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Kio ae.

Janeiro
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R. OciticiS^ixi J.Í*, ba “ v.* una..
)r. ALGjsü AMOKO.0O JjíMA

“ A Razão** Ltda.
Oaixa do C orreio: 3.000
Endereço telegrap hico: “ R A Z A O ”

Tristão de A T H A Y D E
, (E s p e c ia l p a ra a A. R A ZA O }

O espiritism o é o m aterialism o do consequenciaXda insurreição religio­ zida no questionário da anamnesf


espirito. A onda de espiritism o que sa lutherana, çomo o espiritismo de que ali se fa z quotidianam ente, dos
neste m om ento avassala, em geral hoje é outra manifestação — pseu enferm os entrados: “ Qual o Centro
ds paizes do occidente é indice de do-cultural ou supersticiosa— desse E spirita que «freqü en ta?” Em cerca
um duplo mal, que não é, sem du­ individualismo oii sentimentalismo de 90 por cento dos casos a resposta
vida, a prim eira .vez que apparece religioso. é a ffirm a tiv a ” . (S ic ) Cp. 193)!
xia historia: o racionalism o dom i­ O espiritismo, a theosophia, o oc- Durante 12 annos, na sua clinica
nante e a indisciplina religiosa. cultismo, o catholicismo liberal, o do H ospital de Psychopathas, levan ­
P.óde parecer estranho que um pe modernismo protestante em sua m ul­ tou o sr. X a v ie r de O liveira a esta-
riodo historico, em que o ra cion a is - tiplicação indefinida de seitas, tudo tistica dos casos de espiritism o fra n ­
*n« predom ine, ve ja tam bem a exa­ são m anifestações pathologicas do co levando francam ente á loucura.
cerbação dessas fórm as de supersti­ ecclectismo que domina as epocas de E tirou o seguinte quadro que me
ção ou de preoccupação para-psychi- anarchia e de decadencia. parece necessário tran screver:
ca. E ntretanto é o que vemos hoje M ovim ento semelhante se deu no Insanos Espirito-
«m dia, na sociedade contemporânea, fim do im pério romano, especial­ Annos entrados patlias
como já vimois' nitidam ente em ou­ m ente nas cidades hellejaisticas on­ 1917- ^ 1.144 16
tro periodo historico nitidhamente'"ra- de as duas decadexicias — a grega e 1918 * 1.381 23
cionalista — o seculo X V l I I . Um dos a latina — como que se sommavam 1919 1.063 '""'Í56
trabalhos de pesquiza histórica mais para m arcar o fim das duas mais 1920 1.317 93
©riginaes, e revolucionadores de con­ gloriosas civilisações da antiguidade. 1921 1.416 135
ceitos consagrados, que têm ultim a­ Eis como a elle se refere um historia­ 1922 1.635 191
m ente vindo a lume, fo i sem duvida dor m oderno das religiões: 1923 1.505 217
ti obra considerável que um escriptor — “ Como sempré se dá nas eras 1924 1.432 175
suisso-francez de nossos dias, Augus- de transição, succedia agora Cno fim 1929 1.603 203
te V iatte, escreveu sobre “ As origens do mundo antigo) que numerosos 1926 1.680 187
occúltas do rom antism o ” . P reten den­ circulos da população recahiam em 1927 2.051 234
do estudar as raizes do m ovim ento fórm as inferiores de religião, que 1928 2.054 183
lite rá rio rom ântico, fo i Auguste V ia t­ eram procuradas em religiões prim i­
te levado, pelo proprio desenvolvi tivas e degeneradas. . . N ão houve T o ta l: 18.281 1.723
m ento que tom aram as suas obser­ superstição tão insana, tão vulgar, Esse quadro poderia ser com pleta­
vações em varios archivos da Euro­ que não encontrasse nas grandes ca- do por outro que m ostraria, propor­
pa, a pçsquizar todo o sub solo do pitaes hellenisticas os seus adeptos... cionalm ente ao numero de insanos '
seculo X V I I I . E revelou-nos, — em O seculo do “ Prom etheu desenca­ o augm ento considerável do numero
umá obra que é um m odelo com ple­ d eado” perdeu cada vez mais a con­ de “ espiritopathas” , de anno para
