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CAUSAS PRÉ-ANALÍTICAS DE VARIAÇÕES DOS RESULTADOS DE EXAMES LABORATORIAIS

Causas pré-analíticas de variações dos resultados de exames laboratoriais:

A fase pré-analítica é responsável por 70% dos erros ocorridos no laboratório, ela engloba a
indicação do exame, redação da solicitação, leitura e interpretação da solicitação, transmissão de
eventuais instruções de preparo do paciente, avaliação do atendimento às instruções previamente
transmitidas e procedimentos de coleta, acondicionamento, transporte e preservação da amostra
biológica até o momento da efetiva realização do exame.

Uma das principais finalidades dos resultados dos exames laboratoriais é reduzir as dúvidas que
a história clínica e o exame físico fazem surgir no raciocínio médico. Para que o laboratório
clínico  possa atender, adequadamente, a este propósito, é indispensável que o preparo do
paciente, a coleta, o transporte e a manipulação dos materiais a serem examinados obedeçam a
determinadas regras.

Antes da coleta de sangue para a realização de exames laboratoriais, é importante conhecer,


controlar e, se possível, evitar algumas variáveis, classicamente referidas como condições pré-
analíticas, que podem interferir no desempenho da fase analítica e, consequentemente, na exatidão
e precisão dos resultados dos exames, vitais para a conduta médica e, em última instância, para o
bem-estar do paciente.

Variação cronobiológica:

Corresponde às alterações cíclicas da concentração de um determinado parâmetro em função do


tempo. O ciclo de variação pode ser diário, mensal, sazonal, anual, etc. Variação circadiana acontece,
por exemplo, nas concentrações do ferro e do cortisol no soro, onde as coletas realizadas à tarde
fornecem resultados até 50% mais baixos do que os obtidos nas amostras coletadas pela manhã.
Classicamente, a melhor condição para coleta de sangue para realização de exames de rotina é o
período da manhã, embora não exista contraindicação formal de coleta no período da tarde, salvo
aqueles parâmetros que sofrem modificações significativas no decorrer do dia (exemplo: cortisol,
TSH, etc.).

Gênero:

Além das diferenças hormonais específicas e características de cada sexo, alguns outros parâmetros
sanguíneos e urinários se apresentam em concentrações significativamente distintas entre homens
e mulheres, em decorrência das diferenças metabólicas e da massa muscular, entre outros fatores.
Em geral, os intervalos de referência para estes parâmetros são específicos para cada gênero.

Idade:

Alguns parâmetros bioquímicos possuem concentração sérica dependente da idade do indivíduo.


Esta dependência é resultante de diversos fatores, como maturidade funcional dos órgãos e
sistemas, conteúdo hídrico e massa corporal. Em situações específicas, até os intervalos de
referência devem considerar essas diferenças.

Posição:

Mudança rápida na postura corporal pode causar variações na concentração de alguns


componentes séricos. Quando o indivíduo se move da posição supina para a posição ereta, por
exemplo, ocorre um afluxo de água e substâncias filtráveis do espaço intravascular para o
intersticial. Substâncias não filtráveis, tais como as proteínas de alto peso molecular e os elementos
celulares terão sua concentração relativamente elevada até que o equilíbrio hídrico se restabeleça.

Atividade física:

O esforço físico pode causar aumento da atividade sérica de algumas enzimas, como a
creatinoquinase, a aldolase e a aspartato aminotransferase, pelo aumento da liberação celular. Esse
aumento pode persistir por 12 a 24 horas após a realização de um exercício. Alterações significativas
no grau de atividade física, como ocorrem, por exemplo, nos primeiros dias de uma internação
hospitalar ou de imobilização, causam variações importantes na concentração de alguns parâmetros
sanguíneos. Após uma coleta de sangue o intervalo de tempo recomendado para iniciar a prática de
um exercício físico ou retornar as atividades habituais, é importante ressaltar que cada caso deve
ser avaliado individualmente, ficando a decisão final para o próprio paciente, ou a critério e
orientação médica. A ingestão de alimentos é necessária para encerrar o estado de jejum, antes da
prática esportiva, sob o risco de hipoglicemia durante esta atividade.

Jejum:

Habitualmente, é preconizado um período de jejum para a coleta de sangue para exames


laboratoriais. Os estados pós-prandiais, em geral, causam turbidez do soro, o que pode interferir em
algumas metodologias. Nas populações pediátricas e de idosos, o tempo de jejum deve guardar
relação com os intervalos de alimentação. Devem ser evitadas coletas de sangue após períodos
muito prolongados de jejum, acima de 16 horas. O período de jejum habitual para a coleta de
sangue de rotina é de 8 horas, podendo ser reduzido a 4 horas, para a maioria dos exames e, em
situações especiais, tratando-se de crianças na primeira infância ou lactentes, pode ser de 1 ou 2
horas apenas.

