presença ou ausência cessos pedagógicos.
de processos biológicos observáveis.
Tédde (2012) coloca que a educação
Logo, a mudança da terminologia de inclusiva é o processo que garante a matrí-
deficiência mental para intelectual, conforme cula de todas as crianças, portadoras ou não
Martinez e Tacca (2011), teve pretensão de portadoras de necessidades educacionais
esclarecer que se trata de funcionamento de especiais, na rede regular de ensino (Inter-
intelecto e não da mente como um todo. national Disability and Development Consor-
tium, 1998). Devido, as grandes mudanças
A deficiência intelectual “é definida que ocorreram na estruturação da educação,
como uma incapacidade caracterizada por após muitos anos, as escolas passam a mu-
limitações significativas tanto no funciona- dar suas políticas pedagógicas, graças a gran-
mento intelectual e comportamento adapta- des lutas.
tivo, que abrange várias habilidades sociais.
Esta deficiência se origina antes dos 18 anos.” Almeida (2012) coloca então que a
(MARTINEZ; TACCA, 201, p. 117). forma com que o aluno incorpora e intera-
ge com as exigências provindas do meio, no
A Deficiência Intelectual (DI) dentro da desempenho de suas necessidades de inde-
educação traz um conceito de um processo pendência pessoal, de acordo com sua faixa
de inclusão, devendo ser analisados muitas etária e o conteúdo cultural que lhe foi trans-
questões de aprendizagens, entre elas, entra ferido, observado ou experienciado, indicam
a alfabetização, que envolve o desenvolvi- o funcionamento adaptativo e no aluno com
mento da linguagem e comunicação. deficiência intelectual observa-se ocorrência
Segundo Almeida (2012) coloca que de prejuízos no funcionamento adaptativo.
até a Constituição de 1988, eram voltadas à Almeida (2012) coloca então que a
filantropia ou à internação das pessoas com forma com que o aluno incorpora e intera-
deficiência em instituições particulares que ge com as exigências provindas do meio, no
as isolavam do convívio social e, quando ha- desempenho de suas necessidades de inde-
via algum movimento inclusivo, era por inicia- pendência pessoal, de acordo com sua faixa
tiva particular de um núcleo social ou família etária e o conteúdo cultural que lhe foi trans-
isolada e foi após a Constituição Brasileira de ferido, observado ou experienciado, indicam
1988 que os direitos à educação de pessoas o funcionamento adaptativo e no aluno com
com deficiência se consolidou nacionalmen- deficiência intelectual observa-se ocorrência

106
de prejuízos no funcionamento adaptativo. desenrolam estratégias necessárias para
promover o desenvolvimento da aprendiza-
SEPR (2021) relata que a deficiência em gem de pessoas com essas características es-
questão deve ser compreendida como uma peciais.
interação entre o funcionamento intelectu-
al e as suas relações com o contexto social, Dentro desta perspectiva, educar, con-
nos quais as limitações deixam de ser obser- forme Martinez e Tacca (2011), tem como um
vadas somente como dificuldade exclusiva marco uma sociedade democrática configu-
da pessoa com deficiência intelectual, numa rado a um processo amplo de construção e
perspectiva quantitativa de inteligência, pas- reconstrução de conhecimentos que surgem
sando a ser consideradas como limitações do com base nas interações entre as pessoas,
contexto social em ofertar os apoios que ela distinguidas em termos de valores, de ideias,
necessita, ou seja, adota-se o posicionamen- de percepções, interesses, capacidades, esti-
to de compreensão e definição entre o sujei- lo cognitivo e aprendizagens.
to com deficiência intelectual e seu meio.
Reconhecer os núcleos primários e os
A expressão deficiência intelectual foi secundários para fins educacionais significou
oficialmente utilizada em 1995, no simpósio estudá-los em conexão com os mecanismos
“Deficiência Intelectual: Programas, Políticas compensatórios construídos pelo aluno. Esse
e Planejamento”, promovido pela Organiza- reconhecimento não implica criar espaços
ção das Nações Unidas, em Nova York. Mas, homogêneos de ensino, mas, sim, construir
somente em 2004, após a publicação da “De- processos de ensino com objetivos, recur-
claração de Montreal sobre Deficiência Inte- sos e estratégias diversificadas para que seja
lectual” pela Organização Pan-Americana de possível atender às necessidades educativas
Saúde e a Organização Mundial de Saúde é especiais dos estudantes com deficiência in-
que esta terminologia foi divulgada. Outra re- telectual. (MARTINEZ; TACCA, 2011, p. 112).
ferência na substituição dos termos foi a mo-
dificação do nome da respeitada American Assim, tudo depende, conforme Mar-
Association of Mental Retardation (AAMR) tinez e Tacca (2011), do objetivo da aplicação
para American Association on Intelectual da definição (diagnóstico, planejamento de
and Developmental Disabilities (AAIDD), re- níveis de suporte), para o indivíduo ser con-
comendando o uso da expressão deficiência siderado elegível para um serviço destinado
intelectual (SEPR, 2021). a pessoas com deficiência mental (intelectual
para nova definição), que pode ser classifica-
Assim, Moreira (2011) coloca que a da pela intensidade de suporte, pela variação
idade em que a criança é diagnosticada de- de quociente de inteligência, pelas limitações
pende, muitas vezes, do nível de gravidade no comportamento adaptativo e pela etio-
dos déficits apresentados e da ocorrência de logia, neste caso, a inteligência é entendida
traços fenotípicos característicos, no qual o como uma capacidade geral que inclui o ra-
diagnóstico e a intervenção terapêutica pre- ciocínio, planejamento, resolução de proble-
coces são condições essenciais para um bom mas, pensamento abstrato.
prognóstico do desenvolvimento da criança.
Desta forma, é preciso criar uma
aprendizagem dentro do espaço físico, nos
quais o contato com outras crianças traz
PROMOÇÃO DE APRENDIZAGEM PARA uma aprendizagem social. Martinez e Tacca
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL (2011) considera que as relações sociais fa-
Segundo Martinez e Tacca (2011) a zem emergir mudanças no desenvolvimento,
aprendizagem é compreendida como um criando possiblidades de aprendizagem:
processo interativo em que convergem as di- Deste modo, as relações sociais que
ferentes formas da subjetividade social, nos apoiam as situações de ensino-aprendiza-
quais se agregam as configurações subjetivas gem, podem significar diferentes possibilida-
(grupais e individuais) que se articulam nos des para o sujeito que aprende. Esse sujeito
distintos níveis da vida social, agindo de ma- precisa do outro e das ferramentas culturais
neira diferenciada nas diversas instituições e que ele coloca à sua disposição para construir
grupos. o seu pensar e o seu agir no mundo. Facilitar
A subjetividade caracteriza-se pela a aproximação e o acesso ao mundo cultu-
constituição de sistemas simbólicos e de sen- ral e simbólico, será, portanto, preocupação
tido subjetivo. Este último integra os aspec- constante da escola nas diferentes possibi-
tos constitutivos da personalidade, como as lidades interativas que pode organizar, para
vivências das situações que os sujeitos en- que funções inicialmente interpsicologias al-
frentam e a consequente organização do seu cancem a dimensão intrapsicológica. (MARTI-
mundo. (MARTINEZ; TACCA, 2011, p. 110). NEZ; TACCA, 2011, p. 143).
Desta forma, o processo de ensino A inclusão, conforme Martinez e Tacca
aprendizagem dentro deste contexto, con- (2011) não vai acontecer por uma transfor-
forme Martinez e Tacca (2011), circunscreve mação do olhar humano, levado para uma
de forma institucional e tem como principal evolução da consciência, pelas habilidades
característica a intencionalidade, nos quais desenvolvidas, pelos recursos tecnológicos
que teve acesso e poder enxergar no outro a

107
sua semelhança, sustentando uma exclusão estão estacionados no processo de apren-
e criando barreiras. der, há uma necessidade do investimento
do professor na investigação das formas do
Dias e Oliveira (2013) colocam que funcionamento psicológico do aluno, acom-
existe uma vigorosa influência do chamado panhando os nexos e interfuncionamento da
modelo médico nas concepções sobre defi- unidade cognição-afeto.
ciência intelectual, na organização conceitual
sobre o tema e na busca por encontrar um
sistema de classificação adequado, mas des-
taca-se uma busca histórica para provar a CONSIDERAÇÕES FINAIS
condição de educabilidade das pessoas com Se o objetivo da Educação é promover
deficiência intelectual, fato que associou a de forma intencional o desenvolvimento de
medicina ao campo pedagógico. capacidades e apropriação de determinado
Hoje já não se nega a condição de conteúdo da cultura, necessários para que
sujeito de aprendizagem à pessoa com de- os alunos possam ser membros ativos do
ficiência intelectual. Entretanto, no contexto seu âmbito sociocultural de referência, pri-
educacional, com respaldo na psicometria, meiramente deve reconhecer a diversidade,
ainda prevalece a necessidade de avaliação evitando a discriminação e a desigualdade
intelectual e classificações que interferem na de oportunidades e respeitando ao mesmo
prática pedagógica e terminam por estigma- tempo, as características e necessidades in-
tizar o indivíduo, contribuindo pouco para o dividuais.
desenvolvimento de um sujeito ativo e ple- Assim, o currículo deve ser abordado
namente incluído em seu meio social. (DIAS; processos educativos não unificados. O Aten-
OLIVEIRA, 2013, p. 175). dimento Educacional Especializado faz um
Assim, conforme Dias e Oliveira (2013) trabalho exclusivo para o desenvolvimento
existia uma visão predominante da deficiên- de habilidades, nos quais a classe comum
cia intelectual no campo da psicologia que deve também trabalhar com projetos signifi-
considerava intelectualista, enfatizando a in- cativos para aprendizagem da criança.
suficiência intelectual e desconsiderando ou- A deficiência Intelectual surgiu como
tros aspectos relativos à personalidade, po- uma nova nomenclatura para deficiência
rém, é uma visão equivocada, pois o intelecto mental, já contando com novos meios de
apresenta uma diversidade de funções que aprendizagem, pois os paradigmas anterio-
se articulam em uma unidade complexa, mas res seguiam o modelo médico que enten-
não homogênea. diam a deficiência como uma doença crônica,
Para Martinez e Tacca (2011, p. 140) avaliando o sujeito com processos biológicos
no cenário educacional, três elementos que observáveis para considerá-lo normal ou não.
se alternam: a deficiência, a exclusão e a ten- A deficiência intelectual pode ser defi-
tativa de inclusão. nida como uma capacidade significativamen-
Conforme as autoras, profissionais, te reduzida de compreender informações
pais e alunos estão engajados na expectati- novas ou complexas, aprender novas com-
va de mudanças que possibilitam o acesso petências e lidar de forma independente,
de todas as crianças para o ensino formal e incluindo o funcionamento social. Tal como
à aprendizagem e por consequência da lei, acontece com todos os grupos de deficiên-
muitos alunos conseguem o acesso ao ensi- cia, existem muitos tipos de deficiência inte-
no regular, crianças com diagnóstico de de- lectual com vários graus de gravidade. Estas
ficiência intelectual estudam com crianças incluem diferenças consideráveis na nature-
sem nenhum diagnóstico, mas a matrícula za e extensão das deficiências intelectuais e
não garante o acesso às mesmas oportuni- limitações funcionais, nas causas da deficiên-
dades de aprendizagem, apenas dividem o cia, nos antecedentes pessoais e no ambien-
mesmo espaço físico. te social do indivíduo.
Desta forma, conforme Dias e Oliveira Para uma aprendizagem significativa,
(2013), não deve-se tratar a deficiência como deve-se ser compreendido que o processo
se todas as funções intelectivas estivessem interativo em que convergem as diferentes
afetadas de modo igualmente negativo, pois formas da subjetividade social, nos quais se
funções psicológicas se desenvolvem à me- agregam as configurações subjetivas (grupais
dida que são ativadas, em meio a sistemas e individuais) que se articulam nos distintos
de atividades específicos, que influencia de níveis da vida social, agindo de maneira dife-
forma singular a pessoa e pode transformar renciada nas diversas instituições e grupos,
a estrutura que está na base da deficiência. nos quais o professor pode criar possibili-
dades de aprendizagem pela intervenção e
Desta maneira, conforme Martinez e acompanhamento.
Tacca (2011), a identificação do percurso das
significações que acompanham as experiên-
cias das aprendizagens do aluno dará ao pro-
fessor a possibilidade de conduzir uma inter-
venção pedagógica, pois quando os alunos

108
REFERÊNCIAS
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dade e ação. Secretaria da Educação do Es-
tado de São Paulo. CAPE; organização, Maria
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telectual: Terminologia e Conceptualização.
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na Perspectiva Histórico-Cultural: Contribui-
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Educação. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
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alunos com dificuldade e Deficiência. Campi-
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conceitos e causas. In: Algumas abordagens
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raná. Deficiência Intelectual e Múltiplas De-
ficiências. Disponível em http://www.educa-
dores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/
conteudo.php?conteudo=706 Acesso em Set
de 2023.

109
O TEMPO E O ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
CARMEM SANTOS REIS

RESUMO e preparando-a para um estado interior me-


lhor, facilitando o processo de socialização,
O tempo e o espaço estão nos docu- expressão, comunicação e construção do
mentos oficiais da educação infantil, de acor- conhecimento. Nesse enfoque, encontra-se
do com o Referencial Curricular Nacional a importância do cuidar e educar juntos na
para a Educação Infantil (1998), na Educação ação educativa e daí a sua inserção no uni-
Infantil, as brincadeiras e os jogos devem ser verso escolar. Então o trabalho tem a rele-
bem planejados pelo educador, pois, se bem vância de entender de que forma poderemos
utilizadas no processo de ensino aprendiza- evidenciar o quão importante é o brincar e o
gem, se tornam um grande aliado na introdu- cuidar na vida da criança dentro da Educação
ção dos conteúdos. Assim, os jogos e as brin- Infantil.
cadeiras ganham cenários e espaço na rotina
escolar das crianças da Educação Infantil e A pesquisa é exploratória e com ins-
penetram nas instituições infantis criadas a trumento para coleta de dados. Os estudos
partir de então. O presente trabalho, atém- foram desenvolvidos com base na pesquisa
-se para a compreensão da importância de bibliográfica, pois esta é construída a partir
se trabalhar ludicamente com brincadeiras do material já elaborado, constituído, princi-
e jogos na educação infantil, tem por finali- palmente de livros e artigos científicos.
dade compreender a prática pedagógica do
professor e a importância dos jogos de Edu-
cação Infantil, no desenvolvimento integral HISTÓRIA DA INFÂNCIA
das crianças. Os jogos mesmo que tenham a
mesma denominação, mas tem as suas espe- A infância realmente foi determinada
cificidades, ou seja, cada jogo tem seu objeti- pelas viabilidades dos adultos, modificando-
vo, a criança não brincar apenas por brincar, -se bastante ao longo da história. Até o sécu-
tudo tem sua finalidade. lo XII, as condições gerais de higiene e saúde
eram muito precárias, o que tornava o índi-
Palavras-chave: Jogo; Crianças; Educa- ce de mortalidade infantil muito alto. Nesta
ção; Tempo e espaço. época não se dava importância às crianças e
com isso o índice de mortalidade só aumen-
tava, pois não existia nenhuma preocupação
INTRODUÇÃO com a higiene das crianças.
Os momentos de lazer e os cuidados A percepção de infância e seus concei-
com a criança na Educação Infantil, dentro tos nem sempre existiram, em prol da crian-
da Pré-escola, devem ser livres para que elas ça, foram sendo construídos de acordo com
socializem e possam aprender. As atividades as modificações e com a organização da so-
físicas facilitam a atenção positiva da ima- ciedade e das estruturas econômicas em vi-
gem corporal. Cada criança recebe influên- gor.
cias emocionais que o jogo traz, fazendo com
que ela se desenvolva e se interesse pelas Para Kramer (1999), a concepção de
disciplinas escolares, motivadas pelas ativi- infância da forma como é vista hoje é relati-
dades lúdicas. Nesse contexto, o lúdico deve vamente nova. Segundo a autora, podemos
ser pensado e colocado em prática na escola localizar no século XVIII o início da ideia de
e no espaço da criança para ser deixado de infância compreendida como uma fase am-
ter um espaço somente na hora do intervalo plamente singular que deve ser respeitada
e passar a fazer parte da prática pedagógi- em suas particularidades.
ca. Desta forma, o jogo no contexto escolar As modificações ocorreram a par-
oportuniza as crianças a vivenciarem a magia tir de mudanças econômicas e políticas da
e a fantasia dentro de um plano social. estrutura social. Com o passar do tempo,
O potencial didático depende da sen- como demonstra a história, encontramos
sibilidade do educador em gerar desafios e diferentes concepções de infância. A crian-
descobrir interesses de seus alunos. Assim, ça era vista como um adulto em miniatura,
se na sala de aula houver condições de a e seu cuidado e educação eram realizados
criança aliar o aprender ao jogo, estará vin- somente pela família, em especial pela mãe.
culando a aprendizagem e á descoberta e à Havia algumas instituições alternativas que
produção do saber. serviam para cuidado das crianças em situa-
ções prejudicadas ou quando rejeitadas.
O lúdico é necessário ao ser humano
de qualquer idade, e não pode ser concebido A concepção de infância, até este
apenas como diversão, o desenvolvimento momento, baseado no abandono, pobreza,
do aspecto lúdico auxilia na aprendizagem favor e caridade, neste sentido eram ofere-
e no desenvolvimento pessoal e social da cidas um atendimento precário às crianças;
criança, colaborando com uma saúde mental havia ainda grande número de mortalidade

110
infantil, devido ao grande risco de morte pós- tifica sua presença na educação infantil.
-natal e às péssimas condições de saúde e hi-
giene da população em geral. Os primeiros anos de vida da criança
também são cheios de descobertas e criativi-
dade e as atividades de artes para educação
infantil ajudam a desenvolver isso. Os pe-
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDU- quenos querem colorir seu universo, como o
CAÇÃO INFANTIL veem e mostrar suas preferências em cores
De acordo com Costa (2000) a palavra e desenhos quando não podem em palavras
“lúdico” vem do latim ludus e significa brin- ainda. O pedagogo alemão Friedrich Fröebel,
car. Neste brincar estão incluídos jogos, brin- um dos grandes nomes da educação na infân-
cadeiras e brinquedos e é relativa a conduta cia, foi o maior defensor de atividades artísti-
daquele que joga, brinca e se diverte. cas em sala de aula como tarefa lúdica, bem
como o incentivo ao uso do brinquedo pelos
Segundo Almeida (1993) o lúdico é educadores para estimular o aprendizado. A
qualquer atividade que nos dá prazer ao exe- escola precisa ser atrativa sobretudo diverti-
cutá-la. Através do lúdico a criança aprende da e usar elementos do dia a dia da criança
a ganhar, perder, conviver, esperar sua vez, é essencial para potencializar o aprendizado,
lidar com as frustrações, conhecer e explorar por isso o brinquedo é tão importante.
o mundo. As atividades lúdicas têm papel
indispensável na estruturação do psiquismo A criança, desde muito pequena, ainda
da criança, é no ato de brincar que a criança bebê, se interessa e sua atenção se volta para
desfruta elementos da realidade e fantasia, o mundo de forma peculiar. Ela emite sons,
ela começa a perceber a diferença do real e faz movimentos com o corpo, “rabisca” as
do imaginário. É através do lúdico que ela de- paredes da casa. Ao desenvolver atividades
senvolve não só a imaginação, mas também rítmicas, ela começa a interagir com o mun-
fundamenta afetos, elabora conflitos, explo- do sem precisar ser estimulada pelos pais ou
ra ansiedades à medida que assume múlti- educadores para tal experiência.
plos papéis, fecunda competências cogniti-
vas e interativas.
O JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Almeida (1993) afirma que os jogos
contribuem de forma prazerosa para o de- Os jogos infantis são importantes
senvolvimento global das crianças, para in- para o desenvolvimento e aprendizagem da
teligência, para a efetividade, motricidade e criança, muitas pessoas desconhecem essa
também sociabilidade. Através do lúdico a prática pedagógica. Os jogos na educação
criança estrutura e constrói seu mundo inte- infantil significam para o campo do ensino e
rior e exterior. As atividades lúdicas podem da aprendizagem condições para ampliar a
ser consideradas como meio pelo qual a construção do conhecimento, introduzindo
criança efetua suas primeiras grandes reali- as propriedades do lúdico, da capacidade de
zações. Por meio da ludicidade ela expres- iniciação e ação ativa, espontânea e motiva-
sa a si própria suas emoções e fantasias. A dora da criança.
vivência do mundo simbólico e a ampliação
das experiências perceptivas que fornecem De acordo com Rau (2011), os jogos
elementos para a representação infantil dão- têm a mesma denominação, mas tem as suas
-se no contato com o outro, tal resolutividade especificidades. O jogo pode ser visto como o
beneficia os laços entre o professor e o aluno resultado de um sistema linguístico que fun-
que pode, através do trabalho com o apri- ciona dentro de um contexto social, um siste-
moramento das potencialidades percep- ma de regras e um objeto.
tivas, conforme as palavras da autora, O jogo está presente na escola, o pro-
“enriquecer as experiências das crianças fessor permitindo ou não. Porém, é um jogo
de conhecimento artístico e estético, e isto em que as regras são predeterminadas e a
se dá quando elas são orientadas para ob- única ação que é permitida às crianças é obe-
servar, ver, tocar, enfim, perceber as coisas, a decer, seguir as regras, a ludicidade tem suas
natureza e os objetos à sua volta”. regras e objetivos.
Enquanto desenham ou criam objetos, Segundo Sabine (2009), o ato de jogar
as crianças também brincam de “faz-de-con- e de brincar exige da criança movimentação
ta” e verbalizam narrativas que exprimem física e provoca desafio mental.
suas capacidades imaginativas. Ela cria e
recria individualmente formas expressivas, O mundo da fantasia, da imaginação
integrando percepção, imaginação, reflexão e da brincadeira é um mundo onde a crian-
e sensibilidade, que podem então ser apro- ça está em constante exercício, tanto nos as-
priadas pelas leituras simbólicas de outras pectos físicos ou emocionais como, principal-
crianças e adultos. mente, no aspecto intelectual. Jogar em ala
de aula proporciona momentos de interação
Tudo o que é ludicidade pode ser usa- e aprendizagem, pois é um dos meios mais
do como práticas educatuvas, e linguagens, estimuladores da construção do conheci-
por isso é uma forma muito importante de mento.
expressão e comunicação humanas, isto jus-

111
O jogo promove a aprendizagem in- passando seus conhecimentos para outras
formal e formal, pois ele auxilia no processo áreas. Observa-se que o professor exerce
ensino-aprendizagem, tanto no desenvol- um papel muito importante no processo de
vimento psicomotor como também no de- aprendizagem das crianças. O grande desafio
senvolvimento de habilidades do pensamen- para o educador, no contexto atual, é ensinar
to, como a imaginação, a interpretação e a os conteúdos propostos pelos programas
criatividade. curriculares de uma forma criativa.
Para Sabine (2009), através de recursos É possível o professor criar na escola
materiais concretos é que a criança consegue um ambiente favorável ao processo de de-
fazer conexões entre a escrita e seu signifi- senvolvimento e aprendizagem das crian-
cado, pois a subjetividade ainda encontra-se ças. Para isso, é preciso explorar, sempre
em processo de construção nas crianças com que possível a sua expressão livre e criadora,
faixa etária entre 3 e 5 anos, de modo que partindo se suas próprias atividades, para al-
se faz necessário relacionar os conteúdos es- cançar os objetivos propostos nesse sentido,
colares com a realidade das crianças, apro- o grande desafio é ensina a criança a partir
ximando o máximo possível do concreto, do de seu próprio cotidiano, sem deixar de lado
real. a aprendizagem social, respeitando seu pro-
cesso global de desenvolvimento.
A criança, por sua vez, passa de es-
pectador passivo a ator situado num jogo de Por meio da ludicidade a criança
preferências de opções, de desejos, de amo- aprende com muito mais prazer e facilidade,
res, de ódios e de estratégias, podendo ser desenvolvendo a capacidade de cumprir e
emissor e receptor no processo de intercom- criar regras, estabelecendo papéis e permi-
preensão. E a educação pode deixar de ser tindo-se criar e inovar, destacando também
um produto para se tornar processo de troca que o brinquedo é o caminho pelo qual crian-
de ações que cria conhecimentos e não ape- ças compreendem o mundo em que vivem.
nas os reproduz. A cultura lúdica pode ser É a oportunidade de desenvolvimento, pois
um grande passo para que a educação possa com o jogar e o brincar a criança experimen-
assumir o patamar de “processo” e deixar de ta, descobre, inventa, exercita sua imagina-
ser visto como “reprodução de conhecimen- ção vivendo assim uma experiência que en-
to”. riquece sua sociabilidade e a capacidade de
se tornar um ser humano criativo, as crianças
O papel do professor durante os jogos formam estruturas mentais pelo uso de ins-
deve ser o de provocar e desafiar a participa- trumentos e sinais.
ção coletiva na busca de encaminhamentos
e resolução dos problemas, pois é através Na função lúdica o jogo propicia a di-
do jogo que podemos despertar e incentivar versão, o prazer e até o desprazer quando
a criança para o espírito de companheiris- escolhido voluntariamente, e na função edu-
mo de cooperação gradativamente, ela vai cativa o jogo ensina qualquer coisa que com-
assumindo e compreendendo sua posição plete o indivíduo em seu saber, seus conheci-
como um membro de um grupo social. mentos e sua apreensão do mundo.
De acordo com Duprat (2015), jogar Para Rau (2011), o equilíbrio entre as
em sala de aula proporciona momentos de duas funções é o principal objetivo do jogo
interação e aprendizagem, pois é um dos educativo, mas um possível desequilíbrio
meios mais estimuladores da construção do pode gerar duas situações: não há mais en-
conhecimento. sino, há apenas jogo, quando a função lúdica
predomina ou, o contrário, quando a função
O jogo promove a aprendizagem in- educativa elimina toda a vontade de apren-
formal e formal, pois ele auxilia no processo der que resta apenas o ensino. A educação
ensino-aprendizagem, tanto no desenvolvi- terá como foco central a busca de um modo
mento psicomotor como também mais saudável de aprender, permitindo às
no desenvolvimento de habilida- crianças uma interação lúdica que garanta
des do pensamento, como a imaginação, felicidade, prazer, satisfação e vontade de
a interpretação e a criatividade. Conforme a aprender, desempenhando como elemento
atividade, ela passa a desenvolver as suas ha- principal o desenvolvimento físico, cognitivo,
bilidades, vai conhecendo a sua capacidade e motor e psicológico infantil.
desenvolvendo cada vez mais a autoconfian- Estas são, com frequência, mero refle-
ça. xo do que veem e ouvem dos maiores, mas
Com isso, de acordo com Duprat tais elementos da experiência alheia não são
(2015), podemos ver que o jogo é importante nunca levados pelas crianças aos jogos como
para desenvolvimento intelectual e social da eram na realidade. Não se limitam a recor-
criança, podendo estimular sua criticidade, dar experiências vividas, senão as que reela-
criatividade e habilidade sociais. O pro- boram criativamente, combinando-as entre
fessor quando oferece atividades lúdicas ao si e edificando com elas novas realidades de
aluno, permite que ele interaja através da acordo com seus desejos e necessidades.
Língua Portuguesa de maneira dinâmica, ex- De acordo com estes entendimentos
pondo ideias, interpretação de texto e ultra- defende-se cada vez mais que as brincadei-

112
ras sejam incorporadas aos conteúdos diá- O jogo está presente na escola, o pro-
rios, possibilitando tudo o que a criança me- fessor permitindo ou não. Porém é um jogo
rece aprender e de relevante. As observações em que as regras são predeterminadas e a
vivenciadas durante o período do estágio única ação que é permitida às crianças é obe-
tornaram possível uma melhor visão do am- decer, seguir as regras, a ludicidade tem suas
biente escolar e das práticas pedagógicas nas regras e objetivos.
quais a escola está inserida.
Segundo Sabine (2009), o ato de jogar
O controle que deve pertencer ao e de brincar exige da criança movimentação
professor é apenas o controle que garanta física e provoca desafio mental. O mundo da
a transmissão do conteúdo didático, o fantasia, da imaginação e da brincadeira é
interesse despertado na criança pela brin- um mundo onde a criança está em exercício
cadeira será sempre em prol de um objetivo constante, tanto nos aspectos físicos ou emo-
escolar. cionais como, principalmente, no aspecto in-
telectual.
Cabe ao professor organizar situações
para que as brincadeiras ocorram de manei- Jogar em sala de aula proporciona mo-
ra diversificada para propiciar às crianças a mentos de interação e aprendizagem, pois é
possibilidade de escolherem os temas, obje- um dos meios mais estimuladores da cons-
tos e companheiros com quem brincar ou trução do conhecimento.
jogos de regras e de construção, e assim ela-
borarem de forma pessoal e independente Para Sabine (2009), através de recursos
suas emoções, sentimentos, conhecimentos materiais concretos é que a criança consegue
e regras sociais. fazer conexões entre a escrita e seu signifi-
cado, pois a subjetividade ainda encontra-se
O educador não deve exigir das crian- em processo de construção nas crianças com
ças descrição antecipada ou posterior das faixa etária entre 6 e 7 anos, de modo que
brincadeiras, pois se assim o fizer, não estará se faz necessário relacionar os conteúdos es-
respeitando o que define o brincar, isto é, sua colares com a realidade das crianças, apro-
incerteza e improdutividade, embora esteja ximando o máximo possível do concreto, do
disponível para conversar sobre o brincar an- real.
tes, durante e depois da brincadeira.
A criança, por sua vez, passa se expec-
Brincar juntos reforça laços afetivos, tadora passiva a ator situado num jogo de
é uma maneira de manifestar amor às crian- preferências de opções, de desejos, de amo-
ças, portanto é preciso que o professor tenha res, de ódios e de estratégias, podendo ser
consciência que na brincadeira as crianças emissor e receptor no processo de intercom-
recriam e estabilizam aquilo que sabem so- preensão. E a educação pode deixar de ser
bre as diversas esferas do conhecimento, em um produto para se tornar processo de troca
uma atividade espontânea e imaginativa. de ações que cria conhecimentos e não ape-
nas os reproduz. A cultura lúdica pode ser
Nessa perspectiva não se deve confun- um grande passo para que a educação possa
dir situações nas quais se objetivas determi- assumir o patamar de “processo” e deixar de
nadas aprendizagens relativas a concei- ser visto como “reprodução de conhecimen-
tos, procedimentos ou atitudes explícitas to”.
com aquelas nas quais os conhecimentos são
experimentados de uma maneira espontâ- Segundo Sabine (2009), diz que não é
nea e destituída de objetivos imediatos pelas apenas deixar o livro das cartilhas de lado,
crianças. mas também o método das cartilhas, o ensi-
no que é centrado na noção de sílaba como
Segundo Sabine (2009), definir jogo unidade privilegiada da escrita e da leitura.
não é fácil, cada pessoa pode entender de
modo diferente. Os jogos mesmo que te- De acordo com o pensamento de Sabi-
nham a mesma denominação, mas tem as ne (2009), acredito que a utilização do lúdico
suas especificidades, ou seja, cada jogo tem torna a aprendizagem produtiva tanto para o
seu objetivo, a criança não brinca apenas por aluno quanto para o professor, fazendo com
brincar, tudo tem sua finalidade. que o processo de alfabetização tenha senti-
do para o aluno.
Já o brinquedo não possui um sistema
de regras que determinam sua utilização. O De acordo com Rau ( 2011), a apren-
brinquedo incentiva a reprodução de ima- dizagem poderia ser um processo de cons-
gens da realidade, Duprat (2015), diz que um trução de conhecimentos que se faz com fa-
dos objetivos é ser um substituto dos objetos cilidade, porém tornou-se um pesadelo nas
reais para a criança. escolas. Nas séries iniciais as crianças tem
uma resistência maior à atitude autoritária
De acordo com Rau (2011), os jogos porque ainda não aprenderam a se subme-
mesmo que tenham a mesma denominação, ter ao que veem e ouvem.
mas tem as suas especificidades O jogo pode
ser visto como o resultado de um sistema lin- Segundo Rau (2011), o Brasil precisa
guístico que funciona dentro de um contexto modificar profundamente a educação, es-
social, um sistema de regras e um objeto. pecialmente, a alfabetização. Para que isso

113
aconteça é preciso professores com melhor sim é necessária uma atenção especial.
formação técnica. Enquanto as escolas conti-
nuarem formando mal os professores, a alfa- Quando é apresentado o jogo para
betização e todo o processo escolar no geral os alunos de educação infantil ou até mes-
irão continuar seriamente comprometidos. mo fundamental, pode-se observar o entu-
siasmo e interesse em aprender, até mesmo
De acordo com Rau (2011), para que os alunos com mais dificuldades mostraram
seja realizado um trabalho de ensino e apren- um prazer e uma tranquilidade dando um
dizagem é preciso saber alguns pontos que retorno satisfatório. Sendo assim concluo
são fundamentais, assim sempre com auxílio que existem possibilidades de tornar as au-
da ludicidade. las mais produtivas trazendo para sala de
aulas jogos e brincadeiras para atrair os alu-
Sabine (2009) diz que não é simples- nos dessa idade, o professor pode aliar seus
mente deixar o método tradicional ou a “car- objetivos pedagógicos aos desejos dos alu-
tilha” de lado. É necessário saber o que se nos criando em suas atividades diárias um
quer fazer e o que entende por alfabetização. ambiente mais agradável e divertido, sendo
Alfabetizar é ensinar a ler e a escrever, o se- assim, conclui-se dizendo que a ludicidade
gredo é a leitura. auxilia no processo de desenvolvimento da
Com a divulgação dos Parâmetros criança e de seu aprendizado.
Curriculares Nacionais do Ensino Fundamen- Os momentos de lazer da criança na
tal na área de Língua Portuguesa, pode-se escola devem ser livres para que elas gostem
destacar no âmbito educacional uma preocu- de brincar. As atividades físicas facilitam a
pação com as dificuldades de leitura e escri- atenção positiva da imagem corporal, cada
ta nas séries inicias pelo fato de um trabalho criança recebe influências emocionais que o
que não é adequado com a alfabetização. jogo traz, fazendo com que ela se desenvolva
De acordo com Rau (2011), a lingua- e se interesse pelas disciplinas escolares, mo-
gem passou a ser vista como uma ferramen- tivadas pelas atividades lúdicas.
ta de comunicação. Não é mais valorizada Nesse contexto o lúdico deve ser pen-
apenas uma linguagem padrão ou culta sado e colocado em prática na escola e na
como elemento de produção escrita e oral. sala de aula ara ser deixado de ter um espa-
O universo linguístico dos alunos passou a ço somente na hora do intervalo e passar a
ser respeitado. A ação de jogo pode ser um fazer parte da prática pedagógica.
excelente recurso para facilitar a expressão,
participação, integração e comunicação dos Desta forma, o jogo no contexto esco-
alunos que terão meios para melhor compre- lar oportuniza os alunos a vivenciarem a ma-
ender e expressar-se. gia e a fantasia dentro de um plano social.
O papel do professor durante os jogos O potencial didático depende da
deve ser o de provocar e desafiar a participa- sensibilidade do educador em gerar desa-
ção coletiva na busca de encaminhamentos e fios e descobrir interesses de seus alunos.
resolução dos problemas, pois é através do Assim, se na sala de aula houver condições
jogo que podemos despertar e incentivar a de a criança aliar o aprender ao jogo, estará
criança para o espírito de companheirismo vinculando a aprendizagem ao prazer, à des-
de cooperação gradativamente, ela vai assu- coberta e à produção do saber.
mindo e compreendendo sua posição como
um membro de um grupo social. A partir do momento que o professor
trouxer para o contexto escolar o lúdico, ele
estará inovando e revitalizando o processo
ensino-aprendizagem, tornando-o mais rico
CONSIDERAÇÕES FINAIS e com significados para as crianças.
O trabalho na área de ludicidade é um O lúdico é necessário ao ser humano
campo em desenvolvimento que possibilita de qualquer idade, e não pode ser concebida
não somente o aprendizado do aluno, mas apenas como diversão, o desenvolvimento
também a profissionalização do docente em do aspecto lúdico auxilia na aprendizagem
busca de aulas com rendimento positivo e sa- e no desenvolvimento pessoal e social da
tisfatória o aluno tem que ter o desejo pelo criança, colaborando com uma saúde mental
aprendizado, e essas novas técnicas possibi- e preparando-a para um estado interior me-
lita uma inserção satisfatória, fazendo com lhor, facilitando o processo de socialização,
que uma simples aula torne-se menos exaus- expressão, comunicação e construção do co-
tiva e mais apreciada. nhecimento.
A partir do momento que é inserido Nesse enfoque, encontra-se a impor-
uma brincadeira, seja ela individual ou em tância do lúdico na ação educativa e daí a
grupo, é construída uma série de conheci- sua inserção no universo escolar. Muitos pro-
mentos e várias habilidades são desenvolvi- fessores estabelecem o lúdico como jogos
das, além de serem criadas diversas estraté- realizados no cotidiano da sala de aula. Se
gias para solucionar os conflitos emocionais. observar dentro dessa perspectiva, tem-se
Considerando importante esta construção da o brinquedo sendo utilizado como lúdico e
criança e privilegiando o brincar, mesmo as-

114
como educativo.

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115
O CORPO, O MOVIMENTO E A IMPORTÃNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA
CÍNTIA DA CRUZ RAMOS PINTO

RESUMO papel importantíssimo no desenvolvimento,


pois valorizam o corpo na formação do sujei-
Por meio desse artigo buscam-se in- to e da aprendizagem.
formações a respeito do corpo, do movi-
mento e a importância da Educação Física. Para o ser humano o ponto de refe-
Os conteúdos das aulas das aulas de Educa- rência para conhecer e interagir é o corpo,
ção Física devem ter relevância social, sendo servindo como base para o desenvolvimento
adaptados de acordo com as características cognitivo e conceitual, incluindo a aprendi-
sociocognitivas dos alunos. O aluno precisa zagem da alfabetização. Por isso, que o de-
compreender e confrontar os conhecimen- senvolvimento do movimento por meio da
tos de senso comum com o conhecimento de psicomotricidade auxilia a criança a adquirir
senso científico, para assim maximizar sua seu conhecimento de mundo, cabendo à es-
grande porção de conhecimento. Ocorre um cola ser responsável pelo desenvolvimento
ensino por transmissão de conteúdos simul- global e proporcionar atividades que levem
taneamente sem separá-los por etapas, os a criança ao desenvolvimento harmonioso.
mesmos conteúdos são trabalhados de ma- (FÁVERO, 2004).
neiras diferentes e mais aprofundados nas
séries seguintes. Pode-se entender a Educa- De acordo com Oliveira (1996), a psi-
ção Física como parte integrante da educa- comotricidade contribui para a alfabetização
ção e está diretamente relacionada e sofre à medida que procura proporcionar ao aluno
influência das pedagogias e suas tendências. condições necessária para um bom desem-
Cada abordagem da Educação Física Escolar, penho escolar, permitindo ao sujeito que se
nasce de uma tendência pedagógica, de uma assuma como realidade corporal e possibili-
perspectiva de educação, que por sua vez te-lhe a livre expressão. Para que se tenham
nasce de uma teoria filosófica. aquisições intelectuais, é preciso movimen-
tar-se. Ainda, segundo a mesma autora, a in-
Palavras-Chave: Conhecimento; Influ- teligência é considerada uma adaptação ao
ência; Tendência Pedagógica. meio, e para que isso aconteça se faz neces-
sário que o indivíduo apresente uma mani-
pulação adequada dos objetos ao seu redor,
INTRODUÇÃO o que deve começar antes mesmo da primei-
ra garatuja.
Entender a consciência corporal é
identificar o corpo como o meio pelo qual o Deste modo, é importante que se es-
sujeito adquire condições de se relacionar timule o desenvolvimento psicomotor da
consigo, com o outro e com o meio, refletin- criança, pelo fato de ser imprescindível para
do e tendo consciência das suas ações. O cor- a facilitação das aprendizagens escolares,
po constitui-se na história, na sociedade, na visto que, é por meio da consciência dos mo-
cultura e na subjetividade. E por isso, leva em vimentos corporais e da expressão de suas
consideração o esquema corporal, a imagem emoções que ela poderá ter seu desenvolvi-
corporal e os aspectos simbólicos e sociais. mento integral.
De acordo com Negrine (1980) e Fá- Por conta da crescente preocupa-
vero (2004), a organização motora é funda- ção de como as crianças são alfabetizadas,
mental para o desenvolvimento das funções encontramos diferentes áreas do conheci-
cognitivas, das percepções e dos esquemas mento pesquisando e procurando encontrar
motores da criança. E as aprendizagens es- meios de facilitar tal processo. Levando isso
colares básicas devem ser os exercícios psi- em conta e a problemática que envolve edu-
comotores, e a sua evolução, sendo deter- cadores e educandos na aquisição da alfa-
minantes para a aprendizagem da leitura e betização, a presente pesquisa se deterá no
escrita. seguinte problema: Qual a importância da
consciência corporal na aquisição da leitura
O indivíduo passa por fases do de- e da escrita?
senvolvimento motor, onde as habilidades
motoras básicas de locomoção, equilíbrio e Com a finalidade de promover o de-
manipulação são aperfeiçoadas. Inicialmente senvolvimento integral da criança, levando
as manifestações motoras e tarefas realiza- em consideração os aspectos motores, afeti-
das são simples, e gradativamente tornam-se vos, sociais e intelectuais, se faz necessário a
complexas, fazendo do período de zero a seis facilitação das aprendizagens escolares, por
anos de idade, essencial para o repertorio meio de atividades que estimulem a cons-
motor das crianças. O desenvolvimento cor- ciência dos movimentos corpóreos e da ex-
poral é possível por meio de ações, experi- pressão de suas emoções.
ências, percepções, movimentos, expressões De acordo com Cunha (1990), o desen-
e brincadeiras corporais. Na infância, as ex- volvimento psicomotor é muito importante,
periências e brincadeiras corporais assumem

116
pois, as crianças com nível mais alto de de- nhecer seu corpo, o que implica experimentar
senvolvimento psicomotor e conceitual são os movimentos, utilizá-los com desenvoltura
as que apresentam melhores resultados es- e ter a sensação de domínio deste corpo.
colares. Para que a escrita ocorra de manei-
ra satisfatória, é necessário que ocorra um A educação pelo movimento surge
desenvolvimento motor adequado. O ato de nesse contexto sobre forma de concepção
escrever não pode ser restrito a decodifica- pedagógica trazendo o corpo racionalmente
ção de símbolos ou signos, pois o processo organizado em torno do seu eixo e servindo
de aquisição da língua escrita é complexo e de referência a toda organização espaço-tem-
anterior ao que se aprende na instituição de poral que permita explorar o mundo. Uma
ensino. (CAGLIARI, 2000). atividade motora exploradora e inteligente,
organizando sistematicamente o espaço e o
Segundo Ferreira (1993), as aprendiza- tempo e permitindo a estruturação do espa-
gens são marcadas no corpo, e a participação ço gráfico.
do mesmo no processo de aprendizagem se
dá pela ação do sujeito com o meio. O co- A educação pelo movimento deve ser
nhecimento apresenta um nível de ação, que utilizada para que as crianças adquiram a
é fazer os movimentos, e um nível figurativo, noção do seu esquema corporal e outras no-
que se dá pela imagem que se inscreve no ções indispensáveis do seu desenvolvimento
corpo. seguindo as etapas.
A habilidade de esquema corporal e Todas as formas de representação
orientação espaço-temporal apresentam for- simbólica na faixa etária da educação infan-
te relação com o desempenho das crianças til permitem que a criança comece a colocar
em escrita, pois é preciso adequar o tamanho sua marca no mundo, demonstrando sua sin-
da letra com o local que será escrita, bem gularidade em ascensão.
como, compreender que se inicia de cima Sempre nos dizem que é preciso forti-
para baixo e da esquerda para a direita. ficar o corpo, que é preciso suar e transpirar.
Se houver desde o início da escolariza- Assim, para ficar em forma, montamos numa
ção, o desenvolvimento de atividades e jogos bicicleta, nos penduramos num espaldar,
psicomotores que estimulem a consciência corremos até perdemos o fôlego no jogging,
corporal e a noção tempo - espacial, o pro- empunhamos halteres. Que tristeza! Nossos
cesso de aquisição da escrita e leitura se dará músculos merecem muito mais do que essa
de maneira facilitada. Levando em considera- domesticação forçada. O que é preciso fazer
ção a importância do desenvolvimento de ati- é, primeiro abrir os olhos e nos esforçamos
vidades psicomotoras que estimulem a crian- para olhar nosso corpo, a fim de compre-
ça de maneira global, se mostra necessário endermos como ele funciona (BERTHERAT,
uma maior interação com os professores de 2010, p. 2)
educação física, para que sejam desenvolvi- À medida que a criança se movimen-
das nas aulas práticas atividades que visem à ta, mais livremente, é capaz de perceber a si
aquisição da escrita e leitura. próprio e as coisas no espaço em relação a si,
podendo se orientar nesse espaço e avaliar
seus movimentos, procurando adaptá-los ao
O CORPO E O MOVIMENTO espaço vivido.
Com a finalidade de promover o de- A criança brinca com o seu corpo, ar-
senvolvimento integral da criança, levando rasta, rola, atira um objeto, enche e esvazia,
em consideração os aspectos motores, afeti- se esconde, cai, equilibra, salta, corre, cons-
vos, sociais e intelectuais, se faz necessário a trói, destrói, rabisca, desenha, escreve, fanta-
facilitação das aprendizagens escolares, por sia.
meio de atividades que estimulem a cons-
ciência dos movimentos corpóreos e da ex- Araújo (1992) diz que: “dada à impor-
pressão de suas emoções. tância da ação psicomotora sobre a organi-
zação da personalidade da criança, é indis-
De acordo com Cunha (1990), o desen- pensável um trabalho educativo que venha
volvimento psicomotor é muito importante, promover um melhor desenvolvimento de
pois, as crianças com nível mais alto de de- suas potencialidades”.
senvolvimento psicomotor e conceitual são
as que apresentam melhores resultados es- O desenvolvimento do esquema cor-
colares. poral se dá a partir da experiência vivida pelo
indivíduo com base na disponibilidade e co-
Há pouco tempo o corpo e o movi- nhecimento que tem de seu próprio corpo e
mento passaram a fazer parte da instituição sua relação com o mundo que o cerca.
escolar, por meio da linguagem artística.
Segundo Le Boulch (1985):
A consciência corporal como nos afir-
ma Piaget (1994, p. 97): O esquema corporal ou imagem do
corpo pode ser considerado como uma intui-
É algo que se desenvolve naturalmen- ção de conjunto ou um conhecimento ime-
te na infância, se essa tiver permissão de co- diato que temos do nosso corpo em posição

117
estática ou em movimento, na relação de p.74).
suas diferentes partes entre si e, sobretudo
na relação com o espaço e objetos que nos O professor de Educação Física deve
circundam. valorizar as ações de cooperação e solidarie-
dade, para que as brincadeiras não se tor-
O mundo da criança pequena é carre- nem apenas competitivos, assim a criança
gado de racionalidade e de afetividade. desenvolverá sua autoconfiança respeitando
suas limitações e possibilidades.
O movimento é o meio de expressão
fundamental das crianças na Educação In- O brincar não pode ser aleatório e
fantil, isto porque o espaço entre a emoção e desprovido de regras e conteúdos, mas deve
ação é menor quanto mais jovem for à crian- tornar-se essencial na educação infantil, pois
ça. irá proporcionar o desenvolvimento motor e
mental da criança e professor pode utilizá-
Ao movimentarem-se, as crianças ex- -lo como recurso pedagógico, possibilitando
pressam sentimentos, emoções e pensamen- o desenvolvimento do processo de ensino
tos, ampliando as possibilidades do uso sig- aprendizagem.
nificativo de gestos e posturas corporais.
Segundo Haetinger (2005, p. 83):
O movimento para a criança pequena
significa muito mais do que mexer partes do O educador segue a evolução social
corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se e cultural de sua comunidade e do mundo,
expressa e se comunica por meio dos gestos e deve utilizar todas as ferramentas e ideias
e das mímicas faciais e interage utilizando disponíveis para aprender e ensinar, para
fortemente o apoio do corpo. tornar sua sala de aula o lugar mais encanta-
dor do mundo. Queremos a escola do encan-
Henri Wallon, filósofo francês conheci- tamento onde todos se sintam incluídos.
do por suas pesquisas a respeito da psicolo-
gia do desenvolvimento, coloca o movimento Na educação infantil a criança conse-
como o elemento inicial da comunicação e do gue lidar com a representação, dando início
desenvolvimento do ser humano, o que lhe às brincadeiras envolvendo o imaginário, o
confere importância primordial no trabalho faz-de-conta, onde um pedaço de madeira
educativo. (MANTOVANI, 2009, p. 31 e 32) pode se transformar em um cavalinho ou
um microfone, por exemplo, dependendo da
De acordo com Wallon (1975), “o mo- imaginação e da situação de brinquedo que a
vimento antes de estabelecer relação com o criança está envolvida.
meio físico primeiro atua sobre o meio hu-
mano, atingindo as pessoas através de seu A brincadeira permite que a criança
teor expressivo”. expresse suas emoções, e assim o professor
passa a ter maior conhecimento da sua per-
O cuidado do corpo de crianças pe- sonalidade, ajudando-o a superar seus limi-
quenas faz parte da necessidade que todas tes e a respeitar as regras com disciplina.
elas têm de serem educadas em suas especi-
ficidades. É por meio do movimento corporal A utilização de jogos, brincadeiras e
que meninos e meninas se expressam, estu- brinquedos em distintas situações educa-
dam, aprendem e se comunicam. cionais podem ser um meio para estimular,
analisar e avaliar aprendizagens específicas,
competências e potencialidades das crianças
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA, abarcadas e por esse motivo que o professor
FAZENDO USO DE BRINCADEIRAS E JOGOS de educação infantil e de séries iniciais deve
proporcionar momentos de jogos e brinca-
A atividade lúdica é muito importante deiras durante o processo de ensino apren-
para o desenvolvimento sensório, motor e dizagem.
cognitivo, tornando-se uma maneira incons-
ciente de se aprender, de forma prazerosa e É possível uma aprendizagem com
eficaz. características lúdicas, com o objetivo de di-
namizar a aprendizagem, pela iniciativa do
O professor de Educação Física deve aluno e pela motivação gerada pelo trabalho
ser um mediador no processo ensino apren- grupal. Nessa medida, a participação do pro-
dizagem, criando condições para que as fessor no jogo e na brincadeira dos alunos
crianças explorem seus movimentos, mani- tem a finalidade de ajudá-lo a perceber como
pulem materiais, interajam com seus compa- podem participar da aprendizagem e da con-
nheiros e resolvam situações-problemas. vivência em geral. (TEIXEIRA, apud MOREIRA,
De acordo com Vasconcellos (1995): 2010, p.71).
O professor tem que partir da realida- Quando se trabalha com jogos e brin-
de dos alunos, ver suas necessidades, buscar cadeiras o professor pode observar quais as
alternativas de interação. Ocorre que, na fase lacunas ficaram nas crianças durante o pro-
de mudança, está tomada de consciência é cesso de ensino aprendizagem e o que não
importante, até que venha a se incorporar conseguiram compreender do conteúdo pro-
com um novo hábito. (VASCONCELLOS,1995, posto.

118
O Referencial Curricular Nacional para ato de brincar.
a Educação Infantil (1998) relata que com as
brincadeiras as crianças utilizam seus conhe- Segundo os Referenciais Curriculares
cimentos prévios para dar conceitos ao seu Nacionais de Educação Infantil (1998, p.9):
ato de brincar e que agem muitas vezes por O educador não precisa ensinar a
imitação. criança a brincar, pois este é um ato que acon-
O professor de Educação Física deve tece espontaneamente, mas sim planejar e
ser um facilitador das brincadeiras, podendo organizar situações para que as brincadeiras
misturar momentos em que orienta e dirige ocorram de maneira diversificada, propician-
o processo, com outros momentos e que as do às crianças a possibilidade de escolher os
crianças são responsáveis pelas suas pró- temas, papéis, objetos e companheiros com
prias brincadeiras. quem brincar. Dessa maneira, poderão ela-
borar de forma pessoal e independente suas
Mesmo com todos os estudos que emoções, sentimentos, conhecimentos e re-
tratam da eficácia do uso de jogos nos am- gras sociais (RCNEI, 1998, p. 29).
bientes escolares, ainda existe resistência
por parte de alguns educadores descrentes Por meio dos jogos e das brincadeiras
na possibilidade de unir a brincadeira ao con- a criança consegue fazer diversas assimila-
teúdo pedagógico. Para estes profissionais ções, onde os conteúdos podem ser minis-
brincarem e aprender são duas instâncias trados com mais facilidade e compreendido
distintas que não devem ser utilizadas simul- com muito mais prazer e diversão, por isso é
taneamente. fundamental que o professor seja mediador
nesse processo de ensino aprendizagem.
Para que o lúdico tenha um lugar ga-
rantido no cotidiano das escolas, é necessá- As aulas ministradas de maneiras mais
rio a atuação do educador, alimentada pela lúdicas permitem um maior desenvolvimen-
vivência lúdica, em que o professor se colo- to na aprendizagem das crianças, porque ge-
que pleno, inteiro no momento, alegre e fle- ralmente os jogos e as brincadeiras desafiam
xível, saindo do papel de agente exclusivo de as crianças e fazem com que elas desenvol-
informação e formação dos alunos, e passan- vam pensamentos e raciocínios significativos
do a desempenhar uma função de extrema e amplos, tanto na construção de brinquedos
relevância mediador e possibilitador das in- quanto na forma como se joga cada jogo, é
terações entre as crianças. preciso dispor sempre de muita atenção.
Como corrobora Antunes (2001):
As brincadeiras [ou atividades] dentro BRINCADEIRA, LAZER E DESENVOLVI-
do lúdico se tornam um aliado e instrumento MENTO DE HABILIDADES
de trabalho pedagógico supervalorizado para O brincar faz parte da essência de cada
se conseguir alcançar os objetivos de uma um, contribui no desenvolvimento social ,
construção de conhecimentos onde o aluno cultural das pessoas, favorece aprendizado,
seja participativo ativo. (ANTUNES, 2001, p. tornado apto a viver na sociedade sem agres-
28). são a sua existência, por meio, do simbolis-
O trabalho da escola deve considerar mo realiza ações e intervenções no mundo,
as crianças como seres sociais e o professor desenvolvimento a imaginação, a confiança,
deve trabalhar com elas no sentido de que o controle, a criatividade, a cidadania, suas
sua integração na sociedade seja construti- frustrações, a cooperação e o relacionamen-
va, devendo instrumentalizar as crianças de to interpessoal, a brincadeira é a porta de
forma a tornar possível a construção de sua entrada para um outro mundo, possibilita a
autonomia, criticidade, criatividade, respon- exploração e reflexão da realidade e da cul-
sabilidade e cooperação. tura que se está inserido, sem perceber a in-
terferência nas regras sociais acontecem de
De acordo com Maria Montessori forma prazerosa.
(1987, p.64):
A brincadeira estimula o intelecto, con-
Nossas crianças aprenderam a movi- fronta o emocional, desestabiliza a convivên-
mentarem-se entre as coisas sem esbarrar cia individual, oportunizando um desenvol-
nelas, a correr sem produzir ruído, tornan- vimento do cérebro, social e cultural, assim,
do-se espertas e ágeis. E sentiam prazer pela expõe seus conhecimentos e expectativas do
própria perfeição. O que lhes interessava era mundo, uma maneira satisfatória de envol-
descobrirem a si mesmas, as suas possibi- ver as exigências sociais a vida cotidiana de
lidades, e se exercitarem numa espécie de cada um, para que elabore sua autonomia de
mundo oculto como é o da vida que se de- ação de forma a organizar emoções, conso-
senvolve. lidando valores e virtudes, pois ajuda a con-
trolar a impulsividade, promove a reflexão,
Cabe ao professor oferecer um espa- estimulando o planejamento de estratégias,
ço que mescle as brincadeiras e os jogos com o que desenvolve conexões cerebrais, atuan-
as aulas cotidianas, um ambiente favorável à do diretamente nas emoções da pessoa, para
aprendizagem escolar e que proporcione ale- brincar é preciso companhia, estar com o ou-
gria, prazer, movimento e solidariedade no

119
tro nos espaços coletivos, dividir objetos , se de Educação Física considerava o ser huma-
colocar no lugar do outro, ensinar e aprender no apenas em seus aspectos biofisiológicos,
o que é proposto, essa interação traz benefí- posteriormente, a partir da psicomotricidade
cios sociais. foi modificando este pensamento limitado,
partindo para uma visão ampla, analisando o
A possibilidade de brincar de forma homem também em seu contexto social, his-
intencional, livre e exploratória proporciona tórico e cultural.
à criança uma aprendizagem ativa por meio
da qual as muitas ser capaz de compreender O desenvolvimento psicomotor é ini-
e resolver problemas serão encontradas, tais ciado a partir do vínculo com a mãe, na vida
como (MOYLES, 2002, p.76): intrauterina, onde começam as primeiras ex-
periências de sensação de movimento, que
A oportunidade de identificar, com- permitem ao ser humano realizar atividades
preender, reconhecer e entender as proprie- e satisfazer suas necessidades. O feto co-
dades dos materiais; meça a tomar consciência do próprio corpo,
Descobrir e distinguir elementos e exercendo pressão contra as paredes uteri-
características semelhantes e diferentes, e nas, ao mobilizar suas extremidades, propor-
combinar, separar e classificar; cionando uma retroalimentação sensorial
tátil e proprioceptiva. Após o nascimento, o
Discutir com o grupo de pares e as bebê continua explorando seu corpo com o
suas explorações e aprender come a partir mundo ao seu redor, e vai tomando consci-
de outras crianças e adultos; - Usar e descre- ência de que possui um corpo e que poderá
ver as coisas de diferentes maneiras; utilizá-lo ao longo dos processos psicomoto-
Representar as coisas em diferentes res.
forma e estruturas e observar e antecipar A motricidade é um fator relevante
transformações e mudanças; para o desenvolvimento mental, portanto a
Arranjar e rearranjar materiais dentro psicomotricidade é a base para o aprendiza-
de um espaço dado e experienciar ordem e do escolar, pois ela pode promover o desa-
sequência; brochar humano, no desenvolvimento das
funções motoras e nas relações desta com
Aprender sobre as próprias capacida- as funções mentais. Ajudando o aluno a al-
des, preferências e desagrados; cançar um desenvolvimento global, o que o
preparará para uma aprendizagem mais sa-
Aprender a lidar com a frustração e tisfatória.
aprender relações simples de causa e efeito; -
A relação entre movimento e apren-
Aprender que é necessário tempo dizagem se dá complementarmente, onde o
para realizar e completar uma tarefa ou che- corpo e a mente devem se articular como um
gar a um resultado desejado todo, com o intuito de aliar o saber com os
Dessa forma, o brincar, o lúdico está movimentos psicomotores, proporcionando
intrínseco na vida das pessoas que precisam assim um desenvolvimento significativo, ten-
dessas experiencias prazerosas, a fim e unir do consciência das possibilidades de agir e
o brincar, com o lazer, ambos se denominam transformar sua realidade, em uma relação
atividades de horas livres, momentos espera- saudável de domínio corporal, pensamento,
dos para relaxamento, físico e mental. ação e cognitivo.
O esporte, o lazer e a recreação estão A psicomotricidade é a relação da ação
diretamente relacionados à qualidade de motora com os aspectos afetivos, cognitivos
vida e à redução da violência e que tão impor- e sociais. Analisa o homem em uma relação
tante como gastar menos tempo com trans- entre pensamentos e ações, englobando fun-
porte, sentir-se seguro nas ruas, ter acesso à ções neurofisiológicas e psíquicas, criando
educação e saúde públicas ou viver em locais uma relação entre a ação motora e os aspec-
não poluídos, é também o usufruto do tempo tos afetivos, cognitivos e sociais.
livre de forma saudável, lúdica, prazerosa e
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121
MEIO AMBIENTE E A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA
CLAUDEMIR NUNES GUALBERTO

RESUMO dos pela humanidade ultimamente tem sido


a qualidade da água e o consumo em si, que
Este artigo é baseado numa constru- está desencadeando outros fatores ambien-
ção de literaturas diversas existentes sobre tais no meio ambiente provocando doenças
meio ambiente, poluição ambiental e um dos na população em geral, nos animais, na ve-
efeitos causados pela poluição ambiental é a getação, causando até mesmo a morte de
poluição da água ou escassez devido ao mau todos devido a poluição da água, fonte vital
uso. Por meio de revisão qualitativa de con- para todos os seres vivos.
ceitos, o objetivo do artigo é informar e cons-
cientizar a população sobre meio ambiente A água é um dos recursos naturais ofe-
em si, informar sobre um dos elementos prin- recido pela natureza. Todo ser vivo depende
cipais do meio ambiente, que é a água, as- da água como fonte vital, sobrevivência, base
sim como a importância relacionada da água de alimentação e crescimento. E para essas
como fonte vital a todo ser vivo, e a qualidade funções, a água precisa ser mais límpida que
da água, que ultimamente vem sendo poluí- tudo, assim como o ar que respiramos e ou-
da constantemente ou se encontra em escas- tros exemplos de fonte de vida. E ultimamen-
sez. Informar e evidenciar a importância da te vem sofrendo alterações devido a ação
qualidade da água no meio ambiente a todos dos homens contra a natureza com desmata-
os seres é necessário para a preservação da mento, poluição com resíduos, crescimento
mesma como fonte de recurso renovável e da população sem planejamento, entre ou-
qualidade de vida a todo ser vivo, mas que tros.
hoje encontra-se com problemas visíveis.
A pesquisa evidencia uma discussão
PALAVRAS-CHAVE: Meio Ambiente; aprofundada sobre meio ambiente, a quali-
Poluição ambiental; Água. dade da água, causas e consequências que
impactam na vida de todo e qualquer ser vivo
como forma de conscientização da própria
ABSTRACT população que necessita da água para sobre-
vivência.
This article is based on a construction
of existing diverse literature on the environ-
ment, environmental pollution and one of 2. DESENVOLVIMENTO
the effects caused by environmental pollu-
tion is water pollution due to the bad usage. 2.1 MEIO AMBIENTE x POLUIÇÃO DA
Through qualitative review of concepts, the ÁGUA
objective of the article is to inform and make
the population aware of the environment A poluição ambiental pode ser causa-
itself, to inform about one of the main ele- da por diversos fatores, sendo conhecidos
ments of the environment, which is water, as por naturais (próprios da natureza) ou co-
well as the related importance of water as a nhecidos por antrópicos (causados por ações
vital source to every living being and the qua- pela população). Para Magalhães (2023), a
lity of water, which lately has been constantly poluição da água é a contaminação dos re-
polluted or is in short supply. Informing and cursos hídricos, por meio da liberação de
evidencing the importance of water quality in compostos físicos, químicos e biológicos que
the environment to all beings is necessary for são prejudiciais aos seres vivos. A poluição da
the preservation of it as a source of renewa- água pode destruir alimentos, causar morte
ble resource and quality of life for all living de animais, vegetais e seres vivos, e contami-
beings, but which today is with visible pro- na a água potável, fonte de vida de todo ser
blems. vivo. E pode ser causada por:
KEYWORDS: Environment; Environ- • Lançamento de esgoto em am-
mental pollution; Water. bientes aquáticos
• Despejo de lixo diretamente no
mar, rios ou lagos
1 INTRODUÇÃO
• Vazamento de petróleo decor-
O meio ambiente tem apresentado rente de acidentes marítimos
mudanças devido aos impactos antrópicos
(sofridos pela população) em relação a qua- • Poluição dos lençóis freáticos
lidade da água. Uma das razões para a dimi- com os pesticidas que são levados pela chuva
nuição dessa qualidade na água é devido ao (MAGALHÃES, 2023)
grande crescimento das cidades e a falta de Para Batista (2023), toda água que
rede de esgoto, de saneamento básico. pode ser encontrada no planeta é de gran-
Um dos maiores problemas enfrenta- de importância, considerada assim como ar,

122
elemento essencial para sobrevivência de no, para a agricultura, para indústria, para o
todas as espécies de seres vivos, além de fa- consumo, para a produção de energia, trans-
zer parte de inúmeras atividades dos seres porte, limpeza, para o clima. E apresenta pro-
humanos. E quando se fala na falta da água, priedades importantes para todo o ecossis-
apenas é percebida pela população, quando tema, permitindo fluidez, transformação e
há algumas medidas que são tomadas como geração de novas vidas, pode também diluir
rodízio de água, fechamento de algumas tu- substâncias orgânicas e inorgânicas.
bulações, assim como é noticiado a falta de
água nas represas, mesmo assim a popula- Para Asht (2023), a fórmula da água,
ção não se atém com importância sobre essa H2O, indica que é composta por dois átomos
ameaça, que é a falta da água. de hidrogênio e um de oxigênio, que compar-
tilham de forma desigual os elétrons, criando
Para Batista (2023), a água é a fonte uma polaridade (cargas positivas e negativa),
de vida de todos os seres vivos. A água é en- sendo polar.
contrada em tudo que é habitável, inclusive
no corpo humano. A água permite a sobrevi-
vência de todos os seres vivos; ela equilibra e Figura 1: estrutura da molécula de
conserva a biodiversidade do planeta, regula água
o clima. Para a autora, Batista (2023), a água
está relacionada ao surgimento e evolução
da Terra e na Terra, constituído por 70% de
água, em que 2,7% são doces e o restante de
água salgada, sendo apenas 0,1% de água
doce disponível para utilização.
No planeta Terra, a água é encontrada
em todos os ecossistemas, sendo dois terços
da superfície do planeta Terra são cobertos
pela água, em estado líquido que pode ser
encontrado em oceanos mares, lagos, rios Fonte: ASHT, Rafael C. (2023). Disponí-
e águas subterrâneas ou em estado sólido, vel em: Propriedades da Água: conheça mais
como geleiras e neve e se encontram em cir- suas características - Toda Matéria (todama-
culação no planeta, se transformando em es- teria.com.br).
tado líquido, gasoso ou sólido como pode ser
visto na imagem abaixo. O meio ambiente e qualidade de vida
têm sido defendidos e previstos pela Cons-
tituição Federal de 1988, em que preconiza
que todo e qualquer cidadão é digno de um
Figura 1: ciclo da água ambiente com qualidade, como demonstra-
do no artigo 225º, mas que na prática não é o
que vem acontecendo.
Goulart e Callisto (2010) defendem que
a água vem sofrendo impactos significativos
em relação ao meio ambiente devastado, em
que o crescimento das cidades e megalópoles
ultimamente nas últimas décadas tem sido
responsável pelo aumento do impacto de
destruição e devastação causado pela ação
do homem. Os autores também evidenciam
que não há um ecossistema que não tenha
sofrido esse impacto, seja direta ou indireta-
mente causado pelo homem, exemplo disso
Fonte: BATISTA, C. Disponível em: A é a contaminação dos ambientes aquáticos,
Importância da Água - Toda Matéria (todama- desmatamentos, contaminação de lençol fre-
teria.com.br) ático e introdução de espécies exóticas, re-
sultando na diminuição da diversidade de há-
bitats e perda da biodiversidade. (GOULLART,
E todas as fontes de vida dependem CALLISTO, 2010).
da água e de seu ciclo, como afirma a autora
Batista (2023): Para Goullart e Callisto (2010), a polui-
ção da água está relacionada a vários fatores,
Alimentos são ricos em água, como a como o crescimento das cidades e ao consu-
alface que a tem em 95% da sua composição. mo exagerado e desqualificado, apenas com
Dependendo da espécie, a água-viva possui lucratividade, sem pensar nas consequências,
até 98% de água no seu corpo. Há também absorvendo matéria prima e esquecendo de
os seres microscópicos, como as bactérias que muitos podem não ser recursos renová-
que compostas por até 75% de água. (Batis- veis, como afirmam: “O desenvolvimento ge-
ta, 2023). rado retorna capital para o sistema produtivo
A água é importante para o ser huma- que devolve rejeitos e efluentes, além da de-

123
gradação (muitas vezes irreversível) ao meio Aos órgãos públicos cabe a respon-
ambiente – poluição” (GOULLART, CATILHO, sabilidade de conscientização e a população
2010). entender esse processo de conscientização,
que reverbera a todos o melhor, desde a não
Além do setor de produção e capitalis- poluição, chegando até a não escassez da
ta, outros fatores estão associados ao esgo- água, como fonte de vida. Algumas práticas
tamento e poluição da água como Goullart e como mencionadas são simples e podem ser
Callisto (2010) afirmam em seus estudos: realizadas dentro de casa, evitando a escas-
sez, por exemplo, como fechar uma torneira
quando não utilizar, não desperdiçar sem ne-
• Devastação ambiental crescente cessidade.
e desenfreada, levando à perda da biodiver-
sidade e comprometimento dos processos Não deixar caixas abertas, não jogar
ecológicos. lixo nos rios, lagos etc.
• Consciência ambiental ainda li-
mitada por parte do meio empresarial e do 2.4 MATERIAIS E MÉTODOS
mercado consumidor.
Para a realização desse estudo utilizou-
• Legislação ambiental ainda mui- -se como instrumento de pesquisa: artigos,
to ampla (p.ex. limites máximos de poluentes obras, citações e relatos de pesquisadores e
muito maiores do que em países da Europa e autores sobre o tema abordado já registra-
nos EUA) e fiscalização pouco efetiva. dos na literatura. Uma coleta de informações
• Mínima efetividade de medidas e dados desses registros foram analisados,
mitigadoras nas questões de degradação sistematizados e reescritos.
ambiental. Sendo este estudo uma pesquisa de
• Distribuição de renda extrema- revisão de literatura, todos os instrumentos
mente desigual, agravando a situação de analisados, específicos utilizados de forma
miséria de uma parcela significativa da popu- correta, auxiliaram no alcance dos objetivos
lação com consequências imediatas em pro- almejados deste estudo sem inferência e in-
blemas ambientais. (GOULLART, CASTILLO, terpretação errônea.
2010).
2.5 DISCUSSÃO
A poluição é real e pouco é feita como Diante das informações obtidas refe-
forma de prevenção. Existem inúmeras práti- rente ao tema abordado, este estudo apre-
cas que podem ser realizadas para a preser- senta um campo mais maduro para discus-
vação da água, que devem acontecer devido são, visto que há grande número de estudos
a sua importância para todos como já men- disponíveis na literatura investigando con-
cionado anteriormente perante sociedade e ceitos, seus supostos benefícios, limitações e
órgãos públicos em esfera nacional e mun- ampliação para futuras pesquisas. Também
dial, e para isso algumas alternativas podem tem a finalidade de contribuir para incitar a
ser utilizadas como evitar o desmatamento, reflexão sobre o meio ambiente e a poluição
fazendo com que essa infiltração no solo da água.
das águas seja evitada, buscando o percur-
so até os mananciais, represas, assim como Todos os artigos, obras, trechos de
a preservação dos rios e lagos, evitando que obras, citações selecionadas referem-se às
resto de componentes químicos, lixo, esgoto publicações brasileiras. Após leitura e ficha-
sejam jogados dentro deles. As águas fluviais mento dos documentos selecionados, foi
podem servir para abastecimento, alimento, feita uma análise e escrita sobre meio am-
uso doméstico, irrigação, produção indus- biente, poluição da água e prejuízos causa-
trial, fonte de energia, e meio de transporte, dos pelo impacto no meio ambiente. Sendo
quando tratadas. (Batista, 2023). assim, evidencia-se a necessidade de haver
mais pesquisas sobre o assunto, por ser um
Desde 2014, o Brasil vem lutando por tema amplo e de grande importância no âm-
exemplo com a crise hídrica, que apesar de bito educacional e de pesquisas.
não estar relacionada a poluição, serve de
alerta a população brasileira. E após essa cri-
se, em que muitas pessoas sofreram na pela
em todo o Brasil, não somente em regiões 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
mais secas como no Nordeste, por exemplo, Este artigo é uma reflexão sobre o
passaram a entender a importância da água meio ambiente em que vivemos. O meio am-
na vida de todos. E estudos novos passaram biente como visto tem sofrido impactos enor-
a ser publicados relacionados a água, a po- mes causados por diversos fatores. E um dos
luição, a escassez e consequências causadas mais agravantes que afeta o mundo inteiro é
pelo impacto da falta da água na vida de todo a baixa qualidade da água ou a escassez dela
ser vivo. em muitos lugares.

124
Pesquisas recentes evidenciam que as
gerações futuras e como já evidenciados lo-
cais que hoje sofrem com a poluição da água,
quando não a escassez dela, ou as duas jun-
tas devido a própria população que não tem
consciência sobre o bom uso de um recurso
natural.
O tema em questão: qualidade da
água e sua importância tem sido discutido
devido aos problemas que o mundo inteiro
está sofrendo, mas que antes apenas alguns
locais eram notados, como por exemplo, o
Nordeste Brasileiro, alguns países da África,
que a região sofre com secas constantes.
Hoje outros locais vêm apresentando a falta
da água, além da poluição causada pela po-
pulação.
Diante disso, a população mundial
vem sofrendo as consequências desastrosas,
mortes e doenças causadas por falta de água,
desnutrição, doenças causadas por bactérias
e outros poluentes que estão presentes na
água, influenciando na qualidade de vida de
todo ser vivo.
Os desafios a serem superados em
decorrência da luta pela qualidade da água,
assim como evitar a escassez são diversos e
intensos. E por mais que seja responsabilida-
de dos órgãos, a população também precisa
se conscientizar e medidas precisam ser to-
madas, além de conscientização.
A pesquisa evidencia sobre a água e
sua importância, assim como medidas sim-
ples como forma de conscientização sobre o
tema abordado, necessitando de futuros es-
tudos, por ser uma revisão de literaturas.

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125
A ARTE E A EDUCAÇÃO ESPECIAL
CLÁUDIA SIMÃO LEITE

RESUMO jam acessíveis a todos os alunos, rompendo


com todas as barreiras que possam limitar a
Este artigo tem o objetivo de relacionar participação do estudante por conta da sua
a importância da inserção artística na educa- particularidade. A educação inclusiva foi fun-
ção especial, pois pode ser considerada um damentada no Brasil no século XX (Figueira,
importante recurso para o desenvolvimento 2017). Antes disso o sistema brasileiro de
do ser humano, socialmente, afetivamente educação era fragmentado em duas dire-
e no aspecto psicomotor. Refletindo sobre ções: A escola especial para alunos com qual-
esses pressupostos, percebe-se que a arte é quer tipo de deficiência e o ensino regular
um caminho de inúmeras possibilidades per- para alunos sem deficiência.
mitindo as relações dinâmicas entre o meio e
o educando, o educando e seus pares. É um O ensino aprendizagem, da inclusão
caminho que possibilita o desenvolvimento só tem a contribuir para a vida desse aluno.
cognitivo, biopsicossocial, cultural do aluno Tendo em vista que não há nenhuma outra
com deficiência com este estudo, foi possível metodologia de ensinar e aprender fora de
compreender que a construção de uma esco- um contexto escolar, apesar das diferentes
la inclusiva é um desafio, pois requer quebra origens socioeconômicas, culturais, religio-
de paradigmas, enfrentamento do desconhe- sas, ou pessoas com diferentes deficiências e
cido, aceitação do não saber e efetivar, na necessidades educacionais, precisam ser in-
prática, os princípios que fundamentam uma seridas em uma inclusão garantida por lei, lei
escola inclusiva. Conclui--se que a inclusão é que deve ser inserida no ambiente escolar.
um dos possíveis caminhos para se combater
a desigualdade social, e que as atividades em Cada estudante possui suas especifici-
arte desenvolvidas contribuam para o conhe- dades podendo ter maior ou menor dificul-
cimento e valorização da vida humana. dade em determinados momentos da aula.
Cabe a cada professora, munida de conheci-
PALAVRAS-CHAVE: Inclusão; Deficiên- mento artístico e pedagógico, conseguir de-
cia; Terapia; Arte. senvolver um plano específico para trabalhar
com os alunos, e esse plano deve considerar
a inclusão plena, em que os alunos com ou
ABSTRACT sem deficiência irão realizar um trabalho em
conjunto, com adaptações (se necessárias).
This article aims to relate the impor-
tance of the application of art in special edu- Na arte temos uma grande aliada para
cation, because it is considered to be an im- a inclusão das crianças com deficiência, pois
portant means for the development of the lhe proporcionam espaços para o autoco-
human being, socially, affectively and in the nhecimento, ajudando no desenvolvimento
psychomotor aspect. Reflecting on these as- global da criança, na socialização com seus
sumptions, one realizes that art is a path of pares e demais grupos sociais que frequen-
innumerable possibilities allowing the dyna- tam, contribuindo de forma significativa para
mic relationships between the medium and elevar a autoestima através de suas diversas
educating, educating and their peers. It is a linguagens com atividades como a colagem,
path that enables the cognitive, biopsycho- a pintura, a escultura, o desenho, a música, a
social, cultural development of students with dança, o teatro onde permitem ao indivíduo
disabilities with this study, it was possible to expressarem-se de forma única e pessoal,
understand that the construction of an inclu- rompendo barreiras, ultrapassando limites
sive school is a challenge, because it requires através do fazer artístico e suas possibilida-
breaking paradigms, facing the Unknown, des.
acceptance of not knowing and effective, in A escolha desse tema justifica-se pela
practice, the principles that underpin an in- relevância e preocupação com o desenvol-
clusive school. It is concluded that inclusion vimento educacional da criança na escola,
is one of the possible ways to combat social levando em consideração a diversidade e a
inequality, and that the activities in art de- construção de uma sociedade inclusiva, pois
veloped contribute to the knowledge and as escolas estão presas a conceitos que re-
appreciation of human life. querem mudanças, uma vez que os educado-
KEYWORDS: Inclusion; Disability; The- res não estão preparados para trabalhar com
rapy; Art. a inclusão de crianças com deficiência.
O debate sobre a inclusão educacio-
nal de pessoas com deficiência resgata uma
1 INTRODUÇÃO questão essencial à constituição de toda a so-
A inclusão implica na elaboração de ciedade que se diz avançada: a forma como o
recursos e métodos pedagógicos que se- ser humano vê e trabalha com as diferenças.
Na medida em que avançam as formulações

126
teóricas e o desenvolvimento conceitual so- Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, a
bre os processos de ensinar e de aprender, qual definiu como metas o acesso, a partici-
motivando estudos de investigações na área pação e a aprendizagem de educandos com
da educação, e toda comunidade escolar, são deficiência, transtornos globais de desenvol-
chamados a reconhecer e considerar a diver- vimento e altas habilidades e superdotação
sidade. Mesmo assim, o respeito para com a no sistema de ensino regular, os quais devem
diferença na escola ainda é exercício pouco estar preparados para as necessidades edu-
praticado e muitos são os mecanismos dos cacionais especiais.
qual esta tem se utilizado para ofuscar as ex-
pressões da diferença em seu cotidiano. Tendo hoje, a Lei nº 13.146 de seis de
julho de 2015 – Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência) é direito do portador de de-
DESENVOLVIMENTO ficiências a inclusão do mesmo nas escolas. A
Para esse ponto de discussão, consi- Lei enfatiza que as instituições de ensino de-
deramos importante marcar, inicialmente, vem assegurar e a promover, em condições
que a publicação da Constituição Federal (CF) de igualdade, o exercício dos direitos e das
de 1988, contexto no qual os brasileiros e liberdades fundamentais por pessoa com de-
brasileiras lutavam por uma sociedade mais ficiência, visando à sua inclusão social e cida-
democrática e ensejavam uma educação dania, sem exceções.
para todos e todas, trouxe grandes avanços Pessotti (2001) enfatiza que assegurar
sobre a educação às pessoas com deficiência, oportunidades iguais, no entanto, não signifi-
garantindo o direito à educação, a não discri- ca garantir tratamento idêntico a todos, mas
minação, à igualdade de acesso e permanên- sim oferecer a cada indivíduo, meios para
cia e à dignidade da pessoa humana além de que ele desenvolva, tanto quanto possível, o
prever a oferta de ensino, preferencialmente, máximo de suas potencialidades. Assim, para
na rede regular de ensino. Tal contexto nos que o princípio da igualdade de oportunida-
leva a pensar em uma educação que acolha a des torne-se um fato, é indispensável que se-
todas as pessoas, sem distinção. jam oferecidas oportunidades educacionais
A Lei nº 9.394/96 estabelece as Diretri- diversificadas. O verdadeiro significado da
zes e Bases para Educação Nacional, onde a igualdade de oportunidades repousa mais na
educação abrange todos os processos forma- diversificação que na semelhança de progra-
tivos desenvolvidos na vida familiar, no conví- mas escolares.
vio humano, no trabalho, nas instituições de Para o Programa Nacional de Apoio à
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e Cultura (PRONAC), de 1991, do Ministério da
organizações da sociedade civil e nas mani- Cultura, a definição de deficiência se dá por
festações culturais (BRASIL, 1996). Como um “a que permanentemente tem limitada a sua
dos direitos fundamentais, a educação deve capacidade de relacionar-se com o meio e de
ser assegurada para educandos com neces- utilizá-lo”, e pessoa com mobilidade reduzida
sidades especiais. O Art. 58º da LDB estabe- “a que temporariamente tem limitada a sua
lece “a educação especial como modalidade capacidade de relacionar-se com o meio e de
de educação escolar e precisa ser oferecida utilizá-lo” (MAZZOTA e D’ANTINO, 2010 apud
preferencialmente na rede regular de ensino BRASIL, 2007). , pessoas que possuem inca-
para educando com necessidades especiais ” pacidades de realizar as atividades próprias
(BRASIL, 1996, p. 31) do seu nível de desenvolvimento, podendo
Em 2001, a Resolução ser ela físicas, sensoriais ou intelectuais.
n. 2, do Conselho Nacional de Entende-se que a deficiência é uma
Educação/CNE/CEB/2001, no art. 1. alteração estrutural do ser humano, tanto
[“...] institui as Diretrizes Nacionais para a física como psicológica. Porém, a sociedade
Educação Especial na Educação Básica – mostra claramente com atitudes e palavras
LDBEN, em todas as suas etapas e modalida- que o homem é deficiente por natureza por
des”, ratificando a obrigatoriedade dos sis- já nascer com a maior de todas as deficiên-
temas de ensino como à matrícula de todos cias, o preconceito, uma doença incurável,
os alunos. Às escolas cabiam a organização diante dos olhos da medicina, pois a única
para o atendimento da heterogeneidade do medicação capaz de curar uma doença tão
alunado, assegurando-lhe as condições edu- deprimente é o amor ao próximo, e essa cura
cacionais necessárias. só virá por meio da amplitude do conheci-
mento (SILVA, SEABRA JR. e ARAÚJO, 2008).
Em 2007, o Decreto n. 6.094 tratou da
implementação do Plano de Metas Compro- Atualmente, o ensino de arte tem
misso Todos pela Educação, estabelecendo, como finalidade desenvolver o pensamento
como uma de suas diretrizes, a garantia do artístico e a percepção estética, caracterizan-
acesso e permanência das pessoas com de- do no aluno um modo próprio de ordenar
ficiência na rede educacional regular, refor- e dar sentido as suas expressões artísticas
çando sua inclusão nas instituições de en- com sensibilidade, percepção e imaginação.
sino públicas. (BRASIL, 2007) Na sequência, A Arte proporciona aos alunos vivências e ex-
em 2008, foi publicada a Política Nacional de periências que permitem liberar a criativida-

127
de, portanto na escola especial é uma ferra- métodos inovados para o bom desempenho
menta importante que permite o aluno com de suas aulas. Devem levar para a sala de
deficiência um contínuo aprendizado através aula atividades que chamem a atenção do
da cooperação e integração. Assim, pode se aluno fazendo com que ele se interesse pela
refletir a importância de trabalhar com os proposta de trabalho.
alunos da educação especial, a disciplina de
Artes visuais direcionada para uma educação Na educação formal, a BNCC (Base Na-
em que se prioriza o saber, ver e perceber, cional Comum Curricular) considera as Artes
distinguindo sentimentos, sensações, ideias Visuais uma forma de linguagem e propõe de
e qualidades contidas nas formas e nos am- forma articulada seis dimensões do conheci-
bientes. É interessante salientar o quanto mento. São elas:
a disciplina de Arte é capaz de transformar • Criação, que atribui criações ar-
as pessoas e ajudar no desenvolvimento de tísticas, realizadas sozinhas ou em grupos,
deficientes, pois essas crianças precisam de busca aprender a solucionar problemas, re-
atividades orientadas que estimulem suas alizar decisões e negociações;
habilidades cognitivas.
• Crítica, que a busca por novos
Em seus estudos Vygotsky (2006) des- entendimentos do lugar em que vivem, atra-
taca a arte como ato social, sendo que através vés de pesquisas e conversas;
dela o indivíduo pode conhecer e compreen-
der os símbolos sociais, conforme observou: • Estesia, a qual atua com as emo-
ções, sensibilidades e experiências sobre o
...o conteúdo da obra começa a ser lugar ou si mesmo;
construído nas interações sociais, pois o in-
divíduo adquire os significados sociais e de- • Expressão, desenvolvendo ex-
pois se apropria deles para construir seus pressões individuais e/ou
conteúdos individuais. Essa característica tor- coletivas, a partir de criações artísticas;
na a linguagem artística acessível também a
pessoas com deficiência intelectual que, por • Fruição, que visa o conhecimen-
meio dessas linguagens, podem expressar to e a busca por novas perspectivas, artistica-
seus conteúdos internos e transmitir sua re- mente e culturalmente; e,
presentação de mundo (apud CASARIN; CAS-
TANHO, 2016, p.37). • Reflexão, que desenvolve a com-
preensão e percepção das fruições, com a
A arte como instrumento de inclusão observação de produções. Tais dimensões
social pode e deve ser vista como fator pre- visam o desenvolvimento de conhecimento
sente nas diversas formas de desenvolver em arte de modo amplo, sendo abordadas
aprendizagens ligadas a diferentes áreas do com vistas ao desenvolvimento integral do
conhecimento. Essa questão é abordada cla- estudante, a partir de unidades temáticas.
ramente pela interdisciplinaridade, ou seja, o (PACHECO, 2022, p. 13)
diálogo entre uma ou mais disciplinas com o
intuito de solidificar a aprendizagem através Essas dimensões buscam facilitar
de oportunidades e de diferentes maneiras o processo de ensino e aprendizagem em
de entender e contextualizar os conteúdos arte, integrando os conhecimentos do com-
escolares. Nesse sentido, pretende-se aqui ponente curricular. Com o compromisso de
tentar elevar a manifestação artística dos garantir aos alunos as habilidades associadas
educandos para bem aprimorar seus concei- à alfabetização e ao letramento, a Arte deve
tos quanto às faces da aprendizagem. proporcionar o ingresso à leitura, à criação e
à elaboração de múltiplas linguagens artísti-
Ensinar Arte é mais do que ensinar cas, colaborando para o desenvolvimento de
cores e formas, é buscar identificação com a habilidades associadas à linguagem verbal e
humanidade e proporcionar condições aos não verbal.
alunos, com necessidades especiais, de apre-
enderem o conhecimento constituído ao lon- As Artes visuais constituem-se uma
go da história humana. Sendo assim, estudar linguagem muito importante, onde esta
Arte é importante para que eles conheçam a “possibilitam aos alunos explorarem
sua realidade e possam refletir e, consequen- múltiplas culturas visuais, dialogar com as di-
temente, agir conscientes sobre o mundo ferenças e conhecer outros espaços e possi-
em que se encontram. Tendo em vista que bilidades inventivas e expressivas”
se pode criar e construir algo novo, um novo
olhar, nas relações sociais e na cultura, histo- (BRASIL, 2018, p. 195), e assim, “de
ricamente elaborada, sendo que “[...] não se modo a ampliar os limites escolares e criar
cria do nada. A particularidade da criação no novas formas de interação artística e de
âmbito individual implica, sempre, um modo produção cultural, sejam elas concretas, se-
de apropriação e participação na cultura da jam elas simbólicas” (BRASIL, 2018, p. 195).
história” (VIGOTSKI, 2009, p. 10). O documento pontua que as percepções e
compreensões do mundo se dão por meio
O currículo e as propostas de trabalho da aprendizagem, na pesquisa e no fazer ar-
devem ser reformulados e mais flexíveis e os tístico, permitindo que os sujeitos se tornem
professores podem então adaptar e utilizar abertos às percepções e experiências, numa

128
perspectiva sensível, por intermédio da ima- VELBERG, 2003, p. 10).
ginação e da ressignificação do cotidiano, a
partir das práticas rotineiras. O professor precisa dar oportunida-
des para que o aluno se expresse de forma
O fazer artístico possibilita ao aluno espontânea, pessoal, porém é importante
expressar seus gostos, vontades e costumes que o mesmo consiga analisar o contexto da
diante dos acontecimentos do mundo que atividade e quais benefícios ela traz para o
os rodeiam. Esse fazer é técnico, o mesmo desenvolvimento da criança. buscando sem-
admite qualidade aos trabalhos criados, po- pre novas técnicas e recursos para explorar a
rém, traz uma forte carga lúdica, no qual a arte na sala de aula, contribuindo assim para
capacidade de recriar o mundo é infinita. O o desenvolvimento do estudante.
uso das diversas técnicas ao serem aborda-
das de forma correta pelo professor ao aluno Paulo Freire (1996) diz que o professor
permitirá uma habilidade ilimitada de possi- no início de sua formação, já assume o papel
bilidades diante das coisas e do mundo que de sujeito da sua produção do saber, ou seja,
os rodeiam. é indispensável que o professor “se convença
definitivamente de que ensinar não é trans-
Assim, ofertar experiências e momen- ferir conhecimento, mas criar as possibilida-
tos ricos em sensibilização, criação e expres- des para a sua produção ou a sua constru-
são, que podem ampliar a compreensão a ção” (FREIRE, 1996, p. 22). Assim, o professor
respeito de si mesmo e de sua relação com é fundamental no papel de fazer a mediação
o mundo. Assim, desenvolvem não só a per- entre os conhecimentos adquiridos ao longo
cepção cognitiva como também a sensível do da história e o saber cultural individual, é o
aluno, auxiliando na formação de pessoas elo entre o saber e o aluno, que o conduz a
mais humanas perante a sociedade, dessa refletir e transformar a sua realidade.
forma, é possível desenvolver mais facilmen-
te uma educação para todos.
O papel do professor de artes está de CONCLUSÃO
certa forma, explícito no manual do PCN Ar- As atuais políticas educacionais inclu-
tes. O documento que apresenta os parâme- sivas propõem é o rompimento das inúmeras
tros curriculares nacionais é um dispositivo barreiras existentes nas escolas. No entanto,
que tem como meta a garantia do desen- para que essas políticas inclusivas sejam apli-
volvimento de uma educação artística que cadas, é necessário inovar. Uma proposta é
proponha um desenvolvimento crítico sobre a flexibilidade curricular envolvendo as dife-
aquilo que lhe é apresentado como arte. Par- renças; essa abordagem que proponha um
tindo do princípio de que todo produto cultu- aperfeiçoamento do professor, melhoria da
ral é representativo de seu povo, as pessoas estrutura física da escola e, também, mate-
com necessidades especiais têm o direito de riais para assegurar a permanência de todos
manifestar-se e mostrar o que está realizan- os alunos. Isso requer uma reorganização
do aos demais. das políticas escolares, o que envolve plane-
Torna-se necessário um novo olhar so- jamentos, elaboração de currículos, a gestão
bre o preparo do professor para atuar junto da escola, entre outros.
ao aluno de forma consciente, sempre aten- No bojo da temática deste trabalho,
to a sua prática pedagógica. Torna-se funda- pode-se concluir que a Arte nasce em cada
mental, também, que o aluno receba condi- indivíduo, fazendo parte deste e agindo de
ções psicológicas, pedagógicas e materiais um modo terapêutico ao colorir e alegrar a
para que se expresse por meio das lingua- sua vitalidade. Ela inspira, contagia, comunica
gens artísticas. Para a criança, as atividades e proporciona harmonia. Aperfeiçoa a cada
lúdicas e a criatividade são bases necessárias um de nós ao longo dos anos até recebemos
para sua formação, observando se que a cria- como uma disciplina específica escolar em
tividade não pode ficar restrita as atividades sala de aula, constituindo uma minis socieda-
de pintura, desenho, colagem, modelagem; de, repleta de personalidades que agem em
ela deve perpassar todas as disciplinas, tra- suas particularidades e assim suas tendên-
balhando-se a interdisciplinaridade. cias em diversidade, que consequentemente
Desta forma, o professor de artes pro- desenvolvem-se as múltiplas formas que ex-
cura viabilizar um diálogo cultural dentro do ploram o potencial que existe dentro de cada
espaço escolar, um de nós.
O papel do professor é importante Assim sendo, arte possibilita a ex-
para que os alunos aprendam a fazer arte e pressão e estimulação dos sentimentos, das
a gostar dela ao longo da vida. Tal gosto por emoções, da criatividade e imaginação, con-
aprender nasce também da qualidade da tribuindo assim para a formação de sujeitos
mediação que os professores realizam en- com conhecimento de sua própria história,
tre os aprendizes e a arte. Tal ação envolve sujeitos críticos e participativos. Sujeitos ca-
aspectos cognitivos e afetivos que passam pazes de comunicar sua visão de mundo so-
pela relação professor/aluno e aluno/aluno, bre a natureza e a cultura mediante a expres-
estendendo-se a todos os tipos de relações são de significados criados por meio da arte.
que se articulam no ambiente escolar. (IA- Além disso, facilita o processo de ensino-

129
-aprendizagem dos alunos com necessidades gotsky. Boletim Academia Paulista de Psicolo-
educacionais especiais nas classes regulares. gia, São Paulo, v. 36, n. 90, p. 3147, 2016
Deste modo, a arte desempenha um FIGUEIRA, Emílio. O que é educação in-
papel importante na formação do ser hu- clusiva. São Paulo: Brasiliense, 2017.
mano, que tem a capacidade de contribuir
para que ele conheça a si próprio, os outros FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autono-
e, principalmente, o papel que ele ocupa na mia: Saberes Necessários à prática educativa.
sociedade. Neste sentido, a arte é algo que 29. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
faz parte da vida de todo ser humano, seja IAVELBERG Rosa. Para Gostar de
ele deficiência ou não, o que contribui para a Aprender Arte: sala de aula e formação de
ampliação de sua sensibilidade, criatividade professores. Porto Alegre: ArtMed, 2003.
e imaginação. Nestas situações vivamos as
Artes como elementos fundamentais para a PACHECO, Gabrielle Borcelli. O Ensino
nossa formação e evolução. de Arte nos Anos Iniciais do Ensino Funda-
mental: possibilidades. Trabalho de conclu-
Portanto, o valor da arte na educação são de curso (Graduação) Universidade Fe-
especial é procurar estimular nos alunos a deral do Rio Grande do sul. Campus Litoral
autoexpressão, possibilitando o desenvolvi- Norte, Licenciatura em Pedagogia, Traman-
mento das potencialidades através da criati- dal. BR-RS, 2022.
vidade, flexibilidade, sensibilidade, reflexão
e conhecimento. Na escola, a arte, signifi- PESSOTI, Isaias. Sobre a gênese e evo-
ca abertura para a riqueza da própria vida. lução histórica do conceito de deficiência
Quem tem oportunidade de conhecê-la terá mental. In: Revista Brasileira de Deficiência
uma vida mais expressiva, porque o seu ensi- Mental. Vol. 16, Nº 1, Florianópolis, 2001.
no possibilita o despertar da criatividade, fa- SILVA, Rita de Fátima da SEABRA JU-
cilitando o desenvolvimento do pensamento NIOR, Luiz; ARAÚJO, Paulo Ferreira de. Educa-
artístico e da percepção estética. ção Física Adaptada no Brasil: da história a in-
clusão educacional. São Paulo: Phorte, 2008.
REFERÊNCIAS VIGOTSKI, Lev Semyonovich. Imagina-
ção e criação na infância: ensaio psicológico.
BRASIL. Base Nacional Comum Cur- 1. Ed. Apresentação e comentários Ana Luiza
ricular (BNCC). Ministério da Educação e do Smolka. Tradução de Zoia Prestes. São Paulo:
Desporto. Brasília: MEC 2018. Ática, 2009.
____. Lei nº 13.146, de 6 de julho de
2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência).
______________. Ministério da Educação.
Política nacional de educação na perspectiva
da educação inclusiva. Brasília: Secretaria de
Educação Especial, 2008
_____________. Decreto nº 6.094, de 24
de abril de 2007. Dispõe sobre a implementa-
ção do Plano de Metas Compromisso Todos
pela Educação, pela União Federal, em regi-
me de colaboração com Municípios, Distrito
Federal e Estados, e a participação das famí-
lias e da comunidade, mediante programas e
ações de assistência técnica e financeira, vi-
sando à mobilização social pela melhoria da
qualidade da educação básica. 2007
_____________. Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Especial. Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Edu-
cação Básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001.
_______ Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, LDB. São Paulo: Saraiva
9394/1996.
_______ Constituição (1988). Constitui-
ção da República Federativa do Brasil. Brasí-
lia, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
CASARIN, S.; CASTANHO, M. I. S. Sín-
drome de Down e Arte: contribuições de Vy-

130
A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
CRISTIANE DE NOVAIS

RESUMO INTRODUÇÃO
Diversos estudos comprovam a rele- Revisitando a literatura, encontram-se
vância da música na educação para a forma- diversos estudos que comprovam a relevân-
ção integral do ser humano. Observa-se que cia da música para a formação integral do ser
a prática da musicalização no CEI não retrata humano.
o embasamento teórico que sustenta o Refe-
rencial Curricular Nacional para a Educação O Referencial Curricular Nacional para
Infantil (RCNEI). Nesse processo há espaço Educação Infantil (RCNEI) aponta objetivos
formativo para potencializar a construção para qualificação da prática pedagógica e
de práticas significativas de musicalização, contribuição para a aprendizagem, desenvol-
que favoreçam a integralidade do desenvol- vimento integral dos bebês/crianças e suas
vimento humano, dessa demanda de mais identidades, reconhecendo-os como cida-
tenra idade no Centro de Educação Infantil dãos, sujeitos de direitos ampliando o conhe-
(CEI). Esse trabalho pretende pesquisar como cimento da realidade social e cultural.
a música pode favorecer o desenvolvimen- Esse trabalho pretende pesquisar
to integral da criança e ser usada de forma como a música pode favorecer o desenvolvi-
mais eficaz como metodologia pedagógica e mento da criança e ser usada como metodo-
ampliar práticas lúdicas, educativas e inova- logia pedagógica.
doras. Para tanto, foi realizada revisão de lite-
ratura que versa sobre o assunto bem como No decorrer de minha trajetória como
vivências e observação de atividades com professora, observei que a utilização da mú-
música, sons, silêncio, ritmos e motricidade sica como metodologia pedagógica é com-
com um grupo de crianças de aproximada- preendida, não raro como entretenimento e
mente três a quatro anos de idade num Cen- pouco fundamentada teoricamente dentro
tro de Educação Infantil na periferia da Zona das escolas.
leste de São Paulo. Nesse processo, permitem-se expe-
PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil; riências aos educandos (principalmente a
Musicalização; Música; Musicalização na edu- demanda de mais tenra idade no CEI que se
cação infantil. encontra no início do desenvolvimento hu-
mano) que ficam aquém das multiplicidades
experienciais de práticas qualitativas para o
ABSTRACT desenvolvimento do potencial por meio da
musicalização.
Several studies prove the relevance of
music in education for the integral formation Para tanto, foi realizada revisão de lite-
of human beings. It is observed that the prac- ratura que versa sobre o assunto bem como
tice of musicalization at CEI does not portray vivências e observação de experiências com
the theoretical basis that supports the Natio- musicalização (sons, ritmos) e motricidade
nal Curricular Reference for Early Childhood com um grupo de bebês e crianças até três
Education (RCNEI). In this process, there is anos de idade no Centro de Educação Infantil
training space to enhance the construction of localizado na zona leste do município de São
significant musicalization practices, which fa- Paulo.
vor the integrality of human development, of Como professora de educação na pri-
this demand from younger ages at the Early meira infância desde 2008, inicialmente na
Childhood Education Center (CEI). This work rede conveniada e posteriormente ingres-
aims to research how music can promote the sando na rede municipal de Educação de São
integral development of children and be used Paulo em 2014, atuo hoje no Centro de Edu-
more effectively as a pedagogical methodo- cação Infantil (CEI). Desde então, percebe-se
logy and expand playful, educational, and que a ausência da articulação da prática x
innovative practices. To this end, a literature teoria em artes tem favorecido a exploração
review was carried out on the subject, as well superficial da musicalização dentro dos CEIs.
as experiences and observation of activities
with music, sounds, silence, rhythms, and A pesquisa pretendeu aprofundar o
motor skills with a group of children appro- conhecimento nessa área para ampliar os
ximately three to four years old in an Early saberes científicos sobre os benefícios obser-
Childhood Education Center on the outskirts vados através da utilização do fazer musical:
of the east zone of São Paulo. do resgate do lúdico, das brincadeiras com
ritmos e sons, enquanto recurso pedagógico
KEY-WORDS: Child education; Musica- fundamentado colaborando com as práticas
lization; Music; Musicalization in early chil- educacionais na promoção da educação in-
dhood education. fantil e no desenvolvimento integral do indi-
víduo.

131
Para desenvolver o estudo optamos Ao longo do desenvolvimento, nos pri-
por fazer estudo teórico de literaturas que meiros anos de vida, aprende a decodificar
discorrem sobre o assunto e pesquisa de os sons do ambiente, identificá-los e inter-
campo através de vivências e observação pretá-los como linguagem.
de atividades com música e sons com essas
crianças em sala de aula e ambiente do Cen- Entendemos que a promoção da edu-
tro de Educação Infantil (CEI). cação integral da criança desde a mais tenra
idade engloba o acesso à arte, que dignifica a
O levantamento bibliográfico foi feito humanidade.
através de indicações do professor orienta-
dor e levantamento de referências biblio- Dentre as formas de expressão artís-
gráficas de publicações e eventos na área da tica, destacamos a música, como forma de
música e educação infantil de que tenho co- educar para a sensibilidade, a afetividade, a
nhecimento e também indicação de colegas criatividade, a inteligência.
de profissão. Alguns livros foram comprados Esperamos que essa pesquisa contri-
outros acessados a título de empréstimo em bua para a relevância da educação musical
biblioteca municipal, ou no próprio CEI. fundamentada e direcionada para a forma-
Após análise do material, procedemos ção integral do ser humano e a disseminação
à intensa leitura, fichamento e resumo dos do conhecimento e novas práticas lúdicas,
textos para embasamento do trabalho. educativas e inovadoras na educação infantil.
A pesquisa de campo foi realizada
num CEI da rede direta municipal, localizado 1- A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
no bairro de Artur Alvim, na cidade de São
Paulo, entre os meses de abril e setembro O homem comunica-se e se expressa
desse ano. frente ao mundo mediante uma rica diversi-
dade de linguagens. Nem sempre uma úni-
As crianças atendidas são moradores ca linguagem compreende em sua essência
da região e a maior parte frequenta o CEI todos os elementos das quais utilizamos na
desde o Berçário I (primeiro agrupamento expressão de nossos sentimentos enquanto
que recebe bebês com meses de nascimen- seres humanos. Um indivíduo que consegue
to, considerando-se o tempo de 04 meses do se comunicar através das cinco principais lin-
período de afastamento da família concedido guagens que regem nossas interações (a lin-
por lei pela licença maternidade). guagem oral, escrita, corporal, plástica e mu-
O trabalho com música está previsto sical) certamente consegue relacionar-se de
no Projeto Político Pedagógico (PPP) do CEI, forma mais ampla e completa consigo mes-
que é dialogado democraticamente com a mo e com todo o mundo que o cerca.
escuta da comunidade escolar: diretor, assis- Atendendo às determinações da Lei
tente de direção, coordenador pedagógico, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
docentes, equipe das demais áreas, e famí- (Lei 9.394/96) que estabelece que a educação
lias. Dentro desse planejamento, são elabo- infantil seja a primeira etapa da educação bá-
rados os projetos para cada sala, por cada sica, especificamente na educação infantil, o
professor. Referencial Curricular para a Educação Infan-
A pesquisa baseou-se na observação til.
da vivência de situações de aprendizagens do O Referencial é um marco para a Edu-
projeto de música elaborado para a sala do cação Infantil, pois enfatiza a importância da
Mini Grupo I, ou seja, doze crianças na faixa Educação Infantil. É necessário ressaltar que
etária média de três anos de idade. as ideias e propostas contidas no Referencial
Entende-se a música como um pro- são sugestivas não há caráter obrigatório de
cesso contínuo de construção que envolve segui-las. As Diretrizes são obrigatórias. O
perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e Referencial foi organizado em três volumes
refletir. (BRASIL Secretaria de Educação 1998):
As experiências musicais permitem • Formação Pessoal e Social
envolvimento e integração da abordagem • Natureza e Sociedade.
psíquica, motor e intelectual. Situações ex-
perenciais auditivas, motoras, simbólicas, ex- • Conhecimento de Mundo.
pressivas propiciadas pelas atividades musi- O Eixo Conhecimento de Mundo
cais são importantes para o desenvolvimento orienta os temas e conteúdos relacionados
neuropsicomotor, para aquisição e desenvol- às linguagens para nortear o trabalho com as
vimento da linguagem, do pensamento, do crianças.
raciocínio lógico.
Os bebês e crianças pequenas, antes Temas e conteúdos relacionados às
mesmo do nascimento e de vivenciar expe- Linguagens que necessitam ser ensinadas e
riências motoras significativas, já tem expe- desenvolvidas nos processos de construções
riências sonoras na vida intrauterina através de aprendizagens na Educação Infantil.
do corpo da genitora. Esse eixo traz apontamentos sobre e

132
prática musical: o fazer e a apreciação musi- reprodução, tenta detectar as atitudes noci-
cal. Esse Referencial nos convida a uma mu- vas que, cristalizadas no comportamento co-
dança de postura, de olhar para as crianças tidiano, estariam levando ao desperdício das
da mais tenra idade a fim de ampliar conhe- habilidades inatas ao homem. Propõe como
cimentos pelas Artes Visuais, movimento, solução uma modificação total em relação ao
linguagem musical, linguagem oral e etc. O desenvolvimento da sensibilidade musical
objetivo é aproximar e fortalecer as crianças que se iniciaria com a atitude na pré-natalida-
desde bebês ao universo protagonista da de. Já que os sons estão presentes na vida do
criação e da representação subjetivo-simbó- ser humano desde antes de seu nascimento,
lica. através do corpo da mãe e de suas reações
e interações. Para ele, educar significa des-
O estudo relativo ao ensino das ar- pertar. A partir do nascimento que se torna
tes e aqui em especial, ao ensino da músi- realmente importante estimular e educar as
ca, tem despertado o interesse de inúmeros funções cerebrais. Despertar nunca é uma
educadores, comprometidos com possíveis tarefa precoce, sendo indispensável entre-
relações que se possam estabelecer entre a gar-se a ela sistematicamente desde os pri-
pedagogia e a música, tendo em vista o pro- meiros anos de vida, a fim de que a criança,
gresso científico-intelectual que já se viven- mais tarde, veja-a como uma tendência natu-
ciou em ambas as áreas do conhecimento. ral de seu ser.
A educação encerra em si a necessida- Aqui vale ressaltar que alguns teóri-
de de uma prática direcionada ao repensar cos afirmam que o ofício de professor pode
contínuo acerca da própria existência. Com- ser exercido por qualquer pessoa que tenha
prometer-se diante do ato de educar signifi- habilitação para esse fim. O educador, pelo
ca pensar ideias, quebrar paradigmas, posi- contrário, não é profissão, mas habilidade e
cionar-se frente a problemas, estar aberto à construção ideológicas. Somente quem se
possibilidade de mudanças e novidades. dedica ao ensino com responsabilidade e
A música enquanto linguagem concre- comprometimento social, pode ser conside-
tiza-se a partir de diversos conhecimentos e rado educador.
habilidades que necessitam estar em perma- Howard realizou experiências com be-
nente diálogo, construção e desenvolvimen- bês onde os exercitavam movimentando-lhes
to. Ao mesmo tempo, justamente enquanto as pernas, cantando ou falando ritmicamen-
expressão artística e objeto de conhecimento te, onde o objetivo era proporcionar alegria
se aproximam frequentemente do cotidiano à criança. Ele variava os tempos e os timbres
social dos indivíduos, mediante um acesso (pedindo à mãe, ao pai ou por assobios can-
justo e comum, negando qualquer tipo de tar uma mesma melodia), evitando assim, o
distinção hierárquica. perigo de adestrar a criança. Os exercícios
Como já vimos, no ato de educar, o com as pernas tiveram naturalmente por re-
educador é um instrumento facilitador do sultado, o aumento da destreza manual, e,
aprendizado, à medida que contribui para o por conseguinte, crianças observadoras, rít-
aumento das capacidades do educando. micas, falantes, mostrando todas as faculda-
des motoras e técnicas bem desenvolvidas.
A música constitui-se então uma das
formas de instigar as capacidades inatas do Por outro lado, Howard faz uma críti-
ser humano, nesse caso a criança, fazendo ca à valorização da educação intelectual em
com o mesmo se expresse e interaja. detrimento da valorização da educação psí-
quica ou da sensibilidade. ―Dominar a sen-
Interagindo, a mesma se apropria do sibilidade é dirigi-la e utilizá-la de tal maneira
mundo que a cerca (influencia e é influencia- que contribua para o aumento de nossas ca-
da). pacidades, e de nenhum modo constrangê-la
até que desapareça‖.
2- A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO O caráter emotivo da música sempre
INFANTIL foi conhecido. Se reconhecermos a possibili-
dade e a necessidade de uma educação da
Walter Howard, cientista musical e vida psíquica, teremos o direito de continuar
professor suíço, em sua obra ―A Música e a a propagar a educação musical. Assim, colo-
Criança‖, destinado a educadores, no senti- ca que a aprendizagem puramente mecânica
do mais amplo e significativo da palavra, re- de uma técnica seria sempre um inimigo da
laciona a música com a leitura, a ginástica, a música. Ao contrário, os movimentos de exe-
percepção das cores, a arquitetura e outros cução como expressão espontânea da crian-
campos (HOWARD 1984). ça, de seu estado psíquico (através de jogos,
brincadeiras, cirandas) seriam meios eficazes
Nessa obra, para além de um simples de introdução à música. Uma educação mu-
método didático, autor desenvolve ideias li- sical bem apreendida pela criança é o melhor
gadas ao desenvolvimento da sensibilidade meio de dirigi-la a tomar contato com suas
artística. Seguro de que, na atualidade, es- emoções originais de um lado e, por outro
tamos cada vez mais nos afastando da mú- lado, e transformar as emoções que as in-
sica, apesar da multiplicação de técnicas de fluenciam do exterior.

133
Pulaski em sua obra sobre o desenvol- Segundo Wallon, o ser humano é por
vimento cognitivo da criança afirma baseado natureza um ser social e sua estrutura orgâ-
na teoria Piagetiana, que a capacidade cog- nica se amplia, se transforma mediante a in-
nitiva, (capacidade de aquisição de conhe- tervenção da cultura.
cimento) é uma evolução em estágios, dos
comportamentos mais primitivos até o nível Considera que o ambiente escolar
adulto do raciocínio lógico. O raciocínio é deve perceber a criança como um ser total,
uma característica da inteligência. Portanto, concreto e ativo e de manter-se em contato
inteligência é a capacidade de raciocinar, or- com o meio social.
ganizar e propor soluções para as questões Sua teoria estuda a gênese dos pro-
que vão sendo apresentadas com graus de cessos que constituem o psiquismo humano.
dificuldade cada vez mais complexos. O A aprendizagem se dá por meio de Estágios
bebê, quando nasce, já dispõe de estruturas do Desenvolvimento Mental. Considera que
mentais (formas de pensar), que apesar de a afetividade precede nitidamente o apare-
incipientes só precisam ser estimuladas para cimento dos comportamentos e os movi-
se desenvolverem (PULASKY 1986). mentos (as necessidades cinéticas, de mo-
Essas ideias são importantes na com- vimento, e as necessidades posturais) são
preensão do desenvolvimento humano, na imprescindíveis ao desenvolvimento infantil.
medida em que é evidenciada uma tentativa No conceito central de sua concepção
de integração entre o sujeito e o mundo que teórica, a interação na construção do conhe-
o circunda. Sua teoria afirma que o trabalho cimento é primordial. O professor deixa de
educativo deve estar centrado na criança: ser o único agente na formação das crianças.
são suas capacidades e atitudes atuais as A interação entre as crianças é fundamental
que deverão ser exercitadas e intensificadas. no desenvolvimento e aprendizagem. O mo-
É uma abordagem da ―relevância pessoal‖, vimento é de suma importância no desenvol-
segundo a qual é preciso proporcionar meios vimento da criança.
para que a criança libere seu potencial. A in-
fluência que o meio exerce na construção do Logo, as construções feitas pelo brin-
seu conhecimento deve ser valorizada. car assumem um lugar essencial no desen-
volvimento da criança. A afetividade tem
Para Vygostki, o desenvolvimento do lugar privilegiado no desenvolvimento do su-
ensino e aprendizagem se processa na in- jeito, em especial da criança. Conflitos, crises
teração entre o educador e o educando. A e contradições são pontos que contribuem
criança nasce inserida num meio social, que para a compreensão da pessoa humana.
é a família, e é nela que estabelece as primei-
ras relações com a linguagem na interação Vygotsky irá nos trazer o que chama-
com os outros. Ele fala muito do ambiente mos mediação simbólica - feita através dos
de aprendizagem, do professor e da media- signos construídos culturalmente e comparti-
ção pedagógica. Sua abordagem é histórico lhados por todos. Wallon por mais que reco-
social. Tudo que se interpõe entre o homem nheça o fator orgânico, biológico relata que o
e o ambiente, ampliando e modificando suas mesmo é a primeira condição no
formas de ação, são instrumentos para cons- As concepções sobre o homem e o seu
trução da aprendizagem. processo de aprendizagem/desenvolvimento
A palavra, o desenho e os símbolos são compreendidas a partir de diversas pers-
são signos e são utilizados pelo homem para pectivas com pareceres das ciências naturais
representar, evocar ou tornar presente o que e biológicas e do ponto de visto humano e
está ausente. A apropriação do conhecimen- social. Se pensar que o indivíduo é reconheci-
to se dá por meio da internalização (proces- do como ser natural, mas também como ser
so interno de reconstrução de uma opera- social e histórico, isso estará condicionado à
ção externa) que acontece na relação entre perspectiva que reconhecemos e o tomamos.
indivíduos (interpsicológico) e conexões com
o que já temos de construção de conceitos
(intrapsicológico). 2.1 DISCUSSÃO
A linguagem é o processo de apropria- Analisando o agrupamento ao lon-
ção do mundo cultural. go desse período, observei que as ativida-
O aprendizado impulsiona o desenvol- des contribuíram efetiva e substancialmente
vimento. para o desenvolvimento integral das crian-
ças. Acima de tudo percebi que eles apontam
É amplo o entendimento que temos fruição nas atividades com música. As ativi-
sobre o conceito de linguagem. Podemos di- dades prendem a atenção dos mesmos por
zer que a linguagem é um sistema que im- um tempo maior de interesse dos educan-
plica representações, viabilizando a comuni- dos. Inicialmente ficavam inibidos, mas aos
cação. Existem múltiplas linguagens, dentre poucos foram se habituando às situações de
elas A música, como sabemos, é um tipo de aprendizagens, tornando-se mais participati-
linguagem que possui suas próprias estrutu- vos, extrovertidos e expressivos.
ras. Acredito que diversos conteúdos pe-

134
dagógicos podem ser desenvolvidos numa Um fato interessante a relatar, é o interesse
mesma situação de aprendizagem favore- particular de um menino (B.) que sempre
cendo assim um currículo integrador que procura pegar, ou ficar próximo quando ofe-
considera múltiplas linguagens. recemos o violão ou algum outro instrumen-
to de corda. B. apresenta um interesse espe-
Para que haja um aproveitamento me- cífico pelo violão de brinquedo e procuramos
lhor por parte das crianças, a atitude pedagó- relatar isso à família.
gica do professor deve variar de acordo com
o momento e o interesse da turma, ora pro- Comprovamos que quanto mais expe-
vocando situações novas, ora atuando como riências musicais as crianças têm no convívio
catalisador dos interesses emergentes ou familiar, mais espontaneamente reagem e
dispersos, mas que possam ser aproveitados interagem nas situações de aprendizagens
para levar a criança a se expressar musical- promovidas no âmbito escolar. Em contra-
mente. partida, nas reuniões com os pais e/ou res-
ponsáveis, procuramos incentivar essa inte-
Ao longo das atividades, esforcei-me ração no ambiente da família.
para não ter uma postura diretiva que viesse
inibi-los ou reprimi-los, pois cada um deles Nas brincadeiras após a oferta dos ins-
tem uma expressividade, um ritmo de desen- trumentos musicais de percussão corporal,
volvimento diferente. sopro e corda ofertados em inúmeras situa-
ções do cotidiano, percebeu-se que as crian-
Com situações de aprendizagens bem ças representavam instrumentos da banda
planejadas, busquei estratégias a fim de in- com objetos do cotidiano e ou materiais não
centivar o desempenho do grupo, mediando estruturados encontrados no parque do CEI.
de maneira Lúdica, educativa sem interfe-
rências com valores do conceito de certo e Como exemplo, com uma lata de leite
errado, de corrigir uma criança ou demons- em pó e um galho seco de árvore, elas pro-
trar desapontamento com seu desempenho, duziam, percutiam sons de percussão com
como também tratava com naturalidade a autonomia e protagonismo. Essa escuta das
criança de melhor expressividade rítmica e / crianças provocou-nos construir instrumen-
ou musical, evitando fazer elogios individuais, tos musicais simples, a partir de sucatas que
comparações com os colegas ou pedir cons- os mesmos trouxeram de casa com a partici-
tantemente que participasse sozinha ou se pação da família.
destacasse do grupo favorecendo assim a so-
cialização e compartilhamento das evoluções Por meio dessa situação de aprendiza-
descobertas pelas crianças no fazer musical. gem, trabalhamos o conceito de reaproveita-
mento, reutilização, reuso dos produtos, para
Pude observar que a expressividade preservação do ambiente. Confeccionamos
rítmica e musical foi sendo desenvolvida e instrumentos de percussão (chocalhos) com
aprimorada pela continuidade do trabalho. sementes e embalagens que eles mesmos
Ao longo do tempo, também observei cada trouxeram de casa (solicitamos os familiares
criança e pude ir adaptando as atividades à previamente) - garrafas PET, iogurtes, latas,
compreensão delas. sementes, caixas de pizzas.
Com as experiências vivenciadas, pro- Após a confecção dos nossos próprios
curei sempre variar as propostas intensifi- instrumentos musicais, construídos pelas
cando a fantasia e a imaginação das crianças, crianças com mediação assistida, a fim de ga-
acompanhando o desempenho delas com rantir a segurança na manipulação de cola,
interesse, investigando se gostaram ou não tesoura e sementes, os instrumentos foram
da proposta, ligando e integrando a música pintados e decorados à escolha e criatividade
às outras atividades expressivas, tais como: individual dos educandos.
a dramatização, o desenho, a literatura - esti-
mulando as crianças a desenharem a história Os instrumentos construídos fazem
do que cantaram; a cantarem uma cantiga parte da nossa rotina e também são utiliza-
sobre algum desenho feito antes; a dramati- dos para acompanhar as canções ouvidas ou
zarem a história da música que acabaram de cantadas por eles em situações de roda. Utili-
cantar; a fazer todos os sons da história que zando canções infantis do folclore brasileiro,
acabaram de ouvir, etc. cantamos sentados no chão e em roda, sen-
tindo o tempo forte da música e, batendo na
Promovendo situações de aprendiza- perna, orientamos a marcação do ritmo.
gens que fortalecesse a coordenação moto-
ra, atrelava músicas a movimentos corporais, A sensibilidade auditiva repousa na ca-
de acordo com o que solicitava a canção. pacidade discriminativa de suas qualidades
Procurava criar movimentos, a partir de mo- básicas: duração, intensidade, altura e tim-
dificações nas letras de canções conhecidas, bre. A criança na faixa etária de CEI, ou seja,
melodias conhecidas. nos primeiros contatos com o ensino está
numa fase em que vive, por assim dizer, sen-
Na primeira vez, ficaram curiosos e an- sorialmente, experimentando o mundo a sua
siosos em tatear, explorar os sons etc. Depois volta com o corpo todo, utilizando múltiplas
o interesse se manteve, começamos usar os linguagens.
instrumentos acompanhando as cantigas.

135
Para o desenvolvimento sensorial finalidade de arte pura, também é promotora
aprimorado, todas as situações de aprendi- da fraternidade e compreensão entre os ho-
zagens propostas nos exercícios, que se fi- mens, estimuladora de seus valores estéticos
zerem, visando ao desenvolvimento desta e sociais.
acuidade de percepção auditiva pura devem,
gradativamente, com o crescimento e a ma-
turidade, ser acompanhados de solicitações CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FI-
a favor da atenção e da compreensão. NAIS
É importante observar que no ato de Música é arte, como já dissemos, e arte
ouvir distinguem-se, pelo próprio valor dos é simplesmente um meio de criar, de fazer
termos usados, três aspectos diferentes e coisas que concorrem para tornar a nossa
que são definidos nos dicionários da seguin- vida diária mais agradável, mais satisfatória.
te forma: Toda pessoa, ainda que variando a maneira e
Ouvir - perceber sons pelo ouvido: ato a intensidade, é, ao mesmo tempo, um artis-
sensorial; ta e um apreciador de arte. Como artista, é o
executor que confere perícia e sensibilidade
Escutar - dar atenção ao que ouve: ato às qualidades das coisas. Tanto o executar
de interesse; quanto o resultado nos trazem satisfação. O
motivo que nos impele é o mesmo: buscar
Entender - aprender o sentido do que experiências que sejam interessantes, varia-
ouve, isto é, tomar consciência do som, ato das, expressivas e satisfatórias. Assim, a arte
intelectual. não está ligada a alguma coisa remota, a algo
Observa-se, que o ser humano está que tenha de ser visto ou ouvido em passeios
se tornando cada vez menos ouvinte e mais ocasionais a museus ou a salões de concerto.
―surdo‖ devido ao constante bombardea- A arte é um modo de vida que contribui para
mento de sons de grande intensidade, gra- o divertimento e para a satisfação no lar, na
ças à urbanização das cidades. Faltam-nos vizinhança, na escola e na comunidade, ou
as sensações de sons refinados, que parcial- seja, no cotidiano.
mente foram sendo perdidos devido a este A música contribui para a formação
fenômeno. integral do indivíduo, reverencia os valores
A música, como qualquer outra arte, é culturais, difunde o senso estético, promove
cheia de significado quando é primeiramente a sociabilidade e a expressividade, introduz
"aprendida" e não "ensinada". O divertimen- o sentido de parceria e cooperação, e auxi-
to vem primeiro; a técnica o segue. A afinida- lia o desenvolvimento motor, pois trabalha
de pela música pode ser desenvolvida desde com a sincronia de movimentos. O trabalho
os primeiros dias de vida, estendendo-se por com música desenvolve as habilidades físi-
toda a infância e vida adulta. co-cinestésica, espacial, lógico matemática,
verbal e musical. Ao entrar em contato com a
Entrar em contato com a própria voz, música, zonas importantes do corpo físico e
para perceber suas diferentes modulações, psíquico são acionadas - os sentidos, as emo-
reproduzir o pulso de um tambor e diferen- ções e a própria mente. Por meio da música,
tes ritmos. Tudo isso, constatamos que a a criança expressa emoções que não conse-
criança a partir de três anos consegue fazer, gue expressar com palavras. Torna-se um
desde que seja estimulada a ouvir, desafiada recurso muito importante para o desenvolvi-
a se lançar e protagonizar a prática musical. mento infantil à medida favorece os proces-
Aprender a ouvir é, na opinião de es- sos de ensino-aprendizagem, pelas experiên-
pecialistas, a principal habilidade requerida cias naturais que a criança estabelece com o
para aumentar a afinidade com a música. E universo musical através da percepção dos
isso requer um treino, que se pode fazer des- ritmos e sons.
de a mais tenra idade. Utilizar as brincadeiras musicais ―e
Na sala de aula percebem-se professo- aqui emprestamos o termo utilizado por
res com a prática de falar mais alto para que (BRITO 2003) - o fazer musical - para abranger
os educandos que em socialização excedem toda gama de atividades que podem ser cria-
o tom da voz sendo praticamente impossível das através do som, do ritmo e da melodia‖ é
ser escutado em tom de voz normal. Nessas com certeza, uma das formas mais gratifican-
situações ocorridas em sala provoquei o gru- tes e de proporcionar educação sem imposi-
po com a obra de arte ―O Grito‖ de Edvard ção. É educar pela arte.
Munch – 1873 - 1944. Concordando com Platão e outros
Outro fator positivo observado está no pensadores da Idade Antiga, chamo a aten-
fato de que a música na escola é uma solicita- ção para o fato de que a arte é a única forma
ção natural das próprias crianças. de educar que não é tortura, permite a ex-
pressão livre do indivíduo, no caso aqui, da
Do ponto de vista afetivo, emocional, criança.
traz alegria e renovação ao ambiente escolar. Para experimentar e criar nas ativida-
Como as demais artes, a música além de sua des com a música, não é necessário ―ser do-

136
tado‖ para música. O poder de definir sons, devem trabalhar com responsabilidade jun-
não garante o poder de reproduzi-los. to ao Ministério de Educação e Cultura e às
delegacias de ensino para a implantação de
Ouvir é uma reação psíquica. Se pro- um ensino musical de qualidade, garantindo
piciarmos à criança exercitar essa educação que a lei seja cumprida e que tenhamos um
psíquica (educação da sensibilidade), outras ensino musical de qualidade.
habilidades serão potencializadas. Dominar a
sensibilidade é dirigi-la e utilizá-la de tal ma- Concluímos que, ao fazer musical: os
neira que contribua para o aumento de nos- jogos sonoros, brincadeiras cantadas, sono-
sas capacidades (HOWARD 1984). rização de histórias, a construção de instru-
mentos musicais, a estimulação da percep-
A história dos povos ocidentais ao lon- ção auditiva, o trabalho com o ritmo através
go do tempo e as tendências das escolas pe- da percussão corporal entre outras formas
dagógicas apontaram para uma valorização criativas de aplicação da musicalização infan-
do intelectual em detrimento da sensibilida- til, pode ser utilizada com um recurso satisfa-
de. Conseguimos excluir do ensino escolar, tório e necessário.
tudo aquilo que se relaciona com a emotivi-
dade. Através dessas práticas musicais, po-
dem-se estimular as funções neurológicas
Felizmente, essa tendência vem se re- das crianças, propiciar a criatividade e a ima-
vertendo, apontando para uma pedagogia ginação.
holística pautada em paradigmas mais am-
plos onde educadores e educando interagem Uma proposta de abordagem sob a
para somar potencialidades. Dentro desta perspectiva da educação da sensibilidade,
proposta de trabalho com base na explora- utilizando a música enquanto arte, que valo-
ção das múltiplas linguagens e na estimula- rize o educando e seus potenciais individu-
ção das diferentes inteligências, respaldada ais e acredite na cooperação possibilitando
nos PCN’s e nas novas perspectivas educa- transformações profundas na educação e,
cionais, verificamos que, enquanto as esco- por conseguinte na sociedade.
las não desenvolverem atividades as privile-
giando, não existirá uma efetiva mudança na
organização dos saberes. REFERÊNCIAS
A educação deve visar o desenvolvi- AMORA, Soares. Novo Dicionário da
mento da pessoa global da pessoa – objetivar Lingua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 2003.
o desenvolvimento intelectual, assim como o ANNUNZIATO, Vania Ranucci. Jogando com
emocional, social, físico, o criativo/intuitivo, os sons e brincando com a música. São Pau-
estético além dos potenciais espirituais. lo: Paulinas, 2002.
Somente se reconhecermos a possi- BIANGIONI, Zei. A criança é a música.
bilidade e a necessidade de uma educação São Paulo: Fermata, 1998.
psíquica, é que poderemos acreditar na pro-
posta da educação musical. BRASIL Secretaria de Educação. Refe-
rencial Curricular Nacional para a Educação
Essa proposta está longe de ser apren- Infantil. Brasília: MEC, 1998.
dizagem mecânica de uma técnica musical. É
necessário que seja algo que provoque uma BRITO, Teca Alencar. Musica na Educa-
atividade física e psíquica simultaneamente. ção Infantil: propostas para a formação inte-
Que seja uma atividade planejada (no sentido gral da criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.
de embasada teoricamente, com propósito) CHAN, Thelma. Dos Pés à Cabeça. São
para que seja bem apreendida pela criança. Paulo: Fermata, 2004.
Deve provocar reações espontâneas de um
estado psíquico. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia.
O educador aqui se torna um facilita- São Paulo: Ática, 2004.
dor do processo, um intermediador à medida CRAVEIRO, Clévia. Divertimentos de
que interfere e recebe interferência nas situ- corpo e voz: Exercícios musicais para criança.
ações propostas. São Paulo: Fermata, 2001.
Esperamos com essa pesquisa, enco- —. Música em todas as
rajar outros educadores a debruçarem com escolas. 2009.
mais atenção a essa proposta que acredita-
mos ser de valiosa importância para a edu- <http://www.queroeducacaomusi-
cação infantil, haja vista as tendências para calnaescola.com/noticias/>Acessado em
as quais caminha o processo de educação no jun.2017.
país, com a volta da obrigatoriedade do en- HORTÉLIO, Lydia. A Importân-
sino musical nas escolas de Educação Básica cia do Brincar. 28 de out
através da Lei 11.769/2008 sancionada em 18 de 2009.
de agosto de 2008.
<http://www.alana.org.br/Crianca-
As associações de classe, os coorde- Consumo/NoticiaIntegra.aspx?id=6433&ori-
nadores pedagógicos e professores da área

137
gem=23> (acesso em 19 de jul de 2017).
—. Abra a Roda Tindolelê. São Paulo:
Dub Studio, 2002.
HOWARD, Walter. A música e a crian-
ça. 5ª. São Paulo: Summus, 1984.
LACERDA, Osvaldo. Compêndio de Te-
oria Elementar da Música. São Paulo: Ricordi
Brasileira, 1966.
MÁRSICO, Leda Osório. A criança e a
música: um estudo de como se processa o
desenvolvimento da criança. Rio de Janeiro:
Globo, 1982.
PULASKY, Mary Ann Spencer. Compre-
endendo Piaget: Uma introdução ao desen-
volvimento cognitivo da criança. Rio de Janei-
ro: LTC, 1986.
RAFFA, Ivete. Fazendo arte com os
mestres. São Paulo: Escolar, 2006.
STATERI, J.Júlio. Atividades recreativas
na educação musical. São Paulo: Redijo, 1990.
WISNIK, José Miguel. O som e o senti-
do: Uma outra história das músicas. 2ª. São
Paulo:
Companhia das Letras, 1999.

138
PROGRAMAÇÃO NEUROLÍNGUISTICA: SEU POTENCIAL PARA APRENDER E ENSINAR
CRISTIANE DI DONÉ PERONI

RESUMO Mindfulness, de inspiração budista, fa-


cilita-nos a aceitação e vivência plena do aqui
Esse artigo pretende buscar reflexões a e agora, dá-nos maior flexibilidade e oferece-
respeito da PNL e as contribuições da técnica -nos uma abertura maior a novas possibilida-
Mindfulness. A atenção plena pode ser usada des de ação e desfrute da vida.
para se referir a três situações: uma constru-
ção, uma prática e um processo psicológico.
Como construtor tem múltiplas definições,
todas focadas na experiência do momento O QUE SIGNIFICA MINDFULNESS
presente com aceitação e sem julgamento. A A atenção plena é uma disciplina na
atenção plena pode estar relacionada a ou- qual nos tornamos conscientes de nós mes-
tras construções como metacognição, cons- mos e libertamos a mente de todos aqueles
ciência reflexiva e aceitação. Como praticada, pensamentos que produzem algum tipo de
a atenção plena permite que profissionais e desconforto. É uma técnica integrada den-
pacientes admitam cada um com seus pensa- tro da Psicologia Cognitiva Comportamental
mentos e emoções, sejam eles quais forem, nas chamadas terapias de "terceira geração".
sem julgá-los. Mindfulness, propõe treinar Essa abordagem se caracteriza por priorizar
as pessoas para que elas possam identificar a experiência interior e permitir a mudança
a todo momento suas próprias sensações, da relação que temos com nossas percep-
emoções e pensamentos, tentando tirá-las ções, emoções e pensamentos.
da tirania da linguagem e, portanto, do pre-
conceito e da subjugação às categorias e Por outro lado, a PNL busca imple-
conceitos. Como um processo psicológico, a mentar um modelo de como os diferentes
atenção plena, significa focar nossa atenção elementos estão relacionados (emoção, cog-
no que estamos fazendo ou sentindo, estar nição, sensação, pensamento, comporta-
ciente da evolução de nosso organismo e mento e contexto) a fim de fazer as mudan-
comportamentos. Para isso, devemos passar ças necessárias para que possamos alcançar
da reatividade da mente (respostas automá- nossos objetivos.
ticas e inconscientes) para a responsabilida- Em suma..., enquanto o Mindfulness
de (respostas controladas e conscientes), ou ocorre através da prática constante de ob-
seja, tirar a mente do piloto automático, sen- servação e meditação consciente, seremos
do uma técnica fundamental para contribuir capazes de obter uma maior consciência do
com a Programação Neurolinguística. que acontece conosco. E, juntamente com a
Palavras-chave: Comportamentos; PNL, orientamos esse processo para o obje-
Pensamentos; Reatividade. tivo que queremos alcançar, desenvolvendo
e aproveitando nossos recursos internos e
externos.
INTRODUÇÃO O termo Mindfulness significa em in-
Programação Neurolinguística ofere- glês – atenção plena. Trata-se de um estado
ce modelos para entendermos o nosso mapa mental que caracteriza-se pela autorregula-
do mundo e dá-nos ferramentas para poder- rão da atenção para a experiência vivida no
mos aumentar a eficácia pessoal utilizando o presente. Numa atitude aberta, de curiosida-
conhecimento das estruturas da nossa expe- de ampla e tolerante, dirigida a todos os fe-
riência subjetiva. nômenos que se manifestam na mente cons-
ciente. Todos os pensamentos, fantasias,
A PNL parte do ser humano como sis- recordações, sensações e emoções perce-
tema, dá muita atenção à ecologia e os recur- bidas no campo da atenção, e aceitas como
sos espirituais, são reconhecidos, em geral, elas são.
como sendo um nível neurológico de extre-
mo valor na transformação. O aprendizado desta atenção plena se
dá por meio de técnicas de meditação em sua
Mindfulness (baseada nos trabalhos maioria das vezes, permitindo uma maior to-
do Dr. Jan Kabat-Zinn, professor de Medicina mada de consciência de seus processos men-
na escola médica da Universidade de Massa- tais e de suas ações em resposta a eles.
chusetts) é também cada vez mais aplicada
nas terapias da psicologia cognitiva. Exercí- A atenção plena tem origem budis-
cios formais e não formais de atenção plena ta, mas atualmente está sendo empregada
no momento atual e sem julgamento, aju- em várias formas de psicoterapias, terapias
dam-nos a libertarmo-nos do nosso piloto comportamentais dialéticas e outras. Sendo
automático (do nosso mapa do mundo, das reconhecida pela ciência como poderosa fer-
lembranças do passado e dos pensamentos ramenta para reduzir o estresse.
sobre o futuro). Dentro da terapia cognitiva, o mind-

139
fulness é muito utilizado no tratamento das 2 ANOS
recaídas de depressão. Ajudando o indivíduo
a criar estratégias de atenção em relação aos O Rei
seus pensamentos e sentimentos, com obje- A criança nesta idade continua a ver-
tivo de aceitá-los como parte do fluxo huma- se como o centro do mundo, adicionado a
no. Fazendo assim, com que diminuam re- esse poder um forte sentimento de respon-
lativamente os pensamentos e sentimentos sabilidade. É como se toda a existência da
negativos e difíceis de sua rotina. família dependesse dela. Esse pequeno rei
O objetivo da prática com crianças é passa a comandar, organizar e cuidar.
justamente alterar a forma como se relacio-
na com os seus próprios pensamentos, que
geralmente causam a ansiedade. Cabe tam- 2,5 ANOS
bém as crianças desta faixa etária, desenvol- O Birrento
ver a atenção plena do seu próprio corpo, as-
sim como reconhecer sentimentos, emoções O pequeno rei se transforma em bir-
e pensamentos nem sempre compreendido rento, podendo ser antes ou depois dessa
por elas próprias. idade. É mais uma fase de desenvolvimento
A criança aprende a centrar-se no mo- do que uma idade específica, trata-se de um
mento presente da sua experiência, notando momento de mudanças. A criança quer ma-
sensações que surgem no corpo no momen- nifestar a sua independência, mas sente-se
to da ansiedade. inseguro na maior parte das vezes. E a fase
do quer e não quer.
Em vez de fugir, ou evitar a criança
aprende a observar essas sensações, e enca-
rá-las de maneiras diferentes e mais naturais, 3 ANOS
sem sofrimento.
O Humorista
Esse reconhecimento e observação
das sensações do corpo e pensamentos, em Por volta desta idade, a criança entra
momentos de ansiedade permitem a crian- novamente numa fase mais tranquila. Agora
ça largar a seu sobre - identificação com os mais humorista, gosta de brincar, fazer as-
pensamentos negativos, parando de lutar ou neiras e utilizar palavras como xixi e coco. Ele
fugir, percebendo que são exageradas para a gosta de agradar, e alguns tem amigos imagi-
experiência presente. Permitindo uma maior nários. A sensação de separação e indepen-
regulação emocional da experiência, reduzin- dência cresce, assim como sua identidade
do os sintomas. se desenvolve. É importante a hora do sono
nesta faixa etária, pois, se não houver existe
Em países como os EUA e Inglaterra, grande possibilidade de irritações.
os médicos optam em terapias com mindful-
ness ao invés do gasto com medicamentos.
Sendo essas muito mais naturais, e eficazes. 4 ANOS
Para que o professor consiga fazer uso O Curioso
dessa ferramenta tão importante da atenção
plena na Educação Infantil - Mindfulness, é Ele interessa-se pelas pessoas, pela
importante que o mesmo tenha conhecimen- vida e pelo mundo. É um curioso aventureiro.
tos básicos das fases de desenvolvimento em Tem uma grande imaginação e vê as coisas
que a criança se encontra, que referem-se as como ninguém vê. As capacidades mentais
características específicas da idade. Vamos e de raciocínio se desenvolvem, e é possível
focar nos 6 primeiros anos de vida das crian- manter conversas fantásticas. Suas emo-
ças, segundo a autora Mikaela Oven: ções têm altos e baixos, e muitas vezes não
entende o que sente. Pode começar a usar
palavras feias, e a ser mal-educado quando
1 ANO contrariado.
O Epicurista
A criança sabe usufruir dos verdadei- 5 ANOS
ros prazeres da vida. Adora a liberdade e a O Pacífico
aventura. É muito agradável estar com ela.
Gosta de se exibir e de se mexer, julga-se o A criança normalmente volta a ficar se-
centro do mundo. Por volta do 1 ano e meio rena, mais segura, harmoniosa e equilibrada.
começam a dizer não! Muitas vezes até nas Começamos e ver uma pequena pessoa, que
coisas que almeja. É nesta fase que os pais não se julga mais bebê. É amorosa, respon-
começam a disciplinar a criança para que sável e razoável. Sabe o certo e o errado, mas
seja educada nos moldes da sociedade. na lógica de uma criança. Faz reclamações
dos colegas, gosta de brincar acompanhada,
e já pensa sobre a vida e a morte.

140
6 ANOS representações e sequências são adquiridas
e modificadas.
O Complicador
• A capacidade de um indivíduo de
Nesta idade começa uma era mais aprender é fortemente influenciada por seu
complicada, a harmonia e o equilíbrio pare- 'estado' neurofisiológico (por exemplo, um
cem ter desaparecido, e tudo é mais confuso. estado de curiosidade em vez de um estado
Nesta idade da-se um grande salto do cresci- de tédio) e por suas crenças sobre a aprendi-
mento, e até o próprio corpo pode ser difícil zagem e sobre si mesmos como alunos (ob-
de dominar. viamente, crenças de que alguém é capaz de
A criança sente uma enorme necessi- aprendizagem e que a aprendizagem vale a
dade de reconhecimento do mundo exterior, pena e diversão são considerados mais úteis
e o testa constantemente. Gosta de ganhar, do que seus opostos). Esses estados e cren-
podendo ficar aborrecida com as derrotas. ças também são aprendidos e suscetíveis a
As soluções que os outros encontram para mudanças.
os seus problemas, nem sempre servem. • Essa modificação se dá por meio
A vontade de ser independente é enorme. da comunicação entre professor e aluno, que
Questiona tudo e todos. Algumas crianças ocorre por meio de canais verbais e não-ver-
tornam-se muito agressivas nesta fase, já ou- bais, tanto de forma consciente quanto in-
tras se reprimem. É uma fase crítica para o consciente. O funcionamento do qual os se-
desenvolvimento da sua autoestima. res humanos estão conscientes e que pode
Podemos caracterizar uma aborda- ser controlado conscientemente, representa
gem de PNL para ensino e aprendizagem da apenas uma pequena proporção do funcio-
seguinte maneira: namento total.
• A relação professor-aluno é um • Toda comunicação influencia
ciclo cibernético, um processo dinâmico no potencialmente a aprendizagem. Crucial-
qual o significado é construído por meio de mente, a linguagem e o comportamento dos
feedback recíproco; não uma transmissão de professores influenciam os alunos em pelo
informação de um indivíduo para outro, indi- menos dois níveis simultaneamente; tanto
vidual, separado. sua compreensão do tópico em questão (por
exemplo, a estrutura dinâmica de suas repre-
• As pessoas agem de acordo com sentações internas), e suas crenças sobre o
a maneira como entendem e representam o mundo, incluindo a aprendizagem.
mundo, não de acordo com a maneira como
o mundo "é" (isto é, "o mapa não é o territó- • Segue-se que a consciência da
rio"). escolha sobre os próprios padrões de lingua-
gem e comportamento como professor e a
• De principal interesse na PNL sensibilidade e curiosidade sobre sua influ-
são as maneiras pelas quais as pessoas re- ência e interação com as representações in-
presentam o mundo internamente, por meio ternas do aluno são cruciais para o ensino e
de imagens sensoriais (principalmente visu- a aprendizagem eficazes.
ais, auditivas e cinestésicas) e da linguagem.
A PNL está particularmente interessada na • Em essência, ensinar é um pro-
maneira como as representações internas cesso de (a) criar 'estados' que conduzem à
são estruturadas, tanto em si mesmas (por aprendizagem; e (b) facilitar a exploração dos
exemplo, a localização, tamanho, brilho etc. alunos e / ou o aprimoramento de suas re-
da imagem visual), e dinamicamente (por presentações internas; (c) conduzir ao objeti-
exemplo, como sequências). A PNL assume vo ou resultado desejado do contexto.
que a estrutura da representação interna Uma das crenças mais importantes
mostra regularidades para cada indivíduo e é dentro da PNL é que usamos todos os nossos
única para cada um. sentidos para codificar a experiência interna-
• A PNL também assume que há mente. O termo técnico para isso é "repre-
relações sistemáticas entre essa estrutura- sentação interna" (a palavra "imagem" não
ção e a linguagem e o comportamento da- evoca imediatamente o papel de ouvir, sen-
quele indivíduo. As representações internas tir, saborear, cheirar e mover na codificação
e o processamento de um aluno são refleti- da experiência).
dos, de várias maneiras, em sua linguagem e A PNL nos ensina a entender e a mo-
em seu comportamento externo (por exem- delar nossos sucessos, para que possamos
plo, comportamento não verbal). (Os cursos repeti-los. Trata-se de uma maneira de des-
de PNL treinam os participantes para obser- cobrir e revelar nossa genialidade, de uma
var e utilizar esses aspectos). forma de darmos o melhor de nós e extrair-
• Habilidades, crenças e com- mos o melhor dos outros. É uma ferramenta
portamentos são todos aprendidos (por prática que cria os resultados que queremos
exemplo, as habilidades têm sequências cor- obter. É uma análise do que diferencia um re-
respondentes de representação interna, fre- sultado excepcional de um resultado apenas
quentemente chamadas de 'estratégias'). A médio. Por outro lado, apresenta uma série
aprendizagem é um processo pelo qual tais de técnicas extremamente eficazes que po-

141
dem ser usadas no campo da educação, da los de pensamento para melhorar seus es-
terapia, e no mundo profissional (O`CON- tados físicos e emocionais. Isso é conhecido
NOR e SEYMOUR, 1995, p. 57). como programação neurolinguística (PNL).
A PNL considera que os relatos verbais De acordo com Ready e Burton (2016,
podem ser relatos literais da experiência inte- p.10):
rior das pessoas. Assim, quando uma pessoa
descreve o que pode "ver com os olhos da A PNL se baseia na ideia de que você
mente", a PNL assume que a pessoa está ex- vivencia o mundo por meio dos seus sentidos
perimentando imagens visuais internas (que e traduz informações sensoriais em proces-
podem estar fora de sua consciência). Além sos de pensamento, tanto conscientes quan-
disso, as qualidades e características dessas to inconscientes. Processos de pensamento
imagens são significativas e se relacionam de ativam o sistema neurológico (daí o neuro da
forma sistemática com outros aspectos da PNL), que afeta a fisiologia, as emoções e o
experiência dessa pessoa (por exemplo, sen- comportamento.
timentos, crenças, comportamento e assim
por diante).
Segundo Sue Knight (1998, p. 4):
A PNL é o estudo do talento excepcio-
A PNL, SUA HISTÓRIA E TEORIAS FUN- nal. É o estudo dos processos conscientes e
DAMENTAIS inconscientes que se combinam, capacitan-
O que faz o cérebro humano proces- do as pessoas a fazerem o que fazem. A PNL
sar e compreender a linguagem? Onde no presta pouca atenção ao que as pessoas di-
cérebro as palavras que aprendemos estão zem fazer, pois isso normalmente asseme-
armazenadas? Por que as palavras vêm à lha-se pouco ou nada ao que elas realmente
mente quando às vezes as esquecemos? Pes- fazem. Você poderia achar que, perguntando
soas que falam mais de um idioma, o que as às pessoas bem-sucedidas qual o seu segre-
impede de interferir umas nas outras? Todos do, receberia respostas precisas. Ledo enga-
esses processos são graças à neurolinguís- no! As pessoas muitas vezes não têm consci-
tica, que estuda como a linguagem é repre- ência do segredo de seu sucesso. As peças,
sentada no cérebro. Esta área estuda como antes desconhecidas, às vezes são chamadas
e onde o cérebro armazena o conhecimento de magia da PNL. Não é magia, é apenas a
da linguagem em suas diferentes apresen- consciência do que realmente faz diferença
tações: falada, assinada ou escrita. Embo- e que, com tanta frequência, está ausente da
ra entrelaçada com a psicolinguística , que maioria dos modelos e técnicas. A utilização
é o estudo da compreensão e produção da das ferramentas da PNL lhe trará à tona es-
linguagem em suas formas falada, escrita e sas peças desconhecidas, permitindo-lhe “co-
assinada, a neurolinguística concentra-se nos dificar” o talento. É esse o segredo da magia
mecanismos do cérebro. da PNL.
A Programação Neurolinguística tam- A programação neurolinguística ga-
bém chamada de PNL, “é o estudo de como nhou uma reputação bastante mista ao longo
representamos a realidade em nossas men- dos anos. Foi rotulado como tendo um “fator
tes e de como podemos perceber, descobrir charlatão” devido às suas raízes na psicote-
e alterar esta representação para atingirmos rapia e na hipnose. Os críticos questionam
resultados desejados." (BARNASQUE, 1996, várias suposições nas quais a programação
p. 1). neolinguística se baseia, dizendo que suas
afirmações sobre pensamento e percepção
O cérebro armazena informações em não são apoiadas pela neurociência, portan-
redes neurais que se conectam às partes que to, uma pseudociência. Eles insistem que as
controlam os movimentos, como a fala, e as crenças sobre a hipnose, a mente inconscien-
sensações internas e externas, como o som. te e o subconsciente também são infunda-
O aprendizado de conhecimento ou habilida- das.
de ocorre quando novas conexões são feitas
e as existentes são fortalecidas. No mundo dos negócios, a Neurolin-
guística é usada por empresas - de pequenas
Na década de 1970, Richard Bandler e a multinacionais, no setor público e privado
John Grinder, pesquisadores da Universidade - para melhorar as habilidades gerenciais de
da Califórnia, em Santa Cruz, teorizaram que seus líderes e facilitar o relacionamento en-
os padrões de pensamento explicam as re- tre colaboradores e funcionários por meio do
alizações das pessoas com sucesso dentro desenvolvimento de habilidades interpesso-
dessas conexões cerebrais. Durante anos, ais [...], as ferramentas da Neurolinguística
Bandler e Grinder analisaram a educação, os podem efetivamente trazer grandes melho-
negócios e qualquer terapia de sucesso que rias para sua vida pessoal e profissional. Com
as pessoas tivessem em comum, incluindo a PNL é possível gerenciar seu próprio estado
hábitos de comunicação. Nesse último ponto, emocional, suas crenças e atitudes, e man-
eles perceberam que pessoas de sucesso en- ter o foco e até o senso de humor quando
volvem linguagem corporal, e foi assim que as coisas não saírem de acordo com o plano
os pesquisadores começaram a criar mode- original. Uma vez em contato com esse co-

142
nhecimento, não há volta: o indivíduo não vai 2008, p. 5).
mais querer viver usando apenas uma parte
do seu potencial. Afinal, sem receios e limita- Duas técnicas de programação neu-
ções, é possível ganhar autonomia, o que ele- rolinguística, posicionamento perceptivo e
va a autoestima e proporciona uma melhor pressuposição são consideradas úteis na re-
qualidade de vida. A gente sempre teima em solução de vários problemas de educação. O
usar o equipamento sem ler o manual. Mas primeiro refere-se à capacidade de ver as coi-
não se pode negar que o aproveitamos me- sas do ponto de vista de outras pessoas. Na
lhor quando entendemos como ele funciona sala de aula, o professor pode realizar exer-
(CURY, 2011, p.5 e 6). cícios em que alunos com opiniões diferen-
tes são obrigados a adotar a perspectiva do
Porque a programação neurolinguísti- outro trocando de lugar. Este exercício gera
ca não pode ser usada como uma ferramenta participação ativa e movimento físico, o que
de diagnóstico e só pode ser ensinada experi- desencadeia uma mudança de pensamento
mentalmente, a programação neurolinguísti- muito mais profunda do que apenas pedir-
ca foi criticada por falta de base teórica credí- -lhes para ver a perspectiva da outra pessoa.
vel, e também não há maneira de medir sua
eficácia, exceto por meio dos depoimentos O pressuposto, a segunda técnica, re-
daqueles que têm experimentou. laciona-se a significados não ditos na conver-
sa. Por exemplo, quando um professor per-
Bandler foi chamado de cientista ere- mite que os alunos escolham entre terminar
mita neste artigo, afirmando que ele conti- as perguntas agora ou fazer outra atividade
nuamente fabrica seus próprios termos e primeiro, como brainstorming. Entende-se
ideias, apesar de não ter acreditado pela co- que ambas as ações devem ser concluídas,
munidade científica. Isso se deve ao fato de mas dar-lhes uma escolha resulta em que se
que a afirmação de Bandler de que a escolha concentrem mais no trabalho e não desafiem
das palavras afeta o comportamento não foi as instruções.
formalmente analisada por meio de métodos
científicos aceitos. Na PNL, considera-se que a aprendiza-
gem ocorre por meio de programas neuro-
linguísticos, isto é, a pessoa constrói mapas
cognitivos dentro do seu sistema nervoso,
A PNL NA APRENDIZAGEM conectando-os com observações do ambien-
Considerado altamente congruente te e respostas comportamentais”. (MANCI-
com a teoria das inteligências múltiplas de LHA, 2013, p.3)
Howard Gardner, duas técnicas de progra- Embora pareçam coisas simples que
mação neurolinguística, posicionamento per- o professor já pode estar usando, um enten-
ceptivo e pressuposição, são consideradas dimento mais profundo da PNL os ajudará a
úteis na resolução de problemas encontra- adquirir mais habilidades para aprender me-
dos no ensino. lhor.
Tal qual Michelângelo tirou suas belas Reforça Prado (2014, p. 138):
esculturas do mármore, o professor ensina,
pergunta, instiga, estimula, enfim, atua no A Programação Neurolinguística (PNL)
processo de ensino e aprendizagem e con- ajuda a tornar o professor mais eficiente na
templa o saber tomando as diversas formas arte de ensinar. Por dispor de inúmeras fer-
em cada um de seus alunos. Na resolução ramentas práticas, ela tem muito a oferecer
das equações, na conjugação dos verbos, no ao universo educacional, principalmente
encanto pela geografia, pela biologia. O aluno em sala de aula. A PNL contribui para que
seguro e confiante, simplesmente descobre, compreendamos mais facilmente o “mapa
lembra e relembra! (GUEDES, 2014, p. 73) mundo” – ou o modo de pensar – de alunos.
Ajuda-nos também a como melhor e mais fa-
Saber mais sobre programação neuro- cilmente estimulá-los a confiar na sua habili-
linguística dá aos educadores a vantagem de dade de aprender.
entender o que motiva os alunos e adaptar
a forma como ensinam a aprendizagem para A capacidade de comunicar-se de for-
se adequar a eles. Esta área oferece estra- ma eficaz com as pessoas permite expandir e
tégias de aprendizagem que ajudam os alu- enriquecer os modelos de mundo baseados
nos a desenvolverem habilidades para uma em experiências pessoais. Alcançá-lo tem
aprendizagem mais otimizada e fornece aos apenas um objetivo: tornar a vida mais rica,
professores ferramentas para lidar com com- mais satisfatória e mais lucrativa. Nesse sen-
portamentos desafiadores. tido, o aprendizado efetivo também pode ser
alcançado através da aplicação de técnicas
O ato de prestar atenção às formas de de Programação Neurolinguística.
expressão dos alunos é de suma importân-
cia, uma vez que tende a fomentar o conhe- Isso permite que o comportamento
cimento do próprio educador. Desse modo, seja concebido como consequência de um
o mesmo adquire um maior domínio da si- complexo processamento neurofisiológico
tuação necessário para poder enfrentar as de informações percebidas pelos órgãos sen-
adversidades em sala de aula. (DIAS; PASSOS, soriais, que são representadas, ordenadas

143
e sistematizadas em modelos e estratégias, Acesso em 04 set.2023.
por meio de sistemas de comunicação como
a linguagem. DIAS, R. G.; PASSOS, J. S. Contribuições
da Programação Neurolinguística no Contex-
A aprendizagem na PNL, segundo Pra- to Educacional. Revista Intersaberes, Curiti-
do (2014, p. 117): ba, ano 3, n. 5, p. 38-46, jan/jul 2008.
A aprendizagem depende do clima GUEDES, Olinda. Pedagogia Sistêmica:
da sala de aula, depende também do estado O que traz quem levamos para a Escola? 2.ª
emocional do professor e do aluno. O pro- ed. - Curitiba: Appris, 2014.
fessor é quem elicia os estados emocionais
favoráveis para um melhor processo ensino MANCILHA, Jairo. Programação Neu-
aprendizagem da sua sala de aula. rolinguística aplicada ao ensino aprendi-
zagem. 2013. Disponível em: http://www.
A PNL é o estudo da excelência hu- rbenche.com.br/intranet/upload/aposti-
mana, pois dá a oportunidade de crescer laprogramacaoneurolinguistica.pdf Acesso
continuamente nos aspectos emocionais, em; 04 set.2023.
psicológicos, intelectuais, artísticos, sociais e
econômicos; ao mesmo tempo, você contri- MEDEIROS, Ana Jarvis de Oliveira. O
bui positivamente para o progresso dos ou- uso da Neurolinguística na prática escolar.
tros. Esses aspectos são de grande valor no Universidade Candido Mendes, 2012.
campo educacional, pois daí surge a ideia de O`CONNOR, J; SEYMOUR, J. O que é
utilizar a PNL como ferramenta estratégica programação neurolinguística. In: Introdução
para melhorar a eficácia do processo ensino- à Programação Neurolinguística. Summus
-aprendizagem. Editorial. São Paulo-SP. 1995. 232p.
PRADO, Alexandre. PNL para profes-
CONSIDERAÇÕES FINAIS sores, 1ª ed. - São Paulo, 2014.
PNL é a sigla para Programação Neu- READER, Romilla; BURTON, Kate. Exer-
rolinguística e consiste no uso da compre- cícios de Programação Neurolinguística para
ensão do funcionamento da mente humana Leigos. Rio de Janeiro: Editora Alta Books,
para atingir o máximo potencial possível, 2016.
seja na área de emoções, negócios, relacio-
namentos, esportes, etc. Na verdade, a PNL
também é definida como a ciência que estu-
da a excelência humana.
Em termos simples, PNL é uma tecno-
logia, ou seja, uma ferramenta que nos per-
mite reprogramar nossa própria mente e a
dos outros, para que possamos instalar pro-
gramas mentais que nos permitam obter os
resultados que desejamos na vida.
A PNL é uma ciência desprovida de te-
oria, pois se baseia na observação do com-
portamento humano em todos os seus as-
pectos e na aprendizagem consciente do que
o indivíduo já sabe fazer.
A PNL é particularmente eficaz na re-
solução de problemas específicos: recupera-
ção de uma separação ou luto, preparação
para um exame, resolução de um bloqueio
específico, saída de uma série de falhas, falar
em público, por isso a programação neurolin-
guística auxilia no processo ensino aprendi-
zagem de forma significativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARNASQUE, Getúlio. Afinal, o que é
PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA? Golfi-
nho, 1996. Disponível em <http://www.golfi-
nho.com.br>. Acesso em 05 set 2023.
CURY, Gilberto. Capacidade para di-
rigir pessoas. Disponível em: https://www.
pnl.com.br/capacidade-para-dirigir-pessoas/.

144
A LUDICIDADE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDALMENTAL
DALVA ROSEMEIRE DA SILVA GALASSI

Resumo estratégias lúdicas no ambiente educacional


tem sido objeto de considerável debate, es-
O presente artigo tem como finalidade pecialmente em relação à sua relevância e
destacar a importância do uso de estratégias aplicabilidade. Enquanto as instituições de
lúdicas nas práticas de letramento e alfabe- ensino muitas vezes limitam o uso de abor-
tização. Para a condução deste artigo, foi dagens lúdicas à educação infantil, diversos
adotada a metodologia de pesquisa científi- autores sustentam que essas estratégias de-
ca. Dentro das possibilidades metodológicas vem ser incorporadas ao longo de todo o ci-
da pesquisa científica, optou-se pela revisão clo da educação básica.
bibliográfica, que envolve a análise de mate-
riais previamente publicados sobre o tema de Os defensores da abordagem lúdica
pesquisa. A revisão bibliográfica foi conduzi- argumentam que ela facilita o processo de
da com base em material já elaborado, como aprendizado, contribuindo para o desenvol-
livros e artigos científicos, sendo uma abor- vimento de diversas áreas do cérebro que
dagem comum em muitos estudos. A análise não seriam adequadamente estimuladas em
realizada permitiu concluir que a utilização um ambiente puramente tradicional de ensi-
do lúdico no processo de ensino-aprendiza- no. Por meio de uma abordagem lúdica, os
gem nos anos iniciais é de extrema importân- alunos são incentivados a explorar sua cria-
cia. Essa abordagem pedagógica possibilita tividade, com foco não apenas na produtivi-
que os alunos absorvam de maneira mais efi- dade, mas no seu engajamento ativo como
caz e significativa o conhecimento necessário participantes no processo pedagógico. O
para adquirir a alfabetização e o letramento. uso de atividades lúdicas desperta o desejo
Através das atividades lúdicas, os alunos se pelo conhecimento, incentiva a participação
envolvem de forma ativa e prazerosa, o que e gera satisfação com as conquistas obtidas.
contribui para o seu engajamento e interesse Quando as crianças percebem que há uma
no processo de aprendizagem. estrutura por trás das atividades dinâmicas
e lúdicas propostas, o aprendizado se torna
Palavras-chave: Alfabetização; Letra- mais atrativo, a concentração aumenta e os
mento; Lúdico; Educação. conteúdos são assimilados com maior fa-
cilidade e naturalidade (KISHIMOTO, p. 13,
1994).
Abstract
Apesar do reconhecimento teórico da
This article aims to highlight the im- importância do lúdico no ambiente educacio-
portance of using ludic strategies in literacy nal, a implementação prática dessa aborda-
and literacy practices. For conducting this gem muitas vezes encontra obstáculos nas
article, the methodology of scientific resear- escolas. Muitas instituições e educadores ain-
ch was adopted. Within the methodological da associam o uso do lúdico exclusivamente
possibilities of scientific research, a bibliogra- à educação infantil, negligenciando sua rele-
phical review was chosen, which involves the vância nos demais níveis da educação básica.
analysis of previously published materials Como observado por um autor, "A ludicida-
on the research topic. The bibliographic re- de pode ser utilizada como forma de sondar,
view was conducted based on material alre- introduzir ou reforçar os conteúdos, funda-
ady prepared, such as books and scientific mentados nos interesses que podem levar
articles, being a common approach in many o aluno a sentir satisfação em descobrir um
studies. The analysis carried out allowed us caminho interessante no aprendizado". Nes-
to conclude that the use of playful activities se sentido, o lúdico é visto como uma ponte
in the teaching-learning process in the early para melhorar os resultados educacionais
years is extremely important. This pedago- desejados pelos professores (BRASIL, p. 78,
gical approach enables students to more ef- 2007).
fectively and meaningfully absorb the know-
ledge needed to acquire literacy and literacy. O presente artigo tem como objetivo
Through playful activities, students get invol- principal destacar a importância do uso de
ved in an active and pleasurable way, which estratégias lúdicas nas práticas de letramen-
contributes to their engagement and interest to e alfabetização. A escolha desse tema de-
in the learning process. corre de pesquisas realizadas ao longo de um
curso de especialização, que evidenciaram
Keywords: Literacy. literacy. Ludic. como o lúdico pode transformar a experiên-
Education. cia de aprendizado. A relevância desse tema
é acentuada pela presença significativa de
estudantes brasileiros que enfrentam dificul-
INTRODUÇÃO dades no processo de ensino-aprendizagem.
Atualmente, a questão do emprego de As dificuldades de aprendizagem afe-
tam um número considerável de crianças em

145
nossa sociedade, apresentando uma varie- damental. Essa abordagem pedagógica visa
dade de características, intensidades e dura- aprimorar o processo de aprendizagem, tor-
ções. Essas dificuldades requerem avaliação, nando-o mais envolvente e eficaz
intervenção e uma compreensão dos mode-
los cognitivos subjacentes. As dificuldades Os jogos e brincadeiras desempe-
de aprendizagem podem ser classificadas nham um papel crucial na educação, atuando
de diversas maneiras, sendo a mais relevan- como ferramentas que aproximam os alunos
te relacionada à base cognitiva subjacente a da aprendizagem ao engajar sua imaginação
cada dificuldade, uma vez que a intervenção e contribuir para o desenvolvimento intelec-
visa influenciar o funcionamento cognitivo. A tual e cognitivo. Esta abordagem pedagógi-
avaliação busca fornecer um perfil das habi- ca, que promove a aprendizagem por meio
lidades dentro dos domínios cognitivos perti- do lúdico, é amplamente reconhecida como
nentes (DOCKRELL, 2000, p.11). uma estratégia eficaz para estimular o inte-
resse e o crescimento das crianças.
Para a condução deste artigo, foi ado-
tada a metodologia de pesquisa científica. Desde os tempos da educação greco-
Seguindo a definição de Tartuce (2006, p. 12), -romana, com filósofos como Aristóteles e
a metodologia de pesquisa científica é a ex- Platão, a importância do brincar na educação
pressão lógica do raciocínio associada à for- já era reconhecida. Ao longo da história, di-
mulação de argumentos convincentes, cujo versos teóricos, como Montaigne, Comênio,
propósito é informar, descrever ou persuadir Jean-Jacques Rousseau, Pestalozzi e outros,
a respeito de um fato. enfatizaram o papel central do processo lú-
dico no desenvolvimento educacional das
Dentro das possibilidades metodo- crianças (FURTADO, 2008, p. 56).
lógicas da pesquisa científica, optou-se pela
revisão bibliográfica, que envolve a análise A integração de jogos na sala de aula
de materiais previamente publicados sobre dos anos iniciais proporciona diversos bene-
o tema de pesquisa. Conforme Lakatos e fícios cognitivos. Em primeiro lugar, os jogos
Marconi (2003, p.174), o levantamento de da- são altamente motivadores para os alunos.
dos é a primeira etapa de qualquer pesquisa Eles criam um ambiente que estimula a par-
científica, e pode ser realizado por meio de ticipação ativa, essencial para crianças em
pesquisa documental (ou fontes primárias) estágios iniciais de desenvolvimento. Além
e pesquisa bibliográfica (ou fontes secundá- disso, muitos jogos educacionais são proje-
rias). De acordo com Gil (2002, p.44), a revi- tados para desafiar os alunos, exigindo que
são bibliográfica foi conduzida com base em eles resolvam problemas. Isso promove o
material já elaborado, como livros e artigos desenvolvimento do pensamento crítico e da
científicos, sendo uma abordagem comum criatividade, competências fundamentais no
em muitos estudos. processo de aprendizagem.
O objetivo geral deste artigo é identi- Outro aspecto importante é a apren-
ficar, discriminar e apresentar a importância dizagem prática que os jogos oferecem. Eles
do uso de estratégias lúdicas nas práticas de permitem que os alunos apliquem conceitos
alfabetização e letramento. Para atingir esse abstratos de maneira concreta, o que ajuda
objetivo, foram estabelecidos os seguintes a reforçar a compreensão e a retenção do
objetivos específicos: I. Apresentar o papel conhecimento. Além disso, jogos frequente-
do lúdico no contexto escolar; II. Identificar mente envolvem a prática de habilidades ma-
como a ludicidade é incorporada à prática temáticas e linguísticas, tornando-os particu-
docente; III. Apresentar o papel do educador larmente valiosos nos anos iniciais do ensino.
em relação ao uso do lúdico no ensino. A escolha das atividades lúdicas a se-
rem empregadas no processo de ensino-
-aprendizagem deve levar em consideração o
O LÚDICO NA CONSTRUÇÃO DO PRO- perfil de cada aluno. De acordo com Ramos
CESSO DE APREDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS (2003), a incorporação de jogos e brincadei-
ras tem como objetivo melhorar a aprendi-
O lúdico desempenha um papel fun- zagem e, consequentemente, o desempenho
damental na construção do processo de al- dos alunos. Quando essas atividades são
fabetização e letramento. Essa abordagem planejadas e alinhadas com os conteúdos a
pedagógica, centrada na utilização de jogos, serem ensinados, elas proporcionam uma
brincadeiras e atividades lúdicas, contribui forma contínua de aprendizado, tornando o
de maneira significativa para o desenvolvi- processo de assimilação de conhecimento
mento das habilidades de leitura e escrita, mais simples e prazeroso.
bem como para a formação de leitores com-
petentes e críticos. A ludicidade também proporciona be-
nefícios sociais significativos. Muitos jogos
promovem a colaboração entre os alunos,
O lúdico no espaço escolar incentivando a comunicação e o trabalho em
equipe. Isso é essencial para o desenvolvi-
A incorporação de jogos na educação mento de habilidades sociais e emocionais
tem sido uma tendência crescente, parti- em uma idade em que as interações sociais
cularmente nos anos iniciais do ensino fun- desempenham um papel crucial. Além disso,

146
jogar juntos permite que os alunos sociali- so educacional, fornecendo um ambiente es-
zem de forma positiva, contribuindo para o timulante que promove o desenvolvimento
desenvolvimento de relacionamentos inter- integral dos alunos. Ao envolver os alunos
pessoais saudáveis. de forma lúdica e significativa, essas práticas
pedagógicas têm o potencial de tornar o pro-
A inclusão também é um aspecto im- cesso de aprendizado mais eficaz e prazero-
portante dos jogos educacionais. Eles podem so, contribuindo para a formação de indiví-
ser adaptados para atender às necessidades duos mais competentes e capacitados.
de alunos com habilidades variadas, permi-
tindo que todos os alunos participem e se be-
neficiem. Isso promove um ambiente inclusi-
vo e equitativo na sala de aula. A ludicidade na prática docente
De acordo com as ideias de Piaget A ludicidade estimula o desenvolvi-
(1994, p.25), o jogo é um processo que au- mento cognitivo das crianças e dos alunos
xilia no desenvolvimento da criança, acom- em geral. O ato de brincar e jogar envolve a
panhando-a e sendo uma consequência de exploração ativa, a resolução de problemas
seu próprio crescimento. No contexto da al- e o pensamento crítico. Os alunos são desa-
fabetização, onde o domínio do processo de fiados a encontrar soluções criativas para os
escrita (ou letramento) é essencial, as ativida- desafios apresentados durante atividades lú-
des lúdicas desempenham um papel signifi- dicas. Isso contribui para o desenvolvimento
cativo ao facilitar esse processo. de habilidades intelectuais essenciais, como
raciocínio lógico, tomada de decisão e pen-
Os jogos também têm um impacto po- samento abstrato. Além disso, a ludicidade
sitivo no bem-estar emocional dos alunos. O pode tornar o processo de aprendizagem
sucesso em jogos aumenta a autoconfiança, mais atraente, aumentando o engajamento e
proporcionando aos alunos a sensação de a motivação dos alunos.
realização e competência. Além disso, jogar
pode servir como uma forma de liberar o O papel do educador desempenha um
estresse e a tensão, auxiliando no gerencia- papel fundamental no processo de ensino-
mento das emoções. -aprendizagem, sendo ele o mediador que
desempenha um papel central na organiza-
A experiência de enfrentar desafios ção e facilitação das atividades educacionais.
em jogos também ensina as crianças a serem É através do seu engajamento e orientação
persistentes e a lidar com a derrota de ma- que os alunos são guiados em direção a uma
neira construtiva. Isso promove a resiliência aprendizagem significativa. Neste contexto,
emocional e a capacidade de superar obs- o educador assume diversas responsabilida-
táculos, habilidades valiosas não apenas na des, incluindo a adaptação das atividades de
educação, mas também na vida cotidiana. acordo com as fases de desenvolvimento de
cada aluno.
A presença do lúdico no desenvolvi-
mento dos alunos é fundamental, uma vez A abordagem lúdica, quando aplicada
que tem como objetivo promover o cres- na educação infantil e nas séries iniciais do
cimento em várias dimensões, incluindo a ensino fundamental, requer que o educador
cognitiva, intelectual, social e física. Como considere cuidadosamente as necessidades
explica Dohme (2008, p. 22), os jogos e brin- dos alunos. A ludicidade deve ser um dos
cadeiras contribuem para o aprimoramento principais elementos norteadores do proces-
físico, melhorando a destreza, equilíbrio e so de ensino-aprendizagem, proporcionando
acuidade dos sentidos. Além disso, também um ambiente de aprendizado estimulante e
estimulam o desenvolvimento mental, apri- desafiador. Dessa forma, as crianças ficam
morando a atenção, memória, raciocínio e ló- mais motivadas para aprender, pois a abor-
gica, enquanto promovem a interação social dagem lúdica introduz constantes desafios,
ao enfatizar a importância de seguir regras e tornando o aprendizado envolvente e praze-
trabalhar em equipe. roso (Marinho et al, 2007, p. 86).
A integração da ludicidade na sala de O lúdico, por meio de atividades como
aula nos anos iniciais é uma estratégia peda- jogos e brincadeiras, permite a preparação
gógica valiosa que oferece uma ampla gama de aulas de maneira diversificada, menos
de benefícios cognitivos, sociais e emocio- convencional e mais interativa. Isso promove
nais. Os jogos não apenas tornam a apren- a interação entre os alunos e entre os alunos
dizagem mais envolvente, mas também con- e o educador, criando um ambiente onde to-
tribuem para o desenvolvimento holístico dos aprendem enquanto se divertem. O jogo
das crianças. Portanto, ao escolher e imple- é visto por Piaget (1994) como um proces-
mentar cuidadosamente jogos educacionais, so de ajuda ao desenvolvimento da criança,
os educadores podem aprimorar significati- acompanhando-a em seu crescimento.
vamente a experiência de aprendizagem de
seus alunos, preparando-os para um futuro No processo de alfabetização, é fun-
de sucesso acadêmico e pessoal. damental que o educador utilize atividades
lúdicas para tornar a aprendizagem mais en-
Em resumo, os jogos e brincadeiras volvente e eficaz. O lúdico auxilia no desen-
desempenham um papel crucial no proces- volvimento de várias áreas do cérebro, tor-

147
nando o processo de ensino-aprendizagem de sala de aula que promova a ludicidade,
mais eficiente do que atividades convencio- oferecendo espaço e recursos adequados
nais separadas por áreas cerebrais (Marinho para as atividades lúdicas. O ambiente físico
et al, 2012, p. 85). deve ser organizado de maneira que os alu-
nos se sintam motivados e à vontade para ex-
Além disso, as atividades lúdicas con- plorar, experimentar e brincar.
tribuem para o desenvolvimento integral da
criança, abrangendo aspectos físicos, afeti- • Observação e Avaliação: Duran-
vos, intelectuais e sociais. Elas estimulam a te as atividades lúdicas, o professor deve ob-
organização do conhecimento, a construção servar atentamente o envolvimento dos alu-
de conceitos, a expressão oral e corporal, o nos e seu progresso. A observação é crucial
desenvolvimento de habilidades sociais e para identificar as necessidades individuais
a redução da agressividade (Marinho et al, dos alunos, adaptar as atividades conforme
2007, p. 88). necessário e avaliar o alcance dos objetivos
de aprendizagem.
No entanto, para que o educador de-
sempenhe com sucesso seu papel, é essen- • Mediação: O professor desem-
cial que as instituições escolares e o corpo penha o papel de mediador, fornecendo
administrativo ofereçam o suporte necessá- orientação e suporte quando necessário.
rio. Isso inclui a preparação adequada das Isso pode incluir a resolução de dúvidas, o
instalações, equipamentos e materiais, bem estímulo ao pensamento crítico, a promoção
como a formação educacional voltada para o da reflexão e o fornecimento de recursos
uso eficaz do lúdico como ferramenta peda- adicionais. O professor também pode usar a
gógica. técnica de scaffolding, que envolve fornecer
suporte gradual à medida que os alunos ga-
A escolha das atividades lúdicas deve nham habilidades e confiança.
ser adaptada às características da turma e de
cada aluno individualmente. Através dessa • Fomento da Colaboração e Co-
adaptação, o educador pode avaliar conti- municação: As atividades lúdicas frequente-
nuamente o progresso dos alunos e ajustar mente envolvem interações sociais. O pro-
suas práticas pedagógicas conforme neces- fessor deve incentivar a colaboração entre
sário (Barbosa, 2003, p. 19). os alunos, promovendo a comunicação, o
compartilhamento de ideias e a resolução
É importante enfatizar que as ativida- conjunta de desafios. Essa interação social é
des lúdicas não devem ser transformadas em fundamental para o desenvolvimento das ha-
atividades mecânicas e repetitivas, cujo úni- bilidades interpessoais.
co objetivo é o cumprimento dos conteúdos
escolares. O lúdico deve permanecer como • Inclusão e Diversidade: É respon-
um elemento de aprendizado que promove sabilidade do professor garantir que as ativi-
a espontaneidade e a criatividade dos alunos dades lúdicas sejam inclusivas, adaptando-as
(Santos, 1998, p. 57). para atender às necessidades e habilidades
variadas dos alunos. Isso requer flexibilidade
O educador também desempenha um na abordagem, de modo que todos os alunos
papel fundamental na promoção do espírito tenham a oportunidade de participar e se be-
de cooperação entre os alunos. As atividades neficiar.
lúdicas devem enfatizar a colaboração em
vez da competição, permitindo que os alunos • Motivação e Engajamento: O
compartilhem conhecimentos e experiências professor desempenha um papel importante
uns com os outros (Santos, 1998, p. 52). em manter a motivação dos alunos durante
as atividades lúdicas, oferecendo feedback
O papel do professor na prática da positivo, reconhecendo o esforço e a reali-
ludicidade é crucial e multifacetado. O pro- zação, e criando um ambiente de aprendiza-
fessor desempenha um papel de guia, faci- gem agradável.
litador e mediador, criando um ambiente de
aprendizagem enriquecedor e orientando os • Reflexão e Avaliação Contínua:
alunos em sua jornada de descoberta através Após as atividades lúdicas, o professor deve
das atividades lúdicas. Os principais aspectos promover a reflexão, encorajando os alunos
do papel do professor na prática da ludicida- a analisar o que aprenderam e como podem
de são: aplicar esse conhecimento. Além disso, a ava-
liação contínua das atividades lúdicas ajuda o
• Facilitador da Aprendizagem professor a ajustar sua abordagem e aprimo-
Lúdica: O professor é responsável por sele- rar o processo de ensino.
cionar ou criar atividades lúdicas apropria-
das para os objetivos de ensino e o nível de A ludicidade na prática docente é uma
desenvolvimento dos alunos. Isso envolve o estratégia pedagógica eficaz que oferece inú-
planejamento cuidadoso das atividades, ga- meros benefícios para o desenvolvimento
rantindo que sejam desafiadoras e relevan- holístico dos alunos. Educadores que incor-
tes para os objetivos de aprendizagem. poram a ludicidade em suas abordagens pe-
dagógicas não apenas tornam o aprendizado
• Criação de Ambiente Favorável: mais envolvente, mas também promovem o
O professor deve estabelecer um ambiente desenvolvimento cognitivo, social e emocio-

148
nal de seus alunos. Essa abordagem inclusiva de habilidades cognitivas, como resolução de
e motivadora é fundamental para preparar problemas, pensamento crítico e criativida-
os alunos para o sucesso acadêmico e para a de. A aprendizagem lúdica ajuda a tornar o
vida além da sala de aula. Portanto, a integra- conhecimento mais acessível e significativo,
ção da ludicidade na prática docente é uma pois os alunos são incentivados a construir
escolha pedagógica valiosa e necessária. seu próprio entendimento por meio da ex-
ploração ativa.
Em resumo, o educador desempenha
uma função crucial no processo de ensino- Travalla e Casagrande (2007) ressal-
-aprendizagem, especialmente quando se tam que as crianças são seres sociais com ca-
utiliza o lúdico como ferramenta pedagógica. pacidades afetivas, emocionais e cognitivas
Ele deve criar um ambiente de aprendizado desde o nascimento. Elas têm desejos, intera-
estimulante, adaptar as atividades às neces- gem com as pessoas e são capazes de apren-
sidades dos alunos, promover a cooperação der com essas interações, compreendendo
e a criatividade, e garantir que o lúdico seja e influenciando seu ambiente. A ampliação
uma parte integral e significativa do processo das relações sociais, interações e formas de
educacional. Quando bem aplicado, o lúdico comunicação é essencial para o desenvolvi-
torna o aprendizado mais envolvente, signi- mento infantil.
ficativo e prazeroso para os alunos, contri-
buindo para o seu desenvolvimento integral. A motivação é um fator crucial no pro-
cesso de aprendizagem, e o lúdico é uma fer-
ramenta poderosa para aumentar o interesse
e a motivação dos alunos. A natureza diver-
A importância do lúdico no contexto tida e desafiadora das atividades lúdicas faz
da aprendizagem com que os alunos se sintam mais envolvidos
A utilização do lúdico como estraté- e entusiasmados em relação ao aprendizado.
gia de ensino é amplamente reconhecida no Além disso, o lúdico cria um ambiente de sala
campo da educação. O termo "lúdico" refere- de aula mais acolhedor, onde os alunos se
-se a atividades e abordagens que envolvem sentem à vontade para expressar suas ideias
jogos, brincadeiras, experimentação, criativi- e participar ativamente, reduzindo a ansieda-
dade e diversão no processo de aprendiza- de associada ao processo de aprendizagem.
gem. Esta prática pedagógica tem ganhado Quando se discute a importância do
destaque devido à sua eficácia em cativar a lúdico no processo de alfabetização e letra-
atenção dos alunos e promover um ambien- mento, é crucial considerar que as ativida-
te de aprendizagem engajador. Neste contex- des lúdicas desempenham um papel vital no
to, a importância do lúdico na aprendizagem desenvolvimento intelectual, motor, físico,
merece uma análise aprofundada. cognitivo e social dos alunos. Como afirma
A incorporação do lúdico no contex- Alécio (2007), durante o processo de matura-
to da aprendizagem é uma abordagem pe- ção da criança, o brinquedo e a motricidade
dagógica amplamente reconhecida por sua estão intimamente ligados à afetividade e à
relevância no desenvolvimento cognitivo, inteligência. As atividades motoras associa-
emocional e social de crianças e, em muitos das ao ato de brincar permitem que a crian-
casos, de alunos de todas as idades. O termo ça desenvolva funções afetivas e intelectuais,
"lúdico" refere-se a atividades e abordagens promovendo a interação social, estimulando
educacionais que têm como base o jogo, a a criatividade e facilitando a compreensão do
brincadeira e a interação social, buscando mundo ao seu redor.
promover a aprendizagem de maneira mais O lúdico não apenas promove o desen-
significativa e envolvente. A importância do volvimento cognitivo, mas também desem-
lúdico no processo educacional é corrobora- penha um papel importante no desenvolvi-
da por diversos estudos e teorias pedagógi- mento social e emocional. Atividades lúdicas
cas, destacando vários aspectos relevantes. frequentemente envolvem interações sociais,
Conforme destacado por Luckesi estimulando a colaboração, a comunicação e
(2005), as brincadeiras lúdicas são atividades a resolução de conflitos entre os alunos. Isso
que proporcionam uma experiência de pleni- é essencial para o desenvolvimento das ha-
tude, envolvendo os participantes de forma bilidades interpessoais e emocionais, como
integral, flexível e saudável. Essas atividades empatia, autocontrole e habilidades de co-
desempenham um papel fundamental na municação, que são igualmente importantes
transformação dos alunos ao longo do tem- para o sucesso na vida.
po, moldando sua identidade e caráter por O lúdico é uma abordagem inclusiva,
meio de exemplos, atividades e interações uma vez que pode ser adaptado para aten-
com educadores e colegas. der às necessidades individuais dos alunos.
O lúdico desempenha um papel fun- Isso é particularmente relevante para alunos
damental no desenvolvimento cognitivo das com diferentes estilos de aprendizagem e
crianças e dos aprendizes em geral. Ao envol- habilidades variadas. O professor pode per-
ver os alunos em atividades lúdicas, eles são sonalizar atividades lúdicas para atender às
estimulados a explorar, questionar e experi- necessidades específicas de cada aluno, ga-
mentar, o que promove o desenvolvimento rantindo que todos tenham a oportunidade

149
de aprender de maneira eficaz. cesso de ensino-aprendizagem da alfabetiza-
ção e letramento?".
A alfabetização e o letramento repre-
sentam desafios significativos para os alunos, A análise realizada permitiu concluir
uma vez que envolvem a compreensão de que a utilização do lúdico no processo de
um código (as letras) e suas combinações (as ensino-aprendizagem nos anos iniciais é de
palavras) a partir do zero. O uso de ativida- extrema importância. Essa abordagem peda-
des lúdicas, ou ludicidade, desempenha um gógica possibilita que os alunos absorvam de
papel fundamental na facilitação desse pro- maneira mais eficaz e significativa o conhe-
cesso de aprendizado, tornando-o simples e cimento necessário para adquirir a alfabeti-
prazeroso. Conforme observado por Negrini zação e o letramento. Através das atividades
(1997), é essencial que os educadores reco- lúdicas, os alunos se envolvem de forma ati-
nheçam a importância das atividades lúdicas va e prazerosa, o que contribui para o seu en-
no desenvolvimento humano e promovam a gajamento e interesse no processo de apren-
disseminação de espaços lúdicos como parte dizagem.
de uma abordagem pedagógica inovadora.
Além disso, ficou evidente que o papel
Para que as atividades lúdicas sejam do educador é crucial nesse processo. O edu-
eficazes, é fundamental que sejam plane- cador desempenha o papel de planejar, mon-
jadas levando em consideração o ponto de tar e aplicar as atividades lúdicas que favo-
vista das crianças, e não apenas o dos edu- recem a aprendizagem dos alunos. Ele atua
cadores. O que pode parecer fácil para um como mediador, estimulando a participação
adulto pode ser desafiador para um aluno. ativa dos estudantes e proporcionando um
Como apontam Lechinhoski e Pichini (2007), ambiente propício para a construção do co-
os adultos, incluindo os professores, tendem nhecimento. No entanto, para que o educa-
a enxergar a alfabetização sob sua própria dor possa desempenhar esse papel de forma
perspectiva, o que pode levar a equívocos so- eficaz, é fundamental que a escola esteja pre-
bre o que é fácil ou difícil para as crianças. parada para a implementação das atividades
Portanto, o lúdico desempenha um papel lúdicas, disponibilizando recursos e espaços
crucial no processo de alfabetização e letra- adequados.
mento, tornando a aprendizagem significati-
va e prazerosa ao considerar as necessidades Em resumo, a ludicidade é uma abor-
e a perspectiva das crianças. dagem pedagógica valiosa que promove a
aprendizagem de forma prazerosa e eficaz
A importância do lúdico na aprendi- na alfabetização e letramento. O educador
zagem é evidente nas inúmeras maneiras desempenha um papel central nesse pro-
pelas quais essa abordagem pedagógica en- cesso, e a escola deve estar apta a apoiar a
riquece o processo educativo. Ao promover implementação dessas práticas pedagógicas
o desenvolvimento cognitivo, a motivação, as para que os benefícios sejam maximizados
habilidades sociais e emocionais, bem como no desenvolvimento educacional das crian-
a inclusão, o lúdico se estabelece como uma ças e adolescentes.
estratégia valiosa no campo da educação. Os
educadores são incentivados a incorporar o Este estudo contribui para o avanço
lúdico em suas práticas pedagógicas, reco- do conhecimento nesta área, porém, reco-
nhecendo seu papel fundamental na promo- nhecemos que ainda existem diversas lacu-
ção de aprendizado significativo e no desen- nas a serem exploradas. Portanto, o presente
volvimento global dos alunos. trabalho deixa o tema em aberto, convidan-
do pesquisadores a empreenderem investi-
Em resumo, o lúdico desempenha gações adicionais, com ênfase nas pesquisas
um papel fundamental na promoção de de campo, a fim de aprofundar nossa com-
uma aprendizagem mais eficaz, envolvente preensão e fornecer novos insights sobre o
e significativa. Sua inclusão no contexto da assunto.
aprendizagem é fundamental para criar um
ambiente educacional que atenda às neces-
sidades de desenvolvimento integral dos REFERÊNCIAS
alunos e estimule seu interesse pelo conheci-
mento. Portanto, a valorização e a integração BARBOSA, Ana Maria. A importância
do lúdico nas práticas pedagógicas represen- do lúdico na alfabetização. São Paulo: Cortez,
tam um importante avanço na qualidade da 2003.
educação. BRASIL, Ministério da Educação. Ensi-
no Fundamental de nove anos: orientações
para a inclusão da criança de seis anos de
CONSIDERAÇÕES FINAIS idade. Brasília, DF: MEC, 2007.
A ludicidade desempenha um papel BRASIL. Referencial Curricular Nacio-
fundamental na educação de crianças e ado- nal para a Educação Infantil. Ministério da
lescentes, proporcionando um aprendizado Educação e do Desporto. Secretaria de Edu-
prazeroso e de fácil assimilação. A problema- cação Fundamental. Brasília, v. 3. Conheci-
tização que norteou este estudo foi: "Qual a mento de Mundo. MEC/SEF, 1998.
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150
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Apostila.

151
A EDUCAÇÃO FÍSICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
DENIS RICARDO BEZZERRA

RESUMO ção Física, há décadas, tem como propósito


proporcionar um prazer funcional, com ên-
Ao indagarmos aos docentes do en- fase fundamental no movimento. Seu intuito
sino fundamental sobre os proveitos da Gi- é permitir ao educando explorar a diversida-
nástica para crianças do primeiro ao quarto de de suas capacidades cinéticas, ampliando
ano, sem dúvida receberemos respostas po- seu horizonte disponível. Contudo, mais do
sitivas. A psicomotricidade consiste em uma que apenas exercícios físicos, ela é educação,
atividade complexa, uma aptidão, um com- pois por meio da seleção e organização das
portamento específico que une e entrelaça atividades, o educador busca alcançar seus
elementos motores e psicológicos ligados às objetivos educacionais.
funções perceptivas, sensoriais, intelectuais
e ao avanço motor, envolvendo a recepção Essa afirmação continua atual, como
de informações e a execução adequada da também destacado nos Parâmetros Curricu-
resposta. Os educadores frequentemente lares Nacionais (PCNs) de 1997, que ressal-
são orientados pelo senso comum, o que tam que a prática da Educação Física escolar
acarreta sérios prejuízos para a Educação e pode promover a autonomia dos alunos ao
a Sociedade. Por conseguinte, o propósito monitorar suas próprias atividades, regular
desta pesquisa qualitativa é evidenciar o pa- o esforço, estabelecer metas, conhecer suas
pel crucial da Educação Física, uma vez que potencialidades e limitações, além de distin-
se vale do recurso didático mais substancial à guir situações de trabalho corporal que pos-
sua disposição: o corpo em suas múltiplas di- sam ser prejudiciais à saúde. O início precoce,
mensões. Nesse estudo, foi dada primordial o foco na performance e o imediatismo negli-
ênfase à participação do discente e à meta- genciam a singularidade de cada aluno, que
morfose de suas ações pedagógicas, favore- é único em suas capacidades e limitações.
cendo o desenvolvimento de sua presença Os movimentos se tornam estereotipados,
como agente atuante na sociedade, capaz de gerando conformismo pela falta de exercício
tomar decisões pessoais e conscientes a res- crítico e espaço para a criação.
peito dos valores que adota.
A Educação Física permite vivenciar di-
Palavras-chave: Educação e Socieda- ferentes práticas corporais provenientes de
de; Elementos Motores; Psicomotricidade. diversas manifestações culturais, sendo con-
siderada uma combinação variada de influ-
ências presentes na vida cotidiana. Por meio
INTRODUÇÃO das danças, esportes e jogos, que compõem
um vasto patrimônio cultural a ser valoriza-
Os conteúdos ministrados nas aulas do, conhecido e apreciado.
de Educação Física devem possuir relevân-
cia societal, adaptando-se às características A Educação Física desempenha um pa-
sócio-cognitivas dos estudantes. O discente pel fundamental no desenvolvimento psico-
necessita compreender e confrontar os sa- motor das crianças e dos jovens. Por meio de
beres populares com o conhecimento cientí- atividades físicas e esportivas, essa disciplina
fico, a fim de potencializar sua vasta reserva contribui de maneira significativa para o apri-
de aprendizado. moramento das habilidades motoras, cogni-
tivas e emocionais dos indivíduos.
Há uma abordagem de ensino que
transmite os conteúdos de forma simultânea, O desenvolvimento psicomotor refe-
sem separá-los em estágios distintos, sendo re-se à integração entre os aspectos psico-
que esses mesmos conteúdos são abordados lógicos e motores do ser humano. Trata-se
de maneiras diversas e aprofundadas nas sé- da capacidade de coordenar os movimentos
ries posteriores. corporais, controlar o equilíbrio, aperfeiçoar
a agilidade, a velocidade, a força e a resistên-
A Educação Física pode ser concebida cia física. Além disso, envolve também o de-
como parte integrante da educação, estando senvolvimento das habilidades perceptivas,
diretamente relacionada e influenciada pelas como a percepção espacial, a coordenação
pedagogias e suas correntes. visomotora e a capacidade de orientação no
Cada abordagem da Educação Física espaço.
Escolar surge de uma corrente pedagógica, A Educação Física oferece uma ampla
de uma perspectiva educacional que, por sua variedade de atividades que estimulam o
vez, deriva de uma teoria filosófica. Confor- desenvolvimento psicomotor. Jogos, brinca-
me afirmado por Moreira (2001), a Educação deiras, exercícios físicos e esportes propor-
Física praticada no ambiente escolar se fun- cionam oportunidades para que os alunos
damenta em bases teórico-filosóficas. explorem e aprimorem suas habilidades mo-
Dessa forma, é evidente que a Educa- toras, ao mesmo tempo em que desenvol-
vem capacidades cognitivas, como a concen-

152
tração, a tomada de decisões e a resolução Fonseca (1983) defende que, na
de problemas. aprendizagem da leitura e escrita, a criança
deve seguir a sequência correta das letras,
Além disso, a prática regular de ativi- dos sons e das palavras, e que a estruturação
dades físicas promove a saúde física e mental temporal exerce uma influência significativa
dos estudantes. O exercício físico estimula a na adaptação escolar e na aprendizagem.
liberação de endorfinas, substâncias relacio-
nadas ao bem-estar e à sensação de prazer. De acordo com Fávero (2004), a escrita
Isso contribui para a redução do estresse, o demanda o desenvolvimento de habilidades
aumento da autoestima e a melhoria do hu- específicas e um esforço intelectual propor-
mor, aspectos essenciais para um desenvol- cionalmente maior em relação às aprendiza-
vimento psicomotor saudável. gens anteriores da criança. A comunicação
por meio da escrita envolve códigos que va-
A Educação Física também desempe- riam de acordo com a cultura, e sua aprendi-
nha um papel importante na socialização e zagem ocorre por meio de cópias, ditados e
na formação de valores. Durante as aulas e escrita livre. Uma adequada habilidade mo-
a prática esportiva, os alunos aprendem a tora é essencial para a realização satisfatória
trabalhar em equipe, a respeitar as regras e da atividade, pois certas habilidades são ne-
os limites, a lidar com a competitividade de cessárias para que a escrita ocorra de forma
forma saudável e a valorizar a diversidade. adequada. A aprendizagem não se concretiza
Essas experiências contribuem para o de- se não for registrada no corpo.
senvolvimento emocional e social dos indiví-
duos, preparando-os para a convivência em Compreender a consciência corporal
sociedade. significa reconhecer o corpo como meio pelo
qual o indivíduo se relaciona consigo mesmo,
É fundamental destacar que a Educa- com os outros e com o ambiente, refletindo
ção Física deve ser inclusiva, valorizando as e tendo consciência de suas ações. O corpo
potencialidades de cada aluno e proporcio- é moldado pela história, sociedade, cultura e
nando adaptações quando necessário. Dessa subjetividade. Portanto, considera-se impor-
forma, todos os estudantes têm a oportuni- tante abordar o esquema corporal, a imagem
dade de vivenciar os benefícios da prática de corporal e os aspectos simbólicos e sociais.
atividades físicas e esportivas, independente-
mente de suas habilidades motoras. Segundo Negrine (1980) e Fávero
(2004), a organização motora é fundamental
para o desenvolvimento das funções cogni-
A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE tivas, percepções e esquemas motores da
EDUCAÇÃO FÍSICA criança. As atividades psicomotoras básicas
devem constituir a base das aprendizagens
É essencial que o profissional espe- escolares, e seu progresso é determinante
cializado em Educação Física esteja atento para a aprendizagem da leitura e escrita.
às diferentes fases do desenvolvimento mo-
tor, a fim de criar aulas atrativas e alcançar O indivíduo passa por diferentes fa-
os objetivos propostos. O aspecto lúdico da ses de desenvolvimento motor, nas quais as
Educação Física na escola se diferencia do habilidades motoras básicas de locomoção,
brincar em casa, pois é um brincar orientado, equilíbrio e manipulação são aprimoradas.
que ensina, por exemplo, como movimentar No início, as manifestações e tarefas motoras
o corpo. Na escola, o aluno está sendo cons- são simples, mas gradualmente se tornam
tantemente orientado e monitorado durante mais complexas, tornando o período de zero
as atividades. O brincar, frequentemente pre- a seis anos de idade crucial para o repertório
sente nas aulas de Educação Física, desem- motor das crianças. O desenvolvimento cor-
penha um papel fundamental no aprendiza- poral ocorre por meio de ações, experiências,
do dos conteúdos escolares, indo além da percepções, movimentos, expressões e brin-
abordagem puramente verbal da educação. cadeiras corporais. Na infância, as experiên-
cias e brincadeiras corporais desempenham
Ao escrever, a criança precisa ter no- um papel extremamente importante no de-
ção espacial para posicionar as letras no senvolvimento, valorizando o corpo na for-
papel, adaptando sua forma e tamanho ao mação do sujeito e na aprendizagem.
espaço disponível, seguindo a direção da es-
querda para a direita e de cima para baixo, Para o ser humano, o corpo é o pon-
e utilizando o controle motor adequado para to de referência para conhecer e interagir
segurar o lápis com a pressão correta. Segun- com o mundo, sendo a base para o desen-
do Colello (1995), a escrita é uma atividade volvimento cognitivo e conceitual, incluindo
essencialmente motora, separada de qual- a aprendizagem da alfabetização. Portanto, o
quer outro aspecto do desenvolvimento, seja desenvolvimento do movimento por meio da
afetivo, cognitivo ou social. O entendimento psicomotricidade auxilia a criança a adquirir
de conceitos como perto, longe, dentro, fora, conhecimento do mundo, enquanto cabe à
atrás, na frente, direita, esquerda, embaixo, escola a responsabilidade de promover um
em cima, alto e baixo é necessário nesse pro- desenvolvimento global e proporcionar ativi-
cesso. dades que levem à harmoniosa evolução da
criança profissional especializado em Educa-

153
ção Física precisa estar atento às diferentes criança. As aprendizagens escolares básicas
etapas do desenvolvimento motor, a fim de devem ser exercícios psicomotores, e seu
criar aulas cada vez mais atrativas e alcançar progresso é determinante para a aprendiza-
o sucesso nos objetivos propostos. A abor- gem da leitura e escrita.
dagem da Educação Física na escola difere
daquela em casa, pois envolve brincadeiras O indivíduo passa por diferentes fa-
instrutivas que ensinam, por exemplo, como ses do desenvolvimento motor, nas quais as
movimentar o corpo. Na escola, o aluno está habilidades motoras básicas de locomoção,
recebendo instruções e sendo monitorado equilíbrio e manipulação são aprimoradas.
durante todo o tempo. Inicialmente, as manifestações motoras e
as tarefas realizadas são simples e gradual-
A prática frequente de brincadeiras mente se tornam mais complexas, tornando
durante as aulas de Educação Física é de ex- o período de zero a seis anos de idade essen-
trema importância para o aprendizado dos cial para o repertório motor das crianças. O
conteúdos escolares, sendo oposta à abor- desenvolvimento corporal é alcançado por
dagem exclusivamente verbal da educação. meio de ações, experiências, percepções,
movimentos, expressões e brincadeiras cor-
Ao escrever, a criança precisa ter no- porais. Na infância, as experiências e brin-
ção espacial para posicionar as letras no cadeiras corporais desempenham um papel
papel, adaptando sua forma e tamanho ao extremamente importante no desenvolvi-
espaço disponível, seguindo a direção da es- mento, valorizando o corpo na formação do
querda para a direita e de cima para baixo, sujeito e na aprendizagem.
e utilizando o controle motor para segurar o
lápis com a força adequada. Segundo Colello Para o ser humano, o corpo é o pon-
(1995), a escrita é fundamentalmente uma to de referência para conhecer e interagir
atividade motora, destacada de qualquer ou- com o mundo, sendo a base para o desen-
tro aspecto do desenvolvimento, seja afetivo, volvimento cognitivo e conceitual, incluindo
cognitivo ou social. A compreensão de con- a aprendizagem da alfabetização. Portanto, o
ceitos como próximo, distante, dentro, fora, desenvolvimento do movimento por meio da
atrás, na frente, direita, esquerda, abaixo, psicomotricidade auxilia a criança a adquirir
acima, alto e baixo é necessária. conhecimento do mundo, e cabe à escola ser
responsável pelo desenvolvimento global e
Fonseca (1983) argumenta que, na fornecer atividades que promovam o desen-
aprendizagem da leitura e escrita, a criança volvimento harmonioso da criança. (Fávero,
deve seguir a sequência correta das letras, 2004).
dos sons e das palavras, e que a organização
temporal tem grande influência na adapta- Conforme citado por Oliveira (1996),
ção escolar e na aprendizagem. a psicomotricidade contribui para o proces-
so de aprendizado da linguagem escrita ao
De acordo com Fávero (2004), a escrita buscar proporcionar ao aluno as condições
requer o desenvolvimento de habilidades es- necessárias para um bom desempenho aca-
pecíficas e um esforço intelectual proporcio- dêmico, permitindo que o indivíduo se reco-
nalmente maior em relação às aprendizagens nheça como um ser corporal real e possibilite
anteriores da criança. A comunicação por a expressão livre. Para adquirir habilidades
meio da escrita envolve códigos que variam intelectuais, é fundamental se movimentar.
de acordo com a cultura, e sua aprendizagem Além disso, de acordo com a mesma autora,
ocorre por meio de cópias, ditados e escrita a inteligência é vista como uma adaptação ao
livre. A escrita pressupõe um desenvolvimen- ambiente, e para que isso ocorra, é necessá-
to motor adequado, pois certas habilidades rio que o indivíduo manipule adequadamen-
são essenciais para que a atividade seja reali- te os objetos ao seu redor, o que deve come-
zada satisfatoriamente. A aprendizagem não çar antes mesmo das primeiras tentativas de
ocorre se não for registrada no corpo. escrita.
Portanto, é essencial estimular o de-
A CONSCIÊNCIA CORPORAL senvolvimento psicomotor da criança, pois
isso é imprescindível para facilitar o processo
A consciência corporal envolve o reco- de aprendizagem escolar. Através da consci-
nhecimento do corpo como meio pelo qual o ência dos movimentos corporais e da expres-
sujeito se relaciona consigo mesmo, com os são das emoções, a criança pode alcançar um
outros e com o ambiente, refletindo e tendo desenvolvimento integral.
consciência de suas ações. O corpo é molda-
do pela história, sociedade, cultura e subjeti- Devido à crescente preocupação em
vidade. Portanto, é importante considerar o relação à alfabetização das crianças, diferen-
esquema corporal, a imagem corporal e os tes áreas do conhecimento estão pesquisan-
aspectos simbólicos e sociais. do e buscando maneiras de facilitar esse pro-
cesso. Levando isso em consideração, assim
Segundo Negrine (1980) e Fávero como a problemática que envolve educado-
(2004), a organização motora é fundamental res e alunos na aquisição da leitura e escri-
para o desenvolvimento das funções cogni- ta, esta pesquisa se concentrará na seguinte
tivas, percepções e esquemas motores da questão: Qual é a importância da consciência

154
corporal na aquisição da leitura e escrita? alunos com necessidades especiais, é fun-
damental integrá-los ao grupo, respeitando
Com o objetivo de promover o desen- suas limitações e, ao mesmo tempo, propor-
volvimento integral da criança, levando em cionando o desenvolvimento de suas habi-
consideração os aspectos motores, afetivos, lidades. Também é importante promover a
sociais e intelectuais, é necessário facilitar a convivência em grupo e a construção de ati-
aprendizagem escolar por meio de atividades tudes de solidariedade, respeito e aceitação,
que estimulem a consciência dos movimen- sem preconceitos.
tos corporais e a expressão das emoções.
Conforme BRASIL (2001, p. 43), a fun-
Segundo Cunha (1990), o desenvolvi- ção do professor de Educação Física também
mento psicomotor é extremamente impor- é "dar oportunidade para que os alunos te-
tante, uma vez que as crianças com um nível nham uma variedade de atividades. Essas
mais avançado de desenvolvimento psico- atividades devem ser exercidas em diferen-
motor e conceitual apresentam melhores re- tes habilidades, valorizando e respeitando as
sultados acadêmicos. Para que a escrita ocor- diferenças individuais". Os PCNs destacam os
ra de maneira satisfatória, é necessário um esportes, a dança, a ginástica, os jogos e as
desenvolvimento motor adequado. O ato de lutas como meios de atividades fundamen-
escrever não pode ser reduzido à decodifica- tais para a formação do educando.
ção de símbolos ou sinais, pois o processo de
aquisição da linguagem escrita é complexo e Crianças somente aprendem quando
anterior ao que é aprendido na instituição de existe um programa elaborado com metas e
ensino (CAGLIARI, 2000). objetivos a serem alcançados a curto e lon-
go prazo, com atividades apropriadas a seu
De acordo com Ferreira (1993), as desenvolvimento, com estratégias voltadas
aprendizagens deixam marcas no corpo, para maximizar as oportunidades de práticas
e a participação do corpo no processo de e com um sistema avaliativo de acordo com
aprendizagem ocorre por meio da interação os objetivos inicialmente propostos (VALEN-
do sujeito com o ambiente. O conhecimen- TINI; TOIGO, 2006, p. 15)
to possui um nível de ação, que é executar
os movimentos, e um nível figurativo, que se
manifesta através das imagens que se inscre-
vem no corpo. Não se pode perder de vista que “o
professor deve aprofundar no desenvolvi-
A habilidade do esquema corporal e da mento de seu trabalho, formando por meio
orientação espaço-temporal está intimamen- das aulas, atitudes de respeito mútuo, digni-
te relacionada ao desempenho das crianças dade, solidariedade, afetividade e coletivida-
na escrita, pois é necessário adequar o tama- de” (GUIMARÃES et al 2001, p.3).
nho das letras ao local onde serão escritas,
assim como compreender que a escrita se Resgata-se um importante pensamen-
inicia de cima para baixo e da esquerda para to:
a direita. A observação e a vivência dentro de
Se desde o início da educação formal uma educação que descrimina e acentua a
forem desenvolvidas atividades e jogos psi- separação das classes sociais e da promoção
comotores que estimulem a consciência cor- do desenvolvimento integral do educando,
poral e a percepção espaço-temporal, o pro- nos faz repensar sobre o projeto de socie-
cesso de aquisição da leitura e escrita será dade e de homem que pretendemos formar
facilitado. Levando em consideração a impor- enquanto educadores (TOLKMITT, 1993 apud
tância do desenvolvimento de atividades psi- RHEINHEIMER, 2005, p. 85).
comotoras que estimulem a criança de for- Para Grespan (2002, p. 84) “a educa-
ma global, é necessária uma maior interação ção física deve oportunizar para que todos os
com os professores de educação física, a fim alunos desenvolvam suas potencialidades de
de que sejam desenvolvidas atividades práti- forma democrática”.
cas que visem à aquisição da leitura e escrita.
Somente com a mudança de metodo-
logia de trabalho a Educação Física nas séries
A EDUCAÇÃO FÍSICA E O BRINCAR iniciais do ensino fundamental estará pro-
movendo a formação integral dos sujeitos e
Ao propor uma atividade, o professor contribuindo para a formação de verdadei-
deve ter em mente os objetivos que deseja ros cidadãos. A Educação Física deve ser vista
alcançar. É importante destacar que, con- como um instrumento facilitador do desen-
forme Leite (1990), Freire e Oliveira (2004), o volvimento cognitivo, a qual contribui para
jogo envolve a submissão a regras próprias a aprendizagem dos conteúdos das diversas
e objetivos de competição. Nessa perspecti- áreas do conhecimento.
va, a Educação Física pode ser caracterizada
como algo que se aprende a fazer, não ape-
nas como algo feito por fazer. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo os Parâmetros Curriculares A pedagogia do movimento emerge
Nacionais (PCNs), no que diz respeito aos

155
nesse contexto como uma abordagem edu- educação infantil – Conhecimento de Mundo.
cacional que envolve o corpo organizado de Brasília, MEC/SEF. 1998.
forma racional em torno de seu eixo, servin-
do como referência para toda a organização DARIDO, S.C. Educação Física na Es-
espaço-temporal que permite a exploração cola; questões e reflexões. Araras: Topázio,
do mundo. É uma atividade motora explo- 1999. FAZENDA, I. Interdisciplinaridade um
ratória e inteligente, que sistematicamente projeto em parceria. 3. ed. São Paulo: Lloyo-
organiza o espaço e o tempo, facilitando a es- la, 1995.
truturação do espaço gráfico. GALLARDO, J. S. P; Educação Física:
A educação por meio do movimento contribuições à formação profissional. Ijuí:
deve ser empregada para que as crianças de- ed. Unijui, 2003.
senvolvam a noção de seu esquema corporal GALLARDO, J.; OLIVEIRA, A. A. B. de e
e outras noções essenciais para seu desen- ARAVEÑA, C. Didática de Educação Física. A
volvimento, seguindo etapas específicas. criança em movimento: jogo, prazer e trans-
O docente responsável pela disciplina formação. São Paulo: FTD, 1998.
de Educação Física deve enfatizar as ações LE BOULCH, Jean. Educação Psicomo-
de colaboração e solidariedade, de forma a tora: a psicocinética na idade escolar. Porto
evitar que as brincadeiras se tornem mera- Alegre: Artes Médicas, 1987.
mente competitivas. Dessa forma, a criança
poderá desenvolver sua autoconfiança, res- LLEIXÀ, Arribas Teresa. A educação físi-
peitando suas limitações e possibilidades. ca de 3 a 8 anos. Porto Alegre: Artmed, 2002.
O ato de brincar não pode ser caótico MEDINA, J. P. S. A Educação Física cuida
e desprovido de regras e conteúdos, mas sim do corpo e mente. Campinas: Papirus,1983.
essencial na educação infantil, pois contribui MANTOVANI, Michelle. Movimento
para o desenvolvimento motor e cognitivo corporal na educação musical: influências de
da criança. O professor pode utilizar o brin- Emile Jaques Dalcroze. 2009. Tese (Mestrado
car como recurso pedagógico, favorecendo o em Música) - Universidade Estadual Paulista.
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Brasília: Ministério da Educação, 1997.
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mental. Referencial curricular nacional para a

156
O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DIVANICE PEREIRA LIMA

RESUMO development; Child education.


A infância é a fase na qual a aprendi-
zagem é fortemente influenciada, tanto pelo
meio onde a criança está inserida, quanto no INTRODUÇÃO
que se refere aos sujeitos com os quais in- A criança é um ser total, completo e
terage. Desse modo, processo de desenvol- indivisível, dotada de sentimentos, sonhos,
vimento da criança sofre influências positivas jeitos de ser, sentir, perceber, descobrir, ima-
e negativas a partir das experiências as quais ginar, criar, interagir e agir no mundo ocorre
vivenci. Diante desse contexto, quanto mais por meio das experiências enquanto vivem
rico for o percurso de aprendizagem, mais e convivem. Essas experiências precisam
amplo será o desenvolvimento da criança. A qualificar as suas aprendizagens de modo a
educação infantil é um espaço rico em possi- contribuir para o desenvolvimento global. O
bilidades de aprendizagens no qual o brincar universo infantil estabelece instiga as apren-
e as interações são os eixos norteadores. As dizagens, pois ele é rico em possibilidades.
práticas lúdicas são importantes, pois essa
forma de linguagem possibilita conhecimen- Nessa fase de desenvolvimento as
to de si, do outro, da cultura e do mundo. crianças ampliam as suas experiências, vi-
Logo, a prática lúdica, bem como a mediação sões, aprendizagens e descobertas, a crian-
do docente no cotidiano escolar são ferra- ça que brinca, que observa, que explora, que
mentas indispensáveis para que as crianças interage com o meio e com todos que dele
se desenvolvam integralmente. Sendo assim, fazem parte descobre constantemente, con-
faz-se necessário refletir diariamente sobre segue aprender de forma lúdica, interativa
as propostas curriculares que permeiam o e prazerosa respondendo aos estímulos aos
cotidiano das escolas de educação infantil, de quais é exposta, de forma cada vezes mais
modo que o planejamento contemple con- rápida.
textos educacionais que explorem contextos É durante a infância que ocorrem in-
lúdicos; tempos e materiais que agucem as terações entre o mundo e o meio em que a
capacidades de aprender, descobrir, cons- criança vive, por meio da relação com os su-
truir, compartilhar e ampliar saberes. jeitos, espaços, objetos e materiais a crianças
Palavras-chave: Brincar; Desenvolvi- constrói sentido e atribui sentido ao que ex-
mento integral; Educação Infantil. periência, comunicando sentidos e significa-
dos a partir do movimento de experiência e
experimento que essa criança vivencia coti-
ABSTRACT dianamente.
Childhood is the phase in which lear- Nesse período, as experiências tecem
ning is strongly influenced, both by the envi- caminhos de possibilidades de modo que, o
ronment in which the child is inserted, and excesso ou a falta de estímulos pode inter-
with regard to the subjects with whom he ferir no processo de desenvolvimento. Nesse
interacts. Thus, the child's development pro- percurso a brincadeira é uma fonte inesgotá-
cess suffers positive and negative influences vel de aprendizagens, a partir da brincadeira,
from the experiences they experience. Given é possível construir conhecimento e ampliar
this context, the richer the learning path, the a visão de mundo, logo, brincadeiras e de-
broader the child's development. Early chil- safios lúdicos contribuem significativamente
dhood education is a space rich in learning nesse percurso vivido.
possibilities in which playing, and interac- A brincadeira é um elemento essencial
tions are the guiding principles. Ludic practi- para o desenvolvimento das Culturas Infan-
ces are important, as this form of language tis, pois atividades lúdicas e brinquedos é
enables knowledge of oneself, the other, the parte integrante da infância, nessa fase brin-
culture and the world. Therefore, the ludic car é preciso para que as aprendizagens se
practice, as well as the teacher's mediation ampliem. Quanto mais rico de possibilidades
in the school routine, are indispensable to- de interações e relações e mais diversificado
ols for children to develop fully. Therefore, for o meio onde acontece essa experiência,
it is necessary to reflect daily on the curricu- mais rico será seu aprendizado.
lar proposals that permeate the daily life of
early childhood education schools, so that Nesse percurso, as experiências brin-
planning includes educational contexts that cantes ampliam as possibilidades expres-
explore playful contexts; times and materials sivas das crianças em um contexto que vai
that sharpen the abilities to learn, discover, muito além da diversão e do comportamen-
build, share and expand knowledge. to lúdico, essa prática é imprescindível para
o processo de ensino-aprendizagem em que
Keywords: To play; Comprehensive as crianças produzem, adquirem e compar-

157
tilham conhecimentos. Logo, as brincadeiras tribuição dos espaços de educação infantil
contribuem para a ampliação de olhares, sa- para o desenvolvimento integral das crianças
beres e fazeres. em todos os aspectos.
Na infância, o brincar é um caminho
de possibilidades, a brincadeira também é
uma forma de comunicação/expressão, por DESENVOLVIMENTO
meio das práticas lúdicas a criança envolve- O Universo Infantil contempla um
-se e partilha com o outro, se conhece e co- mundo vivo e dinâmico, uma infância brincan-
nhece o outro, constrói a sua identidade, a te é direito da criança. Para que as crianças
sua autonomia, desenvolvendo e ampliando usufruam desse direito, bem como ampliem
habilidades imaginativas; criativas; inventivas as suas possibilidades de aprendizagens é
e expressivas, logo, o brincar é o caminho fundamental que elas participem de práti-
rico em aprendizagens na infância. cas integradas que contribuam com seu de-
A educação infantil, primeira etapa da senvolvimento integral em suas dimensões:
educação básica, tem como objetivo o desen- intelectuais; físicas; sociais; éticas; morais
volvimento integral das crianças em todas as e simbólicas, permeadas pelo exercício da
dimensões: intelectual, física, emocional, so- ação coletiva, da autonomia, das interações,
cial e cultural, na educação infantil bebês e relações afetuosas e respeitosas.
crianças têm a oportunidade de viver a sua É preciso tecer caminhos para uma
infância de maneira plena e prazerosa, por educação integral, na qual a criança seja con-
meio das interações e das brincadeiras, eixos siderada em sua completude, em sua inteire-
norteadores da educação infantil. za, em suas maneiras de ser e estar no mun-
Nos espaços de educação infantil, os do, sendo vista como um ser potente, capaz
jogos, as brincadeiras e as interações são os de aprender, ensinar, construir e comparti-
eixos norteadores do planejamento e das lhar saberes, diante desse contexto se faz ne-
aprendizagens infantis. Nesse espaço os cessária, uma educação das sensibilidades,
contextos lúdicos são essenciais para que a como afirma Alves, (2010), quando diz que o
criança viva plenamente a sua infância, pois intelecto e o afeto não podem ser vistos de
os jogos de faz de conta encantam e contri- maneira isoladas, ou seja, estão mutuamente
buem para o exercício da imaginação, da co- interligados.
municação e socialização sendo o principal Sendo assim, é fundamental apurar o
modo de expressão da infância. olhar, caminhar para uma escuta ativa e aten-
Nesse percurso a criança vai amplian- ta ao que nos dizem as crianças não apenas
do suas formas de relacionar-se com o mun- através dos contextos lúdicos que vivenciam,
do, objetos e sujeitos que dele fazem parte. mas pela maneira como se expressam, como
Para uma infância brincante de diversas ex- comunicam suas emoções, suas angústias,
periências lúdicas é preciso possibilitar expe- seus sentimentos, conflitos, alegrias, desa-
riências que envolvam a criatividade, a imagi- grados, interesses. Nesse percurso, o olhar
nação, a fantasia e a descoberta, permitindo sensível, atento, apurado, os laços afetivos,
que as crianças sejam capazes de explorar, bem como as diferentes formas de interagir
discernir e interpretar, usando seus sentidos devem ser parte integrante do percurso vivi-
e conhecimentos. do pelas crianças.
Para isso, o papel do profissional do- Educação é um ato de amor, a relação
cente precisa retornar ao chão crianceiro, pedagógica quando perpassada pela afetivi-
pensando, planejando e organizando ações dade e pela amorosidade oportuniza o de-
que contemplem espaços e contextos para senvolvimento da educação como prática de
os corpos brincantes. Sendo assim, o pla- liberdade e de humanização (FREIRE, 1987,
nejamento, a intencionalidade pedagógica, p.79-80).
bem como a organização de tempos, espaço Na infância é fundamental considerar
e materiais contribuem para que as aprendi- a importância da segurança emocional que
zagens se ampliem na medida em que acon- o olhar carinhoso, sensível, atento e apura-
teçam. É fundamental compreender que o do transmite. O acolhimento permanente, as
percurso formativo se faz indispensável para relações afetuosas que transmite segurança
qualificar as experiências infantis potenciali- emocionada articulada aos gestos cuidado-
zando as aprendizagens e contribuindo para sos, ternos e as ações voltadas ao cuidar e
o desenvolvimento global das crianças. educar também são indissociáveis proporcio-
Esse trabalho visa, tanto, considerar a nando a formação de vínculos mais fortes e
infância em seu sentido mais amplo, quanto seguros na construção da segurança afetiva.
compreender que as crianças têm o direito A criança deve viver uma infância ple-
de brincar e a partir dele são capazes de cons- na, segura, acolhedora e rica em possibili-
truir e ampliar suas aprendizagens. Logo, as dades de aprendizagens, em um ambiente
análises presentes nesse artigo mostram a agradável, seguro e desafiador permeado
importância das brincadeiras, concentrando- pelo brincar, pelas interações, situações coti-
-se no brincar e na organização de contextos dianas que envolvam a alegria e divertimen-
lúdicos para as infâncias, destacando a con-

158
to, sendo um impulso no desenvolvimento e dos estímulos de virtudes e valores.
da criatividade, na competência intelectual e
emocional. Nesse contexto de aprendizagem e
desenvolvimento integral, a escola tem um
A educação infantil corresponde à pri- papel importante por ser um espaço de rela-
meira etapa da educação básica, tem como ções fora do contexto familiar. As escolas de
finalidade o desenvolvimento integral da educação infantil são espaços não domésti-
criança até cinco anos de idade. Essa etapa cos que contribuem para o processo de de-
precisa ser entendida em um sentido bastan- senvolvimento, para a socialização desenvol-
te amplo, pois é nessa fase, conhecida como vimento global por meio das interações e da
a etapa das brincadeiras que as crianças irão multiplicidade de experiências e das diferen-
se desenvolver integralmente é durante essa tes linguagens, os estímulos, as materialida-
fase que ocorre o processo de humanização, des que esse ambiente contempla e possibi-
socialização, compartilhamento de olhares, lita.
saberes e fazeres infantis ampliando as ex-
periências sociais. Para um amplo desenvolvimento, as
crianças precisam de ambientes, tempos,
‘‘A educação infantil, primeira etapa espaços, materiais e vivências que possibili-
da educação básica, tem como finalidade o tem ampliar suas formas de se expressar por
desenvolvimento integral da criança até seis meio das diferentes linguagens, despertando
anos de idade, em seus aspectos físico, psico- a curiosidade, observação, atenção, inves-
lógico, intelectual e social, complementando tigação e interpretação enriquecendo suas
a ação da família e da comunidade. aprendizagens que só acontecem de fato
pela atitude ativa da criança.
(BRASIL, LDB 9394/96).’’
Nesse percurso de construção e com-
Nessa etapa, as experiências lúdicas partilhamento de saberes, as escolas de edu-
são fundamentais tanto para o protagonis- cação infantil contemplam o misto de vivên-
mo infantil, quanto para incentivar as inicia- cias. O ambiente escolar, como um espaço
tivas das crianças; aguçar a curiosidade; ins- não doméstico cumpre a função sociopolítica
tigar a participação ativa; o engajamento; a e pedagógica, oferecendo condições e recur-
construção da identidade e da subjetividade sos para que todos que dela façam parte te-
estimulando as diferentes áreas de desenvol- nham seus direitos civis, humanos e sociais
vimento da criança, por meio das ações que garantidos, a escola e as ações promovidas
permeiam o cotidiano escolar. possibilitam vivências estimuladoras do de-
As aprendizagens na educação infantil senvolvimento das crianças, acolhedoras de
lúdico favorecem o desenvolvimento físico, suas diversidades e promotoras de um pen-
intelectual e social da criança, ou seja, pos- sar criativo e autônomo.
sibilita um desenvolvimento real, completo Na educação infantil, o brincar e as in-
e prazeroso. Por meio das ações que per- terações são os eixos norteadores do plane-
meiam o cotidiano escolar as crianças são jamento, no qual a criança é o centro de todo
incentivadas a participarem dos momentos processo. Sendo assim, as ações devem ser
lúdicos e interativos. Essas práticas lúdicas planejadas para e com as crianças, A prática
contribuem para a liberdade expressiva, cria- docente, bem como a organização de tem-
tividade imaginativa e para o desenvolvimen- pos, espaços e materiais devem contemplar
to de habilidades sociais e intelectuais, os interesses das crianças, necessidades, difi-
Ao longo do processo de aprendiza- culdades, ritmos e individualidades de forma
gem é preciso promover um conjunto de permanente, flexível e revisitada.
ações significativas de atenção às necessida- A brincadeira é fundamental na infân-
des intelectuais, fisiológicas e emoções das cia, pois por meio dela, a criança aprende de
crianças, sendo assim, as ações realizadas forma prazerosa, através da socialização com
para e com devem garantir os direitos de as crianças e adultos e na participação de di-
aprendizagem e desenvolvimento estabeleci- versas experiências lúdicas. O brincar instiga
dos pela BNCC: Conviver; Brincar; Participar; a participação e engajamento, com ou sem o
Explorar; Expressar e Conhecer-se. Ao usu- brinquedo, sendo uma forma de desenvolver
fruírem de seus direitos e vivenciarem prá- a capacidade que a criança tem em manter-
ticas significativas, as crianças ampliam suas -se ativa e participante, práticas lúdicas valo-
possibilidades de aprendizagem. rizam as diferentes formas de expressão e
Possibilitar uma educação integral en- comunicação da criança.
volve diferentes aspectos, o ambiente e as re- As organizações de contextos lúdicos
lações que neles se estabelecem fazem parte e interativos na educação infantil bem como
desse caminhar, pois o conjunto de experi- a multiplicidade de experiências por meio
ências, aprendizados, ambientes e elemen- das diferentes linguagens são de extrema im-
tos aos quais uma criança é exposta interfere portância tornando-se indissociáveis possibi-
diretamente em seu desenvolvimento. Todo litando que a criança possa observar; explo-
esse processo de desenvolvimento faz com rar; participar; experimentar; criar; imaginar
que os laços de convivência e vivência come- e socializar a partir dessas práticas estimula-
cem a ser exercitados através da socialização doras do desenvolvimento das crianças, aco-

159
lhedoras de suas diversidades e promotoras vorece a liberdade expressiva; a criativida-
de um pensar criativo e autônomo. de imaginativa; a interação; a construção da
subjetividade e das iniciativas das crianças
Para isso é imprescindível pensar que por meio de materiais expressivos, diferen-
a organização dos tempos, ambientes e ma- tes suportes, experiências diversas que en-
teriais interferem diretamente nas apren- volvem plenamente os sentidos, possibilida-
dizagens das crianças, logo o fazer docente des sonoras, corporais e visuais.
precisa contemplar práticas intencionalmen-
te planejadas, permanentes revisitadas e Por meio da atividade lúdica, a criança
avaliadas para qualificar as aprendizagens tem a oportunidade de ser o que é, de ser
das crianças e (re significar o percurso vivido valorizada em sua integralidade, isso com-
ampliando as possibilidades criativas, inven- preende seus ritmos; individualidades; di-
tivas e expressivas. Práticas lúdicas devem ficuldades; suas inquietudes; necessidades
fazer parte do cotidiano escolar contribuindo de aprendizagens e contextos aos quais está
para o desenvolvimento integral instigando inserida. Ao brincar, a criança cria enredos,
uma participação ativa. narrativas, reproduz situações cotidianas,
observa; imagina, explora; fantasia, deseja,
O ambiente deve proporcionar às aprende, experimenta, questiona e constrói
crianças conforto e bem-estar e, ao mesmo sentidos, sobre si mesmo, sobre o outro e so-
tempo, deverá oferecer-lhes amplas oportu- bre o mundo que a cerca.
nidades de aprendizagem ativa […] um am-
biente bem pensado promove o progresso O brincar contribui para o desenvolvi-
das crianças em termos de desenvolvimento mento integral da criança na educação infan-
físico, comunicação, competências cognitivas til, a organização de contextos lúdicos intera-
e interações sociais (POST; HOHMANN, 2011, tivos, bem com a exploração dos ambientes
p.11). internos e externos das escolas de educação
infantil, possibilita o exercício da ação cole-
O Cotidiano escolar precisa contem- tiva e da autonomia das crianças, nas suas
plar contextos lúdicos significativos e po- investigações, isto é, na sua descoberta de si,
tentes no que se refere ao desenvolvimento dos outros e no conhecimento do mundo, tal
integral, para qualificar as aprendizagens ex- vivência potencializa as aprendizagens das
periências das crianças e seus processos de crianças.
aprendizagem, o ambiente e as ações que o
permeiam devem possibilitar diferentes for- Em meio às práticas lúdicas é possí-
mas de aprender, construir e compartilhar vel destacar: Os jogos de exercício; Brinca-
conhecimento. Nesse percurso, docente e deiras musicais; teatros; dramatizações com
discente são participantes ativos nos pro- máscaras; fantoches; deboches; palitoches;
cessos de construção de conhecimentos em brincadeiras cantadas; O brincar heurístico;
uma integração de saberes. O professor é o brincar livre; cantinhos lúdicos organizados
mediador das aprendizagens e nesse cami- para e com as acrianças; exploração sonora
nho também se torna aprendiz. com instrumentos musicais ou objetos que
produzem sons; materiais de largo alcance;
No processo de ensino-aprendizagem momentos de faz de conta com bonecas de
o fazer docente é inacabado, o percurso for- pano: materiais não estruturados como: fitas,
mativo nutre e amplia esse fazer, é funda- cetim; barbantes; tecidos de diferentes textu-
mental que profissional de educação, tenha ras para aguçar a criatividade imaginativa.
uma postura ética, estética e reflexiva, que
possibilite a criança um percurso de expe- Os jogos de faz de conta contemplam
riência. Sendo assim, uma aprendizagem um Universo que encanta, quando a criança
colaborativa possibilita considerar as possi- entra em contato com diferentes materiali-
bilidades de desenvolvimento de cada crian- dades, ela desenvolve seu processo criativo
ça e explorar sua capacidade de aprender, com maior plenitude. Desse modo, é possível
buscando novos caminhos educacionais que organizar contextos lúdicos com diferentes
atendam a pluralidade dos alunos. materialidades: Mesas; potes; cadeiras; ta-
petes; almofadas; carrinhos, bonecas, massa
Em um caminho de possibilidades as de modelar, argila, slime; quebra cabeças;
vivências se tornam mais significativas a par- cones; latas; monta-tudo; cordas; bolas; be-
tir do contato com diferentes materialidades, xigas; jogos de encaixe; miniaturas; entre ou-
experiências plásticas; visuais; sensoriais tros objetos e materiais que instigam a curio-
permeadas por um ambiente e materiais sidade e as descobertas das crianças.
intencionalmente planejados e organizados
para a expressão criativa, para a liberdade Contudo, contextos lúdicos e interati-
expressiva; compartilhamentos, trocas, as vos para as infâncias contribuem para que as
contribuições ao saber construído, valorizan- aprendizagens das crianças se ampliem na
do a imaginação criadora através de práticas educação infantil, pois essas práticas apre-
lúdicas e interativas. sentam elementos que influenciam e desa-
fiam favoravelmente o desenvolvimento em
Experiências lúdicas contribuem para uma integração de saberes vinculados a prá-
que as crianças sejam consideradas em sua tica social, ao conhecimento de si, do outro e
integralidade, reconhecendo-as como capa- de mundo.
zes de agir para transformar, o brincar fa-

160
CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A infância é a fase da experiência e do ALMEIDA, Paulo Nunes. Dinâmica lúdi-
experimento, é o período no qual cérebro da ca: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo:
criança responde prontamente aos estímu- Loyola, 2000.
los aos quais ela é exposta, logo qualificar
o percurso de experiências é fundamental. BASSEDAS, E; HUGUET, Teresa e SOLE,
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infantil, primeira etapa da educação básica educação infantil. Artes Médicas, 1999.
contribui significativamente para o desenvol- Porto Alegre.
vimento integral da criança.
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A educação infantil, por sua vez, pode Escola: Por uma infância que voa. Cachoeira
consistir na primeira experiência de alterida- Paulista, SP: Editora Passarinho, 2018.
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cação infantil, as crianças têm condições de BRASIL. Ministério da Educação. Secre-
conhecer, aprender, viver e ser em um am- taria de Educação Básica. Diretrizes curricula-
biente rico em possibilidades e estímulos as res nacionais para a Educação Infantil. Brasí-
potencialidades permitindo a integração de lia: MEC/SEB, 2010.
saberes em um ambiente lúdico e interativo. BRASIL. Base Nacional Comum Cur-
A brincadeira é a principal atividade ricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília:
das crianças na educação infantil, é uma for- MEC/Consed/Undime, 2017.
ma de expressão, nela emergem experiên- BRASIL. Currículo da Cidade: Educação
cias de ação com o mundo, nela acontecem Infantil. São Paulo: IMESP, SME/COPED. 2019.
descobertas e aprendizagens, o que faz da
brincadeira um ato de relação com o mundo BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da
e com os outros que se constitui como um Educação Nacional, LDB. 9394/1996.
processo sócio-histórico-cultural.
BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacio-
Na infância, brincar é preciso. E é por nais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/
meio das práticas lúdicas que as crianças des- SEB, 2010.
cobrem o mundo, se comunicam e se inse-
rem em diferentes contextos sociais. Porém, FALK, Judit. Abordagem Pikler: Educa-
favorecer a brincadeira na educação infantil ção Infantil. São Paulo: Omnisciência,2022.
não significa simplesmente, deixar que as FALK, Judit. Educar os três primeiros
crianças brinquem sem que seja feita nenhu- anos: A experiência Pikler-Loczy. São Paulo:
ma intervenção. Omnisciência,2021.
Planejar é preciso para oportunizar ás FERREIRA, Maria Manuela Martinho. A
crianças o desenvolvimento e ampliação de gente gosta é de brincar com os outros meni-
seus conhecimentos, explorando sua imagi- nos: relações sociais entre crianças num jar-
nação, criatividade, experiências emocionais, dim de infância. Porto: Afrontamento, 2004.
corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas,
sociais e relacionais. Desse modo, o fazer FREIRE, PAULO. Pedagogia da Autono-
docente é imprescindível ao tecer caminhos mia: saberes necessários à prática educativa.
para uma aprendizagem integral á partir de São Paulo: Paz e Terra, 1996.
práticas lúdicas.
FRIEDMANN, A. O direito de brincar:
Nesse percurso de aprendizagens é a brinquedoteca. 4ª ed. São Paulo: Abrinq,
preciso intencionalidade pedagógica, bem 1996.
como pensar, (re) pensar, organizar e (re) or-
ganizar os contextos lúdicos de acordo com KÁLLÓ, Éva; BALOG, Gyorgy. As ori-
os interesses, necessidades, individualida- gens do brincar livre. São Paulo: Omnisciên-
des, dificuldades e contextos aos quais as cia, 2021.
crianças estão inseridas, logo, a observação, KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org).
a escuta e as aprendizagens colaborativas fa- Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 5.
zem parte do percurso. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
Por fim, valorizar o brincar é enalte- KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brin-
cer a infância em seu sentido mais amplo, quedos e brincadeiras na educação infantil.
de modo que, tanto a participação ativa 2010. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/
das crianças, quanto suas formas de sentir; mod/resource/view.php?id=497687
descobrir; experienciar; imaginar; criar e ex-
pressar-se sejam valorizadas tendo em vis- PIORSKI, Gandhy. Brinquedos no chão:
ta a ampliação das capacidades inventivas; a natureza, o imaginário e o brincar. São Pau-
expressivas e criativas, contribuindo para o lo: Peirópolis, 2016.
desenvolvimento global e qualificando o per-
curso de aprendizagens das crianças na edu- POST, Jacalyn; HOHMANN, Mary. Edu-
cação infantil cação de bebês em infantários. Lisboa: Fun-
dação Calouste Gulbenkian, 2011.

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162
REGISTRO DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA NA TEORIA DE RAYMOND DUVAL E MORETTI:
IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA
ED CARLOS OLIVEIRA MOTA

Resumo of mathematics in students' daily lives.


Este artigo investiga a aplicação do re- Keywords: Semiotic representation
gistro de representação semiótica na teoria de framework, Raymond Duval, Moretti, mathe-
Raymond Duval e Moretti no contexto do en- matics education, meaningful learning.
sino de matemática. Exploramos as perspec-
tivas de ambos os teóricos sobre a natureza
das representações semióticas e discutimos 1. Introdução
como esses conceitos podem enriquecer a
prática pedagógica em matemática. Utilizan- Diversos estudiosos concordam que
do exemplos e análises detalhadas, destaca- as representações visuais são cruciais para
mos a importância do registro de representa- a transmissão eficaz de informações, espe-
ção semiótica para promover a compreensão cialmente em ambientes de aprendizagem
conceitual e a aprendizagem matemática sig- (Smith, 2012). Representações visuais, como
nificativa. Ao abordar a teoria de Duval, que gráficos e diagramas, podem simplificar con-
explora a conexão entre diferentes registros ceitos abstratos, facilitando a compreensão
semióticos, e a perspectiva de Moretti, que de tópicos complexos. A comunicação é uma
expande o conceito para incluir representa- dimensão essencial do processo educacional,
ções do mundo físico, demonstramos como a e a compreensão profunda das representa-
incorporação desses enfoques pode aprimo- ções semióticas desempenha um papel cru-
rar a experiência de ensino e aprendizagem cial no ensino e na aprendizagem de mate-
de matemática. Nossa análise revela que a mática. Neste artigo, exploramos a aplicação
abordagem de Duval e Moretti proporciona do registro de representação semiótica na
uma base sólida para melhorar o ensino de teoria de Raymond Duval e Moretti, com foco
matemática, conectando conceitos abstratos nas implicações significativas para aprimorar
a representações do mundo real. Isso não a prática pedagógica no contexto matemáti-
apenas promove a compreensão conceitual, co.
mas também destaca a relevância da mate- A teoria de Duval propõe uma aborda-
mática na vida cotidiana dos alunos. gem inovadora ao registro de representação
Palavras-chave: Registro de represen- semiótica, destacando a importância de ex-
tação semiótica; Raymond Duval; Moretti; en- plorar múltiplas formas de representações,
sino de matemática; aprendizagem significa- como símbolos, gráficos e linguagem, para
tiva. aprofundar a compreensão conceitual. Ao in-
troduzir o conceito de "cognição do campo",
Duval enfatiza a conexão entre diferentes re-
Abstract gistros semióticos, proporcionando aos estu-
dantes ferramentas para transitar fluidamen-
This article investigates the application te entre diferentes formas de representações
of the semiotic representation framework wi- matemáticas. Além disso, a perspectiva de
thin the theories of Raymond Duval and Mo- Moretti amplia ainda mais o escopo do regis-
retti in the context of mathematics education. tro de representação semiótica, incluindo a
We explore the perspectives of both theorists dimensão semiótica do ambiente físico como
on the nature of semiotic representations fonte de enriquecimento conceitual.
and discuss how these concepts can enrich
pedagogical practices in mathematics. Throu- No cenário educacional atual, onde
gh examples and detailed analyses, we highli- a busca pela aprendizagem significativa é
ght the significance of the semiotic represen- primordial, compreender como as teorias
tation framework in promoting conceptual de Duval e Moretti podem ser aplicadas ao
understanding and meaningful mathematical ensino de matemática oferece uma oportu-
learning. By addressing Duval's theory, which nidade empolgante para ampliar o alcance
examines the connection between different da aprendizagem matemática. Nossa análise
semiotic registers, and Moretti's perspective, examina como a interação dinâmica entre di-
which extends the concept to include repre- ferentes registros semióticos e a incorpora-
sentations from the physical world, we de- ção de elementos do ambiente físico podem
monstrate how incorporating these approa- promover uma compreensão mais profunda
ches can enhance the teaching and learning dos conceitos matemáticos, ao mesmo tem-
experience in mathematics. Our analysis re- po em que despertam o interesse dos alunos
veals that Duval's and Moretti's approaches e tornam a matemática mais relevante para
provide a strong foundation for improving suas vidas.
mathematics education by connecting abs- No decorrer deste artigo, abordare-
tract concepts to real-world representations. mos detalhadamente as perspectivas de Du-
This not only promotes conceptual unders- val e Moretti sobre o registro de representa-
tanding but also underscores the relevance ção semiótica, exploraremos sua aplicação

163
no contexto do ensino de matemática e anali- res. Ao investigar essas abordagens, espera-
saremos os benefícios que essas abordagens mos fornecer insights valiosos que auxiliem
podem trazer para a prática pedagógica. Ao na construção de uma educação matemática
fazê-lo, esperamos fornecer insights valiosos mais envolvente, significativa e eficaz.
para educadores e pesquisadores interessa-
dos em aprimorar a experiência de ensino e
aprendizagem de matemática, criando am- 2. Desenvolvimento
bientes que estimulem a compreensão con-
ceitual profunda e a conexão com o mundo O desenvolvimento do artigo científi-
real. co sobre o tema "Registro de Representação
Semiótica relacionada à teoria de Raymond
A comunicação é uma dimensão in- Duval e Moretti no ensino de matemática"
trínseca à experiência humana e assume um abrange uma ampla gama de aspectos e im-
papel fundamental na disseminação e cons- plicações fundamentais para a educação ma-
trução do conhecimento. No contexto educa- temática. Durante essa seção, foram explora-
cional, a habilidade de transmitir e assimilar dos tópicos cruciais relacionados à aplicação
informações de maneira eficaz é uma pedra das estruturas de representação semiótica
angular do processo de ensino e aprendiza- de Duval e Moretti, incluindo sua relevância
gem. Nesse sentido, o conceito de registro na promoção da compreensão matemática,
de representação semiótica emerge como o estímulo ao pensamento crítico, a conexão
um elemento essencial para decodificar e co- com o mundo real e a integração da tecnolo-
municar significados complexos. Este artigo gia educacional.
se propõe a investigar a aplicação desse con-
ceito enriquecedor nas teorias de Raymond Um aspecto notável do desenvol-
Duval e Moretti, explorando suas implicações vimento é a ênfase na transformação da
na promoção de um ensino mais efetivo e abordagem educacional. A aplicação dessas
significativo da matemática. estruturas não se limita a uma simples trans-
ferência de conhecimento, mas envolve uma
A teoria de Raymond Duval oferece mudança fundamental na forma como os
uma abordagem abrangente para compre- educadores abordam o ensino da matemáti-
ender como diferentes registros semióticos, ca. Eles são desafiados a se tornarem facilita-
como linguagem, símbolos e gráficos, intera- dores do aprendizado, orientando os alunos
gem para construir significado. Seu conceito a se tornarem exploradores ativos e indepen-
de "cognição do campo" sugere que esses dentes de conceitos matemáticos. Essa abor-
registros estão intrinsecamente conectados dagem é crucial para o desenvolvimento do
em uma rede cognitiva que permite aos alu- pensamento crítico e da autonomia do aluno.
nos trânsitos fluidos entre diferentes formas
de representações. Paralelamente, a visão de Além disso, o desenvolvimento des-
Moretti expande o registro de representação taca a importância da pesquisa contínua e
semiótica ao incorporar a dimensão do mun- da colaboração entre educadores, pesqui-
do físico como um reservatório de represen- sadores e especialistas em tecnologia. Essa
tações. Moretti argumenta que os objetos e colaboração é essencial para a evolução da
contextos cotidianos podem se tornar recur- educação matemática e para o desenvolvi-
sos valiosos para enriquecer a compreensão mento de recursos educacionais inovadores
de conceitos matemáticos. que aproveitem ao máximo o potencial das
estruturas de representação semiótica.
Em um contexto educacional cada vez
mais voltado para a aprendizagem significa- No geral, o desenvolvimento forne-
tiva, a aplicação das perspectivas de Duval ce uma visão abrangente das implicações e
e Moretti no ensino de matemática oferece oportunidades que surgem da aplicação das
uma oportunidade enriquecedora. Ao explo- estruturas de representação semiótica no
rar a interação entre registros semióticos di- ensino de matemática. Ele ressalta não ape-
versos e ao incorporar elementos tangíveis nas os benefícios cognitivos, mas também as
do mundo real, os educadores podem culti- implicações pedagógicas e culturais dessa
var ambientes de aprendizagem que fomen- abordagem, destacando seu potencial para
tam uma compreensão profunda e conectam preparar os alunos para enfrentar os desa-
conceitos abstratos com situações concretas. fios do mundo contemporâneo de maneira
A interdisciplinaridade dessas teorias tam- informada e habilidosa.
bém permite explorar novos horizontes na
maneira como a matemática é ensinada e
compreendida. 2.1 O Papel dos Registros Semióti-
Nos próximos segmentos deste artigo, cos no Desenvolvimento Conceitual
examinaremos em detalhes as perspectivas Tanto as estruturas de representação
teóricas de Duval e Moretti em relação ao semiótica de Duval quanto de Moretti desta-
registro de representação semiótica. Além cam o papel fundamental dos registros semi-
disso, exploraremos como esses conceitos óticos no estímulo ao desenvolvimento con-
podem ser aplicados no contexto específico ceitual na matemática. A ênfase de Duval em
do ensino de matemática, destacando os be- navegar entre diferentes registros incentiva
nefícios potenciais para alunos e educado- os alunos a se envolverem profundamente

164
com as ideias matemáticas e a discernirem dores podem dissipar a ideia de que a ma-
relações que podem não ser imediatamente temática é uma disciplina rígida e esotérica.
evidentes dentro de uma única representa- Em vez disso, os alunos podem desenvolver
ção. Esse processo de tradução e transpo- uma mentalidade de crescimento que abraça
sição aprimora a flexibilidade cognitiva dos desafios e encara erros como oportunidades
alunos e cultiva uma compreensão robusta de aprendizado, espelhando a natureza dinâ-
de conceitos matemáticos que transcende as mica do engajamento semiótico.
fronteiras de representações simbólicas ou
visuais específicos. Além disso, a incorporação do mundo
físico por Moretti enfatiza a interconexão da
A extensão do framework semiótico matemática com a vida cotidiana. Isso pode
de Moretti para o mundo físico adiciona uma capacitar os alunos a reconhecerem à ubi-
camada intrigante a esse processo de desen- quidade dos conceitos matemáticos e seu
volvimento. Ao reconhecer o potencial se- potencial para a resolução de problemas em
miótico de objetos e cenários cotidianos, os diversos contextos. Ao promover um senso
educadores podem despertar curiosidade e de agência e autoeficácia na matemática, os
exploração, permitindo que os alunos vejam educadores capacitam os alunos com a con-
a matemática como uma disciplina dinâmica fiança necessária para enfrentar desafios
e relevante. A integração de representações matemáticos dentro e fora da sala de aula.
do mundo real na jornada de aprendizado
incentiva os alunos a abordarem problemas
matemáticos de ângulos diversos, promoven- 2.3 Promovendo o Pensamento Crí-
do um senso de criatividade e adaptabilidade tico e a Resolução de Problemas
que é inestimável em um cenário educacio-
nal em constante evolução. 2.2 Estratégias A integração das estruturas de repre-
Pedagógicas para o Engajamento Semiótico sentação semiótica também desempenha
um papel fundamental na promoção do pen-
A implementação das estruturas de samento crítico e da resolução de problemas
Duval e Moretti na educação matemática re- entre os estudantes. Ao apresentar proble-
quer uma integração cuidadosa de estraté- mas matemáticos em diferentes registros,
gias pedagógicas que facilitem o engajamen- os educadores desafiam os alunos a analisar
to semiótico. Os educadores podem adotar e interpretar informações de maneira mais
uma abordagem multimodal, aproveitando abrangente. Isso incentiva a construção de
recursos visuais, explicações verbais e obje- habilidades analíticas que são cruciais não
tos físicos para atender a diferentes estilos apenas na matemática, mas também na vida
de aprendizagem e melhorar a acessibilidade cotidiana e em várias disciplinas acadêmicas.
de conceitos matemáticos. Ao incentivar os
alunos a traduzirem entre diferentes regis- A abordagem proposta por Duval es-
tros, os educadores os capacitam a desenvol- timula os alunos a visualizarem problemas
ver um conjunto mental mais abrangente e matemáticos a partir de múltiplas perspecti-
flexível para a resolução de problemas. vas, desencadeando a criatividade e a capaci-
dade de abordar desafios sob diferentes ân-
Além disso, a incorporação de cenários gulos. A perspectiva de Moretti, por sua vez,
do mundo real, como proposto por Moretti, enfatiza a relevância do mundo físico como
convida os educadores a criar experiências fonte de exemplos concretos e problemas
de aprendizado autênticas que unam a teo- autênticos que podem ser explorados ma-
ria à prática. Por exemplo, ao ensinar estatís- tematicamente. Ao incorporar exemplos do
ticas, os educadores poderiam analisar con- cotidiano, os educadores cultivam uma men-
juntos de dados derivados de eventos atuais talidade investigativa nos alunos, incentivan-
ou dos interesses dos alunos, demonstran- do-os a identificar questões matemáticas em
do como os princípios estatísticos estão em seu ambiente e buscar soluções inovadoras.
jogo no mundo real. Ao ancorar os conceitos
matemáticos em contextos relacionáveis, os
educadores não apenas aprimoram a com- 2.4 Fomentando a Colaboração e a
preensão dos alunos, mas também cultivam Comunicação
um senso de alfabetização matemática que
se estende além da sala de aula. A aplicação das estruturas de repre-
sentação semiótica de Duval e Moretti tam-
bém abre oportunidades para o desenvolvi-
2.2 Cultivando Disposições e Menta- mento de habilidades colaborativas e
lidades Matemáticas de comunicação entre os alunos. Ao
Um aspecto muitas vezes negligencia- interagir com diferentes registros e contextos
do, mas crucial, da educação matemática é o do mundo real, os alunos são incentivados a
cultivo de disposições e mentalidades mate- trocar ideias, debater abordagens e compar-
máticas. As estruturas de Duval e Moretti têm tilhar suas interpretações. Esse ambiente in-
o potencial de impactar significativamente as terativo fomenta a colaboração, uma vez que
atitudes dos alunos em relação à matemática. os estudantes podem oferecer perspectivas
Ao demonstrar a diversidade e a relevância únicas e trabalhar juntos para compreender
das representações matemáticas, os educa- e resolver problemas complexos.