to de erudição de que, entre nós, in ­ fiança na razão (sic), via-se cercado airno, com uma tendencia recente
felizm en te ainda não podemos fa ze f de forças Incalculaveis e desesperou a decrescer possivelm ente devida á,
bem idéa, pois V iatte trabalhava com totalm ente de dom inar os impetos repressão ultim am ente em prehendi-
todo um grupo de auxiliares pesqui­ da alm a pela reflexão serena e pela da contra o baixo espiritism o:
sando em varios paizes e dispunha fé simples. Era em vão que Plctino, 1917 1,3%
"* d,e unia disciplina critica que ainda os estoicos e os epicureos levanta- 1918 1,6 %
xião conhecemos em regra geral — vam, sem cessar, a sua voz, contra 1919 5,.2 %
revelou-nos um seculo X V I I I in tei­ a febre que saccudia a hum anidade; 1G20 ’ 7,3%
ram ente inédito. Em baixo do sólo succedia, porem, que os proprios phi- 1921 9,5%
raclonallsta * um sub-sólo occultista í losophos se viam penetrados pelo de­ 1922 . . ................................ 11,6%
A o passo que os encyclopedistas fa sengano da epoca e pelas tendencias 1923 .. .. .. .. .. . . .. 14,4%
ziam da razão humana o centro de supersticiosas. U m senso irreprim ível 1924 .. .-. .. .. .. . . .. 12,2%
todo o universo, insurgindo-se con­ do maravilhoso penetrava as cam a­ 1925 . . . . . . . / .. .. ., 12,9 %
tra a tradição social, philosophica e das altas e baixas da população” . 1926 . ....................... ... . ., 11,1%
religiosa, em todos os sentidos, (An ton Anwander iMe Religionen 1927 ..... .. 11,4%
pululava na sombra a mais estranha der Menschheit. Hevder ed. 1927. p. 1928 . . ................... ... . .. 8 ,8 %
Hora de paixões theosophicas que a 430|431).
pesquiza do m ysterio occulto das coi­ N ão parece estarmos lendo, com Emquanto o numero de insanos, em
sas podia provocar. Era o signa! pa­ pequenas variantes, a própria des- sua clinica, de 1917 a 1927, subia de
ten te de um erro philosophico e so­ cripção de nossos dias? A supersti­ 44,2%, relativam ente á c ifra maxima,
c ia l profundo, de uma dissociação de­ ção espalhada, o gosto do m ara vi­ o numero de victim as do espiritismo
sastrosa entre o dom inio das coisas lhoso, a anarchia religiosa, o scepti- subia na de 93%! Nesse periodo, ao
positivas e o das coisas mysteriosas, cismo generalisado, a credulidade passo que os insanos n ã o chegam a.
<*ue levava á ruina toda uma civili- succedendo á fé, a perda de con fian ­ duplicar, as victim as do espiritismo
saçáo. O iUumimsmo está na base de ça na razão, e a voz isolada e inutil são quasi quinze vezes mais nume­
todp o ràcionaMsmo do seculo X V I I I . dos philosophos, já penetrados no rosas! : í% , j
tocânte ” , escreve _ Viatte, “ o intim o por todos os males dos tem ­ Bastam essas cifras, creio eu, de
•Interesse que os espiritos niais graves, pos, clamando em vão contra o deli- uma observação : rigorosam ente posi­
«diplomatas ou magistrados, tomam lirio da indistincção am bientei tiva, para que se demonstre que a ãl-
por eissas preoccupações. T a l popula­ O que se deu no sec. I I I , voltou a legada m^rp&a do espiritismo á lou­
ridade m arca bem o fim de uma épo- dar-se nç^sec. X V I I I , como volta a cura è um fcacto. ^vfoaètava issottfa*# -
Ca.vy Em todos os dominios, essa ci- succeder agora mesmo, um poüco tornar o trabalho do sr. X a v ie r de
vilteação, rácionalisada démais, pro­ por toda a parte. E a aura de esjíiri- O liveira uma obra scientifica, digna
cura n o vid a d es... Em logar de obe­ tismo que percorre certas camadas de todos os encomios. Seu livro, po­
decer ao real, e por fechar-se em da população brasileira, e começa a rém, merece leitura por outras p agi­
«juadros muito estreitos, o homem do attingir os grandes centros cultos, nas do mais alto interesse sobre o
