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SINAIS DE UM

ROLAMENTO COM
E SEM DEFEITO
INTRODUÇÃO
Mesmo geometricamente perfeitos, os rolamentos geram sinais devido
a variações de conformidade ou dos esforços entre seus componentes
no tempo. As variações dos esforços estão diretamente relacionadas ao
número de elementos girantes, esferas ou rolos. Ao longo do tempo, esses
esforços tendem a causar fadiga nos componentes do rolamento.
PRINCÍPIO DE GIRO DE UM ROLAMENTO
De uma maneira geral, devido à construção interna do rolamento, as cargas a ele
aplicadas são suportadas numa determinada região chamada de zona de carga. A
zona de carga de um rolamento não é em toda a sua volta. Essa região é em torno de
150°. Essa zona de carga, normalmente, está localizada no anel externo. Para que o
rolamento trabalhe dentro de uma zona de carga adequada, tanto a folga interna (C3,
C4, etc) como a interferência (essa interferência está geralmente entre anel interno
e eixo) têm que estar dentro da especificação do fabricante da máquina. Quando o
rolamento é montado corretamente (folga interna correta e interferência correta), o
anel interno vai se expandir, a folga interna do rolamento será reduzida e a zona de
carga distribuída adequadamente dentro da região já citada (150°).

Zona de Carga Redução de folga após montagem


À medida que os elementos girantes entram e saem da zona de carga surgem
vibrações no rolamento, mesmo estando o rolamento em perfeito estado. Esse sinal
ruidoso é bem visível quando o sinal de um rolamento em perfeito estado é observado
no domínio do tempo, de acordo com a figura abaixo.

Sinal do atrito de um rolamento no domínio do tempo

Esse sinal ruidoso vem da interação das irregularidades de superfície dos elementos
rolantes com as pistas interna, externa e gaiola. Isso ocorre num rolamento, pois
o fluido lubrificante não separa totalmente as partes com movimento relativo
(elementos rolantes e pistas). Num rolamento parte da carga é suportada pelo fluido
lubrificante, e parte da carga é suportada pelas asperezas de superfície. Esse regime
de lubrificação é chamado de misto.

Regime misto de lubrificação


Existem ainda o regime completo de lubrificação onde não há mais contato entre
partes com movimento relativo e o regime limítrofe onde a ação do lubrificante é
ineficiente e, nesse caso, é adicionado aditivo EP ao lubrificante.

Regime completo de lubrificação Regime limítrofe de lubrificação

Em velocidades muito baixas, predomina o regime limítrofe de lubrificação. Toda a


carga aplicada ao rolamento é suportada pelo contato entre as superfícies.
Abaixo é exibido um gráfico demonstrando, em cada regime, como a carga se dá
pelas asperezas de superfície, filme lubrificante ou ambos. Em velocidades mais
altas (à direita do ponto B), ocorre um efeito de cunha entre o fluido e o corpo. É
criada uma contrapressão que suporta uma parte em relação à outra, de forma que
fiquem completamente separadas (assim como pode acontecer com os automóveis
quando aquaplanam).
Isso é chamado de lubrificação hidrodinâmica. Além da velocidade, a forma
geométrica e a magnitude da carga também podem desempenhar um papel
significativo.
Quando a velocidade está entre os pontos A e B, o efeito de cunha não é forte o
suficiente para separar completamente uma parte da outra com movimento relativo.
Parte da carga é suportada pelo contato direto entre as duas superfícies e parte
suportada pelo filme lubrificante, ou seja, regime misto de lubrificação.

Regimes de lubrificação em função do fator kappa (k)


No regime misto de lubrificação, é gerado
um certo atrito devido ao toque das partes
sólidas. Esse atrito é necessário para que
o rolamento funcione de forma adequada.
De uma maneira geral, um rolamento é
montado com interferência entre eixo
e anel interno e folga entre caixa e anel
externo. O eixo gira o anel interno e o anel
interno gira os elementos rolantes devido
ao atrito. Sem atrito, um rolamento não
Filme lubrificante de um rolamento
giraria, ele escorregaria.

Como a força de atrito depende da normal (carga aplicada ao rolamento) e do


coeficiente de atrito, assim o rolamento precisa de uma normal mínima, para gerar
uma força de atrito mínima para começar a girar. Essa normal mínima é chamada de
carga mínima.

A carga mínima para rolamentos está nas expressões abaixo:


Carga mínima = 0,01 C (para rolamentos de esferas)
Carga mínima = 0,02 C (para rolamento de rolos)

Onde C é um dado de catálogo e se refere à carga dinâmica suportada pelo rolamento.

Então, o rolamento sempre gerará um sinal ruidoso ou randômico característico de


atrito. Esse sinal é bem visível nos espectros de aceleração. Veja imagem abaixo:

Sinal ruidoso devido ao atrito do rolamento visto em aceleração


Esse sinal é característico de operação do rolamento e não representa,
necessariamente, um defeito. Quando a tendência de aceleração sobe, o sinal
continua sendo ruidoso sem frequências características de defeito do rolamento
e, em muitas situações, isso está relacionado à elevação do atrito do rolamento.
Muitas vezes, o técnico de preditiva associa esse atrito a uma falha de lubrificação
de forma automática. Esse sinal ruidoso dentro do contexto em questão é um sinal
de atrito e não de falha de lubrificação. Pode ser uma falha de lubrificação, mas
pode ter também outras causas possíveis.

