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Ano 6 • no 4

Jul/Ago 2021
ISSN 2448-4466

www.spsp.org.br
Boletim da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Puberdade
precoce
Puberdade precoce: diagnóstico e conduta pelo endocrinologista • Página 4

Importância da detecção e acompanhamento pelo pediatra • Página 7

Puberdade precoce e saúde mental • Página 10


TERÇA-FEIRA

ENCONTRO VIRTUAL
29
JULHO/21
COM ESPECIALISTA 19h30 às 21h30

PACIENTES COM SINAIS DE PUBERDADE PRECOCE,


O QUE O PEDIATRA PRECISA SABER?

Agenda
19h30 às 21h30 Pacientes com sinais de puberdade precoce, o que o Pediatra precisa
saber?
Moderação: Dra. Louise Cominato - CRM SP90974

19h30 às 19h40 Abertura e introdução


Dra. Louise Cominato - CRM SP90974

19h40 às 20h20 Puberdade Precoce: Avaliação inicial e quando encaminhar ao


especialista
Dr. Gil Guerra Jr. - CRM SP51422

20h20 às 21h00 Tema: Puberdade e Pandemia: existe relação?


Dra. Adriana Ap. Siviero Miachon - CRM SP87321

21h00 às 21h30 Discussão e responder perguntas via chat

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Apoio:

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Central de Relacionamento
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Diretoria da Sociedade
de Pediatria de São Paulo
Triênio 2019-2022 Puberdade precoce
Diretoria Executiva

Presidente
Em linhas gerais, podemos inferir que a puberdade precoce seria a ocorrência de
Sulim Abramovici qualquer sinal de maturação sexual em idade cronológica antecipada.
1o Vice-presidente Esse conceito já esbarra em algumas dificuldades quanto à idade cronológica da
Renata Dejtiar Waksman
2o Vice-presidente
maturação sexual, pois esse processo biológico é multifatorial e um dos fatores é
Claudio Barsanti racial, daí a dificuldade quando se analisa uma população multirracial, como é a
Secretária-geral brasileira.
Maria Fernanda B. de Almeida
1o Secretário
Além disso, os textos apresentados nesta edição do boletim Pediatra Atualize-se
Ana Cristina Ribeiro Zollner deixam bem claro que não é qualquer sinal de maturação sexual que caracteriza
2o Secretário uma puberdade precoce, além do fato de que não é só um processo em que o hor-
Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck
1o Tesoureiro
mônio atua no órgão-alvo, e sim, um processo muito maior, que se não abordado
Mário Roberto Hirschheimer corretamente, implicará em malefícios na esfera biopsicossocial.
2o Tesoureiro Esta edição foi elaborada com a colaboração do Departamento Científico (DC)
Paulo Tadeu Falanghe
de Endocrinologia, juntamente com os DCs de Adolescência e Saúde Mental da
Diretoria de Publicações SPSP, com os temas: Diagnóstico e conduta pelo endocrinologista; Importância da detecção
e acompanhamento pelo pediatra e Puberdade precoce e saúde mental.
Diretora Aproveitem a leitura!
Cléa R. Leone
Coordenadores do Pediatra
Atualize-se
Antonio Carlos Pastorino
Mário Cícero Falcão

Departamentos colaboradores:
Endocrinologia
Adolescência
Saúde Mental Mário Cícero Falcão

Salvi Cruz
Informações Técnicas
Editor da Diretoria de Publicações

Produção editorial
Sociedade de Pediatria
de São Paulo
Jornalista responsável
Paloma Ferraz (MTB 46219)
Revisão
Rafael Franco
Projeto gráfico e diagramação
Lucia Fontes

Foto de capa
© alla serebrina
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Puberdade precoce: diagnóstico e conduta pelo endocrinologista
por Louise Cominato
4
Periodicidade: bimestral
Versão eletrônica: www.spsp.org.br

Contato comercial
Importância da detecção e acompanhamento pelo pediatra
por Andrea Hercowitz e Lilia D’Souza-Li
7
Karina Aparecida Ribeiro Dias:
karina.dias@apm.org.br
Malu Ferreira:
malu.ferreira@apm.org.br Puberdade precoce e saúde mental
por Arianne Angelelli, Cleyton Angelelli e Denise de Sousa Feliciano
10
Contato produção
Paloma Ferraz:
paloma@spsp.org.br

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ISSN 2448-4466
Puberdade precoce:
diagnóstico e conduta pelo endocrinologista
Louise Cominato*

