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Uroanálise:

Importância da Padronização do Laudo de Urina I /


EAS por células/µL x contagem / campos

• José Robson Venturim, MSc. Esp.


• Farmacêutico-Bioquímico, Diretor Técnico/Científico
• Grupo Tommasi Laboratórios
Exame de Urina
EAS (Elementos Anormais e Sedimentoscopia);
Conhecido por diferentes nomes visa avaliar Sumário de Urina;
algumas características e componentes Urina I;
urinários: Exame Parcial de Urina.

Histórico (primórdio das Análises Clínicas):

O mais antigo exame documentado da história da medicina: Há relatos de avaliação da


urina para fins de avaliação de doenças desde o Egito antigo, Pérsia, Índia, Grécia, Galeno
(200 d.c.) descreveu pela primeira vez a formação da Urina;

Inicialmente limitava-se às análises das suas características organolépticas, passando por


diversos estudiosos ao longo da história até o surgimento da química com reagentes e
procedimentos, nos séculos XIX e XX.

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Exame de
Urina
• Vitral de A. F. Frias, em vidro e chumbo,
representando São Cosme e São Damião.
• São Cosme segura o frasco de urina
(mátula) utilizado para a uroscopia.
Academia Nacional de Medicina, Rio de
Janeiro-RJ
(Fotografia: Tubino, Paulo & Alves, Elaine. -
Jornal Brasileiro de História da Medicina -
2017).
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Exame de Urina
Carta de uroscopia (detalhe),
xilogravura colorida à mão, Fasciculus
Medicinae de Johannes de Ketham,
1493 (cortesia da National Library of
Medicine, EUA).

(Tubino, Paulo & Alves, Elaine. -


Jornal Brasileiro de História da
Medicina - 2017).

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Exame de Urina

• Aspectos, Parâmetros e Características avaliados:


A uroanálise, conforme descrição e padronização atual (Norma Brasileira ABNT
15268:2005), compreende as avaliações das seguintes características:

• Características Físicas: Organolépticas (Coloração, aspecto, odor) e medições


físicas ou físico-químicas (pH, densidade ou gravidade específica);
• Características Químicas (e/ou Pesquisa de elementos anormais):
Proteinúria, glicosúria, cetonúria, bilirrubinúria, sangue (hemoblobina livre ou
hemácias), esterase leucocitária (leucócitos ou piócitos), nitrito, urobilinogênio,
albuminuria (alguns métodos) e creatininúria (alguns métodos).
• Avaliação Microscópica do Sedimento Urinário: Células epiteliais, leucócitos
(piócitos), hemácias, microbiota, leveduras, cilindros, cristais, sais amorfos,
parasitas, entre outros. 5
Exame de Urina

Análise Físico-Química:
Química úmida (reações individualizadas; mais demorado e em desuso)
x
Química seca (tiras reagente);
Sedimentoscopia (Elementos figurados):
Microscopia Óptica após centrifugação com volume, tempo e velocidade de
centrifugação padronizados com contagem dos elementos por campo
microscópico em lâmina e sob lamínula ou por volume (se for utilizada Câmara de
Neubauer ou Lâmina K-Cell)
x
Análise Automatizada digital por imagem e/ou citometria de fluxo.
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Exame de Urina
• Vantagens no uso de metodologias automatizadas:

• Reações padronizadas e com melhor conservação de insumos;

• Elimina/mitiga viés do observador quanto às variações de cor;

• Maior controle de leitura em relação ao tempo de observação (tempo de reação);

• Maior rapidez no processo de análise e ganho de produtividade;


• Eliminação do risco de troca de amostras ou de reportes indevidos de resultados
(interfaceamento bidirecional com identificação e leitura por código de barras);

• Rastreabilidade dos dados e resultados;

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Exame de Urina

• Vantagens no uso de metodologias automatizadas (continuação):

• Não necessita de centrifugação no processo de sedimentoscopia (que embora


necessária e importante para a concentração da urina visando a sedimentoscopia, é
uma importante fonte de erros analíticos nos exames de urina (EUG, 2000);

• Permite analisar um conjunto de partículas e/ou imagens maior, diminuindo


comprometimento da análise dos elementos figurados por falta de homogeneidade
(comum na sedimentoscopia microscópica);

