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Desenvolvimento desigual e turismo no

Brasil
Resumo: Como fenômeno social, econômico, cultural e espacial, o turismo no Brasil vem
produzindo geografias particulares relacionadas a equipamentos e serviços tais como operação
e agenciamento de viagens, à infraestrutura hoteleira, às residências secundárias, a cruzeiros
marítimos e, consequentemente a fluxos turísticos pelo território nacional. Essas geografias
do turismo no país são compreendidas, nesta análise, como causa e conseqüência do chamado
desenvolvimento desigual, tal como discutido contemporaneamente por Smith (2008). Neste
sentido, buscamos para alem de supostas determinações culturais, apreender, através de uma
economia política do território, lógicas engendradoras das espacialidades assumidas pelo
turismo enquanto atividade econômica no Brasil. No que tange à metodologia da análise,
buscamos no materialismo histórico e dialético as bases para a interpretação deste fenômeno
complexo e de importância social e econômica crescente, que é o turismo. A noção de
desenvolvimento desigual enquanto “expressão geográfica sistemática das contradições
inerentes à própria construção e estrutura do capital” (SMITH, 2008: 4) constitui pilar
conceitual sobre o qual assentamos nossa análise. Além disso, consideramos que a noção de
desenvolvimento desigual constitui chave interpretativa central para a compreensão do lugar
do turismo no processo conflituoso e contraditório de produção do espaço. Como resultados
desta análise, destacamos a expressiva concentração espacial de equipamentos e de fluxos
turísticos no Brasil enquanto produtos históricos de processos de concentração e centralização
do capital na sua relação com distintas Divisões Sociais e Territoriais do Trabalho distribuídas
ao longo do tempo e materializadas no espaço.

...uneven development is a specific process that is both unique


to capitalism and rooted directly in the fundamental social
relations of that mode of production. (Smith, 1982: 142)

▪ 1 Segundo Smith (1988: 145), Lênin, na obra “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”, de 1899, já (...)

▪ 2 Segundo Michael Lowy (1995), a expressão “desenvolvimento desigual e combinado” não aparece na
obra (...)

▪ 3 "O fator mais importante do progresso humano é a seu domínio sobre as forças produtivas. Qualquer a (...)

1A noção de desenvolvimento desigual remete, diretamente, aos postulados marxianos acerca


do capital e do desenvolvimento histórico do modo de produção capitalista, mas diversos
outros pensadores, partindo de Marx, avançaram nessa discussão, frequentemente atrelada
ao debate teórico sobre o imperialismo do final do século XIX e início do XX, como é o caso de
Vladimir Lênin (1870-1924)1, de Leon Trótsky (1879-1940)2, de George Novack (1905-1992),
que postulou a “lei do desenvolvimento desigual e combinado”3 e de Ernest Mandel (1923-
1995).

▪ 4 Publicado originalmente nos Estados Unidos, com o título “Unven Development – nature, capital and p (...)

2Trazendo este debate para a contemporaneidade e para a Geografia, David Harvey e seu
discípulo Neil Smith destacam-se entre geógrafos que discutiram a noção marxiana de
desenvolvimento desigual, encontrando-se no livro de Neil Smith (20084) intitulado
“Desenvolvimento desigual – natureza, capital e produção do espaço” a referencia teórica
fundante da análise que empreenderemos aqui.

3Segundo Smith (2008), a ideologia burguesa propalou a ideia de que o desenvolvimento


desigual seria uma espécie de “lei universal da história humana” e, portanto, um processo ao
mesmo tempo universal e natural, pressuposto este veementemente negado por ele assim
como por Harvey (2013). Para Smith (1986: 91), uma lei which purports to explain all
instances of unevenness in human experience, across time and space, is so all-embracing as
to explain nothing.

4Além disso, conforme o autor, salvo o fato de que determinadas condições naturais favorecem
o desenvolvimento de determinadas atividades ou usos dos recursos da natureza, é, em
verdade, a divisão do trabalho na sociedade a base histórica da diferenciação espacial de níveis
e condições de desenvolvimento (SMITH: 1988: 152). E é sob o modo de produção capitalista,
com suas imanências e contradições, entre as quais a tendência contraditória à diferenciação
e à igualização, que o processo histórico de diferenciação espacial adquire características
jamais antes presentes em outros modos de produção. Assim, segundo Smith, o
desenvolvimento desigual é, no mínimo, a expressão geográfica das contradições do capital.

5Para Harvey:

....o desenvolvimento da economia de espaço do capitalismo está cercado de tendências


contrapostas e contraditórias. As barreiras espaciais e as distinções regionais precisam ser
derrubadas. Mas os meios para atingir esse objetivo envolvem a produção de novas diferenciações
geográficas que criam novas barreiras espaciais a serem superadas. A organização geográfica do
capitalismo internaliza as contradições dentro da forma de valor. É isso que quer dizer o conceito
do inevitável desenvolvimento desigual do capitalismo (2013: 528).

6Outros conceitos-chave para a discussão que pretendemos fazer aqui são os conceitos de
concentração e centralização, relacionados à acumulação capitalista. Como lembra
Smith (1988, p. 175), “a necessidade de acumulação do capital leva a uma franca expansão
geográfica da sociedade capitalista, conduzida pelo capital produtivo”. A concentração social
do capital, por sua vez, constitui necessidade da acumulação (Ibidem, p. 177), enquanto “a
centralização completa o trabalho de acumulação” (Ibidem, p. 179). Necessário, ainda,
pontuar, que, conforme Smith, “a concentração espacial e o processo de centralização
referem-se à localização física do capital e é, desse modo, diferente da concentração e
centralização sociais” (Ibidem, p. 176).

7No que tange às escalas geográficas, o desenvolvimento desigual manifesta-se em todas


elas, embora de diferentes formas. Para Smith, três escalas primárias surgem com a produção
do espaço sob o capitalismo: o espaço urbano, a escala da nação-Estado e o espaço global”
(p. 196). Segundo o autor:

O impulso em direção à universalidade, sob o capitalismo, traz somente uma limitada igualização
dos níveis e das condições de desenvolvimento. O capital produz escalas espaciais distintas
(espaços absolutos) dentro dos quais o impulso para igualização está concentrado. Mas só pode
ser realizado por aguda diferenciação e por contínua diferenciação do espaço relativo, tanto entre
as escalas quanto dentro delas. As escalas por si mesmas não são fixas, mas se desenvolvem (...)
dentro do desenvolvimento do próprio capital. E não são impermeáveis; as escalas urbanas e
nacionais são produtos do capital internacional e continuam a ser moldadas por ele. Mas a
necessidade de escalas separadas e de sua diferenciação interna é fixa. Isto oferece o último
elemento básico para a teoria do desenvolvimento desigual (SMITH, 1988: 211).