Dieta:

A dieta a que o indivíduo está submetido, mesmo respeitado o período regulamentar de jejum, pode
interferir na concentração de alguns componentes, na dependência das características orgânicas do
próprio paciente. Alterações bruscas na dieta, como ocorrem, em geral, nos primeiros dias de uma
internação hospitalar, exigem certo tempo para que alguns parâmetros retornem aos níveis basais.
A ingestão de café não é permitida antes da coleta, a cafeína pode induzir a liberação de epinefrina,
que estimula a neoglicogênese, com consequente elevação da glicose no sangue. Além disto, pode
elevar a atividade de renina plasmática e a concentração de catecolaminas.

Uso de fármacos e drogas de abuso:

Este é um item amplo e inclui tanto a administração de substâncias com finalidades terapêuticas
como as utilizadas para fins recreacionais. Ambos podem causar variações nos resultados de
exames laboratoriais, seja pelo próprio efeito fisiológico in vivo ou por interferência analítica, in vitro.
Pela frequência, vale referir o álcool e o fumo. Mesmo o consumo esporádico de etanol pode causar
alterações significativas e quase imediatas na concentração plasmática de glicose, de ácido láctico e
de triglicérides, por exemplo. O uso crônico é responsável pela elevação da atividade da gama
glutamiltransferase, entre outras alterações. O tabagismo é causa de elevação na concentração de
hemoglobina, no número de leucócitos e de hemácias e no volume corpuscular médio; redução na
concentração de HDL-colesterol e elevação de outras substâncias como adrenalina, aldosterona,
antígeno carcinoembriônico e cortisol. O fumo não é permitido antes da coleta.

Aplicação do torniquete:

Ao se aplicar o torniquete por um tempo de 1 a 2 minutos, ocorre aumento da pressão intravascular


no território venoso, facilitando a saída de líquido e de moléculas pequenas para o espaço
intersticial, resultando em hemoconcentração relativa. Se o torniquete permanecer por mais tempo,
a estase venosa fará com que alterações metabólicas, tais como glicólise anaeróbica, elevem a
concentração de lactato, com redução do pH.

Procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos:

Como outras causas de variações dos resultados dos exames laboratoriais, devem ser lembradas
alguns procedimentos diagnósticos (a administração de contrastes para exames radiológicos ou
tomográficos, a realização de toque retal, de eletroneuromiografia) e alguns procedimentos
terapêuticos, como: hemodiálise, diálise peritoneal, cirurgias, transfusão sanguínea e infusão de
fármacos.

Infusão de fármacos:

É importante lembrar que a coleta de sangue deve ser realizada sempre em local distante da
instalação do cateter. Mesmo realizando a coleta em outro local, se possível, deve-se aguardar pelo
menos uma hora após o final da infusão para a realização da coleta.

Gel separador:

Algumas vezes, o sangue é colhido em tubos contendo uma substância gelatinosa com a finalidade
de funcionar como barreira física entre as hemácias e o plasma ou soro, após a centrifugação. Este
gel é um polímero com densidade específica de 1,040 contendo um acelerador da coagulação e
pode, eventualmente, liberar partículas que interferem com eletrodos seletivos e membranas de
diálise. Em alguns casos, pode causar variação no volume da amostra e interferir em determinadas
dosagens. Considerando que a composição deste gel varia entre os diferentes fornecedores, é
recomendável consultar o fabricante sobre a existência de estudos bem conduzidos demonstrando
ou excluindo possíveis limitações e interferências.

Hemólise:

Hemólise leve tem pouco efeito sobre a maioria dos exames, mas se for de  intensidade significativa
causa aumento na atividade plasmática de algumas enzimas, como aldolase, aspartato
aminotransferase, fosfatase alcalina, desidrogenase láctica e nas dosagens de potássio, magnésio e
fosfato e pode ser responsável por resultados falsamente reduzidos de insulina, dentre outros.
Hemólise tem sido definida como a liberação dos constituintes intracelulares para o plasma ou soro,
quando ocorre a ruptura das células do sangue. Estes componentes podem interferir nos resultados
das dosagens de alguns analitos, é geralmente reconhecida pela aparência avermelhada do soro ou
plasma, após a centrifugação ou sedimentação, causada pela hemoglobina liberada quando da
ruptura dos eritrócitos. Desse modo, a interferência pode ocorrer mesmo em baixas concentrações
de hemoglobina liberada (invisíveis a olho nu).

