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MENSAGEM Nº XX/2023 - GP

Goianinha/RN, 02 de maio de 2023.


Ao Excelentíssimo Senhor
ALEXANDRE CESAR VERAS DE FREITAS
Presidente da Câmara Municipal de Goianinha/RN.

Assunto: Iniciativa de Processo Legislativo - Projeto de Lei Complementar nº 00X/2023.

Senhor Presidente,

A Prefeita Municipal de Goianinha, Hosanira Galvão, no uso das prerrogativas


que lhe são conferidas pela Lei Orgânica do Município, vem por meio do presente,
encaminhar a Vossa Excelência o Projeto de Lei em anexo.
O presente Projeto de Lei Complementar vem alterar o Código Tributário
Municipal, definindo novos parâmetros para isenção de IPTU (Imposto Predial
Territorial Urbano) ao imóvel que seja de propriedade e residência do contribuinte,
que seja ele ou cônjuge/filho pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Solicita-se que a matéria seja recebida e distribuída às respectivas comissões de
vereadores e demais distintos edis com assento nesta Casa de Leis, a fim de que sejam
procedidas as devidas análises e deliberações, com posterior submissão ao Plenário
dessa Egrégia Câmara para apreciação e votação pelos seus integrantes, ocasião na
qual pugna-se pela sua aprovação.
Seguem em anexo os respectivos documentos necessários para correta
avaliação e instrução do processo legislativo perante essa Casa do Povo.
Por fim, destaca-se que a justificativa e documentos que acompanham o
projeto de lei complementar evidenciam os motivos, finalidades e pertinentes
aspectos jurídicos e legais da proposição em evidência, e, com amparo nestes,
recomenda-se a observância do trâmite normal previsto no Regimento Interno da
Câmara Municipal de Vereadores de Goianinha/RN.
Conto com a aprovação do presente projeto e sem mais no momento,
aproveito o ensejo para apresentar a Vossa Excelência votos de consideração e
respeito.

Atenciosamente,
___________________________________
HOSANIRA GALVÃO
Chefe do Poder Executivo

---

Projeto de Lei Complementar nº XX, de 11 de maio de 2023.

Altera a Lei nº 885/2005, que instituiu o Código


Tributário Municipal, para conceder isenção de IPTU
para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

A PREFEITA MUNICIPAL DE GOIANINHA, Estado do Rio Grande do Norte,

FAÇO SABER que a Câmara Municipal de Vereadores aprovou e eu sanciono e


promulgo a seguinte Lei Complementar:

Art. 1º. Fica alterado o Artigo 29, da Lei nº 885/2005, que dispõe sobre o Sistema
Tributário Municipal e dá outras providências, passando a vigorar acrescido do
seguinte inciso VII:

“Artigo 29. .............................................................................


...............................................................................................
VII - o imóvel edificado que tenha destinação residencial
unifamiliar cujo proprietário e/ou cônjuge/filho sejam
comprovadamente pessoas com TEA (Transtorno do Espectro
Autista), e desde que seja proprietário de 01 (um) único
imóvel, de uso exclusivamente residencial;
Parágrafo Primeiro. A concessão do direito ora descrita está
condicionada à comprovação do nível três do Transtorno do
Espectro Autista, aferido em laudo médico.
Parágrafo Segundo. O direito previsto no inciso VII poderá ser
concedido às pessoas com nível um e dois do Transtorno do
Espectro Autista, desde que haja comprovação de despesas
para tratamento, medicação ou terapias continuadas.”.

Art. 2° - Para ter direito à isenção, o requerente deve apresentar cópias dos seguintes
documentos:
I - documento de identificação do requerente (Cédula de Identidade / RG) e, quando o
dependente do contribuinte for a pessoa com TEA, juntar documento hábil a fim de se
comprovar o vínculo de dependência (cópia da certidão de nascimento/casamento
e/ou cópia da declaração de imposto de renda) e declaração/comprovante de
residência dos familiares que residem no aludido imóvel;
II- atestado médico atualizado da pessoa com TEA, fornecido por médico, contendo:
a) Diagnóstico expressivo da doença;
b) Estágio clínico atual que conste a gravidade da doença em nível três;
c) Classificação Internacional da Doença (CID);
d) Carimbo que identifique o nome e número de registro do médico no Conselho
Regional de Medicina (CRM);
e) na hipótese de nível um ou dois da doença, documentos que comprovem a renda
familiar e as despesas com medicamentos, terapias e demais custos para tratamentos.
Art. 3° - A isenção tratada na presente Lei, quando concedida, será válida por 1 (um)
ano, a ser implementada a partir do exercício fiscal seguinte. O contribuinte poderá
renovar o benefício por igual período, desde que apresente a documentação disposta
no Art. 2 e seus incisos, fazendo comprovação de vida da pessoa com TEA.
Art. 4º - Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições
em contrário.

