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AO JUÍZO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE TEOFILÂNDIA/BA

Processo n.º 0000089-83.2018.8.05.0258


Ação Penal – Procedimento Ordinário
Réu(s): HIRAN DOS ANJOS ALMEIDA, ALAN DOS ANJOS ALMEIDA, WILLIAM DOS
ANJOS ALMEIDA e ADOLFO CORDEIRO DE ALMEIDA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, por meio de seu


Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições institucionais,
vem, perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 403, § 3º, do Código de Processo
Penal, oferecer ALEGAÇÕES FINAIS, sob forma de memoriais, neste processo,
instaurado para apurar a responsabilidade do denunciado HIRAN DOS ANJOS
ALMEIDA, em relação à infração penal prevista no art. 312, caput, c/c 327, §2º, do
Código Penal, e dos denunciados ALAN DOS ANJOS ALMEIDA, WILLIAM DOS
ANJOS ALMEIDA e ADOLFO CORDEIRO DE ALMEIDA em relação à infração penal
prevista no art. 312, caput, c/c arts. 29 e 30, do Código Penal, o que faz nos termos
abaixo.

I – DA SÍNTESE PROCESSUAL

Trata-se de ação penal proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO


ESTADO DA BAHIA em face de HIRAN DOS ANJOS ALMEIDA, dando-o como
incurso nas penas do art. 312, caput, c/c 327, §2º, do Código Penal; e, em face de
ALAN DOS ANJOS ALMEIDA, WILLIAM DOS ANJOS ALMEIDA e ADOLFO
CORDEIRO DE ALMEIDA dando-os como incursos nas penas do art. 312, caput, c/c
arts. 29 e 30, do Código Penal.
Narra a inicial acusatória que, no dia 07 de julho de 2016, na Fazenda
Carrancudo, Povoado Ipoeira, zona rural, Município de Teofilândia/BA, os
denunciados apropriaram-se de bens móveis pertencentes ao Estado da Bahia,
em proveito próprio.

Foi apurado que, no dia dos fatos, após receber uma denúncia de desvio
de sementes agrícolas, a polícia militar deslocou-se até a Fazenda Carrancudo, onde
identificou uma carga de sementes de milho e feijão, oriunda da Secretaria de
Desenvolvimento Rural do Estado da Bahia — SDR, que seria destinada à Secretaria
de Agricultura de Araci/BA, no âmbito do “Programa Semeando”.

Consta dos autos que HIRAN DOS ANJOS ALMEIDA, ora primeiro
denunciado, então Assessor Geral Administrativo da Secretaria de Agricultura e
Recursos Hídricos do Município de Araci/BA, a pedido de Crisógno Conceição
Carneiro dos Santos, Coordenador da BAHIATER no Território do Sisal, foi até a
cidade de Serrinha/BA, na companhia do seu irmão WILLIAM DOS ANJOS ALMEIDA,
ex-Secretário de Agricultura do Município de Araci/BA, e do seu pai ADOLFO
CORDEIRO DE ALMEIDA, terceiro e quarto denunciados, para retirar cerca de
5.200Kg (cinco mil e duzentos quilos) de grãos (sementes de milho e feijão), que
estavam armazenados em um galpão da Prefeitura de Serrinha/BA.

As sementes que deveriam seguir para o Município de Araci foram


transportadas para a Fazenda Carrancudo, de propriedade de ADOLFO
CORDEIRO DE ALMEIDA, ora quarto denunciado.

Chegando ao referido local, foi feita uma transferência dos sacos


originais, com capacidade para 20Kg (vinte quilos) e com identificação “COOTEBA —
Cooperativa de Trabalho do Estado da Bahia” e “COOAD - Cooperativa Agroindustrial
da Agricultura Familiar e Reforma Agrária” para sacos de nylon sem qualquer
identificação e com capacidade de 60Kg (sessenta quilos).

Vale ressaltar que a referida transferência foi feita por ALAN DOS ANJOS
ALMEIDA, ora segundo denunciado e também irmão de HIRAN DOS ANJOS
ALMEIDA. Pelo trabalho realizado, recebeu R$1,00 (um real) por saco enchido, sendo
a remuneração paga por seu genitor, ADOLFO CORDEIRO DE ALMEIDA. Além do
mais, ADOLFO CORDEIRO DE ALMEIDA ainda pagou o valor de R$ 50,00 (cinquenta
reais) para aqueles que ajudaram no descarregamento do caminhão.

Segundo ainda restou apurado, toda carga de sementes recebida pelo


Município de Araci sempre foi encaminhada para um local pertencente ao Poder
Público. Sem embargo, nessa oportunidade, além de ter sido armazenada em
Fazenda pertencente a um particular, no ato da entrega dos grãos na cidade de
Serrinha, não ocorreu qualquer formalização.

A denúncia foi recebida em 06.06.2018 (ID 171432343).

Citados, o réus apresentaram resposta escrita à acusação (ID


171432345).

Após a instrução processual, com a realização de audiências (ID


421109357, ID 424500506 e ID 433710940), este Juízo deferiu às partes o prazo
sucessivo de 10 (dez) dias para a apresentação de alegações finais.

É o relatório.

II – DO EXAME DAS PROVAS

O processo encontra-se formalmente em ordem, atendendo ao preceito


constitucional do devido processo legal, o que autoriza o exame do mérito da causa.

Da análise dos elementos colhidos nos autos, verifica-se que a


materialidade delitiva encontra-se indubitavelmente comprovada, tendo em vista o
boletim de ocorrência (ID 171432338 - Pág. 4/6), o Termo de Recebimento de
Sementes pelo “Programa Semeando” em nome do acusado HIRAN DOS ANJOS
ALMEIDA (ID 171432338 - Pág. 26), o auto de entrega das sementes apreendidas
(ID 171432338 - Pág. 27), o laudo de exame pericial n.º 2016 15 PC 001271-01 (ID
171432339 - Pág. 8/9) e os depoimentos das testemunhas em sede policial e em juízo.
Por sua vez, a autoria delitiva também resta demonstrada pela prova oral
produzida nos autos, as testemunhas arroladas pela acusação, de modo harmônico e
com coesão, afirmaram, em juízo, como ocorreu a carga e a descarga das sementes
de milho e feijão, oriunda da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado da Bahia
— SDR, que seria destinada à Secretaria de Agricultura de Araci/BA, no âmbito
do “Programa Semeando”.

