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APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO

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PARTE II

MORFOLOGIA DO SOLO

1. INTRODUÇÃO (Adaptado de Spiers, 1984) potencial de uso. Contudo, permitem-nos sempre separar no
campo diferentes unidades homogéneas, que poderão
Os diversos solos possuem propriedades mensuráveis ou posteriormente ser caracterizadas e classificadas mais
descritíveis, que nos possibilitam classificá-los, descrevê-los detalhadamente, tomando em conta também as análises de
avaliá-los para vários fins e cartografá-los. Diferenças entre solos laboratório efectuadas em amostras provenientes de perfis
podem ser locais ou regionais e são evidentes tanto no aspecto representativos de cada uma das unidades cartográficas.
que apresentam à superfície, como também em profundidade.
É óbvio que para uma descrição morfológica poder ser de
Solos diferentes são resultados de diferentes combinações alguma utilidade como transmissor de informação e como base
dos factores responsáveis pela sua formação e exibirão perfis para a avaliação do potencial de uso do solo, deve ser usada uma
próprios, caracterizados pelas propriedades dos seus horizontes terminologia clara e objectiva. Infelizmente há vários sistemas de
(Vide Parte V). Dessas propriedades, aquelas que são mais "normas de descrição", que usam terminologia similar, mas muitas
facilmente acessíveis e prontamente perceptíveis são as vezes com significado ligeiramente diferente, dando origem a
morfológicas, obtidas nas descrições morfológicas, efectuadas no bastante confusão. Por isto é importante que o pedólogo ao
campo, em um perfil de solo. descrever um perfil sempre anote o método usado, com o ano da
edição do manual; e siga rigorosamente o vocabulário
A descrição morfológica de um solo é a expressão da recomendado. Comentários devem ser anotados separadamente.
aparência deste solo, segundo as características macroscópicas O resultado pode ser um texto que para a maioria dos leigos seja
prontamente perceptíveis. A morfologia corresponde então à um tanto chato e de leitura difícil. Para o verdadeiro pedólogo seria
"anatomia do solo". Em seu conjunto, as características um prazer de reconstruir na sua imaginação o solo descrito e
morfológicas constituem a base para definir este corpo natural que poder apontar muitos aspectos de importância prática.
é o solo, e a definição se completará com as demais
determinações do laboratório. A terminologia no texto a seguir é baseada no método de
descrição internacionalmente mais aceite: Os "Guidelines for soil
A morfologia compreende somente propriedades profile description" da FAO (1977), que foi adaptado pelo INIA para
observadas directamente, que devem ser distinguidas de uso em Moçambique. Em 1990 os "guidelines" foram reeditados
propriedades inferidas ou deduzidas dos solos. Assim, uma sob o nome "Guidelines for soil description". Parte das
descrição morfológica constará apenas do relatório do aspecto ou modificações está sendo implementada pelo INIA.
forma do solo, como, por exemplo, a sua cor, estrutura,
consistência.
2. O PERFIL DO SOLO E SEUS HORIZONTES
A morfologia, além de sua importância para a caracterização
do solo, fornece muitos elementos para interpretações de 2.1 Nomenclatura e definições
importância agrícola, tais como: drenagem, permeabilidade,
compactação, susceptibilidade à erosão, possibilidade de uso de Solo é a colecção de corpos naturais que ocupam parte da
máquinas, etc. Para quem executa levantamentos de solos, a superfície terrestre e constituem o meio natural para
morfologia é de capital importância, pois permite rapidamente desenvolvimento das plantas terrestres. São dotados de atributos
identificar e cartografar solos de determinada região pela resultantes da diversidade de efeitos de aço integrada do clima e
aparência do seu perfil, com reduzida necessidade de dados de dos organismos, agindo sobre o material de origem, em
laboratório. determinadas condições de relevo durante certo período de tempo
(Soil Conservation Service, 1951).
Na história da ciência do solo, podemos distinguir um período
em que a descrição morfológica do solo era considerada a Da aço combinada dos factores de formação do solo,
maneira mais importante da sua caracterização. Com o determinando os processos pedogenéticos - adições, perdas,
melhoramento de acesso às análises fisico-químicas, e sobretudo transformações, transportes selectivos (Simonson, 1959) - que se
o avanço da informática nas ciências agrárias, a morfologia perdeu operam no material de origem, resultam secções mais ou menos
grande parte do seu brilho, devido à dificuldade de exprimi-la paralelas à superfície do terreno e que se sucedem verticalmente
numericamente. Actualmente este brilho está a renovar-se com a compondo os solos. São secções interrelacionadas, guardando
introdução de programas de computador mais "inteligentes", e com entre si vínculos concernentes a sua natureza, em consequência
a percepção de que o melhor lugar para analisar o solo é no do processamento da formação dos solos. Essas secções,
campo, como corpo tridimensional, e não através de frascos denominadas horizontes, diferenciam-se umas das outras pela
separados com terra moída. organização, pelos constituintes ou pelo comportamento. Quando
No entanto, as propriedades morfológicas por si só geralmente são os atributos possuídos são bem manifestos através da morfologia,
insuficientes para que se possa classificar os solos e avaliar o seu torna-se relativamente fácil a identificação e delimitação dos
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horizontes de um solo. Porém, quando o solo é pouco diversificado seus horizontes e/ou camadas. É discriminado dos demais
verticalmente, a expressão dos horizontes é pouco distinta, sendo segundo a sequência e a natureza de seus horizontes: sua
por vezes bastante difícil detectar-lhes os limites. constituição qualitativa e quantitativa, conformação própria,
Uma secção paralela à superfície, que é pouco ou nada organização dos constituintes e manifestação de atributos
diferenciado pelos processos pedogenéticos é denominada decorrentes.
camada (p.e. a rocha mãe; uma camada de material orgânico
acumulado na superfície; sedimentos estratificados). Em exame de campo, os horizontes são identificados pela
constatação de atributos morfológicos (prontamente perceptíveis),
À secção vertical, através do solo, englobando a sucessão de tais como: estrutura, textura, cor, consistência e cerosidade. Nem
horizontes ou camadas, acrescidas do material mineral sempre a verificação desses atributos é suficiente para identificar
subjacente, pouco ou nada transformado pelos processos os horizontes: tornam-se necessárias, então, informações
pedogenéticos e o manto superficial de resíduos orgânicos, dá-se adicionais quanto a atributos físicos e/ou químicos e/ou
o nome de perfil do solo (Ing: soil profile). mineralógicos, mediante análises de laboratório em amostras
adequadamente colectadas.

2.2 O perfil do solo A denominação dos horizontes e camadas é feita por símbolos
representados por letras e números. Esses símbolos
Não obstante o perfil seja concebido como um plano ortogonal convencionalmente informam a relação genética existente entre
à superfície do terreno, na prática, ao examiná-lo e descrevê-lo, horizontes no conjunto do perfil. São o resultado das
são consideradas características que só podem ser detectadas e interpretações feitas pelo operador durante a descrição do perfil,
identificadas se o material constitutivo do solo for inspeccionado tendo por base as constatações morfológicas e inferências delas
em três dimensões, ou seja, se em vez de se examinar decorrentes, acrescidas, quando necessário, de dados de
simplesmente a face exposta naquele plano, o exame interiorizar- laboratório.
se, atingindo pelo menos alguns decímetros a dentro. O objecto de
atenção usualmente consiste numa secção com aquela espessura A notação aplicada aos horizontes, na sua identificação
por um a dois metros de largura e que se aprofunda desde a durante o exame e descrição do perfil do solo, é o registro da
superfície do terreno até, quando possível e necessário, a zona de interpretação feita pelo operador. Tais denominações constituem
material saprolítico ou o próprio substrato rochoso consolidado. expressão do julgamento concernente ao todo das transformações
ocorridas, causadas por processos pedogenéticos, gerando os
A rigor, o exame, a descrição e a tomada de amostras para horizontes como presentemente são, em distinção comparativa
análises dizem respeito a um volume de solo, compreendendo o com a natureza presumível do que existiu anteriormente - material
que se manifeste de atributos na face exposta e o contido na de origem - às custas do qual veio a se formar cada horizonte.
matéria intraface. Nesse contexto foi formulado o conceito de
pedon, referente à parcela tridimensional abrangendo a inteireza As designações dos horizontes e camadas do solo passaram
dos horizontes, perfazendo volume mínimo que possibilite por modificações em tempos recentes, visando sanar deficiências
expressar a variabilidade de atributos no sentido lateral de cada que vieram se comprovando através dos muitos anos de uso das
horizonte em si, bem como a variabilidade sequencial dos normas preconizadas no "Soil Survey Manual" (Soil Conservation
horizontes que compõem o perfil considerado. Service, 1951).
Neste texto, a orientação seguida é a das normas publicadas pelo
O exame de perfis é realizado em exposições de barrancos ou Instituto de Investigação Agrária (INIA, 1985) que se coadunam
em trincheiras, suficientemente profundos para permitir uma visão com os critérios das designações preconizadas pela FAO (1977) e
abrangente. Para aproveitamento das exposições em cortes de com as normas atuais do serviço de conservação do solo dos
estradas torna-se necessário avivar a face dos taludes, removendo Estados Unidos da América (Soil Conservation Service, 1981).
alguns decímetros da superfície exposta. Em vista de estar sujeita
à contaminação com poeira, lavagem pela chuva, escorrimento de Os horizontes e camadas principais (Ing: master horizons) do
material, secagem e humedecimento e à acção de animais e solo são simbolizados pelas seguintes letras maiúsculas: O, H, A,
plantas, a face do talude pode apresentar modificações sensíveis E, B, C e R. Três são sempre denotativas de horizontes: A, E e B;
em muitos atributos e, assim, interferir na verificação dos atributos R é sempre indicativa de camada; enquanto O e H podem ser de
que individualizam os horizontes e, consequentemente, na denotação variável. Na descrição de perfis, normalmente
identificação do solo. adicionam-se, a essas letra, outras, minúsculas, e números
arábicos que completam a designação dada pelas letras
Em trabalhos de levantamento de solos, quando não haja maiúsculas aos horizontes principais. A seguir vem uma descrição
exposição de barrancos e torna-se impraticável a abertura de dos conceitos de cada horizonte principal. Para as definições
trincheira, é comum o uso de sondagens. Naturalmente, o recurso oficiais refere-se para INIA (1985). Alguns exemplos de
das sondagens não permite um exame circunstanciado, só representações gráficas de perfis com seus horizontes estão na
realizável mediante a inspecção dos horizontes in situ. Figura II-1.

