Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BENGUELA
2020
0
CELITA VASCO MARTINS
BENGUELA
2020
DEDICATÓRIA
II
RESUMO
III
ABSTRACT
This dissertation makes a study aiming to reflect about the curricular innovation and its
development in the scope of the educational reform. The work does not intend to bring
solutions to the subjects addressed, but rather suggestive contributions to the proposed
questions. This research aims to discuss about the importance of innovation, to bring to the
teacher's daily acting methods, based on the alternative pedagogy of curriculum autonomy in
the context of educational reform, in search of peculiar characteristics in learning and to
perspective the essential innovations in the various action plans. Pedagogical schools of the I
Cycle. In this study, emphasis will be given to innovative education and focusing on the
intrinsic and extrinsic life of the individual, taking into account the curriculum reorganization.
Despite advances in education, with the introduction of new technologies and teaching means,
many teachers fear to innovate due to the lack of improvement and practicality of these means
in the life of the student and the teacher in some cases. The research was based on a
qualitative, descriptive and interpretative case study research, where questionnaire and
interview surveys were chosen as instruments for collecting information and as the main
technique of content analysis, which with the results We agree with the views of Paulo Freire
(2003) and Pacheco (2001), who share the same idea that, in order to construct new ideas,
those who participate in this process must be equipped with “professional tools.
IV
5
ÍNDICE
RESUMO 3
ABSTRACT 4
INTRODUÇÃO 9
Problema de investigação 11
Questões da investigação 12
Objectivos 13
Justificativa do tema 13
1.5. Perspectiva dos programas de aprendizagem: um novo desafio para reforma e inovação 39
6
1.6. Possíveis relações entre os conceitos de reforma, inovação e mudanças educativas 41
7
2.5.2 Questionário: 86
2.5.3 Entrevista: 86
CONCLUSÕES 103
8
INTRODUÇÃO
A Reforma Educativa implementada em Angola, entre o ano 2002 e 2015, pode ser entendida
como um processo complexo que implicou mudanças consideráveis no sistema Educativo,
tendo sido conformado na Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino (LBSEE), Lei n.º
13/01 de 31 de Dezembro. Actualmente as principais directrizes educativas, ao nível macro,
encontram-se expressas na nova LBSEE (alterada por via da Lei n.º 32/20, de 12 de Agosto),
sendo valorizada a qualidade educativa, especificamente o artigo 14.º, estabelece que “No
exercício da actividade educativa, as instituições de ensino devem observar elevados padrões
de desempenho e alcançar os melhores resultados no domínio científico, técnico, tecnológico
e cultural e na promoção do sucesso escolar, da qualidade de excelência, do mérito e da
inovação”. (artigo 14.º, Lei n.º 17/16, de 7 de Outubro, alterada e republicada - Lei n.º 32/20,
de 12 de Agosto).
9
A necessidade de inovarmos, pressupõe a priorização de investimentos para o sector
educacional, conformando novas políticas educativas, incluindo a formação permanente de
professores. Por sua vez, aos professores cabe, fazer o uso da liberdade e da autonomia
conferidas, reflectir sobre as suas práticas e estruturar acções e estratégias pedagógicas
inovadoras. Tal se operacionaliza com base no desenvolvendo de critérios metodológicos que
lhes sejam propostos, numa perspectiva de abertura à inovações para assegurar a aquisição de
competências necessárias para o desenvolvimento pessoal e profissional do formando.
Deste modo, consideramos que o presente estudo pode oferecer contributos válidos para
potenciar reflexões e debates tendentes à inovação enquanto fundamento para a melhoria das
práticas educacionais nas escolas. Mas, a melhoria da qualidade de ensino exige também um
serviço de qualidade e é o momento de os professores repensarem as suas funções na
sociedade, “conhecer as perspectivas educacionais que enfermam o currículo dos alunos”
(alínea h) n.º 18, Decreto Presidencial nº 160/18, de 3 de Julho.
Em geral, pode ser difícil aceitar e participar da promoção da mudança, por ser um processo
complexo, mas é cada vez mais claro que quando não há conexão com as estruturas centrais e
o modo de actuar dos professores não se põe em causa com as decisões destas, os objectivos
das reformas, as mudanças e as inovações acabam por não surtir os efeitos preconizados.
Nesta perspectiva, desde que todos actores sociais assumam um real envolvimento, desde as
estruturas centrais até ao pessoal auxiliar e administrativo, como reza o Decreto Presidencial
nº. 275/19, de 6 de Setembro, e participem conscientemente no processo de conformação e de
adopção de projectos que visam a inovação no currículo e nas práticas, as probabilidades de
concretização das pretensões são maiores.
10
Problema de investigação
A reforma educativa em Angola, implementada de 2002 a 2015, comportou cinco fases, e teve
como principais objectivos “A expansão da Rede Escolar; a melhoria da Qualidade de Ensino;
o reforço da eficácia do Sistema de Educação e a Equidade do Sistema de Educação”. No
entanto, na prática têm sido aflorados um conjunto de aspectos que colocam em causa a
eficiência e a eficácia dessa reforma educativa. Entre estes aspectos salientam-se o
questionamento dos educadores, face ao currículo, os programas, os conteúdos, a desconexão
entre os currículos, programas e o perfil de saída dos alunos do I Ciclo.
É neste quadro que este estudo focaliza o desenvolvimento curricular no contexto da reforma,
centrando a atenção em uma mudança que proporcione inovações na prática pedagógica do
professor tornando possível articular os recursos didácticos disponíveis e as metodologias.
Estas inovações, por sua vez, estarão subjacentes nos princípios e as bases gerais do Sistema
11
de Educação e Ensino em Angola (Lei n.º 17/16, de 7 de Outubro, alterada e republicada a 12
de Agosto de 2020 – Lei n.º 32/20).
Com base nestes referenciais, este estudo traz ao debate questões relativas à reforma
educativa em Angola, condensadas no seguinte problema de investigação: Quais são as
concepções que predominam no colectivo de actores do Colégio Missionário São Paulo
relativamente à Inovação no desenvolvimento do currículo, como fim da melhoria e qualidade
do processo de ensino-aprendizagem e o sucesso educativo do aluno?
Questões da investigação
12
“circunscrever o campo das análises empíricas no espaço, geográfico e social, e no tempo
(Campenhoudt, Marquet e Quivy, 2019), consideramos como campo de estudo as percepções
dos professores e dos gestores da instituição educativa referenciada, relativamente à inovação
curricular no âmbito da Reforma Educativa em Angola.
Objectivos
Geral
Específicos:
Justificativa do tema
13
corpo e dinâmica em contextos de intervenção directa dos actores locais, isto é, da
comunidade educativa.
E por outra, porque os professores são peças chave para a construção de mudanças e a sua
inserção, tanto nas práticas como nos contextos educacionais, de modo particular na sala de
aulas. A actualização das didácticas ocorre de facto com a participação e por iniciativa dos
professores.
Com base neste facto, podemos perceber que muitos os casos de distanciamento de alguns
docentes relativamente a realizações subjacentes aos processos de reforma. A participação dos
actores de terreno nos processos de reforma configura cenários propícios para o
desenvolvimento pessoal e profissional. A interacção estimula processos de assimilação de
conhecimentos entre professores-alunos-alunos, por via de recursos educativos, podendo
proporcionar, um novo ensino, mais ajustados às necessidades da sua razão de existência.
14
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEPTUAL
SOBRE A REFORMA EDUCATIVA E INOVAÇÃO NO CURRÍCULO
15
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEPTUAL SOBRE
A REFORMA EDUCATIVA E INOVAÇÃO NO CURRÍCULO
Considerando a complexidade e as exigências da reforma educativa e da inovação curricular,
vemos várias tendências emergirem de diferentes pontos de vista com uma única meta:
melhorar o processo de ensino e aprendizagem.
16
Assim, a última reforma educativa, a mais recente, ocorreu de 2002 a 2015 que foi
implementada com o propósito de inovar e mudar o currículo. Mas, percebe-se que há muitas
implicações na obtenção de resultados satisfatórios, na busca pela qualidade de ensino. A
educação constitui um processo que visa preparar o indivíduo para as exigências da vida
política, económica e social do País e que se desenvolve na convivência humana, no círculo,
na família, nas relações de trabalho, nas instituições de ensino e de investigação científico –
técnica (Zau, 2012). Neste sentido, há muito a ser feito ou seja, as práticas educativas
indiciam a necessidade de as revolucionar, numa perspectiva qualitativa, o que inclui a
adopção de elementos inovadores e alguns aspectos intrínsecos e extrínsecos dos actores do
processo de ensino e aprendizagem (professor e aluno) e, deste modo, haverá sim ensino de
qualidade.
As mudanças inovadoras para o ensino actual requerem novas ferramentas para que se
consiga atingir os objectivos pedagógicos pretendidos. Para que isso seja possível é necessário
criar novas políticas educativas que possam influenciar tanto a concepção e estrutura
curricular, como as próprias práticas educativas. A participação, a autonomia e a
responsabilização constituem-se como elementos que podem potenciar a inovação curricular e
a melhoria da qualidade. A conscientização dos agentes da acção educativa, quanto ao seu
papel no processo de (re) construção do currículo, propicia a aplicação de estratégias
pedagógicas mais centradas no desenvolvimento de competências dos alunos de maneira
individualizada, respeitando as limitações e os talentos de cada aluno para qualquer situação e
lugar, para avaliar e partilhar os seus conhecimentos.
Curriculum é uma palavra latina que significa "corrida", "caminhada", "jornada", trazendo em
si a ideia de continuidade e sequência. (Day, C. 2001). O conceito de currículo, em educação,
tem variado através do tempo acompanhando, principalmente, as transformações sociais,
técnicas e as reformulações dos objectivos de ensino.
17
que demonstra a noção de currículo recorrente nas concepções de muitos docentes, ou seja,
como referem Santos e Alves (2019), o currículo diz respeito a todo o processo educativo,
desde a concepção à realização prática em contexto das salas de aula, associando-se à
avaliação.
Para Franklin Bobbit (1918), “Currículo é aquela série de coisas que as crianças e jovens
devem fazer e experimentar a fim de desenvolver habilidades que os capacitem a decidir
assuntos da vida adulta” (p. 111).
Como resultado deste conceito, o currículo passa a ser visto sob diferentes ângulos, ora
enfatizando os objectivos de ensino, ora acentuando o exercício como meio de aprendizagem.
Ao mesmo tempo, houve um alargamento no âmbito do que se definia como currículo antes.
Caswel (1950) amplia este conceito quando concebe o currículo como “Tudo o que acontece
na vida de uma criança, na vida de seus pais, e de seus professores”. Neste sentido, tudo o que
cerca o aluno, em todas as horas do dia, constitui matéria para o currículo. Em verdade,
currículo tem sido definido como “o ambiente em acção”.
18
Deste modo, Tyler (1974) inferiu que o currículo, além dos objectivos e das experiências de
aprendizagem, abrange a avaliação, sem a qual seria um conceito impreciso, ao que
acrescentamos o sentido de abstracção. A inclusão deste factor sugere um currículo dinâmico
e multireferencial, induzido pelas mudanças contextuais e pela pluralidade de factores e de
agentes intervenientes na sua construção e conformação. Disso, decorrem complexidades
curriculares que envolvem acções conjuntas de planificação, de implementação e de
reconstrução. Nesse processo é consentido espaço à realimentação, por via de informações
fornecidas por processos de avaliação curricular, nas suas múltiplas dimensões (avaliação das
aprendizagens, dos programas curriculares, dos cursos, das escolas, entre outras).
Ainda como resultado dos estudos sobre o currículo, iniciados nos últimos anos da década de
50, alguns estudiosos procuraram separar definitivamente as noções do currículo e instrução.
Gimeno e Pérez (1989, p.18) definem o currículo como um conjunto de programa estruturado
de conteúdos disciplinares. Por sua vez, Jackson (1992b) define o currículo como o conjunto
de todas as experiências que o aluno vive na escola e por Vieira, M. (2005) que conceituam a
instrução como um mecanismo pedagógico que incita aprendizagem no aluno, fazendo com
que emergisse uma definição de currículo que consiste apenas nos fins e nos objectivos e a
instrução como o meio de atingir os objectivos. Esse ponto de vista é firmado por Jolibert
(1994) do seguinte modo:
Muitos autores concordam com Saylor e Alexander (1974) quando contestam a definição de
Johnson, afirmando que meios e fins devem constar do currículo. Embora admitam que os
objectivos, a instrução e a avaliação possam ser estudados separadamente até certo ponto,
consideram impossível planejar currículo e instrução isoladamente, como se fossem realmente
distintos. Para eles, currículo é um plano que focaliza os objectivos e os meios, mas que não
se limita a isto, incluindo ainda estratégias de instrução e avaliação. (Saylor e Alexander
1974).
No entanto, Veiga (2002, p 111) inferiu que “Currículo é uma construção social do
conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efective; a
transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los,
portanto, produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia
de construção colectiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito”.
19
A natureza do que está contido no currículo merece assim ser analisado, de forma
crítica, face as circunstâncias, necessidades e públicos actuais. Para isso, importa
olhar o currículo como esta realidade socialmente construída, que caracteriza a
escola como instituição em cada época, e abandonarmos a visão naturalista de
currículo como um figurino estável de disciplina que nos últimos tempos tem sino
ensinado pela escola. Constitui-se m currículo aquilo que a que se atribui uma
finalização em termos de necessidades e funcionalidade social e individual e que,
como tal, se constitui. (Roldão 1999, p. 232).
No entanto, a escola como função social deve fornecer bases necessárias para o entendimento
reflexivo e apropriação do mesmo de forma adequada, porque nota-se que, não há uma
compreensão exacta em relação ao currículo, pois, quando falamos deste, em qualquer
ambiente educacional ou em reuniões pedagógicas, o que se tem em mente é que o currículo
tem a ver com programas por disciplinas que devem ser cumpridos.
20
continuidade e interdependência entre o que se decide a nível do plano normativo, ou oficial,
e ao nível do plano real, ou do processo de ensino-aprendizagem. Mais ainda, o currículo é
uma prática pedagógica que resulta na interacção e confluência de várias estruturas (políticas,
administrativas, económicas, culturais, sociais, escolares) na base das quais existem interesses
concretos e responsabilidades partilhadas. (Pacheco, 2001).
Por isso é que Beane (2000) identifica no fenómeno curricular as seguintes características:
(i) Centradas em contexto com significado - para a informação e para as destrezas dos
alunos;
(ii) Tomadas de decisão a nível político no âmbito curricular;
(iii) Confronto de uma variedade de perspectivas sobre temas e objectivos que
reconheçam a diversidade e a ambiguidade;
(iv) Centrado na escola - a escola actua como espinha dorsal da programação, da
adequação de requisitos do programa para condições sociais e culturais e necessidades
mais relevantes da situação. Esta ideia de um currículo centralizado (o Programa). Na
verdade, essa abordagem ultrapassa a pura dimensão didáctica de abordagem
curricular, para cobrir tópicos referentes ao financiamento e apoio que tornam possível
a autonomia funcional de cada escola.
(v) Conectado a recursos ambientais - é uma consequência prática do ponto anterior. A
escola deixa de constituir uma estrutura institucional colocada em qualquer lugar,
sempre a mesma e fechada. Existe, portanto, uma cruz de influências (de tempos em
tempos também de conflitos) mas, acima de tudo, é gerada uma dinâmica social e
cultural que tem a escola não apenas como um imóvel no meio do território, mas
também como uma instituição cultural disponível para o território.
(vi) Consensual - Um currículo baseado em programação no nível local, dá a
possibilidade de realmente introduzi-lo na dinâmica da escola. Obviamente, se o
estado na adopção de novas políticas curriculares, pensar no quotidiano e na principal
exigência de cada província, face as suas necessidades diárias, as escolas não
encontrarão obstáculos de se adaptarem àquele currículo, por já fazer parte da
realidade daquela comunidade escolar.
(vii) Tem impacto directo e indirecto em todas as experiências dos alunos - a acção da
escola está relacionada e comprometida com todo o conjunto de experiências possíveis
em um determinado meio. Diríamos que, o professor pode não direccionar ou
gerenciar estas experiências directamente integradas em um plano de aula, mas podem
21
ser compatíveis a actividade extracurricular e nesse caso depende da dinâmica
institucional da própria escola.
(viii) Clarificador para professores, pais e alunos - o currículo acordado no nível local,
por um lado, é uma espécie de modelo anterior, o que indica explicitamente que
constitui uma espécie de contrato mútuo em que os compromissos traçados foram
alcançados. Deste modo, mostra qual tarefa que cada um deverá cumprir (p, 130).
22
relações que permitem o quotidiano da escola e fora dela, ou seja, envolve relações de classes
sociais, étnicas e de género, não se restringindo a uma questão de conteúdos” (Goodson 2008,
p. 231 ).
Hoje em dia, frequentemente são verificadas práticas do contexto curricular que esbarraram
em modos de organização do currículo escolar de forma fragmentada e hierarquizada, ou seja,
cada disciplina é estruturada e ensinada separadamente e as que são consideradas de maior
importância em detrimento de outras como a Matemática e a Língua Portuguesa recebem mais
tempo para serem ensinadas no contexto escolar. Nessa perspectiva de análise sobressai o
sentido da abordagem interdisciplinar que procura contrapor os riscos da atomização
curricular.
Deste modo, como fazer para que uma escola possa se tornar interdisciplinar? O primeiro
passo rumo à nova proposta é a mudança do paradigma da escola e da postura dos
professores.
