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no século XXI

TRADUÇÃO DE MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE

e
I
(:ul'y,lflh, (, (',d,tlol\\ d S ·ull. 10' 3

TfTUL ORICINAL
Lc capital au XXI' síecle

ASSISTtNCIA À TRADUÇÃO
Renata Teodoro de Assis

PREPARAÇÃO
Clarissa Peixoto

REVISÃO
Isabela Fraga
Larissa Helena

REVISÃO TÉCNICA DE TERMINOLOGIA]URÍDICA


Regina Lyra

DIAGRAMAÇÃO DE MIOLO
Ô de casa

ADAPTAÇÃO DE CAPA
Júlio Moreira

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

P685C

Piketty, Thomas
O capital no século XXI /Thomas Piketry: tradução Monica Baumgarren
de Bolle. - I. ed. - Rio deJaneiro: Inrrínseca, 2014.

672 p.: íl., 23 cm.


Tradução de: Le capital au XXI' síêcle
Apêndice
Inclui índice
ISBN 9788580575811

I. Economia. 2. Capitalismo. 3. Renda - Distribuição. 4. Economia de


trabalho. 5. Riqueza. I. Tímlo.

14-15421 CDD: 335.4


CDU: 330.85

[20141

Todos os direitos desta edição reservados à


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Tel. /Fax: (2 I) 3206-7400
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{ UM }

Renda eprodução

, 111,\ J 6 de agosto de a polícia sul-africana interveio num conflito entre os


2.012.,

, 111,11 h. dores da mina de platina de Marikana, perto de Joanesburgo, e os responsá-

I p 'Ia exploração dos recursos, os acionistas da companhia Lonmin, cuja sede fica

I1 l.ondres. As forças policiais atiraram nos grevistas com munição de verdade; no


.I.IIIÇO, 34 mineradores mortos.' Como é muito comum nesses casos, o foco do con-

111111 .r: a questão salarial: os mineiros queriam que sua remuneração passasse de s 00

I 1,1 1.000 euros por mês. Depois dos trágicos acontecimentos, a empresa propôs, por
11111. um aumento de 75 euros mensais.'

Esse episódio recente serve para nos lembrar, se é que isso é necessário, que a ques-
I 11 da repartição da produção entre a remuneração do trabalho e a do capital sempre

1'11\ ituiu a principal dimensão do conflito distributivo, Já nas sociedades tradicio-


11 m., tensão entre proprietário e camponês, entre aquele que possuía a terra e aquele

'I"r .1 cultivava, entre aquele que recebia os lucros e aquele que os possibilitava, estava
un rcrne da desigualdade social e de todas as revoltas e rebeliões. A Revolução Indus-

111.11 parece ter exacerbado o conflito entre o capital e o trabalho, talvez por terem

111 rido formas de produção mais intensivas no uso de capital (máquinas, recursos na-

1111.ti etc.) do que no passado ou talvez, também, porque as esperanças de uma divisão
m.iis justa e de uma ordem social mais democrática foram derrubadas - revisitaremos
, . argumento mais adiante.
Em todo caso, os eventos trágicos de Marikana nos remetem, inevitavelmente, a
I voltas bem mais antigas. Na praça Haymarket, em Chicago, no dia 12 de maio de

I H 86, e depois em Fourmies, no norte da França, em 1 de maio de 189 I, as forças


2

do Estado atiraram, com intenção de matar, em grevistas que reivindicavam aumen-


III~de salário. Será que o confronto entre capital e trabalho pertence ao passado, ou

crá ele um elemento-chave do século XXI?


Nas duas partes iniciais deste livro, cobriremos a questão da divisão global da ren-
d.l nacional entre o trabalho e o capital, além de suas transformações desde o século
. 'VIII. Por ora, deixaremos de lado a questão da desigualdade dentro da renda do
I rabalho (por exemplo, entre o operário, o engenheiro e o diretor de uma fábrica) e

dentro da renda do capital (por exemplo, entre pequenos, médios e grandes acionistas
ou proprietários), que retomaremos na Terceira Parte. É evidente que cada uma dessas
RENDA E CAPITAL
RENDA E PRODUÇÃO

duas dimensões da repartição da riqueza - a que opõe os dois "fatores" de produção,


Id .rando o modo de organização econômica atual (é claro que podemos imaginar
o capital e o trabalho, considerados artificialmente como dois blocos homogêneos de
IIt1(r~s~ormas de organização econômica). Isso sem COntar que não seria justificável
fatores, e a dita "individual", aquela que concerne à desigualdade da remuneração do IIpnml~ a remuneração daqueles que escolhem poupar mais do que os outros _ su-
trabalho e do capital no nível do indivíduo - tem, na prática, um papel fundamental,
JlC)nd~,e claro, ~ue os diferentes níveis de poupança sejam razão importante para a
e por isso é impossível chegar a uma compreensão satisfatória do problema distributi-
dl\pandade de nqueza, uma questão que também examinaremos mais à frente. Tarn-
vo sem analisá-Ias em conjunto.' 11111
1 o .po?emos esquecer que parte do que se designa como "renda ou remuneração
Em agosto de 2.012.,os mineiros de Marikana não estavam em greve apenas por dll apital corresponde, com frequência, à remuneração de um esforço de empreen-
causa dos lucros considerados excessivos do grupo Lonmin, mas também em protesto dedorismo, devendo, portanto, ser tratada como a renda derivada de outros tipos de
contra a desigualdade entre os salários dos operários e dos engenheiros e a remune- II rhalho. Esse argumento também merece ser analisado com mais calma. Levando em
ração ao que tudo indica absurda do diretor da mina." No caso, se a propriedade do 1IIII\Ideração todos esses elementos, qual seria o nível "correto" para a divisão entre
capital fosse repartida de modo rigorosamente igualitário e se cada assalariado desfru- 1111,11 e trabalho? Podemos ter certeza de que o "livre" funcionamento de uma eco-
tasse de uma participação igual dos lucros como adicional, a divisão entre salários e
1llIlni,lde me~cad~, ~undamentada na propriedade privada, conduz sempre e por toda
lucros não interessaria a (quase) ninguém. Se a divisão capital-trabalho suscita tantos li III . ,I esse níve] otimo, como que por magia? Como, numa sociedade ideal se deve
conflitos, é, antes de tudo, por causa da extrema concentração da propriedade do ca- II i.uiizar a repartição entre a renda do trabalho e do capital e como se deve pensar
pital. Na verdade, em todos os países a desigualdade da riqueza - e dos ganhos de ,,111 esse problema?
capital provenientes do estoque detido - é sempre bem maior do que a desigualdade
dos salários e da remuneração do trabalho. Analisaremos esse fenômeno e suas causas
na Terceira Parte. Por ora, trataremos como dada essa desigualdade da remuneração A divisão capital-trabalho no longo prazo: não tão estável
do trabalho e do capital para que possamos nos ater à divisão global da renda nacional
entre capital e trabalho.
I I ivançar - ainda que modestamente - no curso dessa reflexão e tentar ao menos
11
~e fique claro: minha proposta aqui não é defender os trabalhadores em qual-
11111.u () termos de um debate que parece não ter fim, é útil começar pelo estabele-
quer desavença com seus patrões, mas ajudar todos a ter uma visão clara da realidade.
I1I I!lOd s fatos com o máximo possível de precisão e minúcia. O que se sabe, exa-
No plano simbólico, a desigualdade entre capital e trabalho é extremamente violenta. I 111111" sobre a evolução distributiva entre capital e trabalho desde o século XVIII?
Ela bate de frente com as concepções mais comuns do que é justo e do que não é, e,
I 111111muito tempo, a tese mais disseminada entre os economistas e repetida à exaus-
portanto, não surpreende que o assunto às vezes acabe deflagrando agressões físicas.
11111\livro acadêmicos era de que havia uma notável estabilidade na divisão da renda
Para todos aqueles que nada possuem além de sua força de trabalho e que, frequente-
"11I,tI'ntre capital e trabalho no longo prazo: em geral por volta de dois terços para
mente, vivem em condições modestas, para não dizer miseráveis, como no caso do
11"1.t1ho 'um terço para o capital." Com a ajuda da extensão das séries históricas e
camponeses do século XVIII ou dos mineiros de Marikana, é difícil aceitar que o
detentores do capital - alguns dos quais, ao menos em parte, herdam essa condição
I I ;u
vm dado de ~~e_dispo~os, mostraremos que a realidade é bem mais complexa.
I IIIll lado, a divisão capital-trabalho sofreu, ao longo do século passado, oscila-
I
- possam se apropriar de um montante significativo da riqueza produzida sem que
di 'I.ind ' amplitude, compatíveis com a turbulenta história política e econôrní-
tenham trabalhado para isso. A participação do capital pode alcançar níveis eleva-
1,1 111110 X.. ?s 1~10vimentosdo século XIX, já mencionados na Introdução (o
dos: geralmente entre um quarto e a metade de todo o valor produzido. Contudo,
I "1110 d,1parti lpaçao do capital na renda durante a primeira metade do século e a
às vezes ela chega a superar essa parcela nos setores que o utilizam de maneira mais
II dll ,10.' 'guida de e tabilização na segunda metade), parecem bastante modera-
intensiva, como a mineração. Quando há monopólios locais, a participação pode ser !,llIldo ornp: rad a que sobreveio Em suma os choques do" . . 'I
ainda maior. " primcrro secu o
I'/1 I 194 S) a 5, ~ 'r, a Primeira uerra Mundial, a revolução bolchevique de
E, ao mesmo tempo, qualquer um é apaz de entender que, e a totalidade da pro
I 111\(' I, I 29. a S .gunda 'u .rra Mundial a nova política de regulação,
dução estive e destinada a s s. I rim c nada, tr: n: ~ rm: s c em lu ro, eria muito di 1111IlIl 101l1lOI' Illblil() de apiral t)U ' rcsulrar.un dessas r .víravolras .ondu-
fi il atrair os r ursos 11•.. \<,; Iim P,II,I fin,111li.1Inovos inv stimcnros, s br rud n
11 (I, hI\WlIl.IIl'Ul(· h.li. li'> 1.11.1() (,Ipll,d PliV,H!O11m .\Ilm 11~ "'0.
RENDA E CAPITAL
RENDA E PRODUÇÃO

