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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

DEPARTAMENTO DE
ENGENHARIA AGRÍCOLA

Apostila

ENG 431 -PROJETO DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

PROJETO DE ENGENHARIA
UMA APROXIMAÇÃO SISTEMÁTICA

Traduzido e adaptado por


Ricardo Capúcio de Resende

Viçosa, MG – 2005
Índice
Prefácil ........................................................................................................................................................................4
1. Introdução .......................................................................................................................................................................5
1.1. Campo de atividades ................................................................................................................................................5
1.1.1. Tarefas e atividades...........................................................................................................................................5
1.1.2. Tipos de projeto ................................................................................................................................................6
1.1.3. Necessidade e natureza da sistematização do processo de projeto....................................................................6
1.2. O desenvolvimento de uma metodologia de projeto ................................................................................................7
1.2.1. História..............................................................................................................................................................7
1.2.2. Métodos modernos de projeto ...........................................................................................................................9
1.2.3. Outras propostas..............................................................................................................................................12
1.2.4 Comparação geral e declaração do objetivo do livro pelos autores..............................................................13
2. Fundamentos .................................................................................................................................................................15
2.1. Sistema, usina, equipamento, máquina, montagem e componente.........................................................................15
2.2. Conservação de energia, material e sinais..............................................................................................................16
2.3. O relacionamento funcional ...................................................................................................................................16
3. O processo de projeto....................................................................................................................................................16
3.1. Resolvendo um problema geral..............................................................................................................................16
3.2. Fluxo de trabalho durante o processo de projeto....................................................................................................17
4. Clarear a tarefa ..............................................................................................................................................................20
4.1. Elaboração de uma lista de requisitos (especificação de projeto) ..........................................................................20
4.2. O Desdobramento da Função Qualidade (QFD) ou “Casa da Qualidade” .............................................................23
5. Projeto conceitual..........................................................................................................................................................30
5.1 Abstraindo para identificar problemas essenciais ...................................................................................................30
5.2 Estabelecimento de uma estrutura de funções.........................................................................................................30
5.2.1 Função total......................................................................................................................................................30
5.2.2 Quebrando a função total em subfuncões.........................................................................................................31
5.2.3 Considerações físicas .......................................................................................................................................31
5.2.4 Uso prático de estruturas de funções................................................................................................................33
5.3 Procurando por princípios de solução para atender as subfunções..........................................................................34
5.3.1. Auxílios convencionais ...................................................................................................................................35
5.3.2. Métodos com canal intuitivo ...........................................................................................................................37
5.3.3 Elaboração de uma matriz morfológica............................................................................................................40
5.4 Combinando princípios de solução para satisfazer a função total...........................................................................44
5.5 Selecionando combinações adequadas....................................................................................................................45
5.6 Fixando em variantes conceituais ...........................................................................................................................47
5.7 Avaliando variantes de concepção contra critérios técnicos e econômicos.............................................................48
5.7.1 Princípios básicos.............................................................................................................................................48
5.7.2 Identificando critérios de avaliação..................................................................................................................49
5.7.3 Pesando critérios de avaliação..........................................................................................................................50
5.7.4 Compondo parâmetros .....................................................................................................................................52
5.7.5 Estimando valores ............................................................................................................................................53
5.7.6 Determinando o valor total...............................................................................................................................54
5.7.7 Comparando variantes conceituais...................................................................................................................54
5.7.8 Comparação aproximada de variantes de solução............................................................................................57
5.7.9 Estimando incertezas da avaliação ...................................................................................................................57
5.7.10 Procurando por pontos fracos.........................................................................................................................59

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Índice de Figuras
Figura 1.1. A atividade central do projeto de engenharia segundo Dixon e Penny .............................................................5
Figura 1.2. Passos de projeto de acordo com Hansen .......................................................................................................10
Figura 1.3. Passos de projeto de acordo com Rodenaker ..................................................................................................11
Figura 2.1. Sistema: “Acoplamento” a...h elementos do sistema; i, l, k elementos de conecção; S sistema geral; S1
subsistema “Acoplamento Flexível”; S2 subsistema “embreagem”:E entradas; S saídas ................................................15
Figura 3.1. Processo de decisão geral ................................................................................................................................17
Figura 3.2. Passos do processo de planejamento e projeto ................................................................................................18
Figura 4.1. Lista de checagem para elaboração da lista de requisitos ...............................................................................21
Figura 4.2. Lista de requisitos de uma semeadora adubadora para plantio direto .............................................................22
Figura 4.3. Elementos básicos da casa da qualidade – QFD .............................................................................................23
Figura 4.4. Exemplo hipotético de alocação hierárquica dos requisitos do consumidor ...................................................24
Figura 4.5. Alocação dos requisitos de projeto (RP) na matriz planejamento (hipotético) ...............................................24
Figura 4.6. Preenchimento das matrizes de relacionamento e correlação .........................................................................25
Figura 4.7. Colunas de avaliação de mercado (exemplos hipotéticos)...............................................................................26
Figura 4.8 Exemplo de uma Casa da Qualidade hipotética............................................................................................... 28
Figura 4.9. Casa da qualidade para uma semeadora adubadora para o plantio direto........................................................29
Figura 5.1 Passos do projeto conceitual.............................................................................................................................30
Figura 5.2 Símbolos para representar subfunções numa estrutura de funções...................................................................31
Figura 5.3 Função total e subfunções de uma máquina de ensaios de tração.....................................................................32
Figura 5.4 Estrutura de funções completa de uma máquina de ensaios de tração em corpos de prova.............................32
Figura 5.5 Exemplo de estrutura de funções para uma semeadora adubadora para plantio direto....................................33
Figura 5.6 Parede de uma haste (talo) de trigo...................................................................................................................35
Figura 5.7 Construção “sandwich” para estruturas de baixo peso.....................................................................................36
Figura 5.8 Ganchos de um carrapicho e fecho tipo Velcro................................................................................................37
Figura 5.9 Características para variação na procura (área física).......................................................................................40
Figura 5.10 Características para variação na procura (área de projeto da forma)..............................................................41
Figura 5.11 Matriz morfológica para uma colhedora de alho............................................................................................42
Figura 5.12 Combinando princípios de solução.................................................................................................................45
Figura 5.13 Extrato da lista de propostas de solução para um sistema de medição de combustível..................................47
Figura 5.14 Quadro de seleção para um sistema de medição de combustível....................................................................47
Figura 5.15 Estrutura de uma árvore de objetivos..............................................................................................................49
Figura 5.16 Árvore de objetivos com fatores de peso........................................................................................................50
Figura 5.17 Árvore de objetivos com fatores de peso para um aparelho de testes de cargas de impacto..........................52
Figura 5.18 Escalas de valores...........................................................................................................................................53
Figura 5.19 Quadro de correlação entre magnitude dos parâmetros e escala de valores...................................................54
Figura 5.20 Avaliação de quatro variantes de concepção de aparelho para testes de cargas de impacto..........................55
Figura 5.21 Diagrama de taxas...........................................................................................................................................56
Figura 5.22 Determinação da taxa total pelos métodos da linha reta e hiperbólico...........................................................57
Figura 5.23 Avaliação binária de variantes de solução......................................................................................................57
Figura 5.24 Lista de checagem com tópicos principais para avaliação durante a fase conceitual.....................................58
Figura 5.25 Perfil de valores para comparação de duas variantes......................................................................................59

3
Prefácil

O objetivo desta apostila é apresentar uma metodologia de projeto de engenharia para


utilização no desenvolvimento de máquinas. A maior parte dessa apostila foi traduzida e adaptada
do livro: Engineering design: A Systematic Approach, dos autores Gerhard Pahl e Wolfgang Beitz.
Objetivou-se apresentar conhecimento introdutório ao assunto para suprir a carência de literatura
nessa área do conhecimento, escrita em português. Ao elaborar essa apostila procurei condensar as
informações do livro citado acima, dando maior ênfase ao projeto conceitual.

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1. Introdução

1.1. Campo de atividades

1.1.1. Tarefas e atividades

A principal tarefa do projetista é aplicar o conhecimento científico para solucionar um


problema técnico e depois otimizar esta solução, utilizando os materiais disponíveis e respeitando
as restrições tecnológicas e econômicas.
Projeto é a tentativa de satisfazer certas demandas da melhor maneira possível. Ele é uma
atividade de engenharia que influencia todas as esferas da vida humana. Baseia-se em descobertas e
leis da ciência, usando-as para criar produtos úteis.
O processo de projeto pode ser colocado no centro de duas correntes que se interceptam
(Figura 1.1.).
POLÍTICA

SOCIOLOGIA,
PSICOLOGIA

ECONOMIA

CIÊNCIA DE PROJETO DE TECNOLOGIA DE


CIÊNCIA ENGENHARIA ENGENHARIA PRODUÇÃO
ENGENHARIA

PROJETO
INDUSTRIAL

PROJETO
ARTÍSTICO

ARTE

Figura 1.1. A atividade central do projeto de engenharia segundo Dixon e Penny

Psicologicamente, projeto é uma atividade criativa baseada em conhecimentos de


matemática, física, química, mecânica, termodinâmica, hidrodinâmica, engenharia elétrica,
engenharia de produção, tecnologia de materiais e teoria de projeto. Todas com conhecimento
prático e experiência em campos específicos. Iniciativa, decisão, compreensão econômica,
persistência, otimismo, sociabilidade e trabalho em equipe, são essenciais para projetistas e
indispensáveis para os que ocupam posição de responsabilidade.
Em relação à sistemática, projeto é uma otimização de certos objetivos com restrições
parcialmente conflitantes. Requisitos mudam com o tempo, então uma solução particular só pode
ser otimizada numa conjuntura particular.
Em relação à organização, o processo de projeto influencia essencialmente a manufatura, o
processamento de matéria prima e os produtos. Durante a atividade de projeto, é necessário uma
colaboração próxima com trabalhadores de áreas diversas. Então para coletar as informações que
precisa, o projetista deve estabelecer ligações próximas com vendedores, compradores, contadores,
planejadores, engenheiros de produção, especialista em materiais, pesquisadores, engenheiros de
testes e especialista em normalizações. Trocas freqüentes de experiências e um bom fluxo de

5
informação são essenciais em projeto de máquinas. Portanto essas atividades devem ser encorajadas
por organização apropriada e exemplo pessoal.

1.1.2. Tipos de projeto

Projeto original envolve a elaboração de um princípio de solução original para um sistema


ou máquina; para a mesma, similar ou nova tarefa.
Projeto adaptativo envolve uma adaptação de um sistema conhecido para uma nova tarefa,
mantendo o mesmo princípio de solução. Usualmente fazem-se projetos originais de algumas partes
ou subsistemas.
Projeto variante envolve variação do tamanho e/ou arranjo de certos aspectos de um dado
sistema, as funções e o princípio de solução permanecem inalterados. Usualmente substituem-se
materiais ou alteram-se as restrições e a tecnologia.

1.1.3. Necessidade e natureza da sistematização do processo de projeto

O projetista tem que ser uma pessoa versátil. Se considerarmos a vasta faixa de produtos que
ele ajuda a fazer e o conhecimento especializado ou experiências que ele enfrenta, fica claro que seu
trabalho não se encaixa em uma estrutura rígida. Porque o projeto tem um efeito crucial nos valores
técnicos e econômicos do produto, os métodos de produção só podem ser otimizados dentro da
estrutura de trabalho que ele estabeleceu. O projetista deve dirigir-se por uma aproximação
confiável.
Uma metodologia de projeto deve:
• Encorajar uma aproximação direta ao problema.
• Promover a invenção e a compreensão, facilitando a procura por soluções ótimas.
• Ser compatível com conceitos, métodos e descobertas de outras disciplinas.
• Não confiar em chances.
• Facilitar a aplicação de soluções conhecidas.
• Ser compatível com o processamento eletrônico de dados.
• Ser facilmente compreendida.
• Refletir o pensamento do gerenciamento científico moderno, reduzindo a carga de trabalho,
economizando tempo, evitando erros humanos e ajudando a manter o interesse ativo.

Tal aproximação irá guiar o projetista às possíveis soluções mais rápido e diretamente.
Como as diversas áreas do conhecimento têm se tornado mais científicas, e como o uso de
computadores tem necessitado de uma preparação lógica dos dados, o projeto também deve se
tornar mais lógico, mais seqüencial, mais transparente e mais aberto à correções. Uma contribuição
mais significativa dos projetistas de máquinas só é possível quando seus métodos e estilo de
trabalho estão alinhados com os desenvolvimentos da ciência e com as práticas industriais.
Isso não significa que a intuição ou a experiência são menos importantes. Pelo contrário, o
uso adicional de procedimento sistemático serve para aumentar o rendimento e a criatividade de
projetistas talentosos. O sucesso real é pouco provável sem intuição.
No ensino de métodos de projeto, deve-se incentivar e guiar as habilidades próprias do
estudante, encorajar a criatividade, e ao mesmo tempo convencê-lo da necessidade de uma
avaliação objetiva dos resultados. Procedimentos sistemáticos ajudam a tornar o processo de projeto
mais compreensível, e também facilita o trabalho do professor. Porém, o estudante deve ser
advertido contra o tratamento da opinião do professor como dogma. O melhor professor tenta
meramente dirigir os esforços do estudante do inconsciente para o consciente. Como resultado,
quando ele colabora com outros engenheiros, o projetista não vai meramente defender sua opinião,
mas será capaz de tomar a liderança.
A utilização de uma metodologia de projeto sistematizada pode produzir uma verdadeira
aproximação racional, e conseqüentemente, soluções gerais válidas. Isto é, soluções que poderão ser

6
utilizadas com freqüência. Ele também ajuda a estabelecer um plano de trabalho baseado num
planejamento de projeto racional. Essa aproximação possibilita ao projetista prever quanto tempo
gastará não só no estudo de viabilidade, mas também na procura por soluções e na avaliação dos
resultados. A sistematização do processo de projeto aumenta a confiança nas leis de similaridades
que são muito úteis nos testes de modelos. Ela possibilita o uso consistente de especificações
normalizadas, variações de tamanho e métodos modulares, Além disso, a sistematização do
processo de projeto facilita racionalizações posteriores, não só na atividade de projeto, mas de todo
o processo de produção.
Tempo é dinheiro! Projeto sistematizado facilita o desdobramento racional do computador e
de sistemas de dados. Por isso, é relativamente fácil determinar a quantidade de trabalho necessária
de ser ser executada por computador. Essas observações também são aplicáveis para as atividades
indiretas do projeto, como coleta de informações sobre normas técnicas, componentes, materiais
etc..
Uma aproximação racional também deve cobrir os custos computacionais do projeto.
Cálculos preliminares mais rápidos e mais confiáveis têm se tornado uma necessidade no campo do
projeto e devem ser realizados com ajuda de informações consistentes. É essencial desenvolver
métodos com os quais seja possível estimar custos finais, pelo menos aproximados, mesmo num
estado inicial do processo de desenvolvimento. Para isto também é necessária uma aproximação
sistemática racional.