A função da escola já não é integrar as novas gerações ao tipo de sociedade preexistente, pela
modelagem do comportamento aos papéis sociais prescritos e ao acervo de conhecimentos
acumulados. Segundo Moreira (1999, p. 20), “O objectivo do Ensino é dar ao educando uma
23
ideia integrada da vida e das relações dos seres vivos entre si e com a natureza. O mundo não
está dividido em Física, Química, Biologia. A formação de conceitos exige que se respeite a
unidade do conhecimento e que a ciência é o conhecimento organizado, de modo sistemático,
sobre nossa interacção com a natureza”.
No novo conceito do papel social da educação, é construir uma nova relação humana, rever
criticamente o acervo de conhecimentos acumulados e tornar a consciência como participe
pessoal na definição de papéis sociais. Para que esse novo papel social da educação se
cumpra, é preciso rever o funcionamento da escola, não só quanto a conteúdos, metodologias
e actividades, mas também quanto à maneira de tratar o aluno e aos comportamentos que
devem estimular, como: a auto-expressão; a autovalorizarão; a co-responsabilidade; a
criatividade e a autonomia na construção do conhecimento estabelecendo uma relação entre
todos.
24
d. Desenvolver atitude de busca, de pesquisa, de transformação, construção,
investigação e descoberta.
e. Definir uma base teórica única como eixo norteador de todo o trabalho escolar,
seja ideológica (que tipo de homem queremos formar), seja psicopedagógica
(que teoria de aprendizagem fundamenta o projecto escolar), seja relacional
(como são as relações interpessoais, a questão do poder, da autonomia e da
centralização decisória na escola).
Para Jolibert (1994, p. 56), “A pedagogia de projectos permite viver numa escola alicerçada
no real, aberta a múltiplas relações com o exterior: nela a criança trabalha “para valer” e
dispõe de meios para afirmar-se como agente de seus aprendizados, produzindo algo que tem
sentido e unidade”. O mesmo autor, argumenta que.
25
a problematização e o encadeamento lógico dos conteúdos e a abordagem seleccionada
para a análise e/ou descrição dos temas. O recurso dos eixos temáticos propicia o
trabalho em equipa, além de contribuir para a superação do isolamento das pessoas e
de conteúdos fixos Jolibert (1994).
Etimologicamente a palavra currículo vem do grego Curriculum que quer dizer “pista de
corrida”. E isso nos leva a entender que o significado do currículo é uma trajectória, um
caminho, uma trilha percorrida pelo homem no sentido de compreender o mundo, a
sociedade. Só que esse currículo é uma questão de identidade e poder segundo (Silva, 2010).
26
Em conexão com o processo de industrialização e os movimentos migratórios, que
intensificavam a massificação da escolarização, houve um impulso, por parte de
pessoas ligadas, sobretudo à administração da educação, para racionalizar o processo
de construção, desenvolvimento e testagem de currículo. (Silva, 2010, p. 89)
Para gerar uma discussão compreensiva faz-se necessário destacar alguns conceitos de
currículo para que haja um entendimento das teorias que norteiam o trabalho das escolas e de
muitos educadores.
De acordo com Lopes (2006), o currículo tece-se, em cada escola com a carga de seus
participantes, que trazem para cada acção pedagógica a cultura e a memória de outras escolas
e de outros quotidianos nos quais vivem. É nessa grande rede quotidiana, formada de
múltiplas redes de subjectividade, que cada um de nós traça suas histórias de aluno/aluna e de
professor/professora. Essa visão de currículo existe numa consonância com as ideias da
(Silva. 2005, p. 60): “ O currículo é sempre resultado de uma selecção: de um universo mais
amplo de conhecimentos e saberes selecciona-se aquela parte que vai constituir precisamente
o currículo”. Nesse mesmo raciocínio o autor diz que “a selecção que constitui o currículo é o
resultado de um processo que reflecte os interesses particulares das classes e grupos
dominantes”.
Para Gimeno (1998), o currículo deve ser entendido como processo que envolve uma
multiplicidade de relações abertas, em diversos âmbitos, que vão dá prescrição à acção, das
decisões administrativas às práticas pedagógicas na escola como instituição e nas unidades
escolares específicas. Para compreendê-lo e, principalmente, para elaborá-lo e implementá-lo,
de modo a transformar o ensino, é preciso reflectir sobre grandes questões.
27
Por isso, existem diversas abordagens no campo das teorias curriculares que tornam ainda
mais complexo e local de permanente debate e reflexão, sobretudo quando não se pode falar
de um consenso acerca da definição de currículo.
28
A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de métodos de uma disciplina para outra.
Ultrapassa-as mas, a sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem
interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes
disciplinas, por meio da acção didáctico-pedagógica mediada pela pedagogia dos projectos
temáticos. Estes facilitam a organização colectiva e cooperativa do trabalho pedagógico,
embora sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de modo restrito e, às vezes,
equivocados. A interdisciplinaridade é, portanto, entendida aqui como uma abordagem
teórico-metodológica, em que a ênfase incide sobre o trabalho de integração das diferentes
áreas do conhecimento. Trata-se de um real trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo
e ao planejamento. Segundo Nogueira (2001), essa orientação deve ser enriquecida, por meio
de proposta temática trabalhada transversalmente ou em redes de conhecimento e de
aprendizagem, e se expressa por meio de uma atitude que pressupõe planejamento sistemático
e integrado e disposição para o diálogo.
29
contribuem para que a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes de seus direitos e
deveres e da possibilidade de se tornarem aptos a aprender a criar novos direitos,
colectivamente (Nogueira, 2001).
Em sua essência, o currículo deveria contribuir para a total e plena construção da identidade
dos alunos e, além disso, deveria também estimular as capacidades, as competências, o
discernimento e a análise crítica dos alunos. Essa é uma concepção mais construtivista do
currículo e não representa aquilo que de facto o currículo está inserido.
Quando falamos de teorias curriculares não paramos para analisar o quanto estas revelam
verdades e contradições, onde o currículo é visto, compreendido e interpretado de várias
maneiras. Como seria de esperar, este cenário reflecte a evolução e complexidade do conceito,
muito marcado pelos percursos históricos, sociais, culturais e políticos dos contextos em que
se foi desenvolvendo. A função da teoria curricular é descrever, explicar e compreender os
fenómenos curriculares para a orientação das actividades resultantes da prática e sua melhoria.
30
Assim, diferentes autores enumeram de distintas formas as várias teorias curriculares, de
forma que abordaremos a seguir as correntes apontadas por Silva (2003). Dessa forma
podemos distinguir três principais teorias:
E isso leva-nos a entender que no pano de fundo dessas teorias existe um processo de
reprodução do currículo. As teorias tradicionais eram de aceitação, ajuste e adaptação.
Quando se fala de aceitação, ajuste e adaptação, leva-nos a acreditar que essas teorias apenas
reproduzem e se relacionam em conexão com os aparelhos ideológicos do Estado.
Essas teorias nascem e se configuram como críticas através de diversos movimentos sociais
principalmente nos anos 60, período que foi marcado por inquietações e mudanças no tecido
de alguns países, principalmente na França e nos Estados Unidos. Dessa maneira, (Silva 2010,
p.29) mostra-nos que os diversos movimentos que fizeram parte dessas mudanças foram:
31
padrões tecnocráticos estabelecidos pelos primeiros modelos de currículo, como o de Bobbitt
e de Tyler.
Nesse tipo de teoria, o currículo é entendido com algo que gera uma referência de géneros.
Caracterizam-se por criticar a fundo todo tipo de depreciação de progresso cultural e histórico
de grupos étnicos. Colocam-se a favor do reconhecimento das formas culturais dos mais
diversos grupos sociais.
Essas teorias são ainda mais problematizadoras que as críticas, como se fosse estender cada
vez mais nossa compreensão com relação aos processos de dominação, a síntese da actividade
de poder desenvolvidas nas semelhanças de género, etnia, raça e sexualidade. Dessa maneira,
Silva (2010, p. 244) ensina-nos que “as teorias pós-críticas olham com desconfiança para
conceitos como alienação, emancipação, libertação, autonomia, que supõem, todos, uma
essência subjectiva que foi alterada e precisa ser restaurada”.
Outra verdade é que essas teorias, não só ampliam, como também modificam ainda mais
aquilo que as teorias críticas problematizaram e questionaram no curso de acções educativas.
Elas esclarecem que o poder não pode, de forma alguma, ser centralizado. Nas teorias pós-
críticas, entretanto, o poder torna-se descentralizado. O poder não tem mais um único centro,
como o Estado, por exemplo: “O poder está espalhado por toda a rede social” (Silva 2010,
p.148). As teorias pós-críticas olham para a subjectividade e afirmam que ela é sempre social.
Sjão contra todo tipo de conhecimento congruente, centralizado e singular, como também, a
função do modelo que o currículo exerce nas escolas e nas instituições de ensino.
A partir das discussões geradas no decorrer desta abordagem pode-se considerar que o
currículo pode ser visto e concebido de um ponto, de tradicional, crítico e pós-crítico através e
por meio de teorias. Logo, essas teorias têm funções de: naturalizar, desnaturalizar e
transformar o currículo em si. Outra função dessas teorias é de buscar justificativas de
selecção dos conhecimentos.
32
Mas quando se concebe o currículo numa visão tradicional a tendência é naturalizar, e
mecanizar o currículo. É também, encarar esse currículo como acabado, neutro e
desinteressado. A preocupação do currículo nessa concepção é de organização. Dessa forma,
quando se encara o currículo, numa concepção crítica, a inclinação dá-se a partir do
questionamento, da crítica e da problematização desse currículo formativo actual.
Outra consideração que se tira de todo esse estudo é saber que o currículo visto e entendido
anteriormente como dado, natural e técnico. Mas, quando esse currículo passa a ser concebido
com uma visão pós-crítica, ele passa a ser encarado e visto não apenas com um olhar inocente
e sim, com um olhar mais crítico, questionador, problematizado e até mesmo com relação às
teorias críticas.
As três diferentes perspectivas curriculares, aqui referidas, estão na base das três principais
teorias curriculares sistematizadas por Pacheco (2014), tendo em conta a categorização de
(Kemmis 1988), que identifica a teoria técnica, a prática e a crítica, que se distinguem em
variados aspectos, apresentados sistematicamente no quadro seguinte:
33
Conceito de currículo Auto-realização Currículo como
Dos alunos. Hipótese de trabalho
Meio tecnológico
Ou plano
para a aprendizagem
Para Gaspar e Roldão (2007, p. 98), o currículo constitui um conceito poliédrico “ causa e
efeito de múltiplas e variadas influências” mas que inclui necessariamente “o que vai ser
aprendido, o porque e o para quê, o como orientar a aprendizagem e com que meios
possibilitar a aprendizagem”. Neste ponto de vista é evidente fazermos as seguintes questões:
como é entendido o currículo num dado contexto? Quais são as linhas de leitura que as teorias
curriculares oferecem para compreender melhor o currículo e o seu processo de
desenvolvimento? Quais são as práticas curriculares dominantes?
Roldão (2007) propõe uma análise compreensiva do fenómeno curricular que integra as suas
várias dimensões e elementos na sua dependência e influência: a) dimensões macro do
currículo – relativa às opções no plano sociológico e político; b) dimensões meso do
currículo – Associados às opções quanto a componente organizacional da instituição que
vincula o currículo “a escola”; c) dimensões micro do currículo - Ligados às opções na
operacionalização técnica e pedagógica em acções de ensino e aprendizagem.
A autora sustenta que a adopção de qualquer uma das racionalidades (técnicas, práticas e
críticas), enquanto lente analítica, requer a consideração da multidimensionalidade do
currículo (macro, meso e micro). Para a autora a predominância de leituras de investigação
curricular, que tendem associar a racionalidade técnica às dimensões apenas situados no
campo da execução curricular, tem tido “repercussões no empobrecimento ou esbatimento das
dimensões de análise do nível micro” uma vez que o currículo prescrito e organizado nos
planos macro e meso “só adquire sentido de efectivação no campo micro – onde se realiza o
currículo real, isto é, a apropriação pelos aprendentes das aprendizagens seleccionadas nos
outros dois níveis.”
A partir do conhecimento das nossas realidades mais imediatas, sempre em interacção com as
mais complexas e as mais distantes, que conseguimos construir aprendizagens que nos ajudam
a compreender a complexidade do mundo global em que vivemos, no qual devemos participar
como cidadãs e cidadãos activos. A escola é um local privilegiado para educar uma cidadania
34
mais aberta, inovadora e geradora de personalidade oratória com as outras realidades e
culturas, comprometida com o pluralismo e o cosmopolitismo democrático e igualitário.
Nesta perspectiva, Azevedo (2009, p.97) advoga que a educação escolar deve “cuidar das
aprendizagens de cada estudante com a maior das atenções, ser sempre exigente para com
cada um, não deixar pelo caminho, por nenhuma razão, um aluno que está a aprender”
(ibidem). Estas posições, ao realçarem o papel importante do professor na criação de climas
de aprendizagem inclusivos e inovador, parecem tornar clara a importância de se recorrer a
práticas de contextualização curricular. E no quadro destas ideias situamos também a pesquisa
que nesta dissertação se dá conta. Com ela pretendemos: aprofundar o conhecimento sobre
práticas de contextualização curricular e identificar constrangimentos que dificultam a
concretização daquelas práticas.
35
curricular, como um princípio pedagógico orientador da prática docente e, simultaneamente,
como um elemento configurador da matriz educacional da escola e da cultura curricular
Morgado (2002) do colectivo dos professores.
Deste modo, fica claro que os conteúdos de algumas disciplinas parecem ser mais propícios
ao desenvolvimento de práticas de contextualização curricular. Pode-se também inferir que os
professores têm consciência de que têm margem para reconfigurarem o currículo nacional de
acordo com os contextos reais em que o desenvolvem (Fernandes, 2000).
Este extracto ilustra a tensão com que convivem, diariamente, os professores em cumprirem o
programa, considerado, por alguns, extremamente extenso. Tal pressão parece empurrá-los
para práticas pedagógicas de carácter de, apenas transmissores e deixar-lhes pouco tempo para
desenvolverem actividades que permitam um maior envolvimento e participação dos alunos.
36
que diz respeito ao trabalho do quotidiano de sala de aula. Talvez por isso, os discursos sobre
as práticas realizadas tendem a situar-se numa lógica intuitiva e ainda pouco
consciencializada.
O papel dos professores, e as suas acções pedagógicas, assumem então um lugar central na
criação ou não, de condições favoráveis para realização de práticas de contextualização
curricular. Estas condições, como sustentamos acima, pressupõem pensar nas práticas de
contextualização curricular, nos pressupostos em que se fundem num registo intencionalmente
planificado e conceber o seu desenvolvimento, como um dos caminhos desejáveis para o
ensino de qualidade.
Logo, deveria conceber-se um novo modelo curricular, uma nova proposta de conteúdos
escolares obrigatórios destinados a educar homens e mulheres com uma visão do mundo e um
senso comum, perante os quais as tendências educativas são percepcionadas como únicas
opções possíveis, aquilo que é lógico, óbvio e necessário.
37
1.4. O pensar e o agir do professor para inovar
Fullan (1999) afirma que o destino de uma inovação educativa dependerá do que os
professores pensam e fazem. São eles que põem em prática junto com os seus alunos e por sua
maneira de conceber e gerir quotidianamente as situações de ensino e aprendizagem, as novas
ideias do movimento pedagógico. Logo, o impacto das mudanças visadas na transformação
real das práticas pedagógicas dependerá de dois factores essências:
(i) Por um lado, a maneira como os objectivos e os conteúdos das reformas são
comunicados aos principais actores de modo a lhes permitir desenvolver uma
compreensão suficientemente, aprofundada dos desafios e das vantagens das
mudanças propostas e da maneira como eles deverão e poderão transformar suas
práticas, sem pagar o “preço mais alto”, em termos de tempo, gasto de energia e, até
mesmo, em termos de perda de confiança neles e de conflitos internos. As experiências
desses últimos anos mostraram-nos que, as estratégias de sensibilização e de difusão
em forma de conferências, de textos, de circulares oficiais e de produção de manuais,
não conseguiram produzir efeitos esperados. É preciso, multiplicar as relações de
comunicação nas quais as partes interessadas poderão debater problemas percebidos,
compartilhar suas inquietações e suas necessidades mediante o confronto de pontos de
vista diversos, para uma melhor visão dos verdadeiros problemas que enfermam o
ensino angolano.
(ii) Por outro lado, e acima de tudo, da maneira como os actores educativos
conseguirão captar em todos os níveis do sistema e, particularmente, nos
estabelecimentos escolares as problemáticas apresentadas e engajar-se de forma
duradoura em uma exploração colectiva de novas soluções pedagógicas, didácticas e
estruturais.
Ao analisarmos estes dois factores, queremos perceber que dos três processos cognitivos que
ocorrem na mente do professor, antes, ao planificar a sua aula- (pré-acção), durante a sua
aula- (acção), depois ao, reflectir sobre a sua aula- (pós-acção), no processo de ensino
aprendizagem é notório que através da compreensão, das convicções, concepções e teorias
implícitas nas distintas fases do processo ensino e aprendizagem, podemos perceber que estes
se fizessem parte de todos professores, deveriam fazer da sociedade um referencial que
possibilita a orientação da acção educativa.