8Neste sentido, Smith reafirma Soja (1980), dizendo que:

Under capitalism the relationship between developed and underdeveloped areas is the most
obvious and most central manifestation of uneven development and occurs not just at the
international scale but also at regional and urban scales. (1982: 142)

9No que diz respeito à noção de produção do espaço, buscamos apoio em Henri Lefebvre.
Como afirma Smith (1988, 139), Lefebvre teria sido “o mais coerente, o mais criativo e o
defensor mais explícito” dessa noção. Segundo Lefebvre, a produção do espaço não pode ser
comparada à produção deste ou daquele objeto particular, desta ou daquela mercadoria,
mesmo em se considerando que existam relações entre a produção das coisas e a produção
do espaço. Ainda conforme o autor, o espaço é um produto da história, com algo outro e algo
mais que a história no sentido clássico do termo (Ibidem, 2008, 62). Smith reforça esta ideia
ao dizer que “nós não vivemos, atuamos ou trabalhamos ‘no’ espaço, mas sim produzimos o
espaço, vivendo, atuando e trabalhando”(Ibidem, 1988: 132).
10Feitas tais ponderações iniciais, definimos como hipótese norteadora de nossa análise o
entendimento de que o turismo de massa se desenvolve numa relação dialética com o
desenvolvimento desigual em território brasileiro, ou seja, ele é ao mesmo tempo produto e
produtor deste.

▪ 5 Segundo Perrota (2009), é a partir da década de 1910 que a cidade do Rio de Janeiro vai se constitu (...)

11Ressalte-se o fato de que o desenvolvimento do turismo no país se deu em tempos mais


recentes se comparado àquele observado em nações mais ricas e socialmente menos
desiguais. Embora haja indícios de que o turismo, enquanto prática social, já existisse no Brasil
no final do século XIX, é somente na segunda década do século seguinte que seu
desenvolvimento, enquanto atividade econômica, deu sinais de avanço por alguns fragmentos
do território nacional5. Ao final do século XX, seja como prática social, seja como
atividade econômica, não restam duvidas sobre a importância do turismo enquanto vetor da
produção do espaço brasileiro.

12Assim, delineia-se o objetivo central de nossa reflexão, qual seja, o de analisar a


participação do turismo na produção do espaço na escala da nação-Estado, não de forma
genérica, mas na sua relação direta com o desenvolvimento desigual, tomando o Brasil como
estudo de caso.

13Visando a apreensão dos legados territoriais do desenvolvimento desigual brasileiro na sua


relação com o desenvolvimento contemporâneo do turismo, recorremos, a seguir, a uma breve
análise histórica, destacando eventos marcantes como a industrialização e a urbanização do
País.

14Todavia, por outro lado, centramos nossa análise em décadas recentes, a partir dos anos
1990, momento em que, reconhecidamente, ocorrem mudanças qualitativas importantes no
desenvolvimento do turismo no pais, tais como o avanço de redes hoteleiras internacionais
(PROSERPIO, 2003; SPOLLÓN, 2005), a recuperação “internacionalizada” do setor de cruzeiros
marítimos (CRUZ, 2015), a reestruturação do setor de agenciamento de viagens (CRUZ, 2016)
e, mais recentemente, a realização de dois megaeventos esportivos, Copa do Mundo 2014 e
Olimpíadas 2016, ambos com forte apelo turístico, tanto no que tange à requalificação da base
material voltada ao uso turístico, como também à produção de uma imagem positiva do pais
para o mundo.

15Segundo nosso entendimento, tais mudanças não podem ser compreendidas senão sob o
recurso metodológico às diferentes escalas geográficas envolvidas, as quais, segundo os
objetivos desta análise, são as escalas global e da nação-Estado.

16Passamos, então, a algumas reflexões sobre o desenvolvimento desigual brasileiro em busca


de suas conexões com o desenvolvimento da atividade turística no País.

A desigualdade social e territorial


brasileira – breves apontamentos
históricos
Independentemente dos padrões de desenvolvimento econômico
pelos quais o Brasil passou, prevaleceu a estabilidade na
desigualdade de repartição da renda e da riqueza entre seus
habitantes…A concentração da renda e da riqueza é uma marca
inalienável do Brasil (POCHMANN, 2007

17Sejam quais forem os indicadores utilizados – demográficos, de renda, IDH, rede urbana
etc. – a desigualdade tanto social quanto espacial constitui característica definidora da
realidade brasileira, como afirma Pochmann (2007).
18Entretanto, necessário ponderar que, no Brasil, como em qualquer outro lugar do planeta,
a desigualdade não resulta das características naturais do País ou mesmo simplificadamente
de sua história colonial, mas sim do “desenvolvimento desigual das forças produtivas” no seu
território. Como assevera Smith:

A concentração e a centralização do capital no ambiente construído dá-se de acordo com a lógica


social inerente ao processo de acumulação de capital e isto [...], leva a um nivelamento das
diferenças naturais, pelo menos até onde elas determinam a localização da atividade econômica
(1988, 158).

19Se necessário se faz reconhecer que o Brasil já surge como nação independente, em 1822,
abrigando profundas desigualdades sócio-econômicas e sócio-espaciais, igualmente
importante se faz admitir que tais desigualdades são reelaboradas nos dois últimos séculos e,
especialmente, ao longo do século XX, sob o comando do processo de industrialização, no anos
pós-1930, e de uma urbanização a ele fortemente relacionada.

20De acordo com Oliveira, destacando a passagem, no Brasil, de uma economia basicamente
agroexportadora para uma economia em que ocorre um alargamento da base industrial, a
expansão do capitalismo no Brasil se dá introduzindo relações novas no arcaico e reproduzindo
relações arcaicas no novo, sendo este:

▪ 6 Grifos do autor.

Um modo de compatibilizar a acumulação global, em que a introdução das relações novas no


arcaico libera força de trabalho que suporta a acumulação industrial-urbana e em que a
reprodução de relações arcaicas no novo preserva o potencial de acumulação
liberado exclusivamente para os fins de expressão do próprio novo (OLIVEIRA, 2003, 60)6.

21Nas condições acima descritas, Oliveira (2003) conclui que o sistema caminhou
inexoravelmente, para uma concentração da renda, da propriedade e do poder e afirma,
citando Trotsky, que a desigualdade historicamente produzida no país não é somente desigual,
mas combinada.

