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CERTIFICAÇÃO

Este trabalho foi aprovado com _____ (_________) valores no dia _____de
__________ de 2017 por nós, membros do júri examinador da Faculdade
de Agricultura.

_____________________________________

(Supervisor)

_____________________________________

(Presidente do Júri)

______________________________________

(Oponente)
RESUMO

O algodão é a mais importante das fibras têxteis naturais ou sintéticas,


como cultura industrial possui na sua cadeia produtiva diversos sectores
produtivos com mais de 20.000 postos de emprego. Em Moçambique, a
cultura é praticada por cerca de 300.000 famílias rurais com média de cinco
indivíduos cada. O algodão é produzido sob o modelo de contractos de
fomento e extensão rural, onde a empresa compromete-se a fornecer todos
os insumos necessários para a produção de algodão, assim como a dar
assistência técnica a todos os produtores que queiram desenvolver a
cultura, e a empresa garante a compra da totalidade da produção obtida
pelos produtores. Por outro lado, o produtor tem a obrigação de vender a
totalidade da sua produção exclusivamente á empresa da sua área e de
pagar os insumos cedidos a crédito pela empresa.

A província de Nampula é a maior produtora dessa fibra, seguida das


províncias de Cabo Delgado e Sofala. Ao nível da província, o distrito de
Monapo é uma referência regional no cultivo do algodão. Deste modo, o
presente trabalho procura avaliar o impacto do modelo de sistema de
concessão no rendimento do pequeno produtor de algodão no distrito de
Monapo, província de Nampula.

Para a realização deste trabalho, combinou-se as pesquisas qualitativa e


quantitativa, numa amostra de 35 produtores de ambos os sexos que foram
seleccionados de forma aleatória nas localidades de Itoculo, Netia e
Morruto, no distrito de Monapo. Para a colecta de dados usou-se o
questionário como instrumento e os dados foram lançados e processados no
pacote estatístico SPSS versão 23.

I
Fazer parte do sistema de concessão melhorou muito o rendimento dos
produtores de algodão do distrito de Monapo, uma vez que com a renda
que eles tem agora conseguem satisfazer necessidades básicas como
alimentação, habitação, acesso a educação, acesso a saúde, vestuário, entre
outras.

Palavras-Chave: ????

II
ABSTRACT

Cotton is the most important of the natural or synthetic textile fibers, as


industrial culture has in its production chain several productive sectors with
more than 20,000 jobs. In Mozambique, the culture is practiced by about
300,000 rural families with an average of five individuals each. Cotton is
produced under the model of rural development and extension contracts,
where the company undertakes to supply all the necessary inputs for the
production of cotton, as well as to provide technical assistance to all
producers who wish to develop the crop, and the company guarantees the
purchase of the totality of the production obtained by the producers. On the
other hand, the producer has the obligation to sell the whole of his
production exclusively to the company in his area and to pay for the inputs
given on credit by the company.

The Nampula province is the largest producer of this fiber, followed by the
Cabo Delgado and Sofala. At the province level, the Monapo district is a
regional reference in the cultivation of cotton. In this way, the present work
tries to evaluate the impact of the concession system model on the income
of the small cotton producer in Monapo district, Nampula province.

The qualitative and quantitative research was carried out in a sample of 35


producers of both sexes who were randomly selected in the cities of
Itoculo, Netia and Morruto, in the Monapo district. For the data collection,
the questionnaire was used as instrument and the data were released and
processed in the statistical package SPSS version 23.

Being part of the concession system greatly improved the income of cotton
farmers in the Monapo district, since with the income they now can meet
basic needs such as food, housing, access to education, access to health,
and clothing, among others.

Keywords: ????

III
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Francisco Tovela e Maria Tomás, que
sempre procuraram dar o melhor para que eu concluísse a minha formação
com êxito.

IV
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a DEUS todo-poderoso por ter me concedido o


dom da vida e da sabedoria e por ter me guardado todos os dias da minha
vida.

Agradecer aos meus pais Francisco Tovela e Maria Tomás, aos meus
irmãos, Hortência Francisco, Teddy Simão e Sheryl Claúdia, ao meu tio
Vasco Mepula, por tudo quanto fizeram para que a minha formação se
solidifica-se.

A todos os docentes da Faculdade de Agricultura pelos sábios


conhecimentos transmitidos, especialmente ao meu supervisor Ph.D. Pierre
Matungul pelo apoio, disponibilidade, paciência, transmissão de
conhecimentos, acompanhamento e orientação durante o curso assim como
na realização deste trabalho e a dra. Hajeé Novele pelo encorajamento e
incentivo.

Ao Fórum Nacional de Produtores de Algodão (FONPA), onde realizei um


estágio profissional, em especial ao Dr. Vicente Sando, Sr. José Domingos
e a Sra. Olinda Congolo.

Ao Instituto de Algodão, em especial ao Eng°ᵒ Jeremias Sacuze.

A Sociedade Algodoeira de Namialo (SANAM), em especial aos


engenheiros, Ibraimo Barraca, Ivan Amade e Eusébio pelo apoio dado
durante a recolha dos dados, pelos conselhos e pela transmissão de sábios
conhecimentos.

V
A todos os meus colegas do curso, pelas contribuições que me foram dando
durante a formação, pelas dificuldades que juntos ultrapassamos, em
especial a Selma Vaz e ao Benildo Macaringue pelo companheirismo e
apoio incondicional durante a realização do trabalho.

A todos que não citei, mas que directa ou indirectamente ajudaram-me


nesta longa caminhada, o meu Muito Obrigada!

VI
Índice
CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO...................................................................1
1.1. Justificativa.......................................................................................4
1.2. Contextualização...............................................................................6
1.3. Problemática.....................................................................................8
1.4. Hipóteses........................................................................................10
1.5. Objectivos.......................................................................................11
1.5.1. Geral:........................................................................................11
1.5.2. Específicos:..............................................................................11
CAPÍTULO II. REVISAO BIBLIOGRAFICA..........................................12
2.1. Historial e evolução da cultura do algodão.....................................12
2.1.1. Evolução da produção do algodão............................................15
2.2. Produção da cultura do algodão......................................................17
2.2.1. Condições ecológicas...............................................................18
2.3. Cadeia de valor do algodão.............................................................40
CAPÍTULO III. METODOLOGIA.............................................................45
3.1. Descrição do local e do trabalho de campo....................................45
3.2. Método de amostragem e colecta de dados....................................48
3.3. Método de análise de dados............................................................50
CAPÍTULO IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES ………………………
51
4.1. Estatística descritiva dos produtores seleccionados do distrito de
Monapo....................................................................................................51
4.2. Papel das empresas concessionárias na cadeia de valores da cultura
do algodão................................................................................................56
4.3. Vantagens e desvantagens que o sistema de concessão traz para os
pequenos produtores de algodão..............................................................57
4.3.1. Vantagens.................................................................................57
4.3.2. Desvantagens............................................................................58
4.4. Rendimento antes da participação dos produtores no sistema de
concessão.................................................................................................60

VII
4.4.1. Análise cruzada entre produção total e rendimento do produtor
61
4.4.2. Análise cruzada entre quantidade vendida e rendimento do
produtor.................................................................................................61
4.4.3. Análise cruzada entre custos de produção e rendimento do
produtor.................................................................................................62
4.5. Rendimento depois da participação dos produtores no sistema de
concessão.................................................................................................63
4.5.1. Análise cruzada entre produção total e rendimento do produtor
64
4.5.2. Análise cruzada entre quantidade vendida e rendimento do
produtor.................................................................................................65
4.6. Comparação entre o rendimento antes e o rendimento depois da
participação dos produtores no sistema de concessão.............................66
4.7. DISCUSSÃO..................................................................................67
4.8. Síntese das relações cruzadas entre o rendimento antes e
rendimento depois com outras variáveis..................................................67
CAPÍTULO V. CONCLUSÕES E RECOMENDACÕES.........................68
5.1. Conclusões......................................................................................68
5.2. Recomendações..............................................................................70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................71
ANEXOS.....................................................................................................74

VIII
Lista de Tabelas

Tabela 1: Evolução da produção do algodão..............................................15

Tabela 2: Descrição da quantidade necessária de semente do algodão.......24

Tabela 3: Descrição de vários esquemas de rotação de culturas de acordo


com as respectivas regiões..........................................................................38

Tabela 4: Descrição dos limites das doses recomendadas para adubos


simples e compostos....................................................................................39

Tabela 5: Frequência do género na produção de algodão em Monapo.......51

Tabela 6: Estrutura etária dos produtores de algodão em Monapo.............52

Tabela 7. Nível de escolaridade do produtor de algodão em Monapo........52

Tabela 8: Distribuição percentual do agregado familiar em Monapo.........53

Tabela 9: Estado Civil dos produtores de algodão de Monapo...................53

Tabela 10: Tamanho da área cultivada antes da participação dos


agricultores no sistema de concessão..........................................................54

Tabela 11: Tamanho da área cultivada depois da participação dos


agricultores no sistema de concessão..........................................................54

Tabela 12. Culturas produzidas pelos produtores do distrito de Monapo...55

Tabela 13: Dificuldades enfrentadas pelos produtores durante a produção


do algodão...................................................................................................55

IX
Tabela 14: Relação cruzada entre rendimento do produtor-1 e produção
total - 1........................................................................................................61

Tabela 15: Relação cruzada entre rendimento do produtor - 1 e a


quantidade vendida - 1................................................................................62

Tabela 16: Relação cruzada entre rendimento do produtor - 1 e os custos de


produção - 1.................................................................................................63

Tabela 17: Relação cruzada entre rendimento do produtor - 2 e produção


total - 2........................................................................................................64

Tabela 18. Relação cruzada entre rendimento do produtor – 2 e quantidade


vendida - 2...................................................................................................65

Tabela 19: Comparação entre o rendimento antes e o rendimento depois da


participação dos produtores no sistema de concessão.................................66

X
Lista de Figuras

Figura 1: Estrutura do subsector do algodão em Moçambique...................41

Figura 2: Cadeia de valor do subsector do algodão em Moçambique........42

Figura 3. Mapa de localização do distrito de Monapo................................45

Figura 4: Distribuição do rendimento antes da participação do produtor no


sistema de concessão...................................................................................60

Figura 5: Distribuição do rendimento depois da participação dos produtores


no sistema de concessão..............................................................................63

XI
Lista de Abreviaturas

XII
CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO

A cultura do algodão em Moçambique foi introduzida no século XIX,


passando por diferentes modelos de produção. Actualmente, a cultura de
algodão é maioritariamente produzida sob o modelo de contractos de
fomento e extensão rural. Esta forma de produção consiste na associação,
regida por direitos e obrigações entre uma empresa fomentadora e
produtores, na sua maioria provenientes da agricultura familiar. A empresa
deverá ter uma área de concessão que lhe foi atribuída pelo governo, sendo
os produtores oriundos desta mesma área (IAM, 2011).

A empresa compromete-se a fornecer todos os insumos necessários, dentre


os quais, insecticidas, sementes, pulverizadores, pesticidas, para a produção
do algodão, a disponibilizar assistência técnica a todos os produtores que
queiram desenvolver a cultura, e por fim, a empresa garante a compra da
totalidade da produção de algodão obtida pelos produtores da sua área de
fomento. Por outro lado, o produtor tem a obrigação de vender a totalidade
da sua produção exclusivamente á empresa da sua área e de pagar os
insumos cedidos a crédito pela empresa (IAM, 2011).

O algodão é cultivado por cerca de 250 mil pequenos produtores que


cultivam em média 0.5 hectares e com um rendimento médio de 600-700kg
de algodão caroço (bruto) por hectare. Portanto, vale a pena salientar que,
apesar de um rendimento médio bastante bom em relação aos grandes
produtores africanos (471kg/há na Burkina Faso e 386kg/há no Mali),
existe ainda um grande número de produtores que apresentam rendimentos
baixos devido ao uso mínimo de insumos e técnicas de cultivo e pós-
colheita deficientes (DAVIES, 2015).

1
O algodoeiro é uma planta que se adapta bem a uma grande diversidade de
tipos de solos e climas. Não sendo uma cultura muito exigente, consegue
produzir satisfatoriamente do Norte ao Sul de Moçambique, desde que as
terras tenham razoável fertilidade e as chuvas sejam suficientes.

No entanto, o algodoeiro é bastante sensível às variações climáticas que se


verificam de ano para ano, as quais se reflectem no desenvolvimento da
planta.

O subsector do algodão constitui uma importante fonte de rendimento no


meio rural em Moçambique. A importância do algodão reflecte-se,
também, no peso do mesmo na balança comercial, pois constitui um dos
produtos agrícolas mais exportados na última década (BRUNA, 2014).

A maior produção e processamento de algodão concentram-se nas regiões


Centro e Norte do país, a região sul produz e processa aproximadamente
1% da produção total de algodão do país. A região Norte (sob liderança da
província de Nampula), é a que contribui com cerca de 80% da produção
do País, sendo o sector familiar responsável por cerca de 70% da produção
Nacional e o distrito de Monapo é um dos maiores produtores desta
província (IAM, 2013).