1.2. O desenvolvimento de uma metodologia de projeto

1.2.1. História

Todo desenvolvimento tem antecedentes. Eles maturam quando existe uma necessidade,
quando a tecnologia certa está disponível e quando eles são economicamente viáveis. Isto também é
aplicável ao desenvolvimento de metodologias de projeto de máquinas.
É difícil determinar a real origem da sistematização do processo de projeto. Qualquer um
que olhar os croquis de Leonardo da Vinci deve ficar surpreso e maravilhado com a abundância de
variações sistemáticas de possíveis soluções que Leonardo usava. Na era pré-industrial, projeto era
associado próximo à arte!
Com o crescimento da mecanização, como Redtenbacker mostra em Princípio da mecânica
e de construções de máquinas, as atenções se tornaram cada vez mais focadas no número de
características e princípios chamados: esforço suficiente, rigidez suficiente, baixo desgaste, pouco
atrito, uso mínimo de materiais, fácil manuseio, fácil montagem e racionalização máxima.
Estas idéias foram desenvolvidas por Reuleax. Visto que os requisitos eram quase sempre
conflitantes, ele sugeriu que o julgamento de sua importância relativa ficaria a cargo individual da
inteligência e bom senso do projetista.
Outras contribuições para o desenvolvimento do projeto de engenharia foram feitas por
Back e Riedler. Eles salientaram que também são importantes a seleção de materiais, a escolha de
métodos de produção e a provisão de esforços adequados. Rotscher mencionou outras
características essenciais ao projeto de máquinas como: finalidade específica, caminho de carga
efetivo reduzido, manufatura e montagem eficientes. Ele citou que as cargas devem ser conduzidas
pelo menor caminho, e se possível por forças axiais, preferencialmente do que por momentos
fletores. Caminhos de carga longo não só desperdiça material e aumenta os custos, mas também
requer mudanças consideráveis na forma. Cálculos e leiaute devem passar de mão em mão. O
projetista começa com o que lhe é dado e com montagens conhecidas. O mais cedo possível, ele
deve fazer desenhos em escala para garantir o layout espacial correto. Cálculos podem ser usados
para obter estimativas iniciais para o layout preliminar, ou valores precisos para checar o projeto
detalhado.
Laudien, examinando os percursos das cargas nas máquinas advertiu: para uma conexão
rígida, junte as partes na direção das cargas; se flexibilidade for requerida, junte as partes pelo

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caminho indireto das cargas; não faça provisões desnecessárias; não super especifique; não satisfaça
mais exigências do que o requerido; salve-se por simplificações e construções econômicas.
Idéias sistemáticas mais modernas surgiram em 1920, quando Erkens propôs uma
aproximação passo a passo. Ela era baseada em testes e avaliações constantes e também no balanço
de exigências conflitantes. Esse processo deve ser continuado até que uma rede de idéias do projeto
emerja.
Técnicas de projeto mais compreensivas foram apresentadas por Wögerbauer. A tarefa do
projetista foi então dividida em tarefas subsidiárias e essas em tarefas operacionais. Ele também
examinou os vários inter-relacionamentos entre as restrições identificáveis, que o projetista deve
levar em conta. No entanto, ele falhou por não apresentar a procura por soluções na forma
sistematizada. Sua procura sistematizada começa com uma solução descoberta mais ou menos
intuitivamente e é variada de forma mais compreensível possível em relação à sua forma básica,
materiais e métodos de manufatura. O resultado abundante de possíveis soluções é então reduzido
por testes e avaliações, sendo o custo o critério crucial.
Então a necessidade e racionalização do processo de projeto foi sentido antes da Segunda
Guerra Mundial, mas seu avanço foi impedido pelos seguintes fatores:
• Ausência de um meio confiável de representar idéias abstratas.
• A visão de que o projeto é uma forma de arte, e não uma atividade técnica como qualquer outra,
era compartilhada por muitas pessoas.
O progresso da sistematização do processo de projeto teve então que esperar até que estes
obstáculos fossem superados, e que as técnicas sistemáticas fossem adotadas mais amplamente.
Idéias modernas de projeto tiveram um grande impulso com Kesselring, Tschochner,
Niemann, Matousek e Leyer. Esses homens não foram somente meros pioneiros importantes. Seus
trabalhos continuam provendo sugestões úteis para as fases individuais e passos do projeto
sistematizado.
Kesselring explicou as bases de seu método de aproximações sucessivas em 1942 na sua
teoria de composição técnica, na qual se destaca a avaliação das formas de variantes de acordo com
critérios técnicos e econômicos, Kesselring apresentou consideráveis fundamentos de princípios
científicos e restrições econômicas. Na teoria de projeto da forma, da qual derivou a teoria acima,
ele mencionou cinco princípios básicos: princípio do custo de manufatura mínimo, princípio do
mínimo espaço requerido, princípio do mínimo peso, princípio de perdas mínimas e princípio do
manuseio ótimo.
O projeto e otimização de partes individuais e artefatos técnicos simples, é o objetivo da
teoria de projeto da forma. Ela é caracterizada pela aplicação simultânea de leis físicas e
econômicas e leva à determinação da forma e dimensões dos componentes, na escolha apropriada
dos materiais e métodos de fabricação, etc.. Se a otimização de características selecionadas é levada
em conta, a melhor solução pode ser encontrada com a ajuda de métodos matemáticos.
Tschochner menciona quatro fatores fundamentais de projeto, chamados princípio de
trabalho, material, forma e tamanho. Eles são interconectados e dependentes dos requisitos, do
número de unidades a serem fabricados, dos custos, etc.. O projetista começa com o princípio de
trabalho, determina outros fatores fundamentais (materiais e forma) e encaixa-os com a ajuda de
dimensões escolhidas.
Niemann inicia o projeto com um layout em escala da máquina completa, mostrando suas
principais dimensões e seu arranjo geral. Em seguida ele divide todo o projeto em partes que podem
ser desenvolvidas paralelamente. Ele continua definindo a tarefa, variando sistematicamente
possíveis soluções e finalmente selecionando a solução ótima. Esses passos geralmente estão em
concordância com os usados em métodos mais recentes. Niemann sempre deu atenção à falta de
métodos para chegar à novas soluções. Ele deve ser considerado um pioneiro no desenvolvimento
de uma metodologia sistematizada de projeto de máquinas, exigindo consistentemente e
encorajando seu desenvolvimento.
Matousek listou quatro fatores essenciais: princípio de trabalho, material, manufatura e
projeto da forma. Seguindo Wögerbauer, ele elaborou um plano geral de trabalho baseado nestes

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quatro fatores. Ele adicionou que se o aspecto custo não for satisfatório, todos os outros quatro
fatores devem ser examinados novamente de maneira iterativa.
Leyer é mais interessado com o projeto da forma. Ele distingue três fases principais de
projeto. Na primeira, o princípio de trabalho é esboçado com a ajuda de uma idéia ou uma
invenção. Na segunda fase o layout e o projeto da forma são desenvolvidos, sustentados por
cálculos. Durante esta fase, princípios ou regras tem que ser levados em conta. Por exemplo, usa-se
o princípio de espessura de parede constante, o princípio de construções leves, o princípio do
caminho mínimo das cargas e o princípio da homogeneidade. A terceira fase é de implementação.
As regras de Leyer de projeto da forma são de muito valor, porque na prática as falhas são muito
mais freqüentes devido a um princípio de trabalho ruim, do que de um projeto detalhado pobre.

1.2.2. Métodos modernos de projeto

Essas tentativas preliminares abriram caminho para desenvolvimentos intensivos,


principalmente por professores universitários, que aprenderam a arte de projeto através do contato
prático com produtos de complexidade cada vez maiores. Eles perceberam que a maior confiança na
física, matemática, teorias de informação e o uso de técnicas sistemátizadas não só são possíveis,
mas, com a crescente divisão do trabalho, são indispensáveis. Estes desenvolvimentos foram
fortemente afetados por requisitos de industrias particulares, na qual eles se originaram. A maioria
veio da engenharia de precisão, transmissão de potência e eletro-mecânica, nas quais os
relacionamentos sistemáticos são mais claros do que na engenharia pesada.

a) Projeto sistemático de acordo com Hansen

Hansen e outros membros da escola de Ilmenau prosseguiram com suas propostas no início
da década de 50. Hansen apresentou um sistema de projeto mais compreensível na segunda edição
de seu trabalho publicado em 1965. Ele resumiu seu procedimento da seguinte forma:
• Determine a essência da sua tarefa, porque isto é comum a todas soluções.
• Combine intencionalmente os elementos
• Desenvolva estas combinações para todas as soluções.
• Determine os problemas de cada solução e tente eliminá-los ou reduzir seus efeitos.
• Selecione a solução com o menor número de problemas.
• Providencie documentação para permitir a avaliação prática.

Essas regras de procedimento formam a base de um sistema que compreende quatro fases. A
figura 1.2 mostra os passos para a fase conceitual. Hansen começa com a análise crítica e
especificação da tarefa, na qual o leva ao princípio básico de funcionamento. Isto deve ser
formulado abstratamente para compreender qualquer solução conceptível e deve englobar a função
total derivada da tarefa. O segundo passo é a procura sistemática por elementos de solução e suas
combinações em recursos de trabalho. Hansen deu muita importância ao terceiro passo, no qual
qualquer problema é revisado para melhorar o desenvolvimento dos recursos de trabalho. No quarto
e último passo, esses recursos de trabalho melhorados são avaliados para determinar qual deles é
ótimo para a tarefa.
Em 1974, Hansen publicou um outro trabalho, A ciência do projeto. Nele ele usa análise de
sistemas e teoria de informação, para definir o processo de projeto e a natureza de artefatos
técnicos.

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Tarefa (Concepção, layout)
Considerações preliminares
Princípio básico
PB
Procura por e combinação de elementos de solução elementares
Meios de trabalho
MT MT MT (Princípio de trabalho, princípio do projeto da forma)
Revisão de falhas
Meios de trabalho melhorados
MTM MTM MTM MTM (Princípio de trabalho, princípio do projeto da forma)
Avaliação racional
Meio de trabalho ótimo
MTO (Princípio de trabalho, princípio do projeto da forma)

Concepção
(Layout, documentos de produção

Figura 1.2. Passos de projeto de acordo com Hansen:


1. A partir da tarefa via meio de trabalho para a concepção
2. A partir da concepção via princípio de trabalho para o layout
3. A partir do layout via projeto da forma para os documentos de produção

b) Projeto sistemático de acordo com Rodenaker

Rodenaker está acima de todos os outros. Seu método de projeto original foi o que causou o
maior impacto. Ele começou pelo fato de que toda máquina deve satisfazer certas finalidades ou
funções. Rodenaker vê o projeto como uma transformação de informação, partindo do abstrato para
o concreto. Ele considera o projeto como o reverso de experimentos físicos. A figura 1.3 mostra os
principais passos do método de Rodenaker. Ele começa pela definição e abstração dos requisitos e
pelo estabelecimento de uma estrutura de funções. Depois ele procura pelos processos físicos
apropriados e finalmente pela forma de projeto requerida. Rodenaker desenvolveu seus princípios
sistemáticos baseados em exemplos tirados da engenharia de processos. No entanto, suas idéias são
aplicáveis no desenvolvimento de sistemas técnicos.
Rodenaker propôs as seguintes regras:
1. Clarear a tarefa, ou seja, os relacionamentos requeridos.
2. Estabelecer uma estrutura de funções, ou seja, o relacionamento lógico.
3. Escolher o processo físico, ou seja, o relacionamento físico.
4. Determinar o leiaute, ou seja, o relacionamento de construção.
5. Checar a lógica, os relacionamentos físicos e de construção, por meios de cálculos apropriados.
6. Eliminar fatores perturbadores e erros.
7. Finalizar o projeto geral.
8. Fazer revisão do projeto escolhido.

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Entrada
Energia, m ateriais e sinais

Função de uma Máquina M udanças d e


atendida por um propried ades
Fatores Processo Físico
pertubadores realizado pelas
Características do Projeto da Forma
do projeto geral
Flutuações de
propriedad es

Saída
Figura 1.3. Passos de projeto de acordo com Rodenaker

Nesse método, as estruturas de funções são baseadas somente nas funções derivadas de dois
valores lógicos. Essas funções são separação, conecção (pelo fluxo de energia, material e sinal em
sistemas técnicos) e chaveamento. Sendo atendidos os requisitos lógicos, dá-se o próximo passo que
é a escolha dos processos físicos (regra 3). Rodenaker usa efeitos físicos e equações, prestando
atenção particular ao fator tempo. Experimentação é considerada a melhor fonte de informação.
Rodenaker então desenvolve o layout e o projeto da forma. Em seguida, executa-se a
variação das superfícies, materiais e movimentos, para alcançar as características requeridas (regra
4). O trabalho feito até aqui deve ser checado por cálculos apropriados, como as tensões dos
componentes (regra 5). Rodenaker é preocupado particularmente com a identificação e eliminação
de fatores perturbadores que causam flutuações qualitativas e quantitativas (regra 6).
Nós podemos resumir isto tudo dizendo que o fator principal do projeto sistemático de
acordo com Rodenaker, é a determinação dos processos físicos fundamentais. Na sua aproximação,
ele não só faz o tratamento sistemático de idéias concretas de projeto, conforme delineado acima,
mas também propõe uma metodologia de invenção de novos dispositivos e máquinas, através da
procura por novas aplicações de efeitos físicos conhecidos, como um meio de chegar à soluções
originais.

c) Algoritmo do procedimento de seleção para projetos baseados em catálogos de projeto, de


acordo com Roth

Roth dividiu o processo de projeto em várias fases, cada qual com passos específicos, que
dependendo dos resultados, deve ser repetida várias vezes.
A primeira fase é a análise do ambiente do produto, conduzindo a uma definição precisa do
problema. Esta definição inclui a função e a especificação dos requisitos técnicos e dos custos. Em
seguida o relacionamento funcional tem que ser elaborado em dois passos. Para descobrir a
estrutura de função total, todo o tratamento na definição do problema deve ser associado a um
sistema de funções gerais. As “funções gerais” definidas por Roth se referem às características
gerais que determinam vários artefatos técnicos (conectar, mudar, armazenar e chavear material,
energia ou informação). Uma vez tenha sido determinado o relacionamento das funções gerais, as
combinações possíveis de sub-funções são definidas repetitivamente em problemas elementares,
nos quais podem ser catalogados.
O próximo passo, a determinação da estrutura de funções especial, é a tentativa de resolver
estes problemas elementares com ajuda de equações físicas básicas, isto é, efeitos físicos
expressados, se possível, em fórmula matemática.
O produto real é então elaborado. Inicialmente soluções são desenvolvidas para resolver os
problemas elementares. Uma solução geral é então elaborada, combinando estas soluções de acordo

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com a estrutura de funções global. Variações desta solução vão produzir soluções gerais distintas.
As melhores soluções podem ser escolhidas e modificadas de acordo com os requisitos de
produção. As variantes resultantes são avaliadas, e a mais promissora para o problema, pode ser
determinada antes dos desenhos de produção e documentação serem completados.
Roth se refere ao processo como um “algoritmo de procedimento de seleção baseado no
projeto por catálogos”. Ele sugere que as informações necessárias para cada passo individual do
projeto podem ser melhor escolhidas de catálogos, com ajuda de características de seleção.
Conseqüentemente, Roth dá muita importância à compilação destes catálogos de projetos.

d) O método de projeto algoritmo-físico de acordo com Koller

As características essenciais do método de Koller são a quebra do processo de projeto em


um número grande de passos e a ênfase focada nas conecções físicas elementares. O objetivo é a
algoritimização e a conseqüente facilidade de computadorizar o projeto. Ele distingue entre síntese
de função, síntese qualitativa e síntese quantitativa.
O uso de computadores sempre necessita de formulações de regras claras, que governam
cada passo elementar. Koller reduz processos técnicos complexos num número finito de funções
físicas, e então estipula regras para implementá-las. Sua premissa básica é que essas funções podem
ser expressas por elementos de máquinas conhecidos, e também por elementos que estão por serem
desenvolvidos. O ponto de partida de Koller é o fato de que num sistema técnico só as propriedades
e estado de energia, material e sinal, com seus respectivos fluxos, podem ser mudados em
magnitude e direção. Juntamente com entradas e saídas físicas, Koller obteve 12 operações básicas
mais suas funções inversas correspondentes. Dentre elas pode-se citar chaveamento e isolamento,
aumentar e diminuir, conectar e desconectar.
Pelo fato dos sistemas técnicos envolverem tanto relacionamentos lógicos quanto
relacionamentos físicos a síntese de funções deve produzir uma estrutura de funções constituída por
operações básicas inter-relacionadas fisicamente.
Koller mantém isto na fase qualitativa do projeto. As operações básicas dos sistemas
técnicos dependem exclusivamente dos efeitos físicos, químicos e/ou biológicos. A escolha do
efeito apropriado produz princípios de solução para a realização das operações básicas. Esses
princípios de solução podem ser combinados em montagens e no sistema geral. Finalmente o
projeto qualitativo exige a determinação das formas, nas quais Koller inventou várias regras de
projeto. Para cada passo, foram estipuladas variações do material ou da forma. Deste modo, abre-se
caminho para várias variantes de solução. A síntese quantitativa de Koller compreende atividades
de projeto clássicas de cálculo e layout.
De acordo com seu objetivo de algoritimizar e computadorizar o processo de projeto, Koller
coloca ênfase particular em desenvolvimentos elementares, ou passos, e nas regras matemáticas
claras.

1.2.3. Outras propostas

Teoria de sistemas, como uma ciência interdisciplinar, usa procedimentos e auxílios para
análise, planejamento, e seleção de projeto ótimo de sistemas complexos.
A maioria dos sistemas dinâmicos consiste em uma coleção de elementos ordenados, inter-
relacionados pelas virtudes de suas propriedades. Um sistema é também caracterizado pelo fato de
ter um domínio que corta seus ligamentos com o ambiente. Esses ligamentos determinam o
comportamento externo do sistema. Então é possível definir a função expressando o relacionamento
entre as entradas e saídas, e, portanto mudanças nas variáveis do sistema.
A partir da idéia de que os artefatos técnicos podem ser representados como sistemas, foi um
pequeno passo para a aplicação da teoria de sistemas ao processo de projeto. Os objetivos da teoria
de sistemas correspondem amplamente às expectativas que tivemos de um bom método de projeto,
como especificado no início deste capítulo. A aproximação de sistemas reflete a apreciação geral,

12
de que problemas complexos são melhores manuseados com passos fixos, cada um envolvendo
análise e síntese.