22Para Pochmann (2007), a desigualdade no Brasil agrava-se após o fim do ciclo da


industrialização nacional (1930-1980), com uma redução sensível na participação da renda do
trabalho na composição da renda total do País. Em obra mais recente e que, portanto, capta
resultados da expansão/intensificação de políticas sociais a partir de meados da primeira
década do século XX, Guerra et al. (2015) indicam ter diminuído a exclusão social no Brasil,
embora a desigualdade regional permaneça marcante, como se pode notar nas Figuras 1 e 2.

Figura 1- Proporção de domicílios por classes de rendimento domiciliar per capita (%),
por Macro-Região*

Agrandir Original (png, 12k)

* Salário mínimo em 2010 igual a cerca de 290 dólares.


Baseado em Dados do Censo Demográfico IBGE, 2010.

23Figura 2- Tipos de renda dos responsáveis por domicílios

Agrandir Original (jpeg, 1,5M)

* Salário mínimo em 2010 igual a cerca de 290 dólares. Baseado em Dados do Censo Demográfico
IBGE, 2010.

Fonte: THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., 2018

24Em síntese, do processo histórico de produção do espaço – comandado pelo capital


produtivo – resulta um ambiente construído que expressa, nitidamente, a concentração e a
centralização social do capital no Brasil no que podemos chamar de “porção oriental”,
reveladas estas por meio dos processos de concentração espacial/ centralização do capital
produtivo assim como pela concentração espacial da força de trabalho.

25Genericamente, as características mencionadas nos parágrafos anteriores demarcam a


concentração de capital fixo e de capital variável na porção oriental do território brasileiro
embora, mais recentemente, um processo de desconcentração para o interior, abarcando
estados da região Centro-Oeste e parte da Amazônia, tenha já se consolidado. Apesar desse
movimento, a referida porção oriental segue sendo aquela mais contígua e com maior
concentração espacial de capital produtivo no país. Além disso, evidenciam-se, no seu interior,
manchas reveladoras de processos de centralização do capital produtivo fixo e imobilizado no
território.

26Exemplo disso encontra-se na forte concentração da atividade industrial em estados como


São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (Região Sudeste) e nos estados da Região Sul do
País, assim como na distribuição espacial da infraestrutura pública voltada à circulação, como
denotam as Figuras 3 e 4 a seguir.
Figura 3 – Brasil – Localização das Empresas Industriais, 2013

Agrandir Original (jpeg, 1,7M)

Fonte: THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., 2018.

Figura 4 – Brasil – Redes de Transporte, 2014


Agrandir Original (jpeg, 1,7M)

Fonte: THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., 2018

27O que pretendemos iluminar com tais ponderações é o fato de que quando o turismo, como
atividade organizada, começa a se desenvolver no Brasil, principalmente a partir do século XX,
é sobre um território já marcado por profundas desigualdades socioespaciais que isto se dará.
Mais além, como anteriormente colocado, entendemos que a atividade não apenas será
condicionada por esse legado histórico, mas ela mesma se constituirá, no tempo e no espaço,
como condicionante de sua reprodução.

▪ 7 Por opções políticas assumidas ao longo do tempo, o Estado brasileiro privilegiou, historicamente, (...)

28No caso do transporte comercial – considerando apenas os modais rodoviário e aéreo, que
são predominantes - entre 2010 e 2016, 48,3% dos passageiros se deslocaram por via
rodoviária, enquanto 51,7% o fizeram por via aérea7. No que tange, por exemplo, à circulação
de pessoas, todavia, é fundamental destacar que parte importante dos deslocamentos
rodoviários é feita em veículo particular. Isto posto, ressalte-se a nítida concentração da malha
rodoviária na porção oriental do país, o que, somado à forte concentração demográfica e de
renda e à proximidade geográfica com o litoral, termina por amalgamar fatores
econômicos, culturais (como a valorização da praia pelo turismo) e infraestruturais, que
influenciam diretamente na concentração da atividade turística nesta porção do território
nacional, reforçando, consequentemente, a desigualdade territorial historicamente produzida
e resultante de um complexo feixe de fatores históricos, sociais e econômicos para muito além
da atividade turística.

29Levando em conta as contradições envolvidas com este processo, passamos, então, a refletir
sobre as geografias produzidas pelo turismo no território brasileiro.
Geografias do turismo no território
brasileiro
30Ainda que reconheçamos que o turismo não constitui apenas uma atividade econômica, mas
sim e também uma prática social, sendo eivada, consequentemente, de um conteúdo cultural,
é um equívoco teórico e de método não reconhecer a concreta subordinação das lógicas
espaciais que orientam o desenvolvimento da atividade a lógicas econômicas que definiram e
definem o desenvolvimento desigual brasileiro.

31Podemos começar tomando como exemplo a chegada de turistas estrangeiros ao país, entre
2011 e 2013 (antes da realização da Copa do Mundo 2014, portanto), por unidade da
federação. Segundo dados oficiais, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro responderam,
juntos, no período, por 58,95% do total de chegadas de turistas ao País (entre 2009-2011
foram 57,78%). Conforme Cruz (2013, 284):

A histórica concentração de riqueza e de renda nesses estados, no passado, com reflexos


socioeconômicos que se fazem sentir até hoje...gerou externalidades positivas ao atual
desenvolvimento do turismo nesses lugares com destaque para a alta densidade de modernas
infraestruturas de circulação, de equipamentos urbanos e de serviços usualmente demandados
pelo setor.

▪ 8 Cf. BRASIL. Ministério do Turismo & FIPE, 2016.

▪ 9 Cf. IBGE Estados. Disponível em www.ibge.gov.br.

32Já entre 2011 e 2015, estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas-
FIPE8 para o Ministério do Turismo aponta que entre as dez cidades mais visitadas por turistas
estrangeiros no Brasil, a lazer, oito são litorâneas, o que nos permite concluir que os atrativos
“sol-praia” desempenham um papel importante na definição das geografias do turismo
internacional no Brasil (Figura 5). Importante ressaltar, também, que sete entre essas oito
cidades distribuem-se por um relativamente pequeno trecho da costa brasileira, abarcando os
estados do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, respectivamente o segundo e o sexto estado
brasileiro com maior PIB per capita, segundo dados de 20139. Vale destacar, ainda, que a
cidade do Rio de Janeiro é o principal “destino de lazer” dos estrangeiros no Brasil.

33Figura 5 – Fluxos do turismo doméstico entre estados e cidades mais visitadas por turistas
estrangeiros entre 2011 e 2015
Agrandir Original (jpeg, 1,6M)

Fonte: THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., 2018

▪ 10 Cf. BRASIL. Ministério do turismo. Cadastur, 2017. Disponível em http://www.cadastur.turismo.gov.br (...)