A puberdade é um processo fisiológico caracterizado (HHG), a chamada “mini-puberdade”, que se inicia em


pela fase de transição da infância para a vida adulta, na média com uma semana de vida e termina por volta dos
qual tem início o desenvolvimento dos caracteres sexuais seis meses de idade nos meninos e dois anos de idade nas
secundários e a maturação sexual, cujo objetivo final é meninas. Nas meninas, esse período de ativação do eixo
gerar a capacidade reprodutiva. HHG é importante para maturação dos folículos ovaria-
O início do desenvolvimento puberal é determinado nos. Após o término da mini-puberdade, há inibição do
por diversos fatores, dentre eles: genéticos, nutricionais, eixo HHG durante toda a infância, até que ocorra sua rea-
ambientais, étnicos e socioeconômicos. Dentre os fatores tivação na puberdade.3
ambientais, surge a importância da epigenética e dos cha- A reativação da secreção do GnRH na puberdade é de-
mados interferentes endócrinos, ou disruptores endócri- terminada pela interação de vários fatores hipotalâmicos e
nos, que são substâncias químicas capazes de interferir na neurotransmissores, culminando no início da puberdade.
ação hormonal.1 Quando essa reativação acontece precocemente, aumenta
O hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) é pro- o risco de doenças como câncer de mama, câncer de endo-
duzido no hipotálamo e liberado dos terminais axônicos métrio, obesidade, diabetes tipo 2, doença cardiovascular,
na hipófise, onde estimula a secreção do hormônio lutei- além de alterações da saúde óssea, baixa estatura final e
nizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH), que, distúrbios comportamentais.
por sua vez, atuam nas gônadas para promover a produção
de esteroides sexuais e gametogênese. Esse eixo é ativado Diagnóstico
primariamente no feto, na primeira metade da gestação, Puberdade precoce é definida como o início do desen-
seguido por queda progressiva até o nascimento. A pre- volvimento de caracteres secundários (telarca, pubarca,
sença de gonadotrofinas nessa fase pré-natal é importante aumento peniano e testicular) antes do limite inferior de
para a formação da genitália externa masculina, incluindo idade considerado para cada gênero, ou seja: antes dos oito
o crescimento testicular, peniano e a descida testicular.2 anos de idade para as meninas e nove anos para os meni-
Logo após o nascimento ocorre um novo aumento dos nos. Estudos epidemiológicos mostram prevalência em
hormônios do eixo hipotálamo-hipofisários-gonadais torno de 0,2-2%, porém é variável na população estudada,

Quadro 1 – Causas de puberdade precoce

Puberdade precoce central Puberdade precoce periférica (menina) Puberdade precoce periférica (menino)

Idiopática Síndrome de McCune-Albright Mutação ativadora receptor LH


Secundário a tumor de SNC Tumor ovariano Hiperplasia congênita de suprarrenal
Secundário a malformação de SNC Cisto ovariano Tumor testicular
Hamartoma Tumor adrenal produtor de estrógeno Tumor adrenal
Associado a síndromes genéticas Excesso de aromatase Tumor produtor de HCG
(Sturge-Weber/neurofibromatose)
Mutação em genes associados à Hipotireoidismo periférico Hipotireoidismo periférico
puberdade (Kisspeptina/ DLK1)
Exposição hormonal exógena Exposição hormonal exógena