Projeto como um processo que aprende

Um complemento para estes métodos citados anteriormente é baseado na visão de que a


ênfase unilateral em métodos discursivos é inadequada e não pode, para todos os casos, satisfazer o
projetista. Por esta razão, várias tentativas têm sido feitas para desenvolver métodos de projeto com
a ajuda de técnicas de controle automáticas, envolvendo retro-alimentação constante. Estes métodos
não só ajudam a elucidar o relacionamento entre o projetista e o ambiente, mas também ilumina o
campo de ação do processo de pensamento humano.
Deste modo Wächter tem argüido por analogia com essas concepções cibernéticas (como
controle e aprendizado), que o processo criativo é a forma mais complexa do “processo de projeto
que aprende”. Aprendizado representa uma forma elevada de controle, uma forma que envolve não
só mudança quantitativa às regras constantes, mas também mudanças nas próprias regras.
Similarmente, projetar altera quantidades técnicas, bem como princípios de trabalho.
Em termos estruturais, aprendizado e controle podem ser considerados como um processo
comparável circular (apesar de diferenças qualitativas). O sistema de projeto que aprende, recebe
um problema do ambiente e retorna uma solução para o mesmo. Ações discursivas e intuitivas
produzem soluções e idéias que são mantidas no armazenamento do sistema aprendiz. Uma
comparação da solução proposta com a exigência do ambiente, pode gerar discrepâncias que
precisam de novas decisões, conduzindo à novas ações. Quando as discrepâncias são reduzidas a
um mínimo, a solução ótima está em mãos. Um ciclo neste processo de otimização é chamado de
elemento aprendiz. O sistema aprendiz não deve ser considerado isoladamente do ambiente. Em
outras palavras, o ambiente não só impõe meramente os requisitos e recebe as soluções, mas
freqüentemente tem o papel de descobri-las. Nós distinguimos entre o ambiente passivo, que
apresenta informações às exigências e um ambiente ativo, que reage às informações retornadas pelo
sistema aprendiz. Em outras palavras, o ambiente ativo está diretamente envolvido na descoberta da
solução. Qual o problema nisto para o propósito de otimização? O processo de projeto deve ser
tratado não estaticamente, mas dinamicamente, como um processo de controle no qual a retro-
alimentação da informação deve ser repetida até que o conteúdo da informação tenha atingido um
nível no qual uma solução ótima possa ser encontrada. Desta forma o processo aprendiz sempre
aumenta o nível de informação, e, portanto facilita a procura pela solução.

1.2.4 Comparação geral e declaração do objetivo do livro pelos autores

Engineering Design: a systematic approach, Pahl e Beitz

Examinando de perto os métodos que descrevemos, prova-se que estes foram fortemente
influenciados pelos campos de especialização dos autores. Eles são bastante semelhantes entre si,
muito mais do que os vários conceitos podem sugerir.
Em particular, muitos destes métodos foram influenciados pela engenharia de produtos de
precisão e tecnologia de transmissão de potência, nos quais sustentam uma estrutura fortemente
semelhante aos sistemas eletrônicos. Isto tem sugerido a quebra de funções e associado sub-
soluções em elementos semelhantes à construção de blocos funcionais da eletrônica. Além disso, a
compilação de esquemas de classificação e catálogos de projeto, bem como a combinação de
elementos de solução, são mais fáceis neste campo do que na engenharia mecânica geral.
Em todos estes métodos examinados os requisitos são abstratos, com o objetivo de chegar a
uma solução geral válida. O grau no qual os vários autores quebram suas funções, diferem de caso
para caso. Todos enfatizam a importância de processos físicos durante a primeira fase. Eles também
compartilham a idéia de avançar passo a passo, partindo do qualitativo para uma fase quantitativa.
Além disso, todos eles estipulam uma variação e combinação deliberada de elementos de solução de

13
variada complexidade. Todos tentam algoritimizar o processo de projeto e expressá-lo por regras ou
leis simples.
Com a ajuda dos métodos examinados acima, junto com nosso próprio trabalho, nós
devemos no que se segue, esforçar para apresentar uma teoria compreensível de projeto de
engenharia geral. A maioria dos argumentos foi elaborada a partir de uma série de “papers” que nós
publicamos entre 1972 e 1974. Nós temos discutido essa metodologia com projetistas práticos e
engenheiros pesquisadores com profundidade, testando-a repetidamente na prática para aperfeiçoá-
la. Nossa própria teoria de projeto não pretende ser a palavra final no assunto. Ela simplesmente
tenta combinar os vários métodos de maneira coerente e prática. Nós esperamos que ela possa servir
como uma introdução para o aprendiz, como uma ajuda e ilustração para o professor e como fonte
de informação, e talvez futuro aprendizado para o prático.

14
2. Fundamentos

Projetar é uma atividade de várias faces. O projeto não é só baseado na matemática, física e seus
ramos, mas também na tecnologia de produção, ciência dos materiais, elementos de máquinas,
gerenciamento industrial, que não serão tratados neste texto.

2.1. Sistema, usina, equipamento, máquina, montagem e componente

Tarefas técnicas são executadas com a ajuda de artefatos técnicos como usina, equipamento,
máquina, montagem e componentes. A aplicação e a forma das tarefas são muito variadas e
complexas. Então artefatos técnicos devem ser tratados como sistemas conectados ao ambiente por
meios de entradas e saídas. Um sistema pode ser subdividido em subsistemas. Tudo que pertence a
um sistema particular é determinado por seu contorno. As entradas e saídas atravessam o contorno
do sistema. Com essa aproximação é possível definir sistemas apropriados em qualquer estágio de
abstração, análise e classificação.
Um exemplo concreto é o acoplamento combinado mostrado na figura 2.1. Ele pode ser
tratado como dois subsistemas. Um acoplamento flexível e uma embreagem. Os subsistemas
acoplamento e embreagem podem ser subdivididos em elementos do sistema, nesse caso
componentes. É possível considerar este sistema em termos de suas funções. Neste caso o sistema
total “acoplamento” pode ser dividido nos subsistemas “amortecer e embrear”. O segundo pode
também ser dividido em “mude a força de operação da embreagem para força normal” e “transfira
torque”.

E
c d g h i

b
e
E
l a f k
S

S1 Fronteira do Sistema S2
S

Figura 2.1. Sistema: “Acoplamento” a...h elementos do sistema; i, l, k elementos de conecção;


S sistema geral; S1 subsistema “Acoplamento Flexível”; S2 subsistema “embreagem”:
E entradas; S saídas

15
Dependendo do uso, várias subdivisões podem ser feitas. O projetista deve estabelecer
sistemas particulares para propósitos particulares, e deve especificar suas várias entradas e saídas e
fixar seu domínio, ou seja, seu contorno.

2.2. Conservação de energia, material e sinais

Todo sistema técnico envolve a conversão de energia, material e sinal, nos quais devem ser
definidos em termos quantitativos, qualitativos e econômicos.
No que se segue nós vamos lidar com:
• Energia: mecânica, térmica, elétrica, química, ótica etc.
• Material: gás, líquido, sólido, pó etc.
9. Sinais: magnitude, indicadores, controle de pulso, dados, informações etc.

2.3. O relacionamento funcional

Para resolver um problema técnico nós precisamos de um sistema com um relacionamento


entre entradas e saídas reproduzidos claramente. O termo função é aplicado para descrever o
relacionamento das entradas e saídas de um sistema, cujo propósito é realizar uma tarefa. A função
então é uma formulação abstrata da tarefa, independente de qualquer solução particular.
Se a tarefa geral já foi definida adequadamente, isto é, se as entradas e saídas de todas as
quantidades envolvidas e suas propriedades requeridas são conhecidas. Então é possível especificar
a função total.
A função total freqüentemente pode ser dividida em subfunções correspondentes à sub-
tarefas. O relacionamento entre as subfunções e a função total é governado por certas restrições.
Algumas subfunções têm que ser atendidas antes do que outras. Normalmente é possível ligar as
subfunções de várias maneiras e então criar variantes. As ligações devem ser compatíveis. A
combinação das subfunções na função total produz uma estrutura de funções, que deve ser variada
para atender a função total.
É usual fazer um diagrama de blocos no qual o processo e os subsistemas dentro de um dado
bloco (caixa preta) são ignorados a princípio.
Funções são definidas por um verbo e um substantivo, por exemplo “aumenta pressão”;
“transfere torque”; “reduz velocidade”. Elas são derivadas das conversões de energia, material e
sinais discutidos anteriormente.
É usual distinguir entre funções principais e auxiliares. As funções principais são as
subfunções que estão diretamente ligadas à função total. As funções auxiliares são aquelas que
contribuem para isto indiretamente.

3. O processo de projeto

3.1. Resolvendo um problema geral

Uma parte essencial de um método de resolver problemas envolve passo a passo análise e
síntese, progredindo do qualitativo para o quantitativo, sendo cada passo mais concreto do que o
anterior.
O trabalho de projeto pode ser considerado como uma conversão de informação. Depois de
cada passo novo, é necessário melhorar os resultados do anterior, isto é, repeti-lo com um nível de
informação superior.

16
Toda tarefa envolve primeiramente a confrontação com o problema. Procura-se informação
sobre: a tarefa em si, as restrições, os princípios de solução possíveis e as soluções conhecidas para
problemas similares.
Em seguida, procura-se definir os problemas essenciais num plano mais abstrato, para fixar
os objetivos e as principais restrições, abrindo o caminho para a procura por soluções.
O próximo passo é a criação. As soluções são desenvolvidas por vários meios e então
variadas e combinadas sistematicamente. Se o número de variantes é grande, então se deve fazer
uma avaliação, seguida por decisão, na qual a melhor solução é selecionada.
Decisões envolvem as seguintes considerações (Fig. 3.1):
• Se os resultados do passo anterior atingiram o objetivo, o passo seguinte pode ser começado;
• Se os resultados são incompatíveis com o objetivo, o próximo passo não pode ser iniciado;
• Se a repetição do passo anterior é viável financeiramente e promete bons resultados, o passo
deve ser repetido com um nível de informação superior;
• Se a resposta da pergunta anterior é não, o desenvolvimento deve ser interrompido.

Repita o passo com um nível superior de


Passo Anterior informação

Sim

Os resultados são satisfatórios em termos do Não A repetição do passo é viável


objetivo financeiramente e promissora

Sim Não

Próximo passo planejado Pare o desenvolvimento

Figura 3.1. Processo de decisão geral

3.2. Fluxo de trabalho durante o processo de projeto

As principais fases envolvidas numa atividade de projeto são:

• Clarear a tarefa
• Projeto conceitual
• Projeto preliminar
• Projeto detalhado

A figura 3.2 mostra este processo passo a passo. A cada passo uma decisão tem que ser
tomada para que o próximo passo possa ser executado, ou para que o passo anterior tenha que ser
repetido. Continuar até o fim só para descobrir que um erro sério foi cometido num estágio inicial
deve ser evitado de qualquer forma.

17
Tarefa
Mercado, empresa, economia

Planejar e clarear a tarefa:

Planejar e clarear
Analisar o mercado e a situação da empresa
Encontrar e selecionar idéias de produtos

a tarefa
Formular uma proposta de produto
Clarear a tarefa
Elaborar uma lista de requisitos

Lista de requisitos: Especificação de projeto

Projeto conceitual

Otimização do princípio
Desenvolver o princípio da solução:
Identificar os problemas essenciais
Estabelecer estruturas de funções
Procurar por princípios e estruturas de trabalho
Combinar e definir variantes conceituais
Avaliar segundo critérios técnicos e econômicos
Informação: adaptar a lista de requisitos

Conceito: Princípio de solução

Atualizações e melhorias
Desenvolver a estrutura de construção:
Projeto da forma preliminar, seleção de materiais e cálculos
Selecionar os melhores layouts preliminares
Refinar e melhorar os layouts
Avaliar segundo critérios técnicos e econômicos

Otimização do layout, formas e materiais


Projeto preliminar

Layout preliminar

Definir a estrutura de construção:


Eliminar pontos fracos
Checar erros, influências perturbadoras e custos mínimos
Otimização da produção

Preparar lista preliminar das partes e documentos de


produção e montagem

Layout definitivo
Projeto detalhado

Preparar os ducumentos de produção e operação:


Elaborar os desenhos detalhados e a lista de componentes
Completar as instruções de podução, montagem, transporte e
operacionais
Checar todos os ducumentos

Documentação do produto

Solução

Figura 3.2. Passos do processo de planejamento e projeto

18
Clarear a tarefa

Esta fase envolve a coleta de informações sobre os requisitos que devem ser implementados
à solução e também as restrições envolvidas. Nesta fase elabora-se a especificação detalhada.

Projeto conceitual

A fase de projeto conceitual envolve o estabelecimento de uma estrutura de funções, a


procura por princípios de soluções viáveis, e suas combinações em variantes de concepção. A fase
de projeto conceitual é extremamente importante e deve ser executada cuidadosamente. Nas fases
seguintes, projeto preliminar e projeto detalhado, é muito difícil ou impossível corrigir problemas
fundamentais da concepção. Uma solução de sucesso é mais provável de surgir a partir da escolha
de princípios mais apropriados, do que da concentração exagerada nos pontos finos. Isto não quer
dizer que se deve dar pouca atenção a detalhes.
As variantes de concepção elaboradas devem ser avaliadas. Variantes que não satisfazem a
especificação são eliminadas, as restantes são avaliadas e a melhor concepção de solução é
selecionada.

Projeto preliminar

Durante esta fase, o projetista, parte da concepção, determina o leiaute e as formas, e


desenvolve um produto de acordo com considerações técnicas e econômicas.
Freqüentemente é necessário produzir vários leiautes em escala para obter mais informações
sobre as vantagens e desvantagens das diferentes variantes, abrindo caminho para avaliações
técnicas e econômicas.
Obtido o melhor leiaute, pode-se checar a função, esforços, compatibilidade espacial etc..

Projeto detalhado

Esta é a fase do processo de projeto na qual o arranjo, a forma, as dimensões e as


propriedades das superfícies de todas partes individuais são especificadas. É nesta fase que todos os
desenhos e outros documentos de fabricação são produzidos.
É importante que o projetista não relaxe sua vigilância neste estágio. É um erro pensar que o
projeto detalhado não é importante, as dificuldades freqüentemente aparecem da falta de atenção a
detalhes. Correções devem ser feitas durante esta fase e passos anteriores repetidos visando
melhoramentos nas montagens e componentes.

No diagrama mostrado na figura 3.2, as atividades cruciais são:


• Otimização do princípio de solução
• Otimização do leiaute, formas e materiais
• Otimização da produção.

As atividades de projeto influenciam uma a outra, e são executadas simultaneamente durante


uma extensão considerável.
A figura 3.2 não inclui modelos e protótipos porque as informações que eles fornecem
podem ser necessárias em qualquer ponto do processo de projeto.

19
4. Clarear a tarefa

Toda tarefa envolve certas restrições que podem mudar com o tempo. No entanto, é
importante compreender bem estas restrições na fase inicial de projeto quando se procura uma
solução ótima. A tarefa deve ser claramente definida bem no início do projeto para que
amplificações e correções durante a subseqüente elaboração possa ser confinada ao essencial. Para
isto, e também para se ter uma base para decisões, deve-se elaborar uma lista de requisitos que deve
ser continuamente consultada.
Nesta fase deve-se responder as seguintes perguntas:
• Qual é realmente o problema?
• Quais são os desejos e expectativas implícitos?
• As restrições especificadas realmente existem?
• Quais campos estão abertos para desenvolvimento?

Idéias de solução pré-concebidas ou indicações concretas freqüentemente têm um efeito


negativo no desenvolvimento de uma máquina. Somente as funções requeridas, com as entradas e
saídas apropriadas, e as restrições específicas da tarefa devem ser especificadas logo no início do
desenvolvimento da máquina.

4.1. Elaboração de uma lista de requisitos (especificação de projeto)

Na elaboração da especificação detalhada, deve-se classificar os requisitos de projeto em


desejáveis e indispensáveis. É importante definir os requisitos de maneira clara, quantificando-os
quando possível. A especificação de projeto não só reflete o estágio inicial do desenvolvimento,
mas, desde que revisada e atualizada continuamente, reflete também o progresso do projeto. Os
dados podem ser coletados com ajuda da lista de checagem mostrada na figura 4.1. A lista de
requisitos deve refletir não somente os objetivos gerais e específicos, como também as restrições.
Os seguintes passos são recomendados:

Componha os requisitos

• Preste atenção aos tópicos principais da lista de checagem e determine os dados quantitativos e
qualitativos.
• Questione:
Qual o objetivo que a solução deve satisfazer?
Que propriedades ela deve ter?
Que propriedades ela não deve ter?
• Componha informações adicionais.
• Especifique claramente os requisitos separando-os em indispensáveis e desejáveis.
• Se possível, classifique os desejáveis como sendo de maior, média ou menor importância.

Organize os requisitos em ordem de clareza

• Primeiramente defina os objetivos e as características principais.


• Então desdobre-os de acordo com os principais tópicos da lista de checagem (figura 4.1).

Coloque os requisitos em formulário padrão e circule-o entre as pessoas envolvidas no projeto.


Examine objeções e recomendações, e se necessário, incorpore-as na especificação.

20
Tópicos principais Exemplos
Geometria Tamanho, altura, largura, comprimento, diâmetro, espaço requerido,
número, arranjo, acoplamento, extensão, etc.

Cinemática Tipo de movimento, direção de movimento, velocidade, aceleração, etc.

Forças Direção da força, magnitude da força, freqüência, peso, carga,


deformação, rigidez, elasticidade, forças inerciais, ressonância, etc.

Energia Saída, eficiência, perdas, atrito, ventilação, pressão, estado, temperatura,


aquecimento, refrigeração, abastecimento, armazenamento, capacidade,
conversão, etc.

Material Fluxo e transporte de materiais, propriedade físicas e químicas do produto


inicial e final, materiais auxiliares, materiais perecíveis, etc.

Sinais Entradas e saídas, forma, indicador, equipamento de controle, etc.

Segurança Sistemas de proteção direta, segurança operacional e do meio ambiente.

Ergonomia Relacionamento homem-máquina, tipos de controle, posição dos


controles, conforto do assento, luminosidade, etc.

Produção Fatores limitantes, máxima dimensão possível, métodos de produção


preferenciais, meios de produção, qualidade desejada e tolerâncias, sobras.

Controle de Possibilidades de testes e medições, aplicação de normas especiais, etc.


