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Inchaço na gravidez

Muitas mulheres sofrem com a retenção de líquidos durante a gestação,


especialmente nos dias quentes. Entenda por que acontece, quando é sinal
de algo mais grave e como amenizar o desconforto
No fim do dia, os sapatos parecem menores, as pulseiras já incomodam e
os anéis ganham novas funções, virando pingentes do colar. Se você está
grávida e se reconhece nessa cena, sabe bem do que estamos falando: o
inchaço. Segundo o ginecologista e obstetra Wagner Hernandez, membro
da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo
(Febrasgo) e diretor do Centro Obstétrico do Hospital das Clínicas de São
Paulo, a retenção de líquidos na gravidez é um mecanismo hormonal, que
ocorre por conta do aumento do volume de líquidos (entre 25% e 35%)
circulando no corpo da mãe. Eles, por sua vez, extravasam dos vasos e
atingem os tecidos, provocando edemas indolores.
Geralmente, aparece a partir da metade da gravidez, quando o aumento do
útero comprime as veias dos membros inferiores, dificultando o retorno do
sangue. Por isso, pernas, tornozelos e pés são os que mais sofrem com o
problema.
O desconforto é normal na maioria dos casos (chamado inchaço fisiológico),
sem riscos para a saúde de mãe e filho. Nesse caso, é simétrico e atinge de
maneira igual os dois pés, as duas pernas e até mesmo as duas mãos. Por
outro lado, também pode indicar complicações mais sérias, necessitando
de intervenção medicamentosa e até mesmo internação – o inchaço
patológico ou irregular. Este, por sua vez, acontece quando apenas um dos
membros aumenta de tamanho e é generalizado no corpo todo, inclusive
no rosto, e não diminui após uma noite de sono ou um período de descanso
com pernas elevadas, o que pode ser sinal de trombose e pressão alta na
gravidez, respectivamente. Por isso, não dá para ignorar. E um alerta para
quem está esperando gêmeos: como o acúmulo de líquidos é muito maior,
o inchaço tende a ser mais evidente e desconfortável.
Uma revisão de estudos publicada no Journal of Midwifery & Women’s
Health (EUA) aponta que é fundamental fazer avaliações sucessivas para
evitar riscos para mãe e bebê. O primeiro passo é passar em consulta com
o obstetra, que vai verificar a extensão do inchaço e medir a circunferência
da perna da gestante frequentemente, para comparar a simetria e a
progressão do problema. Somente o especialista é capaz de fechar um
diagnóstico exato, já que, para isso, ele analisa doenças e distúrbios que ou
são causados pela gravidez ou agravados por ela, como doenças renais,
hepáticas, diabetes, insuficiência cardíaca e pré-eclâmpsia. “Há morte
materna associada à gestante que tinha edema. Então, todos os casos
merecem atenção”, alerta a obstetra Carla Kikuchi, do Hospital e
Maternidade Santa Joana (SP).
Christiane Nascimento Ferreira Lima, 31 anos, mãe da Letícia, 7 meses,
tomou um susto na gravidez da filha. O pré-natal seguia em ordem, com a
pressão arterial sempre de normal para baixa, mas ela estava ficando cada
vez mais inchada. Em uma consulta de rotina, no fim do quinto mês de
gestação, a pressão de Christiane estava 14 por 9. Apesar de ter passado a
monitorá-la com frequência, o problema se agravou e a bebê não crescia
nem ganhava peso, o que a levou a uma internação imediata por causa da
pré-eclâmpsia. “Fiquei tão nervosa e a minha pressão descompensou tanto
que só a terceira medicação conseguiu controlar. Dei entrada [no hospital]
no dia 5 de janeiro e a Letícia nasceu no dia 21, com 43 cm e 2,1 kg. Ela não
chorou imediatamente e foi direto para a UTI, onde ficou por uma semana.
Foi desesperador.”
PREVENÇÃO
Infelizmente, não é possível evitar totalmente o inchaço, mas, sim,
administrá-lo. Especialistas explicam que algumas questões podem
favorecer o surgimento do edema, como a época do ano em que a mulher
está no fim da gravidez. O verão, por exemplo, costuma piorar bastante os
sintomas, já que a temperatura alta faz os vasos dilatarem, o que facilita o
extravasamento e acúmulo de líquido nos tecidos.
Foi o que aconteceu com a secretária Sarita Lanis Valadão, 35, mãe de Maria
Eduarda, 4 anos, e Maria Fernanda, 11 meses, que inchou nas duas
gestações. Na segunda gravidez, no entanto, foi pior, já que a bebê nasceu
no fim de janeiro. Segundo ela, os sinais começaram a surgir no início do
quinto mês e se intensificaram a ponto de ela ter de tirar a aliança do dedo
e contratar uma fisioterapeuta para fazer drenagem linfática duas vezes por
semana. Sapato nenhum mais entrava nos pés e a numeração saltou do
número 35 para o 37. “Só conseguia usar rasteirinha.”
Sarita monitorava a pressão arterial frequentemente, cortou totalmente o
sal da dieta no último mês da gravidez e usava um apoio para manter os pés
elevados no trabalho. “Sentia muito incômodo, chegava a chorar. O calor
piorou a sensação de peso nas pernas”, diz ela, que já avisou que, quando
tiver um terceiro filho, vai se programar para o bebê nascer nos meses de
inverno.
A boa notícia é que, apesar do desconforto que a retenção de líquidos traz
para as gestantes, dias após o nascimento do bebê (o que pode levar até 30
dias apenas em casos específicos), o inchaço vai embora.
ALIADOS CONTRA O INCHAÇO
Já que não é possível evitá-lo, algumas ações simples amenizam o problema
Alimentação — opte por refeições equilibradas, com verduras, legumes e
frutas. Mantenha uma dieta fracionada (a cada três horas), com ingestão
adequada de calorias e proteínas, pouco sal e livre de produtos
industrializados ricos em sódio (como salgadinhos e embutidos).
Hidratação — se você sempre se esquece dela, tenha o hábito de ter uma
garrafinha de água à mão para onde for. Incremente com sucos naturais de
frutas e esqueça os refrigerantes.
Atividades físicas — elas contribuem para o alívio do inchaço, além de
aumentar a sensação de bem-estar. Caminhada e hidroginástica são ótimas
opções.
Meias elásticas — nem sempre caem no gosto das grávidas, mas trazem
bons resultados. Opte por aquelas de baixa ou média compressão, segundo
orientação do seu médico.