2.3 Horizontes e camadas O Horizonte (ou camada) orgânico superficial, formado em


condições de drenagem desimpedida - sem prolongada
Determinado solo é conhecido através da individualização de estagnação de água - constituindo recobrimento detrítico
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pouco ou semi-decomposto de material essencialmente separadamente ou em combinações, com resultante
vegetal, como folhas, galhos e ramos, acumulado na concentração de quartzo ou outros minerais resistentes do
superfície de solos minerais ou orgânicos. tamanho de areia e limo.
Este horizonte é encontrado comumente em solos sob Situa-se geralmente abaixo do horizonte A, do qual se
mata, sendo muito pouco duradouro após desmatamento. diferencia pela cor mais clara, e, usualmente, do horizonte
subjacente também pela cor mais clara e pelo teor de
H Horizonte (ou camada) orgânica, formada na superfície por argila ou de matéria orgânica menor. É bastante típico
acumulação de restos essencialmente vegetais para os chamados Podzóis (vide Parte VI) e, comumente,
depositados sob condições de prolongada ou permanente apresenta-se no perfil precedendo mudança textural
estagnação de água. abrupta para horizonte mais argiloso, ou precedendo
Tem origem em planícies aluviais alagadiças ou horizonte menos permeável
depressões pantanosas; sendo as turfas exemplo de
material dessa natureza. B Horizonte mineral, subsuperficial, situado sob horizonte A,
E, ou, raramente O ou H, com evidências de modificações
A Horizonte mineral superficial ou subjacente ao horizonte acentuadas do material de origem e/ou ganho de
(ou camada) O ou H, de maior actividade biológica e constituintes minerais ou orgânicos migrados de
caracterizado por (1) a acumulação de matéria orgânica horizontes suprajacentes.

Figura II-1. Exemplos esquemáticos da divisão de perfis em horizontes

humificada, Na sequência do perfil, o horizonte B não se caracteriza


intimamente associada à matéria mineral, ou por por perdas. Situa-se a salvo dos mais intensos
evidências de cultivo, pastagem ou tipos similares de processamentos biológicos. Existem muitos tipos de
perturbação. horizonte B, em função dos processos pedogenéticos e do
É geralmente o horizonte que está à superfície dos solos estágio de formação (idade). É um horizonte dotado de
e de maior interesse para o cultivo. É a porção mais viva, propriedades mais estáveis, pela posição mais protegida
de maior acção da flora e fauna (macro e micro) das mudanças atmosféricas na superfície, e eventuais
responsáveis pela produção do húmus e pelas estragos provocados pela acção humana. É reconhecido
transformações biológicas que nele se processam. como horizonte de maior valor diagnóstico para distinção
Constitui a secção mais sujeita às mudanças de de classes de solos em todos os sistemas de classificação
temperatura, humidade, e composição gasosa. de solos.
Geralmente exibe cor mais escura que os horizontes
subjacentes. Sua espessura é variada. Normalmente tem C Horizonte (ou camada) mineral de material não
entre 15 e 30 cm; porém, em certos casos pode atingir consolidado, pouco afectado pelos processos
mais de 100 cm de profundidade. pedogenéticos e que não possui as características dos
horizontes H, O, A, E ou B.]
E Horizonte mineral cuja característica principal é a perda de O horizonte ou camada C constitui a secção sob o
argila silicatada, compostos de ferro ou de alumínio,
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sólum1. Grande parte dos seus atributos manifestam-se 3.1 Como descrever a cor do solo
com persistência de características litológicas (herdadas
da origem). Antigamente dava-se nomes subjectivos à cor do solo, como
O material pode ser ou não de igual natureza daquele em castanha, vermelha, acinzentada (escala nominal) ou castanha
que os horizontes do solum se formaram. Compreende- escura, castanha média, castanha clara (escala ordinal), sem
se como horizonte C a capa (autóctona ou alóctona) de consenso sobre o significado exacto destes nomes. Actualmente a
produtos detríticos de alteração inicial das rochas de medição das cores é feita normalmente pela comparação da cor
origem, saprólito e rochas semiconsolidadas que, duma amostra de terra com um jogo padronizado de fichas
quando molhadas, podem ser cortadas com uma pá coloridas.
direita. O horizonte C não forma uma barreira
impenetrável para as raízes das plantas. Existem dois jogos padronizados de fichas coloridas
largamente aceites: os "Munsell soil colour charts" dos EUA e os
R Assentada rochosa consolidada. "Revised standard soil colour charts" editado no Japão. O último
Camada mineral de material consolidado que, em muitos jogo contém mais cores e é mais barato.
solos, constitui o substrato rochoso, isto é, Os códigos usados para identificar as cores são as mesmas,
embasamento litológico de tal sorte coeso que, quando mas há pequenas diferenças entre as cores com código igual;
húmido, não pode ser cortado com uma pá direita. É a especialmente nas cores mais avermelhadas. Os nomes em inglês
rocha sã. A rocha é obviamente variável conforme a dados para as cores também são diferentes. Portanto, é
composição mineralógica, textura, jazimento, importante registar o tipo de jogo de fichas usado para evitar
estratificação etc. A camada R pode apresentar fendas, confusão.
mas estas são tão poucas e tão pequenas que apenas
poucas raízes podem penetrar. Cada ficha colorida leva uma identificação da cor que indica
três propriedades características da cor: matiz (Ing: Hue), valor
É comum distinguir horizontes com características de dois (Ing: value) e croma (Ing: chroma).
horizontes principais ao mesmo tempo. Estes horizontes de 3.1.1 Matiz
transição podem-se identificar com uma combinação de duas O matiz representa a cor espectral dominante como vermelho,
letras maiúsculas (p.e. AE, AB, BC, CA). A primeira letra indica o amarelo, verde. A cor espectral é determinada pelo comprimento
horizonte principal que corresponde melhor com o horizonte de da onda (wavelength) da luz reflectida, que diminui na sequência
transição. Horizontes que consistem de uma mistura de partes vermelho, amarelo, verde, azul, violeta, indicados pelos códigos R
reconhecíveis de dois horizontes principais são indicadas por letras (de red), Y (de yellow), G (de green), B (de blue) e P (de purple)
maiúsculas separadas por uma barra, p.e.: A/B, E/B, C/A. respectivamente. Estas cinco cores principais, bem como as cores
transicionais: YR, GY, BG, PB e RP podem ser arranjados num
Letras minúsculas acrescentadas à letra maiúscula do círculo, dividido em 10 fatias iguais, conforme indicado na Figura II-
horizonte ou camada principal (sufixos) indicam as características 2. Por sua vez, cada fatia que representa a variação dentro duma
específicas do horizonte; p.e. Bt: horizonte B com evidências de cor ou transição entre cores, é dividida em quatro partes (2.5, 5,
acumulação de argila iluvial. Para uma lista completa destas letras 7.5 e 10), cada uma representada por uma página (ou carta, chart)
sufixos refere-se para a página 35 do Manual de INIA/UEM (1995). no caderno, como o exemplo na Figura II-3. Cada página é
identificada por uma ou duas letras maiúsculas (R, YR etc.), prece-
Números sufixos podem ser usados para subdividir um didas pelo número que indica a parte da fatia: 2.5, 5, 7.5 ou 10.
horizonte principal; p.e. Bt1, Bt2, Bt3. Neste exemplo, todos os Quanto maior o número, menor a onda de luz (p.e. o matiz 10YR é
subhorizontes do horizonte principal B são caracterizados por uma mais amarelo e menos vermelho que 7.5YR). O matiz é indicado
acumulação pedogênica de argila. Os subhorizontes podem no topo de cada página. Para solos as cores mais comuns estão
diferenciar-se quanto a cor, textura, grau de acumulação de argila, entre 10R e 5Y.
etc….Números prefixos são usados para designar
descontinuidades litológicas, p.e. A, Bt1, Bt2, 2C. Neste exemplo o 3.1.2 Valor
horizonte 2C é aparentemente diferente do material de origem dos O valor (p.e. 5/ ) representa a relativa claridade da cor, i.e. a
horizontes A, Bt1 e Bt2. quantidade de luz reflectida. O valor é expressa numa escala de 0
a 10, onde o 0 não reflecte nada (preto) e o 10 reflecte toda a luz.
Para a maioria dos solos o valor está entre 2 e 8. Nas cartas
Munsell e Japonesas, indicam-se os valores no lado esquerdo de
3. A COR DO SOLO (tradução adaptada de Van den Berg, 1986) cada página: valores baixos (escuro) no fundo e elevados no topo
(Figuras II-2 e II-3).

1
Sólum: designação referente ao conjunto dos horizontes A e B de um perfil de solo.
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Figura II-2. (A) Esquema demonstrativo das componentes das cores; (B) os matizes que compõem o espectro e
que aparecem nos cartões Munsell. Fonte: Kiehl (1979).