No entanto, a hemólise nem sempre se refere à ruptura de hemácias; fatores interferentes podem
também ser originados da lise de plaquetas e granulócitos, que pode ocorrer, por exemplo, quando
o sangue é armazenado em baixa temperatura, mas não em temperatura de congelamento.

Boas práticas PRÉ-coleta para prevenção da hemólise:

Antes de iniciar a punção, deixar o álcool usado na antissepsia secar.


Evitar usar agulhas de menor calibre; usar este tipo de material somente quando a veia do paciente
for fina, ou em casos especiais.
Evitar colher sangue de área com hematoma ou equimose.
Em coletas a vácuo, puncionar a veia do paciente com o bisel voltado para cima. Perfurar a veia com
a agulha em um ângulo oblíquo de inserção de 30 graus ou menos. Este procedimento visa prevenir
o choque direto do sangue na parede do tubo, que pode hemolisar a amostra, e também evita o
refluxo do sangue do tubo para a veia do paciente.
Tubos com volume insuficiente ou com excesso de sangue alteram a proporção correta de
sangue/aditivo, podendo levar a hemólise e resultados incorretos.
Recomenda-se, em coletas de sangue a vácuo, aguardar o sangue parar de fluir para dentro do tubo,
antes de trocá-lo por outro, assegurando a devida proporção sangue/anticoagulante. Observar que,
tubos com menor volume de aspiração (pediátricos), têm menor quantidade de vácuo, portanto o
sangue flui lentamente para dentro deste tubo.
Em coletas com seringa e agulha, verificar se a agulha está bem adaptada à seringa para evitar a
formação de espuma.
Não puxar o êmbolo da seringa com muita força.
Ainda em coletas com seringa, descartar a agulha, passar o sangue deslizando cuidadosamente pela
parede do tubo, cuidando para que não haja contaminação do bico da seringa com o anticoagulante
ou ativador de coágulo contido no tubo.
Não executar o procedimento de espetar a agulha no tubo, para transferência do sangue da seringa
para o tubo, porque pode ocorrer à criação de uma pressão positiva, o que provoca, além da
hemólise, o deslocamento da rolha do tubo, levando à quebra da probe de equipamentos na área
analítica.
 

Boas práticas PÓS-coleta para prevenção da hemólise:

Homogeneizar a amostra suavemente por inversão de 5 a 10 vezes, não chacoalhar o tubo.


Não deixar o sangue em contato direto com gelo, quando o analítico a ser dosado necessitar desta
conservação.
Embalar e transportar o material de acordo com a Vigilância Sanitária local, instruções de uso do
fabricante de tubos e do fabricante do teste diagnóstico a ser analisado.
Usar, de preferência, um tubo primário e evitar a transferência de um tubo para outro.
O material coletado não deve ficar exposto a temperaturas muito elevadas ou mesmo exposição
direta à luz, para evitar hemólise e/ou degradação.

Lipemia:

Também pode interferir na realização de exames que usam metodologias colorimétricas ou


turbidimétricas. A elevação significativa dos níveis de triglicérides pode ocorrer apenas no período
pós-prandial ou de forma contínua, nos pacientes portadores de algumas dislipidemias e faz com
que o aspecto do soro ou do plasma se altere de límpido para algum grau variado de turbidez,
podendo chegar a ser leitoso. Uma vez que amostras normais colhidas dentro das especificações de
jejum apresentam-se sem turvação, a observação de turbidez tem relevância clínica e deve ser
avaliada e relatada pelo laboratório. Ela pode ser o resultado da presença de hipertrigliceridemia, ou
do aumento nos quilomícrons, nas lipoproteínas (VLDL- colesterol), ou de ambos.

BIBLIOGRAFIA

Recomendações da sociedade brasileira de patologia clínica/ medicina laboratorial (sbpc/ml): Coleta


e Preparo da Amostra Biológica

PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA MINIMIZAR A OCORRÊNCIA DE ERROS

 
Procedimentos básicos para minimizar ocorrências de erro:

O flebotomista deve se assegurar de que a amostra será colhida do  paciente  especificado na
requisição de exames. Para isto, recomendam-se:

Para um paciente adulto e consciente:

Perguntar o nome completo e solicitar o documento de identidade, comparar as informações do


documento com as constantes na requisição de exames.
 

Para pacientes internados:

O flebotomista deve verificar  SEMPRE  a identificação do paciente, comparando com as etiquetas


previamente impressas e quando possível perguntar o nome completo. O número do leito nunca
deve ser utilizado como critério de identificação.  Qualquer dúvida checar com a enfermagem antes
de efetuar a coleta.