SNC: Sistema Nervoso Central


Fonte: Fuqua JS, 2013.5

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com diferenças étnicas importantes. Há uma forte predo- tral patológica ou pode ser idiopática. A puberdade precoce
minância de meninas com puberdade precoce, em uma re- central é patológica em 40-75% dos casos em meninos, em
visão retrospectiva de 104 crianças encaminhadas para ava- comparação com 10-20% em meninas, nas quais a puber-
liação da puberdade precoce; 87% eram do sexo feminino.2,4 dade precoce central idiopática é muito mais comum, com-
Quando os sinais puberais ocorrem antes dos oito anos preendendo aproximadamente 80-90% dos casos.6
na menina e dos nove anos no menino é considerado pu- Puberdade precoce periférica (PPP) não depende do
berdade precoce. Os principais sinais são: desenvolvimen- eixo hipotálamo-hipófise-gonadal e é causada pelo exces-
to de características sexuais secundárias, estirão de cres- so de secreção de hormônios sexuais (estrógenos ou an-
cimento e mudanças na composição corporal. O primeiro drógenos) produzidos pelas gônadas ou pela suprarrenal,
sinal de início da puberdade é, tipicamente, a telarca nas por exposição exógena de esteroides sexuais ou produção
meninas e o aumento testicular nos meninos. ectópica de gonadotropina de um tumor de células ger-
O aumento da secreção hormonal que leva ao desenvol- minativas (por exemplo, gonadotropina coriônica huma-
vimento dos caracteres sexuais também promove a matu- na [hCG]). A precocidade periférica pode ser apropriada
ração óssea, o que leva à fusão epifisária precoce e menor para o sexo da criança (isossexual) ou inapropriada, com
altura final do adulto.5 virilização de meninas e feminização de meninos (contras-
sexual). Na PPP em meninos, costuma ocorrer virilização
Diagnóstico etiológico sem aumento testicular ou aumento unilateral.
A puberdade precoce pode ser dividida em dois grandes Existem duas variantes benignas que merecem atenção:
grupos: puberdade precoce central (dependente de GnRH) a telarca precoce e a pubarca precoce. Apesar de serem
e periférica (independente de GnRH) (Quadro 1). condições benignas, devem ser diferenciadas de puber-
Puberdade precoce central (PPC) é causada pela dade precoce com uma consulta clínica completa, exames
maturação precoce do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, específicos e acompanhamento da evolução dos caracteres
gerando aparecimento sequencial de mamas e pelos pu- sexuais e crescimento.
bianos nas meninas. Nos meninos, leva ao aumento testi- Na telarca precoce ocorre o desenvolvimento isolado do
cular bilateral, aumento peniano, além dos pelos pubianos. tecido mamário. Normalmente, não há outros achados
Nesses pacientes, as características sexuais são adequadas pubertários, como crescimento linear acelerado, progres-
ao sexo da criança (isossexual). são rápida do desenvolvimento mamário ou maturação
A ativação precoce do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal esquelética avançada. É uma situação benigna que deve
ocorre por uma variedade de anormalidades do sistema ser somente observada, geralmente não progride e regride
nervoso central (SNC), a chamada puberdade precoce cen- após alguns meses. É mais frequente em meninas nos pri-
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meiros anos de vida, mas pode ser vista em meninas mais bloqueando o eixo puberal. O análogo mais utilizado no Bra-
velhas com desenvolvimento mamário isolado.4 sil é o acetato de leuprorrelina, via intramuscular a cada 28 ou
A pubarca precoce benigna ocorre em decorrência da a cada 84 dias, dependendo da apresentação da droga. O tra-
adrenarca, período pré-puberal em que há concentrações tamento da PPP baseia-se no tratamento da causa de base.
levemente elevadas de andrógenos derivados das suprar- No Consenso da Sociedade Europeia de Endocrinologia
renais, em especial o DHEA-S (sulfato de dehidroepian- Pediátrica e da Sociedade Endócrino Pediátrica America-
drosterona), que podem levar ao aparecimento de pelos na (Lawson Wilkins) as razões para o tratamento incluem
pubianos e/ou axilar prematuramente, além de odor axilar. a preservação do potencial de altura do adulto e dificul-
dades psicossociais com a puberdade precoce e menarca.
Diagnóstico laboratorial/imagem Alguns pacientes com rápido avanço da puberdade (pu-
Avaliação laboratorial é indicada para auxílio diagnósti- berdade rapidamente progressiva) podem se beneficiar
co, tanto na PPC como na PPP. Concentrações de LH, FSH, com o tratamento.4
estradiol, testosterona, DHEA-S, 17OHP devem ser reali- Cabe à equipe médica, em conjunto com a família, esta-
zados conforme o quadro clínico apresentado. Em alguns belecer a melhor abordagem de tratamento, dependendo
casos, é necessário o teste de estímulo com GnRH para da etiologia e evolução de cada caso.
confirmação de PPC (Quadro 2).
Ultrassonografia pélvica, de região adrenal, abdominal *Endocrinopediatra do Instituto da Criança HCFMUSP. Mestre e doutora em Pedia-
tria pela FMUSP. Presidente do Departamento Científico de Endocrinologia da Socie-
e/ou testicular, além de radiografia de punho para avalia- dade de Pediatria de São Paulo.
ção da idade óssea, podem auxiliar no diagnóstico etioló-
gico e acompanhamento da evolução (Quadro 3). Referências
Nos casos de PPC, a ressonância magnética de sela túr- 1. Stagi S, De Masi S, Bencini E, Losi S, Paci S, Parpagnoli M, et al. Increased incidence of precocious and
cica deve ser realizada em todas as meninas com menos de accelerated puberty in females during and after the Italian lockdown for the coronavirus 2019 (COVID-19)
pandemic. Ital J Pediatr. 2020;46:165.
seis anos de idade e em todos os meninos que apresenta- 2. Bradley SH, Lawrence N, Steele C, Mohamed Z. Precocious puberty. BMJ. 2020;368:l6597.
rem puberdade precoce, bem como em todas as crianças 3. Kuiri-Hanninen T, Sankilampi U, Dunkel L. Activation of the hypothalamic-pituitary-gonadal axis in in-
fancy: minipuberty. Horm Res Paediatr. 2014;82:73-80.
com sintomas neurológicos.5,6 4. Kaplowitz P, Bloch C. Evaluation and referral of children with signs of early puberty. Pediatrics.
2016;58:137.
5. Fuqua JS. Treatment and outcomes of precocious puberty: an update. J Clin Endocrinol Metab.
Tratamento 2013;98:2198-207.
O tratamento de escolha da PPC são os análogos da GnRH. 6. Choi KH, Chung SJ, Kang MJ, Yoon JY, Lee JE, Lee YA, et al. Boys with precocious or early puberty: inci-
dence of pathological brain magnetic resonance imaging findings and factors related to newly developed
Esse grupo de drogas inibe a atividade do GnRH endógeno, brain lesions. Ann Pediatr Endocrinol Metab. 2013;18:183-90.