O distrito de Monapo está localizado na parte Este da província de


Nampula, confinando a Norte com o distrito de Nacarôa, a Sul com o
distrito de Mogincual, a Este com os distritos de Nacala-Velha e Mossuril e
a Oeste com os distritos de Muecate e Meconta (MAE, 2014).

A superfície do distrito é de 3.528 km² e a sua população está estimada em


351 mil habitantes. Com uma densidade populacional aproximada de 99,5
hab/km², prevê-se que o distrito em 2020 venha a atingir os 511 mil
habitantes (MAE, 2014).

2
A agricultura é a actividade dominante no distrito e envolve quase todos os
agregados familiares, estes têm o algodão como a principal cultura de
rendimento da região e a produção do mesmo ocorre em regime de
sequeiro.

É neste cenário que se procura compreender, através deste trabalho, qual é


o impacto que o sistema de concessão traz para os pequenos produtores de
algodão do distrito de Monapo, através da descrição do papel da empresa
concessionária daquela região, no caso a SANAM na cadeia de valores do
algodão, da identificação das vantagens e desvantagens que o sistema traz
para os produtores, do cálculo das rendas antes e depois da participação dos
produtores no sistema e por fim uma posterior comparação das mesmas.

O presente trabalho, está divido em 5 capítulos:

O I Capítulo faz referências a relevância da pesquisa, o problema, as


hipóteses, os objectivos, contextualização que abrange questões ligadas ao
tema de um modo geral.

O II Capítulo apresenta-se o referencial teórico em torno do historial e


evolução da cultura do algodão, assim como sobre a produção do algodão e
sobre a cadeia de valores do algodão.

No III Capítulo são apresentados os métodos e procedimentos que


nortearam a condução da pesquisa e os instrumentos de recolha de dados.

No IV Capítulo faz-se a apresentação e análise dos resultados do estudo e


a sua respectiva discussão. No V Capítulo anunciam-se as conclusões e
recomendações. E, por fim, as referências bibliográficas, assim como os
anexos.

3
1.1. Justificativa

O algodão em Moçambique é basicamente produzido nas regiões


Centro e Norte do país, por cerca de 300.000 famílias rurais, de cinco
membros cada, representando por isso fonte segura de rendimento para
mais de 1.500.000 habitantes rurais e criando cerca de 20.000 empregos na
sua cadeia de produção e de valor.

É o terceiro maior produto de exportação na área agrícola e é produzido


com insumos de produção a crédito, assistência técnica ao produtor e
comercialização respeitando o preço mínimo oficial (IAM, 2005).

No distrito de Monapo, província de Nampula, a agricultura é a actividade


dominante e envolve quase todos os agregados familiares. Pode-se dizer
que a região é caracterizada pela ocorrência de três sistemas de produção
agrícola dominantes. O primeiro corresponde a uma zona onde domina a
consociação das culturas alimentares, nomeadamente mandioca, milho,
feijões nhemba e boer, como culturas de 1ª época (época chuvosa) e a
produção de arroz pluvial nos vales dos rios.

O segundo sistema de produção é dominado pela cultura pura de mapira,


ocasionalmente consociada com milho e feijão nhemba. O algodão
corresponde ao terceiro sistema de produção, e constitui a principal cultura
de rendimento da região, e esse sistema ocorre em regime de sequeiro.

Da renda resultante da venda do algodão, as famílias compram alimentos,


roupas, produtos de consumo de primeira necessidade, suportam custos de
acesso à educação das crianças, à saúde das famílias, incluindo mulheres
grávidas, crianças, dentre outras facilidades.

4
Cerca de 10 empresas concessionárias têm no algodão a sua actividade
central, caracterizando-se por investimentos em fábricas de
descaroçamento, facilidades de armazenamento, meios de transporte e
equipamento de produção agrícola. Cada empresa algodoeira representa um
investimento de não menos de 1.500.000 USD (IAM, 2009).

5
1.2. Contextualização

A cultura do algodão em Moçambique, e na província de Nampula,


vem sendo praticada há muito tempo, desde o tempo colonial.

A cultura experimentou um boom devido ao crescimento da indústria têxtil


portuguesa, que pretendia ser mais independente do algodão importado do
Brasil. O governo de Salazar alterou os antigos métodos de produção e
criou instrumentos administrativos para fomentar de forma directa a
cultura. Criou a Junta de Exportação de Algodão Colonial em 1938, e
concessionou a zona de produção a companhias comerciais (a JFS - João
Ferreira dos Santos, e a CAM, Companhia Algodoeira de Moçambique, no
caso concreto da Província de Nampula) com a missão de promover, dentro
das suas concessões, algodão no sistema produtivo dos camponeses
(BRAVO, 1963).

A produção do algodão em geral era forçada e contribuiu para o


empobrecimento dos camponeses na medida em que estes eram forçados a
atender, em primeiro lugar, a machamba de algodão e só depois as culturas
alimentares necessárias a sua subsistência.

Com a abolição da produção forçada em 1974, uma parte significativa dos


camponeses regressou das concentrações algodoeiras para as suas antigas
zonas de residência, onde a título individual, uns continuaram com a
cultura do algodão em machambas familiares e outros abandonaram
definitivamente a cultura.

Após a Independência, num período inicial, até meados dos anos 80,
predominou um paradigma estatizante e de economia centralizada, em que
as machambas dos colonos e a grande maioria das concessionárias, no caso
do algodão, foram transformadas em machambas estatais e foram
promovidos mecanismos de produção colectiva, como cooperativas, em

6
que os camponeses eram apenas executores dos planos e metas fixadas
centralmente.

Os resultados em termos reais não reflectiam os investimentos. No fim


deste, de novo foram, na zona centro e norte do País, estabelecidas zonas
de concessões, e desenvolvidos aqui sistemas de direitos legais de
monopólio de comercialização de culturas de rendimento, e de algodão em
particular.

7
1.3. Problemática

A baixa qualidade de insumos como sementes e a baixa tecnologia


adoptada ocupa o primeiro lugar nas causas principais do baixo rendimento
do algodão para os pequenos produtores. De facto, devido a falta de
semente apropriada, as empresas fomentadoras têm fornecido os produtores
com semente não certificada proveniente das suas descaroçadoras, a qual já
se apresenta extremamente degenerada em termos de propriedades
genéticas, havendo uma necessidade de eventual liberalização do sector de
algodão, pois acredita-se que o sistema de concessão de algodão em
Moçambique é insustentável. Algumas empresas importam semente
certificada mas a mesma é muito onerosa.

Atribuem-se, como factores negativos para a demora na adopção de novos


pacotes tecnológicos sobretudo de variedades de semente de algodão de
alto rendimento por hectare, a falta de sistemas de irrigação e mecanização,
bem como a escassez de técnicos especializados no cultivo do algodão.

O sistema de concessão, tem vantagens e desvantagens. Para os produtores,


o modelo embora com algumas vantagens, de terem adiantamentos em
sementes e pesticidas e terem compradores assegurados, acarreta muitos
riscos e muitas vezes o preço final que recebem dificilmente compensa a
labuta árdua envolvida na produção, e os riscos de conservação até ao
momento em que essa produção é escoada pelos concessionários e o
pagamento é feito, após os descontos dos créditos em espécie que
receberam.

8
Os produtores incorrem em perdas, por o custo de produção não ser
compensado pelo que recebem da venda dessa produção. E o poder de
monopólio (um único comprador) pode resultar na redução dos preços
pagos aos agricultores pelo seu algodão e consequentemente na redução do
rendimento dos mesmos.

A pergunta que orientou a presente pesquisa foi formulada da seguinte


maneira:

 Qual é o impacto que o modelo de sistema de concessão traz no


rendimento dos pequenos produtores de algodão do distrito de
Monapo, província de Nampula?

9
1.4. Hipóteses

H0: O sistema de concessão tem um impacto positivo no rendimento dos


pequenos produtores de algodão do distrito de Monapo.

H1: O sistema de concessão tem um impacto negativo no rendimento dos


pequenos produtores de algodão do distrito de Monapo;

10
1.5. Objectivos

1.5.1. Geral:

 Avaliar o impacto do sistema de concessão no rendimento do


pequeno produtor de algodão do distrito de Monapo, província de
Nampula.

1.5.2. Específicos:

 Descrever o papel das empresas concessionárias na cadeia de


valores da cultura do algodão;

 Identificar as vantagens e desvantagens que o sistema de concessão


traz para os pequenos produtores de algodão do distrito de Monapo;

 Calcular o rendimento dos pequenos produtores de algodão antes da


participação no sistema de concessão;

 Calcular o rendimento dos pequenos produtores de algodão


proveniente da participação no sistema de concessão;

 Comparar o rendimento dos pequenos produtores de algodão antes e


depois da participação no sistema de concessão.

11
CAPÍTULO II.REVISAO BIBLIOGRAFICA

2.1. Historial e evolução da cultura do algodão

A utilização da fibra de algodão pelo homem remonta há séculos,


sendo que os primeiros fragmentos de tecido datam mais de sete mil anos.
Há sólidos indícios de que populações ancestrais do Vale do Nilo, no
Egipto, e do Peru eram bastante familiarizadas com o cultivo e uso do
algodão.

Da Índia, os tecidos de algodão passaram, provavelmente, à Mesopotâmia,


de onde, por meio do comércio, não pararam mais de se expandir. Os
conquistadores árabes instalaram tecelagens na Espanha, Veneza e Milão.
Na Inglaterra, a primeira fiação foi inaugurada em Manchester em 1641,
data que marcou o começo da indústria de algodão na Europa e da
Revolução Industrial que deu início às grandes transformações produzidas
pela expansão do capitalismo. Na actualidade, a indústria têxtil que tem
relação unívoca com a cotonicultura, responde por parcela significativa do
emprego e das rendas mundiais, sendo objecto de interesse das políticas de
vários governos (UNCTAD, 2005).

A principal produção do algodoeiro é o fruto e sua massa é composta pelas


sementes (52%), fibras (40%) e demais estruturas botânicas (8%). As
sementes contêm aproximadamente 15% de óleo, 3% de fibras, 40% de
proteínas e 42% de tegumentos. Já as fibras têm estruturas compostas por
camadas de celulose, que são o principal produto econômico do algodoeiro
(GARCIA-LORCA;CARNERO, 1991 apud BELTRÃO, 1999).

12
Dentre os principais usos da fibra do algodão, incluem-se móveis,
aplicações médicas, na indústria automobilística e em várias outras
indústrias. No entanto, o principal consumo é para fiação destinada á
indústria têxtil, que absorve 60% da produção mundial de fibra de algodão
(UNCTAD, 2005).

O algodão em Moçambique foi insignificante até aos anos 20. Foi depois
que o Governo português se ter inspirado na experiência belga do ``sistema
de zoneamento´´ assegurando o direito de exclusividade na compra de
algodão caroço que a produção cresceu, acompanhada pela implementação
de uma lei que, literalmente, forçava os produtores a cultivarem algodão
(ISAACMAN e CHILUNDO, 1995).

Supõe-se que antes do século XVI já se semeava algodão em Moçambique,


com espécies oriundas da Ásia. Mas foi só a partir de 1930 que o seu
cultivo se começou a expandir, passando a ter maior incremento entre as
décadas 50 e 70. A cultura é praticamente toda feita de sequeiro, existindo
porém algumas áreas em regadio na região Centro e Sul. Mais de 75% da
produção de algodão concentra-se na metade norte do país (CARVALHO,
1996).

As zonas algodoeiras mais importantes situam-se nas províncias de


Nampula, Zambézia e Cabo Delgado. Nestas regiões têm particular relevo
as produções dos distritos de Nampula, Meconta, Monapo, Muecate,
Mogovolas, Eráti, Mocuba, Morrumbala, Montepuez, Namuno e Chiure
(CARVALHO, 1996).

Segundo estatísticas de 1971 a produção de algodão de Moçambique


(106.000 ton de algodão-caroço) representava 0.4% da produção mundial.
O rendimento médio de algodão-caroço era de 277 kg/ha. Em 1972 e 1973
foi, respectivamente, de 421 e 468 kg/ha. A área ocupada pela cultura
algodoeira (330.000 ha) representava 7.3% da área total agricultada neste

13
país. Dedicavam-se a esta cultura 376.007 produtores, ou seja, 24,8% dos
agricultores existentes (CARVALHO, 1996).

Em números globais, 100.000 ton de algodão-caroço produziam


aproximadamente 30.000 ton de fibra e 70.000 ton de semente. 93% da
fibra era exportada e 7% utilizada na indústria têxtil local. Das 70.000 ton
de semente, 15.000 eram utilizadas para sementeira, sendo o restante
destinado à indústria de extracção de óleo (CARVALHO, 1996).

