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ORÇAMENTÁRIA
CAPÍTULO 3 - ORÇAMENTO
EMPRESARIAL: PREVISÃO, PROJEÇÃO
OU “FUTUROLOGIA”?
Ciro Gustavo Bragança
INICIAR
Introdução
Você já parou para refletir se o orçamento empresarial é elaborado com previsões?
Ou trata-se de projeções? Seria uma tarefa relacionada ao exercício de
“futurologia”? Quais as diferenças entre esses termos? Por que são necessárias
reflexões sobre esses conceitos no âmbito do Orçamento Empresarial? Esses e
outros pontos serão discutidos no decorrer deste capítulo. Vamos lá?
É fundamental que no âmbito do orçamento empresarial se façam estimativas de
receitas, de gastos, de quantidade de unidades produzidas, do volume de vendas, da
quantidade de funcionários, valores de investimentos e outros. Desse modo, é
comum que essas estimativas sejam realizadas com bases muito bem
fundamentadas. Nesse sentido, não há o que se falar em “adivinhação” em termos
de orçamento empresarial. Não se trata, por sua vez, de um exercício de
“futurologia” em que se busca prever acontecimentos futuros, que no caso, são os
elementos do orçamento. São necessárias aplicações técnicas que favoreçam a
fidedignidade e a compreensão das bases utilizadas para as estimativas. Contudo,
ressalta-se que comumente são utilizados termos como previsão e projeção para as
estimativas das receitas, sendo estes, por sua vez, os mais adequados quando se
trata de estimativas do orçamento. Destaca-se, desse modo, que o termo projeção é
ainda mais adequado quando se fala de Orçamento Empresarial, considerando que
projetar está relacionado com o ato de projetar o que será feito, e não
simplesmente prever o acontecimento. É mais adequado utilizar o termo projetar,
pois está ligado à influência de quem elaborará o orçamento, projetando o que será
feito. Finalmente, o ato de projetar está estritamente ligado ao controle do que será
feito e, portanto, confere maior confiabilidade às estimativas que serão feitas.
Neste capítulo, você verá o controle orçamentário e o planejamento financeiro no
âmbito do orçamento familiar, além das bases para as projeções dos orçamentos
financeiro e de caixa e das projeções dos demonstrativos financeiros, e ainda a
introdução às finanças e aos índices financeiros. Cada tema será apresentado em um
tópico. Acompanhe atentamente todo o conteúdo ao longo do capítulo. Uma boa
leitura e bons estudos!
VOCÊ O CONHECE?
Ernest Engels foi um estatístico e economista alemão que criou leis para o entendimento do orçamento
familiar. A mais conhecida delas foi intitulada como “Lei de Engels” e retrata que à medida que a renda
aumenta, diminui a proporção da renda que é gasta com alimentos (ZIMMERMAN, 1936 apud LEITE, 2017).
O controle orçamentário é útil para as famílias pois favorece a utilização adequada
dos recursos, mediante a compreensão do valor a ser gasto em determinado período
pela limitação da renda familiar em questão. Desse modo, consegue-se, por meio de
controle, direcionar as escolhas de maneira mais condizente com as possibilidades
de gastos da família. Conhecendo bem suas finanças, o controle eficaz favorece
decisões como: O que comprar? Por que comprar? Por quanto comprar? Em que
prazo pagar a compra? Para auxiliar o controle orçamentário, as famílias devem
contar com um correto planejamento financeiro, reunindo preferencialmente todos
os membros da família.
VOCÊ SABIA?
A BM&FBovespa disponibiliza uma planilha de orçamento pessoal que ajuda no controle dos gastos
de forma simples, rápida e eficaz (BM&FBOVESPA, [s/d]). Que tal utilizá-la para o controle dos seus
gastos? Ela está disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/educacional/educacao-
financeira/planilha-de-orcamento/ (http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/educacional/educacao-
financeira/planilha-de-orcamento/)>.
O planejamento financeiro, no contexto do orçamento familiar, é útil para as
decisões, mas é preciso que todos os membros da família tenham aplicação prática,
ou seja, que tudo seja decidido em grupo e que aquilo que tiver sido decidido seja
implementado. Cada um deverá cumprir o seu papel, o que permitirá a adequada
aplicação dos recursos da família. Os benefícios gerados poderão ser: a compra de
um imóvel, a reforma de uma casa, uma viagem, a quitação de um empréstimo
bancário que possui juros altos, o pagamento de um curso de graduação, entre
outros.
Figura 1
- Esquema geral para o orçamento financeiro (etapas estratégica, operacional e financeira). Fonte:
Elaborada pelo autor, 2018.