Quadro 2 – Diagnóstico laboratorial de puberdade precoce central

Exame LH (UI/L)

LH basal >0,3 (ICMA)


>0,6 (IFMA)
Teste de estímulo com GnRH >5,0
Teste de estímulo com análogo GnRH de longa duração >5,0 mais sinais de puberdade

ICMA: Ensaio imunoquimioluminométrico. IFMA: Ensaio imunofluorométrico


Fonte: Elaborado pela autora.

Quadro 3 – Características da ultrassonografia pélvica da puberdade precoce central

Útero Volume >5cm3


Eco endometrial presente
fundo > colo

Ovário Volume >2cm3


+6 folículos
Tamanho folículo: >10mm

Fluxo artéria uterina Redução do índice de pulsatilidade


Presença de onda distólica intermitente ou contínua

Fonte: Elaborado pela autora.

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Importância da detecção
e acompanhamento pelo pediatra
Andrea Hercowitz* e Lilia D’Souza-Li**

O processo de maturação física que ocorre no final da Considera-se puberdade precoce o surgimento dos carac-
primeira década de vida é conhecido como puberdade. Ge- teres sexuais secundários em meninas com menos de 8 anos
ralmente se inicia entre 8 e 13 anos nas meninas (Figura 1) e e em meninos com menos de 9 anos de idade.2 Percebe-se
9 e 14 anos nos meninos (Figura 2) com o aparecimento dos atualmente uma tendência ao aparecimento dos caracteres
caracteres sexuais secundários, maturação óssea e acelera- secundários mais precocemente, principalmente em me-
ção do crescimento.1 Pode ser afetado por fatores genéti- ninas, associado a fatores étnicos e ambientais, tais como
cos, ambientais, nutricionais e socioeconômicos.2 disruptores endocrinológicos e nutricionais.2 A puberdade
O primeiro sinal que caracteriza a puberdade feminina precoce pode ser sinal de alerta para possíveis doenças as-
é o aparecimento do broto mamário e no sexo masculino é sociadas3 e por isso deve ser acompanhada pelo pediatra.
o aumento do volume testicular maior do que 4mL. A pro-
gressão dos diferentes estádios puberais é lenta, com pelo Tipos de puberdade precoce
menos seis meses de intervalo, e a duração entre o início
e o final da puberdade deve durar de dois anos e meio a Æ Puberdade central
quatro anos.1 Pelos pubianos podem surgir antes, junto ou É o tipo mais comum e está associada a ativação precoce
depois do aparecimento de sinais clínicos.2 do “relógio biológico” pela secreção pulsátil hormônio libe-

M1 • Estágio 1: Pré- P1 • Estágio 1: Pré-


púbere (somente púbere (ausência de
elevação da papila). pelos). G1 e P1 • Estágio 1: Pré-púbere (infantil).

G2 • Estágio 2: Aumento do escroto e


P2 • Estágio 2: dos testículos, sem aumento do pênis.
Pelos longos, finos Pele da bolsa escrotal fina e rosada.
M2 • Estágio 2: e lisos ao longo dos P2 • Estágio 2: Pelos longos, finos e lisos
Broto mamário. grandes lábios. na base do pênis.

P3 • Estágio 3: G3 • Estágio 3: Aumento do pênis em


M3 • Estágio 3: Pelos mais escuros, comprimento. Continua o aumento de
Maior aumento da mais espessos e testículos e escroto.
mama e da aréola, encaracolados P3 • Estágio 3: Pelos mais escuros,
sem separação dos parcialmente sobre mais espessos e encaracolados sobre
seus contornos. o púbis. o púbis.

P4 • Estágio 4: G4 • Estágio 4: Aumento do diâmetro


M4 • Estágio 4: Pelos mais do pênis e desenvolvimento da glande.
Projeção da aréola escuros, espessos Continua o aumento de testículos e
e da papila, com e encaracolados escroto, cuja pele escurece e engrossa.
aréola saliente cobrindo totalmente P4 • Estágio 4: Pelos escuros, espessos
em relação ao o púbis, sem atingir e encaracolados cobrindo totalmente o
Fonte: Ministério da Saúde, 2013.6

contorno da mama. as raízes das coxas. púbis, sem atingir as raízes das coxas.

M5 • Estágio 5:
Aréola volta ao
contorno da mama, G5 • Estágio 5: Genital adulto em
saliência somente P5 • Estágio 5: Pelos tamanho e forma.
da papila. Mama estendendo-se até P5 • Estágio 5: Pelos estendendo-se até
adulta. as raízes das coxas. as raízes das coxas.

Figura 1 – Critérios de Estágio Puberal de Marshall e Tanner para o Figura 2 – Critérios de Estágio Puberal de Marshall
sexo feminino. e Tanner para o sexo masculino.

