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É um mecanismo coordenado de assistência em que existe uma classificação de risco de forma contínua e
habitual em todas as consultas, havendo suporte psicológico
De forma ideal, o pré-natal deveria começar antes da mulher engravidar e o cuidado deve se seguir até o
pós-parto
A linha entre o que é normal e o que é patológico na gravidez é muito tênue, por isso deve-se supervisar as
gestantes e ficar em alerta para o aparecimento de sintomas inesperados
A ausência de pré-natal se associa a: parto prematuro; óbito fetal; óbito neonatal (precoce ou tardio);
o Objetivos do pré-natal
Acompanhar e orientar a evolução da gravidez
Preparar a mãe e a família para o momento do parto, tranquilizar
Identificar riscos perinatais: qualquer paciente inicialmente identificada como baixo risco pode ser classificada
como alto risco a qualquer momento
Diminuir riscos gestacionais e perinatais (ex: aconselhar parar de fumar, beber)
Rastrear afecções maternas: o pré-natal, para muitas mulheres, é um dos poucos momentos de contato com
um profissional de saúde, portanto, aproveitar para identificar fatores de risco
A gestação é um evento fisiológico. O atendimento prestado interfere na percepção da gravidez, do parto e
do puerpério
OBS: o fato dela possuir um fator de risco (ex: fator social, pode estar desempregada) não significa que ela é
uma gestante de alto risco, mas é necessário ficar atento.
OBS: esse intervalo deverá ser encurtado no caso de identificação de alguma condição que possa complicar.
*OBS: só se usa o cálculo pela DUM quando a IG dá dentro da margem de erro de acordo com os trimestres da
ultrassom, caso contrário, usar a idade da ultrassom, que mede de acordo com a biometria fetal
⮚ Cálculo: contar quantos dias se passaram desde a DUM e dividir a quantidade de dias por 7 para obter
em semanas.
Exemplo: mulher gestante, em consulta pré-natal no dia 09/03/2020, afirma que a DUM foi em 27/12/2019. A
partir disso, calcula-se: dezembro (4 dias para acabar), janeiro (31), fevereiro (29), março (9). Total de 73
dias, divide-se por 7 e obtém: IG de 10 semanas e 3 dias.
Para calcular a DPP, usar Regra de Nagele: soma-se 7 dias ao dia da DUM (do exemplo: 27 + 7 = 34, ou
seja, 31 + 3, resultando em 3 de janeiro) e depois, soma-se 9 ou subtrai-se 3 ao mês (do exemplo: 1 + 9 = 10)
No exemplo, a DPP seria 03/10/2020
O cálculo é feito pela menstruação porque é um evento palpável, ao contrário da ovulação, fertilização ou
implantação
A idade gestacional é, na realidade, a idade menstrual, mas a idade embriológica vai ser em torno de 2
semanas a menos
OBS: as semanas são completas, ou seja, o 1º trimestre vai até 13 semanas e 6 dias (6/7). A divisão por
metades é: primeira metade até 20ª semana, acima disso é segunda metade.
● Anamnese
Avaliação do risco reprodutivo: deve ser feita em todas as consultas, considerando a realidade do local,
ponderar necessidade de avaliação de especialista (não só do obstetra, mas de outras áreas, como
psicólogo)
Dados gerais
História reprodutiva: como aconteceram as gestações anteriores?
História clínica pregressa
o Queixas mais frequentes: a queixa principal nem sempre existe, muitas vezes a paciente vai para a
consulta porque faz parte do pré-natal e não porque tem alguma queixa. Por isso, é importante perguntar
os sintomas.
↳ Queixas referentes às modificações fisiológicas da gestação, a depender da IG
↳ Questionar sobre movimentos fetais*, perdas vaginais, sinais e sintomas das doenças de base
*De forma espontânea, os movimentos fetais são mais percebidos a partir de 20 semanas. Muitas vezes a paciente tem espasmo intestinal
e acha que o feto movimentou pela 13ª-14ª semana, por exemplo, dificilmente ela perceberia algum movimento porque nessa época o
miométrio é muito espesso.
▪ Náuseas e vômitos são queixas muito comuns, pois são sintomas mediados pelo HCG (na hora que ela
tem o pico de HCG, há o pico dos sintomas).
Geralmente, ocorrem no 1º trimestre, por volta das 10 semanas, mas podem se estender até 14-16 semanas.
Classicamente, são pré-prandiais. Se o sintoma é pós-prandial, investigar outra coisa.