34Outro indicador de que podemos lançar mão neste momento diz respeito à concentração
espacial de serviços de agenciamento e operação de viagens no País. Nesse caso, os estados
de São Paulo e Rio de Janeiro abrigam, sozinhos, excluindo-se, portanto, os outros 24 estados
da federação e o Distrito Federal, 41,49% de todas as agências de viagens e turismo do Brasil,
o que exemplifica, objetivamente, a centralidade econômica desses estados10 (Tabela 1;
Figura 6).

Tabela 1 – Agências de Turismo por estado, 2017

Estado Número de agências Estado Número de agências

BRASIL 19.451

São Paulo 6102 Mato Grosso 295

Rio de Janeiro 2518 Amazonas 288

Minas Gerais 1646 Pará 265

Rio Grande do Sul 1104 Espírito Santo 264

Paraná 1043 Maranhão 237

Pernambuco 1030 Sergipe 200


Bahia 838 Rio Grande do Norte 191

Santa Catarina 698 Rondônia 162

Goiás 433 Acre 131

Distrito Federal 420 Tocantins 121

Ceará 345 Piauí 79

Alagoas 313 Amapá 64

Paraiba 304 Roraima 56

Mato Grosso do Sul 304

Fonte: Cadastur (2017). Organização: Rita de Cássia A. Cruz (2018).

Figura 6 – Brasil, Agências de Turismo por estado (2017)

Agrandir Original (jpeg, 1,1M)

▪ 11 Conforme informação disponível no sítio da Braztoa – Associação Brasileira das Operadoras de Turism (...)

35Por outro lado, apenas cerca de 0,3% dessas empresas desempenham o papel de
operadoras turísticas no Brasil e respondem, juntas, por cerca de 90% do mercado nacional
de viagens11, o que expressa uma incrível centralização social de capital nesse ramo de
atividade no País (Cruz, 2016). Ressalte-se o fato de que esta não é uma característica
exclusiva da realidade brasileira. Como apontara Sinclair, no final dos anos 1990:

One of the most striking features of tour operations is the considerable market share which is held
by a small number of operators. In the USA, for example, 40 operators (three per cent of the
total) controlled approximately one-third of the market for package holidays in the early 1990s
(Sheldon, 1994). The degree of concentration was even higher in the UK in the same period, when
62,5 per cent of package holidays were sold by only five companies, approximating 0.05 per cent
of the total (1998: 17-18).

36Considerando algumas das maiores operadoras do país, com base em informações


disponibilizadas pela Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), vislumbra-
se sua expressiva concentração espacial (Tabela 2; Figura 7).

Tabela 2 – Brasil - Distribuição espacial de algumas das maiores operadoras turísticas


por estado (2017)

Brasil Numero de Operadoras Turísticas entre as maiores Participação em


ou Estado do pais %

BRASIL 70 100

São Paulo 42 60

Rio de Janeiro 12 17,1

Paraná 4 5,7

Distrito Federal 2 2,9

Santa Catarina 2 2,9

Rio Grande do 2 2,9


Sul

Minas Gerais 2 2,9

Alagoas 1 1,4

Bahia 1 1,4

Espírito Santo 1 1,4

Mato Grosso 1 1,4

Fonte: www.braztoa.com.br. Organização: Rita De Cássia A. Cruz (2018)

37Como se pode notar tanto na Figura 6 (distribuição geográfica das agencias de viagem e
turismo) como na Figura 7 (distribuição geográfica das principais operadoras turísticas), a
distribuição espacial dessas prestadoras de serviços turísticos no Brasil é bastante irregular,
sobretudo no caso das operadoras, que são produtoras de viagens. Em ambos os casos se
destaca sua concentração espacial na porção oriental do país assim como o protagonismo dos
estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

38Figura 7 – Brasil, Operadoras Turísticas, por estado(2017)


Agrandir Original (jpeg, 1,2M)

▪ 12 Cf. site oficial da empresa: www.cvc.com.br.

39Necessário, também, pontuar que o mercado interno de agenciamento e operação de


viagens no Brasil esteve, até recentemente, sob o controle praticamente total de empresas
nacionais. Recentemente, entretanto, este mercado dá sinais de que passa por mudanças. A
maior operadora turística do País, a empresa CVC, teve o seu controle acionário (63,6% das
ações) transferido, em 2010, para as mãos da administradora de ativos “Carlyle Group”12,
empresa de origem norte-americana (CRUZ, 2016). E, mais importante ainda, é observar a
geografia produzida por essas empresas. Para tanto, selecionamos três entre as maiores
operadoras turísticas do Brasil e, com base em seu portfólio, cartografamos sua atuação
nacional (Figuras 8, 9 e 10).

40Figura 8 – Destinos turísticos operados pelas empresas Nascimento, CVC e Flytour (2015)
Agrandir Original (jpeg, 1,5M)

41Cidades operadas por CVC, localizadas por estado

Amazonas: Manaus. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro; Cabo


Pará: Belém. Frio; Angra dos Reis; Paraty;
Ceará: Fortaleza; Aquiraz; Jericoacoara. Petrópolis.
Rio Grande do Norte: Natal; Praia de Pipa. São Paulo: São Paulo; Barretos;
Paraíba: João Pessoa. Campos do Jordão.
Pernambuco: Recife; Porto de Galinhas; Cabo de Paraná: Curitiba; Foz do Iguaçu.
Santo Agostinho; Fernando de Noronha. Santa Catarina: Florianópolis; Balneário
Alagoas: Maceió; Maragogi. Camboriú; Blumenau; Joinville.
Sergipe: Aracaju. Rio Grande do Sul: Bento Gonçalves;
Bahia: Salvador; Arraial d’Ajuda; Costa do Canela; Gramado; Serra Gaúcha.
Sauípe; Ilhéus; Itacaré; Porto Seguro; Praia do Mato Grosso: Pantanal.
Forte; Santa Cruz Cabrália; Prado. Mato Grosso do Sul: Pantanal; Bonito.
Minas Gerais: Belo Horizonte; Ouro Preto; Goiás: Caldas Novas.
Tiradentes; Passa Quatro.