165
A interconexão entre diferentes re- valorizados e capacitados a contribuir com
gistros também serve como uma base para suas próprias experiências e conhecimentos
a comunicação eficaz. Os alunos aprendem para a compreensão coletiva da matemática.
a traduzir conceitos matemáticos de uma re-
presentação para outra e a comunicar suas
ideias de forma clara e coerente. Além disso, 3. Desafios e Considerações
a incorporação de exemplos do mundo físico
fortalece a capacidade dos alunos de expli- Apesar dos inúmeros benefícios ofe-
car e justificar suas abordagens matemáticas recidos pelas estruturas de representação
usando situações do dia a dia como referên- semiótica de Duval e Moretti, sua implemen-
cia. tação requer reflexão e consideração cuida-
dosa. Os educadores podem enfrentar desa-
fios ao equilibrar a diversidade de registros e
2.5 Preparando para um Futuro ao selecionar representações que se alinhem
Complexo com os objetivos de aprendizado. Além disso,
é importante garantir que a abordagem não
Em um mundo em constante evolu- sobrecarregue os alunos, mas sim os inspire
ção, em que a habilidade de resolver proble- a desenvolver habilidades de transposição e
mas complexos é uma competência cada vez tradução entre diferentes registros.
mais valorizada, a aplicação das estruturas
de representação semiótica de Duval e Mo- Outro aspecto a ser considerado é a
retti oferece uma abordagem visionária para necessidade de formação profissional contí-
a educação matemática. Ao estimular a ex- nua para educadores, para que possam efe-
ploração de registros diversos e a conexão tivamente integrar essas estruturas em suas
com o mundo real, os educadores estão pre- práticas pedagógicas. A adaptação das estra-
parando os alunos para enfrentar desafios tégias pedagógicas e a exploração de novas
complexos com confiança e criatividade. abordagens podem exigir tempo e esforço,
mas os resultados promissores em termos de
Essas estruturas não apenas fortale- aprendizado significativo e engajamento dos
cem as habilidades matemáticas dos alunos, alunos podem justificar esses investimentos.
mas também cultivam uma mentalidade
adaptável e uma apreciação pelo poder da
matemática em moldar nossa compreensão 3.1 Explorando o Potencial Tecnoló-
do mundo. Ao empoderar os alunos a trans- gico
cender as barreiras das representações tra-
dicionais, as estruturas de Duval e Moretti A integração das estruturas de repre-
enriquecem a experiência educacional, capa- sentação semiótica de Duval e Moretti tam-
citando os estudantes a se tornarem pensa- bém pode ser ampliada e enriquecida por
dores críticos, solucionadores de problemas meio do uso estratégico da tecnologia edu-
inovadores e cidadãos informados em um cacional. Ferramentas digitais, como simu-
cenário global complexo. lações interativas, visualizações dinâmicas
e aplicativos educacionais, podem facilitar a
apresentação de conceitos complexos por
2.6 Incorporando a Diversidade Cul- meio de múltiplos registros semióticos. Isso
tural e a Contextualização oferece aos alunos a oportunidade de explo-
rar, manipular e interagir com representa-
Além dos benefícios mencionados an- ções matemáticas de maneiras que podem
teriormente, a aplicação das estruturas de ser mais desafiadoras ou impossíveis de re-
representação semiótica de Duval e Moretti alizar em um ambiente tradicional de sala de
pode contribuir para uma abordagem mais aula.
inclusiva e culturalmente sensível na educa-
ção matemática. A diversidade de registros A tecnologia também permite uma
semióticos e a conexão com o mundo real maior personalização da aprendizagem,
permitem que os educadores incorporem adaptando-se às preferências individuais dos
exemplos e contextos culturalmente relevan- alunos e permitindo que eles escolham as re-
tes em sua instrução. Isso não apenas torna presentações que melhor atendam às suas
o conteúdo mais acessível e envolvente para necessidades de aprendizado. Além disso, a
uma variedade de alunos, mas também aju- tecnologia oferece a possibilidade de conec-
da a desmistificar a ideia de que a matemáti- tar os conceitos matemáticos com exemplos
ca é uma disciplina distante da vida cotidiana do mundo real de maneiras inovadoras, utili-
ou de diferentes contextos culturais. zando dados do mundo real, simulações vir-
tuais e ambientes de aprendizado imersivos.
Ao explorar a matemática por meio de
diferentes representações e relacioná-la a si-
tuações do mundo real, os educadores têm a 3.2 Promovendo a Pesquisa e a Ino-
oportunidade de celebrar a riqueza da diver- vação em Educação Matemática
sidade cultural e das perspectivas individuais
dos alunos. Isso cria um ambiente de apren- A aplicação das estruturas de repre-
dizado inclusivo, onde os alunos se sentem sentação semiótica de Duval e Moretti tam-

166
bém abre novas perspectivas para a pesqui- ativos de conceitos matemáticos em uma va-
sa e a inovação em educação matemática. riedade de contextos.
Educadores e pesquisadores podem explorar
como essas estruturas impactam o desenvol- A implementação bem-sucedida das
vimento cognitivo dos alunos, a eficácia das estruturas de Duval e Moretti exige dedica-
estratégias pedagógicas e a aplicação prática ção, colaboração e um compromisso contí-
dos conceitos matemáticos em diversos con- nuo com a melhoria. À medida que os edu-
textos. A coleta de dados empíricos e a aná- cadores adotam essas estruturas em suas
lise dos resultados podem fornecer insights práticas pedagógicas, eles estão contribuin-
valiosos para aprimorar ainda mais a imple- do para uma abordagem mais abrangente
mentação dessas abordagens. e envolvente na educação matemática. Essa
abordagem não apenas prepara os alunos
Além disso, a colaboração entre edu- para enfrentar desafios matemáticos, mas
cadores, pesquisadores e especialistas em também os equipas com habilidades transfe-
tecnologia pode levar ao desenvolvimento de ríveis que são essenciais para o sucesso em
novas ferramentas e recursos educacionais um mundo em constante mudança.
que maximizem o potencial das estruturas
de representação semiótica. A criação de am-
bientes virtuais de aprendizado, jogos educa- 3.5 Desafios Futuros e Oportunida-
cionais interativos e plataformas de ensino des
online pode revolucionar a maneira como
os alunos aprendem matemática, proporcio- À medida que avançamos para o futu-
nando experiências de aprendizado envol- ro, a aplicação das estruturas de representa-
ventes e personalizadas. ção semiótica de Duval e Moretti enfrentará
desafios e oportunidades únicas. A evolução
da tecnologia, por exemplo, continuará a de-
3.3 A Importância da Avaliação e Re- sempenhar um papel crucial na educação
flexão matemática, possibilitando abordagens ain-
da mais interativas e personalizadas. No en-
A implementação das estruturas de tanto, é essencial manter um equilíbrio entre
representação semiótica de Duval e Moret- o uso da tecnologia e a manutenção do foco
ti também requer uma abordagem refle- na compreensão conceitual e na conexão
xiva e cuidadosa em relação à avaliação do com o mundo real.
aprendizado dos alunos. Tradicionalmente,
a avaliação matemática frequentemente se Além disso, a adaptação das estrutu-
concentra em avaliar a proficiência na mani- ras de representação semiótica para diferen-
pulação de símbolos e na resolução de pro- tes contextos educacionais e culturais é uma
blemas específicos. No entanto, as estruturas consideração importante. À medida que as
de representação semiótica incentivam uma salas de aula se tornam mais diversificadas,
compreensão mais profunda dos conceitos, os educadores precisam encontrar maneiras
o que exige uma abordagem mais holística e de incorporar exemplos e situações que res-
autêntica na avaliação. soem com a variedade de experiências dos
alunos, promovendo uma compreensão in-
A avaliação pode envolver a análise do clusiva e culturalmente sensível da matemá-
processo de tradução e transposição entre tica.
diferentes registros, a capacidade dos alunos
de conectar conceitos abstratos a situações
do mundo real e a habilidade de comunicar e 3.6 Colaboração e Pesquisa Contí-
justificar suas soluções matemáticas de ma- nua
neira clara e coerente. Além disso, a reflexão
sobre a aplicação dessas estruturas na sala A colaboração entre educadores, pes-
de aula é crucial para ajustar abordagens pe- quisadores, especialistas em tecnologia e
dagógicas e melhorar continuamente a expe- formuladores de políticas será funda-
riência de aprendizado dos alunos. mental para explorar e maximizar o potencial
das estruturas de representação semiótica.
A pesquisa contínua permitirá a coleta de
3.4 O Caminho para uma Educação evidências sobre os impactos dessas abor-
Matemática Transformadora dagens no aprendizado dos alunos e nas
Ao explorar as estruturas de represen- práticas pedagógicas. Esse conhecimento in-
tação semiótica de Raymond Duval e Moretti, formado ajudará a ajustar e aprimorar as es-
os educadores têm a oportunidade de abra- tratégias de ensino, além de contribuir para a
çar uma educação matemática transforma- evolução da educação matemática como um
dora que promove uma compreensão mais todo.
profunda, uma mentalidade flexível e uma A troca de melhores práticas, o de-
conexão autêntica com o mundo real. Essas senvolvimento de recursos educacionais ino-
estruturas convidam os educadores a se tor- vadores e a disseminação de resultados de
narem facilitadores de aprendizado, capaci- pesquisa são aspectos cruciais dessa colabo-
tando os alunos a se tornarem exploradores ração. Ao reunir diferentes perspectivas e ex-

167
pertise, os educadores podem enfrentar os matemática em todo o mundo, transcenden-
desafios e capitalizar as oportunidades que do fronteiras geográficas e culturais. Ao pro-
a aplicação das estruturas de representação mover uma compreensão mais profunda e
semiótica oferece. significativa da matemática, as estruturas de
Duval e Moretti contribuem para a formação
de cidadãos globais informados e capacita-
3.7 Visão de Longo Prazo dos.
Em última análise, a aplicação das es- Além disso, a ênfase na conexão en-
truturas de representação semiótica na edu- tre conceitos matemáticos e situações do
cação matemática se alinha com uma visão mundo real é especialmente relevante em
de longo prazo para a formação de indivíduos um mundo cada vez mais interconectado.
que sejam proficientes em matemática, mas Ao preparar os alunos para aplicar conceitos
também sejam pensadores críticos, comuni- matemáticos em contextos do mundo real,
cadores habilidosos e solucionadores de pro- os educadores estão equipando-os para en-
blemas criativos. Essa visão transcende os frentar os desafios globais, como questões
limites da sala de aula e prepara os alunos ambientais, econômicas e sociais, que exi-
para uma participação significativa em uma gem uma abordagem matematicamente in-
sociedade global cada vez mais complexa. formada e criativa.
A adoção contínua dessas estruturas
e a dedicação à evolução da educação mate- 4 Conclusão
mática são essenciais para concretizar essa
visão. Ao nutrir uma compreensão profunda A aplicação das estruturas de repre-
e conectada da matemática, os educadores sentação semiótica de Raymond Duval e
estão capacitando os alunos a se tornarem
cidadãos informados e capacitados, prontos Moretti na educação matemática
para enfrentar os desafios e abraçar as opor- oferece uma abordagem inovadora e trans-
tunidades do mundo em constante transfor- formadora para promover a compreensão
mação. profunda, o pensamento crítico e a conexão
autêntica com a matemática. Ao explorar
registros semióticos diversos, conectar con-
ceitos à vida cotidiana, incorporar tecnologia
3.8 Transformando a Abordagem Edu- educacional e cultivar a autonomia do aluno,
cacional os educadores têm a oportunidade de mol-
A adoção das estruturas de represen- dar uma experiência educacional enriquece-
tação semiótica de Duval e Moretti implica dora e significativa.
uma transformação na abordagem educa- Essas estruturas vão além do ensi-
cional em relação ao ensino da matemática. no tradicional, desafiando os educadores a
Não se trata apenas de transmitir conheci- se tornarem facilitadores de aprendizado e
mento matemático, mas de criar um ambien- orientando os alunos a se tornarem explora-
te de aprendizado que inspire a curiosidade, dores ativos e pensadores críticos. A ênfase
a exploração e a compreensão profunda. Os na interação entre diferentes registros e a
educadores desempenham o papel de guias, aplicação prática dos conceitos matemáticos
facilitadores e mentores, encorajando os alu- capacitam os alunos a se tornarem cidadãos
nos a explorarem ativamente conceitos ma- informados e preparados para enfrentar os
temáticos por meio de diversas representa- desafios complexos do mundo contemporâ-
ções e contextos. neo.
Essa abordagem também incentiva a A implementação bem-sucedida das
independência e a autonomia dos alunos. Ao estruturas de representação semiótica re-
permitir que os alunos escolham e explorem quer dedicação, colaboração e um compro-
diferentes registros e interpretem conceitos misso contínuo com a melhoria. A pesquisa
por meio de suas próprias lentes, os edu- educacional, a troca de melhores práticas e
cadores capacitam os alunos a se tornarem a exploração de novas abordagens pedagó-
aprendizes autônomos e autodirigidos. Isso gicas são fundamentais para maximizar o
não apenas promove um engajamento mais potencial dessas estruturas e promover uma
profundo, mas também prepara os alunos educação matemática relevante e impactan-
para enfrentar desafios complexos e desco- te.
nhecidos ao longo de suas vidas.
À medida que educadores, pesquisa-
dores e formuladores de políticas continuam
3.9 Contribuições para a Educação a explorar maneiras de aprimorar a educação
Global matemática, as estruturas de representação
semiótica oferecem uma visão emocionan-
A aplicação das estruturas de repre- te para o futuro. Ao capacitarem os alunos
sentação semiótica não se limita a um contex- a explorarem a matemática de maneiras en-
to educacional específico. Essas abordagens volventes e significativas, essas estruturas
têm o potencial de enriquecer a educação estão moldando uma geração de aprendizes

168
que estão prontos para enfrentar os desafios
e abraçar as oportunidades de um mundo
cada vez mais complexo e interconectado.

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ger.

169
AS TÉCNICAS E MÉTODOS DE ENSINO DA MATEMÁTICA
EDNA DOS SANTOS GALANTE

RESUMO KEYWORDS: Math. Logical reasoning.


Calculation. Mathematical Nature.
Questiona-se se a matemática teria
surgido do lazer de uma classe de sacerdo-
tes ou de rituais religiosos, ou ainda, foi um
acontecimento? E quando as contas e alga- INTRODUÇÃO
rismos eram maiores? Quando além de uni- A escolha do tema as técnicas e méto-
dades, se tinham dezenas ou centenas? Esta dos de ensino e aprendizagem na disciplina
é uma das tais necessidades para a história de matemática aconteceu pelo interesse na
da matemática. Objetiva-se realizar um es- matemática ser tão antigo quanto à própria
tudo sobre a matemática e seus métodos e humanidade, assim, estudar sua história pos-
técnicas de ensino. Desta forma, serão apre- sibilita a observação das diferenças culturais
sentadas as origens dos conceitos matemáti- que caracterizam os indivíduos que se dedi-
cos, a importância do conceito matemático, caram a essa área do saber. Há muito tempo,
a visão sobre os aspectos históricos da ma- não se sabe ao certo quanto, o homem satis-
temática, e a aprendizagem face à natureza fazia a falta que a origem dos números e da
da matemática. Pretende-se mostrar ainda matemática causava, com demonstrações e
as dificuldades no ensino da matemática e as objetos como: pedras, gravetos e ilustrações.
formas de ensino na matemática, o que nos
possibilita apontar os motivos que elevam a Justifica-se que a matemática e a lógi-
importância da matemática transformando ca, se tornaram peças-chaves para explica-
assim à mesma em uma linguagem única e ções objetivas e exatas, funcionando como
universalmente conhecida. A metodologia uma linguagem para muitas ciências, como a
utilizada na pesquisa está centrada na revi- física e a estatística. Enfim a matemática é a
são bibliográfica em livros, artigos e teses, única linguagem de aspecto universal! Com
bem como pesquisa na internet que podem isso, esta pesquisa procura associar a mate-
ampliar nossa visão em relação à matemática mática com diversas outras disciplinas e rea-
que surgiu devido às necessidades humanas lizar uma pesquisa aprofundada de sua im-
e não por uma simples e improvável criação. portância, seu constante desenvolvimento e
progresso.
PALAVRAS-CHAVE: Matemática; Racio-
cínio Lógico; Cálculo; Natureza Matemática. Como problema questiona-se se a ma-
temática teria surgido do lazer de uma clas-
se de sacerdotes ou de rituais religiosos, ou
ABSTRACT ainda, foi um acontecimento? E quando as
contas e algarismos eram maiores? Quando
It is questioned whether mathematics além de unidades, se tinham dezenas ou cen-
would have arisen from the leisure of a class tenas? Esta é uma das tais necessidades para
of priests or from religious rituals, or was it an a história da matemática.
event? And when the beads and figures were
bigger? When in addition to units, were there Por objetivos temos de realizar um es-
tens or hundreds? This is one such need for tudo sobre a matemática e seus métodos e
the history of mathematics. The objective is to técnicas de ensino. Desta forma, serão apre-
carry out a study on mathematics and its te- sentadas as origens dos conceitos matemáti-
aching methods and techniques. In this way, cos, a importância do conceito matemático,
the origins of mathematical concepts will be a visão sobre os aspectos históricos da ma-
presented, the importance of the mathemati- temática, e a aprendizagem face à natureza
cal concept, the view on the historical aspects da matemática. Pretende-se mostrar ainda
of mathematics, and learning in the face of as dificuldades no ensino da matemática e as
the nature of mathematics. It is also intended formas de ensino na matemática, o que nos
to show the difficulties in teaching mathema- possibilita apontar os motivos que elevam a
tics and the ways of teaching mathematics, importância da matemática transformando
which allows us to point out the reasons that assim à mesma em uma linguagem única e
elevate the importance of mathematics, thus universalmente conhecida.
transforming it into a unique and universally A metodologia utilizada na pesquisa
known language. The methodology used in está centrada na revisão bibliográfica em li-
the research is centered on the bibliographic vros, artigos e teses, bem como pesquisa na
review in books, articles and theses, as well as internet que podem ampliar nossa visão em
internets research that can expand our vision relação à matemática que surgiu devido às
in relation to the mathematics that emerged necessidades humanas e não por uma sim-
due to human needs and not for a simple and ples e improvável criação.
improbable creation.

170
AS ORIGENS DOS CONCEITOS MATE- parações entre os conceitos e processos
MÁTICOS matemáticos do passado e do presente, o
professor cria condições para que o aluno
A matemática é conhecida como a ci- desenvolva atitudes e valores mais favoráveis
ência que estuda o raciocínio e a lógica, deri- diante desse conhecimento (BRASIL, 1998, p.
vado do grego , significando ciência, conheci- 42).
mento e aprendizagem. “A matéria é baseada
em cálculos e relações cotidianas que envol- O conhecimento da história da Mate-
vem: quantidades, medidas, espaços, estru- mática associado ao conhecimento dos obs-
turas e variações” (COURANT & ROBBINS, táculos enfrentados pelo homem, pode con-
2012, p. 7). tribuir para uma melhor compreensão desta
disciplina com ampla aversão, pois se pode
Contar terá sido a primeira atividade dizer que todas as ações hoje existentes são
matemática da humanidade. À medida que o condicionadas por números, pelas medidas e
homem evoluiu, a matemática foi sendo ne- suas relações. Como por exemplo: a máqui-
cessária. na que faz nossas meias, aquela que, antes
Em todas as sociedades e culturas a dela, produziu o material com que se fabri-
matemática é evidente. As necessidades às cam, são o resultado de cálculos matemáti-
quais responde são materiais e intelectuais cos precisos.
e, à medida que elas mudam, também muda O mesmo se pode dizer da cadeira
a matemática que as serve; assim, a matemá- ou da mesa, do copo em que bebemos ou
tica é um corpo de conhecimentos que está da garrafa que contém líquido, ou até o me-
constantemente em desenvolvimento em dicamento que tomamos. As funções mais
resposta às condições sociais (SWETZ, 2005, rotineiras de nossa vida têm sido realizadas
p. 21). por computadores: desde uma conta, até o
Alguns estudiosos e cientistas, como controle de nosso dinheiro no banco, nosso
Swtetz (2005), Baroni e Nobre (2006) e os de- pagamento de salário, e muitas outras ativi-
mais que serão mencionados ao decorrer da dades são controladas por máquinas que são
pesquisa, defendem a tese de que a mate- por sua vez, apoiadas na matemática.
mática teria surgido através de necessidades Não há nada que não esteja de qual-
humanas, como a demarcação de áreas, o le- quer modo associado, ainda que de forma
vantamento de seu rebanho, partindo para a não evidente, aos números e ao seu conhe-
valorização de objetos. cimento, e tendo esta teoria e outras teorias
A matemática teria então surgido do de origens e surgimentos, apresentada em
lazer de uma classe de sacerdotes ou de ritu- sala de aula, afirmam estudiosos como Bra-
ais religiosos, ou ainda, foi um acontecimen- sil (1998), que melhorar o comportamento e
to? Esta questão vem sendo contraditória, e interesse do aluno sobre o tema e matéria,
muitas vezes não esclarecida, em alguns dos apresentados. Dessa forma vem a importân-
livros que serão citados ao longo da pesqui- cia do conhecimento matemático.
sa. O fato é que a matemática está presen-
te em nosso dia a dia de tal forma que não
podemos, não devemos e, certamente, não A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO
conseguimos nos distanciar dela. Afinal não MATEMÁTICO
há nada que diretamente ou indiretamente
não se derive dos números. Conforme D’Ambrosio (2012, p. 9)
“não negamos que a matemática tem sua im-
Os conhecimentos até aqui apresenta- portância, mas desde que seja devidamente
dos, permitem compreender como se deu à contextualizada” a partir deste raciocínio pas-
origem dos conceitos matemáticos, e o por- samos a identificar a importância dos conhe-
quê aprenderem determinado conteúdo. cimentos matemáticos.
Dentre tantos porquês e respostas, uma si-
tuação destaca-se na importância de estudar Saber matemática é indispensável,
a história da matemática, o estudo de uma além de conhecer as suas definições e saber
origem leva o aluno a se motivar mais, a ter utilizá-las adequadamente, por ser a única ci-
mais prazer, pois o que se estuda não surgiu ência que se encaixa e ao mesmo tempo con-
do nada, mas é fruto de um processo que su- tribui para todas as áreas do conhecimento.
priu a necessidade do homem antigo e bene- Podendo ser observada em tudo, ou seja:
ficia até hoje por meio da tecnologia. coisas que tocamos e vemos, nas arquitetu-
ras, nas ferramentas, nos simples cálculos de
Afirmar de fato sobre as origens da soma e subtração. Devido a essa afirmação e
matemática é um processo minucioso, pois a partir de nossas pesquisas, podemos con-
as noções primitivas aparecem antes da es- cluir que, sem a existência dela, tudo que co-
crita, o que se pode afirmar ao certo, segun- nhecemos simplesmente não existiria.
do os parâmetros curriculares é que:
Um dos principais fatores para se
Ao mostrar necessidades e preocu- aprender realmente matemática é que é o
pações de diferentes culturas, em diferentes melhor modo conhecido de racionalizar a
momentos históricos, ao estabelecer com- natureza. E por meio dela, conseguimos re-

171
solver um número bem grande de problemas da sobre os aspectos históricos dela.
de diversas áreas da ciência.
Como sabemos, a parte mais simples
e conhecida da matemática são as operações VISÃO SOBRE OS ASPECTOS HISTÓRI-
realizadas apenas com números (aritmética). COS DA MATEMÁTICA
Imagine se os números simplesmente não Esta introdução histórica trata sobre
existissem. Complicado, não? Temos que ad- o surgimento da lógica e do longo caminho
mitir estarmos cercados por números. Em percorrido pela humanidade mostrando sua
qualquer lugar que estejamos haverá a ne- importância no desenvolvimento escolar do
cessidade de quantificação. De acordo com aluno.
D’Ambrosio (2012) “uma vez que aparecem
influências do meio externo, podemos carac- Conforme o professor Gutemberg
terizá-las como manifestações”. Martins de Sales (2014, p. 3) “a matemática
é normalmente apresentada para o aluno
Muito mais que apenas manipular como algo pronto, como se sua existência re-
notações e operações aritméticas, ou lidar sultasse de algo mágico que não tivesse pas-
com álgebra e calcular áreas e volumes, mas sado por nenhum processo de elaboração”.
principalmente lidar em geral com relações e
comparações quantitativas e as formas espa- A matemática está presente na vida
ciais do mundo real, e fazer classificações e dos seres humanos e em seu desenvolvimen-
inferências. Assim, encontramos a matemá- to. A princípio, os homens desenvolveram
tica nos trabalhos artesanais, nas manifes- sua capacidade de raciocinar para auxiliar-
tações artísticas, e nas práticas comerciais e -lhes em atividades práticas, como a utiliza-
indústrias. Recuperar isso é tratar a matemá- ção das grandezas, da contagem, das medi-
tica como uma manifestação cultural. (D’AM- das, as técnicas de cálculo etc. (SALES, 2014,
BROSIO, 2012, p. 10). p. 3).
Para que possamos entender melhor Sales (2014) diz que “o raciocínio ló-
a importância do conhecimento matemática, gico foi desenvolvido pelo homem devido a
Miguel e Brito (1996) aconselham que: sua capacidade de abstrair, generalizar, pro-
jetar e transcender o que é imediato ao sen-
Pelo estudo da matemática do pas- sível indo além, da invenção da roda à criação
sado, podemos perceber como a matemá- das grandezas tecnológicas e das máquinas.
tica de hoje insere-se na produção cultural O homem foi capaz de investigar a terra, o
humana e alcançar uma compreensão mais céu, e o espaço chegando à Lua, e cada vez
significativa de seu papel, de seus conceitos mais vem se superando, cometendo inclusive
e de suas teorias, uma vez que a matemática grandes catástrofes no seu próprio meio”.
do passado, e a atual engendram-se e funda-
mentam-se mutuamente (MIGUEL e BRITO, No início o homem vivia da caça e da
1996, p. 56). coleta, competindo com os outros animais,
utilizando paus, pedras e depois o fogo. Na-
Pelas palavras de Struik (2010) “após quela época suas necessidades resumiam-se
seu surgimento, a matemática nos ajudou as noções de: mais, menos, maior, menor.
a compreender nossa herança cultural, não Mas à medida que foi se desenvolvendo criou
apenas pelas aplicações que a matemática instrumentos que se tornaram mais elabora-
tem tido, e ainda tem, à astronomia, à física dos e aprimorados com diversos tipos de ma-
e outras ciências, mas também pela relação teriais (SALES, 2014, p. 4).
que tem tido, e continua a ter, com campos
tão variados como a arte, a religião a filosofia Contudo é Boyer (2012) quem diz que
e ofícios”. “o domínio do homem sobre a natureza se
estabelece com a domesticação de plantas
Para Swetz (2005) “a matemática é vis- e animais, que o libertou da necessidade de
ta como sendo um corpo de conhecimento competir com os outros animais, e fixou-o
naturalmente desenvolvido por pessoas du- em um mesmo lugar”.
rante um período de 500 anos”. Pessoas que
cometerem erros e que estiverem muitas ve- O tempo passa e novos conhecimen-
zes desorientadas, mas, que deixaram regis- tos são incorporados por tentativas e erros:
tros destas soluções para que possamos nos conhecimento sobre a terra e fertilida-
beneficiar com eles. O ensino da matemática de, sementes, contagem de rebanho, técni-
deve reconhecer e promover estes fatos cen- cas de plantio e colheita, estabelecer épocas
trados nas pessoas. para plantação e seleção de sementes. Criou
Considerando-se assim alguns au- a cerâmica para armazenar os grãos e cozi-
tores, dentre eles o já supracitado, pode-se nhar.
constatar que a verdade é que, a matemáti- O aumento da produção, gerando
ca surgiu devido às necessidades humanas e mais do que o necessário, causando produ-
não por uma simples e improvável criação. ção excedente vai dar origem às proprieda-
Acredita-se ser fundamental verificar, des- des. Nesse sentido o desenvolvimento cami-
cobrir e conhecer como surgiram as noções nhará para a divisão de classes, a criação do
matemáticas tendo assim uma visão amplia-

172
estado, e o surgimento da escrita fonética. tornou-se um instrumento de poder, para
controle da população, pois, a mesma trata
Surge então, a necessidade de arma- das formas de argumentação, das maneiras
zenamento de produtos em grande escala e de encadear nosso raciocínio para justificar,
de sua contabilização, desenvolvendo assim, a partir de fatos básicos, nossas conclusões
muito mais matemática. (SALES, 2014, p. 8).
Com a divisão da sociedade em classes A lógica se preocupa com o que se
e a propriedade privada criaram-se as medi- pode ou não concluir a partir de certas infor-
das para regularizar posses e a cobrança de mações. “Atualmente com a tecnologia cada
impostos. As necessidades matemáticas nem vez mais avançada e com a rapidez com que
sempre conseguiam ser resolvidas com nú- as informações são manipuladas, a lógica
meros inteiros, forçando o surgimento dos está presente em nossas vidas de maneira
números fracionários (SALES, 2014, p. 5). corriqueira e muitas vezes nossas decisões
Esse surgimento é relatado por vários são tomadas levando em conta o raciocínio
autores pelo fenômeno da inundação do Rio lógico, sem percebermos” (SALES, 2014).
Nilo, que todos os anos eram necessários à Por meio destas informações, pode-
demarcação dos limites das propriedades. -se dizer existir uma grande relação entre a
Essa demarcação era feita com o auxílio de matemática e a física. Dessa forma, daremos
medidas e plantas, pelos chamados “estica- ênfase à aprendizagem em face de natureza
dores de cordas”. Nesse mesmo período a matemática.
matemática se desenvolve no Egito Antigo e
na Babilônia, do mesmo modo que, poste-
riormente, com os maias e astecas.
A APRENDIZAGEM FACE À NATUREZA
Os antigos egípcios usavam a mate- DA MATEMÁTICA
mática para questões práticas. Muitas vezes
os resultados aproximados eram adquiridos Conforme Vasconcelos (2015, p. 9) “em
através de tentativas e erros feitos durante matemática, é preciso mais do que traduzir
milênios. Sendo a história dinâmica, a huma- uma expressão para a linguagem corrente”.
nidade vai acumulando conhecimentos que Por vezes, os educandos não percebem a
se interagem entre as culturas, provocando diferença entre interpretar uma equação e
mudanças e dando origem a muitos estudos, compreender a origem de seus resultados e
entre eles a filosofia, que vai contribuir muito contentam-se quando são capazes de aplicar
para o desenvolvimento do pensamento (SA- fórmulas e definições em resposta às ques-
LES, 2014, p. 7). tões do educador.
Como Sales (2014) observa-se que Pode parecer concreto para o edu-
“todo o conhecimento adquirido até então, cador e pode ser visto como abstrato pelos
sendo na sua maioria receitas empíricas utili- educandos. Quando os educandos refletem
zadas pelos egípcios, babilônios e habitantes sobre sua própria aprendizagem e discutem
de outras regiões, foram organizadas e sepa- as razões que os levaram a uma conclusão
radas em conhecimentos que tratam de nú- aparentemente razoável, mas inválida, eles
meros, os que tratam de figuras, os que tra- aprofundam sua compreensão dos conceitos
tam de doenças, etc., surgindo às ciências”. e procedimentos matemáticos (VASCONCE-
LOS, 2015, p. 10).
Como os pensadores gregos despre-
zavam o trabalho, afinal o trabalho era consi- Da mesma maneira, os educadores,
derado indigno para homens livres e deveria ao estudarem os resultados alcançados em
ser realizado por escravos, seguiram o cami- decorrência de suas aulas, aprendem mais
nho das abstrações, aprofundando-se na ma- sobre a absorção de conhecimento dos
temática, a ciência que mais avançava, enfa- educandos e mais sobre o próprio ensino.
tizando mais a qualidade que a quantidade, Compete à escola o desenvolvimento da ca-
mais a Geometria que a Aritmética. pacidade crítica que tornará o indivíduo ver-
dadeiramente livre. Cabe ao educador fazer a
Sendo esta uma das razões que levou ligação entre a matemática que se ensina nas
a geometria a ser a primeira a receber um escolas e a matemática que se utiliza na vida.
tratamento metodológico, culminando com a
admirável síntese de Euclides – Os Elementos, Ainda hoje, a maioria dos educandos
considerada a primeira obra lógica, sendo a tem aversão à disciplina, onde grande par-
revolucionária criação de argumentação, da te destes sempre se pergunta de que serve
demonstração, da capacidade de concluir a determinados conteúdos em sua vida, acre-
partir de premissas. Em seguida, Aristóteles, ditando que não haverá utilidade alguma e
com seu organon, sintetizou a lógica como geralmente muitos deles vão mal e acabam
transposição, em palavras, do método de de- reprovando.
monstração geométrico que se iniciara com Considera-se ser o educador quem
os pré-socráticos (Tales, Pitágoras, Anaxágo- define quando, por que e como utilizar os
ras etc.). conteúdos e os recursos tecnológicos a ser-
Com o advento da lógica, a palavra viço do processo de ensino e aprendizagem.
O educador é sempre o responsável pelos

173
processos que desencadeia para promover a o interesse dos educandos, por meio da lu-
construção de conhecimentos, e nesse senti- dicidade com jogos, brincadeiras, materiais
do é insubstituível. diversos e, claro, utilizando os recursos tec-
nológicos, como as calculadoras e os compu-
A aprendizagem ao invés do ensino, tadores.
que coloca o controle do processo de apren-
dizagem não nas mãos do aprendiz, e que
auxilia o educador a entender que a educa-
ção não é somente a transferência de conhe- AS DIFICULDADES NO ENSINO DA MA-
cimento, mas um processo de construção do TEMÁTICA
conhecimento pelo educando, como produto A Matemática, como vem sendo apre-
de seu próprio engajamento (VALENTE, 1997, sentada aos alunos, como ciência pronta e
p. 40). acabada, com conteúdos desvinculados da
Atualmente, pesquisadores e educa- realidade e com programas obsoletos não
dores estudam diferentes formas de utili- motiva os alunos de um modo geral, gerando
zação da tecnologia dentro do ambiente de sérias dificuldades sob vários aspectos. As di-
aprendizagem, investigando o processo de ficuldades encontradas hoje pelos alunos na
aprender e as características da cognição aprendizagem da Matemática são atribuídas
frente ao computador, dando uma atenção aos professores, alguns dos quais, mesmo
especial a suas possibilidades de utilização sem dominar a disciplina, exigem demasia-
como ferramenta pedagógica e meio de en- damente dos alunos, sobrecarregando-os de
tender o desenvolvimento do processo de tarefas e conteúdo.
aprendizagem. Os educadores, por sua vez, atribuem
O ensino da matemática deve estar as dificuldades encontradas pelos alunos de
ligado à realidade social em que o educan- hoje à sua pouca dedicação ao estudo. Con-
do está inserido, ao seu dia a dia. Aprender tribuem ainda para essas dificuldades as con-
matemática é essencialmente aprender uma dições econômicas e sociais em que vivem as
determinada forma de pensar, que está novas gerações. A escola pública é hoje fre-
em constante evolução. É por isso que não quentada por alunos que provêm de famílias
aprendemos matemática da mesma maneira de um nível cultural e econômico menos pri-
como se fez ontem e se fará amanhã (SILVA e vilegiado e há muita heterogeneidade.
MARTINS, 2000, p. 4). O que se constata, atualmente, de um
Para Silva e Martins (2000, p. 6) “cabe modo geral, é que os alunos procuram a es-
ao educador proporcionar um ambiente cola pelo prestígio social que ela poderá pro-
que motive os educandos, de modo que não porcionar-lhes e como um possível acesso à
se crie sentimento de ansiedade e nem de melhoria econômica por meio do diploma.
medo de errar”. Os meios audiovisuais, os jo- Assim, temos na escola alunos que a cursam
gos e os materiais manipuláveis podem ser como uma obrigação, e se tornam elemen-
a resposta que desejamos encontrar. Até a tos portadores de problemas complexos seja
própria história da matemática pode ser um pela exiguidade de tempo para cumprir tare-
começo e neste contexto, o educador de ma- fas escolares, seja pela falta de amparo cultu-
temática dos nossos dias não pode cruzar os ral da família.
braços e ensinar do mesmo modo que outros Outro fato que também afeta os estu-
o fizeram ontem. dantes é o tipo de vida nas grandes cidades
É necessário que os educadores ma- que, pela diversidade de atividades de lazer
temáticos promovam uma visão da matemá- altamente atraentes acaba concorrendo com
tica como uma ciência em permanente evo- escola.
lução, que procura responder aos grandes Castro (1969) sucinta que “conside-
problemas de cálculos, mas que também cria rando todos os fatores explicitados, os quais
seus próprios problemas. Podemos mesmo podem prejudicar o tempo dedicado aos es-
dizer que o desenvolvimento desta ciência tudos, como educadores devemos repensar
alcançou um tal estado que esta se tornou nossos métodos teóricos de trabalho, tor-
uma parte crucial da cultura do homem de nando-os suficientemente motivadores, efi-
hoje e do homem de amanhã (SILVA e MAR- cientes e desafiantes”.
TINS, 2000, p. 6).
Nesse contexto, ao enfocar as dificul-
É necessário que o educador faça dades das classes menos favorecidas lança-
uma mudança em seu ensino, procurando in- mos mão das ideias de Snyders (2015), onde
centivar seu educando a resolver problemas, se postula que:
transformando a sala de aula num espaço
de agitação, incentivando a troca de ideias, Os alunos que não provêm das classes
trabalhando em grupos, valorizando o racio- nobres, permanecem poucos anos na escola,
cínio lógico do educando e não somente a acabando persuadidos de sua inferioridade
resposta correta. pessoal em relação aos alunos brilhantes;
sentem-se culpados, perdem o respeito por
Sendo assim, a matemática deve ser si próprio. E eis os pobres dispostos, por toda
ensinada de maneira divertida, despertando a sua vida, a aceitar, resignadamente, as frus-

174
trações e as chacotas (SNYDERS, 2015, p. 71). mática, conteúdos desvinculados da realida-
de e com programas obsoletos.
Ao se referir ao fracasso escolar das
classes menos favorecidas, Snyders (2015),
preconiza que:
AS FORMAS DE ENSINO NA MATEMÁ-
A escola, a partir dos fracassos esco- TICA
lares dos desfavorecidos, procura mergulhá-
-los na humilhação para que não renunciem Duas forças indissociáveis estão sem-
a uma atitude de humildade. Essa classe mais pre a impulsionar o trabalho em Matemática.
humilde chega ao ponto de aceitar, de assi- De um lado, o permanente apelo das aplica-
milar o ponto de vista dos valores dos ricos, ções às mais variadas atividades humanas,
assumir como seus os valores impostos por das mais simples da vida cotidiana às mais
seus patrões, identificando-se com o podero- complexas elaborações de outros campos do
so − o patrão − a tal ponto que perde a sua conhecimento. Do outro lado, a especulação
linguagem peculiar e original para balbuciar pura, a busca de respostas a questões gera-
desajeitadamente a linguagem da classe do- das no próprio campo da Matemática.
minante (SNYDERS, 2015, p. 71). “A Matemática caracteriza-se como
Essa perspectiva nos leva à seguinte uma forma de compreender e atuar no mun-
reflexão: estaria a escola desempenhando do e o conhecimento gerado nessa área
uma função altamente inaceitável e indese- como um fruto da construção humana na
jada, ao ajudar a promover a divisão de clas- sua interação constante com o contexto na-
ses, propiciando um ensino de qualidade tural, social e cultural” (BRASIL, 1998, p. 24).
somente para "alguns privilegiados", onde A indissociabilidade desses dois aspec-
uma maioria é mantida à margem da nossa tos fica evidente pelos inúmeros exemplos
sociedade? Se assim for, caberia ao trinômio de belas construções abstratas originadas
estado, educação e sociedade exercer digna- em problemas aplicados e, por outro lado, de
mente sua função: reverter esse cenário com surpreendentes aplicações encontradas para
vontade, força e determinação. as mais puras especulações.
Assim, torna-se adequado nesse mo- Cada vez mais a Matemática está
mento recorrermos a Carraher (2017) que presente nas diversas atividades da vida
nos traz uma contribuição efetiva quando contemporânea, daí a necessidade de se
postula que: proporcionar aos jovens um conhecimento
O processo de explicação do fracasso matemático capaz de inserí-los no mundo do
escolar tem sido uma busca de culpados: o trabalho como cidadãos conscientes.
aluno, que não tem capacidade; o professor, As transformações ocorridas no mun-
que é mal preparado, que é mal remunera- do contemporâneo fizeram com que a Edu-
do; as Secretarias de Educação que não re- cação Matemática fosse se adequando a
muneram eficientemente seus professores; uma nova realidade. No Brasil e no mundo
as universidades, que não formam bem o alguns movimentos reorientaram o ensino
professor, o estudante universitário, que não de Matemática na tentativa de melhorar sua
aprendeu no secundário o que deveria ter qualidade e minimizar seu caráter elitista e
aprendido. (CARRAHER, 2017, p. 20). excludente.
“Todos nós, educadores, precisamos Na década de 20, iniciou-se no Bra-
não encontrar os culpados, mas encontrar as sil uma reorientação curricular, sem grande
formas eficientes de ensino e aprendizagem sucesso na prática. Nos anos 60 e 70 a Ma-
em nossa sociedade” (CARRAHER, 2017, p. temática Moderna reformou amplamente o
20). currículo da Matemática enfatizando a teoria
A criança aprende matemática na dos conjuntos e as estruturas algébricas en-
rua, o cambista analfabeto recolhe apostas, tre outros.
o mestre-de-obras treinado por seu pai, são Esse novo ensino formalizava a ma-
exemplos vivos de que nossas análises são temática tornando-a cada vez mais distante
incompletas, precisam ser desafiadas, preci- das questões práticas. “Nos anos 80, o desta-
sam ser desmanchadas e refeitas, se quiser- que do ensino de Matemática foi à resolução
mos criar a verdadeira escola aberta a todos; de problemas levando-se em consideração
pública e gratuita, pela qual lutamos nas pra- os aspectos sociais e cognitivos, entre outros,
ças públicas. (CARRAHER, 2017, p. 20). na aprendizagem da Matemática. De 1980 a
A Matemática como vem sendo apre- 1995 algumas propostas foram elaboradas,
sentada nas escolas, tem contribuído para conforme apontam os PCN de Matemática”
que não se "perceba" a dimensão do fracas- (BRASIL, 1997):
so escolar, uma vez que os sistemas políticos Importância do desempenho de um
educacionais são criados com a finalidade de papel ativo do aluno na construção do co-
conduzir o processo de maneira tendenciosa; nhecimento; Ênfase na resolução de proble-
formando indivíduos "acríticos", que aceitam mas, na exploração da matemática a partir
as verdades incontestáveis inerentes à Mate- dos problemas vividos no cotidiano e encon-

175
trados nas várias disciplinas; Necessidade de blemas, mas é preciso mais que intenções e
levar os alunos a compreenderem a impor- propostas para que o ensino da Matemáti-
tância do uso da tecnologia e a acompanhar ca melhore de qualidade e contribua para a
sua permanente renovação (BRASIL, 1997, p. construção de um conhecimento matemáti-
21). co reconhecido como necessário ao exercício
da cidadania.
Embora existam experiências positi-
vas a partir destas propostas, temos ainda
no Brasil obstáculos que impedem um ensi-
no de Matemática de qualidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As faculdades de licenciatura não es- Fazendo nossas as palavras de D’Am-
tão preocupadas em formar profissionais brosio (2012), a matemática como disciplina,
de educação capazes de desenvolver práti- pode ser vista como uma estratégia para o
cas pedagógicas que qualifiquem o ensino desenvolvimento da espécie. Ela deve servir
da Matemática. Os grandes profissionais do para explicar, entender, manejar e conviver
conhecimento matemático são ainda poucos com a realidade sensível e perceptível dentro
e embora algumas universidades e Secreta- do contexto natural e cultural do homem e
rias de Educação desenvolvam trabalhos no no meio escolar.
sentido de ajudar o professor a melhorar a Conclui-se que tais princípios levam
qualidade de ensino, faltam ainda políticas em consideração a natureza da prática edu-
educacionais efetivas que provoquem as mu- cativa escolar numa determinada sociedade.
danças necessárias e desejáveis. Muitas vezes temos que fazer uso de aulas
Durante nosso estágio em uma escola expositivas para transmitir os conceitos ma-
pública da região de São Paulo, percebeu-se temáticos, porém temos que entender que a
que o estudo de conceitos, ideias e métodos matemática proporciona ao aluno construir
por meio de resolução de problemas ainda seu próprio conhecimento.
são desenvolvidos a partir de listas de pro- Vimos que com essa adequação ao
blemas que devem ser resolvidos pelos alu- ensino da matemática, o aluno deixa de ser
nos que usam técnicas ou fórmulas memo- apenas um caixinha, onde são depositados
rizadas. apenas conteúdos, o professor deve deposi-
Nesse sentido, os processos de ensino tar seus conhecimentos, além do educador
e aprendizagem por meio de resolução de deixar de ser o único com o dever de ensinar.
problemas tornam-se falho e ainda reforça Acredita-se que a lógica e a história,
o caráter elitista e tradicional do ensino da são os aspectos fundamentais para se ensi-
Matemática. Os conteúdos da Matemática nar matemática. Tornando indispensável por
considerados importantes nesta ciência de- parte dos professores o conhecimento histó-
vem levar em consideração não apenas as rico por parte desta ciência. Não é possível
situações do cotidiano, mas, também ques- compreender o papel da matemática sem
tões inerentes à própria Matemática e seus integrar a história da matemática no seu en-
problemas históricos. sino.
Acredita-se conforme Carvalho (2011) Além disso, como já discutido durante
que a ludicidade tenha papel fundamental o desenvolvimento da pesquisa, a existência
nas atividades Matemáticas. deste conteúdo tem implicações profundas
O lúdico possibilita o estudo da crian- e não se é mais aceitável manter os alunos
ça com o mundo externo, integrando estu- alheios a elas em 12 anos de vida escolar.
dos específicos sobre a sua importância na Ao finalizarmos este trabalho, tem-se
formação da personalidade. Por meio da ati- a consciência de que não foi possível esgotar
vidade lúdica e de jogo, a criança forma con- todas as possibilidades e tampouco respon-
ceitos, seleciona ideias, estabelece relações der todas as questões que surgiram com a
lógicas, integra percepções, faz estimativas história da ciência matemática.
compatíveis com o crescimento físico e de-
senvolvimento e, o que é mais importante,
vai se socializando (CARVALHO, 2011, p. 13). REFERÊNCIAS
BARONI, R. L. S.; NOBRE, S. A pesquisa
O ensino da Matemática apresenta em história da matemática e suas relações
problemas como a má formação do profes- com a Educação Matemática. In: BICUDO, M.
sor, falta de cursos de capacitação que real- A. V. (Org.). Pesquisa em Educação Matemá-
mente qualifiquem o profissional a exercer a tica: concepções e perspectivas. São Paulo:
função e, ainda, conteúdos que estimulem o UNESP, 2006.
gosto pelo aprendizado da disciplina, assim BOYER, CARL B. História da matemáti-
como a utilização das tecnologias no ensino ca. 3. ed. São Paulo, 2012.
da Matemática.
Desde os anos 80 existem propostas BRASIL. PCN. Parâmetros curriculares
que tem a intenção de resolver estes pro- nacionais: Matemática ciclos do Ensino Fun-

176
damental. Brasília: SEF/MEC, 1998.

BRASIL. PCN. Parâmetros curriculares


nacionais: Matemática. Secretaria de Educa-
ção Fundamental. Brasília: SEF/MEC, 1997.
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177
DISCALCULIA – UM DISTÚRBIO EXISTENTE NO PROCESSO DE ENSINO DA MATEMÁTICA
EDSON JOSÉ CAVICHIOLI

RESUMO podem estar influenciando o aluno nesta de-


fasagem.
O movimento de Educação Matemáti-
ca trouxe ao ensino muitas descobertas, de- E antes de um possível diagnóstico de
safios e perspectivas sobre o que é o apren- discalculia ou suas variações, todos os envol-
der matemático, como acontece e como as vidos têm que ter certeza de que não existem
pessoas envolvidas relacionam-se e encaram outros fatores influenciando no quadro clíni-
novas possibilidades. Após anos de estudos, co como: a falta da alfabetização, a criança ter
foram descobertos alguns distúrbios que in- problemas visuais ou auditivos, problemas
fluenciam ou impactam diretamente no pro- de deficiência intelectual ou simplesmente
cesso de ensino da Matemática, como por ter dificuldade de concentração.
exemplo, a Discalculia. Hoje, a defasagem
na aprendizagem na matemática pode ser A participação da família é muito im-
decorrente de distúrbios como a discalculia portante nesta fase inicial de diagnostico,
e suas diversas variações. Com um trabalho apoiando, incentivando, acompanhando, es-
específico pode ser minimizado, a escola tem timulando, mostrando interesse em partici-
um papel importante na formação do caráter par de cada fase do processo de que o aluno
do cidadão e não ignorando a dificuldade na está vivenciando.
aprendizagem, reflete diretamente nesta for- O professor também tem que estar
mação, minimizando o máximo possível os atento com certas dificuldades que o aluno
reflexos desta dificuldade. possa estar tendo, lembrando que não deve
PALAVRAS-CHAVE: Movimento; Afeti- ser confundido com o tempo de aprendiza-
vo; Matemática; Distúrbio; Resultados. gem que cada aluno apresenta.
O objetivo da pesquisa é oferecer em-
basamento teórico qualitativo para futuras
ABSTRACT pesquisas e intervenções no processo de en-
sino e aprendizagem da Matemática e volta-
The Mathematics Education move- do a crianças que possivelmente apresentam
ment brought to teaching many discoveries, discalculia.
challenges, and perspectives on what mathe-
matical learning is, how it happens and how A pesquisa justifica a necessidade de
the people involved relate to each other and conhecimento do distúrbio chamado de Dis-
face new possibilities. After years of studies, calculia para que soluções, intervenções pe-
some disorders that directly influence or im- dagógicas em conjunto com o corpo docen-
pact the process of teaching Mathematics te, família e equipe pedagógica aconteçam
were discovered, such as Dyscalculia. Today, e auxiliem a todos no processo de ensino e
the delay in learning mathematics may be aprendizagem da Matemática.
due to disorders such as dyscalculia and its
various variations. With a specific work it can
be minimized, the school has an important 2. DESENVOLVIMENTO
role in the formation of the character of the
citizen and not ignoring the difficulty in lear- 2.1 DISCALCULIA – AFINAL, O QUE É?
ning, it reflects directly in this formation, mi- A discalculia é conhecida por inabili-
nimizing the reflexes of this difficulty as much dade de executar operações matemáticas ou
as possible. aritméticas, ou conceitualizar números como
KEYWORDS: Movement; Affective; Ma- um conceito abstrato de quantidades compa-
thematics; Disturb; Results. rativas (DA SILVA; DA COSTA, 2008). Chamada
de Discalculia, mas também pode estar asso-
ciada à dislexia. A palavra discalculia vem do
1.INTRODUÇÃO grego (dis, mal) e do Latin (calculare, contar)
formando: contando mal. De acordo com
Segundo alguns estudos apresenta- dicionários diversos da Língua Portuguesa,
dos nessa pesquisa, a discalculia só pode ser essa palavra calculare vem, por sua vez, de
diagnosticada com certeza na faixa estaria cálculo, que significa o eixo ou um dos conta-
entre 10 a 12 anos de idade em que o aluno dores em um ábaco.
está passando da fase do fundamental I para
ensino fundamental II. Mas o aluno pode já Estima-se hoje que este cerca de 6% da
estar apresentando defasagem muito antes população mundial é afetada por este proble-
desta fase e que se diagnosticado logo no ma, tendo ainda várias outras variâncias des-
começo e com um trabalho específico pode ta inabilidade e com muitos fatores que con-
ser minimizado ou simplesmente resolvido, tribuem para elas. Alguns destes problemas
levando em conta vários outros aspectos que são de ordem neurológica, outros apenas de
fases da vida das pessoas, pois consegue-se

178
perceber este distúrbio com mais evidências A discalculia está classificada com o
ou clareza em crianças entre as idades de 10 código: F81.2 “Transtorno Específico da Habi-
e 12 anos (DA SILVA; DA COSTA, 2008). lidade em Aritmética”. Transtorno que impli-
ca uma alteração específica da habilidade em
A discalculia não afeta apenas crian- aritmética, não atribuível exclusivamente a
ças, mas adultos em diversas fases de suas um retardo mental global ou à escolarização
vidas. Antes que um diagnóstico positivo da inadequada. O déficit concerne ao domínio
discalculia seja feito é necessário que se faça de habilidades básicas de adição, subtração,
uma checagem e eliminação de outros possí- multiplicação e divisão mais do que as habi-
veis problemas como: ensino inadequado ou lidades matemáticas abstratas envolvidas na
incorreto, problemas com visão ou audição, álgebra, trigonometria, geometria ou cálculo
danos ou doenças neurológicas e/ou doen- (OMS, 2020).
ças psiquiátricas devem ser eliminadas. O
transtorno da matemática em geral é encon- Um dos objetivos principais do manu-
trado em combinação com o transtorno da al de diagnóstico e estatística das perturba-
leitura ou o transtorno da expressão escrita. ções mentais (DSM, 2020), é fornecer uma
Doenças que possibilitem a deficiência inte- descrição exata de todos os sintomas médi-
lectual também devem ser eliminadas (DA cos de modo que seja consultado por dou-
SILVA; DA COSTA, 2008). tores ou profissionais de saúde para que
possam fazer um diagnóstico correto. O DSM
Somente após se ter eliminado as hi- (CID-11, 2020) -IV: F81. 2 - 315.1 - Transtorno
póteses acima citadas é que todos os pro- da Matemática. A característica essencial do
fissionais envolvidos no processo de avalia- Transtorno da Matemática consiste em uma
ção da criança podem começar a fazerem os capacidade para a realização de operações
testes tentando diagnosticar a discalculia ou aritméticas (medida por testes padronizados,
uma de suas variâncias (DA SILVA; DA COSTA, individualmente administrados, de cálculo e
2008). raciocínio matemático) (OMS, 2020).
Discalculia não é uma doença, nem é Os critérios de diagnósticos para F81.2
necessariamente uma condição crônica do - 315.1 Transtorno da Matemática.
nosso corpo e mente, pois eles dão forma a
um equilíbrio dinâmico que está constante- A. Capacidade matemática, medi-
mente em mudança se adaptando às novas da por testes padronizados, individualmente
situações. Os estudantes podem ter uma vida
normal fora das dificuldades matemáticas administrados, está acentuadamen-
específicas, embora os problemas frequen- te abaixo do nível esperado, considerando
temente tendam a remanescer com eles na a idade cronológica, a inteligência medida e
vida adulta (JANSEEN, 2023). a escolaridade apropriada à idade do indiví-
duo.
É importante compreender que as
avaliações são somente válidas por um tem- B. A perturbação no Critério A in-
po relativamente curto, um ano para crian- terfere significativamente no rendimento es-
ças e adolescente e menos de dois anos para colar ou atividades da vida diária que exigem
adultos. Fazer um diagnóstico é um conceito habilidades em matemática.
médico, não se deve concluí-lo sem a cons- C. Em presença de um déficit sen-
tatação deste profissional, devemos ter mui- sorial, as dificuldades na capacidade mate-
to cuidado com a antecipação de conclusões mática excedem aquelas geralmente a estas
precipitadas (JANSEEN, 2023). associadas. Nota para a codificação: Caso
Discalculia está na Classificação Inter- esteja presente uma condição médica geral
nacional de Doenças do Manual de Diagnós- (por ex., neurológica) ou déficit sensorial, co-
ticos e Estatística de Perturbações Mentais - dificar no Eixo III (DSM, 2020).
DSM IV (2022) e na Organização Mundial de
Saúde (2020).
2.2 TIPOS DE DISCALCULIA E OUTROS
Isso significa que tem que ser tratada TRANSTORNOS
com ajuda de profissionais qualificados, pois
as pessoas com esse tipo de dislexia são nor- O transtorno da Matemática em geral
mais em vários aspectos, tem QI (Quociente é encontrado em combinação com o Trans-
de Inteligência) normal ou acima do normal, torno da Leitura ou o Transtorno da Expres-
não são estúpidos ou preguiçosos, mas ape- são Escrita. A prevalência do Transtorno da
nas aprendem de forma diferente. (DSM, Matemática isoladamente (isto é, quando
1993; OMS, 2020). não encontrado em associação com outros
Transtornos da Aprendizagem) é estimada
O CID-11 (Classificação Estatística In- como sendo de aproximadamente um em
ternacional de Doenças e Problemas Rela- cada cinco casos de Transtorno da Aprendi-
cionados com a Saúde) é uma classificação zagem. Estima-se que 1% das crianças em
estatística internacional das doenças, dos idade escolar têm Transtorno da Matemática
ferimentos e das causas da morte que é pu- (JANSEEN, 2023).
blicado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS, 2020). O transtorno em geral torna-se visível

179
durante a segunda ou terceira série. Particu- confiança das meninas (JANSEEN, 2023).
larmente quando o Transtorno da Matemáti-
ca está associado com alto QI, à criança pode A ACALCULIA - As pessoas com essa
ser capaz de funcionar no mesmo nível ou dificuldade de aprendizagem manifestam
quase no mesmo nível que seus colegas da total falta de habilidade para desenvolver
mesma série, podendo o Transtorno da Ma- qualquer tarefa matemática. Essa falta de
temática não ser percebido até a quinta série habilidade geralmente indica um dano cere-
ou depois desta (JANSEEN, 2023). bral. O problema aparece quando a criança é
incapaz de aprender os princípios básicos de
Segundo Janseen (2023) a Discalculia é contagem. Essa falta de habilidade se torna
classificada em seis subtipos, podendo ocor- mais evidente quando vai aprender a ordem
rer em combinações diferentes e com outros dos números de um até dez (1 – 10) ou quan-
transtornos de aprendizagem: do vai resolver uma simples adição de quatro
mais dois é igual a seis (4 + 2 = 6). O grupo de
• Discalculia Verbal - dificuldade pessoas com acalculia representa menos de
para nomear as quantidades matemáticas, 1% da população e na maioria dos casos vem
os números, os termos, os símbolos e as re- acompanhados dos seguintes transtornos
lações. (JANSEEN, 2023).
• Discalculia Practognóstica - difi- A SÍNDROME DE GERSTMANN DE DE-
culdade para enumerar, comparar e manipu- SENVOLVIMENTO - Esta síndrome é um dis-
lar objetos reais ou em imagens matematica- túrbio neurológico raro caracterizado por le-
mente. sões no giro angular da área dominante do
• Discalculia Léxica - Dificuldades cérebro (esquerdo em destros e direito em
na leitura de símbolos matemáticos. canhotos). O giro angular se encontra no lobo
parietal e próximo ao lobo temporal. Nomea-
• Discalculia Gráfica - Dificuldades do em homenagem a Josef Gerstmann, pode
na escrita de símbolos matemáticos. eventualmente mudar de nome para Síndro-
• Discalculia Ideognóstica – Difi- me Angular por recomendação da comunida-
culdades em fazer operações mentais e na de científica (JANSEEN, 2023).
compreensão de conceitos matemáticos. Para Janseen (2023), a lesão geralmen-
• Discalculia Operacional - Dificul- te é causada por isquemia cerebral, trauma-
dades na execução de operações e cálculos tismo ou AVC no local. Os prejuízos na capaci-
numéricos (JANSEEN, 2023). dade de leitura e reconhecimento costumam
ser bastante incapacitantes, principalmente
Existem também outras variações da nas áreas educacionais e profissionais. Essa
Discalculia: a pseudo-discalculia, a acalculia, síndrome é caracterizada por quatro sinto-
síndrome de Gerstmann de desenvolvimen- mas principais:
to, transtorno da leitura ou da soletração • Disgrafia/agrafia: dificuldade/in-
(JANSEEN, 2023). capacidade de se expressar pela escrita;
A PSEUDO-DISCALCULIA - É um gran- • Discalculia/acalculia: dificulda-
de e importante grupo no qual as dificulda- de/incapacidade de compreender matemáti-
des de aprendizagem resultam de bloqueios ca;
emocionais. Crianças com pseudodiscalculia
tem habilidade cognitiva para ter êxito em • Agnosia digital: a incapacidade
matemática, mas apesar disso, elas acredi- de distinguir os dedos na mão; desorienta-
tam que por terem essa defasagem não po- ção em relação à esquerda e direita (JANSE-
dem aprender nada sobre matemática. Este EN, 2023).
pensamento pode estar profundamente en-
raizado, e talvez ligado a ideia de que não é Tratamento: Não há cura para a sín-
esperto o suficiente para aprender. Nestes drome de Gerstmann, o tratamento é apenas
casos, a natureza das dificuldades pode ser sintomático e psico-educativo com terapia
semelhante à Discalculia (JANSEEN, 2023). ocupacional e psicológica, onde elas podem
ajudar a diminuir a dificuldade em ler, escre-
Contudo, estudantes com pseudo- ver e calcular. Calculadoras e processadores
-discalculia não são beneficiadas em classes de texto podem ajudar a contornar esses
especiais ou com exercícios de recuperação. problemas. Os sintomas podem naturalmen-
Em vez disso, a melhor ajuda para esses alu- te diminuir com o tempo dependendo da
nos deve ser um diálogo metodológico dife- causa e da idade do paciente.
renciado, e talvez em casos mais complexos
necessitem da mediação de um psicólogo es- O TRANSTORNO DA LEITURA OU DA
colar, onde os bloqueios emocionais possam SOLETRAÇÃO - Santos e Navas (2002, apud DA
ser identificados e vencidos. As meninas são SILVA, DA COSTA, 2008) definem Distúrbio de
a maioria esmagadora de estudantes com Leitura e Soletração como uma manifestação
pseudo-discalcula. Os pesquisadores acham referente ao desenvolvimento da linguagem,
que essa porcentagem é maior entre as me- que se caracteriza pela dificuldade na aquisi-
ninas, porque em uma sala mista os comen- ção e/ou no desenvolvimento da linguagem
tários negativos dos meninos levam a falta de escrita por crianças que apresentam déficits

180
tanto de decodificação fonológica como de posso fazer os exercícios de matemática de
compreensão da linguagem oral e/ou escrita. qualquer maneira! ” As dúvidas dispersam-se
geralmente uma vez que o professor começa
um diálogo com a criança e seus pais. Com
2.3 A IMPORTÂNCIA EM DIAGNOSTI- um bom diálogo as dificuldades da criança
CAR A DISCALCULIA são feitas óbvias, mostrando as maneiras
possíveis trabalhar com matemática, garan-
Há uma urgência grande para se des- tindo assim, que a criança receba o tratamen-
cobrir cada vez mais cedo a discalculia nas to apropriado. Ao mesmo tempo é eliminado
crianças. Um diagnóstico completo não pode o risco de que ela desenvolva sintomas psi-
ser feito antes dos 10-12 anos de idade, mas quiátricos como a depressão e pensamentos
por causa disso não devemos deixar de ten- suicidas (ADLER, 2001).
tar descobrir as formas particulares de difi-
culdades que matemáticas a criança sofre O que os responsáveis pelas políticas
(ADLER, 2001). públicas educacionais sabem é que muito
muitos estudantes estão falhando na mate-
Esta preocupação tem fundamento, mática, uma proporção muito maior do que
porque pode ser prejudicial diagnosticar to- aqueles que têm dificuldades com línguas.
dos as de dificuldades matemáticas como Isto nos chama para examinar a situação.
discalculia, e do mesmo modo todas as difi- Se formos relutantes fazer um diagnóstico
culdades com concentração como transtorno então estaremos impedindo que as crianças
de déficit de atenção/hiperatividade (ADLER, tenham o direito de ser ajudadas (ADLER,
2001). 2001).
Existem crianças e adolescentes que Foi mencionado acima que um diag-
têm dificuldades matemáticas, ou dificulda- nóstico final (completo) não pode ser feito
des com leitura, e gradualmente adquirem antes que a criança esteja aproximadamen-
uma imagem muito negativa de si mesmos. te 10-12 anos de idade. Entretanto, isto não
Sua autoestima e confiança são quebrados, deve fazer parar com o trabalho corretivo
alguns expressam até pensamentos suicidas. apropriado antes dessa idade. Sobretudo
Estas crianças devem ser a razão de se justifi- é necessário aprender a comunicar aberta-
car a necessidade para diagnósticos exatos e mente com a criança sobre suas dificuldades
específicos (ADLER, 2001). e experiências (ADLER, 2001).
Um diagnóstico exato afeta diversos Os problemas que relatam não podem
indivíduos e grupos positivamente, como a ser os mesmos que suas próprias percepções
criança, os pais, os professores, os psicólogos de seus problemas. Embora não os docentes
e médicos e a sociedade, pois o quanto antes não estejam certos sobre a natureza exata
todos trabalharem em conjunto para ameni- de suas dificuldades, é necessário começar
zar ou solucionar este déficit, mais cedo es- imediatamente um trabalho de recuperação
taremos inserindo esta criança na sociedade contínua e/ou paralela. Se esperar até que
como um cidadão participativo e capaz de le- a criança esteja em uma idade já bastante
var uma vida sem transtornos ou traumas na avançada para um diagnóstico apropriado,
fase adulta (ADLER, 2001). pode-se ter desperdiçado o tempo precioso e
É extremamente raro encontrarmos ter causado à criança muitos anos desneces-
com uma criança no início de sua vida esco- sários do esforço e da falha, a ajuda é neces-
lar que peça para ser examinada por estar sária e essencial para o futuro dessa criança
com dificuldades de matemática. Entretanto, (ADLER, 2001).
os mais velhos o fazem, porque continuam
a "falhar" na matemática, e querem saber
o porquê: "Qual é a razão real para minhas 2.4 - A DISCALCULIA PODE SER CURA-
dificuldades em matemáticas? Como posso DA?
ser bom em muitos outros assuntos e não A resposta simples é sim! O diagnós-
na matemática? ” Essa situação torna-se frus- tico discalculia é sempre apenas uma des-
trante e incompreensível. Um diagnóstico crição do atual estágio de desenvolvimento,
permite que as maiorias das crianças mais aplicável por um período máximo de um ano
velhas compreendam a razão para suas di- (DSM, 2022). Como a criança desenvolve, as
ficuldades. Isto ajuda também aos pais a dificuldades que existiam no ano anterior po-
procurar especialistas que possam fornecer dem ter minimizado ou quase desaparecem.
recursos corretivos apropriados. As diver-
sas políticas públicas deveriam oferecer isso Se a criança está recebendo tratamen-
(ADLER, 2001). to adequado, a possibilidade de desenvolvi-
mento da capacidade matemática é grande.
Às vezes os professores expressam No entanto, muitas vezes algumas partes das
preocupações sobre um diagnóstico. Ficam dificuldades permanecem de uma forma sua-
receosos que a criança irá relaxar no seu ve, por exemplo, as dificuldades em recordar
aprendizado e parar de tentar trabalhar fatos numéricos. Capacidade de concentra-
ativamente com a matemática, pensando: ção, no entanto, geralmente melhora consi-
“Bem, eu tenho o discalculia! Então eu não deravelmente, e que muitas vezes vem com

181
a compreensão de conceitos matemáticos e 2.7 DISCUSSÃO
símbolos (DA SILVA, DA COSTA, 2008).
Diante das informações obtidas refe-
Normalmente os responsáveis muitas rente ao tema abordado, este estudo apre-
vezes fazem esta pergunta ao profissional se senta um campo mais maduro para discus-
ele conhece determinado tipo de dificuldade: são, visto que há grande número de estudos
Você já conheceu outras crianças com pro- disponíveis na literatura investigando con-
blemas semelhantes? Se o profissional ainda ceitos, seus supostos benefícios, limitações e
não tratou crianças com determinado tipo de ampliação para futuras pesquisas. Também
dificuldades, os pais devem ser informados. tem a finalidade de contribuir para incitar
O importante que se conheça a dificuldade a reflexão sobre a resolução de problemas
de aprendizagem e formas de tratamentos como distúrbios, como por exemplo a discal-
estudados (DA SILVA, DA COSTA, 2008). culia, no processo de ensino e aprendizagem
matemático.
Muitos pais se sentem culpados.
Acham ter feito alguma coisa errada, ou tal- Todos os artigos, obras, citações sele-
vez por não ter feito o suficiente. Isso não cionadas referem-se às publicações brasilei-
deve ser encarado dessa forma. A criança ras e internacionais. Após leitura e fichamen-
precisa dos pais para se sentir segura e se- to dos documentos selecionados, foi feita
guir o tratamento com sucesso (DA SILVA, DA uma análise e escrita sobre o tema. Sendo
COSTA, 2008). assim, evidencia-se a necessidade de haver
mais pesquisas sobre o assunto, por ser um
tema amplo e de grande importância no âm-
2.5 - SINTOMAS GERAIS DA DISCALCU- bito educacional e de pesquisas.
LIA
Quando uma criança se enquadra 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
num quadro clínico de discalculia, além dos
itens citados no texto acima “Transtorno Neste trabalho pode-se acompanhar
Específico da Habilidade em Matemática e as várias faces da discalculia com o objetivo
Aritmética” ela também apresenta outras ca- de minimizar os reflexos que ela reflete so-
racterísticas comportamentais como: aquisi- bre a criança, que é a informação, a qualifica-
ção de leitura nominal ou acelerada (verbal, ção dos profissionais, os métodos que serão
leitura ou escrita), habilidade poética, boa aplicados e sem dúvida e importante que é o
memória visual para palavras impressas, di- apoio da família. Os conceitos desenvolvidos
ficuldade com conceitos abstratos de tempo neste trabalho podem auxiliar os docentes
e direção, podem ter medo de mexer com di- a saberem mais sobre o que é a discalculia,
nheiro, incapaz de fazer cálculo mental para o tamanho da sua abrangência pelo mun-
pagar dívidas, tem dificuldade em entender do, mesmo não sendo uma doença ela tem
e lembrar a ordem das operações, regras, uma classificação na área médica e também
fórmulas e sequências, perdem coisas fre- é recomendado um bom acompanhamento
quentemente e dão a impressão que são dis- psicopedagógico para solucionar esta defa-
traídos, podem ter dificuldade de entender sagem.
conceitos formais de educação musical ou
dedilhar instrumentos musicais, dificuldade A discalculia também abrange outras
para lembrar passos de dança; capacidade questões como a parte de interpretação de
limitada em planejamento estratégico em jo- textos ou conceitos de localização que sem
gos como o xadrez; são muito criativos (DSM, os devidos cuidados leva a pessoa a traumas
2022). depressivos chegando até aos pensamentos
suicidas, pela falta de autoestima, por achar
que sempre está errando e que ele é um pro-
blema.
2.6 MATERIAIS E MÉTODOS
Nota-se através deste trabalho a gran-
Para a realização desse estudo utilizou- de importância que o professor pode trazer
-se como instrumento de pesquisa: artigos, para ajudar a criança com estas dificulda-
obras, citações e relatos de pesquisadores e des, à relação pessoal que o aluno tem com
autores sobre o tema abordado já registra- o professor fazem muita diferença para sua
dos na literatura. Uma coleta de informações ajuda, na maioria dos casos alunos que tive-
e dados desses registros foram analisados, ram grandes problemas de aprendizado nos
sistematizados e reescritos. anos iniciais quando chegam à idade dos 10 a
Sendo este estudo uma pesquisa de 12 anos de idade já apresentam vários casos
revisão de literatura, todos os instrumentos relacionados a indisciplina e muitos já ligam a
analisados, específicos utilizados de forma casos de violência dentro e fora das escolas,
correta, auxiliaram no alcance dos objetivos usam esta máscara para se esconderem mui-
almejados deste estudo sem inferência e in- tas vezes desta defasagem, alguns chegam
terpretação errônea. até o final do ensino fundamental mal saben-
do fazer contas simples, ou conceitos de dis-
tância, dificuldade para lidar com dinheiro e
assim por diante.

182
REFERÊNCIAS

ADLER, Dr. B. - Traduzido e adaptado


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183
AS VIVÊNCIAS COM ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ELAINE BERNARDETE DE LIMA

RESUMO do mundo na qual a dimensão poética esteja


presente, ser flexível. (…). Isso quer dizer que
O principal objetivo desse estudo é criar para aprender”.
realizar uma reflexão sobre as vivências com
Arte no cotidiano da Educação Infantil. O in- Levando em consideração o que diz
tuito é compreender, perceber e valorizar Barbosa (1979, p.46), isso permite analisar “a
como as artes estão inseridas no espaço es- ideia de que a Arte na educação tem como
colar, e como as intervenções que envolvem finalidade principal permitir que a criança ex-
essa vivência. Dessa maneira, procurou-se presse seus sentimentos e a ideia de que a
evidenciar que, as experiências com as di- Arte não é ensinada, mas expressada”.
versas manifestações de arte, a criança pode
desenvolver seu intelecto pelo lúdico e, as- Assim, levando em consideração os
sim, vivenciar de maneira mais significativa estudos até aqui, o objetivo deste artigo é
no ambiente escolar. Para a realização desse compreender a atual importância dessa vi-
estudo, a autora recorreu à metodologia da vência e experiência no processo de desen-
revisão de literatura específica da Educação volvimento integral da criança, já que a Arte é
Infantil − em especial bibliografia produzida essencial para o desenvolvimento da criativi-
por pensadores e estudiosos, com embasa- dade, da imaginação e do melhor aproveita-
mento nas orientações contidas no Referen- mento das propostas oferecidas nas salas de
cial Curricular da Educação Infantil (BRASIL, referência e demais espaços da escola.
1998) e nos Parâmetros Curriculares Nacio- Dessa maneira, para nortear a pes-
nais – Arte (BRASIL, 1997). Sendo considerada quisa, apresenta-se a seguinte problemática:
uma pesquisa qualitativa, utilizando livros e Qual é a contribuição da Arte na Educação
artigos científicos pertinentes ao tema, esse Infantil com foco nas múltiplas linguagens
tipo de pesquisa fornece ao pesquisador um artísticas como música, dança, teatro e artes
repertório grande de estudos publicados na visuais.
área e que, certamente, fornecem subsídios
relevantes para encontrar diversas possibili- Sob essa ótica, o objetivo geral desta
dades de atuação do professor da Educação pesquisa é discutir e identificara as vivências
Infantil em sua sala de referência, e refletir e experiências com Arte como instrumento
sobre o fazer pedagógico na Educação Infan- capaz de expandir os sentidos dentro do que
til. se propõe para as crianças desde os primei-
ros anos de vida.
Palavras-chave: Arte; Educação Infan-
til; vivências e experiências lúdicas. Portanto, esse objetivo geral inclui
alguns objetivos específicos, como: 1) contri-
buir com a qualidade das propostas ofere-
INTRODUÇÃO cidas às crianças no que diz respeito a Arte,
2) avaliar os diferentes caminhos para viven-
Salientamos que artigo se propõe a ciar artes e 3) incentivar as crianças em suas
analisar o processo de desenvolvimento e criatividades. Para produzir resultados com
identificar a importância das vivências com esses objetivos, o estudo se baseia em uma
Arte na Educação Infantil. Como é de conhe- pesquisa bibliográfica de natureza descritivo-
cimento de todos envolvidos na área da Edu- -qualitativa.
cação, a Arte é um processo em que a criança
pode se expressar por diferentes maneiras, Ressaltamos aqui para compreender
como pela música, pela dança, por desenhos, a importância da Arte no desenvolvimento
por dramatizações e outras. Dessa maneira, cognitivo das crianças dentro da educação
a Arte está presente na vida do ser humano infantil. O desenho infantil é o resultado da
desde os primeiros anos de vida. A Arte, na interpretação espontânea dos momentos de
escola de Educação Infantil contribui para a aprendizagem, da conquista da organização
formação humana da criança, para ajudá- estruturada do gesto e do manuseio adequa-
-la a entender, de forma crítica, a sociedade do dos materiais e das cores, assim como as
na qual está inserida e a sua cultura. Assim, brincadeiras e o faz de conta. O documento
portanto, essa área do conhecimento não dos Parâmetros Curriculares Nacionais apre-
deverá ser tratada como mera atividade de senta o conceito Arte como campo de conhe-
entreter, muito pode ser vista como uma vi- cimento tão importante como os demais.
vência menos importante que as demais. A Com ênfase na aprendizagem, esse texto nos
sua existência nas propostas da Educação In- diz que:
fantil, contribui para o desenvolvimento inte- A educação em Arte propicia o desen-
gral das crianças. volvimento do pensamento artístico, que ca-
De acordo com (BRASIL, 1997, p. 19), racteriza um modo particular de dar sentido
“o conhecimento da arte abre perspectivas às experiências das pessoas: por meio dele,
para que o aluno tenha uma compreensão o aluno amplia a sensibilidade, a percepção,

184
a reflexão e a imaginação. Aprender arte “o aluno que conhece arte pode estabelecer
envolve, basicamente, fazer trabalhos artís- relações mais amplas quando estuda um de-
ticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve, terminado período histórico. Um aluno que
também, conhecer, apreciar e refletir sobre exercita continuamente sua imaginação esta-
as formas da natureza e sobre as produções rá habilitado a construir um texto”.
artísticas individuais e coletivas de distintas
culturas e épocas. (BRASIL, 1997, p. 15). Levando em consideração essa pers-
pectiva, as autoras Fusari e Ferraz afirmam
Sendo assim, os PCN podem auxiliar que é necessário pensar em “[…] um traba-
o professor em sua prática docente, pois são lho escolar consistente, duradouro, no qual
referenciais para o seu planejamento no cam- o aluno encontre um espaço para o seu de-
po de conhecimento, valorizando as vivên- senvolvimento pessoal e social por meio da
cias e experiências com Arte e a prática do vivência e posse do conhecimento artístico e
apreciar, do produzir e do contextualizar, no estético” (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 21).
sentido de garantir propostas de qualidade:
“Um aluno que exercita continuamente sua Por isso, especificamente para a arte
imaginação estará mais habilitado a construir na educação infantil, o educador aprofunda
um texto, a desenvolver estratégias pesso- conceitos e linguagens da arte e sobretudo,
ais para resolver um problema matemático” organiza um espaço de cultura que possibili-
(PCN- Arte, 1997, p. 19). te a ampliação das expressões e das lingua-
gens da criança de forma significativa.
Salientamos que Cunha (2002, p. 12)
enfatiza que, “[…] para que as crianças te- Fusari (2008 p. 47) também reafirma
nham possibilidades de desenvolverem-se na a importância do planejamento ao dizer que
área expressiva, que o professor consiga rea- “nada substitui a tarefa de preparação da
lizar intervenções pedagógicas no sentido de aula em si”. O planejamento, segundo a auto-
trazer à tona o universo expressivo infantil”. ra, é uma competência teórica do professor
que busca meios de adequação pelos quais
Sendo assim, Libâneo (1991) a sua turma terá mais facilidade e interesse
vem nos apresentar que: pelo assunto.
Não é suficiente dizer que os alunos Sendo assim, o professor responsá-
precisam dominar conhecimentos, é neces- vel pelas vivências e experiências com Arte,
sário dizer como fazê-lo, isto é, investigar ob- construí o seu planejamento sobre o olhar de
jetivos e métodos seguros e eficazes para a mediar e despertar a curiosidade e a criativi-
assimilação dos conhecimentos. […] O ensino dade das crianças de forma significativa nes-
somente é bem-sucedido quando os objeti- sa disciplina.
vos do professor coincidem com os objetivos
de estudos do aluno e é praticado tendo em
vista o desenvolvimento das suas forças inte- UMA REFLEXÃO SOBRE AS VIVÊNCIAS
lectuais. […]. Quando mencionamos que a fi- COM ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
nalidade do processo de ensino é proporcio-
nar aos alunos os meios para que assimilem A partir das reflexões, leva-se em
ativamente os conhecimentos é porque a na- consideração a relevância de compreender
tureza do trabalho docente é a mediação da a ideia de escola em todos os sentidos mais
relação cognitiva entre o aluno e as matérias abrangentes, de forma a vivenciar as diversas
de ensino. (LIBÂNEO, 1991, p. 54-5). artes no processo do desenvolvimento da
criança. Entretanto, de acordo com Vygotsky
Portanto, o papel do professor é fun- (1984, p. 17),
damental para que a criança receba refe-
rências e orientações, porém sem oferecer “[…] cada matéria escolar tem uma re-
a ela modelos ou desenhos prontos. O mais lação própria com o curso do desenvolvimen-
significativo é oferecer propostas pedagógi- to da criança, relação que muda com a pas-
cas com qualidade, onde as crianças possam sagem da criança de uma etapa para outra”.
construir as suas próprias produções usando Assim, portanto, todas as matérias têm a sua
a sua imaginação. É valoroso que o professor importância no processo de ensinoaprendi-
se organize, que elabore o seu planejamen- zagem. A criança precisa se interessar pelo
to, que conheça as necessidades das crianças que está aprendendo, assim vai despertar o
desde os primeiros dias na Educação Infantil, prazer de aprender a ler e a escrever de for-
tudo para que essa criança possa construir ma significativa dentro da disciplina de arte e
seus saberes que constituam o processo de alfabetização.
criação dentro de uma proposta de qualida- Vygostsky (1984) nos afirma que, “Pela
de e de forma significativa. repetição daquilo que já conhecem, utilizam
Nesse sentido, os Parâmetros Curricu- a ativação da memória, atualizam seus co-
lares Nacionais nos fazem compreender que nhecimentos prévios, ampliando-os e trans-
as vivências com Arte na Educação Infantil formando-os por meio da criação de uma si-
vêm favorecer maior amplitude ao processo tuação imaginária” (VYGOTSKY, 1984, p. 97).
pedagógico. Por isso, acredita-se que é possível
De acordo com (BRASIL, 1997, p. 19), que essa relação de diálogo e de interação

185
entre as demais crianças da sala referência A educação em arte propicia o desen-
se torne mais próxima e que os estímulos volvimento do pensamento artístico, que ca-
possam proporcionar um melhor desenvol- racteriza um modo particular de dar sentido
vimento integral nas crianças. Sendo assim, às experiências das pessoas: por meio dele,
por meio das propostas lúdicas com Arte, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção,
as crianças possam desenvolver melhor a a reflexão e a imaginação. Aprender arte
aprendizagem e interagir com qualidade com envolve, basicamente, fazer trabalhos artís-
as outras crianças. ticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve,
também, conhecer, apreciar e refletir sobre
Salientamos, portanto, que educar as formas da natureza e sobre as produções
não é só seguir toda agrade de horários da artísticas individuais e coletivas de distintas
rotina que está programada, mas sim criar si- culturas e épocas. (PCN, 1997, p. 11).
tuações e propostas, proporcionando brinca-
deiras que envolvam toda a turma. Com isso, Desta maneira, torna-se de extrema
vem contribuir para o desenvolvimento inte- importância estimular a criatividade da crian-
lectual, físico e motor das crianças, desper- ça para ser estimulada e desenvolvida e, por
tando o interesse para alcançar um conheci- meio das propostas realizadas com as artes
mento amplo da sociedade e da realidade do nas escolas de educação Infantil, isso se tor-
mundo ao qual estão inseridos. na possível e indispensável.
Por isso, a educadora é personagem A Arte na Educação Infantil é uma im-
de extrema importância nesse processo, de- portante ferramenta da educação, pois esti-
vendo ser um elemento mediador nas pro- mula o desenvolvimento das crianças. Afinal,
postas pedagógicas que são oferecidas às por meio da arte, é possível aprender, adqui-
crianças. Educar não se limita a repassar co- rir novas habilidades e enxergar diferentes
nhecimentos ou a mostrar apenas uma pos- perspectivas e sensações a respeito de um
sibilidade, mas sim, propor à criança a tomar mesmo ponto, por exemplo.
consciência de si mesma e do meio ao qual
está inserida. É oferecer várias propostas, Pensando nisso, é interessante uti-
vivências e experiências para que a crian- lizar diversos tipos de materiais em sala de
ça possa escolher diferentes possibilidades, aula, a fim de explorar e estimular a criativi-
escolher aquela que for compatível com os dade das crianças. Essas atividades lúdicas
seus valores, a sua visão de mundo e com as são essenciais para que elas aprendam a se
circunstâncias adversas que cada uma irá se expressar diante do mundo, valorizar e se be-
deparar. neficiar das diversas manifestações artísticas
e culturais.
Nas propostas de desenhar, por
exemplo, a criança retira as informações do A necessidade do homem se mani-
meio em que vive por intermédio da repre- festar artisticamente remonta à pré-histó-
sentação e da criatividade. Com os seus tra- ria. Desde muito tempo, os seres humanos
çados e as suas cores, as crianças elaboram utilizam o desenho para se comunicar, ex-
representações significativas de seus pensa- pressar a sua visão de mundo e transmitir
mentos e de suas experiências e vivências. conhecimento. Porém, com a evolução das
ferramentas e o desenvolvimento da escrita,
Levando em consideração o pensa- a Arte passou a representar a estética, por
mento de Martins (1998 p. 37). “A criança, meio da expressão artística.
desde que nasce, está rodeada por diversas
linguagens verbais e não verbais, entre ou- As linguagens artísticas – auxiliam no
tras, a oral, escrita, gráfica, tátil, auditiva, ol- desenvolvimento de habilidades artísticas
fativa, gustativa, motora, e pelos órgãos dos nas crianças, portanto, são importantes para
sentidos”. As crianças assimilaram, processa- a reflexão, a apreciação e a produção duran-
ram e expressaram as informações adquiri- te o aprendizado.
das mediante a escrita e a leitura. Pillar (1996, A partir desse conhecimento, os es-
p. 29) salienta que as “[…] crianças se reali- tudantes desse ciclo desenvolvem integral-
zam durante a elaboração de seus desenhos, mente os aspectos intelectuais, emocionais,
revelando suas intenções e interpretações sociais, perceptivos, físicos, estéticos e cria-
sobre eles, esclarecem o processo de cons- tivos. Sendo assim, o ensino de Arte é um
trução gráfica, do ponto de vista da criança instrumento pedagógico importante para a
que o desenvolve”. compreensão de si mesmo, da realidade, dos
Portanto, as propostas com arte vêm próprios sentimentos e das emoções.
a contribuir para o desenvolvimento social Sem dúvidas, a infância é uma das fa-
e cognitivo da criança e estimulam a criativi- ses mais importantes da vida de uma pessoa,
dade, fazendo com que ela se torne um ser pois é nesse momento que se constrói a base
humano mais sensível, crítico e observador, para todos os outros aprendizados. Por isso,
colaborando, assim, no desenvolvimento in- os professores e a família devem estimular o
tegral de cada criança. Os Parâmetros Curri- lado artístico das crianças, colaborando para
culares Nacionais – Arte (1997, p. 11) deixa- o desenvolvimento de habilidades que con-
ram claro a importância das propostas com tribuirão para a criatividade, cidadania, auto-
artes para a formação do ser humano: nomia e pensamento crítico.

186
As linguagens artísticas podem, mui- atividades artísticas, os professores podem
tas vezes, passar despercebidas e não rece- perceber se as informações externas estão
berem o devido valor da comunidade escolar sendo absorvidas pelas crianças e se elas
como um todo. Entretanto, elas são uma das conseguem interpretar os comandos que
responsáveis por iniciar a formação cultural recebem fomentando uma atitude indepen-
e a construção de habilidades sensitivas e dente e socializadora.
emotivas nas crianças, no que envolve o cam-
po de experiência com traços, sons, cores e Por meio da dança, da música e do te-
formas, previsto pela Base Nacional Comum atro, é possível ampliar o autoconhecimento.
Curricular (BNCC). Afinal, essas atividades são capazes de fazer
com que crianças explorem o próprio corpo,
Além disso, a arte também colabora descobrindo suas habilidades e limitações,
fornecendo conhecimentos necessários para melhorando a expressão e aprendendo a
a vida em sociedade, pois capacita os indiví- controlar a linguagem corporal. Além disso,
duos a enxergarem, de forma crítica, as situ- é por meio dessas formas de expressão artís-
ações e os elementos que o cercam. tica que as crianças manifestam sentimentos
e pensamentos que ainda não conseguem
Por meio de atividades artísticas, as verbalizar.
crianças participam da concepção de uma
ideia, materializando suas interpretações so- É possível desenvolver o pensamen-
bre o que foi aprendido, o que ajuda no de- to crítico e fomentar a reflexão nas crianças,
senvolvimento do pensamento e na compre- no momento em que os professores as en-
ensão das diferenças. gajam para observar alguma obra de arte e,
em seguida, pedem que elas compartilhem
A expressão das emoções é uma par- suas percepções e sensações. Assim, o aluno
te inerente para a melhoria da vida social, desenvolve a capacidade de questionar, com-
principalmente na infância — que é a fase na preender, criticar e respeitar as diferentes vi-
qual o ser humano começa a tomar conheci- sões de um mesmo ponto.
mento de suas próprias atitudes. Dessa for-
ma, à medida que as crianças compreendem Como visto, a Arte na Educação In-
o funcionamento do mundo à sua volta, tor- fantil é a principal responsável por auxiliar
nam-se capazes de vivenciar e interpretar o o desenvolvimento da expressão corporal
que sentem por meio do desenho e da pin- e emocional das crianças. Dessa forma, os
tura, por exemplo. Além disso, as expressões professores podem usar diversos meios pe-
e o autocontrole podem ser melhor desen- dagógicos para aprimorar ainda mais as ha-
volvidos por meio da música, da dança e do bilidades e capacidades artísticas, fazendo
teatro, por exemplo. com que os alunos consigam desenvolver a
percepção sobre o mundo e sobre a vida em
Os professores devem contribuir sociedade.
para aflorar cada vez mais o senso criativo
das crianças e a Arte aguça esse processo “A Arte abre janelas capazes de cons-
de aprendizagem. Afinal, é possível utilizar truir e despertar um aprendizado importante
a imaginação e visualizar o mundo ao redor no desenvolvimento intelectual e criativo das
por meio do desenvolvimento intelectual e crianças. Por isso, vamos fazer e refletir so-
crítico. Sem contar que, trabalhando o pro- bre essas linguagens”.
cesso de criação, as crianças demonstram
a sua capacidade e o seu talento inato para A nova lei de Diretrizes e Bases da
captar a realidade de maneira natural. Educação Nacional (LDB nº 9.394), aprovada
em 20 de dezembro de 1996, estabelece em
Antes de escrever, as crianças rabis- seu artigo 26, parágrafo 2º. “O ensino da arte
cam suas impressões sobre o mundo e sobre constituirá componentes curriculares obriga-
as pessoas ao redor. Nesse sentido, usando tório, nos diversos níveis da educação bási-
lápis de cor, giz de cera, tintas, pincéis, entre ca, de forma a promover o desenvolvimento
outros materiais para desenhar, são estimu- cultural dos alunos”. Segundo os Parâmetros
lados os movimentos e a coordenação mo- Curriculares Nacionais (PCN) de Arte (1990,
tora que, mais tarde, auxiliarão na alfabeti- p.25): “São características desse novo marco
zação. curricular as reivindicações de identificar a
área por arte (e não mais por educação ar-
Ao entender a importância da expres- tística) e de incluí-la na estrutura curricular
são artística, os professores devem promo- como área com conteúdos próprios ligados
ver, também, atividades lúdicas para aguçar a cultura artística, e não apenas como ativi-
a sensibilidade da criança, de forma que ela dade”.
aprenda a explorar os próprios sentidos. Ao
escutarem uma música, os alunos podem Sendo assim, a arte é importante na
aprender a identificar os instrumentos pre- escola, principalmente porque é importante
sentes na melodia e ampliar o seu repertório, fora dela. Por ser um conhecimento constru-
por exemplo. ído pelo homem através dos tempos, a arte
é um patrimônio cultural da humanidade,
Um dos pontos mais benéficos para e todo ser humano tem direito ao acesso a
a aprendizagem é o reconhecimento de si esse saber.
mesmo e dos outros. Por meio de algumas

187
Descrever sobre os experimentos e importância e necessidade de entender a fi-
vivencia contada por crianças de series mul- nalidade das propostas com Arte na Educa-
tisseriadas, em faixa etária de 3 a 5 anos, ção Infantil. Além disso, se discutiu a impor-
das escolas de ensino fundamental do As- tância das propostas lúdicas realizas com
sentamento 25 de Maio, zona rural do mu- crianças através das vivências e experiências
nicípio de Madalena/Ceará, especificamente com arte, sem considerar sua idade, visto
em duas delas, Antônio Conselheiro e 25 de que essas propostas permitem um desen-
maio I é uma forma de revelar o modo como volvimento integral mais efetivo, prazeroso e
as nossas crianças percebem o mundo à sua significativo.
volta, e o representam com os seus traços e
com suas cores. Ressaltamos o brincar e sua signifi-
cância em todas as faixas etárias. A criança
Umas das características das escolas vive o mundo de fantasia no mundo real.
envolvidas neste contexto de construção, es- Portanto, toda a complexidade do mundo se
pecialmente a escola Antônio Conselheiro, torna simples para o olhar das crianças e é
está na ornamentação da sala da educação brincando, desenhando ou vivenciando di-
infantil quando as crianças são os sujeitos ferentes propostas que elas expressam os
ativos dessa construção, o primeiro contato seus sentimentos e as suas impressões do e
que as crianças têm com a arte é conhecer no mundo.
as cores primárias (vermelho, amarelo, azul,
preto e o branco) e as secundárias (verde, As propostas lúdicas vivenciadas com
violeta, laranja, rosa, cinza), onde conhecen- Arte, quando bem conduzidas pelo profes-
do essas cores, as crianças poderão confec- sor, auxiliam na descoberta e na criatividade,
cionar as bandeiras do Brasil, do Ceará e de modo que a criança se expresse, análise,
do MST, utilizando além das cores, (TNT) 19 critique e transforme a realidade à sua volta.
branco. Estas características vêm se prolon- Sendo assim, a realização desse artigo teve
gando ao longo dos anos, como a primeira uma pesquisa bibliográfica buscando autores
parte de ornamentação da escola, expondo de grande significância nessa área do conhe-
as bandeiras na área de convivência da esco- cimento. Percebeu-se, pela leitura dos textos
la e na sala de aula. estudados, como é de necessária a presença
de vivências com Arte na vida das crianças.
De acordo com os referenciais teóri-
MATERIAIS E MÉTODOS cos e os documentos oficiais analisados, as
vivências com Arte na Educação Infantil se
Levando em consideração o que diz constitui importante nas propostas ofereci-
Marconi (2001), não existe ciência sem a uti- das diariamente nas instituições de educação
lização de métodos científicos. Portanto, foi Infantil. Sendo assim, concluiu-se que não se
de fundamental importância que o presen- deve esquecer de que as propostas com arte
te estudo tenha se embasado em métodos também são capazes de ensinar e de deixar
científicos. as crianças serem mais felizes, fornecendo-
Sendo assim, Gil (1999), por sua vez, -lhes uma estrutura emocional com capa-
nos diz que a pesquisa bibliográfica se apre- cidades para desenvolver os seus diversos
senta como material secundário, ou seja, é aspectos. Portanto, é fundamental que os
realizada através de levantamento de biblio- espaços e, principalmente, o tempo na Edu-
grafia já publicada, em forma de livros, de cação Infantil, destinado à essas vivências
publicações avulsas, de revistas, de impren- e experiências, estejam incluídos na rotina
sa escrita etc., cujo objetivo é fazer com que diária, não somente em um único dia da se-
o pesquisador entre em contato direto com mana, mas como prática permanente de uso
aquilo que foi escrito acerca de determinado das diferentes linguagens pela criança.
assunto, já que o que não está escrito e regis- Acreditamos que ao permitir que a
trado, não está no mundo. criança brinque e utilize as cores e as linhas
Salientamos que, segundo esse méto- das obras de arte − no caso das artes visuais
do, foram abordados conteúdos e informa- −, então estará sendo proposto instrumentos
ções através da leitura de livros, de artigos, para torná-la cada vez mais ativa no proces-
de revistas, bem como da Lei de Diretrizes e so de sua criação e, ao mesmo tempo, sendo
Bases da Educação Nacional. Para a realiza- considerado o seu aspecto emocional, opor-
ção deste estudo foram realizadas também tunizando situações para que ela possa cons-
buscas nas bases de dados eletrônicos “SCIE- truir, ao brincar, sua própria imagem e a do
LO” − por ser a maior base de dados no Bra- mundo ao qual está inserida.
sil − e no “Google Acadêmico”, para ampliar Dessa maneira, a vivência de propos-
a busca e selecionar mais estudos relaciona- tas com Arte, para a criança, tem um signifi-
dos à temática. cado importante, nessa experiência ela pas-
sa a ter conhecimento e compreende o que
constrói. Portanto, brincar nas propostas
CONCLUSÃO com arte colabora para uma boa saúde física
Salientamos que diante dos estudos das crianças, ajuda no desenvolvimento inte-
apresentados até aqui, pode-se concluir pela lectual e facilita o convívio social.

188
Além disso, os profissionais que estão
dispostos a trabalhar com essas vivências e
experiências devem ter a consciência do ver-
dadeiro sentido das propostas brincantes e
lúdicas, proporcionando propostas pedagó-
gicas que devem ter esse ser foco pedagógi-
co, porque ela vai além de qualificar o tempo
das crianças, promovendo afetividade, cari-
nho e sensibilidade, para isso utilizando o lú-
dico, que é a maior fonte de desenvolvimen-
to integral das crianças na Educação Infantil.

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189
A ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NAS SÉRIES INICIAIS
ELIANE FELIZARDO SILVA

RESUMO INTRODUÇÃO
Esse artigo vem buscar reflexões a Os pré-escolares começam a "escre-
respeito da alfabetização na educação infan- ver" rabiscando e desenhando formas seme-
til e nas séries iniciais. A escrita emergente lhantes a letras em um grande movimento
é a primeira tentativa de crianças pequenas circular. Frequentemente, as primeiras letras
no processo de escrita. Crianças a partir dos de uma criança são desenhadas acidental-
2 anos de idade começam a imitar o ato de mente e então identificadas pela criança ou
escrever, criando desenhos e marcações sim- pelos pais. As crianças dessa idade formarão
bólicas que representam seus pensamentos letras para representar a linguagem escrita
e ideias. Este é o início de uma série de está- para palavras significativas como seus nomes
gios pelos quais as crianças progridem à me- ou frases como "Eu te amo". Crianças em ida-
dida que aprendem a escrever. Habilidades de pré-escolar que veem crianças mais ve-
emergentes de escrita, como o desenvolvi- lhas ou adultos escreverem começam a per-
mento de proficiência em escrita de nomes, ceber que escrever tem um propósito e eles
são importantes preditores das futuras habi- vão querer tentar.
lidades de leitura e escrita das crianças. Os O desenvolvimento da língua oral e o
professores desempenham um papel impor- desenvolvimento da escrita se suportam e se
tante no desenvolvimento da escrita emer- influenciam mutuamente. Nos meios letra-
gente de crianças de 3 a 5 anos, incentivando dos, onde a escrita faz parte da vida cotidia-
as crianças a comunicarem seus pensamen- na da família, a construção das duas moda-
tos e registrar suas ideias. Em algumas salas lidades se dá simultaneamente: ao mesmo
de aula da primeira infância, entretanto, ex- tempo em que a criança aprende a falar ela
periências emergentes de escrita são quase começa a aprender as funções e os usos da
inexistentes. Este artigo compartilha uma es- escrita [...]. (TERZI, 1995, p. 91)
trutura para a compreensão da escrita emer-
gente e liga a estrutura para diferenciar as As crianças aprendem a usar símbo-
experiências de escrita emergente de crian- los, combinando sua linguagem oral, ima-
ças pequenas. gens, impressão e brincadeiras em um meio
misto coerente e criando e comunicando
Palavras-Chave: Escrita; Desenvolvi- significados de várias maneiras. A partir de
mento; Primeira Infância. suas experiências iniciais e interações com
adultos, as crianças começam a ler palavras,
processando relações letra-som e adquirindo
ABSTRACT conhecimento substancial do sistema alfabé-
This article seeks to reflect on litera- tico. À medida que continuam a aprender, as
cy and literacy in early childhood education. crianças consolidam cada vez mais essas in-
Emergent writing is the first attempt by you- formações em padrões que permitem auto-
ng children in the writing process. Children maticidade e fluência na leitura e na escrita.
from 2 years of age begin to imitate the act Consequentemente, a aquisição da leitura e
of writing, creating drawings and symbolic da escrita é mais conceituada como um con-
markings that represent their thoughts and tinuum de desenvolvimento do que como
ideas. This is the beginning of a series of sta- um fenômeno do tudo ou nada.
ges through which children progress as they Mas a habilidade de ler e escrever não
learn to write. Emerging writing skills, such se desenvolve naturalmente, sem um plane-
as developing name writing proficiency, are jamento cuidadoso e instrução. As crianças
important predictors of children's future re- precisam de interações regulares e ativas
ading and writing skills. Teachers play an im- com a impressão. As habilidades específicas
portant role in the development of emerging exigidas para leitura e escrita vêm de experi-
writing for children aged 3 to 5, encouraging ências imediatas com a linguagem oral e es-
children to communicate their thoughts and crita. As experiências nesses primeiros anos
record their ideas. In some early childhood começam a definir as suposições e expec-
classrooms, however, emerging writing ex- tativas sobre como se alfabetizar e a dar às
periences are almost nonexistent. This article crianças a motivação para trabalhar no sen-
shares a framework for understanding emer- tido de aprender a ler e escrever. Com essas
ging writing and links the framework to diffe- experiências, as crianças aprendem que ler e
rentiate the emerging writing experiences of escrever são ferramentas valiosas que as aju-
young children. darão a fazer muitas coisas na vida.
Key words: Writing; Development;
Early Childhood.
DO NASCIMENTO À EDUCAÇÃO IN-
FANTIL

190
Já nos primeiros meses de vida, as método ou abordagem de ensino é prova-
crianças começam a fazer experiências com a velmente o mais eficaz para todas as crian-
linguagem. Bebês pequenos fazem sons que ças. Em vez disso, bons professores colocam
imitam os tons e ritmos da conversa de adul- em prática uma variedade de estratégias de
tos; eles "leem" gestos e expressões faciais e ensino que podem abranger a grande diver-
começam a associar sequências de sons fre- sidade de crianças nas escolas. A excelente
quentemente ouvidos - palavras - com seus instrução baseia-se no que as crianças já sa-
referentes. A partir desses inícios notáveis, as bem e podem fazer e fornece conhecimento,
crianças aprendem a usar uma variedade de habilidades e disposições para a aprendiza-
símbolos. gem ao longo da vida. As crianças precisam
aprender não apenas as habilidades técnicas
[...] atividades de expressão como o de leitura e escrita, mas também como usar
desenho, a pintura, a brincadeira de faz-de- essas ferramentas para melhorar seu pensa-
-conta, a modelagem, a construção, a dança, mento e raciocínio.
a poesia e a própria fala [...] são essenciais
para a formação da identidade, da inteligên- [...] a criança que ainda não se alfabe-
cia e da personalidade da criança, além de tizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca
constituírem as bases para a aquisição da es- de escrever, ouve histórias que lhe são lidas,
crita como um instrumento cultural comple- está rodeada de material escrito e percebe
xo (MELLO, 2009, p.22). seu uso e função, essa criança é ainda “anal-
fabeta”, porque não aprendeu a ler e a es-
Em meio ao ganho de facilidade com crever, mas já penetrou no mundo do letra-
esses sistemas de símbolos, as crianças ad- mento, já é, de certa forma, letrada (grifo da
quirem, por meio de interações com outras autora) (SOARES, 2009, p.24).
pessoas, o insight de que tipos específicos
de marcas - impressos - também podem re- A atividade isolada mais importante
presentar significados. No início, as crianças para construir esses entendimentos e habi-
usarão as pistas físicas e visuais em torno da lidades essenciais para o sucesso da leitura
impressão para determinar o que algo diz. parece ser ler em voz alta para as crianças.
Mas, à medida que desenvolvem uma com- A leitura de livros de alta qualidade ocorre
preensão do princípio alfabético, as crianças quando as crianças se sentem emocional-
começam a processar letras, traduzi-las em mente seguras e são participantes ativos na
sons e conectar essas informações com um leitura. Fazer perguntas preditivas e analíti-
significado conhecido. Embora possa parecer cas em ambientes de pequenos grupos pare-
que algumas crianças adquirem esses enten- ce afetar o vocabulário das crianças e a com-
dimentos magicamente ou por conta própria, preensão das histórias. As crianças podem
estudos sugerem que elas são beneficiárias falar sobre as imagens, recontar a história,
de orientação e instrução de adultos conside- discutir suas ações favoritas e solicitar várias
ráveis, embora lúdicas e informais. releituras.
Na educação infantil, ler com os ouvi- Um objetivo central durante esses
dos e escrever com a boca (situação em que anos pré-escolares é aumentar a exposição
a professora ou o professor se põe na função e os conceitos das crianças sobre a impres-
de enunciadora ou de escriba) é mais funda- são. Alguns professores usam livros grandes
mental do que ler com os olhos e escrever para ajudar as crianças a distinguirem muitos
com as próprias mãos. Ao ler com os ouvi- recursos impressos, incluindo o fato de que
dos, a criança não apenas se experimenta na a impressão (em vez de imagens) carrega o
interlocução com o discurso escrito organiza- significado da história, que as sequências de
do, como vai compreendendo as modulações letras entre os espaços são palavras e na im-
de voz que se enuncia num texto escrito. Ela pressão correspondem a uma versão oral, e
aprende a voz escrita, aprende a sintaxe es- que a leitura avança da esquerda para a di-
crita, aprende as palavras escritas (BRITTO, reita e de cima para baixo. No decorrer da
2012, p.17). leitura de histórias, os professores podem
demonstrar essas características apontan-
Uma diversidade considerável nas do para palavras individuais, direcionando
experiências de linguagem oral e escrita das a atenção das crianças para onde começar a
crianças ocorre nestes anos. Em casa e em ler e ajudando-as a reconhecer as letras e os
situações de cuidado infantil, as crianças en- sons.
contram muitos recursos, tipos e graus de
apoio diferentes para a leitura e escrita pre- As crianças também precisam de
coce. Algumas crianças podem ter acesso oportunidade para praticar o que aprende-
imediato a uma variedade de materiais de es- ram sobre impressão com seus colegas e
crita e leitura, enquanto outras não; algumas sozinhas. Estudos sugerem que o arranjo fí-
crianças observarão seus pais escrevendo e sico da sala de aula pode promover o tem-
lendo com frequência, outras apenas ocasio- po com os livros. Uma área importante é a
nalmente; algumas crianças recebem instru- biblioteca da sala de aula - uma coleção de
ção direta, enquanto outras recebem uma histórias atraentes e livros informativos que
assistência muito mais casual e informal. fornece às crianças acesso imediato aos li-
vros. Visitas regulares à escola ou biblioteca
O que isso significa é que nenhum pública e o registro do cartão da biblioteca

191
garantem que os acervos infantis permane- dem aplicar o que aprenderam à leitura real
çam continuamente atualizados e podem em contextos significativos. Mesmo nessa
ajudar as crianças a desenvolverem o hábito idade, no entanto, muitas crianças adquirem
da leitura como um aprendizado para a vida. habilidades de consciência fonêmica sem
Em ambientes confortáveis de biblioteca, as treinamento específico, mas como consequ-
crianças muitas vezes fingem ler, usando pis- ência do aprendizado da leitura. Nos anos
tas visuais para lembrar as palavras de suas pré-escolares, a sensibilização das crianças
histórias favoritas. Embora estudos tenham às semelhanças sonoras não parece depen-
mostrado que essas leituras fingidas são der fortemente do treinamento formal, mas
apenas isso. antes de ouvir textos padronizados e previsí-
veis, enquanto aprecia a sensação da leitura
Os livros de histórias não são o único e da linguagem.
meio de proporcionar às crianças exposição
à linguagem escrita. As crianças aprendem As crianças adquirem um conhecimen-
muito sobre a leitura com as etiquetas, sinais to prático do sistema alfabético não apenas
e outros tipos de impressão que veem ao seu por meio da leitura, mas também da escrita.
redor. Etiquetas impressas altamente visíveis Alguns educadores podem se perguntar se a
em objetos, placas e quadros de avisos em ortografia inventada promove maus hábitos
salas de aula demonstram os usos práticos de ortografia. Ao contrário, estudos sugerem
da linguagem escrita. Em ambientes ricos em que a ortografia temporária inventada pode
impressão, as crianças incorporam a alfabe- contribuir para o início da leitura. Embora as
tização em suas peças dramáticas, usando grafias inventadas pelas crianças não estives-
essas ferramentas de comunicação para re- sem em conformidade com a grafia correta,
alçar o drama e o realismo da situação de faz o processo as encorajou a pensar ativamente
de conta. Essas experiências lúdicas do dia a sobre as relações letra-som. À medida que as
dia por si mesmas não tornam a maioria das crianças se envolvem na escrita, elas apren-
crianças leitores. Em vez disso, eles expõem dem a segmentar as palavras que desejam
as crianças a uma variedade de experiências soletrar em sons constituintes.
impressas e aos processos de leitura para
fins reais. As salas de aula que oferecem às
crianças oportunidades regulares de se ex-
Um insight fundamental desenvolvido pressarem no papel, sem se sentirem muito
nos primeiros anos das crianças por meio da constrangidas para a grafia correta e a cali-
instrução é o princípio alfabético, a compre- grafia adequada, também ajudam as crian-
ensão de que existe uma relação sistemática ças a compreenderem que a escrita tem um
entre letras e sons. Os professores frequente- propósito real. Os professores podem orga-
mente envolvem as crianças na comparação nizar situações que demonstrem o processo
das formas das letras, ajudando-as a diferen- de escrita e envolvam ativamente as crianças
ciar visualmente várias letras. Livros alfabé- nele. Alguns professores atuam como escri-
ticos e quebra-cabeças em que as crianças bas e ajudam as crianças a escreverem suas
podem ver e comparar letras podem ser a ideias, tendo em mente o equilíbrio entre as
chave para um aprendizado fácil e eficiente. crianças fazerem isso sozinhas e pedirem aju-
da. No início, esses produtos provavelmente
Ao mesmo tempo, as crianças apren- enfatizam imagens com poucas tentativas de
dem sobre os sons da linguagem por meio escrever letras ou palavras. Com incentivo, as
da exposição a jogos de consciência linguís- crianças começam a rotular suas fotos, con-
tica, cantigas infantis e atividades rítmicas. tar histórias e tentar escrever histórias sobre
Algumas pesquisas sugerem que as raízes da as imagens que desenharam.
consciência fonêmica, um poderoso preditor
de sucesso na leitura posterior, são encon- Assim, a imagem que emerge da pes-
tradas em rimas tradicionais, saltos e jogos quisa nesses primeiros anos de leitura e es-
de palavras. crita infantil é aquela que enfatiza a ampla
exposição à imprensa e ao desenvolvimento
Embora a facilidade das crianças em de conceitos sobre ela e suas formas e fun-
consciência fonêmica tenha demonstrado ções. Salas de aula repletas de livros impres-
uma forte relação com o desempenho poste- sos, jogos de linguagem e alfabetização, leitu-
rior da leitura, o papel preciso que desempe- ra de contos de fadas e escrita permitem que
nha nesses primeiros anos não é totalmente as crianças experimentem a alegria e o poder
compreendido. Percepção fonêmica se refe- associados à leitura e escrita, enquanto do-
re à compreensão e percepção consciente da minam os conceitos básicos sobre impressão
criança de que a fala é composta de unidades de que a pesquisa mostrou serem fortes indi-
identificáveis, como palavras faladas, sílabas cadores de desempenho.
e sons.
Ainda assim, é altamente suspeito se
esse treinamento é apropriado para crianças A EDUCAÇÃO INFANTIL E A ALFABETI-
mais jovens. Outros estudiosos descobriram ZAÇÃO
que as crianças se beneficiam mais desse
treinamento somente depois de aprenderem O conhecimento das formas e fun-
alguns nomes de letras, formas e sons e po- ções da impressão serve como base a partir
da qual as crianças se tornam cada vez mais

192
sensíveis às formas das letras, nomes, sons e ças acesso efetivo ao mundo da escrita.
palavras. No entanto, nem todas as crianças
vêm para o Leituras repetidas parecem reforçar
ainda mais a linguagem do texto, bem como
jardim de infância com níveis seme- familiarizar as crianças com a maneira como
lhantes de conhecimento sobre a linguagem os diferentes gêneros são estruturados.
impressa. Estimar onde cada criança está Compreender as formas dos textos informa-
desenvolvendo e construir sobre essa base, tivos e narrativos parece distinguir as crian-
uma característica-chave de todo bom en- ças para as quais se leram bem das que não
sino, é particularmente importante para o o fizeram.
professor de jardim de infância. A instrução
precisará ser adaptada para levar em conta Atividades que ajudam as crianças a
as diferenças das crianças. Para as crianças esclarecerem o conceito de palavra também
com muitas experiências impressas, a instru- merecem algum tempo e atenção no currícu-
ção estenderá seus conhecimentos à medida lo da educação infantil. Os gráficos de expe-
que aprenderem mais sobre as característi- riência de linguagem que permitem que os
cas formais das letras e suas correspondên- professores demonstrem como a conversa
cias sonoras. pode ser escrita, fornecem um meio natural
para o desenvolvimento da consciência das
á crianças que chegam à escola sa- palavras pelas crianças em contextos signi-
bendo que a escrita serve para escrever coi- ficativos. A transposição de palavras faladas
sas inteligentes, divertidas ou importantes. por crianças em símbolos escritos por meio
Essas são as que terminam de alfabetizar-se de ditado fornece uma demonstração con-
na escola, mas começaram a alfabetizar mui- creta de que sequências de letras entre espa-
to antes, através da possibilidade de entrar ços são palavras e que nem todas as palavras
em contato, de interagir com a língua escrita. têm o mesmo comprimento.
Há outras crianças que necessitam da escola
para apropriar-se da escrita. Muitas crianças entram na educação
infantil com pelo menos algum conhecimen-
(FERREIRO, 1999, p.23) to superficial das letras do alfabeto. Uma
meta importante para o professor de jardim
Para outras crianças com menos ex- de infância é reforçar essa habilidade, garan-
periências anteriores, iniciando-as no princí- tindo que as crianças possam reconhecer e
pio alfabético, que um conjunto limitado de discriminar essas formas de letras com facili-
letras compreende o alfabeto e que essas le- dade e fluência crescentes. A proficiência das
tras representam os sons que compõem as crianças na nomeação de letras é um indica-
palavras faladas, exigirá uma instrução mais dor bem estabelecido de suas conquistas no
focada e direta. Em todos os casos, entretan- final do ano, provavelmente porque medeia
to, as crianças precisam interagir com uma a capacidade de lembrar sons. Geralmente,
rica variedade de impressos. uma boa regra de acordo com a teoria de
Neste ano crítico, os professores de aprendizagem atual é começar com as letras
educação infantil precisam aproveitar todas maiúsculas mais facilmente visualizadas, a
as oportunidades para aprimorar o desen- serem seguidas pela identificação das letras
volvimento do vocabulário das crianças. Uma minúsculas. Em cada caso, introduzir apenas
abordagem é ouvir histórias. As crianças pre- algumas letras por vez, em vez de muitas, au-
cisam ser expostas ao vocabulário de uma menta o domínio.
ampla variedade de gêneros, incluindo tex- Mais ou menos na época em que as
tos informativos e narrativas. O aprendizado crianças são capazes de identificar os nomes
do vocabulário, entretanto, não é necessa- das letras, elas começam a associá-las aos
riamente simplesmente um subproduto da sons que ouvem. Crianças com consciência
leitura de histórias. Algumas explicações de fonêmica podem pensar e manipular sons
palavras do vocabulário antes de ouvir uma em palavras.
história estão significativamente relaciona-
das ao aprendizado de novas palavras pelas Há evidências acumuladas de que ins-
crianças. truir crianças em atividades de consciência
fonêmica no jardim de infância (e na primei-
Para Soares (2004, p. 12) ra série) melhora o desempenho da leitura.
é imprescindível alfabetizar letrando, Embora um grande número de crianças ad-
pois ambos se complementam: Alfabetizar quira habilidades de consciência fonêmica à
letrando ou letrar alfabetizando pela integra- medida que aprendem a ler, estima-se que
ção e pela articulação das várias facetas do 20% não o farão sem treinamento adicional.
processo de aprendizagem inicial da língua A escrita não se desenvolve, de forma
escrita é sem dúvida o caminho para supe- alguma, em uma linha reta, com um cresci-
ração dos problemas que vimos enfrentando mento e aperfeiçoamentos contínuos. Como
nesta etapa da escolarização; descaminhos qualquer outra função psicológica cultural,
serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou o desenvolvimento da escrita depende, em
aquela faceta como se fez no passado, como considerável extensão, das técnicas de escri-
se faz hoje, sempre resultando no reiterado ta usadas e equivale essencialmente à subs-
fracasso da escola brasileira em dar às crian- tituição de uma técnica por outra. (LURIA,

193
1988, p. 180). é a identificação fluente e precisa das pala-
vras. A verdadeira leitura é compreensão. As
crianças precisam ler uma grande variedade
Na educação infantil, muitas crianças de materiais interessantes e compreensíveis,
começarão a ler algumas palavras por meio que possam ler oralmente com cerca de 90
do reconhecimento ou do processamen- a 95% de precisão. No início, as crianças ten-
to de relações entre letras e sons. Quanto dem a ler lenta e deliberadamente, enquanto
mais oportunidades as crianças tiverem de se concentram exatamente no que está na
escrever, maior será a probabilidade de re- página. Na verdade, eles podem parecer "co-
produzirem a grafia das palavras que viram lados à impressão", descobrindo os detalhes
e ouviram. da forma no nível da palavra. No entanto, a
expressão de leitura, a fluência e a compre-
As primeiras atividades de alfabetiza- ensão das crianças geralmente melhoram
ção ensinam às crianças muito sobre escrita e quando leem textos familiares.
leitura, mas geralmente de maneiras que não
se parecem muito com a instrução tradicio- O conceito de alfabetização refere-se
nal do ensino fundamental. Tirando proveito também ao processo de aquisição das pri-
da natureza ativa e social da aprendizagem meiras letras, e com tal, envolve sequencias
das crianças, a instrução precoce deve forne- de operações cognitivas, estratégias, modo
cer ricas demonstrações, interações e mode- de fazer. Quando dizemos que a criança está
los de alfabetização no curso de atividades sendo alfabetizada, estamos nos referindo ao
que façam sentido para crianças pequenas. processo que envolve o engajamento físico-
As crianças também devem aprender sobre -motor, mental e emocional da criança num
a relação entre a linguagem oral e escrita e a conjunto de atividades, de total tipo, que tem
relação entre letras, sons e palavras. Em salas por objetivo a aprendizagem do sistema da
de aula construídas em torno de uma ampla língua escrita (KLEIMAN, 2005, p. 13, 14)
variedade de atividades impressas, ao falar, As crianças não usam apenas seu co-
ler, escrever, brincar e ouvir umas às outras, nhecimento crescente dos padrões de som
as crianças vão querer ler e escrever e se sen- das letras para ler textos desconhecidos. Eles
tirão capazes de fazê-lo. também usam uma variedade de estratégias.
Mesmo nas primeiras séries, as crianças fa-
zem previsões sobre o que devem ler, auto-
OS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUN- corrigir, reler e questionar se necessário, dan-
DAMENTAL do evidências de que são capazes de ajustar
A instrução assume uma natureza sua leitura quando a compreensão falha.
mais formal à medida que as crianças passam Mas as crianças também precisam de
para as séries do ensino fundamental. Aqui, tempo para a prática independente. Essas ati-
é praticamente certo que as crianças recebe- vidades podem assumir várias formas. Visitar
rão pelo menos alguma instrução de um pro- a biblioteca e programar períodos indepen-
duto publicado comercialmente, como uma dentes de leitura e escrita em salas de aula ri-
série de antologia de base ou literatura. cas em alfabetização também proporcionam
A leitura e a escrita que até então às crianças a oportunidade de selecionar li-
eram práticas culturais cuja aprendizagem vros de sua própria escolha. Eles podem se
se encontrava restrita a poucos e ocorria por envolver em atividades sociais de leitura com
meio de transmissão assistemática de seus seus pares, fazer perguntas e escrever histó-
rudimentos no âmbito privado do lar, ou de rias, todas as quais podem nutrir interesse e
maneira menos informal, mas ainda precá- apreciação pela leitura e escrita.
ria, nas poucas “escolas” do Império (“aulas Relacionamentos de apoio entre es-
régias”) tornaram-se fundamentos da escola ses processos de comunicação levam muitos
obrigatória, leiga e gratuita e objeto de ensi- professores a integrarem a leitura e a escrita
no e aprendizagem escolarizados (MORTAT- na instrução em sala de aula. Afinal, escrever
TI, 2000, p.02). desafia as crianças a pensar ativamente so-
A instrução deve ter como objetivo bre a impressão. Enquanto jovens autores lu-
ensinar as relações importantes entre letras tam para se expressar, eles se deparam com
e sons, que, uma vez aprendidas, são prati- diferentes formas escritas, padrões sintáticos
cadas por meio de muitas oportunidades de e temas. Eles usam a escrita para vários fins:
leitura. À medida que os processos de reco- escrever descrições, listas e histórias para se
nhecimento de palavras se tornam mais au- comunicar com outras pessoas. É importante
tomáticos, as crianças tendem a dedicar mais que os professores exponham as crianças a
atenção aos processos de compreensão de uma variedade de formas de texto, incluindo
nível superior. Como essas experiências de histórias, relatórios e textos informativos, e
leitura tendem a ser gratificantes para as que ajudem as crianças a selecionarem vo-
crianças, elas podem ler com mais frequên- cabulário e pontuar frases simples que aten-
cia; assim, a realização da leitura pode ser dam às demandas do público e do propósito.
um subproduto do prazer da leitura. Uma vez que a instrução de caligrafia ajuda
as crianças a se comunicarem de maneira
Uma das marcas da leitura habilidosa eficaz, também deve fazer parte do processo

194
de escrita. Aulas curtas demonstrando certas Em vez disso, uma avaliação sólida
formações de letras vinculadas à publicação deve ser ancorada em tarefas de escrita e
da escrita fornecem um momento ideal para leitura da vida real e registrar continuamente
o ensino. Oficinas de leitura e escrita, nas uma ampla gama de atividades de alfabeti-
quais os professores fornecem instruções zação das crianças em diferentes situações.
individuais e em pequenos grupos, podem Uma boa avaliação é essencial para ajudar os
ajudar as crianças a desenvolverem as habi- professores a adaptarem a instrução apro-
lidades de que precisam para se comunicar priada para crianças pequenas e saber quan-
com outras pessoas. do e quanto instrução intensiva em qualquer
habilidade ou estratégia específica pode ser
Embora os rascunhos iniciais das crian- necessária.
ças contenham grafias inventadas, o apren-
dizado da grafia assumirá uma importância Ao final da terceira série, as crianças
cada vez maior nestes anos. A instrução orto- ainda terão muito a aprender sobre alfabeti-
gráfica deve ser um componente importante zação. É claro que alguns estarão mais avan-
do programa de leitura e escrita, pois afeta çados no caminho para a leitura e a escrita
diretamente a capacidade de leitura. Alguns independentes do que outros. No entanto,
professores criam suas próprias listas de or- com instrução de alta qualidade, a maioria
tografia, concentrando-se em palavras com das crianças será capaz de decodificar pala-
padrões comuns, palavras de alta frequência, vras com um grau razoável de facilidade, usar
bem como algumas palavras pessoalmente uma variedade de estratégias para se adap-
significativas da escrita das crianças. tar a diferentes tipos de texto e ser capaz de
se comunicar de maneira eficaz para vários
De fato, ainda é preciso aprender a fins usando ortografia convencional pontu-
ler e escrever, mas a alfabetização entendi- ação. Acima de tudo, eles passarão a se ver
da como aquisição de habilidades de mera como leitores e escritores capazes, tendo
decodificação e codificação da linguagem es- dominado o complexo conjunto de atitudes,
crita e as correspondentes dicotomias anal- expectativas, comportamentos e habilidades
fabetismo x alfabetização e analfabeto x alfa- relacionadas à linguagem escrita.
betizado não bastam... mais. É preciso, hoje,
também saber utilizar a leitura e a escrita de À medida que as crianças aprendem as
acordo com as contínuas exigências sociais, formas das letras, eles são capazes de trans-
e esse algo a mais é o que vem designado de formá-las em palavras. Isso adiciona outra
letramento (MORATATTI, 2004, p. 34). ferramenta em seu arsenal de comunicação,
ligando a palavra falada e escrita. Os adultos
À medida que as capacidades das ajudam incentivando esse rabisco e orien-
crianças se desenvolvem e se tornam mais tando para as letras. À medida que os jovens
fluentes, o ensino mudará de um foco central escritores passam de rabiscar para escrever
em ajudar as crianças a aprenderem a ler e mal e para escrever bem, eles começam a se
escrever para ajudá-las a ler e escrever para deslocar para outras habilidades de escrita
aprender. Cada vez mais, a ênfase dos pro- relacionadas à leitura, como ler da esquerda
fessores será em incentivar as crianças a se para a direita e de cima para baixo.
tornarem leitores independentes e produti-
vos, ajudando-os a estender suas habilidades
de raciocínio e compreensão ao aprender so-
bre seu mundo. Os professores precisarão CONSIDERAÇÕES FINAIS
fornecer materiais desafiadores que exijam A alfabetização precoce desempenha
que as crianças analisem e pensem de forma um papel fundamental ao possibilitar o tipo
criativa e de diferentes pontos de vista. Eles de experiências de aprendizagem precoce
também precisarão garantir que as crianças que as pesquisas mostram que estão vincu-
tenham prática em leitura e escrita (dentro e ladas ao desempenho acadêmico, redução
fora da escola) e muitas oportunidades para da retenção de notas, maiores taxas de gra-
analisar tópicos, gerar perguntas e organizar duação e maior produtividade na vida adulta.
respostas escritas para diferentes propósitos
em atividades significativas. Um crescente corpo de evidências
mostra que as experiências de aprendizagem
Ao longo desses anos críticos, a avalia- iniciais estão relacionadas com o desempe-
ção precisa dos conhecimentos, habilidades nho escolar posterior, bem-estar emocional
e disposições das crianças em leitura e escri- e social, menos retenções de série e menor
ta ajudará os professores a combinarem me- incidência de delinquência juvenil e que es-
lhor a instrução com como e o que as crian- ses resultados são todos fatores associados
ças estão aprendendo. No entanto, a leitura e à produtividade adulta posterior.
a escrita iniciais não podem ser medidas sim-
plesmente como um conjunto de habilidades A linguagem oral fornece às crianças
estreitamente definidas em testes padroniza- um sentido de palavras e frases e aumenta a
dos. Essas medidas geralmente não são indi- sensibilidade ao sistema de som para que as
cadores confiáveis ou válidos do que as crian- crianças possam adquirir consciência fonoló-
ças podem fazer na prática típica, nem são gica e fonética. Por meio de sua própria fala,
sensíveis à variação de linguagem, cultura ou as crianças demonstram sua compreensão
experiências de crianças pequenas. do significado das palavras e dos materiais

195
escritos.
Aprender a ler e escrever é um proces-
so contínuo desde a infância. Ao contrário da
crença popular, não começa repentinamente
no jardim de infância ou na primeira série.
Desde os primeiros anos, tudo o que os adul-
tos fazem para apoiar a linguagem e a alfabe-
tização das crianças é fundamental.

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196
A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ELINEIDE VASQUES GUDES

Resumo “Aos poucos, a ideia de música volta-


da somente para recreação, formação de há-
Este artigo tem o objetivo de contri- bitos e comemorações dentro da escola vem
buir com os estudos voltados para a análise modificando-se e apresenta-se hoje mais vol-
de como a música pode influenciar na Edu- tada ao fazer musical enquanto área especí-
cação Infantil, isto é, na educação das crian- fica de conhecimento”. (PONSO, 2014, p.13).
ças, especificamente, crianças pequenas, na
faixa etária de zero a três anos de idade. A Nesse contexto, percebe-se que a
pesquisa, que será de cunho bibliográfico, música deixou de ser mera distração das
será desenvolvida, levando em consideração crianças pequena e passou a fazer parte das
a opinião de diversos autores sobre o tema atividades de cunho pedagógico, intencional-
em questão. Sabendo que a música é um ele- mente planejadas para ser mais um conteú-
mento que está presente na vida do ser hu- do a ser explorado no processo de ensino e
mano desde o seu nascimento ou até mesmo aprendizagem.
no ventre materno, far-se-á um estudo mais
aprofundado sobre os benefícios que ela Embora, a educação musical no Brasil
poderá promover ao indivíduo, nos âmbitos não esteja ligada a nenhum currículo pre-
psicológico, cognitivo e social como um todo, determinado, nem a conteúdos específicos,
mas principalmente às crianças pequenas, ela se apresenta constantemente nas esco-
isto é, na fase inicial da vida. las, principalmente em escolas de educação
infantil como conteúdo pedagógico, promo-
Palavras-Chave: Música; Educação In- vendo o acesso das crianças não só às músi-
fantil; Criança; Creche. cas infantis, mas também a outros gêneros
e estilos musicais como forma de, além da
difusão da cultura musical, propiciar às crian-
INTRODUÇÃO ças o conhecimento dos vários gêneros, bem
como estimular suas preferências musicais.
O elemento música se faz presente na
vida dos seres humanos desde o princípio. Nessa perspectiva, este trabalho como
Ainda no tempo do homem das cavernas, um todo tem como finalidade enfatizar a im-
eles já produziam sons por meio de instru- portância do trabalho com a música na edu-
mentos rudimentares, construídos a partir cação infantil, com foco na faixa etária de
de pedaços de paus, pedras e ossos de ani- zero a três anos de idade, isto é, crianças na
mais. Nesse período, o som que produziam fase da primeira infância, destacando os be-
era utilizado para se comunicarem uns com nefícios que ela proporciona no auxílio ao de-
os outros. senvolvimento infantil em diversos aspectos.
Desde então, a música vem sendo uti- Esta monografia tem como objetivo
lizada em diversas manifestações culturais geral, apresentar os benefícios que o traba-
em todos os países. Ela está presente em ri- lho com a música na educação infantil (0 a 3
tuais religiosos, casamentos, batizados e até anos), proporciona ao desenvolvimento inte-
mesmo em funerais, de acordo com a cultura gral das crianças pequenas. O texto ora apre-
de um determinado povo. sentado visa focar nas especificidades da
educação musical para crianças pequenas,
Na vida das crianças, a música, muitas com foco na promoção do desenvolvimento
vezes se apresenta ainda no ventre materno. infantil de maneira plena por meio de ativida-
A mãe gestante coloca uma música suave ou des específicas planejadas intencionalmente
clássica, com a intenção de transmitir sere- para atingir um determinado objetivo, como,
nidade ao seu bebê. Após o nascimento, a por exemplo, o estímulo à oralidade, a socia-
criança continua em contato com a música lização, o desenvolvimento motor (por meio
através das canções de ninar da mãe ou de de danças, gestos, pulos, etc.), a expressão
quem a cuida. de sentimentos e o estímulo ás atividades es-
No contexto escolar, principalmente senciais para a sobrevivência, como alimen-
na educação infantil, as crianças sempre ti- tar-se, criar hábitos de higiene, dormir.
veram contato com a música, inicialmente
eram apenas músicas infantis, cantadas pe-
las educadoras com a intenção de descon- O Ensino de Música e a Legislação
trair as crianças, ou seja, antes as “musiqui- A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei
nhas” cantadas pelas “tias” eram apenas de n° 9394 de 20 de dezembro de 1996, em seu
cunho recreativo, sem outras intencionalida- art. 26, 2º parágrafo, incluiu o ensino de Arte
des. Atualmente, se percebe a música como como componente curricular obrigatório nos
uma ferramenta pedagógica de valor expres- diversos níveis da educação básica, de forma
sivo na formação integral das crianças. a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos.

197
As orientações curriculares do MEC, gens: fazer, apreciar e refletir sobre a produ-
elaboradas a partir de 1996, determinaram ção social e histórica da arte, contextualizan-
as especificidades do conhecimento artístico do os objetos artísticos e seus conteúdos.
em quatro modalidades: música, teatro, dan-
ça e artes visuais, explicitando os conteúdos Ao recriar suas experiências, o homem
e as metodologias para cada uma delas. desenvolveu o sentir e, ao procurar formas
ou linguagens que melhor traduzissem o que
Em agosto de 2008, foi sancionada a sentia, chegou à arte, uma maneira capaz de
Lei nº 11.769, que tornava obrigatório, mas expressar sua percepção das experiências da
não exclusivo, o ensino de música nas esco- vida na forma de linguagens visuais, verbais,
las brasileiras. As instituições públicas e par- gestuais e musicais.
ticulares teriam um prazo de até três anos
para acrescentar esse conteúdo a sua grade Os conteúdos de Arte a serem ensi-
curricular. Essa lei alterou o artigo 26 da LDB nados e aprendidos nas escolas formam um
de 1996, porém essa alteração foi de difícil vasto leque, cuja diversidade coincide com a
tramitação, e sua aprovação foi considerada arte produzida ao longo da história da huma-
como um avanço. Essa nova legislação abriu nidade nas distintas culturas.
a possibilidade de uma implantação efetiva As diversas linguagens são instrumen-
do ensino de música nas escolas de uma for- tos pelos quais a criança se comunica e cons-
ma abrangente para crianças e adolescentes. trói a si mesma e as culturas nas quais estão
Com a alteração da LDB, a música pas- inseridas. Levam-na ao encontro de palavras,
sa a ser o único conteúdo obrigatório, mas choros, sons, movimentos, traçados, pinturas
não exclusivo. Ou seja, o planejamento peda- etc., todos os instrumentos imbricados em ri-
gógico deve contemplar as demais áreas ar- cas manifestações.
tísticas. Até 2011, uma nova política definirá Nas relações que as crianças estabele-
em quais séries da educação básica a música cem com o seu meio, as diversas linguagens
será incluída e em que frequência. se mesclam, funcionando de forma interde-
No entanto, mesmo com as legislações pendente. Mesmo cientes dessa interdepen-
e documentos curriculares disponíveis para o dência, serão aqui aprofundadas algumas
ensino de Arte, ainda pairam muitas dúvidas dessas linguagens, separadamente, para
sobre com o que se ocupa a disciplina, qual uma melhor compreensão.
o seu papel no currículo e por que, mais que A Arte como linguagem é uma das for-
um luxo, ela se torna uma necessidade na mas de expressão e comunicação humana,
formação de cidadãos. princípio esse que norteia a inclusão do Eixo
A arte é de grande importância para de Arte no currículo da Educação Infantil.
a vida do homem, um instrumento por meio As crianças, de certa forma, recons-
do qual ele se expressa e comunica fenô- troem o caminho percorrido pela humanida-
menos pessoais e sociais, ao mesmo tempo de. Essa reconstrução não significa destruir
em que se posiciona frente a uma realidade, o que já existe, mas sim, agregar novos co-
construindo-a e recriando-a. De acordo com nhecimentos adquiridos por meio da redes-
Iavelberg (2003), coberta e transformação do mundo. Nesse
A arte promove o desenvolvimento de processo de reconstrução da cultura, elas,
competências, habilidades e conhecimentos mediadas pelas múltiplas linguagens, produ-
necessários a diversas áreas de estudos; en- zem conhecimentos sobre a natureza, a so-
tretanto, não é isso que justifica sua inserção ciedade, a ciência e a arte.
no currículo escolar, mas seu valor intrínseco As manifestações das linguagens da
como construção humana, como patrimônio criança e dos artistas convidam a reorganizar
comum a ser apropriado por todos. (IAVEL- o mundo e experimentá-lo em outras ver-
BERG, 2003, p.9). sões, mediados pelos corpos que se mexem,
A Arte constitui uma forma ancestral que nem sempre falam com palavras e letras,
de manifestação, e sua apreciação pode ser mas que tanto dizem, instigando o conheci-
cultivada por intermédio de oportunidades mento do desconhecido ao mesmo tempo
educativas. Quem conhece arte amplia sua em que constroem outros lugares de expe-
participação como cidadão, pois pode par- riências, estranhando e conhecendo a todo
ticipar de modo interativo do meio cultural. instante.
Privar o aluno em formação desse conheci- O trabalho que considere as diferen-
mento é negar-lhe o que lhe é de direito. A tes linguagens da criança implica – além de
participação na vida cultural depende da ca- elaborar, para e com ela, ricos ambientes
pacidade de desfrutar das criações artísticas contendo materiais diversos – a garantia à
e estéticas, cabendo à escola garantir a edu- aproximação à arte em suas diversas formas,
cação em arte para que seu estudo não fique como teatro, cinema, dança, exposições, lite-
reduzido a experiência simplista e distante ratura, música etc., ampliando e reivindican-
da vida cotidiana do estudante. do o direito as manifestações artístico-cul-
O ensino de Arte envolve a ação do turais, transpondo-as de modo corrente e
ser humano em distintos eixos de aprendiza- constante para além do contexto escolar.

198
Considerando os artigos 6° e 9º das Di- professor, diante da missão de transformar
retrizes Curriculares Nacionais da Educação vidas através da transmissão de conheci-
infantil, resolução n° 5, de 17 de dezembro de mentos, deve inserir a música em suas aulas
2009, observam-se os aspectos relacionados por meio de brincadeiras, jogos, parlendas,
a promoção das experiências expressivas de atividades de dança, entre outros. Além das
meninos e meninas no que tange a interação habituais músicas infantis já conhecidas no
com a música, as artes plásticas e gráficas, o repertório das instituições de educação in-
cinema, a fotografia, a dança, o teatro, a poe- fantil, é importante que o professor apresen-
sia e a literatura. te para as crianças outros gêneros musicais
como MPB, música clássica, Música sertaneja
Com isso, pretende-se aproximar as de raiz, moda de viola, forró, pop, rock, dan-
crianças de manifestações artísticas em di- ce, entre outros, valorizando, dessa forma, a
ferentes espaços de criação, além dos esco- música em diferentes contextos e culturas.
lares, a serem experimentados também por Para tanto, os professores não precisam ser
professores, colegas, pais, independente- especialistas em música, apenas é necessário
mente de suas condições sociais e culturais e que tenham a sensibilidade e o interesse em
de modo igualitário. estimular na criança o apreço pela música e
Ainda de acordo com as Diretrizes, as o contato com os vários gêneros musicais,
propostas pedagógicas da Educação infantil mostrando para ela as diferenças dos sons e
devem respeitar princípios estéticos, voltan- dos diversos instrumentos que compõem as
do-se para diferentes manifestações artísti- músicas de acordo com o gênero.
cas e culturais que considerem a diversidade O trabalho com música é muito rico
cultural, religiosa, étnica, econômica e social tanto para as crianças quanto para o pro-
dos pais. fessor, pois é por meio dela que ocorre uma
Dessa forma, as Diretrizes Curricula- maior interação entre todos os envolvidos
res Nacionais para Educação Infantil definem, naquela atividade específica e as crianças
em seu art. 9º, que devem ser garantidas nas se sentem mais livres e soltas no ambiente
instituições experiências que: escolar, ambiente este regido por regras e
posturas. As atividades com música são mo-
[...] favoreçam a imersão das crianças mentos propícios para descontrair e extrava-
nas diferentes linguagens e o progressivo sar as emoções contidas em outras ativida-
domínio por elas de vários gêneros e formas des, como por exemplo, as que exigem maior
de expressão: gestual, verbal, plástica, dra- concentração. Por meio delas, a criança se
mática e musical, bem como [...] promovam desenvolve, interagindo com os colegas, des-
o relacionamento e a interação das crianças cobrindo suas próprias identidades e se afir-
com diversificadas manifestações de música, mando cada vez mais na cultura em que está
artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, inserida.
dança, teatro, poesia e literatura. (BRASIL,
CNE/CEB, 2009, art.9º, incisos II e IX). A experiência com música certamente
fará diferença na vida do indivíduo. O contato
Nesse sentido, numa Instituição de com os vários gêneros e instrumentos musi-
Educação Infantil, é necessário que as crian- cais o tornará mais sociável e respeitador em
ças se apropriem de alguns elementos bási- relação as preferências pessoais e/ou cultu-
cos dos vários sistemas simbólicos criados rais. A música é uma linguagem de expres-
pelos homens e que tenham acesso ao acer- são dentro das escolas e das salas de aula,
vo artístico-cultural, produzidos por meio ela proporciona às crianças, o conhecimento
desses sistemas. Ao mesmo tempo, as diver- e a valorização da própria cultura e das cultu-
sas linguagens precisam estar presentes na ras que as rodeiam.
escola como práticas sociais reais, de forma
significativa e criativa, mediando as múltiplas Nesse contexto, não se trata do traba-
relações que são estabelecidas com e entre lho com a música somente, mas do trabalho
as crianças. É fundamental que essas lingua- com a arte como um todo.
gens possibilitem o compartilhamento de sig- O conhecimento da arte abre perspec-
nificados entre todos os envolvidos e que a tivas para que o aluno tenha uma compreen-
autoria das crianças seja garantida pela fala, são do mundo na qual a dimensão poética
pelo gesto, pelo desenho, pela escrita ou por esteja presente; a arte ensina que é possível
alguma outra forma de registro. transformar continuamente a existência, que
é preciso mudar referências a cada momen-
to, ser flexível. (BRASIL, 1997, p. 20).
A Música e a Educação
Sendo assim, o trabalho com a arte e,
A música enriquece a vida da criança dentro dela, com a música, favorece a flexi-
por meio das oportunidades que lhe pro- bilidade do aluno com relação às mudanças
porciona ao participar dos sentimentos de e transformações que ocorrem dentro das
seus colegas e expressar seus sentimentos culturas e até mesmo no âmbito de sua vida
a eles, enquanto observa, ouve, participa e pessoal.
cria. Como disciplina socializadora, tem tam-
bém grande valor. (BRÉSCIA, 2011, p.86). O O trabalho com música não tem como
objetivo formar músicos ou ensinar um ins-

199
trumento, a proposta é trabalhar a musica- precisa estar em constante interação com
lização por meios dos variados gêneros e outras crianças e com o adulto, vivenciando
estilos musicais, bem como do resgate das as mais diferentes experiências, criando e so-
canções e brincadeiras infantis, músicas e lucionando as mais variadas situações-pro-
brincadeiras do folclore brasileiro, amplian- blemas.
do para outras culturas.
As atividades envolvendo música pro-
A música, como a arte de modo geral, piciam a criança desenvolver a sensibilidade,
afeta a dimensão sensível do ser humano. a criatividade, a imaginação, a atenção, a mo-
Por isso, deve estar presente na escola de vimentação, bem como a socialização, pois
modo intencional e planejado. elas geralmente ocorrem em um ambiente
de interação entre várias faixas etárias. Todos
Embora a música tenha várias fun- os aspectos de seu desenvolvimento estão
ções na vida do ser humano, na escola ela atrelados uns aos outros e exercem influên-
não pode ser confundida com divertimento, cia entre si de tal maneira que não é possível
entretenimento ou ocupação de um determi- estimular um sem estimular também os ou-
nado tempo sem um objetivo musical a ser tros. (WEIGEL, 1988, p.13). O desenvolvimen-
alcançado por meio de processos e produ- to infantil acontece em todos os momentos
tos construídos individual e coletivamente. e espaços do cotidiano da criança, se inicia
A música precisa ter valores e funções mais no seio da família onde ocorre seu primeiro
bem delineadas e intrínsecas, enquanto uma contato social e vai se estendendo com a en-
área específica do conhecimento humano. trada na escola e no convívio em sociedade.
(OSESP, 2004, p. 46). Apesar de cada criança ter seu próprio ritmo
Como mencionado anteriormente, o de desenvolvimento e receber diferentes es-
trabalho com a música na Educação Infantil tímulos de acordo com suas peculiaridades,
não tem por objetivo formar músicos, não ela irá se desenvolver e se socializar com o
ensina partituras e notas musicais, nem to- meio e a cultura a qual está inserida.
car instrumentos, mas sim, é uma proposta O desenvolvimento cognitivo se inicia
de inserir a musicalização no cotidiano das com os reflexos da criança e, posteriormente,
crianças, permitindo que elas tenham conta- se transformam em ações e atitudes. Duran-
to com os diferentes gêneros, bem como com te esse desenvolvimento, por meio das inte-
as mais diferentes formas de produzir sons, rações da criança com outras crianças, com
com jogos, canções e brincadeiras, partindo os adultos e com o meio, elas iniciam tam-
do repertório que já conhece e ampliando bém seu processo de criação. Criam e desen-
suas experiências por meio do contato com volvem movimentos mais complexos e pas-
outros estilos musicais. sam a observar e entender melhor o mundo
Muitos professores não se sentem a sua volta. Dessa forma, percebem também
habilitados para realizar um trabalho com que quando um objeto sai do alcance de sua
música, e justificam-se dizendo que não têm visão, ele não deixa de existir. É a partir dessa
conhecimento específico na área. Entretanto, fase que a criança começa a construir a re-
para a realização de propostas adequadas na presentação mental ou simbólica dos fatos e
área de música, não é necessário que o pro- objetos.
fessor seja um especialista, mas sim, que ele Fontana (1997, p.45) salienta que na
seja um apreciador/crítico de música, que se concepção de Piaget, “conhecer é organizar,
sensibilize diante de boas produções musi- estruturar e explicar a realidade a partir da-
cais e reflita sobre elas. quilo que se vivencia nas experiências com os
objetos do conhecimento”. Nessa perspecti-
va, o desenvolvimento cognitivo é conside-
2.1 O Desenvolvimento Infantil e a Mu- rado um período muito importante na vida
sicalização da criança. A partir do início do período de
O desenvolvimento de uma criança é cognição, o pensamento da criança se torna
algo que vai muito além do que se observa mais organizado, permitindo que ela seja ca-
superficialmente. A criança não se desenvol- paz de compreender os fatos que acontecem
ve apenas nos aspectos físicos e intelectuais, à sua volta, em seu cotidiano. Nesse contex-
seu desenvolvimento é constante. Cada eta- to, o contato com a música poderá desenvol-
pa de seu crescimento, isto é, em cada idade ver nela diversas formas de se manifestar e
e/ou fase, ela apresenta um comportamen- também de criar. Nesse sentido, a teoria das
to diferente, nos aspectos emocional, social inteligências múltiplas de Howard Gardner
e intelectual. É necessário que os professo- contribui para o entendimento da questão da
res e os adultos em geral, compreendam o influência da música no desenvolvimento das
comportamento de cada criança e respeite várias inteligências da criança.
as singularidades de cada uma delas, pois as Para Gardner (1995, p.21), “Uma in-
mudanças que vão ocorrendo com elas, não teligência implica na capacidade de resolver
podem ser ignoradas. problemas ou elaborar produtos que são im-
Para se desenvolver sadiamente, a portantes num determinado ambiente ou co-
criança precisa do contato com o outro, ela munidade cultural”. Uma dessas inteligências
múltiplas destacadas por Gardner é a inteli-

200
gência musical que implica na observação se Educação Infantil, principalmente na faixa
a criança possui habilidades em se orientar etária de 0 a 3 anos de idade. Por meio da
pelos tons ritmos musicais, bem como seu in- pesquisa bibliográfica e com as opiniões de
teresse em aprender a tocar instrumentos e renomados autores e especialistas no assun-
reconhecer notas e partituras musicais, além to, ficou evidente que é muito importante
da habilidade de saber diferenciar os sons de promover o contato das crianças pequenas
diferentes instrumentos. Gardner (1995) des- com os mais variados gêneros musicais. Con-
taca, ainda, que inicialmente a inteligência se cluiu-se que, por menores que as crianças se-
expressa em grande potencial a partir da in- jam, elas têm capacidade de escutar, apreciar
teração genética e ambiental. Daí a importân- e compreender a música. Elas se expressam,
cia de se preparar e organizar um ambiente em contato com a música, por meio de ges-
estimulador para as atividades com música tos, movimentos e expressões faciais. Esses
na escola para favorecer ainda mais o desen- estímulos recebidos pela influência da músi-
volvimento cognitivo da criança e possibilitar ca favorecem o desenvolvimento das crian-
o desenvolvimento da habilidade musical. ças pequenas em todos os aspectos (físico,
Para tanto, deve ser oferecido a ela um am- motor, cognitivo, afetivo, intelectual e social),
biente rico e estimulador, no qual, por meio também favorece a aquisição de diferentes
de vivências e oportunidades favoráveis à sua linguagens, amplia o vocabulário oral musi-
faixa etária, ela possa se desenvolver intelec- cal e cultural.
tualmente forma ampla e dinâmica, sempre
levando em consideração a individualidade e Chegou-se à conclusão que é muito
as singularidades de cada criança. O indiví- importante considerar as possibilidades que
duo livre, que constrói a sua personalidade a música oferece para enriquecer o contexto
através do trabalho e do desenvolvimento da pedagógico das salas de aula, bem como das
sua inteligência, alcançará a sua independên- escolas de educação infantil. Partindo desse
cia, a sua autonomia para poder dirigir a sua princípio, constatou-se como a cultura infan-
vida, escolhendo o caminho que melhor lhe til é capaz de transformar o ambiente escolar
aprouver, para que possa conseguir bastar- em um rico espaço de troca de experiências,
-se a si próprio. (ANGOTTI, 2003, p.28). onde a música age principalmente no de-
senvolvimento da interação, da criatividade,
A música oferece diversas formas da memorização, da expressão entre outros
para a criança se expressar e auxilia no seu fatores cognitivos, motores e afetivos. É pos-
desenvolvimento como um todo. Dessa for- sível concluir por meio deste trabalho que a
ma, o contato e a participação das crianças música auxilia o desenvolvimento da criança,
com atividades musicais, como ouvir, apre- além dos aspectos já citados, também pro-
ciar e cantar favorece o desenvolvimento de picia o desenvolvimento da aprendizagem
habilidades diversas. Com a inserção dessas em todas as áreas do conhecimento huma-
atividades, a criança desenvolve acuidade au- no. Observou-se que o ensino de música não
ditiva e tende a acompanhar os movimentos, objetiva formar músicos profissionais e que
os gestos o ritmo musical. Aplicando a mu- o professor da sala também não precisa ser
sicalidade em meio ao desenvolvimento das especialista no assunto, basta apenas que ele
crianças, faz com que elas se tornem mais análise e leve em consideração as experiên-
atentas, perceptíveis e observadoras. Dessa cias que as crianças já trazem de seus con-
maneira, elas vão gradativamente descobrin- textos familiares e, a partir de então, realize
do suas capacidades, vivenciando sua cultu- pesquisas sobre o tema a fim de encontrar
ra e a partir de então, estabelecem relações a melhor forma de trabalhar esse conteúdo
com o meio no qual estão inseridas. Nesse com as crianças pequenas. Ficou evidente
contexto, Gardner (1995, p.23) defende que que a musicalização, tem muito a oferecer
as “evidências de várias culturas apoiam a para a formação das crianças e também que
noção de que a música é uma faculdade uni- o processo de aprendizagem, no contexto
versal. Os estudos sobre o desenvolvimento musical, acontece de forma lúdica, promo-
dos bebês sugerem que existe uma capacida- vendo o prazer em aprender.
de computacional “pura” no início da infân-
cia. Finalmente, a notação musical oferece Esta monografia iniciou discorrendo
um sistema simbólico acessível e lúcido”. um pouco sobre a necessidade que o ser hu-
mano tem de incluir a música em sua vida,
A partir das ideias de Gardner, é possí- seja nas comemorações felizes ou nos mo-
vel discorrer sobre as inteligências das crian- mentos tristes, bem como em homenagens
ças que, se estimuladas, podem leva-las a diversas. Também se falou um pouco sobre
caminhos até então desconhecidos e que a cada período da música e como ela era vis-
imaginação delas não tem limites e devem ta pela sociedade da época, isto é, qual era o
ser aguçadas durante todo o seu desenvol- seu sentido e a sua finalidade.
vimento.
Com a conclusão deste trabalho espe-
ra-se ter contribuído de maneira significativa
para sanar possíveis dúvidas de professores
CONSIDERAÇÕES FINAIS e educadores que, por alguma razão, não se
Este trabalho objetivou a constatação sentem seguros em trabalhar a musicaliza-
da importância do trabalho com música na ção com seus alunos ou talvez não tivessem
conhecimento dos inúmeros benefícios que

201
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202
O ESTUDO DA PEDAGOGIA WALDORF
FABIANA PEREIRA ACIOLI

RESUMO “CAPÍTULO 1 - ANTROPOSOFIA


Este artigo trata de uma pedagogia A pedagogia Waldorf foi fundada e
que visa o desenvolvimento integral do ho- estruturada por Rudolf Steiner no primeiro
mem tornando-o, ao longo de sua trajetória quarto de século XX (1913), com a fundação
escolar, um ser livre, crítico e sem preconcei- da primeira escola em São Paulo, em 1955
tos com base numa relação de amor entre por um grupo de pais e educadores interes-
educador e educando, onde o educador atua sados em implantar a Pedagogia
em cada fase do desenvolvimento através
de sua personalidade e com o que dispõe a Waldorf no Brasil. Recebeu inicialmen-
criança, ambos agindo de forma harmoniosa te o nome de “Escola Higienópolis” e em 1958
para um desenvolvimento espiritual e moral. mudou-se para o Alto da Boa Vista, instalan-
Temos como objetivo mostrar que é possível do-se em uma propriedade rodeada de jar-
estimular a criança de forma que ela possa dins, muitas árvores e espaço para o desen-
sentir o que está sendo trabalhado em sala volvimento de todas as atividades previstas
de aula, seja de forma artística, artesanal, en- no currículo Waldorf.
tre outras. A pedagogia Waldorf incentiva e A Antroposofia, que significa sabedo-
encoraja a imaginação, conduzindo o aluno a ria do homem, ciência espiritual tendo por
um pensamento livre e autônomo. ponto de partida o homem considerando o
“A liberdade individual é a maior ri- físico, o emocional e o espiritual para um de-
queza do homem”, a partir desta analise, Ru- senvolvimento integral.
dolf Steiner baseou-se em uma educação que Na antroposofia, segundo Rudolf Stei-
responde as necessidades de humanidade, ner (1983, pág. 38) o homem é constituído
segundo Steiner um homem só pode se evo- por quatro membros:
luir de forma adequada ao seu tempo, se ele
levar em consideração as necessidades do O eu: o que lhe dá a sua personalida-
homem, a base desse princípio é a liberda- de, o centro do seu ser.
de, o princípio básico na pedagogia Waldorf O corpo astral: veículo para sensações
encontramos três pontos de expressão do e sentimentos onde o homem recebe as im-
corpo, o sentir o pensar, que correspondem pressões do mundo físico e interage com a
a três funções, o querer, o sentir e o pensar, realidade.
eles precisam ser trabalhados, para uma to-
tal realização do ser humano. O corpo etérico: é o que dá a vida ao
Vamos mostrar que o aluno da escola homem, o pensamento e a memória. Dá vida
Waldorf, sai preparado para lidar com cons- ao organismo.
tantes mudanças com criatividade, flexibi- O corpo físico: o corpo físico do ho-
lidade, responsabilidade, e capacidade de mem é a base que permite participar do
questionamento. A pedagogia Waldorf enca- mundo físico, expressão do corpo vital.
ra o estágio de desenvolvimento da criança
e olha em qual estágio uma criança está e Steiner (1983), mostra que tudo que
como ela aprende melhor. É ministrado na se passa nesse mundo e com os homens é
escola o mesmo currículo exigido em outras influenciado por seres superiores, mas que
escolas como: português, matemática, ciên- isso não impede o homem em certo grau de
cias físicas e biológicas, história e geografia. desenvolvimento, se libertar dessa força su-
Mas de acordo com os objetivos da Educação perior e agir por si só. Também diz que esses
Waldorf, os alunos terão acesso também a seres possuem uma hierarquia de evolução,
matérias como astronomia, teatro, zoologia, não precisam de um corpo físico para a sua
botânica, euritmia, música, trabalhos manu- existência e que atuam direta ou indireta-
ais, artesanato, agrimensura, astronomia de mente no desenvolvimento humano, ou seja,
posição, filosofia, artes plásticas e cênicas, a existência humana não é a única e isolada.
assim como línguas estrangeiras. A Antroposofia explica essa existência atra-
vés de situações cármicas, ou seja, desde o
Mas porque uma metodologia tão an- nascimento o filho carrega situações herda-
tiga é tão atual nos dias de hoje? Por que as das do pai ou da família e isso orientará o ho-
escolas públicas não aderem a esse tipo de mem a vida inteira e determina as suas qua-
educação? Vamos entender mais o trabalho lidades, depois vem encontros com pessoas
de Rudolf Steiner que fundou e dirigiu a pri- que o indivíduo já conviveu em outras vidas
meira escola em 1919 com esse método. e que lhe dá oportunidade de resolver situa-
Palavras chaves: Pedagogia; ções e problemas deixados para trás o que
Antroposofia; Setênios; Waldorf; Desenvolvi- garante a evolução do seu desenvolvimento.
mento. O homem se desenvolve não somen-
te pela aquisição de novos conhecimentos e

203
técnicas. permeia. Nessa idade ela nem emprega a pa-
lavra “eu” ou “você”: chama a si própria pelo
Ele evolui sobretudo pelo aperfeiçoa- nome, como exemplo: “Ana quer comer”, e
mento de suas faculdades anímicas mentais somente a partir dessa idade aparecem os
e morais. Sua própria idade, o grau de sua primeiros vestígios da memória permanente:
consciência e sua maneira de pensar evolu- tanto é que o adulto não se recorda de fatos
íram no passado e evoluirão no futuro. Ele anteriores aos três anos.
vive e viverá adquirindo novas faculdades.
(Lanz, 1983p. 26). Ao fim do período dos sete anos a
criança chegará sozinha ao grau de desenvol-
A ciência antroposófica de Stei- vimento à que constitui esse período e que
ner1983explica que a personalidade ( o eu) se manifesta por vários sinais: ela se alonga,
de um recém-nascido é antigo como de qual- seus dentes definitivos aparecem, ela muda
quer pessoa, não nasce com o nascimento, e de aspecto e isso tudo indica que ela está in-
que no decorrer da sua vida procura se rea- gressando na maturidade escolar.
lizar e é de fundamental importância a ajuda
dos pais e educadores que possuem grande O segundo período que se dá dos sete
responsabilidade em favorecer essa realiza- aos catorze anos, é onde se desenvolve o cor-
ção do eu. po astral, nessa fase quem deve ser alimenta-
do de maneira sadia é o corpo astral. Os sen-
Ao nascer o corpo físico está aca- timentos se formam e precisam de incentivos
bado, existem e funcionam todos os órgãos, apropriados. Os órgãos sensitivos nessa fase
menos o da reprodução, mas durante os pri- servem como “antenas” para as emoções: a
meiros sete anos o corpo etérico está ligado criança começa a gostar de música, pintura;
intimamente ao corpo físico: a criança se fixa ela compartilha das emoções e sofrimentos
pouco a pouco na alimentação dos adultos, de seus heróis na leitura; resumindo a alma
levanta-se, aprende a mover-se no espaço, passa ao primeiro plano.
aprende a falar e finalmente o aparecimento
da segunda dentição, dá um certo fim à essa Ainda segundo Steiner 1983 essa fase
tarefa do corpo etérico. Poderíamos assim que é desenvolvido os dons artísticos das
dizer que o nascimento de um corpo etérico crianças. O corpo etérico se liberta das tare-
autônomo ocorre aproximadamente aos 7 fas do primeiro setênio e sua prioridade ago-
anos, quando a criança está pronta para ir à ra é o pensar e a memória. O pensamento
escola (Lanz, 1983, pág. 53) se torna capaz de grandes esforços e deverá
ser desenvolvido na escola de maneira ade-
Segundo Steiner 1983, para quem ad- quada.
mite que a existência de um corpo etérico e
que seu intenso desenvolvimento se dá du- Entre os “alimentos” do corpo astral
rante os primeiros 7 anos, (pois o corpo físico temos ideais, figuras com sentimentos se-
foi construído durante os 9 meses de gesta- jam na mídia ou nas revistas em quadrinhos,
ção) não estranha que esse corpo precise de os grandes heróis fertilizam a imaginação e
alimentação adequada, o corpo deve receber o idealismo, as vivências artísticas elevam a
certos impulsos. alma e o corpo inteiro, com todo o seu pi-
que estão propícios a se dar bem no esporte,
Esses alimentos úteis são: dança, peças teatrais e outras artes que nun-
Seria ideal deixar a criança pequena ca em outra fase, as crianças saberão inter-
entregue à fantasia, num mundo harmonio- pretar com tanto empenho.
so e sem distúrbios. Pois nessa idade ela vive Em contrapartida, os perigos nessa
imitando o seu ambiente, mesmo que de fase são múltiplos, pois pode-se idealizar e
maneira inconsciente. Tudo a permeia e seu fantasiar sobre figuras de valores duvidosos,
organismo sofre com discussões em voz alta como bandidos de filmes e quadrinhos. A in-
entre seus pais, ruído do rádio, barulhos e fluência de meios modernos de comunicação
nervosismos da nossa vida cotidiana. com baixo nível moral, intelectual e artístico
Muitas vezes a semelhança de uma também pode influenciar na vida da criança.
criança com seus pais e avós não é congêni- E os crimes que se cometem contra a criança
ta, ela é adquirida pelas imitações de gestos, nessa idade têm efeitos incalculáveis e defi-
expressões e atitudes. Os exemplos de pais e nitivos.
irmãos educam, mas os gritos e atitudes er- Nessa idade a personalidade já se afir-
radas não. ma mais, não se limitando a imitar, a criança
A criança pequena deve ser sempre quer agora idealizar, respeitar, venerar. A au-
guiada por uma mão carinhosa, deixar a toridade baseada em carinho, amor e afeto é
criança livre é uma maneira errada de deixá- a melhor relação pedagógica nessa idade, o
-la seguir a vida. A disciplina é um alimento professor deve respeitar o espaço dos seus
da sua organização etérica, base de toda sua alunos, seu “eu” vai se firmando cada vez
vida futura. mais e o seu idealismo vai se concretizando
mesmo que ainda meio inconsciente (Lans,
Até os três anos de idade a criança pos- 1983, pág. 68).
sui um eu, mas ainda sem autoconsciência,
ela vive entregue ao mundo exterior que a No terceiro período, dos 14 aos 21

204
anos, o “eu” é a parte eu se desenvolvo. punição para a maldade, eu nunca falto. Os
contos, com seu ritmo, sua dinâmica e seus
Na sua maturidade, o indivíduo é con- efeitos têm alto valor educativo.
siderado civil e plenamente responsável.
Voltando para a educação em geral
Com a evolução do eu, nasce uma (seja pai, mãe ou educador), não há traba-
consciência da própria personalidade, um lho que exija mais idealismo do que este,
sentimento de alienação e separação dos ou- hoje tão desprezado como “simples” profes-
tros. O indivíduo começa a ter vida própria, o sor. Além de ter a consciência de tudo que
adolescente faz poesias e escreve diários ínti- acontece a sua volta e tudo que ele próprio
mos. Após a crise da puberdade a vida senti- faz, é de responsabilidade do educador levar
mental se sublima, o jovem começa a “amar”. futuros homens ao seu destino final de Ho-
Ao mesmo tempo seu idealismo se dirige mens; de fazer transparecer as suas faculda-
para elementos mais elevados como discus- des mais belas, corrigindo cuidadosamente
sões filosóficas e metafísicas, ideais políticos os defeitos aparentes, exige muita modéstia,
e sociais. Nessa fase suas faculdades mentais pois o educador nunca deve formar a crian-
estão altamente desenvolvidas. ça de acordo com sua própria imagem, mas
O pedagogo pode, sem medos, recor- procurar a feição da individualidade e fazer
rer ao poder de abstração do seu aluno, isto com que ela siga harmoniosamente o cami-
é, ele pode contar com a inteligência do alu- nho que leva a si própria.
no para que possa aprender junto com ele A realização desses ideais pedagógi-
e também ter ideias para um melhor desen- cos é praticada hoje nas escolas “Waldorf”,
volvimento das atividades. O jovem passa do fruto das ideias de Rudolf Steiner. No Brasil
mundo da alma ao mundo do espírito. Dú- há 72 escolas Waldorf, sendo a maioria em
vidas e concepções religiosas o atormentam; São Paulo, onde há 39 unidades no estado, as
ele começa a criticar tudo e todos. Uma edu- outras estão espalhadas entre: Mato Grosso,
cação bem focada não impedirá o desejo de Goiás, Distrito Federal, Ceará, Pernambuco,
criticar, mas evitará a negatividade, o cinis- Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná,
mo, dando prioridade à vontade de sempre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essas es-
respeitar o outro, de nunca esquecer os prin- colas seguem uma orientação totalmente di-
cípios morais e sociais. A leitura também abre ferente das adotadas em outras escolas. Em
caminhos para pensamentos mais sensatos 1910, Rudolf Steiner foi solicitado a fundar
e interessantes, pois ela traz consigo enten- uma escola para os filhos dos operários da
dimento, cultura, reflexão, conhecimento, vo- fábrica alemã de cigarros Waldorf-Astoria, e
cabulário, diversão e informação. Sendo as- dar a essa escola o devido fundamento peda-
sim, um jovem informado, culto está menos gógico. Dessa escola eu se chamava “Escola
propenso a negatividades. Waldorf
O fim dos estudos escolares e univer- Livre”, nasceram as escolas existentes
sitário marca o fim desse terceiro setênio. hoje em muitos países do mundo inteiro, e é
O homem agora pode tomar o seu destino praticado um ensino baseado nos princípios
em suas próprias mãos, mas até o dia de sua pedagógicos idealizados por Rudolf Steiner,
morte deve conservar este conceito de saber de acordo com seu profundo conhecimento
aprender e corrigir suas próprias ideias. da natureza humana.
Em todas as fases do ensino, o ele- Não há campo da vida humana que
mento artístico deve estar presente, pois não tenha recebido impulsos preciosos da
ele ameniza o uso do intelecto e à dinâmica Antroposofia, e mesmo tendo sido um nú-
fútil. Os movimentos são uma atividade da mero reduzido de homens que souberam as
própria infância, por isso devemos deixar a informações, após a morte de Rudolf Steiner,
criança gesticular e se mover de acordo com em 1925, continuaram sua obra pesquisado-
seus próprios impulsos. ra e cheia de realizações.
O autor também discute o valor dos A antroposofia não se limita a ser ape-
contos de fadas. Que tiram a criança da re- nas doutrina ela é fonte de realizações práti-
alidade, que contém certos trechos cruéis, cas e satisfaz qualquer espírito crítico devido
valores duvidosos. Primeiramente os bons as suas atitudes, caráter científico e resulta-
contos são aqueles que tem em seu contex- dos.
to a sabedoria popular, como os dos irmãos
Grimm. Os verdadeiros contos fazem com
que as crianças retirem profundas verdades,
embora numa forma primitiva, mas, adequa- 1.1 - PRINCÍPIOS DA PEDAGOGIA
da aos primeiros anos de vida. Um conto ja- WALDORF
mais deve ser lido, e sim, narrado e repetido A base da Pedagogia Waldorf é conce-
em seguidos dias. A pessoa eu conto deve ber ao homem a harmonia físicoanímicoespi-
falar como se acreditasse em tudo eu conto. ritual na prática educativa, partindo da visão
Os trechos cruéis não devem ser, eles de- antropológica, fazendo com que esta educa-
sempenharão a função de ser o momento de ção responda às necessidades atuais e futu-
maior tensão a partir do qual tudo corre para ras do homem.
o desenlace feliz, a recompensa do justo, a

205
O ser humano deve buscar a respos- biente e das pessoas com quem convivem.
ta que seu interior é capaz de realizar, pois
todos nascemos com predisposições e capa- Ela imitará a mãe nas suas tarefas diá-
cidades que ao longo do tempo se desenvol- rias, ela brincará com seus colegas de médico
verão. e de família, seu mundo se baseia na imita-
ção e identificação. Embora inconsciente o
Segundo os princípios são pautados que predomina na criança é a vontade.
na Trimembração do Organismo Social, que
partiu da revalorização dos impulsos da Re- Considerando o falar, o andar e o pen-
volução Francesa: Liberdade, Igualdade e sar, a criança aprende mais do que em toda
Fraternidade, onde se tem liberdade (no pen- a vida em seus três primeiros anos e esse
sar) com responsabilidade, igualdade (jurídi- aprendizado e o fundamento da existência
co-legal) de deveres e direitos e fraternidade humana. O corpo etérico está dedicado ao
como respeito mútuo regendo as instituições seu desenvolvimento e a sua atuação no cor-
com base na Pedagogia Waldorf. po físico.
No início do século passado, Rudolf Ao final do primeiro setênio a criança
Steiner retomou a ideia que havia na antiga mostra sinais evidentes da evolução do seu
cultura grega, onde se dividia a vida humana corpo etérico caem os dentes de leite, o cor-
em dez períodos de sete anos, ou setênios e po se alonga, os músculos aparecem, a me-
as fundamentou para o ensino aplicado à Pe- mória e a inteligência vão se desenvolvendo.
dagogia Waldorf. Do período entre a infân- Tudo isso exige a observação de mui-
cia e adolescência dá-se importância aos três tas regras de conduta e de auto-observação
primeiros setênios, nas faixas de 0 a 7 anos, que os adultos devem seguir, se quiserem
de 07 a 14 anos e de 14 a 21 anos (as idades assumir o papel tão difícil de educadores de
são aproximadas devido a fatores que ante- crianças. (Lanz,1983, pág.45).
cipam alguns acontecimentos), período em
que a criança e o jovem recebem educação
na escola. 1.4 - O SEGUNDO SETÊNIO: JUVENTU-
DE
1.2 - A CRIANÇA Nesse período predomina a ação do
corpo astral, onde desenvolve - se o senti-
Rudolf Steiner descreve a vida huma- mento, as fantasias e as emoções.
na em ciclos de aproximadamente sete anos
(setênios) onde em cada um desses ciclos se Steiner acreditava que a melhor ma-
desenvolve de maneira mais evidente um neira de trabalhar a educação nessa fase é
membro da entidade humana (o eu, o cor- trazer o mundo a sala de aula, vivências e
po astral, o corpo esotérico e o corpo físico) emoções intensas em todas as matérias, o
embora essa divisão possa ser observada du- professor alcançará seus objetivos com os
rante a vida inteira, a educação limita-se aos alunos fazendo de cada aula uma obra de
três primeiros mais ou menos até os 21 anos arte interagindo com os sentimentos e fanta-
de vida. sias dos alunos.
No nascimento o homem já possui os Enquanto no primeiro setênio a edu-
quatro membros da entidade humana, mas o cação deve ter como princípio o carinho e o
que nasceu foi o corpo físico cortando o cor- amor no segundo setênio deve ser a auto-
dão umbilical que o unia ao corpo materno. ridade, em um relacionamento baseado no
respeito na regeneração e no reconhecimen-
O corpo etérico ainda está preso com to das qualidades do educador e dos pais.
as forças universais e durante sete anos en-
contra-se em processo de amadurecimento.
Durante o segundo setênio (7a 14 1.5 - O TERCEIRO SETÊNIO: ADOLES-
anos) se forma a personalidade e a individu- CÊNCIA
alidade que é o amadurecimento do corpo Desenvolve-se a autonomia do eu e
astral. as faculdades mentais e morais. O indivíduo
Nesse processo de desenvolvimento torna-se capaz de agir de acordo com seus
(que dura 21 anos) o homem precisa de con- critérios éticos.
vívio com outros homens e aprender o que é No terceiro setênio o princípio peda-
necessário para sobreviver levando em con- gógico é o reconhecimento da capacidade
sideração a parte espiritual do seu ser, ele moral e intelectual do educador, ou seja, pe-
nunca deixa de crescer, aprender e aperfei- las suas qualidades, onde o jovem procura
çoar-se. alguém para admirar.
As características do processo evoluti-
1.3 - O PRIMEIRO SETÊNIO: INFÂNCIA vo da aprendizagem e transmissão do conhe-
cimento requerem um grande conhecimen-
Nesse primeiro momento todo o com- to por parte do professor, Waldorfe a ação
portamento da criança são cópias do am- pedagógica devem ser o agente facilitador

206
deste processo, pois quando as respostas às res e entidades ligadas à educação, começa-
expectativas dos estudantes são atendidas a ram a organizar um projeto de lei que viesse
aprendizagem tem caráter significativo. substituir a LDB vigente na época. Este projeto
que vinha sendo formulado sobre uma nova
O estudante deve ter um acompanha- concepção de democracia participativa. Tudo
mento do seu desenvolvimento integralmen- indica que o projeto, após algumas modifica-
te, pois passa da infância à adolescência na ções convertido na nova Lei de Diretrizes e
escola. É a educação transcendendo a trans- Bases da Educação Nacional, teve assessoria
missão de conhecimento e cultivando deva- de pessoas que ocuparam ou ocupam cargos
gar e com carinho o intelecto e a sensibilida- no Ministério da Educação. Esta nova LDB,
de humana. chamada por alguns autores de "minimalis-
A Pedagogia Waldorf trabalha a for- ta", por conter poucas Regulamentações, dá
mação do indivíduo, é o chegar, fazer e ser. ampla liberdade às escolas apresentarem
Ter mais sabedoria do que conhecimento e o suas propostas pedagógicas, além de ter in-
professor deve atar tudo isso com um laço de corporado alguns conceitos inovadores para
amor partilhado. a maioria das escolas como a questão da pro-
gressão continuada do aluno, o respeito pela
Um educador deve ter qualidade e relação idade/série, aspectos importantes à
capacidades diferentes em cada setênio da Pedagogia Waldorf
vida escolar do aluno, que estão ligados aos
princípios pedagógicos elaborados por Stei- (MIZOGUSHI, 2002).
ner (1983 pág. 73): Embora reconhecida como entida-
de pública federal e estadual, as Escolas Wal-
dorf não recebem auxílio governamental,
CAPÍTULO 2 - PEDAGOGIA WALDORF possuindo uma entidade mantenedora que
NO BRASIL recebe doações e mensalidades dos alunos
Em 27 de fevereiro de 1956, na cida- para cobrir custos, mas isso não impede que
de de São Paulo, é fundada a primeira Esco- qualquer cidadão brasileiro que compactua
la Waldorf no Brasil, integrada à realidade com os princípios Waldorf, funde sua escola
brasileira e mantendo os fundamentos de com fins lucrativos.
seu idealizador. Os fundadores, um pequeno
grupo de amigos, Schimidt, Mahle, Berkhout
e Bromberg, convidaram o casal Karl e Ida Ul- 2.1 – A ESCOLA WALDORF
rich da Escola Waldorf de Pforzheim, Alema- O currículo da Pedagogia Waldorf, de
nha para fundar a escola, lecionar e preparar acordo com a Antroposofia, tem como base
os professores para que lecionassem as fases do desenvolvimento da criança, e
a Pedagogia Waldorf. cabe a escola prover estas necessidades in-
A escola começou com um pequeno dependentemente da imposição de governos
grupo de 28 alunos de Jardim da Infância e ou forças econômicas, também deve incen-
antigo Primário. Após ser reconhecida como tivar a criatividade para se ter uma criança
escola experimental, completaram as primei- com pensamento livre que se tornará um jo-
ras quatro séries iniciais. Em consequência vem com maturidade social.
da realização de um bom trabalho, em 1979
o Ensino Fundamental foi autorizado a fun-
cionar com a duração de nove anos, e na se- 2.2 JARDIM DA INFÂNCIA
quência, o Ensino Médio.
O jardim da infância deve ser a re-
Com um número crescente produção da família, deve ter um ambiente
de estabelecimentos de ensino Waldorf, em acolhedor e aconchegante onde nasce a se-
abril de 1998 foi fundada a Federação das Es- gurança e a confiança no mundo. O princípio
colas Waldorf no Brasil. Que tem como um educativo é a imitação e a autoridade que en-
dos objetivos, consolidar a Pedagogia Wal- fraquece a vontade da criança deve ser evi-
dorf na sociedade brasileira. tada.
Atualmente existem quase 30 Escolas Os brinquedos devem ser de mate-
Waldorf funcionando no Brasil e a primeira riais naturais como: madeira, pedras e panos,
da rede pública de ensino, na cidade de Nova nada de plástico ou sintético. Os objetos de-
Friburgo, Estado do Rio de Janeiro. As vem parecer o que são.
dificuldades de se estabelecer, dentro da lei,
uma escola Waldorf é bem descrita pela Sra. A pedagogia Waldorf se opõe, nessa
Shigueyo Miyazaki Mizogushi, da Federação fase ao desenho impresso, contas elementa-
das Escolas Waldorf no Brasil. res alfabetização e exercícios lógicos.
Steiner da grande ênfase aos contos,
os autênticos, que revelam a moralidade, en-
Com sede em São Paulo, Capital: tre eles os contos dos irmãos Grimm. Os con-
tos para as crianças, transformam-se mais
Após a promulgação da Constitui- tarde nos ideais e aspirações da vida.
ção Brasileira, em 1988, grupos de educado-

207
Seguindo os princípios dos Setênios, mento dos jovens é feito por tutores e os vá-
o foco está no brincar imitativo e na imagi- rios professores das demais disciplinas.
nação para que se desenvolva o pensamento
crítico, preparando-as para o segmento esco- No décimo-segundo ano, quando fi-
lar. A criança é tratada com individualidade nalizam seus estudos nas Escolas Waldorf, os
sendo respeitado o desenvolvimento de seu jovens apresentam um trabalho de pesquisa
talento e capacidade. Os professores traba- com um tema de sua preferência, como em
lham com o intuito de criar na escola um am- uma monografia.
biente harmônico incentivando a criatividade,
e para que isso ocorra, as atividades propos-
tas são: cuidar do jardim, criar brinquedos, CONSIDERAÇÕES FINAIS
fazer pão para a merenda, brincadeiras livres A Pedagogia Waldorf desenvolve no
com materiais naturais, tais como: lã, tecidos homem sua condição de ser humano em har-
diversos, pedras, conchas etc. monia com a ciência, tecnologia e a natureza,
predominando o humanismo e não o exces-
so de racionalidade.
2.3 IDADE PRÉ-ESCOLAR E A ALFABETI-
ZAÇÃO O desenvolvimento humano se dá na
escola e isso deve lhe ser favorável no senti-
Na fase pré-escolar, segundo Steiner, do de conduzi-lo ao conhecimento que pro-
não há dúvidas que o meio as manifestações porciona a liberdade de pensamento e ações.
das capacidades tornam possível que a crian-
ça possa ser alfabetizada, mas acelerar esse Esse desenvolvimento deve ser acom-
processo cria um desequilíbrio e atrofia ou- panhado integralmente, cultivando devagar
tras capacidades e com carinho o intelecto e a sabedoria hu-
mana, onde o ser humano buscará as respos-
(fantasia, criatividade etc.). tas em seu interior, que ao longo do tempo
se desenvolvem junto com predisposições e
capacidades.
2.4 ENSINO FUNDAMENTAL
Os indivíduos que recebem educa-
Além de possuir o mesmo currículo de ção através da Pedagogia Waldorf valorizam
outras escolas, mas voltado para os objetivos as relações humanas, cultivam o respeito ao
da educação Waldorf, o jovem é preparado próximo e a natureza, com base na liberdade
para o exercício da cidadania plena e culti- com responsabilidade.
vado nele o espírito científico investigativo,
dando significado a aprendizagem.
As atividades que complementam REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
o currículo são: música, trabalhos manuais, LANZ, Rudolf; Caminho para um ensi-
marcenaria, atividades artísticas, euritmia, no mais humano;6º edição 1998; Edi-
astronomia, filosofia, geometria, jardinagem, tora: Antroposófica
inglês e alemão.
LANZ, Rudolf; Noções Básicas de An-
As matérias são revistas várias ve- troposofia;4ª edição 1997; Editora: Antropo-
zes, dando uma nova e mais profunda visão sófica
do conteúdo para que se respeite o desen-
volvimento da criança. STEINER, Rudolf;A Educação da crian-
ça; Segundo a Ciência Espiritual; 3ª edição
1996 Editora Antroposófica
2.5 ENSINO MÉDIO
A preocupação é com uma formação
abrangente e integrada as solicitações do
mundo atual com um pensamen-
to objetivo e crítico. Os alunos
do Ensino Médio das Escolas Waldorf têm
conseguido êxito em vestibulares, provando
que o conteúdo curricular atende as necessi-
dades dos alunos na busca da graduação.
Nas Escolas Waldorf não há repe-
tições de ano e nem atribuição de notas, a
avaliação é feita em uma espécie de relató-
rio com observações do desenvolvimento do
aluno.
Nos oito primeiros anos, cada clas-
se tem um professor responsável para acom-
panhar o desenvolvimento da criança, e do
nono ao décimo-segundo ano, o acompanha-

208
O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA
FERNANDA TORTELLI ORLANDI

RESUMO lítica Nacional de Educação especial inclusiva


(SEESP/MEC, 2008).
A inclusão dos estudantes com neces-
sidades especiais nas escolas regulares de Dentro do contexto histórico da Educa-
ensino, ainda gera muitas dúvidas tanto para ção especial, os estudantes que necessitavam
os professores, como para os próprios pais, de um atendimento especializado, por serem
ou seja, para toda comunidade escolar. De- consideradas especiais, ou seja, crianças que
vido a isso venho através deste artigo relatar apresentavam alguma deficiência recebiam
o que é o Atendimento Educacional Especia- um atendimento em instituições escolares
lizado, mais conhecido como AEE. Para que especializadas no atendimento de estudan-
serve, quais as vantagens para os estudan- tes com deficiência. Isso ocorreu até o ano
tes atendidos pelo professor de AEE e como de 2009, após esse tempo, algumas escolas
funcionam os atendimentos especializados e públicas abriram salas para o atendimento
quais as funções do profissional da sala de individualizado desses estudantes com defi-
Atendimento Especializado. Como garantir ciência, pois os mesmos já estavam inclusos
a eficácia na aprendizagem dos estudantes nas escolas regulares e para darem suporte à
que necessitam do Atendimento Educacional aprendizagem destes estudantes o professor
Especializado, através da à parceria entre os especializado em Educação especial passa a
educadores da sala de aula regular e o profis- atender esses alunos no contraturno.
sional que atua na sala de AEE.
Esse profissional está capacitado para
Palavras-chave: Inclusão; Atendimen- atender os alunos que necessitam de um
to Educacional Especializado; Eficácia. atendimento voltado para sua deficiência
e dificuldade, visto que, o professor de AEE
tem a missão de desenvolver as habilidades
ABSTRACT e competências destes estudantes com defi-
ciência, utilizando materiais didáticos peda-
The inclusion of students with special gógicos específicos para auxiliar os mesmo
needs in regular schools still raises many dou- em sua aprendizagem.
bts both for teachers and for parents them-
selves, that is, for the whole school commu- Até hoje os profissionais da Educação
nity. Due to this I come through this article que trabalham nas salas de AEE geram al-
to report what is the Specialized Educational gumas dúvidas de como é executado o seu
Assistance, better known as AEE. For what trabalho juntamente a estes estudantes. O
purpose, what are the advantages for the stu- professor de AEE é responsável em fazer o
dents attended by the AEE teacher and how processo de intermediação do conhecimen-
do the specialized services work and what are to voltado aos estudantes com deficiência.
the functions of the professional of the Spe- Essas deficiências geralmente estão voltadas
cialized Attendance room. How to guarantee aos transtornos globais do desenvolvimento
the efficacy in the learning of the students e altas habilidades, como a superdotação.
who need the Specialized Educational Assis- Considera como o grande
tance, through the partnership between the desafio da inclusão para alunos com deficiên-
educators of the regular class salt and the cia, transtornos globais do desenvolvimento
professional that works in the AEE room. e altas habilidades/superdotação, vai muito
Keywords: Inclusion; Specialized Edu- além da permanência do aluno na escola re-
cational Assistance; Efficacy. gular, mas no desenvolvimento do potencial
de cada um através de uma educação centra-
da no respeito e na valorização das diferen-
1 INTRODUÇÃO ças. (Paulo Ramos 2009)
Através e várias pesquisas e A inclusão é um processo que
observações, venho através deste artigo re- pode levar toda comunidade escolar a per-
sumidamente abordar o conceito do Atendi- ceber que o estudante com deficiência não
mento Educacional Especializado, apontando é somente mais um colocado ali dentro da
quais são seus objetivos, quais os profissio- sala de aula para atrapalhar, ou dificultar a
nais estão aptos a trabalharem neste aten- aprendizagem dos demais estudantes, e sim
dimento e qual o público atendido. Dentro um processo que irá exercer o processo de
das diretrizes da educação especial existem cidadania entre os estudantes, onde cada um
documentos dentro da legalidade que permi- deverá respeitar seus limites, suas diferenças
tem esse atendimento dentro das Unidades e aprender a conviver em sociedade respei-
Escolares. Documentos estes que estabele- tando todas as diferenças, sejam elas quais
cem regulamentação e normas do Ministério forem.
da Educação, dentro dos parâmetros da Po- A educação inclusiva, ou espe-

209
cial está paralelamente atrelada à educação de ensino, porém só será necessária a adap-
comum das salas regulares de ensino, ela tação realizada pelo professor de sala, ou até
está integrada a proposta pedagógica da es- mesmo pelo professor de AEE do conteúdo
cola e também está inserida dentro do Proje- de acordo com a sua necessidade. O profis-
to Político Pedagógico da Escola, sendo desta sional que atende na sala de AEE para todos
forma percebida como uma modalidade de os níveis da educação, seja para os estudan-
ensino que percorre todos os níveis. tes do Ensino Infantil, Fundamental I, II e até
a Eja (Educação de jovens e adultos) possibi-
Através da Educação Especiali- litará a ampliação da escolarização, incenti-
zada é lançado um novo olhar sobre as novas vando a formação e inserção dos mesmos no
práticas pedagógicas vencendo os desafios mercado de trabalho.
diários de como se trabalhar. O professor de
AEE tem a missão de aprimorar os seus en- Segundo Prietto (2005, p.40): [...] na
sinamentos e ser o mediador entre os con- inclusão escolar o objetivo é tornar reconhe-
teúdos de aprendizagem da sala regular e cida e valorizada a diversidade como condi-
a adaptação realizada para o seu estudante ção humana favorecedora da aprendizagem.
que necessita de atendimento especializado. Nesse caso, as limitações dos sujeitos devem
ser consideradas apenas como uma informa-
ção sobre eles que, assim sendo, não podem
2 O PROCESSO DE INCLUSÃO E O ser desprezadas na elaboração dos planeja-
ATENDIMETO ESPECIALIZADO mentos de ensino. A ênfase deve recair sobre
a identificação de suas possibilidades, culmi-
Não é mistério para nós profissionais nando com a construção de alternativas para
da educação o conhecimento de que existe garantir condições favoráveis à sua autono-
um grande mistério sobre a inclusão. mia escolar e social, enfim, para que se tor-
Há relatos de muitos que educadores nem cidadãos de iguais direitos.
que, argumentam não ter o preparo correto
para se trabalhar com os estudantes espe-
ciais e sentem-se impotentes, porém não há 3 FUNÇÕES DO AEE DENTRO DA ESCO-
mistérios para incluir estes estudantes, ape- LA REGULAR
nas é preciso respeitar as diferenças e buscar A inclusão dos estudantes especiais
o conhecimento. dentro das salas regulares de ensino trouxe à
Hoje na educação inclusiva não será escola a implantação das salas com recursos
escolhido quem educador e nem em qual multifuncionais, consequentemente a forma-
sala o estudante será incluído, apenas acon- ção dos profissionais responsáveis por estas
tecerá e o profissional de AEE estará ali para salas.
auxiliar da melhor forma possível. O pro- O Professor de AEE tem como atri-
fessor justificar-se nos dias de hoje dizendo buição auxiliar o estudante que necessita
que não tem o preparo específico para atuar de um atendimento especializado, mediar e
com um aluno que necessita de um atendi- complementar sua aprendizagem através de
mento especializado, não é mais desculpa, estratégias que eliminem todas as barreiras
pois existe algo chamado de compromisso possíveis que impossibilitem a aprendizagem
pedagógico, devido a isso é necessária uma e o desenvolvimento das habilidades e com-
reestruturação pedagógica, uma reciclagem petências dos estudantes mencionados.
em conhecimento.
Para regulamentar estas funções a Re-
O planejamento e a implantação de solução nº 4 do Conselho Nacional de Edu-
políticas educacionais para atender alunos cação – Câmara de Educação Básica, de 2 de
com necessidades educacionais especiais re- outubro de 2009, através do artigo 2 estabe-
querem domínio conceitual sobre inclusão lece que:
escolar e sobre as solicitações decorrentes de
sua adoção enquanto princípio ético-político, De acordo com esta resolução, o AEE
bem como a clara definição dos princípios e tem a intenção de diminuir o distanciamen-
diretrizes nos planos e programas elabora- to que a deficiência do aluno possa gerar.
dos, permitindo a (re)definição dos papéis da Para que ele alcance o efetivo aprendizado e
educação especial e do lócus do atendimento o acesso à Educação Básica, o professor do
desse alunado. (Prietto, 2005 pág.35). AEE:
O professor de AEE tem a missão de [...] identifica, elabora e organiza re-
desenvolver atividades semelhantes às da- cursos pedagógicos e de acessibilidade que
das em sala de aula, ou seja, apenas adaptar eliminem as barreiras para a plena participa-
as atividades, os conteúdos a serem traba- ção dos alunos, considerando as suas neces-
lhados com os estudantes que necessita de sidades específicas.
um atendimento especializado, sem passar
por cima do planejamento. [...] disponibiliza programas de enri-
quecimento curricular, o ensino de lingua-
É direito do estudante ser parte inte- gens e códigos específicos de comunicação
grante e aprender o mesmo que os seus cole- e sinalização, ajudas técnicas e tecnologia
gas de sala aprendem dentro da sala regular assistiva, dentre outros. Ao longo de todo

210
processo de escolarização, esse atendimento nizados conforme sua agenda semanal, cada
deve estar articulado com a proposta peda- estudante que necessita do atendimento
gógica do ensino comum. especializado, terá garantido semanalmen-
te sua visita à sala com os recursos que irão
O professor de AEE geralmente aten- auxiliar no desenvolvimento de sua aprendi-
dem seus estudantes no contraturno, ou seja, zagem. Além desse atendimento individual, o
no horário contrário que o estudante assiste professor da sala de aula comum, poderá con-
suas aulas diariamente. O educador da sala tar com esse profissional para adaptar ativi-
multifuncional que organiza e disponibiliza dades a serem trabalhadas dentro da sala de
recursos e materiais didáticos para os aten- aula comum. È de extrema importância que o
dimentos pedagógicos individuais e garantir professor da sala de AEE esteja sempre aten-
a acessibilidade que vá de encontro às neces- to aos seus estudantes, buscando sempre o
sidades específicas de cada estudante. Des- conhecimento, materiais e os equipamentos
sa forma o profissional da sala de AEE firma necessários como: mobiliários, recursos óp-
uma parceria com os educadores das salas ticos, livros paradidáticos, softwares e entre
regulares para oferecer o suporte necessá- outros. Dessa forma o atendimento será sa-
rio, para assim garantir a efetiva participação tisfatório para ambas as partes e muito mais
e aprendizagem dos estudantes. produtivo.
A Política Nacional de Educação Todo o recurso utilizado na sala
Especial na perspectiva da educação Inclusi- de AEE deverá ter uma aplicabilidade e uma
va orienta como devem proceder as tarefas funcionalidade para a aprendizagem do es-
do professor de AEE dentro da escola de en- tudante e qual o impacto exercido sobre essa
sino regular. Destacando que é de extrema aprendizagem. O profissional de AEE tem a
importância o profissional do atendimento função de orientar e ensinar a aplicação dos
especializado elaborar o seu plano de atendi- recursos, materiais e equipamentos que são
mento, deixando em destaque as necessida- disponibilizados para os estudantes com ne-
des especificas de cada estudante atendido, cessidades especiais, para os pais e para os
quais a habilidades e competências preten- professores, pois esses recursos poderão ser
de-se desenvolver no decorrer dos atendi- utilizados em casa.
mentos em parceria a professora da sala de
origem do estudante, quais os recurso serão
utilizados nos atendimentos e tudo o que for
necessário para se dar um atendimento efe- 4. Público-alvo
tivo e com eficácia, sempre visando à apren- O que é muito comum entre os profes-
dizagem. sores das salas de aula comum, é encaminhar
O profissional da sala de AEE as salas de atendimento de AEE estudantes
é acionado quando o professor da sala de que apresentam um quadro de dificuldade
aula identifica o baixo rendimento escolar de aprendizagem em alguma área específica
nas atividades executadas dentro da sala de disciplina, cito como exemplo um estu-
de aula. Sendo assim o professor de AEE faz dante que apresenta dificuldade em produzir
suas observações em sala de aula e identi- textos com erros ortográficos. Sendo assim
ficando que realmente há a necessidade do o professor de AEE não está ali para atender
atendimento individualizado, convoca os res- esses tipos de dificuldades e sim atender es-
ponsáveis para uma entrevista, ou seja, uma tudantes com algum tipo de deficiência ou
anamnese, um documento que identificará alta habilidade.
a desenvolvimento do estudante que neces- O profissional da sala de AEE é
sita do atendimento especializado, segundo responsável pela avaliação dos estudantes
as observações dos responsáveis desde o sob o ponto de vista pedagógico, enquanto
seu nascimento. Após essa anamnese o pro- o professor da sala de aula comum encami-
fissional que atende na sala de AEE pode ou nha o estudante através de uma queixa. Des-
não encaminhar para um outro profissional sa forma o profissional irá observar o estu-
da área da saúde para dar o laudo da defici- dante, se necessário solicitará outros tipos
ência em questão, muitas vezes os estudan- de avaliação de outros profissionais da área
tes que são observados e encaminhados são clínica para juntamente chegarem a um pa-
alunos que apresentam distúrbios como défi- recer de qual necessidade específica o estu-
cit de aprendizagem, atenção e muitas vezes dante apresenta.
com alguma síndrome que a própria família
renega, por motivos pertinentes aos respon- De acordo com Resolução CNE/CEB
sáveis. Após a identificação das dificuldades 4/2009 o público-alvo do Atendimento Edu-
de aprendizagem, o professor de AEE poderá cacional Especializado são:
auxiliar o estudante com atividades direcio- I – Alunos com deficiência: aqueles que
nadas e com sequência didática, para que o têm impedimentos de longo prazo de nature-
mesmo possa acompanhar de maneira mais za física, intelectual, mental ou sensorial.
efetiva os conteúdos comuns abordados em
sala de aula. II – Alunos com transtornos globais do
Geralmente os atendimentos realiza- desenvolvimento: aqueles que apresentam
dos pelo professor da sala de AEE são orga- um quadro de alterações no desenvolvimen-

211
to neuropsicomotor, comprometimento nas que necessitam deste atendimento especia-
relações sociais, na comunicação ou estere- lizado.
otipias motoras. Incluem-se nessa definição
alunos com autismo clássico, síndrome de Para efetivar o atendimento das salas
Asperger, síndrome de Rett, transtorno de- de AEE existe o Decreto nº 7.611/11, que man-
sintegrativo da infância (psicoses) e transtor- tém esta sala com a distribuição de recursos
nos invasivos sem outra especificação. pedagógicos educacionais para a acessibili-
dade desses estudantes que apresentam al-
III – Alunos com altas habilidades/su- gum tipo de deficiência, cito como exemplo a
perdotação: aqueles que apresentam um po- distribuição de livros paradidáticos em braile,
tencial elevado e grande envolvimento com em libras, laptops com sintetizadores de voz
as áreas do conhecimento humano, isoladas e softwares para a comunicação alternativa.
ou combinadas: intelectual, liderança, psico- Dessa forma, estes itens mencionados cola-
motora, artes e criatividade. boram para o efetivo acesso do currículo es-
colar.
Art. 1o O dever do Estado com a edu-
5. SALA DE APOIO ESPECIALIZADO cação das pessoas público-alvo da educação
As salas de atendimento Educacional especial será efetivado de acordo com as se-
Especializado (salas de AEE, ou salas multi- guintes diretrizes:
funcionais) são consideradas ambientes do- I - garantia de um sistema educacional
tados de equipamentos tecnológicos, mo- inclusivo em todos os níveis, sem discrimina-
biliários e materiais didáticos pedagógicos ção e com base na igualdade de oportunida-
que oferecem um atendimento especializado des;
com os seguintes objetivos: garantir o aces-
so do estudante ao letramento, atender com II - aprendizado ao longo de toda a
recursos adaptados os estudantes que apre- vida;
sentam transtornos globais do desenvolvi-
mento, alta habilidades ou superdotação. Es- III - não exclusão do sistema educacio-
ses estudantes estão matriculados nas salas nal geral sob alegação de deficiência;
regulares de ensino, porém necessitam de IV - garantia de ensino fundamental
um atendimento individualizado e especiali- gratuito e compulsório, asseguradas adapta-
zado. ções razoáveis de acordo com as necessida-
Para efetivar o processo de inclusão des individuais;
nas escolas de ensino regular, o Ministério V - oferta de apoio necessário, no âm-
da Educação instituiu o Programa de Implan- bito do sistema educacional geral, com vistas
tação das Salas de Recursos Multifuncionais, a facilitar sua efetiva educação;
por meio da Portaria Nº. 13, de 24 de abril de
2007: VI - adoção de medidas de apoio in-
dividualizadas e efetivas, em ambientes que
Art. 1º Criar o Programa de Implan- maximizem o desenvolvimento acadêmico
tação de Salas de Recursos Multifuncionais e social, de acordo com a meta de inclusão
com o objetivo de apoiar os sistemas públi- plena;
cos de ensino na organização e oferta do
atendimento educacional especializado e VII - oferta de educação especial prefe-
contribuir para o fortalecimento do processo rencialmente na rede regular de ensino;
de inclusão educacional nas classes comuns VIII - apoio técnico e financeiro pelo
de ensino. Poder Público às instituições privadas sem
Parágrafo Único. A sala de recursos de fins lucrativos, especializadas e com atuação
que trata o caput do artigo 1º, é um espaço exclusiva em educação especial.
organizado com equipamentos de informáti-
ca, ajudas técnicas, materiais pedagógicos e
mobiliários adaptados, para atendimento às 6 A PARCERIA ENTRE O PROFESSOR DA
necessidades educacionais especiais dos alu- SALA DE AEE E O PROFESSOR DO ENSINO RE-
nos. GULAR
As atividades, os recursos de acessi- A formação dos docentes dentro do
bilidade e pedagógicos que caracterizam o processo de inclusão educacional deve levar
Atendimento Educacional Especializado são em conta o desenvolvimento de toda prática
organizados institucionalmente e prestados pedagógica reflexiva possibilitando pensar
de forma que complementam a formação na formação continuada dos profissionais da
dos estudantes do ensino regular. educação. A formação da educação inclusiva
Desde 2008, o MEC vem implantando remete parcerias entre professores do ensi-
as Salas de Recursos Multifuncionais (salas no regular e d ensino especial, equipe peda-
de AEE) e aponta como objetivo a implanta- gógica, pais e comunidade, na qual, toda a
ção de equipamentos de informática, mobi- ação para a inclusão envolve o trabalho em
liários e matérias didáticas pedagógicas que equipe.
auxiliem na acessibilidade dos estudantes O profissional da sala de recursos tem

212
a missão de orientar o professor da classe co- ensino-aprendizagem. (Costa, 2011)
mum sobre as estratégias e as metodologias
que favoreçam autonomia e envolvimento O aprendizado e o desenvolvimento
do estudante em todas as atividades propos- das diferentes habilidades, competências e
tas ao grupo. potencialidades do educando acontecerá a
partir da troca de informações entre as par-
O Decreto nº 6.571 destaca a escola tes envolvidas. Essas informações como o
como um ambiente, cuja função primária é a histórico do aprendizado de cada estudante
de identificar, elaborar e organizar recursos atendido na sala de AEE, possibilitará adaptar
pedagógicos e de acessibilidade que elimi- atividades para as dificuldades apresentadas,
nem as barreiras para a plena participação favorecendo a aprendizagem do estudante
dos alunos, com vista à autonomia e indepen- que necessita do atendimento especializado,
dência na escola e fora dela (BRASIL, 2008). atingindo dessa forma os objetivos propos-
tos no planejamento.
Este documento traz aos educadores
um desafio: estabelecer a troca e a colabora-
ção entre os professores da sala de recursos
especiais juntamente aos professores das 7 A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCA-
salas regulares, tendo como objetivo obter ÇÃO ESPECIAL E O DESAFIO DE ATENDER AS
maiores informações sobre o desempenho DIFERENÇAS
do estudante, gerando uma maior probabi- O maior desafio encarado hoje nas es-
lidade de que o trabalho desenvolvido nas colas é atender as diferenças existentes na
salas de AEE repercuta nas classes comuns. comunidade escolar e transformar a estrutu-
Muitas vezes s falta de conhecimento ra organizacional e pedagógica da instituição
em como lidar com os alunos com necessi- de ensino, que incorpora inúmeras funções
dades educativas especiais, pode gerar uma requisitadas pelos avanços que ocorrem na
desestabilidade em relação à atuação profis- sociedade.
sional. Entre esses desafios, o educador pro-
Os educadores da sala comum são os gramar uma prática pedagógica que modifi-
responsáveis pelos encaminhamentos e pela que a dinâmica da exclusão, não é uma mis-
aprendizagem, porém nem sempre possuem são fácil.
o conhecimento das características que de- Isso requer uma reestruturação curri-
vem ser consideradas para que o estudante cular e pedagógica da escola, apontando as
seja atendido na sala de AEE. Esses entre vá- necessidades aparentes no ato de planejar,
rios outros obstáculos impedem e dificultam de avaliar e de desenvolver as aulas, ou seja,
que aconteça a política de inclusão, no qual a didática pedagógica adequada para uma
um deles decorre do despreparo dos educa- reformulação do sistema educacional.
dores do ensino regular.
Ofertando a acessibilidade aos estu-
A pareceria entre os professores po- dantes com deficiência, ampliando dessa for-
dem preencher essa lacuna, sendo que o ma, as possibilidades de escolarização e tor-
professor de AEE pode atuar na formação nando possível uma educação inclusiva não
continuada dos professores das salas regu- excludente a nem preconceituosa. Sendo as-
lares, através de trocas de experiências em sim, no contexto dessa política inclusiva es-
HTPC (horário de trabalho pedagógico coleti- tão estabelecidas diretrizes do atendimento
vo), nessa troca os professores relatam suas educacional especializado- AEE, uma modali-
experiências juntamente ao profissional da dade de ensino da educação especial que:
sala de atendimento especializado.
“[...] identifica, elabora e organiza re-
As reuniões pedagógicas podem ser cursos pedagógicos e de acessibilidade, que
mediadoras entre o conhecimento a ser in- eliminem as barreiras para plena participa-
serido para os educadores através dos ensi- ção dos alunos, considerando suas necessi-
namentos do professor de AEE. Sendo que, dades especificas.” (BRASIL, 2008, p.16).
é de extrema importância que o elo entre os
educadores se fortaleça para que a apren- Sempre visando um bom desenvolvi-
dizagem dos estudantes que necessitam do mento em todos os aspectos, propiciando as-
atendimento especializado possam desen- sim que o aluno torne-se mais independente
volver suas habilidades e potencialidades. e autônomo. O profissional da sala de AEE,
a partir dessa Política, poderá organizar e fa-
Destaca que a Sala de Recurso Multi- cilitar o ambiente de escolarização dos estu-
funcional não deve ser configurada como um dantes através de práticas pedagógicas que
espaço diferenciado da sala de aula comum, envolvam o planejamento de recursos e ser-
não podendo estar distante da educação viços para acessibilidade dentro da escola.
escolar centrada nos princípios de inclusão,
mas que deve se apresentar como um espaço O profissional que atua dentro da Edu-
pedagógico, significativamente relevante que cação Especial deverá ter como base em sua
fortaleça o papel especializado da educação qualificação profissional, conhecimentos ge-
dos indivíduos com necessidades educativas rais para o seu efetivo exercício na área, cito
especiais, possibilitando assim o processo de algumas habilidades a seguir: o conhecimen-

213
to em libras, o sistema em braile, formação BIBLIOGRAFIA
em recursos tecnológicos de informática apli-
cada aos estudantes com deficiência visual, BRASIL. Resolução CNE/CEB 4/2009.
técnicas de uso do sorobã (ábaco adaptados Diário Oficial da União. Brasília, 5 de outubro
para cegos) e entre outras habilidades. Todos de 2009, Seção 1, p. 17
esses recursos, como objetos para serem uti- MANTOAN, Maria Teresa; PRIETO, Ro-
lizados no atendimento os estudantes com sângela; ARANTES, Valéria Amorim. (Org.).
necessidades especiais, devem conter nas Inclusão escolar. Pontos e contrapontos. São
salas de atendimento Especializado. Paulo: Summus, 2006.
Os professores responsáveis pelo AEE RAMOS, Paulo. Educação Inclusiva:
e pelo ensino regular devem ter em mente Histórias que (des) encantam a Educação.
que uma das competências esperadas para Blumenau: Odorizzi, 2009
abordarem suas salas de aula é o respeito às
diferenças, o planejamento pedagógico se- RAMOS, Rossana. Passos para a Inclu-
quenciado para a implantação de propostas são. São Paulo: Cortez, 2005.
de ensino e de avaliação da aprendizagem, SANTI, Ana Paula. Atendimento Educa-
que atendam às necessidades específicas e cional Especializado Sala de Recursos Multi-
individuais de cada estudante. funcional. Disponível em: http://sites.google.
O plano de formação deve servir como com/site/aeeescolaanitagaribaldi/aee-e-sa-
uma ferramenta para que os professores se la-de-recursos-multifunc. Acesso em: 19 set.
tornem aptos ao ensino de toda a demanda 2011.
escolar independentemente de os alunos se- RAMOS, Rossana. Passos para a Inclu-
rem considerados “normais” ou deficientes são. São Paulo: Cortez, 2005.
(MANTOAN, 2006).
BRASIL. Ministério da Educação. Secre-
taria de Educação Especial. Política Nacional
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS de Educação Especial na Perspectiva da Edu-
cação Inclusiva. Inclusão: revista da educação
É de responsabilidade da Unidade especial, v. 4, n 1, janeiro/junho 2008. Brasí-
Escolar apontar anualmente em seu plane- lia: MEC/SEESP, 2008
jamento escolar e no PPP (Projeto Político
Pedagógico) todas as necessidades e especi- Diretrizes Nacionais para Educação Es-
ficidades do público atendido. pecial na Educação Básica. MEC: SEESP, 2001.
Dessa forma, deve estar inserido den-
tro do contexto da Unidade Escolar qual
a função, o que é e para quem é o Atendi-
mento Educacional Especializado. Relatando
seus objetivos e sua parceria na perspectiva
da inclusão escolar. Assegurando a garantia
de um atendimento digno e efetivo para os
estudantes que necessitam de atendimento
individualizado para avançar dentro de sua
aprendizagem.
O processo de inclusão não é um mis-
tério e nem um privilégio e sim um processo
significativo para toda comunidade escolar.
Vale ressaltar que a inclusão dentro
da educação é um processo contínuo que
por muitas vezes caminha lentamente, sendo
assim é preciso aceitar as diferenças e traçar
metas e objetivos para que a inclusão dentro
das escolas e na sociedade seja efetiva e res-
peitada.
O único objetivo da parceria entre os
profissionais da sala de AEE, o professor e a
família é acolher os estudantes que necessi-
tam de um atendimento individual especiali-
zado visando à garantia da aprendizagem e
do desenvolvimento das habilidades e com-
petências desses estudantes que são dadas
através de uma outra forma mais aprimora-
da e elaborada.

214
ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTAÇÃO NO MEIO ESCOLAR
FLAVIA NERI ROSA

RESUMO ambiente escolar por imposições familiares.


Muitas vezes as pessoas esperam que os alu-
Este trabalho aborda algumas das nos se adaptem à escola, mas a escola não
questões que emergiram de uma pesquisa tem condições práticas para aceitar o aluno e
elaborada para refletir sobre a inclusão de proporcionar-lhe condições para permanecer
alunos com altas habilidades e/ou superdo- na escola. A inclusão não consiste apenas em
tados nas escolas públicas. A inclusão é um acolher os alunos nos espaços escolares, tra-
tema controverso, com muitos acreditando ta-se de facilitar a sua aprendizagem, respei-
que é algo do futuro e impossível de alcançar tá-los como indivíduos únicos e proporcionar
nas atuais condições de ensino. Hoje, com a um ambiente propício à sua aprendizagem,
implementação de políticas inclusivas, a edu- sem os deixar para trás pelas necessidades
cação infantil tornou-se a porta de entrada no educativas especiais que apresentam. Como
sistema educacional para a maioria das crian- objetivo específico, recomendamos observar
ças superdotadas e com altas habilidades, e as dificuldades da sala de aula com alunos in-
a assistência educacional especializada deve clusivos.
ser prestada na creche ou pré-escola onde
a criança frequenta. Inclusão escolar signifi- Para alcançar os objetivos propostos e
ca proporcionar oportunidades de aprendi- responder aos problemas deste estudo, uti-
zagem a todos, independentemente de cor, lizou-se como procedimento metodológico a
raça, classe social ou mesmo condições físi- pesquisa bibliográfica e uma pesquisa quali-
cas e mentais. Embora o termo inclusão esco- tativa acerca da inclusão e práticas do profes-
lar seja bastante amplo, é mais comumente sor e seus procedimentos, foram realizadas
utilizado para se referir à inclusão de pessoas duas entrevistas semiestruturadas com pro-
com deficiência, seja ela sensorial, intelectual fessoras.
ou física, nos espaços escolares. Isto porque,
mesmo com legislação em vigor que garante Os resultados indicam que na maioria
o direito de todos à aprendizagem, algumas das respostas, ambas as professoras, expres-
instituições ainda se recusam a admitir crian- são falta de capacitação e formação para o
ças sobredotadas e jovens com deficiência. atendimento da inclusão.
No entanto, recusar-se a frequentar a esco- Esse tema foi escolhido porque há
la ou a ensinar uma criança com necessida- muito tempo discute-se a questão da Inclu-
des educativas especiais (NEE) é um crime e são e seu processo de desenvolvimento na
pode resultar em acção legal. Portanto, toda Educação Infantil, e sua finalidade no univer-
instituição escolar deve oferecer atendimen- so lúdico, até onde esse contexto influencia o
to especializado a crianças superdotadas e desenvolvimento psicomotor da criança. Por
altamente capazes com necessidades educa- fim, iremos identificar a contribuição da arte
cionais especiais e contar com profissionais como, ferramenta de estimulação no proces-
qualificados em educação especial. so de aprendizagem e desenvolvimento in-
Palavras-chave: Inclusão escolar; tegral da criança na educação infantil, sendo
Adaptação curricular; Aprendizagem; Super- assim, determinar os objetivos precisos para
dotação; Altas habilidades. que o processo pedagógico aconteça eficaz-
mente, como agente facilitador e enriquece-
dor, respeitando o desenvolvimento da crian-
ça em suas especificidades.
INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo com-
preender como as crianças com necessida- O QUE É INCLUSÃO
des especiais são integradas no sistema de
educação formal, analisar quais os métodos É o movimento da sociedade voltado
e estratégias que os professores utilizam no para produzir a igualdade de oportunidades
ensino das crianças especiais e respeitar a para todos, quando focada sob o ângulo indi-
individualidade e as características das crian- vidual a inclusão, supõe que cada um tenha
ças. As limitações de cada pessoa, partindo a oportunidade de fazer suas próprias esco-
do fato de que a educação é um direito de lhas e, em consequência, construir sua pró-
todos, independentemente de serem porta- pria identidade pessoal e social. Dessa forma:
dores de deficiência, entender como são pla- A inclusão questiona não somente as
nejadas essas estratégias de ensino e apren- políticas e a organização da educação espe-
dizagem e verificar se a rede de ensino está cial e da regular, mas também o próprio con-
preparada para receber esses alunos. A edu- ceito de integração. Ela é incompatível com a
cação é um direito de todos, mas como todos integração, já que prevê a inserção escolar de
sabemos, ainda existem muitas pessoas que forma radical, completa e sistemática. Todos
não conseguem ir à escola por causa de defi- os alunos, sem exceção, devem frequentar as
ciências e que muitas vezes ficam isoladas do salas de aula do ensino regular (MANTOAN,

215
2006, p.19). da escola regular, mobilizando de forma pro-
funda no sentido de incluir. Para Silva e Fá-
Segundo Mantoan (2006, p.19) ´´O cion (2005, p.18), “[...] a inclusão escolar vem
objetivo da integração é inserir um aluno ou se efetivando na prática com dificuldade,
um grupo de alunos que já foi anteriormen- muito antes de a legislação vigente formali-
te excluído´´. O radicalismo da inclusão vem zar a proposta”.
do fato de reivindicar uma transformação de
paradigma educacional, a qual já nos referi- Para Carneiro (2013, p.140), “na ótica
mos. No olhar inclusivo, retira-se a subdivi- da integração, é a pessoa com deficiência
são dos sistemas escolares em particularida- que tem de se adaptar à sociedade para evi-
des do ensino especial e ensino regular. As tar a exclusão”. Desta forma, a integração se
escolas acolhem as diferenças sem discrimi- contrapõe ao movimento de inclusão, já que
nar ou trabalhar a parte com alguns alunos. incluir pressupõe um esforço bilateral, e não,
Também não determinam regras específicas unilateral como a integração.
para o planejamento e avaliação dos currí-
culos, atividades e aprendizagens de alunos Como explicar a diferença, a desseme-
com deficiências e necessidades educacio- lhança, ou mesmo defender a divergência, no
nais especiais. mundo que caminha para globalização?
Para Ramos (2008, p. 05), ´´a inclusão, Segundo Mantoan (1997), em relação
em termos gerais, constitui uma ação ampla às atitudes do século XIX, percebe-se a in-
que, sobretudo em países em que há diferen- fluência do espírito da Revolução Francesa,
ças sociais muito grandes, propõe uma edu- como a experiências médicas, de Itard, de-
cação com qualidade para todos´´. Nesse senvolvidas com o selvagem de Aveyron, as
aspecto existe a inclusão dos portadores de de Gugenbuhl, no que se refere a criação de
necessidades especiais, que abrangem as li- Institutos Especiais de Tratamento e Educa-
mitações físicas e cognitivas. ção.
Fazendo um paralelo sobre a inclusão Como as de Seguin e Howe, na publi-
e a integração, Mantoan (2006) observa que cação científica e legislação sobre instrução,
a criança que está integrada no sistema es- respectivamente, foram fundamentais para o
colar regular, adapta-se às opções que lhe saber médico em relação aos problemas con-
são oferecidas no ensino regular, sem ques- siderados diferentes naquela época. Nas pri-
tionamentos. Já a inclusão por sua vez, é lite- meiras décadas aparece um modo, impulsio-
ralmente o incluir o aluno no sistema escolar nado pela possibilidade de industrialização,
sem deixá-lo de fora deste sistema regular grandes mudanças sociais (MANTOAN,1997).
de ensino, fazendo com que ele se adapte às Nas aplicações de testes, segundo os
particularidades de outros alunos como o ca- estudos de Binet, na França, a Psicologia sur-
leidoscópio destacado pela educadora cana- ge como possibilidade de conhecer melhor a
dense Marsha Forest, que faz uma metáfora inteligência das crianças com superdotação
com relação à inclusão e o caleidoscópio: e altas habilidades. Como forma de expiação
O caleidoscópio precisa de todos os pelos estragos produzidos, aparecem ten-
pedaços que o compõem. Quando se reti- dências de se assegurar direitos e oportuni-
ra pedaços dele, o desenho se torna menos dades em um plano de igualdade, a todos os
complexo, menos rico. As crianças com su- seres humanos (BRASIL, 2008).
perdotação e altas habilidades se desenvol- A partir de um breve relato sobre a his-
vem, aprendem e evoluem melhor em um tória da inclusão ao longo da história, forne-
ambiente rico e variado (FOREST, apud MAN- cido pelo Programa de Formação Continuada
TOAN, 2006, p.20) de Professores na Educação Especial UNESP
Mantoan (2006, p. 39), “ao contrário – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, sob a
do que alguns ainda pensam, não há inclusão orientação da Coordenadora do Curso Vera
se a inserção de um aluno é condicionada à Lúcia Messias Fialho Capellini, temos que na
matrícula em uma escola ou classe especial”. Antiguidade, em Esparta e Atenas, as crianças
Para a autora esse sistema de educação no com superdotação e altas habilidades e com
Brasil, apenas recebe o aluno seja ele de in- deficiência física, sensorial e mental eram eli-
clusão na modalidade regular ou especial minadas ou abandonadas. Para os filósofos
impondo uma identidade e capacidade de Aristóteles e Platão, tal prática condiz com o
aprender de acordo com suas características equilíbrio demográfico, aristocrático e elitis-
pessoais. ta, por se tratar de pessoas que dependiam
do Estado para sobreviver:
Segundo Carneiro (2013, p.106),
“quando se fala em inclusão já, não se trata Quanto aos corpos de constituição
de desativar o que está funcionando, senão doentia, não lhes prolongar a vida e os sofri-
de articular adequadamente, o que poderá mentos com tratamentos e purgações regra-
funcionar melhor”. das, que poriam em condições de se reprodu-
zirem em outros seres fadados, certamente a
Para tanto, é adequado destacar que serem iguais progenitores.
as instituições de educação especial traba-
lham com objetivos próximos com aqueles [...]também que não deveria curar os

216
que, por frágeis de compleição não podem Por influência de todos esses autores,
chegar ao limite natural da vida, porque isso criou-se no ano de 1840 a primeira escola
nem lhes é vantajoso a eles nem ao Estado para crianças com superdotação e altas ha-
(PLATÃO, apud BRASIL, 2008). bilidades com deficiência mental, chamada
Abendberg. Seu objetivo era a recuperação
Na Idade Média, a pessoa com defi- dos considerados cretinos e idiotas, atuando
ciência mental, é acolhida pelos conventos e na autonomia e independência dessas crian-
igrejas, porém, sem os mesmos direitos civis ças com superdotação e altas habilidades
concedidos às pessoas sadias. Martinho Lu- (BRASIL, 2008).
tero por sua vez, defendia a ideia de castigar
fisicamente os deficientes mentais, consi- Seguindo essa ideia surge Johann
derando-os como seres diabólicos (BRASIL, Heinrich Pestallozzi, que defendia a educa-
2008). ção como direito de toda criança, no seu de-
senvolvimento das faculdades de conhecer,
No século XII, ainda na Idade Média, habilidades manuais e atitudes e valores mo-
surge a primeira instituição para pessoas rais (BRASIL, 2008).
com deficiência, uma colônia agrícola na Bél-
gica, que propunha tratamento com base na Seu pupilo Friedrich Froebel, se apro-
alimentação saudável, exercício e ar puro, funda nos estudos de Pestallozzi e idealiza
para minimizar os efeitos da deficiência (BRA- um sistema de Educação Especial por meio
SIL, 2008). dos materiais e jogos específicos, dando ên-
fase à individualidade de cada criança e suge-
A partir de 1300, surge a primeira le- re que a educação formal comece antes dos
gislação que fez a distinção entre deficiência seis anos (BRASIL, 2008).
mental (loucura mental) e doença mental (al-
terações psiquiátricas transitórias), e possuía A partir de 1900, surgem as escolas
o direito a cuidados sem perder seus bens que se utilizam do método de Maria Montes-
(BRASIL, 2008). sori, para crianças com superdotação e altas
habilidades com deficiência. Método no qual
Mas foi na Idade Moderna que os inte- a criança parte do concreto para o abstrato,
lectuais, Paracelso e Cardano definiram a de- e na aprendizagem a partir da experiência
ficiência mental. Paracelso concluiu se tratar direta de procura e descoberta. Montessori
de um problema médico com direito a trata- desenvolveu vários materiais didáticos, que
mento e tolerância. E Cardano além de dar eram simples e propiciavam desde o racio-
respaldo a Paracelso, preocupou-se com a cínio até a estrutura da linguagem (BRASIL,
educação das pessoas com deficiência (BRA- 2008).
SIL, 2008).
Mesmo diante de todos esses avanços,
Em 1600, John Locke definiu a deficiên- as crianças com superdotação e altas habili-
cia como a carência de experiências, em que dades continuaram sendo abandonados em
o comportamento era o produto do meio e o hospícios ou confinados em instituições com
ensino acabaria com essa distância, pois as- ou sem ensino (BRASIL, 2008).
sim como o recém-nascido, o deficiente era
uma ´´tabula rasa´´ (BRASIL, 2008). As crianças com superdotação e altas
habilidades brasileiras, também foram deixa-
Foderé por sua vez, escreve sobre o das nas ruas para morrerem ou na roda dos
tratado do bócio e do cretinismo. Neste tra- expostos para serem cuidadas pelas institui-
balho, ele explica os diferentes graus de re- ções religiosas (BRASIL, 2008).
tardo associados a diferentes níveis de here-
ditariedade (BRASIL, 2008). Em 1874, fundou-se em Salvador,
Bahia, a primeira instituição que atendia as
Em 1800, Itard apresenta o primeiro pessoas com deficiência mental, o Hospital
programa sistemático de educação especial. Juliano Moreira (BRASIL, 2008).
Ele considerava a idiotia como deficiência
cultural (BRASIL, 2008). Philippe Pinel, ao Dentro dos princípios higienistas, em
contrário de Itard, considerava a idiotia como 1903, no Rio de Janeiro, a deficiência mental
uma deficiência biológica, e que todas provi- tornou-se problema de saúde pública e es-
nham de causa única, porém com graus va- ses deficientes foram relegados ao Pavilhão
riados (BRASIL, 2008). Bourneville, que foi a primeira Escola Especial
para Crianças com superdotação e altas ha-
Jean-Étienne Dominique Esquirol, su- bilidades Anormais e o Hospício de Juquery.
gere que o termo idiotia era o resultado das A medicina influenciou na forma como es-
carências infantis e cretinismo deveria ser sas pessoas seriam tratadas até 1930, sendo
usado para casos mais graves. Com isso a substituída pela Psicologia e Pedagogia (BRA-
idiotia deixa de ser uma doença e seu critério SIL, 2008).
de avaliação passa a ser o rendimento educa-
cional (BRASIL, 2008). Um dos primeiros médicos psiquiatras
a estudar a Deficiência Mental no Brasil, foi
Eduard Séguim, discípulo de Itard, cri- Ulysses Pernambucano de Melo Sobrinho.
ticou as abordagens anteriores e foi o primei- Ele enfatizou a necessidade do atendimento
ro a sistematizar a metodologia da Educação médico-pedagógico com uma equipe multi-
Especial (BRASIL, 2008).

217
disciplinar (BRASIL, 2008). nova. Qual foi a contribuição dessa nova pe-
dagogia para a formação dos nossos profes-
Com a chegada da `´escola nova´´ sores, é um questionamento que o sociólogo
no Brasil, a Psicologia consegue se inserir Saviani (2007) nos traz no livro ´´História das
na Educação, utilizando-se de testes de inte- ideias pedagógicas no Brasil´´.
ligência e identificando as crianças com su-
perdotação e altas habilidades com alguma O autor explica que entre 1932 e 1947,
deficiência. A educadora Helena a pedagogia nova e a pedagogia tradicional,
se equilibram e se mantiveram na educação
Antipoff, criou em Minas Gerais, o ser- do país.
viço de diagnóstico e classes especiais nas
escolas públicas. Foi fundadora da Socieda- A partir de 1960 a pedagogia nova, se
de Pestalozzi, influenciando a criação da As- torna predominante. Já no ano seguinte, dá-
sociação de Pais e Amigos dos Excepcionais -se início ao seu processo de declínio.
(APAE), em 1854 (BRASIL, 2008).
Entre os anos de 1960 e 1970, há um
As contribuições da ´´escola nova´´ predomínio do modelo de Taylor e Ford, cujo
para a educação especial, tiveram um efeito objetivo era a produção em massa e adequa-
contrário daquilo que se buscava, com a ex- ção desses novos trabalhadores passa pela
clusão dos deficientes das escolas regulares. educação, com as “teorias do capital huma-
O atendimento aos deficientes se manteve no”. Esse novo modelo de educação prioriza-
com a ajuda de instituições e organizações va a formação técnica adequando o cidadão
filantrópicas. Além disso não foram concei- ao novo modelo de produção.
tuados os variados graus de deficiência, difi-
cultando o atendimento e o progresso edu- Já no final do século XX, houve o cres-
cacional dessas crianças com superdotação e cimento da concepção da pedagogia produ-
altas habilidades (BRASIL, 2008). tivista, que entra em choque com as ideias
da pedagogia tecnicista surgindo desse em-
bate a “visão crítico reprodutivista”. As ideias
contra hegemônicas surgem baseadas na
FORMAÇÃO DOS PROFESSORES concepção de uma “educação popular”, bem
Martins (2010), faz uma análise e como a pedagogia crítico social e a pedago-
aborda a relação profissional e a atividade gia histórico-crítica. Todas elas contribuíram
produtiva do professor e qual resultado se para importantes debates no âmbito da edu-
espera entre o que foi apreendido em sua cação e deram importante colaboração para
formação pedagógica e o que é efetivado na os avanços na educação inseridos na Consti-
prática. Quando falamos em formação, foca- tuição de 1986 (MARTINS, 2010).
lizamos inicialmente a formação do indivíduo Outras vertentes pedagógicas foram
que é sempre planejada e direcionada para surgindo segundo o autor, porém sempre
que sua prática profissional se concretize so- com um olhar mercantilista sobre a educa-
cialmente. Porém há uma contradição entre ção, frisando sempre máxima racionalização
o que deve ser realizado durante o processo e otimização dos recursos. Entre elas po-
de assimilação do conteúdo e o que realmen- demos destacar os mais conhecidos como:
te se executa em sala de aula. Neoescolanovismo – “aprender a aprender”,
Há um dilema do trabalho educati- Neoconstrutivismo – “pedagogia das compe-
vo, que se equilibra entre a humanização e a tências” aprendizagem individual, Neotecni-
alienação que explica no tocante à formação cismo - “qualidade total” escola como empre-
docente isso é letal, pois o produto do traba- sa (MARTINS, 2010).
lho educativo deve ser a humanização dos Para Figueiredo (2013), a formação
indivíduos, que, por sua vez, para se efetivar, inicial e continuada de professores visando
demanda a mediação da própria humanida- a inclusão deve ser pensada primeiramente
de dos professores (MARTINS,2010). na sua organização e instrumentalização de
A autora afirma que o objetivo central ensino, bem como a gestão da classe e seus
da educação escolar, é a transformação hu- princípios éticos, filosóficos e políticos, que
mana em novas forças criadoras. Extrair do permitiram a esses professores a reflexão e
aluno a sua capacidade máxima para que ele compreensão de seu verdadeiro papel e da
possa transformar sua vida social e estender escola na formação dessa nova geração que
essa transformação ao longo de sua vida so- deverá responder às demandas profissio-
cial. nais.
Ao longo do século XX, houve sucessi- A autora explica sobre a importân-
vas reformas econômicas que foram norte- cia da organização dos tempos e espaços de
ando e estruturando os ideais pedagógicos, aprendizagem no agrupamento de alunos e
se arrastando ao longo do tempo e influen- no planejamento das atividades. Pensar na
ciando a prática docente e a formação dos sequência didática adaptada às reais neces-
professores (MARTINS, 2010). sidades dos seus alunos e na consolidação da
aprendizagem.
Dentre as renovações sociais surge
na área da educação o modelo da pedagogia Nesta perspectiva de ensino, o pro-

218
fessor situa-se como mediador, consideran- culação da teoria e prática, trabalho interdis-
do aspectos como: atenção às diferenças dos ciplinar, reorganização dos tempos e espaços
alunos; variação de papéis que o professor e investimentos na infraestrutura material e
assume diferentes situações de aprendiza- pessoal, bem como a revisão do processo de
gem; organização dos alunos de forma que avaliação. A formação continuada do profes-
possibilite interações em diferentes níveis, de sor deve ser em serviço, pois, a aprendiza-
acordo com os propósitos educativos (grupo gem é permanente e o desafio da educação
– classe, grupos pequenos, grupos maiores, é contínuo. Segundo a autora, são realidades
grupos fixos) (FIGUEIREDO, 2013, p.142). que podem ou não acontecer nas escolas e
dependem do nível de comprometimento
Há a necessidade de reconsiderar com a inclusão escolar.
nossas crenças e valores. Os professores con-
tinuam querendo controlar as situações em O professor, dentro da perspectiva in-
sala de aula, não dando a liberdade para o clusiva e com uma escola de qualidade, não
aluno e exercendo forte autoridade no senti- deve duvidar da capacidade e das possibili-
do de que o aluno precisa sempre olhar para dades de aprendizagem dos alunos e muito
ela, sentando em fileiras e com seus mate- menos prever quando esses alunos não irão
riais pedagógicos sob sua supervisão. Nesse aprender. Ter um aluno deficiente em sala de
aspecto o espaço é o ponto primordial enfa- aula, não deve ser um empecilho, para que,
tizado pela autora, pois deve se pensar em suas práticas pedagógicas, com relação ao
espaços preparados para todos os níveis de deficiente seja de menor qualidade ou em
desenvolvimento e idades apropriadas, que menor tempo.
sejam organizados e ativos que documen-
tem e ensinem. Pensar o espaço de forma Dentro desse contexto a autora expli-
que todos os alunos tenham oportunidades ca que ainda, não justifica um ensino à par-
de aprendizado e de socialização, e ficando te, individualizado, com atividades que dis-
ao professor a responsabilidade de substituir criminam e que se dizem ´´adaptadas´´ às
a sua pedagogia tradicional pela pedagogia possibilidades de entendimento de alguns. A
pensada na diversidade, é o que expõe a au- aprendizagem é sempre imprevisível, portan-
tora no seguinte trecho: to, o professor deve considerar a capacidade
de todos os alunos, deixando de rotulá-los e
A escola, para se tornar inclusiva, deve de categorizar seus alunos, entendendo que
acolher todos seus alunos, independente- todos são capazes de assimilar conhecimen-
mente de suas condições sociais, emocionais, to e de produzi-los (MACHADO, 2013).
físicas, intelectuais, linguísticas, entre outras.
Ela deve ter como princípio básico desenvol- Cunha (2015), comenta que, embora
ver uma pedagogia capaz de educar e incluir saibamos que na educação especial há casos
todos aqueles com necessidades educacio- degenerativos muito severos, ainda assim,
nais especiais e também os que apresentam essas pessoas, mesmo que impossibilitadas
dificuldades temporárias ou permanentes, no espaço pedagógico e afetivo, por meio de
pois a inclusão não se aplica apenas aos alu- atuação de profissionais interessados e dedi-
nos que apresentam algum tipo de deficiên- cados, podem receber um acompanhamento
cia (FIGUEIREDO, 2013, p. 143). educacional reabilitativo em seu próprio lar.
São ações inclusivas além dos muros da es-
Booth e Ainscow (2000, apud FIGUEI- cola.
REDO, 2013), o percurso da inclusão irá am-
pliar e elaborar as competências e habilida- Continuando na sua linha de pensa-
des dos professores, e que as experiências mento, o autor, explica que quando o edu-
obtidas irão ajudar na sua formação continu- cador trabalha com a informação da educa-
ada agregando valores e conhecimentos no ção inclusiva, sua prática conclui todos os
contexto social, de história de vida e contri- níveis e modalidades de ensino: da educação
buíram para uma prática mais acolhedora. especial, passando pela educação básica e
Não se pode exigir que todos os professores atingindo a educação de jovens e adultos, al-
ajam da mesma forma, pois cada um terá cançando assim a diversidade discente nas
uma visão própria das práticas pedagógicas diferentes etnias, culturas e classes sociais.
na inclusão. Portanto, os autores concluem O professor deve observar, avaliar e mediar,
que não se pode esperar na formação dos para que os recursos pedagógicos de que a
professores o desenvolvimento de ritmos e escola possui sejam apropriados para aque-
competências similares e que sua prática pe- les que ensinam e para os que recebem o
dagógica só será efetivamente inclusiva se o aprendizado, como segue:
espaço possibilite sua atuação inclusiva e a É evidente que a educação dos alunos
reflexão do seu próprio trabalho pedagógico. com necessidades educacionais especiais é
Seguindo na mesma linha de racio- um trabalho multidisciplinar que requer es-
cínio Santos (2013, apud MANTOAN, 2013), pecialistas de diversas áreas atuando com a
ressalta que para que a escola e as práticas escola. É bom ressaltar que a aprendizagem
docentes sejam condizentes com a inclusão transcende o campo escolar, porque os mes-
devem proporcionar o fortalecimento dos mos mecanismos que estão presentes no
projetos políticos pedagógicos, sala de aula cotidiano. É nosso papel educar para a vida
com eixo de aprendizagem para todos, arti- e não somente para testes e avaliações pon-

219
tuais. Isso se torna mais indelével quando O autor ainda explica que outras es-
educamos aprendentes com necessidades colas se deparam diante do dilema de incluir
especiais, uma vez que eles carecem de uma o educando, optando pela idade biológica ou
aprendizagem integradora, relacionada à por sua capacidade de aprendizagem: distor-
vida social (CUNHA, 2015. p. 12). ção idade-série. Há indivíduos que possuem
atrasos no desenvolvimento, cuja maturação
Michels (2006), explica que a forma- cognitiva está abaixo das pessoas da mesma
ção de licenciatura, especificamente no curso idade. No entanto, não se inclui um aluno de
de Pedagogia, com habilitação em educação doze anos em um grupo de crianças com su-
especial, e não em uma de suas áreas defi- perdotação e altas habilidades de 7, mas é
nidas pelas deficiências e deverá estar rela- adequado que ele conviva e aprenda com os
cionada com o atendimento educacional dos outros da mesma faixa etária, pois esse é o
alunos com deficiência. seu grupo social. Uma diferença despropor-
Seguindo ainda no pensamento da cional certamente traria dificuldades para o
autora, podemos notar a variação de tipos processo inclusivo e para a dinâmica da sala
de formações continuadas e ela poderá ser a de aula. Não é nossa intenção culpabilizar ou
modalidade para formar os professores para exigir da escola ou do professor o que não
a educação especial. Aos professores capaci- foi concedido de forma ampla e irrestrita à
tados cabe a tarefa de identificar quais são educação: condições ideias para que todas as
os possíveis discentes com necessidades es- escolas pudessem estar preparadas e adap-
peciais e desenvolver com eles atividades e tadas, e todos os profissionais formados e
ações pedagógicas. capacitados. Porém é nosso dever não per-
der as esperanças e, acima de tudo, trabalhar
Percebe-se ainda para a autora, a pro- para a legítima inclusão de nossos alunos.
posição que o professor atualmente continua
ligado com o modelo da educação tradicional
que, continua se organizando com base no CONSIDERAÇÕES FINAIS
modelo médico-pedagógico, que acaba se
confundindo com o conhecimento da educa- O tema do presente trabalho tem
ção especial. Estudos mostram que a grande como objetivo responder as perguntas perti-
dificuldade do professor é aceitar a crítica a nentes à formação do professor na educação
esse modelo, que está vinculado ao pensa- inclusiva. Nesta investigação, pudemos veri-
mento dominante, não somente na educa- ficar quais os métodos e estratégias que os
ção especial, mas na educação de modo ge- professores utilizam na rede regular de en-
ral, causando por muitas vezes ao resultado sino para atender os alunos de inclusão es-
do fracasso escolar. colar. Será que o professor da rede regular
de ensino está apto a ensinar e a atender a
Ainda segundo a autora, na atualida- demanda de alunos inclusos em sala de aula?
de, a proposta dos professores, têm como
máxima a inclusão. Porém sua manutenção Diante dos autores estudados que tra-
tem sido o modelo médico-pedagógico que tam sobre a inclusão, verificamos que há um
nos faz pensar se este caminho está levando ato entre o discurso colocado nas páginas do
a qual caminho? Sucesso ou fracasso? livro e a realidade do ensino e do atendimen-
to dos alunos inclusivos.
Se é verdade que para a democratiza-
ção da escolarização os alunos com deficiên- O conjunto de evidências levantado
cia por meio de inclusão do ensino regular, te- dentro desse campo de pesquisa, aponta
rão que ser superadas as barreiras impostas para a necessidade de que deve haver novos
pelos educadores não especializados e modi- olhares para a prática do professor, dando
ficados as práticas escolares na perspectiva um sentido mais real e menos discursivo.
da absorção com qualidade, das mais diver-
sas diferenças culturais, linguísticas, étnicas, O professor na sua grande maioria
sociais e físicas. É também verdadeiro que a não tem esse preparo, tempo e estudo para
contribuição da área da educação especial ensinar o aluno inclusivo. O plano didático
não se fará presente enquanto permanecer deve ser adequado ao público-alvo é reser-
hegemônico o modelo médico-pedagógico vada as devidas especialidades para o ajus-
(MICHELS, 2006). Para Cunha (2015), com- tamento das aulas, e oferecendo as mesmas
preender o ser humano na complexidade do atividades para todos.
seu ser dando-lhes condições de integrar-se Ninguém negará que o professor dian-
ao ambiente escolar é fazê-lo crer com atri- te da inclusão, precisa do respaldo da dire-
butos para a cidadania: ção da escola, que deve trabalhar com um
Em muitas escolas, ainda o aluno com modelo de gestão escolar participativo e que
necessidades especiais é recebido em sala, acolhe a família para que haja uma efetiva
ficando isolado das demais, porque falta aos inclusão. Sem essa participação o professor
profissionais, a capacitação para exercer esse fica limitado na atuação junto ao seu aluno e
papel e, à escola, falta-lhe recursos pedagógi- que muitas vezes só contará com esse apoio
cos para propiciar as condições para a apren- ao longo da sua vida.
dizagem e a inclusão (CUNHA, 2015, p. 36). O não comprometido apenas aceita o

220
aluno inclusivo pois é algo que vem impos- Enfim é preciso muito mais que uma
to a ele e tem a convicção de que esse aluno lei para que a inclusão se torne uma realida-
não terá nenhum progresso estando em sala de digna e que dê ao aluno de inclusão o me-
ou não. Já o professor comprometido possui recido olhar que ele mereça.
uma visão ampla sobre a inclusão e consegue
planejar uma proposta pedagógica condizen- Conclui-se que é necessária a realiza-
te com o aluno inclusivo. Temos, portanto ção de pesquisas mais abrangentes e apro-
que separar os discursos pró e contra inclu- fundadas, com amostragem mais significati-
são para não incorrermos no erro de julgar va para que resultem em ações práticas no
um único olhar sobre a inclusão colocando-o âmbito da inclusão.
como um pensamento geral.
Conforme pontuado no referencial te- REFERÊNCIAS
órico, verificamos que a inclusão não se faz
apenas por força de uma lei, ela se define na BRASIL, Atendimento Educacional Es-
medida em que a realidade vivida pelo alu- pecializado: Brasília 2007.
no se efetive junto ao aprendizado adquirido BRASIL, Revista da Educação Especial/
dentro da sala de aula. O que foi verificado Secretaria da Educação Especial v. 1 n. 1 out
durante a pesquisa é que na maioria das es- 2005-Brasília 2008.
colas a inclusão é vista apenas como um meio
de socialização do aluno, e que isso por si só CARNEIRO, M.A. O acesso de alunos
já bastaria para a efetivação dessa inclusão. com deficiências às escolas e classes comuns:
Com relação ao aperfeiçoamento da possibilidades e limitações .4. ed. Petrópolis:
prática pedagógica, a hipótese levantada é Vozes, 2013.
confirmada nas respostas das duas profes- CARVALHO, R.E. Educação inclusiva:
soras pois elas admitem que há a necessi- com pingos nos “is”.8. ed. Porto Alegre: Me-
dade de aperfeiçoamento dos professores diação, 2011.
com cursos de especialização para se obter
um olhar mais direto para essa prática, corro- CUNHA, C. A práticas Pedagógicas na
borando com a hipótese de que a formação Educação Inclusiva. 5. ed. São Paulo: 2015.
docente é insuficiente para se trabalhar com DUEK, V.P. Formação continuada: aná-
a educação inclusiva. lise dos recursos e estratégias de ensino para
O objetivo da presente pesquisa era a educação inclusiva sob a ótica docente.
verificar as dificuldades encontradas na for- Educação em Revista. Educ. rev. vol. 30 n.2
mação docente na educação inclusiva bem Belo Horizonte, April/June, 2014.
como os principais motivos da inclusão, a ca- FIGUEIREDO, R. V.de. A formação de
pacitação e qualificação da prática docente e professores para inclusão dos alunos no es-
a reflexão sobre qual melhor caminho que a paço pedagógico da diversidade. In: MANTO-
formação docente terá dentro da inclusão. AN, M.T.E.(Org). O desafio das diferenças nas
Os resultados levam a crer que os ob- escolas.5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. cap.8,
jetivos pretendidos, foram alcançados me- p.141-145.
diante os embasamentos teóricos estudados, LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Ma-
identificamos que a inclusão é algo muito rina de Andrade. Fundamentos de metodo-
complexo e que os motivos que levam a in- logia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
clusão escolar muitas vezes passam apenas 297 p. ISBN 85-224-5758-8.
pela obrigatoriedade imposta pela lei.
MACHADO, R. Educação inclusiva: revi-
Em suma, o melhor caminho para a sar e refazer a cultura escolar. In:
reflexão sobre a formação docente dentro
da inclusão, passa por dois momentos, o do MANTOAN, M.T.E.(Org). O desafio das
professor comprometido que realmente bus- diferenças nas escolas. 5.ed. Petrópolis: Vo-
ca sua capacitação dentro da área inclusiva zes, 2013.Cap. 5, p .69-75.
e, portanto, faz a diferença dentro da sala de
aula quando apoiada pela gestão escolar e MANTOAN, M.T.E. Inclusão escolar: O
aquele professor que inclui na forma obriga- que é? Por quê? Como fazer? 2. ed. São Paulo:
tória da lei e não pensa em capacitar-se para Moderna, 2006.
melhorar sua prática e incluir o aluno efeti- MANTOAN, M.T.E.et al. A integração
vamente. de pessoas com deficiência. São Paulo Mem-
Para terminar concluímos que nossos non,1997.
objetivos foram alcançados dentro da pes- MAZZOTTA, M.J.S. Educação Especial
quisa, pois confrontando as evidências e a te- no Brasil. História e políticas públicas. 5. ed.
oria estudada, conseguimos compreender a São Paulo: Cortez, 2005.
inclusão dentro de um contexto geral, e que
o caminho ainda é longo, pois ainda estamos MICHELS, M. H. Gestão, formação
presos a ideia de uma inclusão baseada na docente e inclusão: eixos da reforma edu-
obrigatoriedade da lei. cacional brasileira que atribuem contornos
à organização escolar. Revista Brasileira de

221
Educação v.11 n. 33 set/dez. 2006.
RAMOS, R. Passos para a INCLUSÃO. 3.
ed. São Paulo: Cortez, 2006.
RAMOS, R. Passos para a INCLUSÃO. 4.
ed. São Paulo: Cortez,2008.
RAMOS, R. Passos para a INCLUSÃO. 5.
ed. São Paulo: Cortez, 2010.
SANTOS, M. T. da C. T. dos. Inclusão
escolar: desafios e perspectivas. MANTOAN,
M. T. E. (Org). O desafio das diferenças nas
escolas. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. Cap. 8,
p. 147-151.

222
O ENSINO DA MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO
GABRIEL MASCARENHAS SANTOS

Resumo bém para a capacitação dos jovens em sua


futura vida profissional e cidadania ativa.
O ensino da matemática no ensino
médio enfrenta desafios significativos. Alguns O ensino da matemática no ensino
desses desafios incluem a complexidade dos médio é onde os estudantes se deparam
conceitos, a falta de conexão com a vida co- com uma miríade de conceitos complexos,
tidiana e a falta de prática e aplicação. Para desde álgebra e trigonometria até cálculo e
superar esses obstáculos, os educadores po- geometria analítica. Essas disciplinas, embo-
dem adotar abordagens inovadoras, como a ra fundamentais, frequentemente se reve-
aprendizagem baseada em projetos, o uso lam como barreiras aparentemente intrans-
de tecnologia e a conexão com profissionais. poníveis para muitos jovens, que lutam para
A avaliação eficaz é fundamental, com ênfa- compreender a abstração e a complexidade
se na compreensão, resolução de problemas subjacentes a esses tópicos.
e feedback construtivo. Isso ajuda os alunos
a desenvolverem habilidades matemáticas Uma das principais preocupações no
sólidas e a apreciar a importância da mate- ensino da matemática é a falta de conexão
mática em suas vidas futuras. O ensino da com o mundo real. Os alunos frequentemen-
matemática no ensino médio desempenha te se perguntam por que precisam aprender
um papel vital na formação dos alunos e na equações, funções e teoremas que parecem
preparação para o sucesso em suas carreiras distantes de suas vidas cotidianas. Quando
e na vida cotidiana. essa conexão não é estabelecida de forma
eficaz, a motivação para aprender matemáti-
Palavras- chave: Matemática; ensino ca pode diminuir, resultando em um desinte-
médio; ensino; avaliação; formação; habilida- resse generalizado.
des matemáticas; compreensão.
Além disso, muitos estudantes apren-
dem a matemática de maneira mecânica, re-
solvendo problemas apenas para cumprir os
Abstract requisitos de exames e provas. Eles podem
Teaching mathematics in high school faltar a oportunidade de desenvolver uma
faces significant challenges. Some of these compreensão profunda e aplicável da mate-
challenges include the complexity of con- mática, limitando assim suas habilidades de
cepts, a lack of connection to everyday life, solução de problemas e pensamento crítico.
and a shortage of practice and application. Neste artigo, exploraremos os desa-
To overcome these hurdles, educators can fios mencionados e as oportunidades que o
adopt innovative approaches such as pro- ensino da matemática no ensino médio apre-
ject-based learning, the use of technology, senta. Veremos como educadores podem su-
and connecting with professionals. Effective perar esses obstáculos, tornando o ensino da
assessment is crucial, with an emphasis on matemática mais envolvente, relevante e sig-
understanding, problem-solving, and cons- nificativo para os estudantes, preparando-os
tructive feedback. This helps students deve- não apenas para o sucesso acadêmico, mas
lop solid mathematical skills and appreciate também para a vida após a graduação, onde
the importance of mathematics in their futu- a matemática desempenha um papel essen-
re lives. Teaching mathematics in high school cial em sua tomada de decisões, resolução de
plays a vital role in shaping students and pre- problemas e compreensão do mundo ao seu
paring them for success in their careers and redor.
everyday life.
Keywords: Mathematics, high school,
teaching, assessment, formation, math skills, 2. DESENVOLVIMENTO
understanding.
2.1 Desafios no Ensino da Matemática
no Ensino Médio
1. INTRODUÇÃO O ensino da matemática no ensino
médio enfrenta uma série de desafios que
A matemática, frequentemente apeli- afetam tanto os educadores quanto os estu-
dada de "a linguagem do universo", desem- dantes. Estes desafios incluem:
penha um papel crucial na educação e no
desenvolvimento intelectual dos estudantes.
No entanto, o ensino da matemática no ensi-
no médio é uma jornada repleta de desafios 2.1.1. Abstração e Complexidade
e oportunidades. A aprendizagem matemáti- A matemática, ao entrar no nível do
ca nessa fase da educação é essencial, não ensino médio, evolui para um território mais
apenas para o sucesso acadêmico, mas tam- abstrato e complexo. Tópicos como álgebra li-

223
near, cálculo diferencial e integral, geometria ção também ajudam a solidificar a compre-
analítica e trigonometria avançada podem ensão dos conceitos matemáticos, tornando
ser incrivelmente desafiadores para os alu- o aprendizado mais duradouro.
nos. Muitos deles não conseguem visualizar a
aplicação prática desses conceitos abstratos Em resumo, o ensino da matemática
em suas vidas diárias. A falta de compreen- no ensino médio enfrenta desafios significa-
são profunda e a dificuldade em estabelecer tivos relacionados à abstração, falta de co-
conexões significativas com a matemática nexão com o mundo real e falta de prática
podem resultar em desânimo e desistência e aplicação. Superar esses desafios requer
por parte dos alunos. abordagens pedagógicas inovadoras que tor-
nem a matemática mais acessível, relevante
A abstração e complexidade da mate- e significativa para os estudantes. Isso não
mática também podem ser exacerbadas pela apenas ajuda os alunos a dominarem a ma-
falta de uma base sólida nas habilidades ma- téria, mas também a perceber como a mate-
temáticas fundamentais. Quando os alunos mática desempenha um papel fundamental
enfrentam dificuldades em conceitos básicos, em suas vidas e carreiras futuras.
eles podem ficar ainda mais sobrecarregados
quando expostos a tópicos mais avançados.
A pressão de cumprir padrões acadêmicos ri- 2.2 Oportunidades no Ensino da Mate-
gorosos e de se destacar em avaliações pode mática no Ensino Médio
aumentar a ansiedade dos estudantes, o que,
por sua vez, dificulta o aprendizado. 2.2.1 Métodos de Ensino Inovadores
A abordagem de ensino tradicional,
que se concentra principalmente em pales-
2.1.2. Falta de Conexão com o Mundo tras e exercícios de sala de aula, nem sempre
Real é a mais eficaz quando se trata de ensinar
A falta de conexão entre os conceitos matemática no ensino médio. Uma alternati-
matemáticos e a vida cotidiana é um desafio va inovadora é a "aprendizagem baseada em
significativo. Muitos estudantes questionam projetos". Nesse método, os alunos traba-
por que precisam aprender matemática, pois lham em projetos que envolvem a aplicação
não conseguem ver como ela se aplica ao prática de conceitos matemáticos em situ-
mundo fora da sala de aula. Essa falta de apli- ações do mundo real. Por exemplo, os alu-
cação prática torna a matemática uma ma- nos podem projetar um modelo de negócios,
téria distante, que não tem relevância para criar um projeto de engenharia ou realizar
suas vidas. uma análise estatística de dados reais. Esses
projetos não apenas tornam a matemática
No entanto, a matemática está pre- mais relevante, mas também estimulam o
sente em quase todos os aspectos de nossas pensamento crítico e a resolução de proble-
vidas, desde a economia e finanças pessoais mas, habilidades essenciais na matemática e
até a ciência e a tecnologia. A matemática é a na vida cotidiana.
linguagem que descreve o funcionamento do
universo e permite a resolução de problemas Além disso, a aprendizagem baseada
complexos. Os educadores têm a respon- em projetos incentiva a colaboração entre os
sabilidade de demonstrar essas conexões alunos, permitindo-lhes trabalhar em equipe
e mostrar como a matemática é uma ferra- para resolver desafios complexos. Isso não
menta fundamental para a compreensão e apenas torna a matemática mais envolvente,
resolução de problemas do mundo real. mas também desenvolve habilidades inter-
pessoais importantes.