Houve muitos ajustes institucionais no período que se seguiu à


independência, tendo Moçambique testado vários esquemas na atribuição
de zonas de exclusividade a operadores algodoeiros. Um deles foi o sistema
de leilão, pelo qual as empresas algodoeiras tinham de fazer ofertas anuais,
concorrendo pela obtenção de zonas de exclusividade. Havia uma
combinação de espírito de regulação com o desejo de ter operadores
privados a concorrerem (PICTER, 1993).

O pico histórico da produção de algodão foi obtido pouco antes da


independência, quando se chegou à produção de 133.200 tons em 1974.
Depois da independência, o novo Governo reconheceu a importância
estratégica do algodão na obtenção de divisas, tentou reverter a tendência
descendente da produção e tomou conta das instalações deixadas pelas
empresas algodoeiras (PITCHER, 1993).

A nova estratégia consistia no estabelecimento de grandes empresas


estatais agrícolas e aldeias comunais, mas, por diversas razões, esta
estratégia falhou, a ponto da produção ter sofrido uma drástica redução
para 5.200 ton em 1985 (PITCHER, 1993).

Em Moçambique, o algodão tem uma história complexa nem sempre feliz.


Antes da independência, em 1975, o algodão figurava como um símbolo da
dominação colonial do sector familiar ou pelo trabalho obrigatório nas

14
machambas dos colonatos ou pelo seu cultivo forçado nas machambas
camponesas.

Da mesma forma, as empresas algodoeiras tradicionalmente


desempenhavam um papel predominante na disseminação da cultura,
actuando como verdadeiros monopólios que exerciam poderes locais por
muito além da influência meramente económica (MANDLATE, 2012).

2.1.1. Evolução da produção do algodão


Tabela 1: Evolução da produção do algodão
Fase Período Observações
Nesta fase, deu-se a introdução da cultura do algodão,
Fase de porém, apenas na década de 30 no século XX, a produção
introdução XIX-1930 tornou-se comercialmente significativa.
O diploma do trabalho forçado para o algodão de 1928
obrigava cada família rural a ter uma parcela de, pelo menos,
Fase do trabalho 1928-1964
½ hectare para a produção do algodão. Deste modo, a
forçado
produção do algodão registou aumentos.
Após a revogação do decreto que impunha o trabalho
forçado do algodão, que resultou na redução da área
cultivada deste produto, manteve-se o crescimento em
termos de volume produzido. Nesta fase, houve
Fase de
1964-1974 investimentos na investigação, mecanização e em inputs
intensificação
(semente melhorada, fertilizantes e pesticidas) para este
subsector. Portanto, foi nesta fase que Moçambique alcançou
a produtividade máxima, tendo produzido em 1973/74
144.000 toneladas de algodão.

15
Após a independência, verificou-se decréscimos
Fase de significativos da produção do algodão, como resultado do
abandono dos 1974-1979 abandono de muitos centros produtivos de algodão e da fuga
centros de técnicos. Neste contexto, foi criada a Secretaria do Estado
produtivos (SEA), com objectivo de dinamizar o subsector.
Este foi o período considerado mais crítico para este
Período de subsector. Tendo registado a produção mínima de 5000
deterioração das toneladas, devido, principalmente, à guerra civil e às secas
condições de 1979-1989 severas e consecutivas registadas ao longo deste período.
produção

No âmbito do Programa de Reabilitação Económica e Social


(PRES), houve a criação de empresas mistas (privada e
Fase de 1989-1995 pública), em que eram adjudicados distritos para o fomento
privatização da produção do algodão em zonas que haviam sido
abandonadas.

Iniciou-se o Programa de Relançamento do Algodão (PRA),


Fase de coordenado pelo IAM, com o objectivo de reintroduzir a
relançamento da 1995-1998 produção do algodão em zonas que haviam sido
produção do abandonadas.
algodão

A produção do algodão em Moçambique é totalmente


Fase da crise do dependente do preço internacional, pelo facto de se exportar
preço 1998-2005 o volume total do algodão-fibra.
internacional Neste período, o preço internacional registou decréscimos
influenciando negativamente na produção do algodão.
Fonte: IAM (s/ data)

16
2.2. Produção da cultura do algodão

O algodão (Gossypium sp) está presente em muitas regiões da


Austrália, África, América Central, Brasil, México e região sul dos Estados
Unidos, tem como centros de origem a Ásia e a América. Estão registradas
39 espécies de algodão e a despeito de muitas não serem exploradas
economicamente, representam valiosa fonte genética.

Actualmente apenas cinco espécies são utilizadas de forma significativa:


Egípcio, Sea Island, Pima Americano, Asiático e o American Upland,
destacando-se o American Upland (Gossypium hirsutum) e o Pima
Americano (Gossypium barbadense).

Em Moçambique, a semente de algodão denominada CA-324 é,


presentemente, usada em diferentes pontos como propiciadora de alto
rendimento no campo em termos de produção. Para além da sua fibra se
caracterizar por um cumprimento e resistência superior às restantes
variedades de sementes, facto que a torna preferida por parte das industrias
do ramo têxtil para alimentar as suas unidades.

A CA-324 é uma semente tolerante às pragas, sobretudo em relação às


jacidas que atacam a planta do algodão nos primeiros 40 dias de vida e por
isso tem sido uma opção previlegiada pelos produtores do sector familiar.
O país usa também, a semente denominada Albar, que se adapta ao clima
de algumas regiões produtoras de algodão, por enquanto a sua fibra é,
igualmente, valiosa em face do seu cumprimento, que se adequa às

17
exigências e ao grau de preferência dos potenciais compradores
(ALBERTO, 2012).

2.2.1. Condições ecológicas

Solos

O algodoeiro pode cultivar-se em quase todos os tipos de solos.


Evidentemente que se devem evitar as terras arenosas, as de cor alaranjada
e as pardas, de baixa fertilidade, onde não se podem esperar produções
satisfatórias.

Quanto à textura, as terras mais próprias para o algodão são as francas,


franco-argilosas, ou argilosas, permeáveis e profundas. As terras de
aluvião, junto dos rios ou na base das serras são indicadas para a cultura do
algodão (CARVALHO, 1980).

A produção de algodão exige solos férteis, notadamente em matéria


orgânica, fósforo e potássio, e com teores de nutrientes equilibrados, por
isso requer maneio e sistema de produção específicos, principalmente a
rotação com espécies leguminosas e gramíneas. São desfavoráveis solos
ácidos ou pobres em nutrientes, húmidos ou sujeitos à encharcamento,
rasos e compactados (BELTRÃO et al., 1999).

O Ph óptimo oscila entre 5,5 a 7. As terras cultivadas durante muitos anos


vão tendo um Ph cada vez mais baixo, o que significa maior acidez. Isto
verifica-se principalmente nas regiões muito chuvosas, quando existe um

18
cultivo intensivo das terras, sem adequados planos de rotação de culturas
(CARVALHO, 1980).

As terras novas acabadas de desmatar são de início muito ácidas, sendo


também demasiado ricas em matéria orgânica e nitrogênio. Por esta razão
não se deve cultivar algodão no 1◦ ano, mas sim sorgo (mapira), por
exemplo. Nestas terras o algodão produz melhor no 2◦ ano (CARVALHO,
1980).

Clima

O algodoeiro cultiva-se em todos os continentes, principalmente nas


regiões mais quentes, ou seja, nas regiões equatoriais, tropicais, sub-
tropicais e nalgumas temperadas.

Para um normal desenvolvimento, o algodoeiro necessita de temperaturas


médias não inferiores a 21-22ᵒ durante o ciclo vegetativo. Da sementeira à
germinação as temperaturas não devem ser inferiores a 18-20ᵒ, mas do
início da floração até à abertura das primeiras cápsulas são necessários,
pelo menos, 25-26ᵒ. A partir desta ocasião até ao fim das colheitas a
temperatura não deve ser inferior a 20-23ᵒ. Abaixo de 15ᵒ a germinação das
sementes é difícil e as plantas desenvolvem-se mal (CARVALHO, 1980).

Quanto as chuvas, o algodoeiro necessita de bastante menos água do que


geralmente se supõe. Precipitações anuais da ordem dos 600 a 700 mm são
suficientes, desde que bem distribuidas. Se a terra tiver boa capacidade de
retenção de água e não houver elevada evaporação, a cultura satisfaz-se
com 500 e até mesmo 400 mm durante o ciclo vegetativo, ou seja, durante
cerca de 5-6 meses. Pode-se dizer que, se durante o ciclo vegetativo não
cair um mínimo de 40 mm de chuva em cada 15 dias, o desenvolvimento

19
das plantas, e, consequentemente, a produção, serão prejudicadas
(CARVALHO, 1980).

Satisfeitas as condições de água e temperatura, a cultura tem sido realizada


com sucesso em altitudes variando de 200 m a 1.000 m, com ciclo que
pode aumentar em até de 40 dias em altitudes superiores a 600 m. Nas
espécies cultivadas comercialmente, o estágio do florescimento ocorre
entre de 40 a 70 dias após a sementeira. Após o florescimento, a parte
interna da flor desenvolve-se gradualmente por cerca de 40 a 70 dias em
um fruto (capulho) com as sementes e as fibras (BELTRÃO, 1999).

Preparação da terra

A adequada preparação da terra é um dos factores indispensáveis para


altas produções de algodão.

Lavoura

As lavouras não se limitam a desagregar a terra, para nela se poderem


semear as culturas. A mobilização do solo proporciona diversos benefícios
às plantas, as quais não se desenvolverão convenientemente se a lavoura
for superficial ou mal realizada. A melhor ocasião para se lavrar as terras é
imediatamente a seguir à colheita da cultura anterior, ou seja, no fim da
época das chuvas. Quanto mais tarde se fizer esta lavoura, mais dura se irá
tornando a terra, ao ponto das charruas pouco mais conseguirem fazer do
que raspar o solo. Se for necessário, far-se-á uma segunda lavoura um
pouco antes da sementeira (CARVALHO, 1980).

A prática de deixar as lavouras para mais tarde, para serem iniciadas no


começo da época das chuvas, não é recomendável, pois nesta altura já as

20
terras devem estar a ser gradadas, para se iniciar as sementeiras. Lavouras
tardias representam sementeiras tardias, o que tem sérios inconvenientes.

i) Profundidade de lavoura

Quase todas as culturas agradecem as lavouras fundas, mas o


algodoeiro, com um sistema radicular que, em condições favoráveis de
solo, atinge os dois metros, responde com aumentos compensadores de
produção, à mobilização profunda do solo. Entende-se por lavouras fundas
as que vão além de 25 centímetros de profundidade.

Há casos, porém, em que as lavouras fundas não são aconselhadas. Nos


solos delgados a profundidade da lavoura é limitada pelo nível a que se
encontra o subsolo.

O teor em matéria orgânica e elementos nutritivos do subsolo é muito baixo


e se estas terras são trazidas para a superfície, provocam quebras
consideráveis de produção. A fim de aumentar a espessura do solo, pode-se
ir aprofundando gradualmente as lavouras ao longo dos anos, de forma a
misturar progressivamente as terras estéreis do subsolo com as mais ricas
da superfície (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Também nas terras leves, arenosas e areno-francas não há vantagem em


proceder à mobilização profunda do solo. Os principais objectivos destas
lavouras, que são, aumentar a capacidade de infiltração das águas e permitir
o fácil desenvolvimento das raízes, deixam de verificar-se neste tipo de
terras, dada a sua própria textura (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

ii) Gradagem

Nas terras leves e soltas, uma única passagem de grade de discos nos
campos já lavrados, é preparação suficiente para a sementeira. Os solos
argilosos requerem, normalmente, duas gradagens para desfazerem
convenientemente os torrões deixados pela lavoura e alisarem o terreno.

21
Nestas terras pesadas torna-se, por vezes, necessário completar a
preparação da terra, com uma passagem de grade de dentes a quebrar os
torrões menores, deixados pela de discos.

Nos terrenos entorroados o trabalho dos semeadores é deficiente, deixando


a semente enterrada a diferentes níveis, por vezes mesmo à superfície e mal
coberta pela terra. Por sua vez a semente, caída entre torrões, fica mal
envolvida pela terra, pelo que germina mal, provocando um número
elevado de falhas no campo.

As gradagens fazem-se com o terreno em boa sazão. A gradagem das terras


secas destrói a estrutura do solo, se as terras estão muito húmidas,
empapam as alfaias e provocam a formação de torrões (ALMEIDA, A. e
ALMEIDA, F., 1967).

Com a gradagem destrói-se grande parte das ervas daninhas que, com as
primeiras chuvas, nasceram no campo. Convém que a sementeira se siga
imediatamente à última gradagem, para que os capins não tenham uma
maior oportunidade de desenvolvimento do que a própria cultura.