Qualidade
Montagem Regulagens especiais, instalação, localização, fundação, etc.

Transporte Limitação de guindastes, vão livre, meios de transporte (altura e peso),


natureza e condições dos despachos, etc.

Operação Desgaste, uso especial, área de marketing, ambiente, etc.

Manutenção Intervalos de serviços, inspeção, trocas e reparos, pintura limpeza, etc.

Custos Custo de manufatura máximo permitido, custo de ferramentas,


investimento e depreciação, etc.

Planejamento Data final para o desenvolvimento, plano de projeto e controle, data de


entrega, etc.

Figura 4.1 Lista de checagem para elaboração da lista de requisitos

A figura 4.2 mostra um exemplo de uma lista de requisitos simplificada para o


desenvolvimento de uma semeadora adubadora para o plantio direto na palha.

21
Lista de Requisitos-Especificação Identificação/Classificação
UFV Semeadora Adubadora Para O
Plantio Direto Na Palha
Pag. 01

Mudanças Responsável
Desejável
Indispensável Requisitos de Projeto
I 1- BAIXO CUSTO DE AQUISIÇÃO
Preço máximo compatível com similares do mercado

I 2- DESEMPENHO DE ALTA CONFIABILIDADE

I 3- SISTEMAS OTIMIZADOS
Maximizar: eficiência, consumo de energia, materiais e componentes

I 4-MECANICA SIMPLES
Sistemas simples, poucos componentes, preferência por sistemas
rotativos.

I 5-PESO
Compatibilizar peso com desempenho, consumo de potência, custos,
manobrabilidade e transporte.

D 6-FACILIDADE DE AJUSTE
Rapidez e facilidade das regulagens, minimizar uso de ferramentas

I 7-CONSUMO DE POTÊNCIA
Possibilidade de ser tracionada por um animal

D 8-MATERIAIS COMUNS
Utilização de materiais normalizados facilmente encontrados no
mercado
I
9-VIDA ÚTIL
Boa relação custo-benefício com vida útil de 6 anos
I
10-PEÇAS NORMALIZADAS
Uso de componentes normalizados
D
11-PROJETO MODULAR
Facilitar ajustes, intercâmbio de peças e conferir versatilidade ao
I projeto.

12-PROCESSOS CONVENCIONAIS DE FABRICAÇÃO


I Facilitar fabricação e manutenção

13-DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO
I Segurança no uso

14-CENTRO DE GRAVIDADE
Posição que facilite o manuseio e otimize o corte da palha e a abertura
D de covas

15-ADVERTÊNCIAS ESCRITAS
D Evitar uso incorreto e acidentes

16-ASPECTOS ESTÉTICOS
Promover empatia do cliente

Substituir pelo n°
Figura 4.2 Lista de requisitos de uma semeadora adubadora para plantio direto

22
4.2. O Desdobramento da Função Qualidade (QFD) ou “Casa da Qualidade”

Projeto é um esforço de equipe, mas como o marketing e a engenharia conversam entre si?

QFD é a abreviatura do termo em inglês, Quality Function Deployment, que significa


desdobramento da função qualidade. A Mitsubishi Indústria Pesada foi a primeira a formalizar o
uso do QFD (1972). No ocidente, o primeiro contato com o QFD só veio a acontecer em 1983 com
o artigo de Kogure e Akao “Desdobramento da função qualidade e o controle de qualidade amplo-
empresarial”, sendo que o primeiro estudo de caso aconteceu em 1986 na Ford.
A essência do QFD ou “Casa da Qualidade” é o fato de que os produtos devem ser
projetados para refletir os desejos e gostos do consumidor. Ela é um tipo de mapa que proporciona
os meios para planejamento e comunicação interfuncional. A casa da qualidade é um meio
sistemático de assegurar que a demanda do consumidor ou mercado (requisitos, necessidades ou
desejos) seja traduzida de forma precisa em especificações técnicas relevantes e ações concretas, ao
longo de cada estágio do ciclo de projeto e desenvolvimento do produto.
O sucesso no uso da técnica QFD tem trazido várias melhorias e vantagens no processo de
projeto e desenvolvimento de novos produtos, dentre outros podem-se citar:
• Mudanças de engenharia de projeto têm sido reduzidas de 30 a 50%.
• O ciclo de projeto têm sido encurtado de 30 a 50%.
• Os custo de início de operação têm sido reduzidos de 20 a 60%.
• As reclamações de garantia reduziram mais de 50%.
• O planejamento de garantias é mais estável.
• A comunicação entre os diferentes agentes que atuam no desenvolvimento do produto é
favorecida.
• A tradução dos requisitos do consumidor, que são vagos e difíceis de serem mensurados, é
facilitada.
• Facilita-se a identificação das características que mais contribuem nos atributos de qualidade.
• Favorece o balanceamento criterioso no processo de projeto.
• Percebe-se melhor quais as características e funções que devem receber maior atenção.

A casa da qualidade é uma matriz onde são “COMO”


posicionados os três elementos básicos de planejamento da
“Q
qualidade no desenvolvimento do produto, conhecidos como U
os “quês”, “como” e “quanto” (veja a figura 4.3). Os “quês” RELACIONAMENTO
E
são os requisitos básicos do consumidor (RC), expressados S”
nas próprias palavras do consumidor. Os “como” são os
requisitos de engenharia de projeto (RP), ou seja, são as “QUANTO”
características funcionais e de desempenho do produto,
definindo como tecnicamente se pode satisfazer os RC. Os Figura 4.3 Elementos básicos da
itens “quanto” definem os RP através de valores objetivos casa da qualidade - QFD
específicos, isto é, quanto será necessário para satisfazer o
respectivo RP. Sempre que possível, os itens “quanto” devem
ser mensuráveis.
O primeiro passo é a alocação dos RC coletados na parte esquerda da matriz (“quês”) de
maneira hierárquica, veja a figura 4.4. É normal verificar que os RC não possuem estrutura nem
clareza. Para melhor definição dos RC é usual expandi-los em ramos hierárquicos (primários,
secundários e terciários). Os requisitos primários são os desejos e expectativas básicas do
consumidor. O nível secundário serve para prover a definição do nível primário precedente. O nível
terciário define melhor o nível secundário e o nível primário. Dessa forma, pode-se obter uma lista
estruturada e melhor definida dos RC. Esta tarefa é a parte mais crítica do processo e

23
freqüentemente a mais difícil. É necessário expressar o que o consumidor realmente quer, evitando-
se influenciar o que ele espera do produto.

Necessidades do consumidor
Primárias Secundárias Terciárias
Econômico Baixo custo Cobertura de
operacional e garantia
de Baixo
manutenção consumo de
energia
Assistência
técnica
adequada

Confortável Silencioso
Fácil Leve
transporte
Seguro Confiável Robusto

Figura 4.4 Exemplo hipotético de alocação hierárquica dos requisitos do consumidor

O segundo passo é listar os RP (“como”) do produto final que afetam ou se relacionam


diretamente com os RC (“quês”). Os RP devem ser alojados na parte superior (horizontal) da
matriz, veja a Figura 4.5. Os RP descreverão o produto em termos mensuráveis, afetando
diretamente a percepção do consumidor.

Requisitos de Projeto
Manutenibilidade

Cons. de energia

Fácil de instalar
Confiabilidade

Durabilidade
Baixo ruído
Baixo peso

Segurança
Compacto

Necessidades do Consumidor
Primárias Secundárias Terciárias
Econômico Baixo custo Cobertura de
operacional e garantia
de Baixo cons.
manutenção de energia
Assistência
téc. adequada

Confortável Silencioso
Fácil transp. Leve
Seguro Confiável Robusto

Figura 4.5 Alocação dos requisitos de projeto (RP) na matriz planejamento (hipotético)

No terceiro passo são realizados os respectivos relacionamentos entre RP e RC no centro da


“Casa da qualidade”, veja a Figura 4.6. Para isso, utiliza-se um processo de aplicação de critérios de
importância dos parâmetros. Estes relacionamentos são representados por diferentes simbologias de
fatores de relevância, que correspondem à intensidade no relacionamento entre RC e RP (forte,
moderado, fraco ou nenhum). A matriz de relacionamento indica quanto cada RP afeta cada um dos

24
RC. O preenchimento da matriz de relacionamento utilizando os símbolos apropriados possibilita
uma indicação rápida de que os RP do produto final cobrem adequadamente, ou não, os RC. A
ausência de símbolos ou uma freqüência maior de símbolos de relacionamento fraco indicam que
alguns requisitos de projeto (RP) ou requisitos do consumidor (RC) não estão devidamente
endereçados. Neste caso, o projeto terá pouca probabilidade de satisfazer as necessidades do
consumidor.
Fortemente positivo
Positivo
X Negativo

# Fortemente negativo

Requisitos de Projeto

Manutenibilidade

Cons. de energia

Fácil de instalar
Confiabilidade

Durabilidade
Baixo ruído
Baixo peso

Segurança
Compacto
Necessidades do Consumidor
Primárias Secundárias Terciárias
Econômico Baixo custo Cobertura de
operacional e garantia ∆ ● ● ○ ● ●
de Baixo cons.
manutenção de energia
● ● ∆ ○ ∆ ○ ●
Assist. téc.
adequada
○ ○ ● ● ○ ∆ ∆ ●

Confortável Silencioso ∆ ∆ ● ∆ ∆
Fácil transp. Leve ● ● ∆ ● ● ∆ ○ ∆ ∆
Seguro Confiável Robusto ○ ● ○ ● ● ○ ● ○

● Forte relacionamento = 5

○ Médio relacionamento = 3

∆ Fraco relacionamento = 1

Nenhum relacionamento = 0

Figura 4.6. Preenchimento das matrizes de relacionamento e correlação

O quarto passo é a correlação entre os RP, compondo o “telhado” da casa da qualidade (veja
a Figura 4.6). Cada célula na matriz de correlação está relacionada com um par de RP. Para cada
célula é feita a seguinte pergunta: Qual é a extensão da mudança na especificação de uma
característica que afeta uma outra? Seguindo o mesmo procedimento anterior, são utilizados cinco
símbolos de correlação: positivo, fortemente positivo, negativo, fortemente negativo e nenhum. As
células indicando uma forte correlação positiva ou negativa identificam características do produto
que irão requerer maior coordenação e comunicação entre os grupos de desenvolvimento. A
correlação positiva ajuda a identificar os RP que têm um íntimo relacionamento, possibilitando

25
dessa maneira, evitar um esforço duplicado no projeto. Correlação negativa representa condições
que possivelmente precisarão de balanceamento entre estes fatores.

Fortemente positivo
Positivo
X Negativo

# Fortemente negativo

Requisitos de Projeto Avaliação de Mercado

Manutenibilidade

Pontos de vendas
Peso importância
Cons. de energia

Valor do cliente
Fácil de instalar

Razão melhoria
Confiabilidade

Competidor A
Competidor B
Durabilidade
Baixo ruído
Baixo peso

Segurança
Necessidades do Consumidor Compacto

Nosso

Meta
Primárias Secundárias Terciárias
Econômico Baixo custo Cobertura de
operacional e garantia ∆ ● ● ○ ● ● 5 3 1 3 5
de Baixo cons.
● ● ∆ ○ ∆ ○ ● 1 3 3 5 3
manutenção de energia
Assist. téc.
adequada ○ ○ ● ● ○ ∆ ∆ ● 5 5 4 2 5

Confortável Silencioso ∆ ∆ ● ∆ ∆ 3 3 1 2 3
Fácil transp. Leve ● ● ∆ ● ● ∆ ○ ∆ ∆ 5 4 1 3 5
Seguro Confiável Robusto ○ ● ○ ● ● ○ ● ○ 3 5 2 3 3

● Forte relacionamento = 5

○ Médio relacionamento = 3

∆ Fraco relacionamento = 1

Nenhum relacionamento = 0

Figura 4.7. Colunas de avaliação de mercado (exemplos hipotéticos)

No lado direito da “casa da qualidade” avaliam-se os aspectos de mercado para cada


requisito do consumidor (RC), veja a Figura 4.7.
O quinto passo é o preenchimento da coluna “valor do consumidor”. Faz-se a seguinte
pergunta em relação a cada um dos RC. Quão importante é esta necessidade para o consumidor?
Através de pesos que variam de 1 (sem importância) a 5 (muito importante) classifica-se a
importância dos RC de acordo com o próprio consumidor.
O sexto passo é o preenchimento da coluna “nosso”. Seguindo a abordagem anterior
pergunta-se. Quão bem a empresa está fazendo para alcançar as necessidades do consumidor? Por
meio de uma auto avaliação em equipe, ou através dos próprios consumidores, é feita a
classificação da posição da empresa em relação aos requisitos em estudo, atribuindo valores de 1 a
5.

26
O sétimo passo é o preenchimento das colunas “competidores” seguindo a mesma
abordagem anterior. Para isto são usadas informações disponíveis ou utilizando o próprio
julgamento da equipe.
No oitavo passo a coluna “metas” é preenchida baseando-se na avaliação realizada no
sétimo passo. Metas realísticas são estabelecidas em função da avaliação do que o consumidor acha
do desempenho dos competidores e da própria empresa.
Em seguida (nono passo), na coluna “razão de melhoria”, são computadas as razões de
melhorias para cada RC, dividindo o peso da meta pelo desempenho da empresa na respectiva linha.
Por exemplo, para um RC que a meta foi estabelecida com um peso 5, e o julgamento da empresa
na coluna “nosso” foi estabelecida com um peso 3, a razão de melhoria será de 5/3 = 1,66.
No décimo passo são avaliados aspectos relacionados com as características que
influenciariam diretamente uma venda, computando os dados de cada RC na coluna “fatores de
venda”. Um fator de 1,5 indica um requisito que é um fator de venda importante. Um fator de 1,2
indica que é uma característica de venda moderadamente forte. Um fator de 1 indica uma
característica que não tem impacto nas vendas.
O décimo primeiro passo finaliza o lado direito da casa da qualidade. Com todas as linhas
preenchidas passa-se ao cálculo do peso de importância de cada RC na coluna “peso de
importância”, que é o produto dos valores das colunas, “valor do consumidor”, “taxa de melhoria” e
“fatores de vendas”. O resultado provê uma ordem de classificação das necessidades do
consumidor.
O décimo segundo, o décimo terceiro e o décimo quarto passo são realizados na parte
inferior da “casa da qualidade” (Figura 4.8).
Décimo segundo passo. Um outro fator a avaliar, são os aspectos técnicos dos produtos da
empresa e dos competidores. Para isto são colocados os valores das características de engenharia
dos produtos competidores, relativos aos RP especificados na matriz. Os dados utilizados são
obtidos usualmente através de testes ou avaliações conduzidas dentro da empresa. A informação
cobre o produto da empresa e dos competidores. Em seguida, são realizadas comparações entre a
avaliação de mercado e as avaliações das características de engenharia do produto, dando a
possibilidade de se encontrar áreas de inconsistência entre o que o consumidor diz e os resultados
da avaliação da equipe de projeto.
Décimo terceiro passo. Após a identificação e análise de cada RP e também do
relacionamento destes requisitos aos respectivos RC, segue-se um processo de tomada de decisão
para estabelecer e incluir os respectivos valores objetivos (meta) de cada RP.
Décimo quarto passo. Aqui é calculada a ordem de importância de cada RP. Para cada
elemento simbólico foi dado um peso de 1 a 5, como indicado na Figura 4.8. Na parte inferior da
matriz são colocados os valores e ordem de importância dos RP. Estes valores são calculados
através da soma dos resultados de cada coluna relativa aos RP, de tal forma que, estes resultados
são o produto do peso de importância dos RC na matriz de avaliação de mercado e o fator de
intensidade de relacionamento identificada em cada célula da matriz.
Esta ordem de importância dos RP e o peso de importância dos RC dão a possibilidade de se
identificar quais dos RC e RP receberão maior atenção no desenvolvimento do projeto.
A construção da Casa da Qualidade permite basicamente estabelecer prioridades sobre o que
o consumidor deseja do produto, informando ao projetista e todos aqueles que afetam as dimensões
da qualidade, quais destes parâmetros devem receber maior atenção durante o projeto, fabricação,
montagem, venda e serviço do produto. A Figura 4.9 mostra um exemplo de uma casa da qualidade
simplificada para uma semeadora adubadora para o plantio direto.

27
Fortemente positivo
Positivo
X Negativo

# Fortemente negativo

Requisitos de Projeto Avaliação de Mercado

Manutenibilidade

Pontos de vendas
Peso importância
Cons. de energia

Valor do cliente
Fácil de instalar

Razão melhoria
Confiabilidade

Competidor A
Competidor B
Durabilidade
Baixo ruído
Baixo peso

Segurança
Compacto
Necessidades do Consumidor

Nosso

Meta
Primárias Secundárias Terciárias
Econômico Baixo custo Cobertura de
operacional e garantia ∆ ● ● ○ ● ● 5 3 1 3 5
de Baixo cons.
● ● ∆ ○ ∆ ○ ● 1 3 3 5 3
manutenção de energia
Assist. téc.
adequada
○ ○ ● ● ○ ∆ ∆ ● 5 5 4 2 5

Confortável Silencioso ∆ ∆ ● ∆ ∆ 3 3 1 2 3
Fácil transp. Leve ● ● ∆ ● ● ∆ ○ ∆ ∆ 5 4 1 3 5
Seguro Confiável Robusto ○ ● ○ ● ● ○ ● ○ 3 5 2 3 3

Unidades
Competidor A
Competidor A
Nosso
Valor objetivo
Classificação de importância

● Forte relacionamento = 5

○ Médio relacionamento = 3

∆ Fraco relacionamento = 1

Nenhum relacionamento = 0

Figura 4.8 Exemplo de uma Casa da Qualidade hipotética

Uma vez clareada a tarefa adequadamente e as pessoas envolvidas estando de acordo de que
os requisitos listados podem ser atendidos técnica e economicamente, pode-se partir para a fase do
projeto conceitual.