38
E o que determina a postura e o comportamento do professor são os seus pensamentos. Estes
por sua vez influenciam nas suas acções que vão evoluindo ao longo da sua actividade
profissional.
Não basta compreender os objectivos e saber desmembrá-los para ser capaz de traduzi-los em
sequência de aprendizagem, dispositivos pedagógicos eficazes e, inclusive, para identificar de
imediato os ajustes que permitirão suprir algumas deficiências. Nessa perspectiva, a maior
parte dos sistemas escolares está reorganizado de modo a obter prazos realistas para garantir
as competências essenciais (Gather, 2000a).
Nessa nova distribuição, os planos de estudo não deveriam mais prescrever o que os
professores devem ensinar, mas sim o que os alunos devem apreender. Não com o objectivo
de “dar tempo ao tempo” e esperar passivamente que “as aprendizagens desabrochem”, pois,
o desafio consiste em considerar o espaço-tempo para possibilitar que os alunos alcancem os
objectivos determinados, organizando o tempo disponível, segundo a aquisição e a trajectória
de cada aluno. E por outra, centrando o ensino no essencial a fim de poder diversificar as
trajectórias e flexibilizar o que está planificado.
39
Quando essas preocupações dão lugar ao temor de os professores serem julgados ou
comparados a outros estabelecimentos escolares, haverá fortes motivos de que a obrigação de
desenvolver competências e alcançar bons resultados seja acolhida como uma exigência
pessoal.
40
1.6. Possíveis relações entre os conceitos de reforma, inovação e
mudanças educativas
Por outro lado, a palavra mudança é usada em múltiplos contextos e tanto refere alterações
que são meras reproduções, como outras que correspondem às transformações radicais.
Procurando introduzir clarificação no uso dos termos, Van Velzen (1985) propõe uma
classificação das mudanças assente em três variáveis, a saber: i) o âmbito, relacionado com a
maior ou menor amplitude das fronteiras da mudança; ii) a dimensão, associada à
complexidade relativa da mudança, de acordo com o ponto de vista das pessoas que a
implementam e iii) o grau, correspondente ao número de unidades e níveis do sistema
educativo que a mudança envolve.
A mudança quando ocorre, nem sempre é para melhor, depende da recepção e apreciação que
cada um faz desta. Fazendo uma análise ao conceito de inovação enquanto “mudança
planificada” e envolvendo um processo que visa melhorar a escola. Este processo segundo
Franklin (1918), envolve três fases: a iniciação, que corresponde à introdução de novas ideias
e práticas e à procura da aceitação e envolvência de todos actores; a implementação, ou seja, a
operacionalização dessas alterações e por último a institucionalização ou estabilização, em
que as alterações são constituídas em normas e rotinas, de modo a tornarem-se parte
integrante do trabalho escolar e da actividade dos actores.
A ideia de Franklin (1918) é de que “as práticas não se criam, nem se modificam por decreto”
e tendem “a ignorar ou a reconfigurar as propostas que lhe são enviadas de ‘cima”. Deste
modo, torna-se inviável a transferência de inovação de um contexto para outro, emergindo
como necessário desenvolver um percurso onde a apropriação se vá fazendo de modo
sustentado. Aceitando que as escolas são organizações que aprendem, este percurso é
possível, uma vez que estas têm em si potencialidades para fazer e melhorar cada vez mais.
Admitimos que, neste processo há que atender ao propósito de melhoria com que os órgãos
de gestão de uma escola podem ser capazes de envolver a comunidade educativa, dando lugar
41
a práticas de auto-avaliação organizacional, que procuram no exercício da actividade
educativa, observar elevados padrões de desempenho e alcançar os melhores resultados que se
almejam no ensino.
Todavia, a lógica da reforma parte do pressuposto de que “os problemas estão definidos de
forma unívoca e que podem ser abordados de modo sequencial e fragmentado, um por um
para que as reformas possam se traduzir em mudanças. Perrenoud (2002) alerta que “as
reformas nunca resolvem inteira e definitivamente os problemas do sistema educativo”.
Contudo, a forma como são conduzidas e negociações com os professores poderão ou não
preparar “os professores para se tornarem actores do sistema educativo e adquirirem
competências que poderão ser reinvestidas em novas reformas, anos mais tarde.
Neste sentido, por reforma educativa entende-se numa transformação da política educativa de
um país a nível de estratégias, objectivos e propriedades. Estas transformações podem ser
traduzidas por conceitos como inovação, renovação, mudança e melhoria que têm como
denominador comum a introdução de algo novo. No entanto, não existe um pensamento
homogéneo entre os diversos autores, acerca do que realmente significa cada um destes
conceitos (Pacheco, 2001).
Segundo Pacheco (2001), se inovar é renovar, tornar novo, inventar e criar; se a reforma é
reconstituir, restaurar, corrigir, modificar, melhorar; se mudança é melhorar, reformar,
aperfeiçoar, então não se justifica uma caracterização pormenorizada de cada um dos
conceitos quando aplicados às questões educativas.
Apoiando-se na ideia de Hernandez (2000), podemos definir reforma como um processo que,
em linhas gerais, pretende modificar as metas e o marco global das actividades da instituição
educativa, deixando em segundo plano a atenção ao método de trabalho dos agentes
educativos. Já inovação quer dizer, modificar as formas de actuação como resposta a
mudanças dos actores educativos e implica uma organização diferente do trabalho, para qual
devem ser utilizados métodos mais eficazes.
42
Nesta linha de pensamento, uma reforma poderia ser uma mudança em grande escala, ao
passo que uma inovação seria em nível mais concreto e limitado. Podemos considerar nessa
perspectiva, como o campo da inovação a direcção e o sentido da mudança, favorecidos em
um determinado contexto educativo.
Por este motivo, as inovações já estão nas escolas e que os professores são os administradores,
mas que é necessário se aproximar ao que acontece na sala de aula, para que se aprenda
criticamente com as inovações que os professores sugerem, ou precisam por parte dos
gestores de instituições.
Fazendo uma análise reflexiva do que nós encaramos hoje, como desenvolvimento curricular,
está mais virado para algo não dinâmico, porque a planificação e a selecção de conteúdos para
a operacionalização do currículo não tem possuído um carácter dinâmico. Por outro lado,
podíamos entender o desenvolvimento curricular como o desenrolar de uma acção pedagógica
em um determinado tempo, tendo como objecto em atenção o currículo que norteia as
aprendizagens dos alunos.
Gaspar e Roldão (2007) referem que a partir das características identificadas nas diferentes
definições evidencia-se quatro matrizes reveladoras das tendências conceptuais do
desenvolvimento curricular: (i) matriz narrativa, (ii) matriz contextualizante, (iii) matriz
interactiva, (iv) matriz conexista.
Para Pacheco (2001) a matriz narrativa é a que evidencia que o currículo planifica-se,
seguindo uma ordem de sequência linear (diagnóstico da situação, identificação das
43
necessidades, enunciado de objectivos, explicitação dos conteúdos, definição das estratégias
de ensino, clarificação do modelo ou programa de avaliação).
Na matriz interactiva, o currículo planifica-se, seguindo uma ordem de sequência linear, mas
ressalva a preocupação interaccional dos próprios conteúdos e destes com a aprendizagem
(diagnóstico da situação – identificação das necessidades – enunciado de objectivos – traçado
das linhas de orientação programáticas – apresentação de modelos de ensino aprendizagem –
clarificação de propostas de modelos de avaliação).
Na matriz conexista tem por base o foco intencional do currículo, cruzando-o com o mundo
perceptivo, dando preferência à interpretação frente à explicação. Revela a relação entre causa
e efeito, como significante das coisas e a base da compreensão.
(1) Princípio da realidade – dá lugar à programação curricular feita na escola de acordo com
a realidade da mesma.
Em outras palavras, a essência formal, legal e "científica" dos Programas oficiais, devem
ceder lugar às adaptações, variações ligeiras e proximidade, à própria programação escolar e
do professor e ao quotidiano do aluno.
44
(2) Princípio da racionalidade – o currículo é desenvolvido de forma empenhada por parte
do docente promovendo as experiências significativas por parte do aluno.
Quem desenvolve um currículo, não deve apenas depender das normas, costumes, imposições
ou outros elementos a nível macro, mas deve adaptar, explicar, definir, seleccionar e insistir
directamente na construção de experiências totalmente de decisões firmes.
Isso gera uma assembleia curricular dialéctica muito mais dinâmica, acessível e confortável
para todas as situações. Significa considerar não apenas a natureza das disciplinas, actividades
e abordagens a serem desenvolvidas, mas também desenvolver competências que impõem
valências de valores colectivos sobre os individuais, respeitando os direitos fundamentais da
pessoa humana.
É precisamente na programação curricular que o quadro das intenções, o curso planejado das
acções devem merecer um controlo interno e externo, durante sua realização. Um currículo, é
uma tentativa de comunicar os princípios e recursos essenciais de uma proposta educacional,
de maneira a torná-lo susceptível à análise crítica e capaz de ser efectivamente transferido
para a prática pedagógica. Por isso, antes da promulgação deve torná-lo público para opiniões
daqueles que vão se servir dele.
Aqui é possível observar a ocorrência de dois efeitos curriculares, aqueles princípios cujas
propostas são anunciadas inicialmente, no caso, o currículo formal, juntamente com as
propostas intencionais é tornado explícito e assim o conjunto de componentes ou efeitos
curriculares não inicialmente previstos, fazendo com que surja o currículo oculto, aquele que
vai reforçar as regras que cercam a natureza e o uso dos conflitos.
45
Toda a programação curricular implica uma organização funcional das partes constituintes do
currículo. Esta programação trabalha com critérios de operacionalidade e funcionalidade e,
como podemos colocar tudo isso em prática e como os vários componentes do currículo
funcionam como um todo integrado e não como um conjunto de acções desconectadas.
A questão capital de toda a programação curricular permanece em torno do que fazer? Que
aprendizagens desenvolver? Não simplesmente numa busca ansiosa por conteúdos e
actividades, mas como processo de selecção entre a grande variedade do impossível e
possível. E uma das actividades do professor deve ser a de identificar e seleccionar os
conteúdos que o aluno precisa aprender. Essa selecção deve obviamente responder a critérios
de valor, formação humana, congruência e funcionalidade situacional. Esse é o grande desafio
que a comunidade educativa deveria enfrentar, bem como a escola quanto Instituição. Existem
programas inteiros de conteúdos, actividades sem especificidades. A questão é saber quais,
como seleccionar, em que momento usá-los e com que finalidade.
46
(8) Princípio da decisionalidade – Em suma, como destaca Fernandes (2000), ensinar nada
mais é do que tomar decisões. Neste sentido, todo o arco didáctico (objectivos, conteúdos,
gerenciamento de alunos, avaliação, construção ou manuseio de materiais e outros)
constituem um complexo e processo encadeado de decisões, pré-instrutivo e / ou instrutivo,
por parte da comunidade escolar como um todo.
Não seriamos realistas supor que tais processos poderiam desaparecer, que é possível hoje
uma auto-gestão curricular completa. É necessário recuperar um novo e real destaque, por
todos envolvidos, na tomada de decisão do desenvolvimento curricular. Até que ponto, com
que condições e com que formas de complementaridade que isso é possível no terreno, no dia-
a-dia do professor?
O currículo prescrito; existe em qualquer sistema educativo, é ditado pelos órgãos político-
administrativos e tem um papel de prescrição ou orientação relativamente ao conteúdo do
currículo, sobretudo no que diz respeito à educação obrigatória. Funciona como referência
básica relativamente à ordenação do sistema curricular, à elaboração de materiais curriculares,
no controlo do sistema.
O currículo desenhado ou apresentado; é aquele que chega aos professores através dos
meios ou materiais curriculares elaborados, dos quais tem papel de excelência o livro de texto
ou manual. Estes materiais colocam à disposição dos professores uma interpretação do
47
currículo, geralmente mais concretizada e orientada para a prática lectiva, facilitando-lhes a
actividade de planificação.
O currículo avaliado; é o que é valorizado por ser aquele sobre o qual incidem os testes ou
avaliações externas, que acaba por impor critérios de relevância para o ensino do professor e
para a aprendizagem dos alunos. Através do currículo avaliado reforça-se aquilo que
verdadeiramente vale, o que verdadeiramente conta. No contexto de exames externos, tem um
enorme efeito regulador, quer das práticas do professor, quer do que os alunos (e pais)
consideram que vale a pena aprender.
48
novo, algo ainda não estreado numa mudança intencional, exige um esforço e
conscientemente assumido, requer uma acção persistente que tenciona melhorar a prática
pedagógica e sua avaliação.
São mudanças que contribuem para transformação e melhoria dos processos e práticas de
ensino e aprendizagem e, consequentemente, para construção do sucesso educativo dos
alunos, podendo assumir diferentes formas (Pacheco, 2001).
Fullan (1997), citado por Hernandez (2000), discute que em um processo de inovação
curricular não basta os professores reconhecerem uma proposta como inovadora em termos
autopropostos, mas sim traduzi-la e descodificá-la em termos de sua bagagem pessoal, teórico
e prática. Os professores devem ser capazes de reconhecer o seu papel transformador no
processo de inovação.
No nosso entender, a inovação curricular tem bases no cruzamento entre a formação contínua
do professor, a organização didáctica escolar, e o desenvolvimento das novas tecnologias bem
entronizados podem provocar algumas mudanças nas práticas pedagógicas e no processo de
ensino e aprendizagem.
49
De acordo com o Movimento de Inovação na Educação (MIE), numa iniciativa da Associação
Cidade Escola Aprendiz, Ashoka e Fundação Telefónico Vivo, inovar na educação é pensar
em novos conceitos, estruturas e metodologias para o ensino-aprendizagem que busca
diminuir as desigualdades sociais, desenvolver os alunos de forma integral, pensar no
processo educativo de forma colectiva e dialógica e, acima de tudo oferecer uma educação de
qualidade.
Algumas referências no assunto e que podem estimular, provocar e fazer-nos reflectir sobre
como é possível desenvolver práticas pedagógicas inovadoras dentro e fora da sala de aula:
John Dewy- algumas das ideias mais inovadoras foi o modelo de ensino-aprendizagem, que
percebe o aluno como protagonista do seu processo de educação, além de sua proposta de
desenvolvimento integral do indivíduo, levando em consideração aspectos físicos, emocionais
e intelectuais;
Maria Montessori- a metodologia dela é baseada em seis pilares que são: auto-avaliação,
educação cósmica, educação como ciência, ambiente preparado, adulto preparado e ambiente
preparado. Busca o desenvolvimento da criança levando em consideração as diferentes épocas
da sua vida e quais são as necessidades e comportamentos específicos de cada fase.
Lev Vigotski- de acordo com ele, para que a aprendizagem ocorra, deve sempre existir algo
que faz a mediação da relação do sujeito com o mundo;
Paulo Freire- na perspectiva deste, a educação tem como missão conscientizar o aluno,
fazendo com que este entenda sua situação dentro da sociedade que actua.
Estamos a viver uma época em que a ciência e a tecnologia avançam em um ritmo acelerado e
Angola não está isenta deste e estas contribuições servem-nos porque pensamos em produzir o
50
conhecimento sobre o campo da inovação curricular e os critérios metodológicos propostos
pelos clássicos, acima referidos, devem estar associados às novas tecnologias. Deste modo,
achamos que é necessário que o professor angolano, de Benguela, do Lobito e em especial do
Colégio Missionário acompanhe este ritmo.
A mudança dos currículos não é o objectivo em si. A melhoria dos currículos deveria ser
sempre feita em relação ao educando e à evolução da sociedade. Esta visão constitui uma
prioridade absoluta, na melhoria dos currículos com todas as outras possibilidades de
responder às necessidades de todos os indivíduos e comunidades.
As pistas como ponto de partida para as estratégias de mudança dos currículos, acima citadas,
são importantes, de modo que ao pô-las em acção o professor deve ter bastante cuidado, não
só no planejamento, mas também execução de suas ideias.
51
Quando escolhemos uma estratégia para mudar, adaptar o currículo devemos analisar se esta é
realmente adequada para aquele conteúdo, se consegue atingir, de maneira positiva, a maioria
dos alunos em sala de aula, devendo também considerar a idade dos alunos e a classe destes.
Isto significa que uma estratégia adequada para uma turma, classe e disciplina nem sempre
poderá se adequar a outra.
Reconhecer as habilidades e respeitar a individualidade dos alunos pode ser uma das
estratégias para motivar os alunos a participarem nas aulas e interagir. A escola e o professor
devem estar prontos para trabalharem em harmonia com todo grupo em sala de aula, ou fora
dela.
Deixar o aluno no centro do processo educativo é uma das estratégias essenciais, porque isto
vai permitir que ele seja o protagonista da produção histórica e fazer com que participe de um
modo mais cidadão e perceber como funciona este mesmo processo.
Os professores precisam saber quem são os seus alunos para entenderem melhor o perfil de
cada um destes e as estratégias que favoreçam ou dificultam a sua aprendizagem. Torna-se
difícil partilhar conhecimentos quando não se sabe com quem se está a interagir e, é preciso
identificar os seus interesses, suas espectativas e inclusive em relação a escola.
É difícil colocar em prática, mas não é impossível, se a colecta e análise de informações sobre
o aluno for compartilhado pelo colectivo docente que passa por cada turma, torna-se mais
viável. Como por exemplo:
Vale referenciar que atingir tais estratégias de mudanças, inovação e conseguir enquadrá-las
no tempo e aplicá-las efectivamente nas salas de aula, é necessário que haja diálogo
52
permanente de políticas educativas entre todas as partes envolvidas, desde as classes iniciais,
com o objectivo de se chegar a um acordo negociado e partilhado no que diz respeito à
abordagem dos objectivos de um currículo que melhor responda às necessidades da sociedade.