Orientações: ter refeições secas, de pequeno volume e fracionadas durante o dia, manter decúbito elevado e
usar anti-eméticos
Talidomida: era usada para “morning sickness”, estava relacionada a malformações do sistema
musculoesquelético, ausência de membro
▪ Pirose: à medida que a gravidez avança, existem motivos diferentes para a queixa de pirose
No final da gravidez, haverá compressão uterina, fazendo com que o estômago fique mais retificado e entre
mais em contato com o diafragma;
A progesterona causa relaxamento muscular no geral, podendo causar relaxamento do esfíncter esofágico
Orientações: refeições secas, pequeno volume; decúbito elevado; uso de anti-ácidos
o Interrogatório sintomatológico
Sintomas gerais, realizar no sentido craniocaudal
Cabeça e pescoço, tórax, abdome, pelve, coluna vertebral e extremidades, sistema nervoso, sistema psíquico
e condições emocionais
Sistema respiratório, gastrointestinal, gênito-urinário
o Antecedentes pessoais
▪ Obstétricos:
Gesta: quantidade de vezes que ela ficou grávida (inclui abortamentos, ectópicas, etc), qualificar se a
gravidez foi única ou múltipla (gemelar, trigemelar)
↳ Complicação na primeira gravidez já funciona como fator de risco para se repetir nas gestações seguintes
↳ Primigesta, secundigesta, multigesta (conta as anteriores e as atuais)
↳ Nascidos vivos: peso ao nascer; existência de intercorrências neonatais
↳ Nascidos mortos: peso ao nascer; causa ou condição relacionada ao óbito
OBS: uma grávida de gêmeos só engravida uma vez dos dois, portanto G1, e no parto de gêmeos, só ocorre dilatação do colo uma vez,
portanto P1. Ex: G1P1, gestação gemelar.
Passado reprodutivo: questionar como foram as outras gestações, se houve alguma complicação/doença
↳ Síndromes hipertensivas, hemorrágicas, prematuridade, DM
↳ Os problemas que ela teve na primeira gravidez tem maior chance de acontecerem novamente nas seguintes
↳ Se foi necessário realizar algum procedimento em gestações anteriores
▪ Não-obstétricos:
Peso que ela nasceu (se ela nasceu com baixo peso, há provável influência no baixo peso do filho)
Alergias, vacinas, hemotransfusão, traumatismos
Doenças crônicas (obesidade, diabetes, hipertensão, asma)
A vacinação pode ocorrer, a princípio, em qualquer IG, mas de preferência de 20 semanas em diante
↳ Hepatite B: vacinação de forma rotineira → avaliar tendo em vista que muitas vezes é um dos poucos
momentos que a mulher procura o médico; esquema de 3 doses (0-1-6 meses); solicitar sorologia HBsAg e
Anti-HBS
↳ Influenza: gestantes são grupo de risco para complicações, aplicar nos meses de sazonalidade viral
↳ Anti-tetânica: tríplice bacteriana acelular (dTpa), que também protege contra difteria e coqueluche.
o Antecedentes familiares: HAS, DM, doenças tireoideanas, síndromes hipertensivas da gravidez e/ou
óbito fetal/neonatal em parentes de 1º grau (mãe/irmãs)
o Hábitos de vida: tabagismo, etilismo, uso de drogas lícitas (até mesmo medicamentos) ou ilícitas
A cafeína está relacionada a uma maior chance de abortamentos quando a ingestão é superior a 500 mg/dia
(5 xícaras)
É prudente que a gestante seja orientada a não tomar mais de 200 mg/dia de cafeína (aprox. 2 xícaras)
o Riscos reprodutivos:
Morte perinatal (explicada ou não)
Distúrbios do crescimento fetal (ex: restrição de crescimento ou feto grande para a IG)
Prematuridade (parto < 37 semanas)
Abortamento habitual (> 2 abortamentos, ou seja, de 3 em diante)
Intervalo interpartal menor que 2 anos ou maior que 5 anos
Esterilidade/infertilidade
● Exame físico
o Geral: estado geral, hidratação, pele e mucosas, edema, peso, altura, pressão arterial (de preferência
sentada, 5 min de repouso antes, tirar no braço direito)
O ganho de peso fisiológico depende do peso anterior dela, do IMC antes de engravidar
↳ Baixo peso: 12,5 – 18 kg;
↳ Adequado: 11,5 – 16 kg;
↳ Sobrepeso: 7 – 11,5 kg
↳ Obesidade: 7 kg
Curva de Atalah: classificação do estado nutricional na gestação
o Obstétrico: inspeção; palpação (altura de fundo uterino e estática fetal); ausculta fetal
Para medir a altura do fundo uterino, coloca-se a ponta da fita métrica na borda superior da sínfise púbica,
estende a fita até o fundo do útero
OBS: com 40 semanas, há tendência de diminuição da altura do fundo do útero, quando existe insinuação fetal (cabeça do bebê na
pelve). O esperado de altura de fundo de útero é relativo a gestações únicas, as gestações múltiplas tem seus próprios parâmetros.