28
Figura 4.9. Casa da qualidade para uma semeadora adubadora para o plantio direto

29
5. Projeto conceitual
Especificação
No projeto conceitual, como o próprio nome diz, define-se
basicamente a concepção da solução, ou seja, todos os princípios de
Identificar problemas
funcionamento dos diversos sistemas da máquina. Nesta fase de essenciais
projeto deve-se identificar os problemas essenciais através de
abstração, elaborar uma estrutura de funções, procurar por princípios
Estabelecer uma estrutura
de solução apropriados para realizar essas funções, combinar os de funções e sub-funções
princípios de solução para criar variantes de solução e avaliar essas
variantes para selecionar uma concepção de solução. A figura 5.1
Procura de princípios
mostra esquematicamente as fases do projeto conceitual. de solução para
executar as sub-funções
5.1 Abstraindo para identificar problemas essenciais
Combinação de princípios
Princípios de solução ou projetos baseados nos métodos de solução para
executar a função total
tradicionais não são prováveis de proverem respostas ótimas, quando
novas tecnologias, procedimentos, materiais e também novas
descobertas científicas, possibilitam a descoberta de soluções Avaliação e seleção
de variantes de projeto
melhores.
Preconceitos, convenções e a pressão para minimizar riscos,
levam os projetistas a optarem por soluções conhecidas, ou seja, Concepção inicial
convencionais. Na procura por soluções ótimas, o projetista deve
recorrer à abstração, que significa ignorar o que é particular e
enfatizar o que é geral e essencial. Desta forma, a função total e as
principais restrições se tornam claras sem prejudicar a escolha de Figura 5.1 Passos do
uma solução particular. projeto conceitual
Uma vez o ponto chave da tarefa tenha sido esclarecido,
facilita-se a formulação da tarefa geral em termos dos subproblemas
essenciais, à medida que eles forem aparecendo.
O passo anterior (especificação do projeto) ajudou a concentrar a atenção do projetista nos
problemas envolvidos, aumentando seu nível particular de informação. Agora ele deve analisar a
especificação em relação às funções requeridas e as restrições essenciais, seguindo os seguintes
passos:

1. Eliminar preferências pessoais.


2. Omitir requisitos irrelevantes às funções e restrições essenciais.
3. Transformar dados quantitativos em qualitativos e reduzi-los aos essenciais.
4. Generalizar os resultados do passo anterior.
5. Formular o problema em termos independente da solução.

Essa análise leva a definição do objetivo a um plano abstrato, sem definir nenhuma solução
particular.

5.2 Estabelecimento de uma estrutura de funções

5.2.1 Função total

Uma vez o ponto chave do problema tenha sido formulado, é possível indicar uma função
total que, baseada no fluxo de energia, material e sinal, pode expressar o relacionamento entre
entradas e saídas do sistema independentemente da solução. O uso de um diagrama de blocos
facilita bastante essa indicação.

30
5.2.2 Quebrando a função total em subfuncões

Dependendo da complexidade do problema, a função total será mais ou menos complexa,


isto é, ela exibirá pouca transparência entre as entradas e saídas do sistema.
Da mesma forma que um sistema técnico pode ser dividido em subsistemas e elementos, a
função total pode ser quebrada em subfunções de menor complexidade. A combinação de
subfunções individuais resulta numa estrutura de funções que representa a função total.
Os objetivos da quebra de funções complexas são:
• Determinar subfunções de menor complexidade para facilitar a subseqüente procura por
soluções.
• Combinar essas subfunções em uma estrutura de funções simples.
No caso de projetos originais, nem as subfunções individuais nem seus relacionamentos são
geralmente conhecidos. Neste caso, a procura por e o estabelecimento de uma estrutura de funções
ótima constitui um dos passos mais importantes da fase conceitual de projeto.
No caso de projetos adaptativos a estrutura de funções pode ser obtida através da análise do
produto a ser desenvolvido porque a estrutura geral, com suas montagens e componente, é
conhecida. Dependendo da demanda da especificação, esta estrutura de funções pode ser
modificada pela variação, adição ou omissão de subfunções individuais, ou por mudanças nas suas
combinações.
Para projetos variantes a estrutura física, ou seja, os componentes individuais usados como
blocos construtivos e também seus relacionamentos, devem ser refletidos na estrutura de funções.
Uma outra vantagem da elaboração de uma estrutura de funções é que ela permite uma
definição clara de subsistemas existentes, ou dos que serão desenvolvidos. Então se pode lidar com
eles separadamente.
No caso de novas montagens ou aquelas que requerem desenvolvimentos posteriores, a
divisão em subfunções de complexidade decrescente deve ser continuada até que a procura por uma
solução pareça promissora.

5.2.3 Considerações físicas

A demanda ou os desejos que constam na especificação do projeto reflete o relacionamento


físico da conversão de energia material e sinais. Eles devem ser representados por uma estrutura de
funções apropriada.

É mais proveitoso começar pelo estabelecimento do fluxo principal. Uma vez estabelecida
uma estrutura de funções simples com seus relacionamentos, é muito mais fácil, num passo
posterior, considerar os fluxos auxiliares com suas subfunções correspondentes e também proceder
uma análise de subfunções complexas.

Fluxo de energia e direção Funções principais

Fluxo de material e direção Funções auxiliares

Fluxo de sinais e direção Domínio do sistema

Figura 5.2 Símbolos para representar subfunções numa estrutura de funções

Na figura 5.2 é mostrada a simbologia utilizada na construção de estruturas de funções.


A figura 5.3 mostra uma estrutura de funções de uma máquina para ensaios de tração em
corpos de prova, com um fluxo de energia, material e sinal relativamente complexo. Nesse tipo de
função total, a estrutura de funções é construída passo a passo a partir de subfunções. Inicialmente
as atenções foram focadas nas funções principais essenciais. Então num primeiro nível funcional,

31
somente foram especificadas as subfunções que satisfazem diretamente a função total requerida.
Depois foram adicionadas subfunções complexas como “alterar energia para força e movimento” e
“aplicar carga no corpo de prova”, porque elas ajudam a estabelecer uma estrutura de funções
simples.

Energia de deformação
Energia(carga) Testar Corpo de prova deformado
Corpo de prova corpo de prova
Sinal de força
Sinal (força e deformação)
Sinal de deformação

E (carga) Alterar energia Mede força S (força)


para força e
S movimento Mede deformação S (deformação)
Aplica carga no E (deformação)
Corpo de prova corpo de prova Corpo de prova
deformado
Figura 5.3 Função total e subfunções de uma máquina de ensaios de tração

Neste problema em consideração, os fluxos de energia e sinais são aproximadamente


equivalentes em importância na procura por uma solução, enquanto que o fluxo de material (que é a
troca de corpos de prova) só é essencial para a função “segurar corpo de prova”, na qual foi
adicionada na figura 5.4. Como é impossível especificar somente um fluxo principal, uma função de
ajuste para a magnitude das cargas e a energia perdida durante o fluxo de energia(na saída do
sistema) foram adicionados porque ambos afetam claramente o projeto. A energia requerida para
deformar o corpo de prova é perdida. Além disso, as funções auxiliares “amplificar medições” e
“comparar meta com valor atual” provaram indispensáveis para o ajuste do nível de energia.

E (aux)
Compara meta
SF (meta) com valor Amplifica
S∆L atual medições Mede SF
(meta) força

Ecarga Altera energia Ajusta fluxo Mede


em força e de energia deformação S∆L
S movimento
Eperdas

Segura Aplica carga Edeformação


Corpo corpo de no corpo de
de prova prova Corpo de
prova prova
deformado

Figura 5.4 Estrutura de funções completa de uma máquina de ensaios de tração em corpos de prova
A figura 5.5 mostra um exemplo de uma estrutura de funções para uma semeadora
adubadora para plantio direto.

32
5.2.4 Uso prático de estruturas de funções

Ajuste
Ajuste
Carga de Indicar nível
Armazenar
sementes Descarga de
sementes
sementes
Ajuste
Indicar estado
Liga/desliga Dosar Conduzir (ligado/desligado)

Energia Modifica sementes sementes

Energia
Modifica
Energia Modifica

Semente no solo
Ajuste Cortar Abrir Depositar Depositar Fechar Compactar
palha sulco / cova Adubo no solo
sementes adubo sulco terra
Linha de plantio
Ajuste destacada
Energia Modifica
Energia Modifica
Energia Modifica Dosar Conduzir
Liga/desliga adubo adubo
Indicar estado
Ajuste (ligado/desligado)

Descarga de adubo
Carga de Armazenar
adubo adubo Indicar nível

Ondulações Acompanhar
irregularidade Desempenho
do terreno uniforme
do solo

Limite do sistema Funções principais


Fluxo de sinal
Fluxo de energia Funções auxiliares
Fluxo de material

Figura 5.5 Exemplo de estrutura de funções para uma semeadora adubadora para plantio direto

Na elaboração de uma estrutura de funções deve-se ter em mente os seguintes pontos:

1. Derive inicialmente uma estrutura de funções aproximada com poucas subfunções, a partir dos
relacionamentos funcionais que você pôde identificar na especificação. Em seguida, quebre esta
estrutura aproximada passo a passo, através da resolução de subfunções complexas. Isto é muito
mais fácil do que começar com estruturas mais complicadas. Em certas circunstâncias é mais
vantajoso substituir uma primeira concepção de solução pela estrutura aproximada e então, pela
análise desta primeira concepção, derivar outras subfunções importantes. Também é possível
começar pelas subfunções que suas entradas e saídas atravessam a fronteira do sistema assumido.
Em seguida, nós podemos então determinar as entradas e saídas para as funções vizinhas. Em
outras palavras, trabalhar a partir da fronteira do sistema seguindo em direção ao seu interior.
2. Se não for possível identificar um relacionamento claro entre as subfunções, a procura por um
primeiro princípio de solução pode, sobre certas circunstâncias, ser baseado na mera enumeração
de subfunções importantes sem relacionamento lógico ou físico, mas se possível, arranjados em
ordem de complexidade crescente.

3. Relacionamentos lógicos podem conduzir a estruturas de funções através das quais os elementos
de vários princípios de trabalho (mecânicos, elétricos etc.) podem ser antecipados.

33
4. Estruturas de funções não estão completas até que o fluxo existente ou esperado de material,
energia e sinais sejam especificados. É usual começar concentrando atenção no fluxo principal
porque, como regra geral, ele determina o projeto e é mais fácil de ser derivado a partir da
especificação. Os fluxos auxiliares ajudam na posterior elaboração do projeto, lidando com
falhas e problemas de transmissão de potência, controle etc. A estrutura de funções completa,
compreendendo todos os fluxos e seus relacionamentos, pode ser obtida por iterações, isto é,
inicialmente pela procura da estrutura do fluxo principal e em seguida completando esta estrutura
com os fluxos auxiliares.

5. Nas conversões de energia, material e sinais é usual a ocorrência de várias subfunções na maioria
das estruturas. Então elas serão introduzidas agora.

Conversão de energia:
• Alterar energia (elétrica em mecânica, mecânica em hidráulica)
• Variar energia dos componentes (amplificar torque)
• Conectar energia com um sinal (interruptor elétrico)
• Armazenar energia (armazenar energia cinética)

Conversão de material:
• Mudar matéria (liqüefazer um gás)
• Variar dimensões do material (laminar folha de metal)
• Conectar material de diferentes tipos (misturar ou separar materiais)
• Armazenar material (manter grãos num silo)

Conversão de sinais:
• Alterar sinal (mudar sinal mecânico para elétrico)
• Variar magnitude de sinal (aumentar amplitude de sinal)
• Conectar sinal com energia (amplificar medidas)
• Conectar sinal com matéria (marcar material)
• Conectar sinal com sinal (comparar valores objetivos com atuais)
• Armazenar sinais(em bancos de dados)

A partir de uma estrutura aproximada ou de uma estrutura obtida pela análise de sistemas
conhecidos, é possível derivar variantes e então otimizar a solução por: quebras ou combinações
de subfunções individuais, alterar o arranjo de subfunções individuais, alterar o tipo de
associações utilizadas (série ou paralela) e alterar o domínio do sistema.
A variação de estruturas de funções introduz soluções distintas, então a elaboração de estruturas
de funções constitui o primeiro passo na procura por soluções.

6. Estruturas de funções devem ser mantidas o mais simples possível, para conduzir à soluções
simples e econômicas.

Estruturas de funções tem o objetivo de facilitar descobertas de soluções e não têm fim em si
próprias. O grau de desenvolvimento destas estruturas depende muito da tarefa a ser executada e
também da experiência do projetista.

5.3 Procurando por princípios de solução para atender as subfunções

Deve-se encontrar princípios de solução para atender as várias subfunções. Estes princípios
devem eventualmente serem combinados. Um princípio de solução deve refletir os efeitos físicos
necessários para atender uma dada função e também suas características de projeto da forma. Em
vários casos não é necessário procurar por efeitos físicos especiais, o projeto da forma sendo o

34
maior problema. Freqüentemente é difícil de fazer uma distinção mental clara entre os efeitos
físicos e o projeto da forma durante a procura por uma solução.
Deve-se enfatizar que este passo que estamos discutindo agora tem o objetivo de conduzir a
várias variantes de solução. Um campo de soluções pode ser construído pela variação de efeitos
físicos e do projeto da forma. Além disso, vários efeitos físicos podem ser envolvidos em um para
satisfazer uma subfunção particular.
Os auxílios e métodos seguintes são úteis na procura por soluções, não somente durante a
fase conceitual do projeto, mas também durante a fase seguinte - o projeto preliminar.

5.3.1. Auxílios convencionais

1. Pesquisa literária
Para o projetista, dados tecnológicos atuais proporcionam informações importantes. Estes
dados podem ser encontrados em: livros textos, jornais e revistas técnicas, bancos de patentes e em
catálogos publicados por empresas competidoras. Eles proporcionam uma fonte útil de
possibilidades de soluções conhecidas. A elaboração de bancos de dados, armazenados em sistemas
computacionais, é muito útil para usos futuros.

2. Análise de sistemas naturais


O estudo de formas naturais, estruturas, organismos e processos podem conduzir a soluções
técnicas muito úteis. A conecção entre biologia e tecnologia são investigadas pela biônica e
biomecânica. A natureza pode estimular a imaginação criativa do projetista de várias maneiras. “O
mundo das máquinas... é inspirado pelo jogo do orgasmo da reprodução. O projetista anima objetos
artificiais pela simulação dos movimentos dos animais comprometidos na propagação das espécies.
Nossas máquinas são Romeus de aço e Julietas de ferro” (J. Conen, Human Robot em Mitos e
Ciência, Allen & Unwin, Londres, 1960, p.67).

Figura 5.6 Parede de uma haste (talo) de trigo

35
Aplicações técnicas dos princípios de projeto de formas naturais incluem estruturas de baixo
peso empregando colméias; tubos e conecções; perfis de aeronaves, barcos etc. De grande
importância são estruturas de baixo peso na forma de hastes finas, como o talo do trigo (Figura 5.6).
A figura 5.7 mostra algumas derivações de princípios naturais que tem provado ser muito útil na
construção de aeronaves - a construção tipo “sandwich”.

Figura 5.7 Construção “sandwich” para estruturas de baixo peso


a) algumas estruturas em forma de colméia,
b) estruturas completas utilizando colméias
c) estrutura em caixa composta por colméias

O fecho tipo velcro é outro exemplo de aplicação técnica baseado em análise de sistemas
naturais. Este produto foi inspirado nos ganchos de um “carrapicho” (Figura 5.8).

36
Figura 5.8 Ganchos de um carrapicho e fecho tipo Velcro

3. Análise de sistemas técnicos existentes


A análise de sistemas técnicos existentes é um dos meios mais importantes de geração de
variantes de solução novas, ou melhoradas passo a passo. Esta análise envolve a “dissecação”
mental, ou mesmo física, de produtos acabados. Ela pode ser considerada uma forma de análise de
estruturas baseada na descoberta de relações lógicas, físicas e do projeto da forma.
Sistemas existentes usados para análise podem incluir:
• Produtos ou métodos de empresas competidoras;
• Produtos e métodos antigos de alguma empresa;
• Produtos similares ou montagens nas quais várias subfunções ou partes da estrutura de funções
correspondem com a solução procurada.

4. Analogias
Na procura por soluções e na análise das propriedades do sistema, freqüentemente é útil
substituir um problema análogo (ou sistema) pelo que está sendo considerado, tratando-o como um
modelo. Em sistemas técnicos, analogias podem ser obtidas pela troca do tipo de energia utilizada.
Analogias de esferas não técnicas também podem ser muito úteis.
Além de ajudar na procura por uma solução, analogias também são muito úteis no estudo do
comportamento do sistema durante o estágio inicial de seu desenvolvimento. Este estudo pode ser
feito por meio de simulações e técnicas de modelagem para otimizar o sistema. Além disso, pode-se
utilizar essa técnica para identificar novas subsoluções essenciais.
Se o modelo aplicado ao sistema tem diferenças dimensionais e/ou condições marcantes,
uma análise de similaridade deve ser executada.