A melhoria do currículo deveria, portanto, ser encarada como um processo contínuo duplo,
político e técnico. As hipóteses para que estes processos atinjam resultados positivos duráveis
são mais fortes quando existe uma acção sistemática, cuja estratégia de um todo, inclui a
definição de objectivos, as etapas, as actividades, os recursos e os resultados esperados,
incluindo as avaliações, tenham sido partilhados e clarificados desde o início, no decorrer de
um processo de diálogo explicitamente definido entre todas as partes envolvidas. O currículo,
como concretiza de certo modo um acordo partilhado sobre os papéis da educação e os seus
objectivos, sobre os saberes e os valores a transmitir no seio de uma determinada sociedade,
deveria resultar sempre de um diálogo e de um acordo entre as diferentes partes envolvidas,
no intuito de responder, o melhor possível, às expectativas e necessidades de uns e de outros;
esta participação também permitirá uma melhor aplicação nas salas de aula por parte dos
professores e uma melhor compreensão por parte dos pais. (Goodson. 2008).
É essencial, antes de iniciar qualquer acção de mudança e reforma, pôr a questão das
condições para o sucesso de um processo sistemático de mudança curricular. Com efeito,
trata-se de privilegiar o aspecto relacional de uma aproximação sistemática para a
identificação das pistas de sucesso da mudança curricular, em vez de tentar integrar no
currículo pedidos individuais para toda a sociedade. Por outras palavras: quais são os
mecanismos de acção mais adequados para determinar um processo sistemático de mudança
curricular? Que alavanca seria necessário puxar em primeiro lugar para promover a mudança
desejada? Quais são os instrumentos políticos mais eficazes que podem influenciar a
aplicação da mudança? Onde se situam os bloqueios?
Goodson (2008), tendo como base as experiências internacionais recentes, apresenta alguns
indícios para a acção que podem ser propostas desde já:
53
as mudanças pontuais não devem forçosamente ser excluídas do processo, na condição
de serem coerentes com o conjunto das transformações previstas para a reforma
educativa. É, no entanto, preferível conduzir as mudanças pontuais tendo como
referência uma estratégia de conjunto onde cada mudança pontual tem o seu lugar.
• O processo de mudança apoia-se num plano de trabalho bem fundado que estabelece
as etapas que devem ser percorridas e as modalidades para, à medida que se avança,
melhorar esse percurso. Também é muito importante elaborar planos alternativos para
fazer face a acontecimentos ou desenvolvimentos (ou mesmo obstáculos e dificuldades)
imprevistos.
• Um dos aspectos mais importantes a ter em conta, para assegurar resultados duráveis,
é o apoio público e político que se cria com base nas estratégias participativas e
inclusivas. Desde o início, é importante empenhar as partes envolvidas em todas as
etapas importantes do processo de mudança. É assim que um processo de mudança se
transforma numa obra colectiva bem alicerçada na consciência pública.
54
Assim, as transformações pontuais ou os ajustes progressivos constatados põem em evidência
a importância de uma visão global do futuro de um país (ou de uma comunidade) e do futuro
da educação.
Para tal, seria necessário analisar sistematicamente o grau de realização das mudanças
curriculares desejadas ou previstas, para as poder inscrever de forma eficaz no processo de
mudança curricular no país. Em certos casos, trata-se de melhorar ou de adaptar um quadro
curricular e noutros casos de desenvolver num futuro próximo.
Talvez não se tem falado, questionado e discutido sobre a escola, e os caminhos da educação
com muita frequência nos dias de hoje. Mas essa deveria ser a pauta recorrente nos discursos
de políticos, líderes e responsáveis pelas muitas estâncias superiores dos Ministérios e das
secretarias da educação, de pedagogos e consultores dos que traçam caminhos para o processo
de ensino e o futuro de uma nação, porque este passa pela educação. Curiosamente, talvez,
seja a própria escola que não encontra tempo para discutir os seus rumos a seguir. Mas parece
ser um consenso, hoje, que a instituição escolar precisa ser entendida, não apenas como o
lugar em que se realiza a construção do conhecimento, mas muito além, ser pensado como um
espaço em que se reflicta criticamente acerca das implicações políticas desse conhecimento.
Os conteúdos trabalhados nas escolas devem ser actualizados e, para além de referirem ao
conhecimento, devem também referir-se às destrezas e habilidades para que os formandos
usem destas para interpretar a vida social.
A escola deve reflectir profundamente sobre estas falhas, as salas de aulas devem prolongar-
se pela biblioteca, pelos corredores, pelos museus, pelas salas de exposição, pelas famílias,
enfim, pelo meio ambiente físico e social onde o “verdadeiro, aprendizado se desenvolve de
concreto, ligado à vida real” (Santomé 1998, p. 45).
O papel do professor é dar aulas, enquanto ele dá a sua aula, o aluno faz o quê?” A expressão
“dar aula” é fruto da era do “mundo pronto”. Num contexto de mundo inacabado e em
constante mudança o professor não dá nenhuma aula, mas sim constrói, junto com o aluno o
conhecimento, porque a interacção entre os alunos, os conteúdos de aprendizagem e o
professor dão origem ao conhecimento. O aluno precisa relacionar o conteúdo novo com o
55
conhecimento anterior para aquisição de novos conhecimentos. O aluno precisa ser o
personagem principal dessa novela chamada aprendizagem.
O papel do professor nesse quadro é tentar perceber como o aluno constrói o seu
conhecimento e ajuda-lo. Os conceitos já aprendidos para que eles se reconstruam, se
ampliem e se tornem consistentes é desafiador. Quanto mais elaborado e enriquecido é um
conceito, maior possibilidade o aluno tem de servir de parâmetro para a construção de novos
conceitos. Isso significa dizer que quanto mais sabemos, mais temos condições de aprender.
Este papel deve ser insistentemente aperfeiçoado. O professor precisa construir a sua forma
própria de “abrir” a mente do aluno e, essa função coloca-o diante de um novo desafio em
relação a planificação das suas aulas: buscar diferentes formas de provocar instabilidade
cognitiva. Logo, planejar uma aula significativa significa, em primeira análise, buscar formas
criativas e estimuladoras de desafiar o intelecto dos alunos na construção de conceitos. Essa
necessidade poupa o professor de utilizar só o método tradicional, e associar a outros para
alcançar os seus objectivos.
Outro papel do professor deve ser o de fazer parceria com os colegas e com os alunos,
reflectir sobre a função e o lugar de cada um no processo ensino-aprendizagem.
Todavia, neste processo, o aluno tem o papel de ser um agente actuante na construção do
conhecimento de maneira que possa colocar-se em contacto com a herança histórica do saber
humano no processo de ensino, tronando-se elemento crucial para que haja aprendizagem.
Portanto, a modernidade pede um currículo, uma escola com alunos sujeitos do próprio
conhecimento criativo, crítico, que troquem informações entre os pares, professores e as
demais fontes. A aprendizagem do aluno precisa se estender para outros contextos.
56
transmissor dos conhecimentos, numa lógica de aprendizagem memorística, mecânica
e repetitiva;
ii) Agente curricular, baseado na concepção de currículo como projecto em construção,
onde assume uma postura reflexiva sobre a prática, bem como a responsabilidade na
investigação, concepção e desenvolvimento do currículo, adequando-o aos contextos
específicos;
iii) Construtor do currículo, quando a construção do currículo parte da praxis do trabalho
colaborativo docente, baseado nos problemas e atitudes dos alunos, assumindo o
professor uma atitude crítica, actor reflexiva e criativa numa lógica de investigação-
acção.
Para que a mudança educativa seja efectiva tem que haver uma intencionalidade
transformadora, o que implica uma reflexão sobre os processos, isto é, sobre os projectos e
iniciativas que existem nas escolas. A verdadeira inovação educativa é a que acontece nas
escolas impulsionadoras, pela criatividade dos professores que procuram soluções que
promovam melhores aprendizagens, rompendo com os esquemas repetitivos que caracterizam
o ensino institucionalizado.
“O professor é cada vez mais um educador, mais do que leccionador, porque hoje os
processos de formação do carácter, de comportamento, de capacidade individual, de
autonomia, de iniciativa, de gosto pelo trabalho e de responsabilidade, são mais importantes
do que os aspectos cognitivos.” (Pacheco 2000, p. 50).
57
Neste caso (Pacheco, 2000a), diz que, pelo conhecimento que têm dos programas, cabe aos
professores a tarefa de relacionar, hierarquizar, contextualizar, integrar, sintetizar e resumir os
conteúdos a ser ensinados, assumindo-se como um “mediador multimodal” que, pela sua
acção, transforma a informação em conhecimento.
Dentro desse aspecto, inovar não é apenas ter ideias novas dentro do processo e sistema. Mas,
ser inovador está intimamente relacionado em aperfeiçoar o dia-a-dia, os processos simples
que já são realizados, em vez de os alunos perfilados, que tal sentarem de forma circular para
maior interacção, em vez da parte introdutória da aula o professor saúda e os alunos
respondem, abrir um espaço para situações de alunos, sair da aula dada, do plano de aula
linear e passarmos para aula interactiva, cultivar a oratória, dialogo entre professor- aluno e
aluno-aluno, ouvir diferentes opiniões e partilhar o objectivo do diálogo.
Hoje espera-se um professor que entende o papel e a dimensão da disciplina, classe que
lecciona na grade curricular, em que aspectos que a sua disciplina dialoga com as outras da
mesma turma ou classe.
58
Muitos pensaram que um bom domínio dos conteúdos da disciplina a ensinar eram
suficientes, outros defenderam que uma boa experiência prática de ensino bastava e outros
ainda, que alguns conhecimentos de pedagogia, aliados com algum talento e arte faziam um
bom professor.
Conhecer os seus alunos, implica perceber o estádio dos seus conhecimentos actuais, as suas
concepções, as suas disposições e a forma como enfrentam e resolvem os problemas. Este
conhecimento que pode ser obtido, por exemplo, através da observação, de processos de
comunicação que desenvolve e da análise dos trabalhos dos alunos, quando integrado no
planeamento do ensino pode ser um importante contributo para a aprendizagem.
59
quadro orientador do seu ensino. À medida que se torna um professor experiente, ele
desenvolve imagens mentais do ensino, sequências de ideias a desenvolver, prevê possíveis
respostas dos alunos e toma notas que assinalam aspectos a ter em conta. O professor age e
ajusta constantemente a sua acção de acordo com as respostas dos alunos e a sua experiência
anterior (González e Escudero 1987).
Para analisar este ponto, é necessário estabelecer interconexões entre perspectivas macro e
micro contextual. É de grande importância tomar essa vertente analítica, nesse contexto, pois,
Stephen Ball (2012), diz que a análise de políticas curriculares necessita ser acompanhada de
cuidadosa pesquisa regional, local e organizacional se nos dispusermos a entender os graus de
“aplicação” e de “espaço de manobra” envolvidos na tradução das políticas nas práticas ou no
diferencial “trapaça” das disciplinas da reforma. Uma análise de políticas educacionais, que
desarticule esses enfoques, adverte o mesmo autor, pode gerar incompreensão da própria
realidade que se quer investigar ou explicar.
É nessa óptica que Ball destaca a diferença entre orientações políticas e a prática das mesmas
orientações. Com relação à primeira, o autor constata e critica a existência de uma tendência
de se direccionar o foco da análise de políticas para aspectos relacionados à prática mais do
que para uma compreensão conjuntural dos elementos constitutivos de políticas curriculares,
desarticulando, desse modo, os processos macro e micro contextuais, o que desfavorece uma
captura efectiva da dinâmica e do sentido real das políticas curriculares. Pois, Ball (2012)
60
segue, argumentando o seguinte: É óbvio que grande conjunto de pesquisas sobre educação
ou escolarização não se refere, de forma alguma só a políticas curriculares. Mas, em alguns
desses estudos, as políticas curriculares podem ser pensadas como uma ausência significante.
É o que ocorre, particularmente, em pesquisas sobre sala de aula, professores e escolas, que os
tratam como autodeterminados. Ou seja, como algo fora de seus contextos relacionais, como
se não fossem afectados ou constrangidos pelas exigências do currículo nacional, ou de
competições locais.
O fracasso na tradução real das políticas, na visão destes, deve recair sobre os agentes da
prática e não sobre a política. Esse entendimento, no contexto das políticas curriculares
modernas, leva à responsabilização (chegando, por vezes, à punição) dos implementadores
pelo insucesso das políticas. É, portanto, a partir desta constatação que (Ball, 1994) faz
oposição entre os estudos que se localizam em um único nível da análise: escola, professores,
sala de aula, a autoridade educacional local e os que se empenham em captar a dinâmica
conjuntural das políticas (estudos que consideram e articulam ambos os contextos: o macro e
o micro).
Consideramos que a inovação, no âmbito das práticas, pressupõe autonomia, dado que
contextos de exercício profissional autónomos configuram, para além da responsabilização, a
necessidade de (re) interpretar, (re) construir e reflectir, de modo permanente, sobre a forma
como é realizada a educação.
Ainda Ball (1994, p. 167) segue com a ideia de que o estudo ou análise de políticas
educacionais necessita ser feito analisando a formação, o desenvolvimento e a realização das
mesmas, desde o contexto de influência (construção de agenda de políticas) até o da prática e
efeitos (implementação e avaliação), passando pelo contexto da produção de texto político
(formulação). Argumenta que “A ‘abordagem da trajectória’ da política tem como objectivo
“captar as formas pelas quais as políticas evoluem, se modificam e decaem ao longo do tempo
e do espaço, assim como as suas incoerências. Tal qual ocorre com políticas em geral, a
análise de políticas curriculares, elemento substancial da política educativa, que regulamenta
61
os mínimos curriculares da educação precisa também realizar a tarefa de articular enfoques
macro e micro contextual.
Esse ofício mostra-se pertinente no campo de políticas educacionais, mais ainda no campo da
política do currículo, pois, conforme aponta Sacristán (2000): O currículo não pode ser
estendido à margem do contexto no qual se configura e tampouco independentemente das
condições em que se desenvolve; é um objecto social e histórico e sua peculiaridade dentro de
um sistema educativo é um importante traço substancial.
Nessa vertente Sacristán (2000, p. 300) adverte-nos que “estudos academicistas ou discussões
teóricas que não incorporem o contexto real no qual se configura e desenvolve (o currículo)
levam à incompreensão da própria realidade que se quer explicar”. Por exemplo, considera
que “é difícil, se não impossível, discutir o currículo de forma relevante sem colocar suas
características num contexto social, cultural e histórico, sendo parte muito significativa desse
contexto a política curricular”. Dessa forma, pode-se afirmar que discutir relevantemente
políticas educacionais sob a perspectiva da abordagem do ciclo de políticas, implica
reconhecer os pressupostos que a regem. A racionalidade da abordagem permite desentranhar
as conexões, os espaços de actuação, a autonomia e o poder, as relações sociais que se
estabelecem entre diferentes agentes que intervêm nas instâncias de configuração e
desenvolvimento de políticas educacionais.
Agora, precisamos entender, ainda que de forma sucinta, um dos elementos a que nos
propomos analisar aqui: a política curricular. Falar propriamente deste objecto, implica
referir-se ao aspecto específico da política educativa, que estabelece a forma de seleccionar,
ordenar e mudar o currículo dentro do sistema educativo, tornando claro o poder e autonomia
que diferentes agentes têm sobre ele, intervindo, dessa forma, na distribuição do
conhecimento dentro do sistema escolar e incidindo na prática educativa, enquanto apresenta
o currículo a seus consumidores.
62
Ao adaptarmos, ao articularmos o currículo à realidade do aluno deve-se seguir sempre as
políticas que regem o currículo formal para não atropelar as directrizes.
Para Morim (2000, p. 104), o maior desafio para a educação da actualidade é “acolher a
diversidade de indivíduos e contar com professores preparados para uma escola inclusiva”.
Por esse motivo, precisamos de uma escola que reinventa o seu papel educacional para
acolher a diversidade, valorizando as diferenças no processo educativo e, principalmente, no
ambiente de formação docente.
Ainda nesse desafio Hernandes (1998) afirma que a escola deve ensinar ao aluno “ questões
substanciais para conecta-lo com o mundo fora da escola. Considerando esse pensamento,
(Morim, 2000), argumenta que educar para a diversidade é colocar em evidência a
multidimensionalidade e a complexidade, integrando essa dinâmica à diversidade cultural e
situando-a à condição humana. Com base nessa ideia, compreende-se que a educação é uma
acção que transforma e humaniza o sujeito em sua essência.
Analisar a prática pedagógica no processo que inclui todos os alunos, traduz-se na capacidade
da escola em dar respostas e oportunidades eficazes a diferença de aprendizagem. Esta
inclusão requer mudanças significativas na gestão da sala de aulas, tornando-a mais
democrática e participativa, compreender a sala de aulas como um campo de acções
pedagógicas e sociais positivas, tornar as aulas mais atractivas, de modo que todos alunos se
sintam desta parte integrante.
O professor que inclui todos seus alunos nas suas aulas valoriza o papel social do aluno, pois
trabalha sobre o princípio da contribuição; trabalha no progresso a respeito da qualidade da
comunicação e no princípio da equidade (Roldão, 2003b).
