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NO ENSINO
MÉDIO: PRÁTICA
DOCENTE
Práticas corporais
no ensino médio
Beatriz Paulo Biedrzycki
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Última etapa da educação básica, o ensino médio tem preceitos e intencionali-
dade diferentes dos das demais etapas de ensino. Hoje em dia, diferentemente
da abordagem que havia em tempos passados, o ensino da educação física
no ensino médio compreende as práticas corporais como ferramentas de
linguagem e expressão, devendo, desse modo, proporcionar aos estudantes
reflexões e fomentar questionamentos.
Neste capítulo, apresentaremos as propostas dos documentos norteadores
para o ensino de educação física no ensino médio, de modo que você possa
compreender quais são os objetivos desse componente curricular e, a partir
disso, propiciar aos estudantes um desenvolvimento significativo de suas
competências. Para tanto, estabeleceremos relações entre a cultura corporal
do movimento e a cultura popular, dois conceitos fundamentais para pensar
a educação física escolar nos dias de hoje. Por fim, descreveremos algumas
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Parâmetros Curriculares
Base Nacional Comum Curricular (2017)
Nacionais (2000)
(Continuação)
Parâmetros Curriculares
Base Nacional Comum Curricular (2017)
Nacionais (2000)
Note que, ainda que existam algumas diferenças entre eles, ambos os
documentos colocam em evidência as práticas corporais, a abordagem cultural
e as discussões sobre o corpo e suas diferentes formas de expressão. Sendo
assim, podemos constatar que tanto a BNCC quanto os PCNs negam a abor-
dagem tecnicista do ensino de educação física, que visa ao aperfeiçoamento
de gestos esportivos.
Essa opção se deve à maior autonomia e à capacidade mais desenvolvida
de abstração e reflexão sobre o mundo que os estudantes do ensino médio
têm, o que amplia as suas chances de participar de produções culturais,
científicas e sociais. Tais produções podem se manifestar das mais diferen-
tes formas, como, por exemplo, em vídeos, músicas, danças, manifestações
diversas da cultura corporal, moda, exposições nas mídias sociais, debates,
apresentações, etc., de modo a explorar as diversas maneiras de construir
conhecimento significativo (BRASIL, 2017). Nesse sentido, isto é, visando à
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assim, ela abre espaço para muitas discussões, uma vez que traz à tona as-
suntos como a escravidão, o preconceito e a intolerância religiosa. Como se
trata de temas complexos e delicados, a profundidade com que cada um deles
vai ser abordado deverá estar de acordo com o ciclo escolar do estudante.
Danças
Marques (2013) aponta que as danças devem ser um meio de superação de
limites físicos e sociais. Aliando a essa prática os aspectos culturais e regionais
específicos de cada ritmo, é possível vivenciar diferentes estilos, recriar core-
ografias e, até mesmo, estimular a expressão livre dos movimentos durante as
aulas de educação física. Podem ser abordadas danças folclóricas, danças de
salão, dança de rua, danças circulares, etc. — enfim, o que o professor achar
pertinente e for do interesse da turma. Para essa escolha, o professor deve
estar consciente de que não existe um ritmo certo, mais adequado ou melhor
que os outros. Todos eles são igualmente aceitos nas aulas de educação física
para a construção de conhecimentos sobre as suas origens, o papel do corpo
e o papel social da dança.
Práticas corporais no ensino médio 11
A dança de rua, por exemplo, pode ser uma proposta interessante. Levando-
-se em consideração os elementos que com ela se relacionam (p. ex.: vestuário,
música e grafite), é possível analisar em aula a história dessa dança, a sua
evolução, as eventuais mudanças em seus princípios e valores, a relação
das pessoas com ela, entre outros aspectos. Em um segundo momento,
os estudantes podem se organizar em grupos para pesquisar informações
sobre cada um dos estilos de dança de rua existentes e, posteriormente,
apresentar os seus achados para a turma, lançando mão de vídeos e fotos
que ilustrem as características de cada ritmo. Para enriquecer o debate,
o professor pode fazer perguntas aos estudantes: de que ritmos mais gosta-
ram? Quais são os ritmos mais presentes na mídia? Por quê? Após as exposi-
ções e as conversas, pode-se partir para a elaboração de um produto final.