Nos campos que se saiba estarem muito infestados de ervas daninhas, é


economicamente aconselhável aguardar uma segunda rebentação das ervas
e destruí-las com nova gradagem, antes de proceder à sementeira
(ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Épocas

A época de sementeira é um dos factores que mais influi na produção


do algodão. O algodoeiro é uma planta exigente quanto a temperatura e
insolação. Durante o seu ciclo vegetativo necessita de, pelo menos, cinco
meses de condições climáticas propícias ao seu desenvolvimento. Estas
condições verificam-se durante a época das chuvas, que têm geralmente
início em Dezembro e terminam em Maio. Se a fase vegetativa não coicidir
com este período, a cultura será prejudicada (CARVALHO, 1980).
22
Por esta razão, as épocas mais próprias para a sementeira do
algodoeiro, nas diversas províncias, são:

 Inhambane, Gaza e Maputo: meados de Novembro a meados de


Dezembro.
 Manica e Alta Zambézia: meados de Novembro a meados de
Dezembro.
 Sofala e Baixa Zambézia: princípios a fins de Dezembro.
 Tete e zonas mais baixas de Nampula e Cabo Delgado: princípios a
fins de Dezembro.
 Zonas de média altitude de Nampula, Niassa e Cabo Delgado:
princípios a meados de Dezembro.

Nas regiões algodoeiras mais altas (média altitude), onde em Maio, as


temperaturas começam a ser mais frescas, é indispensável começar a
semear mais cedo do que nas regiões mais baixas. Mas mesmo nestas
últimas regiões, as sementeiras não devem ir além de fins de Dezembro.

O problema reside fundamentalmente neste aspecto: por cada semana de


atraso na sementeira, para além do período óptimo, há uma quebra de
produção de algodão de cerca de 10%. Uma sementeira feita em fins de
Janeiro pode representar uma quebra de 50% na produção, em relação à
sementeira de Dezembro (CARVALHO, 1980).

Isto quer dizer que, se a sementeira de Dezembro desse 1000 Kg/ha, a feita
um mês depois só daria 500 Kg/ha.

Quantidade de sementes

O número de sementes a deitar por covacho varia entre 4 a 7. Como,


no entanto, há que contar com o poder germinativo das sementes, que pode
ser fraco, convém elevar este número para 10, para evitar falhas. Se a terra
for argilosa e formar crosta difícil de romper, pode-se, excepcionalmente,
usar 15 sementes por covacho.
23
Maior número de sementes prejudica as plântulas que vierem a nascer. Por
efeito da concorrência, as plantas desenvolvem-se lentamente, crescendo
também mais em altura, com prejuízo do desenvolvimento lateral, o que as
torna débeis. Por outro lado, aquando do desbaste, o arranque das plântulas
em excesso pode prejudicar o sistema radicular das que ficam na terra.

A quantidade de semente necessária por hectare varia conforme o número


de sementes colocado por covacho e o compasso adoptado (CARVALHO,
1980).

Indica-se a seguir a quantidade de semente necessária para cada caso (Kg):

Tabela 2: Descrição da quantidade necessária de semente do algodão


N◦ de Compasso
sementes 1,00x0,30m 1,00x0,20m 1,00x0,15m 0,90x0,20m
por covacho Kg/ha Kg/ha Kg/ha Kg/ha
5 17 25 34 28
10 34 50 67 56
15 50 75 100 83
Fonte: (CARVALHO, 1980)

Em Moçambique o algodão deve ser plantado no final de Outubro/


início de Novembro, se as chuvas ocorrerem, ou Novembro/ início de
Dezembro se as chuvas demorarem (WE EFFECT e FONPA, 2012).

Tratos culturais

A cultura deve ser mantida livre de ervas daninhas durante todo o


ciclo e, para tanto, se recorre à aplicação de herbicidas e à limpeza manual
e/ou mecânica. Porém, a inevitável introdução de cultivares transgênicas

24
com resistência a herbicidas deve modificar de forma significativa o
processo produtivo do algodão. A altura das plantas deve ser monitorada e
controlada, se necessário, com aplicação de reguladores de crescimento
para que não ultrapasse, no estágio final, 1,5 vezes o espaçamento entre as
linhas (BELTRÃO et al., 1999).

Pragas e doenças

O algodoeiro é atacado por um grande número de pragas, que além de


enfraquecerem as plantas destroem muitos botões florais e frutos. Isto
significa redução da produção por hectare da ordem dos 50 a 70% e
depreciação da qualidade da fibra, assim como da própria semente, cujo
teor de óleo e poder germinativo são muito prejudicados. As doenças do
algodoeiro também podem causar apreciáveis quebras de produção,
prejudicando igualmente a qualidade da fibra e da semente (CARVALHO,
1980).

i) Pragas

As pragas que atacam o algodoeiro em Moçambique ascendem a cerca de


30. As mais conhecidas, devido aos estragos que causam nos diversos
orgãos do algodoeiro são:

Nos botões florais:

Lagarta vermelha: as larvas penetram e esvaziam os botões florais que


murcham e caem dos rebentos, mas mantendo-se penduradas por teias.

25
Métodos de controlo: Controlo biológico inclui algumas vespas
parasíticas como o Trichogramma mandelai (parasita de ovos), Carcelia
evolans, Eurytoma braconidis (parasita de larvas e pupas) e Mallada
boninensis (predador). O uso de Bacillus thuringiensis (Bt) também revelou
ser efectivo (MATTHEWS, 1989).

Lagarta americana: entre todas as pragas do algodão, a lagarta americana


é a mais problemática, ela também ataca muitas culturas, economicamente
importantes para além do algodão (CARVALHO, 1996).

A lagarta americana é um insecto polífago e se encontra em numerosas


culturas para além do algodão. O adulto oviposita nos brotos terminais e
nos botões florais. As lagartas recém eclodidas penetram nos botões florais
e se alimentam do seu interior. As lagartas mais desenvolvidas penetram
nos botões florais e nas cápsulas.

O buraco de entrada é um circulo, no qual excrementos são deixados na


parte externa. Pequenos botões florais danificados caem após a murcha das
brácteas e as cápsulas ficam destruídas (PEARSON, 1940).

Métodos de controlo: O principal método de controlo é o uso de plantas


atractivas como milho, tabaco, feijão, mapira etc (CABI, 2007).

Controlo biológico com uso de Trichogramma Westwood, Bacillus


thuringiensis (Bt).

Nas Folhas:

Jasside: o ataque desta praga dão aos algodoeiros um aspecto


característico, pois as margens das folhas tornam-se verde-pálidas, depois
amarelas e, finalmente, vermelhas, enrolando-se as folhas sobre a página

26
inferior dando-lhes um aspecto de concha, por fim as folhas morrem
(ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Métodos de controlo: uso de variedades resistentes (com folhas


pubescentes). Controlo químico com insecticidas de acção sistémica
(MATTHEWS, 1989 apud CABI, 2007).

Lagartas das folhas: atacam os algodoeiros na primeira parte do ciclo


vegetativo dos mesmos, não causam prejuízos elevados, pois o ataque não
costuma ser muito intenso e apenas atacam as folhas (ALMEIDA, A. e
ALMEIDA, F., 1967).

Métodos de controlo: O controlo é a retirada de pequenas partes de folhas


que contém os ovos e queimá-las. Controlo químico com insecticidas de
contacto e ingestão (CABI, 2007).

Lagarta americana: esta praga também destrói as folhas do algodoeiro,


mas apenas quando não tem botões florais, flores ou cápsulas à sua
disposição e, por isso, os prejuízos que causa pela destruição das folhas são
prejuízos secundários, sem grande interesse (ALMEIDA, A. e ALMEIDA,
F., 1967).

Métodos de controlo: Controlo químico, e este deve ser efectuado sempre


que o nível de infestação atingir 12 ovos ou 6 larvas em 24 plantas.

Ácaro vermelho: aparecem na página inferior dos algodoeiros e


alimentam-se da seiva que sugam das folhas. Quando o ataque de ácaros é
intenso, a página superior das folhas fica como que prateada e mais tarde
morrem, provocando a desfolha dos algodoeiros. Em Moçambique,
normalmente e por enquanto, o ataque verifica-se tardiamente, já na fase
final da vida do algodoeiro, pelo que não tem interesse económico
(ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Métodos de controlo: Controlo químico.

27
Afídeo (piolho): são insectos sugadores que ocorrem em grandes colónias
na superfície inferior das folhas. O dano é causado através da injecção de
toxinas salivares que conduzem ao atrofiamento das folhas, particularmente
nos estágios mais jovens da fase vegetativa (SIDUMO, 2006).

Métodos de controlo: O maior controlo é normalmente exercido por


inimigos naturais (controlo biológico). Os mais importantes pertencem à
classe insecta, seguindo-se os fungos e por fim as aves e aracnídeos
(ILHARCO, 1992). Controlo químico.

Nas cápsulas abertas e sementes:

Manchadores da fibra: a perfuração pode causar a queda das cápsulas,


provocar rachas nos lóculos e reduzir o poder germinativo da semente. Os
seus excrementos mancham a fibra (algodão amarelado) e
microorganismos podem causar a podridão interna da cápsula (SIDUMO,
2006).

Métodos de controlo: Controlo químico com uso de pesticidas que deve


ser aplicado sempre que o niível de infestação atingir 20% de botões florais
com percevejos (ninfas mais adultos) ou 6 focus em cada 24 plantas
(SIDUMO, 2006).

Percevejos da semente: os percevejos da semente são pequenos


hemípteros, pretos, com cheiro característico pronunciado, que sugam as
sementes de algodão, reduzindo-lhe o peso e afectando a faculdade
germinativa das sementes. Estas pragas aparecem quando as cápsulas
começam a abrir e perduram por toda a época da colheita, continuando a
atacar a semente nos secadores e armazéns (ALMEIDA, A. e ALMEIDA,
F., 1967).

28
Métodos de controlo: Controlo químico, predominantemente utilizado,
porém com eficiência limitada (MATTHEWS, 1989).

Lagarta rosada: ataca as cápsulas ainda verdes ou já abertas, alimentado-


se principalmente das sementes. Os seus ataques são locais e têm-se
verificado apenas no Norte do País.

Métodos de controlo: O principal método de controlo é a pausa cultural.


Uso da radiação para a desinfecção da semente. Controlo químico com
pesticidas microbianos controlam as larvas no algodoeiro (CABI, 2007).

Nas plântulas:

Gafanhoto elegante: os prejuízos são bastante avultados, dando origem a


ressementeiras, que muitas vezes são totais, facto este que equivale a um
atraso considerável da época da sementeira, com o inconveniente de
provocar quebras consideráveis na produção (ALMEIDA, A. e ALMEIDA,
F., 1967).

Métodos de controlo: O controlo mais eficaz é a destruição dos ovos que


são ovipositados em alta densidade ou a destruição dos focos gregarígenos
dos adultos por insecticidas ou pelo fogo, principalmente nos primeiros
instares das ninfas (CABI, 2007).

No caule:

Helopelte: esta praga pica o caule dos algodoeiros, ainda tenros, e introduz
toxinas na planta, a qual reage pela formação de cancros que deformam o

29
caule, provocando também o encurtamento dos entrenós (ALMEIDA, A. e
ALMEIDA, F., 1967).

Métodos de controlo: Controlo químico.

ii) Doenças

As doenças que maiores prejuízos causam nos algodoeiros em


Moçambique, são:

 Bacteriose (ataca os frutos, folhas e caules)- é causada pela bactéria


Xanthomonas malvacearum e a sua transmissão é feita através da
semente e do solo.
 Antracnose - é causada pelo fungo Glomerella gossypii, ataca todas
as partes da planta podendo aparecer nos cotilédones e caule das
plantulas recém emergidas que podem morrer. A doença aparece nos
cotilédones sob forma de pequenas lesões que servem de foco da
doença para estádios mais avançados do desenvolvimento do
algodão. O fungo é transmitido pelas sementes (interna e

30
externamente) podendo causar tombamento em pré e em pós
emergência (GRUPO POOL, 2013).

De menor importância económica cita-se a murcha dos algodoeiros


causada pelos fungos Verticillium dalhiae e Fusarium vasinfectum, a
podridão da semente e do colo das plântulas, causada por Rhizoctonia spp.,
e o míldio da folha causado por Ramularia areola (CARVALHO, 1980).

Doenças nutricionais

Tal como sucede com o homem, o algodoeiro também é afectado por má


nutrição. O meio onde o seu sistema radicular se desenvolve poderá ser
deficiente ou mesmo carente de macroelementos, tais como, azoto (N),
fósforo (P), potássio (K) e enxofre (S) e microelementos, tais como, zinco
(Zn), ferro (Fe), boro (B), magnésio (Mg),etc (SEA, 1983).

As doenças nutricionais na maioria dos casos é devido à:

 Natureza do solo;
 Terras cansadas;
 Monocultivo do algodão;
 Lavagem dos solos pelas chuvas;
 Adubações impróprias.

Para uma mais rápida identificação dos sintomas que aparecem no


campo, segue-se uma explicação detalhada de cada caso (SEA, 1983):

 Deficiência de Azoto

31
Clorose uniforme, acentuando-se gradualmente nas folhas mais velhas, as
quais na região do ângulo do lóbulo, passam a exibir manchas, inicialmente
avermelhadas e, a seguir pardacentas, secam e caem prematuramente.
Plantas de porte baixo, pouco enfolhadas, improdutivas.