Princípios orientadores das políticas curriculares para a diversidade, segundo Pacheco (2001),
remetem-nos pensar na escola como palco permanente de decisões, de acordo com
63
competências que são definidas quer no quadro normativo dos textos curriculares, quer no
quotidiano das práticas escolares e pedagógicas.
Para o nosso país que viveu um conflito armado a quatro décadas, para a reforma educativa de
2002, as instâncias superiores precisavam, em primeiro lugar fazer um trabalho de campo, no
que concerne a conscientização de todos actores envolvidos no processo, fazer com que estes
64
sejam membros participativos no processo de mudança, com medidas a tomar em todos os
níveis, com vista a criar um quadro profissional compatível às novas exigências.
A Reforma de 1978 que pôs fim ao Sistema de Educação do período colonial, difere da
Reforma Educativa de 2002 a 2015, pois esta obedeceu uma estratégia de implementação
faseada, onde os currículos (planos de estudos, perfis de saída, programas, manuais escolares
e sistemas de avaliação das aprendizagens) foram testados em escolas (primárias, secundárias
e de formação de professores) seleccionadas pelas Direcções Provinciais da Educação para
realizar a Experimentação, a Avaliação e só depois a Generalização. Como é evidente, escolas
e professores tiveram que reunir ou adaptar-se aos critérios previamente definidos pelo
Ministério da Educação (INIDE, 2009).
Por outro lado, a Reforma coexistia do Sistemas de Educativo que resultou numa transição
mais acautelada, particularmente para o processo de ensino e aprendizagem. No cômputo
geral e pela natureza das actividades enquadradas no âmbito da Reforma Educativa, podem
ser distinguidas três etapas:
65
2. Etapa de concepção do novo modelo de Sistema de Educação (1986-2001);
66
4ª Reforma Educativa 1933 Nova constituição da República Portuguesa
Depois de tudo quanto foi exposto, definimos reforma educativa de acordo com Zau (2011, p.
10), como uma «multiplicidade de iniciativas que visam alterações no alcance e natureza da
educação, passando ainda por mudanças nos currículos e conteúdos para o conjunto do
território nacional, implicando opções políticas, a redefinição de finalidades e objectivos
educativos».
A história recente do ensino em Angola, como país independente, pode ser dividida em três
períodos a mencionar; 1.º Período, 1975-1990 (1.ª Reforma Educativa e Diagnóstico do
Sistema de Educação), 2.º Período, 1991-2001 (Concepção do Novo Sistema de Educação e
aprovação (Zau. 2011, p. 11).
O sector de educação tem vindo a sofrer uma rápida transformação, desde que o Governo pôs
em prática uma reforma abrangente do sistema educativo ao mesmo tempo que alargava
consideravelmente o acesso à educação. Como há muito mais crianças na escola, as atenções
67
começam agora a desviar-se da mera expansão do acesso para a melhoria das aprendizagens
dos alunos. Tirando partido do forte crescimento económico da última década, Angola
institucionalizou 6 anos de ensino primário obrigatório e gratuito, lançou uma reforma
curricular, construiu muitas infra-estruturas escolares e contratou um grande número de
professores. Em consequência, entre 2002 e 2008, o número de salas duplicou, tanto em
escolas primárias, como nas secundárias, enquanto o corpo docente crescia à idêntica
velocidade (Zau, 2011, p.12).
No Sistema de Educação implementado em 1978, o Ensino Secundário 1.º ciclo tem 4 anos de
duração abarcando:
No caso do Ensino de Base, - a 5.ª e a 6.ª classes que constituem o 2.º nível do Ensino de Base
Regular e da Educação de Adultos, e, - a 7.ª e a 8.ª classes que constituem o 3.º nível do
Ensino de Base Regular e da Educação de Adultos;
No Sistema de Educação implementado em 2002, o 1.º ciclo do Ensino Secundário tem 3 anos
de duração abarcando.
No caso do Ensino Geral, - a 7.ª, a 8.ª e a 9.ª classes para a Educação Regular e para a
Educação de Adultos.
68
No caso do Ensino Médio Normal - a 9.ª, a 10ª, a 11.ª e a 12.ª classes,
No caso do Ensino Geral, - a 10.ª, a 11.ª e a 12.ª classes para a Educação Regular e para a
Educação de Adultos;
No caso da Formação Média Técnica, - a 10.ª, a 11.ª, a 12.ª e a 13.ª classe. (Zau, F. 2012).
Classes
Ensino Ensino
Pré 1ª 2ª 3ª 4ª inic Pré 1ª 2ª 3ª 4ª
Primário Primário
Ensino de
Ensino de II Nível III nível II nível III nível
base
base (Regular
Subsistemas (Regular e
e Adulto) 5ª 6ª 7ª 8ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª
de ensino Adulto)
Técnico Ensino
Ensino Geral Geral Técnico Profissional
Profissional Secundário
Secundário
9º 10º 11º 12º 9ª 10º 11º 12º 10ª 11ª 12ª 10ª 11ª 12ª 13ª
Ensino Ensino
1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
Superior Superior
69
No quadro do Sistema de Educação em vigor desde 1978, o ingresso para e Ensino Superior é
possível após 11 anos de escolaridade, concluindo um curso pré-universitário com 3 anos de
duração na sequência dos 8 anos do Ensino de Base. O mesmo é possível ainda após 12 anos
de escolaridade, concluindo um curso médio normal ou técnico com 4 anos de duração na
sequência dos 8 anos do Ensino de Base.
Olhando para os dois lados aqui apresentados, no âmbito do Sistema de Educação de 1978 e
de 2002, o projecto educativo implementado em 2002 propõe um produto de evolução do
Sistema, dando esta melhor articulação e clarificação pelos objectivos estabelecidos para o
Sistema de Educação, no seu todo e para os diferentes Subsistemas de ensino. É mais
abrangente e pertinente tendo em conta as particularidades nacionais; por isso, é mais
favorável à concepção de projectos educativos (incluindo instrumentos curriculares como
objectivos, perfis de saída, planos de estudo, programas de ensino, materiais pedagógicos)
específicos de instituições de ensino que melhor contribuem para o desenvolvimento nacional.
Para (Zau, F. 2012), o processo de Reforma Educativa actual materializou-se pelas mudanças
significativas, como a adopção do sistema 6+3+3, ou 6+3+4, que corresponde a 6 anos de
Ensino Primário, 3 anos para o 1º Ciclo do ES e 3 anos para o 2º Ciclo do Ensino Secundário
Geral ou 4 anos para o 2º Ciclo do Ensino Secundário Técnico Profissional.
70
O Ensino Primário, passou a integrar as 5.ª e 6.ª classe, passando de 4 para 6 anos de
escolarização, significando que, em termos de docência, as exigências assumiram novo grau
de complexidade decorrente o alargamento da monodocência a novos campos disciplinares,
designadamente o acréscimo de algumas disciplinas, situação que foi recentemente alterada,
restringindo a monodocência às primeiras quatro classes, isto é, da 1.ª à 4.ª classe (alínea a),
número 3, artigo 27.º, Lei n.º 32/20, de 12 de Agosto). A implementação da Reforma
Educativa foi executada até à fase de avaliação, a generalização dos novos materiais
pedagógicos da 6ª classe, foi realizado no ano lectivo de 2011.
As terminologias 1.º, 2.º e 3.º nível, Ensino de Base, Ensino Médio e outros, utilizados para
caracterizar o Sistema de Educação desde 1978 (Decreto N.º 40/80 de 14 de Maio de 1980).
Em contrapartida, surgiram novas terminologias mais consentâneos e deixaram de existir
tendência da prática internacional, como:
71
As novas disciplinas que integram os distintos planos de estudo:
1. Estudo do Meio e Educação Musical – 1.ª classe;
2. Educação Laboral – 7.ª, 8.ª e 9.ª classe;
3. Informática – 10.ª classe;
4. Introdução ao Direito – 10.ª, 11,ª e 12.ª classe;
5. Introdução à Economia – 10.ª, 11.ª e 12.ª classe;
6. Desenvolvimento Económico e Social – 12.ª classe;
7. Literatura Angolana na 11.ª classe e Literatura Universal na 12.ª classe;
8. Teoria e Prática do Design – 11.ª e 12.ª classe;
9. Geometria Descritiva – 10.ª e 11.ª classe;
10. História das Artes – 10.ª, 11.ª e 12.ª classe;
11. Técnicas de Expressão Artística – 10.ª, 11.ª e 12.ª classe.
2. Alargamento das áreas de conhecimento no 2.º Ciclo do Ensino Secundário Gera1, de duas
(Ciências Exactas e Ciências Sociais) para quatro (Ciências Físicas e Biológicas, Ciências
Económico Jurídicas, Ciências Humanas e Artes Visuais).
Em vários debates ocorridos ao longo do estágio curricular desta pesquisa, uma das principais
fundamentações é de que a reforma educativa revela no currículo uma inovação e, esta não
deveria somente rever a reforma como um processo educativo, mas também, envolver uma
concepção de noções fundamentais de competências, de saber e atitudes de todos os
envolvidos. Esta visão, diz respeito as respostas dos sistemas educativos que deveriam
responder de uma forma consensual as várias questões ligadas às abordagens programáticas
de mudanças, das quais se destacam as mais importantes:
72
propriedades estratégicas do currículo, isto no sentido de assegurar a coerência das
acções educativas e das relações pertinentes entre políticas educativas e a
concretização das aprendizagens no quotidiano das escolas? Quais as soluções mais
adequadas para assegurar os recursos apropriados e para lutarmos contra os obstáculos
causados pela reforma e situações de vária ordem?
O currículo é uma proposta política educativa cultural e que está vinculada e que sustenta um
projecto amplo da sociedade e este é um assunto que não só deve interessar aos actores
educativos mas sim a comunidade em geral.
Para que isto aconteça é preciso ter clareza e não confundir um projecto curricular com o
currículo que não é mesma coisa. Um projecto curricular vai determinar as competências e
habilidades básicas que o aluno deve adquirir e desenvolver em cada uma das fases e etapas
de sua vida escolar. O currículo na escola vai traduzir aquilo que a escola o professor vão
trabalhar, como o professor vai utilizar as metodologias de ensino, que metodologias de
avaliação vai lançar a mão para achar, desse seguimento, o que utilizar para que o aluno
adquira competências, aquelas habilidades necessárias para seu desenvolvimento. A presença
do currículo é mais complexa na sala de aula porque este não se limita ao conteúdo a ser
ensinado, nem tampouco as metodologias, mas sim, compreender a dinâmica do
funcionamento da unidade escolar. (Zau, F. 2012).
Pela história do currículo, entendemos, nos dias de hoje no mundo, que quem deve dar
propostas do currículo são os professores, sujeitos educativos da escola e sujeitos educativos
da comunidade daquela escola ou de outra, porque esta tem uma identidade cultural própria,
porquanto o currículo tem vida e não se aprisiona.
73
1.8.4. A construção da interdisciplinaridade nas escolas
Actualmente a interdisciplinaridade tem sido abraçada por grande parte dos educadores, visto
que tal postura garante a construção do conhecimento, de maneira global, rompendo com as
fronteiras das disciplinas, pois apenas a integração dos conteúdos não seria satisfatória.
Geralmente aplicadas nas escolas do I Ciclo, os professores devem incentivar os alunos a
construírem relações entre os diferentes conteúdos presentes nas diversas disciplinas do
currículo para que possam interagir, intervir e resolver os problemas do futuro com os
conhecimentos obtidos na interdisciplinaridade.
Segundo Demo (2008), vale ressaltar aos educadores que a interdisciplinaridade quando
voltada para a educação, em especial aos projectos educacionais, baseia em alguns princípios,
tais como:
a. Noção de tempo: o aluno não tem tempo certo para aprender. Não existe data
marcada para aprender. Ele aprende a toda hora e não apenas na sala de aula.
74
c. Embora adquirido individualmente, o conhecimento é uma totalidade.
75
tenha uma população alfabetizada e com formação adequada e de qualidade, com níveis
funcionais de conhecimentos para o progresso sustentável do nosso país.
É certo que, à medida que o país vai consolidando a paz social e económica, a actuação do
poder político e público ficam claras às dificuldades no sector da Educação, assim como nos
outros sectores e multiplicam-se os problemas. Somando tudo isto e ao sistema de gestão
escolar pouco eficiente, alguns actores fechados principalmente em relação a inovação, torna-
se ainda mais difícil avançarmos para o ensino de qualidade.
Hoje prevalece a busca por um ensino de qualidade, o que parece não ter fim, porque com a
reforma educativa, os alunos na sua maioria já não se dedicam visto que lhe foi dado uma
certa autonomia e o professor não está preocupado com este fenómeno e muito menos com o
76
de “matar aulas”. E esta situação tem deixado graves marcas em algumas populações
estudantis, na nossa urbe e talvez a nível nacional, provocando consequências nas classes e
ciclos posteriores.
77
CAPÍTULO II # ESTRUTURA METODOLÓGICA DA INVESTIGAÇÃO
78
CAPÍTULO II # ESTRUTURA METODOLÓGICA DA
INVESTIGAÇÃO
Neste capítulo são apresentados os principais elementos metodológicos que balizaram o
estudo, bem como as técnicas e os procedimentos adoptados para a realização do estudo.
Particulariza-se a caracterização do estudo, os instrumentos e técnicas de recolha e de análise
dos dados, a delimitação da população, os sujeitos participantes, bem como as limitações
metodológicas. Para cada uma das escolhas metodológicas feitas, procurou-se explicitar e
fundamentar a opção fazendo recurso a posicionamentos de autores que abordam questões
relacionadas com a metodologia científica.
79
Nas três classes do I ciclo, isto é 7.ª 8.ª e 9.ª e nos três períodos acima apontados, os
trabalhadores são no total 104, destes 14 funcionários administrativos e 90 professores.
Durante o estágio, pude perceber que a equipa de professores e todos actores desse processo
de ensino e aprendizagem trabalham em harmonia e transmitem confiança à comunidade de
que a missão da escola não é apenas formar o indivíduo útil à sociedade nas diferentes facetas
científicas e técnicas, mas também educar pessoas com valores humanos, culturais, éticos e
espirituais.
O historial da escola Missionária São Paulo Bela Vista-Lobito reflecte uma instituição que ao
longo do tempo prestou particular atenção a princípios de solidariedade e de caridade. Com
ajuda dos missionários Pe. Graciano Catchapulula, Pe. Gonçalves Muhonga e tantos outros,
em prol da caridade, criou-se o centro de Alfabetização São Paulo, com o envolvimento dos
Directores e Coordenadores da Caritas, com o objectivo da erradicação do analfabetismo. O
projecto de Alfabetização foi liderado pela Caritas e, posteriormente, criou-se uma nova
Direcção.
A escola apostava nas classes iniciais, a partir da iniciação à 4ª classe nos dois subsistemas,
sendo regular e adultos. Para validação dos seus estudos, estes alunos tinham de pertencer a
uma escola pública, no caso a escola do ensino primário 4 de Fevereiro. Na medida em que os
alunos aumentavam os seus estudos, fez-se novamente um outro acordo com a escola do I e II
níveis Comandante Hoji-Ya-Henda, actual Colégio do I Ciclo n.º Bg 2007, no sentido de
validarem o estudo do I ciclo.
A escola tornou-se autónoma com sua inauguração, a 11 de Março de 2006, por Sua
Reverendíssima Dom Óscar Braga, actual Bispo Emérito da Diocese de Benguela. Nesta
cerimónia, fizeram-se presentes as seguintes figuras:
Administrador municipal pela Área Económica e Social, o Coordenador da Zona - 6, O
Director Municipal da Educação Ciência e Tecnologia, do Lobito o Conselho Pastoral
Paroquial e a Comissão Diocesana das escolas Católicas coordenada naltura pelo Pe. Ezequiel
Faria.
O Corpo Directivo que gere a instituição, actualmente ( data da realização do estudo), integra
os seguintes membros: Director Geral, Subdirectora pedagógica, Subdirector. Administrativo,
Coordenador de Pais e Encarregados de Educação, Assistente espiritual da Escola.
80
2.2. População e amostra
Para a determinação da amostra, optamos por critérios não probabilísticos, considerando que
a investigação qualitativa, como referem Fortin et al. (2009, p. 36), “recorre a uma amostra
não probabilística, isto é, uma amostra não aleatória, respondendo a características precisas”.
Do mesmo modo, a nossa preocupação na selecção da amostra eximiu-se de avaliações
estatísticas. A nossa atenção centrou-se na selecção de sujeitos salvaguardando que estes
possuíssem características comuns.
A amostra enquadra-se no tipo de amostragem por escolha racional, sendo que entendemos
que os professores, enquanto participantes do estudo possuíam as “características procuradas”
(Fortin et al., 2009, p. 38), isto é, profissionais do ramo da educação com experiências e
conhecimentos relacionados com a reforma educativa em Angola, concretamente na
instituição eleita para o presente estudo.
Em síntese, a amostra constituiu-se de 20 professores que ministram as três classes, isto é, 7ᵃ,
8ᵃ e 9ᵃ, que participaram na qualidade de inquiridos e de entrevistados, em função da técnica
aplicada. Para responder ao questionário, seleccionamos 15 professores e para as entrevistas
seleccionamos 05 professores.
81
A investigação científica é uma actividade intelectual, intencional, sistemática, controlada,
disciplinada e minuciosa, orientada para a busca de novos saberes, com vista ao
enriquecimento da ciência; concretiza-se, através do método científico que, por sua vez, vê
nos enfoques dedutivo e indutivo, processos propiciadores do avanço da ciência.