Os estudantes podem, por exemplo, gravar um videoclipe mostrando movi-
mentos dos estilos de dança de rua que apresentaram, criar paródias, fazer
colagens, editar vídeos abordando algum tema social que eles considerem
importante, etc. (COLOMBERO, 2011).
Esportes
Como mencionamos, a abordagem dos esportes nas aulas de educação física
não deve seguir a tradição esportivista e tecnicista. Por outro lado, como
bem aponta Marques (2013), essa abordagem também não deve se limitar a
proporcionar aos estudantes momentos de lazer despreocupado. Com essas
restrições, é possível pensar que atualmente os esportes não têm lugar nas
aulas de educação física; mas isso não é verdadeiro, conforme pudemos
compreender até aqui. Os esportes devem ter, sim, o seu espaço nas aulas de
educação física, contanto que sejam abordados considerando-se os elementos
sociais, históricos e culturais que estão atrelados a eles.
Os esportes possibilitam ao professor desenvolver aspectos relacionados
à aptidão física. Por exemplo, em grupos, os estudantes podem pesquisar
quais são as valências físicas mais exigidas para determinado esporte e,
ao praticar certas modalidades, mostrar aos colegas como cada uma dessas
valências se apresenta. A partir disso, podem-se discutir as semelhanças e
as diferenças existentes entre as diferentes modalidades no que diz respeito
tanto aos aspectos relativos à aptidão física quanto a questões relacionadas
às diferenças de treinamento, público e incentivos, por exemplo.
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Lutas
As lutas são manifestações humanas que trazem consigo muita história e
representam valores culturais de povos que as criaram e/ou praticaram.
Sendo assim, analisá-las é uma forma de compreender o funcionamento
de sociedades. As aulas de educação física podem contemplar as lutas, por
exemplo, desenvolvendo jogos de oposição, organizando visitas a academias
de diferentes modalidades de lutas e propondo pesquisas sobre essas mo-
dalidades por meio de análises de vídeos e filmes (MARQUES, 2013).
Os filmes de ação podem suscitar diversas discussões. Por exemplo,
a partir de uma determinada cena, os estudantes podem avaliar se o que
está sendo mostrado é uma luta ou uma briga, refletindo sobre os pontos
que as diferenciam. Também se pode propor aos alunos que, analisando
os movimentos dos personagens, tentem reconhecer a modalidade de luta
que está sendo apresentada. Para além disso, pode ser objeto de debate
o fato de os filmes de ação serem bastante populares e rentáveis. Enfim,
é possível analisar essas obras de inúmeras formas, não sendo necessário
que a atividade se restrinja a apenas um encontro. O professor pode elaborar
uma sequência de aulas em que, por exemplo, os alunos pesquisam acerca
de uma determinada modalidade de luta, visitam uma academia, debatem as
informações obtidas e as suas impressões, gravam um vídeo para divulgar os
conhecimentos construídos, assistem a um filme e, a partir da análise dele,
escrevem um artigo.
Importa salientar que as atividades podem ter caráter interdisciplinar.
Nesse sentido, o caso da capoeira é exemplar. Como já expusemos, ela é
uma luta que dialoga estreitamente com a história brasileira, em particular
no que se refere ao longo período de escravidão e às marcas deixadas por
ela em nossa sociedade. Sendo assim, uma maneira de abordar essa luta com
maior profundidade é organizar aulas em conjunto com outros componentes
curriculares, como literatura, arte, sociologia e história, por exemplo.
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Referências
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
ano 134, n. 248, seção 1, p. 27833–27841, 23 dez. 1996. Disponível em: https://pesquisa.
in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=1&data=23/12/1996&tot
alArquivos=289. Acesso em: 28 fev. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília, DF: Ministério
da Educação, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/
BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 28 fev. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: educação física.
Brasília, DF: MEC, 1998. Disponível em: https://cptstatic.s3.amazonaws.com/pdf/cpt/
pcn/volume-08-educacao-fisica.pdf. Acesso em: 28 fev. 2021.
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Leituras recomendadas
BENEDETTI, A. P. Educação física no ensino médio: um estudo de caso numa escola
técnica. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, 2008. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/
arquivos/File/2010/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/dissertacao/Educacao-Fisica-
-no-ensino-medio.pdf. Acesso em: 28 fev. 2021.
RODA de Capoeira. Brasília, DF: IPHAN, [2014]. Disponível em: http://portal.iphan.gov.
br/pagina/detalhes/66. Acesso em: 28 fev. 2021.