3.1.3 Croma limites, conforme as normas indicadas por INIA/UEM (1995).


O croma (p.e. /4) representa a relativa pureza saturação da
cor. Isto significa o grau de mistura da cor espectral (matiz) com
uma cor neutra como branca ou cinza. O croma é expressa numa 3.2 A IMPORTÂNCIA DA COR DO SOLO
escala de 0 a 10, onde 0 significa que a contribuição do matiz de
interesse é 0 (cor preta, branca ou acinzentada) enquanto croma A cor do solo, em si, não tem muita importância para o uso e
10 significa que toda luz reflectida é do matiz indicado. Nas cartas maneio do mesmo. Tem uma certa influência sobre o regime de
Munsell e Japonesas, indicam-se as cromas na parte de baixo de temperatura do solo, pois solos escuros absorvem mais radiação
cada página, de 1 (esquerda) a 8 (a direita), como indicada na do que solos com cor clara. Isto pode ter algum efeito sobre a
Figura II-3. Para cores totalmente acromáticos (acinzentado, germinação de sementes e o desenvolvimento radicular.
branco, preto), com croma zero, pode-se colocar a letra N (neutro)
no lugar da designação do matiz (p.e. N5/ ). Para os pedólogos a cor é considerada uma característica
fundamental, e é por isto usada na nomenclatura de muitos
3.1.4 Anotação sistemas de classificação, p.e. "brown forest soils", "chernozem"
Para registar a cor Munsell usa-se a anotação matiz, valor, (Russo: Terra Preta), "Latossolo Roxo" etc. Esta importância deve-
croma, com uma barra ("/") entre o valor e o croma. Por exemplo o se a existência de muitas correlações entre a cor do solo e outras
código 10YR3/2 representa uma cor com matiz=10YR, valor=3 e características que são muito mais difíceis de medir. A validade
croma=2. Na determinação da cor deve-se manter a amostra o destas correlações geralmente se restringe a áreas geográficas
mais perto possível das fichas e então escolher a cor mais similar. limitadas a certos tipos de solo. Portanto deve-se evitar
extrapolações.
3.1.5 Interpolação
É muito comum que a cor da amostra é intermediária entre Algumas inferências gerais que podem ser feitas a partir da
duas ou mais fichas. Nestes casos precisa-se fazer uma cor do solo são:
interpolação. Geralmente pode-se fazer isto com uma margem de
erro de 1.0 unidades para matiz e 0.5 unidades para valor e croma. a - Conteúdo de matéria orgânica: Elevado teor de matéria
orgânica corresponde com cor escura (valor e croma baixos).
3.1.6 Cores a serem determinadas b - Tipo de óxidos e oxi-hidróxidos de ferro: Solos com hematite
(Fe2O3) apresentam uma cor vermelha mais intensa do que os
Ao descrever o solo no campo, as cores de material de todos solos que contém ferro na forma de goetita (FeOOH, amarelo-
os horizontes devem ser determinadas tanto numa superfície acastanhado), ferrihidrita (ocre) ou lepidocrocita (FeOOH, rubi-
"fresca", como numa amostra pulverizada. Sempre deve-se anotar avermelhado a vermelho-castanho). A presença de certos
se a cor foi determinada numa amostra seca ou húmida, pois a compostos de ferro reflecte os processos de formação do solo;
humidade faz uma diferença enorme no valor e no croma. O matiz p.e. hematita é característica para solos bem drenados,
é praticamente independente do grau de humidade. Quando a fortemente intemperizados de regiões tropicais; lepidocrocita é
amostra tem cores averiguados deve-se descrever tanto as cores formado em solos hidromórficos e ferrihidrita é um produto de
dominantes ("matiz"), como as cores de menor ocorrência, p.e. de oxidação rápida (veja Parte I e V).
manchas ou das faces dos elementos estruturais (Vide Capítulo 5).
Além da cor das manchas deve-se anotar a sua abundância, seu c - Condições de drenagem: Solos bem drenados (sem excesso
tamanho e contraste com o matiz, bem como a clareza dos seus de água: permanentemente sob condições oxidativas)
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apresentam cores uniformes, avermelhadas ou acastanhadas,
com cromas elevados. Solos imperfeitamente drenados
(excesso de água em certos períodos do ano: ambiente
alternadamente oxidativo e reductivo) apresentam
mosqueamento acinzentado, vermelho e preto, devido à
redistribuição de ferro e manganês durante as fases
reductivas. Solos muito mal drenados (permanentemente
encharcados: condições reductivas) apresentam cores
uniformes neutras (acinzentada), por vezes azuladas ou
esverdeadas com baixo croma. (veja Parte V, gleização).

d - Presença dum "horizonte sulfúrico" (Ing: sulphuric horizon):


Um horizonte sulfúrico forma-se em solos desenvolvidos em
planícies costeiras, em sedimentos que contêm pirita (FeS2) e
pouco calcário. A drenagem destes solos resultará na
formação de produtos de oxidação fortemente ácidas (ácido
sulfúrico), bem como do mineral jarosita (KFe3(SO4)2(OH)6).
Manchas de jarosita apresentam uma cor amarela típica,
geralmente aproximadamente 2.5Y 8/6. (Vide Parte V,
processos de formação, tiomorfismo).

4. A TEXTURA DO SOLO
(tradução adaptada de Van den Berg, 1986)

4.1 Nomenclatura
A textura do solo, ou distribuição das partículas por tamanhos,
refere-se a ocorrência relativa das várias classes de tamanho dos
graus minerais individuais do solo. A textura refere
especificamente para as proporções de argila (Ing: clay), limo (Br:
silte; Ing: silt) e areia (Ing: sand) na fracção de terra fina (Ing: fine
earth fraction), i.e. a fracção de partículas com diâmetro menor que
2 mm.

Infelizmente, os termos argila, limo e areia podem ter diversos


significados, o que pode ser uma fonte de confusão. Por exemplo
"argila" pode significar uma classe de tamanhos de partículas, uma
classe textural do solo ou um grupo de minerais.

4.1.1 Classes de tamanhos de partículas

Figura II-3 Exemplo duma página com fichas de


Existem vários métodos para definir grupos de partículas
cores das "Cartas Munsell"
minerais conforme o seu tamanho. O padrão internacionalmente
mais divulgado é o sistema da USDA, adoptado pela FAO (1977) e
pelo INIA (1985), que já foi apresentada na Tabela I-3, juntos com As classes de textura "areia", "areia franca" e "franca arenosa"
o novo sistema da FAO (1990). ainda são subdivididas, de acordo com as proporções de
partículas de areia fina, média e grossa, conforme a Figura II-4b.
Nesta figura toma-se o total da fracção areia como 100%. Uma
4.1.2 Classes de textura outra maneira para indicar a "grossura" de material de solo
arenoso é pelo M50, o mediano dos tamanhos de partículas de
Na natureza, o material do solo muito raramente consiste de areia.
apenas uma das classes de tamanhos de partículas descritas
acima. Vários sistemas foram desenvolvidos para denominar Para fins práticos, p.e. mapeamento numa escala de
diferentes materiais do solo de acordo com a proporção de cada reconhecimento, muitas vezes é preferível usar classes de textura
classe textural. A maioria destes sistemas usam uma mais gerais, p.e. como na Figura II-4c, usada pela FAO (1990) na
representação gráfica na forma de um triângulo, com as Legenda Revisada do Mapa Mundial de Solos.
proporções de areia, limo e argila ao longo das vertentes. A
superfície do triângulo é dividida em partes, chamadas classes 4.1.3 Determinação da textura
texturais (Ing: texture classes). O triângulo textural mais usado é o
do USDA, adoptado pela FAO e pelo INIA, e é apresentado na No campo, a textura do solo é determinada pelo trabalhamento
Figura II-4a. duma amostra húmida ou molhada entre os dedos. A areia
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aparece como grãos ásperos, sem nenhuma aderência. A argila terra por uma malha de 2 mm. Então determina-se a percentagem
providencia plasticidade e, às vezes, pegajosidade à amostra. O do material grosseiro como a percentagem do peso de material
limo aparece como um material sedoso, farinhoso, sem a que não passou pelo crivo, em relação ao peso total da amostra.
plasticidade e pegajosidade da argila. Na prática a estimação No campo, a estimação da quantidade de fragmentos de rocha e
directa do limo é difícil. Normalmente estima-se primeiramente os nódulos é feita mais convenientemente visualmente, no perfil. Uma
teores de areia e argila, para em seguida calcular o teor de limo maneira mais exacta é de separar a terra fina dos fragmentos
como 100%- (areia+argila). Num solo muito argiloso consegue-se grosseiros e fazer montes separadas. Na descrição do perfil
detectar a presença de pequenas quantidades de areia entre os caracteriza-se os fragmentos de rocha em termos de abundância,
dentes (não fazer com material de solo da superfície). tamanho, forma, grau de meteorização e natureza, conforme as
indicações do Manual de INIA/UEM (1995): p. 55-57. Os nódulos
O valor do M50 pode ser estimado através da comparação com minerais (p. 57-59 do mesmo manual) são descritos conforme sua
amostras padronizadas de areia dentro de pequenos recipientes abundância, tipo, tamanho, forma, dureza, natureza e cor. Para
num chamado "régua de areia". indicar a natureza dos fragmentos de rocha usam-se termos
Estimar a textura no campo é uma questão de prática. Um técnico litológicos, como p.e. quartzo, basalto, arenito, xisto etc. A
experiente geralmente consegue estimar os teores de argila e natureza dos nódulos minerais indica-se pelo principal constituinte
areia dum solo com qual ele está familiarizado com uma margem (p.e. carbonatos, enxofre, ferro). Exemplos de descrições
de erro de aproximadamente 5%. No entanto, existe um grande completas da ocorrência de fragmentos de rocha são: (1) Pouco
perigo de erros sistemáticos, i.e. consistentemente superestimar cascalho médio angular, fortemente meteorizado de origem não
ou subestimar. Este perigo existe especialmente ao mudar duma identificado. (2) Comuns pedras arredondadas, frescas de basalto.
região para outra com diferentes tipos de solo, com mineralogia Exemplos para nódulos: (1) poucos nódulos finos e médios
diferente. A mesma percentagem de argila pode parecer bem irregulares brandos avermelhados de ferro; (2) raras concreções
diferente. Um outro perigo existe ao analisar amostras tiradas ao finas, arredondadas, duras, pretas de manganês.
longo duma transecção, encontrando mudanças graduais na
textura. A única maneira segura para evitar erros sistemáticos é 4.2 A importância da textura do solo
fazer "checagens" regulares com amostras de textura conhecida,
determinada no laboratório. Estas amostras devem ser A textura do solo é uma característica fundamental. Muitas
provenientes da região que está sendo analisada e representar a propriedades físicas e químicas importantes são co-determindas
variação dos diferentes solos presentes. pela textura, porque é da textura que depende a quantidade de
superfícies (minerais) nas quais ocorrem a maioria das reacções.
É bom ressaltar que resultados de laboratório nem sempre Portanto, a textura no campo pode ser usado para obter
têm a precisão sugerida pelo número de dígitos atrás do ponto indicações globais de outras propriedades do solo. Por exemplo:
decimal. Os resultados dependem muito do método usado, (1) a capacidade de troca catiónica aumenta com o teor de argila;
especialmente no caso de solos formadas em cinzas vulcânicas e (2) a sensibilidade à erosão hídrica do solo aumenta com o teor de
solos com teor elevado de calcário, matéria orgânica ou limo e areia muito fina; (3) a capacidade de retenção de água é
sesquióxidos. No caso de solos orgânicos e solos com teor menor em solos arenosos do que em solos argilosos, enquanto (4)
elevado de carbonato de cálcio, o conceito textura começa a a velocidade de ascensão capilar é maior nos solos arenosos (mas
perder sentido. Além disto, laboratórios também são gente que a influência da capilaridade chega até níveis mais elevados em
costumam errar. solos argilosos).
Estes tipos de inferência devem ser sempre baseados em dados
4.1.4 Fragmentos de rocha e nódulos minerais exactos, obtidos no laboratório ou no campo, da área de estudo.
Nunca deve-se transferir relações entre textura e outras
As partículas grosseiras (i.e. > 2mm) podem ser divididas propriedades, que foram estabelecidas numa área, para uma outra
entre fragmentos de rocha e nódulos. Fragmentos de rocha são área, sem validação ou testes suplementares, porque diferenças
pedaços mais ou menos meteorizados do material de origem, que em tipo e teor de matéria orgânica, mineralogia da argila, presença
ainda mantém a estrutura original da rocha e cuja coerência é de horizontes diferentes etc. podem ter uma influência muito
herdada do material de origem. Nódulos são corpos discretos não grande nestas relações.
orgânicos caracterizados por enriquecimento secundário de uma
substância impregnante ou cimentante; i.e., a coerência de O valor prático de dados sobre a textura do solo também
nódulos resulta de processos pedogênicos. Os nódulos também diminuem com o aumento de constituintes que não são analisados
podem ter tamanho <2mm, mas nestes casos passam muitas no laboratório durante a análise granulométrica da terra fina. A
vezes despercebidos e são incluídos na terra fina; a não ser que matéria orgânica influencia nas características hídricas, nas
eles se apresentem como um material distinto (cor, forma, características de troca catiónica, na estabilidade da estrutura e
tamanho) do matriz do solo. Por exemplo os nódulos de manganês muitas outras propriedades físicas e químicas do solo.
apresentam-se comumente como concreções muito finas, Características importantes da matéria orgânica neste respeito são
arredondadas, duras e pretas, às vezes indicada por “chumbinho”. a sua origem (de que tipo de vegetação) e o seu grau de
Este material é geralmente facilmente distinguível da matriz do decomposição. Fragmentos grosseiros influenciam na capacidade
solo. de armazenamento, infiltração e disponibilidade de água. Também
limitam o volume de material do solo que as raízes podem explorar
A determinação da percentagem de materiais com diâmetro e que providencia nutrientes às plantas. A presença de cascalho
maior que 2 mm pode ser feita no laboratório pela crivagem da grosseiro, pedras e blocos, mesmo poucos, significa uma limitação
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
19