Note que o plano estratégico alimentará os planos da etapa operacional e estes, por
sua vez, alimentarão os orçamentos da etapa financeira, permitindo, assim, que o
orçamento financeiro possua raízes sólidas de informações em sua concepção.
Já o método direto, conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 213), é aquele em que se
“elabora a DFC a partir da movimentação direta ocorrida no caixa da empresa,
demonstrando todos os itens que tenham provocado entrada ou saída de caixa”.
Destacam-se ainda, no quadro a seguir, os seguintes conceitos da classificação dos
fluxos:
Quadro 1 - Os três níveis de classificação das atividades da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 03 (R2), [s/d].
Com base no CPC 03 (R2), são exemplos de fluxos de caixa que decorrem das três
classificações de atividades da DFC:
Atividades operacionais (exemplos):
recebimentos de caixa pela venda de mercadorias e pela prestação de
serviços;
recebimentos de caixa decorrentes de royalties, honorários, comissões e
outras receitas;
pagamentos de caixa a fornecedores de mercadorias e serviços;
pagamentos de caixa a empregados ou por conta de empregados;
recebimentos e pagamentos de caixa por seguradora de prêmios e sinistros,
anuidades e outros benefícios da apólice;
pagamentos ou restituição de caixa de impostos sobre a renda, a menos que
possam ser especificamente identificados com as atividades de financiamento
ou de investimento;
recebimentos e pagamentos de caixa de contratos mantidos para negociação
imediata ou disponíveis para venda futura.
VOCÊ SABIA?
Os fluxos de caixa são as entradas e saídas de caixa e equivalentes de caixa. Caixa compreende
numerário em espécie e depósitos bancários disponíveis. Já os equivalentes de caixa são aplicações
financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que são prontamente conversíveis em montante
conhecido de caixa e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor (COMITÊ DE
PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, [s/d]).
Quadro 2 - Técnicas que podem ser aplicadas para fins de projeções de receitas e de gastos na
elaboração da DRE Orçada. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em FREZATTI, 2017.
Dentre as técnicas destacadas, cabe ressaltar que são consideradas de fácil
aplicação: verba definida, amortização e depreciação, inflacionamento de um valor-
base, relação causal com comportamento definido. Já as técnicas de relação
temporal, ainda que simples, precisam de maiores conhecimentos estatísticos para
sua aplicação. Observe que não cabe dizer quais técnicas são melhores ou piores,
mas sim que cada técnica deverá ser aplicada de acordo com as características de
cada recurso.
De acordo com Souza (2014, p. 252) a DRE Orçada “é útil também para os credores e
os potenciais investidores decidirem sobre a concessão de empréstimos e as
decisões de investimento”. Desse modo, adverte que o atendimento às normas do
CPC é de extrema valia.
A figura a seguir apresenta a estrutura da DRE recomendada para fins de projeções
dos resultados da empresa:
Por fim, a DRE Orçada contribuirá com a visão econômica sobre os resultados
projetados, já que utiliza-se da premissa do regime de competência, a qual consiste
no registro das receitas e dos gastos no momento que ocorrerem,
independentemente do recebimento ou pagamento destas rubricas.
Como pode ser visualizado no quadro, do lado esquerdo estão os grupos dos ativos,
representando as aplicações dos recursos oriundos do passivo que, por sua vez,
representam as fontes de recursos, do lado direito do quadro. Essas fontes
representam a estrutura de capital das empresas. Ela é representada pelo capital de
terceiros (passivo circulante e não circulante) e pelo capital próprio (patrimônio
líquido).
Agora que você conhece a estrutura do BP, é importante que se definam as bases
para a projeção dos saldos das contas desse demonstrativo. Assim, algumas
considerações serão destacadas a seguir a fim de auxiliar as estimativas dos saldos
do BP. Veja:
As informações do plano estratégico devem ser as primeiras a serem
observadas no momento das projeções dos saldos das contas do BP.
As premissas estratégicas devem estar refletidas em todos os saldos das
contas do BP.
Os efeitos das projeções da DFC e da DRE nos saldos das contas do BP devem
ser relacionados.
É de extrema importância que se faça uma análise das informações históricas
dos saldos realizados das contas do Balanço. Tais informações serão a base
para as projeções dos saldos das contas do BP.
Por fim, as projeções dos saldos das contas do BP serão os reflexos das premissas
estratégicas, das projeções da DFC e da DRE. Com base nisso, esse demonstrativo
terá suas bases de projeções muito bem fundamentadas, as quais nortearão
adequadamente os usuários das informações do BP.