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rador de gonadotrofinas (GnRH) no hipotálamo, seguida Avaliação laboratorial
pela secreção do hormônio luteinizante (LH) e do hormô-
nio folículo-estimulante (FSH) pela hipófise. Pode ter di- Æ Dosagens basais
versas causas, entre elas mutações genéticas, malforma- O seguimento clínico da progressão rápida dos caracte-
ções do sistema nervoso central (SNC) como hamartomas res sexuais secundários deve ser prioritário antes da deci-
e tumores como o neurofibroma. No sexo feminino, comu- são de realizar avaliação laboratorial e de imagem.2 Dosa-
mente é idiopática (Quadro 1, página 9). gens basais de LH, FSH, estrógeno e testosterona podem
estar normais ou elevadas e têm valor variável no diagnós-
Æ Puberdade periférica tico.2 No aparecimento de pelos, odor axilar e acne sem au-
Associada à secreção de hormônios sexuais não mento de mamas ou testículo não é necessário dosar LH,
provenientes do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, po- estrógeno ou testosterona, pois são sinais de adrenarca e
dendo ser originários de tumores produtores de gonado- não de gonadarca,4 portanto não indicam puberdade. Caso
trofina coriônica, tumores gonadais ou adrenais ou pela seja necessária investigação mais detalhada, recomenda-
exposição a esteroides exógenos (Quadro 1, página 9). A -se o teste com análogo de GnRH.
puberdade precoce periférica pode ativar o eixo hipotála-
mo-hipófise-gonadal e consequentemente desencadear Considerações finais
uma puberdade precoce central. A puberdade precoce pode trazer medos e incertezas
para a criança e seus pais e tem sido associada a vá-
Abordagem clínica rios desfechos negativos de saúde física, mental, social
e econômica em longo prazo. Perda de estatura final é
Æ Anamnese uma das principais preocupações médicas, enquanto o
Investigar história familiar do aparecimento de carac- risco de menstruação e desenvolvimento sexual é a prin-
teres sexuais secundários dos pais (broto mamário, au- cipal preocupação da família.3 Parece estar associada a
mento testicular e peniano, aparecimento dos pelos pu- maior risco de câncer de mama, síndrome metabólica,
bianos, menarca). No paciente, investigar idade de início síndrome dos ovários policísticos e obesidade, mas não
e velocidade de progressão dos caracteres sexuais secun- existem evidências suficientes que justifiquem o trata-
dários, presença de odor axilar, aumento de oleosidade mento com análogo de GnRH para bloqueio de puber-
na pele e nos cabelos, acne, sinais de crescimento rápido dade em todas as crianças que iniciam desenvolvimento
(mudança de número de calçado, por exemplo), exposição puberal precoce.3
de esteroides sexuais ou disruptores endocrinológicos e A puberdade precoce resulta em dissonância entre a
queixas de sistema nervoso central (cefaleia, trauma, in- maturação corporal e a posição psicossocial do indivíduo,
fecção, alterações visuais).2 Deve-se perguntar ativamen- levando-o a comportamentos típicos da adolescência pre-
te a respeito dessas possíveis mudanças, a fim de detec- maturamente, podendo ocasionar início precoce de ativi-
tar algo que pode ter passado desapercebido pelos pais ou dade sexual e outros comportamentos de risco.5 As dúvidas
responsáveis. e estresse familiares devem ser abordados nas consultas,
assim como a orientação sobre a importância do diálogo
Æ Exame físico entre pais e filhos com ênfase em temas como sexualidade
O exame físico é fundamental para a identificação de e escolhas. Apoio social e psicológico podem fazer parte do
uma precocidade puberal. Devem ser realizadas inspe- tratamento,5 se houver indicação.
ção e palpação de mamas (importante diferenciar te-
larca da lipomastia), observação de tamanho testicular *Pediatra e hebiatra. Professora convidada da Faculdade Israelita de Ciências da
Saúde Albert Einstein. Membro dos Departamentos Científicos de Adolescência e de
e peniano e presença de pelos pubianos. Estatura, peso Pediatria Legal da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
e índice de massa corpórea precisam ser avaliados e, se **Pediatra com Título de Área de Atuação em Endocrinologia Pediátrica e Medi-
dados antropométricos anteriores estiverem disponíveis, cina do Adolescente. Professora assistente doutora do Departamento de Pediatria
da Universidade Estadual de Campinas, responsável pela área de Adolescência.
calcular a velocidade de crescimento.2 Com o apoio das
Membro do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade de Pediatria de
curvas de crescimento, o pediatra pode detectar tanto a São Paulo.
modificação de padrão, como compará-la com o canal de
crescimento esperado para essa criança ou adolescente, Referências
de acordo com a estatura de seus pais biológicos. Esse 1. Abreu AP, Kaiser UB. Pubertal development and regulation. Lancet Diabetes Endocrinol. 2016;4:254-64.
canal é obtido com a soma das estaturas dos pais bioló- 2. Latronico AC, Brito VN, Carel JC. Causes, diagnosis, and treatment of central precocious puberty. Lancet
Diabetes Endocrinol. 2016;4:265-74.
gicos, subtraindo, para meninas, 13cm da estatura do pai, 3. Bradley SH, Lawrence N, Steele C, Mohamed Z. Precocious puberty. BMJ. 2020;368:1-7.
a fim de “feminilizá-la”, enquanto para os meninos deve- 4. The Lancet Diabetes & Endocrinology. Good value care: when less is more. Lancet Diabetes Endocrinol.
2017;5:925.
-se “masculinizar” a altura da mãe adicionando 13cm. A 5. Roberts C. Psychosocial dimensions of early-onset puberty and its treatment. Lancet Diabetes Endo-
média é considerada a altura alvo, podendo essa apresen- crinol. 2016;4:195-7. 3
6. Brazil - Ministério da Saúde. Orientações para o atendimento à saúde da adolescente. Brasília (DF):
tar uma variação de ±8cm. O perímetro cefálico deve ser Ministério da Saúde; 2013. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_aten-
dimento_adolescnte_menina.pdf.
avaliado, bem como a pele, observando-se a presença de 7. Brazil - Ministério da Saúde. Orientações para o atendimento à saúde do adolescente. Brasília (DF):
acne, oleosidade e pigmentação (manchas café com leite Ministério da Saúde; 2013. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_aten-
dimento_adolescnte_menina.pdf.
e neurofibromas). 8. Carel J-C, Léger J. Precocious Puberty. N Engl J Med. 2008;358:2366-77.