Para pacientes muito jovens, inconscientes ou com algum tipo de dificuldade de comunicação:

O flebotomista deve valer-se de informações de algum acompanhante ou da enfermagem. Pacientes


atendidos no pronto-socorro ou em salas de emergência podem ser identificados pelo seu nome e
número de entrada no cadastro da unidade de emergência. É indispensável que a identificação
possa ser rastreada a qualquer instante do processo. O material colhido deve ser identificado na
presença do paciente. Recomenda-se que materiais não colhidos no laboratório sejam identificados
como “amostra enviada ao laboratório”, e que o laudo contenha esta informação.

É importante verificar se o paciente está em condições adequadas para a coleta, especialmente no


que se refere ao jejum e ao uso de eventuais medicações. O paciente não deve suspender os
medicamentos antes da coleta de sangue, exceto quando autorizada pelo médico do paciente. Na
monitorizarão de drogas terapêuticas é importante o laboratório anotar o horário da última dose e
registrar esta informação no laudo.

A ingestão de pequena quantidade de água, antes da coleta, não quebra o jejum.

Procedimentos inadequados na coleta

Massagem no local da coleta

- Pode ocasionar redução da contagem de células de até 5%. Tapinhas no local da coleta também
não são recomendados.

- Garroteamento prolongado

Por mais de um minuto, produz elevação (hemoconcentração) do hematócrito em 4 a 6% por causa


do extravasamento de plasma venoso para o extravascular.

- Coleta de pequeno volume de sangue

Em tubo com EDTA, pela sobra/excesso de anticoagulante (sal), pode desidratar os eritrócitos
(crenados), causando diminuição do hematócrito e do VCM. A proporção de EDTA dos tubos de
diferentes marcas é de 1,5 a 2,2 mg de anticoagulante por cada mililitro de sangue venoso.
 

- Uso de tubos EDTA com validade vencida

É de uso proibido pela Anvisa, mesmo se provado, por validação, seu bom funcionamento, pois
pode haver perda do vácuo, contaminação com micro-organismos e maior tendência à formação de
coágulos.

- Homogeneização inadequada do tubo

Pode favorecer a formação de coágulos. Ideal: 8 a 10 vezes, por inversão, de forma suave.

- Formação de hematoma

Durante a punção, o rompimento do vaso e a formação de hematoma ocasionam a mistura do


sangue venoso com o líquido extravascular, tornando inadequada a amostra para análise.

- Coleta de sangue de cateter

Pode ocasionar diluição da amostra pelas soluções glicosada e fisiológica. Entre os parâmetros
avaliados no hemograma, o hematócrito é o que está mais sujeito aos efeitos da diluição. Quando
houver suspeita de que a amostra foi diluída, deve-se solicitar a coleta de nova amostra, justificando
a solicitação.

-Hemólise da amostra

Pode acontecer em consequência a uma série de fatores, como escolha de agulha de calibre
pequeno; aspiração muito rápida, quando realizada com seringa; perda da veia durante a coleta;
homogeneização brusca; longo período de armazenamento em temperatura inadequada; e
congelamento da amostra. Proporcionalmente à intensidade da hemólise, há alterações, como
diminuição da contagem de eritrócitos, redução do hematócrito e da hemoglobina.

-Coagulação da amostra

Ocorre, principalmente, por homogeneização insuficiente após a coleta. Essas amostras devem ser
desprezadas, já que a formação de coágulo afeta todos os parâmetros avaliados no hemograma.
Deve-se solicitar a coleta de nova amostra, justificando a solicitação.

Relacionadas à coleta

Sangue coagulado
- A demora na aspiração do sangue durante a coleta permite a ativação das plaquetas e da
coagulação antes da ação do EDTA. Quando a coagulação é completa, é facilmente observada.
Quando a coagulação é parcial, há formação de pequenos coágulos, às vezes imperceptíveis.
Citopenia sem causa evidente exige pesquisa de coágulos na amostra.

Plasma derramado

Perda de plasma quando os glóbulos estão sedimentados eleva harmonicamente as contagens


celulares (total de glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas), a hemoglobina e o
hematócrito.

Efeitos da postura do paciente

Decorrente da postura do paciente pode haver redução de até 5% nos resultados da contagem
eritrocitária, níveis de hemoglobina e hematócrito, quando a amostra é coletada mais de uma vez,
após 20 minutos, de um mesmo paciente, com variação na sua postura (de decúbito dorsal para
sentado) e posição do braço. O decúbito dorsal causa um aumento de até 3% na contagem
eritrocitária, hemoglobina e hematócrito9 esses aumentos podem ser maiores (entre 5 e 10%) em
cardiopatas e obesos.