Deste modo, o presente estudo teve por finalidade oferecer contributos acerca das
potencialidades e implicações que a inovação trás consigo, assim como dos cuidados e apoios
necessários para que esta se traduza na melhoria da qualidade da educação e ensino nas
escolas. Contudo, a melhoria da qualidade de ensino exige também um serviço de qualidade e
é o momento de os professores repensarem sobre suas funções na sociedade, “conhecer as
perspectivas educacionais que enfermam o currículo dos alunos” (alínea h), art. 18.º, Decreto
Presidencial nº 160/18, de 3 de Julho.
Logo, o estudo focaliza a prática pedagógica e a sua relação com a inovação, enquanto
processo de desenvolvimento pessoal e profissional, para o melhoramento do processo de
ensino e aprendizagem e divulgação de práticas inovadoras, o que possibilitará a partilha para
a capacitação do professor e da escola a nível local.
Esta opção foi motivada pelo facto de, para além de nos termos proposto fazer uma análise
dedutiva dos dados recolhidos por questionário, que incluía questões fechadas, pretendemos
82
compreender o fenómeno educativo em estudo a partir das perspectivas dos participantes, isto
é, das percepções e dos valores dos professores sobre a problemática em estudo, tendo para o
efeito recorrido à realização de entrevistas aleatórias e à análise documental.
Nas palavras de Almeida (1999) uma vez decidido o tema e os objectivos do trabalho de
Investigação, surgirá a necessidade de pensar a forma de recolher a informação pretendida.
Assim, “a pergunta inicial não será que ‘metodologia’, mas ‘o que preciso saber e porquê?’.
Só então se questionará ‘qual a melhor maneira de recolher dados?’” (Almeida, 1999, p. 314).
Para Araújo (2009) no decurso da maior parte dos estudos de campo, os investigadores podem
usar vários métodos de pesquisa que se relacionam uns com os outros. Contudo, nenhum
método é considerado melhor que o outro, porque cada um tem as suas particularidades
vantagens e inconvenientes. Deste modo, os investigadores precisam de ter em conta esta
situação e procurar adequar os métodos ao problema que se propõem a tratar. Significa assim
que, os investigadores devem aplicar rigorosamente os seus métodos, mas necessitam de ser
flexíveis na sua abordagem e utilizar, em conjunto, vários métodos para tratar um dado
problema (Araújo, 2009).
83
Portanto, a investigação optou por privilegiar este tipo de metodologia. De igual modo
considerámos que, o recurso à metodologia qualitativa permite-nos conhecer e compreender
os pontos de vista dos sujeitos para, posteriormente, procedermos à sua interpretação. “A
abordagem qualitativa requer que os investigadores desenvolvam empatia para com as
pessoas que fazem parte do estudo e que façam esforços concertados para compreenderem
vários pontos de vista” (Bogdan e Biklen, 1994, p. 77).
Decidimos assim, ouvir as opiniões dos privilegiados actores que são os professores, acerca
do modo como percebem sobre o Desenvolvimento e Inovação Curricular no Contexto da
Reforma Educativa, um estudo de Caso realizado no Colégio Bg n.° 2019 Missionário São
Paulo Bela Vista Lobito.
Porém, como não seria possível realizá-lo em tempo útil de serviço e ouvir um grande número
de relatos, o nosso estudo foi restringido a um grupo de quinze professores do 1º Ciclo, a
leccionar no estabelecimento de ensino supracitado. Foi então decidido que estes seriam
ouvidos mediante entrevista e questionário, no sentido de recolher dados que permitissem
conhecer as suas perspectivas, quanto ao Desenvolvimento e Inovação Curricular no Contexto
da Reforma Educativa:
É sobre o inquérito por entrevista que nos centramos mais, por ser uma estratégia de recolha
de dados mais adequada quando o investigador tem por objectivos, analisar o sentido que os
actores atribuem às suas práticas e aos acontecimentos com os quais são confrontados com
sistema de valores, referências normativas, interpretações em situações conflituosas, leituras
que fazem das suas próprias experiências. (Bogdan e Biklen, 1994).
84
2.5. Técnicas de análise de conteúdo
Quanto aos métodos e técnicas de realização do estudo, Azevedo (1999) diz que é a técnica
por excelência para estudar os fenómenos através das manifestações comportamentais.
Tendo em conta o problema e os objectivos definidos para o estudo, optámos por utilizar
como métodos de recolha de dados a pesquisa bibliográfica, a análise documental, o inquérito
por questionário e o inquérito por entrevista.
Como a análise de conteúdo constitui uma técnica que trabalha os dados coletados,
objetivando a identificação do que está sendo dito a respeito de determinado tema Vergara
(2005), há a necessidade da descodificação do que está sendo comunicado. Para a
descodificação dos documentos, o pesquisador pode utilizar vários procedimentos,
procurando identificar o mais apropriado para o material a ser analisado, como análise léxica,
análise de categorias, análise da enunciação, análise de conotações (Chizzotti, 2006, p. 98).
No caso desta pesquisa, tivemos a primasia de fazer uma pré-analise aos documentos
legislativos, bibliográficos e inquéritos de entrevistas, para que podéssemos identificar o real
direcionamento das questões relactivamente a pesquisa e em seguida, após um duradouro
processo de escuta dos pontos de vista dos professores e de leitura dos materiais escritos,
exploramos todos os conteúdos o que permitiu fazer o tratamento de resultados, com base na
inferencia e interpretação.
85
2.5.1 Pesquisa documental e bibliográfica
Como referem (Marconi e Lakatos 2009), a pesquisa documental caracteriza-se pelo facto de
a recolha de dados estar circunscrita a análise de documentos, escritos ou não, constituindo
tais documentos as fontes primárias. No caso dessa investigação, a análise documental teve
como fontes a legislação oficial, normas vigentes a nível nacional e documentos produzidos
na escola, tais como projecto educativo, planos de aula, plano curricular e plano de actividade
que se revelam relevantes para o estudo. Por seu turno, a pesquisa bibliográfica envolveu uma
parte significativa da bibliografia tornada pública, em relação ao tema em estudo, desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material
cartográfico, entre outros, como, por exemplo, os meios de comunicação orais: rádio,
gravações em fita magnética e audiovisuais - filmes e televisão (Marconi & Lakatos, 2009, p.
233).
86
2.5.2 Questionário:
2.5.3 Entrevista:
É uma maneira de obter dados para uma determinada sustentação científica. Triviños (1987).
É a técnica utilizada pelo investigador para obter informações a partir de uma conversa
orientada com o entrevistado na base de um leque de questões que devem atender a um
objectivo pretendido.
87
a partir da direcção da escola, informações precisas relativamente ao tema de investigação na
instituição em estudo.
Nestes termos, foi assegurado a todos os participantes, deste estudo o anonimato total durante
a fase de inquérito (entrevistas e questionários) e no momento da elaboração do relatório, quer
em relação aos nomes dos inquiridos, quer em relação à identificação dos mesmos. Pois, na
opinião do consultor, o relevante sob o ponto de vista da investigação é apenas a opinião dos
inquiridos e aspectos ligados à contextualização. Esta opinião é defendida por Hébert, Goyette
e Boutin (2008, p. 100) ao afirmarem que quando o investigador se dirige aos intervenientes
na investigação é norteado por certos princípios éticos quando inicia o seu trabalho de campo
e quando efectua a recolha de dados” (p. 119), devendo “redigir o seu relatório mantendo uma
preocupação ética face ao impacto possível deste na reputação, quer dos indivíduos, quer da
instituição em causa”. De resto, as garantias de ordem ética foram um factor fundamental para
a obtenção de respostas livres, determinantes para o sucesso das entrevistas.
Nesta técnica, após a selecção dos participantes, foi lida a norma de pedido de autorização
para a colaboração na pesquisa por parte dos participantes, tal como consta nos anexos, que
foi aceite por todos.
A entrevista aconteceu sob a forma de uma conversa com um guião de perguntas estruturadas
e semi-estruturada. E de forma espontânea, cada participante foi dando a sua livre opinião a
luz do tema em estudo. Como pesquisadora, limitamo-nos simplesmente em fazer as
perguntas, ouvir as opiniões e gravá-las com um aparelho telefónico, como resultado do uso
das TICs.
Em seguida, fez-se uma escuta minuciosa a volta de tudo que foi dito durante as entrevistas e,
posteriormente, transcrito num quadro, para sua interpretação e elaboração das conclusões
mais relevantes face, ao problema, às questões e objectivos do estudo.
88
2.6 Técnicas de Análise de dados
89
CAPÍTULO III- ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
90
CAPÍTULO III- ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
É feita uma análise, à luz do referencial teórico, dos saberes e das competências necessárias
para o exercício da profissão docente, nomeadamente, relativo ao desenvolvimento e inovação
do currículo, na perspectiva dos professores.
Para a concretização dos objectivos, optámos, tal como referenciámos atrás, por entrevistar
um conjunto de sujeitos que exercessem funções de professores de 1º Ciclo no Colégio
Missionário São Paulo Bela Vista/ Lobito. A escolha da instituição justifica-se por razões de
conveniência geográfica e situação social. Os objectivos desta investigação foram,
inicialmente, explicados à Direcção do Departamento da área académica da Universidade, que
deu permissão para a concretização do estudo e que, por sua vez, informou a Direcção do
respectivo Colégio por via de uma nota. O responsável pelo estabelecimento colegial solicitou
ao colectivo do mesmo para prestar colaboração, explicitando o objectivo do nosso estudo e,
foram de imediato combinados os dias e horas das entrevistas. Este procedimento criou
condições de forma a optimizar o interesse, a participação e a colaboração dos professores.
A realização das entrevistas teve como objectivo identificar as dificuldades que os professores
encontram em inovar nas suas actividades pela percepção dos entrevistados. Com a aplicação
do questionário, foi possível identificar os problemas que os professores enfrentam
relativamente a gestão do currículo nas suas práticas pedagógicas. A tabulação de dados
facilitaram a interpretação dos resultados que gerou subsídios para a elaboração das
conclusões da pesquisa. Os valores quantitativos obtidos, representam aproximadamente a
realidade do assunto em abordagem sem generalizações. A análise das entrevistas iniciou-se
com transcrição literal das respostas fornecidas pelos respondentes. Após a transcrição e
leitura na íntegra de todas as entrevistas realizadas, utilizou-se a técnica de condensação de
Leite (2006), que consiste em uma abreviação das ideias expressas pelos entrevistados em
formulações mais curtas. Foram retiradas frases sem sentido, digressões ou qualquer conteúdo
91
que não continha relação com a pergunta. Após isso, as citações foram editadas no sentido de
corrigir a pontuação ou erros gramaticais. Houve especial cuidado em não alterar os sentidos
originais das falas.
Anos de
Sujeito Sexo Formação Experiê Classe que Disciplina
Idade Grau académico
académica ncia Lecciona que lecciona
no ensino
P1 Masculino 62 Anos Licenciado Pedagogia 44 9ª E.V.P
P2 Masculino 51 Anos Bacharel Geo/história 18 8ª História
P3 Feminino 41 Anos Licenciado Biologia 23 8ª Biologia
P4 Masculino 45 Anos Licenciado Direito 19 9ª E.V.P
P5 Masculino 62 Anos Técnico médio Matefísica 44 9ª Matemática
P6 Masculino 54 Anos Técnico médio L. portuguesa 35 9ª L. Portuguesa
P7 Masculino 39 Anos Licenciado Matemática 16 9ª Matemática
P8 Masculino 50 Anos Licenciado Pedagogia 16 9ª L. Portuguesa
P9 Masculino 34 Anos Licenciado L. portuguesa 9 7ª L. Estrangeira
P 10 Masculino 40 Anos Bacharel L. portuguesa 16 7ª L. Portuguesa
P 11 Feminino 29 Anos Técnico médio Ciências. Soc 12 9ª História
P 12 Masculino 60 Anos Técnico médio Matefísica 42 7ª Matemática
P 13 Masculino 27 Anos Bacharel Mecânica 7 8ª Física
P 14 Masculino 51 Anos Licenciado Geografia 26 7ª Física
P 15 Masculino 45 Anos Licenciado Pedagogia 15 9ª Ed. Laboral
No seguimento do nosso estudo, junto dos professores, pela sua envolvência, mesmo que
implícita os dados que serviram de complemento ao nosso estudo foram recolhidos através do
inquérito por questionário.
O questionário teve como objectivo recolher dados de opinião dos professores sobre o
Desenvolvimento e Inovação Curricular no Contexto da Reforma Educativa, através de estudo
de Caso no Colégio BG n° 2019 Missionário São Paulo Bela Vista Lobito.
92
O instrumento aplicado na recolha de dados foi construído à luz da informação teórica
recolhida e em consonância com os estudos anteriormente realizados no âmbito do tema, da
qual estão inclusas as dimensões que constituem o nosso questionário.
Solicitados a emitir a sua opinião sobre a Inovação curricular e reforma educativa, verificou-
se que a maioria dos professores considera não ter muita noção do que seria adequado. Assim
como mostra a tabela abaixo, 40% dos respondestes disseram serem “indiferentes” e outra
maior parte é apologista de que a reforma educativa criou algumas rupturas no sistema
educativo, tal como nos confirma os 67% dos inquiridos que responderam “Concordo
totalmente”, e ventilou-se também a reforma educativa como tentativa de romper o equilíbrio
rotineiro do processo educativo, foi implementada sem preparar os professores, tal como nos
prova os 67% dos inquiridos que responderam “Concordo totalmente”.
Discordo Concordo
Itens submetidos à apreciação Concordo Discordo Indiferente
totalmente totalmente
93
A reforma educativa criou
algumas rupturas no sistema % 7% 0% 0% 27% 67%
educativo.
A reforma educativa como Nº 0 1 0 4 10
tentativa de romper o
equilíbrio rotineiro do
processo educativo, foi % 0% 7% 0% 27% 67%
implementada sem preparar
os professores.
Em resumo, inferimos, a partir das opiniões emitidas pelos participantes que, a tendência das
respostas sinalizam quatro factores cruciais, com elevado percentual. É reconhecido que a
reforma educativa criou algumas rupturas no sistema educativo, do mesmo modo que se
sinaliza o rompimento do equilíbrio rotineiro do processo educativo, decorrente da falta de
preparação prévia dos professores. Portanto, se por um lado os professores consideram que a
inovação e a reforma educativa focalizam a mudança e a melhoria, no contexto específico da
escola estudada não se evidenciam avanços significativos nas práticas dos professores. Pode
colocar-se em causa os efeitos espertados com a implementação da reforma educativa, ao que
se junta a ausência de inovação curricular. Em nossa opinião a impreparação dos professores e
inobservância de pressupostos objectivos projectados para a reforma, podem ter influenciado
a concretização das finalidades essenciais da reforma.
Nº 1 5 4 3 2
O perfil formativo do
professor não responde às % 7% 33% 27% 20% 13%
novas exigências.
Denota-se falta de Nº 1 2 4 7 1
conhecimento sobre o
currículo e seu
desenvolvimento durante a % 7% 13% 27% 47% 7%
formação inicial do professor.
Face às dificuldades Nº 1 5 2 6 1
educacionais inerentes às
práticas pedagógicas, o
professor sente-se impotente % 7% 33% 13% 40% 7%
em inovar.
O professor que investe na Nº 0 0 0 5 10
formação contínua, cria
estratégias para inovar nas % 0% 0% 0% 33% 67%
suas actividades
94
pedagógicas.
95
participação dos professores no processo em que se configura o currículo, é a forma mais
eficaz para a organização e gestão do currículo.
Disciplinas conectadas ou Nº 0 0 3 7 5
interdisciplinaridade (um
conhecimento que leva a outro). % 0% 0,8% 20% 47% 33%
Os conteúdos abordados à volta dos aspectos inovadores para o ensino de hoje, abrem uma
visão de como os professores precisam modificar as suas metodologias de tratamento
didáctico de conhecimentos, de modo a gerar resultados mais concretos e reais para os alunos.
A maioria dos inquiridos respondeu afirmativamente, “Concordo” ou “Concordo bastante” às
afirmações colocadas acerca deste tema.
Relativamente no que toca à aprendizagem inovadora para o ensino de hoje, o assunto parece
ser bastante “falado”, quer na apreciação geralmente positiva, quer nas dificuldades que
encontrámos na sua concretização no mundo real.
A maioria dos inquiridos, relativamente à adaptação à realidade dos alunos (deve se ensinar
na escola aquilo que vai ajudar o aluno a lidar com o mundo real), mais de 73% respondeu
afirmativamente a esse item, sinalizando a opção “concordo totalmente”.
A apreciação geral dos dados antes apresentados resume-se nos seguintes aspectos:
96
Através das respostas obtidas constatámos que os professores inquiridos consideram que a
reforma educativa criou algumas rupturas no sistema educativo, assim como também que a
reforma educativa como tentativa de romper o equilíbrio rotineiro do processo educativo, foi
implementada sem uma adequada preparação dos professores.
Os professores inquiridos, em suas abordagens, fazem uma reminiscência e dão conta de que
na verdade a reforma educativa deu abertura a alguns problemas que os impossibilita
enquadrarem-se às realidades e às demandas que o ensino de hoje lhes coloca. Tudo isso, pelo
facto de que esta trouxe mudanças para as quais os professores não estavam preparados, por
falta de formação específica para a leccionação das disciplinas introduzidas e,
consequentemente, comprometem os resultados da aprendizagem dos alunos.
