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LEONARDO VIEIRA
MANUAL DE
DIREITO E
PROCESSO
TRIBUTÁRIO
3ª
edição
revista
atualizada
ampliada
2023
Quanto à distribuição das questões por assunto nas provas, podemos observar no
mapa abaixo que, de fato, a maioria das questões se concentra no Títulos III – Crédito
Tributário3, com 50% de incidência e, logo em seguida, no Título II – Obrigação Tribu-
tária, com 29% de incidência:
Garantias e privilégios do CT
5% Administração tributária
9%
Legislação tributária
12%
Exclusão do crédito
tributário
10%
Legislação tributária
Obrigação tributária
Lançamento tributário
Obrigação tributária
29% Suspensão do crédito tributário
Extinção do crédito tributário
Extinção do crédito tributário
15%
Exclusão do crédito tributário
Garantias e privilégios do CT
Administração Tributária
Lançamento tributário
Suspensão do crédito tributário 12%
8%
1. DIREITO TRIBUTÁRIO
1.1. Introdução: O Direito Tributário como ramo Autônomo do Direito
1.1.1. Atividade Financeira do Estado
Para melhor compreender o objeto do direito tributário, é preciso entender um con-
ceito antecedente, que é o de “atividade financeira do Estado”. O Estado existe, de maneira
sucinta, para o atendimento das necessidades públicas, o que se dá, dentre outros, pela
prestação de serviços públicos (saúde, educação, segurança, etc.) e pela realização de obras
públicas (rodovias, escolas, hospitais, etc.).
É justamente como forma de viabilizar a prestação de utilidades materiais para a po-
pulação que o Estado precisa obter recursos, que serão utilizados para fazer frente aos seus
gastos na consecução das demandas públicas e dos preceitos e objetivos constitucionais.
Esses recursos podem ser denominados, genericamente, de ingressos públicos.
Nesse contexto, a atividade financeira do Estado pode ser definida como a obtenção
de recursos, a gestão dos recursos obtidos (objeto de estudo principalmente do Direito
Administrativo) e a realização de despesas (objeto de estudo principalmente do Direito
Financeiro), visando ao atendimento das necessidades públicas.
3. O estudo do Crédito tributário abrange o Lançamento, a Suspensão, a Extinção e a Exclusão do Crédito Tribu-
tário, além das Garantias e Privilégios.
GESTÃO DA RECEITA E DA
OBTENÇÃO DE RECURSOS REALIZAÇÃO DAS DESPESAS
DESPESA
O fenômeno da atividade financeira do Estado, sob o ponto de vista jurídico, é objeto, por-
tanto, de três disciplinas distintas: o Direito Financeiro se ocupa da despesa pública; o Direito
Administrativo lida com a gestão dos recursos, aí compreendidas a administração e a conservação
do patrimônio público; por fim, o Direito Tributário estuda o ingresso dos recursos.
Nessa perspectiva, pode-se dizer que, no percurso da atividade financeira do Estado,
o Direito Tributário se ocupa da primeira trincheira: o ingresso de recursos. O objeto
de estudo do Direito Tributário concentra-se na receita pública4, sendo este, em verdade,
o ponto de partida para a concretização das políticas públicas.
4. O conceito de receita pública e sua classificação são estudados pelo Direito Financeiro. Veremos, aqui, linhas
introdutórias que permitirão o encaixe do tema na definição do objeto de estudo do Direito Tributário.
5. BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. 16. Ed., p. 127.
RECEITAS PÚBLICAS
6. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 27. Ed. São Paulo: Malheiros, 2006, P. 52.
Ocorre que essa relação entre Estado e sujeito passivo não pode estar livre de quaisquer
limites ou regras. Se a utilização do poder de império pelo Poder Público para arrecadar
tributos fosse uma mera relação de poder, sem nenhum regramento específico – com a
previsão de direitos e a obrigações para cada uma das partes –, estaríamos diante de uma
verdadeira arbitrariedade, típica de estados não democráticos.
COMO ISSO PODE SER COBRADO EM PROVA?