8 Pediatra Atualize-se | Ano 6 • nº 4


Quadro 1 – Causas e dignóstico diferencial da puberdades precoce

Doenças Sinais e sintomas Avaliação

Puberdade precoce central Aparecimento de mamas nas meninas e Aumento de LH (após estímulo com
(PPC) aumento do volume testicular nos meninos, GnRH), de testosterona no menino e
com ou sem pelos; aumento da velocidade de estrógeno na menina; avanço da
de crescimento; acne; mudanças idade óssea comparada com idade
emocionais. cronológica; aumento do volume uterino
na ultrassonografia.
PPC sem lesão no Sistema História familiar de puberdade precoce ou Ressonância magnética sem
nervoso central (SNC): adoção; idiopática; associada a síndromes; anormalidades; pode cursar com aumento
92% das meninas exposição de esteroides sexuais. de hipófise.
50% dos meninos
PPC com lesão do SNC:
Hamartoma hipotalâmico Quadro clássico. Tumor em assoalho de terceiro ventrículo.
Outros tumores hipotalâmicos Cefaleia, alterações visuais, alterações de Massa tumoral envolvendo ou
hormônios hipofisários. comprimindo hipotálamo, quiasma ótico,
hipófise ou haste hipofisária.
Insultos perinatais e paralisia Atraso no desenvolvimento Achados específicos da doença de base de
cerebral neuropsicomotor macro ou microcefalia, início anterior ao quadro.
alterações visuais, nistagmo, baixa estatura.
Puberdade precoce periférica Sintomas variados dependendo do Testosterona elevada nos meninos;
(PPP) esteroide produzido. Volume testicular estrógeno elevado nas meninas; LH em
menor do que 4mL. valores pré-puberais; avanço da idade
óssea.
Síndrome de McCune-Albright Mais comum em meninas; avanço dos Aumento de volume ovariano com cistos.
caracteres sexuais secundários; pode ter Lesão óssea em cintilografia óssea.
mancha café com leite, lesão óssea de
fibrodisplasia poliostótica e outros ganhos
de função hormonal.
Tumores adrenais, ovarianos, Síndromes virilizantes por aumento de Detecção de tumor em ultrassonografia ou
testiculares ou produtores de andrógenos com aparecimento de pelos, tomografia.
Beta-HCG acne em ambos os gêneros, aumento
rápido de mamas em meninas.
Hiperplasia adrenal congênita Aumento de andrógenos com virilização Aumento dos precursores de esteroides
em ambos os gêneros. adrenais no soro, mais comumente a
17-hidroxiprogesterona.
Variantes benignas Aparecimento de um dos caracteres Idade óssea dentro da normalidade;
sexuais de forma isolada sem aumento de valores de esteroides sexuais baixos; LH
velocidade de crescimento. baixo; ultrassom pélvico com útero infantil.
Puberdade precoce não Estabilização ou regressão dos sinais Idade óssea normal.
progressiva puberais; velocidade de crescimento Seguimento necessário, pois pode voltar a
normal; menarca na idade esperada. evoluir.
Telarca precoce isolada Desenvolvimento mamário uni ou bilateral, Seguimento necessário, pois 13% das
geralmente antes dos 2 anos de idade. vezes pode ser o primeiro sinal de PPC.
Pubarca precoce isolada Desenvolvimento de pelos pubianos; pode DHEA-S pode estar aumentado.
estar associado a pelos axilares, aumento Precursores de adrenal dentro dos limites
do odor axilar, acne moderada. Sem para idade. Não solicitar LH, testosterona
desenvolvimento de mamas ou testículo. ou estrógeno.
Menarca precoce isolada Sangramento vaginal isolado sem telarca Idade óssea compatível com cronológica;
ou pubarca. Importante afastar trauma e volume uterino pré-púbere.
lesão vaginal por abuso, tumor ou corpo
estranho.
Fonte: Adaptado de Carel J-C, Léger J, 2008.8