HOSANIRA GALVÃO
Prefeita Municipal
JUSTIFICATIVAS

O Código Tributário Municipal é regido pela Lei nº 885/2005, suas alterações e


demais legislações complementares. O art. 29 da referida lei coleciona um rol taxativo
de doenças que concedem ao contribuinte o direito à isenção do Imposto sobre
Propriedade Predial Territorial Urbana (IPTU). Portanto, para concessão de isenção em
decorrência de outras doenças não previstas originalmente, o processo legislativo é
imprescindível.
Propõe-se o presente Projeto de Lei Complementar no afã de viabilizar maior
qualidade de vida aos munícipes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista
(TEA), cujo tratamento da doença é deveras dispendioso e muitas vezes feito de forma
particular, afetando a saúde financeira da família.
Registra-se que, segundo a FADA - Fundação de Apoio e Desenvolvimento do
Autista, o valor do custo médio mensal para tratamento de TEA atinge em média R$
4,6 mil reais. 1
Além disso, é sabido que uma das abordagens mais conceituadas e efetivas
para o transtorno do espectro autista é a terapia baseada no método de análise do
comportamento aplicada, conhecida como ABA. Um artigo publicado 2na revista GZH,
indica que o valor de cada hora da terapia ABA se assemelha ao de consultas com
outros profissionais de saúde — em torno de R$ 250 —, mas o que inviabiliza o
pagamento é a quantidade de sessões necessárias. Com indicações médicas para o
cumprimento de 10 a 40 horas semanais, o custo mensal do tratamento pode saltar a
dezenas de milhares de reais.
Ademais, ainda que o tratamento seja oferecido pelo Sistema Único de Saúde -
SUS, as mães e pais de autistas que vivem em cidades afastadas da capital, como no
caso deste município, esbarram ainda em outro problema: sem especialistas locais, os
profissionais que possam conduzir a terapia dos filhos estão a quilômetros de
distância.
Ou seja, há famílias que conseguiram o apoio para tratamento pelo SUS, mas,
como a carga horária é grande, com deslocamentos diários, fica mais oneroso manter
o paciente em tratamento devido aos deslocamentos.
A respeito da doença, destacamos que os sintomas começam na infância e
tendem a persistir na adolescência e na idade adulta. Embora algumas pessoas com o