Foi com base nesse entendimento que a banca VUNESP, na prova para Juiz Substituto do TJ-
-MG, aplicada em 2012, considerou incorreto dizer que “Diante da relação jurídica de natural
inferioridade do contribuinte para com o Estado, o poder de tributar revela-se absoluto”. Isso
porque, embora o Estado utilize de seu poder de império, isso não o autoriza a exercê-lo de
forma absoluta.
Nesse sentido, a Banca FCC, na prova para juiz substituto do TJ/PE, realizada em 2015, considerou
errada a afirmação de que “a função tributária do Estado limita-se à captação de receitas para
fazer frente aos gastos públicos, sejam estes relativos à garantia de direitos ou à manutenção
da máquina pública”.
A mesma banca, na prova para Analista Legislativo da AL-PE, realizada em 2014, considerou
correto afirmar que “Dentro de um marco de entendimento mais recente, coloca-se que a tribu-
tação de um Estado democrático de direito deve transbordar a ideia de uma mera arrecada-
ção, pois, será a partir desse recolhimento, que o Estado poderá, por exemplo, cumprir com as
obrigações constitucionais constantes em seu artigo 6o , quais sejam, “(...) a educação, a saúde,
a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,”(...)”
Por fim, levando-se em consideração a clássica divisão entre Direito Público e Direito
Privado, temos que o Direito Tributário se enquadra como um ramo do Direito Público,
pois a ele são aplicáveis todos os princípios inerentes ao regime jurídico de direito pú-
blico, revestindo-se das prerrogativas próprias de tal regime e submetendo-se a todas as
restrições dele decorrentes.
Verifica-se, aqui, então, uma relação jurídica vertical, em oposição à relação horizontal
própria do regime jurídico de direito privado.
Esse tema introdutório inicial, à primeira vista, parece não ter muita relevância prática para
provas de concurso. É verdade que há temas mais complexos, aprofundados e que têm maior
incidência em provas. Mas, não se pode negligenciar a importância dos temas aparentemente
fáceis. Numa prova oral, por exemplo, o tema acima estudado poderia ser assim cobrado:
Examinador: Doutor (a), qual o espectro epistemológico do Direito Tributário?
Candidato: O conhecimento científico de que se ocupa o Direito Tributário, Excelência, concentra-
-se na primeira trincheira da atividade financeira do Estado, qual seja, o ingresso das receitas,
para posterior gestão administrativa dos recursos e em seguida a efetivação da despesa para
consecução dos fins públicos. Sendo as receitas públicas caracterizadas como o ingresso em
definitivo de valores nos cofres do Estado, podem ser classificadas em originárias e derivadas.
A primeira refere-se às receitas oriundas da exploração do próprio patrimônio estatal, enquanto
as receitas derivadas têm origem no patrimônio privado. Nessa linha, cuida o Direito Tributá-
rio mais especificamente das receitas públicas derivadas, que se originam do patrimônio do
particular, com base no poder de império e na relação de subordinação jurídica em relação ao
Estado, próprias do regime jurídico público. A forma típica de obtenção de receita derivada é
pela tributação, objeto mediato do estudo do Direito Tributário, que tem por objeto imediato o
conjunto de regras e princípios que disciplinam a atuação do Fisco no exercício da tributação.
Todo esse conjunto, portanto, é o espectro epistemológico do Direito Tributário.
RECURSOS
RECEITA PÚBLICA (INGRESSOS DEFINITIVOS) INGRESSOS PROVISÓRIOS
RECEITAS PÚBLICAS
RECEITAS PÚBLICAS DERIVADAS RECEITAS PÚBLICAS ORIGINÁRIAS
TRIBUTOS
Capítulo VI
1.2. Conceito de Tributo
Leandro Paulsen traz o que pensamos ser o conceito doutrinário mais completo de
tributo. Para o autor, tributo é a:
Esse conceito é bastante útil e nos permite entender, inclusive, algumas situações
relativas à classificação dos tributos, a exemplo da caracterização dos empréstimos com-
pulsórios (restituíveis que são) como uma espécie tributária8.