Figura II-4 Triângulos texturais: (a) classes de textura; (b) subclasses de areia;
(c) classes gerais de textura, conforme FAO 1994; INIA/UEM, 1995

severa para o uso de implementos agrícolas.


APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
20
Efeitos positivos de fragmentos grosseiros são a protecção da impenetráveis por causa duma elevada densidade, ou distribuição
superfície do solo contra forças erosivas e a limitação que estes desfavorável de tamanhos de poros.
fragmentos impõem à evaporação da superfície do solo.

Constituintes do solo como (oxi)(-hidr)óxidos de ferro e de 5.2.2 Grau, classe e tipo de estrutura
alumínio, carbonatos e gesso podem, mesmo em pequenas A estrutura do solo pode ser descrita de acordo com seu grau,
concentrações agir como agentes cimentantes, o que pode causar classe e tipo, de acordo com as definições do Manual para a
uma textura aparentemente mais grosseira do que a textura descrição do Solo (INIA/UEM, 1995; pág. 43-46). Por exemplo, um
determinada no laboratório. Se seus teores forem elevados, estes horizonte de solo pode ser descrito como tendo uma estrutura forte
constituintes podem dominar as propriedades do solo, como é o média anisoforme subangular. Isto significa que o tipo de estrutura
caso da plintita (com muito ferro), bancos de conchas (carbonatos é anisoforme subangular; o tamanho dos agregados (classe) é
de cálcio) e horizontes petrogípsicos ou petrocálcicos. médio; e o grau de desenvolvimento é forte. Modelos de tipos de
estrutura estão apresentados na Figura II-5.
5. A ESTRUTURA DO SOLO
5.2.3 Agregados simples e compostos
5.1 Definições É bastante comum que num horizonte de solo ocorra mais que
uma estrutura. Em alguns casos as duas estruturas podem ocorrer
Segundo a Soil Conservation Service da USDA (1981) a lado a lado, por exemplo anisoforme subangular e granular num
estrutura do solo refere a “organização natural das partículas de horizonte A. Em outros casos pode haver um horizonte de
solo em unidades, que são separadas por superfícies de fraqueza, transição cuja parte superior é caracterizada por uma estrutura
que persistem por mais que um ciclo de molhamento e secagem diferente da parte inferior, p. e. anisoforme angular e prismática.
em situ. Uma unidade estrutural individual chama-se agregado Uma terceira forma são os agregados compostos (Ing: compound).
(Ing: agregate ou ped). Um agregado composto pode ser subdividido em agregados
Os agregados distinguem-se dos (1) torrões (Ing: clods), cuja simples de acordo com as superfícies de fraqueza naturais. Em
formação é causada por perturbações, como aração, que moldam alguns casos os agregados compostos podem ser subdivididos em
o solo em corpos transientes; (2) fragmentos (Ing: fragments) de agregados que por sua vez também são compostos. Um agregado
solo que são formados por fendilhamento ou quebras do solo, e não composto (i.e. agregado simples; Ing: simple ped) não pode
que não reaparecem no mesmo lugar sob secagem; e (3) ser subdividido em elementos menores ao longo de superfícies de
concreções (Ing: concretions) ou nódulos (Ing: nodules), que fraqueza naturais. Na prática isto significa que obtém-se pedaços
estão relacionados com concentrações locais de substâncias que com faces diferentes das faces dos agregados originais, i.e.
cimentam as partículas formando unidades discretas dentro do formam-se torrões. As faces destes pedaços têm cor diferente,
solo. tem menos lustrosidade e são mais ásperos.

5.2 Descrição da estrutura 5.2.4 Representação gráfica da estrutura


Para pessoas inexperientes fica difícil imaginar o perfil do solo,
Para a descrição da estrutura deve-se colectar um torrão somente ao ler uma descrição em palavras ou símbolos de
grande do solo no perfil, de várias partes se for necessário; em vez códigos. A representação gráfica dos dados mais importantes
de observar a estrutura do solo apenas da face do perfil. relacionados com a estrutura do solo pode ajudar a criar esta
imagem. Em princípio, o único benefício para tal representação
5.2.1 Material de solo estruturado e não estruturado gráfica é que isto providencia uma figura sugestiva. Um exemplo
Uma massa de solo que têm agregados chama-se disto é apresentado na Figura II-6.
estruturada (Ing: pedal). Certos solos, como por exemplo solos
aluvionares jovens "imaturos" (barros) ou solos de textura
grosseira com pouco húmus, não têm agregados. Os solos jovens 5.3 Pedogénese e a estrutura do solo
aluvionares não têm agregados, porém terão-los depois de vários
ciclos de dissecação e humedecimento. Uma areia eólica (duna) A estrutura do solo reflecte os processos de formação do solo.
nunca terá agregados, por falta de material aglutinante. Solos sem Os tipos de estrutura podem pertencer a uma ou mais dos
agregados chamam-se em inglês apedal2. Alguns autores seguintes grupos, de acordo com a maneira de formação do solo:
consideram estes solos como sem estrutura. Podem ser
distinguidos entre maciços, se o material for coerente, e graus • estruturas geogênicas, herdadas do material de origem,
simples, se o material não for coerente, como no caso da areia p.e. estratificação sedimentar, lâminas de xisto;
dunar. Nota bem que neste contexto o termo maciço só diz • estruturas biogénicas, produzidas pela actividade
respeito à presença ou não de agregados. Alguns destes solos biológica;
podem conter poros largos e ter boas condições para o • estruturas fisicogénicas, que resultam dos processos
crescimento de plantas, enquanto outros são absolutamente físicos, como expansão e encolhimento relacionados
com mudanças de temperatura e humidade.
2
No Brasil os termos pedal e apedal já foram incorporados no jargão pedológico, e distingue-se

solos pedais e apedais.