Calçados — os melhores são aqueles que a grávida se sente confortável,


porém evite o salto alto. Lance mão de rasteirinhas, chinelos e sapatilhas.
Mude de posição — se você fica em pé ou sentada por muito tempo no
trabalho, faça pequenas caminhadas com frequência para melhorar a
circulação. Também é bacana ter um apoio de pés para mantê-los
levantados.
Drenagem linfática — diversos estudos já mostraram a eficácia da
massagem para reduzir o edema em grávidas. Um deles, realizado pela
Santa Casa de São Paulo, avaliou mulheres entre 23 e 38 anos que estavam
entre o quinto e o oitavo mês de gravidez e não tinham nenhum outro
problema na gestação além do inchaço. Elas recebiam uma hora de
drenagem, dia sim, dia não. O volume médio das pernas delas era medido
antes e depois do procedimento e ficou constatada uma diferença entre 40
e 80 gramas a menos, um valor considerado significativo quando
comparado com os dias sem drenagem.
Pés para o alto — ainda que a mulher não sofra com o inchaço na gestação,
ele pode surgir depois que o bebê nascer. Trata-se de uma reabsorção
natural do líquido em excesso no corpo, mesmo que tenha passado
despercebido na gravidez. Para aliviar, coloque os pés para cima sempre
que possível, faça pequenos intervalos com caminhadas para melhorar a
circulação e beba muita água. O próprio corpo se encarregará de eliminar o
excesso. Essa dica também é válida para as gestantes!
PÉS MAIORES
Você já deve ter ouvido histórias de grávidas que relataram que trocaram a
numeração do sapato. Em geral, tudo volta ao normal após o parto, mas
algumas mulheres ficam com o número a mais permanentemente. Um
estudo da Universidade de Iowa (EUA) acompanhou 49 grávidas que
tiveram os pés medidos no início da gravidez e cinco meses após o parto. A
conclusão é que, no fim do período, 70% delas tiveram alterações
permanentes na largura e no comprimento dos pés, variando de 2 mm a 10
mm, sendo que o arco do pé ficou mais plano. A hipótese dos pesquisadores
é que os mesmos hormônios que relaxam a região pélvica afrouxariam os
ligamentos dos pés. A engenheira química Fabiana Teixeira Rodrigues, 38
anos, mãe de Helena, 4, e Paula, 2 meses, reforça a estatística. Ela contou
que, na primeira gestação, os pés mudaram definitivamente de 37 para 38.
Na segunda gravidez — quando, por causa do inchaço das mãos e dos pés
teve a síndrome do túnel do carpo (doença provocada pela compressão dos
nervos das mãos) —, ela passou a calçar 39. “Se eu engravidar de novo já
pensou?”, brinca. Para reduzir o edema nas mãos provocados pela retenção
de líquidos, ela fez drenagem nos braços duas vezes por semana.

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