Ao lado dos conceitos doutrinários, o próprio Código Tributário Nacional encarregou-
-se de apresentar a definição de tributo. Trata-se, portanto, de um conceito legal:
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela
se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Sobre o conceito legal, importante desde já destacar sua frequente cobrança em provas, ora em
sua exata literalidade, ora com pequenas modificações que tornam a afirmativa errada.
Nessa esteira, na prova para Assistente Jurídico do CORE-SP/2019, a banca INAZ do Pará, con-
siderou errada afirmativa dizendo que “Toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou
cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade executiva plenamente vinculada”.
O único desvio da assertiva em relação ao texto legal é a inserção da palavra “executiva”, fazendo
a alternativa ser considerada incorreta.
Embora haja diferenças entre os dois conceitos apresentados, ambos utilizam elementos
comuns para delimitar esse fenômeno jurídico. Nos dois casos, fala-se na natureza pecu-
niária da prestação, na necessidade de previsão legal, na compulsoriedade, na legalidade
da atividade que enseja a tributação (que não pode constituir sanção por ato ilícito) e na
legitimidade ativa do Estado para a cobrança mediante atividade administrativa plena-
mente vinculada.
São justamente esses os que compõem o conceito de tributo, que analisaremos de-
tidamente ao longo deste capítulo. E, para melhor compreender o conceito de tributo, é
preciso destrinchá-lo, analisando detalhadamente cada ponto que integra a sua definição,
destacando daí a importância e os reflexos dessas estruturas na caracterização do instituto.
7. Paulsen, Leandro. Curso de direito tributário completo – 8.ed. – São Paulo: Saraiva, 2017.
8. Trataremos dos empréstimos compulsórios no Capítulo 2.
pagar um tributo com uma prestação in natura (entrega de bens) ou in labore (prestação de
serviços). Assim, por exemplo, o particular não pode pagar IPTU promovendo o calçamento
das ruas da cidade ou laborando gratuitamente em uma instituição de ensino municipal.
COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?
Explorando esse conteúdo, a banca CESPE, na prova para Analista Judiciário do TRE-PE, em
2017, considerou errada afirmativa segundo a qual “O tributo constitui direito real do Estado
perante o contribuinte”.
A mesma banca, na prova para Procurador do Estado de Pernambuco, em 2018, considerou in-
correta assertiva que dizia que os tributos podem ser pagos “em pecúnia, in natura ou in labore”.
Também é por este motivo que outras obrigações compulsórias, previstas em lei, tais
como o serviço militar obrigatório, a participação como integrante do tribunal do júri e o
desempenho de atividades durante as eleições não podem ser classificadas como tributos.
Da mesma maneira, as obrigações de fazer ou não fazer, ainda que relacionadas à
tributação, tais como a de escriturar os livros fiscais ou a de emitir notas fiscais, que são
definidas no CTN como obrigações tributárias acessórias9 (art. 113, § 2º, do CTN10), não
se amoldam ao conceito de tributo.
A moeda é a quantificação da pecúnia. Atualmente, a moeda brasileira é o real (R$),
de maneira que as obrigações tributárias devem vir quantificadas por esta grandeza. As-
sim, a regra é que o tributo seja pago em dinheiro (pecúnia), cuja grandeza se mede na
moeda do país.
Essa regra sofreu certo temperamento, no entanto. Com o advento da Lei Comple-
mentar n° 104/2001, que adicionou o inc. XI ao art. 156 do CTN, tornou-se permitida
a extinção do crédito tributário por meio de dação em pagamento de bens imóveis, na
forma e condições estabelecidas em lei. Dessa forma, passou a ser permitido que os entes
federados, caso instituam essa hipótese por meio de lei, aceitem como pagamento de seus
tributos a entrega de bens imóveis.
A grande questão fica em tentar compreender o significado da expressão “ou cujo
valor nela se possa exprimir”, que parece permitir formas de pagamento de tributo distintas
de moeda.
Poder-se-ia dizer que há redundância na expressão “prestação pecuniária, em moeda”,
pois o termo “pecuniária” já denota tratar-se de prestação a ser satisfeita “em moeda”,
revelando-se esta última uma repetição desnecessária.