2.1.3. Falta de Prática e Aplicação


2.2.2 Tecnologia como Ferramenta de
A matemática é uma disciplina que se Aprendizagem
beneficia da prática constante. Alguns alunos
aprendem a resolver problemas matemáticos A tecnologia desempenha um papel
de forma mecânica, seguindo procedimentos fundamental no ensino da matemática no sé-
e fórmulas sem realmente compreender os culo XXI. O uso de softwares de matemática,
princípios subjacentes. Essa abordagem limi- aplicativos e recursos online pode tornar o
tada não os prepara para a aplicação da ma- ensino e a aprendizagem da matemática mais
temática em situações do mundo real, onde interativos e dinâmicos. Essas ferramentas
a solução de problemas requer pensamento permitem que os alunos explorem conceitos
crítico e criativo. matemáticos de forma visual e prática.
Para superar esse desafio, os educado- Por exemplo, softwares de álgebra e
res podem incorporar a prática regular de re- geometria interativa permitem que os alunos
solução de problemas no currículo. Isso pode manipulem gráficos e fórmulas em tempo
ser feito por meio de projetos, estudos de real, o que torna a matemática mais tangível.
caso e simulações que permitem aos alunos Aplicativos de matemática oferecem exercí-
aplicarem seus conhecimentos matemáticos cios interativos e jogos que tornam o apren-
em contextos práticos. A prática e a aplica- dizado divertido e envolvente. Além disso, a

224
tecnologia facilita a individualização do ensi- no contexto do ensino da matemática no en-
no, permitindo que os alunos progridam em sino médio. Essas avaliações tendem a medir
seu próprio ritmo e recebam feedback ime- a capacidade dos alunos de memorizar fór-
diato sobre seu desempenho. mulas e procedimentos, muitas vezes à custa
da compreensão conceitual profunda.
Quando os alunos são preparados
2.2.3 Conexão com Profissionais e Car- para exames padronizados, o foco muitas ve-
reiras zes recai na memorização de fórmulas e mé-
Outra estratégia valiosa é a conexão todos específicos necessários para responder
dos estudantes com profissionais que usam a questões específicas. O ensino pode se tor-
matemática em suas carreiras. Visitas a em- nar centrado na preparação de testes, com o
presas, palestras de profissionais e progra- objetivo de garantir que os alunos alcancem
mas de estágio proporcionam aos alunos pontuações elevadas em exames padroniza-
uma visão concreta de como a matemática dos, em vez de desenvolver habilidades ma-
é aplicada no mundo real. Isso não apenas temáticas essenciais.
inspira os estudantes, mas também os ajuda Esse enfoque pode desestimular a ex-
a entender as oportunidades que a matemá- ploração criativa de conceitos matemáticos e
tica oferece em uma variedade de carreiras, a aplicação prática. Os alunos podem ver a
desde engenharia e ciência da computação matemática como um conjunto de regras e
até economia e finanças. fórmulas a serem memorizadas e aplicadas
Essas conexões podem ajudar os alu- mecanicamente, em vez de uma ferramenta
nos a verem a relevância da matemática em poderosa para resolver problemas do mun-
suas vidas futuras, tornando a disciplina mais do real. O resultado pode ser uma falta de
atraente e motivadora. Além disso, eles po- compreensão conceitual sólida e a incapaci-
dem estabelecer mentores que os orientam dade de aplicar a matemática em situações
em seus estudos matemáticos e do mundo real, minando assim o propósito
da educação matemática.
trajetórias de carreira.
Em resumo, a inovação no ensino da
matemática no ensino médio envolve a ado- 2.3.1.2 Avaliação de Memorização em
ção de métodos de ensino mais práticos, o Detrimento da Compreensão
uso de tecnologia como uma ferramenta in- Os testes tradicionais, frequentemen-
terativa e a criação de conexões significativas te baseados em memorização, têm sido cri-
com profissionais e carreiras relacionadas à ticados por focar na capacidade dos alunos
matemática. Essas abordagens ajudam a su- de repetir procedimentos e aplicar fórmulas
perar os desafios enfrentados no ensino da de maneira mecânica, em vez de avaliar sua
matemática, tornando a disciplina mais re- compreensão conceitual e capacidade de re-
levante e atraente para os estudantes, pre- solver problemas matemáticos de forma crí-
parando-os para o sucesso em suas futuras tica.
jornadas acadêmicas e profissionais.
Quando os alunos são avaliados prin-
cipalmente com base em sua capacidade de
2.3 Avaliação e Feedback Eficazes no reproduzir fórmulas e etapas específicas, isso
Ensino de Matemática no Ensino Médio não incentiva a aplicação da matemática no
mundo real ou o desenvolvimento de habili-
A avaliação desempenha um papel dades de pensamento crítico. Os alunos po-
fundamental no processo educacional, espe- dem aprender a resolver problemas de for-
cialmente no ensino da matemática no ensi- ma automatizada, mas não compreendem
no médio. O desenvolvimento de sistemas por que estão resolvendo-os dessa maneira,
de avaliação e feedback eficazes é essencial o que leva a uma compreensão superficial.
para o sucesso dos alunos e o aprimoramen-
to contínuo do ensino. Vamos explorar como Além disso, a avaliação baseada na
a avaliação pode ser um tópico significativo memorização pode criar uma cultura de "de-
no ensino da matemática e discutir maneiras coreba" em que os alunos se concentram em
de torná-la mais eficaz. acumular informações para passar em exa-
mes, em vez de explorar e apreciar a riqueza
dos conceitos matemáticos e sua relevância
2.3.1 Desafios na Avaliação da Mate- na vida cotidiana.
mática no Ensino Médio
2.3.1.1 Enfoque em Testes Padroniza- 2.3.1.3 Feedback Limitado e Constru-
dos: tivo
Os testes padronizados, que são am- O feedback desempenha um papel
plamente utilizados em sistemas de ensino fundamental na aprendizagem e na melho-
ao redor do mundo, têm suas vantagens, mas ria do desempenho dos alunos. Infelizmente,
também apresentam desafios significativos muitas vezes, os alunos recebem feedback

225
escasso e pouco construtivo em suas tarefas se tornam oportunidades para demonstrar o
e avaliações matemáticas. Isso torna difícil valor da matemática na vida cotidiana.
para eles entenderem onde cometeram er-
ros e como melhorar. Feedback Construtivo e Personaliza-
do: O feedback é essencial para o aprendiza-
Um feedback eficaz deve ser deta- do dos alunos. Os educadores devem forne-
lhado, específico e direcionado para o pro- cer feedback personalizado e construtivo que
cesso de pensamento do aluno, destacando destaque não apenas os erros, mas também
não apenas os erros, mas também as áreas as áreas de melhoria e o processo de pen-
de melhoria. O feedback construtivo deve samento por trás das respostas dos alunos.
ajudar os alunos a refletirem sobre seus er- Isso pode ser feito por meio de comentários
ros, compreender os conceitos matemáticos detalhados nas provas, discussões individu-
subjacentes e orientá-los na direção certa. ais, revisões de tarefas e tutoriais de refor-
Quando os alunos recebem feedback de qua- ço. O feedback direcionado ajuda os alunos
lidade, isso os ajuda a desenvolver uma com- a compreenderem onde cometeram erros
preensão mais profunda da matemática e a e como podem melhorar, promovendo o
aprimorar suas habilidades. aprendizado ativo e a autoavaliação.
Em resumo, o enfoque em testes pa- Diversificação de Métodos de Avalia-
dronizados que enfatizam a memorização, ção: Em vez de depender exclusivamente de
a avaliação de memorização em detrimen- exames tradicionais, os educadores podem
to da compreensão e o feedback limitado e utilizar uma variedade de métodos de ava-
pouco construtivo são desafios significativos liação. Isso inclui portfólios, onde os alunos
no ensino da matemática no ensino médio. podem compilar exemplos de seu trabalho
Para superar esses desafios, é fundamental ao longo do tempo, apresentações onde de-
repensar os métodos de avaliação, priorizar a monstram sua compreensão de conceitos
compreensão conceitual e fornecer feedback matemáticos de maneira criativa, projetos
de alta qualidade que promova o desenvolvi- colaborativos que envolvem a aplicação prá-
mento das habilidades matemáticas e a apli- tica da matemática e discussões em grupo
cação prática. onde os alunos podem explicar seus proces-
sos de pensamento. Diversificar os métodos
de avaliação ajuda a avaliar as habilidades
2.3.2 Estratégias para Avaliação Eficaz matemáticas dos alunos de maneira holística
da Matemática no Ensino Médio e promove a expressão criativa do conheci-
mento matemático.
2.3.2.1 Avaliação Formativa
A avaliação formativa é uma ferramen-
ta poderosa para avaliar o progresso dos alu- 2.3.2.2 Envolver os Alunos na Avalia-
nos ao longo do processo de ensino. Em vez ção
de depender exclusivamente de exames pa- Permitir que os alunos participem da
dronizados, os educadores podem incorpo- avaliação de seu próprio aprendizado é uma
rar avaliações formativas regulares em sala prática eficaz. Isso pode envolver autoava-
de aula. Essas avaliações podem incluir ques- liações, onde os alunos refletem sobre seu
tionários, testes curtos, atividades práticas e próprio progresso e identificam áreas de
discussões em grupo. O objetivo é fornecer melhoria, revisões de pares, onde os alunos
informações instantâneas sobre o entendi- avaliam e fornecem feedback uns aos outros,
mento e o progresso dos alunos, permitindo e a definição de metas de aprendizado pes-
que os professores adaptem seu ensino às soais. Quando os alunos estão envolvidos no
necessidades individuais de cada estudante. processo de avaliação, eles se tornam mais
Isso incentiva a aprendizagem ativa e permi- responsáveis por seu próprio aprendizado,
te que os alunos corrijam erros e melhorem estabelecem metas e desenvolvem um en-
seu desempenho à medida que avançam no tendimento mais profundo de seu progresso.
currículo.
Em resumo, a avaliação eficaz da mate-
Ênfase na Compreensão e Resolução mática no ensino médio requer uma aborda-
de Problemas: As avaliações devem focar na gem que vá além dos exames padronizados.
compreensão profunda dos conceitos mate- Incorporar avaliações formativas regulares,
máticos e na capacidade dos alunos de apli- enfatizar a compreensão e a resolução de
cá-los na resolução de problemas do mundo problemas, fornecer feedback construtivo e
real. Isso pode ser alcançado por meio de diversificar os métodos de avaliação são es-
questões práticas que desafiam os alunos a tratégias que ajudam a desenvolver habilida-
usar seus conhecimentos em situações da des matemáticas sólidas e a promover uma
vida cotidiana. Além disso, desafios de mode- apreciação mais profunda da matemática
lagem matemática e projetos que exigem a como uma ferramenta valiosa na vida coti-
aplicação de conceitos matemáticos em con- diana e nas futuras carreiras dos alunos.
textos do mundo real são ferramentas efica-
zes para avaliar a compreensão e a capaci-
dade de resolução de problemas dos alunos.
Ao enfatizar essa abordagem, as avaliações

226
3. CONCLUSÃO
O ensino da matemática no ensino mé-
dio desempenha um papel crucial na forma-
ção educacional e profissional dos estudan-
tes. No entanto, é fundamental reconhecer e
abordar os desafios significativos que muitos
alunos enfrentam ao aprender matemática.
Estes desafios incluem a abstração e comple-
xidade dos conceitos, a falta de conexão com
o mundo real e a falta de prática e aplicação.
Para superar esses desafios e garan-
tir que os estudantes obtenham um domínio
sólido da matemática, os educadores devem
adotar abordagens inovadoras. A aprendiza-
gem baseada em projetos, o uso de tecnologia
como uma ferramenta de ensino, a conexão
com profissionais e carreiras relacionadas à
matemática e a criação de métodos de avalia-
ção eficazes são algumas das estratégias que
podem tornar o ensino da matemática mais
acessível, relevante e significativo.
Ao adotar essas abordagens, os edu-
cadores podem inspirar os estudantes a ver a
matemática como uma disciplina fundamen-
tal, uma linguagem universal que desem-
penha um papel vital em todas as áreas da
vida. Preparar os estudantes para um futuro
de sucesso, onde a matemática desempe-
nha um papel fundamental em suas vidas e
carreiras, é uma meta alcançável quando se
adota uma abordagem inovadora e centrada
no aluno no ensino da matemática no ensino
médio. Ao fazer isso, estamos capacitando a
próxima geração com as habilidades mate-
máticas essenciais para enfrentar os desafios
do mundo contemporâneo.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA BAIRRAL, Marcelo; WANDE-
RER, Fernanda. A Educação Matemática no
Ensino Médio Coordenação do GT. [s.l.: s.n.],
2010. Disponível em:
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cia/docs/TextosGT19Anped2011_TrabEnco-
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AULAS DE MATEMÁTICA NO ENSINO
MÉDIO: UM OLHAR
INTERDISCIPLINAR EM UMA PERSPEC-
TIVA CTS. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <ht-
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ROSA MONTEIRO PAULO; CESAR, J.
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concepções e análise do vivido na sala de
aula. Ciência & Educação, v. 17, n. 1, p. 183–
197, 1 jan. 2011.
Luckesi, Cipriano Carlos. Avaliação da
aprendizagem escolar [livro eletrônico]: estu-
do e proposições / Cipriano Carlos Luckesi. 1.
ed. São Paulo. Cortez, 2013.

227
O DIREITO DAS MULHERES AO VOTO E AS HABILIDADES DA BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR (BNCC)
GILDO FERREIRA SANTOS

RESUMO Education.
Trazendo o contexto histórico da mu-
lher na sociedade brasileira, em especial a sua
participação no voto, conquistado no ano de 1 INTRODUÇÃO
1934, traz questões ainda hoje consideradas Atualmente, o ensino do componen-
atuais, como os diferentes movimentos femi- te curricular de História tem exigido a ne-
nistas a fim de garantir os direitos da mulher, cessidade de repensar nas habilidades que
como melhores condições de trabalho, equi- se pretende desenvolver antes de escolher
dade de salários, acesso à Educação, dentre uma metodologia para desenvolver o ensino
outros. O tema deve ser discutido no compo- de conteúdos. O contexto que a envolve é
nente curricular de História, para contribuir complexo já que existem diferentes objetivos
com uma maior democratização em relação educacionais atribuídos a ela, tanto históri-
as oportunidades e para tentar modificar as cos, quanto formas de trabalhá-los, haven-
desigualdades sociais existentes referentes do a necessidade de se utilizar documentos
a questão de gênero, não só em relação a norteadores como a Base Nacional Comum
sociedade, mas, ao longo do processo edu- Curricular (BNCC).
cacional. Justifica-se o presente artigo com o
intuito de discutir a respeito do tema; e como No Brasil, se acreditava que a discrimi-
objetivos específicos, observar a evolução nação e segregação ocorria apenas em rela-
social e legal conquistada pelos movimentos ção a condição social, o que não é verdade,
feministas brasileiros, com destaque para o principalmente em se tratando do papel da
direito ao voto, enquanto objeto de estudo mulher na sociedade, o que remete a uma
do componente. Os resultados encontrados posição de submissão na qual as mulheres
indicaram que após a conquista desse direi- foram colocadas ao longo dos tempos.
to, os movimentos feministas diminuíram em Os diversos movimentos sociais foram
intensidade fazendo com que outros direitos sendo criados por feministas que passaram
demorassem mais do que o esperado, para a exigir não só o direito ao voto, mas, à Edu-
que fossem reconhecidos perante a socieda- cação, salários equiparados aos dos homens,
de. boas condições de trabalho, além de ques-
PALAVRAS-CHAVE: História; Voto Femi- tões que envolvem a igualdade de direitos e
nino; Educação. contribui para que se sintam pertencentes à
sociedade enquanto cidadãs.
Como justificativa, tem-se a escolha do
ABSTRACT tema no tocante a necessidade de se discutir
Bringing the historical context of wo- sobre a questão no componente curricular
men in Brazilian society, especially their par- de História, devendo ser trabalhada não só
ticipation in voting, achieved in 1934, it brings em sala de aula, mas, fora dela, a fim de con-
issues that are still considered current today, tribuir para uma sociedade justa e igualitária.
such as the different feminist movements in Como problemática, tem-se o exer-
order to guarantee women's rights, such as cício da cidadania, a fim de promover uma
better working conditions, salary equity, ac- maior democratização em relação as opor-
cess to Education, among others. The topic tunidades já que ainda existem muitas desi-
must be discussed in the History curriculum gualdades em relação ao gênero não só na
component, to contribute to greater demo- sociedade, mas, também no próprio proces-
cratization in relation to opportunities and to so educacional.
try to modify existing social inequalities regar-
ding the issue of gender, not only in relation Assim, há a necessidade de fomentar e
to society, but throughout the educational incentivar pesquisas na área, uma vez que os
process. This article is justified with the aim estudantes precisam compreender além do
of discussing the topic; and as specific objec- processo histórico pelo qual se deu o direito
tives, observe the social and legal evolution do voto feminino, mas, desenvolver a critici-
achieved by Brazilian feminist movements, dade, o respeito e o exercício da cidadania.
with emphasis on the right to vote, as an ob- Como objetivo geral tem-se uma dis-
ject of study of the component. The results cussão a respeito do tema; e como objetivos
found indicated that after the achievement of específicos, observar a evolução social e legal
this right, feminist movements decreased in conquistada pelos movimentos feministas
intensity, causing other rights to take longer brasileiros, com destaque para o direito ao
than expected before they were recognized voto, enquanto objeto de estudo do compo-
in society. nente curricular.
KEYWORDS: History; Female Vote;

228
DESENVOLVIMENTO ocorrer somente no século XIX, onde a visão
da sociedade e questões envolvendo a cida-
2.1 HISTÓRIA DA TRAJETÓRIA DA MU- dania começaram a aparecer enquanto real
LHER BRASILEIRA NOS MOVIMENTOS SOCIAIS necessidade de criar oportunidades para a
A mulher, ao longo de todo o proces- formação acadêmica das mulheres.
so histórico, era até então colocada desde as No início, algumas cidades brasileiras
sociedades mais antigas em uma posição de abriram salas de aula voltadas para receber
submissão. Os homens se mantinham em mulheres, mas, em turmas separadas dos
uma posição de superioridade fazendo va- homens, com o objetivo de formar professo-
ler uma situação de dominação perante elas, ras. O que parecia inatingível para elas, mu-
com base no patriarcalismo. dou completamente, a partir do cenário de
De acordo com essa visão a mulher que havia mais mulheres formadas professo-
era compreendida como: “figura como a pri- ras do que homens.
meira forma de opressão na história da hu- Com isso, as mulheres começam a
manidade” (SARDENBERG e COSTA, 1994, p. ganhar campo na Educação, mas, trazem o
81). reflexo da sociedade ainda, onde os homens
A nota divulgada no Jornal do Comér- ocupavam funções consideradas superiores,
cio do ano de 1888 deixava clara a submissão como a gestão escolar, enquanto as mulhe-
feminina, trazendo dez mandamentos que res eram limitadas a trabalhar em sala de
deveriam ser respeitados pelas mulheres da aula. A visão feminina que se tinha era de
sociedade da época em questão pelo menos uma pessoa sentimentalista e tolerante, ao
doze vezes por dia: mesmo tempo que se mostrava menos fir-
me, o que resultava na hierarquia em relação
1º Amai a vosso marido sobre todas aos cargos (LOURO, 2006).
as coisas; 2º Não lhe jureis falso; 3º
Ainda, de acordo com o autor, o mes-
Preparai-lhe dias de festa; 4º Amai-o mo ocorria em relação a outras profissões,
mais do que a vosso pai e a vossa mãe; 5º como o trabalho em escritórios, fábricas e co-
Não o atormenteis com exigências, caprichos mércio que deveria ser exercido juntamente
e amuos; 6º Não o enganeis; 7º Não lhe sub- com as tarefas de dona de casa, resultando
traiais dinheiro, nem gasteis este com futili- em baixos salários, a falta de legislação espe-
dades; 8º Não resmungueis, nem finjais ata- cífica voltada para as mulheres, mantendo-se
ques nervosos; 9º Não desejeis mais do que péssimas condições de trabalho, altas jorna-
um próximo e que este seja o teu marido; 10º das, assédio sexual, controle, dentre outras
Não exijais luxo e não vos detenhais diante questões.
das vitrines (JORNAL DO COMÉRCIO, 1888,
apud PEDRO, 2006, p. 285). Com toda essa situação, surgiram ou-
tras situações acerca do trabalho das mulhe-
Toledo (2005), traz que a sociedade res:
tem o homem como agente de opressão.
Segundo o autor, isso só poderia ser solu- De que modo as mulheres que passa-
cionado se houvesse uma ruptura da econo- vam a trabalhar durante todo o dia, ou mes-
mia vigente e a mudança de valores como as mo parcialmente, poderiam se ocupar com
crenças, costumes e cultura que influenciam o marido, cuidar da casa e educar os filhos?
essa estrutura ideológica e que sustentam O que seria de nossas crianças, futuros cida-
essa submissão. dãos da pátria, abandonados nos anos mais
importantes de formação do seu caráter? [...]
O autor, ainda discute que a mulher (RAGO, 2006, p. 588).
até então era educada e acreditava que esse
tipo de tratamento era normal. Desde a in- Outra questão de suma importância
fância ela já era oprimida e ensinada que a é o direito ao voto pelas mulheres. Ribeiro
sua função no mundo era inferior à dos ho- (2008), relata o primeiro país no mundo a
mens, limitando-se as atribuições do ambien- conceder esse direito foi a Nova Zelândia em
te doméstico. 1893. Na América Latina, o primeiro país a
conquistar esse direito foi o Equador, no ano
Ou seja: de 1929.
É de extrema importância compre- No Brasil, até então existia pouquís-
ender como a naturalização dos processos simos registros referente a luta das mulhe-
socioculturais de discriminação contra a mu- res. Esse cenário também só começou a se
lher e outras categorias sociais constitui o ca- modificar quando a própria mulher passou a
minho mais fácil e curto para legitimar a “su- escrever em periódicos e revistas, no ano de
perioridade” dos homens, assim como a dos 1850, culminando em mudanças fundamen-
brancos, a dos heterossexuais, a dos ricos tais para as mulheres.
(SAFFIOTI e BONGIOVANI, 2004, p. 11).
Em 1891, Saldanha Marinho, político
Assim como os negros e as pessoas brasileiro, instituiu uma Emenda constitu-
com deficiência, as mulheres eram excluídas cional federal assinada por 31 constituintes,
da sociedade. As mudanças começaram a conferindo o direito de voto às mulheres.

229
Nesse momento, houve uma grande pressão [...] as mulheres brasileiras deixa-
fazendo com que Epitácio Pessoa que havia ram de constar como cidadãs de segunda
subscrito a emenda, voltasse atrás. O assun- categoria [...] tornando-se agora legalmen-
to também refletiu em Minas Gerais, no ano te reconhecidas como seres responsáveis e
de 1905, diante do alistamento de 3 mulhe- socialmente produtivos, tendo por respaldo
res, o que resultou no direito de voto. uma legislação mais progressista, menos dis-
criminatória, que leva em consideração a es-
A Emenda nº 47/1917 alterou a lei elei- pecificidade da condição feminina. [...] Só um
toral decretada no ano anterior, trazendo o movimento de mulheres conscientes de seus
direito de voto para as mulheres com mais de direitos e devidamente mobilizadas para exi-
21 anos de idade, onde a mesma foi rejeitada gir o cumprimento da lei e a punição para
pela Justiça considerando-a inconstitucional. aqueles que porventura a transgredirem, é
Na sequência, o primeiro Estado que conce- que garantirá a construção de uma socieda-
deu esse direito foi o Rio Grande do Norte de mais justa e igualitária (SARDENBERG E
(RIBEIRO, 2008). COSTA, 1994, p. 109).
Getúlio Vargas, criou o Código Elei- A partir de 1988 com base na Cons-
toral Brasileiro com base no Decreto nº tituição Federal, ocorreram novas modifica-
21.076/1932, trazendo em seu Artigo 2º, a ga- ções, surgindo o direito ao voto facultativo
rantia do direito ao voto aos cidadãos acima para as pessoas a partir de 16 anos.
de 21 anos, independentemente do sexo. Po-
rém, o Artigo 121, trazia a não obrigatorieda-
de das mulheres com relação ao voto. Com a
promulgação da Constituição de 1934, a ida- 2.2 SOBRE O DIREITO AO VOTO
de mínima para exercer o voto passou de 21 As mulheres foram excluídas da vida
para 18 anos. social durante séculos, incluindo o direito ao
No final da Segunda Guerra Mundial, voto, o que era permitido até então apenas
em 1945, criou-se o Comitê de Mulheres pela para homens. No caso da América Latina, o
Democracia, no Rio de Janeiro, com o obje- primeiro país que reconheceu o voto das mu-
tivo de consolidar a democracia e garantir lheres foi o Uruguai, em âmbito local.
a igualdade de direitos. Dois anos após, foi Exerceu-se o direito ao voto pela pri-
criada a Federação das Mulheres do Brasil meira vez no ano de 1927, na comunidade de
(FMB), discutindo ainda sobre os direitos da Cerro Chato. Somente em 1938 o direito foi
mulher (TELES, 2003). assegurado em nível federal. Por isso, dife-
Até o Golpe Militar de 1964, houve rentes pesquisadores acabam considerando
uma verdadeira luta em relação a classe fe- que o primeiro país a garantir o direito foi o
minina, ocorrendo assembleias e reuniões, a Equador, no ano de 1929 (MARTÍNEZ, 2016).
fim de conquistar principalmente os direitos Na segunda metade do século XIX,
das crianças e da maternidade, o que acabou muitas mulheres passaram a demonstrar in-
contribuindo para a criação das creches. satisfação com relação aos modelos sociais
Porém, o golpe extinguiu quase que e políticos brasileiros. A insatisfação passou
totalmente as associações femininas, isso a ser destaque em diferentes jornais, com a
porque muitas mulheres foram mortas, tor- pretensão de alcançar mais mulheres, incen-
turadas ou colocadas na lista de desapareci- tivando-as:
dos políticos, retornando somente onze anos A “emancipação da mulher” estava ad-
mais tarde, com a Proclamação do Ano Inter- quirindo um significado cada vez mais vasto.
nacional da Mulher, no ano de 1975, pelas No final do século XIX, algumas mulheres não
Nações Unidas. mais queriam apenas respeito, tratamento
Teles (2003), discute que esse aconte- favorável dentro da família ou direito à edu-
cimento serviu como marco para a retomada cação, mesmo educação universitária, mas
dos movimentos feministas, trazendo a luta sim o desenvolvimento pleno de todas as
por uma constituição livre, pela anistia e pela suas faculdades, dentro e fora do lar. (...) elas
liberdade política. visualizavam as mulheres trabalhando em pé
de igualdade com os homens em todas as
O Brasil ficou marcado pelas diferen- esferas, a ocupar “todos os cargos, desem-
tes lutas dos direitos da mulher destacando- penhar todas as funções; em tudo devemos
-se desde a década de 1970, questões como competir com os homens - no governo da
condições dignas de trabalho, igualdade de família, como na direção do estado”. Vincula-
salários, valorização, justiça, entre outras vam a causa pelo sufrágio à igualdade da mu-
questões, em que a ela pudesse ser realmen- lher e aos direitos humanos gerais (HAHNER,
te considerada cidadã a fim de exercer direi- 1981 apud SANTOS, 2017, p. 46).
tos e deveres (SARDENBERG E COSTA, 1994).
Ainda, quanto à submissão feminina,
Segundo Sardenberg e Costa (1994), a as feministas afirmavam que isso ocorria de-
partir da Constituição Federal de 1988, houve vido a dependência econômica relacionada
uma mudança de posição da mulher na so- aos homens e, que com o direito ao trabalho,
ciedade: elas poderiam modificar essa situação.

230
Nísia Floresta foi uma das figuras mais to dos movimentos feministas, sendo o direi-
influentes, na luta dos direitos das mulheres, to reconhecido finalmente pela Constituição
destacando-se a área educacional. Ela detes- de 1934.
tava a dependência a que as mulheres eram
submetidas com relação aos homens, ressal- Após a conquista do direito, as lutas
tando a ignorância na qual as meninas eram travadas a fim de garantir os direitos das mu-
criadas. Fundou diversos colégios voltados lheres foram perdendo força. Isso porque a
para a educação de mulheres, a fim de con- urgência anterior perdeu o ritmo, fazendo
tribuir com sua emancipação (ALVES, 1980). com que depois de conquistado fosse como
se as próprias mulheres não sentissem mais
No final da década de 1880, os ideais vontade de exercer seu papel de cidadã pe-
republicanos começaram a se expandir no rante a sociedade.
país, fazendo com que boa parte das femi-
nistas passassem a exigir o direito ao voto,
o que lhes traria igualdade de direitos e con- 2.3 BASE NACIONAL COMUM CURRI-
tribuiria para sua participação na sociedade, CULAR (BNCC) E OS DIREITOS DA MULHER
enquanto cidadãs. O desejo foi ganhando
grandes proporções. Segundo Santos (2017), Diferentes documentos norteadores
o jornal O Sexo Feminino, do Estado de Minas para o ensino de História, sendo o mais re-
Gerais, dedicava uma coluna exclusiva sobre cente, a BNCC, que traz um direcionamento
o assunto. para o que deve ser ensinado em cada etapa
escolar, trazendo como propósito desenvol-
A partir desses movimentos, alguns ver junto aos estudantes os mesmos obje-
constituintes passaram a defender o voto fe- tos de conhecimento e de aprendizagem em
minino na Constituição de 1891, propondo todo o país, independentemente do Estado e
que esse direito fosse permitido: “às cidadãs da rede de ensino em questão.
solteiras ou viúvas, diplomadas em direito,
medicina ou farmácia e às que dirigissem es- Atualmente, foram criados direciona-
tabelecimentos docentes, industriais ou co- mentos para o ensino da disciplina de Histó-
merciais” (PORTO, 2002, p. 233). ria a partir da BNCC, trazendo também novos
desafios para os professores. Nela, distin-
Ainda, houve a proposta de uma gue-se os objetivos que se pretende atingir
Emenda Constitucional a fim de conferir esse ao longo da Educação Básica com o intuito de
direito às: “diplomadas com títulos científicos formar cidadãos críticos, conscientes e refle-
e de professoras, às que estivessem na posse xivos. Pensando nessa perspectiva, tem-se:
de seus bens e às casadas” (PORTO, 2002, p.
233). As Ciências Humanas devem, assim,
estimular uma formação ética, elemento fun-
Ou seja, ainda se mantinha uma limita- damental para a formação das novas gera-
ção quanto ao direito ao voto feminino, uma ções, auxiliando os alunos a construírem um
vez que somente mulheres com alguma titu- sentido de responsabilidade para valorizar:
lação/graduação e casadas poderiam exercer os direitos humanos; o respeito ao ambiente
esse direito. Com isso, a igualdade de direitos e à própria coletividade; o fortalecimento de
passou a ser uma luta constante até que se valores sociais, tais como a solidariedade, a
atingisse a todas no século seguinte. participação e o protagonismo voltados para
Somente no início da década seguin- o bem comum; e, sobretudo, a preocupação
te, em 1920, que a defesa do voto feminino com as desigualdades sociais. Cabe, ainda,
começou a ser mais aceito pela sociedade às Ciências Humanas cultivar a formação de
brasileira. Foram criadas diferentes organiza- alunos intelectualmente autônomos, com
ções a fim de defender os direitos da mulher. capacidade de articular categorias de pensa-
No entanto, esses movimentos passaram a mento histórico e geográfico em face de seu
apresentar um caráter mais conservador. próprio tempo, percebendo as experiências
humanas e refletindo sobre elas, com base
Assim, segundo Santos (2017), o voto na diversidade de pontos de vista (BRASIL,
passou a ser considerado fundamental para 2018, p. 354).
o exercício da cidadania. Essa igualdade, seja
em termos educacionais, trabalhistas, so- O tema em questão, o direito das
ciais, políticos, entre outros, só aconteceria mulheres ao voto, uma possível forma de se
através de uma participação política. Ou seja, trabalhar é a partir da sua discussão em sala
o direito ao voto feminino seria uma forma de aula. De acordo com a BNCC, o tema está
de conquistar os diversos direitos que eram relacionado a habilidade: Analisar as trans-
até então suprimidos das mulheres. formações políticas, econômicas, sociais e
culturais de 1989 aos dias atuais, identifican-
Dois anos mais tarde, mais precisa- do questões prioritárias para a promoção da
mente no ano de 1922, foi fundada a cidadania e dos valores democráticos no viés
local, regional e nacional.
Após muita discussão, o direito ao
voto feminino mesmo que limitado foi asse- No Ensino Fundamental II, a indica-
gurado pelo Código Eleitoral em 1932. Com ção é que se trabalhe a unidade temática:
essa nova situação também surgiu o aumen- Modernização, ditadura civil-militar e rede-

231
mocratização: o Brasil após 1946; desenvol- 3 CONCLUSÃO
vendo o tema a partir dos seguintes objetos
de conhecimento: A Constituição de 1988 e Existem diversas formas de se traba-
a emancipação das cidadanias (analfabetos, lhar o tema discutido, cabendo ao professor
indígenas, negros, jovens etc.); A História diversificar ao máximo suas aulas no sentido
recente do Brasil: transformações políticas, de fazer com que os estudantes se interes-
econômicas, sociais e culturais de 1989 aos sem pelos assuntos e principalmente que in-
dias atuais; Os protagonismos da sociedade terajam e aprendam a fim de se tornar cida-
civil e as alterações da sociedade brasileira. dãos críticos e ativos na sociedade.
A discussão com os estudantes pode Quanto aos direitos da mulher, em
envolver a reforma eleitoral trazida pela Lei especial ao direito ao voto, é possível trazer
n° 12.034/2009 que instituiu algumas mudan- diferentes discussões percorrendo todo um
ças importantes na Lei dos Partidos Políticos, caminho histórico a fim de que os estudan-
Lei n° 9.096/1995, como a garantia da parti- tes reflitam sobre essas questões a fim de
cipação das mulheres na política (FIGUEIRA, eliminar ou diminuir ao máximo situações de
2019). preconceito, intolerância, desrespeito entre
outras questões.
O que antes era uma verdadeira guer-
ra com relação ao voto, agora os recursos do Nesse sentido, é preciso trazer tam-
Fundo Partidário precisam ser disponibiliza- bém a importância da discussão do tema,
dos para a manutenção de programas volta- fazendo com que o estudante exerça a cida-
dos para a participação política das mesmas, dania e compreenda que ele também é um
de acordo com um valor estipulado e fixado sujeito de direitos.
pelo órgão nacional de direção partidária,
considerando no mínimo, 5% do montante.
REFERÊNCIAS
O Artigo 5° da Constituição Federal de
1988, também pode ser discutido em sala de ALVES, B.M. Ideologia e feminismo: a
aula, fazendo com que reflitam sobre a igual- luta da mulher pelo voto no Brasil. Petrópo-
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doméstica; igualdade de responsabilidade decreto-21076-24-fevereiro 1932-507583-pu-
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portantes: out. 2023.
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sem distinção de qualquer natureza, garan- bro de 2009. Disponível em: http://www.pla-
tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/
residentes no País a inviolabilidade do direito lei/l12034.htm. Acesso em: 19 out. 2023.
à vida, à liberdade, à igualdade, à seguran- BRASIL, Ministério da Educação. Reso-
ça e à propriedade, nos termos seguintes: I lução CNE/CP 2/2017 de 22 de dezembro de
- homens e mulheres são iguais em direitos 2017, institui e orienta a implantação da Base
e obrigações, nos termos desta Constituição Nacional Comum Curricular, a ser respeitada
(BRASIL 1988, s/p.). obrigatoriamente ao longo das etapas e res-
Assim, a partir do desenvolvimento pectivas modalidades no âmbito da Educa-
dessa habilidade prevista na BNCC em espe- ção Básica. Disponível em:
cífico, pode funcionar como uma forma de http://basenacionalcomum.mec.gov.
demonstrar que anteriormente a Constitui- br/wpcontent/uploads/2018/04/RESOLU-
ção Federal de 1988, as mulheres participa- CAOCN E_CP222DEDEZEMBRODE2017.pdf.
vam muito pouco da política, mesmo tendo Acesso em: 19 out. 2023.
conquistado o direito ao voto em meados da
década de 1930; e a questão de que a legis- FIGUEIRA, A.P.A. A Constituição de
lação garantia a elas, pouquíssimos direitos. 1988 e a luta pelos direitos das mulheres no
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232
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233
OS IMPACTOS DAS RELAÇÕES AFETIVAS ENTRE ALUNOS E PROFESSORES NO PROCESSO DE
ENSINO - APRENDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
GISELE OLIVEIRA DE BRITO

Resumo relações afetivas são valorizadas, cria as con-


dições ideais para o desenvolvimento cogni-
A relação afetiva entre alunos e pro- tivo e emocional das crianças.
fessores desempenha papel importantíssimo
no desenvolvimento acadêmico e emocional A qualidade dessas relações afetivas
das crianças nos primeiros anos da escola, pode influenciar não apenas o desempenho
tendo um papel de grande relevância no pro- acadêmico, mas também o desenvolvimen-
cesso ensino - aprendizagem. to social e emocional dos alunos. Quando
os alunos se sentem conectados emocional-
É importante que os estudantes den- mente com seus professores, eles tendem a
tro do espaço escolar se sintam seguros, estar mais dispostos a participar das ativida-
acolhidos e respeitados por seus docentes. A des escolares, a se comunicar abertamente
escola deve ser espaço de fala e escuta, opor- sobre suas preocupações e dificuldades, e a
tunizando aos estudantes momentos em que desenvolver uma autoestima positiva.
possam ter voz quando algo incomodar e/ou
quando surgirem dificuldades em seu pro- Para Wallon (2007), a aprendizagem é
cesso de escolarização. mais eficaz quando está relacionada às expe-
riências emocionais da criança. Um professor
Há grande relevância no aprofunda- que estabelece uma conexão afetiva pode
mento nas pesquisas relacionadas aos im- tornar o processo de aprendizagem mais sig-
pactos das relações afetivas no processo en- nificativo, relacionando-o à vida da criança.
sino – aprendizagem, pois são questões que
surgem diariamente no contexto escolar. As relações afetivas também desem-
penham um papel na resolução de conflitos.
Wallon (2007), psicólogo e pedagogo Um professor que mantém uma relação de
francês enfatiza a importância das dimen- confiança com os alunos pode ajudá-los a li-
sões afetivas e emocionais no processo de dar com desafios emocionais e sociais, pro-
aprendizagem e desenvolvimento infantil. movendo a resolução pacífica de conflitos.
Ele acredita que o desenvolvimento infantil
é um processo integral que envolve aspec- Crianças que se sentem valorizadas e
tos cognitivos, afetivos e motores. Portanto, apoiadas por seus professores tendem a ser
as relações afetivas desempenham um pa- mais motivadas e engajadas na sala de aula.
pel essencial na promoção desse desenvolvi- Isso pode resultar em um melhor desempe-
mento completo. nho acadêmico e um maior interesse pelo
aprendizado.
Vygotsky (1991) fala da importância
das interações sociais e das relações afetivas Vygotsky (1998) enfatizou a importân-
no desenvolvimento cognitivo das crianças. cia da mediação social no aprendizado. Pro-
As relações afetivas entre alunos e professo- fessores que estabelecem relações afetivas
res, segundo Vygotsky, podem facilitar o re- positivas podem desempenhar o papel de
conhecimento da ZDP - Zona de Desenvolvi- mediadores, ajudando os alunos a compre-
mento Proximal de cada criança, permitindo enderem conceitos complexos e a adquirir
que os educadores forneçam apoio e desa- habilidades por meio de interações sociais e
fios adequados ao nível de desenvolvimento instrução direta.
de cada aluno.
Tanto para Wallon quanto para Vigot-
A partir disso, o aprofundamento dos sky é fundamental que os educadores culti-
estudos nesta área irá contribuir com conhe- vem relações afetivas positivas com seus alu-
cimentos significativos para a Educação e os nos, criando um ambiente escolar acolhedor,
desafios das relações afetivas dentro do es- colaborativo e emocionalmente seguro.
paço escolar.
Além disso, educadores devem-se
PALAVRAS-CHAVE: Relações Afetivas; atentar ao que preconiza o Estatuto da Crian-
Aprendizagem; Desenvolvimento. ça e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069, de
13 de julho de 1990, que regulamenta o arti-
go 227 da Constituição Federal. Ele define as
Introdução crianças e os adolescentes como sujeitos de
direitos, em condição peculiar de desenvol-
As relações afetivas entre alunos e vimento, que demandam proteção integral e
professores desempenham um papel crucial prioritária por parte da família, sociedade e
no processo de escolarização. Quando os do Estado.
estudantes se sentem seguros, acolhidos e
respeitados por seus educadores, eles estão Como consequência da doutrina de
mais propensos a se engajar ativamente no proteção integral à criança e ao adolescen-
processo de aprendizagem. Isso ocorre por- te, o ECA prevê a integração operacional dos
que um ambiente escolar positivo, onde as órgãos e instituições públicas e entidades da

234
sociedade civil, visando à proteção, à respon- Desenvolvimento Linguístico:
sabilização por ação ou omissão de violação
dos direitos, à aplicação dos instrumentos Vocabulário e linguagem: Os alunos
postulados pelo sistema e à interação entre estão expandindo seu vocabulário e aprimo-
os atores desse sistema. rando suas habilidades de comunicação ver-
bal e escrita.
Leitura e escrita: Eles estão adquirindo
Desenvolvimento habilidades de leitura e escrita mais avança-
das, que são essenciais para o sucesso aca-
O Desenvolvimento dos alunos nos dêmico.
anos iniciais do Ensino Fundamental
O desenvolvimento dos alunos nos
anos iniciais do ensino fundamental é uma Desenvolvimento Moral:
fase crucial em sua jornada educacional e
pessoal. Essa etapa abrange crianças dos 6 Construção de valores: Os alunos co-
aos 10 anos de idade, aproximadamente, e meçam a internalizar valores morais, como
é caracterizada por um rápido crescimento e honestidade, respeito e responsabilidade.
desenvolvimento em várias áreas. Aqui estão Compreensão da ética: Eles estão de-
alguns aspectos importantes do desenvolvi- senvolvendo uma compreensão mais pro-
mento dos alunos nos anos iniciais: funda das questões éticas e morais em suas
ações e decisões.
Desenvolvimento Cognitivo:
Habilidades de leitura: Os alunos co- Desenvolvimento Cultural:
meçam a adquirir habilidades de leitura, pas- Consciência cultural: Os alunos estão
sando do reconhecimento de letras para a aprendendo sobre diferentes culturas e tra-
compreensão de palavras e frases. dições, promovendo a diversidade e a tole-
Raciocínio matemático: Eles desenvol- rância.
vem habilidades matemáticas básicas, como Identidade cultural: Eles estão desen-
contar, somar e subtrair, e começam a com- volvendo uma compreensão mais clara de
preender conceitos matemáticos mais avan- sua própria identidade cultural.
çados.
É importante que os educadores e es-
Pensamento crítico: O desenvolvimen- colas estejam atentos ao desenvolvimento
to do pensamento crítico está em andamen- dos alunos nos anos iniciais e forneçam um
to, permitindo que os alunos façam pergun- ambiente de aprendizado que estimule o
tas, resolvam problemas e tomem decisões crescimento em todas essas áreas. Isso en-
com mais independência. volve a implementação de currículos adequa-
dos à idade, estratégias de ensino diferencia-
das e apoio emocional e social para lidar com
Desenvolvimento Social e Emocional: os desafios que surgem durante essa fase
crucial do desenvolvimento infantil.
Relações interpessoais: Os alunos
aprendem a interagir com seus colegas de O desenvolvimento dos alunos nos
classe, desenvolvendo habilidades sociais, anos iniciais do ensino, segundo a teoria de
como compartilhar, cooperar e resolver con- Jean Piaget, é influenciado pelo seu estágio
flitos. de desenvolvimento cognitivo. Piaget (1976)
propôs que o desenvolvimento cognitivo das
Autoconhecimento: Eles estão come- crianças passa por estágios distintos e que
çando a entender suas próprias emoções e a cada estágio é caracterizado por formas es-
desenvolver a capacidade de autorregulação pecíficas de pensar, aprender e interagir com
emocional. o mundo.
Empatia: A empatia é incentivada à Nos anos iniciais do ensino fundamen-
medida que os alunos aprendem a conside- tal, as crianças geralmente estão no estágio
rar os sentimentos e perspectivas dos outros. operatório concreto, embora a transição
Desenvolvimento Físico: para o estágio operatório formal possa co-
meçar a ocorrer durante esse período. Isso
Crescimento físico: Nessa fase, as tem implicações importantes para o ensino
crianças continuam a crescer e a desenvolver e a aprendizagem, pois os alunos estão se
suas habilidades motoras, como correr, pular tornando mais capazes de pensar logicamen-
e escrever. te e compreender conceitos matemáticos e
Saúde e bem-estar: A importância de científicos de maneira mais profunda. No en-
uma alimentação saudável, exercícios e hi- tanto, ainda podem enfrentar desafios com
giene é enfatizada. abstração e pensamento hipotético.
Portanto, os educadores nos anos ini-
ciais devem adaptar suas práticas de ensino

235
para atender às necessidades cognitivas dos gativamente seu desenvolvimento emocional
alunos, fornecendo experiências concretas e social.
e contextuais que os ajudem a desenvolver
habilidades de resolução de problemas e Menos Propensos a Buscar Ajuda: Alu-
pensamento crítico. Além disso, é importante nos que não se sentem à vontade com seus
reconhecer que o desenvolvimento cognitivo professores podem ser menos propensos a
das crianças é um processo gradual e indivi- buscar ajuda ou esclarecimentos sobre os tó-
dual, e os alunos podem estar em estágios picos que estão estudando, o que pode limi-
ligeiramente diferentes de desenvolvimento tar seu progresso acadêmico.
em diferentes áreas.
O Papel do Professor
Desafios nas Relações Aluno-Profes- É importante que os educadores es-
sor tejam cientes do impacto das relações inter-
É importante reconhecer que as rela- pessoais na sala de aula e trabalhem para
ções afetivas nem sempre são harmoniosas. criar um ambiente escolar seguro, inclusivo
Às vezes, surgem desafios que podem afetar e respeitoso. Isso envolve a promoção de re-
negativamente o processo de escolarização. lações positivas entre alunos e professores, a
Alunos que experimentam relações tensas abertura para o diálogo e a implementação
ou conflituosas com seus professores podem de estratégias para resolver conflitos de for-
enfrentar dificuldades em se concentrar nas ma construtiva. Quando as relações afetivas
aulas, expressar suas necessidades ou se en- são saudáveis e positivas, os alunos tendem
volver em comportamentos disruptivos. Da a se sentir mais motivados e engajados em
mesma forma, professores que têm dificul- seu processo de aprendizagem, o que pode
dades em estabelecer conexões afetivas com melhorar significativamente seu desempe-
seus alunos podem encontrar desafios ao nho escolar.
tentar atender às necessidades individuais A Abordagem Educação Socioemo-
de cada aluno. cional promove a educação socioemocional
Essa dinâmica adversa nas relações in- como parte integrante do currículo escolar,
terpessoais pode ter vários efeitos negativos ajudando os alunos a desenvolverem habili-
no desempenho acadêmico e no bem-estar dades para reconhecer e gerenciar emoções,
emocional dos alunos, incluindo: estabelecer relações interpessoais positivas
e tomar decisões responsáveis
Distração e Desinteresse: Alunos que
têm conflitos com seus professores podem Maurice J. Elias (1997) é reconhecido
ficar constantemente distraídos durante as por seu compromisso em melhorar a qua-
aulas, concentrando-se nos problemas em lidade da educação, promover a empatia, a
vez de no conteúdo da matéria. Isso pode resiliência e outras habilidades socioemocio-
afetar sua capacidade de absorver informa- nais entre os alunos, e contribuir para um
ções e aprender. ambiente escolar mais saudável e positivo.
Seu trabalho tem tido um impacto significati-
Ansiedade e Estresse: Relações tensas vo nas práticas educacionais em todo o mun-
com professores podem levar os alunos a do. Elias é um dos principais defensores da
experimentarem ansiedade e estresse crôni- Educação Socioemocional e tem desempe-
cos, o que pode prejudicar a concentração e nhado um papel fundamental na criação de
a memória. programas e recursos para promover a Edu-
cação Socioemocional nas escolas. Ele acre-
Falta de Motivação: Alunos que sen- dita que o desenvolvimento das habilidades
tem que não são apoiados ou valorizados por socioemocionais é crucial para o sucesso aca-
seus professores podem perder a motivação dêmico e a saúde emocional das crianças.
para participar ativamente das aulas e reali-
zar tarefas escolares. Professores desempenham um papel-
-chave na implementação de estratégias que
Problemas de Comportamento: Al- são fundamentais para esse processo:
guns alunos podem manifestar seu descon-
forto ou frustração por meio de comporta- Modelagem de Comportamento: Pro-
mentos disruptivos na sala de aula, o que fessores podem servir como modelos de
pode perturbar o ambiente de aprendizagem comportamento socioemocional saudável.
para todos os alunos. Ao demonstrar empatia, respeito e comuni-
cação eficaz, eles ensinam aos alunos como
Impacto na Autoestima: Relações ne- se relacionar positivamente com os outros.
gativas com professores podem afetar a
autoestima e a autoconfiança dos alunos, o Ensino Explícito: Os professores po-
que, por sua vez, pode prejudicar seu desem- dem incorporar lições de SEL em sua ins-
penho acadêmico. trução regular. Isso pode incluir aulas sobre
habilidades de resolução de conflitos, com-
Isolamento Social: Alunos que têm preensão emocional e outras competências
conflitos com professores podem se sentir socioemocionais.
isolados socialmente, o que pode afetar ne-

236
Criação de um Ambiente Positivo: Pro- O Aluno
fessores podem estabelecer um ambiente de
sala de aula que promova a segurança emo- É importante notar que um relaciona-
cional e o bem-estar dos alunos. Isso envolve mento ruim entre um aluno e um professor
a criação de regras e expectativas claras, bem pode ter um impacto significativo no bem-es-
como o estabelecimento de uma cultura de tar acadêmico e emocional dos estudantes.
apoio e respeito. Portanto, é fundamental que os educadores
estejam cientes desses desafios e trabalhem
Atendimento Individualizado: Os pro- para criar um ambiente escolar que promova
fessores podem identificar alunos que po- relacionamentos saudáveis e positivos. Isso
dem estar enfrentando desafios emocionais pode envolver a implementação de estraté-
ou sociais e oferecer apoio adicional. Isso gias de apoio socioemocional e a comunica-
pode incluir conversas individuais, encami- ção aberta entre educadores, alunos e suas
nhamento para serviços de apoio ou aconse- famílias para resolver conflitos e melhorar o
lhamento. relacionamento.
Integração nas Atividades Curricula- Um aluno dos anos iniciais que tem
res: A SEL pode ser incorporada em várias ati- um relacionamento ruim com seu professor
vidades curriculares, como literatura, história pode apresentar uma variedade de compor-
e ciências. Os professores podem explorar tamentos e reações. Essas respostas podem
temas socioemocionais em contextos acadê- variar dependendo da personalidade, das ex-
micos. periências passadas e de outros fatores indi-
viduais.
Promoção da Colaboração e da Em-
patia: Os professores podem criar oportu- O aluno pode mostrar falta de interes-
nidades para os alunos trabalharem juntos se nas atividades de sala de aula e na aprendi-
em projetos colaborativos, o que promove a zagem em geral. Ele pode parecer desmotiva-
empatia, a resolução de conflitos e a compre- do e relutante em participar das aulas, pode
ensão mútua. exibir comportamentos disruptivos, como
desobediência, falar fora de hora, perturbar
Comunicação com os Pais: Os profes- os colegas ou desafiar a autoridade do pro-
sores desempenham um papel importante fessor. Pode se isolar socialmente, evitando
na comunicação com os pais sobre o pro- interações com o professor e os colegas, pre-
gresso socioemocional de seus filhos. Isso ferindo ficar sozinhos durante as atividades
envolve relatórios regulares de comporta- escolares. Ter dificuldade em acompanhar as
mento e feedback sobre o desenvolvimento lições, fazer o dever de casa ou se concentrar
das habilidades socioemocionais. nas tarefas e experimentar uma ampla gama
Formação Continuada: Os professores de emoções, incluindo frustração, ansiedade,
podem se envolver em programas de forma- raiva, tristeza e até mesmo depressão devido
ção continuada para aprimorar suas próprias ao relacionamento tenso com o professor,
habilidades em Educação Socioemocional e bem como evitar fazer perguntas, pedir aju-
aprender estratégias eficazes para ensinar da ou compartilhar seus sentimentos e preo-
essas habilidades aos alunos. cupações em sala de aula.
Nesse sentido, os professores desem- Em alguns casos, o estresse causado
penham um papel central na promoção do pelo relacionamento ruim com o professor
desenvolvimento socioemocional dos alu- pode levar a reações físicas, como dores de
nos. Sua influência vai além do ensino de cabeça, dores de estômago ou outras mani-
conteúdo acadêmico e abrange a formação festações somáticas.
de cidadãos emocionalmente inteligentes e Esse aluno pode se tornar resistente
socialmente competentes. A abordagem da à autoridade do professor, o que pode criar
Educação Socioemocional de Maurice J. Elias um ciclo de conflito contínuo e levá-lo a de-
enfatiza a importância desse papel e fornece senvolver uma visão negativa da escola em
diretrizes para a integração eficaz da educa- geral e começar a associar a escola a experi-
ção socioemocional nas escolas. ências negativas.
O professor é o sujeito principal para Sabe-se que cada aluno é único, e as
a elaboração e implementação de um currí- estratégias específicas podem variar de acor-
culo, uma vez que tem a função de contextu- do com a faixa etária, o contexto cultural e
alizar e dar sentido aos aprendizados, tanto as características individuais. O importante é
por meio dos seus conhecimentos e práticas, demonstrar interesse no bem-estar e no su-
quanto pela relação que estabelece com seus cesso de cada aluno, criando um ambiente
estudantes. Para tanto, os educadores preci- onde eles se sintam valorizados e apoiados
sam reconhecer o seu papel de protagonis- em sua jornada de aprendizado.
tas nesse processo, sentindo-se motivados e
tendo condições de exercê-lo. (CURRÍCULO
DA CIDADE DE SÃO PAULO, 2019, p. 20).
Considerações Finais
A partir dessas pesquisas pôde-se
constatar que os impactos das relações afeti-

237
vas nas aprendizagens são inúmeros e que se os alunos e a ajustar a sua abordagem quan-
faz necessário refletir sobre essas questões, do necessário.
bem como pensar em estratégias que visam
qualificar as relações interpessoais dentro do O compromisso com a melhoria das
espaço escolar. relações afetivas na educação, contribui não
apenas para o sucesso acadêmico, mas tam-
É importante que o professor conheça bém para o desenvolvimento integral das
cada aluno, considere a sua faixa etária, suas crianças.
experiências e dificuldades, respeitando sua
particularidade e desenvolvendo estratégias A partir dessa pesquisa, espera-se que
pertinentes a cada situação. todos os educadores possam refletir sobre o
impacto profundo que essas relações podem
Esse artigo aborda um assunto que na ter na vida de seus alunos. É importante nu-
prática é algo desafiador, já que o professor trir essas relações afetivas, pois elas não ape-
precisa “olhar para todos e cada um”, prestar nas transformam salas de aula, mas também
atenção em cada indivíduo pertencente a um refletem um mundo melhor e mais humano
grupo, sem deixar ninguém de lado. É preciso para as gerações futuras. O compromisso
reconhecer e dar atenção às necessidades, com a educação é o compromisso com o fu-
características e circunstâncias individuais turo.
de cada um do grupo, só assim, as relações
poderão ser de proximidade. “Olhar para
todos e cada um”, expressão que enfatiza a Referências
inclusão, a equidade e o respeito pelas dife-
renças. Deve-se considerar as necessidades Vygotsky, L. S. (1979). Pensamento e
e os estilos de aprendizagem de cada aluno, Linguagem. Editora: Linguagem.
garantindo que ninguém seja abandonado Vygotsky, L. S. (2010). Psicologia peda-
ou negligenciado. gógica. (P. Bezerra, Trad.). São Paulo: Martins
É extremamente importante que os Fontes Wallon, H. (1971). A evolução psicoló-
professores olhem mais atentamente suas gica da criança. Editora WMF Martins Fontes.
relações com os seus alunos, bem como as Wallon, H. (1995). Psicologia e educa-
políticas educacionais incluir o desenvolvi- ção da criança. Editora Editora WMF Martins
mento de habilidades emocionais na forma- Fontes.
ção de professores.
Ao longo deste estudo, explorou-se Wallon, H. (1968). Do ato ao pensa-
como essas conexões impactam significativa- mento: Ensaio de psicologia comparada. Edi-
mente o processo de ensino-aprendizagem tora 34.
e, mais importante ainda, a vida das crianças Petrópolis: Vozes, 1971. 110p. PIAGET,
que estão embarcando em sua jornada edu- Jean. A Equilibração das Estruturas Cogniti-
cacional. vas.
Ficou claro que as relações afetivas Problema central do desenvolvimen-
são muito mais do que simples interações to. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar,
entre alunos e professores, elas são o alicer- 1976.
ce sobre o qual se constrói uma educação de
qualidade. Quando um aluno se sente ama- COELHO, Vitor. MARCHANTE, Marta.
do, valorizado e apoiado por seu professor, SOUZA, Vanda. ROMÃO, Ana. Programas de
ele se torna mais motivado, mais confiante e intervenção para o desenvolvimento de com-
mais aberto ao aprendizado. É através des- petências socioemocionais em idade escolar:
ses laços que as crianças encontram cora- Uma revisão crítica dos enquadramentos SEL
gem para explorar, questionar, cometer er- e SEAL, 2016. Disponível em: https://www.re-
ros e crescer. searchgate.net/publication/299506970. Aces-
so em: 08 de outubro de 2023.
No entanto, deve-se lembrar que a
construção e a manutenção de relações afe- Estatuto da Criança e do Adolescen-
tivas não são tarefas simples. Elas exigem te - ECA — Ministério dos Direitos Humanos
tempo, empatia, compreensão e um com- e da Cidadania. Disponível em:( www.gov.br).
promisso contínuo. Afinal, trata-se de seres Acesso em: 08 de outubro de 2023.
humanos, cada um com suas próprias expe- São Paulo (SP). Secretaria Municipal
riências, necessidades e desafios. de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
É responsabilidade do educador re- Currículo da cidade: Ensino Fundamental:
conhecer a influência profunda que as suas componente curricular: Língua Portuguesa. –
ações e 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019
palavras têm sobre os alunos. É im- ELIAS, Maurice., ZINS, Joseph., WEIS-
portante criar ambientes de sala de aula que SBERG, Roger (2014). Promoting Social and
promovam o respeito mútuo, a aceitação Emotional Learning: Guidelines for Educa-
das diferenças e a comunicação aberta, bem tors. Edirora: Association for Supervision &
como estar disposto a ouvir, a aprender com Curriculum Deve. 15 julho 2014.

238
O DOMÍNIO DA LEITURA DE IMAGENS NO ENSINO DE
ARTES VISUAIS ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA
GISELE SOARES

RESUMO cenário da Vila de Paranapiacaba que, como


patrimônio histórico, teve preservado suas
Ao se pensar em Artes Visuais uma características e aspectos da região, mas pas-
gama de possibilidades de estudos pode sou a ser um interessante centro turístico, co-
ser elencada devido a sua complexidade na nhecido como a vila inglesa de Santo André.
capacidade de criação artística. Este estudo
trouxe como eixo condutor os reparos ocorri- A modalidade escolhida foi a fotografia
dos no cenário da Vila de Paranapiacaba que, e elaborou-se um projeto de leitura de ima-
como patrimônio histórico, teve preservado gens que a ser trabalhado com alunos do 1º
suas características e aspectos da região, Ano do Ensino Médio. O projeto contemplará
mas passou a ser um interessante centro tu- a Educação visual e tecnológica: “A fotografia
rístico, conhecido como a vila inglesa de San- como recurso de aprendizagem sociocultural
to André. O objetivo principal desta amostra e artística- A Vila de Paranapiacaba na ótica
científica foi analisar a preservação histórica do tempo”.
cultural da Vila de Paranapiacaba na ótica da
arte visual e da fotografia mediante a leitu- O projeto no âmbito das Artes Visuais
ra de imagens. O estudo abordou também traz a historicidade, a cultura e a preservação
sobre as contribuições das imagens fotográ- da Vila de Paranapiacaba numa linha de tem-
ficas no ensino de Artes Visuais e o aporte po expressiva, onde a apresentação de fotos
de possibilidades de aprendizagem que as antigas e atuais comprovou a existência do
mesmas abarcam para auxiliar o educando patrimônio histórico, dos marcos iniciais do
e o educador no desenvolvimento de outras local como a Vila Ferroviária, adquirida pela
áreas do currículo. cidade de Santo André desde 2002 até os
doas atuais.
Palavras chaves: Patrimônio histórico;
cultural e artístico; Leitura de imagens; Artes A fotografia contempla a ação de cap-
Visuais. turar ondas de luz através de equipamento
específico para obtenção de uma imagem.
Esse equipamento por sua vez, a câmera
fotográfica, é instrumento de trabalho dos
ABSTRACT fotógrafos que para operá-las, são dotados
When thinking about Visual Arts a ran- de estudos e técnicas necessárias para sa-
ge of study possibilities can be listed due to ber usar os recursos da câmera para melhor
its complexity in the ability of artistic crea- aproveitamento do objeto a ser fotografado
tion. This study brought as a guiding axis the (SAMAIN, 2005).
repairs that occurred in the scenario of the Em 1826, o francês Joseph Nicépho-
Vila de Paranapiacaba, which, as a historical re tornou-se conhecido por ser o primeiro a
heritage, had preserved its characteristics realizar um registro tido publicamente como
and aspects of the region, but became an in- fotografia, porém a ideia do processo técnico
teresting tourist center, known as the English para concepção de uma imagem já vem de
village of Santo André. The main objective of muitos anos, com Da Vinci (1558), usando a
this scientific sample was to analyze the his- 'câmera escura' para esboçar suas pinturas
torical cultural preservation of Vila de Para- (KOSSOY, 1989).
napiacaba from the perspective of visual art
and photography through the reading of ima- A fotografia desde os primórdios foi
ges. The study also addressed the contribu- utilizada para registrar marcos da vivência
tions of photographic images in the teaching humana e com o passar do tempo passou a
of visual arts and the contribution of learning ser fator marcante no cotidiano do homem
possibilities that they cover to assist the stu- para o registro de momentos e fatos relevan-
dent and the educator in the development of tes, seja para recordação de bons momentos
other areas of the curriculum. em situações casuais, eventos familiares im-
portantes, festas, casamentos, ou seja, como
Keywords: Historical; cultural and ar- acervo histórico do cenário político e econô-
tistic heritage; image reading; Visual Arts; mico de uma determinada época, ou ainda
photography. para estudos étnicos e geográficos, seja para
a polícia investigativa que a utiliza como ins-
trumento de pesquisa, seja como simples
1 INTRODUÇÃO forma de arte (VAZ, 2006).
Ao se pensar em Artes Visuais uma A justificativa do estudo foi elucidar,
gama de possibilidades de estudos pode ser mediante uma sequência didática, os repa-
elencada devido a sua complexidade na capa- ros do cenário da Vila de Paranapiacaba que,
cidade de criação artística. Este artigo trouxe como patrimônio histórico, teve preservado
como eixo condutor os reparos ocorridos no suas características e aspectos da região e

239
como de certo modo passou a chamar maior No que diz respeito à distinção entre
atenção como um atrativo turístico demons- técnica e tecnologia, enquanto a primeira se
trando possibilidades e sugestões para maior caracteriza por habilidades que são introjeta-
contribuição cultural na atualidade. das pelo indivíduo, a tecnologia envolve um
dispositivo, aparelho ou máquina que é capaz
O objetivo geral de estudo aqui elen- de encarnar, fora do corpo humano, um sa-
cados foi reconhecer a fotografia como ins- ber técnico, um conhecimento científico acer-
trumento de arte visual contemporâneo a ca de habilidades técnicas específicas. Por
partir de sua historicidade, tendo em vista isso, pode-se afirmar que a tecnologia é filha
que a mesma se modernizou com as novas da revolução industrial. No que diz respeito à
tecnologias, porém sua existência é antiga. imagem, antes da industrialização, os instru-
Os objetivos específicos abarcaram: analisar mentos técnicos para a sua produção eram
a preservação histórica cultural da Vila de Pa- prolongamentos do gesto hábil, concentrado
ranapiacaba na ótica da arte visual e da fo- nas extremidades das mãos, como é o caso
tografia; mapear ações em que a fotografia do lápis, do pincel ou do cinzel. Já a tecnolo-
trouxe modernidade as Artes Visuais. gia dá corpo a um saber técnico introjetado
Diante do tema escolhido, a pro- nos seus próprios dispositivos materiais. No
blematização fixou-se em: Como a fotografia campo da imagem, isso começou com a foto-
tem sido utilizada na educação junto às no- grafia e foi se sofisticando cada vez mais no
vas tecnologias em Artes Visuais? decorrer do século XX (KOSSOY, 2007).
Este problema de pesquisa será Com essas explicações, espera-se ter
abarcado durante vários momentos do pro- deixado claro porque chama-se a fotografia
jeto onde os alunos foram levados a questio- e seus sucedâneos de imagens tecnológicas
nar o uso da imagem e a utilização da mes- e não simplesmente técnicas. A tecnologia
ma, realizando comparativos de cenários absorve a técnica, mas vai além dela. A foto-
antigos e atuais, de antes e depois e assim grafia exemplifica isso cristalinamente. A câ-
perceber como as novas tecnologias possibi- mera é uma máquina que encapsulou no seu
litaram resgatar fatos do passado e também funcionamento todo.
captar fatos do presente e prospectar ações
futuras. No andamento da sequência didáti-
ca esta pergunta retornará aos alunos e terá 2.1 A gênese fotográfica
feedbacks diferenciados ao passo em que
experimentam novas situações de aprendi- Há autores que defendem que a ima-
zagem junto a fotografia e as correlacionam gem deve ser estudada a partir de sua gê-
com a Arte Visual, unindo a teoria à prática. nese. Isso é muito verdadeiro nas imagens
tecnológicas de que a fotografia é a mãe. A
fotografia fixa é uma herdeira da câmera es-
cura e do olho centralizado da tradição pers-
2 DESENVOLVIMENTO pectivista da pintura, isto é, de certo sistema
É costume chamar a fotografia, o cine- de codificação que busca, por meios artifi-
ma, a televisão e o vídeo de “imagens técni- ciais, reproduzir um objeto do mundo visível
cas”. No entanto, vale chamá-las de “imagens com fidelidade (SAMAIN, 2005).
tecnológicas”. Por quê? Pelo fato de que a fei- A câmera escura (do latim camara obs-
tura manual de qualquer imagem, e grande cura) é um aparelho óptico, usualmente uma
parte do fazer humano, sempre implica uma caixa com um buraco no canto, pelo qual
técnica. Em palavras simples, a técnica é um passa a luz refletida em um objeto externo.
saber fazer, de acordo com passos que se in- Assim, a luz atinge uma superfície interna na
tegram uns aos outros até a compleição de caixa, na qual a imagem invertida do objeto
um todo. Já a tecnologia se dá quando uma é reproduzida. Embora a câmera fotográfi-
máquina integra uma técnica no seu proces- ca seja mais sofisticada, ela segue o mesmo
so, provocando sua automatização. Técnica e princípio, tanto é que o negativo da foto é
tecnologia Para que a compreensão da técni- a imagem invertida do objeto fotografado
ca fique um pouco mais trabalhada, recorro (FLUSSER, 1985).
às origens dessa palavra. No grego, o sentido
de técnica (techné) era inseparável de episté- De acordo com Flusser (1985) a câme-
me e poiésis. Epistéme denota conhecimen- ra fotográfica é uma espécie de órgão sensiti-
to, o verdadeiro conhecimento das causas vo que tenta imitar o funcionamento do olho
que são necessariamente verdadeiras (KOS- humano. Ela age como uma extensão mecâ-
SOY, 2007). nica do nosso olho. O diafragma da câmera,
que controla a quantidade de luz, imita a íris,
A partir disso, o conhecimento, a cria- órgão capaz de recepcionar os comprimen-
ção e a técnica passaram a ser vistos de modo tos de onda de cada cor, decodificando-os
relativamente isolado, cada um no seu terri- para diferenciar o claro do escuro e as dis-
tório. Apesar de limitado quando comparado tinções de cores. A lente da câmera imita o
com o sentido original grego, o significado de cristalino, que é responsável por focalizar as
técnica se tornou mais complexo a partir do imagens que vemos e mudar a cor. A retina
advento das tecnologias industriais (MACHA- encontra sua correspondência na parte de
DO, 1988), trás da câmera, uma superfície fotossensível

240
sobre a qual se forma a imagem. As imagens so e comunicação introduzidos pelos meios
são fixadas por meio de gradações tonais que digitais. Passarei, a seguir, a examinar como
vão do branco ao preto, da luz à escuridão e cada um desses elementos se comporta na
de um tempo maior a menor de exposição. fotografia, com ênfase no aspecto interpre-
tativo, terceiro membro do trinômio acima
Diante desta tecnologia tão precisa mencionado e que, no caso da fotografia,
aperfeiçoou sobremaneira a vocação repro- estarei chamando de “leitura da fotografia”,
dutora da câmera escura na sua busca de re- para, então, discorrer brevemente sobre os
gistrar a realidade visível com fidelidade. Ali- modos tradicionais e digitais de difusão da
ás, uma fidelidade paradoxal, pois, embora a fotografia. Isso tudo, antes de passarmos ao
foto revelada seja uma emanação do objeto, exercício de leitura de algumas fotos escolhi-
seu traço, fragmento, vestígio, sua marca e das para tal (SANTAELLA, 2007).
prova aquele pedaço de realidade.
Decorre dessa duplicidade a condição
fundamental da imagem fotográfica: ela é, 2.3 A produção fotográfica
ao mesmo tempo, um fragmento residual do
objeto fotografado, ela mantém com ele uma Como já visto acima, a câmera foto-
indiscutível similaridade de aparência e ela gráfica funciona como uma prótese óptica.
resulta de um sistema de codificação da visu- Sua produção depende de técnicas ópticas
alidade herdado do Renascimento. Embora a de formação da imagem a partir de uma
manipulação computacional e o advento das emanação luminosa. A imagem é assim um
câmeras digitais tenham introduzido grandes registro de um fragmento do mundo visível
transformações no universo da fotografia, os (sobre um suporte químico – cristais de pra-
princípios acima permanecem como o verda- ta, na foto tradicional –, ou efeito do proces-
deiro DNA da imagem fotográfica, cujos ca- samento de sensores óptico-eletrônicos, na
racteres serão explorados em mais detalhes foto digital), resultante do impacto dos raios
a seguir (DUBOIS, 1994). luminosos emitidos pelo objeto fotografado
ao passar pela objetiva. Embora o processo
físico (a tecnologia) de produção da imagem
por meio de câmeras digitais portáteis seja
2.2 O DNA da imagem fotográfica distinto do da produção com câmeras ana-
Costuma-se dizer que a fotografia fun- lógicas, o resultado de ambos são fotos, ou
ciona como uma verdadeira cartilha semióti- seja, registros da luz refletida de fragmentos
ca. Os conceitos fundamentais que a semióti- do mundo visível. Por isso, apesar das dife-
ca, a ciência de todos os tipos de linguagens renças no equipamento reprodutor do visí-
utiliza para analisar uma linguagem, na foto- vel, fotos são ainda fotos (SONTAG, 2006).
grafia ficam quase que didaticamente expos-
tos. Quais são esses conceitos?
2.4 O agente e o ato de fotografar
Para se compreender como e por que
uma linguagem é capaz de significar, deve- O fotógrafo já foi associado à figura do
mos levar em consideração, antes de tudo, a caçador por muitos estudiosos da fotografia.
maneira como ela é produzida, com ênfase De fato, essa é uma das principais capacida-
no agente dessa produção e nos meios que des que caracterizam o fotógrafo, aquele que
lhe estão disponíveis para isso. A seguir, é lança ao mundo um olhar discriminatório,
preciso analisar de que modo a linguagem buscando flagrar e capturar um instante que,
em questão é capaz de representar algo que no correr da vida, esteja carregado de algum
está fora dela, isto é, seu objeto ou referen- sentido (DUBOIS, 1994).
te, comumente chamado de “conteúdo” (SA-
MAIN, 2005). Para Kossoy (2007) atrás do visor de
uma câmera, está um sujeito que maneja
Ora, a exploração das referências de essa prótese óptica mais com os olhos do que
uma linguagem implica o exame de suas ca- com as mãos. Por isso mesmo, o ato de foto-
racterísticas internas que a habilitam a apre- grafar cria uma coreografia própria e se faz
sentar, indicar ou representar o que ela assim acompanhar de certa solenidade: as paradas,
o faz. Só então podemos passar para a ques- as hesitações, os movimentos de escolha, as
tão da interpretação. Que tipos de efeitos tomadas de decisão. Seleção de enquadra-
interpretativos aquela linguagem está apta a mentos, de pontos de vista, de proximidade
produzir no receptor? Os significados de uma e afastamento, de ângulos constitui o âmago
linguagem dependem desse trinômio: suas do ato fotográfico.
características internas, suas referências e as
interpretações que enseja (DUBOIS, 1994). Fotografar é, portanto, um ato de es-
colha, fruto de uma atenção seletiva. O que
Por fim, pode-se analisar os modos de congelar para sempre? Para onde dirigir o
distribuição ou difusão de uma linguagem. olho da câmera? A que distância, em que po-
Por exemplo, o livro tem um modo de distri- sição e sob qual ângulo se colocar em relação
buição distinto do jornal, que, por sua vez, ao motivo a ser fotografado? Que lugar ocupa
distingue-se do cinema, ambos da difusão te- o fotógrafo diante do espetáculo do mundo,
levisiva e todos diferem dos modos de aces- vasto mundo? Como enquadrar? O que fica

241
dentro e o que fica fora da inevitável moldura que capturou é único, singular. Mesmo que o
da foto? Tudo isso porque, depois do clique, ato se repita, o momento de cada tomada é
depois do gatilho, do corte ao vivo de uma singular;
fatia única e singular de espaço e tempo, não
há mais como mudar o instante que se con- 3. Designação: mais do que quais-
gelou para sempre (KOSSOY, 2007). quer palavras, mais do que quaisquer outros
tipos de imagens desenhadas ou pintadas, a
Com o advento das câmeras digitais e foto designa, indica o referente, funcionando
dos telefones celulares providos de câmeras, quase como um dedo que aponta para algo
o ritual do ato fotográfico, descrito acima, da realidade;
de certa maneira, passou a ficar restrito aos
fotógrafos profissionais, pois fotografar tor- 4. Testemunho: como não se pode
nou-se uma ação trivial. O comportamento negar que o objeto fotografado esteve lá –
de quem fotografa depende do tipo de equi- diante da câmera –, a fotografia dá testemu-
pamento com que se está munido. As peque- nho de sua presença naquele dado tempo e
nas câmeras digitais do tamanho da palma espaço. Vem daí seu poder documental. Sem
de nossas mãos, que cabem no bolso, podem deixar de funcionar também simbolicamente
nos acompanhar a qualquer lugar e durante como criação convencional, cultural, ideoló-
todo o tempo. A leveza dessas câmeras e a gica e perceptivamente codificada, são esses
simplicidade de seu uso excluem a necessi- quatro princípios da natureza do índice que
dade de qualquer perícia, destreza ou habili- constituem os aspectos mais fundamentais
dade por parte do agente (SANTAELLA, 2007). da fotografia como linguagem.
Fotografar tornou-se um ato indiscri- Novamente neste aspecto, a fotogra-
minado, pois errar, tanto no gesto quanto fia digital introduziu modificações. Embora
no alvo, não traz consequências. Quando o continue a existir nela a emanação do objeto
gesto se torna mínimo, o alvo pode ser qual- fotografado, a ênfase no objeto é minimiza-
quer coisa e o resultado é descartável sem da, sobrando à foto a função de mera teste-
quaisquer prejuízos. Além de indiscrimina- munha do passageiro. Sem perder seu poder
do, o gesto torna-se também inconsequente de prova documental, paradoxalmente, o
(SANTAELLA, 2007). que a foto documenta é o insignificante. No
trânsito veloz entre o instante e sua captura,
Sem as paradas, sem as hesitações, não há mais espera, nem pose. Tudo passa,
sem os movimentos de escolha, sem as to- inclusive a própria foto.
madas de decisão, o ato fotográfico perde a
solenidade do gesto e se banaliza: qualquer
um torna-se fotógrafo de fotos padronizadas. 2.6 O agente e o ato de fotografar
O que se ganha em democratização, perde-
-se em especialização. Escolhas de enquadra- O fotógrafo já foi associado à figura do
mentos, de pontos de vista, de proximidade caçador por muitos estudiosos da fotografia.
e distância, de ângulos, que se constituem no De fato, essa é uma das principais capacida-
cerne do ato fotográfico, são substituídas por des que caracterizam o fotógrafo, aquele que
movimentos mecânicos, rápidos, irrefletidos. lança ao mundo um olhar discriminatório,
Basta um enquadramento eficaz, sempre de buscando flagrar e capturar um instante que,
um ponto de vista frontal daquilo que cabe no correr da vida, esteja carregado de algum
na telinha minúscula, e – clique (KOSSOY, sentido (DUBOIS, 1994).
2007). Para Kossoy (2007) atrás do visor de
uma câmera, está um sujeito que maneja
essa prótese óptica mais com os olhos do que
2.5 O poder indicador da fotografia com as mãos. Por isso mesmo, o ato de foto-
De acordo com Santaella (2007) aque- grafar cria uma coreografia própria e se faz
le ou aquilo que é fotografado é o alvo, o acompanhar de certa solenidade: as paradas,
referente da fotografia, algo visível que foi as hesitações, os movimentos de escolha, as
colocado diante da objetiva, sem o que não tomadas de decisão. Seleção de enquadra-
haveria fotografia. É impossível negar que mentos, de pontos de vista, de proximidade
esse algo, de fato, esteve lá. Por isso, a refe- e afastamento, de ângulos constitui o âmago
rência real é a ordem fundadora da fotogra- do ato fotográfico.
fia. Embora seja um reflexo, uma espécie de Fotografar é, portanto, um ato de es-
espelho, e apresente uma similaridade com colha, fruto de uma atenção seletiva. O que
o objeto que ela registra, a foto é, antes de congelar para sempre? Para onde dirigir o
tudo, um traço do real, marcado por quatro olho da câmera? A que distância, em que po-
princípios, que têm sido colocados em relevo sição e sob qual ângulo se colocar em relação
pelos estudiosos da fotografia: ao motivo a ser fotografado? Que lugar ocupa
1. Conexão física: o objeto fotografa- o fotógrafo diante do espetáculo do mundo,
do, de fato, estava fisicamente diante da ob- vasto mundo? Como enquadrar? O que fica
jetiva no momento do clique; dentro e o que fica fora da inevitável moldura
da foto? Tudo isso porque, depois do clique,
2. Singularidade: o instante que o cli- depois do gatilho, do corte ao vivo de uma

242
fatia única e singular de espaço e tempo, não competir com o olho, pois, na tentativa de
há mais como mudar o instante que se con- imitar a visão periférica natural, o que se tem
gelou para sempre (KOSSOY, 2007). como resultado fotográfico são as enormes
distorções da imagem em olho de peixe.
Com o advento das câmeras digitais e
dos telefones celulares providos de câmeras, Para compensar, contudo, a câmera
o ritual do ato fotográfico, descrito acima, pode dispor de uma teleobjetiva para regis-
de certa maneira, passou a ficar restrito aos trar informações visuais que são negadas ao
fotógrafos profissionais, pois fotografar tor- olho. As grandes angulares ampliam o cam-
nou-se uma ação trivial. O comportamento po visual, mas ainda não são comparáveis à
de quem fotografa depende do tipo de equi- constituição do olho. De tudo isso, uma coisa
pamento com que se está munido. As peque- é certa: a precisão da câmera para reprodu-
nas câmeras digitais do tamanho da palma zir seu entorno é assombrosa, com uma mi-
de nossas mãos, que cabem no bolso, podem núcia de detalhes que muitas vezes passam
nos acompanhar a qualquer lugar e durante despercebidos ao olhar (KOSSOY, 2007).
todo o tempo. A leveza dessas câmeras e a
simplicidade de seu uso excluem a necessi- A realidade visível é vasta. O enqua-
dade de qualquer perícia, destreza ou habili- dramento da foto a recorta e fragmenta. O
dade por parte do agente (SANTAELLA, 2007) objeto ou situação fotografada pode ser tes-
temunhado de uma multiplicidade de pontos
Fotografar tornou-se um ato indiscri- de vista. Qual foi o ponto de vista escolhido?
minado, pois errar, tanto no gesto quanto De cima para baixo, de baixo para cima, late-
no alvo, não traz consequências. Quando o ral, frontal? O exame do enquadramento que
gesto se torna mínimo, o alvo pode ser qual- recorta o visível e guilhotina a duração, o flu-
quer coisa e o resultado é descartável sem xo, a continuidade do tempo, assim como o
quaisquer prejuízos. Além de indiscrimina- ponto de vista assumido pelo fotógrafo cons-
do, o gesto torna-se também inconsequente. tituem-se em molas mestras para a leitura da
(SANTAELLA, 2007) fotografia.
Sem as paradas, sem as hesitações,
sem os movimentos de escolha, sem as to-
madas de decisão, o ato fotográfico perde a 2.8Ler a fotografia
solenidade do gesto e se banaliza: qualquer Há pelo menos três níveis de apreen-
um torna-se fotógrafo de fotos padronizadas. são de uma foto. Antes de tudo, uma foto,
O que se ganha em democratização, perde- qualquer foto, produz em nós algum tipo de
-se em especialização. Escolhas de enquadra- sentimento, às vezes imperceptível, às vezes
mentos, de pontos de vista, de proximidade muito intenso. Entretanto, não obstante a im-
e distância, de ângulos, que se constituem no portância dos sentimentos, eles correspon-
cerne do ato fotográfico, são substituídas por dem apenas ao primeiro nível de apreensão
movimentos mecânicos, rápidos, irrefletidos. de uma foto. Em um segundo nível, vemos
Basta um enquadramento eficaz, sempre de uma foto, isto é, identificamos seu moti-
um ponto de vista frontal daquilo que cabe vo, aquilo que está nela fotografado. Assim,
na telinha minúscula, e – clique (KOSSOY, ao olharmos para uma foto, reconhecemos
2007). traços, identificamos o que foi fotografado.
Quando essa identificação não é imediata,
buscamos pistas e brincamos com adivinha-
2.7 A imagem fotográfica ções e acertos sobre o local e a situação que
ali aparecem. Mas é apenas no terceiro nível
A imagem na fotografia é sempre um de apreensão que surge a diferença entre ver
duplo, emanação física do objeto, vestígio da fotos e ler fotos (SANTAELLA, 2007).
luz, marca e prova do real. Entretanto, por
mais fiel que a fotografia possa ser, ela não é, Ler uma foto é lançar um olhar atento
efetivamente, aquilo que registrou. É apenas àquilo que a constitui como linguagem visual,
um duplo. Com isso, o que a fotografia revela com as especificidades que lhe são próprias.
é a diferença e a separação entre o real fo- Significa fazer do olhar uma espécie de má-
tografado, que foi engolido pelo tempo que quina de sentir e conhecer. Assim, uma vez
passa, e o seu registro – capturado, congela- diante da fotografia, trata-se de buscar a
do e eternizado na foto. (SONTAG, 2006) unidade melódica de suas luzes, linhas e di-
reções, suas escalas e volumes, seus eixos e
Para Sontag (2006) quando não é in- suas sombras, enfim, contemplar a atmosfe-
tencionalmente subvertida pelo fotógrafo, ra que ela oferta ao olhar, pois a significação
em toda fotografia predomina a perspectiva. imanente dos motivos e temas fotografados
O funcionamento de partes da câmera costu- é inseparável do arranjo singular que o fotó-
ma ser comparado com o funcionamento do grafo escolheu apresentar (DUBOIS, 1994).
olho humano (ver “A gênese fotográfica”, aci-
ma). Entretanto, o olho tem uma ampla visão Tanto os valores temporais de que o
periférica, de que a câmera carece. É certo motivo fotografado está carregado, quanto
que a largura do campo da câmera pode ser as opções espaciais feitas pelo fotógrafo, na
modificável, dependendo da distância focal sua simbiose corporal e sensória com a câ-
de suas lentes. Mas não há nada que possa mera, ficam plasmados em uma foto. Por isso

243
mesmo, valores temporais e opções espaciais das redes sociais (Facebook, Twitter, blogs),
podem ser tomados como guias para a leitu- entre outros.
ra da imagem fotográfica. O espaço é tanto
interno quanto externo. Um espaço objetivo Apresentação
que existe fora da foto foi nela capturado. Ex- O objetivo desta sequência didática
plorar os detalhes da foto nos remete e nos é abordar à importância a conservação do
dá a conhecer a realidade que nela se plas- Patrimônio Cultural Material presente na Ar-
mou. Mas o externo está, de fato, internaliza- quitetura Histórica da Vila de Paranapiacaba
do na imagem de acordo com os potenciais e como conteúdo de aprendizagem em Artes
limites da câmera que o fotógrafo aprendeu Visuais. A educação patrimonial inserida no
a manejar nas suas escolhas de composições processo educacional juntamente com as
significativas (SANTAELLA, 2007). práticas e temas interdisciplinares nas aulas
Fotos realizam com primor o cruza- de Artes Visuais, apresentam subsídios para
mento mais que perfeito entre tempo e espa- proporcionar ao educando um maior contato
ço. Toda foto, qualquer foto que seja, conge- com a criação cultural, o fazer continuado da
la e eterniza o tempo. Clicar o botão significa coletividade e estudos sobre o espaço pró-
cortar, sem revogação possível, o fluxo do prio.
tempo e, consequentemente, escorrer da Disciplinas envolvidas: Artes Visuais e
vida. O que ficou lá capturado interrompeu o História
continuum da existência dos seres e das coi-
sas. Mas ganhou, com isso, a eternidade e a Conteúdo
possibilidade de ser reproduzido em infinitas Estudo do Patrimônio Cultural da Vila
cópias (KOSSOY, 2007). de Paranapiacaba no contexto das Artes Vi-
Diferentemente de uma pintura, como suais.
foi já brilhantemente discutido por Walter Objetivos
Benjamin no seu antológico ensaio sobre “A
obra de arte na era da reproduti- bilidade -Verificar as características do local e
técnica”, fotos foram feitas para serem co- sua paisagem na ótica da arte visual;
piadas, pois não existe um ori- ginal senão o
negativo, matriz de cópias. -Descrever a situação atual do espaço
para realização de mostras fotográficas;
Paradoxalmente à sua vocação para o
eterno, aquilo que a foto capturou e conge- - Analisar a conservação do Patrimo-
lou fica impregnado de sua própria tempora- nio Cultural da Vila de Paranapiacaba;
lidade. Fotos são feixes de indicações tempo- - Realizar comparativos de como o vi-
rais. Nesses feixes encontram-se as marcas larejo era antes de pertencer ao município de
do tempo não só do tema fotografado, como Santo André;
também do estado da arte do aparato técni-
co utilizado pelo fotógrafo. - Promover aos alunos estudo históri-
co-artístico do local;
Quanto mais estiver enfatizado o ca-
ráter estético de uma fotografia, fruto do - Envolver o aluno com a técnica da
talento com que alguns agentes entram em fotografia e sua história no campo das Artes
simbiose com o olho da câmera no confronto Visuais;
com o real, mais a foto acionará as faculda-
des sensíveis dos seus leitores. Quanto mais - Praticar a ação de fotografar.
o flagrante fotográfico for capaz de diagnosti- Anos
car os múltiplos pontos de vista de uma dada
situação, tanto mais seus leitores serão capa- 1º Ano do Ensino Médio.
zes de encontrar pistas para a reconstituição
dessa situação. Quanto mais uma foto for Tempo estimado
portadora de valores simbólicos, mais carre- Dez aulas.
gada ela estará de significados coletivos que
falam à cultura. Duração: Embora a sequência tenha
cinco etapas, foram estipuladas 10 aulas.
Essa escolha foi feita sabendo que a constru-
2.9 Processo de desenvolvimento da ção dos conhecimentos pedidos em cada ati-
sequência didática em Artes Visuais vidade pode levar mais de uma aula.
Metodologia Desenvolvimento
Aula prática e expositiva-dialogada; 1ª etapa- Vídeo e história da fotografia
estudo de textos históricos sobre a fotogra- no contexto das Artes Visuais ( 1 aula)
fia e sobre a Vila de Paranapiacaba; pesquisa Aula 1- os alunos serão levados a sala
de campo; estudos dirigidos; discussão de fil- de vídeo e assistirão um documentário sobre
mes, fotografias, livros e/ou textos; maque- a Vila de Paranapiacaba
tes com materiais recicláveis, pesquisas na
Internet; trabalhos colaborativos por meio 2ª etapa- Vista ao local, observação e
registros (2 aulas)

244
Aula 1- Antes da visita serão realiza-
das leituras de textos e imagens referentes
a Vila de Paranapiacaba utilizando recursos
contidos na literatura, web, reproduções de
imagens. Também será programada a ficha
descritiva, o modelo de entrevista com ques-
tionamentos, curiosidades e críticas, para se-
rem feitas aos moradores da vila durante a
visita. No “depois” espera-se a escrita de tex-
to e registro visual sobre a visita realizada e
conversa sobre a experiência estética realiza-
da.
Aula 2- Visita ao local para mapeamen-
to da região. Visita aos patrimônios históricos
como: - Estação ferroviária, Parte alta da Vila
de Paranapiacaba, Castelinho, Igreja Bom Je-
sus de Paranapiacaba, antigo mercado, Torre
do Relógio, Trilha do mirante, entre outros
locais importantes do Vilarejo. Durante a vi-
sita os alunos farão a entrevista com os mo-
radores e registros numa ficha descritiva e ti-
rarão fotos para realizaram os trabalhos que
constarão nas próximas etapas. Os registros
dar-se- ão antes e depois da visita.
3ª etapa- Exploração artística (2 aulas)
Construção de réplicas dos patrimô-
nios históricos da Vila de Paranapiacaba atra-
vés de desenhos para planificação das futuras
maquetes, a partir do tema “A Vila de Para-
napiacaba como espaço histórico, cultural e
artístico”. Para as maquetes, serão usados
materiais reciclados. Montagem de ambiente
contextualizando os resultados das experiên-
cias e aprendizagens deste processo.

4ª etapa- Mostra fotográfica (2 aulas)


Aula 1-Criação de um ambiente em
sala de aula com painéis com as fotos que fo-
ram tiradas e reveladas pelos alunos com a
devida descrição de cada local.
Aula 2- exibição de um painel com fo- Recursos humanos e materiais
tos da entrevista com moradores e painéis Humanos: Professor de Artes e His-
com as respostas coletadas e gráficos com tória, Alunos do Ensino Médio, Comunidade
dados obtidos sobre a preservação do patri- Escolar, Moradores da Vila de Paranapiacaba,
mônio cultural junto aos moradores. Expla- entre outros.
nação do grupo de alunos sobre o material
exposto. Materiais: máquina fotográfica, víde-
os, cartazes, papel fotografia, isopor, massa
5ª etapa-Apropriação (3 aulas) de modelar, material de reciclagem, canetas
Será realizada a ‘Feira Cultural’ na es- hidrográficas, giz de cera, lápis de cor, papel
cola, com a sala-ambiente “Vila de Parana- kraft, cola, tesoura, fita adesiva.
piacaba um patrimônio histórico na ótica da Avaliação: Será de caráter formativo a
arte visual” que será aberta à visitação para fim de dinamizar oportunidades de ação-re-
a comunidade escolar, tendo alguns alunos flexão, num acompanhamento permanente
como mediadores para esclarecimentos e in- do professor, que incitará o aluno a novas
teração com os visitantes. questões a partir de respostas formuladas.
6ª etapa- Avaliação- Será realizada de Neste caso é necessário identificar como o
forma contínua acompanhando o andamen- professor em especial, vê o processo de ava-
to diário das atividades até o desfecho final. liação e de que forma utiliza seus resultados
na sala de aula como ferramenta de trabalho
Tempo para a realização do projeto: 6 para o processo de formação do aluno e para
semanas (12 aulas) a qualificação do ensino.

245
3.CONCLUSÃO VAZ, Paulo Bernardo (ed.). Narrativas
fotográficas. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
Este estudo demonstrou em seu con- 134p.
texto a Vila de Paranapiacaba como cenário
de arte histórica e visual diante da leitura de
imagens e da fotografia onde seu patrimônio,
por ter sido tão bem preservado, recebeu
importante destaque na cultura contempo-
rânea e na Arte por ser um local de impor-
tantes valores a serem retratados. Notou-se
também neste estudo que a fotografia tem
sido um dos recursos de artes visuais mais
utilizados e sofisticados da atualidade devi-
do ao avanço tecnológico desta mídia, onde
smartphones, tablets, câmeras de últimas
geração, drones e demais acervos são usa-
dos em larga escala para registrar momentos
e acontecimentos em tempo real, possuin-
do uma gama de aplicativos e recursos para
aprimoramento da arte no pós-clique.

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SONTAG, Susan. Ensaios sobre foto-
grafia. Tradução de José Afonso Furtado. Lis-
boa: Dom Quixote, 2006.

246
A IMPORTÂNCIA DOS CANTINHOS DIFERENCIADOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
GLÓRIA RODRIGUES DA SILVA

RESUMO É claro que a educação infantil está


abrindo novos caminhos nos últimos anos.
O objetivo deste trabalho é apresentar Estratégias educativas que promovem a or-
os resultados obtidos observar e refletir so- ganização da vida em grupo Uma instituição
bre a prática que ocorre em sala de aula, a que se preocupa com a educação das crian-
aplicação dos Cantinhos Educativos ou Peda- ças pequenas. A partir deste ponto de vista,
gógicos na Educação Infantil. O trabalho tem usar o "Canto da Educação" é um recurso
um objetivo geral. Compreender o conceito educacional eficaz Prepare o ambiente da
e a estrutura dos recantos temáticos na edu- sala de aula para crianças pequenas gradu-
cação infantil. a Esta metodologia baseia-se almente, foi incorporado à filosofia educacio-
em pesquisa bibliográfica utilizando livros e nal de escolas e creches. Mesmo se a esco-
artigos. Pesquisas científicas de autores de laridade formal ou não formal não for uma
referência que reportam sobre o tema. Na opção, no entanto as crianças irão adquirir
história, há referências a uma espécie de mú- muitos conhecimentos através desta ativi-
sica tema que orienta. Os professores têm dade. Explorando o mundo de forma regular
diferentes formas de organizar suas salas de e ativa, eles adquirem o que chamamos de
aula. Cuidados infantis que contribuem para mundo intuitivo
o desenvolvimento holístico das crianças.
Concluise que este recurso é essencial para O tema ainda parece novo para pro-
aproximar as crianças. Outros constroem fissionais e organizações de educação infan-
laços de amizade, respeitam e promovem o til. Projetar um quarto infantil é um desafio
desenvolvimento imaginação, sonhar acor- porque é um local onde as crianças estão
dado, socialização, cognição, autonomia. presentes e passa a maior parte do tempo,
portanto, pelas pesquisas realizadas, fica
Palavra-chave: Cantinhos educativos; claro que o corpo docente tem uma grande
sala de aula; crianças; desenvolvimento. responsabilidade na organização do espaço.
Onde ocorrerá o aprendizado, hoje, alguns
professores de educação infantil já ouviram
INTRODUÇÃO falar dos cantos temático e como eles podem
Neste artigo apresentaremos o “Can- ajudar no desenvolvimento das crianças,
tinho da Educação” como uma possibilidade. onde é possível determinar a melhor forma
Promova a aprendizagem das crianças atra- de organizá-lo e os desejos da criança além
vés de jogos. As interações entre professo- de beneficiar muito a sua imaginação, per-
res, alunos e escolas serão aprofundadas. De cepção, emoções e insira um espaço social
acordo com referências Segundo o Currículo neste espaço.
Nacional de Educação Infantil – RCNEI (Bra- Portanto, os professores devem pro-
sil, 1998), as crianças são concebidas para porcionar uma sala repleta de estímulos e
serem “todos os seres humanos e todos os motivação é importante analisar os materiais
seres históricos integrantes da organização necessários para fazer um espaço aconche-
familiar”. algo que está embutido em uma gante, o professor deve desempenhar o pa-
cultura específica em um momento especí- pel de mediador enquanto a criança brinca
fico A particularidade do canto educativo é e esteja sempre atento à reação da criança
que nos permite trabalhar. Ao organizar os diante de cada situação. Quando as crianças
materiais didáticos de forma que lhes dê fun- brincam, é importante que o professor atue
cionalidade, eles poderão ser utilizados em como mediador e observe sempre como as
sala de aula. Brinquedos para atingir o obje- crianças reagem a cada situação e se estão
tivo da indivisibilidade dimensional expressi- interessados em jogar nas instalações ofere-
vo, emocional, cognitivo, linguístico, ético, es- cidas.
tético, sociocultural Crianças de acordo com
as DCNEI (artigo 8º, ponto II).
O ambiente da sala de aula deve ser 1 - O PAPEL DA BRINCADEIRA NO DE-
acolhedor e fazer com que as crianças se sin- SENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
tam em casa. Adquirir e desenvolver compe- Se no início do século XX, havia dis-
tências psicológicas e psicomotoras. cussões sobre a necessidade dos objetos e
O espaço escolar deve ser um ambien- dos brinquedos serem adaptados às neces-
te rico em incentivos e salas de aula devida- sidades de aprendizagem da criança, hoje
mente organizadas para o desenvolvimento também não é diferente, mas tratando-se
infantil, esse tipo de espaço também propor- das brincadeiras de faz de conta, torna-se ne-
ciona um ótimo aprendizado para as crian- cessária uma busca em alguns estudos que
ças adquirir conhecimento e ter tempo para mostram o que a brincadeira provoca e/ou
brincar, nesta sala poderá aprender melhor favorece em cada fase do desenvolvimento
crescer e interagir com adultos e amigos. da criança. A brincadeira tem papel funda-

247
mental na formação da criança, pois valori- nárias que a criança cria para satisfazer seus
za o meio social como forma de aprendiza- desejos irrealizáveis.
gem humana. Sendo assim, na brincadeira
a criança socializa seus pensamentos e cria Para Vygotsky (1984, p. 96), o ato de
situações imaginárias que incorporam ele- brincar possui um importante papel na cons-
mentos do contexto cultural no qual está in- tituição do pensamento infantil e, é brincan-
serida. No que diz respeito à brincadeira da do que a criança expõe seu estado visual,
criança pequena, podemos analisar que: nin- auditivo, tátil, motor cognitivo, sua maneira
guém jamais encontrou uma criança muito de aprender e a forma em que esta entra
pequena, com menos de três anos de idade, em uma relação cognitiva com o mundo das
que quisesse fazer alguma coisa dali a alguns pessoas, das materialidades e dos símbolos.
dias, no futuro. Porém, as crianças peque- Como se observa, é por meio das atividades
nas, também interagem com diferentes tipos lúdicas, que a criança faz a reprodução de
de brinquedos, que são necessários para a diversas situações de seu cotidiano, que são
aprendizagem futura da representação e da reelaboradas através da imaginação e do fa-
imaginação. Entretanto, na idade em que a z-de-conta.
criança frequenta a educação infantil, surge Dessa forma, percebe-se que o brin-
uma grande quantidade de tendências e de- quedo tem grande importância no desenvol-
sejos não possíveis de serem realizados de vimento psicológico da criança, pois cria rela-
imediato. Percebe-se que o brinquedo surge ções entre situações imaginárias e situações
justamente, quando a criança começa a ex- da vida real. A criança traz para as brincadei-
perimentar tendências irrealizáveis, onde ela ras a sua cultura, seu modo de ver o mun-
envolve-se num mundo ilusório e imaginário, do que favorece uma interação através das
onde os desejos não realizáveis podem ser imitações, das ações cotidianas, contribuindo
realizados, e esse mundo é o que chamamos claramente para o seu desenvolvimento.
de brinquedo. A brincadeira é fundamental
para desenvolver o pensamento da crian- [...] a criança satisfaz, em grande parte,
ça porque trabalha diversos aspectos que seus interesses, necessidades e desejos par-
contribuem no desenvolvimento emocional ticulares, sendo um meio privilegiado de in-
e cognitivo dela. Afirma que, ao brincar, a serção na realidade, pois expressa a maneira
criança age sobre os objetos como adultos. como a criança reflete, ordena, desorganiza,
Assim, as brincadeiras das crianças pequenas destrói e reconstrói o mundo. Destacamos o
caracterizam-se pela reprodução de ações lúdico como uma das maneiras mais efica-
humanas realizadas em torno de objetos. zes de envolver o aluno nas atividades, pois
Percebe-se que são as regras da brincadeira a brincadeira é algo inerente na criança, é
e o papel social que ela está representando sua forma de trabalhar, refletir e descobrir o
na situação imaginária que fazem com que a mundo que a cerca. (DALLABONA; MENDES,
criança se comporte de forma mais avançada 2004, p. 2)
do que aquela habitual para sua idade. Como a criança é um ser em desen-
[...] a brincadeira cria para as crianças volvimento, sua brincadeira vai se estrutu-
uma “zona de desenvolvimento proximal” rando com base no que é capaz de fazer em
que não é outra coisa senão a distância entre cada momento. Isto é, ela aos seis meses e
o nível atual de desenvolvimento, determi- aos três anos de idade tem possibilidades
nado pela capacidade de resolver indepen- diferentes de expressão, comunicação e re-
dentemente um problema, e o nível atual lacionamento com o ambiente sociocultural
de desenvolvimento potencial, determinado no qual se encontra inserida. A brincadeira
através da resolução de um problema sob a não é algo já dado na vida do ser humano,
orientação de um adulto ou com a colabora- ou seja, aprende-se a brincar desde cedo,
ção deum companheiro mais capaz. (VYGOT- nas relações que os sujeitos estabelecem
SKY, 1984, p. 97). com os outros e com a cultura. Brincar é uma
atividade que, ao mesmo tempo, identifica e
Nota-se que na brincadeira os objetos diversifica os seres humanos em diferentes
perdem sua força determinadora e a criança tempos e espaços. É também uma forma de
passa a operar com os significados das coi- ação que contribui para a construção da vida
sas. Só brincando é que ela vai começar a social coletiva. Para as crianças, a brincadeira
perceber o objeto não da maneira que ele é, é uma forma privilegiada de interação com
mas como desejaria que fosse. Você já ima- os outros sujeitos, adulta e crianças, e com
ginou que um cabo de vassoura pudesse ser os objetos e a natureza à sua volta.
um cavalo de verdade? E que valente cava-
leiro! Na verdade, o cavalinho de pau é um Portanto, a noção de que uma criança
objeto tão simples que em algumas épocas pode se comportar em uma situação imagi-
era utilizado pelas crianças como se fosse um nária sem regras é simplesmente incorreta.
meio de transformar o objeto em seu mun- Se uma criança está representando um papel
do de faz de conta, de fantasia. Um príncipe de mãe, então ela obedece às regras de com-
em seu cavalo de pau chega feliz ao castelo, portamento maternal. O papel que a crian-
ou até mesmo uma tropa, a fim de destruir o ça representa e a relação dela com o objeto
campo inimigo e seu herói montado em seu (se o objeto tem seu significado modificado)
cavalo de pau, são situações ilusórias e imagi- originar-se-ão sempre das regras (VYGOT-

248
SKY,1984, p.109) arrumar esse espaço de maneira adequada
porque se a criança não souber estimulado
Ao longo do desenvolvimento, por- no local onde permanece mais de oito horas
tanto, as crianças vão construindo novas e por dia, não desenvolve de forma satisfató-
diferentes competências, no contexto das ria.
práticas sociais, que irão lhes permitir com-
preender e atuar de forma mais ampla no Almeida (2011) citando Horn, também
mundo. se expressa sobre a importância do ambien-
te para o desenvolvimento das crianças pe-
Apesar de a palavra brincadeira ser quenas:
estreitamente ligada à infância e às crianças,
vemos que a brincadeira sempre foi uma ati- [...] um ambiente sem estímulos, no
vidade significativa na vida dos homens em qual as crianças não possam interagir desde
diferentes épocas e lugares. A experiência do a tenra idade umas com as outras, com os
brincar cruza diferentes tempos e lugares, adultos e com objetos e materiais diversos,
passados, presentes e futuros, sendo mar- esse processo de desenvolvimento não ocor-
cada ao mesmo tempo pela continuidade e rerá em sua plenitude. (ALMEIDA, 2011, p.36).
pela mudança. Mas essa experiência não é
simplesmente reproduzida, e sim recriada a Quando se pensa em uma sala de
partir do que a criança traz de novo, com seu aula para a primeira infância, esse espa-
poder de imaginar, criar, reinventar e produ- ço está associado a espaços vazios onde as
zir cultura. crianças podem brincar livremente ou com
salas mal organizadas e professores que
Brincando, elas se apropriam criativa- não se preocupam com esse aspecto, como
mente de formas de ação sociais tipicamente mencionam Carvalho e Meneghini (2002, p.
humanas e de práticas sociais específicas dos 150): [...] “também é comum encontrar salas
grupos aos quais pertencem, aprendendo vazias com poucos móveis, objetos e equipa-
sobre si mesmas e sobre o mundo em que vi- mentos” . Ao entrar na sala de aula, o profes-
vem. A brincadeira, por sua vez, cria laços de sor deve pensar primeiro nas crianças e não
solidariedade e de comunhão entre os sujei- apenas deixar a sala vazia, empilhar caixas
tos que dela participam e assume importân- ou guardar tudo em armários para que as
cia fundamental como forma de participação crianças não vejam os materiais. O professor
social. Brincar é, portanto, uma importante é o mediador do ensino e da aprendizagem,
experiência de cultura e um complexo pro- portanto não deve se contentar com um es-
cesso interativo e reflexivo que amplia os paço vazio ou com espaços livres; para isso, o
conhecimentos da criança sobre o mundo e professor deve tornar a sala de aula um am-
sobre si mesma. biente agradável e convidativo as crianças se
sentem seguras e confortáveis, o que ajuda a
O brincar contém o mundo e ao mes- criança a desenvolver.
mo tempo, contribui para expressá-lo, pen-
sá-lo e recriá-lo. Brincando, jogando e crian- Complementando essa ideia, Zabalza
do narrativas, as crianças estão falando de (1998) utiliza como referência Pol e Morales
si próprias, de seus medos, coragem, angús- (1998, p. 235) e esclarece:
tias, sonhos e ideais. Estão falando de seu
tempo, da cultura em que vivem, aprendem e O espaço jamais é neutro. A sua es-
se desenvolvem, das promessas e do mal-es- truturação, os elementos que o formam, co-
tar dessa mesma cultura. Estão falando tam- municam ao indivíduo uma mensagem que
bém de nós, adultos, de nossas expectativas pode ser coerente ou contraditória com o que
e projetos, de nossa presença e silêncio, de o educador(a) quer fazer chegar à criança. O
nossas certezas e dúvidas. educador(a) não pode conformar se com o
meio tal como lhe é oferecido, deve compro-
meter-se com ele, deve incidir, transformar,
personalizar o espaço onde desenvolve a sua
3-Conceito e importância do Ambiente tarefa, torná-lo seu, projetar-se, fazendo des-
e espaço escolar na educação infantil te espaço um lugar onde a criança encontre
Quando falamos de ambiente e es- o ambiente necessário para desenvolver-se.
paço, é importante saber que são assim está O professor deve fazer da sala de aula
claramente relacionado. Segundo Zabalza algo como se fosse realmente a sua vida,
(1998, p. 232), o termo espaço refere-se ao transformá-la com amor e animar aquele es-
espaço físico, ou seja, às funções caracteriza- paço. É claro que, por se tratar de um am-
das por objetos, materiais. materiais didáti- biente de jardim de infância ou pré-escola,
cos, móveis e acessórios”. as crianças também precisam de espaços
As instalações escolares devem ser amplos e arejados para brincadeiras de lazer
construídas num ambiente estimulante para e atividades orientadas por professores ou
que as crianças se comuniquem entre si. Para em grupo. As crianças também devem ter a
que esta interação se concretize e tenha um oportunidade de correr, caminhar, pular, gi-
impacto significativo para a imaginação, o de- rar e brincar em grupos grandes ou peque-
senvolvimento cognitivo, emocional e social nos, permitindo acessar facilmente objetos,
da criança, isso é necessário o professor sabe brinquedos, materiais.

249
A sala precisa de espaço de arruma- um grupo menor de crianças, facilita a troca,
ção visível e acessível às crianças. As crianças e aperfeiçoa a linguagem e a socialização,
precisam de espaço em que aprendam com ou seja, por meio da interação com outras
as suas próprias ações, espaço em que se crianças auxiliam em seu desenvolvimento e
possam movimentar, em que possam cons- aprendizagem. A seguir iremos relatar sobre
truir, escolher, criar, espalhar, edificar, ex- algumas formas de conceber a organização
perimentar, fingir, trabalhar com os amigos, dos espaços e a organização do tempo, ou
trabalhar sozinhas e em pequenos e grandes seja, das rotinas na educação infantil que va-
grupos. (HOHMANN et al, 1979, p. 51). lorizem o tempo de aprendizagem das crian-
ças.
O trabalho pedagógico na educação
infantil inclui organização tempo e espaço Tem sido muito valorizada a organi-
para realizar diversas atividades, especial- zação de áreas de atividade diversificada, os
mente envolvendo as crianças no jogo e in- “cantinhos” - da casinha, do cabeleireiro, do
centivando-as a procurar projetos de pes- médico e do dentista, do supermercado da
quisa que atendam às suas necessidades e leitura, do descanso - que permitem a cada
interesses por meio de substituição a ativida- criança interagir com pequeno número de
de e tem como foco o professor por meio do companheiros, possibilitando-lhes melhor
intercâmbio entre crianças e adultos. coordenação de suas ações e a criação de um
enredo comum na brincadeira o que aumen-
A organização dos espaços escolares ta a troca e o aperfeiçoamento da linguagem
tem grande influência no comportamento (OLIVEIRA, 2004, p.195).
das crianças, que de alguma forma expres-
sam se estão satisfeitas ou não com o am- Os cantos temáticos podem ser cha-
biente. Se faltar planejamento e organização, mados também como zonas circunscritas,
brinquedo, podem causar comportamento conforme acima citado, que representam
agressivo, agitado, comportamento ansioso áreas fechadas, com apenas três ou quatro
e provável ansiedade, além de causar confli- lados delimitando o espaço.
tos entre si.
Para tanto se faz necessário pensar
Para promover interação com o am- também na organização do espaço, sua es-
biente e com outras crianças e consequen- trutura que permita uma maior interação
temente o desenvolvimento das mesmas, com o ambiente. Para garantir uma adequa-
as instituições de educação infantil precisam da interação com o ambiente que possibili-
pensar na organização dos espaços destina- te a aprendizagem o e desenvolvimento da
dos às crianças. Segundo Batista (2009) a or- autonomia das crianças pequenas devemos
ganização em forma de cantos de atividades pensar em como conceber este espaço de
permite às crianças a possibilidade de “[...] forma segura, mobílias devem estar de acor-
exercitar a capacidade criativa e imaginativa, do com o tamanho das crianças, evitar co-
como também a atividade de manipulação, locar objetos que ofereçam riscos em local
favorecendo o desenvolvimento cognitivo” utilizado pelas crianças, pois trata-se de uma
(p.135). escola e não de uma casa. O deslocamento
com segurança auxilia no desenvolvimento
O arranjo deste espaço é importante, das capacidades físicas das crianças (BRA-
porque afeta tudo o que a criança faz. Afeta o SIL,1998).
grau de atividade que pode atingir e o quanto
é capaz de falar de si própria. Afeta as esco- “Com a chegada dos “cantos” e a orga-
lhas que pode fazer e a facilidade com que nização funcional das salas de aula aconteceu
é capaz de concretizar os seus planos. Afeta uma verdadeira revolução na forma de con-
as suas relações com as outras pessoas e o ceber uma aula de Educação Infantil e na for-
modo como utiliza os materiais. (HOHMANN ma de organizar o trabalho na mesma”. (ZA-
et al, 1979, p. 51). BALZA, 1998, p. 229). Quando falamos sobre
a organização dos cantos temáticos, é preci-
so pensar que este, segundo Almeida (2011),
Portanto, organizar a sala de aula é um refletindo na visão de Barboza e Horn (2006,
grande desafio para o professor, mas se ele p. 40), “[...] deve considerar a faixa etária das
priorizar a criança neste espaço e não criá-lo crianças [...]”, ser prazeroso, acolhedor, rico
por complacência, todos os profissionais da e estimulador para que as crianças tenham
área têm a certeza de projetar um ambiente oportunidades de se expressar, brincar, ex-
agradável onde as crianças possam desfru- plorar o ambiente e sentir-se autônoma.
tar de um bem-estar que estimule e nutra Uma sala de aula de Educação Infan-
todos os envolvidos no ensino, e o processo til dever ser, antes de mais nada, um cenário
de aprendizagem nesta importante etapa da muito estimulante, capaz de facilitar e sugerir
educação infantil. múltiplas possibilidades de ação. Deve conter
materiais de todos os tipos e condições, co-
merciais e construídos, alguns mais formais
4-Cantos temáticos e relacionados com atividades acadêmicas e
A utilização de cantos temáticos for- outros provenientes da vida real, de alta qua-
nece à criança a possibilidade de interagir em lidade ou descartáveis, de todas as formas e

250
tamanhos, etc. (ZABALZA, 1998, p. 53). crianças oportunizando que elas visualizem
as suas dramatizações. No canto de artes os
Podemos analisar um canto temático materiais que podem ser usados são: pintu-
como um simples espaço do brincar, mas or- ra a dedo, massa de modelar, lápis de cor,
ganizar cantos temáticos irá permitir que a giz de cera, folhas brancas e coloridas, entre
criança tenha escolhas em brincar sozinha ou outros. É importante que o educador esteja
em pequenos grupos, e, além disso, permiti- sempre atento aos desenhos das crianças
rá que a criança desenvolva a sua criativida- para analisar as formas que elas desenham,
de, possibilitando assim, diferentes formas as cores que utilizam, ou seja, a forma que
de linguagens. Para cada espaço, a criança eles reagem diante de um papel onde eles
irá utilizar um tipo de linguagem, como por se expressam ainda mais quando se trata de
exemplo, no canto do médico, ela será a desenhos livres. Para as crianças, o canto da
médica ou a paciente, que exige diferentes casinha deve conter diferentes objetos como:
linguagens de um papel para o outro e é im- fogãozinho, panelas, pia, geladeira, mesa,
portante observar que a criança irá saber em sofá, televisão, passadeira, ferro, frutas plás-
qual momento o que ela deverá fazer e falar. ticas e embalagens de alimentos, camas ou
Cabe ao professor também saber or- berços, aparelhos usados de telefone etc.
ganizar a sua sala de aula, para que não haja Nesse espaço irá simular ou representar as
poluição ambiental e que de certa maneira, pessoas com quem ela vive, seja com os fa-
as crianças se sintam estimuladas a brinca- miliares ou amigos. No canto do médico são
rem nos cantos oferecidos. É importante que essenciais as toucas, máscaras, luvas cirúrgi-
os cantos sejam frequentemente trocados cas, embalagens de remédios, esparadrapo,
conforme o interesse das crianças, por isso jalecos, fichas médicas, bonecas, que sirvam
que ao brincar o professor deve ficar atento de pacientes, estetoscópio, termômetro en-
e observar como cada um irá reagir diante da tre outros. É importante ressaltar, que por
ocupação e interação na situação da brinca- ter bonecas nesse canto, não significa que as
deira. crianças não possam ser o paciente, ou ainda
optar por atuar como mãe e a boneca como
A criança enxerga o mundo diferente sua filha.
dos adultos. Um canto de uma sala pode ser
um campo de batalha, um navio, uma sala de A sala organizada em cantos temáti-
hospital, ou até mesmo pista de automóveis cos possibilitará ao professor ter mais con-
e para um adulto um simples canto de uma tato com as crianças e observá-las melhor.
sala. O que diferencia esse lugar para a crian- Com a interação dos alunos, eles produzirão
ça é o que ela faz dele cabendo aos adultos, conhecimentos e através desses conheci-
pais ou professores, como intermediadores, mentos gerará aprendizagens significativas
proporcionar para a criança infinitas possibi- contribuindo para o desenvolvimento de
lidades de usufruir da imaginação rica e po- cada um. Portanto, para a organização dos
derosa. Para Oliveira et al (2002, p. 84): cantos temáticos o ideal é que as estantes
ou objetos estejam ao alcance das crianças
[...] a montagem e o sucesso dos can- para que possam pegá-los e guardá-los sozi-
tinhos em dar condições para o aumento das nhas. Por último cabe destacar que os cantos
brincadeiras infantis depende do educador também podem ser organizados no pátio da
observar a maneira como as crianças ocu- escola, na área externa do ambiente escolar
pam e utilizam os espaços, modificando-os e exposto para todas as crianças de diferen-
em função dos interesses das crianças tes faixas etárias, proporcionando assim, um
Abaixo se organizou uma sequência espaço de grandes aprendizagens para todos
de tipos de cantos temáticos, descrevendo-se que fazem parte do processo desta etapa da
também a forma de organização deles além escolarização infantil.
dos benefícios para o ensino e aprendizagem
na Educação Infantil. O canto da leitura pode
ser organizado com caixas de histórias, aven- Conclusão
tais, fantoches, livros de vários gêneros textu- Como vimos, a brincadeira está no
ais, possibilitando para a criança o manuseio imediato prazer da criança, ou seja, no prazer
desses materiais e estimulando o prazer pela de viver, tendo ela duas faces: uma dirigida
leitura, mesmo que ela não saiba ler con- para o passado e outra para o futuro, e per-
vencionalmente; é importante que ela tenha mite à criança resolver, simbolicamente, pro-
esse contato desde pequena com os livros. blemas do passado e enfrentar as questões
No canto dos blocos de encaixes é importan- do presente e imaginar o futuro. A brincadei-
te que tenha um espaço livre, pois com esses ra é uma ação natural da vida infantil, quan-
blocos as crianças podem utilizá-los de várias do brinca a criança trabalha com diversos as-
maneiras, construindo um prédio, uma casa, pectos como, físico, motor, emocional, social
um carro, possibilitando a elas a construção e cognitivo, se constituindo um importante
e a simulação. No canto da dramatização, elemento no processo de desenvolvimento e
podem-se expor maquiagens, perucas, fanta- aprendizagem. Portanto podemos ressaltar
sias, anéis, bolsas, colares, chapéus e outros. que o lúdico como uma dimensão significati-
Um espelho também é importante nesse can- va a ser explorada pelos
to, mas deve ser adequado ao tamanho das

251
A sala de aula é um espaço que precisa VYGOTSKY, Lev. A formação social da
ser planejado com cuidados. Especialmente mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984
na Educação Infantil as pesquisas levantadas
sinalizam que a sala de aula precisa ser um
ambiente com estímulos para proporcionar
situações em que as crianças se desenvol-
vam significantemente.
A organização das atividades nos can-
tos também tem sido apontada como forma
de organização promotora de aprendizagem
e desenvolvimento, especialmente com rela-
ção às interações sociais. Em especial, esta
forma de organização em espaços de ativida-
des, se destaca como proposta curricular vá-
lida no sentido de que fornece à criança no-
vas formas e possibilidades de construir suas
aprendizagens por meio do contato com o
outro e com diversas atividades lúdicas. Le-
var em conta as peculiaridades da criança,
suas características, únicas, suas formas pró-
prias de pensar e entender o mundo ao seu
redor, exige das instituições de educação in-
fantil, um foco maior para a necessidade de
uma melhor sistematização do processo edu-
cacional neste período.

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quisa em ciências sociais. São Paul: Atlas,
1987.

252
PRÁTICA PEDAGÓGICA E TEA
GRAZIELA REGINATO RIOS

RESUMO intelectual, física, nos espaços escolares. Isso


porque mesmo que se tenha uma legislação
Este estudo tem como objetivo com- vigente, a qual garante o direito ao estudo a
preender como as crianças com autismo e todas as pessoas, algumas instituições ain-
qualquer outra deficiência têm acesso ao co- da recusam a matrícula de crianças e jovens
nhecimento e como são incluídas no sistema com deficiência. No entanto, recusar vaga ou
regular de ensino, analisando quais as meto- se recusar a ensinar uma criança com neces-
dologias e estratégias utilizadas pelos profes- sidades educacionais especiais (NEE) é cri-
sores no processo de ensino e aprendizagem me e cabível de processos judiciais. Toda e
de crianças com deficiência, respeitando in- qualquer instituição escolar deve, portanto,
dividualidade e as limitações de cada um, to- oferecer atendimento especializado para as
mando como base o fato de ser a educação crianças que tenham NEE, com profissionais
um direito de todos independente da defici- qualificados para realizar a Educação Espe-
ência que possa ter, entender como é feito o cial.
planejamento dessas estratégias de ensino e
aprendizagem e verificar se a rede de ensino O objetivo da pesquisa é compreender
está preparada para receber esses alunos. A a importância dos jogos e a ludicidade para
educação é um direito de todos, mas sabe- crianças com deficiência, com ênfase no au-
-se que ainda são muitas as pessoas que não tismo, a totalidade da importância da inclu-
têm acesso à escola por apresentar alguma são de alunos com autismo no ensino regular
deficiência e, muitas vezes por imposição como uma das maneiras de oferecer educa-
da própria família, ficam segregadas fora do ção qualificada, igualdade, evidenciando a
âmbito escolar. Muitas vezes espera-se que relevância do papel da escola e do professor
o aluno se adapte à escola, sem que a escola no método de composição da inclusão, des-
tenha condições físicas de receber esse alu- tacando ainda a conjuntura histórica do sur-
no e oferecer-lhe condições de permanecer e gimento da educação para o aluno especial,
aprender na escola. Incluir é muito mais que além de evidenciar dificuldades encontradas
receber o aluno no espaço escolar, é também por pessoas com necessidades especiais, re-
favorecer seu aprendizado, respeitá-lo como lacionando teoria e prática. A pesquisa tem
sujeito ímpar, oferecer situações favoráveis como resultados alguns métodos para que a
à sua aprendizagem, sem deixar que, por gestora possa encaminhar seus educadores
apresentar alguma necessidade educacional nas diretrizes legais de como inserir um alu-
especial. Como objetivos específicos, pro- no especial em seu meio social.
pomos observar as dificuldades encontra-
das em sala de aula com alunos de inclusão.
Compreender quais os principais motivos da 2. DESENVOLVIMENTO JOGOS E PAR-
inclusão em escola regular. Estudar propos- QUE INCLUSIVO
tas para a capacitação e qualificação da práti-
ca docente. Refletir sobre o melhor caminho O parque é muito importante para de-
que a formação do professor poderá ter den- senvolvimento integral da criança. É observa-
tro da inclusão. do que os momentos no parque são de des-
contração, alegria e negociação, fatores que
Palavra-chave: Inclusão; Direito; For- colaboram para o aprendizado. Por meio das
mação; Autismo. brincadeiras no parque, as crianças são esti-
muladas a uma aprendizagem lúdica e signi-
ficativa. Dificilmente as escolas de Educação
1 - INTRODUÇÃO Infantil possuem parques inclusivos. Com
isso notamos as frustrações e tristezas que
O autismo é um tema polêmico, visto as crianças com deficiência são submetidas.
por muitos como algo do futuro, impossível
de ser realizado nas condições atuais de ensi- Esse trabalho tem como objetivo, res-
no. Hoje, com a política de inclusão, a educa- saltar a importância do parque inclusivo, do
ção infantil é a porta de ingresso ao sistema lúdico e das brincadeiras na Educação Infan-
educacional para boa parte das crianças, de- til, e como a aprendizagem ocorre através
vendo o atendimento educacional especiali- das brincadeiras, e como o lúdico intensifica
zado ser ofertado na própria creche ou pré- os momentos do aprendizado. O parque pre-
-escola em que a criança está matriculada. A cisa ser inclusivo para que todas as crianças
Inclusão Escolar significa oferecer oportuni- possam brincar aprender e se socializarem.
dade de estudo para todas as pessoas, sem O parque deve adequar-se a todos.
distinção de cor, raça, classe social, ou ainda,
condições físicas e psicológicas. Apesar de Os professores da Educação Infantil,
ser bastante amplo, o termo Inclusão Esco- muitas vezes sofrem pela falta de recursos
lar é mais utilizado para se referir à inclusão fundamentais para a inclusão, as crianças
das pessoas com deficiência, seja sensorial, necessitam de lugares adaptados, com infra-

253
estrutura correta para vivenciar momentos cial relacioná-las aos aspectos mais amplos
de lazer, estes lugares podem ser criados da sociedade como, por exemplo, a econo-
de acordo com o que o Ministério da Saúde mia e a política, sem perder de vista a troca
solicita em caso de Crianças que se cons- existente entre esses elementos e o cotidia-
tituem em Público-alvo da Educação Espe- no escolar.
cial. Constantemente os projetos, os jogos e
os brinquedos devem ser adequadamente Levando em conta tais considerações,
adaptados para que todos possam partici- a autora, parte da concepção que a atual re-
par. Entretanto as brincadeiras no parque forma educacional se esforça para promover
carecem de maior atenção, pois as adapta- mudanças, mas não propõe a transforma-
ções dos brinquedos do parque precisam de ção da própria escola. A escola passa a ser
maiores elaborações que talvez estejam fora o ´´foco´´ da gestão administrativa e finan-
do alcance dos educadores, por isso este tra- ceira, sendo responsabilizada pelo seu suces-
balho de pesquisa é propositivo. Sendo as- so ou fracasso. Seguindo a mesma linha de
sim, os educadores podem criar espaços que pensamento outra autora define a gestão in-
atendam melhor todas as necessidades, com clusiva da seguinte maneira:
brinquedos e objetos adaptados. Por que Ter uma equipe de professores e fun-
para todos e não para pessoas deficientes? cionários preparados para lidar com situa-
Pois para acabar com o preconceito é preciso ções inusitadas. Por exemplo, um aluno que
que as pessoas convivam. Entretanto, tudo necessita de ajuda para usar o banheiro ou
que é novo ou diferente tende a ser rejeitado, outro que prefira estar a maior parte do tem-
então a partir do momento em que as crian- po fora da sala de aula (RAMOS, 2006, p. 13).
ças passam a conviver elas começam a per-
ceber semelhanças e não as diferenças. E por Ainda segundo a autora, é preciso,
esse motivo a iniciativa de um projeto com portanto, em uma perspectiva didática in-
mobílias e materiais ao alcance de crianças clusiva, considerar os diferentes modos e
com deficiência é tão importante. tempos de aprendizagem com um processo
natural dos indivíduos, sobretudo daqueles
Para proporcionar momentos de lazer com evidentes limitações físicas ou mentais.
para as crianças Público - Alvo da Educação
Especial são necessários jardins sensoriais Respeitar as diferenças é tam-
que apesar de serem inclusivos são focados bém respeitar o ritmo de aprendizagem de
na experiência dos sentidos: olfato, tato, vi- cada um.
são, audição e paladar. Também podemos Neste sentido, segundo Araújo (2007)
oferecer um espaço de recreação infantil, no Brasil, as opiniões com relação a infân-
com brinquedos adaptados e que esta adap- cia foram influenciadas, de certa forma, pela
tação esteja ao alcance da criança e de acordo colonização, a qual foi introduzia nesse pro-
com sua necessidade. Os brinquedos devem cesso pessoas com diferentes hábitos, que
atender aos interesses da criança e reforçar tiveram que se adaptar à sua atual realidade.
a ideia de ela assumir alguns desafios, com Com o processo de colonização no início do
segurança. A criança precisa de desafios para século XVI, o Brasil vivencia uma nova reali-
sentir-se estimulada. dade, passando por um processo de povoa-
Na medida em que a criança cresce, mento. Sendo assim juntamente com os imi-
deve ser exposta às novas experiências, brin- grantes que entraram no país naquele século,
quedos e brincadeiras naturais da idade. O vinham seus filhos e outras crianças; sendo
que vale é que a criança se sinta valorizada alguns órfãos e crianças pobres recrutados
pela sua conquista, principalmente, as crian- pela Coroa Portuguesa. As crianças imigran-
ças com deficiência. tes vivenciavam uma difícil e cruel realidade.
No parque, as crianças em geral e as As diferenças econômicas impunham
crianças com deficiência devem ter acesso desde cedo diferentes formas de tratamento
aos brinquedos do parque, outros brinque- às crianças. No Brasil, desde sua colonização
dos inseridos pelos professores nos espaços essa diferenciação no trato às crianças fica
(como nos tanques de areia e outros cantos) evidente nas relações das crianças com o tra-
para que todas as crianças vivam plenamen- balho. Estendia-se somente às crianças ‘bem-
te a sua infância e vivenciem a atividade es- -nascidas’ o privilégio do distanciamento do
sencial da infância: o brincar. trabalho. Entre as crianças cativas o trabalho
era uma prática comum.
Segundo Lopes (2005), as dificuldades
2.1 GESTÃO DOCENTE E INCLUSÃO iniciavam-se nas embarcações que traziam
Michels (2006) entende que a esco- estes imigrantes, onde as crianças, uma vez
la hoje é convocada a ser democrática “para embarcadas, estavam expostas às penosas
todos”, uma escola inclusiva. No entanto, se condições da viagem, pois eram submetidas
não levarmos em consideração os aspectos a trabalhos pesados e muitas vezes destina-
apresentados anteriormente, corremos o ris- das a sobreviverem em péssimas condições,
co de fazermos uma análise ingênua sobre sendo que muitas vezes não resistiam às pu-
seu papel social. Assim sendo, para estudar nições e abusos recebidos.
as escolas e suas organizações, faz-se essen-

254
A criança escrava crescia executando A concepção da infância como um
determinadas funções e atividades que lhe período particular e importante somente
eram destinadas e aos doze anos eram colo- se firmou no século XVII, acompanhada da
cados como adulto, referindo-se ao trabalho preparação de uma teoria filosófica sobre a
e a sexualidade e em todos os sentidos da individualidade infantil, que tornou viável o
vida adulta. aparecimento de uma psicologia da criança
e de seu desenvolvimento. Assim, para Ariés
Porém as crianças brancas, principal- (1981), o reconhecimento da infância inicia-se
mente as mais abastadas, eram entregues às no século XIII e aumenta no XIV e XV, tornan-
amas de leite logo após o nascimento, sendo do-se relevante nos fins do século XVI e du-
que após os seis anos de idade, no caso dos rante o XVII ao tratar da concepção de infân-
meninos, iniciavam os estudos no aprendiza- cia. Durante o século XVII a palavra infância
do do latim e de boas maneiras nos colégios assumiu sua significação na modernidade,
religiosos, que fazia parte de uma prepara- referindo-se à criança pequena mais fre-
ção para entrar no mundo dos adultos, sem quentemente. Neste sentido, conforme este
nenhuma preocupação com o sentimento da pensamento, a criança é entendida como um
criança, que tinham até então uma infância ser que tem um importantíssimo papel para
bem curta. Dessa forma, pode-se então per- a sociedade, podendo ser educado. Reconhe-
ceber que a construção da concepção de in- cida as especificidades da infância, busca-se
fância, que estava sendo firmada no século então desvendá-la e compreendê-la para po-
XVII, se mostrava diferencialmente conforme der educá-la.
a realidade econômica da criança. Com o
passar da Modernidade, por razão das mu- O reconhecimento da infância surgiu a
danças estruturais na sociedade, a situação partir do século XVII, quando então a criança
da criança pobre e desvalida foi ficando mais foi percebida como alguém que precisava de
clara, principalmente a partir do século XVIII tratamento especial, desta forma as crianças
com o crescimento e fortalecimento da socie- deixaram de ser misturadas aos adultos.
dade industrial.
Nesse contexto aparecem no Brasil as
Segundo Ariés (1981), a aparição da primeiras iniciativas de atendimento à crian-
criança como parte da sociedade acontece de ça abandonada, instalando-se as Rodas dos
forma paulatina durante os séculos XII e XVII, Expostos nas Santas Casas de Misericórdia.
o autor destaca esse fator através do estudo A roda era de um espaço no qual os bebês
de temas metafísicos religiosos presentes na podiam ser deixados e seriam entregues à
iconografia medieval. No início a criança apa- caridade sem a identificação materna. Com
rece em símbolos religiosos representando a expansão das grandes cidades, da indus-
os anjos e o menino Jesus, depois retratan- trialização e da pobreza no Brasil, surge a
do à infância da Virgem Maria e dos outros urgência no sentido de cuidar da criança. As
santos. Nos séculos XV e XVI, a criança apa- crianças passavam a ser um problema social
rece em retratos reais que são encontrados do Estado. Assim foi se firmando a convicção
inicialmente nas esfinges funerárias. da necessidade de políticas e legislações es-
pecíficas para a infância.
“A aparição da infância ocorreu em
torno do século XIII e XIV, mas os sinais de A dura realidade da grande maioria
sua evolução tornaram-se claras e evidentes, das crianças brasileiras e as implicações so-
no continente europeu, entre os séculos XVI ciais dessa situação, associada às pressões
e XVIII no momento em que a estrutura social estabelecidas pelos mecanismos internacio-
vigente (Mercantilismo) provocou uma alte- nais, impulsionaram as ações de atendimen-
ração nos sentimentos e nas relações frente tos às crianças e adolescentes por parte do
à infância” (CARVALHO, 2003, p. 47). poder público. Neste sentido, as medidas de
atendimento às crianças vão tornando-se
Para Heywood (2004) foi no século emergenciais e passam a ser concretizadas
XVIII que surgiu um sentimento de que as no início do século XX.
crianças são especiais e diferentes, e, portan-
to, são consideradas dignas de ser estudadas De acordo com Kuhlmann (1998), po-
por si mesmas. Como pudemos constatar, a demos compreender que toda criança tem
forma como a infância é observada na atua- infância, porém não se trata de uma infância
lidade é um reflexo das constantes transfor- idealizada, e sim concreta, histórica e social.
mações ocorridas ao longo dos séculos pelas A questão central não é se a criança teve ou
quais passamos, por isso é de extrema im- tem infância, mas sim compreendermos se a
portância nos dar conta destas transforma- criança vivenciou ou vivencia a mesma.
ções para compreendermos a imensidão que
a infância ocupa na sociedade atual. A concepção de infância, então, con-
figura-se como um aspecto importante que
Este percurso, segundo Bujes (2001) aparece e que torna possível uma visão mais
de certa forma, só foi possível porque a so- ampla, pois a ideia de infância não está uni-
ciedade modificou a maneira de pensar, e to- camente ligada a faixa etária, a cronologia, a
dos compreenderam o que é ser criança, e uma etapa psicológica ou ainda há um tem-
a dimensão de valor que é necessário dar a po linear, mas sim a uma ocorrência e a uma
este momento específico da infância. história.

255
Neste sentido considerar a crian- senso evita a tentativa de corrigir erros quan-
ça hoje como sujeito de direitos é o marco do tratamos indevidamente desiguais como
principal de toda mudança legal conquistada iguais estabeleceu mais desigualdade. Para
ao longo do tempo, porém antes dessa mu- haver igualdade de ações é necessário que
dança podemos perceber que muitas coisas o professor una um equilíbrio entre conheci-
aconteceram, muitas lutas e desafios foram mento, preparo e amor (CUNHA,2015).
travadas no decorrer da história para que se
chegasse a concepção atual. Para Cunha (2015), o docente observar
seu aluno para entendê-lo e conhecê-lo suas
Para Carvalho (2011), as escolas in- qualidades e limitações.
clusivas são para todos e devem garantir o
acesso de atendimento educacional e sua ci- Produz e constrói um histórico com
dadania. Ela ressalta ainda que as outras mo- ajuda da família com elementos que vão dar
dalidades de educação inclusiva não devem subsídio para melhor compreensão do edu-
ser ignoradas. cando e o trabalho pedagógico.
Para Cunha (2015), não podemos falar Itens a serem registrados do apren-
de inclusão escolar se não falarmos, primei- dente:
ramente, da inclusão familiar, pois não há ● Motivação
como afirmar a existência de uma inclusão
social, se ela não ocorrer na família e na es- ● Ritmo de trabalho
cola. Mesmo sabendo que as pessoas com ● Persistência no esforço
necessidades especiais ou com característi-
cas específicas trazem uma grande carga de ● Postura diante dos erros e difi-
isolamento por serem classificados como “di- culdade
ferentes”.
● Capacidade de paciência
Para superarmos este preconceito da
exclusão é necessário que haja alterações ● Comportamento diante mudan-
no seio familiar. A atenção escolar a respeito ças
dos impactos que os alunos com caracterís- ● Habilidade nos trabalhos
ticas especiais produzem na vida familiar é
primordial para o atendimento das dificulda- ● Organização
des de aprendizagem que implica um olhar
extensivo à família. ● Cumprimento de tarefas
Além disso, o lar deve possuir uma ● Participação
extensão pedagógica, começando pelos fa- ● Autonomia
miliares, para desviar a culpa e o medo, pro-
tegendo-os contra o desânimo e garantindo ● Criatividade
boas e otimistas expectativas.
● Capacidade simbólica
Segundo o autor, é na família que o
aluno tem o primeiro contato com as regras ● Comunicação
de comportamento social. Quando o aluno ● Linguagens
chega à escola desprovida dessa primeira
experiência, todas as horas gastas e os con- ● Vínculos
teúdos curriculares ficam sem sentido para ● Interesses
ele. Por outro a escola precisa compreender
a família, seus anseios e inseguranças, sen- ● Desenvolvimento emocional
do assim para ter um bom desempenho pe-
dagógico é essencial que haja compreensão ● Percepção lateral
mútua. As reuniões periódicas com os pais, ● Desenvolvimento cognitivo
os relatórios, as trocas de informações e ob-
servações sistemáticas de possíveis exames ● Habilidades motoras e visório-
médicos laboratoriais e toda a terapia medi- -motoras
camentosa deverão ser de conhecimento do
professor para fornecer uma ajuda substan- ● Dificuldades e possibilidades
cial na rotina de ambos. motoras, cognitivas e sociais.
O autor explica que o aprendizado tor- Com esses itens possibilita a constru-
na-se difícil quando a escola e a família não ção do histórico e do trabalho pedagógico a
estão em acordo. Quanto mais harmoniosos ser desenvolvido com o educando, porém a
forem os laços de convivências maiores será observação não pode ser confundida com
a interação do aluno com o seu entorno, que avaliação, pois a avaliação com precisão só
o ajudará na sua aprendizagem. pode ser feita depois de muita observação e
registro, tendo uma qualidade metodológica
Nas relações entre a família e a escola (CUNHA, 2015).
é necessário a cautela e o bom senso para
que não trabalhemos com o excesso de cui-
dado, da mesma forma a prudência e o bom

256
Mediação Pareamentos
Mediar é fazer relação entre o aluno e ● Podem ser usados no parea-
o saber a ser conquistado. É a transformação mento figuras e nomes, objetos e nomes, pa-
do ensinar em prática docente. lavras e cores, números e letras, assim várias
possibilidades de suporte ao professor e à
O conhecimento precisa de uma re- ludicidade do aluno, explorando o concreto e
lação entre o sujeito e objeto, surgindo a in- o sensorial.
teração dos dois. Para Vygotsky, a mediação
deve ser valorizada, e com isso a construção
de aprendizagem é feita pelas trocas sociais e
a mediação torna-se muito importante. 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mediador não deve facilitar o apren- O tema do presente trabalho tem
dizado, mas provocar desafios, motivar os como objetivo responder as perguntas perti-
alunos criando vínculo entre o espaço esco- nentes à formação do professor na educação
lar, o aluno e o professor. Deve compreender inclusiva. Nesta investigação, pudemos veri-
que o fazer pedagógico é a prática e combi- ficar quais os métodos e estratégias que os
nada dessas três ações observação, avaliação professores utilizam na rede regular de en-
e mediação (CUNHA, 2015). sino para atender os alunos de inclusão es-
colar. Será que o professor da rede regular
de ensino está apto a ensinar e a atender a
demanda de alunos inclusos em sala de aula?
Avaliação
Diante dos autores estudados que tra-
Esta é a avaliação formal institucional, tam sobre a inclusão, verificamos que há um
além de ser de caráter mediador e formativo, iato entre o discurso colocado nas páginas do
esta avaliação tem como objetivo compre- livro e a realidade do ensino e do atendimen-
ender o comportamento do educando dian- to dos alunos inclusivos.
te dos recursos do ensino e aprendizagem.
Trata-se de uma ação mediadora, segundo A importância deste trabalho é mos-
os escritos de Vygotsky teria que observar trar o conjunto de evidências levantado den-
o comportamento do aluno na zona de de- tro desse campo de pesquisa, aponta para a
senvolvimento proximal, diante da aprendi- necessidade de que deve haver novos olha-
zagem potencial. Na educação especial, uti- res para a prática do professor, dando um
lizamos recursos que vão desde entrevistas sentido mais real e menos discursivo.
com os pais e com o próprio aluno até instru-
mentos pedagógicos dentro da sala de aula, De acordo com as duas professoras
junto com os registros feitos na observação, entrevistadas da rede regular de ensino, pu-
o docente irá encorajar e exercitar o aluno demos averiguar que há um discurso comum
para que possa descobrir suas qualidades e frente à inclusão, demonstrando que tudo
carências, e em cima disso poderá ser traba- está em conformidade com os autores que
lhado de forma multidisciplinar, elaborando falam de inclusão, contrariando a realidade
estratégias de atuação. O professor tem que vivida pelos alunos de inclusão.
descobrir que recurso irá utilizar que este- O conjunto de evidência levantado no
jam vinculadas às possibilidades aprendente campo de pesquisa sobre o tema inclusão na
(CUNHA, 2015). sala de aula, necessita de um estudo mais
Propostas de atividades de avaliação abrangente e um olhar mais específico para
sugeridas por Cunha (2015): Jogos. cada aluno inclusivo. Portanto o professor
precisa ter uma formação e preparação para
● Verificar as relações cognitivas esse campo de atuação. O professor na sua
do educando mediante os desafios que ativi- grande maioria não tem esse preparo, tem-
dade oferece; po e estudo para ensinar o aluno inclusivo. O
plano didático deve ser adequado ao público-
● Proporcionar uma leitura de as- -alvo é reservada as devidas especialidades
pectos relacionados à função simbólica; para o ajustamento das aulas, e oferecendo
● Analisar os conteúdos afetivos e as mesmas atividades para todos.
emocionais, e habilidades de aprendizagem. Ninguém negará que o professor dian-
Desenhos te da inclusão, precisa do respaldo da dire-
ção da escola, que deve trabalhar com um
● Apurar os vínculos afetivos e modelo de gestão escolar participativo e que
os interesses do aprendente e relacionando acolhe a família para que haja uma efetiva in-
com a escola, família e grupo social. clusão.
● Analisar a maturidade emocio- Sem essa participação o professor fica
nal, os aspectos motores e cognitivos por limitado na atuação junto ao seu aluno e que
meio da produção gráfica; muitas vezes só contará com esse apoio ao
● Investigar os aspectos ligados à longo da sua vida.
subjetividade. Os resultados obtidos mediante o es-

257
tudo realizado com embasamento teórico e dados, identificamos que a inclusão é algo
as respostas das entrevistas, nos diz que há muito complexo e que os motivos que levam
dois tipos de professores, o não comprome- a inclusão escolar muitas vezes passam ape-
tido e o comprometido com a inclusão. O não nas pela obrigatoriedade imposta pela lei. A
comprometido apenas aceita o aluno inclusi- capacitação e qualificação docente por sua
vo pois é algo que vem imposto a ele e tem vez, foram respondidas tanto pelos teóricos
a convicção de que esse aluno não terá ne- como pelas respostas das professoras das
nhum progresso estando em sala ou não. Já escolas A1 e B2. Em suma, o melhor caminho
o professor comprometido possui uma visão para a reflexão sobre a formação docente
ampla sobre a inclusão e consegue planejar dentro da inclusão, passa por dois momen-
uma proposta pedagógica condizente com o tos, o do professor comprometido que real-
aluno inclusivo. Temos, portanto que separar mente busca sua capacitação dentro da área
os discursos pró e contra inclusão para não inclusiva e, portanto, faz a diferença dentro
incorrermos no erro de julgar um único olhar da sala de aula quando apoiada pela gestão
sobre a inclusão colocando-o como um pen- escolar e aquele professor que inclui na for-
samento geral. ma obrigatória da lei e não pensa em capa-
citar-se para melhorar sua prática e incluir o
Conforme pontuado no referencial te- aluno efetivamente.
órico, verificamos que a inclusão não se faz
apenas por força de uma lei, ela se define na Para terminar concluímos que nossos
medida em que a realidade vivida pelo alu- objetivos foram alcançados dentro da pes-
no se efetive junto ao aprendizado adquirido quisa, pois confrontando as evidências e a te-
dentro da sala de aula. O que foi verificado oria estudada, conseguimos compreender a
durante a pesquisa é que na maioria das es- inclusão dentro de um contexto geral, e que
colas a inclusão é vista apenas como um meio o caminho ainda é longo, pois ainda estamos
de socialização do aluno, e que isso por si só presos a ideia de uma inclusão baseada na
já bastaria para a efetivação dessa inclusão. obrigatoriedade da lei.
Mediante a entrevista realizada com Enfim é preciso muito mais que uma
as professoras, percebemos que a inclusão é lei para que a inclusão se torne uma realida-
um desafio muito grande, e que nem todos de digna e que dê ao aluno de inclusão o me-
estão preparados ou querem estudar mais recido olhar que ele mereça.
sobre o assunto.
Conclui-se que é necessária a realiza-
Nossa hipótese está ligada ao mundo ção de pesquisas mais abrangentes e apro-
da inclusão e as relações que os docentes fundadas, com amostragem mais significati-
estabelecem com esse tema. Também abor- va para que resultem em ações práticas no
damos como o docente pode aperfeiçoar a âmbito da inclusão.
sua prática para trabalhar com os alunos in-
clusivos e se a formação docente suprir as
necessidades práticas que ele precisa para REFERÊNCIAS
que obtenha resultados positivos com seus
alunos de inclusão. BRASIL, Atendimento Educacional Es-
pecializado: Brasília 2007.
As hipóteses são confirmadas, dian-
te das respostas obtidas pelas professoras, BRASIL, Revista da Educação Especial/
que afirmam conhecer a inclusão, porém são Secretaria da Educação Especial v. 1 n. 1 out
negadas quanto a hipótese de que elas não 2005-Brasília 2008.
pensam em inclusão, pois isso faz parte da CARNEIRO, M.A. O acesso de alunos
realidade da escola. Com relação ao aperfei- com deficiências às escolas e classes comuns:
çoamento da prática pedagógica, a hipótese possibilidades e limitações .4. ed. Petrópolis:
levantada é confirmada nas respostas das Vozes, 2013.
duas professoras pois elas admitem que há a
necessidade de aperfeiçoamento dos profes- CARVALHO, R.E. Educação inclusiva:
sores com cursos de especialização para se com pingos nos “is”.8. ed. Porto Alegre: Me-
obter um olhar mais direto para essa prática, diação, 2011.
corroborando com a hipótese de que a for-
mação docente é insuficiente para se traba- CUNHA, C. A práticas Pedagógicas na
lhar com a educação inclusiva. Educação Inclusiva. 5. ed. São Paulo: 2015.
O objetivo da presente pesquisa, era DUEK, V.P. Formação continuada: aná-
verificar as dificuldades encontradas na for- lise dos recursos e estratégias de ensino para
mação docente na educação inclusiva bem a educação inclusiva sob a ótica docente.
como os principais motivos da inclusão, a ca- Educação em Revista. Educ. rev. vol. 30 n.2
pacitação e qualificação da prática docente e Belo Horizonte, April/June, 2014.
a reflexão sobre qual melhor caminho que a FIGUEIREDO, R.V. de. A formação de
formação docente terá dentro da inclusão. professores para inclusão dos alunos no es-
Os resultados levam a crer que os paço pedagógico da diversidade. In: MANTO-
objetivos pretendidos, foram alcançados AN, M.T.E.(Org). O desafio das diferenças nas
mediante os embasamentos teóricos estu- escolas.5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. cap.8,

258
p.141-145.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Ma-
rina de Andrade. Fundamentos de metodo-
logia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
297 p. ISBN 85-224-5758-8.
MACHADO, R. Educação inclusiva: revi-
sar e refazer a cultura escolar. In: MANTOAN,
M.T.E.(Org). O desafio das diferenças nas es-
colas. 5.ed. Petrópolis: Vozes, 2013.Cap. 5, p
.69-75.
MANTOAN, M.T.E. Inclusão escolar: O
que é? Por quê? Como fazer? 2. ed. São Paulo:
Moderna, 2006.
MANTOAN, M.T.E.et al. A integração
de pessoas com deficiência. São Paulo Mem-
non,1997.
MARTINS, L.M. O Legado do século XX
para a formação de professores. In: MAR-
TINS, L.M.; NEWTON, D. (Orgs.) Formação
de Professores: Limites contemporâneos e
alternativas necessárias. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2010.
MAZZOTTA, M.J.S. Educação Especial
no Brasil. História e políticas públicas. 5. ed.
São Paulo: Cortez, 2005.
MICHELS, M. H. Gestão, formação
docente e inclusão: eixos da reforma edu-
cacional brasileira que atribuem contornos
à organização escolar. Revista Brasileira de
Educação v.11 n. 33 set/dez. 2006.
RAMOS, R. Passos para a INCLUSÃO. 3.
ed. São Paulo: Cortez, 2006.
RAMOS, R. Passos para a INCLUSÃO. 4.
ed. São Paulo: Cortez,2008.
RAMOS, R. Passos para a INCLUSÃO. 5.
ed. São Paulo: Cortez, 2010.
SANTOS, M. T. da C. T. dos. Inclusão
escolar: desafios e perspectivas. MANTOAN,
M. T. E. (Org). O desafio das diferenças nas
escolas. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. Cap. 8,
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UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL
PAULISTA. Programa de Formação Continua-
da de Professores na Educação Especial. São
Paulo, 2008.

259
OS CAMINHOS PARA A EQUIDADE
GRAZIELLA MELITO FACCI

RESUMO inclusão educacional, especialmente no ensi-


no superior, uma vez que algumas delas se
A inclusão e os caminhos para equida- baseiam em políticas compensatórias que se
de dizem respeito à administração, alteração traduzem em bolsas de estudo, entre outras
e ajuste das instituições de ensino avançado medidas, tentando corrigir as disparidades
às várias barreiras de aprendizado e envol- de um sistema econômico e social desigual.
vimento da população estudantil, com o ob-
jetivo de conceber processos de formação Portanto, há um discurso bastante
abrangente em programas acadêmicos e que ambíguo e pouco comprometimento com o
estes incentivem a formação de professores ensino superior. Verifica-se que as univer-
inclusivos: gerar processos de investigação sidades continuam a conceber o estudan-
sobre o tópico da instrução aberta e qualida- te universitário como um "herdeiro" de um
de educativa com uma abordagem inclusiva. patrimônio cultural que conhece e se apro-
A instrução aberta envolve uma perspectiva pria de códigos hegemônicos, o que é abso-
distinta da instrução comum baseada na di- lutamente irrealista. Assim, os discursos, as
versidade e não na uniformidade, ou seja, as linguagens, assim como as metodologias e
instituições de ensino avançado devem in- didáticas, reproduzem desvios e efeitos pa-
centivar e enaltecer a variedade cultural de radoxais.
seu corpo estudantil para encorajar sua par-
ticipação como indivíduos com direitos. A inclusão é um desafio que, ao ser
devidamente enfrentado pela escola comum,
Palavras-chave: Aquisição de conheci- provoca a melhoria da qualidade da educa-
mento; Ensino Aberto; Capacitação. ção básica e superior, pois para que os estu-
dantes com e sem deficiência possam exer-
cer o direito à educação em sua plenitude, é
INTRODUÇÃO indispensável que essa escola aprimore suas
práticas, a fim de atender as diferenças. (FÁ-
É imprescindível abordar e compreen- VERO, 2007, p.40)
der o conceito de educação inclusiva e suas
dimensões, a fim de evitar cair em interpre- As instituições de ensino superior têm
tações equivocadas. Nesse contexto, a inte- enfrentado o desafio da disparidade e da
gração educacional promove a identificação dependência, implementando uma varieda-
dos obstáculos ao aprendizado e a participa- de de mecanismos visando à inclusão. Entre
ção de um determinado grupo social em sua eles, ampliar a oferta de cursos, dentro da
respectiva situação de aprendizagem na sala lógica do mercado, flexibilizar os critérios de
de aula. Trata-se de uma forma de educação admissão, oferecer bolsas e auxílios institu-
direcionada a uma parcela minoritária da cionais, propiciar tutoria e aconselhamento.
população estudantil, que incorpora os direi- No entanto, a maior oportunidade de aces-
tos constitucionais às políticas e estratégias, so às universidades não conseguiu superar a
definindo seu propósito e refletindo sobre o desigualdade e não resultou em uma maior
processo de ensino-aprendizagem-avaliação diversidade cultural.
para diferentes grupos populacionais, identi- Portanto, a inclusão refere-se ao exer-
ficando obstáculos ao aprendizado e garan- cício do acesso universal para jovens que,
tindo atenção à diversidade. historicamente, foram privados da oportu-
Os princípios dos direitos humanos nidade de ingressar no ensino superior. Atu-
estabelecidos na Convenção das Nações Uni- almente, essa questão - que aparentemente
das sobre os Direitos da Criança de 1989 e na foi resolvida - é deixada para diversas entida-
Declaração e Plano de Ação de Salamanca da des com diferentes ofertas, porém, a perma-
UNESCO de 1994 contribuem para fortalecer nência desses jovens não é necessariamen-
o conceito de educação inclusiva. Seu obje- te mediada por políticas e mecanismos que
tivo é promover o respeito ao direito à edu- permitam que eles compreendam os novos
cação dos alunos que enfrentam qualquer códigos e linguagens.
tipo de obstáculo ao aprendizado, facilitando Dessa forma, práticas e estilos de en-
espaços de diálogo entre os grupos sociais sino continuam sendo reproduzidos como se
que ingressam nas instituições de ensino su- estivéssemos lidando com "herdeiros". Além
perior, sejam elas públicas ou privadas, com disso, há uma discriminação prévia em rela-
o intuito de promover o conhecimento e ava- ção a esses jovens em comparação com es-
liar sua condição étnica, social, política, eco- tudantes de instituições públicas ou com for-
nômica, cultural, linguística, física e geográfi- mação mais privilegiada. O resultado disso
ca, entre outras. é a frustração e o desespero dos jovens que
Ao fazer um diagnóstico, percebe-se ingressam no ensino superior em busca de
que nas últimas décadas houve uma fragi- novas oportunidades, mas acabam desistin-
lidade nas políticas públicas relacionadas à do devido aos baixos retornos e enfrentando

260
uma grande divisão. Portanto, além de per- o reconhecimento do direito de cada pessoa
petuar a situação de desigualdade, há divi- ser diferente e exercer essa individualidade.
sões contínuas e sonhos não realizados. Quando esse direito é aberto às diferenças, a
amplitude da experiência humana é amplia-
A inclusão, então, exige compromissos da, permitindo maior pluralidade e liberdade
éticos tanto das instituições de ensino supe- de escolha. Podemos entender a diversidade
rior quanto do Ministério da Educação e dos através de diferentes metáforas. Uma delas
indivíduos, pois os jovens e suas famílias de- é o papel rasgado e amassado, onde as pos-
positam confiança e esperança na mobilida- sibilidades de reconfiguração são limitadas.
de social que nunca chega, já que a educação Outra é o espelho quebrado, onde as cone-
está nas mãos do mercado. A universalização xões são interrompidas e não há coerência.
do ensino superior exige, como imperativo Há também o modelo do quebra-cabeça,
moral, a regulamentação das universidades, onde a integração é ortodoxa, permitindo
a revisão dos currículos e a monitorização pouca margem para inovação e melhoria. Em
contínua de processos de qualidade e rele- seguida, temos a holografia, onde cada par-
vância de gestão que evidenciem políticas e te reflete a imagem do todo. Por fim, encon-
dispositivos adequados. tramos o caleidoscópio, onde cada revelação
Dessa forma, a entrada de jovens "di- resulta de um jogo multifatorial de possibili-
ferentes" no ensino superior requer uma mu- dades amplamente abertas. Acredita-se que
dança nas abordagens de discussão, situan- a diversidade e a inclusão que buscamos se
do e imaginando uma educação que leve em aproximam mais dos modelos de holografia
consideração as diversidades sociais presen- e caleidoscópio, onde a integração é flexível e
tes nas instituições de ensino superior. Isso propicia margens para inovação e melhoria.
exige o reconhecimento de que transforma- A educação desempenha um papel
ções têm ocorrido nos espaços educacionais, fundamental na capacitação dos indivíduos
tanto em termos de mapeamento quanto na para participar e promover esses processos
emergência de novos atores sociais, o que de renovação e enriquecimento cultural. Ela
implica um novo arquétipo de gestão e, por- valoriza as respostas estabelecidas pela cul-
tanto, a definição de objetivos com outros tura, mas também estimula o questionamen-
princípios. Portanto, é necessário exigir siste- to e a formulação de novas perguntas diante
mas educacionais que se adaptem de forma de desafios inéditos. Portanto, a educação
pertinente aos contextos e demandas cultu- não pode se isolar da interação ativa com as
rais, concebendo uma nova abordagem que, complexas e diversas condições da realidade.
além da preocupação com o conhecimento e Assim como a cultura, a educação está em
as habilidades, valorize a preocupação com constante reavaliação, baseada em respos-
os indivíduos que ingressam nesse ambiente. tas abertas que, quando esgotadas, geram
Exercer ou direcionar a educação re- novas perguntas.
quer necessariamente que ela seja inclusiva O livre questionamento político tem se
e que avance na direção da educação para consolidado como uma ferramenta de inclu-
todos. Essa abordagem deve assumir a for- são. No entanto, a inclusão não pode se limi-
ma de uma formação relevante, adequada e tar apenas ao acesso à educação. É necessá-
contextualizada, levando em consideração as rio considerar várias dimensões da inclusão,
diferenças contextuais e culturais, e contem- levando em conta fatores sociais, socioeco-
plando metodologias de ensino e ritmos de nômicos, realidade familiar, crenças, expec-
estudo apropriados. tativas dos alunos, bem como as barreiras
econômicas, acesso à informação, capital
social e cultural, redes de apoio e oportuni-
A IGUALDADE NA EDUCAÇÃO dades de emprego. Do ponto de vista edu-
A igualdade na educação implica em cacional, é importante considerar a trajetória
garantir que todos tenham acesso sem dis- do aluno desde a pré-escola até o ensino mé-
criminação, promovendo a inclusão e reco- dio, identificando e superando barreiras de
nhecendo as diferenças como elementos en- admissão, desafios de retenção e garantindo
riquecedores de uma sociedade mais justa e uma formação adequada e oportuna.
democrática. Essa demanda social tem sido O que vem antes requer a implementa-
impulsionada pelos próprios estudantes, que ção de capacitação da sociedade, alterações
através de movimentos sociais, têm levanta- estruturais e transformações profundas na
do discussões sobre política no ensino supe- maneira de compreender o mundo. Levan-
rior. do em consideração todos esses elementos
A diversidade é a manifestação plural mencionados e outros que surgem, a educa-
das diferenças, e não deve ser vista como ne- ção deve se mover em direção a um conceito
gação, discriminação ou exclusão, mas sim abrangente de inclusão, o que requer o su-
como o reconhecimento de que todos fazem porte de políticas públicas e uma gestão ins-
parte de uma mesma comunidade que nos titucional adequada.
inclui. É a aceitação do outro, possibilitando A inclusão como prática educacional
a reciprocidade, complementaridade, corres- tornou-se um tema de pesquisa relevante
ponsabilidade e integração. A diversidade é no contexto brasileiro. Conforme o artigo

261
3º da Declaração de Jomtien (WCEFA, 1990), e integração de pessoas com necessidades
é necessário adotar medidas que garantam especiais", prioritariamente, nos cursos de
o acesso equitativo à educação para todos, Pedagogia, Psicologia e em todas as gradu-
especialmente para aqueles que possuem ações.
formas únicas de desenvolvimento e que
estiveram excluídos de oportunidades de Art. 2º Recomendar a inclusão de con-
aprendizado por muitos anos. teúdos relacionados aos aspectos Ético-Polí-
tico-Educativos da Normalização e Integração
O Plano Decenal de Educação para das Pessoas com Necessidades Especiais nos
Todos (BRASIL, 1993), a Declaração Mundial cursos do grupo de Ciências da Saúde (Edu-
de Educação para Todos (WCEFA, 1990) e o cação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisiote-
documento de Salamanca (UNESCO-MEC, rapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição,
1994), assim como a Lei de Diretrizes e Bases Odontologia, Terapia Ocupacional), o curso
da Educação Nacional (BRASIL, 1996), reafir- de Serviço Social e outros cursos superiores,
mam os princípios da escola inclusiva, defen- de acordo com suas especificidades.
dendo a matrícula de alunos com deficiência,
preferencialmente, em escolas regulares. Art. 3º Recomendar para manutenção
Esses movimentos demandam esforços por e ampliação dois cursos complementares, de
parte dos governos para implementar ações: graduação e de especialização organizados
para as diversas áreas da Educação Especial
-[...] dar a mais alta prioridade política (BRASIL, 1994).
e organizacional à melhoria de seus sistemas
educacionais para que possam incluir todas Para reiterar as recomendações do
as crianças, independentemente de suas di- decreto, em 20 de dezembro de 1999, foi pro-
ferenças ou dificuldades individuais; mulgado outro número 3.298, que destaca,
no parágrafo segundo do artigo 27, as com-
- adotar por lei ou como política, o petências do Ministério da Educação:
princípio da educação inclusiva que permite
que todas as crianças sejam matriculadas em Art. 2º Ministério da Educação, no âm-
escolas regulares, a menos que haja fortes bito de sua competência, expedirá instruções
razões para agir de outra forma; para que os programas de ensino superior
incluam em seu conteúdo curricular itens ou
- Desenvolver projetos demonstrati- disciplinas relacionadas às pessoas com defi-
vos e estimular intercâmbios com países que ciência (BRASIL, 1999).
tenham experiências de escolarização inclu-
siva; A partir desse documento, foi apro-
vada a Lei 10.172 (Brasil, 2001a) em 9 de ja-
- Garantir que, no contexto da mudan- neiro de 2001, estabelecendo quais aspectos
ça sistemática, os programas de formação de da educação especial deveriam ser incorpo-
professores, tanto inicial como continuada, rados nos diferentes cursos de graduação,
sejam orientados para atender às necessida- como parte do processo de formação de pro-
des da educação especial em escolas inclusi- fessores para uma escola inclusiva. Apoian-
vas (UNESCO, 1994, p.1-2, Declaração de Sa- do essa proposta, a portaria interministerial
lamanca e Linha de Ação sobre Necessidades 555, de 5 de junho de 2007, destaca especial-
Educativas Especiais). mente a "[a] formação de professores para
atendimento educacional especializado e ou-
Nessa visão, o sistema educativo do tros profissionais da educação para inclusão
Brasil deve ter a capacidade de atender à di- escolar; articulação entre diversos setores na
versidade de aprendizagem de todos os alu- implementação de políticas públicas" (BRA-
nos em uma sala de aula regular, incluindo SIL, 2007).
aqueles com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento (TGD) e altas habilida- De modo geral, os professores recém-
des/superdotação, termo oficial da educação -formados enfrentam dificuldades ao lidar
especial (BRASIL, 2007). com a presença de alunos com deficiência na
sala de aula.
Com o objetivo de garantir uma for-
ESTRUTURA DO SISTEMA EDUCACIO- mação docente que inclua os alunos da edu-
NAL BRASILEIRO cação especial em todas as atividades esco-
Ao abordar as formas de estrutura- lares, é necessário considerar um conjunto
ção do sistema educacional brasileiro, Bueno de conteúdos específicos que auxiliem no
(2002) destaca a importância das políticas pú- exercício profissional nas escolas regulares.
blicas para a formação de professores, a fim Algumas políticas públicas têm orientado a
de superar as formas de exclusão presentes formação de professores na perspectiva da
nas escolas. Nesse sentido, observa-se no educação inclusiva e, embora de forma gra-
contexto nacional brasileiro a portaria inter- dual, existem medidas nesse sentido: o ar-
ministerial nº 1.793, de dezembro de 1994, tigo 29, parágrafo II, da lei nº 7.853 (BRASIL,
que faz recomendações: 1989), de 24 de outubro de 1989; o Decreto
3.298 (BRASIL, 1999), de 20 de dezembro de
Art. 1º [...] incluir a disciplina "aspec- 1999, que regulamenta a Política Nacional de
tos ético-político-educativos da normalização Integração da Pessoa com Deficiência, e o Re-

262
gulamento de Proteção: no contexto do desafio de superar as dispari-
dades e reconhecer e respeitar a diversidade
Art. 29. As escolas e instituições de (BRASIL, 2010, p. 31).
educação profissional oferecerão, se neces-
sário, serviços de apoio especializado para Posteriormente, o mesmo documento
atender às peculiaridades das pessoas com declara:
deficiência, tais como:
[...] os sistemas educativos devem ga-
I - adequação de recursos pedagógi- rantir a implementação efetiva de uma polí-
cos: material pedagógico, equipamentos e tica educativa como garantia da transversa-
currículo; lidade da educação especial na educação,
independentemente do não funcionamento
II - formação de recursos humanos: desta frequência escolar, independentemen-
professores, instrutores e profissionais espe- te da formação docente. Para isso, propõe-se
cializados; e disseminar uma política voltada para a trans-
III - adequação de dois recursos físi- formação de dois sistemas educacionais em
cos: eliminação de barreiras arquitetônicas, sistemas inclusivos, que contemplem a di-
ambientais e de comunicação (Brasil, 1999: 1 versidade em termos de igualdade, por meio
gritos nossos). de estrutura física, recursos materiais e hu-
manos e apoio à formação, com qualidade
Dentre os referidos documentos, as social, de gestores e educadores em escolas
Diretrizes Curriculares do Curso de Gradua- públicas. Esta deve ter como princípio a ga-
ção em Pedagogia indicam conteúdos especí- rantia dos direitos à igualdade e à diversida-
ficos na formação de professores para aten- de étnico-racial, de gênero, idade, orientação
der às demandas educacionais do referido sexual e religiosa, bem como a garantia de
público (Brasil, 2008), além de prever as se- direitos aos alunos com deficiência. (BRASIL,
guintes funções para o exercício da docência 2010, p.32-33)
(Brasil, 2006):
No entanto, a educação em andamen-
[...] to deve ser uma das alternativas de aprimo-
V- Reconhecer e respeitar as mani- ramento profissional e a oportunidade de
festações e necessidades físicas, cognitivas, capacitar o professor para lidar com as diver-
emocionais, afetivas de dois alunos nas rela- sidades na sala de aula.
ções individuais e coletivas;
[...] A INCLUSÃO E O USO DA TECNOLOGIA
VII - relacionar as linguagens dos dois Grande importância tem sido atribu-
meios de comunicação com a educação nos ída à utilização das tecnologias de informa-
processos didático-pedagógicos, demons- ção e comunicação (TIC) na formação de pro-
trando domínio das tecnologias de informa- fessores para atuar na educação especial. A
ção e comunicação adequadas ao desenvol- reestruturação do sistema educacional, sob
vimento de aprendizagens significativas; a perspectiva da inclusão, surgiu com o ob-
[...] jetivo de garantir recursos, estratégias e ser-
viços alternativos e diversificados para aten-
IX - identificar os problemas socio- der à demanda de alunos que necessitam de
culturais e educacionais com postura inves- atendimento educacional especializado (AEE)
tigativa, interativa e propositiva na fase das (GIROTO, POKER E OMOTE, 2011).
realidades complexas, de modo a contribuir Nessa abordagem, tem sido incumbi-
para a superação das exclusões sociais, étni- da ao professor a tarefa de utilizar diferen-
co-raciais, econômicas, culturais, políticas e tes estratégias e tecnologias de informação e
outras; comunicação. Giroto, Poker e Omote (2011)
[...] também afirmam que, entre as mudanças
que os professores devem incorporar em
X - demonstrar consciência da diversi- sala de aula, destaca-se o uso das TIC, uma
dade, respeitando as diferenças de natureza vez que a legislação assegura aos alunos que
ambiental-ecológica, étnico-racial, de gênero, frequentam salas de recursos multifuncio-
faixes geracionais, classes sociais, religiões, nais - para a oferta do PREPA - ou disponi-
necessidades especiais, opções sexuais e ou- bilidade de diversas tecnologias nas institui-
tras (BRASIL, 2006, p. 2). ções de ensino. Esses autores apontam que
Como um direito social, fortalece, por o uso das TIC é de extrema importância para
um lado, a defesa da educação pública, gra- o desenvolvimento integral dos alunos: "[...]
tuita, secular, participativa, inclusiva e de ex- somos professores a serviço dos milhares de
celência para todos, e, por outro lado, a uni- professores que estão sendo formados para
versalização do acesso, a extensão da carga atuar na rede pública de ensino, mas estão
horária escolar e a garantia de sucesso na cientes disso, sobre [seu] uso, na prática pe-
trajetória educacional de crianças, adoles- dagógica".
centes, jovens e adultos, em todas as fases Isso representa mais uma lacuna no
e modalidades. Esse direito é concretizado

263
processo de formação de professores, pois conteúdos e/ou disciplinas relacionadas aos
eles não estão preparados para trabalhar fundamentos da educação especial, inclusiva
com recursos didático-pedagógicos que pos- e Necessidades Educacionais Especiais (NEE)
sam substancialmente apoiar o desenvol- na formação de professores.
vimento de suas salas de aula e o processo
de ensino-aprendizagem de alunos com
Necessidades Educacionais Especiais (NEE). CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, a Resolução CNE/CP nº 1, de
2006, que estabelece as Diretrizes Curricula- A integração de estudantes com limita-
res Nacionais para o Curso de Graduação em ções e desordens requer uma abordagem co-
Pedagogia (BRASIL, 2006), estipula que o gra- operativa e multidisciplinar. Os professores
duado deve estar apto a utilizar essas ferra- devem colaborar com outros profissionais,
mentas no desenvolvimento de seu trabalho como psicólogos, terapeutas ocupacionais e
educacional. fonoaudiólogos, para garantir que cada alu-
no receba o apoio adequado para alcançar
No entanto, a existência de recursos seu potencial máximo.
tecnológicos na escola, bem como a amplia-
ção do acesso a eles, não garante seu uso Além disso, os educadores devem
adequado pelo professor, que muitas vezes estar cientes dos recursos disponíveis para
não possui competência para utilizar tais fer- auxiliar na inclusão, como tecnologias assis-
ramentas de ensino. Além disso, os próprios tivas e materiais adaptados. É crucial que os
cursos de Pedagogia não contemplam disci- professores estejam atualizados sobre as leis
plinas que preparem os futuros profissionais e políticas de inclusão, a fim de garantir que
para o uso das TIC em seus currículos (GIRO- seus alunos tenham acesso aos recursos e
TO, POKER E OMOTE, 2011, p. 21-22). serviços a que têm direito.
É importante ressaltar que também Promover uma dinâmica de inclusão
existem alunos com NEE em alguns cursos. educacional e social requer o desenvolvimen-
A pesquisa constatou que os professores do to de planos de ação abrangentes, nos quais
ensino superior tendiam a associar signifi- todos esses elementos se complementem e
cados interligados, na maioria das vezes, a sejam alocados recursos para uma política
ideias, concepções e superstições baseadas de inclusão abrangente, que deve ser respal-
em sentimentos de medo, horror e luto, ou dada por políticas públicas educacionais.
que, segundo a autora, podem desestabilizar Da mesma forma, é necessário abor-
a prática de ensino. dar criticamente a categoria de inclusão em
Continuando o estudo de (2005), é várias disciplinas, pois muitas vezes se refe-
possível identificar que os professores re- re a aspectos socioeconômicos, permitindo
forçam algumas diferenças individuais em a implementação de mecanismos e dispo-
certos alunos, indiretamente estigmatizando sitivos para nivelar ou agir afirmativamente
suas deficiências, como pode ser visto no se- diante de um sistema social extremamente
guinte trecho da entrevista: desigual. Nesse sentido, sua concepção e
prática são corretivas e hierárquicas, ou seja,
[...] tive uma professora que reprovou têm o poder e o capital para incluir.
para eu não reivindicar a sexta série, porque
era bom para mim, porque eu tenho proble- A inclusão exige a adoção de medidas
ma de audição. E que muitas pessoas que que garantam que todas as crianças e jovens
não têm algum tipo de deficiência não rece- tenham acesso a uma educação de qualida-
bem tanto. Eu estava deprimido. Nove pra de, independentemente de suas condições fí-
mim é nota boa, sei que as notas em si não sicas, cognitivas, sociais ou econômicas. Isso
expressam aprendizado, mas eu queria apro- pode envolver a adaptação de materiais didá-
veitar ao máximo, aprender, me aprimorar ticos, a disponibilização de suporte pedagógi-
[...]. (Elaine, uma estudante surda entrevista- co especializado, a promoção de ambientes
da) (GIROTO, POKER E OMOTE, 2011, p. 7). acolhedores e inclusivos, e o aprimoramen-
to da capacitação dos professores para lidar
É essencial que o profissional encar- com a diversidade de seus alunos.
regado de atender a essas pessoas seja ade-
quadamente treinado durante seu processo Essa abordagem não é apenas impor-
de formação, a fim de responder, na prática, tante para garantir que todas as crianças te-
às demandas resultantes das mudanças po- nham acesso a uma educação de qualidade,
líticas em relação à educação inclusiva. Com mas também para promover a igualdade so-
base nessas declarações e nas diretrizes cial e a diversidade cultural. Quando as esco-
constitucionais estabelecidas na legislação las são inclusivas, elas criam ambientes nos
brasileira, este estudo teve como objetivo quais as diferenças são valorizadas e respei-
identificar os currículos dos cursos de Peda- tadas, e isso pode ter um impacto positivo na
gogia e outras graduações de acordo com as sociedade como um todo.
disposições da Resolução 5.626/05 (BRASIL,
2005), que exige a inclusão da disciplina de
livro, e a Portaria Interministerial 1.793/94
(BRASIL, 1994), que orienta a inclusão de

264
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CO. 1990.

265
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO DURANTE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
IEDA CRISTINA BENEVIDES

RESUMO jogar. Pode ser qualquer coisa, desde enfiar


a mão no purê de batatas a brincar com vide-
O lúdico tem uma grande importância ogames ou olhar pela janela.
na alfabetização, pois permite que a criança
desenvolva habilidades fundamentais para As crianças não precisam de brin-
a aprendizagem, como a criatividade, a ima- quedos extravagantes ou certificados para
ginação, a curiosidade, a motivação e a au- brincar. Eles precisam de tempo, espaço e
toestima. Além disso, o lúdico permite que liberdade para explorar as ideias que os inte-
a criança aprenda de forma mais prazerosa ressam. Não importa a aparência, quando as
e significativa, o que pode melhorar sua re- crianças brincam, elas aprendem.
tenção de informações e seu engajamento
na atividade de aprendizagem. Brincar é um Durante a brincadeira, as crianças esti-
direito legítimo da infância e representa um cam a imaginação. Eles criam jogos de faz de
aspecto crucial do desenvolvimento físico, in- conta ou se perdem em mundos de menti-
telectual e social da criança. Este artigo pre- ra. As crianças apresentam soluções diferen-
tende ajudar a compreender os benefícios da tes ao mesmo tempo que aumentam a sua
brincadeira e porque ela deve ser parte inte- confiança. Eles fazem suas próprias regras
grante da educação de crianças pequenas. O e aprendem como segui-las ou adaptá-las
brincar como meio ou contexto no desenvol- conforme necessário. Essas são habilidades
vimento da alfabetização precoce tem sido úteis para navegar na vida e desenvolver re-
intensamente investigado nas últimas duas lacionamentos com outras pessoas.
décadas. Durante o artigo pode se notar que O jogo simbólico é a habilidade de
há uma conexão entre o jogo imaginativo e a imaginar um objeto como outro. Por exem-
alfabetização, e também que fatores ambien- plo, um palito, um balde e pinhas podem se
tais físicos e sociais podem influenciar favo- tornar uma colher de cozinha, uma panela e
ravelmente a qualidade do jogo e a aquisição ingredientes saborosos. O jogo simbólico é
da alfabetização durante os primeiros anos. uma parte importante do desenvolvimento
Os autores que corroboram com o tema saudável. Ele desenvolve habilidades de que
observam que ainda existem lacunas no co- as crianças precisam para aprender e resol-
nhecimento e que esta é uma área fértil para ver problemas no futuro. Também melhora
hipóteses que requerem mais investigação e a criatividade, o que contribui para o sucesso
construção de teorias. Além disso, a discus- ao longo da vida de uma pessoa.
são das implicações sugere que esta área de
pesquisa desfruta de uma comunicação dinâ- A brincadeira não estruturada é o mo-
mica com a prática e as políticas na educação mento em que as crianças dirigem suas pró-
infantil e no desenvolvimento. prias brincadeiras. Eles não estão vinculados
a horários ou atividades dirigidas por adultos.
Palavras-chave: Benefícios; Desenvol- Brincadeiras não estruturadas ajudam o cé-
vimento; Infância. rebro da criança a se desenvolver de maneira
positiva. Ele fortalece e aumenta as conexões
neurais no cérebro. Esses são os caminhos
INTRODUÇÃO do cérebro que usamos para pensar.
A instrução direta em habilidades bá- Brincadeiras não estruturadas tam-
sicas de alfabetização é recomendada como bém ajudam a construir e fortalecer o córtex
um complemento às estratégias relacionadas pré-frontal do cérebro. Esta área influencia a
ao brincar, presumivelmente mesmo para forma como a criança aprende, resolve pro-
crianças em risco de não aprender a ler e de blemas e adquire conhecimento sobre o seu
fracasso escolar. ambiente.
As metas de alfabetização precoce Quando os adultos se sentem oprimi-
com pedagogia lúdica são incorporadas a um dos, recuamos para atividades que nos acal-
conjunto mais amplo de metas para a edu- mam. Vamos à academia, cantamos karaokê
cação infantil. A pesquisa em pedagogia lúdi- com os amigos, caminhamos pela vizinhança,
ca busca contribuir com a educação infantil arrancamos as ervas daninhas do jardim ou
para interromper a oscilação do pêndulo en- jogamos um jogo de tabuleiro. Essas ativida-
tre o jogo livre e a instrução direta e outros des são mais do que uma distração. Eles são
métodos formais. uma forma de trazer a diversão de volta às
nossas vidas e nos conectar com as coisas
Brincar é como as crianças aprendem que nos ajudam a aterrar.
sobre o mundo, elas mesmas e umas às ou-
tras. Faz parte do desenvolvimento saudável As crianças são iguais, embora pre-
tanto quanto comer vegetais, ler livros juntos cisem de muito mais brincadeiras. Brinca-
e ter um boa noite de sono. deiras frequentes e diárias podem ajudar a
reduzir a ansiedade, o estresse e a irritabili-
Não existe maneira certa ou errada de

266
dade. Também ajuda a aumentar a alegria e ção infantil. (RCNEI,1998, p.27).
a autoestima.
O lúdico possibilita a construção da
Os adultos que observam as crianças memória do aluno, atenção e outras capaci-
brincando podem ajudá-los a compreender dades. Durante as atividades lúdicas perce-
melhor as emoções, dando-lhes nomes. Por be-se que o aluno expressa com mais intensi-
exemplo, “Parece que você está nervoso por dade suas vontades e ideias no momento das
ir para a escola amanhã”. Ouvir e fazer per- brincadeiras, sendo elevada sua autoestima.
guntas mostra às crianças que os adultos se
importam. Comunica que seus sentimentos e Quando acompanhamos essas mani-
experiências são importantes. festações no espaço educativo verificamos
que as crianças sentem-se mais independen-
O jogo é um excelente professor. Por tes, durante o brincar. Consequentemente,
meio da brincadeira, as crianças aprendem identificamos claramente certas capacidades
a navegar pelo mundo de uma forma que que denotam coragem, liderança, ousadia
possam compreender e processar. Eles ex- por parte de muitas crianças inseridas no
ploram como trabalhar em grupos, compar- contexto das atividades lúdicas.
tilhar, negociar, resolver conflitos e falar por
si próprios. A ludicidade na Educação Infantil cons-
tituiu-se nos últimos anos como uma rica fer-
As crianças nascem programadas para ramenta de elevar o gosto pelo aprender as-
aprender a linguagem. Desde o nascimento, sim como pelo desenvolvimento integral do
eles desenvolvem habilidades de linguagem ser infantil.
e alfabetização por meio de brincadeiras e in-
terações. Bebês e crianças aprendem novas Para brincar é preciso que as crianças
palavras quando os adultos descrevem o que tenham certa independência para escolher
veem, ouvem e fazem. Canções e poemas co- seus companheiros e os papéis que irão as-
nectam sílabas a batidas. Isso ajuda as crian- sumir no interior de um determinado tema e
ças a desenvolverem habilidades de escuta e enredo, cujos desenvolvimentos dependem
aprender sobre os sons nas palavras. unicamente da vontade de quem brinca. (RC-
NEI,1998, p. 28).
Através da brincadeira, as crianças
aprendem sobre a estrutura da comunicação. Durante as brincadeiras percebe-se
Eles podem praticar a conversa para frente que os pais, alunos, professores, superviso-
e para trás, mesmo que não consigam falar! res e educadores de um modo geral devem
Compartilhar histórias em livros, oralmente voltar sua atenção para uma educação base-
ou em brincadeiras de faz-de-conta, ajuda-os ada nos princípios de autonomia.
a entender quem são e seu papel na comuni-
dade. As histórias também ensinam como a
linguagem funciona e como as narrativas são EDUCAÇÃO LÚDICA
estruturadas. Anteriormente o papel do professor
Conforme as crianças entram na esco- era transmitir conhecimentos e os educan-
la, brincar continua a ser importante. A pes- dos eram agentes indiferentes da aprendiza-
quisa mostra que os alunos prestam mais gem, ou seja, o ensinar foi confundido com o
atenção ao seu trabalho após um intervalo transmitir, com isto não se levava em conta a
não estruturado para brincar. necessidade real do aluno. Porém hoje o que
se sabe é que a aprendizagem só acontece
em decorrência do ensino, que só acontece
O LÚDICO EM UMA PERSPECTIVA DE pelo processo de busca do conhecimento e
CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DA CRIANÇA quando o educador tem uma ação facilitado-
ra.
O estudo da ludicidade relacionado à
construção da autonomia na Educação Infan- No processo educacional cada aluno,
til é de suma importância para a identidade passa a ser um desafio á capacidade do pro-
da criança. Na atualidade tem-se falado mui- fessor, que fica responsável em despertar
to sobre o brincar na Educação infantil com nele o interesse pela aprendizagem. Sendo o
foco na aprendizagem dos alunos, esque- jogo um instrumento de ensino e aprendiza-
cendo que o brincar também é fundamental gem, neste contexto ele ganha espaço, pois,
para que a criança possa desenvolver-se de permite ao educador a condição de condutor
forma criativa, coletiva e autônoma. De acor- e avaliador desta aprendizagem.
do com os RCN da Educação Infantil: O educar pela via da ludicidade sugere
A brincadeira favorece a autoestima uma nova postura existencial, é preciso que
das crianças, auxiliando-as a superar pro- os educadores reconheçam o real significado
gressivamente suas aquisições de forma cria- do lúdico para aplicá-lo adequadamente, de
tiva. Brincar contribui, assim, para a interio- forma a estabelecer a relação entre o brin-
rização de determinados modelos de adulto, car e o aprender a aprender. (SANTOS, 2001,
no âmbito de grupos sociais diversos. Essas p.15).
significações atribuídas ao brincar transfor-
mam-no em um espaço singular de constitui-

267
À medida que o lúdico mostra a con- REFLEXÕES SOBRE OS JOGOS E AS
tradição entre obrigação e prazer, o faz-de- BRINCADEIRAS
-conta que se interpõe por meio do lazer,
revela a realidade. Por conseguinte, abre Os jogos e as brincadeiras na Educação
possibilidades pedagógicas amplas, pois os Infantil constituem ferramentas de suporte
conteúdos das atividades de lazer podem ser para a aprendizagem da criança e como ins-
altamente educativos. trumento principal do trabalho do professor
durante o processo ensino aprendizagem.
Para o educador as atividades lúdicas
servem como parceiras, na educação infan- Com a ausência dos jogos e das brin-
til, nessa medida, elas contribuem para que cadeiras a criança acabará perdendo etapas
o processo de ensinar se torne agradável e importantes para o seu desenvolvimento,
permita que a criança aprenda de maneira podendo consequentemente desenvolver
espontânea e significativa. A esse respeito, estresse, agressividade e lentidão mental, se-
sua importância, portanto, é evidente e indis- gundo Dante (1998).
cutível, contudo, o fato é saber se de fato os A psicologia provou que a participa-
professores sabem disto, o quanto o teórico ção dos jogos e brincadeiras no cotidiano da
e o pratica das interações lúdicas, nas prá- criança, trazem bons resultados na formação
ticas pedagógicas são essenciais neste pro- do “eu”, ou seja, por meio da brincadeira a
cesso de ensino e aprendizagem. Neste pro- criança além de desenvolver diferentes as-
cesso deve estar pautada sempre a relação, pectos como o afetivo, o social, o físico e o
entre professor e aluno, aluno e aluno e pro- cognitivo, ao mesmo tempo aprende a com-
fessor e funcionário, para que as atividades preender o mundo que a cerca.
pedagógicas desenvolvidas sejam capazes de
atingir o objetivo de ter interações com mais Os jogos e as brincadeiras apresen-
qualidade. tam uma série de alternativas que auxiliam
na construção do conhecimento, nos quais a
Em toda história do homem seja ela criança apropria-se de conhecimento de for-
individual ou coletiva é resultado do seu con- ma muito agradável e interessante.
vívio social, pois o indivíduo cria maneiras de
se relacionar com o mundo. É errôneo base- De acordo com Dante (1998, p. 49):
ar-se apenas no fator biológico, ao tratar de As atividades lúdicas podem contri-
desenvolvimento sem levar em conta os di- buir significativamente para o processo de
versos elementos e ações que são estabele- construção do conhecimento da criança. Vá-
cidas ao longo da vida. Por isto na formação rios estudos a esse respeito vêm provar que
individual de cada um, leva-se em conta sua o jogo é uma fonte de prazer e descoberta
interação com os objetos e com os outros se- para a criança.
res humanos.
Tendo isto claro, o processo de apren- As práticas lúdicas devem oportuni-
dizagem é constante e não um fator isolado, zar o desenvolvimento, a aprendizagem, o
por este motivo, é que cada estágio da vida conhecimento e a interação da criança com
tem desafios que contribui para o seu desen- seus pares e os demais indivíduos com quem
volvimento. Por conseguinte, o ser humano convive. Para garantir que isso aconteça, o
tem necessidade de ter contatos com outras professor deve atentar-se às limitações e
pessoas para acrescentar e/ou construir no- particularidades de cada aluno, consideran-
vos conceitos. do sempre o conhecimento prévio da crian-
ça, por meio de sondagem, para uma ativida-
Portanto as manifestações de intera- de lúdica contextualizada e significativa.
ções só existem por causa de outro ser social, Por meio da brincadeira a criança re-
ou seja, devido as trocas e assim por diante. produz o discurso externo e o internaliza,
Para tratar das interações por meio do lúdico, construindo seu próprio pensamento. Se-
vale ressaltar que o conhecimento não está gundo Vygotsky (1989, p. 87), a “brincadeira
no brinquedo e nem no sujeito, mas na inte- no desenvolvimento infantil é um importante
ração entre ambos. E para formalizar a frase suporte para a mente, contribuindo com as
dita acima, de acordo com o dicionário Auré- diferentes formas de pensar e realizar suas
lio interação significa, “Fenômeno que permi- ações simbolicamente”. Assim a criança se
te a certo número de indivíduos constituir-se diverte, raciocina e aprende de maneira sim-
em grupo, e que consiste no fato de que o ples e descontraída sem perceber cobrança
comportamento de cada indivíduo se torna da sua aprendizagem.
estímulo para outro”. Então interagindo com
os brinquedos ou professores e sofrendo a Piaget (1987, p. 6), faz uma reflexão de
ação destes, a criança tem a oportunidades que “brincando a criança é capaz de assimilar
de ampliar sua capacidade de conhecer, isto o mundo exterior às suas próprias necessi-
é o processo de aprendizagem dades, mesmo sem se adaptar às realidades
que estão a sua volta”. Para esses pesquisa-
dores do desenvolvimento infantil, o brincar
não é simplesmente um passatempo, mas
sim, uma forma de contribuir na formação e
no desenvolvimento psicossocial da criança,

268
ajudando-a adquirir comportamentos que tância da afetividade envolvida nas relações
lhe servirão de base para o desenvolvimento de aprendizagem em sala de aula.
das suas atividades na vida adulta, sejam elas
físicas ou intelectuais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCES- O jogo simbólico por meio do lúdico
SO DO BRINCAR E DO APRENDER propicia uma experiência plena para a crian-
ça em desenvolvimento, seja brincando, jo-
O brincar é uma das atividades funda- gando ou agindo ludicamente, ele estará
mentais da criança. Por meio da brincadeira inteiro e completo nesse momento, e são
ela fala, elabora seus sentidos, busca com- as próprias atividades lúdicas que o conduz
preender o mundo. O professor precisa ter para esse estado de consciência.
sensibilidade ao intervir permitindo que as
crianças possam elaborar através da brinca- Portanto, o lúdico na educação repre-
deira de forma pessoal e independente, suas senta um instrumento potencial para a cons-
emoções, sentimentos, conhecimentos e re- trução do conhecimento, uma vez que possi-
gras. bilita um aprendizado no qual o construir, o
interagir e o vivenciar são apreciados.
Cabe ao professor, por meio da inter-
venção pedagógica, propiciar atividades sig- O lúdico ajuda a criança a expandir seu
nificativas que levem a uma aprendizagem imaginário e desenvolver diversas formas de
de sucesso. Ao se enquadrar à atividade lúdi- aprendizagem. Utilizar jogos e brincadeiras
ca no contexto educacional, o professor deve no cotidiano escolar não é somente uma for-
ter seus objetivos bem claros, segundo Pia- ma de diversão e, sim, um método de apren-
get (1987). dizagem e desenvolvimento, tendo o profes-
sor como mediador e este se utilizando de
O papel do professor durante o brin- planejamentos que auxiliem e estimulem a
car deve ser de integrar o conhecimento es- participação das crianças.
pontâneo da criança ao ensino, dando-lhe
maior significado ao lúdico. Conclui-se então que por meio do lúdi-
co na educação, conseguiremos uma escola
Para que o lúdico tenha lugar assegu- melhor e mais atraente para as crianças, sen-
rado no cotidiano das instituições educacio- do necessário saber como adentrar ao mun-
nais, é fundamental a atuação do professor, do da criança; no seu sonho, no seu jogo e, a
saindo do papel de agente exclusivo de infor- partir daí, jogar com ela.
mação e formação dos alunos, e passando a
desempenhar no contexto escolar uma fun-
ção de extrema relevância que é a de media- REFERÊNCIAS
dor e facilitador de aprendizagens das inte-
rações entre as crianças assim como destas BRASIL. Ministério da Educação e do
com os objetos de conhecimento. Desporto. Secretaria de Educação Funda-
mental. Referencial curricular nacional para
As influências que o professor exerce a educação infantil. Ministério da Educação e
sobre os alunos vão além dos conhecimen- do Desporto, Secretaria de Educação Funda-
tos que transmitem. Implicam na aquisição mental. Brasília: MEC/SEF, 1998. V.2 e V.3
de valores, atitudes, hábitos que na relação
professor-aluno, e vai além da sala de aula BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação.
no processo de construção da personalidade Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1998.
individual e de percepção de mundo. BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Escola
Segundo Morales (2006, p. 22) o pro- infantil: Para que te quero. In: CRAIDY, Car-
fessor pode ser “um bom modelo de identifi- mem Maria;
cação para seus alunos, deixando marcas em DANTE, Luiz Roberto. Didática da ma-
alguma dimensão de suas vidas”. Ele aponta temática na pré-escola: Porque, o que e como
duas características essenciais para ser esse trabalhar as primeiras ideias matemáticas.
modelo de professor: “ser um bom professor São Paulo: Ática, 1998.
e bem aceito pelos seus alunos”.
Ser um bom professor requer conhe- KAERCHER, Gládis E. Educação infantil:
cimento teórico, a competência para ensinar, Para que te quero? São Paulo: Ed. ARTMED,
preocupação com metodologias e a aceitação 2001.
afetiva inserida no convívio harmonioso com KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org).
os alunos, para que haja construção de sabe- Brinquedos e brincadeiras na Educação In-
res e habilidades que valem para uma vida fantil. São Paulo: Ed. Cortez, 2005.
toda e não apenas no momento da aprendi-
zagem. MORALES, Pedro. A relação professor-
-aluno: O que é, como se faz. 6. ed. São Paulo:
Portanto, o professor que quer garan- Edições Loyola, 2006.
tir uma aprendizagem significativa para os
seus alunos precisa ter em mente a impor- OLIVEIRA, Martha Kohl. Vygotsky:

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ZALBAZA, Miguel. A Qualidade em edu-
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270
O BRINCAR É COISA SÉRIA
JOÃO ALEXANDRE DE ANDRADE

RESUMO (crianças de 0 a 1 ano e 6 meses), crianças


bem pequenas (de 1 ano e 7 meses a 3 anos
O presente artigo busca refletir a im- e 11 meses) e crianças pequenas (de 4 anos
portância do brincar para o desenvolvimento a 5 anos e 11 meses) contarão com as condi-
e aprendizagem da criança, na educação in- ções necessárias para que “aprendam em si-
fantil. Ressalta o ato do brincar como signifi- tuações nas quais possam desempenhar um
cativo para a infância, facilitando a constru- papel ativo em ambientes que as convidem
ção da reflexão, autonomia, sentimentos e a vivenciar desafios e a sentirem-se provoca-
criatividade, estabelecendo uma perspectiva das a resolvê-los, nas quais possam construir
da lógica infantil e, dessa forma, auxiliando a significados sobre si, os outros e o mundo
criança a compreender e interagir com a rea- social e natural.” (p.35). Como se vê, a apren-
lidade. Citaremos documentos oficiais que se dizagem acha-se intimamente associada ao
referem a importância do Brincar. brincar na BNCC.
PALAVRAS- CHAVE: Educação; Brincar;
Brincadeiras; Jogos; Desenvolvimento.
BRINCAR É COISA SÉRIA
Antes mesmo de falar, de andar a
INTRODUÇÃO criança aprende a brincar e brincando apren-
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR DE de a conhecer o mundo, a criar o seu univer-
ACORDO COM A BNCC so e se comunicar com ele adquirindo conhe-
cimento.
A Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) é um texto complexo, resultado de “Nas brincadeiras, as crianças trans-
muitos anos de trabalho e da reunião de di- formam os conhecimentos que já possuem
ferentes perspectivas sobre a educação na anteriormente em conceitos gerais com os
escola básica brasileira. Elaborada em várias quais brincam”
etapas e a várias mãos com o objetivo de nor- (REFERENCIAL CURRICULAR,
tear os currículos e propostas pedagógicas 1998. p.27).
de todas as escolas brasileiras.
Sendo assim o brincar por brincar não
A BNCC atribui à brincadeira um papel existe, mas toda brincadeira tornase uma ex-
essencial na educação infantil, como já suge- periência de vida. No ato de brincar, os sinais,
re as Diretrizes Curriculares Nacionais para a os gestos muitas vezes nos levam a outra re-
Educação Infantil (DCNEI). alidade, as crianças nos mostram pela imagi-
“... A brincadeira figura nela como nação um outro ser uma nova visão do mun-
um dos direitos de aprendizagem do que as cerca. Se tivermos as brincadeiras
e de desenvolvimento, ao lado do direito de no plano da imaginação e imitação pode-se
conviver, participar, explorar, comunicar, co- concluir que toda brincadeira é a imaginação
nhecer-se.” transformada em emoção e aprendizagem.
Portanto, a escola como direito de todos,
É, pois, direito da criança segun- deve proporcionar as nossas crianças este
do a BNCC, “brincar cotidianamente de diver- processo, facilitando esta aquisição e crian-
sas formas, em diferentes espaços e tempos, do momentos, oportunizando materiais ma-
com diferentes parceiros (crianças e adultos), terialidades, espaços e momentos. O brincar
ampliando e diversificando seu acesso a pro- é considerado por Vygostsky (1988), como
duções culturais, seus conhecimentos, sua zona de desenvolvimento proximal, é neste
imaginação, sua criatividade, suas experiên- espaço de tempo aliado com atividades lúdi-
cias emocionais, corporais, sensoriais, ex- cas que a crianças “se torna” aquilo que ain-
pressivas, cognitivas, sociais relacionais” (p. da não é, ou seja, adquire o conhecimento.
36). Portanto a ação na esfera imaginativa numa
Esse direito deve ser assegurado à situação imaginativa, a criação de intenções
criança da educação infantil nas creches e voluntária e a formação dos planos da vida
pré-escolas brasileiras através da proposição real e motivação volitiva, tudo aprece no
de “campos de experiências”, isto é, uma for- brinquedo que se constitui, assim no nível
ma de organização curricular que também já do desenvolvimento pré-escolar. A criança
estava indicada nas DCNEI e que “acolhe as desenvolve-se essencialmente através das
situações e as experiências concretas da vida atividades do brinquedo. (VYGOSTSKY, 1988,
cotidiana das crianças e seus saberes, entre- p. 117).
laçando-os aos conhecimentos que fazem Momentos como o despertar da curio-
parte do patrimônio cultural.” (p. 38). sidade envolvendo fatos como reações quí-
Acredita-se que, assim, os bebês micas e os fenômenos da natureza, apresen-
tando o mundo da ciência como uma gostosa

271
brincadeira. novos significados.
Desenvolvendo a curiosidade, “(Referencial Curricular Nacio-
a imaginação e criatividade de maneira que nal, p 00)
a criança jamais vai esquecer do conteúdo
apresentado. A criança é um ser imaginativo Essa peculiaridade da brincadeira
e sendo assim o jogo simbólico tem impor- ocorre por meio da articulação entre a imagi-
tância fundamental na construção de sua re- nação e a imitação da realidade. Toda brinca-
lação com a criatividade e a imaginação. No deira é uma imitação transformada, no plano
jogo simbólico, na brincadeira de casinha, das emoções e das ideias, de uma realidade
por exemplo, onde as crianças assumem os anteriormente vivenciada.
papéis dos pais nos cria mesmos uma certa O ato de brincar significa muito além
responsabilidade, sendo esta uma caracterís- do que mero passa tempo é o momento
tica dos adultos. do qual a criança reproduz, demonstra seu
Para Piaget (1975), no desenvolvimen- modo de ver as situações do cotidiano, re-
to como finalidade da educação é preciso co- criando essa vivência sabendo que é uma
locar a criança como elemento central deste brincadeira.
mesmo processo, ou seja, partir do estágio Através do papel que a criança faz,
onde se encontra para o estágio seguinte. escolhe assume com frequência durante a
Portanto; a criança não é uma mera brincadeira podemos observar determina-
receptora de informação, não é uma máqui- dos indicativos do que acontece no seu dia a
na fotográfica, que imprime em interior as dia demonstrando assim como ela vê o não
estruturas do ambiente: antes de mais nada brincar por isso essa escolha tem que ser li-
é o construtor de sua inteligência e de conhe- vre e espontânea já que ao escolher o papel
cimento preciso, então criar para ela oportu- para brincar ela mentalmente possui defi-
nidades de ter experiências com a realidade nições das características e peculiaridades
e assim, começar a pensar, construindo o co- desse personagem e as adequa as situações,
nhecimento da realidade e a realidade do co- brinquedos e objetos desse brincar.
nhecimento. (ZABALZA, 1988, p.151). Brin- A brincadeira favorece a autoestima
car é das crianças, auxiliando-as a superar pro-
coisa séria, brincar não é apenas di- gressivamente suas aquisições de forma cria-
versão como vimos, na hora da brincadei- tiva. Brincar contribui, assim, para a interio-
ra, as crianças desenvolvem física e intelec- rização de determinados modelos de adulto,
tualmente, destacando-se como indivíduo no âmbito de grupos sociais diversos.
e ao mesmo tempo em que estabelecem o Essas significações atribuídas ao brin-
convívio social, tomam iniciativas próprias car transformam-no em um espaço singular
e estimulam a criatividade. As brincadeiras de constituição infantil.
em parques, com brinquedos maiores que
permitam exercitar o físico, devem fazer par- Para brincar é imprescindível que a
te da rotina da escola, pois é através destes criança tenha liberdade para escolher com
momentos que a criança aprende a vencer quem quer brincar como quer brincar, qual
obstáculos. o personagem será e o tema desenvolvido é
exclusivamente determinado por quem brin-
ca.
O Referencial Curricular Nacional e o “Seus conhecimentos provêm da imi-
Brincar tação de alguém ou de algo conhecido, de
De acordo com o Referencial Curricu- uma experiência vivida na família ou em ou-
lar Nacional para a Educação Infantil Brincar tros ambientes, do relato de um colega ou de
é importante para que as crianças possam um adulto, de cenas assistidas na televisão,
exercer sua capacidade de criar sendo indis- no cinema ou narradas em livros etc. A fon-
pensável a necessidade de variar e as experi- te de seus conhecimentos é múltipla, mas
ências sejam voltadas para o conhecimento e estes se encontram, ainda, fragmentados. É
desenvolvimento pleno. no ato de brincar que a criança estabelece os
diferentes vínculos entre as características
“A brincadeira é uma linguagem infan- do papel assumido, suas competências e as
til que mantém um vínculo essencial com relações que possuem com outros papéis,
aquilo que é o “não-brincar”. Se a brincadeira tomando consciência disto e generalizando
é uma ação que ocorre no plano da imagina- para outras situações.” (Referencial Curricu-
ção isto implica que aquele que brinca tenha lar Nacional p00)
o domínio da linguagem simbólica. Isto quer
dizer que é preciso haver consciência da di-
ferença existente entre a brincadeira e a re- Conforme se vivencia as brincadei-
alidade imediata que lhe forneceu conteúdo ras imaginativas criadas por elas mesmas as
para realizar-se. Nesse sentido, para brincar crianças passam a relacionar atitudes, resol-
é preciso apropriar-se de elementos da rea- ver situações problemas que lhes são impor-
lidade imediata de tal forma a atribuir-lhes tantes e significativas. Quando proporciona-

272
mos as brincadeiras preparando um espaço (Referecial Curricular Nacional p 00).
propicio para que elas experimentem, inter-
nalizem, compreendam sentimentos, atitu- Sendo assim o ato de brincar passa a
des, características diferenças pessoais de ter valor didático e significativo contribuindo
uma maneira prazerosa. para o aprendizado e o desenvolvimento ser-
vindo como instrumento de aprendizagem e
O brincar de acordo com os materiais avaliação.
e recursos utilizados proporciona várias cate-
gorias de experiências entre elas; movimen-
tos corporais; linguagem oral, gestual, conte- Brincar segundo Piaget
údos sociais, situações de valores e atitudes
noções e conhecimentos de regras, limites, Para Piaget a brincadeira é a cons-
brincadeiras com materiais de construção trução do conhecimento, agindo sobre os
produzem a combinação e associação entre objetos, as crianças desde pequena estrutu-
eles, os jogos de regras e tabuleiros, didáti- ram-se dentro do seu espaço e o seu tempo
cos, as brincadeiras de faz-de-conta favore- desenvolvendo sua noção de casualidade; e
cem a ampliação do conhecimento infantil de tudo isso ocorre graças ao brincar que é uma
forma lúdica. forma prazerosa de aprender.
As brincadeiras de faz-de-conta, os jo- Piaget adota o uso metafórico do brin-
gos de construção e aqueles que possuem car com conduta livre, espontânea da qual a
regras, como os jogos de sociedade (também criança expressa por sua vontade e pelo pra-
chamados de jogos de tabuleiro), jogos tra- zer ao manifestar a conduta lúdica, a criança
dicionais, didáticos, corporais etc., propiciam demonstra nível de seus estágios.
a ampliação dos conhecimentos infantis por A criança se desenvolve de forma inte-
meio da atividade lúdica. gra nos aspectos cognitivos, afetivos, físicos,
É o adulto, têm o papel de auxiliar, aju- motores, linguísticos e sociais. Este processo
dar de criar condições através de materiais se dá á partir da construção que a criança
organizando espaços para que a brincadeira faz na sua interação e o meio físico e social
ocorra sem perigo e até mesmo empecilho diariamente. Através do conhecimento que
de modo que ela se torne ainda mais interes- muda de acordo com a sua ação, assimilan-
sante. do assim as determinações e informações de
acordo com o seu estágio de desenvolvimen-
“Por meio das brincadeiras pode-se to.
observar e constituir uma visão dos proces-
sos de desenvolvimento das crianças em con- E através do brincar direcionando ati-
junto e de cada uma em particular, registran- vidades, com estímulos constantes as crian-
do suas capacidades de uso das linguagens, ças encontram possibilidades ilimitadas de
assim como de suas capacidades sociais e crescer, conhecer o mundo e construí-lo se
dos recursos afetivos e emocionais que dis- desenvolvendo assim de forma integral.
põem.” (Referecial Curricular Nacional, p00). Piaget classifica os jogos segundo sua
Através da intervenção intencional do evolução, em três grandes estruturas: jogos
educador e fundamentada nas observações de exercício, simbólicos e de regras.
das brincadeiras executa se uma avaliação Jogo de exercício: A principal carac-
totalmente rica sobre os conhecimentos, terística deste estágio, que Piaget classifica
habilidades e competências adquirido pela como período sensório-motor, é obter a sa-
criança. tisfação de suas necessidades. Com a amplia-
Organizando situações com o intuito ção dos esquemas, a criança vai cada vez se
de que as brincadeiras aconteçam de uma tornando mais consciente de suas potencia-
forma diferenciada, que a criança seja moti- lidades, colocando em ação um conjunto de
vada a brincar de forma autônoma tanto para condutas, sem modificar as estruturas, onde
escolher os amiguinhos com quem quer brin- as ações ficam dirigidas somente para atingir
car objetos, fantasias, tema, enredo e outros. seu objetivo maior que é a prazer.
“É preciso ter consciência que na brin- Jogo simbólico: Segundo Piaget, estes
cadeira as crianças recriam e estabilizam jogos fazem parte da fase pré-operatória (dos
aquilo que sabem sobre as mais diversas es- dois aos seis anos de idade), onde a criança,
feras do conhecimento, em uma atividade além do prazer, começa a utilizar a simbolo-
espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva gia. A função simbólica já está estruturada e
não se deve confundir situações nas quais se começa a fazer imagens mentais, já domina a
objetivas determinadas aprendizagens rela- linguagem falada.
tivas a conceitos, procedimentos ou atitudes Jogo de regras: de acordo com Piaget,
explícitas com aquelas nas quais os conheci- este jogo acontece a partir dos sete anos de
mentos são experimentados de uma manei- idade, no período operatório concreto - a
ra espontânea e destituída de objetivos ime- criança aprende a lidar com delimitações no
diatos pelas crianças. Pode-se, entretanto, espaço, no tempo, o que pode e o que não
utilizar os jogos, especialmente aqueles que pode fazer. Ao invés de símbolo, a regra su-
possuem regras, como atividades didáticas.”

273
põe relações sociais, porque a regra é impos- ela é em primeiro lugar uma criança.
ta pelo grupo e sua falta significa ficar de fora
do jogo. Conforme Vigostsk, o sujeito é intera-
tivo e, por este motivo, dá tanta importância
Cada estágio do desenvolvimento des- à fala. Estabelece uma relação estreita entre
crito por Piaget tem uma sequência que de- o jogo e a aprendizagem. Diz que o desenvol-
pende da evolução da criança, do nascimen- vimento cognitivo resulta da interação entre
to até o final da vida. Uma fase se interliga a criança e as pessoas com quem mantém
com a outra de forma que o final de uma se contatos regulares. O aprendizado da crian-
confunde com o começo de outra. A evolução ça começa antes do seu ingresso na escola.
começa com a fase puramente reflexiva, pas- Desta forma, a escola sistematiza o aprendi-
sando pela assimilação, pelo simbolismo até zado, que inicia no primeiro dia de vida - a
chegar à acomodação. aquisição do conhecimento se dá através das
zonas de desenvolvimento: real e proximal.
Vigostsk enfatiza a importância do
O Brincar segundo Vigostsk brincar em sua teoria, pois se enfatiza que a
Vigostsk deixou grandes contribuições criança transfere para o seu mundo imaginá-
para a educação de crianças com necessida- rio o que passa despercebido no seu mundo
des especiais, alegando a concepção de que real, principalmente para meio de brincadei-
a criança deficiente poderia ser educada em ras de faz de conta, as crianças realizam seus
ambiente que lhes proporcionassem maior desejos imediatos. As regras também estão
interação ao invés do contato apenas com presentes nessas brincadeiras, já que quan-
crianças na mesma situação. do a criança imita o pai, por exemplo, segue
a imagem paterna que lhe foi apresentada.
Para Vigostsk a aprendizagem configu- O brincar também favorece a socialização,
ra-se no desenvolvimento das funções supe- pois os jogos de regras levam as crianças ao
riores através da apropriação e interiorização autocontrole, desenvolve a autodetermina-
de signos e instrumentos em um contexto de ção e a capacidade dominando o seu próprio
interação. A aprendizagem humana pressu- comportamento e aprendendo a controlá-lo.
põe uma natureza social especifica e um pro- Seguindo um objetivo especifico permite a
cesso mediante o qual as crianças alcançam criança a desenvolver sua moral quando por
a vida intelectual daqueles que as rodeia. É si mesma procura ajudar um coleguinha nas
por isso, que, para ele o brincar: brincadeiras internalizando assim através
“... cria na criança uma nova forma de das brincadeiras valores necessários a parti-
desejos, ensina-a a desejar, relacionando os cipação da vida social.
seus desejos a um “eu” fictício, ao seu papel A criança assim aprende brincando
no brincar e suas regras. Dessa maneira, as o significado do mundo, justamente por es-
maiores aquisições de uma criança são con- tarem brincando, elas se sentem livres para
seguidas no brinquedo, aquisições que num arriscar e fazer coisas mesmo quando ainda
futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação não estão confiantes de que possam fazê-la
real e moralidade”. (1984:1140). bem.
Vigostsk considera que através do “È notável que a criança comece com
brincar cria-se para a criança uma “zona de uma situação imaginaria que inicialmente é
desenvolvimento proximal” que nada mais é tão próxima do real. O que ocorre é uma re-
que a distância entre o nível atual de desen- produção da situação real. Uma criança brin-
volvimento determinado pela capacidade de cando com uma boneca, por exemplo, repe-
resolver independentemente um problema, te quase exatamente o que sua mãe faz com
e o nível de desenvolvimento potencial, de- ela”. (VYGOTSTSKY 2000, p.135).
terminado através da resolução de um pro-
blema sob a orientação de um adulto ou com Para Vigostsky, a imaginação em ação
a colaboração de um companheiro mais ca- ou brincar é a primeira possibilidade de ação
paz. Ainda segundo esse autor o brincar pos- da criança numa esfera cognitiva que lhe per-
sui três características: a imaginação, a imi- mite ultrapassar a dimensão perceptiva mo-
tação e a regras. Estas características estão tora do comportamento.
presentes em todos os tipos de brincadeiras Já no início do século XX, Vigostsk
infantis, sejam elas tradicionais, de faz de (1997) criticava concepções organicistas de
conta, de regras e podem aparecer também deficiência, que davam ênfase à irreversibili-
no desenho, considerado enquanto atividade dade das disfunções e levavam a prognósti-
lúdica. cos desfavoráveis quanto ao desenvolvimen-
Para Vigostsky “a fonte da compen- to dos considerados deficientes. Em seus
sação da cegueira não é o desenvolvimento estudos sobre crianças com deficiência, o
do tato ou a maior sensibilidade do ouvido, autor concluiu que as funções relacionadas
mas antes a linguagem, ou seja, a utilização ao desenvolvimento da criança com deficiên-
da experiência social, a comunicação com os cia mental eram as mesmas da criança com
videntes”. (Vigostsky, 1997, p.6) desenvolvimento típico: assim, as mesmas
concepções teóricas e abordagens metodo-
Antes de ser uma criança deficiente lógicas poderiam ser utilizadas para o estu-

274
do desses processos, em todas as crianças. A CONSIDERAÇÕES FINAIS
criança é livre para determinar suas próprias
ações na brincadeira e está liberdade é ilusó- A brincadeira era vista por ser o mo-
ria, pois suas ações estão subordinadas aos mento que a criança não teria mais nada a
significados dos objetos. A criança se desen- fazer e iria brincar como se fosse algo sem
volve através da atividade de brincar. Neste significado e de pouco ou mesmo nenhuma
sentido a brincadeira pode ser vista como importância para ela. No entanto averigua-
uma atividade condutora que determina o mos que o momento que a criança brinca é
desenvolvimento da criança. totalmente enriquecedor e necessário para o
seu desenvolvimento.
Para Kishimoto (2000), Vigostsky defi-
ne o brincar sendo uma situação imaginária A brincadeira aparece sempre de for-
criada pela criança, preenchendo as neces- ma organizada para as crianças onde existe
sidades que vão mudando de acordo com a certo número de decisão a ser tomada em
idade, dando grande ênfase ao significado determinada ordem, escolha de funções e
do brincar atrelado ao desenvolvimento da personagem para a criança brincar realmen-
criança, pois a criança com menos de três te é coisa séria e nós educadores temos a
anos não consegue envolver em uma situa- obrigação de valorizar e estimular esses mo-
ção imaginária, porque ao passar do concre- mentos tão prospero.
to para o abstrato não há uma continuidade, Vale destacar o que diz a BNCC sobre
só através da brincadeira ela vai poder ver o esse direito de aprendizagem:
objeto da maneira que ele não é, mas como
desejaria que fosse. Isto acontece na brinca- “Brincar cotidianamente de diversas
deira porque o objeto perde sua força deter- formas, em diferentes espaços e tempos,
minadora, acrescentando um novo significa- com diferentes parceiros (crianças e adul-
do, pois para Vigostsky o mais importante é o tos), ampliando e diversificando seu acesso
gesto com o brinquedo. a produções culturais, seus conhecimentos,
sua imaginação, sua criatividade, suas expe-
riências emocionais, corporais, sensoriais,
O Brincar segundo Walon expressivas, cognitivas, sociais e relacionais
e é nesse ponto que iremos focar.” (BRASIL,
Na concepção walloniana toda ativi- 2017, p.36).
dade da criança é lúdica que ela exerce por
si mesma antes de integrar-se em um proje-
to de ação que a subordine e transforme o REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
meio. As atividades surgem livres, exercen-
do-se pelo prazer de fazê-las, mas tendem ao BRASIL. Ministério da Educação. Base
aperfeiçoamento, tornando-as aptas a entra- Nacional Comum Curricular: Educação é a
rem em cadeias mais complexas. base. Disponível em: <http://basenacio-
nalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publi-
Wallon defende que o brincar e o brin- cacao.pdf>.
quedo participam juntos, na estruturação do
EU e na aprendizagem da própria vida, no BROUGÈRE, G. Jogo e educação. Porto
desenvolvimento afetivo, motor, intelectual Alegre: Artes Médicas, 1998
e social. O brinquedo, nessa perspectiva, é YOGI, Chizuko. Aprendendo e brin-
visto como um meio que possibilita à criança cando com músicas e jogos, Belo Horizonte,
conhecer e analisar o mundo e construir sua Fabi 2003 PIAGET, J. A formação do símbolo
personalidade. A organização do espaço e a na criança: imitação, jogo e sonho, imagem
disponibilização do material são elementos e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
fundamentais para que a fluidez das emo-
ções e do pensamento aconteça e necessá- REFERÊNCIAL CURRICULAR NACIONAL
rios para o desenvolvimento da pessoa com- PARA EDUCAÇÃO INFANTIL. São Paulo. Par-
pleta. ma, 1998.
Não só esses educadores nos mos- ViYGOSTKY, L Fundamentos de defec-
tram a importância da atividade lúdica, mas tología. Obras Excogitas V. Madri:Visor,1997
os conhecimentos gerados pelas ciências
como a Sociologia, a Antropologia e a Psicolo-
gia ampliam nossa visão sobre a importância
do brincar.
Mostram-nos que através do brincar a
criança se socializa, integra-se em diferentes
grupos sociais, explora, compreende o am-
biente no qual está inserida e desenvolve di-
ferentes formas de linguagem.

275
A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO COM CRIANÇAS COM TDAH
JULIANA AFONSO DE ALMEIDA

RESUMO Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)


é o mais comum em crianças e adolescentes
O papel do psicopedagogo dentro da encaminhados para serviços especializados.
instituição escolar é muitas vezes mal com- Ele ocorre em cerca de 5% das crianças, em
preendido, e há falta de diálogo sobre suas várias regiões do mundo, e em metade dos
funções. Isso é agravado pela falta de prepa- casos o transtorno acompanha o indivíduo
ro de alguns professores para lidar com alu- durante sua vida adulta, onde os sintomas de
nos que têm Transtorno de Déficit de Atenção inquietude tendem a diminuir.
com Hiperatividade (TDAH). É responsabili-
dade do psicopedagogo instruir, orientar e A proporção de pessoas afetadas por
capacitar os professores para que possam esse transtorno é consideravelmente gran-
lidar de forma eficaz com crianças que apre- de em comparação com outros transtor-
sentam TDAH. Quando o TDAH não é tratado nos, como o transtorno de Discalculia. Os
adequadamente durante a infância, seus sin- sintomas causados pelo TDAH precisam ser
tomas podem persistir ao longo da vida, pre- tratados durante a infância, de modo que o
judicando a qualidade de vida do indivíduo. impacto por ele causado na vida adulta seja
Portanto, a capacidade de lidar com crianças amenizado.
com TDAH é uma questão ética e de saúde, e
o psicopedagogo desempenha um papel fun- Para que esse tratamento ocorra de
damental na instituição escolar para garantir forma adequada é necessário o acompanha-
um tratamento eficaz para essas crianças. É mento contínuo dos profissionais especiali-
essencial que a comunidade docente com- zados tanto na área da saúde, onde se des-
preenda a importância da intervenção do tacam psicólogos e neurologistas, quanto na
psicopedagogo no contexto do TDAH. área da educação, onde deve ocorrer a inter-
venção do psicopedagogo.
PALAVRAS-CHAVE: transtorno de
aprendizagem; déficit de atenção; hiperativi- O psicopedagogo dentro do ambiente
dade; psicopedagogo. escolar pode agir como um agente de inclu-
são social, de forma que possa atender o alu-
no portador de TDAH e ajudá-lo a se adaptar
ao convívio em sala de aula. O acompanha-
INTRODUÇÃO mento do psicopedagogo é fundamental
O papel do psicopedagogo dentro da para a inserção desse aluno na sociedade,
instituição escolar ainda é um enigma para a ajudando-o a compreender suas limitações e
comunidade docente, visto que não há o diá- o estimulando para superá-las. Desta forma,
logo amplo sobre as funções do profissional. cabe ao psicopedagogo estabelecer a cone-
Outro fator agravante no que diz respeito ao xão entre o convívio saudável em sala de aula
ambiente escolar é a ocasional falta de pre- e o aluno portador de TDAH dentro do âmbi-
paro de parte dos professores para tratar de to escolar.
alunos com problemas de aprendizagem, em O aluno portador do Transtorno de
especial o Transtorno de Déficit de Atenção Déficit de Atenção com Hiperatividade neces-
com Hiperatividade. É atribuição do profis- sita do acompanhamento adequado durante
sional psicopedagogo: instruir, orientar e sua fase escolar, uma vez que dentro desse
capacitar professores para que eles sejam período ele aprende os princípios básicos de
capazes de lidar com as crianças que apre- convivência na escola e na sociedade. De-
sentam o TDAH. Quando o transtorno não é ve-se levar em consideração também que o
devidamente tratado durante a infância, os aluno precisa aceitar a si mesmo, dentro de
sintomas do TDAH podem se estender ao suas limitações, e isso só poderá acontecer
longo de toda a vida do indivíduo, prejudi- se a criança conhecer seu problema e a partir
cando sua qualidade de vida. Saber lidar com disso passar a compreender o que é o TDAH.
crianças com TDAH é uma questão de ética
e saúde, e sendo o psicopedagogo o respon- Se é direito da criança ter o acompa-
sável dentro da instituição escolar por tornar nhamento adequado durante seu tratamen-
esse tratamento efetivo, é essencial que a to, é papel do psicopedagogo providenciar
comunidade docente compreenda a relação o melhor tratamento possível para o aluno.
entre o Psicopedagogo e sua intervenção É necessário que o profissional formado em
com crianças com Transtorno de Déficit de psicopedagogia esteja devidamente habilita-
Atenção com Hiperatividade. do para suprir qualquer necessidade prove-
niente do acompanhamento, que esteja apto
a compreender as necessidades do aluno e
DESENVOLVIMENTO que seja eficiente em sua função, visando
sempre o bem-estar e desenvolvimento so-
Segundo a Associação Brasileira do cioeducativo da criança portadora do trans-
Déficit de Atenção (ABDA), o Transtorno de torno.

276
O QUE É O TRANSTORNO DE DÉFICIT causar problemas graves no comportamento
DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE do paciente, era
O Transtorno de Déficit de Atenção “mínima” o suficiente para não ser
com Hiperatividade é um transtorno neuro- detectada em exames radiológicos e menos
biológico, de causas genéticas, reconhecido grave que problemas neurológicos tais como
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) tumores cerebrais. Atualmente, sabe-se que
que tende a aparecer na infância e frequen- o TDAH não é consequência de nenhuma le-
temente permanece durante a vida adulta. são no cérebro.” (PROIS, 2014, pg 9)
Segundo a Equipe do Projeto de Inclusão
Sustentável - PROIS (2014): Os estudos epidemiológicos realiza-
dos ao longo dos anos provaram que o TDAH
O TDAH é um transtorno neuropsiqui- ocorreu em diversos países e com diversas
átrico frequente, que acomete crianças, ado- culturas diferentes, o que quebrou o para-
lescentes e adultos, independente de país de digma de que o TDAH estaria ligado a fatores
origem, nível socioeconômico, raça ou reli- ambientais, como a educação dos pais (que é
gião. Atualmente não existem, no meio cientí- popularmente conhecida nesses casos como
fico, dúvidas sobre a gravidade e a amplitude “educação com falta de limites”) ou consequ-
das consequências do TDAH na vida dos por- ência de episódios de conflitos psicológicos.
tadores e de seus familiares. Para evitá-las, (PROIS, 2014, pg 10)
é preciso reunir esforços em diversas áreas
para reduzir o tempo entre o início dos sin- “Estudos epidemiológicos investigam
tomas e a realização do diagnóstico correto, quantos indivíduos têm um diagnóstico espe-
garantindo que todos os pacientes tenham cífico, em um determinado período de tem-
acesso a um tratamento adequado para os po. Esse número total é chamado de “taxa
sintomas de TDAH e possíveis comprometi- de prevalência”, ou apenas “prevalência”.
mentos associados. Apesar dessas certezas Essa taxa permite compreender o quanto é
no meio acadêmico e científico, alguns seto- comum, ou raro, um determinado diagnós-
res da sociedade e profissionais das áreas de tico numa população. Em relação ao TDAH,
educação e saúde ainda questionam a exis- estudos americanos apontaram prevalências
tência do TDAH. (PROIS, 2014, pg 8) entre 2,5% e 8,0% (Rowland e cols., 2001).
Em 1999, um estudo brasileiro, usando uma
Uma vez que existe a controvérsia amostra de escolares de 12 a 14 anos, encon-
sobre a veracidade do TDAH, uma maneira trou taxa de prevalência de 5,8% nesses estu-
válida e necessária de comprovar a real exis- dantes (Rohde e cols., 1999).” (RODHE e cols.,
tência do transtorno é o método de estudo 1999 apud PROIS, 2014, pg 10)
epidemiológico, onde são analisados dados
de diferentes culturas em vários países. Os índices de incidência do TDAH são
consideráveis, o que afirma ainda mais a ne-
Os primeiros indícios históricos de cessidade de uma análise aprofundada sobre
descrições de crianças com TDAH surgiram o tratamento correto para esse transtorno.
em meados do século XIX na literatura infan-
til alemã. Os referidos livros, traduzidos e pu- “Em 2007, foi publicado um dos estu-
blicados no Brasil na década de 1950 com os dos considerados como mais importantes so-
nomes de “João bre a prevalência de TDAH. Esse estudo ava-
liou os resultados de mais de 8 mil estudos
Felpudo” e “Juca e Chico”, descreviam em todo o mundo e conseguiu demonstrar
crianças com grande dificuldade de seguir que a estimativa mais correta para a preva-
regras propostas pelos pais, mostrando sem- lência de TDAH seria de 5% da população in-
pre inquietação e dificuldade de manter a fantil mundial (Polanczyck e cols., 2007). Para
atenção focada em algo. (PROIS, 2014, pg 9) explicar melhor a relevância desses achados,
imagine uma classe de 40 alunos. Conside-
O TDAH, no entanto, não foi reconhe- rando uma taxa de 5%, a estimativa é que ao
cido como uma patologia precisa desde o iní- menos duas crianças da classe sejam porta-
cio. Segundo a PROIS (2014): doras de TDAH!” (PROIS, 2014, pg 10)
“Ao longo do tempo, o TDAH recebeu Se analisados as frequências nas clí-
várias denominações, como por exemplo, le- nicas e ambulatórios ligados a saúde mental,
são cerebral mínima, síndrome hipercinéti- nota-se que o Transtorno de Déficit de Aten-
ca e disfunção cerebral mínima. Os critérios ção com Hiperatividade é o transtorno mais
utilizados para o diagnóstico de TDAH tam- comumente encaminhado para os serviços
bém têm variado bastante. Essas diferenças especializados em psiquiatria da infância e
nos nomes e nos critérios diagnósticos po- da adolescência. (PROIS, 2014, pg 10-11)
dem confundir as pessoas. Por outro lado, na
maioria das vezes os nomes mudaram para Embora o TDAH apareça geralmente
acompanhar os resultados das pesquisas e na infância, existem evidências crescentes
dessa forma refletir o maior conhecimento de que o Transtorno de Déficit de Atenção
sobre o TDAH. Por exemplo, o termo “lesão com Hiperatividade afeta pessoas de to-
cerebral mínima” foi utilizado no período em das as idades e, de 60% a 80% dos casos, as
que se acreditava que seus portadores te- crianças afetadas pelo transtorno mantêm
riam uma lesão no cérebro, o que apesar de os sintomas na adolescência e na vida adul-

277
ta. É necessário ressaltar a necessidade do Psicopedagogo dentro desse ambiente assu-
tratamento imediato após o diagnóstico do me o caráter preventivo no sentido de procu-
transtorno, tendo em vista que a permanên- rar desenvolver competências e habilidades
cia dos sintomas pode causar comprometi- para auxiliar na solução dos problemas esco-
mentos severos no aprendizado, na autoes- lares. Segundo Nascimento (2013):
tima e nos relacionamentos social e familiar.
(PROIS, 2014, pg 11) “O Psicopedagogo é o profissional in-
dicado para assessorar e esclarecer a escola
a respeito de diversos aspectos do processo
de ensino-aprendizagem e tem uma atuação
QUADRO CLÍNICO DO TDAH preventiva. Na escola, o psicopedagogo po-
Para compreender as dificuldades derá contribuir no esclarecimento de dificul-
vividas pelas crianças portadoras do TDAH, dades de aprendizagem que não têm como
deve-se analisar o quadro clínico da criança, causa apenas deficiências do aluno, mas que
seus sintomas e seu comportamento, de for- são consequências de problemas escolares.
ma que essas informações contribuam satis- Seu papel é analisar e assinalar os fatores
fatoriamente com o diagnóstico correto do que favorecem, intervêm ou prejudicam uma
transtorno. boa aprendizagem em uma instituição. Pro-
põe e auxilia no desenvolvimento de projetos
É válido ressaltar que o quadro clínico favoráveis às mudanças educacionais, visan-
do adulto portador do TDAH também deve do evitar processos que conduzam às difi-
ser analisado, pois quando os sintomas não culdades da construção do conhecimento.”
são percebidos durante a infância e o trata- (NASCIMENTO, 2013)
mento adequado não ocorre, é na fase adul-
ta que o mesmo deverá acontecer. Com a decorrência de do grande nú-
mero de crianças com problemas de aprendi-
zagem e dos diversos desafios que englobam
DIAGNÓSTICO DO TDAH não somente o ambiente escolar, mas tam-
bém o familiar, a intervenção do psicopeda-
Crianças e adolescentes com sinto- gogo ganham maior espaço nas instituições
mas de TDAH fazem parte de um grupo com de ensino. Durante a abordagem preventiva,
significativo comprometimento funcional na o psicopedagogo pesquisa as melhores con-
área da aprendizagem, o que dificulta o diag- dições para que se produza a aprendizagem
nóstico clínico correto do transtorno. Quando do conteúdo escolar, tendo como seu prin-
observados os aspectos clínicos na prática, a cipal foco o ambiente escolar. (BOSSA, 1994
abrangência de sintomas é consideravelmen- apud NASCIMENTO, 2013)
te maior do que as encontradas nos sistemas
classificatórios da psiquiatria infantil. (SOUZA
e PINNA, 2006, pg 17) Ainda sobre o trabalho do psicopeda-
É necessário atualizar os sistemas de gogo, Nascimento (2013) afirma:
classificação do TDAH, pois com o avanço do “O trabalho psicopedagógico terá
desenvolvimento das crianças, os sintomas como objetivo principal trabalhar os elemen-
atingem uma vasta amplitude de variações e tos que envolvem a aprendizagem de manei-
acabam por não serem enquadrados dentro ra que os vínculos estabelecidos sejam sem-
desse sistema, resultando em mais dificulda- pre bons. A relação dialética entre sujeito e
des de um diagnóstico preciso do Transtorno objeto deverá ser construída positivamente
de Déficit de Atenção e Hiperatividade. para que o processo ensino-aprendizagem
De acordo com a ABDA (2003) o diag- seja de maneira saudável e prazerosa. O de-
nóstico correto do TDAH só pode ser rea- senvolvimento de atividades que ampliem a
lizado pelo profissional indicado e, através aprendizagem faz-se importante, através dos
de uma série de questionários usados como jogos e da tecnologia que está ao alcance de
base para o diagnóstico, o especialista pode- todos. Com isso, há a busca da integração
rá indicar o tratamento adequado para o pa- dos interesses, raciocínio e informações que
ciente. Como não existe um exame específi- fazem com que o aluno atue operativamen-
co para o diagnóstico do TDAH, a Associação te nos diferentes níveis de escolaridade. Por
Americana de Psiquiatria propõe que para se isso, a educação deve ser encarada como
diagnosticar o transtorno é necessário que um processo de construção do conhecimen-
durante os testes analíticos o paciente apre- to que ocorre como uma complementação,
sente no mínimo seis de uma lista de nove cujos lados constituem de professor e aluno
sintomas de Desatenção e/ou no mínimo seis e o conhecimento construído previamente.”
de uma lista de nove sintomas de Hiperativi- (NASCIMENTO, 2013)
dade e Impulsividade. O psicopedagogo é o agente que es-
tabelece a ponte entre as melhores táticas
de ensino/aprendizagem e o aluno. É dele
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO também, o papel de intervir nos processos
de aprendizagem quando os mesmos não
Sendo a escola responsável pela for- são adequados para a criança. Considerando
mação inicial do ser humano, o trabalho do um ambiente em que a maioria dos alunos

278
não apresentam quaisquer dificuldades para O Psicopedagogo é um profissional
aprender, mas que um único aluno demons- que inquestionavelmente deve estar presen-
tra essas mesmas dificuldades, é função do te dentro do ambiente escolar, uma vez que
psicopedagogo detectar e elucidar tais pro- sua função é, dentre outras, identificar e so-
blemas, para que o aluno possa acompanhar lucionar os problemas de aprendizagem das
o desenvolvimento dos demais alunos de sua crianças. Se todas as escolas tivessem em seu
classe. corpo administrativo um profissional quali-
ficado e especializado em psicopedagogia,
Tal constatação é confirmada por Nas- provavelmente os índices de crianças com
cimento (2013) que salienta: problemas de aprendizagem seriam drasti-
“Numa linha preventiva, o psicopeda- camente reduzidos.
gogo pode desempenhar uma prática docen- Deve-se levar em conta ainda que os
te, envolvendo a preparação de profissionais encaminhamentos de crianças com dificul-
da educação, ou atuar dentro da própria es- dades de aprendizagem que podem ser cau-
cola. Na sua função preventiva, cabe ao psi- sados por conta de fatores externos são re-
copedagogo detectar possíveis perturbações alizados pelo psicopedagogo, como ressalta
no processo de aprendizagem; participar da Nascimento (2013):
dinâmica das relações da comunidade edu-
cativa a fim de favorecer o processo de inte- “Ao psicopedagogo cabe avaliar o
gração e troca; promover orientações meto- aluno e identificar os problemas de apren-
dológicas de acordo com as características dizagem, buscando conhecê-lo em seus po-
dos indivíduos e grupos; realizar processo de tenciais construtivos e em suas dificuldades,
orientação educacional, vocacional e ocupa- encaminhando-o, por meio de um relatório,
cional, tanto na forma individual quanto em quando necessário, para outros profissionais
grupo.” (NASCIMENTO, 2013) - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista etc.
que realizam diagnóstico especializado e exa-
Já no âmbito da linha terapêutica, é pa- mes complementares com o intuito de favo-
pel do psicopedagogo tratar das dificuldades recer o desenvolvimento da potencialização
de aprendizagem, diagnosticar e desenvolver humana no processo de aquisição do saber.”
técnicas remediativas, orientar professores e (NASCIMENTO, 2013)
pais, estabelecer contato com outros profis-
sionais das áreas psicológicas, psicomotoras,
fonoaudiológica e educacional. Tal contato
se faz necessário devido à multiplicidade das Por último, cabe ao psicopedagogo in-
origens e tratamentos das diversas dificulda- tervir junto à família das crianças que apre-
des relacionadas à aprendizagem. O papel sentam dificuldades de aprendizagem em
do psicopedagogo então está além de ape- geral, seja através de uma entrevista, de uma
nas realizar a junção entre os conhecimentos análise com essa família para tomar conheci-
da psicologia e da pedagogia, devendo então mento da vida orgânica da criança, tal como
mediar todo esse processo. (NASCIMENTO, sua vida social e emocional. Segundo Solé
2013) (2000, apud NASCIMENTO, 2003):
Em suma, o psicopedagogo deve atu- “Solé afirma que essa intervenção tem
ar tanto na área da educação, dando assis- um maior alcance quando realizada no am-
tência aos professores e outros profissionais biente em que o aluno desenvolve suas ativi-
do ambiente escolar de forma a aprimorar o dades e por meio das pessoas que, cotidiana-
ensino-aprendizagem da instituição, quanto mente, se relacionam com ele, uma vez que
na solução e prevenção dos problemas de os processos de aprendizagem se relacionam
aprendizagem. diretamente com a socialização e integração
dos alunos no contexto socioeducacional em
Para exercer sua função de forma ade- que estes estão inseridos.” (SOLÉ, 2000, apud
quada, no entanto, o psicopedagogo deve es- NASCIMENTO, 2003)
tabelecer sua própria autonomia para que
através dela possa instruir a equipe da ins- O psicopedagogo é o profissional que,
tituição escolar, como ressalta Nascimento dentro de suas limitações e especialidades,
(2013): pode ajudar escola e aluno a resolver os di-
versos problemas de aprendizagem, com
“Por meio de técnicas e métodos pró- a finalidade de viabilizar o bom desenvolvi-
prios, o psicopedagogo possibilita uma inter- mento escolar e social do aluno e contribuir
venção psicopedagógica visando à solução com a formação de cidadãos humanizados e
de problemas de aprendizagem em espaços conscientes das diversidades encontradas na
institucionais. Juntamente com toda a equi- vivência em sociedade.
pe escolar, está mobilizado na construção
de um espaço adequado às condições de
aprendizagem de forma a evitar comprome- O PSICOPEDAGOGO NA SOCIEDADE
timentos. Elege a metodologia e/ou a forma
de intervenção com o objetivo de facilitar e/ Para que a necessidade do psicopeda-
ou desobstruir tal processo.” (NASCIMENTO, gogo na intervenção de crianças com Trans-
2013) torno de Déficit de Atenção com Hiperativida-
de se torne explícita, é necessário entender

279
também o papel do profissional dentro da sar cautelosamente e munido dos recursos
sociedade. necessários, o profissional poderá encontrar
a solução para esses problemas, melhorando
O profissional habilitado em Psicope- assim a qualidade de aprendizado das crian-
dagogia deve conhecer os métodos de evo- ças.
lução do ser humano em sociedade, pois o
psicopedagogo está diretamente relacionado Quanto aos professores, é pertinente
com o desenvolvimento da criança e sua for- ao psicopedagogo conscientizar o corpo do-
mação como cidadão, como já mencionado cente sobre as possíveis dificuldades que po-
na pesquisa. Segundo Oliveira L. e Oliveira V. dem ser identificadas em suas salas de aula,
(2015): assim como auxiliar na solução das mesmas.
A capacitação de professores é um dos meca-
“Ao psicopedagogo cabe saber como o nismos a disposição do psicopedagogo para
ser humano se constitui ao longo do tempo. contribuir com a formação do corpo docente.
As transformações que ocorrem nas diversas
etapas da vida. A forma pela qual produz e Quanto à criança que apresenta o
adquire conhecimento. Para este saber, o Transtorno de Déficit de Atenção com Hipe-
psicopedagogo precisa estar em constante ratividade, é papel do psicopedagogo: intera-
estudo das teorias que lhe permitam apren- gir com a criança de forma a conhecer seu
der, bem como as leis que regem esse pro- ambiente familiar e social, identificar os pro-
cesso: as influências e as representações in- blemas de aprendizagem e
conscientes que o acompanham, o que pode
ser contrário e favorável. O psicopedagogo sintomas de possíveis transtornos de
necessita saber o que é ensinar e aprender. aprendizagem, encaminhar a criança para o
As metodologias educativas e os problemas especialista clínico adequado e estabelecer
estruturais que podem surgir no processo o fluxo de informação entre família, escola e
escolar causando transtornos.” (OLIVEIRA, L. médico responsável pelo tratamento clínico.
E OLIVEIRA, V. 2015, pg 3) Tal atribuição resultará no aumento
Os problemas de aprendizagem afe- da qualidade de vida da criança com TDAH,
tam diretamente ou indiretamente o com- além de conscientizar docentes e familiares
portamento da criança, fazendo com que ela sobre as dificuldades provenientes do trans-
passe a não se sentir parte da classe ou gru- torno, de forma a não permitir que os obstá-
po social dentro da sala de aula, o que acaba culos gerados pelo TDAH impactem o conví-
consequentemente afetando sua interação vio familiar, social e escolar da criança.
com outras crianças. Esse quadro se inten-
sifica ainda mais quando os problemas de
aprendizado estão relacionados a transtor- REFERÊNCIAS
nos, nesse caso, o TDAH. ABDA, Associação Brasileira de Déficit
O psicopedagogo deve estabelecer a de Atenção – O que é o TDAH? Disponível em:
ponte que auxilie o aluno a enfrentar tais di- < http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-
ficuldades de aprendizagem, de modo a inse- -que-e-o-tdah.html>. Acesso em 13 de abril
ri-lo novamente no meio social. de 2016.
Para que essa interação seja possí- _____________, - Quadro Clínico do
vel, é imprescindível que o psicopedagogo TDAH. Disponível em: < http://www.tdah.org.
conheça e identifique o problema de apren- br/sobre-tdah/quadro-clinico.html>. Acesso
dizagem da criança, que saiba interagir com em 14 de abril de 2016.
o meio social que a criança vive e convive, e NASCIMENTO, Fernanda Domingas do.
que tenha o apoio constante da equipe es- – O papel do psicopedagogo na instituição
colar, tal como o apoio da família, que deve escolar. Disponível em: < https://psicologa-
participar do processo de acompanhamento do.com/atuacao/psicologiaescolar/o-papel-
feito pelo psicopedagogo, pois o profissional -do-psicopedagogo-na-instituicao-escolar>.
deve ter em mãos todas as informações pos- Acesso em 14 de abril de 2016.
síveis sobre o histórico comportamental da
criança, para que possa encaminhar correta- OLIVEIRA, Lenir dos Santos; OLIVEIRA,
mente o aluno para o especialista adequado, Valdenor Santos. – A Contribuição do Psico-
de forma a viabilizar e facilitar um possível pedagogo no Contexto Escolar. Mato Grosso,
diagnóstico de TDAH. 2015.
PROIS, Projeto Inclusão Sustentável –
CONCLUSÃO Transtorno de Déficit de Atenção com Hipe-
ratividade. Uma conversa com educadores.
O profissional especialista em Psico- São Paulo, 2014.
pedagogia é essencial para o funcionamento SENO, Marília Piazzi. – Transtorno
eficiente do ambiente escolar, sendo respon- do Déficit de Atenção com Hiperatividade
sável por identificar, diagnosticar e solucio- (TDAH): o que os educadores sabem? São
nar eventuais problemas de aprendizagem Paulo, 2010.
apresentados pelo corpo discente. Ao anali-

280
SOUZA. Isabella G. S. de; PINNA, Cami-
la Moreira de Sousa. – Dificuldades no diag-
nóstico de TDAH em crianças. Rio de Janeiro,
2006.

281
AS ARTES VISUAIS E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
JULIANA MOREIRA SILVA

RESUMO technology as a resource for artistic produc-


tion and art research. The use of image edi-
As estratégias educacionais em Artes ting software, for example, can contribute to
Visuais desempenham um papel crucial na the creation of more complex works and an
construção do aprendizado substancial dos understanding of artistic creation processes.
estudantes. O aprendizado substancial ocor- In summary, educational strategies in Visual
re quando o estudante é capaz de relacionar Arts should be planned to promote substan-
o conhecimento novo com o que já sabe, con- tial student learning, stimulating expression,
ferindo sentido e significado ao que está sen- creativity, and critical analysis of artworks.
do aprendido. No campo das Artes Visuais, The use of technology can be an ally in this
as estratégias educacionais podem ser am- process, provided it is employed appropria-
plas, englobando atividades como esboço, tely and integrated with other activities.
coloração, modelagem, gravura, montagem,
entre outras. É essencial que as atividades
propostas estejam conectadas à realidade
dos estudantes e incentivem a expressão e INTRODUÇÃO
a criatividade. Além disso, é fundamental Ao longo da história, o conceito de
que as estratégias educacionais em Artes Expressão Artística tem passado por trans-
Visuais sejam planejadas para estimular a formações e é compreendido por meio de
análise crítica dos estudantes em relação às manifestações visíveis e prazerosas, que per-
obras de arte. Isso pode ser feito por meio mitem uma maior interação sociocultural, in-
da investigação de imagens, visitas a museus troduzindo novos comportamentos, relações
e exposições, debates e diálogos em grupo. e ideias na sociedade.
Outra prática relevante é a utilização da tec-
nologia como recurso para a produção artís- A investigação sobre a relevância da
tica e a pesquisa de obras de arte. O uso de arte na educação contribui para a reconstru-
programas de edição de imagens, por exem- ção do ser humano em suas três dimensões:
plo, pode contribuir para a criação de obras moral, estética e cognitiva, conferindo um
mais complexas e para a compreensão dos sentido mais pleno à sua existência. A obri-
processos de criação artística. Em suma, as gatoriedade do ensino de Arte na Educação
estratégias educacionais em Artes Visuais Básica foi estabelecida pela Lei de Diretrizes
devem ser planejadas de modo a promover e Bases nº 5.692/71 e trouxe avanços após
o aprendizado substancial dos estudantes, debates e mobilização dos profissionais da
estimulando a expressão, a criatividade e a Educação envolvidos nesse movimento.
análise crítica das obras de arte. O uso da tec- Reconhecer a arte como uma ferra-
nologia pode ser uma aliada nesse processo, menta de diálogo com a realidade e transfor-
desde que seja empregada de maneira apro- mação do cotidiano é essencial. O ensino da
priada e integrada às demais atividades. arte permite uma compreensão mais crítica
Palavras-chave: Criatividade; Expres- e contextualizada dos elementos visuais do
são; Produção Artística. mundo, indo além do que é dado.
A arte pode ser concebida de diferen-
tes maneiras, de acordo com cada cultura
ABSTRACT e visão de ser humano. O desenvolvimen-
Educational strategies in Visual Arts to emocional está intimamente ligado ao
play a crucial role in fostering substantial le- processo de ensino-aprendizagem, e a arte
arning among students. Substantial learning abrange tudo o que é considerado arte pelos
occurs when students can connect new know- indivíduos, conforme a definição de Dino For-
ledge to what they already know, giving mea- maggio (1985).
ning and significance to what is being learned. Essa abordagem pedagógica possibili-
In the field of Visual Arts, educational strate- ta um processo de ensinoaprendizagem que
gies can encompass a wide range of activities, valoriza a prática de um ensino dinâmico,
including sketching, coloring, sculpting, print- prazeroso e
making, assemblage, and more. It is essential
that the proposed activities are relevant to contemporâneo. Cada indivíduo pos-
students' realities and encourage expression sui aspectos cognitivos e afetivos que se de-
and creativity. Furthermore, it is fundamental senvolvem em direção a um crescimento har-
that educational strategies in Visual Arts are monioso, filosófico, artístico e científico por
designed to stimulate students' critical analy- meio de atividades culturais.
sis of artworks. This can be achieved throu- A palavra "expressão artística" é am-
gh the investigation of images, museum and plamente utilizada com diferentes significa-
exhibition visits, group discussions, and dia- dos e propósitos na sociedade contemporâ-
logues. Another relevant practice is the use of

282
nea. Por um lado, é elevada como algo quase A expressão artística é uma forma de
inalcançável, dependente do talento individu- comunicação aberta e ilimitada, indepen-
al e da técnica, e por outro lado, é vista como dentemente da linguagem utilizada. Por um
algo privilegiado e caro, inserido na lógica do lado, os artistas expressam seus objetivos
consumismo e do mercado. estéticos, sentidos e emoções por meio de
representações, ações ou pinturas. Por outro
No entanto, frequentemente a expres- lado, o público aprecia a obra, observando,
são artística é desvalorizada como algo não assistindo ou ouvindo a música, e encontra
essencial para a vida humana, o que fica evi- diferentes mensagens e significados relacio-
dente no ambiente escolar, onde é tratada nados à sua história e experiências culturais.
como uma disciplina secundária. Segundo Como afirmou Picasso (citado por Justino,
Pareyson (1989), a expressão artística é a ati- 2000), a obra continua a mudar mesmo de-
vidade estética realizada por artistas a partir pois de finalizada, dependendo do estado de
da percepção, emoções e ideias, com o ob- quem a contempla.
jetivo de despertar a consciência de um ou
mais espectadores, e cada obra de arte pos-
sui um significado único e diferente, de acor-
do com Coli (1998). O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM
DE ARTES
De acordo com Justino (2000), é difí-
cil estabelecer uma definição consensual de O uso da expressão artística na área
expressão artística, e várias definições são educacional tem como intuito estimular e
criadas ao longo do tempo, acompanhando aprimorar as capacidades e aptidões dos es-
as mudanças na sociedade e nas concepções tudantes, abrindo um caminho que vai além
sobre o ser humano e o mundo. das matérias tradicionais do currículo esco-
lar. Ao apresentar a expressão artística como
É importante destacar que a expres- algo relevante na educação dos alunos, estes
são artística precisa ser compreendida den- se tornam mais sensíveis e receptivos a no-
tro do contexto de sua época, ou seja, como vas descobertas, sendo responsabilidade do
parte das possibilidades e situações que se educador promover essa abordagem.
tornam reais devido aos elementos que se
integram em um determinado momento. Por A expressão artística também contri-
exemplo, a expressão artística não pode ser bui para valorizar a conexão entre o conhe-
separada da tecnologia. cimento e as experiências dos estudantes,
ampliando seu leque de respostas de manei-
A descoberta da fixação de imagens ra espontânea e criativa. No entanto, muitas
luminosas por meio da queima de sais de instituições de ensino ainda priorizam a re-
prata, conhecida como fotografia, atribuída a produção do conhecimento, como evidencia-
Nièpce ou Flourens, causou uma verdadeira do pela prática de fornecer desenhos pron-
revolução no campo da expressão artística, tos para as crianças colorirem e determinar
influenciando seus sentidos e paradigmas. as cores que devem ser utilizadas. Isso limita
a criatividade da atividade e não reconhece
Podemos concluir que o conceito de o direito da criança de ser a única autora de
expressão artística e seus significados estão sua obra de arte.
em constante transformação ao longo do
tempo. A área artística é marcada pela busca Ao dar um desenho pronto para a
pelo novo, pelo inesperado, pelas experimen- criança pintar, o professor está desrespeitan-
tações e pela criatividade. Portanto, enquan- do sua personalidade, inteligência e sensibi-
to os artistas constantemente se referenciam lidade. Ninguém daria um desenho pronto
uns aos outros, o campo da expressão artísti- para um artista. E por que fazem isso com
ca inova a cada nova obra. uma criança? Aí vem a resposta de alguns
professores: "Eles não sabem desenhar". Ale-
De acordo com Stravinsky (2000), a gam que são cobrados por pais e coordena-
música é autorreferencial e busca expressar dores nas escolas onde trabalham a apresen-
emoções e sentimentos. Assim, a expressão tar atividades prontas, "bonitas". "perfeitas".
artística não é apenas uma forma de comuni- Inclusive para a "capinha" de seus trabalhos.
cação, mas também pode ser expressiva. Não seria mais interessante à própria crian-
O que define a expressão artística é ça criar a capa de seus trabalhos (FERREIRA
sua capacidade de criar algo novo e original, 2008, p. 50).
utilizando estéticas específicas. A expressão A prática de disponibilizar desenhos
artística está diretamente relacionada ao prontos para as crianças colorirem não con-
prazer, especialmente à satisfação estética tribui para o desenvolvimento da sua criati-
que proporciona. Cada forma de expressão vidade. É mais benéfico estimular a percep-
artística requer conhecimentos específicos, ção, o raciocínio e a criatividade por meio de
como elementos sonoros na música (som e atividades livres e formativas que respeitem
silêncio), elementos visuais nas artes visuais a capacidade inata de expressão de todas as
(cores, linhas e formas), o corpo e a represen- crianças.
tação no teatro, e o movimento do corpo na
dança.