Mais à frente, analisaremos exemplos desses dois tipos de situação, extraídos da


história do capitalismo e do mundo atual. Devemos logo salientar que esse tipo de Renda nacional = produção interna + renda líquida recebida do exterior6

desigualdade internacional pode gerar tensões políticas bastante fortes. Não é algo
trivial que um país trabalhe para outro e que lhe remeta parte relevante de sua produ- 1l10~0 q~~bpi:r ~u~d.ia!, a rendadre~~bida ~ a remetida para o exterior se equilibram, de
, e ruçao, a ren a e Igual a produção:
ção sob a forma de dividendos e aluguéis. Para que esse sistema possa sobreviver - ao
menos até certo ponto -, quase sempre é preciso que haja uma relação de dominação
I{ .nda mundial = produção mundiaF
política, como foi o caso na época do colonialismo, quando a Europa possuía boa
parte do resro do mundo. Uma das questões centrais de nossa pesquisa é saber em que
Essa igualdade entre os fluxos anuais de rend d d - ,
medida e sob quais condições esse tipo de situação pode se repetir ao longo do século \ ontábil _ tod . I d . a e e pro uçao e um fato conceitual e
XXI, ainda que a partir de ourras configurações geográficas, como, por exemplo, com , , avia, e a tra uz uma realidade importante. Ao longo de um d d
a Europa mais no papel do "dominado" e menos no de "dominado r" (essa é uma cren- :,.1<: e PO~SIVelqu~ ~ renda exceda o montante da nova riqueza produzida : n~:~~;
ça bastante difundida no Velho Continente - talvez excessivamente, mas veremos). I" o paiS .se endivide com outro país, o que é impossível no âmbito mUn~ial)
III~ltrapartIda, toda a produção deve ser distribuída sob a forma de rend d . Em
Nesse estágio, é suficiente afirmar que a maior parte dos países, ricos ou emergen- 1II'Ira ou d .' alã . a, e uma ma-
tes, desfruta hoje de situações mais equilibradas do que às vezes se imagina. Na França e Outra. sCJacomo s anos, honorários, gratificações e assim por diante isto
I . pagamentos aos trabalhadores e a outras pessoas u
e
ib ' '
e nos Estados Unidos, na Alemanha e no Reino Unido, na China e no Brasil, no
jlllldutivo (rendas do trabalho). ou como I di q'd cdontr~ urram para o processo
Japão e na Itália, a renda nacional não é muito diferente da produção interna - 1% , ucros, IVI en os, JUros, aluguéis royalties
ou 2% de distância, apenas. Dito de outro modo, em todos esses países o fluxo que '(II , (Illledrepre~enlt)am o pagamento dos proprietários do capital usado na p'redução
1I'lIl as o caplta .
entra e sai de lucros, juros, dividendos, aluguéis etc. é mais ou menos compensado
pela entrada de receitas líquidas provenientes do exterior, ligeiramente positivas para
os países ricos. Numa primeira aproximação, os habitantes desses diferentes países
detêm, seja em imóveis ou ativos financeiros, a mesma quantidade de riqueza prove- o que é o capital?
niente do resto do mundo que o resto do mundo detém deles. Ao contrário do que
sugere um forte mito, a França não pertence aos fundos de pensão californianos ou ao 11II .Ipitulemos. Seja ao analisar as Contas de uma empresa de um paí d d
,I d - , ais ou o mun o
Banco da China, ao menos não mais que os Estados Unidos são de propriedade dos I "I 0, ,I balh uçao e a renda podem ser decompostas como a soma da renda do capital
I 11(1;1 a o:
investidores japoneses ou alemães. A crença nisso é tão grande que a fantasia muitas
vezes se sobrepõe à realidade. Hoje, a realidade é que a desigualdade do capital é mais
doméstica do que internacional: ela opõe ricos e pobres dentro de cada país muito
"d,1 naciona] = renda do capital + renda do trabalho
mais do que os países entre si. Mas nem sempre foi assim ao longo da história, e é
perfeitamente legítimo se questionar sob que condições essa situação pode evoluir I " .0 que é o capital? Quais são exatamente seus limites, suas formas e como a s
ao longo do século XXI, ainda que alguns países - o Japão, a Alemanha, os países
1"III"I\I~ao se transformou ao longo do tempo> Es I' ua
. sa pergunta, centra para a nossa
exportadores de petróleo e, em grau menor, a China - tenham acumulado, no passa- 'I '1"1\.1, ~ "I'á examinada em detalhes nos próximos capítulos. Mas, de todo modo
'"1m '~c areccr desde já alguns pontos. '
do recente, um montante considerável de créditos (menores do que durante a época
colonial, por certo) face ao resto do mundo. Veremos também que o forte aumento 111("d . tud ,ao longo de todo o livro, quando falarmos de "capir I"
I ti I . a ,sem outra
das participações cruzadas entre países (cada um é, em grande medida, propriedade '" H ,,~ao: .x urremos sempre aquilo que os economistas muitas vezes chamam
.I, IIlodo Inadequado, na minha opinião - de " . Ih " .
de todos os outros) pode, legitimamente, fazer com que eles se sintam destituídos, I 1/ caplta umano, ou seja a força
mesmo que suas posições líquidas de ativo ejam insignificantes. "',I., 10, .\S q.lIali~ a Õ' , a r; rmação, as capacidades individuais. No c~ntexto
, "11, () apiral i d 'hnid '0111 o njunto d . - h
m suma, n âmbit de cada pais, a renda na i nal pode er up 'ri r ou inferior ., ". e ativos nao umanos que podem
1 'f1"lldm. v'nd,dos ' olllPI'ados '111 algul11 111.rc dA' . I
. pm luçao inrcrna, ti 'P .n lcndo vc a r 'IHLt llu 'v '111 ti' fora positiva 1111IIl'~.lliva: ".I, ) r c • ssrrn, caprra com-
, 'I' I , .un 'II( ',() onjunto (orlll,ldo P '/0 ·apit.11 illlObi/i; rio (Imóvcts,
RENDA E CAPITAL
RENDA E PRODUÇÃO

e do governo, que, por sua vez, produzem outros bens e serviços (e precisam de
edifícios, escritórios, máquinas, equipamentos etc. para realizar essas tarefas). Mais nus d~ ~nformação e de suas formas de organização, dos investimentos rnareri .
1;"atenaIs que realizam para adquirir visibilidade e atratividade para o q d aIS e
à frente veremos que cada uma dessas duas grandes funções representa, aproxima- ( ) .ns e/ou serviços), além de depender também d ue pro uzem
damente, a metade do esroque de capital dos países desenvolvidos neste início do 111 '11(0 etc 11 d . fi , , os gastos em pesquis a e di'esenvo VI-
século XXI. I , p()rtant~, nUo~~:; ~: ;~:::an::cf;:~~s das ações e dos outros ativos das empresas,
Em suma, definiremos "riqueza nacional" ou "capital nacional" como o valor to-
Há, é claro, um lado muito arbitrário e incerto no re o
tal, a preços de mercado, de tudo que os residentes e o governo de um país possuem •• II"()Sestabele d d . P ç que os mercados finan-
num determinado momento e que possa ser comprado e vendido em algum merca- . . cem, num a o Instante, para o capital imaterial de uma em resa Isso
do." Trata-se da soma dos ativos não financeiros
merciais, outras edíficações, máquinas, equipamentos,
(habitação,
patentes
terrenos, imóveis co-
e outros ativos para
! II:::~:
I .'
;aa~o~~:~:~:t::::~e ~:setores .int~iros, c~mo atestam diversos e:sódi~S: o
00, a cnse nanceIra que se arrasta desde 2..00 -2..008
•,I modo mais amplo, a enorme volatilidade dos preços das ações É ' 7
fins de negócios, detidos diretamente) e dos ativos financeiros (contas bancárias,
fundos de poupança, títulos, ações, investimentos financeiros de todo tipo, segu-
I. 111, r~conhe~er ~esde já que se trata de uma característica comu~ a I:~~:::~e, po-
ros, fundos de pensão etc.), subtraindo-se
dívidas)." Se nos limitarmos
os passivos financeiros
aos ativos e passivos detidos
(ou seja, todas as
pelas entidades privadas,
.I. I .ipital, e nao so um atributo do capital imaterial. Se' a um im '
11111 grupo industrial

I
ou de serviços, é sempre muito d:fícil
IIllludo, veremos que o nível total da riqueza nacional ou ~e'a
ôr ::1 ou uma emp~esa,
,preço no ca~ltal.
ormas

obteremos a riqueza privada ou o capital privado. Se, por outro lado, considerarmos
111.10 o seu conjunto, e não a obtida de " y
,a riqueza do paIS em
os ativos e passivos que pertencem ao Estado ou às administrações públicas (muni- .1.. padrões e regularidades. um ou outro ativo partICular, segue determina-
cípios, agências responsáveis pela seguridade social e previdência etc.), obteremos
a riqueza pública ou o capital público. Por definição, a riqueza nacional é a soma IIIIIII)::~ ~:'e~t:rr::~da país a riqueza nacional pode ser decomposta entre o capital
desses dois termos:

Riqueza nacional = riqueza privada + riqueza pública " 11 1'1 'za nacional = capital nacional = capital interno + capital externo líquido