A expressão é cabível, todavia, porque possui o condão de permitir a fixação do valor
dos tributos por meio de indexadores econômicos, a exemplo da extinta UFIR (Unidade
Fiscal de Referência). Caso o valor a ser pago a título de tributo não seja aferido em reais
(moeda), mas em um indexador econômico (UFIR, UPF, etc.), bastará uma mera operação
matemática para converter o montante devido em reais (um valor que em moeda se possa
exprimir), atendendo, assim, com perfeição, ao comando legal.
Poder-se-ia, ainda, defender que tal expressão possibilitaria que o pagamento, além
de dinheiro, fosse feito também por outras formas, como cheque, vale postal, estampilhas,
papel selado, etc. Nesse sentido é, inclusive, o art. 162 do CTN:
Art. 162. O pagamento é efetuado:
I – em moeda corrente, cheque ou vale postal;
II – nos casos previstos em lei, em estampilha, em papel selado, ou por processo
mecânico.
A matéria já foi objeto de cobrança pela banca CESPE no concurso para Analista Judiciário do
TRE-PE, em 2017, quando foi considerada incorreta a afirmativa de que “É vedado o pagamento
de tributos com títulos da dívida mobiliária”.
Como mencionado, é possível a extinção do crédito tributário por Títulos da Dívida Pública, o
que caracteriza a extinção por compensação, tornando, portanto, incorreta a assertiva.
11. Para o STJ, a dação em pagamento para o fim de quitação de obrigação tributária somente é aceita nas hipóteses
elencadas legalmente. Portanto, não é admissível, sem lei, a dação em pagamento por via de título da dívida
pública (Resp 691.996/RJ, Rel. Luiz Fux, julgado em 07/03/2006).
Nascimento
Hipótese de da obrigação
Fator gerador
incidência tributária
1.2.3. Caráter não punitivo: o tributo não representa sanção, o que não afasta a existência
de multas tributárias
Tributo não é pena. As obrigações tributárias surgem de fatos cotidianos que indicam
manifestações de riqueza: possuir determinado bem, auferir renda, circular mercadorias,
etc. Todas essas situações, isoladamente consideradas, caracterizam-se por serem atividades
lícitas, até mesmo quando decorrem de atividades anteriores ilícitas, o que veremos quando
do estudo do princípio do pecunia non olet (o dinheiro não tem cheiro).
Embora não sejam tributos, as multas são tratadas pelo CTN como obrigações tributárias prin-
cipais (CTN, art. 113, § 3º)12. Isto ocorre porque o crédito tributário é uma expressão ampla,
que abrange o tributo, a multa e os juros.
12. O tema será abordado de maneira mais detalhada no Capítulo 3, que trata das obrigações tributárias.
13. “Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: “non olet”. Drogas: tráfico de drogas, envolvendo
sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à contabilização regular das empresas e
subtraídos à declaração de rendimentos: caracterização, em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a
competência da Justiça Federal e atrair pela conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita,
mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação. A exoneração tributária dos resultados econômicos
de fato criminoso – antes de ser corolário do princípio da moralidade – constitui violação do princípio de
isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética”. (HC 77.530, Rel. Sepúlveda Pertence, julgado em 25/08/1998)
Esse entendimento jurisprudencial, de que a origem ilícita da renda é irrelevante para a incidência
do tributo, tem sido cobrado com frequência em concursos.
Nesse sentido, a banca CONSULPLAN, na prova para o cargo de Titular de Serviços de Notas e
de Registros do TJ-MG, considerou incorreto afirmar que “Tributo não constitui sanção de ato
ilícito, motivo pelo qual não incide imposto de renda quando o banqueiro de jogo de bicho (autor
de contravenção penal) aufere renda oriunda dessa atividade ilícita”.
Isso porque, a vedação a que o tributo constitua sanção de ato ilícito, significa que a norma
que estabelece a exação tributária não pode prever como hipótese abstrata de incidência do
gravame uma conduta ilícita. Por exemplo, não poderia a lei que cria determinado tributo prever
como hipótese de incidência “matar alguém”.