 Deficiência de Fósforo

Escurecimento da cor verde da folhagem, seguido de tonalidade pardacenta


e, depois amarelo-bronzeada. Manchas ferruginosas nas extremidades do
limbo, desenvolvendo-se progressivamente e conferindo-lhe o aspecto de
queimado pelo fogo. As plantas ficam sem vigor vegetativo, de
crescimento retardado, improdutivas.

 Deficiência de Potássio

Coloração verde-claro-amarelada do limbo foliar, com ligeira proeminência


das nervuras; seca e necrose de toda a periferia da folha. Com o progresso
da deficiência, o limbo passa a uma tonalidade pardo-chocolate, com os
bordos revirados para baixo. Queda prematura das folhas mais velhas,
produzindo, plantas desfolhadas.

 Deficiência de Enxofre

32
Clorose forte das folhas do broto terminal, progredindo rapidamente para as
folhas mais velhas inferiores e caracterizada por uma coloração verde-
limão típica. Limbo foliar brilhante, na fase inicial desta clorose.

 Deficiência de Zinco

Folhas novas cloróticas com áreas necróticas entre as nervuras, que


permanecem verdes.

 Deficiência de Ferro

Clorose fraca nas folhas do topo da planta, progredindo para as demais,


atingindo toda a metade superior, cujas folhas passam a apresentar uma
coloração verde-cana. Posteriormente, as nervuras apresentam-se bem
verdes, formando nítido contraste com o resto amarelado do limbo foliar.

 Deficiência de Boro

Morte das gemas apicais e subsequente superbrotamento nessas regiões.


Folhas mais novas verde-amareladas, gemas florais cloróticas, acentuada
queda de botões.

 Deficiência de Magnésio

Limbo foliar apresentando descoloração nos espaços entre as nervuras e, ao


longo destas, permanecendo faixas verde-normais. Queda prematura das
folhas da parte inferior da planta.

Necessidade de rega

Nas regiões do Norte e Centro de Moçambique, em que as chuvas são


abundantes, a cultura dispõe, geralmente, de humidade suficiente para o seu
33
desenvolvimento. No entanto, apesar do total da precipitação caída durante
o ciclo do algodoeiro exceder as suas necessidades, ocorre, quase todos os
anos, um ou mais períodos de seca em que as plantas são, por vezes,
seriamente afectadas. O recurso à rega, como complemento da chuva, é
aconselhável para estas regiões (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

As exigências do algodoeiro em água, são máximas na fase de floração e


capsulação. Da forma como ocorrem as chuvas ou as regas durante esse
período, depende em grande parte o êxito da cultura.

Uma estiagem prolongada, nesta fase de crescimento da planta, provoca a


queda de botões florais e cápsulas, com a consequente redução de
produção.

O algodoeiro requer entre 600 a 700 milímetros de água para o seu normal
desenvolvimento, mas mais importante que o total de água recebida pela
cultura é a sua distribuição durante as fases de crescimento da planta e o
quantitativo que lhe é dado de cada vez. Um ano chuvoso pode requerer um
maior número de regas do que outro considerado de baixa pluviosidade, se
as chuvas, apesar de abundantes, forem intervaladas por períodos longos de
seca (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

A rega oferece, também, aos produtores a possibilidade de procederem às


sementeiras antes do início da época das chuvas, permitindo-lhes beneficiar
do efeito que a antecipação da data da sementeira tem sobre o aumento das
produções (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

i) Oportunidade da rega

Nas regiões secas, a sementeira é normalmente precedida por rega, só


dispensável se, excepcionalmente, as chuvas caídas nessa altura o
justificarem. Nas zonas húmidas, essa rega preparatória para a sementeira

34
pode dispensar-se, uma vez que as primeiras chuvas são geralmente
abundantes. Como, porém, é economicamente vantajoso, mesmo nestas
regiões, fazer as sementeiras antes do início das chuvas, os agricultores que
dispõe de regadio, recorrem à rega para anteciparem a data das sementeiras.

Neste caso, a rega limita-se ao humedecimento da camada superficial do


terreno, de forma a assegurar a germinação e manutenção dos algodoeiros
durante os primeiros tempos, enquanto as chuvas não começam. As regas
de 20 e 25 milímetros são, normalmente, suficientes (ALMEIDA, A. e
ALMEIDA, F., 1967).

Nas regiões secas, em que não se pode contar com as chuvas que venham a
cair após a sementeira, esta primeira rega deve ser abundante, de forma a
constituir uma reserva de humidade na zona em que virão a desenvolver-se
as raízes das plantas. Normalmente o campo não voltará a ser regado tão
cedo e as raízes dos algodoeiros, não encontrado humidade à superfície, são
solicitadas pela água armazenada nas camadas mais profundas, forçando o
seu desenvolvimento em forçando o seu desenvolvimento em
profundidade, como é de desejar. Para se conseguir este objectivo são
necessárias regas de 70 a 100 milímetros (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F.,
1967).

Logo que o terreno entra em sazão e antes da sementeira, é recomendável


proceder a uma gradagem ligeira do campo com a finalidade de estirpar as
ervas daninhas que se encontram em germinação. Esta gradagem é feita
muito superficialmente, a 3 ou 4 centímetros de profundidade, para que a
perda de humidade do solo seja mínima. Com esta prática obtém-se uma
diminuição substancial da população de ervas infestantes nos campos de
algodão (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

35
Imediatamente após a gradagem procede-se à sementeira, podendo,
inclusivamente, realizar-se simultaneamente as duas operações, acoplando
o semeador à grade.

Com tempo seco e em terrenos com fraca capacidade de retenção para a


água, a camada superficial do solo, depois de submetida à movimentação
provocada pela gradagem e sementeira, tem tendência a secar, provocando
a morte dos algodoeiros acabados de emergir do terreno. Nestes casos, há
necessidades de proceder a uma rega ligeira, de 20 a 25 milímetros, de
forma a humedecer a camada superficial do terreno e garantir a
sobrevivência das jovens plantas (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Nos campos armados para a rega por gravidade a sementeira é, também,


precedida por uma rega abundante do terreno. A sementeira pode fazer-se
logo após a rega, sem esperar que o terreno entre em sazão, tapando os
covachos de sementeira com terra seca dos cômoros laterais. Não se pode
utilizar a terra húmida do rego, uma vez que esta ao secar tem tendência a
formar torrão o que dificulta a emergência das plantas (ALMEIDA, A. e
ALMEIDA, F., 1967).

Em condições normais de temperaturas, não se torna necessário voltar a


regar o algodoal, até ao início da floração. O algodoeiro durante esta fase
de crescimento é muito pouco exigente em água e vai desenvolvendo
raízes, que afundam a mais de um metro de profundidade, à procura de
água.

Se neste período o algodoeiro dispõe de excesso de humidade, provocado


pela rega ou chuva abundante, o desenvolvimento das raízes confina-se à
camada superficial do terreno, tornando as plantas muito mais sensíveis a
qualquer deficiência temporária de água. Só em condições excepcionais de
tempo seco e quente, se tornará necessário voltar a regar o algodoal, três a
quatro semanas após a germinação, usando dotações de 30 a 40 milímetros
seca (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

36
Durante a floração e a formação das cápsulas, o algodoeiro é muito
exigente em água, respondendo à secura com a queda exagerada de flores e
frutos em formação, o que se faz ressentir desfavorávelmente na produção.
Para assegurar o bom rendimento da cultura, torna-se indispensável que,
durante esse período, não falte água às plantas, fornecida quer sob a forma
de chuva quer de rega (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Nas condições normais de temperatura, permeabilidade e estrutura do solo


dos regadios do Sul de Moçambique, os campos de algodão necessitam
entre 70 a 100 milímetros de água de quinze em quinze dias, desde o início
da formação dos botões florais até á abertura das primeiras cápsulas.

Se o total de chuva caída durante esse espaço de tempo não atingir a


quantidade indicada há que completá-lo com água de rega (ALMEIDA, A.
e ALMEIDA, F., 1967).

Em terras leves ou em condições de tempo muito quente, convém diminuir


o intervalo entre regas, podendo ser necessário efectuá-las de dez em dez
dias, em quantitativos de 50 a 70 milímetros, contando nesse número com a
fornecida sob a forma de chuva. Com tempo fresco e em terrenos pesados,
o intervalo pode ser alargado até aos vinte dias (ALMEIDA, A. e
ALMEIDA, F., 1967).

As regas suspendem-se logo que, no campo, começam a aparecer as


primeiras cápsulas abertas.

Rotações para o algodoeiro

Não é aconselhável cultivar o algodão em terras virgens, pesadas e


férteis, acabadas de arrotear ou que tenham estado em pousio por muitos
anos. As plantas têm um crescimento excessivo, frutificam mal e as
produções são fracas. As gramíneas, especialmente os milhos e os sorgos

37
vão bem nestes terrenos e é preferível mantê-los em cultura durante um
ano, antes de lhes meter o algodão (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Pelo contrário, nas terras de baixa fertilidade e nas arenosas, obtêm-se boas
produções quando o algodão se segue imediatamente à arroteia. Também
nas terras cansadas, mesmo de textura pesada, o algodão produz melhor
quando cultivado logo após o pousio do que se for intercalada uma cultura
entre pousio e o algodão (ALMEIDA, A. e ALMEIDA, F., 1967).

Se o algodão se cultivar repetidamente no mesmo terreno, a acidez do solo


aumenta. Isto é prejudicial à cultura, pois, como já se referiu, abaixo de um
Ph de 5,5 o algodoeiro começa a produzir mal.

É importante salientar que a acidez do solo é um dos factores limitantes da


produção do algodão, sobretudo nos solos que se cultivam
continuadamente com esta espécie, onde se podem mesmo verificar
produções quase nulas, em consequência da elevada acidez (CARVALHO,
1980).

A seguir às siderações não é recomendável a cultura do algodoeiro, por o


enriquecimento da terra em azoto provocar um excessivo desenvolvimento
vegetativo das plantas, em detrimento da frutificação.

Indicam-se a seguir vários esquemas de rotação de culturas, assim como as


regiões algodoeiras para onde são aconselhados:

Tabela 3: Descrição de vários esquemas de rotação de culturas de acordo


com as respectivas regiões

38
Montepuez e Balama
(Cabo Delgado)/ Maúa
Região Chimoio (Niassa)/ Lioma Cuamba Cabo Delgado e
Ano (Manica) (Zambézia) (Niassa) Nampula
1o ano Sideração Sideração Sideração Sideração
2o ano Milho Milho Mapira Mapira
3o ano Feijão Algodão Algodão Amendoim
4o ano Algodão Girassol Girassol Algodão
Fonte: (PSEA, 1978)

Fertilizantes químicos

As necessidades de fertilizantes variam bastante, pois dependem do


tipo de solo, clima, tipo de cultura (sequeiro ou regadio) e estado de
fertilidade da terra. Por esta, razão, o tipo de adubo a utilizar e a respectiva
quantidade, só podem ser rigorosamente calculados em função da análise
do solo de cada terreno em particular, ou através de ensaios experimentais
(CARVALHO, 1980).

No entanto, indicam-se a seguir os limites das doses recomendadas para


adubos simples e adubos compostos.

Tabela 4: Descrição dos limites das doses recomendadas para adubos


simples e compostos
Adubos simples
Kg/ha
Sulfato de amónio a 21% 100-400

39
Superfosfato de cálcio a 18% 100-500
Sulfato de potássio a 48% 50-150
Adubos compostos
8 : 16 :8 350-550
10 : 10 : 10 350-550
12 : 12 : 17 : 2% Mg 310-580
13 : 13 : 20 300-500
15 : 15 : 15 250-400
15 : 15 : 6 : 4% Mg 250-400
15 : 30 : 15 150-350
20 : 20 : 20 200-350
Fonte: (CARVALHO, 1980)

i) Fertilizantes orgânicos

Embora não sendo tão ricos em elementos minerais como os


fertilizantes químicos, os adubos orgânicos têm apreciável valor nutritivo
para o algodoeiro. Além disto, a matéria orgânica beneficia muito as
condições físicas do solo, pois melhora a sua estrutura ( o que facilita as
lavouras e a capacidade da terra de reter a água e reduz a erosão, devido ao
menor escorrimento da água das chuvas sobre a superfície do terreno
(CARVALHO, 1980).

Além da utilização do estrume de curral, (na dose de 20-30 t/ha), sobretudo


nas terras arenosas de baixa fertilidade, recomenda-se especialmente as
adubações verdes com leguminosas.

2.3. Cadeia de valor do algodão

O conceito de cadeia de valor foi introduzido por Porter, dentro da sua


teoria de competitividade. De acordo com este autor, a cadeia de valor
representa o conjunto de actividades realizadas por uma empresa, desde a
projecção do seu produto até ao consumo do mesmo (PORTER, 1989).