Nesse sentido, a testemunha CRISÓGNO CONCEIÇÃO CARNEIRO


DOS SANTOS, Coordenador da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e
Extensão Rural - BAHIATER no Território do Sisal à época, relatou o seguinte:

“(...) (O senhor trabalhava em que nessa época?) Eu trabalhava


como coordenador da Bahia Terra, do território do sisal. (E
quais eram as funções exercidas pelo senhor?) Era
coordenador, eu fazia o trabalho de coordenação de 20
municípios do território do sisal. (Nesse trabalho que o senhor
fazia, o senhor tinha por atribuição determinar distribuição de
sementes, de grãos para os municípios da região?) Sim, sim.
(Você trabalhava fisicamente em Serrinha? Era isso?)
Exatamente, correto. (...) (O senhor autorizou a saída desses
grãos da cidade de Serrinha?) Sim, porque esse programa é
da SUAF (Superintendência de Agricultura Familiar), com
participação da Bahia Terra, como a gente está na base aqui
do território, a gente recebia essas sementes, já vinha de lá
a quantidade exata de sementes pra ser distribuída por cada
município, conforme a quantidade de agricultores familiares
que cada município detinha, essa semente já vinha
direcionada para todo município a quantidade. Araci foi,
pegou as sementes de Serrinha, levou as sementes, o
correto é levar para o local do município, para daí fazer essa
distribuição desse programa. (Essas sementes, elas vêm
armazenadas em sacos, é isso?) É, armazenadas em sacos
específicos, da própria empresa que vende através de
licitação para o Estado. (Isso seguia um padrão? Os sacos,
eles eram sacos de 20 quilos, o senhor sabe dizer se existia um
padrão ou os sacos variavam, saco de 50, de 30?) Os sacos lá
são padrões, saco padrão, porque o que chega no saco padrão,
a gente sabe mais ou menos a quantidade exata para cada um
dos municípios, as vezes quando tem um pouco a mais, a gente
coloca, eventualmente, saco com saco, um pouco a mais. (E
sacos são de quantos quilos, você sabe dizer?) Doutor, eu não
me lembro não, não me recordo não, porque cada programa
tinha saco de 20 quilos, as vezes tinha saco de 50, da época
eu não me lembro, não me recordo. (E esses sacos eles viam
padronizados com estampa do programa, não era isso?) Não,
do programa não, da empresa que vendeu, o nome vinha
assim, da empresa que foi fornecedora do produto. (Como é
que esse saco chegava ao destinatário, o beneficiário final, né?
Que eram os agricultores, da zona rural, gente humilde da região
sisaleira. Era nessa embalagem padrão mesmo que já distribuía
aos agricultores?) Normalmente, nessa parte de distribuição,
quem ficava a cargo era o município, através da Secretaria
da Agricultura, pra fazer essa distribuição, porque cada
produtor, ele tinha ali, por exemplo, 3 quilos de milho ou 3
ou 4 quilos de feijão. Então lá eles faziam essa triagem e
distribuíam em sábados específicos, eu já acompanhei a
distribuição nesse ponto. (...) (A distribuição era feita para o
município. O município, ele armazenava, era comum ele
armazenar isso em propriedades particulares ou ele tinha um
setor, um espaço público para armazenamento e distribuição?)
Olha, doutor, normalmente as recomendações as vezes era
para levar para o município, do município fazer essa
distribuição, é tanto que nesses conselhos que existem nos
municípios, fazem parte algumas entidades para fazer esse
acompanhamento, com os sindicatos trabalhadores rurais e
etc. (...) (o senhor não tinha por função fiscalizar a efetiva
entrega dos grãos às famílias beneficiárias, aos agricultores?)
De maneira nenhuma, aí era de cargo da Secretaria da
Agricultura com a comissão que existia no município para
fazer essa distribuição, minha obrigação era distribuir para
os municípios de acordo com a quantidade exata que era
pertinente a cada município. Lá, a fiscalização era feita pela
comissão. (Quem é que definia a quantidade que ia para cada
município, era o senhor?) Não, não. Vinha de lá da SUAF a
quantidade certa, conforme a quantidade de agricultores
que tinha no município. (...) Cada município, de acordo com
a quantidade de agricultores, recebia uma quantidade
diferente e essa quantidade eles davam assim, 5 quilos por
cada produtor, mais ou menos assim, já vem de lá de cima,
eu não tinha autonomia para definir nada. (Como é que o
senhor documentava a distribuição? Como era assinado, o
recebedor dava uma nota de recebimento?) Tinha documentos
sim, ficava um documento com o secretário da agricultura,
ficava um documento de recebimento, e uma na área
interna. (...) (Esses grãos se dirigiam a que município?) Araci.
(Quem foi que o senhor contatou para ir buscar esses grãos?)
Se eu me lembro bem, estava o William, eu não me lembro
se estava o Hiran, mas o William estava, porque o William
era secretário municipal de agricultura de Araci. (O senhor
lembra quem foi buscar, se ele foi pessoalmente, quem foi que
ele mandou?) O William foi. (Além do William, quem mais foi?)
Tinha outras pessoas que eu não recordo o nome. (Houve a
formalização de algum documento de entrega, neste caso em
específico?) Houve sim, tudo que sai da área de distribuição
de sementes tem documentos formalizados. (Você sabe dizer
o porquê desses grãos foram parar numa zona rural, numa
fazenda, fazenda chamada Carrancudo, povoada de Ipoeira,
zona rural do município de Teofilândia? O senhor sabe
esclarecer isso daí?) Não sei, não sei. A partir do momento
que sai do depósito de Serrinha que assina o termo de
compromisso de entrega, aí fica a cargo do município levar
os grãos e fazer essa distribuição. Eu não sei, eu soube
depois, quando fui ouvindo mesmo. (O senhor então tomou
conhecimento que esses grãos foram apreendidos nessa
fazenda, né?) Eu fui ouvido. Eu fui ouvido na delegacia de
Teofilândia na época. (Quando o senhor fez a entrega em
Serrinha lhe falaram que esses grãos iam para Teofilândia, para
essa propriedade rural aí? Essa informação foi passada para o
senhor na entrega?) Não, não, o correto é ir para a Araci, era
do município de Araci, tinha que ir para Araci. Eu não estou
ciente de nada disso. (...) (O senhor já conhecia o Hiran, o Alan,
o William e Adolfo? Que estão sendo acusados aqui nesse
processo?) Olha, Hiran eu conheço, o William eu conheço,
por já ter trabalhado em alguns programas sociais, do
Governo do Estado, e esse Adolfo eu não conheço, não. (...)
Eu não tenho conhecimento de nada desse processo não,
eu sou gestor do território, para distribuição das sementes,
só isso. (...) Porque quando a gente assumiu um cargo
desse, eu entrei 2015 e saí em 2020. Então, a gente tem que
ter contato com o secretário, para fazer esse trabalho, esse
processo de assistência técnica de modo geral. (...).”
Ao seu turno, a testemunha CARLOS OLIVEIRA DA COSTA, Secretário
de Agricultura de Araci à época dos fatos, contou como era o procedimento de carga,
armazenamento e distribuição das sementes. Vejamos:

“(...) (O senhor pegava semente em Serrinha, era isso?) Sim,


foram pegas em Serrinha. (E essa semente, ela chegava em
Araci e ficava armazenada aonde?) Ela chegava de manhã,
quando chegou de noite, nós chegamos de noite, e no outro
dia de manhã, já estava todo mundo lá na secretaria para
receber, cada comunidade, sua quantidade, entendeu?
(Então, essa semente, ela era descarregada aonde? Na
secretaria mesmo?) Na secretaria mesmo. (Tinha um pátio?) É,
tinha um fundo, tipo um armazenzinho, né, no fundo da
secretaria, e aí descarregava ali mesmo, e aí a gente durava
poucos passos, pouco tempo, as comunidades, nós
tínhamos noventa comunidades, cada presidente de sua
associação, da comunidade, vinha e apanhava 30 mil, 60 mil,
o que fosse para levar, entendeu? (...) (Quando chegava, essa
semente demorava mais ou menos quanto tempo na
secretaria?) Não demorava nem cinco dias, não demorava,
porque o povo estava ansioso para receber para plantar. O
período já estava esgotando, entendeu? (Essas sementes,
elas vinham embaladas de que forma, em sacos de quantos
quilos?) Elas eram todas embaladas em pacotes de 20
quilos, aqueles pacotes de papel. (Viam padronizados, é
isso?) É. (...) Era padronizado. Tanto feijão como milho,
todos em pacotes de 20 quilos. (E vocês da secretaria, quando
recebiam essa carga, vocês transferiam as sementes para
pacotes menores ou distribuíam para a população nesse saco
de 20 quilos mesmo?) Como exemplo, na comunidade do
Itapuí, tinha 60 famílias, aí ia X sementes. Entendeu? Só que
o presidente da associação chegava lá junto com o seu
povo, fazia um balanço e pegavam os seus pacotes. (...)
Assinava os estímulos que tinha recebido, né? E carregava.
Todo mundo era dessa forma. (Então o procedimento era
esse. O senhor solicitava, era o secretário que solicitava os
grãos?) É, a secretaria solicitava ao pessoal da secretaria do
Estado, e a secretaria mandava para a secretaria do
município de Serrinha, e aí a gente pegava lá em Serrinha
mesmo. (...) (O que está sendo apurado nesse processo aqui é
um fato que aconteceu em julho de 2016. Em que teria sido
desviado uma carga de cerca de 5.200 quilos de grãos de milho
e de feijão, que foram apreendidos pela polícia na fazenda
Carrancudo, povoado de poeira. O senhor se lembra de como
foi solicitado essa carga de grãos?) (...) Quando eu cheguei na
delegacia lá em Teofilândia, eu perguntei ao pessoal que estava
ali, eu perguntei ao cidadão que estava lá perto no carro. “O
delegado se encontra? Ele disse, não. E o Rubão? Não. Eles
foram, é uma inteligência, lá para o lado de Juazeiro, e só volta
a noite ou amanhã” (...) Ele me fez perguntas se eu tinha
conhecimento de uns cereais que tinham sido desviados de
Serrinha, saiu de Serrinha em nome de Araci, e, tinha ido para a
fazenda de Adolfo, se eu sabia onde era, eu digo, “conheço a
região. Agora, nunca fui na fazenda dele, nunca tive
necessidade, sei onde fica a região, mas nunca fui lá, também
não sei o destino dessa semente” Aí ele voltou e me perguntou,
“você já fez algum carreiro de semente?” Eu digo, já. Com
certeza. Aí eu falei a mesma coisa que peguei duas vezes em
Serrinha (...) A caçamba era destinada para serviços da
secretaria, ou para os agricultores (...) (quem era a pessoa que
o senhor contatava em Serrinha para receber os grãos e as
sementes?) Na verdade, quem era o responsável? Lá tem
várias pessoas, na Serrinha, mas o cabeça lá era o
Crisógono que era ou era o presidente ou era a pessoa
indicada. (O senhor disse aí que quem lhe antecedeu na
Secretaria de Agricultura de Araci foi o William, não é isso? O
William é filho do Adolfo?) Pelo que eu conheço, a trajetória dele.
É filho do Adolfo. (...) (Depois que William saiu da secretaria, ele
fez alguma intermediação pra receber grãos e sementes em
favor de Araci?) Que eu saiba não, eu não tenho conhecimento.
(O senhor conhece Hiran dos Anjos Almeida e Alan dos Anjos
Almeida?) A gente conhece pessoalmente porque eles são do
povo que mexe hoje no município, o conhecimento que eu tenho
de Hiran é que depois de eu ser secretário e me encontrar lá na
secretaria. (...).”
.