( ) capital intern 1
A riqueza pública hoje está muito baixa na maioria dos países desenvolvidos (às o representa o va or do estoque de capital (imob '1" ,
I 111 o crc.) instalado no território do país em questão O ca i 1 1 Iano'l~or~o-
vezes até negativa, quando a dívida pública é maior do que os ativos públicos), e ve- 1111 ativo externo lí id . P ta externo íquido
remos que a riqueza privada representa a quase totalidade da riqueza nacional em qUI o - mensura o balanço patrimonial do país em 1 -
11 II \I () do m d ia.a d .fi re açao
praticamente todos os países. No entanto, nem sempre foi assim; por isso, é preciso I' 111'1\ em ao:~es~d~:t;;J:~ apaIíSe::çqau:::~: :s ativ~s dOdspaíses ~strangeiros que
distinguir as duas noções de riqueza. , os ativos esse paIS que os Outr
I I I' possuem. As vésperas da Primeira Guerra Mundial o R' U id F os
Em suma, o conceito de capital que utilizamos exclui em definitivo o capital huma- I .lI unham id ' 1 ' erno ru o e a ran-
no (que não pode ser transacionado num mercado e, menos ainda, nas sociedades não , um consi erave volume de ativos externos líquidos espalhados pelo
1111111 Io. Vicremos que d ' .
escravocratas), mas também não se resume ao capital "físico" (terrenos, ediíicaçôes, uma as caractenstIcas da globalização finan ' d d
1111 I <)80 é " cerra es e os
- I 990 que inumeros países podem construir osi - , ..,
equipamentos e outros bens materiais). Incluímos, além disso, o capital "imaterial"
I'II./.IS muit próximas do equilíbri d ,P_ çoes patnmofilaIS 11-
como, por exemplo, as patentes e outros direitos de propriedade intelectual, trata- I I. V 111·IS I it d o, mas manten o posiçoes brutas extremamen-
, ,.. I o e Outro modo "- fi
dos como ativos não financeiros (se os indivíduos detêm diretamente as patentes) ou ib 'I' ' as partIcI paçoes nanceiras cruzadas de diferentes
I • pmSI I itararn que c d r ,

como ativos financeiros, quando as entidades privadas detêm ações de empresas que I a a um POSSUIsseparte Importante do capital dornésrí
, 11111 I OS, mas em que as po ições líquidas entre aíses seia "ICO
são proprietárias das patentes - o que, aliás, é o caso mais comum. De modo geral, til 11111', (isto \ as d d '_" P J rn, no conjunto, im-
II 1111111110 < igual' a ,z 'rma» Na
as várias formas de capital imatcrial são levadas em conta por meio da capitalizaçã c t a a po içoes liqUidas cruzadas de t d '
é .' , o os os paises
das emprcsas n m 'r ad de aço .s, J or c .mplo, valor de mcr , 10 d ' um. empre a . prc IS , portanro, dizer que no nível global todas
depenei ,muita, v '/'S, d \II,lllPIII.I\,IO l' d.1 '·PIIl.\ ao d ~lIas111.111 .1\, d·, .us sistc I" I \).". 'lluilibral11, d 'modo t]u 'a riqu .za mundial equivale ao '1'
I ./. Indo o 1'1.111 'l.1. apita mter-
RENDA E PRODUÇÃO
RENDA E CAPITAL

I o mesmo modo , uma nqueza


. .
pnvada da ordem de 8
A razão capital/renda I ou seis anos de renda nacional 'do _ .. I 0.000 euros por habitan-
me Ia, nao significa que t d h
1" de capital. Muitos têm b . o os ten am esse esto-
1 . em menos que ISSO,e outros possuem ilh - d
Agora que definimos os conceitos de renda e capital, podemos apresentar a primeira 1\ I \ • milhões de euros de . 1 P b m oes ou eze-
I caplta. ara oa parte da po 1 - .
lei elementar que os une. Comecemos pela definição da razão capital/renda.
muito pouca coisa em geral b d pu açao, a nqueza se resume
, em menos o que o e . 1
A renda é um fluxo e corresponde à quantidade de bens produzidos e distribuídos 1'11 l' ernplo alguns ilh d . qUlva ente a um ano de renda:
, m i ares e euros depositados numa bancá .
ao longo de um determinado período (geralmente se usa o ano-calendário como pe- lI.tI a algumas semanas ou di' ., conta ancana, montante
meses e sa ano. Ha pessoas •. I' .
11l1',lciva. Isso ocorre quando b que tem, mc usrve, nqueza
ríodo de referência). os ens que possuem têm 1 d
O capital é um estoque e corresponde à quantidade total de riqueza existente em I1 ulas. Em contrapartida outra diIspoem _ va or menor o que suas
, s pessoas de u .• .
um dado instante. Esse estoque resulta dos fluxos de renda apropriados ou acumula- [urvalente a dez ou vinte ano d d . m patnmonIO considerável,
s e sua ren a ou mais A 1 - . I
1.1.1 para cada país nada nos di b d '. . re açao capIta /renda, me-
dos ao longo dos anos anteriores. I , IZ so re a esigualdade que nele .
A maneira mais natural e útil de medir a importância do capital numa sociedade I I 10~ mede a importância total d . I . vigora. Contudo, a
o caplta numa sociedad
consiste em dividir o estoque de capital pelo fluxo anual de renda. Essa razão capital! uivt itui uma precondição fi d 1 e, e, portanto, sua análise
un amenta para o escud d desi ld d
III!.d da Segunda Parte é . o a eSlgua a e. O objetivo
renda será denominada ~. preCIsamente compreender
Por exemplo, se o valor total do capital de um país for o equivalente a seis anos de 11'11.d/renda varia entre os paí lui 1 por que e como a relação
I. ' ises e evo Ul ao ongo da história.
=
renda nacional, ~ 6 (ou ~ 600%). = I .u a ajudar cada um a ViSUalI'zar a forma
I. hoje, cabe destacar que o estoque d
c concreta q
. al
,
ue a nqueza assume no mundo
Hoje em dia, nos países desenvolvidos, a relação capital/renda em geral se situa en-
1111partes aproximadamente i , e .calaplt nos países desenvolvidos se divide em
tre cinco e seis e resulta quase unicamente do capital privado. Na França, assim como e IguaIS: capn relacionado à h bi - .
no Reino Unido, na Alemanha, na Itália, nos Estados Unidos e no Japão, a renda na- "lI) pelas empresas e pelo governo S' l'c d a ltaçao e capital produtivo
. unp incan o em 2.01 d h bi d
" linha, em média ce d ,o ca a a itante os países
cional representa cerca de 30.000 a 35.000 euros por habitante neste início dos ano , rca e 30.000 euros de renda anual
enquanto o total da riqueza privada (subtraindo-se as dívidas) é tipicamente 1',11 rirnônio, dos quais 9 000 t b c e em torno de 180.000 euros
2.010, 0. es avam so a rorma de im ,. h bi
da ordem de 15 . a 2.00.000 euros por habitante, isto é, entre cinco e seis anos de '11 curos sob a forma de ações tí tul fu d d oveis para a nação e outros
0 000 ,1 os, n os e poupança ,.
renda nacional. Há variações interessantes entre os países, tanto dentro quanto fora da 1I1111l.iros em ativos privados o u purbliICOS12Al gum '-' ou outros invesnmentos
Europa: a relação ~ é maior que seis no Japão e na Itália e menor que cinco nos Esta-
1.\ analisadas no próximo '1 C· d as vanaçoes interessantes entre paí-
capltu o. ontu o a prin ,. idei d
dos Unidos e na Alemanha; a riqueza pública é levemente positiva em certoS países e 011 «le em duas partes aproxim d " " ClpIO, a 1 ela e que o capital
a amente IguaIS e um ponto de referência útil.
ligeiramente negativa em outros; e assim por diante. Estudaremos essas diferenças em
detalhes nos próximos capítulos. Neste momento, é suficiente termos em mente essa
ordens de grandeza, que nos permitem fixar as ídeias." A primeira leifundamental do capitalismo: a =rx~
O fato de a renda nacional ser da ordem de 30.000 euros anuais por habitante (o
que equivale a 2..500 euros por mês) nos países ricos nos anos 2.0 I o não significa, cla- I"IIII\OS agora apresentar a primeira lei fundamental d .,
ro, que todos disponham do mesmo montante. Como acontece com todas as médias, 111 i.u o estoquede capital e fi d d o capitalismo, que permite
seu uxo e ren a A razão c . 1/ d a
essa renda média esconde enormes disparidades: na prática, muitas pessoas têm um, ti 111' ligada à participação da d d " apIta ren a t-' está direta-
ren a o capital na renda na' 1 d '
renda líquida bem inferior a 2..500 euros por mês, enquanto outras têm renda deze til I ri, por meio da seguinte equação: ciona ,que enornmare-
nas de vezes superior. A disparidade da renda resulta, em parte, da desigualdade da
renda do trabalho e, em parte, da desigualdade ainda mais forte da renda do capital.
que decorre da extrema concentração da riqueza. A renda nacional média significa
apenas que, se pudéssemos distribuir para cada indivíduo de um determinado pais I '111II ".1 t.IX,1 d ' r '1111111
'I a~,lo (ou taxa ti r .ndirnent ) média do capital.
o mesmo montante em alterar nível t tal da pr duçã e da renda nacional, e
t-'a
S.I
' .mplo, \
1'111 l I 1111' ',lia 01, 'IH,IO" r X I-' 0%.1'
ri nda seria de 2..500 ur S or m \, \I
RENDA E PRODUÇÃO
RENDA E CAPITAL