97
alunos deve se ensinar na escola aquilo que vai ajudar o aluno a lidar com o mundo real,
porque a realidade de um povo é muito diferente a do outro, razão pela qual o aluno deve ser
preparado para qualquer situação e circunstância. A nossa educação ou melhor a reforma
educativa em que se assenta o nosso ensino, ainda possui muitos aspectos por se melhorar.
Quando falamos do princípio da Equidade, por exemplo, as práticas, de algum modo, se
distanciam da sua observância, o que, em nossa opinião, decorre do facto de em algumas
localidades os alunos em destaque no interior das províncias, municípios e em algumas zonas
recônditas ainda estudarem por baixo de arvores, a distribuição de meios de ensino e recursos
educativos, infra-estruturas condignas para todos estudantes, crianças, adolescentes e adultos
fora do sistema de ensino, alunos a percorrerem longas distâncias para ter acesso aos estudos
ainda não é uma realidade a nível do país.
98
Dimensões Finalidades Tópicos-Chave
99
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
reforma trousse coisas boas sim.
Entrevistado 1
educativa:
08-10-19- Não responde, porque alguns
professores não estão capacitados ou
melhor não possuem competências
adequadas nas disciplinas que leccionam, Não responde, por não haver
o número elevado de alunos na sala de
competências aos professores
aula, no que tange a próprias infra-
estruturas, em pleno século XXI alunos a e falta de condições.
estudarem por baixo de árvores e não é
no interior aqui mesmo na área urbana,
para o ensino primário e I Ciclo o ensino
2. A reforma é gratuito mas não vemos esta
educativa gratuitidade, não há material escolar,
responde as bibliotecas, laboratórios, campos para
necessidades aula de Ed. Física e entre outros
que o ensino aspectos.
nos Entrevistado 2
apresenta? 09-10-19- Nós professores temos nos
esforçado, mas mesmo assim não tem
sido suficiente. Os nossos alunos muitas
das vezes na prática não conseguem
fazer nada porque, muitos deles vêm mal
preparados nas classes anteriores porque Não responde porque faltou
o governo ao implementar a reforma não preparação e colaboração
pensou nos recursos que a reforma
acarretaria na sua execução, salas
abarrotadas, sem carteiras, sem
acompanhamento de pais e encarregados
de educação no processo, falta de
interesse e entrega por parte dos próprios
alunos porque estes já sabem que
transitam com duas difidências para
aqueles que frequentam classes de
transição. Está mal.
Entrevistado 3
10-10-19- Ela responde sim as
necessidades do ensino porque hoje
vemos alunos que para além do conteúdo
que recebem dos professores vão
Ela responde porque os alunos
pesquisar na Internet e trazem novas
ideias com relação a matéria, manuseiam se tornaram mais dinâmicos
computadores e fazem coisas incríveis
com estes, damos conta que os nossos
alunos conseguem lhe dar com as novas
tecnologias de forma regular, o que é
bom. Não só nestes aspectos também em
outros se tivermos que fazer uma análise
global.
Entrevistado 01
08-10-19- A reforma educativa teve um
desenvolvimento gradual no processo
ensino e aprendizagem e houve renovação
em muitos aspectos. Como é o caso dos
próprios currículos, a inserção de novas
disciplinas, as zonas de influências
Teve avanço como o
pedagógicas, seminários de capacitação
por disciplinas a nível municipal desenvolvimento do ensino e
100
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
Mas teve um retrocesso no que diz aprendizagem.
respeito a aprendizagem “já não se exige
tanto do aluno para aprender mais como Teve retrocesso como a
antes “não é obrigatório “ que o aluno
lentidão de como actualmente
aprenda a tabuada e as quatro operações
na Matemática, escrever correctamente, se aprende
interpretar os conteúdos e textos, não se
pode castigar o aluno ou bater porque é
3. Fale dos antipedagógico, essa transição automática
possíveis em algumas classes no ensino primário e
avanços e no primeiro ciclo transitar com duas
retrocessos deficiências desde que não seja a L.
do processo Portuguesa e Matemática e este aspecto
da reforma tem consequências futuras. Mas nós
educativa. apanhamos fomos castigados, ficamos na
fila dos burros e aprendemos muito bem.
Entrevistado 02
09-10-19- Um avanço que gostaria de
destacar aqui é a actualização dos
manuais, guias de professores. Eu como
professora de inglês estes manuais me Os avanços tivemos os
ajudam muito. Mas como retrocesso manuais actualizados
vemos os alunos aprovarem com Mas como retrocesso é a
negativas, programas com temas difícil reprovação dos alunos
repetidos, o professor não tem voz e
perdeu a essência de um educador esta
mais preocupado com dinheiro, para
além da escola onde é efectivo anda de
colégio em colégio, universidade, bancos
a procura de melhores condições sem
tempo para preparar as suas lições.
Entrevistado 03
10-10-19- No meu parecer como
professora de Laboral dou conta que os
nossos recursos como materiais
didácticos (livros e outros) estão muito O maior avanço foi a
limitados e não só fomos adaptados a implementação dos seminários
esta disciplina, mas os seminários de de capacitação.
capacitação têm sido o avanço para
superarmos as dificuldades. Outro O retrocesso foi a limitação
avanço, diria que é o sistema de
dos materiais didácticos
avaliação contínua, porque faz com que o
aluno venha sempre preparado e isto lhe
obriga a revisar sempre, a
obrigatoriedade do uso de batas para os
professores do ensino primário até ao II
Ciclo e dos alunos. Retrocedemos no que
concerne a fiscalização nas actividades
não há acompanhamento adequado no
trabalho docente, esta todo mundo
ocupado.
Entrevistado 01
08-10-19- O impacto de algo novo é
Foi positivo pelo factor de
sempre assustador de princípio, mas é
sempre bom para seguir a dinâmica do trazer dinamismo
processo ensino e aprendizagem.
Entrevistado 02
09-10-19- A inovação nem sempre tem
101
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
um impacto positivo porque é preciso Não houve impacto
4. Que impacto todos agentes da acção educativa perceptível
tem a envolverem-se. Caso contrário não tem
inovação impacto nenhum tudo continua na
curricular mesma.
para todos Entrevistado 03
agentes da 10-10-19- Na minha opinião se todos Há impacto se os professores
acção agentes da acção educativa optarem aceitarem as inovações.
educativa? numa inovação curricular é claro que
esta terá um impacto positivo.
Entrevistado 01
A formação inicial do professor é a base
É a base para um bom
para o processo de ensino e
aprendizagem, mas para a inovação processo de ensino e
curricular é necessária uma formação aprendizagem
contínua.
Entrevistado 02
09-10-19- A inovação curricular é a
mudança da maneira de trabalhar, no que
se refere a métodos, materiais didácticos
5. Qual é a sua
e para isto acontecer o professor deve É o que titula o professor
opinião em desenvolver competências profissionais. como profissional de educação
De facto, a formação inicial do professor
relação a
é aquela que serve de base para se
formação inicial intitular professor ou seja são as
primeiras qualidades que o definem
do professor e a
como profissional de educação.
inovação Entrevistado 03
10-10-19- Quando o professor se
curricular?
profissionaliza e tem o seu primeiro
contacto sobre as relações didáctico- É contacto didáctico-
pedagógica é o que chamamos de pedagógico que o professor
formação inicial. Mas a inovação tem e eu o prepara para
curricular será a mudança de que ocorre mudança
dentro de um processo. Então o professor
deve estar preparado para essa mudança.
Entrevistado 01
08-10-19- Dá sim a sustentabilidade
Dá sustentabilidade porque
porque graças a essa formação foi
possível saber as metodologias, o mune o professor
métodos e recurso para exercer as suas profissionalmente
funções e em função desta crescer
6. A formação
profissionalmente para inovar no
inicial do
currículo.
professor dá
Entrevistado 02
sustentabilida
09-10-19-Não dá. Porque as exigências Não dá sustentabilidade
de a inovação
de hoje no processo de ensino são
curricular?
maiores e não se compadece apenas com
a formação inicial.
Entrevistado 03
10-10-19- Dá resposta a inovação do
Dá. Porque a educação cresce
currículo por isso é que a nossa educação
está a crescer normalmente. normalmente
Entrevistado 01
08-10-19- Fiz a minha formação média, Não tem noção do tema
superior não me lembra de ter falado do
currículo e nem como inova-lo.
7. Durante a sua
Entrevistado 02
102
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
09-10-19-Ouvi falar da palavra currículo Não teve conhecimentos
formação teve
este ano numa da entrevista a Ministra da sobre. Mas ouviu falar
conhecimento
Educação e até nem sabia de que se minimamente
s sobre o
tratava. Eu só sei recebo o programa,
currículo e
depois a dosificação e faço o meu plano
como inová-
de aula ponto final.
lo?
Entrevistado 03
10-10-19- Sim. Tenho informações no Tem conhecimentos de
ensino superior de alguns professores currículo como uma tendência
Em relação a
que falam sobre as tendências de inovar
para inovar
formação o currículo porque o aluno de hoje tem
muitos mecanismos para obter
inicial dos
informações sem sair de casa.
professores e Entrevistado 01
08-10-19- Não é garantia, temos ainda
a inovação Não é garantia para o ensino
muitos professores que até mesmo a tal
curricular formação inicial foi mal concebida de hoje
porque ainda têm dúvidas candentes e
inadmissíveis. Deste modo não teremos
ensino de qualidade logo, não garante
8. A formação
Entrevistado 02
inicial dos
09-10-19- Não garante porque os tempos
professores é Não garante porque o que o
são outros e aquilo que o professor trás
garantia para professor tem só são bases
da sua formação inicial são simplesmente
o ensino de
bases, bases estas que lhe configuram
qualidade?
como professor, mas não como um
profissional com qualidade apropriada
para o desenvolvimento do ensino de
hoje.
Entrevistado 03
10-10-19- Garante, visto que essa Garante e lhe permite passar a
formação é o sustentáculo da bagagem sua experiencia aos alunos
que o professor possui e que lhe dá
capacidade de transmitir a sua
experiencia aos alunos
Entrevistado 01
08-10-19- Não é reservado nenhum
espaço. Ora vejamos, o professor quando
em sua prática educativa sente a
necessidade de mudar alguma coisa, Não é reservado porque os
encontra sempre empecilhos por causa da professores encontram tantas
falta de apoio e aceitação por parte dos dificuldades quando tentam
9. Em sua
outros ou da direcção. O que me deixa fazê-lo
opinião é
sem acção, é sempre aquela velha
reservado
resposta têm de cumprir com o
espaço no
programa. Então não vejo espaço para
currículo
inovar
para novos
Entrevistado 02
aspectos? Se
09-10-19- Não vejo nenhum espaço
sim, quais Não tem espaço porque o
reservado para inovação no currículo.
seriam as estado não disponibiliza
Porque o orçamento educativo do nosso
inovações verbas
país não tem condições para tal efeito.
possíveis?
Inovar o currículo requer investimento,
requer tempo, requer colaboração (…).
Tudo isso tem em falta.
Entrevistado 03
10-10-19- Há espaço reservado para
Existe espaço para inovar.
inovar o currículo.
103
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
Neste contexto as possíveis inovações Professores que não seguem o
seriam no meu entender não se preocupar programa central, mas sim da
com o cumprimento do programa (a comunidade escolar
direcção da escola e seu colectivo dentro
do programa central deve criar o seu
programa interno que tem como base em
seu alicerce o contexto daquela
comunidade escolar).
Compreensão Entrevistado 01
dos 08-10-19-Nada contra, somos um só
professores povo e uma só Nação é o correcto que
Temos que seguir algumas
em relação ao tenhamos normas e regulamentos a
regras. Cada escola não pode
processo seguir. Não quero imaginar 18 províncias
fazer o seu currículo quando
curricular e cada uma o currículo local os alunos
quer.
10. Que transferidos de uma localidade para outra
apreciação faz teriam que se adaptar primeiro ao
com relação o currículo local ou mesmo começar do
currículo
baixado em zero.
forma de lei a
nível central? Entrevistado 02
09-10-19- Trata-se de um documento que
guia o processo de ensino e
É um documento que
aprendizagem então deve ser de caracter
precisamos respeitar, mas na
nacional. Agora já na nossa parte na sala
sala de aula a coisa é outra
de aula cada um de nós ao preparar a sua
aula deve ter em conta o tipo de aluno
que tem e quer que sejam.
Entrevistado 03
10-10-19- O currículo baixado em forma
de Lei, toda uma sociedade tem regras,
direitos e deveres a cumprir, sendo um
documento legislativo devemos cumpri- É um documento importante
lo também. É o que temos feito desde de que possui regras que
que me conheço como professor sempre devemos seguir como
segui os programas de nível nacional. professor. Mas com um olhar
Agora com novas tecnologias e os alunos criativo
de hoje ao planificarmos as nossas lições
devemos ter em conta a esse pormenor,
naquilo que o programa não nos orienta,
desde que seja para o bem do aluno.
Entrevistado 01
08-10-19- Seria bom para darmos as
nossas opiniões em função das realidades
É uma ideia genial porque o
vividas na sala de aula, com relação
professor conhece a realidade
alguns conteúdos que as veze não têm
do aluno
nada a ver com a idade da criança, alguns
temas com conteúdos repetidos para
serem reajustados seria bom não sei
como fariam isto, mas seria muito bom.
Entrevistado 02
11. O que tem a 09-10-19- Esta questão é mesmo
dizer se os pertinente acho que até é uma das
104
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
melhores ideias. Tomará que INID
professores
participassem na comece a pensar nessa possibilidade
elaboração do porque para mim como professora,
currículo? Inglês tenho tido muitas dificuldades em Seria muito bom o INIDE
planificar as minhas aulas sem alguns considerar essa possibilidade
temas no caso de alguns exemplos que os porque falaríamos na verdade
manuais trazem tem nada a ver com as daquilo que os alunos
nossas crianças. É verdade que tenho precisam aprender
encontrado mecanismo para ultrapassar
estas dificuldades, mas se fosse
participar na elaboração dos programas
curriculares sugeria aquilo que os alunos
precisam aprender. E em função da
obrigatoriedade temos que dar mesmo
assim.
Entrevistado 03
10-10-19- Quem me dera participar num
encontro nacional só para fazer entender
os que elaboram os currículos, os
manuais, os programas. Há temas em
algumas disciplinas que não têm
sequenciam lógica a distribuição da Gostaria muito de participar
carga horaria por disciplina, o currículo porque existe certos temas que
diz três tempos lectivos semanais, o não têm nada a ver
programa diz três horas semanais e ainda
aparece o decreto 160/19 também diz
uma coisa. O INIDE antes de elaborar
qualquer documento que seja deveria
colher informações com quem está no
terreno ou então trabalhar com os
especialistas na área em questão.
Entrevistado 01
08-10-19- Boa, está experiência adquire-
se no dia-a-dia da nossa actividade,
aquela ginga que o professor tem na sala
de aula de controlar a indisciplina na sala
de aula, criança que em plena aula Essa experiencia vê-se no dia-
começa a chorar porque está a doer a a-dia do professor, ao lidar
cabeça, e o professor parar de dar aula com os alunos, em cumprir o
para atende-la, o programa que vem programa expresso
expresso para ser cumprido mas o
professor não deve avançar porque os
alunos não entenderam nada e tens de
repetir e ai se explicar na coordenação o
porque está atrasado, visto que só estavas
12. Que a fazer entender os alunos uma matéria
experiencia
bastante complexa usando outra
tem como
professor metodologia. Porque quem o elaborou já
em não sabe o que acontece na sala de aula
desenvolver fez para ser cumprido e ponto final o
o currículo? professor que se vire.
105
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
Entrevistado 02
09-10-19- O currículo desenvolve-se na
sala de aula recebemos os programas,
deste fazemos a dosificação e desta
planificamos e preparamos a nossa aula, As experiências se
durante a aula algumas situações não desenvolvem na sala de aula
planificadas podem surgir, a maneira de onde são desenvolvidas coisas
como o professor vai tratar estas não planificadas. E aí temos
situações ganhamos experiências boas ou experiencias boas ou ruins.
ruins depende como encara-las, eu Mas nessas experiências
procuro evitar erros e aprender com os encontramos dificuldades
erros dos outros e recorrer aos colegas quando tentámos cumprir o
mais próximos de mim sempre que for que vem de cima (nível
necessário para beber das suas macro).
experiências. É o que acho de
desenvolver o currículo dentro daquilo
que recebes como linha orientadora
encontrando obstáculo no seu percurso
criar mecanismos de ultrapassa-los e
seguir viagem. “risos”.
Entrevistado 03
10-10-19- Não é tarefa fácil estabelecer o
que a sociedade exige da educação, e
vice-versa e para levar a acabo a minha
profissão desenvolvi primeiro o controle
A experiencia se vê no
do equilíbrio emocional para não me
controlo que o professor tem
abalar com qualquer situação na minha
em controlar e transmitir
caminhada, seja os programas o
valores aos alunos
comportamento inadequado de alguns
alunos na sala de aula. Procuro criar
situações e pôr ao serviço dos alunos
passando-lhes a mensagem de que eles
são os sujeitos do processo de ensino e
que a sala de aula é um lugar digno e
merece alunos díginos. Esta é minha
experiência de desenvolver o currículo.