seculo X V I I I agonisante vai evadir- é a m anifestação moderna do m or- problema, e pelas conclusões sociaes
positivas e o das coisas mysteriosas, cismo generalisado, a credulidade passo que os insanos não chegam a
que levava á ruina toda uma civili­ succedendo á fé, a perda de con fian ­ duplicar, as victim as do espiritismo
zação. O illum inismo está na base de ça na razão, e a voz isolada e inútil são quasi quinze vezes mais nume­
dos philosophoá, já penetrados no rosas! : . - ...... •; r. V;v v: ‘
todp o racionalísm o do seculo X V I I I . Bastam essas cifras, creio eu, de
^35* to ca n te ” , escreve Viatte, ‘ ‘ o intim o por todos os males dos tem ­
-interesse que os espiritos mais graves, pos, clamando em vão contra o deli- uma observação ; rigorosamente posi­
lirio da indistincção ambiente I tiva, para que se demO.nstre que ã ál-
«5(iplqma.tas ou magistrados» tomam
p or essas preoccupações. T a l popula­ Q que se deu no seç. I I I , voltou a legada m^rpl^a çlo espiritismo á lou­
ridade m arca bem o fim de uma épo- ■.dar-se •no^-sec. XVSII,; comp ' volta a 1 cura -é- itm facto. ••$Hàãsitava ■isso:^$$p*;
3Em todos os dominios, essa ci­ succeder agora mesmo, um poúco tornar o trabalho do sr; X a v ie r - de
vilisação, rácionalisada demais, p ro­ por toda a parte. E a aura de espiri­ O liveira uma obra scientifica, digna
cura n o vid a d es... Em logar de obe- tismo que percorre certas camadas de todos os encomios. Seu livro, po­
«iecer ao real, e por fechar-se em da população brasileira, e começa a rém, m erece leitura por outras p agi­
quadros m uito estreitos, o homem do attingir os grandes centros cultos, nas do mais alto interesse sobre o
seculo X V I I I agonisante vai evadir- é a manifestação m oderna do m or- problema, e pelas conclusões sociaés
»e para o m eio dos faptasm as (sic),.. bo pseudo-religioso das civilisações a que chega, e que devom ser m edi­
E* tòda uma civilisação que desmo­ decadentes. - tadas maduramente por todos os que
rona. .. O sobrenatural se torna f a ­ Um estudo muito interessante a desejam ver estabelecida a distincção
m ilia r <sic).-.. O illuminismo o ffe - esse respeito, com relação ao Brasil nitida entre duas coisas que se ex­
receu, successiva ou simultaneamente, e especialmente ao R io de Janeiro, cluem: a Fé e a credulidade. Tudo o
a seducção do m ysterio, a de uma acaba de ser publicado. E ’ o livro do que fizerm os pela elevação da Fé,
m oda pouco banal e a de uma legen­ sr. X a v ie r de Oliveira, docente de será trabalho contra a disseminação
d a ” . (Auguste V ia tie — Les sources clinica psychiatrica na Faculdade de da credulidade. E nessa obra de sal­
©ccultes du romantismé. ed. Cham ­ M edicina do R io e medico do Hospi­ vação nacional, um livro scientifico e
pion. 1928. vol. I I , pgs. 269[272). tal N acional de Psychopathas. A es­ sociologico como o do sr. X a v ie r de
Essa obra de Auguste V iatte é, a sa autoridade de homem de scien- O liveira, é um documento de p rim ei­
m eu ver, um dos livros capitaes pa­ cia, junta o sr. X a v ie r de O liveira a* ra ordem.
ra se com prehender os nossos dias. de sociologo e conhecedor pessoal das
Seu volume e provavelm ente o seu populações onde essas epidemias “ es-
custo, áo cambio de hoje, póde ser píritopathicas ” , como elle proprio
que assustem os leitores. Ivlas é um diz, mais se têm desenvolvido, — as
liv ro indispensável, pois sendo rig o ­ populações nordestinas.E a esse res­
rosam ente e exhaustivam ente docu­ peito já publicou, ha onze annos
mentado, revela-nos um novo se­ atraz, um livro extrem am ente curio­
culo X V I I I e mostra, á luz do dia, so, que se acha hoje exgotado “ B ea­
as semelhanças enormes que o nos­ tos e Cangaceiros ” .