283
A criança possui uma natureza natu- são livre, o uso de desenhos prontos, a pro-
ralmente criativa e sensível, mas abordagens dução voltada para datas comemorativas e a
conservadoras e falta de respeito pela arte in- promoção de estereótipos ou a visão da arte
fantil podem fazer com que ela acredite que como uma disciplina subordinada às demais.
não é capaz de se expressar de forma criati-
va, resultando na conhecida frase "Eu não sei o fazer artístico, a história da arte e
desenhar". A presença da arte na educação a análise da obra estaria se organizando de
deve se basear na liberdade de expressão e maneira que a criança, suas necessidades,
no respeito à diversidade cultural, desempe- seus interesses e seu desenvolvimento es-
nhando um papel fundamental no processo tariam sendo respeitados e, ao mesmo tem-
de formação do aluno ao abranger conteú- po, estaria sendo respeitada a matéria a ser
dos cognitivos, afetivos e perceptivos. aprendida, seus valores, sua estrutura e sua
contribuição específica para cultura. (BARBO-
De acordo com os Parâmetros Curri- SA, 1991, p.35)
culares Nacionais para a Arte, a arte estimula
a visão, a audição e os demais sentidos como No livro "A visão na instrução artística:
portais para uma compreensão mais signifi- década de 1980 e novos horizontes" (1991),
cativa das questões sociais. Barbosa explora cada um dos pilares da
Abordagem Triangular para o ensino da arte.
A prática pedagógica nas artes visu-
ais busca uma aprendizagem significativa. A Segundo a autora, a interpretação da
presença da arte na educação é um espaço imagem na abordagem pedagógica da arte
crucial para a prática da cidadania, e o ensino envolve a construção de uma metalinguagem
da arte na escola tem como objetivo garan- da imagem. Isso significa que não se trata
tir que os alunos tenham acesso pleno à sua apenas de discutir uma pintura, mas sim de
cultura, contextualizada historicamente, so- falar sobre a pintura de uma forma diferen-
cialmente e educacionalmente. Ao conhecer te, às vezes em silêncio, outras vezes através
a arte de outras culturas, o aluno pode com- de representações gráficas e verbais, explo-
preender melhor sua realidade cotidiana e rando sua visibilidade primária. Barbosa ar-
avaliar criticamente a cultura de forma mais gumenta que a interpretação de imagens na
ampla, valorizando diferentes modos de pen- escola prepara os alunos para compreender
sar e agir. a gramática visual de qualquer imagem, seja
ela artística ou não, tornando-os conscientes
A arte na educação é, portanto, uma da produção humana ao longo do tempo. A
ferramenta para a construção do aprendi- autora destaca que a exposição a diversas
zado, pois a abordagem contemporânea da imagens permite que os alunos compreen-
arte na educação está diretamente relaciona- dam e avaliem diferentes tipos de imagens,
da ao desenvolvimento cognitivo e à imagina- aprendendo com elas.
ção criativa, integrando linguagens artísticas
como música, artes cênicas, artes visuais e Martins, Picosque e Guerra (1998) afir-
expressão corporal nas atividades escolares. mam que propor a interpretação de uma
obra de arte pode ser uma forma de media-
É importante encorajar o aluno a ob- ção, permitindo um acesso mais sensível e
servar, criar e explorar novas experiências aberto, estimulando o espectador a pensar e
que o levem a pesquisar e adquirir conheci- sentir a obra de arte, ampliando suas possibi-
mento, além de elaborar propostas que esti- lidades de atribuir significado.
mulem o pensamento divergente. O profes-
sor deve estar ciente e atento à sua prática Os Parâmetros Curriculares Nacionais
pedagógica, respeitando as experiências, vi- (PCN) divulgados pelo Ministério da Educa-
vências e ritmo de cada aluno. Além disso, ção (MEC) no Brasil expandiram essas ideias,
é necessário proporcionar ao aluno as con- incluindo a Apreciação como uma forma de
dições psicológicas, pedagógicas e materiais interpretação da imagem, a História da Arte
adequadas para que ele possa se expressar como um meio de contextualização e a Pro-
por meio das diversas linguagens artísticas. dução Artística como uma forma de criação.
De acordo com esses documentos, a arte
A arte deve ser integrada em todas as deve ser apreciada, compreendida em seu
disciplinas, promovendo a interdisciplinari- contexto histórico e social, e os alunos de-
dade. O principal objetivo da educação artís- vem ter a oportunidade de criar suas pró-
tica é formar um indivíduo criativo que possa prias expressões artísticas como uma forma
se desenvolver integralmente por meio de de expressão pessoal e cultural.
uma educação abrangente. A arte é uma ex-
pressão pessoal e cultural essencial para o Apreciar refere-se ao âmbito da re-
pleno desenvolvimento do aluno e deve con- cepção, incluindo percepção, decodificação,
tribuir para uma educação transformadora, interpretação, fruição de arte e do universo
levando-o a refletir sobre si mesmo e sobre o a ela relacionado. A ação de apreciar abran-
mundo ao seu redor. ge a produção artística do aluno e a de seus
colegas, a produção histórico-social em sua
A proposta de Barbosa foi desenvolvi- diversidade, a identificação de qualidades es-
da para reformular o ensino da arte no Brasil, téticas e significados artísticos no cotidiano,
uma vez que nas escolas prevalecia o ensino nas mídias, na indústria cultural, nas práti-
baseado em formas geométricas, a expres- cas populares, no meio ambiente. Produzir

284
refere-se ao fazer artístico (como expressão, A criança é um ser naturalmente
construção, representação) e ao conjunto de curioso e explorador. Nesse sentido, no am-
informações a ele relacionadas, no âmbito do biente escolar, é necessário proporcionar ex-
fazer do aluno e do desenvolvimento de seu periências que estimulem e despertem ainda
percurso de criação. O ato de produzir reali- mais sua curiosidade, permitindo que ela re-
za-se por meio da experimentação e uso das vele suas características, manifeste suas difi-
linguagens artísticas. Contextualizar é situar culdades, sentimentos, talentos e expressões
o conhecimento do próprio trabalho artísti- únicas.
co, dos colegas e da arte como produto social
e histórico, o que desvela a existência de múl- Estudos demonstram que os seres
tiplas culturas e subjetividades (BRASIL, 1997, humanos compreendem o mundo por meio
p. 50). da interação com sons, escrita, imagens e ex-
pressões corporais. Assim como aprendemos
De acordo com Barbosa (1991), a pro- a ler palavras, é possível ler essas relações e,
dução artística é baseada no processo cria- dessa forma, compreender melhor o mundo
tivo, visto como uma interpretação e repre- ao nosso redor.
sentação pessoal de experiências em uma
linguagem visual. Na metodologia triangular, Ao estudar a arte, é possível reinter-
a história da arte não é vista de forma line- pretar a realidade, uma vez que a troca de
ar, mas busca contextualizar a obra de arte experiências nas escolas revela que cada in-
no tempo e explorar suas circunstâncias. Ao divíduo compreende as coisas de maneira
invés de se preocupar com a evolução das diferente, construindo seu próprio conheci-
formas artísticas ao longo do tempo, a me- mento.
todologia pretende mostrar que a arte não A criatividade envolvida na educação
está separada do nosso cotidiano e da nossa artística fortalece as habilidades de pensa-
história pessoal. mento crítico nas crianças. Aprender visu-
almente por meio do desenho, escultura e
pintura desenvolve habilidades visuais-espa-
AS ARTES E AS EMOÇÕES ciais, ensinando as crianças a interpretarem
e utilizar informações visuais.
Através das manifestações artísticas,
a criança manifesta suas emoções, afetos e A importância central das artes na vida
interage com o meio e as pessoas ao seu re- das crianças e jovens é fundamental para o
dor, contribuindo para um desenvolvimento desenvolvimento do empreendedorismo, in-
completo do indivíduo em sua vida fora do teligência social, resolução de problemas e
âmbito escolar. pensamento crítico, que se tornam cada vez
mais essenciais para a preparação para o tra-
A sociedade costumeiramente enxer- balho no século XXI.
ga a arte como uma forma de entretenimen-
to, associando-a ao lazer. É necessário incor- As artes têm o poder de nivelar o cam-
porar, na educação das crianças, diversas po de atuação, ampliando as oportunidades
formas de expressão, criação e inovação, que de aprendizado para todos os alunos e per-
são justamente aspectos construídos através mitindo que experimentem diferentes esti-
da arte. Isso estimula as crianças a pensarem los de aprendizagem que funcionem melhor
e se expressarem de maneira livre, fazendo para eles. Alunos em situação de risco que
parte das múltiplas linguagens disponíveis. têm uma ampla exposição às artes apresen-
tam melhores resultados acadêmicos, esta-
O ponto de partida para o trabalho belecem metas de carreira mais elevadas e
com as múltiplas linguagens é a formação se envolvem mais ativamente na comunida-
dos educadores para que invistam na conta- de.
ção de histórias.
Ao falar sobre arte, geralmente pensa-
Importante que favoreçam espaços mos em desenhos, pinturas e obras visuais,
que invistam ainda no movimento, no traba- mas é importante valorizar também o teatro,
lho corporal e no brincar como caminhos vi- a dança e a música como linguagens igual-
tais de aprendizagem para as crianças, além mente importantes a serem trabalhadas na
da percepção de que arte, literatura e música educação infantil, além das expressões visu-
possibilitam a construção de conhecimentos ais.
ricos e culturalmente significativos. Cabe ao
educador organizar o espaço disponível, pro- A diversidade das artes é vasta e deve
por desafios e replanejar continuamente o ser desenvolvida desde a educação infantil.
processo. Assim agindo, com certeza estará Para conhecer um pouco mais sobre cada
possibilitando aos seus alunos o desenvol- uma delas, este artigo fornecerá uma breve
vimento de um saudável sentimento de co- visão histórica de cada forma artística.
ragem e fortalecimento para construir seus
projetos de vida, com capacidade para res- O teatro, provocador dos sentidos,
significar o seu meio e lutar para mostrar as instigante para o pensamento e a ação, des-
pessoas as suas realizações não se deixando taca uma característica humana peculiar: a
intimidar. (GIL, 2004, p. 3) capacidade de expandir e redirecionar sua
maneira de ser, pensar e agir, utilizando a li-

285
berdade para transformar a si mesmo e seu nos, promovendo uma atitude crítica.
ambiente. Compreender o teatro como uma
forma de expressão e criação humana, que O educador não deve se colocar como
ocorre dentro de um contexto social e histó- detentor absoluto do conhecimento e da ver-
rico, permite que o indivíduo se reconheça dade, mas sim incentivar e valorizar a auto-
e perceba sua realidade, assim como aquilo nomia dos estudantes. Ao contextualizar a
que a transcende artisticamente. leitura de uma obra de arte, não é necessário
restringir-se apenas à biografia do artista ou
As artes devem proporcionar aos alu- à história da arte, embora esses elementos
nos a busca pela percepção e imaginação, possam ser úteis para facilitar a análise da
tanto na forma de conhecer quanto por meio imagem.
de suas ações ao realizar atividades artísticas,
estabelecendo uma intimidade com o corpo No processo de produção artística, é
e com a noção inata de criatividade presente fundamental que os alunos tenham uma ex-
em todos os seres humanos. periência completa e envolvente, aplicando
na prática os conceitos estéticos e poéticos
A dança e o teatro desempenham um discutidos durante a interpretação e con-
papel importante no desenvolvimento corpo- textualização. A arte desempenha um papel
ral, reflexão e criatividade, permitindo que os educativo crucial, estimulando não apenas
alunos desenvolvam sua percepção do mun- a inteligência e o desenvolvimento do senso
do ao seu redor. estético, mas também contribuindo para a
formação integral do indivíduo, sem a inten-
O corpo transmite nossa personalida- ção exclusiva de formar artistas.
de, sexualidade e sensibilidades, tornando-
-nos seres autênticos e únicos. As atividades de apreciação e criativi-
dade nas artes devem ir além do ambiente
No entanto, a dança e o teatro como escolar e se expandir para espaços culturais
ferramentas educacionais ainda não são mais amplos. É importante que esses espa-
compreendidos em sua totalidade em rela- ços incluam áreas dedicadas às crianças, ofe-
ção ao seu potencial para a formação edu- recendo material visual, ferramentas interati-
cacional, cultural e histórica de crianças e jo- vas e oficinas de pintura, artesanato, música
vens no ambiente escolar. e outras formas de expressão artística. Isso
Ao dançar, a criança cria uma repre- permite que os alunos tenham acesso a ex-
sentação de seu corpo no espaço, produzin- periências enriquecedoras e possam desen-
do seu próprio espaço, chamado de espaço volver suas habilidades artísticas e criativas
corporal. Esse fenômeno também ocorre no de maneira mais abrangente.
teatro. Toda vez que há um investimento afe- Diferentemente de outras áreas do co-
tivo no corpo, surge o espaço corporal. nhecimento, a arte é única em sua capacida-
Segundo Gil (2004): de de contar a história de todas essas áreas
ao longo do tempo por meio de suas diver-
O corpo tem de se abrir ao espaço, sas formas de expressão. No entanto, o en-
tem de se tornar de certo modo espaço; e o sino de arte frequentemente esteve sujeito
espaço exterior tem de adquirir uma textura a pressões políticas, econômicas e culturais
semelhante à do corpo a fim de que os ges- que nem sempre permitiram que ela fosse
tos fluam tão facilmente como o movimento estabelecida no campo escolar como um co-
se propaga através dos músculos. O espaço nhecimento relevante e significativo.
do corpo, como espaço exterior, satisfaz esta
exigência. O corpo move-se nele sem enfren-
tar os obstáculos do espaço objetivo estra- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
nho, com os seus objetos, a sua densidade,
as suas orientações já fixadas, os seus pontos ALENCAR, E.S. de. Como desenvolver
de referência próprios. (...) (GIL, 2004, p.50). potencial criador. Petrópolis: Vozes, 1990.
O espaço objetivo exterior é substitu- ANDRADE, Augusto. A Contribuição da
ído pelo espaço do corpo, se tornando sem Arte terapia. São Paulo 2000, p.35. BARBOSA,
viscosidades, onde o interior e exterior são A. M. Arte-educação no Brasil. 2. ed. São Pau-
um só, portanto ao se trabalhar com o tea- lo: Perspectiva, Debates, 2002.
tro e a dança o processo de ensino aprendi-
zagem será significativo para a criança, por BARBOSA, A.M. A imagem no ensino
meio das linguagens artísticas. da arte: anos oitenta e novos tempos. São
Paulo: Perspectiva, 1991.
BRASIL. Secretaria de Educação Funda-
CONSIDERAÇÕES FINAIS mental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Arte (1ª a 8ª séries) /Secretaria de Educação
Durante o processo de ensino e apren- Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.
dizagem, especialmente na educação visual,
é essencial que os professores adotem uma COLI, Jorge. O que é Arte. São Paulo:
abordagem que estimule a reflexão e respei- Brasiliense, 1998.
te as interpretações e julgamentos dos alu-
FERREIRA, S. Imaginação e Linguagem

286
no Desenho da Criança. 2ª ed.
Campinas-SP: Papirus, 2008.
GIL, José. Nuno Nabais. Corpo, Espaço
e Poder. Lisboa: Litoral Edições, 1988.
PAREYSON, L. Os problemas da estéti-
ca. Trad. Maria Helena Nery Garcez, 2 ed. são
Paulo: Martins Fontes, 1989. [0 original italia-
no desde 1966].
RIBEIRO, Simone Vaghetti. Propostas
e processos avaliativos do desenho desen-
volvidos por uma professora de artes visuais
em uma escola pública de Pelotas. 2010. 26f.
(Trabalho de Conclusão de Curso – Artes Vi-
suais – Licenciatura) Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas.

287
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
JULIANA MORELO MARON

Resumo da Sociedade, pelo Estado e pelo Poder Públi-


co. É preciso perceber que essa inclusão dos
Este artigo foi elaborado para trazer a portadores de deficiência depende do seu
luz alguns aspectos da inclusão educacional, reconhecimento como pessoas, que apre-
onde os nossos educandos com necessida- sentam necessidades especiais geradoras de
des especiais, ingressam em escolas regula- direitos específicos, cuja proteção e exercício
res, socializando-se com os alunos os quais dependem do cumprimento dos direitos hu-
não estão acostumados. Procura-se passar manos fundamentais.
a situação enfrentada pelos professores que
não foram preparados para lidarem com es- Hoje quando pensamos em in-
ses alunos, e nem mesmo sabem como agir clusão na educação logo nos vem a mente
didaticamente com os mesmos. Analisar a alunos com sérios transtornos de compor-
verdadeira parceria que tem que haver entre tamento, bem como alunos que estão com
escolas regulares e escolas especiais, já que mobilidade reduzida, em cadeiras de rodas,
esta correlação beneficia a construção do que não tem condições de socialização com
processo de aprendizagem. os demais alunos.
Palavras-chave: Inclusão; Formação Apesar da lei vigente e de que
Continuada; Processo de aprendizagem. estas leis garantam o direito a estes alunos
que segundo a Declaração de Salamanca
(1994) denomina-os como portadores de ne-
Abstract cessidades escolares especiais, ainda temos
dificuldades enfrentadas nas escolas para
This work was done to bring light admitirem crianças com estas características.
some aspects of educational inclusion, whe-
re our students with special needs admission Sanches (2005) defende uma
in regular schools, socializing with students educação eficaz para todos, onde as escolas
who are not accustomed. Wanted to spend tidas como comunidades educativas devem
the situation faced by teachers who were not satisfazer as necessidades de todos os alu-
prepared to deal with these students, and do nos, sejam quais forem suas características
not even know how to act with them didacti- pessoais, psicológicas ou sociais.
cally. Analyze the true partnership that must Assim, o papel da escola é de
exist between mainstream schools and spe- facilitador, de favorecer que cada um possa
cial schools, as this co - relationship benefits reconheça nos demais a mesma esfera de
the construction of the learning process. direito que exige para si, pensando assim o
Keywords: Inclusion; Continuing Edu- conceito de inclusão irá agregar todos aque-
cation; The learning process. les que de certa forma são excluídos da so-
ciedade e não somente alunos com deficiên-
cia.
1 INTRODUÇÃO Sendo assim, a educação inclu-
A Educação, como um direito de todos siva abrange também alunos acometidos de
os cidadãos estabelecido pela Constituição alguma doença ou impossibilidade, alunos
Federal do Brasil (1988), foi reafirmada pela oriundos de populações nômades e etnias,
Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacio- além dos alunos em situação de risco, entre
nal, Lei nº9394/96, que destina o Capítulo V à outros.
Educação Especial. O art.58 da LDBEN define As duas últimas décadas foram
que a educação dos alunos com necessida- marcadas pelo debate acerca da inclusão, es-
des especiais deve ser realizada, preferen- tabelecendo como componente fundamen-
cialmente, na rede regular de ensino. tal à universalização do acesso à educação, o
Assim, a Educação Especial que desenvolvimento de uma pedagogia centra-
era vista por muitos, como modalidade usual da na criança, a ampliação da participação da
de atendimento às pessoas com necessida- família e da comunidade, a organização das
des especiais e, principalmente das pessoas escolas para a participação e aprendizagem
com deficiências, deve atuar como comple- de todos os alunos e a formação de redes de
mento da Educação Básica ou Superior, um apoio à inclusão. Esta postura ativa de iden-
instrumento a estar disponível quando ne- tificação das barreiras que alguns alunos
cessário. encontram no acesso à educação e também
na busca dos recursos necessários para ul-
A inclusão social da pessoa com trapassá-las se constituiu no movimento de
deficiência significa torná-las participantes inclusão e consolidação de um novo paradig-
da vida social, econômica e política, assegu- ma educacional referenciado na concepção
rando o respeito aos seus direitos no âmbito de educação inclusiva, que tem como desafio

288
a construção de uma escola aberta às dife- blico, na forma desta Lei e da legislação dos
renças e uma sociedade que reconhece e va- sistemas de ensino;
loriza a diversidade.
IX - garantia de padrão de qualidade;
Este trabalho pretende trazer a luz al-
guns conceitos que são muitas vezes despre- X - valorização da experiência extraes-
zados na educação inclusiva, bem como fa- colar;
zer um paralelo da formação dos professores XI - vinculação entre a educação esco-
para este modo de ensino e este aluno que lar, o trabalho e as práticas sociais.
traz consigo características tão particulares.
XII - consideração com a diversidade
étnico-racial.
2 A EDUCAÇÃO NO BRASIL A LDBEN 9394/96, define a Edu-
Hoje a Lei de Diretrizes e Bases da cação Especial, de forma a desvincular a edu-
Educação (LDB) que legisla sobre a educa- cação especial do conceito de escola espe-
ção básica é clara ao referir que a educação cial. Assim hoje os alunos especiais podem
abrange os processos formativos interagir na sociedade e ter um convívio nas
escolas com alunos declarados normais, con-
Art. 1º A educação abrange os proces- forme diz a legislação:
sos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no traba- Art. 58. Entende-se por educação es-
lho, nas instituições de ensino e pesquisa, pecial, para os efeitos desta Lei, a modalida-
nos movimentos sociais e organizações da de de educação escolar oferecida preferen-
sociedade civil e nas manifestações culturais. cialmente na rede regular de ensino, para
educandos com deficiência, transtornos glo-
§ 1º Esta Lei disciplina a educação es- bais do desenvolvimento e altas habilidades
colar, que se desenvolve, predominantemen- ou superdotação.
te, por meio do ensino, em instituições pró-
prias. § 1º Haverá, quando necessário, servi-
ços de apoio especializado, na escola regular,
§ 2º A educação escolar deverá vincu- para atender às peculiaridades da clientela
lar-se ao mundo do trabalho e à prática so- de educação especial.
cial.
§ 2º O atendimento educacional será
Ao passarmos a entender a educação feito em classes, escolas ou serviços especia-
como um direito também temos que enten- lizados, sempre que, em função das condi-
der que ela tem responsabilidade de dois ções específicas dos alunos, não for possível
atores a família e o Estado, que ambos são a sua integração nas classes comuns de ensi-
corresponsáveis por ela: no regular.
Art. 2º A educação, dever da família e § 3º A oferta de educação especial,
do Estado, inspirada nos princípios de liber- dever constitucional do Estado, tem início
dade e nos ideais de solidariedade humana, na faixa etária de zero a seis anos, durante a
tem por finalidade o pleno desenvolvimento educação infantil.
do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 59. Os sistemas de ensino assegu-
rarão aos educandos com deficiência, trans-
Art. 3º O ensino será ministrado com tornos globais do desenvolvimento e altas
base nos seguintes princípios: habilidades ou superdotação:
I - igualdade de condições para o aces- I - currículos, métodos, técnicas, re-
so e permanência na escola; cursos educativos e organização específicos,
para atender às suas necessidades;
II - liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar e divulgar a cultura, o pensamen- II - terminalidade específica para aque-
to, a arte e o saber; les que não puderem atingir o nível exigido
para a conclusão do ensino fundamental,
III - pluralismo de ideias e de concep- em virtude de suas deficiências, e aceleração
ções pedagógicas; para concluir em menor tempo o programa
IV - respeito à liberdade e apreço à to- escolar para os superdotados;
lerância; III - professores com especialização
V - coexistência de instituições públi- adequada em nível médio ou superior, para
cas e privadas de ensino; atendimento especializado, bem como pro-
fessores do ensino regular capacitados para
VI - gratuidade do ensino público em a integração desses educandos nas classes
estabelecimentos oficiais; comuns;
VII - valorização do profissional da IV - educação especial para o trabalho,
educação escolar; visando a sua efetiva integração na vida em
VIII - gestão democrática do ensino pú- sociedade, inclusive condições adequadas
para os que não revelarem capacidade de

289
inserção no trabalho competitivo, mediante move para a construção de um mundo mais
articulação com os órgãos oficiais afins, bem humano e educativo.
como para aqueles que apresentam uma ha-
bilidade superior nas áreas artística, intelec- Como diz Paulo Freire educar
tual ou psicomotora; precisa de amor, e assim é a função do edu-
cador que tem em sua sala de aula um aluno
V - acesso igualitário aos benefícios com necessidades especiais, pois é uma con-
dos programas sociais suplementares dispo- dição de trabalho toda adversa, não é ensina-
níveis para o respectivo nível do ensino regu- do nas faculdades como trabalhar com esse
lar. aluno, aí se sobressai o amor, saber que você
está ajudando este aluno a construir o co-
Art. 60. Os órgãos normativos dos sis- nhecimento e se tornar um cidadão, incluí-lo
temas de ensino estabelecerão critérios de na sociedade.
caracterização das instituições privadas sem
fins lucrativos, especializadas e com atuação
exclusiva em educação especial, para fins de
apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. 3 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Parágrafo único. O poder público A política de inclusão de alunos na
adotará, como alternativa preferencial, a am- rede regular de ensino não consiste somen-
pliação do atendimento aos educandos com te na permanência física desses alunos jun-
deficiência, transtornos globais do desenvol- to aos demais educandos, mas representa a
vimento e altas habilidades ou superdotação ousadia de rever concepções e paradigmas,
na própria rede pública regular de ensino, bem como desenvolver o potencial dessas
independentemente do apoio às instituições pessoas, respeitando suas diferenças e aten-
previstas neste artigo dendo suas necessidades (GUENTHER, 2003,
p.47)
Ao propor uma reflexão sobre a
educação brasileira, vale lembrar que só em A escola para a maioria das
meados do século XX o processo de expan- crianças brasileiras é o único espaço de aces-
são da escolarização básica no país começou, so aos conhecimentos universais e sistemati-
e que o seu crescimento, em termos de rede zados, ou seja, é o lugar que vai lhes propor-
pública de ensino, se deu no fim dos anos cionar condições de se desenvolver e de se
1970 e início dos anos 1980. tornar um cidadão, alguém com identidade
social e cultural.
Temos presenciado nos últimos
anos vários debates envolvendo a educação, A Declaração de Salamanca
onde fazem-se paralelos sobre o Brasil do aborda princípios, políticas e práticas na
passado versus o Brasil do presente. Pode- área das Necessidades Educativas Especiais,
mos ver que o país caminhou a largos passos, ou seja, escolas regulares que possuem tal
mas o acesso à educação e a cultura ainda é orientação inclusiva constituem os meios
baixo, apesar de termos leis que regulamen- mais eficazes de combater atitudes discrimi-
tem este direito. natórias, criando-se comunidades acolhedo-
ras, construindo uma sociedade inclusiva e
É preciso analisarmos as neces- alcançando educação para todos; além disso,
sidades do país em termos de direitos edu- tais escolas proveem uma educação efetiva à
cacionais, onde podemos criar as possibili- maneira das crianças e aprimora a eficiência
dades dessas necessidades serem supridas, e, em última instância, o custo da eficácia de
mesmo buscando nas políticas orçamentá- todo o sistema educacional. A Declaração de
rias, institucionais e políticas, regras que aju- Salamanca e seus idealizadores e participan-
dem no combate ao analfabetismo, que se tes proclamam:
busque a melhoria na qualidade do ensino,
e que o ensino possa proporcionar igualdade a) toda criança tem direito fundamen-
de condições para com todos os alunos, até tal à educação, e deve ser dada a oportunida-
mesmo com aqueles que tem necessidades de de atingir e manter o nível adequado de
de uma educação especial. aprendizagem,
A mudança na Educação brasi- b) toda criança possui características,
leira depende de esforços políticos que pare- interesses, habilidades e necessidades de
cem além do nosso alcance, mas a verdade é aprendizagem que são únicas,
que essa transformação pode começar ago- c) sistemas educacionais deveriam ser
ra, na sua casa, com seu filho. Confira atitu- designados e programas educacionais de-
des que você pode tomar no dia a dia que fa- veriam ser implementados no sentido de se
zem toda a diferença para a Educação e para levar em conta a vasta diversidade de tais ca-
o Brasil. racterísticas e necessidades,
A Educação em todas as suas di- d) aqueles com necessidades educa-
mensões é um desafio. Paulo Freire dizia que cionais especiais devem ter acesso à escola
não se pode falar de Educação sem falar de regular, que deveria acomodá-los dentro de
amor. O Amor que é um sentimento próprio, uma Pedagogia centrada na criança,
terno, quebra paradigmas, barreiras e nos

290
e) capaz de satisfazer a tais necessida- a integração desses educandos nas classes
des, comuns;
f) escolas regulares que possuam tal IV - educação especial para o trabalho,
orientação inclusiva constituem os meios visando a sua efetiva integração na vida em
mais eficazes de combater atitudes discrimi- sociedade, inclusive condições adequadas
natórias criando-se comunidades acolhedo- para os que não revelarem capacidade de
ras, construindo uma sociedade inclusiva e inserção no trabalho competitivo, mediante
alcançando educação para todos; articulação com os órgãos oficiais afins, bem
como para aqueles que apresentam uma ha-
Além disso, tais escolas proveem uma bilidade superior nas áreas artística, intelec-
educação efetiva à maioria das crianças e tual ou psicomotora;
aprimoram a eficiência e, em última instân-
cia, o custo da eficácia de todo o sistema edu- V - acesso igualitário aos benefícios
cacional. dos programas sociais suplementares dispo-
níveis para o respectivo nível do ensino regu-
A Educação Especial é definida, a lar.
partir da LDBEN 9394/96, como uma modali-
dade de educação escolar que permeia todas Art. 60. Os órgãos normativos dos sis-
as etapas e níveis de ensino. Esta definição temas de ensino estabelecerão critérios de
permite desvincular “educação especial” de caracterização das instituições privadas sem
“escola especial”. Permite também, tomar a fins lucrativos, especializadas e com atuação
educação especial como um recurso que be- exclusiva em educação especial, para fins de
neficia a todos os educandos e que atravessa apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.
o trabalho do professor com toda a diversi-
dade que constitui o seu grupo de alunos. Parágrafo único. O poder público
adotará, como alternativa preferencial, a am-
Art. 58. Entende-se por educação es- pliação do atendimento aos educandos com
pecial, para os efeitos desta Lei, a modalida- deficiência, transtornos globais do desenvol-
de de educação escolar oferecida preferen- vimento e altas habilidades ou superdotação
cialmente na rede regular de ensino, para na própria rede pública regular de ensino,
educandos com deficiência, transtornos glo- independentemente do apoio às instituições
bais do desenvolvimento e altas habilidades previstas neste artigo.
ou superdotação.
A partir daí, a educação
§ 1º Haverá, quando necessário, servi- especial baseou-se em uma concepção de
ços de apoio especializado, na escola regular, reeducação através de métodos comporta-
para atender às peculiaridades da clientela mentais, supondo que bastariam técnicas de
de educação especial. estimulação especiais para as crianças alcan-
çarem um nível “normal” de desenvolvimen-
§ 2º O atendimento educacional será to.
feito em classes, escolas ou serviços especia-
lizados, sempre que, em função das condi- Como visto acima a Declaração
ções específicas dos alunos, não for possível de Salamanca define os alunos inclusivos,
a sua integração nas classes comuns de ensi- como "pessoas com necessidades educacio-
no regular. nais especiais". E com direito ao acesso e in-
gresso na escola.
§ 3º A oferta de educação especial,
dever constitucional do Estado, tem início As referências usualmente feitas
na faixa etária de zero a seis anos, durante a de inclusão no campo da educação conside-
educação infantil. ram as dimensões pedagógica e legal da prá-
tica educacional. Sem dúvida, dois campos
Art. 59. Os sistemas de ensino assegu- importantes quando se pretende a efetivação
rarão aos educandos com deficiência, trans- destes ideais. No entanto, uma importante
tornos globais do desenvolvimento e altas ampliação da discussão sobre os caminhos
habilidades ou superdotação: das políticas públicas para a inclusão escolar
I - currículos, métodos, técnicas, re- seria a consideração do contexto em que se
cursos educativos e organização específicos, pretende uma sociedade inclusiva.
para atender às suas necessidades; Hoje se fala muito em inclusão
II - terminalidade específica para aque- social, oportunidade a portadores de neces-
les que não puderem atingir o nível exigido sidades especiais, a inclusão de estudantes
para a conclusão do ensino fundamental, com deficiência no sistema regular de ensino
em virtude de suas deficiências, e aceleração está baseada nessa perspectiva de educação
para concluir em menor tempo o programa para todos, pois, ao serem feitas adaptações
escolar para os superdotados; pedagógicas para um aluno que tenha algum
tipo de deficiência, leva-se em conta distintas
III - professores com especialização formas de aprender e de ensinar.
adequada em nível médio ou superior, para
atendimento especializado, bem como pro- Pensando em como realizar da
fessores do ensino regular capacitados para melhor maneira as práticas inclusivas para
essas pessoas, de forma a desenvolver suas

291
potencialidades, busca-se também a qualida- te; desenvolver habilidades cooperativas na
de do ensino para todos os estudantes, inde- resolução dos problemas, na comunicação,
pendentemente de terem ou não deficiência. na instrução e na prestação de ajuda pessoal;
aprender diretamente sobre coisas difíceis,
O uso de estratégias de ensino incluindo a superação do medo das diferen-
adequadas a diferentes tipos de necessida- ças; resolver problemas de relacionamento
des específicas de aprendizagem só vem a ocorridos em aula; lidar com comportamento
contribuir para o desenvolvimento de todos difícil, violento ou auto destruidor; lidar com
os estudantes envolvidos no processo, ou os efeitos de questões familiares no coleguis-
seja, indivíduos com diferentes deficiências mo; enfrentar e apoiar um no outro durante
ou necessidades educacionais específicas, de enfermidades graves ou morte de alguém de
diferentes origens socioeconômicas e con- sua própria idade.
textos culturais distintos, com habilidades
igualmente distintas entre si, poderão benefi- Para Staimback e Staimback
ciar-se de estratégias didático-metodológicas (1999), as amizades conquistadas pelos alu-
heterogêneas; afinal, em uma escola cada nos em um ambiente inclusivo podem auxi-
vez mais plural e democrática, não se pode liá-los a se sentirem realmente membros de
supor que exista uma única forma de ensinar suas comunidades e a terem oportunidade
e aprender. de aprender o respeito, o interesse e o apoio
mútuo em uma sociedade inclusiva, ao mes-
Dessa maneira, os alunos e o mo tempo em que aprendem habilidades
professor podem ver que todos têm aptidões acadêmicas. Assim, para os autores, a possi-
e habilidades e que todos precisam de ajuda bilidade de os alunos experienciarem e com-
em algumas áreas. Karen pode ser ótima em preenderem a diversidade de uma comuni-
leitura, mas pode precisar de ajuda nas brin- dade propicia a construção de comunidades
cadeiras no playground. Carmen pode ter di- seguras e protetoras que evitam a exclusão
ficuldade em matemática, mas é ótima para pelo isolamento de indivíduos ou grupos.
lembrar-se de coisas e organizar pessoas e
atividades. As salas de aula podem tornar-se Nas últimas décadas do século XX, o
comunidades de apoio mútuo se os profes- direito de todos à educação foi debatido de
sores promoverem o respeito pelas diferen- uma forma mais integral que nos anos ante-
ças e proporcionarem oportunidades diversi- riores. A necessidade de constituir uma esco-
ficadas para os alunos enxergarem uns aos la em que a prática pedagógica seja estrutu-
outros de muitas maneiras. (STAIMBACK; rada de modo a contemplar as necessidades
STAIMBACK, 1999, p. 299). de todos, de forma igualitária, foi discutida e
assumida a partir de documentos legais na-
É importante destacar que as cionais e internacionais, como a Constituição
transformações exigidas pela inclusão esco- Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Declaração
lar não são utópicas e que temos meios de Mundial Sobre Educação para Todos (UNES-
efetivá-las. Essas mudanças já estão sendo CO, 1990), a Declaração de Salamanca (Es-
implementadas em alguns sistemas públicos panha, 1994) e a Lei de Diretrizes e Bases da
de ensino (...) é certo que os alunos com de- Educação Nacional (BRASIL, 1996). No início
ficiências constituem uma grande preocupa- deste século, há um incremento da legisla-
ção para os educadores inclusivos, mas todos ção que contempla a pessoa com deficiên-
sabemos que a maioria dos alunos que fra- cia, como a Convenção da Guatemala (2001),
cassam na escola são crianças que não vem a Convenção dos Direitos das Pessoas com
do ensino especial, mas que possivelmente Deficiência, ratificada e incorporada a Consti-
acabarão nele! (MANTOAN, 2001, p.125-6). tuição como Decreto Legislativo nº 186/2008
O benefício da permanência dos (BRASIL, 2008) entre outros dispositivos le-
estudantes com deficiência nas classes do gais.
ensino regular se estende a todos. Através Mazzotta (2003) atenta para a neces-
da convivência com alunos com diferentes sidade de não serem feitas generalizações
potencialidades e limitações, os estudantes quanto às necessidades especiais de alunos
têm oportunidade de aprender mais coisas com deficiência, pois todo aluno e toda escola
do que o currículo formal pode ensinar. são especiais em sua singularidade. Por isso,
Entre os benefícios que os alu- somente nas situações concretas em que se
nos das escolas inclusivas, desde a educa- encontram os alunos nas escolas pode-se in-
ção infantil até o ensino médio, comumente terpretar as necessidades educacionais esco-
relatam estão a descoberta de pontos em lares como comuns ou especiais.
comum com pessoas que superficialmente
parecem e agem de maneira muito diferen-
te; ter orgulho em ajudar alguém a conseguir 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
ganhos importantes, aparentemente impos-
síveis; ter oportunidade de cuidar de outras Ao olhar para a escola de acordo com
pessoas; agir consistentemente baseados em o pensamento de Foucault (2003), entenden-
valores importantes, como a promoção da do-a como uma instituição disciplinar mar-
igualdade, a superação da segregação ou a cada pelo pensamento moderno, é possível
defesa de alguém que é tratado injustamen- afirmar que seus pressupostos baseiam-se
num desejo de ordenação e organização, o

292
que pode ser aproximado daquilo que este cidadãos com alguma diferença e passa a ser
autor chama de normalização disciplinar. uma questão fundamental da sociedade.
A normalização disciplinar consiste Outra grande contribuição ficará
em primeiro colocar um modelo, um modelo a cargo de professores e gestores educacio-
ótimo que é constituído em função de certo nais, assumindo o compromisso na melho-
resultado, e a operação de normalização dis- ria da qualidade dos serviços oferecidos aos
ciplinar consiste em procurar tornar as pes- alunos portadores de deficiência e/ou que
soas, os gestos, os atos, conformes a esse apresentem alguma necessidade especial
modelo, sendo normal precisamente quem é momentânea. É chegada a hora da metamor-
capaz de se conformar a essa norma e o anor- fose educacional, onde os conflitos e resis-
mal quem não é capaz. Em outros termos o tências sejam superados e, que se perceba a
que é fundamental e primeiro na normaliza- dimensão de saberes que a diversidade tem
ção disciplinar não é o normal e o anormal, é a oferecer.
a norma. (FOUCAULT, 2008, p.75)
Sabemos que um professor sozi-
No sistema de ensino atual onde nho pouco pode fazer diante da complexida-
há um currículo oficial no estado, está previs- de de questões que seus alunos colocam em
to que os educandos que têm necessidades jogo. Por este motivo, a constituição de uma
especiais tenham igual condições de apren- equipe interdisciplinar, que permita pensar
dizado, mas se faz necessário uma parceria o trabalho educativo desde os diversos cam-
- interlocução entre escola regular e escola pos do conhecimento, é fundamental para
especial, pois durante muitos anos somente compor uma prática inclusiva junto ao pro-
estas estavam capacitadas a atender a estes fessor. É verdade que propostas correntes
educandos. nessa área referem-se ao auxílio de um pro-
fessor especialista e à necessidade de uma
Essa interlocução é primordial equipe de apoio pedagógico. Porém, a solici-
nos momentos de transição de um mode- tação destes recursos costuma ser proposta
lo educacional para outro, se concretizando apenas naqueles casos em que o professor já
mediante a sua inclusão em eventos de pla- esgotou todos os seus procedimentos e não
nejamento, avaliação e monitoramento da obteve sucesso.
ação pedagógica de ambas as modalidades
de ensino. Outra grande contribuição ficará É imprescindível, portanto, in-
a cargo de professores e gestores educacio- vestir na criação de uma política de formação
nais, assumindo o compromisso na melho- continuada para os profissionais da educa-
ria da qualidade dos serviços oferecidos aos ção. A partir dessa, seria possível a abertura
alunos portadores de deficiência e/ou que de espaços de reflexão e escuta sistemática
apresentem alguma necessidade especial entre grupos interdisciplinares e interinstitu-
momentânea. É chegada a hora da metamor- cionais, dispostos a acompanhar, sustentar e
fose educacional, onde os conflitos e resis- interagir com o corpo docente.
tências sejam superados e, que se perceba a
dimensão de saberes que a diversidade tem Outro aspecto a ser considera-
a oferecer. do, especialmente nas escolas públicas, é a
situação de miséria econômica e carência so-
A inclusão no movimento de in- cial de algumas famílias. Para estas, a escola
tegração social tem a proporção de um gran- é um dos poucos lugares de cuidado e acom-
de acontecimento e avanço, pois pressupõe panhamento de suas crianças, quando não
o ajustamento de pessoas com deficiência de sobrevivência direta, pela possibilidade de
para a sua participação no processo educa- alimentação e cuidados primários e, indireta,
cional em uma escola comum com um ensi- pela viabilidade do afastamento dos adultos
no regular. Ela prevê uma reestruturação do para o trabalho.
sistema educacional.
Com relação à proposta pedagó-
A escola tem que se adaptar gica, cabe apontar a importância das flexibili-
para ser um espaço democrático e compe- zações curriculares para viabilizar o processo
tente para trabalhar com todos os educan- de inclusão. Para que possam ser facilitado-
dos sem distinção. Deve estar voltada para ras, e não dificultadoras, as adequações cur-
uma educação democrática, com a prática riculares necessitam ser pensadas a partir do
da cidadania, e de forma dinâmica. Tem que contexto grupal em que se insere determina-
se valorizar as diversidades dos alunos esti- do aluno. Como afirma Filidoro (2001 p.112),
mulando os mesmos a construírem seu pro- “as adaptações se referem a um contexto -
cesso de conhecer, aprender, reconhecer e e não me refiro à criança, mas ao particular
construir sua própria cultura. ponto de encontro que ocorre dentro da aula
em que convergem a criança, sua história, o
A prática nesta interlocução (es- professor, sua experiência, a instituição es-
cola regular com escola especial) é constru- colar com suas regras, o plano curricular, as
ída através da prática cooperativa e global, regulamentações estaduais, as expectativas
onde ha a cooperação mútua. Nessa pers- dos pais, entre outros, - então não é possível
pectiva, a inclusão social deixa de ser uma pensar em adaptações gerais para crianças
preocupação a ser dividida entre governan- em geral".
tes, especialistas e um grupo delimitado de

293
Sendo neste caminho ainda te-
mos muito a percorrer para que a inclusão
seja um processo natural sem traumas tan-
to para os educandos, quanto para os edu-
cadores. Mas as tendências atuais levam a
analisarmos que está próximo o momento
em que a rede de ensino estará adaptada
para suprir as necessidades destes alunos
especiais, podendo integrá-los na sociedade
como cidadãos críticos e conscientes de seu
papel.

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Artmed, 1999

294
DIREITO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES À EDUCAÇÃO: A EDUCAÇÃO COMO
UM MEIO PARA O PROTAGONISMO INFANTO-JUVENIL TENDO A MEDIAÇÃO
DE CONFLITOS E A EDUCAÇÃO RESPEITOSA COMO FERRAMENTAS
LÍGIA DE SOUZA BERTOGNE DE ANDRADE

Resumo Além disso, a Constituição estabelece


a descentralização do ensino, conferindo aos
A mediação de conflitos na educação estados e municípios a responsabilidade de
infantil é essencial para o desenvolvimento organizarem e financiarem o sistema educa-
social e emocional das crianças, promovendo cional, respeitando as diretrizes nacionais.
a resolução pacífica de conflitos e o apren- Isso promove a autonomia das unidades
dizado de habilidades sociais e emocionais. federativas para adaptar a educação às ne-
Isso cria um ambiente positivo de aprendiza- cessidades locais, ao mesmo tempo em que
do, contribui para uma cultura de paz e ca- mantém padrões mínimos de qualidade es-
pacita as crianças a lidarem com desentendi- tabelecidos pelo governo federal.
mentos de maneira construtiva.
O direito da criança à educação tam-
Palavras - Chave: Educação; infantil; bém está em conformidade com tratados
mediação; desenvolvimento; cultura. internacionais dos quais o Brasil é signatá-
rio, como a Convenção sobre os Direitos da
Criança da Organização das Nações Unidas
Introdução (ONU). Essa convenção, ratificada pelo Bra-
No artigo apresentado trataremos so- sil em 1990, estabelece o direito de todas as
bre o direito das crianças à educação, à luz crianças à educação, destacando a importân-
da Constituição de 1988, trataremos da im- cia de garantir que ela seja orientada para o
portância do estabelecimento da mediação desenvolvimento máximo da personalidade,
de conflitos, da cultura de paz e da educação talentos e habilidades da criança.
respeitosa como ferramentas para o desen- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
volvimento das aprendizagens de crianças e Nacional (LDB), de 1996, é outra legislação
adolescentes. Por fim destacaremos a impor- que complementa as disposições constitu-
tância do protagonismo infanto juvenil para a cionais sobre o direito da criança à educação.
aquisição de princípios cidadãos por parte de Ela detalha aspectos como a organização
crianças, adolescentes e jovens. do sistema educacional, o financiamento da
educação, os currículos escolares, a forma-
ção de professores e a gestão democrática
Desenvolvimento das escolas.
O direito da criança à educação é um No entanto, apesar das conquistas le-
princípio fundamental consagrado na Cons- gais e constitucionais, o Brasil enfrenta de-
tituição Brasileira de 1988, também conheci- safios significativos na efetivação do direito
da como a "Constituição Cidadã". Essa carta à educação das crianças. A desigualdade no
magna foi promulgada após um longo perío- acesso à educação de qualidade ainda é uma
do de ditadura militar no Brasil e é conside- realidade, com disparidades regionais e so-
rada um marco na história do país, estabe- cioeconômicas que impactam diretamente
lecendo as bases para a construção de uma a vida das crianças. Além disso, problemas
sociedade mais justa e igualitária. como a evasão escolar, a falta de infraestru-
tura adequada nas escolas e a qualidade do
O Artigo 205 da Constituição de 1988 ensino são questões prementes que preci-
estabelece que a educação é um direito de sam ser abordadas de forma eficaz.
todos e um dever do Estado e da família,
sendo promovida e incentivada com a cola- Nesse sentido, é importante destacar
boração da sociedade. O Artigo 206, por sua a importância de políticas públicas eficazes,
vez, destaca os princípios que devem norte- investimentos consistentes na educação e
ar o ensino no Brasil, como a igualdade de a participação ativa da sociedade civil para
condições para o acesso e a permanência na garantir que o direito da criança à educação
escola, a liberdade de aprender, ensinar, pes- seja plenamente respeitado e promovido. A
quisar e divulgar o pensamento, a pluralida- Constituição de 1988 é um marco na garantia
de de ideias e de concepções pedagógicas, e desse direito, mas cabe aos cidadãos, gover-
a gestão democrática do ensino público. nos e instituições trabalharem juntos para
assegurar que a educação seja, de fato, um
A Constituição de 1988 também prevê direito acessível a todas as crianças, promo-
a obrigatoriedade da educação, estabelecen- vendo assim o desenvolvimento do país e o
do no Artigo 208 que o ensino fundamental, bem-estar de suas futuras gerações.
com duração de nove anos, é obrigatório e
gratuito na escola pública. Esse dispositivo A educação respeitosa é um conceito
visa garantir que todas as crianças tenham que tem ganhado cada vez mais destaque no
a oportunidade de frequentar a escola, in- cenário educacional moderno. Ela se baseia
dependentemente de sua condição social ou na ideia de que o respeito mútuo entre edu-
econômica. cadores, estudantes e famílias é fundamental

295
para promover um ambiente de aprendizado A educação respeitosa não se limita
saudável e eficaz. Neste texto, exploraremos apenas às escolas. Ela pode ser aplicada em
o que é a educação respeitosa, por que é im- casa, em ambientes de ensino não formal
portante e como ela pode ser aplicada em di- e em outros contextos educacionais. Pais e
ferentes contextos. cuidadores desempenham um papel funda-
mental na promoção de uma educação res-
A educação respeitosa coloca a crian- peitosa, criando um ambiente de apoio e res-
ça no centro do processo de aprendizado, re- peito onde as crianças se sintam valorizadas
conhecendo-a como um ser humano único, e ouvidas.
com suas próprias necessidades, interesses
e habilidades. Ela se opõe à abordagem tradi- É importante destacar que a educação
cional de ensino, que muitas vezes é caracte- respeitosa não é sinônimo de permissivida-
rizada pela autoridade do educador, a ênfase de. Ela ainda estabelece limites e expectativas
na memorização de informações e a falta de claras para o comportamento apropriado,
participação ativa dos estudantes. mas o faz de uma maneira que respeita a dig-
nidade e a autonomia das crianças. Ela reco-
Um dos princípios fundamentais da nhece que, à medida que as crianças crescem
educação respeitosa é o respeito pelo con- e se desenvolvem, elas estão em constante
sentimento da criança. Isso significa que as evolução, e é essencial adaptar abordagens
decisões relacionadas à educação da criança educacionais para atender às suas necessi-
devem ser tomadas de forma colaborativa, dades em constante mudança.
levando em consideração sua opinião e de-
sejos sempre que apropriado. Isso não impli- Em resumo, a educação respeitosa é
ca que a criança deva ter total controle sobre uma abordagem que valoriza o respeito mú-
todos os aspectos de sua educação, mas sim tuo, a colaboração e o envolvimento ativo
que suas vozes e escolhas sejam levadas a dos estudantes em seu processo de apren-
sério e respeitadas. dizado. Ela reconhece a importância de aten-
der às necessidades individuais das crianças,
Outro aspecto importante da educa- promover a autonomia e a autoexpressão, e
ção respeitosa é a comunicação aberta e a criar um ambiente de aprendizado que seja
escuta ativa. Os educadores devem estar dis- significativo e engajador. À medida que essa
postos a ouvir as preocupações, perguntas e abordagem ganha mais reconhecimento e
ideias dos estudantes, criando um ambien- adoção, ela tem o potencial de transformar
te onde se sintam à vontade para expressar a educação, preparando os estudantes não
suas opiniões. Isso não apenas ajuda a pro- apenas para o sucesso acadêmico, mas tam-
mover a autoestima e a autoexpressão das bém para uma vida de autoconfiança, cida-
crianças, mas também fortalece a relação en- dania responsável e aprendizado ao longo da
tre educadores e estudantes. vida.
Além disso, a educação respeitosa en- Desde o início da humanidade, as
fatiza a aprendizagem baseada em interes- crianças desempenham um papel fundamen-
ses. Em vez de impor um currículo rígido e tal na nossa sociedade. No entanto, ao lon-
padronizado, os educadores buscam iden- go da história, sua voz e poder de influência
tificar os interesses individuais das crianças muitas vezes foram negligenciados, subesti-
e adaptar o ensino de acordo. Isso pode ser mados ou ignorados. A ideia de permitir que
feito por meio de projetos e atividades que as crianças se tornem protagonistas de suas
sejam relevantes e envolventes para os estu- próprias vidas e do mundo que as rodeia tem
dantes, tornando a aprendizagem mais signi- sido um tema em constante evolução, e é um
ficativa e prazerosa. princípio fundamental dos direitos das crian-
A educação respeitosa também valori- ças. Neste texto, vamos explorar o conceito
za a autonomia e a autorregulação. Ela incen- de "Criança como Protagonista" e como ele
tiva as crianças a desenvolverem habilidades pode ser aplicado para capacitar a próxima
de pensamento crítico, resolução de proble- geração.
mas e tomada de decisões, permitindo que A Convenção sobre os Direitos da
assumam a responsabilidade por seu próprio Criança, adotada em 1989 pela Assembleia
aprendizado. Isso não apenas prepara os es- Geral das Nações Unidas, é um marco impor-
tudantes para a vida fora da escola, mas tam- tante nesse contexto. Ela define as crianças
bém promove a confiança e a independência. como indivíduos com direitos próprios e não
No contexto da educação respeitosa, meramente como propriedade de adultos.
a avaliação assume uma abordagem mais Esta convenção reconhece que as crianças
holística. Em vez de focar apenas em notas e têm o direito de expressar suas opiniões, se-
testes padronizados, os educadores conside- rem ouvidas em questões que as afetam e se-
ram o progresso dos estudantes em termos rem tratadas com respeito e dignidade. Isso
de seu desenvolvimento global, incluindo estabelece as bases para a ideia de "Criança
aspectos emocionais, sociais e cognitivos. A como Protagonista".
ênfase está na compreensão profunda e na Empoderar as crianças como protago-
aplicação do conhecimento, em vez de na nistas envolve dar a elas a oportunidade de
memorização. participar ativamente na tomada de decisões

296
que afetam suas vidas, suas comunidades e ativo em suas próprias vidas e na construção
o mundo em geral. Isso pode começar no ní- do mundo em que vivem é uma forma de
vel mais básico, em casa e na escola, onde as honrar seus direitos e capacidades. À medida
crianças podem ser incentivadas a expressar que as crianças se tornam protagonistas, não
suas opiniões, fazer escolhas e aprender com apenas enriquecem suas próprias vidas, mas
suas experiências. À medida que crescem, a também contribuem para um futuro mais
participação das crianças pode se expandir brilhante e sustentável para todos. Portanto,
para incluir projetos comunitários, engaja- devemos continuar a promover e apoiar essa
mento cívico e até mesmo questões globais. abordagem, reconhecendo o valor e o poten-
cial das crianças como agentes de mudança.
A importância de permitir que as
crianças se tornem protagonistas vai além A mediação de conflitos na educação
de simplesmente dar-lhes voz. Isso ajuda a infantil desempenha um papel fundamental
desenvolver habilidades de liderança, empa- no desenvolvimento social, emocional e cog-
tia, resolução de conflitos e pensamento crí- nitivo das crianças. É uma abordagem que
tico. Quando as crianças são encorajadas a busca promover o diálogo, a compreensão
desempenhar um papel ativo na sociedade, mútua e a resolução pacífica de conflitos,
elas se tornam cidadãos mais conscientes e proporcionando um ambiente seguro e sau-
responsáveis. Além disso, elas adquirem um dável para o aprendizado e o crescimento
senso de pertencimento e valorização, o que das crianças. Neste texto, exploraremos a im-
é essencial para o desenvolvimento saudável portância da mediação de conflitos na edu-
e a construção de sua autoestima. cação infantil, as estratégias envolvidas e os
benefícios que ela oferece.
Um exemplo notável de crianças
como protagonistas é o movimento estu- A primeira infância é um período crítico
dantil pelo clima, liderado pela jovem ativista no desenvolvimento de uma criança, durante
Greta Thunberg e inúmeras outras crianças o qual ela aprende a interagir com os outros,
e adolescentes em todo o mundo. Esses jo- a compreender suas próprias emoções e a
vens têm se manifestado, organizado greves lidar com situações desafiadoras. Conflitos
escolares e pressionado os líderes globais são inevitáveis em qualquer ambiente social,
para agirem diante das mudanças climáticas. e a educação infantil não é exceção. As crian-
Eles demonstram que as crianças têm a ca- ças estão aprendendo a compartilhar, a se
pacidade não apenas de entender questões expressar, a resolver problemas e a desen-
complexas, mas também de inspirar ações volver empatia. No entanto, elas ainda não
concretas e mudanças significativas. possuem as habilidades cognitivas e emocio-
nais totalmente desenvolvidas para lidar com
Além disso, o envolvimento das crian- conflitos de maneira madura.
ças como protagonistas pode ter um impacto
profundo em suas próprias vidas. Pesquisas É nesse contexto que a mediação de
mostram que crianças que são incentivadas conflitos na educação infantil desempenha
a tomar decisões, solucionar problemas e um papel crucial. Ela oferece uma aborda-
expressar suas opiniões têm um senso mais gem construtiva para lidar com desentendi-
forte de autonomia e autoeficácia. Isso, por mentos e confrontos, incentivando as crian-
sua vez, está ligado a melhorias em sua saú- ças a aprenderem a resolver problemas de
de mental e bem-estar. forma pacífica, a entender as perspectivas
dos outros e a comunicar suas próprias ne-
No entanto, a implementação bem-su- cessidades e sentimentos.
cedida da ideia de "Criança como Protagonis-
ta" não é desprovida de desafios. Há preo- Um aspecto fundamental da media-
cupações sobre como equilibrar o desejo de ção de conflitos na educação infantil é a pre-
empoderar as crianças com a necessidade de sença de um adulto mediador, geralmente
protegê-las de situações prejudiciais. É fun- um educador. Esse mediador atua como um
damental criar ambientes seguros e de apoio facilitador, ajudando as crianças a expressa-
nos quais as crianças possam se envolver de rem suas preocupações, ouvirem os pontos
maneira significativa, com supervisão ade- de vista dos outros e trabalharem juntas para
quada. encontrar soluções. O mediador não impõe
uma decisão, mas orienta as crianças no pro-
Além disso, é importante considerar cesso de resolução de conflitos, incentivando
as desigualdades socioeconômicas e cultu- a cooperação, a compreensão e a empatia.
rais que afetam a capacidade das crianças
de se tornarem protagonistas. Nem todas as Além disso, a mediação de conflitos
crianças têm as mesmas oportunidades e re- na educação infantil envolve a criação de um
cursos disponíveis, e é essencial garantir que ambiente que valoriza a comunicação aber-
o acesso à participação não seja restrito por ta e a expressão de sentimentos. Isso pode
fatores externos. incluir a implementação de regras que pro-
movam o respeito mútuo, a escuta atenta e
Em resumo, a ideia a negociação. As crianças são incentivadas a
de "Criança como Protagonista" é funda- falar sobre como se sentem e a praticar ha-
mental para o desenvolvimento de uma so- bilidades de comunicação eficazes, como "Eu
ciedade justa, inclusiva e progressista. Capa- mensagens", onde elas expressam seus sen-
citar as crianças a desempenharem um papel

297
timentos de forma não acusatória, como "Eu Referência Bibliográfica
me sinto triste quando você pega meus brin-
quedos sem pedir." ROSENBERG, Marshall B.
Comunicação Não Violenta:
Outra estratégia importante na me-
diação de conflitos na educação infantil é o Técnicas para Aprimorar Relacio-
ensino da resolução de problemas. As crian- namentos Pessoais e Profissionais. Editora
ças são orientadas a identificar o problema, Ágora, 2022.
a considerar diferentes soluções e a esco- ROSENBERG, Marshall. Vivendo a Co-
lher a melhor opção. Essa abordagem ajuda municação Não Violenta: Como estabelecer
as crianças a desenvolverem habilidades de conexões sinceras e resolver conflitos de for-
pensamento crítico e a se tornarem mais in- ma pacífica e eficaz. Sextante, 2018.
dependentes na resolução de conflitos.
EIGENMANN, Maya. A Raiva Não Edu-
Os benefícios da mediação de conflitos ca, a Calma Educa: Por Uma Geração de Adul-
na educação infantil são diversos. Em primei- tos e Crianças com Mais Saúde Emocional.
ro lugar, ela ajuda as crianças a desenvolver São Paulo: Astral Cultural, 2022.
habilidades sociais e emocionais essenciais,
como a empatia, a comunicação eficaz e a BRASIL. Constituição (1988). Constitui-
autorregulação emocional. Essas habilidades ção da República Federativa do Brasil. Brasí-
são fundamentais não apenas para o suces- lia, DF: Senado Federal, 1988. Art. 205.
so na escola, mas também para o desenvol-
vimento de relacionamentos saudáveis ao
longo da vida.
Além disso, a mediação de conflitos
promove um ambiente de aprendizado mais
positivo. Quando as crianças se sentem se-
guras e apoiadas na resolução de conflitos,
elas podem se concentrar mais em suas ativi-
dades acadêmicas e criativas. Isso resulta em
um ambiente de sala de aula mais produtivo
e harmonioso.
A mediação de conflitos na educação
infantil também contribui para a construção
de uma cultura de paz. As crianças aprendem
desde cedo que os conflitos podem ser resol-
vidos de maneira pacífica e que a violência e
a agressão não são soluções aceitáveis. Isso
tem o potencial de criar uma geração futu-
ra mais tolerante, empática e comprometida
com a resolução de conflitos de maneira não
violenta.
Em resumo, a mediação de conflitos
na educação infantil desempenha um papel
vital na promoção do desenvolvimento sau-
dável das crianças. Ela ajuda as crianças a
aprenderem a resolver problemas de manei-
ra pacífica, a desenvolver habilidades sociais
e emocionais essenciais e a construir um am-
biente de aprendizado mais positivo. Investir
na mediação de conflitos na primeira infân-
cia é investir no bem-estar das crianças e na
construção de um futuro mais harmonioso e
pacífico.

3.Conclusão
Concluímos assim que todos os te-
mas acima tratados são fundamentais para
a construção de uma educação de qualidade,
inclusiva, equitativa e com características que
reverberam na sociedade e que possam, de
fato, alterar realidades e construir espaços
sociais mais igualitários.

298
A CULTURA INDIGENA EDUCACIONAL E SUAS CONCEPÇÕES
LILIAN ALVES PRECRIMO

RESUMO e como sua inclusão pode contribuir para


uma sociedade mais justa e inclusiva.
A cultura indígena educacional é um
tema de extrema importância para compre- A educação pública gratuita torna-se
endermos as práticas educativas das comu- princípio em âmbito nacional, reflexo do ce-
nidades indígenas no Brasil. Essas práticas nário pós-ditadura, marcado por intensos
são baseadas em transmissão de conheci- movimentos sociais por todos os cantos do
mentos, valores e tradições de geração em país, que clamavam por igualdade e garan-
geração, visando o desenvolvimento integral tia de direitos básicos dos cidadãos (BRASIL,
das crianças e jovens indígenas. A educação 2008).
indígena é pautada em diferentes elementos,
como a relação harmônica com a natureza, o Para entender a importância da cultu-
respeito aos mais velhos e a valorização da ra indígena na educação, é essencial conhe-
oralidade. Os conhecimentos são transmiti- cer um pouco sobre sua história. Os povos
dos de forma oral, através de histórias, mitos indígenas foram os primeiros habitantes do
e narrativas que ensinam sobre as relações Brasil, já estabelecidos no território antes
com o meio ambiente, a espiritualidade e o mesmo da chegada dos colonizadores eu-
convívio comunitário. ropeus. Durante o processo de colonização,
eles foram alvo de grandes injustiças, como a
Palavra-Chave: Cultura Indígena; Edu- violência, a exploração e a perda de suas ter-
cação; Conhecimento; Ensino. ras. Muitas tribos foram dizimadas ou perde-
ram grande parte de sua população devido a
conflitos armados, doenças e escravidão.
INTRODUÇÃO A cultura indígena é extremamente
O reconhecimento e valorização da diversa e abrange uma ampla variedade de
cultura indígena na educação é fundamental grupos étnicos, cada um com suas próprias
para a construção de uma sociedade mais tradições, línguas, práticas espirituais e mo-
justa e igualitária. As políticas públicas devem dos de sobrevivência. Ao longo dos séculos,
garantir o direito à educação diferenciada, os povos indígenas desenvolveram um pro-
respeitando as particularidades culturais e as fundo conhecimento sobre a natureza e seus
demandas das comunidades indígenas. Além recursos, criando técnicas de caça, pesca,
disso, é necessário investir na formação de agricultura e medicina que ainda são utiliza-
professores indígenas, que possam atuar de das até hoje. Além disso, a sua rica produção
forma comprometida e sensível com a reali- artística, expressa em pinturas corporais,
dade das comunidades. esculturas, cerâmica e tecelagem, é um ele-
mento chave para a preservação da identida-
A educação brasileira tem passado por de cultural indígena.
constantes transformações. Com a promul-
gação da Constituição de 1988, a educação Apesar da riqueza cultural dos povos
passa a ser o primeiro direito social. O ensi- indígenas, sua inclusão na educação tem sido
no fundamental é considerado um direito de historicamente limitada e inadequada. Du-
todos, independentemente das diferenças rante um longo período, os povos indígenas
de etnia, idade, sexo ou deficiências (BRASIL, foram proibidos de falar suas línguas, pra-
2008). ticar suas religiões e manter suas tradições
culturais, o que contribuiu para um processo
Em síntese, a cultura indígena educa- de assimilação forçada e perda de identida-
cional é rica em saberes, práticas e valores de. Mesmo hoje em dia, muitas escolas não
que contribuem para a formação integral das oferecem um currículo que inclua a história,
crianças e jovens indígenas. É um patrimônio a cultura e as tradições indígenas, perpetuan-
cultural que deve ser valorizado e respeitado, do estereótipos e desvalorizando sua contri-
possibilitando a construção de uma socieda- buição para a sociedade.
de mais plural e inclusiva.
A fim de corrigir essa situação, é ne-
A cultura indígena é um componente cessário promover a educação indígena, que
fundamental da identidade e história do Bra- valoriza e respeita a cultura desses povos. A
sil. Os povos indígenas habitam as terras que educação indígena deve incluir a transmis-
hoje correspondem ao território brasileiro há são dos conhecimentos ancestrais, a língua
milhares de anos, desenvolvendo uma rica materna, o respeito pelos rituais e festas tra-
diversidade de idiomas, práticas culturais, dicionais e a consciência da importância da
crenças e modos de vida. No entanto, essa preservação do meio ambiente. Além disso,
cultura tem sido historicamente negligencia- é essencial que as escolas e universidades
da e marginalizada, especialmente na área desenvolvam um currículo diversificado, que
da educação. Neste texto, exploraremos a inclua a história e a cultura indígena, além
importância da cultura indígena na educação de promover o diálogo intercultural e o reco-

299
nhecimento do pluralismo cultural. falar de uma diversidade de povos, habitan-
tes originários das terras conhecidas na atua-
A inclusão da cultura indígena na edu- lidade como continente americano.
cação não traz benefícios apenas para os
próprios povos indígenas, mas também para Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de
toda a sociedade. Ao reconhecer e valorizar a 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com
cultura indígena, estamos promovendo uma a seguinte redação: Art. 26-A. Nos estabeleci-
sociedade mais inclusiva, respeitosa e diver- mentos de ensino fundamental e de ensino
sa. Além disso, o conhecimento tradicional médio, públicos e privados, torna-se obriga-
dos povos indígenas sobre a natureza e os tório o estudo da história e cultura afro-bra-
recursos naturais pode ser uma valiosa con- sileira e indígena.
tribuição para a sustentabilidade ambiental e
a preservação da biodiversidade. § 1o O conteúdo programático a que
se refere este artigo incluirá diversos aspec-
A cultura indígena é uma parte essen- tos da história e da cultura que caracterizam
cial da identidade do Brasil e sua inclusão na a formação da população brasileira, a partir
educação é fundamental para construir uma desses dois grupos étnicos, tais como o estu-
sociedade mais justa e inclusiva. A valorização do da história da África e dos africanos, a luta
da cultura indígena na educação não apenas dos negros e dos povos indígenas no Brasil,
contribui para a preservação da identidade e a cultura negra e indígena brasileira na for-
história desses povos, mas também promove mação da sociedade nacional, resgatando as
a diversidade cultural, o respeito mútuo e a suas contribuições nas áreas social, econômi-
sustentabilidade ambiental. É necessário que ca e política, pertinentes à história do Brasil.
a educação brasileira reconheça e valorize a
riqueza cultural dos povos indígenas, garan- § 2o Os conteúdos referentes à histó-
tindo o direito a uma educação respeitosa, ria e cultura afro-brasileira e dos povos indí-
inclusiva e que promova a valorização desse genas brasileiros serão ministrados no âm-
importante parcela da população brasileira. bito de todo o currículo escolar, em especial
nas áreas de educação artística e de literatu-
As práticas educativas indígenas tam- ra e história brasileiras (NR).
bém têm como objetivo fortalecer a identida-
de cultural das comunidades, ensinando so- A cultura indígena também traz lições
bre a história, língua e costumes indígenas. valiosas em relação à sustentabilidade e ao
As crianças aprendem sobre suas origens, os respeito pelo meio ambiente. Os povos indí-
rituais e festividades tradicionais, além de se genas têm um conhecimento profundo sobre
conscientizarem sobre a importância da pre- a natureza e suas relações com ela, oferecen-
servação dos saberes indígenas. do uma perspectiva importante para lidar
com os desafios ambientais que enfrenta-
Além disso, a educação indígena tam- mos atualmente, como mudanças climáticas,
bém é voltada para a formação de habilida- desmatamento e perda de biodiversidade.
des práticas, como a caça, pesca, agricultura Promover esse conhecimento entre os estu-
e artesanato, que são fundamentais para a dantes é fundamental para promover práti-
sobrevivência das comunidades. O conheci- cas mais sustentáveis e conscientes.
mento da natureza e dos recursos disponí-
veis é passado de geração em geração, ga- Além da educação, a inclusão da cul-
rantindo a sustentabilidade e preservação do tura indígena na sociedade é essencial para
ambiente. a construção de uma nação mais justa e in-
clusiva. É preciso reconhecer e respeitar os
Entretanto, é importante ressaltar que direitos dos povos indígenas, incluindo o di-
a educação indígena tem enfrentado desa- reito à autodeterminação, ao território e à
fios e dificuldades ao longo dos anos. Muitas preservação de sua cultura. Isso implica em
comunidades ainda sofrem com a falta de políticas públicas que promovam a inclusão e
infraestrutura adequada, ausência de profes- o respeito pelos povos indígenas em todas as
sores indígenas capacitados e o preconceito esferas da sociedade, garantindo seu prota-
em relação aos valores e práticas culturais gonismo e igualdade de oportunidades.
indígenas.
A valorização da cultura indígena tam-
bém contribui para promover um senso de
identidade e pertencimento entre os pró-
OS ENSINAMENTOS E A CULTURA IN- prios indígenas, fortalecendo sua autoestima
DIGENA NA EDUCAÇÃO e empoderamento. Isso permite que eles se
A Lei 11645 de 2008, assinada pelo en- reconectem com suas raízes e história, forne-
tão presidente Luís Inácio Lula da Silva, de- cendo uma base sólida para uma sociedade
termina o Ensino de História e Culturas Indí- mais equitativa e inclusiva.
genas, nas aulas de artes, história e literatura Em suma, a inclusão da cultura indí-
nas escolas de ensino oficial do País, mas ela gena na educação e na sociedade é um pas-
não estabelece o ensino nos cursos de for- so fundamental para a construção de um
mação, o que torna o assunto desconhecido mundo mais justo e igualitário. Ao valorizar,
e longe das salas de aula: respeitar e promover a diversidade cultural,
Falar hoje de índios no Brasil significa estamos contribuindo para a preservação e

300
valorização de uma riqueza histórica e cultu- A inclusão da cultura indígena na so-
ral que deve ser celebrada e protegida por ciedade também enriquece o patrimônio
todos nós. cultural de uma nação. A arte indígena é co-
nhecida pela sua beleza, originalidade e es-
A cultura indígena desempenha um tilo único, englobando pinturas, esculturas,
papel fundamental na sociedade e na cons- cestaria, tecelagem, cerâmica e música. Valo-
trução de uma identidade coletiva. Os povos rizar e promover essa arte é uma forma de
indígenas têm uma história rica e diversifica- preservar o patrimônio cultural de um povo e
da, com uma profunda conexão com a natu- oferecer oportunidades para que os artistas
reza e uma sabedoria ancestral transmitida indígenas sejam reconhecidos e valorizados.
de geração em geração. Sua cultura engloba
práticas, crenças, línguas, costumes e tradi- Além disso, a cultura indígena pode
ções que são únicas e valiosas. desempenhar um papel importante na edu-
cação. Ao incluir conteúdos sobre a cultura
A importância da cultura indígena re- indígena nos currículos escolares, as crianças
side no fato de que ela enriquece e diversifi- e jovens têm a oportunidade de aprender
ca o tecido social de uma nação. Cada povo sobre a história, a tradição, o conhecimento
indígena possui seu próprio conjunto de va- e as perspectivas dos povos indígenas. Isso
lores e visões de mundo, que são expressos não apenas promove a inclusão e o respei-
em suas línguas, rituais, música, dança, arte e to, mas também permite que os estudantes
culinária. Essas expressões culturais são uma desenvolvam habilidades de pensamento
forma de reafirmar e celebrar a identidade crítico e entendam melhor a diversidade e a
de um povo e preservar as tradições transmi- complexidade do mundo em que vivem.
tidas ao longo do tempo.
Em suma, a cultura indígena desem-
Ao reconhecer e valorizar a cultura in- penha um papel fundamental na sociedade,
dígena, a sociedade como um todo abre suas oferecendo uma diversidade cultural valiosa,
portas para a diversidade cultural e para uma promovendo a justiça social, fortalecendo os
compreensão mais profunda das diversas direitos humanos, oferecendo lições em re-
formas de vida e visões de mundo. Isso leva lação à sustentabilidade e enriquecendo o
à promoção do respeito mútuo, ao combate patrimônio cultural de uma nação. Valorizar,
à discriminação e ao fortalecimento dos laços respeitar e promover a cultura indígena é es-
de solidariedade e cooperação entre todos sencial para a construção de uma sociedade
os membros da sociedade. mais justa, inclusiva e consciente da impor-
Além disso, a inclusão da cultura indí- tância da diversidade cultural.
gena na sociedade é um passo fundamental A cultura indígena tem sido um tema
para superar o legado do colonialismo e da relevante no contexto da educação e da so-
assimilação cultural. Durante séculos, os po- ciedade atual. Os povos indígenas têm uma
vos indígenas foram subjugados, marginali- história rica e diversificada, com uma grande
zados e forçados a renunciar a suas tradições variedade de tradições, crenças e práticas
e formas de vida em detrimento da cultura culturais, muitas vezes enraizadas em uma
dominante. Essa violência cultural deixou ci- profunda conexão com a natureza e com
catrizes profundas nas comunidades indíge- seus territórios ancestrais.
nas, que ainda enfrentam desafios como a
perda de território, a discriminação e a viola- Esta Lei surge como uma medida de
ção de seus direitos básicos. reparação das consequências de uma socie-
dade que durante séculos negligenciou a his-
Ao promover a valorização e o respeito tória e a cultura indígena, está sempre esteve
pela cultura indígena, estamos contribuindo à margem do contexto social e fora da escola.
para a justiça social e para o fortalecimento E quando abordada, apresentava distorções,
dos direitos humanos. Isso implica em garan- reforçando estereótipos. Como por exemplo,
tir que os povos indígenas tenham voz e ati- na comemoração do dia 19 de abril, atribuído
vamente participem das decisões que afetam ao dia do índio (BRASIL, 2008).
suas comunidades, bem como na adoção de
políticas públicas que respeitem e protejam Esta data não é comemorada pelos in-
seus direitos à autodeterminação, ao territó- dígenas, é considerada uma data em que são
rio e à preservação de sua cultura. reforçados estereótipos, com abordagens su-
perficiais das características indígenas, como
A cultura indígena também ofere- uma figura fictícia criada em romances brasi-
ce importantes lições em relação à relação leiros históricos ou em uma pintura no ros-
com o meio ambiente e à sustentabilidade. to das crianças. A Organização das Nações
Os povos indígenas têm um conhecimento Unidas instituiu o dia 09 de agosto como a
profundo sobre os ecossistemas em que vi- data internacional para celebrar e reconhe-
vem, suas plantas medicinais, técnicas agrí- cer a cultura indígena. O agosto indígena é
colas sustentáveis e práticas de conservação um tempo para propor celebrações e ações
da natureza. Promover esse conhecimento é de valorização destes povos em âmbito mun-
essencial para enfrentar os desafios ambien- dial (BRASIL, 2008).
tais que enfrentamos atualmente, como mu-
danças climáticas, desmatamento e perda de No entanto, ao longo dos séculos, es-
biodiversidade. sas culturas foram marginalizadas, discrimi-

301
nadas e até mesmo apagadas pela coloniza- Ainda relacionado à formação dos do-
ção e pela imposição de valores e práticas centes, é importante incentivar a pesquisa e
ocidentais. Ainda hoje, muitos povos indíge- produção de materiais didáticos que promo-
nas lutam para preservar e proteger suas cul- vam a cultura indígena de forma adequada
turas, enfrentando desafios como perda de e respeitosa. Livros, atividades e recursos
território, discriminação, violência e acesso educacionais devem apresentar informações
limitado à educação. precisas e atualizadas sobre os povos indíge-
nas, desmistificando estereótipos e reforçan-
Na educação, a inclusão da cultura in- do a riqueza e diversidade de suas culturas.
dígena é fundamental para promover uma Esses materiais devem ser elaborados em
sociedade mais justa e igualitária. É impor- parceria com as comunidades indígenas, ga-
tante reconhecer e valorizar a diversidade rantindo sua representação autêntica e evi-
cultural, fornecendo um currículo inclusivo tando estereotipação, apropriação cultural
que reflita a pluralidade de experiências e vi- ou qualquer forma de desrespeito.
sões de mundo. Isso permite que os alunos
indígenas se sintam representados e valori- Outro ponto crucial para a inclusão
zados em sua própria identidade cultural, ao da cultura indígena na educação é a preser-
mesmo tempo em que promove a compre- vação e revitalização das línguas indígenas.
ensão e o respeito mútuo entre todos os alu- Muitos povos indígenas possuem línguas
nos. próprias que estão em risco de extinção de-
vido à marginalização e assimilação cultural.
Além disso, a inclusão da cultura indí- É importante investir em políticas e progra-
gena no currículo escolar ajuda a combater mas de revitalização linguística, incluindo o
os estereótipos e preconceitos presentes na ensino das línguas indígenas nas escolas e
sociedade em relação aos povos indígenas. promovendo o uso dessas línguas nas comu-
Isso contribui para uma educação mais plural nidades indígenas. O respeito e a promoção
e crítica, incentivando os alunos a questiona- das línguas indígenas são fundamentais para
rem as narrativas dominantes e a desenvol- a preservação da cultura e da identidade dos
verem um pensamento reflexivo. povos indígenas.
Além disso, é necessário garantir o
CONSIDERAÇÕES FINAIS acesso à educação de qualidade para os es-
tudantes indígenas, respeitando suas especi-
A inclusão da cultura indígena na ficidades culturais e linguísticas. Para isso, é
educação é um processo crucial para a pro- importante providenciar transporte escolar
moção da igualdade, respeito à diversidade adequado, infraestrutura escolar adequada
e valorização dos povos indígenas. Ao reco- e investir em programas e ações afirmativas
nhecer a importância da cultura indígena que promovam a inclusão e o sucesso dos
na sociedade, é necessário ir além da mera estudantes indígenas. Também é necessário
inclusão dos povos indígenas nos currículos garantir a inclusão de temas indígenas nos
escolares, mas também garantir que sua cul- currículos escolares, oferecer programas de
tura seja respeitada, valorizada e transmitida ensino bilíngue ou intercultural e promover
de forma autêntica e significativa. a valorização da educação comunitária indí-
Primeiramente, para que a inclusão da gena.
cultura indígena na educação seja efetiva, é Além disso, é fundamental a criação
necessário um profundo respeito e abertura de políticas públicas que promovam a jus-
para ouvir e aprender com os povos indíge- tiça social e a autonomia dos povos indíge-
nas. É fundamental promover um diálogo ho- nas. Isso implica em garantir o respeito aos
rizontal e participativo com as comunidades direitos territoriais dos povos indígenas, o
indígenas, envolvendo-as na definição dos fortalecimento das organizações indígenas
conteúdos curriculares e nas decisões educa- e o combate à exploração de seus territórios
cionais que envolvam suas realidades. Des- e recursos naturais. A inclusão da cultura in-
sa forma, é possível criar uma educação que dígena na educação deve ser acompanhada
seja culturalmente sensível, inclusiva e que pela valorização e respeito à soberania dos
respeite o conhecimento e os valores dos po- povos indígenas, garantindo que suas de-
vos indígenas. mandas e necessidades sejam atendidas.
Além disso, é preciso investir na for- Em resumo, a inclusão da cultura in-
mação e valorização de professores capaci- dígena na educação é um processo funda-
tados para trabalhar com a cultura indígena. mental para a construção de uma sociedade
Os educadores devem receber capacitação mais justa, igualitária e respeitosa. Para isso,
específica para compreender e respeitar a é necessário ouvir e aprender com os povos
diversidade cultural dos povos indígenas, indígenas, investir na formação de professo-
quebrando estereótipos e preconceitos. Eles res, criar materiais didáticos adequados, pre-
devem estar cientes das dinâmicas de poder servar e revitalizar línguas indígenas, garantir
presentes na sala de aula e criar um ambien- acesso à educação de qualidade para estu-
te propício para que os estudantes indígenas dantes indígenas e promover políticas públi-
se sintam seguros e valorizados. cas que respeitem os direitos dos povos indí-
genas. Somente através de um engajamento

302
efetivo e comprometido com a inclusão da
cultura indígena na educação poderemos al-
cançar uma sociedade verdadeiramente di-
versa, respeitosa e justa.

REFERÊNCIAS
______. Lei 11.645, de 10 de março de
2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezem-
bro de 1996, modificada pela Lei no 10.639,
de 09 de janeiro de 2003, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da rede de ensino
a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília,
2008.
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2019.
MUNDURUKU, Daniel; WAPICHANA,
Cristino. in: São Paulo (SP). Secretaria Munici-
pal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da Cidade: povos indígenas: orien-
tações pedagógicas. São Paulo: SME/ COPED,
2019.

303
O CURRÍCULO EDUCACIONAL BRASILEIRO
LILIAN SOARES MAGALHÃES RODRIGUES

RESUMO econômicas, tecnológicas e culturais que


ocorrem na sociedade.
O currículo educacional brasileiro é
um documento que estabelece os objetivos Uma das principais relações é a influ-
e conteúdos a serem ensinados nas escolas ência da cultura contemporânea na seleção
em todo o país. Ele é elaborado pelo Minis- dos conteúdos curriculares. O currículo re-
tério da Educação (MEC) e tem como objetivo flete a realidade e os valores da sociedade
direcionar o ensino e garantir a qualidade da em que está inserido, e a cultura contem-
educação oferecida. porânea desempenha um papel importante
nesse sentido. Por exemplo, em uma socie-
A cultura desempenha um papel fun- dade cada vez mais tecnológica, é necessário
damental no currículo educacional brasileiro. incluir no currículo disciplinas relacionadas à
O país é conhecido por sua diversidade cul- informática e às novas tecnologias.
tural, com influências indígenas, europeias,
africanas e asiáticas, entre outras. O currículo Além disso, a cultura contemporânea
busca valorizar essa diversidade e promover também influencia a forma como são abor-
o respeito e a valorização das diferentes cul- dadas e ensinadas as diferentes disciplinas
turas presentes no país. curriculares. Por exemplo, a cultura do con-
sumo e do entretenimento pode influenciar
A transformação também é uma pre- as estratégias de ensino, buscando tornar
ocupação no currículo educacional brasilei- o aprendizado mais interessante e atrativo
ro. Ele busca preparar os alunos para serem para os estudantes.
agentes de transformação social, desenvol-
vendo habilidades como criatividade, pensa- Ao mesmo tempo, o currículo também
mento crítico, trabalho em equipe e resolu- pode ter influência na cultura contemporâ-
ção de problemas. O currículo também busca nea. Por exemplo, ao promover a valorização
promover uma educação que seja capaz de e o ensino de determinados conhecimentos
acompanhar as rápidas mudanças tecnológi- e habilidades, pode influenciar a maneira
cas e sociais da atualidade. como o conhecimento é produzido, valoriza-
do e disseminado na sociedade.
A democratização é outro aspecto im-
portante do currículo educacional brasileiro. Além disso, o currículo pode ser utili-
Ele busca garantir a igualdade de oportunida- zado como uma ferramenta de resistência e
des de aprendizagem para todos os alunos, transformação cultural. Por meio da inclusão
independentemente de sua origem social, de temáticas e perspectivas críticas, como a
econômica ou cultural. Busca-se assim uma igualdade de gênero, a diversidade cultural
educação inclusiva, que atenda às necessida- e a sustentabilidade, é possível questionar e
des de todos os estudantes. combater as desigualdades e opressões pre-
sentes na cultura contemporânea.
No entanto, é importante ressaltar
que o currículo educacional brasileiro passa Em resumo, as relações entre o currí-
por constantes debates e revisões. Há uma culo e a cultura contemporânea são comple-
busca por aprimorar o currículo, tornan- xas e envolvem influências mútuas. O currí-
do-o mais flexível e adaptado às demandas culo reflete a cultura em que está inserido,
da sociedade contemporânea. Além disso, ao mesmo tempo em que pode influenciá-la
é fundamental promover a participação de e transformá-la. É importante que essas rela-
diferentes atores, como educadores, pais, ções sejam pensadas de forma crítica, a fim
estudantes e comunidades, na construção e de promover a educação como um espaço de
implementação do currículo, a fim de garan- construção, transformação e democratização
tir uma educação de qualidade e que esteja do conhecimento e a sociedade caracteriza-
alinhada com as necessidades e anseios da da pela realização de valores da igualdade,
sociedade. liberdade e dignidade da pessoa humana.”
PALAVRAS-CHAVE: CULTURA; TRANS- O currículo educacional brasileiro re-
FORMAÇÃO; DEMOCRATIZAÇÃO; CONHECI- fere-se ao conjunto de conhecimentos, com-
MENTO. petências e habilidades que os alunos devem
adquirir ao longo da sua trajetória escolar.
Ele é definido pelo Ministério da Educação
INTRODUÇÃO (MEC) e está estruturado de forma a organi-
zar o currículo em diferentes níveis de ensi-
As relações entre o currículo e a cultura no, como a educação infantil, o ensino funda-
contemporânea são complexas e abrangem mental e o ensino médio.
diversas dimensões. A cultura contemporâ-
nea é marcada por uma série de influências, No Brasil, o currículo educacional visa
como as transformações sociais, políticas, garantir uma formação integral dos estu-
dantes, contemplando não apenas aspectos

304
cognitivos, mas também sociais, culturais e mento crítico e a resolução de problemas.
emocionais. Além disso, é importante ressal-
tar que o currículo é responsável por estabe- Além disso, o currículo precisa con-
lecer os objetivos e conteúdos a serem traba- templar a diversidade cultural presente na
lhados nas escolas, assim como as formas de sociedade contemporânea. A cultura con-
avaliação do aprendizado dos alunos. temporânea é marcada pela pluralidade de
identidades, culturas e valores, e o currículo
O currículo educacional brasileiro tam- precisa levar em consideração essa diversi-
bém busca promover a igualdade de oportu- dade, promovendo a inclusão e o respeito às
nidades e a inclusão de todos os estudantes, diferenças. Isso inclui a inclusão de temas re-
considerando suas diferentes realidades e lacionados à diversidade, como gênero, raça,
necessidades. Nesse sentido, são adotadas etnia, orientação sexual, entre outros, de for-
políticas de ações afirmativas, como cotas ra- ma transversal em todas as disciplinas.
ciais e sociais, além de medidas de acessibili-
dade para alunos com deficiência. Outra relação importante entre o cur-
rículo e a cultura contemporânea diz res-
Os documentos oficiais que guiam peito às habilidades tecnológicas. A cultura
o currículo educacional no Brasil incluem a contemporânea está imersa nas tecnologias
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), digitais, e o currículo precisa incorporar o
que estabelece os conhecimentos essenciais desenvolvimento de habilidades relaciona-
a serem trabalhados em todas as etapas da das à tecnologia, como o uso de dispositivos
educação básica, e os currículos específicos eletrônicos, aprofundamento em programas
de cada estado e município. de computador e habilidades de pesquisa na
internet.
Apesar das diretrizes estabelecidas, é
importante destacar que cada escola e pro- Em resumo, o currículo e a cultura con-
fessor tem autonomia para adequar o currí- temporânea são interdependentes, sendo
culo às características e necessidades de seus necessário que o currículo esteja atualizado
alunos. Isso permite uma maior contextuali- e incorporando as demandas e desafios da
zação dos conteúdos, tornando o processo sociedade atual. Ele precisa levar em consi-
de aprendizado mais significativo e persona- deração a velocidade das mudanças, a diver-
lizado. sidade cultural e as transformações tecno-
lógicas, promovendo o desenvolvimento de
Em suma, o currículo educacional bra- habilidades e competências relevantes para
sileiro busca proporcionar uma educação de os indivíduos na cultura contemporânea.
qualidade e equitativa a todos os estudantes,
desenvolvendo competências e habilidades O currículo escolar geralmente inclui
fundamentais para o pleno exercício da cida- várias teorias que analisam diversos aspec-
dania e para o enfrentamento dos desafios tos do ensino e da aprendizagem. Essas teo-
sociais, culturais e profissionais do século XXI. rias podem abordar desde a forma como os
alunos adquirem conhecimento até como o
ambiente escolar influencia seu desenvolvi-
DESENVOLVIMENTO mento. Alguns exemplos de teorias que po-
dem ser abordadas no currículo escolar são a
O currículo tem uma relação intrínse- teoria cognitiva, a teoria sociocultural, a teo-
ca com a cultura contemporânea, pois reflete ria construtivista, a teoria behaviorista, entre
as demandas e necessidades da sociedade outras. Cada teoria oferece uma perspectiva
atual. A cultura contemporânea é marcada única para entender e melhorar a educação.
pela velocidade das mudanças, pela diversi-
dade cultural, pelas transformações tecnoló- A teoria cognitiva é uma das teorias que
gicas e pelas demandas do mercado de tra- analisam o currículo escolar sob o aspecto do
balho. processo de aprendizagem e desenvolvimen-
to cognitivo dos alunos. Essa teoria enfatiza
Nesse contexto, o currículo precisa o papel ativo do indivíduo na construção do
estar alinhado com essas características, conhecimento, destacando a importância do
buscando promover o desenvolvimento de processamento de informações, da memó-
habilidades e competências relevantes para ria, da percepção e da resolução de proble-
os indivíduos inseridos na cultura contempo- mas na aprendizagem. De acordo com essa
rânea. abordagem, o currículo deve ser estruturado
Uma das principais relações entre o de forma a promover a participação ativa dos
currículo e a cultura contemporânea é a ne- alunos, estimulando o pensamento crítico, a
cessidade de desenvolver noções de flexibili- reflexão e a construção de significados.
dade, criatividade e adaptabilidade. A cultura A teoria sociocultural é uma aborda-
contemporânea está em constante transfor- gem teórica que se concentra na interação
mação e demanda indivíduos capazes de se entre o desenvolvimento humano e o con-
adaptar a novos contextos, de maneira ágil e texto cultural e social em que ocorre. Esta te-
eficiente. O currículo precisa, portanto, pro- oria, desenvolvida principalmente por Lev Vy-
mover o desenvolvimento dessas competên- gotsky, enfatiza a importância dos processos
cias, através de atividades e metodologias socioculturais na formação de pensamento e
que estimulem a experimentação, o pensa- comportamento das pessoas.

305
De acordo com a teoria sociocultural, os indivíduos inseridos na cultura contempo-
as interações sociais desempenham um pa- rânea.
pel fundamental no desenvolvimento cogniti-
vo dos indivíduos. Vygotsky argumenta que a Uma das principais relações entre o
aprendizagem e o desenvolvimento humano currículo e a cultura contemporânea é a ne-
são mediados por ferramentas culturais e por cessidade de desenvolver noções de flexibili-
interações sociais. Por exemplo, a linguagem dade, criatividade e adaptabilidade. A cultura
desempenha um papel central no desenvol- contemporânea está em constante transfor-
vimento cognitivo, pois é um meio pelo qual mação e demanda indivíduos capazes de se
as pessoas comunicam ideias e conceitos. adaptar a novos contextos, de maneira ágil e
eficiente. O currículo precisa, portanto, pro-
Além disso, a teoria sociocultural des- mover o desenvolvimento dessas competên-
taca a importância do contexto cultural na cias, através de atividades e metodologias
maneira como as pessoas desenvolvem suas que estimulem a experimentação, o pensa-
habilidades cognitivas e sociais. Ela enfatiza mento crítico e a resolução de problemas.
que diferentes culturas têm diferentes for-
mas de pensar, de se comunicar e de apren- Além disso, o currículo precisa con-
der, e essas diferenças culturais influenciam templar a diversidade cultural presente na
a maneira como os indivíduos se desenvol- sociedade contemporânea. A cultura con-
vem. temporânea é marcada pela pluralidade de
identidades, culturas e valores, e o currículo
A teoria sociocultural também desta- precisa levar em consideração essa diversi-
ca a importância do papel dos adultos e das dade, promovendo a inclusão e o respeito às
pessoas mais experientes na promoção do diferenças. Isso inclui a inclusão de temas re-
desenvolvimento dos indivíduos. Vygotsky lacionados à diversidade, como gênero, raça,
defende a ideia de que os adultos desempe- etnia, orientação sexual, entre outros, de for-
nham um papel crucial na zona de desenvol- ma transversal em todas as disciplinas.
vimento proximal (ZDP) das crianças, que é a
diferença entre o que uma criança pode fazer Outra relação importante entre o cur-
sozinha e o que ela pode fazer com a ajuda rículo e a cultura contemporânea diz res-
de um adulto ou de um colega mais habili- peito às habilidades tecnológicas. A cultura
doso. contemporânea está imersa nas tecnologias
digitais, e o currículo precisa incorporar o
Vygotsky:- “A estrutura da língua que desenvolvimento de habilidades relaciona-
uma pessoa fala influencia a maneira com das à tecnologia, como o uso de dispositivos
que esta pessoa percebe o universo.” eletrônicos, aprofundamento em programas
de computador e habilidades de pesquisa na
Para Vygotsky, a aprendizagem é pro- internet.
cesso pelo qual o indivíduo adquire informa-
ções, habilidades, atitudes, valores etc. A par- Em resumo, o currículo e a cultura con-
tir de seu contacto com a realidade, o meio temporânea são interdependentes, sendo
ambiente, as outras pessoas. É um processo necessário que o currículo esteja atualizado
que se diferencia dos fatores inatos (a capa- e incorporando as demandas e desafios da
cidade de digestão, por exemplo, que nasce sociedade atual. Ele precisa levar em consi-
com o indivíduo) e dos processos de matu- deração a velocidade das mudanças, a diver-
ração do organismo, independentes da infor- sidade cultural e as transformações tecno-
mação do ambiente (maturação sexual, por lógicas, promovendo o desenvolvimento de
exemplo) (Oliveira, 1993: 57) habilidades e competências relevantes para
os indivíduos na cultura contemporânea.
Em resumo, a teoria sociocultural en-
fatiza a importância das interações sociais, A formação intercultural refere-se à
do contexto cultural e do papel dos adultos educação que promove o conhecimento e
no desenvolvimento humano. Ela destaca a compreensão das culturas diferentes e a
influência da cultura e do ambiente social no capacidade de interagir de forma eficaz em
pensamento e comportamento das pessoas, ambientes pluriculturais. Essa formação bus-
e como a aprendizagem e o desenvolvimento ca superar preconceitos e estereótipos cul-
ocorrem por meio dessas interações socio- turais, melhorar a comunicação e promover
culturais. relações harmoniosas entre pessoas de dife-
rentes origens culturais.
O currículo tem uma relação intrínseca
com a cultura contemporânea, pois reflete as A formação intercultural geralmente
demandas e necessidades da sociedade atu- envolve atividades educacionais, como cur-
al. A cultura contemporânea é marcada pela sos, workshops, treinamentos e intercâmbios
velocidade das mudanças, pela diversidade culturais. Essas atividades visam fornecer
cultural, pelas transformações tecnológicas e aos indivíduos habilidades práticas e conhe-
pelas demandas do mercado de trabalho. cimento teórico sobre outras culturas, como
suas línguas, valores, tradições, expressões
Nesse contexto, o currículo precisa artísticas e formas de pensamento.
estar alinhado com essas características,
buscando promover o desenvolvimento de Além disso, a formação intercultural
habilidades e competências relevantes para enfatiza a importância da empatia, da tole-

306
rância e do respeito mútuo como fundamen- pela sociedade atual, que demanda indivídu-
tos para uma convivência pacífica e enrique- os capazes de lidar com desafios complexos,
cedora entre pessoas de diferentes origens de se relacionar de forma saudável e de to-
culturais. mar decisões éticas.
A formação intercultural é particu- Portanto, a transformação do currícu-
larmente relevante em sociedades cada vez lo é fundamental para garantir uma educa-
mais globalizadas e diversificadas, onde a in- ção de qualidade e relevante. É necessário
teração entre diferentes culturas é uma reali- repensar constantemente os conteúdos, as
dade cotidiana. Essa formação também é es- metodologias e as formas de avaliação, bus-
sencial para profissionais que trabalham em cando sempre promover uma educação sig-
contextos internacionais ou lidam com pes- nificativa e voltada para a formação integral
soas de diferentes origens culturais, como dos estudantes.
funcionários de ONGs, diplomatas, professo-
res, empresários e profissionais de saúde. O currículo escolar desempenha um
papel fundamental na democratização da
Além disso, a formação intercultural educação, pois é por meio dele que se es-
pode ser incorporada em currículos escola- tabelece o que será ensinado nas escolas,
res e em programas de educação não formal, quais conhecimentos, habilidades e valores
como associações comunitárias e organiza- serão transmitidos aos estudantes.
ções de juventude, a fim de promover a com-
preensão e a curiosidade sobre outras cultu- A democratização da educação se ba-
ras desde cedo. seia no princípio de igualdade de oportunida-
des para todos os alunos, independentemen-
Em resumo, a formação intercultural te de sua origem social, econômica, racial ou
é uma abordagem educacional que visa pro- de gênero. Portanto, é necessário que o cur-
mover a compreensão mútua e a coexistên- rículo seja elaborado de forma a garantir a in-
cia pacífica entre culturas diferentes. Essa for- clusão e a diversidade, de modo que todos os
mação fornece conhecimentos, habilidades e estudantes possam se sentir representados
atitudes que permitem que as pessoas sejam e tenham acesso a conhecimentos relevantes
mais competentes em ambientes pluricultu- e significativos.
rais e promovam relações interculturais mais
saudáveis. O currículo é um documento que Isso implica em incluir no currículo
descreve os conteúdos, os objetivos, as estra- conteúdos que abordem questões sociais,
tégias de ensino e as avaliações de uma de- culturais e históricas diversas, de forma a
terminada disciplina ou curso. A sua função promover a valorização da diversidade e a
é orientar e organizar o processo de ensino- superação de preconceitos e estereótipos.
-aprendizagem, definindo o que será ensina- Além disso, é importante que o currículo con-
do e como será ensinado. temple diferentes formas de conhecimento e
de aprendizagem, de maneira a reconhecer e
No entanto, a ideia de currículo vai valorizar a pluralidade de saberes presentes
além de um simples documento. Ela está di- na sociedade.
retamente relacionada à concepção de edu-
cação adotada por uma determinada socie- A democratização do currículo tam-
dade ou instituição de ensino. O currículo é bém implica em possibilitar a participação
influenciado por diferentes fatores, como a dos estudantes na definição de suas práticas
cultura, os valores, as políticas educacionais e conteúdos, de modo a promover a auto-
e os avanços tecnológicos. nomia e a criticidade. Isso pode ser feito por
meio de metodologias que estimulem a parti-
A transformação do currículo é um cipação ativa dos alunos, como debates, pro-
processo contínuo e necessário, uma vez que jetos interdisciplinares e atividades práticas.
a sociedade está em constante mudança. É
importante que o currículo acompanhe essas Outro aspecto fundamental para a de-
transformações, incorporando novos conhe- mocratização do currículo é a formação dos
cimentos, habilidades e competências rele- professores, para que estes estejam prepara-
vantes para os indivíduos e para a sociedade dos para lidar com os desafios e as necessi-
como um todo. dades dos alunos. É essencial que os profes-
sores sejam capacitados para trabalhar com
Além disso, a transformação do currí- a diversidade, a inclusão e a participação dos
culo também inclui a reflexão sobre as for- estudantes, de forma a promover uma edu-
mas de ensinar e aprender. É fundamental cação democrática e de qualidade.
que o currículo promova metodologias ativas
e participativas, que estimulem a criativida- Em resumo, o currículo desempenha
de, a autonomia e o pensamento crítico dos um papel central na democratização da edu-
estudantes. cação, pois é por meio dele que se busca ga-
rantir o acesso igualitário a conhecimentos
A transformação do currículo também relevantes e valorizar a diversidade. Para
está relacionada ao desenvolvimento de ha- isso, é necessário incluir conteúdos diversos,
bilidades socioemocionais, como a empatia, promover a participação dos alunos e capaci-
a colaboração, a resiliência e a ética. Essas tar os professores para lidar com os desafios
habilidades são cada vez mais valorizadas da educação democrática.

307
CONCLUSÃO xiva, o currículo possibilita que os estudan-
tes desenvolvam habilidades para analisar e
Podemos concluir que o currículo com questionar o mundo ao seu redor.
a cultura contemporânea é essencial para
preparar os estudantes para a realidade Portanto, a democratização do currí-
atual. A cultura contemporânea engloba to- culo é fundamental para promover a justiça
das as manifestações culturais e sociais que social na educação, garantindo igualdade de
ocorrem no presente, como avanços tecnoló- oportunidades, valorizando a diversidade e
gicos, mudanças nas relações sociais, diversi- preparando os estudantes para a participa-
dade cultural, entre outros aspectos. ção ativa na sociedade.
Ao incluir a cultura contemporânea no a democratização do currículo é es-
currículo acadêmico, os estudantes são ex- sencial para garantir igualdade de oportuni-
postos a uma visão mais abrangente e atuali- dades no acesso ao conhecimento. Ao diver-
zada da sociedade em que vivem. Isso permi- sificar e ampliar os conteúdos educacionais,
te que eles compreendam melhor a realidade o currículo democrático promove a inclusão
em que estão inseridos, além de desenvolve- de diversas perspectivas e realidades, contri-
rem habilidades como pensamento crítico, buindo para a formação de cidadãos críticos
adaptabilidade e respeito à diversidade. e conscientes.
Além disso, incluir a cultura contem- A democratização do currículo tam-
porânea no currículo também permite que bém desafia a hierarquia de saberes, valo-
os estudantes se relacionem mais facilmente rizando tanto o conhecimento acadêmico
com o conteúdo escolar, tornando o ensino quanto os saberes populares e locais. Isso
mais relevante e significativo para eles. Isso permite uma educação mais contextualiza-
pode contribuir para uma maior motivação e da, que reconhece e valoriza a diversidade de
engajamento dos estudantes, resultando em saberes presentes na sociedade.
melhores resultados acadêmicos.
Além disso, a democratização do cur-
Considerando a rápida evolução da rículo busca combater a exclusão social atra-
sociedade e da cultura, é fundamental que vés da educação, permitindo que todos os
o currículo escolar esteja sempre atualiza- alunos tenham acesso a um ensino de qua-
do, refletindo as transformações e desafios lidade, independentemente de sua origem
contemporâneos. A inclusão da cultura con- socioeconômica, etnia, gênero ou qualquer
temporânea no currículo é, portanto, uma outra característica.
necessidade para garantir uma educação de
qualidade e preparar os estudantes para os No entanto, é importante ressaltar que
desafios do mundo atual. a democratização do currículo não se resume
apenas à inclusão de novos conteúdos, mas
O currículo é uma ferramenta impor- também requer mudanças na forma como os
tante para promover a democratização da conhecimentos são transmitidos e avaliados.
educação. Quando o currículo é elaborado É necessário promover práticas pedagógicas
de forma inclusiva e considera a diversidade mais participativas e colaborativas, que in-
de experiências e conhecimentos dos estu- centivem a construção coletiva do conheci-
dantes, ele contribui para que todos tenham mento e o desenvolvimento das habilidades
acesso a uma educação de qualidade. necessárias para a vida em sociedade.
A democratização do currículo implica Portanto, o currículo democrático tem
em considerar as diferentes realidades dos o potencial de promover uma educação mais
estudantes, valorizando suas vivências e sa- justa e igualitária, capaz de formar cidadãos
beres locais, além de abordar de maneira crí- críticos, autônomos e comprometidos com
tica temas como gênero, raça, classe social e a construção de uma sociedade mais justa e
outras formas de opressão e discriminação. democrática. A cultura e a transformação de-
Isso permite que os estudantes se identifi- sempenham um papel fundamental na socie-
quem com os conteúdos e se sintam repre- dade contemporânea. A cultura representa
sentados no processo educativo. as tradições, crenças e costumes de um de-
terminado grupo ou comunidade, enquanto
Além disso, a democratização do currí- a transformação é o processo de mudança e
culo também implica em garantir a equidade evolução que ocorre em diferentes aspectos
no acesso aos conhecimentos. Isso significa da sociedade.
que o currículo deve oferecer igualdade de
oportunidades para todos os estudantes, in- A cultura é responsável por moldar a
dependentemente de sua origem social, eco- identidade e os valores de um povo, promo-
nômica ou cultural. vendo a coesão e a integração social. Ela in-
fluencia a maneira como as pessoas se rela-
A inclusão de diferentes perspectivas cionam, se comunicam e interagem, além de
no currículo também contribui para a for- ser um elemento essencial na preservação
mação de cidadãos críticos e participativos, do patrimônio histórico e artístico de uma
capazes de compreender e transformar a so- nação.
ciedade em que vivem. Ao abordar questões
sociais, políticas e culturais de forma refle- No entanto, a cultura não é estática e

308
imutável. A transformação é uma parte in- cao-cne/cp-n2-de-10-de-dezembro-de-2020
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tecnológicos, globalização e mudanças po- OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado
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podem trazer benefícios significativos para a tórico. São Paulo, Editora Scipione, 1993.
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mação é crucial para a evolução de uma so- S/d.
ciedade. A cultura pode fornecer a base para Teoria de A p r e n d i -
a inovação e a criatividade, permitindo que zagem de Lev Semenovich V y -
as pessoas se adaptem às mudanças e explo- gotsky (1896-1934), https://www.escolamz.
rem novas oportunidades. Ao mesmo tempo, com/2021/05/teoria-de-aprendizagem-de-vy-
a transformação pode revitalizar e revalorizar gotsky-1896-1934.html
aspectos da cultura que estavam em declínio,
estimulando um senso de pertencimento e https://www.bma.art.br/vygotsky/
preservando a diversidade cultural. https://basenacionalcomum.mec.gov.
Portanto, para construir uma socieda- br/
de inclusiva e equitativa, é essencial reconhe- http://portal.mec.gov.br/conselho-na-
cer a importância da cultura e da transfor- cional-de-educacao/base-nacional-comum-
mação e buscar promover um diálogo entre curricular-bncc
elas. Isso envolve a valorização e a proteção
do patrimônio cultural, bem como a promo- https://efape.educacao.sp.gov.br/cur-
ção de oportunidades de participação e ex- riculopaulista/
pressão cultural para todos os membros da
sociedade. São Paulo (Estado) Secretaria da Edu-
cação. Coordenadoria Pedagógica Currículo
Ao entendermos a relação entre cul- Paulista / organização, Secretaria da Educa-
tura e transformação, podemos construir ção, Coordenadoria Pedagógica; União dos
um futuro mais próspero, promovendo a di-
versidade, o respeito mútuo e a cooperação Dirigentes Municipais de Educação do
entre diferentes grupos sociais, e permitindo Estado de São Paulo - UNDIME. São Paulo:
que a expressão criativa e os valores cultu- SEDUC, 2019. 400 p.; PDF; 13MB Inclui biblio-
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310
A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM
LILIANE PIRES DE OLIVEIRA FRANÇA

RESUMO tamanha a importância desta categoria para


a formação das crianças.
O presente artigo tem como principal
objetivo de produzir reflexões acerca da afe- Nesse sentido, o problema de pesqui-
tividade na educação entre professor e aluno sa questiona-se que na educação infantil, a
e a família para um melhor desenvolvimento criança vai receber o suporte e apoio afeti-
do ensino-aprendizagem e incentivo à socia- vo para a base do seu aprendizado? Pois é
lização da criança. A metodologia utilizada nesse momento que ela inicia o processo de
é por meio de pesquisa bibliográfica. Os re- aprendizagem, que vai desenvolver por mui-
sultados e as conclusões do estudo demons- tos anos da sua vida.
tram que a afetividade como ponto de parti-
da para todo processo de comportamento no Conforme exposto acima, pensamos
domínio afetivo e educativo, proporcionando no que deve ser feito pelo docente para dimi-
motivação, incentivo e participação da famí- nuir esse impacto de transição da Educação
lia junto à escola. Os resultados esperados, Infantil para o Ensino Fundamental; crendo
precisam indicar que indicar, portanto, se fa- que, inserindo algumas atividades, tais como
mília e escola, professor e aluno para fazer jogos e gincanas em grupos, realizados em
com que o estudante cresça e se torne ser sala de aula para trabalhar a interação entre
humano forte e mais integrado. A Afetividade professor e aluno fará com que aquela crian-
é importante na Educação Infantil, e contribui ça se sinta acolhida por seu educador e irá
para o desenvolvimento cognitivo e moral. A desenvolver mais suas habilidades e compe-
pesquisa destaca que a criança e afetividade tências por se sentir mais segura e feliz no
são inseparáveis. Conclui-se que a afetivi- ambiente escolar.
dade é a fonte de energia que serve para a Este trabalho tem como relevância,
aproximação e aprendizado da criança. A afe- compreender em que medida a afetividade
tividade não se resume em manifestações de interfere no processo de ensino e aprendiza-
carinho físico e sim em uma preparação para gem na educação infantil, propondo enten-
o desenvolvimento cognitivo, pois é um fator der que a afetividade é um conjunto de rea-
indispensável na relação com as pessoas que ções e ações por meio de que se manifestam
estão em contato com o desenvolvimento da as emoções, sejam estas prazerosas ou não.
criança. Afetividade é para o desenvolvimen- Entender que as crianças evidenciam sua
to de um sujeito crítico, autônomo, reflexivo afetividade de maneira negativa ou positiva.
e responsável. A criança em qualquer lugar Além disso, buscam explicar que a afetivida-
em que ela esteja se desenvolve como ser de interfere na relação do indivíduo consigo,
humano por meio de suas experiências com com seus pares, com os adultos e na sua re-
aquele lugar ou momento, e a afetividade lação com o mundo, por isso, a afetividade
deve permear em todos estes momentos. está relacionada ao sentimento de amizade
Palavras-Chaves: Afetividade; Apren- dedicação, cooperação e comprometimento.
dizagem; Família. E é sobre esse sentimento que quere-
mos falar por acreditar que todo ser é um ser
afetivo, e que a criança em especial precisa
INTRODUÇÃO dessa atenção na nessa primeira etapa da
vida longe dos pais. Sendo assim, a escola de-
O presente trabalho trata da afetivi- sempenha um papel valioso na formação do
dade no ambiente escolar, na relação pro- indivíduo, preparando-o para a vida em so-
fessor-aluno e na relação com o mundo, a ciedade e para o exercício da cidadania. Mais
pesquisa buscou contemplar uma revisão da do que um espaço destinado à alfabetização
afetividade na educação, para compreender e à aprendizagem de conteúdos, a escola in-
as expressividades infantis, desenvolvendo fluencia de forma significativa na formação
um trabalho pedagógico que possa atingir o moral. (VYGOTSKY, 1994).
processo de humanização da criança.
Desta forma, esta pesquisa por tra-
A pesquisa tem a seguinte problemáti- tar de um tema de extrema importância no
ca: Partimos do princípio de que, a afetivida- processo de desenvolvimento socioafetivo,
de é de extrema importância para o processo justifica-se sua relevância em entender a di-
de ensino, pois se a criança que tem vínculo nâmica construída em torno do que são as
de confiança com seu professor, como ela emoções das crianças e sobre como lidar
passa a ter mais interesse pela escola e con- com elas, abarcam as emoções no processo
sequentemente pelo conhecimento? cognitivo, fazendo relação com a racionalida-
O interesse em apresentar este tema de.
surgiu por meio de estudos realizados e de Ressaltando que, pode ser observado
nosso curso e principalmente através dos em que na maioria das escolas, as crianças fi-
estágios, no qual analisamos e percebemos

311
cam apenas paradas e sentadas, direcionan- ra. Para apoio das ideias, realizaremos um
do a sua atenção a apenas uma pessoa ou levantamento de dados do aprendizado por
objeto. Isso faz com que a criança não desen- meio da ludicidade e afetividade.
volva sua capacidade de questionar e desen-
volver a sua criticidade e habilidades.
Para nós educadores, a aprendizagem TEORIAS TRADICIONAIS E CONSTRUTI-
não depende apenas do ensino de conte- VISTAS
údos: para que ela ocorra de forma signifi- Até recentemente entendia-se que as
cativa, são necessários afeto e movimento práticas pedagógicas voltavam-se apenas
também. A afetividade é uma sensação de para o aspecto cognitivo, não levando em
extrema importância para a saúde mental conta a dimensão afetiva. Essa visão mudou
de todos os seres humanos por influenciar depois de contribuições teóricas defendidas
o desenvolvimento geral, o comportamento por autores como Vygotsky (1993) e Wallon
e o desenvolvimento cognitivo. Existem al- (1968,1978), trazendo um novo conceito para
guns transtornos que ocorrem devido à au- a aprendizagem, superando o antigo. A afe-
sência ou pouco recebimento de afeto, onde tividade está presente em todas as decisões
os mais evidenciados são depressão, fobias, que serão tomadas pelo professor, marcan-
somatizações e ansiedade generalizada. Por- do o resultado final da aprendizagem.
tanto, de acordo com Aranha (2006), é de
suma importância que o afeto esteja ao lado A contribuição da afetividade no pro-
do ensinar e o aprender, pois dessa forma, a cesso ensino-aprendizagem é fundamental,
criança se desenvolve de maneira saudável e sendo um facilitador no processo. O profes-
favorável. sor deve conhecer a realidade de cada aluno,
valorizando, respeitando e aumentando os
O trabalho justifica-se por analisar laços para uma afetividade e um ambiente
que a afetividade é importante na Educação agradável de ensino.
Infantil, e contribui para o desenvolvimento
cognitivo e moral. A pesquisa destaca que a O nexo que existe entre problemas de
criança e afetividade são inseparáveis. A afe- crianças e adolescentes e as questões da afe-
tividade é a fonte de energia que serve para a tividade, pode ocasionar diversos problemas
aproximação e aprendizado da criança. como: evasão escolar, repetência, drogas e
até comportamentos agressivos e antisso-
Para Kishimoto, (1998) a afetividade ciais, sem subestimar outros fatores.
não se resume em manifestações de carinho
físico e sim em uma preparação para o de- A relação professor e aluno antes ba-
senvolvimento cognitivo, pois é um fator in- seados na disciplina e autoridade rompe no-
dispensável na relação com as pessoas que vas barreiras, dando espaço para uma disci-
estão em contato com o desenvolvimento da plina mais humanista de maneira a passar
criança. Afetividade é para o desenvolvimen- da lógica individualista para uma lógica mais
to de um sujeito crítico, autônomo, reflexivo comunitária e coletiva.
e responsável. Apesar das variadas formas de ensi-
A criança em qualquer lugar em que no que transcorreram ao longo da história,
ela esteja se desenvolve como ser humano o professor permanece como condição para
por meio de suas experiências com aque- a humanização e socialização das pessoas e
le lugar ou momento, e a afetividade deve fundamentos da sociedade, como forma de
permear em todos estes momentos. Assim relação social construtiva da espécie huma-
como explica Wallon na, promovendo condição para o desenvolvi-
mento e realização do aluno.
(1975), falando da experiência do eu
com o outro. Ainda que suas diferenças sejam ela-
boradas culturalmente, mediante papéis e
O eu e o outro constituem-se, então, relações historicamente determinadas, em
simultaneamente, a partir, de um processo interesses distintos, tudo deve ser respeita-
gradual de diferenciação, oposição e com- do, e dado ênfase as diferenças, consideran-
plementaridade recíproca. Compreendidos do o real papel de educador numa sociedade
como um par antagônico, complementam- pluralista.
-se pela a própria oposição. De fato, o Outro
faz-se atribuir tanta realidade íntima pela Precisamos entender o que estamos
consciência como o Eu, e o Eu não parece falando quando se trata de afetividade entre
comportar menos aparências externas que o professor e aluno em sala de aula, aparente-
Outro (WALLON, 1975, p.159). mente todos sabemos do que se trata, mais
devemos estar atentos a grande importância
Assim, para o desenvolvimento deste desse termo que pode mudar o progresso
estudo será utilizada uma pesquisa biblio- nos estudos dos alunos.
gráfica e documental, com embasamento
em autores que dialogam diretamente com Com o objetivo de debater a ocorrên-
o tema, considerando as reflexões de alguns cia dessa relação, mostrando condições po-
estudiosos como Jean Piaget, Henri Paul Hya- sitivas e as dificuldades para o trabalho de
cinthe Wallon, Lev Vygotsky, Aranha e Olivei- construção dessa parceria. Essa parceria será

312
mostrada a partir de vários ângulos, incluin- de cada um, por isso a afetividade é muito
do as perspectivas de autores em especial importante, pois através dela esse conheci-
Henri Wallon. mento dos alunos se torna mais rico e satis-
fatório.
O fato é que essa relação tem gerado
discussões no âmbito pedagógico e leva a Para a construção de seu método de
conclusões da sua importância no aprendiza- análise, Wallon (2002) assumiu a perspectiva
do. da psicologia genética. Considerava essa po-
sição a mais adequada para estudar a trans-
Qual a consequência de tudo isso? Há formação da criança em adulto, porque ele
diversos critérios para julgar, analisar e me- busca o sentido dos fenômenos em sua ori-
lhorar as práticas, elevando a categoria do gem e transformações, conservando sempre
ensino. a unidade.
A principal preocupação de Piaget Segundo Piaget (1992) a inteligência
(1992) era o desenvolvimento humano, tam- humana somente se desenvolve no indivíduo
bém entendido como sinônimo da inteligên- em função de interações sociais, costuma ser
cia e de estrutura cognitiva, reconhecendo criticado por “desprezar” o papel dos fatores
que a afetividade é o agente motivador da sociais no desenvolvimento do ser humano.
mesma.
As proposições de Vygotsky (1994)
Para Piaget (1992), afetividade e inte- acerca do processo de formação de concei-
ligência são dois aspectos indissociáveis de tos nos remetem á discussão das relações
uma mesma ação, ou seja, as situações que entre pensamento, linguagem e ao papel da
estimulam a inteligência repercutem na afeti- escola na transmissão de conhecimentos de
vidade e também nas relações sociais. natureza diferente daqueles aprendidos na
A construção cognitiva e afetiva inicia- vida cotidiana.
-se num período que Wallon (2002) denomi- Segundo Wallon (2002) o comporta-
na como período impulsivo-emocional e se mento patológico é considerado como o la-
estende ao longo do primeiro ano de vida, boratório natural para os estudos da psico-
onde a afetividade reduz-se a revelações fi- logia, pois nessas circunstâncias é possível
siológicas da emoção, tendo como ponto de observar os fenômenos se transformando
partida do psiquismo. mais lentamente e assim permitindo obser-
Wallon (2002) considera a emoção vações mais precisas.
fundamentalmente social, a criança vista de Para Wallon (2002) comparar não é
maneira integral, buscando compreender o assimilar, a comparação visa tanto as seme-
desenvolvimento de forma integrada, levan- lhanças como as diferenças, cujas condições
do em conta os domínios cognitivos, afetivos são preciso identificar cuidadosamente. O
e motor promovendo o desenvolvimento em contraste é um dos recursos mais surpreen-
todos os níveis. A escola além de ser um lugar dentes pelos quais se opera a diferenciação.
que educa deve estudar a personalidade da
criança. A diferença entre a criança normal e
patológica é profunda e não consiste apenas
O pensamento tem sua origem na es- no contraste entre progressão gradual e con-
fera da motivação, a qual inclui inclinações, tínua e um atraso de fixação de certos com-
necessidades, interesses, impulsos, afeto e portamentos.
emoção. Nesta esfera estaria a razão última
do pensamento, e, assim uma compreensão Todos os comportamentos devem ser
completa do pensamento humano só é pos- observados e tratados de maneira única, res-
sível quando se compreende seu base afeti- peitando as diferenças, e analisando como
vo- volitiva. pode ser solucionado da melhor maneira.
Vygotsky (1994) evidencia a importân- Para Wallon (1981) não podemos tra-
cia das conexões entre as dimensões cogniti- tar as crianças de forma fragmentária. Em
vas e afetivas do funcionamento psicológico cada idade constitui um conjunto indissoci-
humano, e questiona como a emoção modi- ável e original. Na sucessão de suas idades
fica o pensamento. Acredita que a possibili- é um único e mesmo ser em contínua meta-
dade de desenvolvimento cognitivo perdura morfose.
para o resto da vida e a aprendizagem acon-
tece através do meio social e cultural na inte- Para Kramer (1999), a concepção de
ração com outros sujeitos. infância da forma como é vista hoje é rela-
tivamente nova. Segundo a autora podemos
Entender o processo de desenvolvi- localizar no século XVIII o início da ideia de
mento do aluno é indispensável para a cons- infância compreendida como uma fase am-
trução do conhecimento do professor. plamente singular que deve ser respeitada
em suas particularidades.
Para que esse processo ocorra sem
traumas é preciso respeitar e reconhecer que A valorização e o sentimento atribuí-
cada aluno é diferente, procurando introdu- dos à infância nem sempre existiram da for-
zir práticas que satisfaçam as necessidades ma como hoje são concebidas e difundidas,

313
tendo sido modificadas a partir de mudanças elas mesmas, pelo apego que lhes tinham,
econômicas e políticas da estrutura social. do que pela contribuição que essas crianças
Percebe-se essas transformações em pintu- podiam trazer à obra comum, ao estabeleci-
ras, diários de família, testamentos, igrejas e mento da família. A família era uma realida-
túmulos, o que demonstram que a família e de moral e social, mais do que sentimental.
escola nem sempre existiram da mesma for- (ARIÉS, 2006, p.158).
ma. (KRAMER, 1995, p.17).
Neste sentido na visão do autor, no
Segundo Ariés (1981), as modificações momento que a criança possuía pouca de-
ocorreram a partir de mudanças econômicas pendência, em média pelos aos cinco ou sete
e políticas da estrutura social. Com o passar anos, mostrava-se que já estava preparada
do tempo, como demonstra a história, encon- para entrar na vida adulta em todos seus as-
tramos diferentes concepções de infância. A pectos. A criança era considerada um adulto
criança era vista como um adulto em minia- em miniatura, pois eram designadas tarefas
tura, e seu cuidado e educação eram realiza- iguais as das pessoas mais velhas e todos os
dos somente pela família, em especial pela tipos de assuntos eram conversados na sua
mãe. Havia algumas instituições alternativas frente. A partir deste momento a criança era
que serviam para cuidado das crianças em si- enviada para viver com outras famílias para
tuações prejudicadas ou quando rejeitadas. desta forma aprender os trabalhos domésti-
cos e os valores. Porém, com essa separação
Ariés (1981) relata que até por volta o sentimento ficava dissolvido.
do século XVI, não havia nenhum sentimento
com relação ao universo infantil. A concep- Naquela época, a criança era levada
ção de infância, até este momento, baseado à aprendizagem através da prática. Os tra-
no abandono, pobreza, favor e caridade, nes- balhos domésticos não eram considerados
te sentido era ofertado um atendimento pre- humilhantes, era constituído como uma ma-
cário às crianças; havia ainda grande número neira comum de inserir a educação tanto
de mortalidade infantil, devido ao grande ris- para os mais abastados, como para pobres.
co de morte pós-natal e às péssimas condi- Porém pelo fato da criança sair muito cedo
ções de saúde e higiene da população em ge- do seio da família, fazia com que ela escapas-
ral. Em virtude dessas decorrências e dessas se do controle dos pais, mesmo que um dia
condições uma criança que morria era logo voltasse a ela, tempos mais tarde, depois de
substituída por outra em sucessivos nasci- adulta, o vínculo primordial havia se quebra-
mentos, pois na época ainda não havia, como do. O professor que toma posse dos estudos
hoje existe, o sentimento de cuidado, ou pa- de grandes teóricos da educação, que se de-
paricação, pois as famílias, naquela época, dicaram a estudar esse tema, com certeza
entendiam que a criança que morresse não será um professor diferente, que nunca este-
faria falta e qualquer outra poderia ocupar o reotipará o seu aluno como sendo “burro” ou
seu lugar. “desinteressado”.
Para o autor o período da infância Durante muito tempo segundo o Ari-
era minimizado a seu período mais frágil, és, a infância foi colocada à margem pela so-
enquanto a criança ainda não conseguia ciedade e do seio familiar, exposta à vontade
bastar-se; ficava no seio da família, porém, e as ordens dos adultos, ficando até mesmo
mal adquiria algum desembaraço físico, era numa situação de invisibilidade social. A ob-
logo introduzido meio dos adultos, compar- servação em prol da infância deu-se de ma-
tilhando de todos os seus trabalhos e jogos. neira lenta, em um processo de construção
De uma criança inocente e pequena, está se social.
transformava rapidamente em um jovem,
deixando passar as etapas da infância. Conforme Kramer (1995) as crianças
foram vistas por muito tempo como seres
A transferência de valores e dos co- imperfeitos e incapazes, e se encontravam
nhecimentos, e de modo mais amplo, a so- em meios aos adultos sem qualquer capricho
cialização da criança, não era, portanto de e atenção diferenciada. O que se pretende
nenhuma forma assegurada nem direciona- nesse artigo é discutir a importância da afe-
da pela família. Esta criança se distanciava tividade no ambiente da Educação Infantil,
rapidamente de seus pais, e podemos dizer quais os benefícios que os profissionais da
que durante muitos séculos a educação e a Educação conseguem detectar em seus alu-
aprendizagem foi garantida graça a convi- nos com o uso da afetividade no processo de
vência da criança ou do jovem com outros ensino aprendizagem das crianças.
adultos. Neste sentido a criança era inserida
em meio aos adultos para aprender as coisas Esse olhar só mudou a partir do sé-
que devia saber ajudando os adultos a faze- culo XII. No que cabe ao respeito à infância,
rem-nas. pode-se perceber que esta não tinha valor
algum para a sociedade da época, pois sua
A família não podia, portanto, nessa própria família mantinha as crianças em se-
época, alimentar um sentimento existencial gundo plano, não ofereciam a menor aten-
profundo entre pais e filhos. Isso não signifi- ção, carinho, valor e respeito.
ca que os pais não amassem seus filhos: eles
se ocupavam de suas crianças menos por Para a sociedade medieval, o mais
importante era que a criança crescesse rapi-

314
damente para poder participar e ajudar no funciona o desenvolvimento do processo
trabalho e nas demais atividades do mundo cognitivo dentro do processo da afetividade,
dos adultos. Neste período todas as crianças e as fases do desenvolvimento humano cita-
por volta dos sete anos de idade, não impor- das por Piaget. Mostra como o lúdico contri-
tando sua condição social, eram inseridas em bui para o desenvolvimento infantil. E ainda
famílias estranhas para aprenderem a fazer como está à situação da educação e o desca-
os serviços domésticos. so dos órgãos governamentais em relação à
educação infantil, assim como os problemas
Segundo o autor até mesmo perante a enfrentados pelas instituições educacionais.
arte a infância foi ignorada. Por volta do sécu- Essa pesquisa teve como meta analisar qual
lo XII, a arte medieval não conhecia a infância a concepção de cada professor tem sobre
como uma fase da criança, e nem ao menos afetividade, se eles consideram importante o
demonstrava interesse em representá-la. É uso da afetividade no processo de formação
impossível compreender que essa ausência da aprendizagem da criança de zero a cinco
se deva tão somente à incapacidade ou a anos.
falta de habilidade das crianças. O mais pro-
vável é que não houve um lugar reservado Afetividade é o termo usado para de-
no pensamento das pessoas neste período, signar o que vem a ser a relação de amor, e
para a criança. carinho ou cuidado que se tem com alguém
íntimo ou querido. É uma situação psicoló-
Le Goff (1984) afirma que no universo gica que permite as pessoas demonstrarem
romano, a criança dependia do pai para sua o seu sentimento e emoções a outro ser ou
formação. O domínio do pai era completo e objetos.
a criança que rejeitasse seu patrio poder era
desprezada. A dependência do pátrio poder A afetividade é de suma importância
seria capaz de acolher ou enjeitar segundo os na educação, para uma escola construída a
atributos físicos que mostrava, se apresen- partir do respeito, compreensão e autono-
tasse alguma deficiência, geralmente era re- mia de ideias. A partir da educação afetiva
cusado. O estudo sobre afetividade nos leva podem-se desenvolver sujeitos conscientes
a outro patamar da educação, porque a afeti- no gozo de seus direitos e deveres. Sujeitos
vidade na Educação Infantil não se preocupa críticos que tem opinião própria, honestos
em apenas transmitir conteúdos, certificar em suas atividades, responsáveis por seus
que a criança aprendeu a ler, escrever e sabe atos.
contar, não é algo mecanicista. O processo de
afetividade no ensino não rotula as crianças, Como referencial teórico foram utiliza-
muito pelo contrário sabe que tem um jeito dos estudiosos como Wallon (2010), Chalita
e que através da afetividade irá encontrar o (2004), Antunes (2006), entre outros. Estes
caminho para conduzir a criança no caminho possibilitam o enfoque sobre afetividade nos
do crescimento. processos de ensino e aprendizagem, numa
perspectiva problematizadora e crítica.
Conforme Price (1996), na Idade Mé-
dia prevaleceu o hábito cristão, dando uma A família tem papel fundamental na
nova visibilidade para a infância, neste perí- vida da criança, pois é a partir dela que a
odo histórico, novos argumentos sobre a in- criança tem seus primeiros relacionamen-
fância irão beneficiar uma condição melhor tos afetivos e através dela desenvolve o que
para as crianças. Aos poucos surgiu o enten- aprendeu no meio social.
dimento e sentimento de que as crianças são A criança leva para o meio social tudo
especiais e diferentes, e, portanto, dignas de aquilo que aprende em casa com a família, se
ser estudadas. ela é tratada com amor, carinho e compre-
ensão, ela transmitirá essa e afetividade aos
colegas e para os professores, caso ela não
CONSIDERAÇÕES FINAIS tenha uma relação afetiva com os familiares
ela não conseguirá mostrar nenhum gesto
De acordo com o que foi estudado, de carinho, dessa forma agindo com agres-
entende-se que a afetividade na educação in- sividade e incoerência. A família é o alicerce
fantil, é importante para o aprendizado e for- desenvolvimento da vida da criança.
mação da criança. A importância da partici-
pação da família para o desenvolvimento da
criança, tanto cognitivo quanto afetivo. Para
obter essas informações utilizamos de um REFERÊNCIAS
questionário contendo perguntas fechadas ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História
e abertas, para podermos analisar o pensa- da Educação e da Pedagogia. Geral e Brasil.
mento de cada professor sobre afetividade. São Paulo: Moderna, 2006.
Conclui-se que os resultados espera- BOCK, Ana Mercês Bahia. FURTADO,
dos foram alcançados, uma vez que ressal- Odair. TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psi-
ta a relação professor-aluno no processo de cologias uma introdução ao estudo de psico-
ensino aprendizagem, bem como deve ser a logia. Editora Saraiva, 13ª ed. São Paulo, 1999.
participação do educador nas diversas situa-
ções vivenciadas no dia-a-dia; mostra como FREIRE, Paulo. Pedagogia da autono-

315
mia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
KISHIMOTO. Tizuco Morchida. (Org.)
Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 3ª
Ed. São Paulo: Cortez 1998.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática; 2ª ed. –
São Paulo: Cortez, 2013.
PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini
de. Metodologia da pesquisa: Abordagem te-
órico-prática. Campinas: Papirus, 1996.
LIMA, Maria. Estágio e docência: dife-
rentes concepções. In: Revista Poíesis Volu-
me 3, Números 3 e 4, pag.5-24, 2005/2006.
PIAGET. VYGOTSKY. WALLON. Teorias
Psicogenéticas em Discussão. São Paulo:
Summus editorial,1992.
VYGOTSKY, L.S. A formação Social da
Mente. São Paulo: Martins Fontes,1994.
WALLON, Henry (1973/1975). A psico-
logia genética. Trad. Ana Ra. In. Psicologia e
educação da infância. Lisboa: Estampa (cole-
tânea).

316
O LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL: IMPORTÂNCIA DOS
BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E JOGOS
LUCELI FREITAS PASSUAN

RESUMO bém é privilegiada com este momento. Além


disso, a criança com o imaginário e as fanta-
Este trabalho enfoca o desenvolvi- sias consegue conhecer o mundo real, viven-
mento infantil e quais técnicas podem ser ciando situações adultas enquanto brinca e
empregadas para contribuir para que este assim vai se preparando para a vida adulta.
ocorra de forma natural. O Capítulo 1 traz um
estudo sobre o desenvolvimento infantil, que Então o ato de brincar faz-se necessá-
ocorre desde a concepção, passando pelo rio para a criança como fator de contribuição
nascimento e dá sequência durante nossa e sendo essencial para o seu desenvolvimen-
vida. Ficou visto que para Piaget saber com to e isso não se pode negar, mas ainda falta
a lógica infantil chegava à lógica adulta era conscientizar muitos para aceitar esta ques-
uma questão necessária, para que por meio tão.
desta descoberta pudesse conhecer este pro-
cesso para auxiliá-lo. Já no Capítulo 2, perce- Para tanto, temas como a importân-
be-se que para muitos educadores e até para cia do lúdico, são correntes nos debates que
a sociedade brinquedos, brincadeiras e jogos cercam a Educação. A busca pela qualidade e
não passam de momento em que a criança pela satisfação da sociedade vem direcionan-
está se distraindo, mas ao contrário a criança do novas formas de atuação dos docentes.
por meio da imaginação e das fantasias que Tais estudos revelam-se de suma im-
este ato proporciona está se desenvolvendo portância e que a pedagogia enquanto ciên-
e conhecendo regras. No Capítulo 3, encon- cia adentre a esse panorama, procurando
tra-se respaldos que confirmam que o ato de contribuir para a efetivação destes conceitos
brincar pode sim contribuir para o desenvol- e que contribua na formação profissional e
vimento infantil nas mais variadas funções e social de seus educadores, buscando novos
que valorizar este ato é uma questão que o caminhos para o desenvolvimento das po-
educador não pode deixar de lado. O ato de tencialidades do indivíduo.
brincar não pode ser visto apenas como uma
distração ou um momento em que a edu-
cadora está ociosa, mas sim um momento 2 BRINQUEDOS, BRINCADEIRAS E JO-
importante na vida da criança que esta por GOS
meio deste se preparando para fase adulta.
Palavras-chave: Brinquedos; Brinca- Conforme Borugère (2001), uma brin-
deiras; Jogos. cadeira não precisa ter objetos definidos e
únicos para tal, e sim a mesma pode produzir
seu objetos desvencilhando do que é habitu-
al comum para uso da respectiva brincadeira,
1 INTRODUÇÃO sendo assim, os objetos que cercam a criança
As contribuições deste estudo se dão podem se transformar em brinquedos sem
na medida em que a pesquisa busca ampliar necessariamente terem sido manufaturados
a compreensão sobre a dinâmica das brinca- para esse fim, afirma também que a brinca-
deiras no contexto escolar. A escolha do tema deira transcende o brinquedo “O brinquedo
partiu da curiosidade em aprofundar mais no é acima de tudo um dos meios de desen-
tema, já que o desenvolvimento infantil é a cadear a brincadeira, porém, a brincadeira
fase mais importante na vida do ser humano escapa em parte do brinquedo.” (2001 pag
e gostaria de compreender quais são os ele- 21). Deste modo a brincadeira transcende o
mentos que possam auxiliar neste momento brinquedo, mas o autor ressalta também em
que determinará a vida adulta do indivíduo. suas obras a relevância do brinquedo como
material apropriado dando alicerce para o
Para muitos educadores e até para desenvolvimento favorável da brincadeira e
os pais, o ato de brincar não é respeitado, seu aprofundamento:
ou seja, não é tido como um momento im-
portante na vida da criança que está se de- O brinquedo é mais que um instru-
senvolvendo, mas sim está se distraindo ou mento de brincadeira. Ele traz para a crian-
apenas matando tempo. É justamente nesta ça não só um meio de brincar, mas também
visão errada que se faz do ato de brincar ob- imagens, representações, universos imaginá-
jeto de estudo, uma vez que o ato de brincar rios. Ele estrutura o conteúdo da brincadeira
está intimamente ligado ao desenvolvimento sem, no entanto, limitar a criança.” (2001 pag
infantil e perceber isso é contribuir para que 831)
ocorra de forma mais natural. Brougère (2001), conceitua o brinque-
As crianças por meio dos brinquedos, do como um objeto infantil, e para o adulto o
brincadeiras e jogos, podem conhecer re- brinquedo é sempre motivo de zombaria, de
gras, políticas, desenvolver o sentimento de ligação com a infância. Já o jogo pode ser des-
compartilhar, a coordenação motora, tam- tinado tanto à criança quanto ao adulto, não

317
sendo restrito a uma faixa etária. Os objetos como ferramenta para a criança se expres-
lúdicos dos adultos são chamados exclusiva- sar, aprender e se desenvolver. (Kishimoto,
mente de jogos, definindo-se, assim, pela sua [201-?])
função lúdica. Afirma também que o brin-
quedo é um objeto exclusivo e próprio com Entende-se que a brincadeira é um
imagem específica dizendo que a função do ato de grande relevância vivenciadas pelas
brinquedo é a brincadeira sendo desta ma- crianças e esta prática do lúdico permite no-
neira definido como um uso preciso. vas descobertas de conhecimentos e desen-
volvimentos de várias habilidades de manei-
Parece que a ideia segundo a qual a ra natural e prazeroso.
pobreza material é vetor de riquezas imagi-
nárias da brincadeira, é um mito. A brinca- Quando brincam as crianças tendem
deira infantil em seu conteúdo imaginário e a desenvolverem bons sentimentos, apren-
narrativo parece se enriquecer grandemente dem sobre partilhar, sociabilizar, e obedecer
com suportes variados e coerentes coloca- a regras.
dos à sua disposição. “(2001pag 82) No RCNEI (1998), no ato de brincar as
Assim como Segundo Huizinga (2001), crianças assumem um papel que é principal-
em se tratando ainda sobre jogo, ele diz que mente o que aponta a brincadeira realizada,
o jogo para os adultos não é igual ao jogo agindo frente à uma realidade não liberal,
para a criança o jogo para criança, pois, para transferindo e substituindo suas ações ro-
a mesma o jogo significa um momento em tineiras pelo papel assumido, manuseando
que ocorre aprendizagem, e neste caso para objetos substitutos.
o adulto é simplesmente uma recreação, É através do brincar as crianças podem
para este o jogo não tem muita importância exercer sua capacidade de criar, condição
e já para a criança se torna uma brincadeira imprescindível para que haja riqueza e diver-
significativa estimulando o aprendizado, sidade nas experiências que lhes são ofere-
Os jogos têm diversas origens e cul- cidas nas escolas, sejam elas mais voltadas
turas que são transmitidas pelos diferentes ao lúdico ou às aprendizagens que ocorrem
jogos e formas de jogar. Este tem função de por meio de uma intervenção direta. Sen-
construir e desenvolver uma convivência en- do assim quando a criança está brincando
tre as crianças estabelecendo regras, critérios a criança cria situações imaginárias que lhe
e sentidos, possibilitando assim, um convívio permite operar com objetos e situações do
mais social e democracia, porque “enquanto mundo dos adultos. Enquanto brinca, seu co-
manifestação espontânea da cultura popular, nhecimento se amplia, pois ela pode fazer de
os jogos tradicionais têm a função de perpe- conta que age de maneira adequada ao ma-
tuar a cultura infantil e desenvolver formas nipular objetos com os quais o adulto opera
de convivência social. Kiahimoto (1993, p. 15) e ela ainda não.
Desta maneira assim como também Também no RCNEI (1998), diz que ao
Jean Piaget (1975) com o estudo mais com- brincar as crianças precisam ter autonomia
pleto sobre jogo na criança, diz que o ser hu- para escolher seus companheiros e os papéis
mano tem uma propensão lúdica, ou seja, que irão assumir baseando-se na história do
um impulso para jogo que já acontece nos que estão brincando e partido do interesse e
primeiros meses de vida do bebê. Entende-se vontade das mesmas.
assim, como o brincar, a brincadeira inerente As crianças no momento em que brin-
do ser humano sendo mais explorado e im- cam vivenciam brincadeiras imaginarias e
portante na infância, dando sentido e resul- criada pelas próprias, mobilizam seus pen-
tados para o resto da vida, agregando grande samentos para criar solução de problemas
valores e resultados no desenvolvimento da que tenham significados e importância para
criança. Neste sentido Kishimoto afirma: elas. Oportunizar momentos de brincadeiras,
Para a criança, o brincar é a atividade por conseguinte, facilita-se um ambiente em
principal do dia a dia. É importante porque dá que a criança internaliza uma compreensão
a ela o poder de tomar decisões, expressar particular sobre as pessoas, os sentimentos
sentimentos e valores, conhecer a si, aos ou- e os diversos conhecimentos, internalizando
tros e o mundo, de repetir ações prazerosas, o mundo.
de partilhar, expressar sua individualidade Segundo Huizinga (2001), o jogo para
e identidade por meio de diferentes lingua- criança não é igual ao jogo dos adultos, pois
gens, de usar o corpo, os sentidos, os movi- é preciso pensar que para a criança trata-se
mentos, de solucionar problemas e criar. Ao de um momento em que, em geral, ocorre
brincar, a criança experimenta o poder de ex- aprendizagem e, em geral, par o adulto, é
plorar o mundo dos objetos, das pessoas, da recreação. O jogo para os adultos não tem
natureza e da cultura, para compreendê-lo e o mesmo significado enquanto que, para as
expressá-lo por meio de variadas linguagens. crianças, o jogo tem muita importância, pois
Mas é no plano da imaginação que o brincar dali ela pode perceber que a brincadeira é
se destaca pela mobilização dos significados. uma ótima ideia para se aprender. O jogo
Enfim, sua importância se relaciona com a também favorece a autoestima dos alunos,
cultura da infância, que coloca a brincadeira pois a brincadeira faz a criança adquirir mais

318
confiança e isso vai fazer diferença na apren- como tal pelo seu consumidor, que lhe é des-
dizagem. Kishimoto (1998) ressalta que o tinado ao sistema social de distribuição de
jogo, os brinquedos e as brincadeiras são ter- objetos.
mos que terminam se misturando. As diver-
sas brincadeiras e jogos, faz-de-conta, jogos Diante do exposto, percebemos que
simbólicos, sensório motores, intelectuais, conceituar jogos é uma tarefa realmente di-
individuais, coletivos, dentre outros mostram fícil, mas todos os autores citados, não des-
as multiplicidades das categorias de jogos. 25 cartam a relação e importância do jogo no
O jogo é uma atividade que contribui para o desenvolvimento infantil.
desenvolvimento da criatividade da criança Segundo São Paulo (1992) a relação
tanto na criação como também na execução. do jogo com a educação é bastante antiga,
Os jogos são importantes, pois envolvem re- porém só em meados de 1840, Froebel, pen-
gras como ocupação do espaço e a percep- sador alemão, indica o jogo como um impor-
ção do lugar. Kishimoto (1993, p. 15) afirma: tante recurso para o desenvolvimento físico,
Os jogos têm diversas origens e cul- moral e intelectual da criança.
turas que são transmitidas pelos diferentes Para o RCNEI (1998), a brincadeira é
jogos e formas de jogar. Este tem função de uma linguagem infantil que mantém um vín-
construir e desenvolver uma convivência en- culo muito importante daquilo que não é o
tre as crianças estabelecendo regras, critérios brincar, pois, a brincadeira é uma ação que
e sentidos, possibilitando assim, um convívio ocorre no plano da imaginação isto implica
mais social e democracia, porque “enquanto que aquele que brinca tenha o domínio da
manifestação espontânea da cultura popular, linguagem simbólica. Isto quer dizer que é
os jogos tradicionais têm a função de perpe- preciso haver consciência da diferença exis-
tuar a cultura infantil e desenvolver formas tente entre a brincadeira e a realidade ime-
de convivência social. Kishimoto (1993, p. 15) diata que lhe forneceu conteúdo para reali-
Na atualidade, já há algumas ten- zar-se.
dências em que o educador elabora jogos e Então quando a criança brinca ela está
brincadeiras que exigem mais raciocínio ló- se apropriando de elementos da realidade
gico das crianças. Essas atividades terminam imediata de tal forma a atribuir-lhes novos
favorecendo o desenvolvimento de habilida- significados. Essa particularidade da brinca-
des motrícias e sensoriais e estimulam o ra- deira ocorre por meio da articulação entre a
ciocínio, ou seja, jogos de construção e não imaginação e a imitação da realidade, uma
fabricados por uma indústria qualquer. Kishi- vez que toda brincadeira pode ser ideias, de
moto (1999) ainda comenta que “os jogos de uma realidade anteriormente vivenciada.
construção são considerados de grande im-
portância por enriquecer a experiência sen- Retomando o RCNEI (1998), o papel
sorial, estimular a criatividade e desenvolver que as crianças assumem enquanto brincam
as habilidades das crianças”. é o principal indicador da brincadeira, pois o
meio do papel que assumem as crianças age
No campo da Psicologia o fenômeno frente à realidade não liberal, transferindo
jogo aparece em descrição de comportamen- e substituindo suas ações cotidianas pelas
tos. Para Wallon (1981), o jogo é uma forma ações e características do papel assumido,
de organizar o acaso, gera a ficção e permi- utilizando-se de objetos substitutos.
te a infração do cotidiano de suas normas.
Bruner (1976) tem interpretação semelhan- O ser humano possui uma tendên-
te ao atribuir ao ato lúdico o poder de criar cia lúdica, ou como denominam alguns, um
situações exploratórias propícias para a so- impulso para o jogo. O estudo mais comple-
lução de problemas. Vygotsky (1988) e Elko- to sobre o jogo na criança é de Jean Piaget
min (1984) admitem a brincadeira como uma (19750), que verificou que este impulso lúdi-
situação imaginária criada pelo contato da co já ocorre nos primeiros meses de vida do
criança com a realidade social. Piaget (1976), bebê.
tendo como princípio básico a noção de equi- Além disso, o brinquedo é um objeto
libração como mecanismos adaptativos da distinto e específico com imagem projetada e
espécie, admite a predominância, no jogo, de Brougère (2001) afirma que a função do brin-
comportamentos cognitivistas demonstram quedo é a brincadeira, mas desse modo de-
tendências sociais. (SÃO DEPAULO, 1992 finido como um uso preciso. Descobrir uma
p.11) função da brincadeira é muito fácil, visto que,
Segundo Brougère (2001), os brinque- escapa de qualquer função precisa, sem dú-
dos podem ser definidos de duas maneiras, vida esse fato que a definiu, tradicionalmente
sejam em relação à brincadeira, seja em rela- em torno das ideias de gratuidade e até de
ção a uma representação social. No primeiro futilidade.
momento o brinquedo é utilizado como su- As crianças quando brincam, trans-
porte da brincadeira, pode ser um objeto ma- formam os conhecimentos que já possuíam
nufatura, tudo nesse sentido pode se tornar anteriormente em conceitos gerais com os
um brinquedo no sentido do objeto lúdico. quais brinca. Por meio da brincadeira a crian-
Já no segundo caso o brinquedo é um obje- ça assume um determinado papel, deve co-
to industrial ou artesanal, que é reconhecido

319
nhecer algumas de suas características, que fância, encontrado prazer em se imaginarem
provem da imitação de alguém ou de algo como sendo, por exemplo, o melhor aluno da
conhecido, de uma experiência vivida na fa- classe etc., e outros ainda lembram de longos
mília ou em outros ambientes, de relato de devaneios nos quais adquirem brinquedos e
colegas ou de um adulto, de cenas de televi- outras coisas muito desejadas.
são, no cinema ou narradas em livros. A fonte
de seus conhecimentos é múltipla, mas estes Frisemos que os devaneios podem
se encontram, ainda fragmentados e somen- ainda ser em grupos, isto é, as crianças con-
te no ato de brincar que a criança estabelece versam como se estivessem numa situação
os diferentes vínculos entre as características muito diferente da real, mas que lhes seria
do papel assumido, suas competências e as muito agradável.
relações que possuem com outros papeis, Neste período há um particular in-
tomando consciência disto e generalizando teresse pelo brinquedo de construção, os
para outras situações. que são compostos de caixa e bloquinhos
No RCNEI (1998), verifiquei que brincar de madeira, pedras, areia, plantas, terra são
é preciso que as crianças tenham certa inde- elementos imprescindíveis para esse tipo de
pendência para escolher seus companheiros brinquedo.
e os papeis que irão assumir no interior de A confusão da fantasia com a reali-
um determinado tema e enredo, cujo desen- dade é uma outra imaginação infantil vivida
volvimento depende unicamente da vontade pela criança no ato de brincar e que Barros
de quem brinca. (1991), mencionam que não é rara a criança
Com a oportunidade de vivenciar brin- não saber distinguir a fantasia da realida-
cadeiras imaginativas e criadas por elas mes- de. Aparentemente as crianças mentem aos
mas, as crianças podem acionar seus pensa- adultos com suas afirmações de fatos impos-
mentos para a resolução de problemas que síveis.
lhe são importantes e significativos. Propi- Esta confusão que a criança faz en-
ciando a brincadeira, portanto cria-se um es- tre suas fantasias e realidade, para Barros
paço no qual a criança pode experimentar o (1991), tem o nome de “mentira branca”. As
mundo e internalizar uma compreensão par- afirmações falsas apresentadas pelas crian-
ticular sobre as pessoas, os sentimentos e os ças não têm intenção de enganar. Esta carac-
diversos conhecimentos. terística da imaginação infantil desaparece
muito cedo, nos casos normais.
3.1 Brinquedos de representação: pa- O gosto por narrativas é ressaltado
péis e construção por São Paulo (1992) que diz que o aspecto
da imaginação nos acompanha através de
De acordo com Barros (1991), os brin- toda a nossa existência. Quando as crianças
quedos surgem na segunda metade do se- são muito novas, tanto os meninos como as
gundo ano de vida e continuam até os anos meninas apreciam historias em que a sua
escolares e entre as diversas modalidades pessoa está envolvida, e também histórias
de brinquedos, a ficção, que permitem que de animais.
a criança vivencie situações como dirigir um
carro ou ainda dar vida aos objetos inanima- No caso das narrativas as histórias que
dos. Essa característica do pensamento in- aparecem com fases repetidas, são as que
fantil é um aspecto importante do brinque- mais exerce especial influência nas crianças
do que é chamada de animismo, que é essa e meninos e meninas já começam a delimitar
capacidade que a criança tem de atribuir a sua preferência, em que as meninas prefe-
vida, sensibilidade, aos seres inanimados. É rem histórias de fadas e de madrastas e os
comum vermos uma criança castigar o mó- meninos pelas histórias de animais e aventu-
vel em que tropeça ou conversar com obje- ras. Esta diferenciação aparece no curo pri-
tos inanimados. Mas o animismo desaparece mário e vai se acentuando na puberdade e
muito cedo. na adolescência.
Já no terceiro ano de vida, a criança O brinquedo em alguns casos é viven-
começa a brincar imitando atividade que vi- ciado com tanta realidade que é difícil para a
vencia ou das quais toma conhecimento por criança desvincular que isso não é real. Com
meio de livros, cinema ou televisão. Uma o seu valor expressivo, o brinquedo estimu-
dessas brincadeiras, Barros (1991) classifica la a brincadeira ao abrir possibilidades de
como devaneio, que são situações em que ações coerentes com a representação e é por
as crianças gostam de se imaginar em situ- isso que o brinquedo acaba sendo um objeto
ações diferente da realidade em que vivem. extremo, devido à superposição do valor sim-
O estudo desta manifestação da imaginação bólico à função.
infantil, porém, não tem sido realizado como Porém, pode ser um objeto que sirva
seria desejável devido à dificuldade quanto de exemplo quando convida a refletir sobre
aos métodos a empregar. outros objetos que podem, igualmente, im-
Desta fase do devaneio, é comum que plicar ao menos parcialmente, tal superposi-
muitos adultos se recordem de terem, na in- ção. Conceber e produzir um brinquedo são

320
transformar em objeto em uma representa- Em alguns casos mesmo o professor
ção, um mundo imaginário ou relativamente auxiliando o contato das crianças com as re-
real. gras, elas não conseguem desencadear uma
ação mais autônoma e até parecem não ter
a menor ideia da regra apresentada e pas-
3.1.1 Brinquedos com outros e com sam a jogar de forma mecânica seguindo o
regras comando.
Na idade escolar a criança é capaz de No entanto, Kamii (1991), ressalta que
brincar em grupo, com outras, pois já está a oportunidade de jogar um jogo várias vezes
apta a obedecer a regras e a esperar sua vez. pode resultar com frequência numa modifi-
Antes dessa idade, ela já brincou paralela- cação substancial da consciência da crian-
mente com outra criança ou em grupos de ça. É, portanto, uma boa ideia jogar um jogo
no máximo três, mas não participou ainda de mais de uma vez antes de rejeitá-lo.
jogos sujeitos às regras, pois segundo Barros O papel do professor neste momento
(1991), embora possa percebê-la, mostre-se é muito importante, já que deve desafiar a
incapaz de submeter-se a elas. criança e vendo algum problema o professor
De fato, a criança nessa idade está pode pensar em algumas maneiras de tornar
inda no estágio egocêntrico, o que Jean Pia- o jogo mais interessante para isso deve deli-
get (1975) o definiu como estágio em que mitar as possibilidades, ou se, a modificação
a criança joga livremente, a seu modo, não pode contribuir para que a criança compre-
tendo ainda capacidade para obedecer às re- enda as regras do jogo.
gras. Já na fase escolar, formam-se grupos
Então, o valor do conteúdo de um de idade aproximados que se selecionam por
jogo, para Kamii (1991), deve considerar o es- sexo, pois, meninos e meninas já se interes-
tágio de desenvolvimento em que a criança sam mais pelos mesmos brinquedos: os me-
se encontra e não apenas os estágios formais ninos agrupam-se para jogos movimentados;
descritos por Piaget, mas a maneira como a as meninas, para brinquedos mais sedentá-
criança obtém o conhecimento e raciocina, rios, como por exemplo: de escolinha ou de
isso poderá ser inferida pela leitura do com- casinha. Tal escolha resultaria basicamente
portamento da criança, leitura essa que se da influência de nossos padrões culturais.
torna possível à medida que o professor ad- (BARROS, 1991 p.189)
quire uma base teórica bem fundamentada Nesta etapa um líder já desponta no
da teoria piagetiana e aprendemos a dialogar comando, que em geral é escolhido confor-
com as crianças. me sua capacidade, o maior, o mais corajoso,
A observação da criança durante o o que sabe maior número de jogos ou o dono
jogo torna-se então uma rica fonte de conhe- do brinquedo.
cimento para que possamos saber o estágio Além do mais, um bom jogo não é
em que a criança se encontra que pode acon- aquele que necessariamente a criança pode
tecer com perguntas para saber se ela está dominar corretamente, pois o importante é
achando o jogo fácil ou difícil. De posse das que a criança possa jogar de uma maneira ló-
respostas a escolha de jogos pode ser mais gica e desafiadora para si mesma e seu gru-
adequada para cada grupo ou classe que po.
deve ser feito com cuidado e na maioria das
vezes, incluirmos a análise da participação da Retomando Kamii (1991), quando no
criança. jogo a participação de todos é analisada,
podemos conhecer a capacidade de envol-
Num primeiro momento, o professor vimento das crianças no jogo, decorrente de
faz uma triagem mais simples, descartando seu nível de desenvolvimento, o que implica
aqueles jogos por si mesmos não têm um também a participação contínua de cada jo-
conteúdo significativo e desencadeador de gador, seja agindo, observando ou pensan-
processos de pensamento na criança. Numa do. A participação ativa engloba a atividade
segunda etapa, com relação aos jogos que mental e envolvimento do ponto de vista da
de modo geral são desafiadores, será preciso criança, uma vez que a participação ativa da
apresentá-los às próprias crianças e observar criança depende de seu nível de desenvolvi-
a relação do grupo-classe com o jogo para re- mento. E para uma criança pequena sua par-
almente avaliar se é adequado ou não para ticipação ativa geralmente significa atividade
elas. (KAMII, 1991, p.7) física, porque o pensamento ainda não foi
Alguns jogos que são considerados completamente diferenciado da ação.
como apropriados para aquela faixa etária Neste aspecto Barros (1991), diz que a
acaba se revelando muito difícil, e nem todas criança durante a execução do jogo é um fa-
as crianças têm facilidade de compreender tor importante para sua avaliação, bem como
as regras, pois alguns jogos não propiciam a reação e participação da criança durante o
clareza de pensamento para as crianças por- jogo, também pode e muito para se perceber
que sua regra básica é tão difícil que as crian- se a criança está sendo mobilizada mental-
ças acabam recriando-as por si próprias. mente. Pois não adianta que o jogo propor-

321
cione apenas muita participação, mas tenha como a elaboração de um sistema de repre-
um conteúdo mecânico e sem significação sentação dos diversos sentimentos, das emo-
para a criança. ções e das construções humanas, o que ocor-
re pelo fato da motivação da brincadeira ser
A construção das regras do jogo é clas- sempre individual e depender dos recursos
sificada por São Paulo (1992), no sentido de emocionais de cada criança que são compar-
formalização, modificação e ampliação que tilhados em situações de interação social.
é um momento importante porque, quando
a capacidade da criança pode ser observada, Assim, as brincadeiras proporcionam
ou seja, o seu pensar logicamente, visualizar para a criança a oportunidade de desenvol-
como essa mesma criança vê a realidade e ver um canal de comunicação, uma abertura
como lida com os dados desta. para o diálogo do mundo dos adultos, onde
ela irá estabelecer suas relações e determi-
As crianças bem pequenas participam nar sua identidade e autonomia.
de jogos em grupos como se fossem indivi-
duais, mas essa é essencialmente uma das
etapas a serem vencidas dentro dos jogos
em grupos, onde é fundamental que haja a 3.1.1.1.1 O jogo como instrumento
interdependência, oposição e colaboração “O jogo não pode ser visto apenas
de papéis que levem ao desenvolvimento da como um divertimento ou brincadeira para
inteligência e da capacidade de cooperação. que a criança possa desgastar energia, pois
ele favorece o desenvolvimento físico, cog-
nitivo, afetivo, social e moral”. (Kishimoto,
3.1.1.1 As brincadeiras 1999, p.95). Já para Piaget (1975), o jogo é a
construção do conhecimento, principalmen-
Segundo o RCNEI (1998), brincar é te, nos períodos sensório-motor e pré-ope-
uma das atividades fundamentais para o de- ratório. Agindo sobre os objetos, as crianças,
senvolvimento da identidade e da autonomia desde pequenas, estruturam seu espaço a
das crianças, pois desde muito cedo as crian- seu tempo, desenvolvem a noção de causali-
ças já iniciam se apropriando de brincadeiras, dade, chegando à representação e, finalmen-
assumindo determinados papeis nas brinca- te à lógica.
deiras o que faz com que elas desenvolvam a
sua imaginação. Quando estão jogando as crianças se
sentem muito mais motivadas a usar a in-
Nas brincadeiras, as crianças podem teligência, pois querem jogar bem, se esfor-
desenvolver algumas capacidades importan- çando para superar os obstáculos, e estando
tes, como a atenção, a imitação, a memória, mais motivadas para o jogo estão mais ativa-
a imaginação, além de amadurecer as capaci- das mentalmente.
dades de socialização, por meio da interação
e da utilização e experimentação de regras e O ato de brincar proporciona na crian-
papéis sociais. ça um aprendizado que ninguém poderia en-
siná-la de outra forma, uma vez que brincar
A diferenciação de papéis se faz pre- desenvolve um elemento emocional de pra-
sente sobretudo no faz-de-conta, quando as zer. Porém, pode avaliar ou gerar tensões e
crianças brincam como se fossem pai, a mãe, excitando.
o filhinho, o médico, o paciente, heróis e vi-
lões etc., imitando e recriando personagens A esses fatos somam-se os aspectos
observados ou imaginados nas suas viven- motores, os quais o jogo enquanto conteúdo
cias. A fantasia e a imaginação são elemen- fundamental constitui a matéria-prima para
tos fundamentais para que a criança aprenda a consecução dos objetivos tanto de ordem
mais sobre a relação entre as pessoas, sobre motora, como cognitiva e socioafetiva.
o eu e sobre o outro. (RCNEI, 1998, p.22)
Para Kishimoto (1997), o jogo por ser
Nas brincadeiras a criança explora o livre de pressões e avaliações acaba crian-
mundo, faz pequenos ensaios, compreende do um clima de liberdade, que é propício à
e assimila gradativamente suas regras e pa- aprendizagem e estimula a moralidade, o in-
drões, absorvendo como se deve comportar teresse, a descoberta e a reflexão. Pois o jogo
nesse mundo, que acontecem em doses pe- traz experiências que são positivas para que
quenas e aprende como se podem relacionar a criança sinta segurança o que é um estímu-
ela e o mundo. lo para o desenvolvimento.
Quando a criança está brincando de No caso dos jogos educativos ou didá-
faz-de-conta, enriquece sua identidade, por- ticos, que estão orientados para estimular o
que podem experimentar outras formas de desenvolvimento cognitivo e são importan-
ser e pensar, ampliando suas concepções tes para o desenvolvimento do conhecimen-
sobre as coisas e pessoas ao desempenhar to escolar mais elaborado como calcular, ler
vários papéis sociais ou personagens. e escrever.
Durante a brincadeira a criança aca- O conhecimento físico tem como fon-
ba vivenciando concretamente a elaboração te o objeto, ou seja, o objeto contém infor-
e negociação de regras de convivência, bem mações para a criança que as assimila pela

322
manipulação e observação. Desta forma, a KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo,
criança extrai o conhecimento por abstração brinquedo e brincadeira e a educação. 2 ed.
empírica, entretanto, é preciso que o media- São Paulo: Martins Fontes, 1985.
dor esteja presente para conduzir, selecionar
objetos ricos em atributos, dando informa- Kishimoto, Tizuko Morchida, Brinque-
ções e orientação à criança quando necessá- dos e brincadeiras na Educação Infantil, ([201-
rio. (KISHIMOTO, 1997 p.100) ?]). Disponível em: https://pt.scribd.
Na busca do conhecimento físico os com/doc/216221072/KISHIMOTO-Brinque-
jogos de construção ganham destaque, por- dos-e-Brincadeiras
que desenvolvem as habilidades manuais, a Vygotsky, L. S. (1999) – Imaginación y
criatividade, enriquece a experiência senso- creación en la edad infantil. La Habana: Edi-
rial, além de favorecer a autonomia e a socia- torial Pueblo y Educación.
bilidade.
BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e Cultu-
A partir do momento em que a criança ra. Traduzido por Gisela Wajskop. 4 ed. São
adquirir o conhecimento físico, ela estará ga- Paulo, Cotez,2001.
nhando elementos para estabelecer relações
e desenvolver seu raciocínio lógico para ou-
tros conhecimentos, o que é importante para
o desenvolvimento à capacidade de seriação,
sequência entre outras.
As brincadeiras de faz-de-conta, os
jogos de construção e aqueles que possuem
regras, como os jogos de sociedade também
chamados de jogos de tabuleiro, jogos tradi-
cionais, didáticos, corporais, etc., propiciam
a ampliação dos conhecimentos infantis por
meio da atividade lúdica. (RCNEI, 1998, p.28)
Por meio de brincadeiras pais e pro-
fessores podem observar e constituir uma
visão dos processos de desenvolvimento das
crianças em conjunto e de cada uma em par-
ticular, registrando suas capacidades de uso
das linguagens, assim como de suas capaci-
dades sociais e dos recursos afetivos e emo-
cionais que dispõem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ção. São Paulo: Cortez, 2001.
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12 ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
KAMII, Constace. Jogos em grupo. São
Paulo: Trajetória Cultural, 1991.

323
A FUNÇÃO DO ATELIÊ NA EDUCAÇÃO INFANTIL
LUCIANA RUFINO

RESUMO a: - espaço interno, com iluminação, insola-


ção, ventilação, visão para o espaço externo,
Considerando a Educação Primária rede elétrica e segurança, água potável, es-
como uma das esferas fundamentais estabe- gotamento sanitário; - instalações sanitárias
lecidas pela normativa nacional do Brasil, as e para a higiene pessoal das crianças; - insta-
crianças devem ter a oportunidade de partici- lações para preparo e/ou serviço de alimen-
par de práticas que não apenas impulsionem tação; - ambiente interno e externo para o
seu crescimento intelectual, mas também fo- desenvolvimento das atividades, conforme
mentem o fortalecimento de sua autonomia as diretrizes curriculares e a metodologia
e singularidade. A fase inicial da vida requer da Educação Infantil, incluindo o repouso, a
especial dedicação e zelo. No presente mo- expressão livre, o movimento e o brinque-
mento, o Brasil tem concentrado esforços do; - mobiliário, equipamentos e materiais
nesse domínio e, graças a algumas medidas pedagógicos; - adequação às características
significativas, tem se destacado na formula- das crianças com necessidades educacionais
ção de diretrizes governamentais com o pro- especiais (BRASI- PCN, 2006a, p. 21-22).
pósito de proporcionar uma existência mais
gratificante e amplas oportunidades para o É possível constatar que esse texto evi-
desenvolvimento abrangente das crianças. É dencia uma preocupação com um ambiente
evidente que a Educação Primária tem feito que seja capaz de atender às diversas ne-
consideráveis progressos. Observa-se que as cessidades das crianças, um espaço propício
instituições de cuidados infantis e pré-esco- para interação, sociabilização e aprendiza-
las atuais têm se adaptado a uma abordagem gem, aspectos fundamentais a serem viven-
que respeita esses princípios, não se limitan- ciados nessa fase do desenvolvimento.
do mais a suprir apenas as necessidades bási-
cas, mas também buscando estabelecer uma É relevante destacar que espaço e am-
educação que promova o desenvolvimento biente, embora estejam relacionados, são
integral da criança nos aspectos físico, psi- conceitos distintos. No âmbito da Educação
cológico, intelectual e social dos pequenos, Primária, o espaço é caracterizado como os
conforme expresso neste documento. No locais nos quais as atividades são realiza-
entanto, são numerosos os obstáculos que das, englobando materiais didáticos, estética
persistem no atendimento às crianças nesse e mobiliário, podendo ser tanto ao ar livre,
nível de ensino, tais como a antecipação da como um parquinho da instituição, quan-
escolarização, assistencialismo doméstico, to a própria sala de aula. Por outro lado, o
ausência de critérios pedagógicos, processos ambiente se configura como um lugar social,
que excluem e perpetuam a desigualdade composto pelas dimensões do tempo e do
educacional, entre outros exemplos. espaço construídas por meio das relações in-
terpessoais. Nesse contexto, Cocito destaca a
Palavras-chave: Autonomia; Educação definição desses dois conceitos com base nas
Primária; Singularidade. ideias de Forneiro.
Desta forma, para definir o conceito
de espaço e ambiente nos embasamos nas
INTRODUÇÃO ideias de Forneiro (1998). A autora, ao abor-
Em relação aos ambientes destina- dar o conceito de espaço, destaca que “[...]
dos à Educação Primária, o PCN estabelece refere-se ao espaço físico, ou seja, aos locais
um dos seus propósitos como sendo o de para a atividade caracterizados pelos obje-
"assegurar ambientes físicos, equipamen- tos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário
tos, brinquedos e materiais apropriados nas e pela decoração” (FORNEIRO, 1998, p.232).
instituições de Educação Infantil, levando em Ao definir o conceito de ambiente, Forneiro
consideração as necessidades educacionais (1998, p. 232-233) o considera como “[...] o
especiais e a diversidade cultural" (BRASIL, conjunto do espaço físico e às relações que
2006a, p.19). Percebe-se que esse documen- se estabelecem no mesmo (os afetos, as re-
to demonstra preocupação com a infraestru- lações interpessoais entre as crianças, entre
tura das instituições, a ponto de estabelecer crianças e adultos, entre crianças e sociedade
isso como uma das suas metas. em seu conjunto” (FORNEIRO, apud COCITO,
2017, p.87)
Divulgar, permanentemente, padrões
mínimos de infraestrutura para o funciona- As experiências estabelecidas nos es-
mento adequado das instituições de Educa- paços e ambientes educativos proporcionam
ção Infantil (creches e pré-escolas) públicas à criança a oportunidade de adquirir uma
e privadas, que, respeitando as diversidades variedade de vivências. Para isso, é essencial
regionais, assegurem o atendimento das ca- que o educador estabeleça uma relação de
racterísticas das distintas faixas etárias e das intercâmbio, tanto com as crianças, quanto
necessidades do processo educativo quanto entre elas e suas famílias, pois é por meio
dessas interações que elas estão explorando

324
e conhecendo o mundo ao seu redor. (DCNEI 2010, p12)
As Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil (DCNEI, 2010) desta-
cam que as brincadeiras e interações devem A fim de que as crianças ampliem seus
ser consideradas como elementos estrutu- conhecimentos e desenvolvam seus proces-
rantes das práticas pedagógicas, uma vez sos mentais mais avançados, é essencial que
que proporcionam diversas experiências sig- haja uma mediação intencional para possibi-
nificativas para o desenvolvimento das crian- litar progressos além do conhecimento já ad-
ças. Algumas dessas experiências incluem: quirido. Nas instituições de Educação Infan-
o conhecimento de si mesmas e do mundo; til, é o professor quem desempenha o papel
o acesso a diferentes formas de linguagem, de mediador, valorizando e promovendo o
como verbal, visual, teatral e musical; a in- brincar como a principal forma de trabalho e
teração com a linguagem oral e escrita; a aprendizado para as crianças.
curiosidade, o encantamento e o questiona- A brincadeira contribui para a aqui-
mento em relação ao mundo físico e social; sição de diversas aprendizagens. Por meio
a vivência com outras crianças e culturas, es- dessa atividade, podem ser desenvolvidas as
timulando o conhecimento da diversidade, funções mentais superiores que distinguem
entre outras. Quanto mais enriquecedoras e os seres humanos dos animais. De acordo
preparadas forem essas experiências, maior com Nunes e Silveira (2011), Vygotsky afirma
será o benefício para a criança. que existem dois tipos de funções: as elemen-
Essas experiências e vivências adquiri- tares (como memória imediata, atenção não
das ao longo dos anos na Educação Infantil voluntária, percepção natural etc.), que ocor-
permitem à criança a construção de conhe- rem por influências ou estímulos do ambien-
cimentos socioculturais, representando um te, e as superiores (como memória voluntá-
momento oportuno para o desenvolvimento ria, atenção consciente, imaginação criativa,
da cognição e da afetividade. pensamento verbal, etc.), que são estabele-
cidas por meio da cultura. Essas funções são
De acordo com Vygotsky, há uma rela- construídas no curso do desenvolvimento
ção recíproca e dialética entre o indivíduo e psicológico da criança, sendo que a brinca-
a sociedade. O indivíduo atua no ambiente, deira desempenha um papel fundamental na
modificando-o, ao mesmo tempo em que é sofisticação do pensamento infantil. Nesse
modificado por ele. Esse ambiente sociocul- sentido, Goiânia (2014) destaca que:
tural desempenha um papel fundamental na
construção do conhecimento pelas crianças, As crianças desenvolvem seus proces-
no qual as aprendizagens são construídas sos psicológicos superiores por meio da ativi-
por meio das interações com os outros. dade, o que possibilita a elas se apropriarem
do pensamento simbólico, do universo cultu-
ral do qual fazem parte, sendo que os instru-
mentos/signos, a linguagem, as brincadeiras/
INTERAÇÃO SOCIAL jogos, os conceitos cotidianos/científicos, são
Quando as crianças interagem social- as principais ferramentas culturais envolvi-
mente com seus pares, com a orientação de das nos processos de aprendizagem e desen-
um profissional que proporciona uma va- volvimento das crianças nas instituições de
riedade de atividades em grupo, elas têm a Educação Infantil (GOIÂNIA, 2014, p.33).
oportunidade de adquirir "diversas manei- Assim, é evidente que essa fase inicial
ras de expressar suas emoções e desejos, da Educação Infantil desempenha um papel
de conversar e negociar com argumentos e crucial no desenvolvimento da criança, pois
objetivos" (GOIÂNIA, 2014, p.32). Isso indica é nesse período que elas estão passando por
que esse é um momento propício para o de- uma fase fundamental de aprimoramento da
senvolvimento social da criança, pois ao inse- linguagem, que possibilita o surgimento do
ri-la em um ambiente educacional, estamos pensamento verbal, uma das funções men-
apresentando o mundo a ela e possibilitando tais superiores mencionadas por Nunes e Sil-
que ela vivencie uma diversidade de experi- veira.
ências, o que a tornará mais enriquecida e
preparada. A linguagem e as interações sociais
são elementos cruciais na formação humana.
Nesse contexto, vale a pena explorar a A linguagem, por sua vez, não é apenas a ex-
concepção de criança apresentada pelas Di- pressão do pensamento, mas é a criação de
retrizes Curriculares Nacionais para a Educa- imagens e sentidos internos. É um tipo de ati-
ção Infantil (DCNEI). vidade superior, que se diferencia de ações
Criança: Sujeito histórico e de direitos mais elementares como os reflexos e as ativi-
que, nas interações, relações e práticas coti- dades limitadas à percepção imediata da rea-
dianas que vivencia, constrói sua identidade lidade. (NUNES e SILVEIRA, 2011, p.108).
pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, Desde os primeiros momentos, as
deseja, aprende, observa, experimenta, nar- crianças manifestam um interesse inato por
ra, questiona e constrói sentidos sobre a tudo ao seu redor, demonstrando uma cone-
natureza e a sociedade, produzindo cultura. xão com o mundo e iniciando o desenvolvi-

325
mento da linguagem, cognição, corpo físico, Quando a criança se torna protagonis-
emoções e outros aspectos. Levando em con- ta de seu próprio desenvolvimento, ela assu-
sideração esses elementos, fica claro que os me um papel ativo na sociedade e reconhece
ambientes da Educação Infantil têm uma im- sua capacidade de agir no mundo. Para ser
portância crucial no progresso das crianças, protagonista, a criança precisa ser valoriza-
pois quando são devidamente organizados, da, encorajada e ter sua voz ouvida. Na área
se tornam locais que proporcionam experi- educacional, é responsabilidade do educa-
ências e aprendizados significativos. dor adotar uma postura atenta e considerar
o princípio da escuta, reconhecendo tanto o
Ao planejar e organizar esses ambien- que a criança expressa verbalmente quanto
tes, os profissionais devem cuidadosamente o que deixa implícito.
considerar uma estrutura que atenda às ne-
cessidades dessa fase da vida. É importante Além do papel do professor, o am-
ter em mente que essa não é uma etapa fácil biente educativo também desempenha um
para as crianças, já que os espaços das ins- papel importante na promoção do protago-
tituições de Educação Infantil são frequente- nismo infantil. Um espaço pedagógico bem
mente os primeiros lugares que elas frequen- estruturado pode oferecer oportunidades e
tam sem a presença de suas famílias. potencializar a autonomia da criança, permi-
tindo que ela tome decisões e participe ativa-
mente de práticas democráticas. Isso estimu-
CONCEITOS DE NATUREZA E CULTURA la a participação tanto da criança quanto da
família no processo de aprendizagem.
A Pedagogia utiliza noções de essência
e sociedade para construir uma represen-
tação fundamental da fase infantil, a qual é O PAPEL DAS ARTES E SUA INCORPO-
temporal, uma vez que precede a idade adul- RAÇÃO NA INFÂNCIA
ta. A dimensão temporal é incorporada ao
conceito de infância, pois o desenvolvimento Uma análise do papel das Expressões
físico da criança pode causar confusão entre Artísticas (ou como é mais comum, da Arte)
a natureza humana e a natureza biológica. na vida da sociedade parece desnecessária,
Além disso, a infância é percebida como a pois ninguém questionaria o lugar dado a
origem individual do ser humano e, simulta- essa forma específica de atividade humana,
neamente, como a origem da humanidade. que possibilita a apreciação de obras de valor
Isso ocorre porque a infância é considerada estético inquestionável, criadas ao longo da
o estágio primordial da humanidade e mani- história da humanidade, capazes de desper-
festa as características essenciais da nature- tar sentimentos e sensações de admiração
za humana. e reverência em todos aqueles que, de uma
forma ou de outra, têm acesso a elas.
Como sabemos, a escola moderna, isto
é, a ideia de escola como pensamos hoje, com No entanto, como pode ser constata-
regras, disciplinas, conteúdos programáticos, do na vasta literatura sobre o assunto, a de-
divisão por séries a partir de critérios crono- finição de arte (ou das expressões artísticas,
lógicos etc., é algo articulado ao surgimento se preferir) está longe de ser uma questão
de um novo sentimento dos adultos em rela- resolvida. A questão da reprodução do mun-
ção às crianças, um sentimento que implica do por meio de imagens artísticas é perfeita-
cuidados especiais para com os pequenos, e mente aceitável no caso da literatura e das
que está na base da noção de infância gerada artes visuais, mas mais difícil de ser admitida
com o advento da Modernidade [...] (GHIRAL- na música, na dança, na arquitetura e nas ar-
DELLI, 1996, p. 19-20). tes decorativas (DICKIE, 1974).
A criança vivencia sua fase inicial, mas Duas definições surgidas no início do
é incumbência do adulto compreender a es- século XX são construídas a partir da reflexão
sência da infância. Contudo, com frequência, sobre a representação como característica
as diferenças entre adultos e crianças são re- definidora da arte. Em um primeiro momen-
duzidas a uma questão quantitativa, levando to, estabelece-se a arte como uma forma
o adulto a enxergar a criança como relativa- significativa, enquanto em um segundo mo-
mente ou totalmente incapaz de desempe- mento, considera-se como uma expressão
nhar tarefas que ele próprio realiza. Essas de emoções. Ambas minimizam a relação da
limitações podem revelar disparidades na obra de arte (e, consequentemente, do artis-
estrutura mental entre a criança e o adulto. ta) com a realidade, em favor das qualidades
estéticas do objeto artístico em si ou da rela-
Os processos de desenvolvimento in- ção da obra de arte com a mente criativa que
fantil são influenciados por diversos fatores, a originou.
como emoções e contextos sociais, que mol-
dam as conexões neurais que contribuem Essas considerações, com uma cla-
para a aprendizagem. É fundamental com- ra filiação idealista, podem ser encontradas
preender como esses processos se desenro- originalmente nas ideias de beleza e genia-
lam ao longo do tempo e interagem em di- lidade na teoria da arte de E. Kant. Tanto a
ferentes contextos, a fim de criar ambientes definição não focada no objeto quanto a de-
educacionais mais propícios ao aprendizado. finição orientada para o artista são utilizadas

326
para distinguir o que é admitido como arte lação de causa e efeito, descobrindo como as
e o que não é, e, portanto, servirão por mui- partes se conectam ao todo.
to tempo para avaliar (ou rejeitar) os valores
estéticos de várias formas de arte progressi- O verdadeiro e natural caminho para
vas. Apesar dessa intenção de legitimar, cada que o homem realize seu potencial criador...,
uma dessas definições é unidimensional e, reside no processo elementar de cada um
portanto, incompleta. poder crescer em seu tempo vital e poder
amadurecer, de poder integrar-se como ser
A polêmica em torno da definição de individual e como ser cultural. (OSTROWER,
arte chegou a sugerir que a verdadeira es- 1977 p.144)
sência do conceito reside em sua capacidade
ilimitada de acomodar mudanças. Por outro No que diz respeito ao progresso, as
lado, foi proposta uma definição institucional crianças na fase inicial da educação estão co-
de arte, baseada na ideia de que a única ca- meçando a combinar habilidades linguísticas
racterística comum entre as obras de arte é o aprimoradas com habilidades motoras finas
fato de terem sido reconhecidas como tal por desenvolvidas para criar imagens que têm
certas instituições em um determinado mo- um valor simbólico profundo para eles. Eles
mento (HONDERICH, 2001). É difícil negar que apreciam narrativas longas e envolventes,
a inclusão ou exclusão de diferentes obras no tanto reais quanto imaginárias. Essas histó-
âmbito da arte tenha desempenhado outras rias podem surgir de sua fértil imaginação,
funções na sociedade, como promover elitis- de experiências vivenciadas ou observadas,
mo ou diferenças de classe. ou de suas próprias criações manuais.
A definição institucional nem sempre As artes visuais englobam uma ampla
é muito convincente para demonstrar o que gama de modalidades visuais que as crianças
há de particularmente valioso na arte. A arte utilizam para expressar e comunicar-se, além
(ou o produto artístico) é às vezes considera- de promover o pensamento crítico e envol-
da boa na medida em que possui um valor ver-se em explorações e pesquisas estéticas.
puramente estético, independentemente de O que é considerado como artes visuais é
qualquer valor moral, cognitivo ou utilitário influenciado por valores culturais e sociais.
que possa ter. No entanto, a arte também é Alguns exemplos comuns incluem pintura,
importante como um meio de compreender modelagem em argila, escultura, colagem, te-
o comportamento humano, e o valor de dois celagem, construção, fotografia, arte vestível,
produtos artísticos não pode ser separado escultura, impressão e formas efêmeras, em-
do domínio da verdade e da moralidade. bora haja muitas outras formas de expressão
visual e exploração.
A partir de uma concepção filosófica
materialista, que abrange desde o engenho As artes visuais também auxiliam na
do atomismo grego até a complexidade de comunicação entre as crianças, especialmen-
dois neomarxistas contemporâneos, a arte é te quando os professores criam oportuni-
uma forma específica de consciência social e dades para que elas trabalhem em projetos
de atividade humana, condicionada histori- compartilhados ou explorem interesses co-
camente. Consiste, portanto, em uma refle- muns juntas. Essas oportunidades incenti-
xão subjetiva da realidade objetiva por meio vam as crianças a trocar ideias, considerar
de imagens artísticas, que representam dois soluções e desenvolver significados com-
dos procedimentos mais importantes no pro- partilhados por meio da colaboração. Essas
cesso de apreensão estética do mundo. experiências também podem estimular o
desenvolvimento da linguagem verbal das
Todas as grandes civilizações antigas crianças.
(Egito, Mesopotâmia, China e Índia) tratam
tanto do desenvolvimento alcançado pelas Existem diversas abordagens pelas
forças produtivas, a partir da base econômi- quais os educadores podem fortalecer sua
ca, quanto dos resultados alcançados na su- autoconfiança e conhecimento pedagógico
perestrutura de suas sociedades, onde a arte para lecionar artes visuais durante os pri-
ocupa um lugar tão importante quanto a reli- meiros anos de ensino. Um ponto de parti-
gião ou a organização do Estado. da crucial é o processo de autorreflexão. Isso
pode ser uma jornada individual ou parte de
A integração das Expressões Artísti- uma investigação conjunta em toda a insti-
cas na primeira fase da vida oferece inúme- tuição. Refletir sobre a própria história com
ros benefícios, e a participação das crianças as artes visuais permite que os professores
em programas e atividades impregnadas de identifiquem quando e como sua confiança
Arte promoverá o desenvolvimento ideal de foi abalada inicialmente. Compartilhar as me-
suas habilidades cognitivas, criativas, sociais mórias dessas experiências entre as equipes
e emocionais. de ensino possui um valor significativo. Essa
estratégia pode ser eficaz para construir uma
As crianças em idade pré-escolar apri- filosofia compartilhada das artes visuais, de-
moram suas habilidades de solução de pro- cidindo em conjunto como valorizar e inte-
blemas de forma criativa e aperfeiçoam a grar as artes visuais no currículo.
coordenação entre seus olhos e mãos por
meio da utilização de materiais. Ao apreciar a
repetição, os pequenos experimentam a re-

327
O Ensino da Arte na escola orientado Seguindo a abordagem do ateliê, os
pela Abordagem Triangular pretende formar diversos espaços da escola devem ser prepa-
o conhecedor, o decodificador da obra de rados para atender às demandas das ativida-
arte e das imagens do cotidiano ou da cul- des realizadas no local. Os materiais também
tura visual. Ou seja, este ensino promoverá devem ser criados e selecionados de acor-
uma recognição, uma reinvenção dos sujei- do com o contexto em que serão utilizados.
tos envolvidos e estes se ressocializarão e se Além disso, é necessário pensar nos desloca-
humanizarão (BARBOSA, 2010, p. 133). mentos entre os espaços, de forma a facilitar
o percurso e a visibilidade. Essas são condi-
É crucial que os educadores possuam ções físicas de um ambiente que promovem
um conhecimento prático e pedagógico sóli- relacionamentos, interações e uma aprendi-
do das artes visuais. É de grande importân- zagem construtiva.
cia que eles tenham experiência em explorar
materiais artísticos antes de disponibilizá-los
às crianças. Os professores podem participar
de cursos noturnos ou organizar eventos de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
desenvolvimento profissional para adquirir BARBIERI, Stela. Interações: Onde está
novas técnicas e compreensões em relação a a Arte na Infância. São Paulo: Blucher, 2012.
diferentes formas de expressão artística.
BRASIL. Ministério da Educação. Secre-
Tornar-se empático em relação aos taria de Educação Básica. Diretrizes curricu-
desafios envolvidos na criação de arte com lares nacionais para a educação infantil /Se-
diferentes meios torna muito mais fácil cretaria de Educação Básica. – Brasília: MEC,
apoiar a jornada artística das crianças. Os SEB, 2010.
professores podem então engajar-se em di-
álogos autênticos com as crianças sobre o BRASIL. Ministério da Educação. Secre-
processo de criação artística, algo que muitas taria de Educação Básica. Parâmetros Nacio-
crianças apreciam. O mesmo pode ser dito nais de Qualidade para a Educação Infantil/
em relação ao conhecimento pedagógico. O Secretaria de Educação Básica. – Brasília:
desenvolvimento profissional que aprofun- MEC, SEB, 2006.
da a compreensão teórica dos impactos de COCITO, Renata Pavesi. Do espaço ao
diferentes abordagens de ensino é uma ou- lugar - contribuições para a qualificação dos
tra maneira pela qual os professores podem espaços para bebês e crianças pequenas /
examinar e, possivelmente, reformular sua Renata Pavesi Cocito. - Presidente Prudente:
visão das crianças como aprendizes. Isso, por 2017.
sua vez, tem um impacto fundamental na for-
ma como eles respondem como educadores. DICKIE, G. Arte e Estética. Nova York:
Ithaca. 1974.
CONSIDERAÇÕES FINAIS GOIÂNIA. Secretaria Municipal de Edu-
cação. Infâncias e crianças em cena: por uma
O ateliê é um ambiente repleto de re- política de educação infantil para a Rede Mu-
cursos e equipamentos, concebido como um nicipal de Educação de Goiânia. – Goiânia:
local onde ocorrem investigações e experi- SME, DEPE, DEI, 2014.
mentações, trocas de informações, formu- GHIRALDELLI, Paulo Jr. Infância, edu-
lação de hipóteses, busca por explicações e cação e neoliberalismo. São Paulo: Cortez,
desenvolvimento de conceitos. 1996.
É um espaço com prateleiras repletas NUNES, Ana Ignez Belém Lima; SIL-
de materiais artísticos, naturais, objetos reci- VEIRA, Rosemary do Nascimento. PSICOLO-
clados e criações tanto das crianças quanto GIA DA APRENDIZAGEM: processos, teorias e
dos adultos. Nele também são exibidos mu- contextos. – 3. ed. – Brasília: Liber Livro, 2011.
rais com trabalhos realizados, além de foto- OLIVEIRA, Zilma de Morais Ramos de. Educa-
grafias que registram as etapas planejadas e ção infantil: fundamentos e métodos / Zilma
seguidas pelos autores na execução do pro- de Morais Ramos de Oliveira. - 7. ed. – São
jeto. Paulo: Cortez, 2011. – (Coleção Docência em
Planejada como um ambiente educa- Formação).
cional, toda a escola é estruturada para ser OSTROWER, Fayga. Criatividade e Pro-
acolhedora e proporcionar oportunidades cessos de Criação. Editora Vozes. RJ. 187p.
para que seus frequentadores - crianças, pais 1977.
e profissionais da escola - estabeleçam cone-
xões tanto com o ambiente quanto entre si.
Esse ambiente, visto como uma organização
dinâmica em constante transformação, não
se limita apenas ao espaço físico, mas tam-
bém regula a forma como o tempo é estru-
turado e os papéis que os diferentes atores
devem desempenhar.

328
A CRIANÇA EM CONTATO COM A NATUREZA NA PRIMEIRA INFÂNCIA
LUCIMEIRE GIMENES LEON

RESUMO paisagem que os cercam. Para tanto, já não


é cabível argumentar que se está sem tem-
A presente pesquisa intentou compre- po para refletirmos sobre a importância da
ender como a escola organiza e mantém es- educação voltada para um modo sustentável
paços destinados ao brincar e que valorizem de se viver, e isto requer cuidados com a for-
a aproximação da criança de elementos da mação ambiental da criança, a fim de poder
natureza durante a Primeira Infância. Para contribuir significativamente para a constru-
tanto, como metodologia de trabalho optou- ção de um caminho de amor e cuidados com
-se pelo levantamento bibliográfico de cunho nosso bem comum: a Terra.
teórico e científico aliados a pesquisa de
campo, o qual visou o levantamento de infor-
mações por meio de registros iconográficos.
Mediante os dados levantados pode-se evi- A VIVÊNCIA COM A NATUREZA NA PRI-
denciar o quanto é importante a valorização MEIRA INFÂNCIA
e disponibilidade de espaços naturalizados A Educação Infantil, conforme aponta
no ambiente escolar. No entanto, para que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
isso ocorra se faz necessário uma mudan- cional - LDB em seu Art. 29 “(...) representa
ça de paradigma dentro das instituições de a primeira etapa da educação básica e tem
ensino, para que se possa olhar os ‘espaços como finalidade o desenvolvimento integral
abertos’ como um lugar de movimento, inte- da criança de até 5 (cinco) anos (...)” (BRASIL,
ração e descontração, onde por intermédio 1996).
do brincar se é permitido conhecer e viven-
ciar o convívio cuidadoso com todas as for- O ato de considerar que toda criança
mas de vida. tem direito a um ambiente saudável e eco-
logicamente equilibrado, respaldado no art.
Palavras-chave: Natureza; Escola; Pri- 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988),
meira Infância. tem despertado o desejo de entender e ana-
lisar como as políticas públicas voltadas para
esse espaço visam a garantir o convívio dela
INTRODUÇÃO com a natureza, bem como, refletir sobre a
importância que esse contato representa
O presente artigo objetiva analisar a para o desenvolvimento integral da mesma,
importância da primeira infância no processo no que diz respeito à formação de cidadãos
de desenvolvimento do ser humano, e do seu conscientes de seu papel perante o meio am-
direito ao contato e convívio com a natureza. biente.
Tem-se que é na educação básica (educação
infantil), através do processo lúdico das brin- Ao levar-se em conta que somos seres
cadeiras em espaços livres, que estas podem biológicos e fazemos parte da natureza que
contribuir para o despertar do amor e dos nos cerca, e como tal, necessitamos com ur-
cuidados para com a mãe Terra, visando com gência desconstruir a relação antropocêntri-
isso a promoção da sustentabilidade almeja- ca criada com a natureza, ou seja, onde o ser
da. humano tem se colocado como se estivesse
acima dela, ou dela não fizesse parte, dele-
Assim, entendendo que durante essa gando à natureza a função de lhe servir, des-
fase do desenvolvimento infantil a criança considerando que os recursos naturais são
passa a frequentar os espaços formais de esgotáveis, consoante Tiriba, que esclarece:
ensino, faz-se necessário refletir como esses A escola ensina às crianças um sentimento
têm favorecido a promoção do contato com de si como membros de uma espécie supe-
a natureza e o despertar dos cuidados com rior, atribuindo-lhes poderes de vida e morte
a Terra. Considerando-se que a sustentabili- sobre as demais: é a proprietária do mundo
dade não acontece mecanicamente, mas que natural, que aos humanos deve se submeter,
ela é fruto de um processo contínuo de edu- é a ‘administradora’ o planeta.
cação pela qual o ser humano redefine sua
relação com a Terra, torna-se necessário re-
fletir sobre o ensino e os espaços destinados
à aprendizagem, ofertados nas escolas. PERCEPÇÕES HISTÓRICAS SOBRE A IN-
FÂNCIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL: UM TESOU-
Conforme aponta Boff, para reconhe- RO A DESCOBRIR
cer que a Terra é Mãe, a qual é um superor-
ganismo vivo com recursos escassos, não se Quando se pensa o surgimento da in-
pode ensinar aos alunos apenas dentro das fância, é inevitável concordar que com o pas-
salas de aula, ou nos recintos fechados da bi- sar dos séculos ela vem ganhando espaço
blioteca. Eles precisam ser levados a experi- entre a sociedade dos adultos, até o século
mentarem na pele a natureza, a conhecerem XII, não há nada ou quase nada em documen-
a biodiversidade, bem como a história da tos que enfatizavam a infância ou como ela

329
deveria ser, podendo ser considerada quase Almeida chama a atenção para a mu-
invisível. dança do tempo espontâneo e da aventura
para um tempo uniformizado que diminui o
Vale considerar que neste período as nível de autonomia da criança: Brincar na rua
condições de higiene e saúde eram precá- ou em praças é em muitas cidades do mun-
rias e com isso o alto índice de mortalidade, do uma ação em vias de extinção. O tempo
contudo, havia um sentimento superficial da espontâneo, do imprevisível, da aventura, do
criança, de certa “paparicação”, nos seus pri- risco, do confronto com o espaço físico natu-
meiros anos de vida, enquanto ela ainda era ral, deu lugar ao tempo organizado, planeja-
uma “coisinha engraçadinha” (Ariés, 1981). do, uniformizado e sincronizado. Do estímulo
As pessoas se divertiam com a crian- ocasional se passou a uma hegemonia do es-
ça pequena como um “animalzinho”, caso tímulo organizado, tendo como consequên-
ela morresse então, como frequentemente cia a diminuição do nível de autonomia das
acontecia, alguns podiam ficar desolados, crianças, com implicações graves na esfera
mas na grande parte não se fazia muito caso, do desenvolvimento motriz, emocional e so-
pois outra criança logo iria a substituir. Se- cial.
gundo Ariés (1981) a criança não chegava a
sair de uma espécie de anonimato.
A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
E mesmo quando atingissem a idade
adulta, não tinham uma identidade própria, A Educação Ambiental tem o impor-
acreditavam que iriam adquirir ela no mo- tante papel de promover a integração do
mento em que pudessem/conseguissem fa- ser humano com o meio ambiente, possibi-
zer atividades semelhantes às dos adultos. litando, por meio de novos conhecimentos,
Neste período a criança não tinha voz nem valores e atitudes, a inserção do educando e
vez ao ver dos adultos, não havia um pen- do educador como cidadãos no processo de
samento acerca de seu desenvolvimento, transformação do atual quadro ambiental do
aprendizagens, necessidades e interações. nosso planeta. Citando como exemplo, a ci-
Desde pequenos permaneciam com os adul- dade de São Paulo, centro financeiro do Bra-
tos em todos os afazeres/lazeres, sendo essa sil, está entre as cidades mais populosas do
a forma que ensinavam as crianças, não pre- mundo, com diversas instituições culturais e
cisavam ter preparações específicas. uma rica tradição arquitetônica. Se fizermos
um passeio pelas ruas e avenidas de São Pau-
O Brasil é um país historicamente de- lo (ou por outra cidade tão frenética como
sigual, marcado pela injustiça social e exclu- ela, que reproduz o modo de viver urbano),
são de parte da sociedade, nesse caso com a teremos visões de contraste dos tempos so-
presença de infâncias bem diferentes, em di- ciais e ambientais.
versos contextos e realidades. Assim, o com-
promisso é pensar a relação entre a natureza São Paulo ambiente urbano mais
e o espaço educacional com consciência, ou populoso do Brasil tem uma aparência de
seja, sem perder de vista as desigualdades opulência e escassez. Grandes prédios co-
sociais e que todas as crianças têm o direito merciais, shopping centers, construções em
de brincar, aprender, ser protegida dos peri- andamento, grandes redes de supermerca-
gos e entrar em contato com a natureza. dos, uma arquitetura de vidros e metais e
grandes espaços para os milhares de auto-
Desse modo, a infância por se tratar móveis que trafegam dia e noite sem cessar.
de um fenômeno historicamente demar- São Paulo ostenta a riqueza da antiga capital
cado, determinada por processos sociais e do café, da indústria e das finanças. Entre-
culturais, vem sofrendo, principalmente nas tanto nas diferentes paisagens veremos tam-
últimas décadas, alterações significativas em bém uma São Paulo com favelas, edifícios de
sua vida. As diversas transformações são de- moradia popular, ar poluído, rios mortos cor-
correntes do crescente processo de indus- tando a paisagem e que desaparecem sob as
trialização, globalização e urbanização. avenidas.
Algumas dessas mudanças podem Uma cidade que bate recordes em
ser observadas no aumento do número de desmatamento em direção as áreas dos ma-
pessoas nos centros urbanos, crescimento nanciais. Milhares de pessoas pobres vivem
das cidades e, consequentemente, com os nessa megacidade, que carece de trabalho
espaços verdes dando lugar aos prédios de digno, saneamento básico, água, escolas,
concreto e aço, bem como pela ordem de “re- áreas verdes, bibliotecas, equipamentos de
tirar as crianças da rua”, que se transformou saúde e outros itens indispensáveis a qua-
numa política pública prioritária. Os espaços lidade de vida urbana. Essa outra cidade
públicos que, outrora, as crianças pulavam, mostra contradições que se expandem pela
dançavam e corriam uma atrás das outras em região metropolitana, a ponto de serem re-
suas típicas brincadeiras de rua, passaram a produzidas pela maioria dos grandes centros
ser considerados lugares inapropriados e ex- urbanos brasileiros. Surge a partir des-
tremamente perigosos, como resultado do sas informações toda a problemática para se
aumento do número de veículos, pedestres e refletir e pensar a importância de trabalhar a
altos índices de violência. Educação Ambiental no Ensino da educação

330
básica com os alunos nas escolas, citando nas o cientifico. Ao interpretar cada pessoa
a própria cidade de São Paulo como exem- o fará por meio de suas representações e,
plo para essa reflexão inicial devido a esses também de seus conhecimentos que podem
contrastes sociais, levando os alunos a pen- vir permeados por outras formas de saberes,
sarem sobre questões socioambientais no como o saber ético e o saber popular”, (GA-
nosso planeta. LIAZZI E FREITAS: 2005)
Os objetivos dessa pesquisa é fazer Considerando, então a importância
com que os estudantes possam refletir e se da temática ambiental e a visão integrada do
conscientizar dos problemas ambientas que mundo, no tempo e no espaço, a escola de-
existem não só na cidade de São Paulo, mas verá oferecer métodos efetivos para a com-
sim no planeta todo, e a partir de então atra- preensão dos fenômenos naturais, as ações
vés do Ensino da educação básica começa- humanas e suas consequências para a sua
rem a pensar com responsabilidade e ética própria espécie, para os outros seres vivos
na questão ambiental que necessita urgente- e para o meio ambiente. É fundamental que
mente de consciência, projetos educativos e cada pessoa desenvolva suas potencialidades
planos de ação para tratar de Educação am- e adote posturas pessoais e comportamen-
biental dentro da perspectiva da sociedade tos sociais construtivos, colaborando para a
que temos a nossa frente. constituição de uma sociedade socialmente
justa, em um ambiente saudável e acima de
Trabalhar nas escolas essas dimen- tudo sustentável.
sões críticas da realidade, entrelaçando a
Educação ambiental à Geografia, permitin- Com os conteúdos ambientais per-
do aos alunos atuarem na transformação meando a disciplina dentro do currículo de e
da vida deles, dos lugares e das paisagens. contextualizados com a realidade da comu-
Um dos maiores desafios dos educadores é nidade, a escola ajudará a perceber a corre-
ajudar os estudantes a perceber que existem lação dos fatos e ter uma visão holística, ou
percepções de natureza diferentes construí- seja, integral do mundo em que vive. Para
das por distintas sociedades, grupos e indiví- isso a Educação Ambiental deve ser abordada
duos, que se modificam histórica, cultural e de forma sistemática e transversal, em todos
socialmente. os níveis de ensino, assegurando a presença
da dimensão ambiental através do Ensino da
A escola é o espaço social e o local educação básica com as atividades escolares
onde poderá haver sequência ao processo de através da integração das pessoas nas suas
socialização. O que nela se faz se diz e se va- comunidades/sociedades, fazendo com que
loriza representa um exemplo daquilo que a a Educação Ambiental não fique somente nas
sociedade deseja e aprova. Comportamentos escolas, mas que através dela permeie todas
ambientalmente corretos devem ser apreen- as esferas sociais, proporcionando com isso
didos na prática, no cotidiano da vida escolar, a preservação ambiental e conscientização
contribuindo para a formação de cidadãos cada vez mais pessoas para se buscar o de-
responsáveis. Assim a Educação Ambiental é senvolvimento sustentável.
uma maneira de estabelecer tais processos
na mentalidade de cada aluno, formando ci- Reflexões sobre questões metodológi-
dadãos conscientes e preocupados com a te- cas, sobretudo pesquisa qualitativa, vem sen-
mática ambiental. do cada vez mais necessárias e presentes no
contexto acadêmico e científico, indicando
Os princípios da gestão ambiental e de um movimento de ressignificação da prática
democracia participativa propõem necessária em Ciências Humanas e Sociais. Nesse ce-
a transformação dos Estados nacionais e da nário a perspectiva sócio-histórica constitui-
ordem internacional para uma convergência -se como um enfoque teórico-metodológico
dos interesses em conflito e dos objetivos co- para a área da educação.
muns dos diferentes grupos e classes sociais
em torno do desenvolvimento sustentável e A fundamentação teórico/prática dos
da apropriação da natureza. O fortalecimen- projetos pode ocorrer por intermédio do
to dos projetos de gestão ambiental local e estudo de temas geradores que englobam
das comunidades de base está levando os palestras, oficinas e saídas de campo. Esse
governos federais e estaduais, como também processo oferece subsídios aos professores
intendências e municipalidades, a instaurar e demais interessados em repassar conheci-
procedimentos para dirimir pacificamente os mento para atuarem de maneira a englobar
interesses de diversos agentes econômicos e toda a comunidade escolar, e a sociedade, e
grupos de cidadãos na resolução de conflitos assim todas as pessoas possam ter conheci-
ambientais, através de um novo contrato so- mento quanto aos problemas ambientais que
cial entre o Estado e a Sociedade civil. os circundam, seja no bairro, no município e
até mesmo no mundo em que vivem. Os con-
A ideia de buscar que cada pessoa en- teúdos trabalhados serão necessários para o
volvida com o problema ecológico o descre- entendimento dos problemas e, a partir da
va, ao mesmo tempo que nos possibilita uma coleta de dados, a elaboração de pequenos
interpretação que contemple a subjetividade projetos de intervenção.
individual, abre espaços para a manifestação
de outras formas de conhecimento não ape- Considerando a Educação Ambiental

331
como sendo um processo contínuo e cíclico, e são as seguintes:Formar uma população
o método utilizado pelo programa de Educa- mundial consciente e preocupada com o
ção Ambiental para desenvolver projetos e ambiente e com os problemas com ele rela-
os cursos utilizados de capacitação conjuga cionados, uma população que tenha conhe-
os princípios gerais básicos da Educação Am- cimento, competências, estado de espírito,
biental (Smith, apud Sato, 1995): motivações e sentido de empenhamento que
lhe permitem trabalhar individualmente e co-
Princípios gerais da Educação Ambien- letivamente para resolver os problemas atu-
tal: ais, e para impedir que eles se repitam.
• Sensibilização: processo de aler- Ao implementar um projeto de edu-
ta, é o primeiro passo para alcançar o pensa- cação para o ambiente dentro das escolas,
mento sistêmico; o mesmo facilitará aos alunos e a popula-
• Compreensão: conhecimento ção uma compreensão fundamental de pro-
dos componentes e dos mecanismos que re- blemas existentes, da presença humana no
gem os sistemas naturais; ambiente, da sua responsabilidade e do seu
papel crítico como cidadãos de um país e de
• Responsabilidade: reconheci- um planeta. Desenvolve-se assim, as compe-
mento do ser humano como principal prota- tências e valores que conduzirão a repensar
gonista; e avaliar de outra maneira as suas atitudes e
• Competência: capacidade de as suas consequências no meio ambiente em
avaliar e agir efetivamente no sistema; que vivem.
• Cidadania: participar ativamente A Educação Ambiental é de muita im-
e resgatar direitos e promover uma nova éti- portância, pois além de conscientizar as pes-
ca capaz de conciliar o ambiente e a socieda- soas, faz com que estas executem projetos,
de. ideias, opiniões e trabalhos
A educação Ambiental como compo- A educação Ambiental ao buscar va-
nente essencial nesse processo de formação lores que conduzam a uma convivência har-
e educação permanente, com uma aborda- moniosa com o meio ambiente e as demais
gem direcionada para a resolução de proble- espécies que habitam no planeta, auxiliando
mas, contribui para o envolvimento ativo do uma análise crítica do princípio antropocên-
público, tornando o sistema educativo mais trico, que tem levado muitas vezes, à des-
relevante e mais realista e estabelecendo truição inconsequente dos recursos naturais
uma maior interdependência entre os siste- e de várias espécies. É preciso considerar
mas e o ambiente natural e social, com o ob- que a natureza não é fonte inesgotável de
jetivo de um crescente bem-estar das comu- recursos, suas reservas são finitas e devem
nidades humanas. Leff (2001, p.218): ser utilizadas de maneira racional, evitando
o desperdício e considerando a reciclagem
“O desenvolvimento de programas de como processo vital. Ao se ter a Educação
educação ambiental e a conscientização de Ambiental dentro do Ensino da educação bá-
seus conteúdos depende desde complexo sica nas escolas poderá ter se a racionalidade
processo de emergência e constituição de de utilização dos recursos que são oferecidos
um saber ambiental, capaz de ser incorpora- a nós, seres humanos pelo planeta no qual
do as práticas docentes e como guia de pro- vivemos.
jetos de pesquisa.” Nesse aspecto Ramos (2010, p.83) co-
Se existe inúmeros problemas que di- loca:
zem respeito ao ambiente, isto se devem em “Seja como for, a visão atual da natu-
parte ao fato de as pessoas não serem sensi- reza, potencializada pela tecnologia, herdou
bilizadas para a compreensão do frágil equi- o projeto de dominação assentado no dua-
líbrio da biosfera e dos problemas da gestão lismo homem-natureza, na qual a última é
dos recursos naturais. Elas não estão e não instrumentalizada em benefício do primeiro.
foram preparadas para delimitar e resolver Em outras palavras, universalizou-se a postu-
de um modo eficaz os problemas concretos ra-que se dogma-de transformar o conheci-
de seu ambiente imediato, isto porque a edu- mento da natureza em instrumento de domí-
cação para o meio ambiente como aborda- nio da mesma”.
gem didática ou pedagógica, apenas aparece
na década de 80. A partir de então as pessoas A sustentabilidade é um processo que
têm a possibilidade de tomarem consciência deve ser estabelecido em longo prazo, pois é
das situações que acarretam problemas no de fato que para haver um desenvolvimento
seu ambiente próximo ou para a biosfera em sustentável é necessário trocar o atual mo-
geral, refletindo sobre as suas causas e de- delo de desenvolvimento: o capitalista-indus-
terminarem os meios ou as ações apropria- trial, uma vez que este desenvolvimento é
das na tentativa de resolvê-los. preciso, mas também é necessária uma ma-
As finalidades desta educação para o neira de ter o desenvolvimento com susten-
ambiente foram determinadas pela UNESCO, tabilidade, ou seja, deve-se desenvolver, mas
logo após a conferência de Belgrado (1975) considerando o pleno desenvolvimento, dos
seres humanos, dos animais, das plantas,

332
de todo o planeta terra. De acordo com Leff do sistema manter o seu estado constante
(2001, p.31): no tempo, a tal ponto de incorporar a proble-
mática relação homem x natureza. A educa-
“O princípio de sustentabilidade sur- ção ambiental é a base cientifica para a sus-
ge como uma resposta à fratura da razão tentabilidade, sendo que a sustentabilidade é
modernizadora e como uma condição para um processo que deverá atingir a sociedade
construir uma nova racionalidade produtiva, como um todo, sem excluir nenhum elemen-
fundada no potencial ecológico e em novos to físico, mental ou espiritual desse proces-
sentidos de civilização a partir da diversida- so de transformação, pois é necessária essa
de cultural do gênero humano. Trata-se da integração para que, finalmente ocorra o de-
reapropriação da natureza e da invenção do senvolvimento a partir da sustentabilidade.
mundo; não só de um mundo no qual caibam
muitos mundos, mas de um mundo con- Conforme Guzmán (2000, p.1) “A in-
formado por uma diversidade de mundos, vestigação e à docência como um saber es-
abrindo o cerco da ordem econômica-ecoló- sencialmente acadêmico, carece em absoluto
gica-globalizada”. de compromissos socioambientais”.
Esse processo de transição de um O desenvolvimento sustentável seria
sistema para outro será possível através da o desenvolvimento a partir de uma lógica
Educação Ambiental dentro da escola que que satisfaça as necessidades do presente,
fornecera as bases teóricas para chegar-se do nosso tempo vivido, sem comprometer
à sustentabilidade. É pela integração das es- a capacidade de satisfazer as necessidades
feras: política, social, econômica e ambiental das gerações futuras, de nossos filhos, netos
que se terá plenitude do desenvolvimento etc. Seguindo a ideia de Philippi Jr et al (2002,
sustentável, através da Educação Ambiental. p.28):
A degradação ambiental, juntamente Onde não há legislação de uso e ocu-
com o esgotamento ecológico e a desigualda- pação de solo, nem legislação ambiental, cer-
de gerada pelo avanço do mundo globalizado tamente haverá poluição do ar e água distri-
traz o conceito de sustentabilidade, sendo de buindo doenças pela comunidade afora. Sim
muita importância para a humanidade, visto pois estas contaminações podem alcançar
que ao se estudar a sustentabilidade se po- outras regiões e territórios, via águas dos rios
derá ter uma nova visão de mundo. Um mun- e represas, via chuva ácida, afetando planta-
do em que o saber ambiental emerge de uma ções e águas subterrâneas, enfim a qualida-
reflexão sobre a construção da própria vida de de vida, pois não há controle. A economia,
humana na terra. por sua vez, passara a responder com a frag-
mentação humana em que algumas áreas
As sociedades modernas convivem se desenvolvem e seus mercados florescem
atualmente com muitas percepções de natu- com a globalização.
reza. Para diversos professores, a seleção dos
conteúdos de Geografia é um enorme desa- Tratando assim essa temática de Edu-
fio. Muitos estão habituados à sequência dos cação Ambiental no Ensino de Geografia; po-
livros didáticos e trabalham automaticamen- demos começar com uma definição básica: a
te seguindo capítulos e mais capítulos. Po- sustentabilidade e o ensino dentro da escola
rém, quando pensamos em outras intenções consistem na aplicação de um conjunto de
e intervenções que precisam ser realizadas práticas e ensinamentos focado na questão
para que a classe aprenda Geografia e meio do desenvolvimento sustentável do planeta.
ambiente, a escolha dos conteúdos torna-se
uma necessidade mais abrangente e não li- Esse tema precisa ser trabalhado na
near. Ao mesmo tempo, nos currículos esco- escola devido a sua pertinência cada vez
lares, as questões socioambientais padecem mais alta, já que a geração atual vivencia o
da visão atomística do mundo combinando problema da escassez de recursos naturais e
racionalismo, fragmentação e compartimen- da degradação do meio ambiente. Essa rea-
tação. A Geografia que se ensina nos bancos lidade está mais que presente nas dificulda-
escolares e as noções de natureza transmiti- des e nos desastres que presenciamos, como
das ainda são marcadas por forte tendencia falta de água, contaminação do solo ou desli-
reducionista, revelando uma inadequação zamentos causados pela destruição da vege-
para o entendimento da complexidade de te- tação natural.
mas socioambientais. Precisamos lembrar de que as crian-
Para incorporar temas relevantes de ças e os jovens de hoje serão os futuros to-
acordo com cada momento da história, a madores de decisão do mundo, seja porque
educação precisa evoluir sempre. É o caso se tornarão políticos, cientistas, empresários
hoje do ensino de sustentabilidade na esco- ou qualquer outra profissão que escolham
la. Não restam dúvidas que esse assunto se seguir, mas não podendo esquecer suas re-
tornou indispensável devido ao contexto das ponsabilidades em qualquer área que quei-
relações entre homem meio ambiente. ram seguir. Em outras palavras: estará em
suas mãos fazer escolhas para preservar o
O princípio da sustentabilidade, por- planeta. Para isso, no entanto, precisam co-
tanto surge com a globalização, em que a nhecer tanto as causas e consequências do
sustentabilidade ambiental é a capacidade problema como também entender as ações

333
que permitirão usufruir dos recursos natu- prática levando os alunos a repensar como
rais sem prejudicar o meio ambiente. contribuir com a preservação do meio am-
biente.
Outro ponto importante para reforçar
a importância de trabalhar a sustentabilida- Para completar, independentemente
de na escola é o fato de que os principais da maneira como a escola aborda a susten-
hábitos de um indivíduo são desenvolvidos tabilidade, precisa sempre reforçar com os
desde cedo, durante a infância. Portanto, a estudantes o porquê da importância desse
escola precisa introduzir o tema o quanto assunto. Para a formação dos alunos, saber
antes, para que a educação de alunos leve como preservar o meio ambiente é muito
a formação de adultos conscientes, reflexi- importante. Porém, saber o motivo por trás
vos, com valores e conhecimentos sólidos a dessas ações e absolutamente indispensável,
respeito das relações entre o ser humano e pois ajuda a construir uma consciência sobre
o meio ambiente. Só dessa forma pode ser o impacto de sua atitude sustentável para o
possível controlar o impacto dos problemas planeta. Enquanto a escola ensina aos estu-
ambientais nos próximos anos. dantes sobre o porquê de desenvolver uma
postura responsável em relação à sustenta-
Para trabalhar a sustentabilidade na bilidade, é papel da família incentivar toda
escola através da Educação Ambiental, é im- essa transformação. É muito importante, as-
portante que exista um envolvimento do alu- sim que a família busque se alinhar ao que é
no no nível teórico quanto também na práti- ensinado na escola. Os pais precisam estar
ca. Por isso, realizar ações sustentáveis é um envolvidos nos projetos e apoiar as atitudes
bom caminho para engajar os estudantes em (até mesmo os menores) desenvolvidas no
essa mentalidade mais crítica sobre o uso dos ambiente escolar.
recursos naturais e o relacionamento com o
meio ambiente. Um bom exemplo é a separação do
lixo entre orgânico, reciclável e lixo eletrôni-
Daniel Fonseca de Andrade, educador co. Se é feito na escola, os pais precisam in-
ambiental, comenta sobre a implementação centivar em casa também, isso é um projeto
da Educação Ambiental em escolas e conce- que é de responsabilidade de todos. O estu-
be a mesma como uma abordagem educa- dante entenderá que aquela atitude deve ser
cional que visa uma mudança de paradigmas levada para a vida e não ficar restrita somen-
rumo ao desenvolvimento sustentável (AN- te ao ambiente escolar.
DRADE, 2000). A educação ambiental seria
como sinalizadora da exigência de respostas Aprender mais sobre a sustentabilida-
educativas a este desafio contemporâneo de de, tanto na teoria quanto na prática, é a me-
repensar as relações entre sociedade e natu- lhor forma de desenvolver uma atitude sau-
reza (CARVALHO, 2000 apud JACOBI, 2011). dável na relação do ser humano com o meio
ambiente. É o papel de adultos (pais e escola)
Sendo assim a instituição de ensino é guiar os estudantes na formação dessa ati-
pode ensinar aos alunos projetos simples tude.
(mas efetivos) para realizar ações como sus-
tentáveis. Esses projetos devem focar no uso Através de projetos e de ações que se
da criatividade para ensinar os 3 Rs, de re- iniciam dentro da escola é possível criar gera-
ciclagem, reutilização e redução da produ- ções conscientes e responsáveis, capazes de
ção de lixo. Ao inventarem novas maneiras preservar o planeta nos anos que virão.
de pensar e praticar a sustentabilidade, os
estudantes percebem que essa não é sim- Para PADUA & TABANEZ (1998 apud
plesmente mais uma matéria escolar em que DIAS 2011), a Educação Ambiental propicia
precisam ser aprovados. Em vez disso, é par- o momento de conhecimentos, mudança de
te de uma questão do mundo real. E não há valores e aperfeiçoamento de habilidades,
motivação maior que essa! condições básicas para estimular maior inte-
gração e harmonia dos indivíduos com o meio
Uma das principais maneiras de ensi- ambiente. A relação entre meio ambiente e
nar sustentabilidade de forma prática é es- educação para a cidadania assume um pa-
timular o consumo consciente. Fazer com pel cada vez mais desafiador, demandando a
que crianças e jovens entendam que existem emergência de novos saberes para aprender
formas mais inteligentes de consumir, que processos sociais que se complexificam e ris-
agridem menos o meio ambiente. A partir cos ambientais que se intensificam.
de então o trabalho com diversos projetos
educativos voltados a sustentabilidade po- O principal eixo da Educação Ambien-
dem ser implementados na escola podendo tal deve buscar, acima de tudo, a solidarie-
envolver a todos da comunidade começando dade, a igualdade e o respeito à diferença
dentro da escola; utilizar materiais reciclados, através de formas democráticas de atuação
estimular o reaproveitamento, usar água de baseadas em práticas interativas e dialógicas.
forma consciente, criar e cuidar dentro da Isto se consubstancia no objetivo de criar ati-
escola de uma horta coletiva, fazer plantios tudes e comportamentos diante do consumo
de árvores no entorno ou em locais no bair- na nossa sociedade e de estimular a mudan-
ro, separação do lixo para reciclagem, dentre ça de valores individuais e coletivos (JACOBI,
outros projetos que podem ser colocados em 1997).

334
Em fundamentos da Educação, Iriane da escola. Esse ensaio é fruto de uma pes-
Cristina Piva, esclarece que: quisa bibliográfica e da atenção da autora
na observação e reflexão sobre as possibili-
A educação Ambiental tem como obje- dades e os desafios da escola para organizar
tivo geral mostrar ao ser humano a complexa um espaço que promova de forma cuidadosa
natureza do meio ambiente, que resulta da o contato da criança com a natureza.
interação dos seus aspectos biológicos, so-
ciais e culturais. Portanto, ela deve criar para A Educação Ambiental no Ensino da
o indivíduo e para a sociedade meios para se educação básica é uma forma de obter-se a
entender como estes diversos elementos se sustentabilidade, pois esta pode recuperar o
relacionam, para que assim possamos pro- desenvolvimento para determinados fins e
mover uma utilização mais reflexiva e cons- ações que propiciam a sustentabilidade, está
ciente dos recursos do meio ambiente aten- por sua vez aplicada dentro da escola que é
dendo as necessidades da humanidade (PIVA um espaço politizado e politizador, criará ci-
2008). dadãos críticos e abertos aos conhecimentos
teóricos e práticos através da reflexão em um
Sendo com base nessa análise pre- estudo aprofundado de temas e projetos re-
via que o problema do trabalho se delineou, lacionados a sustentabilidade.
responder como a escola pode ser a base de
comprometimento com a Educação Ambien- A educação Ambiental promove atra-
tal dentro do ensino de geografia. O trabalho vés da conscientização do que realmente
se justificou na necessidade de refletir sobre pode-se entender sobre o que é sustenta-
a importância de uma Educação Ambiental bilidade, uma vez que, se ao estudar o de-
efetiva e sensibilizadora, de forma que ocor- senvolvimento sustentável deve-se visar a
ram mudanças de atitudes e apropriação de educação como base para fundamentar um
posturas para que se alcancem o equilíbrio conceito consciente e que realmente promo-
ambiental direcionamentos que demonstrem va a sustentabilidade.
urgentemente a necessidade da implantação
de uma Educação Ambiental eficiente e cons- Com isso ao se ter uma visão abran-
ciente entre as ações do homem e natureza. gente do meio ambiente, no qual vivemos,
entende-se que nós, seres humanos consti-
Os objetivos do presente trabalho fo- tuímos parte integrante do mesmo e nessa
ram mostrar que é possível através de dife- ótica de desenvolvimento sustentável fica
rentes projetos relacionados a sustentabilida- evidente que se pode ter o progresso mate-
de dentro da escola com a responsabilidade rial com a preservação dos recursos e servi-
de alunos e pais é possível criar uma geração ços ecossistêmicos por sucessivas gerações.
mais responsável com o meio ambiente. A contribuição desse artigo é o de permitir
a conscientização e reflexão do que é o de-
senvolvimento sustentável através de uma
CONSIDERAÇÕES FINAIS perspectiva da Educação Ambiental no Ensi-
no da educação básica dentro das escolas e
Este trabalho versa sobre a importân- com isso a formulação de ideais, não somen-
cia estrutural do espaço escolar na educação te para o bem-estar humano, mas para com
infantil. Considero que esse tema é central a responsabilidade sustentável do meio am-
na formação do pedagogo, pois o espaço em biente.
sua totalidade faz uma diferença significati-
va no desenvolvimento humano já que é a Deve-se olhar para a emergência e a
partir desse espaço que como profissionais, construção de um saber que ressignifica as
conseguiremos acompanhar nossos alunos concepções do progresso, do desenvolvi-
para que sejam cidadãos conscientes e críti- mento por si só e do crescimento dos limites,
cos. Quando pensamos na primeira infância para configurar uma nova racionalidade so-
o tema apresenta importância capital para os cial, com ressonâncias no campo da educa-
profissionais da educação. Podemos, nesse ção, do conhecimento e das práticas educati-
sentido, anunciar o nosso tema de pesqui- vas e políticas.
sa. Pretendemos investigar como a escola de
educação infantil pode construir estratégias
para possibilitar o convívio da criança com a REFERÊNCIAS
natureza no espaço escolar. Como mostrare-
mos a seguir esse tema guarda relação com ANDRADE, Daniel Fonseca de. Imple-
minha trajetória de vida e minhas escolhas mentação da Educação Ambiental em Esco-
profissionais. las: uma reflexão. In: Revista Eletrônica do
Mestrado em Educação Ambiental. Volume 4,
A partir do momento em que acredi- outubro a dezembro de 2000.
tamos na educação e descobrimos a grande
importância do saber, somos submetidos a CARTA DA TERRA. (Princípios) A carta
inúmeros questionamentos que nos levam a propriamente dita. 2008.
refletir sobre o porquê das nossas escolhas e CARVALHO, Luiz Marcelo de. A educa-
dos nossos caminhos trilhados. Neste traba- ção Ambiental e a formação de professores.
lho construímos um ensaio reflexivo sobre a In: Panorama da Educação Ambiental no En-
relação da criança com a natureza e o papel sino Fundamental. Brasília. 2001. P.55-62.

335
GALIAZZI, Maria do Carmo; FREITAS,
José Vicente de (org.). Metodologias emer-
gentes de pesquisa em educação ambiental.
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LEFF, Enrique. Agroecologia e saber
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PIVA, Iriane Cristina. Fundamentos da
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distância. Brasília DF.2008. Figura 2-criança em contato com a na-
tureza também é atividade pedagógica.
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biental critica. Revista eletrônica Ambiente e
Educação. Rio Grande. V.15. p.13-34. (2010).

ANEXOS:

Figura 1-criança em contato com a na-


tureza também é atividade pedagógica.