outras não recebem nada e ainda têm de pagar juros aos seus credores ou aluguéis aos
Dito de outro modo, se a riqueza representa o equivalente a seis anos de renda
I~roprietários dos imóveis que ocupam. Há ainda variações substanciais entre países.
nacional numa sociedade e se a taxa de remuneração média do capital for de 5% por
Sem contar que a mensuração da participação da renda do capital revela dificuldades
ano, a participação do capital na renda nacional é de 30%. .' . _
práticas e conceituais importantes, uma vez que existem categorias de renda - em
A equação (J. = r x ~ é puramente uma identidade contábil. E~a.e, por definição.
particular, as rendas de atividades não assalariadas ou a renda "empresarial" - que são
aplicável a todas as sociedades em todas as épocas. Embora tautológica. ~eve ser con-
muito complicadas de decompor com precisão entre o que é trabalho e o que é capital.
siderada a primeira lei fundamental do capitalismo, uma vez que permite ex,p~essar
lvso pode, às vezes, falsear as comparações e torná-Ias equivocadas. Nessas condições,
de forma simples e transparente os três conceitos mais importantes para a análise do
o método menos imperfeito de medir a participação do capital pode ser aplicar uma
sistema capitalista: a relação capital/renda, a participação do capital na renda e a taxa
i.rxa de remuneração média plausível à razão capital/renda. Revisitaremos minucio-
de remuneração do capital. . , .
.uuente essas questões delicadas e essenciais ao longo do livro. No atual estágio, as
A taxa de remuneração do capital é um conceito central em mumeras teorias eco-
nômicas sobretudo na análise marxista, com sua tese de redução progressiva da taxa
1II(Iens de grandeza mencionadas acima (~ = 600%, (J. = 30% e r = 5%) podem ser
I unsideradas pontos de referência úteis.
de lucro' _ uma previsão histórica que se revelou bastante equivocada, ainda que
Para fixar os conceitos, podemos observar que a taxa de remuneração média da
contenha uma intuição interessante. Esse conceito também desempenha papel fun-
II Ira nas sociedades rurais tradicionais era tipicamente da ordem de 4- 5 %. Nos ro-
damental em todas as outras teorias. Em todo caso, a taxa de remuneração do capital
ui.mces de Jane Austen e Balzac, o fato de a renda anual proveniente da terra (ou dos
mensura aquilo que ele rende ao longo de um ano, qualquer que seja ~ forma jurídica
111 Idos da dívida pública) se situar em torno de 5 % do valor desse capital- ou, ain-
da receita (lucros, aluguéis, dividendos, juros, royalties, ganhos de capital erc.), e se e~-
.1.1.de o valor desse capital corresponder a cerca de vinte anos de renda anual- era
pressa como uma porcentagem do capital investido. Trata-se, portanto, de uma n,?çao
11111,1
realidade tão presente para a época que os autores sequer precisavam explicitá-
mais abrangente do que o conceito de "taxa de lucro"14 e bem mais ampla do que taxa
1I .ada leitor bem sabia que era necessário um montante de capital da ordem de I
de juros"," ainda que leve ambas em conta. .' .
1111
Ih.1Ode francos para produzir uma renda anual de 50.000 francos. Para os escrito-
Evidentemente, as taxas de remuneração podem vanar muito de acordo com o tlpoO
do século XIX, assim como para seus leitores, a equivalência entre o patrimônio
de investimento que se considere. Para algumas empresas, chegam a ultrapassar Io ~ú
I I -nda anual era tão óbvia que se passava de um conceito ao outro sem que fosse
por ano, ou mais, enquanto outras geram perdas (taxas de remuneração negati~~s).
11 I iso explicar nada, como se os dois fossem sinônimos perfeitos ou dois idiomas
A taxa de retorno média das ações chega a 7-8% durante períodos longos em varies
11ilclos conhecidos por todos.
países. A dos imóveis e dos títulos, em contrapartida, raras vezes sup~ra 3 -4%, e a taxa
I 11.onrramos esse mesmo nível de remuneração - em torno de 4-5 % - para os
real de juros da dívida pública costuma ser ainda mais baixa. A equaçao (J. ~ r x ~ n~d.1
ris no começo do século XXI, e às vezes um pouco menos, sobretudo
11111 quando os
nos diz a respeito dessas sutilezas. Contudo, ela nos indica como os tres conceitos
•• m já subiram bastante sem que os aluguéis os tenham acompanhado totalmente.
dependem uns dos outros, o que já nos permite enquadrar os argumentos ..
'I I -mplo, no início dos anos 2.0I o, um apartamento grande de mais de I milhão de
Por exemplo, em 2.0I o, nos países ricos se constatou que a renda d~ capital (lucr s,
IIII pod ia ser alugado em Paris por no máximo 2..500 euros ao mês, ou 30.000 euros
juros, dividendos, aluguéis etc.) girava em torno de 30% da renda naCl~nal. ,C~m UI~.I
dllVII -I ao ano, o que correspondia a um retorno anual de 3% para o proprietário.
relação capital/renda de 600%, isso significa que a taxa de remuneraçao media do .1
111.1.1
.tssirn, isso representa uma quantia considerável para um inquilino que não dis-
pital era de cerca de 5 %. . . l
I1I 1I,Idaalém da renda de seu trabalho (podemos apenas desejar que ele receba um
Em termos práticos, a renda nacional de uns 30.000 euros por habitante em VI 01
I IhI .11to) e uma renda bem razoável para o dono do imóvel. A má notícia - ou a
nos países ricos se decompunha em aproximadamente 2. I .~o~ e~ros ~e. renda do ~rab.1

lho (7 %) e 9.000 euros de rendado capital (30%). O patnmOlllo médio por habicanu
I li, Iicndcndo do ponto de vista - é que sempre foi assim. Além disso, esse tipo de
0 111I '111Trai tende a aumentar para se aproximar de um rendimento da ordem de
era de 180.000 euros, de modo que a renda do capital de 9.000 euros por ano c fi'
I til .1110(o que rrc p nde, n exemplo e colhido, a cerca de 3.000 a 3.500 euros
pondia a um rendimento médio de 5 % a ano.
111dias: .11~\lll\asI .ssoas UIII 11I1'tll'lm .nsal, iu 40.000 .uros d . alu TlI·1anual). provável, portanto, que o alu-
Mais uma vez, e es m ntc nt ~ nt da mais s~ d qu
'1IIO'.\Cl .1110,.10 P;\SSO 'I!" 1,llIlIlqllilino;UlIl1'n 'nof"1I11l10,( , un no anual do pr pri tári pr v nienre da
s gu m obr "f um. r .nda do 'apit;11h '\H SIII -rior a c •
RENDA E CAPITAL
RENDA E PRODUÇÃO

locação do imóvel pode aumentar devido a um ganho de capital associado à elevação tanto maior quanto mais elevada for a taxa de poupança e menor for o crescimento.
do seu preço no longo prazo. Encontramos esse mesmo nível de retorno, e às vezes até Ver~mos isso nos.próximos capítulos. Por agora, a lei IX = r x ~ nos indica apenas que,
um pouco mais alto, no caso de apartamentos bem menores. Um apartamento que quaisquer que sejam as forças econômicas, sociais e políticas que influenciem a razão
vale 100.000 euros pode gerar um aluguel de 400 euros por mês, ou 5.000 euros por apítal/renda ~, a participação do capital IX e a taxa de retorno r, essas três grandezas
ano (5 % de retorno). Ser dono de tal imóvel e decidir morar nele permite, igualmente, não podem ser fixadas de modo independente umas das outras. Conceitualmente,
que se economize um aluguel equivalente a essa quantia, que poderá ser dedicada a existem dois graus de liberdade, mas não três.
outros usos, o que dá no mesmo.
No que concerne ao capital investido nas empresas - mais arriscado por nature-
za -, o rendimento médio é sempre maior. A capitalização das empresas cotadas na A contabilidade nacional: uma construção social em andamento
bolsa, em diferentes países, representa entre doze e quinze anos de benefício anual, o
que corresponde a uma taxa de retorno por ano - em geral antes do pagamento de ( .orno já foram apresentados os conceitos essenciais de produção e renda, de capital e
impostos - entre 6% e 8%. uqueza, de relação capital/renda e taxa de remuneração do capital," é chegada a hora
A equação IX = r x ~ permite analisar a importância do capital para um país, ou II . .xaminar de modo mais preciso como essas noções abstratas podem ser medidas e o
mesmo para o planeta inteiro. No entanto, ela pode também ser usada para avaliar o '11/ • 'Ias nos revelam sobre a evolução histórica da repartição da riqueza nas diferentes
balanço de uma empresa específica. Por exemplo, consideremos uma empresa que use II i ·dades. Resumiremos brevemente as principais etapas da história da contabilidade
capital (escritórios, equipamentos, máquinas) no valor de 5 milhões de euros e pro- 11." ional, depois, apresentaremos em linhas gerais a transformação da divisão global
duza o equivalente anual a I milhão de euros, divididos entre 600.000 euros de gastos .1.1 pr dução e da renda, assim como a evolução da taxa de crescimento demográfica
com a folha de pagamento e 400.000 euros de lucro." A relação capital/produto dessa c onôrnica desde o século XVIII, que terá papel essencial para o restante da análise.
firma é de ~ = 5 (seu capital equivale a cinco anos de produção), a participação do ~omo já mencionamos na Introdução, as primeiras tentativas de medir a renda
capital na sua produção é de IX = 40%, e a taxa de retorno do capital é de r = 8%. 1111 lona! e o capital nacional remontam ao fim do século XVII e ao início do século
Imaginemos outra empresa, que utilize menos capital (3 milhões de euros), mas 111. Em torno de 1700, proliferaram-se muitas estimativas isoladas, ao que parece
produza a mesma quantidade (I milhão de euros) usando mais trabalho (700.000 eu- .I, (mina independente umas das outras, tanto no Reino Unido quanto na França.
ros de salários, 300.000 de lucros). Nesse caso, a firma tem, portanto: ~ = 3, IX = 30% I1 11.\ ~ • notavelmente dos trabalhos de William Petty ( I 664) e Gregory King ( 9 )
16 6
e r = 10%. A segunda empresa é menos intensiva no uso de capital do que a primeira, 1'11.1 .1 Inglaterra e de Boisguillebert (1695) e Vauban (1707) para a França. Essas es-
mas é mais lucrativa (a taxa de retorno do capital é sensivelmente maior). 11111.11 ivas concernem tanto ao estoque de capital nacional quanto ao fluxo anual de
Em todos os países, as grandezas ~, IX e r variam bastante entre as empresas. Algun 11.1.1 nacional. Em particular, um dos primeiros objetivos desses estudos era calcular
setores são mais intensivos em uso de capital do que outros - a metalurgia e a produ- , 1111I oral da terra, de longe a mais importante fonte de riqueza nas sociedades agrá-
ção de energia são mais intensivas do que a indústria têxtil ou a alimentar, e a indústria 1 I .1.\ ~po a, todas dependentes do capital financeiro derivado da produção agrícola
é mais intensiva do que o setor de serviços. Há também variações significativas entre as .111 I 'lIdimento fundiário.
empresas de um mesmo setor, dependendo das escolhas de técnicas de produção e po- /, 1111 'r' ante notar que os autores perseguiam com frequência um objetivo polí-
sicionamento no mercado. Os níveis de~, IX e r nesse ou naquele país também depen- I t h.I\l,\l1tc preciso, em geral sob a forma de um projeto de modernização fiscal. Ao
I

