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BIOQUÍMICA CLÍNICA

1. BIOQUÍMICA CLÍNICA E EXAMES LABORATORIAIS

– A bioquímica clínica, também conhecida como química clínica ou química fisiológica ou


patológica, consiste em uma ciência que medeia a química e a patologia, responsável por investigar
materiais orgânicos, como sangue e urina, em que seus resultados refletem alterações metabólicas
responsáveis pelo desenvolvimento de doenças.
– Na prática ele geralmente, mas não exclusivamente, se restringe a estudos do sangue e da urina
devido à relativa facilidade de se obter tais amostras. Na maioria das determinações bioquímicas
emprega-se, de preferência, o soro ou plasma sanguínea em lugar de sangue total.
– Fluxo do Exame de Laboratório:
• Fase Pré-analítica – Consiste no exame clínico, pedido de exame, preparo do paciente,
obtenção e armazenamento da amostra. Com margem de erro de ± 60 a 70%.
• Fase Analítica – Consiste na realização do exame. Com margem de erro de ± 20 a 30%.
• Fase Pós-analítica – Consiste na avaliação dos resultados, liberação do laudo e avaliação
médica do laudo. Com margem de erro de ± 10%.

1.1 Fase Pré-analítica dos exames laboratoriais

– Atualmente, tem se tornado comum a declaração de que a fase pré-analítica é responsável por
cerca de 70% do total de erros ocorridos nos laboratórios clínicos.
– A fase pré-analítica inclui a indicação do exame, redação da solicitação, transmissão de eventuais
instruções de preparo do paciente, avaliação do atendimento às condições prévias, procedimentos de
coleta, acondicionamento, preservação e transporte da amostra biológica até o momento em que o
exame seja, efetivamente, realizado.
– Causas Pré-analíticas de variações dos resultados de exames laboratoriais:
• Variação Cronobiológica: Variação circadiana acontece, por exemplo, nas concentrações
do ferro e do cortisol no soro. As coletas realizadas à tarde fornecem resultados até 50%
mais baixos do que os obtidos nas amostras coletadas pela manhã.
• Posição: Mudança rápida na postura corporal pode causar variações na concentração de
alguns componentes séricos. Substâncias tais como as proteínas de alto peso molecular e os
elementos celulares terão sua concentração relativa elevada.
• Jejum: Preconizado um período de jejum para a coleta de sangue para exames laboratoriais.
A coleta pela manhã após repouso noturno em jejum de 8 a 12 horas. A ingestão de água não
faz parte do jejum. Os estados pós-prandiais, em geral, se acompanham de turbidez do soro,
o que pode interferir em algumas metodologias.
• Dieta: Rica em gorduras pode elevar o teor de triglicérides. Rica em proteínas e
carboidratos pode elevar as concentrações de amônia, uréia, ácido úrico, além da
estimulação da secreção de insulina e glucagon. Rica em glicídeos estimula secreção de
insulina.
• Ingestão de café: A cafeína pode induzir a liberação de epinefrina, que estimula a
neoglicogênese levando a elevação de glicose no sangue. Pode elevar a atividade da renina
plasmática e a concentração de catecolaminas. Efeito diurético, com isso ocorre o aumento
da excreção de hemácias e células tubulares renais na urina.
• Gênero: Parâmetros sanguíneos e urinários se apresentam em concentrações
significativamente distintas entre homens e mulheres, em decorrência das diferenças
metabólicas e da massa muscular, entre outros fatores.
• Uso de Fármacos: Dentre os efeitos fisiológicos, devem ser citadas a indução e a inibição
enzimáticas, a competição metabólica e a ação farmacológica. A suspensão de
medicamentos somente pode ser autorizada pelo médico do paciente. Deve-se anotar na
ficha o nome dos medicamentos. Utilizados pelo paciente. Na monitorização de drogas
terapêuticas, anotar o horário da última dose e registrar esta informação no laudo.
• Álcool: Depende da duração e amplitude do seu consumo, onde: Efeito agudo (dentro de 2 a
4 horas) reduz a concentração de glicose e aumenta a concentração de ácido úrico e lactato
plasmático; Efeito crônico eleva os níveis de triglicérides e VCM (devido deficiência
folatos); Efeito prolongado eleva os níveis da enzima GGT (Gamaglutamiltransferase), além
das enzimas AST, ALT, glutamato desidrogenase (devido ao efeito tóxico causado no
fígado).
• Tabagismo: Pode causar: Elevação da glicose (Cerca de 10 mg/dl, 10 min. após fumar um
cigarro, que persiste 1 h); Aumento do colesterol, triglicérides, ácidos graxos, epinefrina,
aldosterona, hormônio crescimento, cortisol plasmático; Reduz o HDL colesterol. Além
disso, o tabagismo crônico pode levar o aumento dos leucócitos (cerca de 30%).