Conforme o quadro apresentado, você pode observar que os índices serão obtidos
pelas relações entre as contas do BP e DRE. Enquanto alguns índices farão relação
entre contas somente da DRE ou somente do BP, outros farão relação entre as contas
dos dois demonstrativos, como PME, PMR, ROI e ROE.
VOCÊ QUER LER?
Acesse o trabalho de Alexia Mafalda Ramos Martins e demais autores (MARTINS et al., 2017).
Com base nos índices apresentados é possível a compreensão por parte do gestor da
capacidade financeira da empresa em honrar seus compromissos no curto prazo,
além da análise do endividamento e ainda da solvência da entidade. É possível
analisar a rentabilidade da empresa em relação aos seus ativos e em relação ao
capital próprio. Cabe ainda ressaltar que é possível, por meio dos índices, analisar a
lucratividade da empresa.
Por fim, necessita-se que, na análise e interpretação dos índices, não se limite o
gestor ao contexto das informações somente da empresa em si, mas que se procure
fazer uma análise comparativa com outras empresas do mesmo segmento, a fim de
enriquecer seu diagnóstico.
cálculos dos índices das relações das contas das Demonstrações Financeiras;
análise das Notas Explicativas às Demonstrações Financeiras e do Relatório de
Administração;
leitura de informações sobre o setor que a empresa a ser analisada atua, por
meio de jornais, revistas e outros materiais publicados por órgãos,
departamentos ou associações;
acompanhamento de indicadores econômicos, como: inflação, taxa de
desemprego, taxa de juros, oferta de crédito, produto interno bruto (PIB) do
país, nota de risco país e outros;
impacto tributário do setor e possíveis alterações nas leis e normas do
segmento em questão.
CASO
A Companhia MASTER Ltda. vinha enfrentando dificuldades em obter informações gerenciais de suas
operações e de suas finanças. Desse modo, a diretoria reuniu-se e decidiu contratar um gerente
corporativo de Controladoria e Finanças. Após o processo de seleção dos candidatos, a diretoria
resolveu contratar a Srta. Amanda Nakato, que de início em seus trabalhos se reuniu com a nova
equipe para verificar os conhecimentos dos colaboradores. Nesse sentido, aplicou um teste em que
fosse demonstrado o conhecimento sobre a análise das demonstrações contábeis. O teste continha
algumas questões, entre elas, as seguintes:
Com base no contexto, se você fosse um dos colaboradores do setor de Controladoria e Finanças da
Companhia MASTER Ltda., que respostas você daria?
Solução do caso
Em relação aos demonstrativos a serem projetados no Orçamento Financeiro, são
eles: a DFC – Demonstração dos Fluxos de Caixa; a DRE – Demonstração do
Resultado do Exercício; e o BP – Balanço Patrimonial. Os principais pontos a serem
levados em conta nas projeções dos orçamentos são: alinhamento com o plano
estratégico e, por isso, as premissas estratégicas devem ser refletidas nos
demonstrativos; deve haver relação entre os três demonstrativos (DFC, DRE e BP);
devem ser levadas em conta as informações dos históricos dos demonstrativos.
Encerra-se aqui o capítulo. Tenha sempre em mente a importância do trabalho de
projeções dos Demonstrativos Contábeis nas empresas. A riqueza de informações
geradas pelas projeções, alinhando-se com outros orçamentos, como vendas,
produção, gastos fixos e investimentos, é de grande utilidade para o norteamento
gerencial, bem como a aplicação e o atingimento dos objetivos de longo prazo.
Entretanto, como você viu, a aplicação de técnicas adequadas para as projeções é
fundamental para que as informações sejam realmente úteis na tomada de decisão
e continuidade das atividades empresariais.
Síntese
Você encerrou os estudos deste capítulo aprendendo novos temas sobre finanças
pessoais e projeções de demonstrativos financeiros. Os temas discutidos são uma
oportunidade para que você possa refletir acerca da importância dos conceitos e
técnicas aplicados no âmbito das finanças domésticas e corporativas. Espera-se que,
por sua vez, sejam muito bem utilizados no cotidiano gerencial, a fim de contribuir
para um melhor gerenciamento das suas finanças e da empresa em que atue. As
pessoas estão cada vez mais envolvidas com as finanças pessoais e corporativas, por
isso, vá em frente e busque cada vez mais novos conhecimentos.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
conhecer novos conceitos sobre finanças pessoais, como orçamento familiar;
assimilar técnicas para projeções do orçamento financeiro;
compreender as técnicas de análises das demonstrações financeiras.
Bibliografia
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