5. Medições e testes de modelos


Medições em sistemas existentes, testes de modelos (suportado por análise de similaridade)
e outros estudos experimentais estão dentre as fontes mais importantes de informação.
Desenvolvimentos experimentais são freqüentemente incorporados na atividade de projeto.

5.3.2. Métodos com canal intuitivo

O projetista freqüentemente procura e descobre soluções para um problema difícil utilizando


intuição, isto é, a solução vem até ele num “flash” após um período de procura e reflexão. “A idéia
boa não é descoberta ou redescoberta; ela acontece”. Ela é então desenvolvida, modificada e
emendada, até o momento que ela conduz à solução do problema.

37
Boas idéias são freqüentemente examinadas pelo subconsciente ou pré-consciente sob a luz
de conhecimento especializado, experiência e problema em mãos. Freqüentemente o simples ímpeto
resultante de associação de idéias basta para forçá-las ao consciente. Este ímpeto pode surgir de
eventos externos ou discussões aparentemente sem relacionamento com o problema.
Freqüentemente uma idéia súbita do projetista irá acertar o alvo, então tudo que ele precisa é fazer
mudanças ou adaptações que conduzem diretamente à solução final. Muitas soluções boas nascem
desta forma e são desenvolvidas com sucesso.
Um bom método de projeto não pode eliminar este processo, pelo contrário ele deve ser
estimulado.
Métodos puramente intuitivos têm as seguintes desvantagens:
• A idéia certa não vem na hora certa, pois ela não pode ser forçada
• Convenções e preconceitos pessoais podem inibir desenvolvimentos originais
• Novas tecnologias ou procedimentos podem falhar em alcançar a consciência do projetista
devido a informações inadequadas
Estes perigos aumentam com a especialização, as divisões de tarefas e as pressões
relacionadas ao tempo.
Existem vários métodos para encorajar a intuição e abrir novas perspectivas pela associação
de idéias. O mais simples e mais comum deles envolve discussões críticas com colegas. A maioria
destas técnicas foi criada originalmente para solucionar problemas não técnicos, mas elas são
aplicáveis em qualquer área que necessite de idéias novas.

1. “Brainstorming”
“Brainstorming” pode ser traduzido como: provocando uma tempestade cerebral. Essa
técnica é um método de geração de novas idéias, na qual um grupo de pessoas de mente aberta traz
qualquer pensamento que ocorra a eles. Desta forma, novas idéias são estimuladas nas mentes dos
outros participantes. Para fazer uma seção de “brainstorming” deve-se convidar pessoas de várias
esferas da vida (o mais variado possível). “Brainstorming” baseia-se fortemente na estimulação da
memória e na associação de idéias que ainda não foram consideradas no contexto ou nunca foram
permitidas de alcançar a consciência.
Para melhor eficiência, seções de “Brainstorming” devem seguir as seguintes linhas.
a) Composição do grupo
• Um líder
• 5 a 15 componentes
• O grupo não deve ser confinado a especialistas
• O grupo não deve ser estruturado hierarquicamente para prevenir censuras

b) Liderança do grupo
• O líder só deverá tomar iniciativa lidando com problemas organizacionais,
isto é, convites, composição, duração e avaliação.
• Antes da sessão de “brainstormig” ele deve delinear o problema e durante a
sessão ele deve observar se as regras estão sendo seguidas e, em particular, se a
atmosfera permanece livre e fácil.
• Então ele deve começar a sessão expressando idéias absurdas, ou
mencionando um exemplo de uma outra sessão de “brainstorming”.
• Ele não deve liderar a expressão das idéias. Por outro lado ele pode
encorajar o fluxo de novas idéias quando perceber que a produtividade do grupo
diminuiu.
• O líder do grupo deve garantir que ninguém critique as idéias dos outros
participantes. Ele pode apontar um ou dois participantes para aguardar alguns minutos.

c) Procedimento

38
• Todos participantes devem evitar rejeitar como absurdo, falso,
desagradável, humilhante, estúpido ou redundante, qualquer idéia expressada
espontaneamente por si próprio, ou por outros participantes do grupo.
• Nenhum participante deve criticar idéias que surgirem e ninguém deve
dizer frases prejudiciais como: “nós já escutamos isto antes”, “isto não pode ser feito”,
“isto nunca vai funcionar”, “isto não tem nada a ver com o problema”. Novas idéias
podem ser usadas por outros membros do grupo, que podem mudá-las ou desenvolvê-
las. Às vezes é proveitoso combinar várias idéias em novas propostas.
• Todas idéias devem ser escritas, esboçadas, ou faladas em gravador.
• Todas sugestões devem ser suficientemente concretas para permitir que
soluções específicas apareçam.
• A praticidade das sugestões deve ser ignorada a princípio.
• A sessão deve durar entre 30 e 45 minutos. Experiências têm mostrado que
sessões longas não produzem nada de novo e conduzem a repetições desnecessárias. É
melhor fazer uma nova sessão com novas idéias de outros participantes num outro dia.

d) Avaliação
• Os resultados são revisados por especialista e, se possível, classificados em
ordem de viabilidade e desenvolvidos posteriormente.
• Os resultados finais devem ser revisados com o grupo inteiro para evitar
possíveis desentendimentos ou interpretações unilaterais por partes dos especialistas.
Idéias novas e mais avançadas podem ser mais bem expressadas ou desenvolvidas
durante uma nova sessão.

“Brainstorming” é indicado quando:


• Nenhuma solução prática foi descoberta
• Existe um sentimento geral que o projeto está “travado”
• Uma mudança radical é requerida.

Brainstorming pode ser muito útil para desenvolver soluções. O projetista lembrará de idéias
geradas nestas sessões em muitas ocasiões. Porém não se deve esperar milagres. A maioria das
idéias expressadas não serão viáveis técnica ou economicamente.

2. Método 635
Este método é um desenvolvimento do “brainstorming”.
a) Depois de se familiarizar com a tarefa analisando-a cuidadosamente, pede-se para os
participantes de um grupo de seis pessoas escreverem três soluções aproximadas na forma
de palavras-chaves.
b) Depois de algum tempo, as soluções são enviadas ao participante vizinho que, depois de ler
as sugestões prévias, adiciona outras três soluções ou desenvolvimentos.
c) Esse processo é continuado até que cada conjunto original de três soluções seja completado
ou desenvolvido através de associações, pelos cinco outros participantes, por conseqüência o
nome do método.

O método 635 tem as seguintes vantagens sobre o “brainstorming”:


• Uma boa idéia pode ser desenvolvida mais sistematicamente
• É possível seguir o desenvolvimento de uma idéia e determinar mais ou menos de forma precisa
quem originou o princípio de solução bem sucedido, que pode ser aconselhável por razões legais
• O problema de liderança do grupo raramente aparece.

39
A desvantagem relativa do método é a redução da criatividade dos participantes causada
pela isolação e falta de estímulo devido a ausência de uma atividade de grupo aberta.

5.3.3 Elaboração de uma matriz morfológica

A apresentação sistemática de dados facilita a procura por futuras soluções em várias


direções e a identificação e combinação de características fundamentais para a solução. Essas
vantagens motivaram a elaboração de matrizes morfológicas.
O esquema usual de duas dimensões consiste de linhas e colunas, que representam sub-
funções e princípios de solução respectivamente. Essas matrizes morfológicas ajudam no processo
de projeto de várias formas. Em particular, elas podem ser utilizadas como catálogos de projeto
durante toda a fase de procura por uma solução. Além disso, e elas também podem ajudar na
combinação de subsoluções em soluções gerais.
Na procura por soluções para várias subfunções é aconselhável alojar estas subfunções nas
linhas da matriz. As colunas apropriadas são então preenchidas com possíveis princípios de solução
e suas características, em ordem numérica. As soluções podem ser: efeitos físicos, princípios de
trabalho, componentes selecionados, ou simplesmente características de soluções individuais.
Soluções gerais distintas são desenvolvidas através da combinação de princípios de solução. O
método de combinação será discutido no próximo item.

TIPOS DE ENERGIA, EFEITOS FÍSICOS E ASPECTOS EXTERNOS


Título Exemplos
Mecânico: Gravitação, inércia, força centrífuga
Hidráulico: Hidrostático, hidrodinâmico
Pneumático: Aeroestático, aerodinâmico
Elétrico: Eletrostático, eletrodinâmico, indutivo, capacitivo, piezoeléctrico,
transformação, retificação
Magnético: Ferromagnético, eletromagnético
Ótico: Reflexão, refração, difração, interferência, polarização, infravermelho,
visível, ultravioleta
Térmico: Expansão, efeito bimetal, armazenamento de calor, transferência de calor,
condução de calor, isolamento de calor
Químico: Combustão, oxidação, redução, dissolução, combinação, transformação,
eletrólise, reações exotérmicas e endotérmicas
Figura 5.9 Características para variação na procura (área física)

Em resumo, a procura por princípios de solução para as subfunções deve ser baseada nos
seguintes itens:
• Preferência deve ser dada as subfunções principais, pois elas determinam o princípio da solução
total, e para as subfunções que ainda não foram descobertos nenhum princípio de solução.
• As funções e suas características associadas devem ser derivadas de relacionamentos
identificáveis entre os fluxos de energia, material e sinais, ou a partir dos sistemas associados.
• Se o princípio físico de trabalho não é conhecido, ele deve ser derivado de efeitos físicos e do
tipo de energia. Se o princípio de trabalho já foi determinado, formas apropriadas de projeto
(superfícies, movimentos e materiais) devem ser escolhidas e variadas. Listas de checagem
devem ser usadas para estimular novas idéias, veja as Figuras 5.9 e 5.10.

SUPERFÍCIES, MOVIMENTOS E PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS MATERIAIS


SUPERFÍCIES
Título Exemplos
Tipo: Ponto, linha, superfície, corpo
Forma: Curva, círculo, elipse, hipérbole, parábola, triângulo, quadrado,

40
retângulo, pentágono, hexágono, octágono, cilindro, cone, cubo, esfera,
simétrico, assimétrico
Posição: Axial, radial, vertical, horizontal, paralelo, seqüencial
Tamanho: Pequeno, grande, estreito, alto, baixo, largo
Número Indivisível, divisível, simples, duplo, múltiplo
MOVIMENTOS
Título Exemplos
Tipo: Estacionário, translacional, rotativo
Natureza: Uniforme, não-uniforme, oscilatório, intermitente, plano ou
tridimensional
Direção: Na direção x, y, z e/ou em torno de x, y, z
Magnitude: Velocidade
Número: Um, vários, movimento composto
PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS MATERIAIS
Título Exemplos
Estado: Sólido, líquido, gasoso
Comprimento: Rígido, elástico, plástico, viscoso
Forma: Corpo sólido, grãos, pó, poeira
Figura 5.10 Características para variação na procura (área de projeto da forma)

• A matriz morfológica deve ser construída passo a passo de maneira mais compreensível possível.
Incompatibilidades devem ser descartadas seguindo somente propostas de soluções promissoras.
Desta forma o projetista deve tentar determinar quais princípios contribuem para a descoberta de
soluções e examinar variações dos mesmos.
• Somente as soluções mais promissoras devem ser escolhidas.
• O mesmo procedimento deve ser seguido para outras subfunções importantes, prestando atenção
nas incompatibilidades com as subfunções previamente elaboradas.
• Se possível, deve-se elaborar a matriz morfológica de maneira facilmente compreendida,
facilitando o uso repetido em projetos futuros.

A figura 5.11 mostra uma matriz morfológica para uma colhedora de alho. Os elementos
desta matriz estão descritos a seguir:

A- Acoplamento trator-implemento
A1- Posição relativa do implemento A2- Tipo de engate máquina- trator
A1.1- à frente A2.1- acoplamento em três pontos
A1.2- ao lado A2.2- acoplamento à barra de tração
A1.3- atrás A2.3- acoplamento especial

41
Figura 5.11 Matriz morfológica para uma colhedora de alho

B- Movimento lateral relativo para alinhamento implemento-canteiro


B1- mecanismo de quatro barras
B2- roda dentada-cremalheira
B3- rodas guias nas laterais do canteiro

42
B4- sem movimento lateral relativo
B5- sensor ótico mais acionador

C- Direcionadores para elevação das hastes e folhas das plantas


C1- rolos cônicos
C2- hastes em aço mola
C3- casca anatômica
C4- rolos cônicos giratórios
C5- sem direcionamento

D- Dispositivo controlador dos mecanismos


D1- transmissão mecânica
D2- elemento humano
D3- servo-mecanismo

E- Corte do canteiro
E1- Braço da lâmina
E1.1 ao E1.6- diferentes formas construtivas
E2- Lâmina para o corte do solo
E2.1- plana reta
E2.2- plana em forma de calda de andorinha
E2.3- curvada reta
E2.4- triangular reta
E2.5- cabo de aço
E2.6- plana dentada no corte

E3-Corte longitudinal do solo


E3.1- grade rotativa
E3.2- discos rotativos
E3.3- elementos especiais sobre a lâmina
E3.4- sem corte longitudinal

F- Arrancamento das plantas


F1- enxada rotativa
F2- mecanismo tipo pinça
F3- par de correias
F4- disco giratório
F5- tipo “rod digger”
F6- correia com pegadores
F7- tipo vassoura rotativa
F8- par de borrachas giratórias

G- Transporte das plantas


G1- correia plana
G2- par de correias
G3- rolos giratórios consecutivos
G4- sistema de escada elevadora
G5- sistemas de canecas
G6- peneira vibratória
G7- transportador helicoidal

H- Limpeza dos bulbos


H1- escova rotativa

43
H2- impacto
H3- jato de ar
H4- pás rotativas
H5- sem limpeza

I- Deposição das plantas sobre o solo


I1- tipo silo
I2- correia transportadora
I3- chapa dobrada reta
I4- chapa dobrada curva
I5- queda livre

J- Suporte da máquina K- Fonte de energia


J1- rodízios K1- rodízios especiais
J2- tipo esqui K2- TDP do trator
J3- sem suporte K3- automotriz

5.4 Combinando princípios de solução para satisfazer a função total

Os métodos descritos até agora foram primariamente aplicados para ajudar na procura por
princípios de solução e na construção de um campo de soluções para subfunções. Para satisfazer a
função total, é necessário agora elaborar soluções gerais a partir da combinação de princípios
(síntese de sistemas). A base para esta combinação é a estrutura de funções estabelecida, que reflete
lógica ou fisicamente as associações possíveis das subfunções.
Os métodos que nós descrevemos e particularmente aqueles com canal intuitivo, são
aplicados para conduzir à descobertas de combinações apropriadas. Existe também outro método
para chegar à estas sínteses mais diretamente. Em princípio, ele deve permitir uma combinação
clara de princípios de solução, com ajuda de quantidades físicas associadas e o projeto da forma
apropriado.
O principal problema com estas combinações é garantir a compatibilidade física e
geométrica dos princípios de solução a serem combinados, que proporcionarão um fluxo suave de
energia, material e sinais.

Combinação sistemática

No uso da matriz morfológica para elaborar a solução geral, pelo menos um princípio de
solução deve ser escolhido para cada subfunção, isto é, para cada linha. Para proporcionar a solução
geral, esses princípios devem ser combinados sistematicamente numa estrutura de funções. Se
existem m1 princípios de solução para a subfunção F1, m2 para a subfunção F2 e assim por diante,
então após a combinação completa nós teremos o seguinte número de variantes de solução gerais
teoricamente possíveis: N = m1 . m2 . m3 . ... . mn.
O maior problema com esse método de combinação é decidir quais princípios de solução são
compatíveis. Isto é, estreitar a procura do campo teoricamente possível para o campo prático.
A identificação de subfunções compatíveis é facilitada se:
• as sub-funções são listadas na ordem na qual elas aparecem na estrutura de funções, se
necessário separadas de acordo com o fluxo de energia, material e sinais;
• os princípios de solução são arranjados adequadamente com ajuda de parâmetros adicionais nas
colunas, por exemplo, o tipo de energia;
• os princípios de solução não são meramente expressos em palavras mas também em croquis
aproximados;

44
• as características e propriedades mais importantes dos princípios de solução estão bem gravadas.
Esse método de combinação é mostrado na figura 5.12.
A verificação de compatibilidades também é facilitada pela elaboração de uma matriz. Se
duas subfunções a serem combinadas, por exemplo “alterar energia” e “variar a energia mecânica
do componente”, são alojados respectivamente no cabeçalho das colunas e linhas de uma matriz,
com as características das variantes nas caixas apropriadas, então a compatibilidade das sub-
soluções podem ser verificadas mais facilmente, do que seria uma verificação confinada a cabeça
do projetista.
Resumindo:
• combine somente subfunções compatíveis;
• prossiga somente com as soluções que satisfazem a demanda da especificação e preste atenção
aos gastos;
• concentre nas combinações promissoras e estabeleça porque estas devem ser preferidas dentre as
outras.

Concluindo, deve-se enfatizar que, o que nós acabamos de discutir é um método geralmente
válido para combinar sub-soluções em soluções totais. O método pode ser utilizado para a
combinação de princípios de solução durante a fase conceitual, e de sub-soluções, ou mesmo
componentes e montagens durante o projeto preliminar.