40
A competitividade do sector privado depende de quão bem o mercado está
organizado e de como se maximiza a produtividade em toda a cadeia da
actividade, a partir das entradas de matérias-primas para comercialização
de bens finais (GDS, 2005). Este autor ainda refere que a análise da cadeia
de valor pretende atingir os seguintes objectivos:

 Identificar as ineficiências ao longo das actividades;


 Identificar e priorizar os constrangimentos ao longo da cadeia;
 Obter uma base comparativa internacional e;
 Permitir recomendações para melhorar a competitividade.

No caso do subsector do algodão, a cadeia de valor deve ilustrar as


diferentes actividades do mesmo, desde a produção do algodão até a sua
exportação. A análise da cadeia do valor permitirá compreender o nível de
competitividade existente neste subsector.

Para analisar a cadeia de valor do subsector do algodão em Moçambique,


em primeiro lugar, é necessário compreender a estrutura do mesmo, que se
resume na figura que se apresenta:

Pequenos Produtores
agricultores privados
41
Contrato de
descaroçamento e
comercialização

Figura 1: Estrutura do subsector do algodão em Moçambique

Fonte: (GDS, 2005)

Como já se havia referido, cabe as concessionárias fornecerem aos


agricultores, os inputs agrícolas necessários para a produção do algodão.
Estas também concedem crédito e são responsáveis pela extensão. Através
desta figura, é possível compreender que, após o descaroçamento, a fibra é
exportada (pelas empresas) e a semente é internamente usada para o fabrico
de óleo e de bagaço.

A cadeia de valor do algodão é constituída por cinco principais fases: (1)


produção agrícola; (2) processamento do algodão-caroço; (3) fiação; (4)

42
tecelagem; e (5) confecção de roupa (SANTOS, 2012 apud BRUNA,
2014).

No entanto, após a análise da estrutura do subsector do algodão e das


diferentes fases da produção do mesmo até a sua venda, foi possível
elaborar a seguinte cadeia de valor de algodão para Moçambique:

Exportação da
fibra

Inputs Produção Comercialização Processamento Óleo (mercado


Processamento
da semente interno)

Sementes Preparação Venda do Descaroçamento


da terra algodão do algodão Bagaço
Crédito caroço (mercado
Sementeira Transporte para o interno)
Fertilizantes Transporte porto
Cultivo para as
Extensão
Colheita fábricas

Figura 2: Cadeia de valor do subsector do algodão em Moçambique

Fonte: (BRUNA, 2014)

Em Moçambique, os inputs são fornecidos pelas concessionárias de acordo


com o modelo de concessão que predomina no subsector do algodão.

O processo de produção, que inclui diferentes etapas, é da responsabilidade


dos pequenos produtores e agricultores, que após a colheita, vendem o
algodão-caroço às concessionárias que por sua vez transportam o algodão-
caroço para as fábricas e procedem ao descaroçamento para obterem a fibra
e de seguida exportarem-na.

43
Para além da fibra, é retirada a semente que posteriormente é vendida para
os processadores da mesma, para a produção de óleo e bagaço que, por sua
vez, em termos gerais, são vendidos no mercado interno (BRUNA, 2014).

Nota-se também que a cadeia de valor, em Moçambique, engloba apenas


quatro principais estágios (input, produção agrícola, comercialização e
processamento do algodão-caroço), os restantes (fiação, tecelagem e
confecção de roupa) não existem, fazendo com que o valor acrescentado ao
algodão em Moçambique seja menor em relação aos restantes países
produtores de algodão (BRUNA, 2014).

A cadeia de valor do algodão foi ainda mais prejudicada pelo colapso das
indústrias de fiação, tecelagem e vestuário nos anos 1990 e início de 2000,
em grande parte devido ao inadequado capital e inadequadas habilidades
técnicas e gerenciais (ARLINDO e KEYSER 2007 apud BRUNA, 2014).

Segundo GDS (2005), geralmente a cadeia de valor, para a produção do


algodão, engloba as seguintes etapas:

 Preparação da terra;  Sacha;


 Plantio;  Pulverização química;
 Sementeira;  Fertilização;
 Desbaste;  Colheita.

As fases da colheita, pulverização química e da sementeira são as etapas


que mais valor adicionam, ao longo da cadeia de produção do algodão. No
entanto, constatou-se que os maiores constrangimentos, ao longo da cadeia
de valor da produção do algodão, resultam da falta de infraestrutura e

44
ausência de serviços públicos de apoio a este subsector, tendo como
consequência o aumento dos custos operacionais (GDS, 2005).

CAPÍTULO III. METODOLOGIA

3.1. Descrição do local e do trabalho de campo

a) Descrição do local

45
Figura 3. Mapa de localização do distrito de Monapo

Fonte: (CENACARTA, 1999)

O distrito de Monapo está localizado na parte Este da província de


Nampula, confinando a norte com o distrito de Nacarôa, a sul com o
distrito de Mogincual, a Este com os distritos de Nacala-Velha e Mossuril e
a Oeste com os distritos de Muecate e Meconta.

A superfície do distrito é de 3.528 km² e a sua população está estimada em


351 mil habitantes. Com uma densidade populacional aproximada de 99,5
hab/km², prevê-se que o distrito em 2020 venha a atingir os 511 mil
habitantes (MAE, 2014).

A agricultura no Distrito ocupa um lugar de destaque, tendo em linha de


conta que mais de dois terços da população se dedica à actividade agrícola
e o distrito é rico em solos férteis.

46
O distrito tem um grande potencial para a cultura do algodão, sendo o
primeiro produtor na província. Contudo, nos últimos anos, a produção do
algodão tem vindo a baixar devido à baixa de preços ditada pelo mercado
internacional. No entanto, porque neste momento o preço tem tendência a
subir, o Governo tem vindo a incentivar as populações a continuarem a
produzir esta cultura de rendimento familiar.

Climaticamente a região é dominada por climas do tipo semi-árido e sub-


húmido seco. A precipitação média anual varia de 800 a 1200 mm,
enquanto a evapotranspiração potecial está entre os 1300 e 1500 mm.

A precipitação média anual pode contudo, localmente, por vezes exceder os


1500mm, tornando-se o clima do tipo sub-húmido chuvoso. Em termos da
temperatura média durante o período de crescimento das culturas, há
regiões cujas temperaturas excedem os 25 o C, embora em geral a
temperatura média anual varie entre os 20 e 25 o C. A zona constitui a área
de influência dos vales dos rios Mecúburi e Lúrio (MAE, 2014).

b) Trabalho de campo

O segundo passo da pesquisa consistiu na recolha de dados, isto é, no


levantamento de informações que foram primeiramente antecedidos de
preparações dos questionários tanto para os produtores do distrito de
Monapo, assim como para a SANAM que é a empresa concessionária
daquela região.

A finalidade do trabalho de campo foi de resgatar de forma exaustiva a


compreensão da realidade local no que concerne ao impacto do modelo do
sistema de concessão no rendimento dos pequenos produtores de algodão
do distrito de Monapo.

47
Deste modo, primeiramente o pesquisador pediu apoio ao FONPA (Fórum
Nacional de Produtores de Algodão) e ao IAM (Instituto de Algodão de
Moçambique) no que concerne ao fornecimento de contactos que pudessem
facilitar o trabalho de campo naquele distrito. Uma vez dado este apoio,
após a chegada do pesquisador na sua área de estudo, este foi encaminhado
a empresa SANAM que se situa no distrito de Meconta para que pudesse se
apresentar e explicar a estes o objectivo do estudo, a importância do mesmo
para os produtores do distrito de Monapo, aproveitando pedir a empresa,
assistência necessária para que o estudo se realizasse sem muitas
dificuldades.

Após o pesquisador apresentar-se a SANAM, este foi encaminhado para


três mercados, de três localidades, nomeadamente, Itoculo, Murruto e
Netia, onde se encontravam os produtores uma vez que estavam na época
de comercialização do algodão. As entrevistas foram realizadas em
diferentes dias para evitar novos deslocamentos, uma vez que as
localidades são distantes uma da outra.

A empresa concessionária também foi questionada sobre os serviços que


esta presta aos produtores do distrito de Monapo, quantos produtores este
sistema alberga, qual é o papel desta empresa na cadeia de valores do
algodão, o preço da compra do algodão tendo em conta a qualidade do
mesmo e por fim quais são as modalidades de pagamento.

3.2. Método de amostragem e colecta de dados

No presente estudo previa-se inicialmente a extracção da amostra com


recurso a uma selecção aleatória. Neste método os produtores foram

48
escolhidos de forma aleatória, simplesmente pelo facto destes serem mais
acessíveis.

Os procedimentos de recolha de dados podem ser, entre outros, entrevistas


e questionários com perguntas de respostas fechadas, abertas e de escolha
múltipla (MARCONI E LAKATOS, 2002).

Entre os vários instrumentos de recolha de dados, optou-se pelo


questionário. Esta opção deve-se ao facto deste instrumento oferecer muitas
vantagens, sendo de destacar o facto do questionário consistir de um
formulário que pode incluir declarações que constituem hipóteses de
respostas à questão colocada ao informante.

Além desta vantagem atrás descrita, pode considerar-se a existência de


maior liberdade nas respostas em virtude de se admitir o anonimato. Por
outro lado, este instrumento pode ser aplicado a um grupo numeroso de
informantes, ao mesmo tempo, e sem a presença do observador. Este facto
pode propiciar economia do tempo e uma certa fiabilidade dos dados, uma
vez que a presença de um observador pode constituir um factor inibidor do
comportamento do informante.

A colecta de dados foi feita na época da comercialização do algodão no


distrito de Monapo, no mês de Agosto de 2017, fazendo com que esta
tivesse alguns constrangimentos como a dispersão geográfica, uma vez em
que os mercados encontravam-se em localidades distantes uma da outra.

a) Definição do tamanho da amostra

O distrito de Monapo possue um total de 12.000 produtores envolvidos na


produção do algodão, dos quais foram inqueridos 35 produtores de ambos

49
os sexos, na sua maioria homens para o presente trabalho.

b) Fonte de informação

O estudo foi empreendido através de dados primários e secundários. Os


dados primários foram obtidos através de entrevistas e questionários que
foram efectuados no local de estudo e os dados secundários foram obtidos
através de uma série de revisão bibliográfica que foi feita nas bibliotecas
que possuem obras literárias que dão enfoque sobre o tema em estudo,
inclusive também, nas instituições públicas como IAM, assim como em
instituições privadas como o FONPA e também nos artigos e livros
publicados na internet.

c) Tipo de pesquisa

Diante do que foi exposto neste trabalho, optou-se por realizar uma
pesquisa de campo do tipo mista onde fez-se uma combinação dos métodos
qualitativos e quantitativos para recolher mais informações do que se
poderia conseguir isoladamente.

3.3. Método de análise de dados

Os dados foram analisados usando o pacote estatístico SPSS


(Statistical Package for Social Science), que para além de ajudar na

50
estatística descritiva, auxiliou tanto nas comparações dos rendimentos dos
produtores antes da participação no sistema de concessão e o rendimento
proveniente da participação dos produtores no mesmo, assim como na
percepção dos agricultores sobre o impacto que o sistema de concessão traz
no rendimento destes.

CAPÍTULO IV. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados á seguir apresentados resultam do inquérito feito a 35 agricultores


que cultivam o algodão no distrito de Monapo, província de Nampula e
também a empresa fomentadora que opera no distrito.

51
4.1. Estatística descritiva dos produtores seleccionados do distrito
de Monapo

Género do produtor

Da amostra colhida de cerca de 35 produtores, verificou-se que destes, 32


são do sexo masculino e apenas 3 são do sexo feminino, correspondendo a
uma percentagem de 91.4% e 8.6% respectivamente. Esses dados mostram
que dos 35 entrevistados, pode-se notar a demanda de indivíduos do sexo
masculino no cultivo do algodão.

Tabela 5: Frequência do género na produção de algodão em Monapo

Género do produtor Frequência Percentagem (%)


Masculino 32 91.4
Feminino 3 8.6
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Idade do produtor

No que concerne a idade dos produtores seleccionados, a maioria encontra-


se no intervalo de 31 á 50 anos (45.7%), somente 8 produtores tem idade
superior a 50 anos (22.9%).

Tabela 6: Estrutura etária dos produtores de algodão em Monapo

Género do produtor Frequência Percentagem (%)


De 18 á 30 Anos 11 31.4
De 31 á 50 Anos 16 45.7
Acima de 50 Anos 8 22.9

52
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Nível de escolaridade

No que diz respeito ao nível de escolaridade dos produtores entrevistados,


pode-se notar que este é baixo, uma vez que a maioria dos produtores
(68.6%) tem apenas o nível primário. Apenas 1 produtor (2.9%) tem o nível
superior e 6 produtores (17.1%) sem formação académica.

Tabela 7. Nível de escolaridade do produtor de algodão em Monapo


Nível de escolaridade Frequência Percentagem (%)
Primário 24 68.6
Secundário 4 11.4
Superior 1 2.9
Nenhum 6 17.1
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Agregado familiar

Os dados da tabela abaixo, mostram que a maior percentagem se encontra


entre produtores com famílias constituídas por 6 á 8 indivíduos, o que
corresponde a 45.7%. Logo a seguir encontra-se 40% dos produtores com
famílias constituídas por 1-5 membros.