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Puberdade precoce
e saúde mental
Arianne Angelelli*, Cleyton Angelelli** e Denise de Sousa Feliciano***

Sendo um marco do desenvolvimento humano, a puber- pediatra e psicanalista Winnicot (1988).3 Desta maneira, o
dade representa para o indivíduo notáveis transformações momento da puberdade não pode ser compreendido apenas
decorrentes de mudanças físicas, sociais e psicológicas, em em termos das alterações hormonais ou cognitivas associa-
um período curto da vida. A mudança na aparência física das a ela. A ligação entre puberdade e sexualidade marca o
do corpo infantil para o adulto impacta em um processo de apogeu de um percurso mental que acompanha as vivências
reorganização da identidade e da autopercepção, com res- corporais e o desenvolvimento fisiológico desde a tenra in-
postas psíquicas muito singulares, mesmo em condições fância, e neste momento de transformação devemos levar
consideradas dentro de um timing esperado.1 em conta as interações entre o indivíduo e o outro. De acor-
Desde o nascimento, são as experiências sensoriais do do com Freud (1905),4 desde o nascimento a criança passa
bebê com o corpo materno que promovem seu desenvolvi- por etapas do desenvolvimento psicosexual (oral, anal, fáli-
mento global. É um processo que se dá em nível corporal ca e genital) que são estruturantes no modo como os proces-
e psíquico concomitantemente, justificando o conceito de sos psíquicos se organizam e repercutem nas suas intera-
que o Ser humano se constitui como um psicossoma. “O ções. A genitalidade que acontece no período da puberdade
Eu é sobretudo corporal [...] em última análise deriva das é também uma conquista que depende de como foram atra-
sensações corporais [...] uma projeção mental da superfície vessadas todas as etapas libidinais anteriores.
do corpo”, afirmou Freud (1923),2 o que significa dizer que A partir desses pressupostos, torna-se fundamental,
as vivências do corpo ganham significados simbólicos que para um desenvolvimento psicoemocional saudável, que as
marcam o indivíduo, definem sua autoimagem e refletem mudanças do corpo e as sensações que acompanham essas
na relação interpessoal. “A psique começa como uma elabo- alterações encontrem maturidade psíquica para sustenta-
ração imaginativa das funções somáticas” disse também o rem as novas demandas que se impõem ao indivíduo.
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O nascimento dos brotos mamários, que acontece por ninos principalmente, o sofrimento psíquico decorrente
volta dos 8 anos nas meninas, e o aumento peniano e tes- da puberdade que ocorre mais tarde do que o esperado. Por
ticular nos meninos, em torno de 9 anos, inauguram uma outro lado, é observada em meninas maturadoras precoces
cadeia de alterações físicas e endócrinas que impõem uma maior incidência de depressão ou sintomas depressivos,
turbulência na autoimagem infantil. Há uma estranheza uso/abuso de substâncias, problemas de comportamento
ante as demandas físicas que tanto trazem curiosidade e externalizantes, distúrbios alimentares, menor autoesti-
descobertas como também medo e insegurança. Contudo, ma, e tentativas de suicídio.1,5
em se tratando de um percurso normal do desenvolvimen- As hipóteses apontadas para tais riscos sugerem uma in-
to, em geral os conflitos decorrentes encontram recursos capacidade da criança de suportar as mudanças em curso
psíquicos que ajudam na reorganização dessas novas expe- antes de seus pares. Esta incapacidade poderia até perdu-
riências, tanto em nível individual como grupal. rar para além do período puberal propriamente dito. Se
Do ponto de vista psíquico há um processo de luto pela existe muita dificuldade na família para lidar com a ampla
perda da infância e insegurança ante às novas experiências gama de mudanças “daquele(a) que era apenas nosso(a)
para as quais a criança ainda não se vê totalmente prepara- bebê”, a criança se encontra ainda mais desamparada para
da. No entanto, essa crise no desenvolvimento normal faz lidar com o momento. A isso, somam-se outras pressões
parte dos marcos de desenvolvimento e precisa ser expe- sobre a criança como, por exemplo, a questão estética de-
rimentada. Por outro lado, dependendo da repercussão na corrente do ganho de peso na menina e a pressão social que
vida mental do adolescente e na dinâmica familiar, even- demanda da criança um comportamento adulto baseado
tualmente faz-se necessário acompanhamento psicológico. apenas em sua aparência física.5
A constatação da puberdade precoce para a família se so-