Isso não impede, todavia, a caracterização da hipótese legalmente prevista em decorrência de
uma conduta ilícita. É o caso da renda auferida com atividades ilícitas, como o jogo do bicho.
Nesse caso, impedir o fenômeno da incidência tributária seria, inclusive, forma de “recompensar”
aquele que infringe o ordenamento, cuja renda não seria tributária, em situação mais benéfica
do que aquele que licitamente auferiu renda e foi alvo de tributação.
A relação entre a função instrumental do tributo e a vedação a que a exação constitua sanção
de ato ilícito já foi cobrado em provas.
Nesse sentido, a banca FGV no concurso de Auditor da SEFIN-RO, em 2018, considerou incor-
reto afirmar que “A concessão de desconto ao contribuinte do IPVA, que não tenha cometido
infrações de trânsito, viola o conceito de tributo, pois o tributo não é sanção por ato ilícito.”
O entendimento da banca confirma o que foi falado sobre a possibilidade de que a cobrança do
tributo seja feita de forma a estimular certos comportamentos pelo sujeito passivo, oferecendo-se,
como no exemplo tratado, um desconto ao contribuindo que atenda a determinadas condições.
Ainda nesse tema, na mesma prova, a banca considerou correta a afirmação de que “O acréscimo
no valor do IPTU, a título de multa administrativa por ausência de inscrição imobiliária, viola o
conceito de tributo, por se tratar de sanção por ato ilícito.”
Imposto CTN:
de importação CF: art. 153, I arts. 19 a 22 SV nº 48
Imposto sobre
grandes fortunas
CF: art. 153, VII
IOF
6%
Imposto de Importação - II
Imposto de Exportação - IE
Imposto de Renda - IR
Imposto de Renda - IR
44% IPI
IPI
22%
IOF
ITR
Será considerada fato gerador do tributo a entrada em território nacional ainda que se
dê para fins de posterior exportação, como o que ocorre no drawback. É comum que nesses
casos haja benefício fiscal ou regime especial, o que não impede a verificação do fato gerador.
Assim, por exemplo, uma bagagem trazida do exterior deve (ou deveria) ser tributada.
Ou seja, a bagagem trazida pelo viajante também é abrangida pelo critério material do
imposto de importação, sendo um poder/dever a sua tributação.
Quanto ao drawback, a Receita Federal do Brasil, em seu portal eletrônico, explica que
o regime aduaneiro especial de drawback, instituído em 1966 pelo Decreto Lei nº 37/1966,
consiste na suspensão ou eliminação de tributos incidentes sobre insumos importados
para utilização em produto a ser exportado. O mecanismo funciona como um incentivo
às exportações, pois reduz os custos de produção de produtos exportáveis, tornando-os
mais competitivos no mercado internacional1.
Sobre o drawback, aliás, é importante destacar a seguinte Súmula do STJ, aprovada
em 2016:
Súmula nº 569 do STJ: Na importação, é indevida a exigência de nova certidão
negativa de débito no desembaraço aduaneiro, se já apresentada a comprovação
da quitação de tributos federais quando da concessão do benefício relativo ao
regime de drawback.
1. Para a Receita Federal “a importância do benefício é tanta que na média dos últimos 4 (quatro) anos, corres-
pondeu a 29% de todo benefício fiscal concedido pelo governo federal”.
Há ressalva quanto às mercadorias que entram no país e são removidas logo em se-
guida. Ou seja, não incide o imposto de importação no caso de mercadoria que apenas
transita pelo território brasileiro, temporariamente, como um avião de carga que faz
escala para abastecimento no Brasil.
O STJ já afastou também a incidência do imposto de importação sobre os casos de
importação ilícita de bens. Em que pese a possibilidade de aplicação do princípio da
interpretação objetiva do fato gerador (pecunia non olet), o STJ decidiu que não haverá
incidência do imposto, mas a aplicação de pena de perdimento sobre o bem2.