Em juízo, foi ouvido também ARAILTON ALMEIDA FARIAS, motorista


que transportou a carga de sementes desviada, que disse o seguinte:

“(...) (O senhor se recorda se dentro do dia 5, 6 de julho de 2016,


o senhor pegou uma carga de grãos em Serrinha?) Me recordo.
(Quem foi que solicitou ao senhor que fosse em Serrinha buscar
essa carga?) Foi Hiran. (Hiran dos Anjos Almeida? Esse Hiran
é filho de Adolfo?) É filho de Adolfo. (Como foi que ele lhe
solicitou? Foi por telefone? Foi pessoalmente? O que ele pediu
especificamente?) Foi por telefone. (E o que é que ele pediu ao
senhor?) Para pegar uma semente em Serrinha (Serrinha e
levar pra onde?) O destino era Araci, porque era a semente
da associação, era para Araci. Agora eu fui lá pegar e ele me
deu o destino lá nessa fazenda. (O senhor foi contratado para
fazer esse serviço? Foi remunerado para fazer esse serviço?)
Foi, pela Prefeitura (Quanto foi que o senhor recebeu?) 400
reais. (Chegando em Serrinha, o senhor procurou quem? Quem
foi que lhe entregou esse material?) Quando eu cheguei em
Serrinha eu encontrei eles lá em Serrinha. (Ele quem?) Hiran,
o William e Adolfo. (Como é o seu caminhão? Seu caminhão é
um caminhão baú, fechado, como é?) É um caminhão truque,
1620. (...) (Você lembra mais ou menos o horário que você
chegou em Serrinha?) Aí eu não lembro não o horário. (E aí o
senhor carregou ali, e aí seguiu o rumo?) Eu peguei eles,
escoltaram, eu segui eles. (Eles estavam de carro, no mesmo
carro?) Estavam em outro carro, estavam em um carro que
eles foram pra lá. (Só que o senhor não chegou a Araci, foi isso
que o senhor falou. Então, foi pra onde?) Parou no barreiro.
(Onde é o Barreiro?) É em Teofilândia. (Parou no barreiro e fez
o que?) Aguardei chegar Adolfo para levar para a Fazenda.
(Quem parecia, para o senhor, ser o proprietário daquela
fazenda?) O dono, eu acho que era a herança de Adolfo, a
conversa, agora eu não sei não. (Quem conduziu o senhor até
essa fazenda aí? Foi quem?) Foi Adolfo. (...) (o Adolfo, o Hiran
e o William também foram pra essa fazenda?) Foram não, não
foram não. (Então quem conduziu o senhor foi quem?) Foi
Adolfo. (Chegando lá, o que foi feito com a carga?) Foi
descarregada. (E essa carga, ela foi deixada aonde? No chão?
Foi alguma galpão?) Foi na casa de morada da fazenda. (O
senhor chegou a perguntar o porquê a carga estava indo para
aquela fazenda e não para Araci?) Eu não perguntei nada, eu
estava sozinho, não perguntei nada não. (O senhor perguntou
também qual seria a destinação?) A destinação eu sabia que
era a Secretaria, mas eu estava sendo escoltado, estava
atrasado para distribuir as sementes para os agricultores.
(Quem lhe falou que estava atrasado, quem lhe passou essa
informação que estava atrasado, foi quem?) Não, atrasado que
eu falo é o plantio do ano, o crescimento é o plantio (...) (O
senhor se lembra quem era, nessa época, o secretário municipal
de agricultura de Araci?) Não sei não. (O senhor conhecia o
senhor Carlos Oliveira da Costa?) Não. (O senhor em algum
momento tratou com esse Carlos?) Como disse, não conheço.
(Depois que descarregou a carga, o senhor foi pra onde?) Eu
vim para Araci. (O senhor sabe dizer se a carga foi
completamente descarregada, ou seja, tirou o tudo que tinha ali
no seu caminhão?) Tirou tudo. (O pagamento, ele foi feito de
que forma? Foi feito em espécie?) O pagamento é uma nota
fiscal para a Prefeitura, para a gente poder receber. (Uma
nota fiscal para a prefeitura para receber? E o senhor recebeu
quando esse pagamento? Aliás, o senhor recebeu
efetivamente?) Não, demorou um dia. (E como foi esse
pagamento? Foi em espécie? Foi em transparência bancária?)
Foi em espécie, ele recebeu o dinheiro lá e me deram. (Quem
foi que te deu esse dinheiro?) Foi o Hiran. (Ele ocupava alguma
função pública na Prefeitura de Araci?) Eu não sei informar.
(Não sabe dizer. Mas o senhor recebeu uma espécie, não é
isso? O senhor já tinha feito algum outro transporte de carga? a
pedido de alguns dos acusados aqui, do Adolfo?) Não, de carga
só essa daí que eu fiz, de carga só foi essa (De grãos, né?
Foi a primeira e única vez que o senhor fez?) Foi. (O senhor se
recorda como esses grãos, essas sementes estavam
acondicionadas, estavam em embalagens? Como era essa
embalagem que estava ocupando esses grãos?) Era de saco
de papel. (O senhor se recorda de quantos quilos, mais ou
menos?) Eu acho que era 20 quilos cada embalagem. (O
senhor viu, se houve nessa fazenda aí, onde o senhor deixou a
carga, a transferência dessa embalagem de papelão de 20kg
para alguma outra embalagem, o senhor viu isso?) Não, eu não
vi isso, não. (O senhor se recorda quem foi que fez o
descarregamento desses sacos aí de 20kg na fazenda?) Foram
os caras que trabalham batendo sisal, que trabalham na
fazenda. (Eram funcionários do Adolfo?) Eu não sei não. (Eram
trabalhadores daquela fazenda?) É, da fazenda. (O senhor já
tinha ido nessa fazenda anteriormente?) Não, foi a primeira
vez. (O senhor foi solicitado um outro dia para pegar novamente
essa mesma carga na fazenda?) Não, eu fui pegar novamente a
mesma carga, eu fui buscar depois (...) A carga que eu
descarreguei, eles me chamaram pra pegar novamente com
algum agente policial, para pegar novamente a saca lá de novo
na fazenda. (Isso foi no dia seguinte? Quanto tempo foi depois?)
Foi logo depois, eu deixei lá, no dia seguinte eles mandaram.
(Qual foi o destino dessa carga? Você disse que pegou aí e levou
pra onde?) Aí eu levei pra Coité, Conceição do Coité (...)”.