336
A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA NA INFÂNCIA E O IMPACTO NA VIDA ADULTA
LUCINEIDE DA CONCEIÇÃO GENTIL

RESUMO by the student, encouraging new psychologi-


cal achievements, in which the child becomes
O presente trabalho tem objetivo de involved in an imaginary world and performs
verificar a importância da brincadeira na all their desires, using the ludic the child de-
infância e o impacto na vida adulta. Desde monstrates the world and it is where he lives
muito cedo, as crianças entram no mundo his fantasies, in which the games manage to
da brincadeira e em seus primeiros anos de awaken in the student a great interest and
vida, já começam a identificar os tipos de attraction for learning, because at the same
brincadeiras começando pelas mais simples time that he is having fun he is also lear-
e passam depois a se dedicar aos jogos ad- ning and enjoying himself. developing. Edu-
quirindo, respeitando e participando de re- cating is not just passing on information or
gras e normas que lhes são propostas o brin- just showing a way, but it is something much
car é a ação principal da criança e sempre broader, it is helping her to become aware of
esteve em seu cotidiano, pode-se constatar herself and of society, that is, playing contri-
que o jogo e a brincadeira são instrumentos butes to adult life.
fundamentais no processo pedagógico, auxi-
liares no desenvolvimento global da criança KEYWORDS: Play; Child education;
e estimulam sua relação com o outro, com o Adulthood.
mundo e consigo mesmo. Assim, o desenvol-
vimento da criança no jogar e no brincar só
se dá adequadamente quando o professor 1 INTRODUÇÃO
direciona o ensino para as etapas de desen-
volvimento ainda não alcançadas pelo aluno Jogos e brincadeiras já fazem parte da
incentivando novas conquistas psicológicas, infância, além de prazer e diversão podem
no qual a criança se envolve em um mundo auxiliar no desenvolvimento e aprendizagem
imaginário e realizam todos os seus desejos, da criança quando aplicada com tais objeti-
usando o lúdico a criança demostra o mundo vos nas brincadeiras infantis, que resultem
e é onde vivencia suas fantasias, nos quais os na aprendizagem da criança, descobrindo
jogos conseguem despertar no educando um suas habilidades e propiciando seu cognitivo,
grande interesse e atração pela aprendiza- assim, através do contato da criança com os
gem, pois ao mesmo tempo em que em que jogos e brincadeiras, permite-se a construção
está se divertido também está aprendendo e de um novo mundo, de uma realidade rica de
se desenvolvendo. Educar não é apenas re- significados.
passar informações ou apenas mostrar um Deste modo, o trabalho traz como jus-
caminho, mas é algo muito mais amplo é aju- tificativa dos jogos e brincadeiras serem usa-
dar ela a tomar consciência de si mesmo, e dos como formas recreativas, não focando
da sociedade, ou seja, a brincadeira contribui uma aprendizagem exata da criança, deixan-
para vida adulta. do de colaborar com seu desenvolvimento.
PALAVRAS-CHAVE: Brincadeira; Educa- Sendo a criança um ser que desde seu nasci-
ção Infantil; Vida Adulta. mento faz o uso da brincadeira e permanece
em movimento. Ela se desenvolve mais em
movimento pois utiliza seu cognitivo.
ABSTRACT As atividades escolares deveriam pro-
The present work aims to verify the im- duzir brincadeiras dirigidas com finalidades
portance of play in childhood and its impact de desenvolvimento integral, é brincando
on adult life. From a very early age, children com outras crianças que os pequenos desen-
enter the world of games and in their first ye- volvem habilidades sociais que serão essen-
ars of life, they already begin to identify the ciais durante todo o seu crescimento e sua
types of games, starting with the simplest vida adulta.
ones and then begin to dedicate themselves Assim, como um professor da educa-
to games, acquiring, respecting and parti- ção infantil pode atribuir jogos e brincadeiras
cipating in rules and norms that play is the para contribuir com aprendizagem e desen-
main action of the child and has always been volvimento infantil?
in their daily life, it can be seen that the game
and play are fundamental instruments in the O objetivo geral do trabalho é verificar
pedagogical process, auxiliary in the global a importância da brincadeira na infância e o
development of the child and stimulate their impacto na vida adulta e objetivos específicos
relationship with the other, with the world são: verificar a educação lúdica e suas con-
and with yourself. Thus, the child's develo- tribuições; analisar jogos e brincadeiras para
pment in playing and playing only happens o desenvolvimento infantil e verificar brinca-
properly when the teacher directs teaching deira na infância e o impacto na vida adulta.
to the stages of development not yet reached

337
A metodologia do trabalho é uma pes- nho para proporcionar o conhecimento das
quisa bibliográfica de livros e artigos, que capacidades intelectuais envolvidas no seu
buscam discussões da brincadeira na infân- desenvolvimento, no qual a utilização de jo-
cia e suas contribuições para vida adulta. gos e brincadeiras pelas escolas é de gran-
de importância para o desenvolvimento da
criança e do gosto para a aprendizagem.
2. DESENVOLVIMENTO Portanto, como o brincar é próprio da
2.1 EDUCAÇÃO LÚDICA: CONTRIBUI- cultura da infância e para que seja assegura-
ÇÕES da a qualidade, é indispensável, que na es-
cola tenha em sua concepção as atividades
Miranda, Santos e Rodrigues (2014) lúdicas com fundamentos para o desenvolvi-
coloca que a educação lúdica é uma ação mento de um todo no seu/sua educando/a.
própria da criança, mas também de todas as Sendo assim é necessário que o/a profes-
idades, tendo um significado muito grande, sor/a sempre planeje as situações de suas
pois está presente em todos os momentos atividades lúdicas, sempre o delimitado tem-
da vida. Lúdico é o adjetivo que significa e po para essa brincadeira, oferecendo deste
qualifica tudo o que se relaciona com o jogo modo umbrincar de qualidade, assim além
ou brincadeira, assim, quando associado à do desenvolvimento de capacidades e habi-
educação, o lúdico assume o papel de um re- lidades construídas enquanto os/as educan-
curso pedagógico e sua função é auxiliar no dos/as brincam far-se-á um cidadão crítico e
processo de ensino-aprendizagem e facilitar consciente de seus direitos e deveres diante
a assimilação de conteúdo. da sociedade (MORAIS; ARAUJO, 2018, p.14).
Deste modo, Miranda, Santos e Ro- Deste modo, Morais e Araújo (2018)
drigues (2014) coloca que são grandes as relata que proporcionar conhecimento atra-
contribuições dos jogos e brincadeiras na vés de atividades como jogos e brincadeiras
construção do conhecimento a partir de sua pode auxiliar a/o educando/a, para que ele
utilização no processo de ensino-aprendiza- obtenha melhor desempenho em sua apren-
gem, principalmente nas séries iniciais, ainda dizagem. Torna-se muitas as vantagens de
se discute no meio escolar a sua eficácia e efi- transmitir o conhecimento ludicamente e,
ciência. dentre elas, podemos citar: a melhoria da
Desde muito cedo, as crianças entram capacidade cognitiva do/a educando/a, a po-
no mundo da brincadeira e em seus primei- tencialização da sua capacidade psicomoto-
ros anos de vida, já começam a identificar os ra, bem como, da sua capacidade de relacio-
tipos de brincadeiras começando pelas mais nar-se com seus colegas.
simples e passam depois a se dedicar aos jo- Leite (2017) coloca que o que se bus-
gos adquirindo, respeitando e participando ca, então, é interligar a educação escolar com
de regras e normas que lhes são propostas. a apropriação de conhecimentos, o que re-
Os jogos e brincadeiras se tornam os recur- sultaria em processos de aprendizagem e
sos lúdicos que a maioria dos professores desenvolvimento. Assim, o desenvolvimento
adota para motivar e/ou facilitar a aprendi- da criança no jogar e no brincar só se dá ade-
zagem do aluno. (MIRANDA; SANTOS; RODRI- quadamente quando o professor direciona
GUES, 2014, p. 9). o ensino para as etapas de desenvolvimento
Barros (2016) coloca que a Educação ainda não alcançadas pelo aluno incentivan-
Infantil é considerada fundamental para o do novas conquistas psicológicas.
desenvolvimento integral da criança, deven- Deste modo, Leite (2017) considera
do oferecer a esta momentos prazerosos que o brincar é a ação principal da criança
que venham satisfazer as necessidades bási- e sempre esteve em seu cotidiano, pode-se
cas, proporcionando atividades com jogos e constatar que o jogo e a brincadeira são ins-
brincadeiras infantis que resultem na apren- trumentos fundamentais no processo peda-
dizagem da criança, descobrindo suas habi- gógico, auxiliares no desenvolvimento global
lidades e propiciando seu cognitivo, assim, da criança e estimulam sua relação com o ou-
através do contato da criança com os jogos e tro, com o mundo e consigo mesmo.
brincadeiras, permite-se a construção de um
novo mundo, de uma realidade rica de signi- Miranda, Santos e Rodrigues (2014) re-
ficados. lata que no processo educativo da criança é
importante que o professor tenha a percep-
Mas, segundo Barros (2016) infeliz- ção da importância do significado de brin-
mente muitas instituições escolares da edu- car para a criança e das contribuições que
cação infantil permanecem com uma gama o lúdico proporciona à aprendizagem e ao
de atividades repetitivas, descontextualiza- desenvolvimento do aluno, nos quais os jo-
das, tendo como finalidade um desenvolvi- gos e brincadeiras desde muito cedo fazem
mento da coordenação motora através do parte do universo infantil e as crianças logo
treinamento manual e conceitos decorados, em seus primeiros anos de vida já identifica
no qual percebe-se que esse não é o melhor os mais diferentes tipos, iniciando pelas mais
método no favorecimento da construção do simples e depois se dedicam aos jogos adqui-
entendimento, muito menos o melhor cami- rindo respeitando, socializando-se, partici-

338
pando e entendendo regras e, tornando sua gem está relacionada ao desenvolvimento
aprendizagem mais fácil e prazerosa. desde o início da vida humana, mas a apren-
dizagem que possibilita o despertar dos as-
A infância foi o fruto de um ambiente pectos do desenvolvimento, ocorre quando o
em que uma forma especial de informação indivíduo entra em contato com um determi-
controlada por adultos tornou-se pouco a nado ambiente cultural.
pouco disponível para as crianças por meios
considerados psicologicamente assimiláveis. Feliciano (2013) coloca que fica bem
A subsistência da infância dependia dos prin- claro que as brincadeiras como meio de
cípios da informação controlada e da apren- aprendizagem, oportunizam o crescimen-
dizagem sequencial. Mas o telégrafo iniciou to cognitivo, social psicológico da criança,
o processo de extorquir do lar e da escola oferecendo um ambiente de qualidade que
o controle da informação. Alterou o tipo de estimula a interação social da criança enri-
informação a que as crianças podiam ter quecendo a imaginação onde a criança possa
acesso, sua qualidade e quantidade, sua se- atuar de forma autônoma e ativa, nos quais
quência, e as circunstâncias em que seria vi- as brincadeiras e os jogos são indispensá-
venciada. (MIRANDA; SANTOS; RODRIGUES, veis para que haja uma aprendizagem com
2014, p. 14). divertimentos, que proporcione o prazer de
aprender.
Morais e Araújo (2018) coloca que a
criança se envolve em um mundo imaginá- Miranda, Santos e Rodrigues (2014)
rio, nos quais realizam todos os seus desejos, coloca que na sociedade contemporânea, a
usando o lúdico a criança demostra o mundo educação requer profissionais qualificados,
e é onde vivencia suas fantasias, nos quais os atualizados, informados para que possam
jogos conseguem despertar no educando um acompanhar as mudanças educacionais, so-
grande interesse e atração, pois ao mesmo ciais e comportamentais dos alunos e, assim
tempo em que em que está se divertido tam- ser possível agregar valor à aprendizagem,
bém está aprendendo e se desenvolvendo. à formação do sujeito e aos seus métodos e
práticas de ensino.
Desta maneira, a escola costuma se-
parar o corpo e a mente da criança, achando Portanto, é percebido que a criança
que ela deve só se movimentar quando tiver dentro da escola deve permanecer estática,
educação física, em outras horas permane- sem movimento. Eles acham, “Em geral é um
cer coma criança parada: corpo que atrapalha a aprendizagem e que
precisa ser contido, por isso as crianças es-
Há uma tradição de ver o homem da tão sentadas em fila, umas atrás das outras
perspectiva dicotômica. A escola não foge a e não podem movimentar sem autorização.
essa regra. Em geral, separa corpo e mente Dificilmente há a visão de que o corpo pode
como se o cérebro não fizesse parte do cor- se expressar, circular pela sala, fazer ações
po, como se fosse possível matricular só a ca- diversas que facilitariam o modo de a pes-
beça, deixando o corpo do lado de fora nas soa ser e estar no mundo.” () Além disso, é
aulas de educação física ou no recreio. Essa apresentado regras em função do corpo sem
concepção de corpo aparece, ainda que não movimento:
conscientemente, em toda a instituição. A or-
ganização da sala, as rotinas de tempo, a dis- As próprias regras da escola – quan-
tribuição do lanche, [...] revelam como esse do se pode beber água, quando se levantar
corpo é tratado. (FILGUEIRAS, 2002, s/p). da cadeira, quando começar a atividade, se
pode ou não virar para o lado – agem sobre
Morais e Araújo (2018) relata que a es- o corpo e podem inibir um envolvimento ati-
cola ao estar valorizando o lúdico, adaptan- vo do aluno com o conteúdo trabalhado. In-
do jogos e brincadeira no seu planejamento siste-se, por exemplo, para que as crianças
pedagógico, assim o educador consegue que se organizem sempre em fila. No entanto,
o/a educando/a forme um bom conceito de aprender a andar pela escola sem ser dessa
mundo e da sociedade, pois com a utilização forma apresenta, do ponto de vista cogniti-
do lúdico trabalha-se afetividade, a sociabili- vo, da aprendizagem de relacionamento e da
zação, a criatividade, a estimulá-las, os direi- autonomia, um desafio muito maior do que
tos e deveres de cada uma. andar em fila. (FILGUEIRAS, 2002, s/p).
Deste modo, conforme Morais e Araú- Ou seja, o autor propõe que na edu-
jo (2018), o trabalho diferenciado, criativo e cação de crianças é melhor trabalhar a auto-
dinâmico, levando assim métodos para que o nomia do que viver somente em regras. Vista
educando realize a construção de um saber que seguem o paradigma do ponto de vista
através de experiências práticas, com situa- autoritário e do ponto de vista estático. Deste
ções do cotidiano, desenvolvendo, o conheci- modo, uma criança parada é vista como uma
mento lógico, sua capacidade de pensar, exe- criança “doente”:
cutar e resolver situações problemas usando
jogos e brincadeiras, para que de forma lúdi- A criança “parada” dá logo ideia de do-
ca se possa mediar os conteúdos de maneira ente. Ociosidade e infância normalmente se
diferenciadas e a concepção de mundo. excluem. Tamanha é a necessidade de ação
da criança que médicos e pedagogos pergun-
Leite (2017) coloca que a aprendiza- tam se as haverá preguiçosas – ou se não se-

339
rão doentes (físicas, mentais ou psicológicas) 2.2 JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O
as assim chamadas. (NEGROMONTE, 2016). DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Ao passo que a criança em movimento Barros (2016) coloca que na prática
é uma criança saudável, no ponto de vista do pedagógica escolar deve existir o equilíbrio
autor: entre o esforço e o prazer, instrução e diver-
são. E para que ocorra uma educação lúdica,
Agir é necessidade biológica da crian- os professores precisam estar preparados
ça. Corpo e mente não se lhe desenvolvem para realizá-la. A criança sentirá gosto da es-
sem movimento. Sua vitalidade é sinônimo cola, de estudar, de buscar o conhecimento.
de atividade, se é criança normal. Sendo exu- Tudo isso de forma alegre, participativa e de-
berante chega a parecer-nos excessiva sua safiadora.
movimentação. (NEGROMONTE, 2016, s/n).
Desta forma, Miranda, Santos e Rodri-
Presume-se que a saúde começa com gues (2014) coloca que a aprendizagem atra-
movimento. Através de atividades que traba- vés da ludicidade possui maior possibilidade
lham o corpo. Entretanto, o professor acredi- de ser canalizada pela criança e a escola é
ta que a criança “parada” ou “estática” vai ter um dos locais para o desenvolvimento das
mais aprendizado. atividades lúdicas proporcionando diversos
[...] é difícil permanecer na mesma po- benefícios aos alunos. Além disso, cada ativi-
sição por algumas horas e, no entanto, mui- dade tem seu significado próprio, único para
tas vezes exigimos de nossos alunos este es- cada um que brinca.
forço e nem imaginamos quanta energia esta Portanto, como o brincar é próprio da
ação demanda e como é difícil permanecer cultura da infância e para que seja assegura-
sentado com um único foco de atenção. O da a qualidade, é indispensável, que na es-
cansaço resultante do esforço em manter-se cola tenha em sua concepção as atividades
imóvel por muito tempo pode transformar-se lúdicas com fundamentos para o desenvolvi-
em obstáculo às aprendizagens, ao contrário mento de um todo no seu/sua educando/a.
do que tradicionalmente se espera. (FILGUEI- Sendo assim é necessário que o/a profes-
RAS, 2002, s/n). sor/a sempre planeje as situações de suas
Visto que a criança parada não conduz atividades lúdicas, sempre o delimitado tem-
ao pensamento, não desenvolve a inteligên- po para essa brincadeira, oferecendo deste
cia. Pelo contrário, a criança em movimento modo um brincar de qualidade, assim além
produz inteligência: do desenvolvimento de capacidades e habi-
lidades construídas enquanto os/as educan-
[...] o desenvolvimento da inteligência dos/as brincam far-se-á um cidadão crítico e
é um processo contínuo de equilibração, atra- consciente de seus direitos e deveres diante
vés de dois mecanismos: a assimilação, que da sociedade (MORAIS; ARAÚJO, 2018, p. 14).
é entendida como a integração do exterior
às estruturas do indivíduo, e a acomodação, Miranda, Santos e Rodrigues (2014)
que é a transformação interior em função coloca que o lúdico apresenta funções sociais
das variáveis exteriores. É por meio desses e demonstra a apresentação que a socieda-
dois mecanismos que a criança desenvolve de tem da criança e quais os conceitos que
sua inteligência prática ou sensória motora, possui acerca da infância, no qual a criança
composta por diferentes esquemas de ação, evolui com o jogo e o jogo da criança, parale-
que vão se aperfeiçoando, tornando-se mais lamente, evolui com o seu desenvolvimento.
variáveis e adaptáveis a diferentes situações. Morais e Araújo (2018) coloca que des-
(FILGUEIRAS, 2002, s/n). sa forma percebe-se a necessidade do/a edu-
Dentro da educação existem paradig- cador/a, pensar nas atividades lúdicas, como
mas educacionais, como o reflexo da educa- uma ferramenta e com isso utilizá-las em
ção antiga ditadora e autoritária que exigia a diferentes momentos de seu planejamento.
criança quieta e parada. “Estudos em Socio- Sempre lembrando que o jogo e a brincadei-
logia, que analisam o contexto social próprio ra exigem que haja confronto, negociação e
das populações infantis, invalidam ao mes- trocas, sempre promovendo conquistas cog-
mo tempo, a ideia de uma educação infan- nitivas, emocionais e sociais.
til autoritária, sugerindo que se considere a Deste modo, Morais e Araújo (2018)
criança no seu tempo e nas suas necessida- relata que o lúdico é usado para que haja
des imediatas de atendimento e educação.” total interação do/a educando/a. Para um
(HOFFMANN, 2012, pg. 34). Ou seja, a criança ensino-aprendizagem, eficaz é preciso que o
no contexto atual tem a liberdade de movi- aluno construa o seu próprio conhecimento
mento e expressão. e assimilem os conteúdos.
Portanto, através da assimilação exte- Logo, conforme Morais e Araújo (2018)
rior, ela produz uma transformação interior, o lúdico deve ser visto como uma ferramenta
produzindo a inteligência através de diferen- didática para o/a educador/a, como forma de
tes ações e situações, aperfeiçoando-se e tornar a aprendizagem mais prazerosa, agra-
adaptando-se ao seu desenvolvimento. dável e eficaz. 10

340
Proporcionar conhecimento através cia de interação diferente das que vive com
de atividades como jogos e brincadeiras pode seus pais e ao interagir com outros adultos
auxiliar a/o educando/a, para que a mesma e dividir o mesmo espaço e brinquedos com
obtenha melhor desempenho em sua apren- outras crianças, experimenta situações antes
dizagem. Torna-se muitas as vantagens de desconhecidas.
transmitir o conhecimento ludicamente e,
dentre elas, podemos citar: a melhoria da Nas escolas de educação infantil, a
capacidade cognitiva do/a educando/a, a po- perspectiva sociointeracionista exige que se-
tencialização da sua capacidade psicomoto- jam analisados os conhecimentos presentes
ra, bem como, da sua capacidade de relacio- nas interações criança/criança, adulto/crian-
nar-se com seus colegas (MORAIS; ARAÚJO, ça. Os profissionais e as crianças envolvidas
2018, p. 10). nas interações pedagógicas precisam unir
diferentes tipos de conhecimentos, promo-
Assim, conforme Morais e Araújo vendo experiências interacionais educativas
(2018) relata que dessa maneira o/a educa- variadas: as manifestações do lúdico; pôr
dor/a se torna peça fundamental nesse pro- em prática tarefas com parceiros; o estudo
cesso. Educar não é apenas repassar infor- dos conteúdos tratados no grupo. (BARROS,
mações ou apenas mostrar um caminho, mas 2016, p. 4).
é algo muito mais amplo é ajudar ela a tomar
consciência de si mesmo, e da sociedade. Barros (2016) coloca que a brincadei-
ra desenvolve a autoestima das crianças,
Morais e Araújo (2018) coloca que é de ajudando-as a vencer, de forma progressiva,
competência da educação infantil adequa-se suas aquisições com criatividade. Nas brinca-
para que seus/suas educandos/as tenham deiras, as crianças transformam os conheci-
um espaço rico em atividades lúdicas, pois mentos que já possuíam anteriormente em
sabe-se que a maioria das crianças acabam conhecimentos gerais com os quais brincam.
passando grande parte de sua vida dentro de 5
instituições ensino, assim sendo tal ambiente
tem que criar um local no qual permita que Barros (2016) relata que a importância
elas vivam, sonhem, criem e instruam-se. do brincar está também ligada ao desenvolvi-
mento da imaginação, na fundamentação de
Deste modo, Barros (2016) coloca afetos, exploração de habilidades e na medi-
que é a interação social que desenvolve na da em que assumem vários papéis, concebe
criança as funções psicológicas (percepção competências cognitivas e interativas.
categorial, memória lógica, imaginação cria-
dora etc.)., assim, para o sócio interacionis- Desta forma, Barros (2016) coloca que
mo, aprendizagem, ensino e desenvolvimen- a educação terá como meta a busca de um
to não existem de forma independente., no modo mais saudável de aprender, favorecen-
qual a aprendizagem proporciona o desen- do as crianças uma interação lúdica que ga-
volvimento e este possibilita a aprendizagem ranta a felicidade, prazer, satisfação e desejo
e isso não ocorreria sem a mediação de outra de aprender, desempenhando como elemen-
pessoa, o que significa que a interação pro- to principal o desenvolvimento físico, cogniti-
move o desenvolvimento. vo, motor e psicológico infantil.
Desta forma, conforme Barros (2016) Barros (2016) relata que é essencial
a interação educativa se dará enquanto for a utilização do jogo na educação infantil, no
uma maneira de ensinar agradável para a qual o professor precisa valorizar o lúdico
criança e quando a criança for objeto de como garantia de um desenvolvimento con-
atenção paro o adulto, daí a necessidade de tínuo. Introduzindo-o na prática educativa,
a instituição de educação infantil fazer um pois existe uma ligação entre infância, jogo e
planejamento prévio, acompanhamento e educação, no qual auxilia o desenvolvimento
avaliação das interações pedagógicas. intelectual e favorece a autonomia e a socia-
bilidade.
Pedagogos e psicólogos concordam
que as brincadeiras e jogos infantis são ativi- Miranda, Santos e Rodrigues (2014) co-
dades física e mental que favorecem tanto o loca que no contexto educacional, nem toda
desenvolvimento pessoal como a sociabilida- atividade lúdica pode ser concebida como re-
de, de forma integral e harmoniosa. O brin- curso pedagógico, a ação pedagógica inten-
quedo está associado à cultura, pois nele se cional do professor deve refletir na organiza-
encontram traços culturais específicos da so- ção do espaço, na seleção dos brinquedos e
ciedade. O brincar chegou à escola com o ob- na interação com as crianças.
jetivo de facilitar a assimilação da aprendiza-
gem do aluno, tornando-a a mais significativa
e concreta (MIRANDA; SANTOS; RODRIGUES, 2.3 BRINCADEIRA NA INFÃNCIA E O IM-
2014, p. 31). PACTO NA VIDA ADULTA
Barros (2016) coloca que desde o Bastiani e Silva (2018) relata que o ser
nascimento a criança interage de diversas humano, em todas as fases de sua vida, está
maneiras no ambiente em que vive, no qual sempre descobrindo e aprendendo coisas
quando passa a frequentar uma instituição novas pelo contato com seus semelhantes e
de educação infantil submete-se a experiên- pelo domínio sobre o meio em que vive, as-

341
sim o ser humano nasce para aprender, para no espaço, no qual a escola não é um local
descobrir e apropriar-se dos conhecimentos, como outro qualquer é nela que a criança
desde os mais simples até os mais comple- aprende a forma de se relacionar com o pró-
xos, e é isso que lhe garante a sobrevivência prio conhecimento.
e a integração na sociedade como ser partici-
pativo, crítico e criativo. A esse ato de busca, Ao brincar, a/o educando/a aumenta
de troca, de interação, de apropriação e que sua independência, é com o uso da ludicida-
damos o nome de educação. Esta não existe de que se consegue estimular sua sensibili-
por si só; é uma ação conjunta entre as pes- dade visual e auditiva de maneira agradável,
soas que cooperam, comunicam-se e comun- sempre valorizando a cultura popular, desen-
ga do mesmo saber. volvendo habilidades motoras, diminuindo a
agressividade que muitas vezes acontecem
A criança constrói e reconstrói sua pois trabalha-se inúmeras regras, exercitan-
compreensão de mundo por meio do brin- do a imaginação e a criatividade, desenvolvi-
car; amadurecem algumas capacidades de mento um/a educando/a sadio trabalhando
socialização, por meio da interação, da utili- desde cedo a vida em sociedade. (MORAIS;
zação e experimentação de regras e papéis ARAÚJO, 2018, p. 13).
sociais presentes nas brincadeiras. (MODES-
TO; RUBIO, 2014, p. 2). Nesse contexto, conforme Miranda
e Santos (2014), entende-se que o brincar
Assim, as autoras colocam que por chegou à escola para facilitar a assimilação
meio do lúdico há o desenvolvimento das da aprendizagem, tornando-a mais significa-
competências de aprender a ser, aprender tiva e concreta. Quando se trata da interfe-
a conviver, aprender a conhecer e aprender rência das brincadeiras no desenvolvimento
a fazer; desenvolvendo o companheirismo, da criança, direcionado ao seu processo de
aprendendo a aceitar as perdas, testar hipó- aprendizagem.
teses, explorar sua espontaneidade criativa,
possibilitando o exercício de concentração, A criança dentro do espaço escolar
atenção e socialização, considerando o jogo pratica atividades proporcionadas pelo pro-
essencial para que seja manifestada a criati- fessor mediador. Porém, toda brincadeira é
vidade e a criança utilize suas potencialida- uma construção de conhecimento para o de-
des de maneira integral, indo de encontro ao senvolvimento de habilidades. Então, a brin-
seu próprio eu. cadeira não se torna apenas uma recreação,
mas uma relação de aprendizagem, sintonia
É brincando que a criança constrói entre o professor mediador e a criança, vista
sua identidade, conquista sua autonomia, no modo antigo tradicional:
aprende a enfrentar medos e descobre suas
limitações, expressa seus sentimentos e me- Na educação, o movimento funciona
lhora seu convívio com os demais, aprende de modo semelhante. Não adianta apenas
entender e agir no mundo em que vive com solicitar que as crianças se desloquem, pulem
situações do brincar relacionadas ao seu coti- ou joguem alegremente. É preciso associar
diano, compreende e aprende a respeitar re- seus movimentos aos objetivos educacionais,
gras, limites e os papéis de cada um na vida criando relações e situações apropriadas ao
real; há a possibilidade de imaginar, criar, favorecimento da aprendizagem. Dessa for-
agir e interagir, auxiliando no entendimento ma, estabelecemos uma sintonia entre as
da realidade (MODESTO; RUBIO, 2014, p. 3). potencialidades integrais do sujeito e a cons-
trução de seus conhecimentos. (HAETINGER,
A ludicidade, deste modo, permite a 2012, págs. 8 e 9).
criança através do faz-de-conta, aprender a
interagir na realidade, pois através dos seus Portanto, os movimentos da criança
anseios, frustrações, prazeres, entre outros devem estar relacionados com os objetivos
sentimentos, a criança melhora sua sociabili- educacionais, através do movimento, asso-
zação e convivência com seus pares. cia-se com os demais desenvolvimentos:
O lúdico para o professor se torna Tratando-se da Educação Infantil, es-
uma ferramenta, mas para os alunos deve ses aspectos tornam-se ainda mais relevan-
ser algo prazeroso, senão deixa de ser lúdico. tes, pois o desenvolvimento cognitivo e inte-
Bastiani e Silva (2018) coloca que o lúdico não gral da criança está associado ao seu corpo e
está ligado apenas a ação de jogo, mas sim seus movimentos. (HAETINGER, 2012, pg. 9).
está envolvido com as demais atividades, que Assim, deve ser valorizado o corpo e
liberam ao ser humano momentos de prazer, movimento nas ações pedagógicas para o
bem-estar, liberdade de ação e movimento, desenvolvimento das habilidades das crian-
o lúdico está ligado com as práticas voltada ças na Educação Infantil:
a curiosidade de aprender do educando, de
descobrir novos ambientes, de construção A Educação Infantil deve sempre valo-
de conhecimento, de uma forma prazerosa e rizar o corpo e o movimento, relacionando-os
não forçada, ou por obrigação. aos objetivos e ações pedagógicas e promo-
vendo o desenvolvimento das habilidades:
A brincadeira, conforme Miranda e Habilidades motoras – força, equilíbrio, fle-
Santos (2014) é de fato um espaço de apren- xibilidade, coordenação fina e ampla, latera-
dizado sociocultural localizado no tempo e

342
lidade, entre outras. Habilidades comporta- vas conquistas psicológicas, no qual a criança
mentais – desinibição, socialização, conceito se envolve em um mundo imaginário e reali-
de saúde (qualidade de vida, tempo livre, la- zam todos os seus desejos, usando o lúdico a
zer), vivências emocionais etc. Habilidades criança demostra o mundo e é onde vivencia
expressivas – fluência verbal, ritmo, expres- suas fantasias, nos quais os jogos conseguem
são dramática, dicção e destreza manual. despertar no educando um grande interesse
(HAETINGER, 2012, pg. 9). e atração pela aprendizagem, pois ao mesmo
tempo em que em que está se divertido tam-
Miranda e Santos (2014) coloca que bém está aprendendo e se desenvolvendo.
não se trata de nenhuma novidade associar
a educação à prática e adoção de jogos e Educar não é apenas repassar infor-
brincadeiras no processo de ensino-aprendi- mações ou apenas mostrar um caminho, mas
zagem, ou seja, brincar é importante para o é algo muito mais amplo é ajudar ela a tomar
desenvolvimento da criança, do seu intelec- consciência de si mesmo, e da sociedade, ou
to e da sua personalidade, sendo, portanto, seja, a brincadeira contribui para vida adulta.
fundamental para um desenvolvimento ple-
no do ser humano.
Portanto, na educação infantil, as habi- REFERÊNCIAS
lidades motoras, comportamentais e expres- BARROS, Aline Cristiane [et al]. Jogos
sivas são as mais desenvolvidas na criança na e Brincadeiras na Educação Infantil. Aracaju,
educação infantil. Filgueiras (2002) coloca em SE: FSLF, 2016.
questão a abordagem de Piaget: FELICIANO, Maria José de Souza. O pa-
Piaget foi quem nos despertou para pel da brincadeira no desenvolvimento infan-
a importância da motricidade. Na verdade, til como meio da aprendizagem. Itabaiana,
ele estava preocupado em estudar a gênese PB: Universidade Federal da Paraíba, 2013.
do pensamento humano, não em entender FILGUEIRAS, Isabel Porto. Motricidade
como a criança aprende o movimento ou Infantil In: Espaços lúdicos ao ar livre na
qual é a importância disso. Mas para enten-
der o desenvolvimento da inteligência ele ob- Educação Infantil. Disponível em
servou a criança e percebeu que, desde que <http://avisala.org.br/index.php/
nasce, ela já tem um tipo de inteligência, que assunto/conhecendo-a-crianca/a-crianca-
é, ao contrário do que se pensava, anterior -e-o-movime nto-questoes-para-pensar-a-
à linguagem. Existe uma inteligência motora, -pratica-pedagogica-na-educacao-infantil-e-
que é prática, e que é a primeira que o ser -no-ensino-fundamental/> Acesso em ago.
humano desenvolve. (FILGUEIRAS, 2002, s/p). de 2023.
Neste ponto o movimento da criança HAETINGER, Max Günther. ARANTES,
é visto como uma inteligência motora que Ana Cristina. Educação, Corpo e Movimento.
Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. 164 p.
ela vai desenvolvendo ao longo da vida, sen-
do a primeira que o ser humano desenvolve. HAETINGER, Max Günther. Movimen-
O movimento auxilia o pensamento, a ação to. ed. Curitiba, PR: IESDE Brasil, 2012. 120p.
mental projeta-se em atos motores. HOFFMANN, Jussara. Avaliação e Edu-
cação Infantil: Um olhar sensível e reflexivo
sobre a criança – Porto Alegre: Ed. Mediação
CONSIDERAÇÕES FINAIS 18ª ed. 2012
O brincar é próprio da cultura da in- LEITE, Suelen da Silva. O uso de jogos e
fância e para que seja assegurada a quali- brincadeiras no desenvolvimento infantil de
dade, é indispensável, que na escola tenha 0 a 6 anos. Itapeva: Revista Científica Eletrôni-
em sua concepção as atividades lúdicas com ca de Ciências Aplicadas da FAIT, 2017.
fundamentos para o desenvolvimento de um MIRANDA, Daiana Barth; SANTOS, Pa-
todo no seu/sua educando/a. trícia Gonçalves dos; RODRIGUES, Samira De
Souza. A importância dos jogos e brincadei-
Sendo assim é necessário que o/a pro- ras para a educação infantil. Serra: Faculdade
fessor/a sempre planeje as situações de suas Multivix Serra, 2014.
atividades lúdicas, sempre o delimitado tem-
po para essa brincadeira, oferecendo deste MODESTO, Monica Cristina; RUBIO, Ju-
modo um brincar de qualidade, assim além liana de Alcântara Silveira. A Importância da
Ludicidade na Construção do Conhecimento.
do desenvolvimento de capacidades e habi- Revista Eletrônica Saberes da Educação. Vo-
lidades construídas enquanto os/as educan- lume 5 – nº 1 – 2014.
dos/as brincam far-se-á um cidadão crítico e
consciente de seus direitos e deveres diante MORAIS; Elirian de Oliveira; ARAÚJO,
da sociedade. Eudeiza Jesus de. Jogos e brincadeiras: O
Lúdico na Educação Infantil e o Desenvolvi-
Assim, o desenvolvimento da crian- mento Intelectual. Bueno, RO: Faculdade de
ça no jogar e no brincar só se dá adequada- Pimenta Bueno, 2018.
mente quando o professor direciona o ensi-
no para as etapas de desenvolvimento ainda
não alcançadas pelo aluno incentivando no-

343
DIREITO EDUCACIONAL BRASILEIRO
MARCELA CRISTINA MARCUCCI DE FREITAS

RESUMO inegável a existência dos conflitos de interes-


ses nas relações educacionais entre alunos
O Direito Educacional não se restringe e/ou responsáveis, professores, administra-
à simples exposição da legislação do ensino, dores educacionais, gestores educacionais,
mas consiste numa área de estudos jurídicos estabelecimentos de ensino e poder público.
com crescentes e importantes contribuições. Pois a instituição de ensino tem o dever de
Deve ser estudado dentro das diretrizes edu- exercer permanente vigilância sobre seus
cacionais e dos princípios norteadores do or- alunos, principalmente quando se tratar de
denamento jurídico. O ponto de partida para adolescentes, menores de idade, vedando
se buscar a base do Direito Educacional en- o ingresso no estabelecimento de qualquer
contra-se na Constituição Federal/88 que dis- instrumento, que possa colocar em risco a in-
põe sobre a educação e a maneira de concre- tegridade física das pessoas.
tizá-la, seguindo os princípios abrangentes
que por sua vez se multiplicam em direitos, A relação do direito educacional com o
garantias e deveres. Todas essas transfor- ramo jurídico e com a pedagogia. Legislação
mações implicam questionamentos sobre a de Ensino, como disciplina, é um conjunto de
qualidade da educação pública, pois a edu- leis, decretos, resoluções, pareceres normati-
cação é o ponto principal para se alcançar o vos, portarias, regulamentos etc. A disciplina
sucesso dessas mudanças. Em virtude disso, legislação de ensino tradicionalmente é inte-
a política educacional brasileira possibilita a grada no currículo de pedagogia, como parte
participação efetiva da sociedade, que exige Integrante do Direito Educacional e de cunho,
a melhoria na educação e um maior compro- mas pedagógico. Ao contrário, o Direito Edu-
metimento de todos os envolvidos no con- cacional tem um caráter mais jurídico do que
texto educacional. mero Conjunto de leis.
Palavras-chave: Direito Educacional; Assim, não há como confundir legisla-
diretrizes educacionais; garantias e deveres; ção Educacional (ou de ensino). Com Direito
melhoria na educação. Educacional: enquanto aquela se limita ao
estudo E/ou sistematização do conjunto de
normas sobre educação, este tem um campo
ABSTRACT muito mais abrangente e pode ser entendido
como um conjunto de técnicas, regras e ins-
The Education Law is not restricted to trumentos jurídicos sistematizados, que ob-
simple exposition of the teaching legislation jetivam disciplinar o comportamento huma-
but is in an area of legal studies with growing no relacionado à educação, como conceituou
and important contributions. Should be stu- Almeida. (ALMEIDA, 2009, p.12)
died within the educational guidelines and
guiding principles of the legal system. The O primeiro passo dado em relação à
starting point for seeking the basis of the Educação de Jovens e Adultos (EJA) se deu
Education Law is the Constitution Federal / pela Constituição de 1988, que colocou o en-
88 which provides for the education and the sino fundamental como sendo um direito e
way of putting it, following the broad princi- dever do Estado, efetivado mediante garantia
ples which in turn multiply in rights, guaran- de ser “obrigatório e gratuito, assegurada, in-
tees and duties. All these transformations clusive, sua oferta gratuita para todos os que
involve questions about the quality of public a ele não tiveram acesso na idade própria”
education because education is the key point (Art. 208, Constituição Federal de 1988). Por
to achieve the success of these changes. As isso, é fundamental o estudo do Direito Edu-
a result, the Brazilian educational policy ena- cacional para entender aos questionamentos
bles the effective participation of society, whi- Jurídicos sobre os assuntos educacionais dis-
ch requires improved education and a grea- postos nas legislações.
ter commitment of everyone involved in the
educational context.
O DIREITO EDUCACIONAL
Keywords: Education Law; educatio-
nal guidelines; guarantees and duties; impro- O aumento da demanda pela educa-
vement in education. ção, a complexidade crescente da socieda-
de e os conflitos nas relações educacionais
ensejaram o aparecimento de legislações
INTRODUÇÃO específicas na área da educação e conse-
quentemente a necessidade de sistematizar
Objetivos do direito educacional nas o Direito Educacional. Diante dessa complexi-
instituições de ensino privados públicos de- dade, esse ramo da ciência jurídica se relacio-
param-se com grandes mudanças de con- na com outros ramos desta mesma ciência.
cepções e legislativas na área educacional. É
Para atender essa demanda surge o

344
Direito Educacional, com os seguintes obje- p. 129-130) ao afirmar que “mesmo a
tivos: educação propiciada pelas escolas particu-
lares é considerada atividade pública, assim
- superar a fase legislativa da educa- como público será o regime jurídico por meio
ção, ou seja, ultrapassar a concepção legaliza do qual ele será prestado aos interessados”.
de educação, para entender o Direito Educa-
cional como o ramo da ciência jurídica Inter- Ele esclarece ainda que quando o ser-
disciplinar e prático; viço educacional for prestado por instituições
particulares, o regime jurídico aplicável à ati-
-Facilitar a compreensão, e aplicação vidade educacional, é de natureza pública,
de legislação educacional; cogente e fiscalizadora, sob o ponto de vista
-Incentivar a pesquisa e o debate so- pedagógico. Porém, sob o ponto de vista ad-
bre as relações do Direito Educacional com ministrativo, o regime jurídico da instituição
os demais ramos da ciência jurídica e do co- é de natureza privada. A relação desses dois
nhecimento. ramos se dá também pelo fato de as resolu-
ções, pareceres normativos, decretos, regula-
“Direito Educacional”, Direito Civil, Di- mentos e regimentos nortearem as relações
reito Penal, Direito Administrativo, Direito educacionais nos estabelecimentos de ensi-
do Trabalho. Nesse sentido é que se fala de no.
direito positivo, direito posto pelo Estado [...]
já o direito subjetivo é a faculdade ou possi- Outro ponto é a participação do Direi-
bilidade, que tem uma pessoa de fazer pre- to Civil nas relações jurídicas educacionais,
valecer em juízo a sua vontade, protegida que por um lado há dois temas básicos para
pelo direito objetivo. Como exemplo, temos o Direito Educacional: os contratos de presta-
o direito à educação. Há, portanto, uma inter- ção de serviço educacional e responsabilida-
-relação entre o direito subjetivo e o direito de civil dos estabelecimentos de ensino. Os
objetivo. (Cf. Cretella Júnior, Primeiras lições dois temas são tratados pelo Direito Civil e
de direito, 2000. p. 89.) Direito do Consumidor, mas por outro lado,
o Código de Defesa do Consumidor disciplina
as relações contratuais de prestação de servi-
Interface do direito educacional com ço educacional, e o Código Civil complementa
outros ramos da ciência jurídica o assunto apresentando orientações gerais
sobre os contratos de ensino. Vale ressaltar
O Direito Educacional possui relações que, toda relação jurídica tem a participação
com os demais ramos da ciência jurídica e do de pessoas, quer sejam naturais ou jurídicas,
conhecimento em geral, sendo que encontra- e são sujeitos de direito, sendo que no caso
-se em construção e avançando para a siste- do Direito Educacional, envolvem alunos ou
matização como novo ramo emergente. Uma responsáveis, professores, demais funcioná-
de suas finalidades é mediar as relações edu- rios, gestores e estabelecimentos de ensino,
cacionais que estão ligadas aos diferentes e encontram contribuição no Direito Civil.
ramos da árvore jurídica. Dessa forma, para Como quarto ramo destacamos o Di-
destacar a construção das relações entre o reito do Consumidor, cujo Código de Defesa
direito e a educação, é oportuno no momen- do Consumidor estabeleceu institutos jurídi-
to, comentar a interface desse ramo com cin- cos no âmbito da prestação de serviços edu-
co outros ramos da ciência jurídica. cacionais, que devem ser interpretados à luz
Inicialmente temos o Direito Consti- do Direito Educacional, como por exemplo:
tucional. Ele se sobrepõe aos demais ramos a) art. 6º - Direitos básicos do con-
por suas características naturais, e nele está sumidor;
a base onde o Direito Educacional busca sua
primeira, fundamental e maior fonte. É do b) arts. 14 e 20 – A responsabilida-
texto constitucional que se abstrai suas di- de do fornecedor de serviço;
retrizes básicas. Qualquer lei ou norma que
apareça no ordenamento jurídico-educacio- c) arts. 30 a 38 – A oferta e a publi-
nal deverá estar em conformidade com a cidade dos serviços educacionais;
Constituição, obedecendo as suas diretrizes d) art. 39 – Práticas vedadas ao for-
e princípios, sob pena de ser julgada inconsti- necedor;
tucional e retirada do ordenamento jurídico.
e) arts. 42 e 71 – Limitações na co-
Em segundo lugar, destacamos a ín- brança de mensalidades;
tima relação da educação com o Direito Ad-
ministrativo. Justifica-se pelo fato de que o f) arts. 43 e 44 – Bancos de dados e
ensino é um serviço público e também por- inadimplentes;
que é através de procedimentos e atos admi-
nistrativos que a maioria dos direitos tutela- g) arts. 46 a 50 - A proteção contra-
dos pelo Direito Educacional, é declarada. É tual do consumidor e;
considerada atividade pública a prestação de h) art. 51 – As cláusulas abusivas
serviço educacional, mesmo prestado em es- no contrato educacional. Como se vê
colas particulares, conforme leciona Joaquim
(JOAQUIM. 2009, é estreita a relação entre esses ramos

345
do direito. desenvolvimento institucional, dentre outros,
considerem e contemplem a relação entre di-
Por último, ressaltamos a Hermenêu- versidade, identidade étnico racial, igualdade
tica Jurídica, sendo esta a ciência da arte de social, inclusão e direitos humanos.
interpretar a lei. Dentre os meios emprega-
dos para interpretação do direito, citamos a Os profissionais do direito quando atu-
gramatical ou literal, a declarativa, a históri- am no contexto educacional e os educado-
ca, a sistemática, a restritiva, a extensiva, a res inseridos no contexto jurídico percebem
teleológica ou finalística, a integração a partir a existência de relações entre a educação e
das lacunas das leis e o princípio da propor- o direito. A propósito, a educador e jurista
cionalidade. Mota (MOTA, 1997, p.19) diz o seguinte: “To-
dos nós, que atuamos na área da Educação e
Daí resta saber quais as mais apro- do Direito sentimos a necessidade de juntar
priadas para o Direito Educacional. É neces- esses dois elementos, porque percebemos
sário que o gestor educacional conheça bem perfeitamente que a Educação é uma área,
todos esses meios para interpretar e aplicar que deva ser cultivada também pelo Direito”.
as normas e princípios educacionais de ma- Já a educadora Patrice Canivez – na obra Edu-
neiras diferenciadas, pois, deve-se levar em car o Cidadão? – reconhece a relação entre a
consideração que as penalidades têm finali- Educação e o Direito, quando diz: “A educa-
dade pedagógica. Deverá também, elaborar ção dos cidadãos supõe um mínimo de co-
o Regimento Escolar em consonância com os nhecimento”. (VILANOVA, 1997, p. 27).
artigos 205 a 214 da CF/88 que não devem
ser interpretados isoladamente, pois, estão
relacionados com os incisos do art. 1º e com
os objetivos fundamentais da República Fe- Direito à educação
derativa do Brasil, previstos no art. 3º, para A Constituição Federal proclama que a
que a escola cumpra sua missão. educação é direito de todos e dever do Es-
O que pode ser facilmente demonstra- tado e da família, devendo ser promovida e
do ao frisarmos que a constituição de 1988 incentivada com a colaboração da sociedade,
reafirmou a educação como sendo direito visando o pleno desenvolvimento da pessoa,
de todos e dever do Estado, em conformi- seu preparo para o exercício da cidadania e
dade com o Art. 205 de seu texto legal, além sua qualificação para o trabalho.
do fato de a mesma ter detalhado e descrito O conceito de educação, conforme en-
com maior profundidade em seu Art. 208 que sina Alexandre de Morais, “é mais compreen-
esse dever estatal será efetivado na prática sivo e abrangente que o da mera instrução. A
por meio da garantia de ensino fundamental, educação objetiva proporcionar a formação
obrigatório e gratuito, aí incluídos aqueles necessária ao desenvolvimento das aptidões,
que não tiveram acesso em idade apropriada, das potencialidades e da personalidade do
com base em seu Inciso I, e pelo atendimento educando. O processo educacional tem por
educacional especializado aos portadores de meta: (a) qualificar o educando para o tra-
deficiência, com base em seu Inciso II, sendo balho; e (b) prepará-lo para o exercício cons-
que nesses dois casos não parece pairar ne- ciente da cidadania. O acesso à educação é
nhuma dúvida relativamente á imperativida- uma das formas de realização concreta do
de da norma e a exigibilidade do bem jurídico ideal democrático.” (BRASIL, 1988. pag. 214)
tutelado (BARROSO, 2002, p.115).
Devemos ter em mente que o Direito
[...] Pela educação jurídica é que uma Educacional não se restringe à simples expo-
sociedade assegura o predomínio dos valores sição da legislação do ensino, mas consiste
éticos perenes na conduta dos indivíduos e, numa área de estudos jurídicos com crescen-
sobretudo dos órgãos do poder público. Pela tes e importantes contribuições. Deve ser es-
educação jurídica é que a vida social conse- tudado dentro das diretrizes educacionais e
gue ordenar se segundo uma hierarquia de dos princípios norteadores do ordenamento
valores, em que a posição suprema compe- jurídico. O ponto de partida para se buscar a
te àqueles que dão à vida humana sentido base do Direito Educacional encontra-se na
e finalidade. Pela educação jurídica é que se Constituição Federal/88 que dispõe sobre a
imprimem no comportamento social os há- educação e a maneira de concretizá-la, se-
bitos, as relações espontâneas, os elemen- guindo os princípios abrangentes que por
tos coativos, que orientam as atividades de sua vez se multiplicam em direitos, garantias
todos para as grandes aspirações comuns. e deveres. O regime jurídico da educação en-
(MAZZOTI, 2000) contra-se em diversos artigos dispersos na
Assim, as políticas educacionais volta- Constituição Federal/88. Podemos citar al-
das ao direito e ao reconhecimento à diver- guns como os artigos 6º, 22, 23, 24, 205 ao
sidade estão interligadas à garantia dos di- 214, 225 e muitos outros.
reitos sociais e humanos e à construção de A educação é um bem jurídico na
uma educação inclusiva. Faz-se necessária Constituição, principalmente porque
a realização de políticas, programas e ações
concretas e colaborativas entre os entes fe- através dela se constrói uma socieda-
derados, garantindo que os currículos, os de livre, justa e solidária e somente com ela,
projetos político-pedagógicos, os planos de alcança-se o desenvolvimento nacional, con-

346
forme determina o art. 3º, onde se encon- mos mais um efeito deles: prejuízo para a li-
tram os objetivos fundamentais da República berdade. Se crianças e jovens acostumam-se
Federativa do Brasil a ser condicionados, e agirem a partir desse
condicionamento, como desenvolverá sua
O direito à educação é a fonte primei- capacidade de agir livremente? É exatamente
ra do Direito Educacional e caminha junto aqui que entra, a nosso ver, a responsabili-
com a cidadania. Consoante entendimento dade do Estado em oferecer uma educação
do Mestre Nelson Joaquim: “Ele nasce com visando uma aprendizagem ao ser huma-
a pessoa e perdura por toda vida, DAE ser no com uma formação intelecto-emocional
considerado um tema interdisciplinar, que completa, o que veremos no tópico a seguir.
apresenta diferentes concepções como, por
exemplo, direito natural, humano, à vida,
fundamental, humano social, subjetivo públi-
co, personalíssimo.” (BRASIL, 1988. pag. 190) Desenvolvimento social e político
A educação é uma oportunidade para atua- Não é possível ignorar o fato de que
lizar e incluir socialmente pessoas de várias educação é condição de efetivação e manu-
classes no processo de aprendizagem e re- tenção do Estado Democrático, sendo con-
forçar sua capacidade crítica nas práticas que cluído por Anísio Teixeira que a forma De-
nela se realizam. mocrática tem por base o desenvolvimento
social e político, lastreado na educabilidade
humana, sendo a educação, nas palavras do
Breves apontamentos sobre o proces- Autor:
so educativo e cultura digital
“Concebida como processe delibera-
Quando se fala em direito à educação do, sistemático, progressivo e, praticamente,
é importante salientar que a política educa- indefinido de formação do indivíduo e de re-
cional brasileira ainda está longe do ideal, alização da própria forma
apesar dos investimentos governamentais.
Democrática”. (DINIZ apud ANDRADE.
É importante sociedade civil e Poder 2010. p. 20).
Público fazerem uma profunda reflexão acer-
ca da realidade atual e dão futuro da educa- A norma jurídica pertence à vida social,
ção no País, o que inclui a discussão sobre o pois tudo que há na sociedade e suscetível de
acesso às novas tecnologias e sua influência revestir a forma da normatividade jurídica.
na formação de crianças e adolescentes. Somente as normas de direito podem asse-
gurar as condições de equilíbrio imanentes
Sobre o tema, vale colacionar o en- a própria coexistência dos seres humanos,
tendimento do Professor Doutor Valdemar proporcionando a todos e a cada um o pleno
Setzer, do Departamento de Ciência da Com- desenvolvimento das suas virtualidades e a
putação da Universidade de São Paulo, no consecução e gozo de suas necessidades so-
sentido de que “os meios eletrônicos têm um ciais, e ao regulara possibilidade objetiva das
efeito parecido com as drogas psicotrópicas: ações humanas.
prejudicam a força de vontade, tanto de adul-
tos como de crianças e jovens. No caso destes (DINIZ apud ANDRADE. 2010. p. 21).
últimos, o resultado é catastrófico, pois eles O que mais caracteriza esta decadên-
deveriam estar desenvolvendo sua capacida- cia é o fato desta educação ser limitada a clas-
de de determinar seus objetivos e esforçar- se mais elevada. A educação já não se destina
-se para consegui-los”. (PILETTI, 1990. p. 32). a ser a educação pratica de todo povo, mas o
Segundo Plietti (1990), num artigo pu- ornamento de uma sociedade oca, superficial
blicado pela Revista Consulex: A maior parte e geralmente corrupta. Já não é um estádio
dos especialistas em educação defende a uti- de desenvolvimento possível para um povo
lização da tecnologia como forma auxiliar no inteiro, ou para indivíduos de dada categoria,
processo de aprendizagem, desde que esta mas a simples obtenção ou mesmo mera in-
não seja utilizada como um fim em si mesma, sígnia de distinção de uma classe favorecida.
servindo apenas como um chamariz para (MONROE,1969, p. 91 Caput ANDRADE 2010
motivar os alunos. (PILETTI, 1990. p. 34). p. 32).
E continua: É muito simples verificar Quando o antigo vigor político e as
esse efeito em si próprio, por exemplo com a oportunidades para as atividades políticas
TV: note como não é necessário fazer esfor- desaparecerem, quando o Governo Munici-
ço nenhum para continuar assistindo-a; ao pal se tornou mera máquina para coletar im-
contrário, é preciso exercer uma tremenda postos, a classe superior mais numerosa do
força de vontade para desligá-la. É esse aba- que nunca, voltou-se para o único remanes-
famento da força de vontade que leva muitas cente da primitiva Roma Imperial – sua Cul-
pessoas a passarem horas jogando jogos ele- tura. (MONROE,1969, p. 91 caput ANDRADE
trônicos ou usando a internet em atividades 2010 p. 35).
sem nenhum valor. (PILETTI, 1990. p. 35). Importante trazermos à luz como ver-
Assim, os meios eletrônicos, se não dade, que em nosso país vivemos através de
usados deforma correta, passam de educa- sociedades filantrópicas bem como com a
tivos para condicionadores. Dessa forma, te- ajuda de Entidades religiosas, ajuda de Enti-

347
dades conhecidas com ONGs. Democracia, participação do elemen-
to humano, razão de ser do aparelho estatal,
Aliás, neste aspecto, a nossa nação criação de sua inteligência. Os rumos da co-
vem à beira do abismo, pois, a nossa educa- munidade se dão pelo fruto dessa participa-
ção é totalmente ignorada pelo poder públi- ção consciente de seus integrantes, o que se
co assim como a saúde, pois se não se tem faz possível com a sua integração a processo
saúde não há como haver educação. A edu- de formação que o situem na condição dos
cação brasileira está abandonada e necessi- seres sócias, culturais e políticos.
ta de cuidados para obter melhoria. Hoje a
educação, é um privilégio de poucos, o que A Educação contribui para a formação
contraria a nossa Constituição que assegu- da pessoa (ensinar e assumir a condição hu-
ra os direitos sociais. Direitos sociais fazem mana e ensinar a viver) e ensinar como se
parte dos direitos fundamentais inerentes ao tornar cidadão; cidadão definido, em uma
ser humano e tutelam os direitos individuais Democracia pela sua solidariedade e respon-
concretos, e visam trazer ao cidadão à igual- sabilidade em relação a sua pátria. O enraiza-
dade. Conceituação de direitos sociais, nessa mento de sua identidade nacional.
linha de pensamento, Jose Afonso da Silva
contribuiu: O ordenamento jurídico brasileiro por
seu ápice, a Constituição Federal de 1988, en-
Os direitos sociais, como dimensão cerra que a educação tem o tríplice escopo
dos direitos fundamentais do homem, são desenvolvimento da pessoa, prepara para
prestações positivas proporcionadas pelo o exercício da cidadania e sua qualificação
Estado direta ou indiretamente, enunciadas para o trabalho.
em normas Constitucionais, que possibilitam
melhores condições de vida aos mais fracos, Em nossa viagem histórica já mencio-
direitos que tendem a realizar a igualdade de namos que a educação já fora declaradamen-
situações sociais desiguais. São direitos que te um privilégio de poucos. Nos dias atuais,
se ligam ao direito de igualdade. Vale como ainda convivemos, em termos pragmáticos
pressuposto do gozo dos direitos individuais (problema não é recorrente somente entre
na medida em que criam condições materiais Estados carentes ou em curso de desenvol-
mais propicias ao ferimento da igualdade vimento, mas entre os desenvolvidos, mu-
real, o que, por sua vez proporciona condição dando apenas a intensidade como se mos-
mais compatível com o exercício efetivo da li- tra o problema), com uma educação ainda
berdade. (SILVA, 2005, p 285 apud ANDRADE emoldurada por privilegiados. Hoje mais que
2010 p. 76). oferecer a educação a todos, o desafio do Es-
tado é oferecer, ou garantir que se ofereça,
Direitos sociais são direitos funda- educação de qualidade a todos, realidade
mentais do homem, caracterizando – se que fora captada pelo legislador constituinte
como verdadeiras liberdades positivas, de como podemos observar nos artigos 206, Vll,
observância obrigatória em um Estado Social e 209, ll, da Constituição.
de Direito, tendo por finalidade a melhoria
de condições de vida aos hipossuficientes, vi- Não se pode olvidar que, nos gran-
sando a concretização da igualdade social, e des centros urbanos, não seja tão marcan-
são consagrados como fundamentos do Es- te o problema do oferecimento quanto o da
tado democrático, pelo art.1, da Constituição qualidade do ensino ofertado, ensejadora
Federal ``(MORAES, 2002, p.202). de grandes discrepâncias: o ensino público,
principalmente em nível superior, apresenta
Direitos sociais são, enfim, direitos modelos de excelência ao lado de modelos
subjetivos públicos, no sentido de direito in- de qualidade desprezível. O mesmo ocorre
dividual a ser concretizado por obrigações de na iniciativa privada.
fazer a cargo do Estado Nação que se desti-
nam a distribuir os benefícios da vida social Na educação básica, quase sempre há
(expresso de forma genérica, no conceito um duelo entre ensino público e privado que,
de direito ao desenvolvimento apresentado mostra-se revelador de que o poder econô-
pela Declaração) (...). (RANIER, p. 127 caput mico é o fator decisivo em uma competição
ANDRADE, 2010, p.77). que sairão vitoriosos os avanços das escolas
particulares.
Estamos todos envolvidos com a edu-
cação, em maior ou em menor intensidade. O Estado deveria representar o ins-
A educação é inerente a condição humana, trumento mais persuasivo no intuito de criar
onde se revelará sua fundamentalidade ou condições que possam estancar diferenças
essencialidade. até se atingir a efetiva pulverização universal
do Direito à educação com qualidade.
A teoria de educação de Jonh Dewey
Anísio Teixeira define a educação como: Nos últimos anos, o Estado brasileiro,
retomou algumas frentes de atuação, no âm-
O processo de reconstrução e reorga- bito do ensino superior, passou a expandir a
nização da experiência, pelo qual lhe perce- oferta do ensino e da sua Democratização,
bemos mais agudamente o sentido, e com questões das políticas hábeis de corrigir in-
isso nos habilitamos a melhor dirigir o cur- justiças sociais, facilitando o acesso de cama-
so de nossas experiências futuras. (TEIXEIRA das historicamente desprivilegiadas a diver-
apud ANDRADE. 2010. p. 18). sos níveis de ensino, implantando programas

348
de financiamento ou de renúncia de receita. caz da pessoa com deficiência.
Trata-se das políticas de inclusão através de
cotas por critérios raciais e socioeconômicos, O art. 24 do Decreto 5296/04 define
programas como o FIES (Financiamento Estu- que os estabelecimentos de ensino de qual-
dantil). quer nível, etapa ou modalidade, públicos ou
privados, deverão proporcionar condições
Entendo que as políticas públicas, os de acesso e utilização de todos os seus am-
recursos públicos nas imunidades não há bientes ou compartimentos para pessoas
recurso público- podem ser direcionados portadoras de deficiência ou com mobilidade
as minorias por meio de ações afirmativas. reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas,
O que não pode haver é discriminação das auditórios, ginásios e instalações desporti-
maiorias por força de uma concepção erro- vas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários.
nia do princípio da igualdade e da não discri-
minação, que leva o branco a ser um cidadão A Lei Municipal 6590/94 dispõe sobre
inferior ao negro, em face de estes estarem a implantação de ensino especial nas escolas
privilegiados por técnicas e qualificações a públicas municipais e determina que o mu-
que aqueles não têm acesso. (MARTINS, p. nicípio adote um sistema especial de ensino
343 Caput ANDRADE, 2010, p. 89). nas escolas da rede pública municipal, obje-
tivando a plena integração e o atendimento
Atualmente discute-se acerca de uma adequado a deficientes físicos e mentais e a
sociedade inclusiva, isto é, que mantenha superdotados. O sistema especial de ensino
possível o acesso à educação, tendo em vis- abrangerá o pré escolar e todo o primeiro
ta os preceitos constitucionais de igualdade grau, com reciclagem de seus professores e
e acessibilidade, esse direito consiste basica- servidores e dotação de infraestrutura física
mente no acesso contínuo ao espaço comum e de equipamentos adequados à satisfação
da vida em sociedade, sociedade essa, que das exigências dessa lei, devendo ser amplia-
deve estar orientada por relações de acolhi- da até que atenda integralmente a todos os
mento à diversidade humana, de aceitação seus destinatários residentes no município.
das diferenças individuais, de esforço coleti- Garantindo dessa forma o serviço de apoio
vo na equiparação de oportunidades de de- especializado na escola pública regular para
senvolvimento, com qualidade em todas as poder atender o aluno com deficiência.
dimensões da vida.
Todos os alunos com deficiência têm
Na educação não é diferente, sua fun- direito aos mesmos benefícios adquiridos
ção é desenvolver uma pedagogia centra- aos demais alunos, como assegura o Decreto
da na criança, capaz de educar a todas sem Federal 3298/99, no seu art. 24, inciso VI. Só
discriminação, respeitando suas diferenças; que as escolas estão completamente fora do
uma escola que dê conta da diversidade das contexto e do alcance do cidadão com defici-
crianças e ofereça respostas adequadas às ência à inclusão escolar.
suas características e necessidades, sempre
solicitando apoio de instituições quando se Somente culpar os professores pela
fizer necessário. Para Aranha: “A ideia de qualidade do ensino prestado não soluciona
inclusão se fundamenta numa filosofia que os problemas que o Governo enfrenta sobre
reconhece e aceita a diversidade na vida em a questão. Entendemos que o Estado tem se
sociedade”. (ARANHA, 2001, p.12). esforçado para oferecer melhor formação
para os professores através de cursos e de
A escola deve ser vista como um espa- umas práticas reflexivas nas HTPCs (Hora de
ço de todos e para todos, buscando alternati- Trabalho Pedagógico Coletivo).
vas que garantam o acesso e a permanência
de todas as crianças e adolescentes nesta os Para o Governo, os problemas educa-
tornando capazes para a vida em sociedade, cionais são reduzidos no âmbito do indivíduo
garantindo-lhes dignidade e tratamento real, do esforço pessoal do professor. O professor
aplicado a cada caso específico, fazendo as- hoje é visto como “Messias” da educação; um
sim, se necessário, adaptações em seu regi- ser dotado de inesgotável força de vontade
mento para o acolhimento igualitário desses, e deve ter disposição para se debruçar no
que serão os adultos de amanhã. cumprimento da sua missão. O que o Gover-
no não enxerga, é que os problemas da edu-
A integração é vista como um processo cação são políticos, sociais e culturais. (MAZ-
mutante e dinâmico e tem como objetivo que ZOTI, 2000. p.191)
todos os alunos fiquem juntos na mesma es-
cola, em contato com colegas da mesma fai- Existem vários problemas que levam o
xa etária para que favoreça o aluno com ne- aluno a um déficit de aprendizagem. O pro-
cessidades educacionais especiais para um blema desses problemas é que o aluno sabe
melhor desenvolvimento e uma socialização que não precisa se esforçar, pois, hoje vive-
mais completa e para os demais alunos um mos o problema da aprovação automática.
contato com metodologias mais individuali- Diante disso, o professor perde sua autorida-
zadas e atitudes de respeito e solidariedade. de, pois, a nota que ele aufere ao aluno não
tem valor, em consequência disso a disciplina
Conforme determina o parágrafo 1º se institucionaliza. A escola se torna encon-
do art. 58 da Lei Federal 9394/96, o Poder tro de amizades, hoje, a escolas se tornaram
Público, havendo necessidade, é obrigado a pontos de amizade e de namoro, de sociabi-
equipar a escola, visando ao atendimento efi- lidade e por último o ensino. (ARANHA, 2001,

349
p.18). flexiva sobre os fatos. O cidadão deve cobrar
do Estado à contraprestação dos impostos
Outro problema ligado à aprovação pagos a ele.
automática é o fato das crianças chegarem
ao final do primeiro ciclo de estudos sem A inclusão também se legitima por-
saber nem ao menos ler, escrever. As crian- que a escola para muitos é o único espaço
ças se tornam analfabetos funcionais, e nem de acesso ao conhecimento. É o lugar que vai
conseguem interpretar se quer um texto. Os lhes proporcionar condições de se desenvol-
alunos não conseguem aprender novas com- ver e se tornar cidadãos com identidade cul-
petências devido aos déficits de aprendiza- tural e social. A escola é o espaço que lhes
gem em series anteriores. O aluno sente a confere oportunidades de ser e viver digna-
dificuldade de desenvolver, novos esquemas mente. (MAZZOTI, 2000. p.198)
mentais e conhecimentos necessários exigi-
dos. A autora conclui ainda que não há
uma regra geral para construir a escola que
Para as escolas públicas faltam: maté- queremos – uma escola para todos. Mas po-
rias, quadras esportivas, equipamentos em demos nos aproximar cada vez mais dela.
geral, sala de estudo, sala de teatro, de vídeo,
informática, biblioteca, matérias para uso em
sala etc. Em suma, um ambiente agradável CONSIDERAÇÕES FINAIS
para que o aluno adquira conhecimentos.
(MAZZOTI, 2000. p.193) Conclui-se, portanto, que a política
educacional de ensino brasileira deveria ser
Como já havíamos mencionado ante- revista, no sentido de acabar com o regime
riormente com relação aos problemas sócios de progressão continuada, que aprova mi-
temos a fome, pobreza, falta de trabalho e de lhares de analfabetos todos os anos, com
perspectiva são esses os problemas que mi- graves implicações para o mercado de tra-
nam a educação. balho, que, acabará por absorver a mão de
O Brasil é uma das dez maiores eco- obra desqualificada, oriundas de instituições
nomias do mundo, mas para os indicadores de ensino superior que praticam verdadeiro
sociais ela está ao lado de Botsuana e Mo- estelionato educacional, sem qualquer fisca-
çambique; nesses países 30 milhões de pes- lização por parte dos órgãos competentes.
soas vivem em estado de miséria, 60% dos O Brasil deveria iniciar a caminhada
trabalhadores, no Brasil, ganham até um sa- rumo à correção das desigualdades sociais,
lário-mínimo. (ARANHA, 2001, p.19). ofertando um ensino de qualidade a todos
São Paulo, a cidade mais rica do Brasil, os brasileiros, dando-se, assim, cumprimen-
não foge a esses dados estatísticos. O subem- to aos princípios fundantes do Estado Demo-
prego é uma realidade da grande maioria das crático de Direito.
famílias, tais pessoas apresentam baixa ren- Proporcionar reflexões acerca “Da
da e baixo nível educacional e isso impossibi- Educação como um direito ao Direito Educa-
lita que os pais prestem a devida assistência cional”, tema abordado nesta mesa temática,
aos seus filhos. (MAZZOTI, 2000. p.197) nos possibilitou retratar o quadro da Educa-
A desvalorização do professor, baixos ção mundial na contemporaneidade desta-
salários, o descaso para com os mesmos, o cando o espaço em que ocupa e age, ali, o
desrespeito, a imposição pedagógica, tudo Direito Educacional.
isso somado tem reflexos negativos na edu-
cação. O professor perde a motivação, não
tendo prazer em dar aula, e não desenvolve É recorrente no Brasil um descompas-
um bom trabalho. Se analisarmos os salários so entre o direito a Educação e o efetivo exer-
públicos, como os de Juízes, Promotores e cício do direito educacional para com o povo
políticos verão que há uma desigualdade no brasileiro. Considerando que a legislação
salário que é o oferecido ao professor que re- educacional brasileira se constitui como um
cebem a difícil tarefa de formar os cidadãos conjunto de princípios legais, é preciso que
do futuro. o cidadão a reconheça para fazer uso de di-
reito ao que regula a legislação da educação.
Para o Autor Andrade (2010) uma so-
ciedade que não valoriza o conhecimento é Encerramos esta apresentação com a
uma sociedade sem história e sem memória. certeza de que ainda falta muito para o cida-
dão brasileiro, estando em plena consciência
A participação da sociedade, como um de direito, seja capaz de usufruir o pleno do
todo nas questões educacionais deve ser o direito a educação. O desconhecimento legal
cimento que constrói a nossa cultura, que di- sobre a educação pública fragiliza a socieda-
fere as sociedades locais, que preserva nos- de brasileira tornando-se exposta as artima-
sa memória e consciência, contra ameaça de nhas do Capital e da exploração do trabalho.
grupos, de ideologias e de interesses públi-
cos.
É preciso a participação da comunida-
de nas escolas para a melhor qualidade do
ensino e para geral consciência política e re-

350
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351
DESCONSTRUINDO PRECONCEITOS E CONSTRUINDO IGUALDADE:
O CAMINHO DA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA
MARCIA GONÇALVES CARVALHO

RESUMO realidade, visando confrontar e superar as


normas discriminatórias que persistem nos
A educação antirracista é um paradig- sistemas educacionais. É um convite para re-
ma educacional que busca desafiar, comba- pensar o papel da educação na formação de
ter e superar as estruturas e práticas racistas cidadãos conscientes, críticos e comprometi-
presentes na sociedade e nos sistemas edu- dos com a justiça.
cacionais. Seu objetivo é promover a consci-
ência crítica, a igualdade e a justiça, enquanto Neste artigo exploraremos as bases
desmantela os preconceitos e estereótipos da educação antirracista, sua relação com a
que perpetuam a discriminação racial. A edu- conscientização crítica e seu potencial trans-
cação antirracista reconhece que o racismo formador. Além disso, analisaremos a impor-
não é apenas um problema individual, mas tância de abordar questões de raça e etnia
também sistêmico, enraizado em estruturas no ambiente escolar, reconhecendo que a
sociais e históricas. Essa abordagem peda- educação não pode ser neutra em relação
gógica enfatiza a inclusão de perspectivas a injustiças sistêmicas. Ao mergulhar nesse
diversas e a reflexão sobre as desigualdades tema complexo e necessário, buscamos con-
raciais presentes na sociedade. Ela busca tribuir para o entendimento das implicações
criar um ambiente de aprendizado onde os e desafios da educação antirracista na pro-
alunos possam entender o impacto do racis- moção de uma sociedade mais igualitária e
mo, desconstruir preconceitos internalizados inclusiva.
e se tornar agentes de mudança. A educação
antirracista promove a valorização da diversi- A educação antirracista é uma aborda-
dade, a celebração das culturas minoritárias gem pedagógica e social que busca enfrentar
e a responsabilidade coletiva na luta contra e eliminar o racismo em todas as suas formas
o racismo. Os educadores desempenham por meio da educação. Ela reconhece que as
um papel crucial na implementação da edu- estruturas racistas estão profundamente en-
cação antirracista. Eles devem se engajar em raizadas na sociedade e nos sistemas educa-
uma autoavaliação contínua de suas próprias cionais, e procura desmantelar essas estru-
crenças e práticas, além de adotar aborda- turas ao promover a conscientização crítica,
gens que incluam narrativas não dominantes a justiça social e a igualdade.
e enfrentem a marginalização racial. Isso en- Essa abordagem não se limita apenas
volve criar um currículo que reflita a plurali- a abordar o racismo de maneira reativa, mas
dade cultural, abordar temas de justiça social procura prevenir sua reprodução ao questio-
e oferecer espaços seguros para discussões nar estereótipos, preconceitos e discrimina-
sobre racismo e discriminação. Em resumo, ções desde a base. A educação antirracista
a educação antirracista é um esforço cons- envolve a inclusão de perspectivas diversas,
ciente e proativo para desafiar o racismo e o reconhecimento da história e das contri-
promover uma sociedade mais igualitária. buições das comunidades marginalizadas e
Ela exige uma mudança profunda na forma a promoção do respeito pela dignidade hu-
como ensinamos, aprendemos e percebe- mana.
mos o mundo, com o objetivo de criar um
futuro em que a justiça e a equidade prevale- Na educação antirracista, os educado-
çam sobre as divisões raciais. res desempenham um papel fundamental ao
criar ambientes de aprendizado que fomen-
Palavras Chaves: Racismo; Educação; tem a empatia, o diálogo e a compreensão
Antirracismo. intercultural. Isso envolve a adoção de cur-
rículos que reflitam a diversidade cultural e
étnica, a análise crítica dos conteúdos educa-
INTRODUÇÃO cionais à luz do racismo estrutural e a pro-
moção de discussões abertas sobre questões
A luta contínua pela igualdade e justi- raciais.
ça social tem permeado os diversos aspectos
da sociedade contemporânea. No contexto Além de abordar a dimensão educa-
educacional, essa busca se traduz em um cional, a educação antirracista tem implica-
movimento crescente em direção à educa- ções sociais mais amplas. Ela contribui para
ção antirracista. Este artigo tem como obje- a formação de cidadãos críticos e engajados,
tivo explorar os fundamentos, as implicações capazes de reconhecer e combater a injustiça
e a importância da educação antirracista no racial em todas as esferas da sociedade. Essa
ambiente escolar. abordagem tem se mostrado especialmente
relevante em um mundo globalizado, onde a
Ao longo da história, as estruturas e diversidade é uma realidade constante.
ideologias racistas deixaram marcas profun-
das na sociedade, refletindo-se também nas Em resumo, a educação antirracista
instituições de ensino. A educação antirra- é uma resposta ativa à persistente desigual-
cista surge como uma resposta crítica a essa dade e discriminação racial. Ela busca trans-

352
formar a educação em uma ferramenta po- tiva e requer ações individuais e sistêmicas
derosa para a conscientização, a igualdade para criar um mundo mais justo, inclusivo e
e a justiça, e visa criar uma sociedade onde igualitário para todos.
todas as pessoas sejam valorizadas, indepen-
dentemente de sua origem étnica ou racial.
CONCEITUANDO O ANTIRACISMO
CONCEITUANDO O RACISMO Antirracismo é um conjunto de va-
lores, crenças, atitudes e ações que visam
O racismo é uma ideologia, sistema de combater e eliminar o racismo em todas as
crenças e práticas discriminatórias baseadas suas manifestações. É uma abordagem ativa
na concepção de que certos grupos étnicos e comprometida em desafiar as estruturas
são superiores a outros. Essa discriminação discriminatórias, os preconceitos arraigados
é fundamentada na raça, cor da pele, origem e as desigualdades sistêmicas que são per-
étnica ou nacionalidade, e resulta em trata- petuadas com base na raça, etnia ou origem
mento desigual, injusto e prejudicial para racial. O antirracismo não se limita apenas a
pessoas pertencentes a grupos racialmente rejeitar o racismo, mas procura ativamente
marginalizados. confrontá-lo, transformando as normas e as
estruturas que o sustentam.
O racismo não se limita apenas a atitu-
des individuais, mas também está enraizado positivar a história e cultura negras
em estruturas sociais, políticas e econômicas. para romper com a representação desse gru-
Ele se manifesta de várias maneiras, incluin- po como seres que são frequentemente as-
do discriminação no acesso a oportunidades sociados à escravidão, ou à condição de “na-
educacionais, emprego, moradia, serviços de turalmente escravos”, a fim de construir uma
saúde e justiça. Além disso, o racismo pode representação positiva para esses seres que
ser expresso por meio de estereótipos nega- devem ser marcados por seus valores, visto
tivos, preconceitos, violência e exclusão so- que são produtores de histórias e culturas
cial. (SILVA; ROCHA; MARTINS, 2022, p. 149).
Existem diferentes formas de racismo, No centro do antirracismo está o re-
incluindo o racismo institucional, que está conhecimento de que o racismo não é ape-
presente em sistemas e instituições que per- nas uma questão individual, mas sim um
petuam desigualdades com base na raça; o fenômeno enraizado em sistemas sociais e
racismo estrutural, que se refere a padrões históricos. Isso requer uma análise crítica das
arraigados de desigualdade em uma socieda- estruturas de poder, privilégio e discrimina-
de; e o racismo individual, que ocorre quan- ção que perpetuam desigualdades raciais. O
do indivíduos discriminam outros com base antirracismo exige uma autoavaliação cons-
na sua raça. tante das próprias atitudes e privilégios, bem
como um compromisso contínuo em desafiar
O combate ao racismo envolve a cons- o status quo. O antirracismo se manifesta de
cientização crítica sobre seus efeitos pre- várias maneiras:
judiciais, a promoção da diversidade e da
igualdade, a desconstrução de estereótipos e Conscientização e Educação: Envolve
preconceitos, bem como a luta por políticas a busca por informações e a compreensão
e práticas que garantam a justiça social e a aprofundada sobre a história do racismo,
inclusão de todas as pessoas, independente- suas ramificações e suas consequências.
mente da sua origem racial. Desconstrução de Preconceitos: Requer o
exame crítico dos estereótipos, preconceitos
Esse discurso é marcado por uma re- e ideias preconcebidas que influenciam nos-
presentação deturpada da realidade e que, sos pensamentos e comportamentos.
de tão repetidamente veiculada na instância
social, acabou por se tornar uma verdade, Advocacia e Ativismo: Envolve a defe-
um sofisma maquiavelicamente constru- sa ativa pela igualdade racial, a participação
ído. Isso é o que podemos chamar de mito em protestos, campanhas e movimentos que
da democracia racial, compreendido como buscam mudanças significativas. Mudanças
uma corrente ideológica que, ao negar a de- Institucionais: Inclui o esforço para mudar
sigualdade racial entre negros e brancos aca- políticas, práticas e estruturas que perpetu-
ba negando a discriminação racial no país e am o racismo em instituições, organizações
perpetuando estereótipos preconceituosos e sistemas.
em relação aos negros. Diante da existência
perene desse mito surge também no discur- Diálogo e Escuta: Requer a abertura
so social a negativa da existência do racismo para ouvir as experiências e perspectivas de
e do preconceito no país (MARTINS, 2012, p. pessoas de diferentes origens raciais, bem
178). como participar de conversas honestas e
desconfortáveis sobre racismo. Promoção da
É importante destacar que o racismo Igualdade: Envolve a defesa da igualdade de
é uma violação dos direitos humanos e tem oportunidades, justiça e dignidade para to-
um impacto profundo na vida das pessoas das as pessoas, independentemente da sua
que são alvo dessa discriminação. A luta con- raça ou etnia.
tra o racismo é uma responsabilidade cole-
Desmantelamento de Privilégios: Im-

353
plica em reconhecer e desafiar os privilégios mo pode afetar o acesso de grupos margina-
que determinados grupos possuem devido lizados à educação de qualidade. Barreiras
à sua raça, e trabalhar para criar equidade. econômicas, sociais e culturais muitas vezes
O antirracismo não é um destino final, mas prejudicam o acesso equitativo à educação,
sim um compromisso contínuo. Exige auto- levando a disparidades nos níveis de desem-
consciência, aprendizado constante e ação penho e sucesso acadêmico.
persistente. Ao adotar uma abordagem an-
tirracista, indivíduos e comunidades contri- Currículos Eurocêntricos: Currículos
buem para a construção de uma sociedade que não incluem perspectivas culturais diver-
mais justa, inclusiva e igualitária, onde todas sas ou não abordam adequadamente a histó-
as pessoas possam viver livres do fardo do ria e as contribuições de grupos raciais mar-
racismo. ginalizados podem perpetuar estereótipos e
distorções prejudiciais.
Estereótipos e Preconceitos: O am-
O RACISMO E A EDUCAÇÃO biente escolar pode refletir e perpetuar este-
reótipos raciais, contribuindo para um clima
O racismo exerce uma influência pro- em que os alunos de grupos minoritários são
fundamente prejudicial na educação e em tratados de maneira discriminatória ou são
todos os aspectos do sistema educacional. desencorajados a buscar oportunidades aca-
Ele perpetua desigualdades, prejudica o de- dêmicas.
senvolvimento das crianças e jovens e mina
os princípios fundamentais de igualdade (..) as escolas públicas de ensino mé-
e justiça social que deveriam ser a base da dio no Brasil, até recentemente, eram restri-
educação. O racismo afeta tanto os alunos tas a jovens das camadas altas e médias da
quanto os educadores, moldando a maneira sociedade, os “herdeiros”, segundo Bourdieu,
como os ambientes educacionais funcionam com uma certa homogeneidade de habilida-
e como o conhecimento é transmitido. des, conhecimentos e de projetos de futuro.
A partir da década de 1990, com a sua expan-
(CORSINO; ZAN, 2020) abordou os são, passam então a receber um contingente
elementos de práticas educativas de uma cada vez mais heterogêneo de alunos, mar-
professora de Sociologia que reverberaram cados pelo contexto de uma sociedade desi-
em um debate rico e reflexões discentes, gual, com altos índices de pobreza e violên-
bem como implicou na emergência de ações cia, que delimitam os horizontes possíveis de
estudantis na escola com o foco nas questões ação dos jovens na sua relação com a escola.
de raciais e de gênero. Dentre outros aspec- Esses jovens trazem consigo para o interior
tos, destacou-se no trabalho o fato de a pro- da escola os conflitos e contradições de uma
fessora de Sociologia ser marcada pelo seu estrutura social excludente, interferindo nas
envolvimento e debate das questões raciais suas trajetórias escolares e colocando novos
e de gênero, bem como o fato de não fazer desafios à escola (DAYRELL, 2007, 1114).
com que tais temáticas fossem trabalhadas
de maneira sazonal na escola, mas durante Desigualdades Disciplinares: Muitas
todo o ano letivo. O que, em grande medida, vezes, estudantes de cor são disciplinados de
serviu como fator de envolvimento e mobili- forma desproporcional em comparação com
zação do coletivo de estudantes. seus colegas brancos. Isso pode criar um ci-
clo de desengajamento escolar e afetar ad-
O cenário pesquisado apresentou versamente suas trajetórias educacionais.
uma atuação docente na qual o coletivo de
profissionais tinha um envolvimento menos Falta de Diversidade Educacional: A
engajado ou atuante; apenas três professo- presença limitada de educadores e líderes
res as foram sinalizados como responsabi- educacionais de grupos minoritários pode
lizados por tais debates. O que nos remete contribuir para a falta de representação e
a uma importância grande do envolvimento para a percepção de que o sistema educacio-
em ações de natureza racial e de gênero. nal não valoriza a diversidade.
Dentre várias ações abordadas, damos des-
taque para o uso de filmes como ferramen- Assim, a questão da identidade do ne-
tas pedagógicas e como elemento capaz de gro é um processo doloroso. Os conceitos de
proporcionar e fomentar debates na escola. negro e branco têm um fundamento etno-se-
O que nos remete à necessidade de profes- mântico, político e ideológico, mas não um
sores/as estarem abertos ao uso de tecnolo- conteúdo biológico. Politicamente, os que
gias variadas. Em relação às estudantes ne- atuam nos movimentos negros organizados
gras a notoriedade do processo se deu pelo qualificam como negra qualquer pessoa que
seu caráter identitário e de reconhecimento tenha essa aparência. É uma qualificação
como sujeitas sociais de luta pela garantia e política que se aproxima da definição norte
efetivação de direitos (CORSINO; ZAN, 2020). americana. Nos EUA não existe pardo, mula-
to ou mestiço e qualquer descendente de ne-
gro pode simplesmente se apresentar como
negro (MUNANGA, 2004, P. 52).
NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO, O RA-
CISMO SE MANIFESTA DE VÁRIAS FORMAS Ambientes Hostis: O racismo pode le-
var à criação de ambientes hostis para alu-
Acesso Desigual à Educação: O racis- nos de grupos minoritários, afetando seu

354
bem-estar emocional e psicológico e prejudi- de de perspectivas culturais e históricas. Isso
cando seu aprendizado. ajuda os alunos a compreenderem a riqueza
da diversidade e a reconhecerem a contribui-
Para combater o racismo na educação, ção de diferentes grupos étnicos para a so-
é essencial adotar abordagens antirracistas. ciedade.
Isso inclui:
Formação de Educadores: Proporcio-
Currículos Inclusivos: Desenvolver ne treinamento contínuo para educadores
currículos que reflitam uma variedade de sobre questões de racismo, preconceito e
perspectivas culturais e históricas, incluindo discriminação. Isso ajuda os educadores a
a história e as contribuições de grupos mar- reconhecerem suas próprias tendências in-
ginalizados. conscientes e a adotarem práticas pedagógi-
Formação de Educadores: Oferecer cas antirracistas.
treinamento e desenvolvimento profissional Ambientes Inclusivos: Crie um am-
para educadores sobre questões de racismo, biente escolar seguro e inclusivo, onde todos
preconceito e os alunos se sintam valorizados e respeita-
discriminação, a fim de criar ambien- dos. Promova uma cultura de respeito mútuo
tes inclusivos e equitativos. e sensibilidade cultural.
Promoção da Conscientização Crítica: Discussões Abertas: Incentive o diálo-
Fomentar a conscientização crítica entre os go aberto e honesto sobre questões de ra-
alunos, capacitando-os a questionar estere- cismo e discriminação. Crie espaços para que
ótipos, reconhecer o racismo e advogar por os alunos compartilhem suas experiências,
mudanças. dúvidas e preocupações.
Assim, por corresponder a uma es- Literatura e Recursos Antirracistas:
trutura, o racismo não está apenas no plano Inclua literatura e materiais didáticos que
da consciência – a estrutura é intrínseca ao abordem questões de diversidade, racismo e
inconsciente. Ele transcende o âmbito insti- justiça social. Isso permite que os alunos ex-
tucional, pois está na essência da sociedade plorem tópicos relevantes de maneira crítica.
e, assim, é apropriado para manter, reprodu- Eventos e Atividades Culturais: Promo-
zir e recriar desigualdades e privilégios, re- va eventos, palestras e atividades que cele-
velando-se como mecanismo colocado para brem diferentes culturas e grupos étnicos.
perpetuar o atual estado das coisas. Trata-se Isso ajuda a aumentar a conscientização so-
de um elemento estrutural no Brasil porque bre a diversidade e a criar um senso de per-
formatado desde a vigência do escravismo tencimento.
colonial como modo de produção (BERSANI,
2017, p. 381). Liderança e Políticas Antirracistas: Ga-
ranta que a liderança escolar esteja compro-
Políticas Antidiscriminação: Imple- metida com a promoção da igualdade e da
mentar políticas e medidas que promovam a diversidade. Desenvolva políticas escolares
igualdade, a diversidade e a inclusão em to- que proíbam explicitamente o racismo e pro-
das as áreas da educação. movam uma cultura de respeito.
Valorização da Representatividade: Parcerias com a Comunidade: Traba-
Garantir que os educadores e o pessoal es- lhe em parceria com grupos da comunidade,
colar reflitam a diversidade da comunidade organizações e especialistas em questões
escolar e que os alunos tenham modelos que raciais. Isso pode enriquecer as abordagens
se assemelhem a eles. antirracistas e proporcionar recursos adicio-
Em última análise, a educação tem o nais.
poder de ser uma força transformadora na Empoderamento dos Alunos: Capacite
luta contra o racismo. Ao adotar uma abor- os alunos a se tornarem defensores da igual-
dagem antirracista e criar ambientes educa- dade e da justiça. Incentive-os a liderar inicia-
cionais inclusivos, podemos trabalhar para tivas antirracistas, clubes de diversidade ou
eliminar as desigualdades raciais e promover projetos de conscientização.
a justiça e a igualdade para todos os alunos.
Avaliação Contínua: Avalie regular-
mente as práticas, políticas e a cultura es-
COMBATENDO O RACISMO NO AM- colar para identificar áreas onde o racismo
BIENTE ESCOLAR possa persistir e implementar melhorias ne-
cessárias.
Combater o racismo nas escolas é
uma responsabilidade crucial para criar um Lembrando que combater o racismo
ambiente educacional inclusivo, equitativo e é um processo contínuo que requer compro-
respeitoso para todos os alunos. Aqui estão metimento e esforço de toda a comunidade
algumas estratégias e abordagens eficazes escolar. Ao adotar práticas antirracistas e
para enfrentar o racismo nas escolas: criar um ambiente onde todas as vozes são
ouvidas e respeitadas, as escolas podem de-
Currículos Diversificados: Desenvolva sempenhar um papel significativo na cons-
currículos que incluam uma ampla varieda- trução de um futuro mais justo e igualitário.

355
POLÍTICAS E LEIS ANTIRACISTAS tas requer não apenas a aprovação legal, mas
também um comprometimento real com a
Políticas e leis antirracistas são instru- mudança social. O envolvimento de toda a
mentos essenciais para combater o racismo, sociedade, incluindo governos, instituições,
promover a igualdade e garantir que todas comunidades e indivíduos, é fundamental
as pessoas tenham seus direitos respeitados, para garantir que o racismo seja enfrentado
independentemente da sua origem étnica ou de maneira abrangente e sustentável.
racial. Essas políticas e leis visam desmante-
lar estruturas discriminatórias, promover a
diversidade e criar um ambiente de respei-
to e inclusão. Aqui estão alguns exemplos de EXEMPLOS ANTIRACISTAS NAS ESFE-
políticas e leis antirracistas: RAS EDUCACIONAS QUE DERAM CERTO
Leis de Igualdade Racial: Muitos países Existem vários exemplos de aborda-
têm leis que proíbem a discriminação racial gens e políticas antirracistas nas esferas edu-
em todas as esferas da sociedade, incluindo cacionais que tiveram um impacto positivo
educação, emprego, habitação e serviços pú- na promoção da igualdade, da inclusão e na
blicos. Essas leis buscam garantir que todas redução do racismo. Aqui estão alguns exem-
as pessoas sejam tratadas com equidade, in- plos notáveis:
dependentemente da sua raça. Cotas em Universidades: Países como
Políticas de Diversidade: Organizações o Brasil e os Estados Unidos implementaram
públicas e privadas podem implementar po- políticas de cotas raciais em universidades
líticas que incentivem a diversidade e a inclu- para aumentar a representação de grupos
são em suas equipes e operações. Isso pode historicamente marginalizados, como negros
envolver a promoção de ambientes de traba- e indígenas, nos campi. Essas políticas visam
lho culturalmente sensíveis e a celebração da corrigir desigualdades históricas no acesso à
diversidade. educação superior.
Educação Antirracista: Políticas edu- Currículos Multiculturais: Em alguns
cacionais que promovem a inclusão de pers- países, como o Canadá, escolas adotaram
pectivas culturais diversas nos currículos, currículos que incluem perspectivas culturais
além de treinamento para educadores sobre diversas e histórias de grupos étnicos minori-
questões de racismo e diversidade. tários. Isso ajuda a promover a compreensão
intercultural e a valorização da diversidade.
Combate ao Discurso de Ódio: Leis
que criminalizam o discurso de ódio e a inci- Formação de Educadores: Muitas ins-
tação à violência baseados em raça, religião tituições educacionais oferecem programas
ou etnia, visando prevenir a disseminação de de formação para educadores sobre ques-
discursos racistas e prejudiciais. tões de racismo, diversidade e inclusão. Isso
capacita os educadores a reconhecerem e
Leis de Crimes de Ódio: Leis que agra- abordarem questões de discriminação em
vam as penas para crimes que foram cometi- sala de aula.
dos com motivação racista, visando dissuadir
e punir a discriminação e o preconceito. Clubes e Atividades de
Conscientização: Algumas escolas esta-
Compensação por Injustiças Históri- beleceram clubes e grupos de conscientiza-
cas: Algumas nações têm implementado polí- ção antirracista, nos quais os alunos podem
ticas para compensar as injustiças históricas discutir abertamente questões de racismo,
cometidas contra grupos étnicos específicos, compartilhar experiências e promover a mu-
como desapropriação de terras ou violações dança.
de direitos humanos.
Campanhas de Sensibilização: Algu-
Monitoramento e Relatórios de De- mas instituições educacionais lançaram cam-
sigualdade Racial: Governos podem criar panhas de sensibilização para promover a
agências ou instituições responsáveis por conscientização sobre o racismo e descons-
monitorar e relatar dados sobre desigualda- truir estereótipos. Essas campanhas podem
des raciais em áreas como saúde, educação, incluir palestras, workshops e eventos cultu-
emprego e justiça. rais.
Campanhas de Sensibilização: Gover- Ações de Representação: Escolas que
nos e organizações não governamentais po- promovem a representação diversificada em
dem lançar campanhas de conscientização materiais didáticos, atividades escolares e
pública sobre a importância da igualdade ra- eventos. Isso ajuda a criar um ambiente em
cial e a desconstrução de estereótipos. que todos os alunos se sintam valorizados.
Promoção da Participação Cívica: In- Diálogo Aberto e Inclusivo: Algumas
centivar a participação ativa de grupos mino- escolas adotaram a prática de promover o
ritários na política e no processo decisório, diálogo aberto sobre questões raciais, convi-
garantindo que suas vozes sejam ouvidas. dando educadores, alunos e famílias a par-
ticiparem de discussões construtivas sobre
É importante ressaltar que a imple- como enfrentar o racismo.
mentação eficaz de políticas e leis antirracis-

356
Monitoramento de Dados: Institui- A implementação de ações afirmativas, a cri-
ções que coletam e analisam dados sobre o minalização do discurso de ódio e a promo-
desempenho acadêmico, disciplina e outros ção da igualdade racial por meio de medidas
indicadores, a fim de identificar disparidades legislativas são passos concretos em direção
raciais e implementar estratégias de inter- a uma sociedade mais equitativa. No entan-
venção. to, é fundamental que essas políticas sejam
apoiadas por um compromisso genuíno com
Ações de Sensibilização na Comunida- a transformação social, e não apenas por
de: Escolas que colaboram com organizações uma busca de conformidade superficial.
locais e a comunidade para promover even-
tos de sensibilização, palestras e workshops A luta contra o racismo não é isenta
sobre racismo e inclusão. de desafios. Ela exige a superação de resis-
tências, a desconstrução de preconceitos
Promoção de Líderes Diversificados: arraigados e a perseverança em face da ad-
Instituições que incentivam a diversidade em versidade. No entanto, é uma luta que vale
posições de liderança, como diretores de es- a pena, pois é uma luta por uma sociedade
cola e membros de conselhos escolares. onde todas as pessoas tenham igualdade de
Embora esses exemplos sejam positi- oportunidades, sejam respeitadas em sua di-
vos, é importante notar que a luta contra o versidade e possam prosperar sem o peso do
racismo é contínua e requer um compromis- racismo.
so constante. A implementação bem-sucedi- Como indivíduos, temos o poder de
da de políticas e práticas antirracistas exige a contribuir para a mudança. Cada ato de so-
participação ativa de educadores, líderes es- lidariedade, cada conversa difícil e cada es-
colares, alunos e comunidades, além de uma forço para confrontar o racismo em nossas
reflexão constante sobre como melhorar e próprias vidas são passos em direção a um
adaptar as abordagens. futuro mais justo. Juntos, podemos construir
uma sociedade onde o antirracismo não seja
apenas uma resposta a um problema, mas
CONCLUSÃO sim uma forma de vida. Uma sociedade onde
À medida que concluímos esta explo- o respeito à dignidade humana seja o alicer-
ração sobre o antirracismo, fica evidente que ce sobre o qual construímos nossas relações,
a luta contra o racismo é uma jornada con- nossas instituições e nosso futuro. A jornada
tínua e essencial para a construção de uma é longa, mas é uma jornada necessária em
sociedade mais justa, igualitária e inclusiva. direção à igualdade e à justiça que todos me-
O racismo não é um problema isolado, mas recem.
sim uma manifestação enraizada em siste- Em síntese, o combate ao racismo é
mas sociais e históricos que perpetuam de- uma missão inadiável e urgente que requer
sigualdades e prejudicam vidas. Como tal, a participação e ação de todos. Nossa socie-
a resposta ao racismo deve ser igualmente dade é composta por uma rica tapeçaria de
abrangente, envolvendo não apenas indiví- culturas, etnias e experiências, e é nosso de-
duos, mas também instituições, governos e a ver garantir que cada fio dessa tapeçaria seja
sociedade como um todo. valorizado e respeitado. O antirracismo não é
A importância do antirracismo trans- apenas uma ideia abstrata, mas um compro-
cende as fronteiras geográficas e culturais. misso prático de criar um mundo onde todas
Em todos os cantos do mundo, pessoas estão as pessoas possam viver com dignidade, jus-
se unindo para desafiar as estruturas de po- tiça e igualdade.
der e os preconceitos que alimentam o racis- A transformação necessária come-
mo. A conscientização e a educação têm um ça em cada um de nós. Exige introspecção
papel crucial nesse processo, permitindo que para reconhecer nossos próprios preconcei-
indivíduos compreendam a natureza com- tos e privilégios, e coragem para enfrentar
plexa do racismo, reconheçam seus próprios os sistemas e estruturas que perpetuam a
privilégios e preconceitos, e se tornem defen- desigualdade. A educação é uma poderosa
sores da igualdade. ferramenta de mudança, e as escolas de-
A educação desempenha um papel sempenham um papel crucial na formação
central na luta antirracista. Escolas e institui- de mentes conscientes e comprometidas.
ções educacionais têm a responsabilidade de A inclusão de perspectivas antirracistas nos
criar ambientes onde a diversidade seja va- currículos, o incentivo ao diálogo aberto e o
lorizada, as vozes de grupos marginalizados combate a estereótipos prejudiciais são pas-
sejam ouvidas e a história e as contribuições sos fundamentais.
de diferentes culturas sejam reconhecidas. As políticas antirracistas são os alicer-
A inclusão de perspectivas antirracistas nos ces sobre os quais construímos uma socieda-
currículos, a formação de educadores e a de mais justa. Ações afirmativas, leis contra
promoção do diálogo aberto são passos fun- o discurso de ódio e o compromisso de com-
damentais para a criação de um ambiente bater o racismo em todas as suas manifesta-
educacional que promova a justiça social. ções são essenciais para alcançar mudanças
Além disso, políticas e leis antirracis- sistêmicas e duradouras. A justiça racial não
tas são instrumentos vitais para a mudança. é apenas uma questão de bem-estar indivi-

357
dual, mas um princípio fundamental para
uma coexistência harmoniosa e uma socie-
dade verdadeiramente democrática.
O caminho adiante pode ser desafia-
dor, mas é através da colaboração, do apren-
dizado mútuo e da determinação coletiva que
podemos superar as barreiras que o racismo
impõe. É tempo de reconhecer que o antirra-
cismo não é uma opção, mas um imperativo
moral e social. Ao defender a igualdade de
oportunidades, ao promover a valorização da
diversidade e ao rejeitar qualquer forma de
discriminação, estamos moldando um mun-
do onde as gerações futuras possam crescer
em um ambiente de respeito e aceitação.
O antirracismo é uma jornada rumo a
um futuro mais brilhante, e cada passo que
damos é um testemunho do nosso compro-
misso em construir uma sociedade onde
todos tenham o direito de viver, aprender e
prosperar sem o fardo do racismo. Essa jor-
nada é de todos nós, e é através dela que
reafirmamos o valor intrínseco de cada ser
humano e abrimos caminho para um mundo
onde a igualdade e a justiça sejam realidades
palpáveis, não apenas sonhos.

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2012. p. 170-191.
MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma
Lino. O negro no Brasil de hoje. São Paulo:
Global Editora, 2016.

358
A PEDAGOGIA E A PSICOMOTRICIDADE: UMA CONVERSA SOBRE A IMPORTÂNCIA DO DESEN-
VOLVIMENTO PARA ALUNOS COM TDAH
MARIA MADALENA IOVONOVICH

RESUMO Após o diagnóstico, a criança é enca-


minhada para o tratamento de psicomotrici-
Este artigo tem como objetivo revisar dade, que consiste também na orientação da
a literatura sobre a produção acadêmica, família e da escola, havendo um suporte com
com foco no aspecto clínico e educacional terapia especializada e uso de medicamentos
do transtorno de déficit de atenção e hipe- quando necessário, caracterizando um tra-
ratividade, com o objetivo de uma compre- tamento multimodal, que visa à adaptação
ensão abrangente dessa síndrome, que exi- do meio familiar e escolar a fim de torná-los
ge conhecimento do educador para ajudar propícios para o desenvolvimento pleno da
as crianças com o transtorno a superarem criança diagnosticada com TDAH.
as barreiras que os impedem de aprender. O
transtorno de déficit de atenção e hiperativi- Na escola, os docentes da pedagogia,
dade está presente em sala de aula e deixa ao precisam ter um preparo, ter conhecimento
professor a responsabilidade de desenvolver e estudo do TDAH para elaborar estratégias
estratégias pedagógicas para melhorar o de- pedagógicas que contemplem as limitações e
sempenho acadêmico dessas crianças, o que capacidades desses alunos, para que os mes-
exige o estudo dos diferentes ângulos que mos avancem na aprendizagem.
permeiam esse transtorno e suas peculiari-
dades, aspectos clínicos e educacionais. Rele- Esse conhecimento deve permear os
vante para complementar a prática pedagó- aspectos clínicos e educacionais do transtor-
gica com esses alunos. no, para que o docente consiga entender os
múltiplos aspectos da síndrome, para reco-
Palavras-Chaves: Transtorno de Déficit nhecê-la em seus sintomas e intervir junto a
de Atenção e Hiperatividade; Desempenho uma equipe multidisciplinar.
escolar; Prática docente.
Por fim, exige-se cautela na diferencia-
ção entre os sintomas de TDAH e as caracte-
rísticas de um comportamento desencadea-
INTRODUÇÃO do por fatos externos pelos quais a criança
Uma das preocupações do meio esteja lidando e que não necessariamente
educacional são os fatores que dificultam relação com alguma patologia.
o aprendizado do aluno. As dificuldades de
aprendizagem escolar como a falta de con-
centração dos alunos e um comportamento OBJETIVO:
discrepante daquele que é esperado para a
faixa etária relacionam-se a fatores diversos, Analisar qual método de aprendi-
e que nem sempre possuem uma resolução zagem é mais eficaz para uma criança com
fácil. TDAH.
Este trabalho de pesquisa tem como
tema: a pedagogia e a psicomotricidade: uma METODOLOGIA
conversa sobre a importância do desenvol-
vimento para alunos com TDAH, e a análise De acordo com Mattos (2015), trata-se
apontou para um tratamento amplo, a partir de uma pesquisa exploratória utilizando-se
de avaliação com equipe multiprofissional. de dados disponíveis em fontes bibliográfi-
Os resultados precisam estabelecer um pro- cas, sendo a busca pelos documentos realiza-
tocolo abrangente, que agregue a participa- das nas bases de dados Google Acadêmico.
ção de outros profissionais como psicotera- O objetivo dessa análise documental
pêuticas, fonoaudiólogos, psicopedagogos, foi investigar o cenário da formação de pro-
psicólogos e neuropsicólogo entre outros, fessores no ensino regular. Para o levanta-
que garanta a precisão diagnóstica, descar- mento bibliográfico foram utilizadas a com-
te outras possibilidades e investigue fatores binação das palavras-chaves: Transtorno de
concorrentes para dificuldades apresentadas Déficit de Atenção e Hiperatividade; Desem-
pela criança. penho escolar; Prática docente.
O Transtorno do Déficit de Atenção Foram considerados livros, artigos de
e Hiperatividade (TDAH) é uma das possibi- revisão, dissertações de
lidades diagnósticas quando a criança apre-
senta desatenção e hiperatividade em níveis mestrado e teses de doutorados, do-
que acarretem prejuízos ao seu aprendizado. cumentos legais e relatórios institucionais
Porém, necessita-se de um diagnóstico mul- publicados nessas bases de dados escritos
tiprofissional do transtorno feito juntamente em português, e autores como: Lopes (2016),
com familiares e professores, pois a manifes- Cruz (2016), Signor (2016) e Rohde (2000).
tação de sintomas durante curtos períodos,
como de dois a três meses não caracteriza Como critérios de inclusão os docu-
necessariamente a síndrome. mentos deveriam referir-se a estudos relacio-

359
nados à graduação de Pedagogia, conteúdos TDAH, a fim de proporcionar-lhes uma quali-
práticos e teóricos e como critérios de exclu- dade de vida em seu ambiente social.
são os documentos que mesmo relacionados
à educação básica, não apresentaram dados O Transtorno de Déficit de Atenção e
referentes a essa modalidade de ensino. Hiperatividade (TDAH) é apontado como um
possível diagnóstico para estudantes que
apresentam determinados comportamen-
tos diferentes dos esperados para sua faixa
DESEMPENHO ESCOLAR etária e que causam algum tipo de prejuízo
As dificuldades de aprendizagem con- no desenvolvimento. Porém, cabe ressaltar
figuram-se como grandes preocupações dos que nem toda dificuldade é necessariamente
educadores ao lidarem com uma classe esco- um transtorno e essa diferença indica a me-
lar, pois impedem que o aprendizado acon- todologia que o professor aplicará aos seus
teça de forma plena, o que pode culminar no alunos.
fracasso escolar. Para entender este fenôme- Pelas suas especificidades, o trans-
no é preciso esmiuçar alguns aspectos que torno de déficit de atenção e hiperatividade/
possivelmente contribuam para situações impulsividade é dividido em três categorias,
como a falta de concentração dos alunos, por a saber: TDAH com predomínio de sintomas
exemplo. relacionados à desatenção; TDAH com predo-
O processo de aprendizagem, por ser mínio de sintomas de hiperatividade/impulsi-
complexo, envolve fatores além do ambien- vidade e TDAH combinado. Essas categorias
te educacional, mas que influenciam direta- foram estabelecidas pela CID 11, sigla que se
mente no desempenho escolar, sendo eles: refere à quinta edição do Manual Diagnóstico
fatores físicos, pedagógicos, sociais e inclu- e Estatístico de Transtornos Mentais, produ-
sive familiares. Portanto, quando há alguma zido pela Associação Americana de Psiquia-
disfunção em um desses elementos, torna- tria.
-se essencial o trabalho conjunto de alguns Ressalta-se a importância do diagnós-
profissionais para o alcance do êxito escolar. tico multidisciplinar do transtorno para que
Para uma melhor abordagem das necessi- familiares e professores possam começar a
dades dos alunos, os educadores precisam acompanhar a manifestação dos sintomas
saber identificar os problemas de aprendiza- durante curtos períodos, como dois a três
gem e suas origens. meses, que aparecem após algum aconte-
Os problemas de aprendizagem po- cimento na vida da criança, como, por por
dem ser ocasionados por um distúrbio ou exemplo, a separação dos pais não faz neces-
uma dificuldade. O Distúrbio de Aprendiza- sariamente parte da condição de TDAH.
gem (DA) está relacionado à disfunção do Os sintomas do TDAH aparecem pre-
sistema nervoso central que pode causar al- cocemente, geralmente coincidindo com o
guns transtornos específicos prejudicando a início da fase escolar, pois ficam mais eviden-
aquisição e desenvolvimento das habilidades tes quando expostos à rotina escolar. Nesse
de leitura, escrita e do raciocínio matemáti- período, os sintomas normalmente prejudi-
co, sendo que a Dificuldade Escolar (DE) tem cam o aprendizado do aluno com a síndro-
relações com fatores externos ao sujeito que me.
também interferem no aprendizado.
O diagnóstico de TDAH pode ser con-
A desatenção, a hiperatividade ou a siderado um “diagnóstico dimensional”, ou
impulsividade como sintomas isolados po- seja, todos nós temos alguns dos sintomas,
dem resultar de muitos problemas na vida de em intensidade variada, mas isso não signifi-
relação das crianças, ou seja, se faz necessá- ca necessariamente que sejamos acometidos
ria cautela no diagnóstico desses sinais que pelo transtorno, se eles não interferirem no
podem representar problemas no convívio desenvolvimento. (MATTOS, 2015, p.24).
da criança ou sintomas do Transtorno de Dé-
ficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Crianças com TDAH parecem sonhar
acordadas (os professores podem perceber
isso antes dos pais) e muitas vezes demoram
RESULTADOS mais para copiar o quadro e fazer a lição de
casa (porque estão constantemente “voan-
Historicamente, os indivíduos com do”). Por desatenção, cometem muitos erros:
TDAH tiveram muitos nomes: Déficit de Con- cometem erros “absurdos” em cálculos mate-
trole Moral, Síndrome de Inquietação, Lesão máticos (sinais, vírgulas), cometem erros de
Cerebral Mínima, Reação Hipercinética In- acentuação ou pontuação, entre outras coi-
fantil, Transtorno de Déficit de Atenção e Hi- sas. E continuam apagando ou apagando o
peratividade e sem, até chegarem ao termo que escrevem. (MATTOS, 2015, p.59).
que conhecemos hoje. Junto com essas mu-
danças de rótulo, gradativamente se desen- O desenvolvimento psicomotor ade-
volveram pesquisas no âmbito clínico com o quado para cada faixa etária é utilizado
objetivo de compreender os processos neu- como parâmetro para identificar sintomas
ropsicológicos apresentados pela síndrome, de TDAH. Para que uma criança seja conside-
com avanços capazes de permitir o correto rada com transtorno de déficit de atenção e
diagnóstico e tratamento de crianças com hiperatividade, deve ser feito um diagnóstico

360
que demonstre a presença de 6 ou mais as- do o quadro sintomático do TDAH, o que a
pectos de ambos os domínios do transtorno torna importante como reforço do diagnósti-
(hiperatividade/impulsividade ou desaten- co inicial. Há doenças que podem ou não es-
ção). Esses sintomas devem estar evidentes tar associadas ao TDAH, confundindo-se os
em todos os ambientes visitados pela crian- sintomas deste com a dislexia e a depressão.
ça, como escola e casa, e devem estar pre-
sentes em todos os momentos do período do Atualmente ainda não foi descoberta
diagnóstico. Se forem apresentados apenas a cura o TDAH, porém existem algumas abor-
em um ambiente específico, podem repre- dagens terapêuticas capazes de amenizar
sentar um problema específico que afeta a os sintomas e que permitem que as pesso-
criança naquele ambiente específico e não as com o transtorno de déficit de atenção e
constituem um transtorno. hiperatividade possam desenvolver habilida-
des, viver com qualidade, alcançarem os seus
A desatenção é caracterizada pelas se- objetivos e se inserirem socialmente.
guintes características: dificuldade em identi-
ficar detalhes ou cometer erros por descuido
nas atividades escolares; dificuldade em fo- DISCUSSÃO
car a atenção nas atividades que estão sendo
realizadas; parece não ouvir quando alguém O tratamento do TDAH abrange os
fala com ele; não cumprimento de instruções aspectos individuais que o transtorno pode
estabelecidas e não cumprimento de tare- causar na pessoa. Cada criança, adolescen-
fas, seja na escola, em casa ou no trabalho; te ou adulto com o transtorno de déficit de
distrair-se facilmente com acontecimentos atenção e hiperatividade responde de manei-
alheios e ter esquecimento diário. ra diversa ao tratamento proposto, portanto,
é tão imprescindível o acompanhamento de
A atenção é um processo ordenado uma equipe múltipla formada por médicos,
para capturar informações do ambiente em psicólogos, educadores e outros profissio-
que vivemos. A atenção seleciona e hierar- nais que forem necessários. Por ser mul-
quiza todos os estímulos que recebemos de tifacetado, esse tratamento engloba inter-
uma forma que sugere que o ruído externo venções psicoterápicas e farmacológicas de
de um ônibus passando na rua é menos im- modo concomitante.
portante do que a palestra que estamos as-
sistindo. Por isso, a atenção é muito impor- Essa forma de abordagem combinada
tante nos processos de aprendizagem. 80% também chamada de multimodal consiste
dos casos de TDAH são meninos, deve-se res- no uso de medicamentos juntamente com a
saltar que esse diagnóstico não deve ser feito utilização de recursos complementares para
levianamente e baseado apenas na aparên- melhorar a qualidade de vida do paciente,
cia. Hoje em dia é muito comum que crian- podendo incluir a utilização de intervenções
ças inquietas sejam classificadas como tendo psicoterápicas, fonoaudiológicas, psicope-
TDAH, porém é normal que as crianças apre- dagógicas, mudanças no estilo de vida, além
sentem atividade motora excessiva, mas em do uso de recursos tecnológicos e ajustes no
certos casos quando pedimos para elas se ambiente no qual o paciente vive.
sentarem e ficarem imóveis, algumas crian- As intervenções no âmbito escolar
ças podem até desenvolver comportamento são necessárias e importantes. Essas inter-
mais agitado e, na verdade, apenas 7% dos venções devem ter como foco a melhora do
casos beneficiam de medicação, o melhor desempenho escolar. Para isso, os educado-
tratamento envolve a mudança de atitudes res deveriam ser orientados quanto à estru-
e o incentivo dos pais e professores. Crian- turação da sala de aula com uma quantidade
ças diagnosticadas com TDAH geralmente reduzida de alunos, adaptando-se também a
apresentam agitação e impulsividade, não rotina diária consistente e um ambiente es-
seguem as regras e disciplinas estabelecidas colar previsível e consistente que ajude as
no ambiente escolar e seus relacionamentos crianças a manterem o controle emocional.
são afetados por isso. Quando predomina a
desatenção, a criança pode ter dificuldade Segundo Araújo (2002), O tratamento
em realizar as tarefas escolares ou realizá- do TDAH inclui orientação à família e à esco-
-las de forma desorganizada e distraída, sem la, um suporte com terapia especializada e
prestar atenção ao objetivo da atividade. uso de medicamentos. Desta forma, em casa,
[...] a dificuldade de encontrar um os pais devem estabelecer normas de com-
"marcador biológico" para o TDAH reside portamento bem claras e definidas, evitar o
no fato de que a criança "perfil TDAH" não é castigo excessivo a criança e fornecer espaço
desatenta e /ou hiperativa e ponto. Há uma físico com poucos fatores de distração. Já a
imensa heterogeneidade manifestada em escola, precisa que os professores conheçam
comportamentos e atitudes que se diferen- as especificidades do TDAH, para viabilizar
ciam a depender de uma série de fatores, so- a relação com o aluno e, assim, equilibrar a
bretudo interacionais e contextuais (SIGNOR; dedicação dada aos demais em sala de aula
SANTANA, 2016, p.50). com certa atenção maior àquele aluno em
particular.
O papel da avaliação neurológica é o Sentar-se próximo à professora, tur-
de descartar a possibilidade de que haja pa- mas pequenas, são detalhes que possam
tologias neurológicas que estejam mascaran-

361
dispersar a atenção do aluno, permissão es- O Transtorno é sempre complexo,
pecial para ter mais tempo a fim de comple- pois apresenta várias com formas da criança
tar tarefas sem punições, ou tarefas menos se apresentar diante da sociedade, e por isso
longas, aumentando gradualmente. Em meio deve ser estudado e analisado com a ajuda
a tantos problemas enfrentados em sala de dos pais/familiares e principalmente da es-
aula, a falta de atenção é o mais comum e cola. Constatamos que essa parceria, quan-
encontrado ,pois muitas crianças não con- do bem-feita, ajuda a criança com transtorno
seguem aderir, ou entender tudo que lhe é opositor a se desenvolver, como as demais
ensinado . crianças.
Existe uma preocupação de a escola Verificamos que, quando há o afeto da
adaptar-se a este individuo diagnosticadas família, vivendo em um lar harmonioso no
com TDAH, o que desencadeia indagações de qual a criança se sente segura e amparada,
como organizar as instituições para recebe- aliado a uma educação de qualidade em que
rem esses alunos de modo adequado. sejam garantidos os direitos do aluno com
necessidades educacionais especiais, essa
Os problemas emocionais e os preju- criança se desenvolve com mais facilidade
ízos de relacionamento desencadeados pela e dignidade. A escola deve oferecer a essa
falta de compreensão do entorno social em criança um atendimento educacional espe-
relação às manifestações do TDAH, inclusi- cializado.
ve por parte dos familiares e da equipe es-
colar. Com isso, pode ocorrer relutância em É importante o trabalho conjunto da
procurar acompanhamento profissional, que escola com a família, pois as duas são as
habitualmente traz boas contribuições sobre peças principais para o desenvolvimento da
como agir com esse déficit na escola, e reper- criança com TDAH. É o amparo e a segurança
cussões para o aprendizado. da família aliados ao atendimento educacio-
nal especializado da escola.
Segundo Mattos (2015) muitas crian-
ças com TDAH não gostam de estudar e não Com isso, conclui-se que a parceria fa-
gostam da escola, não criam vínculos dada mília e escola é essencial, mas, para que isso
sua dificuldade de relacionamento, por sua aconteça, os profissionais da educação preci-
condição que as tornam impopulares. Res- sam de formação adequada que contemple
salta que a atividade física é bastante reco- a inclusão em sala de aula. Precisam conhe-
mendada para essas crianças, inclusive como cer o TDAH e suas particularidades, para que
facilitadora de outros aprendizados acadêmi- possam realizar uma intervenção adequada
cos. em parceria com os pais. É necessário tam-
bém um interesse e comprometimento do
Além dos problemas para o aprendi- professor na procura de uma formação con-
zado, que podem render maior ocorrência de tinuada.
reprovações, expulsões e abandono escolar,
Mattos (2015) relata que os diagnosticados O referencial bibliográfico sobre TDAH
com TDAH estão mais propensos a aciden- pesquisado para a formulação deste projeto
tes, ao uso abusivo de álcool e drogas, espe- escapa do âmbito educacional e perpassa
cialmente na adolescência, maior incidência por áreas do conhecimento como neurolo-
à depressão e ansiedade, maior índice de gia, psiquiatria, psicologia, pediatria, neurop-
obesidade, maior risco de desemprego e di- siquiatria, saúde coletiva e até endocrinolo-
vórcios se forem adultos. gia.
Porém, é preciso cautela para diferen- Quanto ao diagnóstico, identificou-
ciar o normal do patológico, visto que para -se a necessidade de uma cautelosa análise
compreender é preciso considerar diversos dos sintomas mediante critérios definidos
aspectos sejam histórico, social ou cultural. pelo DSM-5 e a coleta de dados provenientes
Ao mesmo tempo, cada campo técnico preci- de entrevistas do entorno social da criança,
sa se ancorar em uma determinada concep- principalmente pais, familiares próximos e
ção. Por isso, a necessidade de que o pro- professores, ressaltando a importância de
fessor adquira conhecimento suficiente para um diagnóstico fundamentalmente clínico.
identificar e auxiliar no encaminhamento ao
tratamento dos alunos com TDAH. Outro fator que apareceu recorrente
no material utilizado é a discussão acerca da
adaptação escolar para se receber o aluno
com TDAH, respeitando as limitações que o
CONCLUSÃO transtorno lhe causa e adequando o ambien-
De acordo com Araújo (2002), Trans- te e a metodologia escolar para contemplar
torno de Déficit de Atenção e Hiperatividade este aluno e contribuir com o seu tratamen-
é uma síndrome relativamente comum entre to.
3% e 5% dos alunos em idades escolares, re- Embora diversos estudos tenham
querendo do educador metodologias espe- enaltecido os efeitos benéficos que as me-
cíficas para realizar um trabalho pedagógico dicações proporcionam aos portadores de
que contemple este aluno. Sendo assim, é TDAH, é discutido em alguns artigos da base
fundamental o conhecimento sobre TDAH e de dados a hipermedicalização das crianças,
suas implicações na vida do aluno. sugerindo a tentativa de controle de caracte-

362
rísticas inerentes à infância e à adolescência
e de medicalizar a vida.
O diagnóstico perpassado por contro-
vérsias, no que diz respeito a sua definição,
etiologia, diagnóstica e tratamento. As dis-
cussões referentes ao uso do psicotrópico
para controlar os sintomas do TDAH são inú-
meras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua:
Transtorno do Déficit de Atenção com Hipe-
ratividade - TDAH. Associação Brasileira do
Déficit de Atenção - ABDA.16ª edição. São
Paulo, 232 p., 2015.
ROHDE, Luis Augusto et al. Transtorno
de déficit de atenção/hiperatividade. Revista
Brasileira de Psiquiatria, [s.l.], v. 22, n. 2, p.07-
11, dez. 2000. FapUNIFESP (SciELO).
SIGNOR, Rita de Cassia Fernandes;
BERBERIAN, Ana Paula; SANTANA, Ana Pau-
la. A medicalização da educação: implicações
para a constituição do sujeito/aprendiz. Edu-
cação e Pesquisa, [s.l.], v. 43, n. 3, p.743-763,
3 nov. 2016. FapUNIFESP (SciELO).
Cruz, Bruna de Almeida.; Lemos, Flávia
Cristina Silva.; Piani, Pedro Paulo Freire, Bri-
gagão, Jacqueline Isaac Machado: Psicologia
Social Comunitária e Saúde Mental: Uma Crí-
tica à Produção do TDAH e a Administração
de Drogas para Crianças Estud, Psic vol 20 no
3 jul./ set 2016.
Lopes, Rafaela Ramos de Oliveira. Es-
tudo da Influência da Utilização de Medica-
mentos na Qualidade de Vida de Crianças e
Adolescentes Diagnosticados com Transtor-
no de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Dissertação jan. 2016.

363
O BRINCAR E IMAGINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
MARIA ODETE RIBEIRO DOS SANTOS

Educação Infantil, o brincar e as interações


RESUMO estão presentes em todos os ambientes,
Todos os ambientes da Educação Infantil de- desde o refeitório, parque ou sala de re-
vem ter espaço para o brincar. Toda criança, ferencia. È brincando que se aprende na
cada uma em seu tempo e ambiente cultu- Educação Infantil.
ral, brinca. Pode ser de mamãe, princesa, A Educação Infantil dever ser:
fada, policial, astronauta, doceira, motorista um oásis, um lugar onde se torna criança,
de caminhão, boiadeiro e tudo mais que a onde não se trabalha, onde se pode crescer,
imaginação permitir. O Brincar é uma das sem deixar de ser criança, onde se descobre
mais importantes atividades da Educação (e se conhece) o mundo através do brincar,
Infantil, mesmo não estando diretamente li- das relações mais variadas com o ambiente,
gada à aprendizagem de disciplinas formais. com os objetos e as pessoas, principalmente
A brincadeira de faz de conta é mais comum entre elas: as crianças. (FARIA, 2003)
entre crianças com três anos ou mais, mas Dentro de todas as legislações e orientações
os bebês também podem ter experiên- curriculares traz a educação Infantil como
cias em zonas circunscritas. Cabanas com base para toda Educação básica. Mostra
bonecas, mamadeira e bercinhos podem também que o currículo deve ter foco nas
ambientar os primeiros jogos de representa- múltiplas linguagens da criança.
ção para eles. Nesse caso, a intervenção do Consoante esse entendimento, o artigo 3º
adulto é fundamental para haver avanços. das Diretrizes Curriculares Nacionais para
As crianças, que se expressam em várias Educação Infantil, de caráter mandatário, a
linguagens e, ao mesmo tempo, são produ- serem observadas na elaboração das pro-
toras de cultura e vivenciam relações sociais postas pedagógicas de cada estabelecimen-
e culturais, interagindo com o mundo que as to de educação infantil, dispõe que,
rodeia, atribuindo-lhe vário significado apre-
sentou algumas reflexões em torno de duas o currículo da Educação Infantil é concebido
ações que permeiam a atividade humana: como um conjunto de práticas que buscam
brincar e imaginar. È sobre estas ativida- articular as experiências e os saberes das
des que este artigo vem refletir. Como criar crianças com os conhecimentos que fazem
tempos e espaços que permitam as crianças parte do patrimônio cultural, artístico, am-
brincar e imaginar dentro dos CEIs e EMEIs. biental, científico e tecnológico, de modo
Palavras-chaves. Brincar. Imaginar. a promover o desenvolvimento integral de
Aprender crianças de 0 a 5 anos de idade.
INTRODUÇÃO Trabalhar um currículo integral onde
Defendemos que a fantasia e a imagi- todas as experiências sejam trabalhadas é o
nação se fazem no ato de brincar. As experi- objetivo das escolas infantil.
ências que as crianças devem vivenciar nos Pretendemos mostrar os benefícios que a
CEIs e EMEIs são somente reflexos da ação arte traz ao desenvolvimento infantil, tanto
do brincar, A contação de histórias, música, emocional, quanto cognitivo, apoiada nes-
arte, as experiências de natureza e socieda- te currículo integrado abrindo espaço para
de e várias outras situações lúdicas devem de linguagem musical dentro da escola, já
emergir de brincadeiras. As crianças na que esta faz parte da cultura das crianças, e
Educação Infantil aprendem por vezes inven- que as vivências artísticas se constituam em
tando e reinventando situações cotidianas experiências vivas, agradáveis e enriquece-
através das brincadeiras vivenciadas. doras no ambiente da Educação Infantil.
Segundo Brougère ( 2014) a brincadeira Primeiramente vemos que é necessário
guarda relação com a comunicação e a inter- entendermos a importância do conhecimen-
pretação. Além disso, ela também envolve to das fases do desenvolvimento da criança
escolhas: a criança toma a decisão de entrar para que haja por parte do professor, inter-
na brincadeira e também constrói modalida- ferência necessária para o desenvolvimento
des particulares. Sem livre escolha, ou seja, a cognitivo e emocional, assim como inserir
possibilidade real de decidir, não existe mais as linguagens artísticas na Educação Infantil
brincadeira, mas uma sucessão de compor- assim como também expor como a musica
tamentos que têm sua origem fora daquele pode ser apresentada nas EMEIs e CEIs.
que brinca. (BROUGÈRE.2014.p.76 )
Por isso vimos a necessidade de refletirmos AS INFÂNCIAS DIVERSAS DENTRO DA
sobre o tempos e espaços para o desenvol- EDUCAÇÃO INFANTIL
vimento do criar, brincar e imaginar. Um lugar para ser criança e para se vi-
ver a infância – este é o principio norteador
A PROPOSTA PEDAGÓGICA NA EDU- de todo EMEIs e CEIs atualmente.
CAÇÃO INFANTIL: BRINCADEIRAS E INTERA- O lugar da infância plena e integral deve
ÇÕES promover experiências significativas, a bele-
Quando entramos em uma unidade de za das descobertas, das aprendizagens, das

364
interações com o outro e com o mundo, do des educacionais. (Orientação Normativa n°
movimento, do brincar, da fala e da escuta 01/13 p. 12).
qualificada. Além disso, o lugar da infância Na Educação Infantil, bebês e crianças ex-
também deve ser o lugar do respeito às pressam, na interação com seus pares em
multiplicidades e singularidades, e principal- todas as oportunidades e por meio de dife-
mente do respeito e consideração aos con- rentes linguagens, o que vivem e os sentidos
textos sociais, históricos e culturais de cada que constroem para as experiências vividas.
um, configurando a existências de múltiplas Essas formas de entender e explicar as
infâncias e de varias formas de ser criança. experiências vividas são produzidas a partir
Deste modo, em conformidade com a legis- das culturas adultas, em diálogo com as cul-
lação vigente o trabalho na Educação Infantil turas infantis, e se revelam nas brincadeiras,
deve pautar pela necessidade de criar con- nos enredos que as compõem, no uso que
dições, organizar tempos e espaços, selecio- fazem dos objetos, dos brinquedos e dos
nar materiais de forma criativa, observar as artefatos criados, nos valores partilhados e
crianças, avaliar os processos construindo negociados com outras crianças, nos seus
registros que historiem o tempo vivido, interesses e interações.
apoiar as suas descobertas e projetos a fim
de possibilitar a ampliação das experiências BRINCADEIRAS E INTERAÇOES
das crianças e de toda sua trajetória, consi- Brincar e imaginar conecta-se intimamen-
derados os princípios éticos (da autonomia e te ao pensamento e ao conhecimento e as
do respeito ás diferentes culturas e identida- crianças expressam esse elo (brincar-ima-
des), estéticos (da sensibilidade, da ludicida- ginar-pensar-conhecer) com simplicidade,
de e da criatividade) e políticos (do exercício profundidade e, por que não dizer, com
da criticidade, dos direitos das crianças e da poesia em seu dia a dia, quando escutadas e
prática pedagógica democrática). olhadas
A trajetória da Educação Infantil que, apesar Ao brincar as crianças podem desenvolver
dos imensos desafios, o trabalho do edu- algumas capacidades importantes como;
cador da infância deve ser voltado sempre atenção, a imitação, memória, imaginação,
para cuidá-lo e educar. Além de também capacidade de socialização por meio da in-
ter consciência das concepções de infâncias teração e da utilização e experimentação de
existentes. regras e papeis sociais.
A brincadeira é um comportamento social-
CONCEPÇÕES DE CRIANÇA, INFÂNCIA mente construído, e um espaço que auxilia
E DE EDUCAÇÃO INFANTIL. tanto de interação quanto de confronto
Desta forma, um dos maiores desa- aberto para que a criança, adolescentes,
fios das E MEIs e CEIs se configura em jovem ou adulto possa construir e elaborar
olhar para este caldeirão de forças, culturas, sua compreensão sobre si mesmo, sua fa-
identidades, significados e configurações de mília, o grupo que o cerca e o mundo. Sa-
sujeitos que trazem na sua existência toda bemos hoje que o lúdico não é somente um
formação histórico cultural do seu tempo ato espontâneo que acontece porque, quem
e espaço e promover a construção de uma brinca quer fazer o tempo passar. Pelo
Pedagogia da Infância que respeite, ouçam, contrário, quem brinca faz essas escolhas
valorize, empodere, fortaleça e protagonize porque é através disso que também esta se
todas estas infâncias, considerando a crian- preparando para saber enfrentar as mais
ça em sua integralidade enquanto sujeito diversas situações que a vida lhe apresenta.
histórico e de direito. O que se percebe é que o aprendizado da
Assim como sujeitos participantes e prota- criança se da por meio das brincadeiras, ao
gonistas nas sociedades em que estão inse- interagir e do conviver com os outros. As
ridas, as crianças e suas formas de resistir e crianças aprendem de forma prazerosa.
interrogar o mundo contribui para a conso-
lidação de uma imagem de criança compe- De acordo KISHIMOTO( 2001) os brin-
tente, ativa e crítica, repleta de potencialida- quedos, brincadeiras e jogos são inerentes
des desde o seu nascimento. Ao interrogar o na educação Infantil e não se restringem ao
mundo, a vida, os adultos e o currículo elas período do recreio logo estão relacionados a
influenciam e produzem transformações no pratica diária nas salas das crianças peque-
cenário social, político e cultural. nas . KISHIMOTO ( 2001. p.39)
Assim, a Educação Infantil deve configurar- A autora se refere ao brincar que não deve
-se no lugar para ser criança em sua integra- ocorrer só em certos momentos na escola.
lidade, considerando: As atividades da Educação Infantil as ativida-
Na Educação Infantil as crianças têm do des de corpo e movimento realizadas com
direito ao lúdico, á imaginação, á criação, ao as crianças devem construir aprendizagem
acolhimento, á curiosidade, á brincadeira, á realmente significativas.
democracia, á proteção, á saúde, á liberda- A concepção de criança mudou muito, antes
de, á confiança, ao respeito, á dignidade, á eram vistas como um adulto em miniatura,
convivência, e a interação com seus pares hoje tem toda uma concepção de como as
para a produção de culturas infantis e com crianças aprende e se desenvolve. Antes era
os adultos, quando o cuidar e o educar são necessário fazer atividades de lateralidade,
dimensões presentes e indissociáveis em onde ficava-se muito tempo aprendendo
todos os momentos do cotidiano das unida- o que era direita e esquerda, frente e traz,

365
mas, nas brincadeiras esse tipo de aprendi- O jogo é a atividade lúdica mais trabalhada
zagem se dá através de jogos onde as crian- pelos professores atualmente estimulando
ças assimilaram as regras e aprendem. as várias inteligências, permitindo que a
O JOGO NA EDUCAÇÃO NA INFANTIL criança envolva em tudo que esteja realizan-
do de forma significativa. É através do lúdico
O movimento é a forma de comunicação que o educador pode desenvolver ativida-
predominante na vida humana. É a primei- des que sejam divertidas e que sobre tudo
ra maneira que o bebê utiliza para fazer-se ensina as crianças a discernir valores éticos
entender: através dele reivindicamos algo, e morais.
organizamos, descobrimos nossa relação A utilização de jogos na educação infantil
com o mundo, objetos e pessoas. Podemos desenvolve na criança a criatividade, a socia-
destacar que as atividades de movimento lização e a inteligência múltiplas, enriquece
realizadas pelos alunos, cria vínculos, as o relacionamento entre as crianças e pro-
crianças se uniam para realiza-las. Estas ati- fessor, onde adquirem novas habilidades de
vidades são uma maneira mais eficaz deles aprender a lidar com os resultados indepen-
se comunicarem, e através do movimento as dentes dos resultados e aceitar os combi-
crianças também se relacionam. nados, como regras, respeitar essas regras,
De acordo com a LDB, artigo 29º (1996), “a descobre novos meios de brincar, aumen-
Educação Infantil, primeira etapa da Educa- tando a interação e integração, lembrando
ção Básica, tem como finalidade o desenvol- sempre que os jogos devem estar devida-
vimento integral da criança até os seis anos mente associados aos conteúdos e aos ob-
de idade, em seus aspectos físico, psicoló- jetivos dentro da aprendizagem, auxiliando
gico, intelectual e social, complementando a parte teórica, tomando o ensino prazeroso
a ação da família e comunidade” (BRASIL, apresentando opiniões para crescer ainda
1996). mais os trabalhos dos professores da área
da educação infantil.
Para a criança a Educação Infantil, a escola O brincar é um dos instrumentos imprescin-
é um ambiente novo e estranho; na maioria díveis para o desenvolvimento da criança,
das vezes, é a primeira vez que fica longe o ato de brincar é de fundamental impor-
dos pais, e é preciso que esse afastamen- tância para o desenvolvimento da criança,
to seja trabalhado com muito cuidado e também no processo de aprendizagem da
carinho, para não traumatizar devemos criança com ser humano, pois não trata só
ressaltar em relação a educação infantil a de um momento de diversão, mas ao mes-
importância de que os profissionais que mo tempo, acontece a formação da assimila-
ali se encontram precisam entender que o ção de conhecimentos que será levada para
afastamento dos pais, talvez provoque um sua vida futura.
choque nessas crianças, podendo levar a Com a implantação das novas tecnologias,
um comportamento descontrolado, com as simples brincadeiras não deixam de ter
crises de choro, berros, e outros. Atividades sua relevância, elas podem tornar-se fontes
de adaptação onde as professoras planejam de estímulo ao desenvolvimento cognitivo,
atividades de integração devem fazer parte social e afetivo da criança ou ate mesmo
do planejamento inicial as brincadeiras podem ser resgatadas para
De acordo com a LDB, no seu artigo 30º, a dentro da escola. Não podemos ignorar que
Educação Infantil será oferecida em: há muitos benefícios em videogames e jogos
I - Creches, ou entidades equivalentes, para de computador e que podemos fazer bom
crianças até três anos de idade; uso deles sem esquecer que principalmente
II - pré-escolas, para crianças de quatro a na educação infantil, as crianças precisam
seis anos de idade. interagir com o próprio corpo.
Esse espaço deve ser o mais acolhedor pos- O brincar tem grande importância na edu-
sível, porque é onde as crianças ficam longe cação infantil, principalmente no aspecto
do ambiente familiar. cognitivo, proporcionando á criança criati-
Para que realmente a Educação Infantil seja vidade, com o objetivo de desenvolver suas
um ambiente onde se trabalhe o Educar habilidades. As brincadeiras fazem parte
e Cuidar as instituições precisam elaborar da infância de toda criança, pois garantem
sempre um projeto pedagógico, um docu- divertimento, alegria e aprendizagem. Te-
mento onde os objetivos, valores, filosofia, mos várias razões para brincar, pois sabe-
metas, estejam claros. mos que é extremamente importante para o
Kishimoto (2001) destaca que deve desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e
ser fruto de trabalho coletivo de todos os social da criança. É brincando que a criança
profissionais, pais e comunidade. Faz-se expressa vontades e desejos construídos ao
necessário que os professores estudem, longo de sua vida, e quanto mais oportuni-
procurem saber o que, por que, e para que dades a criança tiver de brincar mais fácil
os conteúdos devem ser desenvolvidos nas será o seu desenvolvimento para aprendê-
aulas. Cada idade tem características únicas -lo.
e diferentes das outras. Para que o desen- Na educação infantil, por meio das ativida-
volvimento aconteça da melhor maneira, des lúdicas a criança brinca, joga e se diver-
é de fundamental importância o professor te. Ela também age, sente, pensa, aprende
ter consciência plena do processo ensino e e se desenvolve. Podem ser consideradas,
aprendizagem. KISHIMOTO (2001.p.135) tarefas do dia-a-dia na educação infantil.

366
Sendo variados os motivos que induzir os biente para as interações infantis vem sendo
educadores a apelar às atividades lúdicas e estudada.
utilizá-las como um recurso pedagógico no Sobre o brinquedo, Brougère (2004)
processo de ensino-aprendizagem. Se por um lado é difícil descobrir a função
Acredito que o brincar na Educação Infantil do brinquedo e da brincadeira, por outro,
serve como o eixo orientador e estimulador pode-se considerar que é justamente na
para o desenvolvimento e o desempenho de brincadeira que as representações do brin-
suas atividades, e preciso que o professor quedo se tornam mais claras. Portanto, a
tenha consciência do valor pedagógico das brincadeira tem o potencial de fabricar seus
brincadeiras e dos jogos para a criança já próprios objetos, manipulando suas ima-
desde a educação infantil. gens e modificando seus usos habituais.
Ora, o brinquedo é, assim, um fornecedor
OS JOGOS SIMBÓLICOS NA EDUCA- de representações manipuláveis, de ima-
ÇÃO INFANTIL gens com volume: está aí, sem dúvida, a
Segundo Brougère (2004), grande originalidade e especificidade do
brinquedo (BROUGÈRE, 2004. p. 14).
A criança não brinca numa ilha deser-
ta. Ela brinca com as substâncias materiais e
imateriais que lhe são propostas. Ela brinca CONSIDERAÇÕES FINAIS
com o que tem à mão e com o que tem na Os princípios de equidade, igualdade,
cabeça. Os brinquedos orientam a brinca- interações são propostos pelo currículo
deira, trazem-lhe matéria. Algumas pessoas da Educação Infantil em alguns municípios
são tentadas a dizer que eles a condicionam, traz orientações sobre o as ensinagem e as
mas, então, toda brincadeira está condi- aprendizagens. Estes norteadores curricula-
cionada pelo meio ambiente. Só se pode res são princípios que possuem a intenção
brincar com o que se tem, e a criatividade, de trazer novos rumos para Educação In-
tal como a evocamos, permite justamente fantil. Assuntos pertinentes ao contexto de
ultrapassar esse ambiente, sempre particu- cada escola devem ser inseridos e colocados
lar e limitado. O educador pode, portanto, dentro do currículo porque o currículo não
construir um ambiente que estimule a brin- se encerra em si mesma e sim possibilita
cadeira em função dos resultados deseja- que as aprendizagens sejam expandidas
dos. Não se tem certeza de que a criança vá dentro dos CEIs e EMEIs. Muito proveitoso
agir com esse material como desejaríamos, às escolas também será o exercício de re-
mas aumentamos, assim, as chances de flexão possibilitado de entender o brincar
que ela o faça; num universo sem certezas, como uma ação contínua, visto que amplia
só podemos trabalhar com probabilidades. a busca por uma unidade mais ativa nas
(BROUGÈRE .p. 78.2004 ), decisões nas escolas de Educação Infantil ao
Segundo Ferreira ( 2018) propor que todos os segmentos participem
do processo ensino e aprendizagem e que a
A característica principal das zonas circuns- criança possa escolher o brinquedo, quando
critas é seu fechamento em pelo menos três brincar, onde brincar, com quem, a que ho-
lados, seja qual for o material que o edu- ras iniciar a brincadeira e quando parar.
cador coloca lá dentro, ou que as próprias Este artigo não traz grandes novidades
crianças levam para brincar. Dessa maneira, sobre as interações e as brincadeiras sim-
você pode delimitar essas áreas usando me- bólicas, mas, possibilita a reflexão sobre o
sinhas ou cadeirinhas. Elas também podem assunto brincar
ser constituídas por caixotes de madeira ou Sente-se grande esperança que o currículo
cabaninhas, desde que contenham abertu- seja aberto para as intenções do professor
ras. As cabaninhas podem ser criadas apro- em relação a estar atentos as escutas para
veitando o espaço embaixo de uma mesa e as atividades sejam baseadas nos desejos
colocando por cima um pano que caia para que as crianças apresentam.
os lados, contendo uma abertura, tipo porta.
As cortinas também podem ser úteis para
delimitar um ou dois lados. É importante REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
que a criança possa ver facilmente a edu- BRASIL. Referencial Curricular Nacional para
cadora, senão ela não ficará muito tempo a Educação Infantil. Brasília: MEC/INEP, Volu-
dentro dessas áreas circunscritas. (FERREI- mes I, III, 1998.
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para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB,
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professor considerar que as crianças trazem BROUGÈRE, G.O brinquedo, objeto extremo.
para o cotidiano do CEI e EMEIs as marcas In Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez.
de sua época, suas histórias pessoais. 1992
A importância de aspectos físicos do am- _______, G. A boneca industrializada, espelho

367
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Paulo: Cortez. 1992
_______, G..O papel do brinquedo na impreg-
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originalmente em 1992)
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VYGOTSKY Lev.. O Papel do Brinquedo no
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Mente, Pensamento e Linguagem Ed. Mar-
tins Fontes.

368
ENSINO DE HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA: UMA AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
MARTA GOMES DE LIMA

RESUMO more inclusive and welcoming society for all.


As abordagens específicas para dife- KEYWORDS: Specific approaches; In-
rentes deficiências desempenham um papel clusive education; Disabilities; Music therapy;
crucial na promoção da inclusão e igualdade Challenges; and adaptations.
de oportunidades para indivíduos com limi-
tações físicas, sensoriais, cognitivas ou emo-
cionais. A Educação Inclusiva é uma dessas INTRODUÇÃO
abordagens, assegurando que todos os alu-
nos, independentemente de suas necessida- A promoção da inclusão e da igualda-
des, tenham acesso a uma educação de qua- de de oportunidades para pessoas com de-
lidade. Para lidar com desafios específicos, ficiências é um imperativo social e ético que
como deficiência visual, são utilizados siste- tem ganhado crescente atenção ao longo dos
mas como o Braille e softwares de leitura de anos. A busca por abordagens específicas e
tela. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é eficazes para atender às necessidades indivi-
fundamental para a inclusão de pessoas com duais de cada grupo de deficiência tem sido
deficiência auditiva, enquanto terapias com- um campo de estudo e prática fundamental
portamentais são eficazes para indivíduos no âmbito da educação inclusiva, da saúde
com deficiências cognitivas. A acessibilidade e da sociedade em geral. Neste contexto, a
física é crucial para pessoas com deficiências educação inclusiva e a musicoterapia emer-
físicas, e a musicoterapia, apesar de enfren- gem como duas áreas de destaque, cada uma
tar desafios de personalização, acessibilida- oferecendo abordagens específicas para me-
de e integração interdisciplinar, demonstra lhorar a qualidade de vida e a participação
ser uma poderosa ferramenta terapêutica social dessas pessoas.
para melhorar o bem-estar emocional e psi- A educação inclusiva, respaldada por
cológico. No entanto, para superar esses de- leis e regulamentações em muitos países,
safios, a musicoterapia exige adaptações busca garantir que todos os alunos, inde-
constantes, pesquisa baseada em evidências pendentemente de suas condições e neces-
e considerações éticas e culturais. Em última sidades específicas, tenham acesso a uma
análise, essas abordagens específicas contri- educação de qualidade no ambiente escolar
buem para a construção de uma sociedade regular. Ela se baseia na promoção de práti-
mais inclusiva e acolhedora para todos. cas pedagógicas que reconhecem e valorizam
PALAVRAS-CHAVE: Abordagens espe- a diversidade, oferecendo recursos e estraté-
cíficas; Educação inclusiva; Deficiências; Mu- gias específicas para atender às demandas
sicoterapia; Desafios; e adaptações. individuais. Para pessoas com deficiência vi-
sual, por exemplo, isso pode envolver o uso
de sistemas como o Braille, livros falados e
SUMMARY softwares de leitura de tela. Já para pessoas
com deficiência auditiva, a Língua Brasileira
Disability-specific approaches play a de Sinais (LIBRAS) desempenha um papel
crucial role in promoting inclusion and equal fundamental na comunicação e no acesso à
opportunities for individuals with physical, informação.
sensory, cognitive, or emotional limitations.
Inclusive Education is one such approach, Por outro lado, a musicoterapia é uma
ensuring that all students, regardless of their modalidade terapêutica que utiliza a música
needs, have access to quality education. To como meio de intervenção para promover o
deal with specific challenges, such as visu- bem-estar emocional, psicológico e físico das
al impairment, systems such as Braille and pessoas. No entanto, a aplicação da musico-
screen reading software are used. The Bra- terapia enfrenta desafios únicos e demanda
zilian Sign Language (LIBRAS) is fundamental adaptações significativas em diferentes con-
for the inclusion of people with hearing im- textos. Esses desafios incluem a necessidade
pairments, while behavioral therapies are ef- de personalização das abordagens terapêu-
fective for individuals with cognitive disabili- ticas para atender às diversas necessidades
ties. Physical accessibility is crucial for people dos pacientes, a promoção da acessibilidade
with physical disabilities, and music therapy, para pessoas com deficiências físicas, senso-
despite facing challenges of personalization, riais ou cognitivas, a integração com outros
accessibility and interdisciplinary integration, profissionais de saúde e educação, a pesqui-
proves to be a powerful therapeutic tool for sa baseada em evidências e considerações
improving emotional and psychological well- éticas e culturais.
-being. However, to overcome these challen- Este texto abordará esses desafios e
ges, music therapy requires constant adapta- adaptações no uso da musicoterapia, explo-
tions, evidence-based research, and ethical rando como essa abordagem terapêutica
and cultural considerations. Ultimately, these pode ser eficaz para atender às necessidades
specific approaches contribute to building a de indivíduos com deficiências, ao mesmo

369
tempo em que reconhece a diversidade de plantes cocleares e aplicativos de tradução
populações atendidas e os contextos de atu- de texto para LIBRAS.
ação. Ao final, será evidente que a musicote-
rapia, quando aplicada de maneira sensível e No contexto das deficiências cogniti-
adaptada, desempenha um papel significati- vas, como o Transtorno do Espectro Autista
vo na promoção do bem-estar e da qualidade (TEA), as abordagens específicas variam de
de vida das pessoas com deficiências, com- acordo com o grau de comprometimento de
plementando as abordagens da educação cada indivíduo. A terapia comportamental,
inclusiva e contribuindo para uma sociedade por exemplo, tem se mostrado eficaz para o
mais inclusiva e acolhedora para todos. desenvolvimento de habilidades sociais e de
comunicação em crianças com TEA. Além dis-
so, estratégias de ensino diferenciadas, como
o uso de recursos visuais e a simplificação
Abordagens específicas para diferen- de informações, são comuns em ambientes
tes deficiências educacionais inclusivos para atender às ne-
As abordagens específicas para dife- cessidades específicas desses alunos (AMERI-
rentes deficiências são um campo de estudo CAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013).
fundamental no âmbito da educação inclusi- No que diz respeito às deficiências físi-
va e da promoção da igualdade de oportuni- cas, é fundamental garantir a acessibilidade
dades para todas as pessoas, independente- física e arquitetônica, conforme estabeleci-
mente de suas limitações físicas, sensoriais, do na Lei de Acessibilidade (BRASIL, 2005).
cognitivas ou emocionais. Nesse contexto, Rampas de acesso, banheiros adaptados,
é relevante mencionar que a inclusão social elevadores e estacionamentos reservados
e educacional das pessoas com deficiência são exemplos de medidas que permitem a
tem evoluído significativamente ao longo dos participação plena das pessoas com defici-
anos, em grande parte devido ao desenvolvi- ência em espaços públicos e privados. Além
mento de abordagens específicas que visam disso, tecnologias assistivas, como cadeiras
atender às necessidades individuais de cada de rodas motorizadas e próteses avançadas,
grupo de deficiência. desempenham um papel crucial na melhoria
Uma das abordagens específicas mais da mobilidade e da qualidade de vida dessas
estudadas e aplicadas é a Educação Inclusi- pessoas.
va, que busca garantir a participação plena e Para as pessoas com deficiências
efetiva de todos os alunos, incluindo aqueles emocionais ou psicológicas, as abordagens
com deficiência, no ambiente escolar regular. específicas envolvem o acompanhamen-
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da to por profissionais de saúde mental, como
Educação Nacional (LDBEN) (BRASIL, 1996), a psicólogos e psiquiatras. A terapia cognitivo-
Educação Inclusiva é um direito de todos os -comportamental, por exemplo, é uma abor-
alunos e implica a promoção de práticas pe- dagem amplamente utilizada no tratamento
dagógicas que atendam às diversidades e ne- de transtornos de ansiedade e depressão.
cessidades individuais, oferecendo recursos Além disso, programas de inclusão social e
e estratégias específicas para cada caso. atividades terapêuticas, como a arteterapia
Para as pessoas com deficiência visual, e a musicoterapia, têm demonstrado benefí-
por exemplo, a abordagem específica envol- cios significativos na promoção do bem-estar
ve o uso de recursos como o sistema Braille, emocional (AMERICAN PSYCHOLOGICAL AS-
livros falados e softwares de leitura de tela. O SOCIATION, 2017).
sistema Braille, desenvolvido por Louis Brail- Em resumo, as abordagens específi-
le no século XIX, consiste em um sistema de cas para diferentes deficiências são essen-
escrita tátil que permite que pessoas cegas ciais para promover a inclusão e a igualdade
leiam e escrevam. Além disso, os livros fala- de oportunidades para todas as pessoas. A
dos são versões em áudio de textos impres- educação inclusiva, o uso de tecnologias as-
sos, facilitando o acesso à informação escrita. sistivas, a promoção da acessibilidade e o
Já os softwares de leitura de tela convertem o acompanhamento por profissionais de saú-
texto exibido na tela do computador em voz de são alguns dos pilares fundamentais para
ou em Braille, permitindo que pessoas com garantir uma sociedade mais inclusiva e aco-
deficiência visual utilizem a tecnologia de for- lhedora para todas as pessoas, independen-
ma eficaz (BRASIL, 2007). temente de suas limitações. É fundamental
No que diz respeito à deficiência audi- que políticas públicas e
tiva, a abordagem específica inclui a Língua práticas sociais continuem a evoluir
Brasileira de Sinais (LIBRAS) como uma fer- para atender às necessidades específicas de
ramenta fundamental para a comunicação. A cada grupo de deficiência, garantindo assim
LIBRAS é uma língua visual-gestual reconhe- um mundo mais inclusivo e igualitário para
cida pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa todos.
com Deficiência (BRASIL, 2015) e é utilizada
por pessoas surdas e por aquelas que de-
sejam se comunicar com elas. Além disso, a
tecnologia desempenha um papel importan-
te na inclusão de pessoas com deficiência
auditiva, por meio de dispositivos como im-

370
Estudos comparativos: musicoterapia sos são indispensáveis para permitir a mobi-
versus outras modalidades lidade e a participação plena de pessoas com
deficiência física em espaços públicos e pri-
As abordagens específicas para di- vados. O desenvolvimento de tecnologias as-
ferentes deficiências representam um con- sistivas, como cadeiras de rodas motorizadas
junto de estratégias, práticas e políticas que e próteses avançadas, também desempenha
buscam garantir a inclusão e a igualdade de um papel crucial na melhoria da qualidade
oportunidades para indivíduos que possuem de vida dessas pessoas.
limitações físicas, sensoriais, cognitivas ou
emocionais. No contexto da educação, da No âmbito das deficiências emocio-
saúde e da sociedade em geral, a compreen- nais ou psicológicas, as abordagens específi-
são e aplicação dessas abordagens desem- cas envolvem o acompanhamento por profis-
penham um papel fundamental na promo- sionais de saúde mental, como psicólogos e
ção do bem-estar e da participação social de
pessoas com deficiência. psiquiatras. A terapia cognitivo-com-
portamental, por exemplo, é amplamente
A Educação Inclusiva, por exemplo, é utilizada no tratamento de transtornos de
uma abordagem amplamente reconhecida e ansiedade e depressão (AMERICAN PSYCHO-
respaldada por legislações em vários países, LOGICAL ASSOCIATION, 2017). Além disso,
incluindo o Brasil. Segundo a Lei de Diretrizes programas de inclusão social e atividades te-
e Bases da Educação Nacional (LDBEN) (BRA- rapêuticas, como a arteterapia e a musicote-
SIL, 1996), a Educação Inclusiva visa à oferta rapia, têm demonstrado benefícios significa-
de ensino em escolas regulares a todos os tivos na promoção do bem-estar emocional.
alunos, independentemente de suas condi-
ções e necessidades específicas. Essa abor- Em resumo, as abordagens específicas
dagem implica em adaptações curriculares, para diferentes deficiências representam um
uso de recursos pedagógicos diferenciados conjunto de estratégias e práticas que visam
e formação de professores para atender às garantir a inclusão, a igualdade de oportuni-
demandas de estudantes com deficiência. dades e o pleno exercício da cidadania para
todas as pessoas, independentemente de
Para as pessoas com deficiência vi- suas condições individuais. A legislação, a
sual, a inclusão educacional envolve o uso formação de profissionais qualificados e o
de recursos como o sistema Braille, que é uso de recursos tecnológicos são elementos
um sistema de escrita tátil desenvolvido por essenciais para a efetiva implementação des-
Louis Braille no século XIX. A Lei Brasileira de sas abordagens e para a construção de uma
Inclusão da Pessoa com Deficiência (BRASIL, sociedade verdadeiramente inclusiva.
2015) reforça a importância do Braille e ou-
tros recursos como livros falados e softwares
de leitura de tela para garantir o acesso à in- Desafios e adaptações no uso da mu-
formação e à educação de qualidade. sicoterapia
No caso das deficiências auditivas, a A musicoterapia é uma modalidade
abordagem específica envolve o uso da Lín- terapêutica que utiliza a música como meio
gua Brasileira de Sinais (LIBRAS), reconhecida de intervenção para promover o bem-estar
como língua oficial no Brasil pela mesma Lei emocional, psicológico e físico das pessoas.
de Inclusão (BRASIL, 2015). Além disso, dispo- No entanto, sua aplicação enfrenta desafios
sitivos como os implantes cocleares têm pro- e demanda adaptações significativas em di-
porcionado avanços significativos na reabili- versos contextos. Neste texto, exploraremos
tação e na comunicação de pessoas surdas, esses desafios e as adaptações necessárias
possibilitando-lhes uma maior integração so- no uso da musicoterapia, considerando a di-
cial e educacional. versidade de populações atendidas e os con-
Para as deficiências cognitivas, como textos de atuação.
o Transtorno do Espectro Autista (TEA), as Um dos principais desafios na musico-
abordagens específicas variam de acordo terapia é a necessidade de adaptar as abor-
com as necessidades individuais. Terapias dagens terapêuticas para atender a uma am-
comportamentais, como a Análise do Com- pla gama de necessidades individuais. Como
portamento Aplicada (ABA), têm sido eficazes destacado por Bonde et al. (2017), cada pa-
no desenvolvimento de habilidades sociais e ciente pode apresentar diferentes caracte-
de comunicação em crianças com TEA (AME- rísticas, preferências musicais e objetivos
RICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). terapêuticos, o que exige que o musicotera-
Estratégias de ensino diferenciadas, como o peuta tenha uma ampla gama de técnicas e
uso de materiais visuais e a simplificação de abordagens à sua disposição. Isso implica em
informações, também são comuns em am- uma constante busca por personalização e
bientes inclusivos. flexibilidade na prática clínica.
No que tange às deficiências físicas, Além disso, a musicoterapia também
é essencial garantir a acessibilidade física e enfrenta desafios relacionados à acessibilida-
arquitetônica, conforme estabelecido na Lei de e inclusão. Indivíduos com deficiências fí-
de Acessibilidade (BRASIL, 2005). Rampas de sicas, sensoriais ou cognitivas podem encon-
acesso, banheiros adaptados e outros recur- trar barreiras para participar de sessões de

371
musicoterapia convencionais. Nesse sentido, importância dessas práticas e apontam para
a adaptação de instrumentos musicais, o uso futuras direções no campo da inclusão e da
de tecnologias assistivas e a incorporação de terapia musical.
múltiplas linguagens musicais, como a Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS), são abordagens Em primeiro lugar, fica claro que as
que visam superar essas barreiras e garantir abordagens específicas desempenham um
a participação de todos (BRUSCIA, 2014). papel vital na promoção da igualdade de
oportunidades e na inclusão de pessoas com
Outro desafio significativo na musico- deficiência em diversos aspectos da vida,
terapia é a necessidade de integração com como educação, saúde e participação social.
outros profissionais de saúde e educação. Através da Educação Inclusiva, adaptações
Em contextos hospitalares, escolares e curriculares e tecnologias assistivas, indiví-
duos com deficiências têm a oportunidade
clínicos, a colaboração interdiscipli- de desenvolver seu potencial e contribuir de
nar é fundamental para um tratamento efi- forma significativa para a sociedade. Essas
caz (HANSEN, 2019). Os musicoterapeutas abordagens refletem os avanços na compre-
devem estar preparados para trabalhar em ensão das necessidades individuais e na va-
equipe com médicos, psicólogos, terapeutas lorização da diversidade como um princípio
ocupacionais e outros profissionais, compar- fundamental.
tilhando informações e objetivos terapêuti-
cos para garantir a melhor qualidade de cui- No que diz respeito à musicoterapia,
dado para os pacientes. é evidente que esta forma de intervenção te-
rapêutica desempenha um papel crucial na
A pesquisa em musicoterapia também promoção do bem-estar emocional e psico-
apresenta desafios específicos. Embora haja lógico. No entanto, os desafios e adaptações
um crescente interesse no campo, ainda exis- enfrentados por musicoterapeutas destacam
te uma necessidade de evidências científicas a necessidade de uma abordagem flexível e
mais robustas para respaldar a eficácia das personalizada. A busca constante por estra-
intervenções músico-terapêuticas em diver- tégias terapêuticas que atendam às necessi-
sas condições clínicas. Estudos controlados e dades musicais e
randomizados são essenciais para demons-
trar os benefícios terapêuticos da musico- emocionais de cada paciente é essen-
terapia e contribuir para sua integração em cial para maximizar os benefícios terapêu-
práticas de saúde e educação (SILVERMAN, ticos. Além disso, a colaboração interdisci-
2015). plinar e a pesquisa científica rigorosa são
elementos fundamentais para a eficácia da
Ademais, é importante considerar os musicoterapia. A integração com outros pro-
aspectos éticos e culturais na prática da mu- fissionais de saúde e educação permite uma
sicoterapia. A confidencialidade, o respeito à abordagem holística e coordenada para o
autonomia do paciente e a sensibilidade às tratamento de pacientes. A pesquisa base-
crenças e valores culturais são elementos ada em evidências é necessária para avaliar
fundamentais na relação terapêutica (BRUS- a eficácia das intervenções músico-terapêu-
CIA, 2014). O musicoterapeuta deve estar ticas em diferentes contextos clínicos e para
ciente das complexidades éticas envolvidas informar as melhores práticas.
no processo terapêutico e adaptar suas prá-
ticas de acordo com as necessidades e con- Por fim, a consideração de aspectos
textos individuais. éticos e culturais é crucial em todas as abor-
dagens específicas. O respeito à autonomia,
Em conclusão, a musicoterapia é uma a confidencialidade e a sensibilidade cultural
abordagem terapêutica poderosa, mas que são valores essenciais que devem orientar as
enfrenta desafios significativos em sua apli- práticas terapêuticas. Cada indivíduo é único,
cação. A adaptação constante às necessida- e a personalização das abordagens terapêu-
des individuais, a promoção da acessibilida- ticas, levando em conta suas necessidades,
de, a colaboração interdisciplinar, a pesquisa valores e crenças, é fundamental para o su-
baseada em evidências e a consideração de cesso do processo terapêutico.
aspectos éticos e culturais são elementos es-
senciais para superar esses desafios e garan- Em síntese, as abordagens específicas
tir que a musicoterapia continue a desempe- para diferentes deficiências e as adaptações
nhar um papel importante na promoção do no uso da musicoterapia são componentes
bem-estar e da qualidade de vida das pesso- essenciais na busca por uma sociedade mais
as. inclusiva, que valoriza a diversidade e promo-
ve o bem-estar de todos os seus membros. À
medida que continuamos a evoluir na com-
Considerações finais preensão e na aplicação dessas abordagens,
é imperativo que políticas públicas, práticas
Diante das complexidades e desafios clínicas e pesquisas avancem de forma co-
intrínsecos à implementação de abordagens laborativa e orientada para o benefício da-
específicas para diferentes deficiências, bem queles que mais necessitam. A promoção da
como das adaptações necessárias no uso inclusão e do acesso igualitário a oportunida-
da musicoterapia, é possível traçar algumas des é um objetivo digno, e é através dessas
considerações conclusivas que destacam a abordagens que podemos trilhar o caminho

372
em direção a uma sociedade verdadeiramen-
te inclusiva e acolhedora para todos.

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Towards Embodied Teaching and Le-
arning. Springer, 2015.

373
O TRABALHO DOCENTE NA PRÉ-ESCOLA
MICHELE DA SILVA ANDRADE SOUSA

RESUMO cias de sua profissão.


Algumas instituições de educação Ensinar e educar são um ato que exer-
infantil ainda demonstram dificuldades em cemos constantemente em nossas vidas. To-
adequar seus espaços tradicionais para dos sem exceção podem ensinar. A grande
transformá-lo em espaços lúdicos. Por este diferença é quando esta ação se torna uma
motivo foi pertinente desenvolver um estudo profissão. Ser educador no contexto escolar
sobre espaços para as brincadeiras na educa- é diferente de ser um educador por qualquer
ção infantil, levando em consideração os es- outro motivo. Não pode ser uma atividade
paços fora da sala de aula. Através da revisão eventual e mecânica, tem que ter intenciona-
da literatura, foi possível discorrer acerca da lidade.
trajetória dos professores da educação infan-
til, as mudanças na legislação, incorporando A relação com a criança não pode
a educação infantil como a primeira etapa da ocorrer dentro de um disciplinamento cen-
educação básica; a interação entre crianças trado nas normas e regras dita pelo profes-
e adultos, bem como á construção de am- sor. A postura do professor tem que atender
bientes educativos, especificamente no que as mudanças pedagógicas dos referencias
se refere aos espaços. Contempla-se que os curriculares. Aquele olhar de desaprovação,
espaços devem ser organizados com base o dedo indicador apontando para o rosto, pe-
na proposta pedagógica de cada instituição gar pelos ombros, mandar baixar a cabeça,
favorecendo a ampla circulação das crianças o castigo, já não deve (e nunca pôde) fazer
organizadamente. Partindo deste pressupos- parte deste contexto educativo.
to, se faz necessário que as instituições de Conhecer os próprios limites, enfren-
educação infantil tenham uma proposta cur- tar os problemas e expô-lo aos demais cole-
ricular que atenda às necessidades das crian- gas e á equipe pedagógica são requisitos ca-
ças, configurando-se como um instrumento pazes de auxiliar os professores a perceber e
de apoio a organização do espaço físico, a a ultrapassar algumas defasagens ainda exis-
atuação dos professores, as práticas de cui- tentes entre a sua prática e a proposta peda-
dar e educar e materiais específicos. gógica que a norteia. (KRAMER, 1989, p. 86).
Palavras-Chave: Educador Infantil; Lú- Para atender às diversas necessida-
dico; Espaço. des das crianças aos seus níveis de aprendi-
zagem é importante atentar para o que su-
gere o Referencial Curricular para Educação
1. INTRODUÇÃO Infantil. Cabe ressaltar que, a formação do
sujeito-criança e a sua compreensão em re-
Hoje a proposta curricular de algumas lação às diferentes áreas do conhecimento fi-
instituições de educação infantil é trabalhar cará sob responsabilidade de uma proposta
com projetos didáticos. Os projetos didáticos pedagógica que alie uma concepção de crian-
são temas geradores da cultura e do cotidia- ça como sujeito de direitos, cidadã, a qual é
no que procuram informar, advertir, criar e um ser que pensa, age, reflete e está situado
alertar, além de trabalhar as emoções, a lin- em uma cultura, como também sob respon-
guagem o raciocínio lógico. Dentro desta pro- sabilidade do educador que fará a mediação
posta o professor planejará suas atividades com a criança do que se tenha planejado.
através das brincadeiras, jogos, desenho, his-
tória, música, entre outros onde as crianças
irão tecer redes de significações. Esses pro-
jetos são desenvolvidos mensalmente com a 2. A FORMAÇÃO INICIAL E PERMANEN-
participação e avaliação das crianças. TE DOS PROFESSORES
Seria um agradável ambiente de A Educação Infantil é vista por alguns
aprendizagem para as crianças. Mas aconte- educadores como uma etapa que não neces-
ce que nem sempre os professores desempe- sita de planejamento. Este pensamento é o
nham o papel de mediador do conhecimento. reflexo da formação inicial do educador de
Isso pode acarretar em algumas armadilhas, educação infantil.
pois o trabalho do professor vai depender de A história da formação de docentes
como concebe a aprendizagem e os espaços para a Educação Infantil é bastante recente,
para as brincadeiras. pois não havia uma preocupação com esse
Percebo que o direcionamento do nível de ensino e, consequentemente, muito
trabalho do educador condiz com aquilo menos, com a qualificação de seus professo-
que ele carrega como “bagagem”. Acredito res.
que esta bagagem está relacionada com a Durante muito tempo, a professora de
sua trajetória de vida, ou seja, seus valores Educação Infantil era identificada e reconhe-
morais, ideologias, costumes, sua educação cida, principalmente, pela sua afetividade,
familiar, escolar, política, além das experiên-

374
pelo seu dom maternal. Assim, reforçava-se foco de seus objetivos. O planejamento aqui
a concepção de educadora, “forjada” através é entendido como instrumento orientador
do seu perfil enquanto mulher, com o seu do trabalho docente, como norteador das in-
“dom de educar” inato. Essa qualificação pro- tencionalidades das professoras e como pos-
fissional era específica para contratar o adul- sibilitador de proceder à ampliação e diversi-
to á cuidar das crianças e interagir com elas. ficação dos repertórios culturais das crianças
Deste profissional espera-se que te- O que mais me chamou atenção, é que
nha paciência, capacidade para expressar neste novo modelo de formação também é
afeto e firmeza para conduzir as crianças. exigido que o educador tenha originalidade,
Pouco se exige de elementos mais elabora- habilidades para realizar atividades variadas,
dos acerca do desenvolvimento infantil. Os que mantenha relações cordiais, acolhedo-
cargos eram subdivididos em berçarista, com ras e estimulantes com os seus alunos.
conhecimentos e habilidades voltados ao de-
senvolvimento físico das crianças; recreacio-
nista, especialistas em lazer para orientar a 2.1. O papel do educador na
infância e professor polivalente que intera- educação lúdica
jam com as crianças desde o nascimento.
Embora, este trabalho seja o ideal a
Dessa forma, o modelo idealizado é ser buscado, é difícil de ser atendida em cur-
traduzido em “tias” boas, pacientes, carinho- to prazo, principalmente, no campo da Edu-
sas, guiadas somente pelo coração e pela in- cação Infantil que integra, há pouco tempo, a
tuição. educação básica, no país. Mas isso não pode
No entanto, essa concepção, baseada ser um impedimento para que o educador
na feminização do magistério que atribuía não renove sua prática.
atributos de gênero, ao magistério infantil Estes dados são importantes para
vem se modificando, sobretudo, a partir da abordar a questão desta temática.
regulamentação profissional e da inserção
da Educação Infantil, como nível de ensino, O educador será um grande aliado da
na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educa- criança quando permite que as atividades
ção Nacional (LDBEN). propostas á elas sejam vivenciadas em dife-
rentes espaços da instituição.
A LDBEN foi um marco importante
para o campo educacional, na ótica de alguns Desde sua infância a criança é acom-
teóricos, pois instaurou um conjunto de re- panhada pelo adulto e quando entra no
formas que vêm sendo implantadas e mobili- sistema de ensino suas particularidades en-
zando vários setores educacionais, de modo tram em conflito com o que é proposto por
mais específico, a formação docente dos pro- um novo adulto (até então desconhecido por
fissionais da educação básica. ela). Novas regras, comportamentos atitu-
des, gestos, entre outros, serão vivenciados
Portanto, os professores que possuem pelas crianças no cotidiano escolar fazendo
a formação nesse nível estão garantidos por parte de sua jornada.
lei, para exercer a sua profissão, nessas eta-
pas da educação. Na citada Constituição Fe- O educador solicitado a cuidar ou a
deral, no título II, Dos Direitos e Garantias brincar com a criança deve ter um comporta-
Fundamentais, dentro do capítulo I se refere mento que condiz com a realização das brin-
aos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, cadeiras. Ele deve estabelecer uma ordem ou
e em seu artigo 5º afirma: “XXXVI – a lei não regras para que não haja brigas (que é nor-
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico mal entre crianças). Assim, deverá interferir
perfeito e a coisa julgada”. nas brincadeiras quando necessário, não po-
derá dar opiniões ou interromper as brinca-
Por outro lado, na atualidade, há cer- deiras com gritos e gestos indevidos, nunca
to consenso sobre a necessidade de forma- deverá se mostrar impaciente ou ficar em
ção, em nível superior, para os professores constantes silêncios. O diálogo é importante
da Educação Infantil, pois o conhecimento, para acrescentar o vocabulário e estimular a
cada vez mais se torna complexo e diverso, fala das crianças. O educador deve mostrar-
demandando a necessidade de professo- -se atento, disposto, sensível e prestativo as
res qualificados e competentes para atu- solicitações das crianças, além de criar novas
arem em todos os níveis de ensino. O que brincadeiras e possibilitar a criatividade para
eu pude presenciar nos cursos de formação novas invenções. As brincadeiras devem se
que participei (Graduação(Pedagogia/2007 e estender para além das salas de aula, ex-
Pós-Graduação em Educação Infantil/2009) plorando os espaços externos e até mesmo
é que há uma grande preocupação em for- para dentro da comunidade, mostrando as
mar o educador pesquisador com posicio- crianças os riscos e perigos existentes em
namento crítico. Diante de qualquer leitura seu bairro e qual a melhor forma de lhe dar
e estudos voltados a diferentes abordagens com estes, oferecendo-lhes alternativas de
possam refletir e discutir o que está sendo melhoria ou dando espaços para que elas
informado. Enfatizam também a importância mesmas digam o que fazer.
do planejamento do seu trabalho, pois esta-
belecendo metas, estratégias não perdem o Na pós-modernidade a criança deixa
de ser tabula vazia, de quem espera o adulto

375
preencher seus vazios, e passa a ser co-cons- til é vista como educação coletiva.
trutor de conhecimentos, identidades e cul-
tura, participando das tomadas de decisões Podemos notar que nos últimos tem-
democráticas contribuindo para os recursos pos a criança vem sendo notada como ser
e para as produções sociais. participativo pelo fato de suas especificida-
des serem um referencial cultural. Elas con-
A criança não precisa da autorização quistam aos poucos este espaço, e a nova
do educador para se opor a algo, pois desde proposta de trabalho pedagógico em razão
o início de sua vida a criança é rica e engajada destas mudanças concede as crianças auto-
com o mundo para começar a aprender. ridade e respostas assegurando sua compe-
tência nas relações sociais. Nesta nova cons-
O adulto muitas vezes solicitado a cui- trução social o espaço deve ser de direito das
dar da criança cuida do seu próprio vir a ser, crianças.
podendo até se sentir responsável pela vida
da criança. Esta responsabilidade é transfor- A partir do momento em que haja uma
mada em cuidado preocupado de afastar separação em reconhecer que as escolas
tudo aquilo que atrapalha, abrindo um espa- de educação infantil não é uma preparação
ço para um caminho sem frustrações. Além para á próxima etapa do ensino, as realiza-
de encontrar na criança suas limitações e ções arquitetônicas devem dar espaço para a
possibilidades. A criança tem sua própria ma- construção do ambiente infantil. Isso implica
neira de pensar, agir e vive o tempo todo ex- em manter o foco nas relações pedagógicas
posto a riscos (que é natural do ser mortal). educativas no cuidar e educar e no direito
Assim, o educador responsável pela criança das crianças em se considerar como atores
se adianta ao acontecimento, impedindo-as sociais.
de correr maiores riscos, deve apenas pro-
porcionar um olhar estimulador que acom- As escolas de educação infantil são
panha a criança no seu desenvolvimento instituições que abrigam crianças de diversos
para a exploração do mundo. tipos de situações financeiras e sociais, vários
tipos de raça, sexo, crenças, culturas além de
Por isso, a criança pequena deve ser atender crianças portadoras de necessidades
levada a sério. Ativa e competente, ela tem especiais. Além de serem espaços privilegia-
ideias e teorias que não só valem ser ouvida, dos de convivências, onde as crianças terão a
como também merecem confiança e, quan- oportunidade de vivenciar experiências que
do for o caso questionamento e desafio. as fizessem se sentir por inteiro, e necessá-
rio que haja a valorização da ludicidade, do
Ela não existe apenas no lar da família, imaginário do jogo das relações interpesso-
mas também nos ambientes mais amplos. Ela ais, do convívio com a natureza, da leitura de
não é um inocente separado do mundo. Ao mundo e letramento.
contrário disso, a criança pequena no mundo
como ele é hoje, incorpora este mundo, é in- O que queremos ostentar neste traba-
fluenciado por ele, mas também o influencia lho é que o espaço sendo grande ou pequeno
e constroem significados a partir dele. seja transformado em ambiente que garanta
a interação entre adultos e criança. Com ou
Assim, é de direito de cada criança ex- sem a presença do adulto deve ser um es-
pressar-se e de viver plenamente sua infân- paço que permita que as crianças tenham
cia, considerando suas características, diver- criatividade, que se sejam criativas, sujeitos
sidade cultural, etnia, gênero e sexualidade. ativos, formuladores de hipóteses, transfor-
madores, ou seja, que lhe deem com os seus
próprios saberes.
2.2. Espaço Físico na Pré-Es-
cola É preciso organizar os espaços de ma-
neira que permitam o descanso e, ao mesmo
A educação infantil é um espaço de tempo, espaços que permitam uma atividade
vivência entre meninos e meninas de 0 a 6 intensa e enérgica. [...].
anos. Estarão presentes neste espaço o com-
prometimento da instituição em garantir Espaços que seja muito semelhante
acesso aos diversos conhecimentos através ao lar e com muitos elementos familiares [...].
do seu caráter educativo, que é o de compar- (ZABALZA, apud FORNEIRO, 1998, p. 252).
tilhar com as famílias a responsabilidade de Neste caso, estamos pensando em
cuidar e educar das crianças. um espaço construído através da percepção
Para isso é importante implementar e da participação da criança. A construção
um projeto político pedagógico que garanta concreta do espaço dependerá do infantil,
à criança a vivência digna de seus direitos que se dará por meio da sedução ou da re-
sendo protagonizadas e consolidadas den- jeição (sem que se tenha consciência disto).
tro dos espaços das unidades educacionais. Segundo Faria (1999, p. 40) Projetar,
Acreditando que as crianças são portadoras fazer arquitetura é uma das maneiras de re-
de histórias e construtoras de culturas. lacionar com o espaço, com o lugar e com o
Se contrapondo ao caráter assisten- mundo.
cialista, espontaneísta e compensatório, hoje As crianças passam a maior parte de
no mundo contemporâneo a educação infan- seu tempo na instituição, a cada mudança

376
de ambiente em decorrer das atividades se podem fazer e qual o papel que cada um irá
identificarão ou não com os espaços e terão exercer (de acordo com seus respectivos car-
sensações boas ou ruins a respeito deste. A gos). Até porque havendo um imprevisto, um
criança sentindo-se parte da construção do não espere que o outro lhe diga o que fazer,
espaço arquitetônico é capaz de usar sua tendo autonomia suficiente para decidir po-
imaginação e sua criatividade aproximando sitivamente.
as fronteiras do possível e do impossível.
Esta concepção (que é próprio da criança) só A partir daí, o adulto que trabalhará
será permitida a partir de uma proposta pe- diretamente ou indiretamente com a criança
dagógica diferenciada. em seu dia a dia deverá ser um profissional
com formação para professor de crianças pe-
Portanto o profissional encarregado quenas e que possibilite a criança á ver dig-
da organização dos espaços deve ser namente seus direitos proclamados.
“supostamente” consciente que os di- A decisão de se permitir envolver no
reitos das crianças devem ser vivenciados na mundo mágico infantil seria o primeiro pas-
Instituição; o ambiente deverá garantir que so que o professor deveria dar. Explorar o
as crianças convivam com todas as diferen- universo infantil exige do educador conhe-
ças (raças, etnias, gênero, religião, cultura, cimento teórico, prático, capacidade de ob-
etc.) se opondo a desigualdade e exercitan- servação, amor e vontade de ser parceiro
do a tolerância (e não o conformismo) a so- da criança neste processo. Nós professores
lidariedade, a compreensão e a cooperação podemos através das experiências lúdicas in-
aprendendo desta forma a arbitrariedade e fantis obtermos informações importantes no
provisoriedade da hierarquia social existente brincar espontâneo ou no brincar orientado.
na sociedade atual. Contudo, a criança tem a
necessidade de ser ouvida, entendida e com- No brincar espontâneo, as crianças
preendida, pois sua satisfação em ser aten- brincam daquilo que lhe vêm á cabeça, e nes-
dida e realizada estará estampada em seus te momento podemos observar suas ações
gestos sinceros. lúdicas, já no dirigido, podemos propor desa-
fios com propósitos específicos.
A partir daí, é importante que este am-
biente garanta o imprevisto, (e não a impro- Segundo Kramer (1989), é conveniente
visação) o lúdico, a fantasia, a imaginação, o que o educador:
faz de conta, as diversas linguagens e as brin- Coloque-se em um ponto fixo da sala
cadeiras, além de conceder espaços que pos- e chamar uma ou mais crianças para distri-
sam conviver com a natureza, que tenham buir os materiais;
liberdade para correr, gritar, dormir, comer,
pular, desenhar, representar, interpretar nas Percorra pela sala incentivando e con-
suas diversas funções, ver vídeos, tomar ba- versando com a criança sobre o que estão
nho, mexer com água, com a terra, o fogo e fazendo;
o ar; aventurar-se no perigo sem se machu- Manifeste-se entusiasmente pela cria-
carem. ção e manifestações das crianças.
Assim, todas as atividades desenvol-
2.3. Os educadores traba- vidas pelo educador devem ter objetivos cla-
lhando para a construção dessa identidade ros contendo níveis diversos de dificuldades,
a fim de que as crianças participem e usem
No trabalho pedagógico o que é pro- sua criticidade e criatividade.
posto pelo adulto e vivido pelas crianças deve
levar em consideração as manifestações das
crianças, que é o seu tempo, suas necessida- 2.4. Tempos de criar, brincar
des e sua cultura. e recriar
As relações de afetividade vivenciadas As crianças gostam de brincar sozi-
entre as crianças; entre as crianças e os adul- nhas, com o adulto e bem mais entre elas,
tos e entre os adultos, também pode trazer por isso deve haver espaços flexíveis que cor-
confrontos em relação a suas convivências. O respondem com esta liberdade.
período de adaptação entre as crianças em
relação á outras crianças e aos adultos será A apropriação de expressões orais ou
em longo prazo, pois cada um terá mais afi- enriquecimento da linguagem da criança re-
nidade com uns do que com outros. O que solver problemas e expressar sentimentos
não poderá acontecer é virar uma exceção por meio da fala, aproximando-se cada vez
porque a interação entre todos os atores da mais das práticas de convivência social. Por
escola (desde a faxineira até a diretora) deve todos estes motivos, torna-se essencial que o
ser parte integrante do processo de desen- educador garanta um espaço em que o lúdi-
volvimento com a realidade natural, social e co se manifeste.
cultural.
Não basta a criança estar em um lugar
Os espaços físicos da instituição de- organizado de modo a desafiar as suas com-
vem ser planejados coletivamente para que petências: é preciso que ela interaja com este
todos se assegurem do que podem ou não espaço para vivê-lo intencionalmente (HORN,

377
2004, p.15). necessidade de conversa, demonstração de
interesses, estímulo ou afeição. Seus aces-
Seu papel, nesta situação é o de es- sos de raivas e seu “não” são essenciais para
timular a linguagem e a livre expressão das a formação do caráter e da auto afirmação.
crianças, emprestando sua fala quando ne- Aos poucos, elas utilizarão meios mais socia-
cessário e ajudando-as de forma clara a or- lizados de expressão.
ganizar logicamente seus pensamentos.
Desta forma o professor deve possibi-
As brincadeiras e jogos com palavras litar a criança vínculos para a exploração do
são excelentes recursos para favorecer a co- mundo, onde tanto o adulto como as crian-
municação oral. ças encontrem oportunidade de desenvolvi-
As crianças costumam gostar de brin- mento.
cadeiras cantadas, pois essa linguagem guar- É imprescindível que as crianças sejam
da semelhança com seu modo de pensar e se divididas em pequenos grupos facilitando a
expressar. Elas se envolvem e se divertem ao responsabilidade do professor no que diz
brincar com as rimas, sonoridade etc. Portan- respeito ao cuidado. As atividades propostas
to é importante trazer diferentes textos para pelo professor devem ter como finalidade
que as crianças possam memorizar balbuciar pedagógica às brincadeiras porque é através
trechos, refrões e sentir-se desafiada. delas que despertará nas crianças a curiosi-
O repertório de cantiga, brincadeiras dade em saber cada vez mais sobre as coisas
cantadas, trava-línguas, parlendas, quadri- existentes que as rodeiam. No decorrer das
nhas populares, joguetes e etc., possibilitam brincadeiras o professor deve ser flexível dei-
muitas oportunidades de brincar com as pa- xando as crianças escolherem as atividades
lavras. Estes textos são antigas manifesta- que irão realizar. O professor será somen-
ções da cultura popular, universalmente, co- te um gerador de possibilidades (o compa-
nhecida e mantida vivas através da tradição nheiro de jogo; de conversa; de construção;
oral. de elaboração de histórias e de significados)
garantindo que todas as crianças participem
Estes textos pertencem a uma longa das atividades mantendo o ambiente em
tradição de uso da linguagem para cantar, harmonia.
recitar e brincar. A maioria deles é de domí-
nio público, ou seja, não se sabe quem inven- Brincar é algo que deveria levar o brin-
tou: foram simplesmente passados de boca cante a desenvolver as suas próprias capaci-
a boca, das pessoas mais velhas para as mais dades de descoberta e de imaginação. Isso
novas, por isso podemos dizer que as brin- não significa que as situações de brincadeiras
cadeiras com palavras são experiências que precisem acontecer só de forma espontânea.
contextualizam na cultura lúdica. A observação atenta dos educadores nas
brincadeiras e o respaldo teórico colaboram
Nestes espaços também deverá ter para que suas invenções sejam apropriadas,
lugares para atividades em grandes ou pe- sobretudo no eixo da comunicação oral.
quenos grupos com ou sem a presença do
adulto. Espaços que lhe propiciem informa- A brincadeira promove o desenvolvi-
ções além das que obtém das suas famílias mento oral e social das crianças e a interven-
ou que obterão na escola. ção do educador nestes momentos é um dos
elementos que pode favorecer a ampliação
Participar das brincadeiras e dos jo- de suas concepções comunicativas.
gos organizados exige muito da criança. É ne-
cessário que ela saiba respeitar a si mesma Através das atividades lúdicas as crian-
e aos outros. Precisam compreender a lógica ças podem se relacionar e conviver com dife-
das normas e reconhecer o certo e o errado. rentes sentimentos que fazem da sua reali-
O educador precisa ter claro que são neces- dade interior.
sárias qualidades emocionais, sociais e inte- As escolas devem dispor de espaços
lectuais para que a criança atinja esse estágio para que os professores possam trocar ex-
de desenvolvimento. periências vivenciadas em salas de aula, fa-
O aspecto social compreende o ele- zer relatos e projetos, registrar experiências,
mento mais marcante na atividade lúdica da avaliar seu próprio trabalho e do grupo. Tam-
criança, nos anos seguintes, será sem dúvi- bém devem dispor de recursos para que fa-
da um dos componentes mais importantes çam cursos de aperfeiçoamento fora do seu
do seu desenvolvimento. Deixando de lado ambiente de trabalho, incentivando-os na
o egocentrismo, a criança passa a usar a lin- sua formação.
guagem para coordenar atividades de grupo A participação dos pais e da comuni-
visando algum objetivo comum. dade nas tomadas de decisões é de extrema
A criança que participa de atividades importância para que o trabalho pedagógico
grupais manifesta-se algumas vezes através proposto pelos CEIs possa ser questiona-
de comportamento agressivo, mas gradativa- do constantemente. Este acompanhamento
mente suas investidas tornam-se mais acei- pode ser feito periodicamente para trocar
táveis. Por trás deste comportamento pode experiências, realizar pesquisas, propor solu-
estar uma tentativa de chamar atenção, uma ções e dar opiniões adequadas para atingir o
aperfeiçoamento da educação das crianças.

378
Contudo, a organização do espaço
deve fazer parte do currículo da escola, pois
organizar o espaço é abrir novos horizontes
para que as crianças possam se sentir á von-
tade para realizar deferentes atividades.
O espaço educativo não deve ser con-
siderado apenas como um local de trabalho
e sim, um recurso e um companheiro do pro-
fessor. Neste espaço a criança deve se des-
centralizar da figura do adulto e procurar se
autogerirem naquilo que mais os interessam.

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379
JOGOS DIDÁTICOS; UMA PROPOSTA PARA FAVORECER A APRENDIZAGEM
MICHELY COSTA FARIAS

RESUMO um ambiente mais dinâmico e interativo, ca-


paz de potencializar a assimilação e retenção
Este artigo aborda o papel dos jogos de conteúdos. Neste artigo, exploraremos
didáticos como ferramenta eficaz no proces- detalhadamente o papel fundamental que
so de aprendizagem. Explora-se a importân- os jogos didáticos desempenham na promo-
cia da ludicidade no ambiente educacional, ção da aprendizagem, analisando estudos de
destacando como os jogos podem promover caso, evidências empíricas e estratégias prá-
o engajamento, a motivação e a retenção de ticas para a sua implementação bem-sucedi-
conhecimento. São apresentados estudos de da. Além disso, investigaremos a integração
caso e evidências empíricas que demonstram de tecnologias interativas como um meio de
os benefícios tangíveis dos jogos no contexto aprimorar ainda mais a experiência educa-
educacional. Além disso, discute-se a inte- cional. Ao final, esperamos fornecer uma vi-
gração de tecnologias interativas como uma são abrangente e embasada sobre como os
forma de potencializar a experiência dos alu- jogos didáticos podem ser uma ferramenta
nos. Por fim, são oferecidas sugestões práti- valiosa para enriquecer o processo de ensino
cas para a implementação bem-sucedida de e aprendizagem.
jogos didáticos, visando otimizar o processo
de ensino e aprendizagem. Este artigo busca Ao longo das próximas seções, apro-
fornecer uma base teórica sólida e orienta- fundaremos a análise, examinando de perto
ções práticas para educadores interessados os benefícios concretos que os jogos didáti-
em incorporar jogos como estratégia peda- cos oferecem no contexto educacional. In-
gógica. vestigaremos como a ludicidade contribui
para o engajamento dos alunos, estimulan-
Palavras- Chave: Aprendizagem; jogos; do a curiosidade e promovendo um ambien-
Educação. te propício à exploração e experimentação.
Além disso, exploraremos de que maneira os
jogos podem atuar como catalisadores para
ABSTRACT a motivação intrínseca, incentivando os estu-
This article addresses the role of edu- dantes a buscarem o conhecimento de forma
cational games as an effective tool in the le- autônoma e entusiástica.
arning process. It explores the importance of Examinaremos exemplos concre-
playfulness in the educational environment, tos de como os jogos didáticos têm demons-
emphasizing how games can promote enga- trado impacto positivo na aprendizagem,
gement, motivation, and knowledge reten- abordando tanto contextos escolares tra-
tion. Case studies and empirical evidence de- dicionais quanto ambientes de ensino mais
monstrating the tangible benefits of games in inovadores. Analisaremos também os resul-
the educational context are presented. Fur- tados obtidos em diferentes faixas etárias e
thermore, the integration of interactive tech- disciplinas, para compreendermos a univer-
nologies is discussed as a means to enhance salidade desses benefícios.
students' experience. Finally, practical sug-
gestions for the successful implementation Em seguida, adentraremos na discus-
of educational games are provided, aiming to são sobre a integração de tecnologias inte-
optimize the teaching, and learning process. rativas como um meio de potencializar a ex-
This article seeks to offer a solid theoretical periência educacional. Abordaremos como a
foundation and practical guidance for educa- gamificação digital e a realidade aumentada,
tors interested in incorporating games as a por exemplo, têm sido utilizadas com suces-
pedagogical strategy. so para criar experiências de aprendizagem
imersivas e envolventes.
Keywords: Learning; games; Educa-
tion. Finalmente, apresentaremos suges-
tões práticas para a implementação eficaz
de jogos didáticos, levando em consideração
INTRODUÇÃO as necessidades e realidades específicas de
diferentes contextos educacionais. Discu-
A utilização de jogos didáticos no tiremos estratégias de design, avaliação e
contexto educacional tem despertado cres- adaptação, visando maximizar os benefícios
cente interesse e discussões entre educado- proporcionados por essa abordagem peda-
res, pesquisadores e profissionais da área. gógica inovadora.
Esta abordagem inovadora visa não apenas Ao longo deste artigo, nosso objetivo
transformar a forma como o conhecimento é é oferecer uma visão completa e embasada
transmitido, mas também revolucionar a ma- sobre o potencial transformador dos jogos
neira como os alunos se envolvem no proces- didáticos na educação, fornecendo aos edu-
so de aprendizagem. Ao incorporar elemen- cadores as ferramentas e o conhecimento
tos lúdicos, os jogos didáticos proporcionam necessários para integrar essa estratégia de

380
forma eficaz em seus ambientes de ensino. Os jogos desafiam os alunos a resol-
ver problemas complexos, tomar decisões
estratégicas e pensar de forma crítica. Isso
OS BENEFÍCIOS DOS JOGOS NA EDU- estimula o desenvolvimento de habilidades
CAÇÃO cognitivas de alto nível, como o raciocínio ló-
gico, a criatividade e a capacidade de análise,
Os jogos têm demonstrado ser uma podem ser adaptados para atender às neces-
ferramenta excepcionalmente eficaz no con- sidades individuais de cada aluno. Isso per-
texto educacional, oferecendo uma série mite que os estudantes avancem no material
de benefícios tangíveis para o processo de no seu próprio ritmo, sem sentir a pressão de
aprendizagem. Em primeiro lugar, a introdu- acompanhar um cronograma fixo.
ção da ludicidade no ambiente educacional
promove um engajamento mais profundo Os jogos proporcionam feedback ime-
por parte dos alunos. Através da interativi- diato sobre o desempenho do aluno. Isso
dade e da natureza desafiadora dos jogos, permite que eles compreendam instantanea-
os estudantes são incentivados a participar mente seus erros e acertos, proporcionando
ativamente, desenvolvendo habilidades cog- uma oportunidade valiosa para a aprendiza-
nitivas, motoras e sociais de forma natural e gem e a correção de conceitos equivocados e
intuitiva. desafiam os alunos a pensar fora da caixa, a
experimentar abordagens diferentes e a en-
Além disso, os jogos estimulam a moti- contrar soluções criativas para os problemas
vação dos alunos. Ao transformar o aprendi- apresentados. Essa abordagem promove a
zado em uma atividade envolvente e interes- inovação e a criatividade, habilidades essen-
sante, os jogos despertam o interesse pelo ciais para o sucesso no mundo atual.
conteúdo, levando os estudantes a buscar o
conhecimento de maneira autônoma e per- Os jogos podem ser adaptados para
sistente. Essa motivação, proveniente de re- atender a uma ampla variedade de estilos
compensas externas, é fundamental para o de aprendizagem e necessidades individuais.
desenvolvimento de uma aprendizagem du- Isso torna a educação mais inclusiva, pro-
radoura e significativa. porcionando a oportunidade para todos os
alunos de se envolverem e prosperarem no
Outro ponto importante é a capaci- ambiente educacional.
dade dos jogos de promover a retenção de
conhecimento. Através de situações práticas À medida que a tecnologia desempe-
e desafios contextualizados, os alunos têm a nha um papel cada vez mais importante em
oportunidade de aplicar e consolidar o que nossas vidas, a familiaridade com ambientes
aprenderam de forma imediata. Essa prá- digitais se torna crucial. Os jogos educacio-
tica ativa e repetida fortalece as conexões nais oferecem uma maneira prática e envol-
neurais associadas ao conteúdo, tornando vente de desenvolver habilidades tecnológi-
a aprendizagem mais sólida e acessível para cas essenciais.
futuras aplicações. Por meio de simulações e jogos de
Além dos aspectos cognitivos, os jo- role-playing, os alunos podem experimen-
gos também fomentam habilidades sociais tar situações da vida real em um ambiente
e emocionais. Em ambientes de jogo colabo- controlado e seguro. Isso é particularmente
rativos, os alunos aprendem a trabalhar em valioso em disciplinas como ciências, onde
equipe, a resolver conflitos e a desenvolver experimentos práticos podem não ser sem-
habilidades de comunicação eficazes. Ade- pre viáveis.
mais, enfrentar desafios e superar obstácu- A natureza desafiadora dos jogos mui-
los em um ambiente lúdico contribui para o tas vezes encoraja os alunos a persistirem,
desenvolvimento da resiliência e da autocon- mesmo diante de obstáculos. Essa mentali-
fiança. dade de "tentativa e erro" promove a resili-
É importante ressaltar também que ência e a habilidade de enfrentar desafios de
os jogos podem ser adaptados a diferentes forma determinada.
contextos e disciplinas, tornando-se uma fer- Por meio dos jogos educacionais po-
ramenta versátil para a educação. Desde a de-se oferecem uma abordagem dinâmica e
matemática até a literatura, os jogos ofere- envolvente para o aprendizado, com benefí-
cem uma abordagem inovadora e envolven- cios que vão muito além da mera transmis-
te para o ensino de uma ampla variedade de são de informações. Ao desenvolver habili-
temas. dades cognitivas avançadas, personalizar o
Os benefícios dos jogos na educação aprendizado, fornecer feedback imediato e
são muitos e relevantes. Ao proporcionar um fomentar a criatividade, os jogos se desta-
ambiente de aprendizagem dinâmico, pro- cam como uma ferramenta pedagógica valio-
mover a motivação, reforçar a retenção de sa na preparação dos alunos para um futuro
conhecimento e desenvolver habilidades so- complexo e em constante evolução.
ciais e emocionais, os jogos emergem como Os Jogos podem ser projetados para
uma poderosa estratégia pedagógica, capaz atender a diversos estilos de aprendizagem,
de revolucionar o processo educacional e o que beneficia tanto os alunos visuais, audi-
preparar os alunos para enfrentar desafios. tivos, quanto cinestésicos. Isso ajuda a garan-

381
tir que todos os estudantes tenham a opor- guem criar um ambiente mais atrativo e di-
tunidade de absorver o conteúdo de maneira nâmico, despertando o interesse dos alunos
eficaz, muitos jogos educacionais incentivam de maneira genuína. Isso resulta em maior
a colaboração entre os alunos, promovendo participação e concentração nas atividades
a discussão e a troca de ideias. Isso melhora educacionais, evitando a dispersão e a des-
as habilidades de comunicação e ensina os motivação que podem ocorrer em aulas mais
alunos a trabalharem em equipe. tradicionais.
Desse modo é possível criar cenários Além disso, os jogos proporcionam
que exigem a prática de empatia, tomada oportunidades concretas para aplicação prá-
de decisões éticas e gerenciamento de emo- tica do conhecimento. Através de simulações
ções. Isso contribui para o desenvolvimento e desafios contextualizados, os alunos po-
de habilidades sociais e emocionais essen- dem experimentar situações da vida real em
ciais para o sucesso pessoal e profissional. um ambiente controlado e seguro. Por exem-
plo, em disciplinas como ciências e matemá-
Através do elemento lúdico, os jogos tica, os jogos podem replicar experimentos
mantêm os alunos envolvidos e motivados ou problemas complexos, permitindo que os
ao longo do tempo. Isso pode resultar em alunos testem e aprimorem suas habilidades
uma redução na evasão escolar e em um de resolução de problemas.
maior comprometimento com o processo
educacional. De acordo com (Silva, 2007, p.13): O
brinquedo e a instrução escolar organizam
Jogos frequentemente encorajam os habilidades e criança conhecimentos social-
alunos a explorarem por conta própria, a mente disponíveis, que passará a introduzir.
tomarem decisões independentes e a assu- Durante as brincadeiras, todos os aspectos
mirem a responsabilidade pelo seu próprio da vida da criança convertem-se em temas
aprendizado. Isso fomenta a autonomia e de jogos, portanto na escola, o conteúdo a
a habilidade de aprendizagem ao longo da ser lecionado como papel do adulto especial-
vida. mente treinado para ensinar, deve ser cuida-
Os dados coletados durante a par- dosamente planejado para atender as reais
ticipação dos alunos nos jogos podem ser necessidades da criança.
utilizados para avaliações formativas, forne- Outro benefício notável é o estímulo à
cendo aos educadores informações valiosas colaboração e à comunicação. Jogos frequen-
sobre o progresso e as áreas que podem pre- temente requerem interação entre os parti-
cisar de reforço, os jogos se alinham natural- cipantes, promovendo o trabalho em equipe
mente com a cultura digital contemporânea, e a troca de ideias. Os alunos aprendem a se
tornando-se uma forma familiar e atrativa de comunicar de forma eficaz, a ouvir diferentes
aprendizado para os alunos imersos nesse perspectivas e a contribuir para um objetivo
ambiente digital. comum, habilidades fundamentais para o su-
Ao aproveitar os benefícios abrangen- cesso em ambientes sociais e profissionais.
tes dos jogos na educação, os educadores Para (Santos, 2016, p.08) As crianças
têm a oportunidade de transformar o pro- assumem diferentes papéis enquanto brin-
cesso de aprendizagem em uma experiência cam e agem frente à realidade de maneira
envolvente, significativa e altamente eficaz. prazerosa e divertida. Ao brincar as crian-
Isso não apenas prepara os alunos para os ças constroem conhecimentos, interagem,
desafios do presente, mas também os capa- aprendem a conviver em grupo, escolhem os
cita para um futuro dinâmico e em constante tipos de brincadeiras que gostam a alegria
mudança. que demonstram quando estão brincando.
Portanto, para brincar é preciso que as crian-
ças tenham certa independência para esco-
OS BENEFÍCIOS DOS JOGOS NO CON- lher seus companheiros e os papéis que irão
TEXTO EDUCACIONAL assumir no interior de um determinado tema
Segundo (Freitag, 2012 p.07) Brin- e enredo, cujos desenvolvimentos dependem
cando, as crianças exploram e remetem so- unicamente da vontade de quem brinca.
bre a realidade cultural na qual estão inse- Além disso, os jogos oferecem um
ridas, questionando regras e papéis sociais, ambiente de aprendizagem personalizado e
demonstrando assim, através do brincar, adaptativo. Eles podem ser ajustados para
situações que ainda não conseguem expor atender às necessidades individuais de cada
através de palavras. Dessa forma, o brincar aluno, permitindo que avancem no material
proporciona para a criança a autonomia que no seu próprio ritmo. Isso é especialmente
ela tem de si, do mundo, e assim exploran- valioso para estudantes com diferentes esti-
do toda a sua imaginação, interação com o los de aprendizagem e ritmos de assimilação
mundo. de conteúdo.
Os jogos no contexto escolar ofere- Os jogos também fomentam a motiva-
cem uma gama diversificada de benefícios ção intrínseca dos alunos. Ao transformar a
que impactam positivamente o processo de aprendizagem em uma atividade envolvente
aprendizagem. Primeiramente, ao introduzir e recompensadora, os jogos despertam um
a ludicidade na sala de aula, os jogos conse- interesse genuíno pelo conteúdo, levando os

382
estudantes a buscarem o conhecimento de as capacidades sociais.
forma autônoma e persistente.
Outra vantagem dos jogos no ambien-
O jogo e a brincadeira estimulam o te escolar é a promoção da colaboração e
raciocínio e a imaginação, e permitem que a comunicação entre os alunos. Os jogos fre-
criança explore diferentes comportamentos, quentemente exigem interação e coopera-
situações, capacidades e limites. Faz-se ne- ção, incentivando a troca de ideias e a reso-
cessário, então, promover diversidade dos lução conjunta de desafios. Esse ambiente
jogos e brincadeiras para que se amplie a colaborativo desenvolve habilidades sociais
oportunidade que os brinquedos podem ofe- essenciais, como a capacidade de trabalhar
recer. (Naliin,2005, p.26) em equipe, ouvir diferentes perspectivas e
contribuir para objetivos comuns.
É possível por tanto afirmar que os
jogos contribuem para o desenvolvimen- Além disso, os jogos oferecem uma
to de habilidades sociais e emocionais. Em oportunidade de aprendizado personalizado
ambientes de jogo colaborativos, os alunos e adaptativo. Eles podem ser adaptados para
aprendem a trabalhar em equipe, a resolver atender às necessidades individuais de cada
conflitos e a desenvolver habilidades de co- aluno, permitindo que progridam no mate-
municação eficazes. Além disso, enfrentar de- rial de acordo com seu próprio ritmo e estilo
safios e superar obstáculos em um ambiente de aprendizagem. Isso cria um ambiente in-
lúdico contribui para o desenvolvimento da clusivo que acomoda a diversidade de habili-
resiliência e da autoconfiança. dades e ritmos de assimilação.
Os exemplos acima ilustram como os Segundo (Pellegrine, p.21) É neces-
jogos no contexto escolar vão muito além sário que o professor procure ampliar cada
da mera diversão. Eles se apresentam como vez mais as vivencia criança com o ambiente
uma ferramenta pedagógica poderosa, capaz físico, com brinquedos, brincadeiras, e com
de enriquecer o processo educacional e pre- outras crianças. Um ambiente físico muito
parar os alunos para os desafios do presente ajuda a diversificar as experiências na crian-
e do futuro. ça, permite que ela se estabeleça relações,
descubra e aprenda.
Segundo (Varoneli, 2007, p.5) A brin-
cadeira favorece ainda o desenvolvimento da A motivação intrínseca, outro benefí-
autoestima, da criatividade e da psique infan- cio significativo, é naturalmente estimulada
til, ocasionando mudanças qualitativas em pelos jogos. Ao transformar o aprendizado
suas estruturas mentais. Através das brinca- em uma atividade envolvente e gratificante,
deiras, as crianças desenvolvem também al- os jogos despertam um interesse genuíno
gumas noções de grande importância para a pelo conteúdo, levando os alunos a busca-
vida em sociedade, como a noção das regras rem o conhecimento de forma autônoma e
e também dos papéis sociais. persistente. Essa motivação intrínseca, em
contraste com a extrínseca, originada de re-
A integração de jogos no contexto es- compensas externas, é crucial para a forma-
colar representa uma abordagem pedagógi- ção de uma aprendizagem duradoura e sig-
ca inovadora e altamente eficaz, que ofere- nificativa.
ce uma ampla gama de benefícios palpáveis
para o processo de aprendizagem. Em pri- Assim, verificamos que os jogos tam-
meiro plano, a introdução da ludicidade na bém desempenham um papel fundamental
sala de aula transforma o ambiente educa- no desenvolvimento de habilidades sociais e
cional em um espaço dinâmico e envolvente. emocionais dos alunos. Ao colaborar em am-
Essa atmosfera estimulante captura a aten- bientes de jogo, eles aprendem a se comuni-
ção dos alunos de forma autêntica e susten- car eficazmente, a resolver conflitos e a de-
tada, criando um cenário propício para a ab- senvolver habilidades de liderança. Enfrentar
sorção e assimilação do conhecimento. desafios em um contexto lúdico contribui
para a formação de resiliência, autoconfian-
Além do engajamento aprimorado, os ça e habilidades de resolução de problemas.
jogos proporcionam uma plataforma excep-
cional para a aplicação prática do conteúdo. A integração de jogos no contexto
Por meio de simulações e desafios contextu- escolar transcende a mera diversão, reve-
alizados, os alunos têm a oportunidade de lando-se como uma ferramenta pedagógica
vivenciar situações da vida real de maneira multifacetada e poderosa. Ela enriquece o
controlada e segura. Esse tipo de aprendiza- processo educacional ao criar uma atmosfe-
do imersivo é especialmente valioso em dis- ra envolvente, estimular a aplicação prática
ciplinas como ciências, onde experimentos do conhecimento, promover a colaboração e
práticos podem ser limitados. a comunicação, oferecer aprendizado perso-
nalizado.
Segundo (Ribeiro, Souza, 2011, p. 36)
O professor dever possuir característica bási-
cas de observação, ter Olhos e ouvidos bem
atentos e sensibilidade para perceber as ne-
cessidades de seus alunos. E estar sempre
buscando novas descobertas. Dessa forma
deve observar as necessidades, assim como

383
A INTEGRAÇÃO DE TECNOLOGIAS IN- lização de projetos conjuntos, independente-
TERATIVAS COMO UM MEIO DE POTENCIALI- mente da localização física.
ZAR A EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL
A integração tecnológica interativas
A integração de tecnologias interati- proporcionam uma preparação mais eficaz
vas no ambiente educacional emerge como para o mundo digital em constante evolução.
um processo transformador no processo de Ao familiarizar os alunos com ferramentas e
aprendizagem escolar. Ao unir o poder da tec- recursos tecnológicos, os prepara para en-
nologia com as práticas pedagógicas, abre-se frentar os desafios e as demandas da socie-
um vasto leque de possibilidades para enri- dade contemporânea como um elemento
quecer e otimizar a experiência educativa. essencial para potencializar a aprendizagem
Para o desenvolvimento de artefatos com escolar. Ela enriquece a experiência educati-
base em gamificação é essencial o entendi- va ao torná-la mais envolvente, personaliza-
mento das características das mecânicas dos da, acessível e colaborativa.
jogos (BUSARELLO et al., 2014).
Essa integração representa uma revo-
Primeiramente, a introdução de dis- lução no modo como o aprendizado é con-
positivos interativos, como tablets e quadros cebido e experimentado. Essa abordagem vai
interativos, oferece uma plataforma visual e muito além da mera substituição de méto-
tátil que cativa a atenção dos alunos. Atra- dos tradicionais, pois oferece possibilidades
vés de aplicativos e softwares educacionais, inovadoras de engajamento e compreensão
é possível apresentar o conteúdo de forma mais profunda dos conteúdos.
dinâmica e envolvente, estimulando a curio-
sidade e o interesse intrínseco pelo aprendi- Uma das facetas mais notáveis des-
zado. sa integração é a utilização de realidade au-
mentada (RA) e realidade virtual (RV). Por
Além disso, a tecnologia interativa exemplo, na disciplina de História, os alunos
permite uma personalização mais eficaz do podem explorar virtualmente cenários his-
ensino. Com a capacidade de adaptar o con- tóricos, como a Antiga Roma, imergindo-se
teúdo de acordo com o nível de habilidade e em experiências sensoriais que vão além do
interesse de cada aluno, cria-se um ambiente que os livros podem proporcionar. Isso cria
de aprendizagem mais inclusivo, onde cada uma aprendizagem imersiva, que estimula a
estudante pode progredir em seu próprio curiosidade e a compreensão contextual.
ritmo. Isso reduz a lacuna de aprendizado e
oferece oportunidades para desafios e avan- Outra aplicação tangível é a perso-
ços individuais. nalização do ensino. Através de platafor-
mas digitais, é possível adaptar o conteúdo
Apesar da gamificação pode ser apli- de acordo com as necessidades e ritmos de
cada com sucesso em quase qualquer pro- aprendizagem de cada aluno. Por exemplo,
cesso, o ponto chave é o re-design do proces- em Matemática, um estudante pode receber
so como um todo, focando em determinados exercícios e desafios específicos que corres-
aspectos: os objetivos da organização; o pro- pondam ao seu nível de habilidade, permitin-
cesso original e os objetivos de aprendiza- do um avanço mais efetivo no conteúdo.
gem; e no usuário final do processo (GRIFFIN,
2014). Além disso, a tecnologia interativa
promove a colaboração global e a constru-
A realidade aumentada e a realidade ção de conhecimento coletivo. Plataformas
virtual são outras facetas da integração tec- de aprendizado online, como fóruns de dis-
nológica que têm mostrado um potencial cussão e ambientes virtuais de trabalho em
extraordinário. Essas tecnologias proporcio- grupo, possibilitam que estudantes de dife-
nam experiências imersivas que transcen- rentes partes do mundo compartilhem ideias
dem as limitações do ambiente físico da sala e perspectivas. Isso amplia o horizonte edu-
de aula. Permitem aos alunos explorarem cacional, proporcionando uma experiência
ambientes virtuais, realizar experimentos e mais rica e diversificada.
vivenciar conceitos complexos de forma tan-
gível e memorável. A acessibilidade também é grande-
mente aprimorada com a integração da
Outro benefício inegável da tecnolo- tecnologia. Por exemplo, estudantes com
gia interativa é a ampliação do acesso ao co- deficiências visuais podem se beneficiar de
nhecimento. Ela supera barreiras geográficas softwares que convertem texto em fala, tor-
e oferece recursos educacionais diversos e nando o conteúdo mais acessível e inclusivo.
atualizados a um público global. Isso é espe-
cialmente relevante em contextos em que o A tecnologia interativa também trans-
acesso a recursos educacionais de alta quali- forma a avaliação. Plataformas de avaliação
dade pode ser limitado. online oferecem feedback imediato, permi-
tindo aos alunos corrigirem seus erros e con-
A colaboração também é aprimorada solidarem o aprendizado de maneira mais
através da tecnologia interativa. Ferramentas efetiva. Isso estimula a aprendizagem autô-
de colaboração online, como plataformas de noma e a reflexão sobre o próprio progresso.
aprendizado virtual e ambientes de trabalho
colaborativo, facilitam a interação entre os Além disso, a integração tecnológica
alunos, permitindo a troca de ideias e a rea- no ambiente educacional prepara os alunos

384
para um mundo cada vez mais digitalizado. O A avaliação formativa, facilitada pela
uso de ferramentas tecnológicas no processo tecnologia, proporciona feedback imediato
de aprendizado os familiariza com habilida- aos alunos. Eles podem corrigir erros e con-
des essenciais para o mercado de trabalho, solidar o aprendizado de forma mais eficaz.
como a capacidade de resolver problemas Isso incentiva a reflexão sobre o próprio pro-
complexos e de se adaptar a ambientes tec- gresso, promovendo uma abordagem mais
nológicos em constante evolução. ativa na busca pelo conhecimento.
A integração tecnológica interativa na Ao preparar os alunos para um mundo
educação representa uma revolução na for- digital em constante evolução, a integração
ma como os alunos aprendem e os professo- de tecnologia no ambiente educacional não
res ensinam. Através de aplicações práticas, apenas os capacita com habilidades prontas
como a realidade aumentada e a personali- para o mercado de trabalho, mas também fo-
zação do ensino, essa abordagem enrique- menta um pensamento crítico e adaptativo,
ce a experiência educativa, promovendo um representando uma transformação no modo
aprendizado mais envolvente e significativo. como aprendemos e ensinamos, promoven-
Ao mesmo tempo, prepara os alunos para do um aprendizado mais envolvente, con-
enfrentar os desafios e oportunidades de um textualizado e inclusivo. Ao mesmo tempo,
mundo digital em constante evolução. prepara os alunos para o mundo tecnológico
em constante mutação, equipando-os com
habilidades fundamentais para o sucesso no
A INTEGRAÇÃO ENTRE TÉCNOLOGIA E presente e no futuro.
EDUCAÇÃO A integração de tecnologias na edu-
A integração de tecnologia interativa cação tem revolucionado a forma como os
no ambiente educacional está moldando um alunos aprendem e os professores ensinam.
novo paradigma no aprendizado, que trans- Essas ferramentas oferecem uma gama di-
cende os métodos convencionais. Essa abor- versificada de recursos que enriquecem a
dagem não apenas enriquece a experiência experiência educacional e potencializam a
educacional, mas também promove uma assimilação de conhecimento.
compreensão mais profunda e duradoura Uma das tecnologias mais impactan-
dos conteúdos. tes é a utilização de plataformas de aprendi-
A realidade aumentada e a realidade zado online, como os LMS (Learning Manage-
virtual, por exemplo, proporcionam aos alu- ment Systems). Estes sistemas permitem a
nos experiências imersivas e interativas. Ao organização e a distribuição de conteúdo de
explorar virtualmente conceitos abstratos, forma interativa, possibilitando aos alunos
como moléculas em Química ou órbitas pla- acessarem materiais, participarem de dis-
netárias em Astronomia, os estudantes não cussões e realizarem avaliações de maneira
apenas entendem a teoria, mas também a virtual. Exemplos notáveis incluem o Google
aplicam em um contexto palpável. Isso leva a Classroom e o Moodle, que facilitam o geren-
uma compreensão mais rica e contextualiza- ciamento e a personalização do aprendizado.
da dos conceitos. A realidade aumentada (AR) e realida-
A personalização do ensino permite de virtual (VR) têm demonstrado um enorme
que cada aluno progrida de acordo com seu potencial na educação. Por exemplo, em dis-
ritmo e estilo de aprendizado. Por meio de ciplinas como Biologia, os alunos podem ex-
plataformas adaptativas, o conteúdo é apre- plorar o interior de células ou mesmo ecos-
sentado de maneira individualizada, aten- sistemas inteiros através de experiências
dendo às necessidades específicas de cada imersivas. Isso transcende os limites do en-
estudante. Por exemplo, em Língua Estran- sino tradicional e proporciona uma compre-
geira, um aluno pode ter acesso a exercícios ensão tridimensional e contextualizada dos
e atividades direcionadas para seu nível de conceitos.
proficiência, maximizando seu aprendizado. As ferramentas de produção de con-
A colaboração global é outra dimen- teúdo também são fundamentais. Softwares
são que a tecnologia interativa amplifica no de edição de vídeo, como o Adobe Premiere,
processo educacional. Plataformas de apren- permitem aos alunos criarem projetos audio-
dizado online possibilitam a interação entre visuais que reforçam a compreensão de te-
estudantes de diferentes partes do mundo. mas complexos. Da mesma forma, platafor-
Isso promove uma compreensão mais rica e mas de criação de apresentações interativas,
diversificada dos temas, ao expor os alunos a como o Prezi, estimulam a criatividade e a
diferentes perspectivas e culturas. expressão visual do conhecimento.
A acessibilidade é aprimorada, permi- A inteligência artificial (IA) é outra tec-
tindo que estudantes com necessidades es- nologia que está sendo aplicada na educação
peciais tenham um acesso mais igualitário ao de maneira inovadora. Sistemas de tutoria
conteúdo. Por exemplo, softwares de leitura inteligente podem personalizar o aprendiza-
de texto podem auxiliar estudantes com defi- do de acordo com o desempenho do aluno,
ciências visuais a acessar o material de forma oferecendo sugestões de estudo e feedback
mais autônoma e inclusiva. individualizado. Além disso, chatbots educa-

385
cionais estão sendo utilizados para respon- nos a criarem projetos audiovisuais que re-
der dúvidas e fornecer suporte aos estudan- forçam a compreensão de temas complexos.
tes, criando uma experiência de aprendizado Da mesma forma, plataformas de criação de
mais dinâmica e acessível. apresentações interativas, como o Prezi, esti-
mulam a criatividade e a expressão visual do
A gamificação é outra estratégia que conhecimento.
utiliza elementos de jogos para tornar a
aprendizagem mais envolvente e motivado- A inteligência artificial (IA) está revolu-
ra. Plataformas como o Kahoot! e o Quizlet cionando a educação através de sistemas de
transformam a revisão de conteúdos em ati- tutoria inteligente. Esses recursos personali-
vidades competitivas e interativas, promo- zam o aprendizado de acordo com o desem-
vendo o engajamento dos alunos e o reforço penho do aluno, oferecendo sugestões de es-
do conhecimento. tudo e feedback individualizado. Além disso,
chatbots educacionais estão sendo utilizados
Com tudo deve-se atentar para a ques- para responder dúvidas e fornecer supor-
tão da acessibilidade, um aspecto importan- te aos estudantes, criando uma experiência
te na aplicação de tecnologias na educação. de aprendizado mais dinâmica e acessível, a
Ferramentas de leitura de texto e softwares gamificação é outra estratégia que utiliza ele-
de tradução automática estão sendo utiliza- mentos de jogos para tornar a aprendizagem
dos para garantir que os recursos educacio- mais envolvente e motivadora. Plataformas
nais estejam disponíveis para todos, inde- como o Kahoot! e o Quizlet transformam a
pendentemente das barreiras linguísticas ou revisão de conteúdos em atividades competi-
de acessibilidade. tivas e interativas, promovendo o engajamen-
A aplicação de tecnologias na educa- to dos alunos e o reforço do conhecimento.
ção representa um avanço significativo no A integração de tecnologia na educa-
processo de ensino e aprendizagem. Ao in- ção representa um avanço significativo no
tegrar plataformas de aprendizado online, processo de ensino e aprendizagem. Ao apro-
realidade aumentada, inteligência artificial e veitar o potencial das plataformas online, re-
gamificação, os educadores podem oferecer alidade aumentada, inteligência artificial, ga-
experiências educacionais mais envolventes mificação e outras inovações, os educadores
e personalizadas. Isso não apenas poten- podem proporcionar experiências educacio-
cializa o aprendizado, mas também prepara nais mais envolventes e personalizadas. Isso
os alunos para um futuro digitalizado e em não apenas potencializa o aprendizado, mas
constante evolução. também prepara os alunos para um futuro
Podemos afirmar que a integração digitalizado.
de tecnologia na educação é um divisor de Parte superior do formulário
águas no cenário educacional contemporâ-
neo. Essas inovações oferecem um vasto le-
que de recursos que não apenas enriquecem
a experiência de aprendizado, mas também CONSIDERAÇÕES FINAIS
potencializam a assimilação de conhecimen- A introdução dos jogos didáticos no
to de forma mais eficaz e envolvente. processo de ensino e aprendizagem repre-
Plataformas de aprendizado onli- senta uma abordagem pedagógica enrique-
ne, como os sistemas de gerenciamento de cedora e inovadora. Ao longo desta reflexão,
aprendizagem (LMS), são exemplos notáveis exploramos os benefícios tangíveis que essa
dessa revolução educacional. Elas permitem estratégia oferece, desde o estímulo ao en-
a organização e distribuição de conteúdo de gajamento e motivação dos alunos até a pro-
forma interativa, possibilitando aos alunos moção do desenvolvimento de habilidades
acessarem materiais, participarem de dis- cognitivas avançadas.
cussões e realizarem avaliações de maneira Ficou evidente que os jogos didáticos
virtual. Soluções como Google Classroom e transcendem a mera diversão, assumindo
Moodle têm se destacado nesse campo, fa- um papel fundamental na criação de um am-
cilitando o gerenciamento e a personalização biente educacional mais dinâmico e envol-
do aprendizado. vente. Através de experiências práticas, simu-
A realidade aumentada (AR) e a rea- lações e desafios, os alunos são incentivados
lidade virtual (VR) constituem outro avanço a aplicar o conhecimento de forma concreta,
impressionante. Disciplinas como Biologia e resultando em uma compreensão mais pro-
Geografia são beneficiadas com experiências funda e contextualizada dos conceitos.
imersivas que transcendem os limites do en- Além disso, a personalização do
sino tradicional. Por meio dessas tecnologias, aprendizado, facilitada pelos jogos, permite
os alunos podem explorar ambientes virtu- que cada aluno progrida de acordo com seu
ais e complexos biológicos, proporcionan- próprio ritmo e estilo de aprendizagem. Isso
do uma compreensão tridimensional e con- promove a inclusão de todos os estudantes,
textualizada dos conceitos, ferramentas de independentemente de seus diferentes ní-
produção de conteúdo também têm um pa- veis de habilidade ou velocidades de assimi-
pel essencial. Softwares de edição de vídeo, lação.
como o Adobe Premiere, capacitam os alu-
A integração de tecnologias intera-

386
tivas, por sua vez, potencializa ainda mais PELLEGRINE, J.M. A IMPORTANCIA DOS
essa experiência, proporcionando um aces- JOGOS E DAS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
so expandido a recursos e oportunidades INFANTIL. Trabalho apresentado como requi-
de aprendizado. A realidade aumentada, a sito para conclusão da Habilitação Educação
realidade virtual e a inteligência artificial são Infantil, Pontifícia Universidade Católica de
exemplos notáveis de como a tecnologia São Paulo, p-8-26, 2007.
pode criar experiências de aprendizado imer-
sivas e personalizadas.
Ademais, a gamificação e a colabora-
ção entre os alunos são outras facetas que
merecem destaque.

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educação infantil. Trabalho de conclusão de
curso ao Programa de Graduação em Peda-
gogia da Escola de Superior de Ensino Anísio
Teixeira, Serra, p.9-45, 2011.

387
A ARTETERAPIA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA CRIANÇAS
COM TEA E NECESSIDADES ESPECIAIS
NATÁLIA DE SOUZA LIMA

RESUMO efetivos para auxiliá-las a superar suas apre-


ensões e progredir em diferentes aspectos.
Indivíduos jovens com exigências
educacionais especiais, como aqueles que Uma dessas abordagens é a expressão
possuem Transtorno do Espectro Autista artística, que envolve a manifestação e a apli-
(TEA), demandam uma abordagem distinta cação da inventividade e imaginação huma-
no processo de aprendizagem para auxili- nas, comumente por meio de formas visuais
á-los no enfrentamento das atividades do como pintura ou escultura, com o propósito
dia a dia. Terapias direcionadas podem au- de criar obras admiradas por sua beleza ou
xiliá-los a adquirir habilidades fundamentais, impacto emocional.
tais como raciocínio, estruturação, memória
e concentração. A música e as artes apre- Por meio da terapia artística, as crian-
sentam diversos benefícios percebidos para ças com necessidades especiais podem ex-
as crianças. Elas fornecem entretenimento pressar seus sentimentos e emoções de
e podem ampliar a capacidade de concen- maneira não verbal, o que é particularmen-
tração de uma criança, auxiliando-a a focar, te relevante para aquelas com dificuldades
ensinando-a a se concentrar e aprimorando de comunicação. A arte pode auxiliá-las a se
suas habilidades de comunicação. Por meio tranquilizar, diminuir a ansiedade e o estres-
do desenho, a criança consegue expressar se, além de aprimorar a autoestima, a ex-
seus sentimentos e emoções. Quando a fala pressão pessoal, a coordenação motora e a
não é possível, a arte e a música podem atuar interação social.
como substitutos das palavras, visando trans- É essencial recordar que cada crian-
mitir uma mensagem ou declaração. A músi- ça é única e pode reagir de maneira distinta
ca e as artes não servem apenas como for- à terapia artística. É crucial adaptar o trata-
mas de recreação, mas também como meios mento às necessidades individuais de cada
de aprimorar a aprendizagem de crianças criança e assegurar que seja conduzido por
com necessidades educacionais especiais. O um profissional qualificado e experiente em
TEA, por exemplo, é uma deficiência no de- terapia artística para crianças com necessida-
senvolvimento caracterizada por diferentes des especiais.
graus de atrasos na linguagem e comunica-
ção, além de dificuldades na interação social. A arteterapia usa a arte como meio de
A arteterapia é uma modalidade terapêutica expressão pessoal para comunicar sentimen-
que se utiliza da expressão criativa e artística tos, em vez de ter como objetivo produtos
para auxiliar as pessoas a explorarem e com- finais esteticamente agradáveis a serem jul-
preenderem suas emoções, pensamentos e gados segundo padrões externos. Esse meio
comportamentos. No contexto do Transtor- de expressão é acessível a todos, não apenas
no do Espectro Autista (TEA), essa aborda- aos que tem talentos artísticos. (LIEBMANN,
gem pode ser efetiva para ajudar as pesso- 1994, p. 18).
as a se comunicarem e se expressarem de Além da pintura e escultura mencio-
maneira não verbal, o que é especialmente nadas, a arte pode assumir a forma de foto-
importante para aqueles com dificuldades grafia, dobrar papel ou desenho e ajuda as
de comunicação. É relevante ressaltar que a pessoas a engajarem o lado de seu cérebro
arteterapia não representa uma cura para o que é frequentemente usado para expressão
TEA, mas pode servir como uma ferramenta artística - o lado direito.
eficaz para auxiliar as pessoas a lidarem com
o transtorno e melhorarem sua qualidade de Para Jung o símbolo é sempre polis-
vida. Recomenda-se sempre que indivíduos sêmico, portador de sentido e transformador
com TEA recebam uma atenção interdiscipli- da psique. Jung recomenda o andar em torno
nar, envolvendo profissionais médicos, psi- dos símbolos o circumbulatio sem reduzi-lo
cólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocu- por interpretação. A arteterapia que se utili-
pacionais, além do arteterapeuta, a fim de za técnicas expressivas para a amplificação
garantir um tratamento mais abrangente e (desenho, modelagem, pintura, dramatiza-
integrado. ção, caixa de areia, entre outras), leva a esse
Palavras-chave: Aprendizagem; Con- movimento e circunscrever o símbolo sem in-
centração; Habilidade. terpretá-lo, sem reduzi-lo, ao contrário, am-
plificando-o. (DINIZ apud VALLADARES,2003,
p. 57)
INTRODUÇÃO A terapia artística tem demonstrado
ser um método terapêutico eficaz para estu-
As crianças com exigências especiais dantes de educação especial e crianças com
possuem uma percepção singular do univer- outros problemas comportamentais, emo-
so, e é fundamental compreender que suas cionais ou psicológicos. Essa forma de tera-
necessidades se distinguem daquelas das de- pia pode ser considerada um serviço psico-
mais crianças. No entanto, existem métodos terapêutico, permitindo que as crianças se

388
expressem de maneiras não verbais utilizan- de educação especial, pois a terapia artística
do ferramentas e materiais artísticos. Essa pode auxiliá-las a superar obstáculos e alcan-
forma de expressão pode transmitir muitas çar sucesso em um ambiente educacional
mensagens a um terapeuta, sendo uma ma- específico. A terapia artística está frequen-
neira das crianças comunicarem coisas que temente associada à educação especial, pois
não conseguem expressar verbalmente. oferece uma abordagem única para abordar
as necessidades individuais de cada criança
e ajudá-las a atingir seus objetivos de apren-
O SIGNIFICADO DA TERAPIA ARTÍSTICA dizagem.
Os profissionais responsáveis pela A arteterapia é uma modalidade tera-
condução da terapia artística são os artete- pêutica que pode ser oferecida a crianças em
rapeutas. Embora essa abordagem possa idade escolar com necessidades especiais.
ser aplicada a indivíduos de todas as faixas Geralmente, a terapia ocorre em um ambien-
etárias, neste caso, o foco principal será nas te educacional, com a presença de um tera-
crianças que recebem serviços de educação peuta qualificado, e tem como objetivo faci-
especial. Durante as sessões de terapia artís- litar mudanças positivas no comportamento,
tica, as crianças são incentivadas a expressar pensamento e emoções da criança.
seus sentimentos através da criação artística, A arte é vista como uma intervenção
o que lhes permite desenvolver habilidades que afeta o sistema neurológico e auxilia a
sociais, cognitivas e de enfrentamento de criança a "desaprender" comportamentos
frustrações. Além disso, a prática da terapia negativos, substituindo-os por comporta-
artística auxilia no desenvolvimento de ha- mentos positivos. A arteterapia concentra-se
bilidades sensório motoras, como coorde- em ajudar a criança a adquirir novas habilida-
nação mão-olho e estimulação sensorial. As des, limitando distrações ambientais e com-
crianças também aprendem habilidades prá- portamentos improdutivos. Isso é realizado
ticas, como encontrar e organizar materiais por meio de princípios educacionais dinâ-
artísticos, utilizar ferramentas específicas e micos e baseados em ação, que ensinam à
compreender a importância da organização criança a importância do esforço e compor-
e limpeza do ambiente. tamentos apropriados.
De acordo com o website oficial de Te- A arte também contribui para a me-
rapia Ocupacional: lhora da autoestima e do valor próprio da
A Arteterapia resgata o potencial cria- criança, o que é um passo importante em di-
tivo do homem, buscando a psique saudável reção a metas maiores e melhores. Para ser
e estimulando a autonomia e transformação elegível para a arteterapia, a criança precisa
interna, para reestruturação do ser. Partindo passar por uma avaliação adequada e rece-
do princípio, de que muitas vezes não conse- ber um diagnóstico preciso.
gue-se falar de conflitos pessoais, a Artetera-
pia possui recursos artísticos para que sejam
projetados e analisados, todos esses proces- BENEFÍCIOS DA TERAPIA ARTÍSTICA
sos, obtendo uma melhor compreensão de PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPE-
si mesmo, e podendo ser trabalhado no in- CIAIS
tuito de uma libertação emocional. É através
da expressão artística que o homem conse- A terapia artística é uma ferramenta
gue colocar seu verdadeiro self da maneira altamente benéfica para lidar com diversas
mais pura e direta que possa existir. (NOBRE, deficiências, necessidades especiais e pro-
2005, p.39) blemas comportamentais. Ao utilizar essa
abordagem terapêutica, os alunos frequen-
As variedades de trabalhos artísticos temente alcançam um equilíbrio mais próxi-
executados pelos estudantes nesse contex- mo entre os hemisférios cerebrais.
to terapêutico são bastante diversificados.
Podem englobar atividades como colagens, Acredita-se que o desequilíbrio possa
desenhos, murais pintados, criação de fan- afetar áreas como dificuldades de aprendi-
toches e esculturas, entre uma infinidade zagem, depressão, raiva e percepção. Ao adi-
de outras. Todas essas formas permitem à cionar a terapia artística a outras formas de
criança expressar seus sentimentos e forne- aconselhamento, é possível auxiliar os alunos
cer informações indiretas ao terapeuta. a aprenderem habilidades de enfrentamento
que frequentemente estão ausentes em con-
A terapia artística é uma abordagem dições como Transtorno de Déficit de Aten-
que permite trabalhar com as habilidades ção/Hiperatividade, Transtorno do Espectro
singulares de cada criança, respeitando sua Autista e Transtorno de Conduta. A terapia
individualidade. A prática de qualquer forma artística é uma modalidade criativa que pode
de arte, quando realizada em um ambiente contribuir para a melhora da saúde mental e
seguro e relaxante, pode aprimorar as habili- emocional dos alunos, facilitando seu desen-
dades motoras, aumentar o foco e melhorar volvimento de maneira positiva.
o humor.
Todas as crianças deveriam aprender
Esses benefícios são especialmente re- juntas, independentemente de quaisquer di-
levantes para crianças que recebem serviços ficuldades ou diferenças que possam ter. As

389
escolas inclusivas devem reconhecer e res- nidade em que ela esteja inserida, a fim de
ponder às diversas necessidades de seus alu- que o aluno, ao longo da escolaridade, tenha
nos, acomodando tanto estilos como ritmos a oportunidade de vivenciar o maior número
diferentes de aprendizagem e assegurando de formas de arte (BRASIL, 1997, p.15).
uma educação de qualidade a todos através
de currículo apropriado, modificações orga- De modo geral, a terapia artística
nizacionais, estratégias de ensino, uso de re- pode proporcionar uma série de benefícios
cursos e parceiras com a comunidade. (DE- comportamentais e emocionais. Crianças
CLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.21). que costumam resistir à autoridade podem
se tornar mais receptivas a seguir instruções
As terapias artísticas têm o potencial e organizar seus materiais quando são ofere-
de fortalecer a confiança em si mesmo e a cidas oportunidades de expressão por meio
valorização pessoal. Elas podem ser parti- da arte.
cularmente proveitosas para grupos como
aqueles com deficiência intelectual, que fre- Atividades artísticas guiadas permitem
quentemente dependem excessivamente de que as crianças desenvolvam confiança e es-
adultos e figuras de autoridade para orienta- tabeleçam vínculos com o terapeuta de arte e
ção e pistas comportamentais. seus colegas. Cantar e dançar ao som da mú-
sica podem auxiliar as crianças no desenvol-
Ao integrar a terapia artística com vimento adequado do controle vocal, plane-
aconselhamento terapêutico, esses grupos jamento e controle motor, além de aprimorar
podem adquirir perspectivas mais realistas habilidades motoras finas e grossas.
do mundo e melhorar sua capacidade de se
expressar. A repetição de canções pode ajudar
crianças com autismo ou outras dificulda-
A Arteterapia proporciona um espaço des de aprendizagem a antecipar palavras,
de criação e comunicação tanto verbal quan- ritmos e conceitos, permitindo que elas par-
to não verbal, permitindo que as pessoas am- ticipem mais facilmente das atividades musi-
pliem sua compreensão de seus problemas e cais na sala de aula. As atividades artísticas,
necessidades através de cada expressão ar- que englobam desde desenho até atuação,
tística. Isso possibilita a construção de recur- demandam diferentes níveis de pensamento
sos internos saudáveis para buscar soluções, complexo e resolução de problemas.
promovendo o autoconhecimento e resga-
tando a autoestima e confiança pessoal. A arte oferece às crianças uma forma
criativa de expressar seus pensamentos e
A Arteterapia valoriza a criatividade sentimentos, muitas vezes por meio da co-
e a expressão artística, contribuindo para a municação não verbal. Crianças com autismo
organização psíquica, fortalecendo a identi- ou outras dificuldades de aprendizagem po-
dade individual e promovendo um desenvol- dem expressar emoções através da arte que
vimento completo. Por meio da Arteterapia, não conseguiriam expressar de outra forma.
as pessoas podem comunicar de forma mais
eficaz suas ideias e emoções, ao mesmo tem-
po em que desenvolvem habilidades sociais EDUCAÇÃO ESPECIAL E ARTE
e emocionais.
As crianças podem se beneficiar da te-
Em suma, a Arteterapia é uma abor- rapia, especialmente quando enfrentam pro-
dagem terapêutica que utiliza a arte como blemas de saúde mental ou deficiências. No
meio de auxiliar as pessoas a se conhecerem entanto, muitas vezes elas relutam em buscar
melhor e lidarem com questões emocionais terapia devido ao receio de expressar seus
e psicológicas. sentimentos em um ambiente clínico. Isso
Os Parâmetros Curriculares Nacionais é particularmente verdadeiro para crianças
ressaltam a importância da arte como meio pequenas com conhecimento limitado, bem
de desenvolver a criatividade e a apreciação como para aquelas que não falam o idioma
estética dos alunos, além de contribuir para predominante do país em que se encontram.
o desenvolvimento integral de suas persona- Além dos tipos de terapia convencio-
lidades. nais, a arte pode ser uma forma adicional
A educação em arte propicia o desen- para as crianças comunicarem suas emoções
volvimento do pensamento artístico, que ca- e pensamentos aos terapeutas, que estão
racteriza um modo particular de dar sentido empenhados em ajudá-las a superar com
às experiências das pessoas: por meio dele, sucesso seus desafios. A terapia artística ofe-
o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, rece uma maneira não verbal e criativa para
a reflexão e a imaginação de aprender, pois a as crianças se expressarem, o que pode aju-
arte envolve, basicamente, fazer trabalhos ar- dá-las a se sentirem mais confortáveis e con-
tísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve fiantes ao compartilhar seus sentimentos e
também, conhecer, apreciar e refletir sobre pensamentos com os terapeutas.
as formas da natureza e sobre as produções Meira e Pillotto (2010, p.11) afirmam
artísticas individuais e coletivas de distintas que:
culturas e épocas. Para tanto, a escola deve
saber aproveitar a diversidade de recursos
humanos e materiais disponíveis na comu-

390
O professor, como o artista, ou como aspectos da criação para compreender o que
artista-professor, é um mostrador de afetos, ela representa em relação aos pensamentos
um provocador de afetos. O afeto é o pri- e sentimentos da criança. Com base nas res-
meiro sinal de que o professor está se dan- postas fornecidas, o terapeuta elabora um
do bem ou mal com o que faz, ou com o que plano de tratamento adequado que auxiliará
propõe a fazer, porque é um mapa sensível a criança a progredir em direção à recupera-
do que acontece em aula, com o que chega e ção.
sai dela, transmutando em valor para a vida
pessoal e social. O professor de artes é um pesquisa-
dor. Ele experimenta, constrói e transforma
A arteterapia é reconhecida como uma conceitos por meio, primeiramente, de sua
modalidade terapêutica na qual os pacientes própria vivencia; trilhando o caminho de sua
empregam sua inventividade através de di- criatividade; descobrindo, desta forma, suas
versos materiais para enfrentar o estresse, a capacidades e limites para melhor compre-
ansiedade ou outras condições relacionadas ender as capacidades e limites do educando
à saúde mental. O terapeuta auxilia a criança e melhor conduzi-lo (BRASIL, 1999, p. 130).
na interpretação do significado das imagens
que ela produz. Em seguida, terapeuta e pa- A arteterapia traz muitos benefícios
ciente dialogam conjuntamente sobre o por- para várias crianças, no entanto, é essencial
quê e o como a imagem ou obra de arte foi lembrar que cada criança é única e pode res-
concebida. ponder de maneiras diferentes a cada plano
de tratamento. Algumas crianças conseguem
A utilização da arte pode funcionar expressar-se plenamente através da arte, en-
como uma forma de terapia para crianças quanto outras podem requerer mais esforço
que batalham contra a depressão ou como ou paciência antes de se sentirem suficiente-
uma via de expressão para aqueles com defi- mente confortáveis para se abrir.
ciências. Seja qual for o caso, a arte pode ser
uma fonte terapêutica ou um meio de escape Cada criança possui seu próprio ritmo
para aqueles que necessitam de uma abor- e processo, e é crucial que o terapeuta traba-
dagem criativa para lidar com seus desafios lhe com elas individualmente, auxiliando-as
emocionais. a expressar-se da melhor maneira possível.
O sucesso da arteterapia depende de uma
[...] A arte é tão importante que existe abordagem personalizada e sensível às ne-
desde o tempo das cavernas [...] quando há cessidades específicas de cada criança.
uma crise educacional, a primeira disciplina
que se corta é a arte. Mas apesar disso, re- Conforme Jung (1920) afirmou, a arte
siste até os dias de hoje porque a arte é o é um meio criativo e a energia psíquica pode
esforço do ser humano para representar o ser transformada em imagens e símbolos,
mundo ao seu redor e representar também permitindo a expressão de conteúdos inter-
os ritmos constantes da vida. Então o ensino nos e profundos.
da arte hoje mudou muito. O modernismo A arteterapia fundamenta-se na cren-
entronizou a importância da expressão para ça de que o processo criativo envolvido
a criança, para o adolescente e para o adulto. na atividade artística é terapêutico e pode
Liberou o adulto de normas rígidas e pres- aprimorar a qualidade de vida das pessoas.
crevia a ideia de que a arte é interioridade e Acredita-se que a arte auxilie na expressão
que você precisa liberar a sua expressão para de emoções e pensamentos que nem sem-
organizar as suas imagens, fazer uma espé- pre podem ser facilmente articulados por
cie até de edição de imagens [...] (BARBOSA, palavras. Além disso, a criação artística pode
1998, p.1). ajudar as pessoas a se conectarem com suas
As pessoas, especialmente crianças, emoções, desenvolver habilidades sociais e
possuem uma imaginação vasta e são ineren- melhorar a autoestima.
temente criativas, o que facilita sua expres- A arteterapia é uma abordagem tera-
são por meio de desenhos ou esboços, em pêutica que utiliza a arte como meio de co-
vez de responderem diretamente a questio- municação para auxiliar as pessoas a lidarem
namentos. A arte é uma atividade segura que com questões emocionais e psicológicas.
permite que as crianças abordem problemas
desafiadores de forma criativa. Moreira enfatiza que:
O processo de arteterapia é adaptado A arte e um produto de uma neces-
de acordo com o terapeuta, a idade da crian- sidade de expressar, de configurar e trazer
ça e a condição ou problema em tratamento. para o nível concreto, imagens internas re-
Os arteterapeutas geralmente disponibilizam pletas de energia psíquica. A arte também se
materiais apropriados para a idade da crian- apresenta como uma possibilidade de orga-
ça e permitem que ela trabalhe de maneira nização emocional, intelectual e espiritual da
independente. personalidade do homem (2006/2007, p. 32).
O terapeuta estabelece um período Por meio da criação artística e da re-
determinado para iniciar e finalizar a ativida- flexão sobre os processos e resultados artísti-
de. Quando a obra de arte é concluída, o tera- cos, as pessoas podem expandir sua compre-
peuta discute com a criança sobre diferentes ensão de si mesmas e dos outros, fortalecer
a autoestima, lidar de maneira mais eficaz

391
com sintomas, estresse e experiências trau- SEF/SEP, 1999.
máticas, desenvolver recursos físicos, cogni-
tivos e emocionais, e experimentar o prazer BRASIL. Ministério da Educação. Secre-
revigorante da arte. A arteterapia oferece taria de Educação Fundamental. Parâmetros
inúmeras oportunidades de descoberta e Curriculares nacionais: arte. Brasília: MEC;
reflexão, promovendo o equilíbrio emocio- SEF, 1997. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA:
nal do indivíduo. Ao criar arte e refletir sobre Sobre princípios, políticas e práticas na área
ela, as pessoas podem se conectar com suas das necessidades educativas especiais. Sa-
emoções e pensamentos internos, aprimorar lamanca–Espanha, 1994. MOREIRA, Patrícia
suas habilidades sociais e aumentar a auto- R. T.; Arteterapia – comece onde você está
consciência. A arteterapia é uma abordagem construindo sua própria imagem. Alagoas,
terapêutica que utiliza a arte como meio de 2006/2007.
auxílio no enfrentamento de questões emo- VALLADARES, Ana Cláudia Afonso. Ar-
cionais e psicológicas. teterapia com crianças hospitalizadas. Dis-
sertação de Mestrado apresentada e ao Pro-
grama de Pós-graduação em Enfermagem
CONSIDERAÇÕES FINAIS Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto- USP, 2003.
As expressões artísticas possuem um
poder imenso. Seja por meio da atuação, PORTALHUMANIZA. Site produzido
canto, dança, desenho ou escrita, as artes pelo instituto “A Casa”. Disponível em:
permitem que as pessoas se expressem e
transmitam suas ideias sem necessidade de www.portalhumaniza.org.br Acesso
palavras. É por isso que a terapia expressiva em 20 set.2023.
por meio da arte se tornou popular, especial-
mente para crianças com necessidades es-
peciais. Essa abordagem utiliza essas formas
artísticas para melhorar o desenvolvimento e
o crescimento individual.
A combinação adequada pode promo-
ver o bem-estar geral, diminuir a ansiedade
e o estresse, aumentar a autoconsciência e
a autoestima, fortalecer relacionamentos, re-
gular comportamentos e desenvolver habili-
dades sociais.
Para as crianças, a arte é a forma defi-
nitiva de expressão, independentemente dos
materiais utilizados, como giz de cera, argi-
la, tinta ou papel machê. Afinal, as crianças
possuem uma criatividade natural, e a arte-
terapia pode ser uma ferramenta maravi-
lhosa para desenvolver habilidades, incluin-
do a comunicação e a regulação emocional,
especialmente para crianças com autismo.
Além disso, a arteterapia também é utilizada
para melhorar a saúde mental, ajudando as
crianças a regularem suas emoções, cons-
truir confiança e reconhecer e responder a
expressões faciais e pistas sociais.
A arteterapia pode auxiliar crianças
com necessidades especiais em diversos as-
pectos e, portanto, deve ser reconhecida e
promovida em todos os centros de saúde.

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ao programa Roda Viva, 1998.
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cionais adaptações curriculares: estratégias
para a educação de alunos com necessida-
des educacionais especiais. Brasília: MEC/

392
JOGOS E BRINCADEIRAS
NAYARA RODRIGUES

RESUMO Quando a criança tem a oportunidade


de escolha, que inicia com o brincar, ela exer-
A arte é uma das fases mais impor- cita a sua liberdade e assim se torna uma
tantes na vida escolar das crianças. E além criança mais observadora e crítica. As parti-
da alfabetização sabemos que a brincadeira cipações e as transformações introduzidas
também é essencial para o desenvolvimento pela criança na brincadeira devem ser valo-
infantil e através dos jogos e das brincadeiras rizadas, tendo em vista o estímulo ao desen-
podemos facilitar esse processo. Não tenho volvimento de seu conhecimento.
a intenção de dizer que o processo de alfa-
betização só acontece com a ludicidade, mas O vivenciar da ludicidade no contexto
sim, que o envolvimento do lúdico desperta escolar seja através de jogos, brincadeiras ou
mais interesse, enriquecendo e favorecen- outra atividade lúdica direcionada, é impor-
do esse processo de forma mais tranquila e tante para a formação do sujeito e contribui
prazerosa. No brincar as crianças conseguem para tornar o processo ensino e aprendiza-
interagir e adquirir novos conhecimentos gem mais agradável. A palavra “lúdico” vem
e experiências necessárias para o proces- do latim ludus e significa brincar.
so de alfabetização. Os jogos educacionais
são recursos enriquecedores por meio dos Segundo Piaget, o desenvolvimento da
quais se busca o aumento de possibilidades criança acontece através do lúdico, que não
de aquisição de aprendizagem, construção representa somente o jogar, mas sim pode
de autoconfiança e motivação em relação o ser encontrado em várias manifestações
conteúdo formal a ser aprendido. O presen- como na dança, teatro, brincadeiras, cons-
te trabalho teve origem na relevância que trução de materiais concretos e nas histórias.
atribui a ludicidade no desenvolvimento do Na busca de um novo conceito de al-
processo de alfabetização com os alunos do fabetização, o lúdico surge como um recurso
1 ano. Diante desse tema busquei autores didático dinâmico que proporciona resulta-
que me auxiliaram na definição dos princi- dos positivos na educação, envolvendo o alu-
pais conceitos envolvidos nesse estudo, es- no no processo de aprendizagem e também
sas contribuições teóricas me fizeram refletir exigindo do professor maior engajamento e
e compreender os conceitos em questão e planejamento das atividades executadas em
ampliar o meu olhar para o tema em abor- aula.
dado. Por essa razão trago nesse trabalho
atividades desenvolvidas em minha prática A BNCC (2017), estabeleceu também
pedagógica utilizando a ludicidade no pro- os campos de experiência, fundamentais
cesso de alfabetização. O ato de brincar é para que a criança possa aprender e se de-
tão importante para a criança que se tornou senvolver:
um direito garantido na Declaração Universal • O eu, o outro e o nós;
dos Diretos da Criança, onde no quarto deixa
claro que criança terá direito a alimentação, • Corpo, gestos e movimentos;
recreação e assistência médica adequadas.
Estabelecendo de forma igualitária que a re- • Traços, sons, cores e formas;
creação é tão importante quanto à alimenta- • Escuta, fala, pensamento e ima-
ção e a saúde para a criança. Sendo assim, o ginação;
brincar é muito importante no processo de
desenvolvimento da criança. • Espaços, tempos, quantidades,
relações e transformações.
Palavras-chave: Arte; Lúdico; Brinca-
deira; Educação. O objetivo é reconhecer a importância
e significância do lúdico na vida da criança e
principalmente no processo de alfabetização
INTRODUÇÃO estimulando através dos jogos a curiosidade,
a criatividade e o raciocínio aluno.
Na longa jornada de trabalho notei o
quão importante é para as crianças o mo- Desenvolver práticas de atividades
mento da arte, do brincar e o quanto isso era que sejam acolhedoras e prazerosa no pro-
prazeroso, contudo, era muitas vezes deixa- cesso de aprendizado.
do de lado pelos professores, pois trabalhar Através do lúdico, o professor tem a
o lúdico requer tempo e muita dedicação chance de tornar sua prática pedagógica ino-
para que seja um trabalho proveitoso. vadora, pois além de desenvolver atividades
Nos dias de hoje temos a impressão divertidas, o professor pode proporcionar si-
de que a sociedade não vê a brincadeira tuações de interação entre os alunos melho-
como forma de aprendizado, mas sim como rando a forma de relacionamentos entre os
perca de tempo onde o professor deveria es- mesmos.
tar dando um conteúdo ao invés de brincar. Segundo Vygotsky (1984), o brincar re-

393
laciona-se ainda com a aprendizagem. Brin- teressados em promover mudanças.
car é aprender; na brincadeira, reside a base
daquilo que, mais tarde, permitirá à criança
aprendizagens mais elaboradas. “O lúdico DESENVOLVIMENTO- JOGOS E BRIN-
torna-se, assim, uma proposta educacional CADEIRAS
para o enfrentamento das dificuldades no
processo ensino-aprendizagem.” Nesse sen- Segundo Kishimoto (2003) definir jogo
tido, o professor deve procurar proporcionar não é fácil, cada pessoa pode entender de
situações de aprendizagem motivadoras, de modo diferente. Os jogos mesmo que te-
acordo com o nível de desenvolvimento cog- nham a mesma denominação, mas tem as
nitivo do aluno, em atividades que possam suas especificidades.
desafiá-lo, despertando assim seu interesse O jogo pode ser visto como o resulta-
pelo que está sendo ensinado em sala de do de um sistema linguístico que funciona
aula. dentro de um contexto social, um sistema de
O jogo tem relação direta com a diver- regras e um objeto.
são. Utilizá-lo como recurso pedagógico pode Pode-se ver que o jogo pode ter utili-
tornar o processo de ensino e aprendizagem zações diferentes, cada povo tem sua manei-
em um momento divertido e prazeroso, tan- ra de jogar ou brincar de acordo com a sua
to para o aluno quanto para o professor. Nes- cultura, com o seu povo. Cada um aprende
se sentido, o jogo passa a desempenhar um de uma maneira.
papel diferente no contexto escolar, quando
planejados e bem aplicados, com objetivos Antigamente o jogo era inútil, não sé-
definidos. rio. Nos tempos do Romantismo, aparece
De acordo com Vygotsky (1984), é na como algo sério e para educar as crianças.
interação com as atividades que envolvem Já o brinquedo não possui um sistema
simbologia e brinquedos que o educando de regras que determinam sua utilização. O
aprende a agir numa esfera cognitiva. brinquedo incentiva a reprodução de ima-
Na visão do autor a criança comporta- gens da realidade, Kishimoto (2002), diz que
-se de forma mais avançada do que nas ati- um dos objetivos é ser um substituto dos ob-
vidades da vida real, tanto pela vivência de jetos reais para a criança.
uma situação imaginária, quanto pela capa- Os jogos mesmo que tenham a mes-
cidade de subordinação às regras. É muito ma denominação, mas tem as suas especifi-
importante que os educadores mudem os cidades O jogo pode ser visto como o resul-
padrões de conduta em relação aos educan- tado de um sistema linguístico que funciona
dos, deixando de lado os métodos e técnicas dentro de um contexto social, um sistema de
tradicionais e passem a acreditar que o lú- regras e um objeto.
dico é eficaz como estratégia do desenvolvi-
mento em sala de aula. É muito provável que O jogo está presente na escola, o pro-
os professores alfabetizadores prefiram utili- fessor permitindo ou não. Porém é um jogo
zar o método tradicional pois o lúdico requer em que as regras são predeterminadas e a
tempo, o lúdico é um importante aliado no única ação que é permitida às crianças é obe-
processo da alfabetização, pois as crianças decer, seguir as regras. (Kishimoto, 2002).
devem se sentir confortáveis e seguras, pois O ato de jogar e de brincar exige da
ao brincar elas aprendem sem perceber. Os criança movimentação física e provoca de-
jogos educativos, em sua essência, levam ao safio mental. O mundo da fantasia, da ima-
aprendizado a partir do lazer e diversão, sen- ginação e da brincadeira é um mundo onde
do que o tamanho da motivação da criança a criança está em exercício constante, tanto
está interligado à forma e à abordagem dada nos aspectos físicos ou emocionais como,
pelo foco educacional apresentada. A vida principalmente, no aspecto intelectual. Jo-
da criança é uma sucessão de experiências gar em sala de aula proporciona momentos
de aprendizagem adquirida por ela mesma, de interação e aprendizagem, pois é um dos
quando tem a oportunidade de interação. meios mais estimuladores da construção do
Ao chegar à escola, ela traz consigo conhecimento. O jogo promove a aprendi-
infinitas experiências e conhecimentos acu- zagem informal e formal, pois ele auxilia no
mulados, conquistados por meio de explora- processo ensino-aprendizagem, tanto no de-
ção visual, auditiva, jogos, brincadeiras, con- senvolvimento psicomotor como também no
versas, passeios, contatos, brinquedos, que desenvolvimento de habilidades do pensa-
influenciarão no processo de aprendizagem. mento, como a imaginação, a interpretação
Os renomados autores não indicam que o lú- e a criatividade.
dico é a fórmula mágica que irá sanar todos De acordo com o pensamento de Ca-
os problemas de aprendizagem, nem muito gliari acredito que a utilização do lúdico torna
menos que se deve substituir a educação tra- a aprendizagem produtiva tanto para o aluno
dicional pelo lúdico. Mas veem no lúdico uma quanto para o professor, fazendo com que o
alternativa importantíssima para a melhoria processo de alfabetização tenha sentido para
no intercambio ensino aprendizagem e uma o aluno. A alfabetização poderia ser um pro-
ponte que certamente auxiliará na melhoria cesso de construção de conhecimentos que
dos resultados por partes dos educadores in-

394
se faz com facilidade, porém tornou-se um maiúscula na sala. Ensina-se o nome das le-
pesadelo nas escolas. Nas séries iniciais as tras para que os alunos tenham um referen-
crianças tem uma resistência maior à atitude cial dos sons das letras.
autoritária porque ainda não aprenderam a
se submeter ao que veem e ouvem. A indivi- Sabendo os nomes das letras pode-se
dualidade é uma forte marca da personalida- decifrar a escrita de uma palavra sem dificul-
de das crianças. dades. O lúdico no processo de alfabetização
é um grande parceiro do aluno e o professor.
Segundo Cagliari (1998) o Brasil pre- Deve estar constantemente nesse processo,
cisa modificar profundamente a educação, ele é quem facilita a aquisição da escrita e da
especialmente, a alfabetização. Para que isso leitura.
aconteça é preciso professores com melhor
formação técnica. Enquanto as escolas conti-
nuarem formando mal os professores, a alfa- CONSIDERAÇÕES FINAIS
betização e todo o processo escolar no geral
irão continuar seriamente comprometidos. O objetivo da pesquisa foi reconhe-
cer a importância e significância do lúdico na
Com a divulgação dos Parâmetros vida da criança e principalmente no processo
Curriculares Nacionais do Ensino Fundamen- de alfabetização estimulando através dos jo-
tal na área de Língua Portuguesa, pode-se gos a curiosidade, a criatividade e o raciocí-
destacar no âmbito educacional uma preocu- nio aluno, e por isso foi reconhecido que o
pação com as dificuldades de leitura e escrita trabalho na área de ludicidade é um campo
nas séries iniciais pelo fato de um trabalho em desenvolvimento que possibilita não so-
que não é adequado com a alfabetização. mente o aprendizado do aluno, mas também
A linguagem passou a ser vista como a profissionalização do docente em busca de
uma ferramenta de comunicação. Não é mais aulas com rendimento positivo e satisfatória
valorizada apenas uma linguagem padrão ou o aluno tem que ter o desejo pelo aprendi-
culta como elemento de produção escrita e zado, e essas novas técnicas possibilita uma
oral. inserção satisfatória, fazendo com que uma
simples aula torne-se menos exaustiva e
Jogar em sala de aula proporciona mo- mais apreciada.
mentos de interação e aprendizagem, pois é
um dos meios mais estimuladores da cons- A partir do momento que é inserido
trução do conhecimento. O jogo promove a uma brincadeira seja ela individual ou em
aprendizagem informal e formal, pois ele au- grupo, é construída uma série de conheci-
xilia no processo ensinoaprendizagem, tanto mentos e várias habilidades são desenvolvi-
no desenvolvimento psicomotor como tam- das, além de serem criadas diversas estraté-
bém no desenvolvimento de habilidades do gias para solucionar os conflitos emocionais.
pensamento, como a imaginação, a interpre- Considerando importante esta construção
tação e a criatividade. Conforme a atividade, da criança e privilegiando o brincar, mesmo
ela passa a desenvolver as suas habilidades, assim é necessária uma atenção especial. O
vai conhecendo a sua capacidade e desenvol- objetivo dessa pesquisa foi analisar a impor-
vendo cada vez mais a autoconfiança. tância do lúdico no processo de alfabetização
nas series iniciais.
Com isso, podemos ver que o jogo é
importante para desenvolvimento intelectu- A partir do primeiro momento que foi
al e social da criança, podendo estimular sua apresentado os jogos para os alunos, pude
criticidade, criatividade e habilidade sociais. observar o entusiasmo e interesse em apren-
O professor quando oferece atividades lúdi- der, até mesmo os alunos com mais dificul-
cas ao aluno, permite que ele interaja através dades mostraram um prazer e uma tranquili-
a Língua Portuguesa de maneira dinâmica, dade dando um retorno satisfatório.
expondo ideias, interpretando texto e ultra- Sendo assim concluo que existem pos-
passando seus conhecimentos para outras sibilidade de tornar as aulas mais prazerosas
áreas. Observa-se que o professor exerce um trazendo para sala de aulas jogos e brincadei-
papel muito importante no processo de alfa- ras para atrair os alunos dessa idade, o pro-
betização das crianças O grande desafio para fessor pode aliar seus objetivos pedagógicos
o educador, no contexto atual, é ensinar os aos desejos dos alunos criando em suas ati-
conteúdos propostos pelos programas curri- vidades diárias um ambiente mais agradável
culares de uma forma criativa. e divertido.
A história da escrita irá servir para
mostrar aos alunos que ela gira em torno de
palavras, e não apenas de letras. Isso facilita- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
rá mais para frente, quando o aluno tiver que
segmentar a fala para escrever a palavra. AGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando
sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipicione,
Cagliari (1998) diz que quando se che- 1998.
ga à apresentação do alfabeto, é melhor falar
dele logo e mostrar todas as letras de uma BRASIL. Base Nacional Comum Cur-
vez. Para isso, seria melhor que houvesse ricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília,
uma faixa com o alfabeto das letras de forma MEC/CONSED/UNDIME, 2017.

395
CORIA-SABINE, Maria Aparecida; LU-
CENA, Regina Ferreira de. Jogos e brincadei-
ras na Educação Infantil. Campinas: Papirus,
2009.
DUPRAT, Maria Carolina (org.) Ludici-
dade na educação infantil. São Paulo, Pear-
son: 2015.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.).
Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação.
São Paulo: Cortez, 2002.
KISHIMOTO, Tisuko Morchida. O jogo
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SANTOS, Carlos Alberto dos. Jogos e
atividades lúdicas na alfabetização. Rio de Ja-
neiro: SPRINT, 1998.

ANEXOS
Seguem abaixo, figuras de como tra-
balhar arte na educação

Figura 3- fonte: www.google.com.br/


arteeeducação

Figura 1- fonte: www.google.com.br/


arteeeducação
Figura 4- fonte: www.google.com.br/
arteeeducação

396
O USO DE PARQUES ADAPTADOS PARA CRIANÇAS
NILCE TELINI DE MELO

RESUMO ted on the testimony of a teacher specialized


As Unidades de Educação Infantil são in Early Childhood Education and Inclusive
compreendidas como ambientes acolhedo- Education.
res que fazem parte da primeira infância. A Keywords: Early Childhood Education;
aprendizagem ocorre por meio do brincar, Inclusion; Park.
os educadores organizam os espaços para as
experiências das crianças. O parque é muito
importante na Educação Infantil, por se tra- INTRODUÇÃO
tar de um ambiente ao ar livre que promove
a sensação de liberdade. Os variados brin- O presente trabalho foi desencadea-
quedos do parque, de grande porte e outros do pelas observações vivenciadas no cotidia-
inseridos pelos professores, colaboram para no das escolas e foram feitas consultas em
o desenvolvimento da coordenação motora, livros e artigos sobre a influência do parque
superação e autoconfiança, além de propi- e sua contribuição para a Educação Infantil.
ciar a socialização e autonomia. Dessa ma- Realizamos uma Pesquisa Bibliográfica e um
neira mediante a lei nº 9394/96, que prevê a diálogo com a Professora Elisângela Ferreira
educação como dever do Estado e da família. Costa Americano, professora de Educação In-
Os familiares e os profissionais da educação fantil e do Ensino Fundamental I, tendo sido
devem cobrar do Estado os recursos e adap- componente do CEFAI – DRE, em anos ante-
tações necessárias para a educação inclusi- riores.
va. O Objetivo Geral do trabalho é evidenciar
como o parque escolar influencia na aprendi- O parque é muito importante para de-
zagem e desenvolvimento integral da criança senvolvimento integral da criança. É observa-
na Educação Infantil. O Objetivo Específico é do que os momentos no parque são de des-
ampliar a reflexão sobre como o parque pode contração, alegria e negociação, fatores que
ser inclusivo para todas as crianças, especifi- colaboram para o aprendizado. Por meio das
camente, para as crianças com deficiência. A brincadeiras no parque, as crianças são esti-
Metodologia se dá pela pesquisa bibliográfi- muladas a uma aprendizagem lúdica e signi-
ca e contou com o depoimento da professora ficativa. Dificilmente as escolas de Educação
especialista na Educação Infantil e Educação Infantil possuem parques inclusivos.
Inclusiva. Com isso notamos as frustrações e
Palavras-chave: Educação Infantil; In- tristezas que as crianças com deficiência são
clusão; Parque. submetidas.
Esse trabalho tem como objetivo, res-
saltar a importância do parque inclusivo, do
ABSTRACT lúdico e das brincadeiras na Educação Infan-
til, e como a aprendizagem ocorre através
Early Childhood Education Units are das brincadeiras, e como o lúdico intensifica
understood as welcoming environments that os momentos do aprendizado. O parque pre-
are part of early childhood. Learning takes cisa ser inclusivo para que todas as crianças
place through playing; educators organize possam brincar aprender e se socializarem.
the spaces for children's experiences. The O parque deve adequar-se a todos.
park is very important in kindergarten, as it
is an outdoor environment that promotes Os professores da Educação Infantil,
a sense of freedom. The park's varied toys, muitas vezes sofrem pela falta de recursos
large and others inserted by the teachers, fundamentais para a inclusão, as crianças
contribute to the development of motor co- necessitam de lugares adaptados, com infra-
ordination, overcoming difficulties and self- estrutura correta para vivenciar momentos
-confidence, in addition to promoting sociali- de lazer, estes lugares podem ser criados de
zation and autonomy. Thus, through Law No. acordo com o que o Ministério da Saúde so-
9394/96, which provides for education as a licita em caso de Crianças que se constituem
duty of the State and the family. Family mem- em Público-alvo da Educação Especial.
bers and education professionals must de-
mand from the State the resources and adap-
tations necessary for inclusive education. The O TRABALHO NO PARQUE INCLUSIVO
General Objective of the work is to show how
the school park influences the learning and Constantemente os projetos, os jogos
integral development of children in Early Chil- e os brinquedos devem ser adequadamen-
dhood Education. The Specific Objective is to te adaptados para que todos possam parti-
broaden the reflection on how the park can cipar. Entretanto as brincadeiras no parque
be inclusive for all children, specifically for carecem de maior atenção, pois as adapta-
children with disabilities. The Methodology is ções dos brinquedos do parque precisam de
based on bibliographical research and coun- maiores elaborações que talvez estejam fora

397
do alcance dos educadores, por isso este tra- vida do indivíduo, mas, assim como o pensa-
balho de pesquisa é propositivo. mento infantil, apresentam uma evolução,
Sendo assim, os educadores podem que caminha do sincrético para o diferencial.
criar espaços que atendam melhor todas De acordo com Elisângela (2020), em
as necessidades, com brinquedos e objetos seus atendimentos educacionais especiali-
adaptados. Por que para todos e não para zados, no momento do parque, ela tirava fo-
pessoas deficientes? Pois para acabar com o tos, para no dia seguinte mostrar essas fotos
preconceito é preciso que as pessoas convi- para as crianças, pois, segundo esta profes-
vam. Entretanto, tudo que é novo ou diferen- sora, é bem significativo este momento. E cita
te tende a ser rejeitado, então a partir do mo- que falar para a criança o que vai acontecer
mento em que as crianças passam a conviver antes de acontecer é muito importante para
elas começam a perceber semelhanças e não que fiquem tranquilas. De acordo com Elizan-
as diferenças. E por esse motivo a iniciativa gela (2020), não é importante ter LIBRAS ape-
de um projeto com mobílias e materiais ao nas em sala de aula, e sim em um contexto
alcance de crianças com deficiência é tão im- geral, e toda a escola aprender LIBRAS, por-
portante. que no momento que a criança precisar ir ao
Para proporcionar momentos de lazer banheiro a comunicação vai acabar, uma vez
para as crianças Público - Alvo da Educação que deveria haver comunicação por meio da
Especial, são necessários jardins sensoriais Língua Brasileira de Sinais.
que apesar de serem inclusivos são focados Observa-se que existem profissionais
na experiência dos sentidos: olfato, tato, vi- que auxiliam a criança a brincar no parque,
são, audição e paladar. Também podemos mas essas boas atitudes não são suficientes,
oferecer um espaço de recreação infantil, é necessário que a infraestrutura dos par-
com brinquedos adaptados e que esta adap- ques seja adaptada, sendo por textura, sons,
tação esteja ao alcance da criança e de acordo cores e luzes, que favoreçam a percepção do
com sua necessidade. Os brinquedos devem objeto. Existem intervenções que deverão ser
atender aos interesses da criança e reforçar feitas pelas ações governamentais, porém a
a ideia de ela assumir alguns desafios, com escola pode realizar mudanças e adaptações
segurança. A criança precisa de desafios para planejadas e possíveis.
sentir-se estimulada.
Existem brinquedos e brincadeiras
Na medida em que a criança cresce, que podem ser realizadas no Parque: a mú-
deve ser exposta às novas experiências, brin- sica, o canto e as representações de histórias
quedos e brincadeiras naturais da idade. O são indicados para qualquer criança, em dife-
que vale é que a criança se sinta valorizada rentes espaços.
pela sua conquista, principalmente, as crian-
ças com deficiência. Vale abusar de máscaras, fantasias,
bonecos e super-heróis. A escolha deve ser
No parque, as crianças em geral e as feita com base no desenvolvimento da crian-
crianças com deficiência devem ter acesso ça e não apenas na sua faixa etária. É possí-
aos brinquedos do parque, outros brinque- vel seguir algumas orientações que facilitam
dos inseridos pelos professores nos espaços a melhor escolha. De acordo com Elizangela
(como nos tanques de areia e outros cantos) (2020), no parque das escolas da Prefeitura
para que todas as crianças vivam plenamen- de São Paulo, são usadas as concepções que
te a sua infância e vivenciem a atividade es- estão presentes nas escolas da cidade de Re-
sencial da infância: o brincar. ggio Emília, pois é levado em consideração
que as crianças precisam interagir nos espa-
ços com crianças da mesma idade, de outras
POSSIBILIDADES DE TRABALHO IN- idades e com adultos. Ela cita que na EMEI em
CLUSIVO NO PARQUE, NA EDUCAÇÃO INFAN- que leciona tem parque sonoro e brinquedos
TIL com madeira, com 4 espaços, e nesta EMEI,
foi feita uma assembleia com as crianças e as
É notório que nas escolas de Educação crianças puderam votar em qual espaço usa-
Infantil, a hora do parque é um dos momen- riam cada dia, e cada professora ficava num
tos mais aguardados pelas crianças. O par- espaço, não com sua turma, mas com diver-
quinho proporciona momentos de descon- sas crianças, para assim acontecer o convívio
tração, liberdade e prazer, contribuindo para e a socialização.
a aprendizagem e socialização das crianças.
Para Elizangela (2020), sempre existe
Observa-se que na educação infan- uma possibilidade de aprendizagem em in-
til as crianças aprendem brincando, e cada clusão para as crianças. Elas precisam percor-
brinquedo do parque favorece a aprendiza- rer os espaços disponibilizados nos parques,
gem. Concordando com a pesquisa de Salla desenvolvendo jogos simbólicos e podem ter
(2011) sobre o educador Henry Wallon, as um professor de referência. A criança sur-
interações com o meio estimulam a aprendi- da, por exemplo, ela precisa ser criança, e o
zagem e a afetividade. Wallon mostra que a próprio brinquedo faz esta intermediação, o
afetividade é expressa de três maneiras: por brinquedo auxilia o professor, a criança se
meio da emoção, do sentimento e da paixão. expressa vendo outras crianças. Visto que o
Essas manifestações surgem durante toda a parque é compreendido como um ambiente

398
de estímulos para a aprendizagem e autono- mesmas oportunidades, respeitando as dife-
mia, ele precisa ser inclusivo, para a garantia renças e levando em consideração a diversi-
do aprendizado eficaz. dade humana e as suas especificidades.
O direito de brincar da criança favo- O educador pode contribuir com o
rece a descoberta, estimula a curiosidade, bom desenvolvimento infantil, permitindo a
ajuda na concentração e desenvolve os mús- criança conhecer e transformar o mundo ao
culos das crianças. De acordo com Oliveira seu redor. Precisa estimular o convívio social,
(2000), para Vygotsky, a brincadeira deve ser a inclusão, e considerar o desejo que a crian-
sempre entendida como uma relação imagi- ça sente por brincar.
nária e ilusória de desejos irrealizáveis. A re-
alização destes desejos não se trata de algo O lúdico e o parque inclusivo, junto
pontual e específico. Trata-se do desenvolvi- com as brincadeiras inseridas de forma pla-
mento das potencialidades humanas. nejada ao ar livre, são de grande relevância
para o desenvolvimento integral da criança e
também para o processo de ensino e apren-
BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA IN- dizagem.
CLUSÃO Diante do exposto, julga-se ser direito
As crianças possuem um mundo ima- da pessoa com deficiência o livre acesso a to-
ginário, cujo significado é estabelecido pelas dos os espaços assim como qualquer outro
brincadeiras e não pelo objeto real presente. cidadão, organizando e oferecendo momen-
A atividade lúdica integra os aspectos afeti- tos de total relevância para o desenvolvimen-
vos, cognitivos, motores e sociais. O lúdico e to social, intelectual e motor das crianças, co-
o parque inclusivo influenciam no processo laborando para uma socialização adequada,
de aprendizagem. por meio de atividades em grupos. Quando a
escola adequadamente inclui os alunos com
De acordo com Vygotsky (OLIVEIRA, deficiências, estimula aos demais alunos o
2000), a brincadeira traz uma grande influên- conhecimento por direitos e deveres, essas
cia para o desenvolvimento infantil, pois ela crianças poderão transformar a sociedade
colabora com a interação social e cognitiva em uma sociedade mais empática, que reco-
contribuindo também para a construção da nhece a necessidade alheia, buscando me-
personalidade. lhorias para sua vida e a vida dos outros.
Cada brinquedo do parque propor- A escola é o lugar privilegiado para a
ciona um estímulo para a aprendizagem. Os construção e o exercício da parceria e compa-
educadores precisam intervir nas atividades nheirismo oportunizados pelo conhecimen-
assim como as famílias e responsáveis tam- to, a aprendizagem ocorre através do meio
bém devem oportunizar momentos de brin- em que a criança é inserida, sendo assim as
cadeiras. Estruturas grandes que permitem escolas de Educação Infantil devem propiciar
a movimentação no tempo da criança são as o aprendizado por meio das brincadeiras e
melhores. É preciso considerar o acesso aos do parque.
recursos do brinquedo para garantir que a De acordo com Rau (2011) é muito im-
criança conseguirá utilizar todos os objetos portante propiciar às crianças situações de
de maneira integral. jogos, brincadeiras e brinquedos no parque,
Para Elizangela (2020), as crianças com para que as crianças se apropriem de manei-
deficiências conseguem chamar a professora ra lúdica da aprendizagem. Compreendemos
para serem atendidas e é fundamental o pro- que é na Educação Infantil que a criança re-
fessor ter considerado os desejos e interes- cebe estímulos para se desenvolverem em
ses das crianças, não só por meio da LIBRAS, diferentes aspectos, como: afetivo, motor,
mas por um olhar atento. Com relação aos cognitivo, entre outros. Nesta perspectiva
cadeirantes no parque, exigem uma acessi- podemos destacar a importância da Educa-
bilidade arquitetônica do prédio e o apoio ção Infantil, como umas das etapas mais im-
de mais pessoas da escola para a locomoção portantes para possibilitar que a criança viva
dessas crianças. E a criança cega consegue se plenamente a sua infância.
locomover porque o professor deve primei-
ramente levar a ter o tato, depois percorrer o
local, colocar uma determinada textura para LÚDICO E POSSIBILIDADES
a criança entender seus limites e onde está
pisando, assim a criança vai se apropriando Para Duprat (2015), às múltiplas pos-
dos espaços. Depois de eliminar as barreiras, sibilidades do autoconhecimento possibili-
segundo Elizangela (2020), o parque é a me- tadas pelas brincadeiras contribuem para
lhor maneira da criança socializar- se na es- tornar a criança mais segura, autoconfiante,
cola e o professor tem a responsabilidade de consciente de seu potencial e de suas limi-
ampliar esta aprendizagem. tações. Também se conclui que o lúdico, o
parque e as brincadeiras não são apenas um
O processo de inclusão social é uma passatempo, mas uma atividade que possibi-
luta constante das minorias em prol da efeti- lita e facilita a aprendizagem, que muito mais
vação do princípio da equidade que garante que importante, brincar é essencial na vida
a todos os cidadãos os mesmos direitos e as das crianças.

399
A ludicidade dentro do parque carac- mesmo tempo adquire o seu conhecimento
teriza-se por sua organização e pela utiliza- de maneira prazerosa, consigo mesmo e com
ção de brinquedos e brincadeiras, com ativi- o mundo. Dessa mesma maneira, ocorre a
dades que podem ser tanto coletivas quanto brincadeira, pois a experiência criativa come-
individuais, nas quais a existência de regras ça a partir do momento em que se pratica
não limita a ação lúdica, a criança pode modi- essa criatividade e isso aparece em primeira
ficá-las, quando desejar, incluir novos mem- instância por meio da brincadeira. Contudo,
bros, retirar e modificar as próprias regras, é essencial que o adulto não interfira dema-
ou seja, existe liberdade por parte da crian- siadamente durante estes momentos, pois
ça agir sobre ela. Para ajudar a criança com as descobertas que ocorrem levam ao ama-
deficiência a brincar, é necessário construir durecimento, que será importantíssimo para
estratégias que atenuem as barreiras arqui- o início de suas atividades cultural e social.
tetônicas, atitudinais, comunicacionais que É notório que as crianças estejam sempre
possam estar dificultando o seu livre acesso dispostas a auxiliarem os amigos com defi-
ao ambiente de lazer. ciência nas brincadeiras. O professor deve
Para Rau (2011), deve-se considerar provocar situações para a socialização das
as características específicas que contribuem crianças, porém é importante não interferir
para a educação das crianças. As diferentes muito, permitindo que as crianças façam ne-
abordagens pedagógicas baseadas no brin- gociações entre eles, para que os educandos
car bem como os estudos de psicologia in- conquistem autonomia.
fantil direcionados ao lúdico e o parque per- Para Rau (2011), a escola é reconhe-
mitiram a construção da criança como um cida como ambiente de transformação na
ser brincante e as brincadeiras deveriam ser vida dos que a frequentam, portanto, as es-
utilizadas como atividades essenciais e signi- colas devem promover a inclusão, para que
ficativas para a Educação Infantil. Portanto, o as crianças com deficiência, desde a primei-
brincar no parque deve ser valorizado, sen- ra infância, percebam que são cidadãos de
do visto como um meio na Educação Infantil direitos e deveres, ou seja, o mesmo direito
para desenvolver a criatividade e o raciocínio que toda criança têm de aprender brincando
crítico, que ocorre através das negociações no parque escolar, a criança com deficiência
que são feitas pelas crianças nos momentos também têm, e a escola deve fazer valer a lei.
das brincadeiras. Entendemos que o
brincar estimula os fatores físicos, morais e Para Duprat (2015), a brincadeira
cognitivos, dentre outros e consideramos pode ser um espaço privilegiado de interação
também que, é importante a orientação do e confronto de diversas crianças com pontos
adulto como mediador para que ocorra o de- de vistas diferentes.
senvolvimento da criança. Neste sentido, é Nesta vivência criam autonomia e co-
notório que as escolas adotem planejamen- operação compreendendo e agindo na rea-
tos, organizando o brincar como atividades lidade de forma ativa e construtiva. Ao de-
orientadas e livres. finirem papeis a serem representados nas
Os brinquedos passaram a ser vistos brincadeiras, as crianças têm possibilidades
como base para a atuação do brincar nas es- de levantar hipóteses, resolver problemas e
colas, possibilitando assim a obtenção de ca- a partir daí construir sistemas de represen-
pacidades e saberes, sendo eles brinquedos tação, de modo mais amplo, no qual não te-
pedagógicos e os brinquedos heurísticos, riam acesso no seu cotidiano, principalmente
que são brinquedos não estruturados. as crianças com deficiências.
A criança deve ser compreendida De acordo com Elisângela (2020),
como um ser em pleno desenvolvimento, é o trabalho educacional inclui intervenções
importante que as escolas e os educadores, para que os alunos aprendam a respeitar di-
tomem medidas inclusivas, pois as crianças ferenças, a estabelecer vínculos de confian-
com deficiências já sofrem por viverem em ça e uma prática cooperativa e solidária, e
uma sociedade muitas vezes preconceituosa as escolas, os pais e responsáveis, precisam
e desigual. Frequentemente essas crianças cobrar dos órgãos governamentais parques
não exercem o seu direito de ir e vir, pela fal- inclusivos. Pois, se é garantido o direito da
ta de adaptações necessárias na sociedade. criança com deficiência ser matriculada na
As escolas precisam ser referenciais de in- rede regular de ensino, também se deve
clusão, sendo necessário reconhecer o par- garantir à criança ser incluída em todos os
que como um lugar prazeroso e provedor da ambientes da escola. Na Educação Infantil, a
aprendizagem. O Projeto Político Pedagógico criança aprende brincando e considerando o
deve propor intervenções para que os objeti- parque como um lugar de aprendizagem, a
vos gerais e específicos, que se alcança com criança com deficiência precisa participar de
as brincadeiras no parque, seja uma realida- todas as brincadeiras, pois, se tiver seu pro-
de para a inclusão das crianças. cesso de educação limitado, sua infância será
prejudicada, e suas memórias afetivas serão
Trabalhar com o lúdico e o parque in- de exclusão.
clusivo é fazer com que a criança aprenda de
maneira prática, interativa e alegre, ou seja,
participando de atividades mais descontraí-
das o aluno sente-se feliz e motivado, e ao

400
CONSIDERAÇÕES FINAIS vantagens, como o contato com a luz solar
Neste trabalho pudemos compreen- e a possibilidade de realização de atividades
der que o lúdico e o parque inclusivo na Edu- físicas e não é diferente para as crianças com
cação Infantil e na educação como um todo, mobilidade reduzida ou outras deficiências,
deve nortear as ações pedagógicas, pois as daí a importância dos parques acessíveis.
pessoas com deficiência vêm lutando por
seus direitos como cidadãos há vários anos,
obtendo muitas conquistas no que diz res- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
peito ao processo de inclusão social e isso BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da
pode ser comprovado acompanhando os Educação Nacional, LDB. 9394/1996.Brasília:
diferentes momentos desse segmento da MEC/CNE, 1996.
sociedade vivenciados ao longo da história.
Com o lúdico e o parque inclusivo, o educan- CERTEAU, M de A invenção do cotidia-
do cria e recria os métodos de abordagem no (1) artes de fazer.3. ed.- Petrópolis, RJ: Vo-
para a apropriação da cultura, que podem zes,1998.
possibilitar a aprendizagem. Diante do que
foi apresentado, é possível perceber que o DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Sobre
aprendizado ocorre de forma progressiva, Princípios, Políticas e Práticas na Área das
respeitando as necessidades da criança em Necessidades Educativas Especiais, Salaman-
seu desenvolvimento inicial, mas para isso ca-Espanha, 1994.
acontecer de maneira geral é preciso ser res- DUPRAT, Maria Carolina (org.). Ludici-
peitado o documento de Salamanca (1994), dade na educação infantil. São Paulo: Pear-
que assegura a educação para todos. Falar son, 2015.
em Educação significa falar em ser humano.
MÁRCIO, Ferrari 2008, Maria Montes-
Todo e qualquer processo educativo sori a médica que valorizou o aluno, nova es-
precisa considerar o sujeito em sua individu- cola.org. BR.
alidade, como cidadão histórico-cultural que
possui direitos e deveres. O lazer e a recre- OLIVEIRA, Marta Kohl, Vygotsky:
ação são necessidades inerentes ao ser hu- Aprendizado e desenvolvimento São Paulo:
mano, que busca satisfazê-las indo a bares, Ed. Scipione, 2000.
cinemas, praça, parques, e isso deve ser ga-
rantido dentro das nossas escolas. A partir RAU, Maria C. T. D. A ludicidade na
dos resultados demonstrados na pesquisa é educação infantil: uma atitude pedagógica.
possível ressaltar que as ações pedagógicas, Curitiba: IBPEX, 2011.
rotinas e situações de aprendizagem que en- SABINE, Maria Aparecida.; LUCENA,
volvem o lúdico e o parque inclusivo terão Regina F (NOME COMPLETO). de. Jogos e
grande êxito nas escolas, se forem respei- brincadeiras na Educação Infantil. Campinas:
tados todos os direitos, disponibilizando re- Papirus, 2009.
cursos para que todos possam ser inclusos
dentro do ambiente escolar. SALLA, (2011) Henry Wallon A impor-
tância da afetividade para a aprendizagem
Para que o desenvolvimento integral significativa (Brasilescola.uol.com.br).
das crianças em geral e das crianças com defi-
ciência ocorra com sucesso, o parque precisa SIAULYS, M.O.C. Atividade de Vida Au-
ser inclusivo. Para o parque incluir todas as tônoma: essência da vida em Sociedade. La-
crianças com deficiência, devemos identificar ramara: São Paulo, 2014.
os obstáculos nos ambientes, que possam di- Encontro com profissional especialista
ficultar a locomoção, analisar a estrutura ge- em Educação Infantil e Educação Inclusiva.
ral das escolas, afim de verificar normas, leis
de inclusão e a acessibilidade, tais como incli- AMERICANO, Elisângela Ferreira Cos-
nação de rampas, corrimãos, piso tátil, desta- ta. Depoimento por vídeo – aula, no
cando as irregularidades quanto à acessibili-
dade dispostas no programa e proporcionar Google Meet, em 09 de setembro de
soluções cabíveis de acordo com leis vigentes 2020
e as normas de saúde. A inclusão social tem
o papel bastante importante para garantir o
que chamamos diretos de todos, mas é visí-
vel que o papel da exclusão atinge inúmeras
pessoas que possuem alguma deficiência ao
se tratar de mobilidade urbana, acessibili-
dade, acesso educação e até mesmo na dis-
crição e preconceito. Muita gente acha que
a limitação está na criança, mas ela está no
espaço que não é adaptado para recebê-las,
sendo que o brincar é fundamental na vida
dos pequenos, pois desenvolve a imagina-
ção, diverte, atiça a curiosidade, entre outros
benefícios. Brincar ao ar livre traz ainda mais

401
INFÂNCIA E NATUREZA: O BRINCAR HEURÍSTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
PAMELA CRISTINA AMARAL DOS SANTOS

RESUMO pedagógica envolve a livre exploração de


objetos não estruturados, permitindo que as
Neste artigo será apresentado a im- crianças usem sua criatividade e imaginação
portância das relações entre a infância, a para aprender e crescer. Neste artigo, vamos
natureza e seus elementos. A infância é uma explorar como o uso de materiais heurísticos
fase crucial no desenvolvimento humano, na pode beneficiar a educação infantil e como
qual a criança explora, descobre, experimen- eles podem ser implementados na sala de
ta e aprende. Nesse sentido, a utilização de aula. A brincadeira é uma parte fundamen-
brinquedos e brincadeiras é de extrema im- tal da educação infantil. Ela desempenha um
portância, especialmente quando associada papel crucial no desenvolvimento cognitivo,
ao uso de materiais heurísticos. Esses mate- social e emocional das crianças. Além disso, a
riais, caracterizados por sua simplicidade e brincadeira também pode ser uma ferramen-
variedade de formas, texturas e tamanhos, ta eficaz para o ensino e a aprendizagem.
têm se mostrado eficazes para estimular a Neste artigo, discutiremos a importância da
curiosidade, a criatividade e o desenvolvi- brincadeira na educação infantil e como as
mento cognitivo, motor e socioemocional escolas podem incentivar o brincar. Explora-
das crianças na educação infantil. Além de remos também a relação entre a brincadeira,
proporcionarem diversão, eles são ferramen- o meio ambiente e suas conexões com a na-
tas pedagógicas que auxiliam no desenvolvi- tureza, bem como a importância dos elemen-
mento integral da criança. Por meio do brin- tos da natureza no desenvolvimento infantil.
car, as crianças são incentivadas a explorar o refletindo como as escolas podem incentivar
mundo ao seu redor, a utilizar a imaginação, a educação ambiental através da brincadei-
a experimentar diferentes soluções para pro- ra e como as brincadeiras podem ajudar as
blemas e a se relacionar com outras crian- crianças a se conectar com a natureza.
ças. Este artigo tem a finalidade de ampliar
os conceitos sobre as brincadeiras, a fim de A utilização de materiais heurísticos
aprofundar o conhecimento sobre a prática pode estar diretamente relacionada à sus-
educativa, colaborando assim para uma edu- tentabilidade, uma vez que esses materiais
cação de qualidade, na qual bebês e crianças geralmente são compostos por objetos na-
sejam protagonistas de sua trajetória educa- turais ou recicláveis. O uso desses materiais
cional. Este trabalho aborda a importância contribui para uma consciência ambiental,
das brincadeiras na educação infantil e sua pois promove a reutilização de objetos que
relação com a natureza, explorando a teoria poderiam ser descartados.
e a prática de como elas podem ser usadas
para promover o aprendizado e o desenvolvi-
mento das crianças. Através de uma aborda- Ao utilizar materiais heurísticos feitos
gem lúdica e educativa, é possível integrar as de elementos da natureza, como conchas,
brincadeiras ao currículo escolar e oferecer pedras e folhas, as crianças têm a oportuni-
às crianças oportunidades para aprender de dade de explorar e se conectar com a nature-
maneira divertida e envolvente. za, desenvolvendo um senso de apreciação e
Palavras-Chave: Pedagogia; Heurísti- cuidado pelo meio ambiente.
co; Meio Ambiente; Natureza; Infância.
DESENVOLVIMENTO
INTRODUÇÃO 1.A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA
A educação infantil é uma fase crucial NA EDUCAÇÃO INFANTIL
no desenvolvimento de uma criança. É du- A brincadeira tem um papel funda-
rante esse período que elas começam a ex- mental na educação infantil, pois é através
plorar o mundo ao seu redor e a desenvol- dela que as crianças descobrem o mundo
ver habilidades importantes para o resto de e aprendem. Gerando inúmeros benefícios
suas vidas. A educação ambiental um tema do brincar na educação infantil, dentre eles
de grande importância na educação infantil, estão o desenvolvimento da linguagem e vo-
pois ajuda a conscientizar as crianças sobre cabulário em que as crianças desenvolvem
a necessidade de preservar o meio ambien- habilidades de linguagem quando brincam. A
te desde cedo. A introdução desse conceito exposição constante a atividades novas cons-
na educação infantil é fundamental para a trói e expande seu vocabulário; Desenvolvi-
formação de cidadãos conscientes e respon- mento cognitivo: Toda brincadeira ajuda as
sáveis. Ela pode ser trabalhada de diversas crianças a construírem uma compreensão de
maneiras, como por meio de projetos, brinca- novos conceitos. Através do brincar, elas des-
deiras e atividades lúdicas. Por exemplo, uma cobrem o mundo e aprendem como as coisas
das maneiras de estimular esse desenvolvi- funcionam enquanto exploram e investigam;
mento é através do uso de materiais heurís- Habilidades sociais: Não há melhor maneira
ticos na educação infantil. Essa abordagem de aprender a socializar do que durante as

402
brincadeiras na escola. Nas brincadeiras, as atue na zona de desenvolvimento proximal,
crianças desenvolvem várias habilidades so- ou seja, cria condições para que determina-
ciais, como empatia, assertividade, capacida- dos conhecimentos e/ou valores sejam con-
de de seguir a liderança dos outros, aguardar solidados ao exercitar no plano imaginativo
sua vez, seguir regras, entender as coisas do capacidades de imaginar situações, repre-
ponto de vista dos outros, aprender compor- sentar papéis, seguir regras de conduta de
tamentos socialmente aceitáveis, resolver sua cultura.
conflitos de forma independente e aprender
a se comprometer; Desenvolvimento emo- 2. Desenvolvimento cognitivo: Vygot-
cional: Algumas brincadeiras como vestir fan- sky acreditava que é na brincadeira que a
tasias, criar personagens e encenações, são criança aprende a agir numa esfera cognitiva,
excelentes formas de expressar sentimentos dependendo das motivações e tendências in-
com segurança, enquanto exploram e com- ternas, e não pelos incentivos fornecidos pe-
preendem o mundo ao seu redor. Portanto, los objetos externos.
a brincadeira é uma importante forma de co- 3. Aprendizado através da interação
municação e possibilita o processo de apren- social: Vygotsky defendia que a educação
dizagem da criança, pois facilita a construção ocorre principalmente por meio das intera-
da reflexão, da autonomia e da criatividade. ções sociais que estabelecemos com os ou-
A escola pode incentivar o brincar na tros e com o meio.
educação infantil de várias maneiras, como 4. Brincadeira e linguagem: Segundo
por exemplo, incorporar brincadeiras no cur- Vygotsky, a brincadeira é uma ótima forma
rículo: A escola pode incluir jogos e atividades de trabalhar as habilidades de abstração e
em todos os segmentos da escola e criar uma imaginação. Em uma brincadeira, as crianças
educação mais lúdica, estimulante e partici- entram em um mundo cheio de símbolos e
pativa; Fornece um ambiente seguro para novos significados, aprendem a inventar, in-
brincar: A escola deve fornecer um ambiente terpretar e imaginar coisas totalmente novas.
seguro e estimulante onde as crianças pos-
sam explorar e brincar livremente; Usar brin- 5. Brincadeira como desafio: Segundo
cadeiras como estratégia de ensino: O lúdico Vygotsky, é na brincadeira que se pode pro-
pode ser usado como uma estratégia de en- por desafios à criança, a fim de fazê-la refletir
sino e aprendizagem. O professor deve apro- e resolver problemas.
priar-se de subsídios teóricos que consigam
convencê-lo e sensibilizá-lo sobre a impor- Portanto, para Vygotsky, brincar é
tância dessa atividade para aprendizagem e aprender; na brincadeira reside a base da-
para a evolução da criança; Promover brinca- quilo que permitirá à criança aprendizagens
deiras em grupo: Nas brincadeiras em grupo, mais elaboradas no futuro.
as crianças aprendem a compartilhar, coope-
rar, liderar e competir; Incentivar a atividade
física: É importante estimular atividades com 2. BRINCADEIRAS E SUA CONEXÃO
atividade física para que as crianças se movi- COM A NATUREZA
mentem, desenvolvam a psicomotricidade e
combatam o sedentarismo; Usar jogos edu- Os quatro principais elementos da na-
cativos: Utilizar jogos da memória com ima- tureza são: água, terra, fogo e ar. Esses ele-
gens ou números beneficia na concentração mentos têm origem na Grécia antiga, onde
e aumenta a bagagem das crianças, fazendo grandes pensadores tentavam descobrir
com que reconheçam as representações de qual o elemento que formava todas as coi-
objetos, formas e lugares, assim criam me- sas. Cada um desses elementos tem uma im-
mórias e as guardam; Incentivar a expressão portância significativa para o desenvolvimen-
emocional através do brincar: Usando a ima- to infantil.
ginação e o faz de conta, a criança consegue Esses elementos são indispensáveis
simular situações da sua vida, o que permite para a nossa existência e despertam a curio-
maior expressão das suas emoções. Lem- sidade dos pequenos, além de ter muito a
brando que é importante que os professo- nos ensinar. O contato com o meio ambiente
res, pais e responsáveis saibam qual é a im- é importante, principalmente no desenvolvi-
portância do brincar durante o processo de mento infantil. Essa relação entre crianças e
ensino-aprendizagem das crianças, para que natureza traz uma série de benefícios intelec-
contribuam com esse processo. tuais, emocionais, sociais e físicos.
Para Vygotsky (1896-1934) atribuiu Brincar ao ar livre permite que as
grande importância à brincadeira no desen- crianças interajam diretamente com o meio
volvimento da criança. Aqui estão algumas ambiente, o que pode ajudá-las a desenvol-
de suas ideias principais: ver uma apreciação pela natureza e um en-
1. Papel fundamental no desenvolvi- tendimento de sua importância. A brincadei-
mento: Para Vygotsky, a brincadeira pode ter ra tem uma relação importante com o meio
um papel fundamental no desenvolvimento ambiente. Aqui estão algumas maneiras pe-
da criança. Ele acreditava que o aprendiza- las quais a brincadeira pode se conectar com
do ocorre por meio de interações, e os jogos o meio ambiente: Através de brincadeiras,
lúdicos e de papéis permitem que a criança as crianças podem aprender sobre a impor-
tância da preservação do meio ambiente.