Afasta-se a aplicação do princípio do pecunia non olet pois, no caso, a ilicitude recai
sobre elemento essencial da tributação, ou seja, a ilicitude se verifica no próprio critério
material do fato gerador (importar mercadorias). A própria atividade de importar, nesse
caso, é ilícita, de maneira a afastar a incidência tributária – relembre-se que tributo não
pode se constituir em sanção por ato ilícito.
Há de ser ressaltado o fato de que a entrada física no território nacional é suficien-
te para a incidência do imposto de importação, não sendo necessário que haja uma
transação onerosa que motive o ingresso no país. Assim, se um indivíduo receber um
presente de um parente que se encontra no exterior, poderá ser regularmente tributado
pela Receita Federal.
3. “Fato gerador do imposto de importação de mercadoria despachada para consumo considera-se ocorrido na
data do registro na repartição aduaneira competente, da declaração apresentada pelo importador (art. 23
do Decreto-lei 37/66)” (STF – AI-AgR: 420993 PR, Relator: CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento: 31/05/2005,
Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 01-07-2005 PP-00057 EMENT VOL-02198-06 PP-01210 RDDT n. 120,
2005, p. 231 RB v. 17, n. 501, 2005, p. 52).
JURISPRUDÊNCIA EM EVIDÊNCIA
“(...) Desnecessário muito esforço interpretativo para concluir-se que a necessidade de definição
do Estado competente para a exigência do ICMS decorreu da alteração introduzida quanto ao
elemento temporal referido ao fato gerador do tributo, que na hipótese em tela deixou de
ser o momento da entrada da mercadoria no estabelecimento do importador, para ser o do
recebimento da mercadoria importada. (...) Antecipado o elemento temporal para o momento
do recebimento da mercadoria, vale dizer, do desembaraço, fez-se ela necessária, tendo em vista
que a entrada da mercadoria, não raro, se dá em terminal portuário ou aéreo situado fora dos
limites do Estado de destino da mercadoria. Consagrou a nova Carta, portanto, finalmente, a
pretensão, de há muito perseguida pelos Estados, de verem condicionado o desembaraço da
mercadoria ou do bem importado ao recolhimento, não apenas dos tributos federais, mas
também do ICMS incidente sobre a operação. O benefício decorrente da medida salta à vista:
reduzir praticamente a zero a sonegação, com simultânea redução do esforço de fiscalização,
sem gravame maior para o contribuinte”.
Veja que o STF igualou os momentos de cobrança do ICMS e do Imposto de Importação, per-
mitindo que agora tudo seja realizado no momento do desembaraço aduaneiro. Isso apenas
significa que a legislação condiciona o desembaraço aduaneiro à comprovação do pagamento
tanto do II quanto do ICMS, como diz a súmula.
4. Art. 542. Despacho de importação é o procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados de-
clarados pelo importador em relação à mercadoria importada, aos documentos apresentados e à legislação
específica.
JURISPRUDÊNCIA EM EVIDÊNCIA
Por tal motivo, durante o desembaraço, a Receita Federal efetuou a retenção da mercadoria.
O caso chegou ao STJ, que entendeu que, apesar do conhecimento de carga (bill of landing)
não conter o nome do proprietário ou possuidor do bem, a ordem de frete preenchida à mão
servia como prova da propriedade ou da posse da mercadoria5.
De acordo com o art. art. 554 do Decreto nº 6.759/09, o conhecimento de carga original, ou
documento de efeito equivalente, constitui prova de posse ou de propriedade da mercadoria.
Portanto, a ordem de frete, neste caso, funciona como “documento de efeito equivalente”, apta,
portanto, a comprovar a propriedade da mercadoria.
14.1.4. Contribuintes
O sujeito passivo será o importador (ou equiparado) e o arrematante de produtos
apreendidos ou abandonados. Tais determinações se encontram no art. 22 do CTN:
Art. 22. Contribuinte do imposto é:
I – o importador ou quem a lei a ele equiparar;
II – o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados.
Em prova aplicada em 2020, pela Banca Cespe, no concurso para o cargo de Auditor Fiscal da
Sefaz-DF, foi considerada correta afirmativa segundo a qual “De acordo com o CTN, o arrematante
de produtos importados apreendidos pela aduana é contribuinte do imposto sobre a importação”.