dem da importância dos imóveis para habitação e dos recursos naturais disponíveis. ,I, 1/1.11 .\ r .nda e a riqueza nacionais do reino, tencionavam mostrar ao seu soberano
Convém insistir que a lei IX = r x ~ nada nos diz a respeito de como essas três gran 111
1 ,1.\ possível angariar receitas consideráveis por meio de duas taxas relativamente
dezas são determinadas, nem, em particular, sobre como se determina a razão capital! ,.,,1, ,.III.\~,d .sde que se soubesse o conjunto das propriedades e da riqueza produzi-
renda em um país, que mede a intensidade capitalista de uma sociedade. Para avançar I, '111( vc apli asse imposto a todos, sobretudo aos donos das terras, aristocratas
nessa direção, será necessário introduzir outros mecanismos e conceitos, especificr
mente a taxa de poupança, a taxa de investimento e a taxa de rcs im nto, Isso n )\
1'1 \\11 '\ "LIX.I d . r .mun 'r,l ao do apital" "taxa de rerorno de capital" e "taxa de rendimento
nduzirá s gunda lei fundam nt: I d apitr li. m , p Ia qual a .1"f..IO ~ de um p. ís 1'11 d" \.10 IOd.\\ Iluiv,II'lll '\. (N. d.1 'J'.)
RENDA E PRODUÇÃO
RENDA E CAPITAL

ou não. Esse objetivo era evidente no Projet de dirne royale (Projeto para um imposto ,Igências econômicas e estatísticas é que fizeram as vezes de pesquisadores, desbancando
real) publicado por Vauban, mas ficou ainda mais claro nos textos de Boisguillebert e I)~ economistas, e começaram a compilar e publicar séries anuais oficiais do produto inter-
no bruto e da renda nacional. Tais séries são atualizadas até os dias de hoje.
Gregory King (e não tão claro em William Petty).
Novas tentativas de mensuração desse tipo se realizaram ao fim do século XVIII, Em comparação com o período pré-Primeira Guerra Mundial, as preocupações

em particular na época da Revolução Francesa, com a publicação em 179 I das esti- mudaram por completo. A partir dos anos 1940-1950, tratava-se, especialmente, de
mativas contidas em Richesse territoriale du royaume de France (Riqueza territorial do I\ vponder ao trauma da crise dos anos 193 o, durante a qual os governos não dispunham

reino da França), por Lavoisier, que mapeou o ano de 1789. E, de fato, o sistema fiscal 11\· .stimativas anuais contiáveis do nível de produção. Era preciso, portanto, criar ferra-

instituído, baseado no fim dos privilégios da nobreza e numa taxa sobre a propriedade rnrntas estatísticas e políticas que permitissem guiar a atividade econômica e evitar que
da terra que abarcava o conjunto dessa riqueza, se inspirou muito em tais trabalhos, I I .uástrofe se reproduzisse - daí a insistência para que se elaborassem séries anuais e,

que foram amplamente utilizados para estimar as receitas dos novos impostos. 111 tis ainda, trimestrais sobre o fluxo da produção e da renda. As estimativas do estoque
Todavia, foi sobretudo no século XIX que se multiplicaram as estimativas da riqueza li, Iiqueza nacional, tão prestigiadas até 19 I 4, passaram para o segundo plano - so-
nacional. Dos anos 1870 aos 19°°, Robert Giffen atualizou regularmente os cálculos 1I1 tudo depois do caos político e econômico dos anos 1914-1945, que lhes ofuscou o
sobre o estoque de capital do Reino Unido, que ele comparou às estimativas feitas por I ruido. Em particular, os preços dos ativos imobiliários e financeiros caíram a níveis
11cmarnente baixos, a tal ponto que o capital privado parecia ter desaparecido. Nos
outros autores nos anos 1800- 18 10, em particular por Colquhoun. Giffen ficou mara-
vilhado com o nível considerável que o capital industrial britânico havia alcançado e se 1111" 195°- I 970, período da reconstrução, o que se pretendia era, acima de tudo, medir
I 11111\) idável expansão da produção dos diferentes ramos industriais.
surpreendeu com o montante de ativos externos de seu país adquiridos desde as guerras
napoleônicas, incomparavelmente mais altos do que toda a dívida pública gerada por partir dos anos 1990-2000, os balanços patrimoniais voltaram ao primeiro plano.
essas mesmas guerrasY As estimativas da "fortuna nacional" e da "fortuna privada" pu- 111111" sabem que não se pode analisar o capitalismo patrirnonial do início do século XXI
11111,I~ ferramentas dos anos 1950-1970. As agências estatísticas dos países desenvolvi-
blicadas na França na mesma época por Alfred de Foville e depois por Clément Colson
trouxeram a mesma sensação de encantamento e admiração para esses autores diante I1 " 1)1 olaboração com os bancos centrais, passaram, assim, a elaborar e publicar séries
da acumulação substancial do capital privado no século XIX. A prosperidade privada uu.u-, oerentes e sistemáticas sobre os estoques de ativos e passivos detidos por uns e
nos anos 187°- I 9 I 4 é uma evidência óbvia para todos. Para os economistas da época, 111111", • não somente as séries de fluxo de renda e de produção. Esses balanços patrirno-
tratava-se de medir a riqueza e, é claro, comparar os diferentes países (a rivalidade franco- II ti .unda são bastante imperfeitos (por exemplo, o capital natural e os danos ao meio
1111,11111 • são mal contabilizados), mas trata-se de um progresso real em relação às contas
-inglesa sempre existiu). Até a Primeira Guerra Mundial, as estimativas do estoque de
capital capturavam mais a atenção do que as referentes ao fluxo de renda e de produção, I 1111 KU 'ITa, que se preocupavam apenas em medir a produção e seu crescimento ilimi-
sendo, por isso, mais numerosas no Reino Unido e na França, assim corno na Ale~a- 111 I '1,10 cs as séries oficiais que utilizamos neste livro para analisar a riqueza média por

nha, nos Estados Unidos e em outras potências industriais. Na época, ser economlsta I It 11111' 'a relação capital/renda em vigor nos países ricos hoje.
significava, acima de tudo, ter a capacidade de mensurar o capital nacional de seu país: I li \,\ breve história da contabilidade nacional resulta urna conclusão clara. As
I1 I 11,1 .ionais são urna construção social, em estado de constante evolução, re-
tratava-se quase de um rito de iniciação.
Teríamos, porém, de esperar o período entre as duas guerras mundiais para que as con- 11I.l1! \ 'mpre a preocupação de urna época.'? As cifras publicadas não devem ser
tas nacionais fossem elaboradas e estabelecidas numa base anual. Estimativas anteriores 111111 como "fetiche". Quando se diz que a renda nacional de um país é de 31.000

eram feitas apenas para anos isolados, às vezes afastados por décadas sem qualquer infor- I I 1"11 h.ibitante, é evidente que tal cifra, corno todas as estatísticas econômicas
mação que os unisse, corno ilustram os cálculos de Giffen para o capital nacional do ~e~no I I 1\ • d 'V • ser tratada corno urna estimativa, urna construção, e não urna cerre-
Unido no século XIX. Nos anos 193°- I 940, graças às melhorias das fontes estansncas 1111111, ti .1. Trata-se apenas da melhor mensuração de que dispomos. As contas
primárias, surgiram as primeiras séries anuais de renda nacional, remontando, de form.a 111 1\ onsticu '01 a única tentativa sistemática e coerente de analisar a atividade
IlIlh I d ' um p. ís. Portanto, devem er consideradas uma ferramenta útil de in-
geral, até o início do século XX ou às últimas décadas do século XIX. Nos Estados Um-
11 111, lunit.ul a c imp rfcita, lima man ira de juntar e organizar dados muito
dos, elas foram elaboradas por Kuznet e Kendri k, no Reino Unid , por Bowl 'y e lark:
e, na França, por Dugé d fi rnonvill '. I 'pois, passada a gllnd \ ( .u '11,\ Mundial, • S "111 10 los os p.ds 'S d 'S .nvolvi los, hoj 'as ontas nacionais são elaboradas
RENDA E CAPITAL RENDA E PRODUÇÃO