Foram ouvidos, em juízo, os trabalhadores rurais que ajudaram a


descarregara a carga de sementes na Fazenda Carrancudo. Vejamos os seguintes
trechos:

“(...) qual era a função que o senhor exercia?) A função é que a


gente trabalha na roça assim, botando palha trabalhando
com sisal mesmo, botando palha no motor. (Qual era a
fazenda que você trabalhava especificamente?) Fazenda
Carrancudo. (Nesse mês de julho do ano 2016, o senhor lembra
de ter chegado uma carga com grãos ou sementes Feijão e
milho?) Lembro, feijão e milho. (Essa carga chegou como?)
Chegou, quando nós vínhamos do serviço, umas 5 horas da
tarde, aí o seu Adolfo chegou lá perguntando para a gente
se a gente queria descarregar a carga pra ganhar um
dinheiro, aí nós saímos de Barrocas pra lá, pra fazenda lá
que é muito distante, nós estávamos pra ganhar dinheiro lá,
que trabalho de roça é assim, né? Aí ele ofereceu o dinheiro,
nós fomos e descarregamos, isso foi na terça-feira. (...) Que
as polícias chegaram na quarta-feira; que nós
descarregamos a carga na terça. Na quarta, as polícias
chegaram lá. Aí deu isso aí, esse resultado. (O senhor se
recorda quanto foi pago ao senhor para fazer esse serviço aí de
descarregar?) Ele ofereceu 50 reais. (A carga chegou em um
caminhão, foi isso?) Foi. (E vocês colocaram a carga em que
lugar da propriedade?) Foi na fazenda, em todo lugar, quartos,
na sala, no que tinha lugar nós descarregamos. (Você lembra
como essa carga ela estava acondicionada, ela estava dentro de
que?) Ela estava em um saco de uns pacotinhos, acho que
era de 20 quilos. (Era de náilon, era de papelão, esse saco era
de que?) Eu sei que era um saco de 20 quilos, agora não sei a
espessura de que era, se era de papelão. (Você lembra se essa
embalagem aí, ela tinha algum emblema de alguma empresa?
Tinha alguma imagem?) Não, eu não lembro não, eu sou meio
fraco de leitura, não lembro. (Você lembra se vocês trocaram
a embalagem, colocaram, tiraram dessa embalagem aí que o
senhor disse que era de 20 quilos para uma outra?) Foi assim,
nós descarregamos ela na terça-feira, quando foi na quarta-
feira, de meio dia em diante, que a polícia chegou lá, já
estava em outro saco, era no saco de linhagem, daquele de
80 litros. (E o senhor participou dessa transferência das
sementes? O senhor fez?) Não. O que eu só fizemos foi
carregar o caminhão de novo. Já em outro saco, nem outra
embalagem. (O senhor conhece o Hiran? Hiran dos Anjos
Almeida?) Não (Alan dos Anjos Almeida, o senhor conhece?)
Não, também não. (William dos Anjos Almeida o senhor
conhece?) Não, não, nunca vi na vida. Estou vendo aqui
agora. (O senhor já tinha feito algum outro serviço igual a esse
que o senhor fez de descarregar caminhão nessa fazenda aí a
pedido do Adolfo?) Não, foi a primeira vez. (Foi a primeira e
única vez?) Foi, isso aí. (O senhor chegou a perguntar o porquê
daqueles grãos estarem sendo descarregados ali? O senhor
chegou a perguntar pra Adolfo?) Não, porque a fazenda era
dele, eu também não entendia, né? Porque o senhor dessa
idade aí, ele é bem de vida, tem condições, né? A vez era
dele, tinha que ter comprado. (O senhor perguntou também
que destino, qual a destinação ia ser dada aquele produto ali?)
Então, também não, nós estávamos em trabalho, ele só chegou
e pediu para nós descarregarmos, nós pegamos e
descarregamos a carga. (...).” (LEANDRO DA CRUZ COSTA).

“(...) (Especificamente no mês de julho do ano de 2016. Onde é


que o senhor trabalhava nessa época que eu citei?) Nessa
época eu estava trabalhando no motor de sisal na fazenda
de seu Adolfo. (Essa fazenda era localizada aonde? Qual era o
nome dessa fazenda?) Fazenda Carrancudo. (E ela fica onde?)
Fica no Povoado da Ipoeira, de Araci. (Araci? Pertence a
Araci, esse povoado?) Eu acho que sim. (O que é que você
fazia nesse trabalho?) Eu batia a palha de sisal no motor. (O
senhor se lembra se no mês de julho de 2016 chegou o
carregamento lá nessa fazenda de grãos, de sementes?) Sim.
(O senhor chegou a trabalhar, ajudar a descarregar essas
sementes, esses grãos?) Ofereceram um dinheiro pra
descarregar, e, eu fui ajudar. (Quem lhe ofereceu?) Seu
Adolfo. (Quanto foi oferecido ao senhor?) Se não me engano,
parece que foi R$100 (cem reais) para eu e mais três irmãos
meus. (E aí os senhores descarregaram essa carga aí, e
colocaram a carga onde? Em que lugar da fazenda?) Lá dentro
mesmo da fazenda, dentro da sede. (O senhor se lembra a
embalagem que esses grãos estavam acondicionados?) Eu
lembro assim, que eram uns sacos médios assim, uns sacos
de papel. (Eram sacos todos padrão, era padronizado, tudo
igual? Os sacos?) Sim. (O senhor sabe dizer se houve a troca
dos sacos? Vocês trocaram desse saco onde o grão veio pra um
outro saco?) Não, desse aí eu não estava. (A função do senhor
foi só descarregar o caminhão, foi isso?) Foi só descarregar e
depois carregar de novo. (O senhor já tinha feito esse serviço
anteriormente nessa fazenda aí, a pedido do Adolfo?) Não. (Foi
a primeira vez?) Foi a primeira vez. (Foi a única vez também?)
Isso, a única vez. (O senhor sabe dizer o porquê daqueles
grãos, desses sacos aí, terem chegado nessa fazenda?) Não
sei informar de jeito nenhum. (Sabe dizer o destino desses
grãos? Se eles ficariam na fazenda, seriam distribuídos para
alguém, sabe dizer?) Não, também não, não sei. (...).”
(EDILENO DA CRUZ COSTA).