• Incorporação de novos parâmetros e elementos pesquisados associados à


tecnologia utilizada e seu avanço sem necessidade de novos sistemas;
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AVALIAÇÃO
QUÍMICA e
FÍSICO-QUÍMICA
Elementos Normais x Elementos Anormais

Fonte: ib.bioninja.com.au

Fonte: J Bras Patol Med Lab • v. 43 • n. 5 • p. 329-337


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Avaliação Química e Físico-Química - Tira Reagente de Urina

Metodologias
e Aspectos
técnicos

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Avaliação Química e Físico-Química
Tira Reagente de Urina

Parâmetros (Elementos) Possíveis implicações Cor


Leucócitos (Esterase leucocitária) Infecções urinárias e/ou processos inflamatórios
Nitrito Infecção bacteriana (Gram negativo) renal ou do trato urinário inferior
Urobilinogênio Alterações hepáticas agudas, colestases ou distúrbios intestinais
Proteína Dano renal (agudo ou crônico) ou secreção tubular; MM (Prot. BJ); Gestação.
pH Avaliação de acidez ou alcalinidade (avaliar em conjunto com demais)
Sangue Cálculo renal, tumores, infecções graves
Densidade (Gravidade específica) Avaliação da capacidade de concentração renal da urina
Cetonas Indicador de cetoacidose (distúrbios metabólicos; jejum prolongado, diabetes)
Bilirrubinas Dano hepático (hepatites), anemias hemolíticas, icterícias obstrutivas
Glicose Diabetes mellitus (Detecção precoce, monitoramento, indicação de glicemia ↑
Ácido Ascórbico (Vit. C) Potencial risco de falso-negativo para Glicose, Sangue, Nitrito e Bilirrubina.
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Avaliação Química e Físico-Química –
Tira Reagente de Urina
Parâmetros (Elementos) Metodologias (mais comuns) Limite inferior de
Quantificação ou detecção
Leucócitos (Esterase leucocitária) Indoxilo-Éster 10 leucócitos/µL, 3~5 p/ c
Nitrito Sulfonilamida; N-(a-Naftilamino)-3-ácido propanosulfônico 0,05 mg/dL do íon nitrito (105
bactérias/mL)
Urobilinogênio Diazo acoplamento (Sal de diazônio) 0,03 mg/dL
Proteína Azul de tetrabromofenol (Alteração de pH) 30 mg/dL
pH Indicadores (Vermelho de metilo/Azul de bromotimol) 4,5
Sangue Hemoglobina peroxidase (Tetrametilbenzidina) 0,03 mg/dL (5 células/HPF)
Alteração na constante de dissociação (pK) do
Densidade (Gravidade específica) polieletrólito, que se ioniza produzindo íons hidrogênio 1.005
que provocam uma queda no pH, detectada pelo
indicador azul de bromotimol.
Cetonas Nitroprussiato 10 mg/dL
Bilirrubinas Azo-acoplamento (Sal de diazônio) 0,5 mg/dL
Glicose Glicose-Oxidase/Peroxidase (GOD/POD) 50 mg/dL
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Ácido Ascórbico (Vit. C) 2,6-diclorofenolindofenol; Vermelho de metil 10 mg/dL
Fotometria por Reflectância (base)

Metodologias
e Aspectos
técnicos

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Fonte: Nakasato, J.M.E. 2018.
Fotometria por Reflectância (evolução)

Metodologias
e Aspectos
técnicos

• Utilização de sensor CMOS (semelhante aos de câmeras fotográficas


avançadas), com maior sensibilidade e definição na detecção de cores.
• Leitura em múltiplos comprimentos de onda simultaneamente (430,
565, 660 e 735 nm).
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AVALIAÇÃO DOS
ELEMENTOS
FIGURADOS
URINÁRIOS
Avaliação Microscópica do Sedimento

Metodologias
e Aspectos
técnicos

• Avaliação do sedimento urinário entre lâmina e lamínula, após


centrifugação (conforme critérios ABNT NBR 15268:2005).

• Avaliação de identificação morfológica qualitativa e semiquantitativa


(escalas e correlações).