Horário da coleta

  O ideal é que seja pela manhã, pois os valores de referência foram obtidos nesse horário. Em
outros horários, por exemplo, à tarde, alguns parâmetros hematológicos podem sofrer
modificações, tais como a diminuição da hemoglobina entre 0,3 e 1,5 g/dL. Pode haver modificações
nos parâmetros leucocitários, pois a contagem vespertina pode sofrer aumento de até 15% em
relação à contagem matinal, decorrente do ritmo circadiano do cortisol. Esse mecanismo fisiológico
também influencia, de forma contrária, as contagens de eosinófilos e basófilos. As contagens de
eosinófilos e basófilos tendem a mostrar um padrão mais consistente, com valores menores à tarde
e mais elevados de manhã. Esses valores aparecem de forma paralela com as mudanças diurnas
dos glicocorticoides. A presença de neutropenia em hemograma coletado em condições basais exige
confirmação com coleta no fim da manhã ou na segunda metade da tarde. A poliglobulia presente
em hemograma coletado no fim do dia deve ser confirmada com nova coleta de manhã cedo.

Estase venosa por aplicação prolongada do torniquete

Acima de um minuto, produz hemoconcentração e elevação do hematócrito em 4 a 6%


(extravasamento de plasma venoso para o extravascular).

Amostra inadequada

Por uso de tubo incorreto (p.ex., heparina) ou tubo não preenchido adequadamente (volume acima
ou abaixo do indicado). A heparina pode ser usada para avaliar as hemácias, porém, lisa leucócitos e
dificulta a visualização das plaquetas (coloração violácea de fundo).

Outras causas

Certos procedimentos diagnósticos devem ser lembrados como potenciais riscos para alteração de
parâmetros hematológicos, tais como a administração de novos contrastes existentes no mercado
para exames de imagem, alguns procedimentos terapêuticos, como hemodiálise, diálise peritoneal,
cirurgia, transfusão sanguínea e infusão de fármacos. Em relação à infusão de fármacos, é
importante lembrar que a coleta de sangue para hemograma deve ser realizada, sempre que
possível, em local distante da instalação do cateter, preferencialmente no outro braço. Mesmo
realizando a coleta no outro braço, se possível, deve-se aguardar pelo menos uma hora após o final
da infusão. Apesar de as causas pré-analíticas discutidas interferirem nos resultados dos
hemogramas, as diferenças nos resultados costumam ser clinicamente irrelevantes na maioria das
vezes, de modo que a coleta e realização do hemograma podem ser feitas a qualquer hora do dia e
da noite. Entretanto, evita-se coletar o hemograma após exercício físico (leucocitose/neutrofilia) e
nas duas horas seguintes a refeições abundantes e gordurosas.

 Causas de resultados discrepantes no hemograma são:

•    refeição ou fumo nas duas horas anteriores à coleta;

•    atividade física nos 20 minutos anteriores à coleta;

•    postura do paciente no momento da coleta;

•    pressão prolongada do garrote no momento da coleta;

•    tipo de sangue: capilar (mistura do sangue com líquido extravascular) ou venoso;

•    anticoagulante indevido, em excesso ou insuficiente;

•    demora no envio da amostra ao laboratório;

•    identificação errônea do paciente ou da amostra.

BIBLIOGRAFIA

1. Souza ML, Corio P, Temperini MLA, Temperini JA. Aplicação de espectroscopias raman e
infravermelho na identificação e quantificação de plastificantes em filmes comerciais de PVC
esticável. Quim Nova 2009; 32(6):1452-6. Disponível em: www.scielo.br/pdf/qn/v32n6/17.pdf.
Acessado em: 12/mar/2013.

Bibliografia 1. Clinical and Laboratory Standardization Institute (CLSI). 2. CLSI H3-A6, Procedures for
the Collection of Diagnostic Blood Specimens by Venipuncture; Approved Standard, 6.ed. 3. Manual
de conduta em exposição ocupacional a material biológico. Disponível em: https://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/04manual_acidentes.pdf).

  NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. Portaria GM n. 1.748, de 30 de


agosto de 2011. 5. Portaria MTE n. 939, de 18 de novembro de 2008. DOU de 1911/08 – Seção 1.
Página 238.

6. Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML). Recomenda- ções da


SBPC/ML para coleta de sangue venoso.

7. Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML). Gestão da fase pré-


analítica. Recomendações da SBPC/ML.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS E ANTISSEPSIA

Para a Antissepsia da pele no local da punção, usada para prevenir a contaminação direta do
paciente e da amostra, o antisséptico escolhido deve ser eficaz, ter ação rápida, ser de baixa
causticidade e hipoalergência na pele e mucosa. O álcool etílico possui efeito antisséptico na
concentração de 70%, sendo o mais usado, pois, nesta composição, preserva sua ação antisséptica,
e diminui a inflamabilidade. Nesta diluição, tem excelente atividade contra bactérias Gram-positivas
e Gram-negativas, boa atividade contra  Mycobacterium tuberculosis, fungos e vírus, além de ter
menor custo.

Higienização das Mãos:

As mãos devem ser higienizadas após o contato com cada paciente, evitando assim contaminação
cruzada. Esta higienização pode ser feita de duas maneiras:

As mãos devem ser higienizadas após o contato com cada paciente, evitando, assim, a contaminação
cruzada.

A higienização pode ser feita com água e sabão, ou usando álcool gel.

A fricção com álcool reduz em 1/3 o tempo despendido pelos profissionais de saúde para a higiene
das mãos, aumentando a aderência a esta ação básica de controle. Quanto às desvantagens, é
citado o odor que fica nas mãos e a inflamabilidade, que é observada apenas com as soluções de
etanol acima de 70%.

 ÁGUA E SABÃO

 ÁLCOOL GEL

 Calçando as luvas:

As luvas devem ser calçadas com cuidado para que não rasguem, e devem ficar bem aderidas à pele
para que o flebotomista não perca a sensibilidade na hora da punção.

Luvas

As luvas descartáveis são barreiras de proteção, e podem ser confeccionadas em látex, vinil,
polietileno ou nitrila.

Alguns funcionários podem desenvolver dermatite pelo uso prolongado desses equipamentos de
proteção individual. Para esses casos, luvas de outros materiais devem ser experimentadas (nitrila,
polietileno e outras composições). O uso de luvas sem talco, assim como a utilização de luvas
revestidas internamente de algodão, também podem ser uma alternativa para estes funcionários
sensibilizados.

É prudente verificar se o paciente tem hipersensibilidade ao látex, pois há relatos de choque


anafilático na literatura. Nessas situações, as luvas de látex devem ser evitadas.

Procedimento

As luvas devem ser trocadas antes da realização da venopunção.

As luvas devem ser calçadas, com cuidado, para que não rasguem. Devem ficar bem aderidas à pele,
para que o flebotomista não perca a sensibilidade no momento da punção.

  Antissepsia do local da punção:

•    Recomenda-se usar um algodão embebido com solução de clorexedina alcoólica ou álcool etílico
70%, comercialmente preparado.

•    Limpar o local com um movimento circular do centro para a periferia.

•      Permitir a secagem da área por 01 minuto, para evitar hemólise da amostra, e também a
sensação de ardência quando o braço do paciente for puncionado.

•    Não assoprar, não abanar e não colocar nada no local.

•    Não tocar novamente na região após a Antissepsia.

Antissepsia do local da punção

O procedimento de venopunção deve ser precedido pela higienização do local para prevenir a
contaminação microbiana de cada paciente ou amostra.

Antissépticos

• Para a preparação da pele, o uso de antissépticos é necessário.

• Dentre eles, citamos: álcool isopropílico 70% ou álcool etílico, iodeto de povidona 1 a 10% ou
gluconato de clorexidina para hemoculturas, substâncias de limpeza não-alcoólicas (como
clorexidina, sabão neutro).

Procedimento

• Recomenda-se usar uma gaze umedecida com solução de álcool isopropílico ou etílico 70%,
comercialmente preparado
• Limpar o local com um movimento circular do centro para fora.

• Permitir a secagem da área por 30 segundos para prevenir hemólise da amostra e reduzir a
sensação de ardência na venopunção.

• Não assoprar, não abanar e não colocar nada no local.

• Não tocar novamente na região após a antissepsia.

• Se a venopunção for difícil de ser obtida e a veia precisar ser palpada novamente para efetuar a
coleta, o local escolhido deve ser limpo novamente.

BIBLIOGRAFIA

Sociedade brasileira de patologia clínica/ medicina laboratorial (sbpc/ml): Coleta e Preparo da


Amostra Biológica

USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

BARREIRAS PESSOAIS

Os profissionais da equipe de saúde devem utilizar os seguintes equipamentos de proteção


individual quando em contato com o enfermo:

Luvas para atendimento clínico e cirúrgico, que deverão ser descartadas após o atendimento a cada
paciente

Avental para proteção

Máscaras de proteção das vias aéreas

Óculos de proteção

Gorro

Propé

USO DE MÁSCARAS

§As máscaras devem ser colocadas após o gorro e antes dos óculos de proteção.