403
Existem várias brincadeiras e dinâmicas que mitindo que elas explorem e experimentem
podem ser usadas para ensinar às crianças de diferentes maneiras. Ao oferecer esses
sobre questões ambientais, como a poluição, materiais, os educadores e terapeutas pro-
o desmatamento, a reciclagem e a conserva- porcionam às crianças a oportunidade de
ção da água; Desenvolvimento sustentável, pensar, planejar, solucionar problemas e co-
entre outros. municar ideias, desenvolvendo habilidades
As escolas podem incentivar a educa- cognitivas e socioemocionais. Além disso, os
ção ambiental através da brincadeira de vá- materiais heurísticos possibilitam o desen-
rias maneiras, dentre elas, os jogos que são volvimento da coordenação motora fina, já
elaborados a partir do espaço vivido. As brin- que as crianças precisam manipular e explo-
cadeiras ao ar livre permitem que as crianças rar os objetos com as mãos. Essa manipula-
brinquem e desenvolvam uma apreciação ção também auxilia no desenvolvimento do
pela natureza e um entendimento de sua im- raciocínio lógico-matemático, uma vez que
portância; Estimular brincadeiras que envol- a criança precisa organizar e agrupar os ob-
vem a reutilização de materiais ou a criação jetos de acordo com as suas características.
de brinquedos a partir de itens reciclados Outro ponto importante dos materiais heu-
podem ensinar às crianças sobre sustentabi- rísticos é que eles podem ser utilizados de
lidade e redução de resíduos; Permitir que as forma adaptada para crianças com necessi-
crianças explorem seu ambiente através da dades especiais, possibilitando uma inclusão
brincadeira pode ajudá-las a descobrir no- mais efetiva e proporcionando experiências
vas coisas e aprender sobre o mundo ao seu relevantes para o seu desenvolvimento.
redor pois a brincadeira pode ser uma ferra- Segundo Fernández (2001), o uso de
menta eficaz para ensinar às crianças sobre o materiais heurísticos na educação infantil
meio ambiente e incentivá-las a adotar práti- estimula o pensamento divergente, pois não
cas sustentáveis. há uma única resposta certa. As crianças são
encorajadas a explorar, testar hipóteses,
criar conexões e realizar descobertas. Esse
3. BRINCAR HEURÍSTICO processo desenvolve habilidades de pensa-
mento crítico, raciocínio lógico e habilidades
Os brinquedos e as brincadeiras de- de resolução de problemas, competências
sempenham um papel fundamental na edu- fundamentais para o sucesso acadêmico e
cação infantil. Além de proporcionarem di- profissional.
versão, eles são ferramentas pedagógicas
que auxiliam no desenvolvimento integral da Os materiais heurísticos são objetos
criança. Por meio do brincar, as crianças são simples e versáteis que estimulam a curiosi-
incentivadas a explorar o mundo ao seu re- dade e o pensamento criativo das crianças.
dor, a utilizar a imaginação, a experimentar Eles são caracterizados por sua natureza
diferentes soluções para problemas e a se concreta, ou seja, possibilitam a experiência
relacionar com outras crianças. direta e sensorial da criança. Dentre os mate-
riais heurísticos mais utilizados na educação
Os materiais heurísticos são um con- infantil, destacam-se: tampas de garrafas, ro-
junto de objetos manipuláveis que têm como linhos de papelão, pedaços de tecido, cones
objetivo estimular a aprendizagem e o de- de trânsito, entre outros. As vantagens da uti-
senvolvimento da criança de forma lúdica e lização de materiais heurísticos na educação
exploratória. Esses materiais são muito utili- infantil A utilização de materiais heurísticos
zados em contextos educativos e terapêuti- apresenta diversas vantagens na educação
cos, pois oferecem múltiplas possibilidades infantil. Primeiramente, esses materiais são
de interação e descoberta. A palavra "heurís- facilmente encontrados e acessíveis, poden-
tico" tem origem grega e significa "descobrir" do ser reciclados a partir de objetos do co-
ou "encontrar". Essa abordagem foi desen- tidiano. Além disso, eles oferecem múltiplas
volvida pela psicóloga/educadora Elinor Gol- possibilidades de uso, estimulando a cria-
dschmied em parceria com Sonia Jackson e tividade e a imaginação das crianças. Tam-
educadores ingleses. bém proporcionam experiências práticas e
concretas, permitindo o desenvolvimento do
pensamento lógico-matemático das crianças.
Os materiais heurísticos proporcionam Outra vantagem é a promoção da socializa-
às crianças um ambiente de aprendizado rico ção e da cooperação entre as crianças, uma
em estímulos sensoriais. Ao explorar diferen- vez que os materiais podem ser utilizados em
tes texturas, formas, cores e tamanhos, as atividades em grupo.
crianças desenvolvem habilidades motoras
finas, coordenação motora e percepção tá- Existem diversas atividades que po-
til. Além disso, esses materiais promovem o dem ser realizadas com materiais heurísticos
desenvolvimento da criatividade, da imagina- na educação infantil. Alguns exemplos são
ção e da capacidade de resolver problemas, a construção de torres e casinhas com roli-
uma vez que não têm uma função pré-deter- nhos de papelão, a exploração tátil e senso-
minada e podem ser utilizados de diversas rial de diferentes texturas utilizando pedaços
maneiras. Uma das principais vantagens dos de tecido, a organização e categorização de
materiais heurísticos é que eles estimulam a objetos utilizando tampas de garrafas, entre
curiosidade e a criatividade das crianças, per- muitas outras possibilidades. É importante

404
ressaltar que o foco principal dessas ativida- adivinhar o formato das nuvens, convidar a
des não é o produto final, mas sim o processo criança a observar as árvores, os insetos e os
de descoberta, exploração e aprendizagem barulhos. É possível até criar desafios, como
que ocorre durante a brincadeira. o de quem encontra a maior folha caída no
Materiais heurísticos na educação in- chão, por exemplo. É importante colocar ape-
fantil são objetos não estruturados que per- nas aqueles que não sejam perigosos para a
mitem às crianças explorarem livremente e criança. A fase em que o bebê se encontra é
descobrir as coisas por si mesmas. Esses ma- de total exploração do entorno, portanto ele
teriais podem incluir colheres, pegadores de utilizará apenas a mão, mas levará também
massas, esponjas, pincéis, pedaços de ma- os objetos à boca. A exploração oral também
deira, pinhas, folhas de árvores, entre outros é enriquecedora em nível de desenvolvimen-
materiais de fácil acesso. O brincar heurístico to psicomotor, já que através dela o bebê
é uma abordagem desenvolvida por Elinor adquire grande sensibilidade para conhecer
Goldschmied que incentiva a criatividade e diferentes materiais e texturas.
o desenvolvimento das crianças em sua to- O cesto dos tesouros é um jogo que,
talidade. O educador oferece materialidades se bem planejado, fomenta a aprendizagem
pré-selecionadas, qualificadas, com caracte- através das descobertas que a criança faz por
rísticas e tipologias diferentes (madeira, me- si própria. A proposta do cesto dos tesouros
tal, bambu etc.) e organiza os materiais de é oferecer às crianças a oportunidade de ex-
modo organizado e criativo como um convite plorar esses objetos de maneira livre, sem di-
à exploração. Essa abordagem libera a criati- recionamento ou objetivo específico. Ao pro-
vidade dos adultos e torna a tarefa de cuidar ver um ambiente rico em estímulos, a criança
das crianças muito mais estimulante. pode escolher os objetos que mais lhe cha-
Os professores podem escolher mate- mam atenção, manipulá-los, observá-los e
riais heurísticos adequados para as crianças, criar suas próprias brincadeiras e narrativas.
selecionando objetos naturais e não estrutu- Além disso, o cesto dos tesouros estimula a
rados que possibilitem diferentes formas de independência e autonomia da criança, pois
investigação. É importante que os materiais ela é livre para escolher como, quando e com
sejam seguros para as crianças e que ofe- o que brincar. Isso fortalece sua confiança,
reçam oportunidades para a exploração e a autoestima e senso de controle sobre suas
descoberta. próprias ações. Para os educadores, o ces-
to dos tesouros é uma ferramenta valiosa
A brincadeira deve ocorrer em liber- para promover a aprendizagem por meio do
dade e sem a intervenção do adulto, que brincar. Por não ter um objetivo predetermi-
simplesmente deve preparar o ambiente nado, a atividade respeita a individualidade
e observar. O brincar heurístico ainda tem e a curiosidade de cada criança, permitindo
mais duas vertentes além do Jogo Heurístico: que elas explorem e descubram o mundo de
o Cesto dos Tesouros e a Bandeja de Expe- acordo com seus interesses e ritmo.
rimentações. Todas as vertentes possuem Em resumo, o cesto dos tesouros é
objetivos semelhantes: permitir descobrir, uma atividade inspiradora que proporciona
experimentar, inventar com liberdade du- às crianças um ambiente estimulante para
rante a brincadeira, mas oferecem suas par- brincar, explorar e criar. Feito com materiais
ticularidades. Para que o brincar heurístico heurísticos, permite que elas usem sua ima-
aconteça, é necessário um espaço tranquilo, ginação, desenvolvam habilidades motoras
livre de interferências e uma seleção rica de e cognitivas, e fortaleçam sua autonomia e
materiais que possibilitem diferentes formas confiança. É uma ferramenta poderosa para
de investigação. Assim, as crianças poderão promover a aprendizagem lúdica e o desen-
perceber e reinventar o significado e uso de volvimento integral das crianças.
cada um deles.
O brincar heurístico pode ocorrer de Outra abordagem heurística é “A mesa
várias maneiras. Uma delas é criar um “ces- de experimentações” proposta por Paulo
to de tesouros” para crianças menores de 3 Fochi é uma criação inovadora que tem ga-
anos, enchendo uma bacia com objetos de nhado destaque na área da educação e do
diferentes tamanhos, finalidades e texturas, desenvolvimento infantil. Trata-se de um am-
como buchas, folhas, conchas e tampas de biente que estimula a curiosidade, a explora-
panela. Outros exemplos incluem sacolas ção, o pensamento crítico e a criatividade das
que possam ser fechadas com uma corda, crianças.
castanhas grandes, chaves velhas em molhos Paulo Fochi, renomado educador e
pequenos, cilindros de papelão de todo tipo pesquisador, acredita que a experimentação
(como os que vêm em rolos de papel toalha é uma das formas mais eficazes de aprendi-
ou papel contact), conchas de moluscos e la- zado. Ao permitir que as crianças explorem
tas e recipientes de tamanhos variados2. Es- diferentes materiais, texturas e formas, elas
ses materiais são facilmente acessíveis e po- têm a oportunidade de descobrir, criar e tes-
dem ser usados para estimular a criatividade tar suas próprias hipóteses.
e o desenvolvimento das crianças, isso per-
mite que os pequenos manipulem e experi-
mentem à vontade. Outra maneira é chamar A mesa de experimentações de Fochi
a criança para olhar para o céu e brincar de

405
é montada com uma variedade de materiais, Dessa forma, os materiais heurísticos
como tintas, pincéis, papéis coloridos, massi- são uma importante ferramenta pedagó-
nhas de modelar, objetos naturais, pedaços gica no processo de ensino-aprendizagem,
de tecido, materiais recicláveis, entre outros. permitindo um aprendizado significativo e
Esses elementos oferecem às crianças a li- prazeroso para as crianças. Ao propor situ-
berdade de experimentar, criar e expressar ações desafiadoras e estímulos sensoriais
suas ideias de maneira livre e sem restrições. diversificados, esses materiais despertam o
Na mesa de experimentações, as crianças interesse das crianças, incentivando o desejo
são desafiadas a explorar diferentes combi- de descobrir, explorar e aprender. Em suma,
nações de materiais, misturar cores, testar o brincar heurístico é uma proposta que res-
texturas, manipular objetos e criar suas pró- peita a infância e envolve o oferecimento de
prias obras de arte. Esse ambiente de apren- uma grande quantidade de tipos diferentes
dizagem estimula a criatividade, a capaci- de objetos e receptáculos para as crianças
dade de resolver problemas, o trabalho em brincarem livremente e sem intervenção de
equipe e a comunicação entre os participan- adultos.
tes. Além disso, a mesa de experimentações
de Paulo Fochi promove a autonomia e a in-
dependência das crianças. Ao oferecer mate-
riais variados e livres de restrições, elas são
incentivadas a tomar suas próprias decisões, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a explorar suas próprias ideias e a tomar
iniciativa para desenvolver suas experimen- A importância da brincadeira na edu-
tações artísticas. Para Fochi, o aprendizado cação infantil | Nova Escola. https://novaes-
por meio da experimentação é uma forma cola.org.br/conteudo/6262/a-importancia-
de empoderar as crianças e de desenvolver -da-brincadeira-na-educacao-infantil.
suas habilidades de pensamento crítico e de A Importância do Brincar na Educa-
resolução de problemas. Essas habilidades ção Infantil. https://institutoneurosaber.com.
são essenciais para o desenvolvimento in- br/a-importancia-do-brincar-na-educacao-in-
tegral das crianças, preparando-as para en- fantil/.
frentar os desafios do mundo em constante
transformação. A importância do brincar no desenvol-
vimento infantil - Jornada Edu. https://jorna-
A mesa de experimentações de daedu.com.br/familia-na-escola/a-importan-
Paulo Fochi é, portanto, uma ferramenta ino- cia-do-brincar/.
vadora e inspiradora para promover o apren-
dizado ativo e significativo das crianças. Por BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO
meio dela, elas são incentivadas a explorar INFANTIL: UM OLHAR SOCIOCULTURAL ...
diferentes possibilidades, a expressarem sua - SciELO. https://www.scielo.br/j/paideia/a/
criatividade e a desenvolverem habilidades yWnWXkHcwfjcngKVp6rLnwQ/?format=pdf.
que serão fundamentais ao longo de suas vi-
das. Brincadeira e desenvolvimento infan-
til: um olhar sociocultural .... https://www.
scielo.br/j/paideia/a/yWnWXkHcwfjcngK-
Vp6rLnwQ/.
CONCLUSÃO
Descubra qual a importância de brin-
Em resumo, brinquedos e brincadei- car para a educação infantil. https://escola-
ras com materiais heurísticos na educação dainteligencia.com.br/blog/importancia-de-
infantil são uma abordagem pedagógica que -brincar-para-a-educacao-infantil/.
incentiva a exploração, a descoberta e a cria-
tividade das crianças por meio da manipu- Entenda por que brincar é impor-
lação de objetos naturais em grande quan- tante para o desenvolvimento da criança ....
tidade. É uma forma divertida e educativa https://institutoneurosaber.com.br/enten-
de promover o desenvolvimento infantil, e da-por-que-brincar-e-importante-para-o-de-
sua consciência ambiental. Além disso, mui- senvolvimento-da-crianca/.
tos materiais heurísticos são compostos por
itens reaproveitados, como tubos de PVC, ro- FOCHI, Paulo. O brincar heurístico na
linhos de papelão e peças de madeira. Essa creche. Disponível em: https://doceru.com/
prática estimula a consciência de reutilização doc/e1x10s5
e evita o descarte desnecessário, contribuin- LOPES, Ana Claudia Fernandes Lopes.
do para a redução do consumo e dos resídu- Emily Francisco Leandro. Viviane Apª Bernar-
os. des de Arruda. Anilde Tombolato Tavares da
A sustentabilidade na educação infan- Silva. A importância do brincar na educação
til é um conceito que precisa ser trabalhado infantil. Disponível em: https://educere.bruc.
em conjunto pela sociedade como um todo. com.br/arquivo/pdf2017/23967_12541.pdf
A escola, em parceria com a família, tem um O Brincar na Educação Infantil como
papel fundamental nesse processo, contri- um Ato de Aprendizagem. https://www.nu-
buindo para a formação de cidadãos cons- cleodoconhecimento.com.br/educacao/brin-
cientes e comprometidos com a sustentabi- car-na-educacao-infantil.
lidade.

406
O lúdico na Educação Infantil: Jogar,
brincar, uma forma de educar. https://www.
nucleodoconhecimento.com.br/educacao/
jogar-brincar.
Qual a importância do "brincar" du-
rante o processo de ensino .... https://blog.
etapapublico.com.br/qual-a-importancia-
-do-brincar-durante-o-processo-de-ensino-
-aprendizagem/.
Sustentabilidade e Ecologia na EDUCA-
ÇÃO Infantil. https://meuverdejardim.com.
br/sustentabilidade-ecologia-educacao-in-
fantil/.
Sustentabilidade na Educação Infantil:
como incorporar o tema nas aulas .... https://
www.poderdascores.mundobic.com.br/sus-
tentabilidade-na-educacao-infantil/.

407
RODA DE HISTÓRIAS PARA BEBÊS
PATRÍCIA DA SILVA OLIVEIRA

RESUMO para bebês.


O presente artigo investiga a importân- O objetivo principal deste estudo é
cia das rodas de histórias no desenvolvimento analisar a estrutura didática e as práticas pe-
integral de bebês em berçários educacionais. dagógicas adotadas para engajar bebês em
O estudo tem como objetivo compreender a atividades de leitura. Mais especificamente,
organização didática e as estratégias empre- a pesquisa focará em como os bebês assimi-
gadas pela educadora para engajar os bebês lam e compartilham significados durante as
em atividades de leitura, bem como avaliar a práticas de leitura e qual é o papel do edu-
forma como as crianças assimilam e compar- cador no processo de facilitação dessas ati-
tilham significados durante essas práticas. vidades.
Através de análises e observações, o trabalho
demonstra que as rodas de histórias não são Deste modo, este artigo contribuirá
meramente atividades de entretenimento, para a compreensão acadêmica sobre estra-
mas sim ferramentas pedagógicas eficazes tégias educacionais eficazes para a promo-
para o desenvolvimento linguístico, cogniti- ção da leitura em idades precoces, além de
vo e socioemocional dos bebês. Conclui-se fornecer dados empíricos que possam infor-
que a metodologia empregada nas rodas de mar futuras práticas pedagógicas.
histórias contribui significativamente para a
formação integral da criança, ressaltando a
necessidade de futuras pesquisas que explo- A LEITURA
rem ainda mais os benefícios e aplicabilida-
des dessa prática em ambientes educacio- A leitura é uma prática fundamental
nais para essa faixa etária. para a participação efetiva na sociedade.
Através dela, ocorre a construção de conhe-
Palavras-chave: Leitura; Desenvolvi- cimento, o desenvolvimento da criatividade
mento Cognitivo; Bebês. e o aprimoramento da habilidade de escrita,
entre muitas outras capacidades. A leitura
envolve uma variedade de processos. Neste
INTRODUÇÃO trabalho, abordaremos algumas concepções,
habilidades e estratégias relacionadas à lei-
A importância da leitura no desenvol- tura.
vimento cognitivo e sociocultural é um tópi-
co amplamente estudado e reconhecido no Colomer e Camps (2002) apresentam
campo da pedagogia. Cramer e Castle (2001, uma das concepções contemporâneas da lei-
p. 107) salientam a necessidade de o educa- tura que existe no ambiente escolar: a leitura
dor transformar a leitura em uma atividade como decodificação. De acordo com as auto-
útil, valiosa e desejável, evitando abordagens ras, dentro dessa perspectiva, os textos são
que possam resultar em desmotivação dos utilizados na escola não com o propósito de
alunos. Freire (1989, p. 18) complementa compreensão e interpretação, mas sim como
essa perspectiva, indicando que a interpre- instrumentos metodológicos para o estudo
tação da palavra e do mundo são elementos de elementos específicos, como letras e sí-
complementares em uma prática educativa labas, por exemplo. Kleiman (2004, citando
democrática. Barbosa e Souza, 2006) destaca esse ponto
da seguinte forma:
Neste cenário, a inclusão de uma va-
riedade de obras literárias no currículo surge Leitura como decodificação dos signos
como uma estratégia eficaz para a promoção verbais dispostos no tecido superficial do
de habilidades de pensamento crítico e com- texto. Nessa concepção, o leitor encontra-se
preensão contextual entre os alunos e a so- à margem do processo da leitura, alheio ao
ciedade em que estão inseridos. Essas obras sentido do que ele lê, uma vez que, preso aos
podem variar desde textos mais tradicionais sinais mais visíveis do texto, nem desconfia
a materiais dinâmicos, como histórias em que ali pode encontrar uma rede de signifi-
quadrinhos e fábulas, proporcionando um cações até então inauditas. Em um primeiro
espectro de oportunidades para o desenvol- momento, lê-se para decodificar letras; em
vimento cognitivo e interpretativo. outro, para copiar palavras, frases, sublinhar
ditongos, dígrafos, etc (Kleiman (2004, apud
A relevância deste estudo repousa no BARBOSA E SOUZA, 2006, p.14)
foco em um público muitas vezes negligen-
ciado em pesquisas sobre leitura: os bebês. Nesse tipo de abordagem da leitura, a
Durante as séries iniciais, os alunos estão em interação profunda entre leitor, autor e tex-
uma fase crítica para o desenvolvimento de to é limitada, uma vez que o foco principal
suas habilidades de pensamento crítico e ca- está na garantia de que o leitor realize uma
pacidades interpretativas. Assim, este artigo leitura precisa de acordo com a gramática
visa investigar a eficácia e os desafios asso- padrão. Nesse contexto, a leitura se concen-
ciados à implementação de rodas de leitura tra na decodificação de palavras e frases, e

408
a interpretação ocorre de forma literal, pala- significa que, para extrair significado de um
vra por palavra. O leitor não tem a liberda- texto, é necessário não apenas analisar os
de de reinterpretar as informações do texto; elementos presentes no texto, mas também
em vez disso, ele segue estritamente o que utilizar os conhecimentos prévios que o lei-
é proposto, buscando respostas específicas tor possui. Esses conhecimentos prévios faci-
e superficiais. Essa abordagem não incentiva litam a compreensão do texto, uma vez que
uma compreensão profunda ou reflexão crí- o leitor os aplica para dar sentido ao que está
tica. lendo. Essa abordagem é conhecida como
Dentro dessa concepção de leitura leitura interativa, na qual o leitor desempe-
como decodificação, os textos são usados nha um papel ativo, buscando compreender
como recursos didáticos voltados para a o texto de várias maneiras.
identificação de palavras e a decifração de Solé (1998, p. 40) ressalta que um lei-
textos, como se a leitura fosse apenas a bus- tor ativo "processa e atribui significado ao
ca de informações delimitadas no texto, sem que está escrito em uma página". A leitura
espaço para questionamento, argumentação interativa envolve uma interação dinâmica
ou criação de significados. Isso faz com que entre o leitor e o texto, e quanto mais conhe-
os alunos vejam a leitura como um mero pro- cimentos o leitor incorpora, mais fácil se tor-
cesso de decifrar símbolos, sem a necessida- na a compreensão do texto. Em alguns casos,
de de estabelecer significados. quando o texto se torna previsível demais
Em contraste, concordamos com a para o leitor devido ao seu conhecimento
abordagem da leitura interativa, que Solé prévio, ele pode perder o interesse, pois tudo
(1998, p. 23) defende ao explicar que "a leitu- parece óbvio.
ra sempre envolve a compreensão do texto Para promover a compreensão de tex-
escrito". Nessa perspectiva, ler não é apenas tos, é essencial estimular os alunos desde
decodificar palavras, mas também construir a pré-escola a compreender o contexto da
significados a partir do texto. É uma intera- leitura. Isso requer um equilíbrio entre apre-
ção entre o leitor e o texto, aonde a compre- sentar materiais relacionados ao ambiente
ensão vai além da simples decodificação. É em que os alunos estão inseridos e introdu-
por meio da leitura significativa que o aluno zir conteúdos que expandam seus horizon-
constrói e reconstrói o conhecimento. tes culturais. Manter esse equilíbrio é impor-
De acordo com essa abordagem, é tante para que os alunos se interessem pela
fundamental estabelecer um objetivo para a leitura, pois o material tem relevância para
leitura, pois ler sem um propósito claro não sua realidade, ao mesmo tempo em que são
contribui para a aprendizagem dos alunos, expostos a diferentes culturas e conhecimen-
que podem não compreender a importân- tos.
cia da leitura e seu papel na construção do Colomer e Camps (2002) descrevem
conhecimento. O conhecimento que o pro- um processo de construção de significado
fessor traz para a sala de aula é importante, durante a leitura, que envolve a elaboração
mas os alunos também têm o potencial de de hipóteses, a verificação dessas hipóteses
contribuir com suas próprias experiências. por meio de leituras subsequentes e a assi-
Colomer e Camps (2002, p. 31) explicam que milação para verificar se as informações no
"o que o leitor vê no texto e o que ele traz texto coincidem com as interpretações ini-
consigo são dois processos simultâneos e in- ciais do leitor e suas inferências.
terdependentes".
Ainda, Brandão (2006) acrescenta
Solé (1998) reforça essa ideia ao afir- quatro estratégias importantes para práticas
mar: de leitura: selecionar informações do texto,
A leitura é o processo mediante o qual antecipar sentidos do texto, elaborar infe-
se compreende a linguagem escrita. Nesta rências e avaliar e controlar a compreensão
compreensão intervêm tanto o texto, sua do texto. Ao traçar os objetivos da leitura, o
forma e conteúdo, como o leitor, suas expec- leitor deve estar ciente das informações que
tativas e conhecimentos prévios. Para ler ne- precisa extrair do texto e estar atento aos da-
cessitamos, simultaneamente, manejar com dos relevantes enquanto lê.
destreza as habilidades de decodificação e A estratégia de antecipar sentidos en-
aportar ao texto nossos objetivos, ideias e volve aplicar conhecimentos prévios para
experiências prévias; precisamos nos envol- criar hipóteses sobre o texto, que podem ser
ver em um processo de previsão e inferên- confirmadas ou refutadas ao longo da leitu-
cia contínua, a que se apoia na informação ra. A elaboração de inferências permite que
proporcionada pelo texto e na nossa própria o leitor crie interpretações e conclusões com
bagagem, e em um processo que permita en- base nas informações presentes no texto. Fi-
contrar evidência ou rejeitar as previsões e nalmente, a estratégia de avaliar e controlar
inferências antes mencionadas. (Solé, 1998, a compreensão envolve verificar se as infe-
p. 23) rências feitas ao longo do texto foram confir-
As afirmações destacam a importân- madas ou se houve necessidade de ajustes,
cia da interação entre o leitor e o texto para alterações ou novas interpretações
a compreensão significativa da leitura. Isso

409
2.1 OS DOCUMENTOS OFICIAIS A importância de permitir que a crian-
Sabe-se da importância da leitura des- ça manuseie o livro, o folheie e estabeleça
de os primeiros estágios do desenvolvimen- um contato direto com esse objeto de seu
to, uma vez que traz inúmeros benefícios interesse não pode ser subestimada. Essa
tanto para aqueles que leem quanto para interação direta com os livros é crucial para
aqueles que ouvem histórias sendo lidas. É despertar o gosto pela leitura na criança, per-
um elemento fundamental para estabelecer mitindo que ela perceba que os livros fazem
uma relação ativa entre o falante e a língua. parte de um mundo fascinante. Nesse con-
Os benefícios do trabalho com literatura in- texto, os educadores desempenham um pa-
fantil vão além da linguagem e do aspecto pel fundamental ao apresentar e incentivar
emocional da criança. o uso de materiais de leitura para bebês. O
Referencial Curricular Nacional para a Educa-
Mesmo bebês, que possuem habili- ção Infantil (RCNEI) de 1998, volume 3, ofere-
dades motoras ainda em desenvolvimento, ce orientações nesse sentido:
demonstram capacidades notáveis de com- [...] É necessário que esses materiais
preensão imediata e expressão. O Referen- sejam colocados à disposição das crianças
cial Curricular Nacional para Educação Infan- para serem manuseados Algumas vezes, por
til (BRASIL, 1998) se destaca como um guia medo de que os livros se estraguem, aca-
orientador que aborda objetivos, conteúdos ba-se restringindo o acesso a eles. Deve-se
e diretrizes pedagógicas direcionadas ao tra- lembrar, no entanto, que a aprendizagem
balho com crianças de zero a seis anos. em relação aos cuidados no manuseio des-
A relevância da leitura é enfatizada no ses materiais implica em procedimentos e
RCNEI: valores que só poderão ser aprendidos se
as crianças puderem manuseá-los. (BRASIL,
A leitura de histórias é um momento 1998. P.155 e 156)
em que a criança pode conhecer a forma de
viver, pensar, agir e o universo de valores, Com base no que foi discutido, fica cla-
costumes e comportamentos de outras cul- ro que quanto mais cedo os bebês têm conta-
turas situadas em outros tempos e lugares to com livros e experimentam o prazer da lei-
que não o seu. A partir daí ela pode estabele- tura, maior é a probabilidade de se tornarem
cer relações com a sua forma de pensar e o adultos leitores. A narrativa desempenha um
modo de ser do grupo social ao qual perten- papel significativo na vida das crianças desde
ce. (BRASIL, 1998. P. 143) os primeiros meses de vida, começando com
as canções de ninar e as cantigas de roda, que
No contexto do Referencial Curricular gradualmente dão lugar aos livros infantis.
Nacional para Educação Infantil (RCNEI), des- Mesmo quando bebês, os sinais de interes-
taca-se também a relevância das instituições se das crianças por histórias são evidentes,
de educação infantil, como escolas e creches, manifestando-se através de aplausos, sor-
no papel de resgatar as histórias que as crian- risos, demonstrações de medo ou imitação
ças ouvem em seus lares e em seu ambiente de ações e sons de personagens. Portanto, é
cotidiano. Essas narrativas representam va- fundamental para o desenvolvimento infantil
liosas fontes de informações sobre diversas que as crianças tenham a oportunidade de
manifestações culturais, auxiliando no en- ouvir diversas histórias.
tendimento das emoções e contribuindo de
maneira positiva para o desenvolvimento da O Referencial Curricular Nacional para
sensibilidade das crianças. a Educação Infantil (RCNEI, 1998) destaca que
para promover práticas de leitura eficazes,
É importante reconhecer a importân- algumas condições são consideradas essen-
cia da leitura mesmo quando se trata de be- ciais. Entre essas condições, destacam-se:
bês, uma vez que ela os introduz às comple-
xidades da linguagem oral e escrita que de A qualidade dos livros é um fator cru-
outra forma não seriam acessíveis. Além de cial a ser considerado, como enfatiza o Refe-
proporcionar entretenimento, a leitura au- rencial Curricular Nacional para Educação In-
xilia na aquisição de novas habilidades, esti- fantil (RCNEI) de 1998, que destaca que "uma
mula a imaginação e fomenta a independên- prática constante de leitura deve considerar a
cia das crianças. Como salientado por López qualidade literária dos textos. A oferta de tex-
(2016): tos supostamente mais fáceis e curtos, para
crianças pequenas, pode resultar em um em-
[...] Os livros são enormes estímulos pobrecimento de possibilidades de acesso à
para vivência afetiva. Um livro une a criança boa literatura" (BRASIL, 1998, p. 144).
ao adulto, envolve-a em uma manta proteto-
ra comum, feita de ficções, palavras, tempos Para orientar as concepções e práticas
compartilhados e, portanto, garantidores as- na Educação Infantil, o Ministério da Educa-
sim são tão importantes e transcendentes ção (MEC) lançou a Resolução nº 5, de 17 de
essas primeiras aproximações dos bebês aos dezembro de 2009, que estabelece as Diretri-
livros, tantas vezes quanto as peçam, sem zes Curriculares Nacionais para a Educação
ordem de páginas, muitas vezes livros-brin- Infantil (DCNEI). Essas diretrizes promovem
quedos, que são lambidos, sacudidos, lidos, uma visão de Educação Infantil que valori-
amados e interiorizados. (LÓPEZ, 2016. P. 35) za princípios éticos, políticos e estéticos, e
destacam a importância de proporcionar às

410
crianças experiências narrativas, apreciação ção e o vocabulário precoce (Farrant, 2012).
da linguagem oral e escrita, bem como a inte- Adicionalmente, a visão dos bebês é simula-
ração com diferentes formas de textos orais da por meio das ilustrações coloridas e pa-
e escritos (BRASIL, 2010, p. 25). drões diversos presentes nos livros infantis,
Portanto, durante a primeira infância, potenciando a percepção visual e o desenvol-
é notável o encanto das crianças pelos sons, vimento cognitivo (Kummerer, 2019).
pela fala e pela linguagem utilizada pelos No contexto emocional, as histórias
adultos. É comum observar bebês fixando o podem colaborar na criação de rotinas, como
olhar nos rostos dos adultos que falam e ex- a preparação para o sono, promovendo a sig-
pressam o que dizem. nificativa ligação entre contação de história e
Consciente desse encantamento, a lei- a rotina de ir para a cama (Mindell, Li, Sadeh,
tura de histórias para os bebês deve ser uma Kwon & Goh, 2015). Por fim, a contação de
atividade diária. Essa prática desempenha histórias fomenta o prazer pela leitura des-
um papel fundamental no desenvolvimento de a infância, contribuindo para a formação
da linguagem e no cultivo do gosto pela litera- de leitores e para o sucesso escolar no futuro
tura e pelas histórias. Assim, o conhecimento (Mol & Bus, 2011).
sobre a leitura se expande de forma gradual, Em relação ao desenvolvimento lin-
em práticas cotidianas, com o apoio de uma guístico, as rodas de histórias são uma rica
seleção cuidadosa de livros, a realização de fonte de exposição a estruturas gramaticais
atividades de leitura em grupo e o papel ati- complexas e vocabulário variado. O simples
vo de professores na mediação da leitura de ato de ouvir uma história requer um nível
livros infantis na rotina das crianças. mais alto de processamento linguístico. Isso
se deve ao fato de que as histórias frequente-
mente envolvem sentenças mais complexas
O IMPACTO DAS RODAS DE HISTÓRIAS e um vocabulário mais amplo do que a lin-
NO DESENVOLVIMENTO DOS BEBÊS guagem cotidiana (Hoff, 2006).
As rodas de histórias são atividades in- Do ponto de vista cognitivo, a prática
terativas que envolvem a leitura ou narração tem um impacto considerável. Piaget (1952)
de histórias para grupos de crianças. A sua acreditava que a interação com o ambiente
popularidade tem crescido em ambientes é vital para o desenvolvimento cognitivo, e
educacionais, especialmente para o público as rodas de histórias oferecem um ambien-
infantil. Apesar de frequentemente serem te riquíssimo para tal. As crianças são incen-
vistas como uma atividade de entretenimen- tivadas a pensar de forma abstrata, a fazer
to, elas são, de fato, um instrumento peda- conexões lógicas e a utilizar sua imaginação,
gógico robusto que afeta vários aspectos do já que precisam entender e interpretar even-
desenvolvimento infantil (Vygotsky, 1978). tos e personagens que não estão fisicamente
Os bebês podem não compreender integral- presentes (Whitehurst et al., 1994).
mente as palavras ou as tramas das histórias, Do lado emocional e social, a prática
porém são atraídos pelos sons, ritmos e tons também é de grande relevância. As histórias
variados de voz (Debaryshe, 1989). frequentemente exploram temas emocio-
Dentro do âmbito da contação de nais e éticos que podem ser discutidos e re-
histórias para bebês, a teoria sociocultural fletidos em grupo. Isso contribui para o de-
de Vygotsky (VYGOTSKY, 1978) oferece uma senvolvimento da empatia e das habilidades
estrutura teórica útil. A narrativa para esse sociais. Erikson (1950) destaca a importância
grupo etário cria um ambiente saturado de de espaços seguros para a expressão e com-
experiências culturais e sociais. A linguagem preensão emocional, e as rodas de histórias
e a comunicação verbal empregadas duran- se mostram eficazes nesse aspecto.
te a contação de histórias são fundamentais Não se pode negligenciar o fato de que
para facilitar a assimilação e a internalização a eficácia da roda de histórias também está
de elementos culturais, bem como para in- vinculada à qualidade da narrativa e à habili-
centivar a interação cuidador-criança (HOFF, dade do narrador em envolver as crianças. O
2006). envolvimento ativo das crianças na história,
Essa prática de interação social e a in- seja por meio de perguntas ou discussões,
serção de contextos culturais nas narrativas pode amplificar os benefícios já citados.
são coerentes com os princípios vygotskia- Do ponto de vista neurodesenvolvi-
nos, contribuindo para um desenvolvimento mental, a importância da exposição a estí-
cognitivo na criança (VYGOTSKY, 1978). As- mulos auditivos durante os anos iniciais de
sim, a abordagem sociocultural de Vygotsky vida é um tópico que tem recebido crescen-
respalda a relevância da contação de histó- te atenção na literatura científica. De acordo
rias para bebês, sublinhando a importância com Dehaene-Lambertz et al. (2006), a leitura
das interações sociais e das influências cul- em voz alta para bebês tem um impacto sig-
turais no aprendizado e no desenvolvimento nificativo no desenvolvimento de áreas cere-
infantil precoce (WHITEHURST et al., 1994). brais associadas à linguagem e à audição.
A contação estimula o reconhecimen- Estímulos auditivos, como os forneci-
to de palavras e sons, desenvolvendo a audi- dos pela leitura em voz alta, são cruciais para

411
a ativação e fortalecimento de conexões neu- bês. A pesquisa sublinha a necessidade de
rais em áreas como o córtex auditivo e as re- futuros estudos que possam explorar ainda
giões temporais e frontais associadas ao pro- mais os diversos aspectos e benefícios desta
cessamento da linguagem (Kuhl, 2004). Essas atividade, a fim de enriquecer as estratégias
conexões neurais fornecem a base para fu- pedagógicas em ambientes educacionais
turos desenvolvimentos em habilidades lin- destinados a esta faixa etária.
guísticas mais complexas, como a compreen-
são sintática e semântica, além da habilidade
de participar de conversas mais elaboradas. REFERÊNCIAS
O período da chamada "janela de BARTHES, Roland. Elementos de se-
oportunidade" no desenvolvimento cerebral miologia. New York: Hill and Wang, 1967.
também é um fator relevante. Durante esse BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de
tempo, o cérebro é particularmente plástico, fadas. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000.
ou seja, mais capaz de formar novas cone-
xões neurais em resposta a estímulos (Knud- CAILLOIS, Roger. O Homem e o Sagra-
sen, 2004). Assim, a exposição a estímulos do, trad. Geminiano Cascais Franco, Lisboa:
Edições, v. 70, 1950. CARDOSO, Joel. Cinema
auditivos ricos durante essa fase pode ter um e Literatura: contrapontos intersemióticos.
impacto duradouro no desenvolvimento cog- Revista Literatura em debate, v. 5, n. 8, p. 1,
nitivo e linguístico da criança. 2011.
Não apenas o conteúdo, mas também CASHDAN, Sheldon. Os 7 pecados ca-
o ritmo, o tom e a melodia da fala durante pitais nos contos de fadas: como os contos
a leitura em voz alta podem contribuir para de fadas influenciam nossas vidas. Rio de Ja-
o desenvolvimento auditivo. Estes elemen- neiro: Campus, p. 31, 2000.
tos ajudam a criança a diferenciar entre di- DE CAMPOS REIS, Simone. " Abracada-
ferentes tipos de sons e a entender nuances bra" A palavra dos contos de fada. 2008. Dis-
emocionais na fala, o que é vital para a co- sertação de Mestrado. Universidade Federal
municação eficaz e o desenvolvimento socio- de Pernambuco.
emocional (Murray et al., 2012).
DEBARYSHE, B. D. Joint picture-book
reading correlates of early oral language skill.
Journal of child language, v. 16, n. 2, p. 455-
CONSIDERAÇÕES FINAIS 461, 1989.
O presente artigo objetivou compre- DEHAENE-LAMBERTZ, G.; DEHAENE,
ender a importância das rodas de histórias S.; HERTZ-PANNIER, L. Functional neuroima-
para o desenvolvimento dos bebês, focando ging of speech perception in infants. Science,
tanto nos elementos didáticos empregados v. 298, n. 5600, p. 2013-2015, 2006.
quanto na assimilação e compartilhamento FARRANT, B. M.; ZUBRICK, S. R. Early
de significados pelas crianças envolvidas. A vocabulary development: the importance of
partir dos dados analisados e das observa- joint attention and parent-child book reading.
ções realizadas, pode- se afirmar que as ro- First Language, v. 32, n. 3, p. 343-364, 2012.
das de histórias representam uma estratégia FREUD, Sigmund. Totem e tabu: alguns
pedagógica multifacetada e eficaz. pontos de concordância entre a vida mental
A organização didática e as práticas de dos selvagens e dos neuróticos. In: Totem e
leitura conduzidas pela educadora do berçá- tabu e outros trabalhos. 1969. p. 21-191.
rio mostraram ser cruciais para o engajamen- GENETTE, G. Palimpsestos: a literatura
to dos bebês. A estruturação do ambiente, a no segundo grau. Lisboa: Editora
escolha de materiais e a interação com as
crianças são elementos que contribuem sig- Estampa, 1982. GIDDENS, A. A Consti-
nificativamente para a eficácia da atividade. tuição da Sociedade. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes. 1984. JOLY, Martine. Introdu-
O envolvimento ativo dos bebês demonstrou ção à análise da imagem. Campinas: Papirus,
não apenas melhorar a aquisição de lingua- 1996.
gem, mas também estimular o desenvolvi-
mento cognitivo e socioemocional. HOFF, E. How social contexts support
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É relevante destacar que a assimilação mental Review, v. 26, n. 1, p. 55-88, 2006.
e compartilhamento de significados foram JUNG, Carl G. A natureza da psique.
notavelmente perceptíveis nas crianças. Este Petrópolis: Editora Vozes, 1972.
fato corrobora a ideia de que as rodas de his-
tórias não são apenas instrumentos de trans- KNUDSEN, E. I. Sensitive periods in the
missão de informação, mas também espaços development of the brain and behavior. Jour-
ricos para a construção coletiva de conheci- nal of Cognitive Neuroscience, v. 16, n. 8, p.
mento. 1412-1425, 2004.
Portanto, o artigo conclui que a prá- KRISTEVA, Julia. Poderes do horror: um
tica das rodas de histórias vai além do sim- ensaio sobre a abjeção. New York:
ples ato de contar uma história; ela se revela Columbia University Press, 1982.
como uma metodologia robusta que contri- KUHL, P. K. Early language acquisition:
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413
OS JOGOS COMO ESTIMULADORES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
PAULA MARIA DA SILVA

RESUMO mais gerais da antiga sociedade: o disfarce, a


fantasia. Os romances do século XVI ao XVIII
Esta pesquisa teve por objetivo abor- estão cheios de histórias de disfarces: rapa-
dar a importância dos jogos na educação in- zes vestidos de mulher, princesas vestidas de
fantil, considerado fator fundamental para pastoras etc. Essa literatura traduz um gosto
o desenvolvimento das aptidões físicas e que sempre se expressa nas festas sazonais
mentais da criança. O motivo deste traba- ou ocasionais: festas de Reis, terça-feira gor-
lho emergiu com base em observações rea- da, festas de novembro. (ARIÈS, 1981, p.124).
lizadas nos momentos de brincadeira, onde
foi possível constatar que essa atividade é Essa descrição que o autor faz dos
entendida por alguns professores, apenas jogos da antiguidade, vem a confirmar que,
como entretenimento, e não como situação naquela época, tanto os adultos como as
de aprendizagem que possibilita o desen- crianças partilhavam das mesmas brincadei-
volvimento de várias habilidades. Assim, a ras, tanto para se divertir quanto para seguir
partir destas observações surgiu o interesse rituais religiosos. De acordo com as teorias
em trabalhar com esse tema, com o intuito que embasam o brincar, pode-se afirmar que
de compreender o lúdico a fim de abandonar não há entendimento único do significado
a ideia de utilizar tais recursos apenas como dos termos: jogo, brinquedo e brincadeira.
passatempo e sim como ferramenta indis- Por essa razão, a seguir apresentam-se algu-
pensável para o desenvolvimento da criança, mas definições com intuito de esclarecer os
pois brincar não é apenas recrear-se é expe- conceitos e favorecer a compreensão desses
rimentar o mundo. Para tanto, os estudos termos e de sua função no processo de ensi-
aqui apresentados se sustentaram teorica- no e aprendizagem na educação infantil.
mente nos seguintes estudiosos: Vygotsky,
Kishimoto, Zilma Ramos de Oliveira, Adriana
Friedmann e Gisela Wajskop. A Legislação que Garante o Direito das
Palavras-chave: Jogos; Educação Infan- Crianças ao Atendimento em Creches e Pré-
til; Desenvolvimento. -escolas
A partir da década de 60, o Brasil so-
freu avanços significativamente importan-
INTRODUÇÃO tes no âmbito educacional, graças a forte
influência dos órgãos governamentais, bem
A escritora Paula Belmino descreve a como, da sociedade civil que reivindicaram
criança como um ser completo até ser divi- e questionaram o atendimento em creches
dida por sensações de medo, de angústias na faixa etária de 0 a 6 anos de idade con-
e desilusões, de estabilidade e de engessa- siderando que eles deveriam ser garantidos
mento e fragmentos que os adultos lhe ofe- e reconhecidos como direito da mãe traba-
recem em suas relações, abandonando-as à lhadora. Esse movimento de alcance mundial
própria sorte de ser feliz ou não. A criança refletiu na Constituição Federal de 1988, que
será, portanto, um adulto suficientemente do ponto de vista legal, assegurou o direito
forte ou modesto, capaz ou dependente de das crianças de serem educados em creches
ajuda para mudar sua realidade mediante às e pré-escolas, independente da classe social
oportunidades que seus responsáveis e con- que ela pertença ou da condição profissional
dutores lhes acomodem na bagagem e na da mãe.
alma a paz, o direito de brincar e ser feliz, o
de tentar e errar, o de viver sem medo, o de Assim, a Constituição Federal, Brasil
experimentar, correr, saltar, de viver e criar, (1988), no artigo 208, inciso IV afirma:
de inventar e de se reinventar.
O dever do estado com a educação
No contexto dos jogos e a educação será efetivado mediante a garantia de:
infantil, a origem dos jogos remonta à Anti-
guidade, quando apresentava funções ritu- IV - Atendimento em creches e pré-es-
alístico-religiosas, sociais, comemorativas. colas as crianças de 0 a 6 anos de idade.
Mesmo os jogos hoje considerados infantis A conquista desse direito represen-
(pipa, amarelinha, bola, corda etc.) estiveram tou uma mudança significativa na realidade
presentes nas diversas culturas e são ligados, educacional brasileira, principalmente nas
até hoje, ao sagrado. Nesse contexto, Ariès creches e pré-escolas, que passaram a ser re-
(1981), destacou: conhecidas como instituição educativa e não
[...] partimos de um estado em que os mais assistencial.
mesmos jogos e brincadeiras eram comuns Dessa maneira, na década de
a todas as idades e a todas as classes. [...] 90, o Brasil presenciou uma conquista ex-
Essa sobrevivência popular e infantil outro- tremamente importante, pois a educação in-
ra comum a toda a coletividade preservou fantil foi definida como a primeira etapa da
também uma das formas de divertimento

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educação básica, como afirma o artigo 29 da cepção de criança, a indissociabilidade do
referida lei: educar e cuidar afirmando que: “Educar sig-
A educação infantil, primeira etapa da nifica, portanto, propiciar situações de cuida-
educação básica, tem como finalidade o de- dos, brincadeiras e aprendizagens orientadas
senvolvimento integral da criança até os seis de forma integrada que possam contribuir
anos de idade, em seus aspectos físicos, psi- para o desenvolvimento das capacidades in-
cológicos, intelectuais e sociais, complemen- fantis”. (BRASIL, 1998, v.1, p. 23).
tando a ação da família de comunidade. (C.F, Diante disso considera que A base do
1988, art.29). cuidado humano é compreender como aju-
Também foi promulgado em julho de dar o outro a se desenvolver como ser hu-
1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente mano. “Cuidar significa valorizar e ajudar a
– ECA - lei n. 8069/90, que em seu artigo 53 desenvolver capacidades.” (BRASIL, 1998, v1,
reforça: p.24).
A criança e o adolescente têm direito à Prevê a crença nas capacidades do
educação, visando ao pleno desenvolvimen- educando, o compromisso com ele, com sua
to de sua pessoa, preparo para o exercício singularidade, sendo solidário com suas ne-
da cidadania e qualificação para o trabalho cessidades, o que está intimamente ligado
assegurando-lhes: com a construção de vínculo, interessando-
-se pelo que a criança pensa e sente, visando
I - igualdade de condições para o aces- a ampliação deste conhecimento e de suas
so e permanência na escola; habilidades, que aos poucos a tornarão mais
independente e autônoma.
II - direito de ser respeitado por seus
educadores; O documento define a autonomia
como a capacidade de tomar decisões por si
III - direito de contestar critérios ava- próprio, ao considerar as crianças como se-
liativos, podendo recorrer às instâncias esco- res com vontade própria, capazes e compe-
lares superiores; tentes para a construção de conhecimento,
IV - direito de organização e participa- e interferir no meio em que vivem dentro de
ção em entidades estudantis; suas possibilidades.
V - acesso a escola pública e gratuita Neste contexto discute o papel do
próxima de sua residência. brincar para o desenvolvimento destas com-
petências e habilidades, auxiliando-as a su-
Os avanços acima descritos origina- perar progressivamente suas aquisições de
ram uma série de mudanças e impulsiona- forma criativa, contribuindo para a interiori-
ram a elaboração do Referencial Curricular zação de modelos do
Nacional para a Educação Infantil no Brasil
o RCNEI, cuja publicação ocorreu em 1998. Nesta situação o professor tem pa-
Trata-se de um documento que se constitui pel fundamental segundo o referencial: “é
a partir das concepções de criança, infância e preciso ter professores que sejam compro-
educação, como um elemento orientador de metidos com a prática educacional, capazes
ações na busca da melhoria de qualidade no de responder às demandas familiares e as
ensino voltado para o público infantil a fim questões específicas relativas aos cuidados
de que sejam respeitadas as necessidades e aprendizagens infantis”. (Brasil, 1998, v1.
pedagógicas da criança. p.41).
Para tanto, o RCNEI (1998), é dividido O volume 2: Formação Pessoal e Social
em três volumes. O primeiro volume é no- contém o eixo de trabalho que favorece, prio-
meado de Introdução e apresenta uma re- ritariamente, os processos de construção da
flexão sobre creches e pré-escolas no Brasil, Identidade e Autonomia das crianças. Nele
além de situar e fundamentar concepções estão traçadas a concepção que norteia este
de criança, de educação, de instituição e do referencial: “A construção da identidade e da
educador infantil, utilizadas para definir os autonomia diz respeito ao conhecimento, de-
objetivos gerais da educação infantil, além senvolvimento e uso dos recursos pessoais
de auxiliar na orientação da organização dos para fazer frente as diferentes situações da
outros dois volumes. Nele é traçada a orga- vida”. (Brasil, 1998 v.2 p.13)
nização do documento, que visa estabelecer Segundo o RCNEI a identidade é cons-
referências e orientações pedagógicas de tituída por todas as características que dife-
modo que se promovam e ampliem as condi- rem uma pessoa da outra como: nome, ca-
ções necessárias para a qualidade do ensino racterísticas físicas, modos de agir, pensar e
visando o exercício da cidadania das crianças história pessoal. Este processo é gradativo
brasileiras. Sua função é contribuir com os e é conquistado de acordo com as intera-
programas de educação infantil apoiando os ções sociais estabelecidas pelas crianças, nas
sistemas de ensino com princípios pautados quais, ela alternadamente imita e se confun-
nas especificidades afetivas, emocionais, so- de com o outro para diferenciar-se dele.
ciais e cognitivas das crianças de 0 a 6 anos. Nesta construção da identidade o meio em
O documento propõe, a partir da con- que a criança interage é fator fundamental:
família, relações sociais, diversidade étnica

415
e cultural. O ingresso na instituição infantil de pequenas ações cotidianas ao seu alcan-
também é muito importante. “[...] Em vista ce para que adquira maior independência;
da possibilidade de conviverem com outras participação em brincadeiras de esconder e
crianças e com adultos de origens e hábitos achar e de imitação; participação e interesse
culturais diversos, de aprender novas brinca- em situações que envolvam a relação com o
deiras, de adquirir conhecimentos sobre rea- outro, dentre outras.
lidades distantes”. (BRASIL, 1998, v.2 p13). Segundo o RCNEI, educar signi-
O RCNEI aponta que a partir do mo- fica:
mento que a criança gradualmente percebe- Propiciar situações de cuidados, brin-
-se e percebe o outro como diferentes, pas- cadeiras e aprendizagens orientadas de for-
sam a acionar seus próprios recursos o que ma integrada e que possam contribuir para
representa uma condição essencial para o o desenvolvimento das capacidades infantis
desenvolvimento da autonomia. Para tanto é de relação interpessoal, de ser e estar com
preciso planejar situações em que as crian- os outros em uma atitude básica de aceita-
ças dirijam suas próprias ações levando em ção, respeito e confiança, e o acesso pelas
consideração recursos individuais e os limi- crianças, aos conhecimentos mais amplos da
tes inerentes ao ambiente. realidade social e cultural. (BRASIL, 1998, 1v,
Desde muito pequenas, é visível o es- p.23).
forço das crianças em reproduzir gestos, ex- Diante do acima exposto pode-se
pressões faciais e sons existentes no seu con- considerar que o educar favorece situações
texto social. “Na fase dos dois aos 03 anos a de cuidado, brincadeiras e aprendizagens
imitação entre crianças pode ser uma forma que orientadas de forma integrada contri-
privilegiada de comunicação e para brincar buem no desenvolvimento de capacidades
com outras crianças. A oferta de múltiplos infantis de relação interpessoal:
brinquedos do mesmo tipo facilita esta inte-
ração”. (BRASIL,1998, v2, p.21). [...] de ser e estar com os outros em
De acordo com este documento, ao uma atitude básica de aceitação, respeito
brincar a criança utiliza diferentes recursos e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos
como a atenção, a imitação a memória e a conhecimentos mais amplos da realidade
imaginação. A partir destas vivências pode-se social e cultural. Neste processo, a educa-
observar a coordenação destas experiências ção poderá auxiliar o desenvolvimento das
prévias, através da repetição daquilo que já capacidades de apropriação e conhecimento
conhecem, ativam a memória e utilizam seus das potencialidades corporais, afetivas, emo-
conhecimentos ampliando-os e transforman- cionais, estéticas e éticas, na perspectiva de
do-os por meio de uma nova situação imagi- contribuir para a formação de crianças felizes
naria. e saudáveis. (BRASIL, 1998, 1 v, p. 23).
Por fim, o volume 3, intitulado Conhe- Cuidar, educar e brincar conceitos
cimento de Mundo apresenta seis documen- tão distintos, porém interligados e indissoci-
tos relativos aos eixos de trabalho orientados áveis. Para que as crianças possam exercer
para - a construção das diferentes linguagens sua capacidade de criar deve haver uma ri-
pelas crianças e para as relações que estabe- queza de diversidade nas experiências que a
lecem com os objetos de conhecimento, sen- elas são oferecidas, sejam voltadas para brin-
do estes: “Movimento, Música, Artes Visuais, cadeiras ou aprendizagens por meio de uma
Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Socie- intervenção direta.
dade e Matemática”. (BRASIL, 1998, 1v, p.07). Pois, ainda de acordo com o RC-
Segundo o Referencial Curricular NEI (1998):
Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, A brincadeira é uma linguagem infantil
1998), a instituição de Educação Infantil de que mantém um vínculo essencial com aqui-
zero a três anos deve proporcionar um am- lo que é o “não-brincar”. Se a brincadeira é
biente de acolhimento que dê segurança e uma ação que ocorre no plano da imagina-
confiança, e que garantam alguns aspectos, ção isto implica que aquele que brinca tenha
como: experimentar e utilizar os recursos de o domínio da linguagem simbólica. Isto quer
que dispõem para a satisfação de suas ne- dizer que é preciso haver consciência da di-
cessidades essenciais; familiarizar-se com a ferença entre existência e realidade imediata
imagem do próprio corpo; interessar-se pro- que lhe forneceu conteúdo para realizar-se.
gressivamente pelo cuidado com o próprio (Brasil, 1998; p.27).
corpo, executando ações simples relaciona-
das à saúde e higiene. Quanto ao conteúdo, Por todo esse contexto é possível com-
estas instituições devem assegurar: preender que a lógica que permeia a educa-
ção infantil contemporânea propõe que o
Reconhecimento progressivo do pró- brincar faz parte da infância, garantindo um
prio corpo e das diferentes sensações e rit- espaço de liberdade em que a criança pode
mos que produz; identificação progressiva repetir o aprendido para não desaprendê-lo
de algumas singularidades próprias e das e exercitando esse seu poder permite criar,
pessoas com as quais convive no seu coti- recriar novas situações. Vale ressaltar que
diano em situação de interação; realização o desenvolvimento da criança se processa

416
através do ato de brincar, que acontece em partir do seu nascimento, inicia seu processo
vários momentos e situações. A criança é um de aprendizagem, porém, é importante res-
ser social, que nasce com capacidades afeti- saltar que seu desenvolvimento dependerá
vas, cognitivas e emocionais e tem necessida- do recebimento dos estímulos do meio.
de de interagir com o meio.
O RCNEI, (1998) define ainda que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ato de brincar, os sinais, os gestos,
os objetos e os espaços valem e significam Este trabalho visou colaborar com pais
outra coisa daquilo que aparenta ser. Ao e professores sobre o entendimento dos be-
brincar, as crianças recriam e repensam os nefícios que os jogos e as brincadeiras infan-
acontecimentos que lhes deram origem, sa- tis oferecem às crianças, buscou-se pesqui-
bendo que estão brincando”. (BRASIL, 1998; sar mais a fundo para se fundamentar essas
p. 27). alegações. Com base em pesquisas bibliográ-
ficas de grandes teóricos, chega-se à conclu-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educa- são de que os jogos e as brincadeiras propi-
ção Nacional (BRASIL, 1996), também reser- ciam o desenvolvimento e a aprendizagem
vou uma seção inteira, destinada às normas das crianças nos mais variados aspectos.
para o atendimento na Educação Infantil,
como se segue: Constatou-se que ao brincar de faz-
-de-conta, as crianças buscam imitar, imagi-
SEÇÃO II – Da Educação Infantil nar, representar e comunicar de uma forma
Art. 29. A educação infantil, primeira específica que uma coisa pode ser outra, que
etapa da educação básica, tem como finali- uma pessoa pode ser uma personagem, que
dade o desenvolvimento integral da criança uma criança pode ser um objeto ou um ani-
de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, mal, que um lugar “faz-de-conta” que é outro.
psicológico, intelectual e social, complemen- Brincar é, assim, um espaço no qual se pode
tando a ação da família e da comunidade. observar a coordenação das experiências
prévias das crianças e aquilo que os objetos
Art. 30. A educação infantil será ofere- manipulados sugerem ou provocam no mo-
cida em: I – creches, ou entidades equivalen- mento presente. Pela repetição daquilo que
tes, para crianças de até três anos de idade; já conhecem, utilizando a ativação da me-
II – pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) mória, atualizam seus conhecimentos pré-
a 5 (cinco) anos de idade. vios, ampliando-os e transformando-os por
meio da criação de uma situação imaginária
Art. 31. A educação infantil será orga- nova. Brincar constitui-se, dessa forma, em
nizada de acordo com as seguintes regras co- uma atividade interna das crianças, baseada
muns: no desenvolvimento da imaginação e na in-
I – avaliação mediante acompanha- terpretação da realidade, sem ser ilusão ou
mento e registro do desenvolvimento das mentira. Também tornam-se autoras de seus
crianças, sem o objetivo de promoção, mes- papéis, escolhendo, elaborando e colocando
mo para o acesso ao ensino fundamental; em prática suas fantasias e conhecimentos,
sem a intervenção direta do adulto, poden-
II – carga horária mínima anual de 800 do pensar e solucionar problemas de forma
(oitocentas) horas, distribuída por um míni- livre das pressões situacionais da realidade
mo de 200 (duzentos) dias de trabalho edu- imediata.
cacional;
III – atendimento à criança de, no mí-
nimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno REFERÊNCIAS
parcial e de 7 (sete) horas para a jornada in- ARIÈS, Philippe. História Social da Criança
tegral; e da Família. 2.ed. – Rio de Janeiro: LTC, 1981.
IV – controle de frequência pela insti- BROUGÈRE, Gilles. Jogo e Educação. Porto
tuição de educação pré-escolar, exigida a fre- Alegre: Artes Médicas, 1998.
quência mínima de 60% (sessenta por cento) BRASIL. (1988). Constituição da República
do total de horas; Federativa do Brasil. 40 ed. São Paulo: Saraiva,
V – expedição de documentação que 2007.
permita atestar os processos de desenvolvi- _______________. Lei 8.069/1990. Estatuto
mento e aprendizagem da criança. da Criança e do Adolescente. 15 ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
Dessa forma, hoje, observa-se
que o atendimento das crianças da educação _______________. Lei nº 9.394/1996. Estabe-
infantil, não se restringe aos cuidados pes- lece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional
soais do educando, tampouco tem aspecto Disponível em: https://www.planalto.gov.br/cci-
assistencialista, e sim, esse atendimento está vil/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 10 ago. 2023.
pautado nos aspectos pedagógicos e no pro- _______________. Ministério da Educação e
cesso de ensino e aprendizagem, sem se des- do Desporto. Secretaria de Educação Fundamen-
cuidar dos cuidados com a higiene, alimen- tal. Referencial curricular nacional para a Educa-
tação e saúde dos educandos. A criança, a ção Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

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AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
PRISCILENE RAMOS DA SILVA SANTOS

RESUMO aprendizagem.
O objetivo deste trabalho é apresentar Portanto, este artigo tem o propósi-
reflexões sobre a importância da empatia e to de apresentar com perspicácia teorias de
da afetividade e dos vínculos afetivos como grandes educadores brasileiros, que com-
fator predominante para a aprendizagem prova a importância e o incentivo ao bom re-
de crianças. Para alicerçar e fundamentar lacionamento em sala de aula.
a importância deste trabalho, buscamos in-
formações nas referências teóricas basea- O objetivo geral foi compreender de
das nas ideias de Gabriel Chalita e Eugênio que maneira o bom relacionamento entre
Cunha. Da mesma forma, as contribuições de professor e aluno pode favorecer o proces-
Wallon, Vygotsky e de Piaget foram importan- so de construção do ensino e aprendizagem.
tes para caracterizar um professor com olhar Os objetivos específicos procuraram identi-
afetivo, e que se preocupa com a aprendiza- ficar práticas notórias de incentivo ao hábi-
gem e seus alunos e, ao mesmo tempo, com to de estudo; analisar os principais motivos
a qualidade dessa aprendizagem, que deve que desgastam a relação professor e aluno e
ser significativa para o aluno, onde ele possa elencar soluções para solucioná-las e propor-
trazer suas experiências, fazer trocas, intera- cionar mais incentivo à busca de estratégias
gir, enfim estabelecer vínculos. A partir des- diferenciadas e de forma dinâmica, visando o
te trabalho podemos perceber e constatar resgate de um bom relacionamento em sala
porque é importante que se tenha, na escola, de aula.
uma educação pautada por afetos e também O processo desse método de pesquisa
um educador compromissado, competente e será aplicado através pesquisa bibliográfica,
afetivo. sobre a maneira de como os pais, profes-
Palavras-chave: Afetividade; Aprendi- sores incentivam os alunos e se incentivam
zagem; Empatia. para o hábito dos estudos dentro e fora da
sala de aula e de que maneira as situações de
conflitos são solucionadas.
INTRODUÇÃO
O presente artigo destina-se a disser- AFETIVIDADE E EMPATIA NA EDUCA-
tar sobre o tema a importância da empatia e ÇÃO INFANTIL
da afetividade na relação professor e aluno
no processo de ensino e aprendizagem. partir de diversos estudos, como os
de Coll (1994 e 2000); Brenelli (2000), Rego
Este estudo investiga a influência que (2000), etc. envolvendo interações sociais; re-
a empatia e a afetividade exercem na relação lações interpessoais e outras terminologias
professor e aluno e no processo de ensino e similares, que enfatizam a importância do
aprendizagem. Objetiva uma melhor com- outro para o processo de apropriação do co-
preensão do que vem a ser educação, ensino, nhecimento, grande parte destes tem dado
aprendizagem significativa e influência das ênfase aos fatores afetivos como essenciais
emoções na sala de aula. Pretendeu-se por para o desenvolvimento humano. No entan-
meio de pesquisas bibliográficas, compre- to, existem certas dificuldades, divergências
ender algumas especificidades deste tema e e confusões quanto a conceituação do que
também aspectos conceituais sobre a educa- vem a ser afetividade, afeto, emoção e senti-
ção, o ensinar e o aprender com significado. mento. Portanto, iniciaremos com conceitos
Esta pesquisa procura resgatar os sig- sistemáticos e posteriormente com outros
nificados originais do conceito de aprendiza- mais distintos conforme alguns teóricos a se-
gem significativa que é rotineiramente utiliza- rem evidenciados.
do, porém, com frequência, sem saber o que Libâneo (1994) coloca os aspectos cog-
significa. E, além disso, revelou-se a questão noscitivos e sócios emocionais da interação
da empatia na relação professor e aluno e professores – aluno, onde dentro dos víncu-
até que ponto ela influencia no processo de los afetivos é importante que: “a interação
ensino e aprendizagem? deve estar voltada para a atividade de todos
opção pelo estudo neste tema deve-se os alunos em torno dos objetivos e do conte-
ao fato de analisar-se a falta de interesse das údo da aula”. (p.251)
partes na sala de aula e os conflitos nesta re- Segundo Piaget (1974 apud Brenelli,
lação que se tornaram rotineiros desde essa 2002): “Os aspectos afetivos e cognitivos da
fase da vida, e consequentemente quando ação são indissociáveis, irredutíveis e com-
adulto não será diferente se atitudes não fo- plementares (...) todo comportamento hu-
rem administradas. O estudo justifica-se por mano envolve inteligência e afetividade” (p.p
discorrer sobre um tema que é fundamen- 106 e 107).
tal e que constitui todo o processo ensino –

418
Para este autor (1988 apud Brenelli te no desenvolvimento da pessoa. É por meio
,2000, p. 105), no processo construtivo do delas que o aluno exterioriza seus desejos e
desenvolvimento humano destaca três tipos suas vontades. E este mesmo autor (1968,
de funções: “as funções do conhecimento, re- apud Galvão, 1999, p.04) entende as emo-
presentação e da afetividade (...) as funções ções como:
afetivas dizem respeito à necessidade de ex-
pressão e sua finalidade”. Souza (2002, p. 33), Um tipo particular de manifestação
afirma que a conceituação de Piaget é polê- afetiva que se diferencia de outras por alguns
mica quando o mesmo expressa que: traços... O emocional pode ser visto pelo ou-
tro, ele é perceptível. Em geral as manifesta-
A afetividade é uma correspondência ções afetivas são acompanhadas por alguma
entre as evoluções afetivas e cognitivas, ao transformação, no próprio corpo da pessoa,
longo da vida dos indivíduos... A afetividade ou, como se refere Wallon, em seu sistema
está indissociavelmente ligada a inteligência neurovegetativo.
e se manifesta nas ações e condutas dos indi-
víduos, sendo responsável pelo rumo que as No entanto, Leite e Tassoni (2002),
ações a tomam em direção aos objetos. analisando o posicionamento de Wallon, de-
fendem o seguinte: “A afetividade correspon-
Outro posicionamento de Piaget dente a um período mais tardio na evolução
(apud La Taille, 1992, p.65) e que: “A afetivi- da criança, quando surgem os elementos
dade é comumente interpretada como uma simbólicos”. De acordo com Wallon (apud
“energia”, portanto, como algo que impulsio- Dantas, 1992):
na as ações... a afetividade é a mola propul-
sora das ações e a Razão está a seu serviço”. A afetividade é também uma fase do
Este mesmo autor segundo La Taille (1992. desenvolvimento, mais arcaica. O ser hu-
p, 73), identificou duas morais: “Na primeira, mano foi logo que saiu da a vida puramen-
identifica afetos básicos como medo e amor. te orgânica, um ser afetivo. Da afetividade
Na segunda, contudo, desaparecem referên- diferenciou-se lentamente, a vida racional.
cias a afeto, permanecendo apenas a noção Portanto, no início da vida, afetividade e in-
de necessidade, produto genuíno da razão.”. teligência estão sincronicamente misturados,
Tal postulado para o teórico La Taille (1992, com o predomínio da primeira... ao longo
p. 73) parece incompleto e insuficiente e faz a do trajeto, elas alteram preponderância, e a
seguinte inquirição: “como a afetividade tor- afetividade cognitiva assim que a maturação
na o respeito mútuo possível de ser seguido põe em ação o equipamento sensório-motor
na prática?”. necessário à exploração da realidade. (p.91).
Segundo Vygotsky (1998, apud Leite e Portanto, a conceituação de afetivida-
Tassoni, 2002, p. 121), afeto (emoção) e cog- de a qual atribuirei neste trabalho é a de Tas-
nição estão intimamente ligados, assim: soni (2000) e Leite e Tassoni (2002), por ser
uma concepção mais ampla, o que significa
A manifestação inicial da emoção par- o envolvimento de uma série ainda maior de
te da herança biológica, mas, junto com ou- manifestações, permeando sentimentos (ori-
tras funções psicológicas, nas interações so- gem psicológica) e emoções (origem biológi-
ciais, ela perde seu instintivo para dar lugar ca). Tais manifestações são colocadas com as
a um nível mais complexo de atuação do ser vivências dos sujeitos, bem como as formas
humano, consciente e autodeterminado. de expressão mais complexas e essencial-
Van Deer Veer e Valsiner (1996, apud mente humanas, onde afetividade consti-
Leite e Tassoni, 2002, p.p 121 e 122), colocam tui-se elemento inseparável do processo de
que: construção do conhecimento.
Vygotsky tentou mostrar que a criança Assim, toda vez que mencionar o ter-
incorpora instrumentos culturais através da mo afetividade não estou tão somente fa-
linguagem e que, portanto, os processos psi- lando de carinho do professor que a passa
cológicos afetivos e cognitivos da criança são a mão na cabeça do aluno; amor, fraternal,
determinados, em última instância por seu paternal ou materno; elogios; atenção e etc.,
ambiente cultural e social. mas, também uma gama de fatores que in-
fluenciam no processo de ensino-aprendiza-
Oliveira (1992), analisando os traba- gem para que este seja realmente significa-
lhos de Vygotsky também, enfatizou que o tivo.
mesmo propõe uma abordagem unificadora A educação escolar é uma das muitas
das dimensões afetivas e cognitiva do funcio- atividades sócias educativas desenvolvidas
namento psicológico. Na verdade, Vygotsky em nossa sociedade com a finalidade de de-
não entende a afetividade separada dos as- senvolver no aluno as qualidades pessoais
pectos intelectuais e sim como parte de uma aspiradas pela mesma. Assim, é necessário
mesma unidade. No processo de internali- que os saberes socioculturais acumulados
zação, estão envolvidos não só os aspectos pelas gerações sejam transmitidos aos alu-
cognitivos, mas também os afetivos (Tassoni, nos, e a forma como tais conhecimentos são
2000) repassados são de grande importância para
Segundo Wallon (1968, apud Santos, o processo ensino-aprendizagem. Portanto,
2003), as emoções, têm papel preponderan- a escola é uma instituição construída espe-

419
cialmente com o intuito de socializar conhe- sino etc.
cimentos. Para Coll (1994, p. 53):
Por tal razão Tassoni (2000, p. 01),
As sociedades ocidentais que alcança- postula que o ensino e a aprendizagem se
ram certo grau de desenvolvimento científico realizam quando se efetiva vínculos entre as
e tecnológico decidem criar instituições espe- pessoas desde o âmbito familiar. E é bastan-
cificamente educativas com o fim de promo- te enfática quando diz: “Portanto é o vínculo
ver sistematicamente o desenvolvimento e a afetivo estabelecido entre o adulto e a crian-
socialização dos seus membros mais jovens. ça que sustentam a etapa inicial do processo
de aprendizagem”. Já Piaget (1988 apud Bre-
E dentro desta instituição educativa, nelli, 2000, embora faça uma separação das
temos a figura do Professor (a) que é a pessoa funções do conhecimento, representação e
responsável pela mediação do conhecimen- afetividade bases do processo construtivo),
to, de forma que seja percebido pelos alunos apresenta a afetividade como indissociável
como alguém confiante e que seja confiável das demais funções. Este mesmo autor (1974
dentro de uma relação social que se estabe- apud Brenelli, 2000, p.
leça dentro de sala de aula. Segundo Antunes
(2002, p. 33), um dos pontos essenciais para 106), descreve que: “Os aspectos afe-
a progressão dos alunos é: “Construir, pro- tivos e cognitivos da ação indissociáveis, irre-
gressivamente, um clima de relacionamento dutíveis e complementares”.
objetivo com os alunos, fazendo com que os
mesmos descubram em seu professor um Segundo Morales (2003, p.33), algu-
efetivo ajudante, dispondo a fazê-lo a cami- mas pesquisas e estudos que permitiram fa-
nhar com eficiência e segurança”. zer um levantamento das características de
um professor ideal (bom) na concepção dos
De acordo com Santos (2003) e Galvão alunos são notórios observarmos duas gran-
(1999), o teórico francês Henri Wallon (1879- des categorias: a primeira está relacionada
1962), atuante na área educacional, a qual com a competência do professor, ou seja,
propunha ideias para uma reformulação no a forma como este ensina e administra sua
sistema educacional francês tal que possibi- classe, e a segunda, a maneira de relaciona-
litasse uma formação integral de forma inte- mento do professor com seus alunos, mos-
lectual, afetiva e social aos alunos, foi o per- trando-se compreensível, paciente e estando
cussor de um ensino que além de considerar disponível para ajudá-los etc. Assim o autor
a presença física da criança, também levou esclarece que: “O bom professor sabe dar se-
em consideração suas emoções dentro da gurança, é próximo e familiar, é sensível as
sala de aula, Fator este que considerava de necessidades dos alunos, da ajuda extra, não
suma importância para o desenvolvimento discriminam, auxilia os que vão pior, é humil-
do aluno fazendo com que os mesmos pos- de e reconhece os próprios equívocos”.
sam exteriorizar seus desejos e as suas von-
tades. Dentro da sala de aula, para que haja
aprendizagem é necessário que haja intera-
Ao serem indagados sobre o que faz ção social do tipo professor – aluno; aluno –
com que o professor seja bom, muitos alunos aluno e nessas relações é imprescindível que
insistem em mencionar os aspectos afetivos, haja afetividade envolvendo os sujeitos parti-
onde o professor é uma pessoa compreen- cipantes da ação ensino – aprendizagem. Os
siva, sabedora das dificuldades enfrentadas seres humanos possuem uma peculiaridade
no processo ensino-aprendizagem dentro que é o lado sentimental que permeia todo
da sala de aula. Portanto, procura formas o seu desenvolvimento, fazendo com que o
de viabilizar soluções para os problemas le- homem crie uma certa dependência afetiva,
vantados. Os alunos sem sombra de dúvi- ou seja, necessita de outro para ajudá-lo a
das preferem os professores que estejam desenvolver habilidades que ainda na pro-
mais próximos, que acreditem e valorizem ximidade dos sujeitos que se opera desde o
a capacidade de seus alunos de forma que nascimento nos primeiros contatos com seus
realmente influenciem substancialmente na familiares. Esses contatos desenvolverão nos
aprendizagem de seus alunos. sujeitos características emocionais e afetivas
que vão desde a responsabilidade de trans-
Segundo cunha (1991, p.147), em seu mitir a “educação do lar”, as normas sociais e
trabalho algumas das características dos me- os contextos culturais. E para que haja esse
lhores professores apontados pelos alunos relacionamento é preciso que haja um canal
são: de comunicação entre o sujeito e esse canal
Torna as aulas agradáveis e atraentes; é a base da apropriação do objeto. Por sua
vez Tassoni (2000, p. 03), a partir os teóricos
Estimula a participação do aluno; Vygotsky e Wallon, expõem que:
Sabe se expressas de forma que todos A afetividade que se manifesta na re-
entendam; lação professor – aluno constitui elemento
Induz à crítica, à curiosidade e à pes- inseparável do processo de construção do
quisa; conhecimento. Além disso, a qualidade da in-
teração pedagógica vai conferir um sentido
Procura formas inovadoras de desen- afetivo para o objetivo de conhecimento, a
volver as aulas; - Faz o aluno participar do en- partir e das experiências vividas.

420
Para que haja aprendizagem é neces- pais e professores que as crianças adquirem
sária uma interação social, e a forma como parcelas significativas dos conhecimentos
se da essa interação é outro fator interessan- socioculturais acumulados pela sociedade na
te a ser estudado, portanto, a forma como o qual estão inseridos. Logo, esse processo de
professor fala, age, reage, se posiciona afeta aquisição do conhecimento através de ins-
diretamente ao aluno o qual é peça funda- trumentos mediadores nortearão o desen-
mental no processo ensino – aprendizagem. volvimento e a evolução dos seres humanos
Nas considerações da Tassoni (2000, p. 06): dentro de uma sociedade extremamente
“quanto melhores forem às condições de se complexa.
cultivarem sentimentos como estes, mais
consistentes e profundos serão os relacio- Os pais têm responsabilidade de in-
namentos, promovendo uma aprendizagem serir os passos educativos por serem os pri-
significativa.” meiros a terem contato com as crianças onde
num relacionamento afetivo e gerenciamen-
Então, o professor que conseguir es- to transmissor, repassam inúmeras ativida-
tabelecer vínculos afetivos com seus alunos des de cunho familiar, não isolados das ati-
através da sua competência, habilidade, va- vidades sociais, da qual todas as outras são
lores, compreensão, versatilidade, criativida- emanadas. Por exemplo, os pais que educam
de, comunicabilidade, promovendo climas seus filhos, também passarão pelo mesmo
agradáveis, obterá êxitos no processo ensino processo, embora, com o passar dos tempos
– aprendizagem. Para tal, deve ter cuidado de haja as transformações culturais, familiares,
ter os objetivos bastante claros. religiosas, etc. através da própria evolução
É necessário estabelecer, portanto, secular. Vale ressaltar que as transforma-
que nem sempre há um entendimento pas- ções e evoluções não se dão de formas ra-
sivo entre professor e alunos, e que a relação dicalizadas ou reprimidas e sim ao longo do
de afetividade nem sempre é do tipo pacata. decorrer do tempo, e que também, certos co-
O professor possui embasamento, na qual é nhecimentos culturais, tradições e costumes
a base de sua docência, enquanto que o alu- perpetuam-se, solidificando em outros gru-
no também possui seus conhecimentos pré- pos, enquanto que outros são aperfeiçoados
vios. Libâneo (1994) esclarece que o profes- e novos, criados pela necessidade emergente
sor exerce uma autoridade proveniente de da sociedade contemporânea.
suas qualidades morais e técnicas, enquanto Dentro da sociedade, os saberes de-
que o aluno tem autonomia (individualidade senvolvidos e sistematizados também de-
e liberdade). Para o autor: vem ser transmitidos às futuras gerações e
A autoridade do professor e a autono- após os primeiros atos educativos com os
mia dos alunos são realidades aparentemen- pais, as crianças devem aprender os conhe-
te contraditórias, mas de fato, complemen- cimentos sistematizados através do micros-
tares e que do ponto de vista das relações sistema escolar, desenvolvidos justamente
entre autoridade e autonomia, a interação para essa finalidade e responsabilizando-se
professor alunos não está livre de conflitos pela socialização da cultura. Isso não significa
ou deformações. (P. 251 e 252). propriamente que a figura dos pais se torne
desnecessária, posto que a escola assume a
O certo é que numa análise mais apu- função dessa educação, mas sim, que ambas
rada, será esclarecido que nas relações sócio as instituições se completem dentro do ensi-
– afetivas entre professor – alunos e aluno, no aprendizagem.
existem outras emoções tidas como afetivas, Assim como os pais, os professores
portanto, também fazem parte desse proces- são figuras responsabilizadas pela aquisição
so, embora não sejam claramente observa- de conhecimentos do educando. Dessa ma-
das nos estudos até hoje realizados. Por isso neira, o professor é a figura intelectual que
precisariam ser melhores verificadas para a acumula uma gama de conhecimentos a ser
compreensão dessa relação complexa. socializado, um facilitador, mediador e inter-
ventor dentro da atividade a ser desenvolvi-
da com os alunos nas afetividades e relações
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS estabelecidas em sala de aula.
Quando se fala em afetividade logo Esse contato possibilita ao professor
nos vem à mente a ideia de uma relação do mediatizar a internalização do conhecimento
tipo harmônica, sem conflitos, posto que pen- junto ao discente e como no convívio com os
samos em interagir numa relação paritária, pais, as relações que se estabelecem nesse
onde chega-se a determinadores da forma ambiente condicionam ao aluno introspectar
mais elementar possível. Mas as interações certas atitudes certas atitudes e valores, que
sociais não ocorrem somente harmonica- vão caracterizar sua pessoa em momentos
mente, as diferenças devem ser evidenciadas futuros.
para que não haja a visão parcial e unitária
deste processo. Saber como se dá o relacio- Nessa relação, é através da afetividade
namento dos seres humanos com seus pares e da interação social dentro da sala de aula
e principalmente das crianças com os adultos que os saberes socioculturais são transmiti-
(pais – filhos, professores – alunos) é de gran- dos através da própria interação desenvol-
de importância. Pois, é justamente com os vida pelos indivíduos presentes. Interações

421
que são marcadas pelas relações afetivas lece entre os alunos e conteúdos escolares”.
que se mostram muito importante para as Visto dessa maneira, a afetividade é um fator
práticas sociais historicamente acumuladas preponderante nesse relacionamento, ener-
pela cultura humana. Esse ciclo faz com que gizando a docência, despertando na criança
os membros mais incipientes dessa relação, interesse pela aprendizagem e numa media-
internalizam a cultura para o seu desenvolvi- ção emancipatória, protagoniza ações educa-
mento intelectual, que reflita no meio social tivas que refletem na autoestima do próprio
em que está inserido. aluno e sua valorização na produção do co-
Este estudo demonstrou que essas nhecimento.
relações de afetividade na escola são essen- Devido a essa constante prática, mui-
ciais, pois através desse convívio a dinâmica tos alunos acreditam aprender de maneira
da sala da aula vai sendo estabelecida. O pro- igual, considerando que o relacionamento
fessor passa a ter a visão do aluno, conhecen- com seu educador é apenas bom, refletindo
do-o e interferindo no seu desenvolvimento em muitos educandários na reprovação e
durante o contato que passa a existir diaria- dependência dos componentes curriculares,
mente no caso da educação infantil. Dentre ajustando a política educacional que não con-
esses fatores, há ainda a expectativa que o tribui para a formação das crianças, tanto no
professor cria quando inicia seu trabalho e a lado afetivo, quanto o cognitivo, retraindo a
desenvolve ao longo das atividades que reali- esperança de uma vida melhor, por mais que
za com seus alunos. muitos educadores compreenda a importân-
Esta é uma situação real nas salas de cia da afetividade para o ensinoaprendiza-
aulas, em que o professor passa a enxergar gem os laços afetivos, vêm perdendo espaço
os discentes sob vários ângulos. O aluno por nas salas de aulas, por serem incompreendi-
sua vez ao demonstrar uma boa capacidade dos e convertidos em apenas atos carinho-
cognitiva para o ano em exercício tem melhor sos, não obtendo a importância necessária
atenção de seu mestre, enquanto que os alu- para sua utilização nas relações de afetivida-
nos, considerados menos inteligentes, ten- de estabelecidas.
dem a não agradar o professor, que os exclui
da aprendizagem requerida. Correlacionado
a esta reação, resguarda-se o comportamen- REFERÊNCIAS
to do professor que vai refletir diretamente AZZI e SILVA. Leitura de Psicologia para
no conjunto da sala de aula. Formação de Professores. In, Lucila Dihel To-
Por outro lado, os alunos quando laine et AL. Petrópolis RJ: Vozes, 2000.
percebem as expectativas que os professo- BRENELLI, Rosely Palerma. Leituras
res têm de sua pessoa e o comportamento de Psicologia para Formação de Professores.
característico desse profissional em sala de In. FINI Lucila Dihel Toaine, SISTO, Fernan-
aula acreditam ter o poder de dinamizar esse des; OLIVEIRA, Gislene. Petrópolis/SP: Vozes,
processo, pois é comum nas salas de aulas, 2000.
professores serem sobrepujados pelos alu-
nos, quando não tomam a iniciativa para a CODO, Wanderley e Vasquez Menezes.
docência, visto que esse típico educador, não O que é Burnout. In Codo, Wanderley (org.)
planeja e já tem conceito prévio dos alunos, Educação: Caminho e Trabalho. Petrópolis RJ:
acreditando que estes não estejam acessí- Vozes, 2000.
veis ao aprendizado.
CUNHA, Maria Isabel. Repensando a
Verificando o lado afetivo, muitos edu- Didática. In VEIGA, Ilma Passos Alencastro;
cadores têm acreditado que a afetividade é LOPES, Antônio Osima. Campinas/SP: Papi-
um estimulo ao desenvolvimento da aprendi- rus, 199.
zagem, percebendo que os laços afetivos de-
vem acompanhar diariamente a relação en- DELGADO, Evaldo Inácio. Políticas edu-
tre os pares que cada docente compreende cacionais em crise e a prática docente. Cano-
esse conceito de maneira diferenciada, mas as, 2005.
com o objetivo de instigar e favorecer a cons- ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADO-
trução do conhecimento num sentimento de LESCENTE. Campo Grande – MS, 1990
segurança e possibilitando, conforme o estu- .
do, a afetividade fundamental para o ensino
aprendizagem que é sua própria interação, FERNANDES, Evaristo V. Psicologia da
permeada pelos laços afetivos. Educação Escolar Moderna. Edipanta, 2003.
Por isso, a afetividade condiciona o LIBÂNEO, José Carlos, Didática: Cole-
despertar de uma satisfação e participação ção Magistério 2º Grau Série Formação do
nas aulas, onde num processo alegre e mo- Professor, São Paulo: Cortez, 1994.
tivador ambos os indivíduos têm interesses
em cultivá-la. Leite (2002, p.p 135 - 136) per- MORALES, Pedro. A Relação Professor
cebe que “A afetividade está presente em Aluno: O que é? O que faz? São Paulo: Loiola,
todas as principais decisões de ensino assu- 2003.
midas pelo professor, constituindo-se como POLENZ, Cacilda Maria Zorzo. Pedago-
fator fundante das relações que se estabe- gia em Conexão. Canoas: Ulbra, 2004.

422
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
PARA EDUCAÇÃO INFANTIL V.I. Introdução.
Brasília, 1998.
REGO, Tereza Cristina. Vygotsky. Uma
Perspectiva Histórica Cultural da Educação.
2ª Ed. Petrópolis RJ: Vozes, 2001.
REGO, Tereza C.R. A Origem da Singu-
laridade do ser humano. Análise das hipóte-
ses de educadores à luz da Perspectiva de Vy-
gotsky: Dissertação de Mestrado, USP: 1994.
SALVADOR, Cezar Coll. Aprendizagem
Escolar e Construção do Conhecimento, Por-
to Alegre: Artmed, 1994.
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São Paulo: Summus, 1992.
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escola pública. 6ª edição, Campinas, 2002.
TASSONI, Elvira Cristina Martins. Afe-
tividade e Aprendizagem: A Relação Profes-
sor Aluno. Dissertação de Mestrado. UNICAP.
Campinas/SP: 2000.
TUDGE, Jonathan. Vygotsky e Educa-
ção: Implicações Pedagógicas da Psicologia
sócia histórica. Porto Alegre: Artmed, 2000.

423
EDUCAÇÃO COMO DIREITO SOCIAL: A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DEMOCRÁTICA,
SOBRETUDO NA ESCOLA PÚBLICA, PARA O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS E CIDADANIA
RAQUEL DE SOUZA NASCIMENTO
INTRODUÇÃO conhecimento da educação como um direito
A Constituição Federal de 1988, tam- social implica em políticas públicas que bus-
bém conhecida como a "Constituição Cida- cam reduzir as desigualdades educacionais e
dã", é um marco importante na história do promover a equidade, assegurando que to-
Brasil, pois trouxe avanços significativos em dos tenham a oportunidade de desenvolver
diversas áreas, incluindo a educação. Um dos plenamente seu potencial, ou seja, que por
princípios fundamentais da Constituição de meio da educação se desenvolvam integral-
1988 é a garantia da educação como um di- mente.
reito fundamental de todos os cidadãos. Nes- A Constituição de 1988 também esta-
te texto, exploraremos como a Constituição beleceu o princípio da valorização dos profis-
de 1988 estabeleceu e protegeu o direito à sionais da educação, reconhecendo a impor-
educação no Brasil, destacando sua impor- tância dos professores e demais profissionais
tância e impacto na sociedade, tendo como da área para o desenvolvimento do país. Isso
destaque o percurso da gestão democrática levou à criação de diretrizes para a formação
para o desenvolvimento da cidadania, sobre- e valorização dos profissionais da educação,
tudo, na escola pública. bem como a busca por melhores condições
de trabalho e remuneração, criando pisos sa-
lariais e planos de carreira.
DESENVOLVIMENTO Além disso, a Constituição de 1988
A educação como um direito funda- assegurou a autonomia universitária, permi-
mental foi consagrada no artigo 6º da Cons- tindo que as instituições de ensino superior
tituição de 1988, que estabelece que a edu- desenvolvam suas atividades de pesquisa,
cação é um dos pilares do Estado brasileiro e ensino e extensão de forma independente,
tem o dever de promover o pleno desenvol- o que contribui para a produção de conhe-
vimento da pessoa, seu preparo para o exer- cimento e o avanço da ciência e tecnologia
cício da cidadania e sua qualificação para o no país. No entanto, apesar dos avanços
trabalho. Esse artigo, juntamente com outros estabelecidos pela Constituição de 1988, o
dispositivos constitucionais, estabeleceu as Brasil ainda enfrenta desafios significativos
bases para a construção de um sistema edu- na área da educação. A desigualdade educa-
cacional inclusivo e de qualidade no país. cional persiste, com disparidades entre as re-
giões do país e dentro das próprias cidades.
A Constituição de 1988 também esta- A qualidade da educação ainda é uma preo-
beleceu a obrigatoriedade do ensino funda- cupação, e o acesso à educação infantil, por
mental e a gratuidade do ensino público em exemplo, continua sendo uma questão não
estabelecimentos oficiais, o que significou plenamente resolvida.
um avanço significativo na democratização
do acesso à educação. Além disso, a Carta Além disso, a falta de investimento
Magna estabeleceu que a União, os estados adequado na educação, a burocracia excessi-
e os municípios têm a responsabilidade de va e a falta de políticas públicas eficazes são
colaborar para a promoção da educação em obstáculos a serem superados para alcançar
todos os níveis, o que implicou na descentra- plenamente o ideal estabelecido pela Cons-
lização do sistema educacional e na divisão tituição de 1988. A falta de financiamento
de responsabilidades entre os entes federa- adequado e a má gestão de recursos são de-
tivos. safios que o país precisa enfrentar para ga-
rantir a efetivação do direito à educação.
A Constituição de 1988 também intro-
duziu o princípio da gestão democrática do Em resumo, a Constituição de 1988 es-
ensino, garantindo a participação da comuni- tabeleceu a educação como um direito fun-
dade escolar na gestão das instituições de en- damental, promovendo avanços significati-
sino. Isso fortaleceu a participação dos pais, vos na democratização do acesso à educação
alunos e professores na tomada de decisões, e na valorização dos profissionais da área.
contribuindo para a melhoria da qualidade No entanto, o Brasil ainda enfrenta desafios
da educação e o envolvimento da sociedade para garantir a qualidade, a equidade, inclu-
na formação das novas gerações, afastou-se são e o pleno desenvolvimento da educação
aqui da ideia do gestor como “dono” da uni- no país. A educação continua sendo um dos
dade escolar. principais instrumentos para a construção
de uma sociedade mais justa e igualitária,
Outro avanço importante introduzido e a Constituição de 1988 desempenhou um
pela Constituição de 1988 foi a inclusão da papel crucial na promoção desse direito fun-
educação como um direito social, tornando damental.
a educação não apenas uma questão indivi-
dual, mas também uma responsabilidade do A gestão democrática na educação é
Estado em promover e garantir o acesso uni- um conceito essencial que busca garantir a
versal a uma educação de qualidade. Esse re- participação ativa da comunidade escolar

424
nas decisões que afetam o sistema de ensino. de liderança estudantil.
Trata-se de um modelo que visa promover a
democracia, a transparência e a responsabi- Transparência Orçamentária: A ges-
lidade nas escolas e instituições de ensino, tão democrática envolve a prestação de con-
reconhecendo a importância da colaboração tas financeiras claras, permitindo que todos
entre todos os atores envolvidos na educa- tenham visibilidade sobre como os recursos
ção. estão sendo utilizados.

FUNDAMENTOS DA GESTÃO DEMO- DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA


CRÁTICA NA EDUCAÇÃO NA EDUCAÇÃO
Participação Ativa: Um dos pilares da Apesar dos inúmeros benefícios da
gestão democrática é a participação ativa gestão democrática na educação, ela enfren-
de todos os envolvidos no processo educa- ta desafios significativos. Alguns dos princi-
cional, incluindo alunos, pais, professores, pais obstáculos incluem:
funcionários e a comunidade local. A ideia é Cultura Autoritária: A transição de
que as decisões não sejam tomadas de for- modelos autoritários para modelos demo-
ma autoritária, mas sim por meio de diálogo cráticos pode encontrar resistência por par-
e consenso. te de gestores e profissionais da educação
Transparência: A gestão democrática acostumados a tomar decisões de forma
exige que todas as informações relevantes centralizada.
sejam compartilhadas de forma transparen- Falta de Formação: Muitas escolas
te. Isso inclui orçamentos, planos de aula, e gestores podem não estar devidamente
projetos pedagógicos e políticas escolares. A preparados para adotar práticas de gestão
transparência permite que todos os envolvi- democrática. A formação e capacitação são
dos entendam as decisões tomadas e contri- fundamentais para a implementação bem-
buam de maneira informada. -sucedida.
Responsabilidade Compartilhada: Recursos Limitados: A gestão demo-
Com a participação de diferentes partes inte- crática pode ser mais exigente em termos de
ressadas, a responsabilidade pela qualidade tempo e recursos, o que pode ser um desafio
da educação é compartilhada. Isso significa em escolas com recursos limitados.
que todos têm um papel ativo na melhoria
do sistema de ensino, incluindo a identifica- Participação Efetiva de Todos: Garan-
ção de problemas e a busca por soluções. tir a participação efetiva de todos os envol-
vidos na comunidade escolar pode ser um
Respeito à Diversidade: A gestão desafio, especialmente quando se trata de
democrática reconhece a diversidade de envolver pais e membros da comunidade.
perspectivas, experiências e necessidades de
cada grupo envolvido na educação. Isso im- Conflitos e Tomada de Decisões: A
plica em criar ambientes inclusivos que res- gestão democrática pode levar a conflitos
peitem as diferenças e promovam a igualda- e desafios na tomada de decisões, uma vez
de de oportunidades. que diferentes interesses e perspectivas po-
dem colidir. A habilidade de mediação e ne-
gociação se torna essencial.
PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTI- A gestão democrática na educação é
CA NA EDUCAÇÃO uma abordagem fundamental para construir
Autonomia da Escola: A gestão de- sistemas de ensino mais justos, eficazes e
mocrática pressupõe que as escolas tenham participativos. Embora enfrente desafios, seu
autonomia para tomar decisões pedagógicas potencial para melhorar a qualidade da edu-
e administrativas de acordo com as necessi- cação e envolver a comunidade na formação
dades locais. Isso permite que as escolas se das novas gerações a torna uma meta impor-
adaptem a realidades específicas e inovem tante a ser perseguida em todo o mundo.
em suas práticas. A gestão democrática no ensino públi-
Conselhos Escolares: A criação de co é um conceito fundamental que visa pro-
conselhos escolares é uma ferramenta im- mover a participação ativa da comunidade
portante da gestão democrática. Esses con- escolar na administração, tomada de deci-
selhos são compostos por representantes da sões e no aprimoramento da educação. Esse
comunidade escolar e têm a função de tomar modelo de gestão é uma resposta aos prin-
decisões, fiscalizar a aplicação de recursos e cípios democráticos e aos direitos humanos,
contribuir para o desenvolvimento da escola. reconhecendo que a educação de qualidade
é um bem público que deve ser acessível a
Participação de Alunos: Os alunos têm todos e influenciado por todos os atores en-
um papel ativo na gestão democrática. Eles volvidos no processo educacional.
devem ser ouvidos, envolvidos em decisões
que afetam seu cotidiano escolar e Um dos princípios centrais da gestão
democrática são os colegiados, é preciso
incentivados a participar de atividades fortalecê-los, dentre outros podemos citar,

425
o Grêmio Estudantil, Conselho de Escola, Estratégias para Implementar a Ges-
Mediação de Conflitos, CIPA, APM, CRECES tão Democrática no Ensino Público
e outros. Destaca-se como um pilar, a trans-
parência, nas informações, nas pesquisas Capacitação: Oferecer formação e ca-
de mercado, no uso da verba pública, e no pacitação para todos os envolvidos na gestão
processo de prestação de contas. Gerir o di- democrática é essencial para garantir que
nheiro público requer a transparência na ad- compreendam os princípios e as práticas en-
ministração, sobretudo, com os programas volvidas.
federais de repasse de verba direto para as Conselhos Escolares: Estabelecer
unidades escolares, essa política pública visa conselhos escolares com representantes da
dar mais autonomia e voz às escolas e suas comunidade escolar para tomar decisões im-
comunidades, ao mesmo tempo que esses portantes e fiscalizar a administração da es-
políticas se fortalecem, aumenta a respon- cola.
sabilidade da tomada de decisão de maneira
assertiva, clara e a necessidade de transpa- Assembleias e Fóruns: Promover a
rência na prestação de contas, bem como realização de assembleias, fóruns e reuniões
uma discussão democrática para estabeleci- regulares envolvendo pais, alunos e profes-
mento do plano de gastos. sores para debater questões educacionais.
A participação estudantil na gestão de- Comunicação Eficaz: Garantir que as
mocrática deve ser incentivada, os Grêmios informações sejam comunicadas de forma
e demais agremiações estudantis devem ter eficaz para que todos compreendam os pro-
participação ativa nas decisões, dessa forma cessos de tomada de decisões e as políticas
todo o ambiente escolar é afetado positiva- escolares.
mente.
Avaliação Constante: Realizar avalia-
A equidade e a inclusão também são ções regulares para medir o impacto da ges-
bases da gestão democrática. Uma gestão tão democrática e fazer ajustes conforme ne-
não autoritária e centralizadora promove a cessário.
equidade na educação, garantindo que to-
dos os alunos tenham acesso equitativo a A gestão democrática no ensino públi-
oportunidades educacionais de qualidade. co é uma abordagem fundamental para me-
Também reconhece e respeita a diversidade, lhorar a qualidade da educação, envolver a
criando ambientes inclusivos que atendem comunidade na escola e fortalecer a cidada-
às necessidades de todos os estudantes, in- nia. Embora enfrente desafios, o potencial de
dependentemente de sua origem étnica, gê- desenvolvimento de cidadãos críticos, ativos
nero, orientação sexual ou habilidades. e informados torna essa abordagem essen-
cial na construção de sistemas educacionais
justos e inclusivos. Ela coloca a educação
como uma responsabilidade coletiva e um
VANTAGENS DA GESTÃO DEMOCRÁTI- bem público, contribuindo para o progresso
CA NO ENSINO PÚBLICO da sociedade como um todo.
Melhoria da Qualidade da Educação: A A relação entre educação e cidadania
participação ativa de todos os envolvidos na é intrínseca e profunda, sendo a educação
educação ajuda a identificar problemas e en- um dos principais meios para o empodera-
contrar soluções mais eficazes. Isso pode le- mento dos indivíduos, o desenvolvimento
var a um ambiente de ensino-aprendizagem de sua consciência crítica e a promoção da
mais eficiente e inovador. transformação social.
Empoderamento da Comunidade Es- A educação é um poderoso instrumen-
colar: A gestão democrática fortalece a voz to de empoderamento. Quando os indivídu-
dos pais, alunos e professores na tomada de os têm acesso a uma educação de qualidade,
decisões. Isso cria um senso de responsabi- eles adquirem conhecimentos, habilidades e
lidade compartilhada e empoderamento, já competências que lhes permitem tomar de-
que eles se tornam parte ativa na construção cisões informadas e exercer seus direitos de
de políticas e práticas educacionais. forma eficaz. A educação oferece ferramen-
Aproximação entre a Escola e a Co- tas para a melhoria das condições de vida, o
munidade: A gestão democrática promove a desenvolvimento pessoal e a busca por opor-
colaboração entre a escola e a comunidade tunidades de crescimento.
local, estabelecendo parcerias que podem Além disso, a educação amplia as
enriquecer o ambiente de ensino e ampliar perspectivas das pessoas, permitindo que
as oportunidades de aprendizado. elas compreendam melhor o mundo ao seu
Desenvolvimento de Habilidades Ci- redor. O acesso à informação e ao conhe-
dadãs: A participação ativa na gestão demo- cimento dá aos cidadãos a capacidade de
crática ajuda os estudantes a desenvolverem analisar criticamente os eventos, entender
habilidades de cidadania, como o pensamen- questões complexas e participar de debates
to crítico, a tomada de decisões informadas e informados. O empoderamento por meio da
o respeito à diversidade de opiniões. educação não se limita apenas à esfera indi-
vidual, mas tem implicações para a socieda-
de como um todo.

426
A EDUCAÇÃO DESEMPENHA UM PAPEL CONCLUSÃO
FUNDAMENTAL NA PROMOÇÃO DA CONSCI-
ÊNCIA CRÍTICA. A relação entre educação e cidadania
é inegável. A educação capacita os indivídu-
Ela possibilita aos indivíduos questio- os, promove a consciência crítica e é essen-
narem, analisar e avaliar informações, ideias cial para a construção de sociedades demo-
e políticas. Por meio da educação, as pessoas cráticas e justas. O acesso à educação de
podem desenvolver a capacidade de pensar qualidade deve ser uma prioridade global, e
de forma crítica e independente, discernir os sistemas educacionais devem ser projeta-
entre diferentes perspectivas e tomar deci- dos para desenvolver cidadãos ativos, parti-
sões informadas. cipativos e conscientes. À medida que inves-
Uma consciência crítica é essencial timos na educação, estamos investindo no
para a participação cidadã eficaz. Os cida- empoderamento, na transformação social e
dãos informados são mais propensos a se na construção de um mundo mais igualitário
envolver em atividades cívicas, votar, fazer e democrático. Portanto, a educação e a ges-
parte de organizações da sociedade civil e tão democrática nas unidades escolares não
defender seus direitos. A educação também são apenas um meio para a cidadania, mas
promove o entendimento das questões so- também alicerces fundamentais para o pro-
ciais, políticas e econômicas, o que é funda- gresso da humanidade.
mental para a formulação de políticas públi-
cas e para o debate democrático.
REFERÊNCIAS
A educação desempenha um papel
vital na transformação social. Quando os ci- BRASIL. Constituição (1988). Constitui-
dadãos são empoderados e possuem consci- ção da República Federativa do Brasil. Brasí-
ência crítica, eles estão mais aptos a desafiar lia, DF: Senado Federal, 1988. Art. 205.
a injustiça, a desigualdade e a opressão. A FOCHI, Paulo. Afinal, o que os bebês
educação permite que as pessoas se tornem fazem no berçário: comunicação, autono-
agentes de mudança e contribuam para a mia e saber-fazer de bebês em um contexto
construção de sociedades mais justas e in- de vida coletiva. Porto Alegre: Penso, 2015.
clusivas. DEWEY, John. Experiência e educação. Tra-
A educação também é um pilar da dução de Renata Gaspar. Petrópolis, Rio de
democracia. Uma sociedade democrática Janeiro: Vozes, 2023.
depende de cidadãos informados, ativos e PARO, Vitor Henrique. Gestão Demo-
participativos. O sistema democrático se be- crática da Escola Pública. 4ª edição. São Pau-
neficia quando os cidadãos têm a capacidade lo: Cortez, 2016.
de avaliar as políticas governamentais, ele-
ger representantes responsáveis e defender
seus direitos e interesses.
Além disso, a educação desempenha
um papel vital na promoção da tolerância, do
respeito pela diversidade e da resolução pa-
cífica de conflitos. Ela contribui para a coesão
social, permitindo que pessoas de diferentes
origens culturais, étnicas e sociais convivam
de forma harmoniosa.
Embora a educação seja um meio po-
deroso para a cidadania, existem desafios
significativos a serem superados. A desigual-
dade no acesso à educação de qualidade é
uma preocupação global. Muitas pessoas
em todo o mundo ainda enfrentam barreiras
econômicas, sociais e culturais que impedem
seu acesso à educação. A falta de financia-
mento adequado, infraestrutura educacional
precária e a qualidade variável da educação
são obstáculos a serem superados.
Além disso, a educação nem sempre é
projetada para promover a consciência críti-
ca e a participação cidadã. Em alguns casos,
o sistema educacional pode ser centrado em
exames e avaliações padronizadas, deixando
de lado a ênfase na formação de cidadãos
ativos e críticos.

427
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA NA EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA
REGINA LOPES DE LIMA BALDI

RESUMO falta de importância atribuída a essa fase no


Este artigo tem como objetivo refletir passado. Em certos momentos da história,
sobre a Neurociência Cognitiva e a Primeira a infância era considerada meramente uma
Infância, com o propósito de contribuir para transição para a vida adulta, e as crianças
a promoção de uma aprendizagem mais sig- eram tratadas como adultos em miniatura.
nificativa para as crianças. Trata-se de uma Diversos teóricos se dedicaram ao es-
revisão bibliográfica para explorar essa co- tudo da infância, influenciando as práticas
nexão crucial. Embora a Neurociência ainda educacionais de suas respectivas épocas e le-
seja considerada uma disciplina relativamen- vando um valioso legado às gerações futuras.
te recente no campo da educação, é impor- Entre esses pensadores, encontramos Co-
tante considerar sua aplicação na Primeira menius (1592-1670), que, segundo Oliveira,
Infância, especialmente no que diz respeito acreditava que o processo de aprendizagem
ao processo ensino-aprendizagem. A Neuro- se iniciava com a estimulação dos sentidos e
ciência Cognitiva concentra-se no estudo das que as experiências sensoriais com objetos
capacidades mentais do ser humano e bus- seriam internalizadas e interpretadas pela
ca compreender as funções cognitivas mais razão. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
complexas, como linguagem, memória, aten- se destacou posteriormente, opondo-se às
ção e emoção. Nesse contexto, este artigo abordagens disciplinadoras que recorriam a
explora como a integração da Neurociência punições físicas e autoritarismo, e colocando
Cognitiva pode aprimorar a educação na Pri- a criança no centro de sua teoria. Rousseau é
meira Infância. Acredita-se que o melhor con- considerado o pai da Pedagogia moderna e
texto para desenvolver estratégias pedagógi- preconizou que as crianças pequenas deve-
cas eficazes, com foco no desenvolvimento riam experimentar coisas de acordo com seu
integral das crianças, é durante a formação ritmo de desenvolvimento.
dos profissionais que atuam nessa área.
No campo da educação, a Primeira Infância Esses pioneiros, em seus estudos, in-
abrange o período que vai desde o nasci- corporaram conceitos relacionados à Neu-
mento até os seis anos de idade. Esse é um rociência, ao considerarem o papel dos sen-
período desafiador, repleto de descobertas e tidos, do desenvolvimento e da cognição na
exuberância, que exige atenção especial. Du- educação. O interesse pela Primeira Infância
rante essa fase, diversas disciplinas podem como um estágio distinto da vida só surgiu
contribuir para fornecer aos educadores da no século XIX, quando as ciências humanas
Primeira Infância o conhecimento necessário e as instituições educacionais burguesas co-
para atuarem como mediadores eficazes no meçaram a reconhecer as especificidades
processo formativo das crianças, envolvendo psicológicas e sociais das crianças. Nesse pe-
aprendizado, desenvolvimento e vida. Este ríodo, a infância passou a ser vista como uma
artigo destaca a importância de integrar os fase radicalmente diferente da idade adulta,
princípios da Neurociência Cognitiva no cam- marcada por um processo evolutivo comple-
po da educação na Primeira Infância. Acre- xo, emocional, cognitivo e portadora de valo-
dita-se que essa abordagem pode fornecer res próprios.
uma base sólida para o desenvolvimento de No século XX, as Ciências Sociais e Hu-
estratégias pedagógicas mais eficazes, capa- manas intensificaram seu estudo da infância,
zes de moldar o futuro das crianças nessa reconhecendo a criança como um sujeito de
fase crítica de suas vidas. direitos, ativo e inserido na cultura global e
Palavras-chave: Primeira Infância; local. No Brasil, a Constituição de 1988 reco-
Neurociência Cognitiva; Educação; Aprendi- nheceu a educação em creches e pré-escolas
zagem; Desenvolvimento Infantil. como um direito da criança e um dever do Es-
tado. Esse reconhecimento, combinado com
a democratização da educação pública, levou
INTRODUÇÃO a mudanças significativas na Educação Infan-
til, com instituições de ensino, movimentos
Ao longo dos séculos, a Educação In- sociais, educadores e órgãos governamentais
fantil tem evoluído e se adaptado de acordo se unindo para desenvolver políticas públicas
com as concepções e modos de vida vigentes que atendessem às necessidades e especifi-
em cada período histórico. Cuidados com as cidades dessa fase.
crianças, embora sempre presentes, eram A Lei de Diretrizes e Bases da Educa-
originalmente vistos como uma responsa- ção Nacional (LDBEN) nº 9.394/96 definiu a
bilidade exclusiva das famílias. No entanto, Educação Infantil como a primeira etapa da
à medida que a sociedade se reorganizava educação básica, cujo objetivo é promover o
em resposta a novas demandas, novas for- desenvolvimento integral da criança em seus
mas de atendimento às crianças emergiam. A aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e
Primeira Infância, historicamente, carece de sociais. A Educação Infantil é oferecida em
registros detalhados, o que indica a relativa creches e pré-escolas, públicas ou privadas,
428
em jornada integral ou parcial, e deve ser re- contribuições teóricas e práticas de diversos
gulada e supervisionada por órgãos compe- autores renomados no campo da Neurociên-
tentes do sistema de ensino. cia Cognitiva, bem como no campo da Edu-
Nesse contexto, a formação acadêmi- cação da Primeira Infância. A seguir, detalha-
co-profissional dos profissionais que atuam mos os passos metodológicos seguidos na
na Educação Infantil desempenha um papel realização deste estudo:
fundamental, capacitando os coordenadores 1. Seleção dos Autores e Fontes: Ini-
pedagógicos a assessorarem a formação dos cialmente, realizamos uma pesquisa criterio-
professores. A formação em Neurociência sa para identificar autores e fontes relevantes
pode enriquecer o entendimento do proces- que abordam a Neurociência Cognitiva e sua
so de ensino-aprendizagem, fornecendo es- aplicação na Educação da Primeira Infância.
tratégias pedagógicas mais adequadas para A seleção considerou a reputação dos auto-
o desenvolvimento das funções cerebrais e a res, a qualidade das fontes e a relevância de
melhoria da aprendizagem. Este estudo ex- suas contribuições para o tema em questão.
ploratório se concentra na interseção entre
a Neurociência e a Educação Infantil, visando 2. Coleta de Referências Bibliográficas:
entender como a Neurociência pode ser uma Após a seleção dos autores e fontes, proce-
aliada no aprimoramento do processo edu- demos à coleta das referências bibliográficas
cativo nessa fase fundamental da vida. necessárias para embasar nosso estudo. Isso
envolveu a obtenção de livros, artigos acadê-
A Neurociência, embora seja uma micos, capítulos de livros e outras publica-
área de conhecimento relativamente recen- ções que abordam a Neurociência, Educação
te, tem avançado consideravelmente em sua Infantil, Infância e as contribuições dessas
compreensão do funcionamento do Sistema disciplinas para a melhoria da aprendizagem
Nervoso Central (SNC). Isso nos motiva a ex- na Primeira Infância.
plorar seu potencial aplicado à Educação In-
fantil. Este estudo, baseado em uma revisão 3. Análise e Síntese: Com as referên-
bibliográfica, discute a possibilidade de es- cias bibliográficas em mãos, procedemos
tabelecer um diálogo profundo e produtivo à leitura crítica e à análise aprofundada do
entre a Neurociência e a Educação Infantil. conteúdo. Fizemos uma síntese das princi-
Considerando autores que abordam temas pais ideias, descobertas e conclusões dos au-
relacionados à Neurociência, Educação In- tores, destacando os pontos-chave relaciona-
fantil, infância e criança, nosso objetivo é dos à Neurociência na Educação da Primeira
destacar como a Neurociência pode enrique- Infância.
cer as práticas pedagógicas, contribuindo sig- 4. Organização do Artigo: Organiza-
nificativamente para o processo de ensino e mos o conteúdo coletado em seções temáti-
aprendizagem na Educação Infantil. cas, de modo a estruturar o artigo de forma
Este estudo busca preencher uma la- lógica e coesa. Cada seção aborda um tópi-
cuna e explorar as oportunidades propor- co específico relacionado à Neurociência na
cionadas pela interseção da Neurociência e Educação da Primeira Infância, com base nas
da Educação Infantil. Acreditamos que essa contribuições dos autores selecionados.
abordagem tem o potencial de abrir novos 5. Análise Comparativa: Realizamos
horizontes e aprimorar a qualidade da edu- uma análise comparativa das abordagens e
cação na Primeira Infância, oferecendo uma conclusões dos autores, identificando seme-
perspectiva rica para a melhoria da apren- lhanças, divergências e lacunas no conhe-
dizagem e do desenvolvimento das crianças cimento. Isso nos permitiu criar uma visão
nesse estágio crucial de suas vidas. abrangente e integrada das contribuições da
Neurociência para a melhoria da aprendiza-
gem na Primeira Infância.
METODOLOGIA
6. Redação do Artigo: Com base na
Este artigo tem como propósito ana- análise das fontes e na síntese das informa-
lisar as contribuições da Neurociência na ções, redigimos o artigo científico, apresen-
educação da Primeira Infância, uma fase crí- tando as descobertas, as conclusões e as
tica em que o cérebro está passando por um perspectivas identificadas em relação à Neu-
desenvolvimento intenso e é particularmen- rociência Cognitiva na Educação da Primeira
te receptivo a novas aprendizagens. A base Infância.
construída durante esse período desempe-
nha um papel fundamental no funcionamen- A abordagem metodológica escolhi-
to do cérebro ao longo de toda a vida. Para da visa aprofundar nossa compreensão das
alcançar esse objetivo, optamos por uma implicações da Neurociência na Educação da
abordagem metodológica baseada em um Primeira Infância, proporcionando uma base
estudo bibliográfico, que nos permite compi- sólida para a discussão e a reflexão sobre o
lar e analisar o conhecimento existente sobre assunto. A utilização de uma variedade de
a interseção entre Neurociência, Educação fontes e a análise crítica das mesmas contri-
Infantil, infância e criança. buem para a robustez e a credibilidade deste
estudo, permitindo uma análise abrangente
A escolha por um estudo bibliográfico e multidisciplinar das questões em questão.
se justifica pela necessidade de explorar as

429
DESENVOLVIMENTO Inicialmente, o atendimento à criança
A Neurociência e a Educação Infantil era visto como um ato de caridade ou assis-
tência destinado às crianças desfavorecidas.
A Neurociência, embora ainda seja No entanto, com o passar do tempo, a Educa-
considerada uma área de conhecimento re- ção Infantil progrediu e se tornou um direito
lativamente nova, tem ganhado destaque das crianças. Esse marco na história da Edu-
devido ao vasto campo de pesquisas relacio- cação Infantil ocorreu com a Constituição Fe-
nadas ao funcionamento do Sistema Nervo- deral de 1988, que reconheceu o direito das
so Central (SNC). Esse crescimento no conhe- crianças à educação.
cimento neurocientífico tem impulsionado a Antes disso, o acesso à Educação In-
necessidade de dialogar com o potencial da fantil não era universal, e muitas crianças não
Neurociência na Educação Infantil. tinham o direito de receber educação de qua-
De acordo com Lent (2010), a Neuro- lidade. Esse período anterior à Constituição
ciência é composta por cinco grandes disci- de 1988 estava mais focado em programas
plinas neurocientíficas, a saber: Neurociência assistencialistas e compensatórios, destina-
Molecular que tem como objeto de estudo as dos a crianças em situações desfavorecidas.
diversas moléculas de importância funcional No entanto, com a promulgação da
no sistema nervoso, e suas interações, Neu- Constituição de 1988, a criança passou a ser
rociência Celular que aborda as células que vista como um sujeito de direitos, com direito
formam o sistema nervoso, sua estrutura e à educação. Isso também foi reforçado pela
sua função, a Neurociência Sistêmica que Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
cconsidera populações de células nervosas nal (Lei 9.394/96) e pelo Estatuto da Criança e
situadas em diversas regiões do sistema ner- do Adolescente (Lei 8.069/90).
voso, constituindo sistemas funcionais como
o visual, o auditivo, o motor, etc., a Neuroci- Essa mudança de paradigma na Edu-
ência Comportamental a qual ddedica-se ao cação Infantil levou a novas discussões e
estudo das estruturas neurais que produzem concepções sobre as crianças e a infância. As
comportamentos e outros fenômenos psico- crianças passaram a ser consideradas como
lógicos como o sono, os comportamentos se- cidadãs com direitos, sujeitos que possuem
xuais, emocionais, e muitos outros e Neuro- diferenças e precisam ser reconhecidas em
ciência Cognitiva que trata das capacidades qualquer situação. A Educação Infantil dei-
mentais mais complexas, geralmente típicas xou de ser um favor e se tornou um direito
do homem, como a linguagem, a autoconsci- garantido por lei. Nesse contexto, a Educa-
ência, a memória, etc. ção Infantil se tornou uma plataforma para
Neste estudo, destacaremos a Neuro- promover a igualdade e a equidade entre as
ciência Cognitiva, uma vez que essa disciplina crianças.
se concentra nas capacidades mentais mais Para entender melhor as crianças e a
complexas, muitas das quais são tipicamente infância, é fundamental distinguir entre os
humanas, como a linguagem, a autoconsci- dois conceitos. Embora muitas vezes sejam
ência e a memória. usados como sinônimos, "criança" refere-se
A escolha de focar na Neurociência a uma faixa etária legalmente definida em
Cognitiva é justificada pela importância de diferentes sociedades, enquanto "infância" é
compreendermos a primeira infância como uma categoria culturalmente construída que
um período crítico no desenvolvimento do pode abranger uma variedade de idades.
cérebro humano. Durante essa fase, a estru- Seguindo as ideias de Sarmento e Pin-
tura cerebral está em constante formação, to (1997), a infância é vista como uma cate-
passando por inúmeras mudanças anatômi- goria social que se estende além da idade. As
cas e funcionais. Portanto, é crucial que edu- crianças são consideradas atores sociais com
cadores, especialmente os que trabalham plenos direitos, e sua cultura, denominada
na Educação Infantil, conheçam esse órgão "cultura da infância", inclui produções simbó-
incrível. Ao adquirir esse conhecimento, eles licas, representações e crenças que atribuem
podem direcionar suas práticas pedagógicas significado às suas ações. Essa cultura da
de forma mais eficaz, proporcionando um infância representa um sistema de conheci-
ambiente de aprendizado adequado às ne- mento distinto, criado e compartilhado pelas
cessidades das crianças nesse estágio crucial. próprias crianças.
Portanto, é essencial compreender as
Educação Infantil: Crianças e Infâncias crianças como agentes sociais com perspec-
tivas e conhecimentos únicos. Isso envolve
Para compreender plenamente o im- reconhecer sua cultura, seus jogos e ativida-
pacto da Neurociência na Educação Infantil, des, e considerar os diferentes contextos em
é fundamental contextualizar a trajetória do que vivem. O estudo das culturas infantis não
atendimento à criança no Brasil. Esse contex- pode ser realizado isoladamente; deve ser
to nos ajuda a entender a evolução da Educa- enquadrado nas condições sociais em que as
ção Infantil, bem como as mudanças em sua crianças interagem e dão significado às suas
função e concepção ao longo dos anos. ações.

430
A Neurociência na Educação Infantil nitiva e Educação Infantil oferece um terreno
Os estudos da Neurociência destacam fértil para a melhoria da aprendizagem na pri-
que os bebês nascem com capacidades sen- meira infância. Ao entender como as crianças
soriais básicas que se desenvolvem ao lon- se desenvolvem cognitivamente e como seus
go da infância. Já nos primeiros dias de vida, cérebros se adaptam às experiências, os edu-
eles são capazes de reconhecer o rosto de cadores na Educação Infantil podem perso-
suas mães, demonstrando uma predisposi- nalizar abordagens de ensino que atendam
ção para a conexão social (Field et al., 1984). às necessidades específicas de seus alunos.
Além disso, bebês demonstram preferência A neuroplasticidade do cérebro infantil abre
pela voz de suas mães em relação a vozes portas para um aprendizado eficaz, enquan-
desconhecidas indicando o reconhecimento to a consideração da criança como um sujei-
precoce dessas vozes devido à familiarização to de direitos e a compreensão da cultura da
no ambiente uterino (Casper e Fifer, 1980). infância garantem uma abordagem mais res-
peitosa e reflexiva.
Essas observações iniciais ressaltam a “A neuroplasticidade é a capacidade
capacidade de aprendizado e interação social que o encéfalo possui em se reorganizar ou
desde a mais tenra idade. As crianças estão readaptar frente a novos estímulos, sejam
aptas a compreender emoções e desempe- eles positivos ou negativos. As sinapses ou
nham um papel fundamental na construção conexões entre os neurônios se modificam
de suas próprias relações sociais. Desde mui- durante o processo de aprendizagem, quan-
to cedo, os recém-nascidos são capazes de do há evocação da memória, quando adquiri-
distinguir expressões faciais básicas, como mos novas habilidades.” (SOUZA, 2016, p. 9).
alegria, tristeza e raiva. É nessa fase também
que a criança está pronta e precisa desen- A Neurociência Cognitiva na Educação
volver habilidades. Por isso, é de suma im- da Primeira Infância não apenas oferece uma
portância falar de neurociência na educação perspectiva para a melhoria da aprendiza-
infantil. Afinal, nesse momento, o cérebro gem, mas também impulsiona a construção
está pronto para fazer novas sinapses, com de uma base sólida para a formação educa-
muita eficiência. Essas, por sua vez, são resul- cional das crianças. O desafio agora é abra-
tado dos estímulos vindos do meio no qual a çar esse conhecimento, integrá-lo às práticas
criança está inserida e permitem que o indi- pedagógicas e continuar a aprimorar a edu-
víduo desenvolva: aprendizado, o raciocínio cação na primeira infância, capacitando as
e habilidades. gerações mais jovens com as ferramentas
Consequentemente, compreender o necessárias para um futuro brilhante.
funcionamento do Sistema Nervoso Central A Educação Infantil é o alicerce do
(SNC) e como as crianças aprendem ao longo aprendizado ao longo da vida, e a Neurociên-
de seu desenvolvimento é essencial. A Neu- cia Cognitiva oferece insights poderosos para
rociência oferece insights sobre como o cére- fortalecer esse alicerce. O entendimento da
bro se reorganiza e se adapta às experiências, plasticidade cerebral e das capacidades cog-
um fenômeno conhecido como neuroplasti- nitivas únicas das crianças na primeira infân-
cidade. Essa capacidade é mantida ao longo cia permite que os educadores adaptem seus
de toda a vida, embora sua eficácia diminua métodos de ensino, promovendo um am-
com a idade. Isso implica que as crianças têm biente de aprendizado estimulante, sensível
uma capacidade significativamente maior de e eficaz. Esse entendimento também é cru-
aprendizado e adaptação do que os adultos. cial para o desenvolvimento de estratégias
A Neurociência Cognitiva, que estuda pedagógicas que atendam a cada criança in-
o cérebro, o sistema nervoso, sua estrutura, dividualmente, respeitando suas diferenças e
desenvolvimento e funcionamento, oferece necessidades.
uma perspectiva valiosa sobre o processo Dessa forma, aproveitar essa fase na
de aprendizagem na Educação Infantil. Ela é educação infantil envolve atividades que agu-
uma nova fronteira do conhecimento huma- cem os sentidos: oferecer objetos com tex-
no que, quando integrada ao trabalho peda- turas diferentes, mostrar novos sons, deixar
gógico, pode melhorar substancialmente o que a criança toque nos alimentos, expor a
processo de ensino e aprendizagem. novos odores; explorar Músicas, coreografias
O aprendizado é o resultado da modi- desenvolvendo a coordenação motora; Pro-
ficação do cérebro por meio da experiência. porcionar rodas de conversa e diálogos reto-
Portanto, a Neurociência Cognitiva, ao des- mando o conteúdo trabalhado, despertar a
vendar os processos cerebrais envolvidos na curiosidade.
aprendizagem, contribui para que os educa- É preciso permitir que a criança faça
dores direcionem suas práticas de ensino de parte desse processo de aprendizagem e in-
forma a criar ambientes de aprendizagem teraja com tudo. Afinal, quanto mais infor-
significativos e prazerosos para as crianças. mações e sensações novas ela adquirir, mais
sinapses vai criar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS “As sinapses, ou seja, as conexões en-
tre as células nervosas que compõe as diver-
A interseção entre Neurociência Cog- sas redes neurais vão se tornando mais bem

431
estabelecidas e mais complexas, à medida ao docente um novo olhar sobre a aprendi-
que o aprendiz interage com o meio ambien- zagem infantil. A Neurociência, na formação
te interno e externo. Desta forma, é verda- dos educadores, pode ajudar a compreender
deiro que crianças pouco ou não estimuladas melhor o desenvolvimento das crianças e,
durante a infância podem apresentar dificul- portanto, ajuda a entender suas manifesta-
dade de aprendizagem.” (SOUSA, 2016, p.5). ções comportamentais e o quanto o emocio-
No entanto, a aplicação prática da nal pode resultar em dificuldades no seu de-
Neurociência na Educação Infantil requer senvolvimento. Este trabalho expõe também
uma colaboração estreita entre educadores, a necessidade de que os educadores devem
pesquisadores, políticos e profissionais de reconhecer em se capacitar com cursos que
saúde. A formação contínua dos profissionais possibilitem melhorar sua tarefa pedagógi-
que trabalham com crianças é fundamental ca. Dessa maneira, as crianças terão todas as
para garantir que essas descobertas da Neu- oportunidades de construir sua identidade
rociência se traduzam em práticas eficazes sem nenhum prejuízo em seus aspectos físi-
nas salas de aula e ambientes de aprendiza- cos, cognitivos e motores.
do da primeira infância.
Além disso, é importante lembrar que REFERÊNCIAS
a Educação Infantil é uma fase crucial na for-
mação da identidade, das habilidades sociais ALVAREZ, Maria Luiza. O papel dos cur-
e emocionais, e do desenvolvimento moral sos de letras na formação dos professores de
das crianças. Portanto, a Neurociência tam- línguas: ontem, hoje e sempre. In: SILVA, Kle-
bém pode contribuir para o entendimento ber Aparecido da. (Org.). Ensinar e aprender
desses aspectos fundamentais e orientar as línguas na Contemporaneidade: linhas e en-
práticas que promovem o bem-estar integral trelinhas. Campinas: Pontes Editores, 2010.
das crianças. BRASIL. Constituição da República Fe-
Em suma, a Neurociência Cognitiva na derativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Fede-
Educação da Primeira Infância é uma pers- ral, 1988, 305 p.
pectiva promissora que pode revolucionar ______. [Lei Darcy Ribeiro (1996)]. LDB:
a forma como encaramos a educação das Lei de diretrizes e bases da educação nacio-
gerações mais jovens. Ela oferece um cami- nal. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
nho para criar bases sólidas de aprendizado, que estabelece as diretrizes e bases da edu-
fortalecendo o potencial cognitivo e emocio- cação nacional. – 9. ed. – Brasília: Câmara dos
nal das crianças desde o início de suas vidas, Deputados, Edições Câmara, 2014.
preparando-as para enfrentar os desafios
do futuro. No entanto, para que essa visão ______. Estatuto da Criança e do Ado-
se torne realidade, é essencial que todos os lescente. Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990.
envolvidos na Educação Infantil se compro-
metam a traduzir o conhecimento neurocien- ______. Ministério da Educação e Cul-
tífico em práticas pedagógicas significativas e tura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
inclusivas, garantindo que todas as crianças Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de
tenham a oportunidade de prosperar e cres- 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e Bases da
cer como cidadãos saudáveis e bem-educa- Educação Nacional. Brasília, DF: MEC, 1996.
dos. CARVALHO, Eronilda Maria Góis de.
A presente pesquisa favoreceu sobre- Educação infantil: percursos, percalços, dile-
tudo a compreensão de como a neurociência mas e perspectivas. Ilhéus-Ba: Editus.2003.
pode contribuir para a aprendizagem. Os re- De Casper, A. J., Fifer., W. P. (1980). Of
sultados encontrados mostram fatos esclare- human bonding: newborns prefer their mo-
cedores, tais como o entendimento de como ther’s voice. Science, 208, pp.1174-1176.
tudo parte do funcionamento do cérebro e
como é essencial que os educadores se apro- Field, T. M., Cohen, D., Garcia, D., &
priem da Neurociência para desenvolver a Greenberg, R. (1994). Mother-stranger face
contento seus métodos de ensino. discrimination by the newborn infant beha-
vior. Development, 7,
Conclui-se que a Neurociência não é
um método pedagógico, tampouco a solução Fields, R. D. (2004). A outra metade do
imediata para as dificuldades ou distúrbios cérebro. Scientific American Brasil, 24, pp.46-
de aprendizagem. O objetivo do trabalho foi 53
alcançado; porém, muitos estudos deverão
ser desenvolvidos para expansão e novas HOUZEL, Suzana Herculano. Neuroci-
perspectivas sobre o tema. ências na Educação. Belo Horizonte, 2010.
É preciso rever todos os conceitos e KRAMER, Sônia. A política do pré-es-
circunstâncias que geram conflitos de opini- colar no Brasil: a arte do disfarce. 7.ed - São
ões, para que o docente reflita sobre a sua Paulo: Cortez, 2003.
prática e saiba como promover a aprendiza- LENT, Robert. Cem bilhões de neurô-
gem na primeira infância. A partir da Neuro- nios? Conceitos fundamentais da Neurociên-
ciência, entende-se importante conhecer a cia. 2ed. Atheneu, 2010.
criança como um ser integral, possibilitando

432
RELVAS, Marta Pires et al. Que cérebro
é esse que chegou á escola? As bases neuro-
científicas da aprendizagem. Rio de Janeiro:
Wak Editora, 2012.
REPACHOLI, B. M., GOPNIK, A. (1997).
Early reasoning about desires: evidence from
14-18- monthsolds. Developmental Psycholo-
gy
SOUZA, Gabriela Guerra Leal de. et al.
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cérebro aprende? 2016. 38f. III Curso de atu-
alização de professores da educação infan-
til, ensino fundamental e médio (Programa
de Pós-Graduação em Ciências Biológicas e
Mestrado Profissional em Ensino de Ciências)
– Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro
Preto. Disponível em: https://tinyurl.com/
ycqw3576. Acesso em: 10 abr. 2020.

433
BULLYING: REALIDADE E PERSPECTIVA NO AMBIENTE EDUCACIONAL
RENATA RODRIGUES DE LIMA

RESUMO mental, o desempenho acadêmico, as rela-


Este artigo aborda a problemática do ções interpessoais, bem como as medidas
bullying no ambiente educacional, analisan- que têm sido adotadas para combater esse
do suas causas, consequências e possíveis problema. Ao examinar as consequências
estratégias de prevenção e intervenção. Com de curto e longo prazo do bullying, podemos
base em pesquisas recentes e estudos de lançar luz sobre a importância crítica de abor-
caso, explora-se a importância de uma abor- dar esse problema de maneira abrangente e
dagem multidisciplinar para lidar com esse multidisciplinar. Através dessa análise, pode-
fenômeno, promovendo um ambiente esco- remos compreender melhor como o bullying
lar seguro e saudável para todos os estudan- influencia não apenas a vida da vítima ime-
tes. Introdução: O bullying é um problema diata, mas também o tecido social no qual ele
complexo que afeta inúmeras escolas ao re- ocorre.
dor do mundo, comprometendo o bem-estar Portanto, é essencial e x -
emocional e o desempenho acadêmico dos plorar os aspectos complexos e inter-
estudantes. Neste artigo, examinaremos a conectados relacionados ao bullying, a fim de
realidade do bullying no ambiente educacio- desenvolver estratégias mais eficazes para
nal, investigando suas causas subjacentes, prevenção, intervenção e apoio a todos os
seus impactos prejudiciais e as abordagens envolvidos. Ao fazer isso, estaremos dando
eficazes para combater esse comportamen- um passo significativo em direção a comuni-
to. Além disso, enfocaremos a importância de dades mais seguras, saudáveis e empáticas,
uma visão holística e colaborativa para lidar onde o bullying não tenha espaço para pros-
com essa questão, envolvendo educadores, perar.
pais, alunos e profissionais de saúde mental.
A questão do bullying nas escolas é
PALAVRAS-CHAVES: BULLYNG; PRO- um tema de extrema relevância e preocupa-
BLEMA; VISÃ ção em todo o mundo. O bullying pode ser
definido como um comportamento repetiti-
vo e intencional de agressão, física ou verbal,
INTRODUÇÃO que ocorre dentro de um ambiente escolar.
Este fenômeno impacta não apenas a vítima,
O fenômeno do bullying tem sido mas também a dinâmica de toda a comuni-
objeto de crescente preocupação em todo dade escolar. Suas causas são multifacetadas
o mundo, à medida que sua prevalência e e complexas, resultando de uma interação
impacto negativo se tornam cada vez mais entre fatores individuais, familiares, sociais e
evidentes. O bullying não é mais considera- contextuais.
do apenas uma parte inevitável da infância
e adolescência, mas sim um problema sério Compreender as raízes do bullying é
que afeta não apenas as vítimas diretas, mas crucial para desenvolver estratégias efica-
também todo o ambiente ao seu redor. Esta zes de prevenção e intervenção, visando a
prática prejudicial, que envolve o uso repeti- promoção de um ambiente escolar seguro e
do de comportamentos agressivos, intencio- saudável para todos os alunos. Nesta discus-
nais e hostis por parte de indivíduos ou gru- são, exploraremos as principais causas do
pos, tem efeitos profundos e duradouros não bullying e como elas contribuem para a per-
apenas na saúde mental e emocional das ví- petuação desse comportamento prejudicial
timas, mas também na dinâmica escolar, so- nas escolas.
cial e até mesmo na saúde pública.
Nos últimos anos, a conscientização BULLYNG E SUAS CARACTERÍSTICAS
sobre o bullying aumentou consideravelmen-
te, levando a um maior reconhecimento dos Definição e Tipos de Bullying: Inicial-
prejuízos que essa prática pode causar. As mente, será apresentada uma definição
vítimas de bullying muitas vezes enfrentam abrangente de bullying, destacando suas
uma série de consequências devastadoras diversas formas, como verbal, física e cyber-
que podem afetar seu bem-estar físico, emo- bullying. Cada tipo será exemplificado para
cional e psicológico. Além disso, o impacto se uma compreensão completa.
estende além das vítimas, afetando também
os agressores, testemunhas e a sociedade Causas e Fatores Predisponentes: Ex-
como um todo. Portanto, compreender a ploraremos as raízes do bullying, incluindo
extensão desses prejuízos é crucial para de- fatores como ambiente familiar, pressões so-
senvolver estratégias eficazes de prevenção ciais e influências da mídia. A compreensão
e intervenção. desses elementos é crucial para a implemen-
tação de estratégias preventivas.
Este artigo busca analisar os prejuízos
profundos do bullying sob diversas perspec- Impactos no Ambiente Educacional:
tivas, explorando os efeitos sobre a saúde Abordaremos as consequências do bullying

434
para as vítimas, agressores e para a atmosfe- mento e declínio no desempenho acadêmico
ra escolar como um todo. Isso incluirá efeitos ou profissional.
emocionais, sociais e acadêmicos negativos.
Oferecer apoio imediato às vítimas e
Estratégias de Prevenção e Interven- abordar o comportamento agressivo dos au-
ção: Serão discutidas abordagens proativas, tores com intervenções apropriadas, como
como programas de conscientização, treina- aconselhamento e mediação.
mento de professores e a promoção de uma
cultura de respeito e empatia. Além disso, a
intervenção precoce e o apoio às vítimas se- Envolvimento dos Pais e Responsá-
rão destacados como essenciais para inter- veis:
romper o ciclo do bullying.
Estabelecer uma comunicação aberta
Papel das Partes Interessadas: Exami- entre pais, professores e responsáveis, para
naremos como educadores, pais, colegas e compartilhar informações sobre o bem-estar
profissionais de saúde podem colaborar para emocional e social das crianças.
criar um ambiente seguro. O diálogo aberto e
a cooperação entre esses grupos são cruciais Fornecer orientação aos pais sobre
para abordar o bullying de maneira eficaz. como identificar os sinais de bullying e como
apoiar seus filhos.
Estudos de Caso e Experiências Bem-
-sucedidas: Apresentaremos exemplos de
escolas ou comunidades que implemen-
taram estratégias eficientes de prevenção Programas de Habilidades Sociais:
do bullying, evidenciando a importância de Desenvolver programas que ensinem
adaptar as abordagens à cultura local. habilidades sociais, empatia e comunicação
eficaz, ajudando os indivíduos a construírem
relacionamentos saudáveis e resolver confli-
PREVENÇÃO CONTRA O BULLYNG tos de maneira construtiva.
A prevenção do bullying é uma ques-
tão crucial na sociedade atual, onde crianças,
adolescentes e até mesmo adultos podem Liderança Positiva:
ser vítimas desse comportamento prejudi- Promover a liderança positiva entre os
cial. Abaixo, vou destacar várias estratégias e jovens, capacitando-os a serem modelos de
abordagens que podem ser implementadas comportamento respeitoso e inclusivo.
para prevenir o bullying em diferentes con-
textos, como escolas, comunidades e am- Incentivar o estabelecimento de gru-
bientes de trabalho. pos de alunos que atuem como defensores
do respeito mútuo e combatam o bullying.

Educação e Conscientização:
Tecnologia Responsável:
Promover a conscientização sobre o
bullying, seus efeitos prejudiciais e as formas Educar os jovens sobre o uso respon-
de prevenção através de campanhas educa- sável da tecnologia e das redes sociais, des-
tivas em escolas, empresas e comunidades. tacando os impactos do cyberbullying e in-
centivando a denúncia de comportamentos
Incluir aulas regulares sobre empatia, prejudiciais online.
respeito e habilidades sociais no currículo
escolar, incentivando a compreensão das di-
ferenças e a promoção de relacionamentos
saudáveis. Sensibilização para a Diversidade:
Incorporar a diversidade nas ativida-
des escolares e nas discussões, promovendo
Ambientes Positivos: a aceitação das diferenças de raça, religião,
gênero e orientação sexual.
Criar ambientes seguros e inclusivos
em escolas, locais de trabalho e espaços co-
munitários, onde todos se sintam valorizados
e respeitados. Capacitação de Profissionais:
Estabelecer regras claras contra o Oferecer treinamento para educa-
bullying em instituições e implementar con- dores, profissionais de recursos humanos e
sequências apropriadas para quem violar es- outros líderes comunitários, capacitando-os
sas regras. a reconhecer e abordar o bullying de forma
eficaz.

Intervenção Precoce:
Acompanhamento Contínuo:
Identificar sinais precoces de bullying,
como mudanças de comportamento, isola- Avaliar regularmente os esforços de

435
prevenção do bullying para determinar sua pel fundamental na prevenção do bullying.
eficácia e fazer ajustes conforme necessário. Eles não apenas ensinam, mas também mo-
delam comportamentos para os alunos. Por-
A prevenção do bullying requer um es- tanto, é importante oferecer treinamento
forço conjunto de toda a sociedade. Ao ado- aos professores para que possam identificar,
tar essas estratégias e promover uma cultura prevenir e lidar com situações de bullying de
de respeito e empatia, podemos criar am- maneira eficaz. Isso inclui habilidades de co-
bientes seguros onde todos possam flores- municação, gestão de conflitos e empatia.
cer sem o medo do bullying.
Com o advento da tecnologia, o cyber-
O bullying é um problema sério que bullying se tornou uma ameaça significativa. É
afeta pessoas de todas as idades e origens. necessário educar os jovens sobre os perigos
Para combatê-lo de maneira eficaz, é funda- do cyberbullying, enfatizando a importância
mental adotar abordagens preventivas que do respeito online e da privacidade. Escolas e
visem criar um ambiente saudável e seguro famílias podem incentivar o uso responsável
em escolas, locais de trabalho e comunida- da internet e estabelecer regras claras sobre
des. A prevenção do bullying não é apenas o comportamento online.
responsabilidade das instituições, mas tam-
bém de cada indivíduo que compõe a so- A prevenção do bullying é um com-
ciedade. Neste capítulo, discutiremos algu- promisso coletivo que envolve toda a socie-
mas estratégias-chave para a prevenção do dade. Ao construir uma cultura de respeito,
bullying e como elas podem ser implemen- empatia e intervenção precoce, podemos
tadas. criar ambientes onde o bullying seja menos
provável de ocorrer. Através da conscienti-
A prevenção do bullying começa com zação, educação e colaboração entre todas
a conscientização e a educação. É essencial as partes interessadas, podemos trabalhar
que escolas, pais e organizações dediquem juntos para erradicar o bullying e promover
tempo para educar as pessoas sobre o que relacionamentos saudáveis e positivos. Lem-
é o bullying, seus diferentes tipos e impactos bre-se de que a prevenção começa com cada
emocionais. Através de workshops, palestras um de nós, agindo como defensores ativos
e campanhas de conscientização, as pessoas da mudança.
podem aprender a identificar sinais precoces
de bullying e como responder de maneira
adequada. Parte superior do formulário
Uma cultura de respeito e empatia é
fundamental para a prevenção do bullying.
Escolas e organizações devem promover UM NOVO OLHAR SOBRE AS QUES-
valores que incentivem o respeito pelas di- TÕES PESSOAIS
ferenças, a empatia e a aceitação. Isso pode
ser feito por meio da implementação de pro- O bullying, um fenômeno de longa
gramas de educação socioemocional, onde data, sempre foi uma preocupação significa-
os alunos aprendem a compreender as emo- tiva nas escolas e comunidades. No entanto,
ções dos outros e a resolver conflitos de ma- à medida que nossa compreensão sobre as
neira construtiva. complexidades das questões pessoais en-
volvidas no bullying evolui, um novo olhar se
A detecção precoce é crucial para torna essencial. O impacto profundo e mui-
evitar que situações de bullying se intensi- tas vezes duradouro do bullying nas vítimas
fiquem. Professores, pais e colegas devem exige uma abordagem mais abrangente que
ser treinados para reconhecer sinais de aler- considere não apenas os aspectos superfi-
ta, como mudanças comportamentais, iso- ciais do comportamento, mas também as
lamento social e declínio no desempenho causas subjacentes e as soluções holísticas
acadêmico. Quando esses sinais são identi- para lidar com essa questão.
ficados, medidas de intervenção devem ser
tomadas imediatamente para oferecer apoio O bullying não é apenas uma simples
às vítimas e abordar o comportamento dos interação entre agressor e vítima, mas um
agressores. reflexo de questões profundas e variadas.
Muitas vezes, os agressores estão lidan-
A prevenção eficaz do bullying requer do com problemas em suas próprias vidas,
a colaboração de diferentes partes interes- como falta de empatia, problemas familiares
sadas. Escolas, famílias, comunidades e até ou baixa autoestima. Compreender essas
mesmo meios de comunicação desempe- questões pessoais que impulsionam o com-
nham um papel crucial. Programas de pre- portamento do agressor é crucial para imple-
venção devem envolver todos esses grupos mentar estratégias eficazes de prevenção e
para garantir uma abordagem abrangente. intervenção. Isso envolve não apenas punir o
Além disso, as escolas podem criar comitês agressor, mas também oferecer oportunida-
anti-bullying compostos por alunos, profes- des para que eles cresçam emocionalmente
sores, pais e profissionais de saúde mental e aprendam a lidar com suas próprias dificul-
para desenvolver e implementar estratégias dades.
eficazes.
Da mesma forma, as vítimas de
Os educadores desempenham um pa- bullying frequentemente enfrentam uma sé-

436
rie de desafios emocionais e psicológicos. A fundamentais para erradicar essa proble-
autoestima é frequentemente erodida, levan- mática. Ao longo deste processo, é essencial
do a problemas de autoimagem e confiança. que escolas, pais e comunidades trabalhem
Além disso, o isolamento social causado pelo em conjunto para criar um ambiente seguro
bullying pode resultar em ansiedade, depres- e acolhedor para todos os indivíduos.
são e até mesmo ideação suicida. Portanto,
um novo olhar sobre as questões pessoais A comunicação aberta e o diálogo
relacionadas ao bullying envolve o desen- constante são ferramentas poderosas para
volvimento de programas de apoio mental e combater o bullying. Incentivar crianças e
emocional para as vítimas, permitindo-lhes adolescentes a expressarem seus sentimen-
reconstruir sua autoestima e desenvolver ha- tos, preocupações e experiências pode aju-
bilidades de enfrentamento saudáveis. dar a identificar sinais precoces de bullying
e intervir de maneira adequada. Além disso,
A tecnologia introduziu uma dimen- promover a empatia e o respeito desde cedo
são inteiramente nova no bullying, conhe- é essencial para desenvolver relacionamen-
cida como cyberbullying. Essa forma de as- tos saudáveis e construir uma cultura de
sédio pode ser ainda mais insidiosa, já que aceitação.
ocorre no espaço virtual, muitas vezes esca-
pando à vigilância de adultos. Um novo olhar A formação de adultos, como profes-
sobre o cyberbullying requer a colaboração sores e pais, desempenha um papel central
de pais, educadores e profissionais de tecno- na prevenção do bullying. Eles devem estar
logia para criar um ambiente online seguro e atentos a mudanças de comportamento nas
promover a conscientização sobre o impacto crianças e nos jovens, bem como equipados
emocional do bullying digital. para intervir de maneira sensível e eficaz.
Criar políticas anti-bullying sólidas nas esco-
A educação desempenha um papel las e implementar programas educacionais
crucial na mudança de mentalidades e com- que ensinem habilidades sociais e emocio-
portamentos relacionados ao bullying. Inte- nais pode contribuir significativamente para
grar currículos que promovam a empatia, a a construção de um ambiente onde o bullying
resolução pacífica de conflitos e a aceitação não seja tolerado.
da diversidade pode criar uma geração mais
compassiva e tolerante. Além disso, os edu- Além disso, a mídia e a tecnologia têm
cadores podem ser treinados para reconhe- um papel a desempenhar. É essencial pro-
cer os sinais de bullying e responder de ma- mover o uso consciente das redes sociais e
neira adequada, garantindo que as questões da internet, ensinando jovens a serem críti-
pessoais subjacentes sejam tratadas com cos em relação ao conteúdo online e a tratar
sensibilidade. os outros com respeito, mesmo no mundo
virtual.
Em resumo, um novo olhar sobre as
questões pessoais relacionadas ao bullying Para evitar o bullying, é fundamental
exige uma abordagem multidimensional que reconhecer que a prevenção é um esforço
vai além do mero comportamento visível. A contínuo que exige o comprometimento de
empatia, a compreensão das motivações dos todos os setores da sociedade. Somente por
agressores e as necessidades emocionais das meio de ações conjuntas, educação, cons-
vítimas devem ser priorizadas. Somente por cientização e
meio de esforços coletivos que abordem as mudanças culturais é que podemos
raízes do bullying poderemos criar ambien- aspirar a um ambiente onde cada indivíduo
tes mais seguros, mais saudáveis e mais in- possa florescer livremente, sem o medo de
clusivos para todos. ser alvo de bullying.

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
O bullying continua sendo uma ques- Olweus, D. (1993). Bullying at school:
tão séria no ambiente educacional, mas atra- What we know and what we can do. Salmi-
vés de uma abordagem abrangente e colabo- valli, C. (2010). Bullying and the peer group:
rativa, é possível enfrentá-lo com sucesso. A A review. Aggression and Violent Behavior,
conscientização, a prevenção e a intervenção 15(2), 112-120.
precoce são pilares essenciais na criação de
um ambiente escolar seguro e acolhedor Espelage, D. L., & Swearer, S. M. (2003).
para todos os estudantes. A educação não se Research on school bullying and victimiza-
limita apenas à sala de aula, mas se estende tion: What have we learned and where do
a promover valores de respeito e empatia, we go from here? School Psychology Review,
moldando cidadãos responsáveis e compas- 32(3), 365-383.
sivos.
Rigby, K. (2003). Consequences of
Em um mundo onde a tecnologia e a bullying in schools. Canadian Journal of Psy-
interação social desempenham um papel tão chiatry, 48(9), 583-590.
significativo, a prevenção do bullying se tor-
na uma responsabilidade coletiva e crucial. A Bradshaw, C. P., & Johnson, S. L. (2011).
conscientização e a educação são os pilares School context and the impact of the peer

437
group on the development of bullying and
victimization. Journal of Community Psycho-
logy, 39(6), 744-762.
UNESCO. (2016). School violence and
bullying: Global status and trends. United Na-
tions Educational, Scientific and Cultural Or-
ganization.

438
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA FORMAÇÃO DE LEITORES
O EDUCADOR COMO AGENTE TRANSFORMADOR
ROBERTA SCHMID TUCKMANTEL

RESUMO a construção de uma sociedade mais justa e


Este estudo de revisão pretende mos- equilibrada.
trar a importância da leitura na formação de Atualmente é evidente a ausência de
novos leitores, buscando ser uma base norte- leitores na população brasileira. Pretende-se
adora a todos os educadores que trabalham no decorrer deste breve estudo investigar de
e contribuem na formação de novos leitores. forma os motivos que originaram a realidade
A escola é o ambiente propício para deste cenário e o que a ausência de leitura
a formação de novos leitores. Durante os pode ocasionar no desenvolvimento do indi-
anos iniciais do ensino fundamental, a crian- víduo.
ça é alfabetizada, porém a leitura sem a in- Será abordada de forma sistêmica a
terpretação é uma questão alarmante para história da sociedade moderna, desde as pri-
professores alfabetizadores. Para mudar meiras escolas, ainda no período do Brasil
este cenário e formar cidadãos alfabetizados colonial até os dias atuais. Isso se faz neces-
após o período escolar é preciso rever toda sário para a compreensão do cenário atual e
a metodologia de ensino durante o ciclo de assim refletir sobre nossas práticas docente
alfabetização. na formação de leitores.
Para uma melhor compreensão, será Este estudo pretende defender a leitu-
abordada de forma breve, a história da es- ra na formação das pessoas, pois a leitura se
cola brasileira, desde o período do Brasil co- faz necessária na formação de cidadãos críti-
lonial até os dias atuais, para entendermos cos, pensantes e participativos.
a falta de leitores no Brasil é uma questão
cultural. Atualmente, apesar de a educação es-
tar disponível para todas as crianças, a qua-
Serão também analisados quais os lidade do ensino oferecido ainda é alvo de
métodos de leitura são mais eficazes para a questionamentos, visto que o interesse pela
formação de novos leitores, respeitando a in- leitura ainda é muito pequeno.
dividualidade e características de cada indiví-
duo durante sua formação como leitor. Esta pesquisa tem o caráter qualitati-
vo, e para o seu desenvolvimento foi utiliza-
Palavras chaves: Formação; leitores; da a metodologia de revisão bibliográfica, a
alfabetização; leitura crítica. fim de explanar os pontos já discutidos atual-
mente no cenário educacional brasileiro.
1 INTRODUÇÃO
A leitura é uma das formas mais efica- 2. Desenvolvimento
zes de adquirir conhecimento e desenvolver Para se estudar a leitura, se faz neces-
habilidades linguísticas. Ao ler livros, artigos, sário percorrer uma breve história da escola
notícias e outros tipos de texto, ampliamos brasileira, com foco no ensino infantil, mais
nosso vocabulário e aprimoramos nossa ca- precisamente no ciclo hoje denominado por
pacidade de comunicação. Além disso, a leitu- muitos pesquisadores como ciclo de “alfabe-
ra nos permite viajar para diferentes lugares, tização”. (PCN.1997).
conhecer outras culturas e vivenciar experi-
ências que talvez nunca teríamos a oportu- Não pretendemos discutir de onde
nidade de experimentar na vida real. Através veio a escrita desde suas gênesis. Pois este
da leitura, somos expostos a diferentes pers- estudo deseja observar a história da educa-
pectivas e estimulamos nossa criatividade e ção brasileira, com o intuito de refletirmos
imaginação, o que contribui para nosso cres- nossas práticas para agir como agente trans-
cimento pessoal e profissional. formador no número de leitores intelectuais
brasileiros.
Além dos benefícios individuais, a lei-
tura também desempenha um papel impor- Ao se retratar a história da educação
tante na formação de uma sociedade mais brasileira, é interessante começarmos pelo
informada e crítica. Ao ler, desenvolvemos o século XIX, pois antes deste período a educa-
senso crítico e aprendemos a analisar e ques- ção era somente com o cunho de propagar
tionar informações, evitando assim sermos a fé crista católica. A companhia de Jesus era
influenciados por ideias ou conceitos sem composta por padres que ensinavam da bí-
fundamento. A leitura nos ajuda a compre- blia e o básico de linguagem, leitura e cálcu-
ender melhor o mundo em que vivemos, nos los. (Serrão,1982 e Almeida, 2000).
posicionando de forma mais consciente em O povo se dividia de acordo com sua
relação a questões políticas, sociais e ambien- posição social, a elite e os burgueses obti-
tais. Portanto, a leitura é fundamental para o nham acesso as escolas de primeiro grau en-
desenvolvimento intelectual e também para quanto a maior parte da população que era

439
composta por pobres e escravos, só tinha a escola pública brasileira, Anísio Teixeira con-
obrigação de trabalhar e servir a classe domi- tribuiu muito para a libertação e mudança
nante. (Romanelli, 2001). da educação, inspirado no americano Johh
Em meados do século XIX após a in- Dewey que seguia uma linha de escola para
dependência do Brasil e a criação de leis, o todos, e defensor de uma postura mais ver-
método de ensino era liberal burguês, isto tical entre alunos e professores. (Romanelli,
em nada tem a ver com liberdade e univer- 2001)
salização do ensino, o objetivo era defender Em 1971 influenciado pelo regime mi-
os interesses da classe dominante, apesar de litar as leis que regem a educação sofreram
a escola já ser um direito na constituição. Ela mudanças negativas. Com o intuito de trans-
era somente para uma parcela mínima da ferir a responsabilidade da educação para
população. (Romanelli, 2001). as escolas particulares, os militares criaram
Os nobres e os burgueses tinham uma série de impedimentos para a escola
acesso as obras literárias, enquanto a maio- pública. (LDB5692/71)
ria da população tinha somente o mínimo de Na pratica a educação mais uma vez
ensino e consequentemente o domínio da se torna disponível para poucos e o acesso a
leitura. leitura extremamente censurado pelo gover-
Durante muito tempo a educação no. Somente com o fim do regime militar este
brasileira foi somente para uma parcela mí- cenário começou a mudar.
nima da sociedade, além disso, os métodos Com a criação da LDB de 1996 a escola
pedagógicos eram antiquados, pois os alu- tornou-se universal, o estado assumiu a res-
nos eram tidos como meros “depósitos” de ponsabilidade de oferecer acesso ao ensino
conhecimento. para todos.
Este método de ensino conhecido Art. 4º. O dever do Estado com educa-
como “tradicional” foi denominado pelo sau- ção escolar pública será efetivado mediante
doso professor Paulo Freire como “método a garantia de:
bancário” onde o professor somente deposi-
tava no aluno os conhecimentos sem respei- I – ensino fundamental, obrigatório e
tas suas características próprias de aprendi- gratuito, inclusive para os que a ele não tive-
zagem. (Patto. 1993) ram acesso na idade própria; (LDB9394/96. p
2)
Ao analisarmos um trecho da obra de
Maria Helena Souza Patto em que ela cita Porém, na pratica o acesso à leitura
Freire, podemos constatar tal pensamento: ocorre somente por uma parcela mínima da
sociedade, isso ocorre devido à cultura esco-
[...] o educador faz “comunicações” e lar de deposito de conhecimento. O aluno so-
depósitos que os educandos, meras incidên- mente repete o que o professor pede. Toda a
cias recebem pacientemente, memorizam e criticidade a autorreflexão, que a leitura pro-
repetem. Eis aí a concepção bancária da edu- porciona, não estão presentes nos currículos
cação, em que a única margem de ação que das escolas brasileiras.
se oferece aos educandos é a de receberem
os deposito, guarda-los e arquiva-los. (Pat- É claro que no plano político pedagógi-
to.1993. p.62) co (PPP) de uma escola, esta como meta ofe-
recer aos alunos o domínio da leitura, porém
Somente com o passar do século XIX há diferentes métodos de leitura. Como pre-
que a educação brasileira começou a se tor- tendemos abordas no decorrer deste estudo.
nar menos excludente. Foram criadas leis
que definissem diretrizes a seguir para a Podemos concluir por tanto que a pró-
educação, com o intuito de modernização, pria cultura dominante acaba esmagando a
universalização do ensino e estrutura tanto formação de novos leitores. Constatamos
metodológicos como organizacionais dos es- que o baixo número de leitores no Brasil se
paços físicos dos estabelecimentos de ensi- dá por conta da própria cultura do brasileiro.
no. É necessário mudar a cultura escolar e inte-
lectual com o intuito de formar cada vez mais
A LDB de 1961 demorou um período leitores.
de 1947 a 1961 para ser finalizada. Ela foi
construída em meio a um grande conflito de Percorremos uma breve história da
interesses entre os liberais do movimento es- escola brasileira e com isso podemos refle-
cola novista, que defendiam a escola pública tir através de metodologias de ensino como
e seu ensino laico e de responsabilidade da a formação de leitores ocorre. Fica nítida a
união. E pela igreja católica que defendia a necessidade de novas formas de aguçar nos
escola privada e a não interferência do esta- alunos o interesse pela leitura. Para suprir-
do na educação. (LDB4024/61) mos tal tarefa. Iremos entender o que é ler
algo e quais as formas de leitura.
A primeira LDB foi formulada por os
liberais que defendiam uma educação para
todos e de qualidade. Entre os idealizadores 2.1 - A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
destaca-se o educador Anísio Teixeira e o de-
putado Darcy Ribeiro. Considerado o pai da De um modo simplista podemos en-

440
tender leitura como um processo perceptual avaliar a compreensão dos alunos. Os alunos
e associativo de transformar grafemas (es- após fazer a leitura de um texto deve respon-
crita) em fonemas (fala), portanto, para ler é der uma série de questionários e copiar in-
necessário ter a capacidade de reconhecer as formações do texto.
letras e criar conexão formando as palavras.
Esta capacidade é adquirida especialmente Este método é muito usado em todas
nas escolas no ciclo de alfabetização. (Mar- as escolas, porém na prática não se mostra
cuschi. 1996) eficaz basta analisarmos os resultados dos
nossos alunos em exames como o ENEM,
O aluno deve conhecer o alfabeto, ter SARESP, PISA, SAEB entre outros. O nível de
memorizado os grafemas (letras, símbolos, leitura dos estudantes se mostra insuficiente
acentuações etc.) através da memória das le- para exercer o básico de compreensão, inca-
tras o aluno e capaz de criar conexões e for- pacitando muitos para o trabalho e vida coti-
mar palavras e transformar o escrito em fala. diana pós-escolar.
(Kleiman. 1989).
Para mudarmos este cenário e impor-
Além de reconhecer as letras é ne- tante enfatizarmos que existem diferentes ti-
cessário dominar outras competências que pos de letramento, diferentes tipos de práti-
mudam de acordo com as culturas mundiais. ca de leitura que são exigidas de acordo com
Por exemplo, as posições de texto, há lugares cada situação. Vamos abordar algumas práti-
que não seguem o “padrão” de escrita. “Da cas e combinações com o intuito de servir de
direita para a esquerda” de “cima para baixo” referência para futuros educadores.
isso se dá pelas diferentes culturas e lingua-
gens presentes no globo. (Kleiman. 1989)
O indivíduo por tanto deve possuir a 2.2 - ESTRATÉGIAS PARA CRIAR LEITO-
capacidade de memorizar os sons da fala as- RES
sim reconhecendo as letras e formando sila- As capacidades de; reconhecer o alfa-
ba, palavras, frases, períodos de texto e assim beto, reconhecer as pontuações, dominar a
por diante. Esse sistema de reconhecimento relação entre escrita e fala, fluidez de leitura
das letras gera uma fluência da leitura. são aprendidas durante os anos iniciais do
Hoje é muito comum ouvirmos o ter- ensino fundamental, porém estas são capa-
mo analfabeto funcional, isso se da por esta cidades básicas que não se dão por si só, é
teoria de alfabetização, onde o foco e ter a necessário dominar a capacidade de com-
capacidade de transformar a escrita em fala. preensão, apreciação e réplica. (Rojo. 2002)
Isso gera nas pessoas o ato de ler sem inter- Durante o processo de leitura é impor-
pretação e não contempla a complexidade tante o sujeito ter um conhecimento prévio
empregada no ato de ler. sobre o mundo em geral, é claro que ele não
Ao analisarmos um trecho da obra de saberá de antemão o conteúdo do texto, po-
Soares (1998) podemos constatar tal análise: rém e necessário ter um conhecimento pré-
vio para poder entender o que o autor do
texto quis transmitir. (Smith. 1989)
[...] à medida que o analfabetismo vai Se durante o processo de leitura a sin-
sendo superado, que um número cada vez cronia entre leitor e autor falhar, haverá uma
maior de pessoas aprende a ler e a escrever, lacuna na compreensão do texto. Por isso é
e à medida que, concomitantemente, a socie- importante ler fazendo conexões com o que
dade vai se tornando cada vez mais centra- já se sabe para adquirir gradativamente co-
da na escrita (cada vez mais grafo cêntrica), nhecimento. (Smith. 1989)
um novo fenômeno se evidencia: não basta
aprender a ler e a escrever. As pessoas se al- O leitor pode obter uma antecipação
fabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas ou predição dos conteúdos do texto. Ao se
não necessariamente incorporam a prática deparar com um texto ele não aborda como
de leitura e da escrita, não necessariamente uma folha em branco. De acordo com a fonte
adquirem competência para usar a leitura e a (livro, jornal, revista, artigos, sites entre ou-
escrita, para envolver-se com as práticas so- tros) ele gera hipóteses tanto sobre o conteú-
ciais de escrita [...] (Soares 1998. p45-46) do como a forma do texto. (Smith. 1998)
Essas hipóteses podem ser geradas
pelo título do texto, pela disposição na pá-
Podemos concluir que existem dife- gina, através de fotos, legendas, ilustrações
rentes níveis de leitura, pensando no âmbito entre outras formas. Frank Smith (1998) afir-
escolar, parece que a escola brasileira ainda mou que essas hipóteses se tratava de um
está no século passado. Isso se dá pela cul- “jogo de adivinhação”, o leitor com essa es-
tura escolar existente através de longos pe- tratégia de leitura não precisa se prender to-
ríodos históricos como aqui já mencionamos talmente a cada palavra do texto, adiantando
Ao perguntamos a nossos educandos assim o conteúdo a fluidez e compreensão
oque e ler na escola, estes possivelmente di- do conteúdo.
rão que é ler para avaliação, ler em voz alta Ao utilizar essas hipóteses o leitor es-
ou sozinha. Ler na escola tem o objetivo de tará constantemente confrontando o autor,

441
ele poderá concordar ou discordar do conte- que leem de forma crítica para se tornarem
údo do texto, podendo ainda buscar novas cidadãos plenos e intelectualmente ativos. A
hipóteses e fontes de conhecimento do as- escola como instituição do saber, tem a obri-
sunto. gação de formar para o exercício da cidada-
O leitor deve constantemente bus- nia e não existe cidadania sem o acesso à in-
car pelas fontes do texto, em certas práticas formação.
como o estudo e trabalho, um conteúdo inde- Vamos analisar estre trecho dos parâ-
vido pode gerar grandes problemas. Por tan- metros curriculares nacionais:
to e indispensável ao leitor o conhecimento
geral do mundo, para poder ler de forma crí-
tica analisando as fontes e conteúdo de for- O domínio da língua, oral e escrita, é
ma imparcial e coerente. Deve-se comparar fundamental para a participação social efeti-
diferentes obras literárias, para assim criar va, pois é por meio dela que o homem se co-
sua própria identidade como leitor. (Smith. munica, tem acesso à informação, expressa e
1998) defende pontos de vista, partilha ou constrói
Esta leitura crítica e muito importan- visões de mundo, produz conhecimento. Por
te, porém, existem práticas de leituras onde isso, ao ensiná-la, a escola tem a responsabi-
essa criticidade pode ser menos operante. lidade de garantir a todos os seus alunos o
Em caso de leituras por entretenimento, de acesso aos saberes linguísticos, necessários
um livro de contos, por exemplo, a criticidade para o exercício da cidadania, direito inalie-
não e relevante, sendo a imaginação e o pra- nável de todos. (PCN.1997 p15)
zer pela leitura o ponto principal. (Rojo. 2002)
Pensando como educador, é impor- Como podemos constatar ao longo
tante gerarmos nos alunos o gosto pela lei- deste estudo a escola tem papel fundamen-
tura, primeiramente devem-se pensar conte- tal na formação de novos leitores, devem-se
údos que sejam leituras de entretenimento, formar leitores interessados que tenham
criando nos alunos a vontade de ler. vontade de ler e prazer na leitura.
Para alcançarmos tal tarefa, é impor- Podemos refletir algumas estratégias
tante gerar no aluno a capacidade de apre- de leituras aqui expostas, é papel de o edu-
ciação e réplica. Isso é fazê-lo capaz de in- cador gerar no aluno o gosto pela leitura, po-
terpretar um texto discursivamente. Para tal rém e essencial que seja uma leitura crítica
e preciso ao se deparar com um texto inda- e compreensiva do texto, fazendo com que
gar. Quem é o autor do texto? Qual a ideolo- o leitor possa dialogar com o autor durante
gia que ele assume e coloca em circulação? o texto. A escola por tanto tem que oferecer
Como ele cria valores aos seus conteúdos? mais do que o domínio de ler, pois ler sem
Esses valores são positivos ou negativos? compreensão de nada serve para formar lei-
Todas essas indagações são necessá- tores.
rias para se gerar uma leitura crítica e cidadã.
Se o leitor não tiver essa capacidade ele não
é capaz de dialogar com o autor. Ele acaba 3. CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES FI-
por se tornar refém do texto. NAIS
Ao percorremos a história da educa-
ção brasileira podemos observar o desafio
2.3- OBJETIVOS DA ESCOLA que é para o educador formar novos leitores.
A escola tem por obrigação ensinar ao A escola e a educação básica são locais so-
aluno ler. Como podemos ver assegurado na ciais de ensino e aprendizagem de conheci-
LDB de 1996: mentos gerados pela humanidade.
I – o desenvolvimento da capacidade A escola tem o caráter formativo do
de aprender, tendo como meios básicos o indivíduo através de informação, indicação,
pleno domínio da leitura, da escrita e do cál- regras, modelos, mas também e um local de
culo. (LDB,9394/96 Art32.I) formação do sujeito social. Pensando neste
viés é indispensável rever o currículo e meto-
Além de ensinar a ler, é necessário for- dologia escolar.
mar cidadãos plenos, o aluno deve ser visto
como um sujeito individual, que possui seu Buscamos através deste estudo, servir
próprio ritmo de aprendizagem. de ajuda a todos os educadores que preten-
dem formar novos leitores. Abordando re-
A escola deve abandonar a metodolo- sumidamente a história da escola brasileira
gia de ensino tradicional, Paulo Freire citava com o intuito de mudar gradativamente o ce-
a educação brasileira como “educação ban- nário atual de leitores brasileiros.
cária” como aqui já mencionamos. Porém
podemos constatar que para formar leitores O educador como agente transforma-
essa metodologia tem que ser revista pelos dor deve elaborar estratégias de acordo com
educadores cada aluno para formar novos leitores, deve-
-se abandonar a ideia de ensino autoritário
É muito importante formar leitores onde o aluno só copia o que é emposto a ele.

442
Podemos concluir que a leitura é muito leitura. Uma análise psicolinguística da lei-
importante para a formação do leitor, porém tura e do aprender a ler. Porto Alegre: Artes
é necessário criar estratégias para que esta Médicas.
leitura seja prazerosa por parte do educan-
do. Pois se ele ler somente o que é obrigado SOARES, M. (1998) Letramento - Um
para cumprir suas obrigações acadêmicas. tema em três gêneros. Belo Horizonte: Cea-
Ao sair da escola ele irá se tornar um adulto le/Autêntica.
que não lê, e consequentemente a escola irá
falhar em sua missão principal que é formar
cidadãos aptos para exercer a cidadania.
Concluímos então que não existe cida-
dania sem leitura, formar leitores é uma das
tarefas mais difíceis por parte dos educado-
res, porém existem algumas estratégias aqui
expostas, que podem provar que a leitura na
formação de leitores é sim extremamente
importante para a vida toda do indivíduo.

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despotismo iluminado (1750-1807). v. 6, Lis-
boa: Editorial Verbo, 1982.
SMITH, F. (1989) Compreendendo a

443
AS INTERFACES DAS ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ROBERTA YOSHIHARA

RESUMO O EDUCADOR E SEU PAPEL COM AS


ARTES
Este artigo tem como objetivo explo-
rar o tópico das expressões artísticas na fase A qualificação do professor é um fa-
educacional primária e a perspectiva dos tor de suma importância no que diz respeito
profissionais da pedagogia sobre esse as- ao ensino de Arte, mas caso o professor não
sunto, analisando a relevância de assegurar tenha o controle necessário das ações peda-
ambientes propícios para a construção da gógicas e dos conteúdos a serem trabalha-
identidade dos alunos, considerando suas dos em sala de aula, todo o processo pode-
particularidades, ao mesmo tempo que pro- rá ser prejudicado. O professor deve ser um
move e apoia essa construção. Por meio des- permanente investigador do meio ao qual a
te artigo, busca-se examinar a importância criança está inserida, atentando para suas
de um espaço que estimule a inventividade brincadeiras, músicas entoadas, conversas,
e a independência, a interação por meio do na procura de uma ligação das origens e ob-
diálogo, a construção de um grupo que valo- servação destas com o propósito de interme-
rize a diversidade, fortalecendo o indivíduo, diação do crescimento artístico e cultural do
por meio do uso da arte na educação primá- aluno. Conforme Delors (2003):
ria. A descoberta da própria vontade leva o
indivíduo a se reconhecer como um ser ativo, A qualidade de ensino é determinada
capaz de fazer escolhas e passar por trans- tanto ou mais pela formação contínua dos
formações. Ao descobrir o potencial de cres- professores, do que pela sua formação ini-
cimento interno e de ação externa, é confe- cial… A formação contínua não deve desen-
rido um senso de integridade, e, por isso, é rolar-se, necessariamente, apenas no quadro
importante enxergar a arte como uma aliada do sistema educativo: um período de traba-
no desenvolvimento completo e significativo lho ou de estudo no setor econômico pode
do indivíduo. também ser proveitoso para aproximação do
saber e do saber-fazer (DELORS, 2003, p. 160)
Palavras-Chave: Expressões artísticas;
Educação primária; Relevância. Conforme Freire (1996, p. 43) ressal-
ta, o elemento central na formação contínua
dos educadores é a reflexão crítica sobre a
prática. É ao analisar criticamente a prática
INTRODUÇÃO atual ou passada que se torna possível apri-
Eu posso tentar reescrever o texto morar a prática futura.
usando sinônimos e alterando a estrutura É fundamental que os educadores se-
das frases, mas o significado pode mudar um jam primeiramente transformados, buscan-
pouco. Veja como ficou: do adquirir conhecimentos linguísticos nas
A arte possibilita transcender o que é diversas formas de expressão artística, por
dado, compreender os aspectos visuais do meio das linguagens artísticas (música, dan-
mundo de maneira mais reflexiva e situada. ça, teatro e artes visuais), e passando a ado-
A arte pode ser entendida de diversas manei- tar um novo olhar não apenas para nossos
ras conforme cada cultura e concepção de alunos, mas também para o mundo. Contri-
homem. Ao abordar o conteúdo de Artes, o buindo com essa ideia, Picosque e
professor deve propor situações nas quais a Martins (1998, p.131) afirmam:
finalidade seja a arte como saber, fazendo a
intermediação entre a teoria e a prática para Nessa perspectiva, uma aprendiza-
que o aluno possa usar a vivência como ela- gem em Arte só é significativa quando o ob-
boração do conhecimento e ampliar sua leitu- jeto do conhecimento é a própria Arte, levan-
ra e interpretação de mundo. As Artes devem do o aprendiz, a saber, manejar e conhecer
ser reconhecidas por integrarem a cultura de a gramática de cada linguagem que adquire
um povo, a qual viabiliza uma aprendizagem capacidade por meio de diferentes recursos,
relevante, fazendo com que a criança explore técnicos e instrumentos que são peculiares.
palavras por meio da linguagem artística. A
Arte contribui para a criança no seu cresci- O docente de expressão visual ne-
mento completo, diminuindo sua violência e cessita aprofundar sua percepção estética,
ajudando na sua adaptação à sociedade, as- a qual engloba a apreensão e entendimento
sim como na construção de seu saber. A arte dos patrimônios socioculturais e criativos da
aproxima o mundo da realidade da criança, humanidade, unindo a execução e a reflexão,
favorecendo o desenvolvimento de sua inte- o questionamento do que realiza e, saberes
ligência, sua emotividade, habilidades e cria- artísticos, as experiências das linguagens es-
tividade. pecíficas das artes, desenvolvendo uma prá-
tica educacional que aproxime o discente do
conhecimento sociocultural e criativo de sua
própria e de outras culturas vigentes.

444
Segundo Silva (2011, p. 69): Apreciação estética – percepção, aná-
A docência, portanto, é uma ativida- lise e reflexão sobre as imagens de arte e o
de complexa porque a realidade na qual o universo visual que elas oferecem;
professor atua é dinâmica, conflituosa, im- Produção artístico-cultural – observa-
previsível e apresenta problemas singulares ção e compreensão de elementos que com-
que, portanto, exigem soluções particulares. põem as imagens e articulação com valores
Exige mobilizações de saberes para o cum- sociais e culturais dos contextos históricos
primento do objetivo de educar que é: o de- locais e universais.
senvolvimento das diferentes capacidades
– cognitivas, afetivas, físicas, éticas, estéticas, Fazer artístico – produção de traba-
de inserção social e de relação interpessoal lhos de arte explorando materiais, elementos
– dos educandos, que se efetiva pela constru- da linguagem visual e corporal e o potencial
ção de conhecimentos. criativo do aluno.
O ambiente escolar deve ser um lugar Consequentemente, as práticas artís-
onde se busca sempre a qualidade na edu- ticas devem promover o fomento de empre-
cação através de situações em que as artes endimentos conectados às distintas esferas
possam fazer parte para ajudar na formação do saber.
de saberes de forma eficiente e envolvente. A produção criativa precisa englobar
Através da Arte, a criança participa, ainda que fundamentos conceituais e metodologias
de forma simbólica, das diversas experiên- elaboradas, possibilitando ao estudante ad-
cias humanas, recriando emoções, conheci- quirir saberes teóricos e aplicados em rela-
mentos, significados e comportamentos, po- ção à expressão artística.
dendo, assim, se preparar para a vida e seus
vários obstáculos, sem ter vivido diretamente Canclini (1984) postula que a Arte:
as situações em si. A criança é moldada pe-
las convivências familiares, bem como pelos É uma atividade de expressão que
princípios morais que lhe são transmitidos. evoca o criativo e engloba todas aquelas ati-
Sua conduta é diretamente afetada pelo que vidades ou aqueles aspectos de atividade de
observa em casa e pelo que é instruída como uma cultura em que se trabalha o sensível e
valores éticos e morais. o imaginário, com premissa em alcançar o
prazer e desenvolver a identidade simbólica
O aluno deve ser preparado para, a de um povo uma classe social, em função de
partir das manifestações orais, escritas, sono- uma práxis transformadora. (CANDINI, 1984,
ras e visuais ser capaz de organizar a suces- p. 207-209).
são de episódios e marrá-los de uma forma
lógica. O momento em que ele está narrando As Artes favorecem o desenvolvimen-
algo sobre o que vê ele será capaz de des- to físico, da comunicação, da observação, da
crever cenários, reinventar histórias, recriar, expressão da memória, da harmonia emo-
mas ao mesmo tempo solucionar problemas, cional, da assimilação de símbolos sociais e
dúvidas, sentimentos da sua vida cotidiana das mudanças importantes na consciência
(MARTINS, 2011). da criança. O ensino estimulado pela Arte
torna-se relevante, permitindo a expansão
Os benefícios didáticos da linguagem do conhecimento e da convivência.
artística são procedimentos fundamentais,
promovendo uma aprendizagem significati- A Arte é vista como uma atividade que
va. provoca o prazer, exercendo a força criativa
do imaginário humano construindo um mun-
do do qual o autor ocupa o lugar principal,
por meio de simbologias inéditas inspiradas
A ARTE E SEU PAPEL NA EDUCAÇÃO no universo de quem se diverte e, é nessa ati-
Os jogos e as brincadeiras que podem vidade que a criança se desenvolve como ser
estar interligadas às Artes, são ferramentas inventivo.
lúdicas que auxiliam no processo de desen- A participação das artes no crescimen-
volvimento da aprendizagem e da constru- to da criança é essencial para a sua educação.
ção da identidade assim como o interesse Torna as aulas mais animadas, interativas e
por novos conhecimentos de forma dinâmica interessantes, possibilitando à criança a am-
e prazerosa. pliação de saberes e facilitando o processo
As Artes levam as crianças a contraí- de ensino aprendizagem. Ao realizar a Arte
rem diversas experiências, propiciando a in- a criança desenvolve a habilidade de simboli-
teração com o outro, organizando seu pen- zar, de expressar. Por meio dessa habilidade
samento, tomando decisões, ampliando o de simbolização e de expressão a criança se
pensamento abstrato e procurando manei- apropria do mundo em que vive, entende-o
ras diversificadas de produzir conhecimen- e interage com ele. Uma escola que se pre-
tos. ocupa em oferecer ao aluno um ambiente
saudável, agindo de acordo com os princípios
Para Albers (2012, p. 32), o ensino de morais que o cercam se torna um recurso de
Artes deve abranger três aspectos funda- ensino e difusão de cultura e conhecimento,
mentais: construindo indivíduos em sua integralidade,

445
consciente de sua liberdade, integrados com impressões, livre para criar e recriar, numa
questões que o cercam e preocupado com conversa fluída entre razão e emoção. Tudo
sua responsabilidade social. De acordo com está repleto de sentido. O adulto pode ser um
Oliveira (2007): núcleo organizador externo que ajuda nesse
A todo o momento nos pedem rótulos, processo de percepção e consciência des-
e esses precisam ser definidores, identitários: se equilíbrio, durante seu desenvolvimento.
“arte-educadora “tem um peso mais político Fayga destaca a relevância desse dispositivo
e militante, e também mais teórico; “profes- auto organizador ao afirmar:
sora de Educação Artística‟ ou “professora Ao indivíduo criativo torna-se possível
Artística‟ é a professora moldada ainda em dar forma aos fenômenos, porque ele parte
contornos expressionista e espontaneístas; de uma coerência interior que absorve os
“professora de Arte‟ parece mais contem- múltiplos aspectos da realidade externa e in-
porâneo e atualizado, pode fazer pensar em terna, os contém e os compreende ‟coeren-
mais pesquisa e estudo. No final das contas, temente, e os ordena em novas realidades
talvez sejamos um pouco de cada uma delas, significativas para o indivíduo. (FAYGA, 1977
ao mesmo tempo. (OLIVEIRA, 2007, p.238) p.132)
No ambiente escolar, a criança tem A autodescoberta desperta no indi-
contato com um ambiente intrínseco à Ex- víduo a consciência de sua própria vontade,
pressão Artística, levando à concepção de levando-o a reconhecer-se como um ser vivo,
que diferentes conteúdos são mais facilmen- capaz de tomar decisões e promover mu-
te assimilados por meio da linguagem artís- danças. Revelar o potencial de crescimento
tica. interno e ação externa confere um senso de
integridade. No entanto, é necessário nutrir
e fortalecer cada pequena conquista para
AS EXPRESSÕES CRIATIVAS NA PRIMEI- solidificar esse potencial e utilizá-lo de forma
RA ETAPA DA FORMAÇÃO EDUCACIONAL abrangente.
O Cosmos e todos os seus componen- O domínio artístico proporciona uma
tes são regidos por uma estrutura dinâmi- arena para a experimentação e a atribuição
ca. Essa ordem permeia tudo, inclusive nos de significado. É possível criar e recriar. Pode-
sistemas mais elementares estudados pelos mos contemplar os períA descoberta da pró-
cientistas: "Há uma possibilidade de um tipo pria vontade leva o indivíduo a reconhecer-se
extraordinário de desordem estar escondida como um ser vivo com capacidade de esco-
atrás de uma fachada aparente de ordem - lha e transformação. Revelar o potencial de
e, no entanto, nas profundezas dessa desor- crescimento interno e ação externa promove
dem, está oculta uma forma ainda mais ex- uma sensação de integridade. No entanto, é
traordinária de ordem" (Douglas Hofstadter necessário cultivar e fortalecer cada peque-
citado por GLEICK). na conquista para consolidar esse potencial
e utilizá-lo de forma mais ampla.
Ao se engajar em práticas criativas, a
criança se descobre e compreende o mun- O espaço da expressão artística per-
do ao seu redor, sendo responsabilidade do mite a experimentação e a atribuição de sig-
ambiente proporcionar condições propícias nificado. É possível criar e recriar. Podemos
para essa criança. considerar o tempo. O tempo que o olhar
percorre e leva para compreender e identi-
De acordo com o Referencial Curricu- ficar cada espaço, o material e a si mesmo.
lar Nacional para a Educação Infantil: O tempo da descoberta e das relações, do
É aconselhável que os locais de tra- estranhamento e da ressignificação. Experi-
balho, de uma maneira em geral, acomo- mentar escolhas, acompanhar e apropriar-se
dem confortavelmente as crianças, dando o de suas trajetórias.
máximo de autonomia para o acesso e uso Conforme Krechevsky (2001):
dos materiais. Espaços apertados inibem a
expressão artística, enquanto os espaços su- Algumas crianças serão mais hábeis
ficientemente amplos favorecem a liberdade com canetas, outras com tintas, e outras
de expressão. (BRASIL, 1998, p.110) terão mais facilidade, usando argila do que
arame. Algumas preferirão materiais como
Ao explorarem as Artes com diver- as tintas, a meios mais controlados e preci-
sos recursos à disposição, os alunos ativam sos como as canetas. Ao expor as crianças a
sua imaginação, assim eles empregam seu diferentes meios e ao se tornarem sensível
sonho e encontram diferentes formas de in- aos aspectos que distinguem os trabalhos ar-
ventar novos modos. Quando se diverte ou tísticos de seus alunos, o professor terá um
faz desenhos, a criança está constantemente quadro mais completo de cada criança. (KRE-
arrumando sua realidade. Estruturando sua CHEVSKY, 2001, p.146)
rotina. Além de estruturar, ela pode vivenciar
de forma inédita, modificar a realidade, expe- A arte ou esse espaço de expressão
rimentar-se em outras identidades. Produz livre orientada porque tem um objetivo,
uma realidade nova e se transforma. Na prá- acende a consciência para esse núcleo orga-
tica das artes a criança conhece o mundo e nizador interno. “O eu e a vontade estão es-
se situa nele. Avança com confiança em suas treitamente conectados” (ASSAGIOLI, 2005).

446
Também é importante lembrar que artes é teram seu modo de representação também
uma visão. Não estou dizendo que a arte em se modifica. Conforme Oliveira (2007):
suas diversas facetas, é o remédio que pode-
rá mudar a situação social que vivemos hoje. Trabalhar a habilidade de descrição
Isso seria um contrassenso, pois como bem significa estimular a própria natureza da
afirma Fayga: criança da educação infantil que, ao olhar
uma imagem, é capaz de prazerosamente
As potencialidades e os processos descreve-las com detalhes, pois antes da lei-
criativos não se restringem, porém, à arte... [ tura das letras, as crianças desenvolvem na-
] O criar só pode ser visto num sentido global, turalmente e significativamente uma leitura
como um agir integrado em um viver huma- da imagem...Quanto a habilidade de anali-
no. De fato, criar e viver se interligam. (FAIGA, sar, queremos chamar a atenção de analisar,
1977 p. 7) queremos chamar a atenção para a impor-
Cada indivíduo é singular, cada co- tância do desenvolvimento da capacidade
munidade possui uma forma distinta de fun- de analisar o discurso visual (um discurso
cionar, e cada realidade é única. É essencial sintético por natureza), pois ela que permite
estarmos abertos para compreender as di- ao leitor perceber como a imagem diz aquilo
versas realidades em sua totalidade e reco- que diz. Já a interpretação é produto das rela-
nhecer que a teia da vida é construída a par- ções entre o que foi analisado, somando-se a
tir dessa tapeçaria de diversidade. isso informações históricas sincrônicas e dia-
crônicas ligadas à imagem lida e a produção
É crucial estar atento à faixa etária e do artista estudado. (OLIVEIRA, 2007, p.256-
ao nível de desenvolvimento das crianças 257.)
quando se trata do ensino das artes, pois Na primeira etapa da formação edu-
cada aluno trilha um caminho de criação e cacional, há uma ampla gama de oportunida-
evolução individual, moldado por suas expe- des para apresentar propostas que estimu-
riências pessoais. O educador desempenha lem o progresso das crianças. No entanto,
um papel fundamental nesse momento, pois ainda existem instituições escolares que em-
cabe a ele enriquecer essa jornada, estimu- pregam recursos visuais pré-definidos como
lando atividades criativas e educacionais que base. Além disso, as crianças são instruídas a
despertem o pensamento crítico e promo- seguir rigidamente os contornos e a utilizar
vam o desenvolvimento cognitivo, adaptadas cores específicas, o que significa que alguns
a cada estágio de desenvolvimento. professores não estão permitindo a explora-
Conforme os Referenciais Nacionais ção da expressão individual da criança.
para a Educação Infantil:
A presença das Artes Visuais na edu- CONSIDERAÇÕES FINAIS
cação infantil, ao longo da história, tem de-
monstrado um descompasso entre os cami- A arte possibilita o saber e o cresci-
nhos apontados pela produção teórica e a mento de muitas habilidades na criança.
prática pedagógica existente. Em muitas pro- Uma delas é o crescimento da criatividade,
postas as práticas de Artes Visuais são enten- pois quando vemos ou escutamos podemos
didas apenas como meros passatempos em ordenar internamente muitas competências
que atividades de desenhar, colar, pintar e para que possamos inventar. Mostrar o po-
modelar com argila ou massinha são destitu- tencial criativo para o crescimento como pes-
ídas de significados (RCNEI, 1998, p. 87) soa, aumentar a capacidade de avaliar e agir,
Observa-se que as Artes têm con- ter responsabilidade, tolerância, consciência
quistado mais lugar na escola, integrando o dos valores são alguns dos outros propósitos
Currículo escolar, no qual os professores não da disciplina de Artes.
tratam mais as Artes como uma simples dis- Quando o aluno colabora na constru-
tração, mas sim como uma disciplina que au- ção do conhecimento, sendo um processo
xilia o processo de ensino e aprendizagem de contínuo no qual aprender é sempre uma
maneira agradável e relevante, cooperando descoberta que pode ser incorporada ao seu
para a formação completa do indivíduo. Se- ser, as Artes podem auxiliar a desenvolver e
gundo Ana Mae Barbosa (1999): a manifestar suas opções.
A leitura de imagens na escola prepa- O ensino das Artes na pedagogia am-
raria os alunos para a compreensão da gra- plia o mundo expressivo, cognitivo e percep-
mática visual de qualquer imagem, artística tivo do aluno e as análises de imagem nesse
ou não, na aula de artes, ou no cotidiano, e processo ampliam a habilidade de observar,
que torná-los conscientes da produção hu- julgar e interpretar uma imagem dentro de
mana de alta qualidade é uma forma de pre- seu contexto histórico, social, político e cul-
pará-los para compreender e avaliar todo o tural. As Artes têm como intenção oferecer
tipo de imagem, conscientizando-os do que possibilidades na vida do ser humano, e deve
estão aprendendo com estas imagens. (BAR- ser entendido como forma de construção do
BOSA, 1999, p. 14) conhecimento, de entendimento do mundo e
A arte infantil segue alguns estágios exteriorização de sentimentos.
de evolução, isto é, conforme as crianças al- O objetivo do ensino de Arte na Educa-

447
ção Infantil, não é o de ensinar uma técnica _______. Ministério da Educação. Secre-
específica, mas sim de estimular na criança o taria de Educação Básica. Parâmetros curri-
prazer pela Arte e a habilidade para compre- culares Nacionais-Arte. Brasília: MEC, 2001.
ender a linguagem artística e expressar-se
por meio dela, além de possibilitar o acesso _______. Ministério da Educação e do
do educando ao patrimônio artístico que a Desporto. Secretaria de educação funda-
humanidade vem produzindo. mental. Referencial curricular nacional para a
educação infantil – Conhecimento de Mundo.
Uma escola que se importa em prover Brasília, MEC/SEF. 1998.
ao aluno um ambiente saudável, atuando de
acordo com os princípios morais que o cer- COLL, C. [et al.]. Desenvolvimento psi-
cam se torna um instrumento de ensino e di- cológico e educação. Porto Alegre: Artes Mé-
fusão de cultura e conhecimento, formando dicas, 1996.
indivíduos em sua totalidade, consciente de DELORS, J. Educação: um tesouro a
sua liberdade, integrados com questões que descobrir. 8. ed. - São Paulo: Cortez; Brasília,
o cercam e preocupado com sua responsabi- DF: MEC: UNESCO, 2003.
lidade social.
DONDIS, D. A. Sintaxe da Linguagem
O ser humano vai se modificando no Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
decorrer de sua vida, a sua percepção do
meio vai se aperfeiçoando-se, mas quando DORNELLES, Leni Vieira. Na Escola In-
ela mostra uma resistência em superar essa fantil todo mundo brinca se você brinca.
fase ela revela uma falta de maturação inte-
lectual, ao se afastar da idade cronológica. In______: CRAIDY, Carmem; KAERCHER,
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Finaliza-se que a Arte deve ser en-
tendida como forma de construção do co- Pra que te quero?. Porto Alegre: Art-
nhecimento, de compreensão do mundo e med, 2001.
exteriorização de sentimentos, sendo impor- FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. & FU-
tante para vivenciarem suas experiências, se SARI, Maria F. de Rezende e. Metodologia do
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449
A INFLUÊNCIA DO MIGRANTE NORDESTINO NO MUNICÍPIO DE ITAQUAQUECETUBA
RODRIGO DA SILVA ALEIXO

RESUMO INTRODUÇÃO
A Migração interna ocorre quando a Diariamente milhares de pessoas
população se desloca no interior de um país. vindas de todas as regiões do Brasil desem-
Esses fluxos migratórios são decorrentes de barcam no Terminal Rodoviário do Tietê. Al-
vários fatores que acontecem dentro des- guns com destino certo, outras nem sempre.
te próprio território, como por exemplo: as Dentre estas milhares de pessoas estão os
transformações econômicas que podem au- nordestinos que deixam seus estados, nor-
mentar ou diminuir a oferta de mão de obra malmente em busca de melhores condições
em uma determinada região. de vida. Para muitos, São Paulo ainda é um
Estado de facilidades, muitas destas pessoas
No Brasil, entre as décadas de 1930 que aqui chegam trazem na bagagem apenas
e 1950, ocorreu o que se pode chamar de o sonho de uma vida melhor. A aventura de
abandono do campo ou êxodo rural, onde as deixar para trás sua terra natal, suas raízes,
populações de várias regiões do país aban- seus costumes, seu povo, faz com que essas
donaram seus estados de origem deslocan- pessoas quando saem do seu lugar de ori-
do-se principalmente para São Paulo e Rio de gem procurem um outro lugar que, se não
Janeiro, dentre esta população destacamos igual, mas que pelo menos tenham carac-
o migrante nordestino que, neste período se terísticas assemelhadas às de onde saíram.
deslocou em massa principalmente para São Isso faz com que determinados locais, bair-
Paulo em busca de melhores condições de ros, vilas, cidades, acabem por se tornarem
vida, devido a sua baixa condição financeira redutos migratório de algumas etnias e, en-
foi se instalando nas periferias, mais afasta- tão, para aquele migrante, este local torna-se
dos da Capital, tornando ou transformando um pedacinho de tudo aquilo que ele deixou
esses lugares em verdadeiros redutos e, o para trás em busca de uma vida melhor.
município de Itaquaquecetuba, ao qual vere-
mos neste artigo: As Influências do Migrante Segundo (SANTOS, 1995:46) “os fluxos
Nordestino no Município de Itaquaquecetu- migratórios são definidos de acordo com a
ba. reorganização das atividades econômicas
pelo espaço geográfico. Portanto, os movi-
Palavras chaves: Migração; nordesti- mentos populacionais constituem-se no re-
nos; fatores socioeconômicos; espaço da po- arranjo espacial da população, que se adapta
breza; exclusão urbana. às transformações econômicas. É necessá-
rio, então, para entender os deslocamentos
populacionais, verificar qual é o significado
SUMMARY e a direção dessas transformações: porque
The internal Migration occurs when ocorrem, onde ocorrem e como ocorrem”.
the population if dislocates in the interior
of a country. These migratory flows are de-
current of some factors that happen inside Pequena abordagem sobre a história
of this proper territory, as for example: the de Itaquaquecetuba
economic transformations that can increase Itaquaquecetuba de acordo com a eti-
or diminish offer of hand of workmanship in mologia mais aceita quer dizer Abundância
one determined region. In Brazil, it enters the de Taquaras que cortam como faca, situa-
decades of 1930 and 1950, occurred what if it -se nas margens do Rio Tietê. Durante muito
can call abandonment of the field or agricul- tempo a aldeia foi conhecida também pelo
tural exodus, where the populations of some nome de Capela devido ao fato de nela exis-
regions of the country had abandoned its sta- tir a capela Nossa senhora D’Ajuda, a única
tes of origin mainly dislocating itself for São da região, entre a Penha e Mogi das Cruzes.
Paulo and Rio De Janeiro, amongst this popu- Com a criação do município de Mogi das Cru-
lation we more detach the migrante northe- zes, Itaquaquecetuba passou a pertencer a
astern that, in this period if dislocated mainly Mogi por provisão de 18/08/1611.
in mass for São Paulo in search of better con-
ditions of life, had its low financial condition O território do município tem 83 Km²
was if installing in the peripheries, moved situa-se na região da grande São Paulo, con-
away from the Capital, becoming or trans- frontando-se ao norte com Arujá e Guaru-
forming these places into true redoubts and, lhos, de onde distando 08 km, ao Sul de Poá e
the city of Itaquaquecetuba, which we will see Ferraz de Vasconcelos, numa distância de 06
in this article: The Influences of the Migrante km, a Leste com Suzano e Mogi das Cruzes,
Northeastern in the City of Itaquaquecetuba. distando 11 km e a oeste com São Paulo, cuja
distância marco zero é de 33 km. Suas coor-
Work skeys: Partner-economic migra- denadas geográficas são 23º e 30’ de altitude
tion; northeasterns; factors; space of the po- sul, 46° e22’ longitude W.GR. A altitude é de
verty; urban exclusion. 470, 55 m.

450
Segundo o último Censo Demográfico (estrutura de São Paulo em relação à empre-
a população de Itaquaquecetuba é de aproxi- gos) levariam uma estrutura social bimodal,
madamente 350.000 (trezentos e cinquenta caracterizado por uma mistura de empregos
mil habitantes), e que votam neste distrito com remuneração alta e bem qualificados, ao
aproximadamente 140.000 (cento e quarenta lado de empregos muito mal remunerados e
mil habitantes), com uma população aproxi- de baixa qualificação”, a maior parte destes
madamente de 86% de nordestinos. empregos de baixa qualificação e muito mal
A economia da cidade desde seu iní- remunerados estão ocupados por boa parte
cio, anos anteriores, era extremamente rural. da população de Itaquaquecetuba devido ao
Após a década de 1970, se inicia um proces- fato de sua pouca escolaridade. A periferia
so de urbanização com o surgimento do co- de Itaquaquecetuba abriga o excedente de-
mércio e indústrias. Em Itaquaquecetuba até mográfico que se distanciou do centro e se
o final do ano de 2001 havia, aproximada- excluiu, afastaram-se dos meios facilitadores
mente, 4.509 estabelecimentos comerciais, para seu desenvolvimento “pleno, enquanto
535 indústrias e 3.319 prestadores de servi- coisificado”, que é determinado pela necessi-
ços. O desenvolvimento industrial da cidade dade de adquirir tudo aquilo que o mercado
teve grande incentivo depois da inauguração oferece. Esta distância também dificulta e se
da Rodovia dos Trabalhadores (atual Ayrton evidencia quanto à forma de deslocamento
Senna) que liga o município de São Paulo a dos moradores para seus locais de trabalho,
Mogi das Cruzes. hoje este problema reduziu com a presença
dos meios de transportes coletivos disponí-
veis para a população como os trens metro-
politanos e ônibus intermunicipais.
A Influência da Questão socioeconô-
mica na região A região de Itaquaquecetuba em rela-
ção à São Paulo possui muitas desigualdades
A Migração interna no Brasil que se in- sociais nele contidas no seu processo de ocu-
tensificou a partir da década de 1930, tendo pação do solo urbano dando ao município
como característica principal o abandono do um certo ar de heterogeneidade visto na for-
campo e a busca de melhores condições de ma como MONTALI (1990: 430) se expressa
vida trouxe para as grandes metrópoles, prin- sobre a região metropolitana de São Paulo
cipalmente São Paulo, uma grande quantida- “a região Metropolitana de São Paulo tem na
de de pessoas proveniente de várias regiões heterogeneidade de seu espaço uma das ca-
do país. “ Ao contrário das demais regiões, racterísticas mais marcantes. A raiz dessa he-
São Paulo contou com elementos fundamen- terogeneidade está associada sob as regras
tais para a sua expansão diversificada e con- capitalistas de produção e apropriação, deli-
centradora: avançadas relações capitalistas neando as desigualdades sociais nele conti-
de produção, amplo mercado interno e, des- das”.
de cedo, uma avançada agricultura mercantil,
mesmo se excluído do café. Daí decorreu-se Outro aspecto não menos importante,
o processo de concentração industrial, já an- e que deve ser observado com muita clare-
tes de 30, sua estrutura industrial era a mais za, é a questão habitacional. Além dos aspec-
avançada do país (...) estabelecendo-se des- tos sociais, culturais, o habitacional também
de cedo, uma relação de forte predominân- criou sua própria característica, casas simples
cia do complexo econômico paulista sobre as e humildes, normalmente dividindo espaço
demais regiões do país.” (CANO, 1977:15). com outras casas em um mesmo terreno, é
uma marca registrada do povo nordestino na
Para relatar, entender e considerar região de Itaquaquecetuba.
todos os fatores sociais e econômicos que
aconteceram nesta região existe uma so- Conforme cita LANGENBUCH (1971:
matória de considerações a serem aborda- 136) “A suburbanização residencial foi propi-
das, tais como, RIBEIRO (2000) “o sistema de ciada em grande parte, pelo modo como se
hierarquização social das ocupações”, que desenvolvia a cidade”. São Paulo, no auge do
exemplifica o modo como se estruturou a ci- seu crescimento fez com que os migrantes
dade de São Paulo, dando às suas margens que aqui chegaram, se deslocassem para es-
ou periferia a ocupação da população me- sas áreas mais distantes da cidade. Continu-
nos favorecida financeiramente e com muito ando em sua citação LANGENBUCH diz “es-
pouco estudo. peculação exagerada expulsando, por assim
dizer, uma parcela funcionalmente urbana
São Paulo no decorrer do século XX para fora da cidade e industrialização jun-
sofreu grandes transformações estruturais, to as ferrovias tornando vantajosa a fixação
econômicas e sociais com todo este processo residencial de operários junto às estações
migratório que se intercalou durante esses externas à cidade”. O município de Itaqua-
anos, e dentre estes fatores estão enqua- quecetuba surge diante desta especulação
drados a forma como se dividiu a população exagerada onde o migrante na procura por
(a hipótese do Global City) em torno do seu locais acessíveis para se estabelecerem, de-
centro urbano, (Mollenkoff e Castells, 1991) sencadeando a múltipla moradia estabeleci-
“indica que as transformações do papel das da em uma única área particular de moradia.
cidades no mundo atual, onde se muda a
atividade econômica industrial para serviços

451
As Influências Culturais da Região
As influências nordestinas citadas
neste artigo estão presentes ou inseridas
na população de Itaquaquecetuba também
culturalmente, pois através de suas culturas
longínquas são criados dentro do município
aspectos que caracterizam e comprovam tais
fatos, como: As influências musicais, hábitos
alimentares, vestuários, restaurantes típicos
como O Sertanejo, Rancho da Pamonha, ba-
res e botecos como o Bar do Peixe e Casas do
Norte. Até mesmo em suas aparências físicas
lembram e configuram traços diferentes do
paulistano. A forma como alegremente se
comunica e se expressa se contrasta com o
sangue quente que corre em suas veias de-
monstrados nas pequenas ocorrências con-
flitantes entre seus moradores. Dentre todos
estes aspectos o que mais nos chama a aten-
ção é a forma com que nos contagiamos ou CONCLUSÃO
nos adaptamos à suas culturas.
Este artigo teve como objetivo prin-
O mapa a seguir mostra as caracterís- cipal demonstrar alguns aspectos que in-
ticas dos agrupamentos sociais municipais fluenciam de um modo geral a população de
da região Leste, e observando atentamente Itaquaquecetuba. Esta cidade que embora
o mapa e sua escala representativa de 1 a 10 pareça antiga com seus mais de 400 anos, foi
é possível percebemos, o quanto Itaquaque- no final do século XIX, adentrando o século
cetuba se encontra marginalizado, esquecido XX, que ocorreu seu povoamento efetivo. Po-
e desprovido de qualquer tipo de infraestru- voamento este caracterizado pela incorpora-
tura, crescendo de maneira rápida e desor- ção em seu território de uma grande massa
denada, com a maior parte de sua população de migrantes nordestinos que, segundo da-
muito pobre e de pouca escolaridade: dos do site do próprio Município gera em tor-
no de 85% da população.
Como não poderia ser diferente esta
grande demandada se deu pelo fato de não
conseguirem em seus lugares de origem con-
dições necessárias para se estabelecerem
economicamente.
A princípio este povo veio para São
Paulo (Capital) em busca de empregos. O
auge da produção do café, e também do se-
tor industrial, tecnológico e comercial foi em
grande escala os lugares de maior ocupa-
ção por eles. E graças a estes nordestinos, a
economia paulista cresceu, e se tornou uma
das mais importantes cidades do mundo. Só
que nem tudo é flores, a cidade começava a
inchar-se não comportando mais toda esta
classe operária, começava-se então um inten-
so fluxo destes migrantes à destinar-se para
as áreas periféricas da Capital, e como tal, Ita-
quaquecetuba foi uma destas que abarcou
uma grande quantidade destes nordestinos.
Parte desta grande população que mais uma
vez migrava, agora do Centro para a Perife-
ria, são pessoas que não tinham recursos fi-
nanceiros para se estabelecerem na Capital
e nem tão pouco boa instrução educacional,
levando a cidade a ser uma das mais pobres
do Estado de São Paulo, estabelecendo-se
assim uma grande desigualdade social frente
às demais cidades do Município.
A cidade embora poderia ser conside-
rada por muitos desprovida de algumas as-
sistências e necessidades básicas fornecidas
pelo poder público, vem aos poucos se re-
cuperando economicamente e socialmente.

452
Ela também é o que podemos chamar de um
cantinho do Nordeste, pelos costumes, hábi-
tos e culturas presentes em sua população,
pessoas que com o suor de seus rostos pro-
porcionaram a cidade de São Paulo um lugar
de muita importância no cenário mundial. E
por tudo quanto vimos em sua simpatia, ca-
risma, dedicação e força de trabalho dentre
em breve, poderemos alcançar sim, o Status
de uma grande e importante cidade.

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453
O DIREITO EDUCACIONAL NO BRASIL
ROGÉRIO GONÇALVES LOPES

RESUMO 1. INTRODUÇÃO
O direito educacional no Brasil refe- Direito educacional é um ramo do di-
re-se ao conjunto de normas, leis e políticas reito que trata das questões relacionadas ao
que regem o sistema educacional do país. Ele direito à educação. Envolve uma série de nor-
estabelece os direitos e deveres de alunos, mas e princípios legais que garantem a todos
professores, gestores e demais agentes en- o acesso à educação de qualidade, equidade
volvidos na educação. e inclusiva.
Um dos principais marcos legais do di- O direito educacional abrange tanto a
reito educacional no Brasil é a Constituição legislação nacional quanto as normas inter-
Federal de 1988, que estabelece a educação nacionais relacionadas à educação. No Brasil,
como um direito de todos e um dever do Es- por exemplo, a Constituição Federal de 1988,
tado. Ela assegura o acesso à educação de em seu artigo 205, estabelece que a educa-
qualidade, a igualdade de oportunidades, a ção é um direito de todos e um dever do Es-
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e tado, com a colaboração da sociedade, visan-
divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o do ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
saber. preparo para o exercício da cidadania e sua
Além disso, o direito educacional no qualificação para o trabalho.
Brasil conta com leis complementares como Além da Constituição, existem outras
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- leis específicas, como a Lei de Diretrizes e
cional (LDB), de 1996, que estabelece as ba- Bases da Educação Nacional (LDB), que es-
ses e diretrizes para a educação brasileira, tabelece as diretrizes para a organização e o
determinando a estrutura e organização do funcionamento do sistema educacional bra-
sistema de ensino. sileiro. Também existem legislações estadu-
Outro aspecto relevante do direito ais e municipais que complementam as nor-
educacional no Brasil é a garantia de inclusão mas gerais.
e equidade, com medidas que visam comba- O direito educacional também abran-
ter a discriminação e as desigualdades no ge questões como a inclusão de pessoas com
acesso à educação. É dever do Estado promo- deficiência, o acesso à educação infantil, bá-
ver a igualdade de condições para o acesso e sica e superior, a garantia de recursos e es-
permanência na escola, assegurando trutura adequados às instituições de ensino,
adaptações curriculares, atendimento edu- a proteção dos direitos dos estudantes e dos
cacional especializado e outros recursos ne- profissionais da educação, entre outros.
cessários para a inclusão de pessoas com de- A área do direito educacional também
ficiência, por exemplo. pode abranger casos de violação do direito à
O financiamento da educação também educação, como evasão escolar, falta de va-
é abordado no direito educacional, determi- gas, discriminação e exclusão social, e atuar
nando que o Estado deve garantir recursos na defesa dos interesses dos estudantes e da
públicos necessários para a oferta de uma qualidade do ensino.
educação de qualidade. Nesse sentido, estão Em suma, o direito educacional tem
previstos os recursos do Fundo de Manuten- como objetivo garantir a todos o acesso à
ção e Desenvolvimento da Educação Básica educação de qualidade, respeitando os di-
(FUNDEB), que busca promover a redistribui- reitos individuais e coletivos, promovendo a
ção de recursos para assegurar a equidade igualdade de oportunidades e contribuindo
na oferta educacional. para o desenvolvimento humano e social.
Em suma, o direito educacional no “A educação é um direito de todos,
Brasil busca garantir o acesso, a qualidade e com abrangência universal.
a equidade no sistema educacional, estabele-
cendo direitos e responsabilidades de todos Segundo a Declaração Universal dos
os envolvidos nesse processo. O cumprimen- Direitos Humanos em seu 26º artigo, a edu-
to dessas normas é fundamental para a pro- cação primária é obrigatoriamente gratuita
moção da educação como um direito huma- para todos, independentemente da idade, a
no fundamental e para o desenvolvimento pessoa pode ter acesso à educação e à alfa-
social e econômico do país. betização.”
PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO; EQUI- José Afonso da Sil-
DADE; INCLUSIVA; QUALIDADE. va, (2016 p. 121), “afirma que a democracia se
realiza através da garantia de uma sociedade
caracterizada pela realização de valores da

454
igualdade, liberdade e dignidade da pessoa O direito educacional visa promover a
humana.” igualdade de oportunidades na educação e
combater a discriminação, buscando o ple-
2. DESENVOLVIMENTO no desenvolvimento das potencialidades de
A educação inclusiva é um modelo cada indivíduo.
educacional que busca garantir o acesso e Adotada e proclamada pela Assem-
a participação de todos os estudantes, seja bleia Geral das Nações Unidas (resolução 217
qual for a sua condição física, intelectual, so- A III) em 10 de dezembro 1948.
cial, emocional ou cultural. É um conceito ba-
seado no respeito à diversidade, que busca Todo ser humano tem direito à instru-
eliminar as barreiras que impedem o pleno ção. ...
desenvolvimento e inclusão de todos os alu-
nos no sistema educacional. A instrução será orientada no sentido
do pleno desenvolvimento da personalidade
Nesse contexto, a educação inclusiva humana e do fortalecimento do respeito pe-
visa promover um ambiente escolar que aco- los direitos do ser humano e pelas liberdades
lha e valorize as diferenças individuais, ofe- fundamentais. ...
recendo recursos e estratégias pedagógicas
adequadas para atender às necessidades de Os pais têm prioridade de direito na
cada aluno. Isso envolve a adaptação de prá- escolha do gênero de instrução que será mi-
ticas, currículos e recursos educacionais de nistrada a seus filhos.
forma a garantir que todos os estudantes te- A relação entre ética, cidadania e edu-
nham igualdade de oportunidades de apren- cação inclusiva é crucial para a construção
dizado e desenvolvimento. de uma sociedade justa e igualitária. A ética
A educação inclusiva vai além da inte- trata de princípios e valores que orientam o
gração dos alunos com deficiência no ensino comportamento humano, levando em consi-
regular, contemplando também questões de deração questões como respeito, solidarie-
gênero, raça, etnia, classe social, orientação dade, equidade e justiça.
sexual e outras formas de diversidade. O ob- Ao promover a educação inclusiva,
jetivo é criar um ambiente de aprendizagem que visa garantir o acesso e a participação de
que estimule a convivência respeitosa, o diá- todos os estudantes, independente de suas
logo intercultural e a promoção da igualdade características individuais, a escola contri-
de direitos para todos os estudantes. bui para a formação de cidadãos éticos. Isso
Sim, o direito educacional abrange to- porque a inclusão possibilita o convívio e o
das essas questões. Ele se refere ao conjunto aprendizado com a diversidade, fortalecen-
de normas, princípios e políticas que garan- do valores como a valorização da diferença,
tem o direito à educação de qualidade para a empatia e a atenção às necessidades dos
todos os indivíduos, independentemente de outros.
suas características, habilidades ou condi- A educação inclusiva também desafia
ções. Isso inclui a inclusão de pessoas com de- a discriminação e o preconceito, ao reconhe-
ficiência, garantindo que elas tenham acesso cer e valorizar a dignidade de todos os seres
a uma educação inclusiva e de qualidade, e humanos. Dessa forma, ao proporcionar um
abrange o acesso à educação infantil, básica ambiente inclusivo, a escola estimula a capa-
e superior, assegurando que todas as pesso- cidade de se colocar no lugar do outro, de re-
as tenham oportunidades de aprendizado ao conhecer diferentes formas de ser e de lidar
longo de sua vida. O direito educacional visa com a diversidade de maneira ética.
promover a igualdade de oportunidades na
educação e combater a discriminação, bus- Além disso, a educação inclusiva pro-
cando o pleno desenvolvimento das poten- move a participação ativa de todos os estu-
cialidades de cada indivíduo. dantes nas atividades escolares, incentivando
o exercício da cidadania. Através de práticas
O direito educacional abrange todas de inclusão, os alunos têm a oportunidade de
essas questões. Ele se refere ao conjunto de exercitar a responsabilidade e a cooperação,
normas, princípios e políticas que garantem desenvolvendo habilidades de colaboração,
o direito à educação de qualidade para todos diálogo e resolução de conflitos.
os indivíduos, independentemente de suas
características, habilidades ou condições. É importante ressaltar que a relação
Isso inclui a inclusão de pessoas com defi- entre ética, cidadania e educação inclusiva
ciência, garantindo que elas tenham acesso não se limita apenas ao ambiente escolar,
a uma educação inclusiva e de qualidade, e mas estende-se para toda a sociedade. Ao
abrange o acesso à educação infantil, básica formar cidadãos éticos, a escola contribui
e superior, assegurando que todas as pesso- para a construção de uma sociedade iguali-
as tenham oportunidades de aprendizado ao tária, onde todas as pessoas possam exercer
longo de sua vida. seus direitos e deveres, independentemente
de suas características individuais ou de suas

455
necessidades. O direito refere-se a um conjunto de normas
e regras estabelecidas pelo Estado para re-
A escola inclusiva é uma escola co- gular as relações entre os indivíduos e garan-
mum – ou regular – que acolhe todos os ti- tir a ordem social. Ele é baseado em leis que
pos de alunos, independente das diferenças. são criadas, promulgadas e aplicadas pelos
Nela, são criadas situações que favoreçam e órgãos competentes.
respeitem os diferentes ritmos e estilos de
aprendizagem dos alunos (Ferreira, 2018, p. A equidade, por sua vez, é um prin-
4). cípio que busca alcançar a justiça de forma
mais justa e igualitária. Ela se baseia no sen-
Na montagem e o desenvolvimento do so de justiça e igualdade, buscando soluções
plano de aula, o professor deve explorar as justas mesmo que não estejam previstas de
diversas possibilidades, “mediador e facilita- forma expressa na lei. É uma forma de flexi-
dor na organização dos alunos, de forma que bilização e adaptação do direito às situações
possibilite uma melhor interação, mesmo em concretas, buscando evitar a rigidez excessi-
níveis tão diferentes, incluindo a todos, seja va do sistema legal.
na educação física, capoeira, teatro ou qual-
quer outra proposta pedagógica” (Silva, Arru- Enquanto o direito se baseia na aplica-
da, 2014, p. 6). ção objetiva das normas, a equidade leva em
consideração as particularidades e circuns-
A relação entre Direito e democratiza- tâncias do caso, buscando soluções justas e
ção está relacionada ao papel do Direito no satisfatórias para todos os envolvidos. É uma
processo de promoção e garantia da demo- forma de interpretação flexível do direito,
cracia. O Direito desempenha um importante permitindo que a aplicação da lei seja ade-
papel na consolidação dos princípios demo- quada à realidade e justa para todos.
cráticos e no estabelecimento de um Estado
de Direito. Dessa forma, pode-se dizer que o di-
reito e a equidade são complementares. O
Em uma sociedade democrática, o Di- direito estabelece as normas e regras gerais,
reito é fundamental para garantir os direi- enquanto a equidade permite uma aplicação
tos fundamentais dos cidadãos, a igualdade mais justa e flexível dessas normas, levando
perante a lei, o acesso à justiça e a proteção em consideração a justiça e igualdade em
dos direitos humanos. Além disso, o Direito cada situação específica.
também é responsável pela articulação e or-
ganização dos mecanismos institucionais e O direito educacional é um ramo do
legais que permitem a participação popular direito que busca garantir o acesso igualitário
nos processos políticos. à educação de qualidade para todos os cida-
dãos, independentemente de sua condição
A democratização do acesso à justiça social, econômica, gênero, raça ou religião.
é outro aspecto importante da relação entre Ele se baseia em princípios de equidade, que
Direito e democratização. Isso implica ga- buscam garantir que todos tenham as mes-
rantir que todos os cidadãos tenham acesso mas oportunidades de desenvolvimento e
igualitário aos tribunais e aos meios de reso- crescimento por meio da educação.
lução de conflitos, independentemente de
sua posição social, econômica ou política. A equidade no direito educacional
significa que cada indivíduo tem o direito de
Por fim, a democracia também in- receber uma educação adequada às suas ne-
fluencia o Direito, especialmente no que diz cessidades e capacidades. Isso implica consi-
respeito à produção legislativa e à interpre- derar as diferenças e desigualdades existen-
tação das leis. Em um sistema democrático, tes na sociedade e implementar políticas e
as leis devem ser criadas de forma trans- práticas educacionais que promovam a inclu-
parente, com a participação dos cidadãos e são e o respeito à diversidade.
com respeito aos princípios democráticos.
Além disso, a interpretação do Direito pelos Uma das principais preocupações do
tribunais e demais órgãos jurisdicionais deve direito educacional é garantir que nenhum
levar em consideração os valores democráti- grupo ou indivíduo seja discriminado ou ex-
cos e os direitos fundamentais. cluído do sistema educacional. Isso inclui a
necessidade de políticas de ação afirmativa,
Em suma, o Direito desempenha um que buscam combater a desigualdade e pro-
papel fundamental na democratização da porcionar oportunidades de educação para
sociedade, ao garantir a igualdade perante a grupos historicamente marginalizados, como
lei, a proteção dos direitos fundamentais e a pessoas com deficiência, negros, indígenas,
participação popular nos processos políticos. pessoas de baixa renda, entre outros.
Ao mesmo tempo, a democracia também
influencia o Direito, impactando na forma Além disso, a equidade no direito
como as leis são criadas e interpretadas. educacional também envolve a garantia de
condições adequadas para a aprendizagem,
Direito e equidade são dois termos re- como recursos materiais, infraestrutura, cur-
lacionados à justiça e ao exercício do direito.

456
rículos adaptados e formação de professo- O Ideb é um indicador sintético que
res qualificados. Isso implica em promover a relaciona as taxas de aprovação escolar, ob-
qualidade da educação para todos, evitando tidas no Censo Escolar, com as médias de
disparidades entre diferentes regiões, insti- desempenho em língua portuguesa e mate-
tuições ou grupos sociais. mática dos estudantes no Sistema de Avalia-
ção da Educação Básica (Saeb). Desta forma,
Nesse sentido, o direito educacional apresentam melhores resultados no Ideb os
busca criar um ambiente propício para que sistemas que alcançam, de forma concomi-
todos os cidadãos possam se desenvolver tante, maiores taxa de aprovação e proficiên-
plenamente e exercer seus direitos e liber- cia nas avaliações.
dades fundamentais. Ele reconhece que a
educação é um direito humano universal e A divulgação do IDEB 2021 representa
essencial para o desenvolvimento pessoal, um marco importante, já que encerra o ciclo
social e econômico de cada indivíduo, bem inicialmente estabelecido para a trajetória do
como para o progresso de uma sociedade indicador, conforme divulgado em decorrên-
como um todo. cia do Plano de Metas Compromisso Todos
pela Educação (BRASIL, 2007), seguindo a
Dessa forma, o direito educacional metodologia disponível publicamente no site
tem um papel fundamental na promoção da do Inep (INEP, 2007a).
equidade, ao garantir que a educação seja
acessível e de qualidade para todos. Isso con- Os resultados do Ideb 2021 para esco-
tribui para a construção de uma sociedade la, município, unidade da federação, região
mais justa, inclusiva e igualitária, onde todas e Brasil são calculados a partir do desempe-
as pessoas tenham oportunidades e possam nho obtido pelos alunos que participaram do
alcançar seu pleno potencial. Saeb 2021 e das taxas de aprovação, calcula-
das com base nas informações prestadas ao
Censo Escolar 2021. O cálculo do Ideb 2021
2.1 MATERIAL E MÉTODO segue a mesma metodologia proposta em
2007 e que vem sendo utilizada de forma
O Índice de Desenvolvimento da Edu- inalterada ao longo dos anos, com o objetivo
cação Básica (Ideb) foi criado em 2007 e re- de manter a comparabilidade do indicador.
úne, em um só indicador, os resultados de Todavia, a pandemia do novo coronavírus
dois conceitos igualmente importantes para teve grande impacto nas atividades escola-
a qualidade da educação: o fluxo escolar e res em 2020 e 2021 - conforme retratado nas
as médias de desempenho nas avaliações. duas edições da pesquisa
O Ideb é calculado a partir dos dados sobre
aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, “Resposta Educacional à Pandemia
e das médias de desempenho no Sistema de de Covid-19 no Brasil” realizada pelo Inep -
Avaliação da Educação Básica (Saeb). e esse contexto deve ser considerado para
uma adequada interpretação dos resultados
O Ideb agrega ao enfoque pedagógi- do Ideb 2021. Dessa forma, apresentam-se a
co das avaliações em larga escala a possibi- seguir algumas informações contextuais so-
lidade de resultados sintéticos, facilmente bre a pandemia que buscam dar suporte à
assimiláveis, e que permitem traçar metas interpretação do indicador, com maior des-
de qualidade educacional para os sistemas. taque ao impacto da pandemia nas taxas
O índice varia de 0 a 10. A combinação entre de aprovação. Ao final desse tópico, desta-
fluxo e aprendizagem tem o mérito de equi- cam-se mudanças no formato da divulgação
librar as duas dimensões: se um sistema de - que visam dar enfoque para os resultados
ensino retiver seus alunos para obter resul- alcançados na edição 2021 - e o cuidado ne-
tados de melhor qualidade no Saeb, o fator cessário ao realizar sua análise.
fluxo será alterado, indicando a necessidade
de melhoria do sistema. Se, ao contrário, o Ideb 2021, índice que mede a quali-
sistema apressar a aprovação do aluno sem dade da educação brasileira, varia pouco em
qualidade, o resultado das avaliações indica- relação a 2019, mas dados são ‘enganosos’ é
rá igualmente a necessidade de melhoria do preciso ter cautela ao interpretar esta edição,
sistema. O índice também é importante con- porque estados que adotaram a aprovação
dutor de política pública em prol da qualida- automática dos alunos na pandemia podem
de da educação. É a ferramenta para acom- ter índices artificialmente mais altos. Partici-
panhamento das metas de qualidade para pação menor dos estudantes no Saeb (pro-
a educação básica, que tem estabelecido, va de português e matemática) também in-
como meta para 2022, alcançar média 6 – va- viabiliza comparações. (Por Luiza Tenente,
lor que corresponde a um sistema educacio- G1,16/09/2022, G1).
nal de qualidade comparável ao dos países
desenvolvidos.

NOTA INFORMATIVA DO IDEB 2021

457
2.2 RESULTADOS

458
3. CONCLUSÃO e jovens tenham acesso a uma educação de
qualidade, participando plenamente dos pro-
Concluímos que o direito educacional cessos educacionais e se beneficiando das
é uma área do Direito que abrange todas as mesmas oportunidades.
normas e princípios legais relacionados à
educação. Seu objetivo principal é garantir Para que o direito educacional seja
o acesso universal à educação de qualidade, efetivamente garantido, é necessário que
promovendo a igualdade de oportunidades e haja políticas públicas e legislações que o
o pleno desenvolvimento dos indivíduos. respaldem, além de uma gestão participati-
va e democrática nas instituições de ensino.
O direito educacional abrange tanto Também é importante promover a formação
as questões referentes ao acesso à educa- adequada dos professores, para que eles
ção, como a matrícula nas escolas, a inclusão possam atender às necessidades de todos
de pessoas com deficiência, o acesso à edu- os estudantes, independentemente de suas
cação para as minorias, quanto as questões particularidades.
relacionadas à qualidade do ensino, como a
formação dos professores, a estrutura das Em resumo, o direito educacional bus-
escolas, os recursos educacionais disponí- ca promover uma educação de qualidade,
veis, entre outros. equitativa e inclusiva, assegurando que todos
os indivíduos tenham acesso a oportunida-
Além disso, o direito educacional tam- des educacionais adequadas às suas neces-
bém trata dos direitos e deveres dos pais, dos sidades. É um direito fundamental que deve
estudantes e dos profissionais da educação, ser garantido a todos, sem qualquer forma
como direito à liberdade de ensino, direito à de discriminação.
participação na gestão da escola, direito à se-
gurança e bem-estar na escola, entre outros. REFERÊNCIAS
Como qualquer outra área do Direito,
o direito educacional está sujeito a constan-
tes alterações e atualizações de acordo com Constituição do Brasil, 1988. «Decla-
as necessidades da sociedade e as deman- ração de direitos do homem e do cidadão -
das educacionais. É importante estar sempre 1789». Universidade de São Paulo. Biblioteca
atualizado e conhecer as leis e regulamentos Virtual de Direitos Humanos. 1978. Consulta-
que regem a educação em nosso país. do em 16 de setembro de 2012
E a importância da sociedade e da co- BRASIL. Decreto nº 6.094, de 24 de
munidade que está no entorno das escolas, abril de 2007. Dispõe sobre a implementação
serem participativos das decisões e dos con- do Plano de Metas;
selhos escolares, onde a democracia se faz Compromisso Todos pela Educação.
presente ouvindo e dando voz ativa e intera- Brasília, 2007. Decreto nº 6.094, de 24 de
gindo com todo o corpo discente, alunos e os abril de 2007. Disponível <http://www.planal-
responsáveis, que fazem parte da formação to.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/de-
e do preparo dos jovens para um caminho creto/d6094.htm>. Acesso em: 12 set. 2022.;
de aprendizagem e conhecimento, que assim
pode abrir novas expectativas de um futuro BRASIL. Ministério da Educação (MEC)
promissor. / Conselho Nacional de Educação (CNE).
O direito educacional tem como obje- Resolução CNE/CP nº 2, de 10 de de-
tivo garantir que todos os indivíduos tenham zembro de 2020. Diário Oficial da União,
acesso a uma educação de qualidade, de for- Brasília, DF, 11 dez. Seção 1, p. 52. Disponí-
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direito fundamental e deve ser assegurada resolucao-cne/cp-n2-de-10-de-dezembro-
a todos, independentemente de sua origem, -de-2020 293526006 >. Acesso em: 12 set.
condição socioeconômica, deficiência ou 2022.
qualquer outra forma de discriminação. BRASIL. Ministério da Educação (MEC)
A equidade na educação significa que / Conselho Nacional de Educação (CNE). Re-
os recursos e oportunidades educacionais de- solução CNE/CP nº 2, de 5 de agosto de 2021.
vem ser distribuídos de forma justa, levando Diário Oficial da União, Brasília, DF, 06 ago.
em consideração as necessidades individuais Seção 1, p. 51, 2021a. Disponível <https://
de cada aluno. Isso implica em garantir uma www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucaocne/
educação de qualidade a todos, independen- cp-n-2-de-5-de-agosto-de-2021-336647801 >.
temente de sua condição socioeconômica, Acesso em: 12 set. 2022.
oferecendo apoio e recursos adicionais para BRASIL. Conselho Nacional de Edu-
aqueles que precisam. cação (CNE). Parecer CNE/CP nº 6, de 6 de
A educação inclusiva, por sua vez, bus- julho de 2021. Diário Oficial da União, Bra-
ca integrar todos os indivíduos na escola, in- sília, DF, 05 ago. Seção 1, p. 34, 2021b. Dis-
dependentemente de suas diferenças físicas, ponívelhttp://portal.mec.gov.br/index.
intelectuais ou sociais. Isso implica em elimi- php?option=com_docman&view=downloa-
nar barreiras e garantir que todas as crianças d&alias=195831pcp006 21&category_slug=-

459
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tucional nº 125/2022 Autores: José Afonso da https://g1.globo.com/educacao/noti-
Silva Páginas: 936 Disciplina: Direito Consti- cia/2022/09/16/resultados-do-ideb-2021-in-
tucional Coleção: Coedição Malheiros Edição: diceque-mede-a-qualidade
44 Ano: 2022.
Reforma da Educação Profissional no
Brasil: marcos regulatórios e desafios Pro-
fessional Education Reform in Brazil: challen-
ges and regulatory milestones Celia Regina

460
A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ROSANGELA MARIA DOS SANTOS

RESUMO ring childhood.