Puberdade precoce brepõe a uma etapa da vida infantil trazendo em todos os
Parece haver uma tendência secular a um aumento de aspectos uma sobrecarga para as vivências em curso. Co-
casos de puberdade precoce e tais casos vêm se tornando loca a criança em um destoamento ante o seu grupo que
cada vez mais frequentes em nossa clínica. A puberdade pode inibir as interações, levando-a a busca de isolamento
precoce é mais comum em meninas. Ao se desenvolverem e consequente estado depressivo.
fisicamente, as crianças pensam sobre si mesmas de forma As preocupações se ampliam quando o olhar do médi-
diferente e são vistas pelo ambiente de outra maneira. Ar- co se volta para a causa da precocidade que pode incluir
tigos de revisão apontam risco aumentado, notadamente doenças cuja malignidade trará maiores temores e incer-
em meninas, para doenças mentais - e não só no período tezas quanto à sua evolução. A criança, portanto, é exposta
puberal.5,6 Transtornos de humor, notadamente depressão, também a riscos que transtornam ainda mais as vivências
transtornos alimentares e de uso de substâncias, e mesmo psicoemocionais causadas pelas mudanças identitárias e
problemas de comportamento parecem ser mais comuns sensoriais.
nas garotas cuja puberdade foi precoce. A causa para isso Em hipóteses menos dramáticas, há a preocupação
é multifatorial, não podendo ser explicada somente pelas com a perda de estatura final, que representa um abalo
consequências diretas dos hormônios sobre o organismo. significativo nas relações.
As questões da sexualidade, das expectativas sociais e do O médico pediatra, portanto, tem papel fundamental
luto parental pela criança que se transforma cedo demais nesse quadro, devendo oferecer apoio e sensibilidade na
diante dos seus olhos têm de ser levadas em conta. Além investigação das causas e buscando tratamento para ate-
disso, a puberdade precoce compartilha com as doenças nuar as repercussões do que está em cena.
mentais alguns fatores de risco comuns, como o estresse Em virtude das muitas implicações psicoemocionais, su-
precoce, adoção, ausência do pai em casa, conflitos fami- gere-se a intervenção de um psicólogo que possa trabalhar
liares e vulnerabilidade social. Alguns estudos ponderam em paralelo com o acompanhamento médico.
a possibilidade de o estresse precoce ser um gatilho para
deflagrar no organismo infantil uma aceleração de sua *Psiquiatra. Membro do Departamento Científico de Saúde Mental da Sociedade de
Pediatria de São Paulo.
maturação como resposta adaptativa. O sistema neuroen- **Pediatra. Membro do Departamento Científico de Saúde Mental da Sociedade de
dócrino adapta-se ao estresse ambiental de variadas for- Pediatria de São Paulo.
mas e ainda estamos aprendendo sobre a natureza destes ***Psicóloga e psicanalista, mestre e doutora em Psicologia do Desenvolvimento Hu-
mano pelo IPUSP-SP. Presidente do Departamento Científico de Saúde Mental da So-
mecanismos adaptativos. Compreender a vulnerabilidade ciedade de Pediatria de São Paulo.
psíquica do paciente com puberdade precoce pode balizar
a conduta do pediatra. Além da avaliação física do caso e
Referências
da decisão sobre a melhor conduta quanto à pertinência do
1. Mendle J, Turkheimer E, Emery RE. Detrimental psychological outcomes associated with early pubertal
uso de bloqueadores hormonais, o pediatra deve ponderar timing in adolescent girls. Dev Rev. 2007;27:151-71.
sobre a necessidade de orientação ou avaliação psicológica 2. Freud S. O Eu e o Id. In: Obras completas. Vol. 16. São Paulo: Companhia das Letras; 2011. p. 24.
3. Winnicott DW. O relacionamento entre doença física e distúrbio psicológico. In: Natureza humana. Rio
em cada caso. de Janeiro: Imago; 1990.
Em condições naturais, a comparação com os pares 4. Freud S. Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras completas. Vol. 6. São Paulo: Compa-
nhia das Letras; 2016.
quanto ao tempo de início das mudanças corporais (matu- 5. Graber JA, Lewinsohn PM, Seeley JR, Brooks-Gunn J. Is psychopathology associated with the timing of
ração precoce, normal ou tardia) por si já predispõe o indi- pubertal development? J Am Acad ChildAdolesc Psychiatry. 1997;36:1768-76.
6. Graber JA. Pubertal timing and the development of psychopathology in adolescence and beyond. Horm
víduo a uma crise. Nota-se, por exemplo, no caso dos me- Behav. 2013;64:262-9.

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AGOSTO DOURADO | JUNTOS PELA AMAMENTAÇÃO


Campanha da Sociedade de Pediatria de São Paulo
pela promoção do aleitamento materno.
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