▪ Regra de McDonald: calcula IG de forma grosseira, quando não se tem DUM nem nada.
↳ Idade gestacional = (altura uterina em cm x 8) / 7
▪ Acima de 28 semanas, é possível identificar qual a disposição do feto no interior da cavidade uterina:
↳ Situação; posição; apresentação; insinuação; atitude; altura da apresentação; variedade de posição
⮚ Manobra de Leopold-Zweifel: 3 primeiras manobras são feitas de frente para a mãe, a última é de
costas
1ª manobra: situação fetal – relação entre o eixo do feto e da mãe (na maioria das vezes, o maior eixo é o
longitudinal, ou seja, coincide com o maior eixo dela); delimita fundo de útero e observa polo fetal ocupado
2ª manobra: posição fetal – relação entre o dorso do feto e o dimídio materno (avalia para onde está virado o
dorso do feto, se para esquerda ou direita)
3ª manobra: apresentação fetal – avaliar qual é a parte fetal mais próxima do canal de parto (cefálica em
95-97%)
4ª manobra: insinuação fetal – de costas para a paciente, tentar mobilizar a apresentação da pelve materna.
O bebê está insinuado quando ele (na verdade, seu diâmetro biparietal) passou pelo estreito superior da
pelve, ou seja, quando não se consegue mobilizar a apresentação quando tenta-se entrar na cavidade pélvica
(“encaixado”). Se você consegue mobilizar a apresentação, o bebê não está insinuado.
OBS: o estreito superior da pelve é delimitado pela margem posterossuperior da sínfise púbica, linhas
iliopectíneas, promontório e asa do sacro.
▪ Atitude fetal: postura das partes fetais entre si, importante no trabalho de parto
Flexão da cabeça em relação ao tórax (mais comum)
Defletido (cabeça mais levantada)
▪ Ausculta fetal: é mais fácil pelo dorso do bebê, especialmente em bebê grande, > 28 semanas, fletido
Acima de 28 semanas, traçar linha imaginária da cicatriz umbilical à crista ilíaca superior do lado em que se
encontra o dorso do bebê, dividir a linha em 3 segmentos, a ausculta estará, geralmente, no encontro do 1º
com o 2º segmento
o Exames complementares
Alguns exames precisam ser feitos todas as vezes, como hemoglobina (precisa saber se ela tem anemia)
▪ Exames do 2º trimestre:
No mínimo, repetir a glicemia de jejum, mas idealmente, deveria ser feito o teste oral de tolerância à glicose
(TOTG) com 75g, a época ideal para esse exame é entre 24 e 28 semanas porque é quando existe o pico de
hormônios contra-insulínicos
Se a paciente não tem exame preventivo do colo do útero, realizar colpocitologia oncótica, recomendada no
2º trimestre por contraindicações no 1º e no 3º
Em caso de paciente Rh negativo (resultado obtido após a 1ª consulta), é necessário fazer o Teste de
Coombs indireto para avaliar possibilidade de eritroblastose fetal (repetido na 28ª, 32ª, 36ª e 40ª semana)
o Ultrassonografia: pode ser feita em qualquer momento da gravidez, mas para a datação o melhor seria
fazer no 1º trimestre
Do ponto de vista de pré-natal de risco habitual, não há evidência suficiente de que ultrassom muda
prognóstico, portanto, o Ministério da Saúde coloca que não fazer USG não diminui a qualidade do pré-natal
feito
▪ 1º trimestre:
A idade gestacional é calculada pelo comprimento cabeça-nádega
Entre 11 e 13 semanas e 6 dias, é possível calcular o grau de transluscência nucal, marcador de
cromossomopatia
Identificar número de fetos
Avaliar anatomia fetal e risco de aneuploidia
▪ 2º trimestre:
Identificação da IG pelas medidas biométricas do bebê (diâmetro biparietal, circunferências cefálica e
abdominal, comprimento do fêmur) e, com isso, consegue-se avaliar o crescimento daquela criança
Entre 18 e 24 semanas, pode-se medir o colo do útero para estratificar risco de prematuridade
Até 24 semanas, é possível fazer o “morfológico do 2º trimestre”, que permite identificar em torno de 55% das
malformações congênitas
▪ 3º trimestre:
Identificação da IG pelas medidas biométricas do bebê
Avaliação do crescimento fetal
Perfil biofísico fetal: escore de acordo com o líquido amniótico, movimentos fetais e tônus fetal para avaliar
vitalidade do bebê dentro do útero