100% , --,
pelas agências estatísticas e econômicas, além dos bancos centrais, a partir dos balan-
ços e das contas detalhadas de empresas financeiras e não financeiras e de diversas ')0%

outras fontes e pesquisas estatísticas. Não temos razão alguma, a priori, para pensar
que os funcionários envolvidos nesse trabalho não façam seu melhor esforço para
Ho% I Ásia I
identificar incoerências entre as diferentes fontes e chegar às melhores estimativas
possíveis. Desde que usemos os dados com cautela e espírito crítico, e desde que os
completemos quando estiverem incorretos ou forem falhos (por exemplo, os dados
relativos aos paraísos fiscais), as contas nacionais são uma ferramenta indispensável
para estimar o volume global de renda e riqueza.
Em particular, veremos na Segunda Parte que é possível obter uma análise coe-
rente da evolução histórica da relação capital/renda juntando e comparando minu-
ciosamente as estimativas de riqueza nacional compiladas por diversos autores do
século XVIII ao início do século XX e relacionando-as com os balanços patrirno-
niais oficiais do fim do século XX ao começo do século XXI. Além da ausência
de perspectiva histórica, a outra grande limitação das contas nacionais oficiais é
que elas se preocupam apenas com a construção de dados agregados e de médias, 1913 1950 1970
1990 2012
e não com o recorte da desigualdade. Outras fontes têm de ser mobilizadas para 1.ll~ FICO 1.1. A divisão da produção mundial, 1700-20 12.
dividir a renda e a riqueza a fim de se estudar a desigualdade (esse é o objeto da ( ) Jr B eu~opeu representava 47% do PIB mundial em 1913 e 2.5% em 2.012..
Terceira Parte). Dito isso, para a análise histórica da riqueza e da desigualdade, l uutcs e serres: ver www.intrinseca.com.br/ocapital.
as contas nacionais constituem um elemento essencial das investigações apresen-
tadas nesta obra.

A divisão mundial da produção

Comecemos por analisar a evolução da divisão mundial da produção, que é relati-


vamente conhecida, ao menos desde o início do século XIX. Para os períodos mai
antigos, as estimativas são aproximações, embora ainda assim permitam traçar linhas
gerais e tendências, graças ao notável trabalho histórico de Angus Maddison, e sobre-
tudo porque a evolução do conjunto é um tanto simples."
Entre 1900 e 1980, a Europa e a América foram responsáveis por algo entre 70%
80% da produção mundial de bens e de serviços, sinal de uma dominação econômica
sem equivalentes sobre o resto do mundo. Essa participação caiu sistematicamente a
partir dos anos 1970-1980. Em 2.010, chegou a 50% (cerca de um quarto para cada
continente), nível semelhante ao de 1860. O mais provável é que ela continue caindo,
19'3 '950 '970 1990
podendo retomar, ao longo do século XXI, a algo equivalente a 2.0-30%. Es e nível j; 2.012

I1I () 1.2.. A divisá da população mundial, 1700-2.012.


vigorava no início do século XIX, c cria ndizcntc m P so Ia Europ: da Am ~ '1,"1.1\.111 d,l FlIlOp.l r 'pr 'S 'm. va 2.6%da popul ã m dial
• un I el111913,contra 10%el112.012.
ri a em r 'Ia ão à popul: ao mundial (ver .r: ri ·os 1.1 '1.2.). 1/11, 'I 11 '\: v'' www.innin.·(a.·()I1l.bl/o apiral. .
RENDA E PRODUÇÃO
RENDA E CAPITAL

Além disso, cada um dos dois continentes pode ser decomposto em dois subcon-
1S0%
I : \ : IIIIHOSmuito desiguais: um centro hiperdesenvolvido e uma periferia modestamen-
12S%
--------f---------}---------+---------' ----- , I . desenvolvida. De maneira geral, é mais correto analisar a desigualdade mundial
I I : I I 1

~ 100%
________ + ~-- I ------r--------i---------r-- I m termos de blocos regionais do que por blocos continentais. Isso fica claro quando
-"3
c:
:l
,
I

________ +______
I

-1
I I

Europa-América
-,-:
: _

I onsultarnos a Tabela I. I, na qual mostramos a divisão do PIB mundial em 20 12. As


E 17S%

ee
: ' :
_________~--------T----- -b- Mundo ---+--------
, I 11 ras por si só não têm qualquer interesse especial, mas familiarizar-se com as ordens
·6
-o '"
IS0%
: I: , ' -O- Ásia-África j_ _
'~ ---- ,!to grandeza pode ser útil.
?F. 12s% --------+---------}---------T-- - i ' : A população mundial se aproximava dos sete bilhões de habitantes em 20 12, e o
$
E : : ' ' ' 111 B ficou um pouco acima dos 70 trilhões de euros, o que significa que o PIB por
... 100% I 1 : :
:::
~ -----~--------+---------~--------i---------~-------- I1 ihitanre se situava exatamente nos 10.000 euros. Se subtrairmos 10% dessa cifra a
:D 7S% --------T--
, : : : :
'"
..c: 1111110 de depreciação do capital e a dividirmos por doze, constatamos que a quantia
c;c.. so% : '
--------T---------r
~--',~--------:--
çQ
p: , :' , 1 '111 ivale a uma renda média mensal de 760 euros por habitante, o que talvez fale
2S%
________+---------~--------t---------~--------T--
I I I I
1"" vi. Ou seja, se a produção mundial e a renda fossem repartidas de forma perfei-
,
I
,
I I I
l\lll .nrc igualitária, cada habitante do planeta disporia de uma renda da ordem de
0%
1970 1990 2012-
o li ) .uros por mês.
1700 1820 1870 1913 19S . ' "

GRÁFICO1 3 A desigualdade mundial, 1700-2012: divergência seguida de convergenCla. Europa tem 740 milhões de habitantes, dos quais em torno de 540 milhões fazem
O PIB por h~birante na Ásia-África saltou de 37% da.média mundial em 1950 para 61 % em 201 2. I" 111 da União Europeia, onde o PIB por habitante ultrapassa os 27.000 euros, e os ou-
Fontes e séries: ver www.intrinseca.com.br/ocapttal. I" o milhões estão no bloco Rússia/Ucrânia, onde o PIB por habitante é de cerca de
Dito de outro modo, o avanço alcançado pela Europa e pela Amdérdicaao 10,ngo da I 1 .uros, ou por volta de 50% acima da média mundial." A própria União Europeia
. um peso e uas a tres vezes I, l ruvarnente heterogênea, uma vez que compreende, de um lado, 4 J o milhões de ha-
Revolução lndustriallhes permitiu, por muito tempo, ter d _
_ ula ão mundial, simplesmente porque a pro uçao I I IIII~',na antiga Europa Ocidental (dos quais três quartos estão nos cinco países mais
maior na produçao do que na pop ç . d 'd' lobal." Tudo leva a 1'\lImo : Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha), com um PIB médio de
or habitante era de duas a três vezes maior o que a me Ia g . .
.ur ,e, de outro, 130 milhões de habitantes do Leste Europeu, com um PIB mé-
~rer que essa fase de divergência da produção por habitante e:n ~sc~a mu~dIal tenh~
terminado e ue estejamos adentrando uma fase de convergencia- ontu o, ess~ re 1 d I ordem de 16.000 euros, não muito diferente do bloco Rússia/Ucrânia.P
- t~ lon e do fim (ver Gráfico 1.3). Seria demasiado prematuro anunClar O 11) rica é igualmente dividida em dois conjuntos bem distintos de países, ainda
cuperaçao es a g 1" l' . o dI ,iguais do que o centro e a periferia europeia: o bloco Estados Unidos/Cana-
. - bretudo porque turbu encras po mcas e ec I
término desse processo com preClsao, so d d
d - o podem ser escarra as. 11111 \ SO milhões de habitantes e 40.000 euros de PIB por habitante, e a América
nômicas na China e em outras partes d o mun o na
1111 I, e om 600 milhões de habitantes e 10.000 euros de PIB por habitante, exata-
,I 111 (dia mundial.

Dos blocos continentais aos blocos regionais /11 ,\ ubsaariana, com 900 milhões de habitantes e um PIB de apenas 1.800
1'11 til' .uros (1,8 trilhão, menor do que o PIB da França, de 2.000 bilhões ou 2

adrão descrito até aqui é bem conhecido; no entanto, merece ser refindadAoe ~p.r~ 11"" ti· .ur ), é a zona econômica mais pobre do mundo, com 2.000 euros de PIB
O P da Europa e a men ,I II dlll.lIll '. A índia e ·tá um pouco acima disso, e o Norte da África, bem acima, ao
morado em vários aspectos. Para começar, o reagrupamento _ r .