42Cidades operadas por Flytour Turismo, localizadas por estado

Amazonas: Manaus; Parintins. Prado; Praia do Forte; Santa Cruz Cabrália;


Pará: Belém. Praia de Guarajuba; Imbassaí; Ilha de
Maranhão: São Luis; Barreirinhas; Tutóia. Comandatuba; Itacaré; Itaparica; Trancoso.
Rio de Janeiro: Rio de Janeiro; Mangaratiba.
Ceará: Fortaleza; Aquiraz; Jericoacoara; Espírito Santo: Vitória.
Praia do Cumbuco. São Paulo: São Paulo; Itupeva.
Rio Grande do Norte: Natal; Praia de Pipa. Paraná: Foz do Iguaçu.
Paraíba: João Pessoa Santa Catarina: Florianópolis; Balneário
Pernambuco: Recife; Porto de Galinhas; Camboriú; Blumenau; Bombinhas.
Cabo de Santo Agostinho. Rio Grande do Sul: Canela; Gramado.
Alagoas: Maceió; Barra de São Miguel; Mato Grosso do Sul: Bonito.
Praia do Conde; Praia do Frances. Goiás: Caldas Novas; Rio Quente.
Sergipe: Aracaju.
Bahia: Salvador; Arraial d’Ajuda; Costa do
Sauípe; Ilhéus; Itacaré; Porto Seguro;

43Cidades operadas por Nascimento turismo, localizadas por estado

Amazonas: Manaus. Sergipe: Aracaju; Xingó. Atibaia; Ribeirão Preto; Santos;


Pará: Belém; Ilha de Bahia: Salvador; Arraial Suzano; Itapecerica da Serra;
Marajó; Ater do Chão; d’Ajuda; Costa do Sauípe; Itupeva; Lins; Mairiporã;
Santarém Ilhéus; Itacaré; Porto Seguro; Cambury; Cesário Lange.
Tocantins: Palmas; Trancoso; Praia do Forte; Santa Paraná: Curitiba; Foz do
Jalapão. Cruz Cabrália; Prado; Morro Iguaçu.; Londrina.
Maranhão: São Luís; de São Paulo; Ilha de Santa Catarina: Florianópolis;
Imperatriz; Lençóis Comandatuba; Imbassaí; Balneário Camboriú;
Maranhenses; Chapada Tamandaré; Caraíva; Boipeba; Blumenau; Bombas;
das Mesas. Península de Marau; Praia de Bombinhas; Navegantes;
Piauí: Teresina; Delta do Santo André; Praia do Espelho; Itapema; Gaspar; Penha;
Rio Parnaíba. Corumbau. Fleixeiras; Caldas da
Ceará: Fortaleza; Minas Gerais: Belo Horizonte; Imperatriz; Governador Celso
Aquiraz; Jericoacoara; Cidades Históricas; Chapada Ramos.
Canoa Quebrada; Praia Diamantina; Araxá; Uberaba; Rio Grande do Sul: Porto
do Cumbuco; Camocim; Uberlândia; Inhotim. Alegre; Bento Gonçalves;
Praia do Guajiru. Espírito Santo: Vitória; Vila Canela; Gramado; Serra
Rio Grande do velha; Guarapari. Gaúcha; Caxias do Sul.
Norte: Natal; Praia de Rio de Janeiro: Rio de Janeiro; Mato Grosso: Cuiabá;
Pipa; São Miguel do Búzios; Cabo Frio; Angra dos Pantanal; Chapada dos
Gostoso; porto das Reis; Paraty; Petrópolis, Guimarães.
Dunas. Teresópolis. Mato Grosso do Sul: Campo
Paraíba: João Pessoa. São Paulo: São Paulo; Guarujá; Grande; Pantanal; Bonito.
Pernambuco: Recife; Ibiúna; Campos do Jordão; Goiás: Goânia; Caldas Novas;
Olinda; Porto de Campinas; Mogi das Cruzes; Chapada dos Veadeiros.
Galinhas; Cabo de Santo Olímpia.; Águas de Lindóia; Distrito Federal – Brasília
Agostinho; Fernando de
Noronha; Beberibe;
Praia dos Carneiros;
Tamandaré.
Alagoas: Maceió;
Maragogi; Barra de São
Miguel; Praia de Barra
Grande; São Miguel dos
Milagres; Xingó.

44Naturalmente, a geografia do turismo de massa não se restringe aos fluxos comandados


pelas operadoras turísticas, mas é inegável o papel que estas empresas têm no ordenamento
do território para uso turístico.
45Como se pode notar nas Figuras 8, 9 e 10, essa geografia restringe-se a um seleto número
de localidades (como se pode ler na legenda que acompanha cada figura são, respectivamente,
50, 52 e 129 localidades operadas), com relativa concentração na faixa costeira e nos estados
economicamente mais dinâmicos do País.

46Ao abordar a força das operadoras turísticas na definição da geografia do turismo de massa
no mundo, afirma Ionnadis (1995, p. 52):

Tour operators possess significant power as coordinators centrally placed between consumers,
suppliers, and destinations. These agents derive their enormous strength from their ability to
command large volumes of airline seats and hotel rooms. Moreover, tour operators normally
possess excellent information regarding their destinations and market segments.

47Mas as operadoras turísticas não atuam sozinhas. Pelo contrario, os processos de integração
vertical entre empresas com relação direta com o setor turístico são uma marca do século XX.
Em sua análise sobre o Caribe, passível de ser extrapolada para uma reflexão sobre a escala
global, Patullo (2005, p. 21) afirma que:

Airlines, tour operators, travel agents and hoteliers are the key players in the tourist industry
jigsaw. These three institutions, in particular the airlines and tour operators, are largely owned,
controlled and run from outside the region. Sometimes, through vertical integration, they are
corporately linked, controlling every stage of the tourist’s Holiday. The bigger companies continue
to buy up smaller ones, but weakening competition and choice.

48O setor hoteleiro, citado por Patullo, pode ser tomado como outro indicador relevante dos
processos de concentração e centralização social e de concentração espacial/centralização no
setor turismo no Brasil.

49Assim como o setor da prestação de serviços de agenciamento e de operação de viagens e


o de cruzeiros marítimos (CRUZ, 2015), a hotelaria diz respeito a um ramo do turismo
altamente oligopolizado. A Tabela 3 expressa, em parte, o resultado da centralização social
ocorrida na hotelaria ao longo, principalmente, do século XX.

Tabela 3. Dez Maiores Companhias hoteleiras do Mundo em número de hotéis

Companhia No de No de
Hotéis Quartos

1 Wyndham Hotel Group 7.400 N/E

2 Choice Hotels International 6.500 500.000

3 Marriot International/Starwood Hotels & Resorts 6.200 1.200.000


Worldwide

4 Jin Jiang International Hotels Group 6.000 650.000

5 Intercontinental Hotels Group 5.300 798.000

6 Hilton Worldwide Holdings 5.100 838.000

7 Accor Hotels 4.300 N/E

8 Best Western Hotels & Resorts 4.200 N/E

9 Home Inns & Hotels Management 2.600 N/E

10 Rezidor Group 1.400 224.000


Números aproximados.Dados extraídos das páginas oficiais das empresas na Internet. N/E: Não
Encontrado.