“(...) (No ano de 2016, especificamente em julho, o senhor


trabalhava com o quê e para quem?) Eu estava trabalhando no
motor nesse dia. (O senhor trabalhava para quem?)
Trabalhava com o meu pai mesmo, com o motor dele. (O
senhor se lembra onde o senhor trabalhava, em que lugar era?)
Na fazenda Carrancudo. (Essa fazenda, ela é de quem? De
propriedade de quem?) Não sei quem é não, o dono não
conheço não. (E nessa fazenda aí que o senhor trabalhava, o
senhor fazia que tipo de trabalho? Qual era a função? O que é
que o senhor fazia especificamente?) Eu estendia só o sisal.
(O senhor se lembra, se em julho deste ano aí de 2016, chegou
um caminhão com grãos, com sementes, nessa fazenda?)
Rapaz, quando eu vi já estava na fazenda, eu não vi nem
quem foi que levou, eu cheguei lá e só vi o carro parado. (E
você sabe dizer se descarregaram os sacos, os sacos lá na
fazenda que esse caminhão transportava?) Não sei. (O senhor
sabe se descarregaram alguma coisa desse caminhão na
fazenda?) Rapaz, nós descarregamos o caminhão e
deixamos lá na fazenda o milho. (O senhor pegou o caminhão
lá e deixou na fazenda de milho. O que é que o caminhão
transportava? O que é que o caminhão trazia?) Milho e feijão.
(E esse milho e feijão, eles estavam acondicionados em quê?
Que tipo de embalagem era? O senhor sabe dizer?) Estavam
nos sacos de 20 quilos, umas embalagens de 20 quilos.
(Eram as embalagens padronizadas, eram todas iguais, era?)
Era. (O senhor sabe dizer se houve uma transferência dessa
embalagem, desses grãos que estavam nessa embalagem de
20 quilos aí, para alguma outra?) Tirou e botou em daqueles
mais grandes, de 80 litros. (Quem é que foi que determinou?
Aliás, o senhor participou desse descarregamento aí?)
Participei. (Quem foi que pediu ou mandou o senhor fazer esse
serviço?) O dono. (Quem era o dono?) Rapaz, esqueci o nome
dele, era um senhor, não sei o nome dele não, esqueci.
(Quem foi que trabalhou descarregando, além de você?) Foi eu
e três irmãos meus. (...) (Quando os senhores descarregaram,
colocaram esses sacos em que lugar da fazenda?) Na sala da
fazenda. (O senhor já tinha feito esse trabalho antes?) Eu não.
(Foi a única vez que o senhor fez?) Foi. (O senhor sabe dizer o
porquê, qual era o motivo de estar entregando aqueles grãos ali
na fazenda?) Não. (O senhor sabe dizer qual o destino que teria
dado a esses grãos?) Não. (O senhor sabe dizer quem conduzia
o caminhão quando o caminhão chegou?) Não, porque quando
eu cheguei, já estava parado lá, eu não sei quem foi que
estava lá não. (O senhor conhece Adolfo Cordeiro de Almeida?)
Não. (William dos Anjos Almeida, conhece?) Não. (Alan dos
Anjos Almeida, conhece?) Não. (Hiran dos Anjos Almeida?)
Conheço, não. (Quem era o seu empregador nessa época aí?
Quem era o seu patrão?) Trabalhava com o meu pai. (Como é
o nome do seu pai?) É Paulo. (Seu pai também trabalhava
nessa fazenda?) Não, ele só levava o motor lá e largava lá pra
nós trabalharmos. (O seu pai não estava?) Não. (Seu pai tinha
um patrão? Tinha um empregador?) Não. (O senhor sabe dizer
que tipo de semente, que tipo de grão tinha nesses sacos?)
Tinha milho e feijão dentro. (...).” (GEAN DA CRUZ COSTA).

ELIZEU OLIVEIRA DA SILVA, investigador da Polícia Civil, por seu turno,


relatou como se deu a apreensão da carga apropriada pelos acusados:

“(...)Meu colega, Robenilson, ele recebeu uma denúncia que


havia uns produtos na fazenda Carrancudo, que pertence ao
senhor Adolfo, aí ele me contatou, a gente foi para lá,
comunicou o delegado, foi para lá, e, constatamos que havia
uma descarga de milho e feijão com, acho que, uns quatro
funcionários, e aí nós identificamos um dos funcionários
que era, eu acho que era filho de Adolfo, que era Alan, que
confirmou para a gente que Adolfo que teria pedido para
eles descarregarem aquele caminhão. (O senhor se lembra
onde a carga estava armazenada?) A gente encontrou a carga
na fazenda, em frente a uma residência, essa carga estava
sendo descarregada para essa residência, uma casa que
tinha em frente ao caminhão. (Você lembra como essa carga
estava acondicionada? Como era a embalagem?) Acho que
eram embalagens de papelão que estavam sendo
descarregadas e colocadas, enfim, nesses sacos de
plástico, ou de linho. (...) (Quando vocês indagaram Alan e aos
funcionários, o que foi que eles disseram?) Ele falou que a carga
estava sendo descarregada a mando de seu Adolfo, que era
proprietário. (Mas o porquê da carga estar sendo descarregada
ali naquele lugar, e qual seria o destino dessa carga, eles
chegaram a afirmar para o senhor?) Que eu lembre não,
doutor. (E aí vocês fizeram o que? Fizeram a apreensão
daquela carga?) Fizemos a apreensão, o doutor solicitou a
perícia, os peritos fizeram no local a perícia, e o pessoal foi
encaminhado para a delegacia de Araci, que acho que era
mais próxima e eles foram presos lá. (Mas essa propriedade
aí que o senhor citou, fazenda, como é o nome?) Carrancudo.
(Ela fica na zona rural de qual município?) Teofilândia. (O
senhor tomou conhecimento com o evoluir das investigações,
qual seria a destinação dessa carga?) Não, não, doutor. (E a
origem dela, de onde ela tinha vindo, o senhor tomou
conhecimento também?) A gente teve uma informação que
havia um registro de ocorrência em Serrinha, de um furto de
carga, mas eu não sei posteriormente se tinha uma relação
dessa carga com esse produto que foi encontrado lá,
porque a denúncia foi recebida por meu colega, então, ele
teria mais informações que eu. (Em relação ao caminhão, o
senhor já disse que tinha um caminhão aí descarregando. O
senhor lembra se esse caminhão tinha algum emblema de
alguma prefeitura municipal? Se era algum caminhão a serviço
de algum município daqui da região? O senhor se lembra disso?)
Não lembro não, doutor. (A propriedade daquele caminhão,
vocês chegaram a averiguar a quem pertencia aquele veículo?)
Não que eu me lembre, eu só sei que tinha um outro carro
menor, mas eu acho que não tinha muita relação não, eu
acho que esse carro era do senhor Adolfo, era uma Strada.
(Quando o senhor chegou, esse senhor Adolfo? Ele estava no
lugar, no local?) Não, o senhor Adolfo ele esteve, acho que na
noite anterior à descarga, ele esteve lá na propriedade,
segundo a gente soube, mas no dia ele não estava lá dentro.
(O senhor conhece os outros acusados do processo aqui? Juan,
Alan, o Hiran e o William?) Não, conhecer assim pessoalmente,
não, sei assim que o Hiran, se não me engano, é filho de seu
Adolfo, mas que eu conheça assim, não. (Mas o senhor não
encontrou nenhum desses dois, o William e o Hiran, no local, na
fazenda? Também não?) Não. (O senhor se recorda, se nesse
saco tinha algum emblema, se eram embalagens padronizadas,
e se tinha algum emblema de alguma empresa, algum símbolo?)
Porque tem muito tempo, eu não sei lhe dizer, mas eu acho
que tinha emblema Coteba, alguma coisa assim. (Essa carga,
ela estava toda armazenada nessas embalagens? O senhor
sabe dizer se houve transferência do produto para alguma outra
embalagem?) Eu informei antes, elas estavam em uma
embalagem de papelão, papel, e estavam sendo transferidas
para embalagens de linho, esse material de linho, esses
sacos, acho que de 60 quilos. (E a razão de ser feita essa
transferência aí, o senhor indagou ali das pessoas? Por que
estavam transferindo?) Ó, doutor, que eu lembro, eu não
indaguei, não, porque até doutor estava também, eu acho
que ficou a cargo do delegado. E a gente estava
monitorando o pessoal também para saber quem era quem,
né? Eu e o colega. (O senhor sabe dizer se essa carga, ela
tinha destinação a alguma secretaria municipal de algum
município aqui do Estado da Bahia?) Pela informação que a
gente tinha, essa carga seria para a secretaria de Araci, e,
se não me engano, um dos meninos, Hiran ou William, era o
secretário na época, só não lembro qual. (Secretário de Araci,
municipal de alguma pasta de Araci, é isso?) Sim, da
agricultura. (...) (Essa fazenda, ela distava mais ou menos
quantos quilômetros ou metros da via principal, da rodovia
principal?). A BR é um pouco distante, ela, na realidade, fica
entre o povoado de Teofilândia e Araci, um povoado
chamado de Poeira, e a cidade de Araci. Então, fica em uma
zona rural um pouco distante. (Os senhores, então, foram para
lá, porque o senhor disse aí que tinha recebido uma informação,
foi isso?) Foi, meu colega recebeu uma denúncia, e aí passou
para a gente, e, a gente foi. (Então, os senhores foram com
propósito de averiguar essa informação, foi isso?) Sim, sim.
(...).”

Cabe registrar que é pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça no sentido de que “os depoimentos prestados por policiais têm valor probante,
na medida em que seus atos são revestidos de fé pública, sobretudo quando se
mostram coerentes e compatíveis com os demais elementos de prova dos autos, e
ausentes quaisquer indícios de motivos pessoais para a incriminação injustificada do
investigado” (AgRg no AREsp 1997048/ES, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 15/02/2022, DJe 21/02/2022).
O réu HIRAN DOS ANJOS ALMEIDA, em seu interrogatório judicial,
negou a prática delitiva, sustentando que:

“(...) no dia 05 de julho, por volta das 14 horas recebeu a ligação


do senhor Crisógno dizendo que tinha sementes de milho e de
feijão lá em Serrinha, no depósito deles na BAHIATER, e que
pediu que fizesse isso com urgência, porque estava havendo
furtos lá na secretaria deles, lá em Serrinha, no depósito deles,
e, também o depósito deles era um pouco debilitado, porque
tinha partes abertas, e como era um período chuvoso, estava
molhando também essas sementes (...) a Secretaria não tinha
depósito. Eu pedi a meu pai uma orientação, e aí a gente
combinou de levar as sementes lá para a propriedade
Carrancudo, mas sempre no intuito que ela retornaria dois dias
depois (...) No dia 7, por volta das 11 horas da manhã, nós
estávamos todos reunidos, presidente de associação,
secretários, lá na antiga Secretaria de Educação, nós íamos
começar a tratar sobre a questão das distribuições dessas
sementes, foi aí que eu recebi uma ligação do policial
Robenilson pedindo que eu fosse até a delegacia (...).”

Por seu turno, o acusado ADOLFO CORDEIRO DE ALMEIDA, em seu


interrogatório judicial, afirmou que a carga de sementes foi levada em um caminhão
para sua propriedade.