Muitos pedólogos não incluem as estruturas geogénicas nas
estruturas do solo.
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
21
Capítulo 8) provenientes de horizontes sobrepostos. Um efeito
Um tipo especial de estrutura fisicogénica (ou biogênica) é a semelhante é obtido por ciclos de congelamento e degelamento.
antropogénica, formada sob influência da actividade humana, Os processos que favorecem a agregação das partículas de solo
como aração, movimento de veículos e "puddling" de arrozais. são a adesão e a coesão. Os principais agentes aglutinantes são a
Estas actividades causam além de perturbações e compactação matéria orgânica, o ferro, os carbonatos e as partículas de argila. A
directa, uma maior exposição do solo à atmosfera. estabilidade de agregados (a sua resistência contra a destruição),
depende, além de outros factores, dos tipos e teores de agentes
Exemplos típicos de estruturas biogênicas são a estrutura aglutinantes, da concentração - e dos tipos - de cations adsorvidos
granular e grumosa; as estruturas prismáticas e anisoforme no complexo de troca de cations, e os tipos de minerais de argila.
angulosa são tipicamente fisicogênicas, enquanto a estrutura
laminar é comumente induzida pela acção humana ou herdada de 5.3.2 Estruturas biogénicas
duma estratificação geogénica. As estruturas biogénicas são formadas principalmente pala
acção das minhocas nas regiões de clima temperado, e insectos,
Ocorrem muitas transições entre os três grupos genéticos como formigas e térmitas nos países de clima tropical. Estes
principais. Por exemplo, a estrutura anisoforme subangulosa pode pequenos animais são responsáveis pela granulação do solo, a
ser considerada transicional entre biogénica e fisicogénica; a transformação de agregados angulares para subangulares etc. A
estrutura laminar pode ser uma transição entre uma estrutura actividade radicular também tem um papel neste respeito. A
geogênica e fisicogênica; e solos sem estrutura com estratificação formação de muitos tipos de estrutura em solos usados para fins
localmente perturbada pela actividade biológica (raízes, pequenos agrícolas pode ser explicada pela influência conjunta da actividade
animais) são transicionais entre geogênicos e biogênicos. biológica e processos físicos. A parte arada dum solo de textura
franca, que a muito tempo está sendo usado para o cultivo
São raros os casos em que existem dados exactos sobre intensivo de cereais ou batatas, tem agregados fisicogénicos e
como um certo tipo de estrutura se formou. Em muitos casos o (poucos) poros biogênicos (Slager, 1966). Vija o capítulo 6.5. para
modo de formação ainda é polêmico, como no caso dos a discussão da deterioração estrutural sob influência humana.
ferralsolos (vide parte IV, classificação dos solos). Estes solos,
típicos para planaltos antigos das regiões tropicais húmidas, 6. POROSIDADE DO SOLO
apresentam uma estrutura forte granular muito fina (agregados
<<1 mm) até grande profundidade. Alguns cientistas consideram 6.1 Definição
esta estrutura como sendo biogênica, relacionada com a presença
de termitas (Br:cupins). Como esta estrutura pode ocorrer até 6 m Considera-se como poros todos os espaços não ocupados
de profundidade ou mais, outros acham que esta estrutura é pela fracção sólida no solo. Os poros estão relacionados com o
fisicogênica, formada pela agregação das partículas primárias por arranjo das partículas primárias, padrões de enraizamento,
(oxi-)(hidr)(óxi-)dos de ferro e/ou alumínio. escavações de animais e outros processos de formação do solo,
como fendilhamento, translocação, lixiviação etc.
Ao descrever o perfil dum solo deve-se separar estritamente
os factos das inferências. Portanto, recomenda-se descrever a Em Inglês existem dois termos para a porosidade: "voids", cuja
estrutura somente em termos de grau, classe e tipo. Suposições tradução mais aproximada seria "vazios", e "pores". O termo
relativas à formação podem ser dadas separadamente. "pores" é um pouco mais restrito, excluindo por exemplo fendilhas
e planos.
A seguir vem uma discussão mais aprofundada das estruturas
fisicogênicas e biogênicas. A importância da estrutura do solo para O volume do espaço poroso (porosidade) em solos minerais
o seu maneio e aptidão são discutidas no Capítulo VI desta parte. está geralmente entre 1/3 (p.e. areias e material franco compactos)
e 2/3 (p.e. solos vulcânicos e solos "fofos" com teor relativamente
5.3.1 Estruturas Fisicogénicas elevado de matéria orgânica) do volume total do solo; sendo a
Estruturas de solo fisicogénicas são formadas por processos média aproximadamente 1/2. Em solos orgânicos
de fragmentação e agregação. A fragmentação pode ser causada (histossolos=turfas) a porosidade pode ser muito maior e chegar a
por exemplo, pela dessecagem ou congelamento. A dessecagem, mais de 90%.
devido à evapotranspiração, causa o encolhimento da fracção
coloidal (argila e matéria orgânica) e resulta no fendilhamento da Nota-se bem que a porosidade do solo não é uma
massa do solo. Solos que contêm poucos materiais sujeitos ao característica constante, mesmo em solos não cultivados. A
encolhimento, por exemplo areias pobres em húmus, não têm porosidade de solos minerais com argila 2:1 (p.e. montmorilonita)
agrados. No outro lado, um solo muito argiloso numa bacia de pode sofrer modificações consideráveis ao humedecer e dessacar.
decantação aluvial, mostra agregação distinta durante um verão Solos orgânicos quando alagados também apresentam uma
seco. O molhamento de tal solo, resulta virtualmente no porosidade maior do que quando forem drenados, devido às forças
desaparecimento total ou parcial das fendilhas, por causa da "boiantes" da água freática (efeito esponja). Por isto, na
expansão dos minerais. No entanto, as fendilhas podem classificação do solo, usa-se a humidade do solo a uma sucção de
permanecer como superfícies naturais de fraqueza, ao longo das 33 kPa (±1/3 bar) como humidade padrão para a determinação da
quais o solo formará fendilhas novas sob um novo ciclo de porosidade do solo (Vide Parte IV, física do solo). Em solos
dessecagem. Este efeito será favorecido pelo revestimento das esqueléticos (p.e. areias) e solos com argila 1:1 (p.e. caulinita) a
faces dos agregados com películas, por exemplo de argila, (Vide porosidade do solo é praticamente independente da sua
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
22

Figura II-5 Tipos de estrutura de solo. (A) granular ou grumoso; (B) anisoforme subangular e anisoforme angular; (C)
prismático; (D) colunar; (E) laminar.

humidade. divididos geneticamente entre geogénicos, fisicogénicos e


biogénicos. Poros intersticiais em sedimentos arenosos são
6.2 Descrição dos poros
geogénicos; fendilhas, formadas sob molhamento e dessecagem,
Não somente a porosidade total, mas também a geometria congelamento e degelamento são fisicogénicas, bem como os
dos poros são características importantes, que merecem ser poros vesiculares formados por bolinhas de gás. Canais tubulares
incluídas numa descrição morfológica. Infelizmente não existe e poros intersticiais compostos, são biogénicos. Canais biogénicos
nenhum método prático para descrever adequadamente a rede são comumente chamados de bioporos.
complexa de poros interligados ou fechados. A descrição no
campo deve ser focalizada nos poros formados pela acção das Os bioporos são formados pela actividade de raízes e/ou
raízes, animais e bolhas de ar, bem como qualquer arranjo animais no solo. As raízes não podem penetrar um solo de textura
incomum que podem ser vistos ao olho nu (macroporos) ou com arenosa, com arranjo de partículas adensado. Primeiramente o
ajuda de uma lente de aumento de bolso. solo deve ser perfurado ou solto pela acção animal ou artificial-
mente (p.e. lavoura). Em seguida o material do solo se arranja em
O sistema da FAO (1990) descreve os poros conforme o tipo, volta das raízes; e quando as raízes morrem e são decompostas,
o tamanho e a abundância. Uma lista de tipos de poros está no resulta um bioporo.
Quadro II-1. O Manual para a descrição do solo (INIA/UEM, 1995),
só trata dos poros cilíndricos (canais). Muitos bioporos são fósseis. Por exemplo, em solos bem
drenados formados em loess (sedimento plistocênico de origem
eólico) pode-se encontrar bioporos até vários metros de
6.3 Formação dos poros profundidade. Uma boa parte destes poros resultam da
sedimentação eólica na vegetação existente. Um processo similar
Da mesma forma que a estrutura, os poros podem ser é importante em solos aluvionares. Por exemplo, o suprimento de
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
23
oxigénio em espécies como Avicennia (mangrove), que ocorrem
ao longo do litoral Moçambicano, crescendo numa lama
fisicamente "imatura" é garantido pelos pneumatóforos, em volta
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
24