– Erros na coleta da amostra: Garroteamento excessivo; Punção em membro com infusão venosa;
Coleta com tubos inadequados para os exames; Acidentes perfuro-cortantes; Má qualificação do
profissional; Falta de comprometimento do profissional; Instabilidade emocional e/ou influências
externas sobre o profissional.
– Centrifugação das amostras: Plasma deve ser centrifugado o mais rápido possível. O Soro deve
ser centrifugado no mínimo 30 minutos e no máximo 2 horas. Os tubos com gel separador não
podem ser centrifugados em baixas temperaturas.
– Coleta das amostras: Para as análises hematológicas, as amostras devem ser de sangue completo
(tratado com anticoagulante EDTA), armazenado por um período máximo de 6 horas a temperatura
ambiente ou 24 horas na geladeira (4°C). As dosagens bioquímicas podem ser realizadas no soro ou
no plasma (obtido com heparina). Tanto o soro quanto o plasma podem ser refrigerados por até 3
dias ou congelados por 30 dias até a sua análise, sem prejuízo no resultado.
– Em situações em que mais de um tipo de exame é solicitado, recomenda-se a coleta a vácuo na
seguinte sequência: (1) Tubo com citrato de sódio; (2) Tubo com ativador de coágulo; (3) Tubo com
heparina; (4) Tubo com EDTA; (5) Tubo com fluoreto. Principais anticoagulantes usados nos tubos
de coleta de amostra de sangue:

Cor Tubo Anticoagulante Indicação Descrição

Vermelha Sem É usado para prescrição em Tubo de ensaio para coleta de sangue
anticoagulante. soro nas áreas de sorologia que conta com ativador de coágulo em
e bioquímica. suas paredes, fazendo com que a
coagulação da coleta seja acelerada

Amarela Ativador de É usado em rotinas de Possui ativador de coágulo em suas


coágulo com gel. sorologia, imunologia, paredes, fazendo com que a coagulação
bioquímica, marcadores seja acelerada, além de gel separador
tumorais e cardíacos. para alcance de uma solução de maior
qualidade.
Azul Citrato de Sódio Provas de coagulação. Tubo usado para prova de coagulação
em coletas. Concentrações distintas da
substância podem gerar efeitos
significativos nos exames de TP e
TTPa. O Citrato de Sódio atua
quelando o cálcio e impedindo o
processo de coagulação.

Cinza Fluoreto de Análise de glicemia e Tubo de ensaio para coleta de sangue


Sódio e Oxalato tolerância a glicose. usado na quantidade de glicose,
de Potássio; hemoglobina glicada e lactato no
Fluoreto de plasma. O fluoreto de potássio atua
Sódio e Heparina como inibidor glicolítico.
Sódica.

Verde Heparina Sódica; Para análises bioquímicas, Tubo usado quando há a necessidade da
Heparina Lítio. gasometria ou outros utilização de plasmas para prescrições
exames, a amostra de bioquímicas. Contam com heparina de
plasma deve ser colhida em lítio em suas paredes. Tais aditivos são
um tubo com heparina. coagulantes capazes de ativar as
enzimas antiplaquetárias. Sendo o mais
recomendado para análises
bioquímicas, pois não interfere com os
reagentes usados na maioria dos testes.

Roxo EDTA dissódico Análises hematológicas e Este modelo de tubo de ensaio possui
utilizado para investigar EDTA K2 ou K3 em suas paredes,
possíveis distúrbios sendo aproveitados em bancos de
sanguíneos sangue. O EDTA é o mais recomendado
para análises hematológicas, pois
preserva a integridade celular. Atua
como quelante do cálcio, impedindo a
coagulação.

1.1.2 Critérios de rejeição de amostras

– Falta de informações importantes para execução do exame; Inadequação de tubos, volumes,


aditivos e conservantes; Centrifugação inadequada; Preparação inadequada do paciente;
Conservação inadequada da amostra; Tempo inadequado entre a coleta e o processamento;
Transporte inadequado; Identificação incompleta ou incorreta da amostra; Acidentes.
– Além disso, outros critérios de rejeição de amostras consiste na presença de:
• Lipemia: Promove a turbidez do soro interfere em alguns métodos analíticos, como
metodologias colorimétricas ou turbidimétricas. A elevação triglicérides pode ocorrer apenas
no período pós-prandial ou de forma contínua (pacientes portadores de algumas
dislipidemias). Aspecto do soro ou do plasma altera de límpido para grau variado de
turbidez, podendo chegar a ser leitoso.
• Hemólise: Liberação dos constituintes intracelulares para o plasma ou soro, e estes
componentes podem interferir nos resultados das dosagens de alguns analitos, como a
liberação de potássio e outros produtos de glóbulos vermelhos. A aparência avermelhada do
soro ou plasma, após centrifugação ou sedimentação, pode ser causada pela hemoglobina
liberada quando da ruptura dos eritrócitos.

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