Entrevistado 01
08-10-19- Sim têm essa autonomia, mas
Tem sim essa autonomia, mas
o grande problema são as dificuldades
que nos deparamos com elas neste somos levados pouco a sério
processo. Não serem levadas a serio as
nossas sugestões, a escola não possuir
verbas para isto ou aquilo.
Entrevistado 02
09-10-19- Não temos. Porque até mesmo
Em relação 13. A escola e
as direcções da escola, das Zip, não
os Não tem. Porque as direcções
aos aspectos conseguem inovar. É só seguir o que
professores também só seguem ordens
vem a nível central até parece que
inovadores têm a
consideram crime inovar alguma coisa. E
autonomia
para o ensino nós como professores só seguimos e não
de inovar o
nos atrevemos a mudar nada para evitar
de hoje currículo?
litígio com as direcções de escola e não
106
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
só.
Entrevistado 03
10-10-19- Não é o que vemos, mas têm
sim autonomia de inovar o currículo. Já
existe escola como é o caso concreto de Tem sim. E já existe escolas
uma escola na Baia farta, em que a que têm inovado
direcção fez um projecto envolvendo autonomamente
todos agentes educativos e criaram um
programa sem fugir do currículo central
e adequaram este a realidade daquele
povo que vive da pesca.
Entrevistado 01
08-10-19- A direcção da escola deve
criar condições nas salas para aulas de
data show para tornar as aulas mais Criar condições avançadas
atractivas, os tempos lectivos de para as salas de aula;
Matemática e Língua Portuguesa serem
sempre nos primeiros tempos pelo menos
Associar aulas teóricas com a
até ao quarto tempo porque no quinto e
sexto tempo os alunos estão já muito prática, levando os alunos a
cansados e não assimilam, criar aulas de passeios científicos:
campo para aliar a teoria e a pratica se
estivermos a falar por exemplo da
extensão do rio porque não criar
condições de levar os alunos no terreno,
exclamou o entrevistado.
Entrevistado 02
09-10-19-Existe muitos aspectos
inovadores: Nos encontros da Zips
podíamos por exemplo dar aulas Devíamos passar a dar aulas
simuladas para superarmos as nossas simuladas nas Zips para
debilidades, debates académicos com acabar com as debilidades;
situações pontuais, este ano no exame criar debates académicos;
14. Que haverá mobilidade de professores isto é mobilidade de professores nos
sugestões bom para constatarmos a realidade das
exames e devemos adoptar o
tem de outra escolas, dar a conhecer uns dias
antes do assunto que se vai tratar na sistema de agrupar os alunos
aspectos
próxima aula aos alunos para que eles círculo.
inovadores?
investiguem e venhamos na sala e juntos
aprofundarmos o conhecimento, deixar a
rotina dos alunos sentarem em filas um
atrás do outro e sentarem em forma de
circulo para maior interacção olho no
olho e o professor no centro da atenção
de todos, são aspectos que dam um
trampolim a nossa actividade
Entrevistado 03
10-10-19- Um dos aspectos inovadores
para o ensino hoje seria um trabalho
colaborativo, articulado professores, pais No processo de ensino de
e encarregados de educação, alunos haver colaboração entre pais,
corpo directivo, todos envolvidos na professores e encarregados de
causa seria a cereja no bolo para o ensino
educação;
de qualidade; devemos incluir em nossas
actividades a utilização das novas
tecnologias por causa do tempo em que Devemos incluir as novas
vivemos (a chamada era da globalização) tecnologias no ensino de hoje.
e o professor é o combatente da linha da
107
Dimensões Questão Resposta na íntegra Unidade de registo
frente conforme dizem então
prepararmos os nossos planos devemos
siar do tradicional preparar mesmo a
própria aula.
Entrevistado 01
08-10-19-Acho que para flexibilizarmos
Transformar os conteúdos
o currículo devemos pegar o que
recebemos a nível central e trazemo-lo recebidos a nível macro a
ao nosso contexto para facilitar o realidade do aluno.
processo de ensino e aprendizagem os
nossos alunos.
Entrevistado 02
15. Como seria
09-10-19- Para mim seria tornar o mais É tornar o currículo a medida
para si a
acessível o currículo a medida dos alunos dos alunos.
flexibilizaçã
e da comunidade educativa.
o do
Entrevistado 03
currículo?
10-10-19- Flexibilização do currículo é
não dificultar a aprendizagem do aluno; é É não ser autoritário, e sentir a
não ser autoritário como se fosse a preocupação dos alunos.
educação de “Macarenco”; é ouvir o
aluno e sentir as suas preocupações; é
seleccionar os aspectos importantes dos
conteúdos programados.
A partir dos depoimentos acima apresentados em síntese, nota-se que há uma representação
necessária em inovar, flexibilizar, dinamizar o currículo no contexto, mas não depende apenas
do professor. Para muitos, para que o processo de inovação aconteça, deve-se obedecer dois
sentidos: em primeiro lugar, tem a ver com a qualidade de aluno que a escola quer formar e,
em segundo lugar, com os valores que a escola veicula para além dos conteúdos.
A análise das respostas dos entrevistados permitiu-nos compreender que estes não atribuem
grande importância à participação e à entrega dos alunos no processo pedagógico, pelo facto
de alguns alunos considerarem que o sistema de ensino actual é muito permissivo, até se
transita mesmo com deficiências e a cada trimestre o encarregado tem o direito de relevar as
faltas com um simples justificativo.
Nesta perspectiva, embora o Decreto Presidencial n.º 275/19 de 6 de Setembro no seu Artigo
35.º no seu ponto 1, defina a avaliação como sendo um processo contínuo de recolha, análise,
interpretações e apreciação de dados e informações quantitativas e qualitativas, relacionadas
com a eficiência do processo de ensino e aprendizagem, quer das competências adquiridas
pelos alunos e das competências partilhadas pelos professores, parece-nos contraditório
108
porque o aluno que transita para outra classe até com duas deficiências nesta ou naquela
disciplina quer dizer que este não desenvolveu competências necessárias nas disciplinas em
questão para passar à classe subsequente e que terá as mesmas dificuldades assim por diante.
109
Compreensão dos professores sobre o processo curricular:
Esta dimensão baseou-se em analisar a compreensão dos professores face a sua participação
no processo curricular em que se configura o currículo, a partir do contexto escolar em função
da sua actividade pedagógica. Os resultados revelaram que estes consideram-no de estrema
importância, sinalizando a sua participação no processo curricular, já que o professor é o
árbitro de toda a decisão curricular, sendo associado ao que de positivo ou negativo se faz na
sala de aula.
Ainda segundo Gimeno (2000), a adaptação à realidade confere ao professor papel relevante
no processo de construção do currículo, uma vez que ele é quem, dentre os outros sujeitos
participantes do mesmo processo, está mais próximo da prática do ensino e do contexto em
que este se opera.
110
escolares, dos programas e dos instrumentos de avaliação (caderneta) para o I Ciclo em
algumas escolas, o professor como protagonista de qualquer inovação curricular, não foi
incentivada no âmbito da mesma, esquecendo-se que ele é a chave do sucesso ou insucesso
de qualquer mudança no processo de ensino.
Assim, acreditamos que, como refere Rodrigues (1995, p.90), vivemos “uma oportunidade
histórica” e precisamos aproveitar oportunidades em termos de mudanças, de inovação, de
desenvolvimento social e humano, focalizando a melhoria permanente do processo de
construção do currículo e sua implementação.
111
CONCLUSÕES
A inovação curricular e a reforma educativa são temas ainda complexos que permitem
variadas interpretações e adaptações. Inovar no currículo envolve uma série de competências
difíceis mais não impossíveis, entender o seu conceito e praticá-lo exige tempo, dedicação,
disciplina, trabalho colaborativo, comprometimento e investimento.
A concretização destes fundamentos, está relacionada com os factores que fazem desenvolver
o país como os valores morais e cívicos, patriotismo e competências profissionais para
superar lacunas do sistema e adequá-la às novas exigências da educação na actualidade.
Os dados dos inqueridos apontam para um perfil de professores na sua maioria jovem, com
nível de formação superior aceitável, com o tipo de vínculo laboral efectivo por concurso. Os
desafios prendem-se em procurar sempre actualizações profissionais, desenvolver outras
habilidades necessárias à rotina de um profissional da educação dos novos tempos e
abandonar a imagem do professor autoritário, devendo transformar-se num líder multifacetado
que conquista a confiança dos seus alunos e melhore a qualidade dos processos.
Os dados revelam ainda que os inquiridos buscam também identificar seus pontos positivos e
melhorar os negativos para potencializar suas competências e melhorar suas práticas
pedagógicas. Mas, nem todos olham para o outro com empatia, nem colaboram para a
diversidade e promoção da acessibilidade na actuação da prática pedagógica.
Lembrar que a formação superior ministrada nas universidades fornece apenas bases para o
exercício da profissão, devendo os professores trabalhar em equipa e trocar experiências no
sentido diminuir as dificuldades e frustrações próprias do contexto de trabalho. Esses
elementos podem trazer mudanças positivas e significativas na relação aluno-professor.
Segundo os professores inquiridos, a Reforma Educativa, por não começar nas escolas de
formação de professores, como já nos referimos acima, onde os novos currículos seriam
pensados e trabalhados, provocou incertezas e resistências ainda que se dominasse a ideia de
que seria para melhorar a qualidade de ensino.
Os professores sinalizam que não foram tidos em conta no âmbito da concepção da Reforma
do Sistema Educativo. Todavia, tiveram que compreender as suas funções sociais, recorrendo
à uma boa gestão pedagógica articulada na prática da sua actividade com o máximo de
atenção e habilidades socioemocionais.
Para os professores, o que aconteceu com a Reforma Educativa, foi uma decisão precipitada,
tomada a nível macro em implementar uma reforma sem antes preparar o quadro docente.
Não obstante algumas mudanças evidentes, é reconhecida a necessidade de serem revistos
determinados aspectos. Uma das evidências a assinalar é o recuo recentemente assumido em
relação à abrangência da monodocência até a 6.ª classe.
d) Criar espaços na sala ou fora dela de momentos que os alunos intervenham livremente
e percebam a ligação intrínseca e necessária no processo de ensino e aprendizagem.
Contudo, as práticas pedagógicas precisam ser inovadas a todos os níveis, sejam elas a nível
tecnológico, organizacional, institucional e pessoal, para que haja possibilidades de uma
mudança significativa no processo de ensino e aprendizagem. Quando estão em causa
inovações a nível de práticas pedagógicas, envolvendo o currículo, o papel dos professores
principalmente, é fundamental, tal como se evidenciou durante a pesquisa aqui apresentada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO Neto, C. (2009). Como elaborar trabalhos académicos. (5. Ed). São Paulo:
Ática.
CHIZZOTTI, A. (2006). Pesquisa em ciências humanas e sociais (8a ed.). São Paulo:
Cortez.
Paz e Terra.
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (1991). Interdisciplinaridade (5. Ed). São Paulo,
Edições Loyola.
FREIRE, Paulo (2003). Pedagogia do Oprimido. (36. Ed). Rio de Janeiro: Paz e terra
Editora.
FREIRE, Paulo. (2008). Educação e mudança. 31. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra
Editora.
FULLAN, M. (1997). O que vale a pena lutar no Principado? 2nd edn. Toronto:
Associação de Professores de Escolas Públicas de Ontário; Nova York: Teachers College
Press; Buckingham: Open University Press.
MONTEIRO Manuela Matos e Milice Ribeiro dos SANTOS (2005). Psicologia (2ª
Ed.). Porto: Porto Editora.
SACRISTÁN, José Gimeno (2000). O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto
Alegre: Artmed.
SANTOMÉ, T, J. (1998). Globalização e interdisciplinaridade \u2013 o currículo
integrado. Porto Alegre: Artes Médicas.
SANTOS, Teresa & ALVES, Maria P. (2019). Currículo e Avaliação: uma perspectiva
integrada. In Revista da Sociedade Portuguesa de Educação: Investigar em Educação. N.º 9-
10 (2019). Disponível em: http://pages.ie.uminho.pt/inved/index.php/ie.
STRAND, J., OLIN, E., & TIDEFORS, I. (2015). Mental health professionals' views
of the parents of patients with psychotic disorders: A participant observation study. Health &
Social Care In The Community.
TANNER, D. and TANNER, L. (1980). Curriculum Development theory into practice.
New York: Macmillan Publishing Co.
TARDIF, M.; LESSARD, C (2005). O trabalho docente: elementos para uma teoria da
docência como profissão de interacções humanas. Petrópolis: Vozes editora.
TYLER, R.W. (1949). Basic Pinciples of the Curriculum and Instruction. Universith
of Chicago, Illinois, USA (Trad. port. de L. Vallandro, (3ª ed.). Porto Alegre: Editora Globo.
TYLER, Ralph (1974). Princípios básicos de currículo e ensino. Porto Alegre, Globo.
Consulta Política sobre o plano de Acção Nacional de Educação para todos: Estratégia
integrada para a melhoria do Sistema de Educação Vol. 5. Luanda 21 a 24 de Abril de 2004.
Lei n.º 32/20, de 12 de Agosto. Altera a Lei n.º 17/16, de 7 de Outubro. Diário da República
de Angola, I Série – n.º 123.
Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais
esclarecimentos quanto as dúvidas por mim apresentadas.
Desta forma, concordo de livre e espontânea vontade em participar como voluntário (a)
da pesquisa acima descrita.
ASSINATURA
________________________________________
UNIVERSIDADE KATYAVALA BWILA
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
DE BENGUELA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
A vossa colaboração será valiosa para a concretização deste projecto pelo que, solicitamos
que dispense algum do seu tempo para responder as questões desta entrevista, o que
consumirá aproximadamente 30 minutos do vosso precioso tempo. Garantimos, desde já, a
confidencialidade da vossa identidade e solicitamos o vosso consentimento para a gravação da
conversa, enquanto via para preservar fielmente as informações que constituirão o corpus de
dados para análise posterior.
Em relação a Caracterizar novas 20. Qual é a sua opinião em relação a formação inicial do
competências e romper
formação inicial
Dimensões Finalidades Tópicos-Chave
A sua colaboração será valiosa para a concretização deste projecto de pesquisa pelo que,
solicitamos que dispense algum do seu tempo para responder a este questionário. Para o efeito
basta expressar a sua opinião indicando as opções que mais se adeqúem as suas percepções.
Desde já muito lhe agradecemos.
Com base nestes referenciais, este estudo coloca em debate a seguinte questão: Que concepções
têm os actores educativos do colégio Missionário São Paulo, sobre a Inovação no
Desenvolvimento do Currículo, da melhoria e qualidade do processo de ensino – aprendizagem
e o sucesso do aluno.
Marque um [X] no espaço que considere adequado para exprimir a sua opinião relativamente ao
do modo de actuação dos profissionais e a realização do currículo no Colégio Missionário São
Paulo. Para o efeito considere a escala de 1 a 5 em que 1 significa Discordo totalmente; 2
Discordo; 3 Não concordo nem discordo; 4 Concordo; 5 Concordo totalmente.
Agradecemos que tenha atenção ao seguinte pormenor: cada uma das questões requer apenas e
unicamente uma resposta, a qual deverá indicar a vossa percepção, expressa no grau de
concordância ou de discordância. Em casso de engano na marcação da vossa opção, faça um
círculo a volta do (X) e marque no lugar que julgar correcto.
Nº DIMENSÕES QUESTÕES 1 2 3 4 5
Constata-se a falta de um projecto claro e estruturado de
formação que fundamentalmente, articule e oriente todas as
intervenções educativas.
Predomina o entendimento do currículo como algo prescrito o
Em relação a
que se traduz numa percepção do papel dos professores como
inovação
meros técnicos, executores e consumidores do currículo.
2.1 curricular e
reforma A estrutura curricular apresenta-se como justaposição de
educativa: matérias e conteúdos, desarticulados e desintegrados o que
pressupõe uma divisão da cultura impedindo uma visão
integrada da realidade.
A uniformização e homogeneização das práticas que limita a
qualidade de adequar o currículo à diversidade.
Nº DIMENSÕES QUESTÕES 1 2 3 4 5
O currículo apresenta uma visão da aprendizagem como
acumulação passiva de conhecimento
Predomina a função instrutiva que denota falta de
preocupação com a formação integral.
Em relação á
Prevalece a concepção limitada de conteúdo de aprendizagem
2.2 aprendizagem
que se dá em detrimento de factos reais.
do aluno
Predomina a separação entre as aprendizagens experienciais
do quotidiano do aluno e as aprendizagens escolares.
Existe falta de funcionalidade das aprendizagens
significativas
A escola é vista como unidade institucional sem projecto
educativo próprio
O individualismo sobrepõe-se ao trabalho colaborativo
Em relação a
2.3 É pouco evidente o reforço de estruturas de coordenação
escola
pedagógica intermédia
Predomina a visão de escola como instituição fechada,
descontextualizada e distanciada da comunidade
Denota-se fraca participação dos professores na definição dos
conteúdos da formação
Os conteúdos são e decididos predominantemente a nível das
Em relação a estruturas macro
2.4 formação de O perfil formativo e profissional do professor nem sempre
professores corresponde à disciplina que lecciona
Os conteúdos ministrados pelos professores estão
descontextualizados face aos problemas da realidade escolar
Cotando com a sua experiência na área da educação, reservamos o espaço abaixo para o
registo das opiniões que considere relevantes para ajudar-nos a aprofundar o estudo. Os
nossos agradecimentos antecipados pelo valioso contributo.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________