Figura II-6 Exemplo duma representação gráfica dum perfil estrutural


APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
25
das árvores. Quando a superfície do solo sobe, devido à 6.4.3 Armazenamento de água
sedimentação, os pneumatóforos acompanham a mudança. O armazenamento de água ocorre nos poros finos (capilares)
Muitas vezes ocorre nestes solos uma acumulação de óxidos de e em certas partes finas dos poros largos, enquanto forem
ferro no ambiente oxigenado em volta dos pneumatóforos (vide capazes de segurar a água contra a força gravitacional. É
Parte V, Capítulo 8). Depois de reclamar e drenar estes solos, a importante que o transporte de água pelos poros grosseiros não
aerênquima dentro dos pneumatóforos encolhe e deixa um seja demasiadamente rápido, já que o material do solo adjacente
sistema extensivo de bioporos grosseiros e muito estáveis, graças precisa de tempo suficiente para absorver água.
aos revestimentos secundários (películas, Vide Capítulo 8) de
óxidos de ferro. 6.4.4 Penetração de raízes
Bioporos grosseiros podem-se formar também como
consequência do crescimento lateral das raízes. As características do sistema poroso também determinam a
presença ou não de barreiras mecânicas para as raízes. Wiersum
Os principais animais formadores de bioporos são as (1957) achou que as raízes primárias e secundárias da maioria
minhocas nos países de clima temperado e as térmitas e formigas das culturas só são capazes de entrar poros com paredes rígidas
nas regiões de clima tropical. Outros animais como baratas, se estes poros tiverem diâmetro superior a 0.2 mm. Em solos
besourinhos, centopeias etc. também podem ser importantes sob arenosos, sem estrutura pedológica (grãos simples), nos quais o
certas circunstâncias. Animais grandes, como camundongos, tamanho dos poros intersticiais depende somente do tamanho dos
coelhos, cachorros do mato, tatus e javalis também podem ter grãos do esqueleto do solo, só ocorrem poros mais grosseiros que
uma função importante ao transportar e soltar o material do solo. 0.2 mm se os grãos de areia forem maiores que 0.8 mm. No
Roedores e insectos grandes são responsáveis pela formação de entanto, areia tão grosseira tem uma capacidade de retenção de
"crotovinas" (cavidades preenchidas com material dum horizonte água muito baixa.
ou camada diferente), que podem ocorrer até profundidades
consideráveis. Em solos de textura franca ou argilosa, as raízes podem seguir
poros intersticiais compostos, canais ou planos. Os últimos são,
6.4 A importância dos poros em geral, não muito atractivos para o crescimento de raízes,
especialmente em solos com montmorilonita, pois a secagem do
O tamanho, a forma e a abundância de poros são solo causa um alargamento destes planos de tal maneira que as
características importantes que influenciam na aptidão de uso do raízes ficam muito expostos ao ar e a dessecação. Ao molhar, os
solo. As principais funções dos poros estão relacionadas com o planos fecharão e a aeração ficará limitada. As raízes podem
transporte de gases, o transporte e armazenamento de água e a mesmo ficar danificadas fisicamente pela pressão das faces dos
penetração das raízes. agregados. Uma vez que uma raiz entrou no solo, dependerá da
rigidez das paredes do poro se a raiz conseguirá alargá-lo durante
6.4.1 Transporte de gases seu crescimento.
Os poros grosseiros são responsáveis pela difusão do ar no
solo (=aeração). O oxigénio no solo é consumido pelas raízes das Deve ter ficado claro que para termos um ambiente com
plantas e por animais, fungos e bactérias presentes no solo. Eles balanço hídrico favorável, com boa aeração e sem barreiras para o
produzem CO2 (vide Parte I, Capítulo 1.1). Quando o intercâmbio desenvolvimento radicular, deve-se ter poros contínuos de
do ar entre o solo e a atmosfera é suboptimal, ocorrerá deficiência tamanhos diferentes durante todo o ano. Hoeksema (1954)
de oxigénio, que impede o crescimento dos raízes. Em geral a resumiu estas condições a um "sistema permanente de poros
aeração é mais intensa quando os poros são mais grosseiros e heterogéneos e contínuos" (permanent heterogeneous system of
contínuos e pouco tortuosos. Em solos arenosos sem estrutura o continuous voids).
transporte de ar ocorre pelos poros intersticiais simples (entre os
grãos de areia). Em solos de textura mais fina, o transporte de ar
ocorre pelos poros intersticiais compostos (entre agregados) e 6.5 Deterioração e regeneração da estrutura
pelos canais tubulares. Em solos argilosos com fendilhamento os
poros planares também são usados para transportar gases. 6.5.1 Actividades de maneio que proporcionam a deterioração
estrutural
6.4.2 Transporte de água O homem muitas vezes causa mudanças estruturais
Os mesmos poros largos que cuidam da aeração do solo desfavoráveis com actividades como:
removem também os excessos de água no solo. Quanto mais • remoção da vegetação natural;
largos os poros, mais eficiente a remoção de água. Existe uma • aração (lavoura);
relação clara entre a abundância de canais largos e a • uso de máquinas pesadas;
conductividade hidráulica dum solo saturado com água. • intensidade excessiva de cultivo;
• intensidade excessiva de pastagem.
A maioria dos canais e poros intersticiais continua aberta
mesmo se o solo estiver molhado. Muitos vazios planares, no A remoção da vegetação natural causa fortes mudanças da
entanto, fecham sob molhamento, devido à expansão do material actividade biológica no solo. A exposição à atmosfera do solo nu
de solo. Este fenómeno explica a conductividade hidráulica torna o solo muito mais vulnerável às influências das variações
elevada destes solos quando secos e muito baixa quando meteorológicas. A incidência directa da radiação causa grande
molhados. elevação da temperatura do solo superficial, o que resulta num
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
26

A intensidade excessiva de cultivo causa geralmente em


primeira instância a degradação química (empobrecimento
nutricional), seguido pela degradação física, devido à exposição
excessiva do solo, sob uma cultura que já não pode formar uma
cobertura vegetal fechada, por falta de nutrientes. A intensidade
excessiva de cultivo não é exclusividade da agricultura moderna;
ao contrário. Na agricultura moderna geralmente repõem-se os

Poros intersticiais: (Ing: interstitial- or textural voids): Poros controlados pelo arranjo das partículas do solo. Podem ser subdivididos
em poros intersticiais simples, p.e. entre os grãos de areia, e poros intersticiais compostos, entre agregados que não se
amoldam. Estes poros são predominantemente irregulares e interligados, e não podem ser quantificados no campo.
Vesículas (Ing: vesicles): Poros descontínuos de foram esférica ou elíptica (câmaras) de origem sedimentar ou formados por ar
comprimido, por exemplo, bolinhas de ar em crostas superficiais, formadas depois de chuva torrencial. Estes poros são
relativamente pouco importantes em conexão com o crescimento de plantas.
Ing: vughs (sem termo equivalente em Português): Poros predominantemente irregulares equidimensionais de origem faunal, ou
resultando de aração ou perturbação de outros poros. Podem ser descontínuos ou interligados; e podem ser quantificados em
casos específicos.
Canais (Ing: channels): Poros elongados de origem faunal ou vegetal. Na maioria dos casos têm forma tubular e são contínuos, com
diâmetro variando fortemente. Quando maior que alguns centímetros (p.e. escavações de camundongos) podem ser descritos
mais adequadamente sob o capítulo "actividade biológica".
Planos (Ing: planes): A maioria dos planos são vazios entre os agregados, relacionados com superfícies de agregados que se
amoldam ou fendilhas. Os planos são muitas vezes não persistentes e podem variar em tamanho, forma e quantidade em
dependência das condições de humidade do solo. Os planos podem ser registados pela descrição da sua largura e abundância.