Tabela 8: Distribuição percentual do agregado familiar em Monapo

Número de membros Frequência Percentagem (%)


De 1 á 5 14 40
De 6 á 8 16 45.7

53
De 9 á 11 5 14.3
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Estado civil

A amostra ilustra também que 28 produtores são casados e 6 solteiros,


correspondendo a uma percentagem de 80% e 17.1% respectivamente, e
apenas 1 produtor é viúvo.

Tabela 9: Estado Civil dos produtores de algodão de Monapo

Estado Civil Frequência Percentagem (%)


Solteiro 6 17.1
Casado 28 80
Viúvo 1 2.9
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Área cultivada antes da participação dos produtores no sistema de


concessão

Quanto a área cultivada pelos produtores seleccionados antes da


participação dos mesmos no sistema de concessão,os dados mostram que
18 produtores cultivavam o agodão em áreas de 0.5 á 1.5 hectares, o que
corresponde a 51.4% e 6 (17.1%) produtores cultivavam em áreas de 3.6 á
5 hectares.

Tabela 10: Tamanho da área cultivada antes da participação dos


agricultores no sistema de concessão

Área cultivada Frequência Percentagem (%)

54
De 0.5 á 1.5 18 51.4
De 1.6 á 3.5 11 31.4
De 3.6 á 5 6 17.1
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Área cultivada depois da participação dos produtores no sistema


de concessão

Quanto a área cultivada depois da participação dos produtores no sistema


de concessão pode-se constatar que um número significativo dos
produtores cultiva em áreas que variam de 0.5 á 2 hectares, representando
uma percentagem de 77.1%. Fazendo uma comparação entre a área
cultivada antes e área cultivada depois, é notório que não houve nenhum
aumento no tamanho da área cultivada pelos produtores seleccionados no
distrito de Monapo.

Tabela 11: Tamanho da área cultivada depois da participação dos


agricultores no sistema de concessão

Área cultivada Frequência Percentagem (%)


De 0.5 á 2 27 77.1
De 2.1 á 3 3 8.6
De 3.1 á 5 5 14.3
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Culturas produzidas

55
Quanto as culturas produzidas pelos produtores do distrito de Monapo
verifica-se que a maior parte dos produtores inquiridos, produzem algodão,
feijão nhemba, mandioca, milho e mapira, representando 34.3% dos
produtores e somente um produtor (2.9%), produz apenas algodão. A
maioria das culturas são produzidas para o auto-consumo, sendo o algodão
a maior fonte de renda dos produtores do distrito de Monapo.

Tabela 12. Culturas produzidas pelos produtores do distrito de Monapo


Culturas Produzidas Frequência Percentagem (%)
Algodão 1 2.9
Algodão/Mandioca/Milho 6 17.1
Algodão/Feijão nhemba/Mandioca/Milho/Mapira 12 34.3
Algodão/Mandioca/Milho/Feijão nhemba/Feijão cute/Gergelim 8 22.9
Algodão/Mandioca/Milho/Mapira 2 5.7
Algodão/Mandioca/Feijão nhemba/Feijão cute 6 17.1
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

Dificuldades enfrentadas

Dados da amostra, mostram que a maioria dos produtores inquiridos


(42.9%) enfrenta dificuldades como factores climáticos e incidência de
pragas e doenças.

Tabela 13: Dificuldades enfrentadas pelos produtores durante a produção


do algodão
Dificuldades Enfrentadas Frequência Percentagem %
Clima/Pragas e doenças/Acesso a insumos agrícolas 13 37.1
Pragas e Doenças 2 5.7
Clima/Pragas e Doenças 15 42.9
Clima/Pragas/Financiamento 5 14.3
Total 35 100
Fonte: Trabalho de Campo

56
4.2. Papel das empresas concessionárias na cadeia de valores da
cultura do algodão

A produção do algodão caroço como foi salientado na revisão da


literatura, é feita observando o sistema de concessões, em que o Governo
assina contratos de fomento e extensão rural, atribuindo territórios para a
produção desta cultura de rendimento a empresas privadas, que apoiam as
populações nas suas zonas de influência.

As empresas concessionárias possuem um desempenho diferenciado, uma


vez que a solvabilidade financeira delas é diferenciada havendo algumas
que oferecem preços acima dos mínimos estabelecidos, que é o caso da
SANAM que é a empresa fomentadora que opera no distrito de Monapo.
Para 2017, o preço mínimo para a produção de algodão de primeira foi de
23 mts e de segunda qualidade foi de 16,50 mts, mas a empresa pagou
23,50 mts/kg para o algodão de primeira qualidade, facto este que estimula
e motiva os camponeses tanto a respeitarem os compromissos contratuais,
assim como a produzirem mais a cultura do algodão.

A SANAM, fornece aos agricultores insumos de produção, dentre os quais,


sementes tratadas, herbicidas, pesticidas, adubos foliares e para além dos
insumos, a empresa fornece também assistência técnica aos mesmos. Essa
assistência não se resume apenas em treinamentos e capacitações em
produção de algodão, mas também fornecendo informação sobre a previsão
do tempo, informação sobre o mercado assim como sobre a tendência dos
preços; capacitação em maneio integrado de pragas e no âmbito dessa
capacitação também têm dado alguns treinamentos sobre a gestão
ambiental (conservação dos solos, da biodiversidade), a empresa tenta
transmitir ao produtor quais são as práticas que prejudicam ao solo, como
podem evitar, como podem fazer para no minímo manter a estrutura do
solo; treinamento sobre o uso e manuseamento de pesticidas, desde os
perigos que estes apresentam tanto a planta assim como a saúde humana e
animal;

57
trabalho digno; não uso do trabalho infantil; treinamento em agricultura de
conservação, para melhorar a estrutura do solo, a retenção da água.

Por vezes a empresa tem recorrido a parcerias para treinamento dos


produtores em outras áreas que não tem muito a ver com produção, como
por exemplo o empreendedorismo, gestão de négocios, gestão e criação de
renda.

A empresa também fornece crédito aos produtores, por vezes em dinheiro,


na sua maioria para produtores mais idosos que já não tem mais energia
suficiente para poder trabalhar e o valor do apoio financeiro varia de 500
(minímo) á 4000, e noutras em meios como por exemplo, a
disponibilização de tractores para se fazer a lavoura na preparação do
terreno.

4.3. Vantagens e desvantagens que o sistema de concessão traz


para os pequenos produtores de algodão

4.3.1. Vantagens

Segundo os produtores do distrito de Monapo, província de Nampula, as


vantagens que o sistema de concessão traz para eles são as seguintes:

 Satisfação das necessidades básicas (32 produtores, conseguem


satisfazer as necessidades básicas com o rendimento obtido da venda
do algodão a empresa concessionária, correspondendo a 91.4% dos
inquiridos);
 Fornecimento de sementes;
 Fornecimento de produtos químicos que ajudam no combate á
pragas;
 Financiamento em dinheiro para fazer sachas e colheitas, assim
como em meios, disponibilizando maquinárias para a preparação do
terreno;

58
 Mercado seguro, uma vez que a empresa garante a compra da
totalidade da produção de algodão obtida pelos produtores da sua
área de fomento.
 Na época chuvosa, a empresa ajuda aos produtores com bens como
sabão e alimentos;
 Treinamento e capacitações sobre como produzir o algodão, desde a
conservação da semente até a colheita;
 Treinamento e capacitações sobre técnicas de combate á pragas e
doenças;
 Monitoria dos campos por parte dos técnicos da empresa;
 Transporte para o escoamento do algodão garantido;

4.3.2. Desvantagens

Para os produtores as desvantagens que o sistema de produção traz


para eles são as seguintes:

 Os custos dos insumos de produção são bastante altos e as


quantidades contidas nos frascos são muito poucas e
consequentemente os produtores acabam ficando sem lucros, uma
vez que estes devem pagar a empresa pelos insumos fornecidos no
fim da campanha;
 O preço do algodão por quilograma ainda é muito baixo;
 O uso da semente tratada não é sustentável para eles, pois pagam
para aquisição da mesma, enquanto antes a semente usada não era
tratada e assim não precisavam pagar por ela;
 Os produtores se sentem marginalizados, porque segundo eles, a
SANAM escolhe alguns produtores para dar crédito alegando que
eles não têm problemas na devolução do empréstimo. Os produtores
acham que é melhor que a empresa não dê crédito a nenhum deles ou
então que se formassem associações.

59
 Falta de maquinarias para a preparação da terra em algumas
localidades;
 Atraso na disponibilização de maquinarias para se fazer a lavoura
para a preparação da terra, normalmente os produtores fazem as
lavouras no mês de Outubro, mas a empresa traz os tractores no mês
de Janeiro;
 Falta de qualidade e insuficiência dos produtos químicos;
 Atraso na entrega dos sacos para colocar o algodão depois da
colheita, demora na compra do produto também por parte da empresa
e os produtores são obrigados a dormir nos pontos de venda para
controlarem os sacos para que não sejam roubados;
 Falta de informação sobre o preço dos produtos químicos e outros
insumos;
 Falta de técnicos em algumas localidades;
 Os produtores reclamam por não terem poder de negociação do
preço do algodão;
 Atraso na entrega dos produtos químicos por parte dos técnicos e
quando trazem por vezes já é tarde e a produção já foi prejudicada;
 Falta de equipamentos necessários para a pulverização das plantas;

60
4.4. Rendimento antes da participação dos produtores no sistema
de concessão

17
Número de entrevistados

12

3
2
1

De 400 a 3200 De 3201 a 6250 De 6251 a 12500 De 12501 a 16000 De 16001 a 21000

Rendimento do Produtor - 1

Figura 4: Distribuição do rendimento antes da participação do produtor no


sistema de concessão
Fonte: Trabalho de Campo

Para análise do rendimento antes da participação dos produtores inqueridos


no sistema de concessão, baseou-se também em distribuição de
frequências. Com base no gráfico pode-se constatar que o maior
rendimento situa-se no intervalo de 16001 á 21000 Mt, o qual somente um
produtor obteve, representando 2.9% dos entrevistados. A maioria dos
entrevistados (17 produtores) teve um rendimento que se encontra no
intervalo de 400 á 3200 Mt, representando 48.6%. Outro dado que se pode
avançar é que segundo o gráfico, quanto maior for o rendimento, menor é o
número dos produtores inquiridos que obteve esse rendimento, uma vez

61
que no menor rendimento encontra-se a maior percentagem dos produtores
e o no maior apenas um.

4.4.1. Análise cruzada entre produção total e rendimento do


produtor

Fazendo uma análise cruzada entre o rendimento do produtor antes da


participação do mesmo no sistema de concessão e a produção total, pode-se
notar que dos 12 produtores (71%) cujo rendimento encontra-se no
intervalo de 400 á 3200 Mt, têm uma produção total de 0.1 á 0.95 Ton/ha.
É notório também que apenas um produtor (50%) cujo rendimento
encontra-se no intervalo de 16001 á 21000 Mt, tem uma produção total que
varia de 5 á 10 Ton/ha.

Tabela 14: Relação cruzada entre rendimento do produtor-1 e produção


total - 1
Rendimento do Produtor – 1
Produção 400-3200 3201-6250 6251-12500 12501-16000 16001-21000 Total
Total – 1 N. de N. de N. de N. de N. de N. de
% % % % % %
entrev. entrev. entrev. entrev. entrev. entrev.
De 0.1 a 0.95 12 71% 5 29% 0 0% 0 0% 0 0% 17 49%
De 1 a 2.4 4 36% 5 45% 1 9% 1 9% 0 0% 11 31%
De 2.5 a 3 1 25% 1 25% 2 50% 0 0% 0 0% 4 11%
De 3.1 a 4 0 0% 0 0% 0 0% 1 100% 0 0% 1 3%
De 5 a 10 0 0% 1 50% 0 0% 0 0% 1 50% 2 6%
Total 17 49% 12 34% 3 9% 2 6% 1 3% 35 100%
Fonte: Trabalho de Campo
4.4.2. Análise cruzada entre quantidade vendida e rendimento
do produtor

A tabela abaixo mostra que fazendo uma análise cruzada entre o


rendimento do produtor antes da participação do mesmo no sistema de
concessão e a quantidade vendida, é notório que 82% dos entrevistados (9
produtores) que tem um rendimento que varia de 400 á 3200 Mt, venderam
de 0.1 á 0.85 Ton de algodão, pode se observar também que 8 produtores

62
(46%) cujo rendimento encontra-se no intervalo de 3201 á 6250, venderam
de 0.9 á 2 Ton de algodão e somente um produtor cujo rendimento varia
entre 16001 á 21000 Mt, vendeu de 5 á 10 Ton de algodão.