Soluções
1 2 j m
Sub-funções
1 F1 S11 S12 S1i S1m
2 F2 S21 S22 S2j S2m

i Fi Si1 Si2 Sij Sim

n Fn Sn1 Sn2 Snj Snm


Variante de Solução
Figura 5.12 Combinando princípios de solução

5.5 Selecionando combinações adequadas

Para a aproximação sistemática, o campo das soluções deve ser o mais amplo possível.
Através da consideração de todos os possíveis critérios de classificação e características, o projetista
é freqüentemente conduzido a um número grande de possíveis soluções.
Esta abundância constitui a força e também a fraqueza da aproximação sistemática. O
número grande de soluções teoricamente admissíveis, mas inaceitáveis na prática, deve ser reduzido
o mais cedo possível. Por outro lado, deve-se tomar cuidado para não eliminar princípios de solução
de valor, porque é freqüentemente na combinação com outros, que uma solução total vantajosa
aparecerá.
O procedimento de seleção envolve dois passos, chamados eliminação e preferência.
Primeiramente eliminam-se as propostas totalmente inadequadas. Se ainda permanecer
muitas soluções possíveis, deve-se dar preferência a aquelas que são claramente melhores do que as
outras. Somente estas soluções são avaliadas ao final da fase conceitual de projeto.
Frente a uma proposta de soluções numerosa, o projetista deve elaborar um quadro de
seleção, mostrado na figura 5.13, onde as variantes de solução são selecionadas segundo os
seguintes critérios:
• são compatíveis com a tarefa total e/ou com uma outra (critério A);
• atende a demanda da especificação (critério B);
45
• são realizáveis em relação à performance, leiaute etc.. (critério C) e
• são realizáveis dentro dos custos permissíveis (critério D).

Soluções inadequadas são eliminadas de acordo com estes quatro critérios, aplicados na
seqüência correta. Os critérios A e B são utilizados para decisões do tipo sim/não e suas aplicações
geram relativamente poucos problemas. Os critérios C e D freqüentemente necessitam uma
aproximação mais quantitativa, que somente deverão ser utilizadas quando os critérios A e B forem
atendidos.
Desde que os critérios C e D envolvem considerações quantitativas, eles devem conduzir
não somente à eliminação da solução proposta com efeito muito pequeno ou custo muito alto, mas
também às preferências baseadas em grandes efeitos, pouco espaço requerido e baixo custo.
Uma preferência é justificada se, entre o número grande de possíveis soluções, existem
algumas que:
• incorporam medidas diretas de segurança ou introduzem condições ergonômicas favoráveis
(critério E); ou
• são preferidas pela equipe de projeto, isto é, podem ser desenvolvidas com “know-how”,
materiais, procedimentos usuais e sobre condições favoráveis em relação a patentes (critério F).
Seleções baseadas em critérios de preferência só são aconselháveis quando existem várias
variantes, que uma avaliação completa envolveria muito tempo e esforço.
Os critérios C e D devem ser aplicados somente após a combinação dos princípios de
solução seguidos, se necessário, pela aplicação dos critérios E e F.
Se, na seqüência sugerida, um critério conduziu à eliminação de uma proposta, então os
outros critérios não precisam ser aplicados. A princípio, somente as variantes de soluções que
satisfazem todos os critérios devem ser seguidas. Às vezes, entretanto, é impossível harmonizar a
disputa devido a falta de informação. Nesses casos, de variantes promissoras que satisfazem os
critérios A e B, o conflito terá que ser solucionado por uma reavaliação da proposta, que garantirá
que soluções ruins não passem para as fases seguintes do projeto (veja o item seguinte, fixando em
variantes conceituais).
Os critérios estão listados na ordem acima como um mecanismo para economizar tempo, e
não em ordem de importância.
O procedimento de seleção foi sistematizado para implementação e verificação fácil e
simples. Aqui, os critérios são aplicados em seqüência e as razões para eliminar qualquer solução
proposta são registradas. Experiências têm mostrado que o procedimento de seleção descritos
podem ser aplicados rapidamente, que ele proporciona um bom quadro das razões de seleção e
documentação adequada na forma de uma tabela de seleção.
Se o número de soluções propostas é pequeno, eliminações podem ser baseadas nos mesmos
critérios, mas documentados menos formalmente.
O exemplo escolhido para ilustrar esta etapa compreende propostas de solução para um
medidor de combustível. Um extrato da lista de propostas é mostrado na Figura 5.13. O quadro de
seleção para este sistema de medição é mostrado na Figura 5.14.

No Princípio de solução Sinal


1. Mecânico, estático
1.1. Líquido
a1 Peso do líquido Força
a2 Atração de massa Força
a3 Uso de solvente no líquido Concentração
a4 Matéria suspensa no líquido Concentração
1.2. Gás
b1 Bóia cheia de gás flutuando no líquido Deslocamento
b2 Volume de gás num reservatório fechado Pressão do gás
1.3. Reprodução análoga
c1 Quant. similar de líquido num recipiente com seção transv. similar Força
c2 Volume similar de gás (seção transversal similar) Deslocamento ou pressão
c3 Recipiente com densidade diferente do líquido indicação por: Força

46
Sustentação por mola → deslocamento
Instalar fonte luminosa no corpo flutuante → desloc. do raio de luz
2. Mecânica, dinâmica
2.1.Líquido
d1 Explorar a inércia do líquido (aceleração) Força (momento)
d2 Oscilação de massa de líquido Freqüência, tempo, intervalo
d3 Bombear líquido para outro conteiner e Medir quant.bombeada Tempo, energia elétrica
d4 Medir diferenças de fluxo de entrada e saída no reservatório Quantidade de matéria

d5 Tocar (choque leve) no recipiente e medir a resposta Freqüência


Instalar oscilador ao recipiente → resposta é dependente da Tempo (oscilação)
massa de líquido
2.2. Gás
e1 Bombear gás para dentro de um recipiente fechado ou bombear Pressão do gás
para fora até que uma pressão fixa ou uma quantidade de gás seja
alcançada
3. Elétrica
f1 Líquido como resistência ôhmica (dependente do volume) Resistência ôhmica
f2 Líquido como dielétrico (dependente do volume) Capacitância
Figura 5.13 Extrato da lista de propostas de solução para um sistema de medição de combustível

UFV GRÁFICO DE SELEÇÃO Página 1


Medidor de nível de combustível
Variantes de solução (Vs) avaliadas por DECISÃO
Critérios de seleção Marque a variante de solução (Vs)
(+) Sim (+) persista com a solução
(-) Não (-) Elimine solução
(?) Falta informação (?) Colete informação
Variante de solução (Vs)

(!) Checar lista de requisitos (!) Mudar lista de requisitos


Compatibilidade garantida
Atende a demanda da lista de requisitos
Realizável em princípio
Dentro dos custos permitidos
Incorpora medidas de segurança direta
Preferida pelos projetistas
Informação adequada
Vs A B C D E F G Observações: indicar razões
1 + + + ? Número de medidas de posição ?
2 + - Armazenar a massa -
3 - Radioatividade -
4 + + + + + Desenvolvimento de soluções conhecidas +
5 + + + + +
6 - Fluido não conduz -
7 + + + + +
8 + + + + Veja Vs 7 +
9
Data: 05/2003 Responsável (iniciais): RCR
Figura 5.14 Quadro de seleção para um sistema de medição de combustível

5.6 Fixando em variantes conceituais

Os princípios elaborados na procura por soluções para atender as subfunções e na


combinação destas soluções para atender a função total freqüentemente não são suficientemente

47
concretos para conduzir a adoção de uma variante de solução definitiva. Isto acontece, pois a
procura por soluções é baseada na estrutura de funções, seu objetivo é satisfazer uma função
técnica. Uma solução conceitual também deve satisfazer as condições elaboradas no item objetivos
e restrições gerais, pelo menos em essência. Antes que as variantes possam ser avaliadas, elas
devem ser fixadas.
O processo de seleção pode ter revelado falhas de informação sobre propriedades muito
importantes, as vezes a um ponto que nem é possível tomar uma decisão confiável. As propriedades
mais importantes da combinação proposta de princípios devem ter uma definição mais concreta
qualitativamente e também quantitativamente.
Aspectos importantes do princípio de trabalho (como performance e susceptibilidade a
falhas), o encorpamento (como o espaço requerido, o peso e a vida de serviço) e finalmente
restrições importantes, devem ser conhecidas pelo menos aproximadamente. Essas informações
mais detalhadas só precisam ser reunidas para combinações promissoras.
Os dados necessários são essencialmente obtidos com ajuda de métodos comprovados como:
• cálculos aproximados baseados em suposições simplificadas;
• croquis ou desenhos em escala de possíveis leiautes, formas, espaço requerido, compatibilidade
etc.;
• experimentos preliminares ou testes de modelos para determinar as propriedades principais, ou
exposição quantitativa aproximada sobre a performance e o campo de otimização;
• construção de modelos para ajudar a análise e visualização (por exemplo, modelos cinemáticos);
• modelagem análoga e simulação de sistemas com ajuda de computadores;
• procura por patentes e/ou literatura específica e
• pesquisa de mercado (marketing) da tecnologia proposta, materiais etc..

Com estes dados “frescos” é possíveis fixar a maioria das combinações de princípios
promissoras, até o ponto em que elas possam ser avaliadas (veja o próximo item).

5.7 Avaliando variantes de concepção contra critérios técnicos e econômicos

Neste passo as propostas de solução, agora fixadas em variantes de concepção, devem ser
avaliadas de forma a prover uma base objetiva para decisões. Existem procedimentos especiais de
avaliação para atender estas necessidades. Todos eles elaborados para proporcionar não somente a
avaliação de variantes de concepção, mas também variantes de soluções em todas as fases do
processo de projeto.

5.7.1 Princípios básicos

Uma avaliação é um meio para determinar o “valor”, a “utilidade” ou a “força” de uma


solução em relação a um dado objetivo. Um objetivo é indispensável desde que o valor de uma
solução não é absoluto, mas deve ser relacionado a certos requisitos. Uma avaliação envolve
comparação de variantes conceituais ou, no caso de uma comparação com uma solução ideal
imaginária, a “taxa” ou grau de aproximação a este ideal.
Um elemento importante na prática de projeto é análise de custo. Ela envolve análise de
valor, isto é, a determinação do custo da função através da fixação dos portadores das funções para
as várias subfunções e a determinação de seus custos de manufatura. O maior problema aqui é
desemaranhar funções dos componentes, pois um simples componente pode executar várias
subfunções, ou uma única função pode ser executada por vários componentes, conduzindo à uma
distribuição de custos ambígua. Além disso, determinar os custos pressupõe a disponibilidade de
considerável documentação do projeto. Finalmente, se a avaliação e escolha de solução é baseada
puramente nos custos de produção, existe o perigo que critérios técnicos essenciais e outras

48
considerações econômicas, como a reação do mercado ao produto (que freqüentemente não pode ser
quantificada em quantidades absolutas de dinheiro) sejam ignoradas.
Então existe uma necessidade por métodos que permitam uma avaliação mais
compreensível. Esses métodos são utilizados para elaborar não somente as propriedades
quantitativas mas também qualitativas das variantes, tornando possível aplicá-los durante a fase
conceitual com seu baixo nível de corporificação e conseqüentemente baixo estado de informação.
O resultado deve ser confiável, ter custo adequado e ser facilmente compreendido e reproduzido. O
método mais importante é análise do custo-benefício baseado na aproximação de sistemas e o
método combinado de avaliação técnica e econômica.

5.7.2 Identificando critérios de avaliação

O primeiro passo em qualquer avaliação é elaborar um conjunto de objetivos, dos quais


critérios de avaliação possam ser derivados. No campo técnico, tais objetivos são baseados
principalmente nos requisitos da especificação e nas restrições gerais.
Um conjunto de objetivos freqüentemente compreende vários elementos que não somente
introduzem uma variedade de fatores técnicos, econômicos e de segurança, mas diferenciam
bastante em importância.
Um campo de objetivos deve satisfazer as seguintes condições:
• os requisitos devem cobrir critérios de decisão relevantes e restrições gerais o mais completo
possível, de tal forma que nenhum critério essencial seja ignorado.
• os objetivos individuais, nos quais a avaliação deve ser baseada, precisam ser o mais
independente possível um do outro, isto é, providências para aumentar o valor de uma variante
em relação a um objetivo não devem influenciar seu valor em relação a outro objetivo;
• as propriedades do sistema a ser avaliado devem, se possível, ser expressadas em termos
concretos quantitativos, ou pelo menos qualitativo.
Critérios de avaliação podem ser derivados diretamente a partir dos objetivos. Devido à
subseqüente alocação de valores, todos critérios devem ter formulação positiva, por exemplo:
“baixo ruído” e não “nível ruidoso”, “alta eficiência” e não “magnitude de perdas”, “baixa
manutenção” e não “requisitos de manutenção”.

Áreas

N O1 Eficiência econômica O2
í do motor
v
e Baixo custo O11 O12 Baixo custo de O21 O22
i de operação manutenção
s
O111 O112 O121 O122 O123 O211 O212 O221

Baixo Baixo
consumo de consumo de
combustível óleo

Figura 5.15 Estrutura de uma árvore de objetivos

Análise de valor sistematiza este passo por meio de uma árvore de objetivos, na qual
objetivos individuais são arranjados em ordem hierárquica. Os sub-objetivos são arranjados
verticalmente em níveis de complexidade decrescente e, horizontalmente em áreas de objetivos (ver
Figura 5.15). Devido à sua independência requerida, sub-objetivos de um nível superior só podem
ser conectados com objetivos do próximo nível inferior. Essa ordem hierárquica ajuda o projetista
determinar se sub-objetivos relevantes na decisão foram cobertos ou não. Além disso, ela simplifica

49
o acesso da importância relativa dos sub-objetivos. Os critérios de avaliação podem então ser
derivados dos sub-objetivos do estágio que tem a complexidade mais baixa.

5.7.3 Pesando critérios de avaliação

Para estabelecer critérios de avaliação, nós devemos primeiro avaliar sua contribuição
relativa para o valor total da solução. Desta forma critérios relativamente sem importância podem
ser eliminados antes da avaliação ser iniciada. São dados fatores de peso aos critérios de avaliação
restantes, que devem ser levados em consideração durante o subseqüente passo da avaliação. O
fator peso é um número real positivo. Ele indica a importância relativa de um critério particular de
avaliação (objetivo).

Nível
O1
1
1.0 1.0

O11 O12 O13


2

0.5 0.5 0.25 0.25 0.25 0.25

O111 O112 O121 O122 O123


3

0.67 0.34 0.33 0.16 0.34 0.09 0.33 0.08 0.33 0.08
4

O1111 O1112 O1221 O1222

0.25 0.09 0.75 0.25 0.5 0.04 0.5 0.04

0.09 0.25 0.16 0.09 0.04 0.04 0.08 0.25

∑wi = 0.09 + 0.25 + 0.16 + 0.09 + 0.04 + 0.04 + 0.08 + 0.25 = 1.0
Figura 5.16 Árvore de objetivos com fatores de peso

Na análise de valor, a elaboração de pesos é baseada em fatores variando de 0 a 1. A soma


dos fatores de todos os critérios de avaliação (sub-objetivos do estágio mais baixo) deve ser igual a

50
1, de tal forma que a percentagem dos pesos possa ser distribuída para todos sub-objetivos. A
construção de uma árvore de objetivos facilita bastante este processo. A figura 5.16 ilustra o
procedimento. Aqui os objetivos foram dispostos em quatro níveis de complexidade decrescente e
providos com fatores de peso. A avaliação prossegue passo a passo, a partir do nível de maior
complexidade para o próximo nível mais baixo. Então os três sub-objetivos 011, 012, 013 do segundo
nível, primeiramente são pesados em relação ao objetivo 01 (nesse caso particular os pesos são 0,5;
0,25 e 0,25). A soma dos fatores de peso para qualquer nível deve sempre ser igual a 1,0. Em
seguida distribui-se pesos para os objetivos do terceiro nível em relação aos sub-objetivos do
segundo nível. Então o peso relativo do 0111 e 0112 em relação ao objetivo superior 011 foram fixados
em 0,67 e 0,33. Os objetivos restantes são tratados de modo similar. Os pesos relativos de um
objetivo a um nível particular, em relação ao objetivo 01, é encontrado pela multiplicação do fator
de peso do nível deste objetivo, pelo fator de peso do objetivo do nível superior. Então o sub-
objetivo 01111, que tem um peso de 0,25 em relação ao sub-objetivo 0111 do próximo nível superior,
tem um peso de 0,25 x 0,67 x 0,5 x 1 = 0,09 em relação ao objetivo 01. Esta alocação de pesos passo
a passo produz uma classificação realística, porque é muito mais fácil pesar dois ou três sub-
objetivos em relação a um objetivo de nível superior, do que confinar a distribuição de pesos a
somente um nível particular, especialmente o mais baixo.
A figura 5.17 mostra um exemplo concreto do procedimento recomendado.