Interrogado perante o Juízo, o réu WILLIAM DOS ANJOS ALMEIDA


negou a prática delitiva, alegando que ajudou seu irmão HIRAN DOS ANJOS
ALMEIDA, o qual pediu informações como chegar ao local de retirada das sementes,
pois o mesmo era novo nessa função. Salientou, ainda, que não tratou da questão da
carga com os senhores Carlos e Crisógno, pois não atuava mais como secretário.
Por fim, o denunciado ALAN DOS ANJOS ALMEIDA também negou a
prática delitiva, asseverando que não esteve na Fazenda Carrancudo no dia 5 de julho
de 2016, bem como não descarregou o caminhão de sementes.

Como se percebe, as versões apresentadas pelos acusados estão em


dissonância com as provas carreadas aos autos, que, na verdade, encontram-se em
harmonia com os depoimentos das testemunhas arroladas pela acusação.

No mais, cabe ressaltar que não parece crível a alegação do


denunciado HIRAN DOS ANJOS ALMEIDA de que iria apenas “guardar” as
sementes na propriedade do acusado ADOLFO CORDEIRO DE ALMEIDA para,
posteriormente, “distribuir” aos produtores rurais do Município de Araci/BA.
Afinal, a carga de sementes deveria ter sido entregue e armazenada no depósito
da Prefeitura Municipal de Araci/BA, sob a responsabilidade do então Secretário
da Agricultura, o Sr. CARLOS OLIVEIRA DA COSTA, o que não foi feito.

Outrossim, é certo que o fato de alterar as embalagens das sementes,


sem motivo, demonstra o dolo dos acusados, pois as mencionadas embalagens
estavam em boas condições de conservação, conforme depreende-se do laudo de
exame pericial de ID 171432339 - Pág. 8/9:
Frise-se que a consumação do delito de peculato-apropriação (art. 312,
caput, 1.ª parte, do Código Penal) ocorre no momento da inversão da posse do objeto
material por parte do funcionário públicoi, sendo que a elementar do mencionado
crime se comunica aos coautores e partícipes estranhos ao serviço públicoii.

Dessa maneira, conclui-se que o conjunto probatório existente no feito


não deixa dúvidas acerca da caracterização do delito descrito na inicial acusatória e
em relação à autoria dos acusados, razão pela qual devem ser condenados nas penas
do crime tipificado no art. 312, caput, do Código Penal.

III- DA LEGALIDADE DO FLAGRANTE

Numa época em que se criam nulidades processuais para absolver


criminosos, insta frisar ainda que a Constituição Federal de 1988 autoriza a entrada
dos agentes de segurança pública quando há flagrante de crime no interior da
residência:

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo


penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
o dia, por determinação judicial;

Ademais, o conceito de flagrante é trazido pelo art. 302, do CPP:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou


por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos


ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em
flagrante delito enquanto não cessar a permanência.

No caso dos autos, os policiais civis após receberem a denúncia anônima acerca do
cometimento do crime, dirigiram-se à fazenda e lá perceberam sua veracidade, logo
após a consumação do delitoiii, que se deu com a inversão da posse, desviando para
a fazenda e passando a agir como se donos fossem das sementes, trocando os sacos
para mascarar o real proprietário. Assim, a entrada dos policiais na fazenda foi legal,
nos termos do dispositivo constitucional citado, já que encontrados com os produtos
do crime.

IV- Da dosimetria

O Ministério Público pugna ainda pela majoração da pena tendo em vista a grande
quantidade de semestre subtraída pelos denunciados; os prejuízos causados aos
produtores rurais de Araci, e diga-se, pequenos agricultores que dependiam dessas
sementes para a própria subsistência; o modus operandi dos réus que ao trocarem de
sacos as sementes buscaram mascarar e dificultar a origem e destino dos produtos
agrícolas; bem como considerar na dosimetria da pena os cargos ocupados pelos
autores do fato, conforme o Superior Tribunal de Justiça:

A prática de crime contra a Administração Pública por ocupantes


de cargos de elevada responsabilidade ou por membros de
Poder justifica a majoração da pena-baseiv

V – DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA


pugna pela procedência total da denúncia, requerendo que o denunciado HIRAN
DOS ANJOS ALMEIDA seja condenado nas penas do art. 312, caput, c/c 327, §2º,
do Código Penal, e, que os denunciados ALAN DOS ANJOS ALMEIDA, WILLIAM
DOS ANJOS ALMEIDA e ADOLFO CORDEIRO DE ALMEIDA sejam
condenados nas penas do art. 312, caput, c/c arts. 29 e 30, do Código Penal.

De Serrinha para Teofilândia/BA, 11 de março de 2024.

TARCÍSIO LOGRADO DE ALMEIDA

Promotor de Justiça em substituição

i
ACÓRDÃOS do STJ: 1) AgRg no AREsp 531930/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, Julgado em 03/02/2015,DJE 13/02/2015; 2) HC 185343/PA, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, Julgado em 15/10/2013,DJE 26/11/2013; 3) HC
101211/RJ, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG),
SEXTA TURMA, Julgado em 16/09/2008,DJE 20/10/2008; 4) RHC 012540/SE, Rel.
Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, Julgado em 18/02/2003,DJ 22/04/2003; 5) REsp
297569/RJ, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/SP), Julgado em 14/12/2010,DJE 09/03/2011

ii
ACÓRDÃOS do STJ: 1) AgRg no REsp 1459388/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, Julgado em 17/12/2015,DJE 02/02/2016; 2) AgRg no
REsp 1262099/RR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, Julgado em
18/03/2014,DJE 28/03/2014; 3) APn 000536/BA, Rel. Ministra ELIANA CALMON, CORTE
ESPECIAL, Julgado em 15/03/2013,DJE 04/04/2013; 4) HC 201273/RJ, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, Julgado em 28/06/2011,DJE
01/08/2011; 5) REsp 819168/PE, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, Julgado
em 12/12/2006,DJ 05/02/2007

A consumação do crime de peculato-desvio (art. 312, caput, 2ª parte, do CP) ocorre no


iii

momento em que o funcionário efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro bem móvel,
em proveito próprio ou de terceiro, ainda que não obtenha a vantagem indevida. Disponível
em https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp?livre=@docn=000004715;
iv
https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp?livre=@docn=000004715, acesso em 15.3.2024

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