A Educação Infantil, primeira etapa da Keywords: Stories; Early Childhood
Educação Básica, tem como objetivo central Education; Learning.
o desenvolvimento pleno da criança. Nessa
etapa, a criança tem a oportunidade de ouvir
inúmeras histórias infantis que despertam INTRODUÇÃO
o seu imaginário e que contribuem positiva-
mente para o seu desenvolvimento cognitivo, Na Educação Infantil as crianças
social e psicológico. Através da contação de são despertadas, através de histórias, ações
história a criança desenvolve sua própria lin- lúdicas e jogos, a praticar suas capacidades
guagem, que permite a ela viajar pelo ima- motoras, fazer descoberta e iniciar o pro-
ginário criando seus próprios personagens, cesso de alfabetização, nesta etapa a crian-
através do tempo e do espaço. A literatura ça desenvolve a socialização, adquirindo as
infantil é rica em conhecimentos o que per- primeiras noções de convivência, e aprimo-
mite que a criança desenvolva o gosto pela ra seu desenvolvimento intelectual, motor e
leitura e que expresse a sua opinião seja cognitivo.
através da oralidade ou desenhos, tendo um A literatura tem um papel essencial na
papel essencial na construção de valores e na Educação Infantil, permitindo a formação de
formação da criança como ser humano. Nes- valores e conscientização dos seres em for-
se processo o professor desempenha papel mação. A literatura infantil engloba vários gê-
fundamental como mediador e contador das neros textuais que contribuem para motivar
histórias. No intuito de explorar a importân- o imaginário das crianças e aguçar a curiosi-
cia e as contribuições da contação de histó- dade, contribuindo para o desenvolvimento
rias na Educação Infantil, para crianças de 4 cognitivo das mesmas.
e 5 anos, através de pesquisas bibliográficas,
esse trabalho foi desenvolvido, tendo como Para Abramovich (2005, p.16):
foco principal o objetivo de conscientizar os
leitores sobre a importância de ouvir e contar [...] é importante para a formação de
histórias durante a infância. qualquer criança ouvir, muitas histórias...Es-
cutá-las é o início da aprendizagem para ser
Palavras-chaves: Histórias; Educação um leitor, e ser leitor é ter um caminho abso-
Infantil; Aprendizagem lutamente infinito de descoberta e de com-
preensão do mundo.
ABSTRACT Na Educação Infantil as crianças ou-
vem histórias contadas pelo educador dia-
Early Childhood Education, the first riamente, a forma como essas histórias são
stage of Basic Education, has as its central contadas, o ambiente criado para esse mo-
objective the full development of the child. mento, os recursos utilizados despertam a
At this stage, the child has the opportunity to curiosidade e o aguçam o interesse das mes-
hear countless children's stories that awaken mas.
their imagination and contribute positively to A literatura infantil permeia a Educa-
their cognitive, social and psychological deve- ção Infantil possibilitando que a criança via-
lopment. Through storytelling the child deve- je pelo mundo imaginário e de fantasias e
lops his own language, which allows him to que despertando o interesse pela leitura. Na
travel through the imaginary creating his own Educação Infantil as histórias contadas pelo
characters, through time and space. Chil- educador fazem parte do cotidiano da crian-
dren's literature is rich in knowledge which ça, permitindo que a mesma conheça novos
allows the child to develop a taste for reading lugares, diferentes personalidades, viaje pelo
and to express their opinion either through imaginário, construa valores, amplie o voca-
orality or drawings, having an essential role bulário, aprenda a ter o gosto pela leitura,
in the construction of values and in the for- entre outros.
mation of the child as a human being. In this
process, the teacher plays a fundamental De acordo com Busato (2003, p. 45-
role as a mediator and storyteller. 46):
In order to explore the importan- Contar histórias para formar leitores,
ce and contributions of storytelling in Early para fazer da diversidade cultural um fato,
Childhood Education, for children of 4 and 5 valorizar as etnias, manter a história viva,
years, through bibliographical research, this para se sentir vivo, para encantar e sensibili-
work was developed, having as main focus zar o ouvinte, para estimular o imaginário, ar-
the objective of making readers aware of the ticular o sensível, tocar o coração, alimentar
importance of listening and telling stories du- o espírito, resgatar significados para a nossa

461
existência e reativar o sagrado. ção Infantil é cuidar e educar a criança. Cuidar
da criança em espaço formal, contemplando
Dessa forma, contar história desde a a alimentação, a limpeza e o lazer (brincar),
Educação Infantil possibilita a criança o de- e educar, sempre respeitando o caráter lúdi-
senvolvimento cognitivo, afetivo, social e co das atividades, com ênfase no desenvolvi-
diversas aprendizagens, despertando senti- mento integral da criança.
mentos, criatividade, maior sensibilidade em
relação ao cotidiano, diversas emoções, den- Educar significa propiciar situações
tre outros aspectos. de cuidados, brincadeiras e aprendizagens,
orientadas de forma integrada e que pos-
A atuação do educador, como conta- sam contribuir para o desenvolvimento das
dor das histórias na Educação Infantil, é de capacidades infantis de relação interpessoal,
extrema importância, cabe a ele escolher as de ser e estar com os outros em uma atitu-
histórias de acordo com a faixa etária das de básica de aceitação, respeito e confiança
crianças e os recursos que contribuirão para (BRASIL: RCNEI, 1998, p.23).
que o ambiente seja adequado no momento
da contação, tornando o momento especial e O “cuidar” significa uma parte inte-
rico em aprendizagens. grante da educação, cuidar da criança é, so-
bretudo dar atenção a ela como pessoa que
No intuito de explorar a importância está num contínuo crescimento e desenvol-
da contação de histórias, suas contribuições vimento, compreendendo sua singularidade,
no desenvolvimento das crianças e as litera- identificando e respondendo às suas necessi-
turas que permeiam a Eduação Infantil esse dades (BRASIL: RCNEI, 1998, p. 25).
artigo foi desenvolvido, utilizando-se de pes-
quisas bibliográficas e da experiência como Entende-se que o cuidar é muito mais
educadora nessa etapa básica da Educação. do que realizar os cuidados com higiene, ali-
mentação, sono, etc., inclui o cuidar, propi-
ciando o acolhimento, a segurança, o lugar
Educação Infantil para a emoção, para o gosto, o desenvolvi-
mento da sensibilidade, das habilidades so-
A regulamentação e a democratização ciais, a curiosidade, e proporcionar experiên-
da Educação Infantil são recentes e as alte- cias diversificadas e enriquecedoras, a fim de
rações e aprimoramentos são frequentes. que a criança possa desenvolver suas capa-
A Emenda Constitucional 59/2009, tornou a cidades.
Educação Infantil obrigatória a partir dos 4
anos e a Lei 12.796/2013 alterou alguns arti- A base do cuidado humano é compre-
gos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação ender como ajudar o outro a se desenvolver
Nacional (LDB/1996). como ser humano. Cuidar significa valorizar e
ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado
A Educação Infantil no Brasil passou é um ato em relação ao outro e a si próprio
a ser reconhecida como fator importante na que possui uma dimensão expressiva e im-
constituição do indivíduo e institucionalizada plica em procedimentos específicos (RCNEI,
a partir da Constituição Federal de 1988, do 1998, p.24).
Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990
e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Portanto, o cuidado auxilia no desen-
Nacional (LDB), Lei 9.394 de 20 de dezembro volvimento das capacidades cognitivas da
de 1996. criança, e nas potencialidades afetivas, emo-
cionais, sociais, corporais, estéticas e éticas.
De acordo com o artigo 29 da LDB, al- Para cuidar de uma criança em um contexto
terado pela Lei 12.796/2013: educativo é necessário a integração de vários
A Educação Infantil, primeira etapa da campos de conhecimentos e a cooperação
Educação Básica, tem como finalidade o de- de profissionais de diferentes áreas.
senvolvimento integral da criança de zero a O educador deve conhecer e conside-
cinco anos de idade, em seus aspectos físico, rar as singularidades das crianças de diferen-
psicológico, intelectual e social, complemen- tes idades, assim como a diversidade de há-
tando a ação da família e da comunidade. bitos, costumes, valores, crenças, etnias das
Nesse sentido, a LDB coloca a criança crianças com as quais trabalha respeitando
como sujeito de direitos em vez de tratá-la, suas diferenças e ampliando suas pautas de
como ocorria nas leis anteriores a esta, como socialização. O educador é o mediador entre
objeto de tutela. A Educação Infantil passou a crianças e os objetos de conhecimento, orga-
ser um direito da criança. nizando e propiciando espaços e situações
de aprendizagens que articulem os recursos
A Educação Infantil, desde 1998, se- e capacidades afetivas, emocionais, sociais e
gue o Referencial Curricular Nacional para cognitivas de cada criança aos seus conheci-
a Educação Infantil (RCNEI), um documento mentos prévios e aos conteúdos referentes
equivalente aos Parâmetros Curriculares Na- aos diferentes campos de conhecimento hu-
cionais que embasa os demais segmentos da mano. (MONTEIRO, 2002, p. 5)
educação Básica. Na Educação Infantil o educador pre-
O RCNEI define que o papel da Educa- cisa conhecer as necessidades infantis, para

462
que possa organizar situações de aprendiza- p.5):
gem a fim de que as crianças ampliem seus
conhecimentos e adquiram novas lingua- [...] a literatura deve fazer parte da
gens. As ações do professor precisam ser in- vida da criança também na escola da peque-
tencionais e planejadas, de forma que atenda na infância, de forma provocada, intencional,
as questões de saúde, higiene, alimentação e em que as situações de contato com a lite-
aprendizagens. ratura sejam criadoras de novas necessida-
des de ler, de conhecer, de expressão e de se
prazer por meio da relação dialógica que se
estabelece com ela.
Literatura e Gêneros Textuais Infantis
A oferta de práticas variadas de leitu-
A literatura faz parte da história da ra, o contato com os livros e a ação media-
humanidade tendo diferentes conceitos de dora do educador são elementos que contri-
acordo com cada época, representando a buem significativamente nesse processo de
singularidade de cada momento da humani- aprendizagem. Os diversos gêneros textuais
dade em constante evolução. A literatura é ampliam as oportunidades das crianças, ain-
sempre tema atual na educação. da pequenas, de vivenciar e explorar textos
De acordo com Coelho (2000, p.23), de sua cultura, de se aproximar da linguagem
escrita e do mundo letrado, compreendendo
Literatura é arte, é um ato criador que a função social da escrita, bem como desen-
por meio da palavra cria um universo autô- volver as competências comunicativas, fator
nomo onde os seres, as coisas, os fatos, o fundamental para a vida social.
tempo e o espaço, assemelham-se aos que
podemos reconhecer no mundo real que nos Os gêneros são fenômenos sócio-his-
cerca, mas que ali - transformados em lingua- tóricos que apresentam um caráter de rela-
gem – assumem uma dimensão diferente: tiva estabilidade e mudam de forma para se
pertencem ao universo de ficção. adaptar às necessidades humanas, aos diver-
sos eventos de letramento que vivenciamos
A literatura é considerada a base para a cada dia. A forma dos gêneros é, portanto,
a formação de cidadãos leitores e está pre- resultado das suas condições de produção:
sente em todas as etapas da educação, des- quem diz, o que, para quem, em que situa-
de a Educação Básica até a faculdade. Ela é ção, através de que gênero textual, com que
diversificada e rica em conhecimentos, per- propósito comunicativo. (VIEIRA, 2010, p. 83)
mitindo que a criança tenha acesso à heran- A exploração dos gêneros textuais na infân-
ça cultural de maneira adequada à sua idade cia possibilita aprendizagens e que a criança
de forma que contribua para sua formação adentre ao universo letrado ao qual está in-
permitindo que se torne futuro leitor. Tendo serida. Nessa fase, a criança tem o imaginá-
como tendência a intenção de despertar no rio aguçado e muita curiosidade, portanto,
leitor uma visão mais crítica da realidade. os diversos gêneros textuais adequados a
A literatura infantil contempla diversos sua faixa etária, seja o conto, a fábula, o po-
gêneros textuais, tais como: fábulas, contos ema, a poesia, as parlendas, as histórias em
de fada, histórias em quadrinhos, poemas, quadrinhos, dentre outros, proporcionará
poesias, narrativas, científicos, entre outros. a mesmas experiências cotidianas que irão
O Referencial Curricular da Educação Infantil enriquecer o seu repertório linguístico e a
(RCNEI, 1998, p.123) apresenta a importância oralidade, e contribuirá no seu processo de
do acesso aos diferentes tipos de textos para aprendizagem.
a criança: As crianças apresentam interesse por
O acesso a diferentes tipos de textos, contos, pois as histórias apresentam estrutu-
mesmo bem antes da alfabetização, permi- ra maniqueísta, envolvendo o bem e o mal,
tirá desenvolver capacidades, além de apre- a magia, o sonho e o encanto, o que aguça o
sentar à criança elementos constitutivos do imaginário das mesmas.
texto: vocabulário, estrutura, enredo, coerên- Os contos de fadas são ímpares, não
cia interna, elenco de personagens e, além só como forma de literatura, mas como obras
disso, o uso social da escrita, elementos es- de arte integralmente compreensíveis para a
ses que serão fundamentais no processo de criança como nenhuma outra forma de arte
alfabetização. Isso porque constatamos que o é. Como sucede com toda grande obra de
“as crianças constroem conhecimentos sobre arte, o significado mais profundo do conto de
a escrita muito antes do que se supunha”. fada será diferente para a mesma pessoa em
Dessa forma, entende-se que o con- vários momentos de sua vida. A criança ex-
tato das crianças na Educação Infantil a dife- trairá significados diferentes do mesmo con-
rentes gêneros literários e essenciais para o to de fada, dependendo de seus interesses
desenvolvimento da mesma nessa etapa da e necessidades do momento. (BETTELHEIM,
educação, pois as crianças são capazes de in- 2002, p. 20). Nesse sentido, os contos de fa-
teragir e aprender através de gêneros textu- das permitem a ampliação do vocabulário,
ais diversos. da fantasia e da criatividade das crianças e
são fundamentais para que as mesmas
De acordo com Silva e Arena (2012, entendam o momento que estão pas-

463
sando, através da expressão de seus senti- Quando se fala de literatura, fala-se de
mentos e da interação com os colegas. Mes- uma relação bastante estreita entre leitor e
mo os contos retratando histórias que fogem leitura. O leitor, no momento da leitura, ativa
da realidade, elas são importantes para a for- sua memória, relaciona fatos e experiências
mação de identidade da criança, pois apre- e entra em conflito com seus valores. Nesse
sentam modelos de estruturas sociais e com- aspecto a
portamentos que permitem a discussão de
valores. Literatura Infantil torna-se uma gran-
de aliada da escola em suas várias
As fábulas são narrativas curtas e di-
vertidas, tendo como personagens animais possibilidades: divertindo, estimulan-
ou objetos que agem como se fossem pesso- do a imaginação, desenvolvendo o raciocínio
as e elementos como a natureza e seres má- e compreendendo o mundo (BARROS, 2013,
gicos. A fábula apresenta no final da história p. 21).
uma moral que tem como objetivo principal A diversidade de gênero literário a ser
transmitir algum ensinamento ou realizar trabalhado na Educação Infantil contribui
uma crítica. para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e
Para Bagno (2006, p. 52): intelectual da criança, cabendo ao educador
nessa etapa, como mediador da aprendiza-
[...] as fábulas podem ser um importan- gem, proporcionar o acesso dos mesmos às
te aliado, tanto para o trabalho pedagógico crianças.
com a língua oral, a leitura e a língua escrita,
quanto para um trabalho numa perspectiva
sociológica e antropológica, já que oferecem Contação de histórias
esquemas de análise e ou explicação para
um sem-número de comportamentos sociais A contação de histórias faz parte da
e de traços de personalidade dos indivíduos. cultura de inúmeros povos sendo transmiti-
das de geração a geração, tendo um papel
Nesse sentido, as fábulas podem con- muito importante na vida das pessoas, mui-
tribuir para o desenvolvimento da linguagem tos adultos se recordam de histórias que ou-
oral e escrita da criança. Ao ouvir as histórias viram na infância e recontam para os filhos.
com animais falantes a atenção e curiosida- As lembranças da infância, fase que marcou
de da criança são despertadas, elas querem a vida, os remetem a momentos de alegria e
conhecer o encerramento da história, que, sentem prazer em compartilhar as mesmas
normalmente, traz ilustrações que permitem histórias que ouviram.
à criança observar e compreender melhor a
fábula. De acordo com Chaves (1963, p.21),
Os poemas e as poesias são gêneros Todos apreciam uma boa história,
que despertam inúmeras sensações, sen- mas muita pouca gente conhece o valor real
timentos e a imaginação, não somente nas dela. Muitos que a usam para diferentes fins,
crianças, mas a todos sem distinção de idade como entreter, despertar atenção ou descan-
e classe social. A leitura de poemas e poesias sar a mente, ignoram que, mesmo quando
permite a criança brincar com as palavras, usada com estes objetivos em vista, a histó-
com a sonoridade e recriar através do lúdi- ria é um elemento poderoso na formação do
co suas sensações e sentimentos. De acordo caráter daqueles que a ouvem [...]. Podemos
com Paes (1996, p.24-25): afirmar que o valor real da história é ser ins-
trumento educativo e deste ponto de vista,
[...] A poesia tende a chamar a aten- atende às necessidades humanas em todos
ção da criança para as surpresas que podem os seus aspectos.
estar escondidas na língua que ela fala todos
os dias sem se dar conta delas. Por exemplo, Ouvir histórias é prazeroso em qual-
a rima, ou seja, a semelhança dos sons finais quer idade, principalmente, em uma roda de
entre duas palavras sucessivas, obriga o lei- conversas. Para as crianças não é diferente,
tor a voltar atrás na leitura. Esta passa então quando o educador faz a roda para contar a
a ser feita não linha após linha, sempre para história, os olhos das crianças estão fixos nele
frente, como na prosa, e sim num ir e vir entre e toda a atenção voltada para saber o que
o que está adiante e o que ficou atrás. Com acontecerá na história contada. As aprendi-
isso, desautomatiza-se a leitura e se direcio- zagens que acontecem nesse precioso mo-
na a atenção para o conjunto de significados mento contribuem para que as crianças
do texto, não apenas para a sequência deles. aprendam a lidar com diferentes questões
do cotidiano e a apreciar o hábito da leitura,
A maneira como ocorre a leitura de no entanto, tudo isto requer habilidade do
poemas e poesias tem o poder de despertar educador em contar as histórias.
o interesse das crianças, a entonação desta-
cando as rimas, as onomatopeias, os versos, A promoção de conversas em torno da
podem desencadear diversos sentimentos e leitura e da escuta partilhada de histórias, au-
pensamentos, além de aguçar a criatividade menta, assim, a possibilidade do aluno, não
e o imaginário. apenas de compreender, mas de apreciar
histórias, e para tanto, a mediação da profes-

464
sora é fundamental. (BRANDÃO; ROSA, 2011, As aprendizagens que podem ser de-
p.43). senvolvidas através da contação de histórias
são imensuráveis. No momento da contação
A roda de conversa após a contação o educador trabalha a oralidade, a esponta-
de história contribui no desenvolvimento neidade, a socialização, e a coordenação mo-
da linguagem, ampliando o vocabulário da tora da criança, proporcionando momentos
criança e o desenvolvimento do cognitivo, ímpares, de expressão, de imaginação, de
principalmente, quando a criança expõe seu jogo simbólico, que contribuem para o de-
ponto de vista e opinião, servindo como me- senvolvimento da linguagem visual e escrita
canismo para identificar o quanto a criança das crianças.
se envolveu e quais aprendizagens foram
construídas. O educador precisa estar atento em
diferenciar o processo de ler do de contar
história, ambos têm impactos diferentes no
Segundo Baldi, processo de aprendizagem das crianças. A
contação de história requer habilidades do
É preciso alimentar a imaginação dos educador que provocarão modificações na
alunos, compartilhar leituras com eles e ofe- forma de leitura, o mesmo poderá utilizar
recer lhes experiências de fruição para que entonação, gestos, expressões faciais, entre
descubramos encantos da literatura como outros recursos que contribuirão para pren-
forma de arte, que possibilite conhecerem der a atenção das crianças e despertar o in-
melhor a si mesmos, ao mundo e aos que os teresse.
cercam, para que se tornem pessoas mais
sensíveis, mais críticas, mais criativas. (BALDI, Segundo Pires (2011, p. 20):
2009, p.8 apud SILVA; RISSO, 2012, p.27-28). O professor tem papel fundamental na
A contação de história estimula a ima- mediação entre a criança e a literatura. Cabe
ginação e a fantasia, e possibilita que a crian- ao professor incluí-la em seu planejamento,
ça compreenda o mundo que a cerca. Dessa pois é ele que traçará os passos iniciais no
forma, são inúmeros os benefícios da explo- espaço escolar, incentivando e aguçando a
ração dos gêneros textuais na Educação In- curiosidade das crianças e contribuindo para
fantil, para tanto é preciso certa habilidade desenvolver o hábito da leitura na criança.
de como ou de quem conta as histórias. Nesse sentido, o ato de contar histó-
O momento da contação de história rias dever ter uma intencionalidade, o edu-
precisa ser planejado pelo educador, o mes- cador precisa escolher o gênero a ser traba-
mo precisa escolher o ambiente adequado lhado na e a forma que será contada. Esses
e os recursos a serem utilizados, selecionar fatores são determinantes para que o educa-
as histórias de acordo com o interesse das dor, como mediador do processo de aprendi-
crianças, criar um clima de encantamento, de zagem consiga atingir os objetivos propostos.
envolvimento entre as crianças e o conto, uti- A utilização dos recursos como teatro,
lizando gestos e vozes diferentes, mostrando fantoches, fundo musical, entre outros po-
as imagens do livro, pausando, criando inter- dem tornar o momento da contação de histó-
valos, respeitando o tempo para o imaginário rias atraente, prazeroso e criativo, envolven-
da criança, deixando que as mesmas criem do a criança, tornando o momento mágico
seus próprios personagens. para ela.
Segundo Bomtempo (2003, p.33), “a A contação de histórias na Educa-
leitura feita pelo professor em voz alta, em ção Infantil permite ao educador contribuir
situações que permitem a atenção e a escuta para o desenvolvimento pleno da criança,
das crianças, fornece-lhes um repertório rico contribuindo não somente para que apren-
em expressões e vocabulário facilitando a in- dizagens sejam construídas, mas na forma-
teração da criança com a linguagem escrita”. ção social da criança, permitindo que sejam
As estratégias utilizadas pelo educador são construídos ou reforçados valores éticos e
de suma importância, o educador na posi- princípios morais que são essenciais para a
ção de contador de histórias, passa a ser o vida em sociedade.
mediador de todo conhecimento a ser pas-
sado para criança, precisa escolher a forma
que contará a história, utilizar a criatividade
para prender a atenção e inserir a criança na Considerações finais
história. A literatura infantil é um tema mui-
A professora que lê ou conta histórias to abordado na área da educação e está
na Educação Infantil está contribuindo para em constante desenvolvimento. A explora-
o desenvolvimento da linguagem e para a ção dos gêneros textuais na construção de
socialização de seu grupo, ampliando seu re- aprendizagens tem se ampliado, assim como
pertório de experiência e sua competência a forma de leitura dos mesmos, dando espa-
sociocomunicativa. Ser capaz de ouvir traz o ço para a contação de histórias.
potencial de ser capaz de dizer. (BRANDÃO; Na Educação Infantil, primeira etapa
ROSA, 2011, p. 37). da Educação Básica, fase em que a criança

465
constrói aprendizagens que as acompanha- cação e do Desporto, Secretaria de Educação
rão ao decorrer de sua vida, o contado com Fundamental. - Brasília:
histórias infantis podem causar impactos
positivos na formação e no desenvolvimen- MEC/SEF, 1998, volume: 1 e 2.
to cognitivo das crianças, permitindo que as BUSATTO, Cléo. Contar e Encantar –
mesmas usem a imaginação, ampliem a lin- pequenos segredos da narrativa. Petrópolis:
guagem oral, aprenda valores éticos e mo- Vozes, 2003.
rais, construam conhecimento.
CHAVES, Otília O. A arte de contar his-
Na contação de histórias, o educador tórias. 3 ed. Rio de Janeiro: Confederação
precisa desenvolver habilidades que contri- Evangélica do Brasil, 1963.
buam para construção de aprendizagens,
planejando e utilizando de diferentes for- MONTEIRO, Borges. Epistemologia da
mas para realizar a contação, bem como de prática: o professor reflexivo e a pesquisa co-
recursos que tornem o momento mágico e laborativa. São Paulo: Cortez, 2002.
encantador para a criança. O educador como PAES, J. P. Poesia para crianças: um
mediador da aprendizagem, poderá propor- depoimento. São Paulo: Giordano, 1996. p.
cionar momentos ímpares de expressão, de 4-25.
imaginação, de jogo simbólico, entre outros.
A contação de histórias na Educação PIRES, O. Contribuições do ato de con-
Infantil possibilita a formação de futuros lei- tar histórias na educação infantil para a for-
tores, de pessoas capazes de respeitar a di- mação do futuro leitor. Maringá, 2011.
versidade, de cuidar do outro e de viver em SILVA, Greice Ferreira da e ARENA, Da-
sociedade, ou seja, contribui para o desen- goberto Buim. O pequeno leitor e o processo
volvimento pleno da criança: cognitivo, emo- de mediação de leitura literária. Álabe, n. 6,
cional e social. dezembro de 2012, p. 5.
SILVA, GiselleT.; RISSO, Luciana. “Con-
Referências Bibliográficas ta outra vez!”: literatura infantil na escola.
Unifil-Centro universitário Filadélfia.Londri-
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura In- na.2012.
fantil: gostosuras e bobices. São Paulo: VIEIRA, Giane Bezerra. Alfabetizar le-
Scipione, 2005. trando: investigação-ação fundada nas ne-
cessidades de formação docente. Tese de
BAGNO, Marcos. Fabulas Fabulosas. Doutorado. UFRN. Programa de pós-gradu-
In: CARVALHO, F. A. M.; MENDONÇA, H. R. ação em Educação. Natal: UFRN/PPBGEd,
(Org.). Salto para o futuro: práticas de leitura. 2010.
Brasília: Ministério da Educação. 2006.p. 52.
BARROS, P. R. P. D. B. A contribuição
da literatura infantil no processo de aquisi-
ção de leitura. 2013. 54f. Trabalho de Con-
clusão de Curso (Graduação em Pedagogia)
– Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium, São Paulo, 2013. Disponível em:
<http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/
monografias/56015.pdf>.
Acesso em: 15 jul. 2023.
BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Con-
tos de Fadas. 16 ed. Rio de Janeiro: Paz e Ter-
ra, 2002.
BOMTEMPO, Luiza. Alfabetização com
sucesso. 2ª Ed. Contagem: Oficina
Editorial, 2003.
BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA,
Ester Calland de Souza (Orgs). Ler e escrever
na Educação Infantil: Discutindo práticas pe-
dagógicas. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2011.
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Brasília, 1996. Altera-
da pela Lei 12.796 de 04 de abril de 2013.
_____ Referencial curricular nacional
para a educação infantil. Ministério da Edu-

466
O CONTEÚDO NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM
ROSENILDA BESSA DE JESUS BRANDÃO

RESUMO compreender o mundo, mas também de pro-


blematizá-la. E da mesma forma, modifica-
Esse artigo pretende trazer informa- ções terão que ser introduzidas na forma de
ções a respeito dos conteúdos durante o organizar esse conhecimento. Se queremos
processo ensino aprendizagem. Por inter- que seja relevante, que os alunos cuidem,
médio do conhecimento, dos conteúdos que que os “afete”, deve ser articulado em tor-
são ensinados nas escolas - e das formas no de problemas, temas que façam sentido
de fazê-lo - "abrimos" aos alunos as janelas para os alunos, que lhes permitam conectar
da realidade, do presente, do passado e do e reestruturar o que já sabem com o que lhes
futuro. Passou o tempo em que estes eram oferecemos; que têm incentivos para fazer
quase os únicos existentes; agora, as fontes o esforço de investigar, analisar, questionar
de informação e experiência são variadas e (se).
poderosas. Mas isso não torna o conheci-
mento e como trabalhar com ele na escola O conhecimento que manejamos na
menos importante. Mudou seu “conteúdo” e escola é um produto específico dela, qualita-
seu significado. Não é mais missão da escola tivamente diferente daquele outro de onde
transmitir ou dar acesso à informação, mas vem, seja nas disciplinas científicas, na rea-
fazer com que os alunos a transformem em lidade social ou em qualquer outro lugar,
conhecimento, participar da reelaboração da porque tanto suas características, como seu
cultura, de forma ativa e crítica. significado e sua função são completamente
diferentes.
Palavras-chave: Conhecimento; Cultu-
ra; Crítica. As soluções devem passar pela inova-
ção, pela experimentação, pela proposição
de alternativas que terão de ser postas em
INTRODUÇÃO prática, analisadas, remodeladas em uma
busca permanente. E provavelmente, sem-
Ao contrário do que tem sido costu- pre
meiro - e ainda é para uma boa parte do cor-
po docente, principalmente no ensino médio insatisfatório e melhorável porque é
- o conhecimento não deve ser considerado preciso se pronunciar, se posicionar, diante
como "algo a aprender", mas sim como "ma- de múltiplos dilemas.
téria-prima para o pensamento". Conheci-
mento são estruturas ou sistemas de pensa-
mento sobre o mundo e sobre nós mesmos. A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO
Acessá-lo significa acessar a compreensão,
permitindo que os alunos compreendam seu Poderíamos dizer que a avaliação é a
mundo e sejam capazes de agir sobre ele, sig- “pedra de toque” do ensino, não no sentido
nifica emancipá-los para que o conhecimento de testar a autenticidade, força e coerência
lhes permita fazer seus próprios julgamentos de dois princípios pedagógicos que supos-
em vez de depender dos outros. tamente nos orientam. Defende-se que a
escola deve estimular a reflexão, a crítica e
Em suma, um conhecimento deve ser a participação e depois e validada por meio
relevante, que mobilize as capacidades inte- de questões a serem pré-preenchidas por
lectuais e afetivas, satisfazer as necessidades cópia do texto e por meio de exames onde
de compreensão e explicação do ser humano são solicitadas dadas e nomes mais longos,
que continua a ser o motor do seu desenvol- é evidente que é verdade que o norte não
vimento. Portanto, não há exigência mais ób- é manifesto, mas aprendido mecanicamen-
via e "natural" do que pedir que aquele que te memorizado, uma transcrição rotineira e
levamos para a escola cumpra a mesma fun- acrítica.
ção.
Na maioria das vezes, no sistema
Agora, isso nos força a reconsiderar educacional, os docentes avaliam os discen-
muitas coisas, já que estamos falando de tes sem processar, primeiramente, com os
uma escola universal e obrigatória, devemos instrumentos adequados, as medidas opor-
diversificar as fontes de conhecimento, o que tunas. É o caso daqueles professores que já
significa que as disciplinas acadêmicas não vão logo emitindo um juízo de valor sobre
podem ser as únicas possíveis. o aluno, sem antes, metodicamente, tentar
esgotar os registros dos desempenhos que,
Por outro lado, é essencial - com base integrada e organicamente, justificam tal ju-
nos requisitos mencionados - selecionar ízo. “Este aluno não tem jeito para estudar”.
aquele conhecimento, proveniente de disci- “Aquele outro aluno é um indisciplinado in-
plinas científicas ou de qualquer outro cam- curável”.
po, com maior potencial explicativo e criati-
vo, ou seja, capaz não apenas de nos permitir “Ah, este não participa de nada”. (RO-

467
MÃO, 2001, p. 76) virem a ser aprovados ou reprovados e, para
isso, servem-se dos mais variados expedien-
A avaliação aponta para o que é real- tes. (LUCKESI, 1997, p.18)
mente valioso na escola, pois implica para os
alunos, no último ano, passar ou não passar Além disso, ou controle social muitas
no curso e, muitas vezes, colocar-se numa vezes, faz parte da avaliação, ganhando pon-
hierarquia de qualificações, com possível tos e reconhecimento por comportamentos
transcendência para o futuro. mais submissos a rituais e normas estabe-
lecidas, cuja principal razão de ser é incutir
Revisar as formas de avaliação e seus obediência cega e respeito inquestionável ao
conteúdos ajuda muito a esclarecer os valo- status quo.
res em uso, aqueles realmente cumpridos,
da ação pedagógica. Melchior (2004, p. 39) nos diz que a
Na revista Magistério 4, o Presidente [...] avaliação deve ser realizada me-
do MEC, Francisco José Soares afirma que: diante a obtenção de informações precisas,
em etapas sistemáticas, sobre os conheci-
A criança vai à escola para aprender. mentos do indivíduo e de sua formação. O
Aprender alguma coisa. Provavelmente coi- conhecimento é expresso pelos seus desem-
sas que ela não pode aprender em casa: uma penhos frente às tarefas propostas. As atitu-
palavra difícil, um conceito, uma experiência. des expressam a formação e os valores do
É uma espécie de “instrução”, aliás, uma pala- indivíduo. As aprendizagens estão relacio-
vra meio incorreta atualmente na educação. nadas e condicionadas tanto pelo ambiente
(SOARES, 2015, p.6) de aprendizagem vivenciado na escola como
Na escola, não são atendidos apenas pelas propostas de atividades. A avaliação
os propósitos expressos dos professores, deve ser um mecanismo regulador da práti-
nem, além disso, os propósitos expressos da ca educativa, através da compreensão de si
Constituição e das leis. Nesse quadro eviden- mesma e da tomada de decisões a partir dos
te, cruzam-se os propósitos confessados e seus resultados.
não confessados de diversos setores e clas- Por fim, ou sem sucesso, a qual ou um
ses sociais, que se manifestam pela institui- dos alunos é impurizado por uma constela-
ção como em outras instâncias da sociedade. ção de circunstâncias sociais e escolares, to-
Para avaliar, esses interesses podem ser im- ma-se como justificativa para a saída precoce
postos com força especial, devido às implica- do sistema educacional. Não é a escola que
ções do processo. deixa de ajudar as crianças, não é o sistema
A discriminação, a justificação das de- social que nega oportunidades às crianças,
sigualdades ou o controlo sobre os menos são eles, seus próprios filhos, que são culpa-
poderosos tendem a manifestar-se particu- dos pela repetência e/ou deserção, por não
larmente neste momento. Não se trata de conseguirem superar o mínimo padrões.
um plano diabólico, mas sim de uma cadeia Devemos estar atentos para que, ao
de imprensas, ideologias e ações ao longo do se realizar uma ação avaliativa, para que ela
tempo. não seja tomada por aqueles interesses mi-
Da mesma forma, a avaliação basea- noritários mais poderosos que, pela dinâmi-
da em exercícios desprovidos de significado ca social, distorcem a vida escolar a seu fa-
real, altamente educados, cheios de termos vor, independentemente do que o educador
técnicos para memorizar, tende a desfavore- perceba.
cer ainda mais estudantes de setores de bai- Uma escola deve ser um mundo cul-
xa renda, cujos países não podem ajudá-los, tural rico que oferece às crianças múltiplas
estudamos, cujas casas são privadas de livros experiências de formação, e deve utilizar
ou periódicos e que, por essas e outras ra- uma avaliação em contextos naturais, con-
zões, temos muito mais dificuldade em acei- cebida como mais um suporte na aventura
tar um ensinamento pouco relevante e de da aprendizagem. A avaliação como auxílio é
convencionalismos que não conhecemos. um desafio, pois é mais sutil e complexa do
que verificar e qualificar.
Pais, sistema de ensino, profissionais Uma avaliação profunda do conheci-
da educação, professores e alunos, todos mento das crianças também revela onde as
têm suas atenções centradas na promoção, estratégias pedagógicas têm sido mais su-
ou não, do estudante de uma série de escola- cedidas. E onde apresentam necessidades
ridade para a outra. O sistema de ensino está de reorientação, por não terem conseguido
interessado nos percentuais de aprovação/ ajudar suficientemente as crianças na sua
reprovação do total dos educandos; os pais aprendizagem.
estão desejosos de que seus filhos avancem Também pode esclarecer deficiências
nas séries de escolaridade; os professores se na infraestrutura escolar, inconvenientes
utilizam permanentemente dos procedimen- nos planos de estudo, falta de recursos para
tos de avaliação como elementos motivado- a aprendizagem, ou aspectos negativos na
res dos estudantes, por meio da ameaça; os organização escolar e o "ambiente" não pre-
estudantes estão sempre na expectativa de

468
dominante na escola, entre outros aspectos do e potencializado para perceber na escuta
fundamentais. um “canal” que, se bem exercido, poderia dar
voz e vez às crianças e aos bebês e mostrá-
As mudanças implementadas no cam- -los como seres potentes, únicos e protago-
po educacional transformaram profunda- nistas do próprio aprendizado.
mente o processo de avaliação.
Como corrobora FREIRE (2007) pro-
É importante levar em conta a refle- curar entender as linguagens das crianças,
xão em conjunto com o feedback dos alunos assim como identificar os seus pensamen-
para que possam avançar e progredir no seu tos e desejos representa uma condição base
desempenho, na sua aprendizagem. Pode para que os docentes produzam resultados
se ter estratégias muito boas, fazer ativida- altamente positivos em relação a busca do
des muito divertidas, situações de avaliação comportamento inclusivo relacionado com
muito motivadoras, mas se não gerenciar ou o protagonismo infantil desenvolvido pelas
analisar constantemente os resultados ou crianças das séries iniciais do ensino funda-
analisar a informação, o processo fica pela mental no país.
metade.
A lei de diretrizes e bases da educação
O professor deve questionar constan- nacional criada ainda no final do século XX
temente como está fazendo, como se modi- mais precisamente em 1996 reconheceu esta
ficar, sempre pensando no andamento da necessidade dos professores educadores do
aprendizagem dos alunos porque tudo isso ensino regular elaborar os seus planejamen-
também nos leva a tomar decisões que nos tos de aulas direcionados a educação infan-
aproximem do objetivo, dar feedback e refle- til com os objetivos primeiro de buscar este
tir, tomar decisões para fazer ajustes. processo de inclusão e do protagonismo das
A avaliação faz parte do ensino e, nes- crianças.
te momento inédito, é também central para Na Revista Magistério 3, A doutora em
rever e fortalecer as propostas pedagógicas Educação Suely Amaral Mello (2014), corro-
implantadas e para se conseguir uma melhor bora a respeito das crianças e suas aprendi-
organização da atividade de professores, alu- zagens:
nos e famílias.
As crianças aprendem desde que nas-
Entre outros aspectos, a avaliação cem, mas aprendem de um jeito próprio em
pode ser realizada de forma qualitativa con- cada idade. Quando nos preocupamos em
siderando se os alunos têm conseguido man- perceber aquilo que o bebê é capaz de fazer
ter o vínculo com a escola e seus professores; desde pequenininho – em vez de olhar ape-
se estão tendo acesso às propostas de ensi- nas aquilo que ele ainda não consegue fazer
no; resolver as atividades propostas; levantar -, percebemos como o bebê se relaciona com
dúvidas, questionar, opinar; aprofundar os o mundo que o rodeia por meio do olhar, do
conhecimentos específicos sobre as diferen- gesto, do movimento, por meio daquilo que
tes disciplinas e realizar atividades educativas vê, pega, leva à boca, explora. É esse o senti-
de forma autónoma, sozinho ou com outras do do aprender quando a criança é pequeni-
pessoas que os acompanhem. ninha. (2014, p.46)
Uma avaliação deve ser proposta Para BARBOSA (2008) a pré-esco-
como atividade reflexiva tanto do ato de ensi- la no Brasil está procurando transformar o
nar quanto do ato de aprender, ou seja, uma seu conceito onde sempre predominaram
avaliação de ação e compromisso que permi- as condições assistencialistas e afetivas que
ta avançar na melhoria das Instituições e na não exige qualificação acadêmica dos pro-
qualidade da educação, que ajude a desven- fissionais professores e também não busca
dar as pequenas e grandes inconsistências e transformar o comportamento das crianças
superá-las. que apresentam dificuldades de aprendizado
Em suma, a avaliação deve ter um ca- através dos métodos pedagógicos da escuta
ráter formativo, que informe sobre possíveis que é possibilitado pela atividades escolares
reorientações, ajude a estabelecer priorida- que propõem o desafio para estas crianças
des, clarifique melhor os objetivos e promova poderem pensar e opinar dentro da sala de
uma utilização mais eficiente dos recursos. A aula.
avaliação deve servir para ver os desequilí- Como mostra VEIGA (2001) sem as
brios de determinadas políticas, e tem de se transformações que foram provocadas a
tornar um elemento de reflexão individual e partir da lei de diretrizes e bases a educa-
coletiva sobre o que fazemos e sobre o que ção infantil no país não teria evoluído e es-
somos, para ser o que dizemos que quere- taria num patamar de atraso comparado as
mos ser. nações subdesenvolvidas que não tem uma
educação infantil de base de qualidade para
as crianças.
A DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Assim para promover uma educação
Para atuar como docente na Educação inclusiva e o protagonismo infantil que é
Infantil deve se ter um olhar instrumentaliza- mostrado como uma condição relevante no

469
comportamento da formação educacional apesar de algumas experiências isoladas que
das crianças que frequentam o ensino de está sendo praticada no Brasil em relação
base das séries iniciais deve ter a frente pro- ao modelo de ensino infantil que está sendo
fissionais capacitados para a condução da proposto no projeto de ensino a educação
organização das didáticas direcionada para para crianças no país ainda vai demorar mui-
este público infantil. to para alcançar este estágio de qualidade,
principalmente quando se trata de ensino
Sobre esta condição dos profissionais público devido aos problemas estruturais so-
entender a fala e o pensamento das crianças ciais e culturais que fazem parte da formação
da educação infantil para que possam desen- educacional das crianças.
volver o seu comportamento, a opinião de
KINNEY (2009) é bastante relevante quando Como mostra VEIGA (2001) visualizar a
ressalta que; criança na sua formação de base como su-
jeito crítico e construtor de pensamento e
Os profissionais educadores ao de- ideias, principalmente como elemento inte-
senvolver os seus planos de aula devem ser grante da sociedade faz parte do papel do
direcionados para as condições que possi- professor educador dentro da realidade do
bilitam entender as principais necessidades ensino aprendizagem moderno.
deste público infantil, compreender as suas
formas de comunicação e a partir destas E um dos instrumentais mais indica-
condições procurar alinhar a sua didática de dos para exercer esta proposta é lançar mão
acordo com as especificidades e capacidades da interdisciplinaridade, onde as mais diver-
de cada criança (Kinney). sas disciplinas tem como função dentro des-
te processo pedagógico de complementar os
São estas condições que o projeto de conhecimentos impostos aos alunos.
ensino encontra a sua justificativa e os ob-
jetivos a serem cumpridos que é procurar
desenvolver estratégias que possibilitam os
professores alcançarem o desenvolvimento OS DIFERENTES TIPOS DE ESPAÇOS
do comportamento dentro da sala de aula Para compreender o ser humano é
deste universo de alunos da formação edu- preciso tentar entender a sua historicidade e
cacional infantil. a sua geograficidade, por isso a importância
SENGE (2005) defende que a didática de se conhecer o significado dessas palavras.
apresentada deve ser preparada de modo Na definição da professora Marieta Nicolau:
que possa buscar explorar as potencialida- Historicizar: significa o processo de
des de cada criança e assim promover a in- compreensão da história seja de ordem eco-
clusão e o ensino que faz realmente surgir as nômica, cultural, social ou política conside-
transformações tão necessárias para cons- rando também seus antecedentes.
truir cidadãos com personalidades e opini-
ões próprias. Implica também conhecer e entender
o indivíduo a partir de sua história e experi-
Deve se observar neste contexto que ência de vida.
o modelo de ensino da educação infantil
que está sendo idealizado para este projeto É também importante que a escola vá
educacional da linha de pesquisa da docên- propiciando espaços de ressignificação cons-
cia não é definitivo e acabado, pois leva em tantes dessa história individual de forma que
consideração que para colocá-lo em prática o indivíduo possa compreender-se em sua
em países como o Brasil necessita de ajustes singularidade e na complexidade das rela-
constantes de forma periódica para que pos- ções que o envolvem.
sa ser adaptado a nossa realidade cultural Geograficidade: significa compreender
em relação a educação infantil praticada em o lugar através de suas necessidades existen-
cada região do país. ciais, quais sejam, localização, posição, mobi-
E o primeiro passo rumo a esta trans- lidade, interação com os objetos e/ou com as
formação é procurar capacitar de forma ade- pessoas. O lugar é o espaço da existência e
quada os nossos profissionais educadores coexistência.”
no sentido de procurar entender as diversi- A criança se socializa através dos co-
dades de linguagens que este público infantil nhecimentos adquiridos em seu meio am-
tem a capacidade de produzir. biente. A partir do momento que começa a
Observa se a partir da experiência de- frequentar a escola, em seu período de Edu-
senvolvida em diversas regiões do país vem cação Infantil, a criança vai formando a sua
mostrar de forma acentuada que a criativi- identidade, seus valores vão sendo transfor-
dade das crianças apresenta uma grandeza mados ao mesmo tempo em que outros vão
infinita e que precisa de profissionais da edu- sendo assimilados, ela já se sente parte inte-
cação com capacidade para ser explorada grante no tempo e espaço.
e produzir resultados capazes de provocar Na escola ou fora dela os brinquedos
transformações na sua personalidade. e brincadeiras estão intimamente ligados ao
Outra observação importante é que processo de socialização infantil, pois através

470
deles as crianças aprendem a brincar com o Tempo na definição do dicionário Au-
tempo e o espaço, assumem papéis diversos rélio é “a sucessão dos anos, dos dias, das
na sociedade, começam a conhecer jogos e horas etc., que envolve, para o homem, a no-
brincadeiras tradicionais que faziam parte da ção de presente, passado e futuro: o curso
infância e história de seus pais e percebem do tempo. Momento ou ocasião apropriada
que elas próprias reinventam e reconstroem para que uma coisa se realize”.
a sua história.
Para os adultos organizarem o tem-
A professora Marieta Nicolau enfatiza po é uma estratégia fundamental devido ao
que “os brinquedos e as brincadeiras são fios acúmulo de funções no seu dia- a- dia. Para a
condutores de nossas reflexões sobre a com- criança a organização do tempo faz com que
preensão de mundo pelas crianças” e ilustra ela consiga desenvolver suas atividades de
com dois exemplos: forma independente sem a dependência de
um adulto, contribuindo para o seu amadu-
recimento.
Exemplo 1 A professora Neide Noffs verbaliza
Nicolau (2003, p.20) lembra que na que para que a rotina seja organizada é ne-
apresentação da obra Os dois de Brasis, de cessário:
Jacques Lambert (19590, publicada pelo INEP, “Favorecer a interação entre as crian-
há uma referência a ças; trabalho com grupo- classe, subgrupos,
Euclides Da Cunha quando o grande em que as iniciativas tanto da criança como a
escritor brasileiro afirmou: “uma viagem no do professor sejam alteradas;
Brasil implica, frequentemente, não apenas Propiciar situações em que a criança
um deslocamento no espaço, mas também possa tomar decisões, escolher qual ação ela
no tempo.” quer vivenciar;
A autora nessa mesma obra, apresen- Propiciar situações de trabalho em di-
ta outra afirmação sobre a área educacional ferentes espaços- sala de aula, pátio, excur-
focalizando na cultura brasileira, tão enrique- sões, salas- ambientes;
cida, de local para local.
Propiciar situações de planejamento/
Esta constatação nos remete à neces- execução/ organização do espaço/ de regis-
sidade de buscar um planejamento de ativi- tro/ de recreações livre e dirigidas/ de ações
dades flexíveis na Educação Infantil, de modo espontâneas/ ou dirigidas, enfim, participar
que se considere que: de atividades diversificadas utilizando dife-
• cada criança e as pessoas que rentes linguagens;
com ela interagem têm suas próprias Identificar os materiais de que a clas-
histórias, se dispõe: materiais didáticos, brinquedos,
jogos etc.;
• cada grupo de crianças mostra
interesses peculiares; Organizar a rotina com a própria
criança, por meio da questão: o que vamos
• cada grupo de crianças retrata fazer hoje?”
valores diversos e aproveita mais ou menos
a troca de ideias que acontece no cotidiano Segundo o Referencial Curricular Na-
da creche e da pré-escola. cional da Educação Infantil (RCNEI, 1998), o
tempo pode ser organizado em três moda-
A Educação Infantil propicia para a lidades: atividades permanentes, sequência
formação de pessoas cidadãs a partir de sua de atividades e projetos de trabalho.
contribuição social.
Zabalza (1998) determina que “o es-
paço refere-se ao espaço físico, ou seja, aos
Exemplo 2 locais, para a atividade caracterizados pelos
objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobi-
Pacheco (2002, p. 2) considera em liário e pela decoração. Já o ambiente refere-
sua obra “A criança e o lúdico” que o brincar -se ao conjunto do espaço físico e às relações
é visto como sonhar, ser livre, fantasiar, re- estabelecidas no mesmo.”
criar, descobrir, construir... é o jeito de viver As noções de localização e de orienta-
o mundo, é o jeito de ser. Brincando, a crian- ção devem estar presente na vida dos indiví-
ça é um ator participativo e é construtora de duos e também serem incorporadas na cons-
sua história, pois é através do jogo enquanto trução progressiva de espaço, em diferentes
mecanismo imaginário que a criança realiza visões.
todos os seus desejos, mesmo que o mundo
real impeça.” Para Ostetto (2002) a elaboração da
A organização do tempo na Educação rotina deve ser de cinco referenciais de pla-
Infantil nejamento a seguir:
“Planejamento baseado em listagem

471
de atividades; que não conseguem esperar a sua vez.
Planejamento em datas comemorati- A professora Ana Maria Mello diz que
vas; “é preciso refletir sobre a organização do
tempo e do espaço nas unidades de Educa-
Planejamento baseado em áreas de ção Infantil. Precisamos analisar as oportu-
desenvolvimento; nidades para as crianças se apropriarem do
Planejamento baseado em temas; mundo que estão inseridas. Devemos obser-
var as crianças que ficam na escola de 5 até
Planejamento baseado em conteúdos 10 horas para vermos se elas conseguem fa-
organizados por áreas de conhecimento.” zer amigos, brincar, ouvir história e músicas,
De acordo com Madalena Freire (2002) dormir com o sossego do tempo da infância.”
em sua obra “A paixão de conhecer o mundo” O tempo não será nosso inimigo des-
retrata que a rotina de trabalho deve conter de que não seja usado de forma a nos man-
o objetivo de situar as crianças num espaço e ter prisioneiros a ele.
num tempo definidos e concretos:
Tomemos como exemplo uma creche;
A gente vai para o parque, depois do as crianças não precisam necessariamente
lanche, não é? almoçarem na mesma hora muito menos
Já chegou a hora da mãe chegar? (refe- dormirem na hora em que lhes são manda-
rindo-se à hora da estória); das. Muitas vezes o espaço não é utilizado de
maneira apropriada para crianças e adultos
Depois do parque é que vem a histó- levando em conta também que os espaços
ria, não é? na educação pedem reformas de pintura,
jardinagem, brinquedos seguros, areia limpa
Já acabou a roda? Vamos desenhar? etc.
Ficamos tanto tempo na roda que che-
gou até a hora do lanche.
O PAPEL DOCENTE NA ORGANIZAÇÃO
A hora da história constitui-se num DA SALA DE AULA
indicador de tempo: está perto da mãe che-
gar. A participação do professor na orga-
nização da sala de aula é fundamental, pois
De acordo com os relatos de Madale- ele introduz suas intenções educativas e seu
na Freire, o cotidiano da escola deve ser im- método de trabalho para a criação de um
portante para propiciar uma rotina de modo ambiente com contexto de aprendizagem.
rígido, podendo ser flexível durante o dia de
acordo com o interesse das crianças. Nessa tarefa o professor deve consi-
derar além de seu projeto educacional, os
recursos e as condições como os espaço, a
Recomendações na organização do iluminação, o piso, o mobiliário, as salas, o
tempo número de alunos etc., para decidir que tipo
de atividade possa desenvolver com seus
Para a professora Neide Noffs músi- alunos. Deve selecionar os recursos que pos-
ca é uma excelente ideia quando é preciso sam ser utilizados na atividade.
mudar de atividade na rotina diária, pois as
crianças nunca querem parar o que estão O espaço pedagogicamente elaborado
fazendo, recomenda também evitar sinais pelo professor deve conter outros aspectos
agressivos como apito e gritos pois tendem a de seu planejamento para uma possível ob-
soar como punição. servação e avaliação em relação a sua possi-
bilidade de influenciar a conduta da criança.
Depois de algumas reflexões sobre a É papel do professor observar reflexivamen-
organização do tempo e do espaço; a seguir te para avaliar se a configuração do ambien-
tratarei de algumas considerações impor- te responde de maneira eficaz às propostas
tantes para o desenvolvimento das crianças educativas assumidas.
como: o panorama para a Educação Infantil;
O espaço para a infância como contexto de A avaliação e a revisão do ambiente
aprendizagem e a estrutura da sala de aula. devem ser feitas pelo professor em diferen-
tes momentos. A autora apresenta outros
Muitas vezes os educadores passam tipos de recursos que devem ser desenvolvi-
por situações com crianças entre doze e vinte dos pelo professor logo no início do ano leti-
e quatro meses se agredindo principalmente vo.
através de mordidas ou com grupos de crian-
ças a partir dos três anos brigando quando O processo contínuo de avaliação
estão brincando, comendo ou tomando ba- pode resultar na necessidade de se reformu-
nho. Isso acontece porque é difícil dar aten- lar o projeto educacional, ou a organização
ção a todas ao mesmo tempo, percebe-se do ambiente, ou de simplesmente aperfeiço-
assim que é preciso dar um tempo de espera á-la. Tanto um quanto o outro requerem do
para atendê-las nas suas diversas atividades educador uma contínua reflexão sobre suas
pois sempre há crianças mais experientes intenções educativas.”

472
A instituição de Educação Infantil pre- a locomoção e a transformação do ambiente
cisa conter espaços adequados para o desen- de acordo com as necessidades da criança.
volvimento de diversas atividades e também
para a eliminação de barreiras arquitetôni- Os tipos de materiais existentes na
cas. sala de aula devem estar ao alcance das
crianças para provocarem a autonomia sem
Outro fator referente da escola é o ta- risco algum. E também devem ser colocados
manho do pátio que as crianças brincam e aos poucos para a realização dos projetos
de seus recursos. São fatores que o profes- que estão sendo desenvolvidos.
sor deve considerar para o planejamento e a
construção do espaço.
Lina recorre a Zabalza para a impor- Modelos Pedagógicos
tância do espaço que pode favorecer ou di- O segundo elemento para a tomada
ficultar o desenvolvimento das atividades de decisões são os modelos pedagógicos que
educativas. O ambiente deve ser próprio ou são de interesse do professor e das políticas
limitante de acordo com a sua organização públicas.
e os objetivos e métodos educacionais como
sendo “contexto de aprendizagem”. Para Lina o modelo educativo do pro-
fessor é referente a sua prática do ensino, a
Considerando que a noção de espaço sua formação cultural e profissional, sua ex-
escolar envolve os objetos distribuídos em periência etc.
determinados lugares e a relação que se es-
tabelece entre eles e as pessoas que o fre- De acordo com Lina que o modelo
quentam, a autora propõe que sejam levados educativo das políticas públicas interfere na
em conta três aspectos na organização dos organização dos espaços, através de suas di-
espaços da instituição de Educação Infantil: retrizes educacionais determinadas e a esco-
la deve adaptar os seus alunos a essas dire-
trizes.
Aspectos que interferem na tomada
de decisão do professor
Elementos Pessoais
Serão apresentados os elementos
contextuais, os modelos pedagógicos, os ele- Outro elemento para a tomada de de-
mentos pessoais e o planejamento didático. cisões do professor em relação a organização
do espaço refere-se as pessoas envolvidas:
crianças e professores.
Elementos Contextuais Em relação a criança o professor deve
Os elementos contextuais são dividi- considerar alguns aspectos importantes
dos em macro contexto (ambiente e escola) e como: idade, necessidades e características
micro contexto (salas e espaços anexos). dos locais de onde procede.
No macro contexto são lembradas as A idade da criança está relacionada a
condições climáticas como o frio, o calor, a sua autonomia. É através das características
quantidade de chuva, existência de espaços da criança que o espaço e os materiais de-
cobertos e espaços abertos como fatores vem ser adaptados para que a criança possa
que devem ser levados em conta pelo educa- manipulá-los com segurança e que também
dor quando planeja o espaço. sejam estimulantes para elas.
No macro contexto também são en- As necessidades da criança são variá-
contrados os recursos do ambiente como os veis de acordo com a idade. Estas necessida-
espaços naturais existentes, sobre os quais o des podem ser biológicas, afetivas e sociais.
professor pode transformá-los em contexto Os espaços devem permitir o descanso e ao
de aprendizagem. mesmo tempo propiciar atividades intensas,
devem também guardar semelhança com o
Os elementos do micro contexto são lar da criança, para que esta não note a di-
a sala de aula e os espaços anexos que apre- ferença e não sofra muito e que atendam às
sentam em seu planejamento os elementos necessidades dos meninos e meninas.
estruturais, o mobiliário e os materiais.
As características dos locais de onde
Os elementos estruturais da sala de procedem oferecem alguns elementos para
aula são aqueles usados na organização das que o professor possa decidir quais as ativi-
atividades e também a existência de espaço dades que devem ser desenvolvidas para a
anexo, a dimensão da sala, a posição das ja- organização do espaço.
nelas, a existência e a localização de pontos
de água, a existência de armários embutidos A escolha das atividades deve conter
ou estantes fixas, o tipo de piso. “dupla função” - de interesse da criança e
de possibilitar novas experiências. Quando
O mobiliário interfere na organização os materiais e as atividades são conhecidos
do espaço devido à sua quantidade- excesso pela criança, o professor deve auxiliá-la para
e falta- e algumas propriedades que facilitam a ampliação de seu olhar e aprender a diver-

473
sificá-lo. Quando os materiais e as atividades ser feita esta atividade e uma outra diversi-
são novos devem provocar novas experiên- dade pouco estruturada que permite a reali-
cias. É de extrema importância conhecer as zação desta atividade de várias maneiras;
características do ambiente, do qual as crian-
ças vieram para organizar as atividades e o Diversidade de agrupamentos- pos-
espaço que atendam essa dupla função. sibilita que as atividades possam ser feitas
com todo o grupo ou em grupos pequenos;
Além do modelo educativo que o
professor adota, outras características in- Diversidade de posição corporal- pos-
fluenciam também nas suas decisões: seus sibilita que as atividades sejam
valores, sua ideologia, sua experiência profis- feitas de diferentes maneiras como:
sional e a sua criatividade etc. sobre a mesa, sentado, de pé, deitado no
chão etc.;
Modelo Didático Diversidade de conteúdo- as ativida-
des devem estar relacionadas com as ativida-
O último elemento para a tomada de des propostas no projeto curricular da esco-
decisões que interfere na organização do es- la como: de comunicação, jogos, expressão
paço refere-se ao Modelo Didático adotado plástica, movimento etc. e de “gestão e servi-
pelo professor. A organização da sala deve ço” como: exposição de trabalhos, armazena-
ser observada pelo professor para o desen- mento de material, lavabo etc.
volvimento de suas definições metodológi-
cas. Se pretende trabalhar “com cantos, ofici- Outra sugestão referente a organiza-
nas, unidades didáticas, centros de interesse, ção da sala de aula é a questão estética, a fim
método de projetos.” de transformar a sala agradável e ao mesmo
tempo educar “a sensibilidade artística da
Para o desenvolvimento das ativida- criança”. Propõe que seja harmoniosamen-
des o espaço deve estar organizado para que te colorida, original, criativa e personalizada
o professor possa distribuir os materiais e as (com a participação do aluno, para que reflita
atividades para as crianças de modo organi- sua identidade) e que ainda inclua réplicas de
zado. As decisões sobre o projeto pedagógi- obras de arte.
co devem conter a metodologia usada pelo
professor, a fim de definir como deve estar
organizado o espaço como uma estrutura de CONSIDERAÇÕES FINAIS
estímulos e de oportunidades para as crian-
ças expandirem suas experiências. A formação de professores é uma
prática que precisa de um compromisso ati-
vo, pois sendo tão dinâmica exige atualiza-
Critérios de organização do espaço ção constante, ou seja, cada professor deve
ter boa formação e preparo, e ter alta capaci-
São propostos alguns critérios para dade pedagógica, pois os desafios do ensino
orientar a organização dos espaços para as exigem técnicas atuais para ensinar as pes-
crianças brincarem. Estes critérios devem fa- soas com diferentes formas de entender a
vorecer a escolha, a autonomia, a segurança, informação.
o atendimento das necessidades da criança e
sua formação ética e estética. Além disso, para ser professor é pre-
ciso ter vocação, ou seja, ter vontade de de-
É através desses princípios que a auto- senvolver suas aulas, ser proativo na didática
ra propõe que as salas estejam organizadas que administra e sentir paixão por conseguir
por áreas de atividades que possibilitem a es- mais.
colha dos objetos pelas crianças. Essas áreas
facilitam a autonomia da criança e devem ser Um professor pesquisador é aquele
de entendimento fácil. que participa da articulação das teorias pre-
sentes em suas próprias práticas, com base
Outro aspecto que pode facilitar o de- no conceito de interdisciplinaridade, que se
senvolvimento da autonomia da criança refe- baseia em combinar várias disciplinas, para
re-se à acessibilidade do mobiliário e do ma- interligá-las e, assim, potencializar as van-
terial. Para que o educador possa trabalhar tagens de cada uma, evitando o desenvolvi-
em grupo é necessário que ele de liberdade mento de ações isoladas, dispersas ou fracio-
para a criança desenvolver a sua autonomia. nadas.
Os mobiliários e os materiais devem Para ele, a pesquisa é uma busca e in-
estar organizados de modo que a criança te- vestigação sistemáticas aliadas à autocrítica
nha uma maior segurança em manuseá-los. que exige a união de fato entre teoria e práti-
ca, entre saber e fazer.
A autora sugere algumas diversidades
para atender as necessidades da criança: Todos os professores podem continu-
ar a desenvolver-se na sua vida profissional
Diversidade de áreas- dividida em dois de acordo com a sua formação académica,
momentos: uma diversidade muito estrutu- experiência, responsabilidade, desempenho
rada, na qual a atividade indica como deve e competências. Algumas dessas formações

474
podem ser, bacharelado, mestrado, doutora-
do ou especializações.

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475
A LINGUAGEM MUSICAL COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
SANDRA IZABEL ADÃO SALVIANO

RESUMO edom and imaginative creativity, as well as


the construction of children's initiatives and
A linguagem musical é uma forma de subjectivity in a path of experience and ex-
expressão que instiga a ampliação da per- periment that consists of exploring, creating,
cepção e da consciência porque permite vi- and expanding the paths and the resources
venciar e conscientizar fenômenos e concei- for making music.
tos diversos possibilitando diferentes formas
de observar, sentir, produzir, explorar, criar Keywords: Musical language, Chil-
e expressar-se. Por ser uma das formas de dhood and Learning.
representação simbólica do mundo, a músi-
ca em sua diversidade e riqueza, permite-nos
uma sensibilidade outra. De maneira signifi- INTRODUÇÃO
cativa, a música contribui para o desenvolvi-
mento das habilidades cognitivas, auditivas e A música evoca sentimentos e emo-
linguísticas, tecendo um percurso de apren- ções, inspirando reações e sensações, bem
dizagens que estimulam o desenvolvimento como diferentes formas de observar; sentir;
integral, logo, as ações promovidas influem pensar; criar; imaginar e produzir possibili-
em todo processo de aprendizagem median- tando o desenvolvimento de habilidades im-
te as experiências e interações fomentando portantes para o desenvolvimento integral.
um caminho de possibilidades e sensibili- Na infância a música encanta e possibilita
dades, pois com base nas experiências, as diferentes formas de exploração desse am-
crianças vão construindo e compartilhando biente sonoro e dinâmico.
olhares, saberes e fazeres. Nesse percurso Além de provocar emoção, a música
de aprendizagens individuais e colaborativas exerce papel fundamental na educação in-
o ambiente escolar é rico em possibilidades fantil, pois a linguagem musical é auricular,
interativas; criativa/ imaginativas e expressi- baseada em três elementos indispensáveis:
vas. Contudo o trabalho com a música instiga som, movimento e timbre ou qualidade so-
tanto a liberdade imaginativa e a criatividade nora possuindo simbologia própria entre a
imaginativa, quanto à construção das inicia- prática musical, desenvolvimento auditivo,
tivas das crianças e da subjetividade em um cognitivo e linguístico.
percurso de experiência e experimento que
consiste em explorar, criar e ampliar os cami- A linguagem musical no processo de
nhos e os recursos para o fazer musical. ensino apresenta-se como um instrumento
Palavras-chave: Linguagem musical; metodológico e pedagógico de significativa
Infância; Aprendizagem. importância, pois amplia as possibilidades de
aprendizagem dinamizando o processo, pro-
porcionando um estado agradável de bem-
-estar contribuindo com a saúde emocional.
ABSTRACT
O ambiente escolar é rico em possibili-
Musical language is a form of expres- dades de interações; aprendizagens individu-
sion that instigates the expansion of percep- ais e coletivas. Desse modo é preciso que o
tion and consciousness because it allows cotidiano escolar na educação infantil ofere-
experiencing and raising awareness of diffe- ça à criança um ambiente musical educativo
rent phenomena and concepts, enabling dif- que proporcione a descoberta, a pesquisa, o
ferent ways of observing, feeling, producing, encantamento e a exploração, considerando-
exploring, creating and expressing oneself. -a como um ser plural que se comunica e dia-
As it is one of the forms of symbolic repre- loga com o mundo a sua volta.
sentation of the world, music in its diversity
and richness allows us a different sensitivity. É possível promover um conjunto de
Significantly, music contributes to the deve- práticas que tornem a experiência com a mú-
lopment of cognitive, auditory, and linguistic sica mais significativa, por meio de diferentes
skills, creating a learning path that stimulates formas de sensibilização, apreciação, produ-
integral development. Therefore, the actions ção, representação, exploração musical, so-
promoted influence the entire learning pro- nora, corporal despertando emoções, a ima-
cess through experiences and interactions, ginação, a criatividade, afetos, habilidades e
fostering a path of possibilities and sensibi- muitas vezes talentos represados.
lities, because based on experiences, chil- Esse trabalho visa mostrar a importân-
dren build and share views, knowledge, and cia da linguagem musical na Educação Infan-
actions. In this path of individual and colla- til, destacando a potência da multiplicidade
borative learning, the school environment is de experiências que a mesma promove, auxi-
rich in interactive possibilities; creative/ ima- liando as crianças no amplo desenvolvimen-
ginative and expressive. However, working to de diferentes habilidades sendo de extre-
with music instigates both imaginative fre-

476
ma importância para a reflexão, apreciação e maneiras originais de sentir, produzir, apre-
a produção durante o aprendizado. ciar e expressar-se. Através dessa vivência é
possível contribuir com a formação de futu-
ros ouvintes, artistas, professores de música,
DESENVOLVIMENTO produtores musicais e pessoas com a sensi-
bilidade apurada.
A música é uma linguagem universal
que possibilita a liberdade expressiva, pro- Sendo músico ou não, todos podem
move o equilíbrio, desperta a sensibilidade aprender com a música, pois a música é lin-
proporcionando um estado agradável de guagem; é sentimento; é emoção; é liber-
bem-estar e enriquecendo o desenvolvimen- dade. A aprendizagem explicita da música,
to global sendo de grande importância no instiga, provoca, sensibiliza, impulsiona as
desenvolvimento físico, emocional e cogniti- aprendizagens, por meio das práticas que
vo tanto na infância, quanto na fase adulta. a integram. Desse modo, o teatro musical é
uma das opções, por meio da encenação de
A exploração musical vai muito além peças, do canto, da dança, ou da exploração
da arte de combinar sons, essa linguagem de instrumentos sonoros é possível dar vida
possibilita conexões, visto que por meio dela aos personagens e situações.
é possível se expressar com som; ritmo; le-
tras; movimentos corporais, entre outras for- Gardner (1994) aponta que:
mas, transmitindo emoções e sentimentos. A Qualquer indivíduo normal que teve
música é em especial uma forte presença ar- uma exposição frequente à música pode ma-
tística na cultura e pode ser considerada uma nipular o som, o ritmo e o timbre para parti-
das artes que mais influenciaram na cultura. cipar com algumas habilidades de atividades
Essa forma de expressão integra, tan- musicais, incluindo a composição, o canto ou
to o divertimento e a possibilidade de ex- a execução de instrumentos. Howard Gard-
pressão, quanto o desenvolvimento integral ner (1994)
contemplando as dimensões; intelectuais; O trabalho com a música contribui
sensoriais; motoras; linguísticas e cognitivas. para a formação integral do ser humano e
Tanto na infância, quanto na idade adulta a hoje um grande número de pesquisas com-
linguagem musical potencializa as aprendiza- prova os benefícios e as dimensões que o tra-
gens por meio da multiplicidade de experiên- balho com a música pode proporcionar em
cias que a mesma contempla. termos de desenvolvimento de habilidades
A linguagem musical como suporte de cognitivas, emocionais e sociais.
aprendizagem, contribui significativamente Logo, música e a infância se relacio-
para integrar as diversas áreas de conhe- nam de modo expressivo e dinâmico poden-
cimento, pois é uma ferramenta que cria do contribuir para uma educação mais críti-
condições para explorar o mundo, propor- ca, criativa e lúdica, ampliando as percepções
cionando ricas experiências de como relacio- de mundo. Nessa relação, os estímulos mu-
nar-se com os recursos, instrumentos, obje- sicais podem oferecer ricas e significativas
tos sonoros, corporeidade consigo mesmo e vivências às crianças, despertando atitudes
com os outros. curiosas e aumentando, por consequência, a
A experiência promovida pela musica- disponibilidade para a aprendizagem.
lização permite o desenvolvimento da capa- A música traz muitos benefícios no de-
cidade de expressar-se de modo integrado, senvolvimento infantil, ouvir, cantar, dançar
logo, um ambiente musical rico em possibili- e praticar aulas com objetos que produzem
dades de exploração, precisa ser compreen- sons ou instrumentos musicais pode ajudar,
dido como um recurso expressivo, um pro- e muito, no crescimento saudável dos peque-
cesso que envolve sentimentos e emoções, nos. Envolver a música como instrumento
podendo ser vista como uma fonte enrique- pedagógico possibilita a ampliação de olha-
cedora de aprendizagens proporcionando o res, saberes e fazeres na infância contribuin-
fluir da liberdade. do significativamente para o amplo desenvol-
A familiarização com a lingua- vimento.
gem musical, com a exploração de som e rit- Na infância a garantia dos direitos de
mo, possibilidades sonoras, através de jogos aprendizagem deve ser concebida, logo ex-
e recreações comtempla o universo sonoro plorar as múltiplas linguagens e promover
no qual o aprendizado musical pode chegar ações que contemplem a multiplicidade de
de maneira significativa às crianças. O des- experiências direcionadas ao fazer musical, a
pertar musical na educação infantil, desde o escuta e a musicalização potencializam o de-
berçário, é uma riqueza incalculável para a senvolvimento cognitivo, afetivo e motor em
formação da criança. um percurso de experiência e experimento
A música como excelente instrumen- no qual de forma lúdica e interativa dê mais
to didático-pedagógico é capaz de provocar qualidade ao processo educacional em si.
grandes avanços em ambiente escolar. Ela é Nesse percurso de desenvolvimento o
essencial no processo de liberdade expressi- ambiente escolar contribui significativamen-
va e criatividade imaginativa, possibilitando

477
te por ser um espaço rico em possibilidades dades expressivas; corporais; cognitivas e
de aprendizagens, sendo assim o cotidiano expressivas. O contato com brinquedos so-
escolar na educação infantil contempla prá- noros e brincadeiras cantadas (re) significam
ticas integradas que envolvem contextos lú- o percurso vivido no qual, as crianças podem
dicos e interativos articulados as aprendiza- cantar; dançar; explorar objetos/ instrumen-
gens colaborativas. tos sonoros, sons do corpo entre outros.
Na escola e por meio das ações que As práticas pedagógico-musicais am-
permeiam o cotidiano ao envolver a música pliam as aprendizagens, por meio das prá-
como instrumento pedagógico é possível co- ticas que permeiam o cotidiano escolar; da
nhecer e preservar tradições musicais bem multiplicidade de experiências que a lingua-
como conhecer a produção musical de ou- gem musical promove, bem como o uso de
tros povos e culturas, e de igual modo, explo- outros meios artísticos e sonoros para um
rar, criar e ampliar os caminhos e os recursos desenvolvimento significativo.
para o fazer musical.
Essa linguagem é uma ferramenta
Ao trabalhar com a música, as brinca- significativa de aprendizagem, pois além de
deiras cantadas, jogos baseados principal- contribuir com o desenvolvimento global,
mente, na voz, no gesto corporal, no movi- desperta o interesse, o entusiasmo e a par-
mento e na criação tecem caminhos para a ticipação ativa das crianças na educação in-
expressividade, possibilitando um trabalho fantil em um percurso de experiência e expe-
voltado para o desenvolvimento do potencial rimento de forma lúdica, interativa, divertida
criativo, comunicativo, interpretativo e ex- e dinâmica.
pressivo partindo da expressão espontânea
das crianças, não apenas com atividades di- Ao explorarem as brincadeiras musi-
rigidas. cais, os sons da voz, dos objetos, do corpo e
dos instrumentos se integram aos elementos
Nesse caminho, a melodia, o ritmo e sonoros, sendo descobertos e inovados pe-
os sentimentos que as canções despertam las crianças. Desse modo música no espaço
são um convite para que a gente se mexa. de educação infantil, integra ludicidade, inte-
Esse estímulo é benéfico para a criança, pois ração, diversão e desenvolvimento configu-
aperfeiçoa a sua expressão corporal, além rando-se como um elemento importante que
disso, a música também contribui para que contribui para uma educação completa.
as crianças possam extravasar os seus senti-
mentos e emoções. Os elementos auditivos e orais pos-
suem papéis fundamentais na linguagem e
Na educação infantil o processo de esses elementos agem diretamente nas in-
educação musical deve ser adaptado à reali- teligências linguísticas e musicais. O trabalho
dade social em que a criança vive, respeitan- com a música favorece a prática de apren-
do seus tempos, ritmos e individualidades de der a aprender, em um movimento aspiral
modo a enriquecer o percurso de aprendiza- de aprender a conhecer, aprender a fazer,
gens das crianças e contribuir com o desen- aprender a viver e aprender a ser em cami-
volvimento global integrando os vários níveis nho rico em possibilidades expressivas.
de conhecimento, de expressão: sensorial;
relacional; afetiva; cognitiva e linguística. Sobre o trabalho com a musicalização
Bréscia (2003) afirma que:
De acordo com o Referencial Curricu-
lar Nacional (1998): O trabalho de musicalização deve ser
encarado sob dois aspectos: os aspectos in-
È muito importante brincar, dançar trínsecos à atividade musical, isto é, ineren-
e cantar com as crianças, levando em conta tes à vivência musical: alfabetização musical
suas necessidades de contato corporal víncu- e estética e domínio cognitivo das estruturas
lo afetivos. Deve-se cuidar para que os jogos musicais; e os aspectos extrínsecos à ativi-
e brinquedos não estimulem a imitação ges- dade musical, isto é, decorrentes de uma
tual mecânica e estereotipada que, muitas vivencia musical orientada por profissionais
vezes, se apresenta como modelo às crian- conscientes, de maneira a favorecer a sen-
ças. (BRASIL. Referencial Curricular, 1998, p. sibilidade, a criatividade, o senso rítmico, o
59) ouvido musical, o prazer de ouvir música, a
imaginação, a www.conedu.com.br memória,
Ao entrar no mundo dos sons e da a concentração, a atenção, a autodisciplina, o
música as crianças ampliam a sensibilidade à respeito ao próximo, o desenvolvimento psi-
música; a capacidade de concentração; a co- cológico, a socialização e a afetividade, além
ordenação viso motora, a acuidade auditiva, de originar a uma efetiva consciência corpo-
o equilíbrio emocional, as diferentes formas ral e de movimentação (BRÉSCIA, 2003, p. 15).
de interação entre os sujeitos, ambientes,
materiais e outros atributos que colaboram O trabalho com a musicalização é
na formação do indivíduo e no processo da muito mais que ouvir ou produzir sons, ela
aprendizagem significativa. contribui para estimular, nas crianças, o de-
senvolvimento da criatividade, da sensibilida-
Ao vivenciarem momentos de musi- de musical, do senso rítmico, da percepção
calização, as crianças ampliam suas capaci- auditiva, do prazer de ouvir e da consciência

478
corporal permitindo diferentes sensações, planejamento; (re) planejamento; organiza-
emoções despertando por sua vez diferentes ção; (re) organização de tempos; ambien-
formas de sentir, descobrir, expressar-se e tes e materiais, colaborando, assim, para a
encantar-se. construção de uma sociedade mais aberta
aos processos artísticos de modo geral, logo,
A música é uma forma de expressão explorar essa linguagem desde a infância é
viva e dinâmica, enfatizando esta enquanto fundamental para o amplo desenvolvimento.
um processo cognitivo importante para o de-
senvolvimento integral, se torna indispensá-
veis como ferramenta de aprendizagem, pois
valoriza a liberdade de expressão, alimenta CONCLUSÃO
as emoções despertando diferentes pensa- A música é uma ferramenta de apren-
mentos, sentimentos, percepções, sensações dizagem que potencializa o desenvolvimento
e reações, bem como as diferentes mani- integral por meio das experiências que essa
festações de expressão de uma cultura e de linguagem possibilita. Através do trabalho
uma época histórica. com música, as crianças escutam e produ-
Essa produção, escuta e sintonia de zem sons, manuseiam e manipulam instru-
sons, simultânea e sucessivamente, instiga mentos musicais e objetos sonoros diversos,
movimentos, percepções, e ações traz me- participam de jogos cantados e compõem e
lhorias para a saúde emocional, bem como o improvisam canções brincando.
aumento da sensibilidade, também contribui Na infância, a música encanta e des-
para melhorar as capacidades de coordena- perta o interesse, entusiasmo e participação
ção motora; concentração e memorização, das crianças, logo, possibilitar a experiência
principalmente, quando trabalhada de forma das crianças com esse universo musical am-
interativa, em harmonia com outras temáti- plia as capacidades infantis em um momento
cas e linguagens. lúdico interativo e de experiências diversas.
É fundamental possibilitar o contato Na educação infantil o planejamento
com a linguagem musical no ambiente es- permeado por experiências com músicas e
colar, pois promove o autoconhecimento, a sons possibilitam a ampliação das capacida-
autodisciplina, a paciência, melhora a con- des auditivas; perceptivas; linguísticas, inven-
centração e a atenção, bem como a orienta- tivas, expressivas e imaginativas das crian-
ção e coordenação viso motora, diminuindo ças, pois através de expressões sonoras, elas
o estresse, melhorando a comunicação e a constroem conhecimentos e simbolismos
sensibilidade ajudando a criar vínculos. em práticas singulares e coletivas.
Diante disso, o docente precisa pensar O trabalho com a música possibilita
em ações pedagógicas que envolvam ativi- maneiras originais de se expressar e apre-
dades criativas e concomitantes, incentivar a senta-se como excelente instrumento didá-
força criadora, considerar ritmos, individuali- tico- pedagógico capaz de provocar grandes
dades, instigando e valorizando as descober- avanços nas aprendizagens proporcionando
tas, bem como as diferentes formas de sentir, às crianças a expressão do seu imaginário e
pensar, criar, imaginar por meio de materiais o prazer de descobrir e inventar novos sons,
expressivos, diferentes suportes, experiên- assim, usando a criatividade e materiais sim-
cias diversas que envolvam plenamente os ples para criar universo sonoro.
sentidos, possibilidades sonoras, corporais e
visuais. Diante do exposto é possível compre-
ender a linguagem musical em seu sentido
Diante dessa perspectiva de ações mais amplo, como forma de expressão, de
pedagógicas significativas para o desenvolvi- liberdade, de criação; produção; represen-
mento, existem inúmeras possibilidades de tação e dinamismo, logo a escola como um
se trabalhar a música na educação infantil, espaço, no qual, as interações e as múltiplas
logo a intencionalidade pedagógica, o plane- linguagens estão inseridas, se torna um am-
jamento permeado pelos interesses, necessi- biente rico em possibilidades de aprendiza-
dade e dificuldades, bem como a ampliação gem.
das aprendizagens serão norteadores das
ações que permeiam o cotidiano escolar. Conclui-se que o trabalho com a mú-
sica na educação infantil é essencial no pro-
Os materiais podem ser diversos, não cesso de liberdade expressiva e criatividade
necessariamente é preciso dispor de mate- imaginativa, pois o trabalho com a música
riais caros. Torna-se necessário, então, que possibilita maneiras originais de se expres-
as escolas organizem contextos pedagógicos sar. Desse modo, o contato com a música e
que promovam e facilitem as descobertas, as com atividades que a contemplem, quando
experimentações, as vivências e criações dos centradas nas experiências e saberes, contri-
alunos, de modo que as crianças enriqueçam buem para potencializar as aprendizagens e
e ampliem suas possibilidades de expressão o desenvolvimento global das crianças.
e de construção de conhecimentos.
Diante desse contexto, o trabalho com
música implicará num desafio constante de

479
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Paulo: Saraiva,2012

480
ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
SANDRA TAINO

RESUMO tos e potencialidades por parte do aluno.


Através da Arte a criança pode se expressar,
O objetivo deste artigo é compreen- expor seus sentimentos e ideias, ampliar sua
der e analisa a importância que o Ensino de relação com o mundo ao seu redor. Assim
Artes Visuais tem na vida dos alunos e as con- sendo, ele utiliza as Artes Visuais como uma
tribuições do professor neste processo. Des- forma de expressão, adquire sensibilidade e
sa forma, percebe-se que através das Artes competência para lidar com formas, cores,
Visuais as crianças aumentam sua capacida- imagens, gestos, sons e demais expressões.
de de expressão e de percepção de mundo, As Artes Visuais e o conhecimento da ima-
sendo uma importante forma de linguagem gem são de grande importância na Educa-
na primeira infância. Assim, foi realizado um ção Infantil, se tornam fundamentais para o
levantamento teórico com base em revisões desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor e
bibliográficas e de natureza qualitativa, onde perceptivo da criança. É importante utilizar
se concluiu que o Ensino de Artes Visuais a Arte como um recurso que auxilia na
constitui um relevante meio para o desenvol- formação da criança, trabalhando-a não
vimento do aluno, porém necessita-se que a como passatempo ou um recurso deco-
prática educativa seja ressignificada e os edu- rativo, mas sim como uma forma de apren-
cadores mais capacitados para que haja um dizagem, cheia de objetivos importantes no
aprendizado significativo. O papel do profes- desenvolvimento do aluno. A indagação das
sor mediador é a de organizar o ambiente, possibilidades proporcionadas as crianças
promover situações problema, propostas e dentro do limite de exploração permitido a
provocações estabelecendo correlação com elas. Até que ponto permitimos explorar as
a faixa etária das crianças. Essa postura do- diversas sensações sonoras, táteis e visuais?
cente é fundamental para criar um ambiente
propício a criatividade.
Palavras-chave: Educação Infantil; En- Elencar o que diz a legislação sobre o
sino; Artes Visuais assunto.
Estabelecer quais modelos de arte e
de educação se baseia nosso ensino atual.
ABSTRACT Basear esta pesquisa nos documentos como
The purpose of this article is to un- a Lei de Diretrizes e Bases, os Parâmetros
derstand and analyze the importance that Curriculares Nacionais e o Referencial Curri-
Visual Arts Teaching has in students' lives cular Nacional da Educação Infantil, em parti-
and the teacher's contributions in this pro- cular no que se refere às artes plásticas, para
cess. Thus, it is clear that through the Visual conhecer o que tais documentos preveem
Arts children increase their ability to express para a arte no âmbito da Educação Infantil.
themselves and perceive the world, being Arte palavra que vem do latim ars e
an important form of language in early chil- corresponde ao termo grego techne, ou seja,
dhood. Thus, a theoretical survey was carried técnica. Portanto, arte é toda atividade hu-
out based on bibliographical reviews and of mana submetida a regras que vem precedida
a qualitative nature, where it was concluded de habilidade, agilidade, ciência, e aqui acres-
that the Teaching of Visual Arts constitutes a centaria, consciência. Desse modo, a arte
relevant means for the development of the afeta intimamente a formação global de uma
student, however it is necessary that the criança, pois, gera uma prática lúdica seguida
educational practice be re-signified and the de regras que estimula a autoconfiança, per-
educators more capable of meaningful lear- cepção de mundo – de si e do outro, noção
ning. The role of the mediating teacher is to espaço-corporal, expressão, impressão, con-
organize the environment, promote problem flito, superação, resistência, reflexão. Através
situations, proposals, and provocations, esta- de estratégias adequadas a Arte na Educação
blishing a correlation with the children's age Infantil propicia às crianças autoconhecimen-
group. This teaching attitude is fundamental to, domínio de suas emoções, bem como seu
to create an environment conducive to crea- desenvolvimento cognitivo. E esse processo
tivity. é fundamental para a vida toda.
Keywords: Early Childhood Education; “A ciência descreve as coisas como
Teaching; Visual arts são; a arte, como são sentidas, como se sente
que são.” Fernando Pessoa. Nesse contexto
trabalhar arte com os pequenos traz abertu-
INTRODUÇÃO ra para várias perspectivas e sensações de
O Ensino de Artes Visuais fomenta mundo. A arte trabalha os sentidos da crian-
a ampliação da aquisição de conhecimen- ça e isso estará ligado intimamente à sua ca-
pacidade de criação

481
Os benefícios da Arte para as crian- dessa forma, não exploram devidamente
ças são inúmeros, mas destacaremos alguns este eixo curricular como instrumento in-
aqui: centivador da sensibilidade por meio do qual
ocorre a expressão das emoções e sensa-
• auxilia na coordenação moto- ções, o que viria a facilitar a socialização das
ra – por meio do desenhar ela desenvolve crianças no cotidiano. Por fim, este trabalho
sua coordenação motora fina; artes corpo- sobre a Importância do Ensino de Artes Visu-
rais também ajudam no desenvolvimento do ais na Educação Infantil, contou com pesqui-
equilíbrio, resistência, flexibilidade. sas bibliográficas, que consistem em leitura
• amplia a criatividade – se traba- de livros, artigos, textos existentes sobre o
lhada de forma livre sem restrições nos tra- assunto.
ços dos desenhos, a arte propicia o desenvol- Através da Arte se adquire novos
vimento criativo. conhecimentos e habilidades, fazem-se no-
• melhora o vocabulário – uma vas descobertas ao se expressar. A educação
vez que, desenvolve à fala e à audição, além por meio da Arte ajuda no desenvolvimento
da motricidade sensorial. criativo e estético. A Arte é transformadora,
libertadora e
• trabalho em equipe – ao utilizar
o teatro e a dança, as crianças aprendem a oportuniza novos caminhos para a
conectar-se com os outros. criança. Adquirir gosto pela Arte ocorre con-
comitantemente ao fato de nos tornarmos
• expressão de sentimentos e seres reflexivos, ativos e críticos na socieda-
emoções – por meio da Arte (desenhos, tea- de. A Arte no dia e vivemos em um mundo
tro, dança etc.) a criança aprende a lidar me- mergulhado de imagens, sons, objetos, ruí-
lhor com o que sente e falar sobre. dos, estímulos. Observarmos ao redor os ou-
• estimula o pensamento crítico – tdoors, os cartazes, as ilustrações de livros,
através de observações e interpretações as os comerciais na TV, rádio, mídias, grafites
crianças abrem-se para diversas visões de nos muros, são várias formas de artes: artes
mundos e, dessa forma, constroem pensa- da palavra, do desenho, da pintura, da ani-
mentos críticos. mação, da criação e fixação da imagem em
movimento, todas
A Arte não deve ser vista como algo preocupadas com a comunicação de
distante, mas como objeto real no desen- diversas formas e por vários meios, símbo-
volvimento global das crianças. Engana-se los, linhas, cores e movimentos. Essa capaci-
quem pensa que para o processo de alfabeti- dade de criar instrumentos e aperfeiçoá-los
zação não precisamos de Arte, ela gera auto- foi o que garantiu ao homem sua permane-
confiança e isso cria um ambiente facilitador cia na face da terra e o seu poder de dominar
para a aprendizagem. Além de tornar o am- e transformar a natureza. Essa força criado-
biente mais lúdico, divertido, prazeroso. ra que difere o homem dos demais animais
existentes.
Em continuidade a busca em com- Como grande parte das atividades
preender a arte educação a partir das ações artísticas acontece em grupo, os pequenos
reflexões, nu fazer pedagógico que nos mos- desenvolvem habilidades para trabalhar co-
tra o papel da arte para além das atividades letivamente, respeitando diversidades e dife-
cotidianas comumente realizadas em sala renças ao perceber como a forma que os co-
de aula. Neste contexto, as Artes Visuais re- legas percebem a realidade e se expressam é
presentam um saber artístico que propor- diferente do seu. Ao compartilhar materiais
cionará o desenvolvimento estético, criativo com os amigos, a criança aprende a dividir e
e expressivo da criança na Educação Infantil, a respeitar o espaço e os materiais do outro.
auxiliando no seu processo de formação in- Vivenciar a arte desde muito jovem
telectual, afetivo e social. também faz com que a criança se torne um
A Educação Infantil é um período adulto que valoriza a cultura, assim como
muito marcante na vida das crianças, pois é o gosto pela arte faz com que os pequenos
quando acontecem suas primeiras experiên- cresçam mais críticos e reflexivos nessa so-
cias na vida escolar. Neste sentido, são mui- ciedade cada vez mais visual.
to importantes os primeiros conhecimentos Desde muito jovens as crianças são ex-
que os alunos recebem, sendo que as Artes postas a imagens em todos os lugares, fazen-
Visuais devem ser trabalhadas de forma sig- do com que elas iniciem uma alfabetização
nificativa. visual antes mesmo de uma alfabetização le-
Observa-se que muitos professores a trada. Em absolutamente todos os lugares as
utilizam somente como forma de passatem- crianças estão expostas a imagens, dentro de
po e também de divertimento para as crian- casa, nas ruas, na escola e, principalmente,
ças, sem a consciência ou a percepção da nas telas.
importância dos benefícios proporcionados A arte introduz a criança nessa realida-
pelas Artes Visuais. Educadores que agem de repleta de cores, luzes, texturas, cheiros e

482
sabores. Historicamente a arte está presente
desde o homem das cavernas, permanece na
O homem é criativo, inventivo e ima- era contemporânea e, com certeza, se fará
ginativo, tem em si esta potência criadora, a presente no futuro. É ela que reflete nossos
capacidade de imaginar, de criar. Portanto, anseios, sonhos, dilemas, realidades, diversi-
a arte é uma construção simbólica de tudo dades etc. A cada momento ela espelha a era
aquilo que o homem é capaz de a partir de histórica em que a humanidade está inserida.
suas ações e reflexões sobre o seu meio, criar,
e expressar por meio de sua criatividade e in- No Brasil, já existiam os desenhos ru-
ventividade se fazer. Sendo assim, tudo que pestres, feito pelos indígenas, porém com a
nos cerca é arte. A arte está presente nos- chegada dos jesuítas, a arte surge como dis-
so cotidiano na arte nas ruas, na arquitetura ciplina, tanto a arte visual como a literária.
dos prédios, nas praças, nos jardins. O pro- Nesse contexto a arte manual era desvalo-
fessor precisa dar oportunidades para que o rizada, pois retratava os anseios das classes
aluno se expresse de forma espontânea, menos favorecidas. A literatura cabia apenas
o aluno precisa criar, ter oportunidade de a elite que tinha uma educação diferenciada
se expressar livremente, experimentar, vi- a fim de destacar-se internacionalmente.
venciar, suas experiências, sem as interfe-
rências diretas do adulto, mediando suas Na Escola Nova, ocorre a democrati-
ações. A investigação é um ato de zação da arte numa relação em que o aluno
aprendizagem, de criação pessoal. Conforme expressa-se por desenhos mais livres e pes-
diz Almeida, soais. E na década de 1930, o ensino de arte
é defendido como obrigatório.
[...] a maioria dos professores acre-
dita que desenhar, pintar, modelar, cantar, Na escola nova, priorizava-se os as-
dançar, tocar e representar é bom para o alu- pectos psicológicos do desenvolvimento,
no, mas poucos são capazes de apresentar com ênfase nos aspectos sociais. Os conteú-
argumentos convincentes para responder dos eram definidos nas atividades em função
“Por que essas atividades são importantes e das experiências vivenciadas. Enfatizava-se o
devem ser incluídas no currículo escolar?(AL- desenvolvimento e o
MEIDA, 1992, p. 48). “aprender a aprender”, como fato mais
A partir destas propostas com esta importante do que aprender conteúdos.
faixa etária fica notório um maior desenvol- (IAVELBERG, 2003, p.114).
vimento tanto, emocionais, sociais, percep-
tivos, físicos, estéticos e criativos. Sendo
assim, o ensino de Arte é um instrumento
pedagógico importante para a compreensão
de si mesmo, da realidade, dos próprios sen-
timentos e das emoções também com o pú-
blico infantil. A infância é uma das fases mais
importantes da vida de uma pessoa, é neste
período que se constrói a base para todos os
outros aprendizados. Tanto os professores
como a família devem estimular o lado artís-
tico das crianças, estimulando o desenvol-
vimento de habilidades que contribuirão
para a criatividade, cidadania, autonomia e
pensamento crítico. As linguagens artísticas
podem, não devem passar despercebidas
por não receberem o devido valor das pes-
soas que os cercam. Os adultos devem ser os
mediadores nesse processo, em iniciar a for-
mação cultural e a construção de habilidades Em uma produção artística, a criança
sensitivas e emotivas nas crianças, no que transmite claramente o humor, por meio de
envolve o campo de experiência com traços, representação literal (sol sorrindo ou rosto
sons, cores e formas, previsto pela Base Na- chorando) e aspectos abstratos (cores escu-
cional Comum Curricular (BNCC). ras ou linhas caindo para expressar tristeza);
produzindo, assim, desenhos ou esculturas
Desde que a Educação Infantil passou que parecem alegres ou tristes. Dessa forma,
a fazer parte do ciclo básico da Educação, visando ao desenvolvimento do potencial
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação criador da criança, a proposta para o traba-
9.394/96 proporcionou que a etapa pedagó- lho de artes no Ensino Infantil deve ser orien-
gica encontrasse sua própria posição na tada.
formação das crianças; da mesma maneira
a arte abriu caminho neste espaço pioneiro, O currículo no Ensino Infantil deve ter
uma vez que ela exerce uma tarefa essencial como base significados relacionados a ativi-
nesta etapa educacional, englobando os fa- dades práticas
tores do conhecimento, da sensibilidade Desenhar, colar, pintar e modelar com
do conhecimento e da cultura.

483
argila ou massinha, decorar, ilustrar temas O professor deve estimular as crian-
de datas comemorativas, elaborar convites, ças a experimentarem diferentes maneiras
cartazes e pequenos presentes para os pais de usar os diversos tipos de
devem constituir tal currículo baseado em materiais e objetos
significados.
O professor de artes também poderá
A presença das artes visuais na Edu- mostrar às crianças novas maneiras de usar
cação Infantil é reconhecida como manifesta- materiais conhecidos. Usar a cola para fazer
ção espontânea e auto expressiva um desenho e depois jogar areia, purpurina,
açúcar refinado colorido, pó de serra, sobre
A presença das artes visu- o desenho.
ais na Educação Infantil é reconhe-
cida como manifestação espontânea e auto Estimule-as a experimentar diferen-
expressiva. Nessa situação, o adulto deve tes maneiras de usar o giz: ralando-o sobre
valorizar a produção artística da criança sem a areia para fazer areia de diferentes cores;
fazer por ela, considerando que a criança não molhando a ponta em uma mistura de açú-
tenha competência para elaborar um produ- car com água ou leite para produzir o efeito
to adequado. de uma pintura; ou simplesmente usando o
lado comprido, em vez da ponta, para pintar
uma faixa mais larga de cor. trabalho com
O desenvolvimento artístico da crian- as linguagens artísticas na Educação Infantil
ça ocorre de forma complexa e não automá- exige uma grande responsabilidade profis-
tica sional, pois a ação intencional do professor é
responsável pela formação criativa, expressi-
O desenvolvimento artístico da crian- va, estética da criança que envolve o sujeito.
ça é resultado de formas complexas de
aprendizagem e, portanto, não ocorre auto-
maticamente à medida que a criança cresce. Referencial Curricular Nacional da
Educação Infantil (RCNEI):
A integração entre os aspectos sen-
síveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cogniti-
vos, assim como a promoção de interação e
comunicação social, conferem caráter signi-
ficativo às artes visuais. Tal como a música,
as Artes visuais são linguagens e, portanto,
uma das formas importantes de expressão e
comunicação humanas, o que, por si só, jus-
tifica sua presença no contexto da educação,
de um modo geral, e na educação infantil,
particularmente (BRASIL, 1996, p. 85).
O pensamento, a sensibilidade, a ima-
ginação, a percepção, a intuição e a cognição
da criança estão latentes quando elas ex-
perimentam novas ações, quando criam,
quando descobrem, quando se envolvem
O currículo no Ensino Infantil deve ter de forma integral no desenvolvimento de
como base significados relacionados a ativi- suas capacidades criativas.
dades práticos como desenhar, colar, pintar
e modelar com argila ou massinha. As crianças têm suas próprias im-
pressões, ideias e interpretações sobre a
As crianças devem experimentar os produção de arte e o fazer artístico. Tais
materiais artísticos à sua maneira e em seu construções são elaboradas a partir de suas
próprio ritmo. experiências ao longo da vida, que envol-
vem a relação com a produção de arte, com
o mundo dos objetos e com seu próprio fa-
Além de participar de atividades diri- zer. As crianças exploram, sentem, agem,
gidas, planejadas pelo professor, as crianças refletem e elaboram sentidos de suas expe-
precisam experimentar os materiais artísti- riências. A partir daí constroem significações
cos à sua maneira e em seu próprio ritmo. sobre como se faz, o que é, para que
Esse tipo de brincadeira livre permite que a serve e sobre outros conhecimentos a res-
criança tenha chance de se autoexpressar, peito da arte(BRASIL,1998, v.3, p. 82).
a possibilidade de vivenciar resultados, com Os Parâmetros Curriculares Nacio-
diferentes meios, bem como a oportunidade nais (PCNs) para o ensino de Arte no En-
de adquirir a experiência e as habilidades ne- sino Fundamental indicam as concepções
cessárias para manipular, com faci- sobre a Arte e o ensino dela presentes
lidade, materiais e instrumentos de nos órgãos públicos de ensino, trazendo
arte. alguns embasamentos teóricos o texto ini-

484
cia ressaltando a importância da educa- como um veículo oportuno na formação glo-
ção em Arte para o desenvolvimento do bal do indivíduo. Está intimamente ligada ao
pensamento artístico, da experiência de desenvolvimento de vários aspectos pedagó-
produzir Arte, de apreciar as obras e de re- gicos. Porém, o seu valor mais genuíno está
fletir sobre elas, sobre o mundo e as diversas conectado essencialmente à edificação do
culturas que nele se expressam: A educação ser humano em si.
em arte propicia o desenvolvimento do
pensamento artístico e da percepção esté- De acordo com os Parâmetros Curricu-
tica, que caracterizam um modo próprio de lares Nacionais: A educação em arte propicia
ordenar e dar sentido à experiência huma- o desenvolvimento do pensamento artístico
na: o aluno desenvolve sua sensibilidade, e da percepção estética, que caracterizam
percepção e imaginação, tanto ao realizar um modo próprio de ordenar e dar sentido à
formas artísticas quanto na ação de apreciar experiência humana: o aluno desenvolve sua
e conhecer as formas produzidas por ele e sensibilidade, percepção e imaginação, tanto
pelos colegas, pela natureza e nas diferen- ao realizar formas artísticas quanto na ação
tes culturas (BRASIL, 1997, p. 19). Assim, o de apreciar e conhecer as formas produzidas
PCNs Arte ressalta a importância desta área por ele e pelos colegas, pela natureza e nas
no ensino por estimular a criação do aluno, diferentes culturas. (BRASIL, 2000, p.19). As
o que levará ao desenvolvimento de habili- Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
dades em outras áreas de conhecimento tais cação Infantil (BRASIL, 2010) que, em aten-
como na produção textual, na resolução de dimento à resolução do Conselho Nacional
problemas. Elucida também para a riqueza de Educação (CNE), pretende estabelecer
de se conhecer diferentes culturas por meio uma ponte entre as diretrizes curriculares
da Arte e de como esta experiência pode tor- da área de Educação Infantil e as propostas
nar o aluno um ser mais capaz de analisar pedagógicas e curriculares elaboradas para
seus próprios valores ampliando seu olhar esta etapa de ensino pelo MEC. Estanorma
para os valores de outros grupos. Conhecer está articulada, portanto, com as Diretrizes
a Arte de outras culturas propicia o conheci- Curriculares Nacionais da Educação Básica
mento de significados e valores que condu- (BRASIL,2013) no intuito de direcionar a orga-
zem as relações das pessoas nas diversas nização desta etapa de ensino. O conceito de
sociedades (BRASIL, 1997).É relevante des- criança adotado nas Diretrizes Curriculares
tacar a importância aqui apresentada, ao Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL,
fato de criar e conhecer ser indissociáveis 2010, p. 12) aponta que se trata de: Sujei-
e a flexibilidade a condição fundamen- to As Diretrizes apresentam quais as práticas
tal para aprender, deste modo conhecer a pedagógicas na Educação Infantil, ter como
Arte para criar e compreender o mundo eixo central as brincadeiras e as interações,
transformando-o constantemente é outra dentre as quais algumas experiências são
função da Arte na vida das pessoas, sendo desejáveis para o trabalho com crianças, das
que o não conhecimento da Arte, segundo os quais entendemos diretamente ligadas ao
PCNs, torna o ser humano limitado tanto em trabalho com Arte
sua aprendizagem quanto em sua expressão.
Nas décadas de 60 e 70, com a Escola •. Promovam o conhecimento de si e
Tecnicista, passou a ser ensinado somente do mundo por meio da ampliação de experi-
o necessário, a prática para atuar no merca- ências sensoriais, expressivas, corporais que
do de trabalho. Com o surgimento da LBD possibilitem movimentação ampla, expres-
9394/96, foi adicionado a Educação Artística, são da individualidade e respeito pelos rit-
não como uma disciplina, mas algo relativo mos e desejos da criança. Favoreçam a imer-
à generosidade. Porém, antagonicamente, os são das crianças nas diferentes linguagens e
professores tinham que explicar conteúdos, o progressivo domínio por elas de vários gê-
métodos, objetivos e avaliações. Esse proces- neros e formas de expressão: gestual, verbal,
so era guiado por literatura de péssima qua- plástica, dramática e musical;
lidade.
•. Possibilitem às crianças experiências
Nesse caminho os professores bus- de narrativas, de apreciação e interação com
caram novos caminhos, Junto com a Nova a linguagem oral e escrita, e convívio com di-
LDB, a Educação Artística torna-se ensino de ferentes suportes e gêneros textuais orais e
Arte, reconhecida oficialmente como área de escritos;
conhecimento. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais foram uma alavanca, no desenvol- •. Possibilitem vivências éticas e esté-
vimento da história da arte no Brasil. Houve ticas com outras crianças e grupos culturais,
um grande avanço baseado no método trian- que alarguem seus padrões de referência e
gular de Ana Mae Barbosa. A capacidade de de identidades no diálogo e conhecimento
fazer arte do aluno, a apreciação de obras, da diversidade;
quanto aos seus próprios trabalhos, de cole- •. Promovam o relacionamento e a in-
gas ou até mesmo de artistas profissionais, e teração das crianças com diversificadas ma-
também a importância que tem a arte como nifestações de música, artes plásticas e gráfi-
algo sociocultural e histórico. (IAVELBERG, cas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia
2003, p.118). Na atualidade a Arte é vista e literatura;

485
•. Propiciem a interação e o conheci- tas/20170602124521.pdf.
mento pelas crianças das manifestações e
tradições culturais brasileiras;
•. Possibilitem a utilização de grava-
dores, projetores, computadores, máquinas
fotográficas, e outros recursos tecnológicos e
midiáticos. (BRASIL, 2010, p. 2527)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de ensino deve estar vin-
culado à experiência individual de cada crian-
ça e com sua realidade. Sabe-se que adotar
metodologias que atendam a individualidade
de cada criança não é nada fácil, por isso, se
faz necessário nortear o processo de ensino,
onde o fazer e o pensar são desenvolvidos de
modo a proporcionar uma educação vise um
processo significativo para cada criança. Para
tanto, percebe-se a necessidade de rever as
práticas educativas do ensino de Arte, para
que as crianças não fiquem alienadas pelo
processo de ensino, mas que a Arte seja pro-
posta como um instrumento reflexivo, em
que criança desenvolva o pensamento crítico
diante das questões sociais. Nesse processo
de ensino o professor deve ser o mediador,
promovendo um trabalho que tenha relevân-
cia para o desenvolvimento crítico as crianças.
Espera-se que o presente estudo possibilite
o desenvolvimento de um olhar mais crítico
sobre a prática pedagógica de ensino de Arte
desenvolvida no âmbito da educação escolar.
Que possa subsidiar a reconfiguração desse
ensino voltado e comprometido com o cres-
cimento integral dos alunos. Perpasse, pelo
seu desenvolvimento artístico e cultural. Por
isso a arte tem papel de grande importância
na educação desses alunos e quando apli-
cada da maneira correta, a aprendizagem
será mais prazerosa. Por tudo o que foi dito,
acreditamos na importância da arte, na arte
como algo potente e transformador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, F. A. G. de. Arte: lingua-
gem que articula conhecimentos na constru-
ção de competências.5f:Recife, 2005.
BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos.
Belo Horizonte: C/Arte, 1998. BRASIL.
Lei de Diretrizes de Bases da Educa-
ção Nacional, n. 9.394 de 20 dez. 1996. BRA-
SIL. Lei nº 13.278, de 02 de maio de 2016. Al-
tera o § 6o do art. 26 da Lei no 9.394, de 20
de dezembro de 1996, que fixa as diretrizes
e bases da educação nacional, referente ao
ensino da arte. Brasília, 2016.
BRASIL. Ministério da Educação e Cul-
tura.Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971.
Fixa diretrizes e bases para o ensino Esco-
la de Belas Artes da Universidade Federal
de Minas Gerais, 2009. Disponível em:
http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revis-

486
DANÇATERAPIA: A ARTE DO MOVIMENTO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO
SELENI OLBERGA DE OLIVEIRA

RESUMO with one's own emotions; cognitive, based on


communication, expression, memory, psy-
Na sociedade contemporânea, tem chomotor stimulation; affective and social
sido cada vez mais comum estudos que valo- through interaction, integration and sociali-
rizem o indivíduo em sua totalidade, a partir zation with the environment. Therefore, it is
da premissa de que o desenvolvimento inte- a fundamental activity for all phases, but it
gral é o pilar para a integração de todas as must be adapted according to need, demand,
suas necessidades e anseios. Sendo assim, culture, among others. Therefore, dance the-
a dança representa uma linguagem artísti- rapy is a rich tool, associated with quality of
ca que possibilita esse trabalho amplo, mas life and well-being. to be, in addition to stimu-
que muitas vezes tem sido associada como li that contemplate the individual throughout
uma atividade escolar infantil, mas que pode their life, being essential as a rescue of play-
e deve beneficiar qualquer fase de desenvol- fulness and knowledge of the universe itself.
vimento, dentro e fora dos muros escolares.
Diante desse contexto, o presente estudo vi- Keywords: Arts; Dance; Artistic langua-
sou compreender a importância da dançate- ges.
rapia para o desenvolvimento humano. Para
isso, foi desenvolvido um estudo de caráter
bibliográfico que, por sua vez, evidenciou 1 INTRODUÇÃO
que dançar trabalha aspectos físicos, como
o relaxamento muscular, alongamento, fle- As artes estão intimamente ligadas
xibilidade, controle de peso; emocionais, a ao desenvolvimento das potencialidades hu-
partir da diminuição do estresse, liberação manas e, muito embora seja de extrema im-
de bons hormônios, contato com as próprias portância para o cotidiano escolar, uma vez
emoções; cognitivos, a partir da comunica- que fazem parte do currículo de todos os ní-
ção, expressão, memória, estímulo psicomo- veis de ensino, parte-se da premissa de que
tor; afetivos e sociais por meio da interação, se faz necessário transcender os muros, ou
integração e socialização com o meio. Sen- seja, instigar e desenvolver habilidades no in-
do assim, trata-se de uma atividade funda- divíduo que possibilitem a expressão em seu
mental para todas as fases, mas que deve cotidiano, durante todas as fases de sua vida.
ser adaptada de acordo com a necessidade, Ao falar das linguagens artísticas, sa-
demanda, cultura, entre outros, portanto, a be-se que existem muitas possibilidades de
dançaterapia é uma ferramenta rica, associa- trabalho, o que torna uma área de conheci-
da a qualidade de vida e bem-estar, além de mento interessante, diversa e atrativa, no en-
estímulos que contemplam o indivíduo du- tanto, comumente associada com a fase da
rante toda a sua vida, sendo essencial como infância, que é reconhecida pela exploração
resgate do lúdico e conhecimento do próprio do universo lúdico, quando na verdade, tem
universo. potencial para beneficiar ricamente todas as
Palavras-chave: Artes; Dança; Lingua- fases da vida, desde que estejam adaptadas
gens artísticas. as diferentes demandas e contextos.
Diante desse cenário, o presente es-
tudo teve como objetivo compreender a
ABSTRACT importância da dançaterapia para o desen-
In contemporary society, studies that volvimento humano. Para isso, foi desen-
value the individual as a whole have become volvido um estudo de caráter bibliográfico,
increasingly common, based on the premise considerando livros e artigos científicos no
that integral development is the pillar for the campo das Artes e, especialmente, da dan-
integration of all their needs and desires. The- ça. Os materiais consultados foram selecio-
refore, dance represents an artistic language nados em bases de dados como bibliotecas
that makes this broad work possible, but whi- físicas, biblioteca digital e Google Acadêmico,
ch has often been associated as a children's priorizando trabalhos no idioma português e
school activity, but which can and should be- disponibilizados na integra, a partir dos des-
nefit any stage of development, inside and critores: Artes. Dança. Linguagens artísticas.
outside school walls. Given this context, the Em relação a apresentação do estu-
present study aimed to understand the im- do, a primeira parte visou a compreender a
portance of dance therapy for human deve- importância das linguagens e manifestações
lopment. To this end, a bibliographical study artísticas para o desenvolvimento humano,
was developed which, in turn, showed that enquanto a segunda caracterizou a dança
dancing works on physical aspects, such as para, por fim, discutir sobre a dançaterapia e
muscle relaxation, stretching, flexibility, wei- os respectivos benefícios.
ght control; emotional, from the reduction
of stress, release of good hormones, contact

487
2 DESENVOLVIMENTO e cênicas, utilizando dessas representações
como formas de expressão e comunicação
2.1 Linguagens artísticas com o meio.
A função principal da arte é a expres- As linguagens: corporal, verbal
são, através da qual pensamentos e senti- (oral/escrita), matemática, musical e plástica,
mentos podem ser expressos. Esta expressão são instrumentos importantes e que efeti-
pode aparecer em vários idiomas e contex- vam a relação com as pessoas. A escola, por
tos, representando uma grande potencialida- sua vez, possibilita que os alunos, através de
de humana (ALBINATI, 2009). conhecimentos empíricos, elaborem e apri-
A arte é uma língua como o português, morem essas formas de representação, o
exceto que utiliza símbolos linguísticos como que lhes permite a formação de conceitos e
letras e sinais de pontuação, enquanto a arte seu desenvolvimento cognitivo. A interação
utiliza especialmente símbolos não-verbais com o meio através das experiências com as
como cores, formas, gestos, sons, movimen- representações artísticas possibilita o maior
tos, etc. Diferentes linguagens nos permitem e progressivo desenvolvimento social, cultu-
expressar respostas humanas que são regu- ral e de aprendizagem (DOMENICI, 2010).
ladas pelo nosso sistema nervoso interno. Segundo Bona (2012) o proces-
Seus sentimentos e emoções são expres- so de humanização acontece por intermédio
sos por meio de objetos e de todos os seus da elaboração de sistemas simbólicos (ver-
sentidos, nascem em palavras, a consciência bais ou não verbais), com a finalidade para
se estabelece e o homem se torna racional expressar, comunicar e organizar conheci-
(ROSA, 2019). mentos.
Nesse caminho de ação e reação, o Somos rodeados por ruidosas lingua-
homem se torna ativo, torna-se sujeito de si gens verbais e não – verbais – sistemas de
mesmo e consegue se tornar criador de seu signos – que servem de meio de expressão
próprio conhecimento. Por sua vez, o conhe- e comunicação entre nós, humanos, e po-
cimento pode ser transferido para a esfera dem ser percebidas por diversos órgãos dos
social, contribuindo para o bem comum de sentidos, o que nos permite identificar e di-
todos na sociedade. Tal como o conhecimen- ferenciar, por exemplo, uma linguagem oral
to, a arte nasce do comportamento humano (a fala), uma linguagem gráfica (a escrita,
primitivo e nunca perde o seu carácter cole- um gráfico), uma linguagem tátil (o sistema
tivo ao longo da história. Arte é linguagem e de escrita braile, um beijo), uma linguagem
como todas as línguas é um produto cultural auditiva (o apito do guarda ou do juiz de fu-
criado pelo ser humano para ter significado tebol), uma linguagem olfativa (um aroma
simbólico e representar e comunicar aos ou- como o do perfume de alguém querido) ou
tros como você vê, sente e entende o mundo uma linguagem gustativa (o gosto apimenta-
(ALBINATI, 2009). do do acarajé baiano ou o gosto doce do cre-
Segundo Fischer (1967, p.42), “a ver- me de cupuaçu) ou as linguagens artísticas.
dadeira essência de toda a Arte está no medo Delas fazem parte a linguagem cênica (o tea-
da natureza e ao mesmo tempo na habilida- tro e a dança), a linguagem musical (a música,
de de dominá-la, criando simultaneamente o canto) e a linguagem visual (o desenho, a
um senso de fraqueza e uma consciência de pintura, a escultura, a fotografia, o cinema),
força”. Assim, pode-se afirmar que pela Arte, entre outras (BONA, 2021, p. 12).
se torna possível conhecer e adquirir novas Ao pensar na Arteterapia, não
habilidades e percepções, expressar angús- há o objetivo de formar um artista, mas pro-
tias, inseguranças, frustrações, alegrias e al- piciar o acesso às linguagens de Arte para
cançamos a autoestima a partir do momento formação de pessoas, com suporte terapêu-
que passamos a aceitar e admirar nossas po- tico, bem como facilitar a expressão e das re-
tencialidades e a dos colegas, quando realiza- presentações da Arte. Desse modo, o intuito
mos trocas de experiências. é que as pessoas possam usufruir, de modo
A partir do ponto em que o indivíduo funcional, o repertório de simbolismos das
conhece a Arte e passa a sentir estima por linguagens artísticas, no momento em que se
suas representações, torna-se um indivíduo expressam e se comunicam (ALBINATI, 2009).
com aptidões críticas e reflexivas. Desta for- Vale ressaltar que linguagens ar-
ma, as Artes possibilitam que o indivíduo vi- tísticas não são compreendidas por todas as
vencie suas experiências e adquira e amplie pessoas da mesma maneira. Suas experiên-
conhecimentos em variadas produções artís- cias anteriores, o acesso ao acervo de lingua-
ticas (DOMENICI, 2010). gens e sua prática, assim como as caracte-
Aponta-se que as linguagens são pro- rísticas cognitivas individuais, proporcionam
dutos culturais criados pelo homem, a fim de uma percepção diferente das representações
que possam interagir com o mundo e com as de Arte. Considerando essa diversidade, o
pessoas ao redor. Sendo assim, as crianças educador, como mediador, fornece o acesso
desde cedo criam sua identidade, constroem às representações, conforme as experiências
significados para sua existência a partir da e estruturação de pensamentos da criança,
escrita, das palavras, da música, artes visuais com a finalidade de aumentar os seus reper-

488
tórios de linguagens e as suas possibilidades versos períodos, inclusive, pré-históricos,
de expressão. muito comum em ritos religiosos e atividades
em grupo. Embora seja uma expressão artís-
Para Piaget a linguagem é uma fun- tica, pode ser utilizada como forma de diver-
ção do pensamento. Seu trabalho trata das sas maneiras, conforme consta nos registros
formas que ela assume e do papel que ela históricos com multiplas ocasiões, que vão
desempenha em cada um dos estágios do desde época de colheita, culto aos deuses,
desenvolvimento do pensamento lógico. A momentos de caça, casamento, festividades
fala da criança é, assim, enfocada a partir do em geral, momentos alegres ou tristes e até
processo do pensamento. Para Vygotsky, a em homenagem à natureza (ROSA, 2015).
palavra e o pensamento articulam-se na ativi-
dade de compreensão e comunicação envol- É considerada a arte mais completa
vida nas relações sociais. O foco da análise é, porque envolve elementos artísticos como
então, colocado no processo como um todo, música, teatro, pintura, escultura etc., e é ca-
interessando apreender as atividades inte- paz de expressar as emoções mais simples
lectuais envolvidas, os modos como a pala- e fortes. Suas manifestações podem ocorrer
vra dirige essas atividades e as condições de em diversos locais como ruas, eventos, casas
interação em que elas vão sendo produzidas. de show, clipes, academias, clubes etc. (BRI-
(PEREIRA, 2021, p.89). TO, 2013).
A atividade artística, dentre todas suas Como qualquer linguagem artística, a
formas e linguagens, devem ser aplicadas e dança é influenciada por influências sociais,
estimuladas através das atividades lúdicas e económicas e culturais. Existem vários tipos
pelos sentidos da imaginação a fim de que de dança: balé clássico, dança folclórica (hi-
desenvolvam e aumentem suas possibilida- p-hop, funk, kudouro, dança do ventre, frevo
des de criação, cognitivas, afetivas e sociais etc.), dança de salão (foxtrot, rumba, Char-
(PEREIRA, 2021). leston, samba, twist etc.), dança contempo-
rânea, dança de colo/círculo/linha, dança sa-
O papel do educador no ensino grada/profana e ritual, entre outros (BRITO,
de Artes é fundamental para que ele motive 2013).
o indivíduo a expressão, a expor seus pensa-
mentos, sentimentos e a partir daí represen- A dança contemporânea é influencia-
tá-los através das manifestações artísticas. da por movimentos do passado e também
Além de o professor proporcionar acesso às por novas possibilidades tecnológicas (víde-
formas de como artistas de tempos passa- os, instalações), sendo o resultado de bases
dos, outras crianças e jovens de outros luga- históricas e processos humanos de evolução
res se expressaram através de sua arte (VER- tecnológica. Além disso, na dança contem-
DERI, 2019). porânea, é comum observar diversas possi-
bilidades de integração com outros campos
artísticos, como o teatro (SEKEFF, 2020).
2.2 A dança Figura 01: Representações de movi-
Segundo Brito (2013, p. 21) a investi- mentos corporais por diferentes danças
gação cientifica dos aspectos e processos
psicológicos ligados a música e a dança são
tão antigos quanto às origens da psicologia
como ciência, portanto, dançar pode ser con-
siderada como recreação apenas, pois há
uma grande potência para explorar diversas
possibilidades de desenvolvimento e expres-
são humana.
A dança é uma linguagem artística que
envolve principalmente a expressão física, é
uma arte de movimentar o corpo de forma
expressiva em movimento e está associada
à música, envolvendo a expressão de senti-
mentos potencializados através da música.
É considerada uma das três principais artes Fonte: Alves e Carvalho (2010).
cênicas da antiguidade (ROSA, 2015).
‘’A dança se caracteriza pela utilização
do corpo em movimentos pré-determinados Na educação, a dança faz parte do
ou improvisados. Quando o movimento se currículo das disciplinas de Artes e Educação
estabelece chamamos de coreografia, caso Física. Dentro das disciplinas artísticas, a dan-
contrário chamamos de dança livre’’ (SILVA, ça é considerada uma atividade e linguagem
2019, p.12). artística, uma forma de expressão, de sociali-
zação, um conceito, uma linguagem estética
Ao falar sobre os registros da dança, para a arte corporal e até mesmo uma ativi-
pode-se afirmar que o seu surgimento está dade e apresentação de artes cênicas. Já na
intimamente ligado a história, nos mais di-

489
Educação Física, a finalidade da dança é dife- ao mundo, de forma positiva, alegre e praze-
rente e pode até ser utilizada como inserção rosa (ROSA, 2015).
físico-cultural do movimento humano, ela é
utilizada de forma instrumental, assim como Outro ponto igualmente comum, é
a ginástica, o esporte e o combate, devendo associar a ludicidade do universo artístico
focar no movimento, nos aspectos biopsi- como uma atividade exclusiva das crianças,
cossociais, uma vez que visa regular o corpo, de forma que gradativamente, com o avanço
perder peso, melhorar as relações internas e da idade, brincar, dançar, se divertir, passe a
interpessoais, o bem-estar e a saúde (SEKEFF, ser algo mais restritivo (DOMENICI, 2010).
2020). Ainda que seja inegável que as atribui-
A dança é um conteúdo fundamental ções da vida se tornem mais complexas com
a ser trabalhado na escola: com ela, pode-se o passar do tempo, investir na saúde, quali-
levar os alunos a conhecerem a si próprios dade de vida e conhecimento, é sempre de
e/com os outros; a explorarem o mundo da grande valia, portanto, não existe tempo para
emoção e da imaginação; a criarem; a explo- aprender ou resgatar uma nova habilidade.
rarem novos sentidos, movimentos livres (...). Ademais, é muito importante citar
Verifica-se assim, as infinitas possibilidades também que o indivíduo na vida adulta care-
de trabalho do/ para o aluno com sua corpo- ce de atividades que gerem bem-estar, que
reidade por meio dessa atividade (PEREIRA, auxilie na manutenção da saúde e diminui-
2021, p. 123). ção de estresse, sendo esse ponto, um gran-
Dançar proporciona sensações de ale- de aliado ao aumento de tantas doenças e
gria e bem-estar, além de estimular o indiví- desordens no campo físico e emocional (DO-
duo que a prática. Essa atividade também re- MENICI, 2010).
sulta em aumento da autoestima, motivação É sob este contexto que surge a dança-
e autodeterminação. Consequentemente, os terapia, pois une o universo da arte, da dança
indivíduos que praticam dança tendem a se e dos benefícios terapêuticos, indo além da
sentir mais satisfeitos e à vontade consigo disciplina curricular de Artes, pois muito em-
mesmos e com os outros ao seu redor (SZUS- bora possa ser aplicada e estimulada no âm-
TER, 2011). Além disso, como outras ativida- bito escolar, a ideia é que possa fazer parte
des físicas, a dança pode trazer uma série de de todo e qualquer contexto, em indivíduos
benefícios à saúde e potencialmente retardar de todas as idades e em todos os ambientes
problemas de saúde relacionados à idade. (BOLSANELLO, 2005).
Szuster (2011, p.29) afirma que “a Constata-se que o movimento da Dan-
dança como atividade física tem inúmeras çaterapia foi iniciado em meados de 1966
vantagens, como aumentar a elasticidade como uma profissão, a partir de uma Asso-
muscular, a mobilidade articular e reduzir ciação criada, ou seja, a Associação Ame-
a prevalência de doenças cardiovasculares, ricana de Dançaterapia. Vale ressaltar que
sedentarismo e problemas do aparelho loco- foi um movimento criado por mulheres que
motor, além de diminuir a pressão arterial’’. atuavam como bailarinas, coreógrafas, pro-
Como destaca a autora do texto, praticar fessoras de dança, entre outras profissionais
atividades físicas como a dança é uma exce- do ramo que identificavam um grande amor
lente forma de melhorar a saúde geral. Por- pela arte do movimento e, principalmente, os
tanto, a dança, muito além de uma expressão benefícios terapêuticos que essas vivencias
artística, pode ser visto como fonte de vida, propiciavam. Contudo, antes da regulamen-
lazer, prazer, saúde e desenvolvimento, pois tação em si, há registros também de profis-
auxilia na manutenção da saúde física e men- sionais que separadamente ensinavam em
tal, auxilia em aspectos motores, cognitivos, estúdios, levavam também a dança a hospi-
afetivos e sociais, representando também tais psiquiátricos, internações, entre outros,
um meio de adquirir e expandir saberes em já mostrando que enxergavam benefícios na
campos diversos, sendo de extrema impor- prática (ALVES E CARVALHO, 2010).
tância para a criatividade, comunicação e
expressão, sendo não somente na infância, Com prática, estudos e análises, che-
como também em todas as fases da vida. gou-se à definição de que a dançaterapia tra-
balha com a linguagem corporal, integrando
a psicofísica do indivíduo, ou seja, a sua men-
2.3 A dançaterapia para o desenvolvi- te e o seu corpo, a partir da premissa de que
mento humano o movimento corporal permite expressão,
expansão, liberação e relaxamento (ALVES E
É muito comum que, ao falar das Ar- CARVALHO, 2010).
tes, exista uma rápida associação com a dis-
ciplina curricular. E muito embora ela seja Assim, baseando-se principalmente na
um bom pilar para o desenvolvimento do in- conexão entre movimento e emoção, traba-
divíduo em fase de escolarização, o saber ar- lha com o corpo e a sua própria linguagem,
tístico deve transcender os muros escolares, procurando uma integração psicofísica do in-
de forma que gere estímulos e permita que o divíduo (mente-corpo). O movimento corpo-
indivíduo siga o seu curso de desenvolvimen- ral pode levar a mudanças psicológicas, pro-
to, conhecendo mais a si mesmo, ao outro e movendo saúde e desenvolvimento pessoal

490
(ALVES E CARVALHO, 2010, p.12). 3 CONCLUSÃO
Vale ressaltar que a dança possui forte O estudo visou explorar a dança como
influência no cuidado emocional, diminuindo elemento articular do desenvolvimento hu-
a ansiedade, questões comportamentais, bai- mano, considerando as múltiplas potencia-
xa autoestima, entre outros, sendo também lidades e estímulos que o movimento cor-
citada na literatura como de grande valia no poral é capaz de propiciar. E com isso, ficou
trabalho com pessoas que possuem transtor- perceptível que se trata de uma ferramenta
nos e/ou deficiências, assim como também muito eficaz para ser inserida no cotidiano,
pessoas que estão em fase de reabilitação não somente escolar, tampouco apenas da
e tratamento físico e/ou emocional. Outro Educação Infantil, pois todos podem e devem
ponto muito importante, é que a dançate- se beneficiar com os benefícios da prática da
rapia destina-se a qualquer faixa etária, ou dança, como por exemplo, alongamento, fle-
seja, vai muito além dos trabalhos realizados xibilidade, controle de peso, diminuição do
nas escolas, por exemplo, que direcionam o estresse, expressão das emoções, interação,
enfoque na Educação Infantil, pois partem da alegria, bem-estar, entre outros.
ideia de que pode beneficiar todas as idades,
inclusive, a terceira idade, que representa o Contudo, é muito importante perce-
período em que o corpo precisa trabalhar a ber que a dança possui diversas variações de
flexibilidade, assim como o idoso precisa se acordo com a cultura, contexto e demanda,
sentir integrado, acolhido, socializando, en- sendo necessária adaptações que dialoguem
tre outros (BOLSANELLO, 2005). com cada indivíduo e possibilite explorar os
mais diversos benefícios, focando mais na
Em Dançaterapia trabalha-se o movi- qualidade de vida, na expressão e menos nos
mento para transformar a rigidez do corpo julgamentos e nas convenções, pois a arte re-
em elasticidade. Procura motivar a alegria e side justamente em possibilitar que cada uni-
a vontade de viver, visando atender às neces- verso seja devidamente contemplado.
sidades das pessoas na busca por uma qua-
lidade de vida melhor. Trabalha o prazer, a
concentração, a paciência, o acolhimento, o REFERÊNCIAS
respeito às diferenças e a ternura com pro-
fundidade, sendo a Dançaterapia um cami- ALBINATI, M.E. Artes visuais. Artes II.
nho que leva ao autoconhecimento, à medi- Belo Horizonte. 2009.
tação e ao relaxamento (BOLSANELLO, 2005, ALVES, F.S.; CARVALHO, Y.M. Práticas
p. 16). corporais e grande saúde: um encontro pos-
sível. Movimento, v.16, n.4, p.229-244, 2010.
Dessa forma, pode-se fazer um pa-
ralelo, sobre aquilo que está enrijecido ter BONA, P. Método Musical. São Paulo:
Augusto, 2012.
o potencial de ficar mais leve, a emoção re-
primida, expressa, o que estava estático, se BOLSANELLO, D. Educação somática:
movimenta, e a partir da ideia de que vida é o corpo enquanto experiência. Motriz, v.11,
movimento, é possível entender que a dança n.2, p.99-106, 2005.
é a arte da vida expressa por meio do corpo, BRITO, T.A. Musicalização. Rio de Ja-
gerando uma comunicação positiva e capaz neiro, Editora: Peirópolis, 2013.
de trazer benefícios em todos os níveis, sen- DOMENICI, E. O encontro entre dança
do, portanto, considerada uma abordagem e educação somática como uma interface de
terapêutica transpessoal (DOMENICI, 2010). questionamento epistemológico sobre as te-
orias do corpo. Proposições, v.21, n.2, p.69-
A metodologia vai variar de acordo 85, 2010.
com crenças, cultura, necessidades e até FISCHER, Ernst. A Necessidade da Arte.
mesmo a personalidade de cada um que ex- Tradução de Leandro Konder. Rio de Janeiro:
pressa a sua dança, portanto, é interessante Zahar Editores, 1967 / 1983.
que o educador saiba observar e adequar o PEREIRA, S.R.C. et all. Dança na escola:
seu trabalho conforme as necessidades, as- desenvolvendo a emoção e o pensamento.
sim como aquele que prática, se abra e se Revista Kinesis. Porto Alegre, n. 25, 2021.
permita viver experiências, a fim de encon- ROSA, L. A influência da dança e da lin-
trar aquilo que melhor te atende, seja em guagem musical. São Paulo: Ed Ática, 2015.
termos de ritmo, de estilo, de abordagem
de trabalho, entre outros, pois todos os ca- SILVA, E. Fundamentos psicológicos
minhos levam a um mesmo objetivo: saúde, para o estudo da dança. 8º Ed São Paulo: Cor-
tez, 2019.
expansão, alegria e bem estar (BOLSANELLO,
2005). SEKEFF, R. A afinação do mundo. Tra-
dução de Marisa Trench de O. Fonterrada.
É importante a permissividade, o aco- São Paulo: Editora UNESP, 2020.
lhimento da diversidade, o olhar do não jul- SZUSTER. Estudo qualitativo sobre
gamento e o resgate de si mesmo, pois a a dança como atividade física em mulheres
expressão é o resultado de muitos proces- acima 50 anos. 69 f. (Monografia de Bacharel
sos internos que se manifestam, portanto, a em Educação Física) Porto Alegre - RS.2011.
dança deve ser tratada com ética, carinho e VERDERI, E. B. Dança fora e dentro
respeito a cada universo. da escola: uma abordagem pedagógica. São
Paulo: Phorte, 2019.

491
REFLEXÕES ACERCA DA FORMAÇÃO DOCENTE
SELMA JORGE COSTA MIRANDA

RESUMO o indivíduo desenvolva raciocínio lógico e re-


Neste artigo, buscou-se compreen- flexão crítica.
der como a educação superior é sempre de- Ainda é possível destacar o conheci-
sempenhada por um agente e este poderá, mento do senso comum, esse, como a pró-
na maioria das vezes, ciente disso ou não, pria classificação apresenta, pode ser consi-
imprimir naqueles que educa suas ideolo- derado o mais prosaico.
gias, o que pode, em alguns casos, provocar
situações de isolamento e intolerância, algo Ao ingressar na escola, o sujeito já
que, diante do papel de educar, de preparar apresenta seus conhecimentos adquiridos
o indivíduo para as escolhas da vida e reso- por meio do convívio com seus familiares,
luções de problemas de uma sociedade, não suas experiências e contato com outras pes-
deveria acontecer. Assim, aquele que se pro- soas. Esse tipo de conhecimento é obtido por
põe a educar precisa estar consciente de seu meio da vivência do sujeito, de seus erros e
papel e de sua responsabilidade, seja essa acertos.
educação no ambiente escolar ou não. Con- Outro conhecimento a ser citado, e
tudo, ressalta-se que aqueles que se envol- bastante comum, é o conhecimento apreen-
vem com a educação escolar têm o grau de dido por meio da fé, das crenças do sujeito, o
responsabilidade ainda maior nesse proces- que pode ser classificado como conhecimen-
so e devem sempre priorizar uma educação to religioso.
que vise ao desenvolvimento do indivíduo,
no sentido de que esse seja capaz de anali- Por fim, salienta-se, então, o conheci-
sar criticamente as variadas situações com as mento científico, que se caracteriza pela pre-
quais se deparar. sença de um objeto de estudo e de métodos
para tal. Esse conhecimento é originário da
PALAVRAS-CHAVE: Educação; Forma- necessidade de o ser humano encontrar ex-
ção docente; Trabalho docente. plicações lógicas para questões do dia a dia
de forma sistematizada e comprovada por
meio de experimentos e pesquisas.
1 INTRODUÇÃO
O que se pode perceber é que cada
Inicia-se a discussão proposta no pre- um desses tipos de conhecimento atenda a
sente artigo com a reflexão de que é para uma parcela da sociedade e isso ocorre em
uma proposição e discussão acerca da meto- diferentes épocas. É inegável que a educação
dologia do ensino seja uma breve análise de e o conhecimento, seja ele filosófico, do sen-
uma possível resposta a uma questão bas- so comum, religioso ou científico estejam, de
tante inquietante desde muito tempo: o que certa maneira, relacionados entre si.
é educação?
Também diante disso, não se pode
É bem verdade que ainda se procuram deixar de relacionar o elo existente entre
incansavelmente respostas a essa indagação, sociedade, conhecimento e educação. Esses
por esse motivo, no parágrafo acima, men- são termos que se envolvem em um ciclo que
ciona- se uma possível resposta a tal inquie- explica a história dos sujeitos.
tação daqueles que se propõem a tal ação.
Existem incontáveis educações e cada
Algo fundamental nesse assunto é uma delas atende à sociedade em que está
compreender que a educação acontece em submetida, uma vez que a educação visa
todos os lugares e o professor não figura responder às necessidades e anseios dessa
como o único responsável por isso. A educa- mesma sociedade, assim, refletindo sua cul-
ção pode ser encontrada em lugares varia- tura, seus costumes e formas de pensar as
dos, assim como também o ensino de todos coisas do mundo.
os saberes.
A partir da ideia de ciclo, que explica
Diante disso, é interessante dizer que a história do sujeito, anteriormente citada,
os conhecimentos podem ser classificados é bom dizer ainda que a sociedade também
em tipos específicos, conforme um conjunto espera uma resposta dos indivíduos bem-e-
de características. ducados, ou seja, preparados para enfrentar
Assim, é possível mencionar o conhe- as questões do mundo.
cimento filosófico proveniente da filosofia. Nesse momento, o papel da educação
Essa não é exatamente uma ciência, escolar é fundamental, pois é nesse ambien-
uma vez que não costuma delimitar com exa- te que os saberes de senso comum devem
tidão seu objeto de estudo, diferentemente ser analisados, discutidos, lapidados de ma-
do conhecimento científico. O conhecimen- neira a se transformarem em conhecimentos
to filosófico também pode apresentar uma científicos que possam agir em prol da socie-
certa carga de subjetividade, ao propor que dade, transformando-a de forma mais justa

492
e que vise ao bem-estar dos indivíduos que possuía elementos diferentes e era reduzido
a compõem. em relação ao do sexo masculino. Objetiva-
va, em suma, a formação para o trabalho do-
méstico.
2. UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA SO- Ao final do período imperial ocorreu
BRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES a abertura das escolas normais para as mu-
O surgimento das escolas que possu- lheres, contudo, já aí era possível identificar o
íam a finalidade de formar professores tem lugar da mulher na educação como uma ex-
relação direta com o liberalismo do mundo tensão do papel de mãe, de modo que seria
moderno. A Reforma e a Contrarreforma fo- encarregada da educação da primeira infân-
ram movimentos que significaram os passos cia, como apontam Tanuri (1979) e Siqueira
iniciais para o que viria a ser a escola pública. (1999).
Contudo, foi a partir da Revolução O magistério apresentava-se, então,
Francesa que foi possível dar forma à ideia como uma possibilidade de articulação da
de uma escola que tivesse o propósito de for- função doméstica da mulher com o mun-
mar professores. do do trabalho. Além disso, os homens não
eram atraídos pelo magistério em escolas
A preocupação em relação à seleção primárias, considerando a baixa remunera-
de professores adequados para as escolas ção, o que significava um problema de mão-
primárias já existia antes mesmo da funda- -de-obra, solucionado pela formação e con-
ção de instituições de formação docente. tratação de professoras mulheres, conforme
Após o surgimento de tais instituições, Tanuri (1979).
este cuidado continuou a existir, consideran- Schneider (1993) salienta a prática de
do que as escolas normais ainda ofereciam várias províncias que consistia em encami-
formação insuficiente. Sobre isso, podemos nhar órfãs para o magistério para que pudes-
observar o que consta no Alvará 6/11/1772, sem iniciar sua vida profissional, buscando,
o qual institui regulamentos referentes aos assim, oferecer uma possibilidade à jovem
exames a serem aplicados aos professores que não fosse necessariamente o matrimô-
em Portugal, bem como em seus domínios: nio ou até mesmo o serviço doméstico. En-
Ordeno: que os exames dos mestres tretanto, esta prática também visava à explo-
que forem feitos em Lisboa; quando não as- ração da mão-de-obra das órfãs em troca de
sistir o presidente se façam na presença de salários irrisórios.
um deputado, com dois examinadores no- Segundo a autora, os currículos co-
meados pelo dito presidente, dando os seus meçaram a adotar um caráter mais com-
votos por escrito que o mesmo deputado as- plexo em 1880, por meio do Decreto 7.247,
sistente entregará com a informação do tri- de 19/04/1879, quando ficou determinada a
bunal. Em Coimbra, Porto e Évora (onde só inserção das seguintes disciplinas: Álgebra
poderá haver exames) serão feitos na mes- e Geometria, Língua Francesa, Geografia e
ma conformidade por um comissário e dois Cosmografia, Aritmética, Metrologia e Escri-
examinadores, também nomeados pelo pre- turação Mercantil, História Universal, Língua
sidente da mesa; os quais remeterão a ela Nacional, História e Geografia do Brasil.
os seus pareceres, na sobredita forma; nas
Capitanias do Ultramar se farão exames na Também deveriam estar presentes
mesma conformidade. Sempre de tudo será questões sobre ciências, higiene, direito, eco-
livre aos opositores virem examinar-se em nomia política, filosofia, desenho, caligrafia,
Lisboa, quando declararem que assim lhes música vocal, ginástica, além de Economia
convém. Doméstica e trabalhos de agulha (especifica-
mente para alunas) e prática manual de ofí-
Ordeno: que o sobredito provimento cios (destinado aos alunos). Neste decreto a
de mestres se mande afixar editais nos rei- duração do curso é determinada em séries
nos e seus domínios para a convocação dos de matérias condicionadas a exames, e não
opositores aos magistérios. E que assim se fi- em anos.
que praticando no futuro em todos os casos
de cadeiras (MOACYR, 1936, p. 24). O advento da República não modificou
de forma expressiva a instrução pública. Hou-
Com a reforma constitucional de ve, contudo, a continuidade das tendências
12/8/1834, as Províncias empreenderam ini- nascidas no império, segundo Nagle (1977).
ciativa para a instituição de escolas, oportuni- A Educação na República foi, por tanto, pou-
dade na qual no Brasil surgiram as primeiras co desenvolvida. O movimento nacionalista,
escolas normais. Esta ação foi decorrente de que se fortaleceu a partir da Primeira Guerra,
um movimento que buscava a descentraliza- impulsionou a instituição de escolas normais
ção. financiadas pelo Governo Federal.
O propósito das primeiras escolas Tanuri (1979) destaca que este avan-
normais do Brasil foi a formação exclusiva ço não foi muito significativo em todo o país
do sexo masculino, demonstrando como a porque cada Estado se organizou de uma
exclusão era um fator presente. Na escola maneira.
primária, o currículo destinado às mulheres

493
Alguns Estados de postura progressis- educação e biologia e higiene.
ta, contudo, apresentaram grandes avanços
quantitativos e qualitativos em relação à for- A partir de 1930, estudos, conferên-
mação de professores. São Paulo, que havia cias, publicações e debates possibilitaram
se transformado no polo econômico do Bra- a implantação de uma política de educação
sil, manteve durante os 30 anos iniciais da que resultou em uma Escola de Professores
República uma política de formação de pro- no Distrito Federal, como aponta Vidal (1995).
fessores que serviu de modelo para outros Dessa forma, o professor primário
Estados. era formado em dois anos, e sua formação
Conforme Tanuri (1979), a ampliação abrangia disciplinas como psicologia educa-
do currículo da escola normal ocorreu a par- cional, desenho e educação física, biologia
tir da reforma paulista (12/03/1890). Ideias educacional, música, recreação e jogos, his-
de Pestalozzi já estavam presentes nestas tória da educação, matérias de ensino (que
escolas. A Lei 88 de 08/09/1892, bem como diziam respeito propriamente à linguagem,
a alteração feita pela Lei 169 de 07/08/1893, leitura, cálculo, estudos sociais, literatura in-
exprimem anseios das elites paulistas para o fantil e ciências naturais).
ensino público. A Universidade do Distrito Federal in-
Ficam instituídos o ensino primário de corporou a Escola de Professores em
8 anos (elementar e complementar), a cons- 1935. Surgia a Faculdade de Educação,
tituição de “grupos escolares”, os quais união a qual concedia a “licença magistral”. Em
escolas afastadas e isoladas, com escolas que
classificavam os alunos de acordo com seu São Paulo, conforme Vidal (1995), o
nível de adiantamento, além da instituição de Código de Educação – Decreto 5.8884 de
um curso superior, o qual funcionaria anexo 21/04/1933 instituiu curso de formação para
à Escola Normal, que possuía a finalidade de professores primários, curso de formação
formar aqueles que atuariam no magistério para professores secundários e cursos volta-
das escolas normais e dos ginásios. dos à especialização de diretores e também
inspetores, na Escola de Professores, a qual
A Escola Normal ainda havia a cadeira foi incorporada à Universidade de São Paulo
Pedagogia e Direção de Escolas como a úni- em 1934.
ca destinada à formação pedagógica docen-
te, contudo, o currículo foi ampliado, dando Novas funções educativas foram sur-
destaque a disciplinas científicas. O curso foi gindo ao longo do tempo, de modo que cur-
passou a ter duração de quatro anos e exa- sos de aperfeiçoamento também passaram
mes para ingresso foram introduzidos, como a constituir a formação dos professores e
elucidam Tanuri (1979) e Monarcha (1999). demais profissionais envolvidos com a Edu-
cação.
O autor aponta que a Escola Normal
Superior permaneceu na legislação brasilei- Após 1964 a escola passou a ser pen-
ra até 1920, apesar de não ter sido coloca- sada e operada sob a visão da modernização,
da em prática da forma como foi idealizada. buscando eficiência e produtividade na pre-
São Paulo permaneceu com um ensino de paração para o trabalho. Assim, como aponta
tipo único, embora a Lei Orgânica do Ensino Silva (1991), está em voga a Teoria do Capital
Normal (1946) instituísse a existência de dois Humano.
níveis de escolas de formação. Posteriormen-
te, outros Estados chegaram à mesma reali- A autora afirma que tal perspectiva de-
zação a partir da Lei 5.692/72. monstra que a finalidade tecnicista da edu-
cação originou a fragmentação do trabalho
Ainda em 1920, existiam dez escolas no âmbito pedagógico. Este é o momento do
normais públicas em São Paulo. Foram cria- surgimento de funções como a Supervisão
dos cursos complementares com duração de Escolar. Passaram a ser incorporadas tais es-
dois anos, que fariam um papel de interme- pecialidades ao currículo de Pedagogia com
diar o primário e o normal em 1917. A Refor- o Parecer 252/1969.
ma realizada por Afrânio Peixoto perpetrou
uma cisão do curso normal em um ciclo pre- Na vigência da Lei 4.024/1961, o curso
paratório e um ciclo profissional. secundário e o normal foram unificados, foi
organizada uma série posterior (a terceira)
O curso complementar funcionava que abrangia diversas áreas e foi instituído o
como um curso primário superior, junto ao período da quarta série para as disciplinas de
secundário. Era uma ligação entre a escola formação relacionadas diretamente à Edu-
primária e o curso normal. cação (CAMPOS, 1987). O curso normal teve
a procura diminuída em decorrência de tais
Nagle (1974) cita que reformas ocorri- mudanças.
das posteriormente modificaram a duração
do curso normal para cinco anos, composto A Lei 5.540/68 demonstra o impacto
de um ciclo geral (3 anos) e um ciclo profis- do regime militar sobre a organização do en-
sional (2 anos). A Escola Nova foi a base que sino superior, com a alteração realizada no
trouxe para o currículo a psicologia e a didá- currículo do curso de Pedagogia, de modo a
tica, por meio de disciplinas como a sociolo- dividi-lo em habilitações técnicas.
gia, desenho e trabalhos manuais, história da

494
3. MUDANÇAS NA FORMAÇÃO DE daria vida aos Centros de Formação e Aper-
PROFESSORES feiçoamento do Magistério (CEFAM), o qual
As Diretrizes e Bases estabelecidas possuía a finalidade de transformar as es-
pela Lei 5.692/71 fizeram com que a profis- colas normais no sentido de adequá-las à
sionalização antes realizada no ginásio dei- formação de profissionais considerando o
xasse de existir, instituindo a Habilitação Es- âmbito técnico e também político. Assim, o
pecífica para o Magistério (HEM). A Lei traz CEFAM possuía uma característica de forma-
em seu artigo 29: ção inicial, mas também de formação conti-
nuada, voltado a professores de educação
[...] a formação de professores e es- pré-escolas e também para as séries iniciais,
pecialistas para o ensino de 1o e 2o graus como destaca Cavalcante (1994).
será feita em níveis que se elevem progres- Em 1996, a Lei 9.394 definiu diretrizes
sivamente, ajustando-se às diferenças cultu- e bases sob as quais os cursos de nível supe-
rais de cada região do país e com orientação rior seriam regidos, formando-se um modelo
que atenda aos objetivos específicos de cada único de formação superior na área da Edu-
grau, às características das disciplinas, áreas cação.
de estudo e às fases de desenvolvimento dos
educandos (BRASIL, 1971).
As exigências para o exercício do Ma- 4. O TRABALHO DOCENTE E A SOCIE-
gistério colocadas pela Lei 5.692/71 incluíam: DADE
a) no ensino de 1o grau, da 1a à 4a sé- Para que a Educação cumpra seu
ries, habilitação específica de 2o grau, reali- papel de formadora de sujeitos críticos e
zada no mínimo em três séries; b) no ensino conscientes, bem como de viabilizadora e
de 1o grau, da 1a à 8a séries, habilitação es- potencializadora do desenvolvimento dos in-
pecífica de grau superior, representada por divíduos de uma sociedade, é imprescindível
licenciatura de curta duração; c) em todo o que o trabalho docente seja considerado de
ensino de 1o e 2o graus, habilitação específi- forma central neste contexto com reflexões
ca de nível superior, correspondente à licen- sobre sua finalidade, importância e valoriza-
ciatura plena (BRASIL, 1971). ção com vistas ao sucesso do processo edu-
Após complementação de um ano cacional como um todo.
realizada em instituições de ensino superior No que se refere à relação existente
seria possível exercer o magistério até a 6ª entre a formação destes profissionais e sua
séria. Aqueles formados em licenciatura cur- prática, é possível notar que esta articulação
ta poderiam complementar os estudos e le- ainda e um ponto no qual se encontram di-
cionar até a 2ª série do segundo grau, como ficuldades. Assim, os professores terminam
consta no artigo 30. por desempenhar uma atuação deficiente,
Todavia, Gatti (1997, p. 10) esclarece como esclarece Rau (2012):
que “pouco disto se concretizou e muito se estudos revelam que, desde há muito,
burocratizou pelas normatizações subse- ocorrem problemas na formação desses pro-
quentes, quer em nível federal, quer em nível fessores, no sentido de identificar a relação
estadual”. O HEM deveria possuir um núcleo dialética existente entre os aspectos acadê-
comum nacional em seu currículo (estudos micos que possibilitam uma relação de inte-
sociais, comunicação e expressão, ciências), ração entre a prática que cada professor irá
além de disciplinas de formação especial que desenvolver baseando-se na realidade edu-
abrangeriam psicologia, história, sociologia e cacional em que for atuar e a teoria, que se
filosofia da educação. funda na concepção de educação, de criança
Deveriam estar presentes também e de sociedade da própria instituição educa-
disciplinas como didática e prática de ensi- cional (RAU, 2012, p. 26).
no. Nota-se, portanto, a ausência de grandes Este é um ponto que necessita de
alterações. Poderia ocorrem o fracionamen- atenção e cuidado, uma vez que, ao chegar
to do curso, de modo que era possível, por ao espaço da sala de aula, o professor preci-
exemplo, obter habilitação específica para sa portar os conhecimentos teóricos neces-
o exercício do magistério em escolas mater- sários para a reflexão e a compreensão so-
nais e jardins-de-infância, ou mesmo para o bre o trabalho docente, contudo, para que os
magistério somente na 1ª e nas 2ª séries, em resultados deste processo, (que serão refleti-
3ª e 4ª séries e em 5ª e 6ª séries. dos diretamente no trabalho com os alunos),
A perspectiva tecnicista se manifes- é indispensável que este profissional esteja
tava por meio desta fragmentação. A carga apto a realizar a devida articulação entre es-
horária das disciplinas pedagógicas foi redu- tes saberes com a realidade encontrada no
zida, causando um esvaziamento de conte- ambiente educacional, bem como com a re-
údos e comprometendo a formação do pro- alidade na qual cada aluno, como sujeito só-
fessor, ocasionando, inclusiva, a diminuição cio-histórico, está inserido.
da procura e o fechamento de diversos cur- Somente a partir da compreensão
sos (MELLO et al., 1983). deste cenário de forma abrangente e pro-
Em 1982 foi elaborado o projeto que funda, o educador poderá exercer seu papel

495
com eficiência, de forma significativa e plena BERT, 1994, p. 13).
na vida de seus educandos. O comprometi-
mento de todos é imprescindível para que o Para Aguiar (2004), o professor deve
coletivo produza, verdadeiramente, uma uni- pensar as atividades partindo do concreto
dade. para o abstrato e sempre buscar relacioná-
-las com as situações cotidianas da vida dos
Ao praticar sua docência, o educador, alunos, para que o aprendizado ganhe maior
sujeito formador, não pode ver seu educan- significado e para que a compreensão seja
do como um objeto para o qual ele transfe- beneficiada.
re todo o seu conhecimento, de modo que
o seu aluno, embora não tenha os mesmos É necessário que exista respeito pela
conhecimentos que seu professor, possa individualidade dos alunos e também pela
também proporcionar trocas de experiências sua liberdade de expressão emocional e cog-
e aprendizagens. nitiva.
O aluno não é um objeto que precisa É preciso buscar as informações ne-
ser moldado, assim como educando e edu- cessárias para auxiliar o aluno, em âmbito es-
cador não são objetos um do outro. O fato colar, a desenvolver sua ética, como também
é que quando o educador ensina, ele está sua consciência política, não somente em
exercitando a sua prática e, por consequên- sala de aula, mas que possam fazer uso des-
cia, o outro responde o que lhe foi ensinado. tas ferramentas na sua vida social, profissio-
Conforme Freire (1996), “quem ensina apren- nal, resolvendo conflitos diários, cumprindo
de ao ensinar e quem aprende ensina ao seus deveres e lutando pelos seus direitos,
aprender” (p.23). respeitando e sendo respeitado, sendo um
cidadão livre, e sabendo viver em sociedade.
De acordo com Freire (1996), “ensinar E é por tudo isso que o papel do professor é
inexiste sem aprender e vice-versa” (p. 23). imprescindível na função de mediador nesse
O aluno precisa do educador assim como o processo de construção do sujeito.
educador precisa de seu aluno para que jun-
tos busquem não somente uma forma de Saud (2009), baseada na teoria de
ensino e aprendizagem, mas sim várias delas Wallon, afirma que são diversos os fatores
para a formação de ambos. O ser humano é que contribuem para o ensino e aprendiza-
um ser social em processo de construção. So- gem, dentre eles está o envolvimento entre
mos “sedentos” por saberes e esses quando os alunos e professores e nesse envolvimen-
despertados criticamente, levam o sujeito a to estão o respeito mútuo mantido uns pelos
uma “curiosidade epistemológica”. outros, a confiança, a segurança, o carinho, a
admiração e a tranquilidade, enfim, um am-
O autor explica: “quanto mais critica- biente prazeroso capaz de propiciar o desen-
mente se exerça a capacidade de aprender volvimento da criança em todos os aspectos.
tanto mais se constrói e desenvolve o que ve-
nho chamando “curiosidade epistemológica” Vyotsky (2007) afirma que é através da
(p. 25). interação com outros membros da cultura
que o homem interioriza as formas sócio his-
A arrogância do educador ao exercer toricamente estruturadas do desenvolvimen-
seu poder e impor seu pensamento de for- to psicológico.
ma arbitrária é um problema que ameaça a
construção da autonomia do educando. A imitação é ferramenta determinan-
te no processo de desenvolvimento. No am-
Não há pensar certo fora de uma prá- biente escolar, a criança entra em contato
tica testemunhal que o re-diz em lugar de com diversos novos códigos, com represen-
desdizê-lo. Não é possível pensar que pensa tações e com organizações que precisa com-
certo mas ao mesmo tempo perguntar ao preender e assimilar.
aluno se ‘sabe com quem está falando’ (FREI-
RE, 1996, p. 35). Aguiar (2004) elucida que alguns pro-
fessores executam intervenções de forma
Jolibert (1994) frisa que a relação en- equivocada, de modo que criatividade e a li-
tre ensino e aprendizado merece reflexão, berdade do desenvolvimento e da aprendiza-
pois a pedagogia que vem sendo praticada gem do aluno são podadas e restritas. Tam-
visa mais o “ensinar” do que o “aprender”, ou bém é sempre indispensável ter em mente
seja, o foco está no professor, em vez de cen- que respeitar os educandos é um ponto cru-
trar-se na criança e em seu desenvolvimento cial na relação que se dá no âmbito educacio-
individual e particular. nal, de modo que cada ação e cada proposta
Na maior parte do tempo, a pedagogia pedagógica sejam cuidadosamente pensa-
tradicional, e até a pedagogia dita renovada, das e planejadas a partir da ideia de que o
envolve o ensino: a atividade essencial é re- aluno é sujeito de seu aprendizado e deve ser
alizada pelo professor, e às crianças só cabe considerado em sua totalidade.
‘entender’, ‘responder’, ou ‘executar’ as tare- Dessa forma, o professor possui o im-
fas imaginadas por ele. Nenhuma exigência portante papel de articular conhecimentos
ligada a uma situação real: estamos no cam- em prol da viabilização de todo o processo de
po do fazer-de-conta, ou em atividades nas desenvolvimento e aprendizagem do aluno,
quais aprender é a meta e não o meio (JOLI- mediando e potencializando a aquisição de

496
conhecimento, a construção de identidade e ca e participativa afeta positivamente o de-
de socialização. senvolvimento do trabalho no âmbito escolar
Somente por meio do reconhecimento e contribui significativamente para o alcance
do trabalho do professor, por parte da socie- dos objetivos traçados pela equipe escolar.
dade e do Estado, em toda a complexidade Faz-se imprescindível que o olhar da
aqui exposta, é que pode-se alcançar condi- equipe gestora, em especial do coordenador
ções de investimento nestes profissionais no pedagógico, seja voltado para o tema da ges-
sentido de garantir formação continuada, a tão democrática, para que possa cumprir seu
valorização e o respeito de seu importante papel de viabilizadora da efetivação da edu-
lugar na sociedade e a dignificação da carrei- cação.
ra através de justa remuneração.

REFERÊNCIAS
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGUIAR, Renata. O Lúdico na educa-
Ao praticar sua docência, o educador, ção infantil. São Paulo: Editora Intersubjetiva,
sujeito formador, não pode ver seu educan- 2004.
do como um objeto para o qual ele transfe-
re todo o seu conhecimento, de modo que BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da
o seu aluno, embora não tenha os mesmos Educação Nacional. LEI 5.692/71. agosto
conhecimentos que seu professor, possa de 1971. Disponível em: <http://www.
também proporcionar trocas de experiências planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5692impres-
e aprendizagens. sao.htm>. Acesso em: 20 ago. 2023.
O aluno não é um objeto que precisa ___________. Lei de Diretrizes e Bases
ser moldado, assim como educando e edu- da Educação Nacional. LEI 9.394/96.
cador não são objetos um do outro. O fato Dezembro de 1996. Disponível em:
é que quando o educador ensina, ele está <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.
exercitando a sua prática e, por consequên- pdf>. Acesso em: 20 ago. 2023.
cia, o outro responde o que lhe foi ensinado.
___________. Ministério da Educação e
O professor possui uma formação am- do Desporto, Secretaria da Educação Funda-
pla e, para que seja consistente, necessita mental. Características do Referencial Nacio-
que a teoria e a prática sejam relacionadas nal para a Educação Infantil. Brasília: MEC/
de modo a consolidar saberes e promover SEF, 1998.
noções reais sobre a Educação. Assim, o es-
tágio deve ser compreendido pelo estagiário CAMPOS, Arlêta Nóbrega Z.M. A Escola
como uma oportunidade de colocar em prá- Normal paulista: acertos e desacertos. Mes-
tica os conteúdos do universo acadêmico. trado em Educação. Faculdade de Educação
da USP, 1987
A partir das considerações apresenta-
das pelos autores consultados, foi possível CAVALCANTE, Margarida J. CEFAM:
concluir que a Educação deve ser compreen- uma alternativa pedagógica para a formação
dida em sua totalidade, considerando todas do professor. São Paulo: Cortez, 1994.
as particularidades dos processos e indivídu-
os envolvidos. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autono-
mia: Saberes necessários à prática Educativa.
Para que a aprendizagem aconteça é São Paulo: Paz e Terra, 1996.
necessário que múltiplos olhares de acompa-
nhamento possam estar cuidando do ser que GATTI, Bernardete A. Formação de
aprende e do ser que ensina. Nesses múlti- professores e carreira: problemas e movi-
plos olhares, o olhar do professor é funda- mentos de renovação. Campinas: Autores
mental e merece uma atenção precisa, pois Associados, 1997.
no processo de ensino e aprendizagem ele JOLIBERT, Josette. Formando crianças
deve atingir positivamente a vida do aluno, leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
mas sabemos que para que isso aconteça é
necessário que a saúde do professor não es- MELLO, Guiomar Namo de; MAIA, E.
teja comprometida. Marisa; BRITTO, Vera Maria Vedovelo. As atu-
ais condições de formação do professor de
Somos sujeitos constituídos por nossa 1o grau: algumas reflexões e hipóteses de in-
história, cultura e sociedade. Interagimos e vestigação. Cadernos de Pesquisa. São Paulo,
somos influenciados o tempo todo pelo meio 1983, no 45, p. 7178, maio.
no qual estamos inseridos e, da mesma for-
ma, o influenciamos. MOACYR, Primitivo. A instrução e o im-
pério: subsídios para a história da educação
Agimos sobre ele, transformando-o e no Brasil (1823-1853). São Paulo: Editora Na-
transformando a nós mesmos, em um contí- cional, 1936.
nuo processo de construção que não se limi-
ta e não se esgota. MONARCHA, Carlos. Escola Normal da
Praça: o lado noturno das luzes. Campinas:
É notório que uma gestão democráti- Editora da UNICAMP, 1999.

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498
A EDUCAÇÃO MUSICAL COMO PRÁTICA EDUCATIVA NOS PRIMEIROS ANOS ESCOLARES
SIMONE MOLINA DA PAIXÃO

RESUMO barreiras e conectar os sujeitos em aspectos


O presente artigo apresenta a impor- emocionais íntimos. Ao ouvir uma música, os
tância da musicalização na educação. A arte indivíduos são inseridos em um meio socio-
é essencial na formação dos sujeitos, desper- cultural que molda as percepções, valores e
tando a criatividade, imaginação, habilida- identidades.
des técnicas, e a capacidade de expressão. O O texto expõe a experiência sensorial
texto expõe a relevância do ensino de arte, e humana, que acontece antes mesmo do nas-
seus impactos para preparar os alunos para cimento. O feto é capaz de reconhecer sons,
a vida cidadã. Diante das várias linguagens da e a música faz parte de sua vida ainda em
arte, a música, forma de expressão que vai fase intrauterina.
além das palavras e dos sons, apresenta-se
como uma ferramenta fundamental para o A importância do artigo está em apre-
desenvolvimento das crianças, influenciando sentar os benefícios da música na formação
as áreas cognitivas, emocionais, sociais e mo- dos sujeitos, e o papel do professor nesse
toras. A música promove a conscientização e processo. A preparação de atividades rele-
criticidade acerca de diversos assuntos. A im- vantes para o fazer musical contribui para
portância deste trabalho está em apresentar a descoberta de aptidões e potencialidades
os benefícios da música na formação dos su- dos alunos.
jeitos, e o papel do professor nesse processo, A atuação do docente tem potencial
com potencial para despertar a sensibilidade para despertar a sensibilidade dos estudan-
dos alunos e oportunizar a apreciação esté- tes, e sua inserção no mundo da música deve
tica. oportunizar a experimentação, tornando as
PALAVRAS-CHAVE: Musicalização; atividades prazerosas, e proporcionando aos
Educação; Desenvolvimento Infantil. alunos experiências agradáveis, que certa-
mente podem marcar a vida dos sujeitos. O
encorajamento dos estudantes e suas con-
INTRODUÇÃO quistas devem ser celebrados para que o fa-
zer musical se efetive.
A arte exerce um papel essencial na Para realização do artigo, foi realiza-
formação dos sujeitos. As várias linguagens da uma ampla pesquisa, a partir de livros e
da arte despertam a criatividade, habilidades artigos científicos, que possibilitaram apro-
técnicas, imaginação e a capacidade de ex- fundamento e elucidação acerca do tema
pressão. proposto.
O presente artigo se propõe a expla-
nar sobre a importância do ensino de arte, e
como ele prepara os estudantes para a vida 1. AS CONTRIBUIÇÕES DA ARTE PARA
cidadã, proporcionando apreciação estética, O DESENVOLVIMENTO HUMANO
expressão do pensamento e das emoções, e
vivência das experiências artísticas. Desde os primórdios da civilização, a
Arte – nas suas mais diversas linguagens [...]
Dentro das várias linguagens da arte, tem sido valorizada como fator importante
a música é fundamental para o desenvolvi- na educação dos povos. A arte é, portanto,
mento das crianças, influenciando as áreas uma maneira de despertar o ser humano
cognitivas, emocionais, sociais e motoras. Ao para o seu próprio processo de sentir, edu-
integrar a música de maneira criativa e envol- cando o sentimento, buscando a atualização
vente na educação musical, os educadores de suas potencialidades criativas e promo-
podem criar um ambiente de aprendizado vendo o pleno desenvolvimento de suas ca-
estimulante e enriquecedor. O objetivo da pacidades latentes, no exercício cotidiano do
pesquisa é explorar a relevância da musica- fazer-se sujeito. (OLIVEIRA, 2002, p. 38 apud
lização no contexto educacional. NEPOMUCENO, 2020, p. 56).
Historicamente, a música desempe- A arte exerce um papel relevante na
nha um papel importante nos movimentos educação. A apreciação estética dos estudan-
sociais e políticos, sendo agente de mudan- tes os envolve em experiências artísticas que
ça, que une pessoas em prol de uma causa. contribuem para despertar a sua criativida-
Transmite mensagens valiosas, dando voz a de, imaginação, habilidades técnicas, capaci-
quem muitas vezes não tem a palavra. A mú- dade de expressar pensamentos e emoções.
sica promove a conscientização e criticidade A arte é responsável por promover a compre-
acerca de diversos assuntos. ensão cultural e histórica de diferentes perío-
Em sala de aula, a música é uma for- dos, estilos e tradições.
ma de expressão que vai além das palavras O ensino de arte estimula habilidades,
e dos sons. Ela tem o poder de transcender como o pensamento crítico, a resolução de

499
problemas e a tomada de decisões, prepa- desperta um senso profundo de identidade
rando os estudantes para enfrentar desafios e autoestima.
em todas as áreas da vida. É responsável por
promover o desenvolvimento integral de in- [...] a musicalização como um pro-
divíduos criativos, sensíveis e conscientes da cesso educacional orientado que, visando
realidade em que estão inseridos. promover uma participação mais ampla na
cultura socialmente produzida, efetua o de-
De acordo com Rosa (2022, p. 43), o senvolvimento dos esquemas de percepção,
ensino da arte é fundamental, possibilita o expressão e
desenvolvimento da percepção estética e do
pensamento artístico, propiciando ao estu- pensamento necessários à apreensão
dante o desenvolvimento de formas próprias da linguagem musical, de modo que o indi-
de pensar, agir e sentir, o que lhe confere víduo se torne capaz de apropriar-se criti-
sentidos à sua experiência humana. A arte camente das várias manifestações musicais
possibilita o desenvolvimento da sensibiliza- disponíveis em seu ambiente, o que vale di-
ção e imaginação dos estudantes ao realiza- zer: inserir-se em seu meio sociocultural de
rem suas produções artísticas, conduzindo- modo crítico e participante. Esse é o objetivo
-os a conhecer e apreciar as formas artísticas final da musicalização, na qual a música é o
de diferentes culturas, de suas produções e material para o processo educativo e forma-
de outros colegas. tivo mais amplo, dirigido para o pleno desen-
volvimento do indivíduo, como sujeito social.
Segundo Barbosa (1998, p. 16): (PENNA, 2015, p. 49).
Através da poesia, dos gestos, da ima- A música exerce um papel significa-
gem, as artes falam aquilo que a história, so- tivo no desenvolvimento e enriquecimento
ciologia, antropologia etc. não podem dizer cultural da infância. Desde os primeiros mo-
por que elas usam outros tipos de linguagem, mentos de vida, as crianças são naturalmen-
a discursiva e a científica, que sozinhas não te atraídas pelos sons e ritmos ao seu redor.
são capazes de decodificar nuances culturais. A exposição à música proporciona uma sé-
A arte é a essência da humanidade, rie de benefícios, que contribuem para um
ilumina a existência, trazendo significados e crescimento saudável e uma aprendizagem
beleza para a vida. Através da arte, os sujei- abrangente, que contempla a formação inte-
tos são transportados para universos parale- gral dos sujeitos. A música estimula o desen-
los, explorando a profundidade da emoção volvimento do cérebro infantil, fortalecendo
humana, criatividade infindável da mente, conexões neurais, aprimorando habilidades
e a expressão individual que torna os seres de linguagem e memória.
únicos. A arte permite comunicação e ques- Os currículos brasileiros cada vez mais
tionamento sobre o mundo, inspira, permite apontam a necessidade de as unidades esco-
sonhos, e dá cor ao cotidiano da vida. lares preconizarem estratégias pedagógicas
Diante das múltiplas linguagens pre- que preparem os indivíduos para um mundo
sentes na arte, a música, com sua capacida- em um contexto globalizado e cheio de desa-
de singular de transcender fronteiras cultu- fios. Diante desse cenário, Hummes (2010, p.
rais e linguísticas, é parte intrínseca da vida 22), explica que:
humana, com potencial de ser a trilha sonora A música pode contribuir para a for-
das emoções mais profundas dos indivíduos, mação global do aluno, desenvolvendo a
um veículo para a expressão de sentimentos capacidade de se expressar através de uma
que muitas vezes não podem ser traduzidos linguagem não verbal e os sentimentos e
em palavras. Com capacidade para provocar emoções, a sensibilidade, o intelecto, o cor-
reflexões profundas, a música atravessa ge- po e a personalidade [...] a música se presta
rações, moldando a cultura e a identidade, e para favorecer uma série de áreas da criança.
atuando como um refúgio para momentos de Essas áreas incluem a 'sensibilidade', a 'mo-
alegria, tristeza, triunfo ou desespero. A mú- tricidade', o 'raciocínio', além da 'transmissão
sica suplanta o tempo e o espaço, toca almas e do resgate de uma série de elementos da
e conecta o ser humano a ricas experiências. cultura'.
A experiência sensorial é rica desde a
2. A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZA- vida intrauterina da criança, e ela reage aos
ÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR estímulos mais conhecidos. Mesmo antes de
nascer, a criança já recebe diversos sons. O
No contexto educacional, a música feto reconhece a voz da sua mãe, e percebe a
é uma sinfonia de aprendizagens e expres- comunicação também através da pele. O feto
sões, possui uma linguagem universal que ouve com o ouvido e com seu corpo, e me-
pode conectar os agentes que participam moriza sons e músicas.
dos momentos em que ela se faz presente. (ILARI, 2006 apud ROSA, 2022, p. 66).
O processo de musicalização na escola possi-
bilita muitas descobertas, nutre habilidades Siqueira (2020, p. 2), afirma que:
musicais, e cultiva habilidades sociais, emo-
cionais e cognitivas. Desencadeia a imagina- [...] após a vigésima semana, dá-se iní-
ção, fomenta a colaboração e a empatia, e cio à experiência auditiva do ser humano. A
literatura diverge quanto ao momento exato

500
do início dessa jornada, mas, de fato, assim tar ou tocar um instrumento pode ser uma
que o aparelho auditivo do futuro bebê se maneira saudável de lidar com as sensações
encontra formado, informações sonoras de e desenvolver a inteligência emocional.
todo tipo passam a ser percebidas por ele.
Para Penna (2015, p.33), a articulação
O ser humano tem contato com a da proposta é essencial para uma aprendiza-
música antes mesmo de nascer. As crianças gem significativa:
respondem a diferentes sons, e distinguem
tons, intensidades e ritmos. À medida que [...] musicalizar é desenvolver os ins-
crescem, desenvolvem sua capacidade de trumentos de percepção necessários para
compreender a linguagem associando-as às que o indivíduo possa ser sensível a música,
suas emoções. apreendê-la, recebendo o material sonoro/
musical como significativo. Pois nada é sig-
O Brasil teve mudanças na concepção nificativo no vazio, mas apenas quando rela-
acerca da educação musical. A Lei n. 11.769, cionado e articulado ao quadro das experi-
de 18 de agosto de 2008, estabelece a obri- ências acumuladas, quando compatível com
gatoriedade do ensino de música nas esco- os esquemas de percepção desenvolvidas.
las de educação básica. A educação musical (PENNA, 2015, p.33).
possibilita criação e fortalecimento de identi-
dades, sejam individuais ou coletivas. A iden- Ao articular diferentes abordagens e
tificação com um gênero musical conecta propostas de ensino musical, é possível ofe-
pessoas de diferentes partes do planeta. recer ao estudante uma experiência diversifi-
cada, permitindo que os indivíduos explorem
Na atualidade, a arte, ou a música, gêneros musicais, instrumentos, técnicas, ati-
compreendida como linguagem, forma sim- vidades de jogos e brincadeiras.
bólica ou experiência estética, está dentro da
escola e nos mais diversos contextos. A mú- A música envolve a compreensão de
sica é essencial à vida e ao desenvolvimento padrões sonoros, entonação e ritmo, com-
integral do ser humano. Ela é biológica, histó- ponentes estes que são fundamentais para a
rica, social e profundamente cultural, porque linguagem. Conforme as crianças aprendem
cada sociedade constrói um tipo diferente novas palavras, as canções e letras das músi-
de compor. Ainda, pode ser entendida como cas auxiliam a expansão de seu vocabulário
uma forma sonora carregada de significados e aprimoramento das habilidades de comu-
singulares, com função e fazer musical que nicação.
variam conforme o lugar e o tempo. (ROSA, A música, gradativamente, é incor-
2022, p. 65). porada às ações da criança, especialmente
Cada som carrega traços da origem nos momentos de jogos e brincadeiras, in-
e do contexto cultural em que os indivíduos tegrando a gestualidade, a movimentação e
estão inseridos. As opções são diversas, in- a sonoridade. A linguagem musical favorece
clusive harmonias complexas, mas sempre o desenvolvimento da expressão, do equilí-
há presente características que podem ligar a brio, da autoestima e o autoconhecimento,
música às sociedades diversas, com suas tra- contribuindo também nos processos de so-
dições e experiências, assim como as alegrias cialização infantis. (SARMENTO; RAPOPORT,
e lutas de um povo. 2009, p.42).
A educação musical na escola englo- De acordo com Brito (2007, p. 83), a
ba diversos aspectos. A música desempenha experimentação se justapõe à técnica, e o fa-
um papel significativo no crescimento cogni- zer musical está relacionado a uma questão
tivo, emocional, social e motor das crianças. de desejo e conquista, que permite muitas
O contato com a música contribui para o de- possibilidades, que ultrapassam barreiras
senvolvimento da memória, da atenção e da pré-definidas. As crianças sonorizam percep-
concentração. ções, pensamentos e sensações, e enquanto
são regidos pelo todo, fazem música.
Segundo Brescia (2003, p. 81):
Além do desenvolvimento de impor-
“[...] o aprendizado de música, além tantes habilidades cognitivas, sociais, emo-
de favorecer o desenvolvimento afetivo da cionais, e coordenação motora, a experi-
criança, amplia a atividade cerebral, melhora mentação nas atividades de musicalização
o desempenho escolar dos alunos e contribui oferece uma base sólida para apreciação da
para integrar socialmente o indivíduo.” arte e da cultura, o que contribui para a for-
A socialização proporcionada pela mação da visão de mundo do estudante. A
música é fundamental no contexto estudan- possibilidade de experimentar permite ao
til. Este momento propicia interação social, aluno a persistência, saber lidar com os er-
trabalho em equipe, e o estabelecimento de ros, frustrar-se e celebrar suas conquistas.
vínculos. O momento em que há compartilha-
A educação musical tem potencial de mento de uma prática musical desencadeia
evocar os sentimentos dos sujeitos, o que memórias e emoções, muitas vezes ligadas
promove um ambiente de desenvolvimento a experiências particulares ou de um grupo.
emocional. As crianças podem se expressar e Uma melodia pode marcar vidas, acionando
compreender as emoções dos colegas. Can- lembranças de momentos especiais ou até

501
mesmo de momentos difíceis. Existe uma agradável. (BOSCARDIN, TREVISAN E ZAGO-
conexão entre música e memória, e o que a NEL, 2012. p. 13).
criança vive durante a infância certamente a
acompanhará ao longo de toda a sua vida. A musicalização deve ser uma experi-
ência agradável. À medida que as atividades
A musicalização pode ter um impacto musicais são propostas, naturalmente ocorre
profundo na forma com a qual a criança per- um desenvolvimento do aluno, assim como
cebe e interpreta o universo que a rodeia. Em uma associação aos momentos em que a
sala de aula, a música é uma linguagem que prática é realizada. Quando as ocasiões são
se combina com outras formas de arte, como prazerosas e envolvem felicidade, a criança
o cinema e a dança, com frequentes estímu- fica mais propensa para continuar a explorar
los aos sentidos e à imaginação. e apreciar as propostas musicais.
Neste sentido, o fazer musical: O ambiente acolhedor também é fun-
Assume o seu papel de comunicação, damental para que a criança experimente. As
uma vez que podemos transmitir uma ideia atividades em grupo promovem socialização
musical para alguém, mas este por sua vez, e respeito, e de acordo com o que for espe-
ao ouvi-la, apreende, significa e devolve de cificado, pode haver práticas de negociação
forma única, uma vez que o fazer musical entre as crianças para tocar um instrumento,
envolve a leitura de mundo, como o ser se espera para escutar o outro, e vivências em
conecta com aquela ideia musical. (BRITO, momentos coletivos.
2007, p. 15). Segundo Zagonel (2012, p. 17), o pon-
to central do processo de ensinoaprendiza-
gem é a criação musical. A prática musical,
2. O PAPEL DO PROFESSOR NA EDU- mais do que envolver uma execução perfeita
CAÇÃO MUSICAL de músicas e exercícios, deve promover mo-
dificações internas que conduzam ao cresci-
Acreditar no potencial educativo da mento do sujeito.
música é o ponto de partida para um traba-
lho abrangente e afetivo. Ensinar música não É importante que a postura do profes-
é só passar conteúdo aos alunos nem se res- sor seja de encorajar seus alunos para o de-
tringe a uma atividade de lazer. A aula de mú- senvolvimento musical e pessoal. A aborda-
sica é também uma grande ferramenta de gem pedagógica deve introduzir o conteúdo
educação e pode se transformar em momen- musical de forma lúdica e acessível, especial-
tos importantes de comunicação e expressão mente para as crianças nos primeiros anos
de sentimentos e ideias. (BOSCARDIN, TREVI- da educação básica.
SAN E ZAGONEL, 2012. p. 11). O encorajamento constante contribui
O papel do educador na formação para que as crianças desenvolvam a autoesti-
dos alunos é marcante, vai além da transmis- ma, e se sintam confortáveis ao se expressa-
são de conhecimento. O professor inspira rem. A valorização dos esforços e celebração
seus alunos, contribui para a descoberta de das conquistas possibilita que os alunos se
aptidões e incentiva a revelação de potencia- sintam motivados a continuar aprendendo e
lidades. A atuação do professor na educação explorando a música.
musical é fundamental para o desenvolvi- Movimentar-se ao ritmo da música
mento dos alunos, tanto em termos técnicos auxilia as crianças a desenvolverem habili-
quanto em outros aspectos, como a criativi- dades motoras. Dançar, bater palmas, usar
dade, capacidade de expressão, e apreciação instrumentos de percussão simples ou mes-
das artes. mo fazer gestos de acordo com a música es-
A introdução dos alunos no mundo da timulam progressão motora e o controle dos
música é um trabalho que desperta sensibili- músculos. O ritmo, a melodia e a harmonia
dade e estímulo para a criatividade e expres- auxiliam na formação de conexões neurais
são artística. Por meio de atividades lúdicas e essenciais para o aprendizado. A música es-
interativas, pode ser proporcionada à criança timula a criatividade das crianças, incentivan-
a oportunidade de explorar diferentes instru- do-as a explorar e a experimentar novos rit-
mentos, ritmos e melodias, permitindo que mos e composições. Através do fazer musical,
ela desenvolva habilidades auditivas e rítmi- a criança pode imaginar histórias e cenários.
cas. Existe neste trabalho também uma cone- Por ser intrinsecamente ligada aos
xão profunda inerente ao trabalho docente elementos matemáticos, envolvendo a com-
que cultiva amorosidade em suas práticas. preensão de padrões, ritmo e contagem, a
Ensinar música, hoje, é mais do que musicalização também fornece condições
transmitir uma técnica para tocar um instru- para o aprimoramento das aprendizagens
mento ou passar noções teóricas de música. em outros componentes curriculares. A ex-
É, sobretudo, levar o indivíduo a familiarizar- posição à música oferece desenvolvimento
-se com a música, por meio de um processo da capacidade das crianças para considerar
gradual que podemos chamar de sensibiliza- padrões numéricos e noções básicas de ma-
ção. Mesmo os alunos principiantes devem temática.
perceber que podem fazer música desde as A música é uma parte essencial da cul-
primeiras aulas, de maneira simples, fácil e

502
tura e da história de diferentes sociedades. mulando constantemente a sua curiosidade.
Ao oportunizar às crianças o conhecimento Há presente na atividade docente elementos
acerca de uma variedade de gêneros musi- que inspiram e marcam a vida dos estudan-
cais e tradições culturais através da musica- tes, e atividades musicais contribuem para
lização, o professor auxilia na construção do que tenham boas recordações dos momen-
respeito com outros povos, e favorece a am- tos de sua vida escolar. Tornar a musicaliza-
pliação do repertório cultural dos alunos. ção agradável é fundamental para cultivar o
A música é única para os seres hu- prazer musical e tornar o aprendizado algo
manos e, como as outras artes, é tão básica envolvente, que efetive a construção de sa-
como a linguagem para a existência e o de- beres.
senvolvimento humanos. Através da música, Por fim, a musicalização no contexto
as crianças aprendem a conhecer-se a si pró- educacional desempenha um papel relevan-
prias, aos outros e à vida. E o que é mais im- te, e apesar dos avanços na área, com legisla-
portante, através da música, as crianças são ção específica, é uma pauta que ainda preci-
mais capazes de desenvolver e sustentar a sa de um olhar cuidadoso do Poder Público,
sua imaginação e criatividade ousada. Dado com preparação de profissionais para atuar
que não se passa um dia sem que, duma na área e disponibilização de recursos para o
forma ou de outra, as crianças não ouçam trabalho das unidades escolares.
ou participem em música, é lhes vantajoso
que a compreendam. Apenas então pode-
rão aprender a apreciar, ouvir e participar na REFERÊNCIAS
música que acham ser boa, e é através dessa
percepção que a vida ganha mais sentido. BARBOSA, A.M. Tópicos utópicos. Belo
Horizonte: Editora C/Arte, 1998.
(GORDON, 2005, p. 6).
BRÉSCIA, Vera Lucia Pessagno. Educa-
ção Musical: bases psicológicas e ação pre-
CONCLUSÃO ventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
O presente artigo constata a impor- BRITO, T. A. Por uma educação musi-
tância da musicalização na vida infantil, pro- cal do pensamento: novas estratégias de co-
movendo o desenvolvimento cognitivo, emo- municação. Doutorado em Comunicação e
cional e social, e estimulando a criatividade e Semiótica. Pontifícia Universidade
a expressão. Introduzir as crianças no mundo Católica de São Paulo, PUC/SP, Brasil,
musical enriquece suas vidas, e estabelece pi- 2007.
lares fundamentais para aprimorar as apren-
dizagens, inclusive em outros componentes GORDON, Edwin. Teoria da Aprendiza-
curriculares. gem musical para recém-nascidos e crianças
em idade pré-escolar. Lisboa: Fundação Ca-
O artigo confirma que a música é um louste Gulbenkian, 2005.
veículo pelo qual os indivíduos estão ligados
ao seu contexto sociocultural, em suas tradi- HUMMES, Júlia Maria. Por que é im-
ções. Através da música, os muros que divi- portante o ensino de música? Considerações
dem as culturas podem ser transpostos, as sobre as funções da música na sociedade e
identidades podem ser moldadas, e as socie- na escola. Revista da ABEM – Associação Bra-
dades podem encontrar um ambiente har- sileira de Educação Musical. Porto Alegre, v.
mônico, em que histórias podem ser com- 11. set. 2004. Disponível em:
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culturas, por isso, é também uma ferramenta
para a reflexão e para a transformação social. MOURA, Ieda Carmago de; BOSCAR-
As propostas pedagógicas de musicalização DIN, Maria Tereza Trevisan; ZAGONEL, Berna-
podem auxiliar na preparação do aluno para dete. Musicalizando crianças: teoria e prática
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503
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Educação, para dispor sobre a obrigatorieda-
de do ensino da música na educação básica.

504
A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
SOLANGE BEZERRA TORRES PRADO

RESUMO nesse nível educacional e quais as possibili-


O presente artigo busca discutir como dades de brincadeiras, interações e ativida-
o lúdico pode contribuir ao desenvolvimento des podemos recorrer em cada intenção pe-
infantil. Compreendendo esse processo da dagógica.
criança de maneira ampla, em seus diversos Assim, buscaremos inicialmente um
aspectos: cognitivo, emocional, psicomotor, arcabouço teórico sobre o lúdico e a infân-
considerando suas linguagens e culturas, cia, correlacionando esse conhecimento com
trabalhando as habilidades expressiva, cor- a experiência de ações e atividades desen-
porativa, dramática entre outras. Para tanto, volvidas no espaço escolar, o qual propicia a
a metodologia utilizada foi pautada na revi- interação das crianças com outras crianças,
são bibliográfica narrativa. Além de compre- objetos, brinquedos, espaços e materialida-
ender a importância do lúdico na Educação des, assim como o próprio corpo, interações
Infantil, elencou-se quais as possíveis ações, interpessoais e intrapessoais, a medida em
planejamentos e atividades, que contribuem que brinca, escolhe, cria e vai construindo
ao desenvolvimento amplo das crianças que sua própria leitura do mundo.
passam pelas unidades educacionais infan-
tis, embasado pelos documentos norteado-
res dessa etapa educacional. O LÚDICO E A INFÂNCIA
Palavras-chave: Educação; infantil; lú- Segundo Kishimoto (2014, p.88), as
dico. brincadeiras e os brinquedos surgiram de
práticas de adultos, de rituais religiosos, re-
presentações sobre a natureza, os espíritos
INTRODUÇÃO e parte de romances, poemas e narrativas.
O lúdico sempre esteve presente na Chegando até os tempos atuais sendo repre-
sociedade, e até hoje tem sua importância sentados em diversas situações, como par-
no desenvolvimento do ser humano, por lendas de invocação à Lua praticadas antiga-
isso iremos procurar entender sua função na mente no Egito em Babilônia que aparecem
educação infantil. nos textos religiosos por volta de 3.000 a nos
a.C.
É através da brincadeira e da imagina- Na história antiga há relatos de que o
ção que as crianças se conectam com o seu ato de brincar era desenvolvido por toda a
eu e assim também percebem o mundo que família, sendo o lúdico uma atividade de en-
a cerca, se colocando no lugar do outro, no tretenimento, que dá prazer e diverte as pes-
momento em que protagoniza ser mãe ou soas envolvidas, para Santos (2012), o lúdico
pai enquanto cuida de uma boneca, ou brin- se refere a uma dimensão humana evocando
ca de ser um super-herói, entre outras brin- os sentimentos de liberdade e espontaneida-
cadeiras, nas quais vão se apropriando do de de ação.
mundo e de suas regras sociais.
Nesse processo, também há a relevân- É na brincadeira que a criança cons-
cia da mediação do adulto que pode através trói o seu imaginário, reconhece e reproduz
da observação das brincadeiras e criações o seu cotidiano, raciocina, descobre, persis-
das crianças, ir construindo novos espaços e te, aprende a perder percebendo que haverá
contextos que sejam ricos em possibilidades novas oportunidades para ganhar, o lúdico
e que despertem a curiosidade, criatividade provoca estímulos nas crianças, explorando
das crianças, construindo assim um ambien- seus sentidos vitais, operatórios e psicomo-
te significativo de aprendizagens. tores, propiciando o desenvolvimento com-
pleto das suas funções cognitivas.
Além da observação e intenção dos Para Navarro (2009) “[...] brincar é pre-
profissionais da educação que acompa- ciso, é por meio dele que as crianças desco-
nham as crianças nesse processo, também brem o mundo, se comunicam e se inserem
é importante a participação da família, nesse em um contexto social”. O brincar encoraja
momento em que a criança desperta para o a criança, que passa a reconhecer os seus li-
mundo ao seu redor e se desenvolve em to- mites e potencialidades, explorando e exer-
dos os seus aspectos: cognitivo, emocional, citando suas próprias ações, enriquecendo a
psicomotora, trabalhando as habilidades ex- sua capacidade intelectual e sua autoestima.
pressiva, corporativa, dramática entre outras.
Para tanto, buscaremos entender a Kishimoto (2014), ressalta que o lúdico
relação entre o lúdico e a escola, sua impor- auxilia as crianças em um pensamento de se-
tância ao desenvolvimento das crianças que gundo grau, nas situações do cotidiano, sen-
passam pela Educação Infantil, quais as con- do o brincante um ser social que escolhe e
tribuições, benefícios que o lúdico propicia decide, assumindo seu protagonismo, e que
também está imerso em uma determinada

505
cultura, acompanhada por regras, que pro- na observação das crianças e também na or-
vém do exterior, mas que orientam as ações ganização adequada dos espaços, tempos
lúdicas. e materiais, os quais terão que respeitar e
As relações entre o brincar e aprender oportunizar o processo de desenvolvimento
tornam o espaço escolar um local rico para dos bebês e crianças que convivem nas insti-
brincar, sonhar, interagir e agradavelmente tuições educacionais. (BRASIL, 1998, p.22)
construir o conhecimento, desenvolvendo Segundo a teoria de Vygotsky (2006,
regras sociais e um amplo conhecimento de 2007), a aprendizagem de uma criança e seu
si e dos outros que convivem nesses espaços. desenvolvimento estão ligados entre si desde
Sendo os brinquedos e as brincadeiras fon- os seus primeiros anos de vida, na qual a ca-
tes inesgotáveis de interação lúdica e afetiva. pacidade de aprender está relacionada com
Segundo Brennand (2009), as diversas a zona de desenvolvimento em que a criança
atividades lúdicas fazem parte do processo se encontra. “[...] a aprendizagem não é, em
de aprendizagem da criança, que está apren- si mesma, desenvolvimento, mas uma corre-
dendo sobre as formas de se relacionar, de ta organização da aprendizagem da criança
interagir com as pessoas, de se reconhecer conduz ao desenvolvimento mental [...]” (VI-
como pessoa. A medida em que interage GOTSKII, 2006, p.115).
com os outros nas brincadeiras a criança está Para o autor, no conceito de ‘zona de
intrinsicamente aprendendo sobre o mundo desenvolvimento proximal’, determina dois
que a cerca ou que ela tenta compreender do níveis de desenvolvimento: o real, represen-
mundo. tando o que a criança já consegue realizar
sozinha, e o potencial, que significa aquelas
atividades que a criança tem capacidade de
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL realizar, mas ainda não o faz. Assim, a ZDP
se encontra entre esses níveis de desenvolvi-
Na Educação Infantil o cuidar e o edu- mento. Representando o que a criança con-
car estão atrelados, são indissociáveis, por segue realizar com a ajuda de um adulto.
isso, nesse período da infância, os bebês e
crianças necessitam de toda uma infraes- O brincar está envolvido no processo
trutura que favoreça seu desenvolvimento de aprendizagem e pode auxiliar no desen-
pleno, promovendo o educar e o cuidar em volvimento das crianças pensando também
todas as atividades na rotina escolar. nesse conceito de ZDP. Como afirma Vygot-
sky (2007):
Para Brennand (2009), a escola é um
espaço privilegiado que pode contribuir para [...]No brinquedo, a criança sempre se
que a criança brinque através de momentos comporta além do comportamento habitual
direcionados pelas professoras ou livre, cons- de sua idade, além do seu comportamento di-
truindo suas brincadeiras e interagindo com ário; no brinquedo é como se ela fosse maior
brinquedos e outras crianças de sua escolha. do que ela é na realidade. Como no foco de
uma lente de aumento, o brinquedo contém
Caberá ao adulto que acompanha as todas as tendências do desenvolvimento sob
crianças, estimular suas habilidades, utili- forma condensada, sendo ele mesmo uma
zando recursos que desenvolva o raciocínio, grande fonte de desenvolvimento. (VIGOT-
a criatividade e aumente a capacidade de SKI, 2007, p.134).
imaginação, incentivando a autonomia e se-
gurança, possibilitando que as crianças con- O autor afirma que nesse momento
sigam aos poucos realizar atividades sem au- de interação entre a criança e o brinquedo
xílio, construindo seu pensamento próprio, ela consegue enxergar além dele, utiliza o
questionando e refletindo sobre suas dúvi- que já conhece e sua imaginação para criar
das, encontrando soluções para situações algo, por exemplo, ele pode ver uma folha de
cotidianas e assim assumindo o seu protago- papel e brincar de “aviãozinho”.
nismo nas ações cotidianas. Para além disso, pode existir a me-
Gouveia (2013), afirma que a apren- diação da brincadeira, que pode ocorrer por
dizagem seja orientada de forma integrada, objetos, a interação e postura dos adultos,
contribuindo para o desenvolvimento das ca- crianças, roupas, histórias, entre outras. Con-
pacidades infantis, tais como a relação inter- siderando que toda a nossa relação com o
pessoal, a medida em que brinca e interage mundo é mediada de alguma maneira, por
com os outros em uma atitude de aceitação, isso caberá aos professores nos espaços in-
respeito e confiança, acessando ainda os co- fantis elaborarem brincadeiras adequadas
nhecimentos mais amplos da realidade social para cada contexto e ambiente, assim esti-
e cultural, assim desenvolvendo também as mulando e enriquecendo a vivência e o re-
potencialidades corporais, afetivas, emocio- pertório das crianças.
nais, estéticas e éticas. Nesse contexto, Negrine (1994), afir-
O cuidar e o educar implica em reco- ma:
nhecer o ritmo próprio de cada criança, as- As atividades lúdicas possibilitam fo-
sim o adulto tem que buscar compreender mentar a “resiliência”, pois permitem a for-
o espaço e tempo, em que a criança vive, mação do autoconceito positivo; as ativida-
exigindo que sua mediação esteja centrada

506
des lúdicas possibilitam o desenvolvimento antes, o depois e o entre em uma sequência
integral da criança, já que através destas ati- (Brasil, 2017, p. 54).
vidades a criança se desenvolve afetivamen-
te, convive socialmente e opera mentalmen- Na Educação Infantil, pode-se utilizar
te. Os jogos, brinquedo e brincadeiras, são diferentes jogos como batata-quente, dança
produtos de cultura e seus usos permitem das cadeiras, amarelinha, entre outros jogos
a inserção da criança na sociedade. Brincar que envolvam regras, números, quantidades
é uma necessidade básica assim como é a e outras importâncias que seguem exata-
nutrição, a saúde, a habitação e a educação. mente as orientações desse documento. O
Brincar ajuda a criança no seu desenvol- mesmo também ressalta a importância que
vimento físico, afetivo, intelectual e social, se deve dar na organização dos tempos e es-
pois, através das atividades lúdicas, a criança paços, para que as brincadeiras possam real-
forma conceitos, relaciona ideias, estabelece mente dar forma e contexto nas aprendiza-
relações lógicas, desenvolve a expressão oral gens das crianças.
e corporal, reforça habilidades sociais, reduz Ainda de acordo com a BNCC:
a agressividade, integra-se na sociedade e
constrói seu próprio conhecimento. (NEGRI- A interação durante o brincar caracte-
NE 1994, p. 41 riza o cotidiano da infância, trazendo consi-
go muitas aprendizagens e potenciais para
Por isso, no cotidiano pedagógico o desenvolvimento integral das crianças. Ao
será necessário o planejamento, indicando observar as interações e a brincadeira entre
quais ações serão encaminhadas durante as crianças e delas com os adultos, é possível
cada contexto, pensado pelas professoras e identificar, por exemplo, a expressão dos afe-
que será experimentado pelas crianças. Será tos, a mediação das frustrações, a resolução
através da metodologia adotada que se dará de conflitos e a regulação das emoções (BRA-
o desenvolvimento das crianças e conse- SIL, 2017, p.33)
quentemente o seu aprendizado. É pensan-
do nesse contexto, que na educação infantil Outro ponto importante desse do-
é adotado a metodologia lúdica, pois a brin- cumento está na afirmação dos Direitos de
cadeira é o fazer próprio da criança, é o prin- Aprendizagens das crianças:
cipal incentivo à construção de ideias, identi-
dade, percepção de mundo, aprendizado de Conviver com outras crianças e adul-
si e do outro. tos, em pequenos e grandes grupos, utili-
zando diferentes linguagens, ampliando o
Pensando no planejamento de ativida- conhecimento de si e do outro, o respeito
des que envolvam o desenvolvimento amplo em relação à cultura e às diferenças entre as
das crianças de maneira lúdica, a Base Nacio- pessoas.
nal Comum Curricular (BNCC) indica algumas
habilidades da educação infantil, como em Brincar cotidianamente de diversas
(EI03CG02). “Demonstrar controle e adequa- formas, em diferentes espaços e tempos,
ção do uso de seu corpo em brincadeiras e com diferentes parceiros (crianças e adul-
jogos, escuta e reconto de histórias, ativida- tos), ampliando e diversificando seu acesso
des artísticas, entre outras possibilidades”. a produções culturais, seus conhecimentos,
(Brasil, 2017, p. 49). sua imaginação, sua criatividade, suas expe-
riências emocionais, corporais, sensoriais,
Na Educação Infantil, as crianças pre- expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
cisam de condições para que aprendam em
situações de brincadeiras, nas quais possam Participar ativamente, com adultos e
desenvolver diferentes habilidades. Sendo outras crianças, tanto do planejamento da
importante em sua rotina, apresentar mo- gestão da escola e das atividades propos-
mentos livres ou dirigidos assim contribuin- tas pelo educador quanto da realização das
do ao desenvolvimento amplo das crianças. atividades da vida cotidiana, tais como a es-
Como afirma Oliveira (2000), “o brincar, por colha das brincadeiras, dos materiais e dos
ser uma atividade livre que não inibe a fanta- ambientes, desenvolvendo diferentes lingua-
sia, favorece o fortalecimento da autonomia gens e elaborando conhecimentos, decidin-
da criança e contribui para a não formação e do e se posicionando.
até quebra de estruturas defensivas.” Explorar movimentos, gestos, sons,
No momento em que a criança brinca formas, texturas, cores, palavras, emoções,
de boneca, por exemplo, ela não está apenas transformações, relacionamentos, histórias,
imitando os cuidados que observa de sua objetos, elementos da natureza, na escola e
mãe com ela mesma, mas sim vivencia o pa- fora dela, ampliando seus saberes sobre a
pel social dessa figura materna, vivencia essa cultura, em suas diversas modalidades: as
experiência social de ser mãe. artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
Assim como as brincadeiras, os jogos Expressar, como sujeito dialógico, cria-
também propiciam uma interação entre as tivo e sensível, suas necessidades, emoções,
crianças, estimulando a aprendizagem de es- sentimentos, dúvidas, hipóteses, descober-
tratégias e regras. Valendo-se da orientação tas, opiniões, questionamentos, por meio de
da BNCC (EI03ET07), relacionar números às diferentes linguagens.
suas respectivas quantidades e identificar o Conhecer-se e construir sua identi-

507
dade pessoal, social e cultural, constituindo socialização e colaboração, sempre com a
uma imagem positiva de si e de seus grupos mediação do professor.
de pertencimento, nas diversas experiências
de cuidados, interações, brincadeiras e lin- Esse espaço deve ser organizado de
guagens vivenciadas na instituição escolar maneira em que os brinquedos estejam em
e em seu contexto familiar e comunitário. posição disponível para as crianças, isso quer
(BRASIL, 2017, p.34) dizer que todos os brinquedos devem estar
em altura e disposição próxima as crianças,
Esses direitos devem ser respeitados, no qual elas possam manusear, escolher e
pois garantem que as crianças tenham um brincar, por isso devem estar acessíveis, vi-
crescimento físico e cognitivo completo. Esse síveis, podem ser distribuídos pela sala em
documento ainda considera que na Educa- diferentes cantos e zonas, propondo, assim,
ção Infantil, as aprendizagens e o desenvol- diferentes pontos de partida para as brinca-
vimento das crianças, tem como eixos es- deiras.
truturantes as interações e as brincadeiras.
Para tanto, organiza o currículo da seguinte Assim, podemos considerar que peda-
maneira: gogicamente, o lúdico possui intrinsicamente
o instrumento para se trabalhar a expressão
O eu, o outros e o nós, considerando e a comunicação dos alunos, por se tratar
a interação entre pares crianças e também de uma metodologia que envolve a brinca-
com os adultos, na construção do próprio deira, e por tanto, uma forma mais prazero-
modo de agir, sentir e pensar; sa para se aprender. É no momento lúdico
Corpo, gestos e movimentos – a for- que a criança desenvolve sua capacidade de
ma como as crianças exploram o mundo, o explorar, refletir e imaginar os conteúdos e
espaço e os objetos do seu entorno, estabe- adquirir conhecimento necessário para uma
lecendo relações e expressando-se, brincam aprendizagem significativa.
e produzem conhecimento sobre si, sobre Dessa forma, como afirma Ribeiro
o outro, sobre o universo social e cultural, (2013), o lúdico como um método centrado
tornando-se, progressivamente, conscientes nos recursos pedagógicos, prioriza a liberda-
dessa corporeidade; de de expressão e criação das crianças. Uti-
Traços, sons, cores e formas – Convi- lizando essa maneira de ensino, as crianças
ver com diferentes manifestações artísticas, aprendem de uma maneira mais leve, tran-
culturais e científicas, vivenciando diversas quila e prazerosa, e assim, possibilitando o
formas de expressão e linguagens, como as desenvolvimento em seus diversos níveis.
artes visuais (pintura, modelagem, colagem,
fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e
o audiovisual, entre outras; METODOLOGIA
Escuta, fala, pensamento e imagina- Para a construção do artigo foi utili-
ção – Estar imersas em diferentes situações zada a revisão narrativa, caracterizada como
em que possam ouvir, contar e recontar his- um método sem critérios explícitos e siste-
tórias, e interagindo vão ampliando e enri- máticos para a busca e análise crítica da lite-
quecendo seu vocabulário e demais recursos ratura. A seleção dos estudos e a interpreta-
de expressão e de compreensão, aproprian- ção das informações podem estar sujeitas à
do-se da língua materna-que se torna, pouco subjetividade dos autores.
a pouco, seu veículo privilegiado de intera- Para Fonseca (2002), essa pesquisa é
ção; realizada “[...] a partir do levantamento de re-
Espaços, tempos, quantidades, rela- ferências teóricas já analisadas, e publicadas
ções e transformações – Estar imersas nas por meios escritos e eletrônicos, como livros,
diferentes situações que envolvam espaços artigos científicos, páginas de web sites.”
e tempos de diferentes dimensões, em um (FONSECA, 2002, p. 32).
mundo constituído de fenômenos naturais e O papel do pesquisador será ler, refle-
socioculturais. tir e escrever sobre o que foi estudado. Utili-
Considerando as orientações da BNCC, zando das diversas fontes disponíveis. Para
pode-se observar a importância da organiza- Gil (2002, p.44), a pesquisa bibliográfica “[...]
ção dos momentos e espaços na Educação é desenvolvida com base em material já ela-
Infantil, que devem ser organizados, pensa- borado, constituído principalmente de livros
dos e estruturados de maneira adequada e artigos científicos”.
para cada faixa etária, respeitando o ritmo e Para tanto, foram selecionados textos
tempo das crianças. e artigos disponíveis na base de dados da
Na organização de espaços adequa- plataforma Scielo, utilizando os descritores:
dos, pode-se citar como recurso a utilização Educação Infantil e ludicidade; Importância
de brinquedoteca, já que é um lugar onde a do lúdico na Educação Infantil. Assim organi-
criança entra em contato com uma varieda- zando as informações e dados para a base
de de brinquedos juntamente com outras teórica da pesquisa e na investigação dos es-
crianças, podendo assim desenvolver a ca- tudos dos textos que possam colaborar no
pacidade de convivência, de cooperação, de desenvolvimento da pesquisa.

508
CONSIDERAÇÕES FINAIS e observam do mundo.
Este artigo apresentou uma revisão de Por fim, espera-se que o presente
literatura que considerou o lúdico no proces- estudo possa colaborar com todos os edu-
so de ensino aprendizagem infantil, revelan- cadores de Educação Infantil, no sentido de
do que a ludicidade é muito importante para apresentar um estudo científico que discu-
o desenvolvimento integral da criança, é atra- te a ludicidade como estratégia de ensino e
vés das brincadeiras, dos brinquedos e dos aprendizado trazendo elementos norteado-
jogos que a criança descobre a si mesmo e o res para o desenvolvimento teórico e prático
outro. para os processos formativos dos professo-
A ludicidade proporciona uma diversi- res e alunos.
dade de atividades prazerosas que desenvol-
vem a criança em seus aspectos: cognitivo,
afetivo, social e motor. Por meio das ativida- REFERÊNCIAS
des lúdicas a criança experimenta, descobre, BRENNAND, Edna Gusmão de Góes. ROS-
cria, adquire habilidades, desenvolve a auto- SI, Silva José. Trilhas do aprendente: Ludicidade e
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necessitam em cada faixa etária, mas tam- São Paulo: Martins Fontes, 2007.
bém do que elas se interessam, questionam

509
CULTURA INDÍGENA E PATRIMÔNIO CULTURAL EM SALA DE AULA:
UMA PERSPECTIVA PRÁTICA
SÔNIA REGINA DE JESUS BARBOSA

RESUMO do convocados a integrar não tolera tanto


O Artigo 26 A da LDB que foi alterada prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam
em decorrência da lei 11.645/2008 de 2015, o fim do mundo como uma possibilidade de
inclui a cultura e história dos povos indíge- fazer a gente desistir dos nossos próprios so-
nas na Educação básica onde devem ser de- nhos. E a minha provocação sobre adiar o fim
senvolvidos por meio de conteúdos, saberes, do mundo é exatamente poder contar mais
competências, atitudes e valores. uma história Se pudermos fazer isso, adiare-
mos o fim” (Ailton Krenak)
Que permitam aos estudantes reco- Os educadores podem estudar e re-
nhecerem que os povos indígenas no Brasil fletir em ideias para adiar o fim do mundo a
são muitos é variado, possui organizações partir da história do ensino da cultura indíge-
sociais próprias, falam diversas línguas, tem na e seu patrimônio cultural, como forma de
diferentes cosmologias e visões de mundo, contribuir desde o espaço escolar para adiar
bem como modo de fazer, pensar e repre- esse fim.
sentar diferenciados.
Também é importante que se reconhe- Reconhecer a mudança de paradigma
ça que os povos indígenas têm direitos origi- que a constituição de 1988 nos traz ao esta-
nários sobre suas terras, afinal eles estavam belecer o respeito à diferença cultural, por-
aqui antes mesmo da constituição do Estado que justamente compreendeu que o país é
brasileiro que desenvolve uma relação coleti- plural, composto por diferentes tradições e
va com seus territórios e com recursos neles origens.
existentes. E importante reconhecer o caráter
É importante reconhecer as principais dinâmico dos processos culturais, históricos
características desses povos de modo positi- que respondem pelas transformações que
vo, focando na oralidade, na divisão sexual passam os povos indígenas em contato com
do trabalho, nas subsistências, nas relações segmento da sociedade nacional.
com a natureza, contextualizando especifici- É por fim é importante que reconheça
dades culturais, invés do clássico modelo de que os indígenas não estão se extinguindo,
pensar desses povos sempre pela negativa apesar de todo genocídio, tem um futuro e
de traços culturais. presente como cidadãos, portanto precisam
Reconhecer a contribuição indígena serem respeitados, terem seus direitos de
para a história, cultura, onomástica, objetos, continuar sendo povos com tradições pró-
literatura, artes, culinária brasileira; permitin- prias.
do a compreensão de quanto a cultura brasi- Trabalhar arqueologia no ensino da
leira deve aos povos originários e o que eles cultura indígena em sala de aula permite que
estão presentes no modo de vida dos brasi- observem e demostrem aos alunos a dimen-
leiros. são da profundidade temporal da ocupação
Reconhecer que os indígenas têm di- indígenas no Brasil, que remente a mais de
reito a manter suas línguas, culturas, modo 20 mil anos. Além de demonstrar a variedade
de ser e visões de mundo de acordo com o cultural, a riqueza material da qual os povos
que está disposto na Constituição Federal de indígenas viveram, o que difere bastante do
1988. Cabe ao Estado brasileiro protegê-los e discurso hegemônico sobre as populações
respeitá-los. do passado e presente.
Como diz o escritor e professor Daniel O maior risco que se tem de trabalhar
Munduruku antes de tudo precisam inter- cultura indígena pela perspectiva da arque-
rogar qual é o indígena que vivem em cada ologia é passar a ideia de que o processo
um, quais estereótipos, imagens que se tem histórico indígena se encerrou num passa-
sobre os indígenas, para que então possam do muito distante ou passar a ideia de que
pensar em como ensinar essa história. o processo histórico indígena nem mesmo
começou.
Palavras-chave: história; língua; cultu- Quando falam em pré-história, um
ra. termo muito difundido, podem passar sem
querer a ideia de que se trata de povos sem
história. Os povos indígenas têm sua história
INTRODUÇÃO antes e depois da colonização, o termo que
Inicia essa reflexão com a sabedoria a arqueologia costuma usar atualmente é o
de Ailton Krenak que diz: pré-colonial, ou seja, houve um processo his-
tórico longo entre as populações indígenas
Ideias para adiar o fim do mundo “o que foi marcado profundamente pela coloni-
tipo de humanidade Zumbi que estamos sen- zação e a condição histórica hoje os grupos
indígenas brasileiros é uma decorrência des-

510
se marco colonial, assim, como a história de Aldeias no Xingu no Brasil se pode ver
todos os demais brasileiros não indígenas. a complexidade, uma estrutura de cidade,
Outro risco é exaltar que a riqueza fortificada com diferentes áreas de explo-
material a qual viveram os povos indígenas ração de recursos com estrada conectando
no período colonial em comparação menos essas áreas de cidades, questão urbanística
privilegiada hoje, passar a impressão de que que está sendo colocada.
os grupos indígenas deveriam ser povos do O artigo também mostra a densidade
passado. Eles não teriam lugar no presente, o populacional encontrada pelos Europeus no
que obviamente, precisa ser combatido. momento da colonização, o que se contra-
As experiências em sala de aula, nas põem uma ideia do Brasil como grande ocu-
redes sociais, na vida cotidiana é uma per- pação pelos portugueses, argumento que até
cepção comum em alunos entre pessoas em hoje é sustentado para justificar a exploração
que os indígenas não podem ter um ipho- de terras indígenas.
ne, por exemplo, remete a isso, atividades Somente na Amazônia se calcula que
de educação patrimonial é importante para em 1.500 a colonização viveu mais de 8 mi-
combater esse tipo de imagem. lhões de pessoas.
A cidade de Santarém que na época
DESENVOLVIMENTO da colonização era uma grande aldeia com
mais de 1 milhão de habitantes, e esse nú-
Segundo artigo da BBC, 12 de outu- mero que só foi alcançado por cidades euro-
bro de 2021, divulga pesquisas arqueológi- peias um século depois de 1600, justamente
cas bem recentes tem sido desenvolvidas na em decorrência do enriquecimento que foi
américa do sul onde mostra a existência de causado pela colonização na américa , isso
sociedades muito complexas na américa an- fornece um contraponto sobre estereótipos
tes da colonização, com extraticação social, dos indígenas como povos de minutos, mui-
centralização política de longa duração , do- to simples, apolíticos, associais .A imagem
mínio de técnica de engenharia ,da matemá- antiga que tinham no dia do índio em sala
tica , domesticação de plantas que são a base de aula era o desenho de um índio nu , com
da alimentação no planeta hoje , como o mi- uma pena na cabeça para os alunos desenha-
lho, batata, mandioca o próprio arroz que foi rem e colorirem. Aquilo era o que se passava
domesticado na Amazônia, esses são quatro sobre a história indígena. Arqueologia mos-
dos cinco alimentos mais consumidos no tra um completo oposto disso, uma história
planeta hoje. A base da alimentação humana completamente diferente.
no planeta e que foram domesticados aqui O cabeza de vaca navegador espanhol
na América pelos grupos indígenas. na costa de santa Catarina em 1541 e tinha
O artigo demonstra também a exis- que chegar a Assunção Paraguai para assu-
tência de redes comerciais interamericana mir como governador. Ele acabou sendo le-
possivelmente por navegação, mas também vado do litoral de Santa Catarina até Assun-
por caminhos por terra que são bastante co- ção pelos Guaranis através de uma estrada
nhecidos levando, por exemplo, o cacau e o existente, passando por aldeias muito orga-
tabaco desde a América até o Canadá. nizadas e recebido sempre com muita comi-
da.
A própria floresta amazônica é um
grande jardim, não é uma floresta que nas- Nos seus registros ele descreve essa
ceu voluntariamente pela ação de Deus ou fartura com a qual os indígenas o recebiam,
qualquer outra coisa, na verdade um grande no qual os indígenas viviam isso ajuda a pro-
jardim foi plantado pelos seres humanos e blematizar justamente o discurso sobre a po-
vem sendo manipulado ao longo de milhares breza ou sobre a falta de alimentos, também
de anos, ou seja, a floresta amazônica é uma ele relata as redes políticas, as redes de co-
floresta antrópica é produto cultural e indí- municação que por sua vez rompe com esse
gena. imaginário de que não havia sociedade com-
plexas no Brasil.
Está se falando de 1541, ou seja, me-
nos de meio século depois da chegada dos
Portugueses. Então por meio desse registro
tem conhecimento de que os indígenas já
sabiam quem era quem, o que estava acon-
tecendo, estavam preparados para lidar com
uma invasão estrangeira, possuíam redes de
comunicação entre chefias, havia uma difu-
são de línguas especialmente tendo o Tupi
que era a língua geral de troncos linguísticos,
possuíam relações não só com o território
que veio do Brasil, mas também as terras al-
Parque Xingu tas das Cordilheiras e com o litoral pacifico
que são coisas que a Arqueologia vem de-

511
monstrando. em territórios Guarani no oeste do Paraná
No contexto do Paraná, esse relato é contra o PL 490.
uma fonte importante foi justamente nesse Pode se perguntar qual reconheci-
território que o cabeza de vaca circulou e re- mento do Guarani no Brasil de modo geral
gistrou uma série de suas impressões nas ex- e quais são as políticas de visibilidade dessa
periências. Outro território importante que língua e as políticas de proteção em torno
pode ser problematizado em sala de aula dessa cultura e desse idioma.? Se há pro-
junto com esses relatos cabeza de vaca é do gramas do ensino de Guarani? Qual seria o
Peabiru que foi um caminho aberto por in- impacto desse reconhecimento para valori-
dígena e que foi utilizado por Europeus para zação e para as lutas que os povos guaranis
adentrar territórios. promove? Quais são as políticas de reconhe-
Eram vários caminhos, não apenas cimento e valorização das suas línguas, histó-
um, e a própria cartografia histórica indica rias e culturas? Como podem desde a escola
que a BR 101, por exemplo, é uma estrada contribuir para esse reconhecimento e valo-
que existe desde antes de 1500, e que per- rização?
maneceu sendo usada pela colonização e
ainda é uma das mais importantes rodovias
do Brasil. E outras BRS e rodovias também
tem sua origem nos caminhos indígenas.
Pesquisas arqueológicas apontam
que o Paraná foi ocupado a pelo menos 10
mil anos. Há vestígios imateriais que marcam
a presença histórica e também contemporâ-
nea indígena no Paraná.
Uma atividade proposta pode se re-
ferir ao trabalho com a cultura oral, com as
línguas , com as palavras indígenas que tam-
bém constituiu um patrimônio cultural não Povos Kaingang
apenas indígena mas patrimônio cultural
da humanidade. Uma problematização que
pode ser feita é a questão de que o Brasil te- O povo Kaingang lutam pela retoma-
ceu uma relação artificial com essas culturas. da de seu território, no passado conseguiram
Krenak diz que uma língua contém um uma vitória bem importante no STF com a re-
código da existência e experiência humana tomada sobre a terra indígena em boa vista e
na terra, carrega uma forma de narrar –se no laranjeira do sul .
mundo. Quando uma língua morre ou não é
valorizada, reconhecida, o que realmente fica
dessas histórias e culturas? Propõe que faça
um levantamento das línguas indígenas dos
povos originários com o objetivo de valorizar
esses grupos historicamente discriminados
e vitimados pela exclusão, no âmbito socio-
econômico, concorrendo para o combate à
discriminação étnicas raciais, religiosas e de
gêneros e também para que haja conheci-
mento maior e sensibilização sobre a diversi-
dade cultural brasileira.
Sugerir uma pesquisa na internet so-
bre nomes e palavras de origem indígenas e
também referência cotidianas como nome Povo Xetá
do Estado, Município, Bairros, Praças e in-
terroga nesse sentido sobre qual influência
desses idiomas em nosso dia a dia e se há re- O Povo Xetá que lutam para não desa-
ferência do uso dessas palavras para nomear parecerem, restam apenas oito sobreviven-
rios, lugares, objetos cotidianos atual e qual tes do longo e violento processo de coloniza-
impacto disso na realidade cotidiana dos es- ção e genocídio.
tudantes.
E importante evidenciar e problemati- O documentário Xetá é bastante im-
zar as diferenças entre os povos indígenas, pactante e convoca a não apenas estudar a
não são todos iguais, mas também é impor- história da cultura indígena, mas também em
tante dizer que é algo que os une pela luta agirem e lutarem, pessoas brancas, não indí-
demarcação e contra o genocídio. genas , no espaço escolar e em seu cotidia-
no para somar nessas luta.
Devem destacar o grupo Guarani Os primeiros passos para essas lutas
que há anos mostra a luta do povo que mora passam pelo reconhecimento e valorização

512
dos povos e culturas indígenas por meio de Outra possibilidade é o cinema festi-
seu patrimônio cultural e é preciso também vais como cine Kurumin 8° edição, promo-
haver engajamento político. vida pela fundação cultural da Bahia ,fórum
E importante que se engaje na luta indígena internacional na História, que tem
contra PL 490 marco temporal. De tudo que como objetivo socializar essas culturas epis-
se mostra e se discute na arqueologia e na temológicas que são utilizados em pesquisas
história sobre as terras indígenas, o marco que envolve grupos indígenas, suas identida-
temporal quer estabelecer que só pudesse des, diferenças trazendo momento de cons-
ser reconhecidas terras onde havia docu- trução de reflexão sobre práticas acadêmicas
mentadamente indígenas em 88, quando a e educativas em torno da temática indíge-
constituição Federal foi promulgada. na buscando o diálogo entre vários agentes
,proporcionar esses contatos geracionais e
Essa interpretação vai contra o que a diferentes níveis de formação
própria constituição Federal estabelece em Finalização da reflexão se dá com
como relatório do raposo terra do sol regis- um trecho da entrevista que Sônia Guajaja-
trou. ra concedeu sobre os impactos da pandemia
Esse relatório registrou que na pro- sobre indígenas e sobre o mundo de forma
mulgação da constituição Federal a terra era ampliada.
indígena, então deveria permanecer indíge- “(...)se o mundo ainda não parou para
na, no entanto, a interpretação que está sen- escutar os alertas que a terra vinha dando,
do apresentada pelos defensores do Marco a terra parou o mundo para se fazer escu-
Temporal é a de que se os indígenas não es- tar (...)as pessoas têm que repensar as suas
tiveram na terra em 1988, então essa terra formas de consumo, tem que entender que
não pode ser considerada indígena, ignoran- o individualismo precisa acabar, que temos
do toda história e cultura dos povos antes da que adotar formas coletivas de fazer as coi-
escravidão. sas, fortalecer os trabalhos em redes. E prin-
É fundamental que haja esse reconhe- cipalmente assumir a sua responsabilidade
cimento e valorização dessas histórias e cul- nessa luta pela mudança do modelo desen-
turas para que todos possam também adiar volvimento econômico (...)para isso as lutas
esse fim de mundo. têm que ser mais coletivas, a conscientização
mais política e ecológica, entendendo que é
Esse debate demonstra também os preciso fazer outra conexão, ou uma recone-
indígenas não estava apenas organizado po- xão com a mãe terra, e entender exatamente
liticamente desde muito antes de 1.500 por que é a mãe terra que garante o sustento
meios dos registros arqueológicos, mas tam- e a vida do planeta “(Sônia Guajajara)
bém estão organizados hoje em 2022. Isso
mostra que são extremamente organizados A valorização da cultura indígena é um
politicamente ainda hoje e essa mobilização dever de todos os países do mundo. Nesse
toda só ocorre porque os povos estão histo- sentido, a Unesco –organização das Nações
ricamente engajados e cientes dos seus direi- Unidas para a Educação, a ciência e a cultura,
tos. indica que o conhecimento adquirido pelos
povos indígenas são uteis para o desenvolvi-
Não podem ignorar ou minimizar o mento sustentável, pois afirma que “o respei-
fato de estarem aqui apesar de todo os pro- to aos conhecimentos, as culturas e as prá-
cessos genocidas que são registrados no Bra- ticas tradicionais indígenas contribuem para
sil e a pandemia foi mais um momento de ge- o desenvolvimento sustentável e equitativo e
nocídio indígena. para a gestão adequada do meio ambiente”
O argumento sobre artificialidade des- (Funai 2008, Unesco2020, são Paulo2020).
sa organização no sentido de que as pessoas
foram a Brasília porque foram comprados,
pagos, é apenas mais uma farsa da nossa Considerações finais
incapacidade de compreender que os indíge- Quando se aborda a cultura in-
nas são seres humanos, políticos, ativos, pro- dígena e Patrimônio cultural em sala de aula
tagonistas e agentes históricos. descontroem estereótipos, preconceitos, re-
Para ampliar esse entendimento e construí conhecimento histórico, revê as prá-
trazer repertórios perspectivas práticas para ticas de educadores em sala de aula. Não se
sala de aula deve se acompanhe as mídias deve apenas falar sobre os povos indígenas,
indígenas como no Instagram, na literatura, mas também falar com eles, junto com eles
trabalhar com a música, uma linguagem mui- e o que eles têm a dizer e estar preparados
to próxima aos adolescentes como a rap re- para ouvi-los. Construir um diálogo a partir
sistência Nativa. dessa escuta desses povos. Identificar lín-
guas, culturas e patrimônio no entorno esco-
Rap escrito com um pensamento nati- lar e assim criar uma sensibilização de popu-
vo que retrata uma realidade, não uma ficção lação e transformação a partir do território
onde estimula uma tradição vivida de cora- escolar e da educação.
ção que irá contar na canção dos BrôMc´s,
OZ Guarane e KunumiMC. Na missão, surgiu
essa grande união.

513
Bibliografia
Lei 11.645/2008
Currículo da cidade,
Artigo BCC

514
OS IMPACTOS DAS TELAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
SONIA REGINA RIBEIRO GONZALEZ

RESUMO quenas. Por meio dessa revisão, pretende-se


O uso das telas na primeira infância é refletir sobre o uso pedagógico das telas fa-
cada vez mais comum, o que torna necessá- zendo um comparativo entre as semelhanças
rio investigar o tempo em que as crianças fi- e diferenças de suas abordagens e a contri-
cam em contato à essas tecnologias, pensan- buição de cada uma para a área educacional.
do como o tempo total de exposição a todas Os autores citados são:
elas, incluindo televisão e mídia interativa,
tem impactado seu desenvolvimento. Tra- Dimitri A. Christakis - Professor de
ta-se de um estudo de revisão bibliográfica Pediatria da Universidade de Washington.
dos principais autores que mencionam essa Christakis é conhecido por seu trabalho na
temática, ora defendendo o uso das tecno- área de mídia e desenvolvimento infantil.
logias, ora alertando sobre seus perigos emi- Gary Small - É um médico americano,
nentes. professor de psiquiatria e biocomportamen-
Profissionais de saúde em todo o mun- to na Universidade da Califórnia, em Los An-
do estão debatendo o uso excessivo de equi- geles.
pamentos eletrônicos que aumenta cada dia Jean Twenge - É professora de psicolo-
mais. gia na Universidade Estadual de San Diego e
Se por um lado as crianças estão fa- autora de livros.
miliarizadas com as tecnologias, e isso é um Aric Sigman - É um psicólogo e escritor
ponto importante a se considerar, pedago- britânico.
gicamente falando, usar excessivamente re-
cursos como computadores, Internet, video- Richard Louvo - É um escritor e am-
games e telefones celulares pode afetar de bientalista americano.
forma negativa o desenvolvimento delas.
Catherine Steiner-Adair - É uma psicó-
Palavras-chave: Telas; Educação Infan- loga clínica americana.
til; Impactos; tecnologias.
Sherry Turkle - É uma psicóloga e pro-
fessora do MIT, especializada em tecnologia
e cultura. Ela escreveu vários livros sobre o
Abstract impacto da tecnologia na sociedade e na vida
The use of screens in early childhood pessoal.
is increasingly common, which makes it ne- Maryanne Wolf - É uma neurocientista
cessary to investigate the time in which chil- americana.
dren are in contact with these technologies,
thinking about how the total time of expo- A seguir vamos conhecer modesta-
sure to all of them, including television and mente alguns livros e como esses autores
interactive media has impacted their develo- propõem o trabalho com as tecnologias alia-
pment. This is a bibliographic review study of das.
the main authors who mention this theme,
sometimes defending the use of technolo-
gies, sometimes warning about their immi- 2. Desenvolvimento
nent dangers. Health professionals around
the world are debating the overuse of elec- Dimitri A. Christakis escreveu diver-
tronic equipment that is increasing every day. sos artigos e livros, incluindo "The Elephant
in the Living Room: Make Television Work for
If on the one hand children are familiar Your Kids"; (O Elefante na Sala de Estar: Faça
with technologies, and this is an important a Televisão Funcionar para Seus Filhos) - pu-
point to consider, pedagogically speaking, blicado em 2006; "The Impact of Media on
overusing resources such as computers, the Children and Adolescents: A 10-Year Review
Internet, video games and mobile phones of the Research" (O Impacto da Mídia em
can negatively affect their development. Crianças e Adolescentes: Uma Revisão de 10
Keywords: Screens; Early Childhood Anos da Pesquisa) - publicado em 2010; "Dial
Education; Impacts; technologies. Down the Drama: Reducing Conflict and Re-
connecting with Your Teenage Daughter--A
Guide for Mothers Everywhere" (Diminua o
Drama: Reduzindo o Conflito e se Reconec-
1 INTRODUÇÃO tando com sua Filha Adolescente - Um Guia
Este trabalho traz a contribuição de para Mães em Todos os Lugares) - publicado
vários autores que, de forma direta ou indire- em 2020.
ta tratam da temática do uso de tecnologias Todos os livros de Christakis tratam
e os impactos na educação de crianças pe- da relação entre as crianças e as telas, mas

515
o segundo livro da lista é o que se concentra educação infantil, ele fornece uma compre-
especificamente na revisão das pesquisas so- ensão mais ampla das influências biológicas
bre o assunto. O primeiro livro fornece dicas que moldam o desenvolvimento humano e
práticas para os pais sobre como fazer a te- pode ser útil para profissionais de saúde que
levisão funcionar para seus filhos e o terceiro trabalham com crianças.
livro é mais focado nas relações familiares e
na redução de conflitos. Outro livro que pode ser relevante
para aqueles que estão interessados no im-
Os livros oferecem uma perspectiva pacto das telas em crianças é "The Other Side
informada e baseada em evidências sobre o of the Screen: Parenting in a Digital Age".
impacto das telas em crianças, principalmen- Embora este livro não tenha sido escrito por
te na fase da educação infantil. O primeiro Gary Small, ele foi coescrito por um dos seus
livro, "The Elephant in the Living Room", é colegas, Jodi Gold. Este livro explora os desa-
particularmente útil para os pais que estão fios que os pais enfrentam ao criar crianças
tentando equilibrar a exposição de seus fi- em um mundo dominado pela tecnologia e
lhos à televisão, enquanto o segundo livro, oferece conselhos práticos para ajudá-los a
"The Impact of Media on Children and Ado- navegar nesta nova realidade.
lescents", é uma revisão detalhada das pes-
quisas sobre o assunto. No geral, Gary Small é um autor pro-
lífico que escreveu vários livros sobre a inte-
O terceiro livro "Dial Down the Dra- ração entre a tecnologia e a saúde cerebral.
ma", pode ser especialmente útil para os pais Se há interesse em explorar esse tema mais
de adolescentes, pois aborda questões rela- a fundo, seus livros são um ótimo lugar para
cionadas ao uso de telas e conflitos familia- começar.
res. Ele é um defensor da limitação do tempo
de tela e da supervisão dos pais no uso de Jean Twenge autora de "iGen: Why To-
telas por crianças, especialmente na fase da day's Super-Connected Kids Are Growing Up
educação infantil. Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy -
and Completely Unprepared for Adulthood".
Em suma, os livros do autor são re- Em seu livro, ela discute como o uso excessi-
cursos valiosos para pais, educadores e pro- vo de telas pode afetar a saúde mental das
fissionais da saúde que desejam entender crianças.
melhor o impacto das telas em crianças e
adolescentes e aprender a equilibrar o uso Jean Twenge é autora de diversos li-
das mesmas com outras atividades saudá- vros que abordam temas relacionados à psi-
veis e desenvolvimentais. cologia e à tecnologia, incluindo o impacto
das telas na vida das crianças. No entanto,
Gary Small é autor de "iBrain: Surviving ela não tem nenhum livro específico sobre o
the Technological Alteration of the Modern impacto das telas em crianças na educação
Mind", que discute os efeitos da tecnologia, infantil.
incluindo telas, no cérebro humano; "iBrain:
Surviving the Technological Alteration of the Seu livro mais conhecido sobre o tema
Modern Mind" - Este livro explora como a tec- é "iGen: Why Today's Super-Connected Kids
nologia está mudando nossos cérebros e afe- Are Growing Up Less Rebellious, More Tole-
tando nossa vida diária. O autor examina a rant, Less Happy--and Completely Unprepa-
relação entre a tecnologia e a saúde cerebral red for Adulthood--and What That Means for
e explora as implicações para as crianças que the Rest of Us" (2017), que explora como a
estão crescendo em um mundo dominado geração mais nova, também conhecida como
pela tecnologia. iGen ou Geração Z, está sendo afetada pelo
uso intensivo de tecnologia e mídias sociais.
"The Tech Effect: How the Digital Age is
Changing Our Minds, Our Relationships, and Outros livros de Jean Twenge que
Our Lives" - Neste livro, o autor explora como abordam o tema do impacto das telas nas
a tecnologia está mudando a maneira como crianças incluem "The Narcissism Epidemic:
pensamos, nos relacionamos e vivemos. Ele Living in the Age of Entitlement" (2009) e "Ge-
aborda especificamente o impacto das telas neration Me: Why Today's Young Americans
em crianças e como isso pode afetar seu de- Are More Confident, Assertive, Entitled--and
senvolvimento cognitivo e emocional. More Miserable Than Ever Before" (2006).
Ambos os livros exploram como a cultura
Ambos os livros são excelentes recur- moderna e a tecnologia estão moldando a
sos para pais, educadores e profissionais de personalidade e o comportamento das novas
saúde que estão interessados em entender gerações.
melhor como a tecnologia está afetando as
crianças e o que pode ser feito para minimi- Além disso, Jean Twenge também é
zar quaisquer efeitos negativos. coautora de um artigo acadêmico intitula-
do "Associations Between Screen Time and
Além desses dois livros, Gary Small Lower Psychological Well-Being Among Chil-
também Co escreveu um livro chamado "iGe- dren and Adolescents: Evidence from a Po-
netics: A Molecular Approach", que aborda o pulation-Based Study", publicado na revista
impacto da genética na saúde e na doença. Jama Pediatrics em 2019. O estudo examina
Embora este livro não se concentre especifi- a relação entre o tempo de tela e o bem-estar
camente no impacto das telas em crianças na psicológico de crianças e adolescentes, com

516
base em dados de uma pesquisa de saúde (em tradução livre, "Apego e tecnologia: aju-
realizada nos Estados Unidos. dando as famílias a alcançarem o equilíbrio"),
Outro artigo de sua autoria, publica- Sigman discute como o uso excessivo de tec-
do na revista The Atlantic em 2017, também nologia pode prejudicar o vínculo afetivo en-
aborda o tema do impacto das telas nas tre pais e filhos e apresenta estratégias para
crianças. Intitulado "Have Smartphones Des- reduzir a dependência de telas e melhorar a
troyed a Generation?", o artigo examina as conexão emocional na família.
implicações sociais, emocionais e cognitivas Essas publicações de Aric Sigman con-
do uso excessivo de smartphones e outras tribuem para o debate sobre o papel das te-
tecnologias em adolescentes. las na educação infantil e trazem reflexões
Em resumo, Jean Twenge é uma impor- importantes sobre os efeitos do uso exces-
tante pesquisadora e autora sobre o tema do sivo de tecnologia no desenvolvimento das
impacto da tecnologia e das telas na vida das crianças.
crianças e dos jovens, com diversos artigos Richard Louv escreveu "Last Child in
e livros que abordam essa questão sob dife- the Woods: Saving Our Children From Natu-
rentes perspectivas. re-Deficit Disorder". Embora não se concen-
Aric Sigman escreveu "Remotely Con- tre especificamente no uso de telas, Louv
trolled: How Television is Damaging Our Li- discute a importância do contato com a na-
ves". Neste livro, ele discute os efeitos nega- tureza para o desenvolvimento saudável das
tivos da televisão e, por extensão, de outras crianças, o que pode ser afetado pelo uso ex-
telas nas crianças. cessivo de telas.
Ele aborda em seus livros questões Um autor conhecido por seus escritos
relacionadas ao desenvolvimento infantil e à sobre os benefícios da conexão humana com
educação. Entre suas obras, duas se desta- a natureza e os efeitos da falta de contato
cam: com a natureza na saúde física e mental das
pessoas. Embora ele aborde o tema das telas
"Remotely Controlled: How Television em algumas de suas obras, ele não se con-
is Damaging Our Lives" (em tradução livre, centra exclusivamente no impacto das telas
"Controlados à distância: como a televisão em crianças na educação infantil.
está prejudicando nossas vidas"), publicado No entanto, um de seus livros que
em 2007, aborda o impacto da televisão no aborda o tema das telas e da infância é "Vi-
desenvolvimento cognitivo, social e emocio- tamin N: The Essential Guide to a Nature-
nal das crianças. -Rich Life" (em português, "Vitamina N: 500
"The Secret Life of Babies: How Our maneiras de enriquecer a sua vida com a na-
Prebirth and Birth Experiences Shape Our tureza"). Nesse livro, Louv argumenta que as
World" (em tradução livre, "A vida secreta telas e outras distrações digitais estão afas-
dos bebês: como nossas experiências pré- tando as crianças da natureza e defende que
-natais e de nascimento moldam nosso mun- a conexão com o mundo natural é essencial
do"), publicado em 2010, fala sobre como as para o bem-estar infantil.
primeiras experiências de vida das crianças, Outra obra que aborda o tema é "The
desde o útero até os primeiros anos de vida, Nature Principle: Human Restoration and the
podem influenciar o desenvolvimento emo- End of Nature-Deficit Disorder" (em portu-
cional, social e cognitivo. guês, "O Princípio da Natureza: Restauração
Embora esses livros não tratem es- Humana e o Fim do Transtorno do Déficit de
pecificamente do impacto das telas na edu- Natureza"). Nesse livro, Louv explora o im-
cação infantil, ambos abordam questões pacto da natureza na saúde e no bem-estar
relacionadas ao desenvolvimento infantil e humano, incluindo o papel da natureza na
podem ser úteis para entendermos como as prevenção do Transtorno do Déficit de Aten-
telas podem afetar o bem-estar e o desenvol- ção com Hiperatividade (TDAH) e na redução
vimento das crianças. do estresse e da ansiedade. Embora não seja
exclusivamente sobre o impacto das telas em
Além desses livros, Aric Sigman tam- crianças, ele aborda a questão e defende a
bém publicou diversos artigos e ensaios so- importância de limitar o tempo de tela das
bre o tema. Em um deles, intitulado "Screen crianças para aumentar a conexão com a na-
Dependency Disorders: A New Challenge for tureza.
Child Neurology" (em tradução livre, "Trans-
tornos de Dependência de Tela: um Novo De- Em resumo, embora Richard Louv não
safio para a Neurologia Infantil"), ele discute tenha escrito especificamente sobre o impac-
os efeitos negativos que o uso excessivo de to das telas em crianças na educação infantil,
telas pode ter sobre o desenvolvimento cere- seus livros abordam a importância da cone-
bral das crianças, como a redução da ativida- xão com a natureza e a preocupação com a
de cerebral em áreas associadas à atenção e falta de contato das crianças com o mundo
ao controle dos impulsos, e sugere formas de natural, muitas vezes em detrimento do tem-
limitar o tempo de exposição às telas. po gasto em frente às telas. Ele defende que
a conexão com a natureza é essencial para a
Em outro artigo, "Attachment and te- saúde e bem-estar infantil, e que a limitação
chnology: Helping families achieve balance"

517
do tempo de tela é uma maneira importante "The Empathy Diaries: A Memoir"
de promover essa conexão. (2021) - Neste livro, Turkle fala sobre sua pró-
pria trajetória pessoal e profissional, incluin-
Catherine Steiner-Adair escreveu "The do sua pesquisa sobre o impacto da tecno-
Big Disconnect: Protecting Childhood and Fa- logia na sociedade e nas relações humanas.
mily Relationships in the Digital Age". Neste
livro, ela aborda os efeitos negativos das te- Embora esses livros não sejam ex-
las na interação familiar e na saúde mental clusivamente sobre o impacto das telas em
das crianças. crianças na educação infantil, eles abordam
o tema de forma significativa e oferecem in-
Conhecida por seu trabalho sobre o sights valiosos sobre como a tecnologia está
impacto da tecnologia na infância, ela é auto- afetando a forma como as crianças apren-
ra de dois livros que falam sobre o tema: dem e se desenvolvem.
"The Big Disconnect: Protecting Chil- Em resumo, Sherry Turkle é uma im-
dhood and Family Relationships in the Digital portante pesquisadora que se dedica a es-
Age" (2013) - Neste livro, Steiner-Adair discu- tudar o impacto da tecnologia na sociedade,
te como a tecnologia está afetando as famí- incluindo o impacto das telas em crianças na
lias e as crianças, e oferece conselhos práti- educação infantil. Embora não tenha escri-
cos para os pais lidarem com essa situação. to um livro específico sobre este tema, suas
"Growing Up Mindful: Essential Prac- obras oferecem insights valiosos sobre como
tices to Help Children, Teens, and Families a tecnologia está afetando a forma como
Find Balance, Calm, and Resilience" (2016) - as crianças aprendem e se desenvolvem, e
Embora este livro não se concentre exclusi- como podemos lidar com esses desafios de
vamente na tecnologia, Steiner-Adair explora forma construtiva.
como a prática da atenção plena pode ajudar Maryanne Wolf escreveu "Reader,
as crianças a lidar com as distrações e os es- Come Home: The Reading Brain in a Digital
tresses da vida moderna, incluindo o uso ex- World". Neste livro, ela discute os efeitos da
cessivo de telas. tecnologia, incluindo telas, na forma como as
Além desses livros, Catherine Steiner- crianças aprendem a ler e processam infor-
-Adair também é coautora do livro "Full Ste- mações.
am Ahead: Unleashing the Power of Vision Maryanne Wolf é uma psicóloga cog-
in Your School and Life" (2014), que discute nitiva e autora de vários livros sobre leitu-
como a educação STEAM (Ciência, Tecnolo- ra e alfabetização, incluindo os efeitos das
gia, Engenharia, Artes e Matemática) pode telas nas crianças. Dois dos seus livros que
ajudar as crianças a desenvolverem habili- falam especificamente sobre esse tema são:
dades importantes para o futuro. Se você Proust and the Squid: The Story and Scien-
estiver interessado em aprender mais sobre ce of the Reading Brain" (2007) - Neste livro,
o impacto das telas na educação infantil, os Wolf discute a importância da leitura e como
livros de Catherine Steiner-Adair podem ser o cérebro humano evoluiu para processar a
uma ótima fonte de informação. linguagem escrita. Ela também explora as im-
Sherry Turkle escreveu vários livros plicações da tecnologia digital na leitura e no
sobre o impacto da tecnologia na sociedade desenvolvimento da alfabetização.
e na vida pessoal, incluindo "Alone Together: "Reader, Come Home: The Reading
Why We Expect More from Technology and Brain in a Digital World" (2018) - Neste livro
Less from Each Other". Em seus livros, ela mais recente, Wolf discute como a tecnologia
discute como o uso excessivo de telas pode digital está mudando a forma como lemos e
afetar a habilidade das crianças de desenvol- compreendemos textos. Ela argumenta que
verem habilidades sociais e emocionais. a leitura na era digital é mais superficial e
Psicóloga e socióloga que se dedica a menos reflexiva do que a leitura de textos
estudar o impacto da tecnologia na socieda- impressos, o que pode ter consequências ne-
de, ela escreveu diversos livros sobre o as- gativas para o desenvolvimento cognitivo e a
sunto, incluindo alguns que abordam o tema aprendizagem das crianças.
do impacto das telas em crianças na educa- Ambos os livros abordam o impacto
ção infantil. São eles: das telas nas crianças e na educação infantil,
"Alone Together: Why We Expect More mas "Reader, Come Home" é mais específico
from Technology and Less from Each Other" em relação aos efeitos da tecnologia digital
(2011) - Neste livro, Turkle explora como a na leitura e na alfabetização.
tecnologia tem mudado as nossas relações Em "Reader, Come Home", Maryanne
e a forma como nos conectamos com os ou- Wolf discute como o uso excessivo de dispo-
tros, incluindo o impacto nas crianças. sitivos eletrônicos, como tablets e smartpho-
"Reclaiming Conversation: The Power nes, pode afetar o desenvolvimento da leitu-
of Talk in a Digital Age" (2015) - Neste livro, ra em crianças. Ela argumenta que a leitura
Turkle discute como a tecnologia está afe- digital não é necessariamente ruim, mas que
tando a forma como conversamos e nos co- é preciso estar ciente dos efeitos potenciais
municamos uns com os outros, e como isso que a tecnologia pode ter no cérebro em de-
pode afetar o desenvolvimento das crianças. senvolvimento das crianças.

518
Wolf também enfatiza a importância como ler livros e brincar ao ar livre.
da leitura em papel na formação de conexões
mais profundas e duradouras no cérebro. Ela Alguns autores, como Sherry Turkle,
argumenta que a leitura em papel permite argumentam que o uso de telas pode ter um
uma reflexão mais profunda e uma compre- impacto negativo na capacidade das crianças
ensão mais completa do texto, pois envolve de se relacionar com os outros e desenvol-
mais áreas do cérebro do que a leitura digital, ver empatia, enquanto outros autores, como
que é muitas vezes mais rápida e superficial. Maryanne Wolf, argumentam que o uso de
Além disso, Wolf enfatiza a importância de telas pode melhorar a capacidade das crian-
as crianças terem experiências multimodais ças de aprender e se comunicar.
de leitura, ou seja, experiências que combi-
nam a leitura em papel com a leitura digital
e outras formas de mídia. Ela argumenta que 2.1.3 Síntese
essa abordagem pode ajudar a desenvolver
habilidades de leitura mais complexas e apri- Em resumo, os autores mencionados,
morar a compreensão crítica do mundo. concordam que o tempo de tela pode ter
efeitos negativos na educação e desenvolvi-
Em resumo, Wolf acredita que é im- mento infantil, mas diferem em suas abor-
portante que os pais e educadores estejam dagens e conclusões sobre o impacto dessas
cientes dos efeitos potenciais das telas nas tecnologias nas crianças. É importante con-
crianças e sejam proativos na promoção de siderar diferentes perspectivas ao avaliar o
experiências de leitura saudáveis e equilibra- papel das telas na educação infantil.
das.
Dimitri Christakis argumenta que o
uso moderado de telas pode ter benefícios
educacionais, como melhorar a alfabetização
2.1 Semelhanças e diferenças aborda- e a compreensão do mundo digital. Ele reco-
das nos livros dos autores: menda que os pais estabeleçam limites cla-
Os autores mencionados acima têm ros para o tempo de tela e escolham progra-
em comum o fato de terem escrito sobre o mas e aplicativos educacionais de qualidade.
impacto das telas na educação infantil. No Gary Small argumenta que o uso ex-
entanto, existem diferenças significativas em cessivo de telas pode levar a problemas de
suas abordagens e conclusões. Abaixo estão saúde mental, como ansiedade e depressão.
algumas semelhanças e diferenças entre es- Ele recomenda que os pais limitem o tempo
ses autores: de tela e incentivem as crianças a se envolve-
rem em atividades que promovam o desen-
volvimento social e emocional.
2.1.1 Semelhanças
Jean Twenge argumenta que o uso de
Todos os autores abordam a questão telas pode ter um impacto negativo nas ha-
do uso excessivo de telas por crianças e seus bilidades sociais e emocionais das crianças,
possíveis efeitos negativos na educação e de- levando a um aumento da solidão e da ansie-
senvolvimento infantil. dade social. Ela recomenda que os pais esta-
Eles concordam que o tempo de tela beleçam limites claros para o tempo de tela
pode levar a problemas de saúde mental e e incentivem as crianças a se envolverem em
física, como obesidade, insônia e isolamento atividades que promovam a interação social
social. face a face.
Acreditam que as crianças precisam Aric Sigman argumenta que o uso ex-
de um equilíbrio saudável entre o tempo de cessivo de telas pode levar a problemas de
tela e outras atividades, como brincar ao ar li- saúde física, como obesidade e distúrbios do
vre, ler livros e interagir com outras pessoas. sono. Ele recomenda que os pais limitem o
tempo de tela e incentivem as crianças a se
envolverem em atividades físicas e recreati-
vas.
2.1.2 Diferenças
Richard Louv argumenta que o uso
Alguns autores enfatizam os efeitos de telas pode limitar a imaginação e a cria-
negativos do tempo de tela nas habilidades tividade das crianças, e que a natureza pode
de atenção e concentração das crianças, en- ser uma fonte importante de inspiração e
quanto outros destacam o impacto negativo aprendizado. Ele recomenda que os pais in-
nas habilidades sociais e emocionais. centivem as crianças a passarem mais tempo
Dimitri Christakis e Gary Small, argu- ao ar livre, explorando e interagindo com a
mentam que o uso moderado de telas pode natureza.
ter benefícios educacionais, como melhorar a Catherine Steiner-Adair que argumen-
alfabetização e a compreensão do mundo di- ta que o uso excessivo de telas pode levar a
gital, enquanto outros autores, como Richard problemas de saúde mental, como ansieda-
Louv e Catherine Steiner-Adair, argumentam de e depressão, e que as crianças precisam
que o uso de telas deve ser evitado ou limita- de conexões humanas significativas para se
do em favor de atividades mais tradicionais, desenvolverem emocionalmente saudáveis.

519
Ela recomenda que os pais limitem o tempo EINSENBERG, S. T. Alone Together:
de tela e incentivem as crianças a se envolve- Why We Expect More from Technology and
rem em atividades que promovam a conexão Less from Each Other. New York: Basic Books,
humana e a interação social. 2011.
Sherry Turkle que argumenta que o GREENFIELD, David N. The Tech Effect:
uso de telas pode levar a uma desconexão How the Digital Age is Changing Our Minds,
emocional e uma incapacidade de se rela- Our Relationships, and Our Lives. New World
cionar com os outros. Ela recomenda que os Library, 2019.
pais incentivem as crianças a se envolverem
em atividades que promovam a conexão hu- GREENE, Maryanne. Proust and the
mana e a interação social face a face. Squid: The Story and Science of the Reading
Brain. New York: HarperCollins, 2007.
Maryanne Wolf argumenta que o uso
de telas pode afetar a forma como o cérebro GREENE, Maryanne. Reader, Come
processa informações, mas que as crianças Home: The Reading Brain in a Digital World.
podem aprender a lidar com o mundo digital New York: Houghton Mifflin Harcourt, 2018.
de forma saudável e eficaz. Ela recomenda LOUV, Richard. Last Child in the Woods:
que os pais ensinem as crianças a usarem Saving Our Children From Nature-Deficit
as telas de forma consciente e crítica, incen- Disorder. 1. ed. Chapel Hill, NC: Algonquin
tivando a leitura e a reflexão crítica sobre o Books, 2008.
que estão vendo e ouvindo na tela.
LOUV, Richard. Vitamin N: The Essen-
tial Guide to a Nature-Rich Life. 1. ed. Chapel
3. CONCLUSÃO Hill, NC: Algonquin Books, 2016.
Embora haja algumas diferenças nas LOUV, Richard. The Nature Principle:
abordagens dos autores em relação ao impac- Human Restoration and the End of Nature-
to das telas na educação infantil, há também -Deficit Disorder. 1. ed. Chapel Hill, NC: Al-
algumas semelhanças importantes. Todos os gonquin Books, 2011.
autores concordam que o uso excessivo de POMERANCE, R.; STYER, M. O Elefan-
telas pode levar a problemas de saúde física te na Sala de Estar: Faça a Televisão Traba-
e mental, incluindo obesidade, distúrbios do lhar para Seus Filhos. Brighter Futures Press,
sono, ansiedade e depressão. Além disso, to- 2006.
dos os autores recomendam que os pais es-
tabeleçam limites claros para o tempo de tela ROSEN, L. D. The big disconnect: Pro-
e incentivem as crianças a se envolverem em tecting childhood and family relationships in
atividades que promovam o desenvolvimen- the digital age. New York: Harper Collins Pu-
to físico, social e emocional saudável. A leitu- blishers, 2014.
ra é frequentemente mencionada como uma RUSSELL, Peter J. iGenetics: A Molecu-
atividade benéfica e crítica para o desenvolvi- lar Approach. Benjamin Cummings, 2010.
mento da educação infantil, além de ativida-
des ao ar livre e interação social face a face. SAYÃO, Rosely; HANNS, Luiz. O outro
Em suma, todos os autores concordam que lado da tela: a paternidade na era digital.
o uso de telas precisa ser equilibrado e mo- Panda Books, 2015.
nitorado para garantir um desenvolvimento
saudável e equilibrado das crianças. SCOTT, C. Reduza o drama: reduzin-
do conflitos e reconectando-se com sua filha
Cabe então aos pais estabelecer nor- adolescente - um guia para mães em todos
mas e limites, assim como acompanhar o os lugares. Tarcher Perigee, 2020.
uso das tecnologias pelos seus filhos e aos
professores se atualizar e utilizar da tecno- SHENINGER, E. C. Full steam ahead:
logia com fins pedagógicos com objetivos e Unleashing the power of vision in your scho-
metodologias definidas, uma vez que é a lin- ol and life. Educational Leadership, 71(1), p.
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521
O PROTAGONISMO ESTUDANTIL DOS ESTUDANTES TRANSGÊNERO
SORAIA SANTANA MOTA

RESUMO vez deste método, é essencial criar um sujei-


O objetivo deste trabalho é discutir o to-aluno que colabore com o professor para
discurso do binarismo de gênero na socieda- reconstruir o conhecimento, se esforce para
de, destacando como a concepção de gênero inovar as práticas de ensino e se envolva ati-
é frequentemente determinada pelo concei- vamente em todos os aspectos da aprendiza-
to de sexo transcendente, como isso impac- gem.
ta a educação, especialmente para estudan- Cabe às escolas e ao seu pesso-
tes transgênero, e quais avanços e desafios al conceber uma nova abordagem para con-
estão presentes na inclusão de diversidade ceptualizar os procedimentos de ensino e
de gênero no contexto escolar. s resultados aprendizagem, caso desejemos proporcionar
destacam a influência do binarismo de gêne- aos alunos uma educação de primeira clas-
ro na sociedade, enfatizando como isso cria se que enfatize a importância do processo
uma normatividade heterossexual e leva à estudantil. Está abordagem deve ter como
estigmatização daqueles que não se encai- objetivo inspirar o crescimento do processo
xam nesses padrões. O trabalho aponta os estudantil através do poder do exemplo.
desafios enfrentados por estudantes trans-
gênero nas escolas, incluindo violência, dis- Para que os alunos sejam mo-
criminação e dificuldades na inclusão. Além tivados a assumir papéis mais ativos na sua
disso, são apresentados avanços legais e re- própria aprendizagem, é essencial que os
soluções que buscam promover a inclusão, seus professores sejam protagonistas na sua
como o uso de nomes sociais e a necessida- formação. Na investigação de Demo (1998),
de de formação para educadores. Por fim, o constatou-se que um número significativo de
binarismo de gênero ainda exerce uma influ- professores baseia-se apenas em materiais
ência significativa na sociedade e na educa- pré-escritos, sem qualquer análise crítica ou
ção, resultando em desafios para estudantes contribuição pessoal. Esses professores sim-
transgênero. No entanto, há avanços legais plesmente apresentam as informações sem
e iniciativas em andamento para promover questionar ou se envolver com o material.
a inclusão e a diversidade de gênero nas es- Eles não oferecem espaço para pensamento
colas. A formação de educadores e a cons- crítico ou reflexão sobre o assunto.
cientização são fundamentais para garantir A seleção de conteúdo hoje em
que todos os alunos, independentemente de dia pode parecer quase robótica, frequente-
sua identidade de gênero, tenham igualdade mente consistindo em fragmentos sem con-
de oportunidades na educação e possam se texto. O papel atual do professor parece re-
desenvolver em um ambiente seguro e inclu- duzido ao de mero instrutor. Eles acreditam
sivo. que seu único objetivo é transmitir conheci-
PALAVRAS-CHAVE: Estudantil; Prota- mentos e métodos, o que apenas serve para
gonista; Transgênero. reforçar a noção ultrapassada de alinhamen-
to hierárquico entre professor e aluno, que
lembra a era medieval.
1. INTRODUÇÃO
Considerar o conceito de prota- 2. DESENVOLVIMENTO
gonismo estudantil é um chamado à reflexão
entre os professores. A falta de clareza na 2.1 O discurso do binarismo
definição desse conceito, por vezes confuso Os papéis de gênero na nossa
na literatura, e o desconforto que pode tra- sociedade são determinados principalmente
zer para quem pretende ser protagonista ou pelo conceito de sexo transcendente, que se
facilitar tal processo, levanta preocupações baseia em diferenças físicas imutáveis e na
quanto ao nosso papel como educadores. categorização binária. Este sistema binário
Os educadores defendem fre- dita a heterossexualidade como orientação
quentemente a importância de capacitar os sexual normativa e é perpetuado através do
alunos para serem os personagens principais discurso biológico sobre a reprodução das
das suas próprias histórias. espécies que reforça os papéis tradicionais
masculinos e femininos. Poderíamos argu-
Como observa Demo (1998), é mentar que o processo de heteronormati-
crucial reconhecer que ver os alunos como zação começa mesmo antes do nascimento
“parceiros de trabalho” em vez de meros neste campo específico (LOURO, 2004).
“alunos-objeto”. O ato do professor copiar
diretamente dos livros e distribuir essas in- Segundo Louro (2004), o ato de
formações sem alterações é uma prática co- declarar “é menina” ou “é menino” desen-
mum que muitas vezes se reflete nas avalia- cadeia um processo que se acredita seguir
ções. No entanto, o autor defende que, em determinado curso ou trajetória, levando à
feminização ou masculinização do indivíduo

522
em questão. O corpo é frequentemente uti- 2.2 A Inclusão do estudante transgê-
lizado como meio de expor a heterossexu- nero
alidade como norma, que é considerada a
sexualidade inerente ao indivíduo. Qualquer O ambiente escolar pode ser
pessoa que se oponha a esta norma e opte especialmente opressor e emocionalmente
por não se conformar à heterossexualidade tenso para crianças que se autoidentificam
compulsória é muitas vezes vista como uma como transexuais. Este nível elevado de an-
exceção à regra estabelecida e rotulada como siedade e intrusividade pode potencialmente
sendo diferente. Este desvio da norma é en- levar a danos irreparáveis ao seu bem-estar.
tão abordado pelo currículo escolar através Ao longo de seu desenvolvimen-
de vários discursos que apelam à tolerância to, o sistema educacional brasileiro foi funda-
e ao respeito pela diversidade. mentado em pressupostos avaliativos que re-
Quando os alunos que apresen- tratavam o “outro” como diferente e inferior
tam comportamentos sexuais não norma- a si mesmo. Esse “outro” era frequentemente
tivos se matriculam na escola, podem en- caracterizado como um estranho, uma pes-
frentar desafios únicos e estigmatização. O soa doente, um pecador, um pervertido ou
planeamento das escolas é muitas vezes di- alguém contagioso (JUNQUEIRA, 2009).
ficultado pela falta de racionalidade e lineari- A crença comum num sistema
dade. É comum ver uma pedagogia que tenta binário de gênero, onde só existem mulhe-
ocultar as identidades de certos indivíduos, res/femininas e homens/masculinos, está
promovendo a importância da identidade tão enraizada na sociedade que é muitas ve-
heterossexual. zes vista como um fenômeno natural. É im-
No entanto, esses indivíduos portante reconhecer, no entanto, que nada é
não são exceções à norma nos ambientes es- inerentemente natural e que as identidades
colares. A diversidade da orientação sexual de gênero são socialmente construídas atra-
e da heterossexualidade é frequentemente vés da comunicação e do discurso. Sabe-se
vista como demasiado díspar para ser aceite que as instituições de poder priorizam os
dentro dos limites da diversidade identitária. seus próprios interesses e necessidades num
Está diferença é abordada na retórica do cur- determinado momento. Eles ditam o que
rículo como “diversidade tolerada”, uma ten- lhes é favorável e o que serve para satisfazer
tativa de assimilar e acomodar tais diferen- esses interesses (FOUCAULT, 1998).
ças. Nos tempos modernos, existe
Zygmunt Bauman analisa a anu- um problema predominante de educação
lação, pelo Estado moderno, daqueles que inadequada e ausência de tolerância para
são considerados “diferentes” através de mé- com indivíduos com diferenças. Como expli-
todos de exclusão e assimilação. Ele identifi- ca Dias (2014), tudo o que se desvia da norma
ca que o que faz com que certos indivíduos é muitas vezes descartado apenas devido à
sejam percebidos como estranhos e, portan- sua divergência dos padrões sociais.
to, incômodos, perturbadores, desconfortá- A décima segunda resolução do
veis e problemáticos, é a sua capacidade de Conselho Nacional de Combate à Discrimina-
confundir e ocultar as linhas de demarcação ção e Promoção dos Direitos de Transexuais,
estabelecidas que deveriam ser distintas e Travestis, Lésbicas e Gays tem como objetivo
aparentes (BAUMAN, 1998). orientar escolas e universidades para garan-
A escola implementa uma prá- tir que esses estudantes tenham acesso e
tica pedagógica que envolve a utilização de reconhecimento em suas respectivas institui-
uma política de tolerância dentro do currícu- ções.
lo para amortizar quaisquer diferenças que Para promover a inclusão e
possam existir. prevenir a discriminação contra indivíduos
Travestis e transexuais nas es- transexuais, seria adequado que a constru-
colas são desproporcionalmente afetados ção de novas escolas incluísse vários banhei-
pela homofobia, muitas vezes enfrentando ros unissex. Como a situação não pode ser
níveis elevados de violência e crueldade que completamente controlada, os esforços para
os fazem sentir-se completamente excluídos reforçar a integração social são imperativos
e estigmatizados. Desde o início, enfrentam para o bem-estar da comunidade.
desafios significativos, incluindo barreiras
de matrícula, participação limitada em ativi-
dades pedagógicas e falta de respeito pelas 2.3 Avanços e conquistas
suas identidades e bem-estar físico. A utiliza-
ção do layout arquitetônico das instituições A Portaria número 33 do Minis-
de ensino, que inclui instalações como ba- tério da Educação (MEC) foi publicada no Diá-
nheiros (JUNQUEIRA, 2009). rio Oficial da União em 17 de janeiro de 2018.
Essa portaria exigia que todas as escolas de
ensino fundamental e médio do país, sejam
públicas ou privadas, utilizassem os nomes
sociais. de estudantes transgêneros em to-
dos os registros escolares oficiais.