Quadro II-1 Tipos de poros

aumento pronunciado da velocidade de decomposição matéria nutrientes absorvidos pela cultura. É um fenómeno muito comum
orgânica por microorganismos e processos químicos. A matéria em regiões de transição de agricultura familiar para agricultura
orgânica tem um papel importante como agente aglutinante de privada, e quando o aumento da densidade populacional força os
partículas (vide Capítulo 5 desta Parte); e a diminuição do teor de agricultores a manter pousios cada vez menores ou cultivar áreas
matéria orgânica no solo torna a sua estrutura menos estável. Os menos aptas para a agricultura. Uma outra situação é em regiões
agregados menos estáveis são facilmente destruídos pelo impacto socialmente desestabilisadas (p.e. devido à guerra) com imigração
directo das gotas de chuva (splash). Isto torna o solo mais de agricultores sem experiência nos solos da região (por exemplo,
vulnerável à erosão hídrica ou eólica. Subsequentemente haverá parte das zonas verdes de Maputo).
uma diminuição da actividade biológica, devido às variações
extremas de temperatura e humidade e os teores mais baixos de A intensidade excessiva de pecuária causa problemas
matéria orgânica. semelhantes à combinação da intensidade excessiva de cultivo (se
os produtos da pecuária forem tirados da área) e a mecanização.
A aração na lavoura causa um aumento da superfície do solo Neste caso é o pisoteio do gado que pode causar a degradação
exposto à atmosfera pela destruição mecânica de agregados e a física. Em pastagens demasiadamente grandes o gado costuma
formação de uma superfície "rugosa". Isto favorece a oxidação da andar sempre nos mesmos caminhos, iniciando sulcos de erosão.
matéria orgânica e por consequência, a diminuição da estabilidade Este problema é especialmente grave em regiões semi-áridas, em
estrutural, o que pode dar origem ao esboroamento (Ing: slaking) que normalmente pode haver forragem suficiente, porém nos anos
dos agregados, i.e. a destruição ou desintegração de agregados mais secos o gado consome praticamente toda vegetação,
do solo nos seus constituintes originais, comumente observado em deixando o solo descoberto e susceptível à erosão das primeiras
solos recentemente arados e sujeitos ao impacto das chuvas. chuvas torrenciais.
Durante este processo as partículas de limo, argila, areia e matéria
orgânica ficam sorteadas pela água e formam uma crosta 6.5.2 Morfologia de estruturas deterioradas
adensada na superfície do solo. A combinação dos processos acima mencionados resulta na
formação duma crosta de grãos simples, maciça ou estratificada
O uso de máquinas pesadas favorece a compactação na superfície do solo; e/ou dum imperme de lavoura com estrutura
mecânica. Por exemplo, um tractor num solo cultivado exerce laminar ou anisoforme angular no limite inferior do horizonte Ap.
pressão mecânica sob as rodas, devido ao peso da máquina,
vibração do motor e deslizamentos pelo movimento das rodas. A A formação duma crosta externa (como resultado de slaking),
compactação é pior quando as actividades são exercidas sob é geralmente mais pronunciada em solos com elevado teor de limo
condições desfavoráveis (excesso de humidade no solo). A ou areia fina e relativamente pouca argila (p.e. franco siltoso, areia
regeneração da estrutura pela actividade biológica é limitada, entre franca fina) bem como em solos com elevado teor de sódio
outras razões devido à falta de alimentos adequados para os trocável. As crostas superficiais são caracterizadas pela presença
animais em condições de lavoura. de vesículas, relacionados com confinamento de gases, numa
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
27
estrutura adensada. As crostas podem ocorrer nas áreas baixas
entre os torrões de terra, ou cobrir toda a superfície. 6.5.4 Efeitos práticos da degradação do solo
Crostas superficiais e impermes induzidos são prejudiciais,
Em solos com teor de argila mais elevada, os agregados são pois impedem o transporte vertical de água e ar pelo solo,
melhor desenvolvidos. No entanto, desagregação em profundidade implicando aumento do risco de ocorrência de excesso de água no
ou "micro-erosão" (transporte por fendilhas de material da solo superficial, além de impor uma restrição ao desenvolvimento
superfície do solo para camada inferior) podem resultar na radicular. Isto não só afecta o crescimento das plantas, como
formação duma camada adensada sob a profundidade de lavoura: também dificulta as operações de maneio, e torna o solo mais
imperme induzido ou imperme de lavoura (Br: pã induzido ou pã sensível à compactação.
de arado; Ing: plough pan). Em solos de textura média estas
camadas consistem de agregados laminares adensados, com A deterioração estrutural torna o solo mais sensível à erosão,
poucos poros visíveis. Nos solos argilosos costumam ter estrutura por duas razões: (1) partículas dos agregados inestáveis ou das
anisoforme angular, devido ao fendilhamento como consequência crostas superficiais podem ser facilmente deslocados por impacto
do encolhimento ao secar. Em solos de textura arenosa este de gotas de chuva, como explicado acima e (2) as camadas
imperme se manifesta como uma camada muito adensada sem adensadas na superfície têm baixa capacidade de infiltração, e
estrutura. Impermes induzidos têm 5 a 10 cm de espessura, mas a consequentemente haverá maior escoamento superficial de água.
compactação causada pela vibração e pressão pode continuar até Com a perda do solo e água também perde-se nutrientes e
mais baixo. Isto reflecte-se pelo aumento de microporos e a matéria orgânica do horizonte A. O horizonte E ou B ficará à
diminuição de poros grosseiros. superfície do solo. Estes horizontes geralmente têm propriedades
físicas e químicas menos favoráveis (especialmente o E) para o
6.5.3 Características do solo que promovem a deterioração crescimento das plantas do que o horizonte A.
estrutural
Deve-se ressaltar que as características do solo que Em solos com características físicas e/ou químicas
promovem a deterioração estrutural não estão exclusivamente degradadas, fica mais difícil obter uma cobertura vegetal completa
relacionadas com a textura do solo, como pode ter sido sugerido do que em solos com suas características originais preservadas.
nos exemplos acima. Entre as características do solo que agravam Por isto, uma maior parte do solo fica exposta à atmosfera durante
a deterioração estrutural destacam-se: mais tempo, tornando-lhe mais vulnerável aos processos de
deterioração estrutural.
• Elevado teor de limo ou areia fina
• Teor de matéria orgânica muito baixo ou muito elevado O acima exposto deixa claro que, os processos de
• Ausência de carbonato de cálcio deterioração estrutural formam um espiral vicioso, o que os torna
• Baixo teor de alumínio e ferro ainda mais perigosos.
• Sodicidade/alcalinidade
• Excesso de humidade 6.5.5 Melhoramento de estruturas deterioradas
O limo e a areia fina são as fracções do solo que são (1) Para melhorar a estrutura de camadas deterioradas ou
fracamente coesivas, devido à sua baixa superfície específica e adensadas naturalmente, deve-se promover a formação dum
baixa densidade de cargas (em comparação com a argila) e (2) "sistema permanente de poros heterogéneos e contínuos". Alguns
facilmente transportáveis por serem de tamanho reduzido (em exemplos para fazer isto são:
comparação com a areia média e grossa). • Arar para soltar uma superfície adensada e compactada
• Fazer uma aração profunda para misturar camadas com
A matéria orgânica, o carbonato de cálcio e óxidos de ferro e características favoráveis e desfavoráveis (p.e. areia pobre
alumínio têm a capacidade de estabelecer ligações fortes entre as em matéria orgânica com areia húmida, para aumentar a
partículas do solo, formando desta maneira agregados estáveis. profundidade potencial de enraizamento).
No entanto, solos com matéria orgânica muito elevada são muito • Fazer uma aração profunda para soltar o subsolo de textura
untuosos (Ing: smearing) e esponjosos, o que pode facilitar a arenosa com arranjo adensado de partículas.
vedação dos poros, e compactação por máquinas ou gado. • Quebrar/Misturar camadas que actuam como barreiras
mecânicas para o desenvolvimento radicular e transporte de
A razão porque solos alcalinos (pH>8.5) ou sódicos (Na+ água e ar.
trocável maior que 15% são inestáveis será explicada na Parte III
(Química do Solo). Se estas operações forem executadas sob condições
desfavoráveis (demasiadamente molhado) ou se forem
Solos com excesso de humidade, especialmente com elevado executadas em solos que não são aptos para tal, o resultado (no
teor de argila e/ou matéria orgânica, são facilmente deformáveis. A médio ou longo prazo) será deterioração estrutural em vez de
plasticidade e pegajosidade de solos molhados (Vide Capítulo 7: melhoramento.
Consistência do Solo) causam untadura (smearing) quando
trabalhados, ou pisoteados. 6.5.6 Prevenção da deterioração estrutural
Para prevenir a deterioração estrutural deve-se:
• estimular a actividade biológica pelo suprimento de matéria
orgânica ao solo (p.e. "mulching", adubação com estrume,
rotação com pousio, evitar retirar todos os órgãos da planta
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
28
sem deixar nada para ser incorporada na terra (p.e. batata A terminologia para a descrição da consistência do solo no campo
doce); (INIA/UEM, 1995) inclui termos diferentes para os três estágios de
• aplicar gesso aos solos com elevado Na+ trocável (Vide humidade: molhado, húmido e seco.
Parte III, Capítulo 5.2.2);
• minimizar o período que os solos estão descobertos; Geralmente não é necessário descrever a consistência do solo
• minimizar as práticas de maneio do solo; sob todas estas três condições padronizadas. A consistência
• promover a remoção de excessos de água por sistemas de húmida é geralmente mais importante, pois é o estado mais
drenagem; comum de muitos solos. A consistência do solo seco é geralmente
• adoptar práticas para evitar erosão como plantar em útil, mas não é relevante em solos que nunca estão secos. A
contornos, culturas consociadas, terraceamento. mesma coisa se aplica para a consistência do solo molhado. Um
7. A CONSISTÊNCIA DO SOLO problema prático para a determinação da consistência no campo,
é que é bastante difícil de secar uma amostra no campo. Também
7.1 Conceitos e definições é difícil obter no campo uma amostra húmida a partir duma
amostra seca.
A consistência do solo refere à resistência do material do solo
para deformações ou ruptura. A consistência depende do grau e O grau da cimentação não depende do teor de humidade no
tipo de coesão (entre materiais similares) e adesão (entre solo.
materiais diferentes), do solo e das condições de humidade.
Descreve-se a consistência do solo seco e húmido, bem como
A consistência do solo é uma função da superfície específica e o grau de cimentação, em termos duma característica que pode-se
da quantidade e da força dos contactos por unidade de área de chamar resistência à ruptura (Ing: soil strength), ou seja, a força
superfície. Portanto, varia com o tamanho, a forma, a natureza e o ou pressão mínima necessária para quebrar o material. A
arranjo das partículas do solo e da natureza dos "filmes" de resistência à ruptura é descrita em termos de solto, friável, firme
humidade em volta destas partículas. para material húmido; solto, brando, duro para material seco; e não
cimentado, cimentado para material cimentado. No caso de
A água exibe coesão, como indicado por sua tensão material cimentado também descreve-se a continuidade e a
superficial. As moléculas de água, sendo dipolares, também são estrutura do material, bem como a natureza do agente que causa
absorvidas e se orientam em partículas de solo com cargas a cimentação.
eletroestatícas negativas ou positivas. Sob secagem, partículas
vizinhas se atraem, e o solo desenvolve maior coesão e força A consistência de material molhado é descrita em termos da
mecânica, o que resulta em encolhimento. pegajosidade (Ing: stickiness): a qualidade de adesão do material
do solo a outros objectos; e a plasticidade (Ing: plasticity): a
A adição de água tem um efeito oposto à secagem, por habilidade do material de solo de mudar continuamente de forma
aumentar a largura de filmes de água em volta das partículas do sob a influência de uma pressão aplicada e de conservar a forma
solo. Quantidades adicionais de água tornam o solo plástico, e impressa após a cessão desta pressão. A pegajosidade e a
mesmo perder a sua coesão, aproximando um fluido. Portanto, plasticidade do solo dependem do grau de destruição da estrutura,
sob teores diferentes de água, o solo apresenta consistências bem como da humidade. A determinação destas características
diferentes. deve ser feita sob condições padronizadas, numa amostra de solo
Em solos cimentados, também outras forças que as adesões cuja estrutura é completamente destruída, e que contém água
entre as partículas do solo estão envolvidas. suficiente para expressar o máximo de pegajosidade e
Segundo o "Soil Survey Manual (Manual de Levantamento de plasticidade. Desta maneira possibilita-se a comparação entre
Solos, Soil Conservation Service, 1981) "Material de solo é graus de pegajosidade e plasticidade de solos diferentes.
considerado cimentado se um agregado não se desintegra depois
de uma hora de imersão em água". Se o agregado se desintegra, As classes e definições dos vários tipos de consistência estão
o material não é considerado de cimentado. Agentes cimentantes nas páginas 47-49 do Manual de Descrição do Solo (INIA/UEM,
podem ser: calcário, gesso, ferro e sílica. 1995). Os termos para a descrição da cimentação e compacidade
estão nas páginas 52 e 53 do mesmo manual.
O termo compacto refere para material com uma consistência
húmida que é firme a extremamente firme, e um arranjo cerrado
das partículas. Material compacto não se desintegra depois de 7.3 A importância da consistência e cimentação do material do
uma hora de imersão em água. Compacidade é um termo solo
genérico que pode referir a material compactado, resultante da
acção externa (p.e. máquinas pesadas) ou material adensado, que 7.3.1 Importância pedológica
resulta de processos naturais, pedogenéticos (p.e. iluviação de A consistência do solo não depende apenas da textura e da
argila de horizonte A ou E para horizontes Bt, Vide Parte V) ou humidade do solo, mas também da mineralogia da argila, dos
geogenéticos (p.e. sedimentação cerrado). cations trocáveis e do teor de matéria orgânica. Portanto, é uma
característica do solo bastante complexa. Isto é ilustrado na
Tabela II-1, que compara a consistência dum Ferralsolo argiloso
7.2 Descrição da consistência e cimentação do solo com a dum Vertissolo argiloso. A mineralogia do Ferralsolo é
dominada pela caulinita e por oxi-hidróxidos de ferro e alumínio. Os
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
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Vertissolos são ricos em smectitas (Vide Parte VI, Classificação do 8.1 Tipos de películas e sua origem
Solo).
Existem vários tipos de películas de natureza diferente: de
7.3.2 Importância para o maneio do solo argila, de compressão, de sesquióxidos, de matéria orgânica.
A consistência do solo também é de grande importância Alguns solos, classificados como Nitissolos (vide Parte VI:
prática, em relação ao uso do solo, tanto para fins agrícolas, como classificação) apresentam uma lustrosidade cuja formação ainda
para obras de engenharia. As consistências no estado seco e não está bem esclarecida. No Brasil, onde estes solos são muito
húmido determinam, juntos com outros factores, as possibilidades comuns, indica-se este tipo de lustrosidade por cerosidade.
de trabalhar o solo, p.e. a facilidade de preparação do solo para a
sementeira, uma actividade que deve-se evitar em solo molhado. No campo é importante discriminar aquilo que é realmente
A presença de material de solo cimentado, a uma profundidade observado daquilo que é interferido. Pode-se referir para a
rasa, é uma limitação séria neste respeito. As consistências natureza de películas em termos como "provavelmente de argila",
húmida e molhada também são importantes para determinar a ou "possivelmente de matéria orgânica e óxidos de ferro".
transitabilidade do solo e o risco de compactação do solo pelas
máquinas agrícolas e pelo gado, actividades que muitas vezes não 8.1.1 Películas de argila
podem ser evitadas quando o solo estiver molhado. A consistência As películas de argila são revestimentos que podem ser
do solo também está correlacionada com o enraizamento dos facilmente distinguidos quando são mais escuros ou avermelhados
horizontes. do que os interiores dos elementos estruturais. Critérios para sua
8. PELÍCULAS identificação no campo são (1) espessura real; (2) uma transição
abrupta entre a película e o interior do agregado, como pode ser
Muitas vezes, as faces dos agregados, os poros ou os grãos visto numa secção transversal numa superfície quebrada. Uma
de areia apresentam revestimentos de materiais como p.e. argila, lente de bolsa de 10x de aumento pode ajudar na identificação.
matéria orgânica, ou óxidos de ferro. Uma descrição detalhada Sob o microscópio as películas de argila podem ser facilmente
destas chamadas películas (Ing: cutans) não é possível sem vê- reconhecidas como lâminas de placas de argila orientada
los sob o microscópio, e faz parte da micromorfologia do solo. No paralelamente à superfície da face do agregado ou como lâminas
entanto, as películas podem frequentemente ser reconhecidas no concêntricas em volta dos poros cilíndricos.
campo, pelo olho nu, ou por uma lente de aumento de 10x.
Geralmente a observação no campo por si só é suficiente para Películas de argila são principalmente compostas por
identificar a natureza exacta duma película. partículas de argila que foram lavadas (eluviação) pela água
descendente, do solo superficial e depositadas (iluviação) nas
A presença de películas pode providenciar uma indicação faces dos poros e agregados no subsolo (Vide Parte V, Capítulo
importante dos processos que estão, ou estiveram actuando no 3.1). Na classificação dos solos, a presença de películas de argila
solo. Alguns critérios importantes para a designação de horizontes é um critério importante para diagnosticar a presença dum
e para a classificação do solo também referem para a presença de horizonte B árgico (Vide Parte VI).
certos tipos de películas. 8.1.2 Películas de compressão
Películas de compressão (Ing: stress cutans), ou faces de
A classificação e descrição de películas segundo as normas compressão (Ing: pressure faces) são facilmente confundidas com
do Manual para a Descrição do Solo (INIA/UEM, 1995; página 50 e películas de argila na examinação no campo. Se a superfície do
51) foram adoptadas da FAO (1990). agregado for lisa e a película não tiver espessura, quando