§As máscaras devem adaptar-se confortavelmente à face, sem tocar lábios e narinas.

§Não devem ser ajustadas ou tocadas durante os procedimentos.


§Devem ser trocadas entre os procedimentos e sempre que se tornarem úmidas, quando dos
procedimentos geradores de aerossóis ou respingos, o que diminui sua eficiência.

§Não devem ser usadas fora da área de atendimento, nem ficar penduradas no pescoço.

§Devem ser descartadas após o uso.

§As máscaras devem ser removidas enquanto o profissional estiver com luvas. Nunca com as mãos
nuas.

§Para sua remoção, as máscaras devem ser manuseadas o mínimo possível e somente pelos bordos
ou cordéis, tendo em vista a pesada contaminação.

Máscaras e óculos de proteção não são necessários no contato social, tomada da história clínica,
medição da pressão arterial ou procedimentos semelhantes.

USO DE ÓCULOS DE PROTEÇÃO

§Óculos de proteção com vedação lateral ou protetores faciais de plástico, devem ser usados
durante o tratamento de pacientes com risco de contaminação proveniente de aerosóis ou
respingos de sangue e saliva.

§Os óculos de proteção também devem ser usados no espurgo ou sala de utilidades, na desinfecção
de superfícies e manipulação de instrumentos na área de lavagem.

§Óculos e protetores faciais não devem ser utilizados fora da área de trabalho.

Devem ser lavados e desinfetados após o procedimento.

USO DE GORROS

•Os cabelos devem ser protegidos da contaminação através de aerossóis e gotículas de sangue e
saliva, substâncias irritantes e procedimentos invasivos. Deve ser priorizada a utilização de gorros
descartáveis, que devem ser trocados quando houver sujidade visível.

USO DE AVENTAIS

§Sempre que houver possibilidade de sujar as roupas com sangue ou outros fluidos orgânicos,
devem ser utilizadas vestes de proteção, como aventais reutilizáveis ou descartáveis.

§Avental não estéril - usado em procedimentos semicríticos e não críticos, de preferência de cor
clara, gola alta do tipo "gola de padre", com mangas que cubram a roupa e comprimento 3/4,
mantido sempre abotoado.

§Avental estéril - usado em procedimentos críticos, vestido após o profissional estar com o EPI e ter
realizado a degermação cirúrgica das mãos. Deve ter fechamento pelas costas, gola alta tipo "gola
de padre", com comprimento cobrindo os joelhos e mangas longas com punho em elástico ou
ribana.

USO DE LUVAS

§Sempre que houver possibilidade de contato com sangue, saliva contaminada por sangue, contato
com a mucosa ou com superfície contaminada, o profissional deve utilizar luvas. Embora as luvas
não protejam contra perfurações de agulhas, está comprovado que elas podem diminuir a
penetração de sangue em até 50% do seu volume. As luvas não são necessárias no contato social,
tomada do histórico do paciente, medição da pressão sanguínea ou procedimentos similares. Luvas
não estéreis são adequadas para exames e outros procedimentos não cirúrgicos; luvas estéreis
devem ser usadas para os procedimentos cirúrgicos.

COMO UTILIZAR LUVAS

§Colocar o pacote sobre uma mesa ou superfície lisa, abrindo-o sem contaminá-lo. Expor as luvas de
modo que os punhos fiquem voltados para si.

§Retirar a luva esquerda (E) com a mão direita, pela dobra do punho. Levantá-la, mantendo-a longe
do corpo, com os dedos da luva para baixo. Introduzir a mão esquerda, tocando apenas a dobra do
punho.

§Introduzir os dedos da mão esquerda enluvada sob a dobra do punho da luva direita (D). Calçar a
luva direita, desfazendo a seguir a dobra até cobrir o punho da manga do avental.

§Colocar os dedos da mão D enluvada na dobra do punho da luva E, repetindo o procedimento


acima descrito.

§Ajustar os dedos de ambas as mãos.

§Após o uso, retirar as luvas puxando a primeira pelo lado externo do punho, e a segunda pelo lado
interno.

ORIENTAÇÃO PARA REMOÇÃO DAS LUVAS

•- Agarre uma das luvas na extremidade superior e pelo lado externo na região do punho.

- Estique e puxe a extremidade superior da luva para baixo, enquanto a inverte durante a remoção.

- Insira os dedos da mão sem luva dentro da extremidade interna da luva ainda vestida.

 - Puxe a Segunda luva de dentro para fora enquanto encapsula a primeira luva na palma da mão.