Organização: Rita de Cássia A. Cruz (2018). Fontes: http://www.wyndhamworldwide.com/


category/wyndham-hotel-group;https://www.choicehotels.com/about; http://news.marriott.com/
2017/08/forbes-names-marriott-international-one-worlds-innovative-companies/
; http://www.jinjianghotels.com.cn/en/: https://www.ihgplc.com/about-us/our-global-
presence: http://www.hiltonworldwide.com/about/http://www.accorhotels.group/en/group/who-
we-are/accorhotels-in-brief:https://www.bestwestern,
com/en_US/about.html:http://media.corporate-
ir.net/media_files/IROL/20/203641/Homeinns_Hotel_Group_Investor_Presentation_1Q15_525201
5.pdf; http://www.rezidor.com/phoenix.zhtml?c=205430&p=irol-strategy

50As maiores redes hoteleiras do mundo possuem ou administram, juntas, cerca de 49.000
hotéis, distribuídos por lugares estrategicamente escolhidos por elas, nos “quatro cantos do
planeta”. Entre essas redes, apenas Jin Jiang International Hotels Group e Home Inns & Hotel
Management não possuem ou administram hotéis no Brasil. Por outro lado, a rede
francesa Accor domina o mercado brasileiro entre as redes estrangeiras aqui presentes, com
288 unidades (de sua propriedade ou sob sua administração), 62,1% delas localizadas em
cidades da região Sudeste e cerca de 20% (57 hotéis) na Região Metropolitana de São Paulo.
A Rede Accor vem, inclusive, comandando uma tendência à interiorização da hotelaria de rede
internacional no País, segundo um processo de desconcentração concentrada, dado seu
explícito interesse por cidades localizadas nas regiões Sudeste e Sul que, juntas, abrigam mais
de 80% dos hotéis dessa rede no Brasil.

Tabela 2 – Distribuição espacial dos hotéis da Rede Accor no Brasil

Macro-Região Estado Numero de PARTICIPAÇÃO RELATIVA


Hotéis POR REGIÃO

NORTE Acre 1 3,8%

Amapá 1

Amazonas 6

Pará 3

NORDESTE Alagoas 3 10,1%

Bahia 10

Ceará 3

Maranhão 3

Paraiba 1

Pernambuco 5

Piauí 1

Rio Grande do 1
Norte

Sergipe 2

Goiás 5 4,9%
Mato Grosso 1

CENTRO Mato Grosso do 5


OESTE Sul

Distrito Federal 3

SUDESTE Espírito Santo 8 62,1%

Minas Gerais 25

Rio de Janeiro 35

São Paulo 111

SUL Paraná 21 19,1%

Santa Catarina 19

Rio Grande do 15
Sul

Fonte: www.accorhotels.com.br Organização: Rita de Cássia A. Cruz (2018)


Figura 9 Os hoteis Accor por estado

Agrandir Original (jpeg, 450k)


51Nos anos 1980, o Brasil encontrava-se entre as dez maiores economias do mundo. A partir
daí, com a estabilidade econômica alcançada nos anos 1990 e o crescimento econômico
expressivo da primeira década do século XXI, o país torna-se ainda mais atrativo ao
investimento estrangeiro.

52O interesse de empresas estrangeiras pelo território brasileiro pode ser compreendido
também com base nas afirmativas de Harvey. Segundo o autor, a tentação por parte dos
capitalistas de se engajarem no comércio inter-regional para alavancar os lucros derivados de
trocas desiguais e colocar capitais excedentes onde a taxa de lucro é mais alta é, em longo
prazo, irresistível. Além disso, continua Harvey, a tendência para a superacumulação e a
ameaça de desvalorização obriga os capitalistas que estão dentro de uma região a estender
suas fronteiras ou simplesmente mover seu capital para pastos mais verdes (HARVEY, 2013,
p. 528).

53Em artigo publicado em 1995, Ionnadis alertava para o fato de que in recent years, the
tourist accommodation sector has demonstrated increased market concentration by a few large
corporations (IONNADIS, 1995, p. 52). Passadas três décadas da afirmação do autor, a
concentração e a centralização social de capital no setor é fato consumado.

54Tal concentração foi alcançada, segundo Agarwal et al (2000) por meio de diferentes
estratégias, entre as quais: alianças, fusões, aquisições, acordos de franquia e formação de
consórcios.

55Sinclair (1991) citado por Ionnadis (1995: 55) chama a atenção, por sua vez, para a
expansão geográfica das cadeias hoteleiras pelo mundo, afirmando que hotel chains seek to
expand their operations in as many countries as possible to reduce their overall risk while
maximizing their profits.

56Com o significativo crescimento dos fluxos turísticos ao longo do século XX e com a


rentabilidade alcançada pelo setor, Britton (1982) identificou três tendências dominantes no
turismo mundial: crescimento no tamanho das empresas, aumento da integração horizontal e
vertical entre estas e a penetração de capital não originário ou não acumulado no setor.

57Naturalmente, enquanto prática social, o turismo interno no Brasil desenha sua própria
geografia. Envolvendo deslocamentos rodoviários principalmente e hospedagem em casas de
parentes e amigos, em propriedades próprias ou aluguel de residências secundárias, colônias
de férias, na pequena hotelaria nacional, campings e congêneres, enfim, o chamado “turismo
doméstico” tem uma topologia mais ampla e, aparentemente, mais espontânea e liberta do
comando dos oligopólios aqui citados. Esta é, entretanto, apenas a aparência dos fatos.

58Os fluxos turísticos internos, se não comandados pelas empresas de agenciamento de


viagens, de hotelaria e pela integração vertical entre estas e companhias aéreas, são dirigidos
pelo mercado imobiliário (no caso das segundas residências), pelos sindicatos de trabalhadores
(no caso das colônias de férias) e, ao fim e ao cabo, pelo Estado, que nas suas distintas esferas
de poder (nacional, estadual, municipal) promove lugares à condição de “destino turístico”,
melhorando infraestruturas pré-existentes, implantando novas e fazendo o marketing público
desses lugares.

59Diante de tais constatações, evidencia-se a necessidade de se rever as correntes analíticas


do turismo que depositam demasiada importância nos fatores culturais supostamente
direcionadores dos fluxos turísticos, à luz de pressupostos da Geografia Econômica.