51
5.7.4 Compondo parâmetros
Boa reprodutibilidade da Baixo desgaste do
curva torque -tempo movimento das partes
Operação de W111=0.7 Wt111=0.28 W1111=0.2 Wt1111=
Confiança 0.056
W11=0.4 Wt11=
0.4 Tolerância de Baixa susceptibilidade
Sobrecarga a vibrações
W112=0.3 Wt112=0.12 W1112=0.5 Wt1112=
0.14

Poucos fatores de
Distúrbios
Alta Segurança
W1113=0.3 Wt1113=
Mecânica 0.084
W121=0.7 Wt121=0.21
Alta Segurança

W12=0.3 Wt12=
0.3 Pequeno número de
Pouca possibilidade de Componentes
Dispositivo de de erros do operador
Confiança e W1311=0.5 Wt1311=
Simples Teste W122=0.3 Wt122=0.09 0.03

W1=1 Wt1=1 Baixa Complexidade


dos Componentes
Produção simples de W1312=0.2 Wt1312=
componentes 0.012

W131=0.6 Wt131=0.06
Muitos padrões e
Produção Simples partes compradas para
fora
W13=0.1 Wt13=
W1313=0.3 Wt1313=
0.1 Conjunto Simples 0.018

W132=0.4 Wt132=0.04

Troca Rápida do Teste


de conexões
Características de Fácil Manutenção
W1421=0.6 Wt1421=
boa operação 0.084
W141=0.3 Wt141=0.06
W14=0.2 Wt14=
0.2 Boa acessibilidade dos
Fácil Manipulação sistemas de medidas
W142=0.7 Wt142=0.14 W1422=0.4 Wt1422=
0.056
Figura 5.17 Árvore de objetivos com fatores de peso para um aparelho de testes de cargas de
impacto

52
∑w = 0.056 + 0.14 + 0.084 + 0.12 + 0.21+ 0.09 + 0.03 + 0.012 + 0.018 + 0.04 + 0.06 + 0.084 +
0.056 = 1.0

A elaboração de critérios de avaliação e a determinação de sua importância é seguida pela fixação


de parâmetros conhecidos aos critérios de avaliação. Estes parâmetros devem ser quantificáveis ou,
se for possível, serem expressados por declarações o mais concretas possíveis. É muito útil fixar
estes parâmetros aos critérios de avaliação num quadro de avaliação antes de proceder a avaliação.
A figura 5.20 mostra um exemplo deste quadro para um motor de combustão interna, com as
magnitudes apropriadas colocadas nas colunas das variantes relevantes. O leitor verá que a
formulação verbal dos critérios de avaliação são bem semelhantes aos parâmetros.

5.7.5 Estimando valores

O próximo passo é a estimativa de valores e portanto a presente avaliação. Estes “valores”


derivam de uma consideração da escala relativa dos parâmetros previamente determinados, e então
são mais ou menos subjetivos na qualidade.
Os valores são expressados por pontos. Pode-se empregar uma faixa variando de 0 a 10, ou
de 0 a 4, veja a figura 5.18. A vantagem da faixa mais ampla é que, como a experiência tem
mostrado, a classificação e avaliação são facilitadas pelo uso de um sistema decimal e
porcentagens. A vantagem da faixa menor é que, lidando com características das soluções
inadequadas, avaliações aproximadas são suficientes e, além disso, pode ser a única aproximação
significativa. Elas envolvem as seguintes estimativas:

• muito abaixo da média; ESCALA DE VALORES


• abaixo da média; PONTOS SIGNIFICADO
• média; 0 solução absolutamente inútil
• acima da media; 1 solução muito inadequada
• muito acima da média. 2 solução fraca
3 solução tolerável
4 solução adequada
ESCALA DE VALORES 5 solução satisfatória
PONTOS SIGNIFICADO 6 solução boa com alguns inconvenientes
0 insatisfatória 7 solução boa
1 tolerável 8 solução muito boa
2 adequada 9 solução excede os requisitos
3 boa 10 solução ideal
4 muito boa (ideal)

Figura 5.18 Escalas de valores

É útil começar pela procura por variantes com qualidade extremamente boas ou ruins e
distribuir os pontos apropriados para elas. Os pontos 0 e 4 (ou 10) só devem ser atribuídos se as
características são realmente extremas, isto é, insatisfatória ou muito boa (ideal). Uma vez tenham
sido alocados esses pontos extremos, as variantes restantes são relativamente fáceis de serem
avaliadas.

É aconselhável elaborar um quadro no qual a magnitude dos parâmetros são correlatados passo a
passo com a escala de valores. A figura 5.19 mostra um tipo de esquema que incorpora pontos do
sistema para os dois tipos de escala de valores citados.

53
Os valores Vij de cada variante de solução estabelecidos em relação a cada critério de
avaliação são mostrados na figura 5.20.

Escala de Valores Magnitudes dos Parâmetros

Analise de valores VDI 2225 Consumo de Massa por unidade Simplicidade de Vida do Serviço
usados (Pts) (Pts) combustível (g/kWh) de Potência (kg/kW ) componentes (km)
0 0 400 3.5 extremamente 20*10^3
1 380 3.3 complicado 30*10^3
2 1 360 3.1 complicado 40*10^3
3 340 2.9 60*10^3
4 2 320 2.7 médio 80*10^3
5 300 2.5 100*10^3
6 3 280 2.3 simples 120*10^3
7 260 2.1 140*10^3
8 4 240 1.9 extremamente 200*10^3
9 220 1.7 simples 300*10^3
10 200 1.5 500*10^3

Figura 5.19 Quadro de correlação entre magnitude dos parâmetros e escala de valores

Freqüentemente os critérios de avaliação são diferentes em importância em relação ao valor


total de uma solução, os fatores de peso determinados anteriormente devem então ser considerados.
Para tal, sub-valores Vij são multiplicado pelos fatores de peso Pi , então Pvij = Pi x Vij.

5.7.6 Determinando o valor total

Uma vez tenha sido determinado sub-valores para cada variante, o valor total deve então ser
calculado.
Para a avaliação de produtos técnicos, a soma dos sub-valores tem se tornado o método
usual de cálculo, mas só pode ser considerado preciso se os critérios de avaliação são
independentes. Entretanto utiliza-se esse método, mesmo quando esta condição só é atendida
aproximadamente.
O valor total de uma variante j pode então ser determinado.
n n n
sem pesar: VTj = ∑ Vij e pesando: VTPj = ∑ PiVij = ∑ PVij
i =1 i =1 i =1

5.7.7 Comparando variantes conceituais

Baseado na regra da soma é possível avaliar variantes de vários modos.


• Determinando o valor total máximo
Neste procedimento a variante que obtiver o maior valor total é julgada melhor.

Vtj ⇒ Max, ou VTPj ⇒ Max

O que temos aqui é uma comparação relativa de variantes.

• Determinando a taxa ou proporção


Se a comparação relativa das variantes for considerada insuficiente e a comparação absoluta
de uma variante tiver que ser estabelecida, então o valor total deve ser referido a um valor ideal
imaginário que resulta de um valor máximo possível.

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VTj VTPj
sem pesar: Rj = e pesando: RPj = n
Vmax . n
Vmax . ∑ Pi
i =1

Critério de Avaliação Parâmetros Variante V1 (e.g. Eng1) Variante V2 (e.g. Eng2)

Nº Wt Unidade Magnitude(mi1) Valor (vi1) Valor pesado(Wvi1) Magnitude(mi2) Valor (vi2) Valor pesado(Wvi2)

1 Baixo consumo de combustível 0.3 Consumo de combustível g/kWh 240 8 2.4 300 5 1.5

2 Construção de peso leve 0.15 Massa por unidade de potência kg/kW 1.7 9 1.35 2.7 4 0.6

3 Produção simples 0.1 Simplicidade dos componentes - complicado 2 0.2 média 5 0.5

4 Serviço de longa vida 0.2 Vida de Serviço km 80000 4 0.8 150000 7 1.4

: : : : : : : : : :

: : : : : : : : : :

i wi mi1 vi1 wvi1 mi2 vi2 wvi2

: : : : : : : : : :

: : : : : : : : : :

n wn mn1 vn1 wvn1 mn2 vn2 wvn2

OV1 R1 OWV1 WR1 OV2 R2 OWV2 WR2

Critério de Avaliação Parâmetros Variante Vj Variante Vm


... ...

Nº Wt Unidade Magnitude(mij) Valor (vij) Valor pesado(Wvij) Magnitude(mim) Valor (vim) Valor pesado(Wvim)

1 Baixo consumo de combustível 0.3 Consumo de combustível g/kWh ... m1j v1j wv1j ... m1m v1m wv1m

2 Construção de peso leve 0.15 Massa por unidade de potência kg/kW ... m2j v2j wv2j ... m2m v2m wv2m

3 Produção simples 0.1 Simplicidade dos componentes - ... m3j v3j wv3j ... m3m v3m wv3m

4 Serviço de longa vida 0.2 Vida de Serviço km ... m4j v4j wv4j ... m4m v4m wv4m

: : : : ... : : : ... : : :

: : : : ... : : : ... : : :

i wi ... mij vij wvij ... mim vim wvim

: : : : ... : : : ... : : :

: : : : ... : : : ... : : :

n wn ... mnj vnj wvnj ... mnm vnm wvnm

... OVj Rj OWVj WRj ... OVm Rm OWVm WRm

Figura 5.20 Avaliação de quatro variantes de concepção de aparelho para testes de cargas de impacto

Se a informação disponível sobre as propriedades de todas variantes de solução permite estimar


custos, então é aconselhável proceder com uma determinação separada da taxa técnica (Rt) e da taxa
econômica (Re). A taxa técnica é calculada de acordo com a regra mostrada anteriormente, isto é,
pela divisão do valor técnico total de uma variante pelo valor ideal, e a taxa econômica é calculada
similarmente, mas por referência a custos comparativos. Relaciona-se os custos de manufatura
determinados para uma variante ao custo de manufatura C0. Neste caso, a taxa econômica torna-se
Re = (C0/Cvariante). Pode-se admitir C0 = 0,8Cadmissível ou C0 = 0,8Cmínimo da variante de menor custo.
Se as taxas técnicas e econômicas foram determinadas separadamente, então a determinação da
“taxa total” de uma variante particular pode ser útil. Para este propósito elabora-se um gráfico com
a taxa técnica Rt como abcissa e a taxa econômica Re como ordenada (veja a figura 5.21). Este
diagrama é particularmente útil na avaliação de variantes durante desenvolvimentos posteriores,
porque ele mostra o efeito de decisões de projeto de maneira clara.

55
Figura 5.21 Diagrama de taxas

Em alguns casos é útil derivar a taxa total a partir dessas taxas parciais expressando-as na
forma numérica:

• O método da linha reta baseia-se na média aritmética:


Rt + Re
R=
2

• O método hiperbólico envolve a multiplicação das duas taxas e a redução a valores entre 0 e 1:
R = Rt .Re

Os dois métodos foram combinados na Figura 5.22.


Onde existem grandes diferenças entre taxas técnicas e econômicas, o método da linha reta
pode ser usado para computar a taxa total mais alta. Como soluções balanceadas devem ser
preferidas, o método hiperbólico é o melhor dos dois. Ele ajuda a balancear grandes diferenças nas
taxas através do seu efeito de redução progressiva. Quanto maior o desbalanceamento, maior será o
efeito de redução no valor total.

56
Figura 5.22 Determinação da taxa total pelos métodos da linha reta e hiperbólico

5.7.8 Comparação aproximada de variantes de solução

O método que nós descrevemos baseia-se em escalas de


valores diferenciados. Ele é útil quando os parâmetros
“objetivos” podem ser atribuídos com alguma precisão, e
valores claros podem ser fixados a eles. Se estas condições não
podem ser satisfeitas, avaliações relativamente finas, baseadas
em escalas de valores diferenciados constituem um método
questionável e de alto custo. A alternativa aqui é uma avaliação
aproximada, envolvendo a aplicação de um critério particular de
avaliação de duas variantes de cada vez, e a seleção da melhor
em cada caso. Os resultados são alojados numa matriz de
dominância, mostrado na figura 5.23. A partir da soma das
colunas é possível estabelecer uma ordem.
Enquanto este método é comparativamente mais fácil e
rápido, ele não é tão informativo como os outros procedimentos
discutidos. Figura 5.23 Avaliação binária
de variantes de solução
5.7.9 Estimando incertezas da avaliação

Os erros possíveis ou incertezas do método de avaliação


proposto podem ser classificados em dois grupos principais chamados: erros subjetivos e falhas
inerentes ao procedimento.
Erros subjetivos podem surgir de:
• Abandono de posição neutra, isto é, através de preconceito e parcialidade. O preconceito deve
ser evitado pelo projetista, que deve estar atento a estes problemas que poderão surgir. Por
57
exemplo, quando ele compara seu próprio projeto com o de um rival. Então uma avaliação por
várias pessoas, se possível, por vários departamentos é aconselhável sempre. Também é
importante referir as várias variantes em termos neutros, por exemplo, como variante de
concepção A, B e C, ao invés de proposta do “Pedro” etc., para evitar identificações
desnecessárias que podem introduzir problemas emocionais.
• Comparação de variantes pela aplicação de critérios de avaliação que não são adequados para
todas variantes. Estes erros aparecem mesmo durante a determinação dos parâmetros e suas
associações com os critérios de avaliação. Se for impossível determinar a magnitude dos
parâmetros de variantes individuais para certo critério de avaliação, então este critério deve ser
reformulado ou abandonado, caso contrário, ele conduzirá a avaliações enganosas das variantes
individuais.
• A avaliação de variantes isoladas, ao invés de sucessivamente pela aplicação dos critérios de
avaliação estabelecidos. Cada critério deve ser aplicado a todas variantes para eliminar qualquer
falha a favor de uma variante particular.
• Interdependência pronunciada dos critérios de avaliação.
• Critérios de avaliação incompletos. Esse efeito pode ser minimizado se for utilizado a lista de
checagem para avaliação de projeto mostrada na figura 5.24.

Tópicos Principais Exemplos


Função Características dos portadores de funções auxiliares essenciais
atendem a necessidade a partir do princípio de solução escolhido.
Princípio de trabalho Características do princípio de solução selecionado em relação ao
funcionamento simples, efeito adequado, poucos fatores
perturbadores.
Corporificação Pequeno número de componentes, baixa complexidade, pequeno
espaço requerido, nenhum problema especial com o leiaute ou
projeto da forma.
Segurança Tratamento preferencial de técnicas diretas de segurança
(segurança inerente), nenhuma adição de medidas de segurança
necessárias, segurança industrial e governamental garantida.
Ergonomia Relacionamento homem-máquina satisfatório, nenhum prejuízo
para a saúde, projeto da forma bom.
Produção Poucos métodos de produção, métodos bem estabelecidos,
nenhum equipamento de alto custo, número pequeno de
componentes, componentes simples.
Controle de qualidade Poucos testes e checagens necessárias, procedimentos simples e
confiáveis.
Montagem Fácil, rápida e conveniente, nenhum procedimento especial
necessário
Transporte Meios de transporte normais, nenhum risco.
Operação Operação simples, vida de serviço longa, baixo desgaste,
manuseio fácil e simples
Manutenção Serviços de manutenção reduzidos, simples e limpos; fácil
inspeção e reparos.
Custos Nenhum custo especial de utilização ou outros custos associados,
nenhum risco no prazo de entrega.
Figura 5.24 Lista de checagem com tópicos principais para avaliação durante a fase conceitual

Falhas inerentes do procedimento de avaliação recomendado são resultados de


“prognósticos incertos”, inevitáveis, que surgem da imprecisão da magnitude dos parâmetros
previstos, que estão sujeitos a incertezas e a variações aleatórias.

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Em relação a incertezas do prognóstico é aconselhável não expressar os parâmetros com
figuras a não ser que isto possa ser feito com precisão. Além disso é preferível usar estimativas
verbais, por exemplo: alto, médio, baixo, que não necessitam ser precisas. Valores numéricos, por
contraste, podem ser perigosos porque eles introduzem um senso falso de certeza.

5.7.10 Procurando por pontos fracos

Pontos fracos podem ser identificados a partir de valores abaixo da média para critérios de
avaliação individuais. Muita atenção deve ser dada a eles, particularmente no caso de variantes
prometedoras com valores totais bons. Esses pontos fracos devem, se possível, serem eliminados
durante o desenvolvimento posterior. A identificação desses pontos pode ser facilitada por gráficos
dos sub-valores, por exemplo, pelo perfil de valores ilustrado na figura 5.25. O comprimento das
barras corresponde ao valor e a espessura aos pesos. A área das barras então indica os sub-valores
pesados. O valor total pesado de uma variante de solução é dado pela soma das áreas das barras. É
claro que para melhorar uma solução, é essencial melhorar os sub-valores que proporcionam uma
contribuição maior para o valor total, do que os restantes. A figura 5.25 mostra um caso com
critério de avaliação que tem espessura da barra acima da média (muita importância), mas um
comprimento de barra abaixo da média. Além de um valor total elevado, é importante obter um
perfil de valores balanceado, isto é, sem pontos fracos sérios. Então, na figura abaixo a variante 2 é
melhor do que a variante 1, apesar de ambas possuírem o mesmo valor total pesado.

Figura 5.25 Perfil de valores para comparação de duas variantes

Existem alguns casos nos quais um valor mínimo permitido é estipulado para todos sub-
valores, isto é, qualquer variante que não atenda esta condição tem que ser rejeitada e todas
variantes que atendam são desenvolvidas posteriormente.

Finalizado o projeto conceitual parte-se para a próxima fase, o projeto preliminar.

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