- Coloque as luvas em um recipiente revestido que será jogado fora.

- Lave imediatamente as mãos após a retirada das luvas.


- Justificativa: Retirar microrganismos transitórios e residentes que podem ter-se proliferado no
ambiente escuro, quente e úmido no interior das luvas.

Exercício 1:

Quanto aos cuidados no tratamento, acondicionamento e transporte de materiais biológicos,


assinale a alternativa correta. 

A)É necessária adequada rastreabilidade dos insumos utilizados nas coletas sanguíneas,
permitindo, quando necessário, estabelecer uma ligação entre os materiais colhidos e os lotes
dos produtos usados nos procedimentos. 

B)É facultado ao coletador a homogeneização por inversão ou agitação das amostras de sangue
total em tubos contendo anticoagulante. 

C)Amostras de sangue total, sem anticoagulante, após a coleta e centrifugação, devem


permanecer à temperatura de 28 ºC a 37 ºC até o envio à unidade realizadora dos exames. 

D)O tempo de centrifugação das amostras para obtenção de soro independe da força centrífuga
relativa (RCF) de cada equipamento, sendo que o recomendável é 9 000 rpm (rotações por
minutos), por 20 minutos. 

E)As amostras de urina, de coletas isoladas ou de períodos, podem ser acondicionadas à


temperatura de 18 ºC a 25 ºC por, no máximo, 48 horas, sem que haja interferência na
qualidade analítica dos exames.

Exercício 2:

A coleta dos materiais clínicos e as condições pré-analíticas são tão importantes quanto a fase
analítica. Quais são as condições que mais podem interferir nos resultados dos exames?
Assinale a alternativa correta: 

A)Idade e sexo. 

B)Medicamentos e drogas de abuso. 

C)Jejum e repouso. 

D)Jejum e uso de fármacos e drogas de abuso.

E)Todas estão corretas.

Exercício 3:

A rotina em um laboratório clínico é extremamente complexa e envolve processos diferentes, os


quais devem ser controlados para assegurar um resultado de exame que demonstre a real
condição de um paciente. Entre os fatores que podem alterar os resultados dos exames, estão
os fatores da fase analítica.

Assinale a alternativa que apresenta somente variáveis referentes a essa fase.

A)Sistema analítico, sensibilidade do método e especificidade do método.

B)Sensibilidade do método, acurácia do método e transporte da amostra.

C)Especificidade do método, armazenamento da amostra e acurácia do método.

D)Sistema analítico, especificidade do método e cálculo do resultado.

E)Sensibilidade do método, especificidade do método e tipo de amostra.

Exercício 4:

Assinale a alternativa correta sobre biossegurança em ambiente para análises clínicas.

A)Toda amostra biológica deve ser considerada potencialmente infectante.

B)Os cuidados de biossegurança na coleta de sangue visam proteger somente o flebotomista.

C)São exemplos de equipamentos de proteção coletiva: luvas e jaleco (guarda-pó).

D)O jaleco (guarda-pó) deve ser utilizado em qualquer ambiente do laboratório, inclusive no
local reservado para as refeições.

E)Em ambiente para análises clínicas não há nenhum tipo de risco físico.

Exercício 5:

Assinale a alternativa que indica corretamente a embalagem utilizada para o acondicionamento


de amostras para o transporte.

A)Caixa de papelão.

B)Frasco permeável translúcido.

C)Recipiente com iluminação incandescente.

D)Caixa térmica com gelo reciclável.

E)Recipiente com dreno simples.

Exercício 6:

A organização das atividades no laboratório é um aspecto fundamental para a segurança


do pesquisador ou analista e para garantir resultados precisos e de qualidade. Sobre a
organização das atividades laboratoriais é correto afirmar:
A)Os reagentes, os materiais e os equipamentos utilizados não necessitam ser registrados, pois
a rastreabilidade envolve apenas resultados e análise de dados obtidos.

B)Verificar o estado de limpeza, presença de trincas e rachaduras, resistência térmica e química


e a compatibilidade com solventes e reagentes das vidrarias e outros materiais utilizados na
análise.

C)Somente os sinais de risco químico são obrigatórios nas áreas restritas do laboratório e as
atividades que envolvem produtos químicos devem ser realizadas em áreas restritas.

D)Para manter a qualidade dos resultados, todos os reagentes devem ser preparados no
momento da análise, sendo descartado o excesso quando houver.

E)Não é imprescindível a elaboração dos procedimentos escritos, pois isto não interfere na
otimização dos trabalhos, na redução do tempo gasto e do risco de acidentes.

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