A dialética entre turismo e


desenvolvimento desigual – para pensar a
realidade brasileira
As tendências contraditórias para a diferenciação e para a
igualização determinam a produção capitalista do espaço. Em
ação, essa contradição que surge no âmago do modo de
produção capitalista inscreve-se na paisagem como o padrão
existente do desenvolvimento desigual. (SMITH, 1988, 149)

60Como amplamente sabido, a ‘economia das viagens e do turismo’ diz respeito, em verdade,
a um conjunto de atividades econômicas que abarcam diferentes atividades industriais (como
a indústria dos transportes e da construção civil), comerciais e de serviços, o que implica
reconhecer que o capital produtivo no turismo encontra-se, paradoxalmente, em grande parte,
fora dele, em setores com os quais o turismo mantém relações mais ou menos diretas, mas
certamente relações dialéticas de dependência e influência.

61Portanto, os lugares onde o turismo se manifesta são apenas parte da geografia desenhada,
em escala planetária, por um conjunto extenso de empresas que mantêm relações mais ou
menos diretas com aquelas que se encontram na ponta da cadeia produtiva do turismo, como
as empresas hoteleiras e de produção e agenciamento de viagens. O que é fundamental
reconhecer é que por trás das paisagens materiais criadas pelo e para o turismo encontram-
se divisões do trabalho historicamente sobrepostas assim como processos imanentes ao modo
de produção capitalista como a tendência contraditória à expansão e à concentração espaciais.
Como afirmara Smith, em relação ao movimento de vaivém do capital entre regiões
economicamente mais desenvolvidas e outras menos desenvolvidas:

O capital busca não um equilíbrio construído na paisagem, mas um equilíbrio que seja viável
precisamente em sua capacidade de se deslocar nas paisagens de maneira sistemática. Este é o
movimento em vaivém do capital, que está subjacente ao processo mais amplo de
desenvolvimento desigual (SMITH, 1988, p. 213).

62Uma discussão centrada apenas nas empresas poderia, todavia, mesmo sem desejar,
ocultar o papel do Estado como ente mediador dos processos de produção do espaço pelo e
para o turismo.

▪ 13 Cf. Banco do Nordeste. Disponível em http://www.bnb.gov.br/web/guest/resultados2.

63Pelo contrario, no caso brasileiro, o Estado foi e continua sendo o mais importante
fomentador do desenvolvimento do turismo em escala nacional, por um lado como grande
provedor das infraestruturas demandadas pela atividade, em especial aquelas relacionadas à
circulação territorial, e por outro pela formulação de políticas de concessão de incentivos fiscais
e financeiros, ações estas manifestadamente convergentes com os interesses privados e
privatistas dessas empresas. Os cerca de US$ 870 milhões empregados pelo Estado13, com a
co-participação do BID, no Nordeste do Brasil, é exemplo cabal de sua importância no
desenvolvimento do turismo em território nacional.

64Há quase cinco décadas, Mandel (1970) já afirmara que o Estado é the major instrument of
defense of the capitalist class interests today (against their class enemies, against foreign
competitors, and against the menacingly explosive nature of the inner contradictions of the
system). Para Smith, o Estado moderno capitalista desenvolve-se para realizar tarefas como
produzir as bases infraestruturais, as leis comerciais, a regulamentação da reprodução da força
de trabalho e o apoio para o dinheiro local, os quais são, segundo o autor, todos necessários
no nível do capitalista coletivo mais que no do individual (1988: 205).

65Outro exemplo recente da pró-atividade do Estado brasileiro no que diz respeito à criação
de condições favoráveis à reprodução do capital em território nacional é o acolhimento aos
megaeventos Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 no Pais, os quais, além de envolverem
um gigantesco conjunto de obras de toda natureza (muitas delas inacabadas, inclusive),
pulverizadas pelas cidades diretamente atingidas, trazem, no seu bojo, o explícito objetivo
estatal de promover o pais como ‘destino’ do turismo internacional em escala planetária.

66O desenvolvimento desigual das forças produtivas, que legou ao Brasil uma forte
concentração espacial da atividade produtiva e da força de trabalho, à qual se amalgama às
concentrações urbana, demográfica, das infraestruturas e da renda é o principal motor que
move o desenvolvimento do turismo de massa no pais, tanto associado à hotelaria de rede
internacional e à geografia dos pacotes turísticos construída pelas operadoras turísticas, objeto
de nossa análise, quanto no que tange a outras formas de turismo aparentemente libertas
dessas influências.
67O que queremos dizer com isso é que o “conjunto de formas geograficamente imobilizadas
de capital fixo”, “tão fundamentais ao progresso da acumulação” (Smith, 1988: 176) é ao
mesmo tempo produto e produtor de novas diferenciações espaciais, seja qual for a escala da
análise.

68Assim, o turismo de massa no Brasil, na sua parte que é controlada pelas operadoras
turísticas e, cada vez mais, pela hotelaria de rede internacional, reproduz a desigualdade que
caracteriza o País, da mesma forma que contribui, dialeticamente, para sua reprodução.

Considerações Finais
69Concluímos nossa análise com base em cinco pontos distintos embora interdependentes.

701. A circulação, uma condição essencial para a realização do turismo de massa, é comandada
pelos interesses dos capitais produtivos que atuam no País e, consequentemente, influenciam,
diretamente, a espacialidade dos fluxos turísticos no território. Com isso queremos ressaltar o
fato de que a malha rodoviária brasileira, por exemplo, foi e continua sendo pensada,
prioritariamente, em função da atividade industrial e da atividade agrícola, visando ao
escoamento de mercadorias provindas de ambas. O ‘turismo rodoviário’, que responde por
grande parte dos deslocamentos turísticos no Brasil, desenvolveu-se, assim, no que tange à
circulação, subordinado às lógicas emanadas dessas outras atividades.

712. A hotelaria de rede internacional, que avança pelo território brasileiro, tem sua
espacialidade definida, como não poderia deixar de ser, por fatores econômicos norteados pela
busca incessante de lucratividade. Estar à beira-mar, por exemplo, contém,
consequentemente, apenas indiretamente uma vinculação com a dimensão cultural ocidental
de valorização do mar e da praia. Em verdade, uma conjunção de fatores econômicos
(existência de demanda potencial ou efetiva, mão-de-obra barata, expectativa de lucro, etc.)
é o que define a geografia dessas empresas no Brasil e em qualquer outro lugar do planeta.

723. Os lugares que habituamos chamar de turísticos são aqueles, portanto, em que tais
lógicas, sob o comando de empresas globais ou de pequenos capitalistas que atuam nas
escalas regional e local, se realizam espacialmente. Por isso, revelam em suas paisagens a
presença do turismo como vetor produtor de seus espaços, com maior ou menor veemência.