A alternativa está correta pois, como vimos, no caso de produtos apreendidos ou abandonados,
o contribuinte do Imposto de Importação é o arrematante.
14.1.5. Alíquotas
O imposto de importação é exceção ao princípio da legalidade, da anterioridade e
da noventena, pois trata-se de um tributo com caráter predominantemente extrafiscal.
5. “(...) 2. O art. 554 do Decreto n. 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro) dispõe que “o conhecimento de carga
original, ou documento de efeito equivalente, constitui prova de posse ou de propriedade da mercadoria”. 3. A
equivalência a que se refere o dispositivo legal é circunstancial e sua consideração visa um propósito específico,
sendo desnecessária, por isso, identidade entre características formais e/ou materiais dos documentos, de
modo que, a depender das peculiaridades do caso concreto, é possível a ordem de frete servir como prova da
posse ou propriedade da bagagem. 4. Hipótese em que o TRF da 4ª Região concluiu que a ordem de frete é
suficiente à continuidade do despacho aduaneiro, visto que, identificado o contêiner, contém as informações
necessárias à comprovação da posse/propriedade dos bens do impetrante, não havendo que se falar em ofensa
a norma legal que trate da matéria”. (STJ – REsp: 1506830 PR 2014/0341449-1, Relator: Ministro GURGEL DE
FARIA, Data de Julgamento: 23/06/2016, T1 – PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/08/2016)
Assim, desde que atendidos os limites fixados em lei, o tributo cumprirá a sua carac-
terística de extrafiscalidade, viabilizado a intervenção do Poder Executivo no mercado.
COMO O TEMA FOI COBRADO EM CONCURSO?
Em prova aplicada em 2017, pela banca Cespe, no concurso para o cargo de Procurador do Mu-
nicípio de Fortaleza, foi considerada correta afirmativa segundo a qual “A alteração de alíquotas
do imposto de exportação não se submete à reserva constitucional de lei tributária, tornando-se
admissível a atribuição dessa prerrogativa a órgão integrante do Poder Executivo.”
A alternativa está correta pois, como vimos, o imposto de exportação pode ter a sua alíquota
alterada por ato do Poder Executivo. Trata-se de exceção ao princípio da legalidade.
6. Art. 153 (...) § 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei,
alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.
Em 2018, em prova aplicada pela banca FCC, no concurso para o cargo Auditor-Fiscal da Receita
Estadual de Santa Catarina, foi considerada correta afirmativa segundo a qual “a base de cálculo
é, quando a alíquota for específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária”.
De fato, em se tratando de aplicação de alíquota específica, a base de cálculo do II é a unidade
de medida adotada pela lei tributária correspondente.
A Lei 8.032/90 prevê que as instituições de educação e de assistência social possuem isenção
de II e de IPI caso importem bens do exterior7. A redação literal do dispositivo da lei fala em
“instituições de educação ou de assistência social”.
Apesar disso, é possível estender essa isenção também para instituições culturais?
Para o STJ, sim. As entidades com finalidade eminentemente cultural também fazem jus às isen-
ções de Imposto de Importação (II) e de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) previstas
nos arts. 2º, I, “b”, e 3º, I, da Lei 8.032/90.
Conquanto a Lei 8.032/90 preveja isenções de II e de IPI para as “instituições de educação” (art.
2º, I, “b”), as entidades com finalidade eminentemente cultural também estão inseridas nessa
expressão legal, considerando que não se pode dissociar cultura de educação8.
Também há julgado relevante sobre a classificação do produto importado pela autoridade adu-
aneira: para o STJ, se a ANVISA classificou determinado produto importado como “cosmético”, a
autoridade aduaneira não poderá alterar essa classificação para defini-lo como “medicamento”.
Incumbe à ANVISA regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam risco
à saúde pública (art. 8º da Lei nº 9.782/99). Assim, é da Agência a atribuição de definir o que
é medicamento e o que é cosmético9.