• Avaliação Quantitativa ao microscópio: Câmara de Neubauer ou


Lâmina K-Cell. 17
Avaliação Microscópica do Sedimento

Metodologias
e Aspectos
técnicos

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Avaliação Microscópica do Sedimento

Metodologias
e Aspectos
técnicos

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Avaliação Microscópica do Sedimento

Metodologias
e Aspectos
técnicos

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Avaliação Microscópica do Sedimento

Metodologias
e Aspectos
técnicos

Contagem por mL: Deve ficar 1 mL no fundo do tubo após centrifugação,


ressuspender completamente o precipitado. Após preencher a Câmara
completamente fazer a contagem das células nos 9 círculos.
Contagem / mL = (Σ células contadas nos 9 círculos x fator diluição x 1200) 21
Citometria de Fluxo Fluorescente (Conceito)
A citometria de fluxo é um método quantitativo que aplica
conceitos de óptica e hidrodinâmica para realizar medidas
de células, seus componentes ou demais estruturas.
Sistemas sequenciais: Hidrodinâmico, Óptico e Detecção

Metodologias
e Aspectos
técnicos

Fonte: Nakasato, J.M.E. 2018. 22


Avaliação automatizada dos elementos figurados
• Como a citometria de fluxo fluorescente conta e classifica os elementos?

• Luz dispersa frontal (FSC) que indica o tamanho e comprimento das partículas;
• Luz dispersa lateral (SSC) que fornece informações sobre o conteúdo celular como núcleo e grânulos;
• Luz fluorescente lateral (SFL) que indica a quantidade de DNA e RNA presente nas células;
• Luz despolarizada lateral (DSS): Novo sinal que melhora a discriminação entre hemácias e cristais;

Fonte: Sysmex_UF5000_newlayout_PT_V06_low.pdf 23
Citometria de Fluxo Fluorescente

Metodologias
e Aspectos
técnicos

Fonte: Nakasato, J.M.E. 2018.


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Citometria de Fluxo Fluorescente
HISTOGRAMAS (Obtidos por Citometria de Fluxo Fluorescente urinária) DE INTERPRETAÇÃO DA LUZ INCIDIDAS
DE DIFERENTES FORMAS:

Luz Dispersa Frontal (FSC)


Luz Fluorescente Lateral (SFL)
Luz Dispersa Lateral (SSC)

Metodologias
e Aspectos
técnicos

Fonte: Nakasato, J.M.E. 2018. 25


Citometria de Fluxo Fluorescente

Metodologias
e Aspectos
técnicos

Fonte: Nakasato, J.M.E. 2018. 26


Citometria de Fluxo Fluorescente

Metodologias
e Aspectos
técnicos

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Fonte: Nakasato, J.M.E.
Citometria de Fluxo Fluorescente

Metodologias
e Aspectos
técnicos

Fonte: Sysmex_SERIE_UN_newlayout_PT_V04_low.pdf 28
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Padrões de reportes de
resultados

• Descritivo
• Unidades
• Escalas
• Correlação

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Qual a melhor opção: QUALI , SEMI ou QUANTITATIVO ?
Unidades:
Representação da grandeza na quantificação de um parâmetro.
(Ex: Massa/volume, elementos/volume)
No caso do EAS:
Glicose: 100 mg/dL
Proteínas: 30 mg/dL
Hemácias: 20 / µL (20160 / mL)
Leucócitos: 10 / µL (10080 / mL)
Unidades:
Permitem um padrão de comparação com menores critérios de
subjetividade.
Quando obtidas por métodos automatizados (ex: Citometria de fluxo)
constituem um meio de quantificação considerando o volume
analisado, independente de métodos de concentração (como
centrifugação) e suas variáveis adicionais.
Escalas:
Representações relativas e estimativas da grandeza de um parâmetro.
(Ex: Escala de cruzes, categorização / estratificação)

No caso do EAS:
Glicose: + +
Proteínas: +
Células epiteliais: Raras, Algumas (Moderadas), Numerosas (Aumentadas).
Escalas:
São associadas a um padrão de comparação em “níveis de
intensidade”, como se fossem degraus.
Permitem uma ideia de “ordem de grandeza” rápida e cômoda, porém
geram conceitos de agrupamento dos resultados dentro de 3 ou 4
níveis de intensidade.
Limitam a avaliação, diminuem a representatividade do resultado em
relação ao real achado laboratorial e sua correlação clínica.
Correlação:
Representações proporcionais da grandeza de um parâmetro,
geralmente associada à observação “como parte de um todo”.
(Exemplo: Contagem por campo microscópio)