Vale a pena ressaltar que um sinal proveniente de um rolamento sendo relacionado


a uma marca nas pistas e aos seus elementos rolantes ou, ainda,a um atrito é
mais fácil ser observado numa técnica chamada de envelope e não no espectro de
aceleração. A técnica de envelope está descrita em outro boletim técnico da SKF.

Sinal gerado por um rolamento com defeito


Até então, discorremos como um rolamento
trabalhando sem defeito se comporta visto
pela análise de vibrações. Mas qual seria o
sinal gerado por um rolamento com defeito, ou
seja, com uma marca em uma das pistas ou
algum elemento rolante?
Quando uma marca se instala no rolamento,
a cada elemento rolante que passa sobre o
defeito ou quando o elemento rolante rola
sobre o próprio defeito, um pulso ou um “som”
é produzido. Isso se assemelha a um martelo
batendo no sino emitindo o seu “som”.
Num defeito de rolamento, o martelo será o
Comparação do sinal de defeito de
elemento rolante e a pista com defeito, o sino. rolamento com um sino
Esse tipo de energia, energia de impacto num rolamento, gerará um sinal de alta
frequência, e esse sinal vai modular com a frequência dos impactos. Assim, teremos
um sinal de amplitude modulada ou um sinal de AM.

Forma de onda de aceleração com defeito de rolamento

A cada impacto do elemento rolante sobre o defeito, setas vermelhas na imagem


anterior, há uma rápida elevação de amplitude e um rápido decaimento seta azul.
Aí um novo elemento rolante bate no defeito, há uma rápida elevação nos níveis e
outro rápido decaimento e assim sucessivamente.
Nesse caso, a frequência natural do rolamento está oscilando sua amplitude com a
frequência dos impactos. Temos aí um fenômeno de modulação em amplitude.
Esse sinal visto no espectro ou domínio da frequência vai apresentar uma
assinatura espectral que chamamos de bandas laterais. Nesse caso, a frequência
central das bandas laterais será a frequência natural do rolamento excitada pelo
impacto, e a frequência dos impactos será o espaçamento dessas bandas.
Espectro de aceleração sem defeito de rolamento

No espectro acima, o espaçamento em frequências entre os picos indicados pelas


setas vermelhas, ou seja, as bandas laterais, se refere à frequência dos impactos
indicados na forma de onda.
Mas é importante ressaltar que, nesse espectro, são destacados dois sinais: um cir-
cundado em verde e outro em vermelho. No sinal circundado de verde, facilmente
se observam as bandas laterais do sinal referente ao defeito. No sinal circundado de
vermelho, esses picos não ficam evidentes e, aí, não é possível saber com exatidão
se esse sinal se refere ou não a um defeito de rolamento. De uma maneira geral, num
defeito de rolamento, o sinal dentro do círculo vermelho é mais comum que o sinal
dentro do círculo verde. É aí que entra uma técnica chamada de envelope.

Sinal de um defeito de rolamento dentro do Envelope


O envelope não é uma medida, é uma ferramenta eletrônica de filtro e demodulação
de sinal que mostra de forma mais clara a frequência dos impactos de um defeito de
rolamento, dentro do contexto em questão.
Basicamente, o envelope vai fazer um “contorno” do sinal dos impactos e aplicar a
técnica da transformada de Fourier sobre o contorno, gerando um espectro com a
frequência dos impactos e seus respectivos harmônicos.
Sinal no tempo de impactos devido a um defeito Sinal demodulado (contorno) do sinal dos
de pista interna de um rolamento impactos no tempo

Espectro de envelope com defeito de rolamento

Acima, temos o espectro gerado a partir da onda de demodulação (contorno) do


sinal devido ao defeito de pista interna visto anteriormente no sinal no tempo. Note
que o defeito fica muito mais nítido no espectro de envelope que no sinal original
em aceleração, seja espectro de aceleração ou forma de onda. O envelope destaca
muito o sinal do defeito do rolamento de outros sinais da máquina, tanto em relação
ao sinal de baixa frequência que possui alta energia como o do ruído de fundo gerado
pelo próprio rolamento.
Se, no espectro de envelope for observada uma frequência mais alta que a de rotação
e essa frequência observada vier acompanhada de harmônicas, na maior parte das
vezes, isso caracteriza um defeito de rolamento.
Um espectro de envelope sem defeito de rolamento será um sinal ruiodoso (carpete)
sem frequências específicas. Esse sinal ruidoso, como já citado nesse artigo, é
proveniente do atrito interno do rolamento e é característico de operação. Veja a
imagem abaixo.

Espectro de envelope sem defeito de rolamento

Em algumas situações, esse sinal ruidoso pode estar relacionado a um defeito, mas,
para um sinal ruidoso estar atrelado a um defeito, deve estar relacionado a outras
informações e outros sinais.
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