734. O Estado brasileiro foi e continua sendo protagonista na produção do espaço nacional
com vistas à sua adequação aos interesses do capital. Em se tratando da criação de
infraestruturas para o desenvolvimento do turismo, o grande conjunto de obras viabilizadas
pelo Prodetur-NE, ao longo dos anos 1990 e primeiros anos do século XXI, e, mais
recentemente, o PAC Turismo (Programa de Aceleração do Crescimento do Turismo) são
exemplos desse protagonismo. Embora o discurso do Estado seja o da ‘descentralização do
mercado’ do turismo, o PAC Turismo previu empenhar cerca de 82% do total de R$ 661 milhões
alocados no Programa em cidades já consagradas como destinos do turismo nacional e
internacional, localizadas na porção oriental do território brasileiro, historicamente
concentradora de riqueza e de renda. À cidade de São Paulo, sozinha, foram destinados 39%
desses recursos.

745. Diante do exposto até aqui e no que diz respeito ao direcionamento espacial dos fluxos
de turistas pelo território brasileiro, pode-se afirmar que os turistas ‘domésticos”, mas também
e principalmente, estrangeiros, têm pequeno ou quase nulo protagonismo na definição das
geografias produzidas pelo turismo no País. Tal interpretação da realidade posta não nega os
fatores culturais (como a valorização do sol e da praia) envolvidos com o turismo, mas entende
haver uma subordinação destes às lógicas de reprodução do capital e, ao fim e ao cabo, à
constituição da sociedade burocrática do consumo dirigido, nos termos colocados por Lefebvre
(2008). Portanto, parte expressiva dos indivíduos-turistas não viaja simplesmente para lugares
escolhidos por tocarem suas almas e corações, mas, de forma bem menos romântica que isso,
para onde o capital os deseja levar.

75Assim, concluímos reafirmando a intrínseca relação, para o caso brasileiro, entre


desenvolvimento desigual - compreendido por Smith (1988) como, ‘no mínimo’, a expressão
geográfica das contradições do capital, turismo, enquanto prática social e atividade econômica,
e o processo conflituoso e contraditório de produção do espaço, na escala da nação-Estado.
THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., Atlas do Brasil, Disparidades e dinâmicas do território,
EDUSP, São Paulo 3a edicão 2018, 392 páginas

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Bibliographie

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Notes

1 Segundo Smith (1988: 145), Lênin, na obra “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”, de


1899, já estaria “profundamente ciente da diferenciação interna do espaço que acompanhou a
expansão do capital”. Apesar disso, conforme Bianchi (mimeo; s/d), mesmo tendo feito uso
frequente da noção de desenvolvimento desigual, Lênin não a teria apresentado como uma lei, tal
como fará, mais tarde George Novack.

2 Segundo Michael Lowy (1995), a expressão “desenvolvimento desigual e combinado” não aparece
na obra de Trotsky, mas os temas centrais da teoria estavam já esboçados, por exemplo, no seu
livro de 1906, Balanço e perspectivas. Ainda conforme Lowy, a idéia de desenvolvimento desigual e
combinado apenas esboçada no seu livro de 1906, será “sustentada por um estudo mais detalhado
e sistemático do desenvolvimento do capitalismo russo”, no livro intitulado 1905.

3 "O fator mais importante do progresso humano é a seu domínio sobre as forças produtivas.
Qualquer avanço histórico é produzido por um crescimento mais rápido ou lento das forças
produtivas nesse ou naquele segmento da sociedade, devido às diferenças nas condições naturais e
nas conexões históricas. Essas disparidades dão um caráter de expansão ou compressão a toda uma
época histórica e transmitem diferentes proporções de crescimento para diferentes lugares, para
diferentes ramos da economia, para diferentes classes sociais, instituições sociais e campos de
cultura. Esta é a essência da lei do desenvolvimento desigual". Tradução livre. (NOVACK, George.
2005. La ley del desarrollo desigual y combinado en la sociedad. Disponível em
http://es.geocities.com/ciencia_popular/Desarrollo.htm).

4 Publicado originalmente nos Estados Unidos, com o título “Unven Development – nature, capital
and production of space”, por University of Georgia Press, 1984.

5 Segundo Perrota (2009), é a partir da década de 1910 que a cidade do Rio de Janeiro vai se
constituindo em um “destino oficial” de turismo. As primeiras agências de viagem e turismo a atuar
no país, por sua vez, teriam começado a atuar em 1919 em Porto Alegre e em 1936 em São Paulo,
conforme Rejowski (2008).

6 Grifos do autor.

7 Por opções políticas assumidas ao longo do tempo, o Estado brasileiro privilegiou, historicamente,
o investimento no modal rodoviário em detrimento de todos os outros. Apenas nas últimas décadas,
o empenho do Estado no sentido de ampliar e modernizar o transporte aéreo de passageiros fez
reverter as estatísticas relativas ao transporte comercial de passageiros (excluídos os deslocamentos
por automóvel particular), destacando-se o crescimento do modal aeroviário.

8 Cf. BRASIL. Ministério do Turismo & FIPE, 2016.

9 Cf. IBGE Estados. Disponível em www.ibge.gov.br.

10 Cf. BRASIL. Ministério do turismo. Cadastur, 2017. Disponível em


http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/index.action#.
11 Conforme informação disponível no sítio da Braztoa – Associação Brasileira das Operadoras de
Turismo (www.braztoa.com.br).

12 Cf. site oficial da empresa: www.cvc.com.br.

13 Cf. Banco do Nordeste. Disponível em http://www.bnb.gov.br/web/guest/resultados2.


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Table des illustrations

Titre Figura 1- Proporção de domicílios por classes de rendimento


domiciliar per capita (%), por Macro-Região*

Légende * Salário mínimo em 2010 igual a cerca de 290 dólares.

Crédits Baseado em Dados do Censo Demográfico IBGE, 2010.

URL http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/13707/img-
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Fichier image/png, 12k

Légende * Salário mínimo em 2010 igual a cerca de 290 dólares. Baseado em


Dados do Censo Demográfico IBGE, 2010.

Crédits Fonte: THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., 2018

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Titre Figura 3 – Brasil – Localização das Empresas Industriais, 2013

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Titre Figura 4 – Brasil – Redes de Transporte, 2014

Crédits Fonte: THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., 2018

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Crédits Fonte: THÉRY, H., DE MELLO- THÉRY, N., 2018

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Titre Figura 6 – Brasil, Agências de Turismo por estado (2017)

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