No caso do EAS:
Hemácias: 4 p/ campo
Leucócitos: 2 p/ campo
Outros exemplos (Hemograma): 5 eritroblastos p/ cada 100 leucócitos
Correlação:
Apresentam um nível de detalhamento superior aos resultados em
escala.
Permitem estabelecer um padrão de “quantificação”, porém com o
critério de comparação mais susceptível à variação subjetiva e
variáveis analíticas.
Permitem uma avaliação com maior representatividade do resultado
em relação ao expresso em escalas, porém geralmente com
reprodutibilidade inferior ao quantificado e expresso em unidades
(O que, em geral, implica em maior variabilidade em relação ao
achado laboratorial e sua correlação clínica).
EXAME DE URINA:
PRINCIPAIS
ALTERAÇÕES
DETECTADAS
Exemplos de
principais
alterações
detectadas por
faixa etária

Nobrega, et al. RBAC


(DOI: 10.21877/2448-
3877.201900785)

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Principais
finalidades das
contagens dos
elementos
figurados no
exame de urina

Contagem de Bactérias e/ou Leucócitos


(WBC) como critério de confirmação
(VPP) ou exclusão (VPN) de Infecção *Nitrito Positivo: Indicativo com elevado VPP p/ ITU por Gram Neg.
do Trato Urinário (ITU). *
Referências
• ALVES, Maria Almerinda R.. Diagnóstico de Doença Renal Crônica: Avaliação de Proteinúria e Sedimento Urinário. Braz. J. Nephrol., v. 26, n. 3 suppl. 1, p. 6-8, dez.
2004. https://bjnephrology.org/wp-content/uploads/2019/11/jbn_v26n3s1a04.pdf
• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Laboratório Clínico
– Requisitos e recomendações para exame de urina. ABNT NBR 15268, 2005.
• EUROPEAN URINALYSIS GROUP. European Urinalysis Guidelines. Scandinavian
Journal of Clinical Laboratory Investigation, 2000. 60:1-96
• Nakasato, Julia Midori Endo. SISTEMAS AUTOMATIZADOS EM URINÁLISE: APLICAÇÃO LABORATORIAL DAS NOVAS TECNOLOGIAS. Universidade Federal do
Paraná, 2018. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/58517/R%20-%20E%20-
%20JULIA%20MIDORI%20ENDO%20NAKASATO.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acessado em: 25/07/2021.
• Nóbrega, B.P. et al. A importância da análise sedimentoscópica diante dos achados físico-químicos normais no exame de urina. RBAC. DOI: 10.21877/2448-
3877.201900785
• Nunes, Estevão Portela. Terapia Antiretroviral e Função renal. The Brazilian Journal of Infectious Disease. Vol.2.Issue.3. pages 82-90 (July 2016). Disponível em:
https://www.bjid.org.br/en-terapia-antirretroviral-e-funcao-renal-articulo-X217751171655969X. Acessado online em 25/07/2021.
• Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) : realização de exames em urina. -- Barueri, SP : Manole, 2017
• Sodré, F. L., et al. Avaliação da função e da lesão renal: um desafio laboratorial • J Bras Patol Med Lab • v. 43 • n. 5 • p. 329-337 • outubro 2007
• SYSMEX. SÉRIE-UN. Analisador completamente automatizado de partículas de urina – UF-5000TM. Disponível em:
https://www.sysmex.com/la/pt/Products/Documents/SERIE_UN_newlayout_PT_v04_low.pdf. Acessado em: 25/07/2021.
• SYSMEX. SÉRIE-UN. Sistema modular de automatização da Urinálise – Série-UN. Disponível em:
https://www.sysmex.com/la/pt/Products/Documents/SERIE_UN_newlayout_PT_v04_low.pdf Acessado em: 25/07/2021.
• Tubino, Paulo & Alves, Elaine. (2017). A URINA NA HISTÓRIA DA MEDICINA. Jornal Brasileiro de História da Medicina 1516-0386. 17. 9-18.. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/321980189. Acessado em: 25/07/2021.

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Contato: jrventurim@tommasi.com.br

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