,. "bloco ocidental" tem o mérito de simplificar a apresentaçao, mas e dem,l '(111 ,I ,hin. está melhor ainda: com 8.000 euros de PIB por habitante, a China
num umco .' ogeu . 11,10' .n ntra muito di tante da média mundial. O Japão tem um PIB por
. d fi .alo Em particular, o peso econômico da Europa atingIU seu ap .
SI~ o susPde:SC;gunda Guerra Mundial (perto de 50% do PIB global da época! e nao 1111 quival n a d s p. { s eur peus mais ricos (em torno de 30.000 euros),
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parou de cair desde então, enquanto o pe o dos E ta os 111 s z a
I n u piCO no I I'Clplll.t~.l tao pou r 'pr 'S nrativ: nr A ia que ele não influencia em nada
li 1111111111 .m.il, muito I rú 1111.\ 10 PI B p r h. bitanrc hinê ,24
ano 1950-1960(cercade40%d PIBmundi.I).
RENDA E CAPITAL
RENDA E PRODUÇÃO

A desigualdade mundial: de I 5o eurospor mês


(oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ (oJ a 3·000 eurospor mês
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Para resumir, a desigualdade mundial contrasta países cuja renda média por habitante
(da ordem de 150-250 euros por mês (África Subsaariana e Índia) com países onde a
renda média por habitante alcança um patamar entre 2.500-3.000 euros por mês (Eu-
lopa Ocidental, América do Norte, Japão) - ou seja, onde as pessoas ganham vinte
v .zes mais. A média global, que corresponde aproximadamente ao nível da China,
--;:;- "lua-se em torno de 600-800 euros mensais.
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Essas ordens de grandeza são significativas e merecem ser guardadas na memória. É
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O muito mais difícil medir a desigualdade entre nações (ou entre épocas diferentes) do
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~ Por exemplo: a desigualdade global seria notavelmente mais marcada se utilizássemos
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euro valia, em média, 1,3 dólar nos mercados de câmbio globais. Um
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de acordo com as pesquisas oficiais, chamadas de "lCP'; os
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-iro na Europa, seria mais próximo de uma renda americana de 1.200 dólares. Diz-se,
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1'11utilizamos para converter o PIB americano em euros na Tabela LI. Procedemos da
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1111111,\fc rma para os outros países. Dessa maneira, é possível comparar os diferentes PlB
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outra vantagem de usar as paridades do poder de compra é que elas são mais es-
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~ do que as taxas de câmbio nominais (ou taxas de câmbio correntes). Na verdade,
I I .1\ d âmbio nominais refletem não só o estado da oferta e da demanda pelos
11 , .rviços que os diferentes países transacionam como também as estratégias de
,I " I ,10 ti recur os dos investidores internacionais, as expectativas rnurantes sobre
I "li/ido de política e financeira desse ou daquele país, sem falar das oscilações por
, 1.1ui o da política monetária em diferentes lugares. As taxas de câmbio nomi-
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I'lIdrm, p rtant , er extremamente voláteis, como ilustram as fortes flutuações

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das úlrirn; s d '. d. :, to d âmbio foi de mais de 1,30 dólar por
90 para m '11m dr " /61.\r·/11 2.00 I, • I1t S d di parar para er a de
RENDA E PRODUÇÃO
RENDA E CAPITAL

,1 Europa), e o da saúde mede o poder de compra em unidades de saúde (maior na Europa).


caindo para 1 3 o em 2012. Durante esse tempo, a paridade do poder de
1 Soem2,' 008 . ,. d s 1990 A realidade da desigualdade entre países é multidimensional, e seria uma ilusão tentar re-
, d ca de 1 dólar por euro no inicio os ano
com ra aumentou suavemente, e cer 26 t ) sumir tudo usando um único indicador monetário que permitisse obter uma classificação
P de I 2.0 dólar por euro no início de 2.01o (ver o Grafico 1.4 .
para em torno , única, sobretudo entre países que possuem rendas médias mais ou menos semelhantes.
Nos países mais pobres, as correções introduzidas pelo uso das paridades do poder de com-
pra são bem substanciais: tanto na África como na Ásia, os preços são cerca de duas vezes mais
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I aixos do que nos países ricos, de modo que o PlB quase dobra de tamanho quando se passa
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--~--t--~--+--{--i- -b- .......- Taxa de câmbio euro/dólar \ I.t taxa de câmbio nominal para a paridade do poder de compra. Isso resulta, essencialmente,
I I I I 1 I Paridade do poder de compra euro/dólar
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d . preços mais baixos dos serviços e bens não transacionados nos mercados internacionais,
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mais fáceis de produzir nos países pobres, uma vez que são mais intensivos no uso da mão de
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: : : : : : : I1I Ira pouco qualificada (fator de produção relativamente abundante nos países menos desen-
+-+-+-+-+--t---t- volvidos) e menos dependentes do trabalho qualificado e do capital (relativamente menos
$ 1,20
: : : : : : : Ibllndantes).28 Em geral, a correção é maior quanto mais pobre for o país: em 2.012, o fator de
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IllI rcção era de 1,6 para a China e de 2,Spara a Índia.29 Hoje o euro vale 8 iuanes chineses pela
I I .\ de câmbio nominal e S iuanes pela paridade do poder de compra. Essa diferença tende a
$ 1,00 ,11111 inuir à medida que o desenvolvimento da China avança e o iuane se valoriza (ver Gráfico
, ). No entanto, alguns autores, como Maddison, consideram que a diferença não é tão pe-
I1II'11.1 quanto parece e que as estatísticas oficiais subestimam o PlB chinês."

$ 0,80LJ-1Jf--l-L-l-l--+-+--+-+---1r--+--'-0i-0-4-+-2.-0+0-6~-2.0~0~8~~2.~0~1O~~2.:012.
6 8 2000 2002. I-

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, a de câmbio e paridade do poder de compra: euro/dólar
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Em 2012,oeurov al Ia 1,30
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paridade do poder de compra. . I
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Contudo, a despeito dos melhores esforços das organizações .internacionais r~~ I I
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onsáveis pelas pesquisas lCP, é preciso reconhecer que essas pandades do ~o~er _ ~--~~--~~--~--~~--~-HI ~__~--~--~--~--~--~--~--
--- Taxa de câmbio euro/iuane : l : 1 : : : : :
p rn ra ermanecem imprecisas, com uma margem de erro da ordem de 1~ Yo'. as ve ~ Paridade do poder de compra euro/iuane: : : : : I I I
co p p " . de desenvolvimento comparavels. Por I I I I I
zes até mais, mesmo entre palses com ruveis _ . _ "~~'~~-~-rr--~--~--~--~--
mplo na última pesquisa disponível, constata-se que certos preços sao efe)tlva:en J.-~.---c;.--I.>----A---t."r-~--,C>-~'--; :::::
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exe altos na Europa (como energia, alojamento, hotéis e restaurantes , em ora I I I I I I I I I I I I I I I I I I
mais -- --t---t--t--+--+--+--1--1--1--1--1---~--~--~--~--~--t--t--t--
te , d ão) 27 I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I
outrOS sejam mais baixos (como saude e e ucaçao . - d I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

J. ,. as estimativas oficiais ponderam os vários preços em funçao do peso e


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diversos bens e serviços no orçamento me 10 e ca a p ,. d alid d 11)1)1 2.000 2002 2010
11')1)
'994 2004 2006 2008 2012
es cálculos não podem ser perfeitamente precisos, até porque as difere~~as e qu I a b-
entre os servi os restados são muito difíceis de medir. Em todo caso, e Lmp~rtante s~ - I I lI! o 1.5. Taxa de • rnbio e paridade do poder de compra: euro/iuane
einhn Çd P desses índices de preço mede diferentes aspectos da realidade SOCial. I 111 01 ,I curo equivalia a ccr a de 8 iuanes de acordo com a taxa de câmbio nominal, mas a
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RENDA E CAPITAL RENDA E PRODUÇÃO

Essas incertezas em relação às taxas de câmbio e às paridades do poder de compra nihcativo, sobretudo para esses dois últimos países, que, graças aos seus excedentes
exigem que as rendas médias mencionadas antes (I 50-2..50 e~r~s por mês nos países comerciais (sua posição superavitária no balanço de pagamentos), acumularam re-
mais pobres, 600-800 euros por mês nos países de renda média, 2...500-3.~00 ~uros servas importantes em relação ao resto do mundo nas últimas décadas, o que lhes
por mês nos países ricos) sejam tratadas como orden~ ~e m~gnitude" apr~xlmaçoe~~ e garante, hoje, um rendimento considerável.
não como certezas matemáticas. Por exemplo, a partlClpaçaO dos palses ncos (Umao Deixando de lado os países mais ricos para examinar os blocos continentais, consi-
Europeia, Estados Unidos /Canadá, Japão) na renda global alcança 46% em 2..01~ se derados em conjunto, é possível observar situações bem próximas do equilíbrio. Tanto
usarmos a paridade do poder de compra, contra 57% se utilizarmos as taxas de, c~m- na Europa como na América e na Ásia, os países mais ricos (em geral, situados no
bio nominais." A "verdade" provavelmente está entre as duas cifras e, sem dúvida, norte do continente) recebem um fluxo positivo de renda do capital, em parte com-
mais perto da primeira. Contudo, em todo caso, isso em nada afeta as ordens de pensado pelo fluxo que enviam para outros países (em geral, mais ao sul ou ao leste),
grandeza, tampouco influencia o fato de que a participação dos países ricos na renda le modo que, no âmbito continental, a renda nacional e a produção interna são quase
global tem diminuído de forma sistemática desde os anos 1970- 1980. Qualquer que iguais, com uma diferença de menos de 0,5%.32
seja a medida utilizada, o mundo parece ter entrado numa fase de convergência entre A única situação de desequilíbrio continental é a África, que pertence, estruturalmen-
países ricos e pobres. I ,a outros continentes. Em termos práticos, de acordo com os balanços de pagamentos
no nível mundial elaborados todos os anos desde 1970 pelas Nações Unidas e por outras
'11 ganizações internacionais (Banco Mundial, FMI), a renda nacional de que dispõem os
A divisão mundial da renda: lubitantes do continente africano é sistematicamente inferior a 5% da sua produção inter-
mais desigual que a produção 11.1 (a diferença excede 10% para certos países ).33Com uma participação do capital de 30%
11.1 produção, isso significa que quase 2..0%do capital africano está nas mãos de proprie-
Para simplificar, supusemos até aqui que a renda nacional e a produção int~rna coinci- 1 IIIOS estrangeiros, como os acionistas londrinos das minas de platina de Marikana, que
diam para cada bloco continental ou regional analisado: as rendas mensais que cons- 11111\ ionamos no início do capítulo.
tam da Tabela 1.1 foram obtidas diminuindo os PIB em 10% - para levar em conta a I, importante ter em mente o que uma cifra como essa significa na prática. Le-
depreciação do capital- e dividindo-os por doze. _ " ,. •. uulo em conta que certos componentes da riqueza (por exemplo, os imóveis para
Na realidade, essa igualdade entre renda e produçao so e válida no âmbito mu~- 1,11111.1 âo ou o capital agrícola) dificilmente são de propriedade de estrangeiros, parte
dial e não no nacional ou continental. A divisão mundial da renda costuma ser mal I I. v.mte do capital doméstico é detida pelo resto do mundo, podendo ultrapassar
desigual do que a da produção, uma vez que os países com a produção por habitam • « I> na indústria manufatureira e mais ainda em outros setores. Mesmo que os
mais alta também tendem a deter uma parte do capital de outros países e, portanto, ti "'\OS de pagamentos oficiais tenham inúmeras imperfeições - voltaremos a esse
a receber um fluxo positivo de renda do capital proveniente dos países para os ~uais 111 I , não há dúvida alguma de que se trata de um tema importante na África atual.
a produção por habitante é mais baixa. Ou seja, os países ricos são dupl~mente ricos: t voltarmos no tempo, constataremos desequilíbrios internacionais ainda mais
têm uma produção interna mais elevada e têm capital investido no_extenor, o que ~e~ •• I. IIH is. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, a renda nacional do Reino Uni-
permite dispor de uma renda nacional maior do que a sua produção - para os pal es I. 1"111 ipal investidor global, era 10% mais alta do que sua produção interna. A
pobres, vale o contrário. . _ lI. I. "\.1 superava os 5 % na França, a segunda potência colonial e segundo investidor
Por exemplo, todos os principais países desenvolvidos (Estados Unidos, Japa , 1.1, ti, ,'apr ximava disso na Alemanha, cujo império colonial era insignificante,
Alemanha, França e Reino Unido) têm hoje uma renda nacional um pouco supc IIl1d· ) de envolvimento industrial permitia uma forte acumulação de créditos
rior à sua produção interna. Como já salientamos, a renda líquid~ p~ovenie~te do 11 I I1 ,111 .\0 rest d mundo. Uma parte desses investimentos britânicos, franceses e
exterior é ligeiramente positiva e não provoca modificações radicais no nível de "111 (1.\ r .alizr da em Outros paíse europeus ou na América, e outra parte na Ásia
vida desses países: ela representa um montante de 1 % a 2.. % da produção i~te~na d ), 1111 ,I. No l r I, p ív 1 e timar que as potências europeias detivessem, em
Estados Unidos, da França e do Reino Unido e de 2..%a 3% d pr du a interna I 1111 111\\ l '1"0 ',I rn ' adc I .pito 1d m ti a iático e africano, e mais de três
do Japão e da Alemanha. Trata-s , ' indr • ssim, d um mplcm 'lHO d;1 r md si, 111 .Itll,'1 il,ll il 11I\l1i,\I."
RENDA E CAPITAL RENDA E PRODUÇÃO