Tabela 15: Relação cruzada entre rendimento do produtor - 1 e a


quantidade vendida - 1
Rendimento do Produtor – 1
400-3200 3201-6250 6251-12500 12501-16000 16001-21000 Total
Quantidade
N. de N. de N. de
vendida-1 N. de N. de N. de
entrev % % entrev % entrev % % %
entrev. entrev. entrev.
. . .
De 0.1 a 0.85 9 82% 2 29% 0 0% 0 0% 0 0% 11 31%
De 0.9 a 2 6 38% 8 46% 1 6% 1 6% 0 0% 16 46%
De 2.1 a 4 2 33% 1 25% 2 33% 1 17% 0 0% 6 17%
De 5 a 10 0 0% 1 0% 0 0% 0 0% 1 50% 2 6%
Total 17 49% 12 50% 3 9% 2 6% 1 3% 35 100%
Fonte: Trabalho de Campo
4.4.3. Análise cruzada entre custos de produção e rendimento do
produtor

Quanto a análise cruzada entre o rendimento do produtor antes da


participação do mesmo no sistema de concessão e os custos de produção,
observa-se que dos 8 entrevistados (62%) cujo rendimento varia de 400 á
3200 Mt, tiveram custos de 70 á 85 Mt na produção do algodão, observa-se
também que 46% (4 produtores) dos entrevistados cujo rendimento
encontra-se no intervalo de 3201 á 6250 Mt, tiveram custos de 86 á 150 Mt.

O mesmo cenário se verifica para 3 produtores (30%) cujo rendimento


varia de 6251 á 12500 Mt, tiveram custos que variam de 151 á 1100 Mt e 2
produtores (67%) cujo rendimento varia de 12501 á 16000 Mt, tiveram
custos que variam de 1101 á 3000 Mt. Deste modo, pode-se dizer que
quanto maior for o rendimento do produtor, maior serão os custos de
produção do mesmo.

63
Tabela 16: Relação cruzada entre rendimento do produtor - 1 e os custos
de produção - 1
Rendimento do Produtor – 1
400-3200 3201-6250 6251-12500 12501-16000 16001-21000 Total
Custos de N. de N. de N. de N. de N. de N. de
produção-1 entrev % entrev % entrev % entrev % entrev % entrev %
De 70 a 85 8 62% 4 29% 0 0% 0 0% 1 8% 13 37%
De 86 a 150 5 56% 4 46% 0 0% 0 0% 0 0% 9 26%
De 151 a 1100 3 30% 4 25% 3 30% 0 0% 0 0% 10 29%
De 1101 a 3000 1 33% 0 0% 0 0% 2 67% 0 0% 3 9%
Total 17 49% 12 50% 3 9% 2 6% 1 3% 35 100%
Fonte: Trabalho de Campo

4.5. Rendimento depois da participação dos produtores no sistema


de concessão
Número de entrevistados

13

5 5
3

De 600 a 6407.5 De 6407.6 a 17500 De 17501-26200 De 26201 a 33000 De 33001 a 68300

Rendimento do produtor - 2

Figura 5: Distribuição do rendimento depois da participação dos


produtores no sistema de concessão

64
Fonte: Trabalho de Campo

Para efeitos de estimação do rendimento depois da participação dos


produtores no sistema de concessão recorreu-se a análise de distribuição de
frequências. Efectuando uma análise do gráfico pode-se constatar que um
número significativo dos produtores inquiridos possui um rendimento que
varia de 600 á 6407.5 Mt, representando 37.1% dos entrevistados.

A menor percentagem dos produtores inquiridos (8.6%) encontra-se no


intervalo de 26201 á 33000 Mt, representando apenas 3 produtores. O
maior rendimento situa-se no intervalo de 33001 á 68300 e somente 14.3%
dos entrevistados é que possuem.

Pode-se verificar também que do menor até ao quarto intervalo do


rendimento, o número de entrevistados decresceu, havendo um pequeno
crescimento no número de produtores inquiridos no maior intervalo do
rendimento.

4.5.1. Análise cruzada entre produção total e rendimento do


produtor

Fazendo uma análise cruzada entre o rendimento depois da


participação do produtor no sistema de concessão e a produção obtida
depois da participação do mesmo no sistema, os dados da amostra mostram
que 13 entrevistados (62%) cujo rendimento encontra-se no intervalo de
600 á 6407.5 Mt, tem uma produção total que varia de 0.1 á 0.85 Ton/ha, o
mesmo cenário verifica-se para 3 entrevistados (75%) cujo rendimento
encontra-se no intervalo de 33001 á 68300 Mt, tem uma produção total que
varia de 2.4 a 3 Ton/ha.

Tabela 17: Relação cruzada entre rendimento do produtor - 2 e produção


total - 2
Produção Rendimento do Produtor – 2
Total-2 600-6407.5 6407.6-17500 17501-26200 26201-33000 33001-68300 Total
N. de % N. de % N. de % N. de % N. de % N. de %
65
entrev. entrev. entrev. entrev. entrev. entrev.
De 0.1 a 0.85 13 62% 8 29% 0 0% 0 0% 0 0% 21 60%
De 0.9 a 1.2 0 0% 1 46% 3 50% 2 33% 0 0% 6 17%
De 1.3 a 1.56 0 0% 0 25% 0 0% 1 100% 0 0% 1 3%
De 1.6 a 2.3 0 0% 0 0% 1 33% 0 0% 2 67% 3 9%
De 2.4 a 3 0 0% 0 50% 1 25% 0 0% 3 75% 4 11%
Total 13 37% 9 34% 5 14% 3 9% 5 14% 35 100%

4.5.2. Análise cruzada entre quantidade vendida e rendimento


do produtor

No que concerne a análise cruzada entre o rendimento depois da


participação do produtor no sistema de concessão e a quantidade vendida, a
tabela abaixo mostra que 48 % (13 produtores) entrevistados cujo
rendimento encontra-se no intervalo de 600 á 6407.5 Mt, venderam de 0.1 á
1.2 Ton de algodão e 2 produtores (67%) cujo rendimento encontra-se no
intervalo de 33001 á 68300 Mt, venderam de 2.6 á 3 Ton de algodão.

Tabela 18. Relação cruzada entre rendimento do produtor – 2 e quantidade


vendida - 2

Rendimento do Produtor – 2
Quantidad 600-6407.5 6407.6-17500 17501-26200 26201-33000 33001-68300 Total
e vendida-2 N. de N. de N. de N. de N. de N. de
% % % % % %
entrev. entrev. entrev. entrev. entrev. entrev.
De 0.1 a 1.2 13 48% 9 29% 3 11% 2 7% 0 0% 27 77%
De 1.3 a 2 0 0% 0 46% 1 33% 1 33% 1 33% 3 9%
100
De 2.1 a 2.5 0 0% 0 25% 0 0% 0 0% 2 2 6%
%
De 2.6 a 3 0 0% 0 0% 1 33% 0 0% 2 67% 3 9%
Total 13 37% 9 50% 5 14% 3 9% 5 14% 35 100%
Fonte: Trabalho de Campo

66
4.6. Comparação entre o rendimento antes e o rendimento depois
da participação dos produtores no sistema de concessão

A tabela abaixo mostra duas situações diferentes do rendimento dos


produtores do distrito de Monapo. A primeira corresponde ao rendimento
dos entrevistados quando estes eram produtores independentes, isto é, não
dependiam de nenhuma empresa concessionária para a produção não só do
algodão, mas também de outras culturas. A outra situação corresponde ao
rendimento que os mesmos produtores obtiveram quando passaram a fazer
parte do sistema de concessão.

Fazendo uma comparação entre os dois rendimentos, verifica-se que o


rendimento é maior na segunda situação, onde são fornecidos insumos de
produção a título de crédito para no final da campanha, devolverem o
empréstimo que lhes foi dado pela empresa concessionária da região. Outro
dado que se pode avançar é que na primeira situação quanto maior for o
rendimento, o número de produtores que obteve esse rendimento tende a
decrescer. Por outro lado, na segunda situação quanto maior for o
rendimento, o número de produtores entrevistados que obteve esse
rendimento tende a decrescer até um certo ponto e depois aumenta.

Tabela 19: Comparação entre o rendimento antes e o rendimento depois da


participação dos produtores no sistema de concessão

67
Rendimento do Número de entrevistados Rendimento do
Produtor - 1 Antes Depois Produtor - 2
De 400 a 3200 17 13 De 600 a 6407.5
De 3201 a 6250 12 9 De 6407.6 a 17500
De 6251 a 12500 3 5 De 17501 a 26200
De 12501 a 16000 2 3 De 26201 a 33000
De 16001 a 21000 1 5 De 33001 a 68300
Fonte: Trabalho de Campo

4.7. DISCUSSÃO

Com base nos resultados obtidos há que constatar a existência de


apenas uma única empresa concessionária de algodão no distrito de
Monapo denominada SANAM.

Acredita-se que em Moçambique, o actual sistema de concessão de


algodão é insustentável havendo, por isso, necessidade de uma eventual
liberalização deste sector. O Governo tem três opções a considerar,
nomeadamente o cancelamento imediato do modelo vigente; harmonização
e retirada gradual de concessões por etapas; ou a manutenção do sistema,
com modificações das obrigações contratuais das empresas (JORNAL
NOTÍCIAS, 2008).

No entanto, o sistema de concessão de algodão no distrito de Monapo


tem se mostrado sustentável, uma vez que a produção do algodão é
considerada a principal fonte de renda daquela região, e consequentemente
com o valor da venda do algodão os produtores conseguem satisfazer
necessidades básicas como alimentação, acesso a saúde, educação,
habitação, vestúario, entre outras.

68
4.8. Síntese das relações cruzadas entre o rendimento antes e
rendimento depois com outras variáveis

De acordo com as percentagens apresentadas nas análises cruzadas,


pode-se verificar que o rendimento antes da participação dos produtores no
sistema de concessão dependia da produção total, da quantidade vendida e
dos custos de produção. Assim como o rendimento depois da participação
dos produtores no sistema de concessão, tem uma relação de dependência
com a produção total e a quantidade vendida.

CAPÍTULO V.CONCLUSÕES E RECOMENDACÕES

5.1. Conclusões

Terminado o trabalho, pode-se concluir que o algodão constitui uma


importante fonte de rendimento no meio rural para mais de 1.500.000
habitantes e criando cerca de 20.000 empregos na sua cadeia de produção e
de valor. E essa importância reflecte-se, também, na balança comercial,
pois constitui um dos produtos agrícolas mais exportados na última década.

A produção do algodão, em Moçambique, é maioritariamente realizada por


pequenos produtores (sector familiar), desde a sua introdução no início do
século XIX. Em termos regionais, a produção do algodão é feita, na sua
maioria, nas regiões norte e centro do país.

Em Moçambique, a produção do algodão é baseada no sistema de


concessões de áreas à empresas de descaroçamento do algodão, fomento e
extensão da mesma, onde o Estado atribui as empresas concessionárias,
uma área de concessão, na qual são cedidas direitos exclusivos de compra
do algodão, blocos de terra para a produção comercial de algodão e uso de
máquinas de descaroçamento.

Em troca, as empresas acordam em oferecer capital para reabilitar as


máquinas de descaroçamento e fornecer, a crédito, os insumos necessários

69
e assistência técnica a pequenos produtores, em contrapartida os
agricultores devem vender toda a sua produção para a empresa e de
devolver o empréstimo que lhes foi dado.

O sistema de concessão tem se mostrado sustentável para os produtores do


distrito de Monapo, Província de Nampula. Para estes produtores, é
vantajoso fazer parte do sistema, uma vez que o rendimento deles é maior
agora que trabalham com a empresa SANAM, em relação a antes que eram
produtores independentes, isto é, não dependiam de nenhuma empresa
concessionária para a produção do algodão, mas faziam grandes esforços
para mobilizar seus recursos para que pudessem produzir.

Deste modo, aceita-se a hipótese nula que diz que o sistema de concessão
tem um impacto positivo naquele que é o rendimento dos produtores do
distrito de Monapo.

70
5.2. Recomendações

71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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estrangeiro.
 ALMEIDA, A. Antunes de; ALMEIDA, F. Sousa de. (1967).
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no Brasil. Brasília: Embrapa – CTT/EMBRAPA-CNPA.. v. 2, 551p.
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do Ultramar.
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 INSTITUTO DO ALGODÃO DE MOÇAMBIQUE. s/ data.
Algodão como instrumento da luta contra pobreza.

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algodão II semestre.

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algodão II semestre.

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algodão IV semestre.

 ISAACMAN, A.; CHILUNDO, A., (1995). Peasants at work:


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 MANDLATE, Boaventura. (2012). Passado, presente e futuro do


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Clarendon Press. 322p.

 PORTER, Michael E. (1989). Vantagem Competitiva: Criando e


Sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro, Elsevier.
 POOL. G., (2013). Actualmente o algodão é um dos produtos mais
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 SANTOS, Francisco Ferreira dos. (2012). Competitividade do


algodão. Apresentação em Power point. Maputo.

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controle das principais pragas do algodão.

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2005. Disponível em:
˂http://r0.unctad.org/infocomm/anglais/cotton˃.

74
ANEXOS

75

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