so actual estado de civilisação apre­ Trata-se, portanto, de uma autori­
senta com esse seculo, cujas loucu­ dade duplamente capaz de se occupar
ras prepararam as misérias da revo­ com o problema como profissional e
lução de 1789 e das guerras napoleo- não apenas como amador. E o seu
nieas. novo livro é um estudo documentado
O racionalísmo do seculo X V I I I é sobre as relações intimas que as p ra­
lio je o ilosso m aterialism o, patente ticas occultistas revelam entre “ Espi
ou disfarçado. E o illuminismo de ritism o e Lou cu ra” , que fo i o proprio
então é o nosso espiritismo. A onda titulo que deu a seu livro (A . Coelho
espirita que se apoderou de grandes Branco F.° ed. Rio, 1931).
massas de nossa população, em suas Neste, estuda ainda o sr. X a x ie r
fôrm as baixas e supersticiosas, es­ de Oliveira, como o fizera nos “ B ea­
tendeu-se tam bém ás classes cultas, tos e Cangaceiros ” , algumas figuras
sob a fórm a de pesquizas realm ente typicas desse baixo espiritismo que
ou pseudo scientificas e m eta-psy- se alastra, tanto pelos sertões como
chicas. pelas grandes capitaes, pois os sym-
O espiritismo, portanto, de nos­ ptomas de inferioridade social se m a­
sos dias é o indice, como escrevi a nifestam , tanto nas sociedades pre-
principio, do racionalism o dom inan­ civilisadas como nas hyper-civilisa-
te em nossa epoca. Como é tambem das. A civilisação é um estado social
da indisciplina religiosa. que em si não traz progresso algum.
O veneno individualista, que a ci­ Tudo depende dos principios, bons ou
vilisação lib eral e burgueza in fil­ máos, que a inform am . De modo que,
trou em todos os dominios, tambem a ausência da civilisação ou o exces­
tíltin gio os dominios religiosos, des­ so delia, pódem provocar males ana-
d e a reform a até as apostasias m o­ logos. E é o que se dá com toda essa
dernas de T yrrel, I^oisy ou Turm el. m ystèriosophia que ataca ao mesmo
A o passo que, na verdadeira dou­ tem po prim itivos e decadentes, ade­
trina da Egreja, uma sabia com bi­ ptos de Antonio Conselheiro ou discí­
nação de autoridade, tradição e r a ­ pulos de Apolonio de Tyana.
zão» fazia e fa z da F é o traço de Sobre Antonio Conselheiro, justa­
união indispensável entre a ordem mente, traz este livro um excellen-
tía natureza e a ordem da graça, te estudo, acompanhado de uma pho-
equilibrando naturalm ente toda a tographia impressionante, a unica
com plexidade in fin ita do ser huma­ que nos resta do fam oso propheta de
no, em seu duplo destino natural e Canudos. E como Euclydes da Cunha,
transcendental — o protestantism o na qualidade de sociologo, já term i­
quebrou esse jog o harmonioso de nara o seu livro estigm atisando os
raizes da Fé, entregando esta á ins­ “ crimes das nacionalidades” , — te r­
tabilidade congênita do coração e m ina o sr. Xavier, de O liveira a p ri­
<Jo sentimento. Luthero fo i o grande m eira parte do seu, escrevendo: “ E ’
iniciador do sentim entalism o relig io­ um crime pretender dominar, pelas
so, com raizes espalhadas em todos armas, indivíduos ou collectividades
os m ovim entos de iieterodoxia que atacados dessas m odalidades clin i­
ao longo da Idade IVledia haviam cas da psychiatrla; devem ser tra ­
sempre tentado destruir a harm onia tados como doentes” (p. 185).
serena cia unidade catholica. Essas Extrem am ente interessantes ta m ­
raizes hereticas, que vinham desde bem são os dados que publica no
a Gnpse dos prim eiros séculos chris- capitulo “ D a espiritopathia perante
lãos, e a que a R efo rm a vinha dar a pathologia m en ta l” , que assim co­
iiín novo alento, com binando-as com m eça: “ N o pavilhão de observações
O sophisma do nacionalism o na p ró­ da Assistência a Psychopathas, como
p ria ordem religiosa, — vieram a li­ em todas as secções do velho hospi­
m en ta r no seculo X V I I I todo esse tal da P ra ia da Saudade, uma nova
^novimento illum inista, - que era a pegunta foi. naturalmente, introdu- J

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