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LÁZARO NUNES
COMO SOLICITAR E
INTERPRETAR OS EXAMES
L ABORATORIAIS
E-BOOK
@lazaronunes
Proibida a duplicação deste livro ou partes do mesmo sob quaisquer formas ou meios
(eletrônico, gravação ou fotocópia) sem a permissão do autor
Principais interferentes nas análises laboratoriais .........................................4
ativa. ..............................................................................................................9
12
REFERÊNCIAS ................................................................................................14
@lazaronunes
PRIN CIPAIS INTERFERENTES NAS
ANÁLISES L ABORATORIAIS
Variáveis pré-analíticas
Idade
Gênero
Etnia
Dieta
Jejum
A influência cronobiológica nos exames laboratoriais pode ser de origem linear (ex., idade)
ou cíclica (diária, mensal ou sazonal). O ferro sérico pode variar em até 50% das 8h até 14h.
Alguns hormônios como o cortisol e a testosterona possuem uma variação típica circadiana,
com concentrações mais elevadas no período da manhã entre 7 e 9 horas e diminuídas ao
longo do dia com os menores valores ao deitar (23). Por esta razão não se aconselha realizar
teste de tolerância à glicose no período da tarde. Além disso, os valores plasmáticos de
cortisol devem ser específicos para cada momento de coleta e também sofrem influência de
alimentação, medicações, ingestão de álcool, obesidade e atividade física (24). A dosagem de
creatinina sérica no período da tarde pode ser 100% maior em relação ao período da manhã.
Enzimas muito utilizadas na avaliação de atletas, como a creatina quinase (CK), lactato
desidrogenase (LDH), aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT) e
gama glutamiltransferase (GGT) podem apresentar valores mais elevados à tarde em
comparação ao período da manhã. Amostras coletadas entre 16 e 18 horas para
determinação de CK, LDH, AST, ALT e GGT podem apresentar atividade 10% maior em
comparação ao período da manhã (entre 6 e 8 horas) (25).
Em algumas situações a variação pode ser sazonal; como por exemplo o hormônio
tireoidiano (T3) apresenta valores 20% menores no plasma durante o verão quando
comparado ao inverno. Alguns parâmetros hematológicos (ex., hematócrito, hemoglobina e
contagem de hemácias) podem variar de acordo com o período de treinamento e
competições. Hematócrito e hemoglobina mostram-se diminuídos durante os períodos de
treinamento intensivo para a maioria dos esportes, com exceção do futebol. A diminuição da
hemoglobina pode variar de 3 a 8% durante a temporada competitiva (26). A atividade da
CK em jogadores de futebol profissional no início da temporada, mostra-se
significativamente mais elevada que no período pré-competitivo ou final de temporada,
refletindo a adaptação dos atletas à sobrecarga do treinamento (5).
Ingestão de álcool
O consumo moderado de álcool (40 g/dia) durante 3 semanas pode aumentar em 13,5% a
concentração de HDL colesterol (30). Além do HDL, o consumo moderado de vinho, pode
promover melhora nos níveis de Apo A1, adiponectina e fibrinogênio, diminuindo o risco de
doenças cardiovasculares (31).
Medicamentos
Em algumas situações particulares pode ser mais útil, trabalhar com uma faixa menor do
intervalo de referência (por exemplo 68% da população). Existe ainda a possibilidade de se
trabalhar com 99% da população de referência para estabelecer o limite superior, como é o
caso das troponinas cardíacas no diagnóstico do infarto agudo do miocárdio (IAM) (38).
ANÁLISE INDIVIDUALIZADA
AT R AV É S DA D I F E R E N Ç A C R Í T I C A
(RCV).
A utilização dos intervalos de referência obtidos a partir de uma população de referência tem
certas limitações, uma delas é que os resultados dos testes de laboratório podem ser
influenciados pela variação biológica inerente a cada analito. A variação biológica deve ser
sempre considerada em estudos longitudinais com análises de sangue em série do mesmo
indivíduo (40). A concentração de um analito pode oscilar de forma individual e aleatória
para cada pessoa ao longo do tempo de forma normal. Em condições estáveis esta variação
geralmente apresenta uma distribuição Gaussiana (41). O cálculo da média e desvio padrão
desta oscilação individual nos permite conhecer a variação biológica intra-individual (VBI).
Para facilitar a comparação dos analitos entre indivíduos o coeficiente de variação biológico
intra-individual (CVI%) é calculado (CVI % = desvio padrão/média intra-individual*100).
Outro componente importante do resultado é a variação biológica entre sujeitos (VBG). Ela
nos permite estimar o coeficiente de variação entre sujeitos (CVG%), que é obtido através
da média e desvio padrão do resultado de análises realizadas entre diferentes indivíduos. A
média e desvio padrão de resultados do mesmo indivíduo permitem estimar o coeficiente de
variação individual (CVI%). Se observarmos o exemplo da enzima gama glutamil transferase
(GGT), um marcador de lesão hepática, é possível observar que a variação obtida entre
diferentes sujeitos (CVG = 40%) é maior que a variação individual (CVI = 15%). Uma das
principais limitações dos IR populacionais é a variação biológica relacionada à população de
referência. Tanto o CVI quanto o CVG podem ser calculados ou compilados de bancos de
dados disponíveis para vários analitos em indivíduos saudáveis e não praticantes de
atividade física (40) ou para algumas análises de indivíduos fisicamente ativos (6).
Além da variação biológica, a variação analítica também pode influenciar nos resultados
obtidos. A variação pré-analítica, já citada anteriormente, pode ser minimizada através da
adoção de instruções padronizadas aos sujeitos antes da coleta, e protocolos escritos para
realização da coleta, transporte e processamento das amostras (7). Todas as técnicas
analíticas (manual ou automatizada) possuem algumas fontes de variação intrínseca. Esta
variabilidade não pode ser completamente eliminada, mas pode ser minimizada através da
adoção de práticas de qualidade do laboratório, e a escolha correta de equipamentos,
reagentes e metodologias (42).
Os exames laboratoriais podem ser utilizados para avaliar atletas e praticantes de atividade
física durante período de treinos e competições. Descreverei abaixo os principais exames
laboratoriais e os momentos mais indicados para sua realização. Saliento, que é apenas uma
sugestão inicial de avaliação baseada na literatura e na minha experiência profissional e você
poderá adaptar estas análises de acordo com a sua rotina ou necessidade.
HORMÔNIOS
TSH MARCADORES DE LESÃO HEPÁTICA
T4 LIVRE ALT
T3 LIVRE GGT
CORTISOL FAL
TESTOSTERONA LIVRE
DHEA*
METABÓLITOS
SISTEMA IMUNE UREIA
IGE* CREATININA
IGA SALIVAR ÁCIDO ÚRICO
CD4/CD8 URINA I
MARCADORES DE ESTADO EXAMES ADICIONAIS ATLETAS DE ENDURANCE
NUTRICIONAL
TRANSFERRINA*
GLICEMIA TIBC
HBA1C RECEPTOR SOLÚVEL DA TRANSFERINA
PERFIL LIPIDICO FERRITINA*
ALBUMINA CONTAGEM DE RETICULÓCITOS
VITAMINA B12 RET-HE
ÁCIDO FÓLICO TROPONINAS CARDÍACAS
FERRO CISTATINA C
VITAMINA D
VITAMINA A (RETINOL) EXAMES ADICIONAIS ATLETAS DE FORÇA
CROMO (URINÁRIO) IGF-1
MAGNÉSIO SHBG*
ZINCO LH
SELÊNIO PROLACTINA
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@lazaronunes