Tabela II-1 Comparação de consistência de um Ferralsolo argiloso e um Vertissolo argiloso duma região subtropical
(fonte: Brasil, 1973)

Profundidade C% Argila Consistência


(cm) %
Solo Horizonte seco húmido Molhado

Ferralsolo Ah 0-15 1.8 74 ligeiramente friável pouco pouco


Húmico dura plástica pegajosa

Bws 90-150 0.7 82 dura friável pouco pouco


plástica pegajosa

Vertissolo Ah 0-20 1.8 60 muito dura muito muito muito


éutrico firme plástica pegajosa

A/C 43-50 0.8 64 extremamente muito muito muito


dura firme plástica pegajosa

observada numa secção transversal (o que indicaria película de


argila), então,
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
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tratar-se-á provavelmente duma película de compressão. Um tipo
especial de película de compressão chama-se "superfície de Películas de matéria orgânica com argila são comuns em
fricção" (Ing: slickenside). Uma superfície fricção é uma superfície solos com elevado teor de sódio, em regiões (semi-)áridas. Estes
lisa, com estrias paralelas. Este tipo de películas é formado solos tem uma estrutura muito instável, de maneira que partículas
quando agregados exercem tanta pressão sobre seus vizinhos de argila e de matéria orgânica podem facilmente ser eluviadas
durante molhamento, que um sobe pelo outro. Películas de dos horizontes superficiais e iluviados no subsolo na forma de
compressão, e especialmente as superfícies de fricção ocorrem películas. Este processo pode dar origem à formação de um
tipicamente em solos com teores apreciáveis de argilas horizonte B nátrico, com uma estrutura tipicamente colunar, e
expansíveis (p.e. montmorilonita), e que estão sujeitos a geralmente apresenta revestimentos escuros de argila com
mudanças distintas em humidade (clima com alternação de matéria orgânica (Vide Parte VI: horizontes diagnósticos).
estações secas e húmidas). A ocorrência de superfícies de fricção A maioria das películas identificadas como "películas de
é característica diagnóstica para os Vertissolos (Vide Parte VI). argila", são de facto películas de argila e óxidos de ferro (Ing: ferri-
argillans).
8.1.3 Películas de óxidos
As películas de óxidos formam uma camada fina de óxidos de
metal, usualmente de ferro ou de manganês. A cor destas 8.2 Importância de películas
películas é avermelhada se houver ocorrência proeminente de
ferro, e preta quando o manganês é um constituinte importante. As cutículas têm sido assunto de investigações profundas
Estas películas podem formar-se nas faces dos agregados ou em como produtos de processos pedogênicos; porém a sua
canais como consequência de processos de redução e oxidação importância para propriedades relacionadas com o maneio de solo
em solos hidromórficos. O interior dos agregados pode ficar foi geralmente neglicenciada. Uma razão para isto é que é difícil
saturado por períodos mais prolongados do que o exterior e os analisar as películas separadamente, para depois interpretar os
poros largos. Portanto, o ferro e manganês no interior do agregado resultados das análises para um sistema de uso de terra.
podem ser reduzidos para a forma divalente, solúvel. Em seguida
podem difundir para a superfície ou poros largos, onde as Reconhece-se no entanto, que as películas podem ter um
condições oxidativas causam sua precipitação na forma de papel importante neste respeito, pois as raízes muitas vezes
películas (Vide também Parte V). seguem as faces dos agregados e os poros largos. Então estão
muito mais em contacto com as películas do que com o interior
Um outro tipo de película de óxidos de ferro e manganês é dos agregados. Um aspecto físico, directamente relacionado com
formado quando durante a meteorização de minerais primários, a presença de películas é que as películas podem fechar os poros
sob condições húmidos e bem drenadas, estes elementos são nas superfícies dos agregados, e diminuir o diâmetro dos poros
liberados e prontamente oxidados e precipitados na forma de largos, o que reduz a permeabilidade do solo, e pode causar
películas delgadas que revestem os grãos de areia e limo. Outros estagnação de água.
elementos liberados pela meteorização, como Al, Si e cations
básicos, são lixiviados ou usados para a formação de argilas Questões
silicatadas secundárias. Estas películas geralmente não são
descritas, pois são muito comuns nos solos bem drenados. A sua 1. Explica porque a velocidade de ascensão capilar é maior em
ausência pode ser devida a condições hidromórficas ou à solos de textura arenosa, enquanto a altura de equilíbrio da
presença dum horizonte E. ascensão capilar é maior em solos argilosos.

2. Explica como fragmentos de rochas e pedras influenciam no


armazenamento e na infiltração de água.
8.1.4 Películas de matéria orgânica
Películas de matéria orgânica têm uma aparência escura. 3. Avicennia (mangue) possui pneumatóforas, para abastecer o
Estas cutículas geralmente não são maciças e polidas como as sistema radicular com oxigénio. Explica como isto beneficia
películas de argila e de compressão. Películas de matéria orgânica (ou não) a porosidade do solo, mesmo depois do solo ser
pura geralmente devem sua origem à acção biológica (p.e. canais drenado e usado para agricultura.
de térmitas).
4. Descreva em seis linhas a importância da estrutura e
8.1.5 Películas de compostas mistas porosidade e qual o sistema de porosidade e estrutura seria
Existem muitos tipos de películas compostas de vários tipos ideal para culturas.
de constituintes. A combinação de sesquióxidos com matéria
orgânica em películas é importante em solos em que óxidos de 5. Porque a matéria orgânica é decomposta mais rapidamente
alumínio (com ou sem ferro) podem ser eluviadas (lavadas) do sob cultivo do que sob condições naturais?. Isto é sempre uma
horizonte superficial na forma de quelatos (i.e. complexos de desvantagem?
sesquióxidos com ácidos orgânicos). Estes complexos podem
precipitar (iluviar) no subsolo, em volta de grãos de areia. Um 6. O uso de máquinas pesadas em solos demasiadamente
horizonte com certo grau de iluviação de quelatos chama-se húmidos causa compactação. Quais problemas podem ser
horizonte B espódico (Vide Parte V: queluviação e Parte VI: esperados se o solo for muito seco.
horizontes diagnósticos).
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
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7. Explica a ocorrência de poros vesiculares em crostas.

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