523
No dia 1º de março, de 2018 o no acesso à educação, mas nas dificuldades
Supremo Tribunal Federal (STF) emitiu deci- de permanência na escola, especialmen-
são que permite que pessoas trans possam te quando a pessoa começa a explorar sua
alterar o registro civil em cartórios. Isso pode identidade de gênero. A escola, muitas vezes,
ser feito sem a necessidade de cirurgia de é um ambiente hostil para pessoas transgê-
redesignação genital ou laudo psicológico. nero, onde enfrentam piadas, perseguições,
Apesar da decisão do Supremo Tribunal, es- a falta de uso do nome social e preconceito,
tudantes e profissionais da educação acredi- entre outras adversidades (MARIA, 2020).
tam que medidas adicionais são imperativas
para garantir a inclusão nos ambientes esco- Em 1997, o Ministério da Edu-
lares. cação elaborou os Parâmetros Curriculares
Nacionais com o propósito de fornecer dire-
Para mostrar respeito pelos in- trizes para a formação básica em todo o Bra-
divíduos transgênero, as escolas devem dar sil. No entanto, o tópico relativo às relações
um passo crucial: permitir-lhes utilizar a casa de gênero ocupa pouco mais de uma pági-
de banho. O Conselho Nacional de Combate na e enfatiza que o "conceito de gênero está
à Discriminação e Promoção dos Direitos de relacionado ao conjunto de representações
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Tran- culturais e sociais". Ele sugere que os profes-
sexuais (CNCD/LGBT) da Secretaria de Direi- sores abordem a dimensão histórica dessas
tos Humanos da Presidência da República questões em disciplinas como História, pro-
(SDH/PR) criou a resolução 12/2015 em 2015. movendo discussões sobre valores, compor-
Está resolução fornece diretrizes para garan- tamentos em diferentes culturas e contextos
tir que as instituições educacionais atendam históricos (MARIA, 2020).
às necessidades das pessoas trans. Especifi-
camente, aconselha que os alunos sejam au- O Referencial Curricular Nacio-
torizados a utilizar a casa de banho que cor- nal para a Educação Infantil, também elabo-
responda à sua identidade de gênero. Apesar rado pelo Ministério da Educação em 1998,
desta orientação, muitas escolas e universi- tem como objetivo estabelecer padrões de
dades não conseguiram implementá-la. qualidade que ajudem as crianças a desen-
volver sua identidade de forma integral,
Um aspecto crítico que não pode crescer como cidadãos com direitos à infân-
ser ignorado é a integração do indivíduo no cia reconhecidos. Além disso, visa socializar
seu meio social, seja ele público ou privado. as crianças nessa fase da educação em am-
Isto se baseia na crença teórica e metodológi- bientes que permitam o acesso e a amplia-
ca de que a identidade de uma pessoa e sua ção de seus conhecimentos sobre a realida-
relação com a sociedade estão interligadas. de social e cultural.
O reconhecimento e a recipro- As Diretrizes Curriculares da
cidade das identidades são essenciais para Educação afirmam que o estudo da sexuali-
a sua formação, pois são construídas cole- dade dos alunos deve ir além do senso co-
tivamente. Construir uma identidade isola- mum e promover o conhecimento científico.
damente é impossível e não pode ser criada Os conteúdos relacionados à sexualidade e à
através da autorreflexão. Em vez disso, as diversidade sexual são essenciais para pos-
identidades são formadas na esfera pública, sibilitar a inclusão de pessoas cujos compor-
através de interações cotidianas e em con- tamentos sexuais diferem dos padrões hete-
junto com movimentos sociais. rossexuais, sem prejudicar a aprendizagem
de qualquer aluno (PARANÁ, 2008).
2.4 Educação é direito de todos Para aprofundar esse tema, cita-
mos um trecho de Louro que aborda a hete-
Apesar de a Constituição Federal ronormatividade presente nas escolas:
garantir que a educação seja um "direito de A escola tem mantido uma concepção
todos" e se baseie no princípio da "igualdade única de gênero e sexualidade em seus cur-
de condições para o acesso e permanência", rículos e práticas. Mesmo que se reconheça
os alunos transgênero, que são frequen- que existem diversas formas de vivenciar o
temente vítimas de transfobia, enfrentam gênero e a sexualidade, a escola continua a
maiores dificuldades para permanecer na es- direcionar suas ações a partir de um padrão
cola. O mesmo princípio de respeito vale para normativo. Isso implica que existe apenas
os professores homossexuais, que merecem uma maneira adequada, legítima e normal de
igual consideração no contexto da educação ser masculino ou feminino, bem como uma
e nas políticas públicas. Nessa perspectiva, é única forma saudável e normal de vivenciar a
crucial que questões relacionadas à diversi- sexualidade: a heterossexualidade. Qualquer
dade, sexualidade e gênero sejam tratadas desvio desse padrão é considerado como um
como aspectos naturais inerentes ao desen- caminho inadequado, desviante, uma forma
volvimento humano e sua constante evolu- de se tornar excêntrico.
ção (MARIA, 2020).
É importante destacar que um A invisibilidade cotidiana da po-
dos fatores que prejudica o acesso da popu- pulação transexual no Brasil é resultado da
lação transgênero ao mercado de trabalho é falta de debates, reflexões e pesquisas que
a baixa escolaridade. O problema não está deveriam ser constantes nas instituições

524
educacionais e universidades públicas. Esse buindo para a perpetuação de estereótipos
tópico deveria ser discutido regularmente em devido à falta de conhecimento.
institutos de pesquisa e estabelecimentos de
ensino superior no Brasil (SCOTE, 2017). O Plano Nacional de Educação
e Direitos Humanos (BRASIL, 2016) enfatiza
a importância de incorporar no currículo es-
2.5 Genêro e sexualidades no contex- colar tópicos relacionados a gênero, identi-
to escolar dade de gênero, orientação sexual e outras
temáticas afins, bem como estimula debates
No âmbito escolar, destaca-se a sobre todas as formas de discriminação e
importância da promoção da inclusão da di- violações de direitos. Além disso, enfatiza a
versidade de gênero, uma vez que a escola necessidade de garantir a formação contínua
desempenha um papel fundamental na cons- dos professores para que possam abordar
trução de uma sociedade mais compreensiva criticamente esses assuntos.
e livre de preconceitos. Esse processo de in- É crucial salientar que tanto os
clusão é respaldado por bases legais, como o professores quanto aqueles que desejam
Plano Nacional de Educação, os Parâmetros se tornar educadores sobre diversidade de
Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e gênero e sexualidades não podem simples-
Bases da Educação Nacional. mente iniciar essa jornada de ensino da noite
De acordo com Brandão (2002), para o dia. É necessário que essas pessoas
a educação é um pilar essencial e irremovível tenham uma mente aberta, sejam impar-
da sociedade. Entre todas as práticas cultu- ciais e, acima de tudo, busquem ampliar seu
rais humanas, dificilmente haverá algo tão conhecimento sobre o tema. Isso requer o
essencial quanto a educação. Tanto a família compromisso de realizar cursos, ler literatu-
quanto o Estado têm a responsabilidade de ra especializada e conduzir pesquisas para
promover a educação, inspirados pelos prin- se qualificar adequadamente no ensino de
cípios da liberdade e da solidariedade huma- diversidade de gênero e sexualidades.
na. Nesse contexto cultural, existe
A Lei nº 9394 de 1996 (BRASIL, um receio comum entre os professores de
1996), que estabelece as diretrizes e bases abordar esse tema, muitas vezes devido à
da educação, enfatiza a igualdade de condi- falta de compreensão por parte dos pais e
ções para o acesso e permanência na escola familiares dos alunos. Esses pais podem te-
como um princípio fundamental do ensino. mer que a escola esteja fazendo apologia aos
Além disso, ressalta o respeito à liberdade e à movimentos LGBT ao introduzir discussões
valorização da compreensão. O propósito da sobre gênero e sexualidade. No entanto, de
educação, de acordo com essa lei, é possibili- acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da
tar o pleno desenvolvimento dos educandos, Educação Nacional (BRASIL, 1996), o ensino
preparando-os para o exercício da cidadania deve ser baseado em princípios que incluem
e para o mercado de trabalho. a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
divulgar os pensamentos.
A escola como instituição desempenha
um papel crucial na promoção de uma edu- Nesse sentido, o Plano Nacional
cação cidadã e emancipadora, que abranja a de Educação (BRASIL, 2016) enfatiza a impor-
dimensão sexual, a diversidade, os direitos tância de enfrentar e superar as desigualda-
humanos e a multiculturalidade. No entanto, des educacionais, com foco na promoção da
para que isso se torne realidade, é imperati- cidadania e na eliminação de todas as formas
vo adotar novas abordagens pedagógicas e de discriminação.
práticas inovadoras (FERREIRA; LUZ, 2009, p. Os Parâmetros Curriculares Na-
38). cionais (BRASIL, 1998) fornecem sugestões
Nesse contexto, é crucial desen- e diretrizes para os temas que devem ser
volver iniciativas e estratégias no ambiente incorporados em todos os componentes
escolar que visem à inclusão e à permanên- curriculares. Um desses temas transversais
cia de todos os alunos, promovendo, assim, aborda especificamente a orientação sexual
a igualdade entre as pessoas. A escola de- e estabelece diretrizes sobre como essa te-
sempenha um papel fundamental ao acolher mática deve ser tratada no terceiro e quarto
esses indivíduos, auxiliando-os a se tornarem ciclo do ensino fundamental.
cidadãs e cidadãos mais conscientes. Além de todos esses fundamen-
Conforme Madureira e Branco tos legais, a Constituição Federal (BRASIL,
(2015), abordar questões de gênero e sexua- 2016) respalda a construção de uma socieda-
lidade em sala de aula representa um desafio de que promova a liberdade, justiça e solida-
para os professores, uma vez que esses te- riedade, com a redução das desigualdades e
mas não são amplamente cobertos em suas a busca pelo bem de todos, sem preconceitos
formações acadêmicas. Muitas licenciaturas relacionados à origem, raça, sexo, cor, idade
não oferecem disciplinas específicas para ou qualquer outra forma de discriminação.
tratar dessas questões, o que faz com que Os Parâmetros Curriculares Na-
os docentes, por vezes, evitem ou abordem cionais (BRASIL, 1998) têm como base o texto
os assuntos de maneira inadequada, contri- constitucional e adotam o princípio de uma

525
educação voltada para a cidadania, que busca A necessidade de introduzir dis-
assegurar a igualdade de direitos, garantindo cussões sobre diversidade de gênero no con-
a todos a mesma dignidade e oportunidade texto escolar é premente. Portanto, é funda-
de exercer a cidadania. Para alcançar essa mental preparar os professores para abordar
igualdade, é essencial considerar o princípio esse tema e capacitá-los a atuar como media-
da equidade, reconhecendo que existem di- dores em caso de conflitos que possam sur-
ferenças de natureza étnica, cultural, regio- gir.
nal, de gênero, idade, religião, entre outras,
bem como desigualdades socioeconômicas As interações sociais que ocor-
que precisam ser levadas em consideração. rem dentro das famílias desempenham um
papel significativo na formação das opini-
Uma das principais barreiras en- ões, mas muitas vezes, o que os pais consi-
frentadas, no entanto, é que os cursos de for- deram correto nem sempre reflete o que é
mação inicial para futuros professores geral- factualmente correto. Eles frequentemente
mente não abordam questões relacionadas à se orientam por suas próprias crenças, o que
diversidade de gênero no ambiente escolar. pode levar à transmissão de informações in-
Consequentemente, muitos educadores não corretas para seus filhos, que, por sua vez,
recebem o embasamento teórico e prático podem levar essas informações para seus
necessário para lidar com tais questões em ambientes de convívio. Portanto, é imperati-
suas práticas pedagógicas. vo que os professores desenvolvam projetos
De acordo com Henriques et al. e ações relacionados a esses temas.
(2007), no Brasil, foram desenvolvidos proje- De acordo com Abramovay, Cas-
tos com o propósito de abordar a diversida- tro e Silva (2004), os professores frequente-
de de gênero, orientação sexual e combate mente sentem receio de abordar a diversida-
à homofobia, principalmente por meio do de de gênero e sexualidade em suas práticas
Sistema de Educação Continuada à Distân- educacionais devido à falta de formação es-
cia (SECAD) e do Ministério da Educação. Um pecífica nesse campo. Eles carecem de orien-
exemplo notável foi o projeto "Formação de tações sistemáticas e, em muitos casos, não
Profissionais da Educação para a Cidadania e têm conhecimento adequado sobre o assun-
Diversidade Sexual", que ocorreu entre 2005 to.
e 2006. Esse projeto visava capacitar profis-
sionais da educação que atuam nas redes Essa falta de preparo acaba
públicas de ensino, com o intuito de promo- transformando o ambiente escolar, que de-
ver a cidadania, o respeito à diversidade se- veria ser um local de inclusão, em um am-
xual, combater fobias relacionadas à orienta- biente de exclusão. Muitos estudantes aca-
ção sexual no ambiente escolar e prevenir a bam abandonando os estudos devido ao
violência e a discriminação contra a comuni- preconceito que enfrentam, mas essa reali-
dade LGBT. dade poderia ser diferente se os professores
tivessem uma base teórica sólida sobre o
Outra iniciativa notável foi o pro- tema e se estivessem dispostos a conversar
jeto "Gênero e Diversidade na Escola," que e orientar tanto os alunos LGBT a não desis-
teve início em 2006. Seu objetivo principal era tirem dos estudos quanto aqueles que mani-
capacitar educadores que atuam nas redes festam qualquer tipo de fobia relacionada à
públicas de ensino em questões relacionadas orientação sexual.
a gênero, orientação sexual e relações étni-
co-raciais. Isso tinha como propósito forne- De acordo com os Parâmetros
cer a esses profissionais as ferramentas ne- Curriculares Nacionais (BRASIL, 1996), a edu-
cessárias para refletirem criticamente sobre cação deve desempenhar um papel funda-
suas práticas pedagógicas, individualmente mental na eliminação do preconceito em rela-
e em equipe, e para combaterem qualquer ção à orientação sexual no ambiente escolar
forma de discriminação que pudesse ocorrer e na promoção da convivência harmoniosa.
no ambiente escolar. No entanto, é impor- O objetivo é construir uma sociedade mais
tante observar que esse projeto, no estado justa e equitativa, onde os direitos sejam ga-
do Paraná, foi realizado somente em Maringá rantidos, independentemente da etnia, sexo
(HENRIQUES et al., 2007). ou cor das pessoas.
Embora existam relatos de ou- Isso é crucial, uma vez que, mui-
tras iniciativas igualmente importantes em tas vezes, os alunos encontram na escola um
todo o Brasil, ainda é crucial ampliar a disse- refúgio, um lugar seguro que não conseguem
minação de conhecimentos sobre o tema, a encontrar no mundo exterior, pois a socieda-
fim de que essas iniciativas estejam alinhadas de muitas vezes os exclui. Portanto, é essen-
com os princípios dos Parâmetros Curricula- cial que a escola desenvolva mecanismos e
res Nacionais (PCN). Os PCN preconizam que esteja preparada para acolher esses alunos,
as questões relacionadas à diversidade de uma vez que a própria sociedade os margina-
gênero devem ser incorporadas ao ambien- liza.
te escolar de maneira contínua, sistemática, No entanto, como observam
abrangente e integrada, em vez de serem Santos e Bruns (2000), infelizmente, ainda
tratadas de forma fragmentada ou restritas existe uma falta de conhecimento sobre es-
a áreas específicas ou disciplinas. sas políticas inclusivas dentro das escolas, o

526
que dificulta a capacidade dos professores e e Direitos Humanos e os Parâmetros Curri-
gestores escolares de identificar situações de culares Nacionais. Também discutiu a falta
fobia relacionadas à orientação sexual no co- de preparo dos professores para lidar com
tidiano escolar. questões de gênero e sexualidade devido à
O ambiente escolar é onde ocor- falta de formação específica.
re a promoção de valores e a construção de Desta forma, o trabalho ressalta
uma sociedade mais justa e igualitária. a importância de transformar o ambiente es-
No entanto, para que isso acon- colar em um local de inclusão, onde todos os
teça, é necessário que todos os funcioná- alunos possam se desenvolver plenamente e
rios da escola respeitem as leis e os planos construir uma sociedade mais justa e iguali-
estabelecidos, para que todos os alunos, in- tária. Isso requer a aplicação prática das ba-
dependentemente de sua raça, cor, sexo ou ses legais existentes e o comprometimento
orientação sexual, tenham os mesmos direi- de todos os envolvidos na educação.
tos e possam concluir seus estudos. Os ali-
cerces legais estão presentes, mas é essen-
cial colocá-los em prática. REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary
Garcia; SILVA, Lorena Bernadete da. Juventu-
3. CONCLUSÃO des e sexualidade. Brasília: Edições UNESCO
Este trabalho analisou o discur- Brasil, 2004.
so do binarismo de gênero e as implicações BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da
desse discurso no contexto educacional, es- pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
pecificamente no que diz respeito à inclusão Ed., 1998.
de estudantes transgêneros. Ao longo do
trabalho, foram apresentadas diversas ques- BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educa-
tões relacionadas à heteronormatividade, à ção popular na escola cidadã. Petrópolis: Edi-
invisibilidade da população transexual e à im- tora Vozes, 2002.
portância de promover a inclusão de gênero BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezem-
e sexualidades diversas nas escolas. bro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
O trabalho destacou como a so- da Educação Nacional. Brasília, 1996. Dispo-
ciedade frequentemente se baseia em um nível em: https://www2. senado.leg.br/bdsf/
sistema binário de gênero, com a heterosse- bitstream/handle/id/70320/65.pdf. Acesso
xualidade como norma, perpetuando assim a em: 10 out. 2023.
exclusão de indivíduos que não se encaixam BRASIL. SECRETARIA DE ENSINO FUN-
nesse padrão. Como a heteronormatização DAMENTAL. Terceiro e quarto ciclos do En-
começa desde o nascimento, quando se ro- sino Fundamental: Temas transversais –
tula uma criança como menina ou menino, Orientação sexual. Parâmetros curriculares
desencadeando um processo de feminização nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível
ou masculinização. em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
Foi enfatizado que a escola mui- pdf/orientacao.pdf. Acesso em: 10 out. 2023.
tas vezes perpetua essa norma, promovendo BRASIL. Constituição da República Fe-
a importância da identidade heterossexual e derativa do Brasil: texto constitucional pro-
tentando ocultar as identidades não normati- mulgado em 5 de outubro de 1988, com as
vas. No entanto, a diversidade da orientação alterações. Brasília: Senado Federal, Coor-
sexual não é uma exceção, mas parte inte- denação de Edições Técnicas, 498 páginas,
grante da sociedade. A ideia de "diversidade 2016. Disponível em:
tolerada" foi mencionada, como uma tentati-
va de assimilar e acomodar essas diferenças. DEMO, P. Educar pela pesquisa. 4. ed.
Campinas: Autores Associados, 1998.
O trabalho discutiu os desafios
enfrentados por estudantes transgêneros DIAS, Maria Berenice. Homoafetivida-
nas escolas, incluindo a violência e a exclusão de e os direitos LGBTI. 6 ed. Reformulada.
que muitas vezes experimentam. Mencionou São Paulo: Revista dos tribunais, 2014.
a importância de criar ambientes inclusivos,
incluindo banheiros unissex. FERREIRA, Beatriz Maria L. LUZ, Nanci
Stancki da. Sexualidades e gênero na esco-
Foram apresentados avanços le- la. LUZ, Nanci Stancki da; CARVALHO, Marília
gais, como a Portaria do Ministério da Educa- Gomes de. CASAGRANDE, Lindamir Salete
ção sobre o uso de nomes sociais e a decisão (Orgs.). Construindo a igualdade na diversi-
do Supremo Tribunal Federal sobre a altera- dade: gênero e sexualidade na escola. Curiti-
ção de registros civis. No entanto, enfatizou- ba: UTFPR, p. 38-43, 2009.
-se que medidas adicionais são necessárias
para garantir a inclusão. FOUCAULT, Michel. A Ordem do Dis-
curso. Aula Inaugural no Collège de. France,
O trabalho destacou a impor- pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 4
tância da educação na promoção da igual- ed., São Paulo: Edições Loyola,1998.
dade, citando o Plano Nacional de Educação

527
HENRIQUES, Ricardo et al. Gênero e
Diversidade Sexual na Escola: reconhecer di-
ferenças e superar preconceitos. Cadernos
Secad, Brasília, v. 4, 2007.
JUNQUEIRA, Rogério Diniz (Org.). Ho-
mofobia nas escolas: um problema de todos.
In: JUNQUEIRA, Rogério Diniz (Org.). Diversi-
dade sexual na educação: problematizações
sobre a homofobia nas escolas. Brasília: MEC/
Secretaria de Educação Continuada, Alfabeti-
zação e Diversidade, UNESCO, 2009.
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo es-
tranho - ensaios sobre sexualidade e teoria
queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
MADUREIRA, Ana Flávia do Amaral;
BRANCO, Ângela Uchoa. Gênero, sexualidade
e diversidade na escola a partir da perspecti-
va de professores/as. Temas em Psicologia.
Ribeirão Preto, v. 23, n. 3, 2015.
MARIA, Vanessa Andriani. Realidade
e os Desafios para a Inserção de Transgêne-
ros, Transexuais e Travestis no Mercado de
Trabalho. Âmbito jurídico, São Paulo – SP: n.
199, Ano XXIII, 2020. Disponível em: https://
ambitojuridico.com.br/cadernos/direitoshu-
manos/a-realidade-e-os-desafios-para-a-in-
sercao-de-transgeneros-transexuais-e-tra-
vestisno-mercado-de-trabalho/ Acesso em:
11 out. 2023.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Edu-
cação – SEED. Diretrizes Curriculares da Rede
Pública de Educação Básica do Estado do Pa-
raná (DCE): Ciências, Curitiba, 2008.
SANTOS, Claudiene; BRUNS, Maria Al-
ves de Toledo. A educação sexual pede espa-
ço: novos horizontes para a práxis pedagógi-
ca. In: A educação sexual pede espaço: novos
horizontes para a práxis pedagógica. 2000.
SCOTE, Fausto Delphino. Será que te-
mos os mesmos direitos à universidade? O
desafio do acesso e a permanência de pes-
soas transexuais no ensino superior. 2017.
152f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal de São Carlos Campus
Sorocaba, Sorocaba, 2017.

528
PEDAGOGIA HOSPITALAR
SUZANA KELLY ALMEIDA DO NASCIMENTO

RESUMO relato de vivências.


O presente artigo tem por objetivo in- Portanto, o foco da pesquisa é a Histó-
vestigar os benefícios das atividades pedagó- ria da Classe Hospitalar no Brasil. A pesquisa
gicas no ambiente hospitalar e como podem
promover o desenvolvimento socioafetivo na área de história possibilita compre-
de crianças e adolescentes hospitalizados, ender melhor o seu processo de instalação
estando assim privados de participar de seu assim como sua configuração atual.
meio sociocultural e escolar. Como fonte documental foram consul-
Analisando ao longo da história pode- tados diversos livros e sites acadêmicos, foi
mos perceber que a medicina passou a pre- realizado o fichamento e organização
ocupar com a doença deixando de lado os do material, para facilitar a realização do tra-
fatores emocionais e afetivos dos pacientes. balho;
Com base nos estudos coletados
buscamos explanar como se dá o desenvol-
vimento infantil em busca de mostrar a im- 1. O papel do hospital ao longo da his-
portância do acompanhamento familiar e es- tória
colar para o aluno paciente.
Para que se entenda como se dá o
Para garantir o direito a escolarida- atendimento hospitalar na atualidade, é pre-
de, as classes hospitalares são apoiadas por ciso conhecer sua trajetória de seu surgimen-
diversas leis que vigoram em nosso país, as to até tornar-se uma organização que conhe-
quais faremos citações no decorrer deste es- cemos até hoje.
tudo.
Na Antiguidade, Asclépio era conside-
Ademais, demonstraremos a impor- rado o deus da medicina na literatura grega e
tância do trabalho pedagógico neste ambien- era oferecido culto a este deus como divinda-
te, já que o professor da Classe Hospitalar é de curadora data de VI a.C. Em toda Grécia os
o elemento que cria um vínculo afetivo com doentes iam até seu templo na esperança de
o aluno paciente, propiciando condições de serem curados por intercessão divina. Neste
bem-estar e consequentemente auxilia na mesmo período surgiu a medicina leiga que
melhoria das condições deste aluno. era exercida por peregrinos que preparavam
e vendiam seus medicamentos preparados
PALAVRAS-CHAVE: 1 Classe hospita- com ervas e raízes medicinais de cidade em
lar; 2 aprendizagens; 3. Professor; cidade.
O maior médico da Grécia Antiga e
INTRODUÇÃO da medicina ocidental foi Hipócrates de Cós,
seu trabalho foi de suma importância para a
Este trabalho tem por objetivo, apre- medicina e até os dias atuais seu trabalho é
sentar um breve relato sobre a Trajetória His- reconhecido e estudado; no entanto, muitas
tórica da Pedagogia Hospitalar Brasileira, ca- lendas foram criadas e incorporadas à bio-
racterizando o seu surgimento e algumas das grafia de Hipócrates, sendo difícil separar o
razões que levaram a pensar na inserção do que é real e o que é lenda em sua história.
pedagogo no ambiente hospitalar. A escolha
do tema geral Classe Hospitalar justifica-se Sobre que Hipócrates sabe-se que
por ser um assunto novo, não muito explo- nasceu na ilha de Cós (Grécia) em 460 A.C e
rado e divulgado, um novo espaço em que o morreu em Tessália, perto da cidade de La-
pedagogo pode atuar, podendo se tornar um rissa, por volta de 380 a.C. Recebeu educação
integrante importantíssimo da equipe hospi- do próprio pai, seguindo a tradição grega de
talar. transmissão de conhecimentos profissionais
dentro da própria família e, aparentemente,
As fontes para esta pesquisa mostra- de mais dois professores: um médico e um
ram-se restritas uma vez que foram localiza- ginasta conhecedor de fisiologia, seus conhe-
das cimentos correram pelo mundo e a partir
pouquíssimas pesquisas e publicações dose seus estudos criou-se o estudo da ana-
para a pesquisa documental; tomia humana, desencadeando a observa-
ção e a experimentação na medicina possi-
Ao demarcar o assunto a ser trabalha- bilitando conclusões com base no raciocínio
do, analisando o material disponível, indutivo.
verificamos que a maioria tem foco na Com esta descoberta foi possível co-
atuação do Pedagogo, sua importância, sua nhecer e descrever precisamente várias
preparação para atuar, as dificuldades das doenças e indicar tratamentos adequados.
crianças e adolescentes acamados, ou seja, Criador também da ciência da embriologia,

529
estudou ovos de galinha em vários estágios e distinguir e caracterizar as doenças.
de incubação.
Algumas referências como Rosen
(1979) e Calegari (2003), citam que data des- No Brasil até o século XVIII não existia
te momento a criação da Escola de Cós, cujo uma medicina oficial, as doenças eram trata-
princípio básico era a observação direta do das por curandeiros e mais tarde pelos jesuí-
paciente. A abordagem natural das doenças e tas. Os médicos eram formados em Portugal
a recusa às interpretações mágicas e religio- e trabalhavam nas instituições filantrópicas
sas predominantes na época, usando como ou na assistência privada.
fonte de informação primordial a análise clí- Somente nas décadas de 30 e 40, na
nica do corpo humano é seu principal mérito, fase da industrialização e urbanização que
seu trabalho foi importantíssimo para medi- surge o seguro social. No governo Vargas
cina, tanto que recebeu o título de o Pai da consolidam –se os IAPS (Institutos de Apo-
Medicina. sentadoria e Pensões) em 1967 os institutos
Com a conquista do mundo mediter- se juntaram ao Instituto Nacional de Previ-
râneo, Roma aderiu à medicina e as questões dência Social (INPS) e logo se organizaram
sanitárias, os romanos foram pioneiros na através do Instituto Nacional de Assistência
organização da saúde pública, construíram Médica da Previdência Social (INAMPS), além
sistema de esgoto, suprimento de água para do instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
as cidades, e outras instalações sanitárias Segundo o autor Rosen (1979), a medi-
que serviram de exemplo para outros povos, cina social surge no Brasil como resposta as
além de melhorar as condições higiênicas questões de saúde causadas pelo processo
das cidades e, consequentemente a saúde de industrialização, num primeiro momento
da população. Nos séculos I A.C e I d. C. que preocupada em atender a classe de traba-
Roma construiu as primeiras instituições mé- lhadores sociais, hoje tem um sentindo mais
dicas para abrigo e tratamento de pessoas amplo, pois inclui todos os grupos sociais.
doentes: “os Valetudinárias, algo como hos-
pitais militares, visto que um império expan-
sionista tinha como necessidade estratégica
a recuperação dessa classe de doentes, para 2. Legislação e direitos da criança hos-
reaproveitá-los para a guerra. “(CALEGARI pitalizada
apud ANTUNES, 2003) A Constituição Federal de 1988, diz
Salienta Calegari (2003), que a partir que a educação é direito de todos e dever
do século VI D.C, muitos estabelecimentos do Estado e da família, deverá ter o apoio
que cuidavam e abrigavam doentes e neces- da sociedade, visando o desenvolvimento da
sitados foram fundados pelo clero que com pessoa, seu preparo para exercer a cidada-
base na fé cristã, passaram então, a prestar nia e sua qualificação para o trabalho. Com
diversas modalidades de assistência social, isso, sendo a educação um direito de todos,
foi neste período que foram criados os asilos, a criança hospitalizada está apta a receber
que recebiam todo tipo de público. Para os esse direito e o Estado deve cumprir todas as
cristãos as doenças eram vistas como casti- medidas para o seu cumprimento.
gos divinos ou então como prova de fé, para O Decreto Lei n. 1044/69 estabelece
que acontecesse a cura era necessário além que os alunos que se encaixam na condição
dos medicamentos, eram preciso o arrepen-
dimento dos pecados. daqueles que necessitam de trata-
mento especial, têm direitos a exercícios do-
“Os conhecimentos médicos da anti- miciliares, com acompanhamento da escola,
guidade dificilmente sempre que compatíveis com seu estado de
teriam sido transmitidos às gerações saúde e condições do estabelecimento. Inter-
seguintes, caso não tivessem sido preserva- pretando o texto legal há a possibilidade do
das pelos seguidores de atitudes considera- atendimento em classes hospitalares.
das heréticas. Atribui-se particularmente aos A Lei n. 6.202 de 1975 trata da garan-
nestorianos o processo de difusão da cultura tia de realização dos exercícios domiciliares a
grega, a partir do século V, onde o estudantes gestantes garantindo que a par-
Arcebispo Nestor rompeu teologica- tir do oitavo mês de gestação e durante três
mente com a doutrina cristã”. (CALEGARI meses a estudante - gestante ficará assistida
2003, p. 22). pelo regime de exercícios domiciliares, po-
dendo este prazo ser estendido se compro-
vada a necessidade através de atestado mé-
dico.
No Renascimento houve grande de-
senvolvimento na saúde pública, neste perí- O ECA (Estatuto da Criança e do Ado-
odo os homens começaram a se interessar, lescente) na Lei. 8069 de 13 de junho de 1990,
cada vez mais, pela tecnologia visando o po- dispõe as garantias e direitos para crianças
der e a ganância de vencer as guerras, e em e adolescentes que se encontram em con-
consequência disto ao desenvolvimento da dições de hospitalização. Seguem-se alguns
medicina, que passa a usar experimentações dos artigos desta lei.

530
Art.4º- Parágrafo Único: “Art. 13.Os sistemas de ensino, me-
diante ação integrada com os sistemas de
Primazia de receber proteção e socor-
ro em quaisquer circunstâncias; saúde, devem organizar o atendimen-
to educacional especializado a alunos impos-
Precedência de atendimento nos ser- sibilitados de frequentar as aulas em razão
viços públicos ou de relevância pública; de tratamento de saúde que implique inter-
Preferência na formulação e na execu- nação hospitalar,
ção das políticas sociais atendimento ambulatorial ou perma-
públicas; nência prolongada em domicílio.
Art. 7º- A criança e o adolescente têm o §1º As classes hospitalares e o atendi-
direito à proteção e à vida e à saúde, mento em ambiente domiciliar devem dar
mediante efetivação de políticas so- continuidade ao processo de desen-
ciais públicas que permitem o nascimento e volvimento e ao processo de aprendizagem
o desenvolvimento sadio e harmonioso, em de alunos matriculados em escolas da Educa-
condições dignas de existência. ção Básica, contribuindo para o seu retorno e
reintegração ao grupo escolar, e desenvolver
Art. 11º-. É assegurado atendimen- currículo flexibilizado com crianças, jovens e
to médico à criança e ao adolescente, adultos não matriculados no sistema educa-
através do Sistema Único de Saúde, cional local, facilitando o seu posterior aces-
garantindo o acesso universal e igualitário às so à escola regular.
ações e serviços para promoção, proteção e §2º Nos casos de que trata este Artigo,
recuperação da saúde. a certificação de frequência deve ser reali-
Art. 57º- O Poder Público estimulará zada com base no relatório elaborado
pesquisas, experiências e novas propostas pelo professor especializado que atende o
aluno. “(BRASIL,2001 pág., 4).
relativas a calendário, seriação, cur-
rículo, metodologia, didática e avaliação, com
vistas à inserção de crianças e adolescentes 3 - Formação do profissional da classe
excluídos do ensino fundamental obrigató- hospitalar
rio.
O hospital é mais um dos novos espa-
O artigo 57 deste Estatuto destina-se ços que a educação tem aberto, porém esses
ao cuidado da criança e do adolescente que, novos campos defrontam com problemas na
por motivo de internação ou doença crônica, formação de profissionais para atuarem nes-
ficam afastados do sistema de ensino, im- se contexto.
portante dizer que a hospitalização é um dos
motivos de exclusão da vida escolar, e este Segundo Paula (2007), para que este
artigo assegura que crianças e adolescentes trabalho seja realizado é necessário a cons-
devem ter todo o aparato possível para que trução de um currículo para crianças e ado-
não fiquem prejudicadas nem em seu trata- lescentes hospitalizados, algo que não requer
mento médico, e nem em sua aprendizagem somente conhecimento técnico e formação
escolar. pedagógica, mas necessita de todo um apa-
ro de informações como, as características
É denominada “classe hospitalar” o emocionais, sociais e as patologias das crian-
atendimento as crianças hospitalizadas, ças hospitalizadas, como também conhecer a
prevista pelo Ministério da Educação estrutura hospitalar, regras e normas.
e do Desporto, por meio da publicação da Este profissional necessita ter clareza
Política Nacional de Educação Especial (MEC/ do seu papel no hospital e entender bem da
SEESP, 1994). metodologia que irá trabalhar, pois é nítida
A Resolução Nº 2, do Conselho Nacio- a diferença do ambiente escolar em uma
nal de Educação (CNE), de 11 de setembro sala de aula e em um hospital. No ambiente
hospitalar este profissional irá trabalhar com
de 2001, que institui as Diretrizes Na- diversos níveis de escolarização, com alunos
cionais para a Educação Especial na Educa- de diversas regiões do país, tendo em vista
ção Básica, diz que os sistemas de ensino a formação cultural desses alunos-pacientes,
integrados ao sistema de saúde, devem or- também influenciará no ensinoaprendizado.
ganizar o atendimento educacional especiali- Para que esse aprendizado seja efeti-
zado quando o aluno está impossibilitado de vo, será necessário trabalhar com elementos
frequentar as aulas, em razão de tratamento como a criatividade, capacidade de lidar com
de saúde. a diversidade (CECCIM E CARVALHO, 1997).
No artigo 13 diz que a Classe Hospita- Segundo os autores citados anteriormente a
lar é a responsável pela educação deste alu- função do professor no hospital, não se limi-
no durante o período de afastamento das ati- ta a ocupar o tempo da criança hospitalizada,
vidades escolares regulares, bem como, de e sim que esta criança possa expressar os
sua reintegração ao sistema escolar, a saber: sentimentos trazidos pela internação.

531
“O professor deve estar no hospi- pacitados para a integração desses educan-
tal para operar com os processos afetivos dos nas classes comuns.
de construção da aprendizagem cognitiva e
permitir aquisições escolares às crianças. O A Pedagogia é um curso que trata dos
contato com o professor e com uma “escola assuntos relacionados à Educação por exce-
no hospital” funciona, de modo importante, lência e segundo as diretrize3s curriculares
como uma oportunidade de ligação com os nacionais deste curso, o pedagogo está ha-
padrões da vida cotidiana comum das crian- bilitado para trabalhar em educação infantil,
ças, como ligação com a vida em casa e na ensino fundamental, educação de jovens e
escola. A educação no hospital integraliza o adultos (EJA), coordenação educacional, ges-
atendimento pediátrico que tornam pecu- tão escolar, orientação pedagógica, pedago-
liar o desenvolvimento da criança. “ (CECCIM, gia social e supervisão educacional. Além do
1999, p. 43). mais, o pedagogo poderá na falta de profes-
sores especialistas, lecionar disciplinas que
A função do professor em uma clas- fazem parte do ensino fundamental II e ensi-
se hospitalar é propor procedimentos didáti- no médio, outro campo de trabalho é a área
cos pedagógicos e práticas alternativas para técnica e cientifica da Educação, prestando
que o processo de ensino aprendizagem seja assessoria.
efetivo e eficaz, outro ponto a respeito deste
trabalho hospitalar, é que o professor preci- A Educação Especial pode ser definida
sa ter disponibilidade para trabalho em equi- em uma proposta pedagógica que assegura
pe com as escolas quanto à inclusão desses um conjunto de recursos e serviços educa-
educandos pós alta hospitalar. cionais especiais. Estes são organizados ins-
titucionalmente para apoiar, complementar,
O professor deve desenvolver seu tra- suplementar e, em alguns casos, substituir
balho tendo como meta uma ação educativa os serviços educacionais comuns, de modo
determinando conteúdos, elaborando planos a garantir a educação escolar e promover o
de aula conjuntos e ajudando para garantir o desenvolvimento das potencialidades dos
respeito às necessidades individuais de cada educandos que apresentem necessidades
aluno. educacionais especiais, em todos os níveis,
etapas e modalidades da educação (BRASIL,
Um dos requisitos para se trabalhar 2001).
em classes hospitalares é ser apto a traba-
lhar com a diversidade humana e com dife- Sendo a Educação Especial uma mo-
rentes experiências culturais, observando às dalidade de educação que compreende o
necessidades educacionais especiais de cada atendimento educacional especializado reali-
educando, decidindo e inserindo modifica- zado em classes regulares, classes especiais,
ções e adaptações curriculares em um pro- classes hospitalares e atendimento domici-
cesso flexibilizador de ensino/aprendizagem. liar (BRASIL, 2001), e por ser a educação um
direito de toda e qualquer criança ou adoles-
O Conselho Nacional de Educação cente (BRASIL, 1988), este serviço educacio-
(BRASIL, 2001) aponta que o trabalho em nal deve ser garantido à criança e adolescen-
Classe Hospitalar deve ser desenvolvido por te hospitalizados.
pedagogos com habilitação em Educação Es-
pecial. O documento do Ministério da Edu- Sendo assim, o professor pode ser um
cação, intitulado “Classe hospitalar e atendi- parceiro para o período de internamento da
mento pedagógico domiciliar: estratégias e criança, atuando em conjunto com os demais
orientações”, preconiza que o professor: profissionais de saúde, isto irá contribuir
para a recuperação e desenvolvimento desse
[...] deverá ter a formação pedagógi- educando.
ca preferencialmente em Educação Especial
ou em cursos de Pedagogia ou licenciaturas, Este profissional é de suma importân-
ter noções sobre as doenças e condições psi- cia para o ambiente hospital, no entanto a
cossociais vivenciadas pelos educandos e as classe hospitalar é uma tarefa árdua e com-
características delas decorrentes, sejam do plexa e algumas características são funda-
ponto de vista clínico, sejam do ponto de vis- mentais para o desenvolvimento das ativida-
ta afetivo. Compete ao professor adequar e des no ambiente hospitalar.
adaptar o ambiente às atividades e os mate-
riais, planejar o dia a dia da turma, registrar e Ética profissional;
avaliar o trabalho pedagógico desenvolvido. Iniciativa e dinamismo;
(BRASIL, 2002, p.22).
Capacidade de trabalhar em equipe;
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, LDBEN 9394/96 (BRASIL, Equilíbrio emocional;
2013), inciso III do artigo 59, os sistemas de Afetividade no trabalho pedagógico;
ensino deverão assegurar que o trabalho na
Educação Especial, onde a Classe Hospitalar Capacidade de realizar escuta pedagó-
está incluída, contará com professores com gica;
especialização adequada em nível médio ou
superior, para atendimento especializado, Habilidade para elevar autoestima de
bem como professores do ensino regular ca- crianças hospitalizadas;

532
Capacidade de adaptação curricular e tidade de internações durante o ano, o que
metodológica. acaba prejudicando o desempenho nas ativi-
dades previstas para seu grau escolar.
Dessa forma, quanto maior a consci-
ência e conhecimento das metodologias para Trabalha também com os processos
o ensino e aprendizagem necessária na sala de desenvolvimento e aprendizagem seguin-
de aula, mais o professor se qualifica em sua do os vínculos dos conteúdos curriculares da
atuação, principalmente se houver uma par- escola regular e que também devem ser per-
ceria com os demais envolvidos no processo. meados por atividades lúdicas – educativas.
Parece, portanto, ser essencial haver inves-
timento contínuo na formação desse profis- Não se pode negar que o trabalho re-
sional. alizado pela escola em ambiente hospitalar
é extremamente positivo, pois ajuda na re-
cuperação da saúde reduzindo o tempo de
internação da criança, em contrapartida os
4 - Classe Hospitalar e Educação Espe- pacientes conseguem superam suas dificul-
cial dades acadêmicas e passam a participar com
Seguindo a orientação a respeito da mais empolgação da escola e, além disso, a
educação inclusiva, no qual todos têm o direi- Classe Hospitalar ajuda a humanizar o am-
to à educação de qualidade e deve ser pauta- biente hospitalar.
da nos seguintes princípios e fundamentos, Dito isso, o professor é peça funda-
toda pessoa têm o direito de acesso à educa- mental para que esse processo tenha suces-
ção, pois toda pessoa aprende, o processo de so, pois é necessário o estímulo constante
aprendizagem é singular a cada pessoa. No- desse aluno, criando formas para que o alu-
ta-se que o trabalho da Classe Hospitalar é no consiga desafiar a própria doença dando
uma modalidade que se enquadra nos ideais continuidade aos trabalhos escolares e man-
da educação inclusiva e, consequentemente tendo a esperança de cura. A Classe Hospita-
da Educação Especial. lar pode ocupar uma sala dentro do hospital
A Constituição Federal de 1988 em seu ou no próprio leito do aluno – paciente caso
artigo 214, declara que as ações do Poder este não possa se locomover.
Público devem conduzir à universalização do O pedagogo especializado em Educa-
atendimento escolar. Sendo assim, a Lei de ção Especial é o profissional responsável pela
Diretrizes e Bases da Educação Nacional as- Classe Hospitalar e dentre suas funções, se-
segura que o Poder Público criará formas al- gundo Ortiz e Freitas (2005, p.55) destacam:
ternativas de acesso aos diferentes níveis de
ensino (art. 5º § 5º), podendo organizar-se de Priorizar o resgate do poder infantil de
diferentes formas para garantir o processo conhecer e apreender o contexto vivido;
de aprendizagem (art. 23).
Implementar a continuidade ao ensi-
Segundo Menezes (2004 p.25), diz que no dos conteúdos da escolarização regular
“a Educação Especial é uma modalidade da ou mesmo investir no trabalho escolar com
educação escolar que busca em sua prática, conteúdos programáticos próprios à faixa
apresentar encaminhamentos adequados etária da criança, buscando sanar dificulda-
às realidades humanas que necessitam de des de aprendizagem e propiciar a aquisição
diferenciações nos atos pedagógicos”. A Lei de novos saberes;
de Diretrizes e Bases 9394/96, já citada an-
teriormente, entende por educação especial Promover a apropriação de habilida-
a modalidade de educação escolar, oferecida des e aprendizagens escolares, fortalecendo
preferencialmente na rede regular de ensino o retorno e reinserção da criança no contexto
para educandos com necessidade educacio- do ensino regular;
nais especiais. − Disponibilizar a proteção à afetivida-
Podemos citar como funções da Clas- de como fenômeno garantidor de aceitação
se Hospitalar: e respeito à singularidade do pacien-
Recupera a socialização das crianças te-aluno;
em internação, se preocupando com proces- - Fortalecer a construção subjetiva do
sos de inclusão e dá continuidade a apren- viver, respaldada por superação psicológica
dizagem, com isso surge um processo edu-
cativo que propõe a construção de novos do adoecimento e fomentar as rela-
conhecimentos. ções sociais como veículo de instrumentali-
zação do aprendiz;
Mantém a organização das atividades
escolares, sustentando o retorno e a reinte- − Ser agente sociointerativista e esti-
gração de seus alunos ao seu grupo escolar mulador do desenvolvimento socioafetivo;
e social. Muito importante destacar que fica a
Ademais, pode servir como instrumen- cargo deste serviço atuar como instrumento
to ao acesso escolar, pois algumas crianças ao acesso escolar, pois algumas crian-
hospitalizadas não estão formalmente ma- ças hospitalizadas, pelo fato de diversas in-
triculadas na rede de ensino devido à quan-

533
ternações dentro do calendário escolar não Mesmo com a contribuição do docu-
estão formalmente matriculadas na rede de mento proposto pelo MEC anteriormente
ensino, o que acaba prejudicando o desem- citado, em conjunto com representantes do
penho nas atividades previstas para seu grau sistema de educação e saúde, que estabele-
escolar. (Fonseca, 2005), outro ponto impor- ce estratégias de orientações para a oferta
tante é a consolidação da aliança hospital, fa- do atendimento pedagógico em ambientes
mília e escola, que segundo ORTIZ e FREITAS hospitalares e domiciliares, observa-se que
(2002), é de fundamental importância no de- ainda é preciso um maior esclarecimento
correr de todo o processo do aluno/paciente, sobre a importância deste serviço para a co-
tanto no início de sua internação até a alta, munidade, secretarias de educação e saúde,
quanto integrar à comunidade educacional. a fim de que todos tornem-se conscientes de
sua importância para a garantia de qualidade
Assim, o hospital precisa propiciar aos de vida e continuidade de atendimento esco-
seus pacientes e familiares, um ambiente lar, para crianças e adolescentes.
mais humanizado, e o trabalho da É dever prioritariamente do Estado e
Classe hospitalar surge neste cenário preo- da sociedade, combater todos os fatores que
cupada em levar para seus alunos-pacientes afastam crianças e adolescentes do sistema
mais integração entre todos, amenizar os escolar, e isto está além de conhecer o pro-
traumas da internação e trazer novas pers- blema, mas é preciso ter políticas públicas
pectivas e esperança na cura. para a criação de condições favoráveis para
essa lacuna que há na área da educação hos-
pitalar seja suprimida.
4.1 Classe hospitalar e atendimento
pedagógico domiciliar: estratégias e orienta-
ções. Considerações Finais
Este documento tem como objetivo Este artigo teve o intuito de demons-
central incentivar a criação do atendimento trar um breve relato do percurso histórico da
pedagógico em ambiente hospitalar e domi- medicina e da educação, como surgiu o aten-
ciliar, de forma a assegurar a educação bási- dimento pedagógico hospitalar e sua impor-
ca de alunos que, por motivo de internação tância para o desenvolvimento de crianças e
ou doença, precisam permanecer por um pe- adolescentes enfermos.
ríodo no hospital ou em suas casas, não po-
dendo frequentar a rede regular de ensino, A criança e o adolescente sofrem um
assim designado: processo de desestruturação emocional
quando descobrem que precisam de um
Fica a cargo das classes hospitalares e tratamento para sua doença e que este fato
ao atendimento pedagógico domiciliar elabo- pode acarretar dias, semanas ou meses, de
rar estratégias e orientações para possibilitar internação em um hospital. Os sentimentos
o acompanhamento pedagógico-educacional de angústia, medo e dor durante o tratamen-
do processo de desenvolvimento e constru- to podem levar o paciente à desistência do
ção do conhecimento de crianças, jovens e papel de construtor de sua história e da de-
adultos matriculados ou não nos sistemas de sistência de adquirir aprendizagem. Outro
ensino regular, no âmbito da educação bási- agravante é que com o passar do tempo, o
ca e que encontram-se impossibilitados de aluno-paciente, recolhido em seu novo am-
frequentar escola, temporária ou permanen- biente sente que está excluído do círculo
temente e, garantir a manutenção do vínculo social em que convivia, pela sua ausência e
com as escolas por meio de um currícu- por sua nova condição física.
lo flexibilizado e/ou adaptado, favorecendo
seu ingresso, retorno ou adequada integra- Portanto, a Classe Hospitalar é uma
ção ao seu grupo escolar correspondente, modalidade de ensino, que se adaptou ao
como parte do direito de atenção integral. ambiente hospitalar e que procura diminuir
(MEC, SEESP, 2002, pág.13) os muitos motivos de infelicidade para o alu-
no, através de atividades escolares.
O embasamento deste documento
está fortemente fixado na política de inclu- Cabe ao pedagogo, despertar em seus
são e contribui para a humanização da as- alunos, as habilidades necessárias para ele-
sistência hospitalar. Além disso, traz esclare- var a autoestima, a comunicação escrita e
cimento sobre as questões que norteiam a oral, o pensamento lógico e racional para so-
classe hospitalar, desde como deve ser feita lucionar problemas e tomadas de decisões,
sua implantação até o seu funcionamento: além da aprendizagem sobre o exercício da
recursos humanos, quadro de funcionários, cidadania, como a responsabilidade social e
integração com a escola, recursos e atendi- ética, desenvolvendo o senso de responsabi-
mento pedagógico, entre outros. Ademais as lidade nos alunos e transmitir valores na for-
diversas leis que estabelecem a necessidade mação humana.
e a importância da implementação da Classe
Hospitalar nos hospitais brasileiros, notamos O professor da Classe Hospitalar, deve
que ainda há uma defasagem muito grande ser sensível às condições de vulnerabilidade
deste serviço. e fragilidade dos alunos-pacientes, pois tem
um importante papel para garantir o esta-

534
belecimento de uma desejável condição de trabalho pedagógico no contexto hospitalar.
confiança propiciando condições de bem-es- Dissertação de mestrado. Universidade Esta-
tar, estimulando a autonomia, principalmen- dual de Maringá. Maringá, 2003.
te criando vínculo afetivo que certamente,
incorrerá em melhoria das condições dos CECCIM, R.B.; CARVALHO, P.R.A. Crian-
alunos, porém precisa estar ciente que para ça hospitalizada: atenção integral como es-
cada dia de trabalho formula-se um planeja- cuta à vida. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
mento estruturado e flexível. O tempo das 1997.
atividades deve ser delimitado e apresentan- CECCIM, R.B. Classe hospitalar: encon-
do começo, meio e fim. tros da educação e da saúde no ambiente
O professor que atua na Classe Hospi- hospitalar. Revista Pedagógica Pátio, n. 10, p.
talar tem uma função social importantíssima, 41-44, ago./out. 1999.
pois é a ponte mais importante na ajuda para DENARI. Fátima E. Educação: cidadania
seu aluno, junto com os pais e familiares, ao e diversidade: a ótica da educação especial
crescimento e independência das crianças. Em: BRASIL/CNE/UNESCO. Conferências do
Claro que no que se diz respeito ao Fórum Brasil de Educação. Brasília: DF, 2004.
profissional da classe hospitalar envolvido, FONSECA, Eneida Simões da. Aten-
ainda existem algumas dificuldades a serem dimento pedagógico – educacional para
ultrapassadas onde às vezes a integração crianças e jovens hospitalizados: realidade
entre os setores da educação e saúde seja nacional. Brasília: Ministério da Educação/
a forma de assegurar o direito da criança e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
adolescente hospitalizado. Educacionais, 1999.
Cabe a sociedade exigir que este aten- FONSECA, E. S. A escola da criança do-
dimento seja oferecido, priorizando o envol- ente. Pedagogia e escolarização no hospital.
vimento entre a família, a escola e o hospi- Curitiba. Ibpex, 2011.
tal na construção de estratégias pedagógico
educacionais para a melhora do quadro clí- FONTES, Rejane de S. A reinvenção da
nico da criança e do adolescente, garantindo escola a partir de uma experiência instituin-
que seus direitos sejam preservados nesse te em hospital. Educação e Pesquisa, maio/
momento de fragilidade que é ocasionado agosto. 2004, vol.30, no.2, p.271-282. ISSN
pela doença. 1517- 9702.
Na perspectiva de uma educação in- A escuta pedagógica à criança hos-
clusiva, atendendo à diversidade dos alunos, pitalizada: discutindo o papel da educação
a criação do atendimento educacional em no hospital. Revista Brasileira de Educa-
ambientes hospitalares e domiciliares é fruto ção. Maio/agosto, 2005. no. 29, p.119-138.
do reconhecimento formal, de que indepen- ISSN1413-2478.
dentemente do tipo e período de interna- JANNUZZI, Gilberta S. de M., A educa-
mento, esses alunos têm direito à educação. ção do deficiente no brasil: dos primórdios
Assim, a Classe Hospitalar é uma nova ao início do século XXI. Campinas, SP: Auto-
modalidade da Educação Especial que visa a res associados, 2004- coleção educação con-
troca e a construção coletiva do conhecimen- temporânea.
to, dirigida por um atendimento pedagógico MENEZES. Cinthya Vernizi A. de. A ne-
pautado nas potencialidades individuais da cessidade da formação do pedagogo para
criança hospitalizada, no qual a construção atuar em ambiente hospitalar: um estudo de
do conhecimento se transforma num eficien- caso em enfermarias pediátricas do hospital
te remédio para aliviar a dor, o sofrimento de clínicas da UFPR. Dissertação de Mestra-
físico, emocional e social. do. Florianópolis, 2004.
Conclui-se que é de suma importân- ORTIZ, Leodi Conceição Meireles. FREI-
cia a intervenção pedagógica em ambiente TAS, Soraia Napoleão. Considerações acerca
hospitalar, com a finalidade de que a criança da inclusão de crianças pós-hospitalizadas.
e o adolescente hospitalizado sejam atendi-
dos em sua integralidade e que as condições PAULA, E.M.A.T. O ensino fundamental
necessárias sejam disponibilizadas, para que na escola do hospital: espaço de diversidade
seu desenvolvimento e aprendizado continue e cidadania. Revista Educação Unisinos, Rio
acontecendo mesmo num ambiente clínico. Grande do Sul, v. 11, n. 3, p. 156-164, 2007.
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536
OS RETROCESSOS DAS NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES
NACIONAIS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
TAÍS PATRÍCIA VIEGAS DE ANDRADE

Resumo Education; public education policy.


O presente trabalho realiza uma aná-
lise descritiva sobre as mudanças políticas e
econômicas que conduziram à formulação 1. Introdução
de novas Diretrizes Curriculares Nacionais. Um dos piores males que o poder pú-
Nesse pretexto, são comparadas as mudan- blicos vem fazendo a nós, no Brasil, historica-
ças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação mente, desde que a sociedade brasileira foi
Nacional para se adequar aos propósitos da criada, é o de fazer muitos de nós correr o ris-
Lei 13415/2017. Em seguida são apresenta- co de, a custo de tanto descaso pela educa-
dos os retrocessos presentes na Resolução ção pública, existencialmente cansados, cair
CNE/CP nº 2 de 2015 para a consolidação da no indiferentismo fatalistamente cínico que
Resolução CNE/CP nº 2 de 2019. Os resulta- leva ao cruzamento dos braços. “Não há o
dos dessa análise apontam para a constru- que fazer” é o discurso acomodado que não
ção de uma Diretriz Curricular Nacional para podemos aceitar.
Formação de Professores alinhada aos inte-
resses dos chamados reformadores empre- Saber 2.5 da Pedagogia da Autonomia
sariais da educação, constituindo um pacote de Paulo Freire.
de precarização e privatização da educação Após o impeachment de Dilma Rous-
pública. Como forma de superação sugere- seff em 2016, uma enormidade de propostas
-se a revogação imediata de todo o pacote de cunho neoliberal implantou-se rapida-
constituído pela Diretriz Curricular Nacional mente no Brasil mediante o novo governo.
de 2019, pelo Novo Ensino Médio de 2017 De fato, durante seu curto mandato, Michel
e, pela Base Nacional Comum Curricular de Temer (agosto de 2016 - dezembro de 2018)
2018, para proposição de políticas públicas consolidou a diminuição de garantias de bem-
voltadas ao desenvolvimento concreto de -estar social à população brasileira. Instituiu
uma educação pública de qualidade. a PEC 55 em 2016 que congelou os gastos da
Palavras-chave: Diretrizes Curriculares federação por 20 anos em áreas como saú-
Nacionais para Formação de Professores; pri- de e educação. Implementou a reforma tra-
vatização da educação pública; reformadores balhista com a Lei 13467/2017, retirando di-
empresariais da educação; política pública de versos direitos dos trabalhadores garantidos
educação. na Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).
Abriu espaço para reforma da previdência –
aprovada depois em 2019 - com aumento da
Abstract idade para aposentadoria, restringindo esse
direito à maioria da população carente que
The present work carries out a des- sequer chega à terceira idade (a partir de 60
criptive analysis of the political and economic anos) devido a expectativa de vida dos mais
changes that led to the formulation of new pobres ser de no máximo 59 anos . Aprovou
National Curricular Directives. On this pre- uma reforma da educação voltada inteira-
text, the changes in the Law of Directives and mente aos interesses dos chamados refor-
Bases of National Education are compared madores empresariais da educação (FREITAS,
to adapt to the purposes of Law 13415/2017. 2012), com a imposição de um pacote priva-
Next, the setbacks present in Resolution CNE/ tista, utilitarista e minimalista composto por:
CP nº 2 of 2015 for the consolidation of Re- 1) uma Base Nacional Comum Curricular -
solution CNE/CP nº 2 of 2019 are presented. BNCC (BRASIL, 2018); 2) um modelo de currí-
The results of this analysis point to the cons- culo esvaziado de conteúdos aos adolescen-
truction of a National Curricular Directives for tes denominado Novo Ensino Médio – NEM
Teacher Education aligned with the interests (BRASIL, 2017) e; 3) articulou a abertura de
of called Corporate Reformers of Education, espaço para o Conselho Nacional de Educa-
constituting a package of precariousness and ção (CNE) elaborar a Resolução nº 2/2019 que
privatization of public education. As a way of fundamenta as novas Diretrizes Curriculares
overcoming it, it is suggested the immediate Nacionais – DCN (BRASIL, 2019) alinhadas à
revocation of the entire package constituted BNCC e voltadas à formação de professores,
by the National Curricular Directive of 2019, conhecida como BNC-Formação.
by the New Secondary School of 2017, and
by the National Common Curricular Base of Diante desse cenário de desconstru-
2018, to propose public policies aimed at the ção, alienação e sucateamento da sociedade
concrete development of an education quali- brasileira, para implementar de forma mais
ty public. agressiva os interesses neoliberais, o gover-
no de Temer encerrou seu mandato com
Keywords: National Curricular Direc- 95% de rejeição. Mas, agradou integralmente
tives for Teacher Education; privatization of aqueles que dominam as condições sociais,
public education; Corporate Reformers of não só pela implementação das medidas ne-

537
oliberais, mas por ter preparado o terreno possibilidade. Além do que, não considera os
para o aprofundamento dessas medidas em estudantes noturnos em geral, e, especifica-
todos os cenários possíveis. E, um desses ter- mente, os da modalidade de Educação de
renos foi a educação que se viu mais uma vez Jovens e Adultos (EJA), ao impossibilitar sua
atacada em suas bases mais fundamentais, a própria existência em imposição de carga
saber: o currículo e seus conteúdos; as disci- de horas impossível de ser cumprida em um
plinas e; a formação de professores. período noturno. Também, importa dizer,
que ao retirar a possibilidade desses adul-
No presente trabalho, iremos nos de- tos e jovens adultos de conciliar o trabalho
bruçar sobre o último desses pilares, a for- com os estudos, maximiza o abandono da
mação de professores, investigando à fundo escola. Caso a proposta fosse séria, deveria
a BNC-formação e descrever, minuciosamen- vir acompanhada com bolsa de estudos que
te, por que as DCN de 2019 são considera- substituísse o valor obtido no trabalho dessa
das como um retrocesso. Para tanto, iremos população, que em geral é em torno de um
comparar e descrever as diferenças cons- salário-mínimo. Com isso, seria possível ga-
tantes nesta, com as DCN de 2015, além de rantir, de fato, uma educação com carga ho-
demonstrar como as mudanças na Lei de Di- rária ampliada.
retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
– Lei 9394/1996, foram necessárias para ga- No art. 26, § 5º que trata das Línguas
rantir a adequação à precarização e à explo- Estrangeiras, a LDB previa o ensino de pelo
ração da educação pelo setor empresarial. menos uma língua estrangeira moderna, cuja
Com isso será possível demonstrar todos os escolha ficará a cargo da comunidade esco-
prejuízos gerados pelo pacote de reformas lar, dentro das possibilidades da instituição.
educativas imposto aos estudantes mais ca- Na Lei 13415/2017 a redação dada no § 5º
rentes, filhos e filhas de trabalhadores, que propõe que no currículo do ensino funda-
estudam nas escolas públicas brasileiras e, mental, a partir do sexto ano, será ofertada
em especial, sobre a formação inicial dos pro- a língua inglesa.
fessores, submetida à um retrocesso prescri-
tivo de aplicação da BNCC. Nessa mudança é retirada a possibili-
dade de adequação da instituição escolar em
se adaptar regionalmente quanto a escolha
de qual língua estrangeira moderna poderia
2. DESENVOLVIMENTO ser adotada pela comunidade escolar. Nesse
A proposta a ser apresentada será di- quesito, ambas as redações não previram,
vidida em dois momentos por meio de um de fato, investimentos de infraestrutura e
processo de descrição comparativa. O pri- capital humano nas escolas para oferta de
meiro visa demonstrar as alterações na LDB línguas estrangeiras em salas ambiente para
(BRASIL, 1996), devido à imposição da Lei um efetivo ensino de línguas estrangeiras.
13415/2017 - NEM (BRASIL, 2017), focando Na LDB deixa à encargo da
nas mudanças mais drásticas, sem a inten- “comunidade escolar” que sem re-
ção de discriminar minuciosamente todas as cursos financeiros não conseguirá ofertar
alterações. Da mesma forma, no segundo, nenhuma possibilidade concreta de desen-
compara-se as diferenças em relação à pre- volvimento de língua estrangeira e, na Lei
visão legal sobre a formação de professores 13415/2017, já se retira de vez até essa hi-
entre as DCN 2015 e DCN 2019. pótese de escolha, acirrando a precarização
2.1. Diferenças entre a Lei 9394/96 e a educativa.
Lei 13415/2017 Na seção IV, que trata do EM a Lei
A partir do Capítulo II, que trata da 13415/2017, insere o novo artigo 35-A: “A
Educação Básica, na seção I, sobre as dispo- Base Nacional Comum Curricular definirá di-
sições gerais, a Lei 9394/96, doravante LDB, reitos e objetivos de aprendizagem do ensi-
continha em seu artigo 24 - A educação bási- no médio, conforme diretrizes do Conselho
ca, nos níveis fundamental e médio, será or- Nacional de Educação (CNE), nas seguintes
ganizada de acordo com as seguintes regras áreas do conhecimento”:
comuns: I - A carga horária mínima anual Linguagens e suas tecnologias;
será de oitocentas horas, distribuídas por um
mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho Matemática e suas tecnologias;
escolar, excluído o tempo reservado aos exa-
mes finais, quando houver. Ciências da natureza e suas tecnolo-
gias;
Na lei 13415/2017, a carga passa a ser
de 1.000 horas, devendo ser ampliada para Ciências humanas e sociais aplicadas.
1.400 horas, no prazo máximo de 5 anos. Nota-se, nessa inclusão, uma mudan-
Tal mudança discrimina a maioria dos ça drástica de objetivos escolares, de pro-
adolescentes das escolas públicas, constituí- postas didáticas, pedagógicas e, de alienação
dos por filhos e filhas de trabalhadores, por ideológica às estruturas exógenas da cultura
isso, mais carentes socialmente, ao alijá-los escolar por meio de uma prescrição utilita-
da possibilidade de estudar e trabalhar, haja rista da BNCC. A parte destacada do artigo
vista a carga horária aumentada impedir essa 35-A evidencia a alteração de ensino que é
a função da escola por “direitos e objetivos

538
de aprendizagem”. Ora, sabe-se que nenhum pode-se compreender que para os filhos e
professor é responsável por aprendizagem, filhas de trabalhadores basta apenas um
pois essa é de cunho individual, intrínseca ao pouco de português e matemática para se
esforço do estudante diante o ensino que lhe inserirem na sociedade precarizada do neo-
é ofertado nas escolas. O que essa inserção liberalismo. E, um pouco aqui é no sentido
do artigo 35-A esconde nas entrelinhas é a de diminuição de conteúdos mesmo, pois
culpabilização docente pelo fracasso escolar, ao analisar tanto a BNCC, quanto o currículo
como proposta neoliberal de precarização da ofertado pelo NEM, constata-se a eliminação
profissão docente, nos mesmos moldes apre- drástica de muitos conteúdos dessas únicas
sentados em Freitas (2012). Esse autor recor- duas disciplinas obrigatórias aos currículos
da que nos Estados Unidos da América (EUA), das escolas. Como por exemplo, foram extin-
a educação pública deteriorou sua qualidade tos vários conteúdos gramaticais e de litera-
no momento que passou a querer respon- tura em português, e de logaritmos, números
sabilizar os professores pelo aprendizado complexos e matrizes em matemática, redu-
dos estudantes. E, aqui, no Brasil, como bem zindo os conteúdos, em grande parte, ape-
aponta esse autor, estão seguindo a mesma nas à matemática financeira.
cartilha fracassada, e o resultado não será
outro, senão, o mesmo atingido pelos EUA. Já a inclusão do § 7º do artigo 35-A pre-
Essa forma de administração pública privatis- vê nos currículos do EM “a formação integral
ta é assentada pelo modelo tecnicista: do aluno, de maneira a adotar um trabalho
voltado para a construção de seu projeto de
O tecnicismo se apresenta, hoje, sob a vida e para sua formação nos aspectos físi-
forma de uma “teoria da responsabilização”, cos, cognitivos e socioemocionais”.
meritocrática e gerencialista, onde se pro-
põe a mesma racionalidade técnica de antes Seria interessante, notar a expressão
na forma de “standards”, ou expectativas de “formação integral”, a qual deveria corres-
aprendizagens medidas em testes padro- ponder a oferta de um ensino conteudista,
nizados, com ênfase nos processos de ge- voltado ao desenvolvimento intelectual dos
renciamento da força de trabalho da escola estudantes, mediante a existência de profes-
(controle pelo processo, bônus e punições), sores valorizados e bem-remunerados, bem
ancorada nas mesmas concepções oriundas como investimentos maciços para que os
da psicologia behaviorista, fortalecida pela adolescentes realizassem estágios culturais
econometria, ciências da informação e de em diversos países do mundo. Assim como
sistemas, elevadas à condição de pilares da a existência e garantia de total infraestrutu-
educação contemporânea (FREITAS, 2012, p. ra nas escolas, com refeições, salas ambiente
383, grifos meus). para música e para línguas estrangeiras, com
espaços de anfiteatro para desenvolvimento
A precarização sobre a educação se artístico, com refeitórios e refeições dignas e
acirra, também, quando o artigo 35-A pres- completas ao longo do dia, com ginásio po-
creve quatro áreas genéricas de conheci- liesportivo completo a todas as possibilida-
mento, em substituição às disciplinas esco- des de atividades físicas, com a presença de
lares historicamente ensinadas nas escolas. laboratórios e bibliotecas e outros recursos
Com isso, são extintas as disciplinas e seus necessários à chamada formação dos aspec-
conteúdos, inclusive, negando aos estudan- tos físicos, cognitivos e socioemocionais.
tes, além do acesso aos conhecimentos dis-
ciplinares escolares, qualquer possibilidade Entretanto, muito pelo contrário o que
de aprofundamento epistemológico sobre os se prescreve na prática é um alinhamento
conteúdos de cada uma das disciplinas que dos estudantes ao preparo para o mundo do
foram aglomeradas nessas áreas genéricas. trabalho precarizado, no sentido de adequá-
A intenção é claramente a de economizar -los aos chamados serviços de uberização e
com contratação de professores especialis- prestação de serviços sem direitos trabalhis-
tas com a diminuição do número de aulas tas, para isso é fundamental preparar seu
com conteúdos específicos disciplinares que psicológico para que sejam submissos ao
contém especificidades epistêmicas pró- processo de construção do indivíduo neoli-
prias, juntando-os em áreas genéricas sem beral. De fato, o que se nota nas escolas a
nenhuma possibilidade de aprofundamento respeito da implantação do chamado projeto
intelectual. de vida, nada mais é do que uma espécie de
aplicação psicológica barata nos moldes de
Tal precarização é vista na inserção autoajuda prescritiva e inútil. O relato de uma
do § 3º do artigo 35-A: “O ensino da língua coordenadora de escola pública à Carta Capi-
portuguesa e da matemática será obrigatório ta é esclarecedor: “É desesperador, vejo que
nos três anos do ensino médio”. Nota-se, cla- essa geração vai ficar perdida [...] as poucas
ramente, que as escolas não terão, portanto, aulas da base comum não prepararam para
a obrigação de ensinar outras disciplinas, a nada [...]. Eles não vão nem para o mercado
não ser português e matemática. Com isso de trabalho e nem para a acadêmica, porque
se prescreve uma educação empobrecida é um ensino que não forma para nada” (CAR-
de conteúdos e conhecimentos construídos TA CAPITAL, 2023, grifos meus).
e ensinados historicamente nas escolas para
a população mais pobre, que estão nos sis- O artigo 36 da LDB foi totalmente al-
temas públicos de ensino. Nas entrelinhas, terado pela Lei 13415/2017, uma vez que foi
preciso alterar o objetivo do EM e adequá-lo

539
à proposta de precarização prescritiva da 2.2. Retrocessos na formação de pro-
BNCC, por isso, assim o novo caput apresen- fessores na DCN 2015 em relação a DCN 2019
ta: “O currículo do ensino médio será com-
posto pela Base Nacional Comum Curricular As DCN de 2015, contém 25 artigos
e por itinerários formativos, que deverão ser distribuídos por 8 capítulos voltados à for-
organizados por meio da oferta de diferentes mação inicial, formação continuada e valo-
arranjos curriculares”. rização dos profissionais do magistério, em
seu arcabouço legal ressaltam-se as seguin-
Com essa alteração consolida-se a tes garantias conforme descrito:
precarização da educação pública destinada
aos estudantes do EM negados de ter acesso Definem os profissionais do magisté-
às disciplinas e conteúdos escolares, relega- rio da Educação Básica como profissionais
dos à um modelo utilitarista e pragmatista que devem ser formados por instituições de
de educação envolta em itinerários formati- ensino superior logo no art. 1º em seu § 2º
vos genéricos. Novamente é crucial o depoi- “As instituições de ensino superior devem
mento obtido de uma profissional de escola conceber a formação inicial e continuada dos
pública pela Carta Capital: “é um ensino que profissionais do magistério da educação bá-
não forma para nada”! Como se observa na sica”. O que representa que apenas profissio-
negação imposta no artigo 36 da LDB que nais formados em licenciatura plena podem
continha a previsão de possibilidade de es- ser professores.
tudantes poderem cursar um nível superior, Estipulam a carga horária mínima de
como consta do art. 36 da LDB: “Os cursos do 3.200 horas para os cursos de licenciaturas
ensino médio terão equivalência legal e habi- em articulação teórica e prática durante o
litarão ao prosseguimento de estudos”. Nota- processo de formação;
-se que havia a possibilidade de ao terminar
o EM houvesse “prosseguimento de estudos”. Preveem a prática pedagógica com
Possibilidade extinta na Lei 13415/2017 ao al- uso das Tecnologias de Informação e Comu-
terar o art. 36: “A critério dos sistemas de en- nicação
sino, poderá ser composto itinerário forma- (TIC); iv. Articulam a diversidade na
tivo integrado, que se traduz na composição formação inicial e continuada entre a univer-
de componentes curriculares da BNCC”. A al- sidade e a escola, estimulando o tripé: ensi-
teração é esdrúxula, porque não só retirou a no, pesquisa e extensão;
possibilidade de prosseguimento de estudos,
como alinha a formação dos estudantes aos Garantem até três modalidades para
itinerários formativos compostos pelo que formação inicial de professores: a) Cursos de
prescreve a BNCC, isto é, o que pode ser en- graduação de licenciatura; b) Cursos de for-
sinado é o que está na BNCC e ponto final, mação pedagógica para graduados não licen-
não há nem previsão de ofertar acesso a con- ciados e; c) Cursos de segunda licenciatura
teúdos e saberes canônicos e propedêuticos para quem já possui uma primeira;
para a possibilidade de prosseguimento de
estudos. Valoriza o formato presencial para a
formação de professores;
Para finalizar, a Lei 13415/2017, ainda
cria os parágrafos 5º ao 12º sobre o art. 36, Prioriza Núcleos de formação geral, de
prevendo algum tipo de formação técnica aprofundamento e de diversificação de estu-
profissional, mas sem garantir a infraestru- dos das áreas de atuação docente e; núcleo
tura necessária às escolas. Além de prever de estudos integradores para os cursos de
aulas com ensino à distância – o chamado formação de professores;
EAD - e a inclusão de profissionais de “notó- Têm clara preocupação em garantir
rio saber”, isto é, pessoas sem formação em políticas de valorização de professores na
licenciatura. Essas inclusões demonstram a formação continuada (BRASIL, 2015).
irrefutável comprovação de que a proposta
educativa para educação pública brasilei- Como celebram Gonçalves, Mota e
ra é a da precarização total do ensino por Anadon (2020, p. 364): “pela primeira vez
meio de um currículo prescritivo, utilitarista na história, tinha-se um documento orgâni-
e pragmatista que não garante nenhum tipo co que ousava articular a formação inicial e
de formação às novas gerações de estudan- continuada envolvendo as universidades e a
tes. Caso, fosse uma proposta séria de cursos Educação Básica”. Tais propostas foram mui-
profissionalizantes de verdade, tal proposta to celebradas pela comunidade acadêmica
deveria adotar o modelo dos Institutos Fe- e escolar, em especial o capítulo VII voltado
derais que dispõem aos estudantes do EM exclusivamente para o desenvolvimento de
uma profissionalização verdadeira e não os uma política de valorização dos profissionais
pseudocursos dispostos por itinerários for- do magistério da Educação básica, algo ja-
mativos do NEM como “brigadeiro caseiro”, mais descrito e previsto em termo de diretri-
ou “o que rola por aí”, entre outros absurdos zes. Contudo, todos os avanços e conquistas
criados. No mesmo sentido, não é possível previstos pelas DCN 2015, jamais foram apli-
conceber profissionais de notório saber para cados e consolidados, de fato, na educação
atuarem como professores, simplesmente brasileira.
porque não possuem a formação necessária.
Nesse contexto, como apontam Gon-

540
çalves, Mota e Anadon (2020), Oliveira e Da tal". viii. A autonomia acadêmica imposta
Silva (2021), o fantasma do conceito de com- por meio de duas ações: a) prever processos
petência surgido na década de 1990 reapare- avaliativos internos e externos sobre os cur-
cia no contexto educacional depois do impe- sos de licenciatura no país e; b) padronizar
achment de Dilma Rousseff em 2016. Agora, os currículos de licenciatura com parâmetros
de forma mais enfática por meio dos refor- que facilite as avaliações.
madores empresariais da educação (FREITAS,
2012) que se entranharam no Conselho Na- Observa-se pelo exposto que houve,
cional de Educação (CNE) e passaram a ditar na realidade uma total reconstrução das DCN
os rumos da educação pós-golpe com forte voltadas à formação de professores, o que
interesse em revogar os avanços obtidos leva às considerações de Gonçalves, Mota e
pela DCN 2015. Ainda, de acordo com Olivei- Anadon (2020) sobre a precarização da for-
ra e Da Silva (2021) houve um alinhamento mação docente propostas pelas DCN 2019.
rápido das políticas públicas de educação ao [...] sem discutir com a sociedade, o
racionalismo neoliberal por meio de duas atual governo, nega as experiências, o esco-
pautas essenciais com objetivos utilitaristas e po de estudos e pesquisas produzidos pelo
pragmáticos. Uma, reduzia a formação inicial coletivo de educadores no campo da forma-
em mera prescrição técnica e instrumental. ção de professores. Tal postura fortalece a
A outra, conduzia a formação de professores perspectiva de um núcleo de poder que de-
às competências genéricas pretendidas pela termina o conhecimento válido para a forma-
BNCC. ção docente, qual seja, um saber prático, an-
No movimento pós golpe de 2016 sur- corado em pressupostos neotecnicistas [...].
ge, portanto, a Resolução CNE/CP nº 2/2019 O Projeto Institucional de cada universidade,
(BRASIL, 2019), contendo 30 artigos distribuí- nesse momento, fica subsumido na nova le-
dos em 9 capítulos mais um anexo que indica gislação que parece desconsiderar não ape-
a BNCC como requisito essencial para forma- nas o processo de construção coletiva em-
ção inicial dos professores da educação bá- preendido, mas também, qualquer história
sica. institucional anterior no campo da formação
docente [...]. Destaca-se, ainda, a ausência de
Os principais retrocessos à DCN 2015 direcionamentos nacionais para a formação
são vistos na DCN 2019, ao excluir: continuada e para a valorização profissional
de professores na referida legislação (GON-
A formação continuada de professo- ÇALVES, MOTA, ANADON, 2020, p. 376-37).
res;
Nesse pretexto, verifica-se que a Re-
A valorização docente e a carreira do solução CNE/CP nº 2/2019 reformulou total-
magistério; mente o documento anterior, a Resolução
A organização por núcleos, passando CNE/CP nº 2/2015, ao excluir os pontos con-
a três dimensões estruturadas em compe- siderados como conquistas históricas à for-
tências específicas e habilidades, a saber: a) mação dos professores. Na realidade, não
conhecimento profissional; b) prática profis- houve sequer tempo para a implementação
sional e; c) engajamento profissional. das DCN 2015 nas universidades, dado que a
simples menção de propostas de valorização
O tempo de formação total dedicado docente e da formação de professores era
à formação inicial dos professores de 3200 inaceitável aos reformadores empresariais
horas, sendo esse tempo, agora, restringido da educação, por isso, a urgência na proposi-
ao 1º ano do curso apenas 800 horas dedica- ção de outra DCN que retirassem essas con-
das ao ensino dos conhecimentos científicos, quistas.
educacionais e pedagógicos. No 2º ano em
diante, indica a utilização de 1600 horas para Importa ressaltar que o atual ministro
ensinar a BNCC. Ainda, precariza o estágio da educação Camilo Santana, em 07 de agos-
supervisionado, destinando 400 horas para to de 2023, anunciou os resultados da con-
essa etapa, e mais 400 horas para práticas sulta pública realizada sobre a reforma do
curriculares gerais. Ensino Médio, divulgando as sugestões para
revisão da Lei 13415/2017. Entretanto, falte,
Atividade complementares dos cur- talvez, alguém para avisar ao excelentíssi-
sos de licenciatura, existentes desde as DCN mo Ministro da Educação do Brasil, dois pe-
2002. quenos detalhes. O primeiro, que não existe
Valorização da formação continuada e possibilidade de ajustar o desajustado, sim-
da segunda licenciatura, ao diminuir o tempo plesmente deveria ter revogado a citada lei e
gasto em estudos pedagógicos e de experi- todas suas implicações à precarização do EM.
ência do exercício da docência desses seg- O segundo, que não se trata de analisar ape-
mentos. nas o NEM – produto de uma medida provi-
sória que vira lei menos de seis meses depois
A formação de pedagogos dos profes- em um governo golpista, e fingir esquecer
sores do ensino infantil, e sua substituição a BNCC e a Resolução CNE/CP nº 2/2019 da
por "curso de formação de professores mul- DCN 2019, trata-se de um pacote privatista
tidisciplinares da Educação Infantil" e "curso que deveria, em seu conjunto, ser todo revo-
de formação de professores multidisciplina- gado.
res dos anos iniciais do Ensino Fundamen-

541
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Durante a investigação realizada no BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezem-
presente artigo demonstrou-se o contex- bro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases
to histórico, social, político e ideológico que da educação nacional. Diário Oficial da União,
levou à necessidade de alterar a LDB - Lei Brasília, DF, 23 dez. 1996.
9394/1996 – para que fosse possível abrir
terreno para propor alterações na educação BRASIL. Base Nacional Comum Curri-
pública brasileira. cular. Brasília: MEC, 2018.
Nessa perspectiva, realizamos uma BRASIL. Conselho Nacional de Educa-
análise descritiva analítica sobre as mudan- ção. Resolução n.º 2, de 1.º de julho de 2015.
ças e exclusões feitas na LDB e as inserções a Define as Diretrizes Curriculares Nacionais
partir da Lei 13415/2017. Dessa comparação para a formação inicial em nível superior
notou-se o alinhamento das proposições aos (cursos de licenciatura, cursos de formação
interesses dos reformadores empresariais pedagógica para graduados e cursos de se-
da educação (FREITAS, 2012) possibilitando gunda licenciatura) e para a formação conti-
toda a reformulação da educação pública nuada. Brasília: MEC, 2015.
mediante o incremento da BNCC, do NEM e BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de feverei-
da DCN-Formação. ro de 2017. Brasília: MEC, 2017.
A comparação realizada entre as DCN BRASIL. Resolução CNE/CP n. 2, de 20
2015 e 2019, deixaram evidente o processo de dezembro de 2019. Brasília: MEC, 2019.
de sucateamento e desvalorização da forma-
ção de professores. Especialmente, pelo fato CARTA CAPITAL. As grandes desigual-
das proposições previstas nas DCN-Forma- dades entre o Novo Ensino Médio na escola
ção de 2019, mediante a Resolução CNE/CP pública e na escola particular, 2023. Dispo-
nº 2/2019, constituírem, em seu bojo, uma nível em: https://www.cartacapital.com.br/
franca convergência aos interesses privatis- educacao/asgrandes-desigualdades-entre-o-
tas da educação. Afinal, não se pode esque- -novo-ensino-medio-na-escola-publica-e-na-
cer que educação é bem imaterial, portanto, -escola-particular/.
não pode ser alienada pelo capitalismo, mas, FREITAS, Luiz Carlos de. Os Reforma-
o gerenciamento do dinheiro público da edu- dores Empresariais da Educação: Da Des-
cação é possível de ser explorado em termos moralização do Magistério à Destruição do
de ativo financeiro. E, para tanto, é inadmis- Sistema Público de Educação. Educ. Soc.,
sível permitir uma resolução de formação de Campinas, v. 33, n. 119, p. 379-404, 2012.
professores, como a DCN 2015, que almeja
gastos com valorização docente. GONÇALVES, S. R. V.; MOTA, M. R. A.;
Assim, em termos de história recente, ANADON, S. B. A Resolução CNE/CP nº 2/2019
é válido afirmar que a DCN 2019 é apenas e os Retrocessos na Formação de Professo-
mais um documento de um conjunto de três res. Formação em Movimento, v.2, n.4, p.
que formam o pacote privatista, minimalis- 360-379, 2020.
ta, utilitarista e pragmático, a saber: BNCC, OLIVEIRA, S. M. S.; DA SILVA, C. D. M.
NEM e DCN-Formação, responsável pela to- Formação de Professores em Tempos de Re-
tal precarização da educação pública brasilei- trocesso: O que dizem os documentos ofi-
ra. Tal desastre não possui, até o momento, ciais? Brazilian Journal of Development, v.7,
vislumbre de ser corrigido, haja vista, o atual n.1, p.141-152, 2021.
ministro da educação sequer ter pensado em
revogar nenhum desses três desastres. Pelo SAVIANI, D. A defesa da escola públi-
visto, a força hegemônica dos reformadores ca na perspectiva histórico-crítica em tempos
empresariais da educação tem surtido efeito de suicídio democrático. Nuances: Estudos
em manter seus interesses e propostas avas- sobre Educação, v. 31, n.1, p. 03-22, 2020.
saladoras sobre a educação pós-golpe de
2016. Mesmo na atualidade, onde a justiça
inocentou Dilma Rousseff pela ação das tais
“pedaladas fiscais” que levaram a sua desti-
tuição do governo.
Talvez, Camilo Santana não saiba de
que o governo dele foi eleito para, justamen-
te, corrigir os desvarios ocorridos durante os
seis anos anteriores a 2023. Portanto, sem
ação efetiva da sociedade civil para exigir a
total revogação do pacote descrito, a educa-
ção pública brasileira continuará a ser explo-
rada como ativo financeiro. Como aponta Sa-
viani (2020) trata-se de luta!

542
A LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
TAMARA DA SILVA BONFIM FERREIRA

RESUMO valiosas na vida de quem nela entra.


O presente trabalho visa analisar a Manusear as obras utilizadas em sala
importância da leitura inserida na Educação de aula é um bom início para se criar encan-
Infantil na intenção de formar verdadeiros tamento com as suas ilustrações e futura-
leitores, desenvolvendo o gosto ao ato quan- mente o descobrimento das letras. A vontade
do ainda não leem. Qualquer educador se de transformar a criança numa leitora assí-
sente gratificado quando a criança pede pela dua não é tarefa fácil para nenhum educa-
leitura, ou mesmo demonstra em seus atos dor, principalmente quando ela não interage
reflexos de boas condutas, fruto de boas lei- completamente às atividades de leitura, fato
turas, reflexos que é notado na fase em que que ocorre quando não é incentivada desde
começa a ser alfabetizada, onde certamente pequena por sua família. Nesse propósito o
demonstrará maior desenvoltura. O prazer professor deve ser um verdadeiro exemplo
pelo livro o acompanhará por uma vida in- de leitor.
teira. O educador deve ainda compreender
como as crianças nessa fase escolar reagem Para que o aluno entre no mundo da
aos diferentes textos apresentados e tam- leitura o professor deve usar toda sua criati-
bém verificar qual o material literário ade- vidade, sempre atentos quanto ao material e
quado à prática da leitura condizente com a aos textos pertinentes a faixa etária de seu
fase que a criança pertença, e para que a lei- educando na intenção de despertá-lo ao gos-
tura permaneça acesa, estimular à vontade to de ler cada vez mais, pois a leitura instiga a
em buscar novas textos. percepção, a curiosidade e a imaginação, res-
ponsáveis ao bom desenvolvimento de uma
Palavras-chave: Leitura; Criança; De- criança tornando-a mais autônoma.
senvolvimento.
A literatura infantil transporta a crian-
ça em uma viagem mágica e ampla fazendo
com que ela descubra outros mundos, des-
INTRODUÇÃO pertando sentimentos, e ampliando refle-
O estímulo à leitura deveria vir da fa- xões em torno do mundo que a cerca. Con-
mília, mas o hábito de ler para seus filhos, sequentemente irá resolver situações com
presenteá-los com livros ou até mesmo levá- muito mais sabedoria, mas para isso é ne-
-los a livrarias e bibliotecas é pouco incentiva- cessário que o professor faça sua parte mui-
do em nosso país. De fato, o que percebemos to bem-feita, planejando suas atividades de
são pais atarefados em busca do sustento ou leitura. O livro, bem escolhido, é um recurso
mesmo sem condições efetivas que venham que une o prazer pela leitura e o aprendizado
colaborar com o incentivo à leitura. Diante sem que a criança o perceba.
disso, a escola exerce papel fundamental no Ao professor cabe explorar, entre ou-
intuito de propiciar aos seus alunos, de for- tros, o ensinamento de valores, cidadania e
ma interdisciplinar e lúdica, o contato com os respeito às diversidades, parte integrante na
livros desde seus primeiros anos escolares. formação de uma criança leitora. O compor-
Esse empenho pela leitura deve acontecer tamento ético que é trabalhado na infância
com todos os envolvidos no campo educacio- reflete em todos os momentos da vida de
nal da instituição de ensino. um cidadão de bem e nas histórias infantis é
A inserção da leitura já nos primeiros possível buscar esses reflexos. A relação de
anos da vida escolar ainda é fato discutido afetividade e respeito entre professor e alu-
por muitos que julgam a educação infantil no contribui para a formação de um cidadão
um momento destinado somente a brinca- leitor, pois essa aproximação gera o conforto
deiras. O hábito de ler deveria vir de casa, que as crianças necessitam para assimilar a
mas o que se vê são crianças chegarem à es- leitura com muito mais prazer.
cola sem interesse suficiente para mergulhar A metodologia usada nesse processo
nesse mundo de imaginação e curiosidades. de pesquisa será a exploratória no sentido
Muitos questionamentos se formam de fazer o levantamento e a sondagem das
em torno da inserção da leitura nos primei- informações pertinentes ao objeto de estudo
ros estágios da vida escolar de uma crian- e a bibliográfica lendo diferentes matérias na
ça, mas qual é a importância desse ato? Há internet, livros e reportagens de revistas sis-
quem acredite que a leitura feita nesse perí- tematizando as informações do que for obti-
odo escolar pouco contribui para o sucesso do para maior obtenção de resultados com
e desenvolvimento de uma criança, porém relação à leitura feita para crianças na educa-
mesmo sem saber ler ela recebe estímulos ção infantil. Tem abordagem qualitativa onde
vindos das páginas dos livros ou mesmo de deverá utilizar os dados coletados e análise
pequenos textos trazidos da vivência dos alu- dos mesmos com a intenção de esclarecer os
nos, esses estímulos mexem com a sua emo- fundamentos que tornam a leitura essencial
ção e ao longo dos anos faz transformações feita em sua fase inicial ainda para bebês e

543
em todas as fases da Educação Infantil com através de seus próprios conceitos. Monteiro
o intuito de formar leitores para uma vida in- Lobato ainda escreveu muitas outras obras
teira. importantes à nossa literatura entre elas es-
tão Ideias de Jeca Tatu, Negrinha, Minotauro,
mas sem dúvidas sua maior grande série, re-
A LEITURA NO DESENVOLVIMENTO DA produzida por muito tempo pelo sistema de
CRIANÇA televisão o Sítio do Pica-Pau Amarelo alcança
um enorme público infantil.
Não é difícil notar a desenvoltura que
uma criança alcança ao ser incentivada à lei- Além de Monteiro Lobato outros es-
tura. A leitura promove a imaginação, aguça critores como Ziraldo e Ana Maria Machado
emoções e sentimentos que, sem estímulo, também se dedicaram a escrever ao público
muitas vezes ficam reprimidos no seu inte- infantil e suas obras são grandes sucessos
rior. Porém nem sempre a leitura infantil foi em todo país como o Menino Maluquinho e
tratada com tanto interesse por pensadores, a Grande Aventura de Maria Fumaça entre
professores e escritores, onde a criança era outros.
vista como um adulto, e consequentemente Com todas as evoluções que se pre-
as obras literárias não se destinavam a elas. sencia torna-se difícil imaginar que a pouco
É com a vinda da vinda da família real tempo atrás o adulto nivelava a literatura in-
ao Brasil, época da colonização, que a litera- fantil ao brinquedo ou a algo que servia ape-
tura infantil começa a surgir devido a tradu- nas para o entretenimento, não se levando
ções e adaptações das obras portuguesas. em conta a concepção de que a literatura
As obras existentes até esse período tinham infantil é uma grande e forte aliada na for-
cunho puramente didático ou moral sendo mação da consciência cultural, e excelente
escritas por pedagogos. recurso para o crescimento emocional, tra-
balhando o psicológico da criança, pois na
No Brasil as primeiras adaptações literatura se encontram muitos dramas e pe-
foram feitas por Alberto Figueiredo Pimen- rigos, fazendo com que a criança reflita em
tel que traduz contos de Charles Perrault, si, favorecendo a busca de soluções para tais
irmãos Grimm e de Andersen, em grandes situações. Inicialmente exposta na história
clássicos como Chapeuzinho Vermelho, A contada, e ao longo de sua trajetória para re-
Bela Adormecida, O Barba Azul, O Gato de solver situações da própria vida.
Botas, Pequeno Polegar, A gata borralheira,
Branca de Neve, João e Maria, O Patinho Feio, Para que esse procedimento ocorra
O Soldadinho de Chumbo, e muitos outros. de forma eficaz é necessário que aconteça
Contudo esses contos tinham essências eu- desde cedo, mesmo quando as crianças ain-
ropeias que eram muito afastadas da vivên- da não leem. A leitura deve ocorrer desde os
cia brasileira e esse fato contribuiu para que primeiros meses de vida, contribuindo assim
sérios problemas começassem a surgir. para a aquisição da linguagem e posterior-
mente na construção do sujeito leitor. Em en-
Em busca de mudanças destaca-se no trevista ao site da Revista Nova Escola Parra,
cenário da nossa literatura Monteiro Loba- Soares (2003, p. 1) diz:
to que demostra preocupação em escrever
com uma linguagem dirigida às crianças. Sua Ao ler histórias para os pequenos, da-
primeira obra acontece em 1921, chamada A mos a eles a chance de encontrarem nelas
menina do Narizinho Arrebitado, na qual já ecos de sentimentos que ainda não conse-
há a introdução da oralidade no texto escri- guem explicar, embora experimentem com
to e vem destacar-se por ter características frequência. E assim começa para cada um de
brasileiras da época. De acordo com Soares nós um mergulho num universo particular,
(1999, p.54): Os pais deveriam ser os precursores
O papel exercido por Monteiro Lobato da leitura na vida de seus filhos, porém o
no quadro da literatura infantil nacional tem que se vê é que muitos pais não vivenciaram
sido seguidamente reiterado, e com justiça. essa experiência em sua época de infância.
É com esse autor que se rompe (ou melhor: O hábito de ir a bibliotecas, livrarias ou mes-
começa a ser rompido) o círculo da depen- mo ter um livro na cabeceira de sua cama é
dência aos padrões literários provindos da cada vez mais rara. Hábitos aparentemente
Europa, principalmente no que diz respeito tão singulares, mas que transformam toda
ao aproveitamento da tradição folclórica. Va- uma geração. Evidentemente o ato da leitu-
lorizando a ambientação local predominante ra vivenciada com os pais fortalece os laços
na época, ou seja, a pequena propriedade ru- afetivos entre eles. Há uma grande dificulda-
ral, Monteiro Lobato constrói uma realidade de em formar verdadeiros leitores para uma
ficcional coincidente com a do leitor de seu vida toda, principalmente se a mudança dos
tempo e inventa o Sítio do Pica Pau Amarelo. hábitos não for verdadeiramente efetiva. A
conscientização inicial precisa vir dos pais,
A leitura dos textos de Monteiro Loba- que são os que primeiro tem contato direto
to possibilita que outras vivências sejam ex- com a criança. Não é aceitável, por sua vez
perimentadas. Ignora o moralismo tradicio- lançar mão de desculpas para o fracasso de
nal, presentes em outras obras destinadas às um filho no campo da leitura como a falta de
crianças e estimulam o leitor a ver a realidade tempo e de recursos financeiros, pois nos

544
dias atuais, muitos recursos vêm ao encontro A leitura inicial não se faz pelo que está
dessa atividade que transforma e abre valo- escrito e sim pelo sentido que se dá, ou seja,
rosos caminhos para o futuro. sua própria concepção, e esse procedimento
é constatado pelas inúmeras leituras de um
Os bebês nascem com uma grande mesmo texto, onde a criança mesmo sem
sensibilidade à voz Humana. Segundo Parra saber ler encontra meios de identificações
(2013, PI) quando se lê para eles os pais dão dentro do texto. Jolibert (1994, p. 14), com-
a oportunidade de desenvolverem a audição, pleta que não se ensina uma criança a ler, ela
construindo assim significados importantes é quem se ensina. Dessa maneira há uma ex-
e que o faz ter sentido da vida que está ao ploração dos textos significativos que vão ao
seu redor, começando assim a compreensão encontro de situações de comunicação que
de algo que foi lido e que está representado a criança vivencia em todos os momentos. O
em seu interior. Dessa forma ao ler para uma Referencial Curricular Nacional para a Edu-
criança desde os primeiros meses de vida, cação Infantil (1998, v.3 p. 121-122) destaca
além de valorizar um hábito prazeroso, faz o que:
bebê começar a conhecer o mundo mágico
de histórias e ainda o som das palavras, início Pesquisas na área da linguagem ten-
da forma para expressar-se bem no futuro. dem a reconhecer que o processo de letra-
mento está associado tanto à construção
A leitura, principalmente, a de obras do discurso oral como do discurso escrito.
literárias amplia os sonhos e a fantasia de Principalmente nos meios urbanos, a gran-
uma criança já na primeira infância e propor- de parte das crianças, desde pequenas, es-
ciona desde muito cedo a oportunidade de tão em contato com a linguagem escrita por
desenvolver sua criatividade e ampliar os ho- meio de seus diferentes portadores de texto,
rizontes da cultura e do conhecimento. como livros, jornais, embalagens, cartazes,
Abramovich (1997, p. 17) aponta que: placas de ônibus etc., iniciando-se no conhe-
cimento desses materiais gráficos antes mes-
...é ouvindo histórias que se pode sen- mo de ingressarem na instituição educativa,
tir (também) emoções importantes, como não esperando a permissão dos adultos para
a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, começarem a pensar sobre a escrita e seus
o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a usos. Elas começam a aprender a partir de in-
tranquilidade, e tantas outras mais, e viver formações provenientes de diversos tipos de
profundamente tudo o que as narrativas pro- intercâmbios sociais e a partir das próprias
vocam em quem as ouve com toda a ampli- açóes.
tude, significância e verdade que cada uma
delas fez (ou não) brotar... pois é ouvir, sentir A grande importância que a leitura
e enxergar com os olhos do imaginário! exerce na vida de uma criança está no fato
de se fazer um caminho de descobertas, co-
Sob esse aspecto a literatura infantil nhecimentos e compreensão do mundo, seja
contribui para que a criança, que está em essa leitura feita por ela ou por outra pessoa
processo de formação, construa sua perso- como seus pais ou educadores. O incentivo à
nalidade e seu raciocínio crítico diante da prática de leitura deixa a criança não só con-
visão do mundo que a cerca. E consequen- fiante para o exercício à prática de ler quan-
temente ser inserida no contexto de ensino do entra no processo da alfabetização, mas
aprendizagem, despertando na criança não torna uma criança capaz de resolver questio-
só um mundo mágico como também o hábi- namentos e aumenta sua capacidade de ver
to da leitura. o mundo.
A criança não tem que aprender os A naturalidade com que se faz a leitu-
símbolos gráficos que impulsionam a leitu- ra no dia a dia de uma criança é outro ponto
ra para só depois ler, inicialmente ela tenta de grande importância. Tanto que, a partir
imitar os mais velhos como mostra o RCNEI dos três a quatro meses o bebê começa a
(1998, v.3 p. 128) e "desde muito pequenas, demonstrar um contato físico com o livro, ao
as crianças utilizam-se de livros, revistas, jor- ponto de levá-los à boca. Por esse fato, o cui-
nais, gibis, rótulos etc. para 'ler' o que está dado com o material adequado é pertinen-
escrito". A criança quando se coloca em te, e faz com que esse comportamento seja
uma situação real de ler um texto para sua completo nessa etapa da vida.
informação ou por prazer, certamente irá
elaborar estratégias que a conduzirá para a Dos dois aos cinco anos a criança ain-
conclusão da tarefa. Ela utiliza o escrito real da tem a necessidade de que leiam para ela,
que faz parte de sua vida, de seus hábitos e e por ter a atenção curta, gosta que o mesmo
costumes como uma embalagem usada em livro seja lido várias vezes, pois a cada leitu-
sua casa, um cartaz, o nome de uma rua, um ra novas descobertas são feitas e a história
outdoor, ou mesmo um livro de sua prefe- assim vai sendo melhor compreendida. Uma
rência. Esses escritos reais são percebidos e outra característica dessa fase é o gosto da
lidos pelas crianças desde os primeiros anos, leitura dos livros cedidos pela escola, pois
já quando ela inicia seus primeiros sons. "É gostam da entonação que seus pais dão à
lendo de verdade, desde o início, que alguém história no ato da leitura. Principalmente
se torna leitor e não aprendendo primeiro a quando estes modificam sua voz, dando mais
ler..." (Soares, 1999, p. 15). vivacidade ao enredo.

545
Esse gosto aos livros não acontece tro de si, que existe grupos sociais diferentes
apenas porque os pais o dizem aos filhos. O do seu, como ainda lugares bem diferentes
real gosto pelos livros acontece quando as do lugar onde vive. Uma vez que as histórias
crianças convivem com os adultos que gos- são fontes de informação valiosas e implicam
tam de ler, sejam livros de contos, jornais, na maneira de ver tudo e todos que estão à
revistas, ou qualquer material que desperte sua volta.
seu interesse, como rótulos. O RCNEI (1998,
v.3 p. 152) nos coloca que: O que não se permite é uma história
qualquer tirada de qualquer livro. As escolhas
Alguns textos são adequados para o dos livros devem seguir rigorosos critérios de
trabalho com a linguagem escrita nessa fai- avaliação dos adultos e é de extrema impor-
xa etária, como, por exemplo, receitas culi- tância para as crianças. A escolha do livro a
nárias; regras de jogos; textos impressos em ser trabalhado com as crianças busca antes
embalagens, rótulos, anúncios, slogans, car- de tudo, desenvolver o seu imaginário. Suas
tazes, folhetos; cartas, bilhetes, postais, car- escolhas para ser bem-sucedidas não podem
tões (de aniversário, de Natal etc.); convites; e não devem ficar a margem dos significados
diários (pessoais, das crianças da sala etc.); que a própria criança tem, e para isso o livro
histórias em quadrinhos, textos de jornais, deve ser escolhido para atender as suas ne-
revistas e suplementos infantis; parlendas, cessidades e não as necessidades de quem
canções, poemas, quadrinhas, adivinhas e os escolhe. A criança sempre terá o seu pró-
trava-línguas; contos (de fadas, de assombra- prio modo de ver, analisar e degustar o texto
ção etc.); mitos, lendas, 'causos' populares e que escolheu, nesse momento ela buscará
fábulas; relatos históricos; textos de enciclo- dentro dela o significado que a história tem e
pédia etc. que seja semelhante ao que ela mesma tem
dentro de si, ou que dá significado a sua vida.
A rotina ao hábito de leitura favorece o
aprimoramento do gesto de ler, ativando no Os primeiros contatos que a criança
pequeno leitor o seu desenvolvimento aos tem com os livros são decisivos para que esse
estímulos que o faz resolver situações com encantamento nunca acabe. Essa escolha
autonomia no seu cotidiano. Soares (2002, p. deve encher seus olhos com ilustrações inte-
16) diz que: ressantes capazes de prendê-la às suas pági-
nas, aguçando cada vez mais sua curiosidade
Ah, como é importante para a forma- e tornar a hora da leitura a mais agradável
ção de qualquer criança ouvir muitas, muitas possível. Como afirma Abramovich (1997, p.
histórias... escutá-las é o início da aprendiza- 24):
gem para ser leitor, e ser leitor é ter um cami-
nho absolutamente infinito de descoberta e Ouvir histórias é viver um momen-
de compreensão do mundo. to de gostosura, de prazer, de divertimento
dos melhores.... É encantamento, maravi-
Em todas as fases da vida é importan- lhamento, sedução... O livro da criança que
te incentivar o amor pelos livros, o contato ainda não lê é a história contada. E ela é (ou
inicial que a criança tem é para manuseá-los, pode ser) ampliadora de referenciais, postu-
reconhecer suas 'formas. Nessa fase, acom- ra colocada, inquietude provocada, emoção
panhada pelos pais, que além do incentivo deflagrada, suspense a ser resolvido, torcida
beneficiam seu filho a uma melhor aprendi- desenfreada, saudades sentidas, lembranças
zagem, pronúncia das palavras e nas relações ressuscitadas, caminhos novos apontados,
sociais que ela terá ao longo de seu caminhar sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas e
até chegar à vida adulta. as mil maravilhas mais que uma boa história
Uma criança ao ser instigada, adequa- provoca... (desde que seja boa).
damente, e sem traumas ao ato de ler expan- Dessa forma a literatura adotada deve
dirá seu vocabulário e assim cria familiarida- conter conteúdos que possam promover o
de com o mundo da escrita. O manuseio de senso crítico do educando para assim, torná-
obras literárias torna a conduta desse leitor -lo questionador, argumentador, que fale e
muito prazerosa, visto que a cada história a seja ouvido. De acordo com o Portal de Edu-
imaginação da criança flui, evolui, e a conduz cação Infantil as orientações para o trabalho
a emoções inigualáveis, capazes de levar o com os livros são muito pertinentes e esta-
aluno a lugares que ele jamais viu ou que ja- belece uma faixa etária como: de dez meses
mais verá, porém é seu encantamento pelas a dois anos, as histórias devem ser rápidas
histórias que o conduz, tornando possível a e curtas, as ilustrações devem conter uma
busca de novas leituras ao longo da vida. O gravura em cada página, mostrando coisas
RCNEI (1998, p. 143) dá orientações quanto simples e atrativas no campo da visão. O ma-
a leitura: terial usado deve ser de pano, madeira ou
A leitura de histórias é um momento plástico, nesse caso para não causar danos
em que a criança pode conhecer a forma de ao material e para a proteção da criança. De
viver, pensar, agir e o universo de valores, dois a três anos, os textos devem ter histó-
costumes e comportamentos de outras cul- rias rápidas com pouco texto e enredo bem
turas situadas em outros tempos e lugares simples. O tema deve aproximar-se do coti-
que não o seu. diano da criança. As ilustrações devem ser
grandes e com poucos detalhes. Quanto aos
A criança começa a estabelecer, den- materiais podem ser fantoches, músicas, e li-

546
vros sonoros. De três aos seis anos os livros seguinte forma:
devem propor vivências de acordo como co-
tidiano familiar da criança por meio de textos A inclusão do leitor em determinada
curtos. Nessa fase predomina-se às imagens. 'categoria' depende não apenas de sua faixa
Os materiais são livros com dobraduras sim- etária, mas principalmente da inter-relação
ples e se dá muita ênfase ao contador que se entre sua idade cronológica, nível de amadu-
caracteriza com roupas pertinentes à histó- recimento biopsíquico-afetivo-intelectual e
ria. grau ou nível de conhecimento/domínio do
mecanismo da leitura. Daí que as indicações
O tempo determinado para se contar de livros para determinadas 'faixas etárias'
uma determinada história está relacionado sejam sempre aproximativas (COELHO, 2000,
sempre, ao interesse provocado na criança. p. 32).
Daí, onde se busca o conhecimento prévio do
que será lido, a fim de usar o estímulo ade- As ricas experiências que a leitura traz
quadamente, visando não se perder o foco à vida do ser humano, aprimoram o enrique-
em contar uma história completa e levantar cimento linguístico que a criança precisa ter.
questionamentos que os levem a variadas A aquisição dos livros de literatura infantil vai
reflexões. Como afirma Abramovich (1997, p. se modificando à medida que a criança evo-
20), qualquer história pode ser contada: lui, tendo uma consequência real, o leitor vai
se afastando das obras que não lhe chamam
. desde que ela seja bem conhecida mais atenção conforme a sua faixa etária, a
pelo contador, escolhida porque a ache par- chamada transitoriedade. Os pais que enten-
ticularmente bela ou boa, porque tenha uma dem o valor da leitura na vida de um ser, o
boa trama, porque seja divertida ou ines- inicia desde a gestação. O gosto pelos livros
perada ou porque dê margem para alguma e por boas leituras torna o leitor a frente de
discussão que pretende que aconteça, ou sua faixa etária, pois a leitura tem o poder de
porque acalme uma aflição...o critério e do transformar, permitindo que se fale, se escu-
narrador... e o que pode se suceder depois te, se sonhe e que se entre no mundo encan-
depende do quanto ele conhece suas crian- tado da fantasia, recursos necessários à vida.
ças.
O desenvolvimento à leitura conduz a
criança em uma rica experiência na vida, des- 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
pertando seu interesse e sua motivação para Constatei que a inserção da leitura
que ela aceite desafios de tomar decisões e já nos primeiros estágios da vida escolar de
atitudes por toda uma vida. uma criança é extremamente importante,
Alguns aspectos que os livros trazem não só no desenvolvimento positivo ao há-
são capazes de despertar o interesse de uma bito de ler, mas também ao favorecimento
criança ao campo da leitura. Gomes (2013 p. de seu vocabulário e ainda no seu controle
1) nos fala de alguns deles como: a ilustra- emocional, pois é através de inúmeras leitu-
ção, a propriedade de imagem, a estética co- ras que ela terá seus primeiros contatos com
erente com o tema e as emoções que a obra o medo, a raiva, a aflição, o amor e muitas
literária sugere, como também os elementos outras. Esse processo para ser bem-sucedido
figurativos como a cor, tamanho da imagem, é necessário que seja iniciado desde os pri-
disposição espacial, com poucos detalhes. meiros meses, quando ainda bebê, visto que
Todos esses aspectos atraem o interesse da nessa fase a criança já tem sua grande sensi-
criança, impulsionando-o na busca de novas bilidade, a voz humana, e é por meio dela que
obras literárias, sempre com mais autono- a leitura vai tomando seu espaço e contri-
mia. buindo para o seu desenvolvimento intelec-
tual. Espaço esse que antes não era reconhe-
A importância de se adequar o livro cido, hoje faz dos livros infantis importantes
a faixa etária e aos estágios psicológicos da ferramentas para a iniciação das crianças ao
criança se dá para que ela se sinta motiva- hábito de ler, por escritores, educadores e as
da no momento de manusear um material instituições de ensino, que reconhecem na
literário. Coelho (2000, p. 33) afirma que os leitura caminhos favoráveis em busca de no-
estágios psicológicos da criança são um im- vos leitores. Torna-se importante ainda que a
portante fator para a apropriação dos textos leitura pode e deve ser feita de tudo que está
e considera cinco categorias que direcionam ao seu entorno e que fazem parte de seu dia
as fases do desenvolvimento psicológico da a dia e não só dos livros literários. As crianças
criança quanto à leitura: o pré-leitor, dividida para ter proximidade com a leitura, necessi-
em primeira infância dos quinze meses aos tam gostar do que estão ouvindo.
três anos, e a segunda infância dos três aos
cinco anos; o leitor iniciante dos seis e sete Sei que o hábito de ler se faz numa
anos; o leitor em processo dos oito aos nove missão constante e que não basta ler umas
anos; o leitor fluente dos dez aos onze anos e poucas vezes para que tornemos nosso aluno
o leitor crítico dos doze anos em diante. É no- um leitor assíduo, portanto é preciso engajar
tado que esses estágios variam de aluno para todos numa só tarefa, a de ler constantemen-
aluno, e que se o processo de leitura não for te. Para tanto é preciso a ajuda de todos que
bem estimulado a criança não entrará nesses estão ao entorno da criança, incluindo sua
moldes. Para Coelho (2000) isso acontece da família, parte imprescindível do processo, afi-

547
nal quando uma criança vê um leitor em seu Educação e do Desporto, Secretaria de
lar, certamente seu prazer pela leitura estará Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF,
sendo despertado. 1998.3v
Esse trabalho permitiu compreender a COELHO, Nelly Novaes. Literatura In-
importância de ler textos variados para uma fantil: Teoria, análise, didática. São Paulo:
criança, e que essa diversidade a faz enten- Moderna, 2000.
der melhor o mundo que a cerca, permitindo
ao educador explorar aspectos como valores, FREIRE, Paulo. Virtudes do Educador.
costumes, cultura, diversidade entre outros, Série Folheto, Editora Vereda, 1982.
tão importantes na formação da personali- JOLIBERT, Josette. Formando Crianças
dade de seu educando. Descobri ainda que Leitoras. Porto Alegre. ArtMed Editora, 1994.
existem materiais adequados a cada fase
que a criança pertença, como também o tipo MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Ativi-
de informação pertinente a idade cronológi- dades Lúdicas para Educação Infantil. Petró-
ca da criança, na qual despertando seu inte- polis, RJ: Editora Vozes, 2013.
resse, fará com que ela sempre venha buscar REGO, Lúcia Lins Browne. Literatura
novas leituras. Infantil: Uma Perspectiva da Alfabetização na
Assim, as condições necessárias ao Pré-Escola. 2aEd. São Paulo: FTD, 1995.
desenvolvimento de hábitos de leitura, in- SOARES, M. A reinvenção da alfabeti-
cluem oportunidades para ler de todas as zação. Presença Pedagógica. Vol. 9, n. 52. jul/
formas possíveis e transpassar a criatividade ago, 2003, p. 14-21.
de quem conta histórias ou mesmo faz a lei-
tura do mundo, e dessa forma não se deve Aprender a escrever, ensinar a escre-
deixar de lado a frequência nas livrarias, fei- ver. In: ZACCUR, E. A magia da linguagem. Rio
ras de livros e bibliotecas, que são excelen- de Janeiro: DP&A, 1999, p. 49-73.
tes sugestões para tornar permanente esse
hábito tão prazeroso, e traz benefícios para Letramento: um tema em três gêne-
uma vida inteira. ros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
1993.
Linguagem e escala: uma perspectiva
REFERÊNCIAS social. 17 col. São Paulo: Atica,2002.
ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: ZILBERMAN, Regina. A Literatura In-
gostosuras e bobices. 4.ed. São Paulo: Scipio- fantil na Escola. São Paulo: Global Editora,
ne, 1997. 1987.
AROEIRA, M.; SOARES, M.; MENDES, R.
Didática de pré-escola: vida e criança: brincar
e aprender. São Paulo: FT D, 1996, p. 167.
BRASIL. Ministério da Educação e do
Desporto. Secretaria de Educação Funda-
mental. Referencial curricular nacional para
educação infantil. Brasília: MEC/SEF,1998.
v.3, p.115-160.
BRASIL. Ministério da Educação. Se-
cretária de Educação Básica. Base Nacional
Comum Curricular/ Secretária de Educação
Básica — Brasília: MEC 2016 2a versão. Aces-
sado em 05 de setembro de 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Se-
cretária de Educação Básica. Base Nacional
Comum Curricular/ Secretária de Educação
Básica — Brasília: 2017 3 a versão,
documento em construção no Conse-
lho Nacional de Educação. Acesso em 08 de
abril de 2017. Acessado em 10 de novembro
de 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Secre-
taria de Educação Básica. Diretrizes curricu-
lares nacionais para a educação infantil I Se-
cretaria de Educação Básica. — Brasília: MEC,
SEB, 2013. Acessado em 10 de novembro de
2021.
BRASIL, Referencial Curricular Nacio-
nal para a Educação Infantil /Ministério da

548
O BRINCAR COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
TÂNIA NASCIMENTO SODRÉ DIAS

RESUMO acréscimo de conhecimento.


O ato de brincar é uma atividade pró- Para Oliveira (2000) ao aceitar a fun-
pria da infância, é por meio da brincadeira ção lúdica e educativa, a brincadeira assegu-
que a criança explora o meio em que vive ra diversão, prazer, potencializa a explora-
assim, o brincar é uma ferramenta funda- ção, a criação, a imaginação e a construção
mental para aprendizagem da criança. Na do conhecimento.
educação infantil a criança cria, imagina, e in-
terage, por meio da brincadeira, dai a impor- A brincadeira é uma experiência fun-
tância de priorizar as atividades lúdicas nesta damental para crianças de todas as idades,
fase da educação. A Ludicidade é de extrema mais fundamental para as crianças na fase
relevância, e deve ser a base das atividades da Educação Infantil. Dessa forma, a brinca-
propostas nesta fase escolar. É por meio da deira já não deve ser mais atividade utilizada
brincadeira que criança descobre o mundo pelo professor apenas para distrair as crian-
comunica-se com o outro e interagem no ças, mas como atividade promotora do de-
contexto social em que vive. A brincadeira senvolvimento, e que deve estar prevista no
faz com que a criança se descubra e explore planejamento com objetivos definidos.
o que esta a seu redor. É possível perceber Assim cabe ao educador criar um am-
como a criança que brincar desenvolve-se de biente que reúna os elementos de motivação
forma rápida e espontânea, assim temos a para as crianças sentirem-se confortáveis e
Ludicidade e a brincadeira como ferramen- atraídas pelo desejo de explorar e brincar
tas auxiliares do processo de ensino e apren- proporcionando atividades que tragam con-
dizagem infantil. ceitos que preparam para a leitura, para os
Palavras-chave: Ludicidade; desenvol- números, conceitos de lógica que envolve
vimento Infantil; Educação Infantil. classificação, ordenação, dentre outros.
Motivar as crianças a trabalhar em
grupo na resolução de situações, aprenden-
INTRODUÇÃO do assim expressar seu ponto de vista em re-
lação ao outro.
Para Vygotsky, (1998), o brincar é um
dos atos mais comuns na vida do ser huma-
no, especialmente durante a infância, as-
sim torna-se um assunto importante para a A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E BRIN-
Educação Infantil. O brincar é uma forma de CADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
desenvolver o cognitivo, o físico, o social, o Durante a infância o ato de brincar é
emocional e o cultural em uma criança. um meio no qual a criança adquiri experiên-
O ato de brincar faz com que a criança cias, vivenciando sensações de prazer. De-
aprenda e reconheça o mundo que a cerca, senvolvendo a visão sobre o mundo que a
entende possibilidades e as relações sociais, cerca.
desenvolve a liberdade de ação e proporcio- A brincadeira é uma forma de huma-
na a sistematização dos sentimentos pró- nizar a criança, possibilitando seu desenvol-
prios da infância. vimento saldável, proporcionado o desenvol-
O brincar proporciona também o de- vimento da cidadania, do raciocínio logico e o
senvolvimento da linguagem e das habilida- autoconhecimento. Desta forma as crianças
des motoras da criança desde a mais tenra desenvolvem sua capacidade de raciocinar,
idade. de julgar, de argumentar.
No momento do brincar a criança Para Vygotsky (1989, p. 108), a ação de
pode demonstrar sentimentos que de outra brincar é muito importante na infância por-
forma não ficaram tão expostos, pois, neste que “cria uma zona de desenvolvimento pró-
instante a criança se entrega a atividade e é ximo da criança”. Quando brinca, a criança
nesta hora que demostra os seus verdadei- modifica os hábitos e comportamentos usu-
ros sentimentos, dificuldades e seus praze- ais, mostrando-se mais e em maior grandeza.
res e sentimentos, assim defendem Vygotsky “No brinquedo”, é como se ela fosse maior do
(2011), Wallon (2007), Piaget (1977) e Fonseca que é na realidade. Apenas da relação brin-
(1996). quedo-desenvolvimento pode ser compara-
da à relação instrução- desenvolvimento, o
O ato de brincar pode ser descrito brinquedo fornece ampla estrutura básica
como uma atividade que ajuda a criança no para mudanças das necessidades e da cons-
processo de aprendizagem. Ele vai assumir ciência.
situações imaginárias em que ocorrerá no
desenvolvimento cognitivo, auxiliando a rela- Segundo Piaget (1975) que destaca o
ção com pessoas que colaborarão para um faz-de-conta, atividade que denomina como
jogo simbólico, nos mostra que, assim como

549
a linguagem, o jogo simbólico pressupõe a pensamento lógico e o cognitivo, pois jogar
representação de um objetivo ausente, visto permite o treino das operações do pensa-
ser a comparação entre um elemento dado, mento como a criatividade, a capacidade de
o “significante” e um elemento imaginado, o associar, discriminar, analisar bem como as
“significado”. O jogo simbólico tem como ca- habilidades estratégicas.
racterística fundamental, a assimilação do
real ao eu, posso ser o bandido, posso ser Para Piaget o jogo é essência para o
morto e ressuscitar. desenvolvimento infantil, a atividade lúdica é
o berço das atividades intelectuais da crian-
Outro aspecto importante apontado ça, sendo por isso indispensável à prática
por Piaget (1975), quando explica a evolução educativa.
das fases do brincar, é a passagem do brin-
quedo individual para a evolução das fases Segundo Piaget, os jogos são admirá-
do brincar no coletivo. veis instituições sociais porque ao jogar as
crianças desenvolvem suas habilidades so-
Pode se observar frequentemente nos ciais e criam um relacionamento grupal.
bebes que embora reunidas num mesmo
recinto brinquem individualmente com seus O relacionamento social desenvolve
objetos, sem que haja interferência do outro, na vivencia de situações estratégicas de lide-
mantendo-se em atividades independentes. rança e cooperação, onde a criança começa
a perceber quais seus limites e os limites dos
Gradativamente elas vão se tornando outros. Os jogos atuam também como re-
capazes de partilhar entre si, a ficção que es- dutores das tensões do grupo, permitindo a
tão elaborando através do faz-de-conta, dife- participação e integração negociada.
renciando e ajustando seus papéis.
Segundo Piaget (1975), ao brincar a
Segundo Winnicot (1975) a brincadei- criança aprende a aceitar e submeter seus
ra, e o jogo, constitui um espaço específico impulsos e desejos às exigências do jogo,
sendo da atividade humana. O ato de brincar também aprende a conviver com frustrações
situa-se exatamente no espaço entre esfera: e alegrias além de aprender a aceitar os ou-
fuga do imaginário (sonho) e ação efetiva vi- tros e as suas atitudes ao criar soluções que
sando transformar o mundo exterior, e, nes- lhes permitem a jogar, a criança toma cons-
sa medida, acaba tecendo vínculos entre a ciência de sua potencialidade, pois ao jogar
subjetividade e a objetividade. é necessário raciocinar, julgar, argumentar e
chegar a um consenso.
De acordo com o Referencial Curri-
cular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, No desenvolvimento motor, o jogo
1998, p. 27, v.01): permite melhorar as aptidões motoras ele-
vando a capacidade de força, velocidade,
“O principal indicador da brincadeira, resistência flexibilidade, coordenação, latera-
entre as crianças, é o papel que assumem lidade, estruturação das noções de tempo e
enquanto brincam. Ao adotar outros papéis espaço.
na brincadeira, as crianças agem frente à re-
alidade de maneira não literal, transferindo Os jogos infantis são caracterizados
e substituindo suas ações cotidianas pelas pela simplicidade de sua organização e pela
ações e características do papel assumido, pouca ou nenhuma necessidade de materiais
utilizando-se de objetos substitutos.” físicos, mesmo assim levando a obtenção de
resultados positivos.
Brincando, a criança desenvolve e
pratica suas capacidades e se desenvolver O ato de planejar a atividade é funda-
adequadamente, pois, as atividades lúdicas mental, os educadores não devem encarar
oferecem um desafio que proporciona um o brincar como uma atividade meramente
pensamento e leva a criança a obterem ní- recreativa ou de distração, pois como Piaget
veis de desenvolvimento que só o brincar cita a atividade lúdica é essencial para o de-
pode proporcionar. senvolvimento integral das crianças, por isso
os jogos e brincadeiras devem ser inseridos
A criança tende a realizar as ativida- nas práticas educativas com objetivos bem
des com energia, não ficam chateadas por- definidos, os jogos e brincadeiras devem ser
que estão livres de exigências, prosseguem, planejados, e os objetivos a serem alcança-
arriscam, desvendam, atingem com alegria, dos, devem ser bem definidos.
sentindo-se mais capazes e, deste modo,
mais confiantes em si mesmas e preparadas Através desta ótica os processos de
a aprender. desenvolvimento infantil mostram que o
brincar é um importante processo psicoló-
Assim a brincadeira favorece o de- gico e uma rica fonte de desenvolvimento e
senvolvimento individual da criança, ajuda aprendizagem.
a internalizar as normas sociais e a assumir
comportamentos mais avançados que aque- Para Vygotsky (1998), um dos princi-
les vivenciados no cotidiano, aprofundando pais representantes dessa visão, o brincar é
o seu conhecimento sobre as dimensões da uma atividade humana criadora, na qual fan-
vida social. tasia e realidade interagem na produção de
novas formas de construir relações sociais
Quando brinca a criança desenvolve o com o outro.

550
Esta visão se afasta da visão predomi- com muitas brincadeiras e sonhos como fa-
nante da brincadeira como atividade restrita zem as crianças, elas acreditam, são no livro
à assimilação de códigos e papéis sociais e o pequeno príncipe nos relata uma história
culturais, cuja função principal seria facilitar maravilhosa sobre positivas e sempre imagi-
o processo de socialização da criança e a sua nam o melhor.
integração à sociedade.
“é no brincar, e somente no brincar
A criança tem a facilidade de apren- que o indivíduo, criança ou o adulto, pode ser
der com o meio, e tudo que a cerca serve de criativo e utilizar sua personalidade integral:
estímulos para sua aprendizagem, segundo e é somente sendo criativo que o indivíduo
alguns autores elas aprendem brincando e descobre o eu”. (Winnicott ,1975 p. 12)
cada fase uma nova descoberta sua curiosi-
dade é impressionante. Através do brincar a criança se desco-
bre, vence seus medos e resolve seus pro-
Brinca com tudo que lhe chama a aten- blemas sem sofrer nenhum tipo cobrança,
ção suas mãos, seus pés e objetos a sua vol- brinquedos e jogos facilitam muito o desen-
ta interage individualmente em seu primeiro volvimento dos pequenos.
estágio, para que se desenvolva sua coor-
denação e movimentos é fundamental esti- “Brincar desenvolve as habilidades
mular cada movimento e gesto, o brinquedo da criança de forma natural, pois brincando
será um instrumento de muita importância aprende a socializar-se com outras crianças,
em cada fase. desenvolve a motricidade, a mente, a cria-
tividade, sem cobrança ou medo, mas sim
O desenvolvimento motor está re- com prazer” (Cunha 2001, p.14).
lacionado com experiências individuais de
cada criança e o tipo de estímulo vivenciado Nossa sociedade em um contexto ge-
poderá proporcionar melhor desempenho ral esta cobrando muito de nossas crianças,
das habilidades motoras que são divididas temos hoje mini adultos que tem um dia cor-
em estágios inicial, elementar e maduro re- rido com muitas cobranças e pouca tempo
presentado pelos movimentos fundamentais e espaço para brincar, as possibilidades são
de engatinhar, caminhar, correr, pular arre- muitas então devemos investir em cursos e
messar, recepção e chute esses pelos quais mais cursos para nossas crianças este é um
são desenvolvidos pelas crianças com o de- pensamento de muitos, claro que é impor-
correr dos anos (FREITAS, 2006). tante proporcionar cursos e aulas diversifica-
das, mais sem tirar todo o tempo dessa crian-
Durante toda nossa vida a melhor fase ça porque a infância também estará sendo
é a infância onde podemos brincar livremen- tirada a força dela algo que é sua por direito,
te sem nenhum tipo de preocupação, muitas um adulto mau resolvido é reflexo de uma
brincadeiras agradáveis onde não é preciso criança frustrada e sem infância.
de dinheiro para termos alegria, as melhores
gargalhadas que até nos tira o folego damos As crianças estão com pouco tempo
na nossa infância, brincadeiras como pega- para brincar e consequentemente com pou-
-pega esconde-esconde são inesquecíveis cas oportunidades para descobrir, criar e
para muitas pessoas. Pena que muitos adul- recriar experiências e saberes sobre si mes-
tos se esquecem de como é maravilhoso ser mo e o mundo. A diversidade dos espaços,
criança e por um motivo ou outro acabam das possibilidades de atividades motoras,
perdendo esta essência. bem como da frequência destas oferecidas
as crianças tanto na escola como nos perío-
A brincadeira é uma atividade espiri- dos que se encontram fora dela, não estão
tual mais pura do homem neste estágio e, atendendo adequadamente as necessidades
ao mesmo tempo, típica da vida humana en- do brincar, do ter o tempo livre, do explorar,
quanto um todo-da vida natural interna no fundamental para o seu desenvolvimento
homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, (FALCÃO, 2002)
liberdade, contentamento, descanso exter-
no e interno, paz com o mundo... A criança A brincadeira esta presente na vida
que brinca sempre, com determinação auto- da criança desde muito pequena, e duran-
matia, perseverança, esquecendo sua fadiga te a brincadeira ela descobre novas coisas,
física, pode certamente torna-se um homem cria, imagina e aprende, muitos pessoas im-
determinado, capaz de autossacrifício para a portantes em nossa história descobriu seu
promoção do seu bem e de outros... Como talento através da brincadeira. No momento
sempre indicamos o brincar em qualquer lúdico acontecem muitas sensações maravi-
tempo não é trivial, é altamente sério e de lhosas dentro de cada individuo e por esse
profunda significação (Froebel, 1912c, p.55) motivo, é importante dar muita atenção a
essa fase da criança sempre motivando e es-
ser criança a fantasiar, o amor, a ino- timulando. E essa contará muitos momentos
cência, a criatividade e a essência do mundo bons quando chegar a sua fase adulta.
magico que é ser criança, o livro nos traz a
memória nossa infância e nos leva a uma re-
flexão de como estamos vivendo nossa fase
adulta. De fato é primordial no decorrer de
nossas vidas não deixamos de no alegrar

551
A LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFAN- tir da assimilação da representação simbóli-
TIL ca. Assim, o jogo pode ser considerado uma
ação relevante e importante para o desnvol-
A infância é marcada por fases, a cada vimentominfantil, pois através dele o edu-
fase a criança apresenta diferentes concei- cando desenvolve a zona de desenvolvimen-
tos em reção ao brincar, as brincadeiras são to proximal, com funções que ainda estão
marcantes para a infância, promovendo seu em desenvolvimento, mas que desenvolverá
desenvolvimento de forma simples e natural. processos de amadurecimento.
A brincadeira torna-se fundamental a O processo de aprendizagem e desen-
medida em que se dá o desenvolvimento da volvimento humano estão ligados e ativos
criança, ajudando-a a desenvolver o entendi- desde os primeiros momentos de vida, po-
mento sobre as regras e conceitos presentes de-se afirmar que o aprendizado da criança
na sociedade. começa muito antes do período escolar, pois
Durante a infância, os brinquedos todas as situações de aprendizagem presen-
desde os mais simples até os jogos que de- tes na escola partem de vivencias prévias da
mandam o uso regra, os brinquedos e as criança
brincadeiras são fonte de conhecimento e de Vygotsky ainda afirma:
persepção sobre os contextos da vida.
O brinquedo e a brincadeira são meios
pelos quais se desenvolve a relação lúdica e “A essência do brinquedo é a criação
de afetividade que contribuem diretamente de uma nova relação entre o campo do sig-
para uma aprendizagem significativa e com- nificado e o campo da percepção visual, ou
pleta, para tanto é necessário que o aluno seja, entre situações no pensamento e situa-
desenvolva os conhecimentos aprendidos ções reais. Essas relações irão permear toda
durante a atividade lúdica. a atividade lúdica da criança, serão também
importantes indicadores do desenvolvimen-
É brincando que a criança aprende o to da mesma, influenciando sua forma de en-
que são regras respeitá-las, ampliado o seu carar o mundo e suas ações futuras”. Vygot-
relacionamento social, respeitando a si e ao sky (1998, p. 137)
outro. Através da Ludicidade a criança passa
a expressar-se com mais facilidade, aprende Ao pensar sobre o papel do brinque-
também a ouvir, respeitar e discordar de opi- do, e neste momento sobre as brincadeiras
niões, em alguns momentos exercendo lide- de faz-de-conta, a criança faz referência a
rança, e em outros sendo submetido a ela, outros brinquedos estimulando a construção
tudo isso compartilhando a alegria de brin- do pensamento e mobilizando a capacidade
car. de criar.
Por outro lado, em um ambiente mui- “No brinquedo, no entanto, os objetos
to engessado, os educandos acabam não se perdem sua força determinadora. A criança
expressando ludicamente, daí a importância vê um objeto, mas age de maneira diferente
de estimular essa prática como atividade per- em relação àquilo que vê. Assim, é alcança-
manente em sala de aula. da uma condição em que a criança começa
a agir independentemente daquilo que vê.
Para Vygotsky (1998) o ponto inicial da No brincar, a criança consegue separar pen-
relação entre um nível de desenvolvimento e samento, ou seja, significado de uma palavra
a capacidade de aprendizagem pode ser de objetos, e a ação surge das ideias, não das
verificado pelo nível de desenvolvimento da coisas”. Vygotsky (1998, p.127).
criança.
No momento da brincadeira a criança
O primeiro desses níveis, é o nível de mobiliza suas capacidades e se desenvolve
desenvolvimento efetivo, que se dá através plenamente, pois as atividades oferecem de-
dos testes que determinam a idade mental safios que proporcionam a formação de pen-
do indivíduo, o segundo deles é referente a samentos e conduz os educandos a alcan-
área de desenvolvimento potencial referente çarem níveis de desenvolvimento que só os
ao que a criança é capaz de fazer com a ajuda atos por estímulos conseguem proporcionar.
do outro.
As crianças passam a desenvolver as
O que a criança pode desenvolver atu- atividades com mais empenho e dedicação,
almente com a ajuda dos adultos ou dos co- pois estão livres de exigências, tornando-me
legas poderá da mesma forma fazer no futu- aptos a receber e desenvolver o conhecimen-
ro de forma autonoma. to.
Para Vygotsky (1998): “A brincadeira e Assim, a brincadeira favorece o desen-
o jogo são atividades próprias da infância, e volvimento da criança, promovendo a mobi-
através delas a criança recria a realidade vi- lização dos fatos aprendidos, elas assumem
venciada usando sistemas simbólico. comportamentos mais elaborado em relação
Para o autor, o jogo simbólico é como aos fatos vivenciados no cotidiano, desenvol-
uma atividade própria da infância e essencial vendo o conhecimento a cerca das regula-
para seu desenvolvimento, que ocorre a par- ções da vida em sociedade.

552
A brincadeira promove o desenvol- lhor a convivência com o outro.
vimento do pensamento lógico e cognitivo,
pois o jogo ajuda a elaborar os pensamentos Assim, o brinquedo cria uma zona de
operacionais, como, a criatividade, à capaci- desenvolvimento proximal da criança. No
dade de analisar habilidades e estratégias. brinquedo, a criança sempre se comporta
além do comportamento habitual de sua ida-
Segundo Piaget, o jogo é essencial de, além de ser comportamento diário. No
para o desenvolvimento infantil, pois as ati- brinquedo é como, se ela fosse maior do que
vidades lúdicas são a origem das atividades é na realidade. (Vygotsky, 1998, p. 134).
intelectuais, sendo por tanto, essencial à prá-
tica educativa. Quando por exemplo se propõe uma
atividade com jogos de regras isso propor-
Piaget afirma ainda que, os jogos são ciona à criança a oportunidade de perceber
importantes instituições sociais porque ao que na sociedade e na convivência humana
praticá-los as crianças são estimuladas a de- e necessário conviver com regras e que isso
senvolver habilidades sociais. A convivência se aplica tanto para ele quanto para o colega.
social promove experiências que estimulam
a elaboração de estratégias conjuntas e indi- O brincar proporciona alegria, estimu-
viduais, através das quais a criança passa a la a criança a realizar a atividade com prazer
entender os limites estabelecidos e que re- e empenho, favorecendo o trabalho docen-
gem a convivência em sociedade. te e proporcionando melhores resultados
aos objetivos iniciais do trabalho. Através da
Os jogos atuam também promovendo brincadeira do jogo e das atividades lúdicas
a integração do grupo em sala de aula, per- espontâneas a criança exerce sua liberdade
mitindo a participação e integração segundo de pensamento desenvolve seu corpo e sua
as negociações pré-estabelecidas. mente explora o mundo que rodeia, expres-
sa seus sentimentos, sua fantasia e ideias, re-
Para o autor, enquanto joga a criança lacionadas o mundo imaginário com o mun-
submete-se a conter seus desejos em de- do real.
trimento às regras estabelecidas pelo jogo,
aprende a conviver com as frustrações. Dessa forma jogo e a brincadeira de-
vem ser percebidos como estratégia indis-
sociáveis do processo de compreensão e
O JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL construção do conhecimento da perspetiva
infantil e deve ter destaque no planejamento
O brincar é, portanto, uma ativida- pedagógico.
de natural, espontânea e necessária para a
criança, constituindo-se em uma peça im- A criança deve ser entendida como
portantíssima na sua formação. Seu papel um ser em processo de desenvolvimento,
transcende o mero controle de habilidades. e que deve ser atendida como tal, Isso in-
É muito mais abrangente. Sua importância é clui um sistema de ensino que proporcione
notável, já que, por meio dessas atividades, meios para que seu desenvolvimento seja
a criança constrói seu próprio mundo (SAN- integral e diversificado, garantindo acesso à
TOS, 1995, p.4) cultura e aos bens comuns a sociedade para
que se possa garantir o desenvolvimento in-
A utilização de brincadeiras e jogos tegral da criança, levando as a tornarem se
como ferramenta auxiliar no processo de en- cidadãos críticos, competentes e que possam
sino e da aprendizagem, hoje já e parte da ro- expressar suas opiniões e exercer sua cida-
tina nas escolas, principalmente na Educação dania de forma consciente.
Infantil. Segundo os educadores e pesquisa-
dores da educação, os jogos e brincadeiras
auxiliam o trabalho pedagógico e estimulam ESTRATÉGIAS LÚDICAS APLICADAS NA
a criança a raciocinar fazendo ligação entre o APRENDIZAGEM
conteúdo aplicado e os acontecimentos coti-
dianos em sua vida. No período que compreende a Educa-
ção Infantil o lúdico é a principal estratégia de
O jogo como ferramenta de ensino aprendizagem, por meio do lúdico, a criança
deve favorecer a construção do conhecimen- experimenta a aprendizagem como de forma
to, proporcionando a vivência de situações natural e espontânea. A Ludicidade promove
diversas, propondo à criança desafios e es- a alfabetização espontânea e de forma pra-
timulando a buscar respostas para os pro- zerosa, a aprendizagem ocorre por meio da
blemas apresentados durante a atividade, vivência com sigo e com o outro
levando a criança a raciocinar, buscando ela
própria as respostas das situações apresen- Assim, compreender a relevância a
tadas. prática lúdica na Educação Infantil possibi-
lita aos educadores informações relevan-
Quando em sala de aula o professor tes sobre prática e métodos de intervenção
proporciona atividades lúdicas e oferece di- adequada, estimulando o prazer que brincar
versas opções de jogos e brincadeiras para proporciona.
seus alunos, as crianças encontrarão espaço
para desenvolver sua criatividade, para pen-
sar a cerca de sua realidade e entender me-

553
“O jogo infantil transforma a criança, As situações lúdicas de aprendizagem
graças à imaginação, os objetivos produzi- precisam ser preparadas por pessoas que co-
dos socialmente. Assim, seu uso é favorecido nheçam os recursos que podem utilizar para
pelo contexto lúdico, oferecendo à criança a saber se são adequados às suas propostas
oportunidade de utilizar a criatividade, o do- e se atendem às necessidades do nível de
mínio de si, à firmação da personalidade, e o desempenho das crianças, ou seja, dar con-
imprevisível”. Vygotsky (1998 p.132). tinuidade a arte de brincar e respeitar o de-
senvolvimento da criança é adequar à escola
Portanto, o brincar enquanto como de hoje num parâmetro nacional de direitos
recurso pedagógico não deve ser pensado de ao resgate a infância e ao brincar.
forma separada das atividades lúdicas que a
pereira. Concluímos então que da primeira in-
fância, até a finalização do processo educa-
A adoção de práticas que envolvem cional estabelecido como Educação infantil
os jogos e as brincadeiras, na prática peda- é indispensável o uso de atividades lúdicas,
gógica promovem o desenvolvimento de di- como práticas essenciais promotoras de de-
ferentes atividades que ajudam a construir a senvolvimento da criança.
aprendizagens das crianças.
Assim é importante que a Escolar e o
O professor poderá utilizar a Ludi- Professor devem preocupar-se em selecio-
cidade na forma de faz de conta, leitura de nar material adequado à etapa de desenvol-
histórias com fantoches, construção de brin- vimento das crianças, preservando a infância
quedos, entre outras diversas práticas para e seu desenvolvimento escolar, visando o
que de forma lúdica a criança seja desafiada pleno desenvolvimento infantil e a formação
a mobilizar os seus pensamentos a fim de so- de cidadãos conscientes autônomos e auto-
lucionar diferentes situações. res de sua própria historia.
O ato de brincar não envolve apenas O papel do professor, é o de media-
o ato de dispensar um tempo para deixar o dor, auxiliando o aluno a ampliar o seu po-
aluno e atividades sem direcionamento, A tencial, lançando mão de todos os recursos
atividade lúdica permite que a criança se pre- educativos que a Ludicidade pode oferecer.
pare pare para definir-se enquanto membro
de uma sociedade, a qual faz parte e precisa
conhecer as regras.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Maria Luisa de Lara Uzun de;
CONSIDERAÇÕES FINAIS ASSIS, Orly Zucatto Mantovani de. Os aspec-
tos cognitivo e afetivo da criança avaliados
Os trabalhos de pesquisa elaborados por meio das manifestações da função sim-
referentes ao brincar concluíram a funda- bólica. Revista Eletrônica Ciências & Cogni-
mental importância dessa vivência na prá- ção. 2006.
tica, sendo a forma mais natural de uma
criança agir e expressar-se; preservar sua FALCÃO, Ana Patrícia Bezerra. RAMOS,
espontaneidade e colaborar para sua saúde Rafaela de Oliveira. A Importância do brin-
emocional. quedo e do Ato de Brincar para o desenvolvi-
mento psicológico de crianças de 5 A 6 anos.
Através do brinquedo ela estabelece Belém, 2002.
contato com o tudo que esta ao seu redor e
se apropria dele dentro dos limites de suas OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psico-
responsabilidades: explora, descobre, trans- motricidade: Educação e Reeducação num
forma. Demonstra suas capacidades e cons- enfoque Psicopedagógico. 5ª edição. Petró-
trói seu conhecimento. polis: Editora Vozes, 2001.
As brincadeiras são tipo de atividade OLIVEIRA, Kleber Fernandes de; JAN-
mais característica da infância, o brincar é NUZZI, Paulo de Martino. Motivos para mi-
também a forma mais correta de estimula- gração no Brasil e retorno ao nordeste: pa-
ção que se lhe pode oferecer. Os brinquedos, drões etários, por sexo e origem/destino. São
são usados como convites ao brincar, são fa- Paulo Perspec. São Paulo, v. 19, n. 4, dezem-
cilitadores do processo. bro. 2005.
Respeitar a escolha livre da criança BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a
também faz parte do ensino, para cultivar aprendizagem escolar. Trad. Ernani F. da Fon-
sua autonomia, e motivação. seca Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
Mas, os conhecimentos e a intuição do FERREIRA, Aurélio Buarque de Holan-
educador saberão fazer uma escolha prévia da. Mini Aurélio Escolar Século XXI: o minidi-
construir um contexto lúdico adequado e dis- cionário da língua portuguesa. 4 ed. Rio de
ponibilizar para ela uma variedade de opor- Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2003.
tunidades que possibilite um nível de opera-
ção satisfatório, dentro do qual ela possa, de KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo,
forma criativa e prazerosa, evoluir e apren- Brinquedo, Brincadeira e a Educação. São
der. Paulo: Cortez, 2002.

554
VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da
Mente. 6ª ed. São Paulo, SP. Martins Fontes
Editora LTDA, 1998.
VYGOTSKY, L.S; LURIA, A.R. & LEON-
TIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e
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DISPONÍVEL EM: <Orientações curricu-
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SME / DOT, Acesso em: 18 de ago. de 2023.
DISPONÍVEL EM: SAINT-EXUPÉRY, An-
toine de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro,
Editora Agir, 2009. Aquarelas do autor. 48ª
edição / 49ª reimpressão. Tradução por Dom
Marcos Barbosa.> Acesso em: 21 de ago. de
2023.
DISPONÍVEL EM: <Referencial curricu-
lar nacional para a educação infantil / Minis-
tério da Educação e do Desporto, Secretaria
de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/
SEF, 1998. v.3.> Acesso em: 20 de ago. de
2023.

555
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
TATIANE DE SOUZA PRADO

RESUMO para entrar na vida adulta em todos seus as-


pectos. A criança era considerada um adulto
Por meio deste trabalho, veremos em miniatura, pois eram designadas tarefas
que as modificações na história da educação iguais as das pessoas mais velhas e todos os
ocorreram a partir de mudanças econômicas tipos de assuntos eram conversados na sua
e políticas da estrutura social. Com o passar frente. A partir deste momento a criança era
do tempo, como demonstra a história, en- enviada para viver com outras famílias para
contramos diferentes concepções de infân- desta forma aprender os trabalhos domésti-
cia. A criança era vista como um adulto em cos e os valores. Porém, com essa separação
miniatura, e seu cuidado e educação eram o sentimento ficava dissolvido.
realizados somente pela família, em especial
pela mãe. Havia algumas instituições alterna- Naquela época, a criança era levada
tivas que serviam para cuidado das crianças à aprendizagem através da prática. Os tra-
em situações prejudicadas ou quando re- balhos domésticos não eram considerados
jeitadas. A concepção de infância, até este humilhantes, era constituído como uma ma-
momento, baseado no abandono, pobreza, neira comum de inserir a educação tanto
favor e caridade, neste sentido era ofertado para os mais abastados, como para pobres.
um atendimento precário às crianças; havia Porém pelo fato de a criança sair muito cedo
ainda grande número de mortalidade infan- do seio da família, fazia com que ela escapas-
til, devido ao grande risco de morte pós-natal se do controle dos pais, mesmo que um dia
e às péssimas condições de saúde e higiene voltasse a ela, tempos mais tarde, depois de
da população em geral. Em virtude dessas adulta, o vínculo primordial havia se quebra-
decorrências e dessas condições uma criança do.
que morria era logo substituída por outra em
sucessivos nascimentos, pois na época ainda
não havia, como hoje existe, o sentimento A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E
de cuidado, ou paparicação, pois as famílias, DA LUDICIDADE NO BRASIL
naquela época, entendiam que a criança que
morresse não faria falta e qualquer outra po- Segundo os estudos de Kuhlmann
deria ocupar o seu lugar. (1998), a primeira creche foi inaugurada em
1889 ao lado da Fábrica de Tecidos Corcova-
Palavras-chave: Educação; Crianças; do, no Rio de Janeiro. Neste ano, o Instituto
História. de Proteção e Assistência à Infância do Rio
de Janeiro criou a rede assistencial expandin-
do-se por todo Brasil. Representando assim
INTRODUÇÃO uma instituição filantrópica e uma organiza-
ção racional do assistencialismo, neste senti-
O período da infância era minimizado do substituição a caridade. Eram instituições,
a seu período mais frágil, enquanto a crian- de cunho religioso, não havia propostas for-
ça ainda não conseguia bastar-se; ficava no mais de instrução pra as crianças, porém ti-
seio da família, porém, mal adquiria algum nham atividades voltadas para o canto, as re-
desembaraço físico, era logo introduzida no zas, as passagens bíblicas, aos exercícios de
meio dos adultos, compartilhando de todos leitura e também à escrita, no intuito de ins-
os seus trabalhos e jogos. De uma criança truir às crianças atendidas, a um bom com-
inocente e pequena, está se transformava ra- portamento.
pidamente em um jovem, deixando passar as
etapas da infância. Segundo (Oliveira, 2002) no Brasil, até
a primeira metade do século XIX, não havia
A transferência de valores e dos co- nenhuma instituição apropriada para rece-
nhecimentos, e de modo mais amplo, a so- ber as crianças, essa incumbência era papel
cialização da criança, não era, portanto de somente das famílias, que deveriam cuidar
nenhuma forma assegurada nem direciona- de seus filhos assim como também educá-
da pela família. Esta criança se distanciava -los. Porém com a inclusão da mulher no
rapidamente de seus pais, e podemos dizer mercado de trabalho passou o papel de edu-
que durante muitos séculos a educação e a car e cuidar das crianças para as creches.
aprendizagem foi garantida graça a convi-
vência da criança ou do jovem com outros Neste sentido Kuhlmann (1998) afirma
adultos. Neste sentido a criança era inserida que, a roda dos expostos ou roda dos exclu-
em meio aos adultos para aprender as coisas ídos, iniciaram-se mesmo antes das institui-
que devia saber ajudando os adultos a faze- ções creches. Esse nome e dado pelo fato
rem-nas. que os bebês abandonados eram deixados
em local composto por uma forma cilíndrica,
Neste sentido na visão do autor, no que tinha uma divisória e era fixada nas jane-
momento que a criança possuía pouca de- las da determinada instituição ou mesmo das
pendência, em média pelos aos cinco ou sete casas de misericórdia que havia.
anos, mostrava-se que já estava preparada

556
Por mais de um século a roda de ex- um enfoque maior para a sua a educação
postos foi a única instituição de assistência à tendo como foco desenvolver a criatividade
criança abandonada no Brasil e, mesmo com e a sociabilidade infantil.
vários pensamentos contrários a esta institui-
ção por parte de um determinado segmento A princípio, as instituições infantis
da sociedade, somente no século XX, mais ou como a creches e pré-escolas tinham um
menos por volta de 1950, o Brasil a extinguiu, cunho assistencialista, visavam somente
sendo o último país a fazê-lo. o guardar e o cuidar da criança na falta da
família. Essa concepção entendia a criança
Para Kuhlmann (2000) embora as cre- como um ser fraco, delicado, desprotegido
ches e pré-escolas para os menos favorecidos e completamente dependente. Os profissio-
ficaram fora dos órgãos educacionais, as suas nais não tinham qualificação, sua atuação
mútuas relações se aplicaram, pelos próprios era simplificada somente para os cuidados
meios das instituições. Em São Paulo, desde básicos de higiene e regras de bom compor-
dezembro de 1920, a legislação antecipou a tamento.
instalação de Escolas Maternais, tendo como
finalidade o cuidado para os filhos dos operá- Segundo Kuhlmann (2000) as institui-
rios, preferivelmente perto das fábricas que ções de Educação Infantil cujo atendimento
ofertasse um espaço e a alimentação das específico era somente para as crianças de
crianças. Poucas empresas disponibilizaram 0 aos 06 anos, tinham um olhar voltado so-
este atendimento para os filhos de suas fun- mente para o atendimento médico e para o
cionárias, porém as que ofereciam este aten- assistencial, ou seja, somente visavam o cui-
dimento faziam desde o berçário. dado e a higiene das crianças. Essa concep-
ção durou por um longo período no Brasil.
Kuhlmann (2000) afirma que alguns
fatores, como a mortalidade infantil, a des- De acordo com Kuhlmann (2000) as
nutrição generalizada, entre outros, foram primeiras creches do país surgiram no Rio de
determinantes, para que alguns setores da Janeiro, o Instituto de Proteção e Assistência
sociedade, entre eles os religiosos, os em- à Infância que deu início a uma rede assis-
presariais e educacionais, pensassem em um tencial que se expandiu por vários lugares do
ambiente para que pudessem oferecer cui- Brasil, portanto, fica claro que as instituições
dados para criança longe do ambiente fami- de educação infantil surgiram com caráter
liar. De forma que foi a partir desta preocu- exclusivamente voltado para o assistencialis-
pação, que a criança começou a ser vista pela mo. A infância não era reconhecida em sua
sociedade, por um sentimento filantrópico, essência, a preocupação era somente suprir
de caridade, assistencial e que começou a ser suas necessidades de cuidados sem um en-
atendida fora da família. foque maior para seu desenvolvimento inte-
lectual. O entendimento sobre a infância na
Neste sentido as creches foram cria- educação Infantil foi se construindo social
das, devido a muitos fatos ocorridos, um e historicamente. A inserção concreta das
deles foi o processo da inserção. De indus- crianças e seus papéis variam com as formas
trialização no país, e também pela inserção de organização da sociedade. Em 1923, hou-
da mão-de-obra da mulher no mercado de ve um aumento na demanda de creches, nes-
trabalho, assim como a chegada dos imigran- te momento as autoridades governamentais
tes europeus no Brasil, desta forma, os movi- perceberam o grande número de mulheres
mentos operários ganharam força. Este mo- nas indústrias, dessa forma, pressionaram as
vimento começou a se organizar em centros indústrias a reconhecerem o direito a ama-
urbanos mais desenvolvidos e industrializa- mentação, e assim se expandiu para o se-
dos e reivindicaram melhoria nas condições tor de comércio, provocando a expansão de
de trabalho; entre estas, pediram a criação muitas creches. Esta situação então colabo-
de instituições de educação e cuidados para rou para que, em 1932, o trabalho feminino
seus filhos. fosse regulamentado.
Segundo Kramer (2005), a revolução Conforme os registros de Faria (1999),
de 1930, o crescimento da indústria, e a mi- já existia uma Inspetoria de Higiene Infantil
gração resultante do êxodo da zona rural desde 1923, porém somente em 1934 se criou
“fenômeno da urbanização”, são fatores que uma Diretoria de Proteção à Maternidade e à
contribuíram para que surgissem órgãos ad- Infância, sendo esta de caráter somente as-
ministrativos e burocráticos para o atendi- sistencial, sendo chamada, em 1937, de Di-
mento infantil. As instituições públicas foram visão de Amparo à Maternidade e à Infância.
criadas para atender as crianças carentes, vi- Desta forma algumas creches começaram a
sando apenas o cuidar e o assistencialismo, ser chamadas de berçários, neste sentido es-
enquanto as privadas agregavam propostas tavam abertas para crianças de 0 a 2 anos,
de cunho pedagógico. Contudo, neste con- o maternal para a faixa etária de 2 a 4 anos
texto podemos observar que as crianças de e o jardim de infância para crianças de 4 e 5
diferentes níveis sociais eram vistas de for- anos de idade. Em 1940, inaugurou-se o De-
mas diferenciadas, pois as classes menos fa- partamento Nacional da Criança, no ano de
vorecidas eram atendidas com uma proposta 1942, foi apresentado para a sociedade um
de trabalho que focava somente o cuidar com plano que visava implantar uma instituição
uma ideia de carência, enquanto as outras única para a assistência à infância, que foi de-
das classes sociais mais abastadas recebiam nominada a “Casa da Criança” um ambiente

557
na qual funcionavam, o berçário, o maternal, de, baseada na utilização de jogos e materiais
o jardim e a pré-escola. Faria (1999) aponta didáticos, os quais deveriam traduzir por si
que, aconteceram a partir da década de 1930 a crença em uma educação que atendes-
várias iniciativas com relação à Educação In- se a natureza infantil. Ele foi o fundador do
fantil. Em São Paulo, por exemplo, em 1935, primeiro jardim de infância, que tinha uma
sob a direção de Mário de Andrade, no Depar- proposta pedagógica para as crianças, privi-
tamento de Cultura, foi iniciado um projeto legiando a ludicidade, pois acreditava que a
de “Parques Infantis” para alguns grupos or- criança aceitaria mais aprender brincando. A
ganizados com crianças de 3 anos, ou grupos pedagogia Froebeliana surgiu no Brasil por
com crianças de 4 a 5 anos, ou mesmo com volta do final do século XIX por meio de mui-
crianças maiores de 6 anos depois do horário tas críticas, como sendo uma pedagogia que
escolar. Após vinte anos, ocorreram muitas fundava espaços para guardar as crianças,
mudanças no contexto Educacional infantil, porém também obteve muitos elogios. Foi
porém foi mais precisamente em 1961, após apresentada juntamente com o Movimento
mais de uma década de lutas intensas, deba- das Escolas Novas devido à influência dos Es-
tes e disputas políticas, o Congresso Nacional tados Unidos e da Europa.
aprovou a Lei n. 4.024 de 20 de novembro de
1961, que proporcionou uma grande refor- Segundo Kuhlmann (2000), as mudan-
ma para a educação brasileira. ças da educação brasileira sofreram influên-
cias do movimento Escola Nova, provocando
Freitas (2003) descreve que em 1971, um aumento do debate sobre a preparação
por causa das dificuldades da ditadura, hou- da infância. Num contexto histórico de trans-
ve a aprovação de uma reforma educacional, formações socioeconômicas, começaram a
a Lei 5692/11 de agosto de 1971, que rees- ser pensada no país a elaboração de uma
truturou o ensino primário. Segundo o au- proposta nacional para atendimento educa-
tor, esta nova lei, e as mudanças ocorridas, cional da infância, que até aquele momento
foi uma “tragédia” para a Educação Infantil, era fundamentada na educação europeia.
pois ela retirou dos governos as obrigações
escolares relacionadas às “crianças peque- Para Sousa (2000), a educação infantil
nas”. Foi na década de 1970, militares, grupos foi organizada oficialmente no início dos anos
esses que sustentavam política e economica- 1980, através do III Plano Setorial de Educa-
mente a ditadura e vários sistemas interna- ção, Cultura e Desporto, que procurou pro-
cionais dividiam opiniões sobre a pobreza. gramar uma educação que atendesse com
qualidade, partindo do princípio do direito da
Freitas (2003) salienta que eles decla- criança e da mãe a um atendimento de quali-
ravam que a pobreza era prejudicial, pois po- dade. Empresas privadas laicas e também as
deria desenvolver problemas sociais se não religiosas, investiram no setor.
fosse atendida e que, entre a vida dos po-
bres, o atendimento ao cuidar das crianças De acordo com Costa (2000) a palavra
seria uma forma de prevenção dos proble- lúdica vem do latim ludus e significa brincar.
mas sociais e, também, uma forma continuar Neste brincar estão incluídos jogos, brinca-
liberando as mães para o trabalho. deiras e brinquedos e é relativa à conduta
daquele que joga brinca e se diverte.
Para Campos, Rosemberg e Ferreira
(1993), em 1942, através do governo federal Segundo Almeida (2008) o lúdico
foram criadas a Legião Brasileira de Assis- é qualquer atividade que nos dar prazer
tência a LBA, que se tornou responsável por ao executa- lá. Através do lúdico a criança
executar as políticas sociais da infância en- aprende a ganhar, perder, conviver, esperar
tre outros assuntos que se relacionavam às sua vez, lidar com as frustrações, conhecer e
famílias. Passando a se unir com as creches explorar o mundo. As atividades lúdicas têm
dos setores industriais e empresas privadas. papel indispensável na estruturação do psi-
quismo da criança, é no ato de brincar que
No início do século XX, segundo Ara- a criança desfruta elementos da realidade e
nha (2006), o governo assumiu a responsa- fantasia, ela começa a perceber a diferença
bilidade de zelar pelos filhos dos trabalha- do real e do imaginário. É através do lúdico
dores. Com o movimento da escola nova o que ela desenvolve não só a imaginação, mas
atendimento à criança, até então era assis- também fundamenta afetos, elabora confli-
tencial médico, passou também a ser visto tos, explora ansiedades à medida que assu-
como atendimento psicológico educativo. Os me múltiplos papeis, fecunda competências
jardins da infância são criados a partir das cognitivas e interativas.
creches existentes. Pois até este momento
o atendimento à criança não se pautava por Almeida (2008) afirma que os jogos
nenhum princípio pedagógico e não havia contribuem de forma prazerosa para o de-
nenhuma participação do poder público nes- senvolvimento global das crianças, para in-
se nível de ensino. teligência, para a efetividade, motricidade
e também sociabilidade. Através do lúdico
Aranha (1998), descreve que o aten- a criança estrutura e constrói seu mundo
dimento das crianças antes da educação interior e exterior. As atividades lúdicas po-
elementar, teve início no século XIX com a dem ser consideradas como meio pelo qual
proposta do educador alemão Froebel, que a criança efetua suas primeiras grandes rea-
propôs uma Educação voltada à sensibilida- lizações. Através do prazer ela expressa a si

558
própria suas emoções e fantasias. das. A função do brincar é ao mesmo tempo,
construir uma maneira de acomodar a con-
Como afirma Lima (1992) o lúdico é flitos e frustrações da vida real. Para Piaget
um instrumento de instigação prática utiliza- (1990), o brincar retrata uma etapa do desen-
da em qualquer etapa no desenvolvimento volvimento da inteligência, marcada pelo do-
da psicomotricidade é uma forma global de mínio da assimilação sobre a acomodação,
expressão que envolve todos os domínios da tendo como função consolidar a experiência
natureza. Apresenta grandes benefícios do vivida.
ponto de vista intelectual, físico, social e di-
dático para criança. A brincadeira desenvolve Afirma Bomtempo (1997) que a partir
a criatividade e a espontaneidade da criança. das abordagens de Piaget e Vygotsky, com-
preende-se a necessidade da incorporação
Para Goldchmied e Jackson (2006) a de jogos, brincadeiras e brinquedos na prá-
criança começa a brincar logo nos primeiros tica pedagógica, é um recurso rico que pode
meses de vida, primeiramente com seu pró- contribuir para o desenvolvimento infantil. A
prio corpo. A iniciação ao ato lúdico acontece intervenção do professor é fundamental no
de forma espontânea, e através do incentivo processo de ensino aprendizagem, além da
pelos adultos que interagem com o bebê, interação social ser importante para a aquisi-
através de brincadeiras, cantigas, conversas, ção do conhecimento.
brinquedos variados e de diferentes cores. A
seguir a criança brinca de esconde-esconde Kishimoto (2003), considera o jogo
com a sua própria fraldinha ou até mesmo uma atividade lúdica relevante no processo
com suas mãos escondendo seu rosto, co- educativo, pois a sua finalidade no ambien-
meça a manusear diversos objetos, imita os te escolar traz muitos benefícios para o pro-
gestos dos adultos, expressões, bate palmi- cesso de ensino-aprendizagem. O jogo é um
nha e também começa a interagir com outras estímulo natural e influência no processo de
crianças. As crianças expressam emoções, desenvolvimento dos esquemas mentais.
sentimentos e pensamentos, ampliando a Seus benefícios permitem a integração de
capacidade do uso significativo de gestos e várias ações como: a afetiva, a social motora,
posturas corporais. a cognitiva, a social e a afetiva. Existem algu-
mas considerações sobre a função lúdica e
No século XX entre as décadas de 20 e educativa do brinquedo. A função lúdica do
30, estudiosos como Piaget e Vygotsky iden- brinquedo promove prazer, diversão e até
tificaram a importância do ato de brincar no mesmo desprazer, quando escolhido volun-
desenvolvimento integral da criança pois ela tariamente, com função educativa o brinque-
se apropria do conhecimento através da brin- do ensina qualquer coisa que complete ao
cadeira, possibilitando a sua ação no meio indivíduo em seu saber, seus conhecimentos
em que vive. e sua apreensão do mundo.
Segundo Kishimoto (1990), quando a Segundo Almeida (1995) educar lu-
criança brinca, a criança entende o mundo dicamente não é jogar lições empacotadas
à sua maneira, sem engajamento com a re- para educando aplicar passivamente, educar
alidade, pois sua interação com o objeto não ludicamente é um ato consciente e planeja-
depende da natureza do objeto, mas da fun- do, é tornar o sujeito feliz, é seduzir os seres
ção que a criança lhe atribui. humanos ao prazer de conhecer, é resgatar o
Piaget (1990), afirma que as atividades verdadeiro sentido da palavra ¨escola¨ lugar
lúdicas fazem parte da vida da criança, entre de alegria, prazer, satisfação, prazer intelec-
outras atividades lúdicas, estão os jogos. Pia- tual e desenvolvimento. Para que o educador
get identifica três tipos de jogos: jogos com atingir esse meio é necessário que o educa-
regra, jogos exercícios e jogos simbólicos. dor repense sobre a sua prática pedagógica,
se suas ferramentas pedagógicas estão al-
Vygotsky (2009), considera que a brin- cançando objetivos e metas.
cadeira é uma atividade social da criança.
Através dos jogos, a criança adquire princí- Almeida (1995) afirma que a escola e
pios essenciais para a estruturação de sua principalmente a Educação Infantil devem
personalidade e percepção do seu contexto usar o lúdico amplamente para atuar no de-
social. Vygotsky explica que através de uma senvolvimento e na aprendizagem da crian-
conduta imaginária surge a possibilidade da ça. Para manter um equilíbrio com o mundo
criança dirigir seu comportamento, isso ocor- a criança precisa criar, inventar e brincar,
re não apenas pela percepção imediata dos com as atividades lúdicas, jogos e brincadei-
objetos, mas também colocar nessa situação. ras. Desta forma a criança desenvolve seu ra-
Desta forma a criança estabelece regras de ciocínio e conduz seu conhecimento de for-
comportamento no seu cotidiano em situa- ma descontraída e espontânea.
ções imaginárias, na evolução do processo A teoria froebeliana, ao considerar o
da brincadeira podem seguir regras explíci- brincar como uma atividade espontânea da
tas ou não. criança, concebe suporte para o ensino e
Bomtempo (2007), observa que para permite a variação do brincar, ora como ati-
Vygotsky, o brincar tem sua origem na situa- vidade livre, ora orientada. As concepções
ção imaginária criada pela criança, nas quais froebeliana de educação, homem e socie-
as vontades irrealizáveis podem ser realiza- dade estão intimamente vinculados ao brin-

559
car. Froebel introduz o brincar para educar e espaço adquirindo um saber globalizado a
desenvolver a criança; sua teoria metafísica partir de situações concretas.
pressupõe que o brincar permite o estabele-
cimento de relações entre os objetos cultu- A atividade lúdica é um instrumento
rais e a natureza, unificado para o mundo es- que possibilita que as crianças aprendam a
piritual. Assim, o brincar como atividade livre relacionar-se com outras crianças, promove
e espontânea, é responsável pelo desenvol- o desenvolvimento da linguagem e da con-
vimento físico, moral, cognitivo, os dons ou centração consequentemente gera uma mo-
brinquedos, objetos que subsidiam ativida- tivação a novos conhecimentos. O eixo da in-
des infantis. Entende também que a criança fância é o brincar, sendo um dos meios para
necessita de orientação para o seu desenvol- o crescimento, e por ser um meio dinâmico,
vimento, perspicácia do educador levando-a o brinquedo oportuniza o surgimento de
a compreender que a educação é um ato ins- comportamentos, padrões e normas espon-
titucional que requer orientação. tâneas. Caracteriza-se por ser natural, viabi-
lizando para a criança há uma exploração do
A brincadeira é uma atividade espi- mundo exterior e interior.
ritual mais pura do homem neste estágio
e, ao mesmo tempo, típico da vida humana A brincadeira caracteriza-se por sua
enquanto todo – da vida natural/interna do organização e pela utilização de regras; a
homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, brincadeira é uma atividade que pode ser
liberdade, contentamento, descanso externo tanto coletiva quanto individual, onde as exis-
e interno, e paz com o mundo. tências das regras não limitam a ação lúdica,
a criança pode modificá-la, quando desejar,
Conforme Kishimoto (2009), a criança incluir novos membros, retirar e modificar as
ao brincar e jogar, se envolve com a brinca- próprias regras, ou seja, existe uma liberda-
deira, se entusiasma, que coloca na ação seu de da criança agir sobre ela. Para a autora,
sentimento e emoção. Pode-se dizer que a a brincadeira se constitui em uma atividade
atividade lúdica funciona como um elo inte- em que as crianças, sozinhas ou em grupo,
grado entre os aspectos motores, cognitivos, procuram entender o mundo e as ações hu-
afetivos e sociais, portanto a partir do brincar manas nas quais estão inseridas no seu dia
desenvolvem-se a facilidade para a aprendi- a dia
zagem, o desenvolvimento social, cultural e
pessoal e contribui para uma vida saudável, Após os humanistas do renascimento,
física e mental. Também é possível enxergar por volta do século XVII ao perceber que os
nele um pouco de representação do real no jogos e brincadeiras contribuíam para Educa-
momento em que a criança elege como um ção, começaram a utilizá-los como maneira
substituto do objeto utilizando nas ações re- de conservar a moralidade das crianças, que
ais do dia a dia tornando-se, em alguns mo- até então eram considerados, “adulto em
mentos, um representante da realidade. miniatura”, a partir daí começaram a proibir
aqueles jogos que considerados inapropria-
Ao brincar a criança também adquire a dos para as crianças e orientar os que consi-
capacidade da simbolização permitindo que deravam bons.
ela possa vencer realidades angustiantes e
domar medos instintivos. O brincar é um im- Ainda conforme Wajskop (2009), al-
pulso natural da criança, que aliado à apren- guns pesquisadores como Comenius, Rous-
dizagem tornar-se mais fácil à obtenção do seau e Pestalozzi, influenciaram para o reco-
aprender devido à espontaneidade das brin- nhecimento da infância. Fundamentando-se
cadeiras através de uma forma intensa e to- numa concepção idealista e defensora da
tal. O mundo infantil é diferente do mundo criança proporcionaram uma educação dos
adulto, nele podemos encontrar o faz de con- sentidos, apoiando-se no uso de brinquedos
ta, o mundo da fantasia, sonhar e descobrir. e concentrada na recreação. Iniciaram, as-
Por meio das brincadeiras, que é uma ação sim, a preparação por meios próprios para
comum da infância, a criança tem a oportu- a educação infantil. A partir destas ideias é
nidade de se conhecer e de se constituir-se que se começou a observar a educação das
socialmente. crianças pequenas como portadoras de ca-
racterísticas específicas, deixando de ser con-
Para Kishimoto (2009), a brincadeira, o siderada uma educação dos adultos em mi-
jogo, e o brinquedo, as atividades lúdicas de- niatura, como eram considerados até então.
vem se fazer presentes como recursos didáti- Wajskop (2009) afirma que: Os pesquisado-
cos no processo educacional, principalmente res Comenius, Rousseau e Pestalozzi deram
na Educação Infantil, e as séries iniciais. início a educação sensorial, usando os jogos
e os materiais didáticos. Eles foram os pri-
Compreender esse universo lúdico meiros pedagogos da educação pré-escolar
tornar-se indispensável para o bom desen- a romper com a educação verbal e tradicio-
volvimento do trabalho pedagógico efetiva- nalista de sua época. Sugeriram a educação
do pelo professor que é o mediador destas sensorial, tendo como base a utilização dos
ações. O jogo educativo é essencial, pois pos- jogos e dos materiais didáticos, que teria que
sibilita a criança uma aprendizagem através traduzir por si a crença em uma educação na-
das vivências, por meio das quais podem tural dos instintos infantis.
experimentar sensações e explorar as possi-
bilidades de movimentos do seu corpo e do Segundo Kishimoto, apud Santos

560
(2009), Froebel foi o primeiro educador que mentos e produz situações imaginárias que
apontou o uso do brincar no processo edu- introduz elementos do contexto cultural do
cativo. Seu olhar pedagógico associava o ato qual faz parte.
de brincar como um elo de suma importância
para a educação. Entendendo que o brincar, Para Rego (2013), a criança quando
pelo ato de brincar estimula os fatores físi- nasce já está inserida em um contexto social,
cos, moral e cognitivo, dentre outros, porém e a brincadeira torna-se um passo importan-
ele justifica, que também, seja importante a tíssimo para que ela se aproprie do mundo,
orientação do adulto para que ocorra o de- na internalização dos conceitos desse am-
senvolvimento da criança. Neste sentido as biente externo a ela. Neste sentido podemos
escolas adotaram suas teorias, percebendo entender que a brincadeira é algo muito im-
o brincar como atividades orientadas e tam- portante para que a criança se desenvolva
bém livres. Os brinquedos passaram a ser e o autor confirma essa afirmação, ao falar
vistos como base para a atuação do brincar que o ato de brincar é uma atividade que in-
nas escolas, possibilitando assim a obtenção centiva a aprendizagem, pelo fato, de criar
de capacidades e saberes. uma zona de desenvolvimento proximal na
criança. A ideia de zona de desenvolvimento
Wajskop (2009) afirma que Dewey, proximal demonstra também a relevância da
discípulo da Escola Nova, observava o ato mediação durante a brincadeira.
de brincar como uma ação livre e natural.
A brincadeira era observada como uma de- Wajskop (2009) afirma que, no am-
monstração dos sentimentos, necessidades biente das escolas de educação infantil esse
e interesses da criança. As convicções da Es- assunto tem que ser bem analisado ao re-
cola Nova ganharam intensidade no Brasil fletir na qualidade das brincadeiras a serem
por volta da década de 20. Neste período os propostas naquele ambiente. É importante
jogos também começaram a ser utilizados levar em consideração que tudo em volta da
como forma de ensino. criança poderá de estimular e enriquecer as
brincadeiras, ou o contrário. Pensar na me-
Foi por volta das décadas de 60 e 70, diação é algo imprescindível no momento de
no século XX que a psicologia do desenvolvi- organização e também do comprar dos brin-
mento e da psicanálise colaborou para que quedos, organizar a sala, brincar no parque,
se observasse a infância como o período pri- além da hora em que a professora vai condu-
mordial do desenvolvimento do ser humano, zir uma brincadeira com os seus alunos.
destacando o papel da brincadeira na educa-
ção infantil. Para Wajskop (2009), é imprescindí-
vel a garantia do espaço para o momento
Para Wajskop (2009), a brincadeira in- da brincadeira, dando direito de uma pos-
fantil pode se constituir em uma atividade sibilidade de educação da criança em uma
em que as crianças sozinhas ou em grupo concepção criadora, voluntária e consciente.
procurem compreender o mundo e as ações É no momento do brincar, que as crianças
nas quais estão inseridas no seu dia a dia. É constroem a consciência do real, e também
uma atividade predominantemente infantil, ao mesmo instante tem uma oportunidade
é a forma pela qual se começa aprender. A de modificá-la. A brincadeira é um momento
brincadeira aparece sempre como uma situ- privilegiado da aprendizagem infantil onde o
ação organizada, exigindo para aquele que desenvolvimento pode atingir níveis mais sé-
brinca decisões que precisam ser tomadas, rios, precisamente através da probabilidade
mesmo numa situação imaginaria, quando de interação entre as duplas em uma circuns-
as crianças interagem com diferentes obje- tância imaginária e pela negociação de regras
tos atribuindo-lhes outros significados, existe de convivência e de conteúdos temáticos.
a escolha constante por parte da criança. É
uma característica importante que exerce in- De acordo com Wajskop (2009), a brin-
fluência no desenvolvimento do autocontro- cadeira precisa abranger um espaço essen-
le da criança. Na perspectiva Histórico-Cultu- cial na educação infantil, sabendo que o pro-
ral elaborada por Vygotsky apud REGO (2013) fessor é a peça mais importante para ajudar
e seus parceiros, a brincadeira evidencia um que isso aconteça, partilhando das brinca-
trabalho primordial no desenvolvimento dos deiras das crianças, é por meio das ações do
processos psicológicos da criança. Ao deba- professor, que a criança conseguirá adicionar
ter a importância das brincadeiras no desen- às culturas e maneiras de vida dos adultos de
volvimento da criança, o autor dá relevância modo criativo e social.
significativa à brincadeira de faz de conta. A Percebe-se que, durante a idade em
brincadeira de faz de conta tem grande privi- que a criança frequenta a Educação Infantil, a
légio em sua discussão sobre a importância atividade de imitação e que faz por meio dos
papel do brinquedo no desenvolvimento da brinquedos e brincadeiras, deve ser conside-
criança. rada como uma das atividades guia do de-
Para Rego (2013), a brincadeira obtém senvolvimento infantil, que oportuniza para
um papel extremante importante na forma- a criança realização de ações que estão longe
ção da criança, no sentido que considera a de suas reais capacidades, contribuindo para
meio social como maneira de aprendizagem a sua aprendizagem e aumentando a capaci-
do ser humano. Neste sentido, e no ato de dade cognitiva infantil.
brincar que a criança socializa seus pensa-

561
O incentivo de atividades que conce- parada para aceitar novos componentes na
da o envolvimento da criança em brincadei- brincadeira, obedecem às regras e constrói
ras, especialmente aquelas que favoreçam significado a objetos que lhe permitem reali-
a elaboração de situações imaginárias, tem zar a mesma ação próxima do real.
notória função pedagógica. A escola, parti-
cularmente a educação infantil deveriam se Segundo o Referencial Curricular Na-
apropriar deliberadamente desse tipo de si- cional para a Educação Infantil (1998), a brin-
tuações para intervir no processo de desen- cadeira é uma das atividades essenciais para
volvimento infantil. que ocorra o desenvolvimento da identidade
e da autonomia da criança. É por meio da
Durante a brincadeira a criança trans- brincadeira que ela compreende, observa e
forma qualquer objeto em outro, sem limi- interage com outras pessoas ampliando sua
tações, pois no momento da brincadeira, a imaginação.
criança estrutura hipóteses para a resolução
de seus problemas e também consegue to- Porém quando usa a linguagem do
mar decisões além do comportamento nor- faz de conta, a criança avança sua concep-
mal para a sua idade, é neste momento que ção sobre os objetos e as pessoas ao reali-
acontece a transformação do significado dos zar diversos papéis sociais ou personagens,
objetos de acordo com suas vontades, sem proporcionando um cenário no qual a crian-
haver preocupação em adaptar-se à reali- ça é capaz de imitar a vida como também de
dade, desenvolvendo a sua identidade, pelo transformá-la. A brincadeira é considerada
fato de vivenciar outras formas de ser e de um espaço pelo qual se pode observar o con-
refletir. trole das experiências prévias das crianças e
aquilo que os objetos manuseados insinuam
Para Rego (2013), ao brincar a crian- ou estimulam no momento presente. Perce-
ça começa a criar uma situação imaginária be-se que para a criança aprender formas
é desta forma que ela começa a satisfazer diferentes de brincar, ela necessita obter
seus desejos não realizáveis. A criança brinca contato com outras crianças, e com pessoas
pela vontade de atuar em relação ao mundo mais velhas em espaços variados, dentro e
mais extenso dos adultos e não apenas agir fora da instituição infantil.
ao universo dos objetos no qual tem contato.
Rego (2013) afirma que é na brincadei-
Kishimoto (2009) afirma que o brin- ra, através da aproximação com as situações
car é uma ação na qual a criança deve agir da realidade que a construção do desenvolvi-
livremente. O brincar pode surgir a qualquer mento mental da criança vai se expandir e se
hora, é a criança que tem que iniciá-la e con- transformar. Ao copiar um adulto, a criança
duzi-la, é necessário, dá prazer, não é preciso procura na brincadeira as características do
impor como condição, um produto final, ou seu personagem e dá nova forma aos pe-
seja, a brincadeira faz com que a criança re- quenos objetos em seres que completam o
laxe, e aprenda regras, linguagens, também quadro de sua fantasia. É curioso analisar a
desenvolva habilidades, e a conduza ao mun- maneira de brincar da criança e as imitações
do imaginário. que ela faz com sua realidade e a organiza-
ção de sua imaginação.
De acordo com Vygotsky (apud FON-
TANA E CRUZ, 2007) a brincadeira é essencial Para Rego (2013), é de extrema impor-
para ampliar o pensamento da criança, pois tância que as crianças possam usufruir de-
ela trabalha vários aspectos que contribuem terminados espaços na escola que permita
no desenvolvimento emocional e cognitivo. o acontecimento dos mais variados tipos de
Afirma ainda, que através da brincadeira, a brincadeiras, pois compreendemos que é por
criança atua nos objetos como adultos. As- intermédio dos jogos e das brincadeiras que
sim, as brincadeiras das crianças pequenas a criança aumenta sua curiosidade, atenção,
são caracterizadas pela imitação de ações do autonomia, e sua capacidade de solucionar
ser humano realizadas sobre os objetos. Sen- problemas. Tudo isso faz parte da aprendiza-
do assim é indispensável salientar, portanto gem da criança, e são primordiais para o de-
que a situação imaginária que a criança vive senvolvimento da particularidade da criança.
ao brincar, torna-se um prérequisito para
que assim tornem-se conscientes das possí- Vygotsky (apud WAJSKOP, 2009), afir-
veis regras que existem nas brincadeiras. ma que, é por intermédio da brincadeira que
a criança pode vencer seus limites e conse-
Oliveira (2007) considera que aquilo gue viver experiências que vão mais adiante
que na vida real é comum e passa desper- de sua idade e realidade, fazendo com que
cebida, na brincadeira vira regra e contribui ela desenvolva sua consciência. Dessa ma-
para que a criança compreenda o universo neira, é na brincadeira que se deve sugerir à
próprio dos diversos papéis que representa. criança desafios e questões que a façam re-
fletir, propor soluções e resolver problemas.
Para Vygotsky (2013), é através do ato
de brincar que a criança estabelece suas ne- Wajskop (2009) acredita que é através
cessidades para se aproximar do mundo dos do brincar que as crianças conseguem au-
adultos. O autor ainda ressalta que ocorrem mentar sua imaginação, além de criar e res-
mudanças em seu desenvolvimento cogni- peitar regras de organização e convivência,
tivo e desta forma a criança torna-se pre- que deverão, futuramente, ser usadas para

562
o entendimento da realidade. A brincadeira Para Winnicott (1975), o local em que
proporciona também o desenvolvimento do a experiência cultural se situa está no espa-
autoconhecimento, aumentando a autoesti- ço potencial que existe entre o indivíduo e
ma, oportunizando o desenvolvimento físico- o meio ambiente (originalmente, o objeto).
-motor, também o raciocínio e a inteligência. Dessa mesma maneira ocorre a brincadeira,
É brincando que as crianças demonstram pois para o autor a experiência criativa co-
suas necessidades e desejos construídos em meça a partir do momento em que se pratica
toda sua vida, brincar é de extrema relevân- essa criatividade e isso aparece em primeira
cia para o desenvolvimento cognitivo, motor, instância através da brincadeira. Contudo,
afetivo e social da criança, quanto maiores para a autor é essencial que o adulto não
forem às oportunidades que a criança tiver interfira durante estes momentos, pois as
de brincar mais natural será o seu desenvol- descobertas que ocorrem levam ao amadu-
vimento. recimento, que será importantíssimo para o
início de suas atividades cultural e social.
De acordo com Oliveira (2002), por in-
termédio das brincadeiras, ocorre o estímulo Paradoxalmente, Winnicott, afirma
do desenvolvimento cognitivo da criança. É que, será necessária que o adulto esteja sem-
através do brincar, que a criança consegue pre disponível e atento a criança, pois a au-
uma experiência real, percebe-se assim um tonomia e a capacidade criadora são desen-
universo mágico, imaginário, criativo, estimu- volvidas em longo prazo, e para isso o adulto
lante para as habilidades, à curiosidade e em deverá estar presente sempre que solicitado,
especial para a independência da criança. Ao mas não de forma relativa nem invasiva.
elaborar suas hipóteses a criança organiza
suas próprias ideias sobre o mundo que a Mesmo vivendo imersos em novas
rodeia, reproduzindo com isso o seu desen- tecnologias e tendo dificuldades de encon-
volvimento psicológico e cognitivo em que se trar um espaço para brincar, é necessário
encontra. reconhecer que as brincadeiras em coletivo,
que o corpo se faz presente em um grupo
Segundo Oliveira (2002) o ato de brin- são consideradas de grande valor para o de-
car não significa especialmente apenas diver- senvolvimento da interação social da criança.
são sem fundamento e razão, caracteriza-se
como uma das maneiras mais complexas da Com relação aos benefícios do brincar,
criança comunicar-se consigo mesma e com podemos dizer que estão ligados ao desen-
o mundo, ou seja, o desenvolvimento acon- volvimento infantil. Tanto o brincar pelo brin-
tece por intermédio de trocas experimentais car, quanto o brincar dirigido, toda brincadei-
mútuas de toda sua vida. Sendo assim, atra- ra só faz bem à criança, é essencial para seu
vés da brincadeira, a criança consegue desen- desenvolvimento em todos os sentidos. Mas
volver conhecimentos relevantes, como, por é necessário divulgar entre os pais, responsá-
exemplo, memória, imitação, atenção, ima- veis, profissionais da educação, a importân-
ginação, entre outros, que proporcionem à cia que a brincadeira traz para o desenvolvi-
criança o desenvolvimento de determinadas mento das crianças. Quando as crianças são
áreas da personalidade, a saber: afetividade, estimuladas, seu desenvolvimento é imenso.
motricidade, inteligência, sociabilidade e cria- Os Pais devem exercer um papel de grande
tividade. Em sua teoria, Vygotsky apud Rego importância na brincadeira dos seus filhos,
(2013), partiu do princípio de que o sujeito se pois podem estimular e desafiá-los para no-
estabelece nas relações com os outros, por vas conquistas.
intermédio de atividades essencialmente hu- De acordo com Wajskop (2009), as di-
manas, mediadas por ferramentas técnicas ferentes abordagens pedagógicas baseadas
e semióticas. Neste sentido, a brincadeira da no brincar bem como os estudos de psico-
criança representa uma posição de privilégio logia infantil direcionados ao lúdico, permiti-
para a análise do processo de construção do ram a constituição da criança como um ser
sujeito, quebrando as barreiras com o olhar brincante, e a brincadeira deveriam ser utili-
tradicional de que está é uma atividade es- zados como uma atividade essencial e signifi-
pontânea de satisfação de instintos infantis. cativa para a educação infantil.
O autor ainda fala da brincadeira como uma
forma de expressão e adaptação do mundo Percebe-se então que o brincar para a
das relações, das funções e das ações dos criança não é uma questão apenas de pura
adultos. diversão, mas também de educação, sociali-
zação, construção e pleno desenvolvimento
Neste sentido, Kishimoto (2009) afirma de suas potencialidades. Portanto, o brincar
que durante a brincadeira, a criança não se deve ser valorizado, sendo visto como um
preocupa com os resultados que possa obter meio na educação infantil para desenvolver a
na brincadeira algo possível de ser observa- criatividade e o raciocínio crítico de maneira
do no momento e após a brincadeira. O que prazerosa pelas crianças.
a impulsiona a explorar e descobrir o mundo
é o prazer e a motivação que surgem da ne- O brincar é um direito da criança, e
cessidade de aprender através dos exemplos este é reconhecido em declarações, con-
dos pais, amigos ou pessoas próximas, desde venções e leis, como a convenção sobre os
que seja está uma de seus atuais referenciais direitos da criança de 1998, adotada pela As-
de comportamento de mundo. sembleia das Nações Unidas, a Constituição

563
Brasileira de 1998 e o estatuto da criança e ções de atendimento a infantil.
do adolescente de 1990. Todos estes docu-
mentos colocam o brincar como prioridade Partindo deste contexto fica claro que
e direito. as instituições não foram criadas para suprir
as necessidades das crianças, mas foram
De acordo com Carneiro (2008), exis- criadas para atender uma necessidade do
tem vários tipos de brincadeiras e atividades mercado que necessitava do trabalho femini-
lúdicas. A brincadeira livre é uma destas ati- no, e para isso era necessário criar um lugar
vidades, onde a criança tem liberdade de es- para os filhos de essas mulheres ficarem em
colher o que quer realizar, sendo uma opção quanto trabalhavam. Embora existissem ins-
de testar hipóteses, possibilidades a criança tituições destinadas à infância na Monarquia,
descobri o mundo ao seu redor, solucionan- somente após a chegada da república é que
do problemas e experimentando seus limites as instituições de Educação infantil cresce-
e possibilidades. Há também brincadeiras ram em número razoável. Antes disso, o que
em grupo, que são muito importantes, pois se via mais constantemente eram as tentati-
as crianças estabelecem contatos entre si e vas de proteger a infância, fossem por moti-
sentem-se parte do grupo. A brincadeira em vações políticas, econômicas ou religiosas, e,
grupo auxilia na socialização, a criança come- nesse caso, predominavam as ações caritati-
ça a aceitar críticas, dividir, respeitar regras vas relacionadas à criança desamparada.
e normas de convivência. Segundo Carneiro
(2008), dentre as brincadeiras existentes po-
demos citar: queimada, corre cotia, estátua,
amarelinha, batata quente, passa anel, vivo
morto, telefone sem fio entre outras. São REFERÊNCIAS
brincadeiras transmitidas de geração para ALMEIDA, Paulo Nunes de. EDUCAÇÂO
geração ou aprendidas nos grupos infantis, LÚDICA: técnicas e jogos pedagógicos São
na rua, nos parques, escolas etc. Que variam Paulo Loyola, 1995.ANTUNES, Celso. O Jogo e
as regras dependendo de cultura ou de gru- a Educação infantil.2º Ed. Petrópolis-RJ: Cole-
po, contudo o conteúdo do que é objetivo ção de sala de aula, vol 15, vozes.2004.
básico da brincadeira permanece. Existem
vários tipos de brincadeiras, é de fundamen- ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História
tal importância que as crianças brinquem da Educação e da Pedagogia. Geral e Brasil.
na educação Infantil, devemos ressaltar, po- São Paulo: Moderna, 2006.
rém, que as formas de brincar devem existir
de maneira equilibrada, dada a contribuição ARIÉS, Philippe. História Social da
que cada uma delas exerce no desenvolvi- Criança e da Família. Rio de Janeiro. LTC,
mento infantil. 1978.
Neste sentido a brincadeira deve ser ARIÉS, Philippe. História social da
considerada como parte integrante da edu- criança e da família. 2. Ed. Rio de Janeiro:
cação Infantil, além de fonte de prazer, lazer, LTC,1981.
alegria, é simultaneamente fonte de conheci- BRASIL. Constituição (1998). Constitui-
mento. A criança aprende brincando e brinca ção da República Federativa do Brasil, 1998.
aprendendo. Brasília: Senado Federal, 1998.
Foi através da Constituição de 1988 e a FREIRE, Paulo. Caminhos para a edu-
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- cação.1999, São Paulo.
nal (1996) que ocorreram diversos avanços
em meio a Educação Infantil. Com a criação
deste documento, a Educação Infantil passou
por um imenso processo de revisão e trans-
formou a concepções sobre educação de
crianças em ambientes coletivos e de seleção
que ofereciam fortalecimento das práticas e
que serviam como base mediadora da apren-
dizagem e do desenvolvimento das crianças
pequenas em geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da educação infantil no Bra-
sil seguiu alguns exemplos de outros países
do mundo, como a Europa. Porém o Brasil
tem suas próprias características.
Em nosso país, as instituições infantis
surgiram por causa do processo de industria-
lização e da inserção das mulheres no mer-
cado de trabalho, aumentando neste sentido
a grande demanda para a criação de institui-

564
O DEFICIENTE AUDITIVO E A INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO
VILMA OLIVEIRA DA SILVA

RESUMO pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia


e Estatística (IBGE) em 2010 aponta informa-
O presente artigo objetivou analisar os ções importantes que corroboram para uma
desafios do portador de deficiência auditiva reflexão acerca da inserção do deficiente au-
no mercado de trabalho, bem como, propor ditivo no mercado de trabalho.
reflexões acerca das dificuldades enfrenta-
das para que estes estejam preparados e O presente estudo foi enriquecido a
qualificados a fim de superar os desafios que partir de pesquisa bibliográfica, para funda-
os cercam profissionalmente, já que o pre- mentação de conteúdos, cuja revisão literária
conceito e a discriminação muitas das vezes foi efetuada por busca em bases de dados,
são originários da própria cultura, presen- tais como: Scielo, Portal da Educação, MEC,
tes no cotidiano desta população e embora artigos, revistas, livros, monografias, teses e
estando devidamente qualificados para o dissertações que abordam a temática.
cargo, poderão encontrar diversos obstácu-
los, como a falta de experiência dos profis- Os descritores utilizados foram: Defi-
sionais de Recursos Humanos, dificuldades ciente auditivo, Desafios e Mercado de tra-
de comunicação e interações, às vezes a ine- balho. Foram selecionados para este estudo
xistência de carteira assinada, contratação os autores citados na fonte: Cruzetta (2012),
por obrigação e de acordo a sua deficiência Freitas, Maranhão, Félix (2017), Lessa (2011),
e não por sua aptidão, diferenças salariais, Rodrigues (2008) e Teles (2011), dentre ou-
entre outros. A análise de dados da pesquisa tros, com o intuito de realizar um levanta-
do IBGE (2010) também corroborou para as mento das proposições dos autores quanto a
considerações de aspectos importantes com questões do deficiente auditivo e o mercado
o intuito de abranger a temática. A metodo- de trabalho.
logia do trabalho se faz por meio bibliográfi-
co, em que foram utilizados artigos, revistas,
livros, monografias, teses e dissertações que O DEFICIENTE AUDITIVO E O MERCA-
abordam o tema. Para driblar as dificuldades DO DE TRABALHO
o deficiente auditivo necessita estar atualiza- As pessoas com deficiência auditiva
do e se atualizando, com formação acadêmi- batalham para possuir os mesmos direitos
ca, seja persistente e se adapte ao mercado na sociedade excludente. Buscam por aceita-
de trabalho. ção no mercado a formas para abolir o pre-
Palavras-chave: Deficiente auditivo; conceito, mas essa luta é também absorvida
Desafios; Mercado de trabalho. pela educação especial e demais escolas es-
pecializadas que buscam atender as exigên-
cias, cuja demanda é crescente em uma so-
INTRODUÇÃO ciedade que se renova diariamente e almeja
incessantemente a democracia.
A inclusão de pessoas deficientes au-
ditivas em todas as esferas da vida social é Porém, a tão sonhada real e idealiza-
um assunto com bastante relevância, sendo da democracia apenas será alcançada quan-
que uma das principais preocupações está do todos possuírem conhecimento, o devido
focada no mercado de trabalho, já que é uma acesso às necessárias informações e obtiver
necessidade e questão fundamental na vida uma formação norteada em uma plena cida-
de qualquer pessoa. dania (TELES, 2011).
Este estudo objetivou descrever os de- O desconhecimento gera discrimina-
safios do portador de deficiência auditiva na ção, aborrecimentos e dificuldades, que para
inserção no mercado de trabalho, discorren- aboli-los e faz necessária a divulgação, con-
do dessa maneira, sobre o deficiente auditivo forme descrito por Teles (2011, p. 5):
e o mercado de trabalho, bem como, análise O desconhecimento das possibilida-
de dados referentes aos desafios enfrenta- des profissionais das pessoas que portam al-
dos pelos deficientes auditivos na sua inser- guma deficiência tem dificultado seu acesso
ção ao mercado de trabalho. ao mercado de trabalho. Por isso, é impor-
O tema norteador desse artigo releva- tante divulgar junto aos diferentes segmen-
-se por fornecer a compreensão e conheci- tos sociais, dados atualizados e confiáveis a
mentos sobre os desafios enfrentados pelos respeito da experiência profissional de porta-
deficientes auditivos junto ao mercado de dores de deficiência auditiva que participam
trabalho, seus anseios e possíveis meios de do mercado de trabalho. O conhecimento se
transpor impasses. Visto que é fundamental produz através do que é gerado pelo sujei-
estar inserido no mercado de trabalho, sen- to, nas interações com as habilidades sociais
tir-se útil eproducente. que permitem identificar fatores semelhan-
tes, de acordo com a necessidade do defi-
A análise de dados de aspectos da ciente auditivo.

565
Segundo FENEIS (Federação Nacional 48% dos entrevistados afirmaram ter conhe-
dos Surdos), o surdo-mudo é uma denomi- cimento da mesma. E 54% deles alegaram
nação antiga e incorreta atribuía ao surdo, não estar preparados para a função, ao se
porém, muito se ouve este termo, inclusive tratar da inclusão, assim como, 59% não es-
na mídia e por funcionários e gerentes de tavam capacitados para auxiliar os gestores
algumas áreas. Muitos entendem que o fato de Portadores de Deficiências (BRASIL/ABRH,
de uma pessoa ser surda não implica que ela 2018).
seja muda, assim, a afonia é outra deficiência.
Mas, para a comunidade deficiente auditiva o Observa-se então a necessidade para
surdo é aquele que não participa de Associa- que as empresas invistam mais em treina-
ções aprendeu a Libras (RODRIGUES, 2008). mentos, a fim de que seus profissionais de
Recursos Humanos possam lidar com a si-
Outra forma de preconceito é pen- tuação. O preparo dos profissionais de RH é
sar que eles são incapazes e coitados, o que fundamental, inclusive para dar suporte aos
pode gerar constrangimento. gestores, já que estes é que contratam os
profissionais com deficiência. O risco de ex-
Para possibilitar o acesso e a garantia clusão e/ou de tratamento inadequados para
da pessoa deficiente no mercado de traba- com os portadores de deficiência no ambien-
lho, a política pública brasileira programou te de trabalho passa a ser alto.
leis, como a de nº 8.112, de 11 de dezembro
de 1990 e a Lei nº 8.213, de 24 de julho de Releva-se também que os entrevista-
1991 (BRASIL, 1990). dos observaram que muitos gestores possuí-
am resistência na contratação de deficientes,
A Lei nº 8.112/90 definiu sobre as va- ou seja, 57% dos gestores, os quais 93% dos
gas de concursos públicos, sendo que 20% pesquisados são de opinião que os gestores
das vagas são reservadas para pessoas com necessitam de
deficiência e a Lei de nº 8.213/91 obriga as
empresas com o quadro de funcionários aci- maior e melhor capacitação na gerên-
ma de 100 profissionais possua uma porcen- cia para que se possam contratar mais pes-
tagem de vagas para contratação de pesso- soas deficientes (BRASIL/ABRH, 2018).
as com deficiência (BRASIL, 1990); (BRASIL,
1991). Destarte a pesquisa demonstra que
ainda existem obstáculos a serem derriba-
Há países em que o deficiente auditi- dos. A mudança de cultura, a necessidade
vo concorre a vagas juntamente com os ou- de pesquisas, de informações e de preparo é
vintes e o mesmo ocorre nas escolas e no fundamental, não só para os gestores, como
serviço público. E a deficiência não deve ser também para os demais funcionários dos Re-
citada em currículo, apenas citada na hora da cursos Humanos (CRUZETTA, 2012).
entrevista de emprego, pois não há cotas e
sim igualdade de oportunidades, como ocor- Além da criação de um banco de da-
re nos Estados Unidos da América (FREITAS, dos de currículos de profissionais portadores
MARANHÃO, FELIX, 2017). de deficiência. Ainda que os maiores desafios
das empresas na contratação, segundo en-
Já em Portugal, local também em que trevistados á a baixa qualificação, após a falta
não há cotas, as empresas são incentivadas, de acessibilidade e por último a resistência
por meio de benefícios, a contratarem pesso- dos gestores de RH (LESSA, 2011).
as portadoras de deficiência, seja com inca-
pacidade igual ou superior a 60% (APD, 2017). Tem-se como ponto positivo que os
profissionais de Recursos Humanos não se li-
E ano de 2016, conforme os dados que mitam apenas a uma única fonte, quando na
fazem parte da Relação Anual de Informa- busca por funcionários. Mas ainda é sentido
ções Sociais (RAIS) foram aproximadamente por eles a ausência de um banco criado ape-
418,5 mil pessoas portadoras de deficiência nas para profissionais com deficiência, o que
e/ reabilitadas contratadas por empresas pú- tornaria a seleção mais condizente. Além de
blicas, de iniciativa privada e órgãos públicos. que as empresas de consultoria e as redes
Visto que também durante o ano de 2017 sociais acabam ganhando mais espaço.
foram realizadas 10.324 ações fiscais com o
objetivo da inclusão de pessoas deficientes e Referente à rotatividade de profissio-
reabilitadas (BRASIL/ABRH, 2018). nais com deficiência, se comparados à rota-
tividade dos mesmos na empresa do entre-
No Brasil, a segunda edição de um es- vistado, de acordo a pesquisa da ABRH de
tudo realizado no ano de 2015, denomina- 2017-2018, efetuada com 1246 profissionais
do de “Profissionais de Recursos Humanos: de R.H foi demonstrada a alta rotatividade
Expectativas e percepções sobre a inclusão entre profissionais com deficiência, como
de pessoas com deficiência no mercado de sendo igual ou inferior a rotatividade dos de-
trabalho”, com 1.519 participantes, pelas em- mais profissionais (BRASIL/ABRH, 2018).
presas Catho e iSocial, apoiada pela ABRH
(Associação Brasileira de Recursos Huma- De acordo com a pesquisa, também
nos), demonstrou em que apenas 4% dos foi observado que os profissionais de Recur-
profissionais de Recursos Humanos (RH) não sos Humanos buscam candidatos com defi-
conheciam a Lei de Cotas. Este percentual ciência nos mais diversos meios, como por
caiu, pois em 2014 demonstrava 8%. Mas exemplo, em sites de empregos online, indi-

566
cações, cadastro no site da empresa, ONGs mocracia e direito possui como fundamen-
e entidades do terceiro setor, redes sociais, tos, conforme explana no seu artigo 1º, inci-
consultorias e jornais. sos I, II e III em relação à soberania, cidadania
e sobre a dignidade da pessoa humana, e
Ocorre também, que foi observada mais a frente em seu artigo 3º, incisos I, II, III e
pouca qualidade nas vagas de inclusão, e o IV preconiza como objetivos a construção de
candidato, por vezes, é contratado segundo uma sociedade solidária, justa e livre, assim
a sua deficiência e não pela sua aptidão; o como a Constituição Federal elegeu como
que deixa o processo seletivo injusto; além fundamentos da República a extirpação da
de que se torna nítida a situação de que as marginalização, pobreza e
empresas efetuam as contratações por obri-
gação e não como a uma medida inclusiva e minimização das desigualdades so-
de integração (BRASIL/ABRH, 2018). ciais, a garantia do desenvolvimento social
e a promoção do bem-estar de todos os ci-
Outros dados relatados na referida dadãos, sem quaisquer preconceitos, sejam
pesquisa demonstraram disparidade ao pre- eles de raça, cor, origem, sexo, idade e de ou-
conizado na Lei foram da RAIS (Relação Anu- tras formas de discriminação (BRASIL, 1998).
al de Informações Sociais), do ano de 2010,
em que as mulheres portadoras de deficiên- Consequentemente o direito à igual-
cia chegam a ganhar quase metade a menos dade, explicitado por meio da Carta Magna,
que os homens na mesma condição. acrescentado que em seu artigo 205 expla-
na o direito que todos possuem em relação
à educação para desenvolvimento e prepa-
ANÁLISE DE DADOS ro da pessoa no aprendizado da cidadania e
para qualificação ao trabalho, garantindo em
De acordo a pesquisa realizada por seu artigo 206 inciso I e artigo 208 inciso V,
Carvalho (2011) as principais dificuldades que é dever do Estado a garantia de acesso à
encontradas pelo deficiente auditivo no mer- educação, de acordo com as especificidades
cado de trabalho é a falta de preparo profis- de cada pessoa (BRASIL, 1998). E o que corro-
sional, levando em conta que mesmo com bora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação:
a formação acadêmica eles não encontram
instituições que possam oferecer oportu- Art. 58. Entende-se por educação es-
nidades para o crescimento e a atualização pecial, para os efeitos desta Lei, a modalida-
profissional. de de educação escolar oferecida preferen-
cialmente na rede regular de ensino, para
Na pesquisa realizada pelo Instituto educandos com deficiência, transtornos glo-
Brasileiro de geografia e Estatísticas (IBGE), bais do desenvolvimento e altas habilidades
de 2010, foram entrevistadas 190.755.799 ou superdotação.
pessoas, das quais 9.717.318 declaram a di-
ficuldade para ouvir e 19% possuíam grande § 1º Haverá, quando necessário, servi-
dificuldade (BRASIL/IBGE, 2010). ços de apoio especializado, na escola regular,
para atender às peculiaridades da clientela
No tocante a alfabetização da popula- de educação especial.
ção entrevistada, segundo o IBGE (2010), foi
possível se verificar diferença entre os de- § 2º O atendimento educacional será
mais em relação à população portadora de feito em classes, escolas ou serviços espe-
deficiência auditiva, sendo que das crianças cializados, sempre que, em função das con-
de 05 anos ou mais, de idade, que não possu- dições específicas dos alunos, não for possí-
íam quaisquer problemas auditivos a taxa de vel a sua integração nas classes comuns de
alfabetizados era de 89,5% de alfabetizadas ensino regular. § 3º A oferta de educação
das crianças com deficiência auditiva. especial, dever constitucional do Estado, tem
início na faixa etária de zero a seis anos, du-
E quanto à frequência escolar, enquan- rante a educação infantil.
to 31,2% das crianças sem deficiência auditi-
va frequentavam a escola, apenas 12,3% dos Art. 59. Os sistemas de ensino assegu-
deficientes auditivos eram frequentes. (BRA- rarão aos educandos com deficiência, trans-
SIL/IBGE, 2010). tornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação:
A Constituição Federal de 1988, em
seu artigo 208, inciso III consta que: é dever I – currículos, métodos, técnicas, re-
do Estado: “o atendimento educacional espe- cursos educativos e organização específica,
cializado aos portadores de deficiência, pre- para atender às suas necessidades; II – ter-
ferencialmente na rede regular de ensino” minalidade específica para aqueles que não
(BRASIL, 1988). puderem atingir o nível exigido para a con-
clusão do ensino fundamental, em virtude de
O atendimento especializado lida com suas deficiências, e aceleração para concluir
as especificidades dos alunos deficientes e em menor tempo o programa escolar para
fornece ferramentas necessárias para que os superdotados; III – professores com espe-
o aluno possa eliminar barreiras e adquirir cialização adequada em nível médio ou su-
uma melhor interação na sociedade. perior, para atendimento especializado, bem
A Constituição Federal focando na de- como professores do ensino regular capaci-
tados para a integração desses educandos

567
nas classes comuns; sociedade que exclui e os julgam incapazes;
batalhando por uma vaga no mercado de tra-
– educação especial para o trabalho, balho.
visando a sua efetiva integração na vida em
sociedade, inclusive condições adequadas Para possibilitar o acesso e a garantia
para os que não revelarem capacidade de no mercado de trabalho, as políticas públicas
inserção no trabalho competitivo, mediante brasileiras programaram leis definindo per-
articulação com os órgãos oficiais afins, bem centuais de vagas às empresas, para pessoas
como para aqueles que apresentam uma ha- com deficiência, embora muitos profissionais
bilidade superior nas áreas artística, intelec- de Recursos Humanos não estejam prepara-
tual ou psicomotora; dos para a inclusão, ou capazes para auxiliar
os gestores de Portadores de Deficiências,
– acesso igualitário aos benefícios dos outros possuem resistências quanto à con-
programas sociais suplementares disponí- tratação.
veis para o respectivo nível do ensino regular
(BRASIL, 2017, p. 39-40). Existem barreiras a serem ultrapassa-
das, já que existe pouca qualidade nas vagas
Dessa maneira, as Unidades Educacio- de inclusão, o candidato, por vezes, é con-
nais especializadas devem possuir o devido tratado segundo a sua deficiência e não pela
suporte no atendimento às crianças com de- sua aptidão, deixando o processo seletivo in-
ficiência, e todos os níveis do ensino regular, justo, algumas empresas contratam deficien-
assim como, os interpretes da Língua Brasi- tes por obrigação, as mulheres portadoras
leira de Sinais (LIBRAS), ferramentas tecno- de deficiência chegam a ganhar quase meta-
lógicas, professor devidamente qualificado, de a menos que os homens na mesma con-
Projeto Político Pedagógico de acordo, recur- dição, muitos deficientes trabalham sem a
sos de informática e demais recursos neces- carteira assinada, a alta rotatividade entre os
sários para uma boa interação, motivação, profissionais com deficiência é igual ou infe-
desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor, rior à rotatividade dos demais profissionais,
disponibilizando uma boa qualidade de ensi- a interação entre os ouvintes e o deficiente
no (BRASIL, 2004). auditivo é precária, existem tratamentos ina-
Ratificando, de acordo com o Ministé- dequados no ambiente de trabalho e a discri-
rio Público Federal (2004): minação ainda é presente.
Ainda para a surdez e a deficiência au- Para as empresas os desafios enfren-
ditiva, a escola deve providenciar um instru- tados é a baixa qualificação dos deficientes
tor de Libras (de preferência surdo) para os auditivos, a falta de um grande banco de da-
alunos que ainda não aprenderam esta lín- dos e a resistência dos gestores de Recursos
gua, mas cujos pais tenham optado pelo seu Humanos. Em face do exposto é necessário
uso. Obedecendo aos princípios inclusivos, a que as empresas invistam mais em treina-
aprendizagem de Libras deve acontecer pre- mentos de seus profissionais de Recursos
ferencialmente na sala de aula desse aluno e Humanos possam lidar com a situação, a mu-
ser oferecida a todos os demais colegas e ao dança de cultura é fundamental.
professor, para que possa haver comunica- Na maioria das vezes as vagas dis-
ção entre todos (BRASIL, 2004, p. 24). ponibilizadas pelas empresas são de baixa
Assim, toda e quaisquer Instituição de atratividade ou voltadas para posições ope-
Ensino deve atender a Constituição, propor- racionais, e há poucas vagas oferecidas aos
cionando acesso e condições, sem preconcei- deficientes, apesar do avanço das Políticas
tos a todos os alunos, independente de suas Públicas e o abatimento nos impostos.
deficiências junto às demais crianças, sendo Para driblar as dificuldades é necessá-
uma educação para todos. rio que o deficiente auditivo se adapte, ad-
quira conhecimentos, formação acadêmica,
esteja atualizado, possua cursos de pós-gra-
CONSIDERAÇÕES FINAIS duação, para que seja notado no mercado de
O número de alunos ouvintes com co- trabalho, seja persistente, conquiste seu es-
nhecimento da língua de sinais vem aumen- paço, possua objetivos, podendo ocupar car-
tando em face da iniciativa de estudarem gos de confiança, ser um ótimo profissional
juntos na mesma sala, o que gera muitos be- devidamente qualificado e valorizado.
nefícios a todos os envolvidos.
Tem-se como desafio ao professor a REFERÊNCIAS
diferença linguística, cuja reorganização es-
colar se faz necessária. E o fracasso escolar APD – Associação dos Deficientes Au-
por parte dos deficientes auditivos acaba ge- ditivos, Pais, Amigos e Usuários de Implante
rando um número muito reduzido dos que Coclear. Inclusão das pessoas com deficiên-
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FREITAS, Geovane Rodrigues de; MA-

569
O BRINCAR HEURÍSTICO
VIVIANE BATISTA DE CARVALHO

RESUMO Não é por acaso que tudo o que é vi-


venciado na infância fica registrado no sub-
Este artigo tem o propósito de apre- consciente, aflorando sentimentos que acom-
sentar, por meio de estudos literários, o con- panharão a criança ao longo de sua jornada
texto do brincar heurístico, das substâncias de vida. Pode-se dizer que esses sentimen-
utilizadas, bem como suas características es- tos são explorados através das brincadeiras
pecíficas e aplicabilidades. Contudo, a partir na infância, o que influenciará sua postura
das pesquisas, foi constatado que é funda- como pais no futuro. Se a criança teve uma
mental garantir que não há uma fórmula para infância rica em experiências positivas, ela
o jogo investigativo, nem mesmo a avaliação terá valores mais sólidos para transmitir aos
do correto ou incorreto. No entanto, quando seus filhos. Muitos que se tornam bons ou
as crianças adquirem mobilidade, essa forma maus pais são moldados pelas vivências e
de brincadeira, que é simples, livre e abran- experiências de sua infância.
gente, proporciona a capacidade de explo-
ração, de investigação de objetos em busca O brincar recreativo prepara para fu-
de descobertas relacionadas a artefatos des- turas atividades de trabalho, estimula a aten-
conhecidos, além de possibilitar e manter o ção, a concentração, fortalece a autoestima
protagonismo das crianças pequenas e dos e ajuda a desenvolver relações de confiança
bebês. Dessa maneira, idealiza-se uma nova consigo mesmo e com os outros.
forma de brincar, repleta de oportunidades e
descobertas. O brincar heurístico é uma ati- Segundo Campos (1986), a ludicidade
vidade recreativo-educacional que estimula pode ser uma ponte facilitadora da aprendi-
a descoberta e a experimentação das crian- zagem se o educador refletir sobre sua for-
ças na primeira fase da vida. É uma ativida- ma de ensinar, relacionando o uso do lúdi-
de recreativa livre supervisionada na qual co como um motivador em qualquer tipo de
as crianças interagem com diversos tipos de aula.
objetos, formas e materiais. Em creches, esse Todos esses benefícios do brincar
método vem sendo utilizado há algum tem- devem ser reforçados no ambiente escolar.
po, com a confecção dos próprios materiais A brincadeira facilita a aprendizagem e es-
de brincadeira. Com o jogo investigativo, as timula a criatividade, contribuindo direta-
crianças são as protagonistas de seu próprio mente para a construção do conhecimento.
processo de aprendizado. Elas exploram, in- A aprendizagem através do lúdico torna-se
vestigam e descobrem de maneira natural, mais fácil e prazerosa para a criança, o que
instintiva e guiadas por seu próprio interes- facilita o trabalho do educador.
se e curiosidade inerentes. Esse tipo de ele-
mentos de jogos educacionais promovem a Segundo Neto (2020), fica evidente
aprendizagem por meio do desconhecido, da que "o ato de divertir-se (atividade de explo-
realidade, para a adaptação ao ambiente e ração, ação, espontaneidade e liberdade) é
desenvolvimento da autoestima. uma forma de comunicação compreensível
por todos, que vai além de crenças, frontei-
Palavras-chave: Jogo investigativo; ras geográficas e diversidade cultural" (p.37).
Substâncias utilizadas; Pesquisa; Protagonis- Diante da relevância dessa prática no contex-
mo. to da educação das crianças pequenas, ob-
serva-se a ênfase dada a ela nos documentos
normativos oficiais que orientam as aborda-
INTRODUÇÃO gens pedagógicas na Educação Infantil.
A atividade recreativa é essencial em Segundo Cordazzo (2007), o brincar é
todas as etapas da vida, mas na infância é a atividade dominante na infância e tem sido
ainda mais crucial. Não se trata apenas de explorado no campo científico para carac-
entretenimento, mas também de aprendiza- terizar suas singularidades, identificar suas
do. A criança, ao se envolver em brincadeiras, relações com o desenvolvimento e a saúde
expressa sua linguagem através de gestos e da criança, bem como intervir nos processos
atitudes carregados de significado. Nesse educacionais e de aprendizagem.
momento, cabe ao educador tentar compre-
ender o que a criança está transmitindo. Pode-se notar então que o brincar é
uma característica da infância e traz inúme-
Haetinger (2004) afirma que: “as ativi- ras vantagens para a construção do intelecto
dades recreativas são aquelas que estimulam da criança, proporcionando uma série de ex-
a imaginação e as transformações do sujeito periências que contribuirão para seu desen-
em relação ao objeto de aprendizagem”. Por- volvimento futuro. Dessa forma, o brincar e a
tanto, a criança aprende a brincar e interpre- aprendizagem devem caminhar juntos para
tar com base em suas vivências e referências, que o ensino seja uma experiência gratifican-
através das brincadeiras que fazem parte de te.
sua rotina.

570
Portanto, a brincadeira deve ser enca- e competente, pois são nesses momentos de
rada como algo sério e fundamental para o diversão que ela se desconecta um pouco do
desenvolvimento infantil. A criança utiliza os mundo real e entra no universo da imagina-
brinquedos para demonstrar suas emoções, ção.
criando um mundo à sua maneira e questio-
nando o universo dos adultos. Além disso, é
uma forma de liberar medos, angústias, sen- O PAPEL DA BRINCADEIRA RECREATI-
timentos e problemas que a criança enfrenta VA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
no dia a dia, seja na descoberta do corpo ou
em relação aos seus sentimentos pessoais Segundo Hridiomas (2018), a palavra
em relação às pessoas ao seu redor (MELO & brincar tem sua origem no latim vinculum,
VALLE, 2005). que significa laço ou algema, derivado do
verbo vincire, que quer dizer prender, sedu-
Não é por acaso que tudo o que é vi- zir, encantar. Vinculum evoluiu para brinco
venciado na infância fica registrado no sub- e gerou o verbo brincar, que é sinônimo de
consciente, despertando sentimentos que divertir-se.
acompanharão a criança em sua jornada de
vida. Podemos dizer que esses sentimentos Portanto, brincar não é apenas diver-
serão explorados por meio de brincadeiras são; também representa uma atividade de
na infância, e isso influenciará sua postura conexão ou vínculo consigo mesma e com o
como pais no futuro. Aqueles que se tornam outro, fortalecendo o aprendizado e o desen-
bons ou maus pais são moldados pelas expe- volvimento motor, cognitivo e afetivo.
riências vividas na infância. A palavra recreativa vem do latim lu-
A recreação prepara para futuras ati- dus e significa brincar. A atividade recreativa
vidades de trabalho, estimula a atenção, a surgiu como uma nova forma de abordar o
concentração, fortalece a autoestima e ajuda conhecimento de maneiras diferentes e tam-
a desenvolver relacionamentos de confiança bém como uma atividade que promove a in-
consigo mesmo e com os outros. terdisciplinaridade. (SANTOS, 2012, p.3).
Conforme Cordazzo (2007), a recrea- Ao falar sobre brincar, muitos pensam
ção é a atividade predominante na infância apenas em diversão, mas brincar é algo sério.
e tem sido explorada no campo científico Ao brincar com alguém, a criança estabelece
com o objetivo de caracterizar suas parti- sua própria maneira de se entreter e experi-
cularidades, identificar suas relações com o menta a aceitação ou não das ideias de ou-
desenvolvimento e a saúde da criança, além tras pessoas. Dessa forma, ela prepara o ca-
de intervir nos processos educacionais e de minho para uma vida compartilhada e para
aprendizagem das crianças. se relacionar com os outros e com a vida.
Ou seja, brincar é comunicação e expressão,
Como podemos ver, a recreação é ca- conectando pensamento e ação, um ato es-
racterística da infância e oferece inúmeras pontâneo, uma atividade exploratória que
vantagens para a construção do intelecto da auxilia as crianças em seu aprimoramento fí-
criança, proporcionando uma variedade de sico, mental, emocional e social. É uma forma
experiências que contribuirão para seu de- de aprender a viver e não apenas um passa-
senvolvimento futuro. Dessa forma, a recre- tempo. "[...] As crianças e os animais brincam
ação e a aprendizagem devem caminhar jun- porque gostam de brincar, e é exatamente
tas para que o ensino seja uma experiência nesse fato que reside a sua liberdade" (HUI-
gratificante. ZINGA, 1980, apud, MALUF, 2003, p. 17).
De acordo com a BNCC (2018):
A interação durante o brincar caracte- O BRINCAR E A CULTURA
riza o cotidiano da infância, trazendo consi-
go muitas aprendizagens e potenciais para Independentemente da cultura local,
o desenvolvimento integral das crianças. Ao é comum que os adultos desencorajem as
observar as interações e a brincadeira entre crianças a brincar. No entanto, por se tratar
as crianças e delas com os adultos, é possível de uma necessidade natural, essa proibição
identificar, por exemplo, a expressão dos afe- pode resultar em um atraso no desenvolvi-
tos, a mediação das frustrações, a resolução mento da criança. Ela pode se tornar uma
de conflitos e a regulação das emoções. (p. criança isolada em seus próprios sentimen-
37). tos, com dificuldade de se relacionar com ou-
tras crianças e até mesmo com adultos, além
A prática lúdica é compreendida pela de desenvolver uma visão exagerada da vida
escritora como uma atividade que estabele- adulta e de seus problemas cotidianos.
ce uma relação séria consigo mesma e com o
próximo, e que, independentemente da ida- De acordo com Carvalho (2003), toda
de, nos permite experimentar e reviver mo- criança que se diverte experimenta uma in-
mentos de interação, incorporando nossas fância feliz, além de se tornar um adulto mui-
referências e criando novos conhecimentos. to mais equilibrado fisicamente e emocional-
mente, capaz de lidar com facilidade com os
A relevância do jogo em todas as eta- desafios do dia a dia.
pas da existência torna a criança um ser ativo

571
Uma criança que não vivencia plena- aumente a criatividade e a ludicidade, exer-
mente sua infância não recebe estímulos citando a concentração, a atenção e o com-
adequados para enfrentar a vida e acaba de- prometimento, não apenas nas atividades
senvolvendo bloqueios em relação a vários lúdicas, mas em qualquer tarefa que precise
aspectos sociais e afetivos. É por meio do jogo executar, incentivando assim o engajamento
e exclusivamente do jogo que a criança libera em futuras atividades tanto no âmbito social
sua inventividade, assimila novos conceitos, quanto no intelectual. Dessa forma, os jogos
encontra soluções para diferentes emoções e brincadeiras contribuem para melhorar a
e dificuldades que possa estar enfrentando conduta no processo de ensino e aprendiza-
e não consegue expressar devido à falta de gem, além de promover a autoestima.
conhecimento dessas emoções, além de ad-
quirir conhecimento para um crescimento Portanto, é importante considerar
saudável. brinquedos e brincadeiras que permitam à
criança assumir papéis diferentes e simular
A existência de várias formas de brin- ações com significados distintos dos atribu-
cadeiras e o esforço para incluí-las na Educa- ídos em seu cotidiano. "[...] à medida que a
ção Infantil possibilitam o desenvolvimento criança cresce, ela retrocede e avança nessas
e, ao mesmo tempo, a formação das crianças fases, e é por meio de suas brincadeiras que
para sua realidade social e o papel que de- ela se permite ser um bebê novamente ou
sempenham na sociedade. demonstrar maturidade além de sua idade
real" (TAKAHASHI, 2008, p.47).
A criança se desenvolve por meio da
experiência social e das interações estabele- É necessário também compreender
cidas pelos adultos desde cedo. Dessa forma, que a criança precisa de orientação para seu
podemos afirmar que o jogo é uma atividade desenvolvimento, e o professor deve ter per-
humana na qual as crianças são introduzidas cepção suficiente para considerar que a crian-
à vida adulta cotidiana, constituindo-se como ça tem diversas formas de apropriar-se de
uma maneira de assimilar e recriar a experi- diferentes tipos de conhecimento por meio
ência sociocultural dos adultos. de cada brincadeira específica. No entanto,
é fundamental reconhecer a importância do
Engajar-se em atividades lúdicas é olhar adulto sobre as brincadeiras infantis,
uma forma de aprendizado vital que direcio- sem subestimar a importância do brincar li-
na as crianças em direção a determinados ca- vre e espontâneo, que também auxilia no de-
minhos, seja para forjar seu próprio percur- senvolvimento social, afetivo e cognitivo da
so ou para ter esse caminho delineado por criança. Ao reconhecer os benefícios de am-
pais, professores, parentes, amigos ou vizi- bos os aspectos, tanto o brincar livre quanto
nhos. Tudo isso depende da maneira como o brincar com a participação do adulto, fica
as crianças brincam e da postura dos adultos evidente que ambos devem estar presentes
em relação a essas brincadeiras (MACHADO, no dia a dia da educação infantil.
2001).
A brincadeira é a prova evidente e
Nessa perspectiva, a brincadeira de- constante da capacidade criadora, que quer
sempenha um papel significativo na educa- dizer vivência, de modo que, os adultos con-
ção e no processo de desenvolvimento in- tribuem, nesse ponto, pelo reconhecimento
fantil, permitindo que as crianças explorem do grande lugar que cabe à brincadeira e
e compreendam o mundo ao seu redor, que pelo ensino de brincadeiras tradicionais, mas
é construído por meio das interações sociais sem obstruir nem adulterar a iniciativa pró-
e das diversas histórias de vida das pessoas pria da criança. (BRAS, 2018).
que as cercam.
As crianças se envolvem em ativida-
Ao engajar-se em atividades e jogos des lúdicas, participam de jogos e tomam
lúdicos, a criança reconhece a presença do decisões desafiadoras, explorando as possi-
outro, constrói conhecimento, estabelece re- bilidades, testando sua força e questionando
lações e se desenvolve de forma abrangente. o mundo ao seu redor, sem perder de vista a
O ato de brincar na infância desempenha um imaginação e a razão. Essa prática de busca,
papel fundamental na construção do pro- intercâmbio e convivência é o que chamamos
cesso de ensino e aprendizagem da criança, de educação. A infância é considerada a fase
buscando promover diversas formas de es- das brincadeiras, através das quais as crian-
timulá-la a aprender de maneira prazerosa, ças expressam suas vontades, preferências e
significativa e envolvente. Na educação infan- necessidades, trabalhando, refletindo e des-
til, os jogos e brincadeiras se tornam aliados cobrindo o mundo ao qual estão inseridas.
e auxiliam no desenvolvimento de habilida-
des importantes.
De acordo com Takahashi (2008), o O PAPEL DAS BRINCADEIRAS PARA O
brinquedo é compreendido como qualquer DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS
objeto que desperta a ação lúdica do brincar
por meio da espontaneidade, imaginação, É evidente que as brincadeiras desem-
fantasia e criatividade do brincante. O ato penham um papel crucial no sucesso e no
de brincar estimula a inteligência, permitin- contínuo desenvolvimento da criança, permi-
do que o indivíduo liberte sua imaginação, tindo que ela vivencie situações da realidade
por meio do imaginário. Portanto, é funda-

572
mental adotar a brincadeira como parte da racterizada por materiais não padronizados,
cultura lúdica infantil, possibilitando que as não comerciais e altamente diversificados.
crianças compartilhem suas brincadeiras,
jogos e histórias para estimular sua curiosi- A criança explora e manipula esses ma-
dade. Ao restringir a criança de brincar, não teriais de maneira espontânea, respondendo
apenas limitamos sua liberdade, mas tam- ao seu próprio ritmo de desenvolvimento e
bém reprimimos seus sentimentos. Se não promovendo aspectos como coordenação
conseguirem expressar-se na infância, esses visual, manual e de objetos. Ela demonstra
sentimentos acabarão emergindo na vida curiosidade em relação ao seu ambiente e
adulta. Muitos adultos sofrem por não terem combina diversos tipos de objetos oferecidos
vivido plenamente sua infância, o que pode a ela.
resultar em pais irresponsáveis ou com difi- Essa atividade permite que a criança
culdades em assumir a responsabilidade de aprenda de acordo com seu ritmo de evolu-
cuidar de suas famílias. Portanto, é crucial ção e seus interesses, sem limitar o processo
estimular a brincadeira na educação infantil. de aprendizagem.
Quando o professor compreende a É de suma importância que as institui-
dinâmica da atividade proposta e a adapta ções educacionais e os responsáveis pelos
às características individuais de cada crian- cuidados das crianças reconheçam a rele-
ça, abre-se uma porta para que elas possam vância do ato de brincar no desenvolvimento
extravasar suas experiências do dia a dia, infantil. Esta pesquisa busca contribuir com
dialogar sobre algo que as incomoda, seja professores e pesquisadores que buscam ex-
emocional, físico ou qualquer outra questão plorar reflexões sobre o brincar, bem como
relacionada ao mundo em que vivem. Pri- a contribuição dos educadores para que o
var as crianças dessa oportunidade pode ter aspecto lúdico não seja apenas visto como
consequências catastróficas, fazendo com mero entretenimento, mas sim como um
que elas se fechem, mesmo em casa, levan- elemento essencial no processo de ensino-
do dias, meses ou até anos para se abrirem -aprendizagem, desempenhando um papel
novamente. fundamental no desenvolvimento da criança.
A imagem de infância é reconstituída
pelo adulto, por meio de um duplo processo:
de um lado, ela está associada a todo um con- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
texto de valores e aspirações da sociedade, BRÀS, Regina Maria. O Lúdico na edu-
e, de outro, depende de percepções próprias cação infantil: O brincar como forma de
do adulto, que incorporam memorias de seu aprendizagem. 2018. Disponível em: <ht-
tempo de criança. (KISHIMOTO, 1995, p.50). tps://www.webartigos.com/artigos/o-ludico-
É notável que nossas experiências na -na-educacao-infantil-o-brincar-como-forma-
infância moldam quem somos e como pen- -de-aprendizagem/159743>. Acesso em 10
samos, influenciando a formação de nosso out.2023.
caráter, personalidade e posição social. A vi- BRASIL. Ministério da Educação. Parâ-
vência na infância e os influenciadores pró- metros Básicos de Infraestrutura para Insti-
ximos, como amigos, pais, tios, primos e ou- tuições de Educação Infantil. Brasília: MEC/
tros, desempenham um papel fundamental SEB, 2008.
nesse processo. Por isso, é crucial estarmos
atentos a tudo o que a criança faz e aprender KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O brin-
a linguagem adequada para ajudá-la a explo- car e suas teorias. São Paulo: Cengage Lear-
rar esse mundo intenso e complexo que se ning, 2008.
revela a cada dia, repleto de novas surpresas.
REGO, T.C.R. Origem da constituição
(...) conhecer o mundo físico e seus da singularidade do ser humano. Análise das
fenômenos, os objetos (e seus usos sociais) hipóteses de educadores à luz da perspectiva
e, finalmente, entender os diferentes modos de Lev Semenovic! J Vygotsky. Faculdade da
de comportamento humano, os papéis que Educação da USP, 1994. Tese de Mestrado.
desempenham como se relacionam e os há-
bitos culturais (REGO, 1994, p. 114). WEISZ, Telma e SANCHES, Ana. O Diá-
logo entre o Ensino e a Aprendizagem. 2012.
Portanto, no ambiente educacional,
especialmente na fase pré-escolar, as estra-
tégias pedagógicas devem ser direcionadas
aos potenciais de crescimento da criança, le-
vando em consideração a zona de desenvol-
vimento proximal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática heurística possibilita que a
criança experimente a manipulação e classi-
ficação de objetos de forma lúdica, sendo ca-

573
EDUCAÇÃO INFANTIL:
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM PELA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
ZILDA ARAÚJO DA SILVA DIAS

RESUMO: insertion of children in written culture, in the


formation of readers and competent users
A educação infantil atualmente se of written language, understanding these as-
orienta por uma função pedagógica que pects as culture production and defending
diante desse contexto, entende-se que essa the right of children to literate culture.
etapa da educação básica desempenha papel
fundamental no processo de ensino da leitu- KEYWORDS: Literacy; Early Childhood
ra e da escrita das crianças, pois é um proces- Education; Literacy.
so de construção de conhecimento inerente
à infância, não podendo ser ignorado pela
instituição escolar. Uma prática pedagógica 1 INTRODUÇÃO
é uma prática social realizada entre sujeitos,
constitui-se na e com a linguagem em todas São muitas aprendizagens que estão
as suas formas verbais, não verbais, multimo- vinculadas na educação infantil, voltadas
dais. O trabalho realizado na pré-escola deve, para o desenvolvimento da criança e a lin-
assim, considerar o desenvolvimento das ha- guagem tem um papel decisivo, que vai se es-
bilidades de leitura e escrita num processo tendendo em fase consecutivas, e se for bem
de inserção no contexto das práticas sociais. trabalhado na infância, de modo que envolva
A Educação Infantil tem que se preocupar ela para o campo social, a criança se alfabe-
em proporcionar um ambiente alfabetiza- tizará facilmente e fará o uso da leitura e da
dor, apresentando o mundo letrado através escrita com clareza.
de histórias e imagens, apresentar as vogais, A justificativa do tema surgiu devido a
números, noções de grandezas e medidas observação que muitas creches e pré-escolas
tudo com uma metodologia lúdica com músi- ficam fundamentadas em brincadeiras sem
cas, brincadeiras de uma maneira agradável intuito construtivo de alguma aprendizagem,
que despertam o interesse da criança, mas, no qual quando se pensa em linguagem, não
jamais exigir que a criança saiba de tudo. A se pensa somente no aprimoramento da fala,
Educação Infantil tem um papel importante mas tudo que está envolvido no jogo comu-
a assumir na inserção das crianças na cultura nicativo.
escrita, na formação de leitores e de usuá-
rios competentes da linguagem escrita, en- Deste modo, o trabalho pode oferecer
tendendo esses aspectos como produção de ideias ao pedagogo de que alfabetizar na in-
cultura e defendendo o direito das crianças à fância é necessário, mas que isso ocorra de
cultura letrada. acordo com o universo da criança, respeitan-
PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização; Edu- do o limite de cada criança, utilizando formas
cação Infantil; Letramento. metodológicas de acordo.
Desta forma, como o professor da
educação infantil pode atribuir alfabetização
ABSTRACT e letramento nas suas práticas educativas?
Early childhood education is currently O objetivo geral do trabalho é analisar
guided by a pedagogical function that, given formas de trabalhar a linguagem na infância
this context, it is understood that this stage of pela alfabetização e letramento e como ob-
basic education plays a fundamental role in jetivo específicos é verificar o sentido de lin-
the teaching process of reading and writing guagem na educação infantil; analisar concei-
children, as it is a process of knowledge cons- tos da leitura e da escrita dentro do universo
truction inherent to childhood, and cannot escolar e verificar possibilidades de alfabeti-
be ignored by the school institution. A peda- zar letrando na infância.
gogical practice is a social practice performed A metodologia é uma pesquisa biblio-
between subjects, constituted in and with gráfica exploratória dentro de artigos, livros,
language in all its verbal forms, nonverbal, revistas, feito buscas dentro do tema alfabeti-
multimodal. The work carried out in prescho- zação e letramento na educação infantil, con-
ol should thus consider the development of tando com a colaboração de Faraco (2012),
reading and writing skills in a process of in- Micotti (2012), Brandão e Rosa (20120, entre
sertion in the context of social practices. Ear- outros.
ly Childhood Education has to worry about
providing a literacy environment, presenting
the literate world through stories and ima-
ges, presenting vowels, numbers, basics and DESENVOLVIMENTO
measures all with a playful methodology with EDUCAÇÃO INFANTIL E A LINGUAGEM
music, games in a pleasant way that arouse
the interest of the child, but never require Silva e Rodrigues (2011) relata que
the child to know everything. Early childhood a educação infantil atualmente se orienta
education has an important role to play in the por uma função pedagógica que diante des-

574
se contexto, entende-se que essa etapa da preciso saber como a criança aprende a ler
educação básica desempenha papel funda- e a escrever e a tomar as dificuldades como
mental no processo de ensino da leitura e desafio a ser vencido, e isto só será possível
da escrita das crianças, pois é um processo a partir do momento em que o professor re-
de construção de conhecimento inerente à fletir sobre sua prática e, em consequência,
infância, não podendo ser ignorado pela ins- ousar transformá-la.
tituição escolar.
A leitura e a escrita na educação infan-
Com isso, a educação infantil atual- til, a meu ver, deve ser um trabalho que além
mente é oferecida em creches para as crian- de desafiador para a criança, seja prazero-
ças de até 3 anos e, em seguida, em pré-es- so, voltada muito mais para a descoberta da
colas para aquelas de 4 e 5 anos de idade. função, da utilidade da linguagem escrita no
(SILVA; RODRIGUES, 2011, p. 5). mundo social do que para a busca de uma
escrita correta nesse momento. Acredito ser
Nessa perspectiva, Silva e Rodrigues importante o trabalho de alfabetização cami-
(2011) considera que as contribuições, tanto nhar lado a lado com o letramento. É preci-
da creche quanto da pré-escola, ao desenvol- so que as crianças entendam que a leitura é
vimento da alfabetização e do letramento de comunicação e por isso tem que se buscar o
seus alunos, são indiscutíveis a atuação do sentido das palavras que substituem objetos
educador infantil de modo a contribuir para ou ações (TEDESCHI, 2007, p. 90).
a formação de sujeitos que saibam ler e es-
crever com autonomia, isto é, capazes de fa- Assim, Silva (2010) coloca que a inte-
zer o uso competente dessas habilidades de ração entre as crianças e o professor propor-
acordo com as demandas sociais. cionada por atividades de linguagem atende
a um dos eixos da Educação Infantil de extre-
O dever dos professores já na Educa- ma relevância para a aprendizagem, porque
ção Infantil em oferecer um espaço de acesso a mesma proporciona momentos de troca
à leitura e escrita, ao ler uma história para as de experiências, de culturas e vivências, por
crianças e depois pedir para que desenhe a isso, a interação é de grande valia, mas, esse
história que ouviu já estaremos apresentan- processo nem sempre é fácil, podendo haver
do o mundo da escrita, a criança entenderá a enfrentamentos e é preciso que o professor
função das letras e alimentará a curiosidade adapte sua prática a partir da realidade e ne-
dela quanto ao mundo das letras. Já na edu- cessidades de seus alunos.
cação infantil, oferecer um espaço de aces-
so à leitura e escrita, para que os pequenos, Assim, Brasil (2016) coloca que as prá-
também possam aprender o que é o mundo ticas com a linguagem oral e com a lingua-
escrito (GONTIJO, 2018, p. 11). gem escrita a serem efetivadas na Educação
Infantil, pensadas a partir dessa perspectiva,
Araújo (2017) coloca que a Educação consideram as interações verbais, tanto na
Infantil é a etapa inicial do processo de escola- modalidade oral quanto na escrita, como um
rização em que os primeiros contatos com as fenômeno social que ocorre a partir das con-
diferentes linguagens se dão de modo espe- dições concretas de vida das crianças.
cífico a essa faixa etária, mas sem descuidar
das diversas aprendizagens socioculturais Nesse contexto, letrar é mais que al-
que precisam ser favorecidas e ampliadas, de fabetizar, visto que a alfabetização se desen-
forma contínua e integrada, e que incluem, a volve em um contexto de letramento com
linguagem escrita, nos quais há perspectivas o início da aprendizagem da escrita, com o
quanto ao brincar e ao aprender como ações desenvolvimento de habilidades de uso da
articuladas na infância, que permitem desfa- leitura e da escrita nas práticas sociais. Al-
zermos a dicotomia mal colocada entre ler, fabetizar letrando é ensinar a ler e escrever
escrever e brincar na Educação Infantil. o mundo, ou seja, no contexto das práticas
sociais da leitura e da escrita, tendo em vista
Logo, Araújo (2017) relata que que a linguagem é um fenômeno social. (SIL-
se a linguagem escrita diz respeito às crian- VA, 2010, p. 41).
ças e lhes interessa, se elas aspiram aos co-
nhecimentos que dizem respeito a sua cul- Mas, conforme Silva (2010) no chama-
tura, a questão é, então, refletir sobre como do modelo tradicional, a escrita é entendida
apresentar a linguagem escrita respeitando como simples representação da linguagem
a cultura da infância, os modos próprios de oral, ou seja, como mera codificação da fala,
as crianças aprenderem, propondo situações surgindo o processo de alfabetização escolar
nas quais ler e escrever tenha sentido para a ficar reduzido ao ensino do código alfabéti-
elas, de forma sistemática, planejada e inten- co, centrado na mecânica da leitura e da es-
cional. crita.
Tedeschi (2007) coloca que é funda- Deste modo, Brasil (2016) coloca que
mental saber como a linguagem oral e escrita isso significa, em outras palavras, reconhecer
se desenvolvem na criança e qual a diferença que as crianças se constituem como seres de
entre elas, no qual a competência de um pro- linguagem, nas interações que estabelecem
fessor alfabetizador deve apoiar-se nos co- com o mundo, no qual uma prática pedagó-
nhecimentos da psicolinguística e da forma- gica pautada nessa perspectiva discursiva de
ção do sistema de escrita que possui, sendo apropriação da linguagem verbal exige não

575
apenas conhecer os usos que os meninos e volvimento de suas capacidades, o que por
as meninas fazem da linguagem oral e da lin- sua vez favorece a construção de cidadãos
guagem escrita, dentro e fora das instituições mais participativos no meio em que vivem.
educativas, no seu cotidiano, mas, sobretu- (SILVA, 2020, p. 13)
do, significa incorporar esses usos no plane-
jamento didático e nas situações de aprendi- Alfabetizar não é um trabalho simples
zagem a serem propostas. e fácil, ao contrário, ao se alfabetizar, além de
tornar a criança capaz de ler e escrever é pre-
Uma prática pedagógica é uma prática ciso também envolvê-la nas práticas sociais
social realizada entre sujeitos, constitui-se na da leitura e escrita de modo que aprendam a
e com a linguagem em todas as suas formas fazer uso delas. (TEDESCHI, 2007, p. 15).
verbais, não verbais, multimodais: palavras,
contra palavras, ditos, presumidos, silên- Assim, conforme Tedeschi (2007) é
cios, imagens, gestos e expressões. A partir preciso que o professor alfabetizador domi-
das escutas, os interlocutores – professoras ne conhecimentos específicos referentes à
e crianças – organizam respostas possíveis, construção da escrita e leitura pela criança
conforme as condições que cada contexto a fim de que possa efetivamente auxiliá-la
enunciativo dispõe e possibilita. É possível neste processo, sendo necessário que ele te-
e necessário planejar as propostas pedagó- nha, antes de tudo, o domínio do conceito de
gicas, pela própria natureza intencional da alfabetização e de letramento, que saiba di-
educação. Entretanto, é no campo das inte- ferenciá-los e que consiga garantir as especi-
rações, no espaço relacional que se institui ficidades de cada um dentro do processo de
em cada ato enunciativo, que são tecidos os aprendizagem.
sentidos e estabilizados significados partilha- Com frequência o termo alfabetiza-
dos (BRASIL, 2016, p. 20). ção, conforme Tedeschi (2007) é relacionado
Assim, conforme Brasil (2016) não há ao domínio dos procedimentos de leitura e
dúvida de que não é mais possível olhar as escrita, podendo definir alfabetização como
produções escritas das crianças sem ver as um processo pelo qual as pessoas aprendem
tentativas de aproximação e de apropriação a ler e escrever e o letramento refere-se ao
da linguagem escrita, cabendo à Educação In- uso da leitura e da escrita nas práticas sociais
fantil se valer das contribuições das pesqui- cotidianas.
sas e criar situações significativas de leitura e Assim, conforme Tedeschi (2007) ao
produção de texto, nas quais as crianças pos- se pensar que o aprendizado da leitura e
sam escrever de forma espontânea, revelar da escrita se estende para além do domínio
seus pensamentos e hipóteses e confrontá- desse código, sendo essas habilidades (ler e
-los com informações e convenções, em pro- escrever), utilizadas nas diversas práticas so-
cessos interlocutivos, no qual a professora ciais vividas pela criança e que o sujeito que
exerce um papel fundamental nesses proces- aprende a ler e escrever aprende também a
sos, não apenas por ter domínio da escrita, fazer uso desse conhecimento, percebo uma
mas também por poder elaborar perguntas extensão do conceito de alfabetização em di-
que favoreçam o confronto, que questionem reção ao conceito do letramento, daí então,
as hipóteses, que façam as crianças pensar. faz-se necessário dizer que, embora sejam
É na linguagem qe as crianças desen- conceitos relacionados, não se deve fundi-los
volvem sua experiência vital, que dão sentido em um só, mas cada um dos conceitos deve
ao seu entorno e a si próprias. (BRASIL, 2016, ter suas especificidades garantidas dentro do
p. 61). processo de ensino aprendizagem.
É comum o entendimento do papel da
escola, no que se refere ao aprendizado da
A LEITURA E A ESCRITA NA ESCOLA leitura e escrita, limitar-se à alfabetização, no
entanto, sabemos que só o domínio do siste-
Segundo Santos (2010) a escola é um ma alfabético de escrita não garante a total
território em movimento, não um território inserção da criança no mundo letrado. É pre-
estático, habitado por diferentes sujeitos que ciso ir além do domínio do código escrito, é
vivenciam ao mesmo tempo semelhantes e preciso que a criança conheça as diferentes
diferentes situações, que se produzem e se formas de discurso escrito, como se estrutu-
reproduzem no desenrolar do cotidiano es- ram, como e quando são usados. É preciso
colar. que ela se utilize amplamente da leitura e da
Ressalta-se que a escola é uma insti- escrita no cotidiano e isto vai muito além do
tuição social, e como tal tem sua função pau- escrever ou ler algumas palavras ou frases
tada no desenvolvimento das potencialida- simples. (TEDESCHI, 2007, p. 27).
des físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, Deste modo, Tedeschi (2007) coloca
através da aprendizagem dos conteúdos en- que o aprendizado da escrita demanda, por
tendidos como: conhecimentos, habilidades, parte da criança, uma reflexão sobre todos
procedimentos, atitudes e valores. Esse con- os aspectos que envolvem o processo desde
junto de conhecimento por sua vez não pode o conhecimento das letras e a consciência
ser trabalhado de forma fragmentada, des- das sílabas até a compreensão dos significa-
contextualizada, mas de maneira contextua- dos das marcas ou sinais que segmentam as
lizada possibilitando ao educando o desen-

576
orações. Assim, Silva (2011) coloca que esse
contato com a leitura e a escrita, bem como a
Luciano (2013) coloca que alguns au- oportunidade que as crianças têm de viven-
tores dizem que ao relacionar a alfabetização ciar as suas utilidades e funções nos diversos
apenas ao ler e escrever, dando ênfase so- meios onde se inserem, constitui eventos de
mente ao processo codificação e decodifica- letramento, no qual favorece o desenvolvi-
ção, desconsidera-se de que a alfabetização mento das habilidades relativas a esse pro-
tem que ser vista de modo contínuo e evolu- cesso, considerando-se não apenas a expe-
tivo, isto é, a aprendizagem e o uso social do riência e o contato com material de leitura e
ler e escrever vão se desenvolvendo com o escrita, mas também a mediação entre esses
tempo, por isso torna-se desnecessário o uso e as crianças.
do termo letramento.
Faraco (2012) coloca que a criança co-
Silva (2011) coloca que a alfabetização meça entender as enunciações da sua língua
pode ser entendida, então, como a aprendi- antes de começar a falar, sendo a produção
zagem da leitura e da escrita, ela refere-se ao verbal no início constituído de enunciado de
processo de apropriação e compreensão do um elemento, passando a produzir enuncia-
sistema de escrita que leva o aluno a ler e a do com dois constituintes, chegando uma
escrever com autonomia, no qual o letramen- fase de produzir três elementos até chegar
to, por sua vez, refere-se à aprendizagem dos ao momento, através dos procedimentos
usos sociais das atividades de leitura e escri- cognitivos que ela começa a produzir todos
ta, quando assim for exigido em determina- os elementos, mais ou menos por volta dos
das situações, de modo a atender às necessi- dois anos.
dades demandadas por elas.
Gontijo (2018) coloca que quando o
Como a escrita é uma prática socio- aluno não possui o alicerce para alfabetiza-
cultural, incluir nesse brincar elementos da ção, que é esse processo de preparar a crian-
cultura escrita permite aprendizagens sobre ça para ser alfabetizada de apresentá-la para
as interações comunicativas por meio da es- esse mundo letrado, pode ser que este aluno
crita. Ao brincarem de casinha, hospital, mer- futuramente tenha dificuldades em apren-
cado, as crianças remetem-se a situações do der a ler e escrever de ser alfabetizado, o que
dia a dia em que a escrita se apresenta, como muitas vezes mesmo com essa dificuldade
ler um livro ou jornal, tomar nota, preencher eles conseguem ler e escrever e outras vezes
fichas, cheques, podem listar, consultar lista precisam do apoio de alguém para ajudá-lo
de compras, identificar rótulos, passar uma de uma professora de apoio/reforço.
receita médica, apropriando-se dos usos,
funções e características das práticas e dos Mas, conforme Gontijo (2018) a crian-
gêneros discursivos envolvidos. (ARAÚJO, ça que possui esse alicerce, que já teve o con-
2017, p. 357). tato com a letra ou mesmo que alguém tenha
lido uma história para ela ou que lhe foi apre-
Silva (2011) relata que as ativida- sentado um livro e ela o leu do seu jeito, ou
des de alfabetização e letramento, portanto, seja, uma criança que já é familiarizada com
diferenciam-se, mas devem se desenvolver as letras que de uma forma lúdica conheceu
de forma integrada, ou seja, o desenvolvi- as vogais ela terá mais facilidade em apren-
mento desses processos se dá por meio de der a ler e escrever.
atividades específicas referentes a cada um
deles, mas que estejam intimamente vincula- Tedeschi (2007) coloca que o professor
dos de modo que uma complementa o outro. adquire esse conhecimento principalmente
no cotidiano de seu trabalho enfrentando as
De alguma forma, Silva (2011) coloca dificuldades surgidas, mas esse conhecimen-
que em nossa sociedade que é permeada to já se manifesta, uma vez que foi adquirido
pela escrita, essas duas atividades fazem par- de suas experiências escolares anteriores,
te do contexto de muitas crianças que convi- na relação com seus professores e retrata a
vem, em maior ou menor grau, dependendo imagem do ensino que restou da sua vivência
de seu meio social, com atividades e material de estudante.
de leitura e escrita e com a convivência, tan-
to a alfabetização quanto o letramento, são
construídos e desenvolvidos antes mesmo
de chegarem às instituições de educação in- ALFABETIZAR E LETRAR A CRIANÇA NA
fantil. INFÂNCIA
Assim, mesmo não exercitando uma Facchini (2014) considera que em uma
técnica específica de aprendizagem, em seu sociedade letrada e produtora de escritas,
meio social e cultural as crianças convivem deveria ser natural pensar a leitura e a escri-
com material escrito e vivenciam experiên- ta como integrantes do cotidiano da criança
cias de uso da escrita nos mais variados con- desde seus primeiros meses de vida, pois
textos. Com isso, favorecem a construção do embora não saibam ler, no sentido estrito
conhecimento em torno do código oral e es- da palavra, as crianças podem mergulhar no
crito e o seu uso nas diversas ações cotidia- universo da literatura e interagir com a leitu-
nas (SILVA, 2011, p. 8). ra por intermédio de seus familiares, cuida-
dores e professores.

577
Facchini (2014) considera necessário sentimentos e emoções, por meio de brinca-
que as escolas de educação infantil assumam deiras, jogos educativos, imitações, no qual o
o papel de mediadoras entre a criança e a educador deve estar atento às suas atitudes
cultura escrita, cientes de que seu trabalho e aos papéis que cada um assume.
pode promover, resgatar ou ampliar o desejo
pela leitura e auxiliar na formação de sujeitos Desta forma, é importante que as
efetivamente leitores/escritores. apropriações dos saberes por meio de práti-
cas pedagógicas priorizem atividades signifi-
A tomada de consciência da importân- cativas e lúdicas, permitindo que as crianças
cia do texto escrito na escolarização, tanto tragam suas experiências e seus conheci-
para a aprendizagem da língua como para mentos espontâneos. A partir daí, o profes-
outras aprendizagens na escola, é tão funda- sor passa orientá-las na compreensão das
mental quanto a importância que o texto es- formas de pensar, sentir e agir, estabelecidas
crito adquire nas sociedades tecnologizadas. em sua cultura e proporcionadas pelo am-
Assim, a incapacidade ou a dificuldade nos biente escolar como um todo. (SILVA, 2010,
processos de leitura torna-se uma das maio- p. 13).
res causas da crise educacional vivenciadas
neste momento histórico. (FACCHINI, 2014, Silva (2010) considera que para maior
p. 4). riqueza de aproveitamento e sucesso do pro-
cesso ensino aprendizagem, as escolas pre-
Deste modo, conforme Brasil (2016) cisam estar atentas para que essa passagem
desde bem pequenas, muitas delas têm aces- da pré-escola para o 1º ano não se torne uma
so a jogos, histórias, informações pela mídia ruptura e acabe influenciando negativamen-
digital, no qual é importante considerar que te no processo de alfabetização, sendo uma
esses bens culturais nem sempre estão dis- grande importância de a escola atender as
poníveis para todas as crianças, sendo, inclu- necessidades básicas dos alunos.
sive, mais um fator de segregação, sendo as
mídias digitais que têm provocado formas de A criança que hoje frequenta as salas
ler específicas que exigem das crianças leitu- de aula de alfabetização na educação infan-
ras simultâneas de imagens, ícones, letras, til, é um sujeito ativo, curioso, que interage
sons. com o mundo a sua volta e que exige cada
vez mais do professor um conhecimento es-
Brasil (2016) considera que essas leitu- pecializado. E este deverá ser capaz de trazer
ras estão ainda muito periféricas ou distantes para sua prática em sala de aula, as teorias
da própria escola, mas próximas de algumas estudadas em sua formação e utilizar-se de-
crianças que começam a estabelecer rela- las no desenvolvimento do seu trabalho. Isso
ções complexas seja acionando ícones para implica em que ele seja capaz de estabelecer
abrir janelas, iniciar ou finalizar jogos, vídeos relações entre a teoria aprendida e a forma
e histórias, seja observando palavras, mapas, como ensina, sua pertinência e relevância no
legendas para atingir finalidades inerentes, trabalho junto aos seus alunos. (TEDESCHI,
principalmente, aos jogos, nos quais poucas 2007, p. 126).
são as pesquisas que discutem essas leituras
infantis e de que forma elas estão contribuin- Tedeschi (2007) relata que muito se
do para que as crianças se aproximem de ou- fala sobre alfabetizar ou não a criança em
tras leituras da cultura do escrito. idade pré-escolar, mas de acordo com a mo-
dernização da sociedade e o desenfreado
Daí decorre a questão em relação à avanço dos meios de comunicação, desde os
experiência do encontro com as crianças, dos primeiros anos de vida elas já estão expostas
movimentos de deslocamentos necessários não somente como espectadoras, mas como
ao ato educativo e abertura da professora ao usuárias de toda essa tecnologia existente.
inédito, sua resposta como continuidade dos
movimentos das crianças. (BRASIL, 2016). A formação do professor alfabetiza-
dor, conforme Tedeschi (2007), deve estar
Sendo assim, Silva (2010) coloca que voltada para o saber, saber fazer e saber ex-
para isso, é preciso investir num desenvolvi- plicar o que faz e porque faz, assim, apesar
mento interativo, criativo e lúdico, incluindo de todo avanço nas discussões e dos esfor-
a habilidade de aprender a ouvir opiniões ços dos profissionais da educação infantil,
diferentes e a contra-argumentar, estabele- para melhorar sua prática, ainda são grandes
cendo comparações objetivas entre textos os desafios para garantir a qualidade desta
diferentes e as diversas maneiras de utilizar educação.
a escrita socialmente, sendo necessário tam-
bém favorecer a troca de experiências, tendo Luciano (2013) considera que o alfa-
em vista o desenvolvimento de valores como betizar letrando não deve ser visto como um
cooperação e reciprocidade. novo método de alfabetização, que vai revo-
lucionar na forma de encaminhar às crianças
Nesta perspectiva, Silva (2010) coloca na aquisição da leitura e da escrita, mas sim
que a organização espaço temporal nas ins- na ressignificação do sentido da alfabetiza-
tituições de ensino, torna-se relevante, pois ção, fazendo com que esta não seja vista ape-
este ambiente é exatamente propício para nas como um processo de codificação e de-
as crianças vivenciarem momentos de situ- codificação mecânica, e sim como um meio
ações livres em que podem expressar seus de levar a criança a conviver e descobrir, inte-

578
ragir e aprender, apropriar e usar as práticas Assim, Araújo (2017) relata que seja
reais de leitura e escrita, tornando-as signifi- no brincar de ler e escrever que ocorre nas
cativas em seus processos de aprendizagem. interações com seus pares ou com os adul-
tos, seja na brincadeira simbólica entre as
Dessa forma, Luciano (2013) relata crianças, esse faz de conta torna-se fator de
que é preciso que o professor tenha antes letramento, configurando situações de inter-
de tudo, propriedade do conceito de alfabe- pretação, compreensão e recriação do mun-
tização e de letramento, que saiba distingui- do vivido.
-los e que consiga garantir as especificidades
de cada um dentro do processo de ensino-
-aprendizagem nos quais sua ação não seja
apenas a aderência ou a fuga de uma moda, CONSIDERAÇÕES FINAIS
mas sim uma ação consciente e reflexiva da- Conclui-se que alfabetizar na infância
quilo que está adotando como prática profis- não significa tratar isso como algo forçado
sional. na linguagem da criança, mas algo prazero-
É importante sublinhar, no entanto, so, que ocorre através das brincadeiras, por
que, no contexto desse convívio e aprendi- desenhos, pela escuta de histórias, entre ou-
zagem significativa da linguagem escrita, as tros. A linguagem é fundamental para comu-
crianças indagam também sobre os seus nicação, já faz parte do aprendizado da crian-
signos e o seu funcionamento, fazendo hi- ça desde que nasce, com a linguagem oral,
póteses e avançando em suas construções e depois a criança começa conciliar a fala com
aproximações sucessivas em relação ao sis- a escrita.
tema de notação – instrumento cultural im- O desenvolvimento da alfabetização
portante para ampliar a participação na cul- e do letramento dos alunos, tanto da creche
tura letrada. (ARAUJO, 2017, p. 350). quanto da pré-escola, deve contribuir para
Situações de faz de conta nas brinca- a formação de sujeitos que saibam ler e es-
deiras entre as crianças podem se constituir, crever com autonomia, isto é, capazes de fa-
igualmente, como eventos de letramento. zer o uso competente dessas habilidades de
(ARAUJO, 2017, p. 355). acordo com as demandas sociais. O
dever dos professores já na Educação Infantil
Deste modo, conforme Araújo (2017), em oferecer um espaço de acesso a leitura e
por meio da brincadeira, da imaginação, do escrita, ao ler uma história para as crianças e
faz de conta, as crianças se colocam adiante, depois pedir para que desenhe a história que
apropriando-se de elementos que são obser- ouviu, já está sendo apresentado o mundo
vados em situações diversas envolvendo a da escrita, a criança entenderá a função das
cultura mais ampla da qual participam. letras e alimentará a curiosidade dela quanto
ao mundo das letras. Já na educação infan-
Brincando, as crianças encenam o til, oferecer um espaço de acesso à leitura e
mundo que vivenciam em casa, na rua, na es- escrita, para que os pequenos, também pos-
cola, nos espaços em que transitam na cida- sam aprender o que é o mundo escrito.
de, como lojas, clínicas, supermercados, in-
corporando ações, instrumentos e materiais A Educação Infantil é a etapa inicial do
que compõem esses espaços, recriando situ- processo de escolarização em que os primei-
ações que neles ocorrem. Quando disponibi- ros contatos com as diferentes linguagens se
lizados, esses materiais entram, naturalmen- dão de modo específico a essa faixa etária,
te, na brincadeira. (ARAÚJO, 2017, p. 355). mas sem descuidar das diversas aprendiza-
gens socioculturais que precisam ser favo-
Tedeschi (2007) coloca que as crian- recidas e ampliadas, de forma contínua e in-
ças são curiosas, querem saber, já vêm para tegrada, e que incluem, a linguagem escrita,
a escola com uma carga de conhecimentos nos quais há perspectivas quanto ao brincar
prévios, de hipóteses sobre a leitura e escrita e ao aprender como ações articuladas na in-
que veem no mundo. fância, que permitem desfazermos a dicoto-
Logo, conforme Araújo (2017) as ocor- mia mal colocada entre ler, escrever e brincar
rências desse faz de conta que lê e que escre- na Educação Infantil.
ve, evidentemente, decorrem das experiên- A leitura e a escrita na educação infan-
cias que as crianças têm com essas práticas, til, deve ser um trabalho que além de desa-
ao observar os adultos lendo e escrevendo, fiador para a criança, seja prazeroso, voltada
comentando sobre a escrita ou lendo para muito mais para a descoberta da função, da
elas, ou seja, quando o adulto lê histórias utilidade da linguagem escrita no mundo so-
para as crianças, por exemplo, uma prática cial do que para a busca de uma escrita cor-
frequente, e importante situação de letra- reta nesse momento, ou seja, letrar é mais
mento literário, além de estar apresentando- que alfabetizar, visto que a alfabetização se
-lhes o universo literário, possibilitando-lhes desenvolve em um contexto de letramento
a constituição de um repertório e instigan- com o início da aprendizagem da escrita, com
do-lhes a curiosidade em relação aos livros o desenvolvimento de habilidades de uso da
e ao que eles trazem, essa situação também leitura e da escrita nas práticas sociais.
favorece a apropriação de características do
discurso escrito, do objeto livro e de atitudes
e procedimentos ligados à leitura.

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