1
Sem cura e com tratamento caro, autismo é desafio para pais e instituições sociais. G1 Globo, 2019.
Disponível em: < https://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2019/06/20/sem-cura-e-com-
tratamento-caro-autismo-e-desafio-para-pais-e-instituicoes-sociais.ghtml>. Acesso em: 25 de maio de
2023.
2
Indicada para transtornos como autismo, terapia ABA tem alto custo mesmo com cobertura de planos
de saúde. GZH Vida, 2023. Disponível em:
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2023/01/indicada-para-transtornos-como-
autismo-terapia-aba-tem-alto-custo-mesmo-com-cobertura-de-planos-de-saude-
clcj5su2a002u0181pkpo7im2.html>. Acesso em: 25 de maio de 2023.
transtorno possam viver de forma independente, outras têm graves incapacidades e
necessitam de cuidados e apoio ao longo da vida.
Sobre esse ponto, cumpre ressaltar que inúmeras são necessidades de
cuidados de saúde das pessoas com TEA tratamento complexas que requerem uma
gama de serviços integrados, incluindo promoção da saúde, cuidados, serviços de
reabilitação e colaboração com outros setores, tais como os da educação, emprego e
social.
Os cuidados da pessoa com TEA muitas vezes resultam em uma carga
emocional e econômica significativa sobre as famílias. Especialmente onde o acesso
aos serviços de tratamento e apoio são de difícil acesso, o que, repise-se, leva os
cuidadores a buscarem auxílio médico na rede privada e gastos com deslocamento.
Nesse ponto, é importante ressaltar que os tratamentos variam conforme o
grau e especialidade do transtorno, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria 3, o espectro
autista pode ser classificado em:
a) Nível de gravidade 1: pessoas que necessitam de pouco suporte e não têm
limitações significativas na interação social, podendo apresentar alguma dificuldade na
comunicação e eventuais problemas de organização e planejamento, capazes de
prejudicar a independência.
b) Nível de gravidade 2: pessoas com déficits nas habilidades de comunicação
verbais e não verbais, que, devido às dificuldades de linguagem, necessitam de suporte
para o aprendizado e o aprimoramento da interação social.
c) Nível de gravidade 3: pessoas que necessitam de suporte intenso e
permanente, pois apresentam déficits de comunicação graves e têm grande
dificuldade nas interações sociais e capacidade cognitiva prejudicada. Nesses casos, há
forte tendência ao isolamento social e inflexibilidade de comportamento.
Comumente, o nível de gravidade três é o mais dispendioso, pois condiciona a
pessoa autista a tratamentos mais frequentes e demanda maior grau de dependência
do responsável ou curador. Contudo, o transtorno se apresenta de forma diferente em
cada paciente, sendo possível que mesmo o diagnóstico de grau leve ou moderado
requeira protocolos médicos especializados que tendem a apresentar alta variação de
custos.
Por esse motivo, este Projeto de Lei pretende oportunizar o direito de isenção
também àqueles que possuem a doença em grau mais brando, desde que haja
comprovação de impacto econômico na subsistência familiar devido às despesas com
medicação, tratamentos, terapias ou assistência domiciliar para a pessoa autista,
deslocamento e demais custos.
Portanto, a concessão desta isenção seria um gasto a menos no orçamento
familiar, o que auxiliaria em outras despesas. Com essa mudança, nossa legislação
tributária estará em consonância com as melhores práticas legislativas, e ainda, se

3
American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais:
DSM-5. Porta Alegre: Artmed, publicado em 2014. 5. ed.
restabelecerá a condição mais equânime em benefício dos autistas do Município de
Goianinha/RN.

Realizou-se, ainda, estudo preliminar sobre o impacto financeiro às finanças


públicas que possivelmente decorrerão em caso de aprovação do presente projeto de
lei.
Estima-se que há cerca de 2 milhões de autistas no Brasil. A população total
no país é de aproximadamente 200 milhões de habitantes, o que significa que 1% da
população estaria no espectro.
Mister salientar que, para tal estudo, analisou-se todos os lançamentos
efetuados para todos as inscrições imobiliárias cadastradas, considerando, para tanto,
que aproximadamente 1% (um por cento) do total dos contribuintes atenderiam aos
requisitos na proposta, ponderando, inclusive, que esse é o percentual médio de
incidência de pessoas com TEA no país. Ainda, considerando que existe subnotificação
e não incidência de diagnóstico para todos os casos, temos que é razoável adotar tal
parâmetro.
Isso posto, considerando o total dos lançamentos de IPTU dividido pelo número
de imóveis cadastrados (territoriais e prediais), temos que a taxa média anual é de R$
873,32 (oitocentos e setenta e três reais e trinta e dois centavos).
Assim, estima-se que o número de cerca 92 imóveis/contribuintes faria jus a
citada isenção, representando, por conseguinte, o potencial impacto financeiro anual
apresentado é de aproximadamente R$ 79.594,68 (setenta e nove mil quinhentos e
noventa e quatro reais e sessenta e oito centavos), conforme planilha em anexo.

Exercício 2023
QTD $ MÉDIA
TERRITORIAL 3.667 R$ 3.789.935,45 R$ 1.033,52
PREDIAL 5.447 R$ 4.169.532,25 R$ 765,47

TOTAL 9.114 R$ 7.959.467,70 R$ 873,32

Por tal razão se justifica o presente Projeto de Lei, modificando o art. 29 e seus
incisos, do Código Tributário Municipal, para conceder isenção do IPTU aos imóveis
onde residem pessoas com Transtorno do Espectro Autista.

HOSANIRA GALVÃO
Prefeita Municipal

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