Quais forças fovorecem a convergência entre países? ianciais. Basicamente, todos esses países financiaram os próprios investimentos em
t apital físico de que necessitavam e, sobretudo, os investimentos em capital humano
Em princípio, o mecanismo por meio do qual os países ricos possuem uma parte dos ~ o aumento ,do ,nível geral de educação e formação -, cuja importância para o cres-
países pobres pode ter repercussões eficazes para a convergência. Se os países ricos I rrnento econorruco de longo prazo foi respaldada por todas as pesquisas contempo-
estiverem tão cheios de poupança e de capital que estes já não servem para nada além I. nea~.35Em cor:tr~partida, os países que são propriedade de outros, como na época
de construir mais imóveis ou instalar mais uma máquina na fábrica (diz-se, nesse caso, I olon.lal.ou na Afnca atual, não foram tão bem-sucedidos, muitas vezes porque se
que a "produtividade marginal" do capital, ou seja, a produção suplementar possi- I vpccializaram em setores produtivos de pouco futuro ou devido a uma instabilidade
bilitada por uma unidade adicional de capital, é muito baixa), pode ser mais eficaz política crônica,
que invistam uma parte desses recursos nos países pobres. Dessa maneira, as nações ,Não é de todo errado pensar que essa instabilidade se explica, em parte, pelo se-
ricas - ou ao menos os habitantes que detenham capital excedente - obterão uma '1III1te:quando um país é, em larga medida, posse de estrangeiros, a demanda social
taxa de retorno melhor, e os países pobres poderão reduzir o atraso na produtividade. p 1.1expropriação é recorrente e quase irreprimível. Outros atores do quadro político
Esse mecanismo, baseado na livre circulação dos fluxos de capitais e na equalização 1Ixpondem que som~nte a proteção incondicional dos direitos de propriedade origi-
da produtividade marginal do capital no âmbito mundial, é, de acordo com a teoria 11.11\garante um ambiente adequado para o investimento e o desenvolvimento. O país
econômica clássica, o fundamento do processo de convergência entre países e da re- I 1'11·~ntra, ~esse modo, preso numa interminável alternância entre governos revolu-
dução progressiva da desigualdade ao longo da história, graças às forças do mercado e I 1I1l,\1'I0S(cuJo,sU,cessona promoção de melhorias na qualidade de vida de seu pOVOé,
da concorrência. IIIIIII,ISvezes, limitado) e governos que protegem os interesses dos proprietários exis-
Essa teoria otimista tem, entretanto, dois grandes defeitos. Em primeiro lugar, do I 1I1'~enquanto preparam a próxima revolução ou golpe de Estado. A desigualdade da
ponto de vista estritamente lógico, esse mecanismo não garante de modo algum a con- 1'111Pli.dade do capital já é algo muito difícil de aceitar e organizar de modo suave no
vergência da renda por habitante no âmbito mundial. Na melhor das hipóteses, pode '"11 -xto da c~mun~dade nacional. No âmbito internacional, isso é quase impossível (a

levar à convergência do produto por habitante - desde que haja a livre mobilidade 11111 , 'r que se Imag1l1euma relação de dominação política do tipo colonial).
de capital e, sobretudo, uma equalização completa dos níveis de qualificação da mão hidente~le.nte, ~ inserção internacional na economia global não é negativa em
de obra e do capital humano entre países, o que não é pouca coisa. Em todo caso, essa I I ,llItarqllla jamais foi uma fonte de prosperidade. Os países asiáticos sem dúvida
convergência da produção não implica de modo algum que o mesmo ocorra com a I 111111 beneficiados pela abertura internacional para reduzir seu atraso. Mas eles se
renda. Uma vez que os investimentos tenham sido realizados, é sempre possível que '1"11.lI.Im,sobretudo, na abertura dos mercados de bens e serviços e numa excepcio-
os países ricos continuem a possuir os países pobres de forma permanente, chegando I1ti ll'l'I' âo no comércio internacional, não tanto na livre circulação dos fluxos de
a alcançar proporções massivas, de tal modo que a renda nacional dos países ricos seja '1'" d, ~ hina, por exemplo, pratica até hoje o controle de capitais: não se pode
eternamente superior à dos pobres - que continuariam, para todo o sempre, a enviar " , I11livremente no país, mas isso não impede a acumulação de capital, uma vez que
uma parte do que produzem aos seus proprietários (como acontece com a África há 1'"I1P,IIIÇ,interna é suficiente. O Japão, assim como a Coreia e Taiwan, financiou
muitas décadas). Para determinar em que amplitude esse tipo de situação pode se pro- 111"I imcnto usando os recursos de sua própria poupança. Os estudos disponíveis
duzir, veremos que é preciso comparar as taxas de retorno do capital que os países po I I 11,1111, também, que a maior parte dos ganhos provenientes da abertura do co-
bres devem desembolsar para os ricos com as taxas de crescimento de uns e de outros. I, !tI inr .rnacional advém da difusão do conhecimento e do aumento dinâmico da
Para avançar por essa via, teremos de compreender primeiro a dinâmica da relação «Íuuvidadc que resultam da abertura, e não dos ganhos estáticos relacionados à
capital/renda no âmbito de um país específico. I ,j,t1I1,Hj,IO, Es .es parecem ser relativamente modestos."
Em segundo lugar, do ponto de vista histórico, o mecanismo da mobilidade de I 111'"111.\"a experiência histórica sugere que o principal mecanismo que permite
capital não parece ter sido o fator que permitiu a convergência entre os países, ou, ao 11'I '111'Ia .ntrc paí e é a difusão do conhecimento, tanto no âmbito interna-
menos, não o fator principal. Nenhuma das naçõe asiáticas que reduziram o atraso "" 'I11.\lHOno d irnésri , li seja, a economias mais pobres diminuem o atraso
em relação aos paíse mais de envolvid s, qll 'r S ' trace d Japã ,da .or 'ia' de Tai I II~,\()" mais ri', s na m ·di Ia '111~1I' ons guem alcançar o mesmo nível de

w. n n passado ou da hin.1 hoje, se b 'Ildi'iol! de inv .stirn 'I)lm ,,11,1111'


-iros subs ItI", IIIH'IHOI' 'lIol( gi '0, d· q\l,tlilil.l~.lO d.II11:10ti' ol ra, de .du a ;0, 'não ao se
RENDA E CAPITAL

tornarem propriedade dos mais ricos. Esse processo de difusão do conhecimento não
cai do céu: muitas vezes ele é acelerado pela abertura internacional e comercial (a au-
tarquia não facilita a transferência tecnológica) e, sobretudo, depende da capacidade
desses países de mobilizar os financiamentos e as instituições que permitam investir
vastos montantes na formação de seu povo, tudo isso sob as garantias de um contexto
jurídico para os diferentes atores. Ele está, portanto, intimamente relacionado ao pro-
cesso de construção de uma potência pública (um governo) legítima e eficaz. Essas são
as principais lições, brevemente resumidas, que podem ser extraídas da.investigação
histórica da evolução do crescimento mundial e da desigualdade entre países.

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